CADERNOS DE SOCIOEDUCAÇÃO. Drogadição

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CADERNOS DE SOCIOEDUCAO SECREtARIA DE EStADO DA CRIANA E DA JUvENtUDE SECJ

Drogadio

Informaes Sobre

Curitiba 2010

GOVERNO DO ESTADO DO PARAN

Orlando Pessuti Governador do Estado do Paran

Ney Amilton Caldas Ferreira Chefe da Casa Civil

Thelma Alves de Oliveira Secretria de Estado da Criana e da Juventude

Flvia Eliza Holleben Piana Diretora Geral da Secretaria de Estado da Criana e da Juventude

Roberto Bassan Peixoto Coordenador de Socioeducao

CADERNOS DE SOCIOEDUCAO SECREtARIA DE EStADO DA CRIANA E DA JUvENtUDE SECJ

Drogadio

Informaes Sobre

1 Edio

Curitiba 2010

SIStEMAtIZAO Shanny Mara Neves APOIO tCNICO Rejane Cristina teixeira tabuti COLABORADORES Profissionais do Grupo de Estudos, Pesquisa e Elaborao do Protocolo de Atendimento a Pacientes com Risco de Suicdio, do Centro Psiquitrico Metropolitano CPM COLABORADORES DIREtORES DE UNIDADES QUE REPRESENtAM SUAS EQUIPES: Adilson Jos dos Santos Umuarama Alex Sandro da Silva Fazenda Rio Grande Amarildo Rodrigues da Silva Laranjeiras do Sul Ana Marclia P. Nogueira Pinto Cascavel Esther victoria Cantilon Marqueno Maurutto Piraquara Fausto Nunes Campo Mouro Glaucia Renno Cordeiro Ponta Grossa Jlio Cesar Botelho Londrina Lzaro de Almeida Rosa Piraquara Luciano Aparecido de Souza Curitiba Mrcio Schimidt Londrina Mariselni vital Piva Curitiba Nilson Domingos Paranava Rafael C. Brugnerotto Cascavel Ricardo Jos Deves toledo Ricardo Peres da Costa Maring Sandro de Moraes Pato Branco Sonia Sueli Alves de Lima Santo Antonio da Platina vandir da Silva Soares Foz do Iguau

Governo do Paran

CEDCA

Capa Tiago Vidal Ferrari Ilustraes Tiago Vidal Ferrari Projeto Grfico / Diagramao / Finalizao Gennaro Vela Neto Tiago Vidal Ferrari Reviso Ortogrfica Elizangela Brito Reviso Roberto Bassan Peixoto Criao Publicitria e Marketing Fernanda Morales Felipe Jamur Organizao da coleo Deborah Toledo Martins Roberto Bassan Peixoto

Secretaria de Estado da Criana e da Juventude Rua Hermes Fontes, 315 - Batel 80440-070 - Curitiba - PR - 41 3270-1000 www.secj.pr.gov.br

14 zero 9 Marketing e Comunicao | 41 3085-7111

Cidadania

Cidadania dever de povo. S cidado quem conquista seu lugar na perseverante luta do sonho de uma nao. tambm obrigao: A de ajudar a construir a clarido na conscincia das pessoas e de quem merece o poder. Cidadania, fora gloriosa que faz um homem ser para outro homem, caminho no mesmo cho, luz solidria e cano!

Thiago de Mello

A Palavra

Um cenrio comum das cidades: meninos perambulando pelas ruas. Antes, apenas nas grandes cidades; agora, em qualquer lugarejo. Ontem, cheirando cola; hoje, fumando crack. Destruindo seus neurnios e seus destinos. Enfrentando os perigos da vida desprotegida. Aproximando-se de fatos e atos criminosos. Sofrendo a dor do abandono, do fracasso escolar, da excluso social, da falta de perspectiva. vivendo riscos de vida, de uma vida de pouco valor, para si e para os outros. Ontem, vtimas; hoje, autores de violncia.

Um cenrio que j se tornou habitual. E, de tanto ser repetido, amortece os olhos, endurece coraes, gera a indiferena dos acostumados. E, de tanto avolumarse, continua incomodando os inquietos, indignando os bons e mobilizando os lutadores.

Uma mescla de adrenalina e inferno, a passagem rpida da invisibilidade social para as primeiras pginas do noticirio, do nada para a conquista de um lugar. Um triste lugar, um caminho torto; o ccc do crack, da cadeia e da cova.

Assim, grande parte de nossa juventude brasileira, por falta de oportunidade, se perde num caminho quase sem volta. Reverter essa trajetria o maior desafio da atualidade.

Enquanto houver um garoto necessitando de apoio e de limite, no deve haver descanso.

Com a responsabilidade da famlia, com a presena do Estado, desenvolvendo polticas pblicas conseqentes, e com o apoio da sociedade, ser possvel criar um novo tecido social capaz de conter oportunidades de cidadania para os nossos meninos e meninas.

A esperana um dever cvico para com os nossos filhos e para com os filhos dos outros.

A vontade poltica e a determinao incansvel dos governadores Requio e Pessuti, aliadas ao empenho e dedicao dos servidores da SECJ, compem o cenrio institucional de aposta no capital humano, e sustentam a estruturao da poltica de ateno ao adolescente em conflito com a lei no Paran, como um sinal de crena no futuro.

nosso desejo que esses cadernos sejam capazes de apoiar os trabalhadores da Rede Socioeducativa do Estado do Paran, alinhando conceitos, instrumentalizando prticas, disseminando conhecimento e mobilizando idias e pessoas para que, juntos com os nossos garotos, seja traado um novo caminho.

Com carinho, Thelma

ApresentaoCom satisfao e orgulho apresentamos a reedio do conjunto Cadernos do IASP, agora como Cadernos de Socioeducao. A mudana de nome expressa o avano conceitual e prtico do atendimento ao adolescente em conflito com a lei, que resultou na criao da Secretaria de Estado da Criana e Juventude - SECJ em substituio ao Instituto de Ao Social do Paran - IASP. a primeira secretaria de estado do pas a ser implantada especificamente para pensar, executar e articular as polticas pblicas do Sistema de Garantia de Direitos das Crianas e Adolescentes e as polticas para a Juventude.

Em 2004, o Governo do Estado do Paran, realizou um diagnstico sobre a situao do atendimento ao adolescente que cumpre medida socioeducativa de privao e restrio de liberdade, identificando, dentre os maiores problemas, dficit de vagas; permanncia de adolescentes em delegacias pblicas; rede fsica para internao inadequada e centralizada com super-lotao constante; maioria dos trabalhadores com vnculo temporrio; desalinhamento metodolgico entre as unidades; ao educativa limitada com programao restrita e pouco diversificada e resultados precrios.

tal realidade exigia uma resposta imediata de implementao de uma poltica pblica que fosse capaz de romper estigmas e para-

digmas, concebendo um sistema de atendimento ao adolescente em conflito com a lei, com as seguintes caractersticas: estruturado, organizado, descentralizado e qualificado; articulado com os servios pblicos das polticas sociais bsicas; desenvolvido em rede e em consonncia com a legislao e normatizao vigentes (Estatuto da Criana e do Adolescente - ECA, Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE, recomendaes do Conselho Nacional dos Direitos da Criana e Adolescente - CONANDA); gerido a partir de um modelo de gesto democrtica, planejada e monitorada permanentemente; e principalmente, centrado na ao scio-educativa de formao e emancipao humana, capaz de suscitar um novo projeto de vida para os adolescentes.

Este movimento foi sustentado por trs eixos fundamentais: a reviso do modelo arquitetnico, a implementao de uma proposta poltico-pedaggica-institucional e a contratao e qualificao de profissionais. Os avanos dessa poltica pblica vo desde o aumento da oferta de vagas para adolescentes de internao e semiliberdade, passam pelo co-financiamento de programas de Liberdade Assistida e Prestao de Servios Comunidade at a formao continuada dos profissionais dos Centros de Socioeducao-Censes, dos Programas em Meio Aberto, dos Conselhos tutelares, dos Ncleos de Prticas Jurdicas entre outros.

O trabalho de planejamento e engajamento dos servidores colocaram o atendimento socioeducativo do Paran como referncia nacional, evidenciada nas constantes visitas de gestores e profissionais de outros Estados e na premiao do projeto arquitetnico para novas unidades, pelo Prmio Socioeducando, promovido pelo Instituto Latino-Americano das Naes Unidas para a Preveno do Delito e tratamento do Delinquente - ILANUD e Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica SDH-PR.

Nesse reordenamento institucional, realizado a partir do plano de ao de 2005-2006, foi possvel qualificar a rede existente, alm de criar um padro para as novas unidades a serem implantadas, de acordo com o previsto no SINASE, de forma a constituir um sistema articulado de ateno ao adolescente em conflito com a lei.

A presente reedio dos Cadernos de Socioeducao retoma com maior fora seu significado original em estabelecer um padro referencial de ao educacional a ser alcanado em toda a rede socioeducativa de restrio e privao de liberdade e que pudesse, tambm, aproximar, do ponto de vista metodolgico, os programas em meio aberto, criando, assim, a organicidade necessria a um sistema socioeducativo do Estado.

Nela esto presentes e revisados os 5 Cadernos: Compreendendo o Adolescente, Prticas de Socioeducao, Gesto de Centros de Socioeducao, Rotinas de Segurana e Gerenciamento de Crises, acrescidos de quatro novos volumes: Programa Aprendiz; Semiliberdade; Internao e Suicdio: Protocolo de Ateno aos Sinais e Informaes sobre Drogadio.

todos seguem a mesma dinmica de elaborao. So resultados de um processo de estudo, discusso, reflexo sobre a prtica e registro de aprendizado, envolvendo diretores e equipes das unidades, da sede e grupos sistematizadores, com intuito de produzir um material didtico-pedaggico a servio da efetiva garantia de direitos e execuo adequada das medidas socioeducativas. trata-se, portanto, de uma produo coletiva que contou com o empenho e conhecimento dos servidores da SECJ e com a aliana inspiradora da contribuio terica dos pensadores e educadores referenciais.

Assim esperamos que os Cadernos de Socioeducao continuem cumprindo o papel de subsidiar os processos socioeducativos junto aos adolescentes, produzindo seus resgates scio-culturais e renovando a esperana de novos projetos de vida e de sociedade. Como na primeira edio: Que seu uso possa ser to rico e proveitoso quanto foi a sua prpria produo!

Sumrio

1]Uso e Abuso de Drogas ......................................................................................................20 2] As Drogas a Seus Efeitos ...................................................................................................22 3] Drogas Depressoras ...........................................................................................................23 4] Drogas Estimulantes ..........................................................................................................28 5] Drogas Pertubadoras.........................................................................................................35 6] Cogumelos e Plantas Alucingenas ................................................................................38 7] Alucingenos ......................................................................................................................40 8] Outros Tipos de Droga .......................................................................................................43 9] Preveno ao Abuso De Drogas: O Que Voc Pode Fazer? .........................................45 11] Formas de Tratamento ....................................................................................................49 12] Consideraes Finais .......................................................................................................53 Sugestes de Apoio................................................................................................................55 Filmes Recomendados ...........................................................................................................57 Leituras Recomendadas ........................................................................................................59 Anexo I ......................................................................................................................................61 Anexo II .....................................................................................................................................64 Referncias...............................................................................................................................68

IntroduoInicialmente o Caderno Informaes sobre Drogadio era para ser um nico estudo junto com o ensaio sobre a Internao e Suicdio: protocolo de ateno aos sinais, considerando que o histrico de abuso de lcool e drogas tambm se encontra como uma das causas mais presentes entre os adolescentes que cometem suicdio. Publicaes do Drug Abuse and Mental Health Administration, de 1990, mostram que treze por cento das pessoas que cometem suicdio o fazem em consequncia do abuso de lcool e drogas. Porm, essa discusso, no contexto do atendimento socioeducativo vai muito alm, por isso a opo de trazer tona essa reflexo e considerao em um espao parte.

Nos Centros de Socioeducao do Paran encontramos um alto ndice de uso de substncias psicoativas entre os adolescentes que cumprem medida socioeducativa de privao e restrio de liberdade, o que nos permite inferir a existncia de uma relao estreita entre a criminalidade na adolescncia e o uso de drogas. Os dados obtidos pelo relatrio estatstico demonstram que, entre os adolescentes que ingressaram nos Centros de Socioeducao do Estado durante o ano de 2009, 78% dos adolescentes afirmam que j fizeram algum uso de substncia psicoativa.

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Outro fator presente e indicativo dessa relao a recorrente solicitao de formao e superviso na rea de dependncia de drogas feita pelos profissionais que atuam nos Censes. Essas solicitaes, muitas vezes, referem-se a como abordar o tema com os adolescentes, conscientizando-os do uso de drogas e dos prejuzos causados por elas; como realizar uma breve interveno para reduo de uso abusivo; como prevenir a dependncia do uso de drogas e como encaminhar os adolescentes j dependentes para a rede de tratamento.

E toda a reflexo sobre o tema importante, considerando que o lcool e as drogas prejudicam o controle dos impulsos, inclusive das tendncias autodestrutivas. Portanto, para uma compreenso ampla dos efeitos das drogas necessrio considerar a inter-relao existente entre as caractersticas da droga, as do usurio e as caractersticas do contexto, que sero abordadas de acordo com as informaes do Centro Brasileiro de Informaes sobre Drogas Psicotrpicas.

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1]Uso e Abuso de DrogasO uso indevido de drogas no pode ser definido apenas em funo da quantidade e da frequncia. Nem toda pessoa que experimenta ou usa drogas se tornar um dependente qumico, porm, sabe-se que todo dependente um dia experimentou a droga. No existem meios de se prever, entre as pessoas que comeam a usar drogas, quais sero usurias ocasionais e quais se tornaro dependentes.

Segundo o Manual Diagnstico e Estatstico de transtornos Mentais (DSM Iv), o abuso ou a dependncia pode ser indicado por um padro mal-adaptativo de uso de substncia, que leva a um prejuzo ou sofrimento clinicamente significativo, manifestado por trs ou mais dos seguintes critrios e ocorre a qualquer momento em um perodo de 12 meses.

1. tolerncia definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a) necessidade de quantidades progressivamente maiores da substncia para adquirir a intoxicao ou o efeito desejado;

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b)

acentuada reduo do efeito com o uso continuado da mesma quantidade da substncia. 2. Sndrome de abstinncia, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos:

a) b)

sndrome de abstinncia caracterstica para a substncia; a mesma substncia (ou uma substncia estreitamente relacionada) consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinncia. 3. Existe um desejo persistente ou esforos malsucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substncia. 4. A substncia frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um perodo de tempo mais longo do que o pretendido. 5. Importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas so abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substncia. 6. Muito tempo gasto em atividades necessrias para a obteno da substnzia, na utilizao da substncia ou na recuperao de seus efeitos. 7. O uso da substncia contnuo, apesar da conscincia de ter um problema fsico ou psicolgico persistente ou recorrente, que tende a ser causado ou exacerbado por ela.

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2] As Drogas a Seus EfeitosAlm dos efeitos psicotrpicos causados pelas diferentes drogas, ou seja, dos efeitos qumicos especficos do produto na atividade do Sistema Nervoso Central, destacam-se outros fatores que interferem nas sensaes e no comportamento do usurio. Esses outros fatores dizem respeito ao usurio e ao lugar que este se encontra. importante considerar o que cada pessoa sente e busca quando faz uso de drogas, pois esse consumo est presente nas crenas das pessoas sobre o que vo obter a partir disso. As condies do ambiente tambm vo interferir no resultado final, ou seja, no efeito provocado. Questes referentes ao consumo interferem na relao do usurio com a droga. Compreender os aspectos presentes na pessoa do usurio, no lugar onde o consumo se d, nas crenas e nos valores presentes possibilita uma interveno mais adequada tanto na preveno do uso indevido de drogas como no tratamento e na reinsero social.

Segundo a Organizao Mundial de Sade, cerca de um tero dos casos de suicdio esto ligados dependncia do lcool, sendo que muitos deles se apresentam sob essa influncia no momento do ato suicida. O abuso de substncias qumicas tem sido encontrado cada vez mais em adolescentes que comeam a ter comportamentos suicidas. Portanto, faz-se necessrio conhecer esses efeitos, ou seja, a dimenso toxicolgica de cada droga.

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3] Drogas DepressorasSo as drogas que diminuem a atividade do crebro, ou seja, deprimem seu funcionamento. A pessoa que faz uso desse tipo de droga fica desligada, devagar, desinteressada pelas coisas. Por isso, essas drogas so chamadas de Depressoras da Atividade do Sistema Nervoso Central.

lcool Etlico: EtanolFermentados (vinho, cerveja) Destilados (pinga, usque, vodca)

Aspectos geraisO lcool uma das poucas drogas psicotrpicas que tem seu consumo admitido e at incentivado pela sociedade. Esse um dos motivos pelos quais ele encarado de forma diferenciada, quando comparado com as demais drogas. Apesar de sua ampla aceitao social, o consumo de bebidas alcolicas, quando excessivo, passa a ser um problema. Nos primeiros momentos aps a ingesto de lcool, podem aparecer os efeitos estimulantes, como euforia, desinibio e loquacidade (maior facilidade para falar). Com o passar do tempo, comeam a surgir os efeitos depressores, como falta de coordenao motora, descontrole e sono. Quando o consumo muito exagerado, o efeito depressor fica exacerbado, podendo at mesmo provocar o estado de coma.

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Alguns sinais da dependncia do lcool so: desenvolvimento da tolerncia, ou seja, a necessidade de beber maiores quantidades de lcool para obter os mesmos efeitos; aumento da importncia do lcool na vida da pessoa; percepo do grande desejo de beber e da falta de controle em relao a quando parar; sndrome de abstinncia (aparecimento de sintomas desagradveis aps ter ficado algumas horas sem beber) e aumento da ingesto de lcool para aliviar essa sndrome.

A sndrome de abstinncia do lcool um quadro que aparece pela reduo ou parada brusca da ingesto de bebidas alcolicas, aps um perodo de consumo crnico. A sndrome tem incio de 6 a 8 horas aps a parada da ingesto de lcool, sendo caracterizada por tremor das mos, acompanhado de distrbios gastrintestinais, distrbios do sono e estado de inquietao geral (abstinncia leve). Cerca de 5% dos que entram em abstinncia leve evoluem para a sndrome de abstinncia grave ou delirium tremens que, alm da acentuao dos sinais e sintomas anteriormente referidos, se caracteriza por tremores generalizados, agitao intensa e desorientao no tempo e no espao.

Os indivduos dependentes do lcool podem desenvolver vrias doenas. As mais frequentes so as relacionadas ao fgado (hepatite alcolica e cirrose). tambm so frequentes problemas do aparelho digestivo (gastrite, sndrome de m absoro e pancreatite) e do sistema cardiovascular (hipertenso e problemas cardacos). H, ainda, casos de polineurite alcolica, caracterizada por dor, formigamento e cibras nos membros inferiores.

Delirium Tremens O delirium tremens comea geralmente de dois a trs dias depois da ltima ingesto de lcool, mas pode demorar mais de uma semana para aparecer. Sua intensidade de pico normalmente alcana quatro a cinco dias da lti-

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ma bebida. Essa condio causa alteraes perigosas na respirao, na circulao e no controle de temperatura. Pode fazer o corao bater muito rpido ou pode fazer a presso sangunea aumentar dramaticamente; e pode causar desidratao perigosa. O delirium tremens tambm pode reduzir temporariamente a quantidade de fluxo de sangue ao crebro. Os sintomas podem incluir confuso mental, desorientao, estupor ou perda de conscincia, comportamento agressivo, convices irracionais, sudorese, perturbaes do sono e alucinaes.

Solventes ou InalantesCola de sapateiro, esmalte, lana-perfume e acetona.

Aspectos geraisO incio dos efeitos, aps a aspirao, bastante rpido de segundos a minutos, no mximo e em 15 a 40 minutos j desaparecem; assim, o usurio repete as aspiraes vrias vezes para que as sensaes durem mais tempo.

Os efeitos dos solventes vo desde uma estimulao inicial at a depresso, podendo tambm surgir processos alucinatrios.

Existe um fenmeno produzido pelos solventes que pode ser muito perigoso. Estes tornam o corao humano mais sensvel a uma substncia que o corpo fabrica, a adrenalina, que faz o nmero de batimentos cardacos aumentar. Essa adrenalina liberada toda vez que realizado um esforo extra, como, por exemplo, correr, praticar certos esportes, etc. Assim, se uma pessoa inala um solvente e logo depois faz esforo fsico, seu corao pode sofrer, pois ele est muito sensvel adrenalina liberada por causa do esforo.

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A sndrome de abstinncia, embora de pouca intensidade, est presente na interrupo abrupta do uso dessas drogas, sendo comum ansiedade, agitao, tremores, cibras nas pernas e insnia. Dependendo da pessoa e do solvente, a tolerncia instala-se ao fim de um a dois meses.

Finalmente, sabe-se que a aspirao repetida, crnica, dos solventes pode levar a destruio de neurnios (as clulas cerebrais) causando leses irreversveis do crebro. Alm disso, pessoas que usam solventes cronicamente apresentam-se apticas, tm dificuldade de concentrao e dficit de memria.

pio e MorfinaPapoula do Oriente Opiceos Opioides

Dentre as substncias obtidas pelo pio, a codena bastante conhecida. Sendo possvel obter-se outra substncia a herona , ao se fazer pequena modificao qumica na frmula da morfina.

Essas substncias podem ser opiceos naturais quando no sofrem nenhuma modificao (morfina, codena) ou opiceos semissintticos quando so resultantes de modificaes parciais das substncias naturais (como o caso da herona).

Substncias com ao semelhante aos opiceos so fabricadas em laboratrios: a meperidina, o propoxifeno, a metadona so alguns exemplos. Essas substncias to-

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talmente sintticas so chamadas de opioides, podendo ser encontradas em forma de comprimidos ou ampolas.

As pessoas que usam essas substncias sem indicao mdica, ou que abusam delas, procuram efeitos caractersticos de uma depresso geral do nosso crebro: um estado de torpor, como que isolamento das realidades do mundo, uma calmaria em que realidade e fantasia se misturam, com o afeto meio embotado e sem paixes. O indivduo deixa de ter sensaes que so essenciais na constituio de uma vida psquica plena.

Os narcticos sendo usados atravs de injees dentro das veias, ou em doses maiores por via oral, podem causar grande depresso respiratria e cardaca. A pessoa perde a conscincia, fica de cor meio azulada, porque a respirao muito fraca quase no mais oxigena o sangue, e a presso arterial cai a ponto de o sangue no mais circular direito: o estado de coma, que se no for atendido pode levar morte.

Outro problema encontrado a facilidade com que essas drogas levam dependncia. Elas ficam como o centro da vida das vtimas. Quando os dependentes param de tomar a droga, ocorre um violento e doloroso processo de abstinncia, com nuseas e vmitos, diarreia, cibras musculares, clicas intestinais, lacrimejamento, corrimento nasal, etc., que pode durar at 8 a12 dias.

Alm do mais, o organismo humano se torna tolerante a todas essas drogas narcticas. Ou seja, como o dependente destas no mais consegue se equilibrar sem sentir os seus efeitos, ele precisa tomar cada vez mais doses maiores, enredando-se em dificuldades.

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4] Drogas EstimulantesAtuam no aumento da atividade do crebro, ou seja, estimulam o funcionamento fazendo com que o usurio fique ligado, eltrico, sem sono. Por isso, essas drogas recebem a denominao de Estimulantes da Atividade do Sistema Nervoso Central.

AnfetaminasBolinhas Rebites

Aspectos geraisCostumam ser consumidas principalmente entre os motoristas que precisam dirigir durante vrias horas seguidas sem descanso, a fim de cumprir prazos predeterminados; por estudantes que passam noites inteiras estudando; ou por pessoas que costumam fazer regimes de emagrecimento sem acompanhamento mdico.

As anfetaminas fazem com que o organismo reaja acima de suas capacidades, esforos excessivos, o que logicamente prejudicial para a sade. E o pior que a pessoa, ao parar de tom-las, sente uma grande falta de energia (astenia), ficando bastante deprimida, pois nem consegue realizar as tarefas que normalmente fazia anteriormente ao uso dessas drogas.

Dependendo do excesso da dose e da sensibilidade da pessoa, pode ocorrer um verdadeiro estado de paranoia e at alucinaes. a psicose anfetamnica. Os si-

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nais fsicos ficam tambm muito evidentes: midrase acentuada, pele plida (devido contrao dos vasos sanguneos) e taquicardia. Essas intoxicaes so graves, e a pessoa geralmente precisa ser internada at a desintoxicao completa. s vezes,durante a intoxicao, a temperatura aumenta muito e isso bastante perigoso, pois pode levar a convulses.

O uso continuado de anfetaminas pode levar degenerao de determinadas clulas do crebro, que indica a possibilidade de o uso crnico de anfetaminas produzir leses irreversveis em pessoas que abusam dessas drogas.

O tempo prolongado de uso tambm pode trazer uma sensibilizao do organismo aos efeitos desagradveis, como paranoia e agressividade. Pequenas doses j podem acarretar a manifestao desses sintomas. Algumas pessoas que vinham tomando anfetamina h tempos e interrompem o uso podem apresentar uma sndrome de abstinncia, permanecendo em um estado de grande depresso.

CocanaPasta de coca Crack Merla

Aspectos geraisA cocana uma substncia natural, extrada das folhas de uma planta encontrada exclusivamente na Amrica do Sul, a erythroxylon coca, conhecida como coca ou epadu, esse ltimo nome dado pelos ndios brasileiros. A cocana pode chegar at o consumidor sob a forma de um sal, o cloridrato de

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cocana, o p, farinha, neve ou branquinha, que solvel em gua e serve para ser aspirado ou dissolvido em gua para uso intravenoso; ou sob a forma de base, o crack, que pouco solvel em gua, mas que se volatiliza quando aquecida e, portanto, fumada em cachimbos.tambm sob a forma de base, a merla um produto ainda sem refino e muito contaminado com as substncias utilizadas na extrao preparada de forma diferente do crack, mas tambm fumada. Ao passarem do estado slido ao de vapor quando aquecidos, o crack e a merla necessitam de uma temperatura relativamente baixa (95C), diferentemente do p, que necessita de 195C; por esse motivo o crack e a merla podem ser fumados e o p no.

H ainda a pasta de coca, que um produto grosseiro, obtido das primeiras fases de extrao de cocana das folhas da planta quando estas so tratadas com lcali, solvente orgnico como querosene ou gasolina, e cido sulfrico. Essa pasta contm muitas impurezas txicas e fumada em cigarros chamados basukos.

todos os efeitos provocados no crebro pela cocana tambm ocorrem com o crack e a merla, visto que se trata da mesma substncia. Porm, a via de uso dessas duas formas (via pulmonar, j que ambos so fumados) faz toda a diferena em relao ao p.

A pedra unitria possui um valor mais acessvel do que a cocana em p, dando a impresso de que o usurio economiza quando troca o modo de consumo. Essa economia ilusria, pois a pedra tem uma quantidade mnima de substncia ativa, muito menor do que o p. Seus efeitos, porm, so mais pronunciados pela liberao da cocana diretamente na corrente sangunea atravs dos pulmes.

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Assim que o crack e a merla so fumados, alcanam o pulmo, levando a uma absoro instantnea. Pela via pulmonar, o crack e a merla encurtam o caminho para chegar ao crebro, surgindo os efeitos da cocana muito mais rpido do que por outras vias. Essa caracterstica faz do crack uma droga poderosa do ponto de vista do usurio, j que o efeito acontece quase instantaneamente aps uma pipada (fumada no cachimbo).

Porm, a durao dos efeitos do crack muito rpida; em mdia, em torno de 5 minutos, enquanto, depois de injetar ou cheirar, os efeitos duram de 20 a 45 minutos. Essa certa durao dos efeitos faz com que o usurio volte a utilizar a droga com mais frequncia que as outras vias (praticamente de 5 em 5 minutos), levando-o dependncia muito mais rapidamente que os usurios da cocana por outras vias (nasal, endovenosa) e a um investimento monetrio muito maior.

A essa compulso para utilizar a droga repetidamente d-se o nome popular de fissura, que uma vontade incontrolvel de sentir os efeitos de prazer que a droga provoca. A fissura no caso do crack e da merla avassaladora, j que os efeitos da droga so muito rpidos e intensos.

O crack e a merla provocam tambm um estado de excitao, hiperatividade, insnia, perda de sensao do cansao, falta de apetite. Esse ltimo efeito muito caracterstico do usurio de crack e merla. Em menos de um ms, ele perde muito peso (8 a 10kg) e, em um tempo maior de uso, ele perde todas as noes bsicas de higiene, ficando com um aspecto deplorvel. Por essas caractersticas, os usurios de crack ou de merla so facilmente identificados. Aps o uso intenso e repetitivo, o usurio experimenta sensaes muito desagradveis, como cansao e intensa depresso.

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A tendncia do usurio aumentar a dose da droga na tentativa de sentir efeitos mais intensos. Porm, essas quantidades maiores acabam por lev-lo a comportamento violento, irritabilidade, tremores e atitudes bizarras devido ao aparecimento de paranoia. Esse efeito provoca um grande medo nos usurios, que passam a vigiar o local onde usam a droga e a ter uma grande desconfiana uns dos outros, o que acaba levando-os a situaes extremas de agressividade. Alucinaes e delrios tambm podem ocorrer.

Ainda pode provocar dor no peito, contraes musculares, convulses e at coma. Porm, sobre o sistema cardiovascular que os efeitos so mais intensos. A presso arterial pode elevar-se e o corao pode bater muito mais rapidamente (taquicardia). Em casos extremos, chega a produzir parada cardaca por fibrilao ventricular. A morte tambm pode ocorrer devido diminuio de atividade de centros cerebrais que controlam a respirao. O uso crnico da cocana pode levar a degenerao irreversvel dos msculos esquelticos, conhecida como rabdomilise.

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Usurios de Drogas InjetveisNo Brasil, a cocana a substncia mais utilizada pelos Usurios de Drogas Injetveis (UDIs). Muitas dessas pessoas compartilham agulhas e seringas e expem-se ao contgio de vrias doenas, entre elas hepatites, malria, dengue e aids. Essa prtica , hoje em dia, um fator de risco para a transmisso do HIv. Os usurios de injetveis tm optado por mudana de via, assim, muitos antigos UDIs utilizam o crack por considerarem mais seguro, j que por essa via no compartilham seringas e agulhas. Entretanto, principalmente usurios de crack, prostituem-se para obter a droga e geralmente o fazem sob efeito da fissura.

Nesse estado, perdem a noo do perigo, no conseguem proceder a um sexo seguro,expondo-se a Doenas Sexualmente transmissveis (DSt) e, ainda, podendo transmitir o vrus a seus parceiros sexuais. Essa prtica demonstra que o crack diante da DSt/aids no to seguro quanto se supunha inicialmente.

TabacoAlguns fumantes, quando suspendem repentinamente o consumo de cigarros, podem sentir fissura (desejo incontrolvel de fumar), irritabilidade, agitao, priso de ventre, dificuldade de concentrao, sudorese, tontura, insnia e dor de cabea. Esses sintomas caracterizam a sndrome de abstinncia, desaparecendo dentro de uma ou duas semanas.

A tolerncia e a sndrome de abstinncia so alguns dos sinais que caracterizam o quadro de dependncia provocado pelo uso do tabaco. A fumaa do cigarro con-

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tm um nmero muito grande de substncias txicas ao organismo. Entre as principais, citamos a nicotina, o monxido de carbono e o alcatro.

O uso intenso e constante de cigarros aumenta a probabilidade de ocorrncia de algumas doenas, como, por exemplo, pneumonia, cncer (pulmo, laringe, faringe, esfago, boca, estmago, etc.), infarto de miocrdio, bronquite crnica, enfisema pulmonar, derrame cerebral, lcera digestiva, etc. Entre outros efeitos txicos provocados pela nicotina, podemos destacar, ainda, nuseas, dores abdominais, diarreia, vmitos, cefaleia, tontura, desacelerao cardaca e fraqueza.

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5] Drogas PertubadorasHC (Tetra-hidrocanabinol) Hashishi, Bangh, Ganja, Diamba, Marijuana, Marihiana, Maconha

Os efeitos provenientes da droga variam de acordo com o tempo de uso, ou seja, podem ser agudos, quando decorrem apenas algumas horas aps fumar, e crnicos, com consequncias que aparecem aps o uso continuado por semanas, meses ou mesmo anos.

Os efeitos fsicos agudos so muito poucos: os olhos ficam meio avermelhados, a boca fica seca e o corao dispara, de 60 a 80 batimentos por minuto podendo chegar de 120 a 140 ou at mesmo mais (taquicardia).

Os efeitos psquicos agudos dependero da qualidade da maconha fumada e da sensibilidade de quem fuma. Para uma parte das pessoas, os efeitos so uma sensao de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento, diminuio da fadiga e vontade de rir (hilaridade). Para outras pessoas, os efeitos so mais para o lado desagradvel: sentem angstia, medo de perder o controle mental, tremores e sudorese. o que comumente chamam de m viagem ou bode. H, ainda, evidente perturbao na capacidade da pessoa em calcular tempo e espao e um prejuzo de memria e ateno.

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Aumentando-se a dose e/ou dependendo da sensibilidade, os efeitos psquicos agudos podem chegar at a alteraes mais evidentes, com predomnio de delrios e alucinaes. Delrio uma manifestao mental pela qual a pessoa faz um juzo errado do que v ou ouve; por exemplo, sob ao da maconha uma pessoa ouve a sirene de uma ambulncia e julga que a polcia que vem prend-la; ou v duas pessoas conversando e pensa que ambas esto falando mal ou mesmo tramando um atentado contra ela. Em ambos os casos, essa mania de perseguio (delrios persecutrios)pode levar ao pnico e, consequentemente, a atitudes perigosas (fugir pela janela, agredir como forma de defesa antecipada contra a agresso que julga estar sendo tramada). J a alucinao uma percepo sem objeto, isto , a pessoa pode ouvir a sirene da polcia ou ver duas pessoas conversando quando no existe nem sirene nem pessoas. As alucinaes podem tambm ter fundo agradvel ou terrificante.

Os efeitos fsicos crnicos da maconha j so de maior gravidade. De fato, com o uso continuado, vrios rgos do corpo so afetados. Os pulmes so um exemplo disso. Essa irritao constante leva a problemas respiratrios (bronquites), alis, como ocorre tambm com o cigarro comum. Mas o pior que a fumaa da maconha contm alto teor de alcatro (maior mesmo que na do cigarro comum) e nele existe uma substncia chamada benzopireno, conhecido agente cancergeno; ainda no provado cientificamente.

Outro efeito fsico indesejvel do uso crnico da maconha refere-se testosterona. Esta o hormnio masculino que, como tal, confere ao homem maior quantidade de msculos, voz mais grossa, barba, e tambm responsvel pela fabricao de espermatozoides. J existem muitas provas de que a maconha diminui em at 50 a 60% a

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quantidade de testosterona, o que acarreta um nmero bem reduzido de espermatozoides, levando infertilidade. Assim, o homem ter mais dificuldade de gerar filhos. Esse um efeito que desaparece quando a pessoa deixa de fumar a planta. tambm importante dizer que o homem no fica impotente ou perde o desejo sexual, mas apresenta esterilidade, isto , fica incapacitado de engravidar sua companheira.

H ainda a considerar os efeitos psquicos crnicos produzidos pela maconha. Sabe-se que seu uso continuado interfere na capacidade de aprendizagem e memorizao e pode induzir a um estado de amotivao, isto , no sentir vontade de fazer mais nada, pois tudo fica sem graa e sem importncia. Esse efeito crnico da maconha chamado de sndrome amotivacional. Alm disso, a maconha pode levar algumas pessoas a um estado de dependncia, isto , elas passam a organizar sua vida de maneira a facilitar seu vcio, e tudo o mais perde seu real valor.

Finalmente, h provas cientficas de que se o indivduo tem uma doena psquica qualquer, mas que ainda no est evidente (a pessoa consegue se controlar) ou a doena j apareceu, mas est controlada com medicamentos adequados, a maconha piora o quadro. Ou faz surgir a doena, isto , a pessoa no consegue mais se controlar, ou neutraliza o efeito do medicamento e ela passa a apresentar novamente os sintomas da enfermidade. Esse fato tem sido descrito com frequncia na doena mental chamada esquizofrenia.

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6] Cogumelos e Plantas AlucingenasO nosso pas, principalmente atravs de sua imensa riqueza natural, tem vrias plantas alucingenas. Os mais conhecidos esto citados a seguir.

CogumelosO uso de cogumelos ficou famoso no Mxico, onde desde antes de Cristo j era usado pelos nativos daquela regio. Ainda hoje, sabe-se que o cogumelo sagrado usado por alguns pajs. Ele recebe o nome cientfico psilocybe mexicana e dele pode ser extrado uma substncia alucingena poderosa: a psilocibina. No Brasil ocorrem pelo menos duas espcies de cogumelos alucingenos, um deles o psilocybe cubensis e o outro espcie do gnero paneoulus.

JuremaO vinho de Jurema, preparado base de planta brasileira Mimosa hostilis, chamado popularmente de Jurema, usado pelos remanescentes ndios e caboclos do Brasil. Os efeitos do vinho so muito bem descritos por Jos de Alencar no romance Iracema. Alm de conhecido pelo interior do Brasil, s utilizado nas cidades em rituais de candombl, por ocasio de passagem de ano, por exemplo. A Jurema sintetiza uma potente substncia alucingena, a dimetiltriptamina ou DMt, responsvel pelos efeitos.

Caapi e ChacronaDuas plantas alucingenas que so utilizadas conjuntamente sob forma de uma

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bebida que ingerida no ritual Santo Daime ou Culto da Unio vegetal e em vrias outras seitas. Esse ritual est bastante difundido no Brasil (existe em estados no Norte, So Paulo, Rio de Janeiro, etc.). O seu uso na nossa sociedade veio dos ndios da Amrica do Sul. No Peru a bebida preparada com as duas plantas chamada pelos ndios quchas de Ayahuasca que quer dizer vinho da vida. As alucinaes produzidas pela bebida so chamadas de miraes e os guias dessa religio procuram conduzi-las para dimenses espirituais da vida.

Efeitos no crebroJ foi acentuado que os cogumelos e as plantas citadas so alucingenas, isto , induzem alucinaes e delrios.

As reaes psquicas so ricas e variveis. s vezes so agradveis (boa viagem) e a pessoa se sente recompensada pelos sons incomuns, cores brilhantes e pelas alucinaes. Em outras ocasies os fenmenos mentais so de natureza desagradvel, vises terrificantes, sensaes de deformao do prprio corpo, certeza de morte iminente, etc. So as ms viagens.

Aspectos geraisComo ocorre com quase todas as substncias alucingenas, praticamente no h desenvolvimento de tolerncia; tambm comumente no induzem dependncia e no ocorre sndrome de abstinncia com o cessar de uso. Assim, a repetio do uso dessas substncias tem outras causas que no o evitar os sintomas de abstinncia. Um dos problemas preocupantes com o uso desses alucingenos a possibilidade da pessoa ser tomada de um delrio persecutrio, delrio de grandeza ou acesso de pnico e, em virtude disso, tomar atitudes prejudiciais a si e aos outros.

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7] AlucingenosLSD-25 (cido) MDMA xtase O LSD-25 atua produzindo uma srie de distores no funcionamento do crebro, trazendo como consequncia uma variada gama de alteraes psquicas.

O LSD-25 capaz de produzir distores na percepo do ambiente cores,formas e contornos alterados.

Outro aspecto que caracteriza a ao do LSD-25 no crebro refere-se aos delrios. Estes so o que chamamos falsos juzos da realidade, isto , h uma realidade, um fato qualquer, mas a pessoa delirante no capaz de avali-la corretamente. Os delrios causados pelo LSD geralmente so de natureza persecutria ou de grandiosidade.

O perigo do LSD-25 no est tanto em sua toxicidade para o organismo, mas sim no fato de que, pela perturbao psquica, h perda da habilidade de perceber e avaliar situaes comuns de perigo. Isso ocorre, por exemplo, quando a pessoa com delrio de grandiosidade se julga com capacidades ou foras extraordinrias, sendo capaz de, por exemplo, voar, atirando-se de janelas; com fora mental suficiente para parar um carro em uma estrada, ficando na sua frente ou andar sobre as guas, avanando mar a dentro.

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H tambm descries de casos de comportamento violento, gerado principalmente por delrios persecutrios, como, por exemplo, no caso de o usurio atacar dois amigos (ou at pessoas estranhas) por julgar que ambos esto tramando contra ele.

H tambm descries de pessoas que, aps tomarem o LSD-25, passaram a apresentar por longos perodos (o maior que se conhece de dois anos) ansiedade muito grande, depresso ou mesmo acessos psicticos.

O flashback uma variante desse efeito a longo prazo: semanas ou at meses aps uma experincia com LSD-25, a pessoa repentinamente passa a ter todos os sintomas psquicos daquela experincia anterior, e isso sem ter tomado de novo a droga. O flashback geralmente uma vivncia psquica muito dolorosa, pois a pessoa no estava procurando ou esperando ter aqueles sintomas, e assim eles acabam por aparecer em momentos bastante imprprios, sem que ela saiba por que, podendo at pensar que est ficando louca.

O fenmeno da tolerncia desenvolve-se muito rapidamente com o LSD-25, mas tambm h desaparecimento rpido com a interrupo do uso. O LSD-25 no leva comumente a estados de dependncia e no h descrio de sndrome de abstinncia se um usurio crnico parar de consumir a droga.

todavia, o LSD-25, assim como outras drogas alucingenas, pode provocar dependncia psicolgica, uma vez que a pessoa que habitualmente usa essas substncias como soluo para todos os seus problemas acaba por se alienar da realidade do dia a dia, aprisionando-se numa iluso.

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A MDMA uma droga classificada como perturbadora, que tem atividade estimulante e alucinognica (embora muito menos intensa quando comparada maioria das drogas alucingenas). Seus efeitos podem durar at 8 horas.

A droga apresenta efeitos semelhantes aos estimulantes do Sistema Nervoso Central (agitao), bem como efeitos perturbadores (mudana da percepo da realidade).

Efeitos residuais perduram dias aps o uso de uma droga. Muitos usurios relatam ter um episdio depressivo nos dias aps o uso do xtase, o que chamada de depresso de meio de semana. Fadiga e insnia tambm so comuns.

O uso de xtase geralmente seguido de um grande esforo fsico, devido a uma prtica vigorosa da dana. Essa associao (esforo fsico e xtase) tende a aumentar consideravelmente a temperatura, que pode atingir mais de 42C e, inclusive, ser mortal.

As pessoas que usam o xtase com frequncia podem comear a apresentar problemas no fgado, e a ficar com a pele amarelada (ictercia). Problemas cognitivos (aprendizagem, memria, ateno) podem surgir com o uso repetido por perodo prolongado.

O xtase tambm pode desencadear problemas psiquitricos, como quadros esquizofreniformes (formas de loucura), pnico (estados de alerta intenso, com medo e agitao) e depresso. Esses problemas tm maior ou menor probabilidade de ocorrer, dependendo das caractersticas da pessoa, do momento de sua vida, da frequncia e do contexto de uso.

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8] Outros Tipos de DrogaEsteroides AnabolizantesOs esteroides anabolizantes so substitutos sintticos do hormnio masculino testosterona fabricado pelos testculos. Levam ao crescimento da musculatura (efeito anablico) e ao desenvolvimento das caractersticas sexuais masculinas (efeito andrognico).

A propriedade dessas drogas de aumentar os msculos tem feito com que atletas ou pessoas que querem melhorar o desempenho e a aparncia fsica utilizem anabolizantes sem necessidade mdica, principalmente aqueles que se julgam pequenos e se sentem infelizes por essa condio. Esse uso esttico no mdico,portanto ilegal e ainda acarreta problemas sade.

Os esteroides anabolizantes podem ser tomados na forma de comprimidos ou injees, e seu uso ilcito iniciado com uma dose menor, aumentada com o tempo, levando os indivduos a utilizar centenas de doses a mais do que aquela normalmente recomendada em caso de deficincia de testosterona.

Alguns usurios chegam a utilizar produtos veterinrios, base de esteroides,sobre os quais no se tem nenhuma ideia dos riscos do uso em humanos.

Alguns dos principais efeitos do abuso dos esteroides anabolizantes so:nervosismo, irritao, agressividade, problemas hepticos, acne grave (em geral ocorre nas costas e no peito, ocasionando um problema esttico srio), problemas sexuais

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e cardiovasculares, diminuio do HDL (forma boa do colesterol), diminuio da imunidade. Alm disso, aqueles que se injetam ainda correm o risco de compartilhar seringas e contaminar-se com o vrus da aids ou da hepatite.

No adolescente, o anabolizante pode provocar maturao esqueltica prematura e puberdade acelerada, levando a um crescimento raqutico, provocando estatura baixa. A variao de humor, incluindo irritabilidade e nervosismo provocados pelo abuso de anabolizantes, pode chegar agressividade e raiva incontrolveis.

Os usurios podem experimentar ainda, um cime doentio, iluses,podendo apresentar distoro de juzo em relao a sentimentos de invencibilidade, distrao, confuso mental e esquecimentos. Podem desenvolver tambm distoro de julgamento do prprio corpo (dismorfia corporal), tendo a falsa sensao de que esto com a musculatura pouco desenvolvida.

Usurios, frequentemente, tornam-se clinicamente deprimidos quando param de tomar a droga, at porque perdem a massa muscular que adquiriram; um sintoma que pode contribuir para a dependncia.

Atletas, treinadores fsicos e mesmo mdicos relatam que os anabolizantes aumentam significantemente massa muscular, fora e resistncia. Apesar dessas afirmaes, at o momento no existe nenhum estudo cientfico comprovando que essas drogas melhoram a capacidade cardiovascular, a agilidade, a destreza ou o desempenho fsico.

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9] Preveno ao Abuso De Drogas: O Que Voc Pode Fazer?Segundo a Secretaria Nacional Antidrogas, os fatores de risco para o uso indevido de drogas so caractersticas ou atributos de um indivduo, grupo ou ambiente de convvio social que contribuem, em maior ou menor grau, para aumentar a probabilidade deste uso. No existe um fator nico determinante para o uso. Assim, para cada domnio da vida (individual, familiar, escolar, pares, comunitrio) pode haver fatores de risco, alm de fatores de proteo. Os fatores de proteo so caractersticas ou atributos presentes nos diversos domnios da vida que minimizam a probabilidade de um indivduo fazer uso indevido de drogas.FATORES DE RISCO FATORES DE PROTEO

Baixa auto-estima, propenso ansiedade e depresso, doenas pr-existentes (ex.: transtorno de dficit de ateno e Autoconfiana e auto-estima elevadas hiperatividade) Comportamento contrrio s normas e s regras na infncia, Capacidade intelectual para tomar decises; assertividade experincias sexuais e com as drogas precoces Falta de auto-controle e assertividade Flexibilidade nas relaes interpessoais, facilidade de cooperar, autonomia, responsabilidade e comunicabilidade

Desinteresse ou desmotivao pelos estudos e por atividades Interesse pelos estudos e aspectos da vida prtica teis Vivncia com pais ou familiares que fazem uso indevido de Relao de confiana com pais, familiares, professores, colegas e outras pessoas lcool, de medicamentos ou de outras drogas capazes de dar apoio emocional Dificuldades de interao interpessoal Ausncia de um projeto de vida Apresentao de habilidades sociais Presena de um projeto de vida

Inexistncia ou pouca qualidade nos vnculos familiares, Vinculao familiar afetiva, religiosa ou institucional religiosos ou institucionais

Extrado do documento A Preveno do Uso de Drogas e a Terapia Comunitria. Secretaria Nacional Antidrogas: Braslia, 2006.

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Uma das melhores estratgias de preveno a informao. importante o conhecimento sobre as drogas, principalmente sobre os seus riscos. O profissional pode contribuir na preveno ao abuso de drogas entre adolescentes de duas formas bsicas: incentivando a reflexo e a adoo de medidas no prprio Cense onde trabalha e atuando diretamente com os adolescentes.

O socioeducador que luta por um espao que oferea oportunidades para seus adolescentes crescerem, participarem e exercerem sua criatividade de modo produtivo (atravs de expresso artstica, por exemplo), aprenderem contedos relevantes e usarem sua energia fsica em atividades enriquecedoras (como esporte) um educador que contribui para um lugar e uma sociedade com menos sofrimento e menos uso indevido de drogas.

Para que essa identidade e satisfao tenham chances reais de se manifestar, o Cense precisa oferecer um ambiente que d oportunidades aos adolescentes de criar laos afetivos com os profissionais que fazem parte do seu dia-a-dia.

Um componente importante na construo de um ambiente saudvel dar espao para os educandos se expressarem, envolverem-se em novas propostas, compartilharem problemas e procurarem solues. Um espao que inclua e contribua para o desenvolvimento da auto-estima e para a percepo de limites.

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O que fazer e o que no fazer para ajudar um adolescente que apresenta problemas com drogasLeia abaixo algumas dicas de como ter uma conversa: Coloque claramente sua preocupao com o comportamento dele (a), de modo calmo, dando exemplos bem concretos e especficos de episdios que voc observou. Enfatize que a situao em que ele (a) se encontra s pode mudar se ele assumir a responsabilidade de mud-la; cabe a ele a deciso final, embora possa haver ajuda dos outros. Oferea opes de comportamentos alternativos e convide-o (a) a refletir; no exija que ele (a) se comprometa com nada de imediato, a no ser o de refletir sobre o que voc falou. Enfatize que ele (a) capaz de mudar, que, embora possa parecer difcil, possvel. Comear com pequenos passos pode ser a melhor maneira de conseguir mais.

As experincias mostram que alguns princpios e algumas abordagens surtem mais efeito do que outros. veja a seguir: Apresente es informa-

fundamentadas

sobre drogas de maneira isenta e honesta; sem usar

exagero ou estratgias de amedrontamento.

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Inclua informao realista sobre os riscos de se usar drogas, mas mencione tambm os benefcios de no us-las. Caso v explorar os vrios motivos pelos quais as pessoas usam drogas, discuta tambm alternativas, outras atividades que as pessoas poderiam ter escolhido em vez de usar drogas. No faa sermo, tente envolver os adolescentes ao mximo, usando as opinies e as vises que eles oferecem. No exagere os dados de consumo de drogas na nossa sociedade. A maioria dos nossos jovens saudvel e prefere se abster. Exagero s faz com que os jovens desenvolvam uma viso deformada da realidade, pensando que se eles e seus amigos no usam drogas, porque esto por fora; afinal os jornais, seus pais e professores garantem que o consumo de drogas est, cada vez mais, disseminado.

Estratgia de prevenoPesquisas indicam que os adolescentes de alto risco, atrados pelo uso de drogas, tendem a ter uma concepo deformada da realidade. Os programas mais efetivos so aqueles nos quais os jovens tm a oportunidade de exercitar maneiras de lidar com os desafios normais de sua faixa etria, como: vencer a timidez, aprender a se comunicar, como agir diante de agresses, como tomar decises na vida pessoal e escolar. As pesquisas indicam que esses so os motivos emocionais mais comuns que levam os adolescentes a experimentar drogas, esperando que elas aliviem a tenso que esses desafios provocam.

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11] Formas de TratamentoAo se considerar a origem dos problemas relacionados ao uso indevido de drogas no somente pelos fatores genticos, mas tambm decorrentes de sua histria de vida, em sua estrutura psicolgica e no seu contexto econmico, social e cultural, nota-se que os adolescentes precisam de uma abordagem multidisciplinar, com mdicos, psiclogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais. Alm de todo o atendimento prestado, esses adolescentes precisam de reinsero social, o que s poder ser alcanado com a participao e o compromisso de profissionais de diferentes formaes.

Principais recursos da rede SUSOs principais recursos da rede SUS para usurios de drogas que compem a rede de ateno bsica so as unidades bsicas de sade, os ncleos de ateno sade da famlia e residncias teraputicas. O servio de emergncia composto pelo Servio Mvel de Urgncia (SAMU), pelos Prontos de Atendimentos de ambulatrios referenciados, Prontos-socorros Gerais e Centro de Ateno Psicossocial CAPS III, que funcionam 24 horas. Nos servios ambulatoriais especializados encontram-se os Ambulatrios Especializados em Sade Mental e os Centros de Ateno Psicossocial.

Os Centros de Ateno Psicossocial CAPS so unidades de servio que prestam atendimento tanto para pessoas com transtornos mentais como para pessoas com transtornos decorrentes do uso prejudicial e da dependncia de substncias psicoativas. Os CAPS ad foram criados para atender pacientes com transtornos decorren-

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tes do uso de substncias psicoativas. A natureza do atendimento predominantemente ambulatorial, de ateno diria, devendo o gestor local responsabilizar-se pela organizao da demanda e pelo mapeamento da rede de instituies de ateno a usurios de lcool e outras drogas no mbito de seu territrio.

Nos casos de intoxicao aguda, sndromes de abstinncia graves, comprometimento de rgos e funes vitais e demais condies que colocam em risco a vida do dependente, os servios hospitalares mais indicados so os hospitais gerais e psiquitricos.

O hospital geral oferece melhores recursos clnicos em situaes de crise e, muitas vezes, pode constituir tambm a porta de entrada para um tratamento; to logo seja superada a fase aguda, o paciente deve ser encaminhado para atendimento por uma equipe especializada, visando ao tratamento da dependncia e no somente das complicaes desta. A assistncia no hospital geral fornece uma importante oportunidade para a identificao precoce de pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas. Isso ocorre porque muitas vezes pessoas que usam drogas procuram os hospitais gerais devido a danos relacionados ao seu uso.

Os hospitais psiquitricos atualmente contam com ala especializada para o atendimento de dependncia qumica e tm como objetivo atender o doente grave com alteraes importantes do comportamento, pensamento e de outras funes mentais, que apresentam ameaa sua integridade fsica ou de terceiros, resultado de quadro txico ou de comorbidade, ou seja, presena de doenas associadas dependncia qumica.

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todo servio de sade voltado ao atendimento de usurios de drogas deve estar estruturado de forma a apoiar com maior eficcia o paciente que o procura. necessrio estar conectado aos demais servios disponveis, em forma de rede de proteo e apoio mtuo. Isso refora e amplia as estratgias de tratamento do servio e possibilita o encaminhamento daqueles que j concluram o tratamento proposto, mas que ainda necessitam de outras abordagens.

Alguns desses dispositivos, complementares ao cuidado, podem ser os grupos de Ajuda Mtua, as Comunidades teraputicas, Centros de Convivncia ou Culturais, Oficinas teraputicas, entre outras.

Os grupos de ajuda mtua, entre eles o Alcolicos Annimos(AA) e o Narcticos Annimos (NA), so organizados na prpria comunidade, sem fins lucrativos e sem ligaes com qualquer instituio religiosa ou movimento poltico, cujo objetivo a manuteno da sobriedade e o acolhimento de outras pessoas com o mesmo interesse, atravs da troca de experincias. Alm desses, tambm existem grupos especficos para familiares e amigos dos usurios e dependentes, tais como Amor Exigente, Al-Anon, Alateen, para membros mais jovens, e Nar-Anon, que tem auxiliado a recuperar, dar fora e esperana a pessoas cujos membros da famlia foram afetados pela doena da adico.

As Comunidades teraputicas so instituies com enfoque psicossocial, geralmente ligadas a instituies religiosas, com o papel de proteo social e de ateno complementar Rede SUS. Apresentam como objetivo principal a abstinncia e a mudana do comportamento a partir da convivncia com outros residentes da entidade. Os encaminhamentos so realizados por meio da Central de vagas, da

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Coordenao de Socioeducao, mediante solicitao judicial, juntamente com as comunidades teraputicas conveniadas com a Secretaria de Estado da Criana e da Juventude, que disponibilizam vagas aos adolescentes que se encontram em cumprimento de medidas socioeducativas de Internao ou Semiliberdade. Por ser a participao familiar de grande importncia no tratamento do adolescente, segue anexo documento informativo que traz mais orientaes a esse respeito.

Os recursos comunitrios, de modo geral, podem representar uma importante parceria nas atividades grupais dos servios junto aos familiares e aos pacientes. Um trabalho importantssimo o da mobilizao familiar e comunitria, para que a pessoa em tratamento no seja excluda de sua comunidade ou estigmatizada pelo fato de ser diagnosticada como dependente.

Internao PsiquitricaA internao s dever ser utilizada para casos especficos e quando os outros recursos se tornarem insuficientes. Nos estabelecimentos de sade, a internao psiquitrica somente dever ocorrer aps todas as tentativas de utilizao das demais possibilidades teraputicas e esgotados todos os recursos extra-hospitalares disponveis na rede assistencial, com a menor durao temporal possvel. Na ocorrncia de uma internao psiquitrica, o hospital deve notificar o Ministrio Pblico e o gestor do SUS no prazo de 72 horas, para que a internao seja acompanhada.

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12] Consideraes FinaisA constatao de que o problema do uso de substncias psicoativas tomou proporo de grave problema de sade pblica no pas encontrou ressonncia em diversos segmentos da sociedade pela relao comprovada entre o consumo e agravos sociais que dele decorrem ou que reforam. A discusso sobre os problemas relacionados ao uso e dependncia de drogas vem sendo ampliada e refletindo em novas e mais eficazes formas de trabalho. Inmeras aes j foram implantadas, objetivando acrescentar elementos discusso e fortalecer as polticas e os programas.

Para o trabalho nos Centros de Socioeducao, alm da discusso terica aqui apresentada, em 2010, a proposta foi de implantao do Sistema para deteco do uso abusivo e dependncia de substncias psicoativas: encaminhamento, interveno breve, reinsero social e acompanhamento SUPERA.

Em meio a um cenrio de ateno sade integral do adolescente surgem aes para o trabalho relacionado ao uso e dependncia de substncias

psicoativas, como o caso do instrumento desenvolvido pela Organizao Mundial de Sade (Alcohol, Smoking and Substance Involviment Screening test ASSISt) que deu base

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Secretaria Nacional de Polticas sobre Drogas SENAD para desenvolver o instrumento SUPERA.

O Sistema para deteco do uso abusivo e dependncia de substncias psicoativas: encaminhamento, interveno breve, reinsero social e acompanhamento SUPERA um instrumento para a correta identificao e diagnstico dos usurios de lcool e/ou outras drogas, instrumentalizando os profissionais da rea para trabalharem com os diferentes modelos de preveno, formas adequadas de interveno e encaminhamento, alm de outras demandas existentes em seu cotidiano de trabalho, sempre em consonncia com as orientaes e diretrizes da Poltica Nacional sobre Drogas PNAD.

Um aspecto importante da abordagem em relao ao fenmeno a articulao entre diferentes formas de compreender e de agir. A integrao de leituras e prticas necessria para gerar novas e mais efetivas maneiras de responder aos problemas.

tratando-se de polticas pblicas, preciso criar um referencial terico-prtico em comum, que defina, sustente e integre as aes, fornecendo instrumentos aos profissionais atuantes. A conexo dos diferentes setores e saberes envolvidos e o aprofundamento das relaes entre as instituies e os servios so imprescindveis para uma poltica que pretende trabalhar de maneira eficaz com os adolescentes que esto cumprindo medidas socioeducativas de privao e restrio de liberdade e internao provisria de usurios e dependentes de substncias psicoativas.

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Sugestes de ApoioAbaixo so apresentadas algumas indicaes de instituies pblicas, privadas e rgos no governamentais, caso haja interesse em se obter mais informaes sobre o assunto abordado nesta cartilha ou conhecer os locais de atendimento na sua cidade ou regio.

Centros de informao/orientao/atendimento Associao Brasileira de Apoio s Famlias de Drogadependentes Abrafam www.impacto.org/abrafam

Alcolicos Annimos www.alcoolicosanonimos.org.br

Al-Anon e Alateen (Grupos Familiares do Brasil) www.al-anon.org.br

Amor-Exigente (para pais e familiares de usurios de drogas) www.amorexigente.org.br

Conselhos Estaduais de Entorpecentes/Antidrogas CONENS/CEADS

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Conselhos Municipais de Entorpecentes/Antidrogas COMENS/COMADS www.obid.senad.gov.br

Centro Brasileiro de Informaes sobre Drogas Psicotrpicas CEBRID http://www.unifesp.br/dpsicobio/cebrid

Coordenao Nacional de DSt e AIDS www.aids.gov.br

Centro Utilitrio de Interveno e Apoio aos Filhos de Dependentes Qumicos Cuida www.uniad.org.br/cuida

Narcticos Annimos www.na.org.br

Observatrio Brasileiro de Informaes sobre Drogas OBID www.obid.senad.gov.br

Sade do Adolescente Canal do Ministrio da Sade http://portal.saude.gov.br/saude/area.cfm?id_area=241

Secretaria Nacional Antidrogas SENAD www.senad.gov.br

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Filmes Recomendados A corrente do bem, 2000. Direo: Mini Leder Dirio de um adolescente, 1995. Direo: Scott Kalvert

28 dias, 2000. Direo: Betty thomas

Quando Um Homem Ama Uma Mulher, 1994. Direo: Luis Mandoki

Por volta da meia noite, 1986. Direo: Bertrand tavernier

Cazuza - O tempo No Para, 2004. Direo: Sandra Werneck e Walter Carvalho

todos os Coraes do Mundo, 1995. Direo: Murillo Salles

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Despedida em Las vegas, 1996. Direo: Mike Figgis

traffic, 2000. Direo: Steven Soderbergh

O Informante, 1999. Direo: Michael Mann

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Leituras Recomendadas Drogas mitos e verdades Beatriz Carlini Cotrim. So Paulo: tica, 1998.

Livreto Informativo sobre Drogas Psicotrpicas CEBRID/SENAD. Braslia. 2004.

O alcoolismo Ronaldo Laranjeira. So Paulo: Contexto, 1998.

A Sade mental do jovem brasileiro Bacy Fleitlich-Bilyk, nio Roberto de Andrade, Sandra Scivoletto, vanessa Dentzien Pinzon. So Paulo: Edies Inteligentes, 2004.

Liberdade poder decidir Maria de Lurdes Zemel, FtD, 2000.

Doces venenos: conversas e desconversas sobre drogas Ldia Rosenberg Aratangy. So Paulo: olho D gua, 1991.

123 Respostas Sobre Drogas Coleo Dilogo na Sala de Aula Iami tiba. So Paulo: Editora Scipione, 2003.

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Anjos cados como prevenir e eliminar as drogas na vida do adolescente Iami tiba. So Paulo: Gente, 1999.

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Anexo IOrientaes tcnicas para as famlias dos adolescentes sobre as comunidades teraputicasAs Comunidades teraputicas oferecem ao usurio a possibilidade de distanciamento temporrio de situaes de risco em funo do uso abusivo ou dependncia e afastamento temporrio do ncleo familiar que se apresenta tambm desestruturado e que precisa se adaptar s necessidades de recuperao do adolescente.

Esse tipo de atendimento destina-se aos adolescentes de ambos os sexos, de 12 a dezoito anos incompletos, diagnosticados com transtornos de comportamento decorrentes do uso de substncias psicoativas, com grau de dependncia leve ou moderada. A sua permanncia, que varia de 6 a 9 meses, bem como a continuidade do tratamento devem ser voluntrias.

A metodologia utilizada se baseia nos princpios dos Alcolicos Annimos, somada a uma orientao espiritual, geralmente presente na maioria das comunidades. O foco do atendimento est na mudana do estilo de vida, contando com o compromisso de ajuda mtua firmado entre os residentes. A maioria delas est localizada na rea rural, com a inteno de criar um afastamento das situaes que colocam os usurios vulnerveis a situaes de risco.

As solicitaes so feitas mediante indicao tcnica por profissional da rea de sade com o respaldo do poder judicirio, muitas vezes em funo de se

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tratar de adolescentes que se encontram em cumprimento de medidas socioeducativas e que sem uma determinao judicial no podem se tratar em uma comunidade teraputica.

Alm dos adolescentes que se encontram nos Centros de Socioeducao ou nas casas de semiliberdade, tambm recebem atendimento os usurios que se encontram em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto (Liberdade Assistida ou Prestao de Servios Comunidade) ou em medidas de proteo. Os adolescentes que apresentarem grau de comprometimento grave no mbito orgnico e/ou psicolgico no so elegveis para tratamento nas comunidades teraputicas, devendo ser encaminhados a outras modalidades de ateno, incluindo a desintoxicao e a assistncia psiquitrica.

As comunidades teraputicas so especficas para cada sexo, com os alojamentos separados por faixa etria, de acordo com o Estatuto da Criana e do Adolescente. So realizadas atividades dirias de manuteno da casa, atividades de terapia ocupacional, esportivas e de lazer.

Quanto ao encaminhamento rede de sade, as comunidades teraputicas so responsveis pelas pessoas que apresentarem intercorrncias clnicas decorrentes ou associadas ao uso ou privao de substncias psicoativas como tambm para os casos em que apresentarem outros agravos. A oferta de servios de sade, bem como os de educao, deve ser disponibilizada prxima da rede comunitria.

A instituio no deve impor condies de crenas religiosas ou ideolgicas ao adolescente como critrio de ingresso ao tratamento. Ela deve se comprometer com

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o sigilo segundo as normas ticas e legais e resguardar o direito cidadania do adolescente, com a garantia de uma alimentao nutritiva, cuidados de higiene e alojamentos adequados.

A instituio deve fornecer ao adolescente e sua famlia ou responsvel as informaes e orientaes dos direitos e dos deveres ao aderir ao tratamento, bem como a declarao por escrito da concordncia do adolescente com as normas da casa, devendo comparecer na data do internamento. importante que a famlia mantenha contato permanente com a Entidade no perodo do tratamento, participando das visitas mensais e grupos de trabalho. A famlia deve se corresponsabilizar pelo tratamento do adolescente, seguindo as orientaes repassadas pela equipe responsvel da Comunidade teraputica, visto que a famlia deve ser trabalhada para receber o adolescente novamente em seu convvio aps a obteno da alta.

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Anexo IICritrios para ingresso do adolescente nas comunidades teraputicasCom o objetivo de tornar mais eficaz o processo de ingresso do adolescente na comunidade teraputica, o presente documento visa instrumentalizar a equipe dos Censes, Conselhos tutelares e varas da Infncia quanto aos principais aspectos e procedimentos, com base na Resoluo RDC n.101, de 30 de maio de 2001, que devem ser considerados:

A permanncia e a continuidade do tratamento por parte do adolescente devem ser voluntrias. As vagas so destinadas a adolescentes dependentes de substncias psicoativas que receberam medida de proteo pela autoridade competente (juiz da vara da infncia) conforme inciso vI do artigo n. 101 do ECA. A ficha com os dados gerais do adolescente dever ser preenchida pelo tcnico de referncia do Cense, Conselho tutelar ou da equipe da vara da Infncia, para ser encaminhada, por fax, Comunidade teraputica juntamente com as cpias de: RG ou certido de nascimento; determinao judicial; alvar de liberao, (quando for o caso); laudos mdico e psicolgico. Aps a vaga ter sido assegurada pela Central de vagas. Uma vez disponibilizada a vaga, agendar o encaminhamento do adolescente com os documentos originais.

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Os adolescentes em avaliao que apresentarem grau de comprometimento grave no mbito orgnico e/ou psicolgico NO so elegveis,para tratamento nesses servios, configurando-se quadro de transtorno mental grave ou necessidade de atendimento mdico especializado e que, portanto, devem ser encaminhados a outras modalidades de ateno, incluindo a desintoxicao e a assistncia psiquitrica, nos servios e equipamentos da rede de sade pblica de sade mental.

Comprometimento grave biolgico: sintomas que geram risco de vida provocados por uso recente de substncias psicoativas (ex.: arritmias cardacas, dor abdominal em barra, crise convulsiva, vertigem, hemorragia digestiva); estado de coma ou comprometimento da conscincia fora do episdio agudo; tentativa de autoextermnio; traumatismo; presena de hematoma em regio toracoabdominal e craniana).

Comprometimento grave psquico: alteraes do pensamento e da sensopercepo (ideias sobrevalorizadas, alucinaes, sintomas paranoides agudos com ideias de perseguio, comprometimento evidente do juzo crtico), alteraes afetivas mais graves (depresso, hipomania e mania), graves alteraes do controle da vontade (negativismo, transtorno obsessivo, impulsos destrutivos ou outros).

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Dados Gerais do Adolescente para Ingresso em Comunidades TeraputicasData: ___/___/_____ Nome: Escolaridade: End. Resid.: N. Bairro: Tel.: ( ) RG.: Nome do Pai: Nome da Me: Responsvel: /( ) CPF: Profisso: Profisso: Profisso: Complemento Cidade: CEP: Estado: Sexo: ( ) F ( ) M Data de Nasc.: ___/___/_____

Histrico do uso de lcool e outras drogas Quando iniciou? Quais drogas j usou? Drogas utilizadas: Frequncia de uso: Seqelas fsicas e mentais decorrentes:

Faz uso de medicao? Sim ( ) No ( ) Qual (is)? (Obs.: Em caso afirmativo anexar receita mdica).

Cirurgias? Sim ( ) No ( )

Internaes anteriores? Sim ( ) No ( ) Quantas? Onde:

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Exame do Estado Mental (Conscincia, Ateno, Sensopercepo, Orientao, Memria, Inteligncia, Afetividade, Pensamento, Juzo Crtico, Conduta, Linguagem)

Deseja ser internado para tratamento? Sim ( ) No ( ) Breve resumo da situao legal do adolescente:

Observaes:

tcnico responsvel pelas informaes: Instituio:

telefone:

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RefernciasAMERICAN Psychiatric Association: Diagnostic and statistical manual of mental disorders. Fourth Edition. Washington, DC, American Psychiatric Association, 1994. BRASIL. Secretaria de Estado da Criana e da Juventude. Orientao tcnica para os convnios da SECJ com as comunidades teraputicas. Curitiba, 2004.

BRASIL. Secretaria Nacional Antidrogas. A preveno do uso de drogas e a terapia comunitria. Braslia, 2006.

BRASIL. Presidncia da Repblica. Secretaria Nacional Antidrogas. Drogas: cartilha para educadores/ Secretaria Nacional Antidrogas. Braslia: Presidncia da Repblica, Secretaria Nacional Antidrogas, 2007.

BRASIL. Secretaria de Estado da Justia e da Cidadania. Capacitao para multiplicadores de aes de preveno s drogas. Curitiba, 2009.

CEBRID/SENAD. Livreto informativo sobre drogas psicotrpicas. Braslia, 2004.

RESOLUO RDC n. 101, de 30 de maio de 2001.

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Socioeducador, faa aqui suas anotaes

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Governo do Paran

CEDCA