CAMILLO SITTE E BRASÍLIA

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Monografia esscrita em 1995, para disciplna de mestrado USP S Carlos

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  • Clara Luiza Miranda 1986 monografia de emstrado USP S Carlos

    1. Sumrio

    1. SUMRIO 1

    2. CAMILLO SITTE 2

    3. CAMILLO SITTE E AS TRANSFORMAES DE VIENA 7

    4. SITTE E O PLANEJAMENTO URBANO DECIMNICO E MODERNO 17

    5. OS PRINCPIOS ARTSTICOS DA CIDADE EM SITTE 30

    6. OS PRINCPIOS ARTSTICOS NO PLANO PILOTO DE BRASLIA 32

    7. BRASLIA DO PONTO DE VISTA DE SITTE 37

    8. BIBLIOGRAFIA 41

  • Camillo Sitte e Braslia 2

    2. Camillo Sitte

    Camillo Sitte (1843-1903) com o livro A Construo das Cidades segundo

    seus Princpios Artsticos, de 1889, avalia o planejamento urbano do seu tempo,

    questionando os critrios tcnicos e higienistas que os norteavam. Apoiado em

    anlises de fragmentos de cidades antigas que conhecia (principalmente praas),

    destacava o seu carter urbano e artstico, que se formava paulatinamente in na-

    tura.

    O mtodo do Sitte viajante conhecer essas cidades, pela melhor torre, pelo

    mapa fragmentado em quadrculas para melhor manuseamento, pela caminhada;

    deve ter fornecido subsdios para suas idias de desenho urbano, que consistia

    em ordenar os espaos em atrativos patterns e seqncias1 e no numa articu-

    lao de edifcios isolados sobre uma malha viria. O desenho urbano de Sitte era

    tridimensional, movido pelo gosto e sensibilidade e no era uma questo de geo-

    metria ou economia.

    A escolha do termo construo das cidades para o seu livro ao invs de

    planejamento ou projeto, mostra a perspectiva emprica de sua abordagem, enfa-

    tizando a sntese das artes produzida na prtica artesanal, no lugar do projeto ou

    desenho prvio. Este partido terico pode ser explicado por sua formao no meio

    do artesanato junto ao seu pai, e suas filiaes tericas a Gottfried Semper e Ri-

    chard Wagner

    Sitte nasceu em Viena, seu pai Franz Sitte, foi artista e arquiteto, que de-

    nominava a si mesmo de arquiteto privado, um estatuto profissional intermedi-

    rio entre um mestre construtor medieval e um arquiteto moderno com formao

    acadmica2. A famlia de Sitte tinha uma boa posio no ambiente profissional,

    porm, algo marginal no quadro do renascimento cultural vienense do perodo3.

    1 COLLINS, George R. e COLLINS, Christiane C., Camillo Sitte Y el Nascimiento del Urbanismo Moderno, 1. ed. 1965, ed. castelhana, 1980, p. 68 2 SCHORSKE, Carl E., Viena Fin-de-Sicle, Poltica e Cultura, traduzido a partir da edio de 1979, p. 82

    3 COLLINS e COLLINS, Op. Cit., p. 14

  • Camillo Sitte e Braslia 3

    A atividade profissional de Franz Sitte transcorreu num contexto de reviva-

    lismo do estilo gtico, que carregava significados de afirmao de um esprito

    pangermnico, e do restabelecimento dos grmios dos trabalhadores da constru-

    o civil4.

    A convico de Franz pela vida liberal, fez com que condenasse a aceita-

    o de Camillo Sitte5 da direo da escola Oficial de Artes Aplicadas de Salzburg,

    em 18756. Em 1883, Sitte passou a dirigir uma escola semelhante em Viena.

    A formao profissional de Camillo Sitte, seguiu pela Technische Hoschule,

    no atelier do arquiteto Heinrich von Ferstel; pela Universidade entre 1863-1868,

    onde cursou histria da arte e arqueologia com Rudolf Eitelberger, que tiveram

    uma atuao importante na construo de edifcios no Ringstrasse7.

    Segundo Carl Schorske, a cultura historicista universitria reforou em Ca-

    millo Sitte os valores de sua formao familiar8. E a maneira que logrou preservar

    a cultura artesanal, conciliando com a formao acadmica, foi a educao pro-

    movida pelo estado e a propaganda acadmica9.

    O interesse pelo planejamento urbano em Sitte, foi suscitado em parte, pelo

    seu professor Eitelberger e por seu esforo de compreenso das idias urbansti-

    cas de Semper, que procurava sistematizar em escritos e conferncias. Segundo

    George e Christiane Collins no entanto, a explicao da apario do livro em

    1889, deve ser atribuda as mais secretas reflexes de Sitte produzidas em via-

    gens pela Europa10

    .

    Os Collins chamam ateno, ainda, para o fato de que o interesse pelo pla-

    nejamento urbano no se desligava de outro grande projeto histrico que ocupava

    Sitte: suas teorias sobre a sntese das artes e a arte como desenho total, influn-

    cia de seu pai, de sua admirao por Richard Wagner e Semper. Assim, a cons-

    4 COLLINS e COLLINS, Op. Cit., p. 53

    5.Id. Ibid., p. 16

    6 O governo da ustria aps a crise de 1873, Cf.. prximo ponto deste trabalho, comprometeu-se com a reor-

    ganizao de ensino dos ofcios e profisses. Cf.. SCHORSKE, Op. Cit., p. 83 e COLLINS e COLLINS, Op. Cit., p. 16 7 O complexo Ringstrasse, de embelezamento e ampliao de Viena, executado a partir de 1959, Cf. prximo

    ponto deste trabalho. 8 SCHORSKE, Op. Cit. , p. 82

    9 Id. Ibid., p. 84

    10 COLLINS e COLLINS, Op. Cit., pp. 18-9

  • Camillo Sitte e Braslia 4

    truo das cidades era pensada por Sitte, apenas como um aspecto do conjunto

    das artes11

    - gesamtkenstwerk.

    Como Semper, Sitte adotou o estilo neo-renascentista, como na Igreja Me-

    quitarista (1873-4).

    Proposta de Semper para a Ringstrasse, na qual segun-do Sitte, retoma motivos da Praa de So Pedro do Vati-cano, ou mesmo conjuntos urbanos romanos arcaicos, Para Sitte esta praa seria um frum no verdadeiro sen-tido do termo. Coeso e har-monioso, (fonte, SITTE, 1909, p. 124)

    O pensamento de Sitte era profundamente alemo; dizia que toda arte

    verdadeira devia ter em sua base no impulso nacional do povo12

    . Este naciona-

    lismo de Sitte, assentava-se no contexto da unificao alem, na qual Richard

    Wagner exercia um papel de defesa da valores do artesanato, em contraposio

    ao capitalismo industrial. o tradicionalismo social e funcionalismo wagneriano de

    Sitte, apontava para o planejador urbano a funo de regenerador da cultura.

    Sitte diz,

    Assim demonstramos que a construo urbana, quando concebida de mo-

    do correto, no uma mera funo burocrtica e mecnica; constitui antes,

    uma obra de arte importante e expressiva, parte da mais nobre e genuna

    arte popular, cujo sentido tanto maior for a falta, em nosso tempo, de uma

    11

    COLLINS e COLLINS Op. Cit., p. 23 12

    Id. Ibid, p. 24

  • Camillo Sitte e Braslia 5

    sntese popular de todas as artes plsticas a servio de uma grande obra

    artstica nacional13

    .

    A oscilao entre individualismo e restaurao da comunidade, imissa na

    sociedade vienense14

    ; em Robert Musil que descreve a desagregao da unidade

    do sujeito clssico15

    ; em Freud nos trabalhos sobre a aquisio de identidade

    pelo indivduo16

    . Se em Freud o individualismo aspira a uma soluo dionisaca,

    em Musil passa-se tentativa de reconciliao na totalidade17

    . Esta ltima tam-

    bm a soluo do pangermanismo, que no caldeiro de nacionalidades austra-

    co, na falta de tradio histrica, buscava uma identidade comunitria e racial.

    Em termos pragmticos , isso refletiu no livro de Sitte, em concepes im-

    portantes sobre a atribuio profissional do arquiteto e da especulao do uso

    solo, que resultava numa espcie de diviso do trabalho nas partes da cidade.

    Para o arquiteto, as praas e ruas principais, onde era possvel unificar as vrias

    artes numa gesamtkunstwerk visual. Para a valorizao do terreno, por razes

    econmicas, as reas secundrias18

    . Essa posio refletia a situao da gesto

    da cidades e a diviso social do trabalho entre engenheiros e arquitetos do pero-

    do ps-liberal, ou seja, da segunda metade do sculo XIX19

    .

    A nvel de desenho urbano, para Sitte o arquiteto devia aceitar trabalhar no

    fragmento - praas e ruas - aspirando a totalidade, a sntese das artes. Quanto

    aos planos urbanos, em sua viso os fundamentos deviam ser dados por um pro-

    grama definido20

    ; esboo de uma imagem dos objetivos propostos para a parte da

    cidade a ser construda, seja praa, rua e edifcios pblicos previstos21

    .

    A concepo plano urbano, em termos da totalidade do loteamento prvio,

    era explicitamente repudiada por Sitte; que somente admitia, para o planejamento

    13

    SITTE, Camillo, A Construo das cidades segundo seus princpios Artsticos, 1. ed. 1889, ed. brasileira a partir da 4. ed. alem de 1909, em 1992, p.183 14

    Cf. Do individualismo restaurao da comunidade In LE RIDER, Jacques, A Modernidade Vienense, e as crises de identidade, 1993, pp. 102-4 15

    Id. Ibid., p. 73 16

    Idem, p.76 17

    Idem, p. 79 18

    Cf. SITTE, Op. Cit. p. 138 19

    Cf. ponto 4 deste trabalho. 20

    SITTE, Op. Cit., p. 131 21

    Id. Ibid., p. 131

  • Camillo Sitte e Braslia 6

    da expanso urbana: a determinao do sistema virio, priorizando as ruas princi-

    pais, preservando as ruas j existentes22

    .

    Projeto de Sitte para o bairro de Oderfur-Privoz na Silesia. (fonte, COLLINS, COLLINS, 1965,

    p.127)

    22

    Idem, p. 127; citao das decises da Assemblia Geral da Liga das Associaes de Arquitetos e Enge-nheiros Alemes, em Berlim, 1874.

  • Camillo Sitte e Braslia 7

    3. Camillo Sitte e as transformaes de Viena

    A modernizao econmica e social da ustria, sobretudo de Viena sua

    capital e centro cultural e econmico, foi desencadeada por um esforo espetacu-

    lar de desenvolvimento23

    , a partir de 1860. O crescimento demogrfico de Viena,

    provocado por migraes de povos eslavos e judeus, representou um aumento de

    populao de 80,3% para o centro urbano, e 253,3% para os subrbios24

    . A aris-

    tocracia, que regia o pas, com sua ideologia mercantilista e monopolista, concen-

    trava a riqueza do pas no capital fundirio. O capital industrial introduzido por

    industriais alemes, e outros investimentos por judeus e protestantes25

    .

    A aristocracia e o absolutismo barroco, como no restante da Europa foram

    confrontadas pelo liberalismo em 1848, que derrotado; apenas em 1860 pode es-

    tabelecer um regime constitucional na ustria. Mas, continuando a dividir o poder

    com a aristocracia e burocracia monrquica.

    A fragilidade do poder do liberalismo, entre outras coisas, decorria da falta

    de apoio de uma base social. A aquisio do poder legislativo foi resultado do voto

    restrito; assim outros grupos sociais reivindicavam representao poltica prpria:

    camponeses, artesos, socialistas, social-cristos, anti-semitas, povos eslavos26

    .

    A monarquia da ustria tentava passar uma imagem supranacional, o chamado

    mito habsburgs, na verdade ocultava rivalidades entre nacionalidades27

    Quando os liberais chegaram ao poder na ustria, e em Viena, logo trata-

    ram de modelar seu conceito de cidade na capital, numa faixa de terra que sepa-

    rava a cidade antiga, protegida por fortificaes, e os subrbios. Esse vasto terre-

    no foi negociado com os militares, que haviam tomado posse deste na revoluo

    de 1848, humilhados pela sua retirada forada pelos civis armados do ncleo

    23

    SITTE, Op. Cit., p. 30 24

    Id. Ibid., p. 34 25

    Idem, p. 31-2 26

    SCHORSKE, Op. Cit., p. 27 27

    LE RIDER, Op. Cit., p. 38.

  • Camillo Sitte e Braslia 8

    antigo e central da cidade, e temerosos de um nova revoluo, valorizavam esta

    posse considerando a sua situao estratgica28

    .

    As reivindicaes civis essa esplanada, justificadas por razes econmi-

    cas, foram atendidas quando em 1857, o imperador Francisco Jos instaurou uma

    Comisso de Expanso da Cidade, para planejar e executar propostas de ane-

    xao desta rea ao uso civil. Esta, por sua vez instituiu um concurso pblico, e

    deliberou que a operao devia ser financiada pela venda das partes da nova -

    rea iniciativa privada29

    . O projeto vencedor, do arquiteto Frster, exibia o lema;

    a rua reta melhor; entretanto o plano geral urbano executado, foi realizado pelo

    Departamento de Construo do Ministrio do Interior, sendo aprovado pelo impe-

    rador em 185930

    .

    A proposta foi denominada de Ringstrasse, que significa rua em anel. A

    rua dominava a massa construda de edifcios pblicos e residenciais; sendo que

    o tratamento dos edifcios pblicos, projetados por diferentes arquitetos de desta-

    que no perodo, eram monumentos isolados entre si, caracterizados por estilos

    histricos representando suas diversas funes sociais, o que enfatizava justa-

    mente a ausncia de relaes entre os edifcios e o espao que os envolvia.

    A Ringstrasse encarnava enquanto arquitetura, valores sociais de um

    modelo social- aristocrtico. A busca do luxo aristocrtico fazia prosperar o arte-

    sanato, pequenas indstrias de luxo, assim como o setor das artes decorativas

    A quebra da bolsa ,em 1873, decretou o fim da era liberal, que tambm in-

    terrompe o desenvolvimento econmico de Viena. O setor mais afetado pela crise

    foi o da construo civil e das obras pblicas31

    . Deste modo, o Ringstrasse, como

    smbolo da mentalidade do liberalismo austraco ascendente entra na berlinda

    da crtica no final do sculo XIX.. Sob o signo desta desconfiana, a nova gerao

    de escritores, arquitetos, artistas comeam a gestar uma modernidade, que ainda

    no era exatamente uma ruptura32

    .

    28

    SCHORSKE, Op. Cit., p. 29

    COLLINS e COLLINS, p. Op. Cit., 51-2 30

    Id. Ibid, p. 52 31

    Id. Ibid., p. 33 32

    LE RIDER, Op. Cit . p. 40

  • Camillo Sitte e Braslia 9

    Direita -. Viena, planta da cidade, em 1844 (fonte SCHORSKE, 1979, pp. 46-7) ,Esquerda - es-quema mostra fases do desenvolvimento urbano; 1. Viena, 1683; 2. Velhos bairros do sc. XVIII e incio do sc. XIX; 3. o Ring; 4. Bairros de 1860; 5. Expanso do fim do Sc. XIX e incio do sc XX. (fonte, ROSSI, 1966, p. 69). Planimetria do Ring 1859 (fonte PATTETA, 1984, 248)

    Ringstrasse, mostrando Parlamento, a Rathaus, a Universidade e o Burgtheater (fonte, SCHORS-KE, 1979, pp. 52-3)

  • Camillo Sitte e Braslia 10

    Reicchstrartsstrasse, estu-dos de tipologias de residn-cias, tendo como referncia o palcio aristocrtico Note-se a diversidade de estilos histricos adotados para as diversas tipologias (fonte SCHORSKE, 1979, p. 68)

    O Parlamento, Theofil Han-sen 1874-83 no Parlamento, Palas, o smbolo da liberda-de fonte, (SCHORSKE, 1979, p. 60)

    A Universidade, projeto de Ferstel, 1873-84. Estilo re-nascentista, (SCHORSKE, 1979, p. 59)

  • Camillo Sitte e Braslia 11

    Como na Blgica, Frana e Catalunha, o movimento secesso33

    , equivalen-

    te austraco da art nouveau, embora se coloque como elite cultural, distinta profis-

    sionalmente da sociedade, permanece integrado estrutura das elites nacionais,

    dos quais contempla idias e costumes. O gosto que a art nouveau difunde por

    onde disseminou-se, assimilado pelo mundo das artes visuais, grficas, da ar-

    quitetura, moda e design, em menos de 10 anos34

    .

    Por outro lado, a Secesso vienense, tem uma melancolia prpria, que

    compartilham, em parte, com Hugo von Hofmannsthal, escritor de origem aristo-

    crata, que proclama em 190635

    :

    A caracterstica de nossa poca a ambigidade e a indeterminao. No

    podem apoiar-se seno em bases que afundam, sem perder a conscincia

    de que tudo afunda ali onde as geraes anteriores acreditavam possuir

    embasamentos slidos36

    Hofmannsthal coloca os dois plos entre a tradio e moderno, menos que

    em conflito, que como um destino inevitvel. A posteridade tratou de colocar como

    representantes da tradio, Camillo Sitte, do moderno, Otto Wagner; pois enquan-

    to Sitte criticava o sistema moderno de frmulas preestabelecidas, enaltecendo

    as formas orgnicas das praas e ruas irregulares da antigidade e do perodo

    medieval, as prerrogativas artsticas dos espaos barrocos; Wagner refutava o

    antigo e proclamava o novo, sugerindo como ponto de partida para a criao arts-

    tica a vida moderna37

    .

    Contudo, Sitte no estava de olhos vendados s novas condies da vida

    moderna, que mesmo sendo em parte contraditrios com um grande nmero de

    motivos artsticos, no inviabilizavam as intenes pinturescas na construo da

    cidade38

    , na sua viso. Wagner, nem sempre conseguiu conciliar tica funcional

    33

    LE RIDER, Op. Cit., p. 40. A Secesso organizada por Gustav Klimt uma instituio oficial, e tem apoio semelhante ao dos Sales da Academia por parte dos poderes pblicos. 34

    GREGOTTI, Vitrio, O Territrio da Arquitetura, 1. ed. 1972, ed. brasileira 1975, pp. 44-5 35

    LE RIDER, Op. Cit., p. 41 36

    Hofmannsthal, citado por LE RIDER, Op. Cit . p. 40 37

    SCHORSKE, Op. Cit., p. 90 38

    SITTE, Camillo, Op. Cit..

  • Camillo Sitte e Braslia 12

    da construo num estilo correspondente, um estilo nico que representasse os

    arquitetos de sua poca39

    .

    A beleza dos edifcios de Wagner, em certa medida continuou adventcia,

    uma espcie de pele, um revestimento esttico para ornamentar suas for-

    mas, proclamando em formas elegantes a glria da modernidade40

    Pioneiros do pensamento sobre a vida urbana nos tempos modernos, Ca-

    millo Sitte e Otto Wagner, tomaram as experincias do Ringstrasse, como base

    de suas reflexes. Ambos presenciam o desaparecimento da cidade que a bur-

    guesia tinha construdo desde da idade mdia at o renascimento, face ao novo

    modo de produo e consumo.

    A cultura do liberalismo, em Viena, comea a ser contestada, no meio em

    que tentava materializar-se e deixar suas marcas, na arquitetura da cidade. O

    termo mais comum utilizado para descrever o Ringstrasse em 1860 era embele-

    zamento da cidade41

    . Termo que Sitte no devia concordar ; pois, seu livro A

    Construo das cidades segundo seus Princpios Artsticos, chamava ateno

    para a dimenso esttica da cidade, situando-se criticamente com os princpios

    que baseavam o programa de remodelao do Ringstrasse. Discordava da dis-

    posio torpe do espao ao redor dos grandes edifcios e pela forma de situar os

    monumentos pblicos42

    . E, a partir da anlise de espaos antigos, concluiu que:

    Apenas no nosso sculo matemtico que os conjuntos urbanos e a ex-

    panso das cidades se tornaram uma questo quase puramente tcnica, e

    assim parece importante lembrar que, com isso, apenas um aspecto do

    problema solucionado, enquanto o outro o artstico, deveria ter, no mni-

    mo, a mesma importncia43

    Neste raciocnio os trabalhos desenvolvidos no Ringstrasse, comeam a

    ser postos em dvida, tendo como parmetros no mais a natureza ou a higiene,

    39

    Otto Wagner Apud. SCHORSKE, Op. Cit, 98 40

    SCHORSKE, Op. Cit., 101 41

    Id. Ibid., p. 45 42

    COLLINS e COLLINS, Op. Cit., p. 58 43

    SITTE, Op. Cit., p. 15

  • Camillo Sitte e Braslia 13

    mas a prpria vida civil, que tinha como palco, este legado pelo passado histrico

    da burguesia europia: a cidade44

    .

    Quando Sitte refere-se a preservao de conjuntos urbanos antigos, refere-

    se tambm aos costumes que abrigavam. Diz que na Itlia, as principais praas

    das cidades mantiveram-se fiis, ao modelo do velho frum. Sitte argumenta que

    uma parte considervel da vida pblica continuou a realizar-se nessas praas,

    mantendo tanto parte de seu significado pblico, quanto relaes entre as praas

    e as construes que as circundam45

    .

    Ilustrao comentada por Sitte, praa do mercado e da Prefeitura de Breslau, cuja imagem ilustra o mltiplo encanto do pinturesco (fonte SITTE, 1909, p. 31)

    Sitte observou que h muitos sculos a vida popular vinha retirando-se das

    praas pblicas no resto da Europa, sobretudo no perodo da cidade industrial:

    (...) sendo quase compreensvel que tenha diminudo tanto o interesse da

    grande massa pela beleza das praas, que acabaram por perder grande

    parte de seu sentido original. Decididamente, a vida dos antigos era muito

    mais favorvel concepo artstica da construo urbana do que a nossa

    vida moderna, matematicamente compassada e onde o prprio homem a-

    caba por tornar-se mquina46

    .

    44

    RAMON, Fernando, Habitao, Cidade, Capitalismo, Teorias e Ideologia Urbanstica, 1. ed. 1970, ed. por-tuguesa, 1977 45

    SITTE, Op. Cit., p. 25 46

    SITTE, Op. Cit. , p. 113

  • Camillo Sitte e Braslia 14

    A modernizao de Viena, iniciada sob a administrao dos liberais, foi

    continuada pelos social-cristos, num ritmo menos intenso. Estes encaminham

    melhoramentos nas conexes virias com o centro da cidade, a construo da

    rede ferroviria e tratamento do rio Viena e continuao do tratamento do rio Da-

    nbio, j em andamento47

    . Deste modo, anexavam o casco antigo da cidade e

    subrbios, como novos bairros de Viena, no obstante, a vida dos trabalhadores

    permanecer precria48

    .

    Aps 1904, o controle municipal se ampliou alm do Danbio, propondo-se

    a criao de um anel de bosques e prados ao redor dos subrbios49

    ; que Otto

    Wagner considerou uma restrio preestabelecida, comprometido que estava com

    a cidade de expanso ilimitada50

    .

    Otto Wagner, Distrito Urbano Modular, a quadrilucula une-se ideologicamente idia de crescimen-to ilimitado 1911. (fonte SCHORSKE, 1979, p. 113)

    Na fase dos social-cristos, a partir de 1890, embora as crticas de Sitte te-

    nham sido consideradas nas discusses dos novos planos para Viena, o planeja-

    mento foi assumido por Otto Wagner51

    . Isto representa o no acatamento das su-

    gestes de Sitte. Pois, enquanto Sitte defende uma ordenao urbana centrpeta,

    47

    COLLINS e COLLINS, Op. Cit., p. 59 48

    LE RIDER, op. cit., p. 36 49

    COLLIN e COLLINS, Op. Cit., p. 59 50

    SCHORSKE, Op. Cit., p.112

  • Camillo Sitte e Braslia 15

    reduzindo a cidade - como obra de arte - a partes (praas); Wagner prope uma

    expanso centrfuga, ilimitada, abordada dentro de uma viso unitria da cidade -

    uma continuidade espao-tempo52

    . Os planos de Sitte, ordenavam-se mediante a

    dinmica primria da rua, abominada por Sitte.

    O Ringstrasse, enquanto proposta esttica, equivocada ou no, tinha um

    fundamento na cultura artstica austraca, que no era moral, filosfica ou cientfi-

    ca, porm basicamente esttica. Suas maiores realizaes estavam nas artes

    aplicadas e de espetculo: arquitetura, teatro e msica53

    .

    A cultura liberal, em Viena, das esfera autnomas do direito, cincia e artes

    se misturou com a cultura sensual da aristocracia catlica, justamente no mbito

    da esttica. Assim, o desconforto que a rpida e inacabada modernizao ocasio-

    nava, no se conduzia enquanto problema poltico. A modernidade era pensada

    em termos estticos, ticos, psicolgicos, filosficos e sempre individualistas54

    .

    O ambiente do Ringstrasse, era desprovido de sentido seja na tradio da

    construo urbana, num sentido esttico segundo Camillo Sitte; ou como masca-

    ramento das condies modernas de construo sob os estilos histricos como

    argumentava Otto Wagner; segundo ele configurando a incumbncia arquitetni-

    ca o nome de encomenda de estilo55

    . A utilizao indiscriminada de estilos hist-

    ricos, como uma colagem desconexa do seu pano de fundo, para Sitte no dava

    conta das necessidades psicolgicas e culturais das pessoas; para Wagner , no

    dava conta dos significados, que a formao da nova cultura urbana, secular e

    capitalista colocava.

    Para Sitte, a mania dos espaos abertos, desintegrava a arquitetura e

    meio ambiente, dificultando a apreenso pelas pessoas que transitam pelas ruas;

    criando uma neurose moderna - a agorafobia, medo de atravessar amplos espa-

    os abertos.

    51

    COLLINS e COLLINS, Op. Cit., p 60 52

    BERNABEI, Giancarlo, Otto Wagner, ed. espanhola, 1984, p. 9 53

    SCHORSKE, Op. Cit. , p. 29 54

    LE RIDER, Op. Cit., p. 41 55

    SCHORSKE, Op. Cit. , p. 99

  • Camillo Sitte e Braslia 16

    A crtica de Sitte, de certo modo, vai de encontro as observaes posterio-

    res de Richard Sennet56

    , que diz que a morte do espao pblico nas cidades mo-

    dernas, deve-se valorizao do espao privado, como conseqncia do esvazi-

    amento do domnio da vida pblica, que segundo ele delineia-se justamente no

    sc. XIX. O conceito de vida pblica, ento, comea a envolver uma vida social

    complexa e dispare, cuja a ordem ideal tinha com parmetro a vida privada e inti-

    mista. Explica-se este fato, pelos conceitos de isolamento, separao, diviso que

    so problemas intrnsecos do capitalismo; que na etapa do consumo impe o indi-

    vidualismo e dissolve o gregarismo.

    Sennet apresenta os termos cidade e civilidade dentro de uma mesma

    raiz etimolgica; e diz que a geografia pblica de uma cidade a institucionali-

    zao da civilidade57

    . Para Sitte a inexistncia de praas e edifcios pblicos em

    uma cidade, considerando a vida pblica nestes, a descredenciava como cida-

    de58

    .

    preciso ter em mente que a cidade o espao da arte por excelncia,

    porque esse tipo de obra que surte efeitos mais edificantes e duradouros

    sobre a grande massa da populao, enquanto os teatros e concertos so

    acessveis apenas s classes mais abastadas59

    .

    Para Sennet, Sitte concebia a comunidade dentro da cidade60

    . A advertn-

    cia de Sitte sobre o desaparecimento das praas, com o respectivo esvaziamento

    do seu significado pblico, vinha do temor da vida da burguesia acabar transcor-

    rendo somente sob portas fechadas.

    56

    SENNET, Richard, O Declnio do Homem Pblico, as tiranias da intimidade, 1. ed. 1974, ed. brasileira, 1989 57

    SENNET, Op. Cit. , p. 324 58

    SITTE, Op. Cit., p. 22 59

    Id. Ibid., p. 118 60

    Idem, p. 358

  • Camillo Sitte e Braslia 17

    4. Sitte e o Planejamento Urbano decimnico61 e moderno

    A gesto pblica da cidade ps-liberal, apresenta 2 posturas distintas: 1 -

    intervenes de caracter reformista atravs de legislaes Sade Pblica 184862

    e

    Construtivas 1865, no caso ingls; 2 - o modelo que sobressai-se com a Paris de

    Haussmann (1853-69), que prope uma interveno massiva, uma restruturao

    total da ordem social e econmica, baseadas no modo de produo capitalista63

    .

    O traado do sistema virio, que revaloriza os ns monumentais de Paris,

    serve de modelo a restruturao de cidades antigas como Barcelona e Viena.

    Neste ltimo caso, como foi visto anteriormente os blocos construdos tem uma

    distribuio perimetral numa esplanada desocupada ao invs de rasgar avenidas

    no tecido antigo, em todos os casos, a circulao guiou os planos urbanos.

    Na cidade ps liberal, a administrao da cidade, baseia-se num acordo

    entre a propriedade imobiliria e burocracia pblica, que representa os interesses

    gerais do capital. A administrao pblica se encarregou do espao que estrutura

    o conjunto da cidade: sistema virio, outros percursos, e, infra-estrutura urbana. E

    os proprietrios ficaram coma a maior parte dos terrenos construveis. A interven-

    o da burocracia neste mbito, se fazia atravs de legislao que colocava res-

    tries utilizao destes espaos, em relao aos terrenos contguos e os espa-

    os pblicos. Os planos reguladores constituem o quadro de unio dos espaos

    pblicos e das limitaes regulamentares impostas utilizao dos espaos pri-

    vados64

    .

    O lastro cultural desta diviso do solo urbano e territorial, era dado por ar-

    quitetos e engenheiros que exerciam suas funes sem que constitussem um

    poder realmente decisrio sobre a construo das cidades. Estas profisses eram

    produto de uma diviso tcnica do trabalho entre os campos artstico e tcnico.

    61

    Termo da lingua espanhola que refere-se ao sculo XIX. 62

    Public Health Act que instiui o Boards of Health, que lida com funes de saneamento, abastecimento de gua, limpeza urbana de parques, e cemitrios. BATTISTI, Emilio, 1980. In PATETTA, Luciano, Histria de la Arquitectura, Antologia Crtica, 1984, pp. 247 63

    Id. Ibid., pp. 247-8

  • Camillo Sitte e Braslia 18

    Os tcnicos - engenheiros - eram responsveis pela projeo estrutural dos

    artefatos, mantendo o compromisso fundirio entre burocracia e propriedade. A

    partir dos limites impostos pelo quadro acima, aos arquitetos cabia a deciso de

    compatibilizar uma forma artstica com a estrutura e instalaes previstas65

    .

    Os limites do projeto arquitetnico, como opo de estilo, inclua todos os

    modelos histricos e geogrficos de arquitetura, que so submetidos pelos pro-

    cessos de diviso fundiria e pelo clculo de estruturas. O historicismo do sculo

    XIX, caracterizavam-se pela permanncia do modelo clssico de projetao.

    Gottfried Semper um dos primeiros, dentro dos termos mesmos do histo-

    ricismo, a redefini-lo. Considerando o estilo uma correspondncia do objeto com

    sua histria, explicada como uma sucesso de condicionamentos causais - uma

    histria das possibilidades e das circunstancias tcnico-construtivas e estticas.

    Semper como terico positivista da arquitetura, preconizava a unificao entre

    arte e indstria, e, a integrao do mtodo histrico com o cientfico66

    . O conceito

    da arquitetura como arte da construo, assim como seu compromisso com a

    monumentalidade, eram compartilhados por antagonistas como Otto Wagner e

    Camillo Sitte.

    As reflexes de Sitte, assim como a cidade linear de Soria y Mata, os pla-

    nos urbansticos de Petrus Berlage, o movimento das cidades jardins inglesas co-

    locam-se dentro da polmica anti-clssica67

    , que se formava no seio da cidade

    industrial,. A atividade construtiva de Otto Wagner, no seu questionamento dos

    estilos, reafirma a necessidade de um rumo para sua poca, definitivamente in-

    dustrial e tecnolgica.

    A nvel de planejamento urbano, na segunda metade do sculo XIX, a divi-

    so tcnica do trabalho se reduzia um pouco. Embora, o trabalho de Camillo Sitte

    atacasse topgrafos e gemetras - seu uso indiscriminado de retas e quadrculas -

    reconhecia o aprimoramento das condies sanitrias das cidades europias, efe-

    tuado pelos engenheiros68

    .

    64

    BENEVOLO, Leonardo, A Cidade e o Arquiteto, Mtodo e Histria na Arquitetura, 1984, p. 35 65

    BENEVOLO, Op. Cit., p. 100 66

    DE FUSCO, Renato, 1970, In PATETTA, op. cit., pp. 231-2 67

    BENEVOLO, Leonardo, Histria da Arquitetura Moderna, 1. ed. 1960, ed brasileira 1985 68

    SITTE, Op. Cit., p. 116

  • Camillo Sitte e Braslia 19

    Passagens do livro de Sitte,resignam-se com os moldes da gesto da cida-

    de ps-liberal, e, sugerem que concedia estatutos diversos ao arquiteto, ao cons-

    trutor das cidades, e ao sanitarista69

    . Referindo-se ao projeto e construo em

    cidades de dimenses das metrpoles industriais, recomenda:

    .(...). o construtor de cidades, assim como o arquiteto, deve adequar sua

    prprias escalas cidade moderna com seus milhes de habitantes70

    .

    Sitte lamentava-se de que o quantitativo de recursos, conferidos atuao

    dos arquitetos para construo de edifcios, era muito maior que os concedidos ao

    construtor de cidades, no que se refere as intervenes de carter artstico71

    . Esta

    constatao de Sitte, evidencia que a parcela da cidade a cargo do Estado, era na

    verdade, uma terra de ningum; e por outro lado, precisa as limitaes de sua

    prpria abordagem, que no confronta os mecanismos estruturais de gesto e

    valorizao do solo urbano.

    Os problemas que orientavam o planejamento urbano alemo, no tempo de

    Sitte, enfatizavam a sade pblica; questes ligadas a legislao do uso do solo,

    como zoneamento; posturas de uso do terreno como afastamentos; assim como a

    questo das tipologias habitacionais e dos locais de trabalho. Em compensao, o

    pinturesco conhecido dos parques ingleses (estudados sob o ponto de vista de

    drenagens e copiados nos seus efeitos romnticos), foi introduzido pelos enge-

    nheiros na Alemanha, os mesmos tinham uma indiscriminada confiana na linha

    reta72

    . O debate daquele momento era justamente sobre a forma curva ou reta

    das ruas.

    Essa questo no era fechada em Sitte, que relacionava linhas retas e n-

    gulos retos insensibilidade de determinadas cidades, e um elemento pernicioso

    ao traado das ruas, mas, no considerava este o fato mais importante:

    (...) pois os conjuntos barrocos tambm eram constitudos por linhas e n-

    gulos retos, sem que isso fosse um obstculo para a obteno de efeitos

    imponentes e genuinamente artsticos73

    .

    69

    SITTE, Op. Cit., p. 94, e tambm, p. 116 70

    Id. Ibid., p. 116 71

    Idem., P. 94 72

    COLLINS e COLLINS, Op. Cit., pp. 31-3 73

    SITTE, Op. Cit., p. 95

  • Camillo Sitte e Braslia 20

    Camille Martin, arquiteto suio, tradutor de Sitte para a lngua francesa, em

    1918, acrescentou um captulo, escrito por ele mesmo, sobre ruas; provocou e-

    quvocos e reprovaes, como a de Le Corbusier que tachou de caminho das

    mulas as ruas pitorescas curvas ou irregulares. No entanto, Sitte e Martin apenas

    desaprovam o uso da rua reta sem critrios. Camille Martin diz:

    O que ns condenamos seu emprego mecnico, preconcebido, sem a-

    tentar para a configurao do terreno nem para outras circunstncias lo-

    cais. Se a linha ondulada mais pitoresca, a linha reta mais monumental;

    mas no se pode viver apenas de monumentalidade74

    .

    Ilustrao do capitulo Ruas escrito por Camille Martin. ( In SITTE, Op. Cit., fi.g. 124)

    O planejamento urbano se incrementou na Alemanha, atravs dos esforos

    combinados que atuaram em campos especficos, alm de Camillo Sitte, Reinhard

    Baumeinster (1833-1917) e Joseph Stbben (1845-1936)75

    . A literatura que eles

    produziram tinha a conscincia da necessidade de novas tcnicas controle do

    crescimento urbano, fundava-se no entanto, em padres organicamente assenta-

    dos no desenvolvimento da iniciativa privada A cidade era pensada como uma

    matria de mtodo, de sistema; colocando os processos urbanos num patamar

    racional76

    ..

    74

    MARTIN, Camille, Ruas, 1918. In. SITTE, Op. Cit., pp. 185-93 75

    COLLINS e COLLINS, op. cit., p. 39 76

    TAFURI, Manfredo e DAL CO, Francesco, Modern Architecture/1, ed. italiana 1976, ed. americana 1986, p.44

  • Camillo Sitte e Braslia 21

    Os manuais tcnicos ajudaram a fornecer indicaes objetivas uma ex-

    panso organizada77

    , atravs de regras ao invs de solues formais prefiguradas

    ou modelos. Enquanto, os manuais tcnicos colocavam regras adaptveis dife-

    rentes condies urbanas; Sitte trabalhava com a idia da individualidade dos es-

    paos.

    Baumeinster compreendeu o planejamento urbano como campo de expe-

    rimentao cientfica78

    . Produziu manuais bsicos sobre os aspectos legais e tc-

    nicos da disciplina. Propunha o planejamento urbano em funo do trfego, e foi

    pioneiro na estruturao legal do zoneamento. Tambm Baumeister criticava o

    uso indiscriminado dos sistemas cartesianos. Recomendando o efeito esttico das

    ruas curvas e a importncia do fechamento por paredes das praas pblicas79

    .

    Stbben, publicou o Handbuch des Stdtebaues em 1890, atualizado numa

    edio de 1924, contm suas contribuies a uma teoria esttica do planejamento

    urbano. O livro de Stbben, divide-se em critrios prticos e estticos; sendo que

    o interesse artstico revela, segundo os Collins:

    o desejo de muitos dos planificadores do seu tempo de chegar a leis ou

    regras com as quais pudesse tomar decises artsticas80

    .

    Para Baumeinster os elementos que provocam uma agradvel impresso

    arquitetnica (no caso das praas) dificilmente so redutveis a regras univer-

    sais81

    . Mas, Sitte, ao contrrio, prope-se a organizar as leis da construo do

    belo urbano82

    . Sitte acredita que na relao entre edifcios e praas, os critrios

    de desenho, no podem ser definidos com a mesma exatido que entre os ele-

    mentos construtivos de um edifcio. Contudo, uma definio aproximada, se fazia

    importante para ele, sobretudo para a construo urbana moderna, onde a arbi-

    trariedade da rgua substitui o desenvolvimento histrico gradual83

    .

    Deste modo, segundo Francoise Choay, a partir de um mtodo analtico de

    comparao entre cidades antigas e modernas, destaca dois aspectos importan-

    77

    idem 78

    COLLINS e COLLINS, Op. Cit., p. 39 79

    Id. Ibid., pp. 40-1 80

    Id. Ibid., p. 44 81

    Baumeinster Apud. SITTE, Op. Cit., p. 94 82

    CHOAY, Franoise, A Regra e o Modelo, ed. francesa 1980, ed. brasileira 1985, p. 292 83

    SITTE, Op. Cit., p. 60

  • Camillo Sitte e Braslia 22

    tes a idia artstica de base, e uma sucesso de diversos tipos de paisagens

    urbanas que balizam a histria esttica das cidades84

    . Sitte busca estruturas

    constantes - regras de dimensionamento de praas, relao entre edifcios e pra-

    as, fechamentos laterais, disposio de monumentos, rvores, arcadas, etc.

    Ilustrao do livro de Sitte, Prtico da Galeria Uffizi, fe-chamento lateral utilizando o motivo prtico com arcadas

    amplas.(fonte, SITTE, Op. Cit. p. 52)

    Sitte no buscava uma sntese de princpios gerais vlidos universalmen-

    te, mas uma teoria racional, baseada no recurso consciente, intuitivo e adequa-

    do dos meios explorados pelos artistas de um tempo em que a arte era um exerc-

    cio tradicional85

    .

    Princpios ideolgicos semelhantes, aos que animavam Sitte, sobre a im-

    portncia da comunidade e aglomerao urbana, e a predominncia do conceito

    cultural de cidade sobre o conceito material; orientaram Ebenezer Howard (1850-

    1928) e Raymond Unwin (1863-1940), no movimento das cidades jardins ingle-

    sas86

    .

    As cidades jardins, em contraste com a Londres incomessurada, eram pen-

    sadas para serem finitas, dimensionadas precisamente em seus espaos e popu-

    lao87

    . O desenho procurava assegurar a variedade dos espaos interiores da

    84

    CHOAY, Op. Cit., p. 292-3 85

    SITTE, Op. Cit. , p. 36 86

    O movimento das cidades jardins foi desencadeado pelo livro de Howard Garden Cities Tomorrow, de 1902, publicado originalmente em 1898, Unwin e Barry Parker (1867-1941) formularam sua imagem arquite-tnica. 87

    Howard fixa em 30 mil ou 58 mil o numero de habitantes das cidades jardins.

  • Camillo Sitte e Braslia 23

    cidade, materializando a por intermdio da rua curva, que nesse caso adquiria um

    conceito de promenade88

    . A delimitao das cidades jardins era consolidada por

    um cinturo verde, que deveria impedir a tangncia com outras aglomeraes ur-

    banas.

    Tambm Patrick Guedes (1854-1932), trabalhou na via culturalista. Ele que

    enriqueceu o aparato ideolgico e terico do pensamento regionalista89

    . Contribu-

    indo para difundir idias do planejamento urbano numa escala territorial, concate-

    nada com os fenmenos produtivos90

    .

    No inicio do sculo XX, a cidade moderna emergiu, mantendo os mecanis-

    mos de gesto urbana e territorial ps-liberais. Os mecanismos de planejamento

    urbano, at 1910, se converteram em instrumento de programao da produo,

    de acumulao pela propriedade privada91

    . Os urbanistas transformam-se em es-

    pecialistas com tarefas prticas, e deixam de inserir-se numa viso global de soci-

    edade92

    .

    As propostas testadas empiricamente do movimento moderno, assim como

    seus modelos utpicos, revestidas de um esprito cientfico, tentam em parte re-

    verter esse quadro mostrando que a terra de ningum que tinha se tornado o

    espao pblico, cabia ao Estado, no apenas a gesto como tambm a planifica-

    o e interveno. A cidade transformava-se, deste modo, em objeto de projeto

    do arquiteto.

    A idia que norteia as novas atribuies no territrio da cidade, vem da

    modernidade, e seus desdobramentos na industria e na arte de vanguarda93

    . O

    rgo de difuso num movimento internacional, foi a instituio dos CIAM94

    em La

    Sarraz, 1928. 30 anos antes deste CIAM, o velho oponente de Sitte, Otto Wagner

    contestava que as cidades jardins, pudessem resolver o problema de habitao

    das grandes cidades. Wagner, assim como Berlage j o fizera props que os ter-

    renos de expanso das cidades, passassem a ser propriedade coletiva, de modo

    88

    idia de passeio arquitetnico derivada do jardinismo clssico. 89

    TAFURI e DAL CO, Op. Cit., p.47 90

    Id. Ibid., p.48 91

    idem 92

    CHOAY, Francoise, O Urbanismo, Utopias E Realidades, uma antologia, ed. francesa 1965, 3. ed. brasilei-ra 1992 93

    , Id. Ibid., p. 19-20

  • Camillo Sitte e Braslia 24

    que o Estado pudesse regular os preos dos terrenos e manter o domnio sobre

    seu desenvolvimento.

    A declarao final de La Sarraz, afirmava a vinculao da arquitetura mo-

    derna com o sistema econmico geral; relacionava o conceito de racionalizao

    eficincia do mtodo de produo estandardizada. A viso de planejamento urba-

    no que a declarao divulgava, no se condicionava a esteticismos preexistentes,

    sua essncia era de ordem funcional (...) a catica diviso do solo, resul-

    tante das especulaes nas vendas e das heranas, deve ser abolida por

    uma poltica do solo coletiva e metdica95

    O perodo em que os congressos do CIAM se reuniram, pode ser divididos

    em fases, demarcadas em relao aos temas que trataram a ideologia que ex-

    pressam.

    A primeira fase - principalmente do II e III CIAM, reunidos respectivamente

    em Frankfurt, 1929 e Bruxelas, 1930, foi dominada por arquitetos da nova objeti-

    vidade alem, de inclinao socialista e que exerciam atividades nos programas

    habitacionais estatais, os Siedlungen, tentando avanar as formas da cidades

    jardins para as periferias, empregando tcnicas de pr-fabricao; e testando no-

    vas tipologias funcionais, o espao de moradia mnimo, Existenzminimum.

    A segunda fase do CIAM - entre as 2 Grandes Guerras- foi dominada por

    Le Corbusier. O produto do IV CIAM, de 1933, cujo tema foi A Cidade Funcional,

    foi a Carta de Atenas; que como Choay classifica, no um texto instaurador,

    mas que agrega reflexes sobre o urbano do contexto terico racionalista.

    A Carta de Atenas apenas foi publicada numa verso escrita por Le Cor-

    busier, em 1943, quando comeou repercutir no meio dos arquitetos; como um

    veculo do urbanismo funcionalista - das 4 funes habitar, trabalhar, circular e

    recrear. Funcionalismo que supunha a obrigatoriedade do planejamento regional e

    intra-urbano, a predominncia dos interesses coletivos do uso do solo sobre os da

    propriedade privada, a estandardizao industrial das construes e seus compo-

    94

    CIAM - Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna 95

    Apud. FRAMPTON, Kenneth, Histria de la Arquitectura Moderna. ed inglesa 1981, ed. espanhola 1987, pp. 273-4

  • Camillo Sitte e Braslia 25

    nentes, limitao da densidade populacional, relacionamento adequado entre ha-

    bitao e reas livres96

    .

    Nesta fase, como parte da reconstruo do segundo ps-guerra, tambm

    comeam a ser pensadas, as unidades de habitao e de vizinhana.

    A terceira fase do CIAM - entre 1947 e 1958 - no VI CIAM, de Bridgwater, a

    cidade funcional foi considerada abstrata, reorientando as metas do CIAM, no

    trabalho de criao de um entorno fsico que satisfaa as necessidades emocio-

    nais e materiais dos homens97

    . A partir de 1937, os encaminhamentos do CIAM,

    j reconheciam a importncia das estruturas histricas das cidades98

    .

    Em Bridgwater, se reafirma a validade do planejamento urbano enquanto

    legislao do espao fsico e social; a importncia do mtodo cientfico no desen-

    volvimento da arquitetura, da qual resultou tcnicas avanadas de construo,

    mas que doravante deveriam ser permeadas pelo senso de valores humanos; e, a

    tendncia a reintegrao das artes plsticas - arquitetura, escultura e pintura -

    compreendendo tambm outras formas contempornea de expresso artstica. O

    texto coloca:

    A tarefa urgente para o CIAM assegurar que os mais altos padres hu-

    manos e tcnicos so alcanados no planejamento comunitrio de toda e

    qualquer escala da regio a habitao isolada99

    .

    A reorientao dos princpios funcionalistas foi definitiva no VIII CIAM, reali-

    zado em Hoddeston, Inglaterra, 1951. O tema deste congresso foi O Corao da

    Cidade, que acolheu o manifesto Nove Pontos sobre a Monumentalidade - Ne-

    cessidade Humana, de Sigfried Giedion, Josep Luis Sert e Fernand Lger:

    (...) o povo espera mais que mera satisfao funcional. Deseja que [nos

    edifcios] se tenha em conta sua nsia de monumentalidade, de alegria e

    ntima exaltao100

    .

    96

    SCHERER, Rebeca, Apresentao, 1986, In. LE CORBUSIER, Carta de Atenas, 1933 97

    BRIDGWATER, VI CIAM, Reaffirmation of the Aims of CIAM, , 1947, In OCKMAN, Joan, Architecture Cul-ture 1943-1968, a documentary antology, 1993, pp. 100-102 98

    FRAMPTON, Op. Cit., p. 274 99

    BRIDGWATER, VI CIAM, p. 102 100

    GIEDION, Sigfried, SERT, Josep. L., LGER, Fernand, Nueve Puntos sobre La Monumentalidad - Neces-sidad Humana, N. York, 1943. In GIEDION, S., Arquitectura e Comunidad, 2. ed espanhola 1957

  • Camillo Sitte e Braslia 26

    A tarefa que os planejadores reunidos em Hoddeston, se colocaram, foi a

    de reconstruir a vida coletiva dos cidados, no corao da cidade; centros de

    vida comum, que constituem um problema fundamentalmente social, no qual o

    projeto arquitetnico e urbanstico esto fundamentalmente ligados. Diante do

    incremento dos meios de telecomunicao, o CIAM buscava revalorizar lugares

    de reunio pblica: praas, cafs, associaes populares, adaptando-as as exi-

    gncias da poca. A criao desses centros era uma atribuio do Estado, finan-

    ciados com fundos pblicos.101

    . A terceira fase do CIAM, atenua as teorias funcio-

    nalistas produzidas na fase anterior.

    Esta ltima fase do CIAM, a complexidade da problemtica urbana do ps-

    guerra, comea a ser enfocada com mais realismo, devido aos questionamentos

    da gerao mais jovem, a terceira gerao da arquitetura moderna, fundadores do

    Team X, que dispersou o CIAM.

    O urbanismo funcionalista102

    que tinha com premissa um homem-tipo abs-

    trato, idntico universalmente, adequado ao taylorismo e fordismo produtivista; era

    contraposto pelo Team X com o homem comum, concreto, individual, com todas

    suas carncias103

    . Ao acalentado mtodo cientfico funcionalista, opunham uma

    atitude experimental e emprica, para enfrentar uma realidade em transformao.

    O fato que movia o Team X foi sintetizado por Aldo Von Eyck, um de seus mem-

    bros, vital superar a abstrao alienante da arquitetura moderna104

    . Por sua

    vez, Alison e Peter Smithson, desdenhavam at mesmo, das novas orientaes

    do CIAM:

    O planificador no um reformador social, mas um tcnico da forma, que

    no pode apoiar-se nos centros comunais, lavadouros pblicos, etc., para

    mascarar o fato de que a comunidade como um todo incompreensvel105

    .

    O IX CIAM106

    marcou a ciso entre o Team X e a velha gerao racionalis-

    ta, incluindo Ernesto Rogers, que definiu a situao que se delineou, como conti-

    nuidade ou crise do movimento moderno.

    101

    Cf. SERT, Josep. L., Centros para Vida de la Comunidad in El Corazn de la Ciudad, ed. espanhola, 1955 102

    Define-se neste trabalho o urbanismo do CIAM como funcionalista, baseado em sua fase dominante, que produziu a Carta de Atenas. 103

    Cf. MONTANER, Josep,, Despus del Movimiento Moderno, 1993, p. 18 104

    Apud MONTANER, Op. Cit., p. 32

  • Camillo Sitte e Braslia 27

    A aproximao do CIAM com os princpios de Camillo Sitte, foi feita por um

    dos seus crticos mais mordazes, Giedion, em respeito a sntese das artes, mo-

    numentalidade e espaos pblicos relacionados vida comunitria. Entretanto,

    tambm nesse caso, os conflitos do Team X, buscam uma outra via, para eles a

    identidade provinha do sentido de vizinhana, e no da monumentalidade ou do

    pinturesco. A nova gerao descartava tanto a cidade funcional quanto um reviva-

    lismo de Sitte107

    . A crtica do Team X era praticamente a mesma, que mais tarde

    Giedion publicaria contra Sitte, o diagnstico dos problemas urbanos era aceit-

    vel, mas as solues eram paliativas, e desconectadas com seu tempo108

    .

    No mesmo ano da dispora do CIAM, em 1956, ocorre o concurso de proje-

    tos para a nova capital do Brasil. O projeto vencedor pode ser considerado a

    mais completa aplicao dos princpios contidos na Carta de Atenas109

    .

    O plano preservava as principais premissas do urbanismo funcionalista: o

    zoneamento das 4 funes , habitar, trabalhar, circular e recrear; tinha inteno

    de inserir-se num planejamento territorial; utilizao de projees de blocos cons-

    trudos ao invs de parcelamentos contnuos, que otimizariam a relao dos blo-

    cos construdos, enquanto unidades autnomas, e, em relao aos espaos aber-

    tos (de acordo com os requisitos de higiene e insolao); independncia das vias

    em relao s projees das edificaes, sendo classificadas de acordo com suas

    destinaes: internas s quadras habitacionais, entre quadras - unidades de vizi-

    nhana, ligaes norte-sul, eixo monumental - lugar da burocracia local e do distri-

    to federal110

    .

    105

    SMITHSONS Apud. RAMON, op. cit., p 106

    Foi realizado um ltimo congresso, em Otterloo, 1959. 107

    FRAMPTON, Op. Cit., p. 275 108

    GIEDION, Sigfried, Espacio, Tiempo e Arquitetura, 1. ed. 1960, ed. espanhola, 1978, parte VIII, La Urba-nstica como Problema Humano. 109

    SCHERER, Op. Cit. 110

    LE CORBUSIER, A Carta de Atenas

  • Camillo Sitte e Braslia 28

    Ville Radieuse Le Corbusier, 1930, (fonte, ROWE, KOETTER, 1981, p. 550

    Muitas dessas questes j haviam sido abordadas por Le Corbusier no livro

    Urbanismo, no qual opunha o caminho das mulas, do movimento das ruas cur-

    vas, que dizia ter partido de Camillo Sitte, liberdade artstica que a ordem possi-

    bilitaria111

    .

    A rua corredor da cidade ps-liberal, caminho das mulas, segundo Le Corbu-sier (fonte BENEVOLO, 1984, p. 39)

    Mas, prprio Le Corbusier tinha critrios formais diferenciados de acordo

    com as escalas e os stios em que projetava, que permitia a curva para os terre-

    nos acidentados, como no caso de sua proposta para o Rio de Janeiro, 1929 e

    Argel, 1931.

    111

    LE CORBUSIER, Urbanismo, 1924, ed. brasileira 1992

  • Camillo Sitte e Braslia 29

    Corbusier proposta para o Rio de Janeiro, 1929 e Argel, 1930. (fonte, COSTA, 1995, p. 148)

  • Camillo Sitte e Braslia 30

    5. Os princpios artsticos da cidade em Sitte

    Sitte pretendeu que suas proposies constitussem um teoria racional, ba-

    seado numa generalizao do legado dos antigos. A anlise deste legado no era

    tipolgica, mas relacional; na relao artstica entre praas e edifcios, na qual

    procurava regras, de alto potencial esttico, que a necessidade moderna no ne-

    gasse112

    .

    A reduo de fraes urbanas ao essencial que carregam uma expresso

    sensvel da arte113

    , como denomina Sitte ou ainda idia artstica de base114

    ,

    semelhante ao conceito de kunstwollen (vontade artstica) de Alois Riegl. A nfa-

    se na ao perceptiva aproxima-o do conceito de einfhlung (empatia), que diz

    respeito intercomunicao subjetiva entre objeto artstico e espectador.

    Tambm austraco, Riegl parte dos conceitos de Semper, porm rompe

    com ele, passando a defender a autonomia das configuraes formais artsticas

    em relao aos meios tcnicos e materiais115

    . Aparentemente, Sitte, coloca uma

    relao proporcional entre arte e tcnica, com a relevncia da esttica. Como Rie-

    gl, a fundamentao da anlise de Sitte vem da percepo, de onde retira concei-

    tos artsticos abstratos. Aspecto que o torna absolutamente moderno116

    .

    As estruturas formais que aborda so as que um espectador pedestre cap-

    ta. As concluses de Sitte, baseadas na percepo humana reforam sua anlise

    relacional117

    ; da cidade, como obra de arquitetura concebida tridimensionalmente:

    Artisticamente relevante aquilo que se pode ser apreendido como um to-

    do, ser apreendido em sua totalidade118

    .

    Para Sitte, o desenho urbano consiste na ordenao dos espaos em se-

    qncia119

    , definidos pelo fechamento do espao, da rua ininterrupta corredor,

    112

    Cf. SITTE, Op. Cit., p. 29-30, h um trecho do texto que diz a necesidade mestra 113

    Id. Ibid., p. 116 114

    Conceito de CHOAY. In A Regra e o Modelo, p.293 e 294 115

    Cf. SOL-MORALES, Ignasi. Teoria e Historia de la Arte en Alois Riegl., 1980. In RIEGL, Alois. Problemas de Estilo, 1. ed. 1893 116

    COLLINS e COLLINS, Op. Cit., p. 71 117

    Cf. SITTE, Op. Cit., p. 58. Sitte coloca que na arte do espao tudo depende das relaes mtuas, e no das dimenses absoluta. 118

    Id. Ibid., p. 100

  • Camillo Sitte e Braslia 31

    determinados em funo dos efeitos visuais, ao contrrio dos monumentos isola-

    dos120

    do Ringstrasse ou dos blocos dispersos num espao vazio contnuo sepa-

    rados unicamente pelo sistema virio do urbanismo funcionalista. Os cheios pre-

    dominam sobre os vazios na cidade tridimensional que Sitte concebia.

    Os elementos primrios para Sitte, eram a arquitetura e a natureza121

    , ma-

    teriais da obra de arte total, que pensava ser a cidade, nascida da colaborao do

    somatrio do trabalho de vrios artistas individuais, e no de uma prancheta de

    desenho.

    Sitte denncia a ausncia de critrios sejam prticos, sejam estticos, na

    fundamentao dos planos e parcelamentos urbanos de sua poca; dificuldade

    de escala que as metrpoles industriais colocavam mostrava a necessidade da

    escala humana, da percepo humana como parmetro. Sua viso cultural da

    cidade, mostrava que sua esttica era guiada por uma tica de civilidade.

    Projeto para Eilenriede em Hanover: A - Desconsiderando os antigos limites de propriedade. B - Proposta de Sitte, mantm os limites das propriedades existentes e evita fragmentar as quadras, atravs de ruas radiais (fonte COLLINS, COLLINS, 1965, p. 126)

    119

    Idem, p. 58a percepo humana, no acompanha o rtmo de estmulos ininterruptos e crescentes. 120

    Cf. SITTE, Op. Cit., p. 110 121

    COLLINS e COLLINS, Op. Cit., p. 70

  • Camillo Sitte e Braslia 32

    6. Os princpios artsticos no plano piloto de Braslia

    O projeto para a nova capital brasileira reuniu Lcio Costa, vencedor do

    concurso, e Mrio Pedrosa, crtico de arte, organizador do encontro internacional

    dos crticos de arte que apresentou Braslia ao mundo, com o mote: Cidade Nova

    : Sntese das Artes.

    Pedrosa, l a proposta de Lcio Costa, para Braslia, como insulamento de

    uma civilizao desenraizada - paisagem enxertada122

    , como de resto toda a co-

    lonizao brasileira. Mas, estando na Amrica, condiciona-se ao novo. Pois, a

    Amrica um lugar onde tudo pode comear do comeo123

    .

    0 projeto de transferencia da nova capital para centro do pas pode ser di-

    cotomizado em termos de valores, entre maracangalha, referncia ao presidente

    Juscelino Kubtischek e sua ideologia prefeitural; e utopia, definida por uma idia

    de Lcio Costa. Para Pedrosa, quem diz Utopia diz arte, diz vontade criadora. O

    projeto de Lcio Costa foi um acontecimento que transformou tudo124

    .

    Na polmica em torno da monumentalidade, apoia o projeto de Lcio Cos-

    ta. Diz que no projeto, esta est calcada pela simplicidade com que pode ser a-

    preendida pelo esprito, e ser captada por todas as dimenses dos sentidos125

    .

    Uma cidade com seu programa, sua finalidade, sua planta, proposta de um ho-

    mem coletividade, considerada como uma obra de arte a ser realizada126

    .

    Em Braslia, a cidade como obra de arte, no mais um problema terico,

    mas prtico. A poca para Pedrosa era da utopia se transformar em planificao.

    Este era considerado um problema esttico fundamental do perodo127

    . Talvez, o

    crtico tivesse em mente, a propostas, ainda em fase de propaganda, de uma

    122

    ARANTES, Otlia, Mrio Pedrosa, Itinerrio Crtico, 1991 123

    PEDROSA, Mrio, Reflexes em torno da nova Capital, 1957, In Dos Murais de Portinari aos Espaos de Braslia, pp.303-16 124

    Id. Ibid. p. 310 125

    Idem, p. 315 126

    Id. Utopia - Obra de Arte, 1958, p. 319, In Dos Murais..., pp 317-319 127

    Id., Cidade Nova - Sntese das Artes, 1959, p 356, In Dos Murais..., pp.355-64

  • Camillo Sitte e Braslia 33

    nova monumentalidade de Giedion e Sert128

    ; assim como os congressos do CI-

    AM, de Bridgwater e Hoddeston.

    O empreendimento de uma cidade nova, planificada e edificada com recur-

    sos tecnolgicos atuais, baseados num pensamento global - o peso conceptual

    deste pensamento semelhante ao da fora plasmadora da arte.- constri uma

    obra de arte coletiva. Este processo importante diante da crise, que Mrio Pedro-

    sa identifica na arte individual contempornea.

    Assim, Pedrosa via na arquitetura e urbanismo, no plano piloto para Bras-

    lia, a possibilidade de realizar a arte total e internacionalista, na funo da sntese

    das artes.

    O projeto de Lcio Costa, a imagem sntese prvia est consolidada no que

    ele denominou de gesto primrio - gesto de quem assinala um lugar ou quem

    toma posse .

    Etapas do desenvolvimento da idia sntese da soluo do plano piloto de Braslia. (fonte, COSTA, 1995, p. 284

    Os eixos cruzados incorporam um equacionamento de intenes de conci-

    liar as proposies do CIAM129

    - dos preceitos do urbanismo aberto da cidade-

    parque; com a ordonnance dos espaos barrocos da Frana - eixos e perspecti-

    vas que buscam a visualidade dos espaos; insights dos terraplenos chineses,

    gramados ingleses; assim como, a assimilao dos viadutos e auto-estradas ame-

    ricanas.

    128

    SERT, LEGER, e GIEDION, Op. Cit. 129

    Costa refere-se Carta de Atenas com suas 4 funes e a questo do planejamento regional, etc., mas possvel que tenha em vista tambm os CIAM de Bridgewater e de Hoddeston

  • Camillo Sitte e Braslia 34

    Os elementos que servem como estruturadores do espao, so pensados

    dentro de princpios artsticos, e visam a leitura imediata de perspectivas, que so

    pensadas em funo de sua fruio visual.

    O eixo monumental definido, por massas edificadas lateralmente, e tem

    como fechamento o centro cvico, em forma triangular, que tem um edifcio repre-

    sentativo dos 3 poderes (executivo, legislativo e judicirio) em cada vrtice.

    Desenhos do eixo monumental de Braslia (fonte, COSTA, 1995, p. 285 e 288)

    O nvel do stio elevado artificialmente, em terraplenos que do visibilida-

    de ao lago Parano ao fundo, e lateralmente com o cerrado, simbolizando, o povo

    brasileiro. Uma relao entre arquitetura e natureza, arquitetura e cultura, atravs

    da monumentalidade. Esse simbolismo vem embutido na inteno de agenciar,

    ordenar com senso de convenincia e medida

    funes vitais prprias de uma cidade moderna, no como urbs, mas co-

    mo civitas, possuidora de atributos inerentes a uma capital130

    .

    Numa capital , a monumentalidade o prprio conjunto da coisa em si,

    diz Lcio Costa131

    . Deste modo, esta extende-se s superquadras, que seria o

    lugar especfico da convivncia.

    O tema da monumentalidade e da sntese das artes j vinha sendo gestada

    a alguns anos por Lcio Costa, Em 1952, diz que a monumentalidade relaciona-se

    130

    COSTA, Memria Descritiva do Plano Piloto, 1957, In Registro de uma vivncia 131

    Id. Eixo Monumental, 1958, In Ibid.

  • Camillo Sitte e Braslia 35

    vegetao, ao descampado como complementos naturais; ao mesmo tempo em

    que caracteriza o conceito moderno de urbanismo (da cidade ao campo), abolin-

    do a noo do pinturesco132

    , devido a incorporao do buclico ao monumen-

    tal133

    .

    Lcio Costa acreditava na paixo coletiva pelas demonstraes individuais

    ou associadas excepcional percia - na transferencia de subjetividade para o

    coletivo - na prtica desinteressada das artes plsticas, adepto da empatia que

    era. Esta prtica tinha a funo de intensificar a inteligncia do fato artstico no

    pblico134

    .

    Plano Piloto de Braslia de Lcio Costa apresentado ao concurso em 1956 (costa, 1995, p.297) Previses de interligaes regionais (Id. Ibid., p. 317)

    Braslia, sintetiza no pensamento de Lcio Costa; a passagem de Le Cor-

    busier pelo Rio de Janeiro (a axialidade para escala humana, e a curva para o

    aleatrio) representado pelo arqueamento do eixo rodovirio, para adaptar-se

    topografia. A gestao dos temas da ordem do dia do urbanismo da dcada de

    50: monumentalidade, sntese das artes, e espao pblico coletivo. Esses temas

    fazem conviver no pensamento urbano moderno brasileiro, progressismo para

    justificar a insero do Brasil no mundo, e culturalismo, para assimilar a situao

    interna do pas.

    132

    COSTA., Consideraes... 133

    Id. Ibid. 134

    Id., A Crise da Arte..

  • Camillo Sitte e Braslia 36

    Assim,os ideais dos ltimos CIAMs, que absorvem parcialmente Sitte en-

    contram-se to presentes, quanto o urbanismo preconizado pela Carta de Ate-

    nas.

  • Camillo Sitte e Braslia 37

    7. Braslia do ponto de vista de Sitte

    Como uma cidade moderna, Braslia foi tratada como uma questo de de-

    senho, sua imagem nasce da prancheta da colaborao entre Lcio Costa e Os-

    car Niemeyer. Distante, ento das cidades desenvolvidas in natura que Sitte de-

    fende.

    Os princpios artsticos que baseiam o projeto so mais os de Bridgwater e

    Hoddeston, que os de Sitte, evidentemente. Embora, se possa vislumbrar os con-

    ceitos artsticos de Kunstwollen, einfhlung e abstrao, semelhantes aos de

    Sitte como fundamentos tericos do plano piloto de Lcio Costa.

    A distino bvia, vem do fato que os espaos abertos e construdos so

    simultaneamente controlados pelo desenho, assim como a totalidade do plano; ao

    contrrio que em Sitte que reduzia a cidade enquanto obra de arte praas e ou-

    tros espaos, que so passveis de leitura135

    .

    O elemento mais singular do plano de Braslia, que carregam no aspecto

    simblico de capital do pas, a Praa dos 3 Poderes, tem uma composio cuja

    idia bsica pode ser aproximada s idias urbanas do barroco. A sua localizao

    central em relao aos eixos estruturadores da circulao e do fluxo, buscando

    concomitantemente a visibilidade do poder.

    135

    ROSSI, Aldo. A Arquitetura da Cidade, 1966, p.24

  • Camillo Sitte e Braslia 38

    Praa dos 3 Poderes( fonte COSTA, 1995, p. 312)

    Os edifcios de escala monumental dos Ministrios garantem um fechamen-

    to lateral ao espao aberto da praa; a construo da rodoviria do lado oposto ao

    edifcio do Congresso possibilita uma viso perspectica privilegiada. Mas ao fundo

    a vista entrecortada do Lago Parano, j interpretada como uma intercomunica-

    o entre arquitetura e natureza, do uma noo de extenso, como no cartesia-

    nismo dos jardins de Versalhes. uma noo esttica do infinito contrria a viso

    finita de Sitte. As dimenses dos espaos abertos so incomparveis, com as res-

    tries e fechamentos propostos por Sitte.

    Eixo Monumental e Catedral em construo ao fundo a natureza que se torna paisa-gem (fonte, COSTA, 1995, p. 299

    Os aspectos ordenadores do plano de Braslia so os eixos de circulao, e

    os centros irradiadores de visibilidade, de fluxos, de funes, em torno dos quais

    as massas edificadas, como blocos isolados se dispem136

    . O sistema virio no

    possui ruas corredores, constituem-se ligaes entre pontos, ou centros.

    Desenhos do eixos de circu-lao de Braslia .5. cruza-mento do eixo monumental, acesso aos ministrios. 7. eixo residencial e eixo mo-numental (fonte, COSTA, 1995, p. 286)

    136

    CARDOSO, Adauto Lcio. Construindo a Utopia: Lcio Costa e o pensamento urbanstico no Brasil, Espa-o & Debates, n. 27, 1989

  • Camillo Sitte e Braslia 39

    O lugar projetado como centro de convivncia, so as superquadras - con-

    cebidas com o estatuto de unidade de vizinhana. Nas superquadras, entre as

    massas construdas fragmentadas pensou-se o local de integrao social. En-

    quanto, a Praa dos 3 Poderes era o espao das massas e do poder, e a Rodovi-

    ria de passagem, contemplao, fruio desatenta - como em Walter Benjamin,

    enfim das trocas entre os vrios setores scio-econmicos da cidade.

    Rodoviria de Braslia, projeto Lcio Costa. (fonte, COSTA, 1995, p. 311)

    O espao das superquadras, embora mais padronizado e menos enfatica-

    mente artstico, menos esttico que o da Praa dos 3 Poderes. E, neste ponto,

    justamente embora belo, o plano piloto tem um dinamismo menor que os espaos

    previstos por Sitte, ou dos espaos modernos, no pensado como decomposi-

    o espacial, e tambm no coloca relao fluida entre interior e exterior des-

    tes137

    .

    137

    GIEDION. El Presente Eterno, los comienzos de la Arquitectura, 1981, pp. 490-4

  • Camillo Sitte e Braslia 40

    Viso das superquadras de Braslia e eixo residencial e desenho das unidades de vizinhana de Lcio Costa (fonte COSTA, 1995, p. 308-9)

  • Camillo Sitte e Braslia 41

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