Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Caderno Pedagógico
EEdduuccaaççããoo eemm VVaalloorreess::
aa eessccoollaa ccoommoo eessppaaççoo ddee ffoorrmmaaççããoo
ppaarraa aa cciiddaaddaanniiaa nnaa ssoocciieeddaaddee
ccoonntteemmppoorrâânneeaa
CIRSA DOROTEIA ALVES
Campo Mourão
2011
2
Caderno Pedagógico
Educação em Valores: a escola como espaço de formação
para a cidadania na sociedade contemporânea
Tema: Prática Escolar
Área de concentração: Pedagogia
Professora PDE: Cirsa Doroteia Alves
Escola: Colégio Estadual Dom Bosco – Ens. Fundamental e Médio
Professor orientador: Ricardo Fernandes Pátaro
Universidade Estadual do Paraná
Câmpus de Campo Mourão/Fecilcam
Secretaria de Estado da Educação/NRE - Campo Mourão
Município: Campo Mourão - PR
E-mail: [email protected]
3
SUMÁRIO
Apresentação .................................................................... 05
Introdução ....................................................................... 06
Unidade I
1.1 Primeiras Palavras ....................................................... 08
1.2 Objetivos da Educação e Formação para a Cidadania ........ 09
1.3 Considerações Finais .................................................... 14
1.4 Atividades ................................................................... 16
1.5 Materiais Complementares ............................................ 17
Unidade II
2.1 Primeiras palavras ....................................................... 18
2.2 Valores, Cidadania e Direitos Humanos ........................... 19
2.3 O que são valores? ...................................................... 22
2.4 Considerações finais ..................................................... 24
2.5 Atividades ................................................................... 26
2.6 Materiais complementares ............................................. 26
Unidade III
3.1 Primeiras palavras ....................................................... 28
3.2 A Declaração Universal dos Direitos Humanos – Um breve
histórico ........................................................................... 29
3.3 Os princípios da transversalidade ................................... 31
4
3.4 Atividades ................................................................... 34
3.5 Educação e Direitos Humanos ........................................ 36
3.6 A DUDH em Sala de Aula .............................................. 38
3.7 Considerações Finais .................................................... 42
3.8 Atividades de Finalização .............................................. 44
3.9 Materiais complementares ............................................. 45
Referências Bibliográficas ................................................... 46
5
APRESENTAÇÃO
O caderno pedagógico “Educação em Valores: a escola como
espaço de formação para a cidadania na sociedade
contemporânea” aborda questões relacionadas ao papel da escola
na sociedade contemporânea, direitos humanos e formação em
valores.
A proposta que trazemos é a de uma educação voltada para
a construção de uma sociedade mais igualitária e humana. Por
isso, acreditamos que à escola cabe o trabalho com os
conhecimentos científicos e também com a formação ética de
crianças e jovens capazes de construir relações sociais mais
justas e solidárias, contemplando o que chamamos de educação
em valores.
Acreditamos que esse caderno apresenta questões, ideias,
reflexões e temáticas de relevância que podem contribuir para o
debate dos desafios contemporâneos vividos pela escola.
Diante disso, o presente caderno pedagógico destina-se a
professores e professoras da Escola Básica e foi planejado com a
preocupação de buscar caminhos para que a formação em valores
ocorra nas práticas pedagógicas cotidianas. Esperamos que esse
seja mais um passo rumo à uma escola pública de qualidade,
aberta à práticas democráticas e que priorize a formação de
crianças e jovens autônomos, críticos e que almejem uma
sociedade mais justa e solidária.
6
INTRODUÇÃO
Esse caderno pedagógico está organizado da seguinte
maneira:
• Unidade I: apresenta os objetivos da educação de acordo
com nosso desejo de transformar a escola em um espaço
de aprendizagem significativa. Por acreditarmos que o
papel da escola é ajudar na formação ética de
cidadãos(ãs) críticos(as) e conscientes de seu papel na
sociedade, consideramos que a escola deve se preocupar
com a instrução das futuras gerações e também com a
formação em valores, condição para o desenvolvimento
intelectual, moral e para o pleno exercício da cidadania.
• Unidade II: define o que é educação em valores e sua
importância na construção da personalidade de crianças e
jovens em idade escolar. A Unidade II também aborda o
trabalho com a Declaração Universal dos Direitos
Humanos em sala de aula como uma maneira de formar
cidadãos e cidadãs comprometidos com a justiça,
igualdade e valorização dos direitos humanos.
• Unidade III: nessa unidade é apresentado um breve
histórico da Declaração Universal dos Direitos Humanos e
também os princípios da transversalidade, que nos
ajudam a ter um novo olhar sobre a escola e permitem
7
encarar seus dois objetivos – a instrução e a formação em
valores – ao mesmo tempo. A unidade traz também um
exemplo de sequência didática em que os conteúdos são
trabalhos transversalmente a partir de um tema de
relevância social baseado na DUDH. O objetivo é abordar
tanto os conhecimentos científicos historicamente
construídos pela humanidade quanto as questões
relacionadas ao cotidiano de alunos e alunas, no intuito de
formar sujeitos aptos a exercerem sua cidadania.
Acreditando que a escola pode ajudar na formação ética de
sujeitos capazes de se indignarem com as injustiças e construírem
relações sociais mais justas e solidárias – contemplando o que
chamamos de educação em valores – esperamos que esse
caderno pedagógico contribua para a prática cotidiana de
professores e professoras na escola. Além disso, esperamos
também que as reflexões e ideias presentes nesse caderno
pedagógico despertem o interesse docente de formar cidadãos e
cidadãs conscientes de seu papel na sociedade e engajados na
luta por uma sociedade mais justa.
8
UNIDADE I
A educação [...] não pode fundar-se na compreensão dos homens como seres
―vazios‖ a quem o mundo encha de conteúdo [...] mas nos homens como
―corpos‖ conscientes, e na consciência como consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens
em sua relação com o mundo. (FREIRE, 1997 p.67)
1.1 PRIMEIRAS PALAVRAS
As questões colocadas anteriormente nortearão a discussão
apresentada nessa unidade. Nosso objetivo será o de discutir o
papel da escola atualmente. Para tanto, partimos do pressuposto
de que a escola é uma instituição criada pela sociedade para
educar as futuras gerações. Mas, o que compreende a palavra
―educar‖? Como essa educação pode ser vista quando
consideramos a importância que a escola tem na formação dos
seres humanos? O que entendemos por formação e em que
medida a escola verdadeiramente tem possibilitado essa
formação? Essas são algumas das questões que serão
brevemente abordadas nessa unidade.
Quais são os objetivos
da educação na
sociedade de hoje?
O que vem a ser formação
para a cidadania na
escola?
Como a escola pode se
transformar em um espaço de
formação para a cidadania?
9
1.2 OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA A
CIDADANIA
De acordo com Araújo (2003), os dois objetivos centrais da
educação atualmente são a instrução e a formação ética. É
importante ressaltar que esses dois objetivos são tidos como
indissociáveis e corroboram para a formação dos futuros cidadãos
e cidadãs. A instrução, segundo o autor, é o trabalho com os
conhecimentos construídos historicamente pela humanidade,
geralmente relacionados às áreas disciplinares como Língua,
História, Artes, Matemática, Geografia etc. Já a formação ética é
[...] a busca pelo desenvolvimento de alguns aspectos que dêem aos jovens e às crianças as condições físicas,
psíquicas, cognitivas e culturais necessárias para uma vida pessoal digna e saudável e para poderem exercer e
participar efetivamente da vida política e da vida pública da sociedade, de forma crítica e autônoma. (ARAÚJO,
2003, p. 31)
Ao lado da instrução, portanto, um dos objetivos da
educação é desenvolver nas crianças e jovens em idade escolar as
condições para que possam exercer e participar da vida em
sociedade de forma crítica e autônoma, o que chamaremos de
condições para o exercício da cidadania. São essas as condições
que a escola pode ajudar a desenvolver em seus alunos e alunas,
para que, de maneira crítica, os futuros cidadãos e cidadãs sejam
capazes de se indignarem com as injustiças sociais que
10
presenciam e almejarem uma vida mais digna para si próprios e
para toda a sociedade.
Observando os projetos político-pedagógicos das escolas
atualmente é comum encontrar os dois objetivos citados por
Araújo. De acordo com o PPP do Colégio Dom Bosco1:
Deparamo-nos com um Brasil que enfrenta profundas
desigualdades sociais, econômicas e culturais. Vivenciando um processo histórico de disputa de vários
interesses sociais divergentes e contraditórios. Diante deste quadro encontra-se a escola pública que tem por
função social formar o cidadão, isto é, construir conhecimentos, atitudes e valores que o tornem um
―homem‖ solidário, crítico, ético e participativo. (PPP Colégio Estadual Dom Bosco, 2010, p.62 – grifos nossos)
De maneira geral, é possível perceber também que os
documentos relacionados à educação apontam a relevância da
escola adotar como objetivo central tanto a instrução quanto a
formação ética dos futuros cidadãos e cidadãs. Recorrendo à Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96,
encontramos, dentre outros, os seguintes artigos que fazem
menção aos objetivos da educação:
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado,
inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
[...] Art. 9º A União incumbir-se-á de: [...]
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes
para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino
1 Escola em que acontecerá o curso de capacitação docente apoiado no presente caderno
pedagógico.
11
médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum;
[...] Art. 22º. A educação básica tem por finalidades
desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e
fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.
[...] Art. 27º. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem
comum e à ordem democrática; (BRASIL, 1996 – grifos nossos).
Nos trechos da LDBEN 9394/96 citados anteriormente
podemos perceber o destaque que é dado aos dois objetivos
considerados como finalidades da educação: a instrução – ou
seja, a necessidade de um currículo que assegure conteúdos
mínimos e uma formação básica comum – e também a formação
para o exercício da cidadania, o que Araújo (2003) denomina
como formação ética dos futuros cidadãos e cidadãs.
As mesmas preocupações podem ser encontradas na versão
preliminar do Plano Estadual de Educação do Estado do Paraná,
quando o documento destaca os objetivos e metas da escola:
Garantir aos alunos do Ensino Fundamental o acesso e a participação efetiva em projetos ou atividades que
favoreçam o exercício da cidadania, bem como uma perspectiva de ampliação de tempos e espaços de
aprendizagem. [...]
Proporcionar ao aluno do Ensino Fundamental, por meio das diferentes áreas do conhecimento, a apropriação de
saberes que favoreçam o exercício da cidadania e a continuidade de seu processo de escolarização. (PEE PR,
2005, p.19 – grifos nossos)
12
Mais uma vez, os trechos anteriormente citados demonstram
a ênfase que o PEE-PR atribui tanto para a instrução das futuras
gerações – ou seja, o trabalho com a apropriação de saberes das
diferentes áreas do conhecimento – quanto para a necessidade de
desenvolver atividades que favoreçam o exercício da cidadania
por crianças e jovens em idade escolar.
Diante do exposto, constatamos que os objetivos centrais da
educação citados por Araújo (2003) estão presentes em vários
documentos relacionados à educação. Contudo, o que
frequentemente ocorre no cotidiano escolar é uma preocupação
maior com os objetivos relacionados à instrução. A formação para
o desenvolvimento da cidadania acaba relegada a segundo plano.
Para a reflexão que desejamos desenvolver, partimos do
pressuposto de que os dois objetivos centrais da educação – a
instrução e a formação para a cidadania – são indissociáveis. A
partir disso, consideramos que à escola cabe o trabalho com a
formação dos futuros cidadãos e cidadãs, tarefa que implica não
somente no aprendizado dos conteúdos historicamente
construídos pela humanidade e organizados em disciplinas
escolares, mas também o desenvolvimento das condições físicas,
psíquicas, cognitivas e culturais imprescindíveis para que crianças
e jovens tenham uma vida digna e saudável, como destacado
anteriormente por Araújo (2003).
Com relação à indissociabilidade entre instrução e formação,
recorremos novamente à LDBEN 9394/96, quando destaca a
importância do aprendizado da leitura, escrita e cálculo (aspectos
do aprendizado associados à instrução escolar), mas também o
13
desenvolvimento de valores como a solidariedade, a tolerância e a
compreensão da sociedade em que se vive.
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se
aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei nº
11.274, de 2006) I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em
que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
assenta a vida social. (BRASIL, 1996)
Encontramos o mesmo tipo de reflexão no PEE-PR (2005)
quando destaca a insuficiência dos aspectos instrutivos ao se
definir o termo educação, ampliando-o para o exercício da
cidadania e a busca pela melhoria da qualidade de vida.
Não basta ensinar a ler e a escrever. O conceito de educação ao longo de toda a vida, que há de se iniciar com a alfabetização, deve inserir a população no exercício
pleno da cidadania, melhorar sua qualidade de vida e de fruição do tempo livre e ampliar suas possibilidades de
geração de trabalho, emprego e renda. (p.41 – grifos nossos)
Enfim, sabemos que a discussão acerca dos objetivos da
educação é polêmica, pois são diversas as compreensões
possíveis do tema. Por outro lado, consideramos que essa
discussão é importante para os profissionais da educação que têm
14
interesse em transformar a escola e a sociedade de maneira
geral. Apoiados na ideia de que os objetivos da escola giram em
torno da instrução e também da formação para o exercício da
cidadania, entendemos que a escola precisa desenvolver práticas
pedagógicas que levem alunos e alunas a analisar e atuar
criticamente diante da realidade. Por conseguinte, trazer o
trabalho com a formação ética para o espaço escolar significa
enfrentar o desafio de incorporar nas práticas pedagógicas
cotidianas alguns princípios e valores muito conhecidos, mas
pouco praticados de maneira geral. Contudo, antes de
abordarmos quais medidas concretas poderíamos adotar na
escola para incorporar nas práticas pedagógicas tais princípios e
valores, consideramos importante compreender brevemente o
que são valores e suas relações com a educação, como veremos
na próxima unidade.
1.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para construir a discussão presente nessa primeira unidade,
partimos do pressuposto de que a escola possui dois objetivos
básicos:
a Instrução: entendida como o trabalho com os
conhecimentos historicamente construídos pela
humanidade e manifestados na escola através de
15
conteúdos curriculares como matemática, português,
história, geografia, artes, etc.
e a Formação Ética dos futuros cidadãos e cidadãs:
entendida como o desenvolvimento de condições –
tanto físicas, quanto psíquicas, cognitivas e culturais –
que possibilitam o exercício da cidadania e a busca por
uma sociedade mais justa e igualitária.
Como vimos na Unidade I, tanto a instrução quanto a
formação para a cidadania são objetivos da escola previstos em
lei e considerados importantes para o pleno desenvolvimento de
crianças e jovens em idade escolar.
Embora tais objetivos sejam citados por documentos
relacionados à educação e perseguidos por muitas escolas
brasileiras, consideramos que ainda há muito por fazer com
relação à formação ética dos futuros cidadãos e cidadãs. Cientes
da importância de se transformar a escola em um espaço de
formação para a cidadania na sociedade contemporânea
propomos o desafio de incorporar, nas práticas pedagógicas do
dia-a-dia, o trabalho com princípios e valores desejados por todos
nós, mas pouco trabalhados de forma intencional e sistemática.
Mas, o que são valores e como trabalhar com eles na escola?
Como formar o(a) cidadão(ã) críticos que tanto se almeja? Essas
são algumas das questões que serão abordadas nas próximas
unidades.
16
1.4 ATIVIDADES
Depois de entrar em contato com as questões levantadas em
nossa primeira unidade, vamos refletir. Primeiramente, leia o
trecho destacado abaixo e em seguida responda coletivamente às
questões que se seguem:
A comunidade-escola não pode ficar reduzida a uma instituição
reprodutora de conhecimentos e capacidades. Deve ser entendida como um lugar em que são trabalhados modelos
culturais, valores, normas e formas de conviver e de relacionar-se. É um lugar no qual convivem gerações diversas,
em que encontramos continuidade de tradições e culturas, mas também é um espaço para mudança. A comunidade-
escola e a comunidade local devem ser entendidas, acreditamos, como âmbitos de interdependência e de
influência recíprocas, pois [...] indivíduos, grupos e redes
presentes na escola também estarão presentes na comunidade local, e uma não pode ser entendida sem a outra. (SUBIRATS,
2003, p.76)
1. O que significa dizer que ―A comunidade-escola não pode ficar
reduzida a uma instituição reprodutora de conhecimentos‖?
2. Qual seria a alternativa para que a escola não se restrinja
apenas à sua função de instrução?
3. Escolha 3 (três) palavras-chave para caracterizar o espaço-
escolar, já que nele convivem gerações diversas. Escreva-as e
apresente-as ao seu grupo.
4. O trecho lido faz uma reflexão sobre a relação de
interdependência que existe entre escola e comunidade, ou
seja, entre as práticas que professores e professoras
desenvolvem na escola e a vida que circunda a instituição
17
escolar. Lembre-se de sua vivência como profissional na escola
e dê exemplos dessa interdependência. Como aproveitá-la
para a formação em valores dos futuros cidadãos e cidadãs?
1.5 MATERIAIS COMPLEMENTARES
A seguir, disponibilizamos a referência de alguns materiais
que podem ser consultados para saber mais a respeito dos temas
discutidos na presente unidade.
No artigo disponível no site abaixo, Juarez Dayrell (Doutor
em Educação e professor adjunto da Faculdade de Educação
da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG) discute
algumas questões relacionadas à juventude e a escola na
sociedade contemporânea. Vale à pena conferir!
http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf
Já o artigo indicado no endereço a seguir pode ajudar a
aprofundar algumas questões relacionadas à escola e à
formação para a cidadania.
http://www.pucsp.br/revistacordis/downloads/numero1/artigos/1_esco
la_novas_demandas.pdf
No artigo indicado abaixo, você encontrará uma reflexão
complementar sobre os objetivos da educação.
http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/459.%20quais%20os%20objetivos%20da%20educa%C7%C3o.pdf
18
UNIDADE II
Adquirir um valor é ter aprendido os comportamentos que ele pressupõe e ter
considerado até aceitar como próprias as razões e motivos que dão aval aquele
valor. (PUIG, 2007, p.111)
2.1 PRIMEIRAS PALAVRAS
É comum surgirem muitas dúvidas quando se aborda a
questão do trabalho com valores na escola. Comumente associado
unicamente à família, o processo de formação dos valores de
futuros cidadãos e cidadãs é complexo e demanda o
desenvolvimento de aspectos relacionados ao âmbito social,
cultural, psíquico, político, afetivo, entre outros. Por isso,
acreditamos que a escola tem muito a ajudar no processo de
formação em valores das futuras gerações. Essas e outras
questões serão a base da discussão que apresentamos a seguir.
O que entendemos por
educação em valores? Como a escola pode
instruir e também formar
valores?
O que se pode fazer na escola
para trabalhar com a formação
em valores dos futuros
cidadãos e cidadãs?
19
2.2 VALORES, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS
Atualmente, é muito comum discutir-se na escola a ideia de
―crise de valores‖. Em tempos difíceis, de violência, indisciplina e
falta de perspectiva para a juventude, essa noção adquire
proporções crescentes nos debates entre professores(as) e a
sociedade em geral. Diante disso, consideramos que é necessário
voltarmos nossos olhares para a educação em valores, tarefa que
julgamos indispensável para a construção da personalidade dos
futuros cidadãos e cidadãs, comprometidos com a justiça,
igualdade e valorização dos direitos humanos.
Ao abordarmos o tema da educação em valores, no entanto,
não fazemos referência a um possível retorno aos antigos
modelos de educação e de valores tradicionais, “idealizados como
eficientes tanto como em relação aos conteúdos enfocados quanto
em relação à transmissão de determinados valores alicerçados
nos postulados religiosos.” (ARAÚJO, 2001, p.9). Essa educação
em valores que aqui destacamos – e consequentemente o
processo de formação de cidadãos e cidadãs – solicitam da escola
a formação de sujeitos críticos, conscientes de seus direitos e
deveres. Diante disso, passamos a considerar que à escola cabe
uma nova postura, diferente da idealizada nos modelos
tradicionais de educação. Acreditamos que a função da instituição
escolar, hoje, deve contemplar os dois objetivos básicos
discutidos na unidade anterior: a instrução e também a formação
ética dos futuros cidadãos e cidadãs. Isso deve ocorrer a partir
20
não somente do trabalho sistematizado com o conhecimento
historicamente construído pela humanidade como também
mediante a formação ética do cidadão e da cidadã. Essa formação
ética, por sua vez, visa o desenvolvimento de condições
necessárias para uma vida digna que possibilite a participação em
sociedade de forma crítica e autônoma, como destaca Araújo
(2003).
Com base nesses ideais, acreditamos que a escola possa
formar sujeitos capazes de construir relações sociais mais justas e
solidárias, contemplando o que chamamos de educação em
valores. Para que isso ocorra, vários autores (CANDAU, 1995;
DALLARI, 1998; FESTER, 1989; MOSCA e AGUIRRE, 1985;
ARAÚJO, 2001, 2003; ARANTES, ARAÚJO e PUIG, 2007) apontam
o caminho indicado pela Declaração Universal dos Direitos
Humanos (DUDH), que traz consigo uma série de princípios e
valores relacionados à justiça, igualdade, equidade e
solidariedade. Tais princípios podem se revelar como um caminho
frutífero para a elaboração de programas educacionais que
objetivem a educação em valores no mundo contemporâneo, já
que os artigos da DUDH estão baseados em contextos e
problemáticas reais vividas pela sociedade contemporânea.
Partindo de tais considerações e das vivências frequentes de
professores(as) que deparam-se com a indisciplina, violência e
apatia dentro de sala de aula, consideramos que o trabalho com a
DUDH pode oferecer subsídios para a prática educacional de
docentes da escola básica que lutam contra as desigualdades da
sociedade brasileira e almejam a formação crítica dos futuros
cidadãos e cidadãs.
21
Apoiados na ideia de que os objetivos da escola giram em
torno da instrução e também da formação para o exercício da
cidadania, entendemos que a escola precisa desenvolver práticas
pedagógicas que levem alunos e alunas a analisar e atuar
criticamente diante da realidade. Por conseguinte, trazer o
trabalho com a formação ética para o espaço escolar significa
enfrentar o desafio de incorporar nas práticas pedagógicas
cotidianas alguns princípios e valores muito conhecidos, mas
pouco praticados de maneira geral. É neste ponto que recorremos
à Declaração Universal dos Direitos Humanos, como documento
que busca reconhecer a “dignidade inerente a todos os membros
da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis”.2
Acreditamos que o trabalho com a DUDH na escola é necessário
tanto para difundir a DUDH quanto para implementar, por meio
da educação, algumas medidas concretas que assegurem o
reconhecimento dos princípios e valores contidos em tal
documento. Antes de abordarmos quais medidas concretas seriam
essas, porém, consideramos importante compreender brevemente
o que são valores e suas relações com a educação, como veremos
a seguir.
2 Trecho das considerações introdutórias da DUDH, adotada e proclamada pela Resolução
nº 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.
Assinada pelo Brasil na mesma data.
22
2.3 O QUE SÃO VALORES?
Mas, afinal, o que vem a ser educação em valores? O que a
escola pode fazer para intervir na formação dos futuros cidadãos
e cidadãs? Como participar desse processo, normalmente tido
como responsabilidade dos pais? Essas e outras preocupações,
como afirma Arantes, devem estar presentes entre os
educadores.
Compreender o que são valores e como cada um e
todos os seres humanos se apropriam da cultura e se inserem eticamente no mundo faz parte do rol de
preocupações daqueles interessados em estudar o citado binômio [educação e valores] e suas possíveis
relações. Afinal, os valores seriam inatos, herdados
geneticamente, transmitidos pela cultura ou resultariam de interações complexas entre as pessoas e o
mundo/cultura em que elas vivem? (ARANTES, 2007, p. 9)
Para a autora, a escola precisa reconhecer que a educação
em valores é um processo complexo constituído de diferentes
aspectos – sejam sociais, culturais, psíquicos, políticos etc. – e
suas relações mútuas. Isso quer dizer que para educar em valores
precisamos levar em consideração não apenas a cultura e a
sociedade, mas também os aspectos concernentes ao sujeito,
como seus sentimentos e convicções, por exemplo.
Para Jean Piaget, da mesma forma, os valores pessoais
referem-se a uma troca afetiva que um determinado sujeito
realiza com o exterior, ou seja, com objetos ou pessoas. Assim,
os valores estão relacionados à dimensão geral da afetividade e
23
às projeções afetivas que o sujeito faz sobre objetos ou pessoas.
Isso nos leva a afirmar que Piaget “recusa tanto as teses
aprioristas de que os valores são inatos quanto as teses
empiristas de que eles são resultantes das pressões do meio
social sobre as pessoas.” (ARAÚJO, 2007, p.20). Diante disso,
adotamos a concepção de que os valores não estão
predeterminados geneticamente na pessoa ao nascer e nem são
internalizados de fora para dentro, mas são o resultado das ações
do sujeito no mundo em que vive. Dessa forma, como nos traz
Araújo:
(...) uma ideia ou uma pessoa tornar-se-ão um valor para o sujeito se ele projetar sobre ela sentimentos
positivos. Na direção contrária, as pessoas também projetam sentimentos negativos sobre objetos e/ou
pessoas e/ou relações e/ou sobre si mesmas. (ARAÚJO, 2007, p. 21)
Outro autor que pode nos ajudar a entender o que são
valores e sua importância para os processos de formação crítica
do sujeito é Puig:
Mas o que significa ―ter valores‖ e como se produz sua
aquisição? Ter valores significa possuir um conjunto de hábitos de reflexão. Significa estar disposto a repetir
comportamentos desejáveis, algo próximo das virtudes, mas, além disso, comportamentos desejáveis que
assumidos não apenas por tê-los aprendido, que seria
apenas um hábito mecânico, mas porque temos a convicção de que devemos manifestá-los. Uma
convicção de emoções que surge da consideração reflexiva de emoções e de razões que avalizam os
hábitos de valor. Portanto, os valores são hábitos que aprendemos – comportamentos que podemos repetir –,
mas que, além disso, tornamos nossos, considerando e
24
avaliando – refletindo – as motivações que nos são oferecidas pelas emoções e pelas razões. (Puig, 2007,
p. 110)
Puig segue refletindo sobre como são adquiridos tais hábitos
de reflexão e cita um exemplo que nos é particularmente
importante, as práticas socioculturais, categoria em que estão
inseridas as práticas escolares. Diante disso e de tudo o que
vimos discutindo em nosso caderno pedagógico acreditamos que
a escola é um espaço adequado para a prática de formação para a
cidadania e para a formação em valores das crianças e jovens.
Por outro lado, também nos preocupamos com questões mais
práticas relacionadas à como trabalhar com a educação em
valores na escola? Como fazê-lo sem deixar de lado o trabalho
com os conteúdos historicamente construídos pela humanidade?
Essas inquietações nos levam a questionamentos e propostas
importantes para nosso trabalho, que serão apresentadas em
nossa próxima unidade.
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação em valores, comumente associada a práticas
exclusivamente familiares, não pode ficar relacionada a antigos
modelos de educação ou de valores tradicionais que enfocam a
transmissão de postulados relacionados exclusivamente a
questões religiosas. Para além dessa maneira de pensar, a
educação em valores a qual destacamos no presente texto
25
relaciona-se ao processo de formação de cidadãos e cidadãs e
solicitam da escola a formação de sujeitos críticos, conscientes de
seus direitos e deveres.
Para isso, a educação em valores precisa ser encarada como
um processo, ou seja, os valores não nascem com as pessoas –
não são predeterminados geneticamente – e nem são
internalizados de fora para dentro do sujeito, ou seja, os valores
também não são apenas fruto das pressões do meio. Assim, caso
a escola deseje de fato formar eticamente os futuros cidadãos e
cidadãs, é preciso entender que uma ideia torna-se um valor para
alguém quando se projeta sentimentos positivos sobre essa ideia.
Consequentemente, os sentimentos positivos projetados
despertam a disposição de repetir os comportamentos desejáveis,
não como um hábito mecânico, mas como algo que aprendemos e
que, além disso, refletimos e avaliamos segundo as motivações
que nos são apresentadas pelas emoções e razões, como afirma
Puig (2007).
Acreditamos que é sobre esse processo que a escola pode
intervir intencionalmente, com o objetivo de formar pessoas
capazes de se preocuparem e almejarem uma vida mais digna
para todos os homens e todas as mulheres da sociedade em que
vivemos. A partir disso, nosso próximo passo é buscar investigar
como formar sujeitos capazes de se indignarem com as injustiças
sociais e atuarem rumo à transformação do modelo de sociedade
em que vivemos? Isso é o que abordaremos a seguir, em nossa
última unidade.
26
2.5 ATIVIDADES
Após a discussão das temáticas abordadas na segunda
unidade de nosso caderno pedagógico, leia o trecho abaixo e
reflita em um pequeno grupo sobre como as palavras de Freire
relacionam-se ao que foi estudado até o momento. Elabore uma
síntese da discussão para apresentar ao grupo-classe.
Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em
áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à
saúde das gentes. Por que não há lixões no coração dos bairros ricos e mesmo puramente remediados dos centros urbanos? É
pergunta de subversivo, dizem certos defensores da democracia.
Por que não discutir com os alunos a realidade concreta que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é
muito maior com a morte do que com a vida? Por que não estabelecer uma ―intimidade‖ entre os saberes curriculares
fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? (FREIRE, 1996, p.33-34)
2.6 MATERIAIS COMPLEMENTARES
As referências abaixo indicam alguns materiais de apoio que
podem ajudar a aprofundar os estudos iniciados nessa unidade.
O artigo ―Valores na Escola‖, de Maria Suzana de Stefano
Menin, versa sobre o que são valores morais ou éticos. Traz
também as diferenças entre a educação moral que adota
formas doutrinárias, relativistas, entre outras. O artigo não
27
apresenta uma receita de como ensinar valores, pois não é
esse o caminho que procuramos, pelo contrário, defende a
ideia de uma educação moral que se faz pela ação orientada
por princípios como a justiça, a dignidade, a solidariedade,
etc. Confira abaixo:
http://www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11657.pdf
• O filme ―Escritores da liberdade‖, de Richard La
Gravenese, é uma coprodução entre EUA e Alemanha
realizada no ano de 2007, e pode ser uma fonte de
reflexão sobre o ofício docente. Baseado em uma história
real, o filme descreve os acontecimentos de uma sala de
aula em que os vínculos entre docente e discentes
tornam-se significativos e passam a contribuir na
educação de jovens e adolescentes. Vale à pena assistir!
28
UNIDADE III
Os seres humanos nascem iguais, mas a sociedade os trata, desde o começo, como se fossem diferentes, dando muito mais oportunidades a uns do que a
outros.E isso é apoiado pelas leis e pelos costumes, que agravam ainda mais o tratamento desigual e criam grande número de barreiras para que aquele que foi
tratado como inferior desde o nascimento consiga uma situação melhor dentro da sociedade. (DALLARI, 1998, p.47)
3.1 PRIMEIRAS PALAVRAS
Na Unidade III serão abordados a Declaração Universal dos
Direitos Humanos e os princípios da transversalidade, que nos
ajudam a entender a proposta de utilização dos artigos da DUDH
em sala de aula. O objetivo é trabalhar com os direitos e deveres
contidos na DUDH e relacioná-los ao cotidiano de alunos e alunas,
o que pode nos ajudar a pensar na importância de garantir a
dignidade da pessoa humana frente a situações do cotidiano que
ferem tais princípios. Em nossa opinião, essa é uma das
possibilidades de formar sujeitos éticos capazes de se indignarem
com as desigualdades e injustiças que presenciamos em nossa
sociedade.
Como a DUDH pode
ajudar no trabalho em
sala de aula?
O que é a Declaração Universal
dos Direitos Humanos e como
está estruturada?
Qual o potencial da DUDH
para a formação em valores
na escola?
29
3.2 A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
UM BREVE HISTÓRICO
―Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras
com espírito de fraternidade.‖
(Artigo 1 da Declaração dos Direitos Humanos – ONU)
Após o saldo decorrente da II Guerra Mundial, foram
estabelecidas, na Conferência de Yalta (Ucrânia, 1945), as bases
para a construção do documento hoje conhecido como Declaração
Universal dos Direitos Humanos, ou DUDH, como a chamaremos
daqui por diante.
Nessa época, ocorreu a criação de uma organização para
gerenciar as negociações relacionadas a conflitos internacionais, a
Organização das Nações Unidas – ONU. O objetivo era evitar
guerras, promover negociações pacíficas entre os povos e
fortalecer os Direitos Humanos.
Foi essa organização, a ONU, que elaborou e aprovou a
DUDH em 1948. Como nos lembra Araújo:
A proposta da DUDH era – e continua sendo – a de se tornar senão um pacto universal, pelo menos uma
referência moral, entre todos os países signatários, no que diz respeito ao desenvolvimento e fortalecimento
do respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais de todos, sem nenhuma exceção.
(Araujo, 2001, p.22)
30
Do ponto de vista formal, segundo Araújo, a DUDH contém,
além do preâmbulo, trinta artigos, cada qual contemplando um
direito fundamental. De forma breve, pode-se dividir o documento
em quatro partes:
Primeira parte: artigos I e II: carrega os direitos
fundamentais que dão a base para todos os outros;
Segunda parte: dos artigos IV a XV: elenca os direitos
civis e políticos;
Terceira parte: dos artigos XVI a XXVII: reúne os
direitos econômicos, sociais e culturais;
Quarta parte: que vai do artigo XXVII até o XXX: cita
os mecanismos de manutenção dos direitos
promulgados pela DUDH.
Acreditando na importância dos artigos contidos na DUDH,
desejamos uma educação voltada para a dignidade e para a paz
entre as nações, os povos e os cidadãos e cidadãs. Para que isso
seja possível, almejamos a transformação das práticas escolares,
para que permitam o trabalho com os direitos humanos contidos
na DUDH, direitos que são, como afirma Araújo:
―Indivisíveis porque não se pode contemplá-los pela metade [...]; indissociáveis porque um direito não se
sustenta sem o outro; interdependentes porque não se pode opô-los; um exige a efetivação do outro.‖ (2001,
p.27)
Contudo, antes de adentrarmos a utilização dos artigos da
DUDH em sala de aula, é importante delimitar mais um princípio
31
teórico que embasa nossa proposta de educação. Tal princípio nos
ajudará a entender como é possível trabalhar com os conteúdos
curriculares ao mesmo tempo em que se forma eticamente as
futuras gerações. Trata-se do conceito de transversalidade, como
veremos a seguir.
3.3 OS PRINCÍPIOS DA TRANSVERSALIDADE
O pressuposto por nós adotado de que à escola cabe o
trabalho com a instrução e formação em valores das futuras
gerações nos leva, consequentemente, à proposta de
transversalidade de Montserrat Moreno (1998).
Para a autora, os conteúdos curriculares tradicionalmente
trabalhados na escola – representantes do trabalho com a
instrução – devem ser meio para atingir a formação em valores
de crianças e jovens em idade escolar e alcançar a melhoria da
sociedade e da humanidade.
Ao se perguntar sobre como podemos trabalhar com os
conteúdos escolares sem deixar de lado as problemáticas mais
atuais que visam à formação de futuros cidadãos e cidadãs, a
autora faz a seguinte proposta:
Uma solução viável para esse conflito é a integração dos saberes. É preciso retirar as disciplinas científicas
de suas torres de marfim e deixá-las impregnar-se de vida cotidiana, sem que isto pressuponha, de forma
alguma renunciar às elaborações teóricas imprescindíveis para o avanço da ciência. Se
considerarmos que estas duas coisas se contrapõem,
32
estaremos participando de uma visão limitada, que nos impede contemplar a realidade de múltiplos pontos de
vista.‖ (MORENO, 1998, p.35)
Assim, vemos que a integração de saberes proposta por
Moreno indica uma possível articulação entre as dimensões do
científico e do cotidiano, no sentido de aproximar as matérias
disciplinares aos temas da realidade social vivida por alunos e
alunas. Uma das ideias centrais dessa integração é a de que, para
aprender, é preciso que exista compreensão do significado do
objeto estudado. A articulação entre os temas do cotidiano e os
conteúdos científicos é feita, portanto, para atribuir significado às
aprendizagens escolares.
Com a proposta de inserção de temáticas transversais na
escola, as duas dimensões do conhecimento escolar
(disciplinar/científico e temas transversais/cotidiano) são
consideradas complementares, pois são trabalhadas de forma
entrecruzada e levam em consideração os dois objetivos da
educação: a instrução e a formação. A partir disso, as
aprendizagens escolares assumem como ponto de partida tais
temas, chamados de transversais e baseados em contextos reais
vividos pela sociedade. É nesse ponto que acreditamos ser
possível lançar mão dos artigos presentes na DUDH, por serem
baseados em contextos reais vividos pela sociedade atualmente.
Em resumo, a proposta de um ensino transversal sobre a
qual estamos falando traz para o interior da sala de aula o
trabalho com temáticas contextualizadas nos interesses e
necessidades da maioria das pessoas e expressas nos artigos da
DUDH. São preocupações sociais – que podemos chamar de
33
saberes não-disciplinares – e que estão intimamente ligadas a
questões éticas de melhoria da sociedade e não a conteúdos de
interesse de pequenas parcelas da população.
Quando se propõe o estudo de um tema transversal que está
relacionado à realidade dos estudantes, disciplinas como
matemática, língua, história, artes – que continuam presentes no
contexto escolar e são fundamentais ao ensino – podem adquirir
maior significado. Assim, as aprendizagens escolares deixam de
acontecer em um contexto distante e passam a ter relações com
o que acontece cotidianamente na vida de alunos e alunas fora da
instituição escolar. Em outras palavras, as disciplinas curriculares
passam a ajudar no estudo de temáticas relacionadas à educação
em valores, com ajuda da DUDH. As disciplinas adquirem sentido
quando são estudadas para ajudar a entender as temáticas
transversais retiradas do mundo em que vivem crianças e jovens
em idade escolar.
Em resumo, o que propomos é uma contextualização dos
conhecimentos escolares. Acreditamos que tal contextualização
deve existir como princípio fundamental para o desenvolvimento
integral de alunos e alunas. Nesse sentido, os princípios da
transversalidade abrem as portas para pensarmos nossos alunos
e a alunas como pessoas que interagem com o seu meio social a
partir de suas vivências e do conhecimento adquirido na escola,
contribuindo para a construção e desenvolvimento da sociedade.
Acreditamos que essa é uma das maneiras de contemplar o
que consideramos os dois objetivos da educação: a instrução e a
formação ética das futuras gerações. A seguir, apresentamos uma
proposta possível de trabalho a partir dos princípios de
34
transversalidade que destacamos anteriormente, é o trabalho com
a Declaração Universal dos Direitos Humanos em sala de aula.
Antes, porém, consideramos importante realizar algumas
atividades sobre os princípios da transversalidade, como veremos
a seguir.
3.4 ATIVIDADES
Leia os trechos a seguir, retirados das músicas ―Estudo
errado‖ e ―O reggae‖, destacando as ideias principais e/ou o que
lhe chamar mais a atenção.
Estudo Errado (de Gabriel, o Pensador)
Eu tô aqui Pra quê? Será que é pra
aprender? Ou será que é pra aceitar, me
acomodar e obedecer? Tô tentando passar de ano pro meu
pai não me bater Sem recreio, de saco cheio porque eu não fiz o dever
A professora já tá de marcação, porque sempre me pega disfarçando,
espiando, colando toda prova dos colegas E ela esfrega na minha cara um zero
bem redondo E quando chega o boletim lá em casa
eu me escondo. Eu quero jogar botão, vídeo-game, bola de gude, mas meus pais só querem que eu "vá
pra aula!" e "estude!" Então dessa vez eu vou estudar até
decorar cumpádi Pra me dar bem e minha mãe deixar ficar acordado até mais tarde [...]
Na hora do jornal eu desligo porque
eu nem sei nem o que é inflação — Ué, não te ensinaram?
— Não. A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil.
Em vão, pouco interessantes [...] Então eu fui relendo tudo até a prova começar
Voltei louco pra contar: Manhê! Tirei um dez na prova. Me
dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova. Decorei toda lição, não errei nenhuma questão.
Não aprendi nada de bom, mas tirei dez (boa filhão!)
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci Decorei, copiei, memorizei, mas não
entendi Decoreba: esse é o método de
ensino Eles me tratam como ameba e assim eu num raciocino. Não aprendo as
causas e consequências só decoro os
35
fatos. Desse jeito até história fica chato [...]
Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida Discutindo e ensinando os problemas
atuais E não me dando as mesmas aulas
que eles deram pros meus pais, com
matérias das quais eles não lembram mais nada [...]
Encarem as crianças com mais seriedade Pois na escola é onde formamos
nossa personalidade
O Reggae (Renato Russo e Marcelo Bonfá)
Ainda me lembro aos três anos de idade, o meu primeiro contato com
as grades O meu primeiro dia na escola, como eu senti vontade de ir embora
Fazia tudo que eles quisessem, acreditava em tudo que eles me
dissessem, me pediram pra ter paciência, falhei, gritaram: - Cresça e apareça!
Cresci e apareci e não vi nada, aprendi o que era certo com a
pessoa errada Assistia o jornal da TV e aprendi a roubar pra vencer
Nada era como eu imaginava, nem as pessoas que eu tanto amava
Mas e daí, se é mesmo assim vou ver se tiro o melhor pra mim.
Após a leitura dos trechos da música ―Estudo errado‖, de
Gabriel, o Pensador, e ―O Reggae‖, de Renato Russo e Marcelo
Bonfá, discuta em grupo como algumas formas de organização da
escola, atualmente, podem incentivar a separação entre o estudo
dos conhecimentos científicos (a instrução) e a formação para o
exercício da cidadania. Pense em exemplos dessa organização
escolar e compare-os com os citados nas músicas. Pense também
em como os princípios da transversalidade podem ajudar a
superar isso. Ao final da discussão, elabore uma síntese que
servirá de base para um debate coletivo, agora com toda a classe.
36
3.5 EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS
Como destacado anteriormente, a DUDH é um documento
internacionalmente reconhecido que reúne uma série de princípios
relativos aos direitos fundamentais dos seres humanos.
Acreditamos que o trabalho com tais princípios no cotidiano
escolar pode ajudar a pensar na importância de garantir a
dignidade da pessoa humana frente a situações do cotidiano que
ferem tais princípios. Essa seria uma maneira de formar sujeitos
éticos capazes de se indignarem com as desigualdades e
injustiças que presenciamos cotidianamente em nossa sociedade.
Em nossa forma de ver, abordar na escola as questões
referentes aos diretos humanos é uma alternativa possível para o
trabalho com a formação em valores de crianças e jovens na
medida em que a prática educativa do pedagogo volta sua
preocupação para a necessidade de respeito à dignidade humana.
Essa é uma possibilidade de concretizar a preocupação com a
função da escola na sociedade contemporânea, diante do
potencial da DUDH para a discussão acerca de questões polêmicas
e dilemáticas relativas a direitos e deveres do ser humano.
Como colocado anteriormente, se o papel da escola não é só
propiciar o conhecimento intelectual que faz parte de sua grade
curricular e se a intenção é construir uma sociedade mais justa,
deve-se preparar o(a) estudante para tal tarefa. Assim,
acreditamos que se queremos que alunos(as) passem a agir como
verdadeiros cidadãos(ãs), é necessário fazer com que a cidadania
e os direitos humanos sejam vivenciados no cotidiano escolar.
37
Diante de tal proposta, o trabalho com os artigos da
Declaração dos Direitos Humanos em sala de aula é
essencialmente a formação de uma cultura de respeito à
dignidade humana através da promoção e vivência dos valores da
liberdade, da cooperação, da tolerância e da paz. A vivência de
tais valores acontece mediante o uso de metodologias
diversificadas, que ajudem a levar alunos e alunas a se
depararem com as problemáticas vividas por eles mesmos no
cotidiano. É neste aspecto que consideramos importante buscar
apoio nos princípios da DUDH, que trazem questões e
preocupações atuais e que podem ser estudadas de forma
transversal, ou seja, junto aos conteúdos curriculares.
O que sugerimos é, portanto, um novo olhar sobre o papel
da escola. A formação como prática educativa do cotidiano escolar
é considerada um dos grandes desafios da escola contemporânea.
Educar não é apenas instruir, mas oferecer experiências
significativas que preparem crianças e jovens para a vida em
sociedade. Diante disso, o espaço escolar não pode apenas
preocupar-se com a formação intelectual do educando, mas
também com a sua formação enquanto ser humano autônomo e
participante da vida pública da sociedade.
Dessa forma, configura-se uma proposta possível de
concretização da formação ética que pode ajudar a proporcionar
às futuras gerações as condições para o desenvolvimento da
autonomia – entendida aqui como capacidade de posicionar-se
diante da realidade, fazendo escolhas, estabelecendo critérios e
participação de ações coletivas. Assim, o desenvolvimento da
autonomia e formação do cidadão e da cidadã tornam-se
38
objetivos comuns a todas as áreas do conhecimento trabalhadas
na escola e, para alcançar tais objetivos, é preciso que elas se
articulem transversalmente.
A seguir, apresentamos um exemplo de trabalho transversal
com a DUDH em sala de aula.
3.6 A DUDH EM SALA DE AULA
A proposta de atividade a seguir foi retirada do livro ―Os
Direitos Humanos na sala de Aula: a ética como Tema
Transversal‖ (ARAÚJO e AQUINO, 2001, p. 29-33).
Artigo I
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem proceder uns
em relação aos outros com espírito de fraternidade.
Liberdade, igualdade e fraternidade: eis os pontos de partida
do primeiro e mais importante artigo da DUDH. Dentre os princípios aqui propostos, o primeiro – a liberdade
– refere-se à premissa de que toda ação que remeta à escravidão, sob qualquer forma, é inadmissível. Todos já nascem livres, e assim
devem permanecer por toda a vida, dia a dia. Isso significa que reconquistamos nossa liberdade à medida que nossos direitos (tanto quanto nossos deveres) são levados a cabo cotidianamente.
De todo modo, com a DUDH o princípio da liberdade passa a representar um direito "natural", ou seja, inato à própria condição
humana, no que se refere à dignidade de toda e qualquer pessoa. Se o princípio da liberdade é algo relativamente bem
conhecido hoje, o mesmo não se pode dizer acerca do princípio da igualdade. A ideia de que nascemos iguais, embora sejamos tão
diferentes uns dos outros, ainda é, nos dias atuais, algo difícil de ser compreendido.
Nascido na tradição cristã e mais tarde promulgado pela Revolução Francesa, sendo transformado num princípio de fato
universal apenas após a Segunda Guerra Mundial com a DUDH, o
39
conceito de igualdade entre os homens nos é ainda um velho desconhecido.
Vale esclarecer que, apesar de todos termos, a rigor, a mesma origem e o mesmo destino (em última instância, de sermos
descendentes da mesma espécie), o_princípio da igualdade não se refere aqui à equidade em todos os planos da vida, mas tão-
somente ao plano da dignidade e dos direitos. Por essa razão, devemos nos contrapor a toda forma de opressão, de discriminação
e de arrogância, agindo solidariamente uns com os outros. Eis aí o terceiro princípio fundamental do primeiro artigo da DUDH.
Liberdade, igualdade e fraternidade: os três pilares de uma
vida em comum justa e digna.
Orientações didáticas (Com a colaboração de Marta Fuentes Rojas.)
Artigo: I Direito aludido: à liberdade e à igualdade
Metodologia empregada: clarificação de valores Conteúdo trabalhado: discriminação racial
Para o desenvolvimento da atividade sugerimos a utilização da técnica "clarificação de valores", proposta por Puig (1998).
Objetivamos, com isso, que: ao se exercitarem no processo de valoração, descoberta e tomada de consciência daqueles aspectos
que são importantes na sua vida, alunos e alunas tomem consciência de seus próprios valores, crenças e sentimentos,
favorecendo, assim, a coerência de seus pensamentos e condutas. Iniciar a atividade solicitando que alunos e alunas relatem
situações de racismo que tenham experienciado e/ou de que tenham conhecimento. Pode-se, também, apresentar um texto curto retirado de jornais ou revistas. Como exemplo de texto
abordando o racismo no Brasil, apontamos um artigo publicado na Folha de São Paulo (23/8/98, p. 3-2):
Para "boy", racismo acontece todo dia
O Office-boy Gilberto Aparecido Ribeiro, 22, sorriu quando ouviu a
pergunta se já havia sido vítima de preconceito racial alguma vez na vida. "Na vida? Esse negócio acontece todo dia, várias vezes por
dia, cara." Sem ter que parar para pensar; Ribeiro listou rapidamente as diversas situações de discriminação que vieram à
memória. "No banco, na minha rua, em qualquer loja que eu entre, na fila do ônibus, a caminho do trabalho. Tá bom, já?"
Nunca pensou em ir à polícia para prestar queixa. "Para quê? Muitas vezes são os homens (policiais militares) que te tratam mal
só porque você é preto." Uma das vezes foi em um ponto de ônibus, A fila, diz Ribeiro, era
grande. Mas o policial que parou o carro de polícia do outro lado da rua veio em sua direção.
40
"Ele me tirou da fila e passou a maior revista, na frente de todo
mundo. Eu não tinha feito nada de errado, mas ele me humilhou grandão, mesmo assim", disse.
A outra vez foi em uma rua no calçadão do centro de São Paulo. "Eu estava indo para o banco com uns documentos do trabalho
dentro de uma pasta. Pronto. Já me pegaram e passaram revista, bagunçaram os documentos todos. Parece até que é de propósito."
Nem em seu local mais frequente de trabalho, o banco, Ribeiro está livre do preconceito, diz. A armadilha, agora, está nas portas giratórias instaladas na entrada das agências. "Já aconteceu um
montão de vezes. Todo mundo vai entrando, vai entrando, chega na sua vez, trava. Aí é aquele negócio de tirar tudo do bolso. 'Não
tem mais uma moeda? Uma chave? E todo mundo atrás, achando que você vai tirar é um trabucão do bolso. Só falta pedir para você
tirar a roupa."
Com o texto selecionado em mãos, ou a partir dos relatos
feitos, convidar os alunos e as alunas para que pensem e reflitam livremente sobre a temática abordada, Para motivar a reflexão,
pode-se apresentar algumas perguntas, tais como:
- O que acham da situação?
- Alguém já experienciou situações semelhantes? - Como avaliam situações como essas?
Após, aproximadamente, 15 minutos de discussão, solicitar que cada aluno/a redija uma dissertação curta, de cerca de 10
linhas, expondo sua opinião sobre a discriminação relatada no texto e/ou relatos, tendo como objetivo a clarificação de seus próprios
pensamentos. Em seguida, formar um círculo na sala de aula para a
realização de uma plenária pelo grupo-classe. Apresentar na lousa o
artigo I da DUDH e pedir ao grupo que estabeleça relações entre o artigo e a discussão anterior. Durante o debate, levar os/as
estudantes a relacionarem o tema da discussão com o seu cotidiano, para que compreendam o significado que a igualdade de
direitos deve ter para a vida deles e das demais pessoas. Antes de concluir esta primeira aula, pode-se dividir a turma
em pequenos grupos, que se encarregarão de trazer para a aula seguinte materiais jornalísticos que retratem, por exemplo,
situações de discriminação de que determinadas pessoas e/ou grupos minoritários foram vítimas, no Brasil ou no mundo. Uma
possibilidade é solicitar que alguns dos grupos tragam materiais jornalísticos em que o direito de igualdade entre os seres humanos
é defendido na mídia, ou que caracterizem o espírito de fraternidade que deve guiar as condutas humanas.
Na segunda aula, além da apresentação do material trazido
pelos grupos, é importante garantir uma discussão centrada nos três princípios presentes no artigo I da DUDH: liberdade, igualdade
41
e fraternidade. Uma ideia interessante para enriquecer o debate é convidar uma pessoa pertencente a grupos minoritários que sofrem
constantes discriminações para relatar a realidade que impera no cotidiano da sociedade.
Legislação complementar para consulta: Artigo 10 da lei 7.716, que trata do racismo no Brasil e diz que "Serão punidos, na forma desta lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
A proposta apresentada aborda o artigo I da DUDH – que
versa sobre o direito à liberdade, igualdade e fraternidade – e
configura-se apenas como o início de uma atividade que deve
continuar a ser desenvolvida. Percebemos que a proposta
possibilita tanto o trabalho com questões éticas relacionadas ao
preconceito racial no Brasil, quanto um trabalho com os
conteúdos curriculares relacionados à Língua Portuguesa, na
medida em que possibilita a escrita e correção de pequenos
textos, além do trabalho com textos jornalísticos que contempla
um gênero textual comumente abordado nas escolas. Dessa
forma estão contemplados, de forma transversal, os dois
objetivos da educação.
Se continuarmos a analisar as potencialidades da proposta,
veremos que é possível trabalhar ainda com o conteúdo de
matemática a partir de dados estatísticos oriundos de pesquisas
realizadas por alunos(as) ou também história, ao abordar
questões relacionadas à formação do povo brasileiro.
Enfim, assim como a proposta apresentada anteriormente,
inúmeras outras aulas podem ser elaboradas a partir dos artigos
presentes na DUDH, dada a riqueza de temas de relevância social
contidos nesse documento.
42
3.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação ética de crianças e jovens pode ser promovida
pela escola através da vivência de valores como a liberdade, a
cooperação, a tolerância, entre outros. A vivência de tais valores
pode acontecer mediante o uso dos artigos da Declaração
Universal dos Direitos Humanos em sala de aula, como vimos na
terceira unidade de nosso caderno pedagógico.
Além do uso de metodologias diversificadas – que levem
alunos e alunas a se depararem com as problemáticas vividas por
eles mesmos em seu cotidiano – o que sugerimos é um novo
olhar sobre o papel da escola. A formação ética para a cidadania é
um dos desafios da escola contemporânea, visto que educar não é
apenas instruir, mas também oferecer experiências significativas
que preparem crianças e jovens para a vida em sociedade.
Diante disso, a escola precisa se preocupar com a instrução
intelectual do educando e também com a sua formação enquanto
ser humano autônomo e participante da vida pública da
sociedade. Acreditamos que, ao mesmo tempo em que instrui, é
papel da escola desenvolver uma formação ética que proporcione
às futuras gerações as condições para o desenvolvimento da
autonomia, entendida aqui como capacidade de posicionar-se
diante da realidade, fazendo escolhas, estabelecendo critérios e
participação de ações coletivas.
Para que esse ideal de escola seja possível, lançamos mão
dos princípios da transversalidade, que nos permitem encarar os
dois objetivos da escola ao mesmo tempo. Se à escola cabe o
43
trabalho com os conhecimentos historicamente construídos pela
humanidade (a instrução) e também o trabalho com a formação
ética das futuras gerações, não podemos deixar de lado nenhum
desses dois objetivos. Assim, trabalhando transversalmente com
assuntos escolhidos por sua relevância social (momento em que a
DUDH tem participação essencial), podemos realizar esses dois
objetivos: instruir e formar crianças e jovens, que tornam-se
conhecedores da herança cultural presente nos conhecimentos
científicos e também cidadãos e cidadãs aptos a exercerem sua
cidadania e desejosos de uma sociedade mais justa e igualitária.
Assim, a partir do que apresentamos, o desenvolvimento da
autonomia e formação do(a) cidadão(ã) torna-se o objetivo
comum a todas as áreas do conhecimento trabalhadas na escola,
e para alcançar tal objetivo é preciso que essas diferentes áreas
se articulem transversalmente, em prol da formação para a
cidadania. Dessa forma desenvolvemos em nossas escolas:
―Uma educação que inclua os principais âmbitos da
experiência humana e a aprendizagem ética que cada um deles pressupõe: aprender a ser, aprender a
conviver, aprender a participar, aprender a habitar o mundo.‖ (ARAÚJO e PUIG, 2007, p.67).
Esperamos que as reflexões abordadas no presente material
frutifiquem em práticas pedagógicas que busquem a formação de
cidadãos e cidadãs que valorizem o diálogo, a justiça, o respeito
mútuo, a solidariedade, a tolerância, e lutem por uma vida digna
para todos os seres humanos.
44
3.8 ATIVIDADES DE FINALIZAÇÃO
Observe a charge abaixo:
Fonte: http://www.google.com.br/search?q=imagens+sobre+valores+humano
Escolha um artigo da DUDH e elabore uma aula para
trabalhar a situação apresentada na charge acima. Durante o
planejamento, que pode ocorrer em duplas, lembre-se de levar
em consideração os princípios da transversalidade e outras ideias
que estudamos ao longo de nosso caderno pedagógico. Caso seja
necessário, faça uma retomada!
45
3.9 MATERIAIS COMPLEMENTARES
Os sites abaixo apresentam informações sobre Direitos
Humanos, bem como a própria Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Faça uma visita a cada um deles!
http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm http://www.dhnet.org.br/direitos/selo10/
http://www.direitoshumanos.usp.br/
Uma alternativa para abordar os direitos humanos com
crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental é utilizar
a Declaração dos Direitos da Criança. Com isso, é
possível abordar aspectos da vida infantil e relacioná-los
com os direitos e deveres inerentes a todos os seres
humanos. O site abaixo traz os 10 princípios da Declaração
dos Direitos da Criança, além de outros materiais
relacionados à saúde, higiene, cidadania, ambiente e cultura.
http://www.canalkids.com.br/unicef/declaracao.htm
Você conhece o CD ―Canção dos Direitos das Crianças‖? É
um trabalho organizado por Toquinho que reúne várias
músicas relacionadas à Declaração dos Direitos da Criança.
Vale a pena conferir! Veja os nomes das músicas:
1. Bê-a-bá 2. Cada um é como é
3. Castigo não 4. De umbigo a
umbiguinho 5. Deveres e direitos
6. É bom ser criança 7. Errar é humano
8. Gente tem sobrenome 9. Herdeiros do futuro
10. Imaginem 11. Natureza distraída
46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALFLEN André. Espaço Urbano: Espaço de Consumo ou de Cidadania? Unidade Didática, PDE, 2009. ARANTES, Valéria A. (org); ARAÚJO, Ulisses Ferreira; PUIG, Josep Maria. Educação e valores: Pontos e Contrapontos. São Paulo: Summus, 2007. ARAÚJO, Ulisses Ferreira. A construção de escolas democráticas: histórias sobre complexidade, mudanças e resistências. São Paulo: Moderna, 2002. ARAÚJO, Ulisses Ferreira & AQUINO, Julio Groppa. Os Direitos Humanos na sala de Aula: a ética como Tema Transversal. São Paulo: Ed. Moderna, 2001. ARAÚJO, Ulisses Ferreira. Temas transversais e a estratégia de projetos. São Paulo: Moderna, 2003. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, de 26 de dezembro de 1996. CANDAU, V. M. et al. Oficinas pedagógicas de direitos humanos. Petrópolis: Vozes, 1995. DALLARI, D. A. Direitos humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. FESTER, A. C. R. (org.) Direitos humanos e... São Paulo: Brasiliense, 1989. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREIRE,Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
47
MORENO, Montserrat et al. Temas transversais em Educação: Bases para uma formação integral. São Paulo: Ática, 1998. MOSCA, J. J. e AGUIRRE, L. P. Direitos humanos: pauta para uma educação libertadora. São Paulo: Vozes, 1985. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Plano Estadual de Educação: uma construção coletiva (versão preliminar). Curitiba, setembro 2005. PIAGET, Jean. Os procedimentos da educação moral. In MACEDO, Lino de. Cinco estudos de educação moral. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996. PUIG, Josep Maria. Ética e valores: métodos para um ensino transversal. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998. SUBIRATS, J. Educação: responsabilidade social e identidade comunitária. In: GÓMEZ-GRANELL & VILA (org.). A cidade como projeto educativo. Porto Alegre: Artmed, 2003, p.67-83.