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CADERNOS UniFOA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA ISSN 1982-1816

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CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ISSN 1982-1816

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CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ANO III - Nº 06 - abril/2008

FOA

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Comitê Editorial

Agamêmnom Rocha SouzaDouglas Mansur da Silva

Mauro César Tavares de SouzaRosana Aparecida Ravaglia Soares

Conselho Editorial

Antônio Filipe Falcão MontalvãoAntônio Henriques de Araújo Junior

Carlos Roberto XavierClifford Neves Pinto

Edson Teixeira da Silva JuniorFabio Aguiar Alves

Flávio Edmundo N. HegenbergIlda Cecília Moreira da Silva

Renata Almeida de SouzaRenato Porrozi de Almeida

Revisão de textos em língua estrangeira

Abigail Ribeiro GomesMarcel Alvaro de Amorim

Conselho Editorial ad hoc

Cludinei dos Santos RibeiroDoutor em Engenharia de Materiais - Escola de Engenharia de

Lorena - Universidade de São Paulo - EEL/USP

Diamar Costa PintoDoutor em Biologia Parasitária - Fundação Oswaldo Cruz

Denise Barçante Castro PintoDoutora em Biologia Celular e Molecular - Fundação Oswaldo Cruz

Igor José de Renó MachadoDoutor em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Campinas

- Professor do Departamento de Antropologia - UFSCAR

Maria José Panichi VieiraDoutora em Engenharia Metalúrgica pela Pontifícia Universidade

Católica do Rio de janeiro

Ruthberg dos SantosDoutor em Administração pela Universidade de São Paulo

Capa e EditoraçãoDaniel Ventura

FOAPresidente

Dauro Peixoto Aragão

Vice-PresidenteJairo Conde Jogaib

Diretor Administrativo - FinaceiroJosé Vinciprova

Diretor de Relações InstitucionaisIram Natividade Pinto

Superintendente ExecutivoEduardo Guimarães Prado

Superintendência GeralJosé Ivo de Souza

UniFOAReitor

Jessé de Hollanda Cordeiro Júnior

Pró-Reitora AcadêmicaCláudia Yamada Utagawa

Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-GraduaçãoMaria Auxiliadora Motta Barreto

Pró-Reitora de ExtensãoTeresa Cristina Seabra de Almeida

Cadernos UniFOAEditora Executiva

Flávia Lages de Castro

Editor CientíficoMarcelo da Silva Genestra

EXPEDIENTE

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FICHA CATALOGRÁFICABibliotecária Alice Tacão Wagner - CRB 7 - 4316

UniFOA. Cadernos UniFOA. Ano III, nº 6, abril,2008. Volta Redonda: FOA, 2008.

Periodicidade QuadrimestralISSN 1982-1816

1. Publicação Periódica. 2. Ciências Exatas - Periódicos.3. Ciências Sociais aplicadas - Periódicos. 4,. Ciências daSaúde - Periódicos. I. Fundação Oswaldo Aranha.II. UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda.III. Título

CDD 050

Centro Universtitário de Volta Redonda - UniFOA

Campus Três Poços

Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços, Volta Redonda /RJ

CEP 27240-560Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404

www.unifoa.edu.br

Versão On-line da Revista Cadernos UniFOAhttp://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/index.html

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SUMÁRIO

EDITORIAL ................................................................................................................................................................. 09

ENSAIO

Meio Ambiente – Na Perspectiva do Criador e da CriaturaMarcos Bella Cruz Silva e Rosana Ravaglia .............................................................................................................................................. 11

CIÊNCIAS EXATAS

Projeto de Inclusão Digital AAPVR – Tecnologia da Informação com Responsabilidade SocialRafael Teixeira dos Santos e Daniel Gomes de Miranda ............................................................................................................................ 19

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS

Maldições, Fetiches e Comunismo na Crítica da Economia Política: a teoria da alienação de Karl MarxRodrigo Castelo Branco ......................................................................................................................................................... 28

Pós-Modernismo e os Ataques à HistóriaAlexandre de Sá Avelar ......................................................................................................................................................... 40

O Trabalho do Assistente Social no Poder Judiciário: a realização do estudo social e a elaboração do parecer técnicoMônica Santos Barison................................................. .............................................................................................................. 49

CIÊNCIAS DA SAÚDE

A Homeopatia Aplicada à Desordem Temporomandibular e Dor OrofacialRosy de Oliveira Nardy ......................................................................................................................................................... 63

Participação da Imunogenética no Tratamento da Asma Brônquica: a vacina de Anti-IgEJeferson Freixo Guedes, Ricardo Barbosa Pinheiro, Fábio Aguiar Alves e Claudia Yamada Utagawa .............................................. 73

Técnicas de Fortalecimento da Musculatura Respiratória auxiliando o desmame do paciente em Ventilação Mecânica InvasivaCleize Silveira Cunha, Elber Rodrigues Manso Santana e Rodney Alonso Fortes ..................................................................................... 80

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LIST OF CONTRIBUTIONS

EDITORIAL ................................................................................................................................................................. 09

ASSAY

Meio Ambiente – Na Perspectiva do Criador e da CriaturaMarcos Bella Cruz Silva e Rosana Ravaglia .............................................................................................................................................. 11

ACCURATE SCIENCES

AAPVR Digital Inclusion Project- Information Technology with Social ResponsibilityRafael Teixeira dos Santos e Daniel Gomes de Miranda ............................................................................................................................ 19

SOCIAL SCIENCES APPLIED AND HUMAN BEINGS

Malediction, Fetish and Communism in the Criticism of Political Economy: the Karl Marx Theory of AlienationRodrigo Castelo Branco ......................................................................................................................................................... 28

Post-Modernism and the Attacks against HistoryAlexandre de Sá Avelar ......................................................................................................................................................... 40

The Social Assistant Work in Judiciary Power: the realization of social study and the elaboration of technical reportMônica Santos Barison................................................. .............................................................................................................. 49

SCIENCES OF THE HEALTH

The Applied Homeopathy the Temporomandibular Disorder and Orofacial PainRosy de Oliveira Nardy ......................................................................................................................................................... 63

Use os Imunogenetic to Treat Asthma: an Anti-IgE vaccin Jeferson Freixo Guedes, Ricardo Barbosa Pinheiro, Fábio Aguiar Alves e Claudia Yamada Utagawa .............................................. 73

Tecnics for the Strengthening os Respiratory Muscles to Help the Weaning from Patients under Mechanical VentilationCleize Silveira Cunha, Elber Rodrigues Manso Santana e Rodney Alonso Fortes ..................................................................................... 80

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Editorial

Chegar ao número seis de nossa Revista é em si uma vitória e, por ela, gostaria de agradecer a todos que contribuíram, torceram e vibraram com cada passo de nossa publicação. Marca maior da Revista Cadernos UniFOa é, sem dúvida, a interdisciplinaridade que pode ser atestadas pelos excelentes artigos que compõe seus seis números. Esta qualidade só é alcançada porque temos excelentes componentes tanto do Comitê quanto da Comissão Editorial que sempre buscam o melhoramento de nosso periódico com conselhos, supervisões e, principalmente, apoio. Agradecemos também o apoio da mantenedora Fundação Oswaldo Aranha, da reitoria do UniFOA e das Pró Reitorias, em especial da Pró Reitora de Pesquisa e Pós Graduação Maria Auxiliadora de Motta Barreto. As mudanças realizadas no layout da revista, muito pensadas e inseridas de forma a tornar cada dia mais claro o compromisso do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA com a pesquisa, sua divulgação e a qualidade desta têm demonstrado ser um atrativo a mais e muito útil na socialização do conhecimento em nossa Instituição de Ensino e nas outras que permutam a revista conosco. TudoissoserefletenoretornoqueaRevistaCadernosUniFOAtemdado,oqueémuitíssimodigno de nota. Alunos e professores nos procuram para comentar artigos. Impressiona o fato que os comentáriosatingemnãosomenteosafeitosaoscursosespecíficosdedocentesediscentes,masparece lhes agradar muito também a possibilidade de conhecer e aprofundar em outros assuntos. Nosso papel como Universidade se completa.

Flávia Lages de CastroEditora Executiva

Cadernos UniFOA

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Meio Ambiente – Na Perspectiva do Criador e da Criatura

Marcos Bella Cruz Silva 1

Rosana Ravaglia 2

Este ensaio procura utilizar o livro de Gênesis apenas como um marco referencial da história da humanidade, sem a obrigatoriedade de vínculo, tanto de cunho religioso como de profissãodefé.(AMEM!).Oslivrosutilizadoscomo referências foram: Livro de Gênesis, capítulo 1, versículos 1, 3, 4, 6, 7, 26, 29 (Gn1,1; Gn3,4;Gn6,7; Gn 26; Gn29). Gênesissignificanascimento,origemda vida e da história. O livro de Gênesis está inserido dentro do chamado Pentateuco, palavraderivadadogregoquesignifica“cincolivros”. Esta palavra é utilizada para indicar os cinco primeiros livros da Bíblia Sagrada: São eles, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Muito embora Sua Santidade João PauloIIemseulivro“CruzandooLimiardaEsperança” ao ser perguntado sobre a certeza do credo em que a cada missa repete e professa, respondeu (resumidamente). “Não tenhammedo do mistério de Deus; não tenham medo do Seu amor; e não tenham medo da fraqueza dohomemnemdesuagrandeza!”. Em contrapartida, na perspectiva da criatura, a problemática ambiental será baseada nos sintomas de uma crise de civilização contemporânea referendada atualmente, pelo capitalismo exploratório e injusto, através da globalização direcionada fincada nos pilaresda modernidade e regida principalmente pelo predomínio desenvolvimentista com razões tecnológicas tornando míope o sistema de organização da natureza. Recentemente foi lançado nos Estados Unidos, o livro chamado “Deus,um delírio”. Seus autores Alister Mc Grath e Richard Dawkins possuem trajetórias profissionais bastante parecidas. Ambos são

cientistas e professores universitários em Oxford, estudiosos das ciências naturais, ambos mantêm uma relação de amizade apenas de cordialidade. São abertos a novas formas de pensar, desde que as evidências os levem a isso. A diferença é que o raciocínio lógico levou Dawkins a pregar o ateísmo e Mc Grath a acolher a fé.

GÊNESIS, 1,1 No princípio, Deus criou o céu e a terra. No início era apenas algo diminuto, milhares e milhares de vezes menor que a cabeça de um alfinete. A temperatura, forade escala referencial para os dias de hoje; em conjunto as quatro interações energéticas básicas do universo: a gravitacional, a eletromagnética, as forças nucleares, forte e fraca, unidas, constituindo uma única força não particularizada. Respaldado na “certeza” dacosmogênese atual, e embasado no conhecimento dos ilustres especialistas, ficaainda o seguinte questionamento. Quem verdadeiramente entornou o caldo? Há culpado(s)? Como diz Leonardo Boff em seu livro, Ecologia Grito da Terra-Grito dos Pobres, ”Nós somos como partes do universo, todos irmãos e irmãs: as partículas elementares, os quarks, as pedras, as lesmas, os animais, os humanos, as estrelas, as galáxias”. Portanto, somos todos co-responsáveis, pela (r)existência do homem, pelo piar dos pássaros, pelo barulho do vento, pelo parar do tempo. Conforme Gênesis, Deus é a própria

1 Especialista - Gestão Ambiental - Químico2 Doutora - Professora do Mestrado em Ensino de Ciências da Saúde e Meio Ambiente e Engenharias – UniFOA

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criação,“presente”noiníciodaconstruçãodacasa, “oicos”, ELE, arquiteto dos arquitetos,construiu A CASA em solo fértil sem contaminação ambiental e quimicamente equilibrado através de seus constituintes micro e macro elementares. Dotada de infra - estrutura necessária ao bom funcionamento do ambiente, com vários quartos, espaço amplo, com direito a vaga na garagem, tráfego sem congestionamento água e alimento em abundância, tratamento de lixo e esgoto sanitário operando em patamares compatíveis com o bom senso esperado. Enfim,aproveitamentointeligenteemcores vivas. Pasmem porém senhores, tudo isto, sem a necessidade de uma consultoria aos planejadores e gestores de plantão ou prévio estudo de impacto ambiental. Por motivo de viagem, fez um contrato de locação, baseado apenas nas alíneas do respeito, da solidariedade, da partilha, da generosidadeedaconfiança. É possível que DEUS tivesse apenas sussurrado, e o homem sempre pouco disposto a ouvir, não tenha entendido que voltaria um dia para dar uma verificar o estado e ascondiçõesdeseu“oicos”. Talvez também, por falta de atenção ou sensibilidade, é bem provável que o homem tenha entendido como vistoria geral da CASA, anecessidadedeSuapresençafísica! Homem moderno e ocupado, não sabe mais ler cartas ou receber mensagens subliminares,apenas“torpedos”emensagenseletrônicas. O carteiro e os poetas do ambiente, há pelo menos quatro décadas, batem a porta sem, no entanto, lograr êxito na entrega do envelope ao destinatário. Pobre homem, talvez perceba tardiamente as cobranças do SENHORIO, quanto aos itens contratuais, desenvolvido a basedaconfiança,daéticaedorespeito. Infelizmente, o relatório atual de auditorias, interna e externa, vem apresentando tópicos de não conformidade em vários itens. Com atenção especial àqueles embalados pela arrogância, pela insensatez e pela ganância. Espera-se que o homem reflita eapresente urgentemente novos planos de ajustes de conduta. Baseados, principalmente em pontes que liguem aos caminhos da ternura, do cuidado, do AMOR MAIOR.Casocontrário,...!

GÊNESIS 1, 3 Deus disse: “Que exista a luz!” E a luz começou a existir. A luz pode ser compreendida como uma forma de energia. Esse fenômeno pode ser observado na fornalha solar que atinge milhares de graus. A superfície da terra é iluminada e aquecida pelo sol. A luz é fundamental para os vegetais que a utilizam para a produção da fotossíntese. Processo onde a água, o gás carbônico, a clorofila e enzimas, na presença de energialuminosa, produzem material celular e oxigênio. Os estudos que envolvem o caráter ondulatório da propagação da luz propiciaram o conhecimento e o desenvolvimento das técnicas que envolvem os espectros eletromagnéticos. Em função de seu comprimento de onda, os espectros variam do infravermelho ao ultravioleta, passando pela região do visível, faixa onde a retina humana consegue enxergar. Niels H. D. Bohr (1885 – 1962), físico teórico renomado recebeu o premio Nobel em 1922 por estudos nesta área. Especialmente pela criação do seu modelo para o átomo. Reconhecidamente um ortodoxo defensor da mecânica quântica, Bohr percebeu rapidamente que inovações tão perturbadoras iriam ocasionar mudanças de rumos nas áreas doconhecimentocientíficoetecnológico. Com o aperfeiçoamento das novas ferramentas, aliados às necessidades industriais e de consumo, o homem passou a ter contato com um número cada vez maior de radiações: mostradores luminosos de relógios a base de fósforo, equipamentos que emitem radiações eletromagnéticas na faixa de altas freqüências (fornos de indução, transmissores de rádio, receptores de televisão, radares, telefonia celular, uso de radiações radiativas para uso médico e industrial entre outros.) e ,particularmente, a radiação nuclear, que além de ser muito perigosa e mortal (utilização em guerras) é potencialmente poluidora, em virtude dos resíduos radioativos. Por esse motivo requer métodos especiais para sua disposição ou lançamento. O homem, hoje, sabe, através de amargas experiências, que o seu organismo tolera pequenas doses de radiações de alta energia. Ressalta-se ainda, o fato dessa energia

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não ser detectada pelos sentidos, a não ser em doses maciças, sendo assim age de forma cumulativa no organismo. Desta maneira, em função de sua intensidade e energia podem ocasionar doenças como o câncer ou mutações genéticas. Convém também ressaltar o chamado “efeito estufa” (incubadora). A expressão“efeito estufa” indica um fenômeno naturalconhecido e é caracterizado pelo aumento de temperatura da atmosfera terrestre. O planeta Terra irradia para o espaço uma quantidade igual àquela absorvida do sol. Essa irradiação ocorre sob a forma de radiações eletromagnética na faixa de comprimentos de onda do infravermelho (IV). Estaradiaçãoficaretidanaatmosferaem virtude da presença de alguns gases que absorvem grande parte dela e conseqüentemente aquece a atmosfera. A radiação é direcionada de volta a superfície, é reabsorvida e provoca aquecimento na superfície do planeta. O aumento da concentração de alguns gases indutores do “efeito estufa” (dióxidode carbono - CO2, metano - CH4, óxido nitroso –N2O, clorofluocarbonetos –CFCs,hexafluoretodeenxofre–SF6)éresponsávelpelo aumento de temperatura do planeta. Concomitante a outros fatores estima-se um aumento de temperatura na faixa de 2°C a 6°C para os próximos cem anos. Esse aumento de temperatura seria maior do que qualquer outro ocorrido desde o aparecimento da civilização humana na terra.

GÊNESIS 1,4 Deus viu que a luz era boa. E Deus separou a luz das trevas. O planeta e as futuras gerações agradeceriam aos atuais “condôminos”, acapacidade destes em nortear seu iluminado olhar na direção do norte, sem deixar, no entanto, um rastro indesejável, muito menos, perder o facho de luz da cena presente, baseado na responsabilidade, na generosidade e no equilíbrio. Diante da atitude paternal e generosa do PAI, ao separar o joio do trigo, o movimento natural da espécie humana seria partilhar os conhecimentos adquiridos e desenvolvidos de forma a fundamentá-los no caminho do equilíbrio e da sustentabilidade, que segundo JuhaSipila,ambientalistafinlandesa,significa:“Usarmos nossa ilimitada capacidade de

pensar resguardando nossos limitados recursos naturais”. É bem verdade, que é impossível deixardeassinalar,quemuitos“trigosdeluz”ultrapassaram os meches da peneira, momento onde a inteligência humana esteve a serviço das vidas presentes e futuras. Exemplos na medicina, onde o avanço das técnicas radioativas e instrumental (ressonância magnética, lazer, quimioterapia, etc) são fundamentais para a cura de doenças, há cinqüenta anos atrás, inimagináveis. Talvez o que esteja faltando ao ser humano seja a incorporação de um prisma interno com resolução sensível capaz de associar os caminhos sutis a trilhar na cadência dos passos a marchar. Quem sabe, esta seria uma maneira de separar a luz convergente da luz interferente, a claridade da escuridão, a luz dastrevas! O homem não se deu conta que a não separação dos ruídos interferentes, contribui sobremaneira para a morte do planeta. Desta forma impossibilitando vida qualitativa aos seus pretéritos futuros semelhantes. Geralmente, algumas dessas atitudes são tomadas visando sempre o bem estar de uma pequena minoria, pertencentes a uma sociedade do ter, do ostentar e do consumo desenfreado. Entretanto, a trajetória da humanidade tem sido pontuada, também, através de exemplos daqueles que foram e ainda o são, luz para existência e para a trajetória de vida igualitária de seus semelhantes. O clarão da vaidade, da insensibilidade, da promoção interessada ou datemívelpicadada“MoscaAzul”nãoforamempecilhos para uma eterna visão. Dentro desta rede de pensamentos e atitudes, a começar pelo FILHO da própria luz inicial de Gênesis, podem ser citados também, alguns contemporâneos, tais como, Martin Luther King, Madre Tereza de Calcutá, Mahatma Ghandi, Chico Mendes, José Lutzemberg, Irmã Dorothy Mae Stang e tantos outros anônimos. Enfatizamos, porém, um exemplo recente do nosso cotidiano, a quase despercebida atitude tomada por Frei Betto, oriundo das lutas dos Dominicanos na busca da caridade, da fraternidade e ética. Seus ideais de igualdade e liberdade transcenderam a tranqüilidade e a calmaria dos conventos ao

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Entretanto, nos grandes centros urbanos, a vertente oxidante da camada de ozônio está presente de maneira prejudicial. O O3 é formado através de reações fotoquímicas, principalmente dos óxidos de nitrogênio (NO, NO2), e são provenientes das emissões de veículos automotores. Os gases oxidantes, quando próximos à superfície da terra, são nocivos à saúde humana. Os sintomas mais observados da intoxicação através da poluição atmosférica são a metahemoglobinemia (cianose) e edemas pulmonares. Quanto aos malefícios causados aos vegetais estão principalmente a diminuição da permeabilidade das membranas celulares e a queda da capacidade fotossintética das plantas, emvirtudedadestruiçãodaclorofila. Os contaminantes radioativos são outros poluentes atmosféricos a serem considerados. Muito embora alguns elementos químicos emitem tais radiações para atmosfera de maneira natural. A partir da segunda guerra mundial, com os estudos adiantados sobre o núcleo do átomo, está espécie de radiação continua até os dias atuais, sendo alvo de preocupações por parte da humanidade. Os problemas causados por estas emissões estão associados à meia vida biológica dos isótopos radioativos. Logo, quanto maior a meia vida biológica de um isótopo radioativo, maior será o comprometimento do órgão humano afetado.

GÊNESIS 1,7 Deus fez o firmamento para separar as águas que estão acima do firmamento das águas que estão abaixo do firmamento. E assim se fez. No Planeta Terra, dois terços da superfície, ou 71%, são cobertos por água. De toda a água existente na Terra, apenas 2,5% são doce, sendo que 70% estão nas geleiras polares assim restando 0,75% para dividir entre os seis bilhões de humanos. Estes 0,75%deáguaéclassificadocomosuperficiale subterrânea. Esta última encontra-se armazenada no subsolo, em rochas chamadas de aqüíferos, perfazendo 97% de toda a água disponível, em condições de ser explorada, física e economicamente, pelo homem. As águassuperficiaisestãodistribuídasembaciashidrográficas (rios, lagos, etc) e representam

alcançar os embates urbanos. Convidado e nomeado, pelo governo atual, na mobilização social do programa “FomeZero”,deixouocargodoisanosdepois,talvez por acreditar, como no poema de José Régio:

”Não sei onde vou,

Não sei para onde vou,

Sei que não vou por aí.

Não vou pelas vias que conduzem os passos do inimigo.

Não trilharei os caminhos sombrios, tortuosos da

corrupção, da sonegação, da falcatrua e da negociata.”

Ou ainda conforme declara o poeta Mario Quintana:

“Enquantounssaemparacaçarborboletas,prefirocuidar

do jardim para que elas venham”.

Exemplosquedignificamacrençanoamanhã e na esperança. A verdadeira vitória da luz às trevas.

GÊNESIS 1,6 Deus disse: “Que exista um firmamento no meio das águas para separar águas de águas!” Dentre os principais poluentes atmosféricos encontram-se os materiais particulados, tais como os aerossóis, condições em que se encontram os clorofluorcarbonos(CFCs). Quando emitidos para atmosfera as cinzas, material do tipo sólidos finos,normalmente provenientes da queima de combustíveis e a poeira, partículas sólidas, são capazes de permanecer temporariamente suspensas no ar. Os gases e vapores gerados e emitidos pelas indústrias contêm compostos de enxofre, de nitrogênio, de carbono, orgânicos (hidrocarbonetos, aldeídos e ácidos orgânicos), os halogênios e seus derivados, os oxidantes e os metais pesados. O comportamento do ozônio (O3) na atmosferadeveserummotivopara reflexão.Através de um processo natural é formado nas grandes altitudes pela ação dos raios ultravioletas sobre o oxigênio atmosférico. A camada de ozônio formada na estratosfera (cerca de 35.000 m de altitude) tem como função primordial absorver radiação ultravioleta emitidas pelo sol.

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apenas 3% das reservas de água doce. Hoje, sabemos que a água é um recurso limitado e de valor econômico. Sua escassez pode ocorrer, tanto por condições climáticas e hidrogeológicas, como por demanda excessiva. Nada é mais abundante do que a água. Por isso, é difícil imaginar que sua escassez possacausarmortes,conflitos internacionais,ameaças a sobrevivência de animais e plantas e comprometer alguns setores da economia. Entretanto, tal cenário é cada vez mais recorrente. Apenas um quarto da humanidade terá água para as suas necessidades mínimas em 2025. A estimativa é da Organização das nações Unidas (ONU), que considera os recursos hídricos uma de suas preocupações prioritárias. Além disso, no último meio século, a disponibilidade de água por ser humano diminuiu 60%, enquanto que a população aumentou 50%. Em algumas partes do planeta, a crise já começou. Nos quarenta países mais secos, a maioria deles na Ásia e na África, um cidadão tem direito a, no máximo, oito litros de água por dia. Pelos cálculos da ONU, um indivíduo adulto precisa de algo em torno de 50 litros diários para viver, ou seja, para ingestão, preparo de alimentos, diluição de esgotos e higiene pessoal. O cálculo não inclui dezenas de milhares de litros gastos na agricultura, na pecuária ou na indústria. Atualmente 70% da água doce disponível no planeta é utilizado na agricultura. Segundo o Conselho Mundial de Ägua (World Water Council), no ano 2025 serão necessários mais 17% desse recurso para alimentar o mundo. Poluição é a contaminação da água com substâncias que interferem na saúde das pessoas e animais, na qualidade de vida e no funcionamento dos ecossistemas. Alguns tipos de poluição têm causas naturais, tais como, erupções vulcânicas. Porém a maioria é causada pelas atividades humanas. Com a crescentesofisticaçãodatecnologia,oriscodecontaminação aumentou consideravelmente.Na década de 50, os níveis de oxigênio de importantes rios urbanos de países ricos baixaram a patamares críticos - chegaram a cerca de 10% do volume normal. Em Londres, um barco chegou a ser usado para injetar oxigênio puro diretamente na água, uma solução cara e com resultados limitados. Os últimos levantamentos da ONU

a esse respeito são bastante eloqüentes. De acordo com ela, os 14 maiores rios europeus têmnascentes com “bomstatus ambiental”,mas no resto de seu percurso, estão bastante degradados. Na Ásia, todos os rios que cruzam cidades estão altamente poluídos. Se o ritmo de crescimento da poluição continuar acompanhando o da população, a terra poderá perder 18 mil quilômetros quadrados de águas doces até 2050 quase nove vezes o volume total usado a cada ano em irrigação no mundo. Ainda segundo a ONU os pobres são, como é de se imaginar, os mais afetados pela poluição. Metade da população de países em desenvolvimento está exposta a mananciais poluídos. O quadro é particularmente grave na Ásia, onde os rios têm três vezes mais bactérias originárias de esgotos do que a média mundial. Além disso, os corpos d’água asiáticos apresentam taxas de enxofre até vinte vezes superiores às de países ricos. No Brasil em torno de sessenta milhões de brasileiros não dispõem de coleta de esgoto, além disso, no norte e nordeste, quinze milhões de pessoas não têm sequer acesso à água encanada. No mundo a situação não é muito diferente, mais de um bilhão de pessoas não têm acesso à água potável e 2,7 bilhões vivem em domicílios sem saneamento básico. As águas são poluídas, basicamente, por dois tipos de resíduos: os orgânicos, formados por cadeias de carbono ligadas a moléculas de oxigênio, hidrogênio e nitrogênio, e os inorgânicos, que têm composições diferentes. Os resíduos orgânicos normalmente têm origem animal ou vegetal e provêm dos esgotos domésticos e de diversos processos industriais ou agropecuários. São biodegradáveis, ou seja, são destruídos naturalmente por microorganismos. Entretanto, esse processo de destruição acaba consumindo a maior parte do oxigênio dissolvido na água, o que pode comprometer a sobrevivência de organismos aquáticos. Já os resíduos inorgânicos vêm de indústrias principalmente as químicas e petroquímicas e não podem ser decompostos naturalmente. Entre os mais comuns estão chumbo, cádmio e mercúrio. Conforme sua composição e concentração, os poluentes hídricos têm a capacidade de intoxicar e matar microorganismos, plantas e animais aquáticos,

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tornando a água imprópria para o consumo ou para o banho. Em função de condições de escassez em quantidade e ou qualidade, a água deixou de ser um bem livre e passou a ter valor econômico. Esse fato contribuiu com a adoção de novo paradigma de gestão desse recurso ambiental, que compreende a utilização de instrumentos regulatórios e econômicos, como a cobrança pelo uso dos recursos hídricos. A Água formada por um átomo de oxigênio e dois átomos de hidrogênio em ligação covalente, contribuição mútua na busca da estabilidade angular. Água, fase líquida, símbolo da limpeza, da pureza e da fé. Eis a mão do homem que através de ações ou omissões vem através dos tempos transformando a pureza das substâncias em produtos pouco desejáveis. Acompanhando o movimento tortuoso das sinuosas vias do comportamento humano balizados pelos modernos e discutíveis padrões de referência, éticos, morais e culturais. O homem pelo homem, também capaz de ser o divisor, o meio, o separador.

GÊNESIS 1, 26 Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra.”

GÊNESIS 1, 29 E Deus disse: “Vejam! Eu entrego a vocês todas as ervas que produzem semente e estão sobre toda a terra, e todas as árvores em que há frutos que dão semente: tudo isso será alimento para vocês.

“Obrigado Senhor, pelo húmusda terra, pela relva molhada, pelo alimento colhido, pelo amor surpreendido, pela tenra e eterna infinitude, como no primeiroentardecer”. “Perdoa-nos Senhor, pela morte doplaneta, pelo afogar das esperanças, pelo não tomai e não comei, pelo conter das emoções, mesmo ao último amanhecer”. Todos nós em algum momento de nossas vidas quando desfrutando de momentos de lazer ou de introspecção já tivemos oportunidade de interiorizar pensamentos que

nos remeteram à perfeição da natureza: seja a rotação dos planetas no sentido de não colisão, seja o sol a aquecer a existência do homem na terra ou estrelas a iluminar as belas noites de inverno. Cada ser humano deste planeta certamente teria alguma particularidade em relação aos seus aspectos de senioridade, sem que houvesse repetições entre os exemplos citados. Assim seria inimaginável crer ou acreditar que tivesse havido alguma falha na projeção do “balanço alimentar da mãenatureza”! Naturalmente, sempre fomos sabedores dos problemas da fome no mundo. Os dados do Banco Mundial e da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) indicavamnúmerosparaládesignificativos. Já no início dos anos 80, entre 700 milhões e um bilhão de pessoas viviam em absoluta pobreza ao redor do mundo. No continente Africano cerca de um para cada quatro ser humano é subnutrido. Na Ásia e nopacífico28%dapopulaçãopassamfome.Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a fome crônica afeta mais que 1,3 bilhões de pessoas. Quais serão as verdadeiras razões que afetam a produção de alimentos no mundo?

- A terra não possui condições para produzir alimentossuficientes? - O número de habitantes no planeta cresce em projeção logarítmica, sendo assim não hádemandasuficiente?- No mundo a extensão de terras cultiváveis é inferior ao necessário?

Provavelmente, alguns mandatários espalhados pelo mundo sentir-se-iam bastante confortáveis na remota possibilidade de pessoas com um mínimo de informações acreditarememtais“balelas”. Porém, mais incomodativo para aqueles cidadãos que imaginam ser possuidores de pouco mais subsídios, é tentar compreender como a economia neoclássica- onde as empresas vendem bens e serviços e com isso remuneram os fatores de produção (terra, trabalho e capital)- poderá algum dia trabalhar alinhada e equilibrada com a economia ecológica. Esta enxerga o planeta terra como um sistema aberto à entrada de energia solar. Nessa economia, a manutenção da biodiversidade é

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tratada de forma primordial, sendo respeitadas as relações de energia versus produtos e reciclados. Atualmente, metade da agricultura mundial é voltada para a produção de ração para animais. A carne dos animais abatidos é acessível a menos de 15% dos seres humanos. O consumo mundial de carne está restrito a poucos países, dentre estes podem ser citados, Estados Unidos, União Européia, China e Brasil que concentram o consumo global de cerca de 60% de carne bovina, mais de 70% de carne de frango, e mais de 80% de carne de porco. Em outras palavras, significa dizerque o resto da população mundial pratica um semi-vegetarianismo consentido. Números e dados informam que para alimentar uma população de 6,5 bilhões de habitantes seria necessário mais dois planetas como a terra só para pastagens e produção de grãos /ração. Qualquer leitor observando os dados acima tem o direito de intuir que este balanço de massa é totalmente injusto e não homogêneo com a maioria esmagadora do planeta. Porém, os exemplos citados acima são apenas uma gota em um vasto oceano chamado“fomenoplaneta”. Utilizando a lógica matemática e supondoaconfiguraçãofinaldestesnúmeros,um modelo operável, esta ferramenta indicativa comporta uma extrapolação para qualquer tipo de modelo funcional onde os algoritmos significativos serão sempre representadospelas forças políticas e econômicas, pela conveniência da distribuição de recursos em relação aos interesses de grandes empresas e oligarquias seculares. Para ilustrar as suposições levantadas acima, um fato que chamou atenção neste início de 2008 e que diz respeito ao Brasil foi o fato da mídia mundial insistir em noticiários tendenciosos referentes aos biocombustíveis.Eleger os biocombustíveis como grande vilão da escassez de alimentos no mundo é no mínimo uma indelicadeza com a neuroquímica dos nossos sentidos. Como observa a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Susana Kahn Ribeiro, o etanol obtido nos Estados Unidos tem como matriz o milho. Neste caso houve um desvio da produção alimentar para aumentar a geração de biocombustível.

Em função da redução da oferta do milho o preço dos derivados subiu, dando início um processo de reação em cadeia e culminando com o aumento do preço da ração dos animais e conseqüentemente das carnes. Enquanto no Brasil onde o etanol é produzido através da cana de açúcar a relação custo-benefício é totalmente favorável à utilização desta matriz. Além do nosso histórico dos últimos trinta anos indicarem tanto o aumento da produção de etanol quanto o crescimento na produção de alimentos. Entretanto, devemos observar as questões ambientais e trabalhistas que envolvem a produção de etanol em larga escala. O Brasil é um dos poucos países no mundo onde existem condições para ampliação da produção agrícola. Aliado a esta possibilidade,alémdepoderratificarotítulodeclamado pelas gerações passadas de celeiro do mundo, deveríamos embalar o sonho da prática da agricultura sustentável. O equilíbrio, a sustentabilidade já não é tratativa para um futuro próximo, é uma imposição de urgência. As práticas desenvolvidas na agricultura sustentável certamente produziriam as seguintes conseqüências:

- manutenção em longo prazo dos recursos naturais e da produtividade;- mínimo de impactos negativos ao meio ambiente;- retorno adequado aos investidores;- otimização da produção com mínimo de insumos externos;- satisfação das necessidades humanas de alimento e renda;- atendimento às demandas sociais das famílias e comunidades rurais.

Na esperança do amanhã, sentido primordial da vida, ansiosamente espera-se que os desígnios da criação sejam cumpridos pelo homem, principalmente nos aspectos de dominação e utilização da biodiversidade. Sejamos feito a imagem e semelhança como na origem do universo. Para tanto, prevaleça a característica que mais nos diferencia dos outros habitantes deste planeta, qual seja, o pensamento. Que este seja aqui simbolizado pelos caminhos e letras do equilíbrio “samatva”,quase sem forças, quase na escuridão, na liberdade de expressão daqueles que sonham

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e tem fé na existência humana:

Minha casa transparente

Descortino o profundo, o impenetrável

Grossas gotas em queda, sob a luz dos trovões

Incessante ausência de sem tido

Fazrefletir

Fumaças de inspiração

Névoas de condensação

Ausência de visão

Natureza viva, esquálida

Templo angelical

Em universo vegetal, apenas animais

Quantoavocê,intruso!

Entre espelhos a observar

O olhar ao longe do amanhã

Encravado no reverso

Em busca de equilíbrio

Entre a momentânea lucidez

E a derradeira

LUZ.

Bibliografia Recomendada

- Bíblia Sagrada. Edição Pastoral, São Paulo: Paulus, 1990.

- PAPA, João Paulo II; Cruzando o Limiar da Esperança, 1 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 209pp.,1994.

- LEEF, Enrique; Saber Ambiental; Petrópolis: Vozes, 343pp., 2001.

- BOFF, Leonardo; Ecologia Grito da Terra Grito dos Pobres, São Paulo: Ática, 339pp.,2000.

- BOFF, Leonardo; Espiritualidade um Caminho de Transformação, 2ed. Rio de Janeiro: Sextante, 94pp., 2001

- TRIGUEIRO, André (coordenador); Meio Ambiente no Século 21, Rio de janeiro: Sextante, 367pp., 2003.

- www.folha.com.br; A crise dos Alimentos e o Brasil, acesso em 10 de Maio de 2008

- BOHR, Niels; Física e Conhecimento Humano, Rio de janeiro: Contraponto, 140pp.,1995.

- BRAUN, Ricardo; Desenvolvimento ao Ponto Sustentável; Petrópolis: Vozes, 173pp.,2001.

- RAVAGLIA, Rosana; Desenvolvimento Sustentável: Apostila Interdiciplinar em Políticas de Educação em Saúde, 2003.

- BREDARIOL, Celso; VIEIRA, Liszt; Cidadania e Política Ambiental; Rio de Janeiro: Record, 171pp., 1998.

- MARIANO, Rubem; A polêmica sobre a fome mundial e os biocombustíveis, www.google.com.br; acesso em 10 de Maio de 2008.

- BOFF, Leonardo; Ética e Moral, Petropolis: Vozes, 125pp.,2003.

- ALIER, Joan Martinez; Da Economia Ecológica ao Ecologismo Popular; Blumenau: FURB, 402pp.,1998.

- KONDER, Leandro; Vida e Obra – Marx; São Paulo: Paz e Terra, 154pp.,1999.

- LEFF, Enrique; Epistemologia Ambiental; São Paulo: Cortez, 240pp., 2006.

Endereço para Correspondência:

Profa. Doutora Rosana RavagliaMestrado em Ensino de Ciências da Saúde e Meio Ambiente e [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560

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Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:SILVA, Marcos Bella Cruz; RAVAGLIA, Rosana. Meio Ambiente – Na Perspectiva do Criador e da Criatura. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano III, n. 6, abril. 2008. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/06/11.pdf>

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Projeto de Inclusão Digital AAPVR – Tecnologia da Informação com Respon-sabilidade Social

AAPVR Digital Inclusion Project- Information Technology with Social Respon-sibility

Rafael Teixeira dos Santos 1

Daniel Gomes de Miranda 2

Palavras-chaves:

Responsabilidade Social

Inclusão Digital

Inserção Social

Resumo

O presente artigo tem como objetivo apresentar os métodos e os resultados da inclusão social da população considerada ‘terceira idade’ com base no projeto de Inclusão Digital para a Terceira Idade, nascido de uma parceria entre o Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA) e a Associação de Aposentados e Pensionistas de Volta Redonda (AAPVR).O Projeto de Inclusão Digital do UniFOA, pretende desenvolver ações sociais, pelo trabalho de seus alunos, objetivando contribuir para uma inserção da comunidade da terceira idade num ambiente informatizado, perfazendo a “Inclusão Digital”. Dessa forma, o presente projeto atua também, comoum instrumento de inclusão social, não apenas das populações de maior carência sócio-econômica, mas também, atendendo as diferentes faixas etárias de ambos os sexos

Key words:

Social Responsibility

Digital Inclusion

Social Insertion

Abstract

The present article has the aim of presenting the methods and the results of social inclusion of the population considered as “Third Age”, based on the project of Digital Inclusion for Third Age, started with a partnership of Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA (Universitarian Centre of Volta Redonda) an the Volta Redonda Retired and Pensioner Workers Association (AAPVR). The UniFOA Digital Inclusion Project intends to develop social actions by its students work, aiming to contribute for an insertion of the Third Age community in a computer environment, promoting the “Digital Inclusion”. This way, the present project also acts as a social inclusion instrument, not only with the most social-economic careless population but also attending different ages in both sexes.

O município de Volta Redonda tem identidade própria, caracterizada não apenas pelo contextotopográficoeasatividadeseconômicas,mas também por seu espírito (a alegria, o humor, a bravura, etc), que traduz o conjunto das almas de seus habitantes. Ressalta-se que, pela dimensão pouco expressiva de seu território, o Município possui uma dasmaiores densidades demográficas do

Estado, incomum a uma cidade do interior e com uma expressiva concentração da população em área urbana. Por ser uma cidade que proporciona alta qualidade de vida, Volta Redonda conta com uma das maiores populações consideradas terceira idade em todo o país e, para comportar tamanha demanda de assistência à esta população, foi criada a AAPVR, que tem como

1. Introdução

1 Especialista - Ciências de Tecnologia e Engenharias – UniFOA2 Graduado - Sistema da Informação – UniFOA

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objetivo prestar assistência aos seus associados, defendendo seus direitos e interesses. Nos últimos trinta anos, vimos nascer novas formas de comunicação que deram origem à sociedade em que vivemos hoje – a chamada Sociedade da Informação. O surgimento das novas Tecnologias de Informação e Comunicação trouxeram mudanças profundas nas relações econômicas, políticas, sociais e culturais e, ao mesmo tempo em que pontes informacionais foram construídas - ligando mercados, capitais, interesses e pessoas e permitindo trocas numa velocidade jamais imaginada, também abismos foram criados (ou aprofundados), deixando de um lado aquelas pessoas que têm acesso e recursos para a utilização efetiva das tecnologias e de outro, as que não têm ou não conseguem utilizar os meios. Assim como já aconteceu (e continua acontecendo) em relação a outras ferramentas, direitos e oportunidades, continua havendo lutas por condições de igualdade. Essa não é propriamente uma tarefa fácil, uma vez que a exclusão nem sempre está evidente, escrita em números. Mesmo quando há estatísticas – que são escassas e desencontradas -, alcançar a eqüidade de gênero não se trata apenas de igualar estatísticas de acesso. Há muitos outros processos em jogo, e as barreiras que se impõem para a efetiva inclusão digital são conseqüência de outras exclusões sociais que historicamente afetam às comunidades mais carentes.

“A extensão universitária é um processoeducativo, cultural e científico que articulao ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a universidade e sociedade. A extensão é uma via de mão dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica,seráacrescidoaqueleconhecimento.Estefluxo,que estabelece a troca de saberes sistematizados acadêmico e popular, terá como conseqüência a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade.”

(FORUM NACIONAL DE EXTENSÃO, 1987).

O projeto que será aqui analisado é desenvolvido através de treinamento oferecido aos aposentados e/ou pensionistas da AAPVR, promovendo a capacitação dos alunos para fazerem uso da informática como uma ferramenta completa, passando desde entretenimento e comunicação, até otimização de trabalhos antes manuais. A Organização Mundial da Saúde (OMS),classificaoenvelhecimentoemquatroestágios, sendo estes: meia idade, idoso, ancião e velhice extrema, conforme pode ser visto na tabela abaixo.

Meia-idade 45 a 59 anosIdoso 60 a 74 anosAncião 75 a 90 anosVelhice extrema 90 anos em dianteTabela1-Classificaçãodoenvelhecimentoconforme

OMS - Fonte: Mazo (2001).

AClassificação daOrganização dasNações Unidas (ONU), considera como idosas as pessoas de 60 anos e mais para os países em desenvolvimento, e de 65 anos e mais para os países desenvolvidos. Apesar dessa classificação, oprograma de Terceira Idade da Feevale aceita pessoas acima dos 50 anos para participarem das atividades. A seguir descrevemos brevemente o mencionado programa de extensão comunitária. Por fim, fundamenta-se naPolítica Nacional de Inclusão Digital e Responsabilidade Social que tem por atividade fim,combateraexclusãosocialedigitalpormeio da universalização e popularização do acesso público e gratuito às tecnologias de informação e comunicação aliando-as com um produto ambientalmente conveniente. Essa interação social será atingida por meio da implantação do curso básico e avançado de informática. Entretanto, mais do que isso, o curso de informática, tende a ser uma atividade digna, que pode reavivar em muitos dos cidadãos a vontade de viver, se comunicar e permanecerem ativos tanto social quanto tecnologicamente.

2. Objetivos

O projeto é desenvolvido através de treinamento oferecido aos aposentados

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e/ou pensionistas da AAPVR, Associação de Aposentados e Pensionistas de Volta Redonda, promovendo a capacitação dos alunos para fazerem uso da informática como meio de comunicação, entretenimento e até mesmo uso profissional. Essa ação fundamenta-se na necessidade de inclusão digital para os tempos futuros, em que e a informática tende a exercer o papel de ferramenta preponderante. Representa também, um instrumento de inclusão social da população idosa, atendendo pessoas de faixa etária média entre 40 a 90 anos de idade, de ambos os sexos e, assim, contribuir para a formação e o aperfeiçoamento dos alunos do Curso de Sistema de Informação do UniFOA, através da participação em atividades de cunho social. O objetivo deste trabalho é o desenvolvimento humano/tecnológico/social da população da 3ª idade, trazendo para estes o conhecimento necessário para o uso da ferramentaidealparaestefim. Logo, o objetivo do projeto de pesquisa está fundamentado no desenvolvimento de estudos em dois principais setores: •Educação,qualificaçãopessoale•Garantiadedireitosiguaisatodos;

“Atualmente,oGovernoBrasileirojácomeça

a investir em terminais de acesso público à informação

e este investimento tende a crescer cada vez mais.

Espera-sequenofuturooscidadãospossamfiscalizar

a Administração Pública e obter serviços públicos

sem sair de casa, mediante o governo eletrônico,

diminuindo assim gastos da máquina administrativa.

Porém, tais iniciativas poderão ser neutralizadas

caso a população não se empenhe em fazer com que

essa idéia vigore, buscando meios para incluir-se

digitalmente” (ARAS, 2004).

Além desses, há ainda os objetivos indiretos, mas não menos importantes, que são: estimular a adoção das tecnologias sociais como políticas pública; apropriar-se das tecnologias sociais pelas comunidades onde forem aplicadas; desenvolver novas soluções e tecnologias sociais que solucionem demandas e necessidades não atendidas. 3. Metodologia e Estratégia de Ação

“Aqueles que já possuem computador

enfrentamoutrasdificuldadesparaacessaraInternet,

como: a falta de infra-estrutura em telecomunicações,

o custo de acesso e o idioma (pois o inglês é a língua

de 80% dos websites). Outros cidadãos que vivem

às margens da sociedade sendo privados pelas

tecnologias são os analfabetos, que por não saberem

ler e escrever, ou algumas vezes o fazerem com

muita dificuldade, tornam-se integrantes do duplo

analfabetismo: o funcional e o digital.” (GALVÃO,

2003).

Inicialmente, foi necessário estabelecer prioridades e direcionar as atividades a serem trabalhadas, sem desprezar os aspectos inerentes aos sistemas utilizados. Considera-se, fundamentalmente, que o desenvolvimento do trabalho não pode basear-se em soluções lineares, mas na simultaneidade das atividades dos diversos domínios de conhecimento envolvidos. Nessas condições, o projeto se divide em duas etapas, básico e avançado. O conteúdo da etapa básico foi dividido nos seguintes tópicos: • Módulo Introdução à informática e Windows – Sendo explorado os conhecimentos básicos no que diz respeito as partes que compõem o computador a nível de hardware. Funcionamento e evolução dos componentes, otimizando o desempenho para determinadas aplicações, e uma Visão geral de toda a potencialidade do Sistema Operacional Windows através do gerenciamento dos programas, personalização dos dispositivos do painel de controle, execução de programas. • Módulo Internet – Desenvolvendo os conceitos de utilização da Internet como meio de comunicação, as práticas de navegação e utilização de aplicações Web tais como web mail. • Módulo Word – Desenvolvimento das aplicações do software de edição de textos e sistemas de produção de conteúdos que permite criar emodificar tabelas demodorápido,associandoaelasgráficospreparadosno próprio editor de textos. O trabalho de edição e editoração de cartas, folhetos, jornais, relatórios, teses e qualquer tipo de documento pode ser totalmente realizado com o editor.

Na etapa Avançado, com os seguintes tópicos:

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• Módulo Excel - Desenvolvimento das aplicações do software de planilha eletrônica, que fornece ferramentas para efetuar cálculos através de fórmulas e funções e para a análise desses dados. As cinco principais funções do Excel são: Planilhas: Você pode armazenar, manipular, calcular e analisar dados tais como números, textosefórmulas.Podeacrescentargráficosdiretamente em sua planilha, elementos gráficos, tais como retângulos, linhas,caixas de texto e botões. É possível utilizar formatos pré-definidos em tabelas.Bancosde dados: você pode classificar, pesquisare administrar facilmente uma grande quantidade de informações utilizando operações de bancos de dados padronizadas. Gráficos:vocêpoderapidamenteapresentarde forma visual seus dados. Além de escolher tipos pré-definidos de gráficos, você podepersonalizar qualquer gráfico da maneiradesejada. Apresentações: Você pode usar estilos de células, ferramentas de desenho, galeria de gráficos e formatos de tabelapara criar apresentações de alta qualidade. Macros: as tarefas que são freqüentemente utilizadas podem ser automatizadas pela criação e armazenamento de suas próprias macros. •Módulo Power Point – Desenvolvimento de Apresentações aplicando ferramentas de Design de Slides, Layout de Slides, Personalização de animações, por meio de esquemas e efeitos de transições. Reaplicação de efeitos de texto, otimização da visualização por meio de um estudo das características tanto da letra quanto do plano de fundo. É mostrado também a turma as formas de se visualizar uma apresentação, de criar uma apresentação nova e salvá-las em formatos adequados.

O projeto apresenta uma forte contribuição tecnológica, além do desenvolvimento aplicado, articulando técnicas já disponíveis, que é um de seus pontos positivos, pois diminui os riscos de interferência na execução do projeto e aumenta a probabilidade de consecução dos objetivos propostos.

“O risco da exclusão social via exclusão

digital é enorme. Pessoas que por diversos motivos

encontram-se impossibilitadas de interagir com

as novas tecnologias e inclusive com a Internet

são privadas das informações disponibilizadas e

da oportunidade de aumentar seu conhecimento,

acompanhando a evolução e mantendo-se competitiva

para o mercado de trabalho.” (MILAGRES, 2003)

Sendo assim, O projeto trará impactos positivos e imediatos sobre o público alvo selecionado, possibilitando a estes o ingresso social e uma significativamelhorade qualidade de vida.

3.1 Formas de aprendizagem

Uma das maneiras mais eficazesde se inserir novos conhecimentos para pessoas com grande carga de informações acumuladas é a prática da aprendizagem significativa. Esta prática ocorre quando umaprendiz possibilita a interação de um novo conteúdo com sua estrutura cognitiva e, nesse processo, esse conteúdo adquire significadopsicológico. Entretanto, pode não ocorrer essa incorporação ou acontecer em um número menor de interações. Neste caso, pode-se chamar de aprendizagem mecânica, uma vez que o novo conteúdo passa a ser armazenado isoladamente ou por meio de associações arbitrárias na estrutura cognitiva (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1978). Ausubel, Novak e Hanesian (1978) destacam também queoprocessodeaprendizagemsignificativaé o mais importante na aprendizagem escolar. No entanto, para que ela ocorra são necessários alguns requisitos básicos a serem cumpridos. Uma das condições para que ocorra a aprendizagem significativa é que oconteúdo ensinado seja relacionável com a estruturacognitivadoaluno.Issosignificaqueo material instrucional deve ser potencialmente significativo,deveestarorganizadodeformalógica, possibilitando ao aluno interagir com o novo material de modo substancial e não-arbitrário, com conceitos relevantes na estrutura cognitiva do aluno. Segundo Moreira (1983, p. 10):

“...para que o aluno possa aprender

significativamenteomaterialinstrucional,énecessário

haver em sua estrutura cognitiva um conjunto de

conceitos relevantes que possibilitem a sua conexão

com a nova informação a ser aprendida. Ao conjunto

destes conceitos básicos é dado nome de subsunçor,

originado da palavra subsumer. Um subsunçor

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é, portanto, um conceito, idéia, ou proposição já

existente na estrutura cognitiva do aluno, capaz de

servir de ancoradouro para uma nova informação de

modo que ela adquira assim um significado para o

indivíduo.”

A Figura 1 ilustra os modelos de aprendizagem mecânica e de aprendizagem significativa. No primeiro modelo,aprendizagem mecânica, o conhecimento é armazenado de maneira arbitrária e literal na mentedo indivíduo. Issonãosignificaqueoconhecimento é armazenado em um vácuo cognitivo, mas sim que ele não interage significativamente com a estrutura cognitivapreexistente,nãoadquiresignificados.Durantecerto período de tempo, a pessoa é, inclusive, capaz de reproduzir o que foi aprendido mecanicamente,mas não significa nada paraela. Já no segundo modelo, aprendizagem significativa, o conhecimento também éarmazenado, mas nunca é internalizado de maneira literal, porque no momento em que passa a ter significado para o aprendiz entraem cena o componente idiossincrático da significação. Aprender significativamenteimplica atribuir significados e estes têmsempre componentes pessoais.

Porfim,aatitudedoalunoédecrucialimportância para o processo de aprendizagem significativa. O aluno deve manifestar umesforço e disposição para relacionar de maneira não arbitrária ao novo material potencialmente significativo a sua estrutura cognitiva.Significando que não importa o quanto omaterial sejapotencialmente significativo, seoalunoapenastiver interessede“decorar”anova informação, não haverá a aprendizagem significativadomaterial. Quando não há subsunçores adequados para aquisição de determinado conhecimento, Ausubel, Novak e Hanesian (1978) sugerem que se utilize a chamada aprendizagem mecânica. A partir desse conteúdo seria possível “ancorar” as novasinformações estruturadas no conhecimento aprendido anteriormente. Entretanto, a utilização de organizadores prévios seria uma alternativa quando existe a ausência de subsunçores adequados. Segundo Ausubel, Novak e Hanesian (1978, p. 21):

“...a principal função do organizador prévio

é servir de ponte entre o que o aprendiz já sabe e

o que ele precisa saber para que possa aprender

significativamente a tarefa com que se depara.

Sendo dessa forma, um auxílio para vencer a

diferença existente entre o que o aluno já sabe

e a nova informação que ele pretende aprender

significativamente.”

A respeito disto, Moreira (1983, p. 15)osdefinedaseguinteforma:

“Os organizadores prévios são materiais

introdutórios em um nível mais alto de abstração,

generalidade e inclusividade, capazes de servir

de ancoragem ideacional a suprir a deficiência de

subsunçores até que estes estejam desenvolvidos.”

Como forma de suprir as necessidades do uso inteligente de organizadores prévios, tãoimportantesàaprendizagemsignificativa,é destacado neste trabalho a utilização de uma bem treinada didática buscando explicar conceitos de informática, se apoiando no funcionamento de processos cujo os alunos já estão familiarizados, tais como as tarefas do dia a dia.

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Figura 1 - Modelo ilustrativo da Aprendizagem Mecânica edaAprendizagemSignificativa,respectivamente.

Fonte: Adaptado de (WELLER; PEGLER; MASON, 2003)

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3.2 Interatividade

Durante o processo de ensino-aprendizagem, de acordo com a idéia da aprendizagem significativa, o aprendiznecessita ter uma experiência individual e pessoal ao consultar o material didático utilizado na abordagem de determinado conteúdo. Com base nesse requisito, busca-se no uso da interatividade a solução para o desenvolvimento cognitivomais eficiente doaprendiz (TAVARES, 2003). O termo “interativo” vem sendoutilizado de forma bastante arbitrária pelos meios de comunicação, o que muitas vezes acabapordistorcerseuverdadeirosignificado(SILVA, 1998). Segundo Silva (1998), é preciso deixar clara a diferença entre “interação” e“interatividade”. O primeiro termo refere-se a simples transmissão de informações ou participação em sentido unidirecional. Por conseguinte, temos a interatividade, a qual será dado destaque, pois sugere não apenas a simples participação do usuário de forma unidirecional, mas sim, a participação do aprendiz de forma bidimensional, ou seja, além de receber conteúdos, ele torna-se capaz demodificareintervirnainformaçãorecebida,fugindo da passividade presente nos métodos tradicionais de ensino (SILVA, 2000). A crescente autonomia dada ao indivíduo no processo de aprendizagem, possível graças a aplicação adequada da interatividade, deve ser encarada como um dos principais objetivos do ensino de ferramentas digitais à comunidade selecionada no projeto.

4. Avaliação, Sustentabilidade e Continuidade do Projeto

O presente projeto de pesquisa será desenvolvido no UniFOA, campus Aterrado. Isso significa que está incluída apossibilidade de integração entre professores e grupos de pesquisa do UniFOA. Espera-se que o material estudado seja uma alternativa

a aplicação prevista com outros tipos de aplicações técnicas do ponto de partida ao estudo de novas aplicações. Ao mesmo tempo haverá um aumento no leque de oportunidades que poderão surgir a partir deste projeto.

4.1 Riscos e Dificuldades

“Aexclusãodigitalnãoéficarsemcomputador

ou telefone celular. É continuarmos incapazes de

pensar, de criar e de organizar novas formas, mais

justas e dinâmicas, de produção e distribuição de

riquezasimbólicaematerial”.(SCHWARTZ,2003)

Em função do projeto ser de cunho experimental,asdificuldadesestãorelacionadasà obtenção dos recursos materiais. A execução dos ensaios estará restrita aos equipamentos disponíveis nos laboratórios de informática do UniFOA e aos períodos vagos de sua utilização em outras atividades acadêmicas. Outros tipos de análises que venham a ser necessárias deverão contar com a ajuda de outros laboratórios da Instituição de Ensino. Além disso, pode-se citar ainda os riscos inerentes a correta análise dos equipamentos necessários ao desenvolvimento do projeto, a verificaçãodadisponibilidadedosresíduoseacapacitação de pessoal

4.2 Andamento

O curso de inclusão Digital AAPVR, vem se mostrando um pioneiro em incluir digitalmente pessoas afastadas tanto de salas de aula quanto de tecnologias avançadas. O curso que está formando atualmente cerca de 120 alunos, e já formou outros 213 alunos avança para sua quarta edição, consolidando seu sucesso. Nas tabelas 1 e 2, faz-se uma amostra do conteúdo de cada módulo e dos números de alunos inscritos e formados em cada edição, seguido dos módulos ministrados em cada edição

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Módulo 1 Módulo 2Introdução + Windows Excel

Word Power PointInternet

Tabela 2 – Tabela de módulos do curso de Inclusão digital para a 3ª idade

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5 Resultados

O Projeto de Inclusão Digital para a Terceira Idade tem como meta a participação cidadã da população idosa, através de ações voltadas à educação permanente e qualidade de vida. Os resultados apresentados tiveram como público alvo somente os idosos que freqüentaram o curso de informática entre

agosto de 2006 e dezembro de 2007. A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas, com questionário semi-estruturado composto por perguntas fechadas e abertas e questões para identificar o perfil do nossopúblico. Como era de esperar, também nos cursos de informática a maioria do público é femininocomopodeservistonográficoaseguir:

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Edição 1 – 2006/2 Edição 2 - 2007/1 Edição 3 - 2007/2120 Inscritos 160 inscritos 160 Inscritos90 formados 123 formados 120 formados (estimado)

3 turmas 4 Turmas 3 Turmas + 1 TurmaMódulo 1 Módulo 1 Módulo 1 e Módulo 2

Tabela 3 – Tabela de Edições com números que demonstram o sucesso do projeto.

Figura 3: Motivo que o levou a procurar o Curso de Informática

A maioria dos participantes tem computador em casa ou na casa de parentes e contam com acesso diário ou semanal, como podeservistonafigura4.Entreaspreferênciasencontram-se e-mail e editor de textos, que são considerados por este público como os mais

simples de utilizar.As dificuldades relatadascentram-se no uso de planilhas, manipulação de arquivos e pastas. Nas ocasiões de dúvidas, descreveram em sua maioria, que perguntam a professora ou pesquisam nas anotações feitas na aula.

Figura 4: Facilidade de Acesso à tecnologia (computador/Internet)

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Finalmente, os entrevistados relataram que existem mudanças nas suas atitudes em relação ao computador após os cursos em virtude de sentirem-se mais confiantesde suas potencialidades e habilidades; mais familiarizados na utilização das ferramentas e softwares e menos excluídos dos progressos tecnológicos e da sociedade. Quando o idoso passa a dominar a tecnologia sente-se novamente parte atuante em suas famílias e sociedade.

6 Conclusões

Através do desenvolvimento do projeto, analisou-se que este é um grande desafiodasentidadesdecunhofilantrópicoesocial como a FOA e a AAPVR, mas concluiu-se que a metodologia adotada pelas partes envolvidas e que a união de esforços entre as mesmasproporcionaaoschamados“excluidosdigitais” da 3ª idade, uma oportunidade de se reinserirem na sociedade dita moderna, uma vez que estes passam a ter o conhecimento de como utilizar as mesmas tecnologias que as novas gerações vêm utilizando como meios de comunicação, entreterimento e ferramentas de trabalho.

7 Referências - AMARO, R. R. A Exclusão Social Hoje. Disponível em http://www.triplov.com/ista/cadernos/cad_09/amaro.html. Acesso em 24 abr. 2007.

- ARAS, V. Exclusão Digital: o que é isto? Disponível em http://www.suigeneris.pro.br/excldig.htm. Acesso em: 19 abr. 2007.

- GALVÃO, A. Alfabetismo Digital e Exclusão Social no Brasil. Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br. Acesso em 21 mai. 2007.

- NERI, M. C. Mapa da Exclusão Digital. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, Centro de Políticas Sociais, 2003. 143 p.

- SILVA FILHO, A. M. Os Três Pilares da Inclusão Digital. Disponível em http://www.comunicacao.pro.br/setepontos/2/trespilares.htm. Acesso em: 24 abr. 2007.

- SPAGNOLO, G. Ações Concretas de Inclusão Digital. Disponível em http://www.aemp.com.br. Acesso em 17 abr. 2007.

- LANDIN, Leilah; BERES, Neide. Organizações sem fins lucrativos no Brasil: ocupações, despesas e recursos – estudo internacional comparado. Rio de Janeiro: Nau, 1999.

- LANDIN, Leilah; SCALON, Maria Celi. Doações e trabalho voluntário no Brasil: uma pesquisa. Rio de Janeiro: 7Letras, 2000.

- PELIANO, Anna Maria T. Medeiros, coord. A iniciativa privada e o espírito público: um retrato da ação social das empresas no Sudeste brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA, 2000.

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Conformegráficoaseguir,constata-sequeentreosentrevistadosoe-maileaInternetsãoas ferramentas que mais utilizam:

Figura 5: O que mais utilizam no computador?

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- TAVARES, Romero. Aprendizagem Significativa.RevistaConceitos,n.10,55-60.2003.

- SILVA, M. Que é interatividade?, Boletim Técnico do SENAC, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2, mai./ago. 1998. Disponível em : <http://www.senac.br/boletim/boltec242d.htm>. Acesso em: 01 jul. 2007.

- MOREIRA, M. A. Uma abordagem cognitivista ao ensino de Física. 1 ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS. 1983.

- AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H.; Educational Psychology: A Cognitive View. New York: Warbel & Peck. 1978.

8 Anexo

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Endereço para Correspondência:

Prof. Rafael Teixeira dos SantosCurso de Sistema da Informaçã[email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:SANTOS, Rafael Teixeira dos; MIRANDA, Daniel Gomes de. Projeto de Inclusão Digital AAPVR – Tecnologia da Informação com Responsabilidade Social. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano III, n. 6, abril. 2008. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/06/19.pdf>

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Maldições, Fetiches e Comunismo na Crítica da Economia Política: a teoria da alienação de Karl Marx

Malediction, Fetish and Communism in the Criticism of Political Economy: the Karl Marx Theory of Alienation

Rodrigo Castelo Branco1

Key words:

Alienation

Capitalism

Communism

Karl Marx

Abstract

In the economical plan, the alienation and the power of capital over the working class have grown in size with the disassembly of Well-Being social state and the end of real Socialism. The dollar, with the extinction of Bretton-Woods monetary-financial agreements, has lost its link with any standard good and it has become the international money for excellence, expanding the USA imperialist power to levels not experimentalized by any dominant great nation. The fetishism of good, which matches its maximum expression in money, has reached a level in which the capital seems to reproduce by itself – money that genders money – getting own life and subordinating the workers interests to the capitalist class interests. These are some of the contemporary questions which the Marxist thinkers face. Is it possible that the “alienation”, “fetishism of good” and “reification” categories are capable of help United States in comprehending the actual phase in Capitalism, when the capital in interest seems to dominate everyone? The present study does not intend to answer such a complex question: its aim is only to establish a theorical panorama of the alienation question and the fetishism of good in the Karl Marx theorical work.

Na Era Moderna, a temática da alienação foi um dos focos centrais das artes e das ciências humanas. Livros, músicas,

filmes e pinturas retrataram, com argúciae sensibilidade apuradas, as angústias e sofrimentos dos indivíduos e coletividades na

1. Introdução

1 Mestre - Serviço Social – UniFOA

ArtigoOriginal

Original Paper

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Palavras-chaves:

Alienação

Capitalismo

Comunismo

Karl Marx

Resumo

No plano econômico, a alienação e o poder do capital sobre a classe trabalhadora cresceram de tamanho com o desmonte do Estado do Bem-Estar Social e o fim do socialismo real. O dólar, com a extinção dosacordos monetário-financeiros de Bretton Woods, perdeu seu lastrocom qualquer mercadoria-padrão e tornou-se a moeda internacional por excelência, expandindo o poder imperalista estadunidense a níveis nunca antes experimentado por qualquer potência dominante. O fetichismo da mercadoria, que encontra sua expressão máxima no dinheiro, atingiu um patamar no qual o capital parece se reproduzir por si só – dinheiro que gera dinheiro (D-D´) – ganhando vida própria e subordinando os interesses dos trabalhadores aos interesses da classe capitalista. Estas são algumas das questões contemporâneas com as quais os pensadores marxistas se defrontam. Será que as categorias ‘alienação’, ‘fetichismo da mercadoria’ e ‘reificação’ são capazesdenos auxiliarno entendimentoda atual fasedo capitalismo, quando o capital a juros parece dominar a tudo e todos? O presente trabalho não pretende responder a tal questão complexa: o seu objetivo é tão somente traçar um panorama teórico da problemática da alienação e do fetichismo da mercadoria na obra teórica de Karl Marx.

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sociedade industrial; sociologia, economia e filosofiaanalisaramastensõesecontradiçõesderivadas do capitalismo e suas conseqüências alienantes sobre classes e povos de todo o planeta. Muitas das contribuições para a análise da alienação limitaram-se ao exame dos seus sintomas e manifestações aparentes, e poucos foram até a raiz e a essência do problema,ficandorestritasacertasdimensõese particularidades da alienação. Segundo versões psicologistas (ex.: existencialismo), a alienação é uma condição inata da existência humana, uma espécie de maldição que nós, seres humanos, vamos carregar como um fardo até o resto de nossas vidas, condenadas ao sofrimento eterno (SCHAFF, 1965). Na segunda metade da década de 1950, a problemática da alienação veio à tona dentro do marxismo com o interesse de pesquisadores na retomada da leitura dos textos clássicos e originais de Karl Marx, publicados a partir da década de 19301 . O tema da alienação sempre foi um tabu dentro do pensamento socialista revolucionário: por diversos motivos2,eleficourestritoaumnúcleomuito reduzido de estudiosos e militantes, que logo foram taxados de heréticos pela patrulha ideológicadosórgãosoficiaisdo“marxismo-leninista”. O marxismo desenvolveu a problemática da alienação sob um ponto de vista histórico, analisando o seu nascimento e desenvolvimento nas sociedades organizadas em torno das classes e o seu possível desaparecimento em uma sociedade socialista. A alienação deixa de ser um problema do indivíduo isolado na sociedade para se tornar um produto histórico criado sob certas formas de organização social de produção e reprodução da vida humana, e por isto mesmo, suscetível de mudança de acordo com as interaçõessociais, aocontrárioda“maldiçãoeterna” proposta pelos existencialistas. Ao responder às questões dos pensadores existencialistas, o marxismo colocou o debate da alienação em novos patamares, evoluindo para novas temáticas e frentes de investigação. Uma das principais fontes de renovação do debate foi aberta pelo texto Reificação, de Georg Lukács, presente no livro História e Consciência de Classe. Segundoofilósofohúngaro,aalienação,nosmarcos da sociedade capitalista, transborda

da esfera da produção e abarca outros níveis sociais e da própria economia, como o consumo. Posteriormente, outros autores (a chamada Escola de Frankfurt, Lucien Goldmann, István Mészáros) vão seguir essa trilha aberta por Lukács e estudar os efeitos e conseqüências da alienação nas artes, comunicação e ideologia e seus rebatimentos no ser humano. No plano econômico, a alienação e o poder do capital sobre a classe trabalhadora cresceram de tamanho com o desmonte do Estado do Bem-Estar Social e o fim dosocialismo real na ex-União Soviética e no Leste Europeu. O dólar, com a extinção dos acordos monetário-financeiros de Bretton Woods, perdeu seu lastro com qualquer mercadoria-padrão e tornou-se a moeda internacional por excelência, expandindo o poder imperalista estadunidense a níveis nunca antes experimentado por qualquer potência hegemônica. O fetichismo da mercadoria, que encontra sua expressão máxima no dinheiro, atingiu um patamar no qual o capital parece se reproduzir por si só – dinheiro que gera dinheiro (D-D´) – ganhando vida própria e subordinando os interesses dos trabalhadores aos interesses capitalistas de tal forma que os efeitos da dominação da classe proprietária têm sido sentidos nos últimos trinta anos, período de regressão da humanidade à barbárie. Estas são algumas das questões fundamentais com as quais os pensadores marxistas se defrontam nos dias de hoje. Será que as categorias ‘alienação’, ‘fetichismo damercadoria’ e ‘reificação’ são capazes denos auxiliar no entendimento da atual fase do capitalismo, quando o capital a juros parece dominar a tudo e todos? O presente trabalho não pretende responder a tal questão complexa: o seu objetivo é tão somente traçar um panorama teórico da problemática da alienação e do fetichismo da mercadoria na obra teórica de Karl Marx.

2 A pluridimensionalidade da categoria ‘alienação’ e a centralidade da sua determinação econômica

O conceito de alienação é uma temática cara àfilosofia clássica alemã.Esteconceito não apareceu originariamente nos escritos marxianos sob a marca do trabalho e

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da produção material e ideológica, mas sim no debatefilosóficoalemãodealienaçãopolíticae religiosa do ser humano. A alienação é um processo social que ultrapassa as fronteiras do mundo do trabalho, e chega a abarcar diversos elementos da vida humana. Ela não diz respeito apenas ao trabalhador no processo de trabalho, embora esta seja uma esfera fundamental da alienação, mas ao homem enquanto ser universal genérico, atingindo múltiplas esferas do seu comportamento. O conceito de alienação é, desde o seu aparecimento, um conceito pluridimensional. Se procurarmos uma definição comum atodas suas dimensões, podemos dizer que objetos materiais ou ideológicos criados por um sujeito, ao se exteriorizarem, dominam e subjugam o seu criador, ganhando vida própria como um ser animado, transformando o sujeito em objeto; coisas e homens trocam de papel e função: enquanto aquele domina, este é dominado. No caso da alienação política, estamos falando do homem e do Estado; na religião, do homem e de Deus; na economia, do homem e do Dinheiro e, posteriormente, do Capital. Marx não ignora a pluridimensiona-lidade do conceito, discutindo-a nas críticas a Hegel e Feuerbach durante as primeiras fases da sua evolução teórica. Ele vai, todavia, buscar a raiz do problema da alienação no processo histórico de formação e desenvolvimento das sociedades de classe, na divisão social do trabalho e no aparecimento da propriedade privada, desde o modo de produção escravista até o capitalista. Podemos dizer, resumidamente, que o fenômeno da alienação é, para Marx, um fenômeno histórico que compreende diversas esferas do ser social (política, religião, ideologia), mas encontra sua centralidade na base econômica. O revolucionário alemão ultrapassa e supera todoodebate teológico efilosóficosobre alienação quando descobre a alienação do trabalho como uma prática social e a elege como denominador comum à multiplicidade de visões a qual o tema alienação está submetido. Indo mais além, Marx chega até mesmo a diagnosticarasraízesconcretas(“porquês”)daalienação do trabalho, assim como vislumbra as possibilidades e caminhos (“como”) parasuperar a realidade que subjuga o homem ao mundo inumano das coisas.

2.1. Os Manuscritos Econômico-Filosóficos

Os Manuscritos Econômico-Filosófi-cos3 fazem parte da crítica marxiana ao direito e ciência do Estado, que encontra seu auge teóriconafilosofiahegelianadoDireito.Marxtinha a intenção de escrever vários volumes independentes desta crítica à ciência do Estado – Direito, Moral, Política, etc. –, sendo que os Manuscritos corresponderiam à crítica da economia política. São apontamentos pessoais de estudo de Marx, que nunca foram redigidos para divulgaçãonaformaquefor–panfleto,livro,circular política, etc. Neles, o autor anota citações de livros e glosa-os em seguida, tece comentáriosereflexõessobrediversostemaseesboçaumacríticadafilosofiahegeliananassuas páginas finais. Sem o devido cuidadoda preparação final dos alfarrábios parapublicação, páginas inteiras somem, idéias e argumentos são interrompidos no meio, e boa parte da obra não tem nexos de ligação entre os cadernos de estudo. Estassãoapenasumadasdificuldadespara a compreensão destes manuscritos que Louis Althusser bem definiu como“enigmaticamenteclaros”.Paracompletarestequadroaparentementecaótico,“(...)Marx,emseu esforço de entrar em diálogo com seus contemporâneosfilosóficos,comoFeuerbach,conservou certos termos do discurso deles que por vezes estavam em choque com o significado que ele próprio lhes atribuía”(MÉSZÁROS,1981,p.15).Estaambigüidadeterminológica não se restringe ao linguajar próprio dos filósofos, pois Marx compila ereproduz inúmeras e extensas citações dos economistas, o que muitas vezes dificulta adiferenciação das idéias marxianas da dos autores citados. Os Manuscritos de Paris repre-sentam, apesar das dificuldades inerentes àinterpretaçãodostextos,umpontodeinflexãoda maior importância na trajetória intelectual (e política) de Marx. Pela primeira vez, ele muda a perspectiva da alienação econômica fundada numa vaga antropologia idealista para um processo social enraizado na esfera da produção da vida humana. Enquanto Hegel naturaliza a objetivação do trabalho humano supondo-a alienada em todos os modos de produção, como se o homem estivesse condenado a estar sempre separado do resultado do seu trabalho,

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Marx afirma que a objetivação alienada e acoisificação das relações de produção sãoresultados de uma forma histórica específicade organização social, a saber, a baseada na produção de mercadorias4. O que era para ser apenas uma crítica ao sistema hegeliano acaba se tornando o segundo passo da crítica da economia política, dado que Engels já havia iniciado-a; o próprio Marx (1982 [1859], p.25) nos dá o seu testemunho sobre sua primeira incursão no terreno da Economia Política, quando percebe a sua importância crucial no entendimento da sociedade burguesa e na construção do socialismocientífico.

Minha investigação desembocou no seguinte resultado: relações jurídicas, tais como formas de Estado, não podem ser compreendidas nem a partir de si mesmas, nem a partir do assim chamado desenvolvimento geral do espírito humano, mas, pelo contrário, elas se enraízam nas relações materiais de vida, cuja totalidade foi resumida por Hegel sob o nome de ‘sociedade civil’ (bürgerliche Gesellschaft) (...); mas que a anatomia da sociedade burguesa (bürgerliche Gesellschaft) deve ser procurada na

Economia Política.

A base da sua crítica (filosófica) àeconomia política constitui-se na leitura de alguns poucos autores econômicos, do esboço da crítica da economia política de Friedrich Engels, e, mais importante, do contato com as condições de vida e a auto-organização política do proletariado parisiense. Neste momento da sua trajetória teórica, no auge da sua juventude, Marx ainda não tinha, inversamente do que afirmaoautorlogonoiníciodos Manuscritos5 ,umacúmulosuficienteedesejadodeestudossobre a economia política para dirigir-lhe um golpe fatal, como diria anos mais tarde na finalizaçãodaspáginasdeO Capital (1867). O que contrapor, então, à ideologia falseadora da economia burguesa? Qual é a saída para superar os limites da ideologia econômica? Partindo da sua experiência junto à militância política com o proletariado parisiense e do contato com a economia política apresentada por Engels, Marx elabora, nos Manuscritos, uma síntese em statu nascendi, um sistema coerente de idéias que interliga toda uma série de questões e temáticas, determinadas e determinantes do sistema que as acolhe. Segundo Izstán Mészáros (op. cit., p.17),

estamos testemunhando neles o aparecimento dessa síntese singular, ao seguirmos as linhas gerais de uma vasta e abrangente concepção da experiência humana em todas as suas manifestações (...). Marx delineia nos Manuscritos de Paris as principais características de uma nova ‘ciência humana’ revolucionária (...) do ponto de vista de uma grande idéia sintetizadora: ‘a alienação do trabalho’ como a raiz de todo o complexo de alienações.

Os Manuscritos são, desta forma, uma peça teórica escrita por um jovem pensador marginalizado pelas escolas tradicionais, que se vê obrigado a desenvolver sua própria concepção de mundo ao largo das instituições acadêmicas. Eles são um balanço dos estudos marxianos realizados até então e um esboço não definitivo de uma agendade pesquisa futura, que aponta para diversas áreas do saber, necessariamente articuladas numa nova concepção de mundo que as dê sentido e sustentação. “No curso da redaçãodos Manuscritos de Paris, Marx percebe a imensidão de seu empreendimento, ao adquirir consciência de que seu enfoque geral, orientado para a práxis, (...) deve proceder sempre ‘por meio de uma análise totalmente empírica’, submetendo ao mais rigoroso exame até mesmo os mínimos detalhes” (Ibid, p.21, grifo do autor). E assim será até os últimos dias da sua vida, buscando, incansavelmente, terminar uma obra interminável. O objeto da sua crítica, a economia política, não foi uma escolha ao acaso, como uma área do saber passível de ser corrigida a partir dos seus próprios elementos constitutivos. Armado da crítica da filosofia do direito deHegel, e inspirado pelos ensinamentos do genial esboço da crítica engelsiana, Marx enxerga a problemática da economia política como a chave do entendimento do homem e sua relação com a natureza e a sociedade. A economia política se torna sua fonte da preocupação quando Marx percebe-a como uma justificativa ideológica da alienação dasociedade capitalista, regida pela vontade de uma potência alheia aos desejos do trabalhador. Como diz Herbert Marcuse (1968 [1932], p.108),

esta economia política é a sanção científica daintervenção do mundo humano, histórico-social, num mundo estranho ao homem enquanto poder hostil do antagônico mundo da mercadoria e do dinheiro, no qual a maior parte da humanidade só existe ainda

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enquanto trabalhadores ‘abstratos’ (cindidos da completa realidade da existência humana), separada do objeto do seu trabalho, coagida a vender-se a si própria enquanto mercadoria, para poder manter

apenas sua existência física em geral.

A tarefa posta por Marx diante de si na sua crítica da economia política não é trivial, nem de curta duração, pois ele não pretendia preencher as lacunas teóricas deixadas em aberto pelos economistas clássicos, muito menos identificar possíveis erros lógicos eformais na sua linguagem e na reprodução ideal da sociedade capitalista6. Marx não foi, nem pretendeu ser, o “último dos clássicos”ou um “ricardiano maior”, como dizemmarxólogos e comentadores da sua obra. O seu objetivo era fundamentar, através do reexame dafilosofiaclássicaalemãedopontodevistado proletariado revolucionário, uma crítica positiva da economia política, capaz de elucidar os aspectos negativos da sociedade capitalista e apontar rumos de superação, transcendência (Aufhebung) desta forma de sociabilidade que subsume, formal e realmente, o homem aomundoinumanodascoisas.“Dentrodestacrítica se transformará inteiramente a idéia deeconomiapolítica:elasemodificaránumaciência das condições necessárias à revolução comunista” (Ibid, p.107). O fato é que Marx havia despertado para a elaboração de uma síntese teórica superadora da filosofia clássica alemã, daeconomia política e do coletivismo francês (LÊNIN, 2003), síntese esta que nasce como expressão dos anseios e interesses do proletariado. Para alcançar este objetivo era preciso desvendar o código genético do capitalismo e sua estrutura molecular básica que Marx, primeiramente, identificou notrabalho e depois na mercadoria.

2.2 Trabalho assalariado e propriedade privada: a alienação econômica

O ponto de partida dos esquemas teóricos da economia política é, segundo as notas dos Manuscritos, a propriedade privada. Tomando-a como um dado natural e a-histórico, os economistas políticos não explicam a gênese da propriedade privada burguesa, quando e onde ela surgiu, nem quais sãosuasleiscientíficasinternas,reduzindo-aa

fórmulas abstratas e vazias de conteúdo sócio-histórico. Sem a preocupação de explicar e demonstrar cientificamente o processohistórico da formação da propriedade privada, os economistas políticos voltam todas as suas atenções para a análise antropológica da ganância e da dinâmica da concorrência. Na antropologia smithiana, presente no livro A Riqueza das Nações, a produção de mercadorias é considerada adequada e satisfatória a “natureza humana”, guiadapelo desejo de acumular riqueza e maximizar prazeres e minimizar a dor. Simbolizada na figura doHomo Economicus, a antropologia smithiana eterniza o desejo capitalista de acumulação de riquezas, estendendo-o aos períodos históricos precedentes, supondo que o homem sempre teve como princípio básico aganânciaeoegoísmoburguês.“Nomundofictíciodoseconomistasclássicos-mundoquenão passa de uma extrapolação esquemática e idealista do mundo capitalista real - os homens seriam perfeitos, egoístas, indiferentes e insensíveis aos sofrimentos, aspirações e necessidades de seus semelhantes, mas que passariam (é nisso que consiste a idealização) seu tempo a ajudar os semelhantes, sem querer” (GOLDMANN, 1967, p.118). Ao supor a propriedade privada como um fato dado e acabado, o economista político esquiva-se de explicar o processo histórico do surgimento da propriedade privada,de explicitar as suas especificidadese conseqüências sócio-econômicas no modo de produção capitalista e acaba por se refugiar num estado primitivo remoto e imaginário, numa espécie de ilha da fantasia – a ilha de Robinson Crusoé. Contrariamente ao procedimento adotado pelos economistas, Marx toma para si, nos seus apontamentos, o ponto de partida do real, da produção humana, da situação social dos trabalhadores. Segundo Mészáros (op. cit., pp.42-43),

A superioridade radical de Marx sobre todos os que o precederam é evidente na historicidade dialética coerente de sua teoria, em contraste com as debilidades de seus predecessores, que, em um momento ou outro, eram todos obrigados a abandonar o terreno real da história em favor de alguma solução imaginária das contradições que teriam percebido, mas não podiam dominar ideológica e intelectualmente.

O procedimento metodológico de reproduzir o real o mais fielmente possível,

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estabelecendo as conexões dinâmicas entre múltiplas determinações no âmbito da totalidade, diferencia e afasta Marx da economia política (LUKÁCS, 1979, capítulos 1 e 2). Mesmo ainda trabalhando com as categorias e linguagem próprias dos economistas, Marx estabelece os primeiros passos de ruptura ontológica e metodológica com a ciência econômica burguesa. Os homens são analisados na sua vida concreta, na sua existência prática de transformação do mundo e de si mesmo, como produto e produtores da realidade social, diferentemente do Homo Economicus. Marx não adota o ponto de vista de um homem qualquer, abstrato, geral, mas o do trabalhador, o do proletariado, que corresponde à situação sócio-econômica de grande parte da humanidade7. Sua teoria começa a ganhar contornos de um recorte classista da realidade, embora o conceito de classes sociais não tenha surgido com coerência e precisão (CASTELO BRANCO, 2004). O trabalho é, para Marx, uma categoria queultrapassasuassignificaçõeseconômicas:antes de tudo, ele significa a atividade vitalda realização do homem como ser prático, como ser universal construtor da sua realidade social. Marx acusa a economia política de reduzir o trabalho ao emprego, e o trabalhador à condição de mão-de-obra, de instrumento deprodução,de“umabestareduzidaàsmaisestritas necessidades corporais” (MARX, 2004 [1844], p.31), e vai propor uma nova concepção do homem, baseada numa nova concepção do trabalho. O trabalho é a mediação primária do homem com a natureza, na sua apropriação dos bens naturais e transformação em produtos sociais. Os termos básicos da teoria da alienaçãodeMarxpodemserassimdefinidoscomo Homem, Natureza e Trabalho. Não é possível pensarmos a relação do homem com a natureza sem falarmos no trabalho e nos objetos resultantes desta atividade do homem. Ele é uma mediação de primeira ordem na relação sujeito-objeto (homem-natureza), “um mediador que permite ao homem criarum modo humano de existência, assegurando que ele não recuará para o estado natural (...)” (MÉSZÁROS,op. cit., p.76). O trabalho consciente diferencia o homem dos outros animais, pois estes carregam as suas formas de atuação na

naturezanoseucódigogenético.Já“ohomemfaz da sua atividade vital mesma um objeto da sua vontade e da sua consciência. Ele tem atividade vital consciente. Esta não é uma determinada (Bestimmtheit) com a qual ele coincide imediatamente. A atividade vital consciente distingue o homem imediatamente a atividade vital animal. Justamente, [e] só por isso, ele é um ser genérico” (Ibid, p.84). A apropriação da natureza pelo homem não é feita apenas para a satisfação de necessidades biológicas imediatas. Isto diferencia os homens dos animais: enquanto estes “produzem” sob o ditamedas necessidades e da herança genética natural, aqueles produzem não apenas para suprir carências, mas sim para realizar-se universalmente como ser genérico, como ser produtor da sua própria liberdade. Numa primeira aproximação, o trabalho surge para o homem como uma atividade prática que lhe garante a sobrevivência física, explorando os recursos da natureza para sua alimentação, vestuário, habitação etc. Já em uma segunda abordagem, podemos dizer que o trabalho é também atividade prática consciente, teleológica, em que os projetos idealizados na mente humana se objetivam e se concretizam nos produtos do seu trabalho, onde os homens constroem a sua realidade social e a si mesmo num processo histórico contínuo e ininterrupto. Ao produzir objetos através do seu trabalho, o homem se reconhece nos objetos produzidos por si e pelos outros membros da espécie, daí o gênero humano ser derivado do trabalho. O trabalho é, em suma, o processo social pelo qual o homem se auto-afirma ese auto-realiza, modificando a natureza e asi próprio na produção de objetos que lhes pertence. A posse completa e autêntica dos produtos do seu trabalho é parte integrante e fundamental da realização plena do homem enquanto trabalhador e ser genérico universal, pois o homem deve tanto se reconhecer na sua obra quanto dominá-la, tê-la de forma a exercer domínio completo sobre o resultado do seu trabalho. Sob os ângulos da automediação necessária do homem com a natureza e, principalmente, do autodesenvolvimento humano, o trabalho é visto somente nos seus aspectos positivos, como manifestação de vida (Lebensäusserung). Mas o trabalho tem

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um lado obscuro, do qual Marx se encarregou de trazer à tona sob uma perspectiva diferente de Hegel, identificando as leis objetivas domundo do trabalho e as forças sociais para superar o sentido negativo do trabalho, a alienação (Lebensentäusserung). Marx vai lutar contra o conformismo hegeliano de aceitar a objetivação humana alienada como um fato insuprimível do homem e exprimir, teoricamente, os meios e as forças sociais capazes de superá-la. As categorias-chave para entender a alienação econômica são, dentro da teoria marxiana, atividades, divisão do trabalho, troca, propriedade privada e trabalho assalariado, todas elas analisadas, em maior ou menor grau, nos Manuscritos de Paris. Mas a categorização da alienação do trabalho só pode ser perfeitamente entendida se tivermos em mente o processo histórico do surgimento da propriedade privada capitalista e do trabalho assalariado, mediações de segunda ordem que surgem a partir da alienabilidade da terra e do homem e se interpõem entre o homem e a natureza. O processo de alienação econômica tem um duplo caráter, que obedece a ditames sociais da ordem capitalista, como acabamos de falar. Primeiro, o trabalhador é alienado dos produtos do seu trabalho, que pertencem, privadamente, aos donos dos meios de produção. De sua posse, vende-os no mercado por um determinado valor de troca e retém os ganhos provenientes das vendas. Além da propriedade das mercadorias produzidas, os burgueses também controlam o processo de trabalho no qual o trabalhador está inserido, ganhando um salário em troca da sua humanidade perdida. O homem, assim, torna-se uma mercadoria, e passa a (sub)existir enquanto sujeito físico, entidade meramente biológica, como os animais. A alienação econômica, entretanto, não se esgota neste duplo caráter da alienação econômica – logo, não deve ser reconhecida como algo simples. Sua complexidade vai além e atinge outras esferas da vida do ser social. Em resumo, podemos descrevê-la da seguinte forma: 1. relação alienada do homem com a natureza, com os produtos da sua atividade; 2. trabalhador alienado do processo de produção, uma atividade alheia a si; 3. o homem deixa de produzir-secomo“seruniversal”danatureza,como ser genérico, e passa a construir um ser

individual que se auto-realiza na parcialidade limitada, e não mais na universalidade singular do homem (ou seja, o homem não se reconhece como membro de uma espécie); 4, alienação do homem com outros homens. E, por último, mas não menos importante, tem a transformação dos processos de alienação econômica em uma entidade externa ao homem, como se conjurada magicamente e que ganha vida própria, sem ninguém a controlá-la. É uma espécie de uma potência alheia aos desejos do homem, que Smith imortalizou sob o nome de mão invisível e Marx chamou de fetichismo da mercadoria.

3. O fetichismo da mercadoria

Dentro da totalidade da vida social, diversas totalidades parciais – economia, ciência, arte, direito, política, etc. – articulam-se entre si de forma dialética, determinando e sendo determinadas numa relação de interação recíproca. Nenhum setor particular da vida social goza de uma preponderância natural sobre as outras, isto é, nenhuma totalidade parcial determina, de forma unívoca e absoluta, as outras partes constituintes do todo. A economia emerge, segundo o materialismo histórico de Marx e Engels, como a base social fundante das relações humanas, pois “(...) os homens foram obrigados adedicar a maior parte de sua atividade à resolução dos problemas referentes à produção e à distribuição das riquezas materiais (...)” (GOLDMANN, op. cit., p.110). EstaafirmaçãodeGoldmann(eMarxe Engels) nada mais é do que uma constatação empírica sobre a história dos homens elevada ao plano das idéias. Muito se falou e disse sobre um suposto caráter economicista da teoria de Marx e Engels por conta do primado dos fatores econômicos sobre outros momentos da realidade social. “Trata-se (...) apenas deuma primazia de fato, e não de direito, que desaparecerá naturalmente, no dia em que a aquisição de riquezas materiais passará – graças ao desenvolvimento das forças produtivas e a uma transformação da estrutura social – para segundo plano na atividade dos indivíduos. É o famoso ‘salto’ do reino da necessidade ao reino da liberdade” (Ibid, p.111). Com o avanço do desenvolvimento capitalista, a esfera econômica ganha cada

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vez mais autonomia em relação aos demais momentos da totalidade, autonomia esta sempre relativa, pois não é verídico que a economia possa se separar por completo do todo, mas é verdade que expande sua lógica e seu domínio sobre as outras esferas sociais, seguindo de perto a mercantilização da vida humana dentro do capitalismo. Nos modos de produção pré-capitalistas, como o escravagismo e o feudalismo, a divisão social do trabalho seguia um esquema rígido, onde as castas, estamentos e classes eram facilmente percebidas dentro da estratificaçãosocial.Asunidadeseconômicas(tribos, famílias, clãs, cidades-Estado, etc.) eram limitadas tanto na produção dos bens quanto na troca externa. Nestes períodos históricos determinados, as unidades econômicas produziam para o seu próprio consumo e, um pequeno excedente, que por vezes aparecia como resíduo do processo de produção (nunca de forma voluntária), era utilizado na troca com outras unidades, ou seja, o intercâmbio entre unidades de produção era reduzido a poucos produtos e a poucas quantidades. A produção de bens não tinha como objetivo abastecer o mercado, nem gerar excedentes em larga escala, mas sim criar os meios de subsistência das unidades. A autarquia, enfim, era a regra geral. Tudoisto vai mudar radicalmente com o modo de produção capitalista. Com o advento do capitalismo, a antiga divisão social do trabalho vai desaparecer e dar lugar a uma “anarquia daprodução”, forma menos rígida, nem por isto menos hierarquizada, de alocação e distribuição de recursos, e uma universalidade daeconomia,tantogeográficaquantosocial. O mercado é uma instituição social e econômica de alocação de recursos caracterizada pela ausência de um mecanismo centralizador e planificador da produção,distribuição, troca e consumo das mercadorias. No capitalismo, a concorrência adquire um papel central na anarquia da produção e acaba por exercer, por vias não-convencionais, o papel de uma instância permissivamente reguladora. “É por isso que esse mercadoassume (...) o aspecto de uma realidade cega, objetiva e exterior (...)” (Ibid, p.113) até mesmo para os capitalistas, atingidos pelo processo de fetichismo. O mercado, criação humana, aliena-se e torna-se uma entidade onipotente

e onisciente temida por seus adoradores, os burgueses. Ironia do destino ou fatalidade? Nenhum nem outro, responderia Marx: trata-se da evolução social do fetichismo da mercadoria, que a tudo e a todos abarca na esteira da acumulação ampliada e contínua do capital. Ao contrário do ídolo, que se sustenta por si próprio, o fetiche é um objeto que necessita ser carregado no corpo de alguém, ou de alguma coisa. No capitalismo ele é carregado pela mercadoria, célula fundamental para a análise do DNA do capitalismo, tarefa a qual Marx vai mergulhar nos Grundisse e em O Capital. A publicação dos Grundisse, mesmo que tardia, provou que Marx nunca abandonou sua teoria da alienação, mas a saturou de novas determinações formais8 com a teoria do valor-trabalho, desenvolvida cuidadosamente desde a Miséria da Filosofia, onde o revolucionário alemão ainda caminhava com as pernas ricardianas, ou melhor, com a teoria do valor-trabalho de David Ricardo. A temática do fetichismo aparece (sub)desenvolvida nos Grundisse9, ponto central da investigação marxista sobre a sociedade burguesa mercantil. Anos mais tarde, quando redige O Capital, exposição final da crítica daeconomia política, “o seu discurso teóricoalcança aí um rigor inaudito, subordinado diretamente à fidelidade ao objeto, reposto,pela abstração, totalizadoramente, na mais rica multiplicidade de conexões, superando-se a sua imediaticidade empírica na sua reprodução concreta” (NETTO, 1981, p.38). Em O Capital, Marx descreve a mercadoria como uma espécie de artefato capaz de ocultar as relações humanas envolvidas na produção do objeto. Antes da análise marxiana sobre o capital, o capitalismo era descrito pelos economistas vulgares como um imenso sistema de circulação e troca de bens. O processo de trabalho humano, que confere vida, valor e conteúdo ao capitalismo, desaparece nas brumas ideológicas da economia vulgar, como um feitiço, como um passe de mágica. Coube a Marx desvendar o fetichismo da mercadoria e seu caráter desumano, coisificado comodecorrente de relações sociais de produção, e não de uma característica intrínseca aos objetos. O fetichismo da mercadoria, que pressupõe uma teoria da alienação, é, na

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verdade, uma manifestação da alienação econômica numa determinada sociedade histórica, a capitalista. Podemos dizer, assim, que, enquanto a alienação é um processo que perpassa diversos modos de produção, e diversas modalidades – religiosa e política –, o fetichismo da mercadoria é uma particularidade econômica do modo de produção capitalista. A tradição marxista, a partir de algumas interpretações particulares da crítica da economia política, isolou a teoria do fetichismo da mercadoria do todo marxiano, e tomou-a ora como um apêndice sociológico, ora como uma crítica cultural. Isaak Rubin, nos anos 1920, interpretou de forma inovadora o famoso capítulo 1 do livro I de O Capital, tido como muitos como algo incompreensível, ou descolado do debate que Marx empreendia com a economia política. Segundo o economista russo, a teoria do fetichismo da mercadoria é “a base de todo o sistema econômico deMarx, particularmente de sua teoria do valor” (RUBIN, 1980, p.19). Diz o ditado popular que as aparências enganam. O método da economia política, curiosamente, atém-se justamente a aparência das relações econômicas, e delas não saem. Seu horizonte analítico e teórico é o mundo das trocas mercantis. Marx vai de encontro a ambas as formas de consciência, a popular e a científica da economia política.Ao contráriodos economistas políticos clássicos, que viam as relações econômicas como relações entre coisas, e dos economistas vulgares, que viam as mesmas transações como relações entre pessoas e coisas, (Ibid, p.15), Marx supera o senso comum popular e o método da economia política, restrito às aparências dos fenômenos sociais, e acaba com certas ilusões próprias do capitalismo, desvendando o mistério de como as relações sociais de produção entre sujeitos históricos aparecem como relações entre coisas. Segundo o pensador alemão (2003 [1867]: 94),

O caráter misterioso que o produto do trabalho apresenta ao assumir a forma de mercadorias, donde provém? Dessa própria forma, claro. A igualdade dos trabalhos humanos fica disfarçada sob a forma daigualdade dos produtos do trabalho como valores; a medida, por meio da duração, do dispêndio da força humana de trabalho, toma a forma de quantidade de valor dos produtos do trabalho; finalmente, asrelações entre os produtores, nas quais se afirma ocaráter social dos seus trabalhos, assumem a forma de relação social entre os produtos do trabalho.

No primeiro capítulo de O Capital, Marx“indaga-seporqueaproduçãomercantildominante, instaurando-se sobre fundamentos puramente sociais, obscurece e escamoteia estes mesmos fundamentos” (NETTO, op. cit., p.40). O processo social do trabalho, na sociedade mercantil capitalista, acaba por mascarar o seu caráter social e se mostrar como atividades de homens atomizados em unidades de produção isoladas uma das outras. As relações sociais de produção entre os trabalhadores livres desaparecem sob o manto das trocas mercantis do capitalismo que, contraditoriamente, é o modo de produção mais desenvolvido do ponto de vista da divisão técnica e social do trabalho. Os produtos do trabalho humano não são reconhecidos como resultado da cooperação entre diversos trabalhadoreseramosdaindústria–“(...)nadadisso é visível; a maioria desses personagens não se conhece e até ignoram sua existência mutuamente. Ficariam todos espantados de saber da existência de um laço que os une” (GOLDMANN, op. cit., p.122). O reconhecimento dos laços qualitativos de solidariedade e da união operáriaficasubsumidoaoreconhecimentodocaráter social das trocas mercantis, estas sim provedoras da argamassa que aparentemente solidificaasociedadecapitalista,quetemcomosua maior expressão o equivalente geral – o dinheiro. É somente no âmbito da circulação que os homens se encontram e se reconhecem como iguais, comercializando valores de troca quantificadosnopreço,mecanismosocialquepermite o intercâmbio das mercadorias por diversos agentes. A resposta do segredo do fetichismo da mercadoria–dareificaçãodasrelaçõessociaisde produção – não está na propriedade material das coisas produzidas pelo trabalhador10, nem somente nas relações de troca entre agentes econômicos independentes e que produzem atomizadamente. Ela reside, antes de tudo, na estrutura social da economia capitalista, constituída historicamente de forma muito particular. Uma das principais conquistas de Marx no exame sobre trabalho, mercadoria e valor é tomar a produção mercantil como um processo histórico em movimento. Indo além da positividade imediata da realidade, que manifesta as relações sociais de sujeitos como relações entre coisas, ele foi capaz de desvendar o caráter histórico da produção

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mercantil, dando um passo decisivo na crítica da economia política, já que a tendência dos economistas clássicos, vulgares ou não, era a de naturalizar as categorias de análise e eternizar o modo de produção capitalista. Mas isso não esgota a teoria do fetichismo da mercadoria, conforme nos chama aatençãoRubin:“Marxnãomostrouapenasque as relações humanas eram encobertas por relações entre coisas, mas também que, na economia mercantil, as relações sociais de produção assumem inevitavelmente a forma de coisas e não podem se expressar senão através de coisas” (RUBIN, op. cit., pp.19-20). Ou, nas palavras do próprio Marx (2003 [1867], p.94): “chamoaistodefetichismo,queestásempregrudado aos produtos do trabalho, quando são gerados como mercadorias. É inseparável da produção de mercadorias”. Em poucas palavras, para resumirmos o argumento, o fetichismo da mercadoria não é tido por Marx como uma ilusão criada na consciência (distorcida) dos agentes econômicos, ou mesmo dos sicofantas da burguesia, mas é a forma social inevitável e necessária pela qual as relações sociais de produção capitalista se materializam, ganhando, desta maneira, uma base objetiva11.

4. A superação positiva da alienação na crítica da economia política

Tomando a realidade burguesa como um dado natural, sem contestar os seus fundamentos, sem vasculhar seus recônditos mais secretos, as suas raízes mais profundas, os economistas políticos tornam a ciência econômica como uma ciência do capitalismo. Ao não investigar a gênese histórica das suas categorias fundantes – trabalho e propriedade privada, dentre outras – a economia política clássica naturaliza as relações sociais de produção subjacentes ao plano da aparência econômica (troca, consumo e distribuição), eterniza suas categorias analíticas que reproduzem a positividade capitalista e, com isto, acaba por legitimar o mundo desumano do trabalho alienado e ofuscar rotas alternativas de construção de uma nova ordem social. A economia política clássica expressa relações sociais de um mundo alienado, em que o produtor direto produz a riqueza social privadamente apropriada pelas classes

dominantes e, ao mesmo tempo, se empobrece, absoluta e/ou relativamente, quanto mais riqueza produz. O trabalho assalariado, ao invés de criar possibilidades de realização das infinitas potencialidades humanas, acaba porforjar grilhões de miséria e degradação dos trabalhadores. Com a formulação da categoria fetichismo da mercadoria, Marx determina a raiz sócio-econômica da generalidade da alienação contida nos Manuscritos de Paris. Inter-relacionando alienação, valor, trabalho e propriedade, o nosso autor transcende a crítica filosóficada economiapolítica, elevando-a aum novo patamar, na qual a economia política ganha uma nova perspectiva de mundo – o materialismo histórico –, um novo método – a dialética – e um objeto desnaturalizado, histórica e socialmente determinado – o modo de produção capitalista. A crítica marxiana da economia política pressupõe um rico arcabouço filosófico de categoriashegelianas previamente reformuladas, no qual o tema alienação exerce papel de destaque, o de desvendar os processos do capitalismo que coisificam as relações sociais entre osprodutores. A crítica da economia política, extenso projeto de pesquisa que ocupou mais de vinte anos da vida de Karl Marx, não significarepúdio,masumprofundomergulhonaquela ciência que traz a chave da anatomia da sociedade burguesa (NICOLAUS, 2003, p.106). Mas não somente isso: ela, a crítica, é positiva, ou seja, traz em si negação e superação, a proposta de algo novo que nasce do velho, uma nova organização societal de libertação do homem dos grilhões do capital. Ernest Mandel (2001 [1970], p.36) insiste no pontoque“ateoriamarxistaaalienaçãoé(...)incompleta enquanto não for capaz de formular uma teoria de desalienação progressiva e não se defender com êxito contra o mito da ´alienação inevitável´ em toda e qualquer ´sociedade industrial´”. Sendo uma categoria historicamente verificável,aalienaçãoéumarealidadesocialproduto de complexas interações entre diversos sujeitos e classes sociais e, por isto, suscetível a mudanças, com possíveis avanços, regressões e até mesmo o seu desaparecimento completo, de acordo com certas premissas históricas. Era nisto que Marx acreditava quando escreveu, em diversos livros, inclusive em O Capital, sobre

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a sociedade comunista – o reino da liberdade – onde desapareceriam a propriedade privada, a divisão social do trabalho, o dinheiro, o Estado e as classes. Os produtores diretos se livrariam, assim,da “maldiçãoeterna”dotrabalho alienado, se tornando livres e capazes tanto de suprirem suas necessidades materiais quanto desenvolverem ao máximo suas capacidades individuais e o gênero humano universal.

5. Referências

- CASTELO BRANCO, Rodrigo. Capitalismo e classes sociais: notas críticas sobre o percurso teórico de Karl Marx. In: Oikos, número 3. Rio de Janeiro: Instituto de Economia/UFRJ, 2004.

- GOLDMANN, Lucien. A reificação. In:Dialética e cultura. Lucien Goldmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.

- HYPPOLITE, Jean. Lukács y el joven Hegel. In: Lukács. Diversos autores. Buenos Aires: Editorial Jorge Alvarez, 1969.

- LENIN, V.I. As três fontes do marxismo. 2ª edição. São Paulo: Expressão Popular, 2003.

- LUKÁCS, Georg. Ontologia do ser social: os princípios ontológicos fundamentais de Marx. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.

- MANDEL, Ernest e NOVACK, George. The marxist theory of alienation. 8th edition. NewYork:Pathfinder,2001[1970].

- MARCUSE, Herbert. Novas fontes para a fundamentação do materialismo histórico (interpretação dos recém-publicados manuscritos de Marx). In: Materialismo histórico e existência. Herbert Marcuse. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1968 [1932].

- MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004 [1844]

- ___. Prefácio a Para a Crítica da Economia Política. In: Para a Crítica da Economia Política; Salário, preço e lucro; o rendimento e suas fontes: a economia vulgar. Karl Marx.

São Paulo: Abril Cultural, 1982 [1857].

- ___. Elementos fundamentales para la crítica de la economia política (borrador) 1857-1858.Volúmenes 1 e 2. 4ª edición. Buenos Aires: Siglo XXI, 1974 [1857-58].

- ___. O Capital: crítica da economia política. Livro I, volume 1: o processo de produção do capital. 21ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003 [1867].

- MÉSZÁROS, István. Marx: a teoria da alienação. Rio de Janeiro: Zahar, 1981[1970].

- NETTO, José Paulo. Capitalismo e reificação. São Paulo: Ciências Humanas, 1981

- NICOLAUS, Martin. Marx e o desconhecido. In: Marx e o socialismo. César Benjamin (org.) São Paulo: Expressão Popular, 2003.

- RUBIN, Isaak Illich. A teoria marxista do valor. São Paulo: Brasiliense, 1980.

- SCHAFF, Adam. Marxismo e existencialismo. RiodeJaneiro:Zahar,1965.

1 Aqui nos referimos aos livros Manuscritos Econômico-Filosóficos, A Ideologia Alemã (escrito em parceria com Friedrich Engels) e os Grundrisse.

2 O principal motivo tem fundamentos políticos e deve ser buscado no período de desestalinização que o marxismo começou a viver nos anos 1950. Após as denúncias dos crimes em massa cometidos durante a Era Stálin, diversos pensadores marxistas buscaram uma fonte de inspiração no jovem Marx para criar alternativas humanistas e democráticas ao stalinismo, um regime político que seria uma “aberração” segundoos ideais libertários dosprimeiros escritos marxianos.

3 Os Manuscritos Econômico-Filosóficos também são conhecidos como Manuscritos de Paris ou Manuscritos de 1844. Ao longo do texto o leitor encontrará todas estas formas de nomenclatura aos Manuscritos.

4 Apesar das suas tendências existencialistas, Jean Hyppolite afirma, acertadamente, que o debate centralde Marx com Hegel sobre alienação está na crítica marxiana à confusão que Hegel faz entre objetivação e alienação (HYPPOLITE, 1969, pp.102-3). Marx, nos Manuscritos, diferencia objetivação de exteriorização,

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que corresponderia a uma objetivação alienada.

5“Aoleitorfamiliarizadocomaeconomianacionalnãopreciso assegurar que meus trabalhos foram obtidos mediante uma análise inteiramente empírica, fundada num meticuloso estudo crítico da economia nacional” (MARX, 2004 [1844], p.19-20)

6 Marx não se furtou a fazer este trabalho hercúleo de glosar as principais obras da economia política. Durante dez anos, ele freqüentou o Museu Britânico, pesquisou e comentou nada menos do que todos os principais tratados de economia política da sua época, apontamentos estes reunidos no quarto volume de O Capital, editados postumamente por Karl Kautsky, que intitulou estas notas de estudo da história do pensamento econômico de Teorias da mais-valia.

7 A concepção marxiana do homem, presente nos Manuscritos de Paris, é pautada, principalmente, pelo debate com Ludwig Feuerbach, filósofo alemão quegozava de alto prestígio entre os hegelianos de esquerda eMarx,queovê“(...)comooúnicoquetemparacoma dialética hegeliana um comportamento sério, crítico, e [o único] que fez verdadeiras descobertas nesse domínio” (MARX, 2004 [1844], p.117). Ela surge como uma dupla oposição: oposição tanto ao Homo Economicus quanto à antropologia de Feuerbach.

8Sobreaimportânciadacategoria“determinaçãoformal”na crítica da economia política, Cf. Rubin (1980), pp.50-52.

9 Nos Grundrisse, Marx ainda não desenvolveu na plenitude a sua teoria do fetichismo, no sentido de saturar a teoria da alienação com novas determinações econômicas. Vale notar que nosso autor só menciona em uma única passagem o conceito de fetichismo, enquanto o conceito de alienação aparece recorrentemente ao longo dos rascunhos de estudo.

10“(...)aformamercadoriaearelaçãodevalorentreosprodutos do trabalho, a qual caracteriza essa forma, nada têm a ver com a natureza física desses produtos (...)” (MARX, 2003 [1867], p.94)

11 “As relações sociais de produção assumem,inevitavelmente,umaformareificadae,namedidaemquefalamos das relações entre produtores mercantis individuais enãoderelaçõesdentrodefirmasprivadasisoladas,elassóexistemeserealizamdessaforma”;“(...)omovimentodospreçosdascoisasnomercadonãoéapenasoreflexodas relações de produção entre as pessoas: é a única forma possível de sua manifestação numa sociedade mercantil”; (...) a coisa não só oculta as relações de produção entre as pessoas, como também as organiza, servindo como elo deligaçãoentreaspessoas.“Maisexatamente,ocultaasrelações de produção precisamente porque as relações de produção só se realizam sob a forma de relações entre as coisas” (RUBIN, op. cit., pp.24-25).

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Endereço para Correspondência:

Prof. Rodrigo Castelo BrancoCurso de Serviço [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:BRANCO, Rodrigo Castelo. Maldições, Fetiches e Comunismo na Crítica da Economia Política: a teoria da alienação de Karl Marx. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano III, n. 6, abril. 2008. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/06/28.pdf>

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Pós-Modernismo e os Ataques à História1

Post-Modernism and the Attacks against History

Alexandre de Sá Avelar1

Key words:

Pos-modernism

Historiography

Historical Knowledge

History Theory

Abstract

The present article has as its main objective to present and discuss some impacts of post-modern Philosophy over the possibility of historical knowledge. For it, it will consider that the post-modern paradigm has become a theorical-conceptual referential whose relevance can not be denied by the community of professional historiographers. Two fundamental aspects will be approached in a systematic way: the insufficiency of a historical self-reflection by the pos-modern ones and the denial of the capacity of historical discipline to offer analysis and synthesis in a globalized characterization. At last, it will try to defend the idea of a rational history, whose methods and empiric procedures direct to the epistemological possibility of explaining synthesis.

“ Narrar o passado, repensar aHistória”, lançado em 2000 por professores e estudantes de pós-graduação em História da Universidade Estadual de Campinas, é um dos mais importantes trabalhos já realizados no Brasil a respeito dos impactos causados pelo paradigma pós-moderno2 sobre os estudos históricos. De grande rigor analítico, a obra se propõe a estudar várias áreas temáticas específicas.Escritadahistória,discurso, fatoe narratividade, ciência e ficção, literatura ehistória, tempo e temporalidade são discutidos através das formulações de Michel Foucault, Gilles Deleuze, Jacques Derrida, Roland Barthes, Hayden White, Dominick La Capra, entre outros.

Entre os diversos autores da coletânea, predominaaidéiadequeofazerhistoriográficosofreu modificações profundas nas últimasdécadas, como resultado da retomada e/ou redescoberta das temáticas acima mencionadas. A história não é simplesmente um amontoado de fatos passados à espera de que o historiador os leve até a luz e, dada sua pluralidade, não sepodefurtaràreflexãosobreseusdiscursose representações, indagando-se, por exemplo, sobre os processos incorporados e as práticas sociais que envolvem a construção do objeto histórico, este tomado muito mais como uma obra do que como realidade dada. As preocupações acima não são novas e estavam, em grande medida, na

1. Introdução

1 Doutor - Ciências Humanas – UniFOA

ArtigoOriginal

Original Paper

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Palavras-chaves:

Pós-modernismo

Historiografia

Conhecimento Histórico

Teoria da História.

Resumo

O presente artigo tem como principal objetivo apresentar e discutir alguns impactosdafilosofiapós-modernasobreapossibilidadedoconhecimentohistórico. Para tal, considerará que o paradigma pós-moderno tornou-se um referencial terórico-conceitual cuja relevância nao pode mais ser negada pelacomunidadedehistoriadoresprofissionais.Serãoabordados,deformamaissistemática,doisaspectosfundamentais:ainsuficiênciadeumaauto-reflexãohistóricaporpartedospós-modernoseanegaçãodacapacidadedadisciplina histórica de oferecer análises e sínteses de caráter globalizante. Por fim, procurar-se-á defender a idéia de uma história racional, cujosmétodos e procedimentos empíricos apontam na direção da possibilidade epistemológica de sínteses explicativas.

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agenda do grande movimento de renovação da historiografia ocidental do século XX,os Annales. Não se pode negar ainda que a produção do conhecimento histórico sempre recebeu contribuições cruciais da linguística, antropologia, psicanálise, entre outros campos do saber, enriquecendo em muito as análises disponíveis sobre os mais diversos objetos e colaborando para a consolidação de um status científico para a disciplina. Ainterdisciplinaridade constituia-se, assim, num dos mais importantes instrumentos de escrita da história, possibilitando uma compreensão holística do social em seus diferentes níveis, eliminando, ou ao menos afastando, o fortuito e o irracional da narrativa histórica. A visão de que a reconstrução de um objeto histórico deve levar em conta sua dimensão totalizante, através da incorporação dos saberes produzidos em outros campos do conhecimento e se utilizando, sempre que possível, de métodos de investigação cientificamente conduzidos, foi denominadapor Ciro Cardoso ( 1997 ) de “paradigmailuminista” e suas expressões mais significativasnahistoriografia foramasduasprimeiras gerações dos Annales e o marxismo. Comum a essas tendências era a convicção da possibilidade de construção de uma ciência histórica analítica, estrutural e voltada para a inteligibilidade da ação humana. Essas perspectivas foram hegemônicas entre os historiadores até pelo menos a década de setenta, a partir de quando passaram a sofrer um nítido recuo com a emergência da chamada Nova História. Visto em conjunto, o paradigma iluminista jamais abdicou de contribuições dos demais campos do conhecimento e, sendo assim, aqueles que analisam os impactos da crítica literária ou da lingüística sobre os estudos históricos não estão apontando para novidades concretas. Então, qual a especificidade dasabordagens pós-modernas na historiografia?Que papel mais geral para a história é dado por uma concepção que privilegia o enfoque fragmentário e não-progressista da vida social? Tais perguntas talvez nos levem a uma outra, de escopo mais largo. O que a história de uma perspectiva analítica e totalizante ainda pode nos oferecer como caminho de investigação e compreensãodosdesafiossociais,políticoseeconômicos do século XXI? Desnecessárioafirmarqueashipóteses

aqui levantadas não pretendem esgotar o arsenal de respostas e análises oferecidas para asquestõespropostas.Avastaesignificativabibliografiasobreotemasugereainexistênciade um único feixe de investigações, mas uma complexa heteregoneidade de interpretações, interesses e tensões que circundam nosso objeto em debate. O que temos em vista neste artigo é de ambição bem mais modesta. Cremos que as propostas do pós-modernismo no tocante à história – entendida tanto como o desenrolar do tempo histórico quanto disciplina acadêmica – podem ser entendidas a partir do que chamaremos de um “duploataque”, a saber, a negação da análise histórico- temporal para a compreensão do pós-modernismo e a negação da validade de paradgimas historiográficos totalizantese de metanarrativas epistemológicas. A recuperação do pós-modernismo como objeto histórico dotado de uma lógica temporal definidaapartirdoconjuntodetransformaçõesocorridas na economia capitalista dos anos 70 e a análise crítica da desconstrução do racionalismo na produção do conhecimento histórico constituem-se nas principais linhas argumentativas utilizadas na defesa contra aqueles ataques.

2 O objeto histórico chamado pós-modernismo:

Como bem destacou Ellen M. Wood ( 1999 ), as descrições atuais do pós-modernismo guardam grande semelhança com as tradicionais abordagens de declínio da civilização ocidental, sendo os trabalhos de Oswald Spengler e C. Wright Mills os exemplosmais significativos.Umadiferençase faz notável, entretanto: enquanto estes autores procuraram dar um enfoque histórico as suas abordagens, os pós-modernistas apresentam suas teorias com total ausência de perspectiva temporal, fazendo-as surgir como reflexosdeumacertapaisagemcontemporâneaisenta de ideologias e marcada pelo declínio da esperanças políticas de emancipação humana. Afigura-se aqui o que entendemoscomo o primeiro ataque do pós-modernismo em relação à história: a não consideração de que a afirmação e expansão entre os meiosacadêmicose culturaisdeumcerto “espíritopós-moderno” tem raízes concretas e de que

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estas se ligam a profundas transformações ocorridas nos padrões de acumulação capitalistaapartirdofinaldosanossessenta,redefinindoumalógicaculturalinerenteànovarealidadedocapitalismofinanceiro-global. Os anos imediatos após a II Guerra foram marcados por forte expansão das forças produtivas capitalistas que passaram a contar comumaação cadavezmaisfirmedos Estados Nacionais no sentido de assegurar suareprodução.Oquehaviaficadoclarodasexperiências anteriores era que o simples funcionamento das forças de mercado não bastava para garantir os níveis de acumulação necessários à manuntenção da ordem interna dos países de capitalismo avançado e tampouco favorecia o entendimento internacional entre as principais potências. Tornava-se necessário, portanto, forjar um novo modelo no qual o Estado surgisse como ente regulador básico no controle da crises, através da manutenção de taxas de lucros compatíveis com as demandas dos trabalhadores, garantia de emprego e consumo para as massas populacionais. Situação histórica muito bem sintetizada por José Luis Fiori ( 1995: 3 )

Consolidada a Pax Americana, depois de 1945, consagra-se o grande acordo que tem, como sua pedra angular, o Estado enquanto organizador do pacto corporativo entre governo, sindicatos e capital, e, responsável, em grande medida, pelo surto de crescimento acompanhado de paz social que, nos anos 50 e 60, alimentou a utopia de uma sociedade estável de consumo de massas, com bem-estar e

liberdade para todos.

Tais padrões de crescimento industrial e melhoria das condições sociais através de ações públicas estatais tiveram abalo significativo com a chamada crise dosanos setenta, iniciada pela crise do petróleo, seguida pela retomada da hegemonia norte-americana ancorada na diplomacia do dólar forte e no incremento do seu poderio militar (TAVARES,1997:29 ).Redefinem-senovoscanais de crescimento do capital, e sua base financeira passa a estimular o processo deglobalização capitalista, exigindo nova disciplina fiscal dos Estados Nacionais,rompendo o pacto mediador entre capital e trabalho, com evidentes desvantagens para o segundo. Esse padrão mais flexível deacumulação financeira foi acompanhado

de inovações significativas nas tecnologiasde informação, com avanços decisivos na eletrônica, nas redes midiáticas, na automação, no marketing, etc., Simultaneamente, o regime de produção industrial torna-se altamente flexível e mesmo não se podendo afirmar aexistência de uma economia mundial controlada inteiramente por firmas transnacionais (HIRST e THOMPSON, 1998 ), é inegável o fato de que ocorreu uma diversificaçãona distribuição espacial das empresas acompanhada de reformas nas estratégias de produção - para muitos o fenômeno conhecido como pós-fordismo. Paralelamente, assiste-se a uma redução cada vez mais acentuada do proletariado – com todas as implicações políticas que o fenômeno acarreta – com aumentos dos níveis de desindustrialização em diversas áreas do sistema capitalista. Novos padrões sociais e culturais forjam-se ao calor das mudanças operadas na ordem econômica, as quais o sistema soviético parecia incapaz de responder. O fim do consenso keynesianoalargou as bases para a emergência de uma economiamundialflexíveledenovasformasde pensamento político-social. Tornava-se claro para muitos intelectuais que a capacidade de adaptação do modo de produção capitalista era um sintoma de sua superioridade em relação ao seu adversário comunista. Tal hipóteseseriaconfirmadapoucomaisdeumadécada depois com o desmoronamento do socialismo real, primeiro na Europa Oriental e depois no núcleo soviético. O triunfalismo da economia de mercado e da democracia política liberal confirmava a idéia de que aevolução da humanidade em direção a níveis cada vez maiores de progresso e realização material chegava, nesse momento, a um termo decisivo. Esgotava-se, dessa forma, toda a crença no devir histórico, não sem as agruras de duas guerras mundiais, uma crise sistêmica sem precedentes do capitalismo e a ascensão de regimes de forte coloração totalitária, tanto à esquerda quanto à direita. A vitória americana representava, a um só tempo, a realização e a liquidação do projeto iluminista. Decretava-se,dessaforma,ofimdasgrandesnarrativasideológicas – marxismo e liberalismo - , o declínio das utopias e a era do conformismo político. Este último ponto mereceu considerações importantes de autores como

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Alex Callinicos e Fredric Jameson. Para o primeiro, as razões mais profundas do surgimento de uma visão pós-moderna deviam-se não tanto às mudanças ocorridas no sistema de integração do capital – não se tratava de forma alguma de uma ruputra histórica -, mas à derrota política da geração radical dos anos 60. Com suas esperanças frustradas, muitos intelectuais encontraram refúgio no mundo tranquilo da expansão do consumo e dos padrões capitalistas, alimentando as correntes pós-modernas de negação das versões progressistas e emancipadoras das grandes narrativas explicativas dos nossos tempos (Citado em ANDERSON, 1999 ). Para Jameson, a expansão do capitalismo após a II Guerra, através da regulação estatal das taxas de acumulação e consolidação do Welfare State, produziu uma imensa liberação de energias sociais, “umaprodigiosa escapada de forças não-teorizadas: as forças étnicas dos negros e das ‘minorias’ ou dos movimentos que eclodiram por toda parte no Terceiro Mundo, os regionalismos, o desenvolvimento de novos e militantes portadores de surplus consciousness nos movimentos estudantis e de mulheres, bem como um sem-número de lutas de outros tipos”. Essas novas forças pareciam demonstrar que os graus de liberdade e luta política poderiam emergir fora dos padrões de classe tratados pelo marxismo. A crise posterior colocaria os anos 60 como um momento possível de transição de um estágio infra-estrutural ou sistêmicodocapitalismoparaoutro.Odesafiosocial da contemporaneidade é recuperar os impulsos libertários da década de 60, a partir da transformação em luta de classes daquelas forças libertárias, unificando-as,pois, “a força unificadora é a nova vocaçãode um capitalismo doravante global do qual também se pode esperar que unifique asresistências desiguais, fragmentadas ou locais, ao processo” ( JAMESON, 1991: 126 ). Esses fenômenos relacionados nos parágrafos anteriores tiveram impactos decisivos nas vidas de todos países desenvolvidos do mundo capitalista e alargaram-se para as formas de consciência dessas sociedades. Nesse ponto, tem-se o contato decisivo entre um regime de acumulaçãoflexíveldecapitaleasmutaçõesnoespaçoenas configuraçõesculturais.Éomomento, segundo Perry Anderson ( 1999: 66

)emque“amodernizaçãoestavaagoraquaseconcluída, apagando os últimos vestígios, não apenas de formas sociais pré-capitalistas como de todo território natural intacto, de espaço ou experiência, que as sustentara ou sobrevivera a elas”. Para Jameson ( 1991 ), os últimos campos pré-capitalistas tragados agora pelo capitalismo tardio eram o Terceiro Mundo e o inconsciente. Dentro da lógica de uma ordem econômicacadavezmaisfinanceirizadaesuastransfiguraçõesno campodas representaçõesculturais, é importante não ignorar que os avanços tecnológicos representaram um papel de destaque. Novamente, Anderson (1999:68) nos oferece uma interpretação lúcida a respeito:

A unificação eletrônica da Terra, instituindo asimultaneidade de eventos mundo afora como espetáculo diário, instalou uma geografia substitutanos recessos de cada consciência, enquanto as redes circundantes de capital multinacional que efetivamente dirigem o sistema ultrapassam a capacidade de qualquer percepção. A ascendência do espaço sobre o tempo na constituição do pós-moderno está assim sempre em desequilíbrio, com as realidades a que responde constitutivamente sobrepujando-a – induzindo, como sugere Jameson numa passagem famosa, essa sensação de que só se pode captar com uma sardônica atualização da lição

kantiana:“ohistéricosublime”.

A paisagem da qual se originaram as formulações do pós-modernismo tem, portanto, bases materiais bem definidas.Insere-se nas mudanças ocorridas na economia mundial a partir dos anos setenta, nasinovaçõestecnológicasenosrefluxosdosmovimentos políticos de massa e dos ideais iluministas de progresso e emancipação. A natureza simbiótica entre o funcionamento da cultura e da economia no mundo contemporâneo foi dessa forma sintetizada por Jameson ( 2000:14 ):

Nos últimos anos tenho argumentado com insistência que tal [ a atual ] conjuntura é marcada pela desdiferenciação de campos, de modo que a economia acabou por coincidir com a cultura, fazendo com que tudo, inclusive a produção de mercdorias e alta especulaçãofinanceira,setornassecultural,enquantoque a cultura tornou-se profundamente econômica, igualmente orientada para a produção de mercadorias. Portanto, não devemos nos surpreender com o fato de que conjecturas sobre o nosso assunto em questão podem na verdade ser tomadas como afirmações

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sobre o capitalismo tardio ou sobre as políticas de globalização

Esse processo histórico tornou o pós-modernismo- o “consumo da própriaprodução de mercadorias- como processo” ( JAMESON, 2000: 14 ). Recuperar as condições concretas pelas quais possamos apreender a historicidade do pós-modernismo como objeto de análise, torna-se o primeiro passopara“pensaropresentehistoricamenteem uma época que já esqueceu como pensar dessa maneira”( JAMESON, 2000: 12 ) retomando o pensamento crítico em relação às estratégias de disseminação de novos padrões de dominação cultural, econômica, política e social.

3 Pós-modernismo e os impactos na disciplina histórica

Ao se propor como negação das narrativas libertárias e progressistas, a filosofia pós-moderna desferiu um gravegolpe contra a história-disciplina; ela também deve esquecer suas expectativas de explicação totalizante,duvidardesuaambiçãocientífico-racionalista e conformar-se com a idéia de que o conhecimento se reduz a processos hermenêuticos, nos quais inexistem critérios de hierarquização e, portanto, inexistem também formas de validação criteriosa das interpretações, sendo todas igualmente válidas. Entenderemos aqui, esse conjunto de pressupostos mencionados acima, como o segundo ataque do pós-modernismo à história, atingindo agora sua dimensão de disciplina racional e explicativa da realidade social. Na parte anterior, sugerimos que o pós-modernismo buscou erigir-se como categoria de pensamento, dando pouca atenção aos condicionantes materiais que conformavam uma virada nas formas de captar os movimentos culturais e artísticos pretensamente formadores de uma era pós-moderna. Identificamos,grosso modo, esses condicionantes aos movimentos de financeirização capitalista,à diluição das ordens sociais tradicionais e à era de derrocada dos grandes movimentos políticos que marcaram os anos 60. Isso nos possibilitou recuperar a historicidade perdida do objeto chamado pós-modernismo.

Retornemos à disciplina histórica. O pensamento histórico sofreu um amplo processo de modernização de suas estruturas cognitivas a partir do pressuposto básico de que é a razão a estratégia metódica informadora de nossas incursões ao passado. Tal perspectiva inaugura-se evidentemente com o Iluminismo, estende-se ao ambicioso programadecientifizaçãodaHistória comohistoricismo do século XIX e consolida-se na primeira metade do século passado com os Annales e com o marxismo. Evidentemente, são vastas as diferenças teórico-conceituais e metodológicas entre essas correntes, mas elas estavam em acordo num ponto essencial: a construção do conhecimento histórico é um processo racional, cientificamenteinformado e com procedimentos previamente convencionados de análise de fontes e de formulação de explicações. Trata-se de uma entidade efetiva que se compõe no passado, presente e futuro em uma totalidade abrangente. O fio condutor está na idéia deuma lógica de desenvolvimento inerente ao processo histórico, o que poderíamos entender como noção de progresso. Esses fundamentos receberam críticas sistemáticas dos pós-modernistas. Ciro Cardoso ( 1997:15 ) utilizou-se de uma citação deKeithJenkinsparasituaradefiniçãomaiscabal do paradigma pós-moderno no interior da história-disciplina:

A história é um discurso mutável e problemático – ostensivamente a respeito de um aspecto do mundo, o passado – produzido por um grupo de trabalhadores cujas mentes são de nosso tempo ( em grande maioria, em nossa cultura, historiadores assalariados ) e que fazem seu trabalho em modalidades mutuamente reconhecíveis e que são posicionados epistemológica, ideológica e praticamente; e cujos produtos, uma vez em circulação, estão sujeitos a umasériedeusoseabusoslogicamenteinfinitosmasque, na realidade, correspondem a uma variedade de bases de poder existentes em qualquer momento que for considerado,as quais estruturam e distribuem os significados das histórias ao longo de um espectro

que vai do dominante ao marginal

O processo de transformação da história em uma disciplina instucional e cientificamente reconhecida deixou de ladoos aspectos literários do discurso histórico em nome de corretos métodos de interpretação das fontes, de leis de causalidade e teorias de

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explicação do devir humano. Isso representava umaordemdodiscursovistocomo“umfatosocial que visava a institucionalizar certas formasdeindagação,dereflexãoemesmodeexpressão; o que implica diretamente expulsar e mesmo interditar outras” ( LIMA, 1989: 60 ). A grande recusa era a escritura narrativa da história. A síntese de Bennati ( 2000: 82 ) é significativa

Na produção do conhecimento histórico, o rigor dos métodos de investigação e erudição, o papel do documento como atestado de veracidade dos fatos ( uma concepção estritamente jurídica da prova ), a depuração das fontes, a extinção da subjetividade, tudo isso parecia sufuciente para afastar a história do puramente imaginativo e ficcional, assegurandopara ela um lugar digno no concerto das triunfantes ciências sociais. A representação dessa recusa tornou os historiadores inconscientemente cegos ao caráter retórico-po(i)ético do seu discurso. Os modelos de escrita acadêmica tornaram-se um cânone, uma espécie de ortodoxia daformaqueimpediujustamenteareflexãosobreaforma, isto é, sobre os dispositivos literários que os “cientistas”, devido aouso inevitável da linguagemverbal, agenciam no seu discurso e materializam no seu texto

A volta da narrativa ao discurso histórico constituiu-se num dos temas preferidos entre os estudiosos, identificadoscom as visões pós-modernas da história. Lawrence Stone relacionou esse retorno ao fracasso dos três modelos centrais da ciência da história na primeira metade do século XX –omarxismo,aescolademográficaeaescolaestatística dos historiadores norte-americanos “cliometricianos”. Mas não apenas fatoresinternosaodebatehistoriográficoexplicavamo ressurgimento da literatura nos estudos históricos. O declínio das expectativas de que as grandes narrativas pudessem gerar movimentos concretos de emancipação, o decrescente compromisso ideológico dos historiadores e a necessidade de falar a um público cada vez mais ampliado pela explosão consumistacolocavamlimitesaocientificismodahistoriografiaerigidacomaslinhasmestrasdos Annales e do marxismo. O reconhecimento da narrativa implicava aceitar que o que o historiador produz se assemelha a um texto literário carregado de retórica e com pretensões de persuasão. Em última instância, todo discurso histórico

– desde a mera crônica dos acontecimentos até aquela mais social, estrutural ou quantitativa – é dependente de procedimentos próprios de composição de uma narrativa. Mesmo entre os historiadores que sempre acreditavam estar fazendo ciência, os elementos literários jamais estiveramausentes,maseramoucamufladosemnomedarazãoouhostilizadoscomoficçãoou irracionalismo. Para os pós-modernos, tornava-se evidente que os esquemas de análise rígidos e, na maioria dos casos economicista, dos “historiadores cientistas” davam poucamargem para a apresentação dos elementos de escrita literária subjacentes a todo discurso. Assim, abrem-se para novas temáticas e novos objetos mais suscetíveis à recepção da literatura. Histórias da sexualidade, das mentalidades ou das mulheres surgem, dessa forma, como objetos abertos à contribuição das formas literárias , revelando a pouca atençao que a historiografia tradicional dedicava ànarrativa e às demais formas de identidade social ou sexual. A estética e a epistemologia pós-moderna tornaram frágeis as separações entre o “real “ e o “ficcional”.A crítica inicia-sejustamente pela noção de passado. Os adeptos do paradigma pós-moderno não negam a existência de um passado que efetivamente existiu, mas põem dúvidas quanto a nossa capacidade de apreendê-lo fora da produção de um dado discurso textual. Isso porque todos os documentos usados pelos historiadores na pesquisa empírica são vestígios textualizados do passado. O referente real já existiu, mas hoje ele só nos é acessível pela linguagem, neste caso, a matéria bruta de todo o conhecimento histórico. Noâmbitodasreflexõesencaminhadaspelapós-modernidade,afiguradohistoriadorcomo indivíduo imparcial e objetivo por excelência – se é que já tivemos algo próximo disso alguma vez – é desconstruída. De fato, esse sujeito supostamente neutro é também uma construção histórica, enfeixado numa rede de instituições, lugares de fala e interações. Seu discurso não pode, portanto, refletira realidade,maselemesmocontribuipara instaurá-la. Segundo Paul Veyne ( 1983: 48 ):

... os fatos não existem isoladamente, no sentido de que o tecido da história é o que chamaremos uma

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intriga, uma mistura muito humana e muito pouco “científica”decausasmateriais, defins ede acasos;numa palavra, uma fatia da vida, que o historiador recorta a seu bel-prazer e onde os fatos têm as suas

ligações objetivas e sua importância relativa

Assim, o que podemos conhecer dos fatos do passado são as representações textuais dadas pelos historiadores. E essas representações são, acima de tudo, literárias, nas quais não se pode obscurecer o papel criativo do produtor do discurso histórico. Para HaydenWhite(1994:70),“oshistoriadoresexplicam os eventos que compõem as suas narrativas por meios especificamentenarrativosdecodificação,istoé,descobrindoa estória que está encerrada nos eventos ou por trás deles e contando-a de uma maneira que um homem medianamente culto possa entender”. Uma atitude extrema apresentar-se-ia como a negação da própria história, diluída assim em“histórias”produzidasporgrupossociaisclaramente identificados ( os historiadores) com interesses próprios e inseridas numa cadeia de relações de poder. Assim, todo o saber produzido é necessariamente múltiplo, oqueescapaà razãocientífica.Predominamas formas de representação, os “níveis dediscursividade”, demonstrando a incapacidade de uma análise estrutural e analítica. Assim, o historiador deveria voltar-se aos ensaios de microinterpretação, à valorização dos aspectos condicionantes das interações com seu objeto, enfim,umconformismocomaimpossibilidadedametanarrativacientífica.

4 Em defesa da história: as defesas contra os ataques do pós-modernismo.

Os ataques partidos do pós-modernismo à história não podem ficar semrespostas. O que está em jogo é uma longa e árdua luta de construção de um arcabouço teórico e metodológico que trouxe a possibilidade de um conhecimento científicodo todo social, através dos instrumentos da razão. Entendemos que os dois ataques aqui estudados – a insistência em dissolver a historicidade do pós-modernismo em meio às formulações difusas a respeito de uma ruptura com o modernismo e a negação da possibilidade de entendimento histórico-

totalizante do real – representam um claro avanço de uma concepção conformista e irracionalista do processo contemporâneo de transformações na base do sistema capitalista, a partir da proeminência do discurso e da narrativa sobre a experiência humana vivida. Assim, essa própria experiência é discursiva e suas representações são múltiplas e impossíveis e válidas para todos os casos. Em último caso, o relativismo total nos levaria a duvidar da própria existência efetiva de categorias como sistema capitalista, modo de produção, etc. Contudo, o que se observa é a relação profunda entre os postulados pós-modernistas e as transformações do capitalismo contemporâneo em sua extensão da mercadoria a todos os níveis da sociedade e a todos os espaços territoriais. Proceder a essa análise histórica na compreensão da lógica econômica do pós-modernismo é a resposta ao primeiro ataque. A resposta ao segundo ataque constitui uma tarefa mais árdua, pois são exatamente nas críticas à história-disciplina que os teóricos do pós-modernismo têm logrado mais êxito. É inegável o prestígio de autores como Hayden White, LaCapra, Paul Veyne ou os expoentes da chamada Nova História entre a comunidade dos historiadores. Parte desse sucesso tem razões concretas. Muitas de suas análises chamaram a atenção corretamente paraosabusosdocientificismo,alertaramoshistoriadores para a necessidade de ampliação dos seus objetos de estudo e forneceram valiosas interpretações sobre grupos sociais até então ausentes de grande parte das análises disponíveis. Como negligenciar o surgimento de novas identidades étnicas e sexuais, frutos mesmo de experiências humanas bastante diversificadas no interior de um mundocontemporâneomarcadopelaindefiniçãoepelaincerteza? E nesse mesmo mundo, é possível deixar de lado a importância da linguagem ou dos símbolos e mesmo a narrativa e a literatura nos discursos dos historiadores? A resposta para todas as perguntas acima é evidentemente não. Reconhecer as diferençasnãosignificacorroboraraidéiadeque as configurações da contemporaneidadenão podem ser apreendidas pelos instrumentos de investigação científica e racionalista.Tampouco, a história como uma análise estrutural de longa duração perdeu sua validade. Como compreender um sistema

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global como o capitalismo utilizando-se as categorias fragmentadas e a-históricas do pós-modernismo? Os pós-modernistas alegam que os esquemas interpretativos totalizantes – como o marxismo – são fechados a temáticas como sexualidade, feminismo ou racismo. Apresentam-se como portadores de uma abordagem mais aberta e atenta aos aspectos negligenciados. Contudo, negam veementemente o conhecimento histórico científicoeousodarazão.Sendoosdiscursosproduzidos através de construções literárias, nos quais não se pode alcançar a verdade, por que um discurso baseado na experiência científico-racionalnãoéválido?Aberturasemnome de novos fechamentos. Uma outra contradição é visível na postura pós-moderna em relação à história. A narrativa era apresentada como um recurso indispensável pelo qual o historiador apresentava os resultados do seu trabalho. Recordemos ainda que esse sujeito do conhecimento não pode produzir mais do que representações estilísticas da realidade, não estando em condições de alcançá-la em sua totalidade. O todo social cognoscível é, portanto, uma ilusão cientificista. Nesseplano, a narrativa situa-se a priori do real, pois o constrói. Nesse sentido, a narrativa não se sustenta, pois, isolada, não pode pretender erigir-se como conhecimento válido, uma vez que não dispõe de seus contrários. A solução desse equívoco está em recuperar um dos postulados rejeitados pelos pós-modernos: qualquer prática discursiva ou epistemológica está inserida num conjunto de experiências reais ligadas a um todo social que só pode ser analisado se preservada sua dimensão estrutural. A multiplicação dos temas abordados pelos pós-modernos não esgota a macro-análise. Em polêmica com Lawrence Stone, EricHobsbawmafirmava:

Nada há de novo em escolher ver o mundo através de um microscópio e não com um telescópio. Na medida em que aceitamos que estamos estudando o mesmo cosmo, a escolha entre microcosmo e macrocosmo depende de selecionar a técnica apropriada. É significativo que, na atualidade, historiadores maisnumerosos achem útil o microscópio; mas isto não significanecessariamentequerecusemostelescópioscomo coisas fora de moda. Até os historiadores da mentalité, este termo vago e que abarca tanto,

que Stone, talvez sabiamente, não tenta esclarecer, não evitam a visão ampla de maneira exclusiva ou predominante. Pelo menos esta lição aprenderam com os antropólogos. ( Citado em CARDOSO, 1988: 108 )

O que o historiador inglês defende é a impossibilidade de análise de temáticas específicas sem noção do queseja a totalidade do social, sob os riscos de relativismo e desistorização do objeto em estudo. Micro-análises ou monografiasespecíficas se beneficiam das referênciasestruturais, ampliando a validade de suas teorias e corrigindo desvios de método, como por exemplo, a ênfase no excessivo papel do voluntarismo individualista, no caso da biografia. Reconhecer a validade do discurso histórico estrutural como uma urgência em tempos de descontrução e relativismo epistemológico é obviamente uma posição política.FaremosnossaspalavrasfinaisasdeCiro Cardoso ( 1997: 23 )

... é inevitável que surjam, a curto ou médio prazo, um ou mais paradigmas explicativos globais, já que as razões que os suscitaram no passado, os graves problemas sociais e mundiais sem resolver, exigirão que se renovem os horizontes utópicos orientadores, amanhã, de lutas sociais menos parcializadas e mais coerentes do que as de hoje; as quais serão, no entanto, bastante diferentes das lutas de outrem, já que, por mais que ainda no âmbito do capitalismo, as sociedades humanas sofreram e continuam sofrendo

transformações de enorme alcance.

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1 Este texto foi originalmente apresentado no X Encontro Regional de História da ANPUH-RJ, realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 2002.

2 Ao utilizar a categoria de paradigma para se referir ao pós-modernismo, estou me valendo das formulações de Ciro Flamarion Cardoso, para quem há dois grandes paradigmas de interpretação histórica, o iluminista e o pós-moderno. CARDOSO, C. F. História e paradgimas rivais. In: ____ e VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro,

Campus, 1997.

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Endereço para Correspondência:

Prof. Doutor Alexandre de Sá AvelarCurso de Histó[email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Aterrado Av. Lucas Evangelista, nº 862, Aterrado, Volta Redonda - RJ. CEP: 27215 - 630

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:AVELAR, Alexandre de Sá. Pós-Modernismo e os Ataques à História. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano III, n. 6, abril. 2008.Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/06/40.pdf>

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O Trabalho do Assistente Social no Poder Judiciário: a realização do estudo social e a elaboração do parecer técnico The Social Assistant Work in Judiciary Power: the realization of social study and the elaboration of technical report

Mônica Santos Barison 1

Palavras-chaves:

Trabalho do Assistente Social

Parecer Social

Campo Sócio-Jurídico

Resumo

Este artigo pretende contribuir no processo de sistematização do debate acerca do trabalho do assistente social no Tribunal de Justiça, com ênfase nos aspectos teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos que fundamentam a realização do estudo e a elaboração do parecer social. O debate ora travado aglutina as proposições de diferentes autores que abordamatemática,naperspectivadeelucidaraproduçãocientíficasobreo trabalho do assistente social no campo sócio-jurídico. Neste espaço sócio-ocupacional, a feitura do estudo social e a emissão do parecer têmsido identificadas comoatividadesque,historicamente,marcaramoexercício profissional.Assim, consideramos relevante produzir questõesquecontribuamcomaqualificaçãodoassistentesocialparaodesempenhode tais funções. Outrossim, este material servirá de subsídio didático para a disciplina que compõe a grade curricular do Curso de Serviço Social do UniFOA,intitulada“0ServiçoSocialeoCampoSócio-Jurídico”.

Key words:

Social Assistant Work

Technical Report

Social-Judicial Field

Abstract

This article intends to contribute in the process of systematization in the debate about the social assistant work in the Tribunal of Justice, with emphasis in the theorical-methodological, ethic-political and technical-operational aspects which fundament the realization of the study and the elaboration of the Social Technical Report. The debate now developed joins the propositions from different authors which approach the theme, in order to elucidate the scientific production about the social assistant work in the social-judicial field. In this social-occupational space, the making of a social study and the emission of technical report have been identified as activities which, historically, marked the professional actuation. This way, we consider relevant to produce questions which contribute to the social assistant qualification for performing such jobs. Therefore, that material will be a didactical subsidy for a discipline which is part of the curriculum of Social Service Course in UniFOA entitled “The Social Service and the Social-Judicial Field”

Segundo Fávero (2003), a realização de estudo social e a elaboração de parecer podem ser reconhecidas como atividades que sempre marcaramoexercícioprofissionaldoassistentesocial no Poder Judiciário, em específico noTribunal de Justiça. Observa-se, entretanto,

que o sentido atribuído a esta atividade tem se alterado ao longo da história do Serviço Social. É sabido que o próprio significadoda profissão está atrelado às transformaçõessocietárias, plasmadas em um determinado contexto histórico. (IAMAMOTO, 2000). Então,

1. Introdução

1 Mestre - Serviço Social – UniFOA

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não podemos compreender o Serviço Social deslocado do movimento das configuraçõesdasrelaçõessociais,emespecíficodasrelaçõesEstado-Sociedade. Tais relações, no dizer de Iamamoto,“condicionam o trabalho concreto a ser realizado e seus efeitos no processo de reprodução das relações sociais. Forjam, assim, específicas condições e relações sociais por meio das quais se realiza o exercício profissional no mercado de trabalho” (IAMAMOTO 2005: 18). Nesse sentido, mais do que construir habilidades técnico-operativas para realizar um estudo social e elaborar um parecer técnico, identifica-se a importância de compreender oprocesso histórico de (des)construção do (s) significado(s)doServiçoSocial,reconhecendoos pressupostos de análise da profissão quecompõem o debate contemporâneo. Assim, a primeira sessão deste artigo pretende se constituir, exatamente, do debate que versa sobre a inserção do assistente social em processos de trabalho, destacando os elementos constitutivos do trabalho do assistente social no Tribunal de Justiça. No bojo deste debate, está inscrita a análise sobre os fundamentos teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos do Serviço Social na contemporaneidade. Considera-se que, reconhecer a articulação entre estes três eixos que fundamentam o trabalho do assistente socialédeextremaimportânciaparaqualificaroexercíciodequalqueratividadeprofissional. A segunda sessão do artigo é composta por temáticas que pretendem destacar o debate acerca dos aspectos teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo da realização do estudo e da emissão do parecer social. Em um primeiro momento, dar-se-á ênfase às duas dimensões do trabalho do assistente social: a interventiva e a investigativa. Oatributocentraldaaçãoprofissionalse constrói a partir da demanda que é posta, historicamente, ao Serviço Social. O assistente social tem sido acionado para intervir no processo de produção e reprodução das relações sociais, seja no nível da reprodução material ou no nível da reprodução subjetiva dos sujeitos que compõe as classes sociais (IAMAMOTO, 2000). Tal intervenção pressupõe que o profissional tenha habilidades para analisar oconjunto das relações sociais nas quais pretende

intervir. Aqui reside a dimensão investigativa do exercício profissional. O assistente socialprecisa construir mediações para desvelar a realidade que o cerca, na perspectiva de produzir conhecimentos acerca do seu objeto de intervenção. Destaca-se que tais dimensões do exercícioprofissionaldevemsercompreendidasem uma perspectiva dialética: não se pode considerar que intervir e investigar são momentos diferenciados e fragmentados da ação profissional. Na medida em que seinvestiga, modifica-se a realidade e quandose intervém, se produz conhecimentos. Neste sentido, é de fundamental importância estudar a instrumentalidade do exercício profissional,que, segundo Guerra (2000), é compreendida como o conjunto das capacidades construídas historicamente pela categoria profissional paramaterializar estas duas dimensões do exercício profissional e, conseqüentemente, responderas demandas apresentadas pelo mercado de trabalho. Frente ao exposto, as temáticas seguintes que configuram a segunda sessãodo artigo pretendem, justamente, estabelecer a conexão entre a primeira unidade e este debate sobre as dimensões do trabalho do assistente social. O estudo social e o parecer técnico compõem, em uma primeira análise, a dimensão investigativa do exercício profissional,compreendida aqui como uma dimensão que aglutina a atividade de pesquisa situada no campo das ciências sociais. Silva (2000) pontua que, quando o assistente social é acionado para elaborar um parecer social, a demanda que lhe é apresentada se situa em torno da produção de conhecimentos acerca da vida de sujeitos sociais para subsidiar as decisões de outrem. Mas que demandas são essas? Como responder essas demandas? Que sentido ético-político atribuir a esse trabalho? A partir de que fundamentos teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo deve-se executar essaatividadeprofissional?Comofazeroestudosocial? Como elaborar o parecer técnico? Longe de pretender apresentar respostas para estas e outras questões, este artigo objetiva ainda construir subsídios didáticos para a disciplina do Curso de Serviço Social do UniFOA,intitulada“ServiçoSocialeoCampoSócio-Jurídico”.

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2. Processos de Trabalho e Serviço Social

Marilda Iamamoto indica que, na década de 1980, inaugurou-se um novo debate acercadoServiçoSocial,situando-ocomo“uma especialização do trabalho coletivo, dentro da divisão social e técnica do trabalho, partícipe do processo de produção e reprodução das relações sociais”.(IAMAMOTO, 2000: 83). Segundo a referida autora, este debate reconhece que o Serviço Social está inscrito em relações e processos de trabalho. Postula que, identificar a inserção daprofissãoemprocessosdetrabalho,éreafirmara centralidade do trabalho como organizador da vida social.

“Otrabalhoéumaatividadefundamentaldohomem,pois mediatiza a satisfação de suas necessidades diante da natureza e de outros homens. Pelo trabalho o homem se afirma como um ser social e, portanto, distintoda natureza…O trabalho é, pois, o selo distintivo da atividade humana. Primeiro porque o homem é o único ser que, ao realizar o trabalho, é capaz de projetar, antecipadamente, na sua mente, o resultado a ser obtido…Mas o homem também é o único ser que é capaz de criar meios e instrumentos de trabalho, afirmandoessaatividadecaracteristicamentehumana.”

(IAMAMOTO, 2000:89)

A autora considera que, pensar o Serviço Social como trabalho, é ampliar e reconfiguraraanálisesobreachamada“práticaprofissional”. Pontua que avaliar qualquerprocesso de trabalho é levar em consideração não só a ação “propriamente dita” do profissional,mas destacar a matéria prima ou objeto que incide sua ação e ainda os meios de trabalho que potenciam a ação do sujeito sobre o objeto. Nessesentido,identificaroselementosconstitutivos do trabalho do assistente social é de fundamental relevância para compreender o sentido que se deseja atribuir a qualquer atividade quesejadesempenhadaporesteprofissional. Entretanto, anterior a análise acerca dos os elementos constitutivos do trabalho do assistente social no Tribunal de Justiça, faz-se necessário aprofundar o debate contemporâneo sobre o Serviço Social, travado por Iamamoto. A autora apresenta três pressupostos para analisar aprofissãonacontemporaneidade. O primeiro postula que é preciso compreender a profissão inscrita no própriomovimento da história. O Serviço Social é parte e é expressão da realidade social, da relação das classes sociais com o Estado. Este pressuposto

rompe comumavisãoque analisa a profissãoapenas a partir do seu próprio interior. Exige do assistente social a capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas, capazes de decifrar a realidade e efetivar direitos. Tal capacidade exige ainda a ruptura com atividades burocráticas, situando o profissional como planejador, gerenciador,avaliador de políticas sociais e não um simples executor. Exige também a ruptura com a perspectiva de que o assistente social é o “messias”,a“fadamadrinha”,queemum“passede mágicas”, apresentará todas as possibilidades para a transformação da realidade. A autora explicita que as alternativas estão inscritas na própria realidade, cabendo ao assistente social potencializar tais possibilidades. Outra ruptura necessária a ser feita é a de ultrapassar a visão determinista e fatalista, como se a realidade já estivesse dada e fosse impossível alterá-la. O segundo pressuposto é aquele que indica que é preciso compreender o serviço social como um tipo de trabalho, inscrito na divisão sócio-técnica do trabalho coletivo na sociedade capitalista. Este pressuposto rompe definitivamente com a visão de que o serviçosocialéespecializaçãodafilantropia.Oexercícioprofissionalestácondicionadopelomovimentoda relação entre a sociedade civil e o Estado. Este pressuposto implica em compreender o assistente social como trabalhador assalariado, que vende sua força de trabalho. O produto do trabalho do assistente social tem um valor social, que corresponde às expectativas da sociedade capitalista. Neste sentido é necessário que o assistente social esteja ciente da direção ético-política que pretende dar ao seu trabalho. O terceiro pressuposto apontado pela autora nos faz compreender que a profissãointervém diretamente no processo de produção e reprodução da vida social. Este processo nos remete à compreensão da organização da sociedade capitalista, que tem como “característica”básica a concentração de riquezas socialmente produzidas nas mãos de poucos. O trabalho do assistente social incide na (re) construção de representações sociais e conseqüentemente no comportamento dos sujeitos, tendo em vista o caráter educativo de seu trabalho. Incide ainda na reprodução material da classe trabalhadora, na medida em que media a concessão de bens e

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serviços a determinadas parcelas da população.A identificação de tais pressupostos ilumina,então, a compreensão sobre a inserção do Serviço Social em processos de trabalho. Aautoraafirmaque“o serviço social tem na questão social a base de sua fundação como especialização do trabalho” (IMAMOTO, 2000:27). O assistente social é requisitado para construir propostas de enfrentamento das mais diversas expressões da questão social. A autora define questão social, como o conjunto dasdiversas expressões das desigualdades sociais, produzida pela concentração de bens e riquezas. A questão social é, então, o primeiro elemento constitutivo do trabalho do assistente social: é a matéria-prima ou objeto de seu trabalho. Entretanto, na condição de assalariado, o profissional depende de meios de trabalhopara efetuar sua atividade. Iamamoto descreve que meios de trabalhos não devem ser reduzidos a instrumentos de trabalho, a um conjunto de técnicas. Os meios de trabalho são aqueles oferecidos pela instituição empregadora: recursos financeiros, materiais, humanos eaindaasdiretrizes,objetivos,metas,definiçõesde papéis e funções. Assim, a instituição, conforme a autora, “não é um condicionante a mais do trabalho do assistente social. Ela organiza o processo de trabalho do qual ele participa”.(IAMAMOTO, 2000: 63). E o terceiro elemento constitutivo do trabalho do assistente social? A autora aponta que o trabalho propriamente dito do assistente social é uma atividade humana, assim como outras, exercida por sujeitos de classes, que “são portadores de uma herança cultural, de uma bagagem teórica e técnica, de valores ético-sociais.” (IAMAMOTO, 2000:64). A autora pontua que o acúmulo teórico da categoria profissional, levado a cabo pelomovimento de reconceituação dos anos 80, imprimiunovos rumosàhistóriadaprofissão,na construção de novos referenciais para a compreensão de seu exercício profissional.O projeto ético-político, materializado no Código de ética do assistente social, aponta, dentre outros, para a defesa intransigente dos direitos sociais, políticos e humanos, situando o profissional como facilitador emediador doacesso da população a estes direitos, mediados pelas políticas sociais. Tal processo de reconceituação lançou, também, novas bases para transformações na formação profissional, que apontam para

a necessidade de articulação entre os eixos teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativosdaintervençãoprofissional,situandoo assistente social como intelectual, cujos processos de trabalho interferem na produção e reprodução da vida social. O assistente social necessita, então, decifrar essa realidade social. Através de atitude investigativa, deve se apropriar da atividade de pesquisa como indispensável ao seu exercício profissional.Rompe-se aqui, com a compreensão de que os instrumentos do trabalho do assistente social são arsenais de técnicas, situando-os no campo das bases teórico-metodológicas: tal referencial teóricoéorecursoessencialqueoprofissionaldeve acionar para exercer o seu trabalho. A autora propõe a superação da análise que identifica o exercício profissionalcomo prática do assistente social. Propõe uma compreensão mais abrangente, que identificao exercício profissional como trabalho do assistente social. Tal mudança não é simples alteração da nomenclatura. A autora coloca que, tradicionalmente, oexercícioprofissionaldoassistentesocialtemsido identificado a partir da categoria prática,vinculando-a a chamada práxis social. A crítica feita pela autora sobre esta compreensão é que, nela, não há uma diferenciação entre o exercício profissionaldoassistentesocialequalqueroutraação, de qualquer sujeito, no campo das relações sociais.Falaaindaqueapráticaéidentificada,reduzidamente, como o conjunto das atividades do assistente social, atividade esta socialmente determinada. Aautorapontuaqueaidentificaçãodoexercícioprofissionalcomotrabalho,ampliaaspossibilidadesdeanálisedaprofissão.Falaqueo conjunto de atividades do assistente social deve ser considerado apenas como um dos elementos constitutivos do processo de trabalho do assistente social. Nesse contexto, a autora discute a autonomia do assistente social. O trabalho desteprofissionalnãodependesomentedesuaação: está condicionado pela sua condição de assalariamento. A ação criadora do assistente social está determinada pelas exigências impostas de seu empregador, que tem o direito de utilizá-la conforme as políticas, diretrizes, objetivos e recursosdainstituição;Porém,identificaqueé,nesse cenário, que se materializa a autonomia do assistente social, pois o controle exercido sobre

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o desempenho de suas atividades é diferenciado. Identificaaautoraqueoinstrumentobásicodotrabalho do assistente social é a linguagem. A execução de suas atividades está intimamente relacionada à sua formação teórico-medotológica, ético-política e técnico-operativa. O assistente social atua diretamente com os sujeitos sociais, estabelecendo vínculos específicos com osusuários das políticas sociais. A autora aponta, então, que estes elementos (o tipo de controle exercido sobre o trabalho do assistente social e o uso da linguagem), podem propiciar sua autonomia. Seu trabalho situa-se no campo político-ideológico. Historicamente, o assistente social vem sendo requisitado para exercer funções de controle e adaptação dos sujeitos sociais à ideologia da classe dominante. Mas a própria natureza da especialização do seu trabalho pode abrir brechas e possibilidades de reorientar o sentido de suas ações, na perspectiva de construção da cidadania, efetivação de direitos, formação de cultura pública democrática. A consolidação do projeto ético-político do serviço social não está desconectando do processo mais abrangente de construção de um novo projeto societário. Assim, a articulação com os diversos movimentos sociais é a energia e alimento para a manutenção e consolidação deste projeto.

2.1. Os elementos constitutivos do trabalho do assistente social no Tribunal de Justiça

Qual é a matéria-prima do trabalho do assistente social no Tribunal de Justiça? Conforme explicitado anteriormente, a questão social tem sido reconhecida como a matéria prima do trabalho do assistente social. Compartilha-seaquidadefiniçãodeIamamotosobre questão social:

“Conjuntodasexpressõesdasdesigualdadessociaisdasociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma

parte da sociedade”. (IAMAMOTO, 2000: 27)

Na perspectiva de entender quais são as expressões da questão social que se constituem como objeto de trabalho para o assistente social do Poder Judiciário, é importante compreender os tipos de demandas que se apresentam para o

próprio Tribunal de Justiça. No Poder Judiciário, por exemplo, observa-se um crescimento das ações judiciais que tramitam nas Varas de Família e nas Varas de Infância, Juventude e Idoso. O próprio território em que estamos inseridos pode ser assumido como ilustração deste crescimento: é só observar que, inicialmente, em Volta Redonda, existiam: uma Primeira Vara de Família e uma outra (chamada de Segunda Vara de Família) que também aglutinava as questões relativas a Infância e Juventude. Atualmente, existem três Varas de Família e um Juizado para Infância, Juventude, sendo que este incorporou, recentemente, a questão do Idoso. E quais são as principais ações que tramitam, por exemplo, na Vara de Família? Na Vara de Família, observa-se a existência de ações que expressam e evidenciam: 1) conflitosouimpassesfrenteaquestõesrelativasà dinâmica de vida das famílias 2) movimentos significativosdereorganizaçãodascomposiçõesdas famílias na sociedade contemporânea 3) a necessidade de instrumentos jurídicos para o reconhecimento e a legitimação de relações familiares, na perspectiva da busca pela garantia de direitos. Então, são, por exemplo, ações que tramitam nestas Varas de Família: separação litigiosa ou consensual; guarda e responsabilidade, regulamentação de visita; alimentos; reconhecimento ou negatória de paternidade; interdição, etc. Utilizando uma linguagem metafórica, pode-se dizer que, na verdade, esses processos são “a ponta de um enorme iceberg”. É preciso compreender que as demandas que são apresentadas pelos sujeitos, representados pelos advogados, ao Poder Judiciário, não são apenas problemas individuais, mas expressam o modo como as relações sociais vêm sendo produzidas e reproduzidas na sociedade capitalista. É preciso considerar que as relações interpessoais e intersubjetivas são construções históricas, vinculadas a um processo de socialização coletiva na qual os sujeitos estão inseridos. Compreender as formas de sociabilidade humana, determinadas pelo modo de produção capitalista é de fundamental importância para não corrermos o risco de analisar os processos judiciais como problemas individuais, mas de situá-los em um contexto de forma ampliada. E é preciso construir mediações,

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em sua dimensão reflexiva, para estabelecerconexões entre o singular (que se apresenta no cotidiano da instituição) e o universal, que se expressa no conjunto das relações sociais (PONTES, 1997). Observa-se que o modo de produção capitalista, desde o final do século XX, vemsofrendo profundas transformações, que afetam diretamente o mundo do trabalho e conseqüentemente as formas de sociabilidade entre os homens (ANTUNES, 2002). Não é objetivo deste artigo falar, em específico, destas transformações. Mas, emlinhas gerais, identifica-se o seguinte debateacerca das alterações das formas de sociabilidade, que são decorrentes da implantação do projeto neoliberal:• Assiste-se transformações significativasno processo de reprodução material dos homens na sociedade capitalista. A redução dos postos de trabalho, a flexibilização dasrelações trabalhistas, a invasão da tecnologia no sistema de produção, a valorização do mercado financeiro em detrimento domercado de produção têm impedido um grande contingente populacional de vender a sua força de trabalho para garantir sua própria sobrevivência. Isso implica dizer que o processo de pauperização da população nunca atingiu níveis tão comprometedores;• Assiste-se também o esgaçamento dotecido social, o desmantelamento de projetos societários que defendam os interesses da classe que vive do trabalho. Este fenômeno compromete os vínculos sociais de determinados grupos e segmentos da população e, conseqüentemente, sua capacidade de mobilização para apresentar qualquer tipo de resistência e enfrentamento frente à violação de direitos. O projeto neoliberal desarticulou os movimentos sociais, populares ou sindicais para que as reivindicações destes grupos não precisassem entrar na agenda da ordem societária. Assim, no plano das micro-relações, compromete-se o sentimento de pertença dos sujeitos sociais, que absorvem, cada vez, mais valores liberais (como o individualismo, a competição, a noção de propriedade privada).• Assiste-se ainda o desmoronamentodos sistemas de proteção social e conseqüentemente a noção de Estado Social. A implantação do projeto do Estado Mínimo está em franco movimento e acompanha-

se o desmantelamento das políticas sociais, que são cada vez mais focalizadas, seletivas e compensatórias; o que compromete o acesso a serviços de saúde, assistência social e de educação com qualidade. O estado vem se desresponsabilizando de sua função de construir sistema de proteção social e vem transferindo tal responsabilidade para a própria sociedade civil.

Se o olhar for lançado para a instituição família, que é a primeira instituição de socialização em que os sujeitos são inseridos, observa-se que ela tem sido atingida duramente por estas transformações no processo de sociabilidade, que ora está inscrito na sociedade capitalista. A família tem encontrado dificuldades em semanter como referência para os seus membros e ainda de cumprir suas funções de reprodução social e cultural. Neste sentido, as mudanças ocorridas nomundoda família (nasuasconfiguraçõesedinâmicas)eaindaasdificuldadesdasmesmasno cumprimento de suas funções, não podem ser “fenômenos” entendidos apenas comoexpressões de uma revolução cultural ou sexual, mas como expressões do desmantelamento dos projetos societários, do sistema de proteção social e ainda dos processos de reprodução material. As ações que tramitam no Poder Judiciário, muitas vezes, como indica Marilda Iamamoto (2004), se apresentam como situações limite que “condensam a radicalidade das expressões da questão social em sua vivência pelos sujeitos”. Segundo a autora, estes sujeitos buscam a proteção judicial quando todos os outros recursos, principalmente do Poder Executivo, já foram exauridos. Pode-seafirmar,então,que,identificara matéria prima do trabalho do assistente social no Poder Judiciário é olhar para além das petições das iniciais dos processos. Que famílias nós encontramos atrás dos processos judiciários? Os seus membros vivenciam quais expressões da questão social? Qual a interferência destas na organização daquele núcleo familiar em específico? E aí se destaca, por exemplo, o crescimentodefamíliaschefiadaspormulheres;o crescimento das famílias extensas, cujos membrosdependemfinanceiramentedosidosos;o crescimento de mulheres que se engravidam na adolescência; o crescimento de famílias que sobrevivem apenas com benefícios sociais; o

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crescimento de famílias moradoras de rua; o crescimento de famílias marcadas por relações de violência; o envolvimento de adolescentes com o mundo do crime etc.Para fundamentar a análise, um texto de Marilda Iamamoto:

“O assistente social não trabalha com fragmentosda vida social, mas com indivíduos sociais que se constituem na vida social em sociedade e condensam em si a vida social. As situações singulares vivenciadas pelos indivíduos são portadoras de dimensões universais e particulares das expressões da questão social, condensadas na história de vida de cada um deles. O conhecimento das condições de vida dos sujeitos permite aos assistentes sociais dispor de um conjunto de informações que, iluminadas por uma perspectiva teórica critica, possibilitam apreender e revelar as novas faces e meandros da questão social, que desafiaacadamomentoodesempenhoprofissional:afalta de atendimento às suas necessidades na esfera da saúde, educação, habitação, a assistência; nas precárias condições de vida das famílias; na situação das crianças de rua; no trabalho infantil, na violência doméstica,

entre inúmeros exemplos” (IAMAMOTO: 2004, 272)

Frente ao exposto, é mister avaliar, então, como o Poder Judiciário vem respondendo as demandas que lhe são apresentadas. Assim, será iniciado o debate sobre o segundo elemento constitutivo do trabalho do assistente social: os meios de produção oferecidos pela instituição empregadora. Conforme apresentado anteriormente, o assistente social é trabalhador que vende sua força de trabalho. Ou seja, ele não detém os meios de produção de seu trabalho. Os objetivos, as diretrizes e princípios da instituição, os recursos materiais e humanos que lá existem são de propriedade de seu empregador. Por isso, é de fundamental importância que o assistente social saiba reconhecer quais são os meios que possibilitam o seu trabalho e, principalmente, quais são as demandas apresentadas para o serviço social pelo seu empregador. Observa-se que o Poder Judiciário é uma instituição secular, que se constituiu como um dos Poderes do Estado Moderno. Segundo José Eduardo Faria (2001), podemos dizer, em linhas gerais, que o Poder Judiciário, historicamente, vem ocupando três funções básicas na sociedade moderna: 1) resolver conflitos (função instrumental) 2) promover ocontrole social (função política) 3) Promover a socialização das expectativas à interpretação das normas legais (função simbólica).

Este autor pontua que o Poder Judiciário, no período histórico do capitalismo concorrencial, foi concebido para, no exercício de suas funções, preservar a propriedade privada, conferir eficácia aos direitos individuais,assegurar os direitos fundamentais, garantir as liberdades públicas e afirmar o império dalei, protegendo os indivíduos contra os abusos de poder do Estado. No período histórico do capitalismo organizado (configuraçãodos Estados de Bem-Estar Social), o Poder Judiciário também passou a implementar os direitos sociais, condicionando a formulação e execução de políticas públicas com propósitos compensatórios e distributivistas. Pode-se analisar que estas funções do Poder Judiciário representam os interesses da classe dominante, na medida em que é constituída para preservar o conjunto de códigos que legitimam a relação entre capital-trabalho e, conseqüentemente, punir, adaptar, integrarossujeitosquesemostram“rebeldes”e “transgressores” frente a este conjunto denormaseregrassociais.Eaqui,verifica-sequea compreensão dominante sobre os chamados problemas sociais assume a lógica de que eles são frutos dos comportamentos individuais. Entretanto, se a Constituição Brasileira de 1988 for assumida como referência, o Poder Judiciário dispõe, na atualidade, nos dizeres de Marilda Iamamoto (2004), de uma importância especialnalutapelaafirmaçãoereconhecimentodo estatuto de cidadania de parte daqueles que foram alijados em nossa história, colaborando nasuaafirmaçãoenquantosujeitosdedireitos. Assim, baseado do debate de Faria, considera-se que existe uma tensão entre o reconhecimento da cidadania, dos direitos sociais e o processo de preservação dos mecanismos que produzem as desigualdades sociais. Muitas vezes, a prática do Poder Judiciário explicita esta tensão existente entre os interesses individuais e os interesses coletivos. Neste sentido, o Poder Judiciário, por vezes, assume papel paradoxal, como explicita Faria:

“Um, de natureza essencialmente punitiva, aplicávelaos segmentos marginalizados; outro, de natureza eminentemente distributiva, o que implica, além da coragem e determinação política, a adoção de critérios compensatórios e protetores a favor desses mesmos segmentos, tendo em vista a instituição de padrões mínimos de equidade, integração e coesão sociais”

(FARIA, 2001:17)

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Também, para efeito de análise do poder judiciário, não se pode deixar de mencionar o caráter burocrático e hierárquico desta instituição. Estas características estão atreladas à noção de competência, segundo Faria (2001). A burocracia tem como princípio o culto à autoridade. A competência se mostra, então, através do exercício do poder de quem o detém, que impõe uma obediência aos mecanismos das atividadesfixadasemformaserotinas. E como o Serviço Social se situa nesta instituição? Quais são as demandas apresentadas ao assistente social nesta instituição? É evidente que a função hegemônica do poder judiciário é transmitida a todos os agentes que integram este Poder, com a expectativa de que a ação de cada um deles materialize e operacionalize os objetivos da instituição. Assim, em linhas gerais, a expectativa é a de que o assistente social também reproduza esta lógica que institui o Poder Judiciário. Ao Serviço Social, concretamente, vem sendo delegado o papel de realizar os estudos sociais, que são reconhecidos como material que vai subsidiar as decisões dos juizes acerca damatériadecadaprocesso.Verifica-sequeainserção do assistente social no Poder Judiciário é datada da década de 40, prioritariamente nos Juizados da Infância e Juventude. Observa-se que o modo como o assistente social vem ocupando este espaço sócio-ocupacional tem se alterado no decorrer da historia; mudanças estas que acompanham a própria dinâmica da instituição e ainda a própria dinâmicadaprofissão. Neste sentido, a ação do profissionale, conseqüentemente, o produto de seu trabalho assume, historicamente, contornos diferentes. Apesar da história nos mostrar que o Serviço Social sempre esteve inserido no poder judiciário, principalmente, nos antigos Juizados de Menores, observa-se que a sistematização do trabalho do assistente social tem sido objeto de debatesepesquisasapenasnofinaldadécadade90 (FAVERO, 2003). Então, muitos estudos precisam ser desenvolvidos para aprofundar a compreensão dosignificado,dosobjetivosdoServiçoSocialneste campo. Baseando-se no debate de Iamamoto (2004),postula-sequeexistemdois“caminhos”teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo que o assistente social que trabalha noJudiciáriopodeseguir;“caminhos”estesque

foram sendo construídos historicamente pela profissão,inscritanarelaçãoentreoEstadoeasociedade civil:•O conservador ou tradicional, em que severifica a adoção de modelo clássico doServiço Social de Caso para fundamentar suas bases teóricas e mecanismos operacionais (que vai se pautar na distinção entre o normal e o patológico, apoiado em procedimentos descritivos da realidade; que induz uma atuação profissional na linha de adaptaçãoou integração a uma ordem social tida como imutável e natural; que contribui para o controle e disciplinamento, através da culpabilização dos sujeitos pelas condições socioeconômicas em que vivem; que invade a privacidade dos sujeitos com condutas autoritárias e burocráticas)• O reconceituado ou crítico, em que oassistente social assume referencial teórico-metodológico crítico que é capaz de decifrar a realidade dos sujeitos de forma a construir mediações entre o singular e o universal das relações sociais; que se propõe a captar e reconstruir os processos sociais desencadeadores das situações de vida em nível individual e/ou familiar, nas suas múltiplas relações e determinações; que articula a vida os indivíduos singulares com as dimensões estruturais e conjunturais que a conformam, em uma análise na perspectiva da totalidade.

A partir desta última perspectiva, que é a indicada no atual projeto ético-político da categoria profissional, o trabalho do assistentesocial assume uma proposta de ser instrumento de viabilização dos direitos civis, políticos e sociais para todos, segundo princípios e valores democráticos. Tal projeto ético político demanda do assistente social, nos termos de Marilda Iamamoto (2004):•Atitudeinvestigativaedesenvolvimentodepesquisa, que são dimensões constitutivas do trabalho do assistente social neste campo, tendo em vista que o estudo social pode desvelar a vida dos indivíduos e oferecer importantes subsídios para as decisões dos juizes, no sentido de abrir possibilidades para o acesso das famílias aos seus direitos;• Compromisso com a socialização dasinformações junto aos sujeitos envolvidos nas atividades executadas, observando o sigilo profissional;

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•Conhecimentoearticulaçãocomarededeserviços do Poder Executivo, tendo em vista que o Poder Judiciário não elabora ou executa políticas sociais;• Compromisso com sua formaçãoprofissional,paraquedesenvolvahabilidadese competências para analisar a vida social;•Competênciateóricaquesustenteegarantasua autonomia profissional no processo deconstrução do parecer social (escolha dos instrumentos e emissão de avaliações) e não confunda subordinação com subalternidade;• Competência para o trabalhointerdisciplinar.

2.2. A construção histórica dos fundamentos do Serviço Social

Frente a esses inúmeros desafios, éo embasamento teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo que possibilita o exercícioprofissionalcriativoepropositivo,nosdizeres de Marilda Iamamoto (2000). A construção dos fundamentos do Serviço Social não foi produto apenas de uma movimentaçãointernadacategoriaprofissional,mas pode ser explicada no movimento histórico da sociedade. Conforme explicitado anteriormente, compreende-sequeossignificadosdaprofissãode Serviço Social foram forjados na relação Estado-Sociedade. Segundo Yazbek (2000), na gênese do Serviço Social no Brasil, é conhecida a relação entre a profissão e o ideário católico,materializado, naquele período histórico, através da Doutrina Social da Igreja. A Igreja, que sempre dominou, até então, a organização das políticas sociais, é acionada pelo Estado para formarprofissionaisquepudessemseconstituircomo instrumento para o controle e adaptação daclassetrabalhadoraàsnovasconfiguraçõesdomercado industrial. Esta relação Estado-Igreja- ServiçoSocialimprimeaprofissãoocaráterdeapostolado. A autora aponta que os fundamentos do Serviço Social se pautam, naquele período, na compreensão da questão social como problema moral e religioso e direciona a intervenção do profissional para conjunto de práticas queprioriza a formação da família e do indivíduo para o atendimento de suas necessidades materiais, morais e sociais. Ao Serviço Social passa ser atribuída a função de modelar comportamentos

e valores para que os indivíduos pudessem se adaptar a ordem social. Tal significado daprofissãoéorientadoporprincípioshumanistasconservadores. Na década de 40, o Serviço Social passaasertecnificadoaoreceberinfluênciadoServiço Social Norte-Americano. Suas propostas de trabalho começam a serem permeadas pelo caráter conservador da teoria social positivista. (YAZBEK,2000) Tal movimentação está relacionada à própria reconfiguraçãodoEstadono tocanteàorganização das políticas sociais. Este, naquele momento, passa assumir, de forma direta, a execução dos programas sociais e exige a qualificação técnica do profissional. Há umajunção do discurso humanista cristão com o suportetécnico-científicodeinspiraçãonateoriapositivista. O Serviço Social passa a ser mediado não só pelo referencial doutrinário da Igreja Católica, mas também pelo legado conservador das Ciências Sociais. Neste cenário, o horizonte analítico do Serviço Social aborda as relações sociais dos indivíduos no plano de suas vivências imediatas. Os fatos são fragmentados do conjunto das relações sociais. A prática deveria ser direcionada para ajustar e conservar o modo de organização das relações sociais, dado como algo natural entre os homens. Prioriza-se o aperfeiçoamento dosinstrumentosetécnicaseaçãoprofissionalsemolda a partir da burocratização das atividades institucionais. Ainda segundo Yazbek, somente a partir da década de 60, inicia-se processo de questionamentodosignificadodoServiçoSocialno Brasil. A aproximação do Serviço Social com os movimentos sociais (que emergem no cenário político, produzindo resistências e combates à Ditadura Militar) e, conseqüentemente com a teoria marxista militante, desencadeia processo de questionamento (inicialmente do ponto de vista sócio-político e posteriormente do ponto de vista teórico) em relação ao atrelamento da profissão aos interesses da classe burguesa ede sua prática institucional que objetivava a adaptação social dos sujeitos. No início dos anos 80, com a produção teórica de Marilda Iamamoto, são lançadas as bases para a reorientação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa da profissão.Novos pressupostos de análises são construídos, a partir da fundamentação da teoria crítica de Marx, para compreensão do significado do

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Serviço Social e para a construção de um novo projetoético-políticoparaaprofissão(YAZBEK,2000). O projeto ético-político da categoria profissional,materializadonoCódigodeÉticaProfissional e na Lei de Regulamentaçãoda Profissão, se consolida na década de 90e redireciona o significado da profissão. Aopçãopeloatrelamentodaprofissãoaprojetossocietários que postulam a emancipação humana como paradigma central, produziu novos princípioséticosparaoexercíciodaprofissão. Os princípios da defesa da democracia, das políticas públicas, dos direitos sociais, civis e políticos, da eliminação de toda forma de preconceito e toda forma de exploração, impõem uma nova lógica para o trabalho do assistente social. O assistente social que se situa neste debate contemporâneo sobre a profissão,percebe-se cercado por inúmeros desafios emseu cotidiano profissional. Como materializaros princípios éticos do Serviço Social? Como romper com a expectativa de que o assistente social vai reproduzir um trabalho conservador? Como não sucumbir aos interesses de quem detém o poder institucional? As respostas a essas indagações podem estar relacionadas com a produção de competência teóricaquehabiliteoprofissionala decifrar a realidade social que o cerca. É preciso compreender que a instrumentalidade do trabalho do assistente social não se refere apenas ao conjunto de instrumentos e técnicas que dispõe para intervir na realidade social. É preciso estar atento à dimensão investigativa de seu trabalho, privilegiando a atividade da pesquisa como indispensável ao seu exercício profissional. Neste sentido, a fundamentaçãoteórica deve ser reconhecida como componente fundamental desta instrumentalidade do seu trabalho.

3. Os Aspectos Teórico-metodológicos, Ético-políticos e Técnico-operativos na Realização do Estudo e na Emissão do Parecer Social

3.1 As dimensões interventiva e investigativa do trabalho do assistente social

“EmServiçoSocial,osabercríticoapontaparaosaber

fazer crítico” (BATISTA, 1992: 89)

Esta frase nos remete às duas dimensões do trabalho do assistente social: a interventiva e a investigativa. Conforme já enunciado anteriormente,aprofissãoestáinscritanadivisãosocial e técnica do trabalho, ou seja, no bojo das relações sociais são construídas necessidades e expectativas de que determinadas intervenções desejamrealizadasporesteprofissional. Planejando, gerenciando e/ou executando políticas sociais, públicas ou privadas, ou ainda assessorando outros profissionaisatravés da elaboração de laudos e pareceres, o assistente social se aproxima do mundo real. É neste contexto que são apresentadas a demanda de trabalho para o assistente social. Segundo Myrian Veras Batista (1992), estaaproximaçãocomomundorealéo“lado” mais aparente da ação do serviço social. “É aquele que se efetiva por aproximações – em resposta a questões imediatas, postas no cotidiano – que se fazem tendo como ponto de partida, muitas vezes, soluções provisórias e imediatistas”. (BATISTA, M.V.,1992: 90) Entretanto, postula a autora, que toda prática se constitui a partir de uma referência inscrita no campo da consciência, mesmo que tal prática seja a mais utilitária e a mais rotineira. Tal referência à consciência ocorre, pois a intencionalidade da ação precede objetiva e cronologicamente a intervenção. Esta intencionalidade tem sido construídahistoricamentepelaprofissão,nobojode sua relação com as ciências sociais (que, por sua vez, se situa na relação Estado-Sociedade). É no processo histórico de produção das fundamentações teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas do serviço social que emerge a base para a construção destas intencionalidades do trabalho do assistente social. A construção de uma intencionalidade está diretamente vinculada a um movimento da consciência que reconhece que não se pode atuar desconhecendo os objetos e processos sociais sobre os quais pretende intervir. Aqui se identificaadimensão investigativa do trabalho do assistente social. Como será analisado teoricamente o objeto de intervenção que se apresenta como demanda de trabalho? O referencial crítico de análise das relações sociais afirma que a essência de taisrelações são ocultadas: não é percebida, à primeira vista, na imediaticidade dos fatos. Assim, é preciso desvelar o real: conhecer aquilo

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que o determina historicamente. Este movimento de produção de conhecimento contribui para a superação do atendimento às demandas imediatas que emergem do cotidiano, que acabam fazendo do assistente social um mero tarefeiro. O profissional impregnado daperspectiva investigativa é aquele que se mostra capaz de reconstruir seu objeto de intervenção. Tal reconstrução se faz essencial para romper com a prática do tarefeiro (atender às demandas imediatas do cotidiano) e trabalhar na perspectiva da emancipação humana, na defesa intransigente dos direitos, da democracia, da eliminação do preconceito etc. “Esta reconstrução do objeto significa o equacionamento das demandas que chegam ao assistente social, seja pela via da instituição, seja pela via dos usuários de seus serviços” (BATISTA, 1992). Reconstruiroobjetosignifica,atravésda atividade da pesquisa, ser capaz de analisá-lo teoricamente.

3.2 Os elementos constitutivos do parecer social

O estudo social e o parecer técnico compõem, em uma primeira análise, a dimensão investigativa do exercício profissional,compreendida aqui como uma dimensão que aglutina a atividade de pesquisa situada no campo das ciências sociais. SILVA (2000) pontua que, quando o assistente social é acionado para elaborar um parecer social, a demanda que lhe é apresentada se situa em torno da produção de conhecimentos acerca da vida de sujeitos sociais para subsidiar as decisões de outrem. É considerado como processo através do qual o assistente social realizará estudo sobre uma dada realidade social e emitirá sua opinião técnica sobre a mesma. Mioto (2001) pontua que os elementos constitutivos do parecer social estão relacionadoscomafinalidadediretaeespecíficaa qual se destinam. Por isso, é de fundamental importância identificar PARA QUÊ o parecersocial está sendo produzido. Frente ao exposto, a referida autora indica quais são os elementos que sustentam a emissão do parecer social:•CompetênciaTécnica:refere-seàhabilidadedo profissional no planejamento e execução

do processo de realização do estudo social e elaboração do parecer;•Competência teórico-metodológica: refere-seàfundamentaçãoteóricaqueoprofissionaldeve dispor para analisar os dados obtidos durante a realização do estudo social. O assistente social deve ter conhecimentos aprofundados sobre as temáticas que envolvem a matéria sobre a qual irá emitir seu parecer (conhecimentos acerca da produção existente no campo das ciências sociais e ainda no campo da legislação contemporânea sobre a matéria);• Autonomia: refere-se á construção desua liberdade para decidir acerca 1) dos instrumentos operativos que serão utilizados durante a realização do estudo social; 2) da indicação dos sujeitos que serão envolvidos no processo de feitura do estudo social; 3) da opção teórica que vai fundamentar a análise dos dados; 4) da escolha das informações que serão registradas no relatório, tendo em vista osigiloprofissional;•Compromissoético:refere-seànecessidadede incorporação dos princípios e das normas para o exercício profissional explicitadas noCódigo de Ética e na Lei de Regulamentação da Profissão. Neste sentido, se constituicomo dever do assistente social: 1) informar aos sujeitos envolvidos na atividade as implicações em sua vida, decorrentes da realização do estudo social e a emissão do parecer; 2) resguardar o sigilo profissional;3) não pretender aferir a verdade ou a mentira dos fatos; 4) não se basear em julgamentos de valores ou em atitudes moralistas ou preconceituosas; 5) compreender o parecer social como instrumento de viabilização dos direitos dos sujeitos envolvidos na atividade.

Mioto (2001) explicita ainda os princípios que devem nortear a ação do profissional que elabora o parecer social. Aautora destaca que:• “Toda situação é uma situação a ser desvelada”. Este princípio é importante paraqueoprofissionalmantenhaposturadedistanciamento, de “curiosidade” frente aoprocesso de desvelamento da realidade que será pesquisada. Não se pode antecipar uma análise sem que existam dados para fundamentá-la. É importante ainda que o assistente social não se guie apenas por fatos e datas para construir as histórias dos sujeitos. As “versões”, osmúltiplos “significados” atribuídos por cada

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um é material precioso para a compreensão da realidade.Outrossim, as predefiniçõesou asavaliaçõesdeoutrosprofissionaisnãodevemcondicionar o resultado do parecer social. Em muitassituações,muitosoutrosprofissionaisde outras áreas já construíram suas análises (baseados em argumentos científicos ou nosenso comum). O trabalho do assistente social temumaespecificidadeeoprofissionalnãopode se deixar guiar por referenciais de outras disciplinas;• “Todo processo de realização do estudo social e elaboração do parecer é um processo de intervenção”. Este princípio contribui para a desconstrução da idéia de neutralidade profissional.Otrabalhodeemissãodoparecerprovoca transformações na vida dos sujeitos envolvidos. Há que se perceber o aspecto paradoxal da realização deste trabalho: mesmo que expresse a dimensão investigativa da ação do assistente social, também se constitui como momento de intervenção;•“A realização do estudo social e a elaboração do parecer implicam em transformações na vida dos sujeitos envolvidos na atividade”. Em todos os momentos desse trabalho, é preciso que o assistente social esteja atento aos impactos que sua ação provoca na vida dos sujeitos. É preciso, então, ter um compromisso ético com cada sujeito que participa deste processo. O assistente social deveainda terhabilidadesparadefinirquaisdados serão publicizados no relatório, tendo emvistaasinúmeraspessoaseprofissionaisque terão acesso ao material;• “O parecer deve situar-se no âmbito da competência do Serviço Social”. Este princípio explicita a necessidade do profissionalemitir,deformaclaraeobjetiva,sua análise, sem entrar no mérito da decisão queédecompetênciadeoutrosprofissionais.O assistente social deve ainda recortar como objeto de análise questões relacionadas à sua matéria.

3.3. Realizando o estudo e elaborando o parecer social

Conforme explicitado anteriormente, esse trabalho do assistente social expressa a dimensãoinvestigativadaaçãoprofissional;estáassociado ao campo da atividade da pesquisa social (conferir debate acerca da atividade de

pesquisa no campo das ciências sociais em MINAYO, 1992). O estudo social é o momento em que o assistente social vai construir o seu plano de trabalho e estabelecer o contato direto com a realidade que objetiva conhecer. O parecer social é o momento da análise, da emissão da avaliaçãodoprofissionalacercadoobjetoquefoi delimitado no estudo social. Assim, identifica-se a existência deduas fases no processo de realização do estudo social: a construção do plano de trabalho e a realização do trabalho de campo.É de extrema importância que o profissionalpossa planejar suas ações. O plano de trabalho se apresenta como estratégia de planejamento para nortear o trabalho de campo. Nesta fase o assistentesocialvaiidentificaroudefinir:•Qualéoobjetodeestudo? A construção do objeto do estudo social está relacionada à análise das peculiaridadessócio-institucionais. Deve ser identificadopelo assistente social e não por outros profissionais.Emlinhasgerais,seconstituidasingularidade da realidade das relações sociais nas quais os sujeitos sociais estão inseridos; dasespecificidadesdoprocessodereproduçãomaterial e subjetiva da vida social dos sujeitos envolvidos.•Quaissãoosobjetivosdoestudosocial? É o momento que o profissionaldefine o quê pretende conhecer acerca darealidade de vida dos sujeitos envolvidos na atividade. A construção de tais objetivos também está associada ao reconhecimento das especificidades do estudo social demandadoem cada tipo de ação judicial.

Identifica-se que, comumente, dentreoutros,oprofissionalestabelececomoobjetivos:1) conhecer as condições sócio-econômicas (inserção no mercado de trabalho, renda familiar, benefícios); 2)conhecer as condições sócio-habitacionais (infra-estrutura da moradia, de serviços de abastecimento de luz, água e recolhimento de esgotos, habitabilidade etc); 3)conhecer a composição e arranjo familiar; 4)conhecer a rede de (des) proteção social onde estão inseridos; 5)conhecer o modo de organização da família para atender as necessidades de seus membros; 6) conhecer as representações dos sujeitos sobre sua história de vida, sua realidade e a situação que se constitui como alvo de intervenção da instituição.

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Destaca-se que, privilegiar a fala dos sujeitos (que carrega significados sobre suaprópria história, condições de vida, situação específica vivenciada junto a Justiça) é deextrema importância para a construção dos objetivos do estudo social. Em muitas ocasiões, os sujeitos terão apenas aquele espaço para se manifestarem diretamente. Privilegiar a análise dos fenômenos pela ótica de quem os vivencia deve ser um compromisso ético na realização do estudo social.•Quaissãoasfinalidadesdoestudosocial? È o momento em que o assistente social defineoparaquêeoporquêsedeverealizaro estudo. Na construção das finalidadesdo estudo, deve-se estar atento para a necessidade de materialização dos princípios éticosdoassistentesocial.Oprofissionalnãopode ceder às tendências conservadoras e burocratizantesdas instituições.Afinalidadeúltima do estudo social deve estar relacionada com a garantia dos direitos sociais, políticos e civis dos sujeitos envolvidos.• Quais os instrumentos que deverão serutilizados para que o estudo social seja realizado? É o momento em que o assistente social define quais são os instrumentos queirá utilizar para materializar os objetivos do estudo e ter acesso aos sujeitos que participarão da atividade. Vale lembrar da autonomia do profissional para a escolhade tais instrumentos. Dentre eles, pode-se destacar: entrevistas; visita domiciliar; visitas a instituições; observação participante; leitura de documentação etc.•Quais sãoos sujeitose/ou instituiçõesqueserão envolvidos no estudo social?

Este é o momento de se definirquem vai participar do estudo social. Esta escolha está atrelada aos objetivos do estudo e as especificidades do trabalho.É importantetambém que o assistente social defina como e quando tais sujeitos serão acionados, pois é justamente nesta ocasião que a interação com os sujeitos começa a acontecer. Após a elaboração do plano de trabalho, o profissional vai iniciar a segundafase da realização do estudo social, que se refere ao trabalho de campo propriamente dito. Nessa segunda fase, efetivamente, o assistente social estabelece a relação com os sujeitos e aplica os instrumentos para a coleta dos dados empíricos, segundo seus objetivos. O ideal é que

o processo de abordagem seja documentado, preferencialmente, através de relatórios parciais descritivos. Vale ressaltar que essa documentação nãodeveserencaminhadanorelatóriofinal.Elapode ser arquivada em locais que somente o Serviço Social tenha acesso. Esses relatórios parciais servirão de base para análise dos dados e elaboração do relatóriofinal,emqueseráexplicitadooparecersocial. Vale destacar ainda que, frente à dinamicidade da realidade, o assistente social necessita rever seu planejamento em função das informações que obtém durante o seu trabalho de campo. Após a feitura do estudo social, o profissionalvaisedebruçarnaanálisedosdadosobtidos. Assim, de posse dos dados empíricos, o assistente social vai estabelecer conexões com o referencial teórico que o embasa; vai estabelecer a relação entre o singular e o universal das relações sociais. É sabido que realidade não pode ser apreendida em sua totalidade pelo movimento da razão. Então, o movimento para compreendê-la apenas se aproxima do real (PONTES, 1997). Frente ao exposto, é preciso ter fundamentação para estabelecer articulações entre as situações singulares vivenciadas pelos sujeitos e os processos de organização da cultura, dapolítica,daeconomia,porfim,dareproduçãomaterial e subjetiva dos homens. É preciso ainda ter conhecimento sobre a relação Estado/Sociedade, principalmente ao que se refere à organização das políticas sociais. É preciso também conhecer a legislação social vigente, na perspectiva de fundamentar as análises propostas. O parecer social será emitido através de relatório (ou laudo social). Esse documento deve conter, fundamentalmente, a análise que o assistente social realizou sobre a situação que lhe foi apresentada. É importante que o profissionalcontextualizeparaoleitoroprocessode realização do estudo social (instrumentos utilizados, sujeitos que foram envolvidos). O assistente social pode ainda explicitar um resumo dos dados obtidos através da realização do estudosocial,observandoosigiloprofissional. O profissional pode também proporalternativas, apontar as necessidades dos sujeitos, sugerindo encaminhamentos. Entretanto, é importante relembrar que não deve entrar no mérito da decisão que não é de sua competência.

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É preciso que cada alternativa ou sugestão esteja fundamentada. É importante estar atento para o uso da linguagem, obedecendo às regras da língua portuguesa (destacando o tratamento que deve ser dado as autoridades envolvidas). Em relação àformataçãodorelatório,cadaprofissionaldevecriar seu estilo. E para concluir, parafraseando Deleuze:

“Éprecisofalardacriaçãocomotraçandoseucaminhoentre impossibilidades…a criação se faz em gargalos de estrangulamento…se um criador não é agarrado pelo pescoço por um conjunto de impossibilidades, não é um criador. Um criador é alguém que cria suas próprias impossibilidades, e ao mesmo tempo cria um possível…pois sem um conjunto de impossibilidades não se terá essa linha de fuga, essa saída que constitui a

criação.”(DELEUZE:1992,166)

4. Referências

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- BATISTA, M. V. A produção do conhecimento social contemporâneo e sua ênfase no Serviço Social. Cadernos ABESS, nº 05, São Paulo: Cortez, 1992.

- DELEUZE, G. Conversações. São Paulo: Editora 34, 1992.

- FARIA, J. O poder judiciário nos universos jurídicos e sociais: esboço para uma discussão de política judicial comparada. Serviço Social e Sociedade, nº 67, ano XXII, São Paulo: Cortez, 2001.

- FÁVERO, E. O estudo social; fundamentos e particularidades de sua construção na área judiciária. CFESS (org). O Estudo Social em Perícias, Laudos e Pareceres Técnicos. São Paulo: Cortez, 2003.

- GUERRA, I. Instrumentalidade do Processo de Trabalho e Serviço Social .Serviço Social e Sociedade, nº 62, ano XXI, São Paulo: Cortez, 2000.

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Endereço para Correspondência:

Profa Mônica Santos BarisonCurso de Serviço [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:BARISON, Mônica Santos. O Trabalho do Assistente Social no Poder Judiciário: a realização do estudo social e a elaboração do parecer técnico. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano III, n. 6, abril. 2008. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/06/49.pdf>

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A Homeopatia Aplicada a Desordem Temporomandibular e Dor Orofacial The Applied Homeopathy the Temporomandibular Disorder and Orofacial Pain

Rosy de Oliveira Nardy 1

Palavras-chaves:

Desordem Tem-poromandibular

Dor Orofacial

Homeopatia

Resumo

Este estudo trata de uma revisão de literatura sobre os fundamentos da Homeopatia como possibilidade terapêutica baseada na valorização do indivíduo como um ser único, individualiazado, de características físicas, emocionais e espirituais peculiares. As possibilidades farmacológicas oferecidas pela Homeopatia abrangem as cacartcterísticas multidisciplinares necessárias para o tratamento do paciente portador de Desordem Temporomandibular e Dor Orofacial no Programa de Extensão e Pesquisa Núcleo da Dor – PROEXT / UniFOA.

Key words:

Temporomandib-ular Disorder

Orofacial Pain

Homeopathy

Abstract

This study treats of a literature revision on the foundations of the Homeopathy as therapeutic possibility based on the individual’s valorization as a unique being, individualized of physical characteristics, emotional and spiritual peculiars. The pharmacological possibilities offered by the Homeopathy comprise the multidisciplinary characteristics necessary for the treatment of the patient’s bearer of Temporomandibular Disorder and Orofacial Pain in the Program of Extension and Nucleus Researches of the Pain - PROEXT / UniFOA.

Observando as leis universais, pressupõe-se que o encontro da Homeopatia com a DTM e DOF seria inevitável, uma vez conhecedores da lei da atração entre os semelhantes “Simillia Similibus Curentur”. As características multifatoriais desencadeantes de vários sintomas relatados pelos pacientes nem sempre se enquadram numaúnicaclassificaçãoe,pordiversasvezes,o paciente sofre de mais de uma desordem, como se a presença de uma desordem primária contribuísse para a perpetuação de outra. Okeson (2000). A observação e busca incansável do entendimento desta nobre forma de vida: o ser humano, uma entidade única e livre em expressar-se enquanto criatura e criador do seu bem estar e de seu desequilíbrio patológico, levou o clínico da dor a ampliar

sua visão, transpor obstáculos e unir em caráter cientificamente comprobatório as diversasespecialidades médico-odontológicas. No caminho desta fusão interdisciplinar, estava a Totalidade dos Sintomas, definida por Hahnemann (1989),como um mínimo de sintomas de valor máximo que caracteriza a maneira pessoal pela qual o doente faz sua doença, sinais e sintomas, estes que conduzem a escolha dos medicamentos que possibilitam a remoção da doença e a transformação em saúde. Sob o domínio da DTM e DOF, cabe ao homeopata, agora clínico da dor, o estudo incessante das nuances e manifestações desta entidade patológica e a escolha da abordagem terapêutica homeopática que melhor convier ao paciente. Algumas destas possibilidades terapêuticas são descritas neste capítulos.

1. Introdução

1 Mestra - Programa Núcleo da Dor - Odontologia / UniFOA

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Original Paper

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2. Histórico

A Homeopatia foi introduzida na humanidade por Christian Friedrich Samuel Hahnemann, nascido na cidade de Meissen, Alemanha no dia 10 de abril de 1755. Terceiro filhodeumcasaldeoperários,donodeumainteligência rara, que lhe conferiu, como autodidata, o domínio de vários idiomas, o gosto pela medicina e uma curiosidade peculiar aos pesquisadores. Em 1779, defendeu sua tese de doutoramento em medicina na Universidade deErlangen,exercendoaprofissãoaté17878. A literatura registra seu sucesso profissional, com vasta clientela e relativaprosperidade, acompanhada de profunda desilusão e insatisfação com os meios curativos de sua época, comumente, agressivos e cheios de efeitos colaterais, por vezes levando o paciente ao óbito, Hahnemann abandona a prática médica e dedica-se a tradução de obras científicas. Foi traduzindo a MatériaMédica de Cullen, que iniciou os estudos e pesquisas que iria mais tarde consolidar sob a forma de princípios, regras e medicamentos, a terapêutica homeopática. Hahnemann, em 1796, publicou seu primeiro trabalho sobre a nova doutrina: “Ensaio sobre as propriedades curativas das substâncias medicamentosas com algumas considerações sobre os métodos precedentes”. Em 1805 e 1806 foram publicados os artigos “Esculápio na balança” e “medicina da experiência”. Sua principal obra foi, em 1810, “Organon da arte de Curar”, publicação da qual preparou 6 (seis) edições e foi seguida pelas publicações da “Matéria Médica Pura” e o “ Tratado das Doenças Crônicas”. Deixou, assim, um legado de conteúdo filosófico ecientíficoquenorteiaapráticadahomeopatiana humanidade até os dias de hoje. No ano de 1835, casa-se pela segunda vez aos 80 anos, deixa a Alemanha e passa a residir em Paris, onde obteve autorização para exercer a medicina. Apesar de sua idade avançada, dedicou-se a esclarecer sua doutrina e formar novos discípulos. Faleceu aos 88 anos de idade em Paris, no dia 02 de julho de 1843.

3. Princípios Gerais

Como observador livre de precon-

ceitos, o homeopata sabe que a presença de sinais e sintomas representa um estado de desordem. A doença significa somente umamudança do estado de equilíbrio do indívíduo, Kent (1996). Para corrigir este estado, Hahnemann observou:

3.1 Lei dos Semelhantes

O fenômeno da cura depende inteiramente da lei primária da homeopatia, “Similia Similibus Curentur”. A Lei dos semelhantes aparece pela primeira vez, nos escritos de Hipócrates (460 – 370 a.C.), “o que dá febre a um homemsão, cura um homem doente”. Toda a postura filosófico–científica dos hipocráticos, avalorização do doente e não da doença, a observação clínica e individualização do ser humano, foram princípios influenciaramPlatão que tomava a medicina como método fundamental para se adquirir conhecimento. Mais tarde Paracelso (1514 – 1564), químico competente, não se limitou em apreciar os efeitos dos medicamentos, buscava princípios ativos ocultos em cada substância para chegar a medicamentos puros, cuja propriedade de determinadas ervas e raízes, responsáveis pelo aparecimento de doenças, promoveriam em sua forma pura o tratamento para esta enfermidade. Já no fim do século XVII,Isac Newton, na análise da lei da gravitação universal, mostra a relação permanente dos semelhantes e lê–se em sua obra o princípio: “Similia similibus”. Hahnemann, sensibilizado pela observação dos pensadores que o precederam e com os registros na Matéria Médica do Dr. Willian Cullen da toxicologia de uma substância química conhecida como China ou extrato de quinino e sua semelhança com os sinais e sintomas da malária, iniciou sua utilização no tratamento de pacientes com esta doença. Estabelecendo a Lei dos semelhantes, “uma afecção dinâmica mais fraca é extinta de modo permanente no organismo vivo por outra mais forte, quando esta última seja semelhante à primeira em suas manifestações”.

3.2 Experimentações no Homem São.

Como pesquisador, a comprovação da primeira lei homeopática conduziu Hahnemann e seus discípulos à segunda

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máxima homeopática: “A experimentaçãono homem são”. Algumas substâncias na natureza, sendo elas do reino vegetal, animal ou mineral, são capazes de produzir em indivíduos saudáveis sinais e sintomas característicos de intoxicação, estes foram à base das pesquisas que Hahnemann e seus discípulos, considerados sadios, registraram de cada substância escolhida como medicamento homeopático. Nas suas experiências em 40 anos consecutivos, foram estudados um total 61 medicamentos VASCONCELOS & LACERDA (1990). O trabalho consistiu em experimentar uma mesma substância em vários indivíduos saudáveis, catalogar os sinais e sintomas, característicos de cada medicamento, construindo, assim, a Matéria Médica Homeopática. O conjunto desses sintomas mentais, gerais e locais é chamado Patogenesia do medicamento. O Repertório é o dicionário em que estão registrados os sinais e sintomas, em ordem alfabética e os medicamentos a estes relacionados durantes as experimentações. Portanto, os resultados encontrados por Hahnemann e seus discípulos são comprovados até hoje em cada prescrição homeopática, quando o homeopata submete os dados de sua anamnese à matéria médica e repertório homeopático, na busca de um medicamento em que a patogenesia seja a mais semelhante possível com as características mentais, gerais e físicas do paciente doente. TYLER (1965).

3. 3 Doses Infinitesimais

Buscando eliminar a toxidade de algumas destas substâncias, Hahnemann preconizou sua diluição e também, por observação, constatou que estas substâncias diluídas, quando submetidas à agitação intensa tinham suas propriedades medicamentosas aumentadas. Uma forma de despertar a energia curativa do medicamento 9. Dinamizações é a associação sistemática de diluições a sucções, nome que recebeu o procedimento de agitação do frasco com o medicamento diluído contra um anteparo rígido. O número de dinamizações confere o que os homeopatas conhecem por potência do medicamento. Esta potência vai determinar o campo de ação do medicamento 10 16. Didaticamente, podemos considerar

três níveis de cura em homeopatia: 1º Nível de Cura preocupa-se com os sintomas locais o nível de similitude medicamento/patologia, não passa do sintoma físico e básico da manifestação patológica. Ex: Arnica Montana 6CH para contratura muscular de proteção. Considera-se a rigidez muscular, dor a palpação e limitação de movimentos 9, 10

16. 2º Nível de Cura há a hierarquização dos sintomas, são valorizadas as manifestações mentais, sua ordem de aparecimento, características peculiares e gerais e, por último, sintomas locais. Quanto maior a semelhança de sintomas do paciente com a patogenesia do medicamento, tanto melhor o prognóstico 9, 10

16. Ex: Arnica Montana 30CH para contratura muscular de proteção, após acidente de trânsito, com a presença de escoriações e hematomas no corpo, ausência de fraturas, indivíduo deprimido física e moralmente. Sensação de que o leito está duro e temor ao toque ou contato físico. 3º Nível de Cura, individualização do paciente, da patologia, valorização e hierarquização dos sintomas. Os sintomas mentais, a resposta psíquica do paciente ao acontecimento, no caso um acidente de trânsito. Suas alterações de humor, sono, choro, abandono, necessidade ou aversão a consolo. Dificuldade de concentração,indiferença ou supervalorização aos sinais e sintomas apresentados, denunciam a necessidade de uma abordagem individualizada, da busca do medicamento simillimum, ou seja, o medicamento em que conjunto de sinais e sintomas registrados na Matéria Médica e Repertório Homeopático são os mais semelhantes possíveis com os do paciente 9, 10

16. Após a escolha do medicamento, cabe ao homeopata determinar a melhor potência do medicamento e o intervalo de prescrição. VASCONCELOS & LACERDA18 (1990).

3.4 Medicamento Único

Em conseqüência da metodologia instituída para o registro das características medicamentosas de cada substância, onde foi experimentada uma única droga por vez, Hahnemann recomendou no parágrafo § 273 do Organon, que em hipótese alguma fosse

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administrada mais de uma substância por vez, para cada doença e para cada momento do paciente, recomendam-se a repertorização dos sintomas, a escolha e administração de um só medicamento o mais semelhante possível com este 8, 9, 10,16. Nesse princípio, os anos permitiram a formação de duas correntes terapêuticas dentrodafilosofiahomeopática.OUnicismo,em que o terapeuta busca o medicamento único para cada paciente e patologia 9,10,16. O Pluricismo, em que o terapeuta permite-se fazer a indicação de mais de dois medicamentos por paciente – patologia, porém, com a ingestão alternada entre eles 9,10,16. O complexismo, uma subdivisão do Pluricismo, em que numa mesma receita são elaborados complexos com mais de dois medicamentos em um único frasco, para o mesmo paciente e direcionados a sintomas diferentes. Ainda assim, o ideal de todo homeopata é encontrar o Simillimum do paciente, medicamento em que o grau de semelhança com o indivíduo promove a verdadeira cura do ser indivisível. HAHNEMANN 9 (1989).

4. Teoria Miasmática Nas duas últimas décadas de sua vida, Hahnemann faz um estudo sobre as doenças em geral e concebe a Teoria Miasmática, uma proposta de causa e terapêutica que abrange a doença crônica e aguda. Diante da constatação de que a aplicação da lei dos semelhantes para casosagudosnãoerasuficienteparaacuradoque Hahnemann denominou miasmas crônicos, que é o conjunto de fatores predisponentes a estados patológicos, que acometem o indivíduo, referente a fatores hereditários, biotipologia ou constituição, temperamento, herdados ou adquiridos 6,18,2. Foram descritos e estudados por Hahnemann três miasmas crônicos, aos quais atribuiu origem infecciosa, características hereditárias e poder dinâmico: A Psora, SicoseeSífilis,mais tardeoTuberculinismofoi introduzido por Nebel, homeopata suíço. EGITO 6 (1980). Cada diátese possui um grupo de sinais, sintomas e enfermidades que lhe são peculiares. Ao profissional de saúde cabesomar detalhes, a observação minuciosa, ocasionalmente, oculta ou confusa, mas

que nunca deixam de estar presentes, para o diagnóstico da diátese. Na verdade, é comum que o indivíduo seja trimiasmático, com maior ou menor predominância de um miasma sobre o outro. CASALE 3(1995);NARDY&ZELANTE13 (2001). A teoria miasmática surgiu antes do descobrimento da microbiologia, ainda assim, Hahnemann associou o aparecimento e as características das diáteses a uma alteração por auto ou heterointoxicação crônica a qual é exposta, o indivíduo, geração após geração, ocorrendo suscetibilidades patológicas e reações anormais 18.

4.1 Psora

Segundo Hahnemann 9 (1989), Psora é originada do contágio da vesícula da Sarna, que causa o desequilíbrio na força vital do indivíduo, Caracterizado por hipertonia. Referiu-se, o autor, como sendo este o miasma mais contagioso ao ser humano pois surge a partir da supressão iatrogênica ou espontânea de erupções cutâneas pruriginosas 9. Os autores atuais complementam considerando a auto-intoxicação por hábitos sedentários, dieta hiperprotéica de refeições ligeiras, sem a efetiva eliminação de metabólicos e radicais livres do organismo. Excitação mental, ilusão, depressão, neuroses fóbicas e dermatopatias DULCETTI 5 (1992). Apsoranãoéumadoençaespecífica,trata-se de um estado dinâmico das doenças nela envolvidas. Uma pessoa não se torna doente porque é psórico, porém desenvolve doenças, as quais, devido ao fato de que sua diátese, ou terreno é predisposto 6,18, 3, 2. CARILLO JR2 (1997) considera que a psora afeta predominantemente a pele e mucosas, caracteriza-se por estados patológicos recidivantes ou alternantes, geralmente decorrentes de supressão mórbida, associada à auto e hetero intoxicação crônica. Como características emocionais, o indivíduo psórico está sempre adiantado em seus pensamentos, vive com a mente projetada no futuro. O estresse, choques morais, conflitos de personalidade e comportamentocriam autointoxicação mental. Sua ansiedade desencadeia uma serie de eliminações patológicas: diarréias, sudorese, vômitos,

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palpitações e falta de ar 6,18, 3, 2. Em odontologia, cáries dentárias pela ingestão exagerada de carbohidratos, má higiene oral, supurações gengivais, síndrome da ardência bucal e alterações inflamatóriasagudas 18,13, do ponto de vista constitucional, é mais comum em indivíduos de constituição carbônica e sulfúlrica. CARILLO JR2 (1997); GARCIA7 (1997).

4.2 Sicose

Hahnemann observou que várias manifestações dérmicas não correspondiam a psora, especialmente os condilomas granulomatosos que afetam órgãos genitais. Responsabilizou o contágio pela toxina blenorrágica a manifestação da Sicose. Os sintomas da sicose são semelhantes aos da gonorréia, crescimento tissular patológico, alterações de forma e volume, secreções expessas persistentes, rino-faringites de repetição, reações anormais do sistema retículo – endotelial 6, 2. Alterações físicas diante de mudanças metereológicas e altos níveis de umidade, hidrogenismo, perverção moral e física. Este é o miasma da distonia 18. Os indivíduos mais reativos e predispostos são todos os biótipos, principalmente, o brevilíneo e o normolíneo gordo. Como características constitucionais carbônicos e sulfúricos gordos5, 2. O psiquismo dos sicóticos é bastante característico, marcado por idéias fixas,obsessivas, depressão, suicídio, ansiedade e indiferença. Sintomas que caracterizam a hipertrofiadoegofazempartedasicose6,18. Em odontologia, caracteriza por alterações oclusais do tipo Classe III representam bem alguns sinais constitucionais sic óticos. DULCETTI 5 (1992) O aparecimento de verrugas, tumores benignos na cavidade bucal, sinusites, abscessos de progressão lenta,endurecidosoufistuladoscomsecreçãopurulenta abundante e espessa, nódulos pulpares, hiperplasia gengival ou pulpar. NARDY&ZELANTE13 (2001).

4.3 Sífilis Corresponde a indivíduos predispostos àsífilisouquetenhamantecedentessifilíticosaté a quinta geração 18. Trata-se de uma diátese

ulcerativa e com significante estágio dedestruição. EGITO 6 (1980) observou que quando o indivíduo é exposto a noxas, ou agressões de ordens variadas, superiores a sua capacidade de reequilíbrio, ou de intensidade noxal muito elevada, de ordem física ou mental, não havendo superação por meio de eliminações excretoras (Psora) ou secretoras (Sicose), há uma alteração em sua energia vital e sua células entram em processo autodestrutivo. A esse nível o organismo apresenta alterações funcionais acentuadas e perturbações histofisiopatológicas incompatíveis com arecuperação tecidual e mental do indivíduo 6,18,

3, 2. Caracterizado por hipotonia, diminuição do tônus da energia vital, condições de carências nutritivas, intercâmbios bioenergéticos alterados e incapacidade de absorção de nutrientes. Aparecimento de processos degenerativos e necróticos em diversos níveis celulares e teciduais 13. Os indivíduos predispostos são essencialmente biótipos mistos assimétricos. Todososbiótiposmistos:Sulfuro–fluóricos,fosfo–fluóricoseCarbo–fluóricos2. Em seus estudos, CASALE 3 (1995) observouarelaçãoentreomiasmasifilínico,problemas do sistema ósseo e dentes, a ocorrência em ambos de amolecimento, supurações e formação de seqüelas e cáries. Osteomielites, degenerações, dentes desenvolvem-se pequenos, disformes, presença de hipoplasias, coloração escura e sem brilho. Assimetrias, anodontias. Arco dental irregular. Mobilidade, perda óssea periodontal e cáries prematuras. Tendência a protusão do maxilar e à formação de palato ogival. Discrepância osteodentárias com tipos Classe III e II e assimetria facial e hiperelasticidade ligamentar 5, 7. Os portadores deste miasma apresentam ainda quadros recorrentes de cárie dentária e conseqüentes seqüelas, que afetam, sobretudo a vascularização dentária, com quadros de necrose pulpar, reabsorções apicais e outras patologias bucais 7, 18,13.

4.4 Tuberculinismo

Considerado uma associação miasmática dos três miasmas de Hahnemann, principalmente a Psora e a Sífilis. Qualquer

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sintoma do tuberculinismo é sempre resultante da manifestação de um dos três mecanismos EGITO 7 (1980). Nebel, homeopata suíço, propôs o tuberculinismo como estado miasmático, porém o mestre Hahnemann já havia evidenciado o tubrculinismo como uma manifestação especial da psora 7. O tuberculinismo é uma impregnação hereditária ou adquirida da “toxinatuberculínica”, resultante de distúrbios metabólicos primários e secundários. Porém, não é a doença tuberculose, trata-se de um estado caracterizado pela presença de uma “toxina”, extremamente difundida etransmissível por hereditariedade e susceptível de permanecer latente, sem manifestar-se patologicamente. CARILLO JR2 (1997). É no aparelho respiratório que mais se evidência as manifestações tuberculínicas. Por condicionamento hereditário, o indivíduo adquire uma conformação anatômica especial do tórax: ombros encurvados, longilíneo, espaço subclavicular afundado e tórax comprimido. Expansão torácica limitada, tosse abundante, acúmulo de secreção favorece os processos infecciosos. O muco abundante é característico do tuberculinismo2, 7. Constituição desmineralizada, muito susceptível a mudanças térmica, hipotermia, sempre carrega consigo um agasalho. Alterações importantes no sistema linfoganglionar, adenite febril, emagrecimento progressivo 17, 2, 5,6, 7. Carência na absorção dos íons Ca, P, Mg, Cl e Na, manifesta-se como tendência ao emagrecimento,desidrataçãoedescalcificação2. Indivíduos predispostos são dos biótipos mistos, os fosfo-fluóricos são osmais sensíveis. Os brevilíneos (carbônicos) e assimétricos (fluóricos) apresentam-se maisresistentes, CARILLO Jr.2 (1997). Em odontologia, são indivíduos predispostos a alterações estruturais óssea e dentárias. Grande propensão a desmineralização, reabsorção e degeneração. Hiperemia ganglionar, congestão venosa periférica (cianose) e tendência febril. Psiquismo:indivíduos,desconfiados,irritabilidade, hipersensibilidade nervosa a fatos e comentários VASCONCELOS & LACERDA18 (1990). EGITO 7 (1980) conclui que, na prática, os quadros miasmáticos não são

encontrados no estado puro, isolados. Por isso, os miasmas descritos por Hahnemann, servem para identificar cada miasma predominanteem cada quadro patológico e estabelecer o tratamento adequado. A progressão miasmática no organismo deve-se as seguintes condições:•Intensidadedanoxa(agressão);•Especificidadedanoxa;•Bloqueiosdosdispositivosdeeliminação.

5. Biotipologia Homeopática

Outros seguidores de Hahnemann observaram que, durante a experimentação pura dos medicamentos em indivíduos sãos, alguns se mostravam mais susceptíveis a desenvolver sinais e sintomas frente à mesma substância. No século XX, o médico homeopata Antoine Nebel propôs uma classificaçãobiotipológica considerando o sistema músculo-esquelético como responsável pela morfologia; considerou o funcionamento endócrino do eixo hipófise–tiróideepreocupou-secomamenore maior suscetibilidade à tuberculose 2,7. Mais tarde, Leon Vannier desenvolveu os estudos de Nebel, relacionou a constituição fosfórica à tuberculose e a fluórica à sífilis.Justificandoanomenclaturapela semelhançacom a experimentação de três medicamentos principais destas constituições: Calcarea carbonica, Calcarea phosphorica e Calcarea fluorica. VANNIER 17 (1992) Na década de 40, Henri Bernard daria impulso revolucionário à biotipologia. Classificouosindivíduosemtrêstiposbásicossegundo o conceito bioquímico (carbônicos, sulfúricos e fosfóricos), subdividindo-os em tipos secundários (sulfúricos escleróticos, neutros e magros). Ainda segundo CARILLO Jr.2

(1997), corrigiu o engano cometido por Nebel e deslocou o tipo carbônico da posição de equilíbrio, considerando-o como hipocrínico, admitindo,alémdisso,ofluóricocomovariaçãodo fosfórico. Considerou o desenvolvimento constitucional sob a forma, função e o psiquismo acreditavam nas modificaçõeslentas ou súbitas, fulgazes ou prolongadas, que acrescentavam caracteres variáveis 2.

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5.1 Constituição Sulfúrica

Indivíduos de estatura mediana, normolíneos, peso e aspecto geralmente harmônicos entre as distintas partes do corpo. Durante o seu desenvolvimento tem tendência a apresentar fenômenos de autointoxicação progressiva com alterações metabólicas que determinam falhas nutritivas. Psiquismo: pode apresentar-se como um sujeito equilibrado, moderado em suas ações, em seu estado de desequilíbrio apresenta-se muito irritado e nervoso. Facilmente impressionável antes de tratamentos odontológicos. Ao menor esforço, ficamfatigado,impacienteereflexivo7, 2, 18. Mesomorfiapredominânciadetecidomuscular 7. Elasticidade normal, formando um ângulo de aproximadamente 170º, medida de diâmetros bicondilares de Humero, na extensão dos braços e Fêmur, VANNIER 17 (1992). Harmonia entre os membros, mãos equilibradas, simetria facial, tendência a dentes e face retangulares. Erupção normal dos dentes, cáries incipientes associadas ao consumo de carboidratos, cavidades pulpares amplas. Grande suscetibilidade a respostas inflamatóriasagudasetendênciaàsupuração.Hiperemia pulpar. Estomatite aftosa 7, 2, 13. Arcadas dentárias circulares, apresentando o palato ligeiramente ogival. GARCIA7 (1999).

5.2 Constituição Carbônica

É um indivíduo brevilíneo, robusto, peso superior à média, predomínio de tecido adiposo. Apresenta alterações no metabolismo de cálcio 2. Indivíduos lentos apresentam patologias de evolução lenta e crônica, retenção hídrica, artrite, doenças degenerativas, hipertensão arterial CARILLO JR2. (1997). Psiquismo: Geralmente tímido, calmo, ordeiro e bem humorado. Passivo ao tratamento odontológico. Grande capacidade de autocontrole sobre o seu medo7, 2, 18. A criança geralmente somatiza suas angústias com o hábito de sucção de dedos. GARCIA7

(1999). Hipoelasticidade formando um ângulo menor que 160º, na extensão dos

braços, VANNIER 17 (1992). Endomorfia, predominância detecido adiposo, presença de pregas cutâneas e encurtamento do Tríceps, subescapular e suprailíaco7. Erupção lenta ou retardada, cáries de avanço lento de segundograu.Hipercalcificaçãopulpar, dentinária e de condutos radiculares, pólipos pulpares. Hipercementose, tendência a anquilose, hipertrofiadeamigdalaseadenóides7, 2,13.

5.4 Constituição Fosfórica

Indivíduos de estrutura superior à média, longilíneos, baixo peso em relação à altura. Membros superiores e inferiores longilíneos, delgados,mãos finas, dedos sãomais largos que a palma das mãos. Tendência a face descrita com o formato de um triangulo isóscele de vértice inferior7. Psiquismo: Ciclotímico, tendência à irritabilidade e a deprimir-se. Caráter variável, debilidade nervosa, sem resistência física e mental. Inteligente, esperto, porém esgota-se ao menor esforço intelectual 7, 2,18. Ectomorfiaoupredomíniodeformaslineares, debilidade de peso e índice de altura ponderal7. A extensão das extremidades superiores completa, formando um eixo de 180º, VANNIER 17 (1992). Apresentam erupção de dentes retardadas, de coloração branco translúcido, ocasionalmente, zonas de desmineralização, dentinogenese imperfeita, caries por desmineralização, artrite nas ATMs, neuralgia facial, osteomielite da mandíbula, atraso nas cicatrizações ósseas e consolidação de fraturas, respiradores bucais e tendência a hiperplasia de adenóides. Incidência de palato ogival e arcadas em elipse com o eixo Antero – posterior maior. Grande propensão a reabsorções radiculares, idiopáticas, por movimentos ortodônticos 7,2.

5.5 Constituição Fluórica

Indivíduos de estatura variável, normalmente,inferioràmédia,tecidosflácidos,musculatura e ligamentos elásticos que permitem posições e movimentos extremos. Caracteriza-se por apresentar assimetrias e distrofiasosteo–conjuntivas. A face, cabeça e corpo podem

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assemelhar-se ao formato de um triângulo escaleno ou um polígono irregular. Indivíduo marcado pela assimetria. Suas alterações corporais podem caracterizar verdadeiras alterações morfológicas de tamanho e número, como a microcefalia, polidactilia e outros 7,2. As características do fluóricopodemmodificar–seemoutros trêsbiótiposmistos: sulfofluóricos, carbofluóricos efosforofluóricos2. Psiquismo ciclotímico de caráter imprevisível, desatento, hiperatividade ou hipoatividade, imprudente, cinismo com tendências destrutivas. Paradoxal, pode apresentar-secaprichosoegenialousuperficial,críticoecomdéficitdeatenção7, 2,18. Na avaliação corporal, encontram-se assimetrias, diferentes graus de hiperelasticidade ligamentar e coordenação muscular7. Dismorfia caracterizada porassimetria, mal formações7. A extensão das extremidades superiores completa, formando um ângulo maior que 180º, VANNIER 17

(1992). A erupção dental exageradamente tardia ou adiantada, lesões cariosas múltiplas de segundo e terceiro grau, nas superfícies oclusal e interproximal, cáries do tipo rampante. Palato acentuadamente, ogival e arcadas assimétricas ou em forma de V 7. Tendência a necrose pulpar, hipoplasia de esmalte, frouxidão ligamentar, mobilidade ligamentar assintomática, raízes incompletas com sistema de canais radiculares múltiplos, com condutos acessórios e alterações morfológicas. Sub-luxação da ATM, osteoporose, reabsorções e degenerações 72,13.

6. Emoções e Suas Manifestações em DTM e DOF

A seqüência temporal em que os sintomas aparecem é bastante interessante e reveladora. O ponto exato no tempo em que o sintoma se manifesta pode nos dar informações importantes sobre a área problemática na qual ele se manifesta daquela maneira. Não se devem considerar unicamente os fatos exteriores, mas, sobretudo os processos interiores. Os pensamentos, assuntos e divagações que ocupavam a mente quando o sintoma apareceu, o estado de ânimo, e a que nível reacional se encontrava o paciente.

DETHLEFSEN & DAHLKE 4 (1983). No parágrafo § 208, do Organon está registrado: “A idade do paciente, seu modo de vida, sua dieta, profissão, relações sociais, da mesma forma sua disposição física e mental devem ser observadas a fim de saber se isto representa algum obstáculo ao tratamento”. HAHNEMANN 9 , em 1989, observou que o processo de diluição pelo qual passavam os medicamentos homeopáticos para evitar os efeitos adversos vindos da toxidade de algumas substâncias, associados aos processos de sucções contínuas entre cada potência medicamentosa, proporcionavam resultados mais abrangentes aos tratamentos, resultados estes na esfera mental do paciente. Portanto, os sintomas mentais de cada medicamento estudado por Hahnemann e seus seguidores estão cuidadosamente registrados nas Matérias Médicas e Repertórios Homeopáticos. O que tem grande valor na escolha do medicamento e na hierarquização dos sintomas, normalmente, são os sintomas mentais, os mais consideráveis e marcantes da anamnese e da doença. TEIXEIRA15 (2002) propõe que, além dos sinais e sintomas clínicos referentes à enfermidade orgânica, as peculiaridades individuais relativas às esferas imaginária, emocional, volitiva, intelectiva, alimentar, exonerativa e inúmeras outras do âmbito generalista sejam valorizadas no entendimento da suscetibilidade ao adoecer. Fatores como a indignação, frustrações, perdas, ruínas econômicas, traumas e ressentimentos repercutem diretamente na cavidade bucal e região orofacial. A raiva e o ódio expressos no aparelho estomatognático, principalmente, nas estruturas de sustentação, sob a forma de bruxismo, apertamento e traumas suscessivos 18. Os autores ainda sugerem que as emoções estão diretamente relacionadas à diátese do paciente, sendo fundamental o exercício da repertorização e a dinâmica miasmática para a escolha do medicamento, na patogenesia no qual estejam inseridos os sintomas desenvolvidos pelo paciente. A potência do medicamento diretamente relacionada ao nível de semelhança física e emocional entre medicamento / paciente 10, 5, 18. São considerados questionamentos importantes para a avaliação miasmática homeopática, principalmente nos aspectos emocionais: angústia, ansiedade, humor,

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impaciência, inquietude, insegurança, irritabilidade, medo e preocupações. Nos aspectos funcionais: apetite (apetência), funçõesfisiológicas,exonerações,sonhos,etc.TEIXEIRA 15 (2002) MESQUITA Jr. & LAMBERT 12 (1990) realizaram uma análise no Repertório Homeopático de Kent-Eizayaga, comparando 64 grupos de sintomas afins existentes entremedo e ansiedade. Concluíram que 17 sintomas não apresentavam coincidência medicamentosa, o que representou 26% do total considerado. 47 sintomas apresentaram alguma coincidência de medicamentos, o que correspondeu a 73% do total considerado. Sete sintomas apresentaram coincidência completa entre medicamentos e sintomas. Concluem que o arsenal homeopático é rico em recursos medicamentosos, porém há necessidade de valorizar a totalidade sintomática para a eleição de um único medicamento bem indicado. BEARZI et al.1(1990), correlaci-onando os sintomas psicoafetivos e Asma em 42 crianças portadoras de asma e tratadas com homeopatia, observaram a melhora da asma em 40 crianças e a melhora dos distúrbios psicoafetivos em 37 crianças. Consideraram o tratamento homeopático eficaz, emboraindicassem acompanhamento psicológico especializado as crianças que não apresentaram melhoras. Diante da grandeza desta possi-bilidade terapêutica, a homeopatia e a diversidade de atuação dos medicamentos homeopáticos, Hahnemann preocupou-se em deixar aos seus seguidores a noção exata de que mais importante do que a doença é o doente. Este ser único e indivisível, a homeopatia não se encerra no diagnóstico e prescrição, mas na remoção de obstáculos que o perturbem, causem ou mantenham a doença. O que nos dias de hoje pode ser expresso em interdisciplinaridade.

7. Obstáculos à Cura

A odontologia não é exclusivamente técnica. È uma especialidade médica, lida com o ser humano, espiritual, mental, emocional e físico. Por vezes, para intervir nesta nobre forma de vida, é necessária a remoção dos obstáculos mecânicos à cura. HAHNEMANN 9 (1989) nos § 3,

7, 186, 252, 260 e 261 reconhece que, na presença de obstáculos mecânicos, estes devem ser removidos por meios mecânicos para que, com o auxílio ou não da medicação homeopática,hajaorestabelecimentodofluxode energia vital que possibilita a condição de saúde. Cita como exemplos: a redução das luxações, a realização de suturas, abertura de caminhos de drenagem. Desta forma, o clínico da dor reconhece e corrige fatores oclusais, alterações estruturais e funcionais possibilitando a cura. Numa atitude homeopática, buscando a totalidade dos sintomas, a semiologia detalhada, a atuação interdisciplinar e numa visão indivisível do ser humano, o clínico da dor encontra a cura e em alguns momentos, apenas o tratamento no alívio da dor.

8. Referências

1-BEARZI,G.etalCorrelaçãoentresíntomaspsicoafetivos e asma, em crianças submetidas a tratamento homeopático. Revista de Homeopatia - APH. V.5 – nº 2 – abr. mai. Jun. 1990

2- CARILLO Jr., R. Fundamentos de Homeopatia Constitucional. Morfologia, fisiologia e fisiopatologia aplicadas a clinica. 1ª edição São Paulo: Santos, 1997. 260 p.

3- CASALE, J. A. Los Miasmas Crônicos – Pertubacion Del Tono Bioenergético. 2ª ed. Buenos Aires: Club de estudio, 1995. 189 p.

4- DETHLEFSEN, T & DAHLKE, R. A doença como caminho. São Paulo: Cultrix, 1983. 262 p

5- DULCETTI Jr., O. Homeopatia em Odontologia. São Paulo: Andrei, 1992. 140p.

6- EGITO, J. L. Homeopatia – Contribuição ao Estudo da Teoria Miasmática. São Paulo: Elcid, 1980. 253 p

7- GARCIA G.G. Biotipologia Homeopática em Odontologia. Nueva Editorial Medico Homeopática Mexicana. 1ª Edição. México. 1999. 113 p.

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8- GRUPO DE ESTUDOS HOMEOPÁTICOS “BENOIT MURE”. Doutrina Médica Homeopática. São Paulo: Giramundo, 1986. 1036 p

9- HAHNEMANN C. S. Organon da Arte de Curar. São Paulo: Giramundo, 1989.176p

10- KENT, J. T. Filosofia Homeopática. 1ª Edição traduzida português. São Paulo: Robe, 1996 290p 11- LATHOUD. Matéria Médica Homeopática. Buenos Aires: Albatroz, 1998. 868 p.

12- MESQUITA Jr., A. & LAMBERT, A.A.E. Ansiedade / medo: Estudo repertorial comparativo. Revista de Homeopatia - APH. V. 5 – nº4 – out.nov.dez. 1990 13- NARDY, R. O. & ZELANTE, P.M.Miasmas na Cavidade Bucal. 1ª Edição CIC Computação – Itapira – 2001. 90 p

14- OKESON, J. P. Fundamentos de Oclusão e desordens temporomandibulares. São Paulo: Artes médicas, 2000. 500p

15- TEIXEIRA, M.Z.Avaliação miasmáticana pesquisa clínica homeopática: Emprego de questionário de qualidade de vida, Revista de Homeopatia – APH. v. 67 nº 1-2-3-4. 2002

16- TYLER M. L. Curso de Homeopatia. 1ª Edição em português. Agencia Central. Rio de Janeiro. 1965. 287 p 17- VANNIER, L. Typology in Homoeopathy. Beaconsfield Publishers LTD – Bucks.England. 1ª published un England. 1992. 176 p

18- VASCONCELOS J. V. & LACERDA, P. Homeopatia Aplicada à Odontologia. Livraria e Editora Santos. 1ª Edição. São Paulo

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Endereço para Correspondência:

Profa Rosy de Oliveira NardyCurso de [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:NARDY, Rosy de Oliveira. A Homeopatia Aplicada à Desordem Temporomandibular e Dor Orofacial. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano III, n. 6, abril. 2008.Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/06/63.pdf>

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Participação da Imunogenética no Tratamento da Asma Brônquica: a vacina de Anti-IgE Use os Imunogenetic to Treat Asthma: an Anti-IgE vaccin

Jeferson Freixo Guedes 1

Ricardo Barbosa Pinheiro 2

Fábio Aguiar Alves 3 Claudia Yamada Utagawa 4

Palavras-chaves:

Asma

Tratamento

Imunoterapia

Resumo

Introdução: Diversas pesquisas almejando novas abordagens terapêuticas têm sido realizadas principalmente para acometimentos de alta prevalência e morbidade como a asma, propiciando perspectivas terapêuticas animadoras a partir de resultados de estudos clínicos. Objetivos: Descrever novas abordagens terapêuticas relacionadas à imunogenética e suas perspectivas clínicas para asma brônquica, ressaltando aspectos genéticos envolvidos na etiopatogenia e fisiopatologia da doença. Métodos: Realizou-serevisãobibliográficasistemáticadeartigosindexadosaScieloePubMEDsobre aspectos relevantes encontrados na literatura médica. Resultados: A imunoterapia constitui grande contribuição da imunogenética para terapêutica da asma, sobretudo a vacina de Anti-IgE que apresenta indicação, principalmente, para asma de moderada a grave. Conclusões: Devido ao profundo impacto socio-econômico e na qualidade de vida provocado pela asma brônquica, a busca por novas medidas terapêuticas e pela otimização das já existentes trarão grandes benefícios para os pacientes. Além disso, a Imunoterapia com anti-IgE será uma grande alternativa para os pacientes que apresentam sensibilidade e reações adversas aos tratamentos farmacológicos e imunoterapia com alérgenos

Key words:

Asthma

Treatment

Immunotherapy

Abstract

Imtroduction: Several studies to discover new therapies have been carried out, mostly for high levels of prevalence and morbidity diseases, like asthma. Objective: Description of new immunology and genetic therapeutical approaches for asthma and it’s genetic aspects about etiology and physiopathology. Methods: Sistematic review has been done through asthma Scielo and PubMED articles.. Results: The immunotherapy is an important contribution to asthma treatment, principally Anti-IgE vaccine. This treatment proposes a special indication for moderate and chronic asthma. Conclusions: The asthma causes deep impact in public health economy and als, quality of life, therefore the search for new therapeutical strategies and improvement of current methodologies will make an important benefice for patients. The Immunotherapy with IgE can be used as a valuable alternative for patients preseningt sensibility and side effects under usage of pharmacological agents and Immunotherapy with allergens.

1 Graduando - Ciências da Saúde - Medicina - UniFOA2 Especialista - Ciências da Saúde - Medicina3 Doutor - Ciências da Saúde - Medicina - UniFOA4 Mestra - Ciências da Saúde - Medicina - UniFOA

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Introdução

Com os recentes avanços na manipulação e sequenciamento do DNA humano, diversas pesquisas almejaram melhores abordagens terapêuticas para acometimentos de saúde, sobretudo os que apresentam elevada morbidade e mortalidade. Como exemplos, temos a terapia gênica com potencial aplicação para Diabetes e outros inúmeros distúrbios, e a utilização de células tronco na Cardiologia e em diversos outros ramos da Medicina. A imunogenética, que se relaciona ao genótipo e fenótipo do sistema imune, também apresentou diversos avanços nos últimos anos, com pesquisas envolvendo a asma brônquica, em que destacam-se a identificação e caracterização de genesrelacionados a manifestação fenotípica da asma, além da utilização da vacinação com anti-IgE e imunoterapia para alérgenos específicos. (AKDIS, 2005) (EDWARDS,2005) A asma brônquica pode ser explicada como um processo alérgico em que há desenvolvimento de uma inflamação crônicanas vias aéreas de maior calibre e bronquíolos induzindo à infiltração celular, hipersecreçãode muco, edema e espasmo da musculatura lisa, resultando em obstrução variável do fluxo aéreoocorrendo commaior freqüênciana infância e adolescência, sendo atualmente considerada a doença inflamatória crônicamais prevalente na infância. (MAIA, 2004) (ANTÔNIO,2003)Ainflamaçãodaspequenasvias aéreas que apresentam diâmetro interno menor que 2mm pode também ocasionar outras conseqüências clínicas importantes como remodelamento e obstrução irreversível dofluxoaéreo.(CRUZ,2003)(SBAI,1998) A expressão fenotípica da asma apresenta caráter multifatorial, resultante de uma complexa interação de fatores, sendo regulada por componentes genéticos e modulada por fatores ambientais onde se pode destacar: níveis de exposição a alérgenos, presença de infecção crônica ou doenças virais agudas e estado emocional. (SILVA, 2000) (SARTI, 1998) (JUNIOR, 2000) Sendo válido ressaltar, de acordo comMaziak (2005), a grande influência dasmodificaçõesnoestilodevida,comoaumentono tabagismo, alimentos industrializados e poluição ambiental, ocorridas a partir da

segunda metade do século XX para o aumento na prevalência de asma, havendo segundo Nygaard et al (2005) aumento na expressão de citocinas inflamatórias envolvidas com amanifestação da asma com elevada exposição à poluição ambiental.

2. Genética da Produção das Imunoglobulinas A alergia constitui um estado de sensibilidade anormal do organismo, fazendo com que o mesmo passe a reagir exacerbadamente a certas substâncias que, normalmente, causam pouca ou nenhuma reação em pessoas não portadoras de tal sensibilidade. As alergias se manifestam principalmente em pessoas que possuem predisposição genética, apresentando, devido a algum mecanismo que interfere na região constituinte das cadeias pesadas (determinante do isotipo das imunoglobulinas), uma tendência a produção de maiores concentrações de IgE (imunoglobulina E) aumentando assim o risco para o desenvolvimento de reações alérgicas e Asma Brônquica. (KAY, 2002) Segundo Spalding et al (2000), o nível de IgE é maior em pessoas alérgicas, sobretudo nas que possuem asma brônquica e dermatite atópica, quando comparadas com pessoas não alérgicas. As imunoglobulinas apresentam fundamental importância para a fase adaptativa da resposta imune (humoral), sendo agrupadas em 5 isotipos, segundo variabilidade estrutural das cadeias pesadas: IgG, IgA, IgM, IgD e IgE (envolvida em processos alérgicos), que diferem principalmente quanto ao tipo de resposta imune e composição gênica. Visto então a existência de uma especificidade entre antígeno e anticorpo, éimprescindível que o sistema imune contenha diversas células com múltiplas variabilidades de seqüências, para que pelo menos uma delas seja capaz de reconhecer um entre os diversos patógenos existentes no ambiente. Os processos genéticos responsáveis pela diversidade seqüencial da região idiotípica são: (1) a existência de múltiplos genes produtores de anticorpos na linhagem germinativa; (2) recombinação somática de segmentos gênicos determinantes da região idiotípica das cadeias pesadas, que ocorrem durante a maturação dos linfócitos B envolvidos com a resposta

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humoral; (3) hipermutação somática, que são pequenas variações no DNA codificantedas imunoglobulinas após sucessivas multiplicações celulares; e (4) combinação aleatória entre cadeias leves e pesadas. Ocorrendo ainda, em alguns indivíduos predispostos, uma exacerbação na produção de IgE, imunoglobulina desencadeadora dos processos alérgicos.

3. Genética da Asma

Diversos genes estão relacionados comaetiopatogeniaefisiopatologiadaasma.Embora não haja conhecimento completo sobre o mecanismo envolvido para a maioria deles, sabe-se que alguns estão relacionados à modulação do nível sérico de IgE e outros influenciam na hiperreatividade brônquicaou favorecem a inflamação de maneiraindependente da IgE. Para Howard et al (2002), na modulação do nível sérico de IgE, extremamente elevado em pacientes asmáticos, há a participação das interleucinas 4 e 13 (IL-4 e IL-13),codificadasporgenesdoscromossomos16p e 5q respectivamente, havendo, de acordo com Isidoro-Garcia et al (2005), risco mais elevado para asma persistente em portadores deumdeterminadopolimorfismodosegmentogênico envolvido na expressão da IL-4. Estas interleucinas são produzidas pelos linfócitos TH2, após a exposição ao alérgeno, havendo posteriormente uma indução na mudança de classe dos linfócitos B, ocasionando um aumento na produção de IgE. No estudo de Howard et al (2002), é também sugerido a participação do receptor para IL-4 (IL4R), que também se liga a IL-13, no fenótipo da asma de maneira independente da produção de IgE. Os referidos autores ressaltaram ainda que um polimorfismo na região promotora do geneda IL-13, ocasiona um risco 5 vezes maior de desenvolvimento de asma. Através de biópsias de tecido brônquico de oito pacientes asmáticos, Laprise et al (2004) relataram a existência de 79 genes, que embora apresentem as suas funções já conhecidas, têm uma expressão diferenciada em pacientes asmáticos. Algumas das alterações desses genes, relatadas no referido estudo foram: up e downregulation, alterações na resposta imune, produção de enzimas proteolíticas, variações no crescimento e

proliferação celular. Dentre os diversos genes relacionados com a asma, Hakonarson et al (2002), através de uma triagem de 596 pacientes, delinearam a participação de alguns genes situados no cromossomo 14q24 na patogênese da asma. Segundo o estudo de Niimi et al (2002), um polimorfismo no gene promotorUGR1, situado no cromossomo 5q31-q34, relacionado à codificação de uma proteína,expressa na traquéia e no pulmão, a qual, provavelmente, desempenha uma função antiinflamatória, pode predispor a asma,sendo demonstrado uma freqüência maior de um determinado alelo desse gene UGR1 em pacientes asmáticos.

4. Fisiopatologia e Mecanismo Alérgico Envolvido na Asma

Dentre os processos alérgicos, a asma constitui um acometimento caracterizado pela presença de inflamação e hipersensibilidadenas vias aéreas, levando a broncoespasmos episódicos e reversíveis em decorrência do aumento da responsividade da árvore traqueobrônquica a vários estímulos. A hiperreatividade brônquica, na asma, pode serclassificadadeacordocomoestímuloemespecíficaeinespecífica.Quandoéespecíficasignifica que a resposta broncoconstrictoradesencadeou-se a partir do estímulo de substâncias específicas (alérgenos ousensibilizantes ocupacionais) através de processosinflamatóriosdesencadeadoscomaativação da IgE. (NIEDERBERGER, 2004) No caso de inespecífica, ahiperreatividade brônquica representa a tendência da redução do calibre das vias aéreas relacionada com estímulos físicos, químicos e farmacológicos. (CAMELO-NUNES, 2002) (CORREIA, 2001) Tal processo desenvolve uma inflamação crônica nas vias aéreas demaior calibre e bronquíolos, o que induz à infiltração celular, hipersecreção de muco,edema e espasmo da musculatura lisa, resultando em obstrução variável do fluxoaéreo.

5. Terapêutica Imunológica para Asma

5.1 Imunoterapia alérgica

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Além da terapêutica farmacoló-gica, destinada às conseqüências da hipersen-sibilidade imediata, existem tratamentos que limitam o início das reações alérgicas exercendo ação preventiva, como a imunoterapia com alérgenos (vacinação antialérgica), constituindo um programa de vacinação que reduz a quantidade de IgE presente no indivíduo, devido um processo de dessensibilização. (TONNEL, 2005) Com a diminuição da concentração de IgE específica, a concentração de IgG aumenta,talvez inibindo ainda mais a produção de IgE por neutralização do antígeno e feedback do anticorpo IgE. Os anticorpos IgG induzidos pela imunoterapia podem atuar como bloqueadores de alérgenos. Essas observações sugerem a chamada teoria do “anticorpo bloqueador”que postula a competição entre IgG e IgE, na ligação com alérgenos, bloqueando dessa forma a ativação de mastócitos dependentes de IgE.Dentre os efeitos benéficos propiciadospela dessensibilização, está o sucesso em evitarrespostasanafiláticasagudasaantígenosprotéicos, como veneno de insetos e drogas. Entretanto, sua eficácia é variável para asafecções atópicas crônicas como a asma e rinite alérgica. 5.2 Vacinação com anti-IgE

Com o reconhecido aumento no número de pacientes com asma que possuem agentes alergênicos específicos, osmecanismos preventivos e terapêuticos para a asma estão sendo direcionados para os mecanismos alérgicos de acordo com Cramei et al (2006) e Montaro et al (2001) Dessa forma, uma nova estratégia para o tratamento da asma é o bloqueio da IgE, responsável pelo desencadeamento de processos alérgicos, o que pode ser realizado com a utilização de anticorpos monoclonais, que são agentes terapêuticos potencialmente úteis em uma variedade de doenças de mediação imunológica por oferecem a vantagem de ação seletiva nos mediadores do processo imunopatogênico. (HOLGATE, 2000) (LEDIN, 2006) Isso tem sido bem esclarecido para a IgE, anticorpo sintetizado pelo sistema imune que desempenha um papel central na reação alérgica. Numerosos estudos como de Owen (2002), Arshad & Holgate (2001), Hamid et

al (2003) e Fick et al (2000) demonstraram a interferência direta da modulação da resposta provocada pela IgE com a diminuição ou eliminação da sintomatologia alérgica de asma, rinite e dermatite atópica. Visto que a IgE é o anticorpo responsável por doenças alérgicas, dentre as quais a asma brônquica, uma nova proposta para o tratamento desse acometimento é a vacinação subcutânea com anti-IgE (Omalizumab), principalmente porque estudos demonstraram a sua interferência direta com as repostas com IgE, conduzindo a um decréscimo ou eliminação de sintomas de asma, rinite e dermatite atópica. A vacina de anti-IgE é uma molécula recombinante criada a partir da estrutura da IgG1 humana, na qual foram inseridas determinadas regiões, de forma complementar de camundongos, que correspondem a menos de 5% da molécula total. (FICK, 2000) A vacina de anti-IgE se liga seletivamente a IgE circulante no sítio de ligação aos receptores de altaafinidade(FCERI)e,comisso,removeaIgE da via de formação de complexos imunes, prevenindo a liberação de histamina e outros mediadores químicos pelos mastócitos e basófilose,consequentemente,aevoluçãodoprocesso alérgico, visto que os mastócitos são as principais células que apresentam receptores dealtaafinidadeparaIgE.(MOTTA,2002) A vacina de anti-IgE liga-se também aos receptores de baixa afinidade (FCERII),reguladores da expressão de IgE por feedback em linfócitos B. (OWEN, 2002) Sendo assim, através de resultados de dois estudos clínicos, de acordo com Hamid et al (2003), foi demonstrado que o tratamento com a vacina deanti-IgEéeficaztantonafaseinicialcomona fase tardia da provocação alergênica. No estudo de Hamid et al (2003), o tratamento com anti-IgE reduziu o nível sérico de IgE livre, aumentou a dose de alérgeno necessária para desencadear a resposta imune imediata e inibiu ao máximo as mudanças imediatas e tardias no volume expiratório forçado no primeiro segundo (FEV1). No estudo de Owen (2002), a eficácia da vacina de anti-IgE foi avaliadaem termos do impacto na sintomatologia e diminuição concomitante do uso de corticoesteróides inalatórios, medicamentos usados freqüentemente em exacerbações. O tratamento com vacina de anti-IgE subcutânea

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provou ser bem tolerado durante avaliações clínicas, não sendo notado nenhum distúrbio no sistema imunológico e nenhuma incidência de infecção parasitária decorrente da diminuição do nível sérico de IgE. Sabendo que a exposição alergênica contínua em indivíduosalérgicospodeacarretarinflamaçãocrônica permanente das suas vias aéreas, desencadeando o aparecimento de sintomas, a vacinação de pacientes asmáticos com anti-IgE torna-se bastante promissora, visto que a anti-IgE se liga com a IgE presente no sangue prevenindo a liberação de histamina e outros mediadores químicos pelos mastócitos e, com isso, a evolução do processo alérgico. A vacina de anti-IgE apresenta indicação para asma de moderada a grave intensidade, pois tem demonstrado grande eficácia, conforme Arshad et al (2001), assim como para pacientes com alto risco de morbidade e mortalidade por asma pois a anti-IgE provavelmente será muito útil para profilaxiadeexacerbaçõesehospitalizações. A vacina de anti-IgE não apresenta indicações para asma branda, por ser na maioriadoscasos,eficienteotratamentocombaixas doses de corticoesteróides inalatórios. Dentre os esquemas de tratamento utilizados em pesquisas, no estudo de Owen (2002) houve a aplicação de doses elevadas (5,8 microgramas/Kg/ng IgE/ml) e doses baixas (2,5 microgramas/Kg/ng IgE/ml) para o tratamento de pacientes com asma de moderada a grave, por administração intravenosa durante 20 semanas com um intervalo nas aplicações de 2 semanas, sendo, segundo Holgate (2000), a administração da vacina de anti-IgEpor9semanassuficienteparareduçãoda broncoconstricção em resposta a alérgenos inaláveis.

6. Conclusões

Devido ao profundo impacto na qualidade de vida, repercussão socio-econômica provocada pela asma brônquica e a elevação de sua prevalência nas últimas décadas, o controle dos fatores ambientais desencadeantes da asma, a busca por novas medidas terapêuticas e a otimização das já existentes propiciarão grandes benefícios para os pacientes asmáticos. Além disso, a vacina com anti-IgE será uma excelente alternativa

para os pacientes que apresentam sensibilidade e reações adversas aos tratamentos farmacológicos e imunoterapia com alérgenos específicos.

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Endereço para Correspondência:

Doutor Fábio Aguiar [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:GUEDES, Jeferson Freixo; PINHEIRO, Ricardo Barbosa; ALVES, Fábio Aguiar; UTAGAWA, Claudia Yamada. Participação da Imunogenética no Tratamento da Asma Brônquica: a vacina de Anti-IgE. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano III, n. 6, abril. 2008. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/06/73.pdf>

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Técnicas de Fortalecimento da Musculatura Respiratória Auxiliando o Desmame do Paciente em Ventilação Mecânica Invasiva

Tecnics for the Strengthening os Respiratory Muscles to Help the Weaning from Patients under Mechanical Ventilation

Cleize Silveira Cunha 1

Elber Rodrigues Manso Santana 2

Rodney Alonso Fortes 2

Key words:

Mechanical Ventilation

Respiratory Muscles

Physiotherapy

Threshold

Abstract

Strengthening may help wean debilitated patients improving the mass of contractile muscular tissue.The Threshold device is used to perform this technique.It increases inspiratory flow resistance and respiratory muscles work making them more strong. Making a literature review we would like to show that physiotherapy can help in weaning patients from mechanical ventilatory support using Threshold device. Success in weaning depends on the patient`s medical and hemodynamic condition and should be initiated as soon as possible on the patient`s treatment.

O protocolo clínico de retirada rápidaougradualedefinitivadopacientedoventilador mecânico, na terapia intensiva, é denominado desmame. Trata-se de um programa individualizado, indicado quando o paciente, apesar de já não mais necessitar de suporte ventilatório total, ainda não se sente capaz de manter a sustentação em ventilação espontânea. Assim, o desmame deve ser iniciado

quando o quadro agudo do paciente estiver estabilizado e quando tiver completa reversão dainsuficiênciarespiratória. Recomenda-se que o desmame seja efetivado, se possível, na posição fowler, preferencialmente durante o dia, pois além de permitir que, em pacientes conscientes, o rendimento do trabalho seja máximo, devido à reinstituição do ritmo do sono, ainda facilite providências mais rápidas e seguras em casos

1. Introdução

1 Mestranda - Fisioterapia – UniFOA2 Fisioterapeutas

ArtigoOriginal

Original Paper

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Palavras-chaves:

Ventilação Mecânica

Músculo Respi-ratório

Fisioterapia

Threshold

Resumo

O fortalecimento muscular respiratório é realizado quando o paciente se encontra em Ventilação Mecânica Invasiva, com enfraquecimento da musculatura respiratória, o que impede o desmame da ventilação mecânica. Utilizamos para este tipo de tratamento o aparelho Threshold, que proporciona uma resistência no fluxo inspiratório e, consequentemente,haverá a necessidade de um maior trabalho da musculatura respiratória, assim fortalecendo toda a musculatura respiratória. Através de uma revisão deliteratura,mostrou-secomoafisioterapiapodeauxiliarnareabilitaçãodos pacientes em desmame da ventilação mecânica invasiva. Portanto, o objetivo desse trabalho é demonstrar a eficácia do fortalecimentomuscular no desmame do ventilador mecânico. Em síntese, concluiu-se queafisioterapiadeve ser iniciadaquando todososparâmetros clínicose hemodinâmicos do paciente estejam estabilizados, dando início ao desmame do ventilador mecânico, utilizando o aparelho threshold.

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de eventuais complicações. Todas essas particularidades, aliadas ainda à duração do suporte ventilatório e ao nível de agressividade das condutas médicas, nãoafastamdefinitivamenteuminsucessodetal protocolo, já que a ventilação por tempo prolongado pode, apesar das precauções e cuidados, resultar em doença pulmonar crônica, exacerbada por infecção aguda ou qualquer outro tipo de processo agudo. Assim sendo, este estudo foi direcionado para o fortalecimento da musculatura respiratória, visando ao desmame do paciente em ventilação mecânica invasiva, ou seja, aquele no qual a retirada do suporte ventilatório não é tão simples, podendo ocasionar insucesso desta conduta. Vários fatores podem ser a causa do insucesso, tais como a hipoxemia arterial ocasionando uma disfunção pulmonar; a hipercapnia e, a principal delas, que é a fadiga dos músculos respiratórios pelo desuso, caracterizada por diminuição da capacidade pulmonar total, capacidade vital, tosse e ventilação alveolar. Sendo assim, é necessária a adoção de medidas preventivas para se evitar ou diminuir complicações. Será de suma importância, realização de exercícios específicoseconstantesparaumrealeefetivocondicionamento dos músculos respiratórios. Portanto, o treinamento muscular respiratório deve ser realizado desde o momento em que o paciente, sob ventilação mecânica, estiver com prognóstico para iniciar o desmame. O treinamento muscular respiratório objetiva o restabelecimento da função dos músculos respiratórios, melhorando sua força e endurance. Em pacientes submetidos à ventilação mecânica invasiva por tempo prolongado, este treinamento visa minimizar a atrofia efraqueza dos músculos respiratórios, evitando a fadiga que, por sua vez retarda o processo de desmame. Nesse caso, o treinamento pode ser realizado com threshold, com o ajuste da sensibilidade do próprio respirador ou com o uso da estimulação elétrica diafragmática, com o objetivo de melhorar a função dos músculos respiratórios, em especial do diafragma. Este trabalho de pesquisa, baseado em revisão de literatura, visa fazer uma análise dos recursosfisioterapêuticosnofortalecimentodamusculatura respiratória visando o desmame

do paciente em ventilação mecânica.

2. Fisiologia Respiratória

A fisiologia respiratória tem comoenfoque primário o ciclo ventilatório e as trocas gasosas que são de fundamental importância para a manutenção da vida. A respiração tem como principal meta o fornecimento de oxigênio para os tecidos a fim de nutri-los(JARDIM, 1998).

2.1 Inspiração

Segundo West (1990) durante a inspiração a partir da CRF, a contração diafragmática empurra o pulmão para baixo, sobre as vísceras abdominais e desloca a parede torácica para fora. O diafragma também eleva as costelas inferiores lateralmente, enquanto os intercostais externos elevam as costelas para cima e para fora e estabilizam a caixa torácica. A expansão do tórax opõe-se à retração elástica dos pulmões, cria uma pressão pleural mais negativa e aumenta a diferença de pressão entre o espaço pleural e os alvéolos; essa diferença é chamada pressão transpulmonar. A expansão torácica poderia tracionar as superfícies pleurais, separando-as, se o espaço pleural não contivesse líquido incompreensível e inexpansível; em vez disso, a expansão aumenta o volume dos pulmões. O aumento de volume pulmonar, por sua vez, cria uma pressão subatmosférica nos alvéolos, paraosquaisháfluxodearporqueapressãodos pulmões é mais baixa que na boca. Ainflaçãoatéacapacidadepulmonartotal (CPT) requer atividade contínua dos músculos respiratórios.

2.2 Expiração

Depois que a contração muscular se conclui, aofinalda inspiração,cessaofluxoaéreo porque já não existe um gradiente de pressão entre os alvéolos e a boca. A retração elástica dos pulmões faz então com que a pressão alveolar exceda a pressão atmosféricaeoarfluiparaforadospulmõesaté que o gradiente de pressão já não exista, na CRF. Embora os músculos respiratórios sejam passivos durante a expiração normal, a contração dos músculos abdominais forçará os

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pulmões até seu volume residual (VR). 2.3 Força muscular respiratória

A medição da força muscular respiratória é feita através das medições das pressões máximas inspiratórias e expiratórias, com um manômetro. Aceita-se como pressão inspiratória máxima normal, para um jovem adulto masculino por volta de -125 cmH2O e de pressão expiratória máxima de +230 cmH2O, e em mulheres esse valor diminui em 30%, após os 20 anos de idade há uma queda de 0,5 cmH2O por ano (PRESTO 2003).

2.4 Endurance muscular

Segundo Knobel (2004), endurance muscular é a capacidade do músculo em oferecer resistência à fadiga, em um determinado tempo de trabalho. A capacidade de endurance muscular depende do tipo de fibras, do suprimento sangüíneo e daintegridade dos elementos contráteis. Os testes de endurance muscular são:•Métododehiperpnéia.•Ventilaçãovoluntáriamáxima(VMM)•Capacidadeventilatóriamáxima(CVSM)Índice tensão-tempo - Pdi/Pdimax.

3. Músculos

3.1 Musculatura Respiratória

Os músculos respiratórios são constituídosporfibrasestriadaseapresentam55% de fibras estriadas do tipo I vermelhas(resistentesafadiga)e45%defibrasestriadastipo II brancas (fatigáveis). Os músculos respiratórios trabalham, vencendo cargas elásticas que são as forças de retração dos pulmões e caixa torácica e cargas resistivas das vias aéreas. Os músculos respiratórios contraem-se de maneira rítmica, intermitente e durante toda a vida.

3.1.1 Músculos Inspiratórios

a) Diafragma - principal músculo inspiratório, com forma de cúpula voltada cranialmente, e separa a cavidade abdominal

da cavidade torácica. É constituído de uma camada muscular que se origina nas costelas inferiores e coluna lombar que se inserem no tendão central. É inervado pelo nervo frênico, que sai das raízes de C3 a C5. Na inspiração de repouso o diafragma é responsável por 70% do volume inspirado (MOORE E DALLEY, 2001). De acordo com David (2001), quando o diafragma se contraí, o conteúdo abdominal é deslocado para baixo e para frente, aumentando o diâmetro céfalo-caudal do tórax, a parte distal das costelas são levantadas e giram para fora. Em repouso, o deslocamento do diafragma é aproximadamente de 1 cm, e, na inspiração forçada, pode chegar até a 10 cm. As fibras musculares do diafragmasão divididas em porção costal e porção vertebral; as fibras posteriores, vertebrais,originam-se nas 3 primeiras vértebras lombares e nos ligamentos arqueados medial e lateral. Asfibras costais originam-se, anteriormente,no processo xifóide do esterno e nas margens superiores das seis últimas costelas. Em estudos isolados dessas porções, observou-se que as fibras costais, ao secontraírem, fazem a cúpula diafragmática descer, aumentando a pressão abdominal, e assim, a caixa torácica move-se através do movimento de alça de balde. Quando a porção vertebral se contrai, a cúpula diafragmática desce e aumenta a pressão abdominal, porém não age sobre o gradil costal. As fibras costais do diafragmajustapõem-se ao gradil costal, a essa área dá-se o nome de área de aposição. A configuração geométrica dodiafragma é a convexidade voltada para cima, a forma de cúpula do diafragma produz um raio de curvatura na convexidade, que obedece à lei de Laplace (P=Tensão/raio de curvatura), quando o diafragma esta alongado, o raio de curvatura está menor, portanto, desenvolve mais tensão do que se estivesse aplainado, e com o raio de curvatura aumentado. b) Músculos Intercostais - localizam-se entre as costelas; o músculo intercostal interno vai desde o esterno até o ângulo da costela e subdivide-se em porção intercondral (paraesternal) e interóssea. O músculo intercostal externo vai desde a articulação costovertebral até a origem da cartilagem

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costal. São inervados pelos nervos intercostais que são derivados do 1o ao 12o segmento torácico. Há muitas controvérsias sobre as ações da musculatura intercostal, na respiração, mas basicamente o músculo intercostal externo e a porção intercondral do intercostal interno são inspiratórios e a porção interóssea do intercostal interno é expiratória. c) Escalenos - os músculos escalenos se originam das 5 últimas vértebras cervicais e inserem na borda superior da primeira costela, porção medial e anterior. Quando se contraem, elevam as costelas e o esterno, no movimento denominado braço de bomba. Em estudos feitos por De Troyer, observou-se que em pessoas normais, na posição sentada, sempre há contração dos paraesternais e dos escalenos durante a inspiração de repouso, não havendo razão para classificar os escalenos comomúsculosacessórios, mas sim como músculo principal da inspiração. Os escalenos atuam para expandir a caixa torácica superior, e os para-esternais agem no esterno e diafragma, atuando no tórax inferior e abdômen. d) Músculos acessórios da inspiração - peitoral maior, peitoral menor, trapézio, serrátil anterior e o esternocleidomastóideo.

3.1.2 Músculos Expiratórios

a) Músculos abdominais - são compostos pelo reto abdominal, oblíquo interno, oblíquo externo e transverso. O reto abdominal origina-se na quinta, sexta e sétima cartilagens costais e esterno e se insere no púbis. O oblíquo externo origina-se nas últimas costelas e insere-se na crista ilíaca, tubérculo púbico e linha Alba. O oblíquo interno origina-se na parte lateral do ligamento inguinal e fáscia tóraco-lombar e se insere no púbis, linha alba e cartilagem das três últimas costela. O transverso abdominal origina-se na face interna das seis últimas costelas, onde se interdigitaliza com as fibras costaisdo diafragma, fáscia lombar, crista ilíaca e ligamento inguinal, inserindo-se na aponeurose ventral. A função desses 4 músculos são: quando se contraem, empurram a parede

abdominal para dentro, aumentando a pressão abdominal, o diafragma se desloca para cima, aumentando a pressão pleural e a saída de ar, sendo importantes músculos para a tosse e expiração forçada. Suas inserções no gradeado costal sugerem que ao contraírem tracionam as costelas para baixo. A função da musculatura abdominal é expiratória, porém apresentam papel importante na ação do diafragma na inspiração. Os abdominais facilitam a ação do diafragma, através da contração abdominal persistente, que faz com que o diafragma se encontre mais alongado no início da inspiração, alémdemanterfixadasasvíscerasabdominaispara que o diafragma possa apoiar seu centro tendíneo nas vísceras e atuar na elevação das costelas (MOORE E DALLEY, 2001) .

4. Ventilação Mecânica

A ventilação mecânica é uma técnica que tem como objetivo substituir ou auxiliar a função ventilatória do paciente, por meio de uma pressão positiva nas vias aéreas, quando napresençadeinsuficiênciarespiratóriaagudaou distúrbio que comprometa as trocas gasosas (JÚNIOR, 1998).

4.1 Ventilador Mecânico

Ventilador é um equipamento utilizado para proporcionar a ventilação pulmonar artificial ao paciente. O objetivodo ventilador mecânico é promover suporte ventilatório temporário, completo ou parcial, a pacientes que não conseguem respirar por vias normais devido a fatores como doenças, anestesia, defeitos congênitos (AZEREDO,2003). Ventiladores também são usados para permitir descanso dos músculos respiratórios até que o paciente seja capaz de reassumir a ventilação espontânea.

5. Desmame

A retirada do ventilador (desmame), é definida por Gonçalves (1991) como ainterrupção da ventilação mecânica muitas vezes de forma gradual, em pacientes com

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insuficiênciarespiratória.

5.1 Parâmetros

Segundo Luce (1995), os principais parâmetros são: Melhoradainsuficiênciarespiratória;Necessidade de FiO2 de 50% ou menos; Mecânica ventilatória espontânea adequada; CV pelo menos 10ml/kg; PiMáx pelo menos –20 cm H2O; VVM pelo menos duas vezes a necessidade de VE de repouso; Escolher o momento certo do dia para o desmame; eliminar ou minimizar a sedação; aspirar as vias aéreas e posicionar o paciente apropriadamente; mudar para ventilação espontânea na mesma FiO2 com ou sem CPAP; monitorizar o paciente e observar tranqüilização e gasometrias de 20 – 30 min.

6. Materiais e Métodos Fisioterápicos Uti-lizados As técnicas utilizadas para o fortalecimento da musculatura respiratória do paciente em ventilação mecânica invasiva são: aparelho Threshold, aparelho P-Flex, alteração da sensibilidade do Ventilador Mecânico e a Estimulação Elétrica do Diafragma.

6.1 Threshold O threshold é um aparelho que produz uma resistência ao inspirar (threshold inspiratório) ou quando expirar (threshold expiratório), por meio de um sistema de mola com uma válvula unidirecional e utilização de clipe nasal. Quanto mais estiver comprimida estiver a mola, maior será a resistência, que tem como unidade de medida cmH2O (PRESTO 2003).

6.2 P-Flex

P-Flex é um sistema desenvolvido para treinamento da musculatura inspiratória, indicado para aqueles pacientes que requeiram trabalho para aumentar a força ou endurance dos músculos inspiratórios. É composto por um conjunto de 6 orifícios que são selecionados pelo terapeuta, baseado nas condições clínicas do paciente e pela manovacuômetria para oferecer uma determinada resistência durante a inspiração. Como o resistor é um orifício, esta resistência vai ser fluxo dependente, ou seja, quantomaior o fluxo, maior a resistência e quantomenor o orifício, maior a resistência. Por isso é recomendada a utilização de um manômetro ou manovacuômetro para a monitoração da pressão, pelo menos até o paciente controlar seufluxoinspiratórioparamanterdeterminadapressão (ANDREGHETTO, 2002).

6.3 Alteração da Sensibilidade do Ventilador Mecânico

Esse treinamento tem como objetivo oferecer sobrecarga inspiratória ao esforço do paciente, submetendo-o ao trabalho muscular progressivo. Quanto mais negativa é ajustada a sensibilidade do respirador mecânico, maior

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Fig. 1 - Threshold Inspiratório Fonte: Globalmed (2005)

Fig. 2 - Threshold ExpiratórioFonte: Globalmed (2005)

Fig. 3 - Aparelho P-FlexFonte: Globalmed (2005)

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será o esforço inspiratório do paciente. O treinamento muscular de pacientes em ventilação mecânica vem sendo realizado, porém com pouca evidência científica até omomento. Vale ressaltar que este método não é mais utilizado, devido à imprecisão dos valores de trabalho imposto.

6.4 Estimulação Elétrica do Diafragma (EDET)

A contração muscular através dessa técnica é obtida com a despolarização do nervo motor, criando assim uma resposta simultânea em todas as unidades motoras existentes no músculo. O objetivo da técnica é tentar resgatar o máximo de fibras musculares íntegras.Secundariamente, espera-se incrementar o treinamento muscular, ou seja, associar a técnica de eletroestimulação às convencionais (alteração da sensibilidade no ventilador e treinamento linear pressórico). A estimulação é obtida pela colocação de dois eletrodos, um para cada hemitórax, sobre o ponto motor do músculo diafragma, o qual podemos localizar na altura do oitavo espaço intercostal. Para facilitar a localização, achamos o ponto traçando uma linha de 10cm do mamilo para o bordo lateral do tórax e, por este ponto, traçamos outra linha para baixo, também de 10cm aproximadamente. Neste ponto, podemos verificar uma contraçãoeficaz do diafragma. Contra indicado parapacientes com lesão dérmica e que fazem uso de marcapasso cardíaco (KNOBEL, 2004).

7. Intervenção Fisioterapêutica

A intervenção fisioterapêuticaserá realizada a partir de uma avaliação

criteriosa da força da musculatura respiratória, preconizandootratamentomaiseficaz.

7.1 Avaliação

De acordo com Costa (1999) o fisioterapeuta para definir a resistência aser aplicada nos aparelhos Threshold e P-Flex, deve realizar em primeiro lugar, uma manovacuometria, em que se inicia com 30-50% do valor da pressão encontrada, de resistência nos aparelhos de fortalecimento muscular.

7.2 Tratamento

A aplicação da manovacuometria (avaliação das forças musculares) deve ser feita com o paciente de preferência sentado, numa posição confortável e com o tórax ereto. O procedimento consta de duas etapas. Na primeira, se afere a pressão “negativa” damusculatura inspiratória, pressão inspiratória máxima (Pi máx). Para verificá-la, pede-se ao paciente para expirar completamente e, em seqüência, manter uma inspiração profunda; o terapeuta não deve esquecer de fechar o orifício do manovacuômetro quando o paciente estiver realizando a inspiração. Mensuramos a Pi máx ocluíndo o orifício por 20 segundos, observando e registrando a deflexão máxima do manômetro. NaSegunda parte, vamos aferir a pressão positiva gerada pela musculatura expiratória, pressão expiratória máxima (Pe máx). Para verificá-la, solicitamos que o paciente realize uma inspiração profunda e, em seguida, mantenha uma expiração com mais força e por mais tempo que puder, o orifício deve ser fechado durante a expiração. A realização da Pemáx é realizada por no mínimo três vezes, quando o melhor valor encontrado é o considerado. Deve-se eleger o melhor resultado de cada etapa. Por meio da Pimáx poderemos avaliar a capacidade de pressão inspiratória do paciente e, desta forma, avaliar a atuação do diafragma e da musculatura acessória da ventilação. Por meio da Pe max avaliamos a tosse do paciente ( CARVALHO, 2004). Para pacientes não cooperativos realizar as oclusões durante os ciclos respiratórios desejados. No treinamento com o aparelho Threshold, utilizar duas a três vezes ao dia

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Fig.4 - Aplicação EDETFonte: KNOBEL (2004, pág. 142)

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com séries de 10 repetições com esforço de 30% a 50% da Pi max . No treinamento com o aparelho P-Flex, utilizar duas a três vezes ao dia com séries de 10 repetições, selecionando um dos 6 orifícios que oferece uma determinada resistência durante a inspiração, baseado nas condições clínicas do paciente e pela manovacuômetria. No treinamento utilizando o ventilador mecânico, utiliza-se a carga de 50% da Pimáx, em modalidade de pressão de suporte com níveis de 5 a 7 cmH2O e PEEP zero. Realizar o processo por tempo de um minuto, alternando intervalos de repouso de 2 a 3 minutos. No treinamento com Estimulação Elétrica do Diafragma (EDET), a duração mínima de aplicação deve ser de 20 a 30 min e a freqüência em torno de 30Hz (podendo variar até 50Hz). Acima deste tempo, o risco de fadiga muscular é grande.

8. Considerações Finais

A ventilação mecânica prolongada pode resultar em atrofia e enfraquecimentodos músculos respiratórios, resultando em enfraquecimento destes músculos por desuso e, consequentemente, retardo do processo de desmame, além da possibilidade de originar outras complicações. Em termos objetivos, o fortalecimento da musculatura respiratório visa restabelecer a função dos músculos respiratórios, melhorando sua força e endurance. Por tanto, deve ser o mais precoce possível, e o ideal é que o paciente já esteja com uma melhora da força antes de se iniciar o desmame da ventilação mecânica invasiva. Sendoassim,afisioterapia,buscandoo fortalecimento da musculatura respiratória, é de suma importância no processo de desmame, principalmente naqueles considerados difíceis, traçando todo um plano de reabilitação.

9. Referências

ANDREGHETTO C. J.; FORTI G. M. P. O treinamento muscular como alternativa para desmame difícil. 3 vol. Rio de Janeiro: Revista Fisioterapia Brasil 2002.

AZEREDO,CAC. Fisioterapia Respiratória Moderna, 4ª ed Editora Manole, 2004.

CARVALHO, C. R. R. Ventilação mecânica, 8 vol. São Paulo: Editora Astrazeneca, 2004.

COSTA D,et al. Efeitos do Treinamento muscular Respiratório Durante o Processo de Desmame da Ventilação Mecânica. Rev. Brás. Terap. Intens. 1999.

COSTA, D. Fisioterapia respiratória básica, 1 vol. São Paulo: Atheneu, 1999.

DAVID CMN. Ventilação Mecânica: Da Fisiologia a Prática Clinica, [s. l.]: Revinte, 2001.

JARDIM JRB, FELTRIM MIZ. Fisiologia Muscular Respiratória, [s. l.]: Atheneu, 1998.

JUNIOR, CA, DO AMARAL G. Assistência Ventilatória Mecânica, [s. l.]: Atheneu, 1998.

KNOBEL, ELIAS, Terapia intensiva: Pneumologia e Fisioterapia Repiratória, São Paulo: Atheneu, 2004.

KEITH L. MOORE E ARTHUR F. DALLEY Anatomia Orientada para Clínica Médica 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.

LUCE, JOHN M. Tratamento Respiratório Intensivo. 2ª edição, Rio de Janeiro: Revinter, 1995.

PRESTO, B, Fisioterapia Respiratória: Uma Nova Visão. Rio de Janeiro: Bruno Presto, 2003.

WEST, JOHN B. Fisiologia Respiratória Moderna. 3a edição, São Paulo: Manole,1990.

www.globalmed.com.br, autor: Powered by Idéia Click. Acesso: 19/03/2005, 17:00 Hs.

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Endereço para Correspondência:

Profa Cleize Silveira CunhaCurso de [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560

Informações bibliográficas:ConformeaNBR6023:2002daAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT),estetextocientíficopublicadoemperiódicoeletrônicodevesercitadodaseguinteforma:CUNHA, Cleize Silveira; SANTANA, Elber Rodrigues Manso; FORTES, Rodney Alonso. Técnicas de Fortalecimento da Musculatura Respiratória auxiliando o desmame do paciente em Ventilação Mecânica Invasiva. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano III, n. 6, abril. 2008. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/06/80.pdf>

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Tabagismo e Gravidez: Repercussões no Desenvolvimento Fetal

Tobaccoism and Pregnancy: Repercussions in the Fetal De-velopment

Clarissa Oliveira Muniz Silva 1

Mariane Oliveira da Silva 2

Claudia Yamada Utagawa 3

Renata Almeida de Souza 4

Resumo

O cigarro é composto de quase cinco mil substâncias químicas, mui-tasdelasreconhecidamentemaléficasàsaúdedoserhumano.NoBrasil,es-tima-se que cerca de 200.000 mortes por ano são decorrentes do tabagismo. O hábito de fumar durante o período gestacional propicia o aparecimento de inúmeras patologias que podem se desenvolver desde o período intra-uterino até a vida adulta. Dentre as substâncias químicas lesivas ao feto, destacam-se a nicotina, que está intimamente relacionada com o retardo do crescimento intra-uterino, e o monóxido de carbono, responsável pelo baixo peso ao nas-cer. As conseqüências podem ser percebidas no período puerperal, principal-mente pelo nascimento de bebês pré-termo, além do surgimento da Síndrome de Morte Súbita Infantil e redução dos sinais antropométricos no recém-nas-cido. A correlação do tabagismo com outros hábitos de vida da gestante tam-béminfluencianodesenvolvimentoneuropsicomotorinfantil.Édeextremaimportância alertar as gestantes quanto aos riscos do fumo à saúde de seus bebês durante o período pré-natal.

Palavras-chave: Tabagismo; Gestação; Saúde de Bebês; Hábitos das gestan-tes.

1 Acadêmica - Ciências da Saúde – [email protected]

2 Acadêmica - Ciências da Saúde – [email protected]

3 Mestra - Ciências da Saúde – [email protected]

4 Doutora - Ciências da Saúde – UniFOA [email protected]

Cadernos UniFOA - Ano II - nº 04 - agosto / 2007 97

ERRATANa edição nº 04, página 97, no cabeçalho dos autores leia-se:

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Instruções para Autores

Cadernos UniFOA é uma publica-ção semestral arbitrada que visa sustentar um espaço editorial de natureza inter e multidis-ciplinar. Publica prioritariamente pesquisas originais e contribuições de caráter descritivo e interpretativo, baseadas na literatura recente, bem como artigos sobre temas atuais ou emer-gentes e comunicações breves sobre temas re-levantes e inéditos desenvolvidos em nível de Pós-graduação Lato e Stricto Sensu. Serão aceitos trabalhos para as se-guintes seções: (1) Revisão - revisão crítica da literatura sobre temas pertinentes à saúde pública (máximo de 10.000 palavras); (2) Ar-tigos - resultado de pesquisa de natureza em-pírica, experimental ou conceitual (máximo de 8.000 palavras); (3) Notas - nota prévia, relatando resultados parciais ou preliminares de pesquisa (máximo de 2.000 palavras); (4) Resenhas - resenha crítica de livro relacio-nado ao campo temático de CSP, publicado nos últimos dois anos (máximo de 1.200 pa-lavras); (5) Cartas - crítica a artigo publicado em fascículo anterior do Cadernos UniFOA – Pós-graduação ou nota curta, relatando ob-servações de campo ou laboratório (máximo de 1.200 palavras); (6) Artigos especiais - os interessados em contribuir com artigos para estas seções deverão consultar previamente o Editor: (7) Debate - artigo teórico que se faz acompanhar de cartas críticas assinadas por autores de diferentes instituições, convidados pelo Editor, seguidas de resposta do autor do artigo principal (máximo de 6.000 palavras); (8) Fórum - seção destinada à publicação de 2 a 3 artigos coordenados entre si, de diferen-tes autores, e versando sobre tema de interesse atual (máximo de 12.000 palavras no total). O limite de palavras inclui texto e re-ferênciasbibliográficas (folhade rosto, resu-mos e ilustrações serão considerados à parte).

Apresentação do Texto

Serão aceitas contribuições em por-tuguês ou inglês. O original deve ser apre-sentado em espaço duplo e submetido eletro-nicamente, fonte Arial Times New Roman, tamanho 12, com margens de 2,5cm. Deve ser enviado com uma página de rosto, onde constará título completo (no idioma original e em inglês) e título corrido, nome(s) do(s) autor(es) e da(s) respectiva(s) instituição(ões) por extenso, com endereço completo apenas do autor responsável pela correspondência. Todos os artigos deverão ser encaminhados acompanhados de disquete ou CD contendo o arquivo do trabalho e indicação quanto ao programa e à versão utilizada (somente pro-gramas compatíveis com Windows). Notas de rodapé não serão aceitas. É imprescindível o

envio de carta informando se o artigo está sen-do encaminhado pela primeira vez ou sendo reapresentado à nossa secretaria. No envio da segunda versão do artigo deverá ser encaminhada uma cópia impressa, acompanhada de disquete ou CD. Ilustrações: as figuras deverão serenviadas em impressão de alta qualidade, em preto-e-branco e/ou diferentes tons de cinza e/ou hachuras. Os custos adicionais para pu-blicação de figuras em cores serão de totalresponsabilidade dos autores. É necessário o enviodosgráficos,separadamente,noforma-to do programa em que foram gerados (SPSS, Excel, Harvard Graphics etc.), acompanhados de seus parâmetros quantitativos, em forma de tabela e com nome de todas as variáveis. Tam-bém é necessário o envio de mapas no formato WMF, observando que os custos daqueles em cores serão de responsabilidade dos autores. Os mapas que não forem gerados em meio eletrônico devem ser encaminhados em papel branco (não utilizar papel vegetal). O núme-rodetabelase/oufigurasdeverásermantidoaomínimo(máximodesetetabelase/oufigu-ras). Resumos: Com exceção das contri-buições enviadas às seções Resenha ou Car-tas, todos os artigos submetidos em português deverão ter resumo na língua principal e em inglês. Os artigos submetidos em inglês de-verão vir acompanhados de resumo em portu-guês, além do abstract em inglês. Os resumos não deverão exceder o limite de 250 palavras e deverão ser acompanhados de 3 a 5 palavras-chave. Nomenclatura: devem ser obser-vadas rigidamente as regras de nomenclatura zoológica e botânica, assim como abreviaturas e convenções adotadas em disciplinas especia-lizadas. Pesquisas envolvendo seres huma-nos: A publicação de artigos que trazem resul-tados de pesquisas envolvendo seres humanos está condicionada ao cumprimento dos princí-pios éticos contidos na Declaração de Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000), da World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm), além do atendimento a legislações específicas (quan-do houver) do país no qual a pesquisa foi re-alizada. Artigos que apresentem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos deverão conterumaclaraafirmaçãodestecumprimen-to(talafirmaçãodeveráconstituiroúltimopa-rágrafo da seção Metodologia do artigo). Após a aceitação do trabalho para publicação, todos os autores deverão assinar um formulário, a ser fornecido pela Secretaria Editorial do Ca-dernos UniFOA – Pós-Graduação, indicando o cumprimento integral de princípios éticos e legislaçõesespecíficas.

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Agradecimentos - Contribuições de pessoas que prestaram colaboração intelectual ao trabalho como assessoria científica, revi-são crítica da pesquisa, coleta de dados entre outras, mas que não preencham os requisitos para participar de autoria, devem constar dos “Agradecimentos”. Também podem constardesta parte agradecimentos a instituições pelo apoio econômico, material ou outros. Declarações: o autor principal deve enviar, via correio, declaração sobre a Con-flitodeinteresseseTransferênciadeDireitosAutorais. Referências: as referências devem ser numeradas de forma consecutiva de acor-do com a ordem em que forem sendo citadas notexto.Devemseridentificadaspornúmerosarábicos sobrescritos (Ex.: Oliveira1). As refe-rências citadas somente em tabelas e figurasdevem ser numeradas a partir do número da úl-tima referência citada no texto. As referências citadasdeverãoserlistadasaofinaldoartigo,em ordem numérica. Todas as referências de-vem ser apresentadas de modo correto e com-pleto. A veracidade das informações contidas na lista de referências é de responsabilidade do(s) autor(es).

Exemplos:

a) Artigos de periódicosHedberg B, Cederborg AC, Johanson M. Care-planning meetings with stroke sur-vivors: nurses as moderators of the com-munication. J Nurs Manag, 15(2):214-21, 2007.b) Instituição como autorEuropean Cardiac Arrhythmia Society - 2nd Annual Congress, April 2-4, 2006, Marseille, France. Pacing Clin Electrophy-siol. Suppl 1:S1-103, 2006.c) Sem indicação de autoriaRubitecan: 9-NC, 9-Nitro-20(S)-campto-thecin, 9-nitro-camptothecin, 9-nitrocamp-tothecin, RFS 2000, RFS2000. Drugs R D. 5(5):305-11, 2004.d) Livros e outras monografiasFreire P e Shor I. Medo e ousadia – O co-tidiano do professor. 8 ed. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 2000. · Editor ou organizador como autorDenzin NK, Lincoln YS, editors. Hand-book of qualitative research. Thousand Oaks: Sage Publications; 1994.· Instituição como autor e publicadorInstitute of Medicine recommends new P4P system for Medicare. Healthcare Benchmarks Qual Improv., 13(12):133-7, 2006.

e) Capítulo de livroAggio OA. A revolução passiva como hi-pótese interpretativa da história política la-tino- americana. In: Aggio, Alberto (org.).

Gramsci: a vitalidade de um pensamento. São Paulo: Unesp, 1998.f) Eventos (anais de conferências)Vitti G.C. & Malavolta E. Fosfogesso - Uso Agrícola. In: Malavolta E, Coord., SEMI-NÁRIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍ-COLAS. Campinas,SP. Fundação Cargill, p. 161-201, 1985.g) Trabalho apresentado em eventoBengtson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in me-dical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDIN-FO 92. Proceedings of the 7th World Coan-gress on Medical Informatics. Amsterdam: North Holland; 1992. p. 1561-5.h) Dissertação e teseRodriques GL. Poeira e ruído na produção de brita a partir de basalto e gnaisse nas regiões de Londrina e Curitiba, Paraná: Incidência sobre os trabalhadores e Meio Ambiente. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Paraná.Curitiba, 2004. i) Outros trabalhos publicados· Artigo de jornalLee G. Hospitalizations tied to ozone pollution: study estimates 50,000 admis-sions annually. The Washington Post 1996 Jun 21; Sect. A:3.· Documentos legaisMinistério do Trabalho e Emprego. Secre-taria de Segurança do Trabalho. Portaria N°. 25 de 29/12/1994. Norma Regula-mentadora N° 9: Programas de Prevenção de Riscos Ambientais.

j) Material eletrônico· CD-ROMSeverino LS, Vale LS, Lima RLS, Silva MIL, Beltrão NEM, Cardoso GDC. Repi-cagem de plântulas de mamoneira visando à produção de mudas. In: I Congresso Bra-sileiro de Mamona - Energia e Sustentabi-lidade (CD-ROM). Campina Grande: Em-brapa Algodão, 2004. · InternetUMI ProQuest Digital Dissertations. Dis-ponível em: <http://wwwlib.umi.com/dis-sertations/>. Acesso em: 20 Nov. 2001.

Envio de manuscritos

Os artigos devem ser enviados para o seguinte endereço eletrônico: [email protected]. Documentos adicionais (de-clarações, fotos, mapas), devem ser enviados para UniFOA - Campus Universitário Olezio Galotti - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560 – Prédio 1 - Núcleo de Pesquisa/NUPE.

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Instructions For Authors

UniFOA Reports is a six-monthly journal that publishes original publishes origi-nal research and contributions of descriptive character, based in recent literature, as well as articles on current or emergent subjects and brief communications on developed excellent and unknown subjects in level of Lato and Stricto Sensu pos graduation programs. The journal accepts articles for the following sections: (1) Literature reviews - critical reviews of the literature on themes pertaining to public health (maximum 10,000 words); (2) Articles - results of empirical, ex-perimental, or conceptual research (maximum 8,000 words); (3) Research notes - short com-munications on partial or preliminary research results (maximum 2,000 words); (4) Book re-views - critical reviews of books related to the journal’s thematicfield,published in the lasttwo years (maximum 1,200 words); (5) Let-ters - critiques of articles published in previous issues of the journal or short notes reporting onfieldorlaboratoryobservations(maximum1,200 words); (6) Special articles - authors interested in contributing articles to this sec-tion should consult the Editor in advance; (7) Debate - theoretical articles accompanied by critiques signed by authors from different in-stitutions at the Editor’s invitation, followed by a reply by the author of the principal article (maximum 6,000 words); and (8) Forum - section devoted to the publication of 2 or 3 in-terrelated articles by different authors, focus-ing on a theme of current interest (maximum 12,000 words for the combined articles). The above-mentioned maximum word limits include the main text and biblio-graphic references (the title page, abstracts, and illustrations are considered separately). Presentations of Papers

Contributions in Portuguese or Eng-lish are welcome. The original should be dou-ble-spaced and submitted eletronically, using Arial or Times New Roman size 12 font with 2.5cm margins. All manuscripts should be submitted with a title page, including the com-plete title (in the original language and Eng-lish) and running title, name(s) of the author(s) and institutional affiliation(s) in full and thecomplete address for the corresponding author only. All manuscripts should be submitted with a diskette or CD containing the article’s fileandidentifyingthesoftwareprogramandversion used (Windows-compatible programs only). Footnotes will not be accepted. Authors are required to send a letter informing whether thearticleisbeingsubmittedforthefirsttimeor re-submitted to our Secretariat.

When sending a second version of the article, one print copy should be sent, to-gether with the diskette or CD. Illustrations:figuresshouldbesentin a high-quality print version in black-and-white and/or different tones of gray and/or ha-chure. Any additional cost for publication of color figureswill be covered entirely by theauthor(s). Graphs should be submitted sepa-rately in the format of the program in which they were generated (SPSS, Excel, Harvard Graphics, etc.), accompanied by their quanti-tative parameters in table form and with the names of all the variables. Maps should also be submitted in WMF format, and the cost of colored maps will be covered by the author(s). Maps that have not been generated electroni-cally must be submitted on white paper (do not use tracing paper).Tables and/or figuresshould be kept to a minimum (maximum sev-entablesand/orfigures). Abstracts: with the exception of contributions submitted to the Book review or Letters sections, all manuscripts submitted in Portuguese should include an abstract in both the principal language and English. Articles submitted in English should include an ab-stract in Portuguese, in addition to the English abstract. The abstracts should not exceed 250 words and should include 3 to 5 key words. Nomenclature: rules for zoological and botanical nomenclature should be strictly followed, as well as abbreviations and con-ventions adopted by specialized disciplines. Research involving Ethical Prin-ciples: publication of articles with the results of research involving human beings is con-ditioned on the ethical principles contained in the Helsinki Declaration (1964, revised in 1975, 1983, 1989, 1996, and 2000), of the World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm), in addition to comply-ingwith the specific legislation (whenexist-ing) of the country in which the research was performed. Articles presenting the results of research involving human beings must con-tain a clear statement of such compliance (this statement should be the last paragraph of the article’s Methodology section). After accep-tance of the article for publication, all the au-thors are required to sign a form provided by the Editorial Secretariat of UniFOA Reposts – Pos graduation stating their full compliance withthespecificethicalprinciplesandlegisla-tion. Acknowledgements: Contributions of people, grants and institutions must consist the section of Acknowledgements. Declaration: the main author must send,bypostoffice,declarationon theCon-flict of Interests and Transference of Copy-rights.

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References

References should be numbered con-secutively according to the order in which they appear in the manuscript. They should be identified by superscript Arabic numer-als (e.g., Oliveira1). References cited only in tablesandfiguresshouldbenumberedaccord-ing to the last reference cited in the body of the text. Cited references should be listed at the end of the article in numerical order. All references should be presented in correct and complete form. The veracity of the informa-tion contained in the list of references is the responsibility of the author(s).

Examples:

a) Periodical articlesHedberg B, Cederborg AC, Johanson M. Care-planning meetings with stroke sur-vivors: nurses as moderators of the com-munication. J Nurs Manag, 15(2):214-21, 2007.b) Institution as authorEuropean Cardiac Arrhythmia Society - 2nd Annual Congress, April 2-4, 2006, Marseille, France.Pacing Clin Electrophysiol. Suppl 1:S1-103, 2006.c) Without author specificationRubitecan: 9-NC, 9-Nitro-20(S)-camptoth-ecin, 9-nitro-camptothecin, 9-nitrocampto-thecin, RFS 2000, RFS2000. Drugs R D. 5(5):305-11, 2004.d) Books and other monographsFREIRE P e SHOR I. Medo e ousadia – O cotidiano do professor. 8 ed. Rio de Janei-ro: Ed. Paz e Terra, 2000. · Editor or organizer as authorDuarte LFD, Leal OF, organizers. Doen-ça, sofrimento, perturbação: perspectivas etnográficas.RiodeJaneiro:EditoraFio-cruz; 1998.· Institution as author and publisherInstitute of Medicine recommends new P4P system for Medicare. Healthcare Benchmarks Qual Improv., 13(12):133-7, 2006.

e) Chapter of bookAggio A. A revolução passiva como hipó-tese interpretativa da história política la-tino- americana. In: Aggio, Alberto (org.). Gramsci: a vitalidade de um pensamento. São Paulo: Unesp, 1998.f) Events (conference proceedings)Vitti GC & Malavolta E. Fosfogesso - Uso Agrícola. In: Malavolta E, Coord., SEMI-NÁRIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍ-COLAS. Campinas,SP. Fundação Cargill, p. 161-201, 1985.g) Paper presented at an eventBengtson S, Solheim BG. Enforcement

of data protection, privacy and security in medical informatics. In: Lun KC, Degou-let P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World Congress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Am-sterdam: North Holland; 1992. p. 1561-5.h) Theses and dissertationsRodriques GL. Poeira e ruído na produção de brita a partir de basalto e gnaisse nas regiões de Londrina e Curitiba, Paraná: Incidência sobre os trabalhadores e Meio Ambiente. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Paraná.Curitiba, 2004.i) Other published work· Journal articleLee G. Hospitalizations tied to ozone pol-lution: study estimates 50,000 admissions annually. The Washington Post 1996 Jun 21; Sect. A:3.· Legal documentsMTE] Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Segurança do Trabalho. Por-taria N°. 25 de 29/12/1994. Norma Regu-lamentadora N° 9: Programas de Preven-ção de Riscos Ambientais.

j) Electronic material· CD-ROMSeverino LS, Vale LS, Lima RLS, Silva MIL, Beltrão NEM, Cardoso GDC. Re-picagem de plântulas de mamoneira visando à produção de mudas. In: I Con-gresso Brasileiro de Mamona - Energia e Sustentabilidade (CD-ROM). Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004· InternetUMI ProQuest Digital Dissertations. Dis-ponível em: <http://wwwlib.umi.com/dis-sertations/>. Acesso em: 20 Nov. 2001.

The articles must be sent for the fol-lowing electronic address: [email protected] (declaration, photos, maps), must be sent to UniFOA - Campus Universitário Olezio Galotti - Av. Paulo Erlei Alves Abran-tes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560 – A/C Núcleo de Pesquisa/NUPE.

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ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – Brasília/DF

ANGRAD - Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - Duque de Caxias/RJ

Centro de Ensino Superior de Jatí - Jataí/GO

Centro Universitário Assunção - São Paulo/SP

Centro Universitário Claretiano - Batatais/SP

Centro Universitário de Barra Mansa - Barra Mansa/RJ

Centro Universitário de Goiás - Goiânia/GO

Centro Universitário Evangélica - Anápolis/GO

Centro Universitário Feevale - Novo Hamburgo/RS

Centro Universitário Leonardo da Vinci - Indaial/SC

Centro Universitário Moura Lacerda - Riberão Preto/SP

Centro Universitário Paulistano - São Paulo/SP

Centro Universitário São Leopoldo Mandic - Campinas/SP

CESUC - Centro Superior Catalão - Catalão/GO

CESUPA - Centro de Ensino Superior do Pará - Belém/PA

EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - Rio de Janeiro/RJ

Escola de Serviço Social da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ

FABES - Faculdades Bethencourt da Silva - Rio de Janeiro/RJ

FACESM - Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas do Sul de Minas - Itajubá/MG

FACI- Faculdade Ideal - Belém/PA

Facudade 2 de Julho - Salvador/BA

Facudades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdade Arthur Sá - Petrópolis/RJ

Faculdade de Ciências - Bauru/SP

Faculdade de Direito de Olinda - Olinda/PE

FaculdadedeFilosofiaeCiênciasHumanas-UFBA-Salvador/BA

Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba/MG

Faculdade de Minas - Muriaé/MG

Faculdade de Pimenta Bueno - Pimenta Bueno/RO

Faculdade de Tecnologia e Ciência - Salvador/BA

Faculdade Internacional de Curitiba - Curitiba/PR

Faculdade Metodista IPA - Porto Alegre/RS

Faculdade SPEI - Curitiba/PR

Faculdades Guarapuava - Guarapuava/PA

Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - Presidente Prudente/SP

Faculdades Integradas Curitiba - Curitiba/PR

Faculdades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdades Integradas do Ceará - Fortaleza/CE

Faculdades Integradas Torricelli - Guarulhos/SP

Faculdades Santa Cruz - Curitiba/PR

FAFICH - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

FAFIJAN - Faculdade de Jandaia do Sul - Jandaia do Sul/PA

Permutas Institucionais informações sobre [email protected]

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FAFIL-FiladélfiaCentroEducacional-SantaCruzdoRioPardo/SP

FAPAM - Faculdade de Pará de Minas - Pará de Minas/MG

FCAP: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - Recife/PE

FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - São Paulo/SP

FGV - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro/RJ

FOCCA - Faculdade Olindense de Ciências Contábeis e Administrativas - Olinda/PE

FUNADESP - Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular - Brasília/DF

Fundação Educacional de Patos de Minas - Patos de Minas/MG

Fundação Santo André - Santo André/SP

Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande/RS

IBGE-InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística-CentrodeDocumentaçãoeDisseminação

de Informações - Rio de Janeiro/RJ

Instituição São Judas Tadeu - Porto Alegre/RS

Instituto Catarinense de Pós-Graduação -Blumenau/SC

Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ - Tijuca/RJ

Instituto de Estudo Superiores da Amazônia - Belém/PA

Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano/SP

Mestrado em Integração Latino-Americana - Santa Maria/RS

MPF - Ministério Público Federal - Brasília/DF

MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

Organização Paulista Educacional e Cultural - São Paulo/SP

PUC - Campinas: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

PUC - SP: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

TCE - Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

TheU.S.LibraryOfCongressOffice-Washington,DC/USA

TJ - Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

TRF - Tribunal Reginal Federal - RJ - Rio de Janeiro/RJ

Ucam - Universidade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/RJ

UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ

UGB - Faculdades Integradas Geraldo Di Biase - Volta Redonda/RJ

UNB - Universidade de Brasília - Brasília/DF

UNIABEU - Assossiação de Ensino Superior - Belford Roxo/RJ

União das Faculdades de Alta Floresta - Alta Floresta/MT

Unibrasil - Faculdades Integradas do Brasil - Curitiba/PR

Unicapital - Centro Universitário Capital - São Paulo/SP

Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo/SP

UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Campo Grande/MS

UNIFAC - Assossiação de Ensino de Botucatu - Botucatu/SP

Unifeso - Centro Universitário da Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ

UniNilton Lins - Centro Universitário Nilton Lins - Amazonas/AM

Uninove - Universidade Nove de Julho - Vila Maria/SP

Permutas Institucionais informações sobre [email protected]

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Permutas Institucionais informações sobre [email protected]

UNIPAR - Universidade Paranaense - Cianorte/PR

UNISAL - Centro Universitário Salesiano - Americana/SP

Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos - São Leopoldo/RS

UNIVEM - Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha - Marília/SP

Universidade Bandeirante de São Paulo - São Paulo/SP

Universidade Brás Cubas - Mogi das Cruzes/SP

Universidade Católica de Brasília - Brasília/DF

Universidade da Cidade de São Paulo - Tatuapé/SP

Universidade da Região de Joinville - Joinville/SC

Universidade de Brasília - Brasília/DF

Universidade de Caxias do Sul - Caxias do Sul/RS

Universidade de Coimbra - Pólo II - Coimbra/RJ

Universidade de Cuiabá - Cuiabá/MT

Universidade de Marília - Marília/SP

Universidade de Passo Fundo - Passos Findo/RS

Universidade de Sorocaba - Sorocaba/SP

Universidade de Taubaté - Taubaté/SP

Universidade do Vale do Paraíba - São José dos Campos/SP

Universidade Estácio de Sá - Rio de Janeiro/RJ

Universidade Estadual de Maringá - Maringá/PR

Universidade Federal de Alfenas - Alfenas/MG

Universidade Federal de Santa Catarina - Florianópolis/SC

Universidade Luterana do Brasil - Paraná/RO

Universidade Metodista de São Paulo - São Bernardo do Campo/SP

Universidade Paranaense - Umuarama/PR

Universidade Paulista - São Paulo/SP

Universidade Regional de Blumenau - Blumenau/SC

Universidade São Francisco - São Paulo/SP

Universidade Severino Sombra - Vassouras/RJ

Universidade Vale do Rio Verde de Três Corações - Três Corações/MG

UnoChapeco - Centro Universitário de Chapecó - Chapecó/SC

UPIS - União Pioneira de Integração Social - Brasília/DF

UVA - Universidade Veiga de Almeida - Tijuca/RJ

UVV - Centro Universitário de Vila Velha - Vila Velha/ES

Formando para vida.