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seminário internacional Finanças na produção imobiliária e de infraestruras: novos processos espoliativos nas cidades latino americanas CADERNO DE RESUMOS Instituto de Estudos Avançados (IEA) 30 de setembro e 01 de outubro 2 de outubro Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Rua da Biblioteca, 200 - Cidade Universitária Rua do Lago, 876 - Cidade Universitária Apoio: Organização:

CADERNO DE RESUMOS - Universidade de São Paulo

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Page 1: CADERNO DE RESUMOS - Universidade de São Paulo

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seminário internacional

Finanças na produção imobiliária e de infraestruras:novos processos espoliativos nas cidades latino americanas

CADERNO DE RESUMOS

Instituto de Estudos Avançados (IEA) 30 de setembro e 01 de outubro

2 de outubroFaculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

Rua da Biblioteca, 200 - Cidade Universitária

Rua do Lago, 876 - Cidade Universitária

Apoio:

Organização:

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USPReitor: Prof. Dr. Vahan AgopyanVice-Reitor: Prof. Dr. Antonio Carlos Hernandes

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO - FAUUSPDiretora: Profª. Dr.ª Ana Lucia Duarte LannaVice-Diretor: Prof. Dr. Eugênio Queiroga

INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO - IAU-USP Diretor: Prof. Dr. Miguel Antônio Buzzar Vice-Diretor: Prof. Dr. Joubert Jose Lancha

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - UNI-FESP Reitora: Profª. Dr.ª Soraya Soubhi Smaili Vice-Reitor: Prof. Dr. Nelson Sass

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC - UFABC Reitor: Prof. Dr. Dácio Matheus Vice Reitor: Prof. Dr. Wagner Carvalho

CENTRO DE ENGENHARIA, MODELAGEM E CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CECS/UFABC Diretor: Prof. Dr. Harki Tanaka Vice-Diretora: Profª. Drª. Maria Gabriela da Silva Martins Cunha Marinho

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São PauloRua do Lago, 876 - São Paulo - SP - BrasilCEP 05508-080Telefone: +55 11 3091 4795Página web: http://www.fau.usp.br/

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seminário internacional

Finanças na produção imobiliária e de infraestruras:novos processos espoliativos nas cidades latino americanas

CADERNO DE RESUMOS

São Paulo, SP - Brasil

ORGANIZAÇÃOProfª. Dr.ª Maria Beatriz Cruz Rufino (FAUUSP)Prof. Dr. Paulo Cesar Xavier Pereira (FAUUSP)Profª. Drª. Luciana Ferrara (CECS-UFABC)Prof. Dr. Guilherme Petrella (UNIFESP-IC)Profª. Drª. Lucia Shimbo (IAU-USP)

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SUMÁRIO

Apresentação

Comissões

ProgramaçãoSessões TemáticasConferencistasMesas Redondas

Resumos

06

09

10142225

31

ST 1 Financiamento e produção de infraestrutura

ST 2 Produção imobiliária e reestruturação metropolitanaST 3 Projetos urbanos sob domínio das finançasST 4 Fundos de Investimento e as transformações na produção imobiliáriaST 5 A articulação entre a Habitação e as PPPsST 6 A propriedade em transformação na produção do espaçoST 7 Condomínio: forma de propriedade e racionalidade neoliberalST 8 Natureza na Produção Imobiliária e de Infraestruturas

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497392113131150166

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O seminário se colocou como uma terceira etapa no desenvolvimento da interlocução de pesquisadores, e avançou no debate internacional iniciado com a Escola de Ciência da USP, que aconteceu em 2017 com o título Produção imobiliária e infraestrutura: desigualdade, financiamento e planejamento territorial na América Latina1 e ampliado no Seminário Internacional Financeirização e estudos urbanos: olhares cruzados Europa e América Latina, que aconteceu em São Carlos, em 2018. O objetivo principal do presente Seminário foi aprofundar o debate sobre a crescente aproximação no tempo e no espaço da produção de infraestrutura e o imobiliário, compreendendo as transformações recentes de reforço dos processos de privatização e suas implicações na acumulação capitalista e reprodução social. Sustenta-se que a unificação dos estudos sobre infraestruturas e serviços urbanos, imobiliário e políticas públicas sob predomínio de lógicas financeiras pode ajudar na compreensão dos processos de reestruturação particulares às cidades latino-americanas, onde essas supostas relações hegemônicas prenunciam com mais força os efeitos desses processos em termos de produção de desigualdade. Buscou-se, numa perspectiva multidisciplinar, ampliar o conhecimento sobre essa condição nova, com preocupações teóricas e de método. Nesse sentido o seminário visou articular estudiosos da América Latina que se debruçam sobre a produção da cidade e sua face atual de espoliação urbana e financeira, com o intuito de promover o conhecimento sobre estes processos, discutir a constituição de novas políticas e articular resistências. O Seminário Internacional organizou-se em três dias. Nos dois primeiros dias aconteceram as conferências, mesas redondas e sessões

1 https://www.revistas.usp.br/risco/issue/view/10267

APRESENTAÇÃO

Beatriz Rufino

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7

temáticas. No terceiro dia foram constituídos Grupos de Trabalho a fim de articular os dois eixos, sistematizar os principais resultados e propor desdobramentos em termos de novos projetos e publicações. O evento também abrigou em seu primeiro dia o debate sobre o livro “Imediato, global e total na produção do espaço: a financeirização da cidade de São Paulo no século XXI”2, a partir das contribuições dos Professores Jeroen Klink (UFABC); Cibele Rizek (IAU-USP) e Alvaro Pereira (UNIFESP). As conferências e mesas redondas se estruturaram em torno de dois eixos principais. O primeiro dia organizou-se em torno do Eixo 01 “Financeirização e transformações na produção imobiliária e de infraestruturas” que visava aprofundar o debate sobre políticas, estratégias, instrumentos financeiros e agentes relacionados à produção e gestão do imobiliário e das infraestruturas nas cidades latino-americanas. Procurou-se discutir neste dia a hipótese de uma importante relação entre a dominância financeira e o movimento crescente de articulação entre a infraestrutura e o imobiliário enquanto racionalidade para ampliar a acumulação via produção do espaço. No Eixo 01 pretendíamos avançar no tema “Financeirização e transformações na produção imobiliária e de infraestruturas”. A conferência de Marcelo Carcanholo trouxe importantes elementos teóricos para a discussão da valorização fictícia do capital. A mesa redonda 01 visou aprofundar o debate sobre políticas, estratégias, instrumentos financeiros e agentes relacionados a produção e gestão do imobiliário e das infraestruturas nas cidades latino-americanas. Procurou-se, assim, discutir a hipótese de uma importante relação entre a dominância financeira e o movimento crescente de articulação entre a infraestrutura e o imobiliário enquanto racionalidade para ampliar a acumulação via produção do espaço. No Eixo 2 pretendíamos avançar no tema “Transformações na lógica de apropriação da cidade, espoliação e conflitos urbanos”. A

2 A publicação está disponível em: http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/302

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conferência de Gustavo Garza trouxe uma análise aprofundada sobre a produção das condições gerais e seus reflexos na estrturação espacial e social das cidades, tomando o caso da Cidade do México. A mesa redonda 02 visou discutir as mudanças evidenciadas na reprodução social (exploração da natureza, centralidade da renda da terra, endividamento e novas modalidades de espoliação) articuladas a esses processos. A hipótese transversal a todos debates é a emergência de novos processos espoliativos, respondendo à necessidade de atualizar e problematizar o conceito de espoliação, tão caro aos estudos dos conflitos urbanos no Brasil. As sessões temáticas são resultado da chamada de trabalho. A partir da seleção, chegou-se a valiosas contribuições organizadas em torno de temáticas específicas, nas quais articulam-se as inquietações presentes nos Eixos 01 e 02. Foram 8 sessões temáticas organizadas em 4 períodos, o que ocasionou sessões paralelas. Os conteúdos e debates de cada uma das sessões temáticas foram recuperados e articulados às questões que emergiram nas conferências e mesas redondas conformando os Grupos de Trabalho do terceiro dia. Com uma proposta de debate mais horizontal, nesse dia discutimos os avanços surgidos no evento e definimos estratégias para aprofundamentos futuros.

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Profª. Dr.ª Maria Beatriz Cruz Rufino (FAUUSP)Prof. Dr. Paulo Cesar Xavier Pereira (FAUUSP)Profª. Drª. Luciana Ferrara (CECS-UFABC)Prof. Dr. Guilherme Petrella (UNIFESP-IC)Profª. Drª. Lucia Shimbo (IAU-USP)

Prof. Dr. Floriano Godinho de Oliveira (PPFH/UERJ)Profª. Drª. Márcia Saeko Hirata (UFSJ)Prof. Dr. Carlos de Campos Júnior (UFES)Prof. Dr. José Eduardo Baravelli (FAUUSP)Prof. Dr. Rodrigo Hidalgo (PUC-CHILE)Profª. Drª. Ivana Socoloff (UBA-Argentina)

Profª. Dr.ª Maria Beatriz Cruz Rufino (FAUUSP)(proponente)Prof. Dr. Paulo Cesar Xavier Pereira (FAUUSP)Profª. Drª. Luciana Nicolau Ferrara (CECS-UFABC)Prof. Dr. Guilherme Moreira Petrella (UNIFESP-IC)MSc. doutoranda Cristina Wehba (FAUUSP)MSc., doutorando Victor Iacovini (FAUUSP)Arq. Urb., mestranda Isadora Fernandes Borges de Oliveira (FAUUSP)Arq. Urb., mestrando Rafael Alves da Silva (FAUUSP)Arq. Urb., mestranda Ana Ligia Magalhães (FAUUSP)Arq. Urb., mestranda Laura Lourenção (FAUUSP)Graduanda Débora Almeida Bruno (FAUUSP)Graduanda Mariana Takechi Yoshimura (FAUUSP)Graduando Victor Martinez Correa e Sá (FAUUSP)Graduanda Isabela Rodrigues (FAUUSP)

Comissão Organizadora

Coordenação Geral

Comitê Científico

COMISSÕES

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PROGRAMAÇÃO GERAL30 de setembro a 02 deoutubro de 2019

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8h30 às 9h00 Abertura e apresentação do evento

Conferência 01Marcelo Carcanholo (FE-UFF)Debatedor: Paulo Cesar Xavier (FAUUSP)

Mesa Redonda 01: As finanças na produção do espaçoPedro Campos (DHRI-UFRRJ)Mariana Fix (IE-Unicamp)Lúcia Shimbo (IAU-USP)Ivana Socoloff (UBA-Argentina)Debatedor: Beatriz Rufino (FAU-USP)

Almoço

9h00 às 10h30

10h30 às 13h00

13h00 às 14h00

14h00 às 15h45 Sessão temática 01Financiamento e produção de infraestrutura

Sessão temática 02Produção imobiliária e reestruturação metro-politana

Sessão temática 03 Projetos urbanos sob domínio das finanças

Sessão temática 04 Fundos de Investimento e as transformações na produção imobiliária

15h45 às 17h30

Coffee break

Lançamento do Livro: Imediato, Global e Total na produção do espaço: Financeirização da cidade de São Paulo no Século XXICibele Saliba Rizek (IAU-USP)Jeroen Johannes Klink (UFABC)Álvaro Pereira (UNIFESP)Mediação: Guilherme Petrella (UNIFESP)

17h30 às 18h00

18h00 às 19h30

30/09segunda Instituto de Estudos Avançados (IEA)

Auditório (IEA)

St.01 auditório IEA

Auditório (IEA)

Auditório (IEA)

St.02 sala Alfredo Bosi

St.03 auditório IEASt.04 sala Alfredo Bosi

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16h15 às 16h30

Conferência 02Gustavo Garza Villa Real (Colmex)Debatedora: Sandra Lencioni (Geografia-FFLCH)

Mesa Redonda 02: A Produção da cidade como totalidade: Novas formas de espoliação?Ana Nuñez (CEDU-UNMP)Amélia Damiani (FFLCH-USP)Rodrigo Hidalgo (PUC-CHILE)Marcela Gonçalves (NAEA-UFPA)Debatedor: Luciana Ferrara (UFABC)

Almoço

9h00 às 10h30

10h30 às 13h00

13h00 às 14h00

14h30 às 16h15 Sessão temática 05A articulação entre a Habitação e as PPPs

Sessão temática 06 A propriedade em transformação na produção do espaço

Sessão temática 07Condomínio: forma de propriedade e racionalidade neoliberal

Sessão temática 08Natureza na produção imobiliária e deinfraestruturas

Coffe break

16h30 às 18h15

01/10terça

St.05 auditório IEASt.06 sala 11 - IEB

Auditório (IEA)

Auditório (IEA)

St.07 auditório IEASt.08 sala 11 - IEB

Instituto de Estudos Avançados (IEA)

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Síntese e desdobramentos do evento

10h30 às 13h00

13h00 às 14h00

9h00 às 10h30 Apresentação dos organizadores e formação dos grupos de trabalho

Grupos de trabalho

Apresentação dos grupos de trabalho

Almoço

02/10quarta

14h30 às 16h15

16h30 às 18h15

Estúdio 02

Estúdio 02

Estúdio 02

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAUUSP)

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St. 01Financiamento e produção deinfraestrutura

Transformações nas formas de produção de infraestruturas no contexto neoliberal e o papel das empreiteiras: discussão teórica e implicações na produção do espaço

Autor: Ana Lígia de Carvalho Magalhães

30/0914h00 às 15h45

Fundo público e investimentos em infraestrutura no Brasil: Uma análise da participação do FI-FGTS durante os governos Lula e Dilma (2007-2017).

Autores: Adauto Cardoso e Samuel Jaenisch

Financiamento do BNDES pelas instituições de crédito para infraestrutura no território brasileiro

Autores: Fernanda Goes e Rodrigo Oliveira

Apontamentos sobre a produção do espaço urbano e financiamento da infraestrutura no brasil pós 2007

Autores: Raphael B. Faustino e Luciana O. Royer

Condições gerais de produção e regimes de valor. Uma aproximação teórica sobre a questão das infraestruturas a partir do estudo do sistema detransporte em São Paulo.

Autor: Laércio Monteiro

Coordenação:Ivana Socoloff

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St. 02Produção imobiliária e reestruturação metropolitana

30/0914h00 às 15h45

Coordenação:Carlos Teixeira

A produção imobiliária de habitação coletiva e a estrutura socioespacial de Curitiba

Autor: Fabiana Martins

Reestruturação imobiliária e novas estratégias de produção do espaço metropolitano da Grande Vitória pelos condomínios industriais

Autor: Izabela Dolores Cebin Bassani

Reestruturação imobiliária e metropolização do espaço urbano: as estratégias de atuação das grandes incorporadoras de capital aberto no subúrbio carioca

Autor: Rafael Silva

Expansão, desaceleração e retração do mercado privado formal da moradia na RMSP nos anos 2000

Autores: Carolina Castro, Leticia Sígoloe Beatriz Mioto

Superprodução e valorização imobiliária no interior paulista 2001-2018

Autor: Estevam Otero

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St. 03Projetos urbanos sob domínio dasfinanças

30/0915h45 às 17h30

Coordenação:Luciana Royer

Novos padrões de governança urbana em tempos de financeirização?

Autores: Lais Stroher e Nilcio Regueira Dias

O elo da terra: vínculos entre mercantilização e financeirização nas cidades periféricas

Autor: Mariana Werneck

Do ciclo das Operações Urbanas Consorciadas às iniciativas dos Projetos de Intervenção Urbana na produção do espaço em São Paulo

Autor: Carolina Heldt D'Almeida

O nexo Estado-finanças e a formação de um complexo infraestrutural-imobiliário-financeiro na produção do ambiente construído no Brasil: umalongamento conceitual sobre a produção de grandes projetos de (re)desenvolvimento urbano.

Autor: Alexandre S. Nascimento

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St. 04Fundos de Investimento e astransformações na produçãoimobiliária

30/0915h45 às 17h30

Coordenação:Beatriz Mioto

Tijolos de papel: dimensões territoriais da isenção tributária dos fundos de investimento imobiliário no Brasil

Autor: Fernando Túlio Franco

Atuação dos fundos de pensão brasileiros no mercado imobiliário comercial: uma análise sobre tomada de decisão e evolução de estratégias de gestão deportfólio imobiliário.

Autores: Maira Ascencio e Daniel Sanfelici

A financeirização e o mercado imobiliário em São Paulo

Autor: Thaís de Souza Corrêa Netto

Reestruturação imobiliária pela lógica da financeirização e os novos produtos: analisando empreendimentos em Vitória e Vila Velha

Autor: Elizete Moreira

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St. 05A articulação entre a Habitação e as PPPs

01/10 14h30 às 16h15

Coordenação:Lucia Shimbo

A Cracolândia e o fluxo no contexto da (re)produção do espaço na metrópole de São Paulo

Autor: Ariel Machado

O Auxílio Aluguel como dispositivo de gestão: O Direito como dívida remunerada

Autor: Isadora de Andrade Guerreiro

As políticas de obscurecimento na política de habitação de interesse social

Autor: Laura Bertol

Capital fictício e novos regimes de segregação urbana no centro de São Paulo: As Parcerias Público-Privadas da Habitação na Luz

Autor: Thauany Freire

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St. 06A propriedade em transformação na produção do espaço

01/10 14h30 às 16h15

Coordenação:Guilherme Petrella

Nuevos mercados de arriendo privado: Crecimiento de los Corporate Landlords en Santiago, Chile y en São Paulo, Brasil.

Autor: Adriana Marín-Toro

A smart city em uma leitura pelo capital financeiro: um olhar para a “zona crítica”

Autor: Ricardo Baitz

A regulação estatal como agente de transformação da lógica de apropriação das cidades: a Lei 13465/17 e a financeirização da terra urbana

Autor: Tarcyla Ribeiro

Cidades assistidas e interfaces condicionantes

Autor: Dario Vargas

O público e o privado, e as o papel da terra nas transformações do espaço urbano.

Autor: Fernanda Accioly Moreira

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St. 07Condomínio: forma depropriedade eracionalidade neoliberal

01/10 16h30 às 18h15

Coordenação:Beatriz Tone

Crime, Estado e Capital: A circulação da terra no Jd. Panorama

Autor: Joaquim Bührer Campolim

A forma condomínio, suas morfologias e sua combinação com fundos de investimento imobiliário como estratégia de articulação com formasfinanceirizadas de capitalização da terra: o caso do Condomínio Cidade Jardim em São Paulo

Autores: Isabel Cezar e Paula Santoro

Educación superior, políticas públicas y espacio urbano. Trazos de la financiarización en la ciudad de Bogotá

Autor: Madisson Carmona

Os novos condomínios fechados no Grande Méier (RJ): produção imobiliária em um ciclo de valorização do solo apoiado no discurso da segurança pública

Autores: Cláudio Ribeiro e Johanna Weglinski

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St. 08Natureza naProdução Imobiliária e deInfraestruturas

01/10 16h30 às 18h15

Coordenação:Luciana Ferrara

Infraestrutura de esgotamento sanitário em Ubatuba, SP: análise da influência dos atores sociais e interesses privados

Autor: Estela Alves

Apropriação do espaço e da Natureza sobre a lógica da financeirização

Autor: Merci Pereira Fardin

Os serviços públicos como ativo: o caso Brookfield e a produção da infraestrutura no Brasil

Autor: Magaly Pulhez

Empreendimentos imobiliários, loteamentos e condomínios na região Serrana do Espírito Santo: a valorização do capital através da expansão do urbano

Autor: Rafael Santos da Luz Monteiro

Certificados de sustentabilidade ambiental. Edifícios comerciais. Mercado imobiliário – São Paulo (SP).

Autor: Raphael Grazziano

Page 22: CADERNO DE RESUMOS - Universidade de São Paulo

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PESQUISADORES CONVIDADOS E DEBATEDORES

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Marcelo Carcanholo (FE-UFF)Economista (USP, 1993), Mestre em Economia (UFF, 1996) e doutor em Economia (UFRJ, 2002). Professor Associado da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP) e Presidente da Socie-dade Latino-Americana de Economia Política e Pensamento Crítico (SEPLA). Temas de pesqui-sa: teoria marxista, teoria do valor, capitalismo, neoliberalismo, desenvolvimento e América Latina.

DebatedorPaulo Cesar Xavier Pereira (FAUUSP)Professor da FAUUSP - Faculdade de Arquitetu-ra e Urbanismo da Universidade de São Paulo no Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto, desde 1978. Dedica-se à pesquisa das condições sociais do desenvolvi-mento técnico da indústria da construção na cidade de São Paulo com ênfase na perspectiva dos Fundamentos Sociais da Arquitetura, do Urbanismo e da Urbanização. Bacharel e Mestre em Ciência Sociais pela USP, Doutor em Ciência Política pela USP (1990) com estágio em nível de pós-doutorado na Ècole d’Architecture de Grenoble (1992).

Conferência 01

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Gustavo Garza (Colmex)Economista (UANL), Mestre em Economia (Colmex) e Doutor em Economia (UNAM). Investigador Emérito do Sistema Nacional de Investigadores e Professor Emérito do Colegio de México (2016). Foi professor-investigador do Centro de Estudios Demograficos Urbanos y Ambientales do Colegio de México. Foi in-vestigador visitante em diversas instituições na América Latina, Europa e EUA. Foi membro do Painel sobre dinâmica urbana da Academia de Ciências dos EUA (1996-2003)

Debatedora:Sandra Lencioni (Geografia-FFLCH)Geógrafa, Mestre, Doutora e Livre Docente (USP, 1975; 1985; 1991 e 1998) com estágio pós-dou-toral na Université Paris I (Pantheon-Sorbonne, 1992). Professora Titular do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Temas de pesquisa: geografia, geografia humana, geografia regional, teoria da região, metrópole, indústria e São Paulo.

Conferência 02

Page 25: CADERNO DE RESUMOS - Universidade de São Paulo

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Lúcia Shimbo (IAU-USP)Graduada, mestre e doutora em arquitetura e ur-banismo pela Universidade de São Paulo (USP). Fez estágio de doutorado na Universidade de Paris 8 - Saint Denis (França) e pós-doutorado em política imobiliária e habitacional no Labo-ratório de Habitação e Assentamentos Humanos (LabHab) e sobre financeirização e produção de habitação no Laboratório de Pesquisa Interdis-ciplinar Cidade, Espaço, Sociedade (ENTPE - França). É professora do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU / USP - Brasil) desde 2011. Atualmente pesquisa-dora convidada do Collegium de Lyon 2018-2019 (Université de Lyon - França).

Ivana Socoloff (UBA-Argentina)Mestre pela EHESS (París) e Doutora em Ciên-cias Sociais (UBA). Investigadora assistente CONICET-UBA no Instituto de América Latina y el Caribe (FSOC-UBA). Também é investigado-ra do Centro Cultural de la Coopración desde 2001, com atividades de docência na UBA e na Universidade de Tres de Febrero. Investigadora convidada do Laboratório de Território, Trans-porte e Sociedade (ENPC, París) e da Equipe de Estudos “Complexo Financeiro Imobiliário da Universidade KU-Leuven (Bélgica). Seus temas de investigação cruzam questões da Sociologia Urbana e da Geografia Económica, relativos a governo de solo e transformações das cidades a partir da financeirização do desenvolvimento imobiliário.

Mesa redonda 01As finanças na produção doespaço

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Mariana Fix (IE-Unicamp)Arquiteta e Urbanista (USP, 1996), Mestre em Sociologia (USP, 2004) e Doutora em Desen-volvimento Econômico (Unicamp, 2011).Pro-fessora do Instituto de Economia da Unicamp e Coordenadora do Centro de Estudos de Desen-volvimento Econômico (CEDE/IE-Unicamp). Temas de pesquisa: economia, Planejamento urbano e regional, teoria do urbanismo, funda-mentos da arquitetura e do urbanismo.

Pedro Campos (DHRI-UFRRJ)Historiador e Mestre em História Social (UFF, 2004; 2007), Doutor em História (UFF, 2012). Professor do Departamento de História e Relações Internacionais e do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Áreas de atuação: história econômico-social, história da política externa brasileira, estado e políticas públicas e ditadura civil-militar brasileira

Debatedora:Beatriz Rufino (FAU-USP)Professora Doutora da Faculdade de Arquitetu-ra e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP). Mestre em Planeamento e Pro-jecto do Ambiente Urbano pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (2005) e doutora no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2012). Participa e coordena pesquisas em torno dos seguintes temas: reestrturação imo-biliária e urbana, financeirização da produção do espaço e políticas urbanas.

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Ana Nuñez (CEDU-UNMP)Arquiteta (UNMP, 1984), Mestre em Ciências Sociais (FLACSO, 1998) e Doutora em Ciências Sociais (FLACSO, 2007). Professora-pesquisado-ra da Área de Urbanismo da Universidad Na-cional de Mar del Plata (Argentina) e Directora del Instituto de Investigaciones en Desarrollo Urbano, Tecnología y Vivienda.

Amélia Damiani (FFLCH-USP)Geógrafa, Mestre, Doutora e Livre-Docente em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP 1975; 1985; 1993 e 2008). Professora Titular do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Hu-manas da USP. Atua na área de Geografia Urba-na, nos temas: cotidiano, urbano, urbanização crítica, produção do espaço e metrópole.

Rodrigo Hidalgo Dattwyler (PUC-CHILE)Geógrafo pela Pontificia Universidad Católica de Chile e Doutor em Geografia Humana pela Universidad de Barcelona. Professor e Chefe do Programa de Doutorado da Pontificia Universi-dad Católica de Chile e Diretor do Laboratorio Urbano. Pesquisa processos territoriais vincu-lados à conformação de espaços residenciais urbanos no Chile e na América Latina.

Mesa redonda 02a produção da cidade como totalidade: novas formas de espoliação?

Page 28: CADERNO DE RESUMOS - Universidade de São Paulo

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Marcela Vecchione Gonçalves (NAEA-UFPA)Mestre em Relações Internacionais (PUC-Rio, 2005) e PhD em Ciência Política (MacMaster University, 2014). Professora Adjunta do Núcleo de Altos Estudos da Amazônia da Universidade Federal do Pará (NAEA-UFPA). Áreas de pesqui-sa: questão indígena, relações internacionais, colonialismo, pós-colonialismo, panamazônia e fronteiras, teoria do desenvolvimento, terra e meio ambiente na América Latina.

Debatedora:Luciana Ferrara (CECS-UFABC)Professora Adjunta da Universidade federal do ABC, vinculada ao Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas e à Pós-Gradução em Planejamento e Gestão do Terri-tório Possui graduação em Arquitetura e Urban-ismo pela Universidade de São Paulo e é Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela mesma insti-tuição. Atua na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Planejamento Urbano Ambiental, principalmente nos seguintes temas: Moradia e Política Habitacional; Saneamento Ambiental e Infraestruturas Urbanas; Produção do espaço urbano e Natureza.

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Jeroen Johannes Klink (UFABC)Possui graduação e mestrado em Economia pela Universidade de Tilburg (Holanda, 1987), e dou-torado em Planejamento Urbano pela Universi-dade de São Paulo (2000). Atua principalmente nos seguintes temas: Planejamento urbano-met-ropolitano; governança metropolitana; economia urbana; financiamento urbano e financeirização. Na Holanda foi Professor Associado no In-stitute for Housing and Urban Development Studies (Universidade de Erasmus - Roterdã). No Brasil, foi Secretário de Desenvolvimento e Ação Regional da Prefeitura de Santo André e Diretor Suplente na Agência de Desenvolvimen-to Econômico do Grande ABC. Atualmente é Professor Associado na Universidade Federal do ABC (UFABC).'

Lançamento do livro: "Imediato, Global e Total na Produção do Espaço: Financeirização da Cidade de São Paulo no Século XXI"

Paulo Cesar Xavier Pereira (Organizador)Universidade de São Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Álvaro Pereira (UNIFESP)Possui graduação em Direito pela Universidade de São Paulo (2007). Obteve título de mestre (2011) e título de doutor (2016) no Departamen-to de Direito Econômico e Financeiro da Facul-dade de Direito da Universidade de São Paulo. Atualmente desenvolve programa de pós-dou-torado na Faculdade de Arquitetura e Urban-ismo da Universidade de São Paulo com apoio financeiro concedido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Desde 2018 é professor da área de Direito, subárea de Fun-damentos de Direito Público, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

publicação disponível em:

http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/302

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Cibele Saliba Rizek (IAU-USP)Professora Titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, possui graduação em Ciências Sociais pela Universi-dade de São Paulo (1972), mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988) e doutorado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1994). Atualmente é professor do Programa de Pós Graduação em Ar-quitetura e Urbanismo do IAU/ Universidade de São Paulo e pesquisadora do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania, também da Univer-sidade de São Paulo. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Outras Sociologias Específicas, atuando principalmente nos seguin-tes temas: cidades, reestruturação produtiva, habitação, espaço público e cidadania.

Mediação:Guilherme Petrella (UNIFESP)Arquiteto e urbanista pela FAUUSP em 2002. Mestre pela FAUUSP em 2009, com a disser-tação «Das fronteiras do conjunto ao Conjunto das fronteiras», publicada em forma de artigo na revista da Pós-FAUUSP (2011) e em livro pela editora Annablume e Fapesp (2012). Doutor pela FAUUSP em 2017, com a tese «A fronteira infer-nal da renovação urbana em São Paulo: região da Luz no século XXI». Professor da Unifesp Zona Leste, Instituto das Cidades. Participa de grupos de pesquisa, com a finalidade de contribuir com a crítica à economia política do espaço (indústria da construção civil, cotidianidade e urbano).

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RESUMOS

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Transformações nas formas de produção de infraestruturas no contexto neoliberal e o papel das empreiteiras: discussão teórica e

implicações na produção do espaço

MAGALHÃES, Ana Lígia de Carvalho

ST 1 Financiamento e produção de infraestrutura

Palavras-chave: formas de produção; reformas neoliberais; empreiteiras

O trabalho pretende avançar na compreensão da forma de produção de infraestruturas hegemônica no Brasil no contexto neoliberal – a partir dos anos 1990 – e as transformações em relação ao modelo desenvolvimentista das décadas anteriores. Nosso foco, dentro desta análise, é compreender o papel das grandes empreiteiras nacionais em cada contexto, levando em conta sua presença histórica e importância na formulação de políticas, legislações e modelos de participação. Buscamos nos organizar pela seguinte estrutura: primeiramente, aprofundar a compreensão sobre as infraestruturas urbanas e sua conceituação teórica, analisando as formas de produção dentro das discussões de Samuel Jaramillo, Pedro Pírez e Priscilla Connolly para melhor compreender os contextos desenvolvimentista e neoliberal e as formas predominantes em cada um. Tomamos o metrô da cidade de São Paulo como infraestrutura objeto, buscando rebater os aspectos teóricos estudados em sua produção e serviço. Seguimos nosso trabalho enfocando nas grandes empreiteiras nacionais enquanto agentes privados envolvidos na produção das infraestruturas, buscando revelar sua participação nos diferentes contextos estudados. Buscamos explicitar, por fim, as consequências das transformações estudadas para o espaço urbano construído, mais especificamente no que diz respeito ao metrô na capital paulista.Nos referimos às infraestruturas enquanto espaço urbano construído, conjunto de bens de uso coletivo que se constituem como suportes materiais da vida social nas cidades e da reprodução social aglomerada: atividades econômicas (processo de acumulação), da população (força de trabalho ou não) e atividades de governo-gestão operantes nessa reprodução (PÍREZ, 2018, p. 1). Importante olhar para esse produto da urbanização de forma separada da produção habitacional e para as particularidades em sua produção e provisão. Entendemos a centralidade que infraestruturas que se relacionam às condições de mobilidade da população e das atividades têm, e que as infraestruturas de transporte de massa passaram por representativas transformações em sua produção e provisão nesse contexto de reformas neoliberais. Neste sentido, tomar a rede de metrô da cidade de São Paulo como enfoque para nossa análise parece ser uma estratégia interessante para melhor visualizar os processos e a atuação dos agentes neles envolvidos.As “formas heterogêneas de produção-consumo da cidade latino-americana” são a combinação de modalidades (formas) específicas de produção dentre o modo de

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produção capitalista (IACOVINI, 2019). As categorias e conceitos cunhados por Jaramillo, Pírez e Connolly nos permitem olhar mais atentamente às relações sociais de produção da infraestrutura objeto analisada, nos questionando sobre o modo de funcionamento do negócio, quem o controla, qual a participação do Estado, o que se produz, onde e como se consome em cada contexto.Dentro do modelo de estado desenvolvimentista, que começa a se implementar no Brasil a partir da década de 1950, o Estado subsidia o desenvolvimento do capital industrial no país e se coloca na posição de contratante de grandes empresas para a construção de infraestruturas. Cabe ao setor público a mobilização de recursos e o planejamento global das áreas ligadas à infraestrutura e às empresas privadas contratadas, a elaboração de projetos, execução e gerenciamento das obras (CAMARGOS, 1993).Na forma de produção denominada “contratismo” (CONNOLLY, 1997), hegemônica neste contexto, o Estado conserva a propriedade da infraestrutura produzida, o direito de exploração e é o responsável direto pela promoção e financiamento da obra, contratando uma empresa privada para sua produção. É, portanto, uma forma “desmercantilizada” (PÍREZ, 2016), no sentido de haver certa limitação para a acumulação de capital a partir do controle do Estado, que promove uma “gestão mista” da produção, combinando a participação de organismos governamentais e empresas capitalistas (PÍREZ, 2009). Para Jaramillo (1982), se trata da forma de produção “capitalista estatal desvalorizada”, na qual o capital privado figura no controle técnico da construção e o capital estatal desvalorizado no controle econômico direto. O motor da produção é a reprodução da força de trabalho, a acumulação, a acumulação do capital construtor, mas também a reprodução geral das relações sociais (JARAMILLO, 1982).O modelo de Estado desenvolvimentista implementou a produção do metrô da capital paulista de forma cada vez mais centralizada na esfera federal de governo, com a participação de entes privados apenas como contratadas para as obras. A Linha 3 – Vermelha é a mais representativa deste modelo, tendo sido a Linha 1 – Azul produzida num avanço em direção a ele e a Linha 2 – Verde produzida num contexto de crise deste modelo.Desde os anos 1970 iniciam-se processos de reestruturação econômica nos países centrais do capitalismo. No Brasil, a crise do modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações desponta no final dos anos 1970 e se agrava na década seguinte, levando a mudanças no sentido de um novo modelo de Estado, consolidadas principalmente a partir da década de 1990.Três componentes são fundamentais para compreender tal reestruturação: uma mudança no modelo de intervenção estatal, com ênfase na dominação política e na acumulação do capital; a internacionalização acelerada de todos os processos econômicos a fim de incrementar a rentabilidade e abrir mercados; e a apropriação por parte do capital de uma porção cada vez maior do excedente produzido (PIREZ, 2009, p. 16). No que diz respeito aos serviços urbanos, se modificam as condições de participação dos capitais individuais, levando a uma nova orientação ao âmbito privado.

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Neste sentido, há a passagem para uma nova forma de produção hegemônica das infraestruturas, a “construção por concessão” (CONNOLLY, 1997), ficando a cargo do agente privado a promoção, controle, produção e direitos de exploração da infraestrutura. A lógica de produção se inverte em relação ao modelo anterior no sentido de “remercantilização” (desmercantilização do consumo mercantilização da produção) (PÍREZ, 2016) e o modelo passa a ser principalmente de uma gestão privada, que depende crescentemente de procedimentos de mercado (PÍREZ, 2009). É uma forma de produção cada vez mais próxima da “promoção capitalista” (JARAMILLO, 1982), na qual o motor da produção é a acumulação de capital.Olhando para a nossa infraestrutura objeto de análise – o metrô na cidade de São Paulo – podemos compreender bem o que significou tais transformações precedentes da reestruturação neoliberal. A Linha 4 – Amarela, foi resultado de um contrato de concessão patrocinada para exploração de seus serviços, separado do contrato de construção. A ViaQuatro (concessionária) tem como acionista majoritária a CCR, empresa que figura entre o hall de propriedades dos grupos Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, conhecidos por suas empreiteiras. Estas empresas também integraram consórcios vencedores das licitações para a construção de partes da linha (COSTANZO, 2016).As grandes empreiteiras nacionais tiveram forte presença na produção de infraestruturas desde o início dos anos 1950 no Brasil, e permaneceram como protagonistas nos novos modelos de contrato que surgiram após os anos 1990. Ainda que a forma predominante de produção tenha sofrido alterações profundas e novos atores tenham se inserido nos processos, as empreiteiras seguem tendo destaque entre o setor privado.Por fim, analisamos os reflexos destas transformações para o espaço urbano construído, compreendendo o papel das infraestruturas enquanto suporte de reprodução da força de trabalho e, crescentemente, suporte da reprodução do capital. Dar destaque às empreiteiras, ente privado que esteve presente em ambos os períodos, se transformando em paralelo à reestruturação neoliberal, nos possibilita entender mudanças e permanências e deixa clara a crescente priorização que se dá à acumulação do capital. Os rebatimentos das transformações no desenho das linhas e das estações revelam também que são cada vez mais pensadas no sentido do lucro das empresas envolvidas, em detrimento dos benefícios ao cidadão usuário.

Referências bibliográficas:CAMARGOS, Regina Coeli Moreira. Estado e empreiteiros no Brasil: uma análise setorial. 1993. Dissertação (Mestrado em Ciência Política), Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Campinas, SP. 1993.CAMPOS, Pedro Henrique Pedreira. A Ditadura dos Empreiteiros: as empresas nacionais de construção pesada, suas formas associativas e o Estado ditatorial brasileiro, 1964-1985. 584 p. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História. 2012.CHESNAIS, François. O Capital portador de juros: acumulação, internacionalização,

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efeitos econômicos e políticos. In: CHESNAIS, F. (org.). A finança mundializada. São Paulo: Boitempo. 2005. p. 35 -67.CONNOLLY, Priscilla. Introducción. In: CONNOLLY, Priscilla. El contratista de Don Porfírio Obras públicas, deuda y desarollo desigual. El Colegio de Michoacán, Universidad Autónoma Metropolitana Azcapotzalco, Fondo de Cultura Económica. Ciudad de México, DF. 1997. ______. La gobernanza de la movilidad: Para una evaluación crítica de la producción de los bienes y servicios de transporte.In: II SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE TEORIA URBANA, Universidad Nacional de Colombia (sede Medellin). 2015.COSTANZO, Daniela de Assis Pereira. Relações público-privadas no Metrô de São Paulo. Dissertação (Mestrado)- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo. 2016.HARVEY, David. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: São Paulo, Loyola, 1996.HARVEY, David.; MATEOS, A. V. Breve historia del neoliberalismo. Ediciones Akal, 2007. ISBN 9788446025177. Disponível em: < https://books.google.com.br/books?id=EMduN4ZDNAUC > IACOVINI, Victor. Elementos para análise da produção de infraestrutura: o debate latino-americano e apontamentos para o caso brasileiro. In: XVIII ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL, 2019, Natal, RN. Anais do XVIII ENANPUR. Natal, RN: EDUFRN, 2019. v. 1. p. 1-25.JARAMILLO, Samuel. Las formas de producción del espacio construido en Bogotá. In: PRADILLA, Emilio. (org.) Ensayos sobre el problema de la vivienda en México. Cidade do México: Latina UNAM, 1982.LEFEBVRE, Henri. Espaço, a produção do espaço, a economia política do espaço. In: Espaço e política, B. Horizonte, UFMG, 2008.PÍREZ, Pedro. Las sombras de la luz. Distribución eléctrica, configuración urbana y pobreza en la región metropolitana de Buenos Aires. Buenos Aires, BA: Eudeba, 2009. ______. Las heterogéneas formas de producción y consumo de la urbanización latinoamericana. Espacio Aberto, nº 16, Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, BA: 2016. ______. Infraestructura, vivenda y metrópole. In: Cátedra ANUIES Luis Unikel Spector: Metrópolis y Desarrollo Urbano 2018, Ciudad de México, México, 2018.ROCHA, Marco Antônio Martins. Grupos Econômicos e Capital Financeiro: Uma História Recente do Grande Capital Brasileiro.192 p. Tese (Doutorado). Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas. 2013.

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Fundo público e investimentos em infraestrutura no Brasil: Uma análise da participação do FI-FGTS durante os governos Lula e

Dilma (2007-2017).

CARDOSO, Adauto; JAENISCH, Samuel

ST 1 Financiamento e produção de infraestrutura

Esta comunicação pretende apresentar um panorama crítico dos investimentos que vêm sendo feitos pelo Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS) em empresas ligadas ao setor de infraestrutura no Brasil na última década, abrangendo um período compreendido entre 2007 e 2017. O objetivo principal é discutir a natureza dos agentes privados envolvidos e o escopo dos projetos financiados, de forma a avaliar possíveis nexos entre a atuação desse fundo e a viabilização do projeto de desenvolvimento que esteve em curso no ciclo lulista. Partimos do pressuposto que esse período ficou marcado pela ascensão de grandes grupos econômicos, com formas de apropriação de riqueza cada vez mais marcadas por sua inserção nos circuitos do capital financeiro (ROCHA, 2013), que ampliaram a sua atuação no território nacional acompanhando rodadas de concessão e privatização de redes de infraestrutura (RUFINO, 2018), além de terem garantido um acesso privilegiado ao fundo público e aos recursos dos grandes programas de investimento implementados. O FI-FGTS foi criado pelo Governo Federal pela Lei 11.491 de 10 de junho de 2017, com o objetivo de aplicar seus recursos em ativos que incidam na “construção, reforma, ampliação ou implantação de empreendimentos de infraestrutura em rodovias, portos, hidrovias, ferrovias, aeroportos, energia e saneamento” (CAIXA, 2019). Ele é administrado pela Caixa Econômica Federal e subordinado às decisões tomadas pelo Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (CC-FGTS), contando com um comitê de investimento tripartite (Governo Federal, empregadores, trabalhadores) responsável por deliberar sobre as propostas de aplicação dos recursos disponíveis. O Fundo contava no final de 2017 com um patrimônio líquido de aproximadamente R$33 bilhões, distribuídos em diferentes tipos de aplicações financeiras, conforme consta na tabela abaixo.

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O portfólio de investimentos do FI-FGTS aponta que 23% de seus recursos foram aplicados em projetos de relacionados ao setor energético, 15,6% em modalidades de transporte de cargas e passageiros, 3,7% em ações de saneamento, além 14,4% para financiar ações do BNDES (KPMG, 2018; CUBERO, 2019). Essa distribuição setorial indica uma relação estreita entre as decisões tomadas pelo comitê de investimento e as diretrizes das políticas de desenvolvimento em curso durante o período considerado. O segundo mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (2007-2010) ficou marcado por uma virada na política econômica, que passou a assumir um perfil mais intervencionista, com aumento significativo dos investimentos diretos e indiretos feitos pelo Governo Federal, através da criação de grandes programas de investimento e da atuação das empresas públicas em áreas estratégicas. O Programa de Aceleração Crescimento (PAC) e o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) foram frutos desse processo, ambos com o objetivo de alavancar a geração de empregos e a produção de riqueza através da cadeia produtiva ligada ao setor da construção. O mesmo pode ser dito sobre aumento dos investimentos feitos pela Petrobrás e Eletrobrás. O primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014) deu continuidade e intensificou esse “ensaio desenvolvimentista” com o lançamento da Nova Matriz Econômica, ampliando as linhas de crédito subsidiado oferecidas pelos bancos públicos, criando uma série de programas de desoneração fiscal e lançando pacotes de incentivo à indústria nacional, dentre outras medidas (SINGER, 2015). Os fundos administrados pelo Governo Federal – FAT, FGTS – e os fundos de pensão das empresas estatais – PETROS, PREVI, FUNCEF – deram um suporte importante a esse projeto político, com seus ativos tendo servido como base para muitos dos investimentos que estavam sendo feitos. O Caso do FGTS nos parece exemplar nesse sentido. Ele foi peça fundamental dentro do arranjo institucional criado para financiar as contratações do PMCMV e viabilizar muitas das intervenções feitas pelo PAC (CARDOSO; ARAGÃO, 2103; CARDOSO; DENALDI, 2018), aumentou significativamente o volume de recursos voltados para o financiamento habitacional (CARDOSO; JAENISCH, 2017), além de ter participado de outros projetos específicos como a Operação Urbana Porto Maravilha na cidade do Rio de Janeiro (PEREIRA, 2015). Ao analisarmos o escopo dos investimentos feitos FI-FGTS foi possível verificar que muitos dos agentes privados beneficiados também estavam articulados a outros grandes programas do Governo Federal em curso nesse período, como foi o caso das empreiteiras Odebrecht e OAS. A primeira recebeu investimentos em subsidiárias que atuam em áreas que vão de infraestrutura de transporte a saneamento ambiental, a segunda recebeu recursos para exploração de petróleo e gás. Além dessas empresas, a Porto do Açu S.A., empresa privada responsável pela construção de um grande porto marítimo no litoral do Estado do Rio de Janeiro, também foi beneficiada. Há também o caso de empresas que atuam em setores que passaram por processos de privatização nas últimas décadas ou que estão sob regime de concessão, como a CCR Nova Dutra (rodovias), a América Latina Logística (ferrovias), além da Light Energia e da Light Serviços de Eletricidade (energia). Estes exemplos indicam que o período considerado pode ter sido marcado por uma

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nova racionalidade econômica por parte de um grupo seleto de grandes empresas, marcada por uma concentração cada vez maior de capital e influência sobre o desenho institucional adotado pelas políticas públicas (RUFINO, 2018), o que justifica a investigação mais detalhada do perfil de atuação do FI. Para desenvolver esse estudo, parte-se de uma base de dados formada pelos relatórios de gestão anuais do FI-FGTS no período considerado (2007-2017), pelo levantamento de notícias de jornais envolvendo o tema e por sondagens, caso viáveis, em relatórios ou balanços de empresas beneficiadas pelos recursos.

Referências CAIXA – Caixa Econômica Federal. Fundo de Investimento do FGTS – FI-FGTS. 2019.CARDOSO, Adauto Lucio e ARAGÃO, Thêmis Amorim. Do fim do BNH ao Programa Minha Casa Minha Vida: 25 anos de política habitacional no Brasil. IN: CARDOSO, A. (org.) O Programa Minha Casa Minha Vida e seus efeitos territoriais. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2013.CARDOSO, Adauto Lucio; DENALDI, Rosana. Urbanização de favelas no Brasil. Um balanço preliminar do PAC. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2018.CARDOSO, Adauto Lucio; JAENISCH, Samuel Thomas. Mercado imobiliário e política habitacional nos governos de Lula e Dilma: entre o mercado financeiro e a produção habitacional subsidiada. Anais do XVII Encontro Nacional da ANPUR. São Paulo, 2017.CUBERO, Marília. Fundo de Garantia do Tempo de Serviço: o financiamento da política habitacional, de saneamento e infraestrutura urbana. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas. 2019KPMG. FI-FGTS. Relatório de Gestão de 2017. Brasília, 2018PEREIRA, Álvaro. Intervenções em centros urbanos e conflitos distributivos: modelos regulatórios, circuitos de valorização e estratégias discursivas. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015.ROCHA, Marcos. Grupos econômicos e capital financeiro: uma história recente do grande capital brasileiro. Tese de doutorado apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2013.RUFINO, Maria Beatriz. As grandes empreiteiras na produção do espaço. Do domínio dos instrumentos, financiamentos e projetos à crise ampliada. Sessão Livre. Anais do XVIII Encontro Nacional da ANPUR. Natal, 2019. SINGER, Paul. Cutucando onças com varas curtas. O ensaio desenvolvimentista no primeiro mandato de Dilma Rousseff. Novos Estudos CEBRAP, 102, pp.39-67, 2015.

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Financiamento do BNDES pelas instituições de crédito para infraestrutura no território brasileiro

GOES, Fernanda; OLIVEIRA, Rodrigo

ST 1 Financiamento e produção de infraestrutura

Palavras-chave: Financiamento do BNDES, infraestrutura, território.

Problema Estados com proporções continentais como o Brasil perpassam por algumas dificuldades para estabelecer uma infraestrutura em todo o território nacional e mesmo de integração regional. Além das implicações mais comuns como inovação tecnológica e capacidades das construtoras, relaciona-se a necessidade de apoio financeiro de longo prazo para possibilitar a execução de obras com maiores valores. No sistema bancário privado, o risco ao financiamento para uma oferta caracterizada pelo longo prazo acima de 10 anos implica em juros distantes às realidades das firmas. Assim, o Estado assume o papel de impulsionador de infraestrutura pela arrecadação no Tesouro Nacional e de fundos públicos a exemplo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) por meio de um banco público, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) (SILVA, 2018). Simultaneamente, compete interagir junto ao mercado privado enquanto intermediário indireto de financiamento para obras e serviços executados pelas construtoras e empresas afins (BNDES, 2017).ObjetivoAnalisar o financiamento indireto originário do BNDES e direcionado as instituições financeiras de crédito, bancos e financeiras privadas, com destino as empreiteiras e grupos de empresas, corporações com atuação no território nacional e com inserção internacional em atuações mais diretas a infraestrutura. Faz-se necessário um olhar mais direcionado pela atuação concentrada em alguns bancos e financeiras e em alguns grupos da área da construção. Aproximadamente, mais de R$ 2 bilhões foram contratados e desembolsados pelo BNDES para bancos e financeiras privadas (BNDES). Os quatro principais clientes, Andrade Gutierrez, Camargo Correa, Odebrecht, Queiroz Galvão, receberam mais de 90% do valor desembolsado referente a política de apoio.HipóteseHá uma concentração do acesso ao crédito público subsidiado pela política indireta de financiamento do BNDES em parceria com instituições financeiras privadas para as maiores empreiteiras no Brasil. A estrutura do financiamento para obras e serviços relacionados à infraestrutura reproduz um modelo de apropriação ao baixo custo do crédito público para mais valia de alguns grupos da área de construção (GOES, 2017). Tal concentração dos montantes financeiros, por parte de um seleto grupo

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de empresas, reflete em autonomia as mesmas escolherem espaços mais favoráveis para suas atuações, enquanto agentes sociais contraditórias e conflitantes (CORREA, 2016). Consequentemente, dentro da produção do espaço urbano a partir desses agentes, serão produzidas diferenciações e desigualdades no solo urbano (CARLOS, 2011).MetodologiaA base de dados do sistema BNDES confere capacidade de análise dos financiamentos às empresas de construção, engenharia e serviços em infraestrutura. Soma-se a apropriação de análises de especialistas acerca do tema por meio de revisão de literatura consubstanciada por pesquisadoras e pesquisadores, estudiosos e estudiosos sobre a questão. Ao observar dados do sistema BNDES referentes ao período de 1998 a 2018, percebeu-se que entre 2002 a 2014, diante das 15 empresas que receberam financiamento do BNDES para exportação de construção para obras e serviços, selecionaram-se onze empresas e um consórcio entre duas delas. Consideradas empresas em atuação enquanto grupos e corporações nacionais quais sejam, Andrade Gutierrez, Camargo Correa, Confab, Contracta, EMSA, Mello Júnior, Odebrecht, OAS, Pró Sinalização, Queiroz Galvão, Schahin e o consórcio Galvão-OAS. A sistematização das 23 instituições financeiras de crédito foi observada para agregar três instituições que se dividiam em financeiras e bancos como Alfa, Bradesco e Safra em grupos, resultando em 20 instituições. Principais ResultadosEnquanto principais clientes Odebrecht, Camargo Correa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão somaram R$ 2 bilhões referentes à política. Cada uma recebeu respectivamente, R$ 613 milhões, R$ 543 milhões, R$ 445 milhões e R$ 412 milhões, o que equivale a 93% do valor total do financiamento para essas 11 empresas. Os principais bancos com maior aporte do financiamento do apoio ao crédito por meio do BNDES para política indireta foram: Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Banco Votorantim, Banco Alfa, Banco Caterpillar, Banco Santander, Banco Bradesco, Banco Mercedez-Benz do Brasil, Banco Safra e Kirton Bank-Banco Múltiplo, em ordem hierárquica de valores. Os bancos, então dinheiro os bancos assumem o papel de (SANTOS, 2015). O Banco Itaú-Unibanco contratou quase R$ 494 milhões dos quais R$ 229 milhões foram para Odebrecht, R$ 123 para Camargo Correa e R$ 118 para Queiroz Galvão. Camargo Correa utilizou 65% dos R$ 243 milhões encaminhados pelo Banco do Brasil. O Banco Votorantim recebeu R$ 326 milhões, divididos entre Andrade Gutierrez, Camargo Correa e Queiroz Galvão, com R$ 205, R$ 73 e R$ 48 milhões respectivamente. O grupo Alfa direcionou R$ 167 milhões para Andrade Gutierrez e R$ 8 milhões para OAS. O Banco Caterpillar com R$ 150 milhões compartilhados entre Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, Camargo Correa, OAS e EMSA. Portanto, constata-se a concentração dos subsídios públicos por meio de crédito ao financiamento indireto por instituições financeiras para grupos envolvidos com obras

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e serviços, um alinhamento entre elites (FANON, 2005). Sendo assim, entendemos que o Estado atua de forma estratégica, primeiro para manter uma estrutura de poder que concentra recursos. Em seguida, alimenta hegemonicamente determinadas frações de classe e da política. Por fim, garante as condições de reprodução, de um seleto grupo no conjunto social da cidade (SANTOS & SILVEIRA, 2008). Portanto, o dinheiro está interagindo nos mecanismos de constituição de produção do espaço urbano, ou seja, em uma lógica de transferência de responsabilidades do Estado para o mundo privatista. Este, sob os auspícios da lógica do capital, exclui, marginaliza e não inclui toda a gama de atores da cidade (HARVEY, 2005). Logo, aqueles que vivem e dão vida ao território, a população, sujeito do processo, é relegada a uma posição secundária (SANTOS, 2018).

Referências BibliográficasBNDES. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. www.bndes.gov.br ______. Livro Verde: nossa história tal como ela é. Rio de Janeiro: BNDES, 2017.CARLOS, Ana Fani A. A condição espacial. São Paulo: Contexto, 2011. 157 p.CORRÊA, R. L. Sobre agentes sociais, escala e produção do espaço: um texto para discussão. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri; SOUZA, Marcelo Lopes de; SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão (Orgs.). A Produção do Espaço Urbano: agentes e processos, escalas e desafios. São Paulo: Contexto, 2016.FANON, Frantz. Os condenados da terra. Tradução: Eunice Albergaria Rocha, Lucy Magalhães. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2005.GOES, Fernanda Lira. Financiamento do BNDES para obras e serviços de empresas brasileiras no exterior. Texto para Discussão 2297. Rio de Janeiro: Ipea, 2017. HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. Tradução: Carlos Szlak. São Paulo: Ed. Annablume, 2005.SANTOS, M. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. Tradução Myrna T. Rego Viana. 2. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2018.______. Por uma outra globalização: do pensamento único a consciência universal. 24 ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.SANTOS, M.; SILVEIRA M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2008. SILVA, S. P. Financiamentos das políticas públicas de trabalho e renda no Brasil: uma análise a partir da trajetória operacional do fundo de amparo ao trabalhador (FAT). Texto para Discussão. TD 2437. Rio de Janeiro: Ipea, 2018.

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Apontamentos sobre a produção do espaço urbano e financiamento da infraestrutura no Brasil pós 2007

FAUSTINO, Raphael B. e ROYER, Luciana O.

ST 1 Financiamento e produção de infraestrutura

Palavras chave: financiamento público; infraestrutura urbana; Parcerias Público-Privadas

O financiamento da infraestrutura urbana através de maior participação do setor privado, bem como de recursos internacionais, é considerado pelos diversos atores envolvidos na condução da política setorial como condição essencial para superação do déficit na provisão de serviços urbanos. Agências multilaterais de fomento, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), preconizam um conjunto de medidas que deve ser adotado com o objetivo de garantir a substituição do setor público por agentes privados como fonte de financiamento da infraestrutura. A sofisticação e a complexidade dos instrumentos apontam para um aprofundamento do processo de inserção das finanças na condução do processo de provisão de infraestrutura urbana no período recente. O presente trabalho tem como objetivo avaliar os impactos das propostas de alteração no padrão de financiamento das obras de infraestrutura urbana no Brasil. Neste sentido, a interpretação sugerida destaca a infraestrutura urbana como condicionante do processo de produção do espaço urbano e, no contexto de dominação das finanças, incorporada ao processo de acumulação do capital.O papel da infraestrutura urbana é definido por Pírez (2013), a partir da sua produção, distribuição e consumo, em um duplo sentido. É utilizada como forma de acumulação e valorização do capital, em seu sentido industrial, e, ao mesmo tempo, serve como parte do processo de integração social e garantia de bem-estar. Com esta perspectiva, o autor define que a provisão de infraestrutura depende da capacidade do Estado de promover a desmercantilização ou sustentar a mercantilização desta provisão. Ainda para o autor, o período atual, definido como reestruturação neoliberal, altera o padrão de intervenção do Estado, com vista a promoção da acumulação capitalista e expansão das atividades econômicas vinculadas aos serviços urbanos.Os mecanismos de financiamento da infraestrutura urbana são alvo de intensos debates no período recente. A busca por soluções que modifiquem o padrão de financiamento vigente, sustentado a partir de recursos fiscais e parafiscais, como o FGTS e FAT, está inserida em um amplo contexto de modificação na condução da política econômica e de do financiamento de longo prazo no país. (Royer, 2016; Kuhn e Faustino, 2019) Conolly (2018) destaca que uma interpretação sobre os impactos das obras e serviços de infraestrutura urbana podem ser avaliados a partir do direcionamento de recursos

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utilizados na sua provisão. Para a autora, as formas de apropriação dos recursos utilizados podem apontar para o processo de maior concentração da riqueza, assim, faz-se necessário identificar os fluxos financeiros e os agentes envolvidos no processo de execução de obras públicas.Este processo ocorre em um contexto de dominância das finanças sobre a produção do espaço urbano (Ferrara, et. al., 2018). Assim, a busca por soluções alternativas para o financiamento da infraestrutura urbana é conduzida com vistas à incorporação de mecanismos vinculados ao mercado de capitais e soluções que garantam a inserção de agentes privados neste processo. Conforme descrito em BID (2019), um conjunto de medidas deve ser adotado com o objetivo de garantir a substituição do setor público por agentes privados como fonte de financiamento da infraestrutura. Com este objetivo, as propostas definidas pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento destacam a necessidade da estruturação de uma série de instrumentos financeiros, como contratos de hedge, modificações no mercado de swaps cambiais, a reestruturação da atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que passaria a assumir os diversos riscos destes projetos, o desenvolvimento de um mercado de capitais envolvendo instrumentos como debêntures, securitização de carteiras de empréstimos e estruturação de mercados secundários para estes títulos, de forma a não impactar os bancos financiadores no cumprimento do Acordo de Basiléia III, além de uma série de outras sugestões.O detalhamento dos instrumentos sugeridos no documento elaborado pelo BID aponta para um aprofundamento do processo de inserção das finanças na condução do processo de provisão de infraestrutura urbana no contexto atual. Este padrão de financiamento passa a ser articulado com novas formas de contratação e articulação entre o setor público e privado, como o caso das Parcerias Público-Privadas. Este conjunto de alterações na estrutura de provisão da infraestrutura urbana e seu financiamento apresenta consequências importantes na produção das cidades brasileiras, incluindo impactos significativos na forma como se percebe o planejamento urbano neste processo. Willems et. al. (2017) buscam interpretar este processo sob a ótica do conceito de despolitização da execução das políticas públicas. Para os autores, o protagonismo das finanças na estruturação destes projetos, bem como a necessidade de atender os objetivos de investidores que visam os retornos financeiros ao longo do processo, modifica a condução da política pública, retirando dos governos eleitos, bem como da burocracia do Estado, o protagonismo na definição das obras e serviços.A transição de um modelo de acumulação industrial para um padrão de dominação financeira, como destacado por (Ferrara, et. al., 2018), sugere a necessidade de uma agenda de pesquisa para os estudos urbanos que busque compreender os instrumentos adotados neste novo período, principalmente em seu aspecto multidisciplinar. Marques (2018) destaca como a literatura recente apresenta interesse

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por analisar instrumentos utilizados para a formulação de políticas públicas, através de ferramentas consideradas “técnicas”, desenvolvidas a partir de visões, teorias e técnicas de intervenção que acabam por impactar o conjunto de atores, instituições e afetando o resultado das políticas. O autor destaca que, para as políticas do urbano, estes instrumentos apresentam papel de destaque, incluindo seus formatos legais de regulação e sua arquitetura financeira.A partir das hipóteses destacadas acima, o presente trabalho busca apresentar como as alterações recentes nos mecanismos de financiamento público e privado, bem como as propostas apontadas por agências multilaterais, reforçam uma nova fase da produção de infraestrutura urbana, condicionada pelos retornos financeiros dos projetos desenvolvidos. Dessa forma serão analisados os recursos orçamentários, de fundos paraestatais e recursos privados destinados ao financiamento da infraestrutura no Brasil no período recente, pós 2007, seus instrumentos e as modificações sugeridas e já implementadas por agências multilaterais de fomento.A complexidade e a multidisciplinaridade dos novos padrões de financiamento da infraestrutura urbana apontam a necessidade de novas articulações entre diversas áreas do conhecimento, como forma de aprofundar as análises críticas sobre a produção do espaço urbano conduzido sob a dominação das finanças. A profusão de agentes envolvidos no processo, em especial aqueles articulados com o mercado financeiro, a arquitetura financeira e regulatória desenvolvida para acolher os investidores interessados em novas formas de remuneração, compõem um instrumental de intervenção na produção do espaço público que exige novas pesquisas no campo dos estudos urbanos, de forma a identificar novos processos espoliativos.

Referências Bibliográficas

BID (2019). Improving infrastructure financing in Brazil. World Economic Forum & Inter-American Development Bank.

CONNOLLY, P. (2018). A economia política das obras de transporte: uma metodologia contra a injustiça. Risco Revista De Pesquisa Em Arquitetura E Urbanismo (Online), 16(3), 63-83.

FERRARA, L. ;RUFINO, M. B. C.; SHIMBO, LZ (2018). Imobiliário-Infraestrutura na cidade do século XXI: desafios para uma crítica contra-hegemônica. Risco: Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo (on line), v. 16, p. 84-101.

KUHN, FABIANA; FAUSTINO, RAPHAEL BRITO (2019). A Participação Privada no Setor de Saneamento Básico no Brasil: uma análise dos investimentos com recursos do FGTS. In: XVIII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-

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graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, 2019, Natal.

MARQUES, E. (2018). Introduzindo as políticas do urbano. In: MARQUES, E. (ed.) As políticas do urbano em São Paulo. São Paulo: Ed. Unesp/CEM.

PÍREZ, P (2013). La urbanización y la política de los servicios urbanos en América Latina. Andamios v. 10, n. 22. Universidad Autónoma de la Ciudad de México.

ROYER, Luciana de Oliveira (2016). O FGTS e o mercado de títulos de base imobiliária: relações e tendências. Cadernos Metrópole, v. 18, p. 33-52.

WILLEMS T., W. VAN DOOREN, M. VAN DEN HURK (2017), PPP Policy, Depoliticisation, and Anti-Politics, Partecipazione e conflitto, 10(2): 448-471

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Condições gerais de produção e regimes de valor. Uma aproximação teórica sobre a questão das infraestruturas a partir

do estudo do sistema de transporte em São Paulo

MONTEIRO, Laércio

ST 1 Financiamento e produção de infraestrutura

Palavras-chave: transportes; São Paulo; infraestruturas urbanas; regimes de valor.

Este trabalho busca discutir teoricamente a relação entre as infraestruturas urbanas e a valorização do espaço urbano. Seguindo Garza (2013), as infraestruturas são aqui analisadas como parte das condições e serviços gerais de produção. A produção capitalista exige um contínuo revolucionamento das condições técnicas de produção e, paralelamente, o avanço da acumulação de capital exige cada vez mais campos de emprego de capital. Os investimentos em infraestrutura são simultaneamente determinados pelas exigências técnicas da produção e circulação das mercadorias e pelas exigências de produção de mais-valor e de valorização do valor. Jean Lojkine (1997) observou que a produção das condições gerais não distingue sua utilização para circulação do capital ou para consumo do capital produzido. Todo investimento em infraestruturas corresponde a uma fração da riqueza social destinada a permitir e facilitar as condições necessárias para a continuidade do processo de reprodução tanto do capital quanto da força de trabalho. No caso da privatização e a concessão de serviços públicos, frutos de investimentos públicos a fundo perdido passados, esses processos agem na restauração do antivalor, passando a resgatar o valor das infraestruturas em processos de exploração capitalista do trabalho.Além dessa característica de ‘resgate do antivalor’, tanto Garza (2013) quanto Harvey (2018) apontam para o papel ativo das condições gerais de produção na valorização ativa do capital. Seguindo a categorização proposta por Marx, as condições gerais de produção são entendidas como parte das condições médias com que se realizam as atividades produtivas e que estão implícitas na definição de trabalho socialmente necessário, executado segundo as condições médias vigentes da técnica, destreza do operário e intensidade do esforço na realização da tarefa produtiva (MARX, 1996a). Para cada estágio do desenvolvimento social e histórico, há certas características comuns que se consideram determinações gerais de toda a produção e acabam sendo consideradas para a determinação do valor dos produtos do trabalho.Nos termos de Harvey (2018), a produção das condições de produção pelos capitalistas, resulta numa imediata negação dos valores investidos, postos em fundo perdido, não realizados prontamente e transformados em antivalor. Essas mesmas condições tornam-se meios de produção ‘grátis’ para os capitalistas, permitindo economizar tempo de trabalho e de circulação das mercadorias. Constituem-se em valores-de-uso para o capital social total ao permitirem a dinamização da acumulação, mesmo

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que não resultem em valor ou mais-valor, posto que seu valor não é adicionado na produção, exceto para o capitalista que fez o investimento em capital.Como investimento a fundo perdido, a produção das condições gerais torna-se um foco de aplicação do capital disponível no mercado de crédito, o qual se apresenta como ‘massa de capital-dinheiro concentrada’ que não é de propriedade deste ou daquele capitalista individual. O pacto fiscal representado pelas políticas de austeridade desloca o sentido dos investimentos em infraestrutura que se colocam, cada vez mais, como negócios do capital, com o Estado renunciando sua competência de provisão das condições gerais de produção e reprodução, e abandonando do a direção do processo de seu desenvolvimento. No âmbito geral da relação entre governos e finanças globais, trata-se da disputa observada por Streeck (2013), em que os primeiros necessitam dos mercados financeiros, nem que seja para refinanciamento das dívidas, e os segundos têm interesse na manutenção da dívida pública como destino seguro para seus investimentos. Nesse jogo, a capacidade de barganha ou o poder de cada ator é distinto, pois no fundo eles representam, por um lado, os interesses dos cidadãos na luta pela manutenção de seus direitos, e por outro, os investidores, que ameaçam aumentar seus prêmios de risco enquanto a primazia de seus títulos frente às demais políticas não estiver estabelecida. Na hipótese de Harvey, assim como o valor das máquinas é transmitido à mercadoria no processo imediato de produção, de algum modo o valor flui através da formação e uso de capital constante fixo como as grandes infraestruturas físicas e dos espaços construídos que são necessários para a circulação e reprodução do capital, A opinião de Garza vai de encontro à Harvey, entendendo as condições gerais de produção como um conjunto de complexos sistemas interconectados de linhas de infraestrutura que transformam cidades em forças produtivas colossais, tornando-se um fator de produção que substitui a força produtiva relativa à fertilidade e localização “naturais” da terra e, ao mesmo tempo, ampliam o contexto em que se considera a força de trabalho e os meios de produção (GARZA, 2013).Partindo da leitura lefebvriana da cidade como “centralidade concentrada”, o limite para a produção das condições gerais de produção no tecido urbano é o próprio tecido urbano. Porém, se potencialmente elas podem ser apreendidas como elementos orientadores do nível de produção das cidades, relacionando de modo orgânico e articulado a distribuição territorial das infraestruturas e das atividades econômicas (GARZA, 2013), o capitalismo favorece francamente os territórios que apresentam regimes de alta produtividade do trabalho, baseados em setores produtivos capital-intensivos, de modo que a distribuição das infraestruturas e a oferta de serviços urbanos seja bastante desigual nos territórios com regimes de alta produção de valor, baseados em setores produtivos trabalho-intensivos.Isso decorre da composição do valor de trabalho em cada regime de produção. Para cada formação socioeconômica, a produção da mesma mercadoria representa uma quantidade de trabalho abstrato que além de diferir, em cada regime de valor, de

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acordo com suas condições gerais de produção, mas também que o valor do trabalho varia conforme variem preço e volume das necessidades vitais elementares, natural e historicamente desenvolvidas, os quais determinam o valor dos salários.Nos países capitalistas centrais – onde há a vigência de regimes de valor capital-intensivo – as grandes cidades estão conectadas por trens de alta velocidade, trens regionais cobrem praticamente todo o território desses países, sistemas de metrô abrangem a área da metrópole, sistemas de menor capacidade como tram, VLT e ônibus são utilizados para viagens em rotas e escalas compatíveis com o modo de circulação para o qual esses sistemas foram desenhados. Ao observarmos o sistema público de transporte nas grandes cidades brasileiras e o dia-a-dia do trabalhador periférico, incidem o alto custo das tarifas e os efeitos físicos, morais e psicológicos de longas viagens em pé, no sufoco e sujeito a diversos abusos e à violência. Pode-se argumentar que essas “qualidades” do serviço público oferecido estão de acordo com o nível de reprodução da força de trabalho exigida por uma economia em passou por reestruturação produtiva e a reversão ao modelo primário-exportador, onde o antigo proletariado industrial tornou-se supérfluo e os postos de trabalho em serviços ligados à globalização financeira e às principais cadeias globais de valor estão cada vez mais restritos.

BibliografiaBRANDÃO, Antonio Carlos. Território e desenvolvimento. As múltiplas escalas entre o local e o global. Campinas: Ed. Unicamp, 2012.GARZA VILLAREAL, Gustavo. Teoría de las condiciones y los servicios generales de la producción. México, D.F. : El Colegio de México, Centro de Estudios Demográficos, Urbanos y Ambientales, 2013.HARVEY, David. A Loucura da Razão Econômica. Marx e o capital no século XXI. São Paulo: Boitempo, 2018.LENCIONI, Sandra. Metrópole, metropolização e regionalização. Rio de Janeiro: Consequência, 2017.LEFEBVRE, Henri. State, space, world. Selected essays. Eds. Neil Brenner and Stuart Elden. Minneapolis; Londres: University of Minestora Press, 2009.LOJKINE, Jean. O Estado capitalista e a questão urbana. São Paulo: Martins Fontes, 1997 (2ª edição)MARX, Karl. O Capital. Crítica da Economia Política. 3 vol. São Paulo: Abril Cultural, 1996a._________. Grundrisse. Manuscritos econômicos de 1857-1858. Esboços da crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2013. Edição eletrônica, 1285 p.RIBEIRO, Bruno; KRUSE, Túlio. Em SP, famílias de menor renda usam mais carro; as de maior adotam metrô. O Estado de São Paulo. São Paulo, 03 jul. 2019. Caderno Metrópole, p. 14.

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A produção imobiliária de habitação coletiva e a estrutura socioespacial de Curitiba

MARTINS, Fabiana

ST 2 Produção imobiliária e reestruturação metropolitana

Palavras-chave: produção imobiliária; habitação; Curitiba.

A importância do espaço urbano para a acumulação capitalista ganhou escala com a passagem do capitalismo industrial para o financeiro (HARVEY, 2005). A produção capitalista do espaço enfatiza o conflito entre valor de uso e valor de troca na cidade e os agentes imobiliários possuem um papel relevante nesse processo, como elos de mediação na acumulação de capital (BOTELHO, 2007; GOTTDIENER, 1997). A lógica da produção habitacional pelo mercado leva à primazia do consumo na estruturação do espaço e gera cidades desiguais e segregadas, que hierarquizam e normatizam as pessoas e suas relações (ABRAMO, 2007; CARLOS, 2015; VILLAÇA, 2001). Como a rentabilidade do setor não está relacionada à atividade de construção em si, mas à capitalização da renda do solo, o mercado busca a elitização do espaço através de marcas de distinção e promoção de estilos de vida que interferem na formatação da base simbólica da cidade (MONTES RUIZ & DURÁN SEGURA, 2018). Conforme Pereira (2011), está em curso uma “reestruturação socioespacial”, na qual as estratégias de produção do urbano passam a depender cada vez mais dos setores financeiro e imobiliário. A produção mercantil de espaços exclusivos reafirma processos espoliativos e o laço entre valorização e propriedade da terra. Para o autor, o crescimento da importância dos negócios imobiliários faz aumentar também a proporção da população que não se beneficia deles.A pesquisa em andamento investiga a lógica de produção da moradia pelo mercado imobiliário em Curitiba e sua interferência na estrutura socioespacial da cidade, no período 2010-2018. De maneira alinhada com Hoyler (2016) e Shimbo (2016), o objetivo do trabalho é avaliar como as mudanças recentes no setor imobiliário-financeiro impactaram na produção do espaço e, por consequência, na sua apropriação pelas diferentes camadas da população. Entre as mudanças identificadas estão: expansão do acesso ao crédito via Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI); abertura de capital de empresas construtoras e incorporadoras na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) e a execução do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV). A hipótese que orienta a discussão é que o mercado imobiliário é o principal agente da estruturação socioespacial da cidade formal, mediante a distribuição de diferentes produtos em diferentes localizações, e a escala de sua atuação se alterou face aos processos recentes de concentração e centralização de capital no setor e à política habitacional instituída pelo governo federal.O intervalo temporal definido para a pesquisa permite traçar um retrato inicial da

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estrutura socioespacial da cidade, considerando os dados do Censo Demográfico de 2010, o Índice de Vulnerabilidade Social do IPEA e produções acadêmicas referentes ao período. A metodologia da pesquisa iniciou com o levantamento e a espacialização dos empreendimentos de habitação multifamiliar vertical finalizados no período de estudo através das informações disponibilizadas nos Certificados de Vistoria de Conclusão de Obra (CVCO) emitidos pela Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU). A partir desses dados e de pesquisas em periódicos foram identificados os atores relevantes e as principais características dessa produção imobiliária. Após, foram delimitadas a partir de características comuns nove tipologias para os produtos encontrados. Na próxima etapa do trabalho serão analisados a localização dos produtos na cidade, a relação agentes x produtos e as diferenças na produção ao longo do período estudado (que inclui momentos de expansão e crise no setor) buscando identificar características de atuação das empresas, estratégias mercadológicas e de localização e sua relação com o zoneamento municipal e a proximidade de infraestruturas importantes. Ainda, serão avaliados os impactos da produção imobiliária e a evolução do preço dos imóveis em algumas regiões da cidade. Uma referência para esta etapa do trabalho é o estudo de Volochko (2008), que entende o mapeamento da produção imobiliária como um movimento analítico fundamental para o estudo da dinâmica econômica do setor imobiliário e suas articulações espaciais.Os primeiros resultados indicam um boom na produção de unidades habitacionais na primeira metade da década de 2010, concluídas entre os anos de 2013 e 2014. A produção nesses anos foi mais de três vezes superior à de 2018 (vide gráfico 1). Observa-se também que em 2013 e 2014 não só foram produzidos mais empreendimentos e unidades habitacionais, mas também que o porte dos projetos era maior.Gráfico 1 – Unidades habitacionais verticais concluídas por ano em Curitiba, no período 2010-2018

Fonte: A autora, a partir de dados dos CVCOs.

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Os empreendimentos com mais de 6 blocos, apesar de representarem apenas 5% do total no período, foram responsáveis por cerca de 23% das unidades finalizadas entre 2010 e 2018, com destaque para o ano de 2013, em que esse padrão de empreendimento gerou 45% das unidades residenciais verticais em Curitiba. Nos anos recentes, onde aparecem os reflexos da crise financeira, nota-se a opção do mercado por produtos de menor porte, com até dois blocos, que representaram mais de 56% do total de unidades produzidas em 2017 e 2018. Já no intervalo 2014-2016 observa-se um boom na conclusão de empreendimentos multiuso em Curitiba.Outra constatação foi a concentração da produção de habitação vertical em poucas empresas, muitas com atuação nacional, que respondem por grande parte das unidades produzidas. Pelas informações levantadas até o momento, cerca de 20 empresas foram responsáveis por quase 50% das unidades produzidas, com destaque para MRV, PDG e Rossi. A produção conjunta das construtoras e/ou incorporadoras com capital aberto na bolsa de valores corresponde a um terço do total produzido no período, e se somadas as unidades executadas por empresas de capital fechado, mas com atuação nacional ou geridas por fundos de investimento, chega-se a pouco mais de 40% dos 76.101 apartamentos concluídos em Curitiba no período estudado.A espacialização das unidades conforme a classificação de tipologias elaborada indica uma concentração dos produtos “convencionais” ao longo dos Setores Estruturais de Curitiba, que são vetores tradicionais da atuação imobiliária habitacional voltada para média e alta renda. Já os produtos considerados “inovações” estão mais dispersos pela cidade, em busca de terrenos maiores e mais baratos, no caso dos condomínios-clube e da “habitação social de mercado” (SHIMBO, 2016) ou mais concentrados na área central, caso dos empreendimentos multiuso e dos apartamentos compactos. Verificou-se ainda a formação de novos setores de moradia vertical nas áreas periféricas, especialmente à nordeste e sudoeste da cidade (vide figura 1).

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Figura 1 – Empreendimentos por porte e tipologia, 2010-2018

Fonte: A autora, a partir de dados dos CVCOs. Base de Curitiba: IPPUC/PMC, editada pela autora.

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Entende-se que o grande porte de alguns empreendimentos executados afeta o modo de vida e a relação dos moradores com a rua, alterando dinâmicas urbanas. Ainda, a distribuição hierarquizada dos produtos habitacionais faz com que as áreas melhor equipadas não sejam acessíveis para toda a população, impactando na qualidade de vida e na justiça social da cidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASABRAMO, Pedro. A cidade COM-FUSA: a mão inoxidável do mercado e a produção da estrutura urbana nas grandes metrópoles latino-americanas. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, [S.l.], v. 9, n. 2, p. 25, nov. 2007.BOTELHO, A. O urbano em fragmentos: a produção do espaço e da moradia pelas práticas do setor imobiliário. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2007.CARLOS, A. F. A. A reprodução do espaço urbano como momento da acumulação capitalista. In: ________ (Org.) Crise Urbana. São Paulo: Contexto, 2015. p. 25-35.GOTTDIENER, M. Além de economia política marxista. A fórmula da trindade e a análise do espaço. In: A produção social do espaço urbano. São Paulo: Edusp, 1997. p. 159-194.HARVEY, D. A Produção Capitalista do Espaço. São Paulo: Annablume, 2005.HOYLER, T. Produção habitacional via mercado: quem produz, como e onde? Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 104, mar. 2016. p. 139-157.MONTES RUIZ, A. P.; DURÁN SEGURA, L. A. Imágenes publicitarias y mercados inmobiliarios: propuesta para el estúdio del urbanismo neoliberal. URBS. Revista de Estudios Urbanos y Ciencias Sociales, 8(2), 27-38, 2018.PEREIRA, P. C. X. Agentes Imobiliários e Reestruturação: interesses e conflitos na construção da cidade contemporânea. In: ________ (Org.). Negócios Imobiliários e Transformações Sócio-Territoriais em Cidades da América Latina. São Paulo: FAUUSP, 2011. p. 23-31.SHIMBO, L. Sobre os capitais que produzem habitação no Brasil. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 105, jul. 2016. p. 119-133.VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute, 2001.VOLOCHKO, D. A produção do espaço urbano e as estratégias reprodutivas do capital: negócios imobiliários e financeiros em São Paulo. São Paulo: FFLCH, 2008

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Reestruturação imobiliária e novas estratégias de produção do espaço metropolitano da Grande Vitória pelos condomínios

industriais

BASSANI, Izabela Dolores Cebin

ST 2 Produção imobiliária e reestruturação metropolitana

Palavras-Chaves: Condomínios Industriais, Reestruturação Imobiliária; Financeirização do espaço.

O objetivo deste trabalho é o de estabelecer um processo comparativo entre três momentos da produção dos espaços industriais na Região da Grande Vitória-ES. A revisão de literatura e a análise empírica dos empreendimentos por meio de trabalhos de campo compõem a nossa principal abordagem metodológica. Entendemos que no primeiro momento, os espaços para a indústria são produzidos pelo Estado, sobretudo na forma de distritos industriais; no segundo momento, o capital imobiliário se apropria e torna a produção desses espaços em um novo produto, o condomínio industrial; e no terceiro momento, através da exacerbação da lógica financeira, esses empreendimentos, os condomínios industriais, se tornam parte dos ativos das empresas que os produzem.A hipótese dessa pesquisa é a de que os condomínios industriais representam uma nova forma de produção do espaço metropolitano, ressaltando e reafirmando a centralidade da produção imobiliária no direcionamento da produção do espaço. Antes esses espaços eram produzidos pelo Estado como condições gerais de produção. Posteriormente, se tornaram um produto imobiliário, ligado a reestruturação do capital no setor. E agora, são também produto da financeirização do capital.No primeiro momento observamos a produção dos distritos industriais da Grande Vitória, denominados CIVIT I e CIVIT II que surgem como consequência dos Grandes Projetos industriais da década de 1970, como resultado da produção estatal do espaço. Os distritos industriais foram implantados mais ao norte do enclave industrial portuário, que futuramente iria englobar também a Companhia Vale do Rio Doce1 (CVRD) e a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) (Ver Fig.01). Mas esse espaço produzido para a indústria não se apresenta como fonte de acumulação para o Estado. E sim, como forma de acumulação para a indústria que necessita dessas áreas e de estímulo para seu desenvolvimento. Em suma, o que estamos querendo apontar, é que o Estado não vê nos distritos industriais uma forma de expandir seus rendimentos via produção do espaço, nesse primeiro momento, mas sim como uma possibilidade de ampliar a acumulação e reprodução do capital industrial.

1- Hoje Vale.

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Figura 1- Grandes Projetos Industriais da Década de 1970

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No segundo momento, a partir de 2005, surgem novos produtos imobiliários, agora produzidos pela iniciativa privada e destinados ao mercado, na Grande Vitória (Fig.2), os condomínios industriais. Esses empreendimentos surgem com objetivos específicos, sobretudo o de se apropriar de uma renda (Lencioni, 2011). Os condomínios industriais são espaços infraestruturados e com localização que permite uma fluidez territorial. Abrigam em seu arranjo interno a indústria, o armazenamento e também atividades logísticas (Lencioni,2011; Finatti,2011). De 2005 até o ano presente encontramos 24 empreendimentos na Grande Vitória. Sendo que até o ano de 2016 esse número estava em torno de 13, o que demonstra que a procura por esses espaços é crescente por parte dos condôminos e lucrativa para os outros agentes produtores. Não se trata, portanto, da simples produção de espaços para a indústria, mas da produção do espaço como mercadoria. Para Lefebvre (1999), o imobiliário a partir de então passa a ser fundamental para o processo de reprodução do capital. O segundo setor, o imobiliário, passa a absorver “os choques” do primeiro setor, o industrial. A produção do espaço se torna central para a produção da mais-valia global (LEFEBVRE, 1999, p. 146). Entendemos então que os condomínios industriais são parte desse processo de mercantilização do espaço.Wheba (2017) que as reestruturações do mercado imobiliário potencializam a relação entre o mercado imobiliário e financeiro e se especializam nas cidades por meio do aumento em investimentos na produção imobiliária e na expansão da produção da forma condomínio. A noção de reestruturação imobiliária é a percepção de que existe uma mudança urbana a partir da dinâmica imobiliária, uma vez que as formas de propriedade passam por modificações específicas, pautadas na valorização imobiliária local, mas se liga à dimensão global pela noção de reestruturação (Pereira, 2011,p.48).

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Figura 2- Condomínios Industriais na RMGV

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Consideramos, portanto, os condomínios industriais como parte do processo de reestruturação imobiliária, pois representam um novo produto para o mercado, que em sua essência busca a extração de renda como principal forma de ganho. Na RMGV, os condomínios estão se concentrando distante das áreas urbanas tradicionalmente formadas e expandindo-se para áreas distantes, nas franjas urbanas, onde o preço da terra é inferior, e as construções de novas vias de circulação atendem o quesito fluidez territorial que é necessário para esses empreendimentos. Essas alterações na produção do tecido urbano, apontadas como elemento da reestruturação imobiliária, indicam uma nova fora de produção do espaço. Os condomínios industriais, construídos juridicamente como propriedade condominial, representam uma nova forma de expansão do imobiliário sobre a cidade. Eles redirecionam a lógica centro-periferia. As transformações a respeito da expansão metropolitana, diante da reestruturação imobiliária, estão vinculadas à própria superação teórico-metodológica do modelo centro-periferia, uma vez que a “periferia adentra e passa prepositivamente a frequentar áreas centrais” (PEREIRA, 2011, p. 53), assim como percebemos a produção de uma urbanização confinada nas áreas que seriam “destinadas” para a expansão das periferias. Em suma, o que se propõe é a análise da nova lógica de expansão do urbano, que exige uma articulação das formas de produção do espaço “no processo histórico da construção da cidade” (PEREIRA, 2005, p. 10). Esse segundo momento, marca e consolida a produção do espaço como uma mercadoria de muita importância para a reprodução do capital. No terceiro momento, percebemos a exacerbação da lógica financeira na produção do espaço. Harvey (2011) nos diz que a produção do espaço urbano “tornou-se mais estreitamente entrelaçada com a acumulação do capital, até o ponto em que é difícil extirpar uma da outra”. Os promotores imobiliários possuem uma demanda crescente de crédito financeiro, tanto para a produção dos empreendimentos, quanto para a sua comercialização, expandido ainda mais o tecido urbano.Observamos também que os condomínios industriais estão sendo produzidos sob essa mesma lógica. Analisando casos específicos de empreendimentos na RMGV percebemos que empresas do ramo da construção, atuantes em todo território nacional, atualizaram seus portfólios, e hoje, trabalham também na produção de condomínios industriais, que são negociados na bolsa de valores como forma de captação de valores para seus investimentos. Um dos empreendimentos analisados o Log Viana, foi inaugurado em 2013, na antiga Fábrica de Chocolates Vitória, em Viana, as margens da BR-262 (Fig.2). A lógica da (re) produção imobiliária não está cerceada apenas pela escala nacional da economia, encaminha-se para além, é global. O capital global atua diretamente sobre o local, criando novas formas urbanas, que modificam e (re) organizam os espaços produtivos na cidade, inserindo novas possibilidades. Possibilidades que passam desde a expansão das manchas urbanas, a implosão dos grandes centros,

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assim como a escolha de locais que serão áreas centrais para a reprodução do capital financeiro.

Referências BibliográficasFINATTI, Rodolfo. Condomínios Empresariais nas Áreas Metropolitanas do Estado de São Paulo: Produção Imobiliária e Localização da Indústria. Dissertação de mestrado – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.Harvey.D. O enigma do capital e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2011.LEFEBVRE, Henry. A Revolução Urbana. Belo Horizonte. Editora: UFMG,1999.Tradução de Sérgio Martins. LENCIONI, Sandra. Condomínios industriais: um novo nicho dos negócios imobiliários. 2011. PEREIRA, Paulo César Xavier. Espaço, Técnica e Construção. São Paulo: Nobel, 1998. 187 Agentes imobiliários e reestruturação: interesses e conflitos na construção da cidade contemporânea. In: PEREIRA, P. C. X. (Org.). Negócios imobiliários e transformações sócio-territoriais em cidades da América Latina. São Paulo: FAUUSP, 2011. WHEBA,Cristina. Reestruturação Imobiliária e Reconfiguração do Espaço: a produção da Odebrecht na Operação Urbana Consorciada Água Espraiada. XVII ENANPUR. 2017.

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Reestruturação imobiliária e metropolização do espaço urbano: as estratégias de atuação das grandes incorporadoras de capital

aberto no subúrbio carioca

SILVA, Rafael

ST 2 Produção imobiliária e reestruturação metropolitana

Palavras-chave: produção imobiliária; finanças; subúrbio carioca

ProblemaO presente artigo busca analisar as transformações ocorridas na produção do espaço do subúrbio do Rio de Janeiro (a Zona Norte, em especial) a partir da primeira década do século XXI em decorrência da intensificação da produção imobiliária realizada, em sua maior parte, pelas grandes incorporadoras nacionais de capital aberto, compreendendo como o imbricamento entre parte do setor imobiliário e mercado financeiro reconfiguraram o espaço da metrópole carioca e transformaram o espaço suburbano num lugar privilegiado para reprodução ampliada do capital. Na contemporaneidade, a produção social do espaço adquire novos contornos e conteúdos à medida que as relações sociais capitalistas se desenvolvem. Nessa lógica, a produção imobiliária de mercado ganha relevância enquanto forma de produção mais avançada do ponto de vista da acumulação capitalista se sobrepondo a precariedades históricas sem, no entanto, superá-las. Antes o contrário: as intensifica pela fragmentação que esse processo impõe.É necessário compreender que, desde a década de 1970, o modo de produção capitalista atravessa uma transformação sistêmica onde as finanças passam a ser centrais na condução desse processo, impactando, consequentemente, todos os níveis das relações sociais e cotidianas, inclusive o urbano. Para Chesnais, “o mundo contemporâneo apresenta uma configuração específica do capitalismo, na qual o capital portador de juros está localizado no centro das relações econômicas e sociais” (CHESNAIS, 2005, p. 35). Por sua vez, Lefebvre aponta como neste mesmo período a mobilização do espaço pelo capital deu sobrevida à acumulação. Segundo o autor, o setor imobiliário se torna tardiamente, mas de maneira cada vez mais nítida, um setor subordinado ao grande capitalismo (...). O processo que subordina as forças produtivas ao capitalismo se reproduz aqui, visando à subordinação do espaço que entra no mercado para investimento dos capitais. (LEFEBVRE, [1972] 1999, pp. 163-164)Nesse contexto, todo o espaço social passa a ser mobilizado lucrativamente sob domínio das finanças. Esse imbricamento entre imobiliário (dimensão socioespacial) e financeiro (dimensão socioeconômica) intensificou a produção do espaço das cidades brasileiras a partir de meados da primeira década do século XXI, quando grandes incorporadoras nacionais se vincularam ao capital financeiro mundial decorrente da abertura de seus capitais. Esse movimento culminou numa acelerada

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expansão de novos empreendimentos imobiliários em várias cidades brasileiras – sobretudo nas metrópoles – para espaços menos valorizados, não raro precários, onde historicamente esse mercado não atuava. O Programa Minha Casa Minha Vida acirra esse processo. Objetivos• Compreender o impacto das transformações ocorridas na produção do espaço metropolitano do Rio de Janeiro decorrentes do processo de reestruturação imobiliária conduzido pelas grandes incorporadoras nacionais associadas ao capital financeiro, tendo como manifestação mais acabada desse processo a Zona Norte do subúrbio carioca.• Compreender as novas características da produção do espaço na contemporaneidade a partir da chave de análise que conecta o imobiliário com o financeiro tendo em vista as especificidades do contexto brasileiro;• Analisar a integração das incorporadoras brasileiras à dinâmica do capital financeiro, compreendendo que a financeirização do imobiliário no Brasil tem particularidades fundamentais que rementem à atuação do Estado e à própria especificidade das relações capitalistas na sociedade brasileira, bem como os movimentos estratégicos na produção imediata das grandes incorporadoras de capital aberto estudadas que atuam na Zona Norte suburbana.MetodologiaA pesquisa divide-se em dois grupos que se relacionam entre si durante o decorrer do trabalho, a saber, o de investigação teórica associado ao levantamento, sistematização e análise crítica de dados concretos sobre o objeto em questão. Dentro do primeiro grupo, se propôs o aprofundamento em bibliografias que dão aporte teórico e contextualização histórica necessários para a compreensão do objeto num contexto geral. Nesse sentido, recorreremos às questões formuladas por Marx ([1894] 2017) acerca da teoria do valor, da distribuição global do mais-valor e moderna propriedade da terra enquanto capital fictício e que foram retomadas e atualizadas por Lefebvre ([1970] 1999). Apropria-se da obra de Chesnais (2005) para compreender o domínio das finanças em todas as esferas das relações sociais na atualidade e também aos estudos de Amaral (2012) que nos ajuda a compreender os desdobramentos do domínio das finanças num contexto de uma economia capitalista dependente. Os trabalhos de Rufino (2012), Lencioni (2017) e de Pereira (2013) ajudam a compreender o imbricamento do imobiliário e o financeiro na atualidade e seus desdobramentos na produção do espaço das metrópoles brasileiras. No segundo grupo, realizou-se uma aproximação com toda a produção imobiliária de mercado da cidade do Rio de Janeiro, dando enfoque à produção das grandes incorporadoras nacionais de capital aberto que tiveram uma atuação expressiva na cidade, levando em consideração a quantidade de empreendimentos lançados, VGVs, portes e impacto nos distintos espaços da cidade. A pesquisa empírica apoiou-se fundamentalmente nos dados levantados pela ADEMI Rio e SMU Rio

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acerca da produção imobiliária na cidade entre os anos de 2000-2006 e 2007-2015 a partir de informações sobre a localização dos empreendimentos, porte, preço médio e incorporadora, dando ênfase a uma análise mais minuciosa na área estudada. Para realização dessas análises, foi utilizado o QGIS, software de sistema de informação geográfica que permite a análise de dados georreferenciados de todo movimento de expansão da produção imobiliária. Principais resultadosO que se nota a partir da abertura de capital das grandes incorporadoras nacionais é, além da produção intensiva de novos empreendimentos em toda a cidade, há uma expansão das fronteiras de acumulação que engendra uma dispersão concentrada no que diz respeito à geografia da cidade, para regiões até então preteridas por este mercado, configurando a partir disso o que conceitualmente convencionamos chamar de reestruturação imobiliária. Até este momento, a produção imobiliária de mercado na cidade se conformava em áreas onde este mercado atuava, a saber, as áreas mais ricas. Essa dispersão se conforma pela inegável disseminação da forma-condomínio para todo o território da cidade que, por sua vez, intensifica a indústria da construção imobiliária como uma indústria de propriedade.

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Referências bibliográficasAMARAL, Marisa. Teorias do Imperialismo e da Dependência: a atualização necessária ante a financeirização do capitalismo. Tese de doutorado. FEA-USP. São Paulo, 2012.CHESNAIS, François. A Finança Mundializada. São Paulo: Boitempo, 2005.LEFEBVRE, Henri. A Revolução Urbana. Belo Horizonte: Editora UFMG, [1970] 1999.LENCIONI, Sandra. Metropolização do Espaço: processos e dinâmicas. In: FERREIRA, Álvaro. et al (org.). Metropolização do Espaço: gestão territorial e relações urbano-rurais. Rio de Janeiro: Consequência, 2013.MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro III. São Paulo: Boitempo, [1894] 2017.PEREIRA, Paulo César. Metropolização, Reestruturação Imobiliária e Reconfiguração da Cidade de São Paulo. In: FERREIRA, Álvaro. et al (org.). Metropolização do Espaço: gestão territorial e relações urbano-rurais. Rio de Janeiro: Consequência, 2013.RUFINO, Maria Beatriz. Incorporação da Metrópole: centralização do capital no imobiliário e nova produção do espaço em Fortaleza. Tese de Doutorado. FAU-USP. São Paulo, 2012.

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Expansão, desaceleração e retração do mercado privado formal da moradia na RMSP nos anos 2000

CASTRO,Carolina; SÍGOLO, Leticia; MIOTO, Beatriz.

ST 2 Produção imobiliária e reestruturação metropolitana

Palavras-chave: dinâmica imobiliária, Região Metropolitana de São Paulo, oferta habitacional.

O mercado imobiliário residencial apresentou nas duas últimas décadas importante expansão em função das políticas econômicas e sociais adotadas no país, da ampliação do aporte de recursos oriundos de fundos públicos e semipúblicos, o que ensejou a reestruturação produtiva da indústria da construção e do setor imobiliário, e a reformulação das finanças, aprofundando sua dominância sobre tais setores, juntamente a novos papéis de agentes públicos e privados, no contexto de acirramento do processo de financeirização urbana. No entanto, o período expansionista do ciclo de investimento do mercado imobiliário já encontrava limites no início da década de 2010 e se agudiza a partir de 2014. Esse movimento explica-se, em grande medida, por uma redução paulatina dos investimentos setoriais, que refletiam a redução do investimento público e privado, as limitações da expansão do consumo e, cada vez mais, as condições políticas do país. Assume-se, na pesquisa, que a dinâmica dos setores imobiliário e da construção civil se dá em consonância com os movimentos mais gerais da economia. E, portanto, uma análise que articula os ciclos econômicos com os processos envolvendo o capital imobiliário, as políticas urbanas e habitacionais, dada a relevante participação do Estado embasando esta dinâmica, permite constituir chaves interpretativas dos cenários de expansão, desaceleração e retração destes setores por meio de múltiplas análises em suas diferentes escalas.Com esta perspectiva, o objetivo central da pesquisa é o entendimento de como o território na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) se inseriu nestes diferentes movimentos, estacando-se o mercado imobiliário residencial. Considera-se que a RMSP é um espaço privilegiado para os estudos das recentes imbricações que envolvem os setores imobiliário e da construção civil e as finanças no país.A pesquisa se instrumentaliza com a análise de intervalos de tempo, o que têm permitido umdetalhamento das dinâmicas do capital imobiliário e as transformações que estas engendram no território da RMSP, focalizando o comportamento da oferta de empreendimentos imobiliários residenciais no período de 2007 a 2018. Utiliza-se para a análise empírica o banco de dados que contém lançamentos imobiliários na RMSP da EMBRAESP e a consulta aos relatórios periódicos da ABRAINC, SECOVI e SINDUSCON, bem como do CRECI. Além disso, a partir de fontes secundárias,

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elaboram-se complementações e comparações sobre os dados empíricos e ainda se estrutura um quadro de referência teórico sobre as finanças e suas interfaces com a oferta no mercado residencial, os agentes produtores que compõem as estruturas de provisão da moradia, objeto de nossa pesquisa. Destaca-se o importante papel dos produtos que insuflaram o crescimento do mercado residencial como o econômico de mercado e os da faixa de mercado do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), cuja inserção urbana e territorial na RMSP é problematizada na pesquisa. Face às recentíssimas mudanças decorrentes da fase descendente do mercado, é fundamental evidenciar os desdobramentos territoriais sobre as ofertas desses elementos, particularmente em relação à (re)localização, (des)valorização e mudanças de padrões espaciais e construtivos. Com essa finalidade, são utilizados mapas temáticos em diferentes períodos que apoiam a análise territorial da oferta residencial na RMSP.Os resultados alcançados até o momento na presente pesquisa são sumariamente elencados nos tópicos seguintes. Os dois primeiros tratam das tendências mais gerais dos setores imobiliário e da construção civil no país, enquanto o terceiro aborda as dinâmicas territoriais decorrentes da confluência dos condicionantes mais gerais com as especificidades e singularidades da RMSP.

1. Expansão do mercado residencial imobiliário (2007-2012)-Expansão do setor condicionado por forte presença de fundos públicos e semipúblicos (subsídios e incentivos).-Reestruturação do sistema de financiamento por meio de arcabouço regulatório que ampliou a segurança jurídica e financeira ao setor como a alienação fiduciária, bem como as mudanças na regra de exigibilidade no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).-Internacionalização do setor imobiliário por meio da abertura de capitais e criação de novos mecanismos de imbricação com as finanças.-Ampliação da solvabilidade da demanda com a estruturação do mercado de trabalho, formalização e aumento do rendimento do trabalho com a recuperação do Salário Mínimo.

2. Desaceleração e retração do mercado residencial imobiliário (2013-2018)-Emergência de crise política e institucional desestabilizando o setor da indústria da construção com forte recuo do produto agregado.-Aumento da fragilidade financeira das empresas do setor.-Aumento da ociosidade no setor com queda dos estoques de longo prazo-terrenos.-Aumento do risco para a realização dos investimentos do setor e surgimento de distratos.-Saldos negativos na taxa de emprego na construção.-Aumento da inadimplência dos mutuários.

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-Recuo da expansão geográfica e concentração nos mercados consolidados.

3. Dinâmicas da valorização imobiliária e a distribuição territorial da oferta habitacional naexpansão, desaceleração e retração na RMSP-Ampliação geográfica nacional e capilaridade intraurbana com novas fronteiras de expansão na RMSP.-Ampliação do mercado incorporando demanda de mais baixa renda.- Chegada da oferta formal na periferia da RMSP e do MSP e consolidação do segmento econômico com o PMCMV.-Protagonismo das grandes empresas de capital aberto associadas com empresas regionais.-Desencadeamento de elevada valorização imobiliária e fundiária provocando mudanças nos patamares de preços das novas unidades; desaparecimento da oferta com preços mais baixos impulsionadas pelas mudanças nos tetos dos preços das unidades, segundo as faixas do PMCMV; realização dos preços sob patamares elevados nos territórios periféricos.-Generalização da valorização imobiliária na RMSP, com maior intensidade nas novas fronteiras do mercado econômico, com variações internas, tendo no MSP os preços mais elevados.-Reestruturação do mercado de terras decorrente da formação de bancos de terra como ativos financeiros e pela demanda dos agentes imobiliários; existência de terrenos maiores e mais baratos nas novas fronteiras do mercado formal.-Reversão de uma tendência homogeneizante no mercado da RMSP com o encerramento do ciclo expansivo.-Fortalecimento da oferta residencial nos distritos centrais do Município de São Paulo mais valorizados.-Desaceleração da oferta nos municípios da nova fronteira do mercado formal e estreitamento dos lançamentos com valores mais baixos e ampliação da oferta nos patamares mais elevados-Relocalização dos agentes promotores do segmento econômico do boom com seu retorno ao MSP-Expansão concentrada da oferta no segmento econômico na periferia consolidada do município de São Paulo e fortalecimento da oferta diversificada com o surgimento de um novo produto imobiliário: unidades compactas e com valor de metro quadrado elevado.Diante destas evidências e resultados, busca-se, no prosseguimento da pesquisa, aprofundar o conhecimento sobre a reestruturação em curso do setor imobiliário residencial, enquanto continuidade, rupturas e novas estratégias, e, desta forma, contribuir para o aprofundamento dos estudos sobre a trajetória dos setores imobiliário e da construção civil e suas correlações com as finanças. Uma nova

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perspectiva que se abre neste momento é o seu desenvolvimento à luz da agenda de pesquisa sobre financeirização urbana e o Sul Global.

Referências bibliográficasALMEIDA, J. S. G.; NOVAIS, L. F. e ROCHA, M. A. (2016). A fragilização financeira das empresas não financeiras no Brasil pós-crise. Campinas, IE-Unicamp (Texto para Discussão). BALTAR, P. et al. (2010). Moving towards decent work. Labour in the Lula Government: reflections on recent brazilian experience. Global Labour University Working Papers, n. 9.Berlim.BARBOSA, N. e PEREIRA DE SOUZA, I. A. (2010). “A inflexão do governo Lula: política econômica, crescimento e distribuição de renda”. In: SADER, E. e GARCIA, M. A. Brasil, entre o passado e o futuro. São Paulo, Boitempo.BELLUZZO, L. G.; TAVARES, M. C. e FIORI, J. L. (2004). “A mundialização do capital e a expansão do poder americano”. In: FIORI, J. L. O poder americano. Petrópolis, Vozes. BERTASSO, B. (2012). Edificações: impasses da modernização no ciclo de crescimento dos anos 2000. Tese de Doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas.CASTRO, C. M. P. de e SHIMBO, L. Z. (2011). O “Padrão Econômico” da Habitação: Construindo uma Trajetória de Mercado. In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR, 14. Anais.... Rio de Janeiro, ANPUR.COUTINHO, L. e BELLUZZO, L. G. (1998). Financeirização da riqueza, inflação de ativos e decisões de gasto em economias abertas. Economia e Sociedade. Campinas, n. 11, pp. 137-150.FIX, M. (2011). Financeirização e transformações recentes no circuito imobiliário no Brasil. Tese de Doutorado. Campinas, Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas.MEDEIROS, C. A. (2017). A economia brasileira no novo milênio: continuidade e mudanças nas estratégias de desenvolvimento. Revista de Economia Contemporânea. Rio de Janeiro, número especial, pp. 1-16.MIOTO, B. T. (2015). As políticas habitacionais no subdesenvolvimento: os casos do Brasil, Colômbia, México e Venezuela (1980/2013). Tese de Doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas.MIOTO, B. T. e PENHA FILHO, C. A. (2018). Crise econômica e o setor imobiliário no Brasil: um olhar a partir da dinâmica das maiores empresas de capital aberto (Cyrela, PDG, Gafisa e MRV). In: SEMINÁRIO FINANCEIRIZAÇÃO E ESTUDOS URBANOS: OLHARES CRUZADOS EUROPA E AMÉRICA LATINA, 1, São Carlos. Anais.... São Carlos, Instituto de Arquitetura e Urbanismo/Universidade de São Paulo.PAULANI, L. M. (2016). Acumulação e rentismo: resgatando a teoria da renda de Marx para pensar o capitalismo contemporâneo. Revista de Economia Política, v. 36, n. 3, pp. 514-535.PINTO et al. (2017). A guerra de todos contra todos: a crise brasileira. IE- UFRJ.

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Discussion paper, TD 006. Disponível em: http://bit.ly/2pXoEpl. Acesso em: 1o maio 2017.ROYER, L. de O. (2009). Financeirização da política habitacional: limites e perspectivas. Tese de Doutorado. São Paulo, Universidade de São Paulo.SÍGOLO, L. M. (2014). O boom imobiliário na metrópole paulistana: o avanço do mercado formal de moradia em direção à periferia e a nova cartografia da segregação socioespacial. Tese de Doutorado. São Paulo, Universidade de São Paulo.SILVA, H. M. B. (coord.). (2015). Características da produção imobiliária formal nos anos 2000 e seus efeitos sobre o custo e condições de habitação na Região Metropolitana de São Paulo. São Paulo, Lincoln Institute of Land Policy.SMITH, N. (2008). Uneven development: nature, capital and the production of space. Athens, University of Georgia Press.

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Superprodução e valorização imobiliária no interior paulista 2001-2018

OTERO, Estevam

ST 2 Produção imobiliária e reestruturação metropolitana

Palavras-chave: mercado imobiliário; produção habitacional; cidades médias paulistas

A produção do espaço urbano nas cidades médias do interior paulista vem sendo expressiva ao longo do período recente, constituindo novos territórios e transformando as relações estabelecidas entre estes e a cidade estruturada ao longo dos cem anos anteriores. Até os anos finais do século XX os processos de estruturação do espaço intraurbano das cidades médias obedeciam a determinantes similares àquelas observados por Villaça (2001) para as metrópoles brasileiras; desde então vêm ocorrendo mudanças significativas (OTERO, 2016). Essa produção inscreve-se no contexto do notável aquecimento do mercado imobiliário brasileiro a partir de meados da década de 2000. Sobretudo a partir de 2006, diversos “gargalos administrativos e financeiros” que constrangiam a produção imobiliária foram eliminados, aumentando a segurança jurídica e financeira do setor (FERREIRA, 2012, p. 23). Além disso, a ampliação do crédito imobiliário também foi grande impulsionador do aquecimento visto no setor na segunda metade da década (ROYER, 2009). O forte impulso dado ao setor imobiliário brasileiro a partir de meados do século XXI se coaduna a características inerentes ao atual estágio do capitalismo global. Cada vez mais a produção do espaço urbano vem se tornando elemento chave no processo de acumulação capitalista, absorvendo grandes quantidades de capital sobreacumulado, à procura de alternativas rentáveis para a extração de juros, lucros e renda (HARVEY, 2014; 2013; 2011). Tomadas as devidas mediações decorrentes das diferenças entre distintos portes demográficos e contextos regionais, a centralidade adquirida pelo imobiliário em diferentes escalas geográficas do mundo capitalista e, notadamente nas cidades do interior paulista, vem promover impactos sensíveis em sua organização interna, constituindo espaços com formas e conteúdos sociais muito distintos do que se divisava até então. Nesse contexto, em que a produção imobiliária se torna quantitativamente relevante tanto em termos econômicos quanto em relação aos seus impactos urbanos, faz-se necessário apreender as formas assumidas por essa produção tanto quanto a sua lógica econômica, da qual os imóveis não são meramente um reflexo, mas um importante ativo (FIX, 2011).Na quadra atual, a cidade converte-se numa mercadoria privilegiada, fronteira de valorização de capitais locais e forâneos, em que os valores de troca dos espaços urbanos ganham relevo sobre os valores de uso. A hipótese aqui desenvolvida e que

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se procurará demonstrar em seguida é de que a superprodução do espaço urbano que se observa em algumas cidades do interior paulista, especificamente os casos de Piracicaba e Limeira, aqui trabalhadas como objeto de estudo mais acurado, não é produto das demandas internas dessas cidades enquanto valor de uso, mas das expectativas de valorização imobiliária e fundiária, em que os imóveis revestem-se de características similares às de um ativo econômico.Piracicaba, ao longo dos últimos 10 anos, vem notabilizando-se no topo dos rankings de produção de novos parcelamentos do solo no estado de São Paulo. Entre 2000 e 2018, foram aprovados 115 novos loteamentos em Piracicaba, disponibilizando 34.915 lotes urbanos; em Limeira, entre 2003 e 2017, foram novos 62 loteamentos, totalizando 15.928 lotes. Destaque-se que essa superprodução se dá sobre uma base de farta presença de lotes desocupados em ambas as cidades. Entretanto, os expressivos números apresentados não se resumem à implantação de novos parcelamentos do solo. Também em termos de unidades residenciais prontas essas cidades vêm se destacando. A implantação de empreendimentos do PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida. Entre 2009 e 2019 foram contratadas 25.069 novas residências em Piracicaba no âmbito do Programa. Para efeito de comparação, o estudo Déficit Habitacional no Brasil 2010, elaborado pela Fundação João Pinheiro, apontava um déficit total de pouco mais de 12 mil unidades para aquele ano. Para Limeira foram contratadas, no mesmo período, 9.205 novas Unidades Habitacionais (UH) pelo Programa, equivalentes a 103% da demanda total identificada para 2010.As localizações dos empreendimentos em as cidades, diretamente vinculadas ao preço da terra urbana, vão reforçar as tendências e dinâmicas estruturadas ao longo das décadas anteriores. Uma vez que a lógica financeira que permeia o programa delega aos empreendedores praticamente todas as decisões relativas aos empreendimentos (localização, número de unidades, tipologias etc), a procura por terras mais baratas, de modo a garantir a extração de maiores rendas fundiárias, é uma constante. Não é outro o motivo de se constatar que os conjuntos realizados nesta cidade, notadamente os enquadrados na Faixa 1, vão ser implantados nos mesmos setores habitados pelas populações mais pobres e vulneráveis socialmente, no mais das vezes constituindo “frentes pioneiras” (RUFINO, 2015, p. 65), para além das periferias consolidadas e, assim, promovendo a correlata valorização das terras localizadas nesses quadrantes (OTERO, 2016). Em função disso, a

dinamização do circuito imobiliário em torno da produção de moradias no marco do PMCMV amalgamou interesses diversos: dos proprietários fundiários (com participação dominante de capitais locais); de empresas construtoras altamente profissionalizadas, muitas com atuação nacional (sendo expressiva a participação de empresas de capital aberto); e dos poderes públicos locais (OTERO, 2016, p. 204).

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A produção imobiliária em Piracicaba e Limeira, cidades aqui tomadas para uma análise mais acurada, vem resultando numa significativa reestruturação de seus espaços intraurbanos, tanto pelos impactos quantitativos, resultante do porte dos empreendimentos implantados, quanto pelas novas tipologias introduzidas e consolidadas ao longo das últimas duas décadas. A ampliação da atividade imobiliária nesse contexto relaciona-se tanto às transformações no quadro do desenvolvimento capitalista nacional (e global) quanto a determinantes eminentemente locais, em que se constituíram coalizões de interesse de modo a promover a “máquina de crescimento” local (LOGAN; MOLOTCH, 2007).O artigo em tela estrutura-se em três seções, complementares e inter-relacionadas. Na primeira parte, desenvolve-se análise acerca do atual quadro socioeconômico e urbano das cidades de Limeira e Piracicaba, identificando suas demandas quantitativas e qualitativas por espaço urbano e habitação, cotejando esses dados face à produção imobiliária da última década. Na seção seguinte procede-se ao levantamento, identificação e caracterização dessa produção imobiliária, tanto em termos de parcelamentos do solo quanto de empreendimentos do PMCMV, para o período entre os anos de 2001 e 2018. Os parcelamentos do solo foram caracterizados por: localização, ano de implantação e tipologia (aberto ou fechado), tendo por objetivo identificar lógicas específicas nos padrões locacionais dos empreendimentos e alterações nas tendências históricas de urbanização do município. Os dados coligidos tiveram como fonte principal as Prefeituras de Piracicaba e Limeira. Após essa caracterização, na terceira seção, são expostos os valores de comercialização da mercadoria “lote urbano”, em termos de valor por m², procurando identificar padrões distintos em função das diferentes categorias de enquadramento: localização por setor da cidade, proximidade à centralidade e/ou equipamentos urbanos, tipologia e estratégia de marketing. Foram consultados anúncios em periódicos locais ao longo de 18 anos (entre 2001 e 2018), totalizando 2.537, para Limeira, e 23.057 veiculações, para Piracicaba, compondo uma ampla série histórica da evolução do preço da terra urbana, permitindo assim captar os fatores decisivos na valorização dessas mercadorias.

Referências BibliográficasFERREIRA, J.S.W. (Coord.). Produzir Casas ou Construir Cidades? Desafios para um novo Brasil urbano. São Paulo: LABHAB; FUPAM, 2012.FIX, M.A.B. Financeirização e Transformações Recentes no Circuito Imobiliário no Brasil. Tese (Doutorado em Economia). Campinas: IE/Unicamp, 2011.HARVEY, D. Cidades Rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São Paulo: Martins Fontes - selo Martins, 2014.______. Os Limites do Capital. São Paulo: Boitempo, 2013.______. O Enigma do Capital. São Paulo: Boitempo, 2011.

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LOGAN, J.; MOLOTCH, H. Urban Fortunes: the political economy of place. Los Angeles: University of California Press, 2007.OTERO, Estevam Vanale. Reestruturação urbana em cidades médias paulistas: a cidade como negócio. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo). São Paulo: FAU USP, 2016. ROYER, L.O. Financeirização da Política Habitacional: limites e perspectivas. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo). São Paulo: FAUUSP, 2009.RUFINO, M.B.C. Um olhar sobre a produção do PMCMV a partir de eixos analíticos. In: SANTO AMORE, C.; SHIMBO, L.Z.; RUFINO, M.B.C. (Orgs.). Minha Casa… e a Cidade? Avaliação do Programa Minha Casa Minha Vida em Seis Estados Brasileiros. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2015.VILLAÇA, F. Espaço Intra-urbano no Brasil. São Paulo: Nobel, 2001.

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Novos padrões de governança urbana em tempos de financeirização?

STROHER, Laisa; REGUEIRA DIAS, Nilcio

ST 3 Projetos urbanos sob domínio das finanças

Palavras-chave: Financeirização; governança urbana, operações urbanas consorciadas.

A pesquisa visa discutir a emergência de novos padrões de governança urbana impulsionados a partir do avanço dos processos de neoliberalização e financeirização do espaço, especialmente no que tange à intervenção e organização do Estado para prover infraestrutura, financiar e planejar as cidades. Esta discussão é realizada a partir de uma análise a respeito da evolução da modelagem financeira e institucional das operações urbanas consorciadas (OUCs), bem como da estrutura social do conflito em torno da implementação deste instrumento. O estudo compreende a aplicação das OUCs em São Paulo, particularmente nas OUCs Água Espraiada e Faria Lima (OUC AE e FL), no Rio de Janeiro e as tentativas de disseminação em outros grandes municípios brasileiros. Parte-se da hipótese que este estudo de caso ilustra processos mais amplos de alterações conjunturais, que vinculam-se a um novo ciclo de aprofundamento da neoliberalização urbana.Alguns dos questionamentos específicos que guiam as análises são: em que medida as OUCs têm favorecido à penetração de racionalidades, métricas e atores do universo financeiro na produção do espaço? Quais as mudanças nas formas como os comuns urbanos – terra, solo criado, redes de infraestrutura urbana, fundo público, base tributária – são tratados? Qual é o papel do Certificado de Potencial Adicional Construtivo (Cepac) nesse sentido? Estas questões derivam de preocupações teóricas relacionadas as abordagens que norteiam a pesquisa, que articulam vertentes da economia política urbana, dos estudos urbanos críticos, e estudos sociais de finanças (AALBERS, 2015; BIRCH, 2016; BRENNER, 2004; GRÜN, 2003; HARVEY, 1989; KLINK, 2018). Alguns dos aspectos assinalados na literatura a respeito das características que comporiam um novo padrão de intervenção estatal territorial emergente em diversos países, e que foram identificados na modelagem das OUCs desde a sua origem, são: papel cumprido pelo governo local em atrair fontes alternativas de financiamento em substituição ao subsídio intergovernamental em declínio, a proposição de fórmulas de financiamento atreladas à aposta na maximização e capitalização da renda, a noção de parceria público-privada (PPP), o viés localizado das transformações urbanas, a concentração de investimentos em perímetros territoriais restritos, o caráter de excepcionalidade do regramento urbanístico em relação ao restante da cidade e a centralidade da noção de redesenvolvimento imobiliário. No Brasil tais

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elementos remetem ainda a características históricas do processo de urbanização, como o rentismo e a seletividade da intervenção territorial do Estado.Observou-se um cenário dominado por grandes empreiteiras e incorporadoras na OUC AE e FL, que possuem uma tradição de atuação em São Paulo. Apenas nove empreiteiras concentraram os maiores contratos de infraestrutura. Estas firmas ainda passaram atuar no ramo de incorporação na última década, com participação em lançamentos imobiliários nas OUCs. Tratam-se de grandes grupos brasileiros com atuação em diversos países.Evidenciou-se ainda uma concentração de lançamentos imobiliários realizados pelas grandes incorporadoras de capital aberto, que foram responsáveis por 52% dos lançamentos residenciais na OU AE e 29% na OUC FL. Os agentes imobiliários constituem ainda os principais compradores de Cepac, ao contrário da ideia que as OUCs poderiam despertar o interesse de investidores financeiros. Discutiu-se também a influência dos agentes imobiliários na criação do Cepac (por meio do Secovi e da APEOP), na sua precificação e nas articulações para evitar o aumento do seu valor. Apesar do Cepac não ter constituído alvo de investidores, destacou-se pelo menos duas vias pelas quais ocorreu uma conexão entre o mercado de capitais e as OUCs em São Paulo: através da participação acionária nas incorporadoras de capital aberto e da aquisição de cotas de empreendimentos imobiliários listados em fundos de investimento imobiliário (FIIs). Portanto, as transformações urbanísticas promovidas pelas OUCs corroboraram não só no sentido de prover ganhos aos capitais imobiliários e fundiário, mas também ao capital financeiro. A partir do modelo iniciado com o Porto Maravilha (OUC PM) no final dos anos 2000, apelidado aqui de OUC 2.0, observou-se uma maior complexidade no arranjo de players e na modelagem das OUCs. Na experiência paulistana a terra e o solo criado já foram tratados como ativos financeiros, por meio da noção de maximização da renda (intrínseca à fórmula das OUCs) e da securitização do solo criado (mediante a criação do Cepac), através da qual a Prefeitura pretendia capitalizar a apropriação da renda oriunda da transformação dos territórios das OUCs. Já no Rio, a partir do uso do Cepac e das terras públicas pelo FI FGTS como meios de adquirir cotas de FIIs, aqueles bens públicos foram transformados em ativos comercializáveis capazes de gerar fluxos de renda periódicos. Dessa forma, foi ampliada a concepção de mercantilização daqueles comuns urbanos, que passou a se conectar com as tendências discutidas no sentido de assetização do ambiente construído (GUIRONNET et al., 2015). No que tange aos players, enquanto em São Paulo houve maior protagonismo do governo municipal, no Rio ocorreu o envolvimento ativo de vários níveis de governos, especialmente da União, provendo terras, recursos e regulações. A adoção de uma empresa estatal de capital aberto para a gestão da OUC PM, que se baseia no ideal de governança corporativa, representou outra forma de penetração das lógicas

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do mercado financeiro na gestão pública. Também foi discutida a maior diversificação de papéis das empreiteiras nas OUCs 2.0, que atuaram adicionalmente na concepção da modelagem urbanística, financeira e institucional, na gestão e execução de obras e de serviços públicos mediante PPPs, e na disseminação do modelo para cidades como: Belo Horizonte, Salvador, Niterói e São Bernardo do Campo. Despertou a atenção a quantidade de aspectos reproduzidos em relação à OUC PM nestes municípios, como a elaboração de modelagens por empreiteiras mediante MIP (ou PMI), a elaboração de obras e serviços através de PPP, a constituição de FIIs integralizados com imóveis públicos, e o intuito de captar recursos junto ao FI FGTS, a proposição da gestão da OUC por meio de uma estatal com previsão de abertura de capital. Foi identificada uma tendência de criação de empresas desta natureza em outros países e em diversas áreas das políticas públicas. As OUCs 2.0 constituem exemplos bastante representativos em relação as tendências de novos padrões de intervenção do Estado no espaço abordadas na literatura, como no que se refere à emergência de novas formas de articulação entre diferentes níveis de governo e forças econômicas para promoção do redesenvolvimento urbano, à constituição de novas institucionalidades estatais subnacionais que atuam como empreendedoras de ativos públicos (conforme discutem Swyngedouw et al., 2002; Brenner, 2010), e à fragmentação territorial do fornecimento dos serviços públicos por meio de PPPs (vide Graham e Marvin, 2001). Observa-se que as OUCs são ao mesmo tempo, promotoras e resultantes de um processo de reestruturação dos padrões de provisão de infraestrutura, planejamento e financiamento urbano. Diversos elementos aqui discutidos que se articularam nas modelagens das OUCs paulistanas e das OUCs 2.0 estão cada vez mais presentes em diversos níveis da política urbana. De maneira mais ampla, os estudos assinalaram para um novo ciclo de experimentações neoliberais urbanas no país, que extrapola o universo das OUCs. Este ciclo é marcado por uma diversificação dos instrumentos norteados por PPPs e destinados ao redesenvolvimento imobiliário de áreas pontuais, novas institucionalidades estatais subnacionais guiadas pela noção de governança corporativa, pela securitização de uma gama maior de fluxos financeiros provenientes das cidades, e por um aumento da permeabilidade da gestão urbana aos agentes privados, com uma maior participação de empresas estrangeiras na provisão de infraestrutura. Tais fatores apontam para uma complexificação da estrutura de conflito social em torno da apropriação privada da riqueza gerada nas cidades, e uma crescente tendência de os bens coletivos urbanos serem tratados como ativos financeiros.

Referências

AALBERS, M. The potential for financialization. Dialogues in Human Geography, v. 5, n. 2, p. 214-19, 2015.

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BIRCH, K. Rethinking Value in the Bio-economy: Finance, Assetization, and the Management of Value. Science, Technology & Human Values, v. 42, n. 3, p. 460-490, 2016.BRENNER, N. New State Spaces: Urban Governance and the Rescaling of Statehood. Oxford, Oxford University Press, 2004. _____., N. A globalização como reterritorialização: o reescalonamento da governança urbana na União Europeia. Cadernos Metrópole, 12, 24, pp. 535-564, 2010. GRAHAM, S.; MARVIN, S. Splintering Urbanism: networked infrastructures, technological mobilities and the urban condition. New York: Routledge, 2001, 478p.GRÜN, R. Atores e Ações na Construção da Governança Corporativa Brasileira. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 18, n. 52, p. 140-161, jun. 2003.GUIRONNET, A.; ATTUYER, K.; HALBERT, L. Building Cities on financial assets: the financialization of property markets and its implications for city governments in the Paris City Region. Urban Studies, 53 (7), pp. 1442-1464, 2016. KLINK, J. Metrópole, moeda e mercados. A agenda urbana em tempos de reemergência das finanças globais. Cadernos Metrópole, v. 20, p. 717-742, 2018.SWYNGEDOUW, E.; MOULAERT, F.; RODRIGUEZ, A. Neoliberal urbanization in Europe: large-scale urban development projects and the new urban policy. Antipode, n. 34, p. 542-577, 2002.

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O elo da terra: vínculos entre mercantilização e financeirização nas cidades periféricas

WERNECK, Mariana

ST 3 Projetos urbanos sob domínio das finanças

Na esteira da crise da dívida dos anos 1980, os Estados latino-americanos foram submetidos às medidas de ajuste estrutural impostas, sob o “Consenso de Washington” por agências multilaterais e países centrais. Para além do estabelecimento de padrões de uso do recurso público e da organização estatal, os países da América Latina passaram a atender às novas exigências do capitalismo internacional após o desmonte das regulações pactuadas sob o fordismo, organizando suas economias em torno de três premissas – a dizer, as elevadas taxas de juros, o câmbio flutuante e o superávit primário – que impuseram novas desigualdades à periferia do capitalismo e ingressaram no que alguns autores denominam como neoliberalismo (HARVEY, 2004; 2008) ou, numa outra chave analítica, regime de acumulação de dominação financeira (CHESNAIS, 2002).A faceta neoliberal desse processo, tal como a entendemos usualmente, logo se tornou visível no Brasil. Em nível nacional, o país vivenciou um amplo programa de privatizações e mercantilização de serviços públicos a partir de 1993, sob o mote de desnacionalização da economia, ao passo que, no âmbito do aparelho estatal, passou-se a implementar o projeto de reforma gerencial (BRESSER-PEREIRA, 2007). Já em nível local, as cidades brasileiras, que também sofriam um ajuste, passaram a transpor a lógica corporativa à gestão urbana (ARANTES, 2004, p. 66), aclimatando a tendência global designada por Harvey (2005) de empreendedorismo urbano. Nas diferentes esferas, portanto, parecia prevalecer a lógica incremental destacada pelos autores Peck e Tickel (2000), pela qual o neoliberalismo – compreendido aqui como processo, e não apenas como estado final – articula etapas de desregulação e desmantelamento dos marcos institucionais previamente existentes com outras de construção e consolidação de novos modos de governança. Nos circuitos financeiros, no entanto, o acerto dos ponteiros aos novos tempos parecia ser menos evidente. Bem verdade é que, acompanhando a marcha global, o país implementou, por inspiração no sistema de hipotecas estadunidense, o Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), cuja racionalidade caminhava num espírito bastante diferente daquela que havia guiado a criação do Sistema Financeiro de Habitação

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1. Como aponta Luciana Royer (2009, p. 15), “Ao contrário do sistema anterior, apoiado em um funding público, o SFI buscava deslanchar o crédito imobiliário com o uso de instrumentos financeiros inovadores como o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI), a Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e a Cédula de Crédito Imobiliário (CCI), buscando introduzir, ainda que em menor escala, um mercado de financiamento habitacional semelhante ao modelo norte-americano, provendo as condições necessárias ao desenvolvimento de um mercado secundário de hipotecas, que teria como função primordial transformar a concessão de crédito imobiliário num investimento dotado de segurança e liquidez”.2. Ver, nesse sentido: FIX (2000, 2007, 2009), PEREIRA, WERNECK.3. Ver, a título de exemplo: FIX (2011).

(SFH)1 durante o regime militar . A iniciativa, é claro, impôs uma forte inflexão na política habitacional e no direito à moradia, que paulatinamente migraram, como bem expõe Royer (2009), do discurso universalista à lógica seletiva dos mercados, mas não obteve o êxito imaginado. Nem mesmo a introdução dos Certificados de Potencial Adicional de Construção (CEPACs), arduamente defendida pelo empresariado no processo de aprovação do Estatuto da Cidade (BASSUL, 2010), conseguiu estabelecer um mercado secundário de alguma robustez e permanece, ainda hoje, restrito aos proprietários e desenvolvedores imobiliários – muito embora sua aplicação, associada às operações urbanas consorciadas, tenha gerado, como demonstra vasta bibliografia, aumento expressivo da já explosiva segregação socioespacial brasileira2. Dessa maneira, permanece, nas análises correntes do setor financeiro brasileiro, o retrato de um mercado que orbita fortemente em torno dos títulos do tesouro nacional, que oferecem pouco risco e alto retorno graças à política, sustentada pelo Banco Central, de altas taxas de juros. De modo semelhante, a produção acadêmica no campo dos estudos urbanos tem privilegiado a configuração de arranjos locais e os personagens encarnados que arregimentaram coalizões de poder e viabilizaram os grandes projetos urbanos realizados nos últimos tempos, reeditando, sob a retórica global e financeira, o velho clientelismo de guerra. Diante de nossa condição periférica, os efeitos do regime financeirizado sobre as cidades brasileiras ainda permanecem nebulosos – em que pese a recente literatura que busca, com vigor, apreender a complicação dos tempos atuais3.A presente proposta visa contribuir para o debate ao observar, de maneira entrelaçada, os mecanismos de mercantilização e de financeirização. Segundo nossa hipótese, não apenas os instrumentos estritamente financeiros vêm promovendo transformações nos circuitos de valorização da economia e na estrutura de nossas cidades, como também expedientes, à primeira vista, voltados para a relação entre poder público e mercado numa ótica privatista. Nesse sentido, objetivamos lançar luz sobre dinâmicas de financeirização próprias da periferia, que sofrem constrangimentos face aos países centrais em seu mercado de capitais e, portanto, não se inserem no capitalismo financeiro da mesma maneira.

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Voltamo-nos, desse modo às Parcerias Públicas-Privadas (PPPs). Regulamentadas no marco regulatório brasileiro nos anos de governo petista4, as PPPs expressam a ambiguidade que André Singer (2012) denominou de “reformismo fraco”, dando continuidade, como defende DiPietro (2015), à reforma de Estado iniciada por FHC. Inspirada no direito estrangeiro e justificada pela falta de disponibilidade de recursos financeiros num cenário de contínua austeridade fiscal, a normatização das PPPs fez por estabelecer, frente às concessões tradicionais, novas salvaguardas ao mercado, “inovando ao prever garantias que o poder público poderá prestar aos parceiros privados e aos financiadores do projeto” (DIPIETRO, 2015, p. 146). Isso, segundo a autora, “gera certo paradoxo, porque se o poder público não dispõe de recursos para realizar as obras, dificilmente disporá de recursos para garantir o parceiro privado de forma adequada” (DIPIETRO, 2015, p. 147). Diante de tal limitação, uma nova modalidade de mobilização do fundo público vem sendo adotada como garantia pública nos contratos de PPP: o lastro em terra pública. Resistente ao princípio da função social da propriedade dada a lógica arrecadatória do patrimônio público, a terra pública era parte integrante daquilo que Ermínia Maricato (1999; 2008), em diversas ocasiões, denominou de nó da terra. Mas há agora uma nova configuração do conflito, como afirma Raquel Rolnik (2015, p. 160), já que, no momento atual, não se trata de mais um ciclo de ocupação capitalista do espaço, já que “[s]ob a hegemonia do capital financeiro e rentista, a terra, mais do que um meio de produção, torna-se uma poderosa reserva de valor”. Transformada em ativo financeiro, a terra pública torna-se elo entre os processos de mercantilização das cidades e o avanço da financeirização num contexto de capitalismo periférico.Esse foi o modelo preponderante no Rio de Janeiro no contexto dos megaeventos. Por meio da leitura dos contratos e da análise documental dos fundos de investimento financeiro (FIIs) criados, observamos a transmissão de, ao menos, vinte terrenos de origem pública no Porto Maravilha como lastro do projeto de revitalização, que se utiliza não de um, mas de dois FIIs. Na PPP do Veículo Leve sobre Trilhos, o imóvel denominado Centro Metropolitano foi dado como garantia e depositado em um FII, vinculando o processo de transformação da área central ao aquecimento imobiliário da Barra da Tijuca. Finalmente, na PPP do Parque Olímpico, os terrenos do Autódromo e de seu entorno foram dados como salvaguarda pública ao contrato, dando origem à mais uma rodada de espoliação.

Bibliografia:ARANTES, Pedro. O ajuste urbano: as políticas do Banco Mundial e do BID para as cidades. Revista Pós, n. 20, p. 60-75, 2006.BASSUL, José Roberto. Estatuto da Cidade: a construção de uma lei. In: CARVALHO, Celso Santos; ROSSBACH, Anaclaudia (org.). O Estatuto da Cidade comentado. São Paulo: Ministério das Cidades; Aliança das Cidades, 2010, p. 71-90.BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Burocracia pública e reforma gerencial. Revista 4. Por meio da Lei Federal nº 11,079/2004.

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MARICATO, Erminia. A terra é um nó na sociedade brasileira... e nas cidades! Revista Cultura. Petrópolis: Ed. Vozes, v. 93, n. 6, p. 07-22, 1999._____. O nó da terra. Revista Piauí, São Paulo, n. 21, jun. 2008. Disponível em: <http://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-no-da-terra/> Acesso em: 29 mar. 2018. SINGER, André. Os sentidos do lulismo. Reforma gradual e pacto conservador. São Paulo: Compania das Letras, 2012.PECK, Jamie; TICKEL, Adam. Neoliberalizing Space. Antipode, n. 12, 2000, pp. 380-404.ROLNIK, Raquel. Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças. São Paulo: Boitempo, 2015.ROYER, Luciana. Financeirização da política habitacional: limites e perspectivas. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009.WERNECK, Mariana. Porto Maravilha: agentes, coalizões de poder e neoliberalização no Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2016.

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Do ciclo das Operações Urbanas Consorciadas às iniciativas dos Projetos de Intervenção Urbana na produção do espaço em São Paulo

DALMEIDA, Carolina Heldt

ST 3 Projetos urbanos sob domínio das finanças

Palavras-chave: Produção do Espaço; Operações Urbanas Consorciadas; Projeto de Intervenção Urbana.

Ao se interrogar sobre as especificidades que conformam o espaço urbano contemporâneo é possível reconhecer alguns elementos que aparecem recorrentemente na produção do espaço, inclusive derivados da centralidade que o espaço passa a assumir para a reprodução do capital em fase avançada da acumulação financeira (HARVEY, 2004). A interrogação sobre a natureza desses elementos nos leva a investigações a partir de categorias empíricas que permitam refletir sobre as dimensões das transformações urbanas em curso. O presente trabalho é resultado da tese de doutorado que teve por objetivo realizar a análise empírica sobre instrumentos, discursos, técnicas e processos nas séries de práticas recentemente adotadas na promoção de Grandes Projetos Urbanos (KLINK; SOUZA, 2017) na cidade de São Paulo, a fim de verificar a hipótese de que estaríamos diante da constituição de um regime de verdade da concessão da produção do espaço como norma no desenvolvimento urbano. Para tanto, o objetivo específico foi reconhecer, na formulação das concessões públicas de Grandes Projetos Urbanos em São Paulo, se se trata de um processo de normalização do instituto da concessão aplicado ao espaço urbano, que não mais significaria apenas a concessão de parâmetros urbanísticos ou a concessão de obras e serviços sobre equipamentos ou infraestruturas, tal como foi originalmente desenhado o modelo de concessões pelo subsetor de Grandes Obras Públicas, mas se seria uma mudança na natureza desse processo e que levaria à constituição da generalização da concessão do espaço urbano. A pesquisa examinou o movimento marcado pelo encerramento de um ciclo das Operações Urbanas Consorciadas (OUCs) e que se desenvolve por meio dos Projetos de Intervenção Urbana (PIUs), que passam a figurar como peça central no campo de indução legal entre empresas e Estado na produção do espaço em São Paulo. A elaboração do Plano Diretor Estratégico de São Paulo, a experiência no Procedimento de Manifestação de Interesse do Arco Tietê, o mapeamento realizado no Zoneamento da cidade de São Paulo, o desenvolvimento do Plano Municipal de Desestatização, o exemplo do Procedimento de Manifestação de Interesse dos Terminais Municipais de Ônibus, e os discursos jurídico-administrativos construídos para a justificação da concessão do espaço são os objetos analisados no trabalho. Foram observados a partir de uma sequência de cenas entre 2013 a 2019 que, em conjunto, denotam um percurso de generalização dos Projetos de Intervenção Urbana como dispositivo da

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concessão do espaço, e de normalização da racionalidade empresarial aplicada ao planejamento urbano como normal.A pesquisa se desdobra em setes cenas do processo de formulação dos Grandes Projetos Urbanos em São Paulo, que nos permitem analisar a mobilização das peças da legislação urbanística no jogo de interesses sobre o território urbano, desenvolvendo importantes vetores na produção do espaço da cidade. O material de análise foi em grande medida composto por documentos inéditos, ainda que se trate de documentos públicos presentes nos processos administrativos da gestão municipal referentes aos projetos urbanos pesquisados (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2018). Em função do método adotado, a pesquisa realizada buscou destacar as categorias empíricas nativas que representam a racionalidade e os conceitos presentes no processo de elaboração dos projetos urbanos em análise. Sem buscar repisar um debate sobre o caráter do vício ou virtude do valor de um instrumento urbanístico, ou sobre os seus desvirtuamentos originários da lei, no caso, relativos ao PIU, interessou à pesquisa sobretudo reconhecer uma forma de ler esses objetos a partir dos nexos e das coalisões de poder nas entranhas da formulação do planejamento urbano (VAINER, 2011). Assim, a partir da primeira cena observamos o momento que conclui um ciclo das Operações Urbanas Consorciadas, quando também se desenvolve um movimento em âmbito nacional de estruturação da política e do marco regulatório de parcerias e concessões, enquanto, na cena seguinte, analisando mais especificamente o âmbito municipal, foi possível reconhecer como essas iniciativas promoveram mudanças que implicaram na ampliação da participação do setor privado nas definições políticas e urbanas, sendo que o PIU passa a ser peça central para a organização de parcerias e concessões de projetos urbanos, como as cenas analisadas subsequentemente o demonstram. De todo modo, isso não é em si uma operação nova, nem é um efeito do uso do PIU em particular. A novidade nesse caso se manifesta na generalização da concessão do espaço urbano nos Grandes Projetos Urbanos, em territórios de reestruturação urbana em São Paulo, promovendo um mercado da produção da concessão do espaço urbano. A análise realizada apresenta um percurso da recorrência da concessão do espaço urbano adotada como norma para a produção do espaço, por meio do PIU, como seu dispositivo. A partir de então ganha normalidade os critérios de julgamento sobre a finalidade do projeto urbano não mais balizados em noções de direito, do ponto de vista do direito à cidade, mas sim eminentemente em função de seus efeitos. Por isso vai aparecer como verdade a adoção de dispositivos práticos e pragmáticos cujo objetivo é a eficácia e a produtividade da produção do espaço, tornando plausível conceber e planejar o espaço como um produto, instrumento e produtor de um ambiente de negócios. Nesse caso, o fim da cidade – em termos daquilo que a encerra e, ao mesmo tempo, a sua finalidade (LEFEBVRE, 2006) – parece ser o fim de tornar o urbano, e não apenas

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a terra, um “ativo” do processo de expansão da acumulação avançada do capital. Uma vez que o desenvolvimento econômico estaria a orientar o desenvolvimento urbano, a agenda e o conteúdo da política urbana parecem importar menos do que a implementação dos dispositivos de viabilização da concessão. Com efeito, se o fim é tornar o urbano um “ativo”, vai aparecer como sendo verdadeiro deslocar a racionalidade empresarial para a produção do espaço no âmbito do planejamento territorial.Dessa feita, a hipótese analisada trata-se da formação de um regime de verdade da concessão da produção do espaço. O campo de observação foi a recorrência da concessão aplicada como norma em Grandes Projetos Urbanos. A pesquisa analisou essa hipótese a partir do exame do processo de concessão do espaço, entendendo este como a construção pela qual se qualificaria a concessão como um discurso verdadeiro. Tratou-se, portanto, de pesquisar os mecanismos, discursos e formas de dispor a concessão à produção do espaço urbano, analisando as práticas que constituiriam o dispositivo desse processo. Por dispositivos, entende-se um conjunto de práticas que tem por objetivo responder a uma urgência e obter um efeito imediato, podendo operar um regime de verdade, ao construir um discurso de verdade a partir de um regime de poder (FOUCAULT, 2008). Trata-se, portanto, de pesquisar as articulações de uma série de práticas, de um certo tipo de discurso, que se constituiria como verdade. Para tanto, a análise dos Grandes Projetos Urbanos em São Paulo por meio dos PIUs não se justifica em função de buscar a causa originária, ou identificar o instrumento causal, que opera a concessão da produção do espaço, mas sim pela intenção de refletir sobre esses casos como paradigmas, no sentido próprio da palavra: um exemplo, ou seja, como casos significativos pela sua exemplaridade (AGAMBEN, 2010). Considera-se que se trata de um processo recorrente em que esses exemplos se instituem e que, portanto, sua análise ajuda a esclarecer algumas das dimensões da produção do espaço urbano contemporâneo no Brasil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAGAMBEN, G. Signatura Rerum. Madrid: Anagrama, 2010.FOUCAULT, M. Nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008.HARVEY, D. O novo imperialismo. São Paulo: Edições Loyola, 2004.KLINK, J.; SOUZA, M. Financeirização: conceitos, experiências e a relevância para o campo do planejamento urbano brasileiro. Caderno Metrópole. São Paulo, v. 19, n. 39, p. 379-406, maio/ago. 2017.LEFEBVRE, H. A produção do espaço. Tradução do grupo “As (im)possibilidades do urbano na metrópole contemporânea”. 4. ed. Paris: Éditions Anthropos, 2000. Mimio, 2006.PREFEITURA DE SÃO PAULO. Plataforma digital Gestão Urbana. São Paulo, 2019.

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O nexo Estado-finanças e a formação de um complexo infraestrutural-imobiliário-financeiro na produção do ambiente construído no Brasil: um alongamento conceitual sobre a produção de grandes projetos de

(re)desenvolvimento urbano.

NASCIMENTO, Alexandre S.

ST 3 Projetos urbanos sob domínio das finanças

Palavras-chave: Nexo Estado-Finanças. Complexo Infraestrutural-Imobiliário-Financeiro. Grande Projetos Urbanos.

O objetivo dessa pesquisa é refletir sobre a possível emergência de um “complexo infraestrutural-imobiliário-financeiro", que representa aqui certo alongamento conceitual (AALBERS, 2015) utilizado para analisar a atual convergência e coevolução da produção de infraestruturas, habitações, desenvolvimento de propriedades (rendas) e dinâmicas ligadas ao financiamento e financeirização da economia - via fundo público e/ou mercado de capitais (O´BRIEN, O’NEILL & PYKE, 2019; AALBERS, 2019), ligados a grandes projetos urbanos – GPUs (SWYNGEDOUW; MOULAERT; RODRIGUEZ, 2002). Temos como estudo de caso o Complexo Imobiliário Residencial e de Serviços Reserva do Paiva (BARBOSA & GOMES, 2016), situado no litoral sul da região metropolitana do Recife.Busca-se compreender a coalização de poder, própria de um regime urbano (FERREIRA & CLEMENTINO, 2018) que arquitetou e construiu a PPP que resultou na implantação da concessionária “Rota dos Coqueiros” que dá acesso à Reserva do Paiva, a qual ao nosso ver, poderia expressar um complexo infraestrutural-imobiliário-financeiro, que promoveu o desenvolvimento urbano e de propriedades seletivo nesse subespaço da metrópole do Recife, também contribuindo para uma reestruturação territorial da mesma.Realizamos uma pesquisa documental e bibliográfica nesse artigo, que não representa, ao nossos ver, a dimensão do desafio teórico metodológico presente no seu objetivo, pelo escopo do resumo expandido. Primeiramente apresentamos o conceito de complexo imobiliário-financeiro expresso. Depois disso, analisamos como a infraestrutura urbana se transformou em uma classe de ativos capaz de ser negociada como um produto financeiro. Após, analisa-se a PPP Rota dos Coqueiros, na RMR, como um estudo de caso. No final, apresentamos, brevemente, o alongamento conceitual defendido nesse estudo.Harvey (2011) aponta para uma nova forma de articulação entre o Estado e o capital na contemporaneidade, que o mesmo intitula de “nexo Estado-finanças”, esse corresponde a confluência do poder estatal e das finanças, e aponta que certos arranjos políticos-institucionais econômicos encontram-se no coração do sistema de crédito que é a base para o nexo Estado-finanças. Lapavitsas (2013) também alude para como a financeirização torna-se enraizada no comportamento alterado dos

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agentes fundamentais da acumulação capitalista.Sobre a articulação entre finanças e o setor imobiliário, muitos autores veem analisando o que denominam de complexo imobiliário-financeiro (AALBERS, 2015; 2017; 2018; 2019; SANTORO & ROLNIK, 2017; RUFINO, FERRARA & SHIMBO, 2018; STROHER, 2017; LOON, 2017). Santoro & Rolnik (2017) explicam que o complexo imobiliário-financeiro surge da maior articulação e interdependência entre o setor imobiliário, as finanças e o Estado, espalhando-se por diversas frentes de expansão imobiliária pelo mundo. Temos assim agentes globais que buscam penetrar em localizações geográficas onde não têm presença, capilarizando-se territorialmente e submetendo a produção das cidades a sua lógica financeirizada associados a agentes locais que agem de forma glocal.O grupo pernambucano Cornélio Brennand criou a empresa de desenvolvimento imobiliário a Iron House Real State que trabalha com um conceito de desenvolvimento urbano de grandes áreas com foco nos setores hoteleiro, residencial, corporativo e de varejo. Tem como seu principal projeto a Reserva do Paiva em Pernambuco (Figura 01) em parceria com a Odebrecht Realizações Imobiliárias - OR, onde construiu condomínios residenciais e empresariais, hotéis, shoppings e uma série de outras estruturas de alto padrão.

Figura 01 – Reserva do Paiva

Fonte: Associação Geral – Reserva do Paiva

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No setor hoteleiro temos a parceria da Iron House com a o Fundo Soberano de Abu Dhabi – ADIA, que lançou Four Seasons Hotel & Private Residences, em São Paulo, dentro do Parque da Cidade, empreendimento da OR1. E em parceria com o grupo financeiro português Promovalor, a Starwood Hotels & Resorts Worldwide Inc. e a OR construíram e operam o Sheraton Reserva do Paiva Hotel & Convention Center, na Reserva do Paiva. Morag Torrance (2008, 2009) analisou em suas pesquisas como os arranjos político-institucionais e econômicos ligados a produção da infraestrutura urbana passavam rapidamente pela financeirização, onde o valor de um lugar era capturado por investidores institucionais que operavam através de redes relacionais à distância, distribuindo o risco globalmente. Torrance procurou revelar a formação de tais redes através das ações de investidores institucionais globais trabalhando em parceria com gestores de fundos e agentes locais. Sanfelici & Halbert (2018) apontam para a emergência de Instrumentos de Política Financeira (FPIs): Parcerias Público-Privadas – PPPs; Direitos adicionais de construção ou incrementos vendidos a investidores institucionais para financiar o re-desenvolvimento urbano [CEPACs], entre outros.Fainstein (2016) apud Aalbers (2019) sugere que a financeirização é intrínseca à neoliberalização e que “parcerias público-privadas” são a forma institucional representativa do desenvolvimento especulativo. A crise de crédito de 2008 revelou como os agentes financeiros estão profundamente motivados para o desenvolvimento e consolidação de infraestruturas urbanas como uma classe de ativos financeiros (PRYKE & ALLEN, 2013; 2019). A PPP Rota do Coqueiros iniciou suas ações em 10 de junho de 2010, tendo um prazo de vigência de 33 anos, sua estrutura financeira está detalhada na figura 02. Os Brennands entram no projeto, principalmente, por serem o possuidores de grandes e valiosos terrenos entre a capital Recife e o Complexo Industrial e Portuário do Suape. (NASCIMENTO, 2015). A Rota dos Coqueiros – uma concessão patrocinada, viabilizou o início da construção do Complexo Imobiliário Residencial e de Serviços Reserva do Paiva. Grande parte do investimentos nesse GPU vieram do BNDES/BNDESPar, FI – FGTS, BNB. (NASCIMENTO, 2015).

1. A OR vendeu para a Hemisfério Sul Investimentos (HSI) o projeto corporativo do Parque da Cidade, em São Paulo. O negócio abrange terreno, projeto aprovado de três torres e Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepac). Localizado na zona Sul da cidade de São Paulo, o Parque da Cidade é o segundo maior empreendimento da OR, com VGV total estimado em R$ 4 bilhões, atrás apenas do Reserva do Paiva, em Recife. Disponível em: https://www.ibrafi.org.br/noticia/or-vende-projeto-corpora-tivo-para-hsi. Acesso: 19 jul. 2019.

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Figura 02 - ESTRUTURA FINANCEIRA – PPP ROTA DOS COQUEIROS

Podemos encontrar o “nexo Estado-finanças” (HARVEY, 2011) na engenharia financeira da OTP como podemos ver em sua estrutura financeira. O FI-FGTS também possui debêntures da OTP. As debêntures são títulos emitidos por empresas privadas para fomentar seus projetos. Atualmente, essas estão sendo bastante incentivadas com a redução do papel do BNDES no crédito para infraestrutura (Figura 03).

Figura 03 – Mercado de Debêntures no Brasil

Fonte: Boletim de Mercado de Capitais (ANBIMA - 2018).

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Dessa forma, pelo escopo do texto, apresentamos na forma gráfica o que acreditamos ser a conformação de um complexo infraestrutural-imobiliário-financeiro (Figura 04).

Figura 04 – Mapa Conceitual - Complexo Infraestrutural-Imobiliário-Financeiro

Assim, busca-se contribuir com a teoria urbana crítica (BRENNER, 2018) e com a produção de uma Geografia financeira (AALBERS, 2019), pois acredita-se, nesse estudo, que novas agendas de pesquisa devem procurar analisar de forma conjunta a produção de imóveis e infraestruturas (FERRARA, RUFINO & SHIMBO, 2018), pois no contexto de reestruturação urbana e regional dos espaços metropolitanos, reescalonamento e reestruturação dos espaços estatais e hegemonia das finanças necessita-se de uma leitura da totalidade dos fenômenos e processos ora em destaque.Por fim, ver-se a conformação de uma máquina rentista, patrimonialista produtora do ambiente construído, que tem sido usada para a realização de grandes negócios da reestruturação urbano-regional, sendo que esse negócios se viabilizam via a formação de um complexo infraestrutural-imobiliário-financeiro algo que procuramos demonstrar de forma incipiente nesse estudo, e que vem sendo alvo de nossas pesquisas atuais.

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Tijolos de papel: dimensões territoriais da isenção tributária dos fundos de investimento imobiliário no Brasil

FRANCO, Fernando Túlio

ST 4 Fundos de Investimento e as transformações na produção imobiliária

Palavras-chave: Fundos de Investimento Imobiliário; Política Urbana; Justiça Tributária.

O mercado de Fundos de Investimento Imobiliário (FII) mobiliza, ao redor do mundo, cerca de 3,5 trilhões de dólares. Para além da abstração financeira, tal fenômeno impacta significativamente, também, os processos de reestruturação urbana. Esta pesquisa pretende analisar estes fundos a partir dos efeitos das isenções tributárias dadas aos FIIs no Brasil, se há ocorrência de determinados padrões de distribuição territorial. O trabalho organiza-se em 4 capítulos. No primeiro, apresenta-se a periodização dos FIIs a partir da constituição do marco regulatório aplicável, os dados estatísticos e uma breve análise da dimensão macroeconômica. No segundo, faz-se um resumo do sistema tributário brasileiro, da proposta de Reforma Tributária Solidária, do modelo aplicável aos FIIs e, ao final, quantifica-se o volume de recursos que se beneficiam das renúncias fiscais. No terceiro, analisa-se a correlação entre o percentual da isenção tributária dos imóveis para renda acabados de 2017, inscritos nas regiões metropolitanas constituídas no Brasil, e outras variáveis, em especial a renda nominal média dos domicílios particulares, proveniente do CENSO de 2010, e a rentabilidade dos fundos e dos imóveis. No quarto, aborda-se um conjunto de reflexões preliminares para o desenvolvimento de políticas públicas que aproximem mecanismos de justiça tributária e de desenvolvimento urbano. No Anexo 1 é apresentada a metodologia da raspagem de dados do sistema Fundos.Net da CVM e dos cálculos desenvolvidos. Para além desta fonte de informações, a pesquisa baseou-se no levantamento da legislação aplicável, em entrevistas com especialistas e na literatura selecionada que aborda o tema. Em virtude dos resultados obtidos, afere-se (i) o estado da arte do mercado brasileiro de FIIs, do ponto de vista quantitativo e legal; (ii) o sistema tributário aplicável aos FIIs, especialmente em comparação com as alíquotas pagas sobre o rendimento de pessoas físicas; (iii) o valor das renúncias fiscais; (iv) os padrões territoriais dos imóveis de fundos beneficiados com a isenção tributária, e realiza-se uma proposta preliminar de política pública.

Metodologia e principais resultados obtidos 1. Estruturação de banco de dados e mapeamento dos imóveis para renda de FIIs:

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A raspagem de dados (através do método web scraping) em informações constantes nos informes disponíveis, desde de outubro de 2016, quando passou a vigorar a resolução 571/2015, no sistema de Dados Abertos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), denominado sistema Fundos.Net. Foram obtidos dados de 947 imóveis para renda construídos, para o ano de 2017.

Figura 01: Mapa dos FIIs para renda construídos no Brasil (2017)

Fonte: Elaboração própria. Dados do Sistema Fundos.Net, out. 2018

2. Cálculo da renúncia fiscal dos FIIs:A legislação dos FIIs estabelece que cotistas pessoas físicas proprietárias de cotas, em determinadas condições, podem se beneficiar com a isenção de imposto de renda, diferentemente do percentual tributado pela renda com aluguéis (27,5% para pessoas físicas e 14,53% para empresas no lucro presumido). O cálculo do período em que os dados estavam disponíveis revela que a renúncia fiscal para pessoas físicas foi de R$ 812,24 milhões (entre outubro de 2016 e outubro de 2018). Além disso, a legislação estabelece que há isenção para determinados ativos financeiros, como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e as Letras de

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CRédito Imobiliário (LCI). Os cálculos realizado revelam que o montante passível de arrecadação foi de R$ 357,85 milhões. Somadas as renúncias fiscais somam R$ 1,17 bilhão.

3. Análise estatistica: isenção tributária x características dos imóveis: As informações obtidas nos dois itens anteriores foram então comparadas. Foi realizado o cruzamento do percentual de isenção tributária dos imóveis com a localização dos empreendimentos outras 11 variáveis obtidas no processo de raspagem de dados, destaca-se a renda nominal média dos domicílios particulares e a rentabilidade dos imóveis (Figura 02).

Figura 02: Dispersão entre isenção de IRPF dos FIIs para renda nas regiões metropolitanas brasileiras, em 2017 x rendimento nominal mensal médio dos domicílios particulares permanentes (em salários mínimos), em 2010

Fonte: elaboração própria. Fonte: Sistema Fundos.Net e CENSO 2010 (base do CEM/USP).

Os resultados indicam que não há relação estatística entre a isenção tributária e as

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variáveis selecionadas. Ou seja, as isenções tributárias aplicadas aos imóveis não resultam em nenhuma política pública específica. Especialmente do ponto de vista territorial, também não induz a nenhum tipo de transformação desejável. Proposta de revisão da legislação para aprimoramento da política públicaDiante dos resultados obtidos são apresentadas considerações e duas alternativas para o aprimoramento de políticas públicas com objetivo de aproximar mecanismos de justiça tributária e de desenvolvimento urbano. Em resumo é proposto que as isenções tributárias deixem de ser vinculadas às regras específicas que possam estar vinculadas a determinados objetivos urbanísticos, como a recuperação de edifícios abandonados em áreas centrais para produção de locação social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AALBERS, M. B. Corporate Financialization. In Castree, N. (ed) The InternationalEncyclopedia of Geography; People, the Earth, Environment, and Technology, Oxford, Wiley, 2014.ALENCAR, C. T. A reciclagem planejada do portfólio de Fundos de Investimento Imobiliário propicía um melhor desempenho? Uma análise ex post de 2010 a 2017. Carta do NRE-Poli, n°51-18, janeiro-março de 2018. Escola politécnica da USP, São Paulo, 2018.ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS ENTIDADES DOS MERCADOS FINANCEIRO E DE CAPITAIS (ANBIMA). Deliberação Nº 62 do Conselho de Regulação e Melhores Práticas de Fundos de Investimento, São Paulo, 22 de junho de 2015.ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS AUDITORES-FISCAIS DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL (ANFIP); FEDERAÇÃO NACIONAL DO FISCO ESTADUAL E DISTRITAL (FENAFISCO). Reforma tributária solidária. A Reforma Necessária. Brasília: ANFIP: FENAFISCO: Plataforma Politica Social, 2018. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS AUDITORES-FISCAIS DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL (ANFIP); FEDERAÇÃO NACIONAL DO FISCO ESTADUAL E DISTRITAL (FENAFISCO). Tributação sobre a renda da pessoa física: isonomia como princípio fundamental de justiça. In: FAGNANI, E (org.) A Reforma Tributária Necessária: Diagnóstico e Premissas. Brasilia: ANFIP: FENAFISCO: Plataforma Politica Social, 2018. 804 p.AVAAD, P. A. G. A (não) incidência de IRRF no pagamento de rendimentos de FII para outros fundos de Investimentos regulados pela ICVM 409. In: CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes e (coord.). Mercado financeiro & de capitais. Regulação e tributação. São Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 1227-1248.BOTELHO, A. A renda fundiária urbana. In: O urbano em fragmentos: a produção do espaço e da moradia pelas práticas do setor imobiliário. São Paulo: Fapesp/

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Atuação dos fundos de pensão brasileiros no mercado imobiliário comercial: uma análise sobre tomada de decisão e evolução de

estratégias de gestão de portfólio imobiliário.

ASENCIO, Maira e SANFELICI, Daniel

ST 4 Fundos de Investimento e as transformações na produção imobiliária

Palavras-chave: Fundos de pensão, mercado imobiliário, financeirização.

A ação dos agentes do mercado imobiliário é amplamente responsável pelo modo como o meio ambiente urbano construído se desenvolve e evolui (Theurillat et al., 2010). Nos últimos anos, os fundos de pensão brasileiros entraram em cena como figuras centrais no setor imobiliário, devido à "importância que os imóveis assumiram na composição do portfólio dos fundos, e a importância que os recursos investidos pelos fundos tiveram para o setor imobiliário.” (Fix, 2007).A chamada financeirização alterou a forma como os investidores institucionais realizam a gestão do seu patrimônio e também a forma como medem e enxergam resultados e metas (Sauviat, 2005). A literatura internacional recente aponta que essa mudança na racionalidade dos fundos de pensão resultou em estratégias de investimento diferenciadas, inclusive no que concerne ao investimento imobiliário. No Brasil, um contexto que se entende ser positivo para o crescimento e desenvolvimento dos fundos de pensão como investidores institucionais e, consequentemente, como agentes responsáveis pela reconfiguração espacial da cidade surgiu com a conjuntura de alteração normativa das regras de investimento combinada a um cenário nacional de transformação da Previdência Social, que fortalece os sistemas de previdência complementar. Ainda, uma série de mudanças tem levado os investidores institucionais a modificar suas estratégias de investimento no mercado imobiliário, a exemplo da recente Resolução do CMN nº 4.661 que impede a atuação dos fundos de pensão pelo canal direto (através da compra de imóveis) e aumenta, significantemente, o limite percentual de investimento imobiliário pelo canal indireto, que funciona através de veículos financeiros. Uma apreciação de como os fundos de pensão brasileiros se organizam, o modo como participam do mercado imobiliário comercial e o que envolve a tomada de decisão por detrás desses investimentos de grande porte é indispensável para compreender a força desse agente no que diz respeito à construção do meio ambiente urbano. Como apontam Van Loon & Aalbers (2017), há pouco conhecimento produzido acerca de como os objetivos financeiros vieram a dominar e modificar as estratégias de investimento dos investidores institucionais e como isso afeta o espaço urbano construído. O objetivo desse artigo é analisar de que forma os fundos de pensão brasileiros atuam no mercado imobiliário comercial, explorando os canais, as práticas e

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estratégias adotadas por esses agentes no momento da tomada de decisão e buscando compreender como evoluíram os modelos de gestão e governança do portfólio imobiliário. Como hipótese, sustenta-se que as transformações enxergadas internacionalmente que dizem respeito ao padrão de governança dos investimentos imobiliários se desenvolvem e se configuram de maneira distinta no caso brasileiro. Apesar dos resultados das entrevistas apontarem para uma constante tendência à profissionalização, delegação da gestão da carteira para agentes financeiros e utilização de canal de investimento indireto em imóveis, esses são resultados de processos que surgem de maneira distinta e com motivações diferentes, ou seja, que se desenvolveram (e ainda se desenvolvem) segundo características próprias do mercado de previdência complementar fechada e do mercado imobiliário brasileiro. Para tanto, o artigo está dividido em quatro partes complementares: na primeira, discute-se o papel dos fundos de pensão no capitalismo contemporâneo, com foco na América Latina e na forte influência estatal sofrida pelos fundos de pensão, o que alterou a trajetória desses agentes como investidores locais e como participantes-chave de uma ampla teia de investimentos (Datz, 2013); na segunda, busca-se apresentar e problematizar as contribuições trazidas pela literatura internacional que analisa a atuação dos fundos de pensão no mercado imobiliário. A terceira abriga uma discussão envolvendo os processos decisórios dos fundos de pensão, assim como os espaços e atores que se envolvem nesse processo, como consultorias e gestores terceiros. Por fim, a quarta e última sessão traz os resultados das entrevistas realizadas com gestores de fundos de pensão brasileiros e atores adjacentes envolvidos na relação entre essas entidades e o mercado imobiliário, como gestores de Fundos de Financiamento Imobiliário (FII) e consultores especializados.

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Reestruturação imobiliária pela lógica da financeirização e os novos produtos: analisando empreendimentos em Vitória e Vila Velha

MOREIRA, Elizete

ST 4 Fundos de Investimento e as transformações na produção imobiliária

Palavras-chave: produção do espaço; financeirização; reestruturação imobiliária.

Este texto busca analisar a reestruturação imobiliária decorrente da participação e dominância da esfera financeira, através da produção contemporânea de empreendimentos imobiliários nas cidades de Vitória e de Vila Velha, Espírito Santo, especificamente as construções de edifícios cuja realização é promovida pelo Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário. Dessa forma, estamos contribuindo com as discussões em torno da produção do espaço urbano na fase em que capital portador juros se exacerbou e se multiplica sobretudo enfatizando o rentismo, permitindo à acumulação sobrevida com base na produção do espaço.Para tanto, utiliza-se de informações extraídas nas mídias jornalísticas locais, site do fundo imobiliário em questão e das incorporadoras e construtoras parceiras na realização das obras, além de observação dos empreendimentos em campo. Os dados coletados foram analisados à luz das teorias econômicas que abordam a fase contemporânea do capitalismo, na qual a esfera financeira tem demonstrado dominância, destacando-se o autor François Chesnais; de textos de Henri Lefebvre, considerado um dos principais expoentes da teoria da produção do espaço; obras de David Harvey, um influente geógrafo marxista que tem se dedicado ao estudo da produção do espaço; além de outros trabalhos publicados sobre o tema que contemplam estudos de caso.Antes de se mencionar as especificidades da reestruturação do setor imobiliário local, faz-se importante contextualizar as transformações nas relações de produção, pois elas implicam na forma como o setor atua. Assim, entende-se o capitalismo como um sistema dinâmico e que busca incorporar, a todo instante, novas formas e novas fontes de acumulação. O desenvolvimento dessas novas formas de acumulação, com vistas à manutenção e à ampliação das relações de dominação do capital em relação ao trabalho, adquiriu um caráter particular sobretudo a partir da década de 1970, quando se assiste à autonomização, sem precedentes, do capital portador de juros, também denominado por alguns autores de “capital financeiro”, que se colocou no centro do processo de acumulação.O significado objetivo dessas mudanças corresponde a possibilidade de o dinheiro, funcionando como capital, poder se multiplicar de modo mais rentável e rápido sem necessariamente seguir o ciclo clássico do processo produtivo (D – M – D’); agora o antivalor (D – D’), como se refere Harvey (2018) ao movimento do capital em torno

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de seu fetiche mais exacerbado e descarado, tem o poder de se reproduzir por si só ou subordinar a esfera produtiva à sua avidez por rendimentos. A atividade produtiva, inserida nesse contexto de dominância das finanças, cujos investidores institucionais se destacam, foi impelida a reestruturar-se para responder aos interesses dos acionistas – elevadas taxas de rendimento –. Segundo Chesnais (2005), a propensão do capital portador de juros de demandar da economia mais do que ela pode dar é uma consequência de sua exterioridade à produção. Como se trata de um capital mais volátil, ele tende a seguir o caminho do investimento mais rentável. Seguindo esta lógica – de abertura e de subordinação às finanças –, o setor imobiliário no Brasil sofreu profundas alterações neste início de século. Cabe destacar também que as mudanças que impulsionaram a financeirização do setor imobiliário tiveram forte participação do Estado brasileiro, por meio da política neoliberal, criando mecanismos legais que facilitaram a confluência entre as esferas, sendo determinante no direcionamento das poupanças estrangeiras e locais para a formação dos fundos de investimento imobiliário e outros mecanismos semelhantes, assim como para a oferta de ações de um grupo de empresas do ramo da construção civil no mercado financeiro.Não é o ato de construir que move os capitais da esfera financeira para o imobiliário, isto é, o interesse exclusivamente no lucro proveniente da exploração do trabalho direto no canteiro de obras; a produção do espaço oferece algo mais à reprodução de capitais, que é a renda capitalizada da terra, sendo esta capturada pelos investidores dos fundos de investimento imobiliário. As construtoras, que antes detinham controle sobre a produção, hoje compartilham com outros agentes as benesses da multiplicação do capital através do espaço.Nos últimos anos, esses agentes altamente capitalizados se direcionaram para o mercado da Grande Vitória afetando o modo de produzir a cidade e de viver dos citadinos, sobretudo daqueles que consomem diretamente as novas mercadorias produzidas. No tocante a atuação do Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário nas cidades de Vitória e Vila Velha, os investimentos têm se direcionado exclusivamente para o segmento alto padrão. Os empreendimentos se destacam pelos projetos arquitetônicos ousados e que exigem vultosos recursos, cujas localizações pressupõem lugares de elevada valorização imobiliária ou com grande potencial em razão de atributos naturais, sendo a construção realizada por uma construtora contratada pelo fundo, assim como a intermediação na venda dos produtos imobiliários é terceirizada. O que muda a partir da atuação desse fundo na produção imobiliária nessas cidades? É inegável que se trata de um agente altamente capitalizado e que tem urgência na promoção de seus empreendimentos, portanto, o fundo tende a acelerar as etapas de produção, de realização e de distribuição do valor produzido e capturado, criando uma nova dinâmica no setor imobiliário e, consequentemente, na produção da cidade. Os projetos administrados pelo Opportunity são, normalmente, grandiosos e destinados ao segmento alto padrão, com formas que se destacam na paisagem

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urbana e prometem alterar a sociabilidade, uma vez que trazem consigo usos mistos – residencial e comercial – e diversos serviços de lazer aos condôminos, como: spa; sauna; deck; fitness; child care; playground; street ball; brinquedoteca; port cochère; sala de cinema; espaço gourmet; sala de leitura; salão de jogos; forno para pizza; quadra de tênis; academia de ginástica; sala de yoga e pilates; salão de festas adulto e infantil; piscina adulto e infantil.No caso dos empreendimentos locais, os edifícios chegam a vinte e cinco andares; contemplam mais de uma torre; os apartamentos possuem dois, três, quatro e até cinco quartos ou suítes e até quatro vagas na garagem; são imóveis com tecnologia de automação e oferecem uma série de serviços que, conforme vídeo1 de divulgação de um dos empreendimentos, “fazem com os moradores se sintam de férias o ano inteiro”, e ainda incluem imóveis destinados ao uso comercial. O condomínio localizado em Vila Velha expande os limites da urbanização via ocupação por um estrato social de elevado poder aquisitivo, cujo consumo do espaço tem ancoragem em fortes símbolos de status na atualidade, como a proximidade com a natureza – o mar e a área verde do Parque Natural Municipal Jacarenema. Os fundos de investimento imobiliário não atuam construindo, mas financiando as construções que, ficam a cargo de alguma construtora contratada pelo fundo. Além de realizar o investimento, o Opportunity também pode atuar no financiamento do consumo da obra. Dessa forma, coloca-se duplamente como agente financeiro, viabilizando a etapa de produção e a etapa de realização das mercadorias; neste último caso a aquisição do imóvel pelo consumidor pode ocorrer via aluguel e não necessariamente compra. Em síntese, a partir da atuação desses agentes financeirizados, como os fundos de investimento imobiliário, estabelece-se o domínio do capital sobre as estratégias imobiliárias tradicionais, que buscando formas novas de produção e de apropriação do valor, concebe novos produtos e amplia o mercado, reafirmando a importância do espaço como forma de acumulação na contemporaneidade.

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1. Divulgação do empreendimento Highline Square, localizado no bairro Enseada do Suá, em Vitória. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=HKuml_cp2ZM>. Acesso em: 07 jul. 2019.

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A financeirização e o mercado imobiliário em São Paulo

NETTO, Thaís de Souza Corrêa

ST 4 Fundos de Investimento e as transformações na produção imobiliária

Palavras-chave: Acumulação de capital. mercado imobiliário. São Paulo.

Em 2018, completaram-se dez anos da quebra do Banco Lehman Brothers, que abalou os mercados americanos e europeus, provocou efeitos no Brasil e ficou conhecida como a crise norteamericana do subprime. A crise de 2008 é um dos resultados da financeirização do capitalismo contemporâneo, que surgiu nos EUA, em virtude da enorme expansão de empréstimos hipotecários, inclusive, para as camadas mais pobres da classe trabalhadora. Com relação à crise do subprime, cabe apontar que provocou efeitos no Brasil e no mundo. O governo brasileiro adotou estratégias com o intuito de se proteger dos efeitos da crise, como a criação de mecanismos de regulação para fomentar a economia e o desenvolvimento econômico; a utilização dos Fundos de Pensão e o lançamento do Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV em 2009. O objetivo da pesquisa ainda em andamento é determinar a medida em que a legislação envolvendo o mercado imobiliário no Município de São Paulo serviu como alavanca ao processo de financeirização com a introdução de inovações financeiras a partir de 1997. A hipótese de trabalho é a de que as inovações financeiras – Fundos de Investimento Imobiliário - FII, Certificados de Recebíveis Imobiliários – CRI, alienação fiduciária, debêntures, introduzidas pela legislação no Sistema Financeiro Imobiliário são alavancas para a financeirização. A pesquisa se justifica em razão do aumento da população de rua, do expressivo número de imóveis vazios, do elevado déficit habitacional em consonância com elevado patrimônio líquido dos FII e do crescimento do investimento no mercado de ações brasileiro.

MetodologiaAntes de delimitar os aspectos metodológicos, cumpre informar que a pesquisa encontra-se em andamento e que se materializará em dissertação. Para realizar a investigação atentou-se para o objeto e os seus detalhes. Segundo Marx (2013, p. 128), “a investigação deve se apropriar da matéria em seus detalhes, analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e seguir seu nexo interno”. Coube assim, encontrar o nexo entre as inovações financeiras, criadas pelo Sistema de Financiamento Imobiliário - SFI, e o processo de financeirização, que se revelaram como impulsionadoras do fenômeno indicado. O próprio objeto, por sua natureza, exige uma investigação de corte histórico, tendo em vista que o resultado no contemporâneo é fruto de uma série de relações histórico-concretas anteriores e cabe ao pesquisador

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revelá-las. Assim, a pesquisa se desenvolve pautando-se no processo de acumulação de capital, na renda da terra e no processo de urbanização das cidades, em especial, de São Paulo. Para comprovar a hipótese indicada, recorreu-se ao levantamento de dados secundários de diferentes fontes. A metodologia de dados secundários consiste em levantamento de dados de fontes secundárias: bibliográfico, documental, estatístico e de pesquisas já realizadas. A pesquisa bibliográfica, partiu da leitura de artigos, de dissertações, de teses e de livros sobre o assunto. Merece destaque Guerra dos Lugares, de Raquel Rolnik (2016); a Tese de Mariana Fix, com o título “Financeirização e transformações recentes no circuito imobiliário no Brasil” (2011); “A teoria do regime de acumulação financeirizado: conteúdo, alcance e interrogações” de François Chesnais (2002),“O que é a financeirização?” de Eleutério Prado, “O’Capital” de Karl Marx, volume 1, 2 e 3 e o livro “The New Urban Frontier gentrification and the revanchist” de Neil Smith (2005). Foram coletados dados do: Censo das Favelas de São Paulo, IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, da Fundação João Pinheiro – FJP, no que se refere ao déficit habitacional brasileiro e de São Paulo; da Comissão de Valores Mobiliários - CVM, com relação às Instruções e aos Fundos de Investimento Imobiliário; do Secovi-SP com relação ao valor dos alugueis/venda de imóveis de São Paulo; do Observatório das Metrópoles; do Fipe – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – dados referentes à valorização imobiliária em São Paulo; da B3 – quanto aos Fundos de Investimento Imobiliário e da Prefeitura Municipal de São Paulo, no que se refere aos dados históricos e a legislação urbanística. Nesta pesquisa, será dado um destaque para os FII, todavia, não será possível esgotar a análise envolvendo os FII, em razão do grande número de fundos desta natureza e das variáveis envolvendo a especulação imobiliária. Ressalta-se ainda, que foi encontrada dificuldade em localizar e coletar dados empíricos envolvendo o mercado imobiliário, em razão da ausência de disponibilidade das informações. Apesar da dificuldade encontrada, cabe apontar que os dados que foram localizados e estruturados serão suficientes para o presente estudo.

Principais resultadosPreliminarmente, cabe informar que há diversas concepções do que é caracterizado como financeirização. Conforme indicado por Chesnais (2002), existe um debate entre estudiosos sobre a ocorrência ou não de uma nova fase no capitalismo. Nesta pesquisa, defende-se o posicionamento de Eleutério Prado, que diferentemente de outros autores, apreende tal processo como inerentemente capitalista. Para o autor, a financeirização é um processo que engloba um amplo conjunto de instituições, procedimentos, reflexões e estratégias que possibilitam a realização de metas fundamentais em um contexto de relações sociais existentes. Brevemente pode ser definida como uma influência cada vez maior dos mercados

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financeiros que governam tanto a nível nacional quanto a nível internacional e que está relacionada com a privatização e com a desregulamentação. No que diz respeito à financeirização da moradia, pode ser entendida nas palavras de Rolnik (2016) como a transformação da casa em um ativo financeiro. Aponta-se que a crise de 2008, que teve início em 2007, esteve relacionada diretamente com a financeirização da renda pessoal dos trabalhadores, com os empréstimos hipotecários e com as práticas de securitização. A crise teve início no mercado imobiliário, mas se alastrou para outros setores e provocou reflexos em cadeia no mundo inteiro. No Brasil foram adotados mecanismos que buscavam reduzir os efeitos da crise, entre eles a utilização dos Fundos de Pensão, que migraram os investimentos para os fundos de renda variável, como ações e Fundos de Investimento Imobiliário. De acordo com Relatório do PAC de 2011, o PMCMV, contou com investimentos dos Fundos de Pensão (JARDIM, 2013). O PMCMV foi criado para atenuar os efeitos da crise e pautado no oferecimento de moradia, principalmente, para a população de baixa renda – de zero até três salários mínimos. Entretanto, apresentou diversos problemas, não apenas na estrutura das casas, mas na inserção das mesmas na cidade. Além de não reduzir o déficit habitacional brasileiro, aumentou a desigualdade regional e social nas cidades, bem como, impulsionou a especulação imobiliária. A especulação imobiliária traz diversos prejuízos para grande parte dos moradores da cidade, que muitas vezes não conseguem arcar com o valor do aluguel, adquirir um imóvel ou até mesmo mantê-lo e acabam indo para as favelas, as ruas ou ocupações irregulares.No Munícipio de São Paulo, a maior parte das favelas se localiza na Zona Sul desde o Censo de Favelas de 1987. A Zona Sul também abriga a maior parte dos FII de São Paulo, nos bairros Itaim BiBi, Vila Olímpia, Brooklin, Jardim Paulistano e Vila Gertrudes. Com exceção dos FII do bairro Bela Vista - área Central - e dos FII do bairro Pinheiros - Zona Oeste. Todas as áreas citadas são as áreas com o metro quadrado mais valorizado. Ainda não foi possível comprovar a hipótese indicada, uma vez que o estudo envolvendo a legislação e as inovações financeiras não foi finalizado. Referências:CADASTRO DE PATRIMÔNIO LÍQUIDO DOS FUNDOS DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO. CVM. Disponível em: <http://cvmweb.cvm.gov.br/SWB/Sistemas/SCW/CPublica/ListaPLFII/CPublicaListaPLFII.aspx>. Acesso em: 31 out. 2018. CENSO DAS FAVELAS DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. IBGE.1987. Disponível em: < https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv23993.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2019. CHESNAIS, François. A teoria do regime de acumulação financeirizado: conteúdo, alcance e interrogações. Economia e Sociedade, Campinas, v. 11, n.1 (18).p.1-44, jan/jun. 2002.

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FELLET, João. Minha Casa, Minha Vida piorou cidades e alimentou a especulação imobiliária, diz ex-secretária do Governo Lula. BBC.04 jun. 2018. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44205520>. Acesso em: 10 out. 2018.FII Listados. B3. Disponível em: < http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/negociacao/renda-variavel/fundos-de-investimentos/fii/fiis-listados/>. Acesso em: 31 out. 2018. FIX, Mariana. Financeirização e transformações recentes no circuito imobiliário no Brasil. 2011. 263p.Tese (Doutorado em Desenvolvimento econômico) – Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Econômico, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2011.FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO DIVULGA RESULTADOS DO DÉFICIT HABITACIONAL BRASILEIRO. FJP. 11 abr. 2018. Disponível em: < http://www.fjp.mg.gov.br/index.php/noticias-em-destaque/4154-fundacao-joao-pinheiro-divulga-resultados-do-deficit-habitacional-no-brasil>. Acesso em: 04 ago. 2019.JARDIM, Maria Chaves. A crise financeira de 2008: os discursos e as estratégias do governo e dos fundos de pensão. v. 56, n.04, Rio de Janeiro. Oct./Dec. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582013000400006>. Acesso em: 01 jun. 2019. MARX, Karl. O Capital Crítica da Economia Política. Livro I O processo de produção do capital. Trad. Rubens Enderle. Ed. Boitempo, 2013. 894p. __________. O Capital Crítica da Economia Política. Livro II O processo de circulação do capital. Trad. Rubens Enderle. Ed. Boitempo, 2014. 760p. __________. O Capital Crítica da Economia Política. Livro III O processo global da produção capitalista. Trad. Rubens Enderle. Ed. Boitempo, 2016. 984p. PASSARELLI, Hugo. Preço do Imóvel dobrou em 40 anos. Estado de S. Paulo. 17 set. 2015. Disponível em: <https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,preco-de-imovel-em-sao-paulo-dobrou-em-40-anos,1764321>. Acesso em: 31 out. 2018. PESQUISA MENSAL DE VALORES DE LOCAÇÃO RESIDENCIAL DE SÃO PAULO. SECOVISP. Disponível em: <https://www.secovi.com.br/pesquisas-e-indices/pesquisa-de-locacao>. Acesso em: 04 ago. 2019.PRADO, Eleutério. O que é a financeirização? Disponível em: < https://eleuterioprado.files.wordpress.com/2013/07/o-que-c3a9-financeirizac3a7c3a3o1.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2019. ROLNIK, Raquel. Guerra dos Lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças. São Paulo: Boitempo, 2016. 424p. SÃO PAULO. Legislação Municipal, Estadual e Federal. Disponível em: < https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/urbanismo/legislacao/index.php?p=863>. Acesso em: 04 ago. 2019. SANTIAGO, Tatiana.; MURARO, Cauê. Cidade de São Paulo tem déficit de 358 mil moradias e 1.385 imóveis ociosos.G1. 03.maio 2018. Disponível em: < https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/cidade-de-sp-tem-deficit-de-358-mil-moradias-

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e-1385-imoveis-ociosos.ghtml>. Acesso em: 02 jun. 2019. SMITH, Neil. The New Urban Frontier gentrification and the revanchist. Routledge: London and New York, 2005. 188p. VILLASBOAS, Bruno.; CONCEIÇÃO, Ana. Déficit de moradias no país já chega a 7,7 milhões. Valor Econômico. 03 maio de 2018. Disponível em: <https://www.valor.com.br/brasil/5498629/deficit-de-moradias-no-pais-ja-chega-77-milhoes>. Acesso em: 18 dez. 2018.

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A Cracolândia e o fluxo no contexto da (re)produção do espaço na metrópole de São Paulo

MACHADO, Ariel

ST 5 A articulação entre a Habitação e as PPPs

PALAVRAS-CHAVE: Cracolândia - cotidiano - valorização imobiliária

1. PROBLEMAAssociada à região da Luz, centro de São Paulo, a delimitação da Cracolândia moldou-se nas últimas duas décadas sob a influência das gestões municipais e dos projetos urbanísticos destinados à área. O fluxo, seu conteúdo, refere-se à fixação territorial de usuários de drogas que ali se concentram, suscetíveis ao deslocamento, em relação constante e ritmada com o controle policial. Sugerindo a instrumentalidade de sua delimitação ambígua, a Cracolândia é, ao mesmo tempo, representação espacial e população movente. Ao menos desde 2005, a Cracolândia preserva-se como problema de gestão que coloca em relação as sucessivas operações policiais de combate ao tráfico e a presença cotidiana do Estado à projeção de um movimento de renovação urbana da região da Luz, pautado sobretudo em estratégias de valorização imobiliária. Dessa maneira, remetemo-nos a um eixo temporal dos deslocamentos do fluxo e das atuações localizadas do Estado entre 2005 e 2018, menos com o objetivo de encontrar uma pretensa linearidade do que de sugerir seus pontos de inflexão. Referindo-se à dinâmica da produção do espaço na região, detemo-nos sobre a Concessão Urbanística Nova Luz, suspensa em 2013, e sobre a parceria público-privada do Complexo Júlio Prestes (Lote 1 da PPP da Habitação), parcialmente entregue em 2018 e com obras referentes à sua segunda etapa ainda em vias de finalização no período da pesquisa. Pelo outro lado, cabe diferenciar as formas de gestão estatal que incidem sobre a Cracolândia, identificando prevalências e alternâncias entre as estratégias de dispersão e as estratégias de cerceamento da população e concentração dos serviços de atendimento de saúde e assistência social.

2. OBJETIVO2.1 Objetivo geralAnalisar a relação entre a dinâmica recente de valorização imobiliária da região da Luz e atuação cotidiana do Estado que incide sobre a população do fluxo, visando compreender as mediações que permeiam a ambiguidade da Cracolândia no recorte temporal estabelecido entre 2005 e 2018.

2.2 Objetivos específicos- Compreender a relação entre o perímetro recente do fluxo e os deslocamentos da

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Cracolândia no recorte temporal de 2005 a 2018.- Compreender as delimitações instrumentais da Cracolândia e sua relação com os projetos urbanísticos destinados à área, dando ênfase à não-realização da Concessão Urbanística Nova Luz e às estratégias de valorização que permeiam a parceria público-privada do Complexo Júlio Prestes (PPP Lote 1). - Identificar o ritmo interno do fluxo e as relações de ritmação cotidianas com o entorno e com o controle policial, tensionando as formas de gestão da Cracolândia às tentativas de conceitualização teórica (FRÚGOLI JR e SPAGGIARI, 2010; RUI, 2014; NASSER, 2016).

3. HIPÓTESE Recorrendo aos deslocamentos do fluxo da Cracolândia de 2005 a 2018 e ao seu perímetro recente, adotamos a hipótese de que as estratégias de valorização imobiliária da região da Luz e a gestão populacional localizada produziram, em relação, uma forma territorial de confinamento das pessoas que ali vivem e frequentam. Em sua amplitude, tal hipótese implica e resulta do exercício de atingir a referida relação partindo do cotidiano do fluxo e sua dinâmica particular, correspondendo a um primeiro momento de construção da relação de pesquisa.

4. METODOLOGIAA abordagem teórico-metodológica da pesquisa consiste em tensionar os documentos dos projetos destacados, o levantamento bibliográfico sobre a Cracolândia e eventuais matérias jornalísticas com a presença em campo no entorno do fluxo e adentrando-o. Consideramos o que é refletido das alterações na gestão estatal e das articulações na escala da metrópole, dedicando-se sobre o que se mantém na Cracolândia em representação e em movimento. Recorrendo às interpretações teóricas que compõem a bibliografia sobre a Cracolândia, as formas de gestão e seus deslocamentos são postos em relação com o ritmo e a ritmação cotidiana do fluxo acessados em campo. Tensionando-os, busca-se a captura dos traços da totalidade no que ali aparece fragmentado e particularizado aos indivíduos.

5. PRINCIPAIS RESULTADOSNo centro da metrópole de São Paulo, a Cracolândia preserva-se nas últimas duas décadas como problema das gestões municipais, midiaticamente repercutida e policialmente delimitada. Regredindo no eixo temporal estabelecido, é possível definir o ano de 2005 como marco duplo da relação entre a gestão policial e a projeção de estratégias de valorização imobiliária: a divulgação da Nova Luz como projeto municipal de intervenção urbana e a “Operação Limpa” que efetiva o policiamento e as demolições de imóveis no perímetro do projeto. Promovendo-se Nova Luz, é essa articulação entre a projeção de renovação urbana da região e as operações policiais de combate ao tráfico que delimita espacialmente a Cracolândia. Contudo,

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no mesmo ano em que é identificada com o pentágono delimitado pelo projeto, a Cracolândia desloca-se como espaço de gestão: os usuários de crack ou aqueles assim classificados pelo aparelho policial, expelidos do perímetro de intervenção da Nova Luz, re-articulam-se nas imediações da Praça Júlio Prestes, no bairro dos Campos Elíseos (Cf. NASSER, 2016; FRÚGOLI JR e SPAGGIARI, 2010). A dinâmica policial de dispersão e a preocupação em impedir a fixação concentrada dos usuários orientam a gestão estatal no período de 2005 a 2012. Aparecendo como problema de controle do espaço urbano, desdobra-se em um regime particular de disciplinamento desses corpos. Vulgarizada como Operação Sufoco, a Operação Centro Legal de janeiro de 2012 esgarça tal dinâmica de controle do espaço pela dispersão dos corpo. A implosão, entretanto, efetiva-se como recrudescimento e máxima expressão: a Operação Sufoco tinha como pretensão a higiene e varredura da Cracolândia pela coibição do tráfico, dispersão das cenas de uso e ocupação policial, propondo a manutenção da segurança do espaço. Com a dispersão provisória dos usuários de drogas, a Operação Sufoco teve duração de duas semanas e se efetivou em uma sessão de demolições dos imóveis nas quadras 49 e 50, iniciada já em 2010 com a demolição do antigo Terminal Rodoviário.Sem a efetividade pretendida, as atuações policiais subsequentes abandonam a dinâmica de dispersão antes empregada e a dimensão corpórea é assimilada em uma forma outra de gestão: o fluxo é espacialmente fixado e cerceado pelo Estado, somando o policiamento a serviços e programas assistenciais e de saúde. Antes espaço a ser recuperado, a Cracolândia é agora população. A ampliação localizada da infraestrutura assistencial e do aparato de segurança pública tem correlação à identificação da Cracolândia como uma população em situação de risco a ser gerida pelo cálculo (RUI, 2014). Como demonstra Foucault (2008), a noção de população implica uma realidade correspondente que emerge objeto e sujeito da gestão localizada do Estado e exige um conjunto de mecanismos de segurança que inscrevem-se em um espaço dado, forjando-o “espaço próprio da segurança” (ibid., p. 27). Dessa maneira, identificamos o ano de 2013, ano de suspensão da Concessão Urbanística Nova Luz, como ponto de inflexão em que se consolida essa forma de gestão populacional pela fixação do fluxo e concentração dos serviços e programas estatais.O aparato assistencial concentrado, contudo, não é substituição absoluta do Estado policial. Em 2017, com a mudança da gestão municipal, retoma-se o discurso de recuperação do espaço ou, mais explicitamente, de varredura do seu conteúdo. Com a operação policial de 21 de maio, deslocando provisoriamente o fluxo até a Praça Princesa Isabel, outras operações ostensivas acontecem em sequência. Iniciam-se nesse mesmo mês as obras do Complexo Júlio Prestes pela PPP da Habitação, no terreno do antigo Terminal Rodoviário. Em março de 2018, a permanência do fluxo é outra vez tensionada com a entrega das primeiras torres do Complexo Júlio Prestes.

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Figura 1: Linha temporal do histórico de deslocamentos e mutações da gestão estatal na Cracolândia entre 2005 e 2018.

A breve recuperação do histórico das gestões estatais na Cracolândia faz-se necessária uma vez que a presente pesquisa parte da crise da forma de gestão estatal consolidada entre os anos de 2013 e 2017. Em 2019, a infraestrutura assistencial restante vem sendo progressivamente desativada e transferida a um novo espaço: a unidade do SIAT II (Serviço Integrado de Acolhimento Terapêutico), na Armênia, zona norte de São Paulo. No discurso dos governos municipal e estadual, incluindo sua mediação midiática, retoma-se a especulação de deslocamento da Cracolândia.Dialogamos mais detidamente com a hipótese presente em Nasser (2016) e que sustenta o conceito de campo de gravitação. De acordo com a autora, partindo da interpretação da reconfiguração das formas de controle da Cracolândia, “se constroem dentro da dinâmica de gestão de população no espaço urbano que opera segundo a racionalidade da dispersão e da concentração” (ibid., p. 66). Estratégia específica dessa forma de gestão populacional, a concentração de uma infraestrutura assistencial fixa espacialmente a Cracolândia e evidencia-a como campo de gravitação da população de rua do centro expandido de São Paulo, promovendo-a também como lugar privilegiado de controle. Caracterizada por Nasser como fenômeno de mobilidade populacional, propomos inverter sua direção ao pensar essa atração em paralelo a uma forma de confinamento que, coincidindo fixação e deslocamento, compõem o controle policial da circulação nesse espaço. As perguntas aqui esboçadas partem da crise dessa forma particular de gestão, reconhecendo no percurso de sua consolidação um mesmo momento de circulação da propriedade da terra e realização das estratégias de valorização do espaço na região da Luz. Assim, questionamo-nos sobre quais mediações perpassam a inflexão da gestão estatal que, passando a concentrar uma infraestrutura de serviços e programas, identifica e organiza como população as pessoas que ali vivem e frequentam. O confinamento seria sua condição ou seu produto, premissa ou resultado?Como mecanismo de transferência em um horizonte de empresariamento da cidade (VAINER, 2000), a articulação geográfica das parcerias público-privadas na região da Luz parece retomar o sentido de sua projeção como “complexo imobiliário-financeiro” (PETRELLA, 2017), compondo o movimento de renovação urbana onde o Estado atua, sem separar-se de seu aparato de segurança, como garantidor da

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capitalização da renda representada pelos títulos de propriedade. No caso do Complexo Júlio Prestes, fração do lote inaugural da primeira PPP de Habitação de Interesse Social do país, amplia-se o sentido crítico das condições de sua realização em capital imobiliário: o contrato entre Estado e ente privado opera pelo endividamento, através das cartas de crédito, de sujeitos e famílias na faixa salarial de 1 a 5 salários mínimos. Os mecanismos de popularização do crédito imobiliário que visam incorporar sujeitos proletarizados como demanda solvável, ao mesmo tempo, reorientam mecanismos de segurança a repelir outros pobres do entorno, esses, por sua vez, sem-salário e menos propensos à dívida. Como expressão, os terrenos incorporados pelo Complexo Júlio Prestes caracterizam-se pela demolição e subsequente administração estatal: sua entrega parcial em 2018 consistiu na construção de cinco torres residenciais no terreno do antigo Terminal Rodoviário; enquanto a segunda etapa do projeto, iniciada em março de 2019 e ainda não entregue, construiu mais três edifícios nos terrenos demolidos durante a Operação Sufoco. O movimento do capital, aquele da produção de mais-valia como reprodução das relações de produção (MARX, s/d), parece desviar a si próprio: a confluência entre dívida e policiamento reinterpreta o culto protestante do homem abstrato, repondo a diferenciação entre pobres dignos e indignos na metrópole. Tratamos, afinal, de um mesmo espaço: aquele que se projeta em movimento de renovação como capital imobiliário e aquele em que se inscreve o confinamento do fluxo, identificado como população pela ampliação localizada da infraestrutura assistencial e do aparato de segurança. Dessa maneira, um mesmo momento colide o desmonte dos programas e serviços com a pressão pela circulação da propriedade da terra. Deter-se a essa trama relacional entre a dinâmica imobiliária e as formas de gestão aplicadas pelo Estado na metrópole resulta na tentativa de interpretar o confinamento como elemento constitutivo e emergente da reprodução do espaço urbano, repondo os termos de uma urbanização crítica (DAMIANI, 2004). O território de intervenção dos mecanismos de segurança, onde passa a ter lugar uma determinada população, não perde seu potencial econômico no processo de valorização ou capitalização do espaço. Pelo contrário, o que ali toma a forma de confinamento não é senão momento de normalização desse espaço, contrário e atinente ao cálculo econômico, colocando-se como limite a ser superado. O objetivo, portanto, é o de desnaturalização da forma, rompendo a tautologia de entendê-la por ela mesma. Assim, cabe situar sua consolidação em forma de gestão como um momento de coerência no movimento do capital que se desdobra em contradição do espaço (LEFEBVRE, 1973). No contexto recente da Cracolândia, o desmonte da infraestrutura assistencial e a retomada das investidas repressivas pelo aparelho policial aparecem em seu duplo aspecto como Estado gerindo crise e como crise do Estado gestor. Com isso, é a própria decomposição dessa forma territorial de gestão quem incita as perguntas sobre sua função como confinamento populacional: o que há de rentável, ainda que ficcionalmente, na gestão do supérfluo? O cálculo de segurança, afinal, frequentemente é refeito. Ao passo em que aumenta a

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responsabilização individual da noção de massa, a quem é permitida maior duração enquanto população?

6. REFERÊNCIAS DAMIANI, Amélia. Urbanização crítica e situação geográfica a partir da metrópole de São Paulo. In CARLOS, Ana Fani e OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de (orgs.). Geografias de São Paulo: representação e crise da metrópole. v. 1, São Paulo: Contexto, 2014, p. 19 - 58. FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população: curso dado no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008, 572p. FRÚGOLI JR, Heitor e SPAGGIARI, Enrico. Da cracolândia aos nóias: percursos etnográficos no bairro da Luz. Pontourbe, 6, 2010. Disponível em: http://pontourbe.revues.org/1870LEFEBVRE, Henri. A re-produção das relações sociais de produção. Porto: Escorpião, 1973, 115p._________. La production de l’espace. Paris: Anthropos, 4ª edição, 2000, 485p. MARX, Karl. Capítulo VI Inédito de O CAPITAL: resultados do processo de produção imediata. São Paulo: Editora Moraes, s/d, 169p.NASSER, Marina Mattar Soukef. No labirinto: formas de gestão do espaço e das populações na Cracolândia, 2016, 152p. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. PETRELLA, Guilherme. A fronteira infernal da renovação urbana em São Paulo: região da Luz no século XXI, 2017, 412p. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. RUI, Taniele. Fluxos de uma territorialidade: duas décadas de “cracolândia” (1995-2014). In KOWARICK, Lúcio e FRÚGOLI JR., Heitor (orgs.). Pluralidade urbana em São Paulo: vulnerabilidade, marginalidade, ativismos. São Paulo: Editora 34, 2016, p. 225 - 248.________. Nas tramas do crack: etnografia da abjeção. São Paulo: Terceiro Nome, 2014, 498p. VAINER, Carlos. Pátria, empresa e mercadoria: notas sobre estratégia discursiva do Planejamento Estratégico Urbano. In ARANTES, Otília; MARICATO, Ermínia e VAINER, Carlos. A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. Petrópolis: Vozes, 2013, p. 75-103.

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O Auxílio Aluguel como dispositivo de gestão: O Direito como dívida remunerada

GUERREIRO, Isadora de Andrade

ST 5 A articulação entre a Habitação e as PPPs

Palavras-chave: Auxílio Aluguel; Financeirização; Dinâmicas Populares.

O tema da financeirização da habitação tem sido abordado em todo o mundo com perspectivas diversas. Isso ocorre devido à dinâmica em questão conectar dois polos: o financeiro – cuja lógica de autonomização da valorização imobiliária permite a desterritorialização das forças sociais envolvidas – e a concretude da produção do urbano, que é sempre local. Ao abordarmos o tema a partir do contexto das economias periféricas e dependentes, torna-se necessário analisar o enlace específico que ocorre entre duas formas sociais de produção material aparentemente contrapostas: a institucionalidade requerida pelo capital financeiro-imobiliário, de um lado, e as dinâmicas populares que configuram suas áreas de expansão. A pesquisa em andamento em nível de pós-doutorado procura analisar a articulação existente entre tais dinâmicas populares e as formas ditas “financeirizadas” de produção do espaço, sem recair no tema da informalidade e na consequente narrativa do “atraso” que deve ser erradicado. O fenômeno nos parece requerer um arcabouço de reflexão que lide com a dialética do desenvolvimento dependente brasileiro, no qual a espoliação em aspectos da reprodução da força de trabalho é parte constituinte da dinâmica de acumulação. Deste ponto de vista, procuramos entender a dita “financeirização” não apenas como processos que envolvem o circuito financeiro, mas sim o crescente domínio da lógica e das necessidades de funcionamento do capital fictício (que não se confunde com a “finança”) na sociedade como um todo – ou seja, sua forma social. Assim, é possível entender os vínculos entre tais circuitos e a dinâmica popular, que se mostra parte da sua implantação em países periféricos. Verônica Gago chamou este processo de “Neoliberalismo desde abajo”, na medida em que formas populares de reprodução da vida passam a fazer parte de circuitos de acumulação financeira:

“El neoliberalismo sobrevive sin embargo por arriba y por abajo: como renovación de la forma extractiva-desposesiva en un nuevo momento de soberanía financiarizada y como racionalidad por abajo que negocia beneficios en ese contexto de desposesión, en una dinámica contractual que mixtura formas de servidumbre y de conflictividad. (…) Por neoliberalismo desde abajo me refiero entonces a un conjunto de condiciones que se concretan más allá de la voluntad de un gobierno, de su legitimidad o no, pero que se convierten en condiciones sobre las que opera una red de prácticas y saberes que asume el

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cálculo como matriz subjetiva primordial y que funciona como motor de una poderosa economía popular que mixtura saberes comunitarios autogestivos e intimidad con el saber-hacer en la crisis como tecnología de una autoempresarialidad de masas” (GAGO, 2015, p. 23 e 25).

No caso da produção do urbano, queremos dar atenção ao papel estatal para além da mediação dual entre o mercado imobiliário e os territórios populares, mas principalmente como centro operador de dispositivos de gestão que tem transformado relações sociais em nome da reestruturação da lógica de acumulação. Em particular, temos refletido sobre a noção de direito à moradia na medida em que tem realizado de maneira perversa uma dupla articulação entre espoliação e acesso à habitação. Assim, o mesmo direito à moradia é acionado tanto para a construção de habitação, quanto para a sua remoção: transforma-se efetivamente num dispositivo de gestão de populações, na medida em que produz e gere, na verdade, um necessário estado de insegurança habitacional que articula, do alto, estratégias populares de reprodução da vida, em particular o aluguel, que nos interessa aqui.O Auxílio Aluguel1, na cidade de São Paulo, aparece, nessa perspectiva, como um instrumento da política pública que funciona como dispositivo de gestão por meio da consolidação legal do estado de insegurança habitacional – que pode ser entendido também como de “transitoriedade permanente”, como coloca Rolnik (2015). Pois ele, ao mesmo tempo em que possibilita a retirada da materialidade do direito à moradia (a casa autoconstruída ou autopromovida), a devolve depois como direito abstrato representado por um valor pecuniário que só se efetiva pela existência material da autopromoção de cidade pelas mesmas práticas populares. É uma aparente tautologia na medida em que se volta ao mesmo lugar, mas que, na verdade, aciona um mecanismo fundamental de ser entendido em termos de caracterização da especificidade da produção “financeirizada” do urbano nos países periféricos: a expansão do domínio das terras pelo capital necessita da gestão de corpos despossuídos como contraparte, num novo processo de acumulação primitiva (ou por espoliação) que se utiliza do cativeiro não da mão de obra, mas da reprodução da vida por meio do aluguel permanente. Um elemento importante para esta hipótese é o fato de que, ainda que já realizado em São Paulo, a Locação Social permaneceu como experiência pontual, enquanto o Auxílio Aluguel cresceu exponencialmente (ver Gráfico abaixo), principalmente a partir de 2009 (ano de lançamento do Programa Minha Casa Minha Vida), chegando ao seu pico em 2016 com cerca de 30mil beneficiários no município, além de outros 12mil sendo atendidos em todo o Estado de São Paulo. Ele é freado em conjunto com o estancamento do PMCMV no mesmo ano e, atualmente, o município começou a 1. Pagamento de R$400 mensais a famílias removidas pelo poder público por conta de obras, urbanização, liberação de área de risco, desastres ou vulnerabilidade. O pagamento é feito para o beneficiário e não há controle do uso do recurso, do local ou das condições jurídicas do aluguel realizado. 2.Na qual o município cobra um aluguel social em parque público habitacional

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alterar suas regras de atendimento certamente para adequá-lo ao novo paradigma da política habitacional, as Parcerias Público-Privadas, que exigem “produtividade” do uso deste instrumento.

Número de famílias atendidas no Auxílio Aluguel pela PMSP e pelo Estado de São Paulo

Fonte: Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo e Secretaria de Habitação do Governo do Estado de São Paulo via Lei de Acesso à Informação (2018).

Assim, queremos nesta pesquisa olhar para o Auxílio Aluguel como um dispositivo importante da forma específica de produção do urbano em países periféricos num momento de predominância de reprodução de formas fictícias de capital, na medida em que articula gestão de despossuídos e liberação de terra por meio do mecanismo rentista do aluguel – em particular o popular. Partimos da hipótese de que ele é elemento constituinte de uma forma social que transforma a materialidade imediata do Direito Social numa noção de direito como dívida, expressa no urbano na fila da habitação, que passa a ser remunerada pelo Auxílio Aluguel. Esse mecanismo de securitização de dívida, típico da forma do capital portador de juros, transita num ambiente jurídico-econômico em que o direito, entendido de maneira liberal, se resume ao contrato, e não ao atendimento da necessidade, cuja solução virtualizada é lastreada nos modos de reprodução populares. Assim,

“(…) la pluralización del neoliberalismo por las prácticas provenientes «desde abajo» permite ver su articulación con formas comunitarias, con tácticas populares de resolución de la vida, con emprendimientos que alimentan las redes informales y con modalidades de negociación de derechos que se valen de esa vitalidad social. De nuevo: es en esta pluralización donde también aparecen los modos de resistencia a un modo de gobierno extremadamente versátil. Sin embargo, esas prácticas

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revelan, sobre todo, el carácter heterogéneo, contingente y ambiguo en que la obediencia y la autonomía se disputan, palmo a palmo, la interpretación y la apropiación de las condiciones neoliberales” (GAGO, 2015, p. 31).

Referências Bibliográficas:GAGO, Verônica. La razón neoliberal: Economías barrocas y pragmática popular. Buenos Aires: Tinta Limón y Traficantes de Sueños, 2015.ROLNIK, Raquel. Guerra dos Lugares: A colonização da terra e da moradia na era das finanças. São Paulo: Boitempo Editorial, 2015.

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Capital fictício e novos regimes de segregação urbana no centro de São Paulo: As Parcerias Público-Privadas da Habitação na Luz

FREIRE, Thauany

ST 5 A articulação entre a Habitação e as PPPs

Palavras-chave: capital fictício - vida cotidiana - segregação urbana

Este trabalho pretende debater a produção contemporânea do espaço metropolitano e sua dinâmica territorial associada ao processo de implementação da Parceria Público-Privada de Habitação no bairro da Luz e suas imediações, no Centro de São Paulo.Por meio da análise das novas formas de uso do espaço e dos modos de vida que afluem na região da Luz com a construção de novos empreendimentos imobiliários e reestruturação dos espaços de uso coletivo, buscaremos problematizar como a dinâmica contemporânea da produção do espaço, mobilizada neste atual estágio de reprodução do capital, tem contribuído para engendrar novas ou reproduzir velhas modalidades de experiência urbana, com atenção especial aquelas das populações segregadas. Assim, a análise levará em conta o modo como as transformações recentes produzidas nestas áreas em estudo conformam particularmente as relações dos diversos grupos da população, de modo a compreender como a segregação socioespacial urbana se reproduz neste atual momento da metropolização capitalista. Segundo o desenho financeiro e contratual das Parceria Público-Privada (PPP) de Habitação, criada em 2011 pela Agência Casa Paulista1, o Estado disponibilizaria os terrenos por meio de doação, subsidia as prestações de Habitação de Interesse Social (destinadas às faixas salariais de 1 a 5 salários mínimos mensais) e daria as garantias hipotecárias em caso de inadimplência, cabendo ao ente privado os investimentos na construção imobiliária, na operacionalização comercial dos imóveis e nos serviços de manutenção e administração condominial (pelo prazo de 20 anos). Isso representa uma mudança que entendemos como fundamental, pois tais modalidades de negociação, articuladas a alteração do artigo regulador das desapropriações por utilidade pública, que passou a conceder aos concessionários de Parcerias Público Privadas o direito de desapropriação imobiliária nas áreas de intervenção, criaram as condições necessárias para efetivamente se direcionar capitais da iniciativa privada para construção de novos empreendimentos imobiliários e equipamentos de uso coletivo nos perímetros das ZEIS-3 nas áreas centrais, que incluem 14.124 unidades habitacionais e um conjunto de intervenções de reestruturação urbana. A primeira fase do projeto de construção de Habitações de Interesse Social (HIS) está sendo executada, em sua grande parte em áreas públicas, das quais 80% já eram de posse do Governo do Estado (muitas delas antigas áreas do Metrô). As unidades

1. A empresa de habitação do Governo Estadual de São Paulo, criada em 2011.

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de Habitações de Mercado Popular (HMP), por sua vez, estão sendo construídas em terrenos privados a serem desapropriados pelo concessionário, via decreto de desapropriação emitido pelo Estado e pago pelo grupo empresarial vencedor da licitação, a Canopus Holding S.A.A etapa inicial da implantação do projeto abrange o Lote 1 - Área Central da Cidade de São Paulo, na Barra Funda, e a área do antigo Terminal Rodoviário, onde está sendo construído o Complexo Júlio Prestes. Ao que parece, esse processo tem contribuído para a produção de novas relações sociais e formas de vida na região da Luz e imediações, metamorfoseando as relações pré-existentes e fazendo emergir relações conflituosas entre os novos moradores, os moradores mais antigos, o crime organizado e a população do fluxo. Esses conflitos parecem estar sendo administrados por meio da incorporação de novas estratégias e tecnologias privadas de auto-segregação e pela ampla legitimação do exercício de poder do Estado sobre determinados grupos da população presentes na região. Qual a relação entre a incorporação de dispositivos de segregação já amplamente difundidos desde o início dos anos 1990, baseados na edificação de condomínios fechados como modelo residencial hegemônico e no fortalecimento de esquemas de segurança privada (ver CALDEIRA, 2000), e essa articulação de novas práticas de controle e gestão da mobilidade dos indivíduos considerados “indesejados” (MBEMBE, 2016) no centro da cidade, que inclui a produção do espaço e a tarefa policial?A investigação das recentes transformações ocorridas na Luz, buscará compreender como a concepção disciplinadora e normalizadora do espaço contida no projeto de implantação das PPPs está sendo vivida e experimentada pelo conjunto de frequentadores, trabalhadores e os novos e antigos moradores da área. A articulação cada vez mais estreita, ao longo das últimas décadas, entre os projetos de reestruturação urbana voltados para a região da Luz e as operações policiais cujo alvo prioritário é a Cracolândia, nos leva à hipótese central de que a forma contemporânea da produção do espaço parece contribuir para produzir novas modulações da segregação sócio-espacial no território, cuja qualidade distintiva é propriamente o objeto da nossa investigação.Tal investigação tem se realizado por meio da observação da paisagem e do espaço em transformação com descrições e fotografias, e entrevistas qualitativas com: 1) famílias e indivíduos moradores dos novos empreendimentos imobiliários construídos pela PPP de Habitação no centro de São Paulo; 2) moradores e comerciantes do entorno dos novos empreendimentos imobiliários construídos; 3) assistentes sociais e ONGs, atuantes na área. Por ora, temos constatado que a securitização (CF. Foucault, 2013) e a normalização do espaço se tornam assim alguns dos mecanismos pelos quais a produção do espaço se sustenta e é gestada, haja vista a demanda dos segmentos mais solventes da sociedade impor restrições aos espaços cotidianos dos grupos considerados

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desviantes ( cf. Foucault, 2013). As considerações de Foucault (ibid.) e Wacquant (2006) sobre a dimensão territorial das políticas penais de controle e o modo como essas se transformam a par e passo histórica, econômica e socialmente, ajudam a compreender as formas atuais pelas quais os regimes de segregação se imbricam no espaço cotidiano de toda a sociedade, de forma a atualizar a segregação urbana no centro e a produzir modos de vida urbano policialmente administrados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALDEIRA, Teresa P. do Rio. 2000. Cidade de Muros: Crime, Segregação e Cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34/Edusp.DAMIANI, Amélia Luisa. Urbanização crítica e produção do espaço. In: Revista Cidades – A cidade e o urbano: uma busca conceitual, Vol. 6, núm. 10, 2009.DAMIANI, A.L.. Geografia Política e novas territorialidades. In: OLIVEIRA, A. U. e PONTUSCHKA, N. N. Geografia em perspectiva. São Paulo: Contexto, 2002.FOUCAULT, Michel. 2008. Segurança, território, população: curso dado no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes. FOUCAULT, Michel. 2001. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. São Paulo: VozesHARVEY, David. O Enigma do Capital e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2009.KURZ, R.. O colapso da modernização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Antigona: Lisboa. 2014. POSTONE, M.. Tempo, trabalho e dominação social: uma reinterpretação da teoria crítica de Marx. São Paulo: Boitempo Editorial, 2014.WACQUANT, L. A estigmatização territorial na idade da marginalidade avançada. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, v.16, 2006.WACQUANT, Loïc. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Revan, 2003.

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As políticas de obscurecimento na política de habitação de interesse social

BERTOL, Laura

ST 5 A articulação entre a Habitação e as PPPs

Palavras-chave: habitação de interesse social; renda da terra; espoliação urbana.

A habitação dos mais pobres é há tempos descrita como problema, chegando-se mesmo a formular a ideia de uma crise habitacional, crise que, entretanto, aparece como permanente no modo de produção capitalista, ganhando contornos cada vez mais dramáticos. Contudo deve-se questionar se a constante ausência de moradias para determinada parcela da população é de fato uma crise, uma falha no modo de produção capitalista ou se é uma questão estruturante para sua reprodução, posto que um modo de produção que implica em desigualdade e na conversão extrema da habitação em mercadoria resultará necessariamente em pessoas habitando em condições precárias1. Contudo esse trabalho pretende voltar-se especificamente para a atuação do Estado na habitação, mais especificamente para sua produção direta2 de unidades habitacionais, demonstrando que tanto no plano da ação quanto no plano do discurso este opera na política habitacional reproduzindo a (i)logicidade do modo de acumulação atual e reforçando as desigualdades por ele produzidas ao obscurecer os processos de formação do preço no imobiliário e essencialmente a centralidade da renda da

1. Fenômeno que se mostra global e estrutural, segundo David Madden e Peter Marcuse (2016, p. 10): “A crise habitacional é um previsível e consistente resultado de uma carac-terística básica do desenvolvimento espacial do capital: habitação não é produzida e dis-tribuída com o propósito de garantir moradia para todos; ela é produzida e distribuída como uma mercadoria para enriquecer alguns. A crise habitacional não é um resultado de uma falha no sistema, mas de como o sistema funciona da forma pretendida”.2. Inicialmente cabe ressaltar que o que estamos indicando como produção direta não é necessariamente a produção em si, mas o Estado como dirigente do processo, Samuel Jaramillo (1982, p. 207) nos auxilia para elucidar essa diferença e aponta a tendência da atuação da política pública de habitação: A tendência das políticas de Estado se encaminha para reduzir sua ação no campo da produção ao mesmo tempo em que cede a produção de habitação a capitais privados. Isto reflete na crescente preponderância do elemento motor da produção que obriga o Estado a garantir a acumulação do capital construtor. O Estado vende a habitação a um preço de mercado inferior ao preço de produção (preço de custo mais taxa de lucro), para poder chegar a setores excluídos da demanda solvente, mas na repartição da mais-valia produzida assegura ao capital privado o lucro médio, reservando para si um lucro que necessariamente deve ser inferior ao normal.

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terra nesse processo. Não apenas porque reproduzem uma suposta racionalidade da produção imobiliária capitalista, repetindo e reforçando o movimento de hierarquização do espaço através da gradação dos preços imobiliários, mas porque, por meio de um discurso e de uma prática, criam pontos de obscurecimento e sedimenta a ideia de que a habitação de interesse social é em si um problema e não uma contradição no presente modo de produção3. Destarte a atuação do Estado na habitação constitui em práticas e discursos que criam uma política de obscurecimento da habitação enquanto problema político em disputa. Analisando a atuação da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (COHAB-CT) desde sua fundação em 1965 até os anos 2010 como campo de pesquisa dos elementos de obscurecimento da habitação de interesse social foi possível destacar três repertórios discursivos que são constantemente mobilizados para naturalizar as precárias condições de habitação que a política pública reproduz: (i) escassez da terra urbana, como falta de espaço para a produção de habitação de interesse social, (ii) especulação imobiliária enquanto movimento imprevisível e incontrolável e (iii) irracionalidade do preço da terra, esses “chavões habitacionais” emergiram recorrentemente nas leituras de documentos oficiais4. No intuito de confrontar o discurso da companhia acerca de suas realizações e as suas realizações de fato, efetuou-se também o levantamento quantitativo e a espacialização destas5. Deitando olhar na produção da COHAB-CT a primeira constatação é do crescente constrangimento da produção em termos quantitativos, mantendo-se constante e não acompanhando o crescimento da demanda. Movimento contrário foi o da localização dos empreendimentos, expandindo-se para as áreas periféricas de Curitiba em locais desprovidos de infraestrutura e sem serviços, dinâmica justificada por uma suposta escassez de áreas e economia com a obtenção de terrenos mais baratos, repetindo as relações sociais presentes na produção habitacional para o mercado e as condições precárias de desigualdade urbana. Essa escolha institucional da COHAB-CT, de atuar em coerência com estratégias imobiliárias de mercado, reproduz a ordem instituída, não permitindo que essa atue como agente político na disputa pela variação do preço da terra e consequentemente da habitação,

3. Paulo Cesar Pereira (1988, p. 16) demonstra essa centralidade do Estado nessa escolha perversa a “atuação do Estado torna-se essencial, porque administra e perpetua o interesse dominante que controla a produção e o acesso à propriedade imobiliária. Fraciona o constru-ir e o morar como se a sociedade tivesse que optar entre o emprego e a moradia”.4. Foram consultados relatórios de gestão da companhia, publicações com relatos históricos e entrevistas de técnicos da empresa, divulgações de planos e projetos realizados.5. O período analisado compreende desde a fundação da Companhia de Habitação Popular de Curitiba até o ano de 2010, ano de início das obras do programa Minha Casa, Minha Vida com a formação de um banco de dados.

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combatendo ou sequer questionando a formação de preços monopolistas6. Além da produção em si, há outro plano de reprodução dessa suposta (ir)racionalidade imobiliária: o do discurso. Três repertórios discursivos fundam o imaginário da impossibilidade de atendimento habitacional7 utilizados pela COHAB-CT8. A tríade escassez de terrenos, especulação imobiliária e ilogicidade do preço da terra se interconectam e se retroalimentam formando uma espécie de trama impermeável, interditando o espaço urbanizado para a habitação de interesse social. Para desfetichizar esses “chavões habitacionais” basta observar que a escassez de terrenos é mobilizada como um entrave para a produção da COHAB-CT praticamente desde a sua fundação, pois já na década de 70 é possível encontrar registros nesse sentido. Ademais, no período em que esse discurso se intensificou - décadas de 1990 e 2010 - a companhia produziu 21.306 unidades9 e o setor imobiliário produziu 161.183 residencias, compreendendo mais do que o dobro das carências habitacionais de Curitiba e demonstrando que mesmo sob o discurso da escassez de terrenos a produção imobiliária não só persistiu como cresceu. Esses dados demonstram que o limite não é (nem nunca foi) físico de falta de terra, mas sim dos preços dos terrenos que não são compatíveis com o que a COHAB-CT considera adequado para a produção de habitação de interesse social. Conquanto esse discurso não encontre fundamento na realidade, ainda assim reforça a ideia que existe uma falta de terrenos, contribuindo para a formulação de preços de monopólio nos diversos produtos imobiliários. Já a especulação imobiliária aparece para a companhia e para os órgãos da administração direta do Município como movimento inerente ao desenvolvimento urbano, “uma constante valorização natural que incide sobre os terrenos em geral” (IPPUC, 1977, p. 90), sendo mobilizada para justificar qualquer variação de preço no imobiliário e sem estabelecer qualquer nexo causal com demais elementos da

6.O preço de monopólio é definido por Marx como “preço que é determinado pela ânsia de comprar e pela capacidade de pagar dos compradores, independente do preço determinado pelo preço de produção geral, bem como do determinado pelo valor dos produtos” (1988, L. III, t. 2, p. 224). Essa definição permite a distinção do preço da habitação e do preço da terra; porque o primeiro comporta preço de monopólio, inclusive porque tem que remunerar a terra, um custo que não faz parte do preço de produção. Enquanto o preço da terra é apenas preço de monopólio, um faux frais, segundo Marx, porque considera o rendimento que esse monopólio proporciona a seu proprietário improdutível.7. A ideia de que o problema habitacional das camadas mais pobres da população é insolúvel é recorrente no discurso de diversos gestores. 8. No presente artigo utilizamos como estudo a Companhia de Habitação Popular de Curiti-ba, entretanto esse discurso pode ser facilmente localizável nas diversas secretarias, agências e companhias habitacionais brasileira9. Na produção estão contabilizados lotes, lotes gerados a partir de regularizações fundiárias, apartamentos e casas.

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produção imobiliária que incidem em sua formação. Essa desvinculação reforça a aparência de que a terra gera valor de forma autônoma e oculta que seu preço é atribuído por meio do princípio de equivalência ampliado10 diretamente conectado a taxa de lucro e a possibilidade de exploração da classe trabalhadora. Afirmar que toda elevação de preço no imobiliário decorre de mera especulação imobiliária cria a falsa imagem que a terra tem capacidade de capitalizar-se. É evidente que o preço da terra e do produto imobiliário têm dimensões especulativas, entretanto utilizar a especulação imobiliária como explicação para qualquer elevação de preço oculta as coalizões, conflitos e contradições existentes entre as diferentes classes na apropriação do valor global e também do setorialmente produzidos. A constante reprodução e mobilização de argumentos como a escassez de terra e a especulação imobiliária servem de fundamento para um terceiro pilar das políticas de obscurecimento: o de que o preço da terra é ilógico. Carrega consigo a ideia de que o preço da terra é criado por ela mesma e que depende unicamente da oferta e da procura. Discurso e prática que obnubilam que o nexo lógico do preço da terra e das edificações está no processo de produção imobiliária, mais especificamente na exploração do trabalho e na formação da taxa de lucro média. Naturalizar o preço da terra e suas variações como se fossem apenas mais um elemento dentre suas características físico-químicas, oculta que ele contém a contradição entre proprietários de terra e capitalistas e o conflito entre trabalhadores e capitalistas. Corpos explorados no trabalho e espoliados do urbano, habitando em locais sem condições mínimas de urbanização. Processo de produção do espaço pautado pelo setor imobiliário e reproduzido pela COHAB-CT, utilizando recursos públicos e potencializando ganhos imobiliários de diversos agentes do setor. A construção dessa (ir)racionalidade econômica baseada em repertórios discursivos demonstra cabalmente que o fundamental então não é a quantificação dos preços na habitação, mas o processo pelo qual estes são estabelecidos a partir da formação e realização da renda da terra. Tornando central a análise do preço da terra como preço político formado a partir da disputa pela mais valia e sua transfiguração em renda e consequentemente do preço do produto imobiliário demandando uma crítica política com a desconstrução de práticas e discursos já bastante arraigados no interior da política pública de habitação.

10. Nos termos propostos por René Lourau em seu trabalho El Estado y el Inconsciente (1980, p. 92) no qual afirma que o princípio de equivalência proposto por Marx precisa ser entendi-do como um princípio de equivalência ampliado para todas as formas sociais intistucional-izadas por forças políticas, econômicas e ideológicas.

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Referências Bibliográficas

INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO DE CURITIBA. Relatório de viabilidade dos programas de desenvolvimento urbano da cidade de Curitiba. Curitiba: IPPUC, 1977. JARAMILLO, Samuel. Las formas de producción del espacio construido en Bogotá. In: PRADILLA, Emilio. (org.) Ensayos Sobre el Problema de la Vivienda en México. México: Latina UNAM, 1982. pp. 149 – 212.LOURAU, René. El Estado y el inconsciente: ensayo de sociología política. Barcelona: Editorial Kairós, 1978MADDEN, David; MARCUSE, Peter. In Defense of Housing: the politics of crisis. Verso: Londres, 2016.MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política, livro terceiro, tomo dois. São Paulo: Nova Cultural, 1988.PEREIRA, Paulo Cesar Xavier. Espaço, Técnica e Construção: o desenvolvimento das técnicas construtivas e a urbanização do morar em São Paulo. São Paulo: Nobel, 1988.

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Nuevos mercados de arriendo privado: Crecimiento de los Corporate Landlords en Santiago, Chile y en São Paulo, Brasil.

MARÍN-TORO, Adriana

ST 6 A propriedade em transformação na produção do espaço

Palabras clave: mercado de arriendo privado, Global Corporate Landlord, financiarización de la vivienda

Históricamente tanto en Chile como en Brasil, la política de vivienda que ha predominado es aquella focalizada en la promoción de la casa propia (Hidalgo, 2005; Pasternak, Bógus, 2014), y tradicionalmente el arriendo ha quedado rezagado dentro de las estrategias de dotación de vivienda asequible en estos países . Por lo tanto, no existe una amplia intervención del Estado en un mercado de arriendo con interés social, y lo que ha funcionado con bastante autonomía, es un mercado de arriendo privado, fragmentado y disperso, que se ha desarrollado tanto de manera formal como informal. Lo que se presenta como nuevo en este artículo respecto a este mercado en las ciudades de Santiago y São Paulo específicamente, es un segmento que nunca antes había sido apropiado y manejado a gran escala por inversionistas corporativos -Corporate Landlord- (Call, et al., 2014; Fields, 2014; Rolnik, 2018).Los Global Corporate Landlord, es un grupo de inversionistas en arriendo residencial que ha sido estudiado como una de las nuevas aristas presente en las investigaciones sobre financiarización de la vivienda luego de la crisis global habitacional de 2007-2008, que por medio de diversas estrategias, empresas de capital privado e inversionistas institucionales han irrumpido en los mercados de vivienda en crisis, sustentados por oportunidades de rentabilidad creadas por los Estados y entidades supranacionales para acudir al rescate1 del capitalismo, de modo visible en Estados Unidos, España, Irlanda, por medio de la adquisición por parte de los bancos de un número considerable de viviendas unifamilares y convertidos en activos financieros por parte de capital privado y otras empresas financieras (Abood, 2017; August, Walks, 2018) e inicialmente en Londres, con la privatización de viviendas públicas y sociales destinadas al alquiler (Beswick et al., 2016), tal como sucedió en Alemania (Wijburg, Aalbers, 2017). Otra tipología de la nueva vivienda financiarizada y lucrativa del mercado de arriendo residencial, son fenómenos como AirBnb en ciudades turísticas del mundo, que poseen grandes inversiones en este negocio, cuyos impactos son la reducción del mercado hotelero, pero también, del mercado de arriendo de largo plazo (Rolnik, 2018).

1. Para el caso de Chile y su actual política de arriendo ver: Link, Valenzuela y Marín-Toro, 2019; y para el caso de Brasil y su política de arriendo revisar: D'Ottaviano, 2014.

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En este sentido, en los casos de las ciudades de Santiago y São Paulo existe una reciente apuesta por arriendo residencial, esto es, nuevas inversiones integradas a un mercado financiero globalizado, particularmente en edificios de vivienda para posteriormente arrendar a personas naturales. Se trata de activos transables, cuyos dueños, en su mayoría, son empresas o fondos de inversión. Así mismo, en ambos casos, hay inmobiliarias que han respondido a este interés diseñando y construyendo para este sector, ya sea poniendo en renta parte o la totalidad de los edificios, que antes se destinaban a la propiedad. A partir de lo anterior, se presenta una investigación en curso, descriptiva, sobre el desarrollo del nuevo mercado de arriendo privado caracterizado por la aparición de inversionistas corporativos, en el que nos preguntamos si ¿estamos frente a una nueva forma de vivienda financiarizada en el mercado de arriendo privado en dos ciudades del Sur Global?Este nuevo mercado trae asociado la generación de nuevos productos, destinados a consumidores específicos, preferencias socioespaciales para su localización, y por ende, posibles consecuencias socioespaciales en ambas ciudades. Respecto a la tipología de productos observados, hasta el momento, advertimos en ambos casos la presencia de nueva vivienda estudiantil de alto padrón, dado que Santiago y São Paulo concentran una amplia población universitaria. En el caso de São Paulo, han aparecido departamentos tipo co-living o destinados directamente a AirBnb, cada vez más pequeños, sin estacionamiento, es más, para el año 2018 el 60% de los departamentos vendidos tenían menos de 45m2, llegando hasta los 10m2, el menor tamaño de América Latina (Valim, 2019). Se destaca también la presencia de edificios multifamily en el caso de Santiago, que posee un modelo de administración profesional, en general, de un solo dueño (fondo de inversión, family office o un solo inversionista) destinados a familias para estadías de largo plazo, es un modelo de negocio que comenzó el año 2013 y que ya suma 33 proyectos, que agrupan más de 8.000 viviendas (Cabello, 2019). También hemos podido observar que existe un cambio en la relación entre arrendatario y arrendador, mediada principalmente por las nuevas tecnologías de la información y la comunicación; se trata de una modalidad de gestión de arrendatarios y propiedades que reduce costos de operación y también disminuye la interacción entre dueño e inquilino, definidos por Fields (2019) como “Automated Landlord”.Finalmente en este nuevo escenario, nos preguntamos si podemos hallar continuidades en lo que se ha definido como Global Corporate Landlord en el Norte Global, en Santiago y São Paulo y cuáles serían sus características particulares en un contexto latinoamericano; como también sus consecuencias, considerando que estamos frente a dos ciudades que presentan un mercado de arriendo privado desregulado. Actualmente, este nuevo tipo de inversión está en crecimiento en los casos seleccionados y creemos que es necesario poner atención en su desarrollo debido a que el vínculo entre la propiedad local y las corrientes globales de capital se

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han intensificado y la literatura sugiere que ha habido un aumento en los costos de alquiler y en la seguridad de la tenencia para los arrendatarios (Fields, 2014: Beswick et al., 2016).

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A regulação estatal como agente de transformação da lógica de apropriação das cidades: a Lei 13465/17 e a

financeirização da terra urbanaRIBEIRO, Tarcyla

ST 6 A propriedade em transformação na produção do espaço

Palavras chave: regularização fundiária, financeirização, regulação estatal

De acordo com Max Weber (1999), só foi possível o surgimento capitalista a partir de um determinado arcabouço regulatório que permitiu a fixação de suas bases. Para além de ter permitido o surgimento mesmo do capitalismo enquanto modo de produção, a regulação vem permeando a história capitalista com diversas - e por vezes contraditórias – funções, que variam entre a atuação em conformidade com os interesses capitalistas e o embasamento de práticas de resistência. O espectro formado no entremeio entre estas funções, contraditórias entre si, encontra-se em permanente disputa, com a inclinação da regulação mais no sentido de um ou outro polo conforme as disputas sociais e políticas.Neste cenário, o estudo da regulação estatal não apenas como instrumento, mas também como agente transformador da ordem social em uma posição mais ativa, se revela fundamental para a compreensão do que parece se configurar como uma nova lógica de apropriação das cidades, submetida aos interesses de agentes financeiros no contexto de um capitalismo dominado pelas finanças (GUTTMAN, 2008).Com o objetivo de demonstrar a importância da compreensão da regulação estatal como agente de transformação, será apresentado o caso da lei 13.465/17, conhecida como o novo marco nacional de regularização fundiária, em substituição ao capítulo III da Lei 11.977/09. As mudanças introduzidas pela nova lei podem ser descritas, resumidamente, como a revogação de um modelo que compreendia a regularização fundiária como um processo amplo - que deveria conter aspectos urbanísticos, arquitetônicos, sociais e jurídicos – em favor de um modelo que privilegia de forma decisiva o aspecto jurídico-formal, permitindo que se promova regularização fundiária apenas a partir da titulação formal dos imóveis, deixando os demais aspectos (urbanísticos, sociais e econômicos) em segundo plano.A regularização fundiária, reduzida a um processo massivo de formalização jurídica dos imóveis, perde o potencial de garantia de direitos e democratização do acesso à cidade, contribuindo para a manutenção de condições urbanas precárias, inclusive com possibilidade de aumento de processos de expulsão de populações vulnerabilizadas residentes em áreas mais valorizadas do território, especialmente por possibilitar uma atuação mais direta do mercado imobiliário.Como se sabe, os processos histórico e social de constituição do Estado brasileiro levaram a que a propriedade fundiária no Brasil adquirisse contornos heterogêneos,

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havendo diversos tipos de relação estabelecidas com a terra, não necessariamente em conformidade aos moldes capitalistas.Neste cenário, a hipótese que se levanta é que a regulação estatal poderia estar sendo utilizada para homogeneizar o estoque fundiário nacional sob um mesmo regime jurídico, o da propriedade privada individual, e registral, para possibilitar uma nova rodada de mercantilização da terra no Brasil, fixando as bases para um movimento futuro mais amplo e sólido de financeirização via securitização de ativos. Na tentativa de problematizar esta hipótese, cabe ainda inserir o processo de alteração do modelo de regularização fundiária em um contexto mais amplo de inserção do país em uma ordem neoliberal, que defende intervenções estatais, inclusive regulatórias, em favor dos interesses capitalistas, em especial das frações ligadas às finanças. Quanto ao controle destas intervenções, este se daria, principalmente, por duas vias: (i) a interferência direta ou indireta de organismos internacionais, especialmente aqueles responsáveis por empréstimos e (ii) a difusão de modelos que se apresentam como solução padrão para diversas questões, em muito associados a experimentos regulatórios, a partir de think-thanks. No que se refere à mudança no modelo de regularização fundiária brasileiro, esta se encontra sob o auspício de ambos os mecanismos descritos anteriormente. Isto porque o novo modelo se baseia amplamente na “doutrina” da governança de terras, difundida como solução em termos de controle territorial a partir do enfoque na homogeneização jurídica e registral, introduzida no país pelo Banco Mundial como uma de suas “recomendações” cujo cumprimento interfere na capacidade de obtenção de empréstimos.Esta modelagem, apresentada como solução para o controle territorial e atualmente incorporada na nova legislação de regularização fundiária brasileira, se mostra importante para a capilarização e desenvolvimento do capitalismo sob dominância financeira na medida em que expande suas fronteiras de possibilidades de acumulação – ao incorporar grandes quantidade de terra no mercado – e garante maior segurança para o cada vez maior número de especuladores que negocia a partir da terra urbana.De fato, a terra urbana tem se tornado uma opção cada vez mais relevante para investidores e especuladores. O quantitativo crescente de habitantes em cidades no mundo, e o consequente crescimento de sua importância para a organização e circulação do capital, tem direcionado a atenção do capital para as cidades seja pela via produtiva, seja pela especulativa.Segundo Harvey (2015), o investimento em infraestruturas urbanas pode ser uma saída ótima para crises de sobreacumulação, típicas do capitalismo e ainda mais acentuadas em situações de dominância financeira. Isto porque, ao mesmo tempo em que seria capaz de absorver grandes quantidades de capital e mão de obra por um período prolongado de tempo, poderia preparar estruturas para um ciclo de acumulação futuro.Por outro lado, em um viés especulativo, assistimos a um crescimento relevante, em nível mundial, de títulos securitizados baseados na terra urbana, bem como de

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fundos imobiliários que atuam nas cidades sob a lógica financeira da valorização acionária e maximização do lucro no menor prazo de tempo possível.A crescente importância da terra urbana, pela dupla via acima apresentada, associada ao cenário político nacional – que opera uma inflexão ultraliberal a partir de 2016, com o golpe jurídico parlamentar – parece agregar fatores importantes para a compreensão da alteração regulatória sobre a regularização fundiária.Trata-se de uma atuação direta e ativa da regulação estatal em favor de interesses capitalistas, especificamente na homogeneização do estoque fundiário brasileiro e promoção de uma nova rodada de mercantilização da terra no país, estabelecendo as bases para um possível segundo movimento de financeirização via securitização de ativos com lastro fundiário.O sucesso deste processo de agudização da mercantilização e possível financeirização da terra no país tende a agravar o cenário de espoliação e os conflitos, especialmente nas cidades. Isto porque a terra é elemento essencial para a garantia de direitos fundamentais, começando pela moradia digna. A capilarização das lógicas mercadológica e financeira nas cidades aprofunda os processos de segregação socioespacial (SASSEN, 2016), conforme já podemos observar especialmente em nossas metrópoles. Uma alteração regulatória como a que descrita irá potencialmente ampliar estes processos, na contramão do ideal de construção de cidades mais justas e igualitárias, cada vez mais distante.BibliografiaARANTES, Pedro Fiori. O ajuste urbano: as políticas do Banco Mundial e do BID para as cidades latino-americanas. Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP, 2004.CHESNAIS, François. A finança mundializada. São Paulo: Boitempo, 2005.CHRISTOPHERS, Brett. Revisiting the urbanization of capital. In: Anals of the association of american geographers, 2011.DURAND-LASSERVE, Alain. Regularization and integration of irregular settlements: lessons from experience. Nairobi: World Bank, 1996.GUTTMAN, Robert. Uma introdução ao capitalismo dirigido pelas finanças. In: Novos Estudos CEBRAP, n. 82, 2008.

HARVEY, David. Os limites do capital. São Paulo: Boitempo, 2015._______. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005.PAULANI, Leda. Acumulação sistêmica, poupança externa e rentismo: observações sobre o caso brasileiro. Estudos Avançados, São Paulo, v. 27, n. 77, p. 237-261, 2013. SANFELICI, Daniel. Financeirização e a produção do espaço urbano no Brasil: uma contribuição ao debate. EURE, Santiago, v. 39, n. 118, 2013. SASSEN, Saskia. Expulsões: brutalidade e complexidade na economia global. Rio de janeiro: Paz e Terra, 2016.WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: UnB. Vol.1, 1999.

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O público e o privado, e as o papel da terra nas transformações do espaço urbano.

MOREIRA, Fernanda Accioly

ST 6 A propriedade em transformação na produção do espaço

Palavras-chave: terra pública, regularização fundiária, Porto de Santos.

A terra, ou o acesso à terra, assume papel central nas definições das relações de poder político e econômico no Brasil. Na virada do século XIX para XX, Estado através de diferentes mecanismos garantiu o envolvimento do setor privado inicialmente estrangeiro, e depois nacional, em obras de infraestrutura viária, do setor de transportes e na promoção de habitação popular. A relação entre Estado e setor privado, portanto, não é algo novo nas transformações e reestruturações do espaço urbano, tampouco é inédita a “disponibilização” de terras públicas pelo Estado e sua apropriação, muitas vezes de forma indevida, pelo setor privado no contexto de economia periférica e dependente brasileira. Nos interessa debater os mecanismos atuais pelos quais esses processos ocorreram recentemente no contexto de forte demanda por expansão da atividade portuária no período do “milagrinho brasileiro” 1, experimentado pelo país na primeira década do século XXI.O estudo sobre o caso do Porto de Santos, analisado na pesquisa de doutorado “Terras de exclusão, portos de resistência: um estudo sobre a função social das terras da União”, defendida na FAUUSP em meados de 2018, mostrou as diferentes estratégias adotadas pelo privado para viabilizar empreendimentos portuários de grande monta – perpassando os interstícios do Estado, marcadamente complexo, heterógeno e fragmentado – diante de forte pressão de mercado pela expansão do setor nesta região. Em meio a ampliação da importância estratégica da região para a economia do país em vista da exploração do pré-sal e da ampliação da atividade portuária, respondendo às demandas do comércio exterior e do “efeito China”, considerando a iminente saturação do porto público em Santos, observou-se um movimento de incursão do capital estrangeiro buscando efetivar uma nova frente para realização de capital excedente disponível no mercado financeiro internacional, por meio da implementação de greenfields projects (empreendimentos de grandes proporções implantados áreas verdes, originalmente, de preservação ambiental) nas áreas situadas ao fundo do estuário de Santos (Canal Piaçaguera) – em sua maioria de propriedade da União. Diferentemente dos terminais públicos arrendados, os novos terminais portuários de uso privativo (TUP) exigiam enormes intervenções no mar e

1. Termo trazido pelo economista Edmar Bacha.

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na terra para as modernas as instalações e equipamentos de movimentação de cargas conteinerizadas. Por meio de uma verdadeira “manobra de flanco” foi sendo construída uma ação, possivelmente coordenada, de diferentes atores em diversas frentes dentro das estruturas administrativas e de poder político, nos diferentes níveis de governo, que tinha como objetivo enfraquecer o modelo de landlord port (privado é concessionário de terminais públicos) e emplacar o modelo dos TUPs. Para isso seria necessário alterar as diretrizes e legislação do setor portuário, transformar áreas de preservação em áreas de expansão portuária (modificando a LUOS municipal o ZEE da Baixada Santista), garantir aprovações e licenciamentos ambientais em diferentes níveis federativos e, principalmente, assegurar o domínio das terras públicas, no caso, federais – não só como suporte material para construção de novas instalações portuárias, mas como instrumento de garantia, tanto das ações compensatórias decorrentes do processo de licenciamento ambiental, como para alavancar financiamentos públicos e privados necessários.Agentes privados, para garantir o domínio da terra, fizeram uso da seguinte estratégia: uma pessoa física – engenheiro agrimensor responsável pelos levantamentos técnicos iniciais e que tinha adquirido a preço de “banana” os direitos possessórios da área de pequenos sitiantes, pescadores e catadores de caranguejo, que tradicionalmente ocupavam tais áreas para subsistência – formalizava por “instrumento particular e cessão de posse e aquisição de benfeitorias” pedido de regularização da situação através da inscrição de ocupação (IO)2, justificada pelo exercício do efetivo aproveitamento da área por atividades permitidas em território, então caracterizado como Área de Preservação Ambiental. Uma vez deferida a IO pela União em nome desse particular, as cessões de posse eram transferidas para empresa portuária (constituída por sociedade de pessoa jurídica, majoritariamente de capital estrangeiro) e formalizadas junto à União, ainda que não fosse permitido qualquer tipo de atividade correlata nessas áreas. Diante da regularização da Ocupação em nome da empresa, que lhes garantia o direito de preferência para constituir o regime enfiteutico (previsto em lei), requisitavam a aquisição do aforamento oneroso, sendo este concedido, diante de uma avaliação subdimensionada, por procedimento simples, não carecendo de qualquer análise jurídica ou homologação superior. Contornando, desta maneira, os trâmites licitatórios exigidos por lei, mas, também, o debate mais amplo sobre o destino daquele território e o controle sobre o que, por quem e como seria viabilizado.Diante do processo observado, no momento da história do capitalismo em que há predominância da lógica financeira, estão presentes e de maneira enfática, mais do

2.Inscrição de ocupação é um ato administrativo precário, resolúvel, que pressupõe o efetivo aproveitamento do terreno pelo ocupante e enseja o pagamento anual de taxa de ocupação, que varia de 2% a 5% do valor do terreno, a depender da data de sua constituição e local-ização – se em área rural ou urbana.

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que em outros momentos, processos típicos da fase de acumulação primitiva do capital (HARVEY, 2005) “marcados por um estreitamento das relações entre poder e dinheiro, uma vez que o sistema é marcado pela discricionariedade, pelo compadrio e pelo privilégio” (PAULANI, 2010). Fraudes, roubos, usurpações e outros tipos de violência nunca deixaram de existir completamente, mas vêm se mostrando, segundo Paulani (2010) de forma mais exacerbada no contexto em que ocorreram crises de sobreacumulação experimentadas das últimas décadas. No Brasil, depois de serem expropriadas da população indígena originária, as terras tornam-se “públicas”, já que o domínio sobre elas é atribuído à Coroa portuguesa por direito de conquista. A partir daí, inicia-se a exploração econômica do território brasileiro, através da concessão de terras feita pela Coroa a particulares, por meio do sistema de sesmarias. Embora as terras fossem fator abundante e de pouco valor dentro do sistema de produção mercantil, o fato de estarem altamente concentradas nas mãos de poucos marcaria as relações de poder. A imprecisão dos limites, tamanho e localização favorecia as apropriações indevidas e abusivas de terras, como estabelecia as condições para que esta dinâmica fosse amplamente praticada e perpetuada.No desenrolar desses processos, inaugurados no período colonial, mas perpetuados na atualidade, a “informalidade” intrínseca ao universo de terras públicas – na medida que grande parte dos bens públicos não estão devidamente identificados, demarcados e formalmente incorporados junto aos cartórios de registro de imóveis em nome do ente público (ou seja, não se encontram devidamente matriculados). – impossibilita uma efetiva gestão desse patrimônio. Se ora a “informalidade” contribui para a apropriação indevida e privativa de terras públicas por particulares, como no apresentado, ora se apresenta como um importante entrave para atender certos objetivos, como a privatização de terras públicas. Experiências malsucedidas, a exemplo os leilões frustrados para venda de terra pública da União e do Munícipio de São Paulo pela ausência de compradores (Portaria autorizativa para leilão de imóveis da União 7 e o caso do estádio do Canindé, em São Paulo, em função da ausência de matrícula não pode ser levado à alienação), mostram que existem bloqueios para a efetivação das transações imobiliárias.As dificuldades, nesse caso, esbarram na “informalidade”, uma vez que para transações imobiliárias dessa natureza os imóveis devem estar livres, desimpedidos e desocupados para serem colocados à disposição para venda. Assim, parte-se da hipótese de que bloqueios decorrentes da estrutura fundiária e da forma pela qual se deu ao longo da história a apropriação das terras no Brasil (VARELA,2005; HOLSTON, 2013; MOREIRA, 2018) – que está relacionada a restrições de diversas dimensões (como espólios, pendências fiduciárias, irregularidades jurídico-cartorial, até ocupação fática do imóvel), – tornaram parte significativa dos bens públicos um “capital adormecido”, uma vez que a mobilização desses ativos pela alienação de terras públicas é dificultada.Não à toa, recentemente, visando a superação desses bloqueios foi promovida a

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alteração da política de regularização fundiária urbana, na medida em que foram modificados o mérito, a forma e os procedimentos estabelecidos antes pela Lei federal n° 11.977/2009, entendida não mais como instrumento legal dentro da política urbana e de garantia de direito à moradia, mas como estratégia de titulação em massa. A Lei federal n° 13.465/2017 tira o foco dos territórios populares e traz maior flexibilidade aos parâmetros e regulações urbanísticos gerais, visando dar fim a irregularidade fundiária a partir, não da lógica da garantia de direitos fundamentais, mas garantir uma base fundiária formalizada e homogênea, capaz de ampliar o mercado imobiliário de natureza “fixa”, mas também impulsionar o mercado financeiro de natureza “fluida” que também exige lastro seguro inerente à propriedade privada, uma vez que o objeto primordial pretendido ao final da ação de regularização é o título, independente das condições urbanísticas do loteamento regularizado.Na história foram inventadas e reinventadas diferentes formas de liberar as terras públicas para o mercado premiando interesses dominantes (grupos com suficiente poder econômico e influência política) e fragilizando regimes fundiários que garantisse acesso mais democrático à terra. Atualmente, estamos diante de mais uma estratégia, que dependerá do “bom” desempenho de um novo hall de novos mecanismos que incidem sobre a gestão das terras públicas.

Referências Bibliográficas: HARVEY, David. “A produção Capitalista do Espaço”. Sao Paulo: Annablume, 2005.HOLSTON, J. “Cidadania insurgente. Disjunções da democracia e da modernidade no Brasil”. São Paulo. Companhia das Letras, 2013.MOREIRA, F. “Terras de exclusão, portos de resistência. Um estudo sobre a função social das terras da União”. Tese (doutorado em Planejamento Urbano Regional) São Paulo. FAUUSP, 2018.PAULANI, Leda. “Capitalismo financeiro, estado de emergência econômico e hegemonia às Avessa no Brasil”. in: OLIVEIRA, F; BRAGA, R. e RIZEK, C. (org). Hegemonia às Avessas: economia, política e cultura na Era da servidão financeira. São Paulo: Boitempo, 2010.VARELA, Laura. “Das sesmarias à propriedade moderna: um estudo de história do direito brasileiro”. Rio de Janeiro: Ed. Renovar, 2005

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A smart city em uma leitura pelo capital financeiro: um olhar para a “zona crítica”

BAITZ, Ricardo

ST 6 A propriedade em transformação na produção do espaço

Palavras-chave: cidade inteligente; produção do espaço; forma urbana

Henri Lefebvre relaciona forma e função urbana, articulando o modo de produção de cada época. Para o autor francês, a antiguidade clássica produziu a cidade política, articulada entorno da ágora. Nesta esteira, a cidade comercial, concebida com mediante a ascensão do capital mercantil, se fez mediante a hegemonia da função mercado, enquanto a industria (e o capital industrial) propiciou o urbanismo enquanto técnica e ideologia. Muitos autores se questionam acerca a forma urbana sob égide do capital financeiro. São trabalhos que buscam, desde a década de 90, vincular o urbanismo (representante do capital industrial) às regras de zoneamento e a crescente liberalização destas regras (com as operações urbanas consorciadas, a venda de títulos de potencial construtivo em bolsa de valores e os novos agentes financeirizados – fundos de pensão, imobiliários) ao capital financeiro e, por vezes, ao capital fictício (negócios envolvendo títulos em bolsas de valores, etc).Partimos de um apontamento: os estudos envolvendo a financeirização exploram um tom turvo no espectro de cores, pois o capital financeiro não consiste em uma completa superação do capital industrial (não formando, portanto, a próxima cor do espectro de luz). Constatação que dificulta a apresentação de resultados inteiramente corretos ou errados em sua plenitude. Há acertos e erros nas pesquisas propõem vincular a cidade financeirizada às novas regulamentações do zoneamento e, consequentemente, aos atores representados no circuito da bolsa de valores. É válido mas inconcluso, pois o próprio capital fictício encontra-se em movimento, se atualizando e buscando por novas relações capazes de sintetizar seus interesses. Eis o problema.É por uma operação metodológica de deslize (portanto, aquém e além dos métodos formais de indução e dedução) que formulamos a hipótese do capital fictício encontrar seu modo de produção naquilo que os economistas denominam economia dos aplicativos. Trata-se de reconhecer que a telemática permitiu a certo capital dominar e controlar o trabalho sem que fosse necessário imobilizar-se em maquinário ou que realizasse inversões a título de antecipação para a produção. A telemática também permitiu, pela chamada economia dos aplicativos, a este capital, a obtenção de uma participação dos lucros de cada negócio envolvendo as partes, a título de taxa de “serviço” (ou de administração, mas à qual preferimos nomear percentual por mediação).Prosseguindo, a hipótese consiste em apontar que as novas relações produtivas

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implicam vislumbrar a produção do espaço sob tais relações. Os resultados da investigação passam a ser apresentados. Uma nova forma urbana se anuncia. De modo que a produção em escala para venda, típica da sociedade industrial, perde acento para uma produção de espaços exclusivos objetivando o licenciamento da experiência (ou o acesso, nos termos da economia). Articula-se, no virtual, a concessão urbanística (e suas derivações) como forma de licenciamento e o vasto emprego de tecnologia da informação para obtenção de um diferencial que possa ser apresentado enquanto uma nova experiência. Nisto consiste, em nosso entender, a potência dos projetos envolvendo o conceito de cidades inteligentes (smart cities). A cidade inteligente, apresentada como revolucionária pelos seus defensores, é lida enquanto a atualização necessária do capital. E, assim como o capital financeiro não supera inteiramente o capital industrial, a cidade inteligente não consiste na superação plena do urbanismo, mas em um urbanismo renovado, ou “urbanismo 2.0”.O novo urbanismo, proposto pelas cidades inteligentes, confessa a incapacidade do planejamento em resolver os problemas da cidade moderna, e propõe a mais ampla administração do caos para assegurar a fluidez das pessoas e os objetos no território. Trata-se de dotar o espaço de inúmeros sensores capazes de produzir informações processadas por centrais que coordenam os dispositivos, impondo-lhes um ritmo orquestrado. Os inúmeros smartphones cumprem um papel determinante. Através da coleta de dados computadores centrais indicam, a cada smart citizen o horário correto para se sair de casa e a rota para evitar congestionamentos de modo a garantir a chegada ao destino no tempo informado. Tais computadores ampliam ou diminuem o tempo dos semáforos. Distribuem as pessoas durante o turno de serviços públicos (como hospitais) e privados (como bancos) a fim de não haver filas. Em uma smart city os algoritmos enfatizam a diminuição do tempo (e do espaço) ao menor número possível – o zero. Concomitantemente, em uma cidade dita inteligente os dispositivos eletrônicos tomam o papel de atores e as pessoas se transformam em coadjuvantes, vez que suas ações são determinadas por aquilo que os dispositivos inteligentes ditam. A cidade inteligente desloca o conceito de cidadão para o de usuário, o que aprofunda a crítica envolvendo a apropriação e alarga a discussão acerca o processo de despossessão.A obra de Henri Lefebvre aponta para a utopia da cidade enquanto encontro e o urbano enquanto conteúdo concreto das relações humanas quando da revolução urbana. A revolução não se efetivou. Aliás, ela se efetivará? Em seu lugar houve a reforma urbana. A zona crítica trouxe, em sua bifurcação, a distopia imposta por toda ordem de relações mediadas pelo capital financeiro e imediatas, vez que o objetivo deste capital é antecipar os rendimentos do trabalho futuro.

Bibliografia

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Cidades assistidas e interfaces condicionantes

VARGAS, Dario

ST 6 A propriedade em transformação na produção do espaço

As formas de apropriação espacial urbana estão relacionadas às dinâmicas da realidade social, as cidades se transformam à medida que as concepções espaciais derivadas da tecnologia e sua infraestrutura, atrelam-se à ideologia econômica como discurso prático sobre o semiótico. Portanto, este texto constrói um olhar possível sobre a espacialidade urbana desdobrada na tecnologia, propiciando um debate crítico do urbanismo que, regulado pela circulação, emprega a expropriação espacial do virtual.

Pergunta Como a geografia urbana se vincula a uma leitura crítica do desenvolvimento tecnológico na produção de espaço?

Objetivo Contextualizar as relações existentes entre as metodologias da geografia urbana e os processos com que a tecnologia incide sobre a produção de espaço urbano.

Hipótese As políticas urbanísticas supõem as formas de relação social nos espaços urbanos, a mediação tecnológica em que a Smart City se pauta, reproduz as ausências e carências da cidade, e enquadra, assim, o referenciamento das abstrações cotidianas em modelos estritos, delimitados, susceptíveis de uma financeirização por meio do valor agregado da gentrificação e do valor segregado do comum [do que foi retirado].

Metodologia As metodologias a serem usadas na pesquisa abarcam varias ações. A primeira é uma análise, inicialmente exploratória, mas que se desenvolverá numa perspectiva transdisciplinar e crítica para abordar a teoria geográfica —principalmente a urbana — sobre a produção de espaços, a interação social e as políticas urbanísticas, com a finalidade de criar um corpus conceitual das transformações com as quais a noção de espaço se tem desenvolvido. Faz-se necessário incluir nesse estudo os enfoques tecnológicos que versam sobre interação, realidades mistas, híbridas e expandidas, mídias locativas e táticas. Aqui se aborda a interação social em sentido amplo, quer dizer, a interação social deve ser estudada transversalmente com as interações tecnológicas, o que procura estabelecer como a produção urbana de espaço, além da realidade material, se estende ao virtual.

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Assim, a separação se levanta em muros de diferenciação, práticas sociais dirigidas a grupos sociais específicos [mas diversos] circunscrevem as interações com as que se constrói a realidade urbana comum: horários de transporte públicos reduzidos, proibição de práticas poéticas na rua, lugares VIP, sinal reduzido de redes 4G em certas áreas da cidade, a presença e a ausência humana em certos locais, em certos horários, desertificações arquitetônicas e vazios urbanos à terrain vague [moda de todo centro urbano, seu melhor modo]. Ao final, acessos fechados, acessos abertos, tabelas lógicas. Arquiteturas moduladas para receber modelos de vivencia, divididas em centímetros quadrados de valor como equivalente térreo de propriedade, verticalizadas em diferentes apresentações: módulos pessoais para o empreendedor solitário, módulos familiares justos para o casal [pós] moderno. Ao redor da planta, a cidade desmembrada dando passo ao design arquitetônico que se projeta nas ondas wifi, nas projeções financeiras sobre terrenos ainda habitados pelas pessoas que não habitarão essas futuras colmeias. As cidades se estruturam ao redor das figuras do tempo, em relação ao dinheiro, e do espaço, em relação à mobilidade privada do carro e das mercadorias, assim, alimentam seu rítmico crescimento: turismo predador, riquezas financeiras e febres de ouro, bolhas imobiliárias e periferias de sobrevivência, Smart Cities e gentrificação hipster, nomadismos financeiros e sedentarismos efêmeros. A cultura urbana se estende na forma de cidadania. Com o ciberespaço tornam-se ainda mais complexas as questões de produção espacial. Por um lado somando técnicas para a elaboração dos programas tecnourbanisticos que transformam a forma-cidade em interface enunciada a partir da política econômica de amplas projeções sobre todos os aspectos da vida cotidiana, recuperando as linguagens dissidentes para minimizar seus impactos enquanto denuncia para convertê-las em estratégia publicitária. Este tipo de práticas sugere uma hibridação entre data-imagens produzidas por sujeitos de carne e osso, que deambulam em ambiências expandidas e virtuais, caracterizadas em “corpos ciborguizados” e “corpos informacionais” (BEIGUELMAN, 2013, p. 147-155), ao mesmo tempo em que caracteriza territórios informacionais, onde se desloca a duplicidade avatar/usuário na companhia de dispositivos (mídias locativas) que agregam conteúdo informacional sobre a realidade concreta, espelhando, em forma dinâmica, o físico no virtual (LEMOS, 2007, p 11). A virtualidade que aparece aqui é definida em conjunto com a realidade, quer dizer, que as operações de conversão e transdução entre realidade/virtualidade produziram uma noção de espaço complexo, em que por separado ou em conjunto, aparece o espaço construído pelas camadas de realidades em que se realiza, já não como virtualidade, já não como concreto, mas como interface [representação?]. O urbanismo, opina Debord, refaz a totalidade do espaço para o Capitalismo como seu próprio cenário (§ 169), suprime a distancia geográfica pela separação espetacular

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(§ 167) e isola o individuo no conjunto (§ 172) complementando criticamente o que aparece na ideologia urbanística sobre o desenvolvimento tecnológico de comunicação de massas e integra, nas suas projeções, os desdobramentos sobre a mediação tecnológica nas Urbes: a carreira tecnológica é uma carreira urbanística [econômica]. Cidades pensadas a partir de modelos de comunicação que as usam como interface, principalmente por meio da Internet das Coisas (Internet of Things — IoT), objetualizam os usuários e subjetivam os objetos na interconexão urbana, o que reitera a integração corpo-espaço na aporia dos displays, territórios virtuais dos videogames, como o Worldcraft, e plataformas, como o Second Life, mesmo Facebook ou Instagram, supõem novas formas de deambular e cartografias de lugares não físicos, que fundem nossa percepção em três dimensões — dir-se-ia quatro com o tempo — à retina e à imagética, em uma espécie de nomadismo sedentário e de cinemática da experiência, de práticas sociais mediadas por um campo além do clássico concreto, no continuum-discontinuum do sistema relativista de Einstein e da física quântica, tomados como uma “ruptura inaparente da unidade de medida”, um “acidente de transferência” (VIRILIO, 2014, p. 90) A produção de valor opera de modo que o cotidiano se torna um espaço interativo de troca plena, a gentrificação comanda os valores econômicos e simbólicos da cidade nas projeções a futuro das commodities, nas expropriações e nas carências, nas senhas e na presença. Paralelamente dos processos de deslocamento interno nas cidades, produto das reintegrações e das desapropriações de espaço, emergem os processos de financeirização de espaços desérticos que crescem improdutivos, dos velhos edifícios ocos, das novas estruturas de conexão, dos hubs urbanos, da geolocalização e das redes: Projetos de castelos de cristal e concreto em cujas margens a pobreza permanece abandonada.

Principais resultados A proposta abre novos campos de diálogo entre os quais se destacam a cibergeografia como forma de abordagem dos espaços virtuais, das realidades mistas e expandidas, das Smart Cities e das novas políticas urbanísticas com as quais se intervém a interação social mediada tecnológica e econômico-politicamente. Com o uso da teoria crítica debruça-se no ciberespaço procurando alternativas tanto de compreensão das relações entre o virtual e o real, quanto de ação no embate entre a criação de valor e as resistências sociais que emergem.

Referências bibliográficas BACHELARD, Gaston. La poética del espacio. Buenos Aires : Fondo de Cultura Económica de Argentina. 2000. BANKINTER, Fundación de la Innovación/ACCENTURE. El Internet de las Cosas, en un mundo conectado por objetos inteligentes. España : 2011.

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Crime, Estado e Capital: A circulação da terra no Jd. Panorama

CAMPOLIM, Joaquim Bührer

ST 7 Condomínio: forma de propriedade e racionalidade neoliberal

Palavras-chave: Dinâmicas de reprodução do capital; Mercado Imobiliário; Propriedade privada da terra; Crime Organizado;

1. PROBLEMACondicionando o aumento da desigualdade, os processos de precarização do trabalho se intensificaram sob as atuais lógicas de (re)produção do espaço sob a hegemonia do capital financeiro, e o que se constituía nas periferias como dimensões de exploração de base salarial [isto é, fundadas na dilapidação da remuneração e no trabalho excedente como formas de manter crescente a taxa de mais-valia], tornaram-se um conjunto de práticas espoliativas a partir da extinção de vínculos trabalhistas, da expansão das linhas de crédito e do endividamento consequente; bem como do cotidiano controlado a partir de práticas de militarização combinadas com dinâmicas sociais e formas de governo promovidas por agentes como: igrejas neopentecostais, policiamento ostensivo, programas sociais1 e o crime organizado, que emerge tanto na gestão dos ilegalismos quanto na instituição de um ordenamento social e responsável pelo corte na violência [BIDERMAN, DE MELLO, LIMA, SCHNEIDER, 2018; BIONDI, 2009; FELTRAN, 2005]2. Sob essas condições, aniquilam-se conteúdos sociais e produz-se uma dimensão de governo dos pobres que conecta circuito financeiro e favela.

1. Uma verdadeira constelação de práticas e programas sociais e urbanos, que alteram de modo ambíguo as relações entre Estado e Mercado a partir de OS’s, ONG’s, Fundações e etc, constituem um “novo terreno associativo’’ que geraria por si um “mundo de indistinção’’ onde territórios de influência se confundem, fortalecem e anulam, numa perspectiva sintéti-ca, sob a forma do Estado [Rizek, 2016].2 O crime organizado, na figura do PCC, é um dos agentes responsáveis pelo clima de in-segurança que, entre outras determinações, age no sentido de impedir as formas de organ-ização coletivas [FELTRAN, 2005], contribui para o distanciamento do sujeito na condição periférica de uma saída além daquela permeada pela lógica da propriedade privada, em que para “ter acesso à cidade’’ é preciso consumi-la, ou criando através da vida no crime a possibilidade para a realização desse consumo. Porém, Biondi [2009] demonstra que através dos cargos rotativos entre os irmãos da facção, bem como pelo rígido regrário moral e ético para com as responsabilidades na organização da comunidade, reside a responsabilidade não apenas de uma sociabilidade permeada pela lógica do consumo, mas também por um corte significativo na violência em todos os locais que se faz presente, sendo a atuação do crime en-tendida como a demarcação do fim de uma época em que imperava a “guerra de todos contra todos’’, do “cada um por si’’ e do “o mais forte vence’’, através de ideais fortemente findados no compartilhamento da situação de marginalizado, transgressor da lei e de cárcere.

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Na prática, os papéis que o Estado precisa assumir deixam de lado o fornecimento dos meios de reprodução da vida, dos equipamentos públicos e etc [entendidos como gastos desnecessários e excedentes a partir do discurso de uma racionalidade neoliberal que se amplifica], e passa a ser garantir a manutenção das taxas de lucro a partir da sua instrumentalização e gerir [ou terceirizar] as formas de controle social. Não obstante, o crescimento do Crime Organizado sob a forma do Estado, a partir da gestão social e espacial, ocorre concomitantemente à financeirização dessas relações, justamente a partir do final da década de 1990. Ampliam-se parte das relações observadas por Kowarick, [1980] em que o sentido de Estado que cria suporte de infraestrutura necessário à expansão industrial [financiando a curto ou a longo prazo as empresas e por agir diretamente enquanto investidor econômico] torna-se também criar e garantir as demandas imobiliárias. Já a sua função de agente que tem por encargo gerar os bens de consumo ligados às necessidades de reprodução da força de trabalho e manter sua ordem social [KOWARICK, 1980,p.59] desloca-se totalmente, enquanto o Crime cresce e possivelmente assume, dentre outras, essa responsabilidade. A área do estudo representa justamente um amálgama dessa introdução conceitual e compreende a interface entre o Complexo Cidade Jardim, da empreiteira JHSF, (localizado na região do Morumbi, subprefeitura do Butantã, São Paulo – SP) e que concentra “residencial, shopping, eventos e escritórios” - ponta de lança das lógicas de acumulação da reprodução de espaço sob os novos conteúdos que hierarquizam e fragmentam o urbano; e a favela do Jardim Panorama (Figura 1) (que tem aproximadamente 570 imóveis e está no local desde 1957). Paisagem que representa a contradição e a subversão do urbano, oculta a predação imobiliária acobertada pelo Estado, financiador das obras da JSHF pelo BNDS [2], mas na favela, a poucos metros de distância, se faz presente apenas na sua ausência.

Figura 1. Cidade Jardim [amarelo] e Favela do Panorama [vermelho]

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A pesquisa iniciou-se a partir da problemática investigada durante dois momentos-chave: a inauguração do shopping e a construção do Corporate Center, em que a JHSF utiliza de meios legais e ilegais para comprar [por intermédio da associação de moradores local] os loteamentos e terrenos [inclusive alguns que, sob a legislação antiga, eram definidas como ZEIS-1]; nesse processo, valores extremamente altos de transação, e denúncias de envolvimento do crime organizado, indicam que há, para esse agente, um potencial lucrativo interessante além da mera lavagem de dinheiro. 2. OBJETIVO O objetivo geral deste trabalho é investigar como o crime se apropria dos negócios imobiliários como uma dimensão da sua atuação a partir do caso do Jd. Panorama.3. HIPÓTESE A principal hipótese derivada do estudo realizado na favela do Jd. Panorama é de que há um deslocamento da ideia de que os serviços relacionados a compra e venda de lotes [tanto nos mercados ilegais quanto legais, a partir do exercício do poder e da força na ocupação ou desocupação], bem como apropriação de serviços, comércio e funções básicas e vicinais, estariam apenas ligados a lavagem do dinheiro obtido no tráfico de drogas e armas. Essas funções, a partir do seu próprio potencial lucrativo, emergem como objetos fim da atuação do crime organizado.

4. METODOLOGIA Os procedimentos de pesquisa envolvem: i) a revisão bibliográfica, construção de hemeroteca e a análise documental sobre o processo de chegada do Complexo Cidade Jardim bem como seus resultados na vida cotidiana; ii) realização de entrevistas com moradores, profissionais atuantes na região e outros pesquisadores, bem como sujeitos envolvidos nos processos de usucapião e movimentação da Associação de Moradores do Jd. Panorama; iii) análise do material articulando conceitos da ordem próxima e distante sob as matrizes do pensamento da geografia urbana radical.5. PRINCIPAIS RESULTADOS As atividades da Associação de Moradores do Jardim Panorama [AMPJ], responsável por mediar as vendas de terrenos para a JHSF em dois momentos [durante a construção do shopping e nas desapropriações para a construção do Corporate Center] entram em declínio justamente sob a reorganização regional do crime que impõe novas sociabilidades, relações e normas de convivência. Além fazer a gestão e o controle do espaço e coibir a organização política, supõe-se

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que o crime assume e amplia o papel do Estado a partir de funções que tocam desde o controle social à fornecer/gerenciar serviços de ordem banal; porém, dentre eles, reside o controle espacial e territorial que emerge como potencialidade lucrativa para além da lavagem de dinheiro. As vendas de terrenos, mediadas pela AMPJ, tanto nos dois momentos especificados, quanto na continuidade do processo até hoje, em que um lote ou barraco pôde chegar a valer R$ 60.000,00, representam por si um potencial lucrativo que não se coloca apenas como tangente ao mercado da droga. A gestão dos ilegalismos, observada a partir do potencial lucrativo do mercado imobiliário em regiões como a do Jd. Panorama, representa uma mudança de paradigma e uma nova fronteira para o estudo dos processos urbanos no Brasil: em tempos de precarização do trabalho e de dilapidação das relações sociais, não é possível entender o mercado de terras no Brasil sem a centralidade do crime organizado. 6. BIBLIOGRAFIA BIDERMAN, C. DE MELLO, J; M; P. LIMA, R; S. SCHNEIDER, A. Pax Monopolista and Crime: The Case of The Emergency of the Primeiro Comando da Capital in São Paulo. Journal of Quantitative Criminology. Springer US. Disponível em <https://doi.org/10.1007/s10940-018-9393-x>. BIONDI, K. Junto e Misturado: Imanência e Transcendência no PCC. 2009. 196 f. (Dissertação de mestrado em Antropologia Social). Universidade Federal de São Carlos.. São Carlos-SP. FELTRAN, G. S.; Desvelar a política da periferia. Histórias de movimentos sociais em São Paulo. SÃO PAULO. ASSOCIAÇÃO EDITORIAL HUMANITAS. FAPESP. SÃO PAULO, 2005. 386p. FELTRAN, g. S; Irmãos: uma história do PCC. Companhia das Letras. São Paulo, 2018. 320 p. KOWARICK, L. A Espoliação Urbana. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1979. 208 p. RIZEK, C. S. ESTADO, MERCADO E POLÍTICAS URBANAS [Mimeo]. Instituto de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de São Paulo. São Carlos, 2017.

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A forma condomínio, suas morfologias e sua combinação com fundos de investimento imobiliário como estratégia de articulação com formas financeirizadas de capitalização da terra: o caso do Condomínio Cidade

Jardim em São PauloCEZAR, Isabel e SANTORO, Paula

ST 7 Condomínio: forma de propriedade e racionalidade neoliberal

Palavras-chave: condomínio, fundos de investimento imobiliário, mercado imobiliário.

Problema, objetivo e hipótesesHá uma tese crescente de que a forma condomínio tenha se tornado hegemônica na produção para mercado e para o Estado (Tone, 2015; Cezar, 2018). Esse artigo se une a esta corrente da generalização da forma condomínio, entendida como uma extrapolação da palavra condomínio no sentido imobiliário, para uma forma de propriedade partilhada por um número determinado de proprietários que melhor se adapta às lógicas e maneiras de operar do capital imobiliário-financeiro, desenhando o que se acredita ser uma nova fase da forma condomínio (Tone, 2015; Cezar, 2018) se observada a genealogia dos diferentes usos dessa figura associada à novas tipologias urbanas.Várias autoras apontam para o uso da figura condomínio como estruturador do processo de verticalização em São Paulo, após década de 1940 (Somekh, 1997; Rossetto, 2002), bem como fuga da regulação do parcelamento do solo, a partir da disseminação de loteamentos fechados nos anos 1990 (Leonelli, 2010; Santoro, 2012, 2014). Concomitante à proliferação dessas morfologias, assiste-se à transformação do espaço urbano em espaço condominial, com a privatização de áreas cada vez maiores, e consequente perda de espaço público, de urbanidade, de bem coletivo. E muito tem sido discutido sobre as diversas formas de privatização de áreas urbanas (Caldeira, 2000; Ribeiro, 1996) e sua conexão com crescente sensação de insegurança, ou como estratégia de venda de modo de vida “suburbano” na forma da tipologia dos condomínios fechados ao longo de rodovias (Reis, 2006; Sposito, 2007; D’Ottaviano, 2008).Este artigo tem como objetivo avançar nos estudos sobre a relação entre a forma condomínio, suas morfologias e os modos financeirizados de capitalização da terra. Tem como hipótese que, após os anos 2000, os condomínios têm sido utilizados como figura chave para a implantação das lógicas do complexo imobiliário-financeiro, face à sua flexibilidade, relação com a propriedade e possibilidades de capitalização. Para isso, estuda a evolução das morfologias condominiais produzidas desde os anos 1940, e foca nas alterações da última década com a implantação de morfologias mais complexas e quando se dá a combinação do condomínio com os fundos de investimento imobiliários (FIIs).

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Estes surgem nos anos 1990 (Lei nº 8.668/93) como um tipo de fundo estruturado, constituído sob a forma de um condomínio fechado de investimentos em empreendimentos de base imobiliária, ou seja, “negócio apoiado em imóvel cujo objetivo seja a geração de renda de longo prazo” (Rocha Lima, 2011), cujas quotas constituem valores mobiliários. Possui um administrador, autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários – um banco, uma sociedade de crédito imobiliário, corretora ou sociedade distribuidora de títulos e valores imobiliários, ou similares –, que constitui o fundo e realiza a captação de recursos por meio da venda de cotas para investidores. Podem comprar ou construir imóveis, vender ou alugar, investir em títulos imobiliários ou mesmo em outros fundos.O sistema de cotas se estruturou por meio da estrutura legal da forma condomínio, na qual a propriedade imobiliária permanece constituída por uma unidade e os participantes (proprietários investidores) têm a propriedade de uma parte dessa unidade. Uma mudança que tal mecanismo traz para a forma condomínio anterior é a possibilidade de o proprietário-investidor comprar cotas e não fração ideal do terreno mais a área útil de um imóvel, como usualmente descrito em uma matrícula de propriedade.O crescimento dos fundos se deu nos anos 2000 após regulações que deram isenção de impostos e possibilidade de investimento em papéis (títulos/recebíveis imobiliários), podendo inclusive ser um “fundo de papéis” (versus o antigo “fundo de tijolos” associado aos imóveis físicos) ou até, mais recentemente, um “fundo de fundos imobiliários”, os FOFIIs (Martin et al., 2018).Uma hipótese deste trabalho é que a forma condomínio se tornou o meio de apropriação do espaço pelo capital, na qual a maneira de operar do mercado financeiro se sobrepõe às formas tradicionais de renda da terra, por meio da atuação na captação de recursos, redução de alíquotas, sistema de crédito, e facilitando, no âmbito legal, as atividades produtiva e comercial, inclusive na produção imediata dos condomínios ou composição de portfólios com imóveis e recebíveis ou títulos imobiliários, geralmente associados a determinadas morfologias urbanas.Metodologia Inicia traçando um panorama de como a morfologia dos condomínios foi sendo transformada, regulada, incorporando as lógicas de capitalização, e combinada com FIIs. Assiste-se, a uma paulatina alteração de análises do condomínio como figura jurídica de partilhamento da propriedade indiferenciável, associada inicialmente ao rentismo, para uma figura mais associada às lógicas flexíveis das rendas imobiliárias mais permeáveis ao mundo financeirizado.Na sequência, caracteriza as fases dos FIIs que, embora já trabalhadas por outros autores que analisaram sua expansão, tipologias e territorialização (Santoro & Rolnik, 2017; Pereira, 2017; Santoro et al., 2018; Martin et al., 2018; Franco, 2019), serão revisadas à luz dos momentos em que sua combinação com a figura condomínio permite diversas lógicas de capitalização e associações com o imobiliário.

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Adota a metrópole paulistana como recorte espacial de análise para o estudo das morfologias condominiais e utiliza o estudo empírico de uma empresa incorporadora-construtora pesquisada, a JHSF, e seu conjunto de ativos imobiliários, bem como lógicas e evolução no processo de construção para incorporação combinada com ativos imobiliário-financeiros, a partir do caso do Condomínio Cidade Jardim, em São Paulo.ResultadosA análise sobre a evolução dos FIIs mostra que se beneficiam (i) de facilidade na mobilização de capital procurando ganhar competitividade como investimento - em um primeiro momento obtido a partir de fundos de pensão, funcionando como alternativa ao crédito imobiliário (Fix, 2007); (ii) na desmobilização do capital, permitindo fluidez de capitais, inclusive financeiros globais - as cotas são negociadas sem alterações no registro de imóveis, e sim na composição dos fundos, em um processo mais rápido e barato; (iii) de isenções de imposto de renda - maior à pessoa física (Franco, 2019). A relação dos fundos com seus imóveis também permite a composição de portfólio que agrega vários empreendimentos (“tijolo”) e/ou recebíveis imobiliários (“papéis”), bem como ser um “fundo de fundos”, em uma combinação de ativos mais complexa. Este mix procura equilibrar rendimentos piores e melhores, diferentes tempos, ainda que o investimento a largo prazo e constante sejam mais relevantes.A análise das morfologias - via panorama e estudo da empresa JHSF, seus ativos e do Condomínio Cidade Jardim, em São Paulo - aponta para formas mais complexas, condomínios multiuso, que: (i) mesclam formas tradicionais e conhecidas do mercado imobiliário financeirizada - como escritórios, shoppings e hotéis -, centradas no aluguel (com exceção dos habitacionais para compra e venda), de grande extensão territorial e física (também capitalizaram a renda da terra por meio do adensamento); (ii) em que as alterações de regulação são notadas geralmente pela possibilidade de grandes extensões condominiais, associadas a áreas de reestruturação territorial (como operações urbanas consorciadas), em áreas valorizadas; (iii) pela composição condominial combinada com fundo insere-se em lógicas que, por exemplo, permitem a venda de quase a metade das cotas, alavancando recursos no mercado financeiro, sem mudar a gestão do shopping; (iv) e especialmente, o investimento em cotas de fundos imobiliários distribui as perdas no caso da vacância das unidades, permitindo que os imóveis fiquem vacantes (o que tem crescido nos últimos anos), com os rendimentos distribuídos entre os cotistas proporcionalmente a parte que está locada (Martin et al., 2018).

Bibliografia CALDEIRA, Teresa Pires do R. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34, 2000.CEZAR, Isabel Teixeira Sperry. A evolução da produção dos condomínios, sua

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regulação e sua relação com a capitalização da terra: o caso do Condomínio Cidade Jardim em São Paulo. Dissertação (mestrado em arquitetura e urbanismo). São Paulo: FAUUSP, 2018.D'OTTAVIANO, M. C. L. Condomínios Fechados na Região Metropolitana de São Paulo: fim do modelo centro rico versus periferia pobre?. 2008. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.FIX, Mariana. São Paulo: Cidade global: fundamentos financeiros de uma miragem. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007.FRANCO, Fernando Túlio Salva Rocha. Tijolos de papel: dimensões territoriais da insenção tributária dos fundos de investimento imobiliário no Brasil. Dissertação (mestrado profissional MPGPP) – Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo.LEONELLI, Gisela Cunha Viana. A construção da lei federal de parcelamento do solo urbano 6.766: debates e propostas do início do séc. XX a 1979. Tese (Doutorado). São Carlos, 2010.MARTIN, I. M.; SANTORO, P. L.; MENDONÇA, P.; ROLNIK, R. São Paulo e os territórios do complexo imobiliário-financeiro. In: ROLNIK, R.; SANTORO, P.F.; MORADO, D.; MEDEIROS, D.; RENA, N.; PEQUENO, L. R. B. (orgs.). Cidade Estado capital: reestruturação urbana e resistências em Belo Horizonte, Fortaleza e São Paulo. São Paulo: LabCidade FAUUSP, Fundação Ford, 2018, p. 207-221.PEREIRA, I. M. Complexo Imobiliário-Financeiro em São Paulo: produtos e território. Relatório final de iniciação científica PIBIC/CNPq. São Paulo: FAUUSP, julho 2017.REIS, Nestor Goulart. Notas sobre urbanização dispersa e novas formas de tecido urbano. São Paulo: Via das Artes, 2006.RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz. Dos cortiços aos condomínios fechados: as formas de produção da moradia na cidade do Rio de Janeiro. Editora Record, 1996.ROCHA LIMA, João. Fundos imobiliários têm futuro no Brasil? Carta do NRE-Poli, n°24-11, abril- junho de 2011. Escola politécnica da USP, São Paulo, 2011.ROSSETTO, Rossella. Produção imobiliária e tipologias residenciais modernas. São Paulo – 1945/1964. Tese (Doutorado), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2002.SANFELICI, D. La industria financiera y los fondos inmobiliarios en Brasil: lógicas de inversión y dinámicas territoriales. Economía Sociedad y Territorio, 2017, p. 367-397.SANTORO, P. F. Planejar a expansão urbana: dilemas e perspectivas. 2012. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.______. Perímetro urbano flexível, urbanização sob demanda e incompleta: o papel do Estado frente ao desafio do planejamento da expansão urbana. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 16, n. 1, p. 169, 2014.SANTORO, P. F.; ROLNIK, R. Novas frentes de expansão do Complexo Imobiliário

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Educación superior, políticas públicas y espacio urbano. Trazos de la financiarización en la ciudad de Bogotá1

CARMONA, Madisson

ST 7 Condomínio: forma de propriedade e racionalidade neoliberal

Palabras Clave: Agentes inmobiliarios, universidades, renta del suelo.

Introducción En Colombia el servicio público de educación superior se encuentra regulado por la Ley 30 de 1992. Allí se consigna, en el artículo 98, que “Las instituciones privadas de Educación Superior deben ser personas jurídicas de utilidad común, sin ánimo de lucro, organizadas como corporaciones, fundaciones o instituciones de economía solidaria”. Lo anterior nos pone frente a necesidad de responder a las siguientes preguntas: ¿si en términos legales las universidades privadas son entidades sin ánimo de lucro, de qué forma los grupos empresariales tanto nacionales como extranjeros propietarios de estas extraen ganancias? y ¿cómo explicar que importantes corporaciones internacionales hayan invertido ingentes sumas de capital en la adquisición de universidades privadas en el país?En las últimas dos décadas y particularmente después del estallido de la crisis hipotecaria en 2008, el mercado financiero del país experimentó la inyección de fuertes sumas de capital, destinadas al desarrollo de obras de infraestructura, movimientos empresariales y, principalmente, al aumento del crédito. Un segmento importante de este último rubro se canalizó al sector educativo, y con ello se promovieron políticas de aumento de la cobertura, que se vieron apalancadas con créditos contraídos por amplios sectores de ingresos bajos y medios. Sumado a lo anterior, en 2015 el gobierno nacional lanzó el programa Ser Pilo Paga, que implicaba la transferencia directa de recursos públicos a las instituciones de educación superior de mayores ingresos del país, la mayoría de ellas concentradas en la ciudad de Bogotá.

ObjetivoAl cruzar las trayectorias de la expansión de los créditos educativos, administrados por los principales grupos financieros del país y el lanzamiento del programa Ser Pilo Paga, con la con el alto dinamismo en la construcción, en dos sectores particulares de la ciudad (el centro histórico y el pericentro de la capital), de edificios pertenecientes a las universidades privadas (entre ellas la Universidad Sergio Arboleda), es posible

1. Resultados del proyecto de investigación Renovación urbana en periferias centrales de Bogotá, desarrollado por el Grupo de Investigación: Espacio y Territorio del Departamento de Ciencias Sociales de la Universidad Pedagógica Nacional.

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advertir que en las últimas dos décadas estas instituciones han migrado de su objeto legal (la prestación del servicio de educación superior) para convertirse en agentes inmobiliarios de primer orden. Al tiempo que esto ocurre con las universidades privadas de altos ingresos, las instituciones públicas, como la Universidad Pedagógica Nacional (UPN), presencian un franco deterioro en su infraestructura física aunado a presiones por parte del gobierno nacional para que se aumente la cobertura sin disponer de mayores transferencias a los presupuestos anuales. Se observa que mientas las instituciones privadas han construido nuevas edificaciones y cualificado sus instalaciones, la UPN solo ha logado hacer arreglos locativos a las existentes (el último edificio se construyó en la década de 1980). Por ello, es fundamental comprender la forma como, en el panorama de financiarización del espacio urbano y de los servicios de educación superior, se articulan las trayectorias de dos universidades de diferente carácter (privado y público) localizadas en un sector de alta valorización de la ciudad de Bogotá. Además, de seguir el rastro de esta articulación, el trabajo también apunta a analizar el proceso de estructuración del cluster universitario del que participan estas dos instituciones de educación superior.

HipótesisEn tal medida, el presente trabajo se acerca a la respuesta a los interrogantes a partir del desarrollo de la siguiente hipótesis: en el panorama contemporáneo, y con el claro favorecimiento de las instituciones gubernamentales, las universidades privadas, ante las limitaciones impuestas por la Ley 30 de 1992, han encontrado que el alto dinamismo inmobiliario en la ciudad de Bogotá les permite, por la vía del desarrollo de inversiones en el mercado del suelo y a través de la creación de un complejo entramado de figuras jurídicas, romper las restricciones legales y, en esa misma medida, generar importantes ganancias que no necesariamente son reinvertidas en el cumplimiento de las funciones sustantivas de las universidades (docencia, investigación, extensión y gestión). Para el desarrollo de esta hipótesis, el análisis se centrará, por un lado, en el caso de la USA, institución de educación superior privada localizada en la localidad de Chapinero de Bogotá, fundada en 1984 en un sector aledaño a uno de los ejes financieros más importantes de la capital, y que la cual en la última década ha experimentado un aumento significativo en el número de edificaciones construidas. Por otro lado, se encuentra el caso de la UPN, institución de carácter público del orden nacional, que como se acotó cuenta con unas deterioradas instalaciones en las cuales se perciben claros signos de hacinamiento. En el caso de esta última, se discutirá particularmente el conflicto suscitado al interior de la comunidad universitaria por el proyecto rectoral lanzado en el año 2016 que contemplaba generar una alianza

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público-privada para la construcción de nuevas edificaciones en el campus central.

MetodologíaPara el trabajo de campo, se realizó un ejercicio de mapeo histórico de la evolución de los predios de la USA en el sector, y además se revisaron en los archivos de la Secretaría Distrital de Planeación las licencias de construcción de los edificios. Junto a ello, se estudiaron las transformaciones en el valor y uso del suelo en el sector, con el objeto de identificar las variaciones en las rentas y cómo estas fueron capturadas por la Universidad. Adicionalmente, se hicieron entrevistas a propietarios de predios que fueron adquiridos por la Universidad para ser demolidos o transformados en función de las actividades académicas, con el objetivo de precisar cómo fue el proceso de negociación y las tensiones que emergieron de estas transacciones comerciales. Por otra parte, se hizo un trazado paralelo en el tiempo de la evolución del espacio construido de la UPN, además se revisaron los contratos de arrendamiento de predios aledaños que durante un tiempo fueron dependencias de la UPN, y que, en algunos casos, fueron adquiridos por la USA para desarrollar allí sus actividades sustantivas. Junto con ello, se documentó el conflicto por la propuesta de alianza pública privada socializada por la rectoría de la UPN en el segundo semestre de 2016; allí se centró la atención en los cálculos ofrecidos por el gobierno universitario acerca del valor del suelo con el objeto de ser integrados al análisis de la generación de potenciales de renta.

ResultadosLos resultados del trabajo de campo fueron analizados a la luz de los desarrollos teóricos de la teoría de la renta del suelo urbano de Samuel Jaramillo (2009) y Neil Smith (2012, 2008), y ello permitió dar sustento a las perspectivas contemporáneas que señalan que tanto las políticas públicas, la normatividad urbana y, en consecuencia, los planes de renovación urbana, configuran un marco que favorece el lucro de los agentes privados. De allí se deriva que las universidades privadas y públicas de Bogotá se encuentran articuladas con las dinámicas de financiarización del espacio urbano y la educación. Lo anterior evidencia que las dinámicas de igualación-diferenciación en el proceso de producción desigual del espacio urbano (Smith, 2008), pueden ser rastreadas en la configuración del cluster universitario de la localidad de Chapinero en Bogotá, y ello permite captar cómo las universidades y públicas se encuentran articuladas con las lógicas de la economía neoliberal en la cual el suelo urbano no representan un valor de uso, en este caso para la educación, sino un valor de cambio de alto dinamismo, para las inversiones del capital inmobiliario.

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Bibliografía

JARAMILLO, Samuel. Hacia una teoría de la renta del suelo urbano. 2ª ed. Bogotá: Universidad de los Andes, 2009, 472p. SMITH, Neil, La nueva frontera urbana: la ciudad revanchista y gentrificación. Madrid: Traficantes de Sueños, 2012, 386p. SMITH, Neil, Uneven Development: Nature, Capital, and the Production of Space. 3ª ed. Arthens: The University Georgia Press, 2008, 344p.

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Os novos condomínios fechados no Grande Méier (RJ): produção imobiliária em um ciclo de valorização do solo apoiado no discurso da

segurança públicaRIBEIRO, Cláudio. WEGLINSKI, Johanna

ST 7 Condomínio: forma de propriedade e racionalidade neoliberal

Palavras-chave: Produção imobiliária, Violência urbana, Rio de Janeiro.

ProblemaA relativização de práticas institucionais de extermínio de populações e o discurso da necessidade de incremento da militarização nas cidades se tornam mais fortes ao mesmo tempo em que as classes populares se encontram em situação de crescente desamparo social, com altos índices de desemprego e progressiva retirada de serviços públicos básicos de garantia de direitos sociais mínimos. Nota-se, portanto, uma escalada de índices de violência urbana juntamente com a promoção do discurso do medo que é forjado como forma de estabelecer a manutenção do ordenamento social estruturado na formação socioeconômica brasileira. Este cenário, que será apresentado dentro dos marcos da necessidade de “pacificação”, possui outras peças que não se revelam à primeira vista e que, dispersas no conteúdo e na forma urbana, ajudam a pensar sobre outras possíveis maneiras de reprodução de violência nas cidades, incluindo a valorização especulativa do solo urbano. Adotando a categorização realizada por Žižek (2014), que propõe uma interpretação da violência segundo um duplo caráter subjetivo e objetivo, o estudo identifica a maneira de utilização de ferramentas urbanísticas como produtoras de violência objetiva, ou o “grau zero de não violência”, naturalizando uma paisagem que carrega um ciclo de valorização retroalimentado pela necessária privatização do espaço da moradia, da circulação e do consumo. Tomando-se este marco teórico e conjuntural como referência, optou-se por estudar a maneira através da qual o mercado imobiliário se apropriou dos dispositivos urbanísticos que foram instaurados durante o período dos megaeventos, sobretudo a partir da instalação das “Unidades de Polícia Pacificadora” (UPP) conjugada com a criação de Áreas Especiais de Interesse Urbanístico em bairros da Zona Norte. Longe dos espaços luminosos, tais como o Porto Maravilha e a expansão “olímpica” para a zona oeste da Barra da Tijuca expandida, o problema apresentado revela a forma como o desenho urbano de novas tipologias de condomínio fechado tem sido produzidas no Grande Méier (Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro), costurando elementos da produção do espaço que vão desde o estímulo à renovação de áreas industriais obsoletas através da flexibilização de parâmetros urbanísticos, a instalação de políticas de vigilância ostensiva em nome de uma suposta “pacificação” urbana e a complexificação de equipamentos tais como shopping centers que ampliam sua centralidade assumindo um papel de infraestrutura articuladora dos novos espaços

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e usos urbanos privatizados.

ObjetivoO objetivo da pesquisa foi identificar como se deu a expansão imobiliária no Grande Méier – Zona Norte do Rio de Janeiro, durante o período de consolidação e realização dos “megaeventos” (Jogos Panamericanos, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos) a partir da ótica da implementação de um discurso da violência urbana e sua pacificação.A região do Grande Méier possuía grandes trechos de antigas Zonas Industriais que tiveram seus parâmetros urbanísticos de uso e ocupação alterados em um contexto de estímulo de crescimento desses bairros. Ao mesmo tempo, medidas de segurança tais como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e a Operação Segurança Presente atuaram nas proximidades da área, induzindo o processo de valorização que revelou, inclusive, uma participação significativa, mas não total, de grandes incorporadoras na sua produção imobiliária, sugerindo uma tendência à intensificação da financeirização da produção imobiliária destas partes da cidade.

HipóteseA hipótese levantada por este trabalho é a de que a confluência da flexibilização normativa com a implementação de políticas de segurança territorializadas no recorte espacial escolhido do Grande Méier privilegiaria a construção, por parte de grandes construtoras, de empreendimentos na tipologia de condomínio fechado, contribuindo para a proliferação de enclaves fortificados que, por definição, reorganizam e desarticulam os espaços públicos (CALDEIRA, 2000), aprofundando a desigualdade socioespacial na cidade.

MetodologiaApós uma definição de um marco teórico relativo à violência e da reconstrução histórica do desenvolvimento de políticas de segurança pública na cidade do Rio de Janeiro, o estudo realizou um levantamento objetivo da produção imobiliária no período e recorte citado a fim de evidenciar as contradições no processo de produção formal do espaço através do desenho urbano que se apresenta resultante destas determinações. Nesta etapa, foram levantado quantos e quais eram os empreendimentos construídos na área escolhida no recorte temporal supracitado, identificando endereço, tipologia, data de construção, construtora/incorporadora, bairro, se o endereço era atingido por alguma Área de Especial Interesse Urbanístico, dispositivo que alterou os parâmetros urbanísticos da área de estudo, além de um levantamento da variação geral do preço do solo. O levantamento também contemplou um estudo da legislação urbana da área, a fim de entender as mudanças nos parâmetros de uso e ocupação do solo.Em um segundo momento, foram realizadas idas a campo com o objetivo de buscar evidências (incluindo levantamento fotográfico) das contradições da produção

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daquele espaço. Também foram realizadas entrevistas com moradores da região, a fim de levantar e compreender quais seriam as possíveis mudanças nos usos e hábitos da área considerando a flexibilização normativa e as políticas de segurança implementadas. Todas estas etapas forneceram elementos suficientes para a produção de uma síntese crítica que pode se apoiar em uma conjugação de material iconográfico, tabulação de dados com consequente produção de gráficos além de mapeamento das determinações identificadas.

Principais Resultados A pesquisa evidenciou a existência de um ciclo de valorização do solo baseado na articulação do desenho arquitetônico-urbanístico de novos empreendimentos, com a flexibilização normativa das leis de uso e ocupação do solo e com os dispositivos de segurança de um tipo de urbanismo militar (GRAHAM, 2016). A área, antes do recorte temporal adotado, apresentava um tecido urbano onde predominavam as tipologias de casas unifamiliares, vilas e lotes industriais. Com a migração das indústrias e a alteração dos parâmetros urbanísticos da área, a maioria dos antigos lotes se converteu em grandes condomínios-clube, que impuseram uma nova relação com a rua e o espaço público em geral. Estes condomínios, por sua vez, ampliam-se em simbiose com shopping-centers que se situam no entorno da área (Norte Shopping e o Shopping Nova América), reforçando a ênfase no uso de espaços privados para lazer em conjunto com a privatização de serviços tais como dispositivos de mobilidade urbana para pedestres (passarelas e praças privatizadas) e oferta de transporte coletivo para moradores que precisam se deslocar para diferentes pontos da cidade. Foi identificado, portanto, uma forma de conjugação da flexibilização normativa de determinados dispositivos urbanísticos com as políticas ditas de segurança pública que evidenciaram de que maneira estes instrumentos podem ser pensados como formas institucionais de reprodução de violência nas cidades, favorecendo a privatização do uso do espaço, e se apresentando como mais um aspecto perverso do processo da produção contemporânea do espaço urbano brasileiro.

BibliografiaBATISTA, Vera Malaguti. O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de uma história. Rio de Janeiro: Revan, 2003. CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34 / Edusp, 2000. GRAHAM, Stephen. Cidades sitiadas: o novo urbanismo militar. Trad. Alyne Azuma. – 1. Ed. – São Paulo: Boitempo, 2016.ŽIŽEK, Slavoj. Violência. Trad. Miguel Serras Pereira – 1. Ed. – São Paulo: Boitempo, 2014.

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Infraestrutura de esgotamento sanitário em Ubatuba, SP: análise da influência dos atores sociais e interesses privados

ALVES, Estela

ST 8 Natureza na Produção Imobiliária e de Infraestruturas

Palavras-chave: Governança neoliberal, esgotamento sanitário, Ubatuba.

Capital fixo considerado no sistema capitalista refere-se aos elementos necessários para que haja produção de bens. Com o aumento da complexidade das cidades, foi necessária a aplicação de capital fixo em estrutura física para o funcionamento da produção (HARVEY,1985). Como condições gerais para os investimentos em infraestrutura, havia necessidade de mercado de capitais ativo, superacumulação e Estado disposto a financiar e garantir a construção de infraestrutura em larga escala, para utilização em longo prazo. Os sistemas de crédito são fundamentais neste processo, pois antecipam capitais que ainda serão arrecadados, permitindo investimentos em obras de longo prazo. As instituições e ferramentas financeiras - créditos ao consumidor, financiamentos residenciais e débitos municipais são imprescindíveis no modelo complexo de capitalismo associado à produção do espaço urbano (HARVEY, 1985).No Brasil, desde a reforma do Estado promovida na década de 1990, foram ampliados os padrões neoliberais na gestão pública, através de contratação de agentes privados para desenvolverem atividades de gestão e execução de serviços públicos, consultorias e assessorias, modelos emprestados do meio empresarial (FONSECA, 2019). Esse conjunto de ações, a “governo empresarial” articula-se com a financeirização das políticas urbanas e são parte da governança neoliberal (FONSECA, 2019).Financeirização é entendida como fenômeno do capitalismo contemporâneo para gerir e realizar riquezas, presente nas estratégias dos agentes privados, influentes na dinâmica macroeconômica e na forma de atuação do Estado (PRATES, 2017). A exacerbação da lógica da financeirização é o centro da implementação de reformas políticas ultraliberais: impõem a privatização das empresas estatais e desvalorização da gestão pública. Dessa forma, estabelece a ambiguidade entre mercantilização dos serviços de saneamento e direito social, processo que ocorre a partir da abertura de capital das empresas de saneamento (BRITTO e REZENDE, 2017).O desenvolvimento de pesquisa de doutorado sobre as políticas públicas de esgotamento sanitário do município de Ubatuba, litoral norte paulista, evidenciou influências do capital financeiro nas ações da principal empresa concessionária de serviços de saneamento do município, Companhia Estadual de Saneamento (Sabesp), empresa de capital misto, com ações em bolsas de valores. O papel da Sabesp exemplifica a limitação de investimentos da companhia em saneamento, frente às exigências de investidores, visando gestão financeira, geração de lucros e

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valorização de ações, sem considerar as necessidades de atendimento aos interesses públicos (MARTINS BORGES e FERRARA, 2017).O objetivo deste artigo é demonstrar como as forças políticas e econômicas atuantes sobrepõem-se às diretrizes democráticas e participativas previstas pela Constituição Federal e pela Lei Federal do Saneamento Básico direcionando o provimento de infraestrutura a empresa privada.Adotou-se a seguinte metodologia: (1) levantamento bibliográfico; (2) realização de entrevistas semiestruturadas, caracterização dos atores sociais inseridos no estudo de caso e (3) análise do papel dos atores pelo Modelo de Coalizão de Defesa (MCD) (SABATIER et al., 2007). A hipótese é que os mais influentes na tomada de decisão pela localização da infraestrutura de esgotamento sanitário em Ubatuba atendem ao modelo de governo empresarial e dessa forma, a gestão e a produção de políticas públicas são remodeladas conforme o capital financeiro, alterando os marcos legais democráticos, para reduzir as contradições com prática neoliberal (FONSECA, 2019).Desde a redemocratização realizada com suporte do poder privado e dominada por relações ocultas entre púbico e privado, Brasil caminha para o modelo de governo empresarial, com baixo controle social, e realização de negociações muitas vezes opostas aos interesses populares, justificando o posicionamento dos governos neoliberais em bloquear ao máximo a participação social (FONSECA, 2019). Forma-se um círculo privatista: do gerenciamento de políticas públicas até a financeirização imobiliária, passando pelos mecanismos de privatização.Este artigo apresenta resultados parciais da pesquisa de doutorado da autora, sobre o papel dos atores sociais, unidos em coalizões de defesa, para influenciarem nas políticas públicas de esgotamento sanitário de Ubatuba. Foi possível encontrar tipologias globais dos atores, com base nos diversos parâmetros que definem tanto o perfil dos entrevistados quanto o posicionamento geral deles em torno do problema de esgotamento sanitário, em Ubatuba. Para isso, foram questionadas: trajetória profissional e militante dos atores; posição em instituições; tipo de relacionamento com os demais atores; recursos que podem oferecer nos relacionamentos interpessoais; estratégias que utilizam para alcançarem objetivos de política, assim construindo o cenário dos processos de políticas públicas (ALVES, 2018). As descrições levaram a formulação de Tipologias Globais dos indivíduos. Em linhas gerais, as quatro tipologias são apresentadas a seguir:(A) Defesa da Região Metropolitana e aplicação dos instrumentos de política existentes: os atores desta tipologia global reafirmam que a universalização do acesso ao esgotamento sanitário deve ser o objetivo das políticas públicas, no entanto, insistem na impossibilidade legal de levar rede de infraestrutura e atendimento para bairros irregulares. Não apoiam modalidade de ações ativistas, nem acreditam na necessidade de novas lideranças e de novas práticas sociais como soluções alternativas para o esgotamento sanitário. Este é o segundo grupo mais numeroso, 26% dos entrevistados. Quanto aos recursos financeiros para a universalização, defendem

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que o pagamento da taxa pelo serviço garanta a recuperação total dos custos. São representantes de instituições estaduais, com poder de decisão e acesso aos recursos financeiros, representam o poder centralizado e tecnocrático do governo do estado de São Paulo.(B) Defesa da Região Metropolitana e prática de ações lobistas: apresenta a menor representatividade, 5% dos entrevistados, um único ator social, com origem institucional em empresa de saneamento do setor privado. Defende a preponderância da Região Metropolitana Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN) como fórum de decisões a respeito do saneamento de Ubatuba; defende ações estratégicas coordenadas em sua rede de influências, pressionando e monitorando indivíduos para alcançar seus objetivos. Não acredita em ativismo, novas lideranças ou soluções alternativas para as questões de esgotamento sanitário e não associa os problemas existentes à necessidade de regularização fundiária. (C) Eficiência comum global: atores que representam a mobilização popular. Constitui-se de integrantes da Câmara Municipal de Ubatuba, lideranças de movimentos sociais e de associações de bairros. Defendem ideias das comunidades, soluções locais descentralizadas para o esgotamento sanitário e impulsionam o ativismo social. Defendem o saneamento como bem comum, que deve ser perseguido através de instrumentos como: leis, regularização. Têm como capital relacional o poder de mobilização social e o acesso a recursos financeiros. Agrega 11% dos entrevistados.(D) Aplicação de instrumentos jurídicos e autonomia da governança local: a maioria dos atores afirma que a inclusão dos quatro municípios do Litoral Norte na RMVALE criou problemas jurídicos quanto às ações do governo local em relação às políticas de saneamento básico em geral e não apenas de Ubatuba. É a coalizão mais ampla identificada no subsistema de esgotamento sanitário de Ubatuba, representando 58% dos entrevistados. Envolve técnicos das áreas de saneamento e meio ambiente, com engajamento no setor há mais de uma década, são indivíduos que têm papel relevante e influência nos setores públicos e da sociedade civil organizada. Declaram que o papel que exercem no subsistema é de fomentar a discussão sobre o tema geral do saneamento, apresentar propostas e soluções, prestar esclarecimentos técnicos; no entanto, admitem que não conseguem pôr em prática todas as ideias que defendem, mas de certa forma influenciam a formulação de políticas públicas. Afirmam que os serviços de saneamento básico em geral, e de esgotamento sanitário em particular, devem ser de responsabilidade pública e que deve ser garantido o acesso universal.

Referências BibliográficasALVES, E.M. Trajetória das decisões sobre políticas públicas de esgotamento sanitário e as influências das coalizões de defesa: Estudo de caso de Ubatuba - SP. 2018. 241 f. Tese (Doutorado em Ciência Ambiental) - Programa de pós-graduação em Ciência Ambiental, Instituto de Energia e Ambiente, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.MARTINS BORGES, L.M. e FERRARA, L.N. A financeirização como processo

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Apropriação do espaço e da Natureza sobre a lógica da financeirizaçãoFARDIN, Merci Pereira

ST 8 Natureza na Produção Imobiliária e de Infraestruturas

Palavras Chaves: Financeirização, Forças-produtivas, Infraestrutura

Buscou-se nesse trabalho deslindar a respeito dos reflexos do domínio do capital na sua forma “financeirizada”, sobre o processo de produção do espaço, cuja organização da produção da riqueza, na forma cidade (urbana), se desenvolve como força produtiva através de redes de infraestrutura urbana, apropriando-se do espaço e dos elementos naturais necessários a reprodução e estabelecendo novas relações de produção. A constituição do domínio do capital “financeiro” levou os seres humanos organizados nesses espaços a subordinar todas as suas atividades e toda as suas vidas as determinações dessa forma de capital, processo que constituiu a fetichização de nossas sociedades atuais, influindo sobre o continuo desenvolvimento das forças produtivas (infraestrutura urbana) no processo de acumulação ampliada1. Assim, o objetivo desse trabalho é estabelecer uma relação direta entre a acumulação ampliada em sua fase “financeirizada”, o continuo processo de expansão do valor e os novos instrumentos de gestão dos Recursos Hídricos, propostos pelas instituições multilaterais, como: ONU, Banco Mundial e Organizações não Governamentais multinacionais como a The Nature Conservancy, possibilitando, com os processos de urbanização, novos mecanismos de apropriação e de domínio do espaço pelo capital financeiro. Com isso, busca-se no processo de apropriação da água, decorrentes do processo de acumulação, os elementos de analise empírica da relação: produção capitalista do espaço e processo de acumulação do capital financeiro.O desenvolvimento das forças produtivas parte do fato de que toda produção humana é parte de um processo de relações sociais de produção que não são permanentes ou estáticas, estão sujeitas a mudanças quantitativas e à transformações qualitativas ao longo da história. Entretanto, não se pode perder de vista, que o desenvolvimento das forças produtivas na sociedade mercantil tem como objetivo a produção de riquezas e sua acumulação ampliada sob a apropriação privada, desenvolvendo para isso, a moderna propriedade privada e o trabalho assalariado.Como forças produtivas deve-se entender todo o conjunto social que amplia a capacidade produtiva do trabalho. O conceito de forças produtivas serve, então, como base para se formular o conceito de civilização2. Por meio deste conceito,

1.Aplicação de mais-valia como capital ou conversão de mais-valia em capital é o que se cha-ma de acumulação ampliada (MARX, 2009 p.677).2. “A civilização não se separa da sociedade, que simultaneamente a determina e a limita. Os conceitos predominantes, os de sociedade, de relação de produção, não impedem um concei-

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estaria formulada uma ideia de sociedade apta a atender ao máximo as necessidades sociais e, para isso, teria desenvolvido o controle sobre as condições e uso dos recursos naturais3, assim como de espaços antropogênicos mais complexos. Com isso, partimos do pressuposto que o desenvolvimento das forças produtivas leva a estágios mais desenvolvidos do processo civilizatório, mas não sem contradições, impostos pela estrutura de classes da qual é reflexo.Assim, o desenvolvimento das forças produtivas alcançado pela necessidade de aumento da produção, expansão da acumulação e pela centralização e concentração das decisões por parte da classe dominante, conduz a um maior controle dos meios de produção e da sociedade como todo. Como fonte desse processo, tem-se a transformação do espaço geográfico com a produção de infraestrutura, possibilitando a integração de regiões na qual essas forças produtivas se fazem de maneira mais intensa. Ressalta-se que essa infraestrutura não se faz para o aumento do bem estar da sociedade, são produzidas com a única intensão de aumentar o controle total sobre as condições de produção e acumular mais riqueza, através de mecanismos novos de apropriação inaugurados com a financeirização. No decorrer do século XX, o desenvolvimento das forças produtivas foi acompanhado por uma crise do modo de produção capitalista, expressada em crise ambiental, civilizatória e financeira, onde as alternativas para seu contorno promoveu afastamento dos investimentos em ciência e tecnologia, levando o capital produtivo a dificuldades de alcançar rendimentos satisfatórios a escala dos investimentos realizados. Chegaram a pensar que o trabalho havia perdido sua centralidade no processo de acumulação. A propriedade da tecnologia, da informação e do domínio do conhecimento foram alçados a categoria de produtores de riqueza através de mágica e por isso adorados diante da fetichização (PIQUUERAS e DIERCKXSENS, 2108).Nesse sentido, constituem as cidades produto da transformação do espaço no curso do desenvolvimento das forças produtivas;

to mais amplo que os englobe. Está claro que o quadro urbano (a cidade e sua relação com o campo) não é indiferente ao ‘grau de civilização” (LEFEBRVE, p.141-142)3. “Como capital fixo, no sentido da força produtiva produzida, como agente da produção, aumenta a massa dos valores de uso criados em um determinado período de tempo, ele não pode crescer sem que cresça também a matéria-prima processada por ele (na indústria manufatureira. Na indústria extrativista, como pesca e a mineração, o trabalho consiste na simples superação dos obstáculos exigida para a captura e apropriação dos produtos brutos ou produtos naturais, Nenhuma matéria-prima é elaborada para a produção, mas o produto bruto existente é simplesmente apropriado. Na agricultura, ao contrário, a matéria-prima é a própria terra; o capital circulante, as sementes etc.). A sua utilização em maior escala pressupõe, por conseguinte, a aplicação da parte do capital circulante constituída de matéri-as-primas; ou seja, crescimento do capital de modo geral. Pressupõe igualmente uma redução (relativa) da porção do capital trocada por trabalho vivo” (MARX, 2011 p.596-597).

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“A cidades não é apenas a organização funcional do espaço, suas ruas e edificações, seus bairros, (...). A cidade é a expressão das relações sociais de produção capitalista, sua materialização política e espacial que está na base da produção e reprodução do capital” (IASI, 2013 p 41).

São também produto da transformação da Natureza em uma Natureza Objetivada que se defronta com o trabalhador lhe impondo a servidão.O curso desse processo marca a valorização do capital através da incorporação de novos espaços ao domínio do capital, ou seja, novos espaços passam a ser explorados através de bases tecnológicas novas que necessitam em menor escala de força de trabalho, produzindo um número cada vez maior de trabalhadores ociosos abrigados nas cidades. Esse processo que eleva o número de trabalhadores ociosos nas cidades, faz questionar o funcionamento das cidades como força produtiva, já que, o número crescente de trabalhadores, que vivem em regiões urbanas com baixo investimento em infraestrutura, contribui para redução da produtividade do trabalho devido ao tempo gasto em deslocamento e baixas condições de vida. Por isso, a metrópole moderna se transforma cada vez mais em cidade informal (ALTVATER, 2010) e sua produção ligada a função de apropriação da riqueza social produzida. Com o capital financeiro e sua lógica especulativa parasitária (CARCANHOLO e NAKATANI, 1999), fica demonstrado que atualmente, muito mais importante que sua dimensão material (valor de uso), a riqueza consiste no domínio sobre o trabalho alheio, sobre os homens. Assim, como demonstrado em Marx, riqueza capitalista consiste de uma relação social de domínio no curso do desenvolvimento do capitalismo que vai da sua expressão através dos objetos à suas formas mais abstratas e cada vez menos exige a matéria que constitui o valor de uso. É nesse sentido que a produção do espaço sobre a lógica financeira deixa de atender com exclusividade aos interesses do emprego da infraestrutura para o aumento da produtividade do trabalho e cada vez mais para a apropriação da riqueza social.

REFERÊNCIASALTVATER, Elmar. O fim do capitalismo como o conhecemos: uma crítica radical do capitalismo Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.CARCANHOLO, Reinaldo A; NAKATANI, P. O capital especulativo parasitário: uma precisão teórica sobre o capital financeiro, característico da Globalização. In: Anais do III Encontro Nacional de Economia Política. Niterói: EDUFF,1998. V. I, p.304-316.IASI, Mauro Luis. A rebelião, a cidade e a consciência. In: MARICATO, E. (et.al.) Cidades rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas no Brasil 1º ed.- São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013.LEFBVRE, Henri. A cidade do Capital. DP&A; Rio de Janeiro, 1999.MARX, Karl. Grundrisse. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2011.

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___________. O Capital. Vol. 1. 27ª ed., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2010.___________. O Capital. Vol. 2. 23ª ed., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2009.PIQUERAS, Andrés e DIERCKXSEMS, Wim: O capital frente a seu declínio. Fim da unipolaridade global: a transição para o pós-capitalismo?. In: ____________ (org) Walter Formento, Rémy Herrera, Paulo Nakatani – 1º ed.- São Paulo: Expressão Popular 2018.

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Os serviços públicos como ativo: o caso Brookfield e a produção da infraestrutura no Brasil

PULHEZ, Magaly

ST 8 Natureza na Produção Imobiliária e de Infraestruturas

Um dos grandes debates sobre a produção de infraestrutura no Brasil gira em torno da questão da oferta de saneamento básico, reconhecidamente insuficiente no país. Ainda perduram, por aqui, índices altíssimos de falta de acesso a esgotamento sanitário e abastecimento de água – são cerca de 100 milhões de habitantes sem esgoto e 35 milhões sem água, uma maioria absoluta de famílias pobres e certamente exposta a diversas outras vulnerabilidades.Recentemente, o problema – que é de fato real e urgente – ganhou novos contornos, com a Medida Provisória 868, editada no apagar das luzes do governo de Michel Temer e provavelmente endossada, já naquele momento, pela gestão eleita de Jair Bolsonaro. Trata-se de um dispositivo que altera o marco regulatório do setor de saneamento no Brasil e que, a rigor, tem como objetivo central permitir que se entregue a oferta de tal serviço público a empresas privadas, fazendo consolidar um modelo de atendimento que, na verdade, se tentou implementar no país durante a década de 1990, no âmbito da agenda de privatizações do governo FHC, sem êxito significativo naquele momento, embora com algum avanço. Hoje, os operadores privados de saneamento estão presentes em 6% dos municípios brasileiros e enxergam possibilidades colossais de ampliação desse número, caso a MP 868 se converta em lei. A persistência da condição deficitária da cobertura e as dúvidas sobre a capacidade de investimento por parte do Estado dos recursos vultosos calculados como necessários para a reversão desse quadro por certo servem de apelo ao discurso privatizante, produzindo uma espécie de “cortina de fumaça” que encobre um conjunto de disputas, estratégias e instrumentos do mercado financeiro – aquilo que efetivamente estrutura um processo ultraneoliberalizante que extrapola as especificidades deste ou daquele setor ou contexto, embora se valha delas para afirmar-se e expandir-se. Vejamos. A maior empresa privada de saneamento do Brasil é a BRK Ambiental, que atua hoje em cerca de 180 municípios, distribuídos em 12 estados brasileiros, um número ainda modesto se comparado, por exemplo, à atuação da Sabesp, que está presente em 370 municípios do estado de São Paulo. Antiga Odebrecht Ambiental, a BRK foi comprada em 2017 pela gigante canadense Brookfield, que tem uma história peculiar de atuação em solo nacional. Em suas origens, a Brookfield chegou ao Brasil, em 1899, como a São Paulo Tramway, Light and Power Company, companhia responsável por desenvolver sistemas de iluminação pública e de transporte coletivo movido a energia elétrica na capital paulista1.

1. https://www.brookfieldbrasilra.com.br/pt/a-brookfield-no-mundo. Acesso em 10 de agosto de 2019.

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Conforme informações disponibilizadas no site da empresa, “[...] o grupo inaugurou, em 1901, a Usina de Parnaíba, a primeira hidrelétrica a abastecer a cidade de São Paulo. Em 1905, expandiu suas atividades para a capital do país na época, com a criação da Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company. A partir daí, o grupo investiu também em sistemas de distribuição de gás e telefonia. Em 1925, já figurava como a maior companhia de serviços públicos da América Latina.” 2

Hoje, a empresa canadense não mais se apresenta como prestadora de serviços públicos, mas sim como uma das maiores investidoras e gestoras globais de ativos alternativos – de imóveis (shoppings, galpões logísticos, imóveis residenciais, alojamentos para estudantes, concessionárias de automóveis, etc), passando por operações de infraestrutura nos mais variados segmentos (portos, ferrovias, rodovias, eletricidade e gás, transmissão de energia, telecomunicações, agropecuária, etc), até alcançar investimentos de private equity, com foco na aquisição e operação de negócios de alta rentabilidade3, em que justamente se inclui a compra e a gestão da BRK Ambiental, cujas ações estão distribuídas entre a canadense (70%) e o Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FI-FGTS (30%).Para além da BRK, no Brasil, os tentáculos da Brookfield parecem multiplicar-se sobre o domínio do território, com empresas subsidiárias que operam cada um dos segmentos em que a gigante está presente: a empresa NTS opera mais de 2.000 km de gasodutos na região Sudeste; a Quantum é a responsável pela construção e futura operação de mais de 4.300 km de linhas de transmissão de energia elétrica; a Arteris é a concessionária que administra mais de 3.400 km de rodovias no país; a VLI é empresa de logística integrada que opera 4.800 km de ferrovias, além de portos e terminais intermodais4. Enfim, a descrição sobre a atuação da canadense ainda merecia ressalvas quanto à sua presença também no mercado imobiliário e no agronegócio, mas do que se pôde registrar até aqui, nos parece que estamos diante de uma determinada lógica de produção e de gestão do território que transborda, como dizíamos há pouco, as especificidades de uma leitura setorial, que, ampliada em telescópio, nos aponta mais do que um modus operandi, mas quiçá uma determinada racionalidade, bastante distintiva, aliás, do estágio atual do capitalismo financeirizado. Infraestrutura real, projetada, produzida, implementada, se transmuta em ativo gerido num portfólio de investimentos em fundos privados e públicos, capazes de garantir retorno seguro

2. Idem.3. Idem.4. Idem.

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aos acionistas – certamente de maneira independente de seus resultados enquanto atendimento efetivo à população demandatária, ou seja, destituída de qualquer sentido público que tal produção poderia (ou deveria) implicar.Nesta perspectiva – e tomando como mote, especificamente, a atuação da Brookfield no Brasil e em outros países da América Latina – este trabalho tem como objetivo problematizar a produção recente de infraestrutura no Brasil a partir dos processos de privatização em curso, atrelados de maneira estrutural à lógica dos mercados financeirizados, com impactos que acreditamos significativos para o desmonte das políticas públicas e para o acirramento da produção de desigualdades. Como hipótese, acreditamos que a experiência narrada deste determinado caso nos pode iluminar processos espoliativos ainda mais críticos no cenário atual de avanço neoliberal, em que o Estado se postula como regulador dos mercados não para a garantia do interesse público, mas para o seu justo contrário – as sobrerregulações via medidas provisórias, tal como a MP 868 nos sugere, revelam intervenções no sentido de precisamente normatizar e respaldar de legalidade a dominância financeira.Como principal resultado de pesquisa, portanto, almejamos qualificar do ponto de vista teórico-crítico o atrelamento dessas duas dimensões que, em hipótese, entendemos que estão estruturalmente articuladas hoje – ou seja, de um lado a destituição e a recolocação do Estado enquanto agente regulador e, de outro, a hegemonia dos mercados financeirizados que vem transformando as dinâmicas de produção do território em tempos mais recentes.Em termos metodológicos, o estudo de um caso singular e de caráter heurístico exige o cuidado e o comprometimento com leituras multiescalares, o que implica em, de um lado, prosseguir com a investigação de especificidades e dinâmicas setoriais e contextuais que se explicitam de maneira mais imediata a partir do empírico, e, de outro, investir, de modo encadeado, sobre um temário mais amplo, qual seja, os estudos sobre a financeirização e sobre o neoliberalismo, sobre regulação e sobre os novos arranjos do Estado em face desta lógica global. Assim sendo, trata-se, desde logo, de uma tentativa de partir de uma situação empírica exemplar que possa, tal como acreditamos, informar questões teóricas que superem a sua especificidade e que, afinal, constituam uma agenda ampliada e possivelmente ainda mais densa de pesquisa.

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Empreendimentos imobiliários, loteamentos e condomínios na região Serrana do Espírito Santo: a valorização do capital através da expansão

do urbanoMONTEIRO, Rafael Santos da Luz

ST 8 Natureza na Produção Imobiliária e de Infraestruturas

Palavras-Chave: Condomínios; Produção do Espaço; Renda;

O presente trabalho discute novas relações de produção do espaço na Região Serrana do ES, por meio da expansão de empreendimentos imobiliários, loteamentos e condomínios fechados em áreas rurais. Nas áreas rurais dessa região, mais fortemente a partir dos anos 2000, surgem empreendimentos como alternativa de reprodução do capital, a partir de nova relação com a propriedade privada da terra. Os condomínios são realidades jurídicas, que expressam o uso coletivo de áreas, dentro de perímetros e muros fechados. Essa modalidade de empreendimento constitui um novo produto imobiliário com alta lucratividade, destinados às classes com maior poder aquisitivo, impulsionados pelo setor privado. A hipótese desta pesquisa é a de que a dinâmica de valorização do capital imobiliário, por meio da expansão de loteamentos e condomínios fechados, constitui o fenômeno de expansão da produção do espaço urbano sobre as áreas rurais, a partir de uma nova relação com a propriedade da terra, capaz de gerar renda e lucro para os agentes envolvidos no processo. Também acreditamos que a produção desses empreendimentos esteja ligada aos anseios dos proprietários locais em obterem renda, maximizando-a através da paisagem natural, que compõe a região. Para compreender a atual produção do espaço da Região Serrana a partir do estudo dos aspectos internos à produção dos condomínios e loteamentos admitimos os procedimentos de revisão da literatura sobre a produção do espaço urbano, renda da terra, condomínios residências e também a análise empírica dos empreendimentos por meio de trabalhos de campo, estas tarefas compõem a nossa principal abordagem metodológica.A Região Serrana do Espírito Santo é formada por 11 municípios: Afonso Cláudio, Alfredo Chaves, Castelo, Conceição do Castelo, Domingos Martins, Marechal Floriano, Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina, Vargem Alta e Venda Nova do Imigrante. A expansão da urbanização, por exemplo, é extremamente diversificada, mas revela algumas tendências claras, como a ampliação física das áreas urbanizadas, expressa principalmente pelo crescimento dos loteamentos e condomínios, com destaque para os municípios de Marechal Floriano, Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante, cortados pela rodovia BR-262 e relativamente próximos de centros de maior dinamismo do estado, que é a região da Grande Vitória.

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Figura 1- Mapa da Região Serrana do Espírito Santo

Fonte: Elaboração do autor/ IJSN

A Região Serrana é caracterizada por atividades tipicamente rurais, composta por uma geografia de altitudes médias e elevadas, vastas áreas de cobertura vegetal, e com relativa proximidade à capital Vitória. Pode-se considerar uma região de paisagem bucólica, em oposição aos atributos dos centros urbanos. Os promotores imobiliários se apropriam desses elementos peculiares da região para impulsionar o processo de valorização de seus empreendimentos. Os condomínios situados na Região Serrana exploram a reprodução da natureza e se apropriam das dádivas gratuitas da natureza humana – história e cultura- (HARVEY, 2018) no interior e exterior de seus limites físicos como técnica para alavancar os ganhos, diante contexto espacial que o meio natural aparece cada vez mais escasso por conta dos intensos processos de alteração da paisagem e expansão dos espaços urbanos. “Ocorre uma apropriação privada do que é fruto da construção social e coletiva na cidade, ao mesmo tempo em que o que falta para a cidade é, de certa forma, suprido dentro do próprio empreendimento para ser consumido privadamente”. (FERRARA, 2018, p. 147). Harvey (2018) afirma que o capitalista se articula de modo a potencializar a natureza em favor do processo de reprodução do capital. A atividade capitalista, que

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monopoliza uma parcela do solo da Terra, é presenteada gratuitamente por vantagens e recursos ofertados pelo meio natural. Terra não é capital, não é uma mercadoria proveniente da atividade do trabalho, mas opera como se fosse. A natureza e o espaço cada vez mais são transformados em negócio, pela própria trajetória industrial e urbana de destruição da natureza e pela generalização da apropriação da terra como propriedade privada. De acordo com Lefebvre (2008), “os bens que outrora eram raros tornaram-se abundantes, os que eram abundantes tornaram-se raros”. Certamente, nessa equação, o espaço e a natureza entram na condição de raridade. O ar, a água, a terra, a vegetação ganham, além do valor de uso, valores de troca, entram no circuito da produção-repartição-distribuição. A contradição presente na “miséria” do espaço e seus elementos é, simultaneamente, espontânea, fruto do percurso histórico e social, e também proveniente de atuação estrategicamente organizada. Materialmente, é inegável que o espaço está por todos os cantos, o que está em jogo é como, “ao mesmo tempo, o espaço é artificialmente rarefeito para ‘valer’ mais caro; ele é fragmentado, pulverizado, para a venda no atacado e varejo. Ele é o meio das segregações.”. (LEFEBVRE, 2008, p. 125). É intrínseca a relação entre a força de expansão urbana e o processo de acumulação rentista. O mercado de moradias permite ganhos extraordinários por conta de estratégias traçadas em torno do direito de propriedade privada da terra. A terra desvenda o problema de compreender o preço da mercadoria imobiliária. O capitalista do setor imobiliário ou proprietário fundiário vê a terra como parte integrante do processo geral de acumulação. Tais agentes exploram a condição de que, para ocorrer qualquer atividade econômica ou social, é preciso ter acesso à terra ou espaço. Não há a mínima possibilidade de exercer uma atividade sem esse elemento da natureza. Portanto, consciente disso, a classe capitalista usa o direito da propriedade em seu favor na manipulação do preço imobiliário.Além da terra fundar a base espacial de qualquer atividade econômica da humanidade, ela se constitui também enquanto base de exploração material. É nela que estão presentes recursos naturais desigualmente espacializados e lançados no sistema como mercadorias altamente valorizadas. A natureza é estrategicamente manipulada e produzida como mercadoria no interior e entorno dos loteamentos e condomínios, como instrumento de valorização. Tanto a natureza e o acesso ao empreendimento tornam-se exclusivos às classes que podem arcar como preço da terra e da construção, ou seja, com o lucro do capitalista, e a renda do proprietário fundiário (e ainda assim há casos onde o mesmo indivíduo representa a mesma figura). A terra, uma dádiva gratuita da natureza, é sujeitada ao processo de acumulação capitalista. A forma condomínio hoje representa os ideais da expansão do urbano, levando o tecido urbano a se expandir para a as franjas das cidades e também para áreas mais longínquas. Ela representa a fragmentação, hierarquização e a homogeneização dos espaços para atender uma demanda das classes sociais: por uma natureza bucólica,

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cartesiana e incipiente; por áreas afastadas das grandes cidades e que proporcionam uma falsa aparência de vida simples no campo; por uma necessidade de investir em espaços passíveis de valorização constante. Representam também os anseios dos capitalistas e proprietários fundiários: por produtos novos em áreas novas; por valorização dos seus empreendimentos por meio da captura de signos da natureza e do campo; pela constante valorização do capital imobiliário; e pela expansão da urbanização, que consequentemente, representa a expansão da dominação do capital sobre o espaço.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASFERRARA, Luciana. O lugar da natureza na produção do espaço metropolitano. In: PEREIRA, P.C.X.. O Imediato, global e o total na produção do espaço: a financeirização da cidade de São Paulo no século XXI. Org: Paulo Cesar Xavier Pereira. São Paulo: FAUUSP, 2018.HARVEY, David. A loucura da razão econômica – Marx e o capital no século XXI – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2018.LEFEBVRE, Henri. Espaço e política. – Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

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Certificados de sustentabilidade ambiental. Edifícios comerciais. Mercado imobiliário – São Paulo (SP).

GRAZZIANO Raphael

ST 8 Natureza na Produção Imobiliária e de Infraestruturas

Há extensa bibliografia a respeito da transformação imobiliária nos arredores da marginal Pinheiros em sua reconfiguração como polo de serviços. Os trabalhos cobrem os primeiros projetos pelo grupo Bratke-Collet durante os anos 1980 (FUJIMOTO, 1994), os complexos corporativos e alinhamento à globalização da década de 1990 (FERREIRA, 2007; FIX, 2001, 2007; NOBRE, 2000) e mesmo os mais recentes produtos imobiliários inaugurados nos últimos quinze anos (GUERREIRO, 2010; WEHBA, 2018). Esse processo de reconfiguração da paisagem urbana foi potencializado pela promulgação das Operações Urbanas Consorciadas Faria Lima e Água Espraiada, ambas também objeto de estudos específicos (FERREIRA, 2019; PEREIRA, 2011; SANFELICI, 2013).O trabalho interroga a produção imobiliária da região, especificamente quando associada ao sistema de avaliação ambiental Leadership in Energy and Environmental Design (LEED®). O sistema foi lançado nos Estados Unidos em 1998 pela organização sem fins lucrativos United States Green Building Council (USGBC®), e chegou no Brasil em 2007, quando foi estabelecido no país o GBC Brasil, uma versão nacional do conselho norte-americano. O objetivo do sistema é avaliar empreendimentos em cinco categorias: Localização Sustentável, Eficiência Hídrica, Energia e Atmosfera, Materiais e Recursos e Qualidade Ambiental Interna. A partir dessa avaliação, realizada por meio de parâmetros técnicos e “boas práticas” definidos por comitês compostos por representantes da cadeia produtiva da construção civil, o empreendimento recebe uma pontuação e um nível de certificação: Certificado, Prata, Ouro e Platina.Esses parâmetros, segundo os fundadores do USGBC® (FEDRIZZI, 2015; GOTTFRIED, 2014), operam de modo complementar ao mercado [market-friendly], sugerindo benefícios quando a certificação é empregada, no lugar de impor penalizações a empreendimentos que não observem seus preceitos. O LEED® é, portanto, promovido como uma vantagem de incorporação. A alta quantidade de empreendimentos certificados na região da marginal Pinheiros e sobretudo em grandes torres de escritórios permite induzir que o interesse não decorre apenas de ganhos ambientais, mas da utilização do ambientalismo e da certificação como instrumentos de acumulação de capital particulares do período mais recente de produção imobiliária. Sistemas como o LEED®, portanto, seriam instrumentos de distinção no mercado de alto padrão, de inserção em negócios de nicho especializado e de alinhamento da produção imobiliária local a demandas globais de configuração dos espaços de negócios.Para a verificação de como o sistema LEED® pode interferir na produção do espaço

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e oferecer novos campos de ganhos financeiros, foram realizados: (a) levantamento e localização de 197 empreendimentos não confidenciais certificados em São Paulo; (b) comparação desses dados com os valores de preço do solo e a localização de ativos de Fundos de Investimento Imobiliário (FII), estes últimos coletados por Isabel Alvarez (2017); (c) 22 entrevistas com profissionais ligados ao LEED®, entre fundadores, consultores, arquitetos e incorporadores; (d) revisão bibliográfica referente a diferentes impactos de valorização relacionados ao certificado, como valor do metro quadrado vendido e locado, taxa de vacância e custos de operação.Por meio dos dados obtidos, é possível inferir que os certificados têm alta tendência de concentração. Esse aspecto já foi comentado por estudos a respeito de outros certificados (CHEGUT; EICHHOLTZ; KOK, 2014) e tipologias de empreendimento (CIDELL, 2009). Com os dados primários obtidos pela pesquisa, foi possível notar a concentração espacial dos empreendimentos nas três cidades de maior quantidade de certificados: São Paulo (197 certificados, concentrados sobretudo na região da marginal Pinheiros e da avenida Paulista), Rio de Janeiro (67 certificados, sobretudo na região do Centro e da Barra da Tijuca) e Curitiba (24 certificados, relativamente mais dispersos, mas concentrados sobretudo no Centro e em Batel). Essas quantidades são relevantes, já que o Brasil era, no fim de 2018, o quinto maior utilizador mundial do sistema LEED®. No detalhamento da cidade de São Paulo, é possível ainda notar que: (a) as áreas onde se localizam os certificados são aquelas de maior preço médio de terrenos do município; (b) há sobreposição entre a localização de certificados LEED® e ativos de FIIs.Os certificados executam diferentes funções dentro do setor imobiliário corporativo. Em primeiro lugar, são usados como atrativos e alegada redução de risco de investimento em ativos de FIIs, conforme pode ser depreendido da análise de prospectos de FIIs disponíveis online. Em segundo lugar, o certificado é utilizado como uma distinção extra no já alto padrão do mercado Triple A, o que garante, segundo levantamento de literatura, ganhos financeiros quando comparados a edifícios não certificados. Desse modo, edifícios LEED® têm maior valor de metro quadrado quando vendido ou locado, menores custos de operação e manutenção, menores taxas de vacância e menor volatilidade de preços em períodos de crise (EICHHOLTZ; KOK; QUIGLEY, 2013). Em terceiro lugar, os certificados são utilizados por subsidiárias internacionais em relatórios corporativos como modo de assegurar às sedes que seguem suas diretrizes, sendo o LEED® uma evidência tangível desse alinhamento. Por fim, em quarto lugar, há ainda a redução de impostos, uma função que foi inibida pelo poder público: o GBC Brasil pressionou a Prefeitura de São Paulo para que o sistema LEED® fosse aceito como modo de cumprimento para os benefícios do IPTU Verde, o que foi aceito apenas no referente a edifícios residenciais. Não foi permitida, assim, mais uma instância possível de ganhos financeiros por meio da certificação.Conclui-se que o LEED® é um elemento de azeitamento de transações internacionais.

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Sua comparabilidade global permite que o certificado seja condição de qualidade para corporações locarem espaços no exterior, evidência de cumprimento de diretrizes, potencializador de ganhos financeiros e redutor de riscos de investimento em um bem ilíquido. Trata-se de uma “tecnologia do neoliberalismo” (BROWN, 2010) por ser uma ferramenta de gestão e auditoria ambiental alinhada aos modos de operação do mercado nas últimas décadas. O LEED® é, então, mais uma camada de funcionamento do mercado globalizado, que se utiliza de padrões técnicos como modo de garantir seu pleno funcionamento (DRORI; MEYER; HWANG, 2006).

FinanciamentoEssa pesquisa teve apoio CAPES (Mestrado set/2014-nov/2015 e Doutorado fev/2016-fev/2017) e FAPESP (n. 2016/21407-0 e 2017/16322-8).

ReferênciasALVAREZ, I. P. A produção de espaços financeirizados na metrópole de São Paulo. In: FERREIRA, A.; RUA, J.; MATTOS, R. C. DE (Eds.). . O espaço e a metropolização: cotidiano e ação. Rio de Janeiro: Consequência, 2017. p. 241–266. BROWN, M. F. A tale of three buildings: certifying virtue in the new moral economy. American Ethnologist, v. 37, n. 4, p. 741–752, nov. 2010. CHEGUT, A.; EICHHOLTZ, P.; KOK, N. Supply, demand and the value of green buildings. Urban Studies, v. 51, n. 1, p. 22–43, jan. 2014. CIDELL, J. Building green: the emerging geography of LEED-certified buildings and professionals. The Professional Geographer, v. 61, n. 2, p. 200–215, abr 2009. DRORI, G. S.; MEYER, J. W.; HWANG, H. (EDS.). Globalization and organization: world society and organizational change. Oxford: Oxford University Press, 2006. EICHHOLTZ, P.; KOK, N.; QUIGLEY, J. The economics of green building. The Review of Economics and Statistics, v. 95, n. 1, p. 50–63, mar. 2013. FEDRIZZI, R. Greenthink: how profit can save the planet. Prefácio de Leonardo DiCaprio ed. Charleston, SC: Disruption Books, 2015. FERREIRA, J. S. W. O mito da cidade-global: o papel da ideologia na produção do espaço urbano. Prefácio de Ermínia Maricato e apresentação de Flávio Villaça ed. Petrópolis, RJ; São Paulo; Salvador: Vozes; Editora UNESP; ANPUR, 2007. FERREIRA, P. E. B. Operação Urbana Consorciada Água Espraiada: um novo discurso sobre remoções. Óculum Ensaios, v. 16, n. 2, p. 277–290, 2019. FIX, M. Parceiros da exclusão: duas histórias da construção de uma “nova cidade” em São Paulo: Faria Lima e Água Espraiada. São Paulo: Boitempo, 2001. FIX, M. São Paulo cidade global: fundamentos financeiros de uma miragem. São Paulo: Boitempo, 2007. FUJIMOTO, N. A. Produção monopolista do espaço urbano e a desconcentração do terciário de gestão na cidade de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Geografia

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Humana). Orientador: Manoel Seabra—São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1994.GOTTFRIED, D. Explosion green: one man’s journey to green the world’s largest industry. Prefácio de Paul Hawken. Introdução de Rick Fedrizzi. ed. Nova York: Morgan James, 2014. GUERREIRO, I. DE A. Arquitetura-capital: a funcionalidade dos edifícios corporativos paulistas. Dissertação (Mestrado em Projeto, Espaço e Cultura). Orientadora: Vera Maria Pallamin—São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2010.NOBRE, E. A. C. Reestruturação econômica e território: expansão recente do terciário na marginal do rio Pinheiros. Tese (Doutorado). Orientadora: Gilda Collet Bruna—São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2000.PEREIRA, Á. L. DOS S. A montagem de enclaves financeiros numa metrópole periférica: verso e reverso do planejamento urbano. Dissertação (Mestrado). Orientadora: Ana Maria de Oliveira Nusdeo—São Paulo: Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2011.SANFELICI, D. DE M. A metrópole sob o ritmo das finanças: implicações socioespaciais da expansão imobiliária no Brasil. Tese (Doutorado em Geografia Humana). Orientadora: Amélia Luísa Damiani—São Paulo: Departamento de Geografia – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2013.WEHBA, C. Novas relações de produção imobiliária na metrópole do século XXI: Odebrecht, Água Espraiada e o Parque da Cidade em São Paulo. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional). Orientadora: Maria Beatriz Cruz Rufino—São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2018.

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