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- 1 - onçalo Begonha G Gabinete de Estudos

Caderno de Economia

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Caderno de Economia da Juventude Popular, da autoria de Michael Seufert e Andreas Seufert.

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onçalo Begonha G

Gabinete de Estudos

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Índice

PALAVRA PRÉVIA ..................................................................................................................................... 7

O QUE É A ECONOMIA? ........................................................................................................................... 9

Definir Economia ................................................................................................................................. 9

Ler a definição ..................................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1: Fenómmenos económicos ............................................................................................ 11

Preços .................................................................................................................................................. 11

Incentivos ........................................................................................................................................... 13

Lucros .................................................................................................................................................. 13

CAPÍTULO 2: Organização económica ................................................................................................ 15

Controlo de preços ........................................................................................................................... 15

Inflação ................................................................................................................................................ 17

Taxas aduaneiras ............................................................................................................................... 18

CONCLUSÃO ............................................................................................................................................ 21

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................ 21

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PALAVRA PRÉVIA

Este caderno que aqui apresentamos surge com a ideia de ajudar a compreender um

fenómeno que nos acompanha na vida civil e política, mas do qual, por vezes, desconhecemos

o essencial. A Economia rodeia-nos e merece a atenção dos políticos de forma quase diária.

Para uma juventude política como a Juventude Popular importa por isso conhecer o

fenómeno e os seus efeitos. Como a JP é constituída de jovens de todas as formações, e como

quer falar com jovens de todas as áreas, optámos por usar uma linguagem simples, bem como

a focagem nalguns fenómenos económicos que todos conhecem. Não encontrarão neste

texto uma única fórmula, nem tão pouco um gráfico. Tentaremos provar que se conseguem

transmitir noções fundamentais mas úteis de Economia, sem falar “economês”.

Verá o leitor se fomos bem-sucedidos. Esperamos que o caderno seja útil e de boa leitura, que

ajude o leigo, como nós, a perceber melhor o que o rodeia e, consequentemente, a tomar

posições e decisões mais informadas; pois é essa a função da formação que a JP e o seu

Gabinete de Estudos fazem.

13/09/2007

Andreas Seufert

Michael Seufert

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O QUE É A ECONOMIA?

Todos os dias somos confrontados com a Economia.

Os jornais e as televisões falam em indicadores económicos, previsões económicas, retoma ou

recessão económica. Há um ministro da Economia, há o curso de Economia e uma Ordem dos

Economistas. Mas quantas pessoas saberão verdadeiramente o que é a Economia?

Como se define "Economia"? Que parte da nossa vida é afectada com a Economia? Serão

essas algumas das questões que iremos abordar ao longo deste texto, procurando dar uma

definição compreensível de Economia e procurando também mostrar alguns fenómenos

económicos bem como formas de intervir na Economia.

Para realizar este trabalho recorremos a textos que já conhecíamos e a outros que lemos para

este trabalho em particular. Para "leigos" em Economia não é muito fácil ler a literatura da

classe, mas há bons autores que procuram tratar a Economia de modo a que possa ser

aprendida pelo cidadão comum. Não é por acaso que um dos livros consultados tenha como

título "Economics in one lesson" ou outro, como sub-título "A Citizen's Guide to the

Economy".

DEFINIR ECONOMIA

Baron Robbins, economista inglês e titular duma cátedra na London School of Economics,

escreveu no seu Essay on the Nature and Significance of Economic Science1 que "Economics

is the science which studies human behaviour as a relationship between ends and scarce

means which have alternative uses." (ROBBINS, 1932, p.16).

Traduzindo e simplificando: A Economia é a ciência que estuda a utilização de recursos

escassos que têm utilizações alternativas. Posto assim poderíamos ficar intrigados. O que é

isso de recursos escassos? E o que tem que ver a utilização desses recursos? Um pedaço de

madeira não é sempre um pedaço de madeira? Entendemos esta definição como abrangente e

simples. Será na sua óptica que escreveremos este texto.

LER A DEFINIÇÃO

A escassez de recursos é inerente ao nosso mundo e ao nosso meio físico. O dia tem 24 horas

e há um limite de coisas que conseguimos produzir nesse tempo. O planeta tem um número

de recursos limitado e, além da água, nada cai do céu – e veja-se como ainda assim a água

(pelo menos a limpa) é um recurso escasso em parte do mundo. A forma como esses recursos

se distribuem pelas pessoas é um dos campos de estudo da Economia. Mas não se fica por

aqui. É que o mesmo recurso pode ser utilizado de várias formas. Um pedaço de madeira pode

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ser transformado em centenas de diferentes objectos. A forma como se aloca um bem às suas

alternativas utilizações é portanto também campo do estudo da Economia.

Exemplo de como a boa alocação de bens e não apenas a mera existência desses bens é

fundamental para o desenvolvimento económico pode ser vistos em relação a nações como a

Suíça e o Japão que, tendo condições naturais teoricamente adversas ao desenvolvimento

económico, conseguiram prosperar face a países plenos de recursos, que se mantêm

economicamente pobres (exemplo dado por SOWELL, 2000, p.3).

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CAPÍTULO 1

FENÓMENOS ECONÓMICOS

A Economia como a conhecemos hoje tem dezenas de milhares de anos de história do Homo

Sapiens como bagagem.

Desde a primeira interacção entre dois seres humanos que houve Economia. Desde a primeira

troca comercial entre dois Homens que podemos falar de Economia: como por magia os bens

à disposição do Homem trocam de local e de dono satisfazendo todos os intervenientes.

PREÇOS

O que cria entendimento entre dois intervenientes no mercado são os preços.

O sistema de preços é uma ferramenta complexa ao serviço dos intervenientes na Economia. Serve

compradores e vendedores e transmite informações muito importantes ao longo do mercado. Porém os

preços são mal-entendidos por muitas pessoas, algumas com uma grande responsabilidade.

Num mercado livre o preço duma comodidade é o preço que o equilíbrio entre a oferta e a procura

criaram. É o valor que os oferentes dessa comodidade e os compradores entenderam justo. Digamos

que há uma vontade dos produtores/vendedores de vender o mais caro possível, e há a vontade

contrária dos compradores: querem comprar o mais barato possível. Onde essas vontades se encontram,

fecha-se um negócio.

Importa perceber que nenhuma comodidade tem um preço "justo" ou "razoável" de per se. Um copo de

água em qualquer café do Porto é de graça, mas o que dizer desse mesmo copo no deserto do Sara?

Como explicar a diferença entre o preço da gasolina nos EUA e da mesma gasolina na Europa?

Os preços são resultado de muitas variáveis, muitas delas desconhecidas pelos intervenientes. Num

célebre ensaio (I, Pencil. My Family Tree as told to Leonard E. Read2) Leonard Read sustenta que

ninguém no mundo conseguiria, sozinho, fazer um simples lápis. Descrevendo todos os componentes

desse lápis (madeira, borracha, metal, grafite, entre outros), Read descreve quem está envolvido no

processo. E desde o trabalhador de armazém, ao madeireiro e ao trabalhador portuário todos

contribuem na feitura de um simples lápis. Como guiar portanto todos esses esforços? Como calcular os

preços de cada um dos trabalhos e das matérias-primas para chegar ao preço final de um lápis? Quem

controla esse processo? A resposta é simples e remete para a mensagem central do ensaio: ninguém

seria capaz de fazer um lápis sem a contribuição de centenas de outras pessoas. E como comunicam

essas pessoas? Por via de preços. Não há nenhuma força superior que as dirige.

Os preços transmitem ao produtor de lápis qual a procura desses lápis. Por sua vez ele transmite essa

informação aos vários fornecedores de matéria-prima. Preços sobem quando a procura excede a oferta

e descem quando a oferta excede a procura. Se, por exemplo, houvesse de repente uma descoberta de

uma jazida gigantesca de ferro no território nacional, mesmo que o consumidor final não soubesse, iria

senti-lo no preço de todos os produtos que incluem ferro (exemplo dado por SOWELL, 2000, p.8),

incluindo o nosso lápis.

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O mais espantoso, para alguns, é que toda esta troca de informações se dá de forma rápida, eficiente e

muitas vezes sem que os intervenientes saibam que estão a trocar informações. No entanto sabem

responder a essa informação: se o fornecedor de madeira da Indonésia se tornar muito caro (por falta de

madeira, aumento de salários dos madeireiros, etc.) o produtor de lápis irá procurar outro fornecedor. E

assim os preços permitem também que os bens se aloquem aonde são usados de forma mais eficiente.

Se o homem do lápis não encontrar outro fornecedor mais barato, passa o aumento de preço ao cliente,

que decide se quer continuar a usar lápis daquele produtor, se quer mudar de marca de lápis ou passar a

usar canetas. Entretanto o produtor de lápis pode ficar sem clientes e mudar de ramo ou passar a vender

lápis diferentes para compensar o aumento de preço. O que fica é a certeza que os bens, desta forma,

nunca são desperdiçados: enquanto houver mercado, i.e., procura, há oferta e esta oferta tende a ser da

forma mais eficiente possível.

É também importante perceber que os preços ajudam a racionar bens escassos. Como pouca oferta

tende a subir o preço de um bem, passa também a informação ao consumidor de que há pouco desse

bem. A subida de preço implica um ajuste do consumidor: como não possui recursos infinitos terá de

consumir menos do bem mais caro. Isso leva a que as pessoas se sintam de alguma forma traídas: ligam a

subida de um determinado preço à ganância de quem oferece determinada comodidade. Entendem

estas subidas e descidas ao longo do tempo como desvios do "real" preço. Mas como se disse acima, não

há um preço "real" nem justo para um determinado produto. Ele varia no tempo. O lápis fica mais caro

ou mais barato com o preço da madeira, da grafite, da borracha; mas também conforme sobre ou desce

a procura de lápis. De resto vale a pena lembrar que se determinado bem é caro, torná-lo artificialmente

mais barato (via controlo governamental de preços, p.ex.) nada altera a sua disponibilidade. Se o preço

do ouro fosse fixado por decreto a um valor abaixo do actual, para garantir que "todos possam aceder a

ouro", nada mudaria no facto de que existe pouco ouro. Tão simplesmente essa informação deixaria de

estar presente na escolha dos consumidores, via preço.

Vale a pena ainda referir que o preço não depende apenas da oferta e da procura presente, mas também

daquela que os intervenientes prevêem no futuro. Ou seja: se um pai de família a comprar o seu

pequeno-almoço previr que haverá pouco pão no dia seguinte, estará disposto a pagar mais hoje. Por

sua vez o padeiro venderá pão mais barato se achar que no dia seguinte terá mais concorrência da

padaria do lado. Podemos dizer com alguma segurança que há factores que não são calculáveis para um

preço atingir um determinado nível.

Os preços também se tornam elevados devido às altas taxas de impostos que lhes são impostos pelo

estado. O preço de petróleo em Portugal é muito mais elevado do que em qualquer país da OPEC, mas

não o é só devido a não sermos um país produtor de petróleo. Se, por exemplo, o litro de gasóleo tem

um custo aproximado de 1€, apenas 20 cent. vão para custos de produção e importação.

Isso distorce evidentemente a transmissão de informação ao longo do mercado, pois permite que o

Estado faça escolhas na vez de consumidores, decidindo que taxa de imposto aplica às várias

comodidades.

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INCENTIVOS

Os incentivos têm, provavelmente, a maior importância na economia. Sem incentivo próprio, ninguém

trabalha. Um taxista só leva o turista do aeroporto para o hotel porque isso lhe paga o jantar, e se for

simpático ainda leva uma gorjeta. Cada pessoa só trabalha e quer ganhar dinheiro por incentivo próprio.

Ao mesmo tempo quem compra algo fá-lo por vontade ou necessidade própria.

A mútua satisfação dos intervenientes é importante para compreendermos a Economia. Como diz Adam

Smith "It is not from the benevolence of the butcher, the brewer, or the baker, that we can expect our

dinner, but from their regard to their own interest." (SMITH, 1904, I.2.2), Ou seja, quando adquirimos

alguma comodidade num mercado livre, fazemo-lo porque quem a fornece tira partido disso. E como nós

tiramos partido de a adquirir (senão não iríamos ao mercado procurá-la), ambos saímos satisfeitos da

troca comercial. Isso leva-nos ao conceito, defendido por Smith, de "mão invisível": cada indivíduo, ao

promover a sua satisfação pessoal, ao adquirir no mercado o que bem necessita ao melhor preço, e ao

vender o que produz e o que tem ao melhor preço está, sem saber ou querer, a contribuir para o bem

comum (SMITH, op. cit., IV.2.9). Esse conceito é polémico, levando autores a pensar que Smith estaria a

advogar o egoísmo. Não está, Smith limita-se a constatar algo que é um facto: numa economia livre,

quem promove o seu próprio bem está também a pagar a outrém pela comodidade de que usufrui. Está

portanto a contribuir para o enriquecimento de outra pessoa, além de adquirir o que precisa.

Como vimos anteriormente, os preços transportam informação. Também transmitem incentivos. Se a

procura de um produto aumenta, o seu preço também aumenta, transmitindo ao mercado o incentivo de

produzir esse produto.

LUCROS

Para quem produz ou oferece um serviço ao mercado, o incentivo que tem a fazê-lo é o lucro. A cada

comodidade está associado um determinado lucro que é fundamental como incentivo à sua produção.

Como vimos, o mercado vive da necessidade de cada interveniente satisfazer a sua vontade. Assim como

um comprador acede ao mercado na procura do bem que melhor o satisfaça – e o faz livremente – o

produtor tenta vender o seu produto ao maior número de pessoas ao melhor preço possível. A procura

da parte do consumidor do preço mais baixo, e a concorrência de vários produtores do mesmo produto

leva a que o lucro seja sempre o mais baixo possível. Nunca, no entanto, o lucro deve ser visto como uma

espécie de “preço acrescentado”. Sem esse lucro não haveria incentivo do lado da produção. Voltando

ao nosso exemplo do lápis: sem um lucro no produtor final, no vendedor, em cada fornecedor e cada

subcontratação não haveria um lápis. No entanto o lucro de cada um desses intervenientes será sempre

o mais baixo possível visto haver concorrência, cada vez mais mundial, que permitem a qualquer

comprador procurar o preço mais barato.

O lucro por isso não pode ser visto como uma espécie de “pecado” ou de “imposto” sobre o “real” preço

de cada comodidade. Por outra, não mais é que o salário de quem organiza a produção do produto. Mas

mais: a cada lucro está associado um prejuízo. O produtor ao pôr um produto no mercado assume o risco

de esse produto se tornar obsoleto, caro demais ou desnecessário e com isso perder mercado. Com isto

o produtor poderá enfrentar prejuízo ou a falência. Olhando á nossa volta vemos isso no dia-a-dia. Para

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onde foram os lucros de empresas como a Olivetti? A Swissair? A Polaroid? A toda a empresa, a todo o

negócio está associado um risco que é “compensado” pelo lucro.

Mas o lucro é mais que isto. Aliado à concorrência e a necessidade de baixar preços, para vender mais, o

incentivo a maiores lucros, para nos satisfazer mais, cria também um incentivo permanente à maior

eficiência nos processos de produção. Se determinado produtor encontrar forma de fazer o mesmo

produto que a concorrência de forma mais eficiente e mais barata pode lucrar mais e/ou oferecer preços

mais baixos. Assim é o lucro que leva os produtores aencontrar formas mais eficientes de produzir e isto

leva ao permanente desenvolvimento tecnológico, por um lado, e por outro à melhor alocação de

recursos; pois se dado produto puder ser feito com menos investimento, menos matéria-prima ou

menos horas de trabalho, essas poupanças podem ser transferidas para outras áreas da Economia.

Concretizando: o lucro e a procura de maior eficiência que lhe está associado fizeram e fazem com que

hoje o cidadão médio viva com muito mais bens à sua disposição que há 50 anos atrás, porque se

puderam transferir recursos económicos de áreas como a agricultura e a indústria em massa para

serviços e novas tecnologias, ao mesmo tempo que os preços baixavam. Um carro hoje é muito mais

barato que há 50 anos, o computador é infinitamente mais pequeno e todos temos telemóveis. Tudo

isto devido à reorganização económica que a alocação de recursos permitiu.

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CAPÍTULO 2

ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA

Vimos até agora algumas das ferramentas, naturais, aliás, que existem nas mãos dos

intervenientes numa Economia. Os exemplos que vimos até agora são exemplos retirados

daquela que provou, e prova, ser a melhor forma de organizar a Economia. Falamos de

Capitalismo, Economia de Mercado, Economia do Lucro, mas são tudo sinónimos. São tudo

Economias em que os intervenientes são livres de comprar e vender tudo o que querem, como

e quando querem, e ao preço que querem. Não completamente, é certo. Vimos que os

governos impõem impostos, controlo de preços e ainda, tarifas aduaneiras, salários mínimos,

quotas de produção, etc.

Qual deve ser o papel do Governo na vida económica de um país? Como deve agir o Governo

na Economia para melhorar a vida dos cidadãos? Como tratar a propriedade privada, como

tratar o lucro, como tratar as importações?

CONTROLO DE PREÇOS

Uma das formas que governos têm de intervir nas Economias é o controlo de preços. Vários

exemplos históricos mostram-nos que tal medida apenas leva a uma má distribuição de

recursos e consequente baixa na qualidade da vida dos intervenientes.

Um caso paradigmático sobre como o controlo artificial dos preços não deve ser feito pelos

governos, mas deve ser deixado entregue ao mercado, é o das crises petrolíferas de 1973 e de

1978/79. Quando, em 1973, a OAPEC anunciou que deixaria de fornecer países que apoiassem

Israel no conflito com a Síria e o Egipto, os preços de petróleo em todo o mundo dispararam.

Já vimos que tal é normal: a oferta baixou, o que, mantendo a procura, leva à subida dos

preços. Só nos EUA o preço quadriplicou. A resposta dos governos foi divergente. Nos EUA,

para impedir a "especulação de preços", fixou-se o preço de óleo antigo ao preço anterior à

crise. Como resultado esse óleo saiu rapidamente de mercado criando uma carência de oferta,

levando frequentemente ao encerramento de bombas de gasolina ao início da semana, pois

rapidamente esgotavam os seus stocks semanais. Longas filas à porta das bombas de gasolina

eram frequentes, fazendo perder tempo aos utilizadores. Em Nova Iorque, o número de horas

semanais, em média, que uma bomba estava aberta até esgotar oseu stock era de 110 em

Setembro de 1978 baixando para 27 em Junho de 1979, quando o total de gasolina vendida

variou de poucos pontos percentuais (SOWELL, 2000, p.32). Isto leva-nos a concluir que a

carência era mais artificial e produto das políticas governamentais, que propriamente efeito

económico do embargo árabe. De referir que países europeus que deixaram o mercado

funcionar não enfrentaram quaisquer cortes de abastecimento. Os EUA tiveram de racionar o

acesso à gasolina, apesar de serem eles mesmo produtores.

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A figura de controlo de preços está praticamente sempre ligada à má alocação de recursos.

Recentemente em Portugal o governo travou uma subida do preço da electricidade de 15%

argumentando que isso seria contrário ao interesse nacional, quando por outro lado defende

o baixar das emissões de gases de efeito de estufa com base na poupança energética.

Provavelmente, o aumento do preço da electricidade levaria naturalmente a uma quebra no

consumo pois o utilizador médio conseguiria encontrar maneiras de poupar energia em casa,

e seria incentivado a isso pela subida do preço. Ao invés disso o governo introduz taxas de

imposto agravadas sobre lâmpadas incandescentes para conseguir um efeito que o mercado

atingiria de forma natural e mais rápida sem a intervenção do Estado.

O controlo de preços leva a uma discrepância entre preço decidido pelo mercado e o preço

cobrado. Isso leva para um acréscimo do mercado negro. No caso da gasolina, SOWELL

(op.cit., p.32) cita a existência do mercado negro para compensar os cortes de abastecimento.

Nesse mercado paralelo os consumidores conseguiam comprar gasolina a preços acima dos

fixados pelo governo, mas em quantidades que os satisfizessem. Ainda assim os preços seriam

mais altos que aqueles que o mercado fixaria se não houvesse controlo de preços. É que,

evidentemente, que no preço fica calculado o perigo de estar a vender a gasolina de forma

ilegal. O risco faz parte do preço, como já vimos no capítulo dedicado ao lucro.

Outras de forma de controlo de preços são leis que impõe certas limitações na renda de

habitações e as leis de salário mínimo.

Quanto ao chamado rent control, controlo de rendas, citemos Paul Krugman: The analysis of

rent control is among the best-understood issues in all of economics, and – among economists,

anyway -- one of the least controversial. In 1992 a poll of the American Economic Association

found 93 percent of its members agreeing that "a ceiling on rents reduces the quality and

quantity of housing." (KRUGMAN, 2000) Tal como na questão que discutimos anteriormente,

também quando há controlo de rendas por parte dos governos (fixando rendas máximas, ou

impondo valores máximo de aumentos anual, p. ex.) se cria uma carência de oferta. Não se

renova o parque habitacional porque senhorios e construtores têm medo de não capitalizar

investimentos. Preços para habitação fora da área controlada disparam na tentativa dos

senhorios recuperarem o que perdem devido ao controlo. No final todos perdem, mesmo

aqueles que vivem nas casas de preço controlado, pois quando as têm de abandonar têm

muito menos possibilidade de encontrar nova habitação. Por fim, além de todo o mais, a

interferência do governo na fixação de rendas é uma intolerável interferência no direito de

propriedade privada e de o proprietário fazer dela o que bem entender. Por fim a existência

de um salário mínimo leva a exactamente o mesmo fenómeno que observámos com a

gasolina e as casas. Um preço fixado artificialmente pelo governo cria uma carência de oferta

e um excesso de procura, o que neste caso em concreto significa um aumento do

desemprego. Não obstante a "cortina de fumo" da opinião massificada, os factossão estes: um

preço do trabalho fixado acima do valor de mercado cria menos ofertas de emprego, pois os

empregadores tenderão a resolver o trabalho que têm em mão com menos empregado ao

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invés de pagar mais acima do valor que julgam justo. Ao mesmo tempo cria-seum mercado

negro em que alguns empregados fazem uns "biscates", provavelmente abaixo do preço de

mercado, para compensar o risco que o empregador corre em fugir à lei que ilegaliza salários

abaixo do mínimo. Além disso os jovens, que poderiam compensar a sua inexperiência com

salários mais baixo à entrada no mercado de trabalho vivem na concorrência desleal dos mais

velhos que ganham mais e têm mais experiência.

Claro que se pode argumentar que há um valor "mínimo de sobrevivência" que todos devem

receber para tornar o trabalho justo. Mas se quisermos esquecer que não existe tal coisa

como um preço justo ou real para uma comodidade (e é disto que se trata), então, ao menos,

deixemos ao critério de cada par trabalhador/empregador decidir o que é justo ou não pagar

para dado emprego.

INFLAÇÃO

O dinheiro é no fundo apenas um intermédio artificial criado para facilitar as trocas comerciais

que estão na base da Economia. Mas o dinheiro não passa de papel ou metal que nada vale se

as pessoas não confiarem nesse dinheiro ou não lhe derem valor. Como sabemos o valor real

de uma determinada quantia de dinheiro varia (normalmente baixa) com o tempo. O que

custava 50$ em 1950, passou a custar 349.01$ em 2000. (Fonte:

http://www.westegg.com/inflation/).

Devido a alguma confusão entre valor facial e valor real do dinheiro, as pessoas são levadas a

pensar que se tivessem mais dinheiro que o que têm poderiam ter, de facto, mais dinheiro.

Henry Hazlitt diz-nos Real wealth, of course, consists in what is produced and consumed: the

food we eat, the clothes we wear, the houses we live in (HAZLITT, 1952, p.149).

Por isso algumas fúrias inflacionistas, que hoje estão, felizmente, reduzidas a algumas

repúblicas sul-americanas e africanas, não trazem riqueza nenhuma. Apenas baixam o valor do

dinheiro deixando as pessoas com a mesma riqueza. A inflação é provocada pela

sobreimpressão de dinheiro levando a uma, lá está, inflação (como de um balão) do valor

desse mesmo dinheiro (Exemplos: Venezuela3, Zimbabué4). Ainda assim a emissão de moeda

em quantidades excessivas (o ideal será que seja tanta moeda emitida como a necessária para

cobrir aquela que fisicamente é destruída) continua a ser uma realidade em muitos países do

mundo.

Convém, também, não cair na confusão de associar inflação a uma das suas consequências.

Inflação não é subida de preços. O aumento dos preços é consequência directa da inflação:

mais dinheiro em circulação sem contrapartida no aumento de comodidades disponíveis leva a

que as pessoas possam oferecer mais (em valor nominal) por cada uma das comodidades.

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Goods then rise in price, not because goods are scarcer than before, but because dollars are more

abundant. (HAZLITT, 1965, p.2).

Ou seja, o aumento de preços, neste caso, não se deve a uma escassez ou carência de

comodidades. Dificilmente se compreende que o aumento generalizado de preços seja

provocado por uma carência generalizada de todo o tipo de comodidades. Seria certamente

curioso perceber como é que todas as comodidades entram em baixa de oferta ao mesmo

tempo. Como tal, de nada serve aumentar a produção para “compensar” as carências que

criam a inflação. No mesmo sentido não é possível dar crédito a quem afirma que os preços

sobem porque os produtores ou distribuidores estão a especular e a guardar “demasiados”

bens.

Por fim, por tudo o que vimos, o que também não resolve inflação é impôr tectos à subida de

preços. Por tudo o que dissemos no respectivo capítulo e pela razão mais importante: afasta-

nos da real causa da subida e do respectivo combate. A inflação combate-se combatendo-se

as suas causas. Abstenhamo-nos de entrar em considerações políticas. Do ponto de vista

económico é simples: The cure is to stop increasing money and credit. The cure for inflation, in

brief, is to stop inflating. It is as simple as that. (HAZLITT, op.cit., p. 15).

TARIFAS ADUANEIRAS

É frequente ouvirmos a necessidade de haver determinadas barreiras à entrada de certos

produtos. De haver controlo aduaneiro para que determinados produtos não "invadam" o

nosso mercado. Frequentemente tais apelos são acompanhados de pedidos algo dramáticos,

enfatizando que sem certa tarifa, dada indústria abriria falência e atiraria para o desemprego

os empregados dessa indústria.

Já tantas vezes esta questão foi analisada, e rejeitada, que custa crer como ainda a vemos

defendida, aliás praticada nos dias de hoje por países respeitáveis. Desde Adam Smith que o

comércio livre deveria fazer parte da doutrina dos países ditos livres, e a defesa de tarifas

deveria estar remetida para a ignorância económica; deveria estar longe do senso comum,

mesmo.

Peguemos no exemplo dado por Hazlitt (HAZLITT, 1952., p.63ss) e adaptemo-lo aos dias de

hoje. Um produtor chinês oferece T-Shirts a dez Euros, enquanto que os produtores europeus

só conseguem oferecer a mesma T-Shirt a 15 Euros. Fatalmente veremos os produtores locais

a pedir uma tarifa sobre os têxteis chineses para compensar a perda de mercado que terão.

Rapidamente os sindicatos se juntam ao apelo para proteger os empregos locais. E a Europa

impõe essa tarifa, ou quotas de importação ou o que valha para "proteger as indústrias

europeias". Poderíamos cair na tentação de aplaudir tal medida. Estaríamos no entanto a cair

numa falácia económica clássica.

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Primeiro, continuando com a argumentação de Hazlitt, facilmente se vê que é um princípio

absurdo encarecer um produto estrangeiro com o objectivo de melhorar as vidas dos

nacionais. Nenhum alfaiate faz os seus próprios sapatos, e nenhum sapateiro faz a sua roupa;

ambos sabem que lhes sai mais barato comprá-las fora (HAZLITT, op.cit. p 62). Assim se

deveriam comportar as nações.

Pois voltemos a pegar no exemplo da T-Shirt chinesa: os cinco euros que pouparíamos se

pudéssemos comprar a T-Shirt chinesa ao seu preço de mercado, seriam gastos por nós noutra

comodidade. Ou seja, estaríamos a pegar em cinco Euros que teriam sido poupados por

eficiência económica e estaríamos a redistribuí-los conforme o nosso desejo. Ou seja, na

situação tarifada, gastamos 15 Euros e ficamos com uma T-Shirt. Na situação livre, gastamos

dez Euros, ficamos com a mesma T-Shirt e cinco Euros para gastar, que certamente ajudariam

a criar novos empregos que possivelmente se perderiam devido à perda de mercado para os

produtores locais (Ainda que a concorrência pudesse levar estes a baixar preços e manter-se

competitivos).

A grande questão é que não vemos o efeito da tarifação, enquanto que vemos o da não-

tarifação. Enquanto que todos veríamos os despedimentos na indústria têxtil local, os novos

empregos criados pela maior eficiência são invisíveis, e daí não têm lóbi de apoio. Esta

dicotomia (efeitos visíveis e invisíveis) inspirou um ensaio de Fréderic Bastiat, chamado "What

Is Seen and What Is Not Seen5", na edição inglesa. Descobrir efeitos invisíveis nas decisões

económicas que os governos tomam é talvez o maior desafio do economista.

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CONCLUSÃO

Analisámos neste texto algumas ferramentas económicas que estão ao dispor dos

intervenientes na Economia. Analisámos depois algumas formas de intervenção na Economia.

Julgamos ter justificado devidamente todas as asserções que fizemos.

Escolhemos três fenómenos e três medidas económicas para ilustrar algumas influências da

Economia na vida do Homem e do Homem na Economia. Mais haveria a dizer, poderíamos

falar de Deflação, de Sindicalismo, de Cartéis e de vários outros efeitos e ferramentas. No

entanto optámos, a bem da simplicidade e da leitura fácil por usar exemplos que a maioria

dos cidadãos conhece.

Como conclusão diríamos que a Economia é anterior à lei e à intervenção dos governos. A

Economia existe como soma das trocas livres de todos os seus intervenientes. Sendo assim,

quanto mais livre o mercado for, melhores e mais ponderadas serão as escolhas do seus

intervenientes que, ao procurarem melhor satisfazer as suas necessidades, estão sempre a

encontrar o bem-comum.

A intervenção excessiva na Economia leva a distorções na distribuição dos recursos, leva a

menos eficiência económica e a pior gestão da riqueza.

Melhor que nas nossas palavras, acabemos com as de Henry Hazlitt:

(...) the whole of economics can be reduced to a single lesson, and that lesson can be

reduced to a single sentence. The art of economics consists in looking not merely at the

immediate but at the longer effects of any act or policy; it consists in tracing the

consequences of that policy not merely for one group but for all groups. in Economics in one

Lesson

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BIBLIOGRAFIA

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http://prawo.uni.wroc.pl/~kwasnicki/EkonLit/Economics%20In%20One%20Lesson.pdf

Hazlitt, Henry (1965). What You Should Know About Inflation, New York.

http://www.mises.org/books/inflation.pdf

Krugman, Paul (06.07.2000). A Rent Affair, New York Times.

http://www.pkarchive.org/column/6700.html

Robbins, Lionel (1932). Essay on the Nature and Significance of Economic Science,

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http://www.econlib.org/library/Smith/smWN.html

Sowell, James (2000). Basic Economics, A Citizen's Guide to the Economy, New York. ISBN-10:

046508138X

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onçalo Begonha G

Gabinete de Estudos