Cairo. Canone

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Texto sobre a formação do cânone.

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    Ao longo da histria da literatura brasileira, depreendem-se alguns momentosem que se evidencia a discusso do cnone literrio. Discusso esta mais poltica doque literria, pois o artista como agente desestabilizador da norma busca freqentementeromp-la para poder inovar, como deixa entrever Waly Salomo, um dos poetas maisrepresentativos da contemporaneidade, em Elipses sertanejas:

    Eu no nasci pra ser clssico de nascena:Assestar o olmpico, olhar sobre o mundo ntido,Filtrar os miasmas externos e os espasmos do ego,Sob a impassibilidade dos cus tranqilos e claros... (Salomo, 2000, p. 30)

    Contestando e subvertendo a oficialidade da norma, o artista busca, natural-mente, o seu avesso:

    Fiz tudo ao contrrio... Sou todo ao convulsivo...(...)Um paria da famlia humana,Cheio da paina das questes crispadas, cifradas, irresolvidas.

    A construo de uma histria literria, como a de uma rvoregenealgica, se faz com o ocultamento das diferenas edescontinuidades.

    (Sssekind, 1984, p. 33)

    NOTAS SOBRE O CNONEda histria da literatura brasileira

    Luiz Roberto Cairo

    (segunda metade do sxulo XX)

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    Cafarnaum de vielas e becos sem sadas...................................................................................................................Vim da dureza feito gumes............................................Desavim... pontudo... spero, intratvel como o cacto libertino.................................................................................................. (Salomo, 2000, p. 30-31)

    A legitimao pelo cnone vai interessa mais ao crtico, ao historiador da litera-tura, ao scholar, o guardio compulsivo da historiografia (Portela, 1997, p. 5). Aoscriadores, essa condio interessa em menor escala, uma vez que, entrar para o Pantenno deixa de significar a cristalizao, a morte na imortalidade da oficializao, poiso grande escritor, conforme observa o crtico Eduardo Portella, no o que pre-serva o cnone ou protege o cnone. o que implode.(Portela, 1997, p. 5)

    Ao olhar para o cnone da histria da literatura brasileira, observo pelo menostrs momentos em que essa discusso veio tona com maior expressividade. Paramelhor nome-los, procurei refuncionalizar algumas marcas apontadas por Joo Ale-xandre Barbosa na histria da crtica literria brasileira, em instigante leitura que elefaz no ensaio dos anos 90, Forma e histria na crtica brasileira (1870-1950); mar-cas estas que definem e sintetizam cada momento: a herana, a ruptura e a releitura(Barbosa, 1990, p. 63-75).

    Neste texto, no pretendo falar da herana, momento de construo do cnone,que culminou com sua fixao, no Florilgio da Poesia Brasileira, de Francisco AdolfoVarnhagen, publicado, em Lisboa, pela Imprensa Nacional, em 1850, pois isso foifeito em dois ensaios anteriores: Memria cultural e construo do cnone literriobrasileiro (Cairo, 2001, p. 225-240) e A Gerao de 70 do sculo XIX e a constru-o da histria da literatura brasileira (2001, p. 9-31).

    No deveria estender-me tampouco discorrendo sobre a ruptura, momento depassagem de uma abordagem topolgica para uma abordagem tropolgica da literatu-ra brasileira, cujo marco foi, certamente, a publicao, em 1955, de A Literatura noBrasil, de Afrnio Coutinho, e, em 1957, do ensaio historiogrfico Formao da Litera-tura Brasileira, de Antonio Candido, uma vez que fiz algumas incurses sobre essaetapa em Insatisfaes cannicas ao longo da histria da literatura brasileira(Cairo,2001, p. 7-12).

    No entanto, para abordar a releitura, momento da segunda metade do sculoXX, em que a maioria dos estudiosos de literatura brasileira parte para uma reviso docnone da tradio recm-construda, sou levado a revisitar a ruptura. Isto porque

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    nesse instante que se traam as linhas mestras da discusso do cnone na segundametade do sculo XX.

    Assim retorno Introduo Geral, de A Literatura no Brasil, onde AfrnioCoutinho registra como caractersticas, dentre outras, da evoluo da nossa literatura,a ausncia de tradio, a alienao do escritor e o divrcio com o povo.

    A ausncia de tradio, resultado da oposio entre uma tradio importada e umaeventualmente nova, conduziu a literatura brasileira a uma antropofagia das geraes,pois, para ele:

    (...) cada nova gerao, marcada pelo ceticismo e pelo iconoclastismo, em vez deprocurar formar-se, s tem uma diretriz, a destruio da que antecedeu conforme omito da soberania da gerao presente, a que corresponde uma estase da realizaoartstica e da acuidade crtica, somente possveis num clima de continuidade. (Coutinho,1968, p. 34)

    Isto, por sua vez, gera o que Afrnio Coutinho chamou de alienao do escritor quese percebe como um desterrado em sua prpria terra (1968, p. 34) na medida emque ignora seus predecessores, desconhecido pela sociedade a que pertence e nopresta a ateno a seus pares. Esta situao de isolamento, conseqentemente, trazconsigo um equvoco que o distanciamento do escritor do povo, enquanto pblicoleitor. O escritor brasileiro, ao mesmo tempo em que despreza seus pares, produz nainteno dos mesmos, ou seja, constri literatura requintada, feita por uma classepara divertimento dessa mesma classe, levando-se em conta o enorme abismo quesepara elite e povo no Brasil, elite cultivada, e dona da vida, povo distante, analfabetoe deserdado. (Coutinho, 1968, p. 34)

    Apesar disso, Afrnio Coutinho registra sinais de transformao politicamenteimportantes que dizem respeito ao acesso da massa ao poder poltico, econmico,social, e a posse da cultura. (1968, p. 34)

    No entanto, o contexto da ruptura, expresso pela passagem de uma crticatemtica para uma crtica mais voltada s questes da linguagem, e por isso mesmocentrada no valor esttico, trao definidor de seu conceito de literatura, leva-o a com-plementar meio ctico:

    Mas o risco perdura, pois a ningum ser permitido asseverar que essa ascensono se far em detrimento dos valores estticos, com um desnivelamento dos padresde cultura para adaptar-se s exigncias da mesma massa. Assim, o conflito entre as

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    tendncias highbrow e lowbrow se resolveria por baixo. O divrcio com o pblico resultouem uma literatura a que falta o pblico. (1968, p. 34)

    bom que se diga que, a partir da terceira edio, que dos anos 80, o crticoacrescenta: Esse divrcio acentua com o desenvolvimento dos rgos de cultura demassa, apesar dos benefcios indiretos que propiciam. (1986, p. 37)

    Vale registrar tambm que, nesta mesma edio, a Introduo Geral passa achamar-se Prefcio da 1a edio (1955), j que foi inserido um novo textointrodutrio, Literatura Brasileira (Introduo), no qual estas trs caractersticasda evoluo de nossa literatura e de nossa atividade literria no mereceram outrasconsideraes.

    Ainda no momento da ruptura, Antonio Candido escreve o ensaio O escritor eo pblico (1955), que constitui um dos captulos de A Literatura no Brasil, dirigidapor Afrnio Coutinho. Nele, defende a existncia de uma tradio auditiva que per-passa a histria da literatura no Brasil desde o sculo XVI. Diz ele:

    (...) durante cerca de dois sculos, pouco mais ou menos, os pblicos normais daliteratura foram aqui os auditrios de igreja, academia, comemorao. O escritor noexistia enquanto papel social definido; vicejava como atividade marginal de outras,mais requeridas pela sociedade menos diferenciada: sacerdote, jurista, administrador.Querendo fugir da e afirmar-se, s encontrava os crculos populares de cantigas eanedotas, a que se dirigiu o grande irregular sem ressonncia nem influncia, que foiGregrio de Matos na sua fase brasileira. (Candido, 1968, p. 101)

    Neste sentido, convm registrar que a ausncia de comunicao entre o escritore a massa vista por Antonio Candido sob perspectiva semelhante, mas no idntica de Afrnio Coutinho:

    Com efeito, o escritor se habituou a produzir para pblicos simpticos, maisrestritos, e a contar com a aprovao dos grupos dirigentes, igualmente reduzidos. Oraesta circunstncia, ligada esmagadora maioria de iletrados que ainda hoje caracteriza opas, nunca lhe permitiu dilogo efetivo com a massa, ou com um pblico de leitoressuficientemente vasto para substituir o apoio e o estmulo de pequenas elites. (1968, p.106-7)

    Antonio Candido no considera a literatura produzida pelos escritores brasilei-ros requintada, nem tampouco v a elite literria, a que seus textos se dirigem, como

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    possuidora de um refinamento de gosto, mas apenas com capacidade de interessar-sepelas letras, acrescentando que:

    Correspondendo aos pblicos disponveis de leitores, pequenos e singelos anossa literatura foi geralmente acessvel como poucas, pois at o Modernismo nohouve aqui escritor realmente difcil, a no ser a dificuldade fcil do rebuscamentoverbal que, justamente porque se deixa vencer logo, tanto agrada aos falsos requintados.De onde se v que o afastamento entre o escritor e a massa veio da falta de pblicosquantitativamente apreciveis, no da qualidade pouco acessvel das obras. (1968, p.107)

    Diferentemente de Afrnio Coutinho, observa tambm com menos temor ossinais de transformao da sociedade pelo acesso da massa ao poder poltico, econ-mico, social e cultural, apesar de achar que algumas mudanas no campo tecnolgicoe poltico trouxeram prejuzos, na medida em que vieram reforar a tradio auditiva:

    Em nossos dias, quando as mudanas assinaladas indicavam um possvel enri-quecimento da leitura e da escrita feita para ser lida, - como a de Machado de Assis, -outras mudanas no campo tecnolgico e poltico vieram trazer elementos contrrios aisto. O rdio, por exemplo, reinstalou a literatura oral, e a melhoria eventual dos progra-mas pode alargar perspectivas neste sentido. A ascenso das massas trabalhadoras pro-piciou, de outro lado, no apenas maior envergadura coletiva oratria, mas um senti-mento de misso social nos romancistas, poetas e ensastas, que no raro escrevemcomo quem fala para convencer ou comover. (1968, p. 108-9)

    Vale lembrar, porm, que a ruptura, trao caracterstico daquele momento, sig-nificou, como insistiu Antonio Candido, nos textos escritos em quase trs dcadas eeu me refiro principalmente aos anos 50, 60 e 70, em que alertava para o perigo daspretenses excessivas do formalismo (1971, I, p. 33) , o encontro do crtico com otexto, com o estatuto da literatura e o incio da profissionalizao do homem de letrase o abandono do historicismo, conforme se pode constatar neste fragmento do ensaioLiteratura e cultura de 1900 a 1945, redigido, segundo observao do autor emnota de rodap, em 1950:

    Em nossos dias, estamos assistindo ao fim da literatura onvora, infiltrada comocritrio de valor nas vrias atividades do pensamento. Assistimos, assim, ao fim daliteratice tradicional, ou seja, da intromisso indevida da literatura; da literatura sem

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    propsito. Em conseqncia, presenciamos tambm a formao de padres literriosmais puros, mais exigentes e voltados para a considerao de problemas estticos, nomais sociais e histricos. a maneira pela qual as letras reagiram crescente diviso dotrabalho intelectual, manifestadosobretudo no desenvolvimento das cincias da cultura,que vo permitindo elaborar, do pas, um conhecimento especializado e que no reves-te mais a forma discursiva. (1973, p. 136)

    O momento da releitura comea ento muito marcado pelas preocupaes for-mais e estticas, pois

    (...) a crtica como releitura significa, em ltima instncia, a possibilidade de umadecodificao que atende no somente para os elementos constituintes da literariedadecomo para o que, no texto, envolve a sua existncia como radicao na histria. S queagora esta radicao percebida no como funo, ou misso, do texto, mas comodecorrncia de seu prprio modo de constituir-se enquanto objeto de tenso entreforma e histria. (Barbosa, 1990, p. 75)

    A necessidade de rever o cnone sob esta perspectiva, hoje, aos olhos de al-guns, iluminista, pode ter sido o motivo que levou, nos anos 60, Afrnio Coutinho apublicar, em trs volumes, a Antologia Brasileira de Literatura (1965, 1966, 1967), eAntonio Candido e Jos Aderaldo Castello, os trs volumes da Presena da LiteraturaBrasileira (1964), onde, de maneira mais pragmtica, puderam ilustrar as idias pro-postas, respectivamente, em A Literatura no Brasil e no longo ensaio Formao da Lite-ratura Brasileira. As duas antologias tm preocupao didtica, apresentando um ex-tenso corpus, organizado diacronicamente. A primeira rene clssicos brasileiros eportugueses e a segunda rene apenas os brasileiros.

    Nos anos 60, porm, o olhar mais radical sobre o cnone da histria da literatu-ra brasileira talvez tenha sido o de Haroldo de Campos, em trs pequenos artigos,Potica sincrnica, O Samurai e o Kakemono e Apostila: Diacronia e Sincronia,publicados em 1967, no peridico carioca Correio da Manh, e que, posteriormente,reunidos sob o ttulo Por uma Potica Sincrnica, foram reproduzidos no livro Aarte no horizonte do provvel (1969).

    Numa releitura marcada, principalmente, pelas idias poundianas, extradas deABC of Reading (1934), sob um critrio puramente esttico, Haroldo de Campos pro-pe a elaborao de uma Antologia da Poesia Brasileira da Inveno, em cujo cnonefigurariam apenas os poemas de Gregrio de Matos, os rcades Toms AntonioGonzaga (Cartas Chilenas), Cludio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto, um trecho

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    do poema Carta a Joo de Deus Pires Ferreira, conhecido como Dilogo com oTrito, de autoria do Padre Sousa Caldas, as tradues de Odorico Mendes, os ro-mnticos Sousndrade, Gonalves Dias (o poema O leito de folhas verdes), lva-res de Azevedo, Bernardo Guimares (o poema A orgia dos duendes), os simbolis-tas Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos, Pedro Kilkerry e a obra de Quorpo Santo.

    Nos anos 70, num pequeno ensaio intitulado Texto e histria, publicado emA operao do texto, investe contra o cnone da literatura brasileira de forma mais con-tundente dizendo:

    O estatuto do historiador literrio brasileiro , por assim dizer, um estatuto dila-cerado e dilacerante. Confrontado com um panorama diacrnico onde so raros osmomentos de altitude, este historiador oscila entre a melancolia do profissional que noencontra um objeto satisfatrio para o exerccio de seu mtier e a indulgncia dofideicomissrio que procura valorizar os bens sob sua custdia. (Campos, 1976, p. 13)

    Ainda neste texto, lana a idia de uma possvel histria textual, que toma otexto caracterizado por seu contedo informativo (suas componentes inventivas), comoponto fulcral, e privilegia uma visada sincrnica.(1976, p. 18).

    Assim procedendo, estabelece um cnone bastante enxuto para a histria doromance brasileiro, onde apareceriam apenas: Memrias de um sargento de milcias (1854-1855), de Manoel Antonio de Almeida, Iracema (1865), de Jos de Alencar, O Ateneu(1888), de Raul Pompia, e Memrias pstumas de Brs Cubas (1881), Quincas Borba(1891), Dom Casmurro (1899), Esa e Jac (1904) e Memorial de Aires (1908), de Macha-do de Assis.

    No incio dos anos 80, com a chegada ao Brasil dos primeiros sinais domulticulturalismo, o crtico Roberto Schwarz organizou uma curiosa antologia com-posta de ensaios de crticos das mais variadas tendncias unidos por uma questocomum: como se define e representa a pobreza nas letras brasileiras? (Schwarz,1983, p. 7)

    O livro, cujo ttulo Os pobres na literatura brasileira, provoca indiretamenteuma reviso nos critrios de seleo de autores e obras constantes no cnone daliteratura brasileira, na medida em que levou os crticos que participaram do pro-jeto a deslocarem a tica de suas reflexes para outro plo que no o marcadopelo banho formalista (1983, p. 8) que dominou a cena acadmica brasileira nadcada de 70. Deste modo, revelou-se atravs dos textos escritos a sessenta mosque as crises da literatura contempornea e das sociedades de classes so irms

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    (1983, p. 8) e, por conta disso, a situao da literatura diante da pobreza umaquesto esttica radical. (1983, p. 8)

    Tambm nos anos 80, temos a publicao de Tal Brasil, qual romance? (1984),importante ensaio de Flora Sssekind, e um pequeno texto de Roberto Reis, intituladoAs idades do texto (1989), que serviu de Prefcio para uma antologia de ensaios,inicialmente, apresentados, no Twin Cities Campus, da University of Minnesota, du-rante o Simpsio Luso-Brazilian Literatures: a Scio-Critical Approach (1988), porele editada, posteriormente, pela Arizona State University (1991, p. 1-10), onde sevislumbra a discusso do cnone nos termos que constituem a tnica da passagem dosculo XX para o XXI, e No muito mas muito da poesia segundo o sculo XX (1984), umacuriosa antologia brasileira de poesia da inveno, organizada por Omar Khoury, comfins didticos.

    Nos anos 90, com a proximidade da passagem do sculo, ocorrem tentativas derevises do cnone literrio, resultantes de desconstrues de conceitos como o deliterariedade, num passado recente, verdadeiro divisor das guas entre os discursosliterrios e no-literrios, de valores como o esttico, que passa a ser visto comoapenas um dentre outros.

    Assim foram publicados ensaios como Preguia pastosa Repensando o cnonliterrio brasileiro (1994, p. 122-139), do j citado Roberto Reis; A Biblioteca Ima-ginria ou o cnone na histria da literatura brasileira (1996, p. 13-58), de Joo Ale-xandre Barbosa; Para uma descrio da literatura brasileira do sculo XX (1999, p.97-142), de Lus Augusto Fischer; Aporias do cnone (1997), ttulo de uma coletneade ensaios, organizada por Beatriz Resende, com a colaborao de ClaudiusWaddington, editada no nmero 129 da Revista Tempo Brasileiro; Altas Literaturas (1998)e Considerao intempestiva sobre o ensino da literatura(1999), de Leyla Perrone-Moiss; Escalas & ventrloquos(2000), de Flora Sssekind, apresentando um ba-lano das publicaes literrias brasileiras da ltima dcada; O Cnone Colonial (1997)e O Cnone Imperial (2000), de Flvio R. Kthe, dentre outros.

    Paralelamente s reflexes ensasticas, foram publicadas vrias antologias comotentativas de balano da produo da passagem do sculo XX para o XXI. Dentreelas, vale registrar, pela diversidade de perspectivas: O amor com olhos de adeus: antologiado conto gay brasileiro (1995), organizada por Jos Carlos Honrio; Esses poetas: umaantologia dos anos 90 (1998), de Heloisa Buarque de Hollanda, que nos anos 70 haviaorganizado 26 poetas hoje (1976); Escritoras brasileiras do sculo XIX (1999), organizadapor Zahid Lupinacci Muzart; Com palmos medida: terra, trabalho e conflito na literatura

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    brasileira (1999), antologia temtica de textos da literatura brasileira que espelham aocupao da terra desde a chegada dos europeus, os mtodos utilizados as realizaese conflitos da decorrentes (1999, p. 11), organizada por Flvio Aguiar; Os cem melho-res contos brasileiros do sculo (2000) e Os cem melhores poemas brasileiros do sculo (2001),organizadas por talo Moricone, com vastos panoramas da narrativa curta, refletindode maneira sensvel as transformaes ocorridas no horizonte de expectativas do lei-tor brasileiro do sculo XX, e da poesia dirigida ao quem somos no duplo sentido debrasileiros e indivduos humanos (Moriconi, 2001, p. 15); Mais poesia hoje (2000), deClia Pedrosa; Cinco Sculos de Poesia (2000), de Frederico Barbosa, que revisita oparadigma da tradio clssica brasileira, combinando, no dizer de Haroldo de Cam-pos, didaticamente, na escolha de autores e poemas, uma percuciente leitura sincrnicae um sentido diacrnico de relevncia contextual e histrico-literrio (Campos, 2000);Na virada do sculo: poesia de inveno no Brasil (2002), amplo panorama da poesia dainveno, dentro dos limites do que seus dois autores, o mesmo Frederico Barbosa eCludio Daniel, conheceram e pesquisaram na passagem do sculo XX e XXI; Os cemmelhores poetas brasileiros do sculo (2001), de Jos Numanne Pinto; Gerao 90: manus-critos de computador (2001), de Nelson de Oliveira, buscando reunir os melhores contis-tas brasileiros surgidos no final do sculo XX.

    Para concluir, essas anotaes, como parte de um work in progress, no preten-dem fechar, mas manter em aberto os constantes desafios advindos da fascinantediscusso do cnone da histria da literatura brasileira.

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    Luiz Roberto Cairo Professor Assistente Doutor de Literatura Brasileira da UNESP-Assis. Graduadoem Letras pela UFBA, Mestre e Doutor em Teoria Literria e Literatura Comparada pela USP. autor deO salto por cima da prpria sombra (1996) e de ensaios de crtica e histria literria publicados em peridicosnacionais e estrangeiros.