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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL PROJETO DE UM EDIFICIO RESIDENCIAL DE ALVENARIA ESTRUTURAL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Pedro Lima Pires Santa Maria, RS, Brasil 2008

CALCULO PREDIO EM AE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

PROJETO DE UM EDIFICIO RESIDENCIAL DE

ALVENARIA ESTRUTURAL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Pedro Lima Pires

Santa Maria, RS, Brasil

2008

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PROJETO DE UM EDIFICIO RESIDENCIAL DE ALVENARIA

ESTRUTURAL

por

Pedro Lima Pires

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Engenharia

Civil da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),

Como requisito parcial para obtenção do grau de

Engenheiro Civil

Orientador: Prof. Dr. João Kaminski Junior

Santa Maria, RS, Brasil

2008

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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Tecnologia

Curso de Graduação em Engenharia Civil

A comissão examinadora, abaixo assinada aprova a Monografia

PROJETO DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL DE ALVENARIA ESTRUTURAL

Elaborada por Pedro Lima Pires

Como requisito parcial para obtenção do grau de

ENGENHEIRO CIVIL

COMISSÃO EXAMINADORA

______________________ João Kaminski Junior, Dr.

(Presidente/Orientador)

______________________ Gerson Moacyr Sisniegas Alva, Dr. (UFSM)

______________________ Talles Augusto Araujo, Me. (UFSM)

Santa Maria, 10 de dezembro de 2008

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RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Graduação em Engenharia Civil

Universidade Federal de Santa Maria

PROJETO DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL DE ALVENARIA ESTRUTURAL

Autor: Pedro Lima Pires

Orientador: João Kaminski Júnior Santa Maria, 10 de dezembro de 2008

Este trabalho apresenta o projeto de um edifício residencial, que será construído

no município de Aquiraz/CE, tendo sua estrutura parte em concreto armado e

outra parte em alvenaria estrutural. O projeto de alvenaria estrutural dessa obra

será detalhado neste trabalho, contemplando dois aspectos importantes: a

modulação, em que a disposição dos blocos interfere no funcionamento da

estrutura como um todo e na produtividade; e o dimensionamento das paredes,

em que é demonstrado o processo de obtenção das forças verticais e horizontais,

obtenção de tensões de tração e compressão, assim como a determinação da

resistência de bloco. Para os cálculos e obtenção de desenhos, foram usados

conhecimentos de engenharia juntamente com softwares computacionais, que

servem como uma ferramenta que acelera a obtenção de resultados. Também são

feitas recomendações básicas para o projeto de edifícios em alvenaria estrutural,

assim como uma revisão básica de conceitos necessários para a construção do

projeto.

Palavras-chave: alvenaria estrutural; dimensionamento; modulação; CAD-TQS

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 7 1.1 Histórico ............................................................................................................................. 7

1.2 Justificativa ........................................................................................................................ 9

1.3 Objetivos ............................................................................................................................. 9

1.3.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 9 1.3.1.1 Objetivos específicos .................................................................................................. 10 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................... 11 2.1 Definição da Alvenaria Estrutural ................................................................................. 11 2.1.1 Classificação ................................................................................................................. 11 2.1.2 Componentes Empregados ........................................................................................... 12 2.1.2.1 Blocos ......................................................................................................................... 12 2.1.2.2 Argamassa .................................................................................................................. 13 2.1.2.3 Graute ......................................................................................................................... 13 2.1.2.4 Armaduras .................................................................................................................. 13 2.1.2.5 Vergas e Contravergas................................................................................................ 14 2.1.2.6 Cintas .......................................................................................................................... 14

2.2 Modulação ........................................................................................................................ 14

2.2.1 Amarração de paredes ................................................................................................... 15 2.3 Concepção estrutural ...................................................................................................... 15 2.3.1 Ações Verticais ............................................................................................................. 16 2.3.1.1 Paredes isoladas .......................................................................................................... 16 2.3.1.2 Grupos isolados de paredes ........................................................................................ 16 2.3.1.3 Grupos de paredes com interação ............................................................................... 17 2.3.2 Ações Horizontais ......................................................................................................... 17 2.4 Capacidade resistente dos elementos estruturais ......................................................... 18

2.4.1 Tensões admissíveis na alvenaria de concreto .............................................................. 18 2.4.2 Compressão simples ..................................................................................................... 19 2.4.2.1 Tensão de compressão admissível .............................................................................. 20 2.4.3 Cisalhamento ................................................................................................................ 20 2.4.4 Flexão Composta .......................................................................................................... 21 2.4.4.1 Verificação da tração admissível ................................................................................ 21 2.4.4.2 Solicitações combinadas............................................................................................. 22 2.4.5 Tensões admissíveis na alvenaria não armada .............................................................. 22 2.4.6 Determinação da resistência do bloco .......................................................................... 23 3 METODOLOGIA .............................................................................................................. 24 3.1 Modulação ........................................................................................................................ 27

3.1.1 Blocos usualmente utilizados ....................................................................................... 27 3.1.2 Projeto Arquitetônico .................................................................................................... 28 3.1.3 Montagem da primeira fiada ......................................................................................... 31 3.1.4 Montagem da segunda fiada e elevações ...................................................................... 33 3.2 Dimensionamento da alvenaria ...................................................................................... 35 3.2.1 Grupo de paredes .......................................................................................................... 36 3.2.2 Paredes resistentes ao vento .......................................................................................... 39 3.2.3 Casos e combinações .................................................................................................... 42 3.2.4 Ações verticais .............................................................................................................. 43 3.2.4.1 Peso próprio das paredes ............................................................................................ 43 3.2.4.2 Lajes ........................................................................................................................... 44

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3.2.5 Ações horizontais .......................................................................................................... 45 3.2.5.1 Ação do vento ............................................................................................................. 45 3.2.5.2 Ação equivalente ao desaprumo ................................................................................. 48 3.2.5.3 Ações devido ao sismo ............................................................................................... 49 3.2.6 Distribuição das ações horizontais ................................................................................ 50 3.2.7 Exemplo de aplicação ................................................................................................... 51 3.2.7.1 Peso próprio da parede ............................................................................................... 51 3.2.7.2 Carga nas lajes ............................................................................................................ 52 3.2.7.3 Carga total sobre a parede .......................................................................................... 53 3.2.7.4 Rigidez relativa do painel ........................................................................................... 54 3.2.7.5 Esforço Cortante ......................................................................................................... 54 3.2.7.6 Momento Fletor .......................................................................................................... 54 3.2.7.7 Determinação das resistências de prisma ................................................................... 54 3.2.7.7.1 Compressão axial ..................................................................................................... 54 3.2.7.7.2 Flexo-compressão .................................................................................................... 55 3.2.7.8 Verificação da tensão de tração nas paredes .............................................................. 55 3.2.7.9 Verificação da tensão de cisalhamento ...................................................................... 55 3.2.8 Envoltória de prisma ..................................................................................................... 56 3.2.9 Grautes .......................................................................................................................... 57

3.2.10 Vergas, contravergas e cintas ....................................................................................... 58 3.3 Compatibilização de projeto ........................................................................................... 58 4 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 60 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 61

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Histórico

Alvenaria é um sistema estrutural empregado pelo homem, desde os primórdios das

grandes civilizações. Desde a Antigüidade ela tem sido utilizada largamente pelo ser humano

em suas habitações, monumentos e templos religiosos. Alguns exemplos são: as Pirâmides de

Guizé; o farol de Alexandria, com altura próxima a 190m; o Coliseo, com 50 m de altura

(figura 1) e as grandes catedrais góticas, construídas na Idade Média, com vãos expressivos e

arquitetura belíssima, realizada com a utilização de arcos e abóbadas.

Figura 1 – Coliseo

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Apesar do uso intenso da alvenaria, apenas no início do século XX, por volta de

1920, começou-se a estudar o assunto com base em princípios científicos e experimentação

laboratorial. Com isso, podem-se desenvolver teorias que fundamentam a arte de se projetar

em alvenaria estrutural de forma racional. A partir daí, edifícios cujas paredes tinham

espessuras exageradas como o Monadnock Building (figura 2), feito em Chicago no final do

século XIX, com paredes de 1,80 m de espessura no térreo não se repetiram e foram

substituídos por edifícios com paredes mais esbeltas, sendo mais econômicos e eficientes.

Figura 2 – Monadnock Building

Com a utilização do aço estrutural e do concreto armado, que possibilitaram a

construção de edifícios com peças de dimensões reduzidas, a utilização da alvenaria dirigiu-se

prioritariamente a construções de pequeno porte. Mas, a partir da década de 50, com a procura

de formas alternativas de construção, a alvenaria ganhou novo ânimo, sendo utilizada em

vários edifícios construídos em vários países do mundo como Inglaterra, Alemanha, suíça,

Austrália e Estados Unidos.

Nos últimos anos, o interesse pela alvenaria estrutural cresceu de forma

extraordinária, em especial no nosso país, devido às vantagens que se obtêm com a sua

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utilização. Essa técnica tem mostrado várias vantagens tais como: redução de custos,

simplificação de técnicas de execução, menor diversidade de materiais empregados, redução

da mão de obra, rapidez na execução, menor desperdício de materiais, um melhor controle do

processo, entre outros. Isso permite uma melhor penetração no mercado, especialmente junto

às classes média e baixa.

1.2 Justificativa

Nos últimos anos, o interesse pela alvenaria estrutural cresceu de forma notável, em

função disso, optou-se pelo desenvolvimento de um trabalho no qual será feito a descrição do

projeto de um edifício de alvenaria estrutural, a fim de mostrar todos os passos e cuidados a

serem tomados para que o projeto tenha segurança e seja econômico, uma das grandes

vantagens do sistema.

Outro fator determinante foi que, durante o curso de graduação, um projeto de

alvenaria estrutural não foi abordado de forma completa, apenas superficialmente, devido ao

pouco tempo reservado ao assunto na grade curricular do curso. Sendo assim, esse trabalho

servirá para o fortalecimento e ampliação do conhecimento adquirido pelo aluno na área de

alvenaria estrutural.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Este trabalho tem como objetivo a descrição das etapas de um projeto de um edifício

em alvenaria estrutural a fim de demonstrar quais os procedimentos deverão ser feitos para a

execução de um projeto.

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1.3.1.1 Objetivos específicos

• Mostrar um exemplo prático de projeto;

• Demonstrar os problemas enfrentados e soluções adotadas no

dimensionamento da estrutura.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Definição da Alvenaria Estrutural

Segundo Camacho (2006), conceitua-se de Alvenaria Estrutural o processo

construtivo na qual, os elementos que desempenham a função estrutural são de alvenaria,

sendo os mesmos projetados, dimensionados e executados de forma racional em um sistema

que alia alta produtividade com economia, desde que executado de maneira correta.

2.1.1 Classificação

De acordo com a ABNT NBR-10837 (1989), alvenaria estrutural não-armada de

blocos vazados de concreto é “aquela construída com blocos vazados de concreto, assentados

com argamassa, e que contém armaduras com finalidade construtiva ou de amarração, não

sendo esta última considerada na absorção dos esforços calculados”. Por outro lado, a

alvenaria estrutural armada de blocos vazados de concreto, de acordo com a mesma

referência, é “aquela construída com blocos vazados de concreto, assentados com argamassa,

na qual certas cavidades são preenchidas continuamente com graute, contendo armaduras

envolvidas o suficiente para absorver os esforços calculados, além daquelas armaduras com

finalidade construtiva ou de amarração”.

É consenso entre engenheiros que uma construção em Alvenaria Estrutural não

armada, se bem executada, pode ter uma melhor retorno financeiro que a mesma feita pelo

método convencional em concreto armado. Accetti (1998) diz que: "É importante salientar

que as alvenarias não-armadas são de mais simples execução, uma vez que não exigem

grauteamento, pois esse exige interrupção do trabalho de assentamento das paredes, sendo que

o tempo necessário para grautear é equivalente ao tempo necessário para levantar a parede".

É preciso fazer a armação de paredes no momento em que as tensões de tração tiverem

valores acima que os admissíveis indicados na ABNT NBR-10837 (1989). Desde que isto não

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ocorra, não se recomenda o uso de armaduras ativas na estrutura. Em geral, essas são

utilizadas nos prédios de maior altura, onde as ações horizontais oriundas do vento e do

desaprumo possuem um efeito maior sobre a estrutura.

2.1.2 Componentes Empregados

Os principais componentes empregados na construção de estruturas em alvenaria

estrutural são as unidades (tijolos ou blocos), as armaduras (construtivas ou de cálculo), o

graute e a argamassa. Também são muito utilizadas peças de pré-fabricados como: vergas,

contravergas, coxins, e assessórios em geral, com o intuito de agilizar o processo construtivo.

2.1.2.1 Blocos

Dentre todos os componentes empregados na alvenaria estrutural, o primeiro que deve

ser definido é o tipo de bloco. Atualmente são disponibilizados no mercado blocos cerâmicos,

blocos de concreto, blocos sílico-calcáreos, blocos de concreto celular, com as mais variadas

dimensões e resistências. A escolha do tipo adequado de bloco deve ser feita de acordo com o

projeto e características do produto.

De acordo com Accetti (1998), a maioria das construções em alvenaria estrutural no

Brasil são feitas com blocos de concreto. A vantagem desta opção é que as normas brasileiras

de cálculo e execução em alvenaria estrutural são apropriadas para esses blocos.

Já o bloco cerâmico, apesar de ser menos utilizado, tem como vantagem o aspecto

estético da construção, permitindo, em alguns casos, reduzir ou dispensar revestimentos.

Além disso, são mais leves que os blocos de concreto, facilitando com isso seu manuseio na

obra. Esse fato implica também em menor ação sobre a fundação, o que também é vantajoso

do ponto de vista econômico.

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2.1.2.2 Argamassa

De acordo com CAMACHO (2006), a argamassa é o componente utilizado na ligação

entre os blocos, evitando pontos de concentração de tensões, sendo composta de cimento,

agregado miúdo, água e cal, sendo que algumas podem apresentar adições para melhorar

determinadas propriedades. Algumas argamassas industrializadas vêm sendo utilizadas na

construção de edifícios de alvenaria estrutural.

A argamassa deve possuir capacidade de retenção de água para que ao entrar em

contato com blocos de absorção inicial elevada, não tenha suas funções primárias

prejudicadas pela perda de água excessiva para a unidade. Também é importante que essa

consiga desenvolver resistência suficiente para absorver os esforços solicitantes que podem

atuar na estrutura logo após o assentamento.

2.1.2.3 Graute

O graute consiste em um concreto fino (micro-concreto), formado de cimento, água,

agregado miúdo e agregados graúdos de pequena dimensão (até 9,5mm), tendo como

característica alta fluidez para que possa preencher integralmente os furos dos blocos e

envolver as armaduras completamente, para que, com isso, permita uma maior aderência das

armaduras com o bloco. Outra função é de aumentar a área da seção transversal dos blocos

aumentando a capacidade de resistência das tensões solicitantes sobre a parede.

2.1.2.4 Armaduras

As armaduras de alvenaria estrutural podem ser construtivas, características da

alvenaria não armada, ou de cálculo, presentes na alvenaria armada. Estas armaduras são do

mesmo tipo das usadas em estruturas concreto armado, não necessitando de nenhum

tratamento especial para seu uso em alvenaria estrutural.

As armaduras têm como função básica absorver os esforços de tração ou compressão,

provenientes do vento ou desaprumo ou outras ações, e também possuem função construtiva,

com o objetivo de prevenir patologias como fissuras nas paredes.

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2.1.2.5 Vergas e Contravergas

Segundo a ABNT NBR-10837 (1989), “denomina-se verga o elemento estrutural

colocado sobre vãos de aberturas não maiores que 1,20 m, a fim de transmitir cargas verticais

para as paredes adjacentes aos vãos.”

2.1.2.6 Cintas

São denominadas cintas os elementos apoiados sobre as paredes, com a função de

amarração das mesmas, proporcionando o travamento da estrutura, transmitindo os esforços

provindos das lajes à alvenaria de forma uniforme, minimizando os efeitos da variação da

umidade, temperatura e retração.

2.2 Modulação

Camacho (2006) diz que “A modulação ou coordenação modular consiste no ajuste de

todas as dimensões da obra, horizontais e verticais, como múltiplo da dimensão básica da

unidade, cujo objetivo principal é evitar cortes e desperdícios na fase de execução”.

Na modulação deve-se escolher a melhor solução para o encontro de paredes,

aberturas, grauteamento de furos e utilização de pré-moldados.

Para um bom desempenho geral da estrutura, é necessário que seja feita a distribuição

dos blocos de forma a evitar o aparecimento de junta prumo, ou seja, evitar pontos em que os

blocos sobrejacentes não ultrapassem o bloco inferior.

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2.2.1 Amarração de paredes

A amarração das paredes consiste num mecanismo que garante a distribuição dos

esforços de uma parede para a outra, reduzindo as tensões em paredes muito carregadas e as

aumentando em outras paredes pouco carregadas, criando-se um estado de uniformização de

tensões, que possibilita a escolha racional da capacidade resistiva do bloco, e contribuindo

para um melhor desempenho estrutural da capacidade resistiva das paredes assim como de

toda a edificação.

Segundo a ABNT NBR-10837 (1989), item 5.4.9, a união e solidarização de paredes

que se cruzam podem ocorrer por um dos seguintes métodos: amarração direta ou amarração

indireta.

A amarração direta é feita através da própria disposição dos blocos nas fiadas, com

50% deles penetrando alternadamente na parede interceptada. Já a amarração indireta consiste

na utilização de barras metálicas convenientemente dispostas ou em forma de treliças

soldadas, que servem para promover a ligação entre paredes que possuírem junta-prumo sem

uma amarração entre as paredes.

2.3 Concepção estrutural

A concepção estrutural de um edifício consiste em definir no projeto quais os

elementos que suportarão os carregamentos provindos das ações verticais e horizontais. No

caso dos edifícios em alvenaria estrutural, os elementos componentes da estrutura são as

paredes portantes e as lajes, e, na eventualidade de existirem terem pilotis, também os pilares

e as vigas.

A escolha das paredes portantes é condicionada por fatores como a utilização da

edificação, a existência ou não de simetria na estrutura, passagem de tubulações e outros.

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2.3.1 Ações Verticais

De acordo com Camacho (2006) “As ações verticais podem atuar diretamente sobre as

paredes resistentes, ou então sobre as lajes, que trabalhando como placas, as transmitem às

paredes resistentes, que por sua vez irão transmiti-las diretamente às fundações”.

Existem varias formas de determinar a distribuição das cargas verticais. Correa &

Ramalho (2003) citam 3 procedimentos:

2.3.1.1 Paredes isoladas

Neste procedimento cada parede é considerada como um elemento independente, não

interagindo com os outros elementos. É um procedimento seguro, pois não considera a

uniformização das cargas, mas com isso, tende a apresentar valores de resistência de bloco

maiores que o necessário, sendo anti-econômico.

2.3.1.2 Grupos isolados de paredes

Neste sistema, são feitos grupos de paredes que podem ser consideradas totalmente

isoladas. Grupos esses definidos por aberturas como portas e janelas. Segundo Corrêa &

Ramalho (2003) “Neste procedimento consideram-se as cargas totalmente uniformizadas em

cada grupo de paredes. Isso significa que as forças de interação em canto e bordas são

consideradas suficientes para garantir um espelhamento e uniformização total em uma

pequena altura.”

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2.3.1.3 Grupos de paredes com interação

Este sistema é semelhante ao grupos isolados de paredes com a diferença que este tem

o adicional de considerar que grupos de paredes tenham interação entre si. Neste

procedimento Correa & Ramalho (2003) recomendam que “seja definida uma taxa de

interação, que representa quanto da diferença de cargas entre grupos que interagem deve ser

uniformizada em cada nível”. Também é importante definir quais paredes interagem entre si,

de forma a obter os resultados mais condizentes com a realidade.

2.3.2 Ações Horizontais

As ações horizontais, agindo ao longo de uma parede de fachada, são transmitidas às

lajes, que trabalhando como diafragmas rígidos, são transmitidas às paredes. Esses elementos,

denominadas paredes de contraventamento, irão transmitir as ações horizontais às fundações.

Figura 3 – Distribuição dos esforços na estrutura

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Para a análise de paredes de contraventamento com aberturas existem basicamente

cinco métodos clássicos, frequentemente apresentados na literatura: Método das paredes

articuladas; Cisalhamento contínuo; Analogia de pórtico; Pórtico de coluna larga; Elementos

finitos.

O método das paredes articuladas é o mais simples e mais empregado. Segundo Camacho

(2006) este método “consiste em considerar que as ligações existentes entre as paredes são

rotuladas, permitindo desse modo somente a transmissão de forças (não de momentos). Assim, a

resultante das ações horizontais pode ser dividida entre cada uma das paredes, proporcionalmente

à rigidez de cada uma.

2.4 Capacidade resistente dos elementos estruturais

Os principais elementos resistentes que compõe a estrutura de um edifício de alvenaria

estrutural são as paredes resistentes, as paredes de contraventamento e os pilares de alvenaria.

As paredes resistentes são aquelas que além das funções de definição de espaços geométricos

e de vedação, desempenham também a função estrutural, ou seja, são paredes que têm a

função de resistir às ações verticais que atuam na estrutura e transmiti-las às fundações. Os

pilares de alvenaria têm por função resistir às ações verticais e a relação de suas dimensões

em planta é menor que cinco.

As paredes de contraventamento são elementos que resistem às ações horizontais

segundo seu próprio plano. São elas que dão estabilidade à obra, transmitindo às fundações as

ações horizontais que agem ao longo de uma estrutura.

2.4.1 Tensões admissíveis na alvenaria de concreto

Segundo a ABNT NBR-10837 (1989), as tensões admissíveis na alvenaria armada e

não armada devem ser baseadas na resistência dos prismas (fp) aos 28 dias de idade ou na

idade na qual a estrutura está submetida ao carregamento total. Quando a resistência básica da

alvenaria for determinada por meio de prismas (fp), deve-se usar prismas construídos com

blocos e argamassa iguais aos que são efetivamente usados na estrutura.

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Com base nessas essas informações, pode-se utilizar o conceito da Eficiência, em que

se analisa a relação entre a resistência do prisma e do bloco que a compõe, que é decrita pela

equação 1:

� = ���� (1)

Em que:

η: Eficiência;

fp : Resistência de prisma;

fb : Resistência de bloco;

De acordo com Correa & Ramalho (2003), os valores de eficiência prisma-bloco, para

a prática corrente no Brasil, variam de 0,5 a 0,9 para blocos de concreto e 0,3 a 0,6 para

cerâmicos. Um fato observado em pesquisas foi quem os blocos de concreto apresentam

maiores valores de eficiência sobre os cerâmicos. Outra relação interessante é que a eficiência

diminui com o aumento da resistência do bloco.

O método do ensaio de prismas é regulamentado pela NBR 8215 (1983), que contem

toda a normatização para realização de tais procedimentos.

2.4.2 Compressão simples

A compressão que atua nas paredes é composta pela carga solicitante dividida pela

área da seção transversal desse elemento. A NBR 10837 (1989) trabalha com a área bruta, isto

é desconsiderando a presença de vazios. Essa tensão atuante não sofre não sofre nenhuma

majoração por coeficientes de segurança, por ser baseada no método das tensões admissíveis.

���, � = � = � ∙ �

� ∙ � (2)

Onde:

���, � = Tensão de compressão axial;

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N = Carga atuante sobre a parede;

A = Área da seção transversal;

Q = Carga linear atuante por unidade de comprimento;

L = Comprimento do elemento;

t = Espessura efetiva.

2.4.2.1 Tensão de compressão admissível

De acordo com o item 5.1.2 da NBR 10837 (1989), as cargas admissíveis em paredes

de alvenaria não armada devem ser calculadas pela equação 3:

����,�������� = 0,20 ��∙ �1 − � ℎ40 ∙ � !" (3)

Onde:

fp = Resistência média dos prismas

h = Altura efetiva

2.4.3 Cisalhamento

O cisalhamento ocorre geralmente junto com os esforços provenientes do momento

fletor. De acordo com Correa & Ramalho (2003), recomenda-se que em vergas, vigas ou

paredes que participem do sistema de contraventamento são elementos em que o cisalhamento

deve ser verificado.

Para alvenaria não armada, o valor para a tensão de cisalhamento atuante em peças de

alvenaria é dada por:

#��� = $ (4)

Page 21: CALCULO PREDIO EM AE

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Em que:

V: Esforço cortante atuante;

A: Área da seção transversal do elemento.

2.4.4 Flexão Composta

Na flexão composta é considerada a interação entre o carregamento axial e momentos

fletores, isto é, as paredes suportam, além das ações verticais, as ações horizontais, na maioria

dos casos composta pela ação do vento e desaprumo. A determinação da tensão atuante

devido à flexão é dada pela seguinte equação:

����,% = &' (5)

Em que:

����,% = Tensão atuante devido à flexão;

M = Momento fletor;

W = Módulo de resistência à flexão;

2.4.4.1 Verificação da tração admissível

Deve-se efetuar a verificação se ocorrem tensões de tração que podem atuar sobre os

elementos, através da equação (6):

����,% − 0,75����,� ≤ ����,+������ (6)

Em que:

����,% = Tensão atuante devido à flexão;

����,� = Tensão atuante devido à compressão;

����,+������ = Tensão admissível à tração da alvenaria não armada (normal à fiada);

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Se essa relação for atendida, a seção transversal estará recebendo tensões menores do

que as resistidas pela alvenaria não-armada, dispensando a necessidade de calcular armaduras

para resistir aos esforços de tração. Caso contrário, é preciso obter a quantia de armadura

necessária para absorver esses esforços.

2.4.4.2 Solicitações combinadas

Existindo ou não tração acima da admissível nos elementos, as tensões de compressão

dos carregamentos combinados devem satisfazer uma das duas expressões mostradas a seguir.

Se no cálculo das tensões atuantes estiverem consideradas cargas permanentes e ações

variáveis, a verificação é feita pela equação (7):

����,�����,������� + ����,%

����,%������� ≤ 1,00 (7)

Em que:

����,������� = Tensão admissível devido à compressão;

����,� = Tensão atuante devido à compressão;

����,%������� = Tensão admissível devido à flexão;

����,% = Tensão atuante devido à flexão;

Caso a ação do vento também seja considerada, a NBR 10837 (1989) determina que o

limite das tensões seja aumentado em 33%, como é mostrado na equação:

����,�����,������� + ����,%

����,%������� ≤ 1,33

(8)

2.4.5 Tensões admissíveis na alvenaria não armada

De acordo com o item 5.3.2 da NBR 10837 (1989), as tensões admissíveis na

alvenaria não armada não devem ultrapassar os valores que constam na tabela 1.

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23

Tipo de solicitação

Construção de blocos vazados

Tensão admissível (MPa)

12,0 ≤ fa ≤ 17,0 5,0 ≤ fa ≤ 17,0

Compressão simples

Compressão na flexão

0,20fp ou (0,286fpa)*

0,30fp

0,20fp ou (0,286fpa)*

0,30fp

Tração na flexão

Normal à fiada

Paralela à fiada

0,15

0,30

0,10

0,20

Cisalhamento 0,25 0,15

Tabela 1 – Tensões admissíveis na alvenaria armada

Onde:

fa = Resistência da argamassa.

fp = Resistência de prisma

*Valor admissível, caso seja usada a resistência de parede

2.4.6 Determinação da resistência do bloco

Após determinada a resistência de prisma, basta usar a seguinte expressão, para obter a

resistência do bloco:

�� = ����� ∙ .�/ (9)

Onde:

Fp = Resistência de prisma

ηpb = Eficiência prisma/bloco

Rbe = Relação entre área bruta e área líquida

Page 24: CALCULO PREDIO EM AE

24

3 METODOLOGIA

Neste trabalho serão demonstradas as etapas de desenvolvimento do projeto estrutural

do bloco 3A do condomínio Beach Park Wellness Resort localizado na cidade de Aquiraz no

estado do Ceará. Esse empreendimento que será executado pela empresa INPAR, possui 7

blocos, sendo sua estrutura uma combinação de alvenaria estrutural, usada na parte dos

apartamentos, e de concreto armado, utilizada na parte do corredor, sacada, sendo a caixa

d’água e casa de máquinas colocadas sobre essa estrutura, sendo isso demonstrado nas figuras

Figura 5 e Figura 6.

O bloco 3A possui 5 pavimentos, com 2,80 m de pé direito, com laje treliçada de

21cm totalizando 15,05 m de altura conforme figura 4. Será adotada a família de blocos de

modulação longitudinal de 20 (L40xA20xP15), sendo esta modulação a mais citada durante o

trabalho.

Figura 4 – Corte esquemático do edifício

Page 25: CALCULO PREDIO EM AE

25

Figura 5 – Arquitetura do Beach Park bloco 3A – Parte 1

Page 26: CALCULO PREDIO EM AE

26

Figura 6 - Arquitetura do Beach Park bloco 3A – Parte 2

Page 27: CALCULO PREDIO EM AE

27

3.1 Modulação

3.1.1 Blocos usualmente utilizados

Existem vários tipos de blocos que podem ser utilizados em uma edificação de

alvenaria estrutural. De acordo com a NBR 6136 (1994), são especificadas duas larguras

padronizadas: Largura nominal de 15cm, chamado M-15 e largura nominal de 20cm,

chamado de M-20. A Tabela 2 mostra as outras medidas padronizadas determinadas pela

norma.

Dimensão

Nominal (cm) Designação

Dimensões Padronizadas (mm)

Largura Altura Comprimento

20 x 20 x 40 M-20

190 190 390

20 x 20 x 20 190 190 190

15 x 20 x 40 M-15

140 190 390

15 x 20 x 20 140 190 190

Tabela 2 – Dimensões padronizadas para blocos

Entretanto, nessa norma são citados apenas as medidas dos blocos com modulação

longitudinal de 20cm e não são citados os blocos com modulação longitudinal de 15cm,

blocos que são encontrados no mercado, principalmente de material cerâmico.

As Tabela 3 e Tabela 4 possuem as dimensões nominais e padronizadas de blocos de

modulação longitudinal de 15cm e 20cm, para M-15, que são encontrados com mais

facilidade e usados com mais freqüência. É bom lembrar que os blocos devem apresentar

diferença dimensional de no máximo 3mm para mais ou para menos da dimensão

padronizada.

No edifício objetivo do trabalho, será utilizada a M15, com modulação longitudinal de

20cm, feitos em concreto, com resistência a ser determinada em cálculo.

Page 28: CALCULO PREDIO EM AE

28

Modulação Longitudinal 15cm – M-15

Denominação do

Bloco

Dimensão Nominal

(cm) (LxAxC)

Dimensões Padronizadas (mm)

Largura Altura Comprimento

Meio Bloco 15 x 20 x 15 140 190 140

Bloco Padrão 15 x 20 x 30 140 190 290

Bloco e Meio 15 x 20 x 45 140 190 440

Tabela 3 – Dimensões para alguns blocos de modulação longitudinal de 15cm

Modulação Longitudinal 20cm – M-15

Denominação do

Bloco

Dimensão Nominal

(cm) (LxAxC)

Dimensões Padronizadas (mm)

Largura Altura Comprimento

Meio Bloco 15 x 20 x 20 140 190 190

Bloco Padrão 15 x 20 x 40 140 190 390

Bloco e Meio 15 x 20 x 55 140 190 540

Bloco “L” 15 x 20 x 35 140 190 340

Tabela 4 - Dimensões para alguns blocos de modulação longitudinal de 20cm

3.1.2 Projeto Arquitetônico

O projeto de alvenaria estrutural deve começar junto com a elaboração do projeto

arquitetônico do edifício. Isso, porque, para um bom resultado, é preciso que a arquitetura seja

feita tendo em mente a modulação, isto é, cuidando para que os vãos entre paredes tenham

medidas múltiplas do módulo mais 1 (xM+1), para que a alvenaria estrutural possa ser feita

com o melhor aproveitamento e desempenho, isto é, com o uso de blocos de 39 em grande

parte da parede, exceto em amarrações e aberturas, onde os outros blocos especiais são

necessários.

Se isso não for possível, é recomendável a adoção de espaço entre vãos com medidas

múltiplas de 5 mais 1 como, por exemplo, 1,31m e 2,56m. Estes valores permitem que a

modulação seja feita, mas não da maneira mais correta e prática para execução, pois obrigará,

Page 29: CALCULO PREDIO EM AE

29

em alguns casos, a substituição de blocos de 39, por outros de 35, 20 e até o uso de

complementos de 5cm. Isso torna a execução mais complicada,

No bloco 3A do Beach Park algumas poucas medidas entre vãos obedecem à

modulação como a parede 34 (Figura 7), com 1,21m de vão, tendo 6 vezes o módulo

longitudinal mais 1 (6x20+1), com isso ela possui uma elevação "limpa" que, possivelmente,

terá uma execução rápida e tranqüila.

Figura 7 – Parede 34 - elevação e primeira fiada – Beach Park 3A

Já a maioria das paredes, se enquadram na situação dos vãos múltiplos de 5 mais 1,

como por exemplo a , parede 26, com vão de 3,76m possuindo blocos de 55, 35 e 20 no meio

da parede. Essa parede se encaixa na modulação, mas sua execução demanda mais atenção

pela presença de blocos diferentes de 40 no meio da parede.

Outra situação comum é o aparecimento de aberturas no meio da parede que não

possuem medidas modulares, necessitando novamente do uso de blocos diferentes dos ideais

para esse fim.

Page 30: CALCULO PREDIO EM AE

30

Figura 8 – Parede 26 – elevação e primeira fiada – Beach Park 3A

Por outro lado, na parede 13, com vão de 0,55m que não se enquadra na modulação,

ocorreu a aparição de juntas seca (0cm), que podem causar patologias na parede, alem de

exigir uma atenção maior na execução. Dependendo do valor do vão, podem aparecer juntas

duplas (2cm) ou triplas (3cm) ou até, ser necessário o uso de blocos compensadores com 5 cm

de medida nominal.

Vale observar, que nesse caso, um padrão de repetição de blocos não ocorre, devendo

ser evitado, pois se pode perder produtividade em comparação com a execução de uma parede

com um vão múltiplo do módulo mais um (xM + 1).

Page 31: CALCULO PREDIO EM AE

31

Figura 9 – Parede 13 – elevação e primeira fiada – Beach Park 3A

3.1.3 Montagem da primeira fiada

A partir da arquitetura, primeiro, são lançados os blocos nos encontros de paredes de

modo a obter a melhor amarração entre elas e evitar as junta-prumo, para uma melhor

distribuição das tensões entre as paredes. Um aspecto interessante destacado por Correa &

Ramalho (2003) diz respeito sobre os blocos em cantos e bordas vizinhas estarem "paralelos"

ou "perpendiculares". Quando a dimensão entre blocos de canto ou borda é um numero par

vezes o módulo, os blocos se apresentarão paralelos (Figura 10). Caso essa dimensão seja um

valor ímpar vezes o módulo, os blocos estarão perpendiculares.

Page 32: CALCULO PREDIO EM AE

32

Figura 10 – disposição de blocos em encontro de paredes

No caso do Beach Park 3A, foi adotada a seguinte disposição de blocos nos encontros

de paredes, como demonstrado no detalhe (Figura 11):

Figura 11 – Detalhe com blocos nos encontros de paredes – Beach Park 3A

Com a definição da posição desses blocos, se preenchem os espaços, conforme Figura

12, com blocos de 40, concluíndo a primeira fiada. Se isso não for possível, deve-se tentar

usar os outros blocos para preencher o espaço, sempre tentando evitar ao máximo a utilização

dos complementos de 5cm.

Page 33: CALCULO PREDIO EM AE

33

Figura 12 – Detalhe com primeira fiada – Beach Park 3A

3.1.4 Montagem da segunda fiada e elevações

Para a segunda fiada, a principal preocupação é de se evitar ao máximo as juntas a

prumo. Então, de acordo com Correa & Ramalho (2003) "As fiadas subseqüentes são

definidas de modo a se produzir a melhor concatenação possível entre os blocos". Esta

concatenação referida pelos autores seriam de um módulo de diferença, afim da junta vertical

ficar exatamente no meio do bloco superior, promovendo uma maior unicidade no conjunto.

Para as outras fiadas, deve-se repetir a primeira fiada nos números ímpares e a

segunda fiada nos números pares, sendo que se recomenda fazer uma planta com a primeira e

segunda fiada e as outras fiadas são representadas nas elevações. Nas plantas de primeira e

segunda fiada, é importante conter detalhes das modificações presentes nas fiadas devido as

aberturas de janelas e portas, como demonstrado na figura 13, para uma rápida averiguação

das modificações presentes na elevação.

Page 34: CALCULO PREDIO EM AE

34

Figura 13 – Detalhe presente em planta de 1ª e 2ª fiadas

Para a produção das elevações, devem-se repetir as fiadas, respeitando as aberturas de

janelas e portas, promovendo as modificações necessárias para a adequação da mesma à

parede.

No edifício alvo desse estudo, foi usado o programa CAD-TQS com o módulo

ALVEST, que gera as vistas automaticamente, de acordo com a primeira e segunda fiadas

registradas no programa, conforme demonstrado na Figura 14.

É recomendado que seja incluído na planta, com as elevações, o quantitativo de blocos

para as paredes e a tabela de ferros para um pavimento, para permitir que seja feito o pedido

exato de blocos e aço para a tarefa ser executada.

Outro detalhe recomendado é que seja feita a cotagem de portas e janelas, sendo essa

distância entre blocos, para que essa possa ser verificada em obra. É importante que as

medidas de projeto e execução sejam iguais senão, por exemplo, uma janela ou porta pré-

moldada pode não entrar no espaço a ela destinando, sendo necessárias outras intervenções

que encarecem e prejudicam o projeto, descaracterizando o forte da alvenaria estrutural que é

a racionalização.

Page 35: CALCULO PREDIO EM AE

35

Figura 14 – Parede 29 – 1ª, 2ª fiadas e elevação

3.2 Dimensionamento da alvenaria

Neste capítulo o objetivo é demonstrar os princípios básicos e parâmetros que foram

adotados para o cálculo do edifício, com o intuito de ajudar na tomada de decisões sobre

alguns detalhes na estrutura e de exemplificar os passos a serem seguidos para o

dimensionamento de outro projeto.

Page 36: CALCULO PREDIO EM AE

36

Para essa tarefa foi usado o programa CAD-TQS, versão 14.1, no módulo ALVEST,

específico para alvenaria estrutural, sendo que este efetua o cálculo de maneira completa, de

acordo com a NBR-10837 (1989), considerando o efeito de vento, de acordo com sua

respectiva norma.

O principal a ser dimensionado na alvenaria estrutural é o bloco, sendo que é este que

resiste as tensões e suporta as ações verticais e de vento. O dimensionamento deste edifício

será feito considerando o uso de alvenaria não armada, com o uso de armaduras construtivas e

grautes em alguns pontos estratégicos, como por exemplo, nos encontros de paredes e nas

extremidades de portas e janelas.

3.2.1 Grupo de paredes

Uma parte importante do projeto é a definição dos grupos de paredes ou subestruturas.

Em um grupo de paredes as tensões são consideradas uniformizadas ao longo do grupo, isto é,

se uma parede é mais solicitada que as demais do grupo, esta tem sua carga diminuída e as

outras tem a carga aumentada. Este comportamento é condizente com a realidade pois as

cargas se distribuem de forma uniforme nos pavimentos inferiores, devido a propagação das

cargas em 45° e às amarrações das paredes.

Os grupos de paredes geralmente são definidas por aberturas ou janelas, podendo

englobar ou não esses elementos, de acordo com critérios do engenheiro.

Na Figura 15 e Figura 16, estão demonstradas os grupos de paredes do Bloco 3A do

Beach Park, que foram usadas no programa CAD-TQS para dimensionamento da estrutura.

Page 37: CALCULO PREDIO EM AE

37

Figura 15 – Grupos de paredes – Parte 1

Page 38: CALCULO PREDIO EM AE

38

Figura 16 – Grupos de paredes – Parte 2

Page 39: CALCULO PREDIO EM AE

39

3.2.2 Paredes resistentes ao vento

Outra parte importante do projeto de cálculo é a definição das paredes de

contraventamento, isto é, quais trechos de paredes serão consideradas no cálculo para

absorver os esforços provenientes do vento. Consideram-se os painéis de contraventamento de

uma determinada direção de vento, as paredes que tem sua direção paralela a do vento em

estudo, desconsiderando os trechos com aberturas.

Outra decisão a ser feita é a consideração ou não das abas nos painéis de

contraventamento, que são trechos de paredes transversais ligadas ao painel, com tamanho

máximo definido por norma. Segundo Correa & Ramalho (2003), a consideração de abas é

um procedimento recomendável a ser feito, pois dá uma maior precisão na determinação da

rigidez de cada painel presente na estrutura de contraventamento.

No caso do prédio objeto de estudo, foram escolhidas as paredes de contraventamento

sem a consideração de abas, conforme mostra a Figura 17 e Figura 18, pelo fato que a

consideração das abas quase dobra a inércia dos painéis de contraventamento. Com essa

escolha, estaria-se obtendo valores à favor da segurança.

Page 40: CALCULO PREDIO EM AE

40

Figura 17 – Paredes de contraventamento – Parte 1

Page 41: CALCULO PREDIO EM AE

41

Figura 18 – Paredes de contraventamento – Parte 2

Page 42: CALCULO PREDIO EM AE

42

3.2.3 Casos e combinações

O programa CAD-TQS gera automaticamente uma lista de casos e combinações para

obtenção dos esforços na estrutura. Aqui estão eles:

Casos:

1 - Peso próprio – São as cargas devido ao peso de paredes;

2 - Cargas permanentes – São as cargas definidas como sobrecarga permanente sobre

as lajes;

3 - Cargas acidentais – São as cargas definidas como sobrecarga acidental sobre as

lajes;

4 - Vento à 90°

5 – Vento à 270°

6 – Vento à 0°

7 – Vento à 180°

COMBINAÇÃO CASOS

1 2 3 4 5 6 7

1 1,00 1,00 1,00

2 1,00 1,00 1,00 1,00

3 1,00 1,00 1,00 1,00

4 1,00 1,00 1,00 1,00

5 1,00 1,00 1,00 1,00

Tabela 5 - Combinações

Nos casos correspondentes as forças de vento, estão inclusas as forças devido ao

vento, desaprumo e sismos. As células da tabela 5 representam os coeficientes de ponderação,

que são iguais a 1, devido ao fato que a NBR 10837 (1989) trata o dimensionamento dos

elementos pelo método das tensão admissíveis.

Para o dimensionamento serão usados os valores do CASO 1 para exemplificação do

cálculo, mas é importante salientar que deve-se efetuar o cálculo para todas as combinações,

para obter o valor mais desfavorável para o dimensionamento da estrutura.

Page 43: CALCULO PREDIO EM AE

43

3.2.4 Ações verticais

São várias as possibilidades de origem de ações verticais para serem consideradas em

edificações. No edifício em estudo, as ações de maior importância são as que dizem respeito à

edifícios residenciais, que são basicamente:

• Peso próprio das paredes;

• Carga proveniente de lajes;

3.2.4.1 Peso próprio das paredes

O peso próprio das paredes é definido pela equação:

0 = 1 ∙ 2 ∙ ℎ (10)

Onde:

P: Peso da alvenaria (por unidade de comprimento);

γ: Peso específico da alvenaria;

e: Espessura da parede;

h: Altura da parede.

O valor do peso específico depende das características do material a ser utilizado.

Abaixo estão alguns valores recomendados por Correa & Ramalho (2003)

TIPO DE ALVENARIA PESO ESPECÍFICO (KN/m³)

Blocos vazados de concreto 14

Blocos vazados de concreto preenchidos com graute 24

Blocos Cerâmicos 12

Tabela 6 – Peso específico

Page 44: CALCULO PREDIO EM AE

44

3.2.4.2 Lajes

No Bloco 3A do Beach Park, serão usadas lajes treliçadas com uma altura total de

21cm com uso de painéis treliçados com enchimento de blocos de EPS com dimensões de

50x20x13cm. Sobre isso é colocada uma camada de 4cm de concreto.

Figura 19 – Detalhe laje treliçada

A carga acidental considerada, sobre todas as lajes, foi de 1,5 KN/m², que, de acordo

com a NBR 6120 (1980), corresponde a carga para dormitórios, sala, copa, cozinha e banheiro

de edifícios residenciais. Além disso, foi considerada uma carga permanente sobre as lajes de

1,0 KN/m² correspondente ao revestimento e contrapiso que serão colocados sobre a laje.

As reações nos apoios das lajes estão demonstradas na Figura 21 que foi extraída do

programa CAD-TQS, na combinação 1 referente as cargas verticais totais (peso próprio +

carga permanente + carga acidental).

Page 45: CALCULO PREDIO EM AE

45

3.2.5 Ações horizontais

As principais ações horizontais a serem consideradas no projeto são as ações dos

ventos, a ação horizontal equivalente do desaprumo e ação decorrente de sismos. Em locais

que possam ocorrer empuxos de terra, estes deverão ser considerados.

No projeto do edifício em questão, será estudada a ação do vento, desaprumo e sismos.

3.2.5.1 Ação do vento

Para a determinação das ações provenientes do vento, deve-se seguir a NBR 6123

(1988) – Forças devido ao vento em edificações, para obter as forças ao nível de cada

pavimento, que serão distribuídos aos painéis de contraventamento.

Para a determinação das ações provenientes do vento no edifício Beach Park Bloco

3A, foram obtidos da norma NBR 6123 (1988) os seguintes parâmetros:

• Vo = 30 m/s, Referente ao município de Aquiraz-CE;

• S1 = 1

• S3 = 1

• Terreno categoria IV

• Classe C

Figura 20 – Dimensões do edifício

Page 46: CALCULO PREDIO EM AE

46

Figura 21 – cargas das lajes nos apoios para o caso 1 (tf/m)

Page 47: CALCULO PREDIO EM AE

47

Em função destes dados, se obtêm os valores dos esforços verticais correspondentes à

cada nível nas duas direções principais: X, com ventos de 0° e 180°; e Y, com ventos de 90° e

270°.

Vento a 0 e 180°

L1/L2 = 0,26 Do ábaco: Ca = 0,67

H/L1 = 1,10

Vento a 90 e 270°

L1/L2 = 3,79 Do ábaco: Ca = 1,15

H/L1 = 0,29

Nível Cota (m) S2 Pressão Fx (tf) Fy (tf)

1 3,01 0,70214 0,027199 1,356470175 8,454852

2 6,02 0,74428 0,030562 1,453113272 9,057227

3 9,03 0,78642 0,03412 1,555387569 9,694701

4 12,04 0,81632 0,036764 1,63137052 10,1683

5 15,05 0,8404 0,038965 1,694624446 10,56256

Tabela 7 – cálculo do vento

Para a obtenção das forças horizontais Fx e Fy foi usada a seguinte formulação pelo

programa TQS:

Carga Horizontal = ([D]+[B])*[C]*[A] (11)

Onde:

[A] = Coeficiente de Arrasto (Ca);

[B] = Cargas adicionais (sismo + desaprumo)

[C] = Área de projeção;

[D] = Pressão do vento;

Page 48: CALCULO PREDIO EM AE

48

Nos esforços de vento foi achada uma diferença nas forças em relação aos valores

obtidos com o programa, mas essas diferenças não são significativas.

3.2.5.2 Ação equivalente ao desaprumo

Correa & Ramalho (2003) recomendam que esse esforço seja calculado de acordo com

a norma alemã DIN – 1053 – Alvenaria: Cálculo e Execução. Essa norma recomenda que seja

usada a seguinte expressão para obtenção do ângulo para o desaprumo do eixo da estrutura.

3 = 1100 ∙ √567 (12)

Onde:

φ: Ângulo em radianos;

H: Altura da edificação em metros;

Após a determinação do ângulo φ, pode-se determinar uma ação horizontal

correspondente, através da seguinte expressão:

�8 = ∆0 ∙ 3 (13)

Onde:

Fd: Força horizontal equivalente ao desaprumo;

∆P: Peso total do pavimento considerado.

No caso do edifício calculado, os valores obtidos para o desaprumo seriam:

3 = 1100 ∙ √515,057 = 0,002577 :�;

Page 49: CALCULO PREDIO EM AE

49

Sendo, ∆P = 393 tf, substituímos em 12, obtendo:

Fd = 1,01 tf, para todos os 5 pavimentos.

Para o cálculo do edifício no TQS, foi adotado como valores iniciais de desaprumo

0,02 tf/m² para as direções de vento X e Y. Este é um bom valor inicial, pois, nesse caso

específico, apresentou um valor próximo para o vento a 0° e 180° e um valor maior para o

vento a 90° e 270°, sendo a favor da segurança. Recomenda-se reprocessar o cálculo da

estrutura com os valores do desaprumo calculados em função do peso total do pavimento,

variável indisponível no início do projeto.

Vento (graus) Area lateral (m²) Desaprumo (tf)

0 / 180 41,0564 0,82

90 / 270 155,7675 3,11

Tabela 8 - Desaprumo

3.2.5.3 Ações devido ao sismo

Para a determinação das ações devido ao sismo, deve-se seguir a NBR 15421 (2006)

que possui todos os procedimentos para obter as forças ao nível de cada pavimento, que serão

distribuídos aos painéis de contraventamento.

O município de Aquiraz no Ceará se encontra na zona sísmica 1 definida pela norma,

sendo que nessa zona é permitido o uso de um processo simplificado para a obtenção da força

horizontal, em que essa força é igual a 1% do peso permanente do piso, sendo essa carga

aplicada em todos os pisos. A essa formulação é demonstrada pela equação abaixo:

�< = 0,01 ∙ ∆0= (14)

Onde:

Fs: Força horizontal devido ao sismo;

∆Pp: Carga permanente do pavimento considerado.

Page 50: CALCULO PREDIO EM AE

50

No caso do edifício calculado, os valores obtidos para o sismo seriam:

�< = 0,01 ∙ 329

�< = 3,29��

3.2.6 Distribuição das ações horizontais

No cálculo do edifício, o TQS usa o método das paredes articuladas ou paredes

isoladas para determinar os esforços de momento e cisalhamento nas paredes resistentes às

ações do vento. De acordo com Correa & Ramalho (2003), nesse método cada painel assume

um quinhão de carga proporcional à inércia. Com isso pode-se definir a soma de todas as

inércias como é apresentado na equação a seguir:

ΣI = I1 + I2 + I3 + ..... + In (15)

Então a rigidez relativa de cada painel será:

.C = DEΣD (16)

Portanto a ação em cada painel pode ser obtida através da equação:

�C = �+F+ ∙ .C (17)

Onde:

Fi = Ação em cada painel;

Ftot = Ação total em um determinado pavimento;

Ri = Rigidez relativa de cada painel.

A seguir será apresentada a tabela com as ações totais para os 5 pavimentos do Beach

Park, com a força do vento, esforços cortantes e momentos fletores.

Page 51: CALCULO PREDIO EM AE

51

NÍVEL

DIREÇÃO X DIREÇÃO Y

FORÇA

(KN)

CORTANTE

(KN)

MOMENTO

(KN)

FORÇA

(KN)

CORTANTE

(KN)

MOMENTO

(KN)

5 4,108741 4,108741 6,183654853 11,99562 11,99562 18,05341188

4 4,045487 8,154228 24,63942225 11,60136 23,59698 71,62028548

3 3,969504 12,12373 55,40128901 11,12776 34,72475 160,0928923

2 3,86723 15,99096 97,47036304 10,49029 45,21503 279,7038601

1 3,770586 19,76155 151,2778886 9,887913 55,10295 430,6824231

Tabela 9 – Tabela com Ações horizontais totais em cada pavimento

3.2.7 Exemplo de aplicação

Nesse item, será feito o acompanhamento do cálculo efetuado pelo programa para

dimensionamento da parede 35, no 1° piso, a fim de mostrar todos os passos necessários para

a obtenção da resistência de bloco. Os passos feitos para essa parede devem ser repetidos a

todos outros elementos, sejam paredes ou subestruturas, reforçando a necessidade de obter o

auxílio de alguma ferramenta computacional para ter uma maior agilidade na obtenção de

resultados.

• Elemento: Parede 35, pertencente à subestrutura 9.

• Pavimento: Primeiro;

• Altura de alvenaria do pavimento:

hpav = 3,01m

• Espessura da parede: t = 0,14m

• Relação entre área bruta e efetiva

.�/ = 2

3.2.7.1 Peso próprio da parede

Page 52: CALCULO PREDIO EM AE

52

��� = 1��F�F ∙ 2 ∙ ℎ = 1,4 ∙ 0,14 ∙ 2,8 ��� = 0,55 ��/I

Valor obtido pelo TQS:

��� = 0,707 ��/I

Pode-se notar que existe uma diferença entre os valores de peso próprio obtidos pelo

programa e pela formulação apresentada, que se deve ao fato que o programa considera o

peso próprio como sendo 0,245 tf/m² de superfície de parede, já incluído nesse valor o reboco,

revestimento e juntas, sendo essa uma boa proposição a ser adotada.

3.2.7.2 Carga nas lajes

A seguir é demonstrada a carga correspondente ao peso próprio da laje por metro

quadrado:

Figura 22 – Detalhe laje treliçada

2J = 13�I 1KLMK = 2,5 ��/I²

2O = 4�I 1P=Q = 15 RS�/I²

T�� = � P=Q UF+�� ∙ 1P=Q + KLMK UF+�� ∙ 1KLMK ∙ 2J + 1KLMK ∙ 2O

T�� = �0,1250,21 ∙ 0,015 + 0,085

0,21 ∙ 2,5 ∙ 0,13 + 2,5 ∙ 0,04 ∙ 2

Page 53: CALCULO PREDIO EM AE

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0�� = 0,332 ��/IO

Os valores de sobrecarga adotados no calculo, de acordo com a NBR 6120:

o Permanente = 0,1 tf/m²

o Acidental = 0,15 tf/m²

Portanto a reação vertical total na parede devido a laje, por metro linear de parede, é:

T+� = V�:S� ∙ Á:2�VXIY:EI2Z�X

T+� = 50,332 + 0,1 + 0,157 ∙ 13,178,25

T+� = 0,924 ��/I

3.2.7.3 Carga total sobre a parede

A carga linear total sobre a parede por unidade de comprimento em um pavimento é

dada pela soma entre as cargas do peso próprio e as cargas vindas da laje.

T+F+�� = 0,924 + 0,707

T+F+�� = 1,624 ��/I

Para obter as cargas para o primeiro pavimento, basta multiplicar a carga pela

quantidade de pavimentos sobre ele.

T+F+�� JF ��� = 1,624 ∙ 5

T+F+�� JF ��� = 8,12 ��/I

A carga atuante sobre esse elemento é obtida multiplicando a carga linear pelo

comprimento da parede.

� = T ∙ � = 8,12 ∙ 8,25

� = 67 ��

Page 54: CALCULO PREDIO EM AE

54

3.2.7.4 Rigidez relativa do painel

Ix = 3,7175 m4 .C\ = !,]J]^O!,_`]a = 0,1551

Itotal = 23,9670 m4

3.2.7.5 Esforço Cortante

�b = �+F+�� ∙ .C\ = 53,51 ∙ 0,1551

�b = 8,29 ��

3.2.7.6 Momento Fletor

&\ = &\+F+�� ∙ .C\ = 430,68 ∙ 0,1551

&\ = 66,798 ��I

3.2.7.7 Determinação das resistências de prisma

3.2.7.7.1 Compressão axial

���, � = �� ∙ � ∙ .�/ = 67

8,25 ∙ 0,14 ∙ 0,5 = 116,02 ��/I²

����,�������� = 0,20 ��∙ �1 − � ℎ40 ∙ � !" = 0,20 ��∙ �1 − � 3,01

40 ∙ 0,14 !"

����,������� = 0,1689 ��

����,� ≤ ����,�������

�� = 5,919 ����,� = 5,919 ∙ 116,02

�� = 686,72 ��/I²

Page 55: CALCULO PREDIO EM AE

55

3.2.7.7.2 Flexo-compressão

Primeiro obtemos a tensão de flexão devido as forças horizontais

����,% = &\ ∙ 2cD\ = 66,798 ∙ 4,1973,7175 = 75,41 ��/I²

����,%������� = 0,3 ∙ ��

����,�����,������� + ����,%

����,%������� ≤ 1,33

Substituindo ����,������� e ����,%������� em (8) e isolando fp, temos:

�� = 4,451����,� + 2,506����,% = 4,451 ∙ 116,02 + 2,506 ∙ 75,41

�� = 705,39 ��/I²

3.2.7.8 Verificação da tensão de tração nas paredes

����,% − 0,75����,� ≤ ����,+������

75,41 − 0,75 ∙ 116,02 ≤ ����,+������ = 20 ��/I²

−11,605 ≤ 20 ��/I² OK!

A tensão de tração obtida é menor que a admissível de 20 tf/m² e dispensa o cálculo de

armadura para absorção desses esforços

3.2.7.9 Verificação da tensão de cisalhamento

#��� = �c �C< = 8,290,587 = 14,12 ��

IO < 15 ��/I²

A tensão de cisalhamento obtida é menor que a admissível de 15 tf/m² e dispensa o

cálculo de armadura para absorção desses esforços.

Page 56: CALCULO PREDIO EM AE

56

3.2.8 Envoltória de prisma

O CAD-TQS realiza a seqüência de cálculo demonstrada em 3.2.7 para todas as

paredes e subestruturas para todos os casos e combinações, definidas previamente nas

configurações do programa.

Os resultados do cálculo obtidos no programa se apresentam na forma de um

diagrama, que mostra a resistência de prisma necessária para resistir as solicitações devido à

compressão simples, e flexo-compressão X e Y, com base nos valores mais desfavoráveis

obtidos nas combinações acima citadas. Também é mostrado se é excedido em algum ponto

as tensões de cisalhamento da parede e se aparece tração em algum local, sendo necessário

dimensionamento de armaduras especiais para esse fim. Para demonstrar esses valores com

maior clareza, foi feita a Tabela 10 com os valores da envoltória de prisma para as

subestruturas do primeiro pavimento, o mais solicitado.

Pavimento Subestrutura Área

(m²)

Carga

acum. (tf)

falv,c max

(tf/m²)

fpc max

(tf/m²)

fpt max

(tf/m²)

1

1 1,166 185,973 159,5 943,9 697,3

2 1,166 180,973 155,0 917,8 677,6

3 1,166 181,188 155,0 919,6 679,0

4 1,469 148,922 101,4 600,1 438,7

5 1,669 241,844 144,9 857,8 633,0

6 0,105 17,239 164,2 971,8 703,3

7 1,228 169,855 138,3 818,4 594,2

8 0,348 24,339 70,0 414,4 277,6

9 1,490 247,696 166,2 983,7 710,1

10 1,490 248,436 166,7 986,6 712,3

11 1,490 248,353 166,6 986,3 711,1

12 0,738 85,399 115,8 685,4 497,7

Tabela 10 – Resistência de prisma do primeiro pavimento

Nota-se pela envoltória de prismas, que os maiores valores de resistência de prisma

foram obtidos pelo cálculo de compressão simples, não considerando o vento no

dimensionamento. Isso deve-se ao fato que em alvenaria estrutural, o vento não possui caráter

Page 57: CALCULO PREDIO EM AE

57

significativo em edifícios de menor porte, isto é, com menos de 5 pavimento, sendo isso até

mencionado na NBR 10837.

Como o TQS fornece as tensões em função das áreas líquidas, deve-se adotar na

equação a relação entre área bruta e líquida como sendo igual a 2. É importante lembrar que a

resistência de prisma a ser usada é a maior tensão obtida no pavimento, isto é, a parede ou

subestrutura mais carregada define a resistência de bloco de todo pavimento. Dessa forma,

obtemos os valores de resistência de bloco para os 5 pavimentos, como demonstrado na

Tabela 11 – Resistência de bloco.

Pavimento fp (tf/m²) fb (MPa) Resistência do Bloco

Utilizado (MPa)

1 986,6 7,05 8

2 792,2 5,66 6

3 607,9 4,34 4,5

4 416,9 2,98 4,5

5 216,0 1,54 4,5

Tabela 11 – Resistência de bloco

Em função dos valores de fp de cada pavimento, são determinadas as resistências de

bloco que atendam às solicitações calculadas. É bom lembrar que com os blocos de concreto,

há a possibilidade de poderem ser feitos blocos de qualquer resistência, bastando confeccioná-

los com um traço que atenda a demanda de resistência.

3.2.9 Grautes

Se as resistências de prisma estiverem com valores muito elevados, uma opção é

grautear alguns furos das paredes mais solicitadas, de modo a aumentar a área da seção

transversal, reduzindo as tensões sobre a alvenaria. O acréscimo de furos necessário pode ser

calculado dividindo a resistência de bloco necessária pela resistente, definindo o valor a ser

adicionado. De acordo Correa & Ramalho (2003) este procedimento é valido supondo-se que

Page 58: CALCULO PREDIO EM AE

58

o valor de eficiência mantém-se no bloco grauteado e que não será utilizado graute com

resistência inferior à do bloco. Então se pode montar a Tabela 12 - GrauteamentoTabela 12

com o valor do acréscimo de área liquida em função do grauteamento adotado.

Furos grauteados Razão da área líquida Acréscimo de área

Todos 2/1 100%

1 a cada 2 3/2 50%

1 a cada 3 4/3 33%

1 a cada 4 5/4 25%

1 a cada 5 6/5 20%

Tabela 12 - Grauteamento

3.2.10 Vergas, contravergas e cintas

As vergas e contravergas são feitas com os blocos canaleta e graute, possuindo alguma

armadura em seu interior, sendo nesse caso usado 2 ϕ 8mm, resultando em uma armadura de

1,00 cm², armadura essa que supre a demanda de resistência da maioria dos casos de vergas e

contravergas. Para vergas de maior vão, é necessário ser feito o correto dimensionamento da

mesma de acordo com as recomendações na norma.

As cintas também são feitas com blocos canaleta e graute, possuindo alguma armadura

em seu interior. No bloco 3A foram feitas cintas na ultima fiada de cada pavimento e foram

utilizadas em todas as cintas 2 ϕ 6,3mm, como é demonstrado na Figura 23.

3.3 Compatibilização de projeto

Neste projeto do edifício Beach park bloco 3A, realizado na empresa, não foi feita a

compatibilização de projetos, isto é, integração entre os projetos: estrutural, hidrossanitário,

gás, elétrico, combate a incêndio entre outros. Esta parte é fundamental para que haja o

mínimo de complicações para serem resolvidas em obra, causando perda de produtividade e

Page 59: CALCULO PREDIO EM AE

59

gastos desnecessários ou não previstos no orçamento inicial. Esta tarefa é geralmente liderada

por profissionais mais experientes, com um conhecimento aprofundado em várias áreas.

Figura 23 – Detalhe de verga, contraverga e cinta em elevação

Page 60: CALCULO PREDIO EM AE

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4 CONCLUSÃO

Este trabalho foi muito importante, pois demonstra os problemas e a complexidade de

se fazer um projeto de alvenaria estrutural. As dificuldades começam com o recebimento da

arquitetura, que na maioria das vezes não atende ao padrão recomendado, isto é, com medidas

múltiplas do módulo, atitude essa ratificada pelo projeto acompanhado para confecção deste

trabalho, que possui grande maioria de paredes com vãos que não possuem os valores ideais.

Isso pode trazer problemas como projetos mais complexos podendo causar perda de

produtividade, tirando um dos pontos fortes do sistema que é a racionalização. Outro

problema é possível aparição de patologias como fissuras e trincas, devido a impossibilidade,

em alguns casos, de manter um módulo de distância entre as juntas das fiadas sobrejacentes.

Outro aspecto a ressaltar é a importância de uma ferramenta computacional totalmente

direcionada para o projeto. O cálculo das paredes na alvenaria estrutural, embora possua um

mecanismo mais simples que os cálculos em concreto armado que, por exemplo, demanda

muito tempo para o cálculo de solicitações e dimensionamento de todas as paredes e

subestruturas. Já no desenho, em que precisam ser feitas todas eleveções das paredes com

todos os detalhes, essa tarefa demandaria muito tempo se efetuadas em ferramentas genéricas,

não específicas para esse fim.

Também foi notada a importância de se produzir um projeto mais perfeito o possível,

com mínimo de erros, de forma a minimizar os problemas na obra. Com isso, evita-se a perda

de produtividade na tentativa se solucionar esses empecílios no local de trabalho, sempre com

o risco da solução adotada, não ser a mais adequada.

Page 61: CALCULO PREDIO EM AE

61

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACCETTI, K. M.; Contribuições ao projeto estrutural de edifícios em alvenaria.

Dissertação (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo,

São Carlos, 1998.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6120:

Cargas para o cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro, 1980.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6123:

Forças devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro, 1988.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6136:

Bloco vazado de concreto simples para alvenaria estrutural . Rio de Janeiro, 1994.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 10837:

Cálculo de alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto. Rio de Janeiro, 1989.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15421:

Projeto de estruturas resistentes a sismos – Procedimento. Rio de Janeiro, 2006.

CAMACHO J. S.; Projeto de edifício de alvenaria estrutural. Universidade

Estadual Paulista, Ilha solteira, São Paulo, 2006.

RAMALHO, M.A.; CORRÊA, M.R.S.; Projeto de edifícios de Alvenaria

Estrutural . PINI, São Paulo, 2003.