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Café Com Feminismo Mulheres em Formação Agosto : Mulheres na Política Setembro : Direito das Trabalhadoras Domésticas Outubro : Servidora Pública em Primeiro Lugar Novembro : Pelo Fim da Violência Contra a Mulher

Café Com Feminismo · Teresa Cristina Nascimento Sousa ... Bia de Lima, Denise Carvalho, Cristina Laval, Laisy Moriére e Rosana Cristina de Oliveira, todas elas com um histórico

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Café Com Feminismo

Mulheres em Formação

Agosto : Mulheres na PolíticaSetembro : Direito das Trabalhadoras DomésticasOutubro : Servidora Pública em Primeiro Lugar Novembro : Pelo Fim da Violência Contra a Mulher

Mulheres em Formação

Expediente

Paulo Garcia

PREFEITO DE GOIÂNIA

Agenor Mariano Neto

VICE-PREFEITO DE GOIÂNIA

Teresa Cristina Nascimento Sousa

SECRETÁRIA MUNICIPAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES

Esta publicação foi financiada com recursos próprios da Prefeitura

Municipal de Goiânia.

Textos e coordenação editorial - equipe da Secretaria Municipal de

Políticas para as Mulheres de Goiânia.

Projeto gráfico e edição - Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal

de Políticas para as Mulheres.

Março 2014

SUMÁRIO

Apresentação --------------------------------------------------- 5

Como surgiu o Café com Feminismo ------------------------- 7

Primeiro aniversário da SMPM ------------------------------- 8

Homenagem às Feministas ------------------------------------ 8

Café com Feminismo ----------------------------------------- 11

Primeira edição do Café com Feminismo:

Mulheres na Política ------------------------------------------ 11

Segunda edição do Café com Feminismo:

Trabalhadoras Domésticas ----------------------------------- 18

Terceira edição do Café com Feminismo:

Servidora Pública em Primeiro Lugar ----------------------- 23

Quarta edição do Café com Feminismo:

Pelo Fim da Violência Contra a Mulher -------------------- 26

Considerações Finais ---------------------------------------- 30

Apresentação

Cidadã e Cidadão Goianienses, Apresento a vocês a Revista “Café com Feminismo”, nela está contido todo o processo de criação do Projeto “Café com Feminismo” e as realizações do mesmo, desde o momento em que não tinha nome e o formato era diferente, até como é atualmente. A ideia desta publicação é para divulgar esse projeto, que surgiu durante as minhas participações em atividades fora da Secretaria, nas quais mulheres e homens, que não tiveram a oportunidade de estar presentes nas diversas etapas do “Café com Feminismo”, queriam saber sobre o tema abordado, comentar sobre aquelas edições perdidas, elogiar a iniciativa, sugerir temas e palestrantes, entre outras coisas. Notei assim, que essa atividade de formação política despertou interesse em muita gente. E, obviamente, fiquei bastante satisfeita e positivamente provocada com esta ação de uma formação política continuada, que temos procurado tornar realidade desde que assumimos esta pasta em 2011. Assim, diante da importância das palestras ministradas por mulheres gaba-ritadas como Delaíde Arantes, Marina Sant’Anna, Cristina Lopes, Bia de Lima, Denise Carvalho, Cristina Laval, Laisy Moriére e Rosana Cristina de Oliveira, todas elas com um histórico de luta em defesa da igualdade de gênero e do empoderamento das mulheres; percebi o quanto era necessário que mais pessoas tivessem acesso a esses debates. Então resolvemos consolidar, em uma publicação para efeitos de divulgação, o conteúdo dessas palestras. Pretendemos continuar a produzir novas edições se-mestrais dessa brochura com os eventos futuros do “Café com Feminismo”. Agradeço a todas essas mulheres que participaram do Café com Feminis-mo enriquecendo-o com palestras e divulgando esse projeto, assim como aquelas e aqueles que fizeram questão de participar desses debates. Aproveito e lembro a todas e todos que a participação nos próximos “Cafés com Feminismo” que serão realizados mensalmente, é fundamental para o sucesso do projeto e da construção de uma sociedade de iguais. Teresa Sousa

Secretária Municipal de Políticas para as Mulheres

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Como Surgiu o Café com Feminismo

Com a criação da SMPM, realizamos, entre os meses de fevereiro e abril de 2012, em virtude das come-morações do dia 08 de mar-ço, “Dia Internacional da Mu-lher”, várias palestras e rodas de conversa sobre: o empo-deramento político, social e econômico das mulheres, como também chamamos atenção a cerca de formas de buscar o enfrentamento ao preconceito e à violência contra as mulheres, atuando em vários bairros de Goiânia. Passada essa data histórica e fundamental para a luta das mulheres, a equipe da SMPM discutiu a possibilidade de tornar permanente essa forma-ção política. Realizamos na SMPM, então, em 18 de maio, Dia Nacional de Luta Contra o Abuso e Explora-ção Sexual De Crianças e Adolescentes, uma ativida-de com esse tema, com pa-lestra da Deputada Federal

Dra. Fernanda Rassi fala sobre saúde da mulher.

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Em seguida, em 28 de maio, que é o Dia Internacional de Luta Pela Saúde da Mulher e Dia Na-cional de Redução da Mor-te Materna, efetivamos ou-tra roda de conversa sobre esse assunto na sede desta Secretaria, com palestras da Dra. Fernanda Rassi, ginecologista e obstetra da Secretaria Municipal de Saúde; e da Dra. Tereza Beiler, médica anestesista e esposa do Prefeito de Goiâ- nia, Paulo Garcia. Essa ativi-dade contou com presença

Marina Sant’Anna e a par-ticipação das/dos estudan-tes da Escola Municipal Nadal Sfredo, da Região Noroeste.

Estudantes da E. M. Nadal Sfredo.

e participação de mulheres de vários segmentos da so-ciedade civil. Em 24 de julho, véspera do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, 25/07, em uma parceria com a Associação Mestre Bimba, tivemos a apresentação do espetácu-lo Mães Negras, pelo grupo Teatro das Oprimidas, no Teatro Municipal de Cultu-ra Goiânia Ouro. Durante e após a encenação, aconteceram intervenções do público, reflexões e transformações no roteiro da peça, seguin-do a técnica do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal. Entre os meses de agosto a novembro/12, or-ganizamos cursos internos de formação e capacitação técnica e política em gêne-ro, apenas para a equipe da SMPM, justamente vi-sando levar para o público em geral este novo pensar tranversal, incluindo as es-pecificidades da mulher nas políticas públicas.

Espetáculo Mães Negras.

Primeiro Aniversário da SMPM

No final de novembro, por ocasião do primei-

ro aniversário da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, inauguramos o nosso auditório, homena-geando Sueli Fraissat, mu-lher goiana, militante polí-tica (fundadora do Partido dos Trabalhadores) e femi-nista histórica que marcou a sua época. Nesse momen-to de reconhecimento da história das mulheres através de uma, o filho de Sueli, Marco Aurélio Fraissat, a Secretária Es-tadual da SEMIRA, Gláu-cia Teodoro e a socióloga e Secretária Nacional de Mulheres do Partido dos Trabalhadores, Laisy Mo-riére, falaram sobre a tra-jetória política da home-nageada.

Público prestigia o aniversário da SMPM.

Inauguração do Auditório Sueli Fraissat.

A Secretária da SMPM, Teresa Sousa e a esposa do Prefeito Paulo Garcia, Dra. Tereza Beiler, falaram sobre a importân-cia de mulheres como a homenageada para o em-poderamento das mulhe-res e sobre o processo de criação da SMPM e suas realizações neste curto pe-ríodo de existência.

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Logo em seguida, já no mês de dezembro, am-pliamos essa homenagem às mulheres feministas de todo o Brasil, com recorte impor-tante na nossa história; dan-do o seus nomes aos diversos departamentos da SMPM, essa atividade, que contou

Nesse momento várias lideranças políticas e da sociedade civil, bem como de mulheres de vá-rios bairros da cidade, par-ticiparam interagindo com seus saberes locais a cerca dos avanços das mulheres e da importância do reco-nhecimento destas.

Homenagem às Feministas

com a presença de uma das homenageadas, Maria José de Lima, feminista brasileira, nascida em Alagoas e radica-da no Rio de Janeiro. Zezé Lima, como é conhecida no movimento, relatou com riqueza de detalhes a his-tória do movimento femi-nista no Brasil e a trajetó-ria da feminista Carmem da Silva, outra homenage-ada. Estiveram pre-sentes nessa oportunida-de várias mulheres que construíram o movimento feminista entre outras mu-lheres de Goiânia. Inauguramos, en-tão, as placas das portas de cada departamento da

Gabinete da Secretária: Ângela Borba

Foi ativista feminista e política, lutou pela rede-mocratização do Brasil na década de 70.

Chefia de Gabinete: Clarice Lispector

Escritora e jorna-lista nascida na Ucrânia e natura-lizada brasileira.

Conhecida pelo pseu-dônimo Pagu, foi uma escritora, poeta, di-retora de teatro, tra-dutora, desenhista e jornalista brasileira.

Diretoria de Projetos e Ações Temáticas: Patrícia Galvão

Diretoria de Ações Estratégicas e Articulação: Maria José de Lima

Conhecida como Zezé Lima, feminis-ta brasileira, nasci-da em Alagoas e radicada no Rio de Janeiro.

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Zezé Lima, feminista homenageada, presente no evento.

SMPM com os nomes das escolhidas, mantendo onome do Centro de Refe-rência Cora Coralina. Essa atividade foi o embrião do Café com Feminismo; pois, a partir dela, criamos um projeto de levar a história das mu-lheres e sua lutas a todas e todos as/os goianienses.

A primeira edição oficial do Café com Femi-nismo ocorreu em 28 de agosto de 2013, com seu nome próprio, amadure-cendo durante seu próprio transcurso, até hoje se con-solidar e oferecer-nos dis-cussões riquíssimas sobre diversos temas.

Feministas brasileiras homenageadas na SMPM

Assessoria de Planejamento, Quali-dade e Controle: Berenice Artiaga

Foi a primeira mu-lher eleita no Brasil Deputada Estadual, em 1951, na 2ª Le-gislatura da Assem-bleia Goiana.

É considerada uma pio-neira do feminismo no Brasil e foi provavelmen-te a primeira mulher a romper os limites entre os espaços público e pri-vado, publicando textos em jornais.

Centro de Referência Cora Coralina

Diretoria Administrativa: Nísia Floresta

Assessoria de Imprensa: Carmem da Silva

Psicanalista, jornalista e escritora brasileira, uma das precursoras do feminismo no país.

Reconhecida contis-ta e poetisa goiana. É considerada uma das principais escri-toras brasileiras.

Conselho Municipal de Direitos da Mulher: Rose Marie Muraro

Intelectual, escritora, edito-ra e feminista brasileira. Pu-blicou livros contestadores e inovadores dos valores sociais modernos.

Auditório da SMPM: Sueli Fraissat

Advogada, educado-ra do método Paulo Freire em Goiânia na época da ditadura mi-litar.

Centro de Inclusão Digital: Leila Diniz

Atriz e feminista, quebrou tabus de uma época em que a repressão domi-nava o Brasil.

Sala de Atendimento do Centro de Referência: Bertha Lutz

Uma das figuras mais significativas do femi-nismo e da educação no Brasil do século XX.

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Café com Feminismomotivos de feriados), no Auditório Sueli Fraissat, na Secretaria Municipal de Políticas para as Mu-lheres. O Café com Femi-nismo tem o objetivo de conscientizar a sociedade de que Feminismo não é um movimento de dispu-ta de espaço com os ho-mens, e sim uma luta por igualdade e equidade de direitos entre mulheres e homens, pela cidadania e democracia plena. Tam-bém pretende suscitar nas/nos participantes a necessidade de participar do debate e de outras ati-vidades que tenham essa causa como tema.

O Café com Fe-minismo é um encontro de formação política para mu-lheres de todos os segmentos sociais, culturais, profissionais e políticos. Em cada Café, convidamos duas personali-dades (com preferência que sejam mulheres) que mi-nistram palestras sobre um tema específico de interesse das mulheres, com um olhar vol-tado para a situação das

Primeira Edição do Café com Feminismo: Mulheres na Política

Em 28 de agosto de 2013, a socióloga Laisy Moriére e Denise Carva-lho, Deputada Estadual em Goiás por três manda-tos, ministraram palestras com o tema Mulheres na Política, na primeira edi-ção do Café com Feminis-mo.

Informações adicionais

- Alzira Soriano foi a primeira mulher a ocupar um cargo eletivo em 1928, no Rio Grande do Norte, pelo Partido Republicano, mas não completou o seu mandato.- Em 1933, Carlota Pereira, foi a primeira mulher a ser eleita Deputada Federal.- Em 2010, foi eleita a primeira mulher presidenta do Brasil, Dilma Rousseff.

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mulheres na sociedade, suas lutas, conquistas e rei-vindicações. No final da tarde, encerramos o Café com um coffee break. Esse encontro é re-alizado mensalmente, a partir das 16 horas, normalmente na última quinta-feira do mês (dia que pode ser al-terado em função da agen-da das palestrantes ou por

SMPM.

Mulher e a Participação no Espaço de Poder Político

Laisy inicia sua palestra fazendo um bre-ve histórico sobre a luta da mulher pelo direito ao voto, considerando que essa foi inicialmente a luta mais marcante das mulheres. Segundo ela: “A história revela que o sen-so de justiça e o desejo de participação das mu-lheres sempre estiveram manifestos, embora, ge-ralmente reprimidos por comportamentos carac-terísticos de uma cultura

túlio Vargas. De lá para cá muitas mudanças ocor-reram. Mulheres se elege-ram vereadoras, prefeitas, deputadas, senadoras e, agora, presidenta. Apesar disso, as mulheres, em-bora compreendam mais de 50% da população brasileira, ainda tem uma representatividade numé-rica pouco significativa nos espaços políticos de poder e decisão. Laisy fala sobre mudanças que ocorreram

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Primeira edição do Café com Feminismo.

patriarcalista. Essa cultu-ra, por tempos, inibiu e puniu quem ousou rom-per seus valores, prática que ainda se reproduz de maneira mais ou menos recorrente e explícita”. Lembra que, ape-sar de a inclusão do voto feminino ser defendida desde a elaboração da Primeira Constituição da República Brasileira, em 1890, esse só foi aprova-do em 1932, pelo novo Código Eleitoral, promul-gado pelo Presidente Ge-

por Laisy Moriére

assegurar que ela seja pa-ritária e com alternância entre sexos, possibilitando que mulheres e homens te-nham oportunidades iguais para se elegerem. •Convocação de plebiscitos – a fim de reforçar o princí-pio constitucional da sobe-rania popular e assegurar o direito do povo de debater e opinar sobre questões acerca de decisões que afetarão significativamen-te o destino da Nação.•Fidelidade partidária - evitar movimentação em função de interesses par-ticulares do/a eleito/a. O mandato deve pertencer à legenda, a troca de par-tido deve significar perda de mandato, devendo a vaga ociosa ser preenchida pelo/a suplente da mesma legenda ou coligação.•Financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais - O financiamen-to com dinheiro público vai tornar a disputa mais equi-librada, mais transparente e mais barata. Para que isso ocorra de fato, é necessário que a lei preveja penalida-des para quem burlar as regras.•Proibição do exercício de mais de três mandatos consecuti-vos no mesmo cargo – para evitar que o/a parlamentar se comporte como profissional da política e não como agen-te a serviço da população.

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na legislação eleitoral, até, em 2009, chegar à determinação de preen-chimento (e não mais re-serva) de 30% das vagas e a obrigatoriedade de destinação de tempo nas propagandas de rádio e televisão em horário elei-toral gratuito e de, no mí-nimo, 5% dos recursos do fundo partidário para a criação e manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres. “A essas alterações, houve quem chamasse de re-forma política. Contudo, longe deser uma reforma política, o que se viu até agora foram mudanças pontuais específicas na legislação eleitoral. Re-forma política é o que de fato o Brasil precisa; é o que é necessário ser feito para o País avançar rumo à consolidação da democracia. Com esse intuito, incube, à socie-dade e de modo parti-cular, às mulheres, apro-veitar esse momento em que o tema está pauta-do e enfrentar o embate para que o Congresso Nacional promova uma verdadeira reforma no sistema político brasilei-ro”, afirma Laisy. Segun-do ela, este é o momento

ideal para que as mulhe-res consigam assegurar as condições necessárias para efetivamente dispu-tar e ocupar espaços de poder, de forma a refletir, nesses espaços, o papel que exercem socialmente. É nesse momen-to de reforma que as mulheres poderão as-segurar que as disputas partidárias ocorram em condições de igualda-de com os homens; que poderá fazer com que os partidos invistam na for-mação política das mu-lheres, e, especialmente, para que sejam reconhe-cidas e se reconheçam como protagonistas de uma nova história, de um modo diferenciado de fazer política, de pen-sar e valorizar o público como patrimônio coleti-vo, como instrumento de promoção da igualdade social. Laisy Moriére ter-minou sua exposição su-gerindo alguns temas para debate posterior:•Voto em lista pré-orde-nada – a fim de reduzir a competição e o personalis-mo interno nos partidos; que os eleitores escolham com base nos princípios e ideais partidários e não na pessoa do/da candidato/a;

Após pontuar al-gumas considerações so-bre a reforma política, ela destaca duas formas bási-cas e distintas de fazê-la: uma reforma em sentido amplo, que significaria repensar as práticas polí-ticas no âmbito dos Pode-res, dos partidos políticos e da própria sociedade or-ganizada ou uma reforma restrita ao sistema eleito-ral e, quando muito, po-lítico-partidária, como a que vem sendo discutida. “A primeira seria a refor-ma ideal, a que levaria, ainda que num decurso maior de tempo, à refle-xão, ao exercício efetivo da democracia, à busca constante do aprendiza-do coletivo, do aprimo-ramento das relações na vida em sociedade,” garante ela.

Ela afirma que é fundamental que a so-ciedade se disponha a ir para o debate, a entender a dimensão do que está em discussão. E é impres-cindível que as mulheres assumam sua natureza política e revolucionária e ajam como sujeitos desse processo que resultará na construção de instrumen-tos capazes de promover a igualdade de oportuni-dades entre mulheres e homens, o que dará a ela condições reais para a dis-puta de espaços de poder e decisão na política. De acordo com Laisy Moriére, é presente nesses espaços deliberati-vos que as mulheres vão se apropriar de ferramen-tas indispensáveis à pro-moção da transformação da sociedade, e que a sociedade irá, cada vez mais, se permitir rom-per com toda e qualquer forma de preconceito.

A opressão de gênero e de

classe exclui as mulheres da

política.

por Denise Carvalho

Denise inicia sua fala dizendo como é im-portante ter um espaço para o debate como o Café com Feminismo, que esse encontro é a gênese do que pode se transformar em força motriz de um processo de transforma-ção e considera nuclear o tema do primeiro encon-tro: Mulheres na Política. Diz que, em vias gerais, vi-vemos sob um sistema de opressão mundial, não só uma opressão de gênero que é o patriarcado, mas uma opressão de classe, que é a capitalista, e isso é o que domina hoje o mundo.

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”A história revela que o senso de jus-tiça e o desejo de participação das mulheres sempre estiveram manifes-tos, embora, geral-mente reprimidos por comportamen-tos característicos de uma cultura pa-

Público atento às palestras.

Segundo ela, o capitalismo vem de sé-culos, o patriarcado vem de milênios e nasce jun-to com a divisão da so-ciedade em classes. “Se vamos discutir essa ori-gem toda, temos que observar que a opressão das minorias nasce jun-to com a opressão das mulheres na história da humanidade. O capitalis-mo, sistema de opressão de classes, se desenvolve. E não nos iludamos, as mulheres entraram no mercado de trabalho do capitalismo como mão de obra barata, para dar sustentação à reprodu-ção do capital, oprimi-das no sistema de traba-lho que temos hoje”. Para Denise, no Brasil, a história de luta do povo trabalhador teve idas e vindas muito gran-des e muito profundas. Aconteceram vários ciclos de desenvolvimento e ago-ra se vive um novo ciclo no desenvolvimento brasi-leiro. Que após a eleição do presidente Lula, com a continuidade da pre-sidenta Dilma, tem-se a melhor possibilidade de transformação que esse país já viveu até hoje, em toda a nossa história de quinhentos anos. Ela considera que é o mo-mento para um caminho de transformações mais

“Quando Lula ga-nhou a Presidência da República, ele ganhou o gover-no, que é muito diferente de ter po-der. Poder é algo que se realiza no conjunto das insti-

Ela considera que a discussão anterior feita pelo movimento femi-nista acerca da impossi-bilidade de participar de governos no patriarcado por serem, em última ins-tância, sistemas de opres-são de gênero e de classe, já está superada. Lembra que o acúmulo de forças das mulheres não se dá de forma linear, basta vermos que a eleição da presidenta Dilma não foi consequência da eleição de vereadoras, deputa-das, senadoras, até a con-quista da Presidência da República. Denise diz que a participação das mu-lheres nos governos não pode ter um fim em si mesmo. É preciso fazer um projeto político de mudança social mais pro-fundo na sociedade. É importante a participação governamental, porque é necessário lutar por es-paços de representação popular e de mulheres.

Informações adicionais

Em Goiás, temos somen-te 2 Deputadas Estaduais e no Município de Goiâ-nia temos apenas 4 ve-readoras.

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profundas rumo a uma sociedade mais igualitá-ria e de justiça social. E que ainda é uma possi-bilidade, não aconteceu de fato. “Quando Lula ganhou a Presidência da República, ele ganhou o governo, que é muito diferente de ter poder. Poder é algo que se rea-liza no conjunto das ins-tituições e da sociedade. Ganhar o governo não significa ganhar o poder político do Brasil. Nós estamos presenciando o que é o judiciário domi-nado por forças conserva-doras. Estamos assistindo o que é a mídia dominada por nove famílias nes-sa aberração que ocorre hoje no Brasil. Então o po-der político é muito mais profundo do que apenas conquistar governos. E é preciso que a gente en-tenda o processo brasi-leiro e, nesse processo, como as mulheres vieram contribuindo, a sua parti-cipação política e conquis-ta de espaços”, explica.

Palestrantes: Laisy Moriére e Denise Carvalho.

“Onde os espaços são mais domina-dos por forças de-mocráticas e po-pulares, cresce a representação po-lítica das mulheres. Então, é importan-te para as mulheres terem os governos e os espaços con-quistados para a democracia e para

Segundo ela, as mulheres não vão conseguir lutar pela igualdade se não ocuparem todos os espaços democrá-ticos. “Existem experiên-cias no mundo inteiro de que, onde os espaços são mais dominados pelo po-der econômico, a presen-ça das mulheres é mais reduzida; onde os espa-ços são mais dominados por forças democráticas e populares, cresce a re-presentação política das mulheres. Então, é im-portante para as mulhe-res terem os governos e os espaços conquistados para a democracia e para reivindicações, bandeiras e lutas. Nós estamos vi-vendo um momento úni-co no Brasil, um momento em que essa oportunida-de se apresenta de forma muito concreta”. Para ela o Pro-grama Minha Casa, Mi-nha Vida, em que a casa é dada às mulheres, é um programa de maior em-poderamento no âmbi-to familiar e político das mulheres brasileiras, de grande alcance social; pois mudando o perfil patrimonial brasileiro, em suas dimensões de classe e de gênero, possibilita

também a mudança em profundidade do perfil político do país. De acor-do com ela, essas são pe-quenas medidas que fo-ram iniciadas no país, que governos anteriores não conseguiram enfrentar, pois representavam outro poder de classe. E acres-centa que os governos de esquerda iniciaram um processo de construção de uma nova nação que ainda não está concluído, precisa continuar e avan-çar mais. Ela relembra que, nas reivindicações de junho (referindo-se às grandes ma-nifestações que ocorreram em junho de 2013) não ha-via cartazes com pedido de mais empregos. “O governo Lula conseguiu enfrentar o problema da exclusão. Não está resolvido, mas

enfrentou! Foram 35 mi-lhões de brasileiros incluí-dos no processo produtivo. E isso tem um significado tremendo”, garante. Para ela as manifes-tações de junho apontaram uma crise de representativi-dade no Brasil. O povo foi pra rua, inicialmente pautado por um grave problema de mobili-dade urbana, principalmente

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em torno de pelo menos duas questões: a votação em lista, com lista alterna-da de mulheres e, a mais importante, o fim do fi-nanciamento privado de campanha no Brasil. “98% das campanhas são finan-ciadas por empresas que não apoiam simplesmente as candidaturas, mas, sim, investem nelas. É daí que se origina todo o processo de corrupção que tanto in-digna o povo brasileiro. Se quisermos combater a cor-rupção, consequentemente, precisamos de uma lei que proíba que empresas fi-nanciem campanhas. Além disso, o poder econômico em uma eleição arreben-ta com a possibilidade de disputa das mulheres e de todos os que representam os segmentos verdadeira-mente transformadores de nossa sociedade. Então, se as mulheres querem dividir o poder político, é muito importante nesse momen-to irmos para as ruas, dis-cutirmos qual reforma po-lítica queremos e lutarmos junto às demais entidades da sociedade civil para que a democracia, a equidade de gênero e raça, os direitos sexuais, direitos humanos, as conquistas sociais, os direitos dos trabalhadores, a inclusão social e o desen-volvimento soberano e pa-cífico não retrocedam no Brasil, e sim, avancem”.

nas capitais brasileiras. O estopim pode ter sido a exigência de uma refor-ma urbana. Mas, segundo Denise: “Existe uma ‘mãe de todas as reformas’: a REFORMA POLÍTICA. Sem ela não é possível realizar outras reformas, não com esse congresso que está aí, com esse poder que está instituído. A moral da histó-ria é essa: não tenho dúvida de que, quando se fala em reforma política: os seto-res conservadores vão para cima querendo acabar com a democracia conquistada pelo povo brasileiro. E olha que essa democracia não foi conquistada facilmen-te. Quantos morreram? Quantos foram torturados? Quanta luta tivemos que travar? Quanta rua tivemos que ocupar para chegar-mos onde estamos hoje? Hoje temos um governo que trata as manifestações numa mesa de conversa, é verdade, e isso é uma gran-de conquista. Esse espaço democrático conquistado no Brasil é muito precioso”. Ela alerta que, nesse momento em que há uma crise de representati-vidade, os setores conser-vadores propõem diminuir a democracia com voto dis-trital. Ela lembra que o voto

proporcional é uma conquis-ta democrática que possi-bilita o voto de opinião, as pessoas podem votar em candidatos que não são majoritários naquele dis-trito. Permite a formação de opinião política com base em projetos, onde o eleitor escolhe, por exem-plo, porque seu candidato ou candidata defende os direitos das mulheres, ou vota porque um outro, ou outra, defende a saúde e assim por diante. No siste-ma distrital não, divide-se territorialmente os eleitores e em cada pedacinho há uma campanha majoritária. “Nós sabemos o quanto é forte o poder econômico em uma campanha majo-ritária em que o candidato tem que ser o mais votado do distrito, e é muito mais complicado para as forças populares que representam a opinião, o voto por ideais, e não por interesses parti-culares, obterem sucesso num processo desses. Voto distrital é restrição demo-crática”, explica ela. Denise termina sua exposição dizendo que não se fará uma reforma política democrática se não tiver um grande movimento de rua como foi o DIRETAS JÁ. Que é necessário unificar as for-ças pogressistas e populares

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2ª Edição do Café com FeminismoO comportamento da sociedade após os novos

direitos na CLT conquistados pelas Trabalhadoras Domésticas

Em 23 de se-tembro de 2013, Delaíde Arantes, Ministra do Tribu-nal Superior do Trabalho, e Bia de Lima, Presidenta da Central Única dos Tra-balhadores e Trabalhado-ras de Goiás, ministraram palestras sobre O compor-tamento da sociedade após os novos direitos na CLT conquistados pelas Traba-lhadoras Domésticas.

A Resistência na Aprova-ção de Igualdade de Direi-tos Trabalhistas a Traba-

lhadores Domésticos é um Resquício da

Escravidão

Por Delaíde Arantes

A Ministra do TST inicia sua palestra di-zendo que não conseguiu entender o motivo de tão grande alarde duran-te o processo de votação e após a aprovação de igualdade de direitos tra-balhistas a trabalhadores domésticos urbanos e rurais. Houve boato que isso causaria desemprego em massa para esses tra-balhadores e que a justiça do trabalho ficaria pilha-da de processo, pois iriam todos para a justiça. Mas, segundo ela, são poucos

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Café com Feminismo - Direitos das Trabalhadoras Domésticas.

os processos de emprega-dos domésticos contra pa-trões. “Conversando com as pessoas, eu comecei a entender que determina-dos segmentos da socie-dade são habituados ao trabalho da empregada doméstica 12 horas por dia, 18 horas por dia, como se fosse normal. Às vezes não era que a pes-soa tinha má fé, colocava a empregada doméstica para trabalhar 12 horas, porque considerava na-tural, já que não havia uma jornada determi-nada para esse tipo de trabalhador”, acrescenta. Delaíde conta que,

“Então, eu hoje não te-nho receio de afirmar, que esse preconceito, que essa evolução qua-litativa tão lenta, essa in-visibilidade tão grande do trabalho doméstico é realmente um resquí-

oportunidade de con-tribuir, inclusive com su-gestões escritas. “Nós convivemos com tamanha exploração, com tamanho preconceito a uma cate-goria de trabalhadores que é tão importante. Eu costumo dizer que a em-pregada da minha casa é tão importante quanto os meus assessores”, afirma ela.

Para Delaíde esse tratamento é preconcei-tuoso e discriminatório. E diz com muito orgulho que empregada domés-tica foi a sua primeira profissão, que teve ou-tras profissões após, e considera que todas en-riqueceram a experiência que hoje tem para ser magistrada do Tribunal Superior do Trabalho. Ela termina sua fala relatan-do que, dos 27 Ministros do TST, 19 assinaram um manifesto contra a tercei-rização dos trabalhadores domésticos. “Estamos con-

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durante uma entrevista, alguém lhe disse que pa-garia a sua doméstica até R$ 1.500,00, contanto que ela trabalhasse das 05h e 30min até às 20h, e consi-derava isso normal. “Tenho muita clareza que essa re-volta da classe média alta, logo após a promulgação da emenda de 72 (Emenda na CLT que garante igualda-de de direitos trabalhistas a trabalhadores domésticos), nada mais é que o medo desse segmento da socie-dade perder privilégios e não poder mais manter esse regime que, sem medo de errar, é uma escravidão” afirma ela. Ela diz que o acrés-cimo financeiro para o patrão foi de 1% de FGTS e acres-centa que os trabalhadores domésticos possuíam uma única lei que lhes dava algum direito, sendo eles o Fundo de Garantia e o Seguro Desemprego, po-rém, este direito estava sujeito à concordância do empregador, mas ao final dos anos trabalhados não o tinha. Outra discussão no Judiciário, que durou de 1988 até 2006, foi a respei-to da negativa da licença maternidade, a qual dava garantia de emprego às

gestantes domésticas. A maioria dos tribunais tra-balhistas não reconhecia esse direito. Em 2006 foi aprovada uma lei dizendo que a doméstica gestan-te, assim como qualquer outra, também tem direi-to à licença maternidade. “Então, eu hoje não te-nho receio de afirmar que esse preconceito, que essa evolução qualitativa tão lenta, essa invisibilidade tão grande do trabalho doméstico é realmente um resquício da escravi-dão”, assegura Delaíde. De acordo com ela, ainda existe trabalho escravo em alta escala, as-sim como a exploração do trabalho infantil no Brasil, e que se tem implemen-tado várias políticas para retificação, mas ainda há muito que avançar. Só no trabalho doméstico exis-tem quase 300 mil casos de trabalhadores infantis na idade de 10 a 14 anos. A Ministra conta que uma comissão do Senado pe-diu a contribuição do Tribunal Superior do Tra-balho, porque na Câmara Federal havia uma pres-são muito grande a fim deaprovar o trabalho do- méstico em idade inferior a que a legislação brasilei-ra permite; e o TST teve a

É necessário que as trabalhadoras domésticas

conheçam os seus direitos para não serem exploradas.

“Nós convivemos com tamanha exploração, com tamanho pre-conceito a uma categoria de tra-balhadores que é tão importante. Eu costumo dizer que a empregada da minha casa é tão importante

Por Bia de Lima

Bia começou sua palestra declarando sobre a importância para o movi-mento sindical ter oportu-nidade de discutir política de gênero. Ela considera que eleger a Presidenta Dil-ma foi fundamental para o enfrentamento ao precon-ceito de gênero e garantir novas conquistas para as mulheres. E exemplifica que, ter a Ministra Delaíde Arantes, uma mulher de Goiás, em um cargo tão im-portante; assim como, em Goiânia, ser criada uma Se-cretaria Municipal de Políti-cas para as Mulheres, como resultados dessa conquista.Segundo ela, agora as mu-lheres estão perdendo a invisibilidade, estão assu-mindo lugares de destaque no poder público e nos mo-vimentos sociais. Ela diz que, no mo- vimento sindical, o embate de gênero também é feroz. Que o fato de mulheres de- sempenharem um bom

trabalho não foi o suficiente para ocuparem cargos de direção. Na realidade, foi necessário muitos debates na Central Única dos Traba-lhadores, até aprovar a pa-ridade nos cargos diretivos. “Fomos forjadas na luta, e na luta vamos cavando nos-sos espaços e com um dife-rencial: o da competência. Quando a Ministra Delaíde assumiu o TST, não foi por-que ela era de Goiás, foi por conta de sua competência. E é essa competência que leva as mulheres a ocupa-rem mais e mais cargos que envolvem poder de deci-são”, conclui ela. Segundo ela, mui-tas mulheres ainda estão no anonimato, vivem com medo, sofrem todos os tipos de violência como assédio moral, sexual e violência psicológica no local de trabalho, ou com o seu companhei-ro, e não denunciam. E acrescenta: “Quando lu-tamos para termos uma secretaria da mulher é

Fatinha, empregada doméstica, participando do debate.

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seguindo vencer o mito de que Judiciário só julga, pensa questões jurídicas e fica no gabinete. Acho isso muito bom e es-tou muito satisfeita com esses novos desafios”, acrescenta com orgulho.

“E isso, vocês não sabem o saldo positivo que deu para as mulheres do campo, foi muito grande. Não adianta fazer políti-ca só no gogó, é preciso ter condições e mecanis-mos que nos possibilitem avançar”, acrescenta. Bia considera que é neces-sária implementação de mais políticas públicas, tanto no Governo Federal,

“Quando lutamos para termos uma secretaria da mulher é justamente para atender essas mu-lheres que ainda não estão inclusas, é para que possamos discutir, propor, orientar e con-quistar novas políticas que venham referendar a importância de cada uma dessas mulheres”.

como nos demais gover-nos. Diz que as mulheres precisam ir para as ruas, cobrar por direitos iguais, combater o machismo; sobretudo, lutar pela pa-ridade em todas as ins-tâncias governamentais, nos sindicatos, entidades de classe e empresas pri-vadas. Ela afirma que a úl-tima grande conquista do movimento sindical é a de ter colocado as emprega-das domésticas na mes-ma condição de direitos das outras trabalhadoras. Demoraram décadas de discussão e mobilização para que elas tivessem o mesmo reconhecimento. “O trabalho doméstico tem tão pouco reconheci-mento, que até o serviço de casa realizado pelas mulheres que trabalha-ram fora não é reconhe-

Alba Valéria Lauria, Presidenta do CMDM na coordenação da mesa.

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justamente para atender essas mulheres que ainda não estão inclusas, é para que possamos discutir, propor, orientar e con-quistar novas políticas que venham referendar a importância de cada uma dessas mulheres”. Para ela as con-quistas das mulheres vêm avançando no campo e na cidade. Exemplifica que, até pouco tempo, as mu-lheres lutavam por uma parcela de terra, mas para recebê-la, precisavam pôr no nome do companhei-ro; quando se separavam, elas ficavam sem nada. O Governo Lula mudou a lei, as mulheres agora po-dem receber a terra em seu próprio nome. Tam-bém foi criado o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agri-cultura Familiar) e as mu-lheres podem ter acesso aos financiamentos.

Janira Miranda participa do debate.

cido como trabalho”, diz Bia. Ela lembra que até pouco tempo atrás, a desculpa das famílias era a de pegar uma menina “para criar” e essa me-nina virava uma escrava doméstica, e essa atitu-de era considerada como ajuda à menina, como se a família fosse de uma bondade imensa. Bia fala que os de-veres são sempre cobrados, em contrapartida, os direi-tos são quase sempre sone-gados. “Precisamos mais do que nunca conhecer quais são os nossos direitos, reu-nir as empregadas domésti-cas e conscientizá-las sobre

Informações adicionais

A lei, conhecida como PEC das Domésticas, en-trou em vigor no dia 3 de abril de 2013. A partir dessa data, a jornada máxima de trabalho das trabalhadoras doméstica é de 44 horas semanais, pagamento de hora extra, adicional noturno, seguro-desemprego e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

seus direitos para garan-tir trabalho decente para todas essas trabalhado-ras. Precisamos de mais gente nessa batalha, nessa luta!” convoca. Ela considera que é preciso propor-cionar às trabalhadoras domésticas formação que esclareça, dê cons-ciência crítica e dê co-ragem a elas de falar, de reivindicar, rompendo a barreira do medo.

“Quando conhecemos os nossos direitos, não somos enganadas, co nhecimento é poder. Humildade é uma coi-sa, submissão é outra. Cada um tem a tarefa extraordinária de saber de sua importância no seu espaço de atuação. Precisamos disso, pois senão teremos poucas guerreiras para muitas batalhas”

Mulheres e homens presentes no Café com Feminismo.22

“Quando conhecemos os nossos direitos, não somos enganadas, conhecimen-to é poder. Humildade é uma coisa, submissão é outra. Cada um tem a tarefa extraordinária de saber de sua impor-tância no seu espaço de atuação. Precisamos dis-so, pois senão teremos poucas guerreiras para muitas batalhas” con-clui.

3ª Edição do Café com Feminismo Servidora Pública em

Primeiro Lugar Em 31 de outu-bro de 2013, em home-nagem ao Dia do(a) Ser-vidor(a) Público(a) – 28/10 - o Café com Feminismo discorreu sobre o tema Servidora Pública em Pri-

meiro Lugar, com pales-tras da médica sanitarista e Presidenta do Instituto de Assistência à Saúde e Social dos Servidores Municipais de Goiânia (IMAS), Dra. Cristina La-

val, e a médica perita e co-ordenadora da Junta Mé-dica Municipal de Goiânia, Dra. Rosana Cristina de Oli-veira, que falaram sobre o adoecimento das servido-ras municipais.

Nós, mulheres precisamos, além de ocupar mais cargos de poder, incorporar os valores

femininos em nossas gestões.Por Cristina Laval

Cristina inicia sua palestra com um breve histórico sobre o ingresso das mulheres no serviço público que se deu a par-tir de 1917. Ela considera

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Café com Feminismo com: Dra. Cristina Laval e Dra. Rosana Cristina de Oliveira

que essa conquista foi importante para que as mulheres alcançassem os avanços hoje presentes. A partir dessa conquista, sur-giram as lutas por isonomia salarial entre homens e mu-lheres, pela regulamentação

do trabalho feminino, entre tantas outras. Ela comenta que na atualidade as mu-lheres representam 40% da mão de obra do Brasil, e no serviço público a porcenta-gem é um pouco maior. “E isso acontece porque, no

serviço público, o ingresso se dá através de concur-so público, o que iguala as oportunidades, até porque as mulheres têm mais anos de estudo que os homens, portanto, mais chances que eles de serem aprovadas em concurso”, complemen-ta ela. No entanto, ela lastima o fato de que, no que tange a cargos de dire-ção e de chefia, os números mudam: as mulheres estão em minoria em todas as es-feras públicas. Segundo ela, somente 13% de mulheres ocupam cargos de maiores ganhos. Cristina considera que isso se dá, porque é penoso para as mulheres acumularem as atividades pertinentes aos vários pa-péis sociais imputados à elas. O adoecimento para esta minoria de mulheres que assumem cargos de maior responsabilidade é uma realidade. A divisão do trabalho doméstico, do cui-dado com os membros da família, não são práticas co-muns na nossa sociedade. Soma-se a isto, o fato de que, apesar das mu-lheres serem tidas como mais competentes, mais honestas, mais confiáveis, cumpridoras das metas dentro dos prazos estabele-

cidos, há uma dificuldade por parte das mesmas: a im-plementação, em suas ges-tões, de um modelo inova-dor, com o olhar feminino. Desta forma, continuam admi-nistrando com a mesma lógica e perfil machista dos gestores homens, e isso faz com que elas sofram e adoeçam. “Nós temos dois desafios: o primeiro é uma mudança cultural, em que a sociedade como um todo discuta, participe e reconheça o espaço conquistado pela mu-lher; o segundo, é conseguir avanços na gestão pública por meio de legislação específica e normatizações pertinentes para que tenhamos oportu-nidades iguais. Precisamos também de políticas públicas que nos favoreçam, como instituições que propiciem o cuidado aos idosos, aos porta-dores de necessidades especiais e escola de tempo integral para nossos filhos”, diz ela.

com mulheres de países como Irlanda e Estados Unidos. “Nesses países, as mulheres que ocupam car-gos de direção são reconhe-cidas como boas gestoras, porque, além da compe-tência, dialogam mais com seus subordinados, ouvem mais, compartilham mais e expressam mais seus sen-timentos, se comparadas com os colegas do sexo masculino”. Assim, para ela, estas características que são inerentes à mulher, de-vem ser utilizadas a favor de uma administração me-lhor. “Precisamos avançar e incorporar os valores femi-ninos em nossas gestões”, afirma ela. Do ponto de vista da organização social, Cristi-na Laval considera que, para que avancemos para uma democracia plena, a maio-ria tem que estar represen-tada em todas as instâncias. E como as mulheres são a maioria da população deste país, é preciso que levan-tem a voz e queiram repre-sentatividade em todos os poderes. “Em Goiânia, hoje somos 11 mulheres que participam da administra-ção municipal em cargos de primeiro escalão. Isto é uma demonstração de um com-portamento democrático

“Precisamos avançar e incor-porar os valores

femininos em nossas ges-

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O perfil da mu-lher brasileira na gestão, de acordo com Cristina Laval, é diferente se comparado

Por Rosana Cristina de Oliveira

Rosana começa sua palestra falando sobre o quanto está entusiasmada por participar de uma ativi-dade que discute os proble-mas das mulheres, e diz que trata esse movimento por mulheridade, pois, segun-do ela, feminismo é uma expressão ultrapassada. Ela lamenta o fato de o sistema de computadores da Junta Médica Municipal não dis-criminar estatisticamente homens e mulheres. Então, só há dados sobre os servi-dores em geral. Segundo ela, o órgão que mais tem li-cenças médicas é a Secreta-ria Municipal de Educação e que a maioria das licenças são por causas psicológicas, transtornos mentais e emo-cionais, principalmente por depressão. “Nos atendi-mentos às professoras, percebe-se que a doença não é só física, encontra-

“Nos atendimentos às professoras, percebe-se que a doença não é só física, encontra-se uma mulher com o lar estru-turalmente abalado, por-que tem que trabalhar uma tripla jornada”. 25

avançado, sem preconcei-tos, porque se não fosse a vontade política desta ges-tão, grande parte desses cargos não estaria em nos-sas mãos”, conclui.

No dia 28 de outubro comemora-se o dia do funcionário público. A data foi instituída no governo do presidente Getúlio Vargas, através da criação do Conselho Federal do Serviço Público Civil, em 1937. Em 1938 foi fundado o Departamento Administrativo do Serviço Público do Brasil.

A falta de humanização no trabalho e a jornada tripla, fazem com que as professoras sejam a maioria das

servidoras a pedir licença médica.se uma mulher com o lar estruturalmente abalado, porque tem que trabalhar uma tripla jornada. O dia inteiro na escola; à noite, cuida dos trabalhos do-mésticos; não tem tem-po para cuidar dos filhos, causando vários proble-mas familiares; não tem mais desejo pelo marido. Ela esta cansada, esgota-da e nervosa e leva esta carga emocional para o trabalho que despenca na chefe”, diz ela. Ela acha que, na verdade, essa mulher é uma pessoa que introje-tou um modelo masculino de sucesso. Que a falta de humanização no trabalho faz com que essa mulher fique muito cansada, com dificuldade de realizar suas atividades. Então começa a pensar que os remédios controlados podem resol-ver a vida dela. “Precisamos de profissionais capazes de perceber o problema real

Informações adicionais

dessa mulher”, afirma ela. Ela convida as mu-lheres a usarem o olhar fe-minino para construir um coletivo melhor, onde ho-mens e mulheres possam partilhar o mesmo mer-cado de trabalho de uma forma mais digna. “A so-ciedade cobra muito mais da mulher. A mulher tem que ser uma supermulher, uma supermãe e no final do dia, tem que está bela para o seu marido, se não ele te troca por outra, e os homens estão cada vez mais omissos do papel que eles têm. Nós temos uma carga muito pesada, falta a igualdade moral, política e financeira”, conclui.

4ª Edição do Café com Feminismo Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres

Em 28 de novem-bro foi realizada a última edi-ção do Café com Feminismo de 2013. Em virtude do dia 25 de novembro (Dia Interna-

cional da Não Violência Contra a Mulher), o tema dessa edição foi Pelo Fim da Violência contra as Mu-lheres com palestras da

então Deputada Federal Mari-na Sant’Anna e da Vereado-ra de Goiânia Cristina Lopes Afonso.

Casos de violência contra as mulheres são bastante comuns e Goiânia é a segunda capital do Brasil com

maior índice de mulheres assassinadas.

Marina inicia sua palestra alertando para os índices de violência contra a mulher: “Quando ficamos sabendo, pela internet ou por amigos, de atos de vio-lência contra alguma mu-lher, nos assustamos como se fosse um caso excepcio-nal. Mas, infelizmente, esses

que assinaram um acordo, passaram a ter responsabi-lidades de não tratar a vio-lência contra a mulher como um problema da pessoa, ou da família, ou da vizinhan-ça, e sim, como questão de Estado. “Portanto, o Estado brasileiro precisa sem dúvi-da nenhuma, ter a estrutura necessária para recepcionar essa mulher que esta sendo

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Secretária da SMPM coordenando a mesa com as palestrantes Cristina Lopes e Marina Sant’Anna.

Por Marina Sant’Annacasos são bastante co-muns”, afirma. Ela diz que a vio-lência contra as mulheres não acontece só no Brasil, é mundial, e exemplifica com o fato de a ONU ter realizado um encontro para tratar dos direitos da mulher, especifica-mente sobre a violência. Nesse encontro, os países

no Brasil o número foi de 17,2% no mesmo período. Segundo avaliações do pró-prio estudo, os crimes são predominantemente domi-ciliares: 71% foram no do-micílio da vítima, em 43%, o assassino foi o parceiro ou ex-companheiro da vítima, 20% são os pais e 7,5% são os irmãos ou os filhos. No município de Formosa, no Estado de Goiás, temos um índice bastante alto em re-lação ao nacional e 3 vezes maior que o do Estado: 15 mulheres são assassinadas para cada 100 mil mulheres habitantes do município. Marina conclui que, com esses dados, faz-se ne-cessário modificar a legisla-ção e acrescenta que a CPMI já produziu 14 projetos com esse intuito. Um desses pro-jetos tem o objetivo de criar uma comissão no Congresso Nacional para monitorar os estados e os municípios ve-rificando se há modificação, ou não, no quadro de vio-lência contra as mulheres. A comissão deve acompanhar os processos de condenação do agressor até o veredicto final. Enquanto essa comis-são está sendo formada, criou-se uma subcomissão provisória que está acom-panhando e averiguando os

casos atuais. Ela diz que a vi-são da bancada de mulheres da Câmara Federal é que a violência continua altíssima e que precisa, de fato, de es-trutura, diálogos e responsa-bilizações permanentes. “O fato de a prefeitura ter uma secretaria especializada já nos anima bastante. Esse é um espaço que vai am-pliar o trabalho geral. Mas a grande maioria dos municí-pios não tem uma secreta-ria, não tem sequer uma ge-rência, então é preciso que se crie mais organismos de defesa das mulheres. Nós temos responsabilidades institucionais, penso que temos essa tarefa de não deixar que nossa atuação seja apenas quando se tem casos mais divulgados, mas que passamos a nos mobili-zar sempre”, propõe.

“Quando ficamos sa-bendo, pela internet ou por amigos, de atos de violência contra algu-ma mulher, nos assus-tamos como se fosse um caso excepcional. Mas, infelizmente, es-ses casos são bastante comuns”.

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ameaçada ou sofrendo real-mente de uma condição que vai além da ameaça, além das palavras e que vai para a mutilação”, completa. Segundo ela, o pro-blema, na maioria das vezes, é cultural. O homem apren- de com a família, com a so-ciedade, com os meios de co-municação que, homem que é homem tem que revidar, se levar um tapa na cara, ou seja, aprende a ser violento. Ela considera que uma das coisas que precisam ser mu-dadas é a educação sobre o que é ser homem e ser mu-lher. Ela afirma que os dados apurados da CPMI da violência contra as mulhe-res apontam que o Estado de Goiás só perde para o Es-pírito Santo, com a pior mé-dia do país no que se refere às taxas de feminícidio (ho-micídios femininos). Que, em números proporcio-nais, Goiânia é a segunda capital do Brasil com maior índice de mulheres assassi-nadas, ficando atrás apenas de Maceió. Segundo os dados que Marina apresenta, nos últimos 10 anos, em Goiás, houve um crescimento de mais de 100% de registro de feminicídio enquanto

A luta das mulheres vai além de partidos políticos, é uma luta por respeito,

igualdade e autonomia

Por Cristina Lopes

Cristina inicia sua fala dizendo que o fato de ser convidada para minis-trar palestra em uma se-cretaria de um Governo de oposição é uma prova de que a luta da mulher vai além de partido político, que as mulheres podem somar e fazer muito juntas para conseguir respeito e autonomia. “Tenho certeza o bem comum vai muito além dessa ‘pequeneza’ que é a briga, a vaidade par-tidária, dessa apropriação do que é público. Infeliz-mente, essa prática é uma realidade. Na câmara é uma realidade nítida”, acrescen-ta. Segundo ela, no seu primeiro mandato, já conseguiu aprovar cinco projetos de lei, a maioria deles a favor das mulhe-res. Como o projeto de Ouvidoria da Mulher, o Atestado Educação, que

confere o direito ao/à fun-cionário/a Público/a muni-cipal de, sendo chamado à escola para uma reunião sobre um problema especí-fico do filho ou da filha, ser dispensado/a do trabalho, com atestado assinado pela professora, coordenadora e/ou diretora. Ela também apresentou um projeto que dá o direito da presença de uma doula durante o parto, independente do direito de presença familiar. “É uma conquista. Apesar de esse projeto ainda está em se-gunda votação, na Mater-nidade Nascer Cidadão já é uma realidade”, come-mora. Outro projeto da vereadora aprovado é o da criminalização da discrimi-nação no serviço público. Ela garante que, no aten-dimento público do Muni-cípio de Goiânia, o servidor que cometer algum tipo de discriminação, seja por gê-nero, raça, religião, idade, vai ser criminalizado. Ela

também conseguiu apro-var a comenda Consuelo Nasser. “Consuelo Nasser é a fundadora do CEVAM, uma mulher admirável, uma jornalista combati-va, que hoje, dá nome a comenda”, explica. Essa co-menda é entregue no dia 8 de Março. Cada verea-dor/a tem o direito de indi-car uma mulher. Em 2013, quem recebeu a Comenda foi a transexual Beth Fer-nandes.

Angela Café, presença constante no Café com Feminismo.

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Dados sobre a Violência contra

a MulherPesquisa de opinião inédita, realizada pelo Data Popular e Instituto Patrícia Galvão, revelou que 7 em cada 10 entrevistados consideram que as brasileiras sofrem mais violência dentro de casa do que em espaços pú-blicos, sendo que metade avalia ainda que as mulhe-res se sentem de fato mais inseguras dentro da própria casa.

“Tenho certeza o bem comum vai muito além dessa ‘pequeneza’ que é a briga, a vaidade par-tidária, dessa apro-priação do que é pú-blico. Infelizmente, essa prática é uma realidade.”

Ieda Leal participando do debate.

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Então passei a fazer parte desse movi-mento. E com a ajuda da luta das mulheres, conse-guimos, pela primeira vez nesse país, condenar, no tribunal de júri, um réu rico, com bons anteceden-tes. Um médico que foi a júri popular e teve uma condenação exemplar, 21 anos. A pena caiu para 14 anos, porque ele era réu primário e tinha bons ante-cedentes. Mas ele cumpriu em regime fechado um terço dessa pena. É pou-co? É muito pouco, mas é muito para a legislação brasileira”, desabafa, refe-rindo-se ao crime que foi cometido contra ela em 1986 pelo seu então na-morado, quando teve 80% do seu corpo queimado.

Ela considera que apesar dos avanços, ain-da é preciso mais políticas públicas específicas para mulheres, mais delegacias da mulher e mais igual-dade de gênero. “Eu digo isso porque aprendi pela dor essa realidade. Eu não entendia a luta da mulher. Quando entrei na facul-dade, me perguntava: por que lutar só pela mulher? Infelizmente aprendi no meu corpo, na violên-cia vivida na minha vida.

Muitas pessoas prestigiaram a última edição do Café com Feminismo de 2013.

Agradecemos a todas as pessoas, mulheres e homens, que ajuda-ram a tornar o Café com Feminismo um evento de sucesso, assistindo às palestras, participando do debate, ajudando na divulgação. Agradecemos às palestrantes que aceitaram nosso convite sem nenhuma exigência e brilhantemente expuseram ideias, fatos e dados estatísticos. Todas e to-dos vocês contribuíram com a nossa causa: o empoderamento das mu-lheres. O Café com Feminismo será retomado a partir de março de 2014 e continua com eventos mensais. Pretendemos realizar, no mínimo, nove eventos neste ano. Convidamos a todas as mulheres, e os homens que defendem a igualdade de gênero, para participarem dessa formação política. Precisamos eliminar de vez o preconceito de gênero e a violência contra as mulheres. Precisamos de todas e todos nessa luta!

Considerações Finais

Participações durante as

edições do Café com Femismo

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Rua 16 A, nº 350, Setor Aeroporto, Goiânia-GO

CEP.: 74075-150, telefones: 3524-2933 / 3524-2934

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