Caderno de questões Vestibular

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Caderno de Questes

99A Unicamp comenta suas provas

Coordenadoria Executiva dos Vestibulares e Programas EducacionaisCoordenao Executiva Maria Bernadete M. Abaurre Coordenao Adjunta Ernesto Ruppert Filho Coordenao Acadmica Eugnia M. Reginato Charnet Coordenao de Pesquisa Mara F. Lazzaretti Bittencourt Coordenao de Logstica Ary O. Chiacchio Coordenao de Comunicao Social Carmo Gallo Netto

ColaboradoresAlex Antonelli Angela Borges Martins Antonio Carlos do Patrocnio Carlos Alberto de Castro Junior Carlos Roberto Galvo Sobrinho Cristiane Duarte Douglas Soares Galvo Edgar Salvadori de Decca Edmundo Capelas de Oliveira Enid Yatsuda Frederico Fosca Pedini Pereira Leite Haquira Osakabe Iara Lis Franco S. C. Souza Iara Maria Silva de Luca Jos de Alencar Simoni Klara Maria Schenkel Leandro Russovski Tessler Lcia Kopschitz Xavier de Bastos Marco Aurlio Pinotti Catalo Maria Augusta Bastos de Mattos Maria Elisa Quissak Martins Matthieu Tubino Raymundo Luiz de Alencar Regina Clia Bega dos Santos Rodolfo Ilari Shirlei Maria Recco Pimentel Srio Possenti Vera Nisaka Solferini

Caderno de QuestesUma publicao da Coordenao Executiva dos Vestibulares da UnicampProjeto Coordenao Acadmica Coordenao de Projeto Eugnia Maria Reginato Charnet Apoio Grfico Carmo Gallo Netto Projeto Grfico Grafos Editorao e Bureau Fotos Antoninho Perri Fotos Areas Nelson Chinalia

Cmara Deliberativa do VestibularPresidente Angelo Luiz Cortelazzo Coordenador dos Vestibulares e Programas Educacionais Maria Bernadete M. Abaurre

Representates de CursosArquitetura e UrbanismoMarco Antonio Alves do Valle

Engenharia EltricaCesar Jos Bonjuani Pagan

Representante da ReitoriaAnsio dos Santos Jnior

Engenharia MecnicaAnselmo Eduardo Diniz

Artes CnicasSara Pereira Lopes

Representantes da ComvestAry O. Chiacchio Carmo Gallo Netto Ernesto Ruppert Filho Eugnia M. Reginato Charnet Mara F. Lazzaretti Bittencourt

Engenharia QumicaMeuris Gurgel Carlos da Silva

Cincias BiolgicasEneida de Paula

EstatsticaReinaldo Charnet

Cincia da ComputaoNeucimar Jernimo Leite

Filosofiatalo Maria Loffredo DOttaviano

Cincias da TerraRegina Clia Bega dos Santos

Representantes do Ensino SecundrioSindicato dos Professores de CampinasPaulo Jos Nobre

FsicaMaurcio Urban Kleinke

Cincias EconmicasEugnia Troncoso Leone

GeocinciasCarlos Alberto Lobo da Silveira Cunha

Cincias SociaisNdia Farage

Coordenadoria de Estudos e Normas PedaggicasMarlene Gardel

HistriaCarlos Roberto Galvo Sobrinho

DanaGraziela E.F. Rodrigues

Letras e LingsticaPlnio Almeida Barbosa

Associao dos Professores do Ensino Oficial do Estado de So PauloMaria Quarezemin

Educao ArtsticaGasto Manoel Henrique

LicenciaturasCarmen Lcia Soares

Colgio Tcnico de CampinasEdgard Dal Molin Jnior

Educao FsicaElizabeth Paoliello Machado de Souza

Matemtica Aplicada e ComputacionalEdmundo Capelas de Oliveira

Colgio Tcnico de LimeiraRosa Maria Machado

EnfermagemEliete Maria Silva

MatemticaClaudina Izepe Rodrigues

Engenharia AgrcolaLuiz Henrique Antunes Rodrigues

Comisso Permanente para os Vestibulareshttp:/www.convest.unicamp.br [email protected] Cidade Universitria Zeferino Vaz Baro Geraldo - Campinas So Paulo - 13083-970 Tel: (0_ _19) 788-7665 788-8270 - 289-3130 Fax: (0_ _19) 289-4070 Escritrio Regional: So Paulo R. Simo Alvares, 356 4 andar - Conj. 41 - Pinheiros

MedicinaAlbetiza Lbo de Arajo

Engenharia AgrcolaLuiz Henrique Antunes Rodrigues

MsicaClaudiney Rodrigues Carrasco

Engenharia de AlimentosHeloisa Mscia Cecchi

OdontologiaFausto Brzin

Engenharia CivilMarina Sangoi de Oliveira Ilha

PedagogiaElisabete Monteiro de Aguiar Pereira

Engenharia de ComputaoIvan Luiz Marques Ricarte

QumicaPaulo Jos Samenho Moran

Engenharia de Controle e AutomaoGeraldo Nonato Telles

TecnologiasCarlos Augusto da Silva Timoni

Caro estudante, caro professor: com grande satisfao que a Coordenao de Vestibulares da Unicamp divulga, pela terceira vez consecutiva, este Caderno de Questes. Dele fazem parte as expectativas e os comentrios das bancas elaboradoras sobre os temas de redao e sobre as questes das vrias disciplinas do seu Concurso Vestibular de 1999. Esperamos que este material se possa constituir em referncia importante para a compreenso dos objetivos das provas e dos critrios empregados em sua correo. Esperamos ainda que a leitura atenta desta publicao j represente para voc, candidato, parte da preparao para o nosso exame; e para voc, professor, a possibilidade de realizao de um trabalho produtivo junto aos seus alunos que optaro por prestar o Vestibular Unicamp 2000. A prova da primeira fase do Vestibular Unicamp 1999 centrou-se na questo dos 500 anos de Brasil. O objetivo das bancas elaboradoras foi o de mostrar a possibilidade de trabalho com temas transversais, recomendao to enfatizada, atualmente, nos Parmetros Curriculares elaborados pelo MEC para os vrios ciclos de escolarizao. Acreditamos estar assim contribuindo para a discusso sobre uma proposta de trabalho integrado com os contedos das vrias disciplinas, que tem por objetivo atribuir um significado efetivo s atividades realizadas na escola. Sabemos bem que o momento de preparao para um exame vestibular, sobretudo para um exame inteiramente discursivo como o da Unicamp, costuma ser tenso, tanto para os candidatos, como para seus professores e seus familiares. Sabemos tambm que essa tenso tem origem na falta de um melhor conhecimento sobre como sero as provas; sobre o que se pretende exatamente avaliar com as questes; sobre as respostas esperadas; e, finalmente, sobre como as respostas dos candidatos sero corrigidas e pontuadas. Consideramos importante, pois, que a Universidade procure fazer o que estiver ao seu alcance para ajudar os candidatos a superarem essa tenso. Esta publicao deve ser entendida como um passo nessa direo, uma vez que estabelece um canal de dilogo entre as bancas, os candidatos e seus professores. Esperamos, porm, que o interesse pela leitura deste Caderno de Questes no fique restrito apenas aos alunos que prestaro o Vestibular Unicamp 2000 e a seus professores. Na verdade, as provas discursivas do nosso Vestibular se tm constitudo, ao longo dos ltimos treze anos, em importante espao de interao com os docentes de todas as sries do Ensino Mdio, pois os temas e as questes de todas as provas explicitam os pontos de vista dos docentes da Universidade relativos maneira como entendem que devem ser ensinados e trabalhados os contedos do ncleo comum obrigatrio desse nvel escolar. Nossa prova de redao exemplo disso. Essa prova, dados os seus objetivos e a maneira como so elaborados os temas, reflete uma concepo de trabalho com leitura e produo de textos que, se bem entendida, pode influenciar positiva e produtivamente o trabalho com a linguagem escrita na escola, contribuindo assim, efetivamente, para a formao de leitores crticos e cidados participantes, capazes de expressar de forma clara e coerente suas opinies sobre temas polmicos e atuais. Por fim, os comentrios e anlises constantes deste nosso terceiro Caderno de Questes pretendem deixar bem claro que o objetivo das provas do Vestibular da Unicamp verificar no s o que os alunos de fato aprenderam ao longo do Ensino Mdio, mas tambm e sobretudo! como tais contedos lhes foram ensinados. Esperamos, pois, que a leitura desta publicao permita concluir que a eficcia do processo de ensino e aprendizagem de qualquer contedo est, em parte, na definio clara dos objetivos a serem alcanados. Prof Dr Maria Bernadete Marques AbaurreCoordenadora Executiva Comisso Permanente para os Vestibulares e Programas Educacionais Unicamp

Universidade Estadual de CampinasReitorHermano TavaresCoordenador Geral da Universidade Fernando Galembeck Pr-Reitoria de Extenso e Assuntos Comunitrios Roberto Teixeira Mendes Pr-Reitoria de Desenvolvimento Universitrio Lus Carlos Guedes Pinto Pr-Reitoria de Graduao Angelo Luiz Cortelazzo Pr-Reitoria de Pesquisa Ivan Emlio Chambouleyron Pr-Reitoria de Ps-Graduao Jos Cludio Geromel Chefe de Gabinete Raul Vinhas Ribeiro Coordenadoria Executiva do Vestibular Maria Bernadete M. AbaurreCentro de Pesquisas Qumicas, Biolgicas e Agrcolas Joo Alexandre F. Rocha Pereira Centro de Tecnologia Douglas Eduardo Zampieri Centro de Controle de Intoxicaes Jos Ronan Vieira Centro de Ensino de Lnguas Ana Luiza V. Degelo Centro de Engenharia Biomdica Jos Wilson Magalhes Bassani Centro de Pesquisas Onco-Hematolgicas Silvia Regina Brandalise Editora Luiz Fernando Milanez Escola de Extenso Paulo Roberto Mei Escritrio Tcnico de Construo Luiz Carlos de Almeida Biblioteca Central Maria Alice Rebello do Nascimento Centro de Ateno Integral Sade da Mulher Luiz Carlos Zeferino Centro de Computao Hans Kurt E. Liesenberg Centro de Comunicao Hlio Solha Servio de Apoio ao Estudante Joo Frederico C. A. Meyer Hospital das Clnicas Paulo Eduardo R. M. Silva Centro de Diagnstico de Doenas do Aparelho Digestivo Jos Murilo R. Zeitune Centro de Hematologia e Hemoterapia Fernando Costa

Unidades de Ensino e PesquisaInstituto de Artes Regina Mller Instituto de Biologia Maria Luiza Silveira Melo Instituto de Computao Tomasz Kowaltowski Instituto de Economia Geraldo Di Giovanni Instituto de Estudos da Linguagem Luiz Carlos da Silva Dantas Instituto de Filosofia e Cincias Humanas Paulo Celso Miceli Instituto de Fsica Gleb Wataghin Carlos Henrique de Brito Cruz Instituto de Geocincias Newton Mller Pereira Instituto de Matemtica e Estatstica Jos Luiz Boldrini Instituto de Qumica Celio Pasquini Faculdade de Cincias Mdicas Mrio Jos Abdalla Saad Faculdade de Educao Lus Carlos Freitas Faculdade de Educao Fsica Pedro Jos Winterstein Faculdade de Engenharia Agrcola Joo Domingos Biagi Faculdade de Engenharia de Alimentos Glucia Maria Pastore Faculdade de Engenharia Civil Roberto Feij de Figueiredo Faculdade de Engenharia Eltrica e de Computao Lo Pini Magalhes Faculdade de Engenharia Mecnica Antonio Celso F. de Arruda Faculdade de Engenharia Qumica Maria Regina Wolf Maciel Faculdade de Odontologia de Piracicaba Antonio Wilson Salum Centro Superior de Educao Tecnolgica Maria A. Marinho Colgio Tcnico de Campinas Michel Sadalla Filho Colgio Tcnico de Limeira Antonio Manuel Queirs

Centros e Ncleos InterdisciplinaresNcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais Thomas Michael Lewinsohn Ncleo de Planejamento Energtico Srgio Waldir Bajay Ncleo de Estudos Estratgicos Elizer Rizzo de Oliveira Ncleo de Estudos de Pesquisas em Alimentao Maria Antnia Martins Galeazzi Ncleo de Informtica Biomdica Renato Sabbatini Centro de Estudos de Opinio Pblica Rachel Meneguello Centro de Estudos de Gnero Pagu Adriana Gracia Piscitelli Centro de Ensino e Pesquisa em Agricultura Hilton Silveira Pinto Centro de Lgica, Espistemologia e Histria da Cincia Osnyr Faria Gabbi Jr. Centro de Memria Olga Rodrigues M. Von Simson Ncleo de Desenvolvimento da Criatividade Csar Ciacco Ncleo de Estudos de Polticas Pblicas Pedro Luiz Barros Silva Ncleo de Estudos da Populao Daniel Hogan Ncleo de Informtica Aplicada Educao Jos Armando Valente Ncleo de Comunicao Sonora Raul do Valle Ncleo de Cincia, Aplicaes e Tecnologias Espaciais Nelson de Jesus Parada Laboratrio de Movimento e Expresso Josefa Barbara Iwanowicz Centro de Documentao de Msica Contempornea Jos Augusto Mannis

Unidades Administrativas de ServioCoordenadoria da Administrao Geral Vera Lcia Randi Ferraz Secretaria Geral Paulo Solero Procuradoria Geral Octaclio Machado Ribeiro Prefeitura do Campus Orlando F. Lima Jr. Coordenadoria de Servios Sociais Edison Bueno Diretoria Geral de Recursos Humanos Lus Carlos Freitas Diretoria Acadmica Antonio Faggiani

Unidades de Apoio e Prestao de ServiosArquivo Central Neire do Rossio Martins Centro de Engenharia do Petrleo Denis Jos Schioser Centro de Manuteno de Equipamentos Csar Jos Bonjuani Pagan

Uma explicao necessriaO Caderno de Questes a Unicamp comenta suas provas, j em sua terceira edio, tem sido cuidadosamente preparado para que voc conhea melhor o que a Unicamp procura avaliar no candidato. Assim voc encontrar, neste caderno, as questes das provas de 1 e 2 Fases do Vestibular Unicamp/99, acompanhadas das respostas esperadas pelas bancas elaboradoras, da pontuao atribuda a cada item das questes, e de comentrios que visam a ilustrar a concepo das provas e o tipo de conhecimento e habilidade necessrios para respond-las a contento. Em alguns casos so apresentados tambm exemplos de respostas, para que voc possa entender melhor como estas foram corrigidas. Voc encontrar tambm comentrios sobre os trs temas de redao propostos nesse vestibular, acompanhados de vrios exemplos dos textos que apresentam bom desenvolvimento do tema. Foram tambm includos alguns exemplos de redaes anuladas, com a justificativa da anulao. A prova da 1 fase vale 60 pontos 30 para Redao e 30 para as Questes e cada prova da 2 fase vale 60 pontos. As questes, tanto da 1 como da 2 fase, recebem pontuao que varia de 0 a 5 pontos, dependendo da adequao resposta esperada. As questes so corrigidas sempre por dois avaliadores; em caso de divergncia, a questo tem uma terceira correo, garantindo-se assim a aplicao dos critrios estabelecidos pela banca. A correo da redao recebe os mesmos cuidados os textos so corrigidos por uma dupla de avaliadores e, no caso de divergncia, uma terceira correo solicitada. Persistindo a discordncia, h uma quarta avaliao e, se ainda necessrio, solicita-se a avaliao do presidente de banca. Vale lembrar que nenhuma anulao confirmada sem que haja concordncia de trs avaliadores. Inclumos tambm, neste caderno, as provas de aptido aplicadas no Vestibular Unicamp 99, especficas para candidatos aos cursos de Artes Cnicas, Arquitetura e Urbanismo, Dana, Msica e Odontologia. No final do caderno divulgamos o desempenho dos candidatos para as diferentes reas. As tabelas 1 e 2 contm informaes sobre a Redao para cada tema, a tabela 3 a nota mdia e o desvio padro de cada uma das questes gerais e a tabela 4 um resumo do desempenho nessa prova da primeira fase. Nas tabelas de 5 a 12, so apresentadas a nota mdia e o desvio padro de cada questo das provas da 2 fase. Finalmente, na tabela 13, voc poder constatar o desempenho em cada uma dessas provas, relativo a cada curso dentro dos grupos distintos. Observe que os dados apresentados esto na escala de 0 a 5 para cada questo e os demais na escala de 0 a 100.

Prof Dr Eugnia Maria Reginato CharnetCoordenadora Acadmica Comisso Permanente para os Vestibulares e Programas Educacionais Unicamp

ndice 1 Fase 2 Fase Redao ................................................................................................ 10 Questes .............................................................................................. 31 Lngua Portuguesa e Literaturas de Lngua Portuguesa .......................... 48 Biologia ................................................................................................. 65 Qumica ................................................................................................ 74 Histria ................................................................................................. 89 Fsica ..................................................................................................... 99 Geografia ............................................................................................ 108 Matemtica ......................................................................................... 124 Lngua Estrangeira ............................................................................... 134 Provas de Aptido ............................................................................... 149

Desempenho dos Candidatos ............................................................................. 157

ura mandam-lhe vir do estrangeiro. ole e automtico, sob a vergasta do poder absoluto, vibrada ores e pelos padres da companhia; povo flagelado por todas s ainda uma nao culta, livre e original. (Romero, Slvio.

mas no em razo do desgnio de seus colonizadores. Eles s trariando as suas expectativas, nos erguemos, imprudentes, distinto de quantos haja, deles inclusive, na busca de nosso o novo, vale dizer um gnero singular de gente marcada por em caminho de retorno a qualquer delas. Esta singularidade smos, uma vez que j no somos indgenas, nem transplan. (Ribeiro, Darcy. O Brasil como problema.1995.) ortunas colossais que jamais se ho de acumular entre ns, cesso. Nem argentarismo, pior que a tirania, nem pauperis-

Ao desembarcar na Amrica, em 1500, o colon fico completamente diferente do seu. Contud muitas dificuldades para adaptar-se s reas tro por isso afeioados a eles, geralmente sofrem europeu encontrou fortes estmulos que compe zona tropical para ser trabalhador, mas para s Prado Jnior, C. Formao do Brasil Contempo a) Quais foram os estmulos encontrados pelo e aqui permanecesse? b) Caracterize a relao de trabalho fundamen c) Por que, durante o perodo colonial, a popu basicamente no litoral?

1 Fase

A produtividade primria em um ecossistema pode ser avaliada d dos modos para medir a produtividade primria utiliza garrafas t totalmente preenchidas com gua do mar fechadas e mantidas e , tempo de incuba o, mede-se o volume de oxig io dissolvido n obtidos so relacionados fotossntese e respira o. a) Por que o volume de oxig io utilizado na avalia o da pro n b) Explique por que necessrio realizar testes com os dois tip c) Quais so os organismos presentes na gua do mar respons

Como voc j deve saber, a prova de Redao da Unicamp no procura avaliar simplesmente sua capacidade de escrever sobre determinado tema, ou seu conhecimento da modalidade culta da lngua, mas avalia sua capacidade de organizar idias, estabelecer relaes, interpretar dados e fatos e elaborar hipteses explicativas. Para que isso seja possvel, a Unicamp faz acompanhar cada um dos trs temas propostos de uma coletnea de textos que fornece informaes e perspectivas acerca de cada tema especfico. Trata-se, portanto, de uma tarefa de escrita a partir de uma tarefa de leitura. Voc dever demonstrar, em sua redao, que um leitor atento, que sabe selecionar dados interpretando-os segundo o seu ponto de vista. Como sempre acontece na prova de redao do Vestibular Unicamp, no basta voc desenvolver o tema; a prova fornece um ponto de partida, algumas informaes que voc pode e deve utilizar no seu texto. E tambm a coletnea que tem a funo de delimitar o tema, de dirigi-lo, de especific-lo. Como em todos os anos, tambm no Vestibular 99 houve a possibilidade, para o candidato, de fazer a escolha entre trs tipos de texto: dissertao, narrativa ou carta argumentativa. Vejamos, a seguir, os temas do Vestibular 99 e o que se esperava que um candidato escrevesse para cada um dos tipos de texto propostos.

Orientao geralH trs temas sugeridos para redao. Voc deve escolher um deles e desenvolv-lo conforme o tipo de texto indicado, segundo as instrues que se encontram na orientao dada para cada tema. Assinale no alto da pgina de resposta o tema escolhido. Coletnea de textos: Os textos foram tirados de fontes diversas e apresentam fatos, dados, opinies e argumentos relacionados com o tema. Eles no representam a opinio da banca examinadora: so textos como aqueles a que voc est exposto na sua vida diria de leitor de jornais, revistas ou livros, e que voc deve saber ler e comentar. Consulte a coletnea e utilize-a segundo as instrues especficas dadas para o tema. No a copie. Ao elaborar sua redao, voc poder utilizar-se tambm de outras informaes que julgar relevantes para o desenvolvimento do tema escolhido. ATENO: SE VOC NO SEGUIR AS INSTRUES RELATIVAS AO TEMA QUE ESCOLHEU, SUA REDAO SER ANULADA.

Tema AO Brasil est em vias de completar cinco sculos de existncia aos olhos do mundo europeu. So os j conhecidos 500 anos de seu descobrimento, que sero comemorados oficialmente em abril de 2000. Como em qualquer data importante, o momento oportuno para um balano e uma reflexo. O balano poderia resultar muito parcial, se se prendesse exclusivamente a fatos econmicos e a dados sociais circunstanciais. Por isso, faz-se necessrio, neste caso, considerar a questo de quem somos hoje. Tendo isso em mente, e contando com o apoio obrigatrio dos fragmentos abaixo, escreva uma dissertao sobre o tema

500 anos de Brasil

1. Esquea tudo o que voc aprendeu na escola sobre o descobrimento do Brasil. (...) A dois anos dascomemoraes oficiais pelos 500 anos de descobrimento do Brasil, os ltimos trabalhos de pesquisadores portugueses, espanhis e franceses revelam uma histria muito mais fascinante e pica sobre a chegada dos colonizadores portugueses ao Novo Mundo. O primeiro portugus a chegar ao Brasil foi o navegador Duarte Pacheco Pereira, um gnio da astronomia, navegao e geografia e homem da mais absoluta confiana do rei de Portugal, d. Manuel I. Duarte Pacheco descobriu o Brasil um ano e meio antes de Cabral, entre novembro e dezembro de 1498. (...) As novas pesquisas sobre a verdadeira histria do descobrimento sepultam definitivamente a inocente verso ensinada nas escolas de que Cabral chegou ao Brasil por acaso, depois de ter-se desviado da sua rota em direo s ndias. (ISTO, 26 de novembro de 1997.)

2. ... a despeito de nossa riqueza aparente, somos uma nao pobre em sua generalidade, onde adistribuio do dinheiro viciosa, onde a posse das terras anacrnica. Aquele anda nas mos dos negociantes estrangeiros; estas sob o taco de alguns senhores feudais. A grande massa da populao, espoliada por dois lados, arredada do comrcio e da lavoura, neste pas essencialmente agrcola, como se costuma dizer, moureja por ali abatida e faminta, no tendo outra indstria em que trabalhe;10

pois que at os palitos e os paus de vassoura mandam-lhe vir do estrangeiro. (...) povo educado, como um rebanho mole e automtico, sob a vergasta do poder absoluto, vibrada pelos governadores, vice-reis, capites-mores e pelos padres da companhia; povo flagelado por todas as extorses nunca fomos, nem somos ainda uma nao culta, livre e original. (Romero, Slvio. Histria da Literatura Brasileira. 1881.)

3. O Brasil surge e se edifica a si mesmo, mas no em razo do desgnio de seus colonizadores. Eles snos queriam como feitoria lucrativa. Contrariando as suas expectativas, nos erguemos, imprudentes, inesperadamente, como um novo povo, distinto de quantos haja, deles inclusive, na busca de nosso ser e de nosso destino. (...) Somos um povo novo, vale dizer um gnero singular de gente marcada por nossas matrizes, mas diferente de todas, sem caminho de retorno a qualquer delas. Esta singularidade nos condena a nos inventarmos a ns mesmos, uma vez que j no somos indgenas, nem transplantes ultramarinos de Portugal ou da frica. (Ribeiro, Darcy. O Brasil como problema.1995.)

4. No conhecemos proletariado, nem fortunas colossais que jamais se ho de acumular entre ns,graas aos nossos hbitos e sistema de sucesso. Nem argentarismo, pior que a tirania, nem pauperismo, pior que a escravido. (...) O Brasil jamais provocou, jamais agrediu, jamais lesou, jamais humilhou outras naes. (...) A estatstica dos crimes depe muito em favor dos nossos costumes. Viaja-se pelo serto sem armas, com plena segurana, topando sempre gente simples, honesta, servial. Os homens de Estado costumam deixar o poder mais pobres do que nele entraram. Magistrados subalternos, insuficientemente remunerados, sustentam terrveis lutas obscuras, em prol da justia, contra potentados locais. (...) Quase todos os homens polticos brasileiros legam a misria a suas famlias. (Affonso Celso. Porque me ufano de meu pas. 1900.)

5. () Se tu vencesses Calabar! / Se em vez de portugueses, / - holandeses!? / Ai de ns! / Ai de ns sem as coisas deliciosas que em ns moram: / redes, / rezas, / novenas, / procisses, - / e essa tristeza, Calabar, / e essa alegria danada, que se sente / subindo, balanando, a alma da gente. / Calabar, tu no sentiste / essa alegria gostosa de ser triste! (Lima, Jorge de. Poesia Completa, vol. 1.) 6. O pau-brasil foi o primeiro monoplio estatal do Brasil: s a metrpole podia explor-lo (ou terceirizar o empreendimento). Seria, tambm, o mais duradouro dos cartis: a explorao s foi aberta iniciativa privada em 1872, quando as reservas j haviam escasseado brutalmente. Explorao no o termo: o que houve foi uma devastao, com a derrubada de 70 milhes de rvores. Como que confirmando a vocao simblica, o pau-brasil seria usado, em setembro de 1826, para o pagamento dos juros do primeiro emprstimo externo tomado pelo Brasil. Ao deparar com o Tesouro Nacional desprovido de ouro, d. Pedro I enviou Inglaterra 50 quintais (3t) de toras de pau-brasil para leilo-las em Londres. A esperana do Imperador de saldar a dvida com o pau-de-tinta esbarrou numa inovao tecnolgica: o advento da indstria de anilinas reduzira em muito o valor da rvore-smbolo do Brasil. Os juros foram pagos com atraso. Em dinheiro, no em paus. (Bueno, E. (org). Histria do Brasil. Empresa Folha da Manh. 2 ed. 1997.) 7. Jamais se saber com certeza, mas quando os portugueses chegaram Bahia, os ndios brasileiros somavam mais de 2 milhes - quase trs, segundo alguns autores. Agora, dizimados por gripe, sarampo e varola, escravizados aos milhares e exterminados pelas guerras tribais e pelo avano da civilizao, no passam de 325.652 - menos do que dois Maracans lotados. (...) A idade mdia dos ndios brasileiros de 17,5 anos, porque mais da metade da populao tem menos de 15 anos. A expectativa de vida de 45,6 anos, e a mortalidade infantil de 150 para cada mil nascidos. Existem pelo menos 50 grupos que jamais mantiveram contato com o homem branco, 41 dos quais nem sequer se sabe onde vivem, embora seu destino j parea traado: a extino os persegue e ameaa. (Bueno, E. (org). Histria do Brasil. Empresa Folha da Manh. 2 ed. 1997.) 8. H um Cdigo de Defesa do Consumidor, h leis que cuidam do racismo, do direito de greve, dos crimes hediondos, do juizado de pequenas causas, do sigilo da conversao telefnica, da tortura, etc. O pas cresceu. (Carvalho Filho, L. F. Folha de S. Paulo. 3 de outubro de 1998.)Comentrios sobre o Tema A

No Tema A 99, esperava-se que o candidato usasse o fato da comemorao dos quinhentos anos de descobrimento como motivo para um balano do processo histrico que resultou na nao brasileira que somos hoje, optando por um dos tantos enfoques sugeridos pela coletnea. Ele no deveria, portanto, restringir-se ao acontecimento histrico denominado descobrimento do Brasil nem somente dissertar sobre fatos recorrentes do Brasil atual.11

redao 1 fase

Pelos textos apresentados na coletnea, era possvel desenvolver uma dissertao, fazendo, dentre outros, os seguintes balanos possveis: I - Balano favorvel q A nao brasileira pode considerar-se verdadeiramente emancipada, em termos tnicos e culturais, no sentido de ter desenvolvido uma cultura prpria, ou mesmo de ser uma raa diferente. Na coletnea, essas posies so defendidas pelos dois textos que propem os balanos mais otimistas para o pas: o de Darcy Ribeiro, para quem os elementos indgena, portugus e africano se combinaram em uma nova etnia, que j no se confunde com nenhuma daquelas; e o de Affonso Celso, para quem haveria uma ndole brasileira, profundamente pacfica e radicalmente avessa ganncia e explorao. q A herana portuguesa foi positiva para a cultura brasileira. O poema Calabar, de Jorge de Lima, aponta dois traos da cultura brasileira que teriam sido irremediavelmente perdidos se os holandeses tivessem tido sucesso em sua invaso do sculo XVII: a forte presena do catolicismo em suas devoes religiosas e festas populares, e a fora dos sentimentos e das emoes. O candidato poderia acrescentar ainda outras marcas portuguesas na cultura brasileira, como a lngua, a cordialidade, a forma de lidar com a diversidade racial, etc. q Somos hoje uma nao com uma sociedade civil amadurecida, como apontam algumas leis mais ou menos recentes que zelam pela convivncia social: o Cdigo de defesa do consumidor, as leis que cuidam do racismo, dos crimes hediondos, etc. q O candidato poderia usar os fragmentos da coletnea que fazem um balano desfavorvel e contestar as opinies e informaes que eles veiculam.

II - Balano desfavorvel O candidato poderia lembrar que a histria que remonta ao descobrimento de Cabral foi por muito tempo a de um pas-colnia. Para um autor como Slvio Romero, o Brasil era, e seria por muito tempo, uma nao inculta, dependente e servil, arrastando um atraso de origem colonial. Ao passado colonial remonta tambm a mentalidade predatria que provocou a dizimao das populaes indgenas e que levou explorao descontrolada dos recursos naturais (FSP, Histria do Brasil). Pode-se mostrar outras permanncias do passado colonial, como a m distribuio da renda e a espoliao do povo pelos mais abastados (Slvio Romero). q O candidato poderia ainda usar os fragmentos da coletnea que fazem um balano favorvel e contestar as informaes ou opinies que eles trazem.q

q

III - Meio termo O candidato poderia usar os fragmentos da coletnea, favorveis ou desfavorveis, e desenvolver uma terceira posio, levando em conta, de maneira equilibrada, os elementos fornecidos pelos fragmentos.

Para que tudo isso fique mais claro para voc, h, a seguir, alguns exemplos de redaes1 com alguns comentrios. O primeiro exemplo um texto que est razoavelmente adequado s possibilidades de desenvolvimento do tema. Vejamos:Exemplo de redao

500 anos e pouco mudou Ao chegar ao Brasil os portugueses encontraram matas, ndios e uma cultura diferente. Baseados na explorao, destruram o pau-brasil, aprisionaram os ndios e invadiram a cultura. Somos, portanto, desde o perodo colonial, vtimas da explorao e violncia, instrumentos estes que no conseguiram apagar nossa alegria exclusiva, mas certamente, colocaram-nos como nao pobre e submissa nestes quase 500 anos de existncia do pas. O Brasil uma nao grande e diferente: mistura de raas, aglomerado de culturas fundidas em uma s, verdadeira e simblica. Caracterizado como alegre e despreocupado o brasileiro , na verdade, um exemplo de povo sofrido, submetido, desde o incio, explorao econmica externa e s diferenas sociais internas cuja base encontra-se na distribuio desigual da terra e da renda em que parcela mnima detm o poder e o consumo e a maioria vive o problema da fome e misria.v1

A reproduo de todas as redaes fiel escrita dos candidatos

12

Na realidade, em 500 anos, o Brasil foi palco de muitas violncias. Destrumos nossas matas, polumos nossos rios, permitimos que a seca devastasse o nordeste. Concomitamente a civilizao exterminou seus ndios e, a cada dia, a nao mata de fome e desprezo muitos de seus filhos na medida em que faltam educao e alimentos, mas sobram injustias e desigualdades. Portanto o Brasil , mesmo depois de 500 anos, uma nao ainda dominada, seja pelo capital externo ou pelas desigualdades e injustias de sua prpria nao. Assim, pode-se dizer que somos o fruto das relaes do passado, que fizeram da cultura, os costumes, os problemas e o povo do Brasil de hoje.

Comentrios

Vejamos alguns problemas encontrados nessa redao. A passagem do primeiro pargrafo para o segundo muito abrupta, faltando a necessria articulao. O candidato fez consideraes gerais sobre a explorao portuguesa no primeiro pargrafo e inicia o segundo falando da mistura de raas que constitui o pas. Mas, em seguida, retoma a questo da explorao para dizer que o brasileiro , na verdade, um exemplo de povo sofrido, submetido, desde o incio, explorao econmica externa e s diferenas sociais internas.... O que faltou, portanto, foi explicitar de alguma forma a introduo da primeira idia do segundo pargrafo sobre a nao grande e diferente, que, na viso do candidato, uma avaliao equivocada do pas, j que ele o v de maneira diferente, como ficou claro no final do seu pargrafo. Outro deslize de articulao ocorreu na passagem do segundo para o terceiro pargrafo, que se inicia com a expresso na realidade. Ora, essa expresso traz em si uma idia de contraposio com algo dito imediatamente antes. Mas, se observarmos o final do segundo pargrafo, vemos que o candidato est descrevendo alguns problemas, como a distribuio desigual da terra e da renda, que acabam gerando fome e misria. No terceiro, ele continua citando problemas, com uma diferena: os problemas apontados agora so de outra natureza (violncia, destruio de matas, extermnio dos ndios). Talvez, um alm disso coubesse melhor para articular tantos problemas. A expresso na realidade cria a expectativa de que o candidato v negar o que havia acabado de dizer e, como observamos, no foi o que aconteceu. Independentemente de ter esses problemas de articulao, possvel entender a linha de pensamento do candidato. Ele tem uma opinio sobre o tema: abordou a idia de que somos fruto da colonizao exploradora realizada pelos portugueses, de que somos uma nao pobre e submissa, vtimas da explorao e violncia. Todo o seu texto serviu para ele dizer, de diferentes formas, a mesma coisa: somos o fruto das relaes do passado, que fizeram da cultura, os costumes, os problemas e o povo do Brasil de hoje. Para que sua idia se sustentasse, trouxe alguns elementos da coletnea. H remisses ao fragmento 6, sobre a explorao do pau-brasil, ao fragmento 7, sobre a questo indgena, ambos no primeiro pargrafo, e ao fragmento 2, sobre a distribuio desigual da terra e da renda, no pargrafo 2. Ainda sobre o extermnio dos ndios, o candidato estabelece, no pargrafo 3, uma relao entre esses e os pobres de hoje, que a cada dia, a nao mata de fome e desprezo. Tambm houve uma tentativa de articulao do fragmento 3, sobre a questo da identidade, mas, como apontamos, ficou um pouco solta em seu texto, mesmo porque, logo em seguida, o candidato volta ao seu tpico central que dizia respeito s conseqncias da explorao sempre presente no pas. De um modo geral, pode-se dizer que essa redao, apesar de ter alguns deslizes de articulao, cumpre a tarefa de fazer um balano do processo histrico que resultou na nao que somos. O candidato poderia ter aprofundado sua opinio a respeito da explorao econmica vigente em diferentes pocas de nossa histria, fazendo uma anlise de todo o processo. Da forma como o fez, praticamente repetiu o que consenso geral sobre o Brasil. Isso no significa um erro, mas tambm no caracteriza uma opinio bem desenvolvida sobre o tema. Garante ao candidato, no entanto, um desempenho dentro da mdia. Faltam quinhentos e tantos dias para os quinhentos anos do Brasil. Quem, ao ouvir esta frase, no se lembra da fatigante contagem regressiva da Rede Globo? Como se sabe, toda contagem regressiva leva a alguma coisa; ou a um acontecimento, ou a uma comemorao como o caso. Mas uma reflexo a respeito disso leva a uma pergunta: O que ser comemorado em menos de dois anos, em abril de 2000? A resposta imediata : os quinhentos anos do Brasil! Mas isso no certo. No se sabe com certeza nem a data nem a forma como ocorreu o descobrimento do maior pas da Amrica do Sul. Se a razo da festa fosse apenas a data histrica, esta j no teria tanto sentido. Por outro lado, o que a Rede Globo e o Brasil esto comemorando o pas de hoje. Um lugar onde havia apenas ndios, hoje tem uma economia forte, uma grande populao, grandes indstrias. Antes havia escravido e hoje os negros so livres e felizes. Conquistou-se leis para os trabalhadores e pobres, alm de hoje haver at eleio direta. Realmente hoje o Brasil outro.

Exemplo de redao

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No entanto, uma viso menos ufanista e mais realista, mostrar que a evoluo houve, mas esta foi da pior maneira possvel. Os ndios que antes dominavam esta terra, hoje fazem parte de uma minscula parcela da populao. Se um dia o Brasil deixou de ser colnia para se tornar Reino Unido, para se tornar um pas, isso aconteceu porque era interessante para a parcela poderosa da populao. A razo ideolgica contribuiu muito pouco para isso. A economia brasileira que antes exportava matria-prima para importar produto manufaturado, hoje importa produtos mais modernos. inegvel que a indstria brasileira cresceu, mas 99% das grandes indstrias so multinacionais estrangeiras que se por um lado geram empregos, por outro levam o lucro para seus pases de origem. As grandes indstrias brasileiras so em sua maior parte estatais que esto sendo privatizadas (inclusive as que geram lucro) preos no muito justos e em leiles de legitimidade questionvel. Alm do mais a poltica econmica atual, no a ideal para que o pas cresa. Quanto ao aspecto social, houve, sem dvida, enormes conquistas por parte dos brasileiros. Mas deve-se lembrar que essas conquistas foram na maioria das vezes tardias se comparadas com outros pases. Alm do mais a desigualdade social, o racismo e a m distribuio de terras so problemas vigentes at hoje. ento, por estes fatores que se questiona a comemorao dos quinhentos anos do Brasil. A grande modificao que seria digna de comemorao seria o fim do pensamento individualista para um pensamento mais coletivo por parte dos governantes do pas. A frase: Tudo deve mudar para ficar como est ainda vlida hoje, como foi vlida nesses quinhentos anos e foi a responsvel pelas modificaes brasileiras. at compreensvel que a Rede Globo comemore o meio milnio do Brasil, mas para a maioria da populao no h outra razo se no a duvidvel data histrica. Se daqui a 250 anos o Brasil tiver solucionado boa parte dos problemas que tem hoje, esta seria uma data muito mais digna de comemorao do que a atual. Esteticamente no ficaria to bonito, mas seria mais justo. O fato que nesses quinhentos anos o maior pas da Amrica Latina evoluiu bastante, mas no o suficiente que justifique uma comemorao. Ainda no.

Comentrios

Essa redao um bom exemplo de reflexo analtica sobre a questo proposta. O candidato introduz seu balano do processo histrico brasileiro no questionamento que faz sobre a validade de comemorao dos 500 anos em abril de 2000. Se a data questionvel, como ele aponta no segundo pargrafo, mostrando a leitura que fez do fragmento 1, a razo da festa deve ser outra. E ele segue tecendo consideraes sobre quais poderiam ser os motivos reais para as comemoraes. Na verdade, s comemorariam aqueles com uma viso ufanista de um pas que, ironicamente, realmente outro: e a Rede Globo teria motivos, ento, para comemorar. Mas o candidato contrape a essa viso ufanista a sua viso da realidade e, nesse momento do seu texto, realiza uma avaliao, um balano sobre vrias questes: os ndios, hoje, so uma pequena parcela; os interesses de uma certa elite foram os motivadores da emancipao do pas de colnia para Reino Unido; se h indstrias, muitas so multinacionais e as estatais esto sendo privatizadas; aponta ainda que a poltica econmica atual do pas no contribui para o seu crescimento. No campo social, as conquistas foram tardias se comparadas com outros pases. Alm do mais a desigualdade social, o racismo e a m distribuio de terras so vigentes at hoje. nesse balano que percebemos a leitura que o candidato fez de alguns fragmentos da coletnea. Relembremos que a Prova de Redao do Vestibular Unicamp avalia, de modo especial, alm da sua capacidade de escrita, sua capacidade de leitura. Voc deve, portanto, ler com cuidado a prova, mesmo porque um bom texto resultado de uma leitura atenta da apresentao do tema e dos fragmentos da coletnea. De qualquer forma, voc no precisa (nem mesmo deve) utilizar-se de todos os fragmentos da coletnea. Alis, a seleo de alguns fragmentos deve obedecer a um projeto de texto elaborado antes da escrita da redao. No se trata de utilizar quantitativamente a coletnea, mas sim qualitativamente. A coletnea especifica o tema, trazendo informaes e argumentos sobre ele, para que, a partir disso, voc possa desenvolver sua reflexo. Sendo assim, preciso formar uma opinio, num primeiro momento, sobre o tema. Em seguida, tendo feito uma leitura cuidadosa da coletnea, voc deve dela selecionar os argumentos que sustentem a sua opinio. Alm disso, voc tambm pode trazer outros argumentos de seu conhecimento para construir seu texto. O candidato, autor da redao analisada, utilizou idias decorrentes da leitura do fragmento 7 (sobre a questo indgena), do fragmento 8 (sobre o crescimento do pas), do fragmento 6 (sobre a explorao de matria-prima brasileira e endividamento externo) e do fragmento 2 (sobre a m distribuio de terras e desigualdade social), relacionando-as com outros fatores de seu conhecimento sobre as diferentes situaes passadas pelo pas ao longo de seus 500 anos. Seu balano no nada positivo. Alis, ao apresentar sua viso da realidade, ele critica o fato de

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haver uma viso ufanista do pas que encontre motivos para comemorar. O candidato questiona, dessa forma, as comemoraes, propondo que somente haveria motivos para comemorar se a postura dos governantes fosse menos individualista e se realmente modificaes fossem feitas, no seguindo a mxima, ironicamente lembrada, segundo a qual tudo deve mudar para ficar como est. Para ele, portanto, no haveria motivos ainda para tal comemorao. A respeito dessa redao, pode-se dizer que seu autor analisa a questo seguindo uma linha clara de raciocnio: ao iniciar, destacando a contagem regressiva da Rede Globo e, em seguida, ao descrever o que estaria sendo comemorado por essa emissora, o candidato revela sua opinio sobre isso. No h motivos reais para comemoraes, a no ser os que a Rede Globo veicula mas que, na perspectiva irnica do candidato, expressa no terceiro pargrafo, adquirem uma outra conotao, especialmente se atentarmos para o balano negativo que ele faz no quarto e no quinto pargrafos de sua redao.Exemplo de redao

O Brasil se construiu com base numa histria de distores. A sociedade contempornea o resultado de um longo processo de erros, mentiras e grandes problemas no resolvidos. A moldura da histria brasileira marcada pelas injustias e desigualdades que assolam este pas. O festival de enganaes comea com o descobrimento e segue firme ao longo dos sculos. Descoberto pelos portugueses, o Brasil se inseriu nos quadros do Antigo Sistema Colonial, satisfazendo aos interesses externos! Na poca de colnia comearam as grandes desigualdades sociais, marca registrada da nao. A opresso social, com o nico interesse de preservar a hegemonia de uma pequena elite, o bero das terrveis injustias que caracterizam a sociedade. Explorado pela metrpole, o Brasil tomava o rumo da inevitvel dependncia econmica. O papel dos colonizadores foi colocar o pas no caminho do subdesenvolvimento. Vrios so os exemplos de falseamento ideolgico no Brasil colnia perpetuados pela histria. O descobrimento em si contm uma farsa: jamais foi casual, como a histria quis fazer acreditar. Da em diante vieram outras mentiras, referentes a diversos aspectos: os contatos com os indgenas, a escravido e o trfico negreiro, os interesses dos colonizadores, a misso da igreja de trazer o cristianismo para os povos pagos daqui. H at a falsa idia de que, fosse o Brasil colonizado por outra metrpole Inglaterra ou Holanda -, no seria economicamente atrasado. Ora, os interesses seriam os mesmos, e a preocupao com a populao pobre e oprimida seria igualmente nula. Veio a independncia e cresceram os espaos para o agravamento da situao. Que independncia era aquela em que se preservavam todos os interesses externos em detrimento da real emancipao poltico-econmica? Manuteno da escravido, crescimento constante das desigualdades, descaso das autoridades. Tanto na Monarquia como na Repblica os problemas endmicos do pas permaneceram: concentrao de terras e de renda, inexistncia de oportunidades para a maioria, pobreza, fome, analfabetismo, desemprego. E as distores esto sempre presentes, de acordo com os interesses dos grupos dominantes, tentando mostrar que o pas vai bem. Foi assim na poca da ascenso do caf, na Era Vargas, no golpe militar com o milagre econmico e, atualmente, no Plano Real. Efetivamente, houve fases de relativa prosperidade, com melhorias em alguns aspectos. Mas em nenhum momento houve ruptura com os laos histricos de subordinao externa; nunca foram tomadas medidas para cortar pela raiz os problemas do Z Povo. Diante de um quadro histrico to assustador, as perspectivas de futuro e a situao presente podem parecer extremamente perversas. Afinal, so enormes os problemas da gente brasileira e no so nada animadoras as relaes do Brasil com os pases desenvolvidos: endividamento crescente, insegurana dos investidores, dficit comercial. Os erros histricos so fatores determinantes no Brasil de hoje. H, contudo, um elemento fundamental nesse povo sofrido, nesse pas de contrastes. um elemento que mantm o pas na expectativa de um futuro melhor, indispensvel para tornar o Brasil grande, como so grandes suas riquezas, seu territrio e sua gente. Esse elemento a esperana. Aliada fora de vontade para mudar, para fazer o pas crescer, para trabalhar, a esperana pode conduzir o Brasil a uma nova histria, livre das amarras impostas pelos sculos de dificuldades. A linha argumentativa dessa redao se constri sobre uma idia que norteia todo o texto: a de que o Brasil caracterizado por uma histria de distores, por um festival de enganaes, cujas conseqncias determinam o Brasil de hoje. O candidato soube organizar os vrios fatos pertinentes para construir sua argumentao nesse sentido. Ao articular com segurana fatos do passado histrico a fatos da realidade presente, demonstrou ser um bom leitor da coletnea, alm de ser um conhecedor da histria do Brasil, da qual seleciona alguns elementos importantes para construir sua argumentao. Um exemplo disso est no pargrafo 2. O candidato toma as caractersticas da colonizao como causadoras da situao atual. Se hoje existe dependncia econmica, ela era inevitvel, segundo o

Comentrios

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candidato, dada a forma pela qual o Brasil foi explorado pela metrpole. Alm disso, cita as desigualdades sociais iniciadas j na poca da colnia e que hoje constituem marca registrada da nao. E ainda: A opresso social, com o nico interesse de preservar a hegemonia de uma pequena elite, o bero das terrveis injustias que caracterizam a sociedade. O descobrimento do Brasil a primeira farsa, na avaliao do candidato o inseriu num caminho de dependncia econmica. Mesmo se tivesse sido outra metrpole, ele avalia que o resultado seria o mesmo. Sua leitura do poema de Jorge de Lima revela esta interpretao: seria ingenuidade pensar o contrrio, Calabar no teria a soluo. Outras mentiras so exemplificadas no terceiro pargrafo. Apesar de no haver nenhum fragmento da coletnea sobre a questo da escravido dos negros e sua abolio tardia no Brasil, relevante no esquec-la na hora de fazer um balano. E o candidato lembra-se dela por duas vezes: no terceiro pargrafo, quando enumera outras mentiras, entre as quais, a escravido e o trfico negreiro, e no quarto pargrafo, quando fala em manuteno da escravido, mesmo depois da proclamao da independncia. Entre as outras mentiras encontram-se ainda os contatos com os ndios e a misso da igreja de trazer o cristianismo para os povos pagos daqui, o que deixa entrever a leitura que se fez do fragmento 7. Em seguida, o candidato avalia a independncia como outra farsa, j que preservava os interesses externos em detrimento da real emancipao poltico-econmica. Os fatores elencados na seqncia remetem s vrias questes abordadas por Slvio Romero: concentrao de terras e de renda, inexistncia de oportunidades para a maioria, pobreza, fome, analfabetismo, desemprego. Perceba que o fragmento 2 datado de 1881, mas seu contedo ainda muito atual. Esse candidato notou isso ao dizer que tanto na Monarquia como na Repblica os problemas endmicos do pas permaneceram. O problema que tudo isso distorcido, segundo ele, para satisfazer os interesses dos grupos dominantes, que tentam mostrar que o pas vai bem. Poderamos dizer que isso tem a ver com a viso ufanista veiculada no fragmento 4, de Affonso Celso. H distores ainda em outros momentos: o candidato lembra de vrios exemplos, ao longo da histria, mostrando a continuidade, a perpetuao do festival de enganaes: Foi assim na poca da ascenso do caf, na Era Vargas, no golpe militar com o milagre econmico e, atualmente, no Plano Real. Seu balano histrico mostra, portanto, uma tendncia constante, em toda a constituio de nossa histria, a mentiras. Em apenas um momento, algumas consideraes sobre melhorias em alguns aspectos so classificadas como fases de relativa prosperidade pelo candidato, porque nunca provocaram ruptura com os laos de subordinao externa. O sexto pargrafo mostra a situao atual, nada animadora, articulada aos erros histricos. Dessa forma, mais uma vez, a anlise do candidato mostra que quem somos hoje resulta de um longo processo histrico, ou seja, ele soube responder e de forma muito sofisticada questo proposta pelo tema.Exemplo de redao

Um Brasil em formao Quando se fala em um pas, um processo natural a formao de uma idia estereotipada na mente de qualquer pessoa. Esta associao tende a uma generalizao demasiada e raras vezes condizente com a realidade. A Holanda tem moinhos e liberdade s drogas em Amsterdam. J a Inglaterra conta com a respeitvel Rainha Elizabeth II e tambm com os Hooligans que aterrorizaram Paris. De forma anloga, o Brasil est associado a mulatas, futebol, natureza exuberante, alm de adjetivos recorrentes como paraso fiscal e pas pacfico com democracia racial. Mas generalizaes, no raro, tendem ao erro. A criao de mitos sempre acompanhou nossa histria. O primeiro foi Cabral e sua chegada acidental costa brasileira. Pesquisas vieram esclarecer que outro navegador chegara antes ao pas, fato que desmonta a farsa do desvio na rota de Cabral s ndias. No obstante, tal desvio sempre fora duvidoso, tendo base nas mudanas no Tratado de Tordesilhas poca da expanso ultramarina. Outro mito que nos pertence o do pas sem racismo. Nada to longe da realidade. A disparidade salarial entre negros e brancos ultrajante. Alm disso, os ndios, primeiros habitantes dessa terra, hoje, lutam por reservas na floresta Amaznica e enfrentam dificuldades. Algumas tribos permanecem desconhecidas aos brancos, escondidas no interior da selva, e, desta forma asseguram sua sobrevivncia. Esse conjunto de dados reais apontam para um Brasil com vrios povos ainda no integrados, fugindo ideal miscigenao que, alm de racial, deveria ser cultural. Falta-nos o respeito mtuo. Muito se fala em pas pacfico. No ser preciso mencionar a guerra civil que os brasileiros vivem nas ruas diariamente, fugindo de assaltantes, desconfiando da polcia. Todavia, mesmo no plano internacional, no merecemos tal caracterizao. O Brasil massacrou o Paraguai na pouco comentada Guerra do Paraguai. Se no carregamos a fama de assassinos como os nazistas alemes, devemos agradecer inexistncia de um Spielberg made in Paraguai.v

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H que se citar nossa persistente posio de colnia. Nossa independncia foi poltica, mas nunca financeira. Portugal utilizou nosso pau-brasil para pagar dvidas com a Inglaterra, e, h alguns meses, vendemos nossas estatais visando o pagamento de dvida externa. Por independncia econmica, sofremos o imperialismo americano e somos pressionados a aceitar o ALCA. Entretanto, nosso mito mais desonroso est na poltica. H no pas polticos presenteados com total impunidade para seus atos, que no se esforam para construir um pas melhor. Nossas leis so obsoletas e permitem uma srie de ilegalidades pela falta de rigor. A falta de fiscalizao nos confere o ttulo de paraso fiscal, e essa viso veiculada pelo globo. Mas no podemos deixar de fazer ressalvas. A maioria dos brasileiros quer ajudar a transformar nosso pas. Em meio a tantos mitos e verdades perde-se a noo do caminho a seguir. Enquanto dizem que nosso nacionalismo s vem tona no Carnaval e na Copa do Mundo de Futebol, organizamos campanhas contra a fome e violncia. Temos protestos, manifestaes, lutamos por um novo pas. A falha integrao de nossos povos vem dando lugar unidade em esperanas por mudanas. Em 500 anos de Brasil, ou muito mais quando consideramos o perodo somente de ndios, a realidade do Brasil extremamente complexa. E exatamente essa complexidade que garante sermos nicos. Um pas com calor humano, gente alegre e sofrida, honesta e desonesta. Somos um pas em formao.Comentrios

Ao procurar responder questo quem somos, o candidato discute os vrios mitos que, segundo ele, caracterizam certas vises estereotipadas do Brasil. O que ele quer defender que definies genricas tendem ao erro. Portanto, ao responder a essa questo, no pode incorrer no mesmo erro. Sua argumentao, ento, construda no sentido de descaracterizar os vrios mitos que, ao longo de nossa histria, foram construdos. Para isso, ele se utiliza de vrios fatos histricos que desmentem os mitos, alguns trazidos da leitura da coletnea, e outros, de seu prprio conhecimento. O primeiro foi o do descobrimento, com a chegada acidental de Cabral s terras brasileiras. O candidato o desmentiu ao reproduzir as informaes que lera no fragmento 1 sobre a chegada de outro navegador no Brasil antes de Cabral. Alm disso, menciona o Tratado de Tordesilhas que, da maneira como foi feito, deixou pistas de que havia j um conhecimento de nossas terras. Outro mito o do pas sem racismo, denunciado pela disparidade salarial existente entre negros e brancos como exemplo gritante de que ainda h racismo. Aponta tambm para a questo dos ndios, que enfrentam dificuldades e s sobrevivem, muitas vezes, porque algumas tribos permanecem desconhecidas aos brancos. Embora o candidato no tenha trazido diretamente os dados do fragmento 7 sobre o extermnio dos ndios, possvel perceber a referncia a esse fragmento na desconstruo que ele est fazendo do mito do pas sem racismo. Como isso poderia ser verdade, se a histria do pas revela, por exemplo, a falta de respeito com a cultura indgena? o que se pode concluir das entrelinhas do pargrafo 3. Outro mito altamente difundido, segundo o candidato, de que o Brasil seria um pas pacfico. Pode-se dizer que esse mito est de alguma forma caracterizado no fragmento 4, de Affonso Celso, especialmente no trecho O Brasil jamais provocou, jamais agrediu, jamais lesou, jamais humilhou outras naes. O candidato, para refut-lo, lembra a violncia existente nas ruas, denominada por ele como guerra civil, descrevendo um exemplo da falta de paz nacional; tambm menciona as atrocidades ocorridas na Guerra do Paraguai, como um exemplo de violncia cometida pelo Estado brasileiro. O mito da independncia contestado a seguir: nunca tivemos independncia financeira. O fato de o pau-brasil ter sido utilizado por Portugal para pagar juros da dvida (fragmento 6) foi comparado pelo candidato s privatizaes que hoje ocorrem com a mesma finalidade. A relao estabelecida entre a utilizao do pau-brasil para pagamento da dvida e as atuais privatizaes retrata a perpetuao da dependncia econmica existente no Brasil que, por sua vez, descaracteriza o mito da independncia. O ltimo mito diz respeito poltica. O candidato no explicita qual seria esse mito, mas poderamos imaginar que deva ser algo relacionado questo da honestidade dos nossos governantes, expressa no fragmento 4: Os homens de Estado costumam deixar o poder mais pobres do que nele entram. Magistrados subalternos, insuficientemente remunerados, sustentam terrveis lutas obscuras, em prol da justia, contra potentados locais. (...) Quase todos os homens polticos brasileiros legam a misria a suas famlias, especialmente porque sua argumentao se d com a denncia de que h polticos que so presenteados com total impunidade. Alm disso, nossas leis so obsoletas e permitem uma srie de ilegalidades pela falta de rigor comenta o candidato. E a falta de fiscalizao confere-nos o ttulo de paraso fiscal. Portanto, possvel dizer que ele est refutando, mais uma vez, as afirmaes de Affonso Celso. Pode-se dizer que essa redao caracterizada por um ponto de vista definido desde o seu incio. O candidato sabia o que queria dizer a respeito do tema e o fez com propriedade, mostrando, atravs dos mitos que descreveu e, principalmente, que desconstruiu, sua avaliao sobre vrios fatos histricos que resultaram na nao que somos. Fica claro que o ponto de vista do candidato o de que no se deve

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generalizar ou veicular nenhum mito na definio do pas. A resposta questo quem somos extremamente complexa. E exatamente essa complexidade que garante sermos nicos afirma o candidato, fazendo uma referncia quase que explcita ao que diz Darcy Ribeiro sobre a nossa singularidade: Somos um povo novo, vale dizer um gnero singular de gente marcada por nossas matrizes, mas diferente de todas, sem caminho de retorno a qualquer delas. Podemos imaginar que o que motivou esse candidato a escrever seu texto foi a leitura atenta do fragmento 3, de Darcy Ribeiro. No somos ainda um pas pronto, ainda que existam muitos mitos que tentem nos estereotipar. Segundo Darcy Ribeiro, estamos condenados a nos inventarmos a ns mesmos e justamente essa idia que o candidato transmite ao longo da redao e, explicitamente, ao termin-la afirmando que Somos um pas em formao.

AnulaesExemplo de redao anulada

Intrigas no pas maravilha Onde vivemos? Quem somos? Perguntas to simples tornam-se complexas medida em que ns analizamos o nosso passado e o passado de nosso pas. Mentiras, verdades assustadoras e, principalmente, a omisso de tantas outras verdades fazem com que a gente pense e relacione o passado com o presente, sem deixar o futuro de lado. Mas o presente horrvel! Temos ainda hoje, famlias passando fome, pessoas desonestas e, principalmente, pessoas l em cima que agem com indiferena. Pessoas essas, que ainda manipulam os menos favorecidos atravs de uma mdia sem escrpulos, que glorifica o nosso pas-maravilha. O mais engraado e, ao mesmo tempo, triste que isto no est nos nossos livros de histria ou geografia, pois est bem em nossa frente. Os fatos mudam, pessoas so assassinadas, o desemprego aumenta e a sade precria. Isso sim nossa verdadeira histria

Comentrios

A redao Intrigas no pasmaravilha um exemplo de desenvolvimento equivocado: o candidato no utilizou nenhum fragmento da coletnea. O que encontramos so algumas idias sobre o Brasil de hoje, referidas genericamente, sem que um balano do processo histrico caracterizador da situao retratada tivesse sido feito. Como j dissemos, muito mais do que avaliar apenas sua escrita, o Vestibular Unicamp avalia sua capacidade de leitura. Da a presena da coletnea. Desprez-la, como esse candidato fez, contrariar uma das especificaes da tarefa pedida. No nos resta outra alternativa seno a de anular textos como este.

Caso freqente de anulao

Meu Pas O Brasil um pas rico em recursos naturais e possui uma populao pobre em sua maioria. A grande maioria da populao recebe um ensino educacional de m qualidade, que deixa muito a desejar. A educao que o brasileiro recebe o que o faz ainda ser um pas de terceiro mundo. Um pas que tem na educao a base de seu planejamento, com certeza um pas de primeiro mundo com uma nao respeitada e admirada por todos. Temos como exemplo disto os E.U.A. e o Japo. O Brasil, infelizmente, teve governos que no utilizaram a educao como meta principal, e hoje somos o que somos: uma nao que ainda possui milhares de analfabetos, uma nao onde a metade dos eleitores no tem, ao menos, o primeiro grau do ensino bsico (o voto obrigatrio) e uma nao que possui escolas onde o ensino muito deficiente. Em relao parte financeira, nosso pas muito injusto. As pequenas empresas, que so as nacionais e as maiores geradoras de emprego, se vem com a menor fatia do bolo no mercado financeiro. Elas no conseguem competir com as multinacionais e ainda se atolam nos impostos que tm que pagar. Concluso: o nosso dinheiro vai parar, mais uma vez, na mo de estrangeiros... As coisas andam meio invertidas por aqui! A educao que a base de uma nao, no est sendo vista, ainda, com sua devida importncia. As empresas nacionais continuam perdendo para as estrangeiras. Precisamos mudar este quadro com urgncia. Apesar das notcias que correm nos jornais serem assustadoras, acredito que o Brasil um pas que pode dar certo, mesmo tendo sido explorado tanto e por tanto tempo. Acho que estamos querendo comear a crescer, e precisamos de contar, no somente com a colaborao do governo, mas de toda populao brasileira. Recursos naturais ns temos de sobra! Basta sabermos utiliza-los com inteligncia e sabedoria para este pas se tornar um pas de primeiro mundo e uma grande potncia.

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Comentrios

Esse um exemplo tpico de redao que somente retratou questes da atualidade do Brasil. Se nos perguntarmos onde est o balano do processo histrico que resultou na nao que somos, no encontraremos resposta e, infelizmente, esse foi o caso de muitos candidatos que apenas descreveram o Brasil de hoje. Como voc deve saber, o Vestibular Unicamp, em sua prova de Redao, prope uma tarefa que, se no for cumprida, implica a anulao da redao. Portanto, essa redao foi anulada por no responder tarefa pedida, isto , tarefa de fazer um balano histrico da constituio do pas.

Exemplo de redao anulada

0, 100, 200, 300, 400, 500 anos Faltam 687 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 686 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 685 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 684 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 683 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 682 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 681 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 680 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 679 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 678 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 677 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 676 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 675 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 674 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 673 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 672 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 671 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 670 dias para os 500 anos do Brasil. Faltam 669 dias para os 500 anos do Brasil. E da ser que quando o Brasil completar quinhentos anos vai mudar a nossa situao?

Comentrios

Existem muitos equvocos sobre o que seja escrever uma boa redao em um Exame Vestibular. preciso esclarecer que textos como este decorrem de uma falsa compreenso do que seja criatividade na escrita e que esta criatividade no um dos traos considerados positivos para avaliar redaes. O que no pode ser esquecido que h uma tarefa a ser realizada pelos candidatos, especificada na proposta de redao, para cada um dos trs tipos de texto. Se um candidato opta por fazer o tema A, dever desenvolver uma dissertao. Se fizer uma poesia ou uma narrativa, ter sua redao anulada. Assim tambm ocorre nos outros dois tipos de texto. Se a opo for o tema B, o que se espera a construo de uma narrativa, assim como se a opo for o tema C, o candidato dever escrever uma carta argumentativa.

Tema BImagine-se nesta situao: um dia, ao invs de encontrar-se no ano de 1998, voc (mantendo os conhecimentos de que dispomos em nossa poca) est em abril de 1500, participando de alguma forma do seguinte episdio relatado por Pero Vaz de Caminha: Viu um deles [ndios] umas contas de rosrio, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lanou-as ao pescoo. Depois tirou-as e enrolou-as no brao e acenava para a terra e ento para as contas e para o colar do capito, como que dariam ouro por aquilo. Isto tomvamos ns assim por o desejarmos; mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto no queramos ns entender, porque no lho havamos de dar. (Caminha, Pero Vaz de. Carta a El Rey Dom Manuel.)

Redija uma narrativa em 1 pessoa. Nessa narrativa, voc dever:a) participar necessariamente da ao; b) fazer aparecer as diferenas culturais entre as trs partes: voc, que veio do final do sculo XX, os ndios e os portugueses da poca do descobrimento.

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Comentrios sobre o Tema B

No Tema B 99, esperava-se que o candidato, considerando os conhecimentos de algum do fim do sculo XX, construsse um narrador que participasse de alguma forma do episdio narrado por Caminha. Assim sendo, esperava-se que fossem exploradas, de forma relevante, as diferenas culturais entre portugueses, indgenas e algum dos dias de hoje, observveis, por exemplo, em fatos como os seguintes: q os portugueses aliavam aos interesses econmicos um certo intuito religioso. Eram catlicos e pretendiam, ao conquistar a terra, cativar os nativos para sua religio. Da a presena dos elementos ligados liturgia catlica: a cruz, o rosrio, etc. q embora no entendessem com que tipos de seres estavam lidando (at que ponto seriam humanos?), os portugueses sempre viram nos ndios seres menos dotados e facilmente enganveis; q os portugueses no concebiam seres sem malcia e sem noo de pecado e, por isso, espantavamse de ver os ndios nus, a viver sem nenhum constrangimento; q ao defrontarem-se com os brancos com suas vestes e embarcaes vistosas, os ndios acreditavam que eles viessem de um mundo superior (dos deuses) e que, por isso, eles detivessem poderes mgicos. Alm da compreenso da seqncia de aes do ndio (atrado pelas contas de um rosrio, pede-as para si e envolve-as em seu pescoo; a seguir, tira-as da e enrola-as no brao; acena para a terra, para as contas e tambm para o colar do capito), o aluno deveria levar em conta que Caminha supe que os ndios trocariam aquilo (as contas e o colar) por ouro. Essa suposio tem a ver com o possvel dourado do colar (corrente ou cordo) do capito. Deveria ficar claro para o candidato tratar-se de uma suposio fundada num desejo dos portugueses e no no significado real dos gestos do ndio.

Exemplo de redao

A roda nua de lanas. Pequeno pnis com adornos na glande. Lana e cip, cip. Levanto os olhos, rostos franzidos, expresses endurecidas. Mas os olhos inquietos os denunciaram. Estou procurando, procuro, procuro. Mas que azul esse? Cu pleno. ndios? Sim, ndios. ndios e lanas. O cheiro do dia denso, quente. Olho-os fixamente. E, pela primeira vez, vejo homens em roupas pesadas, ornados com brases e listas douradas. Minha nudez, tambm estou nu, meus plos todos pontilhados de areia. Meu Deus. Meu Deus. Fico repetindo baixinho, fecho os olhos, meu Deus. Ainda no sei, um ndio passa ao meu lado, gargalha, seus msculos duros bastante protuberantes. O que est havendo? Minha nudez, minha aliana, at minha aliana fora do dedo. Ouo o sorriso confuso da tarde, os ndios se afastam. Levanto-me. Ancorados no mar, navios solenes, grandes. Um, dois, onze navios. Mas... caravelas? Sim, caravelas. Eu, caravelas ancoradas no mar, ndios nus, eu nu, homens fardados em veludo vermelho, espadas paralelas s pernas. Olho os ndios minha frente. Aproximam-se dos homens brancos cheios de ornamentos. To solenes quanto as caravelas. E a minha relutncia, no, no quero compreender, pelo menos no agora. Estou com medo. Mas por que no me tocaram, por qu? No sei, pouca coisa entendo. Poucos ndios de olhos arregalados e s vezes rindo ao redor dos homens de veludo. Percebo que falam portugus, foi alvio o que senti? Ou foi uma comiserao grossa, uma dor to repentina que me fez confundir o que sinto? A verdade comea a desnudar-se aos poucos, fecho os olhos para no v-la. Caminho em direo ao grupo, h dezenas de grupos de homens de veludo e ndios nus pela praia. Um ndio aponta com curiosidade para um rosrio esbranquiado, acho que so prolas. Toca-o com cautela, retrai o brao. O homem aveludado retira-o do pescoo, estende-o ao ndio, o qual comea a rod-lo nas mos, sorrindo. Depois aponta para um colar de pedras verdes que pende pelo pescoo de um homem um pouco afastado do grupo. Nesse instante, abaixo-me, j sentindo a acidez de minhas lgrimas quentes. Meu Deus, no acredito. Um misto de dor e dio, fantasia e areia quente lesando meus ps. O dio como pretexto, mas por que esses homens todos de veludo, todos solenes e transpirando? Perplexos, perplexo o ndio, sob a proteo de sua nudez quase agressiva, em busca do rosrio. E eu nu. Nu. A nudez de compreender o que agora vejo. Ser que estou deixando de me ser? Transformei-me em qu? Em pompa de caravela. Os rostos jorrando suor, os portugueses, j no me quero. Meu Deus, o que isso? Solido. Agora eu sei eles no me vem. O ndio insiste, a voz anavalhada urrando pelo colar esverdeado. O silncio repentino. Uma sbita compreenso: no se tocam. E o choro retorna intenso, o rosrio vai destru-los. Eles no me vem. Ontem, a lana, a cuia, o beijo. Hoje, o rosrio de prola e as roupas de veludo. Amanh, no meu hoje, a escria, a ciso do mundo, a destruio de corpos feridos. Meu corpo nu ferido. A sensao de culpa, a calma diante da crueldade da minha situao. Acordei no momento em que se corrompe a pureza, a inocncia, a simplicidade. Estou me tornando um cmv

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plice? No sei, e eles no me vem. Nenhum deles. Nenhum deles. Mas eu vejo, estou frente. Estou no meu hoje. Posso lanar meus olhos comiserados para eles. Entender! Entender por que estou aqui, por que no me vem, no me interessa. Apenas me di o que vejo. O que vejo me entristece, me enlouquece, extrai de mim o desejo de entender como tudo isso aconteceu. Enxergo a face, a areia arranha a minha pele. O rosrio no brao do ndio, como pulseira. Se ao menos pudesse arrancar de seu pulso aquelas prolas malditas! Contraste engraado. E, num sbito segundo de dio e amor enlouquecidos, corro em direo ao ndio, agarro o rosrio, puxo-o com fora. As prolas estilhaadas caem sobre a areia. Esto todos imveis, o mar inerte. E, sobre a areia, brilhando esperanosas, as contas de prola quietas sob o sol incerto do cu nu. Como eu.Comentrios

No tema B deste ano pediu-se uma narrativa em primeira pessoa. O autor deste texto no s utilizou esse foco narrativo, como tambm centrou o desenvolvimento da histria na figura do narradorpersonagem, algum do sculo XX que, de repente, v-se em 1500 diante de ndios e portugueses daquela poca. As idias e sentimentos desencontrados que se alternam em sua mente so enfocados desde a primeira frase, quando, atravs da descrio daquilo que ele v, ns, leitores, somos atirados mesma sensao de estranhamento com que ele se depara. A partir desse incio inquietante, as descobertas vo se acumulando numa vertigem crescente (a viso do cu aberto, dos ndios, dos portugueses, a descoberta da prpria nudez) que atinge o seu pice no momento em que o narrador percebe que no pode ser visto pelos outros. Neste momento, todos os indcios que se acumulavam revelam a verdade que ele se recusava a compreender: o fato de que ele est realmente presenciando o primeiro contato entre ndios e brancos no pas, o incio da destruio de toda uma cultura, a corrupo da pureza, da inocncia e da simplicidade dos ndios e no pode fazer nada para impedir que isso acontea. Porm, diante da possibilidade de tornar-se cmplice por no agir, o narrador toma uma atitude desesperada: corre em direo ao ndio e arranca-lhe o rosrio do pulso. O texto se encerra com esse gesto, e o leitor fica suspenso entre a convico de que o esforo foi intil, j que o nosso mundo permanece inalterado, e a esperana de que algo tenha se transformado, esperana refletida no brilho das prolas sob o sol incerto do cu nu. O trabalho do candidato, no entanto, no se restringe excelente caracterizao das idas e vindas na conscincia do narrador, em que se alternam a perplexidade, a inquietao, a vergonha, a comiserao, a dor e o dio; tudo no texto construdo de forma a que essas sensaes tenham peso e cor. O tempo da narrativa, por exemplo, presentifica a ao: as frases nominais no incio do texto, assim como os verbos no presente (levanto os olhos, procuro, olho-os), faz com que o leitor adira conscincia do narrador e se envolva como ele nos acontecimentos; assim, a sua surpresa e perplexidade tambm a nossa, tambm nosso o dio iminente destruio. O progressivo entendimento da situao em que o narrador se encontra d-se no apenas atravs das suas reflexes, mas tambm com uma pertinente descrio do cenrio. A primeira imagem da narrativa a roda nua de lanas, seguida pelo pequeno pnis com adornos na glande tanto uma quanto a outra j prenunciam a descoberta futura da nudez do protagonista, que retomada habilmente no ltimo pargrafo, com o cu nu. desnecessrio chamar a ateno para a funo simblica dessa nudez, remetendo pureza e a inocncia dos ndios, que sero inevitavelmente corrompidas; clara funo simblica tem tambm a ausncia de aliana no dedo do narrador, em contraposio ao rosrio que o ndio amarra no brao como pulseira e que j denota a sua submisso. Se o narrador, o espao e o tempo esto unidos organicamente para compor o enredo dessa narrativa, tambm as personagens so muito bem caracterizadas: descrio precisa e detalhada do protagonista, com a clarificao crescente da sua conscincia atravs da alternncia de diversas idias e sensaes, acrescenta-se a descrio mais sucinta, mas no menos precisa, dos ndios e dos portugueses. Atravs de detalhes que vo se acumulando (os rostos franzidos, as expresses endurecidas, os msculos duros, os olhos arregalados, os gestos cautelosos e a voz anavalhada dos ndios; as roupas de veludo vermelho, as espadas, os ornamentos, o suor e o ar solene dos portugueses), as figuras vo pouco a pouco ganhando forma e consistncia. Concluindo a leitura deste texto, observamos que, alm de construir uma narrativa em que todos os elementos esto integrados num enredo que cumpre com excelncia o que se pede na proposta do tema B, o candidato no se limita a assinalar as diferenas entre as trs culturas envolvidas no encontro (a do protagonista proveniente do sculo XX, a dos portugueses e a dos ndios); interpreta o valor simblico dos objetos envolvidos na troca percebe que o rosrio de prolas apenas o incio da ciso do mundo, v claramente o momento do encontro entre portugueses e ndios como o momento da corrupo da pureza, da inocncia e da simplicidade: o rosrio vai destru-los. E, no ltimo gesto do protagonista, na tentativa pattica de alterar a histria, marca o seu repdio a tudo isso.

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v

Exemplo de redao

Delrio Histrico No me lembro bem de como tudo comeou. A ltima coisa de que me lembrava era que estava numa roda de amigos discutindo sobre a campanha dos 500 anos do Brasil da Globo, quando me vi na pele do cachorro de um marinheiro. Estvamos em alto-mar e a embarcao parecia bem antiga, alis, no s a embarcao como os tripulantes tambm. Estes pareciam que nunca tinham tomado banho, digo isso pelo cheiro que chegava a me enjoar. Eles usavam umas roupas estranhas e falavam algo que parecia portugus. Resolvi dar uma volta pelo barco, at que percebi que de alguma forma eu tinha vindo parar na nau que descobriria o Brasil. Dito e feito, no dia seguinte chegamos ao Novo Mundo. Ficamos rodeando a costa por algum tempo, apreciando aquela magnfica cobertura verde. Aqueles navegantes nem imaginavam que toda aquela floresta seria devastada no futuro e a importncia de se preservar a natureza. Foi quando algum avistou ndios na praia. O capito mandou ancorar o barco e ordenou alguns outros, que estavam passando vinagre no poro, embarcar algumas mercadorias num barco menor. Nunca entendi porque eles passavam vinagre no poro mas tambm no liguei muito. No barco pequeno ia o capito na frente, o escrivo, o padre e trs marinheiros. Eu tambm fui, s que escondido no meio das coisas. No perderia aquilo por nada. Quando todos desembarcaram, dei um jeito de encontrar uma fresta para observar. O padre entregou seu rosrio a pedido de um ndio, que brincou um pouco com as contas e apontou para o colar do capito. Como nada fizera, devolveu o rosrio ao padre e ficou a observar um estranho pssaro. Um dos marinheiros, a mando do capito, veio at o barco pegar a galinha que estava a meu lado e que o ndio tanto olhava. Percebi que esse marinheiro tinha o corpo coberto por feridas e estava meio plido. Se no recebesse tratamento logo, provavelmente morreria. Quando chegou perto dos nativos, ele jogou a ave em sua direo. Eles ficaram assustados, no por terem jogado a galinha neles mas nunca terem visto antes um pssaro no saber voar. Foi quando o padre sugeriu ao capito que realizasse uma missa. A primeira, neste solo recmdescoberto. Aproximaram-se de uma pedra enorme e ficou s o padre a falar, todos se sentaram e se colocaram a ouvir, inclusive os ndios. Fazia um calor insuportvel e eu queria sair debaixo daquele peso. Aquela era minha chance, sair enquanto todos rezavam. Maldita hora em que resolvi sair. Enquanto me dirigia a mata fechada, um outro grupo de nativos, esses com lanas, arcos e flechas, me viu e comeou a correr atrs de mim. Disparei feito um foguete em direo ao barco quando tropecei e desmaiei. Acordei no sof, de volta ao sculo vinte, rodeado pelos mesmos amigos da discusso, com uma tremenda dor de cabea. Eles me explicaram ento que eu tinha escorregado na escada da adega e ficava latindo o tempo todo. Nunca expliquei a eles a inslita experincia que tive. Aqui o candidato cumpre o que foi pedido: constri uma narrativa do ponto de vista de algum do sculo XX, considerando as diferenas entre a sua cultura, a dos portugueses e a dos ndios. Essas diferenas, porm, limitam-se aos aspectos mais superficiais: as roupas estranhas e o mau cheiro dos portugueses, o espanto e a agressividade dos ndios. Mesmo nos momentos em que o narrador poderia contrapor os seus conhecimentos aos dos homens do sculo XV, ele se limita a observaes ingnuas: aqueles navegantes nem imaginavam que toda aquela floresta seria devastada no futuro e a importncia de se preservar a natureza; se no recebesse tratamento logo, provavelmente morreria. O fato de o protagonista ter se transformado num cachorro, que poderia ter sido explorado como efeito cmico ou como estopim para maiores complicaes na trama, no desenvolvido, e acaba se tornando quase irrelevante. Ainda com relao figura do narrador, no h nenhum espanto, nenhuma perplexidade, quando ele percebe que voltou no tempo. A prpria percepo desse retorno (ao contrrio do texto anterior, em que a situao ia se tornando mais clara pouco a pouco, em meio dvida e inquietao do protagonista) simples e sem conflitos: Resolvi dar uma volta pelo barco, at que percebi que de alguma forma eu tinha vindo parar na nau que descobriria o Brasil. O episdio do encontro entre ndios e portugueses tampouco apresenta qualquer conotao maior que a de um simples episdio pitoresco a ser descrito; no h sequer um esboo de interpretao do significado daquela troca. Assim, embora este texto cumpra corretamente a tarefa proposta, ele no vai alm disso, e estamos longe da complexidade e da sutileza presentes na narrativa anterior.

Comentrios

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Exemplo de redao

O olhar srio Era uma quarta, estvamos prximos das comemoraes escolares para o dia do descobrimento do Brasil e por isso nosso professor de histria pediu para que abrssemos o livro no referido assunto. GRRR!! Eu odiava histria, principalmente as roupas bregas daqueles que apareciam nas enciclopdias como heris do passado. Oras, descobrir o Brasil, grande coisa!! Eu viajo todos os anos para a Europa! Meu pai vive mais no Japo do que aqui! No consigo imaginar o porqu de tamanha admirao... Bem, j que a aula no acabava, resolvi tentar participar e comecei a fixar os olhos na figura de Pedro Alvares, nosso descobridor. Figura que nosso mestre insistia: Vejam meus alunos, o olhar srio, vindo do orgulho por ter descoberto as riquezas desta nao! Olhei, olhei at ver a figura piscar. Piscar?! Levantei a cabea e em volta de mim j no se encontravam mais as carteiras, o ventilador, as paredes! Olhei para a frente e dei de cara com a figura que segundos atrs piscava mas que agora bradava comigo: O que fazes com estas estranhas vestimentas hein marujo!? Deixes para l, v e se troque pois estamos atracando em terra desconhecida! Meio atordoado, vesti as roupas que me deram. Os outros do navio tambm me olharam atordoados mas o interesse pela terra era maior. Tudo era estranho pois s haviam cordas, barris, trapos! Onde estariam as mquinas, os interruptores, o computador de bordo? Minha confuso durou at grito cort-la: capito, os marujos esto voltando da nova terra! Para surpresa geral vinham com eles, adivinha s, ndios! Minha face ostentava o mesmo espanto que a dos nativos, pelados e vermelhos, muito vermelhos. Eu ainda estava espantado quando vi os ndios se acomodarem a ponto de pedirem umas contas de rosrio brancas que estavam sobre um caixote. Um deles colocou a pea no pescoo enquanto sinalizava para o colar do capito. Sinalizava alis, como se propusesse uma troca. Percebi no ar dos lusitanos a mudana de expresso de espanto para sorrisos e perguntei para o capito o motivo da alegria. A resposta estava no fato de que achavam que os nativos dariam ouro em troca das peas e uma frota encaminharia-se para a terra para efetuarem o negcio. Horas depois estavmos, eu e os marujos, em terras do novo lugar, alis, belssimo lugar. Avistei alguns animais que segundo meu professor de biologia j eram extintos. Lamentei a lembrana pensando na crueldade do homem quando um estouro caminhou no ar! BUM, gritavam as ferozes espingardas portuguesas pois acabavam de descobrir a no existncia do ouro. Onde j se viste, trocar um rosrio por um punhado de frutas!! Vamos companheiros, ensinar ao hereges o valor da nossa gente! Gritava o encarregado da expedio. Aps a matana, voltamos para a caravela e fixei de novo na figura de Cabral que sabendo do ocorrido e principalmente da no existncia de ouro, sustentou um olhar srio, o mesmo olhar que o professor se referia... Foi nessa hora que olhei para o lado e vi a mudana: tudo tinha voltado inclusive os alunos e o professor. Eu no estava mais com as antigas vestimentas e passado todo o susto comecei a prestar ateno no professor que voltava a tecer elogios sobre o olhar de Cabral. Este um exemplo de texto que, a partir de um nico elemento, constri todo o seu enredo. Neste caso, o elemento, como j nos indica o prprio ttulo, o olhar srio de Cabral: no momento em que o v piscar, durante a aula de histria, que o narrador-personagem atirado ao passado, e a ele que retorna no final da narrativa, numa estrutura circular. Desde o incio do texto j se contrapem aqueles que sero os dois plos da narrativa: o olhar desconfiado e irreverente do narrador, um estudante que odeia histria e que no v nenhum sentido na glorificao dos descobridores do Brasil, e o olhar srio e solene de Cabral, que sintetiza a viso corrente, defendida pelo professor, de que os portugueses teriam sido bravos heris. Atravs da narrao daquilo que ele presencia em sua volta no tempo, o protagonista gradualmente desconstri essa imagem herica: mostra o interesse exclusivamente econmico dos portugueses e a sua hipocrisia ao caracterizar os ndios como hereges no em razo de sua religio, mas quando descobrem que eles no tm ouro. As diferenas temporais soam um pouco foradas: o narrador estranha no encontrar um computador de bordo no navio (estranharia se se tratasse de um navio da nossa poca?) e encontra alguns animais que segundo meu professor de biologia j eram extintos sem especificar que animais seriam esses. H uma tentativa de marcar as diferenas entre o protagonista e os portugueses atravs da fala destes, mas o candidato se engana, cometendo um deslize gramatical, ao colocar na boca de um deles a frase onde j se viste. De qualquer maneira, a interpretao dos interesses ocultos dos portugueses e das conseqncias desse primeiro encontro para o futuro dos ndios bem clara. Com o retorno da narrativa figura inicial de Cabral e do seu olhar srio, mostra-se que era justificada a desconfiana inicial do narrador e que os elogios tecidos pelo professor so um grande equvoco.

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redao 1 fase23

AnulaesExemplo de redao anulada

De volta ao passado Diario de vos: 12 de abril de 2000. Tudo pronto. Doutor Vitor relatando Apos 20 anos de pesquisa eu desenvolvi a maquina do tempo que H. G. Wells sempre sonhou, e estou prestes a vaze a primeira viagem temporal da historia; destino: abril de 1500; lugar: caravela de Cabral. Essa maquina tem mesmo principio do tele-transporte, so que ao inveis de se transportar para o destino ele tambm o eleva para uma epoca definida. Doutor o reator esta pronto. Bem hora de partir. Iniciar seqncia de transporte! 5...4...3...2...1 ativar! Vejo meu laboratrio sumir e um deposito aparecer. Terra a vista! Gritou algum la fora. Computador iniciar hologramas de ambientao. Pronto Doutor. Vamos ver o Brasil original. No mais do que 6 horas tinham se passado e ns ja tinhamos desembarcado. Alguns homens levaram um susto com o que na nossa epoca comum, homens e mulheres semi-nus, o que para o indio normal pois ele no tem o pudor do branco, o mais engraado que na nossa epoca nos vestimos assim com obijetivos sexuais. Agora uma coisa que nunca muda so as festas dos brancos, enquanto que para o indio a festa religiosa, para o branco farra com muita bebida alcoolica e sexo. ... Fez uma semana que estamos aqui e eu posso ver o orgulho do branco por ser civilisado, vejo como eles fazem os indios de bobos, enchem a cara deles de alcool, estrupam as mulheres e at alguns homens, nessa epoca brincadeira, na minha epoca crime. Vou voltar pois no consigo ver mais essas atrocidades contra esse povo ingenuo. Computador, inicie seqncia de retorno. Embora haja aqui um narrador pertencente ao sculo XX que volta at 1500 e presencia a diferena entre as trs culturas (atendo-se sobretudo ao aspecto moral: contrape o pudor dos portugueses naturalidade dos dias atuais com relao nudez; a pureza e a religiosidade dos ndios nossa sociedade que valoriza o sexo e a farra com muita bebida), esta redao foi anulada porque o candidato desconsiderou completamente o episdio de troca narrado por Caminha, que era parte da proposta do tema B e no podia ser ignorado. Haviamos acabado de desembarcar vindos de portugal. Saimos em um cortejo, liderado pelo capito com o intuito de explorar o interior das terras que a pouco tempo haviam sido descobertas. Recebendo orientaes da rota que deveria seguir, passei a liderar o grupo. Seguimos pelas colnias e trilhas existentes, at que acabei avistando um deles. O capito tomou-me a frente demonstrando ser o lder. O ndio acenando, pegou umas contas de rosrio e colocou-as no pescoo, passando a gesticular de modo estranho; nenhum de nos entendiamos. Tirando as contas do pescoo, o ndio as enrolou no brao passando a acenar para a terra, para as contas e para o colar do capito; gestos que demonstravam estar disposto a levar as contas e o colar. Fingimos no entender o desejo do ndio pois no iriamos lhe dar as contas e o colar. Acabei passando acreditar que o ndio nos daria ouro em troca daquilo. Se observarmos o que vem especificado no item b da proposta: fazer aparecer as diferenas entre as trs culturas: voc, que veio do final do sculo XX, os ndios e os portugueses da poca do descobrimento, notamos que o candidato no cumpriu o que lhe foi pedido. Nada nesta narrativa indica que o narrador seja algum proveniente do sculo XX; pelo contrrio: o modo como ele age e se insere na histria leva a crer que se trata de apenas um membro da tripulao portuguesa, sem nenhum conhecimento do futuro.

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Exemplo de redao anulada

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Tema CFaa de conta que voc tem um amigo em Portugal que confia muito em voc e que estava pensando em passar uma temporada no Brasil e talvez at em migrar. Suponha tambm que, recentemente, ele lhe tenha escrito uma carta dizendo que est pensando em abandonar tal projeto, em conseqncia das notcias sobre o Brasil que tem lido ultimamente. Para justificar-se, ele incluiu na carta a seguinte amostra de manchetes, que o impressionaram, publicadas com destaque em menos de um ms, em um nico jornal:q

FALTAM GUA, LUZ E TELEFONE NAS ESCOLAS, DIZ PESQUISA DO MINISTRIO DA EDUCAO (Folha de S. Paulo, 16 de setembro de 1998) METADE DOS ELEITORES NO TM 1 GRAU (Folha de S. Paulo, 20 de outubro de 1998) BRASIL CAMPEO DE CASOS DE DENGUE, LEPRA E LEPTOSPIROSE NAS AMRICAS (Folha de S. Paulo, 21 de setembro de 1998) MISERVEIS SO 25 MILHES (Folha de S. Paulo, 26 de setembro de 1998) 83% SO ANALFABETOS FUNCIONAIS (Folha de S. Paulo, 26 de setembro de 1998) PARTOS DE MENINAS AUMENTARAM 81% NO RIO (Folha de S. Paulo, 29 de setembro de 1998) SP DESPEJA NA RUA UM TERO DE SEU LIXO (Folha de S. Paulo, 4 de outubro de 1998)

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Escreva-lhe uma carta na qual, colocando em discusso as manchetes acima, voc tenta convenc-lo de que, apesar de haver de fato problemas, a imagem que se faz de nosso pas, a partir do noticirio, parcial, e que, portanto, continua valendo a pena vir para o Brasil.

Comentrios sobre o Tema C

O candidato atento s caractersticas do tema C deve ter notado que o de 99 trouxe uma peculiaridade em relao aos anos anteriores: tradicionalmente, pedia-se que fosse redigida uma carta a destinatrios conhecidos, quer atravs da mdia (Fernando Collor, Marta Suplicy, Antnio Ermrio) quer atravs da coletnea (Sr. E.B.M., General Nilton Cerqueira, etc....). Em outras palavras, para que a imagem do interlocutor fosse construda, o candidato dispunha de informaes que o mundo real lhe fornecia, ou que a prpria prova lhe apresentava. A tarefa do Tema C 99, no entanto, apresentou como interlocutor nada mais, nada menos que o ilustre senhor...AMIGO?? Como assim? Para um amigo, eu escreveria uma carta contando as novidades da minha vida, perguntaria como vai a vida dele, faria algumas confidncias, recordaria alguns episdios da nossa amizade. Mas como poderia esta minha carta ser argumentativa!? Com