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Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2014 aula 1 - faltei Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2014 aula 2 PERÍCIAS E PERITOS E LEGISLAÇÃO A Medicina Legal é um ramo da medicina que aplica seus conhecimentos em prol da Justiça. Atualmente a Medicina Legal influencia todas as áreas do direito, não apenas a área penal. Documento é a expressão escrita de um fato. O documento que expressa o nosso nascimento, por exemplo, é a certidão de nascimento. Então, tanto o nascimento quanto o óbito são fatos, mas para que estejam efetivamente documentados, materializados, é necessário que haja um documento que prove isso. Quando você tem um determinado fato ilícito a materialidade desse fato ilícito é expresso através do laudo pericial. Por exemplo: O indivíduo mata o outro, a expressão desse delito, a sua materialidade é o corpo, o cadáver. Já o documento que expressará essa materialidade é o laudo cadavérico. Os Documentos Médico-legais são aqueles instrumentos escritos ou as exposições verbais, mediante os quais o médico fornece esclarecimentos à justiça, são eles: atestado, relatório, parecer, depoimento oral. Todas as perícias devem responder aos quesitos formulados por uma autoridade judiciária. Em geral todas as perícias na área criminal têm quesitações oficiais, entretanto, há uma exceção que é a perícia psiquiátrica, pelo fato de possuir um caráter subjetivo. As partes poderão nomear assistentes técnicos que acompanharão o perito durante a perícia para encontrar respostas para os quesitos oficiais. PERÍCIA É a demonstração da veracidade dos fatos alegados ao longo de um processo, quando estes deixam vestígios duradouros. É o exame dos elementos materiais e sensíveis feito por técnico qualificado para atender solicitação da Autoridade competente. No momento em que o juiz defere a necessidade da perícia, esta passa a ser um ato processual, além de um ato médico. 1

Caderno Medicina Legal I

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Introdução à Medicina Legal

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Page 1: Caderno Medicina Legal I

Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2014 aula 1 - faltei

Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2014 aula 2

PERÍCIAS E PERITOS E LEGISLAÇÃO

A Medicina Legal é um ramo da medicina que aplica seus conhecimentos em prol da Justiça. Atualmente a Medicina Legal influencia todas as áreas do direito, não apenas a área penal.

Documento é a expressão escrita de um fato. O documento que expressa o nosso nascimento, por exemplo, é a certidão de nascimento. Então, tanto o nascimento quanto o óbito são fatos, mas para que estejam efetivamente documentados, materializados, é necessário que haja um documento que prove isso. Quando você tem um determinado fato ilícito a materialidade desse fato ilícito é expresso através do laudo pericial. Por exemplo: O indivíduo mata o outro, a expressão desse delito, a sua materialidade é o corpo, o cadáver. Já o documento que expressará essa materialidade é o laudo cadavérico.

Os Documentos Médico-legais são aqueles instrumentos escritos ou as exposições verbais, mediante os quais o médico fornece esclarecimentos à justiça, são eles: atestado, relatório, parecer, depoimento oral.

Todas as perícias devem responder aos quesitos formulados por uma autoridade judiciária. Em geral todas as perícias na área criminal têm quesitações oficiais, entretanto, há uma exceção que é a perícia psiquiátrica, pelo fato de possuir um caráter subjetivo. As partes poderão nomear assistentes técnicos que acompanharão o perito durante a perícia para encontrar respostas para os quesitos oficiais.

PERÍCIA É a demonstração da veracidade dos fatos alegados ao longo de um processo,

quando estes deixam vestígios duradouros. É o exame dos elementos materiais e sensíveis feito por técnico qualificado para atender solicitação da Autoridade competente.

No momento em que o juiz defere a necessidade da perícia, esta passa a ser um ato processual, além de um ato médico.

A perícia é fundamentada pelo “Visum et repertum” , ou seja, verifica-se o que está acontecendo e registra-se com o objetivo de reportar o que foi visto. Se você tem uma vítima de agressão, essa vítima consequentemente teve uma equimose no olho e uma escoriação, então ela vai à delegacia, faz um registro de ocorrência, e como tem um envolvimento de lesão corporal, o delegado encaminha a vítima para o IML. Ao chegar, a vítima conversa com o perito e, depois de relatar os fatos o perito examinará a vítima.

O Documento médico-legal é necessário, porque se o laudo pericial não for feito as lesões desaparecerão e a vítima não terá como provar os fatos. Ressalta-se que a perícia não acontece apenas na esfera médica, no caso de posse de entorpecentes, por exemplo, o perito deverá averiguar se o pó branco nas roupas do indivíduo é mesmo uma droga.

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Na área penal você faz a perícia, responde os quesitos e tenta enquadrar o fato em algum crime. Já na área cível a perícia serve para reparação pecuniária.

O objetivo da ação penal é, portanto, o enquadramento no Código Penal, basta que o perito faça o laudo e responda os quesitos necessários. É mais objetivo do que na área cível que, por mexer com patrimônio, dá margem à controvérsias.

AS PERÍCIAS NO VIVO - No caso das lesões corporais deve haver a determinação de idade; sexo diagnóstico de: gravidez, parto, puerpério, aborto; crimes de natureza sexual; exclusão de paternidade; doenças profissionais; acidentes de trabalho; doenças mentais – sanidade; embriaguez; lesões corporais propriamente ditas.

AS PERÍCIAS NO MORTO - No morto é necessária a determinação da causa médica da morte; o tempo da morte; identificação médico-legal; papiloscopia/exame de arcada/DNA; presença de tóxicos nas vísceras; extração de projéteis; exumação.

AS PERÍCIAS EM OBJETOS E VESTÍGIOS - Exames de armas e projéteis; identificação de pelos; impressões digitais; pesquisa de esperma; líquidos biológicos em geral; identificação de manchas.

PERITOS São pessoas entendidas e experimentadas em determinados assuntos, com

embasamento técnico e/ou científico, designadas pela justiça para ver e referir fatos de natureza permanente cujo esclarecimento é de interesse num processo. Podem ser oficiais ou não.

Peritos oficiais são aqueles concursados por cada Estado, quando são peritos legistas ou criminais, ou ainda quando são peritos federais. Em localidades, por exemplo, cidades pequenas, que não tem peritos oficiais, poderá o juiz ou delegado nomear alguns peritos para fazerem especificamente alguns exames. São chamados de peritos Ad Hoc, estes prestam o compromisso de desempenhar fielmente o encargo que lhe é designado.

Os fatos demonstrados através da perícia devem prevalecer mesmo que se oponham a depoimentos testemunhais, ou que contrariem a confissão de um acusado. Contudo, o juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo rejeitá-lo no todo ou em parte, e formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos – Artigos 182, CPP e 436, CPC.

O Juiz poderá ou não ficar adstrito ao laudo, podendo recusá-lo total ou em parte.

A prova pericial será apresentada de forma clara e deve prevalecer porque, para formar um laudo pericial, é necessário um conhecimento técnico sobre o assunto, existirá a precisão, enquanto que a prova testemunhal poderá haver falhas, mentiras e memórias incorretas.

O perito, de acordo com o CPP e CPC, é considerado auxiliar da justiça e, sendo assim, tem as mesmas prerrogativas processuais e os mesmos impedimentos ou suspeições dos juízes, então

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eu não posso periciar um inimigo ou amigo meu. Por isso o perito pode recusar-se a atuar quando houver justa causa – artigos 277, CPP, 146, CPC e 423, CPC.

CORPO DE DELITO É o conjunto de elementos materiais, objetivos, perceptíveis pelos sentidos,

denunciadores do fato criminoso ou resultante da infração penal.

O exame de corpo de delito é extremamente importante por gerar o laudo pericial. Esse laudo terá a descrição dos vestígios do ato ilícito e se torna uma prova de que aquele ato aconteceu. Obviamente, temos outros elementos que também são capazes de formar uma convicção além do laudo pericial, como, por exemplo, a prova testemunhal.

Por exemplo: Um indivíduo na calada da noite arromba a fechadura de uma casa, entra e subtrai dinheiro. O ato ilícito foi registrado e o delegado pediu um exame de corpo de delito. A porta será o elemento a ser periciado. Entretanto, se uma pessoa matar a outra e deixar um cadáver, o corpo de delito será o cadáver.

O Exame de Corpo de Delito possui duas modalidades: Direto e indireto. É direto quando o perito vê nitidamente a lesão e, sendo assim, é capaz de descrevê-la. Seu objetivo é a atividade pericial. O indireto é aquele que é substituído pela prova subjetiva, ou seja, é quando há a necessidade em se basear em uma prova documental. Por exemplo: Se uma mulher sofre uma agressão e vai, na mesma hora, fazer o exame, será o caso de um corpo de delito direto. Entretanto, se ela decide ir duas semanas depois, as marcas já desapareceram e o perito só terá a cópia do boletim do atendimento médico e se baseará nele para fazer um exame de corpo de delito indireto.

CAUSA JURÍDICAS DA MORTE

São causas de morte que tem interesse para a justiça. São elas: suicídio, acidente e homicídio. As autoridades policial e judiciária têm competência para verificar como ocorreu a morte. É necessária essa causa jurídica para averiguar se será necessária a abertura de um processo.

Normas regulamentadoras das perícias: CPP artigos 158 e 184 - Perícia; CPC artigos 145 a 147 – Peritos.

“A autoridade policial, logo que tiver conhecimento da prática de infração penal, deverá determinar, se for o caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias”.

Rio de Janeiro, 29 de agosto de 2014 aula 3

LEGISLAÇÃO PERTINENTE AS PERÍCIAS MÉDICO-LEGAIS NAS AÇÕES CÍVEIS

Artigo 139, CPC – Os peritos são considerados auxiliares de Justiça.

Artigo 33, CPC – Menciona a figura do assistente técnico. Quando o juiz não consegue a conciliação das partes e a matéria precisa de perícia, ele nomeia um perito e faculta às partes a nomeação de assistentes técnicos e a formulação de quesitos. Não importa quem será o

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assistente técnico e nem a relação dele com as partes, pois ele deve ser de confiança visto que ele acompanhará o perito no momento de responder as quesitações.

Como quem acusa tem o ônus da prova na maior parte dos casos, o autor é que pagará a perícia, entretanto, em alguns casos o juiz poderá, com seu poder discricionário, determinar a inversão do ônus da prova.

Quanto ao pagamento, os assistentes técnicos deverão receber a remuneração diretamente da parte que o contratou. Já o pagamento pericial deverá ser feito sempre na conta judicial.

Artigo 145, CPC – Sempre que existir uma matéria técnica o juiz deverá nomear um perito, se não o fizer, ele terá que justificar, visto que o perito tem uma especialização sobre o assunto.

Artigo 146, CPC – Geralmente o perito terá o prazo de 30 dias para entregar o laudo, entretanto, esse prazo não é cobrado rigorosamente, até porque algumas perícias exigem tempo. O perito poderá, entretanto, não aceitar o trabalho no prazo de cinco dias, contados da intimação ou do impedimento superveniente.

Artigo 147, CPC – O perito não poderá, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas. O perito deverá ter o cuidado de pesquisar e fazer um laudo consistente, para que uma parte não seja injustamente prejudicada. Quando a falha pericial for muito evidente o juiz poderá entender que o perito agiu de forma negligente ou imprudente e isso poderá gerar uma sanção administrativa.

Artigo 420, CPC – “A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação”. O §único deste artigo menciona as três hipóteses que o juiz indeferirá a perícia: a. quando a prova do fato não depender do conhecimento especial de técnico; b. quando a perícia for desnecessária por já haverem outras provas significativas; c. quando a verificação for impraticável.

Quando o perito apresentar o laudo o assistente técnico poderá fazer uma contestação com o seu parecer caso discorde total ou parcialmente com o laudo. O juiz sempre dará o direito ao contraditório.

Artigo 421, CPC – As partes deverão, no prazo de cinco dias contados da intimação do despacho de nomeação do perito indicar o assistente técnico e apresentar os quesitos. O §2º deste artigo trata da possibilidade de a perícia só acontecer no momento da audiência de instrução e julgamento, entretanto, essa hipótese não acontece na prática. Dificilmente o juiz substituirá o laudo pela oitiva do perito em audiência.

Artigo 422, CPC – Como já dito anteriormente o assistente técnico deve ser de confiança das partes e, por isso, não pode ser suspeito ou impedido. O perito, no entanto, não pode ter nenhum tipo de vínculo com nenhuma das partes, deve ser imparcial e ter comprometimento apenas com a justiça.

Artigo 423, CPC – O perito poderá recusar o encargo ou ser recusado por impedimento ou suspeição. O juiz deverá nomear um novo perito.

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Artigo 424, CPC – Quando um perito não tem um conhecimento técnico específico, ele poderá declinar a sua nomeação por falta de conhecimento da área. Poderá ser substituído também, quando deixar de cumprir seus prazos sem motivo legítimo. Neste caso, uma vez notificado, o perito deverá dizer ao juiz se aceita o caso ou não.

Artigo 425, CPC – As partes podem apresentar quesitações suplementares, ou seja, aquelas apresentadas na contestação, quando o perito apresenta o laudo.

Artigo 426, CPC – O juiz pode formular os quesitos. Geralmente na própria audiência na qual ele nomeia o perito ele pode formular quesitos básicos, fundamentais para o esclarecimento. Pode, também, indeferir quesitos impertinentes.

Artigo 427, CPC – O juiz pode dispensar a prova pericial quando as partes apresentarem pareceres técnicos ou documentos elucidativos sobre as questões de fato, entretanto, é muito raro, o normal é o juiz nomear o perito.

Artigo 429, CPC – O perito poderá pedir documentos, inserir fotografias, ouvir testemunhas, e tudo o que for legal para que a questão seja esclarecida de forma mais fácil.

Artigo 432, CPC – Dilação do prazo. Na prática, é raro um juiz notificar o perito pedindo a devolução dos autos. Entretanto, caso aconteça de o perito ser cobrado e o laudo ainda não estiver pronto, o perito poderá peticionar pedindo a dilação do seu prazo.

Artigo 433, CPC – Os assistentes técnicos deverão oferecer seus pareceres no prazo de dez dias após a apresentação do laudo, independente de intimação. Na prática o juiz abre automaticamente o prazo para manifestação das partes para que se cumpra o efetivo contraditório.

Artigo 434, CPC – Este artigo diz que o perito, em determinados casos, deverá ser escolhido entre os técnicos dos estabelecimentos oficiais especializados, entretanto, nas questões cíveis os juízes nomeiam o perito de confiança deles.

Artigo 435, CPC – Normalmente, o perito não tem que comparecer na AIJ, pois o juiz entente que no laudo pericial já está tudo esclarecido. Eventualmente, entretanto, poderá haver a requisição do juiz para que o perito compareça na AIJ para possíveis esclarecimentos.

Artigo 436, CPC – “O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos”. Entretanto, quando existir matéria técnica e o juiz firmar seu convencimento sem o laudo pericial, ele deverá se justificar.

Artigo 437, CPC – Quando a matéria não estiver suficientemente esclarecida no laudo pericial o juiz poderá determinar, de ofício ou a requerimento das partes, que seja feita uma nova perícia. O laudo, portanto, pode ser contestado e anulado, desde que haja algo que embase essa decisão.

Artigo 438, CPC – Quando é determinada uma nova perícia, ela terá como objeto os mesmos fatos sobre que recaiu a primeira e tentará corrigir a omissão ou a inexatidão dos resultados da primeira perícia, exatamente para esclarecer os pontos controversos.

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Artigo 439, CPC – Essa nova perícia pode não ter nenhuma conexão com a primeira, mas pode ajuda-la ou concordar com ela. A segunda perícia não substitui a primeira, cabendo ao juiz avaliar as duas.

Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2014 aula 4

DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS

ATESTADO

Podem ser oficiosos (solicitados por qualquer pessoa); administrativos (solicitados por autoridade administrativa); ou judiciários (solicitados por autoridade judiciária).

Artigo 302, CP – “Dar o médico, no exercício de sua profissão, atestado falso: Pena: 1 mês a 1 ano de detenção e multa se for para auferir lucros”.

RELATÓRIO

Descrição minuciosa de um fato médico e de suas características requisitada por autoridade competente.

1. Preâmbulo – Identificação, data, qualificação, natureza.2. Quesitos3. Comemorativos (histórico) – Elementos mínimos para dar coerência ao laudo. Ao

chegar a vítima ela discorrerá sobre um histórico. 4. Visum et Repertum – Significa “ver e reportar”. Descrição minuciosa, clara e metódica

dos fatos. Reprodução fiel do que foi visto pelo perito.5. Discussão – O perito tem total liberdade de discutir o que quiser. Os laudos periciais

das ações trabalhistas e cíveis cabem discussão. Na área criminal, que é uma área muito mais objetiva, normalmente o perito não entra na esfera da discussão.

6. Conclusão – Também é extremamente aplicada aos casos trabalhistas e cíveis. A área criminal, geralmente, não traz conclusão, que é substituída pelas respostas aos quesitos. A conclusão é a síntese realizada do exame e conclusão final.

7. Resposta aos quesitos – Devem ser respostas muito objetivas. Precisas e concisas, afirmativas ou negativas, e eventualmente “sem elementos técnicos para a resposta por desconhecer a dinâmica do fato”.

8. Data e Assinatura

Os exames envolvendo psiquiatria forense não têm quesitos oficiais, o juiz e as partes, orientados por seus assistentes técnicos formulam os quesitos, pois cada caso é diferente do outro.

CONSULTA MÉDICO LEGAL

No decorrer do inquérito o delegado poderá ter dúvidas sobre o laudo pericial e, nesses casos, o delegado solicitará ao perito uma consulta médico-legal. Essa consulta ocorre, portanto, quando há dúvidas referentes ao laudo-pericial. O perito, ao elaborar a resposta da consulta médico-legal, elabora o “Parecer médico-Legal”.

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Esse questionamento, através da consulta médico legal, pode ser feito através de quesitos, ou de um pedido de esclarecimento, dependendo do caso. A consulta deve ser feita sempre com clareza e precisão e deve ter pontos específicos que a autoridade vai querer que o perito esclareça.

PARECER MÉDICO-LEGAL 1. Preâmbulo – Nome do médico, autor da consulta, data, etc.2. Exposição – Quesitos e objeto da consulta.3. Discussão – Rigoroso estudo crítico, sendo apontados os erros e omissões existentes.4. Conclusão – Deve ser clara e defluir do exposto na discussão com respostas aos

quesitos.

DEPOIMENTO ORAL

Esclarecimentos perante o júri do relatório ou laudo apresentado. É a explicação minuciosa de termos técnicos ou descrição da dinâmica do fato.

Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2014 aula 5

LESÕES CORPORAIS NO PENAL E NO CIVIL

Lesão Corporal é qualquer espécie de dano ou prejuízo à integridade corporal ou à saúde de alguém, de forma dolosa ou não, direta ou indiretamente. Como previsto no artigo 129 do Código Penal, lesão corporal é “ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”.

Ressalta-se que saúde é o bem estar físico, social e mental.

Não é possível dizer o tipo de lesão e a sua intensidade baseando-se na dor, pois esta é um fenômeno subjetivo, variando de pessoa para pessoa e não é um vestígio material. Por tais motivos, a dor não tem valor médico-legal.

O artigo 129 do Código Penal define e gradua a lesão corporal em intensidade, cominando penas mais severas de acordo com a intensidade da lesão.

Lesões Leves

A lesão leve é considerada residual, isso significa que quando a lesão não for grave ou gravíssima, ela será leve.

A lesão corporal leve é todo e qualquer dano ocasional à normalidade do indivíduo, seja anatômico, fisiológico ou mental. Corresponde a 80% de todas as lesões.

Lesões Graves

Artigo 129, §1º, inciso I, CP - Quando o indivíduo fica incapacitado para ocupações habituais por mais de trinta dias, está caracterizada a lesão grave. Ressalta-se que essas ocupações habituais são coisas rotineiras, como, por exemplo, tomar banho e levar o cachorro para passear, não são, necessariamente, ocupações remuneradas.

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O perito deverá solicitar a volta da vítima para exame complementar, porque a princípio, ninguém pode ter certeza sobre o tipo de lesão e se a pessoa terá alguma sequela, alguma debilidade permanente. O importante é que no momento em que o perito está vendo uma perna imobilizada, por exemplo, ele não poderá fechar seu laudo, por não saber se o dano evoluirá.

A incapacidade cessa quando a vítima é capaz de retornar suas atividades ou ocupações, sem riscos de agravamento. A volta às atividades de rotina não exigem cura total das lesões, é necessário que as atividades possam ser retomadas sem agravamento das lesões.

Artigo 129, §1º, inciso II, CP - O perigo de vida é uma situação de interpretação pericial em que, dificilmente, o perito poderá avaliar só olhando para o indivíduo. É, na verdade, uma situação de efetivo risco de vida que o indivíduo sofreu devido àquele trauma, e que, geralmente, o perito só poderá chegar a essa conclusão através de documentação hospitalar. Para caracterizar o perigo de vida é preciso que, em algum momento do processo evolutivo, seja apresentada a possibilidade concreta de morte.

Por exemplo: O indivíduo está na rua, e de repente há um assalto. O indivíduo se protege atrás de um carro que é atingido por vários tiros, mas o indivíduo não sofre lesão nenhuma. Houve, nesse caso, perigo de vida? Não houve perigo de vida sob a ótica médica legal. Ele pode ter tido risco de vida, mas ele apenas seria considerado em perigo de vida se tivesse, por exemplo, hemorragias graves, fraturas de crânio, estado de coma. Ou seja, situações médicas efetivas que realmente pudessem ter levado o indivíduo a situações de perigo.

Artigo 129, §1º, inciso III, CP - Debilidade permanente de membro, sentido ou função. A debilidade é uma fraqueza, uma diminuição da capacidade funcional de um órgão ou aparelho. Não é necessária que a debilidade seja por toda a vida, mas deverá ser duradoura.

Temos órgãos duplos no corpo, isso significa que se um indivíduo perde um deles, a natureza fará com que o órgão remanescente supere a perda do outro, por isso, não se considera uma perda total, mas sim uma debilidade permanente. O mesmo ocorre quando a pessoa perde um órgão único, mas que outro é capaz de suprir a função dele. Entretanto, se o órgão contralateral não é sadio, a lesão passa a ser gravíssima.

Na perda de dentes há debilidade de função mastigatória.

Artigo 129, §1º, inciso IV, CP – É a aceleração de parto devido à lesão corporal. Ressalta-se que nesse caso o feto tem que nascer com vida e saudável, pois se nascer morto (natimorto) ou morrer logo após o parto, é considerado lesão corporal seguida de aborto, e seria, nesse caso, lesão gravíssima.

Deve haver nexo causal entre a lesão sofrida e o parto antecipado . Além disso, o agressor deverá conhecer o estado de gravidez da vítima, se desconhecer, responderá apenas pelas lesões provocadas na gestante.

Lesões Gravíssimas

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Artigo 129, §2º, I, CP – Incapacidade Permanente para o trabalho – Indivíduo que perdeu a capacidade laboral de forma permanente. E, não é a simples atividade corporal, entra em jogo a capacidade do indivíduo de trabalhar, por exemplo, paralisias, amputação dos braços, das pernas, entre outros. Ressalta-se que, mesmo que o indivíduo coloque próteses, o diagnóstico de incapacidade permanente continuará.

O legislador não diz se esse artigo se refere ao trabalho em geral, ou ao trabalho do indivíduo antes da lesão, mas a ação cível diferencia essa questão. Ou seja, se ele tiver uma incapacidade para qualquer trabalho, é possível pedir uma indenização maior do que se a incapacidade for para o trabalho específico.

Artigo 129, §2º, II, CP – Enfermidade incurável – é a perturbação de uma ou mais funções em caráter definitivo, por exemplo, paralisia, cegueira. Reforça-se o caráter permanente e estável da enfermidade, ela não poderá ter cura.

Diferencia-se da debilidade permanente, porque esta não acarreta a perturbação da saúde, o indivíduo tem uma debilidade que geralmente não causa dano geral à sua saúde. A enfermidade incurável compromete um todo, enquanto que a debilidade permanente compromete em parte.

Artigo 129, §2º, III, CP – Perda ou inutilização de membro, sentido ou função – É o grau máximo do dano. Por exemplo: amputação do braço, cegueira, função reprodutiva, etc. A lei não exige que o membro desapareça, basta a sua inutilização, ou seja, a sua incapacidade funcional total. A perda ou inutilização pode ser de parte do membro, o requisito é que determine dano mais grave que a debilidade permanente.

Artigo, 129, §2º, IV, CP – Deformidade Permanente – Deformidade: Dano estético. É um dano estético permanente que possa produzir preocupação ou complexo ao ofendido – perda do aspecto habitual. A deformidade não precisa ser aparente, pode, por exemplo, ter uma paralisia do nervo facial e se ele ficar calado não é perceptivo. Apenas é possível notar a deformidade com a fala do indivíduo.

A avaliação do perito é extremamente individual, porque o perito tem que verificar os fatores que estão influenciando na sua decisão. Às vezes uma mesma cicatriz em uma moça de 18 anos, não tem o mesmo valor médico do que em um homem de 50 anos.

Às vezes o periciando chega com uma lesão muito recente, por exemplo, a moça foi agredida, teve uma ferida cortante no rosto, ainda está com os pontos, ainda está inchado. O perito, olhando para ela, não tem condições de dizer se há ou não deformidade permanente. Por isso, deverá pedir o retorno da mulher para que ele possa avaliar melhor a situação da mulher.

Artigo, 129, §2º, V, CP – Aborto – O concepto nasce morto ou morre logo por causa da inaptidão à vida extrauterina. O agente deverá saber que a vítima estava grávida . Se não souber da gravidez da vítima responderá apenas pela lesão corporal sem a qualificadora de aceleração de parto ou aborto.

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Lesão Corporal Seguida de Morte

Crime preterdoloso ou preterintencional – A ação é dolosa e o resultado é culposo. Por exemplo, o agente tinha apenas a intenção de bater na vítima, mas esta acabou morrendo.

Normalmente é difícil avaliar as reais intenções do agressor e caberá à perícia o auxílio ao enquadramento do crime em lesão corporal seguida de morte. A perícia, portanto, sempre tentará determinar se havia ou não o dolo de produzir o resultado.

- Qualificadoras agravantes – Asfixia, tortura ou qualquer meio insidioso ou cruel – Isso significa que se alguma das lesões produzidas for por meio insidioso ou cruel o perito informará à autoridade policial, para que o indivíduo receba uma qualificadora agravante. No caso de espancamento de criança, por exemplo, o entendimento é exclusivo do perito, visto que alguns consideram meio cruel pelo fato de a criança ser muito mais fraca do que o adulto.

- Diminuição de pena – Artigo 129, §4°, CP – O relevante valor social e a injusta provocação são, pelo ponto de vista jurídico penal, muito controversos.

A medicina Legal e a Lei 9.099/95

Foram criados os juizados especiais cíveis e criminais com o objetivo de dar celeridade à justiça e trazer o julgamento, geralmente envolvendo uma conciliação, daqueles crimes de menor potencial lesivo, crimes em que a pena não excede a dois anos. As lesões corporais leves não tem pena maior que dois anos. Mas, para que haja a caracterização da lesão corporal leve, é necessária a perícia. Caracterizada a lesão, o delegado faz um termo circunstanciado e encaminha para o JECRIM. A importância da medicina legal é que o perito tem que caracterizar a lesão, para poder ser aplicada a lei 9.099.

A importância da Medicina Legal para com a Lei 9.099/95 é que ela visa a classificação das lesões para fins de aplicação da pena. Tratando-se de lesão corporal dolosa leve, será lavrado TC, as graves e gravíssimas não ensejarão esse procedimento.

A Lei Maria da Penha também enseja a perícia no Instituto Médico Legal.

Aspectos médico-legais

Como previsto no artigo 168 do CPP, em algumas situações o perito vai precisar fazer o exame complementar. Esse exame pode ser direto, quando o indivíduo retorna um tempo depois e é reavaliado; ou indireto, quando o perito o faz baseando-se apenas em documentação, que pode ser a análise do boletim de atendimento, ou do prontuário médico do paciente. Além disso, é possível que seja necessária a solicitação de exames especializados quando o perito não consegue ver a debilidade.

O Dano Corporal na Ação Cível

Enquanto que na ação penal os quesitos são respondidos para que o fato seja enquadrado na tipificação penal, na ação cível os quesitos são respondidos em busca de uma indenização (danos emergentes, lucros cessantes e danos existenciais). O objetivo, portanto, é a

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Page 11: Caderno Medicina Legal I

quantificação das perdas econômicas e não econômicas decorrentes de um prejuízo à integridade física, funcional ou psíquica sofrido pela vítima.

O juiz é obrigado, para buscar o equilíbrio da justiça, a lançar mão de perícia para que ela encontre a quantificação do dano, ou seja, quanto vale um dedo amputado ou uma paralisia de braço, por exemplo.

Artigo 927, CC – Quando um indivíduo, por ato ilícito, independente de culpa ou dolo, causar dano a outrem, deve repará-lo.

Artigo 186, CC – “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, imperícia ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem; ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Artigo 944, CC – A indenização vai ser medida pela extensão do dano. Essa indenização vai ser de responsabilidade total do perito, cabe a ele estabelecer a quantificação do dano sofrido.

Das provas

As ações penais transitadas em julgado substituem a ação cível, ou seja, esta vira uma peça de execução quando já tiver transitado em julgado a ação criminal. Pode, entretanto, o juiz achar que a prova emprestada pode ser utilizada pela ação cível.

Caracterização do dano na ação cível

O dano pessoal pode ser patrimonial ou econômico, é tudo aquilo que o indivíduo pode ter prejuízo, por exemplo, atendimentos médicos, cirurgia, fisioterapia. O dano pessoal é um dano direto e, para que o indivíduo possa pedir em juízo, ele terá que apresentar recibos, notas e tudo referente ao que está pleiteando.

O dano extrapatrimonial é o dano existencial, é nesse tipo de dano que entram os valores morais.

Alguns peritos usam tabelas preexistentes que traduzem a incapacidade relacionada a um determinado tipo de lesão. Por exemplo, amputação do dedo indicador da mão esquerda equivale a uma %, mas o próprio perito tem autonomia de estabelecer aquele percentual.

A incapacidade temporária corresponde a um tempo limitado de inaptidão que vai desde a produção do dano até a recuperação ou estabilização clínica ou funcional das lesões. Poderá ser parcial ou total.

A incapacidade permanente é definitiva que pode ser parcial ou total, dependendo da avaliação que você está fazendo. A parcial, apesar de ser um dano duradouro e imutável, não torna a vítima inválida. Ela pode, devido ao seu grau de instrução, superar o dano e ser reabilitado em outra profissão. A vítima se torna inválida quando é incapaz de ser readaptado em um mercado de trabalho ou quando não pode ser inserido em qualquer mercado.

No dano estético o perito apenas dirá se o dano é leve, grave ou gravíssimo, e a partir disso o juiz estabelecerá a indenização devida. Ressalta-se que a atividade da vítima, o gênero, a idade

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e outras características pessoais serão consideradas na estipulação do quantum indenizatório, pois o mesmo dano pode ter gravidades diferentes.

Como já mencionado anteriormente, a dor não se quantifica por ser totalmente subjetiva. Ela está embutida na avaliação do dano moral.

A conclusão da perícia para a avaliação do dano corporal deve ter, além do exame físico, laudos e pareceres. Diferentemente da ação penal, a “perícia de quesitos” deve ser evitada na ação cível e caberá às partes a formulação de quesitos e a contratação de assistentes técnicos.

Rio de Janeiro, 03 de outubro de 2014 aula 6

As aulas estão suspensas até o dia 31/10.

IDENTIDADE MÉDICO-LEGAL E JUDICIÁRIA

A identificação médico-legal e judiciária é a soma de caracteres que individualizam uma coisa ou uma pessoa, distinguindo-as das demais. A identidade, ainda sob o ponto de vista didático, pode ser objetiva ou subjetiva.

Identidade objetiva é quando ela permite afirmar, tecnicamente, que uma pessoa é ela mesma por apresentar um elenco de elementos positivos e perenes. Identidade subjetiva, no entanto, é a sensação que cada pessoa tem de que foi, é e será ele mesmo, é, portanto, a consciência de sua própria identidade.

É indispensável à convivência social a posse de um documento que assegure a fácil identificação de cada pessoa. Identidade é, portanto, a soma de caracteres que individualizam uma pessoa ou uma coisa, distinguindo-as das demais.

Identificação

Identificação é o conjunto de técnicas, métodos e sistemas usados para determinar a identidade de alguém. Os processos de identificação podem efetivar-se tanto no vivo quanto no morto, em todos os casos a identificação é SEMPRE um processo comparativo pelo qual se determina a identidade de pessoa ou coisa, isso significa que não adianta coletar, por exemplo, dados da arcada dentária de um indivíduo, se ele não tem como comparar, um descendente ou ascendente. Temos três principais métodos de identificação que devem ser feitos em ordem: 1. Datiloscopia ou Papiloscopia; 2. Arcada Dentária; 3. Pesquisa do DNA.

Como anteriormente mencionado, os exames devem ser feitos na ordem citada, entretanto, há situações em que não é possível a realização de um dos métodos de identificação, nesse caso, é possível modificar a ordem.

Nota-se a distinção entre reconhecimento e identificação. O primeiro é uma identificação empírica. Consiste em fazer a identificação por meio de comparação empírica, sem utilizar nenhuma técnica de base científica, por exemplo, quando uma família vai ao IML fazer o reconhecimento de um corpo, que é feito através de qualquer elemento que a família possa relacionar com a pessoa. Ressalta-se que nenhuma liberação de óbito de IML será baseada

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única e exclusivamente no reconhecimento, visto que é uma forma de identidade empírica, enquanto que a identificação é o reconhecimento científico e utiliza técnicas de identificação. Isso significa que se a pessoa reconhecida não tiver nenhuma identidade, se não tiver sido registrada, a declaração de óbito não poderá ser colocada no nome da pessoa.

Frise-se, mesmo que a família tenha reconhecido o corpo, se o indivíduo não tiver uma identidade a declaração de óbito não será colocada no nome da pessoa, pois a responsabilidade do Estado em determinar o nome do cadáver é muito grande, visto que a morte encerra todas as responsabilidades civis e penais.

Tipos de Identificação 1. Médico e Odonto-Legal (antropológica)

Baseada em caracteres de ordem física. Existe uma área da medicina legal chamada de antropologia forense, que tem por objetivo empregar esses métodos de identificação médico legal, baseando-se em medidas antropológicas. Nesse sentido é possível identificar a espécie, a raça, a cor, o sexo, estatura, malformações, cicatrizes, tatuagens, sinais individuais e profissionais e ainda o biótipo.

Dependendo da ossada encontrada pelo antropologista será possível a identificação do corpo. O crânio humano, por exemplo, possui diversas características que auxiliam o pesquisador a dizer se o corpo era feminino ou masculino.

Quando um indivíduo encontra ossos em primeiro lugar deve-se questionar se o osso é humano. Se for encontrado um osso inteiro, o médico legista é capaz de dizer a sua espécie, entretanto, se forem encontrados apenas fragmentos de ossos deve-se fazer testes para identificar a espécie. A raça pode ser identificada pelo crânio; o sexo pode ser verificado por diversas formas.

Além destes, existem os caracteres de ordem psíquica, que envolvem tipo de personalidade, inteligência, temperamento, entre outros. Os caracteres de ordem pessoal envolvem a atitude, os gestos, o andar, a voz, a escrita.

- Ressalta-se que pelo exame do esqueleto de um indivíduo, o médico-legista não pode verificar ou estimar o peso do “de cujus”.

2. Judiciária (policial)2.1. Retrato Falado2.2. Processo de Bertillon ou Bertillonagem – Antropometria

Método de identificação antropométrico que incluía a captura de fotos frontais e de perfil dos criminosos e que é empregado até os dias de hoje. São os dados antropométricos combinados com os sinais individuais.

2.3. Datiloscopia

O nome não é o bastante, as impressões digitais são pessoais e inconfundíveis. Os demais meios são sempre indícios.

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É a ciência que se propõe a identificar as pessoas, fisicamente consideradas, por meio das impressões ou reproduções físicas dos desenhos formados pelas cristas papilares das extremidades digitais.

As impressões digitais têm características únicas (variedade), duram para sempre (perenidade) e se formam já no útero, no sexto mês de gravidez, elas não se modificam (imutabilidade), podendo ficar, no máximo, danificadas temporariamente.

Como o técnico reconhece essas impressões digitais e como elas podem ser diferenciadas uma das outras? O elemento mais importante do desenho digital é o delta (característica fundamental na classificação de uma impressão digital). Delta são os pequenos ângulos ou triângulos formados pelas cristas papilares; é um pequeno ângulo ou triângulo formado pelo encontro de três sistemas de linhas. Quando forem encontrados dois deltas você tem um desenho que é um tipo fundamental de Vucetich.

Estatisticamente os desenhos apresentados nos slides que predominam na população são presilha interna e externa. Isso se for feito um levantamento geral da população.

Observar figuras presentes nos slides

Atribuindo-se um número e uma letra a cada tipo pode-se compor uma fórmula dactiloscópica. Nota-se que em uma população imensa você não vai ter o número de fórmulas o suficiente. Então, para a identificação das pessoas a fórmula datiloscópica não é suficiente, pois só existem 1.048.576 fórmulas fundamentais. É, portanto, necessário pesquisar os pontos característicos.

Pontos característicos são os acidentes encontrados nas cristas papilares. São os elementos individualizadores de impressão digital. A evidenciação de 12 pontos característicos permite o estabelecimento da identidade de uma pessoa.

Fases de um processo de identificação

1º Registro – Dados Prévios – Deve-se ter uma planilha datiloscópica, que hoje é feita pelo DETRAN.

2º Registro – Quando você tem um dado prévio, ele fica como padrão. O segundo registro é obtido, por exemplo, no local do crime, ou em uma perícia necroscópica. É uma planilha dactiloscópica obtida quando do levantamento pericial ou impressão digital deixada em local de crime.

3ª Comparação – Busca de pontos característicos correspondentes (planilha do instituto de identificação com impressão digital deixada no local dos fatos ou coletada do cadáver).

Rio de Janeiro, 31 de outubro de 2014 aula 7

TRAUMATOLOGIA FORENSE, AÇÕES CONTUNDENTES

Traumatologia Forense

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Estuda as lesões, os traumas e estados patológicos, imediatos ou tardios, produzidos por violência sobre o corpo humano, visando a elucidara dinâmica dos fatos.

Trauma é o resultado do acréscimo e/ou da ação vulnerante que possui energia capaz de produzir lesão. Lesão, nada mais será que o dano no tecido temporário ou permanente, resultante do trauma.

Energias Mecânicas

São aquelas que, incidindo sobre um corpo, são capazes de modificar o seu estado de repouso ou movimento. Podem atuar de várias maneiras, por pressão, percussão, tração, explosão, deslizamento e contrachoque, dependendo da natureza dos agentes que as veiculam. Tais ações mecânicas dividem-se em simples e mistas.

As ações simples podem ser de três espécies: contundentes, cortantes e perfurantes.

As ações mistas resultam da combinação das primeiras, podendo ser cortocontundentes, perfurocortantes e perfurocontundentes.

LESÕES PRODUZIDAS POR INSTRUMENTOS CONTUNDENTES

Instrumento contundente é todo objeto rombo capaz de agir traumaticamente sobre o organismo, produzindo lesões contusas. A regra é a causação por instrumento duro e rombo, como é o caso de paus, pedras, barras de ferro, bengalas, martelos, bastões, etc.

Pode ser uma ação ativa ou passiva. Será ativa quando o objeto choca-se ou bate no indivíduo, que é o caso de atropelamentos, socos, pontapés, coices, entre outros. Será passiva quando o indivíduo se choca com o objeto, por exemplo, na queda de altura ou quando a água funciona como um “muro” em que a pessoa se choca, a depender de velocidade, altura, incidência, etc.

Escoriações

É toda a perda epidérmica traumática que deixa a derme exposta . É quando o instrumento contundente age tangencialmente à superfície corpórea produzindo o arranchamento da epiderme, deixando a derme descoberta. Ressalta-se que nas escoriações não ocorre a cicatrização, mas sim regeneração. No início deste processo é possível determinar-se a data da lesão, com o tempo, a crosta vai escurecendo e se descolando, das bordas para o centro.

Tem alto valor médico-legal, pois torna possível saber quando a lesão foi feita, se antes ou depois da morte. Para diferenciar lesões “intra vitam” e “post mortem” deve-se verificar a presença da REAÇÃO VITAL, que é a serosidade, gotículas de sangue, eritema ou vermelhidão, formação de crosta, etc., pois as lesões feitas após a morte do indivíduo são desprovidas de reação vital, as escoriações, portanto, se tornam apergaminhadas, parecidas com couro, sem vestígios de sangramento, visto que não há tempo para a formação da crosta.

Permitem ainda identificar o tipo de objeto utilizado na agressão, são as chamadas “lesões em assinatura”, que é o caso da pessoa que foi espancada com cinto. O cinto deixa o desenho do objeto na pele. Além disso, a localização da escoriação é importante, pois pode indicar se as

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lesões foram de defesa; se foram nas costas, que indicam impossibilidade de defesa; se foram nas nádegas, que indica agressão sexual; se houve mais de uma lesão, que revela a intenção homicida do agente; entre outros.

Equimoses

Quando o agente age com maior intensidade do que na rubefação (que é uma congestão de pouca intensidade, como, por exemplo, uma bofetada de mão aberta), mas ainda se preserva a integridade e a elasticidade da pele. Os vasos superficiais se rompem, causando extravasamento de sangue internamente, o qual fica entremeado nas tramas teciduais . O fenômeno dá coloração à pele, que não se arrebenta. É, portanto, a mancha roxa que fica depois de uma “topada”, são derrames sanguíneos infiltrados e coagulados nas malhas dos tecidos.

Ressalta-se que as equimoses podem ser superficiais, mas também podem ser profundas, como no caso das pessoas que praticam luta. Nesses casos, vemos o rompimento de vasos profundos que formam equimoses nas musculaturas ou, até mesmo, nas vísceras. A equimose é proporcional à intensidade do trauma, salvo no caso dos tecidos frouxos, como pálpebra e genitália, que podem formar grandes equimoses, mesmo que a lesão tenha sido superficial.

Legrand de Salle observou que o sangue que se derrama sob a pele sofre modificações de cor devido às transformações sofridas pela hemoglobina (pigmento do sangue), ou seja, ele observou que a equimose muda de cor conforme o tempo passa, salvo nos casos de equimose dentro do olho, que não muda de cor, mas o sangue desaparece aos poucos. Nas primeiras horas ela se mostrará avermelhada, depois de aproximadamente 30 horas, ou seja, no segundo dia, ela vai ficar bem escurecida, o seu tom mais escuro. Do terceiro ao sexto dia ela vai clareando, passando por azul, verde até chegar à coloração amarelada, para, por fim, chegar à cor natural da pele.

A importância da mudança da coloração das equimoses é estabelecer um nexo temporal da lesão. Por exemplo, se chegar um periciando com uma coloração amarelada e falar para o perito que o trauma foi no dia anterior, o perito saberá que é mentira.

As equimoses profundas não aparecem logo no primeiro dia, podendo aparecer alguns dias depois e em locais diferentes do trauma original, pela ação da gravidade. Por exemplo, uma equimose profunda que aconteceu na coxa, pode aparecer dias depois no joelho.

Valor das Equimoses

1. Dizer qual o ponto onde se produziu a violência. Em se tratando de equimoses superficiais você vê onde foi traumatizado.

2. Afirmar se o indivíduo se achava vivo no momento do trauma. Equimose não é produzida no morto, porque é um fenômeno vital, o que a produz é o sangramento e morto não tem circulação de sangue, portanto, ele não vai formar equimose. O perito, olhando, vai dizer que, se encontrar uma equimose, o indivíduo estava vivo no momento do trauma. Isso permite que o perito diga o indivíduo sofreu uma agressão antes de morrer.

3. Indicar a forma do instrumento contundente.

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4. Indicar a natureza do atentado. 5. Indica a data provável da violência. Se você encontra uma equimose com

características de coloração esverdeada ou amarelada, você pode, com certa tranquilidade, que havia pelo menos uma semana de agressão.

Hematomas

São coleções sanguíneas produzidas pelo sangue derramado que descola a pele formando bolsas e que são passíveis de drenagem. É possível dizer que o hematoma é uma forma de equimose, mas é sobre uma superfície óssea, por exemplo, quando a criança cai e faz um galo na cabeça, aquilo é um hematoma. A diferença do hematoma para a equimose é que esta é fixa, enquanto que aquela se mexe.

Os hematomas são reabsorvidos pelo organismo; podem se infectar e formar abscessos; e são mais comuns em áreas onde a pele é frouxa.

Feridas Contusas

Os instrumentos contundentes, dependendo da intensidade do trauma, podem produzir lesões contusas, que é quando a lesão é aberta e possui a forma irregular, com bordos irregulares, com áreas de escoriações, com a presença de pontos de tecido íntegro ligando as vertentes no seu interior e com o fundo irregular (o que mostra uma ação mais superficial). Na ferida contusa o vaso é esmagado, enquanto que na ferida produzida por uma faca, o vaso é cortado.

Além disso, a causalidade jurídica é geralmente homicida ou acidental, raramente suicida.

Contusões da coluna vertebral

É todo traumatismo que inclui a coluna vertebral e tem uma área mais vulnerável (região cervical) – Traumatismo raque medular – Fratura luxação da primeira e segunda vértebras cervicais, lesão em chicote que causa morte imediata por lesão de tronco cerebral e geralmente não apresenta lesões externas, mas causam grande número de sequelas.

Contusões do tórax

São contusões simples.

Contusões no abdome

Se for grave o indivíduo pode morrer de hemorragia interna. É a ruptura visceral maciça que causa hemorragia interna. Dependendo da extensão da ruptura visceral, a morte é rápida porque como sangra muito, às vezes não dá tempo de socorrer, é muito comum nos atropelamentos.

Quedas de grande altura

Fraturas diversas em crânio e membros e hemorragia interna. Deve-se observar sinais de luta e analisar o local do crime, os vestígios deixados, a distância do corpo do lugar de onde caiu, a presença de móveis junto à janela, entre outros.

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Rio de Janeiro, 07 de novembro de 2014 aula 8

LESÕES PRODUZIDAS POR INSTRUMENTOS CORTANTES

Instrumento cortante é todo aquele dotado de lâmina que apresente fio, gume ou corte, por exemplo, a navalha, a faca, a lâmina de barbear, o canivete, papel, vidro, entre outros . É aquele que agindo de modo linear sobre a pele e os órgãos, produz feridas incisas . Transferem a energia cinética por deslizamento. As fibras dos tecidos são seccionados e os vasos permanecem abertos nas vertentes da ferida.

Ferida incisa simples – Apresenta maior comprimento do que profundidade, suas bordas são regulares e o fundo é liso e brilhante. É, geralmente, superficial. É a ferida cirúrgica.

Ferida em bisel (ou em bico de flauta) – É a ferida “com retalho”, sendo aquela em que a ação se faz obliquamente, de modo a destacar uma porção do tecido lesado.

Ferida mutilante – É aquela que tira pedaço, aleija. Ocorre, geralmente, no nariz, na orelha, órgãos genitais masculinos, extremidades dos membros, etc.

- Características: bordos nítidos e regulares; ausência de outros vestígios; regularidade do fundo, não apresenta pontes de tecido e maceração; secção perfeita dos tecidos moles; hemorragia abundante; presença de cauda de escoriação voltada para o lado onde terminou a ação do instrumento; centro da ferida mais profundo do que as extremidades; paredes da ferida lisas e regulares.

Outro ponto importante é a REAÇÃO VITAL, que são as reações que ocorrem quando o indivíduo é lesionado em vida. Quando a lesão é feita em vida a primeira coisa que acontece é o sangramento. De acordo com o professor, portanto, se você pega um cadáver sujo de sangue e joga água nele, e o sangue não sai, significa que as lesões foram feitas em vida.

Outra característica interessante das feridas cortantes são as lesões de defesa, que são feridas incisas geralmente localizadas em regiões correspondentes as bordas mediais das mãos e antebraços, dedos e faces tênares e hipotênares. Elas direcionam que o indivíduo lutou com o seu agressor. O perito tem obrigação de descrever tais lesões de forma a sugerir que sejam compatíveis com lesões de defesa para que haja uma reconstituição da dinâmica do crime.

Ressalta-se que não se deve confundir lesão corto contundente, que, na verdade, é uma ação cortante mais a ação contundente, porque quando você tem um objeto que tem uma lâmina, mas também tem peso, ele pode produzir uma ferida chamada corto contusa, por exemplo, o machado, uma foice, um facão. A força empregada irá determinar a profundidade do corte, e o comprimento predomina sobre a largura.

Causa Jurídica

Não é de competência do perito dizer a causa jurídica. Ela vai ser orientada pela descrição dos laudos. Então, a disposição e a localização devem ser informadas detalhadamente no laudo cadavérico, porque, por exemplo, se eu tiver múltiplas lesões nas costas, eu não posso falar que um indivíduo matou o outro em legítima defesa, porque múltiplas lesões nas costas indicam a intenção de um indivíduo de matar o outro.

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Cauda de escoriação

Existe uma escoriação que representa a saída do objeto, quando o indivíduo retira a faca, por exemplo, e a lâmina causa o corte de saída. Cauda de escoriação só é produzida por elemento perfuro cortante.

Lesões no Pescoço

As lesões produzidas por elementos cortantes no pescoço são feridas muito perigosas, visto não haver a necessidade de um corte profundo. A artéria carótida e a veia jugular ficam lado a lado e, por isso, quando há o corte no pescoço, todas são cortadas, por tal motivo a morte é certa.

Esgorjamento - Lesão na parte anterior, lateral ou anterolateral.

Há o afastamento dos bordos e a profundidade depende da intenção do agente, visto que quando o agressor produz uma hemorragia ele só não interrompe a ação se quiser produzir uma lesão ainda maior. A causa mais comum é o homicídio ou, ainda, o suicídio. O acidente, embora raro, pode acontecer, principalmente com a linha de pipa.

A morte se dá, basicamente, pela hemorragia e diz-se que esta é externa; secção de nervos vago; embolia gasosa (pela entrada de ar pela artéria que está cortada).

Degolamento – Lesão na parte posterior.

Feridas incisas na nuca e podem ser superficiais ou profundas. A morte se dá da mesma maneira do esgorjamento, na região da coluna vertebral você tem as artérias vertebrais que também produzem séria hemorragia.

Como a lesão é muito violenta o homicídio é certo, geralmente nota-se a impossibilidade de defesa da vítima.

Decapitação – Cabeça é separada do corpo.

De acordo com o professor, a decapitação acontece muito nas comunidades dominadas pelo tráfico, com o objetivo de expor a cena como demonstração de poder.

Lesões das articulações

Geralmente com intuito suicida: pulsos, prega do cotovelo, presença de várias lesões e uma mais profunda, que produziu a hemorragia fatal.

Lesões das extremidades e órgãos genitais

Lesões nos dedos, mãos e ante braço indicam movimentos de defesa; lesões em orelhas, dedos podem indicar tortura; lesões em pênis geralmente indicam crimes passionais.

Lesões Torácicas e Abdominais

Pela profundidade que atingem as vísceras, geralmente são lesões perfuro-cortantes. Produzem graves hemorragias.

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Rio de Janeiro, 14 de novembro de 2014 aula 9

LESÕES PRODUZIDAS POR INSTRUMENTOS PERFURANTES

Instrumentos perfurantes são aqueles que possuem extremidade em forma de ponta e somente perfuram, afastando as fibras, mas sem cortá-las. Ressalta-se o predomínio do comprimento sobre a largura do instrumento. São exemplos desses instrumentos os pregos e as agulhas, que agem com a pressão da ponta sobre o tecido.

Os instrumentos perfurantes podem ter calibre pequeno, médio ou grande. Os de pequeno calibre produzirão feridas punctórias, é o caso da vacina, por exemplo, são feridas raramente mortais. Os instrumentos de médio calibre já podem ser mortais e as lesões produzidas seguem, geralmente, a direção das linhas do corpo, é o caso do espeto de churrasco, por exemplo. O instrumento de grande calibre é, por exemplo, a estaca.

As lesões causadas por meios ou instrumentos perfurantes, de aspecto pontiagudo, alongado e fino e de diâmetro transverso reduzido, têm características bem próprias. Os instrumentos quase sempre atuam por percussão ou pressão, afastando as fibras do tecido e, muito raramente, seccionando-as. O trajeto dessas feridas é representado por um túnel estreito que se continua pelo tecido lesado, representado no cadáver por uma linha escura.

O aspecto das feridas causadas por instrumentos perfurantes de médio calibre obedece a três princípios: a. têm aspecto semelhante às produzidas por instrumentos perfuro-cortantes de dois gumes; b. têm sempre a mesma direção numa mesma região do corpo; c. podem ter forma diferente, bizarra, nos pontos de encontro de linhas de força.

Quando o objeto é retirado a força de ação cessa e os vetores predominam, aproximando os bordos da ferida e formando uma lesão em forma de botoeira. Essas feridas tem o mesmo aspecto das produzidas pelos instrumentos perfuro-cortantes. Essa é, exatamente, a importância médico-legal, pois quando há diversas lesões em forma de botoeira em uma mesma região do corpo é possível compará-las e ver qual foi o tipo de instrumento utilizado, entretanto, na lesão única a comparação só será possível se a lesão tiver sentido diferente das linhas de força, neste caso, significa que a lesão foi produzida por instrumento perfuro-cortante.

LESÕES PRODUZIDAS POR INSTRUMENTOS PERFURO-CORTANTES

São mais comumente empregados em lesões produzidas com a intenção de homicídio, pois, além de perfurar, eles também cortam, são, portanto, os instrumentos que possuem ponta e lâmina, como, por exemplo, a faca e o punhal (que possui dois gumes). Transferem a sua energia cinética por pressão, por meio de ponta e por deslizamento dos fumes, que seccionam as fibras dos tecidos.

As lesões perfuro-cortantes de um só gume tem forma de botoeira e pode haver cauda de escoriação. Na prática as lesões advindas dos instrumentos perfuro-cortantes não são muito regulares, porque quando um indivíduo está no ímpeto de matar outrem, ele faz movimentos com o objeto, então ele pode, por exemplo, girar a faca ou introduzi-la diversas vezes, modificando o aspecto exposto da ferida.

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Lesões em órgãos internos – As lesões produzidas por instrumentos perfuro-cortantes, geralmente causam a morte, pois atingem órgãos cheios de sangue e produzem hemorragia interna.

Lesões na cabeça – Nesse caso o osso reproduz o diâmetro da arma. Lesões no tórax – Qualquer penetração de objeto na região do tórax causa um risco

eminente de morte.

- Quando você abre as cavidades do cadáver e encontra sangue líquido em grande quantidade significa que a morte foi rápida. No entanto, se você abre e encontra sangue parcialmente coagulado a morte foi lenta. A coagulação é um mecanismo de defesa do organismo para que o sangramento pare.

FERIDAS PRODUZIDAS POR INSTRUMENTOS CORTO-CONTUNDENTES

São aqueles que dotados de grande massa transferem sua energia por meio de um gume. Além de cortar o instrumento produzirá uma ferida contusa. O gume do objeto corta e a massa (peso) dele funciona como mecanismo de contusão. Agem, principalmente, por pressão. É o caso de machados, guilhotinas e foices, por exemplo.

O gume força os tecidos, penetra e abre caminho para a cunha que constitui o instrumento. Podem ter gume afiado e predominar o deslizamento com secção dos tecidos.

- Tipos de lesões: São frequentes as mutilações causadas por tais instrumentos; são comuns as amputações de membros totais ou parciais; produzem fraturas expostas; os bordos são afastados regulares e escoriados; nas fraturas os bordos podem estar impregnados de ferrugem ou outros resíduos presentes no instrumento.

- Diagnóstico: Grandes feridas com mutilações e perdas de substância, principalmente musculatura; ocorrem sobretudo em áreas rurais; quedas e atropelamento por trem.

- Causas Jurídicas: Homicídio ou acidentes (trem) e do trabalho; a multiplicidade de lesões confere o intuito homicida; segmentos mais visados são cabeça, pescoço e membros; instrumentos mais usados são o facão, a foice e o machado.

Dicas para a prova:

1. Perícia e Perito – Importante saber qual é o papel do perito; a sua competência de acordo com os Códigos Civil e Penal; como são regulamentadas as suas atividades (quem pode pedir a perícia, como a perícia é feita, quando há quesitação oficial); e o papel do perito dentro do contexto médico-legal.

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2. Documentos Médico-Legais – A diferença entre os vários documentos; o que é um relatório; o que é um parecer; o que é uma consulta; a estrutura de um laudo pericial (que é diferente do laudo na área cível e na área trabalhista, mas é padronizado).

3. Dano Corporal – Artigo 129, CP – Lesões de aspecto penal atrelado às questões cíveis; como se caracteriza o crime de lesão corporal; como o exame é feito e quem pode pedi-lo; o que é crime preterdoloso; o que é a lesão corporal seguida de morte; a diferença entre a avaliação do dano da lesão corporal penal para a cível; qual é o objeto da perícia e qual o objetivo do juiz na cível (o cível tem o cunho indenizatório e o penal tem o cunho de aplicação penal).

4. Identificação Médico-Legal – Fórmula datiloscópica; principais características das impressões digitais (a impressão digital é única, cada indivíduo tem as suas características); como se caracteriza a comparação para dizer que duas impressões fazem parte da mesma pessoa (através do encontro dos pontos característicos); quantos pontos característicos são necessários para dizer que as duas digitais são iguais.

5. O que é ação contundente; quais são as características dela; quais são as principais e as mais comumente produzidas (escoriações e equimoses); qual é a diferença de coloração.

6. O que é reação vital e qual é a sua importância.7. Ação cortante.8. Lesões perfuro-cortantes; mecanismos de morte dessas lesões; instrumentos; a

importância do estudo dessas características e da descrição de todas elas.9. Ação corto-contundente.

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