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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO

Sumário • 1. Propedêutica: 1.1. Conceito de Direito do Trabalho; 1.2. Denominação; 1.3. Características; 1.4. Divisão: A. Direito individual do trabalho; B. Direito coletivo do trabalho; 1.5. Natureza jurídica; 1.6. Funções; 1.7. Autonomia; 1.8. Relações do direito do trabalho com os demais ramos do direito: A. Direito civil; B. Direito empresarial; C. Direito penal; D. Direito administrativo; E. Direito constitucional; F. Direito tributário; G. Direito previdenciário; H. Direito do consumi-dor; 1.9. Fundamentos e formação histórica do direito do trabalho: A. Europa; B. Brasil – 2. Fontes formais do direito do trabalho: 2.1. Conceito; 2.2. Classificação: A. Fontes estatais ou heterônomas; B. Fontes profissionais ou autônomas; 2.3. Hierarquia – 3. Interpretação: 3.1. Hermenêutica; 3.2. Métodos básicos de exegese: A. Método literal, gramatical ou filo-lógico; B. Método teleológico; C. Método sistemático; D. Método evolutivo; E. Método histórico – 4. Integração do direito do trabalho: 4.1. Jurisprudência; 4.2. Analogia; 4.3. Usos e costumes; 4.4. Equidade; 4.5. Princípios gerais do Direito do Trabalho: 4.6. Princípio da proteção; 4.7. Princípio da irrenunciabilidade; 4.8. Princípio da continuidade; 4.9. Princípio da primazia da realidade; 4.10. Princípio da substituição automática das cláusulas nulas; 4.11. Princípio da razoabilidade; 4.12. Princípio da boa-fé; 4.13. Princípio da isonomia e da não discriminação; 4.14. Princípios constitucionais do Direito do Trabalho; 4.15. Direito comparado – 5. Aplicação do direito do trabalho: 5.1. Vigência das normas trabalhistas: A. No tempo; B. No espaço; 5.2. Revogação; 5.3. Irretroatividade; 5.4. Direito adquirido – 6. Indisponibilidade no direito indi-vidual do trabalho: 6.1. Renúncia; 6.2. Transação no Direito do Trabalho – 7. Flexibilização – 8. Conflitos de interesses e suas formas de solução; 8.1. Jurisdição; 8.2. Mediação; 8.3. Arbitragem; 8.4. Comissões de conciliação prévia – 9. Quadro sinóptico – 10. Informativos do TST sobre a matéria – 11. Questões. 11.1. Questões objetivas; 11.2. Questões discursivas; 11.3. Gabarito das questões objetivas; 11.4. Gabarito das questões discursivas.

1. PROPEDÊUTICA

A especialização do Direito que se faz necessária para estabelecer regras incidentes sobre as relações sociais, mormente aquelas nas quais uma pessoa presta serviços em benefício de outra e sob a sua dependência, em troca de uma retribuição, recebeu a denominação de Direito do Trabalho.

Assim, o substrato fático desse ramo do Direito é a relação de trabalho subordinada e, mais precisamente, do próprio trabalho. Há necessidade, portanto, de proceder à identifi-cação e descrição de suas características.

O termo trabalho expressa uma ideia de sofrimento, já que deriva do latim tripalium, instrumento consistente em um tripé formado por três estacas fincadas no chão, utilizado para torturar os escravos nas sociedades primitivas. Desse modo, trabalhar (tripaliare) significava torturar alguém com o tripalium.

A própria Bíblia faz uma relação entre o trabalho e o castigo, conforme se observa da leitura do trecho que fala da expulsão de Adão do paraíso: “No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás. Gênesis 3:19” (grifou-se).

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Etimologicamente, trabalho constitui a ação humana por meio da qual há o desprendi-mento da energia de uma pessoa dirigida a um determinado fim.

Também o termo trabalho pode ser entendido como: aplicação da atividade; serviço; esforço; fadiga; ação ou resultado da ação de um esforço.1

No âmbito da filosofia, Maria Lúcia Aranha e Maria Helena Martins asseveram que:O trabalho humano é a ação dirigida por finalidades conscientes, a resposta aos desafios da natureza, na luta pela sobrevivência. Ao reproduzir técnicas que outros homens já usaram e ao inventar outras novas, a ação humana se torna fonte de ideias e ao mesmo tempo uma experiência propriamente dita.2

Historicamente, porém, o conceito de trabalho relaciona-se, intimamente, com a utili-zação da força do trabalhador com o objetivo de perceber uma retribuição, para prover a sua manutenção e de sua família. Quando a energia pessoal é usada sem essa finalidade, haverá simplesmente uma atividade humana e não um trabalho humano.

Conclui-se, assim, que todo trabalho humano representa uma atividade humana, mas nem toda atividade humana pode ser considerada como trabalho, a exemplo das atividades desportivas, recreativas etc.

1.1. Conceito de Direito do Trabalho

O Direito do Trabalho é o ramo do Direito composto por regras e princípios, sistema-ticamente ordenados, que regulam a relação de trabalho subordinada entre empregado e empregador, acompanhado de sanções para a hipótese de descumprimento dos seus comandos.

O Direito Laboral, como regra de conduta, observado pelo seu aspecto objetivo, tem como meta principal a prevenção de conflitos derivados do confronto entre capital e trabalho para com isso preservar a vida em sociedade e a consequente paz social.

Amauri Mascaro Nascimento, ao apresentar uma definição mista, ou seja, subjetiva e objetiva, argumenta que:

Direito do Trabalho é o ramo da ciência do direito que tem por objeto as normas jurídicas que disciplinam as relações de trabalho subordinado, determinam os seus sujeitos e as orga-nizações destinadas à proteção desse trabalho, em sua estrutura e atividade.3

Na verdade, visto sob a teoria clássica, que deu origem ao Direito Laboral, esse ramo da ciência jurídica preocupa-se, unicamente, com a relação de emprego subordinada. Escapa ao seu âmbito, portanto, as demais relações de trabalho, como a prestação de serviços autô-nomos (desenvolvidas principalmente pelos profissionais liberais, como advogados, médicos, dentistas, engenheiros, dentre outros), relações derivadas do contrato de empreitada, de parceria agropecuária etc.

1. Novo dicionário da Língua Portuguesa. 3. ed. São Paulo: Egeria.2. ARANHA, Maria Lúcia Arruda;e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo:

Moderna, 1992. p. 4.3. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho:

relações individuais e coletivas do trabalho. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 176.

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Por isso é de grande importância a delimitação dos conceitos de empregado e empre-gador, pois o Direito do Trabalho clássico restringe-se a fixar regras de condutas para esses atores sociais.

Atualmente, cresce o movimento no sentido de ampliar o raio de atuação do Direito do Trabalho, para abranger as demais relações de trabalho, ou seja, aquelas relações envolvendo algumas espécies de trabalhadores não subordinados. Isso porque, a cada dia que passa, diminui a quantidade de trabalhadores qualificados como empregados, devido ao fenômeno da globalização e, consequentemente, da flexibilização das normas trabalhistas.

Na Itália, por exemplo, uma significativa parcela da legislação laboral atinge os traba-lhadores definidos como parassubordinados, categoria representada por aquelas pessoas que prestam serviços em favor de outra, sem o elevado grau de subordinação jurídica que caracteriza a relação empregatícia tradicional, mas não totalmente independentes.

O primeiro passo para ampliar o aludido raio de incidência do Direito Laboral já foi dado, no Brasil, na seara da competência jurisdicional.

Por meio da Emenda Constitucional nº 45/2004, que alterou a redação do art. 114 da Carta Magna4, alargou-se a competência da Justiça do Trabalho brasileira para processar e julgar todo e qualquer litígio envolvendo a relação de trabalho e não somente aqueles derivados da relação de emprego.

1.2. Denominação

A expressão Direito do Trabalho é a mais utilizada e consagrada pela legislação, doutrina e jurisprudência de vários países para designar esse ramo da ciência jurídica. Na Alemanha, utiliza-se o termo Arbeitsrecht; Diritto Del Lavoro, na Itália; Derecho del Trabajo, na Espanha e Droit du Travail, França. Mas também são utilizadas outras designações como Direito Social, Direito Operário, Direito Industrial, Direito Corporativo e Direito Laboral.

Cesarino Júnior defende a utilização da denominação Direito Social, dentre outros motivos, porque “a expressão ‘social’, pela sua amplitude, abrange todos os aspectos da proteção ao trabalhador e aos seus dependentes”. O referido autor ainda leva em consideração o fato de que “universalmente se reconhece ao novo direito a finalidade de resolver a ‘questão social’ e por isso sempre se chamaram as suas leis de ‘leis sociais’”5.

Critica-se a designação de Direito Social, tendo em vista que, em última análise, todo Direito seria social. Assim, não seria possível a utilização dessa expressão para designar um único ramo do Direito. O termo Direito Social também pode ser usado para fazer referência a dois ramos específicos do Direito, quais sejam, o próprio Direito do Trabalho e o Direito da Assistência e da Previdência Social.

4. CF/88. Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

5. CESARINO JR., Antônio Ferreira. Direito Social. São Paulo: LTr, 1980. p. 35.

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As expressões Direito Operário e Direito Industrial restringem, por demais, o campo de aplicação desse ramo do Direito, pois fazem referência a uma espécie de atividade econômica ou profissional exercidas, respectivamente, pelo empregado e pelo empregador.

Já a expressão Direito Laboral é empregada como sinônimo de Direito do Trabalho. Por fim, a designação Direito Corporativo sugere a ideia de que esse ramo do Direito regularia as relações havidas nas corporações de ofício que, em remota época, eram atreladas ao Estado.

Arnaldo Süssekind demonstra apreço expresso pela denominação “Direito do Trabalho”, ao ressaltar a sua utilização por diversos Autores de renome internacional, inclusive, pela OIT – Organização Internacional do Trabalho e por diversas constituições.6

1.3. CaracterísticasAlém das características comuns aos demais ramos da ciência jurídica, o Direito do

Trabalho possui traços peculiares que o destaca dos demais.

Dessa forma, pode-se dizer que o Direito Laboral caracteriza-se pela proteção excessiva à pessoa do empregado, que é considerado como hipossuficiente, com vistas a atingir os seus objetivos principais, que é a obtenção de melhores condições de trabalho e a pacificação social, seja pela via legislativa estatal, seja por intermédio das negociações coletivas de trabalho.

O Direito do Trabalho confere um tratamento desigual entre os representantes do capital e do trabalho. O trabalhador sempre é considerado elemento frágil da relação laboral e o empregador o hiperssuficiente. Para compensar essa hipossuficiência no plano fático (plano material), a Lei concede ao empregado várias prerrogativas (plano jurídico), inclusive com limitação do direito de disposição dos seus direitos.

Essa proteção ao trabalhador, em algumas oportunidades, acaba por imprimir efeito contrário ao pretendido. Isso ocorre porque o legislador nacional não se preocupa com a manutenção ou garantia do emprego, mas tão-somente com os direitos subjetivos daí decor-rentes, circunstância que provoca grande rotatividade de mão de obra.

1.4. DivisãoO Direito Material do Trabalho é dividido em dois grandes grupos, a saber: Direito

Individual do Trabalho e Direito Coletivo do Trabalho. Existem autores7 que ainda decompõem o Direito do Trabalho em: Direito Internacional do Trabalho, Direito Admi-nistrativo do Trabalho, Direito Penal do Trabalho e Direito Previdenciário.

A. Direito individual do trabalhoDe forma geral, o Direito regulamenta relações intersubjetivas. Por uma questão de divisão

e sistematização da ciência do direito, cada um dos seus ramos cuida de determinada espécie de relação intersubjetiva.

6. SÜSSEKIND, Arnaldo, et all. Instituições de direito do trabalho. 19. ed. atual. São Paulo: LTr, 2000. p. 112-113.7. Nesse sentido: GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Élson. Curso de direito do trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 1984. p. 16.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 49

Existe uma relação específica que se estabelece entre o prestador de serviços e outra pessoa que dirige, assalaria e aproveita do resultado da força de trabalho do obreiro. Essa relação é caracterizada pelo estado de subordinação jurídica ao qual o operário fica submetido em razão da celebração de um contrato de trabalho. O empregado transfere para o empregador o resul-tado do seu esforço físico e mental. Essa relação é regulada pelo Direito Individual do Trabalho.

O Direito Individual do Trabalho é, portanto, o ramo do Direito Privado formado pelo conjunto de regras e princípios que regulam a relação entre empregado e empregador indi-vidualmente considerados, além de conter sanções para a hipótese do descumprimento de suas determinações.

B. Direito coletivo do trabalhoAo lado das relações individuais que se processam entre trabalhadores e empregadores,

existem as relações coletivas de trabalho que se efetivam entre os entes coletivos do trabalho. É denominada de relação coletiva, porque o ente coletivo (geralmente o sindicato) representa os interesses de determinado grupo de pessoas, quais sejam, os empregados e os empregadores, considerados em conjunto e não individualmente. O objeto do Direito Coletivo do Trabalho é, justamente, essas relações coletivas.

O Direito Coletivo do Trabalho é, dessa forma, o ramo integrante do Direito privado que institui regras e princípios destinados a regulamentar a atividade dos entes coletivos representativos dos empregados (sindicato da categoria profissional) e dos empregadores (sindicato da categoria econômica), com o objetivo de evitar o surgimento de conflitos e de traçar diretrizes para a fixação de normas profissionais pelos próprios interessados.8

De acordo com as palavras de Cesarino Júnior, Direito Coletivo do Trabalho é aquele composto por “leis sociais que consideram os empregados e empregadores coletivamente reunidos, principalmente na forma de entidades sindicais”.9

1.5. Natureza jurídicaA questão da natureza jurídica do Direito do Trabalho provoca, até hoje, calorosos

debates. Observe-se que a própria dicotomia do Direito, em público e privado, já é fonte de discussões calorosas após a definição apresentada por Ulpiano, segundo a qual publicum ius est quod ad statum rei romanae spectato, privatum quod ad singulorum itilitatem.

Por natureza jurídica do Direito do Trabalho entende-se a sua inserção em um dos grupos acima mencionados. É importante salientar, contudo, que a natureza jurídica de determinado ramo do Direito varia de acordo com a época e com a organização do poder político adotado por cada Estado.

Em que pese o Direito do Trabalho ser formado, em sua maioria, por normas de inte-resse público, tal característica não implica reconhecer o caráter público do referido ramo do Direito.10

8. A segunda parte desta obra trata, especificamente, do Direito Coletivo do Trabalho.9. CESARINO JÚNIOR, Antônio Ferreira. Direito social. São Paulo: LTr, 1980. p. 52.10. Miguel Reale classifica como público, o Direito do Trabalho (REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 22 ed.

Saraiva: São Paulo, 1995. p. 345/346).

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A tese de reconhecer o caráter público no Direito do Trabalho não resiste a uma análise mais profunda. O Direito de Família, por exemplo, apesar de ser norteado por diversas regras de ordem pública, jamais perdeu o seu caráter de Direito privado.

Amauri Mascaro atribui à divisão do Direito em público e privado a um critério mera-mente ideológico e assevera que o Direito do Trabalho pertence a este último:

Se admitirmos a validade metodológica da distinção entre direito público e privado, o direito do trabalho seria ramo do direito privado, porque não vincula cidadão ao Estado; regula interesses imediatos dos particulares; é pluricêntrico, emanando de fontes internacionais, estatais e não estatais; tanto a convenção coletiva do trabalho como o contrato individual do trabalho não se desvincularam do âmbito do direito privado.11

Na verdade, a divisão do Direito em público e privado varia de acordo com o ponto de vista do jurista. Para uns, Direito público é aquele que cuida da relação entre particulares e o Estado investido do ius imperii. Para outros, Direito público é aquele formado por normas de ordem pública.

Ao aderir à primeira teoria, é forçoso concluir que o Direito do Trabalho é ramo do Direito privado, pois cuida da relação entre particulares, qual seja, relação entre o empre-gado e o empregador.

Essa é a corrente doutrinária dominante, defendida por Maurício Godinho Delgado, Gustavo Filipe Barbosa Garcia, Vólia Bomfim, Sérgio Pinto, Luciano Martinez, Amauri Mascaro, dentre outros:

Apesar de sua natureza privada, é um direito regulamentado por lei, isto é, com cláusulas legais mínimas, porém isto não o descaracteriza como de natureza privada. Ora, alguns outros ramos do Direito também têm cláusulas mínimas estipuladas por lei, demonstrando um dirigismo estatal, uma intervenção do Estado nas relações particulares e privadas: direito do consumidor, direito de família, planos médicos, seguros etc.12

Saliente-se que ainda existem outras correntes que afastam a classificação tradicional do Direito, incluindo o Direito do Trabalho em uma terceira categoria: direito social, direito misto ou direito unitário.

Quadro Doutrinário – Natureza jurídica do Direito do Trabalho

Teorias Doutrinadores Exemplo

Direito social Cesarino Júnior

Há no ordenamento jurídico normas que visam estabelecer o equilíbrio social, pela proteção aos economicamente fracos. Assim, a ideia que a expressão “Direito Social” nos evoca é a de um complexo de normas tendentes à proteção dos economicamente débeis (Cesarino Jr).*

Direito misto

Paulo Dourado de Gusmão

O direito é misto quando tutela interesses privado e público, ou, então, quando é constituído por normas e princípios de direito público e de direito privado ou, ainda, de direito nacional e de direito internacional. [...] Norteado pelo interesse social, apesar de se destinar a reger as relações entre patrões e empregados oriundas de contrato de trabalho, o direito do trabalho não pode ser incluído no direito privado, mas sim no direito misto (Paulo Dourado de Gusmão).**

11. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 227.

12. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 2 ed. Niterói: Impetus, 2008. p. 11.

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Quadro Doutrinário – Natureza jurídica do Direito do Trabalho

Teorias Doutrinadores Exemplo

Direito unitário

Evaristo de Moraes Filho, Égon Gottschalk e Arnaldo Süssekind

Embora possuindo instituições e regras de direito público e dispositivos de caráter privado, deveria ser entendido e aplicado de conformidade com a uni-dade emanada dos princípios doutrinários que o fundamentam e das diretrizes oriundas dos respectivos sistemas legais (Arnaldo Süssekind).***

(*) CESARINO JR., Antônio Ferreira. Direito Social. São Paulo: LTr, 1980. p 41.(**) GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 27 ed. Forense: Rio de Janeiro, 2000. p 193 e p. 196.(***) SÜSSEKIND, Arnaldo, et all. Instituições de Direito do Trabalho. por: Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho. 19. ed. São Paulo: LTr, 2000. P. 126

Não se pode esquecer, por fim, que a legislação laboral é constituída por dispositivos que estabelecem sanções de cunho administrativo. Assim, quando o empregador deixa de cumprir determinado comando da norma trabalhista e o órgão de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego detecta essa omissão, pode lhe ser imputada uma multa que não se reverte em favor do trabalhador, mas sim do Estado. Visto sob esse prisma, ai sim, o Direito do Trabalho também pode ser classificado como ramo do Direito público.

ATENÇÃO! Embora exista esse frutífero debate doutrinário sobre qual seria a natureza jurídica do Direito do Trabalho, para efeito de concurso público tem prevalecido o entendimento no sentido de que o Direito do Trabalho possui natureza jurídica de Direito privado.

1.6. Funções

Em qualquer grupo social existem regras de conduta. Ao conjunto dessas regras atribui-se a denominação de Direito, também formado por princípios que, juntamente com as primeiras, são sistematicamente organizados.

Se o Direito constitui pressuposto para a vida em sociedade, infere-se que sua função primordial é prevenir e solucionar os conflitos entre os membros de um grupo social:

Existe o Direito porque o homem procura ordenar a sua coexistência com outros homens pautando-a por meio de determinadas normas por ele dispostas no sentido de evitar um conflito de interesses e realizar um ideal de justiça. O Direito é um instrumento de reali-zação da paz e da ordem social, mas também se destina a cumprir outras finalidades, entre as quais o bem individual e o progresso da humanidade.13

No âmbito do Direito Laboral, por suas características que lhe são peculiares, observa--se que sua função primeira é evitar o eterno conflito entre os detentores do capital e os trabalhadores. Pretende-se chegar a esse objetivo por meio do estabelecimento de melhores condições de trabalho para os empregados, com a eliminação ou redução da exploração do homem pelo homem.

Essa espécie de trabalhador também é denominada de hipossuficiente, porque se encontra em uma posição de inferioridade, no plano fático, em face do empregador, que detém o poder de comando e direção da sua atividade (hiperssuficiente).14

13. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 221.

14. A teoria da hipossuficiência é explicada com detalhes, no Brasil, por Cesarino Júnior. (CESARINO JÚNIOR, Antônio Ferreira. Direito social. São Paulo: LTr, 1980. p. 44).

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Não menos importante, entretanto, são as demais funções do Direito Laboral, que estão previstas, inclusive, no preâmbulo da Constituição da Organização Internacional do Trabalho, quais sejam as de promover:

a) a paz social permanente;b) as condições de liberdade e dignidade do trabalhador;c) a igualdade de condições.

1.7. AutonomiaO Direito do Trabalho adquiriu status de autonomia após o reconhecimento e conso-

lidação da existência de regras, princípios e institutos próprios que o diferenciava dos demais ramos do Direito, o que ocorreu com a edição, em vários países, de códigos e consolidações do trabalho e outros diplomas legais similares.

Originou-se do Direito Civil, mais precisamente da parte que regulava as locações de serviços. Após o advento da questão social, o Direito do Trabalho destacou-se do Direito Comum, em face da sua incompatibilidade com alguns os princípios deste último.

O Direito Civil refletia, basicamente, os princípios derivados do liberalismo, como a autonomia da vontade privada. Já as normas que regulamentavam a relação de trabalho sofriam sérias restrições no que diz respeito ao mencionado instituto.

Por conta disso, surgiu, progressivamente, um corpo de leis mais ou menos homogêneas que propiciou a solidificação do Direito Laboral, formado por regras, princípios e institutos peculiares. Em alguns países, esse conglomerado de normas jurídicas ensejou a codificação e, em outros, como o Brasil, uma consolidação de leis.15

O resumo histórico relatado revela a existência de uma autonomia legislativa do Direito do Trabalho. Contudo, para o reconhecimento da autonomia de um ramo do Direito é necessário a conjugação de outros fatores, como a autonomia científica, didática e judicial.

A autonomia científica também se encontra presente nesse ramo específico do Direito. Com efeito, vários doutrinadores preocupam-se com o estudo do Direito do Trabalho e produzem obras científicas com esse conteúdo e formam, atualmente, um acervo considerável.

A autonomia didática é constatada por meio da presença de uma cadeira específica nos cursos de Graduação em Direito, para qual são dedicados dois ou três semestres para o estudo do Direito do Trabalho e, em alguns casos, para o Direito Coletivo do Trabalho.

Por fim, a autonomia judiciária serve para confirmar a total independência do Direito do Trabalho, com a existência de uma Justiça Especializada na solução dos conflitos trabalhistas, pelo menos em alguns países, como é o caso do Brasil, com a competência definida pelo art. 114 da Constituição Federal de 1988.16

15. A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT foi aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 e entrou em vigor seis meses depois. Uma Consolidação de leis constitui o estágio intermediário entre uma compilação de leis e a codificação.

16. CF/88. Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 53

Exemplo de questão sobre o tema

(Magistratura do Trabalho/TRT – 21ª – 2010) Assinale a opção INCORRETA:(A) Para que uma disciplina jurídica adquira efetiva autonomia são necessárias três condições: domínio

suficientemente vasto (ou campo temático vasto e específico), doutrinas homogêneas (ou teorias próprias ao mesmo ramo jurídico investigado) e método próprio (metodologia própria de construção e reprodução da estrutura e dinâmica do ramo jurídico enfocado). O Direito do Trabalho possui autonomia doutrinária, legislativa, didática e jurisdicional.

(B) Acerca da natureza jurídica do Direito do Trabalho, prepondera atualmente a sua classificação no seg-mento do Direito Privado.

(C) Segundo a doutrina, em sentido amplo, a área jurídica trabalhista pode ser dividida em: direito material do trabalho e direito público do trabalho. O direito material do trabalho compreende dois segmentos: o direito individual do trabalho e o direito coletivo do trabalho, enquanto o direito público do trabalho abrange: direito processual do trabalho; direito administrativo do trabalho e direito previdenciário e aci-dentário do trabalho. É controvertida a inclusão do direito penal do trabalho como segmento do direito público do trabalho.

(D) Destacam-se três tipologias de interpretação do Direito: segundo o critério da origem da interpretação efetuada; segundo o critério dos resultados do processo interpretativo e segundo o critério dos meios ou métodos utilizados no processo de interpretação jurídica. A tipologia segundo o critério da origem da interpretação aponta três tipos de interpretação: autêntica, jurisprudencial e doutrinária. Exemplo de interpretação autêntica é o decreto regulamentador de lei, com aptidão, inclusive, para suprimir direito adquirido.

(E) Nos sistemas jurídicos romano-germânico, principalmente nas vertentes de tradição latina, como é o caso brasileiro, há resistência teórica a se conferir teor jurígeno (criador de Direito) ao papel interpreta-tivo desempenhado pelos Tribunais. Entretanto, a despeito disso é insustentável negar-se a dimensão criadora do direito inserida em inúmeras súmulas de jurisprudência dos tribunais superiores brasileiros, como, por exemplo, a Súmula 268 do TST, que trata da interrupção da prescrição da ação trabalhista arquivada (“A ação trabalhista, ainda que arquivada, interrompe a prescrição somente em relação aos pedidos idênticos”).

Resposta: D.

1.8. Relações do direito do trabalho com os demais ramos do direito

Apesar da notória autonomia que o Direito do Trabalho desfruta, não se pode negar a influência que recebe dos demais ramos, mesmo porque todos não passam de especialidades do Direito em geral.

A. Direito civil

O Direito Civil é um dos ramos que mais se aproxima do Direito Laboral. Ambos são ramos do Direito Privado e toda a sua teoria geral, além de outros institutos, fazem parte do arcabouço do Direito do Trabalho, mesmo porque a CLT não contém um tópico destinado à fixação de normas relativas à Teoria Geral do Direito do Trabalho. Na verdade, esse ramo específico da ciência do Direito cuida do estudo de um contrato em particular, mais preci-samente do contrato de trabalho.

Constituem pressupostos para o conhecimento e aplicação do Direito do Trabalho, dentre outros, as regras e princípios relativos à pessoa, bens, fatos jurídicos lato sensu, obrigações, contratos etc., que são encontrados no Direito Civil.

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Como ressalta Pedro Romano Martinez, para o estudo do Direito do Trabalho é indis-pensável o conhecimento do Direito das Obrigações:

Sendo um ramo do Direito Privado, pressupõe a aplicação de princípios e de regras de Direito Civil, sempre que não se tenham estabelecido regimes com especificidades. Não é, deste modo, concebível o estudo do Direito do Trabalho desacompanhado, em particular, do Direito das Obrigações; a visão interdisciplinar será, pois, essencial.17

B. Direito empresarial

Mesmo após a unificação legislativa do Direito dos Contratos e das Obrigações Civis e Comerciais em um único Diploma Legal, por meio do Código Civil de 2002, que revogou a parte primeira do Código Comercial (Lei nº 556/1850), o Direito Comercial ainda mantém a sua característica de ramo autônomo da ciência jurídica e fornece subsídios legais e prin-cipiológicos para o Direito do Trabalho, sob a nova denominação de Direito Empresarial.

Percebe-se essa influência, por exemplo, no conteúdo da Lei nº 11.101, de 09 de feve-reiro de 2005, que revogou o Decreto-Lei nº 7.661/45, que trata da recuperação judicial, extrajudicial e falência do empresário e da sociedade empresária. Essa regra é de grande importância para o Direito do Trabalho, mormente no que diz respeito à classificação dos créditos, com privilégio do crédito trabalhista até o limite de 150 salários mínimos18, e a sucessão de empregadores.

C. Direito penal

Entre o empregado e o empregador existe uma relação de subordinação. É o empregador quem dirige a atividade do trabalhador, no exercício do seu poder diretivo, do qual deriva o poder disciplinar. Atos de insubordinação do empregado podem ser punidos,19 por meio das sanções de advertência, suspensão e até mesmo despedida por justa causa.

Assim, os institutos do Direito Penal são valiosos quando se pretende apurar a prática de falta grave pelo empregado, ato que enseja a ruptura do contrato de trabalho sem ônus financeiro para o empregador.

O intérprete e aplicador do Direito do Trabalho podem utilizar os conceitos de autoria, materialidade, nexo de causalidade, gravidade, culpa e proporcionalidade na aplicação da pena, dentre outros.

Observe-se, que a Consolidação das Leis do Trabalho, em diversos dispositivos, tipifica a prática de crimes específicos no âmbito laboral, conforme se vê do teor do caput do seu art. 49:

Art. 49. Para os efeitos da emissão, substituição ou anotação de Carteiras de Trabalho e Previdência Social, considerar-se-á crime de falsidade, com as penalidades previstas no artigo 299 do Código Penal.

17. MARTINEZ, Pedro Romano. Direito do trabalho. 3. ed. Lisboa: Pedro Ferreira Editor, 1998. p. 81.18. Lei nº 11.101, de 09.02.2005. Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: I – os

créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho.

19. A utilização da expressão punição só é possível graças à aceitação da teoria institucionalista da relação de emprego.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 55

D. Direito administrativoO Direito Administrativo e o Direito do Trabalho praticamente se confundem quando

tratam das relações do Estado com os seus servidores20. Se a referida relação deriva de um ato de inserção do servidor no âmbito da administração pública, regido por um estatuto próprio, a regulação deve ser efetivada pelo Direito Administrativo. Caso contrário, se for originária de um contrato de emprego público, cabe ao Direito do Trabalho estabelecer as normas de conduta, mas de forma similar àquela tratada pelo Direito Adminis trativo.

Desse modo, existem os servidores públicos, gênero do qual são espécies o empregado público e o servidor público stricto sensu ou funcionário público. Em relação ao primeiro, aplicam-se as regras contidas no Direito do Trabalho e, quanto ao segundo, segue-se a regulação do Direito Administrativo. São comuns, entretanto, as regras relativas ao ingresso no serviço público, aos direitos básicos dos servidores públicos etc., como se pode observar dos preceitos Constitucionais abaixo transcritos:

Art. 37. II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexi-dade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.

Art. 39. § 3º. Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no artigo 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.

Em outras questões, o Direito Administrativo auxilia, em muito, o Direito Laboral. Com efeito, a lei define o conteúdo mínimo do contrato de trabalho, que se incorpora a ele em forma de cláusulas. Mas o desrespeito ao regramento estatal não gera apenas o direito subjetivo ao empregado de postular o seu implemento (efeito contratual), mas também ao próprio Estado de cobrar multas administrativas (efeito administrativo).

Assim, tais multas assumem o caráter de penalidade pecuniária, mas encontram sua previsão legal na Consolidação das Leis do Trabalho e na legislação extravagante trabalhista. Em tais casos, a competência é da Justiça do Trabalho para processar a execução essa espécie de dívida.21

E. Direito constitucionalA partir do surgimento da constituição do México (1917) e de Weimar (1919), as consti-

tuições de diversos países, inclusive a do Brasil (1934), passaram a dedicar especial atenção ao Direito Social, com a salvaguarda dos direitos básicos dos trabalhadores em capítulo próprio.

Atualmente, do Direito Constitucional extraem-se as regras basilares dos demais ramos da ciência jurídica, inclusive para o Direito do Trabalho, pois a Constituição Federal não se limita apenas a definir competência e atribuir poderes.

20. CF/88. Art. 39. § 3º. Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no artigo 7º, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.

21. CF/88. Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: VII – as ações relativas às penalidades adminis-trativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho.

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No Brasil, o conteúdo mínimo do pacto laboral encontra-se praticamente definido pelos incisos do art. 7º, da Constituição Federal de 1988, sem falar nas regras sobre Direito Coletivo do Trabalho, constantes dos seus arts. 8º a 11:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

I – relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;

II – seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;

III – fundo de garantia do tempo de serviço;

IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas neces-sidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

V – piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;

VI – irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;

VII – garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;

VIII – décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposen-tadoria;

IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;

X – proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;

XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcional-mente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;

XII – salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;

XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;

XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de reveza-mento, salvo negociação coletiva;

XV – repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;

XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal;

XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;

XVIII – licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;

XIX – licença-paternidade, nos termos fixados em lei;

XX – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;

XXI – aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;

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XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

XXIV – aposentadoria;

XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;

XXVI – reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;

XXVII – proteção em face da automação, na forma da lei;

XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a inde-nização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;

XXIX – ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescri-cional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho;

XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;

XXXII – proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos;

XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;

XXXIV – igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso.

Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social.

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

I – a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical;

II – é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, represen-tativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município;

III – ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;

IV – a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;

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V – ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;

VI – é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;

VII – o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais;

VIII – é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a opor-tunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

§ 1º – A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

§ 2º – Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação.

Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.

Da mesma forma, valiosos princípios constitucionais também são utilizados pelo Direito Laboral, como o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III); dos valores sociais do trabalho (art. 1º, III, e art. 170); da igualdade (arts. 3º, IV, e 5º, I); da legalidade (art. 5º, II); da liberdade de trabalho (art. 5º, XIII); da preservação da intimidade (art. 5º, X) etc. No âmbito da relação laboral, são conhecidos como “direitos trabalhistas inespecíficos”.

Exemplos de questões sobre o tema

(TRT 1 – Juiz do Trabalho Substituto 1ª região/2016) Em relação exclusivamente à Constituição Federal, no que diz respeito aos direitos dos empregados, considere:I. jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento.II. proteção do mercado de trabalho da mulher.III. adicional para exercício de atividades penosas.IV. assistência gratuita aos dependentes de até 5 anos de idade em creche e pré-escola. Não tem aplicação imediata o que consta APENAS em(A) I, II e IV.(B) III e IV.(C) IV.(D) II e III.(E) III.

Resposta: C

(TRT 2 – Juiz do Trabalho Substituto 2ª região/2014) Em relação à Constituição de 1988, observe as pro-posições abaixo e responda a alternativa que contenha proposituras corretas:I. Ficam abolidas as corporações de ofícios, juízes, escrivães e mestres.

II. Proibição de trabalho a menores de 14 anos e de trabalho noturno a menores de 16 anos.

III. O aposentado filiado a um sindicato item direito a votar e ser votado nas eleições sindicais.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 59

IV. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação.

V. Para dirimir questões entre empregados e empregadores, regidas pela legislação social, fica instituída a Justiça do Trabalho.

Está correta a alternativa:

(A) III e IV.

(B) II e III.

(C) I e IV.

(D) II e V.

(E) I e V.

Resposta: A

F. Direito tributário

Algumas obrigações do empregador, derivadas do contrato de trabalho, têm natureza de contribuição social ou tributária, como é o caso do recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS e contribuições para o Programa de Integração Social – PIS/Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público – PASEP.22

Empregado e empregador são devedores da contribuição sindical prevista pelo art. 578 da Consolidação das Leis do Trabalho, mais conhecida como imposto sindical, pelo simples fato de ser integrante de uma categoria profissional ou econômica.23

Observe-se, ainda, que o pagamento ou crédito das parcelas de natureza salarial constitui fato gerador para o recolhimento do imposto de renda. Desse modo, é necessário o inter-câmbio de informações entre o Direito do Trabalho e o Direito Tributário para a definição das hipóteses e detalhes da incidência do tributo mencionado.

G. Direito previdenciário

O Direito Previdenciário fazia parte do Direito do Trabalho, donde se destacou após conquistar a sua autonomia. A preocupação dos trabalhadores, logo após o surgimento e consolidação do Direito Laboral, não foi só com a aquisição de melhores condições de trabalho, mas também com a manutenção de uma fonte de renda para o operário quando este estivesse incapacitado, temporária ou definitivamente, para o trabalho.

Formaram-se, inicialmente, as caixas de assistência, com contribuições de patrões e empregados. Com o passar dos tempos, firmaram-se seguros privados posteriormente trans-formados em contribuições sociais obrigatórias, o que deu ensejo ao surgimento do Direito Previdenciário.

22. Lei Complementar nº 7/70. Art. 10. As obrigações das empresas, decorrentes desta lei, são de caráter exclusiva-mente fiscal, não gerando direitos de natureza trabalhista nem incidência de qualquer contribuição previdenciá-ria em relação a quaisquer prestações devidas, por lei ou por sentença judicial, ao empregado.

23. Para o empregado, o referido tributo equivale a um dia de serviço e para o empregador representa um percen-tual incidente sobre o seu capital social (art. 580 da CLT).

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CURSO DE DIREITO DO TRABALHO – José Cairo Júnior60

Desse modo, os operadores de ambos os ramos do Direito citados necessitam conhecer e aplicar os dispositivos e princípios que tratam, por exemplo, do acidente do trabalho, das doenças ocupacionais, das causas de incapacidade para o trabalho, bem como de noções sobre empregado, empregador, segurado, beneficiário etc.

Saliente-se que a incapacidade laboral decorrente de doença ocupacional ou acidente do trabalho provoca a suspensão especial do contrato do trabalho, mas mantém a obrigação de o empregador continuar efetuando os depósitos do FGTS durante o período, além de conferir estabilidade ao empregado por doze meses após o retorno ao serviço.

Alguns benefícios previdenciários são pagos diretamente pelo empregador, como o salário-família e o salário-maternidade. A compensação se faz posteriormente com os valores devidos pela empresa, a título de contribuição previdenciária, à seguridade social.

Além disso, a exemplo do que ocorre com o imposto de renda, a contribuição social incide sobre rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, conforme preceitua o art. 28, I, da Lei nº 8.212/91.

H. Direito do consumidorO Direito do Consumidor tem sua essência no Direito do Trabalho. Isso porque tanto

o empregado quanto o consumidor são hipossuficientes, pois, no plano fático, encontram-se em posição de inferioridade em relação ao empregador e ao fornecedor, respectivamente.

A atuação do Direito do Consumidor e do Direito do Trabalho é no sentido de criar uma desigualdade jurídica para compensar a desigualdade fática, equilibrando, ao final, a relação. Nesse passo, vários dispositivos existentes no Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990) são utilizados, subsidiariamente, pelo Direito do Trabalho, tendo em vista aquele ser um diploma bem mais moderno do que a CLT.

Até bem pouco tempo – antes da vigência do Código Civil de 2002 – o aplicador do Direito do Trabalho utilizava-se dos subsídios do CDC no que se referia à desconsideração da personalidade jurídica, constante do art. 28.24 Já a defesa da coletividade em juízo, dentre elas a dos trabalhadores, pode ter como fundamento os preceitos contidos no seu art. 81, parágrafo único do CDC, quando se tratar de interesses e direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.

I. Direito processualO Direito Material do Trabalho é constituído de princípios e regras de condutas que

objetivam prevenir conflitos. Contudo, se os indivíduos deixam de cumprir o comando normativo ou há uma dificuldade na sua interpretação, surge o conflito de interesses carac-terizado pela pretensão resistida, ou mais precisamente, uma lide.

Dentre as diversas formas de solução dos conflitos, encontra-se a Jurisdição, que é exer-cida pelo Estado, por meio do direito de ação, e materializa-se por meio do processo judicial.

24. CDC. Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do con-sumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 61

O Direito Processual é formado, portanto, por comandos que regulam as atividades das partes, dos interessados e do próprio Estado-Juiz no processo, com vistas a dar efetividade à regra de direito material que incide sobre o caso concreto.

No caso da relação de emprego, a tutela jurisdicional é prestada pela Justiça do Trabalho, que aplica as regras do Direito Processual do Trabalho e, subsidiariamente, do Direito Proces-sual Civil, Lei de Execução Fiscal, CDC etc.

1.9. Fundamentos e formação histórica do direito do trabalhoO Direito não surge do nada. As regras jurídicas originam-se da necessidade do ser

humano viver em sociedade e reflete, no tempo e no espaço, a cultura de cada povo.Nesse ponto reside a importância de se conhecer os fatos sociais, econômicos, políticos,

religiosos etc., que provocaram o nascimento do Direito ou de uma de suas especialidades, pois facilitam a sua compreensão, interpretação e aplicação.

A. Europa

O Direito do Trabalho surge com o advento da primeira Revolução Industrial, entre os séculos XVIII e XIX. Saliente-se, entretanto, que as relações de trabalho sempre existiram em todas as sociedades e em todas as épocas. Contudo, conforme foi comentado anterior-mente, o Direito Laboral tem como objeto a relação de trabalho subordinada, que apareceu concomitantemente com o referido evento histórico.

Com efeito, o escravo não era considerado sujeito de direitos, ao contrário, era tratado como objeto. Inclusive, poderia até ser comercializado pelo seu proprietário.

Já o servo devia obediência ao senhor feudal, mas não em decorrência de um contrato de trabalho, mas sim de um estado de submissão, pois, em troca da cessão de parte de sua produção agrícola ou pecuária, recebia a proteção do senhorio. A execução da prestação de serviços por parte do servo, portanto, não estava subordinada ao poder do senhor feudal.

Em um estágio posterior apareceram as corporações de ofício. Apesar da relação exis-tente entre os mestres e os companheiros assemelhar à relação de emprego, com ela não se confundia.

A corporação de ofício era formada pelo mestre que comandava o trabalho dos compa-nheiros e dos aprendizes. Mas, nesse caso específico, os interesses eram convergentes. Havia uma necessidade comum de produzir mercadorias, que eram feitas pelos aprendizes, compa-nheiros e pelo mestre, ou seja, os primeiros não conferiam ao último a propriedade do fruto do seu trabalho, como ocorre com a relação empregatícia.

Com o advento da Revolução Francesa (1789), passaram a prevalecer as ideias de igualdade, liberdade e fraternidade. Era reconhecida a liberdade do cidadão, frente ao Estado, o que lhe possibilitava exercer seus direitos da forma que lhe fosse mais interessante (Estado Liberal).

Por conta disso, o princípio da autonomia da vontade foi elevado à categoria de dogma, como aconteceu também com a máxima latina pacta sunt servanda, ou seja, a força obriga-tória dos contratos.

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A questão social surgiu, exatamente, em virtude da falta de intervenção do Estado Liberal nas relações entre patrões e empregados.

Diversos camponeses foram atraídos para trabalhar nas fábricas em volta dos centros urbanos, o que gerou um contingente de mão de obra considerável. Essas unidades fabris eram movimentadas pelas máquinas a vapor, que introduziram a produção em série de mercadorias e gerou a decadência da atividade artesanal proveniente das corporações de ofício.

Como o objetivo da burguesia, detentora do capital, era tão somente a obtenção de lucro, não havia qualquer preocupação com a remuneração e as demais condições mínimas de trabalho dos operários, que eram considerados como mais um dos fatores de produção, regulados pela lei da oferta e da procura.

O trabalhador era inserido dentro da linha de produção. Logo, não poderia sofrer qual-quer paralisação na atividade fabril. Assim, eram exigidas extensas jornadas de trabalho em condições sub-humanas, que implicavam fadiga mental e muscular e aumentavam o número de acidentes do trabalho, muitos deles fatais.

Também não havia qualquer distinção entre o trabalho da criança, do adolescente ou da mulher, apesar de deterem características biológicas especiais. Muito pelo contrário, preferia-se a mão de obra dos menores de 18 anos e das mulheres por ser mais barata, o que aumentava os lucros dos empresários.

Todos esses aspectos levaram à eclosão da questão social25, com a criação das associações e, posteriormente, dos sindicatos que defendiam a melhoria das condições de trabalho nas fábricas.

A luta foi incessante e obteve êxito com a edição de normas que estabeleceram limites ao princípio da autonomia da vontade e ao direito de contratar, desde que prejudicial ao trabalhador. As primeiras leis tratavam da redução da jornada de trabalho, da proibição do trabalho dos menores de 18 anos e das mulheres em locais insalubres, da fixação de um salário mínimo etc., o que, aos poucos, acabou por formar um estatuto mínimo, ou standard legal, que passava a aderir automaticamente a todo contrato de trabalho.

O Estado passou, progressivamente, de liberal para social, com intervenção progressiva na ordem econômica e social. Os grandes marcos dessa modificação foram a promulgação da Constituição Mexicana (1917) e a de Weimar (1919), na Alemanha, quando, pela primeira vez, foram introduzidos dispositivos que tratavam da ordem social em uma Constituição. Com isso, inaugurou-se a era do constitucionalismo social, para dar maior garantia aos direitos dos trabalhadores, em face da dificuldade legislativa de modificar uma regra dessa natureza.

O tratado de Versalhes, assinado pela Alemanha e pelos países aliados em 1919, logo após o final da I Guerra Mundial, foi um dos primeiros documentos históricos que asse-guraram direitos específicos aos trabalhadores ao consagrar o princípio de que o trabalho

25. A expressão questão social não havia sido formulada antes do século XIX, quando os efeitos do capitalismo e as condições da infraestrutura social se fizeram sentir com muita intensidade, acentuando-se um amplo empo-brecimento dos trabalhadores, inclusive dos artesãos, pela insuficiência competitiva em relação à indústria que florescia. (NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 9).

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 63

não deve ser considerado apenas como mercadoria (art. 467, 1). Além disso, o referido tratado foi responsável pela formalização da criação da Organização Internacional do Trabalho – OIT.

Em 1944, a OIT incorporou a Convenção da Filadélfia à sua Constituição, em forma de anexo, documento que serviu de inspiração para a confecção da Carta das Nações Unidas e para a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 10 de dezembro de 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

Esse Diploma legal internacional consagrou e assegurou o direito ao trabalho com digni-dade, conforme dispõe o seu art. 23:

Art. 23. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equi-tativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência compatível com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de proteção social.

Em 1988, como forma de reafirmar os princípios contidos nas Convenções Fundamentais da OIT, foi editada a Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho e seu Seguimento.

B. BrasilO Direito do Trabalho, no Brasil, não nasceu diretamente das reivindicações sociais promo-

vidas pelas entidades representativas dos trabalhadores, em que pese ter havido a deflagração de alguns movimentos isolados, derivados da luta de classes patrocinada por alguns sindicatos.

Observe-se que esse novo ramo do Direito surgiu da concentração proletária nos grandes centros urbanos, decorrente da Revolução Industrial, que só foi deflagrada neste País, de forma contundente, no início do século XX. Essa circunstância foi responsável pelo atraso da eclosão da questão social no plano interno, mesmo porque não poderia ocorrer em um momento anterior, pois havia a utilização da mão de obra escrava.

Na década de trinta do século XX, o então presidente Getúlio Vargas antecipou-se aos movimentos dos trabalhadores e acrescentou ao frágil ordenamento jurídico trabalhista exis-tente uma série de medidas legislativas, de caráter nitidamente populista, que contribuíram para a autonomia do Direito do Trabalho no Brasil.

Já existiam leis esparsas que regulamentavam relações de determinadas categorias profissio-nais e atribuíam alguns direitos aos trabalhadores, de forma geral, além de algumas Conven-ções da Organização Internacional do Trabalho ratificadas pelo Brasil.

O mérito de Getúlio Vargas é atribuído ao fato de sistematizar e estruturar todo esse arcabouço legislativo em um único Diploma Legal representado pela Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943 (em vigor desde o dia 01 de novembro desse mesmo ano). Inspirou-se nas diretrizes contidas na Carta Del Lavoro da Itália,26 o documento que reunia os princípios corporativistas que deveriam ser observados pela referida nação.

26. A Carta Del Lavoro foi aprovada pelo grande conselho fascista, em 21.04.1927, e serviu de inspirações para outros sistemas políticos corportativistas.

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No âmbito Constitucional, o Direito do Trabalho somente consolidou-se a partir da promulgação da Carta Magna de 193427. A primeira Constituição Federal, a de 1824, não continha nenhum dispositivo que regulamentasse as relações sociais do trabalho. Constata-se semelhante omissão na primeira Constituição Republicana (1891). Só havia uma menção à possibilidade de qualquer pessoa reunir-se livremente e sem armas, o que legalizou a atuação dos sindicatos no País.

As constituições posteriores, de 1937, 1946 e 1967, mantiveram, em linhas gerais, os principais direitos dos trabalhadores contidos na carta de 1934, com pequenas modificações necessárias para atender ao seu caráter democrático ou autoritário.

Saliente-se que durante o período do regime militar, de 1964 a 1985, a implementação cada vez mais crescente de conquistas sociais trabalhistas foi estabilizada em nome da adoção de uma política econômica de caráter intervencionista, principalmente por meio do Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG).

Por fim, foi promulgada a atual Carta Magna, em 05.10.88, que ampliou, sensivelmente, o leque de garantias constitucionais ao trabalhador subordinado, além de valorizar o regramento das relações coletivas de trabalho. Entretanto, em decorrência do fenômeno da globalização foram introduzidos alguns dispositivos tanto na CF/88 quanto na legislação infraconstitucional com vistas a flexibilizar as regras trabalhistas, principalmente a possibilidade de redução salarial e a compensação da jornada de trabalho.

Exemplos de questões sobre o tema

(TRT 4 – Juiz do Trabalho Substituto 4ª região/2016) Considere as assertivas abaixo sobre a formação histórica do Direito do Trabalho.I. Getúlio Vargas não inaugura a legislação social no Brasil, pois, antes de ele assumir o poder, já havia nor-

mas esparsas de proteção ao trabalho, mas é a partir da década de 1930 que o Direito do Trabalho passa a ser estruturado no país.

II. Com o Golpe de 1964, a evolução do Direito do Trabalho foi refreada, em benefício de medidas de eco-nomia pura, notadamente financeiras, com vistas a resultados de curto prazo.

III. A globalização da economia, cuja efetivação nos moldes atuais se dá por volta dos anos 2000, acarreta uma acentuada tendência à universalização e padronização das regras de proteção ao trabalho, com participação marcante da Organização Internacional do Trabalho.

Quais são corretas?(A) Apenas I(B) Apenas II(C) Apenas III

27. O art. 121, § 1º, da CF de 1937 garantia aos trabalhadores: a) proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil; b) salário mínimo, capaz de satisfazer, con-forme as condições de cada região, às necessidades normais do trabalhador; c) trabalho diário não excedente de oito horas, reduzíveis, mas só prorrogáveis nos casos previstos em lei; d) proibição de trabalho a menores de 14 anos; de trabalho noturno a menores de 16 e em indústrias insalubres, a menores de 18 anos e a mulheres; e) repouso hebdomadário, de preferência aos domingos; f) férias anuais remuneradas; g) indenização ao trabalha-dor dispensado sem justa causa; h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte; i) regulamentação do exercício de todas as profissões; j) reco-nhecimento das convenções coletivas de trabalho.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 65

(D) Apenas I e II(E) I, II e III

Resposta: D

(FCC - Juiz do Trabalho Substituto 1ª região/2014) Considere as assertivas abaixo sobre a formação e a evo lução histórica do Direito do Trabalho:I. A Constituição brasileira de 1946 expressou o inter vencionismo estatal com características do sistema

corporativo, instituindo o sindicato único, vinculado ao Estado e proibindo a greve, vista como recurso antissocial e nocivo à economia nacional e restrin gindo direitos trabalhistas previstos nas constitui ções anteriores.

II. A transformação do Estado Liberal de plena liberda de contratual em Estado Neoliberalista com interven-ção estatal na ordem econômica e social, se constitui em aspecto político importante para o surgimento de regras de proteção ao trabalho.

III. A Constituição de “Weimar” editada na Alemanha em 1919, embora tenha apresentado um texto pro-gressista para a sua época, não representou uma grande conquista no campo dos direitos sociais e tra-balhistas.

IV. O marco da inserção constitucional de normas de Direito do Trabalho ocorreu com a Constituição Federal do Brasil de 1934, culminando com a valoriza ção do direito coletivo e introdução de regras que favorecem o caminho da normatização autônoma na Constituição de 1988.

V. A “Carta Del Lavoro”, editada na Itália em 1927, foi base dos sistemas políticos corporativistas, inclusive no Brasil, representando de um lado a tutela dos assalariados por meio de ampla legislação paterna lista, e de outro a inibição do desenvolvimento sin dical pelo forte dirigismo exercido sobre o movimen to sindical.

Está correto o que se afirma APENAS em(A) II, IV e V.(B) I, II e IV.(C) I e II.(D) I, III e IV.(E) III e V.

Resposta: A

(Magistratura do Trabalho/ TRT – 21ª – 2010 – ADAPTADA) Leia as assertivas abaixo e assinale, em seguida, a alternativa correta:I. “O Direito do Trabalho nasceu no final do século XIX como forma de absorver os conflitos sociais que ora

se instauravam em face das tensões provocadas pela (primeira) revolução industrial [...]” (DALLEGRAVE NETO, José Affonso. ‘Novos contornos da relação de emprego diante dos avanços tecnológicos’. Revista LTR Legislação do Trabalho. Ano 67, n. 05. São Paulo: LTr, maio de 2003). O surgimento do direito do tra-balho se deu, portanto, numa época de flexibilidade das relações entre trabalhador e empregador, que se apoiavam numa linha de produção conforme a demanda;

Resposta: Alternativa errada

2. FONTES FORMAIS DO DIREITO DO TRABALHO

Fontes do Direito são todos aqueles fatores que contribuem para gerar, modificar ou extinguir as normas jurídicas, quais sejam, as regras e os princípios. A depender do ponto de vista que são analisadas, as fontes do direito são classificadas em formais e materiais.

2.1. Conceito

Entendem-se como fontes formais do Direito as manifestações provenientes do Estado e, excepcionalmente, emanadas da própria sociedade, reconhecidas por esse mesmo Direito, que dão origem às normas e aos princípios que regulamentam a vida em sociedade.

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São denominadas de formais para se contrapor às fontes materiais do Direito, assim consi-derados os fatos políticos, históricos (socialismo, trabalhismo, liberalismo), sociais, econômicos (planos econômicos), religiosos (dogmas religiosos, feriados) etc., que provocam o surgimento das leis, decretos etc.

Seguindo essa linha de raciocínio, até mesmo os fatos jurídicos processuais, mais preci-samente as decisões judiciais podem ser classificados como fonte material do direito no momento em que servem de inspiração para mudanças legislativas, o que revela a existência de um processo autopoiético no Direito.28

2.2. Classificação

Pela teoria monista, há apenas um centro de positivação da norma jurídica, ou seja, somente o Estado tem o poder de ditar normas de comportamento. A teoria pluralista nega essa exclusividade e admite que normas jurídicas podem nascer em outras searas da sociedade. Assim, o Direito do Trabalho serve de exemplo para fundamentar a prevalência da teoria plurarista, pois esse micro-ordenamento jurídico é formado por normas de origem estatal e profissional, como será analisado a seguir.

As fontes formais do Direito do Trabalho classificam-se em dois grandes grupos: fontes estatais ou heterônomas e fontes profissionais, conhecidas também como autônomas. No primeiro grupo estão incluídas a Constituição, os princípios, a lei, o decreto, a sentença normativa etc., ou seja, atos emanados do Poder Público, derivados do Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário. Observe-se que no âmbito do Direito do Trabalho, a competência para legislar é da União, conforme determina o art. 22, I29, da Carta Maior vigente.30

Fazem parte do segundo grupo, qual seja, das fontes formais profissionais ou autônomas, a convenção coletiva, o acordo coletivo de trabalho, o regulamento da empresa e o contrato individual de trabalho. Nesse último grupo, os próprios interessados criam a regra de conduta, mas agem dessa forma por assim estarem autorizados pelo ordenamento jurídico estatal.

A convenção e o acordo coletivo de trabalho possuem as mesmas características da norma estatal. São gerais e abstratas, mas com eficácia limitada no tempo, no espaço e em relação aos seus destinatários. Não se confunde com o contrato individual de trabalho, que tem como escopo regular uma relação intersubjetiva concreta.

No regulamento de empresa, o empregador, no exercício do seu poder diretivo, edita regras que irão reger a relação empregatícia dos seus trabalhadores, por meio de um estatuto próprio, sistematicamente organizado. Individualmente, empregado e empregador também podem ajustar condições de trabalho mais favoráveis ao hipossuficiente, que se incorporam ao contrato individual de trabalho.

28. Foi o que ocorreu, por exemplo, com o direito às horas in itinere, reconhecido inicialmente por meio da jurispru-dência e depois incorporado à CLT.

29. CF/88. Art. 22: Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual, elei-toral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.

30. TST. SDI-1. OJ Nº 100. Salário. Reajuste. Entes Públicos. Inserida Em 30.05.97 (título alterado e inserido disposi-tivo). Os reajustes salariais previstos em legislação federal devem ser observados pelos Estados-membros, suas Autarquias e Fundações Públicas nas relações contratuais trabalhistas que mantiverem com seus empregados.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 67

A analogia, os usos e costumes e os princípios gerais, no ordenamento jurídico nacional, são classificados como fontes subsidiárias do direito, pois têm a função de prover a integração de uma eventual lacuna na lei.

A doutrina e a jurisprudência são formas de manifestação do intérprete do direito. Entre-tanto, no Direito do Trabalho, a jurisprudência assume papel de relevo. É considerada, inclusive, como fonte de integração do direito laboral na hipótese de haver vazio legislativo, de acordo com o disposto no art. 8º da CLT.31

Existem autores que ainda classificam as fontes formais do direito em internas e externas, quer elas emanem do ordenamento jurídico nacional ou provenham de órgãos supranacionais.

Nesse sentido leciona Paulo Dourado de Gusmão:Há fontes do direito que estão acima do Estado, ou seja, fontes supra-estatais do direito inde-pendentes do consentimento do Estado, como por exemplo, os costumes internacionais, e fontes dependentes desse consentimento, como os tratados e convenções internacionais.32

Atualmente, com o fenômeno da globalização, aliado à facilidade de comunicação, a união das nações em blocos comerciais (ALCA, NAFTA, MERCOSUL, União Europeia), bem como a atuação da ONU – Organização das Nações Unidas, cresce a importância da fonte internacional do Direito, principalmente daquelas que independem da manifestação do consentimento interno do país.

Por exemplo, as Resoluções da ONU, organismo que conta com a presença de mais de 180 países, exercem um grau muito elevado de coercibilidade. Tal circunstância decorre não pelo fato dessa normativa se sobrepor à soberania do Estado e sim porque o seu descum-primento pode significar isolamento em face aos demais países do globo e a imposição de sanções de diversas naturezas.

A. Fontes estatais ou heterônomasA Constituição é a lei máxima de um país. Também é denominada de Carta Política, Lex

Legum, Carta Maior, Carta Magna etc. Além de conter dispositivos que regulam a vida do indivíduo em sociedade, contém regras que definem como os poderes constituídos deverão produzir as normas de grau inferior.

Na Constituição Federal em vigor, os preceitos de Direito do Trabalho encontram-se incluídos, principalmente, no Capítulo II – Dos Direitos Sociais, do Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais. Representou um grande avanço essa nova localização sistemática do Direito Laboral, pois, nas Constituições anteriores, os dispositivos dessa ordem estavam inseridos no Título que tratava da Ordem Econômica e Social.33

31. CLT. Art. 8º. As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito compa-rado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.

32. GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 27. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 133.33. Constituição Federal de 1967. TÍTULO III. Da Ordem Econômica e Social. Art. 158 – A Constituição assegura aos

trabalhadores os seguintes direitos, além de outros que, nos termos da lei, visem à melhoria de sua condição social; Constituição Federal de 1946. TÍTULO V. Da Ordem Econômica e Social. Art. 157 – A legislação do trabalho

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A previsão constitucional dos direitos individuais dos trabalhadores é bastante extensa. Abrange 34 incisos no art. 7º, da atual Carta Magna.

Pela sua importância, transcreve-se, na integra, o conteúdo do mencionado dispositivo constitucional:

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

I – relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;

II – seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;

III – fundo de garantia do tempo de serviço;

IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas neces-sidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

V – piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;

VI – irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;

VII – garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;

VIII – décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposen-tadoria;

IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;

X – proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;

XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcional-mente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;

XII – salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;

XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;

XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de reveza-mento, salvo negociação coletiva;

XV – repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;

XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal;

XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;

XVIII – licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;

e a da previdência social obedecerão nos seguintes preceitos, além de outros que visem a melhoria da condição dos trabalhadores; Constituição Federal de 1937. DA ORDEM ECONÔMICA. Art. 137 – A legislação do trabalho observará, além de outros, os seguintes preceitos; Constituição Federal de 1934. TÍTULO IV. Da Ordem Econô-mica e Social. Art. 121 – A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições do trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País.

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XIX – licença-paternidade, nos termos fixados em lei;

XX – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;

XXI – aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;

XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

XXIV – aposentadoria;

XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;

XXVI – reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;

XXVII – proteção em face da automação, na forma da lei;

XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a inde-nização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;

XXIX – ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescri-cional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho;

XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;

XXXII – proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos;

XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;

XXXIV – igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso.

Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social.

Os artigos 8º, 9º, 10 e 11 da CF/88 tratam das relações coletivas de trabalho, mais precisamente da associação profissional ou sindical, do direito de greve, da participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos e do representante dos empregados no âmbito da empresa.

Se, por um lado, foi aplaudida a iniciativa do legislador constituinte, que ampliou o leque de direitos sociais dos trabalhadores e dificultou a sua supressão por meio de uma simples lei ordinária, teve a desvantagem de permitir que alguns processos judiciais cheguem até ao Supremo Tribunal Federal, pela via do recurso extraordinário, que é admitido quando a decisão contraria dispositivo constitucional.

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Além desses preceitos de natureza trabalhista em sentido estrito, que fixam um estatuto legal mínimo de direitos laborais e que se transformam em obrigações do empregador no momento da formação do contrato de trabalho, a Constituição Federal de 1988 contém preceitos que orientam o legislador, na produção de normas infraconstitucionais, e o Poder Executivo, na sua execução.

Logo no preâmbulo, o legislador constituinte fez constar como um dos objetivos do Estado Brasileiro a defesa e observância dos direitos sociais.34

Já em seu artigo primeiro, a atual Carta Magna estabelece que o Brasil constitui-se como um Estado Democrático de Direito e tem como um dos seus fundamentos o valor social do trabalho agregado à livre iniciativa,35 além de estabelecer como meta, em seu art. 170, o pleno emprego com a valorização do trabalho:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: VIII – busca do pleno emprego.

O art. 193 da CF/88 preconiza que “a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”.

Constituições flexíveis admitem sua alteração sem qualquer procedimento legislativo especial. Já as Constituições rígidas, a exemplo da brasileira, estabelecem limites e requisitos necessários para a sua modificação. Por meio do exercício do Poder constituinte derivado, representado pelas denominadas Emendas Constitucionais, pode-se alterar os comandos constitucionais, salvo em relação às cláusulas pétreas que são imutáveis.36

– Lei

Logo abaixo da Constituição Federal posicionam-se as leis na pirâmide representativa do ordenamento jurídico. O termo “lei” é aqui empregado em sentido estrito, já que também é utilizado como sinônimo de norma jurídica, o que compreenderia as figuras da Constituição, do decreto, da portaria etc.

Assim, a lei constitui uma norma de conduta escrita de caráter imperativo, geral, abstrato e permanente, derivada do exercício do Poder Estatal e dotada de coercibilidade.

As leis em espécie são classificadas em:

a) complementares;

b) ordinárias;

34. Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem--estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil.

35. CF/88. Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

36. CF/88. Art. 60. § 4º. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federa-tiva de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – os direitos e garantias individuais.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 71

c) delegadas; e

d) decreto legislativo.

As medidas provisórias, previstas pelo art. 62 da Constituição Federal de 1988, enquanto não convertidas, também possuem força de lei. Todas as formas de manifestação da lei em sentido amplo ocupam a mesma posição hierárquica no ordenamento jurídico.

O Manual de Redação Legal define lei ordinária como:

Um ato normativo primário contém, em regra, normas gerais e abstratas. Embora as leis sejam definidas, normalmente, pela generalidade e abstração (“lei material”), estas contêm, não raramente, normas singulares (“lei formal” ou “ato normativo de efeitos concretos”).37

As leis complementares objetivam conferir eficácia plena aos preceitos constitucionais de eficácia limitada que, pela importância da matéria, necessitam de um quorum privilegiado,38 como a Lei Complementar nº 150/15, que trata do trabalho doméstico.

As leis delegadas39 são editadas pelo Presidente da República, com expressa autorização do Poder Legislativo, por meio de resolução do Congresso Nacional.40

O decreto-legislativo tem a mesma natureza jurídica da lei ordinária e difere apenas no seu conteúdo, posto ter como objeto a regulamentação das matérias de exclusiva competência do Congresso Nacional, previstas no art. 49 da atual Constituição Federal.

O estatuto básico legal do trabalhador brasileiro é denominado de Consolidação das Leis do Trabalho ou simplesmente de CLT. Esse Diploma legal formou-se a partir da reunião de diversas normas que regulamentavam as relações sociais de trabalho.

A CLT criada a partir do trabalho de consolidação feito por uma comissão instituída pelo então Ministro do Trabalho, Alexandre Marcondes Filho. Formavam essa comissão Arnaldo Lopes Süssekind, Segadas Viana, Dorval Lacerda e Luís Rego Monteiro a quem coube a presidência.

Após concluir os trabalhos, foi editado o mencionado Decreto-lei nº 5.452, assinado pelo Presidente da República, Getúlio Vargas, em 01 de maio de 1943, no Estádio São Januário, Cidade do Rio de Janeiro. Todavia, o termo inicial da vigência só ocorreu em 10.11.1943.

Apesar de ser classificada como Consolidação e não como Código, diversos capítulos da CLT foram formados por dispositivos originais, ou seja, não existiam no ordenamento jurídico brasileiro até então. Na parte que trata do Direito Coletivo, esse diploma legal seguiu

37. MENDES, Gilmar Ferreira; FORSTER JÚNIOR, Nestor José. Manual de redação da Presidência da República 2. ed. rev. e atual. Brasília: Presidência da República, 2002. p. 101.

38. CF/88. Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta.39. Na vigência da atual Carta Maior foram editadas apenas duas leis delegadas, as de nº 12, de 7 de agosto de 1992,

que dispõe sobre a instituição de Gratificação de Atividade Militar para os servidores militares federais das For-ças Armadas; e de nº 13, de 27 de agosto de 1992, que institui Gratificações de Atividade para os servidores civis do Poder Executivo.

40. CF/88. Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.

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a ideologia do regime corporativista italiano. Dai, muitos estudiosos afirmam que a CLT foi influenciada pela Carta Del Lavoro.

Existem outras leis esparsas, assim representadas por aquelas normas que não estão reunidas em um mesmo diploma legal, de extrema importância para o Direito do Trabalho, como as Leis nº: 8.036/90, que trata do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço; 5.889/73, que regulamenta o trabalho rural; 605/49, que trata do descanso semanal remunerado; 4.090/62, que institui a gratificação de natal, também denominada de 13º salário; 6.019/74, lei do trabalhador temporário; 6.354/76, lei do atleta profissional de futebol; 6.615/78, do radialista; 7.102/83, que dispõe sobre o trabalho dos vigilantes; 7.783/89, que regulamenta o direito de greve; 7.998/90; sobre o programa de seguro-desemprego etc.

Exemplo de questão sobre o tema

(TRT 15 – Juiz do Trabalho Substituto 15ª região/ 2013) A CLT faz 70 (setenta) anos neste ano. Sobre este documento, que integra o patrimônio jurídico nacional, é correto dizer:(A) trata-se do Decreto-lei n. 5.452, que, em 1943, inaugura as leis do trabalho no Brasil;(B) dentre os membros que compunham a Comissão, criada em 1942 e que foi responsável pela elaboração

da CLT, figuravam os juristas Arnaldo Lopes Süssekind, Dorval de Lacerda, José de Segadas Vianna, Délio Maranhão e Mozart. Victor Russomano;

(C) foi uma cópia da Carta dei Lavoro, a qual se editou na Itália, em 1927;(D) regulou, desde a data de sua vigência, dentre outros direitos, a nacionalização do trabalho, a carteira de

trabalho, a denominada estabilidade decenal, o 13° Salário e o descanso semanal remunerado;(E) teve sua assinatura comemorada junto a uma multidão que lotou, em uma grande festa, o Estádio São

Januário, do Club de Regatas Vasco da Gama, no 1º de maio de 1943, tendo entrado em vigor em 10 de novembro do mesmo ano.

Resposta: E

– Convenção da Organização Internacional do Trabalho

O Brasil é membro fundador da Organização Internacional do Trabalho – OIT, agência especializada da Organização das Nações Unidas, criada em 1919 pelo Tratado de Versa-lhes. Trata-se de uma entidade tripartite, formada por representantes dos empregados (um delegado), dos empregadores (um delegado) e dos respectivos governos (dois delegados) dos Estados-membros que a integram.

A Organização Internacional do Trabalho tem como escopo alcançar a paz mundial de forma permanente, baseada na justiça social, com a fixação de melhores condições de trabalho, diminuição do desemprego, proteção contra as enfermidades e acidentes do trabalho, dentre outros objetivos.

A OIT é composta por três órgãos:

a) Conselho de Administração;

b) Assembleia Geral (conferência internacional do trabalho); e

c) Oficina (Bureau) Internacional do Trabalho (secretaria).

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 73

O Conselho de Administração, gerido por um Diretor Geral, é o órgão executivo da OIT, responsável pela elaboração e controle de execução das suas políticas e dos seus programas. Esse conselho é constituído por 28 representantes dos governos, 14 dos traba-lhadores e 14 dos empregadores, totalizando 56 integrantes.41

De forma indireta, a atuação da OIT, principalmente por meio da formulação de Conven-ções e Recomendações, contribui para a uniformização da legislação laboral em todo o mundo.

A Conferência Internacional do Trabalho é formada por quatro representantes de cada um dos Estados-membros, sendo dois representantes do governo, um representante dos empregados e outro dos empregadores. Realiza-se, pelo menos uma vez por ano (ordinária), na cidade de Genebra e funciona nos moldes de uma assembleia geral.

Os objetivos principais da referida Conferência, são:

a) discutir temas diversos do trabalho;

b) adotar e revisar normas internacionais do trabalho;

c) aprovar as políticas gerais e o programa de trabalho e orçamento da OIT, financiado por seus Estados-Membros.

Cabe à Oficina Internacional do Trabalho, também conhecida como Buerau Inter-nacional do Trabalho, compilar e distribuir todas as informações sobre a regulamentação das condições de vida e trabalho dos obreiros, principalmente no que diz respeito às ques-tões que tenham que se submeter à Conferência com vistas à transformação em Convênios internacionais, bem como a realização de pesquisas especiais determinadas pela Assembleia Geral ou pelo Conselho de Administração.

É da Organização Internacional do Trabalho que emanam os principais atos normativos supranacionais relativos ao Direito do Trabalho, quando da realização das suas Conferências. Os pronunciamentos da Organização Internacional do Trabalho formalizam-se por meio de Convenções ou Recomendações, classificados como tratados internacionais multilaterais.

A OIT aprova uma recomendação quando a discussão sobre determinada questão ainda não está bastante amadurecida e funciona, no plano interno, como simples sugestão legislativa.

No caso das Convenções, cada País-membro dispõe de, no máximo, dezoito meses para submeter o texto respectivo à autoridade competente, para que produza efeitos internamente, ou seja, para que se efetive a ratificação da Convenção. Na hipótese de não aprovação, o país--membro deverá comunicar à Organização Internacional do Trabalho o motivo que impede a sua adoção no âmbito interno.

A OIT já editou 189 Convenções, mas algumas foram suspensas por conta da aprovação posterior de outras que tratavam do mesmo tema. São 8 Convenções fundamentais, 4 prio-ritárias e as demais subdivididas em 16 categorias.

No Brasil, a autoridade competente para imprimir eficácia interna à Convenção ou Reco-mendação da Organização Internacional do Trabalho é o Congresso Nacional, por meio de decreto legislativo, conforme preceitua o art. 49, I, da Carta Maior:

41. Dez dos postos governamentais são ocupados permanentemente pelos países de maior importância industrial (Alemanha, Brasil, China, Estados Unidos da América, França, Índia, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia).

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Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I – resolver definitivamente sobre os tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.

Como a ratificação é um ato complexo, depende, para a sua plena eficácia, da promul-gação, que se opera por meio da edição de um decreto expedido pelo Chefe do Poder Executivo.

Nesse passo, as Convenções da Organização Internacional do Trabalho, ratificadas pelo Brasil, aderem ao ordenamento jurídico nacional em posição equivalente à da lei ordinária ou de emenda constitucional.42

O quadro a seguir revela as principais informações sobre as Convenções da OIT ratifi-cadas pelo Brasil:

Número de convenções ratificadas

96

Última convenção ratificada

nº 151 (Decreto legislativo nº 206/2010)

Convenção fundamental não ratificada

nº 87, que trata da liberdade sindical

Convenções Ratificadas

6, 11, 12, 14, 16, 19, 21, 22, 26, 29, 42, 45, 53, 80, 81, 88, 89, 92, 93, 94, 95, 97, 98, 99, 100, 102, 103, 104, 105, 106, 108, 109, 111, 113, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 122, 124, 125, 126, 127, 131, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 144, 145, 146, 147, 148, 151, 152, 154, 155, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 174, 176, 178, 182 e 185.

(*) As seguintes Convenções foram denunciadas pelo Brasil: 3, 4, 5, 7, 41, 52, 58, 91, 96, 101, 107, 108, 110 e 158.

Sobre a eficácia das Convenções editadas pela OIT nos Países-membros, aplicam-se três institutos:

a) Reclamação;

b) Queixa; e

c) Denúncia.

A reclamação é o instrumento por meio do qual as entidades sindicais, patronais ou profissionais, comunicam à Oficina Internacional do Trabalho que o Estado-membro ao qual pertencem não adotou as medidas necessárias para o cumprimento de uma Convenção.

Já a queixa é feita por um membro, perante a Oficina Internacional do Trabalho, no sentido de informar que outro Estado não tomou as providências visando implementar satis-fatoriamente uma Convenção que ambos tenham ratificado.

Por fim, a denúncia consiste no ato pelo qual o Estado-membro informa à OIT que não tem mais interesse na vigência de uma Convenção anteriormente ratificada.

42. Dependendo do conteúdo das referidas Convenções, adquirirão status de emenda constitucional, por força do quanto disposto no art. 5º, § 3º, da CF de 1988. “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos res-pectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 75

– Regulamento estatal

O decreto é ato normativo de competência do Chefe do Poder Executivo, que tem como escopo implementar um comando genérico contido na lei, por meio de uma regulamentação mais detalhada, na forma prevista pelo art. 84, IV, da CF de 1988.43 Dessa forma, o decreto de natureza regulamentar deve estar sempre de acordo com a norma legal que autorizou a sua expedição, sem apresentar inovações legislativas.

O decreto tem por objeto tanto questões individuais, como ocorre com o decreto de nomeação, exoneração, aposentadoria etc., nesse caso considerado como decreto autônomo, quanto pode ser destinado a regulamentar a lei. Nesse último caso tem como características a generalidade e a abstratividade.

As portarias são instruções expedidas pelos auxiliares do Chefe do Poder Executivo, no âmbito de sua respectiva competência, destinadas a executar lei, decretos e regulamentos.

No âmbito do Direito do Trabalho, as portarias ministeriais exercem função de elevada importância. Os artigos 155, I44 e 20045 da Consolidação das Leis do Trabalho autorizam o Ministério do Trabalho e Emprego a expedir ato normativo para tratar de questões rela-cionadas com a medicina, segurança e higiene do trabalho, assim consideradas as normas destinadas à proteção da vida e da saúde do trabalhador.

A efetivação desse comando legal operou-se por meio da Portaria do MTb nº 3.214, de 08 de junho de 1978, que aprovou as Normas Regulamentadoras, mais conhecidas como NR’s, dispondo principalmente sobre: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA (NR-5); Equipamentos de Proteção Individual (NR-6); Exames Médicos (NR-7); Riscos Ambientais (NR-9); Atividades e Operações Insalubres (NR-15); Atividades e Operações Perigosas (NR-16); e Ergonomia (NR-17).

– Sentença Normativa

No exercício do Poder Normativo da Justiça do Trabalho, os Tribunais solucionam os conflitos coletivos por meio de sentenças normativas. Essa espécie de sentença, apesar de ser um ato originário do Poder Judiciário, tem o condão de criar novas condições de trabalho, pois é formada por um conteúdo normativo, como o próprio nome sugere.

Como a sentença normativa substitui a atuação dos sindicatos quando, por meio da negociação coletiva, não conseguem celebrar uma convenção ou acordo coletivo, ela tem eficácia limitada no tempo (máximo de 4 anos), conforme determina o parágrafo único do art. 868 da CLT:

43. CF/88. Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução.

44. CLT. Art. 155. Incumbe ao órgão de âmbito nacional competente em matéria de segurança e medicina do tra-balho: I – estabelecer, nos limites de sua competência, normas sobre a aplicação dos preceitos deste Capítulo, especialmente os referidos no artigo 200.

45. CLT. Art. 200. Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer disposições complementares às normas de que trata este Capítulo, tendo em vista as peculiaridades de cada atividade ou setor de trabalho, especialmente sobre: I – medidas de prevenção de acidentes e os equipamentos de proteção individual em obras de construção, demo-lição ou reparos;

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Art. 868. Parágrafo único – O Tribunal fixará a data em que a decisão deve entrar em execução, bem como o prazo de sua vigência, o qual não poderá ser superior a 4 (quatro) anos.

Essa fonte do Direito do Trabalho teve sua importância diminuídas com a promulgação da EC nº 45/2004, que condicionou o exercício da jurisdição normativa da Justiça do Trabalho ao comum acordo dos litigantes.46

Segundo precedente normativo nº 120 do TST “a sentença normativa vigora, desde seu termo inicial até que sentença normativa, convenção coletiva de trabalho ou acordo coletivo de trabalho superveniente produza sua revogação, expressa ou tácita, respeitado, porém, o prazo máximo legal de quatro anos de vigência”.

Frise-se, por fim, que um conflito coletivo de natureza econômica pode ser solucionado por meio da arbitragem, conforme permissivo contido no art. 114, § 2º, da Constituição Federal de 1988. A opção por via resulta em laudo arbitral coletivo, que tem a mesma natureza jurídica da sentença normativa.

Exemplo de questão sobre o tema

(TRT 2 – Juiz do Trabalho Substituto 2ª região/2014) A sentença normativa é um tipo de fonte formal heterônoma do Direito do Trabalho; a respeito desta fonte, aponte a alternativa correta:(A) O Tribunal fixará data em que a decisão deve entrar em vigor, bem como o prazo de sua vigência, o qual

não poderá ser superior a 4 (quatro) anos.(B) O Tribunal não fixará prazo de vigência, que ficará a cargo dos proponentes.(C) O Tribunal fixará data em que a decisão deverá entrar em vigor, bem como o prazo de sua vigência, o qual

não poderá ser superior a 2 (dois) anos.(D) O Tribunal fixará apenas o prazo de sua vigência, que será obrigatoriamente de 3 (três) anos.(E) O Tribunal fixará a data em que a decisão deve entrar em vigor, bem como o prazo de sua vigência, o qual

não poderá ser superior a 3 (três) anos;Resposta: A

B. Fontes profissionais ou autônomas

– Convenção e acordo coletivo de trabalho

A convenção e o acordo coletivo de trabalho constituem o traço característico do Direito do Trabalho que o diferencia dos demais ramos do Direito. Os próprios interessados, repre-sentantes de empregados e de empregadores, regulamentam a sua respectiva atividade profis-sional e econômica, por meio da instituição de regras de conduta de caráter geral e abstrato.

Esses instrumentos normativos representam o resultado da negociação coletiva, forma mais usual e recomendada para a solução dos conflitos coletivos de trabalho.

Quando a negociação coletiva processa-se entre sindicatos representativos de um grupo de trabalhadores de um lado e de um grupo de empregadores, do outro, origina-se uma convenção coletiva de trabalho. Na hipótese do grupo de trabalhadores, representados pelo sindicato da sua categoria profissional, negociar diretamente com uma ou mais empresas, surgirá um acordo coletivo de trabalho.

46. No mesmo sentido a OJT nº 6, da SDI-1, do TST: ADICIONAL DE PRODUTIVIDADE. DECISÃO NORMATIVA. VIGÊN-CIA. LIMITAÇÃO. Inserida em 19.10.00. O adicional de produtividade previsto na decisão normativa, proferida nos autos do Dissídio Coletivo nº DC-TST 6/79, tem sua eficácia limitada à vigência do respectivo instrumento normativo.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 77

A convenção coletiva de trabalho e o acordo coletivo de trabalho são espécies do gênero denominado de instrumentos normativos negociados de trabalho. São previstos e garantidos pelo art. 7º, XXVI, da CF/88: “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXVI – reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho”.

Os instrumentos normativos negociados nascem da mesma forma que os contratos, por isso que, em alguns países, recebem a denominação de contratos coletivos de trabalho. Todavia, na sua essência, possuem natureza de norma jurídica, pela sua abstratividade e generalidade, em face do seu objetivo de criar novas condições de trabalho, salvo nas hipó-teses expressamente previstas pela Constituição Federal, que permite, excepcionalmente, a flexibilização de alguns direitos trabalhistas.

Como possui vigência limitada no espaço e no tempo (dois anos no máximo, segundo dispõe o art. 614, § 3º, da CLT), as regras de conduta estabelecidas nos aludidos instrumentos norma-tivos negociados não aderem, de forma definitiva, aos contratos individuais de trabalho.

A jurisprudência pacificou-se após a edição da OJ nº 322, da SDI-1 do TST:

OJ nº 322. ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. CLÁUSULA DE TERMO ADITIVO PRORROGANDO O ACORDO PARA PRAZO INDETERMINADO. INVÁLIDA. DJ 09.12.2003. Nos termos do art. 614, § 3º, da CLT, é de 2 anos o prazo máximo de vigência dos acordos e das convenções coletivas. Assim sendo, é inválida, naquilo que ultrapassa o prazo total de 2 anos, a cláusula de termo aditivo que prorroga a vigência do instrumento coletivo originário por prazo indeterminado.

A título de exemplo, se em uma convenção coletiva ficou ajustado que o período de gozo de férias seria de 40 dias (direito objetivo), na data-base seguinte pode ser estipulado um prazo menor, desde que observado o mínimo fixado pela norma estatal (trinta dias).

Entretanto, se determinado direito (objetivo) foi estabelecido por acordo ou convenção coletiva de trabalho, ele vigora até a nova negociação e não podem ser suprimidos por meio de sentença normativa.

Esse é posicionamento do TST estampado na Súmula nº 277:

SÚMULA Nº 277. CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLE-TIVO DE TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE redação alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) – Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012. As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho.

Agora, se durante a vigência do instrumento normativo negociado o trabalhador adquiriu o direito (subjetivo) mais vantajoso ali estabelecido, a vigência de nova regra profissional não pode afastar o seu respectivo exercício.

Registre-se que o STF, por decisão monocrática do Ministro Gilmar Mendes proferida em 14.10.2016, determinou a suspensão de todas as demandas que tramitam na Justiça do Trabalho que tratem da ultratividade das normas coletivas, até que o Plenário do referido Tribunal aprecie a matéria nos autos da Medida Cautelar na Arguíção de Descumprimento

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de Preceito Fundamental nº 323. A referida decisão cita duas outras já proferidas (RE 590.415 e RE 895.759), que se fundamentam na necessidade de se reconhecer a eficácia dos instru-mentos normativos negociados, ainda que estabeleçam condições de trabalho inferiores aquelas definidas pela legislação estatal.

O prazo máximo de dois anos, previsto pelo mencionado art. 614, § 3º, da CLT, pode ser desconsiderado quando o instrumento normativo negociado estabelecer melhores condições de trabalho do que a convenção ou acordo coletivo anterior, pela aplicação do princípio protetivo. Tal posicionamento, contudo, é minoritário, tanto na jurisprudência quanto na doutrina.

Nesse sentido é a decisão a seguir transcrita:ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. PRAZO DE VIGÊNCIA. CINCO ANOS. VALIDADE. GARANTIA DE EMPREGO. NORMA BENÉFICA. SUPREMACIA DO PRINCÍPIO TUITIVO DO DIREITO DO TRABALHO. NÃO-INCIDÊNCIA DA ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 322 DA SBDI-I DO TST. Acordo coletivo de trabalho por meio do qual o sindicato da categoria profissional firma com a empresa garantia de emprego para os seus empregados, com prazo de vigência de cinco anos em troca de vanta-gens salariais, reveste-se de validade, ante o que dispõe o artigo 7º, XXVI, da Constituição da República, que consagra o direito dos trabalhadores ao reconhecimento das convenções e dos acordos coletivos de trabalho. A norma constitucional nada disciplina acerca de prazo de vigência dos instrumentos coletivos, de forma que não existe nenhuma incompatibilidade vertical do seu regramento com o disposto no § 3º do artigo 614 da CLT, no sentido de não se permitir estipular duração de convenção ou acordo coletivo de trabalho por prazo superior a dois anos. Interpretação literal do preceito consolidado levará à conclusão de ser vedado, em qualquer circunstância, firmar norma convencional com prazo de vigência superior a dois anos. Procedendo-se, todavia, à interpretação da norma pelo método lógico-sistemático, considerada no conjunto da legislação do trabalho (v.g. artigos 9º e 468 da CLT), de natureza protecionista, infere-se do disposto no artigo 614, § 3º, da CLT que a restrição para a avença de instrumento normativo com prazo de duração superior a dois anos é imperativa somente quando resultar em prejuízo ao trabalhador, ante a supremacia do princípio tutelar orientador do Direito do Trabalho sobre preceito legal isoladamente considerado. Não se olvide, ainda, que o juiz aplicará a lei atendendo aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum (artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil). Ao aplicador da lei, portanto, cabe lançar mão do método interpretativo lógico-sistemático e teleológico, para encontrar o sentido da norma que realize os fins sociais por ela objetivados. Na hipótese vertente, não incide o disposto na Orientação Jurisprudencial nº 322 da SBDI-1 do TST, na medida em que tal jurisprudência assenta-se em precedentes que enfrentam o exame de hipóteses nas quais os prazos de vigência das normas coletivas foram prorrogados por tempo indeterminado, de forma prejudicial aos obreiros, razão pela qual foram tidas como inválidas em face do preceito contido no artigo 614, § 3º, da CLT e do ordenamento jurídico juslaboral. Recurso de revista conhecido e provido.47

O esquema a seguir contém as duas espécies de contrato coletivo de trabalho, com suas respectivas características:

Instrumentos normativos negociados

Convenção coletiva Acordo coletivo

SindicatoSindicato

Sindicato dos empregadosEmpresa(s)

47. TST. 1ª T. RR nº 1248/2002-043-12-00. Rel. Min. Lélio Bentes Corrêa. DJU 30.11.2007.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 79

– Regulamento de empresa

Celebrado o contrato individual de trabalho, o empregador assume a obrigação principal de pagar salário e o empregado de prestar serviços sob o comando e direção do primeiro.

O empregador passa a deter o poder de comando e direção da atividade do empregado, pois representa, em última análise, um dos fatores da produção empresarial, que é toda ela dirigida pelo empregador.

Desse poder diretivo derivam o poder organizacional, regulamentar, fiscalizador e disciplinar. No exercício do seu poder regulamentar, o empregador tem a faculdade de estabelecer um estatuto geral válido para todos os seus empregados, desde que não imponha condições de trabalho mais desfavoráveis.

Ao contrário do que se verifica com os instrumentos normativos negociados de trabalho, no regulamento de empresa as condições mais favoráveis aos empregados nele estabelecidas incorporam-se definitivamente aos contratos de trabalho em vigor.

Posterior alteração, em prejuízo para os empregados, só terá validade em relação aos contratos de trabalho celebrados após o início de sua vigência.48

TST. SÚMULA Nº 51. I – As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alte-ração do regulamento. II – Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro.

Maurício Godinho Delgado classifica o regulamento de empresa como figura especial das fontes do Direito do Trabalho. Argumenta, o referido autor, que a jurisprudência dominante (Súmulas nº 51 e 288 do TST) nega o caráter de fonte normativa autônoma ao regulamento empresarial, diante de sua origem unilateral. Assim, “os dispositivos do regulamento empresário ingressam nos contratos individuais empregatícios como se fossem cláusulas desses contratos”.49

Não há como aderir a essa tese. Primeiro, porque o conteúdo do regulamento da empresa possui todas as características da norma, assim consideradas a abstratividade, a generalidade e a imperatividade, apesar de sua maior limitação especial e subjetiva. Segundo, porque todos os dispositivos de qualquer norma jurídica trabalhista aderem ao contrato de trabalho na a forma de cláusulas contratuais, e não apenas o regulamento empresarial.

O TST, por meio da Resolução nº 207, de 12.04.2016, alterou a redação da Súmula nº 288. Pelo novo entendimento, a complementação da aposentadoria passa a ser regida pelas normas vigentes na data da implementação dos requisitos para obtenção do benefício e não mais pelas regras da data da admissão. Porém, só se aplica esse entendimento após a entrada em vigor das Leis Complementares nºs 108 e 109 de 29.05.2001.

48. PROMOÇÃO POR MERECIMENTO – PREVISÃO EM PCCS – REGULAMENTO POSTERIOR – SUPRESSÃO – APLICAÇÃO APENAS EM RELAÇÃO AOS NOVOS CONTRATOS DE TRABALHO – SÚMULA Nº 51 DO TST – O art. 468 da CLT, que positiva princípio ínsito à proteção do trabalhador, veda a alteração contratual prejudicial, ainda que por mútuo consentimento, mormente em se tratando de regulamento de empresa ou equivalente. RECURSO ORDINÁRIO CONHECIDO E IMPROVIDO. (TRT 07ª R. RO 146700-80.2009.5.07.0010. 1ª T. Rel. José Antônio Parente da Silva. DEJT 01.10.2010).

49. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 10 ed. São Paulo: Ltr editora, 2011. p. 165/166.

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TST. SÚMULA Nº 288. COMPLEMENTAÇÃO DOS PROVENTOS DA APOSEN-TADORIA. (nova redação para o Item I e acrescidos os itens III e IV em decorrência do julgamento do processo TST-E-ED-RR-235-20.2010.5.20.0006 pelo Tribunal Pleno em 12.04.2016). Res. 207/2016, DEJT divulgado em 18, 19 e 20.04.2016. I - A complemen-tação dos proventos de aposentadoria, instituída, regulamentada e paga diretamente pelo empregador, sem vínculo com as entidades de previdência privada fechada, é regida pelas normas em vigor na data de admissão do empregado, ressalvadas as alterações que forem mais benéficas (art. 468 da CLT); II - Na hipótese de coexistência de dois regulamentos de planos de previdência complementar, instituídos pelo empregador ou por entidade de previdência privada, a opção do beneficiário por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do outro; III - Após a entrada em vigor das Leis Complementares n.ºs 108 e 109 de 29/5/2001, reger-se-á a complementação dos proventos de aposentadoria pelas normas vigentes na data da implementação dos requisitos para obtenção do benefício, ressalvados o direito adquirido do participante que anteriormente implementara os requisitos para o benefício e o direito acumulado do empregado que até então não preenchera tais requisitos. IV - O entendimento da primeira parte do item III aplica-se aos processos em curso no Tribunal Superior do Trabalho em que, em 12/4/2016, ainda não haja sido proferida decisão de mérito por suas Turmas e Seções.

Ressalte-se, por fim, que o STF em 2013, manifestou-se no sentido de reconhecer a incom-petência da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar pleitos dessa natureza, em decisão proferida em sede de recurso extraordinário com repercussão geral. O referido Tribunal ainda modulou os efeitos da decisão para reconhecer a competência da Justiça do Trabalhista em relação às demandas dessa espécie que tenham sido sentenciadas até o dia 20.02.2013 (RE 586453).

– Contrato individual de trabalho

Tecnicamente, não se pode classificar o contrato como fonte do direito. Assim como ocorre com o ato ilícito, com o abuso de direito e com a declaração unilateral de vontade, o contrato constitui fonte de obrigações e não de direito. É, em sua essência, lei entre as partes que o celebram.

O contrato, contudo, é desprovido das características de generalidade e abstrati-vidade, pois visa regular uma futura relação entre indivíduos determinados. Diante de uma situação concreta, o contrato de trabalho não pode contrariar os direitos mínimos estabelecidos pelas demais fontes de Direito Laboral.

Kelsen, todavia, não pensava dessa forma, pois designava o contrato de norma individual:Num contrato as partes contratantes acordam em que devem conduzir-se de determinada maneira, uma em face da outra. Este dever-ser é o sentido subjetivo do ato jurídico-negocial. Mas também é o seu sentido objetivo. Quer dizer: este ato é um fato produtor de Direito se e na medida em que a ordem jurídica confere a tal fato esta qualidade; e ela confere-lhe esta qualidade tornando a prática do fato jurídico-negocial, juntamente com a conduta contrária ao negócio jurídico, pressuposto de uma sanção civil.50

O ordenamento jurídico pátrio prevê a existência de contratos nominados e inominados. Nominados ou típicos são aqueles ajustes que se encontram previamente delineados pela legis-lação, como os contratos descritos no Título VI – Das Várias Espécies de Contratos, Livro

50. KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 284.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 81

I, Parte Especial do Código Civil. Os pactos atípicos ou inominados derivam da liberdade que os indivíduos têm de contratar, conforme se observa da permissão contida no art. 425 do Código Civil: “É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código”.

O contrato de trabalho é típico, pois a Consolidação das Leis do Trabalho (art. 442)51 e a legislação esparsa do trabalho delimita seus requisitos, conteúdo e efeitos, além de delinear, também, contratos de trabalho especiais, como o contrato de trabalho doméstico, rural, de aprendizagem, temporário, de safra etc.

Desse modo, ainda que na sua forma atípica, por meio da qual os contratantes podem celebrar diversas espécies de ajustes, o contrato tem seus pilares definidos pela lei, o que lhe retira a qualidade de fonte direta de direitos.

A seguir, o resumo com a classificação das fontes do Direito do Trabalho:

FONTES DO DIREITO DO TRABALHO { • Fontes

Matérias { • Fatos sociais• Fatos religiosos• Fatos econômicos• Fatos políticos

• Fontes Formais { • Fontes

estatais { • Constituição• Lei• Decreto• Sentença normativa

• FontesProfissionais { • Convenção coletiva

• Acordo coletivo• Regulamento• Contrato de trabalho

Exemplo de questão sobre o tema

(TRT 2 – Juiz do Trabalho Substituto 2ª região/2016) Analise as proposituras em relação à Teoria Geral do Direito do Trabalho e responda.I. O princípio da intangibilidade contratual subjetiva determina ao Juiz do Trabalho privilegiar a situação

tática prática em confronto com documentos ou do rótulo conferido à relação jurídica material.II. Os regulamentos empresariais não podem ser considerados como fontes formais do Direito do Trabalho

uma vez que não conferem à regra jurídica o caráter de direito positivo.III. Não há previsão expressa no texto consolidado no sentido de que a Justiça do Trabalho decidirá sem-

pre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público, até mesmo em razão do "princípio tutelar" que norteia o Direito do Trabalho.

IV. A primazia dos preceitos de ordem pública na formação do conteúdo do contrato de trabalho está expressamente enunciada pela legislação brasileira, ao dispor a CLT que as relações contratuais de tra-balho podem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e ás decisões das autoridades competentes.

V. No Direito do Trabalho são exemplos de fontes heterônomas a Constituição Federal e a Sentença Norma-tiva e são exemplos de fontes autônomas a Convenção Coletiva de Trabalho e Acordo Coletivo de Trabalho.

51. CLT. Art. 442. Contrato individual de trabalho é o acordo, tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego.

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CURSO DE DIREITO DO TRABALHO – José Cairo Júnior82

Estão corretas apenas as assertivas:(A) I, II e IV.(B) II e V.(C) III, IV e V.(D) IV e V.(E) I, III e IV.

Resposta: D.

(Magistratura do Trabalho/ TRT – 21ª – 2010 – ADAPTADA) Leia as assertivas abaixo e assinale, em seguida, a alternativa correta:II. a criação do Direito, inclusive do Direito do Trabalho, advém de dois processos: o heterônomo e o

autônomo, que, por sinal, correspondem, respectivamente, a dois seguimentos diversos, o do chamado Direito necessário, e o do Direito voluntário. Na heteronomia, as normas pertencem ao Direito voluntá-rio e se situam numa esfera de liberdade na qual os que querem obrigar-se com reciprocidade podem fazê-lo livremente. O segundo processo estabelece um conjunto de preceitos obrigatórios, impostos pela vontade do Estado, independentemente de qualquer emissão volitiva dos contratantes, e se aplica indistintamente a todos os que se encontrarem na situação fática prevista em lei;

Resposta: Alternativa errada

2.3. Hierarquia

Nos demais ramos do Direito a hierarquia das normas jurídicas é representada grafi-camente por uma pirâmide, cujo ápice é ocupado pela Constituição. Na base da referida figura representativa encontram-se os contratos e as manifestações unilaterais de vontade, para aqueles que admitem os ajustes individuais como fonte do Direito.

Segue-se uma ordem lógica de normas, conforme o ensinamento de Kelsen, a de grau inferior encontra seu fundamento de validade e eficácia na norma de grau superior:

O fundamento de validade de uma norma apenas pode ser a validade de uma outra norma. Uma norma que representa o fundamento de validade de uma outra norma é figurativamente designada como norma superior, por confronto com uma norma que é, em relação a ela, a norma inferior.52

Assim, estariam dispostos em ordem decrescente de importância a Constituição Federal, as leis (complementares, ordinárias e delegadas, além das Medidas Provisórias), os atos regu-lamentadores do Poder Executivo (decreto, portaria etc.) e os negócios jurídicos.

Já no Direito do Trabalho essa ordem pode ser desconsiderada, pois se aplica ao caso concreto a norma que seja mais favorável ao empregado, sem importar a sua posição hierárquica no ordenamento jurídico.53

Não é caso de ineficácia geral da norma de grau superior. Simplesmente, a regra clássica da hierarquia das leis que compõem determinado ordenamento jurídico deixa de incidir em determinada hipótese fática, diante da existência de outra norma que imprima tratamento diferenciado e mais benéfico ao operário. Em última análise, representa o princípio da apli-cação da regra mais favorável, que norteia o Direito Laboral e que será estudado mais adiante.

52. KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 215.53. A norma mais favorável é explicada pelas teorias do conglobamento e da acumulação, que serão objeto do item

7.1, capítulo V, parte II, desta obra.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 83

O contrato de trabalho é consensual, ou seja, produz efeitos pela simples manifestação de vontade dos contratantes. Ocorre que, ainda que celebrado de forma verbal ou tácita, haverá um conteúdo mínimo formado pelas regras existentes nas normas protecionistas trabalhistas, que se incorporam ao contrato de trabalho em forma de cláusulas contratuais obrigatórias. Se nada for ajustado expressamente entre empregado e empregador, quando da formação do vínculo empregatício, ainda assim este último terá a obrigação de, por exemplo, remunerar o trabalho com quantia não inferior ao salário mínimo, conceder o gozo de férias anuais remuneradas, efetivar os depósitos do FGTS na conta vinculada do empregado, remunerar a jornada extraordinária de trabalho com valor não inferior a 50% da hora normal etc.

De igual forma, se há ajuste individual expresso entre patrão e operário, de forma que haja diminuição dos direitos garantidos pela legislação estatal, tal pacto perde sua eficácia e é substituído pelo que dispõe o estatuto mínimo legal.

Saliente-se que uma norma de nível superior, segundo a classificação tradicional que já foi apresentada, pode vedar que a norma de nível inferior estabeleça condições de trabalho diversas, mesmo que sejam mais benéficas para os trabalhadores.

Dispõe, nesse sentido, o art. 623 da CLT:Art. 623. Será nula de pleno direito disposição de Convenção ou Acordo que, direta ou indiretamente, contrarie proibição ou norma disciplinadora da política econômico-financeira do Governo ou concernente à política salarial vigente, não produzindo quaisquer efeitos perante autoridades e repartições públicas, inclusive para fins de revisão de preços e tarifas de mercadorias e serviços.

Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, a nulidade será declarada, de ofício ou mediante representação, pelo Ministro do Trabalho, ou pela Justiça do Trabalho em processo subme-tido ao seu julgamento. (Redação dada ao artigo pelo Decreto-Lei nº 229, de 28.02.1967).54

Conclui-se, assim, que essa hierarquia móvel das normas no Direito do Trabalho somente se aplica nas hipóteses em que inexistam regras proibitivas expressas em normas de nível superior ou de ordem pública. Caso haja norma proibitiva, prevalece em primeiro lugar as normas estatais (constituição, leis, sentença normativa etc.) e, depois, as normas profissionais (convenção coletiva e acordo coletivo de trabalho).

Hierarquia clássica das normas jurídicas

Hierarquia das normas de direito do trabalho

54. TST. Súmula Nº 375. REAJUSTES SALARIAIS PREVISTOS EM NORMA COLETIVA. PREVALÊNCIA DA LEGISLAÇÃO DE POLÍTICA SALARIAL. (CONVERSÃO DA ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 69 DA SDI-1 E DA ORIENTAÇÃO JURIS-PRUDENCIAL Nº 40 DA SDI-2). Os reajustes salariais previstos em norma coletiva de trabalho não prevalecem frente à legislação superveniente de política salarial.

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CURSO DE DIREITO DO TRABALHO – José Cairo Júnior84

Exemplos de questões sobre o tema

(TRT 15 – Juiz do Trabalho Substituto 15ª região/ 2013) Aplicando a técnica do Direito do Trabalho para a solução de antinomias, é correto dizer:(A) a lei nova prevalece sobre a lei anterior, alterando ás bases obrigacionais das relações jurídicas em vigor

para o-fim, inclusive, de produzir efeitos jurídicos retroativos, atingindo fatos já consumados, quando mais benéficos ao trabalhador;

(B) conforme prevê a Constituição, as normas trabalhistas constantes de Tratados e Convenções internacio-nais, ainda que menos benéficas aos trabalhadores, quando integradas ao ordenamento jurídico interno, por intermédio de ratificação, substituem as condições de trabalho preexistentes;

(C) sendo mais favorável ao trabalhador, a condição de trabalho fixada contratualmente prevalece sobre a previsão normativa legal, mesmo que esta seja de natureza proibitiva;

(D) aplicando-se o preceito da ultratividade condicionada, recentemente acatado por Súmula do TST, as cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram-se aos contratos indivi-duais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas por sentença normativa;

(E) conforme previsto na CLT, as normas estipuladas em acordo coletivo, ainda que sob o argumento de serem mais específicas, não prevalecem sobre as normas de convenção coletiva, resolvendo-se o con-flito pelo princípio da norma mais favorável.

Resposta: E

(Magistratura do Trabalho – TRT 8ª R – 2011) Na observância da classificação das fontes formais do direito do trabalho, da hierarquia normativo-trabalhista, assinale a alternativa CORRETA:(A) A hierarquia normativa é rígida e inflexível, de modo que, a partir da Constituição da República, a norma

jurídica tem seu fundamento de validade na norma hierarquicamente superior e assim, por exemplo, não se concebe que um regulamento normativo possa agredir o conteúdo de uma lei.

(B) Um acordo coletivo de trabalho, na consideração de que, celebrado entre um sindicato profissional e uma determinada empresa, não pode prevalecer sobre uma convenção coletiva porquanto esta, a abranger categorias profissional e econômica, contém normas de maior extensão e intensidade normativa.

(C) A título de fonte subsidiária, na ausência de previsão legal ou contratual, a nota característica do direito do trabalho, em consonância com o texto celetizado, é a referência à analogia e aos princípios gerais de direito.

(D) Traço marcante de originalidade do direito do trabalho, sob o prisma da hierarquia das suas normas jurídicas, vem a ser o princípio da norma mais favorável ao trabalhador.

(E) Pelo princípio da norma mais favorável, não haverá como se fazer prevalecer dispositivo de lei, ainda que de interesse público, sobre cláusula de convenção coletiva de trabalho que seja mais benéfica ao hipossuficiente.

Resposta: Alternativa D

3. INTERPRETAÇÃO

O Direito, considerado como regra de conduta, exterioriza-se por meio de signos, ou melhor, por um sistema de signos. A principal forma de expressão do Direito efetiva-se pela linguagem, escrita ou articulada e, em uns poucos casos, por outros símbolos, como os sinais de trânsito, gráficos, gestos etc.

Signo é aquilo que está no lugar de uma coisa que visa representar. A linguagem é constituída por um sistema de signos arbitrários, mas socialmente aceitos e, por conta disso, representa algo que existe no plano real. Pode ocorrer, entretanto, que o receptor da mensagem faça uma interpretação da representação diversa daquela feita pelo emissor em relação ao objeto representado.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 85

Como o Direito exprime-se, principalmente, por meio da linguagem, ele também pode sofrer diversas interpretações, a depender dos termos que são utilizados.

A interpretação do Direito, portanto, procura solucionar essa possível ambiguidade, por meio da extração do verdadeiro sentido da regra de conduta. Assim, utilizam-se diversos métodos de exegese para delimitar o alcance da regra jurídica, pois, pela sua natureza genérica, não pode tratar de casos específicos.

Para auxiliar essa tarefa do intérprete, existem normas que instituem regras de interpre-tação, como aquela constante do art. 6º, da Lei nº 8.069/90 (ECA):

Art. 6º. Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.

Observe-se, entretanto, que o Direito não se manifesta, somente, por meio da lei em sentido lato, apesar de constituir a sua principal forma de expressão. Incluem-se, assim, como espécies de expressão do Direito as decisões judiciais, as súmulas, os contratos55, as declara-ções unilaterais de vontade etc., que produzem efeitos no plano jurídico e, por conta disso, podem ser objeto de interpretação.

O Código Civil, por exemplo, contém norma de interpretação relativamente aos negócios jurídicos, conforme se observa do art. 112: “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”.

Socorre-se da interpretação não só o magistrado (interpretação judicial), mas qualquer outro interessado, no sentido exato do Direito, como, por exemplo, a administração pública (interpre-tação administrativa), advogados e também os próprios indivíduos. Até mesmo o Poder Legis-lativo, encarregado de criar as normas estatais, pode, eventualmente, interpretá-las, pela edição de outra norma da mesma natureza. Nesse caso, a interpretação é denominada de autêntica.

Quando da utilização das técnicas de interpretação obtém-se um alcance mais abrangente do que aquele que aparentemente consta da norma, diz-se que se trata de uma interpretação extensiva. Caso contrário, se o alcance aparente da norma é reduzido, a interpretação será restritiva. Pode ocorrer, também, de o processo interpretativo não implicar ampliação ou restrição do comando gramatical da norma, o que se denomina de interpretação declarativa.

Assim, são interpretados restritivamente, o contrato de fiança56, contrato de direitos auto-rais57, as normas proibitivas, as normas sancionadoras e as normas penais, em face do princípio da reserva legal etc. Já de forma extensiva interpreta-se, por exemplo, a lei processual penal58.

Na interpretação do Direito do Trabalho deve-se observar, em todo o caso, o prin-cípio protetivo, do qual deriva a regra do in dubio pro operario, adiante será estudado com maior profundidade. Caso haja dúvida sobre o verdadeiro alcance da norma trabalhista, deve-se optar por aquela que mais beneficie o empregado.

55. Código Civil. Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

56. Código Civil. Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva.57. Lei nº 9.610/98. Art. 4º: Interpretam-se restritivamente os negócios jurídicos sobre os direitos autorais.58. CPP. Art. 3º: A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suple-

mento dos princípios gerais de direito.

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