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A ocasião faz o escritor Às vezes a prosa da crônica se torna lírica, como se estivesse tomada pela subjetividade de um poeta do instantâneo que, mesmo sem abandonar o ar de conversa ada, fosse capaz de tirar o difícil do simples, fazendo palavras banais alçarem voo. Davi Arrigucci Jr.

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A ocasião az o escritor

Às vezes a prosa da crônica se torna lírica, como se estivesse

tomada pela subjetividade de um poeta do instantâneo que,

mesmo sem abandonar o ar de conversa ada, osse capaz de

tirar o diícil do simples, azendo palavras banais alçarem voo.

Davi Arrigucci Jr.

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Contato

CenpecRua Minas Gerais, 22801244-010 — São Paulo — SPTeleone: 0800-7719310e-mail: [email protected]

Iniciativa

Copyright © 2010 by Cenpec e Fundação Itaú Social

Coordenação técnica

Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,

Cultura e Ação Comunitária – Cenpec

Créditos da publicação

Coordenação 

Sonia Madi

Equipe de produção 

Maria Aparecida LaginestraMaria Imaculada Pereira

Consultoria 

Eliana GagliardiHeloisa Amaral

Leitura crítica 

Zoraide Faustinoni Silva

Edição 

Madza Ednir Julita Nogueira

Colaboração 

Egon de Oliveira Rangel

Organização 

Beatriz Pedro CorteseProjeto gráfco e capa 

Criss de Paulo e Walter Mazzuchelli

Ilustrações 

Criss de Paulo

Editoração e revisão 

agwm editora e produções editoriais

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Caro Proessor,Bem-vindo à 2ª- edição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevend Futur –

resultado da parceria entre o Ministério da Educação (MEC), a Fundação Itaú Social

e o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).

A união de esorços do poder público, da iniciativa privada e da sociedade civil visaum objetivo comum: proporcionar ensino de qualidade para todos.

O MEC encontrou no Programa Escrevend Futur a metodologia adequada

para realizar a Olimpíada – uma das ações do Plano de Desenvolvimento da Edu-

cação, idealizado para ortalecer a educação no país.

A Olimpíada é um programa de caráter bienal e contínuo. Constitui uma estra-

tégia de mobilização que proporciona, aos proessores da rede pública, oportu-nidades de ormação. Em anos ímpares, atende diversos agentes educacionais:

técnicos de secretarias de educação que atuam como ormadores, diretores, pro-

essores. Em anos pares, promove um concurso de produção de texto para alunos

do 5º- ano do Ensino Fundamental ao 3º- ano do Ensino Médio.

Este Cadern d Pressr traz uma sequência didática desenvolvida para esti-

mular a vivência de uma metodologia de ensino de língua que trabalha com gêneros

textuais. As atividades aqui sugeridas propiciam o desenvolvimento de habilida-

des de leitura e de escrita previstas nos currículos escolares e devem azer parte

do seu dia a dia como proessor. Ao realizá-las, você estará trabalhando comconteúdos de língua portuguesa que precisam ser ensinados durante o ano letivo.

O tema do concurso é “O lugar onde vivo” e escrever sobre isso requer leituras,

pesquisas e estudos, que incitam um novo olhar acerca da realidade e abrem

perspectivas de transormação. Para que os alunos dos vários cantos do Brasil pro-

 duzam textos de qualidade é undamental a participação e o envolvimento dosproessores, contando com o apoio da direção da escola, dos pais e da comunidade.

Nesta 2ª- edição, os alunos concorrerão em quatro categorias, cada uma delas

envolve dois anos escolares:• Poema – 5º- e 6º- anos do Ensino Fundamental.

Memórias literárias – 7º- e 8º

- anos do Ensino Fundamental.

• Crônica – 9º- ano do Ensino Fundamental e 1º- ano do Ensino Médio.• Artigo de opinião – 2º- e 3º- anos do Ensino Médio.

A Olimpíada não está em busca de talentos, mas tem o rme propósito de

contribuir para a melhoria da escrita de todos. O importante é que os seus alunos

cheguem ao nal da sequência didática tendo aprendido a se comunicar com com-petência no gênero estudado. Isso contribuirá para que se tornem cidadãos mais

bem preparados. E é você, proessor, quem pode proporcionar essa conquista.

Desejamos a você e seus alunos um ótimo trabalho!

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Para a 2ª- edição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevend Futur oi enviada às escolas

públicas brasileiras – que atendem um ou mais anos escolares entre o 5º- ano do Ensino Funda-

mental e o 3º- ano do Ensino Médio – uma coleção com quatro pastas. Em cada uma delas há

material que visa colaborar com o proessor no ensino da leitura e da escrita em um gênero textual:

1 Caderno do Proessor, 10 exemplares idênticos da Coletânea de textos e 1 CD-ROM.

Caderno do Proessor – Orientação para produção de textosAqui você encontra uma sequência didática, organizada em ocinas, para o ensino da escrita

de um gênero textual. As atividades propostas estão voltadas para o desenvolvimento da

competência comunicativa, envolvendo leitura e análise de textos já publicados, linguagem

oral, conceitos gramaticais, pesquisas, produção, aprimoramento de texto dos alunos etc.Consiste em material de apoio para planejamento e realização das aulas.

Coleção da Olimpíada

Poema 5º- e 6º- anos doEnsino Fundamental.

Crônica

9º- ano do EnsinoFundamental e 1º- anodo Ensino Médio.

Memórias literárias 7º- e 8º- anos doEnsino Fundamental.

 Artigo de opinião

2º- e 3º- anos doEnsino Médio.

Coletânea de textosPara que os alunos possam ter contato com os textos trabalhados nas ocinas, a Coletânea de

textos os traz sem comentários ou análises. Uma publicação complementar ao Caderno do

Proessor, que por ser de uso coletivo terá maior durabilidade se manuseada com cuidado,

evitando anotações.

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CD-ROMEsta mídia traz os mesmos textos da Coletânea e outros complementares, em duas

modalidades:

Proessor, inscreva-se!Sua escola recebeu esta Coleção que poderá ser permanentemente

utilizada, não apenas na preparação para a Olimpíada. Para seus

alunos participarem do concurso

é imprescindível que você aça sua

inscrição. Ao se inscrever, passaráa integrar a rede Escrevend Futur 

e a receber gratuitamente a revista

Na Pnta d Lápis – uma publicação

periódica com artigos, entrevistas,

análise de textos e relatos de

prática docente.

Outra oportunidade de ormação a distância

oerecida pela Olimpíada é a Comunidade VirtualEscrevend Futur, voltada para o ensino de

língua – um espaço para que integrantes de todo

o Brasil possam trocar inormações e experiências

e participar de cursos n-line.

Faça sua inscrição na 2ª- edição da Olimpíada

de Língua Portuguesa Escrevend Futur pelo

site <www.escrevendoouturo.org.br>.

Sonora: nas primeiras aixas, há alguns textoslidos em voz alta e sonorizados. Para ouvi-losé necessário um aparelho de som ou umcomputador compatível. Ouvir a leitura desses

textos é uma orma de aproximar os alunosde obras literárias ou artigos publicados.

Gráfca: os textos poderão ser reproduzidos poruma impressora ou projetados, com o auxíliode um aparelho do tipo datashw . Inclui umaplicativo especial que permite o uso de grios

coloridos para destacar palavras ou trechos,com a nalidade de chamar a atenção dos alunos.

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Sumário

Introdução ao gênero

Apresentação

É hora de combinarContato com o gênero crônica

A diversidade de estilo e de linguagem...................................................

Produção da primeira escrita...................................................

Histórias do cotidianoElementos e recursos literários

A leitura de dierentes crônicas

Trocando em miúdosDierença entre notícia e crônica...................................................

Tempo, tempo, tempo...

Primeiras linhas

1

2

3

4

5

6

...................................................

...................................................

..................................................

Uma prosa bem aada

8

16

24

34

40

48

64

74

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Assim ca melhorAprimoramento do texto nal

Oício de cronistaTexto nal

Muitos olhares, muitas ideiasProdução coletiva

Olhos atentos no dia a diaEscolha do oco narrativo

Merece uma crônicaSituações da vida cotidiana

116

112

92

104

84

127

126Critérios de avaliação para o gênero crônica

Reerências

11

10

9

8

7 ...................................................

...................................................

...................................................

...................................................

...................................................

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Apresentação

Ler e escrever: um desao para todosNeste Caderno alamos diretamente com você, que está na sala de aula

“com a mão na massa”. Contudo, para preparar este material conversamos

com pessoas que pesquisam, discutem ou discutiram a escrita e seu ensino.

Entre alguns pesquisadores e teóricos de dierentes campos do conhecimen-

to que têm se dedicado a elaborar propostas didáticas para o ensino de

língua destacamos o Pro. Dr. Joaquim Dolz, do qual apresentamos, a seguir,

uma pequena bidata e um texto, de sua autoria, uma espécie de preácio,

em que esse ilustre proessor tece comentários sobre o projeto Olimpíada

de Língua Portuguesa Escrevend Futur.

Juntamente com Jean-Paul Bronckart, Bernard Schneuwly e

outros pesquisadores, Joaquim Dolz pertence a uma escola

de pensamento genebrina que tem infuenciado muitas pes-

quisas, propostas de intervenção e de políticas públicas de

educação em vários países. No Brasil, a ação do trabalho

desses pesquisadores se az sentir até mesmo nos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN).

Dolz nasceu em 1957, em Morella, na província de Castellón,

Espanha. Atualmente, é proessor da unidade de didática de

línguas da Faculdade de Psicologia e das Ciências da Educaçãoda Universidade de Genebra (Suíça). Em sua trajetória de do-

cência, pesquisa e intervenção, tem se dedicado sobretudo à

didática de línguas e à ormação de proessores.

Desde o início dos anos 1990 é colaborador do Departamen-

to de Instrução Pública de Genebra, atuando notadamente na

elaboração de planos de ensino, erramentas didáticas e orma-

ção de proessores.

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A Olimpíada de Língua Portuguesa

Escrevendo o Futuro : uma contribuição parao desenvolvimento da aprendizagem da escrita

Joaquim DolzFaculdade de Psicologia e das Ciências da Educação, Universidade de Genebra (Suíça)

[Tradução e adaptação de Anna Rachel Machado]

Os antigos jogos olímpicos eram uma esta cultural, uma competição em

que se prestava homenagem aos deuses gregos. Os cidadãos treinavam du-

rante anos para poderem dela participar. Quando o barão de Coubertin, na

segunda metade do século XIX, quis restaurar os jogos olímpicos, ele o ez

com esses mesmos ideais, mas também com o de igualdade social e demo-

cratização da atividade desportiva.

Os organizadores da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevend Futur,imbuídos desses mesmos ideais desportivos, elaboraram um programa

para o enrentamento do racasso escolar decorrente das diculdades do

ensino de leitura e de escrita no Brasil. Ao azer isso, não imaginaram que,

alguns anos depois, a cidade do Rio de Janeiro seria eleita sede das Olim-

píadas de 2016. Enquanto se espera que os jogos olímpicos impulsionem a

prática dos esportes, a Olimpíada de Língua Portuguesa também tem obje-

tivos ambiciosos.

Quais são esses objetivos? Primeiro, busca-se uma democratizaçãodos usos da língua portuguesa, perseguindo reduzir o “iletrismo” e o ra-

casso escolar. Segundo, procura-se contribuir para melhorar o ensino da

leitura e da escrita, ornecendo aos proessores material e erramentas,

como a sequência didática – proposta nos Cadernos –, que tenho o prazer

de apresentar. Terceiro, deseja-se contribuir direta e indiretamente para

a ormação docente. Esses são os três grandes objetivos para melhorar o

ensino da escrita, em um projeto coletivo, cuja importância buscaremos

mostrar a seguir.

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Ler e escrever: prioridades da escolaLer e escrever são duas aprendizagens essenciais de todo o siste-

ma da instrução pública. Um cidadão que não tenha essas duas ha-bilidades está condenado ao racasso escolar e à exclusão social.

Por isso, o desenvolvimento da leitura e da escrita é a preocupação

maior dos proessores. Alguns pensam, ingenuamente, que o traba-

lho escolar limita-se a acilitar o acesso ao código alabético; entre-

tanto, a tarea do proessor é muito mais abrangente. Compreender

e produzir textos são atividades humanas que implicam dimensões

sociais, culturais e psicológicas e mobilizam todos os tipos de capa-

cidade de linguagem.

Aprender a ler lendo todos os tipos de textoTrata-se de incentivar a leitura de todos os tipos de texto. Do ponto

de vista social, o domínio da leitura é indispensável para democratizar

o acesso ao saber e à cultura letrada. Do ponto de vista psicológico,

a apropriação de estratégias de leitura diversicadas é um passo

enorme para a autonomia do aluno. Essa autonomia é importantepara vários tipos de desenvolvimento, como o cognitivo, que permite

estudar e aprender sozinho; o aetivo, pois a leitura está ligada tam-

bém ao sistema emocional do leitor; nalmente, permite desenvolver

a capacidade verbal, melhorando o conhecimento da língua e do

vocabulário e possibilitando observar como os textos se adaptam às

situações de comunicação, como eles se organizam e quais as ormas

de expressão que os caracterizam.

Dessa orma, o proessor deve preparar o aluno para que, ao ler,aprenda a azer registros pessoais, melhore suas estratégias de com-

preensão e desenvolva uma relação mais sólida com o saber e com a

cultura. Não é suciente que o aluno seja capaz de decirar palavras,

identicar inormações presentes no texto ou lê-lo em voz alta – é

necessário vericar seu nível de compreensão e, para tanto, tem de

aprender a relacionar, hierarquizar e articular essas inormações com

a situação de comunicação e com o conhecimento que ele possui, a

ler nas entrelinhas o que o texto pressupõe, sem o dizer explicitamente,

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e a organizar todas as inormações para dar-lhes um sentido geral. Ele

precisa aprender a tomar certo distanciamento dos textos para in-

terpretá-los criticamente e ser capaz de identicar suas característi-

cas e nalidades. Se queremos que descubra as regularidades de umgênero textual qualquer (uma carta, um conto etc.), temos de ornecer-

-lhe erramentas para que possa analisar os textos pertencentes a esse

gênero e conscientizar-se de sua situação de produção e das dierentes

marcas linguístico-discursivas que lhe são próprias.

Aprender a escrever escrevendoEntretanto, o que se pretende sobretudo é incentivar a escrita. Por

isso, essa Olimpíada acertadamente arma que estamos em uma “ba-

talha” e para ganhá-la precisamos de armas adequadas, de desenho

de estratégias, de objetivos claros e de uma boa ormação dos atores

envolvidos. Não é suciente aprender o código e a leitura para apren-

der a escrever. Escrever se aprende pondo-se em prática a escrita,

escrevendo-se em todas as situações possíveis: correspondência es-

colar, construção de livro de contos, de relatos de aventuras ou de

intriga, convite para uma esta, troca de receitas, concurso de poesia,jogos de correspondência administrativa, textos jornalísticos (notícias,

editorial, carta ao diretor de um jornal) etc.

Do ponto de vista social, a escrita permite o acesso às ormas de

socialização mais complexas da vida cidadã. Mesmo que os alunos

não almejem ou não se tornem, no uturo, jornalistas, políticos, advo-

gados, proessores ou publicitários, é muito importante que saibam

escrever dierentes gêneros textuais, adaptando-se às exigências de

cada esera de trabalho. O indivíduo que não sabe escrever será um

cidadão que vai sempre depender dos outros e terá muitas limitações

em sua vida prossional. O ensino da escrita continua sendo um espa-

ço undamental para trabalharmos os usos e as normas dela, bem

como sua adaptação às situações de comunicação. Assim, considera-

mos que ela é uma erramenta de comunicação e de guia para os

alunos compreenderem melhor seu uncionamento todas as vezes que

levam em conta as convenções, os usos ormais e as exigências das

instituições em relação às atividades de linguagem nelas praticadas.

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Do ponto de vista psicológico, a escrita mobiliza o pensamento e a

memória. Sem conteúdos nem ideias, o texto será vazio e sem consis-

tência. Preparar-se para escrever pressupõe ler, azer registros pessoais,

selecionar inormações… atividades cognitivas, todas elas. Mas escre-ver é também um auxílio para a refexão, um suporte externo para

memorizar e uma orma de regular comportamentos humanos. Assim,

quando anotamos uma receita, as notas nos ajudam a realizar passo

a passo o prato desejado, sem nos esquecermos dos ingredientes

nem das etapas a serem seguidas. Do mesmo modo, quando escreve-

mos um relato de uma experiência vivida, a escrita nos ajuda a estru-

turar nossas lembranças.

Do ponto de vista do desenvolvimento da linguagem, escrever im-plica ser capaz de atuar de modo ecaz, levando em consideração a

situação de produção do texto, isto é, quem escreve, qual é seu papel

social (jornalista, proessor, pai); para quem escreve, qual é o papel so-

cial de quem vai ler, em que instituição social o texto vai ser produzido

e vai circular (na escola, em eseras jornalísticas, cientícas, outras);

qual é o eeito que o autor do texto quer produzir sobre seu destina-

tário (convencê-lo de alguma coisa, azê-lo ter conhecimento de algum

ato atual ou de algum acontecimento passado, diverti-lo, esclarecê-losobre algum tema considerado diícil); algum outro objetivo que não

especicamos. Deve-se também, para o desenvolvimento da linguagem,

planicar a organização do texto e utilizar os mecanismos linguísticos

que asseguram a arquitetura textual: a conexão e a segmentação entre

suas partes, a coesão das unidades linguísticas que contribuem para

que haja uma unidade coerente em unção da situação de comunica-

ção. Esses aspectos de textualização dependem, em grande parte, do

gênero de texto. As operações que realizamos quando escrevemosuma receita ou uma carta comercial ou um conto não são as mesmas.

Mas, independentemente do texto que escrevemos, o domínio da escrita

também implica: escolher um vocabulário adequado, respeitar as es-

truturas sintáticas e morológicas da língua e azer a correção ortográ-

ca. Além disso, se tomarmos a produção escrita como um processo

e não só como o produto nal, temos de levar em consideração as

atividades de revisão, de releitura e de reescrita, que são necessárias

para chegarmos ao resultado nal desejado.

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Escrever: um desao para todosEssa Olimpíada lançou um desao para todos os alunos brasilei-

ros: melhorar as práticas de escrita. Incentivar a participar de um con-

curso de escrita é uma orma de motivá-los coletivamente. Para que

todos possam azê-lo em igualdade de condições, os materiais dispo-

nibilizados pela Olimpíada propõem uma série de situações de comu-

nicação e de temas de redação que antecipam e esclarecem o objetivo

a ser alcançado. O papel do proessor é indispensável nesse projeto.A apresentação da situação de comunicação, a ormulação clara das

instruções para a produção e a explicitação das tareas escolares que

terão de ser realizadas, antes de se redigir o texto para a Olimpíada,

são condições essenciais para seu êxito. Entretanto, é mais impor-

tante ainda o trabalho de preparação para a produção durante a

sequência didática. Por meio da realização de uma série de ocinas e

de atividades escolares, pretende-se que todos os alunos, ao participar

delas, apereiçoem o seu aprendizado, colocando em prática o queaprenderão e mostrando suas melhores habilidades como autores.

Só o ato de participar desse projeto já é importante para se tomar

consciência do desao que é a escrita. Entretanto, o real desao do

ensino da produção escrita é bem maior. Assim, o que se pretende

com a Olimpíada é iniciar uma dinâmica que vá muito além da atividade

pontual proposta neste material. Espera-se que, a partir das atividades

da sequência didática, os proessores possam começar a desenvolver

um processo de ensino de leitura e de escrita muito mais amplo. Sabe-mos que a escrita é um instrumento indispensável para todas as

aprendizagens e, desse ponto de vista, as situações de produção e os

temas tratados nas sequências didáticas são apenas uma primeira

aproximação aos gêneros enocados em cada uma delas, que pode

ampliar-se aos poucos, pois escrever textos é uma atividade complexa,

que envolve uma longa aprendizagem. Seria ingênuo pensar que os

alunos resolverão todas as suas diculdades com a realização de uma

só sequência.

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A sequência didática como eixodo ensino da escrita

A sequência didática é a principal erramenta proposta pela Olim-píada de Língua Portuguesa Escrevend Futur para se ensinar a

escrever. Estando envolvido há muitos anos na elaboração e na expe-

rimentação desse tipo de dispositivo, iniciado coletivamente pela

equipe de didática das línguas da Universidade de Genebra, é um

prazer ver como se adapta à complexa realidade das escolas brasilei-

ras. Uma sequência didática é um conjunto de ocinas e de atividades

escolares sobre um gênero textual, organizada de modo a acilitar a

progressão na aprendizagem da escrita.Cinco conselhos me parecem importantes para os proessores que

utilizam esse dispositivo como modelo e desenvolvem com seus alu-

nos as atividades aqui propostas:

1) Fazer os alunos escreverem um primeiro texto e avaliar suas

capacidades iniciais. Observar o que eles já sabem e assinalar as

lacunas e os erros me parece undamental para escolher as atividades

e para orientar as intervenções do proessor. Uma discussão com

os alunos com base na primeira versão do texto é de grande ecácia:o aluno descobre as dimensões que vale a pena melhorar, as novas

metas para superar, enquanto o proessor compreende melhor as

necessidades dos alunos e a origem de alguns dos erros deles.

2) Escolher e adaptar as atividades de acordo com a situação es-

colar e com as necessidades dos alunos, pois a sequência didática

apresenta uma base de materiais que podem ser completados e

transormados em unção dessa situação e dessas necessidades.

3) Trabalhar com outros textos do mesmo gênero, produzidos

por adultos ou por outros alunos. Diversicar as reerências e apre-

sentar um conjunto variado de textos pertencentes a um mesmo

gênero, propondo sua leitura e comparação, é sempre uma base

importante para a realização de outras atividades.

4) Trabalhar sistematicamente as dimensões verbais e as ormas

de expressão em língua portuguesa. Não se conormar apenas

com o entusiasmo que a redação de um texto para participar de

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a ocasião az o escritor

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uma competição provoca e sempre buscar estratégias para desen-

volver a linguagem escrita.

5) Estimular progressivamente a autonomia e a escrita criativa

dos alunos. Os auxílios externos, os suportes para regular as pri-

meiras etapas da escrita são muito importantes, mas, pouco a

pouco, os alunos devem aprender a reler, a revisar e a melhorar os

próprios textos, introduzindo, no que or possível, um toque pessoal

de criatividade.

Uma chama olímpica contra o “iletrismo”Pouco me resta a dizer. Primeiro, parabenizar os autores das sequên-

cias didáticas. Segundo, expressar toda a minha admiração pela orga-

nização da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevend Futur, que

envolve a parceria entre uma entidade governamental, o Ministério da

Educação, e uma undação empresarial, a Fundação Itaú Social, com a

coordenação técnica do Cenpec. Terceiro, incentivar proessores e alu-

nos a participar desse projeto singular. Que a chama olímpica contra o

“iletrismo” percorra esse vasto e magníco país que é o Brasil. Ensinara escrever é uma tarea nobre e complexa que merece o maior dos re-

conhecimentos sociais.

Nos antigos jogos olímpicos, a chama olímpica se mantinha acesa

diante do altar do deus Zeus durante toda a competição. Que a cha-

ma da esperança do acesso à leitura e à escrita não se apague. Essa

competição todos nós podemos e devemos ganhar!

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Introdução ao gênero

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a ocasião az o escritor

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O que é crônica?

Antes de começar... vamos conhecer alguns segredos de uma

boa crônica!

Um dos prazeres da vida é abrir o jornal num domingo preguiço-

so, pular as seções de política e economia e ler, sem compromisso,

uma crônica, que pode nos emocionar, azer rir, pensar... e às vezes

até as pazes com certos desastres da vida.

Mas o que é uma crônica?

Um ensaio?

Um tipo de conto?

Seria literatura?

Ou apenas jornalismo com toque de poesia?

Diícil denir?

Não para Ivan Ângelo. Cansado de ver as crônicas que escreveserem conundidas com artigos ou contos, ele resolveu nos azer

pensar sobre elas. Conra.

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a ocasião az o escritor

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Sobre a crônica

Uma leitora se reere aos textos aqui publicados como “reportagens”.Um leitor os chama de “artigos”. Um estudante ala deles como “contos”.

Há os que dizem: “seus comentários”. Outros os chamam de “críticas”.

Para alguns, é “sua coluna”.

Estão errados? Tecnicamente, sim – são crônicas –, mas... Fernando

Sabino, vacilando diante do campo aberto, escreveu que “crônica é tudo o

que o autor chama de crônica”.

A diiculdade é que a crônica não é um ormato, como o soneto, e

muitos duvidam que seja um gênero literário, como o conto, a poesialírica ou as meditações à maneira de Pascal1. Leitores, indierentes ao

nome da rosa, dão à crônica prestígio, permanência e orça. Mas vem

cá: é literatura ou é jornalismo? Se o objetivo do autor é azer literatura

e ele sabe azer...

Há crônicas que são dissertações, como em Machado de Assis; outras

são poemas em prosa, como em Paulo Mendes Campos; outras são

pequenos contos, como em Nelson Rodrigues; ou casos, como os de

Fernando Sabino; outras são evocações, como em Drummond e RubemBraga; ou memórias e refexões, como em tantos. A crônica tem a mobili-

dade de aparências e de discursos que a poesia tem – e acilidades que a

melhor poesia não se permite.

Está em toda a imprensa brasileira, de 150 anos para cá. O proessor

Antonio Candido observa: “Até se poderia dizer que sob vários aspectos é

um gênero brasileiro, pela naturalidade com que se aclimatou aqui e pela

originalidade com que aqui se desenvolveu”.

Alexandre Eulálio, um sábio, explicou essa origem estrangeira: “É

nosso familiar essay2, possui tradição de primeira ordem, cultivada desde

o amanhecer do periodismo nacional pelos maiores poetas e prosistas da

época”. Veio, pois, de um tipo de texto comum na imprensa inglesa do

século XIX, aável, pessoal, sem-cerimônia e, no entanto, pertinente.

1. Blaise Pascal (1623-1662), matemático, ilósoo e teólogo rancês, autor de Pensamentos .

2. “Ensaio amiliar.” Ensaio é um gênero inaugurado por Michel de Montaigne (1533-1592); vem dapalavra rancesa essayer  (“tentar”). Um ensaio é um texto onde se encadeiam argumentos, pormeio dos quais o autor deende uma ideia.

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Por que deu certo no Brasil? Mistérios do leitor. Talvez por ser a obra

curta e o clima, quente.

A crônica é rágil e íntima, uma relação pessoal. Como se osse escritapara um leitor, como se só com ele o narrador pudesse se expor tanto.

Conversam sobre o momento, cúmplices: nós vimos isto, não é, leitor?,

vivemos isto, não é?, sentimos isto, não é? O narrador da crônica procura

sensibilidades irmãs.

Se é tão antiga e íntima, por que muitos leitores não aprenderam a

chamá-la pelo nome? É que ela tem muitas máscaras. Recorro a Eça de

Queirós, mestre do estilo antigo. Ela “não tem a voz grossa da política,

nem a voz indolente do poeta, nem a voz doutoral do crítico; tem umapequena voz serena, leve e clara, com que conta aos seus amigos tudo o

que andou ouvindo, perguntando, esmiuçando”.

A crônica mudou, tudo muda. Como a própria sociedade que ela

observa com olhos atentos. Não é preciso comparar grandezas, botar Rubem

Braga diante de Machado de Assis. É mais exato apreciá-la desdobrando-se

no tempo, como ez Antonio Candido em “A vida ao rés do chão”: “Creio

que a órmula moderna, na qual entram um ato miúdo e um toque hu-

morístico, com o seu quantum satis3

de poesia, representa o amadureci-mento e o encontro mais puro da crônica consigo mesma”. Ainda ele : “Em

lugar de oerecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos

candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma

singularidade insuspeitadas”.

Elementos que não uncionam na crônica: grandiloquência, secta-

rismo, enrolação, arrogância, prolixidade. Elementos que uncionam:

humor, intimidade, lirismo, surpresa, estilo, elegância, solidariedade.

Cronista mesmo não “se acha”. As crônicas de Rubem Braga oramvistas pelo sagaz proessor Davi Arrigucci como “orma complexa e única

de uma relação do Eu com o mundo”. Muito bem. Mas Rubem Braga não

se achava o tal. Respondeu assim a um jornalista que lhe havia pergun-

tado o que é crônica:

— Se não é aguda, é crônica.

Ivan Ângelo. Veja São Paulo , 25/4/2007.

3. Em latim, “a quantidade necessária”.

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Crônica é um gênero de texto tão fexível que pode usar a “máscara”

de outros gêneros, como o conto, a dissertação, a memória, o ensaio ou

a poesia, sem se conundir com nenhum deles. É leve, des pretensiosa

como uma conversa entre velhos amigos, e tem a capacidade de, porvezes, nos azer enxergar coisas belas e grandiosas em pequenos deta-

lhes do cotidiano que costumam passar despercebidos.

Mas que tal enriquecer com outras inormações essas primeiras

ideias a respeito do que é crônica?

História das crônicasA palavra “crônica”, em sua origem, está associada ao vocábulo

“khróns” (grego) ou “chrns” (latim), que signica “tempo”. Para

os antigos romanos a palavra “chrnica” designava o gênero que

azia o registro de acontecimentos históricos, verídicos, na ordem

em que aconteciam, sem pretender se aproundar neles ou inter-

pretá-los. Com esse sentido ela oi usada nos países europeus.

A crônica contemporânea brasileira, também voltada para oregistro jornalístico do cotidiano, surgiu por volta do século XIX,

com a expansão dos jornais no país. Nessa época, importantes

escritores, como José de Alencar e Machado de Assis, começam

a usar as crônicas para registrar de modo ora mais literário, ora

mais jornalístico, os atos corriqueiros de seu tempo. É interes-

sante observar que as primeiras crônicas brasileiras são dirigi-

das às mulheres e publicadas como olhetins, em geral na parte

inerior da página de um jornal.

Um olhar atento sobre o cotidianoA crônica é um gênero que ocupa o espaço do entreteni-

mento, da refexão mais leve. É colocada como uma pausa para

o leitor, atigado de textos mais densos. Nas revistas, por exem-

plo, em geral é estampada na última página.

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Ao escrever, os cronistas buscam emocionar e envolver seus

leitores, convidando-os a refetir, de modo sutil, sobre situa-

ções do cotidiano, vistas por meio de olhares irônicos, sérios ou

poéticos, mas sempre agudos e atentos.

Os muitos tons da crônica no BrasilA crônica é um gênero que retrata os acontecimentos da

vida em tom despretensioso, ora poético, ora losóco, muitas

vezes divertido. Nossas crônicas são bastante dierentes da-

quelas que circulam em jornais de outros países. Lá são relatosobjetivos e sintéticos, comentários sobre pequenos aconteci-

mentos, e não costumam expressar sentimentos pessoais do

autor. Os cronistas brasileiros exprimem vivências e sentimen-

tos próprios do universo cultural do país.

No Brasil, há vários modos de escrevê-las. Se usa o tom da

poesia, o autor produz uma prosa poética, como algumas crô-

nicas escritas por Paulo Mendes Campos. Mas elas podem serescritas de uma orma mais próxima ao ensaio, como as de

Lima Barreto; ou a que você acabou de ler, de Ivan Ângelo; ou

ser narrativas, como as de Fernando Sabino. As crônicas

podem ser engraçadas, puxando a refexão do leitor pelo jeito

humorístico, como as de Moacyr Scliar, ou ter um tom sério.

Outras podem ser próximas de comentários, como as crônicas

esportivas ou políticas.

De gênero jornalístico a gênero literárioNem todas as crônicas resistem ao tempo. Publicadas em

jornais e revistas, são lidas apenas uma vez e, em geral, esque-

cidas pelo leitor. A crônica literária, no entanto, tem longa du-

ração e é sempre apreciada pelo estilo de quem a escreve e

pelo tema abordado.

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A produção de crônicas literárias é muitas vezes tarea “en-

comendada” a escritores já reconhecidos pela publicação de

outras obras, como contos e romances. São esses autores que,

usando recursos literários e estilo pessoal, azem seus textosperdurarem e serem apreciados apesar da passagem do tem-

po. Para conseguir esse eeito, os escritores não destacam os

atos em si, mas a interpretação que azem deles, dando-lhes

características de “retrato” de situações humanas atemporais.

Os temas geralmente são ligados a questões éticas, de relacio-

namento humano, de relações entre grupos econômicos, sociais

e políticos.Em geral, na crônica a narração capta um momento, um

fagrante do dia a dia; o desecho, embora possa ser conclusivo,

nem sempre representa a resolução do confito, e a imaginação

do leitor é estimulada a tirar suas próprias conclusões. Os atos

cotidianos e as personagens descritas podem ser ctícias ou

reais, embora nunca se espere da crônica a objetividade de

uma notícia de jornal, de uma reportagem ou de um ensaio.

Desvendados os primeiros segredos do gênero crônica, é hora

de compartilhá-los com os alunos.

Em alguns meses você vai transormar uma turma de jovens

alvoroçados em cronistas capazes de escrever sobre o lugar onde

moram com humor e sensibilidade!

Preparamos, para seu uso, uma série de onze ocinas, que, traba-lhadas em salas de aula, constroem passo a passo as habilidades para

se escrever uma crônica. Você contará com o apoio deste Caderno, do

CD-Rom de crônicas que o acompanha e da Cletânea de crônicas.

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23a ocasião az o escritor

O tempo das oicinasCada ocina oi organizada para tratar de um tema, um

assunto. Algumas poderão ser realizadas em uma ou duas au-

las; outras levarão três ou quatro. Por isso, é essencial que

você, proessor, leia todas as atividades antecipadamente.

Antes de começar a trabalhar com os alunos, é preciso ter

uma visão do conjunto, de cada etapa e do que se espera que

eles produzam ao nal.

Aproprie-se dos objetivos e estratégias de ensino, providen-

cie o material e estime o tempo necessário para que sua turma

aça o que oi proposto.

Enm, é preciso planejar cada passo, pois só você, que

conhece seus alunos, conseguirá determinar qual a orma mais

eciente de trabalhar com eles. Comece o quanto antes; as-

sim, você terá mais tempo para desenvolver as propostas e

acompanhar melhor o “Cronograma de atividades”, cartaz

que deverá ser axado na sala dos proessores e consultadoregularmente.

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Oicina

Questõespolêmicas

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É horade combinar

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Objetivos

Prepare-se!Na última etapa desta ocina seus alunos escreverãoo primeiro artigo de opinião deles. Você precisará ajudá-los

a denir questões polêmicas. Procure identicar o queé polêmico em sua comunidade. Seus alunos arãoum debate. Ajude-os a traçar uma preparação e umcomportamento apropriado para essa situação.

Identicar questões polêmicas.

Reconhecer bons argumentos .

Escolher ou ormular uma questão polêmica.

. . . . . . . . . . . . . . .

Prepare-se! Você bem sabe que boas aulas não são dadas

por acaso: é preciso investir tempo e denir o quese quer e o que se pretende alcançar ao nal decada aula, além de refetir sobre as propostas deatividades e preparar o material necessário.

 Falar sobre a Olimpíada de Língua PortuguesaEscrevendo o Futuro e a orma de participar dela.

Estabelecer contato com o gênero crônica.

Ler uma crônica de Fernando Sabino.

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1ª- etapa

Uma classe motivadaDo seu entusiasmo vai depender o bom êxito da sua proposta de

trabalho. Esse entusiasmo vai contagiar os alunos se você lhes der

uma visão clara do que é essa Olimpíada e do que vão ganhar ao azer

parte dela. Como?Comece perguntando o que eles sabem sobre olimpíadas em

geral. O objetivo de qualquer pergunta é provocar respostas do outro;

por isso dê tempo para que os alunos se maniestem. Para acilitar

o diálogo e a aprendizagem cooperativa disponha as carteiras em

círculo, semicírculo ou em orma de U.

Material�  “Cronograma de atividades” da Olimpíada de Língua Portuguesa 

�  Coletânea de crônicas 

�  CD-ROM de crônicas 

�  Exemplares de jornais e revistas que contenham crônicas 

�  Dicionários da língua portuguesa 

�  Aparelho de som

�  Caderno, o Diário da Olimpíada  

Lembre-se de que as atividades deste Caderno oram plane-

jadas para abordar alguns dos conteúdos de ensino de língua

portuguesa. Todos os alunos devem participar das ocinas, pois

poderão alcançar uma escrita mais aprimorada, ainda que não

tenham seus textos escolhidos para as próximas etapas.

A importância de participar

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       A      t       i     v       i       d     a       d

     e     s

Aguçado o interesse dos alunos pelo tema, é hora de apresentar

a Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevend Futur, suas seme-

lhanças e dierenças com uma olimpíada esportiva; mostre-lhes que

na Olimpíada de Língua Portuguesa o objetivo é aprender a escrevercrônicas sobre as pessoas, os costumes, a vida do lugar onde mo-

ramos. Pode ser uma boa hora para apresentar o “Cronograma de

atividades” que sua escola recebeu e programar o tempo que será

necessário para a realização das atividades.

Não dê prontamente todas as inormações sobre o concurso.

Peça aos alunos que ormem duplas e, por dois minutos,levantem dúvidas e açam perguntas. Depois, ouça os repre-

sentantes de cada dupla e esclareça todos os pontos de uma

só vez.

Talvez uma das perguntas seja: “E se a crônica escolhida para

concorrer ao prêmio não estiver entre as nalistas do concurso?”.

É uma boa oportunidade para lembrar-lhes que todos sairão

ganhando: primeiro, pela preparação intensiva para a Olimpía-da, que começa com esta Ocina 1 e vai se estender por mais

dez. Segundo, porque todos os textos produzidos na penúltima

ocina vão se transormar em material de leitura para os outros

alunos da escola. Nesse ponto você pode perguntar à turma: “O

que azer para que outras pessoas possam ler o que vocês vão

escrever, aqui na sala de aula, sobre a nossa cidade?”.

Ouça as respostas. Talvez surjam ideias como: criar um blg daescola para divulgar as crônicas, produzir um livro para car

disponível na biblioteca, publicar periodicamente os textos nos

jornais do bairro, da cidade ou no site da escola.

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       A      t       i     v       i       d     a       d

     e     s

Sobre suportes, olhares e palavras

 Você pode encerrar esta etapa lembrando-lhes as situações decomunicação em que as crônicas costumam ser produzidas: com que

nalidade, para quem, onde circulam e em que suportes (livros, jor-

nais, revistas, internet) são encontradas.

Talvez seja bom destacar que os alunos, como uturos cronistas,

têm como tarea, daqui por diante, desenvolver o olhar atento e sensí-

vel aos atos do dia a dia. Um mendigo solitário na calçada, a orma de

o eirante atrair os compradores, um encontro no ônibus, o utebol dos

meninos na pracinha, uma notícia de jornal que desperta curiosidade...

2ª- etapa

A descoberta de uma crônicaEntendido como unciona o concurso, é hora de ajudar os alunos

a descobrir o que é uma crônica. Em vez de simplesmente ler ou ouvir

a denição de crônica que está no dicionário, os alunos vão pensar e

dizer o que acham que é esse gênero discursivo.

Comece azendo perguntas e, sem emitir comentários, aguarde

um tempo para ouvir as respostas.

Quem costuma ler crônicas em jornal ou revista ou em blogs  da internet?

Quem já ouviu crônicas em programas de rádio ou televisão?

De que assuntos tratam essas crônicas?

Divida a classe em grupos. Entregue-lhes um jornal, uma revistasemanal ou um livro que contenha crônicas. A tarea do grupo

será olhear, ler esses materiais e escolher uma crônica para

apresentar aos colegas.

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Tudo isso é material para que eles possam, primeiro, refetir critica-

mente sobre questões sociais, ações, sentimentos e comportamento

das pessoas e, depois, usar ao escrever a crônica deles, trazendo à

tona a vida da cidade.Outra dica que você pode dar aos seus alunos: cronista escolhe a

dedo as palavras. Sua linguagem é simples, espontânea, quase uma

conversa ao pé do ouvido com o leitor. Tempera os atos diários com

humor, ironia ou emoção, revelando peculiaridades que as pessoas,

em sua correria, deixam de perceber.

3ª- etapa

A arte da crônica com Fernando SabinoA melhor orma de aprender a azer alguma coisa é observar um

mestre no assunto em ação. Por isso, nesta e nas outras ocinas, os

estudantes vão ler crônicas de grandes escritores brasileiros. Elas estão

na Coletânea que você recebeu e também nos livros do PNLD que

estão na biblioteca da escola. Nesta primeira ocina o mestre será

Fernando Sabino. Sugerimos um roteiro para trabalhar a crônica de

Sabino, que você poderá seguir nas outras ocinas, a cada novo cro-

nista apresentado.

AtençãoA Coletânea de textos  é de uso coletivo da escola; por isso, asanotações, os destaques, os registros comuns de estudo deverãoser eitas sempre no caderno do aluno.

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       A      t       i     v       i       d

     a       d     e     s

Por meio de perguntas, explore o que os alunos já sabem sobre

o autor.

Depois de ouvi-los, apresente alguma inormação sobre quemoi Fernando Sabino. O quadro abaixo poderá ajudá-lo.

Fernando Tavares SabinoBelo Horizonte (MG), 12/10/1923 — Rio de Janeiro (RJ), 11/10/2004

Cronista, romancista, contista, editor e documentarista. Aos 13 anos, publi-cou seu primeiro trabalho literário, na revista Argus , órgão da Polícia Militarmineira. Conviveu, na adolescência, com o contista Otto Lara Resende

(1922-1992) e com o psicanalista Hélio Pellegrino (1924-1988), de quem oiamigo desde o jardim de inância. Em 1941 entrou na aculdade de direito eestreou em livro com Os grilos não cantam mais , uma reunião de contos.Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1944 e concluiu o curso de graduação.Iniciou a redação do romance O grande mentecapto , em 1946, retomadoapenas trinta e três anos depois. Em 1947, começou a publicar crônicas noDiário Carioca e em O Jornal , reproduzidas em vários outros periódicos espa-lhados pelo Brasil, consolidando seu nome como um dos renovadores dogênero. Escreveu, ainda nesse ano, o romance Os movimentos simulados ,

publicado postumamente, em 2004. Lançou, no ano de 1956, o romanceO encontro marcado , que xa seu nome também na prosa de cção. Entroupara o ramo editorial, no início da década de 1960, quando undou com oamigo Rubem Braga a Editora do Autor e posteriormente, em 1966, a EditoraSabiá, ambas importantes para o lançamento de obras de autores brasileiros.A partir de 1971 realizou uma série de documentários cinematográi-cos. Como jornalista, cobriu diversas eleições presidenciais e ez várias entre-vistas com escritores e artistas brasileiros e estrangeiros.

Enciclopédia Itaú Cultural . Disponível em <www.itaucultural.org.br/literatura>.

Para saber mais sobre o autor acesse <www.fernandosabino.kit.net>.

Por meio de perguntas, explore um pouco o título “A última

crônica” – isso vai ajudar os alunos a descobrir as características

de um bom título e aprender a criá-lo para as crônicas deles.

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Esse título chama a atenção do leitor? Por quê?

O que ele sugere?Pelo título dá para imaginar o assunto da crônica?

Que situação vocês acham que essa crônica vai retratar?

Peça aos alunos, organizados em grupos, que peguem a Cole-

tânea e leiam “A última crônica”.

Coloque o CD no aparelho de som e peça-lhes que ouçam “A

última crônica”.

Pergunte-lhes o que mudou sobre a percepção do texto após

a audicão. Em seguida, aça comentários sobre essa dierença.

Para isso utilize como apoio o boxe “Buscando sentido”.

Para ler um texto, não basta identicar letras, sílabas e palavras; é pre-

 ciso buscar o sentido, compreender, interpretar, relacionar e reter o que

or mais relevante.

Quando lemos algo, temos sempre um objetivo: buscar inormação,

ampliar conhecimento, meditar, entreter-nos. O objetivo da leitura é que

vai mobilizar as estratégias que o leitor utilizará. Sendo assim, ler um arti-

go de jornal é dierente de ler um romance, uma história em quadrinhos

ou um poema.

Ler textos traz desaos para os alunos. Para vencê-los é undamentala mediação de um proessor, que deve ajudá-los a compreender, gradati-

vamente, dierentes gêneros textuais por meio da leitura individual e au-

tônoma. Algumas estratégias podem acilitar essa conquista: uma delas é

a leitura cativante, emocionada, enática, eita pelo proessor; outra, a

audição do CD-ROM que az parte do material de apoio desta Olimpíada.

Contudo, ouvir textos lidos em voz alta não pode substituir a leitura

dos alunos, pois são jeitos dierentes de conhecer um mesmo texto. Além

disso, é papel da escola desenvolver habilidades de leitura.

Buscando sentido

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       C     r       ô

     n       i     c     a A última crônica

Fernando Sabino

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um caé junto ao balcão. Na

realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar ins-pirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano decada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano,ruto da convivência, que a az mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico.Nesta perseguição do acidental, quer num agrante de esquina, quer nas palavras de uma criançaou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem maisnada para contar, curvo a cabeça e tomo meu caé, enquanto o verso do poeta se repete na lem-brança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lançoentão um último olhar ora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao undo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesasde mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de

gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laçona cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousabalançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seresesquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da amília, célula da socie-dade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a ome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou dobolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaçode bolo sob a redoma. A mãe limita-se a fcar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como seaguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois seaasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturali-dade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do reguês. O homematrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples,amarelo-escuro, apenas uma pequena atia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garraa de Coca-Cola e o pratinho que ogarçom deixou à sua rente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e flha,obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto ebrilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de ósoros, e espera. A flhaaguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na atia do bolo.E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o ósoro e acende as velas. Como a um gesto en-saiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com orça, apagando as chamas.Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que ospais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você...”. Depois a mãe recolhe asvelas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra fnalmente o bolo com as duas mãossôregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a ftinhano cabelo crespo, limpa o arelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim,satiseito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, aobservá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixara cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfm se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que osse pura como esse sorriso.

Elenco de cronistas modernos.

21ª- ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005.

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33

Depois de ouvir e acompanhar a leitura da crônica de Fernando

Sabino, é hora de questionar o que a crônica provocou nos alunos:

O que acharam da crônica?

Alguém já viveu uma situação como a descrita na crônica?Ou conhece outra pessoa que vivenciou algo parecido?

Quem já comemorou um aniversário de orma dierente dotradicional bolo com velinhas? Como oi?

Há algo que cou diícil de entender?

Peça aos alunos que, em pequenos grupos, leiam novamente o

texto e escolham um parágrao em que o cronista conseguiu

mexer com a emoção deles para apresentar aos colegas.

Há palavras que o vento não levaO registro é muito importante para você apereiçoar o seu tra-

balho. Ele nos ajuda a azer questionamentos e descobrir soluções

que nos azem crescer. Sabemos que é mais uma tarea, mas preci-

samos desenvolver essa prática e vencer a alta de tempo.

Anote, no seu Diário da Olimpíada, as atividades desenvolvidas,

suas impressões e diculdades e as reações do grupo. Como diz aeducadora Madalena Freire (1996): “O registrar de sua refexão

cotidiana signica abrir-se para seu processo de aprendizagem”.

O proessor de aluno seminalista da Olimpíada deverá, com

base em seus registros, apresentar por escrito o relato de expe-

riência e do percurso vivido em sala de aula.

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Oicina

QuestõespolêmicasTempo, tempo,tempo...

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Objetivos

Prepare-se!Na última etapa desta ocina seus alunos escreverãoo primeiro artigo de opinião deles. Você precisará ajudá-los

a denir questões polêmicas. Procure identicar o queé polêmico em sua comunidade. Seus alunos arãoum debate. Ajude-os a traçar uma preparação e umcomportamento apropriado para essa situação.

Identicar questões polêmicas.

Reconhecer bons argumentos .

Escolher ou ormular uma questão polêmica.

. . . . . . . . . . . . . . .

Prepare-se!A ideia é azer que, num curto período, seus alunosconheçam crônicas de diversas épocas. Para isso imprimaos textos que estão gravados no CD-ROM de crônicas .

Aproximar os alunos do gênero crônica.

Possibilitar-lhes que identiquem a diversidade de

estilo e linguagem entre autores de épocas dierentes.

Distinguir o tom de lirismo, ironia, humorou refexão em dierentes crônicas.

Ler crônicas escritas nos séculos XIX, XX e XXI.

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       A

      t       i     v       i       d     a       d     e     s

Material�  CD-ROM de crônicas  

  Dicionários da língua portuguesa, de sinônimos, analógicos, temáticos �  Folhas de papel krat 

�  Canetas hidrográfcas coloridas e fta crepe 

O processo para identicar assunto,

personagens, ideias e emoções provocadas

Imprima do CD uma cópia de cada uma das crônicas sugeridas

abaixo. Divida a classe em pequenos grupos e entregue a cada

um deles uma cópia.

Sugestões: “A Rua do Ouvidor” (1878), Joaquim Manuel de

Macedo; “Falemos das fores” (1855), José de Alencar; “Serbrotinho” (1960), Paulo Mendes Campos; “Conormados e rea-

listas” (2008), Tostão; “Quem tem medo da mortadela” (1995),

Mário Prata; “Do rock” (2009), Carlos Heitor Cony; “A arte de

ser avó” (2005), Rachel de Queiroz.

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Se trpeçare em alguma palavra ou expressão ao lerem a

crônica, os alunos devem procurar o seu signicado no dicionário

que estará à disposição. Depois da leitura, cada grupo discutiráentre si as seguintes questões:

Que sentimentos ou emoções a crônica nos despertou?

A linguagem era atual?

Qual o assunto?

Qual a personagem ou personagens?

O autor azia parte da situação narrada ou estava comoobservador, de ora?

Convide cada grupo a retomar a sua crônica, procurando iden-

ticar o assunto; a época em que oi escrita; a relação entre o

tema e a linguagem usada pelo autor, refetindo o espírito e a

realidade do seu tempo.

Analise ainda o jeito de narrar que o cronista utilizou para

captar o acontecimento e provocar refexão e/ou crítica: adotou

um tom sério, compenetrado; usou humor, ez rir; oi irônico,

insinuando que as palavras dele signicavam o contrário do que

diziam; ou valeu-se de lirismo, azendo comparações e metáo-

ras poéticas.

Após essa discussão, organize uma roda de conversa em queum representante de cada grupo possa apresentar comentá-

rios. Em seguida, aça um quadro em papel krat (ou na lousa) e

preencha os campos junto com a turma. Veja como azer, utili-

zando o quadro da próxima página.

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 Título e

autor

Época e palavras

daquele tempo

Tema ou

assunto

Personagem(ns) Tom

“Ser brotinho”

Paulo MendesCampos

Anos 1960

Brotinho, vitrola,elepês, aguardarna geladeira

Hábitos ecomportamentodos jovens noinício da décadade 1960 

Uma garota Lírico

“Serbrotinhoé espalharagulhaspelos olhos”

“É darsentidoao vácuoabsoluto”

Os recursos de uma crônica

Todas as atividades das ocinas visam prepará-los para que açambonito na Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevend Futur e, o

que é mais importante, brilhem na escola e na comunidade com a sua

própria coletânea de crônicas. Nesta Ocina 2, por exemplo, eles

puderam continuar observando a linguagem e os recursos usados

por alguns dos melhores escritores brasileiros na construção do hu-

mor, da ironia, do lirismo ou da crítica. E por quê? Para aprender a

usar esses recursos em crônicas sobre a cidade e o bairro onde

vivem. Quando chegar à Ocina 10, eles serão escritores capazes tam-bém de captar um acontecimento, narrar um episódio do dia a dia,

expressar ideias, sentimentos, emocionar, rir, provocar refexões e

conversar com o leitor por meio da escrita.

Análise de uma crônica

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Para melhor compreender um texto, é preciso saber emque situação de comunicação ele oi produzido: “Quemé o autor? Para quem ele escreveu? Em que veículo elepublicou a crônica (jornal, revista, internet, livros)?

Crie um espaço de leitura bem convidativo. Que taldeixar sempre disponíveis jornais, revistas e livros decrônicas? Você sabia que muitos livros do Programa

Nacional de Biblioteca na Escola (PNBE) trazem crônicas?

Outra coisa: mural e varais precisam estar sempre atuali-zados, com indicações de leitura, resenhas de livros, apre-ciações das crônicas lidas ao longo do trabalho, otospitorescas. Convide uma equipe de voluntários, entre osalunos, para se responsabilizar por essa organização!

Para que os alunos percebam que a crônica pode diver-tir, sensibilizar, humanizar e permitir uma convivênciaíntima com a palavra, você precisa estimulá-los a exer-citar-se na leitura, aprendendo com os campeões dooício. Peça aos alunos que açam pesquisas; indiquelivros, jornais, revistas e sites em que possam pesquisar.

Combine com eles para trazer as crônicas encontradasna aula seguinte. Para auxiliar na pesquisa, indique-lhesos sites da relação abaixo:<www.dominiopublico.gov.br><www.releitura.com><www.jornaldepoesia.jor/br><www.2uol.com.br/machadodeassis>

Sugestões

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Oicina

QuestõespolêmicasPrimeiras linhas

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Objetivos

Prepare-se!Na última etapa desta ocina seus alunos escreverãoo primeiro artigo de opinião deles. Você precisará ajudá-los

a denir questões polêmicas. Procure identicar o queé polêmico em sua comunidade. Seus alunos arãoum debate. Ajude-os a traçar uma preparação e umcomportamento apropriado para essa situação.

Identicar questões polêmicas.

Reconhecer bons argumentos .

Escolher ou ormular uma questão polêmica.

. . . . . . . . . . . . . . .

Prepare-se! Você deverá explicar aos alunos como escolherum ato ligado ao cotidiano de cada um paraescrever a primeira crônica dele. Leia essesprimeiros textos e aça anotações para sabero que cada um tem que melhorar.

Produzir a primeira escrita de uma crônica.

 Encorajar os alunos a continuar aprendendo

a escrever crônicas.

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       A      t       i     v       i       d     a       d     e     s

Material  Folhas de papel krat 

  Canetas hidrográfcas coloridas e fta crepe  

1ª- etapa

Elementos que as crônicas têm em comumCom base na pesquisa realizada pelos alunos, será possível saber

como se escreve uma crônica.

Peça aos alunos que comentem os tópicos abaixo das crônicas

trazidas, de acordo com o combinado na ocina anterior.

Dados do autor e tema da crônica.

 Veículo em que oi publicada e a que tipo de leitor se destinou.

O tom da escrita (bem-humorado, poético, irônico, refexivo, sério).

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Peça aos alunos que identiquem os elementos que todas as

crônicas, por mais dierentes que sejam, têm em comum. Com

base nos exemplos extraídos das apresentações anteriores,crie com seus alunos um cartaz com os elementos contidos em

uma crônica:

  Título sugestivo.

  Cenário curioso.

  Foco narrativo, ou seja, o autor escolhe o ponto de vista que

vai adotar: escreve na primeira pessoa (eu vi, eu z, eu senti) e se

transorma em parte da narrativa – é o autor-personagem;

ou ca de ora e escreve na terceira pessoa (ele ez, eles

sentiram) – é o autor-observador.

  Uma ou várias personagens, inventadas ou não – o autor pode

ser uma delas.

Enredo, isto é, narra um momento, um acontecimento, um

episódio banal do dia a dia, e a partir daí passa uma ideia,

provoca uma emoção.

  Tom, que pode ser poético, humorístico, irônico ou refexivo.

  Linguagem coloquial (uma “conversa” com o leitor).

  Desecho.

2ª- etapa

A escolha de um assunto,de uma situação, e o tom da narrativa

Ajude seus alunos a escolher um tema, um assunto sobre o que

escrever e o tom que vão usar. É um empurrãozinho essencial para

que vençam o medo do papel em branco!

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       A      t       i     v       i       d

     a       d     e     s

Peça aos alunos que quem em silêncio, por um ou dois minu-

tos, e pensem: nos lugares que requentam; nas pessoas com

as quais convivem; nos assuntos que estão circulando na cidade,na comunidade; em algo que tenha ocorrido no dia a dia deles

e chamado a atenção. É dessa simples observação que cada

um deles escreverá uma crônica.

Em seguida, incentive-os a compartilhar com o grupo a situa-

ção que identicaram mentalmente.

À medida que os alunos alam, anote na lousa os atos lembrados.

Terminada a lista, mostre que todos conseguiram agir comoverdadeiros cronistas. Olharam os atos corriqueiros da cidade

e escolheram um episódio a respeito do qual querem escrever,

individualmente, uma crônica.

O próximo passo é escolher o tom – poético, bem-humorado,

crítico, lírico – com que vão narrar o tema e optar pelo oco nar-

rativo: na primeira pessoa (autor-personagem) ou na terceira

pessoa (autor-observador)?

Dê-lhes tempo para escolher o tom e o oco narrativo que mais

lhes agrade; em seguida, peça a cada um deles que escreva

uma crônica.

Antes que coloquem a mão na massa, lembre-lhes que essa

crônica é ainda uma primeira versão, que será lida apenas por

você. O objetivo é azer uma avaliação inicial do que eles já sabem

e do que precisam aprender sobre como escrever uma crônica.

Os alunos também vão azer uma autoavaliação para descobrir

os aspectos que precisam ser melhorados. É importante reco-

mendar-lhes que guardem com cuidado o primeiro texto, para

compará-lo com o texto nal, que será escrito na Ocina 10, e

ver com os próprios olhos o quanto evoluíram na caminhada.

Uma dica para a classe: na maioria das vezes o cronista cria o

título depois de escrever a crônica.

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3ª- etapa

O valor da primeira escritaA primeira produção propicia um diagnóstico dos conhecimentos

e das diculdades de cada aluno. Esses dados darão pistas para que

você possa planejar as intervenções necessárias no desenvolvimento

de cada etapa do trabalho.

Abaixo há o exemplo de uma análise de produção inicial que poderá

ajudá-lo a avaliar seus alunos e planejar os próximos passos do traba-

lho. Conra também o bilhete do proessor, que enaltece os progressosda aluna, bem como aponta os pontos a ser apereiçoados.

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4ª- etapa

Análise da primeira escritaAspectos que você pode analisar na primeira produção:

✓ O tema é adequado?

✓ Há apenas a descrição do ato, o relato da situação?Ou o relato é a base para a interpretação, que az pensar?

✓ O tom da narrativa oi bem escolhido?

Com esses parâmetros, o texto da Mariana poderia ser avaliado assim:

✓ A aluna escolheu um tema próximo de sua realidade.Parece que ela já conseguiu denir “o que dizer” e o oconarrativo (autor-personagem). O ideal será aproveitaresse tema na produção nal.

✓ Escreveu um relato de experiência pessoal (a descrição do

ato), e não uma crônica.✓ Será preciso ajudá-la a perceber as peculiaridades de uma

crônica. Com o desenvolvimento dos próximos passos (leitura decrônicas e atividades de escrita), ela vai exercitar o “ como dizer ”.

✓ O texto apresenta também problemas de pontuação.

Caso seu aluno seja semiinalista da Olimpíada, você preci-sará levar a primeira produção para o encontro regional.

Atenção

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SugestõesÉ importante elogiar o progresso dos alunos e ao mesmo tem po

indicar os pontos em que precisam melhorar. Dê dicas parachegar lá.

A ideia é alimentá-los. Portanto, nada de deixá-los inseguros,ressaltando erros e deciências. Devolva a primeira crônica  combilhetinhos animadores, como o escrito para Mariana.

Em seguida você pode pinçar exemplos positivos de dierentes

trabalhos: pegue o título engraçado de um, destaque o tom hu-morístico da narrativa de outro, comente a metáora de umterceiro, e assim por diante.

Hora de os alunos pesquisarem mais!Ao encerrar esta ocina você pode despertar a curiosidade dos

alunos para a próxima atividade. Conte-lhes que ela irá tratar de doistemas caros aos brasileiros: bola e amor.

Peça-lhes que pesquisem e tragam crônicas sobre esses assuntos.

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Oicina

Históriasdo cotidiano

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Objetivos. . . . . . . . . . . . . . .

Prepare-se! Você deverá se amiliarizar com alguns termos própriosdo mundo do utebol e se aproundar no conhecimentode guras de linguagem para produzir um cartaz.

Explorar os elementos constitutivos de umacrônica e os recursos literários utilizados pelo autor.

Empregar as guras de linguagem.

Conhecer expressões próprias do mundo do utebole também as dierentes ormas de se tratar o tema“amor”, tendo como cenário a cidade.

 Ler uma crônica de Armando Nogueira e

outra de Paulo Mendes Campos.

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       A      t       i     v

       i       d     a       d     e     s

Material�  Coletânea de crônicas 

  Dicionários (sinônimo, temático, analógico) �  Cartões brancos    Um cartaz com exemplos das fguras de linguagem mais usadas 

�  CD-ROM de crônicas  �  Aparelho de som 

1ª-

 etapa

Os recursos do cronista

Faça um cartaz bem colorido com as principais guras de lin-

guagem e axe-o no mural. Utilize como sugestão o cartaz da

página ao lado, para analisar as crônicas a partir desta ocina.

Explique aos alunos que as guras de linguagem são recursos

utilizados pelos autores para realçar uma ideia. Diga-lhes tam-

bém que um bom cronista tem dois instrumentos básicos: o

olhar e a linguagem. Com o olhar ele reconhece o acontecimento,

o momento que merece ser preservado, o qual outros nem

notam; com a linguagem, retrata a situação, e as guras de

linguagem o ajudam a azer isso com sucesso.

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Figuras de linguagem

Comparação: expressão de termo

comparativo. Quase sempreacompanhada da conjunção “como”.

  Faço versos como quem chora 

De desalento... de desencanto...

Manuel Bandeira

Metáora: comparação mental ou

abreviada em que prevalece a relação

de semelhança. Não aparece aconjunção “como”.

Na sua mente povoa só maldade.

Meu coração é um balde despejado.

Catacrese: metáora que caiu no uso

popular, corriqueira, muito comum.

As pernas da mesa estão bambas.

Quero morar no coração da cidade.

Metonímia: designação de um pormenor

pelo conjunto de que se quer alar.

  Ler Clarice Lispector. (autor pela obra) 

Comer o pão (por alimento) que o diabo amassou (por sorimento).

Personifcação ou prosopopeia:atribuição de ações, qualidades ou

sentimentos a seres inanimados.

O tempo passou na janela e só Carolina não viu.

Chico Buarque de Holanda

Hipérbole: armação exagerada.

Falei mil vezes para você! 

Morri de estudar para o vestibular.

Sinestesia: interpretação de planos

sensoriais, mistura de sensações

de sentidos dierentes. Comona metáora, relaciona elementos

de universos dierentes.

Senti um cheiro doce no ar.

Antítese: contraposição de uma palavra

ou rase a outra de sentido oposto.

Toda guerra fnaliza por onde devia ter começado: a paz.

Vivo só na multidão.

Ironia: sugestão pela entonação e pelocontexto de algo contrário ao que

pensamos, geralmente com intenção

sarcástica.

A excelente D. Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.

Monteiro Lobato

Euemismo: emprego de termos

considerados mais leves para suavizar

uma expressão considerada cruel ouoensiva.

Foi para o céu, em vez de morreu.

Está orte, em vez de está gorda.

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       A

      t       i     v       i       d     a       d     e     s

2ª- etapa

O mundo do utebolOs alunos já devem ter lido ou ouvido crônicas sobre utebol.

Talvez, na pesquisa que zeram ao nal da ocina anterior, tenham

encontrado algum material sobre esse assunto. Se esse or o caso,

peça-lhes que comentem as crônicas encontradas.

Para escrever – ou entender bem – uma crônica em que o tema

seja utebol, dominar o jargão especíco pode ajudar. Veja as ativida-

des sugeridas.

Escreva em cada cartão branco uma das palavras do quadro da

página ao lado. O objetivo é mostrar aos alunos que palavras do

dia a dia podem ter outro signicado no jargão utebolístico.

Divida a turma em pequenos grupos de orma que em cada um

deles haja pelo menos um aluno que goste de utebol.Distribua para cada grupo cinco cartões com as palavras do

universo do utebol e um dicionário. A tarea será: primeiro,

conversar e conhecer o signicado dessas palavras no dia a dia

e no utebol. Por exemplo, chocolate: produto alimentício de

cor marrom, sólido, pastoso ou em pó, que tem como matéria-

-prima o cacau; e chocolate: goleada, derrota de um time por

placar expressivo. Depois, peça aos alunos que conram no di-cionário as denições do grupo. Se não acertou, o grupo deve

escrever a resposta certa.

Disponha os alunos em semicírculo para que a turma compartilhe

o resultado do trabalho. Retome o sentido da palavra PELADA.

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 VÉU DE NOIVA CHOCOLATE LANTERNA 

CARTOLA BICICLETA CANETA 

PEDALADA PIPOQUEIRO COZINHA 

BANHEIRA AMARELAR FRANGO

LUGAR MARIA CHUTEIRA  DORME

LINHA GANDULA TAPETE

GOMO CAPOTÃO EMBAIXADA 

MORTE SÚBITA CORUJA ESCRETE

CHALEIRA FIRULA CARRINHO

BICUDA BOLEIRO ARTILHEIRO

PELOTA FRANGUEIRO PELADA 

3ª- etapa

Um cronista que tem utebol nas veiasDepois, apresente o jornalista Armando Nogueira. Pergunte-lhes

se conhecem esse jornalista e se já leram alguma crônica escrita

por ele. Complemente com as inormações da próxima página.

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       A      t       i     v       i       d

     a       d     e     s Armando Nogueira

Xapuri (AC), 14/1/1927

Formado em direito, começou em 1950 a carreira de jornalista. Foi repórter,redator e colunista. Fez a cobertura de todas as copas do mundo a partir de1954. Iniciou no telejornalismo em 1959. De 1966 a 1990 oi diretor daCentral Globo de Jornalismo da Rede Globo de Televisão. Começou a cobriros Jogos Olímpicos em 1980, em Moscou. Atualmente colabora em diver-sos jornais e mantém programa em uma emissora de televisão.Seu estilo literário na coluna “Na grande área”, inicialmente publicada peloJornal do Brasil , criou uma abordagem nova do utebol, aproximando-seainda mais do leitor. Autor de diversos livros, todos sobre esporte, entre osquais Drama e glória dos bicampeões  (em parceria com Araújo Neto); Na 

grande área ; Bola na rede ; O homem e a bola ; O voo das gazelas ; A copa 

que ninguém viu e a que não queremos lembrar (em parceria com Jô Soarese Roberto Muylaert); O canto dos meus amores ; A chama que não se apaga ;e o mais recente, A ginga e o jogo .Diga-lhes que Armando Nogueira escreveu a crônica para o jornal e sódepois ela oi publicada em seu livro Os melhores da crônica brasileira (Riode Janeiro: José Olympio, 1977).

Acesse <www.armandonogueira.com.br> e saiba mais sobre o cronista.

Apresente aos alunos o título do texto: “Peladas”. Depois de

conhecer Armando Nogueira e apreender o signicado do termo

em utebol, aça perguntas a eles:

Esse título ainda chama a atenção do leitor? Por quê?

O que ele sugere?

Pelo título, o que vocês imaginam? Quem será a personagemcentral? Qual será o confito – o problema ou a questão da crônica?

Como poderia ser o desecho – a conclusão de uma crônicacujo título é “Peladas”?

Ouça com os alunos a crônica “Peladas”.

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       C     r       ô     n

       i     c     a Peladas

Armando Nogueira

Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora,é uma babá que passa, empurrando, sem aeto, um bebê de carrinho, é umpar de velhos que troca silêncios num banco sem encosto.

E, no entanto, ainda ontem, isso aqui ervia de menino, de sol, debola, de sonho: “Eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tôcom o joelho ralado de ontem; vou fcar aqui atrás: entrou aqui, já sabe”.Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar oselo da bola, bendito ruto de uma suada vaquinha.

Oito de cada lado e, para não conundir, um time fca como está; ooutro joga sem camisa.

Já reparei uma coisa: bola de utebol, seja nova, seja velha, é um ser

muito compreensivo que dança conorme a música: se está no Maracanã,numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendosempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de umgandula.

Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: elacorre para cá, corre para lá, quica no meio-fo, para de estalo no canteiro,lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa,rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho.

Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de umabola. Afnal, trata-se de uma bola profssional, uma número cinco, cheiade carimbos ilustres: “Copa Rio-Ofcial”, “FIFA – Especial”. Uma bola

assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos(gomos hexagonais!), jamais seria barrada em recepção do Itamaraty.

No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maiorarra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando,acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.

Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craquecomo aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquerbola. Uma pintura.

Nova saída.Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no

quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença,

invade o universo inantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo.Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu temponem de desazer as traves eitas de camisas.

O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um cani-vete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa asangrar. Em cada gomo o coração de uma criança.

Os melhores da crônica brasileira . Rio de Janeiro:

José Olympio, 1977.

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       A      t       i     v       i       d     a       d     e     s

4ª- etapa

“Conversando” com Armando NogueiraTerminada a audição da crônica, é hora de interpelar os alunos.

 Você poderá provocá-los com perguntas como:

O que acharam da personagem principal? Que recursoslinguísticos o autor usou para lhe dar realce?

Qual o tom da crônica? Lírico? Refexivo? Humorístico?Por que acham isso?

O autor é observador ou personagem (oco narrativo)?

Esse texto ez vocês pensarem? Que ideias vieram à cabeça?E que sentimentos?

Após esse debate, divida a classe em grupos e peça-lhes que

abram a Coletânea e leiam a crônica “Peladas” e em seguida,respondam, por escrito, às questões da página ao lado. Quem

quiser, poderá, ainda, assumir o papel do cronista e escrever

outro desecho para a crônica.

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Onde se passa a história? Qual o cenário?

Que acontecimento transormou a praça? Que recursos o autorutilizou para realçar essa transormação?

Qual oi o confito?

No sétimo parágrao o autor se reere à bola caracterizando-acomo coitadinha. O que esse adjetivo no diminutivo sugere?

Que expressões do cotidiano o autor usa no oitavo parágrao?

Como o cronista ez o desecho? Que impressão esse desecholhe causou?

Reserve um tempo da aula para apreciação das respostas dos

alunos e se necessário aça a complementação.

Para concluir essa etapa, oereça a análise abaixo aos alunos.

Assim, eles poderão compará-la com sua própria interpretação

da crônica!

Sobre “Peladas”No primeiro parágrao o cronista-narrador anuncia que “sem aquela

pelada” a praça está vazia, sem vida, deixou de ser um espaço de con-

vivência, perdeu o sentido: “uma chatice completa”. Em contraposição

à ideia de solidão em que se transormou a praça, o autor mostra ao

leitor – numa descrição detalhada – como o cenário era animado antesdo m da pelada: “ervia de menino [...] de sonho”.

Observe como o cronista compõe o cenário, localiza o espaço (uti-

liza advérbios para marcar tempo e lugar), nomeia ações, oerecendo

pistas para o leitor antecipar, congurar o enredo. A prosa – ora lírica,

ora irônica – estabelece uma conversa com o leitor. Faz que os leitores

tenham a imagem do que oi escrito. A ação da narrativa lembra o

ritmo, a pulsação de uma partida de utebol. O autor escolhe as palavras,

as comparações, as guras de linguagem (“pelada inocente”, “pureza

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de uma bola”; “bendito ruto”; “suada vaquinha”; “lava a alma”). Usa

verbos na terceira pessoa (autor-observador) e também entra na

história (autor-personagem), quando diz: “já reparei uma coisa...” – alguns

autores denominam esse tipo “autor-intruso”.Desde o início o destino da personagem é traçado. O cronista per-

sonica a personagem central – a bola, que ganha vida, se humaniza

(prosopopeia). Num crescendo, vai descrevendo as ações da bola: “ela

corre para cá, corre para lá, quica no meio-o, para de estalo no cantei-

ro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois

escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho”. Aos poucos,

o cronista torna a personagem “vítima”: “Acertam-lhe um bico, ela sai

zarolha, vendo estrelas, coitadinha”.Nos últimos parágraos, o narrador reorça a crueldade das ações,

provocando apreensão no leitor. “Entra na praça [...] sem pedir licença,

invade o universo inantil de uma pelada e vai expulsando todo

mundo [...] O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda [...]”. O des-

echo é a morte simbólica da personagem: “[...] tira do bolso um canivete

e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a

sangrar. Em cada gomo o coração de uma criança”. A metáora expressa

o sentimento de dor, perda. É a morte da alegria, o roubo do brincar,o desaparecimento da pelada de rua, do ser criança.

5ª- etapa

O mundo amoroso

Quando os alunos zeram uma lista de situações que poderiammerecer uma crônica, talvez o “amor” tenha aparecido em alguma

delas. Anal encontros e despedidas, dores, temores, esperas,

alegrias e desesperos amorosos ocorrem a todo momento em qual-

quer cidade.

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       A      t       i     v       i       d

     a       d     e     s

Paulo Mendes CamposBelo Horizonte (MG), 28/2/1922 — Rio de Janeiro (RJ), 1º-/7/1991

Estudou odontologia, veterinária e direito, mas não chegou a completá-los.Tornou-se escritor ainda jovem, como integrante da geração mineira à quepertenceu Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino, entre ou-

tros. Em Belo Horizonte, dirigiu o suplemento literário da Folha de Minas .Em 1945 oi para o Rio de Janeiro, onde já estavam seus amigos mineiros,para conhecer o poeta chileno Pablo Neruda, e acabou xando residênciana Cidade Maravilhosa. Lá tornou-se colaborador de O Jornal , do Correio 

da Manhã e do Diário Carioca . Neste último assinava a “Semana literária”e, depois, a crônica diária “Primeiro plano”. Também oi cronista da revistaManchete.

Admitido no Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Esta-do (Ipase), em 1947, como scal de obras, passou a redator daquele órgãoe chegou a ser diretor da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional, noRio de Janeiro.Em 1951 lançou seu primeiro livro de poemas, A palavra escrita . Casou-senesse mesmo ano com Joan Abercombrie, de ascendência inglesa, e tevedois lhos: Gabriela e Daniel. Buscando meios de sustentar a amília, oirepórter e, algumas vezes, redator de publicidade. Traduziu, entre outros,Júlio Verne, Oscar Wilde, John Ruskin, Shakespeare e Neruda.Dedicou-se totalmente à literatura, dando a suas palavras um requintee uma delicadeza incomuns, ao contrário de muitos cronistas que usamlinguajar mais coloquial. Suas crônicas deixam transparecer a perplexidade

diante do ser humano e de suas questões existenciais. A linguagem éessencialmente poética, cheia de sutilezas, uma prosa poética, penetrantee algumas vezes cheia de bom humor.

Proponha a leitura ou a audicão da crônica “O amor acaba” de

Paulo Mendes Campos, que está na Coletânea e no CD.

Apresente inormações sobre o autor. O quadro abaixo podeajudar.

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       C     r       ô     n

       i     c     a

O amor acabaPaulo Mendes Campos

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro esilêncio; acaba em caés engordurados, dierentes dos parques de ouro onde começou a pulsar;de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga nocinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, de-pois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãosno cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos desolidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braçosluminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg , entre risos dealumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; àsvezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, flho crucifcado de todas as mulheres; me-

canicamente, no elevador, como se lhe altasse energia; no andar dierente da irmã dentro decasa o amor pode acabar; na epiania1 da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nosbrincos e nas silabadas emininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia,onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simples-mente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no flho tantas vezessemeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não oresceu, abrindo parágraos de ódioinexplicável entre o pólen e o gineceu de duas ores; em apartamentos rerigerados, atapetados,aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertemos crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suore desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta denada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inerno

o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio,rivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegoudepois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada antasiada libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dosmesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nasencruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médicosentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, atése desazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janelaque se abre, na janela que se echa; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como umespelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregueconsigo; às vezes o amor acaba como se ora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com

doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; demanhã, de tarde, de noite; na oração excessiva da primavera; no abuso do verão; na disso-nância do outono; no conorto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer horao amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e aqualquer minuto o amor acaba.

O amor acaba: crônicas líricas e existenciais .

2ª- ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

1. No sentido literário, epiania é um momento privilegiado de revelação quando ocorre um evento que

“ilumina” a vida da personagem.

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Após a leitura ou a audição da crônica de Paulo Mendes Cam-

pos, você pode mostrar aos alunos a análise abaixo; assim, eles

poderão conrontá-la com as ideias deles.

Sobre “O amor acaba”A crônica, escrita em um único parágrao e em prosa poética, parte

de uma ideia central: o amor acaba para recomeçar sempre. O amor

acaba em qualquer lugar – em um bar, em um apartamento, em umaencruzilhada de uma cidade. Acaba em qualquer tempo – um dia da

semana, em qualquer das dierentes estações do ano, antes de, depois

de. Acaba de dierentes modos (de repente, mecanicamente), em die-rentes ações (um desenlaçar, em um passar por) e por dierentes motivos

(a perda de um lho, a rotina, na ausência do desejo).A repetição variada da rase “o amor acaba” imprime um ritmo

poético ao texto: o amor acaba no; acaba de repente; às vezes o amor

acaba...; acaba quando...; o amor pode acabar... e acaba o amor. Algu-

mas vezes, o amor não começa; em outras, se dissolve ou vira pó; e em

outras, ainda, seria melhor não ter existido.O poético emana da repetição de sentenças armativas durante

todo o texto: “domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acabaem caés engordurados, dierentes dos parques de ouro onde come-

çou a pulsar” ou “no coração que se dilata e quebra, e o médico sen-

tencia imprestável para o amor”, ou “às vezes acaba o amor nos braçostorturados de Jesus, lho crucicado de todas as mulheres”. E tam-

bém das imagens construídas pelo autor: “como tentáculos saciados,

e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão”, ou: “às

vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de

bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde,o carregue consigo”.

Procede ainda das palavras escolhidas com esmero, distintas da-

quelas que usamos no dia a dia: “polvilhando de cinzas o escarlate das

unhas”, ou: “no lho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns

dias, mas que não foresceu, abrindo parágraos de ódio inexplicávelentre o pólen e o gineceu de duas fores”.

E o poético jorrar de sentimentos em um só parágrao! Da arma-

ção nal ressurge o amor apontando o novo ciclo da vida: “para reco-

meçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba”.

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Se possível, pesquise na biblioteca ou na internet outras crô-nicas sobre esse assunto e leve-as para a sala de aula. Porexemplo: “Variações em torno da paixão”, Aonso Romano de

Sant’Anna; “Sobre o amor”, Ferreira Gullar; “Amor”, ArnaldoJabor. Dessa orma, os alunos podem comparar vários autorese seus estilos ao tratar de um mesmo tema.

Sugestão

Além de, como sempre, explorar a situação de comunicação, o

autor, o objetivo da leitura, o título, a antecipação de hipóteses

sobre o conteúdo da crônica, aproveite as ocinas para analisartambém as habilidades de leitura, onde seus alunos precisam

de mais ôlego. Eles já conseguem identicar eeitos de ironia

ou humor? Reconhecem os elementos constitutivos da crônica?

Já estabelecem relações entre partes de um texto, identicando

as repetições e substituições que contribuem para a continui-

dade dele? Já sabem inerir uma inormação implícita em um

texto, deduzir signicados e conteúdos, extrapolar?

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O bruxo do Cosme VelhoDesae a turma a conhecer, até a próxima ocina, o grande

escritor do século XIX: Machado de Assis. A tarea será trazer inor-

mações sobre a vida e a obra desse autor conhecido como “O bruxo

do Cosme Velho”, bem como crônicas suas, que alam da cidade e de

seu cotidiano.

AtençãoJá escreveu no seu diário hoje? É undamental avaliar o pro-cesso de trabalho, dando continuidade aos seus registros. Comooi o desempenho dos alunos no decorrer das atividades deleitura? Foi ácil desenvolvê-las? Houve dúvidas, diculdades?Quais? Que habilidades de leitura precisam ser retomadascom a turma?

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Oicina

Uma prosabem aiada

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Objetivos. . . . . . . . . . . . . . .

Prepare-se!Procure aproundar seus conhecimentos antes de trabalharcom os alunos e aça pesquisa de otos antigas do Rio deJaneiro. A revista Na Ponta do Lápis nº- 8, edição especialsobre Machado de Assis, traz vários artigos sobre avida e a obra desse autor. Veja se a biblioteca da escoladispõe dessa revista. Caso contrário, acesse o site :<www.cenpec.org.br/modules/biblioteca_digital/index.php?op=v_reg&bib_10_id=132>.

Conhecer mais a vida e a obra de Machado de Assis.

Ouvir, ler e analisar uma crônica de Machado de Assis,

identicando personagens, cenário, tempo, tom erecursos literários.

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Material�  Coletânea de crônicas 

  CD-ROM de crônicas �  Imagens antigas da cidade do Rio de Janeiro, em especial de tílburis 

e bondes puxados por burro 

1ª- etapa

Machado de Assis, o cronistaMesmo sabendo que os alunos do 9º- ano do Ensino Fundamental

e do 1º- ano do Ensino Médio já possuem experiência com leitura,

é importante que a classe leia várias crônicas e possa observar os

aspectos que são comuns a todas e aqueles que se dierenciam tendo

em vista o tema, o estilo do autor, a época em que oi escrita, o su-

porte de publicação etc. A mediação do proessor ao longo do pro-

cesso – antes, durante e depois da leitura – é undamental para oêxito do trabalho.

LembretePara essa leitura diversicada utilize os textos da Coletânea;

ao selecioná-la, leve em conta o interesse dos alunos e ashabilidades de leitura que pretende ampliar.

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       A      t       i     v       i       d

     a       d     e     s

Após caminhar pelos mais variados estilos, o estudo agora se

concentra nas crônicas de Machado de Assis. Por meio de per-

guntas, explore o que a classe já sabe sobre o autor.Depois de ouvir os alunos, se or necessário, orneça mais inor-

mações sobre quem oi Machado recorrendo ao quadro abaixo.

Joaquim Maria Machado de AssisRio de Janeiro (RJ), 21/6/1839 — Rio de Janeiro (RJ), 29/9/1908

Filho de um pintor de paredes mulato e de uma lavadeira, Joaquim Maria

Machado de Assis nasceu pobre, no subúrbio carioca, e tornou-se o maisimportante dos escritores brasileiros. Publicou poemas, crônicas, contos eromances em capítulos nos jornais para os quais trabalhou. A vivência nos

 jornais transormou o garoto de subúrbio num homem da cidade. O grandetema de toda a sua obra oi justamente a vida na cidade (no caso, o Rio deJaneiro, na época capital política e cultural do Brasil), as refexões sobre seu diaa dia e sobre a alma de seus moradores. Um verdadeiro historiador do cotidiano!Todos os acontecimentos da cidade mereciam seus escritos: espetáculosartísticos, disputas políticas, atos econômicos, relações aetivas, sociais – tudo

era registrado por sua pena. Os acontecimentos em si, na verdade, não oramo cerne de seus textos. O que importava era a refexão prounda que osacontecimentos suscitavam em Machado e o modo como ele conseguia passá-lapara os leitores. As crônicas de Machado, escritas ao longo de quarenta anos,são sempre atuais. Muitas delas serviram como espaço de denúncia daescravidão e de outras graves questões da época. Embora os conteúdospolíticos e sociais estivessem sempre presentes em seus escritos, Machado nãolhes dava um tom trágico, como aziam muitos autores seus contemporâneos.Ele refetia sobre esses acontecimentos históricos e provocava os leitores com

uma “arma” literária ecaz, que manejava muito bem: a ironia. Embora suaobra osse reconhecida pelos jornais, editoras de livros e seu público, Machadonão conseguia viver de seus escritos. Foi uncionário público, como muitosautores radicados no Rio de Janeiro daquela época. Como capital política dopaís num tempo em que muitos dos empregos públicos eram de naturezaburocrática, de “meio expediente”, a estrutura do uncionalismo públicopermitia que os escritores ocupassem parte de seu tempo na produção literária.No caso de Machado, somente no m da vida os recursos provenientes de suaobra tornaram-se sucientes para provê-lo.

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       A      t       i     v       i       d     a

       d     e     s

2ª- etapa

O conronto título-textoTrabalhar com o título da crônica, como já vimos, ajuda os alunos

a criar bons títulos. É uma ótima orma também de motivar a audição

da crônica.

Apresente o título do texto: “Um caso de burro”. Peça aos

alunos que anotem a opinião deles acerca desse título para

coneri-la após ouvirem a crônica.

Por meio de perguntas, explore um pouco esse título:

Esse título desperta a atenção do leitor? Por quê?

O que ele sugere?

Pelo título, dá para imaginar o assunto da crônica?

Ele insinua de que personagens a crônica irá tratar? Qual ocenário?

Avise os alunos que colocará o CD para que eles ouçam “Um

caso de burro”.

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       C     r       ô     n       i     c     a

Um caso de burroMachado de Assis

Quinta-eira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determi-nei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receioachar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventuratorpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.

Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passa-diço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para re-manso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (euia com um amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos uravam-lhe a pele,os olhos meio mortos echavam-se de quando em quando. O ineliz cabeceava, mais tão rou-xamente, que parecia estar próximo do fm.

Diante do animal havia algum capim espalhado e uma lata com água. Logo, não oi aban-

donado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quem quer que seja que o deixou napraça, com essa última reeição à vista. Não oi pequena ação. Se o autor dela é homem que leiacrônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nembebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos.

Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, em-punhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo,então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamentedo lado da anca. Diga-se a verdade; não o ez – ao menos enquanto ali estive, que oram poucosminutos. Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terravalerão por um século, tal oi a descoberta que me pareceu azer, e aqui deixo recomendada aosestudiosos.

O que me pareceu, é que o burro azia exame de consciência. Indierente aos curiosos,como ao capim e à água, tinha no olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior eproundo. Este remoque popular: por pensar morreu um burro mostra que o enômeno oi malentendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que otorna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciên-cia. Agora, qual oi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escassotempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decirei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.

E diria o burro consigo:“Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não urtei,

não menti, não matei, não caluniei, não oendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se deitrês coices, oi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o des-tino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem.Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho,não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburiao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa nãoera minha, é que nunca segui o cocheiro na uga; deixava-me estar aguardando autoridade.”

“Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haverpensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arrua-ças, a própria reexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos doburro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado oi dado em avor dele; nenhumacoroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma orma de governo, teve em

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70       A

      t       i     v       i       d     a       d     e     s

Disponível em <www.eeagorajose.kit.net/estilos/croassisburro.htm>.

conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minhainstituição um pouco temperada pela teima que é, em resumo, o meu único deeito. Quando nãoteimava, mordia o reio dando assim um bonito exemplo de submissão e conormidade. Nuncaperguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o reguês no tílburi ou o apito do bonde, para sairlogo. Até aqui os males que não fz; vejamos os bens que pratiquei.”

“A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casada namorada – ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar amoça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor impor-tuno. Ensinei flosofa a muita gente, esta flosofa que consiste na gravidade do porte e na quietaçãodos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscos, queria azer rir os amigos, uisempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fm...”

Não percebi o resto, e ui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da desco-berta, não podia urtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consi-deração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, ez-me ver que os

que fcavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais proun-damente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da ormigatambém, coletivamente alando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas,mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior?

Sexta-eira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a inância, como

a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhosdeste mundo. Sem exagerar o mérito do fnado, orça é dizer que, se ele não inventou a pólvora,também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste fnal de século.Requiescat in pace.

3ª- etapa

O que Machado queria mesmo dizer?

Por meio de perguntas, você vai ajudar os alunos a “ouvir” melhor

o autor da crônica. Os estudantes vão começar a se relacionar com o

texto como uturos escritores.

Depois da audição da crônica, organize um bate-papo coletivo.

Em seguida, divida os alunos em grupos e peça-lhes que leiam

na Coletânea “Um caso de burro” e respondam por escrito a

algumas questões:

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O texto correspondeu às expectativas levantadas pelo título?

Qual é o oco narrativo? O autor é personagem, usa a primeirapessoa ou não se envolve, apenas conta o que aconteceu com outros?

Que ideias e emoções oram despertadas pela leitura?

Para Machado, o burro é metáora de quem ou de quê?

Onde Machado emprega o recurso da prosopopeia?

Agora compare as ideias deles com a análise que zemos da crôni-

ca machadiana, lembrando que essa é apenas uma possibilidade.

Sobre “Um caso de burro”Machado inicia o texto mostrando aos leitores seu ponto de partida

para esse texto e nomeia como crônica aquilo que escreve. Dirige-se ex-plicitamente ao leitor, indicando que conversa com ele. Esse preâmbuloleva o leitor a se sentir considerado e, por isso mesmo, a aceitar o convi-

te para ler a crônica.Logo no parágrao seguinte o autor conta quem é a personagem cen-

tral, um burro como tantos outros. Apresenta também o confito quemove a narrativa: uma cena de quase morte. Mas observe como ele apre-senta tudo isso: diz que ali não seria um lugar para descanso, indicandocerta recriminação: “O que az esse burro aqui?”. Ele, no entanto, não aza recriminação explicitamente. A recriminação implícita introduz um tomlevemente irônico ao texto.

“O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para

outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos.” Essarase acentua o tom irônico do texto, jogando com a oposição entreelogio e recriminação. Precede o elogio com uma rase em que apare-cem palavras recriminatórias: diz que o burro “não oi abandonado in-teiramente”, isto é, oi abandonado, ainda que não de todo; emprega“alguma piedade” para dizer da quase ausência desse sentimento. Alémdesse jogo, usa euemismos para alar da morte: “em campos largos eeternos”, reorçando o tom irônico.

O tom irônico continua quando aponta para aquilo que o meninoaria, mas não ez (enquanto o cronista estava presente; nada garante

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que não tenha eito depois), e quando exagera o valor da descoberta:poucos minutos valeram uma, duas horas, um século! E, mais que isso,a experiência vivida oi exageradamente importante, o que vale como

matéria de refexão para os sábios! Como se vê, o exagero também éum recurso para a construção da ironia.O burro é o símbolo da ignorância, daí o inédito (irônico) de estar

meditando. Essa situação servirá para que o cronista/narrador aça umarefexão. Começa comparando-se com Champollion (o sábio rancês quedecirou a escrita egípcia), exagerando sua própria importância: deciraráos últimos pensamentos do burro – que só medita porque está morrendo,não o azendo enquanto viveu. E quando usa o ditado popular “de pensarmorreu um burro” leva o leitor a aproximar-se de certo tipo humano.

E para conrmar essa aproximação Machado prossegue a narrativa,dando voz ao próprio burro, que ala de si como se osse homem. “Pormais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso...”A metáora do burro vai se delineando: diz respeito a um tipo humano, quese ajusta, aceita o destino, pensa de maneira simplista e moralista.

Ao continuar a conssão, o animal prossegue indicando as ações queo aproximam de muitos humanos. A transposição de elementos da eserado humano para a do animal irracional é um recurso de distanciamentousado pelo autor, que leva o leitor a perceber melhor a crítica eita ao tipo

de humano que valoriza a submissão e a conormidade. A crítica do autora esse tipo de vida se evidencia ainda mais na losoa expressa pelo bur-ro, a única que ele pode ensinar: a valrizaçã d prte grave e d cntr-

le ds sentids, ou seja, sua losoa tem a proundidade das aparências.Depois da conssão do burro, o cronista começa a se despedir do

leitor. “Não percebi o resto, e ui andando...” Continua seu caminho,abandonando o bicho à sua sorte, mas ainda ironizando: diz-se triste aover morrer tão bom pensador, mas isso é um pretenso elogio, pois atéentão não ez mais que depreciar o modo de vida do animal. Nota-se o

tom de lástima assumido pelo cronista quando considera que outrosburros continuariam a viver.

Ao nal do parágrao, apresenta sua grande pergunta, aquela queoi delineada no início da crônica: por que não se investigar o moral doburro? Fica implícita uma exagerada e, por isso, alsa convocação: “Sá-bios, estudem o moral do bicho!”.

Na sexta-eira, ao passar pelo mesmo local, o cronista encontrou oanimal já morto. A marcação do tempo cotidiano dene o gênero da nar-rativa, a crônica. O narrador deixa claro que seu texto oi escrito com base

na observação dos lugares que se percorre cotidianamente, os lugares

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amiliares que se transormam conorme o momento: na quinta à tarde oburro agoniza; na sexta pela manhã está morto; na sexta à tarde, nemcadáver havia. Eis aqui o material da crônica.

O autor naliza a crônica retomando sua refexão a respeito da na-tureza do animal: nem inventou a pólvora, nem seu sucedâneo maisterrível na época, a dinamite, e o despacha: que descanse em paz!

 Você também pode explorar a análise da crônica “Um caso de bur-ro” com seus alunos de orma individual. Peça-lhes que leiam silen-ciosamente o texto, com os seguintes objetivos: identicar o assuntoda crônica e suas personagens; o confito da narrativa; as situações

em que o narrador acentua o tom irônico; o desecho. Se quiserem,poderão anotar as conclusões no caderno. O importante é quetenham a oportunidade de expor para a classe o que pensaram.

Ao esclarecer a situação comunicativa, lembre à turma que essacrônica, hoje, az parte do livro obras cpletas de machad

de Assis (Rio de Janeiro: Nova Aguilar, v. 4), mas oi original-mente escrita para ser publicada no jornal. Machado escreviapara leitores adultos, moradores de um Rio de Janeiro entre o

nal do Império e o início da República, em uma época de es-cassa democracia – a escravidão havia sido abolida recente-mente – e em que a maioria da população era excluída de todosos direitos civis. Esse será o momento de mostrar imagensantigas da cidade do Rio de Janeiro – se houver –, os tílburis,meios de transporte parecidos com charretes, e os bondespuxados por cavalos e burros. Desae os alunos a descobrir o sen-tido de palavras e expressões amiliares aos leitores da épocaou que estão em português de Portugal ou latim, como “pas-sadiço”, “patuscos”; “qualquer que seja o regime, ronca o pau”,“requiescat in pace”. Para tanto, você pode inseri-las em con-textos amiliares, como: “Aqueles garotos que esconderam osóculos da vovó gostam de azer graça – são uns patuscos”.

Para encerrar, peça aos alunos que conrontem os palpitesdeles – sempre lembrando que qualquer texto se abre a múlti-

plas interpretações.

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Oicina

Trocandoem miúdos

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Objetivos. . . . . . . . . . . . . . .

Prepare-se!Muitas vezes os alunos têm diculdade em iralém da descrição do ato, ou da simples narração,ao escrever uma crônica. Você deverá reunircaracterísticas das notícias e compará-las com asdas crônicas para ajudá-los a superar esse empecilho.

Refetir sobre a dierença entre notícia e crônica.

Identicar os recursos de estilo e linguagem numa

crônica de Moacyr Scliar.

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       A

      t       i     v       i       d     a       d     e     s

Material�  Coletânea de crônicas 

  CD-ROM de crônicas �  Datashow 

1ª- etapa

Da notícia à crônicaHá várias ormas de apresentar Moacyr Scliar ao grupo, mas

talvez você possa começar lendo para os alunos a manchete de

uma notícia publicada no jornal Flha de S. Paul em 10 setem-

bro de 2001:

“Cobrador usa intimidação como estratégia. Empresas de cobrançausam técnicas abusivas, como tornar pública a dívida.”

(Folha de S. Paulo , Cotidiano, 10/9/2001.)

Retome com o grupo o principal objetivo de textos como esse:

relatar o ato ocorrido de maneira o mais impessoal possível,

evitando a ambiguidade, e aça um pequeno levantamento de

ideias para transormar essa notícia em crônica.

Pergunte então se alguém já leu as crônicas de Moacyr Scliar

baseadas em notícias de jornal. Junte as inormações que os

alunos já tiverem sobre o autor e, se preciso, as complemente

com o texto da página ao lado.

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       A      t       i     v       i       d     a       d     e     s

Moacyr Jaime ScliarPorto Alegre (RS), 23/3/1937

Formou-se em medicina em 1962. Especialista em saúde pública e doutor emciências pela Escola Nacional de Saúde Pública, Moacyr Scliar exerceu a prossãono Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (Samdu). Seu primeirolivro publicado oi Histórias de médicos em formação , contos baseados em suaexperiência como estudante. Em 1968 publica O carnaval dos animais , tambémlivro de contos, que Scliar considera de ato sua primeira obra. É autor de mais desetenta obras, entre romances, ensaios, contos, cções e inantojuvenis, dos quaismuitos traduzidos para vários idiomas. As crônicas de Scliar têm como temática osatos do cotidiano, noticiados em jornais ou ouvidos na rua. Elas se caracterizam

pelo humor no e ágil, pela preerência por temas sociais e pelas tensões dosrelacionamentos humanos próprias da vida contemporânea. É membro da Acade-mia Brasileira de Letras desde 2003. É um dos escritores mais representativos epremiados da literatura brasileira contemporânea.

2ª- etapa

Conversando sobre crônicaApresente o título do texto: “Cobrança”. Faça um jogo de livre

associação pedindo aos alunos que digam rapidamente, um de-

pois do outro, tudo o que lhes vem à cabeça ao ouvir a palavra

“cobrança”.

Peça aos alunos, divididos em trios, que abram a Coletânea em

“Cobrança” e leia junto com eles.Fale sobre a situação de comunicação em que a crônica “Cobrança”

oi produzida: o veículo inicial oi o jornal, só depois oi publicada

no livro o iaginári ctidian.

Após a leitura, com a ajuda do datashw , projete o texto e res-

salte os elementos desse gênero e os recursos linguísticos utili-

zados pelo autor, griando-os com cores e da seguinte orma:

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       C     r       ô     n       i     c     a Cobrança

Moacyr Scliar

Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da

casa, caminhando de um lado para outro. Car-

regava um cartaz, cujos dizeres atraíam a aten-

ção dos passantes: “Aqui mora uma devedora

inadimplente.”

— Você não pode azer isso comigo — pro-

testou ela.

— Claro que posso — replicou ele. — Você 

comprou, não pagou. Você é uma devedora

inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas

vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.

—  Não paguei porque não tenho dinheiro.

Esta crise...

— Já sei — ironizou ele. — Você vai me dizerque por causa daquele ataque lá em Nova York seus

negócios caram prejudicados. Problema seu, ou-

viu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é

o que estou azendo.

—  Mas você podia azer isso de uma orma

mais discreta...

— Negativo. Já usei todas as ormas discretas

que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada.

Você azia de conta que nada tinha a ver com o

assunto. Minha paciência oi se esgotando, até que

não me restou outro recurso: vou car aqui, carre-

gando este cartaz, até você saldar sua dívida.

Neste momento começou a chuviscar.

Partilha atoscotidianos com

seu leitor, dandosingularidade a eles.

Traz aspectos deoralidade para aescrita: expressõesde conversa amiliare íntima, repetiçõese o pronome “você”.

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Emprega verbosexionados naprimeira eterceira pessoas.

 Vale-se de discursodireto no diálogo,verbos de dizer.

Usa marcas detempo e lugarque revelamatos cotidianos.

— Você vai se molhar — advertiu ela. — Vai

acabar cando doente.

Ele riu, amargo:

— E daí ? Se você está preocupada com minha

saúde, pague o que deve.

— Posso lhe dar um guarda-chuva...

— Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não

um guarda-chuva.

Ela agora estava irritada:

—  Acabe com isso, Aristides, e venha para

dentro. Anal, você é meu marido, você mora aqui.

— Sou seu marido — retrucou ele — e você 

é minha mulher, mas eu sou cobrador prossional

e você é devedora. Eu a avisei: não compre essageladeira, eu não ganho o suciente para pagar as

prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o

pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro.

O que quer você que eu aça? Qu e perca meu

emprego? De jeito nenhum.Vou car aqui até você 

cumprir sua obrigação.

Chovia mais orte, agora. Borrada, a inscrição

tornara-se ilegível.  A ele, isso pouco importava:

continuava andando  de um lado para outro,

diante da casa, carregando o seu cartaz.

O imaginário cotidiano .

São Paulo: Global, 2001.

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       A      t       i     v       i       d     a       d     e     s

3ª- etapa

Recursos discursivos e linguísticosProponha questões que propiciem aos alunos analisar os recur-

sos discursivos e linguísticos utilizados pelo cronista, bem como

determinar o tom predominante. Dê a todos a oportunidade

para que se expressem.

O autor é observador ou personagem (oco narrativo)?

Como o narrador introduz as personagens?

Existe um elemento surpresa?

Que aspectos do cotidiano são narrados? De que orma?

Como é o diálogo das personagens?

É possível localizar o confito? E o desecho?

Lembre aos alunos que a crônica é um texto curto que narra

episódios corriqueiros e às vezes banais. O tom da narrativa é

o da conversa, do bate-papo inormal. Há poucas personagens

e o ato ocorre em um tempo breve (minutos, algumas horas,

período do dia). O lugar onde o episódio ocorre geralmente é

um só, bem determinado.

Peça-lhes que releiam o texto para apreender o tom irônico doautor e o uso de expressões típicas do discurso amiliar para

revelar as desavenças na vida do casal. Depois, proponha-lhes

ensaiar o diálogo em voz alta: um dos membros ará o papel do

narrador e os outros dois, das personagens; planejem a entona-

ção de voz, pausa, gestos, para expressar o diálogo estabelecido

entre o marido e a mulher.

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Proponha aos alunos que ouçam essa crônica também pelo CD.

Comente com eles que várias são as possibilidades de leitura

em voz alta, pois a entonação infuencia o modo como o leitorinterpreta o texto.

Para enriquecer a análise da crônica de Moacyr Scliar, você po-

derá compartilhar com eles o texto abaixo.

Sobre “Cobrança”Observe que o cronista escreve num tom jocoso. Como narrador,

não az rodeios; logo no título vai direto ao tema: trata-se de uma

cobrança.

No primeiro parágrao, de orma também concisa e direta, introduz

as personagens: cobrador e devedora inadimplente. Não as caracteriza,

não diz nada a respeito delas. Indica algumas ações e onde elas ocor-

rem – o essencial para que o leitor visualize a cena. Ele também esta-belece um diálogo entre ambas, explicitando ligeiramente a situação.

Em seguida o cronista introduz um elemento surpresa: o leitor,

agora, já não está na rente de um cobrador, mas de um marido co-

brador, o Aristides. A mulher, que não ganha um nome, já não é uma

mulher qualquer, mas a mulher do cobrador! Essa revelação altera as

previsões do leitor e, por isso mesmo, o surpreende; o leitor está pe-

rante uma situação aparentemente inusitada. Isso o obriga a mudar o

curso de seu pensamento.Utilizando-se do recurso do desdobramento dos papéis (marido/

mulher; cobrador/devedora), o cronista surpreende o leitor e o conduz à

refexão esperada, ou seja, o cronista viabiliza uma refexão quando apre-

senta ao leitor os dierentes papéis que o sujeito social exerce, que muitas

vezes são confitantes. Com isso, o inédito da situação ca mais acentua-

do e a narrativa pode continuar, agora enriquecida de um novo aspecto.

Neste momento, entra com maior orça o cotidiano – elemento tão

undamental e caracterizador do gênero. O autor do texto apresenta ao

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       A      t       i     v       i       d     a       d

     e     s

leitor o cerne da questão que a crônica aborda: mulher gastadeira, marido

que adverte, mulher que não liga para a advertência e as possíveis con-

sequências disso. Quantos dos leitores não ouviram alar disso ou mes-

mo já não viveram situação parecida? O diálogo é pontuado por umnarrador lacônico que constrói a cena e indica o essencial do estado

psicológico da personagem, por exemplo, irritada. Ele interrompe duas

vezes o diálogo somente para indicar dados essenciais para que o leitor

visualize a cena e compreenda a história, e echa o texto, concisamente,

no último parágrao, retomando o texto inicial.

Assim, essa crônica, como muitas outras, reere-se a um tipo de com-

portamento humano, um comportamento atemporal, o que, por um

lado, acilita a identicação do leitor e, por outro, estabelece a atualidadedo assunto. Além disso, o cronista a escreve com recursos bastante inte-

ressantes, de orma que a crônica deixa de ser “descartável”, adquirindo

um sabor literário.

4ª- etapa

Faça um desao à turmaSerá que conhecem alguém que já viveu uma situação em que a

cobrança superou todos os limites?

Podem imaginar uma situação assim?

Peça aos alunos que escrevam sobre isso, lembrando que, como

toda narrativa, a crônica apresenta os elementos esperados:acontecimento a ser narrado, narrador, personagens, desenro-

lar da narração, ou seja, o enredo, o confito e uma nalização.

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Nessa atividade, os alunos poderão escolher a orma de dis-

curso com a qual se sentem mais à vontade – discurso direto,

indireto ou indireto livre.1. Discurso direto: o narrador reproduz textualmente as pala-

vras, alas, as características da personagem. Ao construir o dis-

curso direto, o autor atualiza o acontecimento, tornando viva e

natural a personagem, a cena. Como se osse uma peça teatral, o

autor agiliza a narrativa. Usa-se o travessão e certos verbos espe-

ciais, que chamamos de verbos “de dizer” ou verbos dicend (alar,

dizer, responder, retrucar, indagar, declarar, exclamar).

2. Discurso indireto: o narrador “conta” o que a personagem

disse. Conhecemos suas palavras indiretamente. Há uma intensa

identidade, quase se misturam narrador e personagem.

3. Discurso indireto livre ou misto: o narrador incorpora na sua

linguagem a ala das personagens e assim nos transmite a essên-

cia do pensamento ou do sentimento. No discurso indireto livre

existe a inserção sutil da ala da personagem sem as marcas do

discurso direto, porém com toda a sua orça e vivacidade.

Existem alguns modos de mostrar como um texto é estruturado ou

apontar determinados recursos linguísticos. Um deles é solicitar-lhes

que sublinhem ou circulem – de dierentes cores – os elementos que

se quer destacar. Ao longo das ocinas, esse recurso será usado algu-

mas vezes. Você e seus alunos poderão azer isso por meio do CD, com

o texto projetado na parede.

Estratégia de leitura

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Oicina

Mereceuma crônica

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Objetivos. . . . . . . . . . . . . . .

Prepare-se! Você vai ajudar a classe a repensar o que dizer ecomo dizer sobre o lugar onde vivem. Para isso, consulte

 jornais e selecione notícias pitorescas e inusitadas quemereçam ser assunto de uma crônica.

 Retomar as crônicas trabalhadas até o momento e analisartema, situação escolhida, tom do texto e oco narrativo.

 Escolher atos, situações ou notícias que serão ocoda crônica e obter inormações sobre eles.

Escrever uma crônica como exercício preparatórioà realização do produto nal.

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Material�  Cartaz com a síntese das crônicas trabalhadas 

  Recortes de notícias de jornal  

1ª- etapa

Os mestres da crônica

Entre a sétima e a oitava ocina os alunos começarão a apreciaro lugar onde vivem, escolher um assunto e selecionar uma situação,

um evento, uma notícia sobre a qual irão escrever. Também nessas

duas ocinas escreverão “ensaios” de crônicas sobre a cidade como

exercício, para que as últimas diculdades possam ser identicadas e

trabalhadas.

Como vimos, uma crônica pode ser escrita de dierentes maneiras.

Basta observar as diversas crônicas lidas até esta etapa do trabalho.

Apresente aos alunos uma síntese dos temas, das situações

eleitas para serem contadas e a orma como oram escritas as

crônicas. Para isso monte um cartaz ou um quadro como o da

página ao lado.

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Título e autor Tema, assunto ecenário

Situação docotidianoretratada

Tom do texto eoco narrativo

“A última crônica”Fernando Sabino

Amor(cidade – bar)

Pai e mãecomemoramaniversário dalha no bar.

Lírico

Autor-personagem

“Um caso de burro”Machado de Assis

Refexões sobre asubmissão humana(cidade – rua)

Um burro deitadona calçada,agonizante.

Irônico

Autor-personagem

“Peladas”Armando Nogueira

Paixão pelabola de utebol(cidade – pracinha)

Um cidadãoconsca a bolade crianças que

 jogavam utebol.

Lírico

Autor-observador

“O amor acaba”Paulo MendesCampo

A ugacidade/eternidade do amor(em muitos lugaresda cidade)

O amor acabapara recomeçarsempre, em todosos lugares.

Prosa poética,em tom existencial

Autor-observador

“Cobrança”Moacyr Scliar

Dívidas e como sãocobradas – papéissociais confitantesexercidos pela mesmapessoa (cidade – casacom janela para a rua)

Um cobrador(o marido) cobrapublicamentea devedora(a esposa).

Humorístico

Autor-observador

Dierentes maneiras de dizer

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       A      t       i     v       i       d     a       d     e     s

2ª- etapa

O material da crônicaTraga alguns exemplos de assuntos que circularam nos jornais e

poderiam dar boas crônicas. Se estivéssemos em São Paulo e no

Rio de Janeiro, em 2009, poderiam aparecer notícias como:

Cultura sob a terraMuito além dos vagões, Metrô de São Paulo oerece música,

livros, arte e roteiro turístico.

Dócil ou perigosa?Chimpanzé mostra sinais de estresse no Zoológico do

Rio de Janeiro.

Agora, peça aos alunos, divididos em grupos, que levantem

cinco assuntos que estão em voga na cidade, nas conversas dapraça, nos bate-papos do bar, nas discussões sobre utebol,

no pátio, nos arredores da escola. Podem ser também atos

noticiados em jornais, revistas, emissoras de rádio da locali-

dade. Em seguida, peça-lhes que escolham, entre os cinco

assuntos, uma situação que mereça uma boa crônica e justi-

quem o porquê da escolha.

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Anote na lousa as escolhas e as razões dos representantes de

cada grupo, bem como os episódios preeridos.

Peça aos alunos que, tendo escolhido o ato, a situação ou anotícia que vai ser oco da crônica, reservem o dia seguinte

para a busca de inormações sobre o tema. Por exemplo: se

um grupo escolheu escrever sobre a relação entre um eirante

e as compradoras na eira da cidade, essa equipe pode ir à

eira, observar o movimento, cores, cheiros, ruídos, disposi-

ção dos produtos, comportamento das pessoas, bem como

conversar, entrevistar os eirantes e compradores. Se o enredose basear em notícia veiculada no jornal da cidade – digamos

que o eirante e a compradora tenham se envolvido numa

briga eia –, é undamental localizar o jornal em que a notícia

oi publicada para lê-la na íntegra e procurar saber se o ato

noticiado oi veiculado em outras mídias. Podem também pes-

quisar letras de canção, poemas, crônicas que tenham como

oco a eira e os eirantes. Essa pesquisa vai ajudar os alunos

a ter o que dizer quando orem esboçar as personagens e ela-borar a crônica.

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       A      t       i     v       i       d     a       d     e     s

LembreteNão se esqueça! Seu comentário sobre a produção dos alunosé essencial para o crescimento deles.

3ª- etapa

O começo da produção individualEscolhido o assunto e com as inormações sobre ele em mãos,

diga aos alunos que chegou a hora de escrever a visão pessoal

deles sobre o ato, usando imaginação, inventividade, lirismo e

humor.

Dê aos alunos alguns minutos para planejar a escrita da crôni-

ca, respondendo para si mesmos as seguintes perguntas:

Qual o oco narrativo?

Quem são as personagens?

Qual o enredo, como, onde e quando vai se desenrolar anarrativa?

 Vou narrar em tom humorístico, lírico, irônico ou crítico?

Existe um elemento surpresa?

Como vai ser o desecho?

Aberto ou conclusivo?

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Estipule um tempo para a redação da crônica. Quando estive-

rem prestes a terminar, lembre-lhes a importância de um bom

título.

Assim que a redação car pronta, incentive os alunos a trocar

os textos entre si. Peça-lhes que leiam e comparem as diversas

ormas de dizer dos autores (como o ato oi narrado, a inten-

ção do autor e o eeito causado no leitor). E, mais importante,

comentem e apontem o que acharam mais diícil para escre-

ver uma crônica.

Se a turma tiver ôlego, reescreva, junto com cada aluno, os

parágraos iniciais deles.

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Oicina

Olhos atentosno dia a dia

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Objetivos. . . . . . . . . . . . . . .

Prepare-se!Nesta ocina você pedirá aos alunos que otograempessoas, cenas, situações do dia a dia que possam sernarrados em uma crônica. Outra coisa: é muito importanteque você ajude seus alunos a denir o oco narrativo.

Apurar o olhar para o lugar onde se vive.

Esclarecer dúvidas a respeito do oco narrativo e de

como iniciar uma crônica.

Apreender as semelhanças entre o ato de escolher umassunto para uma oto e a ação de escolher um temapara ser retratado em uma crônica.

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       A      t       i     v       i       d     a       d

     e     s

Material�  Coletânea de crônicas 

  CD-ROM de crônicas �  Datashow 

�  Fotos de lugares e de cenas da sua cidade 

�  Máquina otográfca 

1ª- etapa

Habilidades para iniciar uma crônicaUma das grandes diculdades de qualquer escritor é começar o

texto. Para ajudar seus alunos a vencer esse desao propomos algu-

mas atividades.

Promova a escrita coletiva do primeiro parágrao de uma crônica,

com base em uma notícia. Veja o exemplo na página ao lado.

Anote na lousa as dierentes sugestões de “começos” dos alunos.

Peça a eles que comparem os parágraos e indiquem qual deles

é o mais adequado para iniciar a crônica.

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A notícia

Um proessor propôs como assunto da crônica o temporal

que se abateu na cidade de São Paulo em evereiro de 2009.

 

 Veja as propostas de “abertura” de três alunos:

Primeiro aluno – A tempestade

O céu anunciava tempestade. Em dias como esse, o fuxo de

carros aumenta na cidade de São Paulo. Todos querem chegar

em casa antes da chuva. Caos total!

Segundo aluno – Toró

Relâmpagos e trovoadas anunciam a chegada de um toró.

O corre-corre natural da hora do rush em São Paulo se

intensica em dia de chuva. Se qualquer chuvinha já alaga

ruas e avenidas, imagine uma tempestade! O trânsito caimpossível. Os alagamentos contribuem para a afição dos

trabalhadores que querem chegar em casa a qualquer custo.

Terceiro aluno – Sorimento

A história começa com a enorme la de pessoas que se

orma na estação Sé do Metrô para o embarque. São dezenove

horas. Todos querem chegar em casa. O desespero transpareceno rosto de cada um. Cotoveladas, empurra-empurra,

gritaria, pés castigados. Todo dia de chuva acontece isso.

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Outra ideia é dar continuidade ao texto de cronistas consagrados.

Mostre aos alunos apenas o início de algumas crônicas já publica-

das. Peça-lhes que se coloquem no lugar do cronista e completem,de orma coerente, o texto iniciado por ele.

Sugerimos as aberturas das três seguintes crônicas, que estão

na íntegra no CD.

A bolaLuis Fernando Verissimo

O pai deu uma bola de presente ao flho. Lembrando o prazer que sentira aoganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento ofcial de couro.Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.

O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse “Legal!”. Ou o que os garotosdizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho.Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.

Comédias para ler na escola . Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

O cajueiroRubem Braga

O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recorda-ções de minha inância: belo, imenso, no alto do morro atrás da casa. Agora vemuma carta dizendo que ele caiu.

Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito tempo. Eume lembro dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de--são-jorge (que nós chamávamos simplesmente “tala”) e da alta saboneteira queera nossa alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro porque ornecia centenasde bolas pretas para o jogo de gude.

Cem crônicas escolhidas . Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.

       C     r       ô     n       i     c     a     s

São Paulo: as pessoas de tantos lugaresMilton Hatoum

À primeira vista, São Paulo assusta. Aos poucos, o susto cede ao ascínio, àsurpresa da descoberta de muitos lugares escondidos ou ocultados numa metró-pole da qual a natureza parece ter sido banida. Isto só em parte é verdade. Hávários parques e jardins — Aclimação, Villa-Lobos, Burle Marx, Água Branca etantos outros —, sem contar o Ibirapuera, que simboliza uma promessa de urba-nismo mais civilizado, ou de um processo urbano mais humanizado, interrompidopela ganância das construtoras e da especulação imobiliária em conluio com opoder público municipal.

Revista da Folha , 25/5/2008.

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       A      t       i     v       i       d     a       d     e     s

1

Depois que os alunos completarem esses textos você pode

projetá-los na íntegra, e retomar as marcas próprias da crônica

e os recursos linguísticos utilizados pelo autor. Se não puderprojetar as crônicas, imprima-as para a leitura coletiva.

Feito isso, proponha-lhes que identiquem e anotem no cader-

no as semelhanças ou dierenças entre o que eles escreveram e

as crônicas escritas pelos três autores.

2ª- etapa

Habilidades para denir o oconarrativo de uma crônica

É possível que nas ocinas anteriores você tenha percebido que

alguns alunos ainda têm sérias diculdades com o oco narrativo.

Nesta etapa você vai poder ajudá-los.

Leia o começo de duas crônicas de Luis Fernando Verissimo.

Neles alguém narra um ato.

“Eu sabia azer pipa e hoje não sei mais. Duvido se hoje pe-

gasse uma bola de gude conseguisse equilibrá-la na dobra do

dedo indicador sobre a unha do polegar, quanto mais jogá-la

com a precisão que tinha quando era garoto. Outra coisa:

acabo de procurar no dicionário, pela primeira vez, o signif-

cado da palavra “gude”. Quando era garoto nunca pensei

nisso, eu sabia o que era gude, gude era gude...”

Luis Fernando Verissimo. Comédias para se ler na escola .

Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

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       A      t       i     v       i       d

     a       d     e     s

2 “O apelido dele era “Cascão” e vinha da inância. Uma irmã

mais velha descobrira uma mancha escura que subia pela sua

perna e que a mãe, apreensiva, a princípio atribuiu a uma doençade pele. Em seguida descobriu que era sujeira mesmo...”

Luis Fernando Verissimo. Comédias para se ler na escola .

Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

Peça aos alunos que observem as palavras (verbos e pronomes)

destacadas do primeiro texto e respondam:

Em que pessoas estão empregadas as ormas verbais e ospronomes?

O autor participa da história como personagem?

Agora, vejam no segundo texto os verbos e os pronomes empre-

gados pelo autor e respondam:

Em que pessoas estão as ormas verbais e os pronomessublinhados?

O autor participa dos atos? Ele também é personagem da crônica?

Peça-lhes que reescrevam o texto abaixo transormando o au-

tor-personagem em autor-observador.

“[...] O meu usca deslizava dócil e macio no asalto, eu ia paraa cidade eliz da vida. Tomara banho, fzera barba e, metido

além do mais num terno novo, saíra para enrentar com oti-

mismo a única perspectiva sombria naquela manhã de cristal:

a da hora marcada do dentista...”

Fernando Sabino. “O enviado de Deus”, in: Elenco de cronistas modernos .

21ª- ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005.

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       A      t       i     v

       i       d     a       d     e     s

3ª- etapa

Entre atos e otosAjude os alunos a selecionar um aspecto da realidade e “iluminá-lo”,

seja com uma oto, seja com uma crônica.

Traga para sala de aula otos de lugares de sua cidade (ou bairro)

em que as pessoas costumam se encontrar, bater papo, cami-

nhar, praticar esportes, passear. Você também pode utilizar as

otos disponíveis na Coletânea e neste Caderno.

Distribua uma oto, em branco e preto ou colorida, para cada

equipe (duplas ou trios) e peça aos alunos que identiquem se

a oto é antiga ou atual e observem os elementos nela presentes:

cenário, objetos, cores, orma, luminosidade, ângulo, movimento,

semblante das pessoas. O que elas contam? Que impressões,

reações e sentimentos despertam?

Instigue os grupos a debater as questões abaixo e depois com-partilhar as descobertas com a classe.

O que você vê nesta oto? O que lhe chama a atenção?

Quando e onde oi produzida? Como é o ambiente?

O que a cena sugere?

Quem são as personagens?

Que elemento se encontra em primeiro plano, em destaque?

Que outros detalhes você observa nesta oto?

Coloque-se no lugar do otógrao.Que ângulo oi escolhido para ser otograado?

Que infuências o otógrao pode ter sorido para a deniçãodo ângulo?

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Proponha aos alunos que delineiem uma crônica com base na

notícia abaixo.

“Toque-me, sou teu”O programa é uma iniciativa trazida para o Brasil pelo pesquisador e cientista

inglês Luke Jerram, com a intenção de unir culturalmente as dierentes classes so-

ciais. Jerram também distribuiu 15 pianos pelas ruas de Birmingham, no Reino

Unido, por alguns dias, com a intenção de unir culturalmente as dierentes classes

sociais. Também criou a página na internet <www.streetpianos.com>, para que o

público postasse suas sensações e zesse comentários sobre a mostra.

O Sesc (Serviço Social do Comércio) doou oito pianos a escolas e grupos co-munitários, colocando-os à disposição da população, em pontos estratégicos de

São Paulo: “Toca quem sabe, toca quem gosta, toca quem quer experimentar”.

Desde que o projeto começou, em outubro 2008, as pessoas que circulam

pela estação da Luz obedecem à rase escrita no piano “Toque-me, sou teu”. Cen-

tenas de pessoas já sentaram nos banquinhos. São músicos ou simplesmente

curiosos que passam, veem o piano desocupado e tocam para se divertir, atrair a

atenção de quem passa, tornando o ambiente mais agradável.

Acesse o site <www.pianosderua.com. br> e saiba mais sobre o programa.

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4ª- etapa

Alunos otograam o dia a diaApurado o olhar, anime a turma a sair a campo em busca de

otos instigantes: cenas da cidade; atos do dia a dia; situações

pitorescas; imagens que retratam a vida, os valores culturais e

estéticos das pessoas da comunidade.

Diga aos alunos que essas imagens serão o ponto de partida

para a escrita da crônica que se transormará no produto nalpara ser apresentado na Olimpíada.

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5ª- etapa

Planejamento e escrita dacrônica inspirada na oto

Instigue os alunos a pensar em como trazer a vida retratada na

oto para a crônica.

Peça a cada aluno que aça um esboço da crônica que irá es-

crever com base na oto tirada por ele.

Foco narrativo (autor-observador ou autor-personagem).

Personagens.

Tom da narrativa (humorístico, irônico, lírico, crítico).

Enredo (o elemento surpresa, que pode ser tanto umapersonagem quanto a descoberta de uma situação inusitada).

Espaço (em que parte da cidade, em que cenário, ocorreua situação).

Tempo (lembre que a crônica se passa em um curto espaço detempo – minutos, horas).

Desecho: pode ser aberto, conclusivo, surpreendente. Nodesecho aberto o leitor é instigado a pensar, criar sua solução, dar

continuidade à narrativa, os leitores viram coautores da história.

Depois de planejada a crônica, estipule um prazo para que os

alunos desenvolvam o esquema que criaram e escrevam um

texto que chame a atenção, envolva o leitor.

Finalizada a escrita, organize uma roda para que os autores

possam compartilhar a leitura dos textos e das otos.

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6ª- etapa

Lendo imagensAjude os alunos, por meio de perguntas, a estabelecer relações

entre as decisões e ações do otógrao e as do cronista.

Por que você tirou essa oto?

Como escolheu esse ângulo?

Por que esse objeto está iluminado e esse outro, não?

Finalize, comentando que existe um diálogo entre a imagem

capturada pela lente do otógrao e a situação apreendida pelo

imaginário do cronista.

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Oicina

Muitos olhares,muitas ideias

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Objetivos. . . . . . . . . . . . . . .

Prepare-se!A escrita coletiva – o azer junto – possibilita aos alunosuma experiência modelar, que vai ajudá-los na elaboraçãoda escrita individual. Sua orientação é essencial. Leia assugestões desta ocina e planeje detalhadamente comoará isso com os alunos.

Produzir coletivamente uma crônica, escolhendouma situação do cotidiano da cidade.

Conrontar a produção coletiva com os elementosdo gênero crônica.

Reescrever, ainda coletivamente, o texto da crônicapara apereiçoá-lo.

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Material�  Máquina otográfca 

  Folhas de papel krat �  Canetas hidrográfcas coloridas e fta crepe 

1ª- etapa

Preparação para a escrita coletiva

Organize os alunos em semicírculo para acilitar a interação,

negociação e participação de todos no processo de escrita do

texto.

Retome com eles a situação de comunicação (quem ala; de que

lugar; com que objetivo; para quem ler) e os elementos próprios

do gênero.

Explique-lhes a importância da escrita colaborativa.

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       A      t

       i     v       i       d     a       d     e     s

2ª- etapa

Escolha e exploração dotema e da situação

Escreva na lousa alguns temas e as situações retratadas nas

crônicas elaboradas na Ocina 7.

Peça aos alunos que selecionem uma delas para a escrita cole-

tiva da crônica.

Digamos que, entre as situações retratadas, os alunos tivessem

escolhido a queda de uma árvore em uma grande avenida da

cidade. Portanto, a notícia abaixo será a trabalhada na escrita

coletiva da crônica.

       N     o      t       í     c       i     a Trânsito difícil

na Avenida do Contorno

Temporal derruba árvore centenária e interrompe fuxo de

veículos. Moradores do local se aglomeram em torno da

árvore. As providências demoram a chegar.

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Instigue a participação da turma por meio de perguntas:

Como essa notícia pode ser transormada em uma crônica?O que a queda de uma árvore como essa pode provocar naspessoas da comunidade?

Qual a repercussão desse ato na vida da população local?

Como era e como cou o local após a queda da árvore?

O que uma árvore centenária pode representar para os moradores?

Após o debate, escolha com o grupo um aspecto especíco

para ser ocalizado na crônica. Nesse momento, cabe ao pro-

essor conduzir e orientar o grupo com perguntas.

Como vai ser o enredo básico e quais serão as personagens?

Qual o tom que querem evidenciar em sua narrativa (lírico,

bem-humorado, crítico, irônico)?Qual o melhor jeito de escrever para se aproximar do leitor? Nocaso, colegas de outras séries, proessores, amiliares.

Qual será o oco narrativo? Escrever na primeira pessoa ou narraro ato “de ora” da situação.

Ouça as respostas e procure azer que se encadeiem umas às

outras. Ajude o grupo a decidir, antes de começar a escrita.

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       A      t       i     v       i       d     a       d     e     s

3ª- etapa

A escrita coletivaChegou a hora de escrever! A preparação do proessor é unda-

mental para o êxito desse estágio.

A escrita coletiva exige muitas idas e vindas ao mesmo texto.

Uma sugestão é você dividir a lousa: num dos lados anote as ideias

dos alunos; no outro, o parágrao redigido.

Peça aos alunos que copiem os parágraos redigidos nos cader-nos e solicite a um deles que aça o registro em papel krat , que será

utilizado na próxima etapa.

Retome com eles a situação de comunicação (quem ala; de que

lugar; com que objetivo; para quem ler).

Converse sobre o episódio que será escrito.

Decida com o grupo a melhor orma de iniciar o texto.

Ouça as propostas dos alunos e ajude-os a transormar as ideias

apresentadas (oralidade) em discurso escrito.

Releia com o grupo cada parágrao produzido para vericar o

encadeamento do texto e aça as alterações necessárias.

Prossiga o texto de modo que a organização da sequência de

parágraos não perca a unidade, a coesão e a coerência.

Fique atento, durante a redação do texto, à presença dos

aspectos próprios do gênero.

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 Você também pode azer comentários:

O tom não era humorístico?

Esse trecho não está meio sem graça?

O que poderia ser o elemento surpresa?

Aqui bem podia entrar uma metáora, não? Vamos azer uma comparação?

E o mais importante: deixe a decisão para os alunos – o texto

é deles. Você pode ajudá-las, mas os autores são eles.

É na interação entre proessor e alunos, e alunos entre si que o

texto vai se organizando, acertando o t, ganhando sentido.

Instigue os alunos com perguntas:

 Vocês acham que o texto está cando com jeito de crônica?A linguagem está simples, quase uma conversa ao pé do ouvidocom o leitor?

AtençãoÀ medida que os parágraos vão sendo escritos, recomende aosalunos relê-los, para vericar a unidade, a coerência e a coesãodo texto.Procure manter a participação de todos, evitando o monopóliodaqueles que têm maior acilidade para expressar-se.

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       A      t       i     v       i       d     a       d

     e     s

4ª- etapa

O apereiçoamento dotexto e a criação do títuloEmbora o trabalho de reescrita tenha ocorrido parágrao a pa-

rágrao, é preciso rever o texto como um todo quando ele estiver

nalizado.

Cole o papel krat com o texto redigido na etapa anterior em local

visível para que a turma o releia e proponha os ajustes nais.

Abaixo, exemplos de perguntas que podem provocar a refe-

xão dos alunos sobre o que zeram e incentivá-los a propor

apereiçoamentos.

Nós escrevemos uma crônica sobre o lugar onde vivemos?

Ela tem chance de agradar a muitos de nossos colegas eamiliares leitores?

Falta alguma coisa? O quê?

Depois de ouvir todos os alunos, você também pode e deve se

maniestar: nesse trabalho de aprimoramento, sugira à turma a

eliminação das redundâncias. Faça-os refetir mais uma vez e

vericar se a coerência não está prejudicada, se o vocabulárioutilizado é o mais apropriado, se o desecho é interessante. Não

se esqueça de vericar a pontuação.

Escolha junto com os alunos o título da crônica. Faça um “toró

de ideias” que permita aforar a maior quantidade de títulos

sugestivos e motivadores. Depois é só pedir aos alunos que

“peneirem” as sugestões, até chegar ao denitivo, que pode ser

uma combinação de várias propostas.

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Oicina

Oício de cronista

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Objetivos. . . . . . . . . . . . . . .

Prepare-se!Agora os alunos produzirão sozinhos a crônica queserá apereiçoada na próxima ocina. Mostre a elesque todos são capazes de escrever crônica.Incentive-os a transormar ideias em literatura.

 Retomar os elementos constitutivos da crônica,com base nas ideias de Ivan Ângelo.

 Escrever, individualmente, a primeira versãode uma crônica.

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       A      t       i     v       i       d     a       d     e     s

Material�  Coletânea de crônicas 

  CD-ROM de crônicas   Datashow 

1ª- etapa

Inspirando-se com Ivan Ângelo Você preparou muito bem a turma para chegar até aqui. Agora

que vão escrever o texto quase nal , crie um clima acolhedor e estimu-lante com a audição de “Sobre a crônica”, de Ivan Ângelo, que você já

conhece do início deste Caderno.

Pergunte aos alunos se já leram crônicas de Ivan Ângelo em

jornais ou revistas.

Oereça alguns dados sobre o autor. Para ajudá-lo, conra o

quadro abaixo.

Ivan ÂngeloBarbacena (MG), 4/2/1936

É jornalista desde os 20 anos. Seu livro A festa  (1975) recebeu o PrêmioJabuti, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Foi colunista dos jornaisCorreio de Minas  e Diário de Minas , ambos de Belo Horizonte. Em 1996,estreou como cronista no jornal O Tempo , também de Belo Horizonte, e em

1999 começou a publicar crônicas quinzenais na revista Veja São Paulo .Dono de um texto exemplar, ocupa lugar de destaque na crônica atual. Seunovo livro, Melhores crônicas , atrai o leitor pelo título, prende-o desde aprimeira rase e só o liberta na última linha.

Depois de ouvirem “Sobre a crônica”, caso a escola disponha dedatashw , projete o texto e – junto com os alunos – vá lendo osparágraos enquanto chama a atenção para os elementos dogênero que ali se expressam, bem como para os recursos lin-

guísticos utilizados pelo autor.

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       A      t       i     v       i       d

     a       d     e     s

Se não houver datashw , peça aos alunos que acompanhem a

leitura pela Coletânea. Cada um deles lerá um parágrao em voz

alta. Ao nal de cada parágrao, você poderá azer os comentá-rios adequados ou as perguntas que induzam os estudantes a

analisar a crônica sobre a crônica.

2ª- etapa

Escrevendo a crônicaEssa é a hora de relembrar a situação de comunicação: cada um dos

alunos é um autor que vai escrever sobre situações do lugar onde vivem

para colegas, educadores, pais e amiliares.

Reserve um tempo para a turma planejar a crônica antes de

passar para o papel.

 Valorize as aprendizagens conquistadas e tranquilize a classe:cada aluno trabalhou bastante para esse momento e pode sen-

tir-se conante para escrever a crônica. O incentivo do proessor,

como sempre, é decisivo.

Agora, só resta desejar boa escrita a todos!

LembreteO mais importante é que todas as crônicas produzidas nestaocina – depois de revisadas e aprimoradas – serão publicadas,seja no site ou no blog da escola, seja no jornal da cidade oudo bairro, ou reunidas num livro que cará na biblioteca daescola para apreciação de todos.

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Oicina

Assim icamelhor

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Objetivo. . . . . . . . . . . . . . .

Prepare-se!Para o aprimoramento coletivo, você vai utilizaruma das crônicas escritas na ocina anterior paraser reescrita nesta ocina. Para tanto vai precisarda autorização do aluno (autor) que a escreveupara que o seu trabalho seja analisado. E, na

reescrita individual, sempre que possível, prepareorientações particularizadas, que ajudem os alunosa apereiçoar seu próprio texto.

Fazer o aprimoramento e a reescrita do texto.

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Material�  O texto de uma das crônicas escritas na Ofcina 10 que represente as 

principais difculdades do grupo 

1ª- etapa

Aprimoramento coletivoComo vimos na Ocina 9, quando você ajudou o grupo a aperei-

çoar a crônica escrita coletivamente, o aprimoramento e reescrita dotexto é primordial, mas um pouco trabalhoso.

Antes de propor a cada aluno que reveja e rene o texto dele,

individual, convém repetir o trabalho realizado na Ocina 9 e apurar

um texto coletivamente, reescrevendo-o. A dierença é que na Oci-

na 9 todos estavam apereiçoando uma crônica escrita pelo grupo.

Dessa vez, o processo se repete, mas com a crônica de um dos cole-

gas, que oi consultado anteriormente e permitiu que o texto deleosse usado para o enriquecimento de todos.

Para exemplo, oi escolhido o texto da aluna Mariana (página 120).

Adapte as questões aqui sugeridas para o texto que será apereiçoa-

do pelo grupo.

Essa atividade, em que o texto de um aluno é analisado e

apereiçoado por todos, exige o consentimento dele para tale pressupõe um grupo onde exista respeito mútuo e cooperação.

Caso nenhum de seus alunos autorize o aprimoramento dotexto coletivamente, utilize o exemplo deste Caderno.

Atenção

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       A      t       i     v       i       d

     a       d     e     s

Prepare as perguntas com antecedência. Note que o título é o

último tópico a ser exid.

Como podemos reescrever esse texto para que as rasesnão sejam tão explicativas, mas sugiram a emoção da autora,despertando a imaginação, envolvendo o leitor?

Como é a Bela Vista? É preciso ampliar um pouco as reerênciaslocais.

Há passagens que se repetem e podem ser modicadas, ou as

repetições são necessárias?Alguns trechos podem ser reagrupados?

As onomatopeias são precisas, adequadas? Poderíamos azer usodo samba-enredo da escola?

O título mostra que o texto alará sobre uma escola de samba,ou sobre o carnaval, mas instiga a imaginação do leitor? Fazreerência ao episódio central da crônica?

Depois de cada pergunta, espere os alunos se maniestarem.

Ouça as contribuições e só então as materialize, escrevendo a

nova versão do texto.

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Texto nal da aluna

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Texto aprimorado coletivamente

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Essa é uma sugestão, mas há outras ormas de azer a reescrita co-

letiva. Depois da análise de todos os textos, escolha alguns trechos que

precisam ser revisados e reescritos e ragmentos de várias produções

que apresentam o mesmo tipo de problema e aça atividades de re-fexão sobre a língua portuguesa com eles. Você, por certo, vai en-

contrar sua própria orma de realizar essa etapa.

É preciso ver o texto do aluno como um instrumento para ele

comunicar o que quer, e não como um espaço em que se procuram

erros, lacunas, alhas. Se entenderem que a escrita é um processo,

cheio de “vai e vem”, em que reormulamos também ideias e pensa-

mentos, além de azer correções gramaticais e ortográcas, camuito mais ácil. Essa é uma importante tarea da escola!

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       A      t       i     v       i       d     a       d     e     s

2ª- etapa

Reescrita individualÉ a hora de cada aluno se voltar para o próprio texto.

Proponha a eles que leiam, olhem novamente para a crônica

que escreveram, agora com olhar crítico. O roteiro da próxima

página pode orientá-los na revisão e no aprimoramento.

Peça aos alunos que usem marcador de texto ou lápis de outra

cor para assinalar tudo o que pretendem modicar.

Fique atento, pois alguns alunos vão precisar de atenção especial

para o aprimoramento do texto. Nesse caso, sente-se ao lado

dele e aça algumas perguntas, leia o texto em voz alta para que

ele perceba o que não cou claro, onde estão os problemas.

Também, sempre que possível, prepare um bilhete com observa-

ções individualizadas, que orientem os alunos a rever e aper-eiçoar o texto. Encoraje os alunos a superar mais esse desao.

AtençãoO texto selecionado pela comissão deverá ser passado a limpono papel especial da Olimpíada, que oi enviado para a escola.

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Roteiro para a revisão da crônica

O cenário da crônica refete o lugar onde você vive?Ela cumpre o objetivo a que se propõe: emocionar, divertir,provocar refexão, enredar o leitor?

 E o episódio escolhido, como é tratado pelo autor?Há um modo peculiar de dizer?

Organiza a narrativa em primeira ou terceira pessoa?

As marcas de tempo e lugar que revelam atos cotidianosestão presentes?

 Que tom o autor usa ao escrever: irônico, humorístico,lírico, crítico?

Utiliza uma linguagem simples, espontânea, quase umaconversa inormal com o leitor?

 O enredo da crônica está bem desenvolvido, coerente?Há uma unidade de ação?

 No desenrolar do texto, as características da narrativa(personagem, cenário, tempo, elemento surpresa ou confitoe desecho) estão presentes?

Faz uso de verbos de dizer?

Os diálogos das personagens são pontuados corretamente?

Há alguma palavra que não está escrita corretamente,rases incompletas, erros gramaticais, ortográcos?E a pontuação está correta?

O título mobiliza o leitor para leitura?

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3ª- etapa

Exposição ao públicoDepois de intenso trabalho é importante azer uma avaliação do

percurso realizado junto com os alunos e celebrar com eles os avan-

ços conquistados.

Enalteça os textos produzidos e discuta a orma de publicação e

apresentação à comunidade escolar.

Agora, é pensar como será o lançamento e a divulgação do evento.Ouça e anote todas as ideias dos jovens autores. Depois, junto com

eles, aça um plano de ação para realizar o evento de lançamento.

Bom trabalho!

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Critérios de avaliação para o gênero crônica

Na tabela da página ao lado, descritores podem ser compreen-didos como o detalhamento dos critérios, que oram elaborados em

orma de perguntas para acilitar a análise. A expressão adequação

discursiva reere-se à adequação do texto à situação de produção;

nesse caso, deve-se observar se o texto deixa transparecer quem o

escreveu, para quem ler, com que objetivo e se está de acordo com

a organização geral. A adequação linguística está relacionada à

orma como a linguagem é empregada. Para analisar esse critério,

observe se o d de dizer está a serviço da situação de produçãoe da organização textual.

A equipe da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevend Futur 

agradece aos parceiros Ana Lima (PE), Antônio Hilário da Silva Filho

(RR), Emílio Davi Sampaio (MS), Luciene Simões (RS), Mary Jane Diasda Silva (SE), Milton Francisco da Silva (AC) e Vânia Terezinha Silva

da Luz (SC), docentes de universidades públicas, a contribuição para

a elaboração dos critérios de avaliação dos textos dos alunos no

gênero crônica.

Os critérios refetem a orma como os gêneros textuais estão

denidos neste Caderno, ou seja, oram elaborados para a análise

de textos produzidos no âmbito da Olimpíada de Língua Portuguesa

Escrevend Futur.

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CRITÉRIOS PONTUAÇÃO DESCRITORES

Tema “O lugaronde vivo” 1,5

• O texto se reporta de forma

signicativa e pertinente a algumaspecto do cotidiano local?

Adequaçãoao gênero

2,5

Adequação discursiva

• A situação de produção própria dacrônica se maniesta no texto?

• A organização geral do texto está

de acordo com o tipo de crônicaescolhido (política, cultural, esportiva...)?

2,5

Adequação linguística• Os marcadores de tempo e espaço

contribuem para caracterizar asituação tratada?

• Os articuladores textuais sãoapropriados ao tipo de crônicaescolhido pelo autor?

• Os recursos de linguagem estão

adequados ao tom visado (irônico,humorístico, lírico ou crítico)?

Marcas deautoria 2,0

• O título instiga o leitor?

• Há um modo peculiar de perceber e

apresentar a situação tratada?

Convenções daescrita

1,5

• O texto atende às convenções da

escrita (morossintaxe, ortograa,acentuação, pontuação)?

• Quando há rompimento das

convenções da escrita, isso ocorrea serviço do sentido do texto?

CRôNICA

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