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O Caminho da Graça
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Pá
gin
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Oração... é vida vivida! Caio Fábio
Vamos ler Mateus 6:9-13; 7:7-12
“Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu
reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa-
nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes
entrar em tentação; mas livra-nos do mal. {Porque teu é o reino e o poder, e a glória, para sempre,
Amém.}
Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca
encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á. Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe
pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vós, que sois maus,
sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos
que lhe pedirem? Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles;
porque esta é a Lei e os Profetas.”
Aqui há um princípio universal, que na
nossa cultura brasileira foi cunhado pelo
Chacrinha como sendo o ditado que diz
que quem não chora não mama. Essa é
uma lei universal: um indivíduo que fica
quieto no seu lugar, cheio de desejos ou de
vontades, mas não os expressa, não terá,
muito provavelmente, aquilo que deseja,
pede, ambiciona, ou queira; porque não
expressa, porque não se comunica – é
outro ditado do Chacrinha: Quem não se
comunica se trumbica.
E o que Jesus está inicialmente anunciando
aqui é um princípio que se pode observar
nas relações universais dos seres humanos:
gente que pede tem infinitas chances de
receber o que está pedindo. Porque às
vezes a coisa está ali disponível e só precisa
que alguém tenha coragem de dizer:
Escuta, será que eu posso ter isto aqui? Ou
até mesmo numa mesa, a pessoa assentada
que quer sal pede sal; não fica, como
algumas pessoas tímidas demais, que se
sentam numa mesa onde elas não tenham
nenhuma intimidade, olhando para o sal,
para o açúcar, para uma faca maior que
melhor cortaria um bife, sem pedir nada,
até que, quem sabe, uma dona de casa
superatenta diga: Escute, estou vendo que
os seus olhos varrem a mesa, você está
sentindo falta de alguma coisa? Seria o sal?
Seria o açúcar? Seria a faca? Seria água?
(quase que vai por seleção, com aquela
quantidade enorme de itens, para que a
pessoa diga: É o sal). Existem pessoas assim;
tamanha é a introversão, tamanha é a
timidez, que elas não se expressam. É como
aquele rapaz que aprecia, que gosta, que
tem interesse em uma menina e é capaz de
passar por ela todo dia e cumprimentá-la, é
capaz de vendo o carro dela com o pneu
furado, na rua, oferecer-se para trocar, é
capaz de, toda vez que ela vai passando,
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chegar numa posição em que possa lhe dar
um adeusinho, mas sem nunca se
aproximar, sem nunca se expressar. No
curso da minha vida eu vejo em todas essas
áreas – especialmente nessa segunda –
moças dizendo: Ah, me dá a impressão de
que ele gostaria de ter alguma coisa
comigo, mas ele nunca disse nada...! E você,
que conhece o indivíduo lá do outro lado,
sabe que ele nem dorme direito, de tanta
paixão, de tanto amor, de tanta vontade de
que aquela pessoa se relacionasse com ele;
mas ele nunca fala. Até que um dia ele fica
chocado quando vê a moça passando com
outro, que chegou bem depois mas teve a
coragem de dizer o que queria, teve a
coragem de pedir, teve a coragem de ir
atrás e, aí, levou.
Esse é um princípio em todas as áreas, nas
empresas, no trabalho. Eu já tive mais de
cinco mil pessoas trabalhando comigo, no
curso da minha vida. A gente percebe,
nitidamente, a diferença: o funcionário que
tem a coragem de pedir – pedir uma
oportunidade de trabalho, pedir para fazer
uma determinada coisa que está ali na mão
de um, na mão de outro, não bem
realizada, e o indivíduo chega e diz: Deixa
eu tocar esse projeto? Então a gente olha
para ele e vê que está pedindo com
firmeza, com vontade, com veemência, e
lhe diz: Pronto, é seu, vá e faça. Essas
pessoas vão em frente, na vida, porque têm
a ousadia de pedir.
Jesus também referia-se ao buscar. Quem
busca acha sempre. O indivíduo que
imagina que exista uma oportunidade, que
exista uma situação aberta, que exista algo
que possa ser útil à vida dele, e que busca,
esse vai achar. Porque raramente a mente
humana imagina alguma coisa que não
exista no Planeta; e quando não existe
porque não tenha sido feita ainda, o
simples fato de imaginar e começar a
buscar aquilo vai fazer com que ou o
próprio indivíduo acabe desenvolvendo
aquilo que ele busca, ou que, de algum
modo, o inconsciente coletivo já o esteja
conectando a uma solução, porque já
existe alguém fazendo aquilo. O fato é que
imaginação e encontro são coisas que
acontecem com muita regularidade
quando existe objetividade nessa busca.
Quem busca acha.
E Jesus disse, ainda, que ao que bate abrir-
se-lhe-á, mais cedo ou mais tarde. Não
adianta ficar sentado à frente de uma porta,
dizendo: Quem me dera que essa porta se
abrisse para mim, quem me dera que essa
porta se abrisse; e nem ficar dizendo: Abre-
te, Sésamo. Mas se você tiver coragem de
bater pode ser que a abram para você. Até
Jesus, quando se refere ao desejo dele de
entrar em um lugar (falando à igreja de
Laodiceia, lá no Apocalipse) diz: “Eis que
estou à porta e bato; se alguém ouvir a
minha voz e abrir a porta, eu entrarei...”. A
parte de cá está sendo feita, o desejo está
sendo expresso, a comunicação do toc, toc,
toc está acontecendo.
Esse é um fenômeno humano; quem
aprende esse fenômeno tende a ser mais
bem sucedido nas coisas que almeje nesta
vida.
Da mesma forma Jesus se referiu à oração
usando um exemplo também de
comunicação insistente e perseverante,
quando ele falou daquela viúva que queria
que a sua causa fosse julgada por um juiz
iníquo: um juiz que não temia a Deus e
nem aos homens e não dava a mínima para
ninguém, mas a viúva, apesar disso, todos
os dias estava na porta dele, dizendo: Sr.
Juiz, por favor, julgue a minha causa, Sr.
Juiz, por favor, julgue a minha causa, Sr.
Juiz, olhe a minha causa, está lá, Sr. Juiz, por
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favor, julgue a minha causa... E Jesus disse:
Em verdade, em verdade vos digo que
aquele juiz iníquo julgará a causa daquela
mulher, até para não ser mais importunado.
E acrescentou: Quanto mais o Pai celeste,
que não é iníquo, que é pura equidade,
amor, justiça, bondade, solidariedade, não
terá esse ânimo de atender àquele que lho
pede? – a essa viúva, a esse ser frágil de
alma, de vida, mas que não tem fragilidade
espiritual quanto a admitir a sua
fragilidade, e a expressar, como uma
demanda humilde, todo dia, a sua
necessidade, pedindo que lha atendam.
Esse é outro fenômeno de comunicação.
E aqui nos primeiros versos nós estamos
vendo Jesus lidar com esse fenômeno, que
é amplamente demonstrável em todo o
espectro da vida humana: quem pede, a
esse dar-se-á; o que busca achará; a quem
bate, abrir-se-lhe-á – “Pois todo o que pede
recebe, o que busca encontra, a quem bate,
abrir-se-lhe-á”. No mundo absolutamente
horizontal é assim, quem chora mama,
quem não chora não mama – ou só mama
se a mãe, desconfiadíssima do silêncio do
bebezinho, o procurar para forçá-lo a
mamar; do contrário, a natureza manda
que até a mãe mais dedicada perceba e
sinta o sinal da necessidade do bebê (que
não sabe falar mas sabe chorar, sabe
expressar, pelo choro, a sua dor e a sua
fome) quando a criança chora, ou se
contorce, ou se espreme, ou começa a
sugar a boca desesperadamente, como
quem quer alguma coisa. Aí, então, a mãe
diz: Ah, está na hora, agora ele está com
fome, eu não preciso forçar o leite antes da
hora. Esse é um fenômeno humano, é
assim que a sobrevivência humana
acontece, é assim que o ser bem-sucedido
na vida se realiza, é assim, por esses
processos de comunicação, dos mais
rudimentares aos mais sofisticados, que as
pessoas vão conseguindo o que desejam, o
que pretendem.
Aí, Jesus sai desse plano imediato e aplica
esse fenômeno universal a uma dimensão
superior, transforma-o isso numa ilustração
sublime, e diz: Ou qual dentre vós é o
homem que, se porventura o filho lhe pedir
pão, vai lhe dar uma pedra? Se no mundo
da horizontalidade quem pede recebe,
quem busca encontra, e a quem bate abrir-
se-lhe-á, no mundo espiritual cheguem, no
mínimo, com essa confiança, sabendo que
não haverá boicote. Aqui na
horizontalidade quem pede algo recebe o
equivalente, quem busca uma coisa
encontra o equivalente, quem bate na
intenção de alguma coisa vai achar o
equivalente, por que, então, vocês têm
medo de orar? Por que vocês têm medo de
orar, por que vocês têm medo de pedir, por
que vocês têm medo de buscar, por que
vocês têm medo de bater?
Medo de orar, medo de buscar, medo de
bater na porta de Deus. Muita gente tem
esse medo. Medo, porque não creem no
amor de Deus. Medo, porque tiveram
traumas parentais – pais perversos ou mães
descuidadas – ou traumas religiosos,
porque se lhes prometeu que se eles
pedissem um Mercedes eles ganhariam um
Mercedes, que se eles pedissem um Jaguar
eles ganhariam um Jaguar, que se eles
pedissem um hipercapricho divino, eles
receberiam um hipercapricho divino; mas
eles não receberam, então foram para o
polo oposto e desenvolveram um medo de
se frustrarem na oração; e se tornaram
tímidos e já não pedem nada, já não
buscam nada, já não batem na porta do
Santo dos Santos para nada. Porque por
tais exageros vieram tão grandes
frustrações, e instalaram-se timidez tão
profunda e desânimo tão grande, que tem
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gente que ficou com medo de orar. Tem
gente que ficou com aquela suspeição de
que Deus é um Deus envenetado, é um
Deus que pode nos surpreender com
alguma maldade, justamente por causa
dos seus traumas interiores. Raramente é
por uma incredulidade nascida e
desenvolvida desde a mais tenra infância
no coração da criança; em geral, o que
deixa a pessoa nesse estado de ficar com
medo de orar e se frustrar de novo são os
traumas da vida, das relações humanas, das
relações parentais, das relações com as
falácias religiosas, com as promessas
fantasiosas que não se cumprem.
Aí, Jesus disse: Olha, para com isso, porque
na normalidade da vida não é assim, na
natureza simples e horizontal das coisas
não é assim. Se na natureza relacional entre
humanos normais, que não sejam
sociopatas, ou adoecidos, acontece de
maneira consequencial – quem pede, a
esse se dá, quem busca, esse acha, quem
bate, a esse se abre – por que, então, em
relação ao Pai celeste seria diferente? Pois
qual dentre vós, não sendo um psicopata,
um sociopata, um desafeiçoado, um
doente, sendo um ser humano que
carregue o mínimo de normalidade
instintual em relação aos filhos, qual dentre
vós é o homem ou a mulher que, se
porventura o filho lhe pedir um pão, vai
dizer: Olha, você está com fome? Pega essa
pedra aqui pra você comer, é uma delícia,
morde, é bom para deixar os dentes bem
gastos; qual dentre vós é o pai que faz isso
com o filho? Ou se o filho lhe pedir um
peixe: pai, será que eu posso comer esse
peixinho aqui? vai dizer: Não, não, eu
guardei aqui uma coisa muito legal, pra
você; e vem de lá com uma cascavel? Qual
é o pai ou a mãe que faz isso, a não ser
aquele que seja absolutamente doente,
fora de toda norma instintual e natural da
vida?
E Jesus completa: “Ora, se vós que sois
maus...”. Porque todos nós somos maus. O
melhor de nós é mauzinho, é egoísta. O
melhor de nós, às vezes, dá uma brigadinha
com o filho por um pedaço de doce: eu
separei isso aqui para mim, por que é que
você só quer comer essa parte que eu já
separei para mim? O melhor de nós tem
suas próprias preferências e advoga suas
próprias causas, até mesmo em relação aos
filhos; e quando não seja em relação aos
filhos, as advoga em relação a muitas
outras pessoas. E como disse o Alexander
Soljenítsin, em O Arquipélago Gulag, o
mundo tem tantos centros quantos
homens nele exista. Os centros do Planeta
são cada indivíduo neste planeta, porque o
egoísmo de cada um de nós determina
qual é o Greenwich do horário supremo
planetário: é a minha hora, é o meu tempo,
é o meu ser, é a minha vontade, é meu
capricho, é o meu ego. E isso faz de todos
nós gente a ser classificada como Jesus
classificou, como gente ruinzinha.
“Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas
dádivas aos vossos filhos...”. De modo que
quando eu oro ao Pai eu oro pensando na
minha maldade; e digo: Eu não tenho sido
capaz de dar aos meus filhos coisas ruins
quando eles me pedem coisas razoáveis,
quando não estão me pedindo nada para
um capricho de playboy, quando não estão
me pedindo nada que lhes seja viciante,
adoecedor, que demande de mim tornar-
me um adulador deles, um indivíduo que
colabora com a preguiça, com a doença,
com o descuido, com o descaso deles. Me
pedindo uma coisa que seja razoável, que
seja boa para a vida, que tenha significado,
que não seja um capricho, eu, que sou mau,
sei dar coisas boas, equivalentes,
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necessárias; eu considero a proporção e as
relações de equivalência no que se refere
àquele filho, ao que ele pode receber, à
qualidade do caráter dele – se vai ser
estragada ou não com aquilo; e em se
tratando de coisas essenciais, então, nem
se discute (não se está falando de roupa de
grife, nem de cinturões caríssimos, nem de
sapatos especiais, nem de um luxo
advogado por um filho. Se está falando,
aqui, de coisas pertinentes à vida). Então, a
julgar por mim, que sou mau e sei dar boas
dádivas aos meus filhos, quando elas são
de fato coisas boas porque realizarão o
bem a eles e não o capricho deles; a partir
de mim, que sou egocêntrico e que carrego
essa natureza má e ainda assim transcendo
a mim mesmo e identifico necessidades
essenciais e dou a eles o que seja bom,
como, também, pela mesma bondade –
apesar de eu ser mau – não dou a eles
aquilo que possa lhes fazer mal somente
porque lhes seja um capricho; a julgar por
mim, que sei fazer uma medida mínima de
equivalência e proporcionalidade, e exercer
discernimento para avaliar o que seja bem
para eles, e não apenas gostoso, eu olho
para os céus sem culpas, sem medos, sem
dúvidas. Porque se eu sou assim é
impossível que o Pai que está nos céus não
seja bondade de discernimento absoluto,
sendo ele amor, e não mal.
Por isso Jesus diz: Se vocês que são assim
conseguem exercer esse juízo, quanto mais
o vosso Pai que está nos céus não dará
boas coisas àqueles que lho pedirem? Boas
coisas, não coisas ruins. O Pai não dá coisas
ruins, o Pai não atende a caprichos, o Pai
não é um promotor de luxos. O Pai é um
patrocinador de essências, daquilo que faz
a vida viável, possível, para que esse filho
não adoeça, não se torne um ser
enfraquecido pelas dadivosidades
desproporcionais (pois aí, nesse caso, o pai
não estaria sendo bom, estaria sendo mau,
estaria introjetando fraqueza na
consciência do filho). Portanto – Jesus diz –,
a julgar por vós mesmos, que sois maus,
como é que vocês não imaginariam que o
Pai celeste os transcenderá de maneira
infinita quanto a dar boas coisas aos que
lho pedirem?
Então, peça sem medo. Nós temos que
perder esse medo de pedir. Mas não peça
segundo o seu capricho, a sua veneta, a sua
vontade de que as suas preguiças sejam
realizadas. Peça de acordo com o que seja
bom, de acordo com aquilo que já está
definido como um bem que Deus tem o
prazer de realizar na vida da gente; pois
Deus não atende as orações do nosso
capricho, ele atende às orações da nossa
real necessidade. Então, peça e você vai ver
que se lhe dará. Busque; busque
destemidamente, e você vai achar. Bata
sem susto, e vai abrir-se a porta para você –
desde que não seja a porta dos seus
desejos envenetados, mas seja a porta da
necessidade, a porta do que é legítimo, a
porta do que é genuíno, a porta do que é
bom. É isso que Jesus está me estimulando
a fazer sem medo, com fé, deixando de
lado os traumas. Porque tem gente que
não ora com medo de não ser ouvida. E aí,
com medo de não ser ouvida, essa pessoa
não tem fé. E não tendo fé, não será ouvida.
Por isso, tire do coração o medo.
Tem gente que não ora até para não perder
a reputação diante de Deus, para não ficar
com uma crise de identidade,
perguntando: Será que ele é meu Pai? Será
que eu sou filho? Pois eu pedi e ele não me
deu, eu busquei e não achei, eu bati e não
se abriu para mim. Então, até para não ter
de fazer essas perguntas, que são
perguntas tolas, tem gente que desistiu da
oração, e que vai ao Deus dará; e prefere
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pedir que outros peçam por elas, que
outros busquem por elas, que outros
batam por elas, mas elas mesmas não têm
essa confiança no amor do Pai.
Ou, então, guardam no coração apenas as
orações do capricho, as orações do luxo, as
orações do conforto. E lá no fundo da alma
sabem que Deus não mantém a preguiça, o
capricho, a veneta e o luxo como
prioridades na sua agenda de resposta a
ninguém, pois ele nos ama, ele não está
aqui para nos adular e nos fazer mal. Mas o
fato é que tem muita gente que, por uma
razão ou por outra, não pede, não busca,
não bate. E, portanto, não recebe. Não
recebe nunca, não acha nunca, não vê nada
abrir-se para ele, para ela, nunca.
E há aqueles também que não fazem isso
por causa de uma avaliação interior. Esses,
eles próprios sabem o quão egoístas são na
vida, e transferem e projetam esse egoísmo
pessoal para o valor do infinito. E aí dizem:
Bom... eu não daria, eu não terei, eu não
daria, eu não terei; por isso não vou pedir,
não vou buscar, não vou bater.
Jesus conclui essa palavra dele dizendo
algo extraordinário: “Tudo quanto, pois,
quereis que os homens vos façam, assim
fazei-o vós também a eles”. Tudo quanto,
pois... E esse “pois” é um evocativo de tudo
quanto ele tinha dito anteriormente: Pedi e
dar-se-vos-á, buscai e achareis, batei e
abrir-se-vos-á, pois todo o que pede
recebe, o que busca encontra, e ao que
bate abrir-se-á; ou qual dentre vós é o
homem que se o filho lhe pedir um pão lhe
dará uma pedra, ou se lhe pedir um peixe
lhe dará uma cobra? Ora, se vós que sois
maus sabeis dar boas dádivas aos vossos
filhos, quanto mais o Pai que está nos céus
não dará boas coisas aos que lhe pedirem?
Tudo quanto, pois – por causa disso, tendo
isso em mente, consequencialmente a tudo
que ele vinha falando a esse respeito. Tudo
quanto, pois, quereis que os homens vos
façam, assim fazei-o vós também a eles.
E aí você pergunta: E qual a relação que há
entre oração e relação humana, que se
conclui com esse “pois” vinculante ao pai
que olha para si mesmo e sabe que apesar
da sua natureza corrompida ele é capaz de
bondades para com o filho (bondades
consequentes, e não inconsequentes)? Que
relação tem esse “tudo quanto, pois,
quereis que os homens vos façam, fazei vós
a eles”, com esse pensamento de Jesus nos
estimulando a pedir, a buscar, a bater, e
tudo isso pela via da oração?
Ora, na oração do Pai Nosso o que se diz é
o seguinte: “Perdoa as nossas dívidas assim
como nós perdoamos os nossos
devedores”. E essa frase é o eixo, é o
elemento pivotal a liberar ou a amarrar
todas as nossas orações. O que Jesus está
dizendo aqui (tudo quanto, pois quereis
que os homens vos façam, assim fazei-o vós
a eles) é a mesma coisa. Se você vai orar, se
você vai pedir na intenção de receber, se
você vai buscar na intenção de achar, se
você vai bater na intenção de que se lhe
abra, primeiro, antes de tudo, tenha na sua
vida o espírito encarnado da oração que
você vai fazer ao Pai. Tenha esse espírito
encarnado em você, como se você fosse o
Deus do seu próximo. E, mais do que isso,
faça de maneira antecipada, como o Pai
celeste faz conosco. Pois o Pai celeste não
existe para responder as nossas orações.
Ele existe de si mesmo, ele é bom de si
mesmo, ele ama por si mesmo, ele ama de
si mesmo. Por isso é que ele faz nascer o sol
sobre maus e bons, vir chuvas sobre justos
e injustos. Por isso ele abençoa a casa de
quem crê, a casa de quem não crê, a casa
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de quem não sabe se crê, a casa do que diz
que não crê, a casa do que diz que nunca
crerá, a casa daquele que se empenha pela
bondade, e, também, a casa daquele que
frequentemente vive de maldade (mas o
filho daquele que vive de maldade vai
sofrer, eventualmente, com a má educação
que receba, com as consequências dos atos
do pai, como trauma, como mau
ensinamento, como qualquer coisa assim).
Porque no que diz respeito ao Pai que está
nos céus, ele faz vir à casa do cara mais
desgraçado deste planeta as mesmas
graças que caem na vida, na existência e na
casa de um homem piedoso, pois é a
bondade de Deus que, de um lado, nos
conduz ao arrependimento, tanto quanto é
a bondade de Deus que vindica sobre nós a
gravidade do nosso juízo. Porque Deus não
cessa de manifestar o bem
indiscriminadamente a todos os homens.
Bem-aventurado é aquele que, recebendo
o bem, muda de mente, se arrepende e se
torna grato; e infeliz e desgraçado é aquele
que, recebendo o mesmo bem, continua
empedernido no seu coração, cada vez
mais ingrato, cada vez mais cego. Mas é a
bondade de Deus que, de um lado, nos
salva, e é a bondade de Deus que nos
abisma nas nossas próprias desgraças
quando a gente não muda e não é um ser
reconhecido. Aí, vem Jesus, falando de
oração, de pedir, de buscar, de bater, de
receber, de achar, de que se abra para nós,
e diz: Antecipem-se.
Você quer que a sua oração já seja um
comunicar ouvido sempre? Transforme a
sua vida numa antecipação de resposta de
oração. É fácil saber isso, basta olhar para
nós mesmos. O que é que nós gostaríamos
de receber, não sendo nós doentes,
caprichosos, preguiçosos que adoram ser
adulados? Gostaríamos de ficar sem fazer
nada, com escravos nos abanando e a vida
nos colocando em água morna para o
nosso deleite o dia inteiro (sendo nós gente
de causa e efeito nas nossas relações no
mundo, gente que sabe que é preciso
plantar sementes de uvas para ter uma
videira frutífera, gente que sabe que não dá
para plantar espinhos e colher figos)? Se
nós temos essa consciência mínima da
saúde humana, é fácil, também, nós
olharmos para o próximo e dizer: Nessas
circunstâncias, o que é que de bom se
poderia fazer por mim? E, então, avaliar o
que de bom se poderia fazer por nós.
Se você está com uma perna quebrada e há
um barranco diante de você, que sozinho
você não consegue atravessar, o que de
bom se poderia fazer por você? Seria que
uma ou duas pessoas digam: Espera, deixa
a gente te agarrar aqui e te levar até lá. O
que de bom se poderia fazer por mim, se
sem uma muleta eu não consigo andar (e
se eu não sou um ser que abusa dos outros;
quando tenho uma muleta eu ando)? O
que se poderia fazer de bom por mim seria
dizer: Espera aí, pega no meu ombro,
vamos lá, eu te levo. É fácil nós avaliarmos.
Você vê uma mãe com uma criança numa
esquina, uma chuva torrencial caindo, e ela
desesperada, cobrindo um bebê com um
paninho, não é fácil se colocar no lugar
daquela pessoa e imaginar o que lhe seria
bom naquela hora? Não sendo um tarado
que venha oferecer uma carona, mas
alguém bem intencionado, seria bom que
alguém chegasse e dissesse: Minha
senhora, por favor entre aqui; se a senhora
não quiser que eu a deixe onde a senhora
precisa ir, eu pelo menos coloco a senhora
segura num lugar onde a senhora deseje
ficar.
Não é fácil saber o que nós gostaríamos
que a nós fosse feito? Se nós estamos com
fome não é difícil imaginar o bem que
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gostaríamos que a nós fosse feito,
especialmente a nossa fome não sendo
porque não queiramos trabalhar, não
queiramos nos esforçar, não queiramos
fazer nada, mas apenas ficar como o
repreensível preguiçoso do livro de
Provérbios, aquele a quem Paulo diz que se
não trabalha porque, mesmo tendo
oportunidade, não deseja, que também
não coma – porque pode ser que não
comendo ele se anime a trabalhar.
Infelizmente tem gente que até nesses
casos acha que tem pretexto para roubar,
mas se um mínimo de saúde humana
estiver estabelecida, você sabe o que o
ronco da fome faz no estômago, no ser, a
tremedeira orgânica que causa, o
desespero psicológico que a fome traz.
Você pode imaginar. E você pode se
antecipar, não é preciso chegar para um
faminto e dizer: Escuta, você aceitaria que
eu lhe desse um prato de comida? Não
precisa fazer nenhuma apologia, basta
chegar com um prato de comida, que ele às
vezes vai agradecer só depois de comer,
porque antes está tão trêmulo que não tem
forças nem de dizer obrigado, na chegada,
de tão desesperado que está. É fácil saber.
E aqui não se está falando de atender os
desejos adoecidos dos nossos caprichos.
No Evangelho se está falando sempre
daquilo que é essencial à vida humana,
daquilo que mantém a vida, pulsante,
andando.
E Jesus diz: Olha, quem quiser pedir e ter a
certeza de que se lhe dará, buscar e ter a
certeza de que achará, bater e ter a certeza
de que lhe será aberto, faça o seguinte:
tudo quanto quereis que os homens vos
façam, assim fazei-o vós também a eles. E
aqui ele está dizendo: Não levem em
consideração a medida do Pai Eterno e
Infinito; tenham em referência e em
consideração as relações humanas. Porque
é pelas relações humanas que nós somos
abençoados nas relações celestiais: Pai,
perdoa as nossas dívidas para contigo,
assim como nós perdoamos aos nossos
devedores. Tudo que me vem dos céus está
sempre relacionado àquilo que eu
estabeleço como padrão na Terra – para o
bem e para o mal. Nesse caso, o que Jesus
diz aqui é: Se você quer ter essa certeza,
faça da sua vida uma resposta antecipada
de oração à necessidade humana. Tudo
quanto, pois, quereis que os homens vos
façam como atendimento de necessidades
essenciais (no dia da sua calamidade,
conforto; no dia do seu pecado,
misericórdia; no dia da sua fome, pão; no
dia da sua solidão, presença; no dia da sua
depressão, conforto, consolação, ânimo),
assim fazei-o vós a eles; antecipadamente.
Não porque eles tenham feito a vocês, mas
sejam antecipadores de bondade, ajam
com graça, amem primeiro, sempre. E
vocês terão certeza absoluta de que aquilo
que vocês pedirem, receberão; o que vocês
buscarem, acharão; e quando vocês
baterem, a vocês será aberto. Sejam uma
resposta humana antecipada de orações e
de necessidades verificáveis, essenciais,
óbvias, para com o próximo; e batam sem
medo.
Isso não é justiça própria, é a certeza da
graça de que você está agindo conforme o
princípio da graça. Não é perguntando se o
outro merece ou não merece o pão. Ele
está com fome? A fome merece pão – seja
gracioso. Ele está com sede? A sede merece
água – seja gracioso. Ele está desesperado?
O desespero precisa ser debelado pelo
conforto da consolação – seja consolador.
Ele está em miséria? Não pergunte a causa,
seja misericordioso; a miséria precisa ser
O Caminho da Graça
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transtornada pela solidariedade. Antecipe-
se.
Seja uma resposta antecipada de bondade
neste mundo. Pratique a graça, tenha fé
nessa graça que se antecipa. Não como
barganha, mas como uma pulsão que não
se controla porque ela deflagra e expressa
a natureza de quem você seja. E aí, quem é
oração respondida e antecipada a quem
nem pediu ainda nada, só por se enxergar e
verificar em si mesmo o que seria uma
necessidade que, existindo, se gostaria que
fosse atendida realmente, tendo esse
coração, não tenha medo de pedir. Porque
quem quer que se conheça diante de Deus
saberá que ele é infinitamente maior do
que tudo quanto nós somos, pedimos ou
pensamos, na graça dele. Quem consegue
agir com graça no mundo não tem por que
levantar a cabeça e duvidar da graça de
Deus. Não é barganha, é apenas a certeza
de que, se existe graça em mim, que sou
mau, quanto mais graça não haverá,
infinita, naquele que é todo bom? Por isso,
o que quereis que os homens vos façam,
fazei isso vós, antecipadamente, a eles. Essa
será uma expressão de graça.
E quem quer que tenha essa confiança na
graça e carregue essa natureza da graça no
coração, esse vai olhar para cima e pedir
sem medo, porque não tem barganha a
fazer, não tem trocas a realizar. A partir de
si mesmo, que é mau, ele já verificou que, a
despeito da sua natureza ambígua, ele é
capaz de se antecipar no bem. E ele vai
desenvolvendo prazer em atender o bem
essencial da necessidade humana à volta
dele, seja pessoa conhecida ou
desconhecida. Quanto mais aquele que me
conhece, quanto mais aquele que é todo
bom, quanto mais aquele que é todo graça,
quanto mais aquele que é todo amor,
quanto mais aquele que é todo bondade,
quanto mais aquele que é Pai, Pai, Pai, Pai
absoluto, mesmo, não dará boas coisas
àqueles que lho pedirem?
Afaste do seu coração esse medo. E vença
esse medo com o bem. Vença com o bem,
vá praticando o que é bom, porque a
prática do bem é uma oração crescente,
dentro de nós. Quanto mais nós vamos
gostando de nos darmos e de fazer o bem
aos outros, mais natural vai ficando pedir o
bem a Deus para a nossa vida. Quanto mais
nós, a partir da nossa própria ambiguidade,
vamos ganhando a certeza de que a
despeito de nós mesmos nós não vamos
fazer o mal ao outro, mais cresce no
coração a fé de que a graça absoluta e a
bondade absoluta estarão sempre
disponíveis para nós; para que nós
obtenhamos socorro, na graça, para
ocasião necessária e oportuna.
E ainda há um segundo elemento: nós
vamos logo, logo, descobrindo que quando
vamos nos antecipando em fazer o bem na
vida, aos homens, cumpre-se Isaías 58 em
nós: Nem chegarão a pedir e o Senhor já
lhes responderá; nem mesmo começarão a
gritar por socorro e o Senhor já lhes dirá:
Eis-me aqui.
Quanto mais eu me torno um antecipador
de graças na vida, mais a graça – favor
imerecido – se antecipa em meu favor,
nesta existência.
Mensagem ministrada em 30/10/2011
Estação do Caminho - DF