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1 MARIA JOSÉ DUARTE BRAGAGNOLO VIVAN CADERNO TEMÁTICO Escola e Pais: Uma Contribuição à Práxis Educativa das Famílias LONDRINA 2008

CADERNO TEMÁTICO Escola e Pais: Uma Contribuição à Práxis ... · Para compreender os caminhos da gestão democrática em educação, é ... psicologia, antropologia, estatística,

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MARIA JOSÉ DUARTE BRAGAGNOLO VIVAN

CADERNO TEMÁTICO

Escola e Pais: Uma Contribuição à Práxis Educativa das

Famílias

LONDRINA 2008

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A gestão democrática está em voga. Nunca o termo foi tão usado, discutido

e comentado. Carrega em si, uma carga de significados e símbolos que precisam

ser compreendidos.

O propósito deste texto é transitar nos caminhos do conhecimento a respeito

da gestão democrática, e subsidiar uma reflexão mais profunda para que nossa

prática se torne mais consistente, e compreender cada um dos segmentos que

obrigatoriamente compartilha desta idéia.

Foi elaborado com o cuidado de fundamentar-se em autores que comungam

com a pedagogia histórico crítica.

Para compreender os caminhos da gestão democrática em educação, é

necessário voltarmos um pouquinho no tempo.

Você sabia que a gestão está na forma de conceber, gerir e administrar

recursos envolvidos na produção de um bem ou serviço? Não te parece tão

empresarial?

VOCÊ CONHECE A ORIGEM DO TERMO GESTÃO? O termo gestão aparece para designar funções técnicas, contábeis,

financeiras, comerciais, de segurança, administração e ainda conhecimentos de

psicologia, antropologia, estatística, mercadológica, ambiental etc.

Os termos gestão e administração confundiram-se ao longo do tempo,

levando a pensar que refletiam uma só prática, isto deve-se ao fato de ambas

exercerem influências sobre o indivíduo, para coordená-lo, orientá-lo e dirigi-lo.

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O vocábulo gestão, que parece ser novo, tem sua origem do latim no Século

XV. Conforme o Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa (1982),

gestão vem do latim gerire, por gerere, que após várias transformações no vocábulo,

dá origem a palavra “gestão”, em 1858 e gerência/gerente, em 1881.

Robert L. Trewatha (1979) relata os primeiros estudos sobre administração

na Grécia Antiga por Platão e Sócrates, em que Sócrates escreve sobre defesa da

universalidade dos princípios administrativos e leva-se a pensar que daí teria

ocorrido à associação entre administração e o bem público, visto que esses filósofos

davam enfoque às instituições estatais, isto por não haverem outras para servirem

como objeto de seus estudos.

Porém, a administração não subsiste em si só, mas é necessário que haja

funções corporativas para existir e do objeto para agir. Por outro lado, a gestão não

é cargo, mas as funções inerentes ao cargo (administração, comercial,

contabilidade, finanças e técnicas). Portanto percebe-se aí um equívoco na

colocação dos termos e o correto seria, por exemplo, gestão da produção e

administração na produção e assim compreender que a gestão incorporada da

administração constituiria o conjunto ideal para o seu desempenho.

O fator histórico pode ter sido relevante para a diferenciação dos termos,

visto que M. Gilbert Frost relata o surgimento da gestão quando da transição do

sistema familiar de produção para o sistema doméstico de produção. Já Drucker

(1975), coloca como origem do termo “Management”, o fim do século XIX e início do

século XX.

Muitas das idéias muitas idéias que concordam com a semelhança entre

gestão e administração são compartilhadas por Fayol (1960), Barnard(1971), Tead

(1972), Drucker (1975), Koontz (1978), Trewatha (1979) e Taylor (1990), além de

Sócrates e Platão, ainda na Grécia Antiga, entre outros, em tempos atuais.

Refere-se ao processo que vai determinar e orientar a trajetória de uma

empresa buscando alcançar objetivos por elas determinados.

Como se pode observar, a questão da “gestão” não é uma criação do

contexto educacional, e sim da empresa que foi adaptado para a escola,

considerando que esta é uma organização responsável por uma determinada prática

social.

No geral, a gestão hoje, refere-se ao processo, caminho traçado por uma

empresa para a realização de seus objetivos, dentro de um conjunto de análises,

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decisões, comunicação, liderança, motivação, avaliação, controle, e outras

atividades que são próprias da administração. (ANSOFF, 1977). Portanto, “ao se

falar em gestão, está se falando na própria administração do negócio” (GARAY,

p.101).

No processo administrativo, busca-se planejar, organizar, dirigir e controlar

os recursos da empresa, a fim de atingir os objetivos desejados, buscando o

aumento de produtividade, mas, principalmente a reprodução das relações de poder,

das relações entre capital e trabalho. A administração tem sua origem na gerência.

Esse processo não visa apenas o aumento da produtividade, mas,

principalmente a reprodução das relações de poder das relações entre capital e

trabalho.

Capital Trabalho

Poder

Metas...Metas...Metas...Metas...

Planejar...Planejar...Planejar...Planejar...

Dirigir...Dirigir...Dirigir...Dirigir...

Controlar recursos...Controlar recursos...Controlar recursos...Controlar recursos...

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A administração científica tem seus principais representantes em:

O Taylorismo é uma teoria criada pelo engenheiro Americano Frederick W. Taylor (1856-1915) que a desenvolveu a partir da observação dos trabalhadores nas indústrias. O engenheiro constatou que os trabalhadores deveriam ser organizados de forma hierarquizada e sistematizada, ou seja, cada trabalhador desenvolveria uma atividade específica no sistema produtivo da indústria (especialização do trabalho). No taylorismo, o trabalhador é monitorado segundo o tempo de produção, cada indivíduo deve cumprir sua tarefa no menor tempo possível, sendo premiados aqueles que se sobressaem, isso provoca a exploração do proletário que tem que se “desdobrar” para cumprir o tempo cronometrado.

http://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/taylorismo-fordismo.htm

Dando prosseguimento à teoria de Taylor, Henry Ford (1863-1947), dono de uma indústria automobilística (pioneiro), desenvolveu seu procedimento industrial baseado na linha de montagem para gerar uma grande produção que deveria ser consumida em massa. Os países desenvolvidos aderiram totalmente, ou parcialmente, a esse método produtivo industrial, que foi extremamente importante para consolidação da supremacia norte-americana no século XX. Os países subdesenvolvidos não se adequaram ao fordismo no sistema produtivo, pois a sua população não teve acesso ao consumo dos produtos gerados pela indústria de produção em massa. A essência do fordismo é baseada na produção em massa, mas para isso é preciso que haja consumo em massa, outra ideologia particular é quanto aos trabalhadores que deveriam ganhar bem para consumir mais.

http://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/taylorismo-fordismo.htm

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No decorrer da década de 80, sob a forma democratizante, buscou-se

articular estado, democracia e políticas educacionais movidas pelas novas

perspectivas dos movimentos sociais pós período ditadura militar. Nesta época nas

escolas foram reativados os grêmios estudantis livres, o conselho escolar, e até

mesmo, as eleições de diretores em alguns estados. Porém, os governos populares

eleitos não permitiram a ampliação da perspectiva democrática. Nas escolas então,

as instâncias implantadas como forma participativa passaram a assumir um caráter

meramente burocrático e tinham como fundamento o controle social. Tal perspectiva

foi rompida nos anos de 1990 passando a ter uma “democratização” mercadológica.

É fundamental para o desempenho de atividade de gestão, a compreensão

acerca do processo pedagógico. O modelo de gestão a partir de 1995 distancia o

gestor do pedagógico. Transforma-o num gestor de recursos humanos que executa

apenas tarefas pré-estabelecidas. Sendo que a atividade-fim deve ser a

aprendizagem em uma instituição escolar, e a administrativa deve constituir-se em

atividade-meio, para atingir essa atividade-fim, que é a aprendizagem (PARO, 1997).

É nesta perspectiva que este caderno temático se orientará, buscando por

meio de discussões relacionadas à gestão escolar, recuperar o sentido maior desta,

que é garantir que a educação atinja suas finalidades.

As mesmas palavras utilizadas num mesmo contexto são vistas, analisadas

e utilizadas de forma diferente, pela vertente neoliberal e pela vertente democrática.

Veja isso!!!

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Democracia na concepção neoliberal

“preza-se no individualismo que se fundamenta no

princípio da liberdade e no qual a igualdade de

oportunidade está vinculada “segundo a capacidade de cada indivíduo e não aa

igualdade real na sociedade” (Vieira, 1992, p. 72)

Qualidade

“Para o neoliberalismo é vista numa ótica e como

única pragmática, gerencial e administrativa”

(Silva, 1996, p. 170)

Democracia social A concretização de uma

sociedade democrática ocorre onde os indivíduos participam

do controle de decisões, “havendo, portanto real participação deles no

rendimento da produção” (Vieira, 1992, p.13)

Qualidade

Vinculada ao combate à desigualdade como

instrumento de análise da vida política.

(Bosco, 2004 , p.21)

Gestão Democrática

Made In Banco Mundial

Vinculado ao conceito de “cidadania controlada” participação instrumental e competitividade individual.

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PARTICIPAÇÃOPARTICIPAÇÃOPARTICIPAÇÃOPARTICIPAÇÃO DESCENTRALIZAÇÃODESCENTRALIZAÇÃODESCENTRALIZAÇÃODESCENTRALIZAÇÃO

AUTONOMIAAUTONOMIAAUTONOMIAAUTONOMIA

ÓTICA DEMOCRÁTICA SOCIAL

A possibilidade de a comunidade escolar

identificar os problemas pertinentes à escola,

apresentar alternativas e solucioná-los e administrar

recursos financeiros e materiais consoantes com

tais alternativas.

ÓTICA NEOLIBERAL Transferência da

respon- sabilidade de manutenção da escola para a comunidade.

Diminuição do papel do estado frente ao

público, privilegiando o pri- vado. “ Quem quer autonomia, tem o dever

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A democratização da escola vai além da participação da comunidade,

professores e funcionários na escolha de seu dirigente. Ela deve articular

com outros mecanismos de participação..., tais como a construção do

Projeto Político Pedagógico, a consolidação dos conselhos escolares e

grêmios estudantis, a luta pela progressiva autonomia da escola, a discussão

sobre novas forma de organização do trabalho na escola, entre outrops as-

pectos. Para isso, é

imrescindível o co-

nhecimento das leis

de Diretrizes e

Bases e leis que

regulamentam os

sistemas

educacionais, para o

efetivo exercício

da cidadania e

democracia.

Dourado, L. F. (1998) “A gestão democrática e a construção de processos coletivos de participação e decisão na escola”. In AGUIAR, M.A. (org.) Para onde vão a orientação e a supervisão Educacional. Campinas, 2002, p.159.

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REFERÊNCIA ALLEN, L. A. Administração profissional: novos conceitos e métodos provados. São Paulo: Mac Graw-Hill, 1974. AMARU, A. C. M. Introdução à Administração. 7. ed., São Paulo: Atlas, 2007. BARNARD, C. I. As Funções do Executivo. São Paulo: Atlas, 1971. CUNHA, A. G. Dicionário Nova Fronteira da Língua Portuguesa. 2. ed., Nova Fronteira, 1982. DIAS, E. P. Conceitos de Gestão e Administração: Uma Revisão Crítica. Revista Eletrônica de Administração, Facef, v. 1, jul./dez.2002. DOURADO, L. F. (1998) “A gestão democrática e a construção de processos coletivos de participação e decisão na escola”. In AGUIAR, M.A. (org.) Para onde vão a orientação e a supervisão Educacional. Campinas, 2002, p.159. DRUCKER, P. F. Administração, tarefas, responsabilidades, práticas. São Paulo: Pioneira, 1975. FAYOL, H. Administração Industrial e Geral. 4. Ed., São Paulo: Atlas, 1960. FERREIRA, A. A. Gestão empresarial: de Taylor aos nossos dias, evolução e tendências da moderna administração de empresas. São Paulo: Pioneira, 1997. FROST, G. M. Aprenda Sozinho Administração. Traduzido do original Teach Yorself Management. 2. ed. São Paulo: Pioneira,1973. <http://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/taylorismo-fordismo.htm>. Acesso em 05 out. 2008. <http://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/taylorismo>. Acesso em: 05 out. 2008.

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TREWATHA, R. L. Administração: funções e Comportamento. São Paulo: Saraiva, 1979.

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APRESENTAÇÃO

A escola e a família têm nas ações educativas diferentes intenções e olhares

acerca do mesmo objeto. Tais diferenças muitas vezes esboçam um distanciamento

entre os sujeitos.

No entanto, o reconhecimento dos diferentes papéis aliado a um bom

relacionamento, contribui sobremaneira para um melhor aprendizado e

desenvolvimento da criança.

O propósito deste material é envolver os responsáveis pela educação formal

e não-formal na figura da família e da escola, numa reflexão mais profunda sobre

seus papéis e sua realidade de modo a contribuir para transformação na prática

familiar e escolar provocando mudança de postura, uma maior valorização do

conhecimento e por conseqüência, melhor desempenho escolar.

É impossível pensar educação sem pensar na economia, nas relações de

produção e poder, enfim, no sistema capitalista predominante. Diante das

transformações sociais ocorridas como resultado deste sistema, emerge a

necessidade da escola se reorganizar para cumprir seu objetivo.

Para tanto, iremos nos pautar em textos reflexivos e informativos que

transitam pela gestão democrática, num texto que discorre sobre as formas de

gestão chegando à gestão escolar. O texto é muito pertinente, pois é o modelo de

gestão que abre ou não, as portas da escola para a participação da comunidade.

O texto a seguir buscará a definição da família, sua origem e a história social

da criança de acordo com a concepção materialista-histórico-dialético. São

fragmentos de textos que se entrelaçam com o objetivo de apresentar ao leitor a

evolução das organizações familiares e interpretar o significado da infância na

sociedade tradicional.

No próximo texto, apresentaremos a diversidade de modelos familiares

existentes na atualidade, suas características e complexidades, com a tarefa de

subsidiar a escola pra a lida no seu dia a dia.

Compreendendo a importância da participação e o envolvimento da

comunidade com a escola, um outro texto tratará sobre as vias de acesso da

comunidade à escola, trazendo esclarecimentos a respeito do conselho escolar, da

Associação de pais professores e funcionários e do projeto político pedagógico.

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Não podemos ainda nos esquecer de falar sobre as leis que respaldam o

trabalho na e da escola na forma da LDBN, leis de diretrizes e bases da educação

nacional e sobre o ECA, estatuto da criança e do adolescente. Leis estas que

merecem ser analisadas e discutidas.

Ao final de cada texto traremos à tona reflexões sobre as idéias centrais,

questionamentos que devem ser analisados e se possível, com base nestas

observações nos levar à algumas conclusões.

E você, já refletiu sobre os fatores que interferem no relacionamento

família/escola? Já questionou a forma como sua escola é gerida? Qual sua

compreensão sobre as diferentes estruturas familiares? Sabe dizer com clareza qual

o papel destas duas instituições? Conhece com profundidade as leis que

fundamentam o trabalho escolar? Vamos juntos nessa viagem, e mergulhar neste

universo tão rico, que trata da compreensão, do amadurecimento, do envolvimento

e, sobretudo, da evolução nas relações humanas.

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FAMÍLIA? COMO ASSIM?

Segundo Engels (1995, p. 61) “em sua origem a palavra família não significa

o ideal de sentimentalismo e dissensões domésticas, do filisteu de nossa época; - a

princípio, entre os romanos não se aplicava sequer ao par de cônjuges e aos seus

filhos, mas somente aos escravos. Famulus quer dizer escravo doméstico e família

é o conjunto dos escravos pertencentes a um mesmo homem.

Quando se toma a família como unidade de análise, Bruschini (1989, p. 4)

ressalta que a definição de família se aproxima do conceito de família nas ciências

sociais: grupo de indivíduos ligados por elos de sangue, de adoção ou de aliança

socialmente reconhecidos e organizados em núcleos de reprodução social.

Para Goldani (1984, p. 1258), foi a partir deste consenso, patente na

literatura das ciências sociais, que surgiram múltiplas classificações, que vão desde

as clássicas, família nuclear, extensa e composta, até as mais sofisticadas, onde se

controlam as gerações presentes e os padrões de convivência.

Segundo Atkinson e Murray (apud VARA, 1996), a família é um sistema

social uno, composto por um grupo de indivíduos, cada um com um papel atribuído,

e embora diferenciados, consubstanciam o funcionamento do sistema como um

todo. O conceito de família, ao ser abordado, evoca obrigatoriamente, os conceitos

de papéis e funções.

Mas, o conceito moderno de família e legalmente reconhecido, está

expresso no artigo 5º II, da Lei nº 11.340 (Lei Maria da Penha), quando dispõe que a

família deve ser “compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são

ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por

vontade expressa”.

Juridicamente a família deixou de constituir-se apenas pelo casamento,

união estável família monoparental e passou a reconhecer como família todo e

qualquer grupo, no qual seus membros considerem uns aos outros como seu

familiar, ou seja, o afeto passou a ser privilegiado nesta relação.

“A família”, diz Morgan, “é um elemento ativo; nunca permanece

estacionária, mas passa de uma forma inferior a uma forma superior, à medida que a

sociedade evolui de um grau mais baixo para outro mais elevado.” (Apud ENGELS,

1995, p. 30).

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RETROSPECTIVA... PASSEANDO PELA HISTÓRIA FRAGMENTO DE TEXTO 2 OBRA: ORIGEM DA FAMÍLIA, DA PROPRIEDADE PRIVADA E DO ESTADO (ENGELS 1991)

De acordo com a concepção materialista, o fator decisivo na história é, em última instância a produção e a reprodução da vida imediata. Quanto menos desenvolvido é o trabalho, mais restrita é a quantidade de seus produtos e, por conseqüência, a riqueza da sociedade; desta forma o modo da produção material é o fator principal que condiciona o desenvolvimento da sociedade e das instituições sociais. Quanto menos desenvolvido é o trabalho, mais restrita é a quantidade de seus produtos e, por conseqüência, a riqueza da sociedade; com tanto maior força se manifesta a influência dominante dos laços de parentesco sobre o regime social. Contudo, no marco dessa estrutura da sociedade baseada nos laços de parentesco, a produtividade do trabalho aumenta sem cessar, e, com ela desenvolvem-se a propriedade privada e as trocas, as diferenças de riqueza, a possibilidade de empregar força de trabalho alheia, e com isso a base dos antagonismos de classe (p. 2-3). Morgan, foi o primeiro que, com conhecimento de causa, tratou de introduzir uma ordem precisa na pré-história da humanidade. Classificando em três épocas principais: estado selvagem, barbárie e civilização. O estudo da história da família começa, de fato, em 1861, com o Direito Materno de Bachofen. Nesse livro, o autor formula as seguintes teses: 1) primitivamente os seres humanos viveram em promiscuidade sexual. 2) estas relações excluíam toda possibilidade de estabelecer, com certeza, a paternidade, pelo que a filiação apenas podia ser contada por linha feminina, segundo o direito materno, e isso se deu em todos os povos antigos. 3) em conseqüência desse fato, as mulheres, como mães, como únicos progenitores conhecidos da jovem geração, gozavam de grande apreço e respeito, chegando, de acordo com Bachofen, ao domínio feminino absoluto (ginecocracia); 4) a passagem pra a monogamia, em que a mulher pertence a um só homem, incidia na transgressão de uma lei religiosa muito antiga (isto é, do direito imemorial que os outros homens tinham sobre aquela mulher), transgressão que devia ser castigada, ou cuja tolerância se compensava com a posse da mulher por outros, durante um determinado período (p. 7). [...] há três formas principais de matrimônio, que correspondem aproximadamente aos três estágios da evolução humana. Ao estágio selvagem corresponde o matrimônio por grupos, a babárie, o matrimônio sindiásmico (o homem tinha uma mulher principal, e ela um esposo principal) e à civilização corresponde a monogamia com seus complementos: o adultério e a prostituição. Entre o matrimônio sindiàsmico e a monogamia, intercalam-se, na fase superior da barbárie, a sujeição aos homens das mulheres escravas e a poligamia (p. 81). E, quando a propriedade privada se sobrepôs à propriedade coletiva, quando os interesses da transmissão por herança fizeram nascer a preponderância do direito paterno e da monogamia, o matrimônio começou a depender inteiramente de considerações econômicas (p.86). A indissolubilidade do matrimônio é conseqüência, em parte, das condições econômicas que engendraram a monogamia e, em parte, uma tradição da

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época em que, mal compreendida ainda, a vinculação dessas condições econômicas com a monogamia foi exagerada pela religião. Atualmente, já está fendida por mil lados. Se o matrimônio baseado no amor é o único moral, só pode ser moral o matrimônio onde o amor persiste. Mas a duração do acesso de amor sexual é muito variável, segundo os indivíduos, particularmente entre os homens; em virtude disso quando o afeto desaparece ou é substituído por um novo amor apaixonado, o divórcio será um benefício, tanto para ambas as partes como para a sociedade (p. 90).

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FRAGMENTO DE TEXTO 2 OBRA: HISTÓRIA SOCIAL DA CRIANÇA E DA FAMÍLIA (ARIÈS 1981)

Passamos agora a falar sobre a “História Social da Criança e da Família”

com base na obra de Philippe Áries, 1981. O texto faz um apanhado, desenhando a

trajetória da criança, em relação ao seu valor e papel na família, desde a sociedade

tradicional até a sociedade industrial. A análise deste contexto é essencial para que

compreendamos a relação pais, filhos e escola em nossa sociedade numa

perspectiva mais materialista e menos romântica.

A sociedade tradicional via mal a criança e pior ainda o adolescente. A duração da infância era reduzida a seu período mais frágil, enquanto o filhote do homem ainda não conseguia bastar-se; a criança então, mal adquiria algum desembaraço físico, era logo misturada aos adultos, e partilhava de seus trabalhos e jogos. De criancinha pequena, ela se transformava imediatamente em homem jovem sem passar pelas etapas da juventude, que talvez fossem praticadas antes da Idade Média e que se tornaram aspectos essenciais das sociedades evoluídas de hoje. A transmissão dos valores e dos conhecimentos, e de modo mais geral, a socialização da criança, não eram portanto, nem asseguradas nem controladas pela família. A criança se afastava logo de seus pais, e pode-se dizer que durante séculos a educação foi garantida pela aprendizagem, graças à convivência da criança ou do jovem com os adultos. A criança aprendia as coisas que devia saber ajudando os adultos a fazê-las. A passagem da criança pela família e pela sociedade era muito breve e muito insignificante para que tivesse tempo ou razão de forçar a memória e tocar a sensibilidade. Contudo, um sentimento superficial da criança – a que chamei de “paparicação” – era reservado à criancinha em seus primeiros anos de vida, enquanto ela ainda era uma coisinha engraçadinha. As pessoas se divertiam com a criança pequena como um animalzinho, um macaquinho impudico. Se ela morresse então, como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer muito caso, pois uma outra criança logo a substituiria. A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato (p.10). Quando ela conseguia superar os primeiros perigos e sobreviver ao tempo da “paparicação”, era comum que passasse a viver em outra casa que não a de sua família (p.10). Essa família antiga tinha por missão – sentida por todos – a conservação dos bens, a prática comum de um ofício, a ajuda mútua quotidiana num mundo em que um homem, e mais ainda uma mulher isolados não podiam sobreviver, e ainda, nos casos de crise, a proteção da honra e das vidas, Ela não tinha função afetiva. Isso não quer dizer que o amor estivesse sempre ausente: ao contrário, ele é muitas vezes reconhecível, em alguns casos dede o noivado, mas geralmente depois do casamento, criado e alimentado pela vida em comum. Mas (e é isso que importa), o sentimento entre os cônjuges, entre os pais e os filhos, não era necessário à existência nem ao equilíbrio da família: se ele existisse, tanto melhor (p.10-11). As trocas afetivas e as comunicações sociais eram realizadas, portanto, fora da família, num “meio” muito denso e quente, composto de vizinhos, amigos, amos e criados, crianças e velhos, mulheres e homens, em que a

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inclinação se podia manifestar mais livremente. As famílias conjugais se diluíam nesse meio. [...] a partir do fim do século XVII, uma mudança considerável alterou o estado de coisas que acabo de analisar. Podemos compreendê-la a partir de duas abordagens distintas. A escola substituiu a aprendizagem como meio de educação. Isso quer dizer que a criança deixou de ser misturada aos adultos e de aprender a vida diretamente, através do contato com eles. A despeito das muitas reticências e retardamentos, a criança foi separada dos adultos e mantida à distância numa espécie de quarentena, antes de ser solta no mundo. Essa quarentena foi a escola, o colégio. Começou então um grande processo de enclausuramento das crianças (como dos loucos, dos pobres e das prostitutas) que se estenderiam até os nossos dias, e ao qual se dá o nome de escolarização. Essa separação – e essa chamada à razão – das crianças deve ser interpretada como uma das faces do grande movimento de moralização dos homens promovidos pelos reformadores católicos ou protestantes ligados à Igreja, às leis ou ao estado. Mas ela não teria sido realmente possível sem a cumplicidade sentimental das famílias, e esta é a segunda abordagem do fenômeno que gostaria de sublinhar. A família tornou-se lugar de uma afeição necessária entre os cônjuges e entre pais e filhos, algo que ela não era antes. Essa afeição se exprimiu, sobretudo, através da importância que se passou a atribuir a educação. Não se tratava mais apenas de estabelecer os filhos em função dos bens e da honra. Tratava-se de um sentimento inteiramente novo: os pais se interessavam pelos estudos de seus filhos e os acompanhavam com uma solicitude habitual nos séculos XIX e XX, mas outrora desconhecida (p. 11-12). A família começou então a se organizar em torno da criança e a lhe dar uma importância, que a criança saiu de seu anonimato, que se tornou impossível perdê-la ou substituí-la sem uma enorme dor, que ela não pode mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou limitar o seu número para melhor cuidar dela (p.12).

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MOMENTO DE REFLEXÃO: PARE E PENSE

A escola foi determinante para as mudanças de comportamento na relação

pais e filhos. Como? Porque?

Qual era o papel da família e mais especificamente dos pais na sociedade

tradicional?

E você professor como tem se fundamentado para administrar as questões

relacionadas à família que permeiam o dia-a-dia da escola?

Como a escola tem articulado o diálogo com a família, está preparada para

enfrentar os desafios impostos pelas mudanças ocorridas na sociedade e mais

especificamente no ambiente familiar?

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FRAGMENTO DE TEXTO 3

Sobre diversidade de modelos familiares existentes na atualidade.

O homem apoderou-se da direção da casa, e a mulher viu-se convertida em servidora e instrumento de reprodução, constituindo-se na família patriarcal (ENGELS, 1995 ). Da família patriarcal considerada a célula social e a base dos estados, derivou a família nuclear (ARIÈS, 1981 ). Assim, toda estrutura familiar, que não esta são consideradas desorganizadas e muitas vezes considerada culpada pelo fracasso escolar e pela violência. O termo “desestruturação familiar” tem sido usado indiscriminadamente, sem que seja levado em conta que as mudanças relativas às famílias, estão relacionadas com a transformação na forma de viver das pessoas, com os valores e as condições de reprodução da sociedade. Engels, em 1884, já falava de uma nova ordem familiar a qual adaptava-se à ordem social e econômica da seguinte forma: Assim, pois, o que podemos conjecturar hoje acerca da regularização das relações sexuais após iminente supressão da produção capitalista é, no fundamental, de origem negativa, e fica limitado principalmente ao que deve desaparecer. Mas o que sobreviverá? Isso se verá quando uma nova geração tenha crescido: uma geração de homens que nunca se tenham encontrado em situação de comprar, à custa de dinheiro, nem com a ajuda de qualquer outra força social, a conquista de uma mulher; e que uma geração de mulheres que nunca se tenham visto em situação de se entregar a um homem em virtude de outras considerações que não as de um amor real, nem de se recusar a seus amados com receio das conseqüências econômicas que isso lhes pudesse trazer. E, quando essas gerações aparecerem, não darão um vintém por tudo que nós hoje pensamos que elas deveriam fazer. Estabelecerão suas próprias normas de condutas e em consonância com elas, criarão uma opinião pública para julgar a conduta de cada um. (p.90) [...] se se reconhece o fato de que a família tenha atravessado sucessivamente quatro formas e se encontra atualmente na quinta forma, coloca-se questão de saber se esta forma pode ser duradoura no futuro. A única coisa que se pode responder é que a família deve progredir na medida em que progrida a sociedade, que deve modificar-se na medida em que a sociedade se modifique: como sucedeu ate agora. A família é produto do sistema social e refletirá o estado de cultura desse sistema. Tendo a família monogâmica melhorado a partir dos começos da civilização e, de uma maneira muito notável, nos tempos modernos, é lícito pelo menos supor que seja capaz de continuar seu aperfeiçoamento até que chegue à igualdade entre os dois sexos se, num futuro remoto, a família monogâmica não mais atender às exigências sociais, é impossível predizer a natureza da família que a sucederá.(p.91)

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MOMENTO DE REFLEXÃO: PARE E PENSE

Na sociedade contemporânea, qual o modelo familiar predominante?

Qual a influência da economia na organização social e das famílias desde a

sua origem até os dias atuais?

Quais os modelos familiares que você identifica em nossa sociedade?

Consegue dimensionar o quanto a educação e os costumes transmitidos

pela família influenciam na conduta e no comportamento apresentado pelo

indivíduo?

Na escola, o aluno apresenta os costumes e hábitos aprendidos no ambiente

familiar. Como a escola tem contribuído para a melhoria da práxis familiar?

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FRAGMENTO DE TEXTO 4 Este texto trará uma reflexão sobre o acesso da comunidade à escola, se

pautará nas leis que se consubstanciam as instâncias colegiadas, contando também

com um fragmento de texto de Engels.

PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE

No livro “Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, Engels e

Morgan diziam assim sobre as relações de produção e poder...

Desde que a civilização se baseia na exploração de uma classe por outra, todo o seu desenvolvimento se opera numa constante contradição. Cada progresso na produção é ao mesmo tempo um retrocesso na condição da classe oprimida, isto é, da imensa maioria. Cada benefício para uns é necessariamente um prejuízo para outros; cada grau de emancipação conseguido por uma classe é um novo elemento de opressão para outra. A prova mais eloqüente a respeito é a própria criação da máquina, cujos efeitos, hoje, são sentidos pelo mundo inteiro. Se entre os bárbaros, como vimos, é difícil estabelecer a diferença entre os direitos e os deveres, com a civilização estabelece-se entre ambos uma distinção e um contraste evidentes para o homem mais imbecil, atribuindo-se a uma classe quase todos os direitos e à outra quase todos os deveres (ENGELS, p. 200). [...] A democracia na administração, a fraternidade na sociedade, a igualdade de direitos e a instrução geral farão despontar a próxima etapa superior da sociedade, para qual tendem constantemente a experiência, a razão, e a ciência. Será uma revivescência da liberdade, igualdade e fraternidade das antigas gens, mas sob uma forma superior (Morgan apud ENGELS, 1991, p. 201)

As vias de acesso da comunidade à escola se fazem através de três

instâncias colegiadas são elas: CONSELHO ESCOLAR; APMFs – Associação de

pais mestres e funcionários e GRÊMIO ESTUDANTIL.

Para conhecer e refletir mais e melhor sobre estas instâncias trouxemos

neste espaço o estatuto de cada uma delas.

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CONSELHO ESCOLAR

CAPÍTULO II Da Natureza e Dos Fins Art. 4º - O Conselho Escolar é um órgão colegiado, representativo da Comunidade Escolar, de natureza deliberativa, consultiva, avaliativa e fiscalizadora, sobre a organização e realização do trabalho pedagógico e administrativo da instituição escolar em conformidade com as políticas e diretrizes educacionais da SEED, observando a Constituição, a LDB, o ECA, o Projeto Político-Pedagógico e o Regimento da Escola/ Colégio, para o cumprimento da função social e específica da escola. § 1º - A função deliberativa, refere-se à tomada de decisões relativas às diretrizes e linhas gerais das ações pedagógicas, administrativas e financeiras quanto ao direcionamento das políticas públicas, desenvolvidas no âmbito escolar. § 2º - A função consultiva refere-se à emissão de pareceres para dirimir dúvidas e tomar decisões quanto às questões pedagógicas, administrativas e financeiras, no âmbito de sua competência. § 3º - A função avaliativa refere-se ao acompanhamento sistemático das ações educativas desenvolvidas pela unidade escolar, objetivando a identificação de problemas e alternativas para melhoria de seu desempenho, garantindo o cumprimento das normas da escola bem como, a qualidade social da instituição escolar. § 4º - A função fiscalizadora refere-se ao acompanhamento e fiscalização da gestão pedagógica, administrativa e financeira da unidade escolar, garantindo a legitimidade de suas ações. Art. 5º - O conselho escolar não tem finalidade e/ou vínculo político-partidário, religioso, racial, étnico ou de qualquer outra natureza, a não ser aquela que diz respeito diretamente à atividade educativa da escola, prevista no seu Projeto Político-Pedagógico. Art. 6º - Os membros do Conselho Escolar não receberão qualquer tipo de remuneração ou benefício pela participação no colegiado, por se tratar de órgão sem fins lucrativos. Art. 7º - O Conselho Escolar é concebido, enquanto um instrumento de gestão colegiada e de participação da comunidade escolar, numa perspectiva de democratização da escola pública, constituindo-se como órgão máximo de direção do Estabelecimento de Ensino. Parágrafo único - A comunidade escolar é compreendida como o conjunto de profissionais da educação atuantes na escola, alunos devidamente matriculados e freqüentando regularmente, pais e/ou responsáveis pelos alunos, representantes de segmentos organizados presentes na comunidade, comprometidos com a educação. Art. 8º - O Conselho Escolar, órgão colegiado de direção, deverá ser constituído pelos princípios da representatividade democrática, da legitimidade e da coletividade, sem os quais perde sua finalidade e função político-pedagógica na estão escolar. Art. 9º - O Conselho Escolar abrange toda a comunidade escolar e tem como principal atribuição, aprovar e acompanhar a efetivação do projeto político-pedagógico da escola , eixo de toda e qualquer ação a ser desenvolvida no estabelecimento de ensino. Art. 10 - Poderão participar do Conselho Escolar representantes dos movimentos sociais organizados, comprometidos com a escola pública, assegurando-se que sua representação não ultrapasse 1/5 (um quinto) do colegiado. Art. 11 - A atuação e representação de qualquer dos integrantes do Conselho Escolar visará ao interesse maior dos alunos, inspirados nas finalidades e objetivos da educação pública, definidos no seu Projeto Político-Pedagógico, para assegurar o cumprimento da função da escola que é ensinar.

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Art. 12 - A ação do Conselho Escolar deverá estar fundamentada nos seguintes pressupostos: a) educação é um direito inalienável de todo cidadão; b) a escola deve garantir o acesso e permanência a todos que pretendem ingressar no ensino público; c) a universalização e a gratuidade da educação básica é um dever do Estado; d) a construção contínua e permanente da qualidade da educação pública está diretamente vinculada a um projeto de sociedade; e) qualidade de ensino e competência político-pedagógica são elementos indissociáveis num projeto democrático de escola pública; f) o trabalho pedagógico escolar, numa perspectiva emancipadora, é organizado numa dimensão coletiva; g) a democratização da gestão escolar é responsabilidade de todos os sujeitos que constituem a comunidade escolar; h) a gestão democrática privilegia a legitimidade, a transparência, a cooperação, a responsabilidade, o respeito, o diálogo e a interação em todos os aspectos pedagógicos, administrativos e financeiros da organização de trabalho escolar. CAPÍTULO III Dos Objetivos Art. 13 - Os objetivos do Conselho Escolar são: I - realizar a gestão escolar numa perspectiva democrática, contemplando o coletivo, de acordo com as propostas educacionais contidas no Projeto Político-Pedagógico da Escola; II - constituir-se em instrumento de democratização das relações no interior da escola, ampliando os espaços de efetiva participação da comunidade escolar nos processos decisórios sobre a natureza e a especificidade do trabalho pedagógico escolar; III - promover o exercício da cidadania no interior da escola, articulando a integração e a participação dos diversos segmentos da comunidade escolar na construção de uma escola pública de qualidade, laica, gratuita e universal; IV - estabelecer políticas e diretrizes norteadoras da organização do trabalho pedagógico na escola,a partir dos interesses e expectativas histórico-sociais, em consonância com as orientações da SEED e a legislação vigente; V - acompanhar e avaliar o trabalho pedagógico desenvolvido pela comunidade escolar, realizando as intervenções necessárias, tendo como pressuposto o Projeto Político-Pedagógico da escola; VI - garantir o cumprimento da função social e da especificidade do trabalho pedagógico da escola, de modo que a organização das atividades educativas escolares estejam pautadas nos princípios da gestão democrática. TÍTULO II Do Conselho Escolar CAPÍTULO I Da Constituição e Representação Art. 14 - O Conselho Escolar é constituído por representantes de todos os segmentos da comunidade escolar, previstos no artigo 18. Art. 15 - O Conselho Escolar terá como membro nato o Diretor do estabelecimento de ensino, eleito para o cargo, em conformidade com a legislação pertinente, constituindo-se no Presidente do referido Conselho.

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Parágrafo Único - O Conselho Escolar constituído poderá eleger seu vicepresidente, dentre os membros que o compõe, maiores de 18 (dezoito) anos. Art. 16 - Os representantes do Conselho Escolar serão escolhidos entre seus pares, mediante processo eletivo, de cada segmento escolar, garantido a representatividade de todos os níveis e modalidades de ensino. Parágrafo Único - No ato de eleição, para cada membro será eleito também, um suplente. Art. 17 - O Conselho Escolar, de acordo com o princípio da representatividade que abrange toda a comunidade escolar, terá assegurada na sua constituição a paridade (número igual de representantes por segmento) e a seguinte proporcionalidade: I – 50% (cinqüenta por cento) para a categoria profissionais da escola: professores, equipe pedagógica e funcionários; II - 50% (cinqüenta por cento) para a categoria comunidade atendida pela escola: alunos, pais de alunos e movimentos sociais organizados da comunidade. Art. 18 – O Conselho Escolar, de acordo com o princípio da representatividade e proporcionalidade, previsto nos artigos 16 e 17, é constituído pelos seguintes conselheiros: a) diretor; b) representante da equipe pedagógica; c) representante do corpo docente (professores); d) representante dos funcionários administrativos; e) representante dos funcionários de serviços gerais; f) representante do corpo discente (alunos); g) representante dos pais de alunos; h) representante do Grêmio Estudantil; i) representante dos movimentos sociais organizados da comunidade (APMF, Associação de Moradores, Igrejas, Unidades de Saúde, etc). § 3º - Para cada Conselheiro será eleito um suplente que o substituirá em suas ausências ou vacância do cargo. § 4º - Assegurar que sejam cumpridas todas as etapas do processo de eleições de cada segmento. Art. 20 - O edital de convocação para as eleições dos representantes de cada segmento será expedido pelo Presidente do Conselho, com antecedência nunca inferior a 30 (trinta) dias, antes do término da gestão e fixará o período destinado ao pleito eleitoral. Art. 21 - Havendo segmento(s) composto(s) por um só funcionário, esse será automaticamente Conselheiro, devendo tal condição ser observada na ata de posse. Parágrafo Único - No caso de afastamento e licenças do Conselheiro citado neste artigo, esse será representado pelo profissional designado para sua função. Art. 22 - O edital de convocação para as reuniões de eleição dos representantes do Conselho Escolar deverá ser afixado em local visível na unidade escolar, no mínimo 02 (dois) dias úteis, ou seja, 48 (quarenta e oito) horas, antes da sua realização, durante o período letivo. Art. 23 - A eleição dos representantes dos segmentos da comunidade escolar, que integrarão o Conselho Escolar, deverá ocorrer mediante votação direta e secreta e o seu resultado será lavrado em ata. Art. 24 - Têm direito a voto os profissionais da educação em efetivo exercício na escola, alunos matriculados com freqüência regular, pais e/ou responsáveis dos alunos e representantes dos movimentos sociais organizados da comunidade local. § 1º Considerar-se-ão, ainda em efetivo exercício, portanto, com direito a voto, os servidores que estiverem afastados com amparo da lei nº 6.174/70.

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(licença-gala, férias, licença-nojo, licença-prêmio, licença para tratamento de saúde, licença gestação). § 2º - Os servidores substitutos terão direito a voto desde que não estejam em substituição a servidores afastados em decorrência da lei nº 6.174/70: férias, licença-prêmio, licença para tratamento de saúde (a partir de trinta dias) e licença gestação. § 3º - No segmento dos professores, Integrante do Quadro Próprio do Magistério detentor de dois padrões na mesma Unidade Escolar, este terá direito a um único voto. § 4º - Cada membro do Conselho Escolar somente poderá representar um segmento da comunidade escolar. § 5º - Os cargos de Conselheiros serão preenchidos, por profissionais da educação em exercício no próprio estabelecimento de ensino. § 6º - No segmento dos pais, o voto será um por família (pai ou mãe ou representante legal), independente do número de filhos matriculados na escola. § 7º - O segmento dos alunos, terá igualmente direto a voz e voto, observando o contido no artigo 39, em seu parágrafo 1º. Art. 25 - No caso de vacância do cargo de qualquer um dos Conselheiros e não havendo mais suplentes, serão convocadas novas eleições de representante do respectivo segmento, para complementação do mandato em vigor, obedecidas as disposições deste Estatuto, no artigo 19. Art. 26 - Nenhum dos membros da comunidade escolar poderá acumular voto, não sendo também permitidos os votos por procuração. Art. 27 - Os membros do Conselho Escolar que se ausentarem 03* (três) reuniões consecutivas ou 05* (cinco) intercaladas serão destituídos, assumindo os respectivos suplentes. Parágrafo Único - As ausências deverão ser justificadas, por escrito ou verbalmente, em reunião do Conselho e serão analisadas pelos Conselheiros, cabendo-lhes a decisão da aceitação ou não da justificativa apresentada. Art. 28 - O mandato será cumprido integralmente, no período para o qual os representantes foram eleitos, exceto em caso de destituição ou renúncia. Parágrafo Único - O Conselheiro representante do segmento dos pais, em caso de transferência do aluno, não poderá permanecer no Conselho até o final do período para o qual foi eleito sendo substituído automaticamente. Art. 29 - A posse dos representantes eleitos dar-se-á em reunião especialmente convocada pelo Presidente do Conselho para esse fim. § 1º - A posse dos representantes eleitos dar-se-á no dia imediatamente subseqüente ao término da gestão anterior. § 2º - O ato de posse dos Conselheiros consistirá de: a) ciência do Estatuto, mediante leitura do mesmo; b) ciência do Regimento Escolar; c) ciência do Projeto Político-Pedagógico da Escola; d) assinatura da Ata e Termo de Posse;

CAPÍTULO III Das Atribuições do Conselho Escolar Art. 42 - As atribuições do Conselho Escolar são definidas em função das condições reais da escola, da organização do próprio Conselho e das competências dos profissionais em exercício na unidade escolar. Art. 43 - São atribuições do Conselho Escolar: I - aprovar e acompanhar a efetivação do projeto político-pedagógico da escola; II - analisar e aprovar o Plano Anual da Escola, com base no projeto políticopedagógico da mesma; III – criar e garantir mecanismos de participação efetiva e democrática na elaboração do projeto político-pedagógico bem como do regimento escolar,

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incluindo suas formas de funcionamento aprovados pela comunidade escolar; IV - acompanhar e avaliar o desempenho da escola face às diretrizes, prioridades e metas estabelecidas no seu Plano Anual, redirecionando as ações quando necessário; V - definir critérios para utilização do prédio escolar, observando os dispositivos legais emanados da mantenedora e resguardando o disposto no Artigo 10 da Constituição do Estado do Paraná, sem prejuízo ao processo pedagógico da escola; VI - analisar projetos elaborados e/ou em execução por quaisquer dos segmentos que compõem a comunidade escolar, no sentido de avaliar sua importância no processo educativo; VII – analisar e propor alternativas de solução à questões de natureza pedagógica, administrativa e financeira, detectadas pelo próprio Conselho Escolar, bem como as encaminhadas, por escrito, pelos diferentes participantes da comunidade escolar, no âmbito de sua competência; VIII - articular ações com segmentos da sociedade que possam contribuir para a melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem; IX - elaborar e/ou reformular o Estatuto do Conselho Escolar sempre que se fizer necessário, de acordo com as normas da Secretaria de Estado da Educação e legislação vigente; X – definir e aprovar o uso dos recursos destinados à escola mediante Planos de Aplicação, bem como prestação de contas desses recursos, em ação conjunta com a Associação de Pais, Mestres e Funcionários – APMF; XI - discutir, analisar, rejeitar ou aprovar propostas de alterações no Regimento Escolar encaminhadas pela comunidade escolar; XII- apoiar a criação e o fortalecimento de entidades representativas dos segmentos escolares; XIII - promover, regularmente, círculos de estudos, objetivando a formação continuada dos Conselheiros a partir de necessidades detectadas, proporcionando um melhor desempenho do seu trabalho; XIV– aprovar e acompanhar o cumprimento do Calendário Escolar observada a legislação vigente e diretrizes emanadas da Secretaria de Estado da Educação; XV – discutir e acompanhar a efetivação da proposta curricular da escola, objetivando o aprimoramento do processo pedagógico, respeitadas as diretrizes emanadas da Secretaria de Estado da Educação; XVI - estabelecer critérios para aquisição de material escolar e/ou de outras espécies necessárias à efetivação da proposta pedagógica da escola; XVII – zelar pelo cumprimento e defesa aos Direitos da Criança e do Adolescente, com base na Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente; XVIII – avaliar, periodicamente e sistematicamente, as informações referentes ao uso dos recursos financeiros, os serviços prestados pela Escola e resultados pedagógicos obtidos; XIX – encaminhar, quando for necessário, à autoridade competente, solicitação de verificação, com fim de apurar irregularidades de diretor, diretor-auxiliar e demais profissionais da escola, em decisão tomada pela maioria absoluta de seus membros, em Assembléia Extraordinária convocada para tal fim, com razões fundamentadas, documentadas e devidamente registradas; XX - assessorar, apoiar e colaborar com a direção em matéria de sua competência e em todas as suas atribuições, com destaque especial para: a) o cumprimento das disposições legais; b) a preservação do prédio e dos equipamentos escolares; c) a aplicação de medidas disciplinares previstas no Regimento Escolar quando encaminhadas pela Direção , Equipe Pedagógica e/ou referendadas pelo Conselho de Classe;

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d) comunicar ao órgão competente as medidas de emergência, adotadas pelo Conselho Escolar, em casos de irregularidades graves na escola; XXI - estabelecer anualmente um cronograma de reuniões ordinárias. Art. 44- Para fins deste Estatuto considerar-se-ão irregularidades graves: a)aquelas que representam risco de vida e/ou integridade física das pessoas; b) aquelas que caracterizem risco ao patrimônio escolar; c) desvio de material de qualquer espécie e/ou recursos financeiros; d)aquelas que, comprovadamente, se configurem como trabalho inadequado, comprometendo a aprendizagem e segurança do aluno. IV - diligenciar pela efetiva realização das decisões do Conselho Escolar, tomando medidas que visem a garantir seu bom funcionamento; V - estimular a participação de todos os Conselheiros em todas as reuniões do Conselho Escolar; VI - providenciar as comunicações e divulgações das decisões tomadas pelo Conselho Escolar; constatadas em ata com a assinatura dos presentes; VII- estar inteirado, quanto ao andamento do processo pedagógico, acompanhando a implementação do projeto político-pedagógico; VIII - submeter à análise e à aprovação o Plano Anual da Escola; IX - diligenciar para o efetivo registro das reuniões do Conselho, indicando secretário “ad hoc”; X - desencadear o processo de eleição do Conselho de acordo com o previsto neste Estatuto; XI - encaminhar ao NRE relação nominal dos componentes do Conselho Escolar, seus respectivos suplentes e o prazo de vigência de seu mandato, logo após a sua constituição ou alteração; XII – representar o Conselho Escolar, quando designado pelos conselheiros para qualquer finalidade; XIII- exercer o voto para fins de desempate, somente quando esgotadas as possibilidades de consenso das deliberações; XIV - cumprir e exigir o cumprimento do presente Estatuto. Art. 48 - São atribuições dos Conselheiros: I - cabe ao Conselheiro representar seu segmento discutindo, formulando e avaliando internamente propostas a serem apresentadas nas reuniões do Conselho; II - representar seus segmentos, expressando as posições de seus pares, visando sempre à função social da escola; III - promover reuniões com seus segmentos, a fim de discutir questões referentes à organização e ao funcionamento da escola, bem como o encaminhamento de sugestões e proposições ao Conselho Escolar; IV - participar das reuniões ordinárias e extraordinárias sempre que convocados; V - coordenar os seus segmentos, realizando entre seus pares a eleição de representantes do Conselho; VI - divulgar as decisões do Conselho a seus pares; VII - colaborar na execução das medidas definidas no Conselho Escolar, desenvolvendo ações no âmbito de sua competência; VIII - cumprir e exigir o cumprimento do presente Estatuto previstos no artigo 18 contidos no presente Estatuto; IV - conhecer e respeitar o referido Estatuto bem como as deliberações do Conselho Escolar; V - participar das reuniões do Conselho Escolar e estimular a participação dos demais Conselheiros nas mesmas; VI - justificar, oralmente ou por escrito, suas ausências nas reuniões do Conselho; VII - orientar seus pares quanto a procedimentos a serem adotados para o encaminhamento de problemas referentes à Escola; VIII - atualizar seu endereço, sempre que necessário, junto à secretaria da escola.

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d) afastamento do Conselheiro, por meio de registro em ata, em reunião do Conselho Escolar. Art. 53 – Nenhuma medida disciplinar poderá ser aplicada, sem prévia defesa, por parte do conselheiro.

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ESTATUTO DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS, MESTRES E FUNCIONÀRIOS APMFS

CAPÍTULO III

DOS OBJETIVOS

Art. 3º Os objetivos da APMF são:

I - discutir, no seu âmbito de ação, sobre ações de assistência ao educando, de aprimoramento do ensino e integração família - escola - comunidade, enviando sugestões, em consonância com a Proposta Pedagógica, para apreciação do Conselho Escolar e equipe-pedagógica-administrativa;

II - prestar assistência aos educandos, professores e funcionários, assegurando-lhes melhores condições de eficiência escolar, em consonância com a Proposta Pedagógica do Estabelecimento de Ensino;

III - buscar a integração dos segmentos da sociedade organizada, no contexto escolar, discutindo a política educacional, visando sempre a realidade dessa comunidade;

IV - proporcionar condições ao educando para participar de todo o processo escolar, estimulando sua organização em Grêmio Estudantil com o apoio da APMF e do Conselho Escolar;

V - representar os reais interesses da comunidade escolar, contribuindo, dessa forma, para a melhoria da qualidade do ensino, visando uma escola pública, gratuita e universal;

VI - promover o entrosamento entre pais, alunos, professores e funcionários e toda a comunidade, através de atividades socioeducativas e culturais e desportivas, ouvido o Conselho Escolar;

VII - gerir e administrar os recursos financeiros próprios e os que lhes forem repassados através de convênios, de acordo com as prioridades estabelecidas em reunião conjunta com o Conselho Escolar, com registro em livro ata;

VIII - colaborar com a manutenção e conservação do prédio escolar e suas instalações, conscientizando sempre a comunidade sobre a importância desta ação.

CAPÍTULO IV

DAS ATRIBUIÇÕES

Art. 4º Compete à APM:

I - acompanhar o desenvolvimento da Proposta Pedagógica, sugerindo as alterações que julgar necessárias ao Conselho Escolar do Estabelecimento de Ensino, para deferimento ou não;

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II - observar as disposições legais e regulamentares vigentes, inclusive Resoluções emanadas da Secretaria de Estado da Educação, no que concerne à utilização das dependências da Unidade Escolar para a realização de eventos próprios do Estabelecimento de Ensino;

III - estimular a criação e o desenvolvimento de atividades para pais, alunos, professores, funcionários, assim como para a comunidade, após análise do Conselho Escolar;

IV - promover palestras, conferências e grupos de estudos envolvendo pais, professores, alunos, funcionários e comunidade, a partir de necessidades apontadas por esses segmentos, podendo ou não ser emitido certificado, de acordo com os critérios da SEED;

V - colaborar, de acordo com as possibilidades financeiras da entidade, com as necessidades dos alunos comprovadamente carentes;

VI - convocar, através de edital e envio de comunicado, a todos os integrantes da comunidade escolar, com no mínimo 2 (dois) dias úteis de antecedência, para a Assembléia Geral Ordinária, e com no mínimo 1 (um) dia útil para a Assembléia Geral Extraordinária, em horário compatível com o da maioria da comunidade escolar, com pauta claramente definida na convocatória;

VII - reunir-se com o Conselho Escolar para definir o destino dos recursos advindos de convênios públicos mediante a elaboração de planos de aplicação, bem como reunir-se para a prestação de contas desses recursos, com registro em ata;

VIII - apresentar balancete semestral aos integrantes da comunidade escolar, através de editais e em Assembléia Geral;

IX - registrar em livro ata da APMF, com as assinaturas dos presentes, as reuniões de Diretoria, Conselho Deliberativo e Fiscal, preferencialmente com a participação do Conselho Escolar;

X - registrar as Assembléias Gerais Ordinárias e Extraordinárias, em livro ata próprio e com as assinaturas dos presentes, no livro de presença (ambos livros da APMF);

XI - registrar em livro próprio a prestação de contas de valores e inventários de bens (patrimônio) da associação, sempre que uma nova Diretoria e Conselho Deliberativo e Fiscal tomarem posse, dando-se conhecimento à Direção do Estabelecimento de Ensino;

XII - aplicar as receitas oriundas de qualquer contribuição voluntária ou doação, comunicando irregularidades, quando constatadas, à Diretoria da Associação e à Direção do Estabelecimento de Ensino;

XIII - receber doações e contribuições voluntárias, fornecendo o respectivo recibo preenchido em 02 vias;

XIV - promover a locação de serviços de terceiros para prestação de serviços temporários na forma prescrita no Código Civil ou na Consolidação das Leis do Trabalho, mediante prévia informação à Secretaria de Estado da Educação;

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XV - mobilizar a comunidade escolar, na perspectiva de sua organização enquanto órgão representativo, para que esta comunidade expresse suas expectativas e necessidades;

XVI - enviar cópia da prestação de contas da Associação à Direção do Estabelecimento de Ensino, depois de aprovada pelo Conselho Deliberativo e Fiscal e, em seguida, torná-la pública;

XVII - apresentar, para aprovação, em Assembléia Geral Extraordinária, atividades com ônus para os pais, alunos, professores, funcionários e demais membros da APMF, ouvido o Conselho Escolar do Estabelecimento de Ensino;

XVIII - indicar entre os seus membros, em reunião de Diretoria, Conselho Deliberativo e Fiscal, o(os) representante(s) para compor o Conselho Escolar;

XIX - celebrar convênios com o Poder Público para o desenvolvimento de atividades curriculares, implantação e implementação de projetos e programas nos Estabelecimentos de Ensino da Rede Pública Estadual, apresentando plano de aplicação dos recursos públicos eventualmente repassados e prestação de contas ao Tribunal de Contas do Estado do Paraná dos recursos utilizados;

XX -celebrar contratos administrativos com o Poder Público, nos termos da Lei Federal n°8.666/93, prestando-se contas ao Tribunal de Contas do Estado do Paraná dos recursos utilizados, com o acompanhamento do Conselho Escolar;

XXI - celebrar contratos com pessoas jurídicas de direito privado ou com pessoas físicas para a consecução dos seus fins, nos termos da legislação civil pertinente, mediante prévia informação à Secretaria de Estado da Educação;

XXII - manter atualizada, organizada e com arquivo correto toda a documentação referente à APMF, obedecendo a dispositivos legais e normas do Tribunal de Contas;

XXIII - informar aos órgãos competentes, quando do afastamento do presidente por 30 dias consecutivos anualmente, dando-se ciência ao Diretor do Estabelecimento de Ensino.

Parágrafo Único. Manter atualizado o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) junto à Receita Federal, a RAIS junto ao Ministério do Trabalho, a Certidão Negativa de Débitos do INSS, o cadastro da Associação junto ao Tribunal de Contas do Estado do Paraná, para solicitação da Certidão Negativa, e outros documentos da legislação vigente, para os fins necessários.

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SOBRE O GRÊMIO ESTUDANTIL

A Secretaria de Estado da Educação entende que toda representação

estudantil deve ser estimulada, pois ela aponta um caminho para a democratização

da Escola. Por isso, o Grêmio nas Escolas públicas deve ser estimulado pelos

gestores da Escola, tendo em vista que ele é um apoio à Direção numa gestão

colegiada.

Os Grêmios Estudantis compõem uma das mais duradouras tradições da

nossa juventude. Pode-se afirmar que no Brasil, com o surgimento dos grandes

Estabelecimentos de Ensino secundário, nasceram também os Grêmios Estudantis,

que cumpriram sempre um importante papel na formação e no desenvolvimento

educacional, cultural e esportivo da nossa juventude, organizando debates,

apresentações teatrais, festivais de música, torneios esportivos e outras festividades.

As atividades dos Grêmios Estudantis representam para muitos jovens os primeiros

passos na vida social, cultural e política. Assim, os Grêmios contribuem,

decisivamente, para a formação e o enriquecimento educacional de grande parcela

da nossa juventude.

O regime instaurado com o golpe militar de 1964 foi, entretanto, perverso

com a juventude, promulgando leis que cercearam a livre organização dos

estudantes e impediram as atividades dos Grêmios. Mas a juventude brasileira não

aceitou passivamente essas imposições.

Em muitas Escolas, contrariando as leis vigentes e correndo grandes riscos,

mantiveram as atividades dos Grêmios livres, que acabaram por se tornar

importantes núcleos democráticos de resistência à ditadura. Com a

redemocratização brasileira, as entidades estudantis voltaram a ser livres, legais,

ganhando reconhecimento de seu importante papel na formação da nossa

juventude. Em 1985, por ato do Poder Legislativo, o funcionamento dos Grêmios

Estudantis ficou assegurado pela Lei 7.398, como entidades autônomas de

representação dos estudantes.

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Lei Estadual nº 11.057, de 17 de janeiro de 1995, Publicado no Diário Oficial N.º

4429, de 17/01/95

[...] Assegura, nos Estabelecimentos de Ensino de 1º e 2º graus, públicos ou privados, no Estado de Paraná, a livre organização de Grêmio e Estudantis, conforme especifica. A Assembléia Legislativa do Estado do Paraná decretou e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1º É assegurada nos Estabelecimentos de Ensino de 1º e 2º graus, públicos ou privados no Estado do Paraná, a livre organização de Grêmios Estudantis, para representar os interesses e expressar os pleitos dos alunos. Art. 2º É de competência exclusiva dos estudantes a definição das formas, dos critérios, dos estatutos e demais questões referentes à organização dos Grêmios Estudantis. Art. 3º Aos estabelecimentos paranaenses de ensino caberão assegurar espaço para divulgação das atividades do Grêmio estudantil em local de grande circulação de alunos, bem como para as reuniões de seus membros. Parágrafo Único. É assegurada nas instituições de ensino do Estado do Paraná a livre circulação e expressão das entidades estudantis: I - Os Grêmios Estudantis; II - As entidades representativas estudantis municipais, regionais e nacional. Art. 4º É garantida a rematrícula dos membros dos Grêmios Estudantis, salvo por livre opção do aluno ou do responsável, nos mesmos estabelecimentos em que estejam matriculados. Art. 5º Sob pena de abuso de poder, é vedada qualquer interferência estatal e/ou particular nos Grêmios Estudantis, que prejudique suas atividades, dificultando ou impedindo o seu livre funcionamento. Parágrafo Único. 0s responsáveis pela interferência de que trata o "caput" deste artigo responderão na forma da lei, civil e/ou penal, e na Constituição Federal, sob a égide do art. 5º, XVIII. Art. 6º Esta Lei entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário. PALÁCIO DO GOVERNO EM CURITIBA, em 17 de janeiro de 1995. Jaime Lerner Governador do Estado Ramiro Wahrhaftig Secretário de Estado da Educação

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Lei Federal nº 7.398, de 04 de novembro de 1985, dispõe sobre a organização

de entidades representativas dos estudantes de 1º e 2º graus e dá outras

providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e em sanciono a seguinte lei: Art . 1º Aos estudantes dos Estabelecimentos de Ensino de 1º e 2º graus fica assegurada a organização de Estudantes como entidades autônomas representativas dos interesses dos estudantes secundaristas com finalidades educacionais, culturais, cívicas esportivas e sociais. § 1º (VETADO). § 2º A organização, o funcionamento e as atividades dos Grêmio s serão estabelecidos nos seus estatutos, aprovados em Assembléia Geral do corpo discente de cada Estabelecimento de Ensino convocada para este fim. § 3º A aprovação dos estatutos, e a escolha dos dirigentes e dos representantes do Grêmio Estudantil serão realizadas pelo voto direto e secreto de cada estudante observando-se no que couber, as normas da legislação eleitoral. Art .2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art .3º Revogam-se as disposições em contrário. rasília, em 04 de novembro de 1985; 164º da Independência e 97º da República. JOSÉ SARNEY Marco Maciel

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FRAGMENTO DE TEXTO 5

Para que se cumpra a lei na medida exata devemos conhecê-la. È com este

intuito que apresentaremos alguns Artigos e Capítulos do Estatuto da Criança e do

adolescente o ECA e das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

A criação do Estatuto provoca mudanças significativas na ótica de vários

segmentos, por exemplo, na área jurídica, na psicologia e na educação.

Este Estatuto foi criado em 13 de julho de 1990 e resultou de um processo

assinalado por manifestações populares e movimentos sociais em defesa dos

direitos da criança e do adolescente, que aconteceram na década de 60 em todo o

mundo.

Mais especificamente no Brasil em 1970 foi criado o Código de Menores e

em 1989 aconteceu a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do

Adolescente das Organizações das Nações Unidas. Este fato foi de fundamental

importância para que houvesse uma reflexão e uma efetiva mudança nas políticas

públicas relacionadas à criança e ao adolescente.

Nos 267 Artigos, o estatuto discorre sobre as políticas referentes à

educação, adoção, tutela, saúde e outras questões referentes a atos infracionais

cometido por crianças e adolescentes.

O objetivo do estatuto é garanti à criança e ao adolescente seus direitos e

deveres delegando essa responsabilidade à família, ao estado e à comunidade.

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ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE

Título I

Das Disposições Preliminares Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento Capítulo III Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária Seção I Disposições Gerais Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Art. 21. O pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência. Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do pátrio poder.

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Parágrafo único. Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio. Art. 24. A perda e a suspensão do pátrio poder serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22. Capítulo IV Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela freqüência à escola. Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: I - maus-tratos envolvendo seus alunos; II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; III - elevados níveis de repetência. Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório. Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.

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Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude. Capítulo II Das Medidas Específicas de Proteção Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo. Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - abrigo em entidade; VIII - colocação em família substituta. Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade. Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo serão acompanhadas da regularização do registro civil. § 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o assento de nascimento da criança ou adolescente será feito à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da autoridade judiciária. § 2º Os registros e certidões necessários à regularização de que trata este artigo são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade.

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AS LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL – LDBN – define

e regulariza a educação com base na constituição.

Serão destacadas partes da lei com o objetivo de concentrar-se no que diz

respeito às responsabilidades da escola e da família.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I Da Educação Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º. Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, pre dominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º. A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. TÍTULO II Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extra-escolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. TÍTULO III Do Direito à Educação e do Dever de Educar Art. 4º. O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade;

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V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensinoaprendizagem. Art. 5º. O acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo. § 1º. Compete aos Estados e aos Municípios, em regime de colaboração, e com a assistência da União: I - recensear a população em idade escolar para o ensino fundamental, e os jovens e adultos que a ele não tiveram acesso; II - fazer-lhes a chamada pública; III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola. § 2º. Em todas as esferas administrativas, o Poder Público assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, nos termos de ste artigo, contemplando em seguida os demais níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades constitucionais e legais. § 3º. Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na hipótese do § 2º do Art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente. § 4º. Comprovada a negligência da autoridade competente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade. § 5º. Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente da escolarização anterior. Art. 6º. É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a partir dos sete anos de idade, no ensino fundamental. Art. 7º. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e do respectivo sistema de ensino; II - autorização de funcionamento e avaliação de qualidade pelo Poder Público; III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o previsto no Art. 213 da Constituição Federal. Art. 12º. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola;

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VII - informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica. Art. 13º. Os docentes incumbir-se-ão de: I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III - zelar pela aprendizagem dos alunos; IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. Art. 14º. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

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MOMENTO DE REFLEXÃO: PARE E PENSE

As leis garantem aos cidadãos direitos que devem ser respeitados na

íntegra, a escola tem cumprido com essa tarefa?

A escola tem oportunizado momentos voltados à reflexão destas leis?

A família tem conhecimento dos seus direitos e deveres previstos pela lei?

Qual a forma de diálogo estabelecida pela escola para levar aos pais o

conhecimento destas leis?

E o estado tem respeitado cumprido a lei no que diz respeito aos seus

deveres?

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FRAGMENTO DE TEXTO 6

Em textos anteriores já foi apontado de onde veio a idéia de infância, porque

floresceu durante 350 anos e agora o autor deste texto traz uma reflexão sobre o

porquê está desaparecendo, o texto foi extraído do livro: O desaparecimento da

infância escrito por Neil Postman.

.

[...] A percepção de que a linha divisória entre a infância e a idade adulta está se apagando rapidamente é bastante comum entre os que estão atentos e é ate pressentida pelos desatentos (p.12). No momento em que escrevo, garotas entre doze e treze anos estão entre as modelos mais bem pagas... Nos anúncios de todos os meios de comunicação visual são apresentadas ao público como se fossem mulheres adultas espertas e sexualmente atraentes, completamente à vontade num ambiente de erotismo. [...] Nas cidades de todo país diminuiu rapidamente a diferença entre crimes de adultos e crimes cometidos por crianças; e em muitos estados as penas se tornam as mesmas. Entre 1950 e 1979, o índice de crimes graves cometidos pelos menores de 15 anos aumentou cento e dez vezes, ou onze mil por cento. Os mais velhos talvez se perguntem o que aconteceu com a “delinqüência juvenil” e sintam saudades de uma época em que um adolescente que matava aula para fumar um cigarro no banheiro da escola era considerado um “problema”. Os mais velhos também se lembram do tempo em que havia uma grande diferença de roupas de crianças e de adultos. Na última década a indústria de roupas infantis sofreu mudanças tão aceleradas que, para todos os fins práticos, as “roupas infantis” desapareceram. ( p. 17) [...] as brincadeiras de crianças, antes tão visíveis nas ruas das nossas cidades, também estão desaparecendo. Mesmo a idéia de jogo infantil parece escapar à nossa compreensão. Um jogo infantil, como entendíamos, não precisa de treinadores, árbitros nem espectadores; é jogado apenas por prazer. [...] quem viu alguém com mais de nove anos brincando de cavalinho, cabra-cega ou de roda? ( p. 18) [...] Os jogos infantis, em resumo, são uma espécie ameaçada. Como na verdade é a própria infância. Para onde quer que a gente olhe, é visível que o comportamento, a linguagem, as atitudes e os desejos – mesmo a aparência física – de adultos e crianças se tornam cada vez mais indistinguíveis.(p 18) Porque estaria a infância desaparecendo? Creio ter algumas respostas inteligíveis para estas perguntas, quase todas provocadas por uma série de conjecturas sobre como os meios de comunicação afetam o processo de socialização; em particular, como a prensa tipográfica criou a infância e como a mídia eletrônica a faz “desaparecer”. (p.12) [...] Há uma pergunta de grande importância que este livro não formulará; a saber: o que podemos fazer a respeito do desaparecimento da infância? A razão é que não sei a resposta. Digo isto com um misto de alívio e desalento. O alívio decorre do fato de que não tenho que dizer aos outros como viver suas vidas. O desalento, naturalmente, vem da mesma fonte. Ter que ficar parado à espera enquanto o charme, a maleabilidade, a inocência e a curiosidade das

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crianças se degradam e depois se transfiguram nos traços medíocres de pseudo-adultos é doloroso, desconcertante e, sobretudo, triste. Mas me consolo com esta reflexão; se nada podemos dizer sobre como impedir esse desastre social, talvez possamos também ser úteis tentando compreender porque está acontecendo. (p.13 ) Depois de uma revolução tipográfica, desenvolvida pela prensa de Gutemberg,vieram o telégrafo, a máquina fotográfica, o telefone, o fonógrafo, o cinema o rádio e a televisão. [...] Com a fotografia depois o cinema e a televisão, a “imagem” de um candidato tornou-se mais importante do que seus planos, a “imagem” de um produto, mais importante do que sua utilidade.( p. 88 ) [...] É na televisão portanto que podemos ver com mais clareza como e porque a base histórica de uma linha divisória entre infância e idade adulta vem sendo inequivocamente corroída. ( p. 89 ) [...] se considerarmos a televisão como hoje a conhecemos, podemos ver nela, claramente, um paradigma de uma estrutura social emergente que deve fazer “desaparecer” a infância. Há muitas razões para isto.( p.89 ) . A primeira tem a ver com a idéia de acessibilidade da informação, que por sua vez, está relacionada com a forma em que a informação é codificada. ( p. 89 ) [...] O pressuposto é que o aluno da quarta série ainda não tem nenhuma experiência da sétima série. ( p. 91) Tal pressuposição podia ser feita racionalmente numa cultura baseada na letra de forma, pois até hoje a palavra impressa, apesar de toda sua aparência de acessibilidade, tem sido bastante difícil de dominar e a atitude letrada bastante difícil de alcançar, dificuldades que funcionaram efetivamente como barreira entre a criança e o adulto, e mesmo entre a criancinha e o adolescente. ( p. 91 e 92 ) Com a televisão, contudo, a base desta hierarquia da informação desmorona. [...] é a imagem que domina a consciência do telespectador e comporta os significados cruciais. ( p. 92 ) Podemos concluir, então, que a televisão destrói a linha divisória entre a infância e idade adulta de três maneiras, todas relacionadas com a sua acessibilidade indiferenciada; primeiro porque não requer treinamento para aprender sua forma; segundo porque não faz exigências complexas nem à mente nem ao comportamento; e terceiro porque não segrega seu público. ( p. 94 ) A televisão é o meio que escancara tudo, por exemplo, um programa que vai ao ar cinco vezes por semana, uma hora por dia, cinqüenta e duas semanas por ano, deixam pouco espaço para melindres, seletividade ou mesmo constrangimentos antiquados. Depois de “tratar” do orçamento da defesa, da crise energética, do movimento feminista e da criminalidade nas ruas, acaba-se inevitavelmente abordando aos poucos ou drasticamente, incesto, promiscuidade, homossexualidade, sadomasoquismo, doenças terminais e outros segredos da vida adulta. ( p. 95 ) [...] A televisão é uma tecnologia com entrada franca, para qual não há restrições física, econômicas, cognitivas ou imaginativas. Tanto os de seis anos quanto os de sessenta estão igualmente aptos a vivenciar o que a televisão tem a oferecer. A televisão neste sentido, é o perfeito meio de comunicação igualitário, ultrapassando a própria linguagem oral. Porque quando falamos, sempre podemos sussurrar para que as crianças não ouçam. Ou podemos usar palavras que elas não compreendam. Mas a televisão não pode sussurrar, e suas imagens são concretas e auto-explicativas. As crianças vêem tudo o que ela mostra.( p. 98 ) [...] E aqui devemos ter em mente que os assassinatos, estupros e assaltos estilizados que são representados em programas semanais de ficção constituem muito menos que a metade do problema. Muito mais impressionantes sãos exemplos diários de violência e degeneração moral que são o elemento principal dos noticiários de televisão.Estes não são abrandados pela presença de atores e atrizes reconhecíveis e atraentes.

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São lançados como a matéria-prima da vida cotidiana. São assassinatos reais, estupros reais, assaltos reais.( p. 108 ) [...] O segredo da violência adulta é, de fato, apenas parte de um segredo maior revelado pela televisão. Do ponto de vista da criança, o que é mais mostrado na televisão é o fato simples de que o mundo adulto é cheio de inépcia, conflito e inquietação. A televisão, como Josh Meyrowitz a descreveu, escancara os bastidores da vida adulta. ( p. 109 ) [...] claro que seria difícil defender a proposta de que uma sociedade saudável exige que a morte, a doença mental e a homossexualidade continuem a ser segredos obscuros e misteriosos. E seria mais ainda menos defensável argumentar que os adultos só deveriam se aproximar destes assuntos em circunstâncias muito restritas. Mas que a abertura desses assuntos a todos, em quaisquer circunstâncias, apresenta riscos e em especial torna o futuro da infância problemático deve ser enfrentada com ousadia. Pois, se não há mistérios obscuros e fugidios para os adultos ocultarem das crianças e só revelarem quando acharem necessário, seguro e adequado, então sem dúvida a linha divisória entre adultos e crianças torna-se perigosamente tênue (p. 101).

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MOMENTO DE REFLEXÃO: PARE E PENSE

Até que ponto a representação do mundo adulto como ele é enfraquece a

crença na racionalidade adulta, na possibilidade de um mundo bem ordenado, num

futuro cheio de esperança? (p. 108 )

Até que ponto a violência, quando retratada tão vividamente e em tal escala,

induz à violência nas crianças? (p. 108 )

A escola enquanto instituição formadora de valores tem orientado as famílias

em relação aos apelos televisivos?

Como a escola pode despertar nos pais a idéia do desaparecimento da

infância?

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Nenhuma lei é capaz, por si só, de operar transformações profundas, por mais avançada que seja, nem tampouco de retardar, também por si só, o ritmo de progresso da sociedade, por mais retrógrada que seja (Otaíza de Oliveira Romanelli).

PLANO DE TRABALHO

Como você professor tem se fundamentado para conhecer mais sobre as

famílias as quais lida cotidianamente?

Como você professor articulado o diálogo com a comunidade escolar?

A organização do grêmio estudantil tem sido estimulada pelos vários

segmentos escolares? Como é feito este trabalho na sua escola?

Qual a sua participação nas decisões tomadas pelo conselho escolar?

As informações sobre a APMF chegam a todos os segmentos da escola,

como essas informações influenciam na sua prática pedagógica

Qual a estratégia utilizada pela escola para enfrentar os desafios da

sociedade a qual está em constante modificação?

Como você, professor, articulado o diálogo com a comunidade escolar?

A escola como instituição pública tem respeitado as leis na íntegra,em

especial o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Leis de Diretrizes e Bases da

Educação, como proceder para a efetivação deste cumprimento?

A sua prática pedagógica está de acordo com que as leis determinam?

Em relação ao desaparecimento da infância, como é trabalhado para que

seja resgatada?

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ESCOLA E PAIS – UMA VIA DE MÃO DUPLA

Maria José Duarte Bragagnolo Vivan1 Zuleika Aparecida Claro Piassa2

O conhecimento sobre a história das famílias e sobre a história social da

criança é imprescindível para que entendamos todo o processo de desenvolvimento

familiar e da sociedade. Cabe à escola oportunizar essa reflexão e discussão para

adequar a sua prática a esses novos modelos familiares que emergiram no último

século,

Modelos estes decorrentes de fenômenos sociais e econômicos e uma

significativa mudança relacionada à liberdade sexual.

Uma série de fatores contribuíram para essas mudanças, entre eles estão: a

banalização do divórcio,divorciados que geram novas famílias, aumento do número

de famílias chefiadas por um só cônjuge, gravidez na adolescência, mães estas que

assumem os filhos, na maioria das vezes, sozinhas, aumento do número de famílias

chefiadas por mulheres e sua saída para o mercado de trabalho, união de

homossexuais, produção independente e tantos outros.

Porém a mídia mostra imagens de modelos de famílias ideais, que

expressam a dinâmica das famílias da classe dominante, longe da realidade da

maioria brasileira, daí a necessidade de estarmos atentos em relação a nossa visão

a respeito das famílias.

È necessário conhecê-las e compreendê-las a partir de seus valores e

princípios, compreender como se relacionam, como são delegadas e cobradas as

responsabilidades e, sobretudo, compreender que não existe família igual à outra.

Independente de como são constituídas as famílias e sua organização, elas

têm a função de garantir a reprodução e sobrevivência do ser humano, de transmitir

valores e conhecimentos, cuidar da integridade física, moral e afetiva de seus

integrantes. 1 Docente da Rede Estadual de Ensino do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE. 2 Docente do Departamento de Educação – orientadora do trabalho.

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De acordo com Kaloustian (1988, p. 22) a família é:

[...] é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e sobretudo materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários, e onde se aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu interior que se constroem as marcas entre as gerações e são observados valores culturais

Com isso a família é, pois, construtora do cidadão. (MÀRIO JOSÈ FILHO,

1998: 31)

A conduta e o comportamento do indivíduo em qualquer lugar, é assinalada

pela educação e valores transmitidos pela família, é importante ressaltar que a

escola também sofre os reflexos dessa educação.

A escola como um todo deve ter clareza do seu papel e desenvolver

mecanismos que promovam o diálogo com as famílias colaborando para que elas

também reconheçam o seu papel e os limites em relação ao contexto escolar e

ainda na perspectiva de contribuir à práxis educativa das mesmas.

O entendimento sobre a diversidade de modelos familiares é de fundamental

importância para que possa atender aos princípios de uma escola democrática.

A escola democrática abre as vias de acesso para a comunidade e fomenta

a participação de seus membros nos conselhos escolares nas associações de pais

mestres e funcionários e estimula a organização dos grêmios estudantis.

A gestão democrática garante que as pessoas envolvidas na escola

discutam, planejem, deliberem, controlem e avaliem as ações em prol do

desenvolvimento da escola. Baseia-se na participação de todos os segmentos da

comunidade escolar. Está disposta na lei de diretrizes e base da educação nacional

da seguinte forma:

Art. 14º. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

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O projeto político pedagógico deve ser construído coletivamente, pois

expressa a identidade de cada escola, pra isto é necessário a conscientização dos

diversos segmentos sobre a importância de cada um neste processo.

As Leis de Diretrizes e Bases da Educação norteiam a educação nacional, é

importante que seja de conhecimento de todos os segmentos da escola e que seja

interpretada refletida e analisada.

O ECA – Estatuto do menor e do Adolescente é mais um documento legal

que deve ser do conhecimento de todos, esta lei dispõe sobre a proteção integral à

criança e ao adolescente. A escola deve se pautar no cumprimento dos

pressupostos do estatuto assegurando o desenvolvimento das crianças e

adolescente.

Para assegurar este desenvolvimento é necessário ainda nos

conscientizarmos sobre o desaparecimento da infância, conhecendo sua história

segundo Neil Postman é fácil perceber que a linha divisória entre a infância e a

idade adulta está se apagando (POSTMAN, 1999, p. 12).

É urgente que se aprofunde a reflexão e análise dos meios de comunicação,

em especial da televisão e trabalhar para o resgate desta fase da vida, caso

contrário, é previsto um desastre social.

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REFERÊNCIAS

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<http://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/taylorismo-fordismo.htm>. Acesso em 05 out. 2008. <http://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/taylorismo>. Acesso em: 05 out. 2008. TREWATHA, R. L. Administração: funções e Comportamento. São Paulo: Saraiva, 1979.

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ANEXOS