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CADAFALSO poético

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B. Alessa; Reis, Sara. (orgs)Poesia Reunida – Cadafalso PoéticoCuritiba-Paraná: Edição Independente,2010. 70 p.Curitiba-Paraná 2010, Cadafalso PoéticoTodos os direitos reservadosEsta obra está licenciada sob uma LicençaCreative Commons

Produção Editorial e Capa:Carlos Garcia Fernandes

Janeiro de 2010

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5 Prefácio8 Alessa B.11 Anderson Rabelo14 Aurora Carolina S. de Oliveira17 Caio Cesar Batista20 Carlos André23 Charles Sanctus26 David Moura29 Eduardo Rebellis32 Elias Dos Santos Antunes35 Fernando Esselin38 Franciele M. Bach41 Joel Luis Carbonera44 Jônatas Luis47 Jurandyr Monjellos50 Magmah53 Nádia Menezes56 Nikholas Stephanou59 Rafael Gomes62 Vinicius Paioli66 Posfácio

Índice

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é uma confraria literária com sede no Orkut que surgiu da insatisfação e descontentamento de um grupo de jovens poetas com os rumos e as diretrizes adotadas pela antiga comunidade de poesias da qual faziam parte. Pegando nas armas que eles tão bem conhecem – seus estros poéticos – e com o sentimento de revolta latente em suas veias, esses jovens foram à luta e hastearam a bandeira de suas crenças e valores estéticos

sob o nome de Cadafalso Poético.Amantes da Poesia de raízes clássicas, eles construíram um palco

onde inicialmente figuravam apenas a poesia nos moldes tradicionais e os debates e discussões acerca dos valores estéticos que a permeiam. Entretanto, com o passar do tempo este mesmo palco passou a receber estilos literários mais livres e contemporâneos, mas sem fugir às suas tradições de primar sempre pela qualidade literária de suas poesias.

Fundada em junho de 2007 entre acertos e desacertos, um processo natural da evolução humana, a comunidade conta atualmente com 262 membros e está localizada no seguinte endereço virtual: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=34564433.

Assim, partindo deste princípio e como consequência do processo evolutivo ocorrido nestes três anos de existência, nada mais natural do que a publicação de um e-livro, no qual estão reunidos alguns dos melhores talentos da comunidade.

Nesta obra estão agrupados dezenove poetas de vários cantos do Brasil, unidos pelo mesmo objetivo: o amor à Poesia e a busca por novos leitores. Na sua maioria poemas, eles retratam o que de melhor se produziu e continua se produzindo neste longo caminho percorrido pelas sendas orkutianas.

É, portanto, com grande orgulho e satisfação que levamos ao conhecimento público uma pequena extensão da produção poética diferenciada desta que sem dúvida nenhuma é uma das melhores comunidades de poesia que surgiram nos últimos tempos no meio virtual.

Alessa B.

PREFÁCIOPreliminares

O Cadafalso Poético

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Entra! O verso é uma pousada

Aos reis que perdidos vão.

A estrofe – é a púrpura extrema,

Último trono – é o poema!

Último asilo – a Canção!...

(Castro Alves)

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ApolíneoQuisera que te vissem como eu via

Depois, à luz da lâmpada maciaO púbis negro sobre o corpo branco.

(Vinicius de Moraes)

Teu corpo esculpido contra a Lua,Apolo soberano em evidência,Da pele um calor que se insinua,Arfando meus desejos, tua essência...

Mil graças, eu te rendo seminua,Em preces de ternura e indecência...A serva que te ama e te cultua Com votos de louvor e apetência.

No branco dos lençóis as tuas linhas Transpiram convulsões em nós assentes,Que se desembaraçam pelas minhas

Em fluxos e refluxos tão crescentes!O gozo frouxo que se adivinha...Nas tuas formas belas tão contentes!

Alessa B.

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Existencial A existência precede

e governa a essência. (Jean-Paul Sartre)

Se num sopro de pó surjo no mundo,Folha virgem expelida na estrada,Que eu redija em mim um ente fecundoTracejando meu destino entre o Nada.

Que ao existir eu confira meu valorE neste plano erga minha essência.Se não vim do ventre dum Criador,Que em Terra abrace eu a transcendência!

E se ao morrer, findar em cois’alguma,Poeira consumida... caos do Universo,Orvalho amanhecido em fria escuma,

Desfeito nos vãos do tempo perverso,De todas as coisas, quero só uma:Que eu dilua... mas que fique meu verso.

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Inquietude Por que é que no silêncio da noite

nos assusta falar em voz alta? (Vergílio Ferreira, Aparição)

Escuta o gemido pela Terra,São vozes abafadas nos cansaços,As ondas refluindo nas esferas,Suspensas na penumbra dos espaços.

A vida-solidão que nos espera Vertida nos espasmos mais escassos...Que cada ser humano reverbera,Pisando na voragem dos seus passos.

Escuta estes ecos trespassando,Cantigas nas cavernas do teu ente... São gritos de angústia tremulando,

Memórias p’las fendas do ausente. No âmago ardendo e latejando A dor oculta que tod’alma sente.

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Olhos negros

Apraz-me nos teus olhos me banharQuando em sede suplico pela fonteArdente que derramo em minha fronteNo segundo eternal do teu olhar.

Revejo um lago negro me fitar,E muita vida há nele que me conteTristezas e mistérios do horizonteContido no abissal do inerte mar.

Entre as mais coloridas, fúteis flores,Mais a mim resplandecem os langoresQue embalas aquecendo o peito aflito.

E num abraço bem maior que o mundoRefletes neste vago olhar sem fundoA minh’alma sedenta de infinito!

Anderson Rabelo

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Photograph of self

The fleeting glance I take over the things,When walking absent-minded by the hill...It is the moment God, to those who feel,Has sent amid the strangeness it also brings.

A face is like a cloud to gaze upon,There are so many things nobody’ve seenThat I suppose to capture on the screen!Yet just my face all time it was... And I move on...

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O mundo é dos que sofrem realmente

O mundo é dos que sofrem realmenteE que, malgrado o pranteado rosto,Ainda têm amor no recompostoMinuto livre em que o patrão assente...

O prato frio é-lhes algo quente,A cura externa de um menor desgosto.A minha vida interna, bem exposto,É que se esfria, gruta que ressente.

Vontade de chorar que não me vem...Escrevo contos em que sou alguém,Alguém que sofre no seu ser e nome.

Ao menos esta desrazão humana,De soerguer o sonho desta cama...De viver, ah, que fome de ter fome!

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Existência

Semeei: colho o fruto de venenoEntre o pó da verdade para o bemE a montanha do prazer para alémDa extensa amplidão desse terreno.

Meu nome, kharma hirto já condenoAos braços espantosos d’um refém,Que lança a vida, como ninguémNas águas da esperança d’um aceno.

Neste corpo frágil conduzo lassoA alma na idade da inocência, Que brotou num antigo rio escasso

O néctar de uma sede na ardênciaDas inquietações que soam no espaçoE que trago nas milhas da existência.

Aurora Carolina S. de Oliveira

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Terra Morta

O mar em seu tributo se unira,Ao leito d’um virtuoso céu em fuga.E assim a vida em riscos se atira,Ao clima da moral que o bem refuga;

A natureza em vícios se iguala,Ao rio que cava em um leito escuro,Dos homens frios que “correm” na resvala;

Maldita víbora que no seio sugaO gozo dos princípios e respiraO fulgor da carne fria que debruça,No ermo precipício que inspira...

Na terra morta desse vale impuroHá de emergir, da desgraçada vala,A tez virtude num humano puro.

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Ato de tocar

Ao toque de meus dedos sobre o pianoDiscorro em fluidez involuntáriaE cerro meus olhos na melodia,Que embalsama minha alma em fantasiaE funde meu ser ao ser amado.

Em notas graves, agudas e sentidasMinhas mãos percorrem o corpo enfeitiçadoDe um objeto que transcende a agoniaE invoca, na noite cálida e fria,Os sons celestiais e divinizados.

Sonata de Mozart entre meus dedos,Corpórea prisão que me impedeDe vibrar em etéreos anseios,Que invadem meu mundo por inteiroE lançam-me da partitura aos movimentos.

Sufoca-me o ar sob meus seios,Translado desse mundo a outro mundo,Entorpeço a mente com silêncios...Trago nas mãos uma harmonia cósmica,Tenho nos ouvidos, os beijos das notas...

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O toureiro

Olé! Agita ao touro a nobre fitaO gesto bruto e ainda tão sedoso...E quando o toureiro a fita agitaÉ quando a turba agita-se de gozo!

Só quer a presa a amplidão vermelha.E incauta a sorte que lhe espera talCriança pura e que a pureza espelha,Só logra o Rubro enfim em seu final...

O amor é qual este toureiro ufanoQue nos seduz com sua capa atrozE – touros fascinados pelo pano-

Enfurecidos acossamos nósAtrás do manto da paixão d’amada...Sem nem saber que nos prepara a espada!

Caio Cesar Batista

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Canção da desolação

A branda sinfonia já não soa.Nem mesmo um sino dobra à humanidade.Calou-se a voz de Deus, a voz tão boaCantamos sós, sem sóis, nossa verdade.

A dor, essa canção em desatino,Mas que para a alma do Ser é uma porta!E cuja última nota, a que conforta,Fermata nas mãos surdas do destino.

Pois canto que meu canto em algum cantoReboará no Olvido pelo ouvido;Rememorando o que se esquece tanto:

Se crês que teu clamor será ouvido,Abate a voz da esp’rança com teu pranto...Ind’antes que ela quede-te abatido!

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O Cavaleiro do Auto-Apocalipse

Prepara-te a carcaça p’ra batalha!E pega do punhal do sacrifício.Aprende, apesar de ser difícil,O corpo é esquife q’a alma amortalha.

É nuvem a embaçar um sol sem falha.O espírito é símil a um deus sem vícioMas preso neste humano frontispício,Tal porco, nesta lama se esbandalha!

Pois cega-te ao mundo qual Creonte!P’ra vere’ além da vida d’horizonte...Bem antes q’em teu sol se faça eclipse.

Atiça a adaga contra o tredo peito E impede que te torne, deste jeito,Guerreiro de teu próprio Apocalipse.

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Sobre a outra margem

Ao sol de tons estéreis a se por,Já sopra pelos céus e a terra friaOs ventos com sabor de nostalgiaTraçando, na minha alma, a sua cor;

Em noites de sereno, sem fulgor,No zênite dos sonhos, já sorriaSeus lábios com doçura de ambrosiaVertendo o mel astral de nosso amor.

Além da tela azúlea do horizonte,Por onde os astros vertem sua fonteDe luz e de silêncio elementar,

Eu hei de me lembrar de sua faceAté que o inverno gele e a dor me embraceE lá, lá sobre a outra margem, lhe esperar!

Carlos André

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Modernidades

Um sol abandonado em longa alturaProssegue o seu cadente movimentoAlém de arranha-céus e do cimentoQue são nossa celeste arquitetura;

Ao longo dessas ruas tão escurasCobertas de sujeira e desalento,Só resta a languidez de mortos ventosSoprando no metal das estruturas.

O mar acinzentado das paisagensFormado por pessoas e engrenagensFluindo em sua urbana arritmia,

É o rosto desta vida tão estérilQue leva todo ser pro cemitérioDas rodas funcionais do dia-a-dia.

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OM

Soando pela estância do infinitoEm cordas eternais do inexistente,Discorrem pelo olhar da minha menteOs mundos que jamais havia escrito.

Em sílabas que agrupam velhos ritos,Acoplam-se universos em nascentesVibrando melodias transcendentesAlém das espirais de céus aflitos;

A essência que permeia todo o marE abrange o macrocosmo tão vibranteDas águas do universo a desflorar,

Transforma o nada astral num curto instanteEm letras que se eclodem no pulsarDum som primordial e ressonante.

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Vasty

Pareces um canto clamado estendidoQue o mais belo pássaro ao vento declama,A rosa formosa dos campos floridosE o brilho ardente contido na chama.

Mulher das miragens que aos olhos inflamaCanções proibidas no ventre aquecido,Chegaste divina co’amor de quem ama,Curando-me as asas de arcanjo caído.

Um anjo de riso em arcano canoro;Por quem neste mundo debulhas teu choro,De olhos cansados perdidos no vão?

Qual nome nas noites febris delirantes Tu chamas em prece de beijos amantes?Nem sabes que é dona do meu coração...

Charles Sanctus

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O expurgo da tristeza

A dor que paira a mente sobre-humanaE lambe a seiva em casta estricnina,Destila da tristeza vespertina,Gorjeios definhados na membrana.

No peito em trinca, frágil porcelana;Não sente o brio das cores opalinasRompendo a fina capa da retina,Vazando o véu das gris venezianas.

Mas faz da angústia o canto harmonioso...Do negro, o verso quente e luminosoForjado do viés do coração.

Transpassa a tal barreira do que existe,Desfia toda a entranha de um ser tristeE o faz voar co’o lápis preso à mão.

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Um Espírito sobre o próprio túmulo

Bebi teu mais profundo pensamento,Tornei-me um ébrio louco da agonia;Vivendo a tua vã filosofia,Na torpe dos ensejos virulentos.

Senti teus próprios medos e tormentos,Vivi a opulência em frenesia;Soberba transitória, uma afosiaNo cálice volúpio pestilento.

E o que dizer agora destes vermesDilacerando a tua epidermeEm suma multidão inexorável?

Outrora o luxo, a glória e a formosura,Agora inerme à fria sepultura:O palco de imundícies deploráveis.

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Monstro da Ignorância“Quão deformado te mostras, ó monstro de estulta

ignorância!”

“O Rumor é uma gaita assoprada pela desconfiança, pela inveja, pelas conjecturas; é de tão fácil e simples

dedilhar, que o bronco monstro das inúmeras cabeças, a multidão, sempre inconstante e volúvel, a pode facilmente

tocar.” (William Shakespeare)

Nos lupanares da insignificânciaRecolhe-se demente e satisfeitoO depravado monstro da ignorânciaSobre a carniça dum promíscuo leito;

Amortalhando o pensamento estreito,Em que ao mais leve sopro de inconstância,Esquece com prazer o que está feitoNas ondas da soberba e da arrogância!

E como se esculhambam de repenteAs excelências das ações mais purasNa boca atroz da multidão que mente,

O certo é não ouvir seus tons mordazes, Que fodem o melhor das criaturasCo’a fria insensatez de suas frases!

David Moura

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Gratidão

Não sou um ente rude e empedernidoQue não possa sentir a comoçãoDe saber-se em divina comunhãoQuando agradece o bem de ter vivido!

Eu me vejo chorando sem razãoAo julgar ter no mundo percebidoO que há de mais perfeito traduzidoNa beleza de cada imperfeição!

Porque tudo aos meus olhos é sublimeE tudo em si a todos nós redimeDe qualquer falta ou de qualquer pecado,

Pois a vida é uma graciosa festa,E para aproveitar o que nos resta,É preciso aceitar o seu traçado...

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Cometa Incandescente“Sabemos que então um número muitíssimo maior de

cometas e asteróides atingia a Terra, que esses pequenos mundos são fontes ricas de moléculas orgânicas

complexas e que algumas dessas moléculas não eram calcinadas com o impacto.”

(Carl Sagan)

E o colossal cometa incandescentePenetrava na esfera avermelhada,Num gozo que lembrava tão somenteUm homem deflorando sua amada.

O rastro que deixava na jornada,Além de tudo o que supõe a mente,Trazia à tona dos confins do nadaA base estrutural do ser vivente.

O que ele arremessava na descidaEram os mais libidinosos beijosDa estranha seiva perenal da vida;

É que Deus, em seus múltiplos orgasmos,Tinha secretamente outros desejos:Queria ejacular os seus marasmos...

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OutubroPara Sara, nascida em 24 de outubro.

Outubro traz o brado da procelaÀs tuas negras noites mal dormidas;Outubro são paixões interrompidasE sangue nos matizes da aquarela.

Em mês igual a esse muitas vidasSe rendem ao fantasma da querelaTrocando uma alegria tão singelaPor lágrimas e culpas ressentidas.

Outubro junta insônia e agonia,E faz-te ver aos prantos indo emboraAquele terno amor que te sorria.

Mas sempre após a noite vem a auroraPintando na manhã a luz do diaAté que a dor aos poucos se evapora...

Eduardo Rebellis

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Sofrimento Póstumo

Amiga, pisa leve o chão que habitoE traz formosas flores, por favor,De modo que eu jamais venha a suporQue ignoras a tristeza desse rito.

Liberta o meu cadáver, ser maldito,E beija-me sem pressa e sem rancorQue mesmo no sepulcro o meu amorExala o doce aroma do infinito.

Amiga, a vida fez-te singular,Mas nunca revelou o exato preçoQue pagas por nascer e respirar.

Então aceita o Céu que te ofereço,Porque das dores que hás de suportarO túmulo é apenas o começo.

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Carta da Musa ao Poeta

Poeta,nunca desanimeSe a tua verve esmorecerOu se o que escreves com prazerFoi concebido pelo Crime.

A Arte jamais foi recompensaDada a um espírito feliz,Contudo a Musa nunca quisQue a tua mágoa fosse imensa.

As tuas lágrimas de dorEu agasalho junto ao seio,E às vezes pálida receioNão ter ganhado o teu amor.

E embora alguém possa odiarA melodia de teus versosE o teu louvor em metros tersos,Na minha cama tens lugar.

Porque se chora a tua liraMeu coração aos poucos erraE vaga triste pela TerraAtrás de um monstro que lhe fira.

Assim, poeta, quando o céuMostrar sinais de noites frias,Prepara as tuas poesias,Pois que sem pompa ou escarcéu

Virei trajando um negro mantoPara beijar os lábios teusE transformá-lo nesse deusEm cujo riso grita o Pranto.

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O Farol

Alegrem-me ó nautas que orienteiEstático nas trevas desta beira.As ondas tão violentas co’a costeiraÉ toda companhia que terei?

Por medo e frio, eu tanto aqui choreiO aço, ferro e toda minha madeiraContorcem-se de dor, de tal maneiraQue sinto os anos qu’inda viverei.

Terrível foi o dia em que o pedreiroEm sua intrepidez, lançou-me a prumoLargando-me, às mãos do faroleiro.

Na queda do astro rei, eu me resumoA ver o mar e deixo que o luzeiroAos bravos marinheiros trace o rumo.

Elias Dos Santos Antunes

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Flor Querida

Quão belo olhar teus olhos, e no tudoNo tanto mais que eu possa me prender,Sentir que não somente em te verEm tudo – o quanto és bela – eu saúdo.

Saúdo tua beleza, sobretudoEm cada flor de Dália a nascerE vejo-te também num perecer,Se nada é tão feliz assim, contudo.

E a mostra de tão bela naturezaEncanta minha vida, meu andarCom todas cores, cheiro e a pureza

Andando, eu me ponho a divagar,Que vício tão sutil é a tua belezaA vendo assim, em tudo que é lugar.

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Retrato

Se sofro é porque te amo, meu amorE não por tristes chagas mal curadas.Que importa estas fedidas, desgraçadasFeridas espalhando pus e dor?

As moscas que se fartem com louvor!Ao verem-me imbuído nas fadadasLembranças que se espalham desleixadasTornando-me esquecente ao podridor.

E em meio a noite negra que despontaEu tresloucado sofro meu olharArdente, que pra tua face aponta

E os beijos calorosos que me dera.Me levam na amargura a desejarA ti que apenas foto se fizera.

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Escada pra subir e pra descer.

Escada. Só isso. Ruelas grafitadas. Trepadeiras bem cortadas; matas feitas de copas com quatrocentos tons de cor. Deserto de areias brancas, de curvas serpejantes e alaranjadas rabiscadas pelo temporal. Vastidão. Olhos apontados pro céu estrelado. Neste instante não existe mais labirintos, nem procuras, nem saídas. Só existem eu, o céu e a bondade que me atravessa o gosto. Minha imaginação tem luz, cheiro, textura e dor. Ah! Que saudade das estrelas dálias, das princesas e das bailarinas perambulando minhas noites solitárias. Que vontade de acordar em paz, sem gemidos, sem ruídos, sem complexidades. Água, pão e amor. Que vontade de chorar, mas não sou mais rio, não sorrio e não deságuo em algo maior que eu.

Fernando Esselin

Escada

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Copo americano Um vento gélido anda em passos lentos

pelo corredor. Acordei com o mundo me enfrentando, me jogando granizo denso no rosto. Lançando lembranças minhas, sujas, invadindo minhas tramas sem mandado.

Grosseiramente esta manhã, que não é minha, que é do mundo está me expondo a mim mesmo. Mas sou eu quem decide quando quero pensar nos meus pesares. Não venha a minha casa, a minha alma me lembrar o que eu não sou.

Mundo maldito, malfeito, mau! Meus olhos se lançaram pra fora da janela de bordas castanhas. O mar estava negro, bravo, vingativo. A areia branca estava cinza e úmida. A chuva fina perecia eterna.

Bastou um dia revés e o sol se tornou só uma lembrança remota. Sem controle! Quem abriu as portas da minha vida? Peguei minha espada ritualística e desafiei este ser invisível que parecia gostar de me ver desesperado. Havia um prazer corpulento no ar desta alma gigante que me atravessou o peito me deixando transparente.

Eu não queria me ver. - Cobre-me! Empresta-me um lençol para tapar a nudez da minha alma. Preciso de mais tempo para me despir de tudo. Deste outro eu funcional que tomou a frente da minha máscara principal. Não estou pronto para ser do meu tamanho.

Acostumei-me a ter a forma da fechadura da porta do meu quarto, das minhas desculpas, do meu medo de vencer uma imagem derrotada já descascada pela verdade agora irrefutavelmente desvelada...

Dia frio.

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Luz... se abre e o olhar se encanta.

Uma dona, de vestido de luz desfila calma. A rua é negra, mas ela traça um cometa a cada passo descalça.

As lamparinas mascavas ao longe, parecem refúgio de outro tempo. Quando a luz era amarelada. Quando o chão era marrom e o amor se deitava nas praças sem culpa.

As linhas de cada trama de cetim guardam uma carta guia de como nossa alma é arranjada de fios infindos. Estamos ligados a tudo como uma enorme coberta que aquece os corpos e deixa o espírito sonhar tranquilo.

Hoje, o presente, é o grande dia. Não há outro ou outra magia. Nada. Por isso, salve-se com um beijo doce, do amanhã que não chegará. Concentre-se nos lábios rubros do seu amor e você, enfim encontrará a imortalidade.

Um mundo

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À árvore solitária

Por sobre o caule morto as mãos entalhoUm outro céu co’a árvore implorando,Quem sabe as solidões se fazem bandoE pingo em pingo o céu porque batalho.

O que eu queria mesmo a ‘companhando,Árvore solitária deste atalho,Era entalhar nas mãos uns verdes galhosNestes galhos os pássaros pousando...

O vento sopra e tremem os teus dedosEm crispações contidas de agoniaPor estar tão distante do arvoredo,

Eu sei por que do céu só sede sorvo,Lembrado como atalho, em companhiaA sombra minha a sombra de algum corvo.

Franciele M. Bach

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Costura

Nesta hora em que algo no universo se perdeuNinguém no mundo ousa dizer eureca. Nesta hora em que a vida é da dor um grande prego,Meu Deus, gemeu Jesus. Faltam horas ao tempo,Cor às têmporas,Temporais ao olhar – são nuvens neutras,Carregadas do nada que lhe sobra. E os ocos que vão ao universoSão ecos que a poesia costuraComo a buracos negros no meu ego.

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Inalterável

Corrói-me o que não sinto e o desesperoDe ver no chão meus sonhos e desejos,De ser somente o chão o que eu vejo,De a vida ser apenas um enterro. Corrói-me a poesia e meu versejoPor ser tão triste e vago e pesaroso,Por vir da dor e ser na dor que o coso,Por derramar-se assim como sobejo. Corrói-me essa angústia e esse nadaQue moldam a seu gosto o meu feitio,Transformando-o alegre ou sombrio,Deixando a dor no peito inalterada.

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Manifesto

É disso que falo...

O cheiro acreque exala em esgotos.A náusea do gostodo hálito das bocasque hoje se fecham...

Se calam sorrindo...

Falo dos braços cruzadosque por vezes inertes,pendem ao ritmodos passos perdidos.

Ah, e todos se perdem...

Falo de apatias densas...De liberdades pretensas,noticiadas natimortas.

Eu falo do hoje!Do tempo do agora!

De sonhos descartáveis.Das coisas que vão embora.

Coisas que somem...

Falo de existências nulas,mortas, sem viço...

Não falo do homem,mas daquelesque são menos que isso...

Joel Luis Carbonera

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Lethe

Adivinho angústias do amanhãarrastando calçadas familiaresdesenhadas com minhas migalhas.

Pedaços de nós que abandonamos.Âncoras que conservam fatalmentemapas de lugares e caminhosque a contragosto revisitamos.

Esquecer o que não se querÉ abarrotar caixas escondidasno sótão velho da memória.

Sempre se pode voltar a elas...

Até que os corvos do destino,em revoada derradeira,comam nossas migalhas no caminho,despindo-nos da própria história.

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Espelho em cacos

Saudosos, meus olhos bebem da janela.Sorvendo o recorte do mundo,tento degustar a mime tudo tem gosto de não sei.

Paisagens estacionáriasem estranhamentos familiaresem que a mudança disse adeus.

Nesta hora em que a saudade aflige,e que nada do que cerca muda,a causa da minha saudade é um euque já não se reconhece em si.

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Terra em Transe

Nesse abril despedaçadoDeixo morrer as floresDe minha lavoura arcaica.

Que fique com a discussãoDeus e o diabo na terra do sol.Vou plantar versos na cidade de deus.

Entre viadutos e poças sujas, vidas secas.Nas ruelas estreitasRevira o lixo meu novo amigo,Dois perdidos numa noite suja!

Mendigos e executivos pela calçadaComentam crime e castigo.Tenho medo das esquinasE do bandido da luz vermelha.

Nos letreiros foscos e anúncios de jornalDescubro que toda a nudez será castigada.Tudo por aqui é tão frio,Longe do maior amor do mundo.

Sinto a todos e a tudoTão frenético e passageiroQuanto navalha na carne.

Tanta gente e estou só. Solitária do Carandiru.Num hotel barato, durmo numa cama de gato.Sinto-me o estorvo, vejo tristezaE nem ao menos sei de Olga.

Perdido na central do BrasilPergunto-me “o que é isso companheiro?”Vou embora. Dançar com Madame Satã.Bye Bye Brasil – Eu te amo!

Jônatas Luis

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Ferir-se no Íntimo

Egos se feremFeras não negoGritos não prendemAs eras que prego.

Ares confundem Mares sem fundo Trevas iludindoOs bares do mundo.

Segredos sorrindo Medos nos tratos Fracos enredos Sem barcos ou credos.

Mas barcos nos levam Tratos nos traem Nos arcos beirando Um choro que cai.

E caem ainda Fracos a esmo Frascos dos mesmos Perfumes sorrindo.

Sonetos não valem Poetas que calem O sorrir em segredo.

Um mundo nos bares Cavernas fundandoO fundo dos mares

E pregam as eras E prendem os gritos E negam as feras Os egos que ferem.

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Em Carne

Roa-me como quem rói o podre. Solta-me como quem exorciza. E tema! Grita! E eu sussurro Como quem goza.

Fitem! Observem! Feito quem pode.Ouçam o silêncio tal qual uma ode. Admirem o inimaginável, assim,Igual quem reza.

Açoitem-me. E eu choro, salgo teu chão.Ninguém me pode. Nem cria. Nem me é. Incendeie-me como Roma E serei maior que a simples cidadela.

Marca-me como gado! E eu cicatrizo feito um olhar. Um guizo pronto, em tua presença,A sacudir.

Faça de mim o pó, E nasço flor de Lótus. Faça de mim a cinza! Ressurjo como fênix.

Adora-me como Meca, Derreta-me feito Pompéia, E volto feito um poetaE Recrio a Odisséia

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As criaturas da noite

E quando a escuridão se arrastar pelo mundo,Da enorme vastidão num temporal terrível,Numa desolação tétrica inconcebível,Eles ressurgirão do negro mais profundo.

Vão vagando através da vida perecívelComo uma aberração, um demônio oriundoDe uma transmutação do sonho mais imundoEm transfiguração no corpo putrescível.

Imensa catedral, impassível, pareceExigir desta gente um cântico, uma preceComo reparação aos erros mais atrozes...

Para sempre vagai, Criaturas da Noite!E bem ouvi o estalar vergastante do açoite,Pois ele abafará o som das vossas vozes.

Jurandyr Monjellos

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A catedral soturna dos meus sonhos

A catedral soturna dos meus sonhos,Onde a sombra e o desgosto também moram,Onde as almas perdidas vêm e imploramLibertação dos males mais medonhos.

Seres caminham lúgubres, tristonhosAtropelam-se e caem, sofrem, choramNas imensas torpezas que aqui afloram,Sustentando os demônios maus, risonhos.

Na torre dessa igreja brilharáUma luz negra! Luz da estrela má,Que iluminará sempre a minha sorte.

O brilho dessa estrela me conduz,Projeta a sombra exata de uma cruz,No chão onde hei de estar depois da morte!

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Uma noite chuvosa

Olho pela janela aberta e tão soturna...Aumenta a solidão da vigília noturna.Deus! Quando passarão essas horas imensas?Encéfalo, dizei, por que é que pensas?Nessas horas, talvez, livres dos desgostosA passear estão os ratos nos esgotos.Saio. Um vento frio esbarra no meu peitoPenso (mas penso só) em retornar ao leito...A chuva que cai forte eleva a sensaçãoTérmica do abandono e da desolação.Dou alguns passos, passo entre as árvores frias,Levo a recordação dos meus melhores diasNem sei quantos. Um, dois, talvez três? São bem poucos...Rolam no cérebro uns pensamentos loucos:Continuar vivendo ou, talvez, já morrer!Acho que nunca mais vai parar de chover...

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Vontade de tiPara os teus beijos, sensual, flori!

E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,Só me exalto e sou linda para ti!

(Florbela Espanca)

O olhar perdido que outro olhar procuraE os dedos pálidos traçando os seiosVestidos só com véus de gaze pura,Auréolas rosa, faces e entremeios...

Vazio o leito, parco de ternura,Meu flanco e ventre mornos, com receios,Querendo dar-se, sendo criaturas:Desejos cutelados pelo meio...

Carótidas vertendo nas fissurasE os nervos entre as veias e os veios:Filões sobre camadas tão escuras!

Lençóis intactos, alvos e tão feios!Raízes vão brotando na brancura,Não há mais corpo ou alma... só anseios...

Magmah

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RodopiandoE como a flor que solitária pende

Sem ter carícias no voar da brisa,Minh’alma murcha, mas ninguém entende

Que a pobrezinha só de amor precisa!(Álvares de Azevedo)

Qual pássaro acrobata ou bailarinaQue salta, que volteia e sobrevoa,Sou sopro de lascívias que ressoaE acende os teus desejos à surdina.

Num rastro de luxúria perfumadaE um canto, que é inaudível, pra se ouvir,Meu sexo vai em pétalas florirE eu venho te ofertar, extasiada.

Preenche os vácuos, me impede a fugaE faz alvorecer toda essa bruma.Encharca minha alma com tua espuma,Envolve-a com fragrâncias, lava e enxuga.

Migrei com o vento para, nesse abraço,Rodopiar contigo num só um passo.

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SelvagemQuando por entre os véus da noite fria

A máquina celeste observo acesa,De angústia, de terror a imagens presa

Começa a devorar-me a fantasia.(Bocage)

Em mim a fera ataca e sempre insisteNas horas de desterro e de agonia.Encurralada, se esconde e resiste,Seu gume, em facas, fatiando o dia.

Vem, dilacera o peito e me acrescentaMais marcas tatuadas, nós e frisos.Desenfreada, essa selvagem tentaAlucinar-me, pois seu chão não piso.

Sobejo vão de todos os intentos,Pedaço meu evaporou, desiste.Restou silêncio em ecos de porfia.

Desperdicei o meu amor aos ventosE a consciência, com seu dedo em riste,Acometeu-me, dando à voz poesia.

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Forca

No seco verão, meu interno frio,No ar vazio, resquícios de reza,Oh, quanto pesa o dobrar doridoDum sino inibido – frio – e duro.

Do que é puro, resta o sarcasmo,Do olhar pasmo, o silente grito,Do céu finito, restam suplíciosE dos indícios, a garganta seca.

Daquele que peca passo ante passoSolto no espaço, e um nó no pescoçoDesprende do osso o tom da vertigem,A voz de fuligem, serragem e adeus.

O relógio-Deus para meus êmbolosE corpos balançam, inertes pêndulos.

Nádia Menezes

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Necrofilia

Tentado a preencher-me em seu vazioNo corpo frio toca orvalho e celha.Mãos de abelha buscando noite adentroUm pólen suculento e doentio.

Vítima inerte neste morbo fado– Teu grado à alforria mais impura – Rosa em candura de silentes ais– Não mais do que um lírio profanado.

Jogada sobre a relva de jardim,O brilho fosco nos olhos sem vida,Flor morta já exposta – em cada halo.

Hei de despetalar-me até o taloA fim de terminar parte de mim,Como a pálida folha ressequida.

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Sombra de gato

Visito a praça pelos seus oloresMais fortes na água que cai, perfeitaJá o guarda-chuva em minha mão direitaO vento levou, como se flores.

O corpo se encolhe, não que o aceiteNa pele que fere o arrepio – chuviscosE os olhos ariscos tocam os riscosDa mão que fita uns copos-de-leite.

Quando o mais seca, um gesto rasoTalvez-sorriso assim, por acaso,Camufl’a parede de feldspato.

Lambo o pulso, resquício de bolhasSob meus pés, as vis douradas folhasE, no muro, a sombra de um gato.

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Ghazal I“E não seria a noite a pálpebra do dia?”

- Omar Khayyám.

Perece o meu Dia nas pálpebras negras da Noite,O Pássaro Nédio já cai nas veredas da Noite.

Percorro o desértico Céu com meus olhos plangentes,Buscando, com reles olhares, estrelas na Noite.

Os astros se ocultam perante meus úmidos olhos,Repletos de glórias passadas, já quedas à Noite.

O Célere Tempo percorre o seu curso indolente,Vislumbro-o com súplicas tolas: esqueças-me, oh Noite!

Apenas me restam, oh Musa, queridas lembranças:Sorrisos sinceros nas tristes facetas da Noite.

Nikholas Stephanou

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O Infortúnio(Para M.)

Eis a farsa de tudo - enganosa afeição:Infortúnio de esp’rança que rege o fracasso.Às entranhas da Terra, sepulcro das glórias,Tudo volve. Os esforços são nulos.Aos passados amores que regem o ser- Moradia de vícios e errantes virtudes -Não mais chora! Flertemos com o Nada, Pois é tudo. O desejo morreu!Sinto em mim os anelos de outrora quedadosNa memória do olvido. Infortúnio de esp’rança Enganosa: afeição de flertar com o engano,Eis a farsa. Os esforços são mortos.

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En Márut

Com teus úmidos olhos eu parto em silêncio,Meu espírito frágil, a terras distantes,Abraçadas por plácidos mares.Mas as águas da minha partidaSó separam então nossos corpos,Pois teus úmidos olhosEscravizam minha alma,Hárert bela.

Com teus úmidos olhos eu parto em silêncio,Meu espírito frágil, a terras distantes,Abraçadas por ventos saudosos.Mas as brisas da minha partidaSó separam então nossas vozes,Pois teus úmidos olhosEscravizam meus versos,Hárert bela.

Nos meus úmidos olhos tu partes,Meu amor sempiterno,Para o vasto horizonte das águas,E nas águas um lótus floresce,Cujas pétalas frágeisSão apenas as lágrimas minhasQue pranteio por ti.

Nos meus úmidos olhos tu partes,Meu amor sempiterno,Para o vasto horizonte das brisas,Pois as brisas exalam perfumes,Cujas flóreas essênciasSão apenas as belas lembrançasQue me guardam em ti.

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Sou como um justo que a cicuta sorve...

Sou como um justo que a cicuta sorveE de que forma ponho em mim matança!Recordo a face, o corpo e a fragrânciaDa cruel dama que me fez disforme:

Da eterna ausência fez-se aguda lançaQue fere o peito e sangra o corpo torpe,Tortura a mente enquanto, exausta, dormeDepois que em horas de oração se cansa.

Com que direito atravancou-me a alma?!Com quantas foices decepou-me a calma eTornou-me Herege a insultar meu deus?

Pergunto em fúria, ainda que em desarme:Que santidade autorizou roubar-meO teu olhar... aqueles olhos meus?!

Rafael Gomes

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A chuva que cai sobre o mar me dói...

A chuva que cai sobre o mar me dói,Tornando-o mais denso para quem o avistar,Não o torna mais mar do que o mar que já foiNem o deixa molhado tão mais do que está.

Proclamam alguns, ao mirar esse mar,Que o peso das águas é o mal que destrói...- Não enxergam, vis seres, a glória que háNa chuva que cai sobre o mar que me dói?!

Que mal há nas águas que molham esse mar, Nas nuvens que insistem em servir de berlinda,Negando o Espelho ao céu que é Narciso?

De inverso que sou, até chego a criar,Em meio ao alívio da chuva já finda,Mil outros serenos que encharquem meu riso.

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Naquele riacho em meio aos montes...

Naquele riacho em meio aos montes,É lá que navegam os meus desenganos...Moldados em lágrima ao longo dos anos,Cruzando planícies e vales e pontes.

Navegam – somente – e já assim navegando,Espero perdê-los por entre as águas.- Oh, medos, tristezas, saudades e mágoas,Viajem p’ro nada remando... remando...

E depois de perdida a imensa agonia,Percebo a tolice que trago no peito ePersigo o riacho a nadar... a nadar...

“A vida sem pranto é existência vazia”Já busco a tristeza a que tenho direito eEspero encontrá-la no abismo do mar...

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High Definition

Hoje saí da cama esquerdo.Disposto a dissecar o mundoCom faca de passar manteigaE num comercial infundoMatar uma família meiga.

Sem pés, atravessar a ruaDeixando pregos pelo asfaltoA misturar sangue e borracha;E na igualdade em que me pautoBeber da resultante graxa.

Hoje me peguei sem relógio,Sem alma, sem guardar porões.Já não escondo subterrâneosNo corpo livre de botões –Controle remoto cutâneo.

O tato é quem liga o ventoQue me empurra do precipício.A hora se afasta do começo,A calma se aglutina em vícioE direito me sonho avesso...

Vinicius Paioli

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Sem Título

Eu que falava de abismosCansei-me de cairE munido de páDecidi me afundarPra não tirar os pés do chão.

Eu, que dizia sentir,Aceitei meu lugar de pedraE como peso mortoMantive portas abertasSem sair do lugar.

Mas agora, como todo mineral,Vou me lembrar de ser lavaE ter inveja do ventoQue me varre aos poucosAo meu fim de pó.

Eu que falava de asasHoje não passoDas penas.

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Passagens

Há na vida um descompasso semânticoEntre a dose que rebenta no copoE a garrafa que esvazia num pranto.Entre o que alimenta a alma, no corpo,

E o que bebem os corpos sem as almas.É talvez uma visão do crepúsculoNas auroras que se pensam em carma,Ou a voz amplificada do homúnculo

Que num rasgo do semáforo encarna.É vontade em revertério furúnculoOu a pus em que o brotar da sarnaFaz lembrar das margaridas no jardim.

Há, por fim, toda uma série de passosEm que colo mais pegadas-paisagemQue o sentir nos meus sapatos os pés:O saber que não segui direção,

Pois sentido algum mostraram as placas.

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“Sim! Que é preciso caminhar avante![...]Como quem n’uma mina vai de bruços,Olhar apenas uma luz distante!”

(Antero de Quental)

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Por que não? Cá estamos, parceiros de Cadafalso,

iniciando um caminho para, quem sabe, nos perdermos pela estrada. O primeiro passo foi dado por cada um ao se interessar, num primeiro instante, pela escrita, pela poesia e mais que isso, pela cultura e a vida, de modo geral. Outros passos seguiram-se, dotados de dificuldades ou facilidades, conforme cada caso específico, mas, enfim, todos estes passos nos trouxeram ao mesmo lugar e, talvez, sob uma mesma idéia.

Essa idéia, o Cadafalso Poético, parecendo antes um acidente devido às discórdias enfrentadas em outras paragens, não é mais ou menos que nosso caminho trilhado e que nosso encontro nas outras comunidades. Será que foi acidente termos lido o que Matheus escreveu? Ou foi acidente termos nos identificado por uma determinada estética do Rebellis? A vantagem dos acidentes, entretanto, é que são indiscutíveis, e, se é o caso aqui, bom... deixo que terminem a frase.

Nestes três anos de existência nossa arte imitou a vida, nossa vida se confundiu na rede e a rede espalhou nossas poesias. Começamos poucos, bem poucos. A estes juntaram-se alguns e outros que nos surpreenderam no desenrolar dos meses. E se não somos uma comunidade cheia de sorrisos e abraços, aprendemos a respeitar nos membros aquilo que cada um tem de melhor a oferecer.

A idéia expandiu-se. Quando colocamos na comunidade um de nossos textos, sabemos que estará sendo lido por pessoas que, se não são famosas ou devidamente diplomadas, preocupam-se com a arte e com as letras. Sabemos que não seremos apedrejados à toa quando acontecer e, sabemos igualmente, que nossos esforços terão ao menos a chance de serem reconhecidos (e um reconhecimento sem afagos).

A forma nos fascina. Temos consciência de nossa força como esteticistas porque compreendemos a força que exerce o escrito bem escrito. Não nos escondemos

Por que não?

POSFÁCIO

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sob desculpas fajutas e ultrapassadas para abandonar nossas preocupações. Hoje, amanhã... O que importa é que haverá poesia, pois asseguraremos isso.

Por que não? Ontem vimos nascer a comunidade, vimos seu desenvolvimento e a criação, longe dos misticismos fáceis, dançando com cada membro participante da comunidade. Ontem, talvez algumas horas antes passamos por nossas provações, talvez em grande parte auto-impostas, e continuamos o caminho sabendo que a madrugada que virava nos levava um pouco adiante.

Hoje levantamos nossas letras para além do Orkut, para um novo minuto em busca de nosso futuro como escritores, poetas, artistas. Hoje erguemos nossa estrutura acima dos outros telhados, montamos nossa verdade no centro da praça e com um sentimento bom no peito, dizemos:

O cadafalso é a última prova por que passam os poetas!

Por Vinicius Paioli.

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O Cadafalso Poético é uma confraria literária com sede no Orkut, fundada em 2007 por um grupo de jovens com uma paixão em comum: a Poesia de raízes clássicas. Inicialmente um palco onde figuravam apenas a poesia nos moldes tradicionais e os debates e discussões acerca dos valores estéticos que a permeiam, com o passar do tempo este mesmo palco passou a receber estilos literários mais livres e contemporâneos, mas sem fugir às suas tradições de primar sempre pela qualidade literária de suas poesias.

Nesta obra estão agrupados dezenove poetas de vários cantos do Brasil expondo o que de melhor se produziu e continua se produzindo neste longo caminho percorrido pelas sendas orkutianas.