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Especial 89 anos Caderno de aniversário Jornal documento FOTO: LEONARDO ANDREOLI/ON Passo Fundo, 19 de junho de 2014

Caderno de aniversário - O NACIONAL | Notícias de Passo ... · de um dia e depois do outro ... Fascinada pelas páginas que retra-tam os fatos do cotidiano, ... acredita que a sua

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Especial

89anos

Caderno de aniversário

Jornal documento

Foto: Leonardo andreoLi/on

Passo Fundo, 19 de junho de 2014

QUINTA-FEIRA, 19 DE JUNHO DE 2014

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minado momento da so-ciedade, é produzido no calor dos fatos, no meio de incertezas. Como ex-plica Nelson Traquina, o jornalista precisa apurar e fazer escolhas muitas vezes sem refletir sobre o significado e o alcance histórico do que acaba de acontecer. É desta ma-gia de contar e registrar histórias imediatamente que o jornalista e o jorna-lismo sobrevivem. É des-ta forma que as histórias registradas nas páginas de papel ajudam hoje a entender o passado e ajudarão, no futuro, a en-tender o que hoje chama-mos de presente.

Nessas próximas pági-nas tentaremos mostrar como o jornalismo im-presso influencia no pre-sente e guarda o passado para nós que estamos aqui e para as gerações que virão.

O jornal de ontem geral-mente é desprezado pela maioria das pes-

soas por estar desatualizado. No entanto, desde a década de 1970 os historiadores pas-saram a dar mais valor àque-las páginas de contempora-neidade efêmera. Se naquele passado as coisas mudavam, e muito, de um dia para o outro, hoje, em questão de horas, muitas vezes de mi-nutos, os conteúdos já estão desatualizados. A velocidade da informação que o mun-do híbrido entre o físico e o virtual impõe ao jornalista e mesmo aos leitores (seja qual for a plataforma) faz com que o passado chegue muito mais rápido do que ele chegava no tempo dos nossos pais e dos nossos avós, quem sabe até de um irmão mais velho.

Hoje, tudo que você leu no parágrafo anterior pode já ser passado.

É neste ambiente, em que quase sempre o amanhã é

registrados em suas páginas”. Danton Jobin acrescenta: “as idades, as épocas, os séculos, os anos, sequer os meses, não dão a medida do tempo para o jornalista. O passado, para ele, é o dia de ontem – talvez menos que isso. Impossível exigir-lhe, pois, perspectiva histórica. Mas que imenso e riquíssimo acervo de docu-mentos oferece um jornal moderno para os que se vão incumbir de escrever a histó-ria desses tempos”.

A pesquisadora Christa Berger destaca que à primei-ra vista cabe à imprensa no-ticiar os acontecimentos de um passado imediato. Segun-do ela isso não serve apenas para informar às pessoas sobre o que acontece ao seu redor, mas, também, para re-gistrar o que no futuro servirá de matéria-prima aos histo-riadores na tarefa de escrever a história do passado.

O jornal que ajuda no enten-dimento histórico de deter-

mais importante do que o hoje, que o jornal impresso ainda ocupa um importante espaço. Se as páginas virtu-ais podem desaparecer com a mesma velocidade que são disponibilizadas na rede, as de papel podem ser arqui-vadas e guardar a história de um dia e depois do outro até somar anos e décadas. Elas estão cheias do cotidia-no, das perdas e conquistas de uma sociedade. Afinal, como considera a pesquisa-dora Dra. Gizele Zanotto na matéria da página XX deste caderno especial, o jornalis-mo impresso é a enciclopé-dia do cotidiano.

A pesquisadora Mônica Karawejczyk, cita em um artigo que Maria Helena Ca-pelato, ainda em 1988, de-fendia que “os jornais ofe-recem vasto material para o estudo da vida cotidiana. Os costumes e práticas so-ciais, o folclore, enfim, todos os aspectos do dia-a-dia estão

Hoje, tudo que você leu no parágrafo anterior pode já ser passado.

As histórias registradas nas páginas de papel ajudam hoje a entender o passado e ajudarão, no futuro, a entender o que hoje chamamos de presente.

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Diretor Presidente: Editora Chefe:

Texto:

Projeto Gráfico e diagramação:

Contar o presente para guardar o passado

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O encanto que

páginanasce da

Sandra Benvegnú, professora de história e funcionária, há 12 anos, do Arquivo Histórico Regional da UPF, fala sobre o processo de restauração de edições de O Nacional e mostra de onde surgiu o fascínio pelas páginas dos jornais

Debruçada sobre exemplares do Jornal O Nacional, Sandra Bevengnú reviveu história e lembranças, reencontrou lugar-

es e pessoas. Fascinada pelas páginas que retra-tam os fatos do cotidiano, a professora tem laços estreitos com o jornal. Laços esses que iniciaram ainda na graduação, se estenderam por uma in-tensa pesquisa de Mestrado e fazem parte, hoje, do dia a dia do trabalho. Sandra é a responsável

pela conservação e restauração de todos os ex-emplares de O Nacional que estão disponíveis, no Arquivo Histórico Regional, desde a primeira edição de 1925.

No primeiro toque, surgiu o fascínio. “O meu primeiro contato com o Jornal começou durante a graduação, quando ainda era bolsista de inicia-ção científica e foi, a partir daí, que começou o meu fascínio”, lembra. O contato se intensificou

durante o Mestrado, realizado de 2004 a 2006. Foi nessa época em que Sandra viveu o cotidiano es-tampado nas páginas do periódico. “Fiz a minha dissertação usando como fonte os jornais e foi muito interessante. Minha pesquisa foi fascinante. Entrei no tempo e revivi algumas coisas. Podem me chamar de saudosista, mas se isso é ser saudo-sista, então eu sou. Adoro pesquisar no jornal e foi muito rico esse período de pesquisa. Trouxe-me boas lembranças. O jornal desperta isso na gente”.

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Maior e mais completa fonte de informação

O Jornal O Nacional, desde o seu nascimento, buscou abordar não só os acontec-imentos de Passo Fundo, mas, também, da região que cercava a cidade. O conteú-do jornalístico, no entanto, se transformou com o passar dos anos e seguiu os precei-tos de uma sociedade que se desenvolvia lado a lado com a própria história. Se, hoje, é dividido por editorias que buscam a neutralidade

oca, dada a condição mais opinativa dos periódicos preenchia as páginas com o cotidiano das pessoas ou, também, com o aspecto cultural como poesias, por exemplo. Celso Fiori, Vic-tor Graeff, Severino Ronchi eram nomes frequentes nessa arte. Era preciso pub-licar e o espaço era usado pela comunidade. Quando morria alguém, por exem-plo, eram páginas e pági-nas sobre a vida da pessoa”, relembra. O processo de sub-stituição foi lento: ao invés de páginas sobre a vida de al-guém que falecia, o jornal ce-deu espaço para comunica-dos ou convites para missa e velório, por exemplo.

Como se fosse um livro de históriaJustamente por ser o mais

antigo jornal ainda ativo na cidade, O Nacional é capaz, desde 1925, de contemplar vários aspectos da história

De objeto de pesquisa a trabalhoA preferência pelo jornal ultrapassou o limite de gosto e se

transformou em um trabalho que já dura 12 anos. Sandra, que não nasceu em Passo Fundo, mas viveu por aqui a vida inteira, acredita que a sua experiência com este tipo de material a ajudou a valorizar um tempo passado. “Quando comecei a ter o con-tato com o jornal e a ler diariamente, folha por folha, notícia por notícia, eu também comecei a identificar tempos passados e a voltar atrás. Reconstruí certas passagens da minha vida como se estivesse me vendo naquele tempo em que eu era muito jovem e que, à época, não prestei a atenção devida a esses acontecimen-tos”.

Além do contato mais direto com os periódicos devido ao Mes-trado, Sandra é a funcionária responsável pela restauração dos exemplares de O Nacional, disponíveis para pesquisa e consulta no Arquivo Histórico. Com edições desde a primeira publicação em 1925, tem sido um trabalho intenso. Mais uma vez, Sandra mergulhou nas páginas de ON e, lá, encontrou o passado. “Quan-do comecei o restauro, revivi vários acontecimentos, inclusive a vida social. Lembrei dos domingos na praça, a missa das dez na Catedral, o ‘footing’ antes da primeira sessão nos Cinemas Real e Imperial, entre outros momentos de lazer da época. Identifiquei-me com as coisas que li e ‘entrei’ no tempo dos acontecimentos. Para mim, é uma experiência fantástica!”, enfatiza.

Ela destaca, ainda, que foi, justamente, no folhear diário que nasceu o encanto e, mais do que isso, a percepção de que o jornal é, de fato, um documento histórico. “Com o passar do tempo eu comecei a prestar atenção e a valorizar certas coisas que na ép-oca eu vivenciei e não valorizei. A partir desse momento o jornal começou a exercer um fascínio muito grande em mim e comecei a vê-lo como a melhor, maior e mais completa fonte primária de informação sobre uma comunidade, porque mostra grande parte de um contexto”, explica.

de informações e a objetivi-dade do fato, antigamente as páginas retratavam de forma minuciosa a vida social, cul-tural, política e econômica de uma cidade.

Ao mergulhar nas páginas de O Nacional, Sandra recor-dou não só de acontecimen-tos que marcaram a vida da cidade, mas de fatos cotidi-anos que movimentavam Passo Fundo e região. “Era noticiado, por exemplo, des-de um cachorro que se per-dia, um roubo de galinhas,

quem se internava no hos-pital, quem recebia alta ou quem estava doente em casa. Tinha, também, quem passava por aqui, os viajantes e o que os hotéis ofereciam para eles. O Jor-nal O Nacional é riquíssimo como fonte de informação sobre a vida de uma co-munidade”, destaca. Além disso, as notícias do Estado, do país e do mundo sem-pre tiverem espaço: “E além de trazer a vida particular trazia notícias do mundo todo. Então, para mim, e para toda a pessoa que tem um certo interesse ou que gosta da história, o jornal se torna uma fonte muito rica”, explana.

Essa abordagem pessoal da vida da sociedade acon-teceu, segundo Sandra, até o final da década de 40. De lá pra cá, as notícias fac-tuais e matérias de inter-esse público ganharam um maior espaço. “Naquela ép-

Mestra em História,

Sandra Benvegnú, é responsável

pela restauração

do arquivo de O Nacional disponível

no Arquivo Histórico Regional

“O Jornal pode se comparar a um livro de história. É uma fonte histórica riquíssima

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de Passo Fundo. “O Jornal pode se comparar a um livro de história. É uma fonte his-tórica riquíssima - contada sob um ponto de vista, claro. Ali, tu tens o fato contado no calor do acontecimento. An-tes do ON, existiram outros jornais, mas de pouca dura-ção. O Nacional foi capaz de se sustentar com o passar do tempo. Passo Fundo tem uma consistente fonte de história através dos jornais. E não só Passo Fundo, mas a região de sua abrangência”, destaca Sandra.

Revivendo o tempo e o espaço, o jornal se torna

Em 2014 o Arquivo Histórico Regional completa o 30º an-iversário. Ele atende gratuitamente de segunda à sexta-fei-ra das 8h às 11h30 e das 13h30 às 17h30 na Rua Paissandu, 1756 – Centro.

um documento. Sandra vai além: “Uma cidade ou uma região que não tenha um jornal... perde essa peculiari-dade do cotidiano.” A profes-sora acredita, também, que o jornal colabora de uma for-ma muito forte para a cons-trução da identidade de uma comunidade. “O Jornal é tão completo, em determinados períodos, que qualquer per-gunta que fizeres, ele é ca-paz de responder. Desde seu estado de conservação até o que contém em suas páginas pode ajudar a nos responder. Por isso a minha paixão por eles”.

Doada para o Arquivo Histórico Regional, a coleção de edições de O Nacional está, agora, em processo de digitalização. Sandra explica que é um processo lento, realizado página por página, e que o ideal é que uma pessoa seja dedi-cada somente a isso. “Estamos digitalizando o jornal por que O Nacional é muito antigo e é manuseado diariamente. É preciso fazer esse trabalho para que o suporte físico não se perca”.

O processo exige que primeiro o jornal seja todo desmontado e digitalizado. Depois disso, ele é restaurado e remontado. No momento, as edições publicadas até o ano de 1957 já estão disponíveis em formato digital. O restante aguarda por esse processo e, enquanto isso, pode ser usado como fonte de pesquisa desde que sejam tomados os cuidados e precauções necessárias para a preservação desses periódicos. O processo é mais uma forma de garantir que essa memória impressa da cidade não se perca. “Com o passar dos anos a memória vai se distanciando e as ligações com o passado vão se perdendo, no entanto, ao olhar nas páginas do jornal se revive o tempo com mais clareza. A lembrança volta com mais nitidez. E isso é reconfortante para as pessoas em geral, e em particular, importante fonte de informação para o pesquisador”, comenta Sandra.

A intimidade de Sandra com o Jornal O Nacional possibilita que ela perceba, em cada página, um pedaço de história a ser contada, uma história para ser lem-brada. No caso de edições presentes, um pouco de história para contar. “O Jornal me trouxe recordações e sentimentos bons de um tempo vivido. Eu sou fasci-nada por essa fonte escrita. Lembro dos lugares por onde passava, frequentava, das pessoas que conhecia. Parece que o jornal ajuda a deixar a lembrança mais física e mais presente. Fico até emotiva, porque o jornal como fonte de lembran-ças, para mim, é fantástico!”, conclui.

O Jornal no AHR

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Arquivo Histórico Regional

Além de guardar os exemplares físicos desde

o ano de 1925, Arquivo Histórico está em processo

de digitalização de ON para disponibilizar a

pesquisadores e comunidade

“O jornal começou a exercer um fascínio muito grande em mim e comecei a vê-lo como a melhor, maior e mais completa fonte primária de informação sobre uma comunidade, porque mostra grande parte de um contexto”, sobre o trabalho de pesquisa e de restauro das edições de ON

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Uma enciclopédia do cotidiano

Doutora em história e coordenadora do Arquivo Histórico Regional explica por que os periódicos impressos são tão importantes para a pesquisa.

O Nacional - Qual a impor-tância do jornal impresso para o entendimento da história?

Gizele Zanotto - Para en-tendimento da história é fundamental nos basearmos

em vestígios do passado, os quais denominados de fon-tes históricas. Entre as múlti-plas possibilidades de fontes que nos estão disponíveis à pesquisa e entendimento do homem no tempo, temos

Os vestígios do passado narra-dos periodicamente nas pá-ginas dos jornais fazem dos

impressos um importante material de consulta para pesquisadores de diver-sas áreas. Em Passo Fundo, no Progra-ma de Pós-Graduação em História da UPF diversas dissertações de mestra-do utilizam periódicos impressos, en-tre eles o acervo do Jornal O Nacional, que estão armazenados no Arquivo Histórico Regional (AHR).

A Dra. Gizele Zanoto é professora do PPGH e coordenadora do AHR. É ela quem explica como o jornal que tem uma atualidade tão efêmera se trans-forma em base para o entendimento da história. São diversos os elementos presentes nas páginas lidas todos os dias que passam despercebidos pelos leitores. Ela fala ainda sobre os moti-vos que fazem do acervo do Jornal O Nacional um dos mais procurados no AHR. Confira a entrevista

documentos oficiais, fontes judiciais, diários, fotografias, mapas, vestígios arqueoló-gicos, obras, fontes orais, au-diovisuais e, claro, os regis-tros de imprensa.

Apesar de a disciplina His-

Cerca de 70 % das 216

dissertações defendidas

no Programa de Pós-

Graduação em História

da UPF mobilizaram

como fonte principal ou

complementar as informações

órgãos de imprensa

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7tória ter mobilizado as fon-tes de periódicos com mais intensidade e qualidade a partir dos anos 1980 – o que reporta à própria história da História e suas mudan-ças teórico-metodológicas -, seu uso permitiu e permite avaliar temas, fatos e pers-pectivas de dada sociedade de modo instigante. Mais do que “enciclopédias do co-tidiano”, os jornais eviden-ciam interesses, compro-missos, elementos culturais, organização social e o dia a dia. Nesse sentido, os perió-dicos nos reportam a com-plexidade sócio-histórica e são inestimáveis para muitas pesquisas dedicadas a com-preensão do passado.

ON - Como o jornal consi-derado descartável pelas pessoas no dia a dia se tor-na um meio de pesquisa e documentação?

GZ - A transição do impres-so para a pesquisa se dá a partir da motivação ou pro-blemática que mobiliza o analista a busca de informa-

ções sobre dada realidade em determinado tempo – é uma operação relativamen-te simples, porém, que impli-ca em um arsenal metodoló-gico que o oriente durante a investigação, o que torna o procedimento complexo.

ON - O que os pesquisa-dores buscam nas páginas antigas?

GZ - Como parte do pensar sobre os periódicos conside-ro interessante perceber que um mesmo registro – no caso os jornais – podem respon-der a múltiplos usos e signi-ficações por parte dos seus leitores e usuários. Para mui-tos é um meio de informação diária, que lhes situa sobre o contexto atual assim como evidencia fatos e problemas cotidianos. Para outros, é uma maneira de observar propostas, projetos e orga-nizações sociais e econô-micas. Há ainda muitos que visam os periódicos em bus-ca de algo específico como imóvel, emprego, automóvel, programação de cinema, etc.

Para os pesquisadores das ciências humanas, entre as quais a História se situa, é um documento passível de análise da ação do homem em múltiplas dimensões: política, economia, cultu-ra, esporte, polícia, opinião.

Também é um instrumento de análise das relações de poder de sua comunidade de abrangência.

ON - Para os pesquisado-res, que elementos presen-tes no jornal auxiliam os

Dra. Gizele Zanoto é professora do PPGH e coordenadora do Arquivo Histórico Regional

tudo pode ser interessante ao pesquisador, dependendo da abordagem que ele realiza. Podemos, por exemplo, empreender uma história da imprensa que avalia a importância dos periódicos em seu contexto de produção e distribuição, evidenciando as concorrências, seu estilo gráfico, a editoria, os redatores, a distribuição e organização das notícias,

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trabalhos?GZ - Em essência, tudo

pode ser interessante ao pesquisador, dependendo da abordagem que ele rea-liza. Podemos, por exemplo, empreender uma história da imprensa que avalia a importância dos periódicos em seu contexto de produ-ção e distribuição, eviden-ciando as concorrências, seu estilo gráfico, a editoria, os redatores, a distribuição e organização das notícias, os perfis políticos dos edi-tores, seu público alvo, as propagandas, as temáticas, entre outros elementos. Também podemos utilizar os jornais para analisar a História por meio dos peri-ódicos, ou seja, como dados órgãos de imprensa estão constituindo dado contex-to histórico pelas notícias que elegem divulgar – e pelo silenciamento de tan-tas outras -, assim como pelo conteúdo e discurso que difundem.

Outras questões interes-

santes são as análises so-bre cadernos específicos dos impressos, que podem dar conta de hábitos e va-lores culturais, assim como de propostas específicas de algum redator. Enfim, os ele-mentos a pesquisar são inú-meros, e nisso reside a rique-za do estudo dos periódicos – sejam analisados como fontes únicas ou em conju-gação com outros registros.

ON - O AHR possui todo o arquivo do jornal ON des-de a primeira edição, além de outros periódicos. Como esses materiais são utilizados pela população e pelos pesquisadores?

GZ - O acesso aos acervos do AHR, aqui destacando os Fundos de Comunicação Social (jornais e revistas), é dos mais procurados pela comunidade em geral e pe-los pesquisadores. A comu-nidade busca informações sobre alguma questão es-pecífica – eu mesma atendi um senhor que queria com-

provação de um acidente de trabalho via imprensa – para seu uso particular. Também há uma expressiva busca dos jornais por estudan-tes de comunicação, assim como de profissionais do jor-nalismo.

ON – Há dados sobre o uso de periódicos em pesqui-sas acadêmicas?

GZ - Em termos de pesqui-sa acadêmica, num levanta-mento breve das 216 disser-tações defendidas aponto cerca de 70 % dos trabalhos do Programa de Pós-Gradu-ação em História da UPF que mobilizaram como fonte principal ou comple-mentar as informações de órgãos de imprensa. Tam-bém tivemos trabalhos de graduação e especialização que utilizaram os jornais e revistas, todavia, sua con-tabilização é mais compli-cada. De todo modo, o des-taque é a intensiva procura dos periódicos para análi-ses acadêmicas, dada a sua

proficuidade e as múltiplas abordagens possíveis, como salientei anteriormente.

ON – Com tantas pesqui-sas realizadas, o que, na sua opinião, ainda falta ser estudado no município?

GZ - Em Passo Fundo es-pecificamente há algo que me intriga: a ausência, até o momento, de trabalhos de fôlego acerca da história da imprensa local. Apesar da dificuldade de pesquisa aos primeiros e efêmeros jornais de fins do século XIX e início do século XX, sinto uma enor-me carência de um panora-ma da produção jornalística de opinião e comercial na cidade e região. É um campo aberto à pesquisa, à compre-ensão não só da história da imprensa, mas também da história por meio da impren-sa, ou seja, a análise de con-textos históricos instigantes por meio dos discursos das ditas “enciclopédias do co-tidiano”. Fica a sugestão e o convite aos interessados.

Apesar da dificuldade de pesquisa aos primeiros e efêmeros jornais de fins do século XIX e início do século XX, sinto uma enorme carência de um panorama da produção jornalística de opinião e comercial na cidade e região.

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*Dra. Bibiana de Paula Friederichs

um mundo mobilizado pelo fluxo de informação, onde nossas noções de tempo e espaço se alte-raram radicalmente e onde tudo e todos se mo-vem e se deslocam rapidamente, ao jornalismo está reservado um cabedal de funções. Da vigília aos poderes públicos, passando pela valorização e difusão da cultura, a manutenção da justiça e da democracia, até o relato dos acontecimentos sociais. Tarefas que se corporificam por meio da linguagem e das inúmeras narrativas que conse-guimos produzir ao nos apropriamos dela. Narra-tivas cujo referente é sempre a realidade, e que, portanto, dão ao jornalismo certo poder de reve-lação.

Ao capturar um acontecimento, entendido de modo geral como algo que produz descontinui-dades, desacomoda a rotina e o espírito de nor-malidade, não apenas evidenciamos algo que parece relevante para a sociedade e que se pro-duziu neste momento, como também damos o tempo necessário para que o acontecido, mes-mo ao deixar de existir no espaço, ainda seja percebido através do tempo, para que possa-mos pensar sobre ele.

Assim, se por um lado o jornalismo é rendido pelo presente, pelo factual ou pela vulgarmente chamada atualidade – pois nos circunscrevemos ao universo da notícia, daquilo que acontece ao nosso redor e tem alguma relevância social –, por outro, tudo que noticiamos já é passado, mesmo que tenha acabado de acontecer, e o que ofere-cemos ao público é uma representação dos fatos, sua reconstrução. E é essa condição que tributa ao jornalismo outra função, ou o coloca em outro lugar: o lugar da memória.

Ao apanhar determinada ocorrência no fluxo contínuo das ações que constituem a existência e o presente, garantindo-lhe registro – ligando-a a um tempo social e a um contexto, atribuindo--lhe grau distinto de visibilidade, de sentido e de importância –, os jornalistas se transformam em

Passado, presente, futuro: a produção da memória no jornalismo

interlocutores entre a sociedade e a mundo. Suas narrativas dão um contorno aos acon-tecimentos por meio da representação, das vozes contempladas, dos recortes efetivados, dos elementos que são incluídos ou exclu-ídos do relato, do modo como os fatos são tecidos, tornando-se um referencial sobre a realidade. Assim, no futuro, o passado histó-rico será compreendido a partir do que es-crevemos no presente, o que aumenta signi-ficativamente nossa responsabilidade como jornalistas e também remete a questão do reaparecimento do passado no presente.

Quando dizemos que o jornalismo é o lugar da memória estamos indiciando uma relação bastante complexa de produção e significa-ção do mundo. Não se trata de uma memória sobre a realidade que pode ser simplesmen-te retirada das profundezas através de uma capa de jornal que foi arquivada, mas, para nos apoiarmos em Eclea Bosi (1995), se trata de “uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição, no con-junto de representações que povoam nossa consciência atual”.

Ao reviver o passado (e o fazemos o tempo todo, porque somos inquietados pelo futuro), o jornalismo deve pluralizar as vozes, expan-dir os documentos ofertados, e olhá-los sob a luz dos novos processos históricos, das novas conjunturas sociais e políticas, al-terando os pressupostos de interpretação para a compreensão da experiência que passou. Se assim o fizermos, os sentidos do passado nunca estarão definitivamen-te cristalizados porque serão resgatados como textos do presente, que o explicam e que são ressignificados por ele.

*Professora e coordenadora do curso de Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo da

Faculdade de Artes e Comunicação da UPF

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Quando dizemos que o jornalismo é o lugar da memória estamos indiciando uma relação bastante complexa de produção e significação do mundo.

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As reportagens de denúncias publi-cadas ao longo de toda a história do jornal O Nacional já serviram

para o Ministério Público iniciar uma série de investigações. Da mesma forma, várias delas também foram anexadas aos inqué-ritos como provas para embasar determi-nadas denúncias. Embora mensurar todas as investigações que se iniciaram com base em matérias não seja uma tarefa fácil, o promotor de justiça Paulo Cirne acredita que as denúncias publicadas são funda-mentais para auxiliar o poder judiciário.

Cirne explica que a área especializada do Ministério Público já utilizou o jornal O Nacional em inúmeras investigações seja para instaurar os procedimentos, em diversas áreas, ou para fazer parte do in-quérito civil, como prova de fatos envol-vendo a matéria em exame. Ele cita alguns

Ministério Público se baseia em matérias publicadas para instaurar investigaçõesPromotor de justiça Paulo Cirne explica como as matérias jornalísticas auxiliam no trabalho de investigação como prova ou mesmo para se iniciar um procedimento

exemplos na área de patrimônio histórico, como as ações judiciais para restauração do prédio da Aca-demia Passo-Fundense de Letras e da Escola Municipal Padre Antônio Vieira (Brizoleta), assim como na tentativa de preservação do Cassi-no da Maroca.

Além da área de patrimônio his-tórico, na área ambiental diversas reportagens também foram inclu-ídas nas investigações. “Um exem-plo é o procedimento que trata da remoção de resíduos do Rio Passo Fundo, no caso que investigou po-luição hídrica do Bairro Jerônimo Coelho e em inúmeras ocasiões

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com relação ao aterro sanitário de Passo Fun-do, que foi interditado”, exemplifica.

As matérias também serviram para gerar in-vestigações por impro-bidade administrativa. “O jornal O Nacional di-vulgou vários fatos que permitiram instaurar in-vestigações contra agen-tes públicos, como no que se refere a desvios ocorridos na Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, na gestão do ex-prefeito Júlio Teixei-ra, na recente fraude das catracas de ônibus

da CODEPAS, entre outras. Além disso, na área de idosos, as in-terdições de instituições sem-pre receberam ampla cobertu-ra do jornal, desde a interdição da Associação Santa Rita Casa Lar da Terceira Idade, em 2001, até recente interdição ocorrida em 2013 (Residencial Thaylow). O mesmo tem ocorrido em outras áreas de atuação da Promotoria de Justiça Especializada, como no que se refere aos direitos hu-manos e direitos do consumidor”, completa.

Dano ambientalO caso citado por Cirne que foi

divulgado nas páginas de O Na-

ProvaAs matérias podem ser utilizadas tanto

para iniciar uma investigação quanto serem usadas como provas em relação aos fatos investigados. Conforme Cirne, o jornal tem uma grande relevância para a compro-vação de fatos que estão submetidos ao exame judicial. “Isso se dá na medida em que ele divulga informações obtidas junto à sociedade ou às partes envolvidas em uma determinada investigação, em muitas oportunidades logo após os fatos. Assim, forma-se uma prova sólida, difícil de ser contrariada quando avaliada em confronto com outros elementos, especialmente se a parte investigada ‘se arrepende’ do que afirmou para a reportagem e apresenta uma nova versão. O Ministério Público, em uma situação dessas, inclusive já requereu a abertura de investigação por falso teste-munho, quando a parte mudou, em juízo, a versão que havia apresentado anterior-mente para a imprensa”, enfatiza.

Fotos: reprodução

cional e deu origem a uma in-vestigação por parte do Minis-tério Público em julho de 2005 mostrava que cinco nascentes de água existentes no Bairro Je-rônimo Coelho estavam poluí-das.

No outro caso, de 2001, ON de-nunciou a situação precária vivi-da por 20 idosos que moravam no abrigo da Associação Santa Rita Casa Lar da Terceira Idade. A casa não oferecia as condições necessárias para funcionar. O Mi-nistério Público investigou o caso a partir das informações veicula-das nos meios de comunicação do município, entre eles o jornal O Nacional.

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A lém de ser uma fonte histórica e de pes-quisa, o jornal impresso é, também, um apoio para que advogados e juízes con-

sigam expor, da forma mais neutra possível, um fato que precisa ser levado a julgamento. Espe-cialista em Direito Criminal, Paulo Cavalcanti, vê o órgão de impressa e, especialmente o jor-nal, como um auxílio no trabalho diário.

O jornal, segundo o advogado, é anexado a processos em diferentes situações - seja na de-fesa ou na acusação. “Na parte criminal, o jornal contribui fortemente no julgamento dos cri-mes dolosos contra a vida – que são processos que vão a tribunal de júri, onde é a sociedade que julga. O jornal leva aos jurados o que está acontecendo e, então, o jurado não vai cair de

Aliado do DireitoPaulo Cavalcanti, especialista em Direito Criminal, avalia o uso do jornal impresso em processos

pára-quedas dentro de um processo, mas vai ter acesso às informações que a mídia leva até eles – por isso existe a preocupação com a im-parcialidade”, inicia. Ele comenta, ainda, que o veículo impresso pode colaborar, também, na defesa de um cliente: “O jornal auxilia na defesa quando você, como advogado, quer comover a sociedade. O advogado vai se preocupar em utilizar o jornal justamente para levar in-formações que possam comover o cidadão e mostrar como aconteceu o crime, que existe um outro lado, uma outra história”.

O essencial, explica Cavalcanti, é que as matérias são capazes de explorar o fato e possibilitar um maior entendimento da his-tória. “Pela experiência que eu tenho no Direito Criminal, acredito que o órgão de imprensa auxilia na divulgação dos fatos. É preciso cuidado, claro. Mas, quando o veícu-lo se preocupa em transmitir os fatos como aconteceu realmente, o jornal se torna um aliado do Direito. É preciso retransmitir os fa-tos para a sociedade”, comenta. Na prática, Ca-valcanti já utilizou o jornal em alguns casos.

Um deles, lembra ele, envolvia furto e homi-cídio. “Quando crimes causam polêmica e o advogado busca criar empatia com quem vai

julgar, o jornal é levado pra dentro do processo. Tenho um caso de homicídio, onde um rapaz invadiu uma residência para furtar e acabou sendo morto. O dono da casa está indo a jul-gamento pelo tribunal do júri. Nós utilizamos recortes do jornal onde consta a matéria que explica que assaltante foi morto na tentativa de furto”, explica. A opção de Cavalcanti é em busca de explorar as diferentes possibilida-des de um mesmo fato. “Isso, lá adiante, vai me ajudar porque eu vou mostrar que não foi um cara que matou uma pessoa, mas um pai de família, dono de uma residência, que se defendeu. Isso pros jurados conta muito. A matéria causa comoção para os jurados”, avalia.

Ao falar, especificamente, de O Nacional, o advogado destaca a neutralidade. “O Jornal O Nacional, eu vejo que se preocupa em rela-tar os fatos e isso é importante. O repórter se preocupa em narrar os fatos, como é passado através da polícia. Eu tenho um vínculo mui-to antigo com o O Nacional e eu vejo que as matérias sempre foram divulgadas de forma imparcial. São matérias que posso utilizar den-tro de um processo porque não existe tenden-ciosidade”, analisa.

Thalito Fauth85 anos, aposentado – contador, economista e ex- secretário da Semcas

“Minha família é de Passo Fundo mesmo e vivi aqui a maior parte da minha vida. Em 1948 fui trabalhar como contador em Chapecó e, depois, me formei em Economia em Florianópolis. Mais tarde, em 1957, voltei para Passo Fundo. Mas a minha ligação com o Jornal Nacional começou bem antes. Quando eu tinha 13 anos, eu fazia as cobranças dos anúncios do jornal. O pessoal publicava felicitações pelo fim do ano e quem cobrava era eu. Na época, o Jornal ainda estava localizado na Avenida, entre 15 de novembro e a 7 de setembro. Sempre me dei muito bem com o Múcio de Castro e a minha ligação com o jornal aconteceu através dele. Minha avó assinava o Jornal, nessa época. E quando ela faleceu, o Múcio passou a noite toda no velório. Isso mostra a relação da direção com o assinante. E isso é uma coisa que me chama a atenção. O Nacional faz parte da minha vida. Desde muito novo já tive o contato com o jornal. Eu lia diariamente o jornal, na casa da minha vó. Desde os 7 anos, lembro de ler o jornal. Tenho um carinho todo especial pelo O Nacional. Hoje, a primeira coisa que faço quando acordo é pegar o jornal O Nacional nas mãos e ler a coluna da Zulmara Colussi. Uma cidade sem jornal não é uma cidade e acho que O Nacional cumpre a necessidade de Passo Fundo. O Jornal faz parte da cultura e do desenvolvimento da cidade.

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Através do computa-dor, do tablet e do celular, a informação

pode estar em qualquer lu-gar. No entanto, nem sem-pre foi assim. Antes da tec-nologia invadir o mundo da comunicação e tornar tudo mais veloz, instantâneo e imediato, era o papel o con-dutor essencial da notícia. Ainda que o fato se tornas-se velho, quando impresso tornava-se documento. Luiz Carlos Schneider do Amaral Santos tem 58 anos e é, hoje, jornalista esportivo da Re-dação do Jornal O Nacional. Antes disso, em 1994, assu-miu o cargo de editor-chefe durante sete anos. A experi-ência resultou numa visão diferente sobre o ato de dar vida a uma história através de tinta e papel.

A preocupação do amanhãLuiz Carlos Schneider, jornalista e ex- editor-chefe de O Nacional, comenta sobre o processo de construção da reportagem e sobre o cuidado ao pensar em cada edição

O cuidado com a produção e com o arquivoSchneider iniciou no rá-

dio em 1976 e depois migrou para o jornalismo impresso. Trabalhou em O Nacional de 1986 a 1988 e, mais tarde, de 1993 a 2001. Ao retornar, no final de 2012, encontrou uma nova forma de exercer a profissão - apoiada na tec-nologia e na cultura digital. O que não muda é, segundo ele, o cuidado com a produ-ção e conservação do jornal diário: “A reportagem, assim como hoje, exigia um cruza-mento de informações e ou-tros critérios. Além do fato e

das pessoas, tinha uma nar-rativa quase que obrigatória sobre o ambiente. Desta for-ma, o texto facilitaria uma fu-tura leitura”, inicia.

No entanto, o jornalista não nega a potencial e abrangen-te mudança no cenário jor-nalístico. “Há uma grande di-ferença no trâmite da notícia. Também se multiplicaram os meios difusores dessa in-formação. A agilidade é ou-tra e exige adaptações para o acompanhamento das transformações. Somos mul-timídias e agora este texto está ingressando num arqui-vo impresso e outro digital”.

Lado a lado com a crescente transformação tecnológica, o cuidado com o texto impli-ca uma nova forma de pen-sar a notícia. “O texto acom-panha a evolução do tempo, algumas expressões deixam de ser usadas enquanto ou-tras ganham destaque. Tam-bém acredito que ficamos mais objetivos. Como agora temos muitas ferramentas de pesquisa, acabamos va-lorizando ainda mais os ar-quivos. Se antes tínhamos a consciência de que o que es-crevíamos teria valor ama-nhã, agora isso aumentou. Há uma qualificação acadê-

A agilidade é outra e exige adap-tações para o acom-panha-mento das transfor-mações.

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mica, troca de informações e o ambiente ficou mais exigente. Assim também ficamos um pouco mais criteriosos em re-lação ao futuro daquilo que es-crevemos”, explana.

Ao lado do cuidado em pen-sar o texto e transformá-lo em uma história possível de ser lida não apenas no dia da publicação, ele comenta, ain-da, que o próprio papel exigia certa atenção: “Havia a preo-cupação com a utilização do jornal impresso e devidamen-te arquivado como um mate-rial especial. Naquela época o arquivo de O Nacional ficava no próprio jornal e era bastante manuseado na redação. Havia um respeito e um cuidado espe-cial com as empoeiradas pastas do nosso arquivo. Muita gente vinha ao jornal para pesqui-sar nessas pastas. Se havia um carinho pelo arquivo, que era muito requisitado, sabíamos da sua importância. Ao vermos to-dos os dias os exemplares sendo arquivados, já estávamosde algu-ma forma conscientizados sobre esse uso futuro do jornal”, explica.

“Um papel importante com um importante papel”

Exercendo o jornalismo há quase quatro décadas, Schneider vê o papel como uma importante ferramenta disponível para a socieda-de. “O jornal impresso é um papel importante com um importante papel. É um do-cumento e são inúmeras as situações em que O Nacio-nal serviu como prova em juízo. Isso vale para as áreas penal, cível, trabalhista e até desportiva. Também é uma peça fundamental para currí-culos, pesquisas acadêmicas e outros trabalhos”. De fato, a exigência para o profissional aumentou na mesma inten-sidade que a atenção do lei-tor às páginas. “O jornalista sabe disso e é criterioso para não deixar rastros er-rados na história. Isso a gen-te observa aqui na redação, quando os colegas perguntam e discutem para aprimorar uma informação. Esse cuida-do para não errar é também um respeito ao documento

Hoje, ao olhar pra trás, para as histórias contadas através das páginas, o jornalista tem um misto de sensações. “Fico feliz ao relembrar algumas reportagens especiais. Há um orgulho pelos furos jornalísticos”. Ele destaca, principalmente, o fato de O Nacio-nal participar - de forma ativa - da história da cidade. “Virando essas páginas do passado, reencontra-mos em O Nacional a história de Passo Fundo. É também a nossa própria história, através daquilo que vivenciamos. Nesse túnel do tempo reencontramos pessoas, momentos e espaços que conhec-emos”. As edições antigas - agora arquivadas no Arquivo Histórico Regional - despertam sentimen-tos em quem ajudou a as constru-ir. “Dependendo do emocional, esses textos e fotos podem nos levar às gargalhadas ou às lágri-mas. Alguma coisinha até pode dar vontade de retocar, mas agora não é mais possível. Há, claro, um sentimento de que cumprimos o nosso papel. E isso está no papel”, comenta.

O Nacional conta a história da cidade

do futuro.

Produção de valor histórico89 anos depois da primei-

ra edição do Jornal O Nacio-nal, há, ainda, quem volte aos primeiros exemplares para encontrar rastros de uma so-ciedade que, pouco a pouco, construía uma identidade. Muito mudou e, ainda hoje, muda. Amanhã, outras edições estarão disponíveis para que outras pessoas pesquisam so-bre uma outra época. Schnei-der vê o jornal impresso como uma fonte de pesquisa para conhecer ou adentrar na histó-ria. “O texto de hoje poderá ser visto de maneiras diferentes no futuro. Acredito que tenho certa cautela para evitar dis-torções futuras. Documento ou fonte para pesquisa, o jornal permitirá uma ideia comportamental desta épo-ca. Vale para política, econo-mia, cultura, esporte, moda e muito mais. Não podemos rein-ventar fatos ou alterar a histó-ria”, encerra.

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Reportagens da Operação Carmelina são anexadas ao inquérito da Polícia FederalMatérias jornalísticas são anexadas a inquéritos e ajudam a relembrar a comoção social de alguns casos na hora do julgamento

As reportagens jornalísticas re-gistram não apenas fatos em si, mas a repercussão que eles

têm na sociedade. Assim aconteceu com a Operação Carmelina desenca-deada pela Polícia Federal em feve-reiro deste ano que desarticulou uma organização criminosa que prejudicou mais de 30 mil pessoas. Além de expor detalhes do golpe aplicado por advoga-dos e contadores, as páginas de O Na-cional evidenciaram a repercussão na sociedade, apresentou algumas vítimas do golpe, entre elas Carmelina Helena Comin, que faleceu aos 76 anos vítima de câncer no intestino, e deu nome a Operação. O dinheiro que que ela deve-ria ter recebido poderia ter auxiliado no pagamento do tratamento.

A cobertura da operação realizada pela equipe de O Nacional se tornou um ma-terial tão importante que os exemplares do final de semana de 22 e 23 de fevereiro foram esgotados rapidamente nas ban-cas. Da mesma forma, os delegados da Po-lícia Federal responsáveis pela operação decidiram anexar as matérias publicadas pelo jornal ao inquérito. As matérias não exercem o papel de prova nesse caso, mas serão fundamentais no momento do julga-mento do caso para relembrar toda a co-moção social gerada e também os relatos de quem foi lesado pelo crime.

Fotos: reprodução

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Calor dos fatos“Esse tipo de procedimen-

to é feito porque uma coisa é estar o calor dos fatos, mas e daqui a um ano ou dois que só vai ter o inquérito, só vai ter o processo e não terá mais comoção social. Quan-

O delegado da Polícia Federal Mario Vieira destaca que a riqueza de det-alhes, bem como a confiabilidade das informações apresentada pela cobe-rtura da ON, fizeram com que ele e o delegado Mauro Vinícius decidissem pela inclusão das matérias no inquéri-to. “Todas as matérias que saíram tem a operação retratada de forma fiel, sem aumentar, nem diminuir”, analisa. Na opinião dele a reportagem jornalística é útil tanto para informar a sociedade quanto para a justiça tomar uma decisão acertada. Conforme Vieira o contrário também acontece, quando, por exemplo, uma matéria dá origem a um processo de investiga-ção. Ele destaca que há diversos casos assim, não apenas em Passo Fundo.

Para Vieira, a cobertura da Operação Carmelina e a repercussão que o caso teve já pode ser considerada até uma pena aos autores do crime. “Se alguém cometeu determinado ilícito, antes de ser aplicada uma pena já começa o pagamento social que ele tem que dar. Quem duvida que o investigado já não está cumprindo uma pena com toda essa repercussão? Hoje qualquer um conhece e sabe quem ele é. A própria sociedade já aplicou uma pena dele por causa da repercussão que teve na mídia”, pontua.

Riqueza de detalhes

do esse processo chegar ao tribunal e mais tarde no Su-perior Tribunal de Justiça quem for julgar vai ver não só o que tem de materialida-de dentro do inquérito, mas o que a população sentiu com o que foi retratado no

Delegado Mario

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A cobertura da operação realizada pela equipe de O Na-cional se tornou um material tão impor-tante que os exemplares do final de semana de 22 e 23 de fevereiro foram esgot-ados rapida-mente nas bancas.

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jornal”, justifica o delegado Mauro Vinícius. Segundo ele, esse retrato do sentimento da sociedade sobre o caso permite a quem for julgar de-terminado caso saber como foi a repercussão social de um crime.

O casoO advogado Maurício Dal

Agnol foi apontado pela in-vestigação da Polícia Fede-ral como líder de uma orga-nização criminosa acusada de ter desviado cerca de R$ 100 milhões de aproxima-damente 30 mil clientes, so-mente no Rio Grande do Sul. A Operação desencadeada em fevereiro foi resultado de uma investigação iniciada em 2012, a partir de represen-tação apresentada pela Or-dem dos Advogados do Bra-sil (OAB) e Ministério Público Estadual. O esquema foi des-coberto depois que diversas vítimas procuraram a Polícia Civil e MP para denunciar os casos. As investigações apu-

Como funcionava

O escritório de advocacia captava clientes que possuíam ações da antiga CRT.De posse das procurações, o escritório movia dois tipos de ações: uma coletiva e outra individual, sem que os clientes soubessem que eram autores de duas ações. O processo judicial coletivo quase sempre buscava os valores das ações da antiga CRT da telefonia fixa.O processo judicial individual busca os valores das ações da telefonia móvel. Ao final do andamento dos processos, o escritório ficava com os valores maiores, repassando aos clientes os valores menores ou parcial-mente e sempre correspondente a uma das ações. O escritório ai-nda cobrava os honorários sobre o valor repassado aos clientes. Outra forma de operacionaliza-ção do escritório de advocacia de Maurício Dal Agnol era de repas-sar informações incorretas ao cliente: informava que o cliente não tinha ganho a ação judicial; adulterava alvará ou e petição e repassava valor menor do que o recebido; e repassava apenas a correção monetária da ação.

raram que há pelo menos 15 anos, a banca de advoga-dos captava clientes para ingressar com ações contra a extinta CRT. Estas ações eram julgadas procedentes, no entanto, os valores foram

repassados parcialmente, ou em muitos casos, nem eram repassados. Além de desviar parte do pagamento, os acu-sados ainda cobravam entre 20 a 30% de honorários.

os delegados da Polícia Fed-eral responsáveis pela operação decidiram anexar as maté-rias publicadas pelo jornal ao inquérito. As matérias não exercem o papel de prova nesse caso, mas serão fundamentais no momento do jul-gamento do caso para relembrar toda a comoção social gerada.

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Demandas apresentadas no jornal são atendidas

O espaço Coluna dos Bairros criado há cerca de um ano tem dado voz para a comunidade apresentar diversos problemas e deman-das. Várias das reivindicações apresentadas no espaço como recla-mações relacionadas ao lixo e problemas em ruas foram resolvidas após serem publicadas.

Uma moradora da Vila Cruzeiro denun-ciou o descaso com o recolhimento do lixo no local. “A lixeira está sempre cheia. O caminhão passa correndo e não recolhe o lixo. Há várias semanas isso acontece. O cheiro é insuportável. Tem gente que coloca até animais mortos”, reclamou a moradora da rua Frei Caneca. Após a informação ser publicada o problema foi resolvido.

Os moradores e empresários da Avenida Sete de Setembro, no bairro Rodrigues, reivindicaram no último ano a pavimentação de 200 metros da via, no trecho entre as ruas Prestes Guimarães e João de Césaro, próximo a Justiça do Trabalho e Justiça Fede-ral. Os moradores reuniram 190 assinaturas em um abaixo-assinado, fizeram solicitações à Prefeitura de Passo Fundo através de ofícios, receberam diversos candidatos durante as campanhas eleitorais, envia-ram e-mails às Secretarias Municipais, postaram o seu protesto nas redes sociais e sua última ação foi instalar placas com a frase: “Av. 7 de Setembro padrão Fifa”. Após toda a mobilização a Prefeitura asfaltou o trecho no final do ano passado.

Lixo na vila Cruzeiro

Avenida 7 de Setembro padrão Fifa

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Um bueiro entre as ruas Princesa Isabel e Maurício Siroski Sobrinho, no bairro Pe-trópolis, que ficou aberto, sem as grades, por quase um ano preocupava os mora-dores. Nas ruas há muitas crianças e o movimento de carros é intenso. De acor-do com o relato de um morados a Prefei-tura foi procurada por diversas vezes e o problema não era resolvido. Após ser pu-blicado no Coluna dos Bairros o proble-ma foi resolvido.

Bueiro perigoso

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Imagem documentadaNo meio das letras que, mais tarde, se tornam documento e fonte de pesquisa, está a imagem que se torna apoio e auxilia na divulgação da informação

Evelize Johann

“O sonho da vida de um dos meus filhos, o Nicolau Johann, sempre foi ser jogador de futebol, como muitos meninos por aí. Com 11 ou 12 anos ele precisou fazer um trabalho que ilustrasse o seu desejo para o futuro. Ele fez um cartaz, colou a foto da primeira chuteira, fotos de quando era criança e jogava futebol, medalhas que conquistou e figuras de bolas. Isso me inspirou a começar a ilustrar o sonho dele. Em janeiro de 2013, começou o peneirão no Gaúcho e ele participou. A partir da entrada dele no time, comecei a guardar as matérias de O Nacional que falavam do Gaúcho. Comecei a recortar o jornal e fui vendo como isso era interessante. Fiz tudo escondido, ninguém sabia que eu guardava as matérias do Jornal. Depois, quando já fazia um tempo que eu estava guardando, no primeiro jogo oficial dele, eu entreguei o caderno. Foi muita emoção para toda a família. O bacana é que o O Nacional contou a história do time e do meu filho. O que eu acho interessante e o que me despertou essa vontade de guardar as páginas, é que o fato passa e o jornal fica. Tenho certeza que daqui a alguns anos ele vai lembrar e vai ficar feliz por eu ter guardado. Depois de jogar no Gaúcho, ele jogou, também, no Passo Fundo e, agora, retornou ao Gaúcho. Todo dia quando saía uma matéria do time que ele jogava, eu recortava e guardava. Hoje ainda é assim. É uma recordação que ele vai ter pra sempre e o O Nacional trouxe isso pra mim. Para uma mãe isso é fantástico e emocionante. Meu filho mais novo também tem um interesse pelo esporte e se acontecer de ele se tornar jogador de futebol o Jornal O Nacional vai estar comigo.

Da janela de Niépce, a fotografia surge. Mais tar-de, toma forma, ganha corpo e se torna peça essencial e indispensável na circulação da in-

formação. No jornal diário, a imagem serve de apoio e base e auxilia o leitor a criar o cenário abordado na matéria. Em entrevista, Fabiana Beltrami, professora nos Cursos de Comunicação e Pós-graduação da Fa-culdade de Artes e Comunicação UPF e Mestranda do Programa de Pós-graduação em História da UPF, explora o contexto atual do fotojornalismo e comen-ta, também, sobre o processo de utilização da foto-grafia como fonte de pesquisa.

Jornal O Nacional: Em que contexto a fotografia

surgiu no jornalismo diário? Fabiana Beltrami: A fotografia jornalística come-

çou quando alguém apontou a câmera para um acontecimento colocando tal imagem visível ao público como um testemunho. Em 1842 o daguer-reotipo, uma das primeiras máquinas fotográficas, foi utilizado para registrar as consequências de um incêndio acontecido em um bairro de Hamburgo, e esta imagem é cogitada como uma das primeiras fotografias jornalísticas da história, pois estava mos-trando um fato ocorrido. No entanto, como ainda havia problemas em fixar no papel a imagem, ela foi retocada (técnica usada por muitos anos, principal-mente em fotos de paisagem e retratos) ao ponto de ser quase uma ilustração em desenho, para ser pu-blicada na The Illustrated London News, um jornal ilustrativo inglês. Caminhando sucessivamente, a fotografia jornalística começa a aparecer em outros pontos do mundo: nos EUA, registrando um motim na Filadélfia, em 1844; A Guerra Americano-Mexica-na, em 1846-1848; em 1849, em Roma, entre outros. Nesta mesma época surgem duas revistas ilustra-das por imagens, em 1842 em Londres e em 1843 em Paris, dando uma visibilidade maior no campo da imagem jornalística. Vale ressaltar que algumas das características do fotojornalismo surgiu pelas mãos e olhar do fotojornalista alemão Eric Solomon. Ele torna-se o progenitor do fotojornalismo atual, através do chamado estilo Candid Camera - um

modelo de fotografia onde se busca a naturalidade na retratação do cotidiano social, onde o fotógrafo não era percebido, conseguindo capturar com me-nor interferência a ação que ocorria diante de seua câmera. É também com Solomon que os fotógrafos saem do anonimato, pois ele assinava suas fotogra-fias. Mas para este estilo, de fato, tornar-se referência e ser praticado, duas revistas alemãs proporciona-ram uma nova forma de diagramação, colocando mais fotos para ilustrar uma informação, publican-do ensaios fotográficos e dando visibilidade para as imagens produzidas. Portanto o espaço foi dado e o fotojornalismo foi crescendo. Mas é a partir de 1935, com a criação da telefoto, processo de transmissão de imagens, de um ponto a outro, que a fotografia co-meça a ser veiculada com maior periodicidade nos jornais impressos. Fotos do mundo todo começam a circular por todos os jornais do mundo. No Brasil o fo-tojornalismo teve seu desenvolvimento nas revistas ilustradas, como o Cruzeiro, lançada em 1928 e que manteve-se em circulação até 1975, e a revista Man-chete, lançada em 1952 com circulação até 2000 na sua formação original.

ON: Sabemos que o texto, a matéria e a notícia se tornam, com o passar do tempo, um documento histórico. Como é esse processo com a foto?

FB: Por muito tempo a fotografia não era usada como fonte histórica. A mudança desse paradigma

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veio na década de 1930 com a Escola de Annales, onde os franceses Marc Bloch e Lucien Febvre abri-ram o leque para o historiador, trazendo novos obje-tos, métodos, fontes. Houve muitas outras gerações desta escola e depois da década de 1960 a imagem começa a ser tratada, mais intensamente como fon-te com a chamada Nova História. A cada ano que passa as teorias relacionadas à fotografia como do-cumento histórico a consolidam como fonte e obje-to de pesquisa. Sabe-se que a imagem que o suporte fotográfico possuí é um indício de algo, ela pode mos-trar uma época, uma etnia, os costumes de uma fa-mília, um estilo de vida, um momento histórico. Mas o historiador, ou quem dá uso a fotografia como fon-te histórica, não vai ter um trabalho fácil. No momen-to que se começa a observar e analisar uma imagem percebe-se que é necessário ir muito a fundo no que ela transmite, se aquilo de fato aconteceu como se mostra. Uma imagem pode ser manipulada antes ou depois de sua concepção mesmo quando a fotogra-fia era analógica, fílmica, por isso deve-se estar ciente e conhecer bem as metodologias de pesquisa e uso da fotografia enquanto fonte.

ON: Como a fotografia pode ser analisada com o passar do tempo? Que elementos se tornaram essenciais para o uso da fotografia no jornalismo?

FB: No jornalismo não se pensa mais sem ter a ima-gem estampada do acontecimento. Tem que ter a foto, as pessoas querem ver, se colocar lá no lugar da ação junto à imagem. Então a colaboração cresceu e não é mais só o fotografo profissional que disponi-biliza fotos para os jornais que tem a versão online, ou para os blogues, todos podem colaborar: a dona

de casa, o estudante, o engenheiro. Que elementos não pode faltar no uso da fotografia no jornalismo atual? É um só, a ética. Hoje se tem fotos em vários enquadramentos, com qualidade absurdamente fidedigna em matéria de cor, luz, com arte, chega em um segundo na redação, mas aí a ética é do fotó-grafo, do jornalista que vai escrever a notícia que vai acompanhar a imagem, o editor que vai escolher a imagem que vai ser publicada, o proprietário do veículo. A foto uma pessoa faz, mas até o momento da sua publicação é um conjunto de pessoas inter-ferem. Sem dúvida é a ética profissional de todos eles com a verdade, com quem aparece na imagem, com que vai vê-la.

ON: No teu trabalho de pesquisa para o mestra-do em História, quais as principais observações referentes à evolução do fotojornalismo em Pas-so Fundo?

FB: Bom, é um olhar delicado que faço da minha cidade através das fotografias junto às notícias. O fo-tojornalismo propriamente dito não existia com pe-riodicidade até a metade da década de 1960, e nem era conscientemente feito nas técnicas fotojorna-lísticas. O nome de fotojornalista nem era conheci-do nas redações e nem pelos fotógrafos daqui, eles eram chamados de retratistas ou fotógrafos. As re-dações dos jornais não possuíam fotógrafos no seu quadro de funcionários, quem realizava as imagens dos eventos, das notícias, eram os fotógrafos dos es-túdios passo-fundense. Já entrevistei dois fotógra-fos da década de 1970, o Paulo Rogério Di Vicenzi e o Rosalino Souza, da antiga Foto Souza. Nenhum dos dois atua na fotografia atualmente, mas conta-

Minha pesquisa esta acontecendo com o auxílio do Arquivo Histórico, um dos lugares mais interessantes de Passo Fundo. Lá tenho pesquisa-do mais o ON, pois é o jornal que ainda está em circulação desde sua data de fundação (1925), e, princi-palmente, o que possuí fotografias junto às notícias em arquivo há mais tempo. Então, a princípio é a partir de 1925. Na primeira década do jornal, já no primeiro ano de sua publicação, existiam fotografias produzidas localmente, mostrando alguns espaços da cidade. Mas as fotografias não tinham periodi-cidade e não eram publicadas em todas as edições, eram imagens de paisagens não contendo ações e, em sua maio-ria, eram retocadas.

Fotografia no Jornal O Nacional

Rosalino Souza, que foi funcionário de

ON, foi o fotografo que fez a cobertura

do velório do Jango, juntamente com

o jornalista Argeu Santarém.

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ram como funcionava o fotojornalismo na década de 1970. Rosalino chegou a ser funcionário do ON porém na área administrativa mas fora este trabalho possuía um estúdio fotográfico com seu irmão, sen-do que tinham máquinas fotográficas de excelente qualidade para a cidade. Em muitas oportunidades atuou como fotografo no jornal e tem muitas histó-rias. Apesar de não existir publicações, revistas es-pecializadas em fotografias, ele tentava ao máximo capturar a imagem num estilo fotojornalista. Ele não gostava das fotos posadas. Ele foi o fotografo que fez a cobertura do velório do Jango, ele e o jornalista Ar-geu Santarém. Foi na década de 1960 que aparecem as primeiras duplas de jornalista e fotógrafo na pro-dução de uma reportagem aqui em Passo Fundo. Rosalino teve uma de suas fotos do velório publi-cada em outros jornais e atualmente está disponí-vel em outras publicações sobre o fato em sites dis-poníveis na internet. Conta também a dificuldade de mandar a fotos para revelação em Porto Alegre, tendo que pedir para um dos passageiros levar, de favor, para a cidade e entregar para a pessoa que iria buscar o negativo e levar para revelação. De-pois de revelado o filme, voltava para a rodoviária e pedia o favor para outro passageiro trazer de vol-ta e entregar para alguém do jornal na rodoviária de Passo Fundo. Muitas vezes a fotografia não che-gava a tempo de ser publicada. Já o Paulo Rogério contou que ele deve ter sido um dos primeiros, se não o primeiro, a fazer uma fotografia noturna de futebol sem flash, o que para a época era impossí-vel pois sem luz não apareceria nada na imagem. Mas quando ele começou a ter acesso a revistas e livros da área (o que ele diz que não era fácil tais

publicações chegarem no interior do estado) ele começou a manipular o filme conseguindo alterar as configurações originais durante a revelação do filme e da foto. Durante o jogo os colegas fotógra-fos abordaram ele dizendo que ele não teria ne-nhuma foto sem o uso do flash, mas ele arriscou. Quando a foto foi publicada os demais fotógrafos que estavam lá não compreendiam como ele havia conseguindo a imagem ficar nítida. A edi-toria de polícia e futebol eram as que mais eram solicitadas pelos jornais, já as fotografias sociais eram encaminhadas pelos fotógrafos mesmo. Até a década de 1950 e metade da década de 1960 a maioria das fotos não eram creditadas. Deoclides Czamanski também é um dos fotógrafos que mais retratou a cidade nos jornais de Passo Fundo, além de ter contribuído em outras editorias.

ON: Há, no senso comum, a ideia de que as fo-tos retratam apenas parte de um acontecimen-to...

FB: A fotografia sempre vai retratar apenas uma parte do acontecimento e, mesmo assim, vai ter várias interferências – na produção e na recepção. Na sua produção vai ter a interferência através do equipamento que vai ser utilizado, a bagagem cul-tural do fotógrafo, o ângulo que ele estava diante do fato do momento que clicou, o instante que ele congela a imagem, e, dependendo dos casos, o que “permitem” o fotógrafo ver, qual foto vai ser es-colhida para a publicação e outras tantas interfe-rências. Já na recepção vai depender da bagagem cultural de quem vai ver e ler aquela imagem, se ela tem algum envolvimento com a temática e as-

sim por diante.

ON: No fotojornalismo, como isso influencia, na tua opinião, o registro e a fidedignidade de determinado relato?

FB: Acho delicado falar em fidedignidade de-pendendo do caso. A fotografia é um conjunto e uma interpretação de vários elementos, de quem a produz, de quem a escolhe e de quem vai vê-la. Mas acho que vai da responsabilidade do veículo que a foto está inserida, na informação bem apura-da, enfim, do “conjunto da obra”.

ON: Nos dias de hoje, qual a sua opinião sobre o fotojornalismo?

FB: O fotojornalismo está em adaptação e de-senvolvimento. Apesar de nos dias atuais muitos veículos de comunicação importantes demitirem seus fotógrafos nunca se teve tantos fotojornalis-tas. Hoje as agências de notícias e de imagens com-pram fotos de freelancers o tempo todo e vendem para o mundo. O fotojornalismo tem uma respon-sabilidade de nos manter atentos ao que acontece perto e longe de nós. É um trabalho que o profissio-nal sem ética não se sustenta na área. Temos gran-des fotojornalistas no mundo que fazem da sua profissão uma ação de vida, uma possibilidade de mostrar a denúncia, o homem, a beleza do planeta, enfim, dedicam sua vida a mostrar o mundo para o leitor nas multiplataformas que temos atualmente. E todas essas imagens já fazem parte da história, de um recorte de mundo a ser estudado no futuro, um futuro que pode ser distante ou depois de ler o jornal e uma foto capturar a atenção de quem a vê.

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Os tempos eram outros. Quando O Nacional come-çou a circular nas ruas de Passo Fundo, as redações abrigavam, além dos re-pórteres, os linotipistas. Criada pelo alemão Ottmar Mergenthaller, o linotipo é uma máquina que usa ca-racteres pré-moldados para montar, de forma manual, um novo texto. Da mente do jornalista, o texto nascia. Pelas mãos do linotipista, ganhava o papel. O proces-so, hoje, parece distante demais. A linotipia perdeu espaço para o processo mo-derno de impressão e além do papel a informação ga-nhou as telas. Dos tipos aos bits, a comunicação foi transformada.

A chegadas das novas tecnologias impulsionou um novo processo comu-nicacional e a informação é, agora, mais veloz e mais instantânea. Dentro da re-dação do Jornal O Nacio-nal, a preocupação com o processo de divulgação da informação é constante. Além de uma jornalista e uma estagiária – destina-das especificamente para o trabalho com o jornalis-mo online – é exigido de todos os profissionais um

Dos tipos aos bitsLado a lado com a evolução tecnológica, a evolução da informação motivou novas formas de ver e pensar o jornalismo

contato direto com o uni-verso digital. Ainda que a informação a ser divulgada seja a mesma, a plataforma muda e existe diferença entre jornal impresso e re-produção digital. Zulmara Colussi, editora-chefe de O Nacional, comenta que não existe regra ou manual de redação sobre o que deve ou não ser publicado no meio digital ou de que for-ma deve chegar ao público. “O que há é uma grande ex-perimentação em torno do que devemos fazer e não somente em O Nacional. Nos grandes veículos de comunicação, é evidente a sensação de que estamos no meio de um processo de transformação. Como informar de forma rápida e eficiente? É um questiona-mento que nos persegue e que, hoje, está sendo ditado pela audiência”. De fato, a nova era da informação é definida, em grande parte, por aquele que consome. “O internauta ou o leitor são os pauteiros”, enfatiza.

Uma nova forma de informarE é, justamente, a necessi-

dade de velocidade exigida pelo leitor e internauta que

definem a divulgação da in-formação na rede. “No que diz respeito à forma ideal, diria que o conteúdo das plataformas virtuais de-vem ser dinâmicos, rápidos, precisos com a informação. Corrigidos e editados sem-pre que esta informação avançar, porque isso garan-te credibilidade ao conte-údo. Dar atenção aos que interagem e, acima de tudo, checar as informações

complementares”, opina. A história muda quando se fala de papel: “No impresso, o conteúdo deve ser apro-fundado, com texto claro e objetivo. Deve ter outros elementos como imagens, infográficos e links para a plataforma digital. Isso pa-rece o ideal, o que deman-da uma atualização per-manente dos profissionais responsáveis pela produ-ção do conteúdo. O que está

“O internauta ou o leitor são os pauteiros”

“O papel do jornalista continua sendo o mesmo de qualquer bom jornalista: ele deve ser ‘rato de redação’, interessado, curioso, questionador, buscar, checar, ouvir o contraditório e ter todas as qualidades que os bons jornalistas tem em qualquer parte do mundo”.

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valendo cada vez mais é a integração entre as plata-formas. Elas devem atuar unificadas, cada uma den-tro da sua lógica, mas de forma a se complementar. Não estamos vivendo o fim, mas o começo”.

Para Bruna Todescato, jornalista responsável pela área online de O Na-cional, a mudança acon-tece na forma como a informação chega até o leitor/internauta: “Quan-do postamos algo no site, buscamos dar todas as informações necessá-rias, respeitando o lead. Então, para aquele leitor que quer ter uma leitura rápida e ficar sabendo as principais informações, terá tudo disponível. A notícia de forma mais profunda, com novos ele-mentos, deixamos para edição impressa. Bus-camos interligar os dois meios. Trazer o leitor do site para o impresso e vice e versa”, concorda.

A preocupação com o jornal do amanhãOlhando para trás, é pos-

sível perceber que, com o passar do tempo, o jornal se tornou fonte histórica, de pesquisa e capaz de recon-tar uma época. Nesse sen-tido, a preocupação com o que é publicado é grande. Para a editora, a checagem de informação é o princípio básico para que uma ma-téria seja publicada. “Se a informação estiver correta ela pode ser publicada. Isso garante credibilidade ao ve-ículo. Essa é uma norma do Jornal O Nacional ao longo dos tempos e incentivada nos dias atuais. Não é à toa que ON é o veículo mais confiável de Passo Fundo e está entre os três mais con-fiáveis entre os 17 jornais da ADI, segundo a pesquisa do Instituto Methodus”, expla-na.

Publicar todas as transfor-mações da notícia é, segun-do Bruna, essencial para que tanto o digital quanto o

Zulmara Colussi

Na mesma velocidade que a informação toma conta da rede, ela se despede dela e dá espaço a outras notícias. O aspecto histórico, tão presente no jornal impresso – já que este é capaz de ser arquivado e posteriormente revisitado – se torna mais volátil. “O impresso já teve decretado seu fim. Há cerca de quatro ou cinco anos, não se falava em outra coisa senão o fim do jornal. Veículos como o Jornal do Brasil pararam de circular, dando lugar somente às plataformas virtuais. Um ano depois, o próprio JB reconheceu o erro. O jornal não vai acabar. Está se transformando. É diferente”, inicia. Zulmara complementa dizendo que o jornal tem vantagem sobre o digital no que se trata de documentar uma história ou um fato: “O meio jornal é permanente, é palpável, pode ser manuseado a hora que for. Pode ser guardado e mostrado a gerações. O digital se perde com o tempo. O jornal é o veículo que guarda a história em movimento. É nele que as pessoas querem se ver e é ele que as pessoas guardam”.

Bruna concorda. “Acredito que a edição impressa consegue manter a informação viva por muito mais tempo. Muitas vezes, caso alguém precise procurar algum conteúdo, a primeira opção é geralmente a internet. Se você ouve uma notícia no rádio, mesmo que você já saiba de todas as informações, você vai aguardar pelo impresso para ler. É como seu fosse uma relação de cumplicidade. É o teu momento com a informação. Podem passar anos e anos e você ainda vai poder acompanhar a matéria no jornal”.

O fato de o digital ser muito mais veloz e efêmero é, na opinião da jornalista, uma das barreiras enfrentadas pelo digital na busca por se tornar um documento de valor histórico. “Essa facilidade de modificar o conteúdo, acrescentar informações e dados, faz com que a matéria tenha uma vida útil muito curta, dificultando assim, na minha opinião, que esse conteúdo seja um documento”, explica. Ela cita, ainda, a própria ferramenta como uma dificuldade a mais: “Caso o site do jornal deixe de existir e seja apagado, com ele se vão todas as matérias postadas. Então não é algo que irá durar tanto quanto uma edição impressa”.

Uma nova forma de documentar

O que está valendo cada vez mais é a integração entre as plataformas. Elas devem atuar unificadas, cada uma dentro da sua lógica, mas de forma a se complementar. Não estamos vivendo o fim, mas o começo.

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impresso, atendam ao leitor e ao internauta. “A notícia é cheia de transformações. A melhor forma de tratar uma notícia é buscar todas as informações sobre ela. Hoje é muito comum a cada minuto surgir algo novo. Na internet, o importante é buscar todos os dados e não deixar apenas pedaços da informação. Não adian-ta você soltar algo e não publicar a matéria comple-ta. Uma matéria completa deve apresentar todos os elementos que o leitor e o internauta possam obter to-das as informações sobre o fato, que responda ao lead, que tenha imagens, se pu-der, também vídeos”, opina a jornalista.

O papel do repórter na era da abundância de informaçãoO jornalismo mudou e

continua mudando de acordo com a sociedade que o carrega. Para Zulma-ra, tais mudanças são di-

tadas pela velocidade com que a informação circula. “É por isso que digo”, justifica ela, “que estamos em pleno processo de transformação. Um processo que deve ser permanente porque o mun-do também muda a cada instante. O que era uma re-gra no ano passado, não é mais agora. A importância que dávamos para deter-minadas pautas antes, não damos mais atenção hoje”, comenta.

Para embasar a opinião, a editora destaca o proces-so do vestibular. “Foi-se o tempo em que os veículos (refiro-me a todos) desti-navam um espaço consi-derável a realização dos vestibulares que, também, eram realizados durante uma semana toda. As listas dos aprovados eram lidas pelos locutores de rádio e publicadas pelos jornais no mesmo dia da sua divulga-ção. Era um trabalho des-comunal buscar esta lista na UPF, levá-la até a redação

para ser diagramada e de-pois impressa. Hoje, qual a razão de circular com a lista dos aprovados no mes-mo dia? As rádios aboliram a leitura da lista, por exem-plo, porque sua divulgação é imediata e vai para a rede. Basta acessar”. Ela comenta que o jornalista e o veículo precisaram se adaptar às transformações e encon-trar, no meio do processo, uma nova forma de exer-cer o seu papel. “Nós tive-mos que nos adaptar a essa transformação. O papel do jornalista continua sen-do o mesmo de qualquer bom jornalista: ele deve ser ‘rato de redação’, interes-sado, curioso, questiona-

O processo de evolução tecnológica pos-sibilita, ainda, um contato mais íntimo e mais intenso entre leitor e jornal já que tal leitor é, também, internauta e o jornal não é apenas impresso mas possibilita canais de interação através dos meios digitais. “O espaço online, por vezes, torna muito mais fácil e acessível o contato do leitor conosco”, comenta Bruna. “Geralmente é muito mais comum alguém co-mentar nas nossas redes, ou nos mandar men-sagens sobre as matérias publicadas no site do que nos ligarem para comentar o conteúdo do jornal impresso”, explica e relembra, também, que as redes sociais possibilitam diferentes for-mas de interação entre consumidor e veículo: “Em nossas redes sociais, as nossas fotos do Instagram, com um olhar diferente da cidade recebem uma grande quantidade de acesso”.

Intensidade de interação

Bruna Todescato

dor, buscar, checar, ouvir o contraditório e ter todas as qualidades que os bons jor-nalistas têm em qualquer parte do mundo. Com um adicional: deve estar aberto para encarar todas as mu-danças e transformações. Deve estar constantemente aprendendo e, mais do que nunca, ser multi.”, conclui.

Acredito que a edição impressa consegue manter a informação viva por muito mais tempo.