Cadeia de Suprimentos Agronegocio

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    Revista Brasileira deEngenharia Agrcola e Ambientalv.10, n.3, p.772777, 2006Campina Grande, PB, DEAg/UFCG http://www.agriambi.com.brProtocolo 188.04 28/12/2004 Aprovado em 27/12/2005

    Metodologia para estruturao de cadeias de suprimentosno agronegcio: um estudo exploratrio

    Egidio L. Furlanetto1& Gesinaldo A. Cndido2

    RESUMO

    O sucesso do agronegcioest fortemente ligado ao grau de articulao de seus diferentes elos e, conseqentemen-

    te, da eficincia de seus mecanismos de coordenao em responderem s imposies do mercado, sendo fundamen-tal que suas cadeias sejam estruturadas e coordenadas sob esta tica. Objetivando contribuir com o tema, o presente

    trabalho apresenta uma metodologia voltada estruturao de cadeias de suprimentos do agronegcio, a qual fruto

    de trs estudos de caso, realizados em diferentes formas de estruturao e coordenao dos sistemas de produo do

    agronegcio: uma cooperativa agrcola, uma integradora de frangos e a cadeia de suprimentos de carne bovina de

    uma rede de supermercados. Procurou-se, neste estudo, analisar o processo de estruturao das cadeias, ou seja, como

    foram estruturadas, como esto sendo coordenadas e quais suas principais caractersticas e, a partir dos resultados

    dos trs casos, foram definidas, via de regra, as principais etapas do processo de estruturao de uma cadeia de su-

    primentos do agronegcio.

    Palavras-chave: cadeia produtiva, gesto, suprimentos

    Methodology for structuring agribusiness supply chain:An exploratory study

    ABSTRACT

    The success of the agribusiness is strongly associated with the degree of articulation of its different links and the result of

    the efficiency of its coordination mechanisms in answering the impositions of the market; it is fundamental that agribusiness

    chains are structured and coordinated keeping these aspects in view. The present work presents a methodology for

    structuring agribusiness supplies chains. The methodology is a result of three Case Studies conducted in different structured

    forms and coordination of the production systems of the agribusiness: an agricultural cooperative, an integrator of chickens

    and the supply chain of bovine meat from a net of supermarkets. The study intended to analyze the process of structuring

    these chains; in other words, how these are structured, coordinated and their main characteristics. From the results of

    the three cases, the main stages of the process of structuring a supply chain of the agribusiness were defined.

    Key words: productive chain, management, supply, coordination

    1UFCG/DEQ. Aprgio Veloso 882, Bodocong, CEP 58109-970, Campina Grande, PB. Fone: (83) 3310 1041. E-mail: [email protected]/DAC. Fone: (83) 3310 1217. E-mail: [email protected]

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    R. Bras. Eng. Agrc. Ambiental, v.10, n.3, p.772777, 2006.

    INTRODUO

    Compreendido por uma cadeia de operaes que envol-vem desde a fabricao de insumos, a produo nas fazen-das, a transformao (industrializao), distribuio e comer-cializao, chegando ao consumidor final, o agronegcio

    brasileiro responsvel por cerca de 40% dos valores expor-tados pelo comrcio exterior, constituindo-se numa das prin-cipais fontes de divisas para o Pas.

    Este sucesso do agronegcio brasileiro e, de forma geral,do agronegcio mundial, se vincula, em parte, ao grau dearticulao de seus diferentes elos e, conseqentemente, daeficincia de seus mecanismos de coordenao em respon-derem s imposies do mercado.

    Dentro desta lgica, a empresa rural constitui apenas maisum elemento importante; entretanto, integrado numa rede devinculaes a outros sistemas: comercial, financeiro, infra-estrutura, tecnologia, relaes do trabalho e todo o aparato

    institucional pblico e privado, configurando o que se con-vencionou chamar de cadeia produtiva.

    Portanto, uma anlise do conceito de cadeia produtivapermite a identificao de interaes existentes entre os di-versos elos que a compem. Essas interaes estabelecemrelaes de complementaridade e de interdependncia entreos atores envolvidos numa lgica seqencial e dinmica.

    Assim, tanto as instituies como as organizaes perce-beram que a eficincia do moderno agronegcio passou aapoiar-se cada vez mais nos aspectos estruturais da cadeia

    produtiva, na medida em que depende da capacidade de res-posta evoluo da demanda veiculada pela grande distri-

    buio e exige novas formas de integrao a montante, paraassegurar os fluxos e a qualidade da matria-prima.Vislumbra-se, portanto, um novo enfoque, com a com-

    petio ocorrendo muito mais entre cadeias, onde no mais possvel planejar setorialmente, sem se levar em con-siderao os desdobramentos ao longo da cadeia produti-va, em especial no caso do Agronegcio, altamente depen-dente das mais diversas exigncias de mercado e legais(ambiental e de sade).

    Este novo enfoque (paradigma) pressupe que se trate dacompetitividade sistmica, sendo fundamental que se bus-quem mecanismos para a formao de cadeias de valor, in-corporando conhecimentos em todas as formas de interao

    entre os componentes da cadeia. Desta forma, a cadeia pre-cisa de mecanismos atravs dos quais se busque conhecer emapear, sistematicamente: 1) tendncias para diferenciaode produtos, com estratgias explcitas; 2) controles institu-cionais e 3) controle dos variados fornecedores, ou seja, tor-na-se fundamental a criao das melhores condies paraotimizar a governana da cadeia como um todo e, em espe-cial, no caso do agronegcio, das cadeias de suprimentos.

    A partir de ento, diferentes pesquisadores se tm envol-vido em projetos que objetivam a construo de caminhosque possibilitem melhor integrao entre os diferentes elosque compem uma cadeia produtiva (Davis & Goldberg,

    1957; Goldberg, 1968; Lauret, 1978; Zylbersztajn, 1995;Zylbersztajn, 2000).Para esses pesquisadores, sobretudo para os que tratam do

    agronegcio, uma das questes centrais tem sido: Como es-truturar as cadeias produtivas do agronegcio para que asempresas nele inseridas faam frente aos novos desafios aelas impostos pela nova realidade do mundo dos negcios?

    Neste caso e pela prpria gnese da cadeia, constitudapor diferentes e independentes elos, ressaltada a necessi-dade de coordenao desses elos que a configuram, os quaisapresentam interesses e aes muitas vezes conflitantes (Pfe-ffer & Salancik, 1978). Portanto, passou a ser fundamentaltratar da estruturao e coordenao das cadeias e, por con-seguinte, da necessidade de gesto da cadeia como um todo(Ching, 1999), o que pode proporcionar o aumento da pro-dutividade e contribuir significativamente para a reduo decustos (Williamson, 1989) e identificar formas de agregarvalor aos produtos e servios.

    Objetivando contribuir na soluo desta questo apresen-ta-se, no trabalho, uma metodologia para estruturao decadeias produtivas do agronegcio, adotando-se a cadeia de

    suprimentos como objeto de anlise, e isto se deu em funode ser este um conceito de melhor operacionalizao. Talmetodologia fruto de trs estudos de caso, realizados emtrs diferentes formas de estruturao e coordenao dos sis-temas de produo do agronegcio, quando ento se procu-rou analisar o processo de estruturao dessas cadeias, isto, como foram estruturadas, como esto sendo coordenadase quais suas principais caractersticas.

    Portanto, o objetivo da pesquisa consistiu em identificaro processo de estruturao das cadeias de suprimentos e, a

    partir da, definir uma metodologia de estruturao das ca-deias de suprimentos do agronegcio.

    Para se alcanar os propsitos, dividiu-se este artigo nosentido de apresentar, alm desta introduo, a metodologiade pesquisa; a anlise dos casos; os resultados da pesquisa eas consideraes finais.

    MATERIALEMTODOS

    Para a consecuo dos objetivos propostos no trabalhoutilizou-se a tcnica de mltiplos estudos de caso. As orga-nizaes estudadas foram escolhidas sob critrios de efici-ncia e representatividade, isto , procurou-se selecionarcadeias eficientes e representativas, do Estado do Rio Gran-

    de do Sul, rea delimitada para o estudo. Para identificar ossistemas produtivos mais eficientes, foram consultados es-

    pecialistas ligados a cada uma delas.Por questes de operacionalizao, o objeto de estudo

    concentrou-se na cadeia de suprimentos, aqui consideradaum corte na cadeia produtiva, ou seja, uma rede de siste-mas de produo e distribuio, que transforma a matria-

    prima em produtos intermedirios ou acabados e os distri-bui aos consumidores (Ching, 1999). Tal delimi taoconceitual permitiu, portanto, que fossem analisadas ascadeias de suprimentos de trs diferentes empresas, comtodas as suas ramificaes, as quais so inerentes a qual-

    quer cadeia (produtiva ou de suprimentos).Procurou-se analisar o processo de formao e estrutura-o das diferentes cadeias, especialmente como estas so

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    coordenadas, visto ser este o principal pressuposto assumi-do ao longo do trabalho, ou seja, que a competitividade doagronegcio est associada necessidade de uma estruturade coordenao que articule os diferentes elos.

    O instrumento de coleta dos dados roteiro das entre-vistas foi elaborado com auxlio do referencial tericoapresentado e no sentido de se obterem subsdios para res-

    ponder como cada sistema se organizou e como est sendocoordenado.

    Aps definio dos sistemas a serem pesquisados e comauxlio do roteiro de entrevistas, foram entrevistados os di-rigentes das empresas lderes das cadeias. A partir dessasentrevistas, foram desenhadas as cadeias de suprimentos decada uma das empresas, permitindo-se a identificao dos

    principais segmentos que as constituem e posterior entrevistade seus representantes.

    A definio do dirigente a ser entrevistado obedeceu aoseguinte critrio: nos casos em que a empresa possua o

    gerente de suprimentos, este foi o elemento indicado; nosoutros casos, a preferncia recaiu sobre um executivo doalto escalo da empresa (gerente, diretor, diretor presiden-te). Procurou-se realizar entrevistas com mais de um di-rigente das empresas analisadas e de seus fornecedores os produtores.

    Anlise dos casos

    Estudo de caso n 1. Cadeia de suprimentos de Fran-gos da Avipal S/A Agricultura e Agropecuria de PortoAlegre, RS

    A Avipal considerada uma das maiores e mais eficien-

    tes empresas do setor de alimentos do estado do Rio Grandedo Sul, operando principalmente com aves, sunos, leite etodos os seus derivados. Objetivou-se, com o estudo destecaso, analisar a estrutura organizacional em que pequenos emdios produtores operam de forma integrada a uma empresado agronegcio. O sistema de integrao de aves foi esco-lhido por se tratar de um dos mais consolidados e competi-tivos. Foram entrevistados o gerente de fomento e o diretoradjunto da Avipal, alm de dois produtores de frangos quetrabalham integrados empresa.

    A dinmica da cadeia pode ser assim resumida: a Avipaltraa toda a estratgia, realiza o planejamento, seleciona os

    produtores e d partida a todo o processo produtivo, isto ,

    planeja a produo, efetua toda a parte de compras, pesqui-sa, produz raes, incuba os ovos, repassando, ento, somentea operao de engorda das aves aos produtores integrados.

    Na poca adequada recolhe as aves adultas, processa o aba-te e as comercializa. Aos produtores cabe somente a tarefade criao (engorda) das aves.

    Estudo de caso n 2.Cadeia de suprimento de carne bovi-na da Companhia Zaffari de Supermercados, Porto Alegre, RS

    A Companhia Zaffari de Supermercados uma rede com-posta por dezenove lojas (janeiro/2001), dezessete delas emPorto Alegre e duas no interior do Estado constituindo-se,na poca do estudo, na segunda maior rede de supermerca-

    dos do Rio Grande do Sul e a stima no Brasil.O objeto de anlise foi sua cadeia de suprimentos de car-nes, composta por doze frigorficos e um grande nmero de

    produtores, todos localizados no Estado do Rio Grande doSul. A razo da escolha ocorreu devido ao fato da rede seruma das mais eficientes do Estado e desenvolver um siste-ma de parceria ao longo da cadeia, o qual envolve frigorfi-cos e criadores de gado; alm disso, a quase totalidade dacarne comercializada com marca prpria o Novilho Jo-vem Zaffari, fruto dessas parcerias.

    Foram entrevistados o encarregado pelo setor de carnesda rede de supermercados, o mdico veterinrio, que parti-cipa desde o incio do projeto e , atualmente, consultor do

    programa, atuando como credenciador e inspetor dos forne-cedores de carne, bem como o executivo responsvel pelosetor comercial do frigorfico Extremo Sul de Pelotas, umdos fornecedores da rede de supermercados.

    A dinmica da cadeia a seguinte: a rede Zaffari, combase nas suas previses de venda, faz os pedidos aos frigor-ficos que despacham a carne, na maioria das vezes direta-mente para as lojas da rede. Toda a carne chega s lojas

    desossada, em cortes definidos (padronizados) e embalada.A rede dispe, tambm, de uma cmara fria para manter umestoque estratgico; entretanto, de interesse da empresa quetoda a carne seja remetida diretamente s lojas. Quanto aos

    produtores, eles recebem todo o apoio dos frigorficos, comos quais alguns possuem parcerias.

    Estudo de caso n 3.Cadeia de suprimentos de gros daCooperativa Tritcula Mista Alto Jacu, No-me-Toque, RS

    COTRIJALA COTRIJAL, uma cooperativa agrcola cuja produo

    de gros sua principal atividade, possui 700 funcionrios econta com 3.500 associados. De acordo com especialistas li-

    gados OCRS (Organizao das Cooperativas do Rio Gran-de do Sul) e consultados na escolha do caso, a COTRIJAL considerada uma das mais eficientes cooperativas agrcolas doEstado do Rio Grande do Sul atuando, tambm, na produoanimal, destacando-se a suinocultura e o gado leiteiro.

    A COTRIJAL conta com dez entrepostos, distribudos aolongo de sua rea de atuao, abrangendo dez municpios daregio norte do Estado do Rio Grande do Sul. Em 1990, a

    partir do momento em que a cooperativa comeou a discutira melhor forma de organizao de seus produtores, ela ini-ciou, tambm, a modificao de seu modo de gesto, alte-rando a sua forma de contabilizao e gerenciamento. A par-tir da, mudou o seu plano de contabilizao e, em discusso

    com o Conselho e a Assemblia, foi dividida em UnidadesEstratgicas de Negcios. Hoje, formada por trs grandesUnidades de Negcios: a unidade de gros, a de produoanimal e a de varejo e consumo, todas responsveis pelagerao de resultados.

    Neste estudo de caso foram entrevistados o gerente daUnidade de Gros da COTRIJAL, dois produtores associa-dos cooperativa e, com o objetivo de aprofundar o enten-dimento das relaes entre a cooperativa e o seu associado,foi tambm entrevistado o assessor de comunicao e edu-cao da cooperativa.

    A cadeia objeto de estudo se compe por toda a estrutu-

    ra de apoio da Cooperativa, iniciando na pesquisa, assis-tncia tcnica, comercializao de insumos, chegando ar-mazenagem e comercializao dos gros e passando pelos

    Egidio L. Furlanetto & Gesinaldo A. Cndido

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    RESULTADOSEDISCUSSO

    No obstante o fato de assumirem formas diferentes, emtodos os trs casos pesquisados predomina estruturas de co-ordenao com objetivos e funes semelhantes. As trs ca-deias foram estruturadas a partir de relaes qualificadasentre os agentes, o que implica formas alternativas de coor-denao, diferentes do mercado e da hierarquia. Tratam-se,na verdade, de estruturas de coordenao hbridas, isto ,intermedirias entre mercado e hierarquia, as quais passama agir no sentido de otimizar as transaes de modo sist-

    mico: o todo estabelecido no sentido de proporcionar com-petitividade ao sistema.

    Nos casos da Avipal e da COTRIJAL, as semelhanas sograndes, com as duas empresas procurando coordenar boa

    parte de uma cadeia produtiva, a primeira de frangos e asegunda de gros. A Avipal procura coordenar todas as tran-saes, desde a importao das avs at a comercializa-o dos frangos, fornecendo toda a rao para alimentar asaves, bem como os medicamentos, as vacinas necessrias etoda a informao tcnica relativa ao seu tratamento e ma-nejo. Quanto ao preo, a integradora que decide o que ser

    pago ao produtor, tomando por base somente a sua planilha

    de custos, embora o preo final seja definido pelo mercado.O mesmo ocorre na COTRIJAL, com a cooperativa coor-denando tanto os elos iniciais da cadeia (fornecimento desementes, insumos, assistncia tcnica, etc.), como as etapasda produo, assistncia tcnica, armazenagem e comercia-lizao dos produtos.

    Assim sendo, com base nos trs casos possvel definiralgumas das principais etapas necessrias para a construoe definio dessas estruturas, ou seja:

    Identificao dos agentes

    Em todas as cadeias analisadas, a identificao dos agen-tes constituiu um dos primeiros passos para a estruturao

    das cadeias.No caso da Companhia Zaffari, a rede que assume a res-

    ponsabilidade na identificao, qualificao e monitoramentodos frigorficos, repassando-lhes todas as informaes, paraque eles faam o mesmo em relao aos produtores. Este pro-cesso de identificao fundamental, tambm, nos casos daCooperativa e da integradora de frangos, j que possibilita queos produtores recebam toda assistncia tcnica junto s suas

    propriedades, pois tanto a Cooperativa como a integradoramantm equipes em constante visita aos produtores.

    Portanto, ao longo de todas as cadeias estudadas as tran-saes ocorrem entre agentes identificados e acompanhados,

    isto , elas podem ser classificadas como qualificadas e en-tre agentes que transacionam com base no seu histrico, cons-trudo na relao.

    A presena de aes conjuntas cooperao

    A cooperao vista, pelas empresas, como forma de re-duzir riscos e custos. Para o gerente de fomento da Avipal, aempresa considera o produtor seu parceiro e procura agirdesta maneira. No caso Zaffari, a estrutura montada se sus-tenta na cooperao entre os trs principais elos a rede desupermercado, os frigorficos e os produtores. Conforme oespecialista e consultor do programa, um depende do outroe todos da fora do conjunto e foram essenciais, principal-mente no incio do processo, pois acabaram alterando oambiente, contribuindo para a criao de um novo paradig-ma, o do aproveitamento da carne de animais mais jovens.O mesmo ocorre com a COTRIJAL, ao estabelecer parceri-as, tanto para trs como para frente.

    Flexibilizao de contratos

    Nas diferentes cadeias estudadas predominam contratosque podem ser denominados informais e ocorrem em cli-

    ma de confiana, entre parceiros identificados, que possuemo expresso desejo de permanecer na relao, sendo as fa-lhas contratuais, preferencialmente, resolvidas entre as par-tes. Quanto sua tipologia, assemelham-se muito mais aoscaracterizados por Macneil (1978) apud Williamson (1989)como contratos relacionais, havendo grande flexibilidade eviso de longo prazo.

    Livre fluxo de informaes

    As empresas reconhecem a importncia da informao noprocesso e procuram criar condies para que haja o seu fluxoentre os agentes que compem suas cadeias de suprimentos.

    No caso da Avipal, o fluxo de informaes constante,iniciando-se quando o produtor faz o primeiro contato coma empresa e recebe a visita da assistncia tcnica. Para arede de supermercados Zaffari, fundamental que tanto ofrigorfico como o produtor tenham conhecimento das van-tagens de explorar a precocidade dos animais e de ofertarum produto de procedncia. Neste sentido, dispe de ca-nais de informaes com seus fornecedores, procurandomunir de informaes toda a cadeia, repassando o conhe-cimento acumulado e as informaes oriundas do merca-do; j no caso da COTRIJAL, as informaes ocorrem sobum fluxo contnuo, nos dois sentidos, com o tcnico levan-do informaes ao produtor (as justificativas das aes da

    cooperativa) e, ao mesmo tempo, trazendo-as, juntamentecom as suas solicitaes.

    Padronizao das aes

    Cada uma das cadeias procura funcionar sob a sua pr-pria lgica, porm todas elas partem do princpio de que, aopadronizar as aes, conseguiro maior eficincia nos pro-cessos, j que so padronizados os procedimentos conside-rados os melhores (best practice).

    A Avipal tem interesse expresso em padronizar as aespara obter maior produtividade, confiabilidade e permitir queo processo seja monitorado a qualquer momento. Por se tra-

    tar de um produto (frango) sujeito a doenas, que necessitade um rigoroso controle sanitrio e de um rasteamento (mo-nitoramento) constante vital, para a empresa, que as aes

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    e procedimentos sejam todos padronizados. No caso da redeZaffari de Supermercados, a padronizao foi um dos itensem que a rede, conjuntamente com os frigorficos, precisoutrabalhar mais, pois um dos diferenciais do produto era exa-tamente o padro de cortes, que internacional. O mesmoocorre na COTRIJAL, com os procedimentos e aes de re-cebimento sendo iguais em todos os entrepostos da coopera-tiva. Em comum acordo com a direo da cooperativa, aequipe tcnica e os produtores, o modelo de explorao daterra definido e deve ser, preferencialmente, seguido portodos os associados, embora no seja to rgido.

    Resoluo dos conflitos

    As cadeias analisadas caracterizam-se pela apresentaode um ambiente de negcios com baixa incidncia de con-flitos e pela capacidade em gerenci-los sem a intervenin-cia externa de uma terceira parte.

    Os conflitos so mais constantes nas estruturas mais

    abertas, como o caso da cooperativa, cujos produtores/for-necedores so, tambm, seus proprietrios. Ao comprar osinsumos da cooperativa, o produtor quer faz-lo pelos me-nores preos de mercado, ao passo que, ao vender sua pro-duo, quer obter os maiores preos criando-se, assim, umconflito porm, como declarou o representante da coopera-tiva esses conflitos so administrados e solucionados via es-clarecimento do associado. No caso dos criadores de fran-go integrados, principalmente pela cultura j existente naregio, os conflitos so insignificantes e podem ser tradu-zidos por reivindicaes que visam aumentar seus ganhos;

    j na rede de supermercados Zaffari so raros os conflitos

    e, quando ocorrem, referem-se, basicamente, qualidadedos produtos.

    Construo de uma marca para a cadeia

    Em se tratando de cadeia de suprimentos e suas imbrica-es, pode-se pensar em procurar explorar um objetivo co-mum e uma marca que identifique a cadeia, como um todo.Muitas vezes, essa identificao de marca vem associada imagem de determinada cadeia de um produto e vinculada aum local geogrfico especfico. O caso mais ilustrativo oda cooperativa, em que vrias cadeias procuram explorar asvantagens de uma nica marca a marca COTRIJAL. Nocaso da integrao de frangos, a nica marca explorada, tanto

    pelos produtores de frango como pela empresa, a Avipal.Ao longo da cadeia existe uma identificao com a marcada empresa e todos esto engajados em trabalhar para ela eo mesmo ocorre com a cadeia de carnes da rede de super-mercados.

    Compartilhamento dos lucros

    Indiretamente, todos os agentes que participam das cadeiasanalisadas acabam sendo beneficiados dos ganhos da empresalder, pois mesmo no sendo beneficiados diretamente doslucros das empresas lderes das cadeias, os seus fornecedo-res foram unnimes em afirmar ser de seu interesse que elas

    obtenham lucro, pois estaro assegurando mercado para seusprodutos e divulgando o nome de suas empresas.Em suma e com exceo da cooperativa, em que os lu-

    cros so repassados de forma direta e esto estabelecidos emlei, o que ocorre que, de forma indireta, os benefcios daempresa lder acabam sendo repassados aos fornecedores/

    parceiros.A Tabela 1 apresenta uma sntese das principais etapas

    por que passam os mais diferentes agentes ao longo das ca-deias de suprimentos, no seu processo de estruturao.

    CONCLUSES

    1. Projetos que visam integrar e coordenar cadeias desuprimentos do agronegcio necessitam, dentro do poss-vel e sempre resguardando suas particularidades, analisar,em maior ou menor intensidade, as contribuies aqui apre-sentadas.

    2. fundamental que as empresas que atuam no agro-negcio planejem suas atividades visualizando a cadeiacomo um todo, procurando integrar-se tanto jusante, como montante.

    3. importante ressaltar que as alternativas de formas

    organizacionais no se esgotam nestes trs casos e que no-vos estudos necessitam ser desenvolvidos no sentido de me-lhor orientar esta escolha.

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    sapatE sedadicificepsE

    .1 sodoacifitnedIsetnega

    euqesodacifitnedisetnegaertneseasnarTsiamosoaleranraunitnocedojesedomatsefinam

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    .5 seaedoazinordaP aciglausabosranoicasnartarucorpaiedacadaC.sodinifedserdapmoce

    .6 sotilfnocsodouloseR sodivloser,etnemetnanimoderp,ossotilfnocsO.setrapsaertne

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    Tabela 1.Etapas importantes na estruturao das cadeias de suprimentos

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