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Caminho 26-27: Oração de recolhimento I Os capítulos 26-27 estão dedicados a declarar o que é a oração de recolhimento e a oferecer meios para adquiri-la (cf. títulos dos mesmos) 1 . E como a oração cristã é sempre encontro entre duas pessoas, por isso mesmo permite contemplar o mistério nas suas dimensões fundamentais: a cristológica (caps. 26-27) e a antropológica (caps. 28-29). Pistas de leitura Este passo do “recolhimento” consiste na aprendizagem e avanço no caminho da oração através de uma fase de interiorização que torna a oração mais pessoal, mais profunda, mais simples e contemplativa. O primeiro painel do díptico (caps. 26-27) insiste em que recolher-se não é ensimesmar-se (…). Seria desolador entrar dentro de si e encontrar-se só consigo mesmo 2 . Qual é, portanto, a finalidade última desse constante “acostumar-se” a que a Santa nos chama nestas páginas? Que conselhos dá para isso? Que orações compartilha e facilita como exemplo e estímulo? Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar… 1. Como ficou dito anteriormente, aqui, como sempre, a Santa Madre anima a iniciar-se na oração de recolhimento; há uma grande presença de chamadas a “acostumar-se, acostumai-vos…” a várias coisas: olhá-l’O, falar-Lhe… Apesar desta abundância, a principal finalidade está clara: acostumar-se a “ que o seu Mestre o ama” (26, 10; cf. 26, 4; 27, título e 5a). Será este o fundamento e o ponto de partida da nossa oração, nossos conselhos a outros, nossa pastoral…? Revê, agradece… 2. “O exame de consciência, dizer a confissão e persignar-se, já se sabe que há-se ser a primeira coisa” (26, 1). Não se trata evidentemente do mais importante, como demonstra o resto destes capítulos. Além disso, a maioria de entre nós não segue à risca este conselho: exame, confissão, persignar-se. No entanto, a consciência de cada um e a sua situação e, ao mesmo tempo, os ‘ritos de pausa na quotidianidade’ (persignar-se, concentrar-se, posição, respiração) são, sem dúvida, fundamentais tal como a citação o indica. – Tem-los em conta? Exercitas-te neles…? 3. É óbvio que o meio mais importante é a educação do olhar, a palavra, a escuta (26, 2- 10) 3 1 “Estamos perante o tema central do Caminho. Lembremo-nos! Na pedagogia teresiana, a arte de recolher-se e entrar dentro de si é uma espécie de passo intermédio entre a oração simples rezada e a oração de pura contemplação. Degrau de passagem de uma à outra”; T.ÁLVAREZ, Paso a paso. Leyendo a Teresa con su Camino de Perfección, p.181. : “como O quiserdes, O achareis” (26, 3); “se estais alegres, vede-O Ressuscitado” 2 Ibidem. 3 Começando pelo exterior “para despertar e dirigir o olhar interior: a atenção, o próprio espírito, reeducando os sentidos, aguçando a ponta penetrante da fé e do amor”: ibid.

Caminho 26 27

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Caminho 26 27 - S. Teresa

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  • Caminho 26-27: Orao de recolhimento I

    Os captulos 26-27 esto dedicados a declarar o que a orao de recolhimento e a oferecer

    meios para adquiri-la (cf. ttulos dos mesmos)1

    . E como a orao crist sempre encontro entre

    duas pessoas, por isso mesmo permite contemplar o mistrio nas suas dimenses fundamentais:

    a cristolgica (caps. 26-27) e a antropolgica (caps. 28-29).

    Pistas de leitura

    Este passo do recolhimento consiste na aprendizagem e avano no caminho da orao atravs

    de uma fase de interiorizao que torna a orao mais pessoal, mais profunda, mais simples e

    contemplativa. O primeiro painel do dptico (caps. 26-27) insiste em que recolher-se no

    ensimesmar-se (). Seria desolador entrar dentro de si e encontrar-se s consigo mesmo2

    .

    Qual , portanto, a finalidade ltima desse constante acostumar-se a que a Santa nos chama

    nestas pginas? Que conselhos d para isso? Que oraes compartilha e facilita como exemplo e

    estmulo?

    Para reflectir, rever a vida, interceder, agradecer, contemplar

    1. Como ficou dito anteriormente, aqui, como sempre, a Santa Madre anima a iniciar-se na

    orao de recolhimento; h uma grande presena de chamadas a acostumar-se,

    acostumai-vos a vrias coisas: olh-lO, falar-Lhe Apesar desta abundncia, a

    principal finalidade est clara: acostumar-se a que o seu Mestre o ama (26, 10; cf. 26,

    4; 27, ttulo e 5a). Ser este o fundamento e o ponto de partida da nossa orao, nossos

    conselhos a outros, nossa pastoral? Rev, agradece

    2. O exame de conscincia, dizer a confisso e persignar-se, j se sabe que h-se ser a

    primeira coisa (26, 1). No se trata evidentemente do mais importante, como

    demonstra o resto destes captulos. Alm disso, a maioria de entre ns no segue risca

    este conselho: exame, confisso, persignar-se. No entanto, a conscincia de cada um e a

    sua situao e, ao mesmo tempo, os ritos de pausa na quotidianidade (persignar-se,

    concentrar-se, posio, respirao) so, sem dvida, fundamentais tal como a citao o

    indica. Tem-los em conta? Exercitas-te neles?

    3. bvio que o meio mais importante a educao do olhar, a palavra, a escuta (26, 2-

    10)3

    1 Estamos perante o tema central do Caminho. Lembremo-nos! Na pedagogia teresiana, a arte de recolher-se e entrar dentro de si uma espcie de passo intermdio entre a orao simples rezada e a orao de pura contemplao. Degrau de passagem de uma outra; T.LVAREZ, Paso a paso. Leyendo a Teresa con su Camino de Perfeccin, p.181.

    : como O quiserdes, O achareis (26, 3); se estais alegres, vede-O Ressuscitado

    2 Ibidem. 3 Comeando pelo exterior para despertar e dirigir o olhar interior: a ateno, o prprio esprito, reeducando os sentidos, aguando a ponta penetrante da f e do amor: ibid.

  • (4); se estais com trabalhos ou tristes (5). Rev, ora Por outro lado, no te

    esqueas de que, embora isto seja bom, no exclui o contrrio: cf. como a liturgia nos

    ajuda e obriga a evitar objectivismos e individualismos em excesso, quando prope

    tempos e festas (Pscoa e domingos, mesmo que eu esteja triste ou penitente;

    Quaresma, ainda que me sinta eufrico) ou tantos salmos como rezamos no Ofcio

    Divino, sem que dependam do nosso estado de nimo, mas que nos fazem solidrios

    com os outros (cf. Completas de 6 feira). Rev, agradece, intercede

    4. O que podeis fazer para ajuda disto procurar trazer uma imagem ou retrato deste

    Senhor que seja a vosso gosto (26,9; cf. V 22). tambm grande remdio pegar num

    bom livro em romance (26,10; cf. 17,3; V4, 9; 9, 5) e, muito mais, o Evangelho (21, 4;

    26, 3-7. Aconselharia eu aos que tm orao, sobretudo ao princpio, que procurem

    amizade e trato com outras pessoas que tratem do mesmo (V 7, 20).Aproveitava-me a

    mim tambm ver campo ou gua, flores (V9, 5). E, como no podia deixar de ser,

    acompanhamento de mestres (cf. V13). Toda uma lista de ajudas para ajudar a recolher-

    se. Reflecte, agradece

    5. A primeira e preciosa orao que aqui nos oferece a Santa (26, 6), no se reduz

    unicamente a tomar conscincia do amor de Deus: o famoso andemos juntos, Senhor

    leva consigo propsitos de comprometer a vida por e com Ele; no se reduz a mero

    sentimentalismo. Uma vez mais, rever, orar

    6. A segunda orao no menos bela, mas mais longa e at, se possvel, mais cheia de

    pormenores do que a anterior: quase todo o captulo 27! Multiplicam-se os motivos para

    contemplar, agradecer e afianar-se: a infinita e injusta (para o nosso fraco

    entendimento) bondade do Pai (2b); a revelao da divindade do Filho (4); a aluso

    final ao Esprito Santo, para que continue o captulo em cada um (enamore a vossa

    bondade e vo-la prenda com grandssimo amor: 7). Por conseguinte, as evidentes

    intuies trinitrias que isto implica: Deus Trindade, Comunho, nsia de Comunho

    com todos Portanto, h muito para aprofundar.

    Mas, alm disso, h pormenores talvez mais originais e curiosos, porque supem certa

    correco ao prprio Deus, como por exemplo, a sua intercesso perante o Filho para

    que olhe pela honra do Pai (27, 2-3; cf. o caso ao invs em 3,8). Que achas? Que te

    sugere?

    7. Ter chamado a ateno a crtica da Santa ao que o casamento suponha para a mulher

    no seu contexto: vede de que sujeio vos livrastes, irms! (26,4). Todos sabemos que

    isto um problema e erro social, mas que o casamento cristo, embora exija a sua

  • ascese prpria, consiste na comunho dos cnjuges e no na sujeio de um ao outro?

    Alm disso, fica claro que a autntica orao e vida crist sempre social e

    eclesialmente renovadora e, neste sentido, crtica e revolucionria? (cf. a questo das

    linhagens em 27,6)? Se no se sabia, convm aprofundar, formar-se nestes temas.