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Café-com-Letras - Academia de Letras de Teófilo Otoni · Em 1979, foi presidente, em Teófilo Otoni, do Núcleo de Voluntariado da Legião ... Hilda Ottoni Porto Ramos ... Leuson

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Café-com-LetrasRevista Literária da Academia

de Letras de Teófilo Otoni

Nº 13 - DEZEMBRO/2015Publicação anual

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ACADEMIA DE LETRAS DE TEÓFILO OTONI

Fundada em 20 de dezembro de 2002Caixa Postal 103 – Teófilo Otoni – MG – 39800-970www.letrasto.com – Telefone: 33 [email protected][email protected]

DIRETORIA EXECUTIVAPresidente: Elisa Augusta de Andrade Farina

Vice-Presidente: Antônio Jorge de Lima GomesSecretário-Geral: Wilson Colares da Costa

Tesoureiro-Geral: Leuson Francisco da CruzPresidente Emérita: Amenaide Bandeira Rodrigues

CAFÉ-COM-LETRAS: REVISTA LITERÁRIA DA ACADEMIA DE LETRAS DE TEÓFILO OTONI

Publicação anual

Produção editorial: Prof. Wilson Colares da CostaDesenho da Capa: Camilo Antônio Lucas SilvaRevisão: Daniel AçoCapa: Matheus SerôaMontagem: Roberto AchtschinImpressão: Gráfica EXCLUSIVA

Ficha Catalográfica

Revista Literária Café-com-Letras – Ano 13 n.13Teófilo Otoni: Academia de Letras de Teófilo Otoni, 2015.Fundada em 20021. Literatura – Periódico. 2. Obras Literárias 1. Academia de Letras de Teófilo Otoni

Os conceitos emitidos nos textos desta edição são de inteira responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da

Academia de Letras de Teófilo Otoni.

ISSN 2317-7985

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Amenaide Bandeira RodriguesPresidente Emérita

Professora e pedagoga, Amenaide Bandeira Rodrigues é natural de Alcobaça/BA, radicada em Teófilo Otoni desde 1963 – onde se formou em Magistério no Colégio Mineiro (atual Escola Estadual Alfredo Sá), graduou-se em Letras em 1973 e, em Pedagogia, em 1978, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Teófilo Otoni – Fundação Educacional Nordeste Mineiro. Tem pós-graduação em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e curso de Língua Inglesa e Espanhola.

Lecionou Língua Portuguesa na Escola Municipal Dr. Sidônio Ottoni entre 1971 a 1980 e, na Escola Estadual Alfredo Sá, a partir de 1980 até aposentar-se, onde foi também vice-diretora. Lecionou de 1994 a 2000 Linguística, depois Língua Portuguesa e, por último, Prática de Ensino de Língua Portuguesa no curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Teófilo Otoni. Foi membro efetiva do Conselho Consultivo do Patrimônio Histórico e Cultural de Teófilo Otoni e coordenadora, de 2006 a 2013, do polo da Universidade Aberta do Brasil, na mesma cidade.

Amenaide Bandeira Rodrigues é uma das fundadoras da Academia de Letras de Teófilo Otoni, tendo sido eleita em mandatos sucessivos, de 2002 a 2014, para a presidência da entidade. Em 2013, foi homenageada com a Medalha de Mérito Cultural Dona Didinha, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à Academia de Letras e ao município na área da educação, na cultura e pela excepcional participação voluntária na revisão ortográfica de inúmeras obras literárias de autores teófilo-otonenses.

Ocupa a cadeira número 1 da Academia de Letras, tendo como patrono perpétuo Pedro de Paula Ottoni.

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Therezinha Melo Urbano de CarvalhoMagna Poetisa

Professora, escritora e poetisa, Therezinha Melo Urbano de Carvalho é natural de Araçuaí/MG, onde efetuou sua educação básica ao se graduar em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Fundação Educacional Nordeste Mineiro. Foi professora em diversas escolas em Araçuaí, sua terra natal, e em Teófilo Otoni, além de supervisora e coordenadora da Merenda Escolar da Superintendência Regional de Ensino de Teófilo Otoni.

Em 1979, foi presidente, em Teófilo Otoni, do Núcleo de Voluntariado da Legião Brasileira de Assistência (LBA). Em 1998, depois de se aposentar, começou a escrever histórias infantis. Frequentou cursos de Literatura como o curso virtual “Terapia da Palavra”. Atualmente, divide o seu tempo entre a cidade de Teófilo Otoni e a capital Belo Horizonte. É membro titular da Academia de Letras de Teófilo Otoni desde 26 de junho de 2013, onde ocupa a cadeira 25, tendo como patronesse perpétua a educadora Ione Lewicki Cunha Melo.

Therezinha Melo Urbano de Carvalho é autora dos livros Refúgio e Re-canto. Desde 2014, a sua produção também é resultado do trabalho desenvolvido no Espaço Tempo, em curso específico de Literatura realizado semanalmente na capital mineira. Em 2015, foi homenageada com a Medalha de Mérito Cultural Dona Didinha, em reconhecimento à sua caminhada como educadora e escritora.

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Sumário

Apresentação ............................................................................................................9Paz! - Isaura Caminhas Fasciani.............................................................................10Paz - Guiomar Sant’Anna Murta..............................................................................11Ofertório - Hilda Ottoni Porto Ramos.......................................................................12Paz, um sonho possível - Elisa Augusta de Andrade Farina. ..................................13Paz, a busca incessante - Therezinha Melo Urbano de Carvalho. .........................15Paz - Olegário Alfredo. ............................................................................................17O novo nome da paz - José Carlos Pimenta. ..........................................................18Onde está a paz - Décio de Moura Mallmith. ..........................................................20Paz: busca incessante - Sandra Ramalho de Oliveira. ...........................................21Caminhos de Paz - Aurineide Alencar de Freitas Oliveira. ......................................22Paz: um direito universal - Priscilla dos Santos Gomes. .........................................24A PAZ – busca incessante - José Moutinho dos Santos. ........................................25Futebol da paz - Isaias Lemos. ...............................................................................26Ensaio sobre a minha fluidez - Isadora Cristiana Alves da Silva.............................27Paz - Leandro Campos Alves. .................................................................................28A Paz - Anchieta Antunes. .......................................................................................29Paz em Serra Leoa - Roberto Gonçalves Enedino. ................................................30Por uma cultura de paz - Carlos Lúcio Gontijo. .......................................................31PAZ, busca incessante - Gilberto Ottoni Porto. .......................................................32Paz - Wilson Oliveira Jasa.......................................................................................34Sim, eu acredito! - Eugênio Maria Gomes...............................................................35Paz, procura-se! - Helena Selma Colen. .................................................................37Paz: necessidade imanente, conquista permanente - Marcos P. dos Santos. ........38Sempre em busca da paz - Arnaldo Pinto Júnior. ..................................................40Apaziguar - Charlene França. .................................................................................41Poema fraternidade - Maria Luciene. ......................................................................42Falando de Paz - José Márcio de Gouvea Agostini.................................................43Por um novo tempo - Humberto Luiz Salustiano Costa. .........................................45Semeando Paz - Jane Rossi. ..................................................................................46Pra que tanta violência? - Valter Bitencourt Júnior. .................................................47Futebol: a arte de fazer guerra - João Batista Vieira de Souza. ..............................49A busca pela paz - Cristina Carone. ........................................................................51Paz: sintonia e sincronismo - Jair Jr.. ......................................................................52O Amor é um incondicional aliado da Paz - Márcio Barbosa dos Reis. ..................54Apelo à paz - Leuson Francisso da Cruz. ...............................................................55Ando a procurar-te - Ailton Ferraz Silva. .................................................................56Paz inquieta - Vânia Rodrigues Calmon..................................................................57Filhos da esperança - Cláudio Hermínio. ................................................................59Buscando a paz - Olinto Campos Vieira. .................................................................60Depois da tormenta - Magali Barroso. .....................................................................61A Paz - Margareth Rafael. .......................................................................................62Paz fugaz - Antônio Jorge de Lima Gomes. ............................................................63

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Conexões para a felicidade - Marcos Coelho Cardoso. ..........................................65A Paideia e a Paz - Wenderson Cardoso. ...............................................................66A busca incessante pela paz - Wilson Ribeiro.........................................................67Sonhando pela paz - José Geraldo Silva. ...............................................................68A eterna paz - Eloisa Antunes Maciel. .....................................................................69Justiça e Paz Implorei - Lenival de Andrade. ..........................................................70Papa Francisco - Marilene Godinho. .......................................................................71As divisões de classe permanecem no centro das desigualdades econômicas - Gloriete Marques Alves Hilário. .........................................................73Meu grito de paz - Adão Wons. ...............................................................................74Ser uma estrela - Marrippe Faul Abeilice. ...............................................................75Paz: sonho palpável ou mera quimera? - Amalri Nascimento. ................................76Solidariedade - Alcione Sortica. ..............................................................................78Maternidade - Leandro Bertoldo Silva. ....................................................................79Semeando paz - Cristiano José Vieira. ...................................................................80A paz sorrateira - Gessimar Gomes de Oliveira. .....................................................81Um abandono para a paz - Rogério Lima Barbosa. ................................................82Paz na Terra entre os homens de boa vontade - Elmo Notélio. ..............................83Paz: busca incessante - Egmon Schaper Filho. ......................................................84Na paz do meu amor - Gervásio Horta....................................................................85Ensaio sobre a paz: busca incessante - Ivonette Santiago de Almeida. .................86PAZ: busca incessante! - Carmen Di Moraes. .........................................................88As mãos que já peguei - Hélio Pereira dos Santos. ................................................89Pax et Bono - Dimythryus Padinha..........................................................................91Paz: busca incessante - Rogessi de Araujo Mendes. .............................................93Flor da paz - Antônio Sérgio Torres Ferreira. ..........................................................95Pedido de paz - Ilda Maria Costa Brasil. .................................................................96Paz - Alfredo Nogueira Ferreira. ..............................................................................97In-verso - Fátima Sampaio. .....................................................................................98João Bobo - Sérgio Rodrigues Piranguense. ..........................................................99Buscar a paz - Francisco Martins Silva. ................................................................100Mulher, agente fundamental para a paz - Isabel Cristina Silva Vargas. ................101Mensagem de paz - Roberto Ferrari. ....................................................................102Semeando a paz - Marlene Campos Vieira. ..........................................................103Intolerância e intransigência - Altamir Freitas Braga. ............................................105Paz: quem busca encontra - Lucivalter Almeida dos Santos. ...............................107Ascensão - Antonia Aleixo Fernandes. ..................................................................108Os versos e nos reversos de cada um de nós! - Odenir Ferro..............................109Não aguentamos mais! - Marcelo de Oliveira Souza. ........................................... 111A loucura nossa de cada dia - Teresa Azevedo. ....................................................112Paz... Apenas uma palavra - Marly Rondan Pinto. ................................................113Academia de Letras: Histórico, patronos e quadro social .....................................118

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Apresentação

Falar de paz num mundo conturbado como o nosso, não é fácil e principalmente fazer um prefácio desta maravilhosa obra, onde autores da nossa terra deixaram suas ideias em poemas e textos permeados de esperanças mesmo com receios de não serem compreendidos.

Mas, a paz não foi feita para ser compreendida, mas sentida em nosso coração e no interior do nosso ser.

A paz é sentir e acreditar que Deus não desistiu de nós e procura nos mostrar que enquanto há homem que mata, há aquele que aspira a santidade torna-se modelo do bem.

Enquanto o fogo arrasa campos e montanhas, há jardins cultivados onde as flores podem brotar, florir e enfeitar nossos altares. Desviando nossos olhos da fumaça, podemos sentir a paz de pássaros cantando e colher frutos das árvores dos pomares de cujas mãos os plantaram.

Paz é ver o brilho das estrelas apontando-nos que para haver esperança de dias melhores teremos que provocar o mundo com nossas boas atitudes de seres humanos.

Como seríamos grandes se fôssemos como Deus nos quer!Realmente a paz é fruto de uma verdadeira vivência em Deus.Deus que faz a flor nascer e deixa a chuva cair e regar o chão de justos

e injustos.Deus que ainda concede o direito de fazer vir ao mundo as criancinhas, para

nos dar exemplo de perdão e que possamos aprender com a inocência delas.Paz é tudo isso. Mesmo que nossos olhos veem a guerra, nosso coração se

for contaminado pelo bem e pelo amor, levantará a mão para usar de solidariedade com os que sofrem.

Sejamos pois, úteis enquanto cumprimos nossa jornada na Terra, pois foi para isso que viemos. Deixemos pois, pegadas de passos de “PAZ” em nossos caminhos, que outros nos seguirão.

Parabéns a todos que nesta obra se eternizam na busca de mostrar o que é a PAZ...

Profª Iracema das Graças FerreiraSecretária Municipal de Educação de Teófilo Otoni

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Paz!...Isaura Caminhas Fasciani

Paz!...Se houver Paz nos laresE nas casas dos vizinhos

E nas casas dos vizinhos dos vizinhosHaverá Paz nas aldeiasHaverá Paz nas cidadesHaverá Paz nas nações

E haverá Paz – No mundo inteiro!Fácil... Fácil... Não acham?

E então?!Vamos brincar de “faz de conta”?

Vamos fechar os olhosPor alguns instantes?Por alguns instantes,

Fingir que é tudo verdadeE por alguns instantes

Sentir o frescorDo manto protetor

Da PazA nos envolver totalmente.

Por favor!Vamos por algum tempo

Num doce enlevoViver esse sonho!...Quem sabe um dia...

Quem sabe?Esse sonho

Tornar-se-á real?

FASCIANI, Isaura Caminhas (1916-2008). Paz!... In: Brindando à vida: Poemas. Teófilo Otoni: Gráfica Expresso, 2007, p. 43.

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PazGuiomar Sant’Anna Murta*

Seria o tema da paz necessidade constante de todos e privilégio de alguns instantes?

O torvelinho da vida penetra os cérebros e altera a capacidade de se extrair a essência do conceito. A paz é sonho para o contexto social e desejo interior que se frustra nos limites mais simples das múltiplas inquietações.

É a bênção maior que se deseja na vida a todos os recantos do planeta Terra, sendo que, na alegoria do Gênesis, já era castigo: a saída do Éden era o fim da paz na consciência e na convivência.

O conhecimento do bem e do mal gerou o primeiro conflito e este permanece como herança e condição do ser humano: a inquietação pelo pão, pela dor, pelo conhecimento do desconhecido. É tormento perene até que seja restabelecido com o renascimento em nova dimensão, a do “Reino que não é deste mundo”.

Reduzindo a questão à paz possível entre os homens, as comunidades, as culturas diferenciadas, as nações e as potências representativas têm muito que pensar, refletir e ponderar na tentativa de análise do tema.

A paz, em cada casa, é o primeiro desejo consciente ao se pensar a coexistência entre os membros do núcleo familiar, o qual compõe e se soma à rede comunitária que influencia e interfere na estrutura social. É na harmonia básica das relações fundamentais que se exercita a participação efetiva que as escolas formais e informais ampliam nas relações pacíficas coexistentes, a independer de ideias, valores e posturas diferenciadas. Saber dialogar e discutir posições, sem imposições radicais, é a condição que sustenta os mais variados grupos de amizade, de trabalho, de estudo, de esporte, de ação social, de partidos políticos, de representatividade conjuntural.

A convivência com as diferenças impulsiona o conhecimento de pontos de vista distintos, que mesmo na divergência somam dúvidas, ampliam questões, reflexões e renovadas posturas.

Todo bairro, qualquer espaço de educação e de cultura, toda igreja, toda escola, clube e agremiação, cada centro que agregue as pessoas se configura em campo de apoio e reforço de princípios e valores.

Ampliando a perspectiva, cada cidade se faz plantio e celeiro dos frutos da paz que não deve ser sinônimo de igualitarismo, mas suporte da democracia efetiva.

A dignidade de cada cidadão, a independer de papéis assumidos, funções e profissões, se manifestada e respeitada, é polo representativo nas relações interpessoais, sendo fato propício à maturação sem conflito.

A cada cidade, estado e país, em escala progressiva cabe a responsabilidade de participação no processo educativo da paz verdadeira. Sem essa assunção conjunta, a pretendida paz continuará sendo uma aspiração de todos só na vontade, a inspiração de muitos só em projetos, e apenas a utopia de cada um na realidade.

Que a PAZ possível deste momento esteja em nós e entre nós!

* Convidada de honra da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Professora universitária, assistente social aposentada, escritora e biógrafa.

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OfertórioHilda Ottoni Porto Ramos*

Aqui está um pão a ser repartido:na forma, igual a outro qualquer.

Mas eu o fiz diferenteaos elementos da terra:

trigo, água e salacrescentei.

Ao trigo, amor junteià água, perdão

e o sal, sabor, compreensão...Não poderia faltar fermento

à massa levedada,bem amassada,

deveria perder o pesoda desunião, discórdia, rancor...

Crescer, chegar ao ponto de assarser pão leve, saboroso.Ao forno para assá-lo

– fogo – luz que é tão velhanão envelhece

quando dá lugar à escuridãoacorda nova

no novo amanhã.Agora, mãos dadas,

corrente forte, segura,que nenhum elo se parta.

Terão resistência quando fundidosna forja da renúncia do amor próprio,

Não pode haver desunião.Ela corta,

sentido da jornada coletiva;fica mais pesado

fardo,que um sozinho carrega.

Peçamos a Deus que todos,todos os homens

Durmam, sono de cura;Para acordarem

Cantando o hino de Paz!

* Escritora, poetisa, pianista, musicista, artista plástica, convidada de honra e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 8.

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Paz, um sonho possívelElisa Augusta de Andrade Farina*

Em um mundo onde a paz é uma busca universal, muitas vezes indagamos por que a violência caminha a passos largos por nossas ruas, cidades e mundo a fora. As colunas dos jornais são preenchidas por relatos de assassinatos e mortes sem sentido. Brigas e contendas familiares prejudicam a “sacralidade do lar” e sufocam a tranquilidade de tantas vidas, disseminando a discórdia. O lugar onde deveria reinar a paz é transformado em verdadeiro campo de guerra, não dando para se distinguir o lado do inimigo.

Quando assistimos aos noticiários, abrimos os jornais ou falamos com as pessoas nas ruas, unânimes são os relatos de violência sofridos na própria pele ou por algum estranho ou conhecido. Podemos afirmar que vivemos um período de ausência de paz, de falta de segurança e de afeto. Vivemos o desamor sem fim...

Mas, afinal, o que é a paz? O dicionário Aurélio define a palavra paz como: 1) Ausência de guerra, lutas, violências ou perturbações sociais, ou conflitos entre pessoas. 2) Restabelecimento de relações amigáveis entre países beligerantes. 3) Sossego, serenidade.

No Antigo Testamento, o termo shalom se refere à ideia de ausência de conflitos (I Co 9; Pv 7:1). Entretanto, por toda a Bíblia o termo tem um significado mais amplo. Pode significar bem-estar do indivíduo, de grupos, de nações, prosperidade física e material (Sl 4:8; I Sm 20:42; Ml 2:5; Êx 18:23; Gn 15:15; Zc 8:19).

No Novo Testamento, a palavra paz tem seu sentido ampliado para a ideia de benignidade de Deus, por meio da morte de Cristo na cruz, em resgate dos pecados da humanidade (Lc 14:29; 19:42). Cristo ensinou a necessidade da paz (Mt 5:9; Jo 14:27) e a trouxe por meio de sua morte e ressurreição (Rm 15:3 ss).

A paz que as pessoas imaginam é a sensação que traz calma, tranquilidade, bem-estar, algum tipo de contentamento no dia a dia.

Talvez nos extraviemos do caminho que leva à paz e percebamos ser necessário parar, analisar, ponderar e refletir sobre os ensinamentos do Príncipe da Paz, incorporá-los aos nossos pensamentos e ações, viver a lei maior, caminhar por uma estrada mais elevada. Devemos procurar ser melhores discípulos de Cristo e propagar o amor que Ele apregoou como fórmula de alcançar a tão falada paz.

Preocupamo-nos em dar aos nossos filhos melhores condições materiais e nos esquecemos de que suas súplicas silenciosas são simplesmente para mais terem o nosso tempo. Preparamos-lhes e os conduzimos por caminhos que levam à realização profissional e material, mas o caminho que é capaz de conduzi-los a uma vida perene, instruindo-os nas admoestações do Senhor, em muitos casos não é nem sequer cogitada.

Parafraseando Élder Richard L. Evans: “Para encontrar a paz – a paz interior, a paz que ultrapassa o entendimento – os homens devem viver honestamente, amando e tratando os entes queridos com carinho, servindo e respeitando o próximo com paciência, com virtude, com fé e controle, com a certeza de que a vida é para aprender, servir, arrepender-se e progredir, devendo-se agradecer a Deus pelos

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princípios consagrados do arrependimento e do progresso, que é um caminho aberto a todos nós”.

A paz como sonhamos só reinará triunfante quando nos aperfeiçoarmos de acordo com o padrão ensinado pelo Senhor da Vida. Mas, imperfeitos que somos, insistimos em fazer pactos internacionais pela paz usando recursos astronômicos, que dariam para debelar a fome que assola os países emergentes. O que se gasta para o “estabelecimento da paz” é inimaginável.

As missões de paz contaram com o orçamento de US$ 7,8 bilhões no período de 2008-2009, quase o triplo do orçamento regular das Nações Unidas. Contudo, apesar de seu valor considerável, as operações de manutenção da paz representam apenas 0,5% dos gastos militares atuais (US$ 1,339 trilhão por ano aproximadamente). São também muito menos dispendiosas do que as missões similares levadas a cabo pelos Estados Unidos (SECURITY COUNCIL REPORT. Collective security and armament Regulation, Nova York: Security Council Report, 2008, p. 7). No exemplo citado dá para se avaliar o dispêndio gasto pela “manutenção da paz”, que, se fosse compreendida como deveria, seria a ponte para ligar as nações – como possível meio de otimização da atuação dos povos para o estabelecimento e a solução pacífica de conflitos armados.

Enquanto o homem não compreender que a paz deve primeiramente ser abrigada no íntimo de cada um, não terá possibilidade de vivenciá-la nem de disseminá-la entre os seus congêneres. É preciso descobrir que o mais alto grau de paz interior decorre da prática do amor e da compaixão. É preciso dar credibilidade à paz e trabalhar para que ela de fato seja uma constante nas nossas vidas.

* Professora universitária, escritora e presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 6.

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Paz, a busca incessanteTherezinha Melo Urbano de Carvalho*

O mundo inteiro busca a paz. É objetivo de todos os povos e de todos os habitantes de nosso planeta.

As cenas de violência de que o mundo inteiro tomou conhecimento, através de múltiplos meios de comunicação, estão levando as nações a buscarem, cada vez mais, a paz entre os homens. Quando, em pleno século XXI, grupos fundamentalistas decapitam homens que não participam do seu radicalismo, a humanidade sente que é chegado o tempo, o momento de lutar pela paz no mundo. Quando fábricas de armamentos cada vez mais potentes são construídas com o objetivo do poder do lucro – em vez de se construírem escolas para educar jovens e crianças –, e quando nações se defendem pelo poder das armas químicas e nucleares, eis que a humanidade não tem escolha: aterrorizada pelo perigo de seu extermínio, deve lutar e estimular a paz com força e vigor.

Paz não é vivência estática, é luta constante. “Paz é o caminho”, dizia Gandhi.A paz deve ser norteada pelo equilíbrio desta prática: “Precisamos uns dos

outros”. Nenhum povo é dono do poder nem da verdade. A paz deve ser debatida entre todas as nações, todas as pessoas, todas as escolas e nos grupos comunitários.

Diálogo é algo indispensável. E a sabedoria também o é, para se ouvir os problemas de todos os povos sempre com o lema da busca pela paz.

São muitos os obstáculos a vencer nesse caminho. Um deles é que, na política internacional, as nações não se entendem. Sem haver o equilíbrio dos poderes social, econômico e político entre Estados diferentes, não será possível implantar a paz. As nações, sejam as mais riscas, as mais pobres ou as radicais – que se fecham em suas normas de vida – precisam de direitos iguais, respeitando suas peculiaridades. Se os povos não respeitarem com bom senso as diferenças de cultura, educação, religião, situação econômica, dados sociais e geográficos, debalde será a busca pela paz da humanidade.

Com frequência se considera a paz no mundo uma utopia. O que faz a sua chama cada vez mais desejada e querida é o legado de homens aparentemente frágeis, sem nenhum poder que lhes houvesse defendido. Eles enfrentaram com força interior invejável os poderosos e levantaram a bandeira da não violência, do não matar, do sempre amar.

Os pacificadores são grandes líderes sem armas e exércitos. Com o coração repleto de amor, coragem, sede de liberdade e senso de justiça, os pacificadores deram e dão ao mundo a certeza de que vale a pena lutar pela paz de toda a humanidade. Mostraram que vale a pena sonhar, ter esperanças de que o homem, algum dia, vai acordar com a bendita paz.

Lembremos alguns grandes líderes da paz.Mahatma Gandhi: defendeu a não violência. Sem derramamento de sangue,

conseguiu a independência da Índia.Martin Luther King: “Eu tenho um sonho: a dignidade dos negros nos Estados

Unidos.” “Não se deve matar a sede da liberdade na taça do ódio.”Nelson Mandela: grande líder sul-africano. “Ninguém nasce odiando uma

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pessoa por sua cor de pele ou religião. Pessoas são ensinadas a odiar e, se elas são ensinadas a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.

Malala Yousafzai: jovem paquistanesa que sofreu um atentado a tiros por lutar pela educação de jovens e crianças.

Madre Teresa de Calcutá: religiosa católica de etnia albanesa, naturalizada indiana. Quando ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz, perguntaram-lhe: “O que podemos fazer a fim de promover a paz mundial?”. E ela respondeu: “Voltem para seus lares e amem suas famílias”.

Dalai Lama: líder budista tibetano. “Sem paz de espírito, é impossível a paz”.Desmond Tutu: líder religioso e pacifista sul-africano. “É preciso liberdade para

se chegar à paz.”Marechal Rondon: militar brasileiro, defensor do índio e do meio ambiente.

“Morrer se preciso for, matar jamais.”Dom Helder Câmara: líder católico brasileiro. “Caminhar é ir em busca de

metas. Significa mover-se para criar um mundo mais justo e humano.”Chico Xavier: líder espírita. “É necessário meditar no bem, é imprescindível

executá-lo.”Albert Schweitzer: médico e filósofo alemão. Recebeu o Prêmio Nobel da

Paz em 1952. “A paz não é inércia, é o trabalho corajoso que nasce no interior do homem.”

Irmã Dulce: freira baiana. “No coração de cada homem, por mais violento que seja, há sempre uma semente de amor prestes a brotar.”

São Francisco de Assis: frade italiano. “Senhor, fazei de mim instrumento de vossa Paz.”

Papa Francisco: atual papa da Igreja Católica. Papa é um dos títulos do Bispo de Roma e de Pontífice, isto é, aquele que constrói pontes com Deus entre os homens.

Terminando esta mensagem, busco em Jesus Cristo – o maior pacificador da História, o ser repleto de amor pela humanidade que ofereceu sua vida para a salvação dos homens – uma das bem-aventuranças bíblicas: “Bem-aventurados os pacificadores, pois eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5:9). “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.” (Mt 5:5)

Para o pacificador, o mundo é sua pátria.

* Educadora, poetisa e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 25.

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PazOlegário Alfredo*

O peso da angústia diáriaFaz com que eu abra o meu dicionário.

Folheio-o para a frente e para trásNa sensação de que uma mágica palavra

Ante meus olhos de pássaroVenha a me restituir a glória.

Penso na dor,Desejo a paz.

Mas onde andará a pazSe nem no meu dicionário

Para vê-la sou capaz?

Já sei:Como meu dicionário vai de A a Z

Apraz-me que o P (início da procura e também da paz)Com o veloz passar das páginas

Pule numa ilusão de óticaPara a frente do AFormando a paz.

Mas se o P trasladar o ZSerá assaz azar,

A paz não chegará já.

A paz interior, sempre presente no nosso serSe perde na percepção do dia a dia.

Saiba que a paz é o que você é.

* Escritor, cordelista, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel e da Academia de Letras de Teófilo Otoni, sendo o titular da cadeira 18.

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O novo nome da pazJosé Carlos Pimenta*

“Desenvolvimento é o novo nome da paz”. Este é o subtítulo que encima a conclusão da encíclica Populorum Progressio, de 26 de março de 1967, do bem-aventurado papa Paulo VI, versando sobre o desenvolvimento dos povos.

O Concílio Vaticano II, convocado e inaugurado pelo santo papa João XXIII em 11 de outubro de 1962, foi encerrado em 8 de dezembro de 1965 por seu sucessor, Paulo VI, que naquela carta anunciou a criação da Comissão Pontifícia Justiça e Paz, entre os organismos centrais da Igreja, atendendo ao propósito do Concílio de concretização da contribuição da Santa Sé para a grande causa dos povos em desenvolvimento – de forma a promover o progresso dos mais pobres e a favorecer a justiça social entre as nações.

Discorrendo sobre a caridade universal, advertiu que “o mundo está doente”, pontuando a falta de fraternidade entre os homens e os povos. Para concluir que “a paz não se reduz a uma ausência de guerra”, mas deve ser permanentemente construída na “busca de uma ordem querida por Deus, que traz consigo uma justiça mais perfeita entre os homens”.

Mas em meio à realização do Concílio, João XXIII já havia pregado sobre a paz na encíclica Pacem in terris, de 11 de abril de 1963. A paz de todos os povos, na base da verdade, justiça, caridade e liberdade, anseio de todos os tempos que não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus.

O tema da paz, que continua a vagar na mente dos que se preocupam com as desigualdades sociais, com a promoção da justiça, com o bem-estar do outro, vem à tona no ano comemorativo do cinquentenário do encerramento daquele marcante congresso ecumênico.

Laudato Si, de 24 de maio de 2015, é a segunda encíclica do papa Francisco sobre o cuidado da casa comum. Vem a se somar às outras duas encíclicas, ao evocar a necessidade de paz entre os homens. Recorda o “modelo de São Francisco”, propondo a sadia relação com a Criação “como dimensão da conversão integral da pessoa”. Com ênfase na ecologia, proclama que o bem comum – cuja promoção e defesa constituem a obrigação de toda a sociedade e do Estado – requer o respeito aos direitos fundamentais e inalienáveis da pessoa humana, “...orientados para seu desenvolvimento integral”.

Ensina ainda o pontífice jesuíta que na compreensão da espiritualidade, há de se alargar a “...compreensão da paz, que é muito mais do que a ausência de guerra”, retomando aqui a lúcida advertência de Paulo VI. A paz interior das pessoas pressupõe o cuidado com a ecologia e com o bem comum, “...que requer a paz social, isto é, a estabilidade e a segurança de uma certa ordem que não se realiza sem uma atenção particular à justiça distributiva, cuja violação gera sempre violência...”, concluiu.

Desenvolvimento sustentável, no conceito do relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU, em 1983, presidida pela então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brudtland. Crescimento econômico com respeito ao meio ambiente.

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À consideração os bolsões de pobreza no continente africano, no continente asiático, no Brasil, a carência e as más condições na educação, na saúde, em saneamento básico, o desemprego, em tantas regiões brasileiras, no vale do Jequitinhonha e no vale do Mucuri, com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nos Relatórios de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). E a situação dos movimentos migratórios nos países do primeiro mundo, na Europa. Refugiados africanos e outros procuram a Itália pela ilha de Lampedusa, mortos ao atravessarem o Mediterrâneo em barcos precários. O choro de uma adolescente palestina, vinda do Líbano, diante da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, em reação à falta de perspectiva para os asilados, anunciada pelo governo alemão. Refugiados, 71 pessoas, possivelmente sírios, mortos asfixiados em um caminhão encontrado na fronteira da Hungria com a Áustria. Todos à busca de melhores condições e de oportunidades.

Shalom Adonai, a saudação do povo hebreu. Pax et Bonum, o adágio de São Francisco.Entre tantos apóstolos da paz no mundo, em todos os tempos, duas mulheres

que seguiram admiravelmente o “modelo de São Francisco”. As beatas Teresa de Calcutá e Dulce dos Pobres, o Anjo Bom da Bahia, que na vida encontraram a “verdadeira felicidade” no “amor generoso, no amor que aumenta à medida que é repartido” na percepcção de Thomas Merton: Só amor dado é amor guardado.

* Doutor em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor titular de Direito Constitucional da Faculdade de Direito Padre Arnaldo Janssen – da Sociedade do Verbo Divino. Subprocurador-Geral da República. Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 16.

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Onde está a pazDécio de Moura Mallmith*

Onde está a paz?Nos olhos alegres das crianças

ou na altiva bandeira brancatremulando sem sentido, festiva,

na mão moribunda de um soldado?

Onde está a paz?Na névoa de uma frígida manhã

ou na brisa leve e melodiosade um melancólico entardecer?

Onde está a paz?A paz não está em lugar nenhum

e está em todos os lugares.A paz está em nós,

na forma como olhamosou percebemos o mundo.

* Físico e Bacharel em Direito. Especialista em Psicopedagogia e em Gestão de Segurança Pública. Mestre em Sensoriamente Remoto. Perito criminalístico aposentado. Reside em Porto Alegre/RS e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Paz: busca incessanteSandra Ramalho de Oliveira*

Vivemos numa época em que estamos mergulhados em fatos assustadores e perigosos.

É urgente fazermos uma síntese dos acontecimentos e promovermos o aprendizado coletivo, a fim de despertar a nossa consciência adormecida.

Há passos que podem nos levar a um estado de percepção e abertura para um novo modo de viver. O primeiro é despertar o nosso coração e a mente em busca do sentido real da vida.

O mundo moderno tem provocado um verdadeiro caos na natureza e no ser humano. É urgente refrear esse comportamento através de nossa conscientização individual.

Cabe-nos pesquisar a grandiosidade da criação do ser humano. A contemplação sobre o Universo e o ser humano nos faz refletir acerca das bênçãos que recebemos, o que sem dúvida nos conduz à verdadeira sabedoria e à paz de espírito.

Diz um grande pensador: “A sabedoria não se acha em livros, mas sim na arte de observação de cada detalhe da vida”.

A sabedoria nos leva à paz, sendo a paz a fonte da felicidade. A paz lhe permitirá buscar o amor e a compaixão, virtudes que iluminam seu

interior. Abrirá as portas para um mundo melhor e mais fraterno. Comece por ouvir seu coração, seus pensamentos, seus sentimentos e medite.

Essa é a maneira de encontrar a paz e a plenitude. A meditação é uma ferramenta muito poderosa para curar o corpo, a mente

e o espírito. “Meditar é o melhor presente que você pode se dar”. A meditação suscita a iluminação e, se sua mente está iluminada, ela irradia paz e essa energia incandescente se reflete em todos os que lhe rodeiam.

Essa é a maneira sábia de você ajudar o mundo a se reerguer, provocando mudanças de paradigma e propiciando uma vida tranquila e feliz.

Seja, portanto, uma fonte de luz e com certeza a paz reinará soberana em seu coração.

* Assistente social, escritora e artista plástica, membro da Academia Caratinguense de Letras e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Caminhos de PazAurineide Alencar de Freitas Oliveira*

Não existe ser na TerraQue não deseje a paz!Não é um desejo novo,Isso muito tempo faz!Independente de nação,De cor ou religião,Idade, gênero ou riqueza!Tecnologia ou habilidade,O que todos querem de verdadeÉ se encontrar com certeza!

Para isso se tem adotadoMuitos caminhos diferentes!Alguns acumulam bens,Riquezas materiais!Outros vão buscar nas drogasAlgo que lhes satisfaz;Outros, na meditação!Na música ou na carreira– até mesmo em brincadeira –Buscam realização!

O avanço tecnológicoNos leva a acreditar!Em uma paz ilusóriaQue ninguém consegue achar!Basta ver atualmenteQuanta gente tem doenteCom a tal da depressão!A estatística constatouQue o suicídio aumentou,Confundindo a nação!

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Para quem está procurandoEsta paz interior,Só existe um caminho:Seja lá qual for!É o da responsabilidade:Assim traz felicidadeE leva para perto de Deus!Da relação com a famíliaE do que você partilhaCom os outros e com os seus!

*Escritora, professora readaptada na Escola Estadual Ramona da Silva Pedroso. Reside em Dourados/MS e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Paz: um direito universalPriscilla dos Santos Gomes*

Viver a cultura da paz é acercar-se de um estado de equilíbrio e de entendimento singular em sintonia com todos os indivíduos, devendo o respeito ser obtido pela aceitação das diferenças, pela tolerância e pelos conflitos resolvidos por meio do diálogo.

Os direitos individuais devem ser universalmente respeitados e suas vozes devem ser ouvidas. Assim, todos devem alcançar o seu ponto mais alto de serenidade sem haver tensão social, pois a paz é sempre possível e a violência é evitável.

A paz é um tema que engloba um direito eminentemente pessoal e universal da humanidade, não eliminando nenhum indivíduo. Cada qual só poderá fazer o seu caminho de forma completa quando se assentarem, para cada um, valores como o despojamento, a singeleza e o respeito profundo pelo outro à luz de um sentimento de humanidade comum.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 reconhece a dignidade inerente a todos os membros da família humana e seus direitos iguais inalienáveis, que estão fundamentados na liberdade, na justiça e na paz. As Nações Unidas proclamaram a Declaração sobre o Direito dos Povos à Paz com o objetivo prioritário de conservar a universalidade da paz e a segurança internacional.

Em 2000, a Organização das Nações Unidas promulgou o “Ano Internacional da Cultura da Paz”, pela Resolução 52/15 de 20 de novembro de 1997, apresentando uma Declaração e o Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz com um olhar universal sobre o futuro. Em 6 de outubro de 1999 foi aprovada a Resolução 53/243, instituindo a Declaração e o Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz, sendo disposto, no Art. 1º, a seguinte definição: “Uma cultura de paz é um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida”.

Pensar a paz é basilar para que as sociedades assumam como sua a responsabilidade de prevenção de conflitos, indo ao encontro de um amplo conceito de cidadania e destacando a necessidade de se repensar o papel dos próprios Estados soberanos no mundo globalizado. Qualquer estratégia de longo prazo para a prevenção da recorrência a um conflito necessita ser aprofundada na criação de culturas de paz.

Contudo, a paz é o conjunto moral e cultural que só pode ser conseguida por meio do comportamento quotidiano. A PAZ deve, porém, corresponder a uma consciência universal firmada numa perspectiva de cidadania abrangida pelo Estado de Bem-Estar Social sustentado pela democracia, a diversidade, a dignidade, o respeito aos direitos humanos e com base no Estado de Direito.

A cultura da paz supõe a conjuntura de uma dinâmica de transformação e conversão.

* Doutoranda em Sociologia, mestre em Ciências da Educação, especialista em Gestão Educacional e Bacharel em Direito. Leciona nas áreas de Direito e Docência do Ensino Superior.

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A PAZ – busca incessanteJosé Moutinho dos Santos*

A PAZ (do latim, PACE – substantivo feminino).Ela subsistirá somente em não havendo a presença de violências e perturbações sociais.

Só assim vingará a “tranquilidade pública”: com a concórdia, a harmonia, o respeito às leis – que asseguram a paza comunidade, sem conflitos entre as pessoas, tranquilidade da alma. A paz absoluta reina principalmente nos países sem guerras (sejam internas ou externas), ou quando os governantes e as autoridades em geral propiciam ao povo (governados versus comandados de seu país) os direitos e garantias à sobrevivência com saúde, segurança, educação, a equidade e o reconhecimento do direito de cada um: igualdade, justiça e retidão, sem dúvida sendo precursores do sossego e da paz.

A palavra paz, considerando sua abrangência no mundo das coisas, a natureza e os seres (em especial os seres humanos), as ocasiões e as circunstâncias em que se manifesta, podemos imaginá-la como influenciada pela Filosofia, de origem grega. Esta tem como fim básico o estudo geral sobre a natureza de todas as coisas, suas relações entre si e o conjunto de doutrinas de uma escola ou época, à luz da sabedoria e da razão. Ademais, conforme a filosofia de Aristóteles, este ensinou a arte de viver. A vida – dizia uma excelente máxima grega – é um dom da natureza; mas o viver bem é um dom da sabedoria. Daí a imensa manifestação dela na PAZ e na vida das pessoas nas mais variadas formas de tranquilidade para concretizá-la, o que cremos justificar esta premissa. Assim, vislumbra-se neste conjunto que os governantes e demais autoridades e a sociedade civil, imbuídos de retidão, de ética e de equidade, estariam produzindo suficientemente a segurança, a saúde, a educação, o trabalho e o lazer. E tudo mais que possa gerar a tranquilidade e o bem-estar comum e a “paz de espírito” estaria agindo com sabedoria e gerando a PAZ – uma busca incessante.

Em tempo: “A multidão é melhor juiz do que um só indivíduo, qualquer que ele seja. É preciso, pois, admitir em princípio que as ações honestas e virtuosas, e não só a vida comum, são o escopo da sociedade política” (Aristóteles.). E outra: “Terrível calamidade é a injustiça que tem armas na mão”. Às vezes, uma caneta e um papel constituem uma perigosa arma. O conservador Aristóteles, frente à confusão e ao desastre da democracia ateniense, desejava, como intelectual típico, a ordem, a segurança e a paz. Para ele, o tempo não era extravagância política.

Paz, meu Deus! Luz pela paz!Que límpido seja o que se nos traz

Do crepúsculo, do além, a sabedoria.Livrai-nos dos “anjos maus” – dos abutres,Que corrompem, destroem e tudo nutrem;

avalanche d’ação criminosa e doentia.

(quarta estrofe do poema Rasgado Despudor – deste autor)

Por fim, abramos os braços simbolizando a cruz e lembrem-se de que nela Cristo assim morreu, na PAZ, para nos salvar.

* Advogado, escritor e poeta. Reside em Belo Horizonte/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Futebol da pazIsaias Lemos*

IÉ bola rolando nos gramadosTodos querendo um gol fazerMas o gol que queremos ver

É a paz nos estádios prevalecer

IIChuta daqui, chuta dali

Os estádios cheios a aplaudirE a bola, coitada, sempre a fugir

Daqueles que não querem vê-la sorrir

IIIAos domingos vamos ao campo

Para ver um jogo de futebolMas com tanta violência à vista

Não vale a pena arriscar-se tanto

IVA paz todos nós queremos ter e ver

A qual custo poderemos conquistá-la?Para tê-la e pro nosso time torcer

Sairemos de casa com a paz a oferecer

VPor aqui eu vou ficando

Com os amigos pro campo indoCom a paz reinando em campo

Esperando ver um espetáculo lindo.

* Professor de Educação Física aposentado e Bacharel em Direito.

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Ensaio sobre a minha fluidezIsadora Cristiana Alves da Silva*

Dos sonhos que brotaram em mim, cuidei para que tocassem o céu, desafiei minhas raízes, segui contra o vento para conquistar um tesouro chamado “felicidade”. Meus desejos sempre foram infinitos, distantes dos meus olhos e do alcance de minhas mãos. Um querer cresceu em mim sufocando os meus sentidos, esqueci que a fé era meu sustento, que o coração era meu alento, que, apesar do caos de agora, já senti paz outrora. Mente e coração, sonhos e metas em oposição. Consumo, obsessão, poder. O ter, o ser e o querer, confundindo a minha razão.

Tornei-me escravo do futuro, apaguei o presente, mas permaneci preso ao passado. Fiz dos sentimentos moeda de troca, congelei os batimentos, as lembranças que me fragilizavam por dentro. Era prejuízo amar! Realizei muitos planos, vivi muito em poucos anos, usei todas as forças pra chegar ao topo, mas encontrei um mundo oco. Do grande palco ao velho sobrado.

Do meu anonimato, hoje, assisto ao grande espetáculo. Tudo que conquistei entre os meus dedos se desfez... Sinto-me perdido de vez, em um mundo que não permite oração, exige ação. Não quero mais terno, fama nem grana, quero apenas poder me sentar na grama e, no descuidar das horas, poder brincar como uma criança... Quero distância das fórmulas, da influência de inquestionáveis ciências. Não quero os milhões dos nobres, desejo antes a valiosa simplicidade de um pobre, a sabedoria, o dom da palavra do contador de histórias.

Depois que máquina me tornei, na engrenagem desta vida não me encontrei. Mas, nesses instantes que ainda achei, quero agora apenas poder voltar àquela poesia primeira, para traçar os versos de outra maneira e em versos brancos ser feliz uma vida inteira.

Quero poder buscar a cada dia, na simplicidade, na serenidade a paz da minha alma. Quero procurar no ventre do meu espírito a ternura que deixei para trás, os sonhos que me fazem respirar os resquícios de humanidade... Quero sorrir por prazer e não por dever, dormir e acordar sem o pesar de não poder fracassar. Não quero mais glória, quero apenas ser eu mesmo da minha maneira simplória.

Dei-me papel e lápis... Deixe-me escrever a minha história! Resgatar a minha memória, desvelar a paz nas entrelinhas, encontrar sentido, razões para ser um pouco feliz a cada dia.

* Estudante do curso de Letras e suas literaturas na Universidade de Pernambuco. Pesquisadora do Programa de Iniciação à Docência – PIRID/CAPES, estagiária da Coordenação Setorial de Graduação – UPE/Campus Garanhuns. É membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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PazLeandro Campos Alves*

Paz...Tão almejada paz...

Como podemos encontrar tal sentimento,que buscamos a todo o momento,que guardo em meu pensamento?

Sois sublime e virtuosa,mãe de todos os outros sentimentos,

conjunto completo e inerente,dá-nos prazeres nobres,

sois êxtase,e nos traz conforto fundamental

de sua face matriarcal.

Paz...Funde-se em nossa mente sua lividez,

retirando de nossa face a rigidezexpressa no olhar hilariante da cólera,

ríspido e conturbado,do homem desesperado.

Paz...Sois mãe de todos os sentimentos,

soberana e altiva.Tu és o seio acolhedorde seus filhos e filhas,

acolhes a tranquilidade e o amorcom serenidade e amizade,

transforma o ódio em cumplicidade.

Paz...Protetora,provedora.

Proteges tuas crias,pois, se feres o amor,prova logo a sua dor.

Na fuga da tranquilidade,mostra-nos a tua hostilidade.

No perder o prazer,traz-nos o malquerer.

Oh! Paz impávida da guerra de meu nascer!Encontra em ti o meu bem-querer.

* Escritor e poeta, reside em Caxambu/MG. É membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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A PazAnchieta Antunes*

A paz é uma flâmula, uma cor, um brado silencioso que conclama os bons corações a rechaçarem as hordas insurretas que pugnam pela anarquia.

A paz une os oceanos para repelir algumas vagas isoladas que tentam proclamar a desordem, o distúrbio, a vingança dos vencidos.

A paz carrega em sua garganta o silêncio dos abismos líquidos da vastidão dos mares desconhecidos.

A paz transcende qualquer devastação passageira dos homens que se julgam onipotentes e eternos.

A paz é um olhar passageiro, porém profundo nos olhos da humanidade carente de uma palavra amena, constante, permanente, eterna.

A paz não tem corpo físico, mas sim essência. Essência com fragrância de flores fecundas que espargem serenidade e constância.

A paz é estado de espírito adormecido nos braços da benevolência, nos volteios das nuvens da primavera, é aquela que transforma deserto em jardim.

A paz é um dilúvio de emoções que transborda cada vez que afagamos a órbita da guerra vencida pelo amor, pela compaixão e pela benevolência.

A paz é um caminho sereno sob as sombras de seculares árvores que frutificam a consciência pacata na primavera do entendimento, da compreensão e da paixão pela vida sob o farol da justiça.

A paz caminha de mãos dadas com o livre-arbítrio ofertado pelo Supremo Senhor de todos os tempos.

A paz mora nos corações mansos, caritativos e sufragados pelas emoções. A paz não é só uma conquista, mas uma responsabilidade.

* Escritor, poeta e membro ativo do Círculo Universal dos Embaixadores da Paz (Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix – France & Suisse). Reside em Gravatá/PE e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Paz em Serra Leoa Roberto Gonçalves Enedino*

Cortaram-lhes os braços,cortaram-lhes as pernas,

atiraram nos seus corpos e queimaramtodos os seus bens.

Mas, ainda assim, são todos felizes,pois não lhes ceifaram a alma,

não lhes tiraram a razão de viver.Com a alegria estampada no rosto,

ainda persistem em mostrar o sorrisoque avança pelas fronteiras do terror,

toda vez que a lembrança e o pensamentofazem recordar as tiranias e as guerras

em busca do poder.Cortaram-lhes os braços,cortaram-lhes as pernas,ainda assim eles cantam,ainda assim eles correm

em busca da razão e de querer um país livre,em busca de um sonho distante que

não se deixa morrer,em busca da cura da alma que se

cansou de sofrer...Deus salve Serra Leoa,

na incessante busca da tua PAZ de viver!!!

* Bacharel em Ciências Contábeis. Reside em Nanuque/MG.

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Por uma cultura de pazCarlos Lúcio Gontijo*

A busca incessante pela paz exige programas centralizados na educação infantojuvenil, que é o alicerce no qual podemos assentar toda a estrutura capaz de semear a indispensável mudança de mentalidade. Mais do que nunca, fortifica-se como atual a sentença de Protágoras (filósofo grego que morreu no ano 410 a.C., aos 70 anos), na qual ele afirma: “Nação que não cuida da criança é obrigada a castigar o adulto”. Ou seja, o governante que não investe na educação de crianças e adolescentes se verá obrigado a erguer presídios.

Um dos maiores erros da organização educacional brasileira advém do fato de se apresentar desatrelada da cultura, que tem a capacidade de dar sensibilidade ao ser humano ao mesmo tempo em que lhe proporciona sentido e orientação de como usar e colocar em prática o conteúdo do conhecimento administrado pelo sistema educacional. É por intermédio da integração entre a educação e a cultura que podemos formar cidadãos conscientes da necessidade de se respeitar e amar o próximo, como maneira de se construir uma convivência social harmônica e, portanto, distante do quadro de discórdia e violência que hoje assistimos no Brasil e mundo afora.

O preço da paz é a incessante vigília e a constante busca pelo fim da desigualdade social, que tem seu início na falta de acesso à educação de qualidade. E isso ocorre desde a creche, onde acontecem os primeiros estímulos à geração de um ser humano disposto a procurar se libertar por meio dos mecanismos de formação educacional, ferramenta que, aliada à cultura, oferece a cada cidadão a oportunidade de se preparar para ser um indivíduo independente e capaz de cuidar de si mesmo.

Ao mesmo tempo, deve-se ter em mente a visão plena de que é deve ser incessante a busca pelo estabelecimento de uma cultura de paz, a fim de que o nosso torrão natal e o próprio planeta Terra sejam um lugar em condições de abrigar toda a raça humana. A força deste abrigo não pode agrupar qualquer preconceito nem discriminação, fazendo das diversidades de gênero, cor, ideologia e religião uma fonte de aprendizado e aperfeiçoamento, tanto da intelectualidade quanto do espírito que nos habita.

* Poeta, escritor e jornalista aposentado – Administra o site “Flanelinha da Palavra”, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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PAZ, busca incessante Gilberto Ottoni Porto*

Paz não é algo abstrato. É um estado de equilíbrio dinâmico que se expressa numa ordem social fundada na justiça e na solidariedade, possibilitando o trabalho construtivo e dignificante a todos.

Paz é vida de qualidade com educação para a construção do bem comum, que começa na família, passa pela creche, depois a pré-escola, a escola de tempo integral, a escola técnica e a universidade de qualidade, com professores bem preparados e ensinando com alegria e prazer.

Paz é morar numa boa casa, com espaço suficiente a todos, arejada e bem iluminada, com boas instalações, situada em local sadio, livre de inundações e desmoronamentos, numa rua bem pavimentada e integrada à malha urbana com fácil escoamento de tráfego. É contar com transporte público de qualidade, seguro e eficiente.

Paz é saúde de qualidade, desde a concepção à velhice, passando pelo pré-natal, a infância, a adolescência e a maturidade.

Paz é fruto da vivência da justiça e da fraternidade, que garantem a sustentabilidade do desenvolvimento humano de forma integral. A carência desses pré-requisitos gera violência, pois o ser humano, na busca por sua dignidade e direitos, não se conforma com uma vida miserável, excludente e sem futuro. Quando sente que não tem nada a perder, ele, na ignorância fomentada pelas deficientes circunstâncias econômicas, sociais, políticas e culturais, apela para a revolta e à violência.

O papa Francisco nos exorta na sua encíclica Louvado Sejas:

“Toda pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder que hoje regem as sociedades. A violência contra a nossa mãe Terra está gerando uma catástrofe ecológica sob o efeito da explosão da civilização industrial, sublinhando a necessidade urgente de uma mudança radical no comportamento da humanidade, porque os progressos científicos mais extraordinários, as invenções técnicas mais prodigiosas, se não estiverem unidos a um progresso social e moral, voltam-se necessariamente contra o homem. É bem conhecida a impossibilidade de sustentar o nível atual de consumo dos países mais desenvolvidos e dos setores mais ricos da sociedade, onde o hábito de desperdiçar e jogar fora atinge níveis inauditos. Já se ultrapassaram certos limites máximos de exploração do planeta, sem termos resolvido o problema da pobreza. Por isso, os bispos da Nova Zelândia perguntavam-se que significado possa ter o mandamento ‘não matarás’, quando uns vinte por cento da população mundial consomem recursos numa medida tal que roubam às nações pobres, e às gerações futuras, aquilo de que necessitam para sobreviver”.

Paz, justiça, fraternidade e conservação da Criação são questões absolutamente

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ligadas, não podem se separar. Tudo está relacionado e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos com nossos irmãos e irmãs da Criação numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor de Deus que nos une também com terna afeição, ao irmão Sol, à irmã Lua, ao irmão Rio e à mãe Terra. Francisco de Assis, o santo inspirador do papa, já o exemplificava em sua pedagogia do acolhimento fraterno no século XIII. Como ser livre, se colocava como irmão menor e servo de todos, trabalhando nas menores tarefas com alegria, misericórdia e compaixão.

Paz com sustentabilidade não pode ficar apenas na paz interior, contemplativa, que é importantíssima ao equilíbrio individual. Paz com sustentabilidade precisa desabrochar numa compreensão fraterna que exige abertura ao social e à ecologia, para poder abraçar toda a humanidade e o planeta a fim de garantir a sobrevivência das novas gerações.

Paz é ação no bem de todos, relacionamento educativo, desenvolvendo respeito e dignidade. É abertura para viver a solidariedade e o amor. É a construção da bondade em todos os irmãos da Criação.

* Membro Benemérito da Academia de Letras de Teófilo Otoni; Conselheiro do Instituto Histórico e Geográfico de Teófilo Otoni e da Associação dos Filhos e Amigos de Teófilo Otoni.

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PazWilson Oliveira Jasa*

Paz... é o que sinto em minh’alma,pois o Amor Maior me traz calma,

Paz profunda e compreensão.

Paz... é viver em Harmonia,curtindo a vida a cada dia,pois é preciso saber viver.

Paz... é Luz Divina e infinita,

que está presente em toda partee no interior do meu ser.

Paz... somente quem ama encontra a Paz,

pois ela brota no coraçãode todo ser que sabe amar.

Paz... a verdadeira Paz,

é viver o Amor em seu todo,pois Amor é vida, é prazer.

Paz... é Ser e Viver o Amor,pois ter Paz é uma Dádiva:

uma Dádiva Celestial.

Paz... é o belo sonho vivido,meu Universo infinito,

que vivo em Versos de Amor.

* Príncipe dos Poetas Paulistano. Reside em São Paulo/SP, é Embaixador da Paz e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Sim, eu acredito!Eugênio Maria Gomes*

Não, isto não é uma alusão ao grito de guerra da torcida atleticana, mas um grito de teimosia, de insistência, dizendo para mim mesmo que nem tudo está perdido e o brasileiro e a humanidade têm jeito. Um grito a me dizer que não posso perder a esperança em mim nem no ser humano, pois é possível viver em paz.

Eu preciso acreditar que nós, um dia, não apenas seremos mais tolerantes com quem consideramos “diferentes”, mas respeitaremos as diversidades e compreenderemos que caráter, altivez, bondade e felicidade são conceitos que podem e devem pertencer a todos os de nossa espécie, independentemente de suas características e de suas escolhas pessoais.

Eu quero acreditar que a paciência e a gentileza serão nossas companheiras permanentes e as dificuldades serão, sempre, encaradas com dignidade, esperança e fé.

Eu preciso acreditar que um dia não teremos mais crianças passando fome, sendo violentadas, deixando de brincar por terem de trabalhar precocemente e estarem fora da escola por conta da ignorância dos pais.

Eu quero acreditar que a benevolência para com os equívocos de outrem fará parte do nosso dia a dia, assim como o espírito crítico será uma rotina em relação aos nossos próprios erros.

Eu quero acreditar que todos os filhos serão bem-vindos, que serão sempre amados e criados para serem pessoas de bem e felizes.

Eu preciso acreditar que o perdão se colocará em primeiro plano a cada ofensa recebida, que nenhuma mágoa será guardada nem carregada vida afora pelos corações.

Eu preciso acreditar que todos os filhos amarão seus pais, que os respeitarão e deles cuidarão na velhice e na doença, retribuindo-lhes tudo que receberam com o que de melhor possam lhes dar.

Eu preciso acreditar que aprenderemos, um dia, a ter equilíbrio em relação aos nossos desejos, passando a possuir apenas o que de fato nos faça falta.

Eu preciso acreditar que deixaremos de descartar entulhos e mais entulhos de objetos armazenados por conta do nosso consumismo desenfreado, muitas vezes responsável por desavenças entre os homens e as nações.

Eu quero acreditar que nós respeitaremos, um dia, mais a nossa vida e a vida dos outros, pois cuidaremos de ambas como dádivas recebidas Daquele que nos ama e nos conduz.

Eu quero acreditar que aprenderemos, um dia, a conquistar o nosso espaço sem interferir nem colocar obstáculos no espaço de quem quer que seja.

Eu quero acreditar que conseguiremos auferir ganhos com ética, retidão e decência, sem jamais nos apropriar do que não nos pertence.

Eu quero acreditar que todas as religiões conviverão em paz, assim como preciso insistir na crença de que, se passarmos a ensinar os nossos filhos a amar o próximo e a respeitá-lo nas suas diferenças – e se os ensinarmos que a relação com o divino é uma experiência individual, sendo que a casa de Deus tem muitas moradas e Deus tem muitas faces – talvez possamos, finalmente, conviver harmoniosamente.

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Talvez possamos, enfim, compartilhar os frutos da terra, celebrar a diversidade e a multiplicidade de crenças e rituais, fazendo cessar tantas atrocidades praticadas insanamente “em nome de Deus!”.

Eu quero continuar acreditando que todos nós somos essencialmente bons. Que a falsidade, a dissimulação, a negatividade, a inconsequência e a maldade que às vezes se escancaram em nossos atos são apenas acidentes de percurso.

Eu preciso acreditar que teremos, um dia, a sabedoria necessária para fazermos as nossas escolhas, para aceitarmos os resultados obtidos com o caminho escolhido e teremos coragem para mudarmos quantas vezes forem necessárias.

Eu preciso acreditar e buscar a Paz sempre. Incessantemente!

* Pró-reitor de administração do Centro Universitário de Caratinga. Membro da Academia de Letras de Caratinga, da Academia de Letras de Teófilo Otoni, do Núcleo de Escritores e Artistas de Buenos Aires, do Lions Clube Caratinga Itaúna e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga. É presidente do Movimento Amigos de Caratinga e Grande Secretário de Educação e Cultura do Grande Oriente do Brasil – Minas Gerais.

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Paz, procura-se!Helena Selma Colen*

A Verdade se encontrava muito triste. A Tristeza dela se apossara e, entravada em suas entranhas, só a entristecia. Percebendo o que estava acontecendo, ela decidiu procurar ajuda e foi em busca da Sinceridade, que, ao ser interrogada, deu-lhe uma resposta aquiescente:

– A Verdade não é solicitada devido ao fato de a Mentira andar sempre à frente e enrolar a todos. Mas para lutar contra ela precisamos da Verdade, da Sinceridade e da Alegria. Somente assim poderemos combatê-la.

A Verdade, que tentava se desvencilhar da Tristeza, resolveu que só usaria seus atributos. Mas decidiu procurar também a Mentira e saber por que ela estava sempre a rodear as pessoas, as famílias e, principalmente, os mais fracos de espírito.

Disse a Mentira:– Eles preferem assim. Eu prevaleço. Você é pequena, quase ninguém a aceita e

apenas uma pequena minoria a tolera.A Verdade, mais triste ainda, decidiu procurar a Paz. Ela resolveria tal situação, poria

fim àquela discórdia. Saiu assim a Verdade em busca da Paz e chamou a Sinceridade para ajudá-la (a Tristeza já estava com ela). A Fragilidade, a Sinceridade e a Alegria também se juntaram ao grupo e saíram procurando pela dona Paz. Após muito tempo de divagações e de buscas incessantes, encontraram-na representada por uma enorme dragoa.

Indagaram à Paz:– Mas, dona Paz, a senhora não deveria se parecer com uma pomba? Sempre

acreditamos nisso e esperávamos encontrar uma criatura tranquila e agradável para aquietar os nossos corações.

A resposta foi imediata:– Estou assim representada por revolta, por tristeza. Sensações diferentes me

invadem, não consigo coordenar os pensamentos. Aonde eu vou não me aceitam, onde tento aconselhar me expulsam. Sou enxotada de quase todos os lugares que visito. Não quero mais buscar a nada! A humanidade me esqueceu, apenas uma minoria me aceita. A maior parte só quer violência, poder, destruição, corrupção e marginalidade. Portanto, vou desaparecer! Se invocada, retornarei.

A Paz alçou voo com suas enormes e negras asas soltando fogo pelas narinas, que mais pareciam uma chaminé com uma enorme labareda. Voou e voou alto, muito alto.

Desolado, o grupo olhava a Paz com sua revolta. Ficaram todos paralisados, observando a dragoa que lentamente foi desaparecendo no espaço até se tornar uma pequenina mancha ao longe. De repente, porém, um farfalhar de asas se abateu sobre ele e uma nuvem de insetos cobriu a dragoa.

Gritaram em uníssono:– Esperanças, vejam! Quantas Esperanças!– Sim, não podemos perder as Esperanças!

* Professora e escritora. Reside em Ladainha/MG e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Paz: necessidade imanente, conquista permanente

Marcos Pereira dos Santos*

Eis uma verdade incontestável: todo ser humano, desde o nascimento até a morte, almeja a paz.

Mas o que é exatamente a paz? Onde encontrá-la? Como vivê-la em nossa vida cotidiana?

Sem a pretensão de querer responder exatamente a essas indagações, podemos dizer que a paz está longe de ser entendida como um simples objeto que possa ser comprado em uma loja de conveniências, tampouco sendo uma moeda de câmbio ou uma comenda de outorga. Ao contrário, trata-se de algo inerente ao homem, uma necessidade inata e uma dádiva divina.

A paz é, por excelência, um bem precioso de valor incalculável, um processo continuum de conquista individual e coletiva. Não é, em si, um elemento material, palpável e mensurável, mas um estado de espírito e de equilíbrio interior majorante, uma sensação de bem-estar inexplicável e inenarrável que transcende o plano físico, o mundo inteligível e a realidade objetiva existencial concreta.

Longe de ser erroneamente confundida como um devir mitológico ou um constructo surreal ou metafísico, é possível afirmar que a paz se configure como um estado de “gozo espiritual”. Tal estado é subjetivo, intrínseco e particular a cada pessoa, mas é passível de ser observado, experienciado, vivido e compartilhado através de ações práticas que envolvam virtudes éticas e morais – tais como a solidariedade, o respeito, a amizade, a misericórdia, o perdão, a fraternidade, o altruísmo, a paciência, a caridade, a benevolência, a ponderação, a magnanimidade, a tolerância, a probidade, entre tantas outras.

Ao ser conceitualmente definida por alguns lexicógrafos como, grosso modo, algo concernente à ausência de guerras, lutas, violências, conflitos e perturbações de toda espécie – sendo a cessação da hostilidade, o sossego, o silêncio, a harmonia, a tranquilidade, a concórdia, o restabelecimento de relações amigáveis, a reconciliação, a confraternização e a serenidade –, entendemos que a paz deve, em primeiro lugar, ser buscada e vivenciada por parte de cada um. De modo que a paz possa, enfim, ser efetivamente socializada entre povos e nações, tendo em vista o alcance da melhor qualidade de vida para todos os seres humanos e a construção de uma sociedade cada vez mais justa, equânime e verdadeiramente democrática.

Em outros termos, isso significa assegurar que a paz não é algo inatingível, impossível de ser alcançada. A paz é uma espécie de gestalt, que começa a ganhar “corpo” e sentido a partir de cada ser humano com sua própria identidade e singularidade, potencialidades e limitações que lhe são inerentes, para depois, paulatinamente, vir a ter a adesão dos outros sujeitos sociais realmente comprometidos com o bem comum (ethos filosófico) e com o bem-estar coletivo da sociedade. Só dessa forma poderá ocupar espaços, antes vazios ou mal preenchidos, entre as diferentes culturas existentes.

Nesse contexto, vale salientar que a conquista da paz apresenta também o seu

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devido “preço”, um “custo” muitas vezes deveras elevado que acaba ceifando a vida de pessoas inocentes. Basta relembrarmos os acontecimentos históricos de êxito e de insucesso ocorridos com os grandes personagens “heróicos” de ontem e de hoje, que, de modo direta ou indiretamente, lutaram ou ainda continuam lutando militantemente em prol da paz tão desejada na e pela sociedade de classes.

Se “contra fatos não existem argumentos”, conforme se diz na linguagem popular, então não há dúvidas de que a paz é, portanto, uma necessidade humana imanente e um processo de conquista permanente. É algo possível, primoroso e de importância capital principalmente para os dias atuais, pois o individualismo, o capitalismo ferrenho e assolador, o advento de novas tecnologias midiáticas com sua “parafernália eletrônica” e a ausência de fé em Deus parecem “fincar suas estacas” de modo cada vez mais profundo na vida de cada ser humano – este ser “inconcluso”, “inacabado”, “incompleto” e em constante estágio de aprendizagem e desenvolvimento.

Face ao exposto, conclamamos a todas as pessoas: Busquemos a paz, incessantemente! Façamos do planeta Terra um verdadeiro “Jardim do Éden”! O mundo (ainda) não está perdido. Saiamos, portanto, da “caverna platônica”, do idealismo, do relativismo, do superficialismo e da “zona de conforto”. Afinal de contas, fazendo nossas as palavras do célebre filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), sabe-se que: “É cômodo ser menor”.

Mais do que buscar a paz em coisas, objetos, familiares, amigos, colegas de trabalho, festas exuberantes, vícios, misticismos e/ou bens materiais em geral, faz-se necessário ter a consciência de que a paz tão sonhada só pode se tornar realidade concreta se, e somente se, for buscada no mais íntimo de nosso ser, na nossa essência humana – e principalmente junto a Jesus Cristo, o único e verdadeiro Príncipe da Paz.

A paz entrelaçada ao amor, à justiça e à esperança é capaz de enfrentar os mais diversos desafios e, assim, ultrapassar barreiras e fronteiras.

Esperamos sinceramente que todos e cada um de nós (em particular) sejamos capazes de fazer a nossa parte. O momento é aqui agora. Pensemos a respeito!

* Doutor em Educação Religiosa, escritor, trovador, poeta, cronista, ensaísta, articulista, antologista, haicaísta ao estilo oriental e pesquisador da área educacional. Membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni e professor adjunto de cursos de graduação (Bacharelado/Licenciatura) e de pós-graduação (Lato Sensu) da Faculdade Sagrada Família, em Ponta Grossa/PR.

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Sempre em busca da pazArnaldo Pinto Júnior*

Tão logo me foi apresentado o tema para a Café-com-Letras deste ano, me

reportei ao saudoso Colégio São Francisco, educandário de irmãs franciscanas, onde tive o prazer e a alegria de estudar o antigo curso primário, nome que se dava ao atual ensino fundamental.

Considerei legal recordar a maneira dócil, porém rígida e sábia, da nossa querida professora Mercês Schade ao transmitir seus conhecimentos aos seus alunos, pelos quais ela demonstrava tanto carinho. É claro que também vem a saudade de alguns dos meus, igualmente muito queridos, colegas. Até me arrisco a citar alguns nomes: Humberto de Seu Nô, os Antônios Knupfer, Peixoto, Pimenta e Ferrareto, o Leondinhas Machado, a Vanessa Landi, a Darlice, a Cibele Campos, as internas Marli e Noeme, a Dayse, o Milanês, o Zé Baiano, o Gildo Molina e tantos outros cuja memória, de mais de sete décadas, oferece o direito a eventuais esquecimentos.

Não sei confirmar qual é o período correto, mas bem me lembro de que a grade curricular, em determinado momento, programava, na matéria denominada de Língua Pátria, o estudo dos sinônimos e dos antônimos. Eu sentia que todos os sinônimos eram muito bem aceitos pelo sincronismo que evidenciavam e eu diria mesmo: os sinônimos eram mais simpáticos! Por sua vez, os antônimos seriam terrivelmente antipáticos.

Por que a antipatia pelos antônimos? Primeiro, porque encontrar o antônimo de determinado vocábulo era procurar o contraditório. Era achar o contrário da palavra. Ora, no auge dos meus oito para nove anos, ser do contra era ser adversário. É como diz a turma de hoje: “Me inclui fora dessa!”.

Pior era que em todo “para casa” e em toda prova a professora Mercês – que a gente não chamava de Tia – sempre pedia o antônimo da palavra “guerra”. Respondíamos “paz”, sem pestanejar.

Mas ficava esta reflexão: por que a humanidade procura resolver os seus conflitos, sejam políticos, religiosos, geográficos ou econômicos, sob o estigma de um combate direto, uma guerra da qual mesmo os vitoriosos, na apuração de seus resultados, sempre identificam muitos mutilados e outros tantos abatidos mortalmente?

Sempre primei os meus passos pelo entendimento. Respeitar os direitos alheios, entendo eu, deve ser a bandeira maior a nortear os interesses de todos. Procuro, na base do diálogo, encontrar a melhor solução para as situações nas quais os meus direitos não são reconhecidos pelos meus interlocutores. Por que brigar? Entendo que a paz deve ser, realmente, uma procura incessante dentro dos pequenos e dos grandes conflitos.

* Professor e jornalista, membro benemérito da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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ApaziguarCharlene França*

A paz abraça e beija:

Chega mansa, acaricia, corteja...Tem voz mansa, pausada e doce

E faz de um abraço o infinito, o mais breve que fosse.

A paz é curta... despede-se e se esvaiDeixa apenas o perfume na roupa

Deixa apenas o pranto que cai.

É impossibilidadeVem porque quer, vai porque precisa

É irmã da felicidade, verdadeDo coração é juíza.

Tem coração que pulsa apressado

Tem pele quente e tem saborE todos que a buscam acabam dilacerados

Condenados a morrer de amor.

* Escritora, reside no Rio de Janeiro/RJ e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Poema fraternidadeMaria Luciene*

Possível para o mundo Na trilha afabilidadeRespeito primordialTransbordar sinceridadeMarchar para um tempo novoLibertando nosso povoBuscando a fraternidade.

A musa dos pensamentosDai-me a luz almejanteMinha prece chegue a DeusE a bênção de Deus avanteTambém cada coraçãoTenha abrigo no tufãoQue traz a paz incessante.

Família, a base do mundoEducação estruturaO grito da liberdadeJustiça, amor e culturaErgam-se novos heróisDerem-se mãos e constróisReine a paz legislatura.

Parafraseando a mesma Não só somente com dinheiro!Quando a veia do amorPercorrer o sangue inteiro!A Paz entre governantesPaíses beligerantesAderir, ser justiceiro.

Livremente ação nobreUma generosidadeConter intelectuaisIrmanar a humanidadeEfetivo pela paz Nos ser paraninfo fazEm solidariedade.

* Artesã, cordelista e atriz. É sócia do Instituto de Poesias Internacional (Porto Alegre/RS), na categoria de Trovadora, e é filiada ao Centro Cultural dos Cordelistas do Nordeste. Atualmente tem mais de 50 títulos lançados em literatura de cordel. É membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em Fortaleza/CE.

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Falando de PazJosé Márcio de Gouvea Agostini*

A paz tem sido muito questionada nos últimos tempos. Há a necessidade de termos, mediarmos e ensinarmos a paz. No livro dos Salmos (34:14) encontramos: “Procure a paz e empenha-te por alcançá-la”. A paz é algo que se pode alcançar!

Se procurarmos escritos sobre a paz, encontraremos vários e constataremos que estamos diante de algo que nos está sendo ensinado. O pesquisador Oséias Gomes Oliveira publicou, em Concordância Bíblica Exaustiva (vol. 3, pág. 235), ter encontrado 306 vezes a citação da palavra “paz” no contexto bíblico, sendo 210 vezes no Antigo Testamento e 96 vezes no Novo Testamento. São textos como este: “Eis que te dou a minha aliança de paz” (Nm 25:12).

Deus sempre procurou ensinar a necessidade de termos paz.Existem pessoas que, por terem uma experiência maior de vida, aprenderam

e agora podem mediar a paz. Muitos têm sido os que, por intermédio do aconselhamento, alcançaram a paz, mesmo que em circunstâncias emergenciais. Ainda assim, resolveram seus conflitos porque alguém lhes falou da paz. Cito O. S. Boyer (Enciclopédia Bíblica, pág. 477, citando Efésios 2:17), que diz: “Evangelizou paz aos que estavam longe e aos que estavam perto”.

O distanciamento entre as pessoas, nos dias de hoje, causa o efeito de uma paz fictícia que, com um simples gesto um pouco mais agitado, provoca a aparição de um estado emocional descontrolado, o que se reflete na realidade das pessoas. Hoje, precisa-se de mediadores da paz, pessoas preparadas e qualificadas para tal, pessoas que tenham uma vida com Deus sem envolvimento com o materialismo – e sim com o espiritual.

Como então seremos capacitados espiritualmente para termos a paz? Primeiro, tenho que ter consciência de que eu posso alcançá-la. Deus é o detentor dessa qualidade ou dom, como o queira entender. Em outro livro bíblico, o de Gálatas, o apóstolo Paulo escreveu: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, etc”. Paulo havia adquirido esta capacidade e a ensinava. Em segundo lugar, tenho que saber da carência existente. Muitos conflitos poderiam ser resolvidos e evitados se a paz fosse o juiz ou o árbitro. Há confusão no entendimento sobre a paz, por isso é um assunto que merece ser debatido. Quanto mais escrito, melhor é para que essa lacuna de carência seja preenchida. Em terceiro lugar, deve-se saber o que é a paz para que eu tenha paz e possa mediá-la ou mesmo ensiná-la.

A paz é a tranquilidade da alma. Portanto, se nosso conjunto corporal se divide em corpo, alma e espírito (I Ts 5:23), um terço do conjunto precisa se envolver com este aspecto para que os outros dois terços não sofram. Posso então afirmar que grande parte dos problemas modernos, pelos quais nossa sociedade passa, são causados pela falta de paz. A paz deveria ser algo que nossos líderes, quer sejam governamentais ou espirituais, deveriam se empenhar a conhecer. Deveriam saber que a paz não é algo fabricado pelos homens, mas advém de Deus. A paz que é de Deus envolve a nossa alma, excede o entendimento humano e ajuda o corpo a não sofrer, guardando nosso coração e nossa mente a não se sobrecarregarem,

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alcançando assim o equilíbrio que trará melhor qualidade de vida cristã. O dicionário Aurélio Século XXI traz algumas definições de paz, incluindo estas:

ausência de lutas, ausência de conflitos entre pessoas, ausência de conflitos íntimos, ausência de guerras, restabelecimento de relações amigáveis, acordos de conflitos, ausência de agitação. Eu procurei resumir todas essas definições em “conflitos da alma”, pois uma alma em conflito pode pôr a perder todo o seu corpo, ou uma cidade ou uma nação.

A paz conquistada trará harmonia, saúde, alegria e uma satisfação enorme de viver.

* Pastor da Igreja Metodista Missionária em Teófilo Otoni/MG.

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Por um novo tempo“Acenda a sua luz para iluminar o mundo”

Humberto Luiz Salustiano Costa*

Que tempo é este em que vivemos? Na história da humanidade, sabidamente, as guerras nunca deixaram de existir. Mas a violência atual se faz cada vez mais alarmante. O mal quase sempre

suplanta o bem. A impunidade campeia. A justiça não é sempre justa. A inversão de valores se apresenta cada vez mais preocupante. O conflito entre pais e filhos impera em muitos lares. A desigualdade existe no relacionamento entre iguais. Há fome em cada lugar. A corrupção é avassaladora.

Aonde queremos chegar?Vivendo um ciclo de vida de grandes tribulações, de incertezas e de incompreensões,

a humanidade ainda acredita e tem fé na existência de um mundo onde haja lugar para que todos possam viver em harmonia, embora isso pareça uma grande utopia.

Mas, diante de tantas injustiças, o mundo não se cansará jamais de clamar por um novo tempo enquanto existirem vozes capazes de bradar por melhores condições de vida – sobretudo com justiça social.

Vale a pena enfrentar o desafio desse ideal, que deve ser o objetivo maior dos homens e das mulheres de boa vontade, cada um dando o melhor de si, da sua contribuição, para que realmente tenhamos um mundo melhor, mais justo, mais fraterno e igualitário.

Vale a pena sonhar? Haveremos de sonhar sempre crendo no Poder Superior, que tudo pode e tudo faz por

aqueles que foram criados à Sua imagem e semelhança.Tal tempo chegará? Em nossas ações devemos confiar, sem desfalecimentos, que um tempo novo está

nascendo dentro de cada um de nós. Em cada peito palpita o desejo ardente de se ver o raiar de uma nova era de muita paz, de muita luz, de pleno entendimento e fraternidade entre os homens, porque tais ideais são inspirados no Deus Supremo – o Criador de todas as coisas.

É um simples apelo?Não, é mais do que isso. É o clamor que devemos elevar aos céus em nome do que

há de mais sagrado, pela confiança e a certeza em dias melhores para toda a humanidade. Atualmente, a humanidade passa por momentos difíceis, de grandes transformações

e realmente muito preocupantes. Que venha, portanto, a paz. Que cesse a violência, que a corrupção seja extirpada de uma vez por todas, que prevaleça o bem, que o alimento nunca falte, que a justiça seja de fato e verdadeiramente justa, que haja harmonia entre pais e filhos nos lares desajustados, que as desigualdades possam dar lugar a uma realidade em que todos venham a ter os mesmos direitos em nome de uma cidadania plena.

Que a Paz de Cristo, abençoada, gloriosa e suprema, possa finalmente reinar entre todos os povos.

* Membro titular da Academia Caratinguense de Letras e membro honorário da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Semeando PazJane Rossi*

Numa terra seca, sob sol escaldantePlantar uma semente é um sonho oscilante

Mas aquele que tem fé e crê que Deus existeEle planta a semente, semeia e não desiste.Mas assim é o coração que congela e recusa

Não se abriga de fé e a paz ele não usa.Faremos a nossa parte, plantaremos as sementes

Mesmo que o coração seja duro e descrenteSomos semeadores, divulgamos a paz

Acreditamos na união e no laço que não se desfaz.Mesmo em terra seca, plantaremos a semente

E a palavra de paz será nossa correnteSemear a paz, ver a árvore crescer

É um sonho sonhadoPlantar paz e colher.

* Professora, poetisa, antologista e ativista cultural. Membro efetiva da Academia Guarulhense de Letras e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. É a idealizadora do Projeto Semente da Paz, em Guarulhos/SP.

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Pra que tanta violência?Valter Bitencourt Júnior*

Precisa-se de paz neste mundo. Não somente de paz, mas é preciso amor. Onde tem amor existe a paz. Refiro-me ao amor ao próximo, sentir o que o outro sente, ter misericórdia, ter compaixão para com o outro, saber que na vida tem de se viver, tem que se sentir e desfrutar o melhor que a natureza tem a oferecer. Precisa-se de paz neste mundo de guerra, neste mundo de confrontos de um país com outro, de brigas econômicas, de guerras políticas, neste mundo de discursos de ódio. Precisa-se de paz e de amor e é preciso buscar a paz, que faz parte da vida. Por mais que a paz não seja concretizada, ao menos se amenize a violência e o ser aprenda a amar, porque quem ama sente.

A crueldade a cada dia há de crescer. Veja quantas pessoas estão morrendo, veja o que se passa na Palestina, o que o Estado Islâmico vem fazendo – matando muitas pessoas, tomando a Síria toda, decapitando cristãos, atacando uma sociedade que não tem culpa de nada, que não tem culpa alguma do que vem se passando. E o mais triste é saber que há pessoas que saem do seu país para integrarem o Estado Islâmico. É o que se pode considerar falta de amor para consigo mesmo. Veja também as pessoas que saem do seu país para transportarem drogas para outro país e lá morrem fuziladas, pelas leis, por exemplo, da Indonésia.

Não duvido que o mundo esteja de fato de cabeça para baixo, com o extremismo a crescer a cada dia e onde a liberdade de expressão é aceita com morte para quem a pratica. Essas palavras que acabo de escrever fazem com que eu me lembre de um caso que aconteceu na França, onde foi atacado o jornal Charlie Hebdo, quando terroristas mataram doze pessoas cruelmente devido a uma charge satirizando o profeta Maomé. Ou seja, as pessoas tornam-se brutas em nome de suas crenças, as pessoas ficam intolerantes em nome de suas crenças – ou da “sua crença” (sem plural), sendo que apenas a sua crença religiosa é a que deve existir.

No Brasil, já com corrupção generalizada o escândalo da Petrobrás (que não deixam ser constantes), a cada dia aparece algo novo sobre a investigação da operação Lava Jato. E a crise vem trazendo o desemprego, sendo o Brasil o país que mais emprega e que mais ainda desemprega. E o imposto a cada dia vem aumentando, e o que vem acontecendo hoje em dia é briga política. A sociedade tem de saber que a corrupção não se encontra somente em um partido. Na verdade, é muito ingênuo acreditar que a corrupção do país decorre somente de um partido.

Querem a paz, mas ainda seguem presos ao sistema capitalista, ao governo, às leis que nos ditam regras, nem sempre contundentes, que devem ser seguidas. Todo cuidado é pouco com relação a quem está “no poder”, para quem quer acabar com o trabalhador, para quem quer aprovar a PL 4.330 – assim terceirizando as classes trabalhadoras que mal recebem o seu salário, lutando muito para comprarem o pão de cada dia. Querem a paz? Mas como, já que pedem o retorno da ditadura? Pedem a intervenção militar? Querem dar força para a polícia? Querem que a polícia faça o que já fez anos atrás?

Querem reduzir a maioridade penal para acabar com a juventude, para

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criminalizá-la. Por que não criam projetos sociais em locais onde o jovem possa praticar esportes, desenvolver a arte e adquirir conhecimentos? Por que não criam bibliotecas para a comunidade? Por que não investem recursos nas escolas públicas como se deve investir? Pelo contrário, há estados brasileiros que estão massacrando os professores com gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral, metendo bala de borracha nos professores. Isso foi o que aconteceu no Paraná e também em São Paulo, onde há um governo autoritário que não está nem aí para os professores – que apenas lutam pelos seus direitos.

Que a sociedade ganhe consciência. Que sejamos capazes de fazer, de articular, de nos organizarmos, de nos instruirmos uns aos outros, de trabalharmos em conjunto. Que sejamos uma sociedade sábia, que não aceitemos quem nela mande, uma sociedade que não quer ser mandada nem queira mandar.

* Escritor e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em Salvador/BA.

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Futebol: a arte de fazer guerraJoão Batista Vieira de Souza*

Ao assistir mais uma dessas famigeradas partidas de futebol, fui surpreendido por um cartaz que dizia: “Paz nos estádios”.

Achei hilário!Como buscar a paz em um ambiente onde quase tudo suscita a guerra? A

começar pelos órgãos de imprensa, que consideram o confronto esportivo como uma guerrilha, um motim, sendo o estádio um lugar hostil.

“Vai ser pressão o jogo aqui!”, dizia o locutor empolgado. “Vai ser guerra travada!”, dizia o repórter de campo.

Em razão disso, imaginei que a tão desejada paz é utopia. A propaganda em torno dos jogos confirma o que digo. Vejamos, por exemplo, quando a torcida eufórica grita: “Uuuuuuuh, vai morrer! Uuuuuuuh, vai morrer!”. Os jargões e as palavras de efeito sempre dão tonicidade ao evento esportivo. Por exemplo: o goleiro torna-se “Arqueiro”, e o zagueiro, “Xerife”. Toda a parte defensiva vira “Ferrolho Suíço”. O cabeça de área é chamado de “Cão de Guarda”. O “atacante leva a alcunha de “Ponta de Lança”, “Matador”, “Ceifador” e até de “Serial Killer” – do filme A Hora do Espanto.

Quando algum atleta chuta forte de fora da grande área, os termos pronunciados são “petardo”, “bomba” ou “tiro de longa distância”. Quando o time perde a chance de ampliar o placar, isto significa que a equipe “não matou o jogo”.

A única peça do esquema que ainda desconheço ter algum fim de guerra é o camisa dez. Dá-se o nome de “Maestro”, sendo que este cavaleiro solitário provavelmente tenha outra trilha sonora. O treinador é o “Comandante”, enquanto os dirigentes são os “Poderosos” e os “Fora da lei”.

Também há outros batismos: “Tanque”, “Pirata”, “Flecheiro”, “Caveirão”. Sem falar nos jogadores que, quando marcam o gol, vão vibrar junto aos torcedores fazendo gestos de homens fortemente armados, metralhando ou degolando pessoas.

Tudo é guerra: “ataque mortal”, “tiro de meta”, “bombardeio aéreo” e “faixa de capitão”. E também as táticas e estratégias: “avançar é atacar, defender é recuar”. Ainda tem os “olheiros”, “serviço de espionagem”, a equipe tem “bala na agulha” e lá vem “artilharia pesada”. E quando a dita disputa é fora de casa, o espetáculo ocorre no “terreno do inimigo”.

Pelo visto, só faltam as “torres de comando” e os “campos de concentração”. Sim, porque o “quartel general” e os “rádios comunicadores” já existem. E o que falar das torcidas ou organizações? Vejamos algumas: “Mancha, Máfia, Gaviões, Loucura, Diabos Vermelhos, Hooligans”, e ouros fanáticos ao redor do mundo.

Muitos pseudotorcedores fazem de seus times uma religião extremista e intolerante. Daí, portanto, tanta coisa repugnante. Dizem que cada pessoa tem dois leões dentro de si, vencendo aquele que estiver melhor alimentado. Por isso é que até pelo televisor você profere xingamentos! A guerra já se instaurou dentro de você, que pede paz no futebol. Tudo em demasia sobra, por que você ainda faz guerra?

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A paz só será possível se os homens abandonarem as armas, a começar pelo abandono do ranço das palavras e dos vestígios da ditadura militar. Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!

Paz não nos estádios, mas nos homens!

* Professor de Língua Portuguesa, escritor e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 10.

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A busca pela pazCristina Carone*

Antigamente, quando o ser humano era mais atrasado, inculto e sem sabedoria, muitas guerras sangrentas aconteceram entre povos e nações porque havia um só objetivo em vista: o poder. Os homens sempre queriam ser poderosos e por isso disputavam tronos, territórios, vivendo apenas como animais: só por instinto.

A condição humana foi evoluindo e, com isso, começou a busca pela paz interior subjetiva. Hoje, em pleno século XXI, todos estão “mais civilizados” e buscam, através de livros, pessoas que sejam símbolos da paz, para então obterem a harmonia entre o corpo e a alma: Buda, Irmã Dulce, Dalai Lama e outras.

No fundo, porém, as pessoas ainda vivem tentando ter o poder e o dinheiro. Hoje, há corrupção política pelo mundo todo, atentados, roubos, extorsões e decadência humana generalizada. Famílias há por todos os lados que não se respeitam, por isso vivem se atacando por causa do dinheiro – que se tornou a obsessão de todos. Não existe paz dentro das escolas, nos órgãos públicos nem no coração das pessoas.

Como acreditar? Como amar? Como confiar? Parece que a paz morreu, ficando no seu lugar apenas a guerra constante

pelo dinheiro. Existe só um Ser Supremo que pode devolver a paz aos homens: Deus. Ele

deu livre-arbítrio a todos, mas infelizmente o mundo preferiu as guerras. Onde não há justiça, nem punição nem honra jamais haverá PAZ. O poder e o

dinheiro se tornaram o “Deus” de grande parte das pessoas. Portanto, um recado aos poderosos: “comprem” a sua paz interior!

Será que vocês conseguem? Eis aí o desafio.

* Escritora, reside em Belo Horizonte/MG e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Paz: sintonia e sincronismo...Jair Jr.*

O dia clareou por detrás da cortina! As últimas manhãs do mês de agosto haviam sido frias, enevoadas, tristes... Hoje, porém, o sol apareceu majestoso, fulgurante! Olhei pela janela e vi uma cena interessante: o rapaz da casa vizinha “quentava” sol assentado na calçada. Ele já vestia o uniforme de trabalho, sinal de que em breve começaria mais um dia árduo. Ao seu lado havia um vira-lata negro de pelos eriçados, que apareceu dias atrás aqui na rua; e, junto deles, o gato branco de estimação da vovó – uma senhora irrequieta e simpática que, vai e volta, sempre aparece sorridente no portão da garagem.

Enquanto isso, nos dois pés de mamão do quintal, os pardais, estáticos, se refestelavam em preguiçosa alegria pelo lanche matutino! Estavam todos quietos, preguiçosamente imóveis, em adoração ao Astro-Rei... Ou, quem sabe, estavam agradecendo por sua magnífica aparição!

Ali estavam o homem, os animais e a natureza... sintonia e sincronismo...e paz!Tempo: o segredo está no tempo! As pessoas brigam por míseros

segundos perdidos: um acidente banal de trânsito, um atendimento demorado, uma resposta mal-educada... E toda a fúria dos tempos modernos explode!

O mundo clama por paz, mas segue em constante agonia de dor, violência e morte! Mas com algumas preciosas gotinhas de paciência e cordialidade ganhamos milhares de créditos de alegria, além de bônus de fraternidade e amor!

Sincronia é o viver do homem em meio a este turbilhão: correria do labor diário, o peso das preocupações e das responsabilidades, os azares da vida. E também é a batalha contínua para encaixar todas as peças do quebra-cabeça: escola das crianças, trabalho, horário do banco, trânsito parado!

Sintonia do homem com o ambiente natural: cuidar do jardim, molhar as plantas, um passeio na roça... É perceber a sua imensa pequenez ante as belezas do planeta! É preservar os bens naturais e compartilhá-los com os animais... todos!

Sim, a paz existe e é possível alcançá-la... Na verdade, a paz está dentro de qualquer pessoa: fica guardadinha bem

aqui, no cantinho do coração! Tem gente que a deixa esquecida, empoeirada, por isso preenche o espaço vazio com ganância, usura, vaidades... Resultado: tais pessoas trocam a preciosa paz espiritual por um monte de falsas riquezas e bugigangas materiais!

Entretanto, podemos liberar todo o nosso amor e repartir a nossa paz interior com os nossos semelhantes. Sim, “a mudança começa sempre na aldeia!”. Criticamos as guerras, as ditaduras, o horror do mundo moderno e buscamos os responsáveis malvados, mas não, não são eles os únicos “mentores!”. Toda e qualquer forma de violência é resultado da postura conjunta da humanidade: ações negativas e omissões! Portanto, não se trata de desejar a paz ou de buscá-la somente, mas é o caso de poder compartilhar a nossa paz!

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Paz é um estilo de vida cultivável: sintonia entre diferentes pessoas, animais e a natureza!

Sincronismo em nossas ações individuais, atividades diárias e ritmo de vida!Paz é o resultado da batalha do EU interior para se integrar com os semelhantes!Paz é um bem espiritual que, quanto mais compartilhada, tanto mais

espalha e inunda a vida!

* Licenciado em Geografia e em Educação Ambiental, escritor e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 13.

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O Amor é um incondicional aliado da PazMárcio Barbosa dos Reis*

Meu coração estremece pela Paz,O meu interior se angustia ante a humana sordidez!

Os animais da mesma espécie são mais amistosos que o homem,A loucura está mais forte que a sensatez!

Quem dera houvesse um controle remoto a guiarA mente, o falar e o agir humano à solidariedade;

Pois, de um lado, há frieza no relacionamento,Do outro, relacionamento sem respeito nem espontaneidade.

É certo que tanto em um como em outro há um empecilho,Falta um ingrediente incondicional para se usar.

Sem ele, tudo que se faz não tem o mesmo brilho;É do Amor que estou a falar!

Com efeito, mesmo diante das imperfeições, Dos desatinos, dos medos e dos gemidos,Ou em meio a quaisquer outros destroços,A Paz e o Amor, eu vislumbro encontrá-los!

Essa Paz, que se busca, fora do interior deve brotar.Ideias e sugestões vêm e vão,

Mas uma prevalece, não se pode negar:Qual seja, a verdadeira Paz está no Cristo Jesus encontrar!

* Professor de Matemática, escritor, contabilista, teólogo, psicanalista, pós-graduado em Direito Tributário e em Matemática, acadêmico de Direito, auditor fiscal da Receita Estadual de Minas Gerais e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, sendo o titular da cadeira 20.

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Apelo à pazLeuson Francisso da Cruz*

Para essa massa passivaGovernada por pessoas desfibradas

Fanáticas do poder efetivistaQue conseguem dessa forma suas conquistas.

O povo já não se entende maisHá perturbações, greves e violênciaMedo, desemprego e insegurançaE muitas desigualdades sociais.

Sempre amei sossego e serenidadeNão me adapto às desumanidadesGosto de liberdade e da verdade

Detesto conflitos, lutas e combates.

Onde há vida deveria haver pazNão os prantos das criançasEspancadas como animaisVítimas dos próprios pais.

Só tem paz quem pratica amorUm jovem certa vez me disse

Com um rosto desiludido e tristeRenegado por causa da sua cor.

Com o povo reconhecendo seus líderesPosso afirmar para os senhores

O engodo não será arma de enganadoresE nem da deturpação de valores.

* Poeta, membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 12.

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Ando a procurar-teAilton Ferraz Silva*

Ando a procurar-teNeste mundo de terror

Ando a procurar-teNeste mundo de desamor.

Tu que sempre me afligesDeixaste-me muitíssimo agoniado

Não afrouxas e ainda exigesDeste sofredor inveterado.

Como ventania forteVinda das bandas de láDesraiga fraco e forte

Despetala a flor do maracujá.

Bendito seja quem a procuraQuem a encontrou de ganância se esqueceu

E quem da vida houve rupturaGuerra atroz e injusta já venceu.

Vivo grande batalha, guerra interiorNa paz, filhos enterram seus pais

Na guerra, pais enterram seus filhosVivo por fio de navalha.

O paradoxo da vida nos reservaInterroga-nos: vivem em paz com tudo?

Há os que querem guerra, guerra, fico mudoDebalde aplico meu voto de minerva.

* Escritor e agente de correios em Teófilo Otoni/MG.

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Paz inquieta Vânia Rodrigues Calmon*

Ouvi esses dias um sermão sobre a paz. Lembrei-me de um livro que li e que me influenciou toda a adolescência. Michel Quoist, em Construir o Homem e o Mundo, está angustiado. Quietinho em seu mundo, na sua casa em perfeita ordem a portas trancadas, ele sente o que, no dizer de Martin Heidegger, é a sensação do nada – a angústia. Quoist resolve então olhar o mundo do lado de fora, pela fresta da porta, e começa a abri-la. Entra uma pessoa, entra outra, de repente a sua porta está escancarada. Sem lugar para se sentar, sem travesseiro para repousar a cabeça e sem se saciar com o que leva à boca sem dividir, ele está em paz – em paz inquieta.

Acredito que aconteça precipuamente o contrário com o CEO, o Chief Executive Officer, com relação aos homens e às mulheres responsáveis pelas estratégias e pela visão das empresas, incluindo executivos e pessoas em cargos de gerência. Eles estão em perfeitos escritórios da Quinta Avenida ou da Avenida Paulista, em salas reservadas de multinacionais, atrás de cadeiras de reposteiro alto, em carrões equipados de conforto inimaginável – isolados do trânsito caótico à sua volta –, na academia top personal, nas salas vips dos aeroportos, em seus apartamentos minúsculos superluxuosos ou em quitinetes reservadas de hotéis, providencialmente isolados do convívio de suas famílias – se as têm, tramam.

A cabeça desses profissionais é uma trança de neurônios aflitos em conexões exóticas. A sós, tramam. Sós se autodisciplinam em direcionar os sentidos apenas para o foco de elaborarem estratégias complicadas, artesanais, para baterem sucessivas e impossíveis metas. A concentração é tamanha que é impossível prever qualquer desestabilização naquele ser de aparência humana. Alguma fortuita emoção, sendo talvez um delta de desassossego, a supremacia racional de altíssimo nível a sufoca. Está em paz, pacificamente em paz de emoções.

O homem médio persegue, principalmente, a sua subsistência. Troca todos os dias as suas horas de vida pela satisfação de suas necessidades básicas. Em contrapartida ao ônus debitado em tudo que compra e ao que paga sobre a sua parca renda – equivalente a mais algumas horas de trabalho –, ele recebe, “de graça”, educação, saúde, transporte, lazer, tudo de qualidade questionável. Precisa dedicar ainda algumas horas para os seus e os filhos do seu vizinho, que perdeu a esposa. E também algumas horas ao pedido do pároco, que vai fazer uma quermesse no domingo. E ele separa algumas horas porque precisa correr atrás de uma cadeira de rodas para a senhora idosa, vendedora de pés de moleque na calçada, que foi atropelada. Assim, ele está sem tempo para analisar o que lhe disseram hoje, em seu trabalho, sobre as demissões que pairam no ar em nome da crise. Reserva parte de uma hora à noite e, de joelhos perto da cama, agradece pelo dia abençoado e pela saúde de seus filhos. Amanhã, afinal, é outro dia... Por isso, ele está na santa paz.

Repercute em meus ouvidos, depois do sermão que eu mal ouvi, os sons de uma letra de música do Rappa: “Às vezes falo com a vida, às vezes é ela

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quem diz: Qual a paz que não quero conservar pra tentar ser feliz?...”.A paz de Michel Quoist se aproxima muito da do homem médio, que sou

hoje, desassossegado com os problemas do outro. Já a do jovem executivo é a que eu não quero conservar, porque pertenceu exclusivamente à juventude inquieta, laborativa que também vivi.

* Professora de música, bacharelanda de Direito, palestrante, escritora, teófilo-otonense, residente em Vila Velha/ES, membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Filhos da esperançaCláudio Hermínio*

Quando os primeiros raios de sol iluminavam as palmeiras da aldeia onde nasci, nuvens de ararajubas pousavam sobre as copas das árvores anunciando um novo dia. Foi nesse contexto que vivi com a minha família, que era constituída pelos meus pais e dois irmãos.

Sempre escutei dos meus ancestrais que a grande floresta corria perigo e o perigo já sobrevoava as nossas cabeças. Não demorou muito, a floresta foi invadida por máquinas jamais vistas pelos nossos olhos. Vi que as máquinas emitiam sons estrondosos e, por onde passavam, deixavam rastros de destruição e semeavam a morte. Diante de minhas limitações, dúvidas e medos, me curvei próximo ao grande rio e clamei por Tupã:

– Pai, onde estás que não vem aliviar o nosso tormento? Hoje, a terra já não nos pertence mais, a mata já não nos oferece alimentos nem abrigo e nossos rios desaguaram em fendas lamacentas. Quantas tribos terão que ser dizimadas para que venha ao nosso socorro?

De repente uma luz viva se fez presente, fechei os olhos e meu corpo se projetou sobre a imensa claridade onde pude ouvir, pausadamente, uma voz branda:

– Filho, seria tão bom se todos os homens pudessem aprender uns com os outros e reconhecessem o verdadeiro sentido da vida, mas a existência muitas vezes é como o Sol e a Lua: cheia de desencontros. Muitas vezes ofereci a minha morada em sinal de paz e me disseram não, mas a esperança é como uma criança prestes a desvendar o mundo.

Depois de ouvir as respostas às minhas indagações, senti os meus pés sobre a terra e percebi que o dia já havia terminado. As estrelas brilhavam com bastante intensidade, convidando-me à reflexão.

Talvez a felicidade e a paz estejam em nossas escolhas, que nos desafiam a sermos protagonistas de nossas próprias histórias.

* Professor, escritor, reside em Belo Horizonte/MG e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Buscando a pazOlinto Campos Vieira*

Não há lugares, há pessoas. Conforto é o maior amor que se pode ter ao nosso lado. Qualidade de vida é a

vida ter qualidade ao lado de quem se ama. É pegar na mão, com carinho, ensinando a dar os primeiros passos. Ghandi não tinha conforto de príncipe, como Saddam Hussain teve, no entanto viveu magnificamente bem – às vezes somente a pão e água, debaixo de um calor escaldante. A rigor, os maiores expoentes da humanidade, com raras exceções, não tiveram vida fácil.

Não há lugares, há pessoas. Às vezes as pessoas batem a cabeça no teto, mesmo assim se acomodam com o

bem-estar e a zona de conforto. Salvador Dali era um gênio com problemas neurológicos, os quais não afetavam sua genialidade. Ele tinha medo de vir ao Brasil porque pensava que, se saísse do avião, poderia ser atacado por feras selvagens, índios com flechas, cobras enormes e jacarés famintos.

Não há lugares, há pessoas, pessoas que tem o Universo dentro de si. Pessoas que são líderes, que desbravam a si mesmas. Com coragem, se embrenham no fundo do próprio coração e não se contentam com o bem-estar de apenas um lugar que ofereça conforto. São pessoas que não cabem em si, tal como Fernando Pessoa. O poeta português teve dentro de si todas as pessoas que quis.

O que dizer dos gênios que viviam com parcos recursos e morriam de doenças hoje facilmente curadas? O que dizer de suas obras, atualmente expostas nas salas mais requintadas das mansões de quem ostenta muito e não sabe dar a mão?

Não há lugares, há pessoas. Gentileza, um poeta que quis ser mendigo, andava pelas ruas do Rio de Janeiro com

placas poéticas escritas com letras maravilhosas, apenas sobrevivendo da caridade alheia. Uma das placas dizia: GENTILEZA GERA GENTILEZA. Era o seu lema.

Não busco conforto, busco pessoas de qualidade, de coração, que saibam ser amigas, que causem saudades com sua ausência. Não busco poder nem vaidade, e sim uma Paz que somente posso ter quando alguém que amo não estiver sofrendo com falta de algo que eu tenho de sobra e posso dividir.

Não busco lugares, busco pessoas. Pessoas que saibam o valor de si mesmas e saibam o valor das outras pessoas, que não guardem no coração a ferida aberta da maldade.

Não, não busco os lugares em que eu possa ver o mar estalando os meus ossos, que um dia servirão de adubo para esta terra sagrada do mesmo jeito que o vizinho faz o mal.

Não busco lugares, busco pessoas que não se exaltem com o poder que lhes foi entregue para melhorar o mundo.

Pessoas são maiores do que os lugares. Pessoas fazem os lugares. Pessoas sabem amar e construir, enquanto todos os lugares ruirão com o tempo.

Busco a convivência fraterna com as pessoas sem me omitir, sem me calar e sabendo que tenho muito a aprender.

* Escritor, poeta, cronista há doze anos em jornais paraenses, advogado e procurador do município de Parauapébas/PA.

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Depois da tormentaMagali Barroso*

À noite, sai de vestido colante e perfume francês. A morenice da pele, o vermelho nos lábios, os olhos marcantes e vivos, tudo combina com o crespo dos cabelos. Sandálias altíssimas revelam a sensualidade dos pés e dão nobreza ao andar ritmado. Mergulha em águas profundas, enfrenta ondas gigantescas e se esquiva de raios nas tempestades.

Às quatro da manhã, chega ao porto. Banho demorado e, na cama, se aninha ao menino. Fecha os olhos e se perde no campo de alfazema do quadro recortado da revista colado no espelho. A brisa fresca no rosto, a saia rodada ao vento, o chapéu que insiste em voar, o menino de suspensórios correndo ao lado, sorrindo e gritando:

– Mamãe! Mamãe!

* Doutora em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora do Centro Universitário de Belo Horizonte. Membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni e do International Institute of Informaticsand Systems.

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A PazMargareth Rafael*

Em meio a densas trevas, surge o encantamentoQue nos leva a meditar, cantando aos ventos

Uma orquestra com sinfonia harmônicaNuma beleza em forma côncava.

A paz que reina na almaDo vivente amante que entranha-se em pensamentos

Pensamentos que iluminam os raros encantosDa pura paz que alarga-nos e nos faz, às vezes, em prantos.

Tanta demolição de personalidadeEmoldura-se, hoje, nos semblantes errantes

É apenas mera vaidade.Basta-nos entrar e convidar nossa alma

Para que entre e se aquieteColocando-nos em paz, saboreando a calma.

* Professora, poetisa, reside em Itambacuri/MG e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Paz fugazCanção

Antônio Jorge de Lima Gomes*

Te procuro no ar, no espaço e na terra,Uma profunda quimera.Uma ansiedade fatal. Uma nova era,De esperança global.

Te anseio ao meu lado. Vivo amargurado.Forte desejo incontido.Embriaga minha alma. Me acalenta e acalma.Me leva sempre contigo.

Oh, Paz. Infinita paz. Dizes-me: onde estás? Porque és tão fugaz... Oh, Paz. Quero-te a vida inteira. Eternamente em mim, minha companheira.

Dizes-me: quem tu és? Aonde vou te encontrar?Tua ausência é tormento.Essa solidão, sofrimento.Minha existência é sofrer.

Digas-me: onde andas? Avisa-me: aonde vais?Teu espírito me ronda, Me persegue e me sonda, Te procuro e não te encontro.

Oh, Paz. Infinita paz. Dizes-me: onde estás? Porque és tão fugaz... Oh, Paz. Quero-te a vida inteira. Eternamente em mim, minha companheira.

Traz-me a barca da aliança, sou um adulto-criança.A minha busca é sagaz.Às vezes mal dita, mas eternamente bendita.És esperança voraz.

Quero sentir tua presença, nesta vida de ausência,Misto de sonho e liberdade.Possuir-te em sentimento e verdade,E te semear aos povos de boa vontade.

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Oh, Paz. Infinita paz. Dizes-me: onde estás? Porque és tão fugaz... Oh, Paz. Quero-te a vida inteira. Eternamente em mim, minha companheira.

Paz. Porque és tão fugaz...

* Professor adjunto da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, membro da Sociedade Brasileira de Geofísica, do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri e vice-presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 5.

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Conexões para a felicidade...Marcos Coelho Cardoso*

Conecto-me em riqueza de ilusões...Anseio paixões que não tenho...A porta está aberta... A tela de cristal líquido,Um mar de navegação em dados...O coração está fechado...Feito um cofre sem o segredo...Na lápide, a escrita do nome...O nascimento e a validade ainda não sabida...E você transita de carro pela cidade...Faróis acesos iluminam a escuridão...Há postes acesos em meio à multidão...Crianças perdidas em solidão vagam pela noite...Prostitutas, moças e filhas da vida, garotos de programa...Vidas corrompidas, programas corrompidos...Não posso dormir... Este barulho me enlouquece...Vi um bicho no parque... Não, vi muitos perdidos...Era figura de homem... Não, perdida estava sua identidade...Filho de alguém! Quem!? Esqueceram-no! Não o sabem mais.– “A um desses pequeninos...” – “... foi a mim que o fizeste...”Esqueceram-no também na Cruz...Tiroteio, Suave Paz entre a Fome,O Tormento da Miséria Humana...O Amor aonde foi? Conexão, Sinal, WhatsApp!?Conecte-me, estou perdendo o sinal... off-line.O Sinal do Amor... Reconectando... Ufa!“Aguarde alguns segundos...” “Conexão Segura agora!”Posso navegar... A Felicidade está no Ar.

* Professor, escritor, poeta, educador ambiental, membro efetivo e vice-presidente da Academia Douradense de Letras (Dourados/MS), também é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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A Paideia e a PazWenderson Cardoso*

Pelos vieses e veredas da grande odisseia da vida, o homem caminha neste mundo à procura de uma paz pautada em desejos, prazeres e, muitas vezes, em algo que ele próprio desconhece. A rigor, nem mesmo ele saiba o que é!

Tal busca pela Paz se torna incessante nos corações ambiciosos dos que se encontram em fendas abismais ilusórias e obscuras de um mundo que dia a dia demonstra, em suas chagas expostas, as desigualdades socioambientais, econômicas, políticas, culturais, educacionais, éticas e morais.

Paradigmas novos e insustentáveis nos são apresentados de forma opressiva, deixando um gosto de cálice: amargo e intragável. É na ambição da procura incessante pela Paz difusa, democrática e acolhedora que se planta a esperança, sustentáculo das energias que movem pernas e braços, músculos e ossos em prol do amanhã – mesmo que este pareça ser um futuro distante de um pretérito presente!

Guerras, distorções sociais, luxúrias e o medo do que possa vir acoplado ao desprezo de poucos diante de multidões fazem com que muitos sonhos deixem de existir ou se transformem em pesadelos reais e cotidianos apresentados durante noites e dias a fio – como se cada violência acometida fosse algo comum como a própria vida. E o pior desse caos aparentemente “organizado” é que os homens contemporâneos o veem... assim... como normais as atrocidades em suas diversas formas e ações.

A Paz deve ser sempre resgatada incessantemente! A Paz deve ser sempre ensinada e aprendida como um bem, um dom, uma dádiva divina! A Paz deve ser sempre vivida e respeitada como um bem essencial à vida, independente de sua forma e status quo.

A Paz jamais deve ser vista, aprendida e ensinada como simples conquista, uma meta somente, um mero fim inimaginável. Não está apenas disposta e alcançável por uma minoria cada vez mais reduzida a um mundo em que dia a dia, exposto na grande mídia, se torna um lugar em que homens se distanciam dos próprios homens – isolados e reclusos em suas máquinas digitais, em suas ambições efêmeras, egoístas e nada altruístas.

A busca incessante pela verdadeira Paz deve ser pautada na equidade, na cooperação, na confraternização e, principalmente, na Paideia, que é o pressuposto do homem íntegro, justo e sábio – cuja única certeza é que neste mundo todos, sem exceção, são apenas meros seres aprendentes dotados do polegar opositor. Todos somos seres únicos, capazes de intervir no ambiente e com capacidade para tornar a vida melhor para todos – para tornar o mundo cada vez mais sustentável e igualitário para todo mundo, com capacidade de difundir a Paz com a consciência de que esta seja um bem alcançável para todos conforme o preceito da Paideia apresentado pelos sábios gregos antigos.

A Paideia é essencial nos atuais dias, pois o cenário se apresenta em crescente desigualdade e desrespeito para com a própria Paz.

* Professor, mestre e doutorando em Ciências da Educação, especialista em Gestão Educacional e Inspeção Escolar, especialista em Gestão Ambiental, jornalista, cineasta e documentarista socioambiental. Reside em Contagem/MG e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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A busca incessante pela pazWilson Ribeiro*

De acordo com a Wikipédia, a PAZ é um estado de calma ou tranquilidade, ausência de perturbações e de agitação.

A paz é essencial no mundo, do contrário seremos destruídos.Se não há convivência pacífica, a vida se torna muito difícil. De antemão,

a paz é um direito universal do homem e devemos nos preocupar sempre com sua temática como um valor agregado a outras questões de igual importância que permeiam cada atividade humana – como a honestidade, a dignidade, o respeito, a tolerância e a solidariedade. Dessa forma, buscaremos sempre trabalhar a paz como um processo interno ligado ao autoconhecimento e ao direito de escolha, não como uma entidade externa e mágica. A paz é um valor subjetivo que ganha objetividade nas práticas cotidianas.

As autoridades governamentais estão preocupadas com a segurança no país e estão criando um projeto educacional, a ser trabalhado nas escolas públicas e particulares, com a temática da construção de uma cultura da paz e da não violência – considerando, para tanto, o aluno como ator principal nessa construção. Urge nos unirmos, portanto, para promovermos esse autoconhecimento como ferramenta fundamental para a promoção da cultura de paz.

A busca incessante pela paz é tão importante que, após a Segunda Guerra Mundial, considerado o maior flagelo da humanidade no século XX, foi criada a ONU (Organização das Nações Unidas) com o objetivo de se implementar a paz entre as nações.

O Dia Mundial da Paz foi criado pelo papa Paulo VI com uma mensagem datada de 8 de dezembro de 1967, para que o primeiro dia fosse celebrado sempre no primeiro dia do ano civil a partir do ano de 1968 – comemoração que acontece até hoje.

Grandes sábios da humanidade se preocuparam com a paz. A título de exemplos, Mahatma Gandhi, William Shakespeare e Mario Quintana proferiram alguns conceitos e ensinamentos em prol da busca incessante pela paz: “Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio” (Mahatma Gandhi); “Nada me deixa tão feliz quanto ter um coração que não se esquece de seus amigos” (William Shakespeare); “O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso” (Mário Quintana).

Nosso dever é estar de bem com a vida e com os nossos semelhantes, porque a vida é dádiva do Pai Criador. Para sermos felizes devemos cultivar a serenidade e a paz nos ambientes em que convivemos, sempre se fazendo necessário sermos vigilantes e ativos de nós mesmos, revendo os nossos valores e as atitudes para com os outros.

* Escritor e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 30.

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Sonhando pela pazJosé Geraldo Silva*

Mundo travesso tomado de controvérsias e horror,Onde o homem luta por sobrevivência para se conter,

Onde ele mesmo cegamente se atropela de angústia e dor;Friamente vive dia a dia na missão de matar e morrer!

Banhando da cegueira espiritual que lhe farta tantoJá não valoriza o próximo seu companheiro, trata-lhe friamente

Tira-lhe o sossego, prefere o material, causa só prantoNa escuridão, ao apagar a luz, faz só pra si egoisticamente!

Mas desde que Jesus ao mundo veio pregar a boa uniãoO ser homem parece que até hoje não entende essa missão

Ouviu parábolas, exemplos claros que o humilde Mestre pregouDe nada serviu a tantos, somente para um ou outro que acreditou!

Mundo de malefícios onde a bondade impera em poucosO homem luta para sobreviver melhor enquanto Deus permitir

Ao mesmo tempo em que sonha pela paz incessante vê eclodirNos corações tão inconscientes que cavalgam aqui como loucos!

* Escritor, poeta e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, sendo o titular da cadeira 11.

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A eterna paz...Eloisa Antunes Maciel*

Talvez desde os primórdios da existência humana a PAZ tenha se apresentado aos homens como mensageira da esperança, embora sob aspectos e simbologias diferentes.

Poderia ter-se feito representar por uma promissora réstia de luz após dias tormentosos e cinzentos, anunciando novos dias e um novo tempo – como a sugerir a superação da animosidade e estimulando a conquista da solidariedade e do convívio fraterno.

Ou será que a paz estaria representada em lendário episódio no qual um antigo guerreiro, ao perseguir seus inimigos declarados, se deparou com uma bela luminosidade após dias escuros e tempestuosos? Esse legendário guerreiro, porém, fascinado pela sensação de leveza de tal inusitado bem-estar, não mais viu os antigos inimigos como ameaçadores contumazes. Ele os reconheceu como irmãos, descendentes dos mesmos ancestrais, que erroneamente não haviam sido reconhecidos como membros da mesma nação. Ou, quem sabe, a paz tenha sido representada pela placidez da aurora refletida em lagoa serena a inspirar sentimentos de concórdia, de entendimento e de vivência fraterna?

Recuando a épocas mais remotas, pode-se imaginar que houvesse sido representada pela tosca chama de uma fogueira em noite muito escura, quando, em torno do fogo, estivessem reunidos antigos desafetos. Lá, irmanados pela claridade que os protegia dos inimigos ocultos, eles tendiam a vencer as animosidades e a selar um pacto de convivência em favor da própria sobrevivência.

Nesta e em muitas outras situações os ressentimentos teriam cedido aos apelos da vivência fraternal – que então teria iniciado seu longo ciclo (ainda incompleto) – que tenderá a reinar sobre os povos, as nações e em todos os continentes, enfim, abrangendo a Humanidade como um todo.

Ainda que atualmente a paz seja simbolizada por uma pomba ou uma bandeira branca, o seu verdadeiro sentido deve ser consolidado a partir das mais diversas vivências humanas, sejam estas peculiares a grupos, a países ou a comunidades, mas tendendo a reinar sobre a totalidade dos habitantes do orbe terreno.

As diversas vivências têm um foco que se converte em fulcro: a fraternidade sem fronteiras. Falamos da Paz Universal ou, simplesmente, da Eterna Paz – da Verdadeira Paz, condição indispensável à preservação da própria humanidade do ser humano.

* Escritora, professora universitária aposentada, reside em São Martinho da Serra/RS e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Justiça e Paz ImploreiLenival de Andrade*

Como diria Roberto Carlos em uma de suas canções:Não deixem que o azul do céu se inflame

E sangue de inocentes se derrameDeus é Pai, ao amor não faz a guerra

Peço paz, irmãos, aqui na terra

Amigos humanos terráqueosAssim como o saudoso Papa da Paz (João Paulo II)

Que pediu perdão aos erros da Igreja CatólicaVenho aqui a vocês pedir perdãoPelos erros por mim cometidos

Contra algumas pessoas

Sei que ninguém é perfeitoE eu também não sou, nunca serei

Sei que erreiMas recomeçar minha vida procurei

E cidadão digno sereiO olhar e o pensamento para o céu os elevarei

E para DEUS, Justiça e Paz Implorei

* Escritor, cordelista e bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Reside em Catolé do Rocha/PB, é diretor-presidente do Sertão Nosso Cultural e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Papa FranciscoMarilene Godinho*

No atual estágio da humanidade, poucas figuras no mundo resplandecem e transmitem tanta paz como o papa Francisco.

Diante da renúncia inesperada e corajosa de Bento XVI e da crise da Igreja em desalento, era necessário o surgimento de um papa que se vestisse com as túnicas de Jesus Cristo, calçasse as sandálias toscas de um andarilho e repetisse os ensinamentos do humilde carpinteiro de Nazaré.

Jorge Mario Bergoglio foi eleito no dia 13 de março de 2013, contrariando apostas e especulações. Tal fato demonstra a força do Espírito Santo – inspirador e condutor da Igreja – que sopra não apenas para onde quer, mas por onde é preciso e na hora precisa. Sereno, com voz amável, chegou ao balcão do Vaticano, saudou o povo e logo disse: “Sou Jorge, não da Capadócia, mas do fim do mundo”. Pediu orações para si mesmo, curvou-se num breve silêncio e abençoou a multidão. A partir daí, com simplicidade, humildade e generosa acolhida a todos, ele tem encantado o mundo e feito brilhar raios de esperança e de paz.

A cada novo dia, gestos, palavras, condutas, atitudes foram revelando o seu perfil de enviado especial do Senhor. Causam admiração sua renúncia às comodidades materiais e a quebra de protocolos para chegar ao povo. e também é de se admirar a recusa de andar em carros oficiais, a escolha de deixar o palácio papal para morar numa pequena casa, a cerimônia do lava-pés acontecida num instituto penal para menores e o distanciamento de qualquer ostentação – como o luxo dos mantos, das mitras enfeitadas e das casulas bordadas a ouro. Carregando uma cruz de prata no peito e usando sapatos gastos, desce do altar para beijar um enfermo ou dar atenção aos que estão ao redor. Justifica isso ensinando: “Não devemos ter medo da bondade e da ternura”.

Motivado pela recomendação de nosso Dom Cláudio Hummes, para que não se esquecesse dos pobres, e movido pelo desejo de ter “uma Igreja pobre para os pobres”, Jorge Mario Bergoglio escolheu o nome Francisco. Foi um achado feliz que o identifica à figura de São Francisco de Assis, santo que amou a pobreza e fez dos pobres seus irmãos mais amados. Essa escolha, por si mesma, já aponta para um projeto de vida e estabelece um programa ao seu pontificado. A propósito, três pontos fundamentam os ensinamentos de São Francisco de Assis: uma vida simples, atenção aos pobres e o cuidado com a natureza.

Francisco é jesuíta, tendo se formado na espiritualidade de Santo Inácio de Loyola – o fundador da Companhia de Jesus. Tem em vista a austeridade, a sobriedade e a vocação missionária: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações” (Mt 28: 19). É também argentino (“do fim do mundo”) e conhece de perto a extrema pobreza em que vive grande parte da humanidade. É um papa mariano, que, com devoção, rezou em Aparecida: “Maria, nossa Mãe, ajude-nos a conhecer sempre melhor a voz de Jesus e a segui-la, para andar no caminho da vida”.

Suas próprias palavras resumem o que deseja de seu pontificado: “A Igreja é chamada a sair de si própria para ir até as periferias não apenas geográficas, mas

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também às periferias existenciais: as dos pecadores, dos que sofrem, dos injustiçados, dos ignorantes”. Ele deseja uma volta às fontes puras do Evangelho, que apontam para uma Igreja mais aberta e voltada para o mundo. Ele deseja uma Igreja Samaritana.

Um fato significativo ocorreu quando o papa, ao se referir a Pedro (de quem é sucessor), não buscou o texto de Mateus (16:18 – Tu és pedra), mas invocou o final do Evangelho de João: “Cuide de minhas ovelhas” (Jo 21:17). Assim, o papa parece privilegiar mais o cuidado com as ovelhas do que estimar a sua posição de líder.

As atitudes do papa Francisco muitas vezes lembram os gestos misericordiosos de Jesus Cristo pregando, curando, amando, perdoando as prostitutas, comendo com pecadores públicos e dizendo: “Os sãos não precisam de médico, mas os enfermos; não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mc 2:17). Então, recordo o que o papa disse sobre os homossexuais: “Se alguém procura Deus com boa vontade, quem sou eu para julgá-lo?”. A respeito dos casais em segunda união, pontificou Francisco: “Não podemos condená-los, é preciso caminhar com eles. Quando o amor fracassa, devemos sentir a dor desse fracasso”. Ainda aponta as várias formas de essas pessoas contribuírem com a Igreja e participarem dela.

Com o papa Francisco, antevemos que a crise da Igreja pode ser vista não como uma tragédia, mas como novo começo. Da crise mais profunda pode resurgir o novo, pela graça do Espírito Santo, que sempre conduziu os seguidores de Jesus Cristo ao longo da História: “Estarei convosco todos os dias até o final do mundo” (Mt 28:20). O sumo pontífice lançou-se destemido na promoção da reforma de uma Igreja animada em suas bases, com institutos e congregações vibrantes, movimentos e comunidades laboriosas, ao mesmo tempo com segmentos da cúpula clerical abalados por escândalos e corrupção. O Bispo de Roma deseja retomar as diretrizes propostas pelo Concílio Vaticano II, que ficaram a meio caminho. Convocado pelo Papa Bom, João XXIII, o Concílio pretendia abrir as portas da Igreja ao sopro de uma renovação profunda. No entanto, encontrou entraves por parte dos apegados a tradições com traços fundamentalistas e por motivos outros. O papa Francisco sabe que as águas são revoltas, mas confia que se se afogar o Mestre o socorrerá. E pontuou: “Ter fé não é estar livre de sofrimentos, mas é saber que em qualquer situação Jesus está conosco”.

Por tudo quanto já conquistou e vem semeando com sucesso, Francisco poderá elevar ao céu a prece atribuída ao santo que lhe empresta o nome: “Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz”. E nós, fiéis, rezaremos juntos: “Agradecemos, Senhor, por nos ter dado um papa que é instrumento de vossa paz!”.

* Professora, escritora, pertence à Academia Caratinguense de Letras, à Academia Feminina Mineira de Letras e é acadêmica correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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As divisões de classe permanecem no centro das desigualdades econômicas

Gloriete Marques Alves Hilário*

As divisões de classe hoje em dia permanecem no centro das desigualdades econômicas, sendo que as classes continuam exercendo grande influência na vida das pessoas. A pertença de classe está associada a uma série de desigualdades, incluindo as desigualdades na expectativa de vida e na saúde física. Em geral, há desigualdades no acesso à educação e a empregos bem remunerados, sendo que as divisões de classe derivam de fatores que afetam as circunstâncias materiais da vida das pessoas (Giddens, 2007, 307).

Temos como definição de sistema de classes uma condição baseada principalmente na posição econômica, pela qual as características atingidas podem influenciar a mobilidade social. Os limites entre as classes são definidos de forma imprecisa e uma pessoa pode ir de um estrato ou nível social para outro. Ainda assim, os sistemas de classe mantêm hierarquias de estratificação estáveis e padrões de divisão de classes, sendo também marcados pela distribuição desigual da riqueza e do poder. A classe social depende muito da família e de fatores herdados (por exemplo, raça e etnia), mas nada impede que os indivíduos experimentem a mobilidade social – sendo a desigualdade de renda uma característica básica de um sistema de classes (Schaefer, 2006, 204).

A instabilidade geral do mercado de trabalho e a multiplicação de formas e vínculos laborais a que temos assistido nos últimos anos têm redesenhado novas linhas de demarcação das desigualdades sociais, aumentando os fatores de risco e de precariedade em camadas de trabalhadores situadas em variadas posições de status e frações de classe (Estanque, 2005, 136). Muitos autores argumentam, a meu ver muito bem, que a globalização e a não regulação dos mercados econômicos estão conduzindo a um alargamento do fosso entre ricos e pobres, acentuando as desigualdades entre as classes.

Existem importantes e novos canais para a mobilidade ascendente, tais como a expansão do ensino superior, a acessibilidade crescente a qualificações técnico-profissionais e a emergência da internet e da “nova economia” – o que contribui para uma ordem mais fluida e meritocrática (Giddens, 2007, 306). Não podemos negar que o emprego remunerado da mulher determina, em parte ou como um todo, a posição de classe de toda a família. Mesmo quando a esposa trabalhadora ganha menos do que o marido, a posição profissional dela pode ser o fator-chave que influencia a classe do marido. E também não podemos deixar de citar os casos de mulheres trabalhadoras que são mães solteiras, quando elas têm, por definição, influência determinante sobre a posição de classe dos seus agregados familiares – exceto em casos em que o usufruto de uma pensão de alimentos coloca a mulher no mesmo nível econômico do ex-marido (Giddens, 2007, 300-301).

* Doutoranda em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC). Tem especialização em Direito Civil e Direito Processual Civil pela Faculdade de Ciências e Educação de Rubiataba e graduação em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira. Leciona na Faculdade de Jussara, Faculdade de Ciências e Educação de Rubiataba, Faculdade Integrada de Goiás e Arctempos. É associada ao Núcleo de Estudantes Luso-Brasileiros da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

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Meu grito de pazAdão Wons*

Efervescente ódioAgudas ambições

Sobressaem aos interessesMatando inocentes

Que gritam pela liberdadeNa dor irremediável

No incansável sofrimento

Meu grito de pazEstanca na garganta

Clamando paz e igualdadeA todas as nações.

* Escritor, poeta, reside em Cotiporã/RS e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Ser uma estrelaMarrippe Faul Abeilice*

Foi numa noite de outubro ou novembro, mas faz tanto tempo que mal me lembro. Deus subiu no alto de uma montanha para corrigir uma falha na natureza que não Lhe agradava.

Havia já criado dois luzeiros e os colocado nos céus, para alumiarem o dia e a noite. Eram o Sol e a Lua. Mas os giros da Terra foram se alterando, a Terra foi mudando o seu eixo e vieram as fases da Lua gerando noites mais claras e mais escuras (Lua Cheia, Lua Minguante, Lua Nova e Quarto Crescente). Com isso, às vezes nem se via a Lua no céu...

Então, lá do alto da montanha, Deus ia criando estrelas e lançando-as ao céu, formando um belo e encantador tapete. Algumas de fato se afixaram, porém outras caíram do céu.

As estrelas que caíram no mar deram lanternas para alguns peixes, o que lhes fez passarem a sondar o fundo dos oceanos (ceratias – lophius piscatorius – caulophyrne saccopharynix – linophryne – lasiognathus – sternoptyx).

Outras estrelas caíram na terra se aprofundado além da superfície, gerando as pedras preciosas das mais variadas cores. As que eram mais leves acertaram em uns besourinhos compridos que voavam alegres pela noite adentro, piscando suas lanterninhas estrelares. Chamamo-los de vaga-lumes.

Enquanto isso, um número menor de estrelas caíram nas cabeças de alguns homens espalhados por canto, o que descortinou os vultos da humanidade: Sócrates, Platão, Aristóteles, Arquimedes, Michelangelo, Botticceli, Ticiano, Newton, Einstein, Mozart, Tesla, Lincoln, Carlos Gomes, Santos Dumont, Átila, Alexandre, o Grande, Buda, Confúcio, Cristo, todos os santos e muitos outros.

Há os que se imortalizaram nas ciências, nos esportes, pelo mérito de suas invenções...

Quem sabe, aliás, você também está prestes a receber a sua estrela?Prepara-se para isso!Domine suas emoções, coíba sua presunção, cesse suas vaidades, diminua as

falações sobre seus conhecimentos e vitórias.Pense mais no bem-estar coletivo, na moral dos políticos, nos sacerdotes e nos

governantes. Dê sua parcela de ajuda em prol da alegria e do progresso da sua pátria, atue na unidade da família, no amor, na justiça.

Abandone o seu mundinho limitado, o egoísmo, as ostentações, a autoexaltação... Admire os valores dos outros, agradeça por tudo... Vá para um lugar bem calmo, um pouco afastado da turbulência, ore, fale assim com

Deus: “Senhor, dá-me uma estrela!”.Quem sabe?Por que não?

* Parapsicólogo, escritor, compositor, músico e artista plástico. Reside em Belo Horizonte/MG, é membro correspondente da Academia Caratinguense de Letras e da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Paz: sonho palpável ou mera quimera?Amalri Nascimento*

Ouvir o silêncio,Ah, como gostaria de poder ouvir o silêncio...Surpreender minhas faculdades ao sentir a paz no silêncio.Por um instante desvencilhar o pensamentoDos ecos dissonantes dos gritos de incertezas.

Evaporar no sopro morno da respiração que se liberta,A sensação de impotência banalizada,Assoladora de esperanças, proliferando medos e comoções...Volitantemente desvanecer-me em equações irresolutas.

Manter-me conectado apenas ao meu etéreo corpóreo,Sentir nas minhas costas nascerem asas a me alarem a alma...Qual Ícaro, não me preocupar com o Sol nem com as ondas do mar,Vislumbrar somente o horizonte nu descortinando o meu corpo harpia.

Retroagir ao estado de profusão atômica,Para em cada partícula intrínseca minhaPerceber-me na iminente rota de colisão e não desviar o curso.No vácuo mudo e escuro infinito, unicamente imperar o eu silencioso;Então me dissociar da massa densa e das convenções impostas,Colidir e explodir em ímpetos de ressurgimento em novo...

No estado regressivo,Imerso no micro-macrocosmo da Recriação,Ter com a ancestralidade.Beber da paciência da erraticitade lenitiva.Renascer no lusco-fusco crepuscular matinal,Esmaecer ao ocaso.

Hibernar no borbulhar flamejante do magma evolutivo,Lentamente reagrupar em matéria, reatar conceitos, vivenciar a paz flutuante...Na lava ardente, rasgar as entranhas terrestres,Quebrar o invólucro endurecido e eclodir ao externo...Rumar em erupções alimentadoras de cúmulos-nimbos.

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Sob a égide opaca de pálio diuturno,Excitar os ecos quiméricos imersos nos arcanos subconscientes.Renascer em Fênix revestida de brandas chamas,Transcender as agruras da regeneração planetária;Então assentar para depurar, serenar para apascentar...

Neste mundo caos sufocante,Sedento do silêncio apaziguante,Seja a paz, importante...A paz!Seja a busca, incessante.

* Suboficial da Marinha do Brasil, poeta, contista, artista plástico autodidata. Reside no Rio de Janeiro/RJ e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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SolidariedadeAlcione Sortica*

Solidariedade! No meu modesto entendimento, existem inúmeras maneiras de demonstrá-

la. Pode ser qualquer ser humano que se desliga de si em favor do amigo, do desconhecido ou sei lá de quem num momento de dificuldade. Qualquer bípede que tenha esta qualidade ímpar que o diferencia (às vezes nem tanto) dos irracionais (em muitos casos mais racionais do que nós) pode também exercer uma série de tipos de solidariedade numa sequência extraordinária e praticamente ilimitada. Solidariedade é também assistir ao casamento de um amigo, mesmo que não haja um banquete previamente preparado. É desejar bom-dia àquele ou àquela que, com uma vassoura, remove o lixo da rua, do seu edifício, do local onde mora. É juntar uma casca de banana da calçada, mesmo jogada por outrem, encaminhando-a ao devido latão do lixo – evitando que alguém baixe hospital todo escamoteado, talvez até quebrado. É também fazer alguém sorrir, pelo menos uma vez por dia. Por isso, mesmo que seu ente querido já o saiba, repita de vez em quando: “Já falei hoje que te amo?”. É usar não somente a simpatia, mas igualmente a empatia no trato com o próximo. É a virtude de colocar-se no lugar do outro e compreendê-lo, em vez de apenas observá-lo e julgá-lo sem muitas vezes ter conhecimento da atitude ou das angústias do pretenso réu – no caso.

Os pecados humanos, alguns elencados segundo religiões nem sempre solidárias, são a soberba, a avareza, a usura, a ira, a gula, a inveja, a preguiça, e por aí vai. São uma infinidade! Eu acrescentaria o egoísmo e realizaria as suas bodas com a soberba, deixando a inveja como amante. Pois bem! Examinando cada um, verificaremos que a solidariedade bate de frente com todos eles, nocauteando-os sem dó, individual ou conjuntamente.

Solidariedade... Quem sabe aí encontraremos o caminho para a tão almejada PAZ! É bom pensar no assunto. Aliás, por falar nisso, já fizeste alguém sorrir hoje?

Estás esperando o quê?

* Escritor, reside em Porto Alegre/RS, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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MaternidadeLeandro Bertoldo Silva*

O maior condutor da paz é o amor. É o amor que, como entidade viva, nasce para substituir fronteiras, construindo pontes quando antes existiam barreiras...

Maternidade era uma das palavras esquecidas no seu dicionário. Era fácil demais para algumas pessoas pensarem nisso, mas não o era para Dejanira, com seu corpo perfeito e vida em liberdade. Por isso, seu ventre crescido estava na contramão de todos e isso lhe recordava sua rejeição. Mas daquele invólucro perfeito ficariam cicatrizes, marcas que se sobreporiam ao efemeramente físico e atingiriam sonhos interrompidos.

Dejanira era mulher do mundo. Esse era o resguardo que nunca pensou em abandonar nem sequer substituí-lo, nem ao menos por um momento. Sentia-se sem vida, apesar da vida que crescia dentro de si. E agora, mesmo sendo duas, teimava em sua solidão. O tempo passava, mas não levava sua angústia. Sua angústia aumentava a cada dia e a circunscrição de seu estado apontava para ela. Já dividia seu alimento, mesmo sem sua permissão. Assim, como seria dividir o resto? Era o que pensava desolada e inquieta. Só havia um jeito: acabar logo com aquilo.

Mas o feto crescido já era uma criança e, antes mesmo de pensar em qualquer outra coisa, de seu corpo redondo começou a emergir um líquido que ao rebentar a bolsa fez jorrar a sensação indefinível de que a urgência do momento não permitia reflexões. Estas só vieram quando, já com a criança liberta deitada em seu peito, em meio aos médicos, ela começou a cantarolar uma cantiga de ninar no momento em que seus seios saciavam o filho que calava a ouvir. Seus olhos recém-maternos se iluminaram, e o coração, que antes rejeitava, agora acalentava e se punha a descobrir uma desconhecida impressão felina e protetora.

A mulher do mundo sem fronteiras não sabia se o choro convulso que irrompia naquele instante era amor ou remorso, talvez fossem os dois. Aquele momento eternizado na música que embalava sua criança a fazia pensar: “Afinal, é a mãe quem dá à luz um filho ou é o filho que faz nascer a mãe?”. De qualquer forma, instalara-se ali, conduzido pelo amor que serena os corações, a paz autêntica e frutificada.

* Escritor, professor, residente em Padre Paraíso/MG e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Semeando pazCristiano José Vieira*

Semeando pazNas nações,Nas famílias,

Entre os humanos...

A paz em sementes,Para uma mente,Reflete clareza,

Beleza,Educação social.

Paz...

Em todo lugar?Vale lembrar

Que...Reflete clareza,

Beleza,Educação social.

Semeando pazNas nações,Nas famílias,

Entre os humanos...

Paz entre raçasDesfaz preconceitos,Refaz os conceitos;

Das nações,Das famílias,

Entre os humanos.

Incessantemente,Calmamente,Nas nações,Nas famílias,

Entre os humanosEstarei:

Semeando paz.

* Estudante das Ciências Sociais, habilitado em Letras e Artes Visuais, especialista em Docência do Ensino Superior e mestrando em Ciências da Educação. Atualmente, é professor da Educação Básica (ensino médio) e supervisor de curso Técnico Pronatec. Reside em Santa Margarida/MG.

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A paz sorrateiraGessimar Gomes de Oliveira*

Pasmem, acabou a paz:Aqui, ali e em toda parte,

E isso, para muitos, tanto faz,O importante é o poder, destarte.

A violência impera, solerte,

Nos quatro cantos deste mundo,E o amor, aquele amor mais profundo,

Parece apenas observar; inerte.

É claro que o bem é muito forte,E luta com suas armas pacíficas;Tentando, em manobras idílicas,

Levar o mal à própria morte.

E a paz, pasmem,Se coloca fugidia,

Se esconde, um dia após o outro dia,Nos raros corações que ainda a acolhem.

* Poeta teófilo-otonense, residente em Montes Claros/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Um abandono para a pazRogério Lima Barbosa*

Não! Não me quero manter nessa lidaQue a cada dia traz-me uma nova vida

Seja para amigos(as) que de longe me vêmOu de meus familiares que por aqui se mantêm

Não! Não me quero manter nesse diaQue com o sol se levanta uma nova dor

Trazendo consigo um tanto de horrorQue vem e percorre o meu viver, sem alguma hora me deixar entender

Não! Não me quero manter nesta vidaCheia de dívidas ou dúvidas que corroem o meu ser

E as angústias, saudades e saberes que brotam de um imaginarNão deixam espaço para um novo nascer

Deixo, assim, essa velha vidaCheia de rancor, raiva e loucura ensandecida

Na qual se amontoam imagens antigasE o novo é a dobradura daquilo que já teve vida

Abraço forte o novo diaQue o peito se abre à pura sintonia

Com tudo o que representa a alegria

Encaro firme a minha lidaNão importa qualquer julgar

Porque acho que nasci para amar

Deito, por fim, num manto novoCheio de amor e sonhos tortos

Em que a esperança é a própria mudançaE da angústia, enfim... surge a PAZ.

* Mestre em Sociologia pelo Programa de Relações de Trabalho, Sindicalismo e Desigualdades Sociais do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra/Portugal e bolsista da CAPES.

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Paz na Terra entre os homens de boa vontade

Elmo Notélio*

O povo e o mundo se lembram da Segunda Guerra Mundial, quando o sádico Adolf Hitler mandou exterminar seis milhões de judeus. O mundo se lembra das bombas atômicas atiradas pelos Estados Unidos nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão.

Algumas grandes nações preferem a guerra à paz. Elas formam a encruzilhada do mundo, sendo a divisa entre a paz mundial ou a guerra total. Ostentam paradoxos e protagonizam atos de brutalidades, sangue, ódio e rebeldia, agindo por inquestionáveis interesses econômicos de escala mundial. Em razão disso, muitos seres morrem diariamente, famílias recebem notificações de que os seus entes queridos morreram “em cumprimento do dever”, pais, filhos, noivos e esposos voltam para casa em caixas de madeira.

Há povos divididos de norte e sul, como a Coréia, como o Vietnã. E os Estados Unidos? Seu poderio militar bélico industrial desce de Washington até Saigon, desde os Estados Unidos do poderoso Lincoln até à Indochina da trágica Dien Bien Phu. São generais engalanados e refestelados em confortáveis almofadas de plumas em gabinetes com ar-refrigerado, de onde ditam ordens sobre quem deve morrer e quem pode viver.

E como não bastassem os conflitos entre as nações, a violência urbana é algo inquietante e aterrador. A vida humana passou a valer menos do que um aparelho de celular, uma simples bicicleta ou até mesmo um modesto par de tênis.

O povo clama por paz! A paz entre os homens de boa vontade, conforme dizem as Escrituras.

Basta ter boa vontade, basta ter fé, basta amar o próximo e estaremos sempre em PAZ.

* Escritor teófilo-otonense, membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em Frei Inocêncio/MG.

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Paz: busca incessanteEgmon Schaper Filho*

Paz não é a ausência de guerra. Vivemos uma realidade conflituosa, mas o ser humano, mais do que nunca,

procura a Deus.O que nos motiva a isso? Ao longo da História há grandes nomes, a exemplo

de Gandhi, que mudaram a vida das pessoas do seu país sem o derramamento de uma só gota de sangue, fazendo uma verdadeira revolução pela tão sonhada paz. Para consegui-la, porém, nem sempre é assim...

Quantos mártires ainda surgirão ao longo do tempo? Até quando o sangue pela paz será derramado?

Pelo andar da carruagem, só poderemos ter a paz lutando contra a violência, as discriminações, o racismo, a fome, a miséria, o preconceito, a exploração do homem pelo homem, o analfabetismo político, a opressão das ditaduras (sejam as de esquerda ou as direita), entre outras lutas necessárias.

Só pela luta poderemos respirar a paz e deixar o sol da liberdade nos aquecer, unidos por uma só voz na esperança de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.

Meu olhar se volta neste momento aos jovens, pois eles sempre buscaram essa tão sonhada paz. Estão a todo momento irrequietos, ansiosos, sempre à sua procura. Podemos fazer a diferença, auxiliando-os a transformarem o nosso tempo como sujeitos da História em prol de um novo dia. Terra nova há de chegar, onde o leão e o cordeiro caminharão lado a lado.

Desejo a todos Paz e Bem!

* Assessor parlamentar, ativista político e artista plástico.

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Na paz do meu amorCanção

Gervásio Horta*

No céu, no sol, no marNa terra e no ar

Nas noites de luarExiste amor

No canto e no cantarNo jeito de falar

Existe amorExiste amor

Na chuva que caiVai a tristeza

Pois vem dia de solCom a beleza

Amor é cor, é florAmor é dor

É dor de amarConvido meu amor

Para sonharNa paz do meu amor

Existe amor

* Cantor e compositor teófilo-otonense. Reside em Belo Horizonte/MG e é membro honorário da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Ensaio sobre a paz: busca incessanteIvonette Santiago de Almeida*

Ah! Sim, a paz. O que é a paz? Paz, busca incessante é minha utopia. Quiçá seja também a utopia coletiva

e de cada ser humano em prol da revolução da cordialidade individual e coletiva. Quiçá o universo da humanidade possa gerar e parir o planeta Terra sustentável, com existência digna para todos.

Paz, busca incessante é a utopia desejada e sonhada, é a Paz da Humanidade Universal que transitará e dialogará em espaços georeferenciais, econômicos, políticos, religiosos, ideológicos e culturais diversos. Juntos e solidários se constituirão em única nação: a da espécie humana em um ambiente sustentável. Nesta, o direito universal do ser humano será alfa e ômega – o princípio e a finalidade existencial.

Espaços georeferenciais em que a espécie humana usará incansavelmente armas de diplomacia, de diálogos permanentes e até de entrecortes de diálogos fortuitos e inacabados – histórica e dialeticamente construídos para tecerem a paz.

Ninguém será mais nem menos do que o outro. Nenhum ser, nação ou etnia serão mais do que os outros. Todos serão iguais no planeta e no Universo galático.

Paz se constrói no processo da conquista dos direitos e das liberdades. Para que se tenha direitos e liberdades é imprescindível haver justiça. Liberdade é a referência histórica da humanidade, desde tempos e eras milenares.

Paz, busca incessante é repensar a história humana e sua conquista por direitos. Repensar não significa esquecer nem duvidar de fazer a memória da história humana nas conquistas por direitos. O direito universal sem memória não será Direito nem História e, consequentemente, sem esta concepção não ocorrerá a passagem à justiça, à liberdade e à paz.

O Direito é histórico, é liberdade, é economia e bem-estar social. Paz, busca incessante pressupõe a existência de direitos constitucionais com garantias contínuas de inclusões no sentido da abolição das exclusões e dos preconceitos. Daí que não se possa ignorar, duvidar nem esquecer a memória histórica dos direitos. Paz, busca incessante está centrada na hegemonia da democracia, da relação pedagógica que se dá entre governantes e governados, entre intelectuais e não intelectuais, entre vanguardas e executivos. Toda relação de hegemonia da democracia é uma relação pedagógica de construção da cultura jurídica local, nacional e mundial.

Paz, busca incessante é resultado da construção social da hegemonia das práticas entre governantes e governados, das conquistas sociais e da construção social da cultura do Direito. Essa cultura se dá pelos que lutam por valores libertários, pois liberdade sem igualdade de direitos é injustiça. São os valores jurídicos que garantem a dignidade humana e o direito à vida. Tais valores são essenciais para se conceber o Estado socialmente justo. Paz, busca incessante depende, inevitavelmente, da construção permanente, contínua e revolucionária da Teoria da Solidariedade.

Esses valores constam na Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) após a Segunda Guerra Mundial – a partir de 1945. Reafirmam seu caráter de “pacto

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constitucional de convivência”. Contudo, as culturas jurídicas ainda não os acolheram integralmente.

O valor da paz ainda é sentido e interpretado de forma negativa e pobre, sem ligação com outros valores a não ser o terror da guerra, da colonização e da acumulação exercida pelos dominantes. Limita-se a política internacional apenas à gestão dos interesses egoístas dos dominadores, sendo que as paixões sempre tiveram e continuam tendo papel determinante. Por que apenas cinco nações têm poder de veto na ONU?

O valor da paz, assim concebido, apresenta dimensão estreita. Todavia, nos seus limites, os organismos internacionais se reservam a ser eficazes no equilíbrio do terror e não conseguem proclamar a jurisprudência da não declaração de guerras. As economias dominantes ainda giram em torno da fabricação e do comércio de armas e definem suas políticas em torno de tais interesses em foco.

O amor à espécie humana e à natureza requer profunda metamorfose de perspectiva quanto ao sentido da existência. Os limites da visão puramente racional e moral do mundo ainda privilegiam a acumulação do poder político-econômico pelo qual se expressam, somando ganância, ódio, colonização econômica, política, ideológica, étnica e cultural (incluindo a midiática) como combustíveis da guerra. Esse ultrapassado paradigma é responsável pelo estado de miséria, pobreza, fome e mal-estar social quase absoluto de grande parte da população mundial.

A dinâmica histórica e os aspectos humanos tornam necessárias as mudanças de paradigma, indispensáveis para compreender o sentido da vida e da sabedoria do viver – em que história de vida privada não pode permanecer sem efeitos sobre a vida coletiva, pública e política, incluindo também o meio ambiente sustentável.

Paz, busca incessante requer enfrentar os desafios das mudanças políticas que garantirão direitos universais, liberdades, justiça plena e bem-estar social sustentáveis em todo o mundo. Entre tais desafios, de modo inevitável, também de forma sustentável se incluem o meio ambiente e todos os seres vivos.

A mobilização de homens e mulheres em todo o mundo e a consciência de suas reivindicações de paz, liberdade e dignidade possuem legitimidade superior à dos poderes constituídos que buscam negá-las. É na capacidade revolucionária popular e na sua capacidade de intervenção subjetiva nos processos objetivos de desenvolvimento das sociedades que a paz se configura como busca incessante.

A Declaração Universal dos Direitos dos Povos orienta o sentido da paz, busca incessante, tornando-se imperativo acreditar que a utopia da paz é possível – sendo a única alternativa viável em prol da revolução da cordialidade e da defesa da vida e da dignidade humana.

* Docente em Saúde e Educação aposentada pela Universidade de Brasília. Médica pediatra e consultora especializada em Planejamento e Gestão em Saúde. É teófilo-otonense, reside em Brasília/DF e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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PAZ: busca incessante!Carmen Di Moraes*

Plantemos a paz, principalmente dando o exemplo para aqueles que nos rodeiam. Sinta-a com o corpo e a alma, a mente e o coração, na íntegra – e sentirás o que é a verdadeira paz.

A paz segue de dentro para fora. Por isso, ninguém pode dar o que não tem. Se a paz não habitar os nossos corações nem as nossas almas, jamais viverá em nossas vidas nem estará em qualquer lugar onde estivermos. Em nossas casas a paz deve ser perene, não uma visita quando a discórdia sai. Nossos filhos e nossos netos devem aprender que a paz é imprescindível, ao mesmo tempo em que devemos lutar por nossos ideais.

Saber ensinar a cultuar e manter a paz seria o ideal. Quando a humanidade souber fazer isso, sendo a paz a sua verdade, talvez obtenha salvação. Hoje a paz é difícil de ser encontrada, pois tudo é luta, tudo é batalha, tudo é discórdia. Vivemos uma batalha por dia, principalmente para mantermos as necessidades básicas de nossas vidas. Temos receio até de sairmos de casa por causa do banditismo e dos assaltos. Já não temos mais paz de espírito por conta da falta de paz externa, da paz física nas ruas. Se não aprendermos o amor e o respeito pela paz, sentindo como ela é valiosa e necessária, tornar-se-á mais uma simples palavra vazia, vocábulo de um dicionário qualquer. E o mundo, por sua vez, estará em eterna discórdia, esquecido da paz.

Por isso se faz tão necessária a conscientização de que a paz deve ser conquistada todos os dias numa busca incessante, para não ser esquecida e não ser apenas uma palavra com três letrinhas minúsculas insignificantes.

Paz deve ser uma palavra grafada com letras maiúsculas, sendo capaz de levantar a bandeira branca para valorizar a vida.

PAZ: busca incessante!

* Escritora, reside em Porto Alegre/RS, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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As mãos que já pegueiHélio Pereira dos Santos*

Peguei primeiro as mãos de uma parteira;Depois, as mãos de minha mãe.

Peguei em seguida as mãos de meu pai;Depois, as mãos de meus irmãos.

Peguei as mãos de vizinhos de meus pais. Peguei também as mãos de primos e tios,

Além de padrinhos.

Já peguei as mãos de professoras, Diretoras e catequistas, peguei as mãos de seminaristas,

Padres, bispos e cardeais.

Já peguei as mãos de faxineiros,Operários e vendedores,

De gerentes, empresários e locutores.

Já peguei as mãos de repórteres, Técnicos de som e apresentadores.

Peguei também as mãos de irmã de caridade, De mulheres simples, e as mãos de pastores.

Já peguei as mãos de deputados, Prefeitos e vereadores;

De presidente da República,De ministros e senadores.

Já peguei as mãos de motoristas e trocadores,De gente de muitas posses,

De gente que vive de favores;E já peguei até em mãos de governadores.

Já peguei as mãos de católicos, Evangélicos e judeus,

De espíritas, de muçulmanos e ateus.

Já peguei as mãos de mecânicos, ajudantes e agricultores;De médicos, enfermeiros e gente que dirige tratores.

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Já peguei as mãos de esposa, de filhos e policiais,De gente com câncer, AIDS e outras doenças mais.

Já peguei as mãos de mendigos, de aeromoças,De pedreiros, serventes, carpinteiros,

De garçons e de gente que trabalha lavando louças.

Já peguei as mãos de bancários, bibliotecários e operários,De órfão, de viúva, advogados e presidiários.

Já peguei as mãos de juiz, promotores e lixeiros,De tesoureiros que só trabalham com dinheiro.

Já peguei as mãos de poetas, artistas e escritores,De compradores, de funcionários públicos e autores.

Já peguei as mãos de gente corrupta,Gente honesta e de ladrão,

De assassinos, de viciados, de traficantes.E já peguei nas mãos até de piloto de avião.

Já peguei as mãos de catadores de lixo,De sindicalistas e cientistas,

De adestradores e de dentistas,De gente brava e também de gente pacifista.

Já peguei as mãos de homens e mulheres, lésbicas e gays.Já nem sei em quantas mãos já peguei.

Já peguei as mãos de pessoas que promovem a guerrae de pessoas que promovem a paz.

Já peguei até nas mãos de quem gosta das obras de Satanás.

Quando eu for embora deste mundo,Levo uma certeza comigo:

Que, entre todas as mãos em que peguei, Sem perceber peguei as mãos de meu melhor amigo:

JESUS.

* Escritor, Reside em Contagem/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Pax et BonoDimythryus Padinha*

Todos os dias, sentimos nossos próprios passos seguirem o sentido inverso da paz. Cada vez mais apressados, atentos aos nossos próprios propósitos e irritados, não enxergamos o outro – o semelhante simplesmente não existe.

As coisas parecem ter sido sempre assim, desde a Inquisição espanhola, o nazismo, o massacre de Srebrenica (Bósnia), Kosovo, Afeganistão, Síria, Iraque, o Estado Islâmico, e por aí vai. A intolerância, a ganância, a vaidade, o despropósito humano foram capazes de nos fazer perseguir o inviso caminho do individualismo. E conforme diz a Constituição das Organizações das Nações Unidas, de 1945, já que “as guerras nasceram nas mentes dos homens, é na mente dos homens que devem ser erguidas as defesas da paz”1.

Nesse assustador moinho que nos encara seria capaz o velho Dom Quixote, com seu enorme coração, resistir no seu caminho de inocência e candura? Sob as armas da intolerância, no rio dos cegos – dos pobres humanos desvalidos de amor e humanidade – correu a palavra de Deus ultrajada. O respeito ao próximo vem gota a gota se esgotando nas veias do tempo, buscando ainda resistir em leis que garantam o acento ao idoso, a faixa exclusiva ao deficiente, as portas exclusivas a desembarques, a lei antifumo, as cotas raciais. O respeito se engalfinha na luta por sua existência, o amor ágape persiste na luta contra a HN1 compulsiva das atitudes humanas.

Paz, quantos por ti resistem e ainda hão de resistir? Quantos não te compreenderão?

Já pelos idos séculos XII e XIII dizia São Francisco de Assis, um dos mais célebres Embaixadores Universais da Paz: “Pax et Bono”. Este é o caminho, o caminho que se distancia dia a dia.

Qual é o papel do ser na propagação da paz? Como reatar os caminhos da paz e do amor da humanidade quando, em dias de WhatsApp, cada um não encontra tempo para o outro? A religiosidade parece ser um dos caminhos encontrados por muitos para a difícil tarefa de re-ligare. Deus parece, de fato, ser um dos caminhos mais perseguidos na busca pela paz. Deus é a paz, em essência. Mas como delimitar um caminho tão amplo como o Deus? Milhares de liturgias e encíclicas apontam um único caminho, seitas ressurgem e confundem ainda mais os carentes da paz divina e os velhos e renegados apócrifos nos falam de um Deus que habita o nosso coração. Com isso, o problema se agrava ainda mais. Como encontrar o Deus que habita nosso ser quando nós não somos capazes de nos encontrarmos?

Hoje, com as auguras do título de Paz que ostento, me preocupa a causa humana. Homens e mulheres se distanciam do amor ao próximo, da humildade, da servidão, seguem agarrados à materialidade e aos valores pecuniários. Pouco a pouco, todos se distanciam crescentemente dos valores morais e naturais do Universo. Seguimos transgredindo os valores impelidos pelo nosso próprio Deus interior. Por isso, no poder que me outorga o título de Embaixador Universal da Paz, preocupa-me profundamente o meu papel perante os meus semelhantes, incluindo o de propagar a chama de uma ação que não pode ser conquistada individualmente – somente pela

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ação conjunta de todos os seres. Para que a paz possa prevalecer, é preciso que todos nós tenhamos as nossas

atitudes voltadas à essência de nosso Deus interior, independentemente de nossos sonhos individuais, das placas que ostentem as nossas igrejas e da signatária de nosso Deus: Buda, Krisnha, Cristo, Tao, Alá, Maomé, Javé, Zoroastro, etc. A rigor, a paz deve estar acima de qualquer individualismo e preconceito momentâneo.

Ostentar um título honroso de Paz não faz com que a minha vaidade se encha de flores, pois na verdade aumenta a minha preocupação com relação às minhas atitudes, às minhas palavras e aos meus semelhantes.

Espero que, nessa lida de poeta e de Embaixador Universal da Paz, eu possa estar à altura de semear, ainda que em ínfimo latifúndio de almas, a busca insaciável de meu Deus em prol de um mundo um pouquinho melhor. Quiçá não precisaremos nunca mais nomear, em canto algum do Universo, nenhum Embaixador da Paz e todos possamos semear o nosso mundo de paz em harmonia com o planeta.

1Constituição das Organizações das Nações Unidas em 1945.

* Embaixador Universal da Paz – Cercle Universel des Ambassadeurs de La Paix – Suisse – France (Genebra/Suíça). Reside em São Paulo/SP e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Paz: busca incessanteRogessi de Araujo Mendes*

Há homens que foram eternizados por atos de continuidade, enquanto outros o foram por ações momentâneas. Eram homens aparentemente frágeis, porém trazendo dentro de si uma fortaleza ímpar. Quase sempre atuaram silenciosos mas com sabedoria, filha do silêncio, pela observância e pela meditação.

Alguns confundem o silêncio com fraqueza, desconhecendo o seu poder incontestável. O silêncio é arma poderosa, precisa e avassaladora. O silente não é mudo, passivo nem subjugado. Ele é preciso, um verdadeiro exímio estrategista.

O falante muitas vezes se perde na oratória com muitas promessas e pouca ação. Aliás, o ato de falar não combina com agir. A máxima do poder está na quietude do silente. “A ação de um ato é o clímax decorrente dos preâmbulos silentes.”

Jesus Cristo era comedido nas palavras e foi sábio ao lidar com os vocábulos. “No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente.” (Pv 10:19)

A natureza, criação do Eterno, é exemplo para o observador silente. A luz tênue e o ar silencioso penetram no profundo, ao mesmo tempo em que a vida terrestre depende do silencioso e invisível oxigênio.

Há poder no silêncio. Lembro-me dos silenciosos olhares dos meus pais, por exemplo, de como falavam... Qual de nós, seus filhos, atrever-se-ia a desobedecê-los? “O verdadeiro poder está na ação silenciosa de uma determinação!”

Deus, o Poder Supremo de incontestável existência, silente e invisível, silenciosamente rege o mundo. Ele é o maior pacificador que a História registrou, por isso é O Príncipe da Paz!

Pacificador não é ser passivo, submisso, inerte nem apático. Pacificador é quem usa armas de paz através da força do silêncio, porém, quando é ignorado, faz-se ouvir. O termo paz diz: “o que é determinado em promover a paz”. Sabe-se, porém, que a busca incessante pela paz muitas vezes origina guerras.

Gandhi usou as armas do silêncio, dizendo não às armas da indolência. Buscou no uso da oralidade, no momento oportuno, a paz desejada. Fez-se como sacrifício vivo pelos jejuns e pelas orações, sendo, por conta de sua boa labuta em prol dos direitos dos hindus, aprisionado. Em sua vida, Gandhi pregou a não violência como arma poderosa. Organizou uma greve em 1922, por exemplo, pela queda dos impostos – causa nobre e meio justo de reivindicar a legalidade dos direitos de um povo. Contudo, como o povo se levantou em fúria e depredou o patrimônio público, Gandhi se confessou “culpado” e foi preso.

Em 1930 Gandhi viajou a Londres, Inglaterra, para negociar a independência da Índia – em vão. Mas após dezessete anos, em 1947, a Índia se tornou independente. Mas o fanatismo de hindus e mulçumanos levou-os à batalha sangrenta, por consequência milhares de cadáveres se espalharam pelas ruas. Os mulçumanos reivindicaram a independência do Estado – o Paquistão.

Em busca pela paz, Gandhi aceitou a divisão da Índia com o fim de evitar mais derramamento de sangue entre hindus e mulçumanos, atraindo para si o ódio

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dos nacionalistas hindus. Dessa forma, conseguiu o que nenhum político havia conseguido. Ainda assim, no dia 30 de janeiro do ano de 1948, aos 78 anos de idade, foi assassinado por um hindu.

A causa é pacífica, qual seja, a da injustiça social. Esta, em suas múltiplas formas, é oriunda da ganância e do abuso de poder dos que têm sede pela guerra.

Jesus Cristo foi o maior político da História, uma vez que o seu compromisso maior foi com a vida do próximo e com a verdade. Tais requisitos são eminentes na formação do caráter de um verdadeiro líder. Assim, por exemplo, expressou-se Gandhi: “Minha devoção à verdade empurrou-me para a política; e posso dizer, sem a mínima hesitação, e também com toda a humildade, que não entendem nada de religião aqueles que afirmam que ela nada tem a ver com a política”. De igual sorte, Cristo falou: “Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5:9). E também disse: “Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a Terra” (Mt 5:4).

Mansos são os que lutam pela paz. De outra forma, nenhuma terra teria por herdade algum legado, nem mesmo a “liberdade” – porque os maus e os roubadores certamente não abririam mão de sua terra e de seus alegados direitos. Já o construtor da paz, o pacificador nato, deve ser necessária e legitimamente ativo.

Não sejamos apenas pacifistas, mantenedores da paz, porém pacificadores, fazedores e construtores da paz. O pacificador tem por pátria o mundo, sendo o amor a sua máxima. Já o seu próximo nem sempre é o mais próximo, porém é todo aquele sobre quem se tem o conhecimento de sofrer injustiças. Sua causa é toda a que tripudia o amor, por isso o respeito deve intencionar a promoção da paz.

Todas as nações e todos os povos são de sua total responsabilidade. Assim como o senhor de um lar a ninguém deve satisfação quanto ao andamento de sua casa, o pacificador também deve atuar de igual modo – desde que não extrapole os direitos adquiridos sobre o respaldo das leis vigentes. Por consequência, havendo ação comprobatória marginalizada dele proveniente, mesmo dentro do espaço declarado legalmente seu, deve ele ser abordado.

O pacificador tem o dever de denunciar todas as ações más dos homens maus em cada lugar, com o intuito de fazer justiça e promover a paz.

Por fim, fiquemos com as palavras de Gandhi: “O mais atroz das coisas más das pessoas más é o silêncio das pessoas boas”.

* Escritora, reside em Recife/PE, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Flor da pazAntônio Sérgio Torres Ferreira*

Em dias de sangrentas notícias,Entumecido com pensamentos de paz,Busca incessante, garimpo de tantos,

Na contramão de histórias atuais.

A inocência de uma flor,Ofertada de mãos angelicais,

Denota a simplicidade de gestos;Como a aura, face de uma criança.

O meu olhar se fez distante,Perdeu-se no vasto campo da incompreensão

Como se pudesse notar os corpos desprezados;Em solo, base de sangrentos conflitos.

Pudera gerir o brilho do sorriso,A inocência aos olhos de criança.

Como lavrador, plantar sementes da pazPara colher a flor da “Igualdade, da Fraternidade e da Liberdade”

A todos os povos, dos quais foi ceifadaAté o simples fato de pensar: “Guerrear para quê?”.

E como gado tangido ao abatedouro, somos empurradosAos braços da morte, por ideologias vis!

* Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 21.

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Pedido de pazIlda Maria Costa Brasil*

Imagens de violênciaafetam o dia a dia

da população brasileira;suprimem vidas

e geram dores, medos e angústias.

A todo o momento,depoimentos de jornalistas e policiais

mostram o difícil cotidiano,que ocupa centros urbanos e rurais,

imprimido pelo tráfico e pelo desamor.

Emoções floresceme sentimentos se sobressaemrevelando corações reprimidos

pelas amarguras da vida,embora aspirem a venceros obstáculos e os medospara, enfim, vivenciarem

Harmonia e Amor.Oramos pela Paz!

* Escritora, reside em Porto Alegre/RS e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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PazAlfredo Nogueira Ferreira*

Para que bombas de milhares de megatons?! E formidáveis projéteis intercontinentais?!Aviões supersônicos vomitando morte?! E submarinos atômicos – peixes fatais?!Já esqueceram Hiroshima?! Nagasaki?! Auschwitz?! E os milhões de mortose os mutilados?! As cidades destruídas?! Os campos sem vida?! Os portosarrasados?! As escolas desertas?! As fábricas ardendo?! E o cheirode sangue, de pólvora pairando sobre o mundo inteiro?!A humanidade não quer guerra. Abaixo a guerra!...O povo quer trabalhar, construir sobre a terraum mundo novo, uma mais justa sociedadeem que haja mais amor, mais fraternidade,maior compreensão entre os homens.Em que a riqueza e todos os benssejam de todos. Um mundode liberdade. De fundohumanismo. Capazde querere viverem paz.Paz.

* Escritor, professor da Universidade Federal de Pelotas/RS e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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In-versoFátima Sampaio*

ZAP...

o tiro do fuzil disparou.E no inverso do ato

e da palavra,explodiu-se em

PAZ...

* Filósofa, professora, educadora ambiental e conselheira da Associação Internacional Egrégoras pela Paz. Reside em Belo Horizonte/MG e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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João BoboSérgio Rodrigues Piranguense*

Em uma das casas humildes do Vale Cultura nasceu João Bobo. Era o terceiro filho, outra boca para se alimentar. Esposa e esposo dividiam seus sonhos entre quatro paredes desalinhadas.

Algum tempo depois, a família passou a receber benefícios oriundos do programa de assistência social graças aos esforços despretensiosos do senhor Caudilho Salvador, que era prefeito em fim de mandato e aspirante à Câmara dos Deputados. Como o pai era carente de evolução e alcoólatra inveterado, ele ia à cata de material reciclável nas ruas enquanto a mulher lavava, passava e fazia sexo com o futuro parlamentar.

A filha mais velha, adolescente, apesar da pouca idade às vezes substituía a mãe na cama política pelo simples gozo da prostituição.

Desde a infância, João Bobo acalentava o sonho de se tornar jogador de futebol e vestir-se tal como os seus ídolos, além de tatuar o corpo, inventar cortes esquisitos no cabelo e querer ficar famoso nos gramados da Europa.

A outra irmã do menino é portadora de obesidade mórbida e amante de ritmos calientes da musicalidade importada. Com a esperança de ficar famosa nos programas de televisão, a menina posta vídeos de qualidade duvidosa nas redes sociais.

João Bobo e suas irmãs conseguiram certificado de escolaridade apenas por estarem matriculados em escolas da região. Quando o ano letivo terminou, mamãe exibia orgulhosa os diplomas conquistados pelos filhos.

Papai aquentava ao sol a vontade de erguer um puxadinho onde construiria uma garagem. Adeus, linha de extrema pobreza! Os membros da nova classe social confundiam, afinal, supérfluos desejos com necessidades. Consumiam tecnologia apenas para satisfazer o voraz apetite digital.

João Bobo percebeu isso rapidamente, pois sua cabecinha inocente assimilou que o trabalho infantil é crime. Cândido abriu os braços à delinquência, pois estava também fascinado pela impunidade dispensada aos menores infratores. Aos doze anos de idade, conseguiu dinamite para explodir um caixa-eletrônico. Durante a fuga ele baleou um policial, mas o revide certeiro atingiu-lhe a cabeça. João Bobo caiu fulminado. O sonho de se tornar vereador acabou resignado sem nenhuma legenda.

A imprensa lançou nota de repúdio contra a violação dos direitos humanos. O Ministério Público investiga o abuso de poder praticado pela polícia.

* Escritor, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e funcionário público da Universidade Federal de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte/MG e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Buscar a pazFrancisco Martins Silva*

Buscar a paz éViver o amor pelo próximo,

Entender e praticar o perdão,É sempre buscar promover a dignidade

Na família e na sociedadePartilhando fé, sonhos e união.

É cantar a esperança e mantê-la viva no coração,É também zelar pela Mãe Natureza,Digna de toda a nossa dedicação.

É cuidar de toda semente de amor espalhada,É praticar sempre as boas ações.

E ao estarmos dispostos a todas essas práticas,Viveremos na Paz e em plena comunhão.

* Professor, escritor e poeta. Reside em Uruçui/PI e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Mulher, agente fundamental para a pazIsabel Cristina Silva Vargas*

As mulheres, desde que nascem, são preparadas para serem as senhoras do lar. Por que digo isso? Foi dessa forma que várias gerações foram criadas e educadas. A vocação primordial das mulheres deveria ser o casamento, sendo apenas uma perfeita dona de casa. Deveria saber cozinhar, lavar, passar, bordar, tricotar, fazer crochê, ser atenciosa com o marido, não desobedecê-lo, atendê-lo quando ele desejasse e não tomar a iniciativa dos deveres sexuais. Gerações de mulheres foram assim criadas e assim a mulher manteve a paz no lar por muito tempo.

O que era consenso na família e na sociedade é que ela só poderia ter como atividade externa, a muito custo, o magistério. Com seu jeito feminino, sua candura e a vocação para a maternidade certamente ela seria boa professora e todos seriam felizes. E também foi assim que ocorreu.

Esqueceram-se, porém, de que a mulher é um ser desejante por natureza. Por conta disso, tanta coisa ela desejou e muitas oportunidades lhe foram tolhidas. A mulher aprendeu a ter paciência e a conquistar as coisas sem conflitos, com força de vontade, disciplina e inteligência, na esperança de dias melhores. Sim, as mulheres são esperançosas por natureza! Quem carrega um ser em seu ventre por nove meses e o sente crescendo tem a esperança internalizada. A mulher tem a tranquilidade da espera e sente que será bem-sucedida. A mulher é a poesia e o amor materializados no fruto de seu ventre.

É paciente, conciliadora, abnegada e sabe ser altruísta, tirando de si para beneficiar a outro. A maternidade desperta na mulher todos esses atributos que são utilizados para o bem viver na família, na comunidade e na sociedade em geral. A mulher entende as coisas da alma, entende o silêncio, lê olhares, interpreta silêncios e emite a resposta adequada – a resposta esperada que é capaz de tocar e enternecer a alma.

Não estou a falar da mulher como ser perfeito, mas como ser sensível e perspicaz. A mulher é capaz de lutar por seus desejos e seus sonhos e, por isso mesmo, sua competência extrapolou os limites do lar e ela foi lutar por uma posição na sociedade compatível com seus anseios. Ela venceu neste campo também e podemos dizer que atualmente a mulher está em todos os setores, em todos os campos, sem abandonar a doçura aliando competência com sensibilidade. Ela sabe se colocar no lugar do outro, atributo essencial para ser líder e promover o bem do outro.

A mulher é capaz de perceber detalhes e notar sutilezas que fazem a diferença. Ela sabe também ser instrumento de promoção do semelhante, que pode começar sendo o esposo, o filho, o colega de trabalho, o aluno, o subordinado, os membros de uma sociedade, a diretoria de uma empresa até podendo ser o povo de um território por ela governado. Por consequência, a extensão deste espaço físico é o tamanho de seu sonho.

A sociedade não dispensa a participação efetiva da mulher em função de sua habilidade de negociação, de empreendedorismo, de sua sensibilidade, sua disciplina, seu equilíbrio e sua tolerância – no sentido de promover a conciliação em detrimento da desestabilização, dos conflitos ou das revoltas.

A mulher é fundamental para a promoção da paz!

* Escritora, reside em Pelotas/RS e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Mensagem de pazRoberto Ferrari*

Nós seres humanos vivemos em constantes conflitos, muitas vezes externados em guerras. Desde o início dos tempos o homem foi belicoso, procurando a solução de muitos problemas ou a satisfação de seus desejos por meio de conflitos armados.

O homem nunca soube respeitar a liberdade do próximo nem mesmo as benesses vindas da natureza, como, por exemplo, a exploração desenfreada nos países ricos em petróleo, a exploração predatória de metais preciosos ou o desenvolvimento cego de tecnologias avançadas.

Paralelamente a tal cenário, podemos ver que através da História grandes homens levantaram a bandeira da paz, especialmente Ghandi, Nelson Mandela, Martin Luther King e o maior de todos: Jesus Cristo.

Os ideais pregados por esses homens tinham um ponto em comum: todos pregavam a paz através do amor e da não violência. Seus ensinamentos focavam a liberdade, a justiça e o amor como forma de se atingir um estado de paz perene. Todos eles pregaram a paz e foram vítimas de algum tipo de violência em virtude de incomodarem os interesses de quem lucrava com a violência.

Considero que todos nós temos em nossa alma o amor e, por meio de sua força incondicional, é possível construir uma sociedade pacífica e voltada para o desenvolvimento das pessoas.

O maior homem de todos os tempos, Jesus Cristo, morreu na cruz perdoando a humanidade. Então, fica a pergunta: se Cristo, que estava sendo crucificado, pôde perdoar, por que nós não podemos ou não queremos perdoar?

Pode ser que na resposta a esta pergunta esteja a chave para a paz duradoura: o perdão e o entendimento.

Nelson Mandela sempre dizia que a liberdade e a justiça são fundamentais para que uma sociedade viva em paz e não posso deixar de concordar com ele, pois só assim seremos capazes de vivermos em paz e harmonia.

A paz deve começar dentro de nossos lares pela prática do amor, da justiça e da liberdade, sem nos esquecermos do ato de perdoar. O fim das guerras está intimamente ligado à evolução do ser humano no que diz respeito a ele viver uma relação biunívoca no amor e na liberdade.

Quero aqui deixar uma mensagem final a todos que leram esta pequena reflexão: vivam pelo amor com liberdade e justiça, pois assim o mundo será um local pacífico e um verdadeiro paraíso!

* Escritor, reside em Carapicuiba/SP e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Semeando a pazMarlene Campos Vieira*

Olhando para fora da minha casa, vejo sementes que estouram das árvores e caem na rua. O incrível é que algumas vezes as encontrei dentro de casa, tal a força com que são impelidas. Por analogia, penso nas sementes da paz e de como elas foram lançadas com a mesma força e protagonizaram um papel grandioso.

Vale lembrar alguns nomes e suas lutas: Nelson Mandela, grande guerreiro em prol dos direitos dos negros e da igualdade racial; Martin Luther King, que lutou pela paz, a igualdade e os direitos civis dos negros americanos; Mahatma Gandhi, líder que usou o pacifismo como arma; e muitos outros, que, usando a inteligência e a humildade, deixaram como legado a paz.

Muito recentemente, Malala Yousafsai, a paquistanesa vencedora do Nobel da Paz de 2014, sendo laureada com apenas 17 anos de idade, deu ao mundo a maior lição de luta pela paz ao desafiar os radicais islâmicos do Talibã por querer estudar, sendo gravemente ferida.

Não basta olhar o infinito, todos os dias, e respirar a paz daí resultante. É preciso cultivá-la dentro de nós, superar nossas dores, desacelerar nossas angústias, vestir o nosso maior sorriso e arrastar para dentro de nós tudo que é precioso e nos faça bem. Esta é a lição de Malala: a vontade de viver, mesmo que já tenhamos morrido um pouco ou muito aqui ou ali, pelo caminho.

Quando nos despimos do nosso egoísmo, de nossas queixas e de nossas incertezas, vemos claramente o ideal comum que nos une. Muito interessante, a propósito, é o que conta Marcelo Xavier em Andarilhos: “O mundo cão se agitou com a notícia trazida pelo jornal do dia: ‘Encontrados três bebês em um cesto atrás da igreja. Seus nomes Ego, Dúvida e Queixa são tão estranhos quanto seu jeito diferente de latir:

– Eu! Eu! Eu! – late Ego. – Ou! Ou! Ou! – late a Dúvida. – Ai! Ai! Ai! – late Queixa.’ ”Ele então conta o drama de todos os moradores que correram para

ajudar os filhotes, embora ninguém quisesse levá-los para casa. Quem se arriscaria vendo aqueles nomes esquisitos pendurados nos seus pescoços acompanhados ainda daqueles latidos estranhos?

Trata-se de uma alegoria pertinente, pois quem se tranca no seu egoísmo deixa de plantar a semente da paz, deixa de cumprir o seu real destino.

Tudo tão simples no mundo: a cumplicidade da terra, algumas sementes, água e o milagre acontece! Não se faz necessário buscar coisas fantásticas, é só o cotidiano... Em breve chegará a florada, as abelhas e o mundo de todos os dias.

Rubem Alves nos mostra em O Amor que Acende a Lua o quanto nos desconhecemos, quantas atitudes tomamos que nos surpreendem. As atitudes podem ser positivas ou não, mas nossa essência é divina.

Nos dias atuais, Malala nos deixou um exemplo extraordinário que jamais será esquecido.

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Assim, passo a passo vamos descruzar os braços e plantaremos as sementes na melhor terra. Ao final, daremos as mãos para estendermos o significado da bandeira branca da Paz.

* Educadora, escritora e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 26.

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Intolerância e intransigênciaAltamir Freitas Braga*

“Felizes os que promovem a paz, porque

serão chamados filhos de Deus.”(Mateus 4: 9)

Atrevo-me a penetrar nos difíceis caminhos em prol da conquista da paz. Ainda assim, é um tema de real interesse universal e humanístico sobre o qual todos nós temos de pensar com bravura e equilíbrio.

Os seres humanos são, por natureza, criaturas inquietas, desordenadas, impuras e contraditórias – vivendo num universo misterioso e inexplicável. Ante sua própria condição, a temática da paz deve ser bem compreendida.

A Sociologia, o Direito Internacional e as várias correntes de pensamento em busca da paz ainda não conseguiram mensurar as falhas do terreno dos conflitos humanos. Há, nos parece, um dado qualquer que impede as nações, com base no comportamento de seus governantes e habitantes, de encontrarem uma explicação para os embates da natureza humana. Com efeito, ao longo da existência do ser humano a intermediação dos interesses conflitantes não alcançou o êxito desejado. Em vez disso, apenas tréguas momentâneas foram registradas diante de gigantescos cenários de desagregação. Considerando o pensamento místico-teológico, poderíamos indagar: os conflitos humanos nasceram com a Síndrome de Caim? Será que o distúrbio familiar havido no Paraíso transportou, para as gerações que se seguiram, a violência como um castigo à transgressão divina? São cogitações, apenas importantes cogitações.

O certo é que o nosso DNA deve estar carregado de fios condutores ao bem e ao mal (marca humana indelével) numa contradição misteriosa. Ao se examinar mesmo superficialmente o poder, logo se vislumbram os atritos. Há uma espécie de vírus a penetrar nas entranhas dos poderosos que, em sua maioria, parecem cegos diante da necessidade humanística de discutir e sanar as discórdias. O poder temporal é, sem dúvida, uma doença incurável – quando desvirtuado do exercício da prática do bem comum.

Toda moeda tem dois lados e o caso em voga se enquadra nisso. Eis que, de um lado, vemos a ciência pela busca frenética das tecnologias de todas as áreas do conhecimento humano: a Medicina, a Engenharia, a Cosmologia, a Sociologia, as viagens espaciais, enfim, todas voltadas para o bem da humanidade. A contrassenso, há o lado escuro da ciência, que são os mensageiros do medo e da destruição: os fabricantes de armas, as bombas devastadoras, os agentes químicos e toda uma gama de estratagemas cruéis em guerras sucessivas que a todos estarrecem.

Como se vê, há um indesejável antagonismo entre o poder e a paz. Todavia, ainda existem os menestréis e os sonhadores e até foi criado um Prêmio Nobel só para a paz. Adiantou?

Se hoje fabricais bombas muitas armas e canhõesTanto mais duros e frios serão vossos coraçõesMas é tempo de mudança, de voltar para o SenhorE de se cantar com a vida que mais forte é o amor!

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Este é o lado contraditório da liderança humana: ora frutífera, ora de insanidade total. Quantos conflitos já foram registrados ao longo da história da humanidade? Quantos? Um sem-número.

O tema da paz contém miríades de acontecimentos, registros e pesquisas históricas que não cabem minimamente aqui. Em síntese modesta, nós poderíamos citar os incessantes conflitos modernos. Agora mesmo, assistimos a um barril de pólvora no Oriente. Por outro tanto, vale registrar a mínima trégua havida entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, entremeada de conflitos localizados mundo afora. Todas as guerras e conflitos, por seu turno, sendo semeadores de horrores e crueldades mortais.

Debalde veio a criação da Liga das Nações, depois a ONU e outros organismos internacionais mediadores dos conflitos, pois as guerras localizadas continuam devastadoras no mundo dito civilizado. Essas organizações e seus mentores não conseguem evitar catástrofes nem pela cessação dos ânimos exaltados, nem pela pregação do desarmamento e tampouco pela intermediação diplomática. Basta ver a recente Guerra do Golfo e muitas outras até mais atuais, como a do Iraque. Não há a cessação dos horrores mortais e, desgraçadamente, eis aí o impeditivo para a paz desejada.

Por aí se vê que a intransigência é parte de nosso metabolismo, seja em maior ou menor grau, sendo um registro de resquício animal que nos habita sorrateiramente.

Filósofos hão de reconhecer as guerras como um instrumento de equilíbrio populacional. Sendo assim, serei o primeiro passageiro para ir a Marte, custe o que custar.

A rigor, bom seria se os cientistas puristas e humanitários descobrissem uma vacina contra os embates e os conflitos de toda natureza. Ou, quem sabe, uma lobotomia universal...

É uma licença do exagero, concordo, assim mesmo desponta a pergunta: a paz é possível?

Parece reconhecível que há entre os homens um grande anseio pela paz. Mas a paz não reside na vontade de cada um. Ela necessita do viver coletivo, perene, sem ódios nem recalques pelo insucesso das conquistas. Por isso, ousamos dizer: a paz, apesar de sua natureza tão bela, não é ainda instrumento da conduta humana, apenas mera quimera. Por tal razão, políticos, poetas, artistas e pessoas mais sensíveis e espiritualizadas reconhecem que a paz é um sonho ainda por sonhar. De minha parte, não vislumbro uma visão otimista para o futuro da paz, tudo porque o ser humano ainda não alcançou o estágio espiritual de tal grandeza – sendo capaz de renunciar a poderes desmedidos e abusivos.

É inegável que a busca pela paz queda diante de ânimos exaltados e o egoísmo nacionalista exagerado, isso para não acrescentar que nos tempos atuais a inexistência da paz é fruto da desagregação social. Sim, porque “a intransigência é e sempre será uma espécie de guilhotina”.

*Advogado, escritor, reside no Rio de Janeiro/RJ e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Paz: quem busca encontraLucivalter Almeida dos Santos*

O ser humano, seja branco, negro, mulato, índio, cigano, religioso ou livre-pensador, pobre ou rico, enfim, não importa: todos buscam a paz! Segundo algumas descrições encontradas em fontes de pesquisa, a paz é geralmente definida como um estado de calma ou tranquilidade com grande variedade de significados – dando a ideia geral de bem-estar. De igual sorte, é usada para designar os relacionamentos interpessoais e pode se referir às relações entre homens ou nações. Derivada do latim (pacem = absentia belli), pode referir-se à ausência de violência ou guerras, perturbações ou agitações em geral.

No plano pessoal, a paz designa um estado de espírito isento de ira, de desconfiança e, de modo geral, livre de todos os sentimentos negativos. Assim, a paz é desejada por cada pessoa para si e, eventualmente, aos outros – a ponto ser uma frequente saudação e objetivo de vida. Paz também é um estado de espírito pelo qual o ser se encontra equilibrado e sereno – a sua paz interior.

É justamente por se tratar de algo tão essencial e, por que não dizer, de vital importância, que a busca pela paz é incessante. Não tem preço viver livre de conflitos e de se desfrutar de um estado de calmaria e tranquilidade, seja em algum ambiente, seja com as pessoas ou consigo mesmo. No mais, por que não dizê-lo, principalmente com Deus!

Não obstante perceber que o homem para alcançar tal objetivo se utiliza de variados meios e métodos, podemos entender que a paz é uma dádiva de Deus. Isso porque o Divino Mestre, quando palmilhou sobre esta terra, em uma de suas ministrações – registrada no Evangelho de São João (14:27) –, afirmou: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o coração, nem se atemorize”. Tal afirmação nos faz entender que a verdadeira paz é encontrada Nele.

Cabe ainda endoçar que o profeta Isaías (9:6), profetizando sobre o Messias setecentos anos antes de Cristo, já se referia a Ele como o Princípe da Paz. Logo podemos compreender que tanto no sentido individual quanto universal, em se tratando de paz, esta é concedida por Deus. Sua busca é importante para se banir o medo e a ansiedade, preservar a serenidade da mente, ter segurança quando vierem as tribulações da vida e para garantir que, achando-a, se estenderá a paz por toda a eternidade.

Portanto, pelo que representa, vale a pena insistir na busca pela PAZ. Afinal, quem a buscar no endereço certo certamente a encontrará!

* Professor, teólogo, escritor, poeta e cronista. Graduado em Serviço Social, reside em Nazaré/BA, é membro correspondente da Academia Cachoeirense de Letras/ES e da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG. Também é membro emérito da Câmara Brasileira de Jovens Escritores (RJ).

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AscensãoAntonia Aleixo Fernandes*

A corrida desenfreada pela ascensão política e econômica, caso se assemelhasse à sublime ascensão de Cristo, possibilitaria o renascimento de uma sociedade mais justa, sendo esta pautada na participação por um mundo onde todas as pessoas vivessem em paz.

Todavia, a corrida política e a pressa econômica transformaram o homem em avarento, o qual, para conseguir o que deseja, humilha, desrespeita e magoa os entes queridos à sua volta, considerando-os como sendo uma sombra invisível e indolor.

Sua ética é a ética do ter, nem que para isso faça ao outro doer – como se este nada sentisse.

A humanidade vive em busca da paz, mas, enquanto a avareza for seu único objetivo de vida, a PAZ jamais será encontrada.

* Assistente social, escritora, reside em São Paulo/SP e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Os versos e nos reversos de cada um de nós!Odenir Ferro*

A paz existe! Em estado divinal, espiritual, metafísico, transcendental, mediúnico... Encontra-se presente dentro e fora de nós... Nos versos e nos reversos de cada um! Assim como Deus e todos os seus séquitos de anjos e santos... E também no Todo, e no Tudo, e no que é do mal...

Portanto, existem guerras! A paz e a guerra estão dentro de cada um de nós assim como o bem e o mal assopram dentro de nós, através dos ouvidos etéreos da alma coletiva da nossa intuição, tudo que é do bem e tudo que é do mal. E nós seres humanos, assim como os animais (beijão enorme, Scooby!), somos dotados de consciência plena! Ainda assim, às vezes nossos instintos são mais fortes do que nós próprios. Por nossas percepções, imaginações, fantasias, enfim – através de nossos estados consciente e inconsciente e intimista, bem como de nossos estados individual e coletivo de ser – sabemos perfeitamente identificar, tanto por dentro quanto por fora de nós, tudo que é certo e tudo que é errado.

Somos dotados de uma arma poderosíssima: a consciência! Somos dotados de razões e emoções! E as nossas razões e as nossas emoções formam sequências e subsequências, infinitivas... E todos os nossos sentimentos têm força natural para serem intimistas ou globais! Temos consciência intimista e temos consciências globais... A intimista cria o nosso histórico pessoal de vida existencial, enquanto a consciência global nos define quanto a sermos humanos participantes ou sabedores – conscientes ou inconscientes – dos acontecimentos que se fazem, se perfazem e se refazem nos inumeráveis e diversos cotidianos globais...

E assim a vida, interpretada no seu Todo, prossegue dentro do seu todo existencial no planeta Terra! Assim também, além do nosso tempo presente, temos o passado e o futuro! Pois dentro do aqui e do agora tudo acontece de forma imediatista! Assim sendo, tanto a paz e os seus núcleos – seus oasis de paz – estão espalhados pelo planeta Terra como também os inumeráveis núcleos das desordens, dos cenários de caos, das iras, dos ódios de todos os tipos, dos abusos de poder, das perseguições, das desavenças, enfim, de todas as desarmonias que são provocados pelas guerras que se estendem. As guerras vão desde uma rivalidade entre vizinhos até o caos geral das brigas entre as nações!

Já a paz está ligada, intimamente ligada, ao nosso interior, aos nossos relacionamentos conscientes e inconscientes! É dentro de nossas inumeráveis aptidões que lidamos com os exercícios da humildade! A nossa paz interior está extremamente ligada à nossa capacidade de sermos humildes em relação a tudo e a todos! E assim como a humildade (dentro de toda a excelência das virtudes) é um exercício apaixonante, contagiante e apaixonável, a paz é intensiva e extensiva! E o é muito mais ainda agindo como uma virtude extrema e de excelentíssima qualidade, como qualificação espiritual.

A paz e a humildade, assim como os nossos outros inumeráveis valores, nos condicionam e nos encaminham para que possamos trilhar nossa estrada existencial ao encontro do Amor Universal Eterno! Este se faz presente agora até o ad infinitum,

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dentro da imensurável sabedoria universal do Criador e de todos os seus séquitos de anjos e santos! Dentro de tais substanciais valores, se estamos em paz conosco nós podemos e temos força para irmos, através dos laços afetivos da União Universal, modificar para melhor a qualidade de vida de todos nós, seres humanos e animais, dentro de todo o Planeta...

E assim iremos, gradativamente, abolindo todas as negatividades, todos os ódios e todas as guerras do planeta Terra!

* Poeta, escritor, Embaixador Universal da Paz. Reside em Rio Claro/SP e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Não aguentamos mais! Marcelo de Oliveira Souza*

Não aguento mais! Tiro na esquina Ferindo o rapaz

A noite se ilumina O clarão da chacina Morre uma menina

Chuva e choro De dia...

À noite tudo se repete Nada mais prevalece A bala come o rosto Rosto sofrido de dor

Caído na vala, no esgoto Muita dor e agonia...

Ninguém sabe, ninguém viu O estouro da bomba deflagrada

Num flagrante da rapaziada Não tem festa, não tem nada O couro come na madrugada Choro, morte e mais nada... E mais um corpo despejado

No quintal da estrada.

Não aguento mais!Drama, grito e desespero

Tudo pelo dinheiro O povo precisa de PAZ

No cemitério o povo jaz... Sofrimento, ferida, rapaz

Não aguento mais!Não aguentamos mais!

* Escritor, poeta, reside em Salvador/BA e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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A loucura nossa de cada diaTeresa Azevedo*

Eu sei que são exemplos de doenças mentais com manifestações psicológicas severas a depressão, o transtorno bipolar, a esquizofrenia, a demência e os transtornos de ansiedade. Porém, me pergunto se as pessoas ditas “normais” de fato o são. A meu ver, o que intitulo “A loucura nossa de cada dia” está presente na vida de todos nós – publicamente diagnosticados no Código Internacional de Doenças (CID) ou não. Uns carregam boa dose de loucura, outros seguem com doses menores, mas ninguém escapa de seu estigma.

Hormônios à frente e lá vamos nós, com os nervos à flor da pele, espalhando ira e discussões por onde passamos. Uma medicação errada, um pós-operatório ou internação pode nos tirar do prumo sem qualquer esforço. Mudanças e imprevistos são fatores marcantes que nos jogam no poço do desconhecido e nos apavoram, causando reações nem sempre ideais. A bebida e as drogas fazem os seres pseudonormais se transformarem em loucos irreconhecíveis. À custa de condições cotidianas, agimos como loucos e “nossa loucura” pode ser motivo de chacota, embaraço, brigas, mágoas, mortes, entre outros infortúnios. Encontrar o remédio para o “santo equilíbrio” é tarefa difícil e, para muitos, até parece impossível.

A toda hora, ouvimos notícias assustadoras, ações hediondas advindas de pessoas com condutas que jamais indicariam a possibilidade de tais comportamentos. Quem sabe quais delas cometeram loucuras só momentâneas ou as decorrentes de seus problemas de saúde mental até então adormecidos e camuflados?

Alguns repetem o mesmo comportamento bizarro todos os dias de tal modo que se torna visível a imprescindibilidade do tratamento psiquiátrico. Quanto a isto, uns não o buscam por desconhecerem seu problema, enquanto outros não o fazem por não aceitarem a ideia. Por fim, há aqueles que não o querem por mera negligência.

Por essas e por outras, peço continuamente que Deus nos livre dos percalços e das consequências das loucuras nossas de cada dia.

Que Deus nos ajude a alcançar a paz que incessantemente buscamos!

* Poeta, escritora, foi vice-presidente do Portal do Poeta Brasileiro no período de 2010 a 2012. Reside em São Paulo/SP e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Paz... Apenas uma palavra

Marly Rondan Pinto*

Buscamos a Paz,que nunca tivemos.Será utopia, ilusão?

Paz... apenas uma palavra.Somos sonhadores, crédulos.

Acreditamos que há um tesourono fim do arco-íris, será a Paz?

Nunca tivemos, mas é necessária.Sem Paz não há vida plena.

Paz... busca incessante.Homens estão sendo enviados

para o espaço, será em busca da Paz?Quem sabe a trarão para a Terra!

Homem, um ser pensante,que visualiza um mundo melhor.

Buscamos a Paz,que nunca tivemos.

Eu acredito que num futuro,bem remoto, eu sei,

teremos a tão sonhada Paz.Hoje, apenas uma palavra.

*Graduada em Pedagogia, pós graduada em Educação Infantil e mestrado em Educação. É proprietária da Editora Sol, com pequenas tiragens, editando seus livros e atendendo novos escritores e poetas. Reside em São Paulo/SP, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Academia de Letras de Teófilo Otoni:Histórico, patronos e quadro social

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Academia de Letras de Teófilo Otoni“Resgatando a arte literária na cidade”

Fundada oficialmente em 20 de dezembro de 2002, é composta por 30 membros titulares e efetivos; cada cadeira é designada numericamente e tem um patrono, imutável, em homenagem a personalidades que tenham se notabilizado nas letras, nas ciências, nas artes, na política, na educação e na imprensa; conta ainda com um quadro social de membros honorários, beneméritos, convidados de honra e correspondentes. A entidade tem por objetivos: congregar pessoas que se dediquem às atividades literárias e artísticas nas mais diversas formas de expressão; realizar estudos e pesquisas na área da literatura local e regional; promover e incentivar a cultura através da realização de conferências, exposições, concursos, cursos e outras atividades de natureza cultural; propagar o culto, o estudo, a exaltação e a divulgação da vida e obra de personagens históricas e figuras literárias que ajudaram a construir a grandeza do município e região; coletar, pesquisar, elaborar e divulgar estudos e informações de cunho cultural, relacionados aos interesses da entidade, e, por fim, promover o aprimoramento da língua pátria nos seus aspectos científico, histórico e artístico.

Realiza, anualmente, a tradicional Noite do Café-com-Letras, com recital, lançamento da revista literária Café-com-Letras, com trabalhos dos acadêmicos e convidados especiais e, ocasionalmente, posse de novos membros e lançamentos literários. Mantém a Biblioteca Dª Didinha – espaço para difusão da cultura e incentivo ao hábito da leitura junto à comunidade e o Núcleo de Documentação e Memória da Literatura Isaura Caminhas Fasciani – destinado ao resgate, guarda e conservação de livros, documentos (manuscritos e iconográficos) e demais objetos de valor histórico e cultural com referência à literatura no município de Teófilo Otoni e região do vale do Mucuri.

Desenvolve em parceria com a União Estudantil de Teófilo Otoni e Conselho Municipal da Juventude, atividades de estímulo à leitura e escrita por meio da realização anual do Prêmio Literário Jovem Escritor: Troféu Cultural Prof. Fábio Pereira para os alunos na faixa etária dos 14 aos 29 anos, matriculados na educação básica e superior.

Outorga, a cada dois anos, o Prêmio Academia de Letras de Teófilo Otoni: Troféu Isaura Caminhas Fasciani – com o objetivo de reconhecer iniciativas de pessoas físicas ou jurídicas, na área literocultural quer como promotores, incentivadores ou de produção do conhecimento com ações voltadas especificamente para o município de Teófilo Otoni ou do Vale do Mucuri. O prêmio é distribuído nas seguintes modalidades: conjunto de obra literária; produção técnico-científica e intelectual: dissertação, ensaio, artigo científico, jornalístico ou monografia; expressiva atividade elevadora da cultura teófilo-otonense: pessoas físicas, jurídicas ou veículos de comunicação social; livro do ano: por obra poética ou em prosa lançada no decorrer do ano; pessoas jurídicas incentivadoras ou promotoras da arte e cultura no município e escritor ou personalidade do ano.

Outrossim, concede a cada ano a Medalha de Mérito Cultural Dª Didinha – destinada a homenagear pessoas físicas e jurídicas que tenham se destacado na criação e promoção literocultural, através de atividades pertinentes às contribuições literárias, culturais, artísticas, religiosas e pesquisas em favor do desenvolvimento da pessoa humana e da sociedade teófilo-otonense ou pelo estabelecimento de políticas e projetos para o desenvolvimento da educação, o ensino e civismo no município e região do Vale do Mucuri. Ainda realiza, anualmente, o projeto Cestas Literárias, cuja iniciativa consiste na doação de cestas com livros literários para o enriquecimento de acervos bibliográficos de entidades sociais e culturais do município.

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Patronos

Cadeira: Patrono:01................................................................... Pedro de Paula Ottoni02................................................................... Ruy Homero de Oliveira Campos03................................................................... Lourenço Ottoni Porto04................................................................... Olbiano Gomes de Mello05................................................................... Paul Max Rothe06................................................................... Pedro Antônio do Nascimento07................................................................... Régulo da Cunha Peixoto08................................................................... Reynaldo Ottoni Porto09................................................................... Augusto Pereira de Souza10................................................................... Adail Barbosa de Oliveira11 ................................................................... Lourival Pechir12................................................................... Dom Quirino Adolfo Schmitz13................................................................... Joaquim Nunes14................................................................... Joaquim Alves Portugal15................................................................... Tristão Ferreira da Cunha16................................................................... José Alfredo de Oliveira Baracho17................................................................... Nelson de Figueiredo18................................................................... Rubem Somerlate Tomich19................................................................... Dely Coelho Nogueira20................................................................... Darcy de Almeida21................................................................... Libório Zimmer22................................................................... Johann Leonard Hollerbach23................................................................... Petrônio Mendes de Souza24................................................................... Carlos Fulgêncio da Cunha Peixoto25................................................................... Ione Lewicki da Cunha Mello26................................................................... Leônidas Alves Lorentz27................................................................... Luiz Gonzaga de Carvalho28................................................................... Noé Rodrigues dos Santos29................................................................... João Salomé de Queiroga30................................................................... José Gonçalves Sollero

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Patrono OficialProf. Celso Ferreira da Cunha

Patronesse: Prêmio Academia de LetrasIsaura Caminhas Fasciani

Patronesse: Bibliotecae da Medalha de Mérito Cultural

Hilda Ottoni Porto Ramos - DªDidinha

Patrono: Publicações EspeciaisAlbert Schirmer

Patrono: Convidados de HonraMonsenhor Otaviano José de Magalhães

Patrono: Membros CorrespondentesLuiz de Almeida Cruz

Patrono: Membros HonoráriosSerafim Ângelo da Silva Pereira

Patrono: Membros BeneméritosHorácio Rodrigues Antunes

Patrono: Prêmio Jovem EscritorFábio Antônio da Silva Pereira

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Quadro socialMembros Titulares

Amenaide Bandeira RodriguesAntônio Sérgio Torres FerreiraAntonio Jorge de Lima Gomes

Elisa Augusta de Andrade FarinaEder Machado Silva

Gecernir ColenHilda Ottoni Porto RamosJair Duarte Pêgo Junior

Márcio Barbosa dos ReisMaria Laura Pereira da Silva Couy

Marlene Campos VieiraNeuza Ferreira Sena

João Batista Vieira de SouzaJosé Geraldo Silva

José Carlos PimentaJosé Salvador Pereira Araújo

Leuson Francisco da CruzLeônidas Conceição Barroso

Lizia Maria Porto RamosLlewellyn Davies Antonio Medina

Marcos Miguel da SilvaOlegário Alfredo da Silva

Raquel Melo Urbano de CarvalhoSérgio Abrahão Aspahan

Therezinha Melo Urbano de CarvalhoWilson Colares da Costa

Wilson Ribeiro

Convidados de HonraDom Aloísio Jorge Pena Vitral

Gilson de Castro PiresGuiomar Sant’Anna MurtaHilda Ottoni Porto Ramos

Isaura Caminhas Fasciani – In memoriamLaiz Ottoni Barbosa FerreiraLuiz Gonzaga Soares Leal

Maria Eny Leal Fernandes da SilvaMaria Laura Pereira da Silva Couy

Neusa Guedes CarneiroNilmário Miranda

Suzana Maria Rêgo

Membros HonoráriosGervásio Barbosa Horta

Humberto Luiz Salustiano CostaIvan Claret Marques Fonseca – In memoriam

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Padre Lisa Geovanni BattistaPadre Piero Tibaldi

Sebastião José LoboWilson Pires Neves

Membros BeneméritosArnaldo Gomes Pinto Júnior

Detsi Gazzinelli Jr.Gilberto Ottoni Porto

João Carlos da Cunha MelloMaria José Haueisen Freire

Theomar Sampaio Paraguassu

Membros CorrespondentesAdão Alves de Oliveira Filho – Uberlândia/MG

Adão Wons – Cotiporã/RSAlberto Slomp – Araraquara/SP

Alcione Sortica – Porto Alegre/RSAlexandra Vieira de Almeida – Rio de Janeiro/RJ

Alexandre Cezar da Silva – Ocara/CEAlda das Dores Alves Barbosa – Unaí/MG

Alfredo Nogueira Ferreira – Florianópolis/SCAlmir Fernandes de Souza – Nanuque/MGAltamir Freitas Braga – Rio de Janeiro/RJ

Angelica Maria Villela Rebello Santos – Taubaté/SPAntonia Aleixo Fernandes – São Paulo/SP

Arahilda Gomes Alves – Uberaba/MGAurineide Alencar de Freitas de Oliveira – Dourados/MSBenvinda da Conceição de Melo Lopo – Lisboa/Portugal

Bruno Resende Ramos – Teixeiras/MGCarlos Henrique Pereira Maia – Niterói/RJ

Carlos Lúcio Gontijo – Santo Antonio do Monte/MGCarmem Lúcia Hussein – São Paulo/SP

Carmem Terezinha Rodrigues Moraes – Porto Alegre/RSCecília Maria Rodrigues de Souza – Manaus/AM

Celso Gonzaga Porto – Cachoeirinha/RSCharlene dos Santos França – Rio de Janeiro/RJ

Cícero Barbosa Teixeira – Inhapi/ALCláudio de Almeida – São Paulo/SP

Cláudio de Almeida Hermínio– Belo Horizonte/MGClevane Pessoa de Araújo Lopes – Belo Horizonte/MG

Cosme Custódio da Silva – Salvador/BADaniel Antunes Júnior – Belo Horizonte/MG

Danielli Rodrigues – Paraná/PRDarlan Alberto Tupinabá Araújo Padilha – São Paulo/SP

Décio de Moura Mallmith – Porto Alegre/RSDilercy Aragão Adler – São Luiz/MA

Elba Gomes de Andrade – Paranaguá/PREliane Silvestre da Costa – Brasília/DF

Elizabeth Abreu Caldeira Brito – Goiânia/GO

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Elmo Notélio – Frei Inocêncio/MGEloisa Antunes Maciel – São Martinho da Serra/RS

Else Dorotéia Lopes – Nova Lima/MGEmerson Maciel Santos – Laranjeiras/SE

Erika Lourenço Jurandy – Rio de Janeiro/RJEugênio Maria Gomes – Caratinga/MG

Fátima Cristina Sampaio Luiz – Belo Horizonte/MGFernando Catelan – Mogi das Cruzes/SP

Fernando da Matta Machado – Rio de Janeiro/RJFlávia Assaife Campos Almeida – Rio de Janeiro/RJ

Flaviana Tavares Vieira – Diamantina/MGFlávio Sátiro Fernandes – João Pessoa/PB

Francisco Alves Bezerra – São Bernardo do Campo/SPFrancisco de Assis Dantas – João Pessoa/PB

Francisco José da Silva – Bom Jesus do Galho/MGFrancisco Martins Silva – Uruçui/PI

Francisco Soriano de Souza Nunes – Rio de Janeiro/RJGeraldo José Sant’Anna – São José do Rio Preto/SP

Gessimar Gomes de Oliveira – Montes Claros/MGGilmar da Silva Cabral – Rio de Janeiro/RJ

Gilmar Ferraz da Silva – Teixeira de Freitas/BAGleidston César Rodrigues Dias – Lagoa da Confusão/TO

Helena Selma Colen – Ladainha/MGHelenice Maria Reis Rocha – Belo Horizonte/MG

Hélio Pedro Souza – Natal/RNHélio Pereira dos Santos – Contagem/MGIeda Cunha Cavalheiro – Porto Alegre/RSIlda Maria Costa Brasil – Porto Alegre/RSIrineu Barone Costa – Belo Horizonte/MGIsabel Cristina Silva Vargas – Pelotas/RS

Isadora Cristiana Alves da Silva – Capoeiras/PEIvonette Santiago de Almeida – Brasília/DF

Jacqueline Bulos Aisenman – Genebra/SuiçaJader Moreira Rafael – Nanuque/MG

Jane Guilherme da Silva Rossi – Guarulhos/SPJaneuce Maciel Cordeiro – Turmalina/MG

Jean Albuquerque – Nova Viçosa/BAJelvisson dos Santos Nascimento – Salvador/BAJoão Carlos de Oliveira Tórtora – Petrópolis/RJ

João de Souza Neres – Mata Verde/MGJoão Marques de Oliveira Neto – Osasco/SP

João Santos Gomes – Medeiros Neto/BAJohnathan Felipe Bertsch – Jaguará/SC

Joilson Maia dos Santos – Una/BAJorge Fregadolli – Maringá/PR

Jorge Henrique Vieira Santos – Nossa Senhora da Glória/SEJosé Amalri do Nascimento – Rio de Janeiro/RJ

José Anchieta de Souza – Gravatá PEJosé Aparecido Araújo – São Paulo/SP

José Feldaman – Maringá/PR

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José Geraldo Tavares – In memoriamJosé Moutinho dos Santos – Belo Horizonte/MG

José Rodrigues Arruda – Serrinha/RMJuarez Silva Dantas – Belo Horizonte/MG

Júlio César Bridon dos Santos – Gaspar/SCJussara Santo Pimenta – Porto Velho/RO

Kátia Storch Moutinho – Vitória/ESLeandro Bertoldo da Silva – Padre Paraíso/MG

Leandro Campos Alves – Caxambú/MGLenival Nunes de Andrade – Catolé do Rocha /PB

Lilian de Sousa Farias – Aracaju/SELindalva Silva Qintino dos Santos – Belo Horizonte/MG

Lucas Menck – Curitiba/PRLúcia Helena Pereira – Natal/RN

Luciana Tannus de Andrade – Aracaju/SELuciene Barros Lima – Salvador/BA

Lucilene Ianino Lima Peçanha – Belo Horizonte/MGLucivalter Almeida dos Santos – Nazaré/BA

Luiz Gonzaga Marcelino – In memoriamLuiz Paulo Lírio de Araújo – In memoriam

Magali Maria de Araújo Barroso – Belo Horizonte/MGMamede Gilford de Meneses – Itapipoca/CEMarcelo Allgayer Canto – Cachoeirinha/RSMarcelo de Oliveira Souza – Salvador/BA

Márcia de Jesus Souza – Ribeirão das Neves/MGMárcia Devincenzi Reis Terra – Águas Claras/DF

Marco Aurélio de Freitas Lisboa – Belo Horizonte/MGMarcos Coelho Cardoso – Dourados/MS

Marcos Pereira dos Santos – Ponta Grossa/PRMarcus Vinícius Bertolini Rios – Iúna/ES

Maria Aparecida Araújo Moreira Alves – Guarulhos/SPMaria Cristina Carone Murta – Belo Horizonte/MG

Maria da Conceição Rodrigues Moreira – Belo Horizonte/MGMaria da Glória Oliveira Brandão Marques – Itabuna/BA

Maria Iris Siqueira Mendes – Belo Horizonte/MGMaria de Lourdes – Schenini Rossi Machado – Porto Alegre/RS

Maria Helena Sleutjes – Juiz de Fora/MGMaria José Alves Coelho – In MemoriamMaria Luciene da Silva – Fortaleza/CE

Maria Norma Lopes de Macedo – Turmalina/MGMaria Telma Barbosa de Lima – São Paulo/SP

Marilene Pereira Godinho Soares – Caratinga/MGMargareth das Dores Rafael Moreira Costa – Itambacuri/MG

Marlene Bernardo Cerviglieri – Ribeirão Preto/SPMarise Fátima Andreatta – Dourados/MS

Marly Rondam Pinto – São Paulo/SPMarrippe Faul Abei9lice – Belo Horizonte/MG

Márson Alquati – Nova Roma do Sul/RSMaurício Antônio Veloso Duarte – São Gonçalo/RJ

Mauro Marques de Carvalho – In memoriam

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Mônica Yvonne Rosemberg – São Paulo/SPNelci Veiga Mello – Campo Mourão/PR

Neri França Fornari Bocchese – Pato Branco/PRNorma Disney Soares de Freitas – Fortaleza/CE

Nylton Gomes Batista – Cachoeira do Campos/MGOdenir Ferro – Rio Claro/SP

Odyla Pinto de Paiva – Rio de Janeiro/RJOrmuz Barbalho Simonetti – Natal/RN

Paulo André Gazzinelli – Belo Horizonte/MGPaulo Cesar de Almeida – Andrelândia/MG

Paulo Dias Neme – São Paulo/SPPaulo Murilo Carneiro Valença – Recife/PE

Paulo Roberto de Oliveira Caruso – Rio de Janeiro/RJRegina Batista Magalhães Silva – Bebedouro/SP

Renata Rimet Ramos Silva – Salvador/BARoberto de Piratininga Ferrari – Carapicuiba/SPRoberto Prado Barbosa Junior – São Vicente/SPRodrigo Marinho Starling – Belo Horizonte/MGRogério Ferreira de Araújo – São Gonçalo/RJ

Rogessi de Araújo Mendes – Recife/PERossana Monteiro Cruz – Aracajú/SE

Rossidê Rodrigues Machado – São Vicente/SPRozelene Furtado de Lima – Teresópolis/RJ

Sandra Avelino da Silva – São Paulo/SPSandra Helena Barroso – Santa Luizia/MG

Sandra Ramalho de Oliveira – Caratinga/MGSérgio Rodrigues Piranguense – Belo Horizonte/MG

Stefany Nayara Santanna Alves – Guarulhos/SPTeresa Cristina Carvalho Mércuri Azevedo – Campinas/SPUmbelina Linhares Pimenta Frota Bastos – Inhumas/GO

Valdeck Almeida de Jesus – Salvador/BAValdivino Pereira Ferreira – Turmalina/MG

Valter Bitencourt Júnior – Salvador/BAVânia Rodrigues Calmom – Vila Velha/ES

Vanina Miranda da Cruz – Salvador/BAValéria Victorino Valle – Anápolis/GO

Varenka de Fátima Araújo Garrido – Salvado/BAVilson Barbosa Costa – Belo Horizonte/MG

Walter Teófilo Rocha Garrocho – In memoriamWeder Ferreira da Silva – Rio de Janeiro/RJ

Wenderson Cardoso – Contagem/MGWilson de Oliveira Jasa – São Paulo/SP

Yara Regina Franco – Araraquara/SPZenir Izaguirre Carvalho – São Jerônimo/RS

Voluntários da Secretaria GeralEduardo Amorim SilvaEgmon Schaper Filho

Última atualização do Quadro Social: 25/10/2015

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Desenho da capa e autor

A composição de imagens retrata alguns ícones mundiais que lutaram pela PAZ, sobressaindo: Mahatma Gandhi, Jhon Lennon, Martin Luther King, e o líder sul-africano Nelson Mandela, em destaque, que desfralda com pulso forte, uma bandeira que dela emana a palavra Paz que reflete nos demais personagens retratados. Foi utilizada técnica de composição de desenhos e fotografias com tratamento de imagens realizado com tecnologia digital.

O autor, Camilo Antônio Lucas Silva, é cartunista, artista plástico e publicitário caratinguense. Editor da revista de cultura e humor “Jararaca Alegre”, além de produtor cultural com atuação em várias cidades mineiras.

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