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7/31/2019 Calvino_Epístolas aos Tessalonicenses http://slidepdf.com/reader/full/calvinoepistolas-aos-tessalonicenses 1/95 COMENTÁRIO À PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PAULO AOS TESSALONICENSES  POR JOÃO CALVINO 1  O ARGUMENTO A maior parte desta Epístola consiste de exortações. Paulo havia instruído os tessalonicenses na fé verdadeira. Contudo, ao ouvir que as perseguições esta- vam se intensificando ali, 2 ele havia enviado Timóteo na esperança de animá- los para a batalha, para que não dessem lugar ao medo, como tende a fazer a fraqueza humana. Tendo sido posteriormente informado por Timóteo com res- peito à verdadeira condição deles, ele emprega vários argumentos para confir- má-los na constância da fé, bem como na paciência, caso fossem chamados a sofrer qualquer coisa pelo testemunho do evangelho. Ele trata destas coisas nos três primeiros capítulos. No começo do capítulo quatro, ele os exorta, em termos gerais, à santidade de vida; em seguida, recomenda a benevolência mútua, e todos os ofícios que derivam dela. No entanto, próximo do fim, ele trata da questão da ressurreição, e explica de que modo todos seremos ressuscitados dentre os mortos. Por da- qui se torna manifesto que havia alguns ímpios ou inconstantes que se esfor- çavam por perturbar a fé deles, apresentando inoportunamente muitas coisas frívolas. 3 Por isso, na esperança de remover todo o pretexto para disputas lou- cas e desnecessárias, em poucas palavras ele os instrui quanto às idéias que deveriam entreter. No capítulo cinco, ele os proíbe, ainda mais estritamente, de inquirir quanto aos tempos; mas os admoesta a estarem sempre atentos, para que não fossem pegos de surpresa pela vinda súbita e inesperada de Cristo. A partir daqui, ele passa a empregar várias exortações, e então conclui a Epístola. 1 Tradução: Rodrigo Reis de Faria ([email protected] ). Fonte: Calvin’s Commentaries (traduzido para o inglês por John King, disponível no site: http://www.sacred-texts.org). 2 “Ayant ouy qu’il y estoit survenu des persecutions, et qu’elles continuoyent;” — “Ten- do ouvido que houvera algumas perseguições que irromperam ali, e que eles ainda estavam perseverando.” 3 “En mettant en avant sur ce propos beaucoup de choses frivoles et curieuses;” — “Apresentando sobre este assunto muitas coisas estranhas e frívolas.”

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    COMENTRIO

    PRIMEIRA EPSTOLA DE PAULO

    AOS TESSALONICENSES

    POR

    JOO CALVINO1

    OARGUMENTO

    A maior parte desta Epstola consiste de exortaes. Paulo havia instrudo ostessalonicenses na f verdadeira. Contudo, ao ouvir que as perseguies esta-

    vam se intensificando ali,

    2

    ele havia enviado Timteo na esperana de anim-los para a batalha, para que no dessem lugar ao medo, como tende a fazer afraqueza humana. Tendo sido posteriormente informado por Timteo com res-peito verdadeira condio deles, ele emprega vrios argumentos para confir-m-los na constncia da f, bem como na pacincia, caso fossem chamados asofrer qualquer coisa pelo testemunho do evangelho. Ele trata destas coisasnos trs primeiroscaptulos.

    No comeo do captulo quatro, ele os exorta, em termos gerais, santidade devida; em seguida, recomenda a benevolncia mtua, e todos os ofcios quederivam dela. No entanto, prximo do fim, ele trata da questo da ressurreio,e explica de que modo todos seremos ressuscitados dentre os mortos. Por da-qui se torna manifesto que havia alguns mpios ou inconstantes que se esfor-avam por perturbar a f deles, apresentando inoportunamente muitas coisasfrvolas.3 Por isso, na esperana de remover todo o pretexto para disputas lou-cas e desnecessrias, em poucas palavras ele os instrui quanto s idias quedeveriam entreter.

    No captulo cinco, ele os probe, ainda mais estritamente, de inquirir quanto aostempos; mas os admoesta a estarem sempre atentos, para que no fossempegos de surpresa pela vinda sbita e inesperada de Cristo. A partir daqui, elepassa a empregar vrias exortaes, e ento conclui a Epstola.

    1 Traduo: Rodrigo Reis de Faria ([email protected]). Fonte: CalvinsCommentaries (traduzido para o ingls por John King, disponvel no site:http://www.sacred-texts.org).2 Ayant ouy quil y estoit survenu des persecutions, et quelles continuoyent; Ten-do ouvido que houvera algumas perseguies que irromperam ali, e que eles aindaestavam perseverando.3 En mettant en avant sur ce propos beaucoup de choses frivoles et curieuses;

    Apresentando sobre este assunto muitas coisas estranhas e frvolas.

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    Comentrios de Calvino2

    1TESSALONICENSES 1:1

    1. Paulo, e Silvano, e Timteo, igrejados tessalonicenses em Deus, o Pai, e noSenhor Jesus Cristo: Graa e paz tenhaisde Deus nosso Pai e do Senhor JesusCristo.

    1. Paulus et Silvanus et Timotheus Eccle-siae Thessalonicensium, in Deo Patre, etDomino Iesu Christo, gratia vobis et pax aDeo Patre nostro, et Domino Iesu Christo.

    A brevidade da dedicatria mostra claramente que a doutrina de Paulo haviasido recebida com reverncia entre os tessalonicenses, e que, sem controvr-sia, todos eles lhe prestavam a honra que ele merecia. Pois, quando em outrasepstolas designa a si mesmo como apstolo, ele faz isto com o objetivo dereivindicar autoridade para si. Por isso, a circunstncia de que ele faa usosimplesmente do seu nome, sem qualquer ttulo de honra, evidncia de queaqueles a quem escreve reconheciam-no voluntariamente tal como a pessoaque era. verdade que os ministros de Satans haviam se esforado para im-

    portunar esta igreja tambm, mas evidente que as maquinaes deles foraminfrutferas. Contudo, ele associa a si mesmo dois outros, como sendo, em co-mum consigo, autores da Epstola. Nada mais afirmado aqui que j no tenhasido explicado em outra parte, exceto que ele diz: a igreja em Deus, o Pai, eem Cristo, por cujos termos (se no estou equivocado) ele sugere que verda-deiramente h entre os tessalonicenses uma igreja de Deus. Portanto, estamarca como que a aprovao de uma igreja legtima e verdadeira. Contudo,ao mesmo tempo podemos inferir por aqui que uma igreja deve ser buscadaapenas onde Deus quem preside, e onde Cristo quem reina, e que, em su-ma, no existe nenhuma igreja que no esteja fundamentada em Deus, reunidasob os auspcios de Cristo e unida em seu nome.

    1TESSALONICENSES 1:2-5

    2. Sempre damos graas a Deus por vstodos, fazendo meno de vs em nos-sas oraes,

    2. Gratias agimus Deo semper de omnibusvobis, memoriam vestri facientes in preci-bus nostris,

    3. Lembrando-nos sem cessar da obrada vossa f, do trabalho do amor, e dapacincia da esperana em nosso Se-nhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus

    3. Indesinenter4 memores vestri, propteropus fidei, et laborem caritatis,5 et patienti-am spei Domini nostri Iesu Christi coramDeo et Patre nostro,

    4 En nos prieres, sans cesse ayans souvenance; ou, En nos prieres sans cesse, A-yans souvenance; Em nossas oraes, sem cessar tendo lembrana; ou, em nos-sas oraes sem cessar, tendo lembrana.5 De vous pour luvre de la foy, et pour le travail de vostre charite; ou, de leffect devostre foy, et du travail de vostre charite; De vs pela obra da f, ou pelo esforo

    do vosso amor; ou, do efeito da vossa f, ou do esforo do vosso amor.

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    Comentrios de Calvino4

    Contudo, ele aponta uma razo pela qual nutre to forte afeto para com eles, eora diligentemente em seu favor porque ele percebia neles os dons de Deusque o encorajavam a nutrir para com eles amor e respeito. E, certamente,quanto mais algum se sobressai em piedade e outras excelncias, tanto mais

    devemos t-lo em estima e considerao. Pois, o que mais digno de amor doque Deus? Por isso, no existe nada que deva incitar mais o nosso amor pelaspessoas do que quando o Senhor se manifesta nelas pelos dons do seu Espri-to. Esta a mais elevada recomendao de todas entre os que so piedosos este, o mais sacro vnculo de conexo, pelo qual eles mais especialmente seunem uns aos outros. Eu digo, concordemente, que de pouca importncia seo traduzis por lembrando-nos de vossa f, ou lembrando-nos de vs por causade vossa f.

    Obra da fentendo como significando o seu efeito. Este efeito, porm, podeser explicado de duas maneiras passivaou ativamente, quer como signifi-

    cando que a f era em si mesma um sinal notvel do poder e eficcia do Espri-to Santo, porquanto ele operara poderosamente em seu despertamento; quercomo significando que, posteriormente, ela produzira seus frutos exteriores.Reconheo que o efeito est mais na raiz da f do que em seus frutos umaenergia rara da f difundiu-se poderosamente em vs.

    Ele acrescenta trabalho do amor, querendo dizer atravs disso que, no cultivodo amor, eles no haviam medido dificuldades ou esforos. E, seguramente,sabe-se pela experincia como o amor diligente. Porm, aquela poca con-cedera mais especialmente aos crentes uma mltipla esfera de trabalhos, seestivessem desejosos de cumprir os ofcios do amor. A igreja era incrivelmentepressionada por uma grande multido de aflies;12 muitos eram despojados

    de sua riqueza, muitos eram fugitivos do seu pas, muitos eram destitudos deconselho, muitos eram tenros e fracos.13 A condio de quase todos estavaenvolvida. Tantos casos de angstia no permitiram que o amorficasse inativo.

    esperanaele atribui a pacincia, uma vez que sempre esto unidas, pois oque esperamos, com pacincia esperamos(Rm 8:24), e a declarao deve serexplicada no sentido de que Paulo recorda a pacincia deles em aguardar avinda de Cristo. A partir daqui podemos inferir uma breve definio do verda-deiro Cristianismo que uma f viva e cheia de vigor, no poupando nenhumesforo, quando se deve prestar assistncia ao prximo; mas, pelo contrrio,todos os que so piedosos se empregam diligentemente nos ofcios do amor, e

    envidam seus esforos neles, de modo que, atentos esperana da manifesta-o de Cristo, desprezam tudo o mais e, armados pela pacincia, eles se le-vantam superiores ao cansao pela extenso do tempo, bem como a todas astentaes do mundo.

    11 A traduo de Erasmo a seguinte: Memores vestri propter opus fidei; Lem-brando de vs por conta da vossa obra de f.12 Dafflictions quasi sans nombre; Por aflies, por assim dizer, sem nmero.

    13 Foibles et debiles en la foy; Fracos e dbeis na f.

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    1 Tessalonicenses 5

    A clusula diante de nosso Deus e Paipode ser considerada em referncia recordao de Paulo, ou s trs coisas citadas h pouco. Eu a explico assim:Como havia falado das suas oraes, ele declara que todas as vezes que elevaseus pensamentos ao reino de Deus, ao mesmo tempo, traz sua memria a

    f, esperanae pacinciados tessalonicenses; mas, como toda a mera pre-sena desaparece quando as pessoas vm presena de Deus, isto acres-centado14 para que a afirmao tenha mais peso. Ademais, por esta declaraoda sua boa vontade para com eles, ele pretendia torn-los mais ensinveis epreparados para ouvirem.15

    4. Sabendo, amados irmos. O particpio sabendopode se aplicar tanto a Pau-lo como aos tessalonicenses. Erasmo o refere aos tessalonicenses. Prefiro se-guir a Crisstomo, que o entende com respeito a Paulo e seus companheiros,pois esta (tal como me parece) uma confirmao mais ampla da declaraoprecedente. Pois tinha em vista, em no pequeno grau, recomend-los, que o

    prprio Deus tivesse testificado, por meio de muitos sinais, que eles eram acei-tveis e caros a ele.

    Eleio de Deus. No estou totalmente satisfeito com a interpretao dada porCrisstomo de que Deus havia tornado os tessalonicenses ilustres, e haviadeterminado a sua excelncia. Paulo, contudo, tinha em vista exprimir algomais; pois trata do chamado deles, e, como no haviam aparecido neles sinaiscomuns do poder de Deus, ele infere a partir disto que haviam sido chamadosde forma especial, com evidncias de uma segura eleio. Pois a razo a-crescentada imediatamente que no fora uma simples pregao que lheshavia sido apresentada, mas uma que estava associada eficcia do EspritoSanto, para que alcanasse crdito total entre eles.

    Quando ele diz em poder, e no Esprito Santo, em minha opinio, como setivesse dito: no poder doEsprito Santo, de modo que o ltimo termo acres-centado como explicativo do primeiro. A certeza, qual ele atribui o terceirolugar, ou estava na coisa em si, ou na disposio dos tessalonicenses. Estoumais disposto a pensar que o sentido de que o evangelho de Paulo havia si-do confirmado por provas slidas,16 como se Deus tivesse mostrado desde ocu que ele havia ratificado o chamado deles.17 Quando, porm, Paulo apre-senta as provas pelas quais havia se sentido confiante de que o chamado dostessalonicenses era totalmente de Deus, ao mesmo tempo ele aproveita a oca-sio para recomendar o seu ministrio, para que eles mesmos, tambm, reco-

    14 Ce poinct a nommeement este adiouste par Sainct Paul; Este ponto foi expres-samente acrescentado por S. Paulo.15 Car ce nestoit une petite consideration pour inciter St. Paul et les autres, a avoir lesThessaloniciens pour recommandez, et en faire esteme; Pois no foi uma peque-na razo para incitar S. Paulo e outros a terem os tessalonicenses em estima, e a con-sider-los com apreo.16 A leste comme seell et ratifi par bons tesmoignages et approbations suffisantes; Havia sido, por assim dizer, selado e ratificado por bons testemunhos e atestaessuficientes.

    17 Et en estoit lautheur; E era o seu autor.

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    Comentrios de Calvino6

    nhecessem-no a ele e a seus companheiros como tendo sido levantados porDeus.

    Pelo termo poder, alguns entendem milagres. Eu o estendo mais ainda, comose referindo fora espiritual da doutrina. Pois, conforme tivemos ocasio dever na Primeira Epstola aos Corntios, Paulo o pe em contraste com discur-so18 a voz de Deus, por assim dizer, viva e associada ao efeito, em oposioa uma eloqncia humana vazia e morta. Deve-se observar, contudo, que aeleio de Deus, que em si mesma oculta, manifesta-se pelos seus sinais quando ele congrega a si as ovelhas perdidas, e as une ao seu rebanho, e es-tende sua mo queles que estavam errantes e extraviados dele. Por isso, oconhecimento da nossa eleio deve ser buscado a partir desta fonte. Porm,assim como o conselho secreto de Deus um labirinto para aqueles que negli-genciam o seu chamado, do mesmo modo agem perversamente aqueles que,sob o pretexto de fe chamado, obscurecem esta primeira graa da qual se

    origina a prpria f. Pela f, dizem eles, alcanamos a salvao; logo, no hpredestinao eterna de Deus que faa distino entre ns e os rprobos. como se dissessem: A salvao da f; logo, no h graa de Deus que nosilumine na f. No, mas antes, assim como a eleio gratuita deve estar asso-ciada ao chamado, como que ao seu efeito, assim tambm ela deve ter neces-sariamente, ao mesmo tempo, o primeiro lugar. Pouco importa quanto ao senti-do, se unis ao particpio amadosou ao termo eleio.19

    5. Como bem sabeis. Paulo, conforme disse antes, tem como objetivo que ostessalonicenses, influenciados pelas mesmas consideraes, no acolham ne-nhuma dvida de que foram escolhidos por Deus. Pois havia sido o propsitode Deus, ao honrar o ministrio de Paulo, que ele lhes manifestasse sua ado-o. Concordemente, tendo dito que eles sabem que tipo de pessoas eles ha-viam sido,20imediatamente acrescenta que fora tal por causa deles, atravs doque significa que tudo isto lhes havia sido dado a fim de que pudessem estarplenamente persuadidos de que eram amados por Deus, e que sua eleioestava alm de toda controvrsia.

    18

    Vede Calvino sobre Corntios, vol. 1, pp. 100, 101.19 Au reste, les mots de ceste sentence sont ainsi couchez au texte Grec de SainctPaul, Scachans freres bien-aimez de Dieu, vostre election: tellement que ce mot deDieu, pent estre rapport a deux endroits, ascavoir Bien-aimez de Dieu, ou vostre elec-tion estre de Dieu: mais cest tout un comment on le prene quant au sens; No de-mais, as palavras desta sentena esto assim dispostas no texto grego de S. Paulo:sabendo, irmos amados de Deus, vossa eleio; de tal modo que esta frase de Deuspossa ser entendida como se referindo a duas coisas, como significando amados deDeus, ou, vossa eleio de Deus; mas tudo est em um mesmo sentido, indepen-dentemente de como o entenderdes.20 Quels auoyent este St. Paul et ses compagnons; Que tipo de pessoas S. Palo

    e seus associados haviam sido.

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    Comentrios de Calvino8

    com um corao jubiloso. Nada, porm, est em maior desacordo com a nossadisposio natural, do que nos regozijarmos nas aflies.

    7. De maneira que fostes. Aqui temos outra nfase que eles haviam encora-jado at mesmo crentes pelo seu exemplo; pois algo grandioso tomar to de-cididamente a dianteira daqueles que encetaram a jornada antes de ns, pro-vendo-lhes assistncia para prosseguirem a sua caminhada. Typus (a palavrausada por Paulo) empregado pelos gregos no mesmo sentido de exemplarentre os latinos, e patronentre os franceses. Nesse caso, ele diz que a cora-gem dos tessalonicenses havia sido to ilustre que outros crentes haviam to-mado emprestado deles uma regra de perseverana. Contudo, preferi traduzi-lopor padres, a fim de no fazer desnecessariamente qualquer mudana na fra-se grega utilizada por Paulo; e ainda porque o plural expressa, em minha opini-o, algo mais do que se ele tivesse dito que aquela igreja, como um corpo, ha-via sido proposta para imitao, pois o sentido de que havia tantos padres

    como indivduos.8. Porque por vs soou. Aqui temos uma metfora elegante, pela qual ele su-gere que a f deles era to viva23 que, por assim dizer, pelo seu som, desperta-ra outras naes. Pois ele diz que a palavra de Deus sooupor eles, porquantosua f era sonora24 para obter crdito para o evangelho. Ele afirma que istohavia no apenas ocorrido em lugares circunvizinhos, mas este som haviatambm se espalhado por toda a parte, e havia sido distintamente ouvido, demodo que o assunto no precisava ser publicado por ele.25

    1TESSALONICENSES 1:9-10

    9. Porque eles mesmos anunciam de nsqual a entrada que tivemos para convos-co, e como dos dolos vos convertestes aDeus, para servir o Deus vivo e verdadei-ro,

    9. Ipsi enim de vobis annuntiant, qualemhabuerimus ingressum ad vos: et quomo-do conversi fueritis ad Deum ab idolis, utserviretis Deo viventi et vero:

    10. E esperar dos cus a seu Filho, aquem ressuscitou dentre os mortos, a sa-ber, Jesus, que nos livra da ira futura.

    10. Et exspectaretis e clis Filium eius,quem excitavit a mortuis, Iesum qui nosliberat ab ira ventura.

    Ele afirma que a notcia do comportamento deles havia alcanado grande famaem toda a parte. O que ele menciona quanto sua entrada entre elesrefere-se

    ao poder do Esprito pelo qual Deus havia assinalado o seu evangelho.26 Con-tudo, ele afirma que ambas as coisas so livremente relatadas entre as outras

    23 Si vive et vertueuse; To viva e virtuosa.24 Avoit resonn haut et clair; Havia soado em alto e bom som.25 Tellement que la chose nha point besoin destre par luy divulgee et magnifieedavantage; De tal modo que a questo no precisa ser mais publicada e exaltadapor ele.26 Par laquelle Dieu avoit orn et magnifiquement authoriz son Evangile; Pela

    qual Deus havia adornado e atestado magnificamente seu evangelho.

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    naes, como coisas dignas de serem mencionadas. Nos detalhes que se se-guem, ele revela, primeiro, qual a condio dos homens, antes de o Senhorilumin-los pela doutrina do seu evangelho; e ainda, com que finalidade elequer que sejamos instrudos, e qual o fruto do evangelho. Pois, embora nem

    todos adorem dolos, todos esto devotados idolatria, e imersos em cegueirae loucura. Por isso, graas bondade de Deus que somos libertados dosembustes do diabo, e de todo o tipo de superstio. Alguns, de fato, ele conver-te antes, outros depois, mas como a alienao comum a todos, necessrioque sejamos convertidos a Deus antes de podermos servi-lo. A partir daqui in-ferimos tambm a essncia e a natureza da verdadeira f, porquanto ningumd o devido crdito a Deus seno o homem que, renunciando vaidade do seuentendimento, abraa e recebe o puro culto a Deus.

    9. O Deus vivo. Esta a finalidade da genuna converso. Vemos, de fato, quemuitos que abandonam as supersties, no obstante, aps darem este passo,

    esto to longe de fazer algum progresso na piedade que caem no que pior.Pois, tendo se livrado de todo respeito a Deus, eles se entregam a um despre-zo brutal e profano.27 Assim, nos tempos antigos, as supersties do vulgo e-ram ridicularizadas por Epcuro, Digenes o Cnico, e outros que tais, mas detal modo que eles confundiam o culto a Deus, no fazendo diferena entre istoe ninharias absurdas. Por isso devemos ter o cuidado de que o abandono doserros no seja seguido pela destruio do edifcio da f. Ademais, o Apstolo,ao atribuir a Deus os eptetos de vivo e verdadeiro, censura indiretamente osdolos como sendo invenes mortas e indignas, e como sendo falsamentechamados deuses. Ele faz da finalidade da converso o que j observei paraque sirvam a Deus. Por isso a doutrina do evangelho visa a nos induzir a servir

    e obedecer a Deus. Pois, enquanto somos servos do pecado, estamos livres dajustia(Rm 6:20), porquanto nos divertimos, e vagamos de um lado para o ou-tro, livres de qualquer jugo. Portanto, ningum propriamente convertido aDeus, seno o homem que aprendeu a colocar-se totalmente em sujeio aele.

    Contudo, como isto algo simplesmente mais do que difcil, em to grande cor-rupo da nossa natureza, ao mesmo tempo ele revela o que que nos retme nos confirma no temor a Deus e na obedincia a ele esperar a Cristo. Pois,a menos que sejamos despertados para a esperana da vida eterna, o mundorapidamente nos atrair a si. Pois, assim como apenas a confiana na bon-dade divina que nos induz a servir a Deus, do mesmo modo apenas a expec-tativa da redeno final que nos impede de recuarmos.28 Portanto, que todosos que desejam perseverar em um curso de vida santa apliquem toda a suamente expectativa da vinda de Cristo. Tambm digno de nota que ele usa aexpresso esperando a Cristo, ao invs de esperana da salvao eterna.Pois, certamente, sem Cristo estamos arruinados e entregues ao desespero,mas, quando Cristo se revela, a vida e a prosperidade resplandecem ao mes-

    27 De toute religion; De toda religio.28 Que ne nous lassions et perdions courage; De que no recuemos e percamos

    o nimo.

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    Comentrios de Calvino10

    mo tempo para ns.29 Tenhamos em mente, porm, que isto dito exclusiva-mente aos crentes, pois, quanto aos mpios, assim como ele vir para ser seuJuiz, do mesmo modo eles s podem tremer ao esper-lo.

    isto que ele acrescenta na sequncia que Cristo nos livra da ira futura. Poisisto no sentido seno por aqueles que, estando reconciliados com Deus pe-la f, j tm a conscincia apaziguada; do contrrio,30 seu nome terrvel. verdade que Cristo nos livrou pela sua morte da ira de Deus, mas a importnciadesse livramento se tornar visvel no ltimo dia.31 No entanto, esta afirmaoconsiste de duas sees. A primeira que a ira de Deus e a destruio eternaso iminentes raa humana, porquanto todos pecaram, e destitudos esto daglria de Deus(Rm 3:23). A segunda que no existe meio de escape senoatravs da graa de Cristo; pois no sem bons motivos que Paulo lhe atribuieste ofcio. Contudo, um dom inestimvel que os que so piedosos, sempreque feita meno ao juzo, saibam que Cristo vir para eles como um Reden-

    tor.Alm disso, ele afirma enfaticamente: a ira futura, para despertar as mentespiedosas, para que no fracassem ao considerar a vida presente. Pois, assimcomo a f a prova das coisas que no se vem (Hb 11:1), nada menos a-dequado do que estimarmos a ira de Deus de acordo com o que cada um afligido no mundo; assim como nada mais absurdo do que nos apegarmos sbnos transitrias de que desfrutamos, para que por elas tenhamos uma es-timativa do favor de Deus. Portanto, enquanto, por um lado, os mpios se diver-tem vontade, e ns, por outro, definhamos em misria, aprendamos a temer avingana de Deus, que est oculta aos olhos da carne, e a ter nossa satisfaonos deleites secretos da vida espiritual.32

    10. A quem ressuscitou. Ele faz meno aqui da ressurreio de Cristo, sobre aqual a esperana da nossa ressurreio est fundamentada, pois a morte nosassalta em toda a parte. Por isso, a menos que aprendamos a olhar para Cris-to, nossas mentes recuaro a toda a hora. Pela mesma considerao, ele osadmoesta que Cristo deve ser aguardado desde o cu, porque no encontra-remos nada no mundo para nos sustentar,33 enquanto que h inmeras provaspara nos subjugar. Outra circunstncia deve ser observada;34 pois, como Cristoressuscitou com este objetivo para que finalmente nos fizesse a todos, comoseus membros, participantes da mesma glria consigo, Paulo sugere que a suaressurreio seria em vo, a menos que ele aparecesse novamente como Re-

    29 Jettent sur nous leurs rayons; Lanam seus raios sobre ns.30 Aux autres; Aos outros.31 Maisau dernier iour sera veu a loeil le fruit de ceste delivrance, et de quelle impor-tance elle est; Mas no ltimo dia ser visvel aos olhos o fruto desse livramento, equal a sua importncia.32 En delices et plaisirs de la vie spirituelle, lesquels nous ne voyons point; Nosdeleites e prazeres da vida espiritual que no vemos.33 Et faire demeurer fermes; E nos fazer permanecer firmes.

    34 A laquelle ceci se rapporte; qual isto se refere.

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    1 Tessalonicenses 11

    dentor deles, e estendesse a todo o corpo da Igreja o fruto e o efeito desse po-der que ele manifestou em si mesmo.35

    1TESSALONICENSES 2:1-41. Porque vs mesmos, irmos, bem sa-beis que a nossa entrada para convoscono foi v;

    1. Ipsi enim nostis, fratres, quod ingressusnoster ad vos non inanis fuerit:

    2. Mas, mesmo depois de termos antespadecido, e sido agravados em Filipos,como sabeis, tornamo-nos ousados emnosso Deus, para vos falar o evangelhode Deus com grande combate.

    2. Imo quod persequutionem passi, et pro-bro affecti Philippis (ut scitis) fiduciamsumpsimus in Deo nostro proferendi apudvos evangelium Dei, cum multo certamine.

    3. Porque a nossa exortao no foi com

    engano, nem com imundcia, nem comfraudulncia;

    3. Nam exhortatio nostra, non ex impostu-

    ra, neque ex immunditia, neque in dolo:

    4. Mas, como fomos aprovados de Deuspara que o evangelho nos fosse confiado,assim falamos, no como para agradaraos homens, mas a Deus, que prova osnossos coraes.

    4. Sed quemadmodum probati fuimus aDeo, ut crederetur nobis evangelium, sicloquimur, non quasi hominibus placentes,sed Deo qui probat corda nostra.

    Agora, deixando de lado o testemunho de outras igrejas, ele lembra os tessalo-nicenses do que eles mesmos haviam experimentado,36 e explica com maioresdetalhes de que modo ele, e do mesmo modo os dois outros companheirosseus, haviam se conduzido entre eles, porquanto isto era da maior importnciapara confirmar sua f. Pois com este intento que ele declara a sua integrida-de para que os tessalonicenses percebessem que haviam sido chamadospara a f, no tanto por um homem mortal, quanto pelo prprio Deus. Portanto,ele diz que a sua entrada para com eles no havia sido v, como de pessoasambiciosas que manifestam muita aparncia, embora no tenham nada de s-lido; pois ele emprega aqui a palavra vem contraste com eficaz.

    Ele prova isto por meio de doisargumentos. O primeiro, que ele havia sofridoperseguio e ignomnia em Filipos; o segundo, que havia um grande combatepreparado em Tessalnica. Sabemos que as mentes dos homens so enfra-quecidas mais ainda, so totalmente abatidas pela ignomnia e pelas per-

    seguies. Portanto, era uma evidncia da obra divina que Paulo, aps ter sesujeitado a males de diversos tipos e ignomnia, como que em um estadoperfeitamente so, no mostrasse nenhuma hesitao em fazer uma tentativasobre uma cidade grande e opulenta, com vista a submeter seus habitantes aCristo. Nesta entrada, no se v nada que cacterize uma v ostentao. Nasegunda seo, contempla-se o mesmo poder divino, pois ele no cumpre oseu dever com aplauso e favor, mas precisou manter pungente combate. Ao

    35 Laquelle il a une fois monstree en sa personne; Que uma vez ele manifestouem sua prpria pessoa.

    36 Veus et esprouvez; Visto e experimentado.

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    Comentrios de Calvino12

    mesmo tempo, permaneceu firme e destemido, pelo que se mostra que ele foisustentado37 pela mo de Deus; pois isto que quer dizer quando afirma quetornou-se ousado. E, sem dvida, se todas estas circunstncias forem cuidado-samente consideradas, no se pode negar que Deus demonstrou ali magnifi-

    camente o seu poder. Quanto histria, ela se encontra nos captulos dezes-seis e dezessete dos Atos (Ac 16:12-17:15).

    3. Porque a nossa exortao. Ele confirma, atravs de outro argumento, ostessalonicenses na f que haviam abraado porquanto haviam sido fiel e pu-ramente instrudos na palavra do Senhor, pois ele mantm que a sua doutrinaestava isenta de todo o engano e impureza. E, com vistas a deixar esta ques-to fora de dvida, ele invoca o testemunho da conscincia deles. Os trs ter-mos de que faz uso podem, ao que parece, ser distinguidos da seguinte manei-ra: enganopode se referir essncia da doutrina, imundcias afeies docorao, fraudulnciaao modo de agir. Portanto, em primeiro lugar, ele afirma

    que eles no haviam sido enganados ou iludidos com falcias, quando abraa-ram o tipo de doutrina que lhes havia sido entregue por ele. Em segundo lugar,declara sua integridade, porquanto no havia se achegado a eles por influnciade qualquer desejo impuro, mas atuou exclusivamente atravs de uma disposi-o honesta. Em terceiro lugar, diz que no havia feito nada fraudulenta ou ma-liciosamente, mas, pelo contrrio, havia manifestado uma simplicidade conve-niente a um ministro de Cristo. Como estas coisas eram bem conhecidas aostessalonicenses, eles tinham um fundamento suficientemente firme para a suaf.

    4. Como fomos aprovados. Ele d um passo alm, pois apela a Deus como oAutor do seu apostolado, e raciocina da seguinte maneira: Deus, quando me

    designou para este ofcio, deu testemunho de mim como um servo fiel; no hrazo, portanto, para que os homens tenham dvidas quanto minha fidelida-de, a qual sabem ter sido aprovada por Deus. Contudo, Paulo no se gloriaem ter sido aprovado, como se o fosse por si mesmo; pois ele no disputa aquia respeito do que possua por natureza, nem coloca a sua prpria fora em co-liso com a graa de Deus, mas simplesmente afirma que o Evangelho lhe ha-via sido confiado como a um servo fiel e aprovado. Ora, Deus aprova aquelesque ele formou para si de acordo com a sua vontade.

    No como para agradar aos homens. O que significa agradar aos homens foiexplicado na Epstola aos Glatas (Gl 1:10), e esta passagem tambm o mos-

    tra admiravelmente. Paulo contrasta agradar aos homens e agradar a Deuscomo coisas que se opem entre si. Ademais, quando diz: Deus, que prova osnossos coraes, ele sugere que aqueles que se esforam por obter o favordos homens no so influenciados por uma conscincia honesta, e no fazemnada de corao. Saibamos, portanto, que os verdadeiros ministros do evange-lho devem ter por alvo devotar os seus esforos a Deus, e fazer isto de cora-o; no por qualquer considerao exterior pelo mundo, e sim porque a cons-cincia lhes diz que isto correto e apropriado. Assim se assegurar que elesno tero por alvo agradar aos homens, ou seja, que eles no agiro sob influ-ncia da ambio, tendo em vista o favor dos homens.

    37 Soustenu et fortifi; Sustentado e fortalecido.

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    1TESSALONICENSES 2:5-8

    5. Porque, como bem sabeis, nunca u-samos de palavras lisonjeiras, nem houveum pretexto de avareza; Deus testemu-nha;

    5. Neque enim unquam in sermone adula-tionis fuimus, quemadmodum nostis, ne-que in occasione avaritiae: Deus testis.

    6. E no buscamos glria dos homens,nem de vs, nem de outros, ainda quepodamos, como apstolos de Cristo, ser-vos pesados;

    6. Nec quaesivimus ab hominibus gloriam,neque a vobis, neque ab aliis.

    7. Antes fomos brandos entre vs, comoa ama que cria seus filhos.

    7. Quum possemus in pondere esse tan-quam Christi Apostoli, facti tamen sumusmites in medio vestri, perinde acsi nutrixaleret filios suos.

    8. Assim ns, sendo-vos to afeioados,

    de boa vontade quisramos comunicar-vos, no somente o evangelho de Deus,mas ainda as nossas prprias almas;porquanto nos reis muito queridos.

    8. Ita erga vos affecti, libenter voluissemus

    distribuere vobis non solum EvangeliumDei, sed nostras ipsorum animas, propte-rea quod cari nobis facti estis.

    5. Porque nunca usamos. No sem um bom motivo que ele repete tantas ve-zes que os tessalonicenses sabiam que o que ele diz verdadeiro. Pois no huma atestao mais segura do que a experincia daqueles com quem falamos.E isto era da maior importncia para eles, porque Paulo relata com que integri-dade ele havia se conduzido, sem outra inteno, seno para que sua doutrinativesse o maior respeito, para a edificao da f deles. Contudo, esta umaconfirmao da declarao anterior, pois aquele que deseja agradar aos ho-mensdeve, por necessidade, curvar-se vergonhosamente lisonja, enquantoaquele que est atento ao dever com uma disposio honesta e sincera guar-dar distncia de toda a aparncia de lisonja.

    Quando acrescenta: nem houve um pretexto de avareza, ele quer dizer que, aoensinar entre eles, no esteve em busca de coisa alguma por ganho pessoal. usado pelos gregos para significar tanto ocasio como pretexto,mas o primeiro significado se encaixa melhor com a passagem, sendo comoque uma armadilha.38 No abusei do evangelho para fazer dele uma ocasiode apanhar um ganho. Como, porm, a malcia dos homens possui tantos re-cuos intricados, que a avareza e ambio frequentemente permanecem ocul-

    tas, por esta causa ele invoca a Deus como testemunha. Ora, ele faz menoaqui de dois vcios, dos quais se declara isento, e, ao fazer isto, ensina que osservos de Cristo devem permanecer afastados deles. Assim, se quisermos dis-tinguir os verdadeiros servos de Cristo daqueles que so pretensos e esprios,eles devem ser provados de acordo com esta regra, e todo aquele que desejaservir a Cristo corretamente tambm deve conformar seus objetivos e suas a-es mesma regra. Pois, onde a avareza e ambio reinam, seguem-se in-

    38 Tellement que ce soit une ruse ou finesse, semblable a celle de ceux qui tendentles filets pour prendre les oiseaux; De modo que um truque ou artifcio, seme-

    lhante ao daqueles que pem armadilhas para apanhar pssaros.

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    Comentrios de Calvino14

    meras corrupes, e o homem todo consome-se na vaidade, pois estas so asduas fontes das quais a corrupo de todo o ministrio tem a sua origem.

    6. Ainda que podamos ter exercido autoridade. Alguns interpretam isto como:quando podamos ter sido pesados, ou seja, poderamos ter vos carregadocom despesas, mas o contexto exige que seja entendido no sentido deautoridade. Pois Paulo afirma que estava to longe de esplendores vos, doorgulho, da arrogncia, que at abriu mo do seu justo direito, at onde diziarespeito manuteno da autoridade. Pois, como era um apstolo de Cristo,ele merecia ser recebido com um grau mais elevado de respeito, mas havia seabstido de toda demonstrao de dignidade,39 como se fosse um ministro denvel comum. A partir disto se mostra quo longe estava ele da altivez.40

    O que traduzimos como brandos, o tradutor antigo verte como: Fuimus parvuli(fomos pequenos),41 mas a leitura que segui geralmente mais recebida entreos gregos; mas, independentemente de qual adotais, no pode haver dvida de

    que ele faz meno da sua degradao voluntria.42Como a ama. Nesta comparao, ele assume dois pontos de que j havia tra-tado de que no havia buscado nem glria nem ganho entre os tessalonicen-ses. Pois a me, ao criar seu filho, no demonstra nenhum poder ou dignidade.Paulo diz que fora assim, porquanto voluntariamente se absteve de reivindicara honra que lhe era devida, e com mansido e modstia se sujeitara a todo otipo de ofcio. Em segundo lugar, a me, ao criar seu filho, manifesta certa afei-o rara e maravilhosa, porquanto no poupa nenhum esforo e aborrecimen-to, no evita nenhuma ansiedade, no se esgota com nenhuma assiduidade, eat d, com alegria de esprito, seu prprio sangue para ser sugado. De modo

    semelhante, Paulo declara que estivera to disposto para com os tessalonicen-ses, que estava preparado para dar a sua vida em benefcio deles. Certamente,esta no era a conduta de um homem srdido ou avarento, mas de algum queexercera uma afeio desinteressada, e ele expressa isto no final porquantonos reis muito queridos. Ao mesmo tempo, devemos ter em mente que todosaqueles que desejam ser classificados entre os verdadeiros pastores devemexercitar esta disposio de Paulo ter mais considerao pelo bem-estar daIgreja do que pela sua prpria vida; e no ser impelidos ao dever em conside-rao pelo seu proveito prprio, e sim por um amor sincero por aqueles a quemsabem que esto unidos, e colocados sob obrigao.43

    39 De toute apparence de preeminence et majeste; De toda a aparncia de pree-minncia e majestade.40 De toute hautesse et presomption; De toda a altivez e presuno.41 A traduo de Wicliff (1380) est, como de costume, em harmonia com a Vulgata we weren made litil.Ed.42 Abaissement et humilite; Abatimento e humildade.43 Pour une vraye amour et non feinte quils portent a ceux, ausquels ils scavent queDieu les a conjonts et liez ou obligez; Por um amor no fingido e verdadeiro que

    eles tm por aqueles a quem sabem que Deus os uniu, atou e comprometeu.

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    1TESSALONICENSES 2:9-12

    9. Porque bem vos lembrais, irmos, donosso trabalho e fadiga; pois, trabalhandonoite e dia, para no sermos pesados anenhum de vs, vos pregamos o evange-lho de Deus.

    9. Memoria enim tenetis, fratres, laboremnostrum et sudorem: nam die ac nocteopus facientes, ne gravaremus quenquamvestrum, praedicavimus apud vos Evan-gelium Dei.

    10. Vs e Deus sois testemunhas de quosanta, e justa, e irrepreensivelmente noshouvemos para convosco, os que crestes.

    10. Vos testes estis et Deus, ut sancte, etiuste, et sine querela vobis, qui creditis,fuerimus.

    11. Assim como bem sabeis de que modovos exortvamos e consolvamos, a cadaum de vs, como o pai a seus filhos;

    11. Quemadmodum nostis, ut unumquem-que vestrum, quasi pater suos liberos,

    12. Para que vos conduzsseis dignamen-te para com Deus, que vos chama para o

    seu reino e glria.

    12. Exhortati simus, et monuerimus etobtestati simus, ut ambularetis digne Deo,

    qui vocavit vos in suum regnum et glori-am.

    9. Porque bem vos lembrais. Estas coisas tendem a confirmar o que ele haviadito anteriormente que, para poup-los, ele no se poupara a si mesmo. Cer-tamente, ele devia arder de um zelo maravilhoso e mais que humano, porquan-to, juntamente com o labor do ensino, trabalhava com suas mos como um o-perrio, com vistas a adquirir o seu sustento, e, neste aspecto tambm, absti-nha-se de exercer o seu direito. Pois a lei de Cristo, como ele tambm ensinaem outro lugar (1 Co 9:14), que toda a igreja fornea aos seus ministros ali-mento e outras coisas necessrias. Portanto, ao no colocar nenhum fardo so-

    bre os tessalonicenses, Paulo faz algo mais do que, pelos deveres do seu of-cio, poderiam ser exigidas dele. Alm disso, ele no se abstm meramente deincorrer em despesas pblicas, mas evita sobrecarregar individualmente aqualquer um. Ademais, no pode haver dvida de que ele era influenciado poralguma considerao boa e especial, ao abster-se assim de exercer o seu di-reito,44 pois em outras igrejas ele exercia, igualmente com outros, a liberdadeque lhe era permitida.45 Ele no recebera nada dos corntios, para no dar pre-texto aos falsos apstolos de se gloriassem quanto a esta questo. Ao mesmotempo, ele no hesitara em pedir46 de outras igrejas o que lhe era necessrio,pois escreve que, enquanto trabalhava entre os corntios, sem custos, ele des-pojaraas igrejas que no servira (2 Co 11:8).47 Por isso, embora a razo no

    seja expressa aqui, podemos, no obstante, conjecturar que o motivo pelo qualPaulo estava relutante de que suas necessidades fossem atendidas era paraque tal coisa no colocasse nenhum obstculo no caminho do evangelho. Poisesta tambm deve ser uma questo de preocupao para os bons pastores para que eles possam no apenas correr com entusiasmo em seu ministrio,

    44 Entre les Thessaloniciens; Entre os tessalonicenses.45 La liberte que Dieu donne; A liberdade que Deus d.46 Il na point fait de conscience de prendre lors des autres Eglises; Ele no tiveraescrpulos em receber naquela ocasio de outras igrejas.

    47 Vede Calvino sobre Corntios, vol. 2, p. 347.

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    Comentrios de Calvino16

    mas, at onde estiver em seu poder, remover todos os obstculos no caminhoda sua jornada.

    10. Vs sois testemunhas. Ele novamente invoca a Deus e a eles como teste-munhas, com vistas a afirmar a sua integridade, e cita, por um lado, Deus comotestemunha da sua conscincia; e eles,48 por outro, como testemunhas do quesabiam por experincia. Quo santa, diz ele, e justamente, ou seja, com quetemor sincero a Deus, e com que fidelidade e inculpabilidade para com os ho-mens; e, em terceiro lugar, irrepreensivelmente, com isto significando que nohavia dado ocasio para reclamaes ou detraes. Pois os servos de Cristono podem evitar calnias, e rumores desfavorveis, pois, sendo odiados pelomundo, necessariamente devem ser mal falados entre os mpios. Por isso, elerestringe isto aos fiis, que julgam honesta e sinceramente, e no insultam per-niciosa e infundadamente.

    11. Cada um, como um pai. Ele insiste mais especificamente nas coisas que

    pertencem ao seu ofcio. Ele comparou-se a uma ama; agora, compara-se aum pai. O que quer dizer isto que estava preocupado com eles, assim comoo paiem relao aos seus filhos; e que havia exercido um verdadeiro cuidadopaternal ao instruir e admoest-los. E, sem dvida, ningum jamais ser umbom pastor, a menos que se mostre como um paipara a igreja que lhe confi-ada. Ele tambm no se declara como tal apenas ao corpo inteiro,49 mas inclu-sive aos membros em particular. Pois no basta que um pastor ensine no plpi-to a todos em comum, se ele no acrescentar tambm instrues particulares,conforme a necessidade exija, ou a ocasio apresente. Por isso, o prprio Pau-lo, em Atos 20:26, declara-se livre do sangue de todos os homens, porque nocessara de admoestar a todos publicamente, e tambm individualmente, em

    particular, nas suas casas. Pois a instruo dada em comum s vezes depouca utilidade, e alguns no podem ser corrigidos ou curados sem um rem-dio particular.

    12. Exortvamos. Ele mostra com que sinceridade se devotara ao bem-estardeles, pois relata que, ao lhes pregar a respeito da piedade para com Deus eos deveres da vida crist, no fora apenas de uma maneira perfunctria,50 masafirma ter feito uso de exortaes e rogos. uma pregao viva do evangelho,quando as pessoas no so meramente informadas do que certo, mas socompungidas(At 2:37) por exortaes, e so chamadas ao tribunal de Deus,para que no fiquem dormentes em seus vcios pois propriamente isto que

    significa rogar. Mas, se homens piedosos, cuja prontido Paulo recomenda tofortemente, estavam em completa necessidade de serem estimulados por exor-taes inspiradoras mais ainda, por rogos, o que se deve fazer conosco, emque a preguia51 da carne reina mais ainda? Ao mesmo tempo, quanto aos m-pios, cuja obstinao incurvel, necessrio denunciar sobre eles a terrvel

    48 Les Thessaloniciens; Os tessalonicenses.49 Tout le corps de ceste Eglise-la; Todo o corpo da Igreja ali.50 Il ny a point este par acquit, comme on dit; No fora no mero desempenho deuma tarefa, como dizem.

    51 La paresse et nonchalance de la chair; A indolncia e negligncia da carne.

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    vingana de Deus, no tanto na esperana de um bom resultado, mas a fim deque eles se tornem inescusveis.

    Alguns traduzem o particpio por consolvamos. Se adotar-mos esta traduo, ele quer dizer que fez uso de consolaes ao tratar dosaflitos, os quais precisam ser sustentados pela graa de Deus, e refrescadospelo provar das bnos celestiais,52 para que no percam o nimo ou se tor-nem impacientes. O outro sentido, porm, mais adequado ao contexto deque ele admoestava;pois os trs verbos, evidente, referem-se mesma coi-sa.

    Para que vos conduzsseis. Ele apresenta em poucas palavras a suma e es-sncia das suas exortaes que, ao engrandecer a misericrdia de Deus, eleos admoestara para no que no fracassassen em seu chamado. Sua reco-mendao da graa de Deus est contida na expresso: que vos chama para oseu reino. Pois, assim como a nossa salvao est fundamentada na adoo

    graciosa de Deus, todas as bnos que Cristo nos trouxe esto compreendi-das neste nico termo. Agora resta que respondamos ao chamado de Deus, ouseja, que nos mostremos como filhos dele tais como ele um Pai para ns.Pois aquele que vive de um modo outro que no convenha a um filho de Deusmerece ser excludo da famlia de Deus.

    1TESSALONICENSES 2:13-16

    13. Por isso tambm damos, sem cessar,graas a Deus, pois, havendo recebido

    de ns a palavra da pregao de Deus, arecebestes, no como palavra de ho-mens, mas (segundo , na verdade), co-mo palavra de Deus, a qual tambm ope-ra em vs, os que crestes.

    13. Quapropter nos quoque indesinentergratias agimus Deo, quod, quum sermo-

    nem Dei praedicatum a nobis percepistis,amplexi estis, non ut sermonem hominum,sed quemadmodum revera est, sermonemDei: qui etiam efficaciter agit in vobis cre-dentibus.

    14. Porque vs, irmos, haveis sido feitosimitadores das igrejas de Deus que naJudia esto em Jesus Cristo; porquantotambm padecestes de vossos prpriosconcidados o mesmo que os judeus lhesfizeram a eles,

    14. Vos enim imitatores facti estis, fratres,Ecclesiarum Dei, quae sunt in Iudaea inChristo Iesu: quia eadem passi estis et vosa propriis tribulibus, quemadmodum et ipsia Iudaeis.

    15. Os quais tambm mataram o SenhorJesus e os seus prprios profetas, e nostm perseguido; e no agradam a Deus,e so contrrios a todos os homens,

    15. Qui Dominum Iesum occiderunt, etproprios Prophetas, et nos persequutisunt, et Deo non placent, et cunctis homi-nibus adversi sunt:

    52 Fortifiez ou soulagez en leur rafrechissant le goust des biens celestes; Fortale-

    cidos ou confortados revigorando seu gosto pelas bnos celestiais.

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    16. E nos impedem de pregar aos gentiosas palavras da salvao, a fim de enche-rem sempre a medida de seus pecados;mas a ira de Deus caiu sobre eles at aofim.

    16. Qui obsistunt ne Gentibus loquamur, utsalvae fiant, ut compleantur eorum pecca-ta semper: pervenit enim in eos ira usquein finem.

    13. Por isso tambm damos graas. Tendo falado do seu ministrio, ele volta atratar dos tessalonicenses, a fim de sempre recomendar a mtua harmonia deque anteriormente havia feito meno.53 Portanto, afirma dar graas a Deusporque eles haviam abraado a palavra que ouviram da sua boca como a pala-vra de Deus, segundo era de fato. Ora, por estas expresses ele quer dizer queela fora recebida por eles reverentemente, e com a obedincia que lhe era de-vida. Pois, to logo esta persuaso tenha se estabelecido, impossvel queno tome posse de nossas mentes um sentimento de obrigao de obedecer.54Pois quem no se estremeceria com o pensamento de resistir a Deus? Quemno contemplaria com abominao o desprezo a Deus? Portanto, a circunstn-

    cia de que a palavra de Deus seja considerada por muitos com tal desprezoque mal seja estimada em qualquer valor, que muitos no sejam de modo al-gum incitados pelo temor, surge disto que eles no consideram que tero dese ver com Deus.

    Por isso, aprendemos com esta passagem que crdito se deve dar ao evange-lho crdito tal que no dependa da autoridade de homens, mas, apoiando-sena segura e certa verdade de Deus, eleve-se acima do mundo; e, por fim, este-ja tanto mais acima da mera opinio quanto o cu est acima da terra;55 e, emsegundo lugar, crdito tal que produza por si mesmo a reverncia, o temor e aobedincia, porquanto os homens, tocados por um sentimento da majestade

    divina, nunca se concedero brincar com ela. Os mestres56

    so, por sua vez,admoestados a terem cuidado para no apresentarem outra coisa que no sejaa pura palavra de Deus, pois, se isto no fora permitido a Paulo, no ser paraqualquer um no tempo atual. Contudo, ele prova, a partir do efeito produzido,que fora a palavra de Deus que ele havia entregado, porquanto ela havia pro-duzido aquele fruto da doutrina celestial que os profetas celebram (Is 55:11, 13;Jr 23:29), ao renovar a vida deles,57 pois a doutrina dos homens no poderiarealizar tal coisa. O pronome relativo pode ser entendido como se referindo oua Deusou sua palavra, mas independentemente de qual escolherdes, o sen-tido ser o mesmo, pois, na medida em que os tessalonicenses sentiam em simesmos uma fora divina, que procedia da f, eles poderiam ficar seguros de

    53 Calvino refere-se aqui harmonia que felizmente subsistia entre a pregao de Pau-lo e a f dos tessalonicenses.Ed.54 Il ne se pent faire que nous ne venions quant et quant a avoir une saincte affectiondobeir; S podemos ao mesmo tempo ter uma santa disposio de obedecer.55 Aussi lois dune opinion, ou dun cuider; Tanto mais acima da opinio, ou ima-ginao.56 Les Docteurs, cest a dire ceux qui ont la charge denseigner; Os mestres, ouseja, aqueles que tm a tarefa de instruir.57

    En renouvelant et reformant la vie des Thessaloniciens; Ao renovar e reformara vida dos tessalonicenses.

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    que o que haviam ouvido no era um mero som da voz humana que desapare-ce no ar, mas a doutrina de Deus, viva e eficaz.

    Quanto expresso: a palavra da pregao de Deus, significa simplesmente,conforme traduzi, a palavra de Deus pregada pelo homem. Paulo queria dizerexpressamente que eles no haviam olhado para a doutrina como desprezvel embora tivesse procedido da boca de um homem mortal porquanto reco-nheciam Deus como o seu autor. Concordemente, ele louva os tessalonicen-ses, porque no se apoiavam na mera considerao pelo ministro, mas eleva-vam seus olhos a Deus, a fim de receberem a sua palavra. Concordemente,no hesitei em inserir a partcula ut (para que), com o fim de tornar o sentidomais claro. H um erro por parte de Erasmo, ao traduzir como: a palavra doouvir a Deus, como se Paulo quisesse dizer que Deus havia se manifestado.Posteriormente, ele a mudou para: a palavra pela qual aprendestes a Deus,pois no atentara para o idiomatismo hebraico.58

    14. Porque haveis sido feito imitadores. Se estiverdes inclinados a restringir isto clusula em conexo imediata, o sentido ser de que o poder de Deus, ou dasua palavra, revela-se no sofrimento paciente deles, enquanto suportam perse-guies com magnanimidade e destemida coragem. Contudo, prefiro conside-rar isto como se estendendo a toda a declarao anterior, pois ele confirma oque disse, que os tessalonicenses haviam com toda a sinceridade abraado oevangelho, como se apresentado a eles por Deus, porquanto sofriam corajo-samente os assaltos que Satans lhes fazia, e no se recusavam a sofrerqualquer coisa, exceto deixar de obedec-lo. E, sem dvida, no um testeinsignificante da f quando Satans, por todas as suas maquinaes, no temsucesso em nos demover do temor a Deus.

    Ao mesmo tempo, ele previne prudentemente uma tentao perigosa que po-deria prostrar ou atorment-los; pois eles suportavam terrveis aflies daquelanao que era a nica no mundo que se gloriava no nome de Deus.

    Suponho que isto poderia ocorrer mente deles: Se esta a verdadeira religi-o, por que os judeus, que so o povo santo de Deus, se lhe opem com hosti-lidade to inveterada? Com vistas a remover este ensejo de escndalo,59 emprimeiro lugar, ele mostra que eles tinham isto em comum com as primeirasigrejas que estavam na Judia;em seguida, ele afirma que os judeus so ini-migos resolutos de Deus e de toda a s doutrina. Pois, embora, quando diz queeles sofriam de seus prprios concidados, isto pode ser explicado em refern-cia a outros que no os judeus, ou ao menos no deve ser restrito exclusiva-mente aos judeus; contudo, como ele ainda insiste em descrever a obstinaoe impiedade deles, evidente que estas mesmas pessoas so advertidas porele desde o princpio. provvel que em Tessalnica alguns daquela naohouvessem se convertido a Cristo. Parece, contudo, pela narrativa fornecidaem Atos, que ali, no menos que na Judia, os judeus eram perseguidores do

    58 Car il na pas prins garde que cestoit yci une faon de parler prinse de la langueHebraique; Pois ele no notara que era uma forma de expresso tomada da ln-gua hebraica.

    59 Aux Thessaloniciens; Para os tessalonicenses.

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    evangelho. Concordemente, entendo isto como sendo falado indiscriminada-mente tanto acerca de judeus como de gentios, porquanto ambos suportavamgrandes combates e ataques ferozes dos seus prprios concidados.

    15. Os quais mataram o Senhor Jesus. Como esse povo havia se distinguidopor tantos benefcios de Deus, em consequncia da glria dos patriarcas, oprprio nome60 era de grande autoridade entre muitos. Para que essa mscarano encantasse os olhos de ningum, ele priva os judeus de toda a honra, nolhes deixando nada alm do dio e da maior infmia.

    Vede, diz ele, as virtudes pelas quais eles merecem louvor entre os bons epiedosos! eles mataram seus prprios profetas e, por fim, o Filho de Deus;eles perseguiram a mim, seu servo, eles fazem guerra contra Deus, so detes-tados por todo o mundo, so hostis salvao dos gentios; por fim, eles estodestinados destruio eterna.

    Questiona-se, por que ele diz que Cristo e os profetas foram mortos pelasmesmas pessoas? Respondo que isto se refere a todo o corpo,61 pois Pauloquer dizer que no h nada de novo ou incomum na resistncia deles a Deus,mas que, pelo contrrio, eles esto, deste modo, enchendo a medida de seuspais, como fala Cristo (Mt 23:32).

    16. Que nos impedem de pregar aos gentios. No sem um bom motivo que,conforme foi observado, ele entra em tantos detalhes ao expor a malcia dosjudeus.62 Como eles se opunham furiosamente ao evangelho em toda a parte,surgia disto um grande obstculo, mais especificamente quando exclamavamque o evangelho era profanado por Paulo, quando o publicava entre os gentios.Por esta calnia eles causavam divises nas igrejas, tiravam dos gentios a es-

    perana da salvao, e obstruam o progresso do evangelho. Paulo, concor-demente, acusa-os deste crime de que viam a salvao dos gentios com in-veja, mas acrescenta que as coisas so assim para que a medida dos seuspecados se encha, a fim de remover deles toda a reputao de piedade; assimcomo, ao dizer antes que eles no agradavam a Deus(1 Ts 2:15), ele queriadizer que eram indignos de serem considerados entre os adoradores de Deus.Contudo, deve-se observar o modo de expresso, implicando que aqueles queperseveram em um caminho mau enchem deste modo a medida do seu juzo,63at que faam dela um monto. Este o motivo pelo qual o castigo dos mpios geralmente adiado porque suas impiedades, por assim dizer, ainda noesto maduras. Atravs disto somos alertados de que devemos ter toda a cau-tela para que no ocorra que, acrescentando, de tempo em tempo,64 pecado apecado, como geralmente acontece, o monto finalmente chegue at o cu.

    60 De Juif; De judeu.61 A tout le corps du peuple; A todo o corpo do povo.62 Il insiste si longuement a deschiffrer et toucher au vif la malice des Juifs; Eleinsiste tanto em expor distintamente e alcanar, at a medula, a malcia dos judeus.63 Et condemnation; E condenao.

    64 Chacun jour; A cada dia.

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    1 Tessalonicenses 21

    Mas a ira caiu. Ele quer dizer que eles se encontram em um estado absoluta-mente desesperado, porquanto so vasos da ira do Senhor. A justa vinganade Deus os oprime e os persegue, e no os deixar at que peream como o caso com todos os rprobos, que correm precipitadamente para a morte, pa-

    ra o que esto destinados. Contudo, o apstolo faz esta declarao quanto atodo o corpo do povo, de tal modo a no privar os eleitos de esperana. Pois,como a maior parte resistiu a Cristo, ele fala, verdade, de toda a nao emgeral; mas devemos ter em vista a exceo que ele mesmo faz em Rm 11:5 de que o Senhor sempre ter alguma semente remanescente. Devemos sem-pre ter em vista o propsito de Paulo de que os fiis devem cuidadosamenteevitar a associao com aqueles que a justa vingana de Deus persegue, atque peream em sua obstinao cega. Ira, sem qualquer termo adicional, signi-fica o juzo de Deus, como em Rm 4:15 a lei opera a ira; tambm em Rm12:19 no deis lugar ira.

    1TESSALONICENSES 2:17-20

    17. Ns, porm, irmos, sendo privadosde vs por um momento de tempo, devista, mas no do corao, tanto maisprocuramos com grande desejo ver ovosso rosto;

    17. Nos vero, fratres, orbati vobis ad tem-pus horae65 aspectu, non corde, abundan-tius studuimus faciem vestram videre inmulto desiderio.

    18. Por isso bem quisemos uma e outravez ir ter convosco, pelo menos eu, Pau-lo, mas Satans no-lo impediu.

    18. Itaque voluimus venire ad vos, egoquidem Paulus, et semel et bis, et obstititnobis Satan.

    19. Porque, qual a nossa esperana, ougozo, ou coroa de glria? Porventura noo sois vs tambm diante de nosso Se-nhor Jesus Cristo em sua vinda?

    19. Quae enim nostra spes, vel gaudium,vel corona gloriationis? annon etiam voscoram Domino nostro Iesu Christo in eiusadventu?

    20. Na verdade vs sois a nossa glria egozo.

    20. Vos enim estis gloria nostra et gaudi-um.

    17. Ns, porm, irmos, sendo privados de vs. Esta escusa foi acrescentadaapropriadamente, para que os tessalonicenses no pensassem que Paulo oshavia abandonado enquanto uma emergncia to grande exigia a sua presen-a. Ele falou acerca das perseguies que eles suportavam do seu prprio po-

    vo; ao mesmo tempo, ele, cujo dever era, acima de todos os outros, assisti-los,estava ausente. Anteriormente ele chamou-se a si mesmo de pai;ora, no opapel de um paiabandonar seus filhos em meio a tais angstias. Concorde-mente, ele previne todo indcio de desprezo e negligncia dizendo que no forapor falta de disposio, mas porque no tivera oportunidade. Tambm no dizsimplesmente: Eu queria vir a vs, mas o meu caminho foi obstrudo; mas,pelos termos peculiares que emprega, exprime a intensidade do seu afeto:Quando, diz, fui privado de vs.66 Pela palavra privado, ele declara quo

    65 Pour un moment du temps; Por um momento de tempo.66

    A palavra original aqui bastante enftica. uma aluso quela aflio, ansiedadee relutncia do corao, com que os pais afetuosos, morrendo, se despedem dos seus

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    Comentrios de Calvino22

    triste e aflitivo para ele era estar ausente deles.67 Isto seguido por uma ex-presso mais plena de seu sentimento de desejo que era com dificuldade queele podia suportar a ausncia deles por um breve perodo de tempo. No dese admirar se a extenso do tempo causa cansao e tristeza; mas devemos ter

    um sentimento forte de apego, quando achamos difcil esperar sequer uma ni-ca hora. Ora, pelo espao de uma hora, ele quer dizer um breve perodo detempo.

    Isto seguido por uma correo que ele estava separado deles na aparncia,no no corao para que soubessem que a distncia do espao de modoalgum diminui o seu apego. Ao mesmo tempo, isto no poderia ser aplicadomenos propriamente aos tessalonicenses, no sentido de que eles, de sua par-te, se sentiam unidos na mente, embora ausentes no corpo;pois no era depequena importncia para o assunto em questo que ele declarasse quo ple-namente seguro estava do afeto deles em retribuio para com ele. Contudo,

    ele revela mais plenamente o seu afeto quando diz que tanto mais se esforoupois quer dizer que o seu afeto estava to longe de ser diminudo por deix-los, que havia sido ainda mais inflamado. Quando diz: uma e outra vez, ele de-clara que no fora um calor repentino, que rapidamente esfriou (como s vezesvemos acontecer), mas que esteve constante neste propsito,68 porquantobuscara vrias oportunidades.

    18. Satans no-lo impediu. Lucas relata que Paulo em certa ocasio fora impe-dido (At 20:3), porquanto os judeus colocaram uma emboscada para ele nocaminho. A mesma coisa, ou algo semelhante, pode ter acontecido com fre-quncia. No sem um bom motivo, porm, que Paulo atribui tudo isto a Sata-ns, pois, como ensina em outro lugar (Ef 6:12), no temos de lutar contra a

    carne e o sangue, mas sim contra os principados do ar, contra as hostes espiri-tuais da maldade, etc. Sempre que os mpios nos molestam, eles lutam sob abandeira de Satans, e so seus instrumentos para nos atormentar. Mais es-pecificamente, quando nossos esforos so direcionados para a obra do Se-nhor, certo que todas as coisas que impedem procedem de Satans; e quise-ra Deus que este sentimento fosse mais profundamente gravado nas mentesde todas as pessoas piedosas que Satans est continuamente planejando,por todos os meios, de que maneira pode impedir ou obstruir a edificao daIgreja! Certamente seramos mais cuidadosos em resistir-lhe; teramos maiscuidado em manter a s doutrina, da qual esse inimigo to sutilmente se esfor-a por nos privar. Tambm saberamos, sempre que o curso do evangelho detido, de onde procede o impedimento. Ele diz em outro lugar (Rm 1:13) queDeus no lhe havia permitido, mas as duas coisas so verdadeiras, pois, em-bora Satans faa a sua parte, Deus retm a autoridade suprema, abrindo um

    filhos, quando esto para deix-los rfos desamparados, expostos s injustias deum mundo impiedoso e mau, ou aquela tristeza de corao com que pobres rfosdestitudos fecham os olhos de seus pais morrendo.Benson.Ed.67 Le mot Grec signifie lestat dun pere qui a perdu ses enfans, ou des enfans qui ontperdu leur pere; A palavra grega denota a condio de um pai que perdeu seusfilhos, ou de filhos que perderam seu pai.

    68 Hujus propositi tenacem. Vede Hor. Od. 3, 3. 1. Ed.

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    1 Tessalonicenses 23

    caminho para ns, sempre que lhe parea bom, contra a vontade de Satans, ea despeito da sua oposio. Concordemente, Paulo afirma com verdade queDeus no permite, embora o impedimento venha de Satans.

    19. Porque, qual a nossa esperana. Ele confirma aquele desejo ardoroso, doqual havia feito meno, porquanto tem a sua alegria de certo modo entesou-rada neles. A menos que eu me esquea de mim mesmo, necessariamentedesejarei a vossa presena, pois sois a nossa glria e alegria. Ademais, quan-do ele os chama de sua esperana e coroa da sua glria, no devemos enten-der isto como significando que se gloriava em qualquer outro alm de Deus, esim que podemos nos gloriar em todos os favores de Deus, em seu devido lu-gar, de tal modo que ele seja sempre o objeto do nosso alvo, conforme expli-quei mais detalhadamente na primeira Epstola aos Corntios.69 Contudo, de-vemos inferir a partir disto que os ministros de Cristo, no ltimo dia, conformeindividualmente promoveram o seu reino, sero participantes de glria e triunfo.

    Portanto, que eles aprendam agora a no se regozijar e a se gloriar em nadaalm do resultado prspero dos seus esforos, quando virem que a glria deCristo promovida pela sua instrumentalidade. A consequncia ser que elessero estimulados por aquele esprito de afeio pela Igreja que deveriam ter.A partcula tambm denota que os tessalonicenses no eram os nicos emquem Paulo triunfava, mas que eles tinham um lugar entre muitos. A partculacausal (pois), que ocorre quase que logo aps, empregada aqui no emseu sentido estrito, com o propsito de afirmar certamentevs sois.

    1TESSALONICENSES 3:1-5

    1. Por isso, no podendo esperar mais,achamos por bem ficar sozinhos em Ate-nas;

    1. Quare non amplius sufferentes censu-imus, ut Athenis relinqueremur soli:

    2. E enviamos Timteo, nosso irmo, eministro de Deus, e nosso cooperador noevangelho de Cristo, para vos confortar evos exortar acerca da vossa f;

    2. Et misimus Timotheum fratrem nostrum,et ministrum Dei, et cooperarium nostrumin evangelio Christi, ut confirmaret vos, etvobis animum adderet ex fide nostra,

    3. Para que ningum se comova por es-tas tribulaes; porque vs mesmos sa-beis que para isto fomos ordenados,

    3. Ut nemo turbaretur in his afflictio-nibus:ipsi enim nostis quod in hoc sumus cons-tituti.

    4. Pois, estando ainda convosco, vospredizamos que havamos de ser afligi-dos, como sucedeu, e vs o sabeis.

    4. Etenim quum essemus apud vos, prae-diximus vobis quod essemus afflictionespassuri; quemadmodum etiam accidit, etnostis.

    5. Portanto, no podendo eu tambmesperar mais, mandei-o saber da vossaf, temendo que o tentador vos tentasse,e o nosso trabalho viesse a ser intil.

    5. Quamobrem et ego non amplius susti-nens, misi ut cognoscerem fidem vestram:ne forte tentasset vos, is qui tentat, et exi-nanitus esset labor noster.

    69 Sur la premiere aux Corinth., chap. 1, d. 31; Sobre 1 Co 1:31.

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    Comentrios de Calvino24

    1. Por isso, no podendo esperar mais. Pelo detalhe que segue, ele lhes asse-gura o desejo de que havia falado. Pois se, ao ser detido em outra parte, nohouvesse enviado a Tessalnica outro em seu lugar, poderia parecer que noestava to preocupado com eles; mas, quando pe Timteo em seu lugar, ele

    remove essa desconfiana, mais especialmente quando prefere antes a eles doque a ele. Ora, que os considerava mais do que a ele, ele revela a partir disto que preferiu antes ficar sozinho do que eles ficarem abandonados; pois estaspalavras, achamos por bem ficar sozinhos, so enfticas. Timteo era umcompanheiro mui fiel para ele naquela ocasio, no tinha outros consigo; porisso, era inconveniente e penoso para si ficar sem ele. Portanto, um sinal derara afeio e desejo anelante que ele no se recuse a privar-se de todo o con-forto, com vistas a aliviar os tessalonicenses. Tem o mesmo sentido a palavra, que expressa uma pronta inclinao da mente.70

    2. Nosso irmo. Ele lhe designa esses sinais de recomendao, a fim de mos-

    trar com a maior clareza o quanto estava inclinado a considerar o bem-estardeles; pois, se lhes houvesse enviado uma pessoa comum, isto no poderia terlhes fornecido tanta assistncia; e, porquanto Paulo teria feito isto sem incon-venincia para si, ele no teria dado nenhuma prova distintiva do seu cuidadopaternal por eles. Por outro lado, algo notvel que ele se prive de um irmoecooperador, e algum que, conforme declara em Fp 2:20, no encontrara igual porquanto todos visavam a promoo dos seus prprios interesses. Ao mes-mo tempo,71 ele assegura autoridade para a doutrina que eles haviam recebidode Timteo, a fim de que permanecesse mais profundamente gravada na me-mria deles.

    Contudo, com um bom motivo que ele diz que havia enviado Timteocomeste objetivo para que recebessem uma confirmao da sua fatravs doseu exemplo. Eles poderiam ser intimidados por relatos desagradveis quantoa perseguies; mas a constncia destemida de Paulo era tanto mais adequa-da para anim-los, impedindo-os de recuarem. E, certamente, a comunho quedeveria subsistir entre os santos e membros de Cristo se estende at aqui que a f de um a consolao de outros. Assim, quando os tessalonicensesouviram que Paulo seguia com zelo infatigvel, e pela fora da f superava to-dos os perigos e todas as dificuldades, e que a sua f continuava vitoriosa emtoda a parte contra Satans e o mundo, isto lhes trouxe no pequena consola-o. Ainda mais especialmente ns devemos, ou ao menos deveramos, ser

    estimulados pelos exemplos daqueles por quem somos instrudos na f, con-forme dito no final da Epstola aos Hebreus (Hb 13:7). Paulo, concordemente,quer dizer que eles deveriam ser fortalecidos pelo seu exemplo, no recuandosob as aflies. Porm, como eles poderiam ter se ofendido, caso Paulo tives-se nutrido um temor de que todos tivessem recuado sob as perseguies (por-quanto isto seria evidncia de excessiva desconfiana), ele suaviza esta aspe-reza dizendo: para que ningum, ou, para que nenhum. Havia, contudo, um

    70 Une affection prompte et procedante dun franc coeur; Uma disposio imedia-ta, procedente de uma mente bem disposta.

    71 En parlant ainsi; Falando assim.

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    1 Tessalonicenses 25

    bom motivo para temer isto, uma vez que em toda a sociedade sempre existempessoas fracas.

    3. Porque vs mesmos sabeis. Como todos alegremente se isentariam da ne-cessidade de levar a cruz, Paulo ensina que no h razo para os fiis se sen-tirem desanimados por ocasio das perseguies, como se fosse algo novo eincomum, porquanto esta a nossa condio, a qual o Senhor nos atribuiu.Pois esta forma de expresso para isto fomos ordenados como se eletivesse dito que somos cristos com esta condio. Contudo, ele afirma queeles sabem isto, porque convinha que lutassem com a maior bravura,72 vistoque haviam sido prevenidos a tempo. Alm disso, as aflies incessantes tor-naram Paulo desprezvel entre as pessoas rudes e ignorantes. Por esta causa,ele afirma que nada lhe havia sucedido seno o que muito tempo antes, ma-neira de um profeta, havia predito.

    5. Temendo que o tentador vos tentasse. Por este termo ele nos ensina que as

    tentaes sempre devem ser temidas, porque o ofcio prprio de Satanstentar. Porm, assim como ele nunca deixa de colocar emboscadas para nsde todos os lados, e armar ciladas para ns por toda a parte, do mesmo mododevemos estar de vigilncia, zelosamente atentos. E agora ele diz abertamenteo que no comeo havia evitado dizer, por ser muito duro que havia se preo-cupado com que seus esforosfossem vos, caso, talvez, Satans prevaleces-se. E isto faz para que eles estejam cautelosamente de guarda, e se animemcom o maior vigor para a resistncia.

    1TESSALONICENSES 3:6-10

    6. Vindo, porm, agora Timteo de vspara ns, e trazendo-nos boas novas davossa f e amor, e de como sempre ten-des boa lembrana de ns, desejandomuito ver-nos,

    6. Nuper autem quum venisset Timotheusad nos a vobis, et annuntiasset nobis fi-dem et dilectionem vestram, et quod bo-nam nostri memoriam habetis semper,desiderantes nos videre, quemadmodumet nos ipsi vos:

    7. Por esta razo, irmos, ficamos conso-lados acerca de vs, em toda a nossaaflio e necessidade, pela vossa f,

    7. Inde consolationem percepimus fratresde vobis, in omni tribulatione et necessita-te nostra per vestram fidem:

    8. Porque agora vivemos, se estais firmes

    no Senhor.

    8. Quia nunc vivimus, si vos stasis in Do-

    mino.9. Porque, que ao de graas podere-mos dar a Deus por vs, por todo o gozocom que nos regozijamos por vossa cau-sa diante do nosso Deus,

    9. Quam enim gratiarum actionem possu-mus Deo reddere de vobis, in omni gaudioquod gaudemus propter vos coram Deonostro;

    10. Orando abundantemente dia e noite,para que possamos ver o vosso rosto, esupramos o que falta vossa f?

    10. Nocte ac die supra modum precantes,ut videamus faciem vestram, et supplea-mus quae fidei vestrae desunt?

    72 Plus vaillamment et courageusement; Mais valente e corajosamente.

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    Comentrios de Calvino26

    Ele revela aqui, por meio de outro argumento, por que afeio extraordinriaera impulsionado para com eles, porquanto fora transportado praticamente pa-ra fora dos seus sentidos pelas alegres notcias de que estavam em uma con-dio prspera. Pois devemos notar as circunstncias que ele relata. Ele esta-

    va em aflioe necessidade;portanto, poderia parecer que no houvesse lugarpara nimo. Mas, quando ouve o que era muito desejado por ele com respeitoaos tessalonicenses, como se todo o seu sentimento de angstia tivesse seextinguido, ele impelido alegria e congratulao. Ao mesmo tempo ele con-tinua, por graus, exprimindo a grandeza da sua alegria, pois afirma, antes detudo: ficamos consolados;depois, fala de um gozo que fora abundantementederramado.73 Esta congratulao,74 porm, tem a fora de uma exortao; e ainteno de Paulo era incitar os tessalonicenses perseverana. E, segura-mente, deve ter sido um mui forte despertamento, quando souberam que osanto apstolo sentira to grande consolao e alegria pelo progresso da pie-dade deles.

    6. F e amor. Esta forma de expresso deveria ser mais atentamente observa-da por ns em proporo frequncia com que utilizada por Paulo, pois, nes-tas duas palavras, ele inclui brevemente toda a importncia da verdadeira pie-dade. Por isso, todos os que miram neste duplo alvo durante toda a sua vidaesto fora de qualquer perigo de errar; todos os outros, por mais que se tortu-rem, vagueiam miseravelmente. A terceira coisa que ele acrescenta quanto sua boa lembranapor eles refere-se ao respeito nutrido pelo Evangelho. Poisno era por outra razo que eles tinham Paulo em tanto afeto e estima.

    8. Porque agora vivemos. Aqui se mostra ainda mais claramente que Pauloquase que se esqueceu de si mesmo por amor aos tessalonicenses, ou, ao

    menos, tendo por si mesmo uma mera considerao secundria, devotou seusprimeiros e melhores pensamentos a eles. Ao mesmo tempo, ele no fez issotanto por afeio a homens do que por um anelo pela glria do Senhor. Pois ozelo por Deus e Cristo ardiam em seu peito santo a tal ponto que, de certo mo-do, tragava todas as outras ansiedades. Vivemos, diz ele, ou seja, estamosem boa sade, se estais firmes no Senhor. E, sob o advrbio agora, ele repeteo que havia dito antes que havia estado grandemente oprimido pela aflioenecessidade;por outro lado, declara que qualquer mal que sofrer em sua pr-pria pessoa no impedir a sua alegria. Ainda que em mim mesmo esteja mor-to, em vosso bem-estar eu vivo. Atravs disto todos os pastores so admoes-tados quanto a que tipo de relao deve subsistir entre eles e a Igreja queeles se considerem felizes quando vai bem Igreja, ainda que estejam em ou-tros aspectos cercados por muitas misrias; e, por outro lado, que se consu-mam de tristeza e angstia quando virem o edifcio que construram em estadode decomposio, ainda que as coisas de outro modo estejam alegres e prs-peras.

    73 Ample et abondante; Grande e abundante.74 Ceste faon de tesmoigner la joye quil sent de la fermete des Thessaloniciens;

    Esta maneira de testificar a alegria que ele sente na firmeza dos tessalonicenses.

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    1 Tessalonicenses 27

    9. Porque, que ao de graas. No satisfeito com uma simples afirmao, elesugere quo extraordinria a grandeza da sua alegria, questionando-se queao de graas pode render a Deus;pois, falando assim, ele declara que nopode encontrar uma expresso de gratido que alcance a medida da sua ale-

    gria. Ele afirma que se regozija diante de Deus, ou seja, verdadeiramente esem qualquer pretenso.

    10. Orando abundantemente. Ele volta a uma expresso acerca do seu desejo.Pois nunca nos permitido congratularmos a homens, enquanto vivem nestemundo, em termos to imprprios que nem sempre desejemos algo melhor pa-ra eles. Pois eles ainda esto no caminho podem recuar, se desviar, oumesmo voltar atrs. Por isso, Paulo est desejoso de ter oportunidade de supriro que falta fdos tessalonicenses. Mas a partir disto inferimos que aquelesque ultrapassam em muito a outros ainda esto muito distantes do alvo. Porisso, independentemente do progresso que possamos ter feito, tenhamos sem-

    pre em vista as nossas deficincias()

    75

    para que no sejamos relu-tantes em mirar em algo mais alm.

    Atravs disto tambm se mostra quo necessrio que prestemos cuidadosaateno doutrina, pois os mestres76 no foram designados meramente comvistas a guiar os homens, no curso de um s dia ou ms, f de Cristo, mascom o propsito de aperfeioar a f que foi iniciada. Mas, quanto a Paulo rei-vindicar para si o que em outro lugar ele declara pertencer peculiarmente aoEsprito Santo (1 Co 14:14), isto deve ser restrito ao ministrio. Ora, como oministrio de um homem inferior eficcia do Esprito, e, para usar a expres-so comum, subordinado a ele, nada dele diminudo. Quando afirma queorava dia e noite fora de qualquer medida comum,77podemos deduzir a partirdestas palavras como ele era assduo ao orar a Deus, e com que ardor e dedi-cao cumpria esse dever.

    1TESSALONICENSES 3:11-13

    11. Ora, o mesmo nosso Deus e Pai, enosso Senhor Jesus Cristo, encaminhe anossa viagem para vs.

    11. Ipse autem Deus et Pater noster, etDominus noster Iesus Christus viam nos-tram ad vos dirigat.

    75 . Afterings of faith, conforme se pode significativamente tra-duzir, mas que seja perdoada a novidade da expresso.HowesWorks, (London,1822,) volume 3, pgina 70.Ed76 Les Docteurs et ceux qui ont charge denseigner en lEglise; Os mestres e a-queles que tm a tarefa de instruir na Igreja.77 Noite e dia orando excessivamente Suplicando a Deus em todo o tempo;mistu-rando isto com todas as minhas oraes; , abundando esuperabundando em minhas splicas a Deus, para que me permita revisitar-vos.Dr.

    A. Clarke.Ed.

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    Comentrios de Calvino28

    12. E o Senhor vos aumente, e faa cres-cer em amor uns para com os outros, epara com todos, como tambm o fazemospara convosco;

    12. Vos autem Dominus impleat et abun-dare faciat caritate mutua inter vos et ergaomnes: quemadmodum et nos ipsi affectisumus erga vos:

    13. Para confirmar os vossos coraes,para que sejais irrepreensveis em santi-dade diante de nosso Deus e Pai, na vin-da de nosso Senhor Jesus Cristo comtodos os seus san-tos.

    13. Ut confirmet corda vestra irreprehensi-bilia, in sanctitate coram Deo et Patre nos-tro, in adventu Domini nostri Iesu Christi,cum omnibus sanctis eius.

    11. Ora, o mesmo Deus. Agora ele faz orao para que o Senhor, tendo remo-vido os obstculos de Satans, possa abrir uma porta para ele e ser como queo guia e condutor do seu caminho aos tessalonicenses. Atravs disto ele suge-re que no podemos dar um passo com sucesso,78 a no ser sob a orientaode Deus; mas que, quando ele estende a sua mo, em vo que Satans em-prega todos os esforos para mudar a direo da nossa jornada. Devemos ob-servar que ele atribui o mesmo ofcio a Deus e a Cristo, uma vez que, semsombra de dvida, o Pai no concede nenhuma bno sobre ns exceto atra-vs da mo de Cristo. Porm, quando assim fala de ambos nos mesmos ter-mos, ele ensina que Cristo possui divindade e poder em comum com o Pai.

    12. E o Senhor vos aumente. Aqui temos outra orao que, enquanto isso,embora seu caminho esteja obstrudo, o Senhor, durante a sua ausncia, pos-sa confirmar os tessalonicenses em santidade, e ench-los de amor. E, a partirdisto, aprendemos novamente em que consiste a perfeio da vida crist emamor e pura santidade do corao, que flui da f. Ele recomenda o amor mutu-amente nutrido de uns para com os outros, e depois para com todos, pois, as-

    sim como conveniente que tenha incio com aqueles que so da famlia da f(Gl 6:10), do mesmo modo o nosso amor deve se dirigir a toda a raa humana.Ademais, assim como a conexo mais prxima deve ser nutrida,79 do mesmomodo no devemos negligenciar aqueles que esto distantes de ns, impedin-do-os de manter o seu lugar apropriado.

    Ele queria que os tessalonicenses abundassem em amor e fossem cheios dis-to, porque, na medida em que fazemos progresso no conhecimento de Deus, oamor aos irmos deve, ao mesmo tempo, aumentar em ns, at que tome pos-se de todo o nosso corao, o amor corrupto do eu sendo extirpado. Ele orapara que o amor dos tessalonicenses possa ser aperfeioado por Deus suge-

    rindo que o seu aumento, no menos do que o seu comeo, provinha de Deussomente. Por isso, fica evidente que papel absurdo fazem aqueles que medema nossa fora pelos preceitos da lei divina. O fim da lei o amor, diz Paulo (1Tm 1:5), contudo ele mesmo declara que isto obra de Deus. Portanto, quandoDeus abaliza a nossa vida,80 ele no olha para o que podemos fazer, mas exi-78 Nous ne pouvons dun cost ne dautre faire un pas qui proufite et viene a bien; No podemos dar um passo de um lado nem de outro que seja proveitoso ou prspe-ro.79 Il faut recognoistre et entretenir; Devemos reconhecer e manter.80 Nous prescrit en ses commandemens la regle de vivre; Prescreve-nos em seusmandamentos a regra da vida.

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    1 Tessalonicenses 29

    ge de ns o que est acima da nossa fora, para que aprendamos a buscardele poder para cumpri-lo. Quando diz: como tambm ns para convosco, eleos estimula pelo seu prprio exemplo.

    13. Para confirmar os vossos coraes. Ele emprega o termo coraesaquipara se referir conscincia, ou a parte mais interior da alma; pois quer dizerque um homem aceitvel a Deus somente quando traz a santidade de cora-o; ou seja, no meramente exterior, mas tambm interiormente. Mas questi-ona-se se por meio da santidade podemos ficar de p no tribunal de Deus,pois, nesse caso, qual o propsito da remisso dos pecados? Contudo, aspalavras de Paulo parecem implicar isto: que as suas conscincias fossem ir-reprovveis em santidade. Eu respondo que Paulo no exclui a remisso dospecados, atravs da qual ocorre que a nossa santidade, que de outro modoest misturada em muitas contaminaes, aceita aos olhos de Deus; pois af, pela qual Deus apaziguado em relao a ns, perdoando as nossas fal-

    tas,

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    precede tudo o mais, assim como o fundamento vem antes da constru-o. Contudo, Paulo no nos ensina como ou quo grande a santidade doscrentes pode ser, mas deseja que ela possa aumentar, at que alcance a suaperfeio. Por esta causa diz: na vinda de nosso Senhor, querendo dizer que aconcluso das coisas que o Senhor agora comea em ns dilatada at essaocasio.

    Com todos os seus santos. Esta clusula pode ser explicada de duas maneiras ou como significando que os tessalonicenses, com todos os santos, podemter coraes puros na vinda de Cristo, ou que Cristo vir com todos os seussantos. Embora eu adote este segundo sentido, no que diz respeito constru-o das palavras, ao mesmo tempo no tenho dvida de que Paulo empregou

    o termo santoscom o propsito de nos admoestar que somos chamados porCristo com esta finalidade para que sejamos reunidos com todos os seussantos. Pois esta considerao deveria estimular o nosso desejo de santidade.

    1TESSALONICENSES 4:1-5

    1. Finalmente, irmos, vos rogamos eexortamos no Senhor Jesus, que assimcomo recebestes de ns, de que maneiraconvm andar e agradar a Deus, assim

    andai, para que possais progredir cadavez mais.

    1. Ergo quod reliquum est, fratres, roga-mus vos et obsecramus in Domino Iesu,quemadmodum accepistis a nobis, quo-modo oporteat vos ambulare et placere

    Deo, ut abundetis magis:

    2. Porque vs bem sabeis que manda-mentos vos temos dado pelo Senhor Je-sus.

    2. Nostis enim quae praecepta dederimusvobis per Dominum Iesum.

    3. Porque esta a vontade de Deus, avossa santificao; que vos abstenhaisda prostituio;

    3. Haec enim est voluntas Dei, sanctifica-tio vestra: ut vos abstineatis ab omni scor-tatione.

    4. Que cada um de vs saiba possuir o 4. Et sciat unusquisque vestrum suum vas

    81 Nous fautes et infirmitez vicieuses; Nossas faltas e culpveis fraquezas.

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    seu vaso em santificao e honra; possidere in sanctificatione et honore:5. No na paixo da concupiscncia, co-mo os gentios, que no conhecem aDeus.

    5. Non in affectu concupiscentiae, que-madmodum et Gentes, quae non noveruntDeum.

    1. Finalmente. Este captulo contm vrias injunes, pelas quais ele educa ostessalonicenses para uma vida santa, ou os confirma no seu exerccio. Eleshaviam aprendido antes qual era a regra e o mtodo de uma vida piedosa; eleinvoca isto memria deles. Assim como, diz ele, aprendestes. Contudo, paraque no parecesse retirar deles o que lhes havia anteriormente determinado,ele no os exorta simplesmente a andaremde tal modo, mas a abundar mais emais. Portanto, quando os incita a fazerem progresso, ele sugere que j estono caminho. A suma que eles deveriam ser ainda mais cuidadosos em fazerprogresso na doutrina que haviam recebido, e isto Paulo pe em contraste comocupaes vs e frvolas, nas quais sabemos que boa parte do mundo mui fre-

    quentemente se ocupa, de modo que uma meditao santa e proveitosa quan-to regra apropriada de vida dificilmente tem algum lugar, sequer o mais inferi-or. Paulo, concordemente, os faz lembrar da maneira como haviam sido instru-dos, e manda que mirem nisto com todo o seu poder. Ora, h uma lei que aqui prescrita a ns que, esquecendo as coisas que atrs ficam, intentemossempre fazer maior progresso (Fp 3:13); e os pastores tambm devem fazerdeste o seu empenho. Agora, quanto a ele rogar, quando poderia justamentemandar isto um sinal de humanidade e modestia que os pastores deveriamimitar, para que, se possvel, possam cativar o povo pela benevolncia, ao in-vs de compeli-los violentamente.82

    3. Porque esta a vontade de Deus. Esta uma doutrina de natureza geral, daqual, como que de uma fonte, ele imediatamente deduz admoestaes espec-ficas. Quando afirma que esta a vontade de Deus, ele quer dizer que fomoschamados por Deus com este propsito. Com esta finalidade sois cristos isto que o evangelho tem em mira que vos santifiqueis a Deus. O sentido dotermo santificaoj temos explicado em outro lugar em repetidas ocorrncias que, renunciando ao mundo, e nos purificando das contaminaes da carne,nos ofereamos a Deus como que em sacrifcio, pois nada pode ser oferecidocom propriedade a Ele, seno o que puro e santo.

    Que vos abstenhais. Esta uma injuno, a qual ele deriva da fonte de quefizera meno pouco antes; pois nada mais contrrio santidade do que o

    aviltamento da fornicao, que contamina todo o homem. Por esta causa eleatribui a paixo da concupiscncia aos gentios, que no conhecem a Deus.Onde reina o conhecimento de Deus, as paixes devem ser subjugadas.

    Pela paixo da concupiscncia, ele se refere a todas as paixes vis da carne,mas, ao mesmo tempo, por este modo de expresso, estigmatiza com desonratodos os desejos que nos seduzem aos prazeres e deleites carnais, como emRm 13:14 onde nos manda no ter cuidado da carne em suas concupiscn-cias. Pois, quando os homens do indulto aos seus apetites, no h limites pa-

    82 Que de les contraindre rudement et dune faon violente; Ao invs de constran-

    g-los rudemente e de uma forma violenta.

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    ra a lascvia.83 Por isso, o nico meio de manter a temperana refreando to-das as paixes.

    Quanto expresso: que cada um de vs saiba possuir o seu vaso, alguns aexplicam como se referindo esposa,84como se fosse dito: Que os maridoscohabitem com suas esposas com toda a castidade. Porm, como ele se diri-ge aos maridos e esposas indiscriminadamente, no pode haver dvida de queemprega o termo vasopara se referir ao corpo. Pois cada um possui seu corpocomo uma casa, por assim dizer, na qual habita. Portanto, ele queria que guar-dssemos o nosso corpo puro de toda a imundcia.

    E honra, ou seja, honrosamente, pois o homem que prostitui o seu corpo for-nicao cobre-o de infmia e desgraa.

    1TESSALONICENSES 4:6-8

    6. Ningum oprima ou engane a seu ir-mo em negcio algum, porque o Senhor vingador de todas estas coisas, comotambm antes vo-lo dissemos e testifi-camos.

    6. Ne quis opprimat vel circumveniat innegotio fratrem suum: quia vindex eritDominus omnium istorum, quemadmodumet praediximus vobis, et obtestati sumus.

    7. Porque no nos chamou Deus para aimundcia, mas para a santificao. 7. Non enim vocavit vos Deus ad immun-ditiam, sed ad sanctificationem.8. Portanto, quem despreza isto no des-preza ao homem, mas sim a Deus, quenos deu tambm o seu Esprito Santo.

    8. Itaque qui hoc repudiat, non hominemrepudiat, sed Deum, qui etiam dedit Spiri-tum suum sanctum in nos.

    6. Ningum oprima. Aqui temos outra exortao, que flui, como uma torrente,da doutrina da santificao. Deus, diz ele, tem em vista santificar-nos, paraque ningum prejudique a seu irmo. Quanto relao que Crisstomo esta-belece entre esta declarao e a precedente, e a explicao de como significando: rinchando mulher do seu prximo (Jr 5:8), edesejando-a avidamente, uma exposio forada demais. Paulo, concorde-mente, tendo exemplificado um caso de impureza com respeito lascvia epaixo, ensina que esta tambm uma rea da santidade que nos conduza-mos reta e inocentemente para com o nosso prximo. O verbo anterior refere-se a opresses violentas onde o homem que tem mais fora se encoraja a

    causar dano. O ltimo inclui todos os desejos imoderados e injustos. Porm,como os homens, na sua maioria, se indultam na paixo e avareza, ele os fazlembrar do que havia ensinado antes que Deus seria vingador de todas estascoisas. Contudo, devemos observar o que ele diz: solenemente testificamos;85

    83 Il ny a mesure ne fin de desbauchement et dissolution; No h medida nem fimpara a devassido e libertinagem.84 Au regard du mari; Em relao ao seu marido.85 Nous vous avons testifi et comme adjur; Temos vos testificado e, por assim

    dizer, conjurado.

  • 7/31/2019 Calvino_Epstolas aos Tessalonicenses

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    Comentrios de Calvino32

    pois tal a morosidade dos homens que, a menos que golpeados at a medu-la, no so tocados por nenhuma apreenso do juzo de Deus.

    7. Porque no nos chamou Deus. Isto parece ser do mesmo sentimento que oprecedente a vontade de Deus a nossa santificao. Contudo, h uma pe-quena diferena entre ambos. Aps ter discursado quanto correo dos v-cios da carne, ele prova, a partir da finalidade do nosso chamado, que Deusdeseja isto. Pois ele nos separa para si como sua possesso peculiar.86 Maisuma vez, que Deus nos chama santidade, ele prova por meio de contrrios porque ele nos resgata, e nos chama de volta da impureza. A partir disto, eleconclui que todos os que rejeitam esta doutrina rejeitam no os homens, mas aDeus, o Autor deste chamado, que totalmente rejeitado to logo este princpioquanto novidade