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METODOLOGIA CIENTÍFICA ORGANIZAÇÃO PROF. ANTONIO JOSÉ MÜLLER UNIDADE I PROF. ANDRÉ BAZZANELLA UNIDADES II E III PROFª. ELISABETH PENZLIEN TAFNER PROF. EVERALDO DA SILVA Editora UNIASSELVI 2013 Caderno de Estudos NEAD Educação a Distância GRUPO

Caderno - Metodologia Científica

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Uniasselvi - Educação a Distancia

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  • METODOLOGIA CIENTFICA

    ORGANIZAOPROF. ANTONIO JOs MLLER

    UNIDADE IPROF. ANDR BAZZANELLA

    UNIDADEs II E IIIPROF. ELIsABETh PENZLIEN TAFNER

    PROF. EvERALDO DA sILvA

    Editora UNIASSELVI2013

    Caderno de Estudos

    NEAD

    Educao a Distncia

    GRUPO

  • Copyright Editora UNIASSELVI 2013

    Organizao:Prof. Antonio Jos Mller

    Elaborao:UNIDADE I

    Prof. Andr BazzanellaUNIDADES II E III

    Prof. Elisabeth Penzlien TafnerProf. Everaldo da Silva

    Reviso, Diagramao e Produo:Centro Universitrio Leonardo da Vinci UNIASSELVI

    Ficha catalogrfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

    Grupo UNIASSELVI Indaial.

    001.42B364m Bazzanella, Andr Metodologia cientfica / Andr Bazzanella; Elizabeth Penzlien Tafner; Everaldo da Silva; Antonio Jos Mller (Org.). Indaial : Uniasselvi, 2013. 206 p. : il

    ISBN 978-85-7830- 771-4

    1. Metodologia da pesquisa. I. Centro Universitrio Leonardo da Vinci.

  • iii

    APREsENTAO

    Caro(a) acadmico(a)!

    Quando pensamos a pesquisa, pensamos uma dimenso muito importante para o homem, ser que se descobre no mundo. Neste sentido, a pesquisa se apresenta como uma forma de sistematizar a realidade para compreend-la. Assim, o objetivo desse caderno oferecer possibilidades a voc de entender a noo do ato de pesquisar e tambm de desenvolver um projeto de pesquisa.

    Nesse caderno, portanto, voc encontrar um conjunto de orientaes metodolgicas que vo evidenciar o carter fundamental da pesquisa e a importncia e organizao de uma pesquisa acadmica. Esse caderno lhe orientar na leitura de textos cientficos e na prpria

    organizao de estratgias de trabalho para que voc possa ampliar seu horizonte intelectual e a sua noo de pesquisa.

    Neste sentido, pretende-se contribuir para que voc possa se familiarizar com a pesquisa e assim possa criar referncias mnimas para a sua prtica profissional. Para isso, os contedos

    selecionados nesse caderno serviro de instrumento para compreender as metodologias da pesquisa e, assim, ampliar a capacidade de estudar e entender a realidade.

    A segunda unidade desse Caderno de Estudos aborda as exigncias que os trabalhos realizados na esfera acadmica ensejam. Trata-se do momento em que voc conhecer a disciplina de metodologia, que nos auxilia a entender melhor alguns fatos que ocorrem comumente em nossa vida. Recorramos a um exemplo para esclarecer essa afirmao.

    Recentemente, o programa Globo Esporte, da Rede Globo, queria saber qual era o pior gramado e qual o melhor gramado dos estdios brasileiros dos times da Srie A no ano de 2008. Com o intuito de responder a essas perguntas, o programa entrevistou os 20 capites dos 20 times que estavam disputando o campeonato. O resultado foi o seguinte: o pior gramado foi o campo do time do Nutico, o Estdio dos Aflitos, que recebeu nove votos no total. O melhor gramado foi

    o do Internacional de Porto Alegre, o campo do Estdio Beira-Rio, que recebeu cinco votos.

    Vimos nesse exemplo que, para se efetuar a pesquisa, foi adotado um mtodo, foi feito um recorte quanto ao nmero de entrevistados. Assim, a pesquisa teve critrios, uma

    metodologia apropriada, na qual o resultado obtido pde ser garantido. claro que os nmeros

    podem ser questionados, corroborados, isso faz parte da cincia, porque se constitui em um conhecimento falvel, em virtude de no ser definitivo, absoluto ou final e, por esse motivo,

    aproximadamente exato: novas proposies e o desenvolvimento de tcnicas podem reformular o acervo da teoria existente.

  • iv

    Reformular o acervo da teoria existente, voc parou para pensar no que essa frase quer dizer, na sua importncia? Se o homem no fosse naturalmente curioso, no quisesse sempre melhorar o ambiente no qual est inserido, no teramos a descoberta da penicilina, os remdios que auxiliam na melhoria da qualidade de vida para pacientes com cncer, enfim, os

    problemas que enfrentamos todos os dias movem o surgimento de novas pesquisas. De uma conquista individual, o saber passa a coletivo e traz uma srie de avanos. E, para voc no achar que o desenvolvimento de novas tcnicas ocorre apenas no interior dos laboratrios, importante saber que tudo comea fora deles. A observao do cotidiano e a nossa sensibilidade sugerem hipteses que podem, sim, acabar nos laboratrios para serem comprovadas, mas no apenas ali que a pesquisa ocorre e se desenvolve. Vale lembrar que, ao longo da histria da humanidade, as pessoas buscaram ajuda em vrias fontes de verdade para tentar explicar os fatos e a realidade vivida. Muitas dessas fontes so anteriores cincia, dentre elas podemos citar a intuio, a autoridade, o bom senso e, finalmente, a cincia. Logo, conhecer e entender

    o que fazer pesquisa essencial a todos ns, porque h problemas na escola, na empresa, no meio ambiente, com pessoas, com mquinas, com carros etc. A lista extensa e voc ser convidado a pensar em como solucion-los. Ainda que no percebamos, vamos fazer pesquisa a vida toda. Lembre-se de que a sociedade que tem desleixo com o conhecimento fica merc

    da corrupo e excluda do exerccio da cidadania.

    Nesse sentido que a segunda unidade do Caderno de Estudos vai ajud-lo na construo do seu conhecimento em metodologia, aproximando-o dos tipos de conhecimento, da classificao dos tipos de pesquisa e dos tipos de trabalhos acadmicos, dando enfoque

    especial ao paper. Na ltima unidade, a obra traz as orientaes para o uso de citaes e referncias. Leia cada unidade com muita ateno e faa as autoatividades, pois conhecer pressupe trs movimentos: dar um significado (representar), memorizar e estabelecer as

    relaes pertinentes com outros conhecimentos da memria.

    Bons estudos e sucesso na sua vida acadmica!

    Prof. Elisabeth Penzlien Tafner

    Prof. Everaldo da Silva

    Prof. Andr Bazzanella

    Prof. Antonio Jos Mller (organizador)

    UNI

    Oi!! Eu sou o UNI. Estarei com voc ao longo deste caderno. Acompanharei os seus estudos e, sempre que precisar, farei algumas observaes. Desejo a voc excelentes estudos!

    UNI

  • vsUMRIO

    UNIDADE 1 DO TEMA DA PEsQUIsA AO PROBLEMA DA PEsQUIsA: A BUsCA DO sABER COMO CARACTERsTICA DO sER hUMANO ................... 1

    TPICO 1 DO TEMA DA PEsQUIsA AO PROBLEMA DA PEsQUIsA: A BUsCA PELO sABER COMO CARACTERsTICA DO sER hUMANO ................. 31 INTRODUO ............................................................................................................... 32 A BUsCA DA REALIZAO DO hOMEM NO MUNDO ............................................... 43 A CONDIO vERTICAL DO hOMEM sOBRE O MUNDO ..................................... 6LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................ 8REsUMO DO TPICO 1 ................................................................................................. 10AUTOATIvIDADE ............................................................................................................11

    TPICO 2 O ATO DE PEsQUIsAR COMO CONDIO DO hOMEM ....................... 131 INTRODUO ............................................................................................................. 132 A PEsQUIsA E sUA DIMENsO FUNDAMENTAL AO hOMEM .............................. 13LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 15REsUMO DO TPICO 2 ................................................................................................. 17AUTOATIvIDADE ........................................................................................................... 18

    TPICO 3 O DEsAFIO sOCIAL DA UNIvERsIDADE E A QUEsTO DA PEsQUIsA ................................................................................................. 191 INTRODUO ............................................................................................................. 192 O DEsAFIO CENTRAL DA UNIvERsIDADE DIANTE DOs NOvOs TEMPOs ........ 19LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 21REsUMO DO TPICO 3 ................................................................................................. 26AUTOATIvIDADE ........................................................................................................... 27

    TPICO 4 A QUEsTO DO CONhECIMENTO: O QUE sIGNIFICA CONhECER, TIPOs DE CONhECIMENTO, CONhECIMENTO CIENTFICO ............... 291 INTRODUO ............................................................................................................. 292 O QUE sIGNIFICA CONhECER ................................................................................. 293 O CONhECIMENTO: UMA AsPIRAO NATURAL DO hOMEM ............................ 314 O CONhECIMENTO E sUAs DIFICULDADEs .......................................................... 325 O CONhECIMENTO E A QUEsTO DA UTILIDADE ................................................ 336 O CONhECIMENTO E A QUEsTO DA AO ......................................................... 34LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 35REsUMO DO TPICO 4 ................................................................................................. 38AUTOATIvIDADE ........................................................................................................... 39

    TPICO 5 Os TIPOs DE CONhECIMENTO .............................................................. 411 INTRODUO ............................................................................................................. 41

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    2 Os TIPOs DE CONhECIMENTO ................................................................................ 412.1 O SENSO COMUM ................................................................................................... 412.2 CONHECIMENTO TEOLGICO OU DE F ............................................................. 432.3 CONHECIMENTO FILOSFICO .............................................................................. 442.4 O CONHECIMENTO CIENTFICO ............................................................................ 452.4.1 Conhecimento cientfico: definio e caractersticas .............................................. 46LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 47REsUMO DO TPICO 5 ................................................................................................. 49AUTOATIvIDADE ........................................................................................................... 50

    TPICO 6 ORGANIZAO DE sUA PEsQUIsA ....................................................... 511 INTRODUO ............................................................................................................. 512 PLANEJANDO sEU EsPAO E TEMPO ACADMICO ............................................ 512.1 ORGANIZAO DO TEMPO DE ESTUDOS E PESQUISAS .................................. 522.2 ORGANIZAO DO AMBIENTE DE ESTUDOS ..................................................... 522.3 TENHA UMA BIBLIOTECA PARTICULAR ................................................................ 533 TENhO QUE FAZER MEU TRABALhO DE GRADUAO, MAs NO sEI O QUE PEsQUIsAR... ....................................................................... 53LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 54REsUMO DO TPICO 6 ................................................................................................. 57AUTOATIvIDADE ........................................................................................................... 58AvALIAO .................................................................................................................... 59

    UNIDADE 2 O PENsAMENTO CIENTFICO E Os TRABALhOs ACADMICOs .... 61

    TPICO 1 O PENsAMENTO CIENTFICO: UMA vIsO GERAL ............................. 631 INTRODUO ............................................................................................................. 632 A ORIGEM DA vERDADE: O sENsO CRTICO E O sENsO COMUM ..................... 642.1 MTODOS IMPORTANTES PARA APLICAO PRTICA ...................................... 672.1.1 Mtodo histrico ..................................................................................................... 672.1.2 Mtodo comparativo ............................................................................................... 682.1.3 Mtodo do estudo de caso ..................................................................................... 692.1.4 Mtodo estatstico ou matemtico .......................................................................... 722.1.5 Etnografia ............................................................................................................... 72REsUMO DO TPICO 1 ................................................................................................. 73AUTOATIvIDADE ........................................................................................................... 74

    TPICO 2 A DIvERsIDADE DE TRABALhOs ACADMICOs ................................. 751 INTRODUO ............................................................................................................. 752 TIPOs DE TRABALhOs ACADMICOs .................................................................... 752.1 TRABALHOS DE GRADUAO ............................................................................... 762.2 TRABALHOS DE FINAL DE CURSO ........................................................................ 762.3 MONOGRAFIA (PARA ESPECIALIZAO) ............................................................. 762.4 DISSERTAES ....................................................................................................... 772.5 TESES ....................................................................................................................... 77

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    2.6 ARTIGOS DE PERIDICOS E EvENTOS CIENTFICOS ........................................ 782.7 COMUNICAO CIENTFICA .................................................................................. 79REsUMO DO TPICO 2 ................................................................................................. 80AUTOATIvIDADE ........................................................................................................... 81

    TPICO 3 ELEMENTOs CONsTITUTIvOs DOs TRABALhOs ACADMICOs ..... 831 INTRODUO ............................................................................................................. 832 A EsTRUTURA BsICA ............................................................................................. 832.1 PARTE EXTERNA ..................................................................................................... 842.1.1 Capa ....................................................................................................................... 852.2 PARTE INTERNA ...................................................................................................... 862.2.1 Elementos pr-textuais ........................................................................................... 862.2.1.1 Folha de rosto ...................................................................................................... 862.2.1.2 Folha de aprovao ............................................................................................. 872.2.1.3 Dedicatria (opcional) .......................................................................................... 882.2.1.4 Agradecimento(s) (opcional) ................................................................................ 892.2.1.5 Resumos ............................................................................................................. 902.2.1.6 Listas (Ilustraes, Tabelas, Abreviaturas e Siglas) ............................................ 912.2.1.7 Sumrio ............................................................................................................... 922.2.2 Elementos textuais ................................................................................................. 942.2.2.1 Introduo ............................................................................................................ 942.2.2.2 Desenvolvimento ................................................................................................. 962.2.2.3 Concluso ou consideraes finais .................................................................. 1022.2.3 Elementos ps-textuais ........................................................................................ 1032.2.3.1 Referncias ....................................................................................................... 1032.2.3.2 Apndices .......................................................................................................... 1032.2.3.3 Anexos ............................................................................................................... 103LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 104REsUMO DO TPICO 3 ............................................................................................... 107AUTOATIvIDADE ......................................................................................................... 108

    TPICO 4 UNIFORMIZAO GRFICA DE TRABALhOs ACADMICOs ........... 1091 INTRODUO ........................................................................................................... 1092 ORIENTAEs PARA DIGITAO .......................................................................... 109REsUMO DO TPICO 4 ................................................................................................ 114AUTOATIvIDADE .......................................................................................................... 115

    TPICO 5 O PAPER ................................................................................................... 1171 INTRODUO ............................................................................................................ 1172 ARTIGO E PAPER ...................................................................................................... 1173 O PROBLEMA DE PEsQUIsA: AssUNTO QUE sE QUER PROvAR OU

    DEsENvOLvER ......................................................................................................... 1184 EsTRUTURA E APREsENTAO DO PAPER ........................................................ 120AUTOATIvIDADE ......................................................................................................... 121

  • viii

    4.1 ELEMENTOS PR-TEXTUAIS ............................................................................... 1224.1.1 Cabealho ............................................................................................................ 1224.1.2 Resumo ................................................................................................................ 1244.1.3 Palavras-chave ..................................................................................................... 1264.2 ELEMENTOS TEXTUAIS ........................................................................................ 1264.2.1 Introduo ............................................................................................................. 1264.2.2 Desenvolvimento .................................................................................................. 1274.2.2.1 Citaes ............................................................................................................. 1274.2.2.2 Figuras ............................................................................................................... 1284.2.2.3 Grficos ............................................................................................................. 1294.2.2.4 Tabelas .............................................................................................................. 1304.2.2.5 Quadros ............................................................................................................. 1314.2.2.6 Notas de rodap ................................................................................................ 1324.2.2.7 Ttulos de sees .............................................................................................. 1344.2.3 Consideraes finais ............................................................................................ 1364.3 ELEMENTOS PS-TEXTUAIS ............................................................................... 1375 EXEMPLO DE PAPER ............................................................................................... 138LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 140REsUMO DO TPICO 5 ............................................................................................... 142AUTOATIvIDADE ......................................................................................................... 143AvALIAO .................................................................................................................. 144

    UNIDADE 3 CITAEs E REFERNCIAs ............................................................... 145

    TPICO 1 CITAEs ............................................................................................... 1471 INTRODUO ........................................................................................................... 1472 FUNO DAs CITAEs ........................................................................................ 1473 TIPOs DE CITAEs ............................................................................................... 1493.1 DIRETAS ................................................................................................................. 1493.1.1 Curtas ................................................................................................................... 1493.1.2 Longas .................................................................................................................. 1503.1.3 Outras orientaes para as citaes diretas ........................................................ 1513.2 CITAO INDIRETA ............................................................................................... 1543.3 OUTROS CASOS DE CITAO ............................................................................. 1553.3.1 Citao da citao ................................................................................................ 1553.3.2 Citao de informao extrada da internet .......................................................... 1573.3.3 Citao da Bblia .................................................................................................. 1584 INDICAO DA FONTE DAs CITAEs ................................................................ 1594.1 SISTEMA AUTOR-DATA ......................................................................................... 1594.1.1 Regras de elaborao .......................................................................................... 160AUTOATIvIDADE ......................................................................................................... 1654.2 SISTEMA NUMRICO ............................................................................................ 166LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 170REsUMO DO TPICO 1 ............................................................................................... 172

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    AUTOATIvIDADE ......................................................................................................... 173

    TPICO 2 REFERNCIAs ........................................................................................ 1751 INTRODUO ........................................................................................................... 1752 FONTEs DE INFORMAO ..................................................................................... 1762.1 PONTUAO NAS REFERNCIAS ....................................................................... 1773 ELEMENTOs PARA ELABORAR REFERNCIAs .................................................. 1813.1 AUTOR .................................................................................................................... 1813.1.1 Entidades coletivas (rgos, Empresas, Congressos ...) .................................... 1833.2 TTULO DA OBRA ................................................................................................... 1843.3 EDIO ................................................................................................................... 1843.4 ELEMENTOS DE IMPRENTA ................................................................................. 1853.5 DESCRIO FSICA ............................................................................................... 1874 ELABORAO DE REFERNCIAs ......................................................................... 1884.1 LIVROS ................................................................................................................... 1884.2 DISSERTAES, TESES, TRABALHOS ACADMICOS ...................................... 1884.2.1 Considerados em parte ........................................................................................ 1894.3 JORNAIS, REvISTAS (CONSIDERADOS NO TODO) ........................................... 1904.4 JORNAIS, REvISTAS (CONSIDERADOS EM PARTE) .......................................... 1904.5 ARTIGOS EM JORNAIS .......................................................................................... 1904.6 ARTIGOS EM REVISTAS ........................................................................................ 1914.7 RELATRIOS .......................................................................................................... 1924.8 DOCUMENTOS DE EVENTOS (ANAIS, RESUMOS ETC.) ................................... 1934.9 ENCICLOPDIAS ................................................................................................... 1934.10 BBLIA .................................................................................................................... 1934.11 TRABALHOS ACADMICOS NO PUBLICADOS ............................................... 1944.12 PALESTRA, CONFERNCIA ................................................................................ 1944.13 ENTREvISTAS NO PUBLICADAS ..................................................................... 1944.14 ENTREvISTAS PUBLICADAS .............................................................................. 1954.15 FILMES .................................................................................................................. 1954.16 REFERNCIA LEGISLATIvA ................................................................................ 1955 REFERNCIAs DE FONTEs ELETRNICAs ......................................................... 196REsUMO DO TPICO 2 ............................................................................................... 200AUTOATIvIDADE ......................................................................................................... 201AvALIAO .................................................................................................................. 202

    REFERNCIAs ............................................................................................................. 203

  • x

  • UNIDADE 1

    DO TEMA DA PESQUISA AO PROBLEMA DA PESQUISA: A BUSCA DO SABER COMO CARACTERSTICA DO SER HUMANO

    OBjETIvOS DE APRENDIzAgEM

    A partir desta unidade voc ser capaz de:

    constatar o tema da pesquisa como caracterstica da curiosidade humana;

    identificar a implicao da pesquisa para a educao;

    perceber a importncia da pesquisa para a sociedade;

    caracterizar e diferenciar os tipos de conhecimento;

    constatar a importncia do conhecimento cientfico;

    identificar os princpios da organizao da pesquisa.

    TPICO 1 DO TEMA DA PEsQUIsA AO PROBLEMA DA PEsQUIsA: A BUsCA DO sABER COMO CARACTERsTICA DO sER hUMANO

    TPICO 2 O ATO DE PEsQUIsAR COMO CONDIO DO hOMEM

    TPICO 3 O DEsAFIO sOCIAL DA UNIvERsIDADE E A QUEsTO DA PEsQUIsA

    TPICO 4 A QUEsTO DO CONhECIMENTO: O QUE sIGNIFICA CONhECER, TIPOs DE CONhECIMENTO, CONhECIMENTO CIENTFICO

    TPICO 5 Os TIPOs DE CONhECIMENTOTPICO 6 ORGANIZAO DE sUA PEsQUIsA

    PLANO DE ESTUDOS

    Essa unidade est organizada em seis tpicos. Em cada um deles voc encontrar dicas, textos complementares, observaes e atividades que lhe daro uma maior compreenso dos temas a serem abordados.

  • DO TEMA DA PEsQUIsA AO PROBLEMA DA PEsQUIsA: A BUsCA PELO sABER COMO

    CARACTERsTICA DO sER hUMANO

    1 INTRODUO

    TPICO 1

    Falar em mtodos e tcnicas de pesquisa, em educao, sempre um exerccio que nos exige um esforo intenso de articulao de conceitos e relaes, principalmente quando ligado ao campo da educao. Neste sentido, pretendemos apresentar contedos que ajudem a superar a falta de vnculo entre educao e pesquisa, a falta de entendimento da importncia da pesquisa para a formao do prprio estudante e a falta de noo do ato de pesquisar para o crescimento do prprio homem.

    Podemos dizer que questo da pesquisa nem sempre foi dada a importncia que se deveria. H que se reconhecer, na histria brasileira, que a educao e a pesquisa nem sempre andaram acompanhadas. Por isso, importante ressaltar a pertinncia da pesquisa no Ensino Superior. Queremos que voc vivencie as leituras e atividades desse Caderno de Estudos no apenas como um tema a mais ou simplesmente uma disciplina a ser cumprida, mas que voc de fato entenda a questo da pesquisa, sua concepo, possibilidades e metodologia que se aplicam. Queremos que voc perceba que, com os conhecimentos obtidos pela pesquisa, ter uma trajetria acadmica e profissional mais coerente.

    Diante disso, antes de abordarmos de maneira direta a questo dos mtodos e tcnicas de pesquisa, faremos uma abordagem no entendimento do ser humano como ser aberto ao saber e ao mundo, ou seja, do ser humano como ser que pesquisa por sua prpria origem e natureza. Essa abordagem necessria para que se compreenda a pesquisa e sua importncia, primeiramente, no como atividade exclusiva de cientistas ou tcnicos em experimentos, mas para todo e qualquer estudante e profissional de qualquer rea. Na mesma perspectiva, que se compreenda que a pesquisa uma busca pelo saber, condio intrnseca ao ser humano.

    UNIDADE 1

  • UNIDADE 1TPICO 14

    UNI

    Caro(a) acadmico(a), nesse caderno queremos tornar evidente nosso esforo em demonstrar que a questo da pesquisa ser abordada como problema no sentido de tornar esse caderno um esforo de demonstr-la como atividade metdica e racional e no meramente como uma descrio de mtodos de pesquisa sem um vnculo maior. Tambm, o intuito mostrar a pesquisa como chave para se entender o prprio ser humano, como ser que pesquisa por sua prpria natureza.

    2 A BUsCA DA REALIZAO DO hOMEM NO MUNDO

    Para Aristteles, o fim ltimo do homem a felicidade. fato que o homem buscou, ao longo dos tempos, se desenvolver mais. Sempre buscamos conhecer mais, desenvolver e reelaborar a cultura. O homem sempre buscou, ento: conhecer mais, viver mais, suplantar suas fragilidades, dificuldades e limitaes diante de um mundo que lhe era estranho.

    NOTA!

    Aristteles de Estagira (384322 a.C.) foi um dos mais importantes pensadores da antiguidade clssica, ao lado de Scrates e Plato. De esprito intensamente criativo e excelente potencial filosfico, destacou-se na abordagem de temas ligados a todos os campos da investigao filosfica e das outras cincias.

    FIGURA 1 - ARISTTELES

    FONTE: Disponvel em: < http://www.netmundi.org/pensamentos/2012/08/aristoteles-e-o-motor-imovel/ >. Acesso em: 15 jul. 2007.

  • UNIDADE 1 TPICO 1 5

    No convvio com a natureza, com o outro e consigo mesmo, historicamente o homem veio construindo a si e ao mundo. Busca a realizao e busca realizar-se como projeto. O homem se constri no tempo e no espao como projeto. Projeto de vida, projeto de realizao, projeto de felicidade.

    Assim, uma das mais profundas experincias para o homem a realizao. sua autorrealizao. Ao mesmo tempo em que desafio permanente, se apresenta como tarefa inacabada, pois nossa existncia sempre tarefa que se constri no dia a dia. Frustrao sentimento de uma vida no realizada. A sensao de falta de tempo e de uma vida sem sentido.

    UNI

    Caro(a) acadmico(a), entender o homem como projeto para a realizao fundamental para entendermos o sentido que a prpria noo de pesquisa e cincia pode ter. Efetivamente, s tem sentido ns pensarmos a cincia e os vrios campos do saber que ela abrange, quando a pensamos em benefcio do homem. Parece bvio o que estamos dizendo, contudo, nosso mundo marcado exatamente pelo efeito contrrio: pessoas que somente buscam a cincia e o conhecimento cientfico para benefcio particular.

    Envolto no tempo, o ser humano se descobre temporal e passageiro. Sabe que sua existncia declina no tempo e busca, portanto, realizar-se, descobrir-se, projetar-se. Portanto, o homem um ser que deve realizar-se por si mesmo. Do que , para o que buscar ser: o que deseja ser.

    Para os gregos, o ideal do homem integral move a busca de realizao. O homem integral, o ideal do sbio, do filsofo, o princpio grego da paideia. Um ser humano completo e sadio tanto de corpo como de mente.

    Na Idade Mdia, a ideia de realizao est ligada concepo crist de mundo que rege esse perodo: realizar-se seria estar alinhado ideia de Deus. Um dos princpios est em colocar-se como servo de Deus e ser fiel aos preceitos e mandamentos do Cristianismo.

    Na modernidade, encontramos a noo de realizao e felicidade aliada ideia da cincia e da tcnica. O homem moderno aposta em um projeto existencial em que, pela cincia e pela tcnica, conseguiria explicar o mundo, transform-lo e lev-lo, consequentemente, felicidade.

    Na contemporaneidade encontramos um ser humano descrente. Tanto os ideais religiosos como os cientficos so questionados. Os ideais de felicidade e realizao modernos no se concretizaram. Encontramos, aps toda essa caminhada e aventura do homem na

  • UNIDADE 1TPICO 16

    busca do saber, um ser humano desconfiado, cansado. Podemos falar, de certo modo, de um ser humano preocupado com seus limites e com os rumos do que vem vivendo.

    Assim, pensar a questo da realizao humana, principalmente nos tempos atuais, , acima de tudo, um grande desafio. Nunca produzimos tantos bens de consumo. Nunca tivemos nossa disposio tanto conhecimento. Ao mesmo tempo, nunca nos questionamos tanto sobre nossos prprios atos e sobre os limites do que queremos fazer.

    ESTUDO

    S FUTU

    ROS!

    Sobre o conceito de pesquisa, suas divises e metodologias, estudaremos adiante.

    Caro(a) acadmico(a), pensar o universo da pesquisa e de suas metodologias no tem sentido se a questo central no for o ser humano. A busca do bem-estar humano e a realizao do homem em sentido ltimo. Pesquisar, conhecer, propor, s tm sentido se permitirem ao pesquisador descobrir-se e contribuir de alguma maneira para o universo do saber humano.

    3 A CONDIO vERTICAL DO hOMEM sOBRE O MUNDO

    Pensar. Eis uma caracterstica inerente ao ser humano. marca que distingue o homem e o coloca como ente capaz de interpretar e conhecer a realidade sua volta. A condio do pensar possibilita ao homem a capacidade de ser consciente de si mesmo, do mundo e da realidade em que vive.

    caracterstica do homem no apenas estar no mundo como existente. Ele se distingue das outras coisas situadas apenas no seu ambiente fsico (coisas) ou no seu ambiente biolgico (plantas e animais). O homem julga, reflete, conhece, isto : supera e reelabora o conhecimento que possui. Os animais encontram em seu habitat seu ambiente natural. De alguma maneira, agem sobre esse ambiente de modo imediato e instintivo, sem reflexo. E instintivamente se aproximam ou fogem do que os circunda. No ultrapassam esse limite.

    O mesmo j no acontece com o homem. Seu ambiente vital no lhe fechado e limitado. O homem consegue ultrapass-lo indefinidamente, superando regionalismos, deficincias fsicas e adaptando-se. Cada homem, de uma certa maneira, cidado do mundo. Cidado da totalidade csmica e se estende indefinidamente no tempo.

  • UNIDADE 1 TPICO 1 7

    NOTA!

    Edmund Husserl (1859-1938), influente pensador contemporneo, pai da tradio filosfica da fenomenologia, que exerceu e vem exercendo, at ento, influncia sobre o pensamento filosfico.

    FIGURA 2 EDMUND HUSSERL

    FONTE: Disponvel em: . Acesso em: 16 jul. 2007

    Assim, embora seja o homem, por um lado, contingente e finito, horizontal e igual, portanto do ponto de vista biolgico e material, por outro lado ele capaz de se elevar sobre a realidade em um plano vertical. Ou seja, do ponto de vista da razo, da capacidade pensante, do seu conhecimento. assim que Husserl define o homem: ser vertical. Assim, o homem capaz de elevar-se sobre o mundo natural pela sua conscincia e pelo seu esprito criativo. Desse modo, o homem acaba por transcender e ultrapassar de maneira vertical todo dado da realidade. a razo e a capacidade de pensar que permitem ao homem condio de possibilidade de abstrair o mundo e colocar-se como ser acima do mundo, que pensa o mundo, que ser vertical, portanto.

    Como projeto de existncia que somos em contnua construo, continuamente dialogamos e aprendemos com o mundo. Aprendemos e apreendemos o mundo. Captamos a realidade. Mas no toda a realidade. Nossa capacidade ser sempre parcial sobre a realidade, pois no a enxergamos em sua totalidade. O mundo que nos aparece ser sempre uma verso do mundo e, portanto, ser sempre parcial e limitado frente ao todo que a realidade, que talvez seja impossvel de ser completamente conhecida.

    Assim, por essa condio de incompletude e de busca que o homem cada vez mais se lana no desafio de transcender-se, de ir alm de si mesmo e das coisas que encontra no mundo. E desse impulso, dessa busca de conhecimento e de superao, nasce a cincia, fruto dessa caracterstica humana.

  • UNIDADE 1TPICO 18

    DICAS!

    Caro(a) acadmico(a), como toda ferramenta de informao e entretenimento, a internet nos oferece bons sites para pesquisa. Como os temas que abordamos nesse tpico so eminentemente filosficos, vamos indicar a voc dois sites que consideramos interessantes para uma pesquisa de textos filosficos minimamente articulados. So eles:www.mundodosfilosofos.com.brwww.consciencia.org

    Portanto, tanto quanto a realizao e a felicidade como fim ltimo do ser humano como vimos anteriormente , o homem tambm ser que se supera, que se transcende. A busca pelo conhecimento faz com que sua conscincia o projete como ser vertical. A cincia acaba resultando desse esforo. Portanto, pensarmos o papel da cincia e da pesquisa, seja ela em qualquer campo do conhecimento ou em qualquer rea do saber, nos coloca sempre mais diante do desafio de pesarmos e entendermos essas questes como resultado da busca pela realizao humana. E tambm como resultado dessa permanente capacidade do homem de superar, pela sua conscincia, a si prprio e ao mundo.

    LEITURA COMPLEMENTAR

    Espreitar as estrelas e se deslumbrar com o mundo e sua vastido algo que, sem dvida, acompanha o homem e sua aventura pelo universo para tentar desvend-lo. Quanto mais o homem aprende, tanto mais descobre que ainda h muito para aprender. No texto abaixo, o fsico e filsofo Roberto de Andrade Martins (1994) aborda essa questo. Mostra a angstia e a aventura do homem em sua jornada por descobrir o mundo. Buscar uma resposta sobre as causas ltimas do mundo, de si e do mundo, algo que acompanha a prpria histria do homem diante da realidade. isso que o texto faz refletir.

    O Mundo, um Enigma Nossa viagem pela histria do pensamento humano mostrou muitas tentativas

    realizadas para compreen der a origem do universo. Essa bus ca existiu nas diferentes civiliza-es, em todos os tempos. Mas a for ma de buscar essa explicao variou muito. O mito, a filosofia, a religio e a cincia procuraram dar uma res posta a questes fundamentais: o universo existiu sempre ou teve um incio? Se ele teve um incio, o que havia antes? Por que o universo como ? Ele vai ter um fim?

    O conhecimento atual sobre o universo est muito distante daqui lo que era explicado pelos mitos e pela religio. Nenhum mito ou reli gio descreveu o surgimento do sistema solar, do Sol, das galxias ou da prpria matria. Esperara mos da cincia uma resposta s nos sas

  • UNIDADE 1 TPICO 1 9

    dvidas, mas ela tambm no tem as respostas finais.

    Por que no desistimos, sim plesmente, de conhecer o incio de tudo? Que importncia pode haver em alguma coisa que talvez tenha ocorrido 20 bilhes de anos atrs?

    A presena universal de uma preocupao com a origem do uni verso mostra que esse um ele mento importante do pensamento humano. Possuir alguma concep o sobre o universo parece ser importante para que possamos nos situar no mundo, compreender nosso papel nele. Em certo senti do, somos um microcosmo. O as trnomo James Jeans explicava o interesse do cientista por coisas to distantes de nossa vida diria da seguinte maneira:

    - "Ele quer explorar o universo, tanto no espao quanto no tempo, porque ele prprio faz parte do uni verso, e o universo faz parte do ho mem."

    Essa busca de uma compreen so do universo e do prprio ho mem ainda no terminou. De uma forma ou de outra, todos participa mos da mesma procura. Uma pro cura que tem acompanhado e que continuar a acompanhar todos os passos da humanidade.

    FONTE: MARTINS, Roberto de Andrade. O universo: teorias sobre sua origem e evoluo. So Paulo: Moderna, 1994.

  • UNIDADE 1TPICO 110

    REsUMO DO TPICO 1

    Neste tpico voc viu que:

    Para Aristteles, a felicidade e a realizao so as metas ltimas do homem.

    O homem essencialmente um ser voltado para a felicidade e a realizao.

    O homem ser vertical, sempre ser que se supera diante do mundo e da realidade.

    Pensar a pesquisa e a questo do conhecimento pensar a dimenso fundamental da realizao humana.

    A busca de respostas e explicaes acompanha o ser humano em sua aventura pelo universo.

  • UNIDADE 1 TPICO 1 11

    AUTOAT

    IVIDADE

    Caro(a) acadmico(a), sabendo que a busca por respostas move o homem, cite dois exemplos de temas que lhe despertam interesse dentro da graduao que voc cursa. Procure se lembrar de temas que lhe movem a descobrir ainda mais o mundo e a realidade sua volta.

  • UNIDADE 1TPICO 112

  • O ATO DE PEsQUIsAR COMO CONDIO DO hOMEM

    1 INTRODUO

    TPICO 2

    Assim como o homem ser que se abre ao mundo tornando-se vertical, ser que transcende o mundo e a realidade, pelo ato de pensar, repensar e pesquisar que o homem atinge esses ideais. o ato da pesquisa que torna o homem ser aberto e lhe possibilita interpretar a realidade atuando sobre ela. sobre isto que trataremos com mais profundidade nas pginas seguintes.

    2 A PEsQUIsA E sUA DIMENsO FUNDAMENTAL AO hOMEM

    Quando falamos em pesquisa, de sbito nos vem mente a noo comum de pesquisa como algo que est ligado e intrnseco questo das cincias experimentais. De sbito, nossa mente fica recheada de imagens de cientistas, vestidos de branco em sofisticados laboratrios e realizando toda sorte de experimentos.

    Essa viso de pesquisa, como algo restrito a cientistas e especialistas de laboratrios, prpria de uma viso construda dentro da modernidade. Nesta viso, entende-se que o ato de pesquisar est exclusivamente ligado s cincias experimentais e aos tcnicos, porque somente essas cincias poderiam nos dar uma explicao eficiente e coerente do mundo.

    De certa forma, essa viso no est completamente equivocada. Evidentemente que as cincias experimentais nos fornecem conhecimentos, concluses e possibilidades de interpretao dos fenmenos naturais e do mundo que nos cerca. Contudo, somente as cincias experimentais no fornecem todas as respostas. As cincias humanas, a educao e a prpria filosofia, que fundamenta os conceitos bsicos dos quais partem os cientistas, tambm contribuem para o processo de pesquisa. No entanto, a radicalizao da viso cientificista de mundo acaba por reduzir os saberes mais vlidos apenas como aqueles ligados s questes das cincias experimentais. Observem a imagem abaixo:

    UNIDADE 1

  • UNIDADE 1TPICO 214

    FIGURA 3 O SONO DA RAZO PRODUZ MONSTROS

    FONTE: Disponvel em: . Acesso em: 16 jul. 2008.

    NOTA!

    Nesse quadro, Goya mostra a razo adormecida e criaturas que se levantam. Caro(a) acadmico(a): todas as vezes em que a razo se calou ou os intelectuais principalmente os pensadores no foram ouvidos, coisas ruins aconteceram. Ento, no podemos pensar a cincia por ela mesma: o debate filosfico, tico, deve acompanh-la.

    Assim, a noo inicial que queremos discutir, em primeiro plano, que o ato da pesquisa est muito ligado s cincias experimentais. Contudo, no apenas a elas, mas a todas as cincias, e inclusive na educao. Por isso, necessrio que se compreenda a importncia da pesquisa na educao e de que o professor tambm um cientista. Enfim, pesquisa cientfica prpria de todo aquele que participa do universo acadmico: de qualquer rea da cincia. A noo de educao e de ensino, na perspectiva da pesquisa, envolve toda comunidade escolar ou acadmica.

    Nesta mesma perspectiva, necessrio que se reconhea que o ato de pesquisar, prprio da curiosidade humana, dessa incansvel busca pelo saber, caracterstica inerente ao ser humano. O assombro e a maravilha do homem diante da realidade que o circunda o impulsionaram historicamente a conhecer. O conhecimento humano , portanto, fruto dessa insatisfao permanente diante da realidade na qual vivemos, que nos cerca e que buscamos sempre mais conhecer.

    Portanto, pesquisar um ato humano. A pesquisa cientfica existe como resultado dessa permanente busca. Assim, tanto a busca da felicidade quanto a capacidade de superar e pesquisar so condies inerentes ao homem.

  • UNIDADE 1 TPICO 2 15

    DICAS!

    No sentido de evidenciarmos o carter da pesquisa que o homem traz em si, por natureza, sugerimos o filme leo de Lorenzo. Nele, temos um belo exemplo do potencial humano e da capacidade de superao diante do mundo e da realidade.

    LEITURA COMPLEMENTAR

    Pesquisa envolve de maneira profunda o desenvolvimento do ser humano. Potencializa suas capacidades. No caso da formao profissional imprescindvel, na medida em que qualifica o olhar do pesquisador. Ento, no texto abaixo, Pedro Demo nos traz essa noo, ressaltando a importncia do pesquisar. Vejamos:

    A importncia da pesquisa na formao profissional

    A educao brasileira padece de um grande mal: a desvinculao entre ensino e pesquisa. Raros so os cursos de Ensino Superior que efetivamente envolvem os seus alunos no processo de pesquisa, problema particularmente mais acentuado nas licenciaturas.

    A funo da pesquisa no apenas a de formar um pesquisador ou de produzir conhecimentos novos, mas, efetivamente, de preparar o profissional para operar a to propalada relao teoria-prtica. De uma maneira geral, a teoria uma generalizao que na prtica aparece de forma muito particular, pelas diferentes interaes que a compem. A relao teoria-prtica implica num domnio da teoria associado ao conhecimento do real. Em ambos os casos se faz necessria uma qualificao do olhar, ou seja, estar dotado da capacidade de olhar a realidade e perceber a complexidade de seus elementos. Assim se faz possvel lanar mo da teoria mediada com a realidade na sua complexidade onde se realiza a prtica.

    Neste sentido, qualquer profissional precisa qualificar o seu olhar para compreender a sua realidade. O mdico detm um conhecimento concreto de sintomas e posologias de uma doena, ele sabe tambm do contexto em que elas aparecem. No entanto, as combinaes entre sintomas e contextos de manifestaes das doenas permitem uma gama muito grande; logo, as posologias requerem cuidado e novas observaes. Ao mdico cabe ento qualificar o seu olhar para que o seu conhecimento esteja em interao com a realidade. Assim, ao desenvolver uma pesquisa, qualquer que seja ela, o profissional da medicina deve visar esta mediao: a teoria e a realidade, interagindo na observao do aparecimento de uma doena em diversos pacientes com contextos diversos (como idade, sexo, atividade profissional, local de moradia) e estudar as posologias mais eficientes. Este exerccio terico, mesmo que no seja indito, permite qualificar a sua interveno profissional.

    Entre professores, de extrema importncia a prtica da pesquisa, pois a interao

  • UNIDADE 1TPICO 216

    com as diferentes realidades e indivduos com que o professor se defronta no dia a dia faz do professor algum que precisa interagir de maneira mais dinmica possvel. Neste sentido, o professor precisa qualificar o seu olhar para perceber os nexos particulares dos processos e dos indivduos com que lida diariamente. Buscando na teoria algumas reflexes generalizantes, que so mediadas pela sua prtica no dia a dia. Para o educador, o exerccio da pesquisa na ps-graduao o momento de lidar com instrumentos de conhecimento da teoria e da realidade para qualificar a sua atuao profissional e responder com mais xito aos desafios colocados pela realidade.

    FONTE: DEMO, Pedro. Pesquisa: Princpios Cientficos e Educativos. So Paulo: Cortez, 1991.

  • UNIDADE 1 TPICO 2 17

    REsUMO DO TPICO 2

    Neste tpico voc viu que:

    Pesquisar condio inerente ao ser humano.

    Pesquisar no atividade restrita a pesquisadores profissionais ou mesmo apenas a cientistas.

    Para a educao, a pesquisa tambm desempenha um importante papel.

    Normalmente, a teoria e a prtica aparecem desvinculadas na educao brasileira.

    A pesquisa um elemento pertinente na qualificao do olhar do pesquisador.

  • UNIDADE 1TPICO 218

    AUTOAT

    IVIDADE

    Caro(a) acadmico(a), vimos na leitura complementar que o autor deixa bem claro o papel do profissional que precisa qualificar seu olhar para melhor compreender a realidade. Nesse sentido, aponte dois exemplos de reas de trabalho em que, no seu entendimento, as pessoas demonstram claramente que no esto preparadas.

  • UNIDADE 1 TPICO 3 19

    O DEsAFIO sOCIAL DA UNI-vERsIDADE E A QUEsTO DA

    PEsQUIsA

    1 INTRODUO

    TPICO 3

    Nosso tempo um tempo que nos exige no apenas competncia especfica na rea em que atuamos. Precisamos saber ler o mundo. A cada dia que inicia, algo de novo nos vrios campos da cultura humana acaba aparecendo. Alm disso, as mais diferenciadas transformaes, nos mais diferenciados setores da cultura humana, se somam a cada dia. O mundo atual nos exige ateno. Exige-nos domnio das novas tecnologias e capacidade de compreender a histria e a geopoltica contempornea. Enfim, exige-nos olhar crtico. isso que abordaremos nesse tpico.

    2 O DEsAFIO CENTRAL DA UNIvERsIDADE DIANTE DOs NOvOs TEMPOs

    Vivemos tempos de mudanas, ou podemos at dizer que vivemos uma mudana de tempos. Em certo sentido, dinamizar o mundo e aprimor-lo sempre foi uma caracterstica bsica do ser humano, como j vimos anteriormente. Mas, o que nos chama mais a ateno nesses tempos a velocidade com que todas essas transformaes ocorrem.

    Ento, todo dia ligamos nosso rdio, a TV, acessamos a internet ou qualquer outra fonte de informao, e normalmente somos bombardeados por uma verdadeira avalanche de novidades e informaes que vm de todos os cantos. Sejam essas informaes interessantes e edificantes ou sobre guerras, fomes ou temas que nos deixam preocupados. Ren Dreifuss (1996, p. 17) diz que vivemos sob o signo da recriao:

    Vivemos tempos e espaos marcados cotidianamente pela simultaneidade das irrupes cientficas e ecloses tecnolgicas, concomitantes e intera-tivas, em todos os campos do conhecimento, da atividade e da existncia humana. Fragmentos da humanidade se reconhecem na mudana e em processo de mutao; pensam o futuro, autoconscientes de sua ges-tao. Durante sculos, ou milnios, o esforo criativo se concentrou na complementao e ampliao da capacidade manual e locomotiva do ser humano, alm de buscar a reproduo, aumento e substituio (em forma

    UNIDADE 1

  • UNIDADE 1TPICO 320

    de objeto, mquina ou sistema) da capacidade muscular e das possibilida-des de articulao fsica. Hoje, o esforo se concentra na reproduo (em equipamentos) dos sistemas visual e nervoso humanos e da capacidade fsica de pensar, alm da rplica (inatingvel) das condies aproximadas de funcionamento do crebro e da memria. [...].

    Nosso tempo marcado, sobretudo, por grandes desafios e contradies. Por um lado, o desafio social. A questo da distribuio das riquezas. Acesso tecnologia. Por outro, as questes ambientais e, dentro dessas, marcadamente as questes climticas. Temos, por outro lado, um conjunto de possibilidades ticas e humanas que nos d grandes chances de transpormos e solucionarmos grande parte desses problemas.

    FIGURA 4 GLOBALIZAO

    FONTE: Disponvel em: . Acesso em: 15 jul 2008.

    NOTA!

    A chamada globalizao, ao mesmo tempo em que aumenta as relaes de interdependncia entre povos e pases, tambm nos coloca diante de grandes desafios sociais e humanos.

    nesse sentido que crucial o papel das universidades. Estas, como centros de reelaborao do saber, desempenham papel central nessa questo, exatamente quando nos possibilitam abrir novos horizontes e possibilidades. Como centros no apenas de repasse, mas de reelaborao do saber, as universidades nos ajudam a repensar a realidade, que tanto necessita de pessoas com capacidade e um olhar mais crtico. Segundo Dreifuss (1996, p. 13):

    A despeito das antigas mazelas, o planeta tem uma nova cara`, modelada por acelerados processos em curso de diferenciao, diversificao e recomposio econmica e poltico-estratgica que espelham a dinmica de uma verdadeira transformao das bases cientfico-tecnolgicas, cultu-rais e socioeconmicas avanadas. Transformaes nas modalidades de

  • UNIDADE 1 TPICO 3 21

    produo e nas formaes societrias que apontam para movimentos de mutao civilizatria, configurados em menos de 20 anos.

    Assim, diante desse cenrio de reconfigurao e de desafios em escala mundial,

    cabe universidade contribuir de forma decisiva para que os jovens recuperem a capacidade de sonhar e se libertem do imediatismo de hoje. Cabe universidade garantir que os jovens se tornem cidados conscientes de um mundo globalizado.

    Ainda, vale ressaltar que o mundo atual dominado pelas naes que detm os maiores investimentos em cincia e pesquisa. na mxima de Francis Bacon (1561-1626), segundo o qual saber poder, que essa questo se torna mais clara para ns, e entendemos porque ento estratgico que se invista e se leve a srio a questo do conhecimento e da pesquisa.

    Portanto, fomentar a pesquisa, a cincia, em nosso pas marcado pela excluso social, do ensino, principalmente o superior, condio primordial para que possamos nos emancipar socialmente e culturalmente, em um mundo marcado pelo controle e dominao das naes mais ricas e que detm o conhecimento cientfico. O resultado desse esforo, no de forma imediata ou no curto prazo, mas a mdio e longo prazo, certamente afetar a cada um de ns.

    LEITURA COMPLEMENTAR

    Pesquisa: desafio central

    Na mesma linha da discusso que apresentamos, o texto que segue, de Pedro Demo, evidencia a importncia da pesquisa no contexto da universidade e no mundo atual.

    A questo da pesquisa

    Tomamos como desafio central da educao superior a produo de conhecimento prprio com qualidade formal e poltica, capaz de post-la na vanguarda do desenvolvimento (FAVERO, 1989). A alma da vida acadmica constituda pela pesquisa, como princpio cientfico e educativo, ou seja, como estratgia de gerao de conhecimento e de promoo da cidadania. Isto lhe essencial, insubstituvel. Tudo o mais pode ter imensa significao, mas no exige instituio como a universidade, nem mesmo para apenas ensinar (DEMO, 1991).

    A trilogia repetida "ensino/pesquisa/extenso" precisa ser revista, no s porque nossa experincia pouco convincente, mas, sobretudo, porque os termos apresentam expectativas heterogneas. Um conceito adequado de pesquisa capaz de absorver, com vantagens, os outros dois, e redirecionar a universidade para o comando da modernidade.

    Pesquisar no se restringe a seu aspecto sofisticado mais conhecido, que supe

  • UNIDADE 1TPICO 322

    domnio de instrumentaes pouco acessveis. Tambm no significa apenas esforo terico, mera descoberta de lgicas e sistemas, simples experimentao laboratorial. Ainda, no se esgota em ritos tipicamente acadmicos, como se fosse atividade exclusiva (LUCKESI et al., 1991).

    Em primeiro lugar, pesquisa significa dilogo crtico e criativo com a realidade, culminado na elaborao prpria e na capacidade de interveno. Em tese, pesquisa a atitude do "aprender a aprender", e, como tal, faz parte de todo processo educativo e emancipatrio. Cabe - deve caber - no pr -escolar e na ps-graduao. No primeiro, claro, aparece mais o lado da pesquisa como princpio educativo (questionar e construir alternativas); na segunda, aparece mais a pesquisa como princpio cientfico.

    Podemos colocar isto mal, ao insinuar que pesquisa pode ser "qualquer coisa", recaindo no lado oposto ao da extrema sofisticao. No o caso, pois estamos nos movimentando no espao tpico da qualidade formal e poltica, no de qualquer coisa. Pesquisa, tanto como princpio cientfico quanto educativo, exige profunda competncia e sua renovao incessante.

    Em segundo lugar, pesquisa funda o ensino e evita que este seja simples repasse copiado. Ensinar continua sendo funo importante da escola e da universidade, mas no se pode mais tomar como ao autossuficiente. Quem pesquisa, tem o que ensinar; deve, pois, ensinar, porque "ensina" a produzir, no a copiar. Quem no pesquisa, nada tem a ensinar, pois apenas ensina a copiar.

    Em terceiro lugar, pesquisa aponta para a direo correta da aprendizagem, que deve ser elevada a "aprender a aprender". Aprender uma necessidade de ordem instrumental, mas a emancipao se processa pelo aprender a aprender. fundamental, portanto, "ensinar" a pesquisar, ou seja, superar a mera aprendizagem, sempre que possvel. No fundo, s aprende quem aprende a aprender. Tanto a escola quanto a universidade no buscam o aprendiz, mas o pesquisador, ou o mestre capaz de projeto prprio.

    Em quarto lugar, pesquisa acolhe, na mesma dignidade, teoria e prtica, desde que se trate de dialogar com a realidade. Cada processo concreto de pesquisa pode acentuar mais teoria, ou prtica; pode interessar-se mais pelo conhecimento ou pela interveno; pode insistir mais em forma ou em poltica. Todavia, como processo completo, toda teoria precisa confrontar-se com a prtica, e toda prtica precisa retomar a teoria.

    Com isto dizemos que o conceito de extenso somente necessrio quando a prtica se perde e j s pode entrar pela porta dos fundos, como algo extrnseco. O compromisso educativo da universidade no pode ser resgatado pela extenso, porque deveria ser intrnseco pesquisa como tal. A cidadania que a universidade promove aquela mediada pela cincia, ou seja, o prprio processo de produo cientfica carece ser educativo. Trata-se de prtica intrnseca, que desde j afasta posturas neutras, positivistas, bem como repele ativismos. Prtica tem que ser curricular, como qualquer matria, e sempre voltar teoria. E vice-versa

  • UNIDADE 1 TPICO 3 23

    (GURGEL, 1986).

    Na universidade no pode haver grupo separado de pesquisadores, de docentes, de extensionistas. Pesquisa o cotidiano mais cotidiano. No supe lugar especial, salrio adicional, horrio especfico. Isto no impede que algum se dedique apenas pesquisa como princpio cientfico, mas exige que toda profissionalizao conserve pelo menos pesquisa como princpio educativo (capacidade de questio nar, de se reciclar, de continuar aprendendo a aprender).

    Dever desaparecer aquele que se imagina especialista em dar aulas, se fizer apenas isto. Universidade que apenas ensina est na ordem da sucata. No tem qualquer condio de conduzir modernidade, at porque estritamente arcaica. Ademais, esta atividade de mero repasse copiado ser, cada vez mais, substituda pelos meios eletrnicos disponveis, sendo a o professor necessrio para conceber, criar os programas, no para repassar.

    No tem sentido pedaggico o mero repasse copiado, por mais que coloque um professor na frente de um conjunto de alunos. Esta relao viciada e vetusta. Contato pedaggico prprio da universidade aquele mediado pela produo/reconstruo de conhecimento. Sem esta produo, no se distingue de outros possveis contatos pedaggicos, como a relao pais e filhos, ou o ambiente de influncia mtua na esquina e no boteco, ou o ambiente da vizinhana, ou a relao polcia/populao.

    A velha aula vive ainda da quimera do "fazer a cabea do aluno", via relao discursiva, decada na exortao e na influncia autoritria, sem perceber que isto, no fundo, sequer se diferencia do fenmeno da fofoca. Educao encontra no ensinar e no aprender apenas apoios instrumentais, pois realiza-se de direito e de fato no aprender a aprender. Dentro desse contexto, caduca a diferena clssica entre professor e aluno, como se um apenas ensinasse, outro apenas aprendesse. Ambos colocam-se o mesmo desafio, ainda que em estgios diversos. A pedagogia da sala de aula vai esvaindo-se irremediavelmente, porque est equivocada na raiz.

    Universidade no ser um campus cheio de salas de aula, mas um lugar para produzir cincia prpria, com qualidade formal e poltica. O ensino decorre como necessidade da socializao e da prtica, mas j no funda o sentido bsico da universidade.

    O professor assume postura de orientador, definindo-se como algum que, tendo produo prpria qualitativa, motiva o aluno a produzir tambm. Este processo produtivo comea do comeo, ou seja, comea pela cpia, pela escuta, pelo seguimento de ritos introdutrios, mas precisa evoluir para a autonomia. Se educao na essncia emancipao, cabe fazer acontecer, no apenas acontecer. Educao deve fundamentar a capacidade de produzir e participar, no restringir-se ao discpulo, que ouve, toma nota, faz prova, copia, sobretudo "cola".

    Ao mesmo tempo, este posicionamento muda o conceito de informao passiva para

  • UNIDADE 1TPICO 324

    ativa. Muitos "auleiros" defendem a aula porque socializam o conhecimento da matria, pelo menos informao bsica sobre ela. H vrios equvocos a:

    a) o aluno que apenas escuta exposies do professor, no mximo se instrui, mas no chega a elaborar a atitude do aprender a aprender;b) o professor sem produo prpria no tem condies de superar a mediocridade imitativa, repassando, pois, esta mesma;c) absurdo aceitar que, no percurso de um professor que l em outros autores e repassa para alunos, que, por sua vez, tambm apenas escutam e copiam, acontea qualquer coisa de relevante, sobretudo informao ativa;d) reduzida a vida acadmica a apenas isto, no acontece o essencial, seja na linha da qualidade formal (instrumentao tcnica da autossuficincia), seja na linha da qualidade poltica (fundamentao da cidadania);e) quem permanece no mero aprender no sai da mediocridade, fazendo parte da sucata.

    Aulas permitem viso geral da matria, desde que se originem de quem a domina via produo prpria. A pretendida viso geral oriunda de algum que meramente repassa comete o equvoco, primeiro, de imaginar-se "viso", e, segundo, de equiparar o "geral" a aprofundamento necessrio. No h como substituir o esforo de elaborao prpria, porque seria o mesmo absurdo de pretender a prpria emancipao feita pelos outros.

    Elaborao prpria no poderia resumir-se construo terica, cujo prottipo o "paper". Em termos acadmicos, talvez seja a face mais palpvel. Faz parte da pesquisa a noo essencial de produtividade, entendida como capacidade de pensar e intervir na realidade. As reas exatas e naturais so menos discursivas, prevalecendo o desafio de inovar pela experimentao, pelo desdobramento de novas tecnologias, pelo desbravamento de novos processos e sistemas, embora isto suponha sempre domnio terico. Ademais, dia vir em que, em vez do "paper", se far um vdeo ou algo semelhante.

    A produtividade, centrada na elaborao prpria, representativa da atitude ativa, construtiva, confrontadora, compatvel com a noo de sujeito histrico crtico e criativo. Ser produtivo, primeiro, no fantasiar-se de posturas mercadolgicas, para imitar o sistema produtivo. Mas pode-se aproveitar dele o que tem de motivador, ou seja, a ambincia dinmica dialtica, no contexto de interesses sociais contraditrios. Segundo, a pesquisa acadmica no pode restringir-se a um tipo de atividade no fundo terico-discursiva, que no mximo aparece em "paper". Inclui noo muito mais larga e profunda, que contemple, por exemplo:

    a) capacidade de dinamizar o ambiente acadmico tambm em termos de prtica;b) habilidade de consolidar competncia cientfica em todos os novos espaos do mundo moderno, sobretudo em termos de domnio de instrumentaes eletrnicas;c) viso e ao sempre renovadas em termos de inovao cientfica e tecnolgica, nas quais capacidade laboratorial, experimental, crucial;d) presena educativa, nem sempre escrita, codificada, mas viva, sobretudo no sentido de motivar a pesquisa;

  • UNIDADE 1 TPICO 3 25

    DICAS!

    e) capacidade de dinamizao cultural, para fazer o elo orgnico e criativo entre passado e futuro.

    Com isto dizemos que pesquisa, primeiro, questo de atitude processual cotidiana, no de produtos estereotipados. Segundo, precisa certamente condensar-se em expresses concretas, mas que continuaro eventuais, se desgarradas da atitude fundante. A produtividade significa primordialmente o compromisso com participao ativa, em todos os sentidos, em particular o de postar-se na vanguarda do desenvolvimento (CUNHA, 1989).

    FONTE: DEMO, Pedro. Desafios modernos da educao. 4. ed. Petrpolis: vozes, 1996.

    Caro(a) acadmico(a): dois filmes que gostaramos de indicar a voc como referncia para esta unidade e para sua formao acadmica. Vejamos:Sociedade dos Poetas Mortos (1989): John Keating leciona literatura numa centenria e tradicional escola preparatria. So os anos 50. Com seus mtodos pouco ortodoxos, ele desperta os alunos para o rico universo da poesia e das ideias. E tambm a resistncia dos pais e da direo da escola. Aproveite o dia, ele diz aos alunos. E os ensina que pensar e olhar as coisas por outro ngulo o que conta. Instigados por esse novo mundo, sete dos rapazes decidem recriar a Sociedade dos Poetas Mortos, nome que um grupo de estudantes, do qual Keating fez parte quando jovem, deu s reunies que faziam para ler poesia. Mas os conflitos so difceis de superar. E a liberdade custa caro. Uma interessante viso de educao e pesquisa. Encontrando Forrester (2000): Jamal Wallace (Robert Brown) um jovem adolescente que ganha uma bolsa de estudos em uma escola de elite de Manhattan, devido ao seu desempenho nos testes de seu antigo colgio no Bronx e tambm por jogar muito bem basquete. Aps uma aposta com seus amigos, ele conhece William Forrester (Sean Connery), um talentoso e recluso escritor com quem desenvolve uma profunda amizade. Percebendo talento para a escrita em Jamal, Forrester procura incentiv-lo para seguir este caminho, mas termina recebendo de Jamal algumas boas lies de vida.

    DICAS!

    Caro(a) acadmico(a), gostaramos de sugerir, a ttulo de aprofundamento, as obras de Pedro Demo, no sentido de ampliar a viso da pesquisa e sua importncia na construo do conhecimento acadmico. Gostaramos de referenciar aqui duas obras: A que acabamos de ler, Desafios Modernos da Educao, e outra obra de grande prestgio no meio acadmico: Educar pela Pesquisa. Ambas trazem um belo debate. Sem contar que esse autor tem inmeras publicaes em revistas, palestras e muitas contribuies ao meio acadmico.

  • UNIDADE 1TPICO 326

    REsUMO DO TPICO 3

    Neste tpico vimos que:

    vivemos um tempo de intensas transformaes, que nos exigem, acima de tudo, postura crtica e capacidade de anlise diante do mundo.

    Como centro de reelaborao do saber, a universidade tem por dever fomentar a pesquisa e a elaborao do conhecimento.

    Pesquisa significa dilogo crtico.

    Pesquisa envolve tambm aprender a aprender.

    O ato de pesquisar tambm faz com que a educao no seja mero repasse de saberes.

  • UNIDADE 1 TPICO 3 27

    AUTOAT

    IVIDADE

    A partir da leitura desse tpico, bem como de todo o texto, responda s seguintes questes:

    1 Qual o desafio central da universidade e do Ensino Superior? Desenvolva.

    2 Qual o papel do professor no processo de fomento da pesquisa?

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  • UNIDADE 1 TPICO 4 29

    A QUEsTO DO CONhECIMENTO: O QUE sIGNIFICA CONhECER, TIPOs

    DE CONhECIMENTO, CONhECIMENTO CIENTFICO

    1 INTRODUO

    TPICO 4

    Sem capacidade de conhecimento, o ser humano no seria o que . Mesmo assim, o conhecimento no se d ao homem de uma forma pronta e concluda. O conhecimento no deve ser confundido como se fosse o prprio ser do homem. O conhecimento no algo pronto no homem, mas possibilidade, isto , uma condio para o ser do homem. O conhecimento uma capacidade humana para o homem poder realizar-se como ser pensante. O conhecimento no se define pelo que , mas pelo seu poder ser no homem e para o homem. Por isso, o conhecimento uma tarefa permanente no homem.

    Caro(a) acadmico(a), nas pginas seguintes abordaremos essa questo do conhecimento. O que , o que significa e sua importncia para o homem. Chegamos a esse estgio de desenvolvimento graas nossa incansvel busca pelo saber. Evidentemente, problemas e consequncias pelo mau uso de nosso conhecimento tambm nos acompanham. Ento, nosso grande desafio entender a dinmica do conhecimento e, a partir disso, buscarmos conhecer a realidade com o objetivo de torn-la melhor. Boa leitura!

    2 O QUE sIGNIFICA CONhECER Quando falamos em conhecimento, falamos sempre em uma relao que se estabelece

    fundamentalmente entre dois elementos: sujeito e objeto. O conhecimento sempre se d a partir dessa dualidade. O sujeito o que conhece chamamos de sujeito cognoscente. O objeto o que ser conhecido chamamos de cognoscvel. Ento, o sujeito cognoscente (homem), a partir de sua capacidade de conhecer e estudar a realidade, toma conhecimento de seu objeto de estudo. Aqui, vale chamar a ateno para o fato de que quanto mais complexo o objeto de estudo, mais o sujeito que est estudando ter dificuldade em interpret-lo. Se o objeto de estudo for um ser humano, por exemplo, temos um objeto de estudo bastante complexo de ser interpretado. Podemos colocar a relao de conhecimento, para ficar mais clara, na seguinte frmula:

    UNIDADE 1

  • UNIDADE 1TPICO 430

    O estudo e a pesquisa para responder questo sobre o que significa conhecer fazem parte de uma disciplina denominada Gnosiologia ou Teoria do conhecimento. Gnosiologia uma palavra de origem grega e quer dizer: gnose - conhecimento e logia - estudo, saber. Geralmente, todo ser humano, procurando satisfazer a curiosidade que lhe inata, desconfia da aparncia das coisas e procura respostas que apresentam maior segurana e certeza. H tambm a epistemologia, que estuda as bases do conhecimento, ou seja, se aquilo que uma certa teoria sustenta tem ou no validade, ou se sustentvel ou no.

    NOTA!

    Blaise Pascal (Clermont-Ferrand, Puy-de-Dme, 19 de junho de 1623 - Paris, 19 de agosto de 1662) foi um filsofo, fsico e matemtico francs de curta existncia, que como filsofo e mstico criou uma das afirmaes mais pronunciadas pela humanidade nos sculos posteriores, O corao tem razes que a prpria razo desconhece, sntese de sua doutrina filosfica: o raciocnio lgico e a emoo.

    Pascal definiu o homem como um dos mais frgeis seres da natureza. Contudo, lembra o filsofo, pensante. Assim, pode-se considerar que a cultura humana resultado da capacidade de conhecer. Neste sentido, uma das caractersticas fundamentais do ser humano, e que o diferencia dos demais seres vivos, a capacidade reflexiva sobre aquilo que est como objeto de sua percepo. As representaes que faz da realidade, o conhecimento como resultado de seu pensamento sobre os fatos, a memria como recordao, a imaginao como formadora de hipteses e possveis certezas, so alguns dos exemplos de suas habilidades mentais. Ento somos de fato seres frgeis, mas nos diferenciamos por nossa capacidade de adaptao ao mundo e realidade que nos cerca.

    A questo do conhecimento est em evidncia desde a Grcia antiga (sculo IV A.C.). Nas obras de Plato e Aristteles temos as bases da discusso que norteiam as grandes concepes de conhecimento. De l at a atualidade j se passaram mais de dois mil anos e a questo do conhecimento sempre central, no sentido de apontar os caminhos pelos quais os homens buscaram, e ainda buscam, conhecer e explicar a prpria origem do conhecimento.

    Olhando ainda a questo do ponto de vista histrico, parece evidente ter ocorrido progresso em quase tudo. Progresso material, progresso financeiro, progresso na aprendizagem, enfim, o progresso pode ser uma matriz que direciona o modo de agir e de pensar. Ser que o mesmo se pode dizer em relao questo do conhecimento? Se no possvel falar de progresso do conhecimento, certamente se pode concordar que houve um acmulo. Evidentemente, cabe aqui ressaltar esse fenmeno contemporneo, tpico do nosso

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    estgio de desenvolvimento atual. Nunca tivemos tanta informao produzida e veiculada instantaneamente pelo mundo. Nunca tivemos tanta informao e, de certa maneira, nunca tivemos tanto acesso informao como temos agora. Vale dizer ainda que vivemos na era da simultaneidade e da instantaneidade. Temos acmulo de informaes, mas muitas vezes nos falta conhecimento. Acumulamos informaes sobre todas as coisas, mas no refletimos sobre elas, ento podemos dizer que estamos muito informados, mas, ao mesmo tempo, temos pouco conhecimento.

    DICAS!

    Um filme que aborda de maneira muito forte a aventura do conhecimento humano o filme A Guerra do Fogo. O filme um estudo profundo e delicado sobre a descoberta do fogo na pr-histria. Coube a Anthony Burgess criar uma linguagem falada e ao etnlogo Desmond Morris a linguagem corporal e gestual das tribos beneficiadas pelo fogo. Baseado no livro de J. H. Rosny.

    Diante de tais observaes, como se pode definir o conhecimento? possvel e necessrio fazer uma definio do conhecimento? Se possvel, quando se pode dizer que algum tem e outro no tem o conhecimento? Ainda, podemos falar em saber mais? Saber menos ou saberes diferentes? Evidentemente, cada forma de saber tem sua caracterstica e valor. Mas tambm tem suas possibilidades e limitaes. A isso chamamos tipos de conhecimento, que estudaremos a seguir.

    Ainda sobre nosso conhecimento produzido atualmente, questiona-se muito o ser humano como sujeito do conhecimento. Interpretamos o mundo. Transformamo-lo. Mas, ao mesmo tempo, a que preo? Se olharmos para o sculo XX, as guerras mundiais, a violncia do conhecimento cientfico sobre a natureza, o surgimento de doenas a partir de experincias de laboratrio, ficamos preocupados. Agora, no sculo XXI, as guerras que continuam, a pobreza, a questo climtica. Ento, a questo do conhecimento passa a ser sempre importante para nos situarmos no mundo, marcadamente em nosso tempo. Quando falamos que o homem sujeito do conhecimento, no estamos dizendo que ele um ser superior no planeta, mas que ele coexiste e, portanto, suas aes tm limites. Talvez esse seja nosso grande desafio a ser pensado.

    3 O CONhECIMENTO: UMA AsPIRAO NATURAL DO hOMEM

    Aristteles j havia afirmado que o homem tem um desejo de saber pela admirao natural que tem diante do mundo. O homem tende ao conhecimento pelo fascnio que os

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    objetos sensveis exercem sobre o esprito humano. Mas o conhecimento humano no meramente quantitativo; alm disso, , tambm, qualitativo. Disto se depreende que h no conhecimento humano dois sentidos bsicos. Primeiro, o sentido ontolgico, isto , o ser do homem descobre e desvela os entes, ou seja, o homem sai de si para encontrar o objeto do seu conhecimento. Segundo, o sentido gnosiolgico, que, por sua vez, se subdivide em dois aspectos convergentes entre si, que so:

    a) a curiosidade de conhecer, sem nenhum outro interesse a no ser o do prprio conhecer; b) o conhecer objetivando uma prtica, ou satisfazer uma necessidade psicolgica vital do homem na esfera do conhecimento.

    O desejo ou aspirao natural do conhecimento humano tem em seu fundamento o amor pela verdade. E o amor verdade se d no encontro com as causas ltimas do conhecimento.

    DICAS!

    Caro(a) acadmico(a): aqui no poderamos deixar de citar como fonte de aprofundamento dessa temtica um clssico de Stanley Kubrik: 2001: Uma Odisseia no Espao. O filme traa a trajetria do homem desde, aproximadamente, quatro milhes de anos antes de Cristo, at o ano de 2001, sempre abordando a evoluo da espcie, a influncia da tecnologia nesse crescimento e os perigos da inteligncia artificial. O final, um dos mais emblemticos da histria do cinema, mostra astronautas travando uma luta mortal contra o computador - a verso moderna do confronto entre criador e criatura, que j inspirara clssicos como Frankenstein.

    4 O CONhECIMENTO E sUAs DIFICULDADEs

    A gnese do conhecimento humano se d com atitude contemplativa. A admirao pelo saber fez o homem adotar uma atitude passiva diante dos fenmenos sensveis. O homem absorvia interiormente a imagem sensvel que o objeto produzia sobre seu intelecto. O homem embriagava-se com as sensaes e os efeitos que essa atitude contemplativa produzia sobre sua capacidade cognoscente. Ele era um intrprete da realidade exterior que se refletia no seu interior. Mas, com o passar do tempo, o homem assumiu uma nova atitude. No se contentava mais com a mera contemplao passiva e interpretativa da realidade exterior. Por isso, buscou, no af de inverter esta situao, uma nova atitude frente ao mundo e s coisas sensveis nele contidas. De mero intrprete passou a diretor, e de sua contemplao passou ao. Mas justamente a que surgem as grandes dificuldades que o conhecimento humano precisou e ainda precisa enfrentar. Na ao do conhecer, o homem se debrua sobre seu prprio ato de

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    conhecer e tenta resolver a questo de como possvel haver conhecimento a partir de sua prpria racionalidade. Ao fazer esta convergncia sobre si mesmo, o conhecimento se torna problemtico para a prpria nsia de saber do homem.

    NOTA!

    Ren Descartes (31 de maro de 1596, La Haye en Touraine, Frana 11 de fevereiro de 1650, Estocolmo, Sucia), tambm conhecido como Renatus Cartesius, foi filsofo, fsico e matemtico francs. Considerado o pai da modernidade, dadas as propores que suas obras assumem no contexto da edificao do mundo moderno, dele a famosa mxima: Penso, logo existo.

    Descartes quem protagoniza este novo momento de reflexo sobre a possibilidade do conhecimento que tenta penetrar na prpria capacidade racional do homem e desvendar o seu ser. A partir dele se desencadeia o moderno problema do conhecimento e as dificuldades que desta nova atitude se tornaram evidentes. A soluo de tais problemas o desafio que se coloca para a teoria do conhecimento.

    Ento, esse texto introdutrio serve para despertar sua conscincia para a importncia

    de se compreender o fenmeno do conhecimento, os tipos de conhecimento existentes e o prprio conhecimento cientfico, que voc est aprendendo sempre mais no curso. Esperamos que aproveite os prximos tpicos. Leia e se coloque em jogo, pois nada melhor que a conquista do saber que auxilia o homem a sempre buscar sua plenitude.

    5 O CONhECIMENTO E A QUEsTO DA UTILIDADE

    Nosso mundo dominado por uma viso pragmatista. Vale apenas o que tem carter prtico. til. O que no se enquadra nesse perfil no serve. Mas, entende-se aqui o termo utilidade no no sentido meramente pragmatista, mas no sentido de que o conhecimento til na medida em que contribui para a efetiva realizao global do ser humano, no aspecto pessoal, social e transcendental. Utilidade do conhecimento representa compromisso com a verdade.

    Para o homem, a utilidade do conhecimento significa a sua possibilidade de lanar-se no desconhecido. Isso permite ao ser humano fazer seu projeto de vida. Projetar significa, ao contrrio do improviso, a possibilidade de prever problemas e dificuldades para resolv-los com sabedoria e determinao. A utilidade do conhecimento d condies ao homem de viver no apenas uma vida factual, simplesmente por experincias empricas, mas pode, antes de tudo, determinar-se dando sua vida um sentido e destino baseado em valores transcendentais. A utilidade do conhecimento humano repousa no s na descoberta de que o homem faz de

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    si e do mundo, mas no projeto de vida capaz de lan-lo ao verdadeiro sentido para onde aponta a sua verticalidade.

    Portanto, so trs aspectos bsicos da utilidade do conhecimento:

    a) o conhecimento de si prprio, e do mundo, dentro de uma validade factual; b) o conhecimento dos autnticos valores que determinam a vida na efetiva busca da verdade; c) o conhecimento da finalidade da existncia. O homem no conhece s por conhecer, mas conhece para um determinado fim. O conhecimento que permite vislumbrar o sentido ltimo da vida humana , sem dvida, o maior legado que esta faculdade pode dar ao homem, como prmio de sua incansvel busca deste ideal supremo.

    6 O CONhECIMENTO E A QUEsTO DA AO

    Todo ser humano procura agir com conscincia, ou seja, sua ao procura ser guiada pelo conhecimento. Por isso, ele no se relaciona de forma imediata com o mundo e com as coisas. Isso quer dizer que o agir humano est diretamente relacionado com seu estado de conscincia ou grau de conhecimento. Pode- se dizer a mesma coisa ainda da seguinte forma: quem sabe faz e quem aprende a se especializar numa determinada ao estar se aperfeioando constantemente. por isso que no mundo da tecnologia se faz necessrio aprender a colocar os conhecimentos em prtica, ao mesmo tempo em que se deve aprender a refletir sobre a prtica visando ao aperfeioamento constante.

    Dessa forma, o conhecimento que se adquire como um instrumento que se usa para agir. Evidentemente, por isso, tambm, que para agir necessrio no somente conhecer o instrumento, como tambm saber us-lo. Conhecer no apenas estar informado de alguma coisa, mas, acima de tudo, aplicar na prtica aquilo que se diz conhecimento. Esta uma exigncia da sociedade tecnolgica: saber fazer o desafio que se apresenta na atualidade.

    Essa ideia do conhecimento como instrumento do agir leva a pensar, tambm, que tudo o que se entende por conhecimento tem algo a ver com o comportamento humano e, por isso, est de alguma forma relacionado a aspectos morais e ticos. Em sentido amplo, isso est correto. Especificamente, porm, no. A moral e a tica, como estudo do agir humano, so reas do conhecimento assim como as cincias e as artes. O agir humano no da mesma caracterstica dos fenmenos da natureza fsica ou dos fenmenos sociais e do raciocnio abstrato. Juntamente com as cincias e as artes, a tica procura auxiliar a humanidade em sua trajetria pelo tempo e pela histria.

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    ESTUDO

    S FUTU

    ROS!

    Caro(a) acadmico(a), essa questo da tica ser reforada ao final dessa unidade, dada a sua importncia para se compreender a cincia, a questo da sua aplicao e suas consequncias.

    LEITURA COMPLEMENTAR

    Caro(a) acadmico(a), aps abordarmos alguns temas que buscaram apresentar a voc a questo do conhecimento e a abrangncia do tema, apresentamos o texto a seguir, onde o autor vai se perguntar, afinal de contas, at onde o conhecimento humano pode alcanar. E que uma questo que motiva o homem a ir sempre mais longe: afinal, at onde vai a questo do conhecimento? Vamos ao texto:

    O alcance do conhecimento

    Conhecemos pelos sentidos, pelo raciocnio e pela crena. Qual des ses conhecimentos julgamos mais verdadeiro? Qual deles o mais objetivo? Qual deles nos d maior certeza? Ren Descartes (1596-1650), importante filsofo francs, ps em dvida as certezas de todos os conhecimentos. Na obra Discurso do mtodo, ele relata a sua experincia:

    (...) porque os nossos sentidos nos enganam s vezes, quis supor que no havia coisa alguma que fosse tal como eles nos fazem imaginar. E, porque h homens que se equivocam ao raciocinar, mesmo no to cante s mais simples matrias de Geometria, e cometem a paralogis mos, rejeitei como falsas, julgando que estava sujeito a falhar como qualquer outro, todas as razes que eu tomara at ento por demons traes. E enfim, consideran-do que todos os mesmos pensamentos que temos quando despertos nos podem tambm ocorrer quando dormi mos, sem que haja nenhum, nesse caso, que seja verdadeiro, resolvi fazer de conta que todas as coisas que at ento haviam entrado no meu esprito no eram mais verdadeiras que as iluses de meus sonhos. Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fos se alguma coisa. E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo era to firme e to certa que todas as mais extravagan-tes suposies dos cticos no seriam capazes de a abalar, julguei que podia acei t-Ia, sem escrpulo, como o primeiro princpio da Filosofia que pro curava.

    Todos os tipos de conhecimento nos deixam muitas dvidas, ao lado de algumas certezas. Mesmo sendo bem aparelhado, o homem limitado em sua capacidade de captar as reais propriedades dos objetos.

    Inmeras vezes, filsofos e cientistas proclamaram "Eis a verdade!", para logo em seguida serem contestados por novas descobertas e concluses.

    A objetividade do conhecimento depende da capacidade de percepo do sujeito, dos

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    meios que possui para ter acesso ao dado objetivo. Isso equi vale a dizer que o conhecimento limitado pelo "ponto de vista" do sujeito, pela maneira como os dados so vistos do ponto onde o sujeito o enxerga. Esse "ponto" pode ser geogrfico, histrico, cultural, tcnico, psicolgico, etc. Imagine as diferentes descries "verdadeiras" que seriam dadas de uma onda do mar vista:

    - por um homem a cinco metros dela; - por um homem a dois mil metros dela; - por um surfista sobre ela;- por um homem deitado na areia da praia.

    Qual dessas descries mostraria a verdadeira onda?

    E note que s estamos questionando a verdade de uma simples descri o baseada nos sentidos...

    Nosso entendimento da realidade (e sua consequente utilizao) len to e gradativo. So nossas limitaes de conhecimento que um dia nos fize ram pensar que a Terra era o centro imvel do universo, que nossas neuroses e psicoses fossem demnios e que o trovo era deus.

    A histria da cincia e da filosofia testemunha fiel de nossas limita es. Mas, de outro lado, testemunham tambm todas as tentativas de super- Ias. Percebemos, ao longo dos sculos, que a capacidade de entender a reali dade e de bem utiliz-Ia a nosso favor aprimora-se medida que melhoramos os meios de conhecer suas propriedades. Por isso, a cincia dedica grande parte de seu esforo melhoria tcnica dos instrumentos que auxiliam o al cance e a preciso com que captamos as propriedades dos objetos fsicos. Isso nos possibilita entender mais objetivamente o funcionamento e o consequente uso adequado do universo fsico.

    assim que, nos ltimos 350 anos de histria da humanidade, consta tamos que a Terra um planeta; que o Sol uma estrela mdia; que o univer so bem mais abrangente que a Terra e o Sol; que os corpos biolgicos so compostos de clulas; que todos os corpos fsicos se formam e se sustentam em vrias cadeias de tomos; que a luz um fenmeno fsico mensurvel e controlvel; que massa e energia so lados opostos da mesma moeda; que o homem no s um animal raciona