Calderon de La Barca (1600-1681). a vida é sonho

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    1/51

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    2/51

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    3/51

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    4/51

    ,SUMARIO

    lntroducao, pOl' Luis Filipe Lima e Bimrdo \'

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    5/51

    INTRODUCAOo 9

    QCA'

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    6/51

    10 tt'IIIIH) 'lIlt' Iaz ia 0 elogio da loquacidade de seu propriol'1Igl' II110, coutrolar as atr ibuicoes apocr ifas. :'\ao se trataobvia nu-nte de controle de propriedade ite lectua l," rnasde zc-lo pe - I a honra do norne, proprio e famliar. :'\uma soci-edade pol i t iea Pill que as posicoes e licencas sao obtidas pornotorio IIlprecimcnto pcssoal e acumulado pela famlia, aem,l da pllhhca~ao impressa de pec,;asteatrais pelo proprioautor r-xplir-a-se pe!o cuidado ern evitar desgrac,;a Oil des-favor 110 interior dos postos institucionais que os letradosc-r.un dispostos a plei tear, sempre segundo os direitos defi

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    7/51

    12 dr-vido d todas essas condicoes institucionais, 0epiteto de"110111('111 harroco ", ainda que nao de conta das ativida-de-s (' viur-u los de Calderon como poeta, foi largamentet'llIpn>gildo pr-la critica l itcraria e pelos estudos historicosrn t re- os 5('('11105 XIX C XX. ,\ figura e a obra de CalderonIor.un c-nt ao transfor mados em modelo do que entao sesupuu lia 0seculo XVII e a cultura iberica no tempo da poli-licd cat olic-acia Casa de Austria e da violenta intervcncaocon na-rc-Iorm ista IIOS dorninios europeus e ultramarinosda dinast ia imperial. Foi, assirn, pensado COIno homem\('1'1 igilloso, em cr ise, rnulufacetado, entre sagrado e pro-Iano. pe-rdido em meio a lugares e Iuncoes institucionais,Oil ainda como urn simples adulador a rondar os pode-roses em busca de Iavores e protccao. :\ essa perspeotiva,suas p('

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    8/51

    1 - 4 - "III/orl',I'. sorviu para dois autos sacramcntais, urn escritoprovavrl nu-n tc- II,] iuesma decada da cornedia, e outro emifi:-,). ua mat uridade de Calderon, Entre os seculos XVI e:\\"11. l'I"arerorrcutr- a ideia de que a vigilia, a al5ao humana,n.io passa\'a de- iusao e que, como os sonhos, que se dissi-patJI COllI 0dia, a vida sc dissipar ia corn a noite ou sonoda mort o. COIIlO a figura fundava-se em doutrina cristaquI' rr-mout a a Boccio c c\gostinho, nfio aparecia apenaslias IPlr,IS ibcrir-as do scculo. a ver as pe

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    9/51

    INTRODU

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    10/51

    lH t os, "/(III/()SY tontos"; que dessern ouvido OU seguissern 0c-xr-m pl dos que, ernpedernidos, confeitavarn vicios comosc- fossr-rn virt urles ou erravarn pelos descamnhos do malcouto SI" st'guissl"m 0 bem. Tal responsabilidade pesava('sp('('ia lnient.esobre a cabeca do reino, 0principe, ja que,para l'llIfJr'pgarmos uma irnagem corrente, a queda de urn('anal ho e se-m pre:'mais ruinosa do que a de uma faia. PorISSO,('ra importante controlar pela temperanca as desmedi-das do ('orpo eda alma. Lrn born governante (assim comoUIII born sudito) era aquele que nao se deixava levar pelosdesejos, pela ir a, pelas ambicoes, pelos sonhos. Deixar-seg0\"{'rllar por qualquer destas uarutates era urn desgoverno,qII!sr- rr-lle-tia em todo 0reino. Era seguir imagens vas,COIlIOas dos son hos, que se acabarn ao raiar do dia como avida ao raiar ciamort.e. ou achar que as cenas do teatro SaD\"('rdad('s ma is que verossirneis, e que os bens do tempo SaDa causa fi li al da vida.

    .\0 rue-smo tempo, se 0sonho era fruto das a\ioes diur-lias - ou "r eliquias dos cuidados", como diz Antonio Vieira(i!jo~ llilJR) -, as imagens oniricas poderiam denunciar asfJr,ll ir-as de-sviuntes cometidas durante a vigilia e anunciar,Sf' refit'! idas corretarnerite no entendirnento, 0 rernediopara el as. Os son hos erarn, na medicina de entao, urn bornuu-io de diagnosticar doencas e desequilibrios corporais,porque id icios cia dieta seguicia, do funcionamento dadigl'SlaO, da circula\iao dos humores e vapores. E para 0confessor, medico da alma, eram urn modo de vislumbrar110 particular [on tes de pecado. Os manuais de confessoresorie-nt avam perguntar sobre os sonhos, pois pod iarn indi-ri ar as illlagpns pecamriosas vistas (au imaginadas) pelofi(,1ou, uiais gran" podiarn ser camnho para 0 pecado se 0souhador, ao acordar, acreditasse no sonho ou alimentasse

    Luis FlLIPE LI.VIA I~RICARDO VALLE

    desejos ern relacao a imagem sonhada. Sonhar, pOl' si 56,nao era pecado, pois quando 0fiel dorma os sentidos eas potencias da alma tarnbem adormeciam .. Ador meci-dos, nao havia nern memoria ativa, governada pelo enten-dirneruo, para lernbrar os bons Oil rnaus exernplos, naohavia entendirnento para ponderar sabre as verdadeirasleis e discernir 0certo do err ado, e, sern mcrnoria e en-tendimento, tampouco a vontade poderia ter firmeza paraseguir 0camnho reto que cond uz ate Deus. () problemaestava com 0que se fazia depois de ver 0souho (e 0quetinha rnotivado aquele sonho). Porem ,0born cristae eborn vassalo, rnesmo em sonhos, terra visoes ordenadaspara 0bern, pois elas cram 0rcllexo de suas a"oes di monase, caso houvesse tentacao ern irnagens oniricas, seu regimefisico emoral impediria que 0 pecado e a desobedienciafrutificassern ern sell espir ito e cor po, e resultassern erna\ioes desvi an tes .

    19

    VIDA E SONHOErn A uida e sonho nao ha urn so sonho posto em

    cena. Existe, sobretudo, 0 fingimento de que liouve so-nhos. Ainda que sejam causa do no da trama principal dapec;a, os unicos sonhos durante 0 sono estao fora da aC;aoque se passa no rei 110 da Polon ia: sao os sonhos da rainhaClorinda, mulher de Basilio, rei, e mle do pr incipe encar-cerado, Segisrnundo, que durante 0parte. "entre idcias edelirios" sonhou que daria a luz a urn "rnonstro ern formade hornem " ~0 que ratificava a astrologia que presidiu onascimento de Segismundo, hcrdeiro ternido do trono deBasilio. Quem narra esse sonho retrospect.ivamc nte f. estemesmo rei, ao explicar para seus sobrinhos P pretensesherdeiros, Astolfo e Estrela, a vcrdade sobrc Segisrnundo e

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    11/51

    20

    ISTRODCC;:A.O

    S{IIS planes dp liberta-]o, por um dia, da sua prisao na torre.\ las 0far;\ por urnestratagerna engenhoso, drogando-o,{' lr-va ndo ao pa lacio para despertar, pois assim, caso seC\llllpra () vaticiu io, e os delirios de sua falecida mulhers!' con firmem vcrdadeiros, Segisrnundo seria novamentedrogado. devolvido ao carcere e achar ia que, na verdade,S{\I diaCOlllOprincipe nao passara de urn sonho. 0sonhoaqu ic urn artificio empregado por urn rei que pretendevr-ri lir-ar se vat icinios podem definir a sucessao e0futurode sell rei no.

    ()UCIJl vai realizar esse estratagema e 0 velho e fielClot aldo, fidalgo do reino c 0aio responsavel por cuidar deSq~Sllllll1do na t.orre rochosa em que foi encerrado desdeo nusr-imcruo. 0ve lho fidalgo, lor sua vez, esta envolvidoe-rn lI111aqur-stao famliar, com implicacoes na sucessao.I,ogo na pr imeira ceria, Rosaura, filha oculta de Clotaldo,l'ilega pOl' acaso ao carcere de Segismundo. Vern em trajesmascul iuos eacompanhada de Clarirn, seu pajem, epre-tr-ndr- rer:upprar sua honra perdida para Astolfo, sobrinhodo re-i Basilio. Rosaura, porern, nao sabe que seu pai eClot aldo que logo a identifica pela espada que dera a suanmada. mae de Hosaura. Ele ere, porcm, que Rosaura evar ao, lima vc-zque preferiu viajar tr avestida para pedirajuda 110roino da Po Ionia. Sao esses os conflitos que sedt'sf'nla~alll pelas tres jornadas, separadas, como os dias,P (' 10 S0110 induzido de Segismundo.

    \'a primeira jornada, Segismundo esta encarcerado(' dpS('oltiwce a nobreza de seu naseirnento. f~posto paradorm ir. (' acorda na segunda jornada, no palacio. DespertoCOIIIO pr iucipe - sern nunea ter sido doutrinado para tal- dr-ixase gO\'ernar por todas as suas paixoes, e seus atossao todos desmr-didos ecrucis. Hevoltado com sua situacao

    Leis FILIPE LIMA E RICARDO VALLE

    anterior ecom 0Iato de Ihe terem escondido a nobreza deseu estado, quer matar seu aio, Clotaldo, que sempre deleeuidou, obedecendo as ordens rea is; arrieaca defenestrarurn criado que 0 irr ita, e0faz, por ira e pOl'orgulho desua atual posicao, galanteia inciiscretamente Estrela nafrente de seu pretendente, Astolfo, antes dcstratado porSegismundo edepois desafiado a espada, desrespeita eselevanta contra Basilio, na posicao de dupla aut.oridade depai e rei. Por fim, subitamente apaixonado por Rosaura,que agora, aparece em toda a sua beleza, vestida comomulher, quer forca-Ia a corresponder a seu amor. Revela-se, de fato, urn tirano, como temera seu pai, 0rei. l'aira aduvida, entretanto, se e por conta do vaticinio (e port antede uma predest.inacao tragica, mas vinda de supersticao)ou pel a rudeza eestado bruto dado pelo carccre, pois emsua vida nao tiver a outro contato corn pessoas alern deClotaldo.

    Segismundo e posto para dorrnir novamerite, c acorda,no final da segunda jornada, rcduzido ao seu cstado inicial,preso no carcere enovarnente tendo apenas Clotaldo comointerlocutor. r\esse segundo acordar, profcre 0 famosomonologo que se encerra corn os versos:

    21

    Que c a vida? em frenesi.Que e a vida? lima ilusao,Cma sornbra, uma ficcao,o maior bem e tristonho,Porque toda avida c sonhoE os sonhos, sonhos siio.

    A vida e sonho, percebe Segismundo aprisionado, mastinha visto (ern sonhos fingidos) os resultados da liberdade

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    12/51

    22

    IC\TROOCC;:XO

    absohua (' a soltura do poder. Vlesmo achando que haviasonhado, Segisllllllldo cntende que as acoes, paix6es eesta-dos humanos Ienecem: "E ha quem queira reinar/ vendo!jll(' !til de despertar/ 110negro sonho damorte?". Os versosinvrrte-m o tit.ulo da pe

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    13/51

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    14/51

    2(i

    I:\TRODC

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    15/51

    2H

    I:\TRODU

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    16/51

    ,A VIDA E SONHO

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    17/51

    PERSONAGENS 33

    BASiLIO, Rei da PoloniaSEGISMUNDO, PrincipeASTOLFO, Duque de MoscouCLOTALDO, VelhoCLARIM, gracioso (criado de Rosaura)ESTRELA, InfantaROSAURA, DarnaSold ados, Guardas, Musicos, Comtivas, Criados eDa-

    mas.

    Cenas nacortedaPolonia, numafortaleza poucodis-tante,enocampo.

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    18/51

    PRIME IRA J ORNADA 35

    De urn. lado urn. aspero monte; de out ro. urna torre, cujaparte terrea serve de prisdo a Segismundo. A porta que dafrente para 0espectador esta entreaberta. A acdo principiaaoanouecer. Rosaura, uestida de homem aparece no alto domonte pedregoso, edesce: CLarimaacompanha.

    ROSALRA - Ah, centauro violentoque correste parelhas corn 0vento!Ja que por estas penhaste enfureces, arrastas edesperihasficatc neste monteque eu seguirei sern ti amnha sorte!.vlal, Poloni a, recebesa urn estrangeiro, pois corn sangue escr evessua entrada em tuas pedrase aterras aquem chega em tuas tcrras'Bern mnha sorte 0diz.Vlas quando achou piedade urn infel iz?CLARIYI - Urn so? Diz dois' Por que me esqueces?

    Fomos dois a sail' em busca de aventuras, dois os que entredesditas e loucuras viernos parar aqui ... Dois caidos namontanha, sem cavalos, perdidos ... 1550 nao e bastante praunir nossos pesares? Ah, senhora, e agora:' :\ pe, sozinhose perdidos aesta hora?

    Oucemse ruidos de correnie.

    PRJ:VIEIRA JORNADA CALDER6N

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    19/51

    31i CI.AHI:vt - Ceus' Que ouco?IWSAI'HA - Deus' Que e isso?CI.AHI:vt - Correntes? Deve ser um calabouco:SEGIS\It:NIJO (dentro) - Ai, rnisero demm! Ai. infeliz!HOSAI-RA - Qup triste voz: Que triste esse rumor!CI.AHIM - :\ mm me da payor!HOSAl!HA - Clarim .CI.AHI:vt - Scnhora .HOSAL'HA - Fujamos dos perigos desta torre encan-

    tada ...CI.AIIIM - Animo pra fugir e que me faha ...IIOSAI;HA - Se fugir nao podemos,ao tllCllOS suas desdi tas escuternos ...

    -lbre-se aporta eaparece Segismundo, acorrentado erestido depeles. f fa lu: na torre.

    SECISML':\[)O - Ai, misero demirn! Ai, infeliz:I)(>scobrir, oh Deus, pretendo,j; ', que 'lie tratas assirnque delito cometifatal, contra ti, nascendo.Vlas cu nasci, c compreendoque 0 crime foi corneridopois 0delito maiordo homem e ter nascido.S6quereria sabers(>PIIl algo mais te ofendipra lllP castigar('s mais.

    Nao nasceram osdemais?Entao, se os outros nasceramque privi legio tiveramque eu nao tive jarnais?~asce 0passaro dour ado,joia de tanta belezae e flor de plurna eriquezaou bem ramalhete aladoquando 0ceu desanuviadocorta com velocidadenegando-se a piedadedo ninho que deixa em calma:epor que, tendo mais alma,tenho menos liberdade?'\'asce a fera, emuito cedoahumana necessidadeensina-Ihe a crueldade,monstro de seu labirinto:e eu, com melhor instintotenho menos liberdade?~asce 0peixe enao respira,aborto de ovas e lamas,e apenas barco de escamasquando nas ondas semrae por toda parte giramedindo a imensidadede sua capacidade;tanto the da sui ou norte.

    37

    PRIMEIRA JORXADA CALDERON

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    20/51

    3H E e-u que sei da mnha sorteu-nho menos liberdade?Nasce 0 regaLo, serpentequP entre Ilores se desata(' ('UlIIOcobra de prataentrc as flores se distendecelebrando amajestadedo campo aberto a fugida.Par que eu, tendo mais vida,tr-nho menos liberdade?Em chegando a esta paixao,num vulcao todo transfeito,qu iscra arrancar do peitopcdacos do eora1O"DO - Quem me cuviu? Clotaldo?CI.AI\IM (a sua ama) - Diz que sim...HOS.\L:I\.\ - Lmtriste apenas ... que conheceu tuas quei-

    xas.SEGIS:\>1c"no (agarranda-a) - Apenas porque me ou-

    vistr- e precise que eu temate.CLAIlIM - Eu sou surdo'IIOSAlJRA - Se es homem, bastara que eu me ajoelhe,

    para qlle mc vcja livre.

    SEGIS:\1UNDO - A tua voz me enternecc, tua presen

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    21/51

    4( ) CLOTALDO (aparle, aos soldados) - Cub ram 0 rosto. Eunport ante que nao saibarn quem somos.

    CI.AHIM - Krineando de mascarados?CI.OT.\I.1l0 - Iaveis ultrapassado os !imtes perm itidos

    (' dcsrespe itado 0decreto real. Vossas armas e vidas, senaousarei de forca.

    SEGlSMC:-;IJO - Antes, tirano, que toques ou ofend asa r-stas pessoas, acabara mnha vida nestes grilhoes mse-rave-is . .luro pelos C{~uSIDespedacado aqui me teras, commuhas nraos emeus dentes, antes que consinta em teusultrajcs,

    CLOTAI.1l0 - Segismundo, se sabes que tuas desditassfio tilo grandes que, rnesrno antes de nascer, rnorrestepcla lei dos c{'us... se sabes que esta prisao e 0freio da tuaarrogaucia, por que esse orgulho? (aos soldados) Fechem aporta do carcere.

    SEGISMC-';DO - Ah, ceu, que bem fazes em tirar-rne aIibordade: Se assim riao fosse eu seria urn gigante contrati!

    CLOTAU)O - For isso e que padeces tantos males.Segismundo e levado pur soldados, que aencerram na

    prtsiio.

    HOSAUH.\ - J a percebi que asoberba te ofende. Por isso,liumi lde, estou aqui a teus pes.

    CI.AI\I:\l - Ese nem hurnildade nem orgulho te cati-\',1111, CIl, nern humlde nern orgulhoso, antes eonfundidoentre as duas metades, peco-te que nos desculpes e ampa-re-s.

    CLOTAI.IJO (aus soidadosy - Hei:

    SOLDADOS - Senhor ...CLOTALDO - Tirem as armas dos dois, eponham vendas

    em seus olhos, para que nao vejam de onde saern, nerncorno 0 fazem.

    HOSACRA - Aqui esta a rninha espada. :\ao a entrego aqualquer urn.

    CLARLYI - A mnha e tao ordinaria que pode ser entre-gue ate ao pior sujeito. (aumsoldadoy Toma la.

    ROSAURA - Se hei de morrer sem rcrnedio, querodeixar-te esta espada, prenda que foi estimada por quemurn dia aeingiu. Por algurn pressentimento, sei que estaarrna dourada encerra rnisterios grandes. Ncla apenasconfiado, venho a Pol6nia vingar-me.CLOTALDO (aparle) - Ceus' Que c isto? E quem te deuesta espada?

    ROSACRA - Ima mulher.CLOTALDO - Seu nome)ROSAURA - Nao posso dizer 0nome.CLOTALDO - Por que achas que ha urn segredo nessa

    arrna?ROSAURA - Quem me deu < I espada, disse:"vai a Pol6nia eprocuracom perseveran

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    22/51

    para scr rcconhecido.COTALI)O - .vlas que fazer, se e usadapor 11m hornem condenado?Lstr- e meu filho, bem vejo,ht'lll 0diz 0coracao,mas que fazer? Pois, leva-Ioao Rei e leva-Io a mortee nao levar e traicao,l Je 11111ado 0arnor de paie do uutro a lealdade.Porern, como duvidarse a obed iencia a majestadevern em primeiro lugar?E , agora, penso rnelhor:ole falou ern vingan~a.Hornem que esta ofendidoE ', antes de tudo, infame.Portanto nao e meu filho,IIf'I!I tern 0111eUnobre sangue.V las so de fat.o uma afrontaSOrrell clc, de tal artequP u marcasse, pOI-que a honra(.de materia tao fragilqlle cum urna a~ao se quebra(' corn 0 ven to se rnancha,Ioi nobrr- de sua parteu-r vindo para vingar-se."esse casu, ele e meu filho.

    Porque seu valor e grande.Entre uma duvida e outrao melhor sera leva-Ioao Rei, dizer que e meu filho,e que mesmo assim 0mate.Talvez que 0Rei u perdcegra~as a mnha Iealdade.A ele nada direi.Se morrer, nao sabe nada.CLOTALDO (alto) - Vinde cumgo, estrangeiros. Cumgo,

    nada vos falte.

    43

    Mudanca de cendrio. Saldo do Palacio Real da Corte.?" 'A stolfo e soldados entram par um lado e, par outro, a infantaEstrela e damas. Musicamluar e saluas, dentro.

    ASTOLFO - Diante dos teus bel os olhos, que sao estrelas,as trombetas e os tam bores, as aves e as fontes msturamsalvas diferentes. Es a rainha de rninha alma.

    ESTRELA - Se as palavras deve ser com paras as a~6es,fizeste mal pronunciando gentilezas tao cor tesas. Eu po-deria deslnentir todos esses graves ornamentos, que ousodeclarar irnerecidos. As lisonjas que ou~o de ti nao condi-zem, segundo creio, com os fates que vejo. E olha que ea~ao baixa 0 elogiar com a boca ematar com a von tade.

    ASTOLFO - Estas mal informada, pois duvidas da sin-ceridade das mnhas gcntilezas. Suplico-te que oucas asmnhas razoes: ha muito tempo, bern sabes, morreu Eus-t6rgio 111, rei da Polonia, deixando Basilio como herdeiro,emais duas filhas, mnha mae e a tua. :'-Iaoquero recordaro que nao vern ao nosso assunto. Clorilene, tua mae, que

    PRLVIErRA JOR ADA CALDER6~

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    23/51

    agora lPIII do d,u de estrelas em melhor imperio, foi aprilllOgPllita; it outra foi a al taneira Recisunda, que Deusgllard(, ml anos, casou-se ern Vloscou; e dela nasci eu.:\gOl"il voltcmos atras. Basilio, que ja vergado pelos anos, emaisdado ao estudo que as mulheres, enviuvou sern filhos,(' tII (' (-'II aspirarnos ao trono desse Estado. Tu pOl'que esIilh da primogenita, e-u,que nasci varao, embora de irrnjlmais 1I00il, dcvo ser, para 0efeito, preferido. Contamos aotio as nossas intencoes, e ele respondeu que desejava urnarordo ontrr: nos e para isso rnarcarnos este lugar eeste dia.Com esta intencao saide mnha patria. E aqui estou, cornit niesrn a int.encao. Ern vez de fazer-te guerra, podes tul'azt'>laamm. Oh, queria 0arnor, sabio deus, que 0vulgoseja lioje a rcspeito de nos ambos urn astrologo exato equeo acordo termne fazendo de ti rainha - mas rainha nam nha vontado. Para rnaior honra, 0nosso tio dar-te-a suacoma; 0 teu merecimentn te dar a vitorias, e0meu amorIeellt.regadl 0 seu imperio.

    ESTHFLA - Digo-te que no peito nao ha men os gene-rosidarlr-. Foigaria que a imperial realeza Fossemnha so.para torna-]n tu, embora no intima, nao esteja convencida'df' qlle P S ingrat.o, suspeito de quanto dizes por causa desseret rato qlle esta pendente do teu peito.

    ASTOLFO - Penso elar-te satisfat;;oes a respeito(h'le... (soafll os tambores) Vlas aocasiao foge, com tantosmst ruu n-ntos sonoros que anunciam achegaela do rei.

    Entra 0rei Basilioecomtiva.I':STHELA - Sabio Tales ...ASTOl.FO - Douto Euclides .ESTHELA - Que entre signos .

    - -ASTOLFO - Que entre estrelas ...ESTRELA - Hoje govern as...ASTOLFO - ... Resides ...ESTRELA - E seus camnhos.ASTOLFO - ... Seus rastrosESTRELA - Descreves ...ASTOLFO - ... Regulas, medes ...ESTRELA - Deixa que em humlde laces ..ASTOLFO - Deixa que em ternos abracos ..ESTRELA - Hera deste tronco seja.ASTOLFO - Rendido a teus pes me veja.BASiLIO - Sobrinhos, dai-me os braces. E ja que vindes

    com tao efusivas provas de afeto esois leal a mnha paternaautoridade, acreditai que aninguem eleixarei rlescontente.Ficareis nivelados os dois. Prestai atencao, rneus amadossobrinhos, ilustre corte ela Polonia, vassalos, parentes eamgos: confesso-me rendielo ao peso dos anos e, nestaocasiao, sovoz pet;;o0silencio. J a sabeis que as sutis cienciasmaternaticas SaD as que rnais curso e estirno; sacrifico--Ihes 0meu tempo e desprezo a Iarna em seu beneficio,para me instruir mais todos os elias. Leio estes livros taorapidament.e que 0meu espir ito acompanha no espat;;0asrapidas rnudancas dos astros. Prouvera ao Cell que elesnao viessem jamais aconcretizar-se consumando a rninhatraged ia, que ja ha anos venho adianrlo e sofrendo. Pecooutra vez atencao para que observeis a mnha coriduta.(adianta-se)

    De Clorinda, mnha esposa,tive urn desgracado filho,para cujo parto os ceus

    45

    PRIMEIRA JORNADA CALDERON

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    24/51

    46 i Sf' esgotaram em prodigios.Antes que a forrnosa luzIhe desse 0sepulcro vivode urn ventre (porque 0nascerco morrer sfio parecidos)sua mae, muitissirnas vezesentre ideias e deliriossonhou que ele rornpiasuns entranhas, atrevido,qual monstro em fonna de homem:c por seu sangue tingidodava rnorte a sua rnae,sendo assim humana vibora.Chegou 0dia do partoeospressagios se cumpnram.Foi tal a forca dos astrosque 0Sol, no seu sangue tinto,ent.rou a lutar corn aLuacomo dois far6is divinos.Foi este 0maior eclipsepclo Sol ja padecido,desde que chorou corn sanguea crua morte de Cristo.Julgou-se que 0Sol morriano ultimo paroxisrno.() ceu seobscureceu,tremcram os edificios,choverarn pedras as nuvens

    e correu sangue nos nos.Assirn nasceu Segismundodando-nos osmaus indiciosporque matou sua rnaee foi como sedissesse:"homem sou; porque cornecoa pagar mal beneficios".Vi que meu filho seriao homem mais atrevido,o principc mais cruele0monarca mais terrivel.Com ele 0 reino seriatotalmente dividido,escola de traicoeseacadema de vicios.E que eu a seus pes seriaroto, pisado eofendido.Acreditei nos pressagiosporque sao vozes divinase resolvi encerrarem prisflo 0mal-nascido,para ver se0sabio ternsobre as estrelas domnio.Mandei contar que 0 infantemorrera quando nascido;fiz construir uma torre.Nessa torre e que ele vive,pobre, msero e cativo.

    47

    PRIMEIRA JOR.'IADA CALDERO:-;-

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    25/51

    4H So digo tres coisas mais:a pri meira e que te estimotanto, Polonia, que quislivrar te de um rei indigno..\ segundo C 0minha duvidasobre o direito que tiveao desviar de meu sanguehonra que lhe era devida.Pois para evitar que 0facafiz a meu filho urn delito.ESLa C 0 u ltirna e tereeira:talvez urn erro haja sidoacreditar-se nos astrosquando cxiste 0 livre-arbitrio,Por todas cssas raz6esdecidi propor-vos isto:aman ha YOU colocar110 rueu lugar 0 meu filho;SPill que ele saiba quem esera rei qual tenho sido.Com isso conseguireitres respostas aos tres itens:primeir a~se ele foroalmo, prudente e benigno,desmentira de uma veztotal mente 0seu destino.St'gunda ~se for cruel,sobcrbo, ousado e atrevido,

    - -saberei que estive certo,mnha obriga.;;ao eumprindo.Finalrnente, se assim for,tereis soberanos dignosde rninha coroa e cetro:esses serao rneus sobrinhos,unidos em matrimoniourn do outro merecidos.ASTOLFO ~ Como 0 mais interessado, digo que Segis-

    mundo apare.;;a, pois basta-Ihe ser teu filho.TODOS ~ Dai-nos 0 nosso principe, que ja desejamos

    rei!

    49

    BASiLIO ~ Vassalos, vereis amanha 0 rneu filho.TODOS ~ Viva 0 grande rei Basilio!

    Saem todos acompanhando Estrela eASloifo;fi'ca 0rei;entram Clotaldo, Rosaura e Clarim

    CLOTALDO ~ Posso falar-te, serihor?BASiLIO ~ Clotaldo, bern-vi ndo sejas.CLOTALDO ~ Aconteceu uma coisa, oh Rei, que rornpe

    o foro da lei e do costume.BASILIO ~ Que foi?CLOTALDO ~ em belo lovern, ousado e inadvertido,

    entrou na torre ... E esse jovem, senhor, e.. .BASiLIO ~ Nao te aflijas, Clotaldo. Se isso tivesse aeon-

    tecido ern outro dia, confesso que larnentaria. Mas jadivulguei 0segredo eportanto, nao irnporta que ele 0saiba.Procura-rne rnais tarde, porque tenho muitas coisas quete dizer, e rnuitas a te pedir. Teras de ser 0 instrumento

    PRIMEI~ JOR:\ADA CALDERON

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    26/51

    50 do maior acontecimento que 0mundo ja viu. E perdooa esse jovem, para que, enfim, nao penses que castigo ostells deseuidos. sai

    CI.()TAI.I)O - Que vivas, Senhor, ml seculosl (aparte)Vlr-l horou 0cf~ua mnha sorter Ja nao direi que e meufilho, pois ja posso poupar a sua vida. (alto) Estrangeiros,estais livres.

    HOSAURA - Beijo os teus pes ml vezes.CLAHIM - E eu vejo-os, que uma letra nao faz dife-

    rell~a...HOSAUHA - Deste-me a vida, senhor e, ja que vivo por

    tua vontade, serei teu eterno escravo.CLOTALI)O - :'\ao foi vida 0 que te dei, porque um

    hornem agravado nao esta vivo.HOSAUHA - V l as com a vinganga deixarei a mnha

    honra tao lim pa que a mnha vida ha de poder parecerdadiva tua.

    CLOTALI)O - Toma a espada que me entregaste. Elabasta, ell sei, para te \ingar. Espada que foi mriha - aindaljllt' so por mornen tos - sempre te servira.

    HOSAURA - E sobre ela juro vinganca, mesmo que 0me-n inimgo fosse mais poderoso do que e.CLOTALllO - Ele e rnuito poderoso?HOSAURA - Tao poderoso que nem quero falar disso.CLOTALIlO - Melhor seria esclarecer de quem se trata,

    para que eu nao venha aajudar 0teu inimgo.HOSAl:I\A - Mcu adversario e nada menos que Astolfo,

    duque de \Ioscou.CLOTAI.[)O - (aparte) Ceus' (alto) Se nasceste mosco-vita, poueo podera ter-te ofendido aquele que e teu natural

    seuhor, Regressa atua parria, pois, deixa esse ardente brioque le precipita.

    ROS..I.CR.\ - Ofendeu-me, embora Iosse 0 meu principe.CLOTALDO - :\ao e possivel, mesmo que atrc\'idamente

    tivesse posto amao no teu 1'0510.ROSAURA -.\ ofensaque me fez foi hem maior.CLOTALDO - Explica-te, pois nao podes ir alern do que

    eu imagino.ROSACRA - Poderia falar; porern, nao sei com que res-

    peito te olho, com que afeto tc venero, com que estirna teougo, que nao me atrevo adizer-te que este traje escondeum enigma, pois ele nao e de quem parece.

    CLOTALDO - Como)ROSAURA -Basta-te saber que nao sou 0que pare

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    27/51

    SEGUNDA J ORNADA 53

    Saliio do Palacio Real. Basilio e Clotaldo.CLOTALDO - Tudo foi feito conforme ordenaste. Com a

    agrada\'el bebida que com tantas ervas mandaste preparar,desci a estreita prisao de Segismundo .. \ rim de que seencorajasse para a empresa que solicitas, falei com elesobre a presteza de uma aguia vertiginosa que, despre-zando a rosa dos veritos, passa\'a a ser na altitude supremado fogo urn raio de pluma ou urn cometa em liberdade,Ele nao precisa de mais; tocando neste assunto da rnajes-tade, discorre com arnbicao e orgulho, e disse-rne: "Quena inquieta republica das ayes haja tam hem quelll Ihesjure obed iencia! Isso me consola. Se estou subjugado,e a forca porque voluntariarnente jamais me renderia ".Vendo-o ja enfurecido com isto, que tern sido tema desua dor, ofereci-lhe logo 0Iicor e, sem Iorcas, de caiu nosono; vi no seu corpo urn suor frio, de modo que, se eunao soubesse que era morte fingida, duvidar iada sua vida.Coloquei-o numa carruagem e levei-o ate 0 teu quarto,preparado com arnajestade e agrandeza que a sua pessoamerece. L a 0deitamos na tua cama equando 0 letargo sedissipar, sera por nos servido, com majestade egrandeza.Qual e0teu intento, traz endo desta maneira Segismundoca para 0palacio? Explica, se amnha obediencia mereceesse favor,

    BASILIO - Quero satisfazer-te, dando resposta a tudo.

    SEGC);"DA JOR:\ADA CALDER6:\

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    28/51

    5-i ' S{ hoje f'1f' souhesse que e meu filho e arnanha se visseout ra \"('Z reduzido it prisao ea mseria, nao haveria duvidaque, pelo SCIl carater, fir-aria para sempre desesperado, poissabeudo quem e, que consolo poderia ter? Por isto quisdr-ixar aber ta urna porta ao desgosto: Ele podera dizerque foi sonhado quanto aqui viu. Deste modo poderemosvr-rificar duas coisas: aprimeira e asua natureza, porquer-Ie, acor dado, pode fazer quanto pensa ou imagina; a se-gUllda e 0cousolo, pois ainda que agora seja obedecido edepois torne asua prisao, podcra entender que sonhou, eisto farIhe-a bem. De resto, Clotaldo, no mundo, todos osque vivcm sonham.

    CLOTALDO -1\aome faltariam razoes para provar queteenganas; mas janao ha rernedio e, pelo que ou~o, pareceque teu hlho despertou, encamnhando-se para nos,

    HASILIO - Quero retirar-me. Tu, como seu guia,procura-o C desfaz as incompreensoes que 0 cercam.

    CLOTALDO - Tenho licenca para the dizer a verdade?BASILIO - Sim. Sabendo averdade pode ser que fique

    aconhr-cer 0perigo eque assim mais facilmente 0ven\ia.(sal)

    /';Illra Clarun.

    CLAHIM (aparle) - Entrar aqui custou-me quatro paula-das de urn guarda ruivo que inchou dentro da farda. Achoque ja teuho 0rlireito de ver 0que esta acontecendo. Parar-m.rar nesta Iestanca, urn homem despojado edespejadonao pone ter \engonha ...

    CI.OTAI.DO - Clarirn, que ha de novo?CLAHI:vt - Ha que por tua clernencia,disposta a \'ingar agra\'os,

    a Rosaura aconselhasteque tome seu pr6prio traje.CLOTALDO - Fiz isso para que nao pare~a leviandade 0

    vestir roupas de homem ...CLAREVl - Ha que, rnudando seu nomeela hoje se apresentaqual se fosse tua sobrinhae agora e darna de Estrela.CLOTALDO - Fez bem em gozar finalmente ahonra que

    onosso parentesco the da.CLARL\1 - Ha que ela esta esperandoque aocasiao logo cheguepara vingar sua honracomo ja the prometeste.CLOTALDO - E urn cuidado sensato. 1\0 entanto, 560

    tempo hit de tornar issopossivel.CLARIM - Ha que ela esta regalada,servida como princesapor ser a tua sobririha ...... ede mm ninguern se lernbra'CLOTALDO - 0 teu Iamento e justo. Vou te satisfazer.

    Entretanto, colabora comgo.CLARIM - Segismundo ja vem ai!

    55

    Entram musicos cantando ecriados que entregam uestesaSegismundo.

    CLARI:VI (cantando) - Houve urn jovem bem nascidoque numa torre encantadaviveu vinte anos de vida

    SEGUNDA JORNADA CALDERON

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    29/51

    50 sern nuuca ter visto nadado que era a sua vidado que era a sua vida ...L ;m dia, meio desperto,viu ao sou lado um criadoe outro jovern tao formosoque 0prisioneiro, encantado,qucria-o sempre ao seu ladoP podia te-Io amado ...Ondc esta 0 prisioneiro,onde esta 0cavaleiroP onde esta 0 criado?Nao hit cavalo nem rnoco,nem torre, principe, nada,porque tudo foi sonhado .porque tudo foi sonhado .

    Segismul/do entra.SEGlSIVH;1'I)O - Estranho e tudo que vejo ...Tudo qm sinto e respiro .(~espanto 0que admro .e tanto que ja nao creio .Eu, em tclas e brocados,('11, cercado de criados,urn lei to cheio de sedas,gente pronta ame vestir..:\ilo souho? Ou sim? f:engano.Beli sei que estou acordado.

    Eu sou Segismundo ... ~aoJCeu ... 0que e que foi mud ado?Que fez mnha fantasia?o que fizeram de mm?Que houve enquanto eu dorrnia?Isto que eu sou tera firn?Nao sei ... nao posso saber. ..J a nao quero discutir. .Melhor deixar-me servir. ..E seja 0que ha de ser,1 CRIADO - Quanta melancolia!2 CRIADO - Quem nao estaria melanc6lico no seu

    caso?

    57

    CLARIY l - Eu.2CRIADO - Basta de conversa.1 CRIADO (aSegismundo) - Devem continual' a cantar?SEGISMUNDO - Nao, nao quero que cantem mais.2 CRIADO - Pretendiamos alegrar-te, visto que estas

    tao absorto.SEGlSYlCNDO - Eu nao preciso distrair-rne com as suas

    vozes. S6 gostei de ouvir as musicas marciais.CLOTALDO - De-me vossa alteza, grande senhor, amao

    a beijar.SEGISYlU"'DO (aparte) - E Clotaldo. Como sera pos-

    sivel distinguir-me com tal respeito quem na prisao mernaltratava? Que se passa cornigo?

    CLOTALDO - Com a grande confusao que este novoestado te da, sofrera ml duvidas 0teu entendimento ea tua razao, Senhor, es 0principe herdeiro da Pol6nia.Se estiveste escondido, isso foi devido as inclemencies da

    SEGC:\DA JOR:\ADA CALDERO:\

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    30/51

    5H sortr-, qllC' promcte grandes tragedies a este imperio aororoar a tuu allgusta fronte com os laureis regios. Apesarde t udo, 110 cntanto, creio em tua inteligencia. Sei queveuceras 0prognostico das est rei as. Lm varao magnanimopode vence-Ias. Trouxeram-tc da torre em que vivias para('stt' palacio, enquanto tinhas os sentidos rendidos ao sono.Tell pai, 0rei meu serihor, vira ver-te e por ele saberas 0rest ante.

    SF(;ISMl':'-iDO - Vil, infame e traidor! :VIas que tenhoell de saber mais, agora que sei quem sou, para mostrardc -srl r - hojc 0mcu orgulho C0meu poder? Como pudestetrail' a Lila pat.ria, a ponto de me ocultares, negando-me amiha COlldi

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    31/51

    so eIe cresccu 10S montes e por isso faltam ~he rnodos. (aSe.e:isIIlllfIdo)\stolfo, senhor, prefere ...

    SVGISMC:'-iDO - Vlolestourne ouvi-Io falar, dando-seLalita importancia. Adernais, apressou~se ern por 0cha1 1 < > u . ..

    2 CHIA])O - f: pessoa importante.SEGIS\!Ul\"])O - Vlais irnportante sou eu.2 CHIA])O - Contudo, emelhor que haja mais respeito

    entre osdois do que entre as demais pessoas.SI-:GISMC:\DO - Quern es tu para me falares desta rna-

    ue-ira.'

    Entra Estrela.ESTHELA - Seja VossaAlteza muitas vezes bem-vinda

    ao trono que, agradecido, vos recebe e deseja; apesar dasIalsidades. oxala nele vivais augusto eemnente, uma vidalonga, que seconte por seculos enao por anos.

    SE(;IS\1UNDO (a Clarim) - Quem e esta soberba bel-dade) Quem e esta deusa hmnana? Quern eesta forrnosamulhcr.'

    CLAHI\1 - I ,: tua prima Estrela, senhor.SE(3]SMUl\"DO - Vle lhor dirias 0 Sol: (a Estrela) Pedes,

    Estrela, ofuscar edar alegria ao rriais rutilante farol. Da~IIW a beijar a tua mao, em cuja taca de alvura bebe aaurora sua pureza.

    ESTHELA - i~sgalante e cortesao.ASTOI.FO i aparte) - Estou perdido.2 CHL\])O - Repara, scnhor, que nao ecomedido ir tao

    longe, e jamais estando Astolfo ...SEGIS\1Ul\"])O - Nao me aborrecas'

    2 CRIADO - Digo 0 que e conveniente.SEGISMC:\DO - Tudo isso me enfada. Contra 0meu

    gosto, nada rne parece coriveniente e justo.2 CRIADO - Pois eu, senhor, te ouvi dizer que 010 justo

    eborn 0bedecer eservir.SEGISMUKDO - Tambem me ouviste dizer que saberei

    atirar pela janela quem me aborrecer!2 CRIADO - ~ao sepode fazer isso aurn homem como

    61

    eu!SEGIS\ICNDO - Nao? Por Deus! Hei de provar que sirn!Agarra 0criado, lenantarido-o e0carrega, saindo da

    sala acompanhado pelos demais.ASTOLFO - Que vejo!ESTRELA - Todos, todos para dete]o! (sai)VOZES - Fora! (Segismundo volta a enlrar.)SEGISMUNDO - Caiu ao mar, da varanda. Provei que

    podia ser fei to.ASTOLFO - Pois doveras medir commais calma as tuas

    agoes. 0 que vai de urn errno ate 0 palacio e amesmadistancia que separa os homens das feras.

    SEGISMC:'-iDO - Ja que estao severo e [alas corn tantoorgulho, tern cuidado. Talvez nao aches em breve cabecaonde por 0chapeu ...

    SaiAstoljo; entram Basilio, Clarim ecriados.

    BASiLIO - Que aconteceu aqui?SEGIS\IUNDO - ]'\ao foi nada. Atir ei daquela varanda

    abaixo urn homem que me aborrecia.

    SEGUNDA JORNADA CALDER6;",'

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    32/51

    f)2

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    33/51

    64 I\OS.-\UH - Foi-me ordenado que seguisse Estrela, masteuho mr-do de cncontrar Astolfo, Clotaldo nao quer que('It, saiba quem sou nern que rne veja, dizendo que issouu ere-ssa A rninha horira. (pausa) 0 principe esta aqui ... emelhor que eu me va.

    SEGISMU:\[)O - Ouve, mulher, urn momento. Surpresa'qlH' vejo.'

    I\OSAt:I\A - 0 mesmo que eu, duvidando ecrendo,SEGIS:\lW\f)O - Eu ja vi esta beleza em outra ocasiao,I\OS.-\I'RA (aparte) - E eu vi esta pompa, esta grandeza,

    rcduz ida a un iaestreita prisao.SE

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    34/51

    (i(i com 0 d('sengano. Matando-tc, verei se isto e sonho ourcalidndc.

    Segismundo arranca a adaga; Clotaldo detem a arma("011I (/ rruio epoe-se dejoelhos.

    CLOTAUlO - Imploro-te que poupes amnha vida.SEC;ISMl::'-IDO - Tira essa rnao da adaga:CLOT.-\I.I)O - Nao a soltarei, enquanto nao venha gente

    que dotr-nha a tua c6lera.HOSAt:RA - ,\ i,Deus'SEGISMl:~)O - Solta, caduco, louco, barbaro inimgo~

    Solta, 011 rnorreras de outra maneira!

    HOSAI;HA - Corram todos depressa: Clotaldo vai serrnorto!

    Hilt ra Astolfo 110 momenta em que Clotaldo vem cair aseus pes; iuterpoe-se aos contendores.

    ASTOLFO - Entao, 0 que e isso, principe generosoJ As-sun se mancha adaga tao viril num sangue gelado? Anu-us pes, esta vida tornou-se sagrada para mm. De algolho servira ell ter chegado.

    SEC;IS\

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    35/51

    tiS ' (' Iwlt' e-ntre a irnagern da tua formosura. Vou buscar 0retrato. (q/asfalldo-se) Perdoa, bela Rosaura, 0agravo queIe1'

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    36/51

    70 IIOSAU\;\ - Eu, t.ua? Mentes, vilao..-lmbosagarralll acordiio comaretrato, entra Estrela.ESTIIELA - .\streia ... Astolfo ... que e isto?IlOS.\l:H.\ - Sequeres saber, senhora, eu te direi. (igna-

    rondo .l stolfo, quepretende impedi-la) Vendo-te falar emret ratos, rcr-ordei-rne de que tinha urn, meu, na manga.(~Iis \"0-10, r- tirei-o, a retrato me caiu da mao, eAstolfo,

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    37/51

    72 IA>/'({II/-IW, eClotaldo fica 56;erura Basilio, embucado,enquanlo S

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    38/51

    74 SEGlSMC:-JDO (so) ~ E certo; entao reprimamosesta fera condicao,esta Furia, esta ambicao,pois pode ser que sonhemos;co faremos, pois estamosern rnundo tao singularque 0vivcr so e sonharea vida ao fim nos imponhaque 0homem que vive, sonhaoque e , ate despertar.Sonha 0rei que e rei, eseguecorn esse engano mandando,resolvendo egovernando.E os aplausos que reeebe,vazios, no vento escreve;eern cinzas asua sorteamorte talha de urn corte.E hi'!quem queira reinarvendo que hit de despertarno negro sonho da morte?Sonha 0rico sua riquezaque trabalhos the oferece;sonha 0pobre que padecesua mseria epobreza;sonha 0que 0triunfo preza,souha 0que luta epretende,sonha 0que agrava eofendeeno mundo, ern conclusao,

    todos sonham 0que sao,no entanto ninguern entende.Eu sonho que estou aquide correntes carregadoe sonhei que noutro estadomais lisongeiro me vi.Que e avida? Urn frenesi.Que e avida? Uma ilusao,urna sombra, uma ficcao,omaior bem e tristonho,porque toda avida e sonho,eos sonhos, sonhos sao,

    75

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    39/51

    TERCEIRA J ORNADA 77

    Mesmo cenario, na torredeSegismundo, 0compartimentodeClarim

    CLARIM - Pelo que sei, vivo preso nurna torre encan-tada. Quem me faz cornpanhia sac as aranhas eos ratos.Se pelo que sei me matarn, que castigo me darao peloque ignoroJ Pode urn hornem com tanta forne estar amorrer vivendo? Quero dizer em voz clara; todos irao acre-ditar, porque, para mm, silencio nao casa corn 0nome deClarim. ~ao posso calar-me. Tenho a cabeca cheia dossonhos desta noite: ml clarinetas, trombetas, mragens,prociss6es, cruzes, penitentes; uns sobem eoutros descem,outros ainda desmaiam vendo 0 sangue que escorre doscorpos . Mas eu, e de fome que desmaio. Nestes novostempos, considerarn que e proprio dos santos aguentar ecalar, mas santo, para mm, e isto de jejuar sem querer.In util queixar-me. tem merecido 0castigo que padeco,pois, sendo criado, calei-rne, e isto e 0maior sacrilegio,

    Somdetambores, clarins egritos, dentro.1 SOLDADO - EsUt nesta torre. Derru bem aporta e

    entrem.CLARIM - Gracas a Deus: l\'ao ha duvidas de que me

    procuram, pois dizem que estou aqui. Que sera que elesquerern?

    1 SOLDADO - Entrem!

    TERCE IRA. JOR);ADA CALDERON

    79

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    40/51

    7H 1 : :1 1 I ram I'{lrios soldados.

    2 SOLllAIlO - Esul. aqui:CI.AHIM - :\iio csta.SOI.IlADOS - Senhor. ..CI.AHI~ - Sera que estao bebados?1 SOLDADO - Tu es 0 nosso principe. TaOadmtimos

    nem qlleremos senao 0nosso principe natural, e nao 0duque estrallgeiro. Da-nos os pes, senhor, para beijarmos.

    SOl.llAIlOS - Viva 0 nosso grande principe!CI.AHIM (aparte) - Por Deus, parece que e serio. Sera

    cost ume neste pais prenderem uma pessoa num dia,consagra-Ia como principe no outro edespacha-Ia no ter-ceiro outra vez para aprisao? Sim, e, porque estou vendo.Precise desempenhar meu papel.

    SOI.IlAIlOS - Danos os pes, senhor:CLAHL\1 - l\iio posso, porque preciso deles para mm.

    .\ 1(;111 do qlie, seria feio urn principe perneta.2 SOLllAIlO - Dissemos todos a teu pai que so a ti

    aceitariamos como principe, enao aAstolfo.1 SOLllAllO - Sai, para reaver 0 teu imperio. Viva

    Segisiliulldo!TOIlOS - Viva!CL\HI~1 - Segismundo? Para voces todos os principes it

    for~as.io SegismundosSEGISML':-;[)O (aparecendo) - Quem chama aqui por

    Sqrisllllllldo:'CLAHIM - Pronto. Sou urn principe gorado,1 SOLDADO - Quem eSegismundo?S!-:(ilS:VWI\DO - Eu.

    2 SOLDADO (a Clarim) - Tolo atrevido! Querias fazer-te passar por Segismundo?

    CLARIM - Eu, Segismundo? Nego isso. Forarn vocesque me segismundaram,

    1 SOLDADO - Grande principe Segismundo, nos teaclarnamos senhor nosso, 0teu pai, 0grande rei Basilio,receando que os ceus cumpram uma profecia que preve asua submssao a ti, pretende tirar-te a t'aculdade da ac;:aoe 0direito que te pertence; quer que em teu lugar fiqueAstolfo. Com esse fim reunia a corte, VJas0povo, comurn nobre desprezo pela profecia que se atribui ao teudestino, vern buscar-te, para que, ajudado pelas suas armas,saias desta prisao para reaver a tua imperial coroa epoder,Sai pois, que lit fora urn exercito numeroso de revoltadosplebeus aguarda para te aclarnar. A . liberdade te espera,~ao ouves as vozes damultidao?

    VOZES (dentro) - Viva Segismundo! Viva!SEGISMUNDO - Que e isto, oh ceu?' Queres que eu

    sonhe outra vez grandezas que 0tempo ha de desfazer?Queres que veja outra vez entre ideias esombras vacilan-tes amajestade ea pompa varridas pelo vento? Queresque outra vez sinta adesilusao aquele que nasceu humldee vive atento? Nao hei de tornar aver-me agarrado pelamnha desgrac;:a, Adeus, oh sombras, que perante osmeussentidos agora fingem ter corpo evoz. aoquero 0poderfingido, nao quero pornpas fantasticas, ilsoes inuteis. Javos conheco, e sei que e0que acontece corn quantos so-nham. VIaspara mm acabaram as ilusoes; estou acordado,sei muito bem que a vida e sonho.

    2 SOLDADO - Sepensas que te enganamos, olha parafora eve 0povo que te aguarda, disposto aobedecer-te.

    TERCEIRc\ JOR:"ADA CALDER6:"

    81

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    41/51

    HO SFGISMUI\[)() - H I outra vez vi isto ruesmo, tao clara edist mt.nncntc como agora estou ave-Io ... e foi sonho.

    2 SOI.DA[)O - Sempre, grande senhor, asgrandes coisast rouxr-rnm pre-nuncios: se ja sonhaste corn isto, foi urnprc-uuncio.

    SFGISVW:\1l0 - Dizes bern: foi urn prcnuncio. Ese elesc-c-onIirma, j{1que a vida e t.ao curta, sonh ernos, alma,sonl u-mos out.ra vez, mas corn a precaucao de despertardt'ste t'llgallo 11amelhor altura, edever que ele acaba. As-sin i, c-onscir-ntr-,sera mcnor adesil usfio ... Tanto rnais querecusar seria e-srar neccr da sorte edesafia-Ia ... Atrevamo-110S a t.urio, pois todo poder eernprestado eha de tornar aose-u legilimo clono. Vassalos, eu vos agradec,;o a lealdade.ElIl 1IliIII tendes quern vos livrarn da escravidao. tmnhai!lte!l~ao r-mpunh ar armas contra rneu pai e dar razao aoque c-st.acscrito nos ceus. Ja que hei de veIo aos rneuspi's ... tocai alnrma!'

    T()[)OS - Viva Scgismundo! Viva!Entr C/ota/do.CI.OTAU10 - Que alvoroco e esse;SI:CiISML)J[)() - Clotaldo:CLOTAL[)O - Senhor. ..CLAHIVI ({{parte) - Aposto que vai atira-lo pela janela.CLOTAI.()O - Ja sei que chego a teus pes para morrer.SI:(;ISMI':\1l0 - Ergue-te pai, ergue-te do chao, porque

    va is sc-r 0nortr- egllia de quantos confiarern nas rninhasresolu~i)es e porque ja sei que devo amnha criacao a tuak-aldude. I )(I-lllC tuas maos.

    CI.OTAI.[)() - ()ue riizcs.'

    SEGISMU:\DO - Digo que estou sonhando eque procuroagir bern, embora em sonhos.

    CLOTALDO - Pois, senhor, se agir bem e agora 0 teulema, penso que nao te ofender as por eu hoje procuraroutro tanto. Vl as, fazer guerra a teu pail Eu nao possoaconselhar-te contra 0meu rei, nem ajudar-te. Fstou aquia teus pes. Mata-rne.

    SEGIS:\1UNDO - Vi lao, traidor ingrato! (aparte) Ceus!Devo moderar-me pois, nao sei ainda se estou acor-dado... (alto) Clotaldo, invejo a t.ua coragem ete agradec,;o.Vai servir ao rei; no campo de batalha nos veremos.

    CLOTALDO - Beijo ml vezes os teus pes. (sai)SEGISMUKDO - Voces, toquem as arrnas' Vamos reinar,

    mnha sorte! Nao rne despertes, se durmo e, seestou acor-dado, nao me adorrnecas. Sefor realidade, por issomesmo;senfio. por ganhar amgos para quando despertarmos.

    Saem todos; tocam as tambores.Mudanca de ceria; Salao do Palacio Real. Basilio e

    Asto/fo.BASiLIO - Quem, Astolfo, sendo valente, pod era deter

    a fur ia de urn cavalo sern freio? Quem, sendo prudente,poder a deter 0 caudal de urn rio que corre, soberbo evertiginoso, para 0mar? Pois parece mais facil deter tudoisso que a soberba ira do povo. Que 0 diga 0 rumor daplebe dividida que, de urn lado, grita: Astolfo! E de outre:Segismlndo~ Eo rumor ressoa emultiplica-se em ecos portodo 0pais.

    ASTOLFO - Serihor, adia-se hoje 0 que a tua rnao meprometia. Seanac,;aoainda resiste ern aceitar-me eprecise

    TERCE IRA JORNADA

    H2

    CALDER6N

    ROSAURA - Embora as virtudes do teu peito gritem, 83

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    42/51

    qllP ('11 a lIlere

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    43/51

    I\OSAl;I\A -.'\ mnha fama.CLOTAI.[)O - Olha que teras de enfrentar Astolfo ...I\OSAI'RA - Toda amnha honra 0 eondena.CLOTALDO - Eo novo rei, e 0 noivo de Estrela~HOSAUHA - Deus nao ha de permtir!CI.OTAU)O - f: urna loucura.I\()SAI'KA - Bern sei.CLOTALDO -Pois cura-te dela.ROSAI;HA - :\ao posso.CLOTALDO - Perderas, eertamente ...I\OSACHA - H i sei ...CLOTALDO - ... vida ehonra.HOSA(;HA - Nao duvido.CLOTAl.DO - Que tens em mente?HOSACKA - :VJatar-me, depois.CLOTALDO - Isso edespeito.I\OSAUI\A - (.: honra.CLOTALDO - E desatino.I\oSAUHA - f: coragem.CI.OTAU)O - f~delirio.HOSAUHA - traiva, e ira.CI.OTAI.IJO - Quem vai te ajudar?HOSAt:HA - Yousozinha.CLOTAU)O - :Naodesistes?I\OSAU\A - :\ao.CLOTAU)O - Pensa bem se ha outras maneiras ...I\OSALHA - Do coritrario, estaria perdida. (sai)

    pereamo-nos todos. (sai)Mudanca de cena; Segismundo, uestido de peles, com

    soldados que marcham; e Clarim No campo. Rufam tam-bores.

    SEGISMC~DO - Se aRoma triunfante dos seus eome-~os irnperiais me visse neste momenta, como sc alegrariapor tel' eonseguido a fera que eu sou para dirigir os seuspoderosos exercitosl

    Entra Rosaura, uestida com saia depastor, comespadaeadaga.

    ROSAURA - Generoso Segismundo:tua majestade heroieanasee ao dia dos seus feitosda noite de suas sombras.Grande amanhecas ao mundo,lucido sol da Poloniae auma mulher infelizque hoje a teus pes se arrojaampares por ser mulhere infeliz: duas eoisasque ao homem que for valentequalquer uma basta esobra.Tres vezes ja tu me visteem diver so traje e forma:a primeira em tua prisao,estando eu vestida de homem.

    86 i Na segunda, era mulher

    TERCElRA JOR~ADA CALDER6N

    Juiz que foi delinquente I 87

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    44/51

    quando estavas tu na corte.:\ierceira eesta, quandosou mulher earrnas suporto.:\ os palacios de Vloscounasci, de mae mui to nobre,e de urn traidor, cujo nomelIao diga porque 0 ignoro..vlinha sorte foi taD duraquanto adesta mae formosa.Tarnbem conheci ladraodos troleus da mnha honra.Astolfot Ai de mm! Seu nomeme encoleriza eme enoja.:\stolfo foi dono ingratoque, olvidado de suas gl6rias,(porque, de um passado amorse esquece ate amem6ria)vcio aPoldnia, chamadopor sua arnbicao famosapara casar-se com Estrela,do rneu crepusculo 0foco.Eu, ofend ida, burl ada,calei mnhas penas fundasate que UHl dia, a Violantecontei-as todas, chorosa.Ela entao corrtou-rne as suasconsolaudorne, piedosa.

    quao facilmente perdoa:Deu-me aespada recebidado raptor de sua honra,emandou que, disfarcada,vestisse trajes de homem."Vai aPolonia",me disse"para que tevejam os nobres,em algum encontrarasconsolo para tuas dores''.Aqui encontrei Clotaldo,o que me salvou damorteeme pedi u fosse damade Estrela, noiva de Astolfo.No entanto, quer impedirsomente esse matrimonioepede que mnha lutapor mnha honra abandone.Por isso hoje venho a tiSegismundo! E em tua pessoaponho mnha confiancaofereco amnha forcamulher, para me queixar,varao, para ganhar gl6rias.SEGISMUNDO - Oh ceusl Era entao verdade?Mas entao nao era sonho?Como pode esta mulherdizer coisas tao not6rias?

    TERCEIR.,< JOR~ADA

    88 Pais se (> assirn, e ha de ver-se

    CALDERON

    nao te falo, porque quero 89

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    45/51

    dcsvanecida entre sornbrasa g-randeza e0podersaiharnos aproveitarestc poueo que nos tocapois so se goza na vidao que entre sonhos se goza.Rosaura esta em meu poder,e bela, emnha alma aadora ...Ivludanca.

    Vias nao... emulher ferida ...emais a urn principe toeadar hanra do que tira-Ia.Por Deus: Que de sua honrahei de ser conquistadormais que de mnha corea.H.OSAt:H.A - Senhor! Pois assim te vais?:"Iel1l uma palavra boatc merece 0meu cuidadote mer ece 0rneu desgosto)Como e possivel, senhor,que naa me olhes nern me oucas?SEGISMC:-JDO - Rosaura, 0 dever me forcapor ser piedoso contigoa ser cruel contigo agora.:"Iaote responde esta vozpara que a brio responda,

    que por mm falem as obrasnem te olho, pois e forca,em pen a tao rigorosaque nao olhe tua belezaquem deve olhar por tua honra.ROSAURA - Vleu Deus, que palavras dizes'Depois de tanto pesarposso eu me conformarcom enigmas infelizes?

    Entra urn. soldadocantando.SOLDADO (cantando) - J a se declarou aguerrade Segismundo aBasilio.Ja saem para 0combateforcas do pai edo filho.Soam tambores valentesno palacio sitiado;agora e a hora da mortepara os rniseros soldados.Uns gritam: "Que viva 0 rei!"outros: "Viva a liberdade!"Todos querem 0podere redobra a luta armadaesoa a hora da mortepara 0povo esfomeado.oexercito de Basiliosofre derrota fatal.

    90 Tambern seacabam as reis

    TERCEIRA JOR:'\ADA CALDER6N

    CLOTALDO - Teu oxercito, vencido, 91

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    46/51

    quando 0maior e rival.E searnorte nos perseguede pouco adianta fugir,pois rnesmo estando escondidocai u ferido Clarim.Clotaldo aconselha atodos,Astolfo bUSCda batalha,ao rei suplicarn que fujamontado no seu cavalo.Porem, Basilio recusamesmo que arnorte 0aguarde.Do lado de SegismundomostramIhe onde 0 rei seacha;o principe, sem perdao,ordena que os seus soldadosbusquem nos bosques earvor escada tronco ecadaramo.Quando Basilio compreendeque termnou acontend adepoe as armas que tinhaeante 0 filho seapresenta,para que 0cursu da vidamais urna vez sernantenha ...

    Elltram Basilio, Clotaldo eAstolfo, que vemfugindo.BASiL IO - Ai demm, rei infeliz!Ai de mrn, pai perseguido!

    foge de inimgos vis!ASTOLFO - Ostraidores triunfantes ficam.BASiLIO - Em batalhas taisosque vencem sao leaisevencidos as traidores.Fujamos, Clotaldo, pois,do cruel, do desumanorigor de urn filho tirano.

    Ouve-se urn tiro dentro ecai Clarirn,jerido, de ondeestaua.

    CLARIM - Valha-me Deus!ASTOLFO - Mas quem eeste rnisero soldadoque anossos pes vern cairdo proprio sangue manchado?CLARIM - Sou urn homem desgra

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    47/51

    que no bosque mais guardado;nao ha segura camnhocontra a forca do destinoea inclernencia do Facio.I)e pouco vale ten tarda rnorte se defender;selllpre acaba par morreraquele que Deus mandar.

    Cai rnorto.

    BASiLIO - Sempre acaba par morreraquele que Deus mandar:Corn que razao esclarecenossa pobre ignoranciae tlOS da conhecimentoeste cadaver que falapar boca de uma feridasendo 0sangue que derramacruenta lingua que ensinao POllCO valor do esforcoque fazemos contra a sinai()homern bem pouco alcancaseall te si alea-se a Forca~Pais eu, par livrar de mortesesedicoes mnha patr iatcrrninei por entrega-Iaaos traidores que evitava.

    os camnhos, e incla que acheaquem busca, na espessurade penhascos, nao e propriode nossa gente cristapercler a fe na vi tori a.Certo e que 0varao prudentevence a destino carrascoe senao esta protegidocontra apena eadesgrar;:aprocma como salvar-se.ASTOLFO - Clotaldo, senhor, te falacomo prudente varaoque madura idacle alcanca;eu, como jovem valente.Por entre as espessas matasdeste monte esta um cavalorapido filho dos ventos.Foge, que eu te guardareide todos as elementos.BASiL IO - SeDeus quiser que eu pere\iaou se amorte amm me aguardaaqui aquero encontraresperando, cara a cara.

    Entram Segismundo, Estrela, Rosaura, soldados, corte.BASiLIO - Se andas a procurar-me, aqui estou, prin

    cipe, ao teu dispor. Calea amnha fronte e pisa amnha

    TERCEIR.;\ JOR:\"ADA

    coroa: abatr-. arrasta rniuha dignidade, vinga-te na mnha

    CALDERO::\"

    Ningucm se preserva dos desastres que ainda nao acon- 95

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    48/51

    hourn, SL'IT('-ll' de mm como escravo. E apos tantas pre-call~o(:,s, clllllpra-se 0que estava escrito. Cumpra 0ceu asua palm!",\.

    SE(i/S\Il'i\DO - Ilustrc corte da Polonia, que es tcstemu-IIlia df' latos Lao surpreendentes, escuta 0 que deterrnina 0((,II pri nr-ipe! Df'US escr eveu tudo 0 que 0ceu determnat' qlle, r ifrado 1I0S espac;;os azuis, nunca engana ou mente.EIIgalla e mente, sim, quem decifrar as determnac;;oes doCell para as usar ern seu beneficio. :VIeu Pai, aqui presente,para se ex imr a sanha da mnha condicao, fez de mmUIl\ hrut o, urn a fera humana, de maneira que eu, devendoInnasrido galhardo, generoso, d6cil e humilde, para 0qlle bastar ia urna vida normal, aprendi desde a infancia osmr-us costumes com as feras. Que born modo de irnpediressc-s costumes! Se dissessern a urn homem: "Lrna feravai (ematar!' - iria ele desperta-Ia enquanto dorrnia? Sed isscssr-m: "Essa espada que trazes cingida sera aquelaqlle Ie matara " - seria tolice, para evitar 0 desastre, de-semba inhar a espada e aponta-Ia contra 0proprio peito, Sedissessern: "Vlontanhas de agua hao de ser a t.ua sepulturaIIUIll por,;odf' prata " - mal faria ele em se atirar ao mar,quando, espuma ndo, erica a raiva de suas ondas. Aeon-tr-rr-u ao In('U pai 0mesmo que acontece a quem, sendo.uneacado pOl' urn a fera, a desperta, a quem, sendo visadopor uma espada, a en costa ao peito; a quem agita as on-das de lllll mar tempestuoso. Lrna vez desencadeadas asforr,;as, niio poderia mais descansar a mnha sanha, adocara espada da minha Furia, tranquilizar a dureza da mnhavio lenr-ia, pnrque 0futuro nao pode ser afeicoado com in-justir,;as e fornes de vinganc;;a. Assirn, quem deseja domnara sun ml sort e, tera de usar de prudencia e terrrperanca,

    teceram; quando muito podera preve-Ios e acautelar-sedeles na devida altura; sua chegada, ninguem pod era evi-tar. Que nos sirva de exemplo 0que neste local aconteceu,espetaculo prodigioso e singular! Basta termos chegado aver, apesar de todas as prudencias, ajoelhado a rneus pesurn pai e derr ubado urn monarca. Foi ver ed ito do ceu; pormais que ele quisesse irnpedi-Io, nada pode fazer, Podereieu, no entanto, que sou menor na idade, nos rneritos ena sabedoria, domnar 0meu destine" (ao rei) Ergue-te,senhor, e da-me a tua rnao.

    BASiLIO - Filho! Com tao nohre aC;;aooutra vez asmnhas entranhas te geram, es 0principe. Vlereces 0laurel da tua ccndicao e a palma da tua vitoria. Venceste.Que as tuas facanhas te coroem!

    TODOS - Viva Segismundo, Viva!SEGISyHJNDO - Porque espero obter outras grandes

    vit6rias, vou alcancar a mais custosa hoje: vencer-me amm pr6prio. Astolfo, da a mao a H.osaura. Tu [he deves ahonra e eu estou disposto a fazer-te pagar essa divida.

    ASTOLFO - Embora seja verdade que the devo obriga-c;;oes,repara que ela nao conhece pai e seria urna baixezainfamante eu casar-me COITI rnulher ...

    CLOTALDO - ~io continues. Rosaura e tao nobrequanto tu, Astolfo, e a mnha espada a defendera. Bastadeclarar que e rninha filha.

    ASTOLFO - Que dizes?CLOTALDO - Que eu quis guardar segredo disto ate a

    ver casada, nobre e honrada. A hist6ria e muito longa, mase certo, e mnha filha.

    ASTOLFO - Pois sendo assi m, cumprirei a rninha pala-vra.

    TERCElRA JOR:-;ADA

    96 I SEGISMC:\DO - Para que Estrela nao fique desconso-

    . ..CALDER61\'

    perdao, pois em peitos nobres 97

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    49/51

    lada, vendo que perde urn principe com tanto merito efama, pela mnha mao hei de casaIa com alguem que, senao 0cxcede, 0iguala. Da-me a tua mao!

    ESTRELA - Ell nfio mereco tanta felicidade:SEGISMl.::"!)O - Clotaldo, que lealmente serviu meu

    pai, t.ernos meus bracos it sua espera, com as rnerces quequeira solicitar.

    SOL.DADO - Se assim recompensas quem nao te auxi-liou, que me daras amm que causei a rebeliao no reino,libertando-te da prisao em que jazias?

    SEGISMUNDO - A prisao. para que nao saias nuncade la, has de permanecer vigiado ate amorte, estando atraic,;aopassada, ja nfio e preciso 0 traidor.

    RASil.lo - 0 teu talento surpreende a todos.ASTOLFO - Que carater tao mudado!HOSAURA - Que sabio eque prudente!S~~GIS:vIUI\l)O - 0 que eque vos espanta?Se0meu mestre foi 0sonoetemendo em mnhas arisiasestou, de acordar na terre?E mesrno que assim nao seja,basta sonha-lo de novo..\ssim cheguei a saberque a felicidade humanapassa sempre cornu um sonhoe hoje quero aproveita-laainda que dure poucopedindo, de nossas faltasa todos os que rne ouvem

    o perdao e flor de ouro.

    TITULOS PUBLICADOS 49. Rashbmon e ouo-os contos, Akutagawa50. Historia do anarqua (cot. I),Max Neulau

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    50/51

    I. lracema. AlencarDon J uan, :\Iolithe

    3. Contoscndcanos. Xlalarme4. Aulo dabarca do Inferno. Gil Vicente5. Poemas competos deAlber-to Caarc. Pessoa6. Tnunfos. Petrarca

    A cidade e as serras. E~aoretralo de Donan Gray, Wilde9. A h .stori.a tragca doDoutor Fausto, Xlerlcwe

    Os sofnmensos do jOl.!em Werther, GoetheDosnoms sistemas na arte, :\Ia ic"itch

    12. l\/ensagem Pessoa13 ,1"Jeamoifoses.Ovd o14. Micromegos e outros coruos, Voltare15. 0eobrinbo deRameau, Oiderot16. Carla sobre a toterancia. LockeIT. Ducursos impos. Sade18. 0principe, Maquiave19. Dao De J ing. L a01.ioJ im do ciume eoiaros contos; Proust

    Pequeno! poemas em prosa, BaudeareF e e saber, !-Iegel

    23. Joana d Arc, Miche et24. Livro dosmandamenos. :248precetos positivos, Mamenides25. 0 indvduo, asociedade e Estado, e outros ensaios, Emma Goldman26. Ell acusot, Zola I 0 processo do capuao Dreyfus, Rui Barbosa27. Apologia de Gaiileu, Campanela'28. Sabre uerdade emeruira, Nietzsche'29. 0 prcncipo anarquista e outros ensaios, Kropotkin30. Os soouues traidos peos bolchevques. Rocker31 . Poemas. Byron32. Sonetoe. Shakespeare33. A vcdae sonho, Caderon34. Sscruosreuoiucumarias, :\Iaatesta35. Sagas, Strindberg36 0 munda outratado dalus: Descartes3;" . Orneneu. Raul Pompea38. Fabua de Polifemo e Galatea e oiaros poemas. Gongora39. A vet/us das pees. Sacher-Xlascch40. ESCrtlOS sobre arle Baudeare41. Ctuuico dos CtUlltCOS, [Saomao"4'2. Americanumo efordumo, Gramsci43. 0 prmctmo do Estado e outros ensaros. Bakunin44. 0 gato preto e ouo-os contos, Poe45. J hstona do prov ncia Santa Cruz, Gandavo46. Salada dos erforcados e outros poemas. Villon47. Sauras.fabu as, oforismos e profecias, Da Vinci48. 0 cego e mtros contos, D.H. Lawrence

    51. Imtacao de Cristo, Tomas deKempis52. 0casamento do Ceu: e do Inferno, Blake53. Canas afacor daescralJ id lo, Alenear54' Utopia Bras l, Darcy Ribero55. Flossie, a /lenus dequnzeanos, .Swinburne56. Teeny, ou 0reverse da medalha, [Wilde et a.]57- .d itosofia na era tragica dos gregos, Nietzsche58. .VocOTafa.o das trevas, Conrad59. t/iagem serumerual, Sterne60. arcana Creestia eApocalipss recekua. Swedenbcrg61. Saga dos Volsungos, Anonimc do see, XIII62. Urn anarousta e outros ccezcs, Conrad63. A monadologa e outros reezcs, Lebniz64' Cuiura estetica e liberdade Schiller65. A pee do lobo e outras pefas, Artur Azevedo66, Paes a basco: das origem IiGuerra Civl67. Poesa catala: das ori.gens a Guerra Civl68. Poesa espanhola: das origem a Guerra Civl69' Poeea galega: das origen.s IiGuerra Civu.70. 0chamado de Cthu hu e outros ccczos, H.P. Lovecraft71. 0 pequerw Zacarias, chamado Cinabrio. E,T.A. Hoffmann72 Tratados da terra e gene do Bras l, Fernao Cardim73. Entre camponeses, Maatesta74. 0 Rab de Bacherach, Hene75. Born Criouo, Adolfo Camnha76. Urn gato indscrete e outros contos, Saki77- Viagem em oolta do meu quarto, Xavier deMastre78. Hawthorne e seus mscsgos, Meville79. A metomorfose, Kafka80. Ode O) Vento Oeste e outrOS poemas, Sheley81. OrOfa.o aos moyOS, Rui Barbosa82. Feticode ornore outroscontos, Ludwig Tieck83. 0 como de si proprio eoutros contos, Sade84' in J esigOfa.o sobre 0eruendmeruo humano, Hume85. Sabre as sonhos e outros dO:logos, Borges I Osvedo Ferrari86, Sabre afilosofia e ousros dalcgos, Borges I Osvedo Ferrari87. Sabre a amsade e outros du1k gos, Borges 1 Osvado Ferrari88. A eoz dos botequ ns e outros poemas, Verlane89, Gente de Hemso, Strindberggo. Senhorita Ju ia e osaras pecas,Strindberg91. Ccrresporuiencia, Goethe I Schiller92. indce das coisas noulJeis, Viera93. Tratado descritioo do Bras l ern IJ8i, Gabrie Soares de Sousa94' Pcemas da cabana rnontanh.esa, Saigyo95. Autob ografia de uma puga, "Stanislas de Rhodes]96. A volta doparafuso, Henry James97. Ode sobre a meancoua e outros poemas, Keats98. Teatro de awe,Pessoa99. Carrnlla ~A oamp ra de Kornuen; Sheridan Le Fanu100. Iruroducao 00 pensameruo politico de l\11aquave, Fichte101. Inferno, Strindberg

  • 7/29/2019 Calderon de La Barca (1600-1681). a vida sonho

    51/51