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1 café com histórias 2016

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café comhistórias

2016

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apresentaçãoUma vez por mês, o anoitecer no coreto do distrito de Nova Soberbo ganha sons, cores e aromas especiais. Vozes de Terezinha, Celina, Neide, Elizabete, Maria, Nana, Edson, Vicente, Zé Victor e de tantos outros moradores, que se reúnem para tomar um belo café de coador, provar quitutes e quitandas deliciosos e prosear. Dali, ecoam histórias, casos que conectam as pessoas e reforçam suas origens.

O “Café com história”, como é carinhosamente conhecido o encontro, foi retomado este ano com apoio da Usina Hidrelétrica (UHE) Risoleta Neves. Entre uma prosa e outra, os participantes degustam pães, bolos, salgadinhos e doces levados pelos moradores. Para celebrar essa retomada, a UHE Risoleta Neves publica este livro de receitas, com algumas das delícias que foram servidas ao longo dos nove encontros realizados em 2015. Prepare o cafezinho e aprecie!

“Café coado na hora

adoçado a rapadura bem escura,

deve ser servido na tigela

de flores de três cores,

flores pegando fogo,

de tão quente...”

Carlos Drummond de Andrade

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Casal animadoMaria Terezinha de Lana Carrara, dona de casa, e Vicente Carraro Martins, aposentado, estão casados há 23 anos. Basta um bate-papo para perceber que a semelhança entre os dois começa pela simpatia e pela hospitalidade de quem convida para o café já com o bolo saindo do forno. E a conversa flui deliciosamente. Eles não perdem uma edição do ”Café com Histórias”. “Eu adoro uma boa prosa! No “Café” a hora passa ‘voando’ nem dá vontade de ir embora”, conta Terezinha.

Ela é a responsável por preparar os quitutes que o casal leva para o encontro. Cozinheira de mão cheia, ela acredita ter herdado da mãe, dona Maria Perpétua, a habilidade e o gosto pela culinária. “Ela adorava participar de tudo. Lembro dela ajudando nas festas antigas, da fogueira de São João. Era uma fartura”, conta.

O chips de banana (receita da família) é um dos quitutes que o casal já levou para os encontros. Além de fácil de fazer, o aperitivo, segundo Vicente, era muito comum no antigo distrito. “A batata era alimento caro enquanto a banana tinha em todos os quintais”, lembra.

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Ingredientes

Banana caturra verde (a quantidade desejada)

Óleo usado (não pode ser novo, caso contrário, a banana

gruda)

Sal a gosto

Como fazer

Fatiar a banana em pedaços finos, para ficar bem

semelhante aos chips e em tamanhos iguais.

Depois adicione sal na fruta.

Frite a banana em um óleo bem quente até ficar

levemente dourada e sirva.

chips de bananapor maria terezinha

Guarde o pó em recipiente opaco (lata de metal ou pote de plástico colorido):

vasilhas transparentes deixam a luz entrar e comprometem a qualidade do pó.

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Doce bolinho...As delicadas mãos da Isabela manuseiam, com eficiência, a colher de pau. Fã de doces, ela descobriu rapidamente que a medição dos ingredientes para esse tipo de receita é vital para nada desandar. Com apenas 12 anos, ela faz praticamente sozinha o bolinho de chuva que adoça a prosa da turma do “Café com história”. “Minha mãe me ajuda só na hora da fritura”, conta. Durante os encontros, a jovem fica atenta aos casos dos veteranos. “É legal ouvir sobre o passado deles, conhecer as brincadeiras de antigamente”.

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bolinho de chuvapor isabela

Ingredientes

2 xícaras farinha de trigo

2 ovos

2 colheres de açúcar

1 xícara e meia de leite

Como fazer

Misture todos os ingredientes para fazer uma

massa lisa e homogênea.

Em seguida, use uma colher para dividir em bolinhos.

Despeje-os em uma panela com óleo quente.

Depois que os bolinhos estiverem dourados, coloque-

os em um prato com papel toalha e polvilhe com

açúcar refinado ou canela.

Escalde a xícara antes de servir para conservar o calor por mais tempo.

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Segredo do pudimBárbara Santos, 11 anos, é outra jovem de Nova Soberbo que acompanha a mãe, Nilza Vieira Souto dos Santos, na cozinha e vai no “Café com história”. Também amante dos doces, em casa, ela já encara a missão de fazer um saboroso pudim, quase que por conta própria. Sua mãe auxilia só no instante de preparar a calda e conferir o forno. O segredo, conta Bárbara, é simples: “O pudim precisa estar frio para retirarmos da forma”.

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Ingredientes

1 lata de leite condensado

1 lata de leite (na mesma medida do leite condensado)

3 ovos

Para calda:

1 xícara de açúcar

2 xícaras de água

Como fazer

Derreta o açúcar até ficar dourado e depois adicione água. Quando a calda engrossar,

jogue-a em uma forma redonda para pudim. Reserve. Bata os ovos no liquidificador e

acrescente gradativamente os leites. Depois cubra a forma com essa mistura.

Coloque para assar em banho-maria por 45 minutos. Aguarde esfriar e desenforme.

pudimpor bárbara

O café moído na hora tem aroma e sabor mais intensos do que o pó.

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TransformaçãoÁgua mole em pedra dura tanto bate até que fura. Assim dona Celina de Silveira resume sua história na cozinha. “Comecei mais por insistência da família do que por gosto. Mas hoje me identifico e me transformo quando estou à beira do fogão à lenha. Adoro!”, confessa. Cozinheira de mão cheia, dona Celina faz todo tipo de receita. A sopa de galinha, o arroz com suã e o famoso chá de amendoim são os prediletos dos parentes.

Dica que vale ouro!

“Para a comida não grudar, basta passar um pouco de detergente na panela antes de levá-la ao fogão à lenha”, indica Celina.

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Chá de amendoimpor Celina

Ingredientes

500 g de amendoim torrado

1 caixa de Leite Condensado

1 litro de leite

Como fazer

Bata todos os ingredientes no liquidificador. O amendoim precisa

ficar bem moído.

Depois, leve ao forno e deixe até ferver.

Ao escolher o pó, procure uma marca com o selo ABIC na embalagem.

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Para não errar: 5, 10 e 15Na cozinha, a educadora Elizabete de Souza tem suas preferências: pães e doces. “É uma dupla infalível para agradar a turma do ‘Café com Histórias’”, revela. Uma das quitandas mais queridas é o brevidade, que ela aprendeu depois de participar de um bingo da igreja. “Sempre quis aprender a fazer e quando soube que a receita era super fácil, bastava guardar os números 5,10 e 15 por causa das medidas dos três ingredientes. Além de fácil de preparar, o bolo fica muito gostoso”, garante. Desde o início do ano a educadora participa dos encontros e vê no Café uma forma de criar e fortalecer as amizades no distrito.

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brevidadepor elizabete

Ingredientes:

5 ovos

10 colheres de açúcar

15 colheres de amido de milho (maisena)

Margarina (para untar)

Como fazer

Separe as gemas das claras.

Bata as claras em neve, depois acrescente as gemas, o açúcar e o

milho. Deixe bater por 20 minutos.

Unte uma forma com margarina.

Coloque a massa e leve ao forno por 20 minutos.

Use sempre água filtrada no preparo para realçar o sabor.

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Dupla na cozinhaNa casa de Edson Fernandes Cordeiro aposentado e marido da Maria Matilde de Souza, técnica em enfermagem, mais conhecida como Nana, a dupla se reveza na hora de cozinhar. Nos finais de semana, Edson assume o fogão. E foi em uma dessas trocas de bastão que surgiu um dos pratos mais queridos do “Café com Histórias”: a sopa de ervilha. Se a primeira à vista pode soar sem graça ou muito ‘natureba’, quem prova nota que julgou errado. “O segredo do sabor está no bacon, na linguiça e no músculo, todos temperados com salsinha, cebolinha e alho”, revela.

Já Nana é praticamente cozinheira profissional. Faz pratos salgados, doces e bolos de festa. Para o “Café”, ela não tem dúvidas e aposta sempre no seu tradicional bolo de milho com coco, que deixa um irresistível cheirinho no ar. Quem se atrasa para o bate-papo, acaba perdendo. Nana não esconde a dica que deixa a receita mais saborosa. “Colocar um pouquinho de óleo. Isso dá outra cara e deixa o bolo mais fofinho e aerado”.

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Sopa de ervilhaspor edson

Ingredientes

3 sacos de ervilha (500 gramas cada)

1 quilo de músculo

500 gramas de bacon

500 gramas linguiça calabresa

1 molho de salsinha

1 molho de cebolinha

2 cebolas

2 cabeças de alho

200 ml de óleo

1 pitada de sal

Como fazer

Coloque as ervilhas de molho em água filtrada.

Pique e tempere as carnes (músculo, bacon e linguiça) utilizando a salsinha, cebolinha

e o alho. Depois frite tudo. Coloque a ervilha para cozinhar.

Quando elas estiverem cozidas, misture à panela das carnes e adicione o óleo e o sal.

Não deixe a água ferver. O ponto certo é quando as bolhas começam

a se formar.

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Bolo de milho com coco

por maria matilde

Ingredientes

2 latas de milho verde

200 gramas de fubá

150 gramas de farinha de trigo

200 gramas de coco ralado

3 ovos

Como fazer

Faça uma mistura de milho e leite utilizando o liquidificador. Separe duas colheres de

margarina para untar a forma. Em uma batedeira, coloque os outros ingredientes e

depois adicione a mistura feita na primeira etapa. Bata até ter uma mistura homogênea.

Preaqueça o forno por cinco minutos. Com a forma untada, jogue a massa e leve ao

forno por 40 minutos.

Prefira o coador de papel. O de pano pode manter

resíduos de gordura.

300 ml de leite

2 colheres de sopa de fermento

200 ml de açúcar

250 gramas de margarina

50 ml de óleo

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A novataO último “Café com história” de 2015, realizado em dezembro, contou com um reforço pra lá de bem-vindo. A comerciante Márcia Adriana de Oliveira participou pela primeira vez, após o convite dos vizinhos. Ela levou o filho Igor e um biscoito frito com uma receita diferente, feito com polvilho e farinha de trigo. “O mais comum é utilizar apenas o primeiro, porém se misturar com a farinha o quitute fica mais macio”, observa.

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Ingredientes

2 ovos

1 kg de polvilho (doce ou azedo)

1 kg de farinha de trigo

1/2 xícara de açúcar

1 pitada de sal

1 colher de fermento

1 litro de leite

Como fazer

Misture todos os ingredientes exceto o leite em uma vasilha grande.

Adicione o leite aos poucos até ter uma massa homogênea.

Enrole no formato que preferir (oito, palitos, círculos).

Frite em gordura bem quente.

Escalde a xícara antes de servir para conservar o calor

por mais tempo.

Biscoito fritopor márcia

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Além dos sabores

E não é só com um bom café e quitutes que a turma do “Café com História” passa as noites. Os encontros são alimentados por diversos “causos”, a maior parte deles, da época do antigo distrito.

Sem querer

A corajosa dona Celina da Silveira se lembra de quando foi obrigada a usar a pequena garrucha que guardava em casa. Foi logo depois de perder o marido. Por três dias, ela estava incomodada com o barulho que vinha do lado de fora de residência. Cuidando dos filhos e netos, ela decidiu pegar a arma e atirar no breu. “Já era meia-noite e eu estava preocupada”. Na manhã seguinte, a surpresa: o tiro acertou a cadela, responsável pelo barulho. “Não atirei para matar, era para ser um susto e acabei acertando o ouvido dela em cheio”, lamenta.

Defensora dos animais

Neide Gomes já viveu várias histórias envolvendo animais que estavam prestes a serem vendidos pelos donos. Em um dos casos, uma vaca parecia pressentir a sentença de morte. Depois de anos produzindo leite, a queda no rendimento fez seu dono repassá-la a outro fazendeiro, responsável por transformar o bicho em suculentos bifes. No dia de fechar o negócio, o animal mugia tanto que chamou a atenção de algumas pessoas no distrito. “Eu fui lá, reclamei e chorei com comprador e vendedor, a coitada da vaca só queria ficar no lugar onde nasceu. Acho que ela sabia o que ia acontecer”, recorda. Após a interrupção, a venda foi cancelada. Tempos depois, foi a vez de uma égua que, depois de ficar doente e ser negociada pelo irmão de Neide, voltou para casa. “Abri a porteira e deixei entrar. Ela era tão bem tratada que certamente não ia se acostumar com outro lugar”.