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CADERNOS PEDAGÓGICOS DE FORMAÇÃO GERAL VOLUME 3 Globalização e política: empresas globalizadas e governos nacionais. 2013/1 ALUNO(A):

Caderno Pedagogico 3.14

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CADERNOS PEDAGÓGICOS DE FORMAÇÃO GERAL VOLUME 3

Globalização e política: empresas globalizadas e governos nacionais.

2013/1

ALU

NO

(A):

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NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

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CADERNOS PEDAGÓGICOS DE FORMAÇÃO GERAL

VOLUME 3

REITOR

Arody Cordeiro Herdy

PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO ACADÊMICA

Carlos de Oliveira Varella

PRÓ-REITOR DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Emilio Antonio Francischetti

PRÓ-REITORA COMUNITÁRIA E DE EXTENSÃO

Sônia Regina Mendes

PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO

José Luiz Rosa Lordello

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NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

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INOVA

NÚCLEO INOVADOR Unigranrio – INOVA

Coordenadora: Maria Rita Resende Martins da Costa Braz

ESCOLA DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS, LETRAS, ARTES E HUMANIDADES

Diretora: Haydéa Maria Marino de Sant´anna Reis

INSTITUTO DE ESTUDOS FUNDAMENTAIS I

Diretora: Lúcia Inês Kronemberger Andrade

INSTITUTO DE ESTUDOS FUNDAMENTAIS II

Diretor: Lindonor Gaspar de Siqueira

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NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

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NÚCLEO ALÉM DA SALA DE AULA

Benjamin Salgado Quintans

Frederico Adolfo Schiffer Junior

Haydéa Maria Marino de Sant’anna Reis

Herbert Gomes Martins

Hulda Cordeiro Herdy Carmim

José Luiz Rosa Lordello

Sonia Regina Mendes

NÚCLEO DE APOIO METODOLÓGICO - NAM

Anna Paula Soares Lemos

Carlos de Oliveira Varella

José Luiz Rosa Lordello

Lindonor Gaspar de Siqueira

Lúcia Inês Kronemberger Andrade

Maria Rita Resende Martins da Costa Braz

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NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

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NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

Lúcia Inês Kronemberger Andrade

Vanessa Olmo Pombo

NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

Anna Paula Soares Lemos

Edeusa de Souza Pereira

Joaquim Humberto Coelho de Oliveira

Lucimar Levenhagen Alarcon da Fonseca

Tania Maria da Silva Amaro de Almeida

NÚCLEO DE MEMÓRIA E DOCUMENTAÇÃO INSTITUCIONAL

Tania Maria da Silva Amaro de Almeida

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NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

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NÚCLEO DE PRÁTICAS INCLUSIVAS

Lucimar Levenhagen Alarcon da Fonseca

ORGANIZAÇÃO / REVISÃO / DIAGRAMAÇÃO DESTE MATERIAL:

NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

Professores (as):

Anna Paula Lemos

Edeusa de Souza Pereira

Joaquim Humberto Coelho de Oliveira

Lucimar Levenhagen Alarcon da Fonseca

Tania Maria da Silva Amaro de Almeida

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NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

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NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

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FICHA DE UNIDADE DE APRENDIZAGEM

Atividade:

TAE 1 / Trabalho Acadêmico Efetivo 1. (Atividades Integradas de Formação Geral I)

Unidade Nº:

Três (3/14)

Título:

Globalização e política: empresas globalizadas e governos nacionais.

Objetivos de aprendizagem:

Compreender a relação entre os mercados internacionalizados e os governos e Estados

nacionais.

Analisar a globalização como um acontecimento complexo, influenciando simultaneamente

vários locais, e múltiplo, gerando vários tipos de consequências.

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NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

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Problematizar modelos atuais de gestão a partir das exigências postas pela globalização.

Tópicos abordados:

Globalização, empresas e poder dos Estados nacionais.

Gestão e mundo complexo.

Introdução:

Na atual fase da globalização, as inovações tecnológicas (exemplo, a internet) permitem uma

intensa mobilidade aos investimentos financeiros. Com isso, o fluxo internacional de capital

desloca-se sem fronteiras e dificuldades, enfraquecendo o controle político e jurídico dos

Estados nacionais sobre os seus territórios.

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http://realidadeparalela616.wordpress.com/2012/08/03/mapa-mundi-capitalista/

Essa situação mostra-se, com toda força, na virada dos anos 1970-80, com destaque para fatos

como a queda do muro de Berlim, em 1989, depois de 28 anos de existência, e, em 1991, o fim

da União Soviética. Nesse momento, finda a divisão bipolar do mundo, também denominada

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guerra fria, políticos neoliberais defendem enfaticamente o mercado livre de qualquer

regulamentação e interferência dos governos locais.

No entanto, as crises atuais, que rondam os Estados Unidos e a Europa, permitem-nos perceber a

necessidade de pensar outra orientação política, menos traumática, para o curso das finanças

internacionais.

Há a necessidade de se debater politicamente saídas para questões como, por exemplo: o

aumento da taxa de desemprego; o estímulo ao endividamento pessoal e familiar como meio

para o crescimento econômico, também conhecido como crise dos subprimes; a empregabilidade

de jovens que estão prestes a ingressar no mercado de trabalho; o crescimento desorientado de

práticas individualistas e consumistas, voltadas para a satisfação imediata; a crise de valores

públicos no convívio social; o risco ambiental promovido pela competitividade industrial e

tecnológica, etc.

No vídeo indicado de Ian Goldin, Navegando no nosso futuro global, há inegáveis benefícios

trazidos pela globalização e novas tecnologias, principalmente, no campo da medicina

regenerativa e da genética. Esses avanços podem resultar, inclusive, na seguinte consequência de

caráter social e político: “é improvável que haja aposentadoria ou uma idade de aposentadoria

em 2030”.

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Mas, como na globalização os efeitos são complexos; “o que acontece em um lugar, muito

rapidamente afeta outro”, gerando riscos sistêmicos (mudanças climáticas, pandemias, crises

financeiras).

É preciso conceber novas práticas e saberes para administrá-los. Segundo o palestrante, esses

sistemas complexos não podem ser geridos pelas atuais estruturas de governo, sendo necessário

“desenvolver uma nova maneira de gerir coletivamente o planeta, através da sabedoria coletiva”.

http://globalizacaoeregionalizacao.blogspot.com.br/2007/11/o-lado-bom-da-globalizao.html

Já o filme, A batalha de Seatle, baseia-se nas manifestações ocorridas em 30 de novembro de

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1999, contra a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse protesto não tem

uma organização centralizada, partidária ou sindical, e reúne diferentes e variadas vozes contra o

curso neoliberal da economia. O que nos leva a aproveitar a seguinte interrogação que se faz

sobre o Estado: não seria ele demasiadamente pequeno para lidar com a crise global, e

extremamente grande para atender as reivindicações locais?

Conteúdo:

FOLHA DE SÃO PAULO. FHC aponta novo limite à ação dos Estados nacionais.

Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/11/02/caderno_especial/16.html>.

Acesso em:14 fev 2013.

FOLHA DE SÃO PAULO. A globalização tira poder dos Estados nacionais? Disponível em

<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/11/02/caderno_especial/17.html>. Acesso em:

BACELAR, Tania. Globalização e território (trecho). In: LE MONDE DIPLOMATIQUE.

Disponível em:<http://diplomatique.org.br/artigo.php?id=202>. Acesso em 31 jan 2013.

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Síntese:

A globalização, no estágio atual, identifica-se com a seguinte imagem: bolsas de valores, dos

grandes centros econômicos e financeiros, conectadas em rede pela Internet.

NASDAQ

http://s3.reutersmedia.net/resources/r/?m=02&d=20070508&t=2&i=764377&w=460&fh=&fw=&ll=&pl=&r=764377

Essas operações financeiras afetam, indistintamente, todas as regiões do planeta. Inicialmente, as

teses neoliberais fortaleceram-se, defendendo a total liberdade para as transações no mercado de

investidores, contra qualquer tipo de restrição. O que fez aumentar a desconfiança sobre a

influência da política e do poder de governo dos Estados nacionais. Hoje, diante da crise

econômica e financeira que, principalmente, afeta os países desenvolvidos, é repensado esse

modelo que valorizou as regras do mercado e enfraqueceu e desacreditou o controle da política.

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Leituras complementares:

A BATALHA de Seatle (Canadá, 1999). Direção de Stuart Townsend, duração 1h39min.

BLOG Formação Geral Unigranrio. Disponível em:

<http://blogs.unigranrio.com.br/formacaogeral/>.

UM hambúrguer de seis bilhões de dólares (e do Burger King). Disponível em:

<http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1019/noticias/um-hamburguer-de-seis-

bilhoes-de-dolares>. Acesso em 8 fev 2013.

GODIN, Ian. Navegando no nosso futuro global. Disponível em

<http://www.veduca.com.br/play.php?v=5388>. Acesso em 14 fev 2013.

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Bibliografia recomendada:

BAUMAN, Zigmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar

Ed., 1999.

BRIGAGÃO, Clóvis & RODRIGUES, Gilberto. Globalização a Olho Nu. São Paulo: Editora

Moderna, 1998.

GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. O que a globalização está fazendo de nós. Rio de

Janeiro: Record, 2005.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.

Rio de Janeiro: Record, 2011.

STRAZZACAPPA, Cristina. Globalização: O que é isso, afinal? Coleção Desafio. Rio de

Janeiro, Moderna, 2006.

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Glossário

Brics: Em economia, BRICS é um acrônimo que se refere aos países membros fundadores (Brasil, Rússia, Índia e China) e à África do Sul,

que juntos formam um grupo político de cooperação. Em 14 de abril de 2011[2], o "S" foi oficialmente adicionado à sigla BRIC para

formar o BRICS, após a admissão da África do Sul (em inglês: South Africa) ao grupo.[3][4][5] Os membros fundadores e a África do Sul

estão todos em um estágio similar de mercado emergente, devido ao seu desenvolvimento econômico. É geralmente traduzido como "os

BRICS" ou "países BRICS" ou, alternativamente, como os "Cinco Grandes"

Nasdaq: O NASDAQ (National Association of Securities Dealers Automated Quotations, em Português Associação Nacional Corretora de

Valores e Cotações Automatizadas) é uma Bolsa de valores eletrônica, constituída por um conjunto de corretores conectados por um

sistema informático. Esta bolsa lista mais de 2800 ações de diferentes empresas, em sua maioria de pequena e média capitalização.

Caracteriza-se por compreender as empresas de alta tecnologia em eletrônica, informática, telecomunicações, biotecnologia, etc.

Subprimes: Em sentido amplo, subprime (do inglês subprime loan ou subprime mortgage) é um crédito de risco, concedido a um tomador

que não oferece garantias suficientes para se beneficiar da taxa de juros mais vantajosa (prime rate).

Em sentido mais restrito, o termo é empregado para designar uma forma de crédito hipotecário (mortgage) para o setor imobiliário, surgida

nos Estados Unidos e destinada a tomadores de empréstimos que representam maior risco. Esse crédito imobiliário tem como garantia a

residência do tomador e muitas vezes era acoplado à emissão de cartões de crédito ou a aluguel de carros.

http://pt.wikipedia.org acesso em 15/02/2013

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Para saber mais:

Músicas que ajudam a construir ideias sobre a Globalização.

Globalização e novas tecnologias

Queda do Muro de Berlim

Clique sobre o nome da música ouça a música, veja o vídeo quando houver e analise a letra.

Pela Internet

Gilberto Gil

Another Brick In The Wall

Pink Floyd

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Para refletir:

“É errado pensar que a globalização afeta unicamente os grandes sistemas, como a ordem financeira mundial. A globalização não diz

respeito apenas ao que está “lá fora”, afastado e muito distante do indivíduo.É também um fenômeno que se dá “aqui dentro”,

influenciando aspectos íntimos e pessoais de nossas vidas.”

(GIDDENS, A. Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de nós.

Rio de Janeiro: Record, 2005, p.22.)

http://4.bp.blogspot.com/-V0P3tzD5ciA/T8v--Df5bwI/AAAAAAAADNM/babdhdStFcU/s1600/Chuteira+Globaliza%C3%A7%C3%A3o.jpg

http://4.bp.blogspot.com/-f-1vfnXugAE/T9Uiwi8fNPI/AAAAAAAADOY/onNUKk_6zWQ/s1600/mae-que-trabalha-fora.jpg

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Você sabe o que é BRICs?

Clique na imagem abaixo e reflita sobre os BRICs, globalização e descentralização.

http://www.asiacomentada.com.br/2012/04/nova-ao-brasileira-no-mundo-globalizado/

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Subprime

http://blogdofavre.ig.com.br/tag/estoque/

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TEXTOS

TEXTO 1

FOLHA DE SÃO PAULO. FHC aponta novo limite à ação dos Estados nacionais. Disponível em

<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/11/02/caderno_especial/16.html>. Acesso em:14 fev 2013.

FHC APONTA NOVO LIMITE À AÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS

CLÓVIS ROSSI DO CONSELHO EDITORIAL

O presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, reconhece que a globalização "limita efetivamente o âmbito de ação dos Estados

nacionais".

Primeiro como ministro da Fazenda e agora como presidente, o sociólogo está na posição ideal para avaliar até que ponto a teia de relações

e acordos internacionais reduz as possibilidades de cada governo impor as regras.

Ele vai ao extremo para mostrar como a integração econômica esvazia o poder dos Estados nacionais: "Os países europeus estão discutindo

TEXTO 1

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uma moeda única. Moeda única significa obviamente que os Bancos Centrais não vão ter mais capacidade de definir a taxa de câmbio. É

um instrumento de defesa de certos setores da economia que os Estados nacionais perdem".

Leia a seguir os principais trechos da entrevista com o presidente.

Folha - Um dos conceitos mais difundidos sobre globalização diz que ela provoca uma perda de capacidade de os Estados nacionais

executarem políticas fortes. Alguns até acham que tendem a desaparecer de alguma maneira. O Sr. concorda com esse conceito?

Fernando Henrique Cardoso - Ela limita efetivamente o âmbito de ação dos Estados nacionais. De todos. Isso é que é o mais curioso,

porque no passado essas limitações incidiam sobre os países subdesenvolvidos, dependentes. Agora, não, é mais amplo. Por quê? Nenhum

Banco Central, nem o Banco de Compensações Internacionais (o banco central dos bancos centrais), consegue controlar essa massa de

recursos. É realmente um processo que limita a capacidade das instituições existentes, tanto as nacionais quanto as internacionais, de

lidarem com o fenômeno. Agora, essa limitação é dinâmica.

É claro que os Estados nacionais e as entidades internacionais reagem à nova situação e procuram então colocar em novo patamar os seus

limites, avançar no sistema de controle de decisões. Mas que limita, limita. Ainda mais especificamente no caso da Europa. Os países

europeus estão discutindo moeda única. Moeda única significa obviamente que os bancos centrais não vão ter mais capacidade de definir a

taxa de câmbio. É um instrumento de defesa de certos setores da economia que os Estados nacionais perdem. Por outro lado, estão se

constituindo outros instrumentos. Eu conversei com o Prodi (Romano Prodi, primeiro-ministro italiano). A Itália vai ter que se ajustar.

Bom, isso é uma limitação, mas, se não fizer isso, ela também perde em termos de competitividade com os outros países europeus. É uma

limitação, então, que pode resultar num acordo positivo, e eles não vêem a questão com os olhos da preocupação do Estado nacional, vêem

com os olhos da população. Vai melhorar a situação e a Itália vai ter mais chances.

E não acredito que vá desaparecer o lado nacional. Na Europa, tem outra tendência: a volta do regionalismo, na Espanha, Itália... Na

Alemanha, não creio. Então haverá uma coisa curiosa que não era pensada: as diferenças culturais aparecem com mais força também.

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Então, não acho que essa globalização seja o fim da história, o fim do Estado. Essas são visões um pouco simplistas do processo,

precipitadas. A política renasce de outra maneira.

Folha - Uma outra crítica, menos consensual do que a anterior, é de que o Brasil não está se integrando, o mundo é que está engolindo o

Brasil.

FHC - É uma velha discussão.

Folha - E tem a frase do Otto Lara Resende de que o Brasil vai chegar ao Primeiro Mundo para fazer a faxina.

FHC - Eu prefiro uma frase do (Giorgio) Napolitano (atual ministro do Interior da Itália). Ele disse o seguinte em uma entrevista: o

problema não é saber se existe ou não internacionalização, o problema é saber se eles vão nos internacionalizar ou nós nos

internacionalizaremos. Essa frase já tem uns 10 ou 15 anos, repeti muitas vezes, porque eu a achei boa.

No governo Geisel, que foi talvez um governo que teve uma política, mas ainda embasada na idéia de autarquia, nós todos criticamos a

chamada plataforma de exportação, que eram os países do sudeste da Ásia. Nós dizíamos que aquilo era o fim. Não se percebia que era um

sinal de que o comércio internacional ia ter uma dinâmica muito forte. Nós no Brasil continuamos apostando no mercado interno. E é claro

que, num país continental como o Brasil ou os Estados Unidos, sempre o mercado interno vai ser muito mais importante do que o mercado

externo do ponto de vista de volume.

Mas nós não percebemos naquela época que estava havendo uma mudança e que nós tínhamos que escolher áreas, nichos, onde

pudéssemos participar mais ativamente do mercado internacional.

Ainda hoje, quando você olha a pauta de exportação do Brasil, vê que ela é pouco dinâmica. Então, o comércio internacional cresce com

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uma velocidade grande e a nossa participação nele não. Isso não é só uma questão de política de governo. Como temos um mercado interno

grande, o nosso empresariado se acomoda e tem lucros mais facilmente no mercado interno. Então, você tem que fazer um grande esforço

para que haja uma abertura de nichos no mercado internacional.

Folha - Mas quais seriam os nichos que o Sr. vê mais adequados para o Brasil?

FHC - Nós temos que preparar a nossa produção não só para exportar. É para concorrer aqui dentro com os importados. São as duas coisas

ao mesmo tempo. Concorrer, ou seja, melhorar a qualidade da produção. Já estão importando equipamento etc., muito bem. Agora, um

país, para poder ter viabilidade de longo prazo, ele tem que produzir coisa que agregue valor. Você olha nossa pauta de exportação, ela é

composta basicamente ainda de produtos primários.

Eu não quero dizer com isso que nós devamos não olhar para esses produtos. Até pelo contrário. Eu acho que o Brasil ficou no pior dos

dois grupos, porque industrializou para dentro e descuidou um pouco da produção agrícola. Os Estados Unidos têm uma produção e uma

exportação agrícola enormes. Nós temos que ter também aqui. A questão, realmente, é onde você agrega valor.

A gente pode ganhar tempo com essa produção primária para que você possa avançar mais onde agrega valor. Aí você tem várias áreas,

como, por exemplo, a indústria do espaço. O Brasil tem uma posição estratégica fantástica que é a base aérea de Alcântara, a base de

lançamento de satélites. Tem propostas bastante importantes chegando aqui de utilização da base e da formação e ampliação de uma

produção local da indústria de espaço.

Folha - 2005 acabou virando uma data cabalística, porque é a data fixada tanto para a conclusão da Alca como para a zona de livre

comércio entre Mercosul e Europa. Se o Sr. pudesse fazer uma avaliação, mais como sociólogo do que como presidente, o que imagina em

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2005? A Alca estaria pronta ou antes se abriria a zona de livre comércio com a União Européia ou em vez delas a Alcsa, a área de livre

comércio da América do Sul?

FHC - Eu acho que a Alcsa, certamente. Eu vejo com mais facilidade essa integração aqui. É mais difícil com a Europa. Nós vamos fazer

força para que isso aconteça. Também na Europa há um componente político na relação Mercosul-União Européia. Eles estão se

preparando para ser um apoio importante. Onde for possível avançar, deve-se avançar. Agora, onde não for possível, tem que haver

compreensão, tem que dar tempo.

Não há dúvida nenhuma que o Brasil vai ser duro nisso. E acho que a estabilidade política e até social do continente depende de uma

relação não tensa entre Brasil e Estados Unidos. Nós devemos lutar por esses objetivos: uma relação não tensa e com conteúdo também

extramercado na jogada. A internacionalizaçao trouxe o crime internacional e organizado. Lavagem de dinheiro, narcotráfico. É um

problema que, se não houver um relacionamento correto entre o Brasil e os Estados Unidos, complica muito.

Folha - Há uma discussão se se vai chegar a um mundo sem fronteiras. Há até quem proponha 2020 como o ano para que todas as

fronteiras comerciais desapareçam. Em sua opinião, o que vai acabar prevalecendo, fortalezas regionais ou mundos sem fronteiras?

FHC - Eu acho que nós vamos ter sub-blocos, mas não vão ser fechados. Não tem como fechar por causa dos centros produtivos. A

revolução é o sistema produtivo. Ela tem a ver com a telemática, com a informática, a informação imediata e simultânea e com o fato de

que você pode maximizar em nível planetário o seu sistema produtivo. Isso é um dado da realidade. Quer dizer, é um novo tipo de

produção que não é só industrial, mas que tem como espinha dorsal os meios de comunicação instantânea e informática. Você pode

controlar a produção da sua empresa a não sei quantos milhares de quilômetros de distância e ter informação on time. Isso não vai mudar.

Então isso não tem como você fazer barreiras, porque elas caem. Mesmo barreiras cambiais caem. Manda moeda para cá e para lá.

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Nós temos que preparar a população para ter um amplo espectro de acomodação às novas funções. Para ter um espírito de mobilidade que

nós não temos. Os americanos têm, os europeus têm menos que nós. Então, isso requer, e essas coisas estamos fazendo, botar computador

na escola primária, ter um tipo de formação profissional de outra natureza, mudar os currículos, ter mais coragem para mudar o ensino

universitário.

TEXTO

FOLHA DE SÃO PAULO. A globalização tira poder dos Estados nacionais?Disponível em

<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/11/02/caderno_especial/17.html>. Acesso em: 14 fev 2013.

A GLOBALIZAÇÃO TIRA PODER DOS ESTADOS NACIONAIS?

A maioria dos teóricos tende a crer que sim. Uma parte deles não vê, entretanto, os Estados como meras "vítimas". Ao suprimir o controle

de câmbio, determinado governo abre suas fronteiras para a entrada e saída de capitais. Esse governo pode considerar que isso será positivo

para o país.

TEXTO 2

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O surgimento dos blocos é um movimento em favor da globalização ou uma reação a ela?

Não há uma única resposta a essa pergunta. Para alguns, os blocos regionais estão sendo o primeiro passo para um modelo maior de

globalização do comércio de bens e serviços. Para outros, os blocos regionais tendem a criar uma lógica interna de acomodamento, de

proteção a certas normas.

As empresas multinacionais estariam tomando o lugar dos governos nacionais e tomando decisões em seu lugar?

Vamos por partes. Há alguns temas em que os Estados e seus governos permanecem soberanos. No Mercosul, a Argentina não definirá em

conjunto com o Brasil políticas de saúde pública ou salários de professores primários. A lógica de abertura comercial é propícia para a

expansão dos negócios das empresas multinacionais. O que não significa, necessariamente, que são elas que ditam as regras do jogo.

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TEXTO 3

BACELAR, Tania. Globalização e território (trecho). In: LE MONDE DIPLOMATIQUE.

Disponível em:<http://diplomatique.org.br/artigo.php?id=202>. Acesso em 31 jan 2013.

GEOPOLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO

A reorganização do espaço mundial

Esse movimento de descentralização depende muito da atividade a que as corporações se dedicam. Por exemplo, no setor de perfumes, há

um modelo no qual a produção é centralizada e a distribuição, descentralizada. É o modelo da Avon, que não tem nenhuma loja, tem

“colaboradoras”, com um livrinho dizendo quanto custa cada produto e um talonário para registrar as vendas. É o modelo mais

descentralizado e mais exitoso desse segmento – tanto que as outras empresas tenderam a copiá-lo. No setor de alimentos, o modelo se

inverte. Como o risco maior ocorre no processo produtivo, é este que é descentralizado, enquanto centralizada é a distribuição. Assim, o

melão produzido no assentamento da reforma agrária em Baraúnas, Rio Grande do Norte, é distribuído por uma transnacional. Ela recolhe

as frutas dos produtores, centraliza e joga no mercado mundial. Então, as inflexões do modelo dependem de onde se encontra o maior risco.

Por esses vários caminhos, o processo de globalização reorganiza o espaço mundial. Os agentes globais, que comandam o processo,

escolhem os lugares em função do cruzamento de duas variáveis. Seus próprios objetivos e os atributos dos lugares. É por isso que, ao

contrário do que a palavra sugere, a globalização é um processo seletivo, gerador de desigualdade. Os agentes que realmente decidem

abrem o mapa-múndi e escolhem onde vão crescer, onde vão se consorciar, de onde vão sair: a escolha é deles de acordo com seus

TEXTO 3

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NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

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objetivos estratégicos e dos atributos de cada território. Eles vão para determinados lugares e não vão para outros. Há lugares muito

engatados na dinâmica global e outros bem menos. A globalização, portanto, é um processo que não anula as hierarquias, mas as recria.

O comando do processo está na tríade Estados Unidos–Japão–União Européia. Então, ao contrário do que muitas vezes se afirma, os

grandes condutores do processo têm nome e endereço. E, neste ponto, não se trata mais apenas dos conglomerados transnacionais, mas

também dos países a eles associados – países que detêm o maior peso relativo nas decisões tomadas no cenário mundial.

A seguir, vêm os países médios, que tentam influir em sua inserção. Alguns o conseguem; outros, não. Um exemplo de país que consegue é

a China. A China consegue por vários motivos. Primeiro, porque é um país milenar. Já era uma potência antes do advento do capitalismo,

um dos lugares que tinham desenvolvido de maneira mais expressiva as forças produtivas. Com a colonização perdeu espaço, foi dominada

e virou a “casa da mãe Joana”: sucessivamente ocupada, ou seja, lugar onde todo mundo manda. Aí ocorreu a revolução e a China passou

por uma importante fase de autonomia. Este é o segundo motivo de seu sucesso atual. Uma das coisas que mais me impressionou foi uma

entrevista a que assisti no dia da morte de Mao Tsé tung. O repórter chegou junto de um velhinho que estava chorando na beira da calçada

e perguntou: “O que Mao legou à China?”. O velhinho não falou de socialismo. Ele disse: “Mao recolocou a China de pé”. Ou seja, com o

trancamento, a China deixou de ser a casa da mãe Joana e passou a se sentir dona de seu próprio destino. E aí está o terceiro motivo: o

processo de reinserção da China ocorre num estágio muito avançado da globalização e está sendo conduzido sob o comando do Partido

Comunista Chinês. Isso assegura uma reinserção muito mais autônoma do que a de países como o Brasil, que também é de porte médio,

mas engatou no processo de globalização no século XVI, como colônia de exploração, e tem, até hoje, uma enorme dificuldade de atuar

com soberania.

Por último, vêm os países pequenos, que lutam com enormes dificuldades para influir em sua inserção. Portanto, a leitura do mapa-múndi

atual continua sendo a leitura de quem manda mais e quem manda menos. Porém, ao contrário do que prega o discurso hegemônico, que

tenta apresentar a globalização como um processo inexorável, ao qual temos de nos submeter, este é um processo contraditório e não uma

tendência unidirecional. Até porque a globalização é um processo social e não há processo social inexorável. É um processo hegemônico,

sem dúvida. Mas há distintas possibilidades de relacionamento entre os distintos territórios e o movimento de globalização.

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Um exemplo que eu gosto de dar é a França. O padrão hegemônico da distribuição de alimentos é, sem dúvida, o padrão supermercado. O

Brasil, que gosta de copiar os Estados Unidos, adotou fortemente esse padrão. Por isso, estamos acabando com nossas feiras, com nossas

mercearias. Qualquer cidade média brasileira quer ter hoje seu supermercado. No entanto, em Paris continua havendo feira, continuam

funcionando as pequenas lojas de alimentos. De onde vem isso? Vem da cultura do povo francês, que resiste ao padrão hegemônico, que

não aceita o supermercado, que se recusa a estocar alimentos, que gosta de comprar, de loja em loja, o alimento fresco que vai ser

consumido no dia ou no dia seguinte. Há supermercado? Há . Mas na periferia, para os estrangeiros. Os franceses continuam

fazendo courses, como eles dizem. Então, a cultura, a visão de mundo tem sua influência, não há uma fatalidade.

O global, o nacional e o local.

Homogeneização e diferenciação

Um fato importante é que a globalização é, simultaneamente, um processo de homogeneização e de diferenciação. De homogeneização

porque os grandes agentes da globalização impõem seus padrões pelo mundo afora e tendem a tornar tudo parecido. Se me colocarem uma

venda nos olhos, me levarem de avião para uma cidade qualquer e me soltarem na frente de um shopping center, eu não saberei dizer de

imediato em que cidade estou. Parece que todos os shopping centers saíram da cabeça do mesmo arquiteto. Agora, se me desembarcarem

em frente ao Ver–o–Peso, eu saberei que estou em Belém, no Pará, se me desembarcarem em frente ao Mercado Modelo, eu saberei que

estou em Salvador, na Bahia. Porque o Ver-o-Peso e o Mercado Modelo são resultantes da diferenciação, e o shopping center é resultante

da homogeneização.

O que existe hoje é um processo simultâneo de homogeneização e de diferenciação. Embora a homogeneização seja hoje muito forte, ela

não é a única tendência. Quando um agente global escolhe um lugar para ir, ele o escolhe a partir do que é diferente daquilo que aquele

lugar possui e outros lugares, não. O critério dominante torna-se, no caso, a diferenciação. A globalização estimula isso, ao mesmo tempo

que estimula também a valorização das escalas global e local. Essa é uma questão muito importante no debate sobre a globalização e

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território. Como alguns agentes têm capacidade para operar em escala global, a escala global se transforma crescentemente numa escala

relevante. Como desembarcam nos territórios na escala local, a relação se dá entre o global e o local. E o elemento contestado é a escala

nacional.

Por que a escala nacional é contestada? Em grande parte, por que foi nela que a luta social conseguiu, ao longo de séculos, impor as

regulações ao capitalismo. A legislação trabalhista é nacional; o salário mínimo é nacional; a moeda é nacional; o Estado é nacional. Isso

explica a fúria dos agentes globais contra os Estados nacionais. Seu ataque se associou, nos últimos tempos, à ideologia neoliberal. Não é à

toa que a escala de ataque seja a escala intermediária, a escala nacional. Os agentes globais não querem saber de regulações; querem ter

total liberdade para atuar no espaço global e instalar as suas unidades no espaço local. Daí a máxima “pensar globalmente e atuar

localmente”, que é puro produto da ideologia neoliberal a serviço de uma globalização que não aceita limites.

Outro ponto importante é que, na era da globalização, os territórios admitem pelo menos duas leituras. Uma leitura é feita pelos agentes

globais, para os quais os territórios são meros “palcos de operação”. Quando abrem o mapa-múndi para traçar suas estratégias, os países, as

regiões, os municípios são para eles meros palcos de operação. Pensam nas vantagens ou desvantagens de realizarem suas operações neste

ou naquele território. Mas existe uma outra leitura. E esta é feita pelas populações de cada lugar, para as quais os territórios são, acima de

tudo, construções sociais. Apesar da uniformização crescente, cada território do mundo tem seu ambiente natural, seu processo histórico de

ocupação, seus valores. O que existe hoje é resultado de um longo e complexo processo histórico.

Essas duas leituras conflitantes produzem uma tensão entre o global e o local, pois o global é fonte de homogeneidade e os territórios

são lócus de especificidades. O Brasil é um país que tem história, que possui um território, que construiu nele uma sociedade. E isso tudo

não pode ser reduzido a simples palco de operação. Ademais, cada lugar do Brasil é diferente.

A inserção do Brasil na globalização industrial e na financeira.

O Brasil possui três heranças principais, quando visto pela ótica do regional. A primeira herança é ser um país de dimensão continental que,

como já disse, engatou na economia mundial como espaço primário exportador. Isso deixou marcas muito importantes – entre elas, o forte

contraste entre a faixa litorânea e a região central.

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A segunda é a diversidade regional. O país estruturou-se sobre um território que comporta seis biomas diferentes: o bioma amazônico, o

bioma do cerrado, o bioma da caatinga, entre outros. Em cima dessa natureza diversa, estruturaram-se pólos produtivos também diversos: o

açúcar num canto, o ouro em outro, o café em outro, o algodão em outro, a industrialização em outro... Cada um deixou sua marca. Então, o

Nordeste açucareiro ficou muito diferente do Sudeste cafeeiro. Cada região misturou à sua maneira os ingredientes indígenas, europeus e

negros. E isso gerou uma maravilhosa diversidade cultural, que, do meu ponto de vista, é um dos maiores patrimônios do Brasil. Na era da

globalização intensa, estamos redescobrindo o Brasil.

A terceira herança é a herança da desigualdade. É uma herança pesada, que cresceu muito no século XX, quando o país engatou na

globalização industrial. A figura 1 apresenta o mapa do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Quanto mais vermelha a área, mais

baixo o IDH; quanto mais verde e azul, mais alto o IDH. Esse mapa mostra dois Brasis. E a mesma configuração se mantém se

considerarmos outros parâmetros, como a escolaridade. Podemos analisar muitas outras variáveis diferentes, e a figura manterá a mesma

configuração. Então, nossa herança de desigualdade produziu, realmente, dois Brasis. E essa desigualdade se reproduz nas várias escalas.

Se analisarmos a região metropolitana de Recife, lá encontraremos duas Recifes.

Essas são as heranças. Agora, vejamos suas modificações recentes.

Uma coisa importante da inserção do Brasil na globalização industrial foi que ela integrou o mercado brasileiro. No período primário

exportador, se produzia aqui e realizava fora. Com a indústria, passamos a produzir aqui e realizar aqui. Para isso, foi preciso integrar

fisicamente o mercado brasileiro: criar uma malha urbana, uma malha viária, uma malha de telecomunicação. Hoje, em Oeiras, no Piauí, se

compra, via internet, um artigo fabricado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e, dois dias depois, recebe-se o produto em sua casa. Isso

é uma enorme diferença em relação ao Brasil do passado. E um de nossos grandes trunfos diante das corporações transnacionais. Quando

desembarcam aqui, elas não vêm atrás de uma plataforma de exportação, mas do próprio mercado brasileiro, que está integrado desde

metade do século passado. Uma parte dessa conquista tem ser creditada a Juscelino, porque foi ele que começou a fazer as ligações

verticais da malha viária do país. Antes, só havia ligações horizontais: do interior para a costa, da zona produtora para o porto exportador.

Juscelino estabeleceu uma nova lógica: no meio do território, colocou Brasília, e fez a Belém–Brasília, fez a Rio–Bahia, ou seja , criou as

condições materiais para a integração do mercado.

Com o tempo, ocorreu não apenas a circulação das mercadorias, mas também a circulação do capital. Três agentes se engajaram nesse

processo. As transnacionais, por certo. Mas também o capital nacional e o Estado brasileiro. Grandes empresas brasileiras, que nasceram e

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se desenvolveram em uma região, instalaram filiais em outras. Isso foi muito importante. O desembarque da Vale do Rio Doce no Pará

mudou o Pará. O desembarque da Petrobras na Bahia mudou a Bahia. E eram empresas estatais. Isso promoveu a gradual redução da

concentração econômica no Sudeste.

Os dados mostram que, no período JK, a concentração cresceu; no período do “milagre econômico”, a concentração cresceu. Ela começou

a decrescer a partir do 2º PND, quando vários investimentos foram feitos em outros lugares do Brasil, e isso deu início a um processo de

desconcentração. A crise veio, bateu muito forte em São Paulo, até hoje São Paulo tem 2 milhões de desempregados – e outros lugares do

Brasil começaram a se destacar.

Muita coisa está mudando

Agora, muita coisa está mudando na demografia, na economia e no quadro social. Uma mudança muito importante é que o Brasil – que, no

século XX, tinha uma concentração econômica muito grande no Sudeste (que, por sua vez, gerava uma concentração de renda enorme) –

está sinalizando um percurso diferente. Desconcentração produtiva para fora do Sudeste e modificação do padrão de distribuição de renda

são sintomas que ainda não sabemos se configuram um novo padrão, mas são sintomas de uma tendência diferente.

Do ponto de vista demográfico, está em curso uma alteração da composição etária da população. Há menos nascimentos e as pessoas estão

vivendo mais. Além disso, a localização das populações está mudando. O Centro-Oeste e o oeste do Nordeste, antes desocupados, agora

estão sendo preenchidos econômica e demograficamente. Outra transformação importante é que as cidades médias passaram a crescer. Isso

porque a concentração nas metrópoles brasileiras atingiu seu auge e as deseconomias já são maiores do que as economias. Assim, os

municípios médios apresentam grandes vantagens e não têm os problemas da concentração. Dentro do estado de São Paulo isso se deu com

muita força. Esta é uma mudança muito importante porque poderia representar uma chance de construir, no século XXI, cidades livres das

mazelas que marcaram o século XX.

Este balanço sobre a dinâmica migratória eu extraí de um texto do Prof. Clélio Campolina. Ele tomou como referência o período a partir de

1975 e dividiu-o em qüinqüênios. Observou então que o Nordeste perdia quase 900 mil pessoas a cada cinco anos, e agora está perdendo

700 mil pessoas. A emigração diminuiu, e os que saem da zona rural do Nordeste passaram a ir para as médias e pequenas cidades da

própria região ou para a fronteira agrícola do país. Não vêm mais para São Paulo, que tem 2 milhões de pessoas sofrendo com o

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desemprego aberto. Em compensação, o Sul cresce, o Norte cresce, o Centro-Oeste mantém-se atrativo, recebendo 300 mil pessoas por

qüinqüênio.

Do ponto de vista da indústria, a mudança também é muito grande. A região metropolitana de São Paulo chegou a ter 43% da indústria do

país, mas recuou para 22%. Já o estado de São Paulo detinha 60% da indústria do país, mas caiu para 44%. São quedas enormes. Ao

mesmo tempo, muitas indústrias vão para Manaus e o Nordeste dobrou seu peso nacional nesse setor. Embora a concentração ainda seja

grande, observa-se um processo de relocalização da indústria no Brasil, que está em curso desde os anos 1970. O Prof. Campolina, que

leciona na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem defendido que se trata de nítido processo de desconcentração. Do ponto de

vista agropecuário, observam-se mudanças igualmente importantes: é o “miolão” do Brasil que está atraindo a dinâmica agropecuária,

especialmente o Centro-Oeste.

Tudo isso mostra que o processo de ocupação do território brasileiro está mudando, em plena era da globalização. E uma das mudanças

mais interessantes é a emergência do Nordeste, região que aparecia como problemática, quando vista no conjunto nacional. Vários fatores

estimularam o consumo na região e mais recentemente ela abriga novos investimentos. Alguns deles diretamente associados ao movimento

do capital em escala mundial, como o caso do setor de turismo, em que o Nordeste lidera no ranking da captação de Investimentos Diretos

do Estrangeiro (IDE).

Como se vê, o território brasileiro redefine sua inserção na era da globalização. E sinais dessa redefinição estão cada vez mais evidentes.

Este artigo é resultado de uma palestra para representantes de movimentos sociais, proferida pela autora na Câmara Municipal de São

Paulo, em maio de 2008.

Tânia Bacelar é economista e socióloga, doutora em Economia, professora da Universidade Federal de Pernambuco e sócia da Ceplan -

Consultoria Econômica e Planejamento.

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Atividades para Autoavaliação.

Atividade: TAE 001 / TRABALHO ACADÊMICO EFETIVO – ATIVIDADES

INTEGRADAS DE FORMAÇAO GERAL I

Unidade Nº: 03

Título: Globalização e política: empresas globalizadas e governos nacionais.

QUESTÃO 1

Tópico Associado: Gestão e mundo complexo

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A charge acima:

A) caracteriza uma realidade vivenciada no capitalismo industrial, onde a

poluição foi o fator dominante devido à falta de tecnologia preventiva.

B) evidencia um antagonismo entre ricos e pobres, num conflito onde a população

pobre dos países do Sul é dominada pelo poder ideológico e econômico do Norte.

C) indica que, embora o Sul fique separado do Norte por uma linha imaginária, há

uma nítida ruptura causada pelas diferenças em administrar problemas ambientais.

D) mostra um conflito ideológico, e não econômico, já que representa a

bipolarização da Guerra Fria e a preocupação com a ecologia.

FEEDBACK DA QUESTÃO 1

Resposta certa: Vide gabarito no fim deste caderno.

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QUESTÃO 2

Tópico Associado: Gestão e mundo complexo

“Antes mundo era pequeno

Porque Terra era grande

Hoje mundo é muito grande

Porque Terra é pequena

Do tamanho da antena

Parabolicamará...

Antes longe era distante

Perto só quando dava

Quando muito ali defronte

E o horizonte acabava...

De jangada leva uma eternidade

De saveiro leva uma encarnação...

Pela onda luminosa

Leva o tempo de um raio...

Ê volta do mundo, camará

Ê, ê, mundo dá volta, camará...

De jangada leva uma eternidade

De saveiro leva uma encarnação

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De avião o tempo de uma saudade

Esse tempo não tem rédea

Vem nas asas do vento...

Ê volta do mundo, camará

Ê, ê, mundo dá volta, camará...”

Parabolicamará (Gilberto Gil)

A revolução tecnológica dos meios de transporte ocasionou o chamado

“encolhimento do mundo”. Ao ler a música e a afirmativa anterior, pode-se

afirmar que:

A) A abolição de barreiras espaciais permitiu o livre fluxo de populações,

sobretudo em função do acesso ao mercado de trabalho, em diferentes regiões do

planeta.

B) A ampliação do intercâmbio de informações entre diferentes povos e regiões

do planeta promoveu uma única e homogênea aldeia global de trocas igualitárias.

C) A redução do tempo de deslocamento entre os lugares foi fundamental para a

expansão planetária da produção e circulação das mercadorias sob a égide do

capitalismo.

D) As possibilidades de comunicação entre as nações facilitaram os acordos

comerciais e financeiros que reduziram as diferenças econômicas entre países.

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FEEDBACK DA QUESTÃO 2

Resposta certa: Vide gabarito no fim deste caderno.

QUESTÃO 3

Tópico Associado: Globalização, empresas e poder dos Estados nacionais.

A expansão, em escala planetária, das atividades das multinacionais fez crescer

entre essas empresas a disputa por partes cada vez maiores de um mercado

consumidor atualmente integrado pelo processo de globalização. Assinale, a

seguir, a alternativa em que NÃO foram apresentados elementos característicos

das empresas multinacionais.

A) Diminuição do tamanho das unidades de produção, com o uso de alta

tecnologia.

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NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

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B) Otimização dos processos de produção, diminuindo, por exemplo, os

desperdícios com matérias-primas.

C) Concentração do processo produtivo e comercial em um único país.

D) Aumento dos investimentos em marketing e propaganda, divulgando

informações a respeito de serviços e produtos.

FEEDBACK DA QUESTÃO 3

Resposta certa: Vide gabarito no fim deste caderno.

QUESTÃO 4

Tópico Associado: Globalização, empresas e poder dos Estados nacionais.

Sobre o processo da globalização analise as afirmativas e em seguida assinale a

opção correspondente:

I- Ocorre valorização dos territórios nacionais e de suas fronteiras políticas,

favorecida pelo estabelecimento de zonas de livre comércio.

II-Há formação de espaços transnacionalizados no interior de territórios nacionais,

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fragilizando o poder do Estado.

III- Ocorre expansão de empresas multinacionais, fortalecendo todos os países

pela globalização econômica.

IV- Tem acelerado as trocas comerciais e de informações entre os povos do

mundo.

A) As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.

B) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.

C) Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras.

D) Apenas as afirmativas II e IV são verdadeiras

FEEDBACK DA QUESTÃO 4

Resposta certa: Vide gabarito no fim deste caderno.

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QUESTÃO 5

Tópico Associado: Globalização, empresas e poder dos Estados nacionais.

A globalização pode ser descrita como um processo de difusão de idéias e valores,

de formas de produção e de trocas comerciais que atravessam e rompem as

fronteiras nacionais. As opções abaixo apresentam exemplos da teia global, à

EXCEÇÃO:

A) da intensa velocidade de propagação de ideias e da instantaneidade na

transmissão dos acontecimentos mundiais;

B) da simetria dos circuitos da mídia e da informação eletrônica com uma

recíproca fertilização cultural;

C) da diminuição do controle territorial do Estado-Nação devido ao alargamento

da ação das grandes corporações;

D) do aumento da velocidade e da eficiência dos sistemas multimodais de

transportes e comunicações.

FEEDBACK DA QUESTÃO 5

Resposta certa: Vide gabarito no fim deste caderno.

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Questão discursiva

Tópico Associado: Globalização, empresas e poder dos Estados nacionais.

Após ler o texto, teça comentários acerca dos artigos produzidos em tempos de

globalização, relacionando-os à questão da nacionalidade dos produtos.

“A indústria de computadores Compaq, tida como americana, usa patentes de

outros países [...] e os componentes físicos são fabricados na China, em Taiwan,

Coréia, Japão, Vietnã – alguns até mesmo nos Estados Unidos. A Nike é uma

empresa americana, em teoria, que produz sapatos. A produção física de sapatos

é feita por 75000 funcionários alocados em outros fabricantes fora dos Estados

Unidos. [...] O Ford é um veículo de que nacionalidade?” (Veja, 3/4/1996. Apud:

MONTELLATO, Andrea Rodrigo. O mundo dos cidadãos. São Paulo: Scipione, 2000.)

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GABARITO

FEEDBACK DA QUESTÃO DISCURSIVA:

COMENTÁRIO: Os produtos fabricados hoje em dia são artigos sem pátria, isto

FEEDBACK DA QUESTÃO 1:

Resposta certa: Letra B

FEEDBACK DA QUESTÃO 2 :

Resposta certa: Letra C

FEEDBACK DA QUESTÃO 3:

Resposta certa: Letra C

FEEDBACK DA QUESTÃO 4:

Resposta certa: Letra D

FEEDBACK DA QUESTÃO 5:

Resposta certa: Letra B

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é, são montados em um país, mas utilizam componentes fabricados em muitos

outros. A etiqueta informando que um produto é Made in USA ou Made in Brazil

não garante que, efetivamente, ele seja totalmente feito nos Estados Unidos ou no

Brasil. As grandes indústrias produzem ou encomendam a fabricação de peças e

partes em diferentes países, onde a mão de obra e a energia sejam mais baratas ou

os incentivos fiscais mais atraentes, procurando baixar os custos de produção.

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Acessem os blogs:

Núcleo Inovador UNIGRANRIO Núcleo Formação Geral

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“Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante!”

Paulo Freire