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28 Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2010 Durante o terceiro período do Curso de História, surgiu a primeira matéria relacionada à monografia, na qual teríamos de escolher nosso tema para pesquisa. Não tive dúvidas: esta seria a minha oportunidade para poder pesquisar sobre a Estrada da Graciosa! No entanto, após fazer um levantamento sobre os meus referencias bibliográficos, e ter adquirido maior conhecimento sobre o assunto, descobri que a estrada fora um dia apenas um caminho, e estava diretamente ligada aos centenários caminhos que faziam a transposição da Serra do Mar. E após sua efetiva construção, quando se tornou Estrada da Graciosa, teve grande influência sobre a construção da primeira ferrovia do Paraná, pois o mesmo engenheiro Antônio Rebouças, que teve grande importância na sua construção, foi também o primeiro engenheiro a desenvolver o projeto para a construção de uma estrada de ferro no Paraná, que após alguns anos saiu dos papéis e tornou- se realidade. E todas estas novas transformações nas vias de comunicação do Paraná ocorreram no Século XIX, fazendo assim com que aumentasse a abrangência de meu tema, denominando minha monografia de “Caminhos do Paraná no Século XIX”. Dividi meu tema em três capítulos: no primeiro, trabalhei a história dos antigos caminhos, que junto à Trilha da Graciosa, faziam a precária transposição da Serra do Mar paranaense. Trabalhei, também, neste primeiro capítulo, o processo de INTRODUÇÃO A ideia inicial para desenvolver este trabalho originou-se no decorrer de um domingo ensolarado, quando eu e minha família decidimos almoçar em Morretes, tendo como trajeto a PR-410, ou como é amplamente conhecida, a Estrada da Graciosa. Estando já na antiga estrada, fiquei admirado diante de tal beleza natural, que em harmonia com o centenário calçamento, exercia sobre nós grande admiração. Mas além de sua beleza, também me despertou a atenção toda a historicidade que possivelmente estaria envolta em toda aquela edificação, pois sabia que havia sido a primeira e única ligação rodoviária entre o litoral e Curitiba até meados do século XX. Chegando em casa, fiz uma pequena pesquisa sobre a antiga estrada, ficando muito decepcionado, pois somente encontrei artigos que enalteciam apenas sua beleza, não dando ênfase alguma a sua história. Fui então à Biblioteca Pública do Paraná, e também fiz uma prévia pesquisa, porém encontrei poucos livros que falassem sobre esta estrada, e, os que foram encontrados, tratavam sobre ela apenas de forma superficial. Foi então que, após algum conhecimento sobre a Estrada da Graciosa, perguntei-me: Mas por que tanta indiferença, e pouco destaque a esta estrada que foi, por cerca de cem anos, a única ligação rodoviária entre o planalto e o litoral, mesmo tendo grande importância para o desenvolvimento cultural e principalmente econômico no Estado do Paraná? CAMINHOS DO PARANÁ NO SÉCULO XIX Autor: Bruno Schiminski Orientador: Maria Ignês Mancini De Boni

Caminhos do Parana no Século XIX

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  • 28Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    Durante o terceiro perodo do Curso de Histria, surgiu a

    primeira matria relacionada monografia, na qual teramos de

    escolher nosso tema para pesquisa. No tive dvidas: esta seria

    a minha oportunidade para poder pesquisar sobre a Estrada da

    Graciosa! No entanto, aps fazer um levantamento sobre os meus

    referencias bibliogrficos, e ter adquirido maior conhecimento

    sobre o assunto, descobri que a estrada fora um dia apenas um

    caminho, e estava diretamente ligada aos centenrios caminhos

    que faziam a transposio da Serra do Mar. E aps sua efetiva

    construo, quando se tornou Estrada da Graciosa, teve grande

    influncia sobre a construo da primeira ferrovia do Paran,

    pois o mesmo engenheiro Antnio Rebouas, que teve grande

    importncia na sua construo, foi tambm o primeiro engenheiro

    a desenvolver o projeto para a construo de uma estrada de

    ferro no Paran, que aps alguns anos saiu dos papis e tornou-

    se realidade. E todas estas novas transformaes nas vias de

    comunicao do Paran ocorreram no Sculo XIX, fazendo assim

    com que aumentasse a abrangncia de meu tema, denominando

    minha monografia de Caminhos do Paran no Sculo XIX.

    Dividi meu tema em trs captulos: no primeiro, trabalhei a

    histria dos antigos caminhos, que junto Trilha da Graciosa,

    faziam a precria transposio da Serra do Mar paranaense.

    Trabalhei, tambm, neste primeiro captulo, o processo de

    INTRODUO

    A ideia inicial para desenvolver este trabalho originou-se no

    decorrer de um domingo ensolarado, quando eu e minha famlia

    decidimos almoar em Morretes, tendo como trajeto a PR-410, ou

    como amplamente conhecida, a Estrada da Graciosa. Estando j

    na antiga estrada, fiquei admirado diante de tal beleza natural, que

    em harmonia com o centenrio calamento, exercia sobre ns grande

    admirao. Mas alm de sua beleza, tambm me despertou a ateno

    toda a historicidade que possivelmente estaria envolta em toda

    aquela edificao, pois sabia que havia sido a primeira e nica ligao

    rodoviria entre o litoral e Curitiba at meados do sculo XX. Chegando

    em casa, fiz uma pequena pesquisa sobre a antiga estrada, ficando

    muito decepcionado, pois somente encontrei artigos que enalteciam

    apenas sua beleza, no dando nfase alguma a sua histria. Fui ento

    Biblioteca Pblica do Paran, e tambm fiz uma prvia pesquisa,

    porm encontrei poucos livros que falassem sobre esta estrada,

    e, os que foram encontrados, tratavam sobre ela apenas de forma

    superficial. Foi ento que, aps algum conhecimento sobre a Estrada

    da Graciosa, perguntei-me: Mas por que tanta indiferena, e pouco

    destaque a esta estrada que foi, por cerca de cem anos, a nica ligao

    rodoviria entre o planalto e o litoral, mesmo tendo grande importncia

    para o desenvolvimento cultural e principalmente econmico no Estado

    do Paran?

    CAMINHOS DO PARAN NO SCULO XIX

    Autor: Bruno SchiminskiOrientador: Maria Igns Mancini De Boni

  • 29Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    antes destes novos caminhos e posteriormente a eles. Utilizei

    tambm fontes bibliogrficas que retratam a histrias das principais

    cidades e vilarejos do litoral paraense que tiveram alguma relao

    com estas edificaes. Como referencial terico, utilizei o artigo

    Entre Memria e Histria. A problemtica dos lugares de Pirre

    Nora, o qual conceitua a importncia dos lugares de memria como

    forma de cristalizar e vivificar a memria, pois desde que haja

    rastro fsico no estaremos mais na memria e, sim, na histria.

    E nestes lugares de memria, que fiz uma relao do passado

    como forma de vivificar o presente.

    No terceiro captulo, analisei a Estrada da Graciosa e a Estrada

    de Ferro Paranagu-Curitiba, sob o aspecto de patrimnio cultural

    paranaense. Para tanto, fiz uma retrospectiva sobre o desfecho

    que cada um teve ao longo tempo, sendo que a Graciosa tornou-

    se parque estadual e a Estrada de Ferro teve suas estaes

    ferrovirias tombadas e tornou-se um dos principais pontos

    tursticos do Paran. Apresento, tambm, questes sobre o

    patrimnio no Brasil, utilizando como referncia bibliogrfica, o

    livro Os rituais de tombamento e a escrita da Histria escrito pela

    historiadora Mrcia Kersten. Discuti-se tambm o tombamento

    da Serra do Mar paraense como patrimnio natural; no entanto,

    busco demonstrar que alm de ser um bem natural poderia ser

    tambm um patrimnio cultural, pois sua transposio teve estrita

    relao com a histria do Paran. Como referencial terico utilizei

    o livro da historiadora Franoise Choay Alegoria do Patrimnio

    o qual fornece os conceitos necessrios para que determinado

    bem torne-se um patrimnio cultural.

    Emancipao poltica da quinta comarca de So Paulo, no caso

    o Paran, demonstrando que somente aps sua emancipao

    ganhou maior poder para resolver suas mazela que impediam seu

    desenvolvimento. E um dos grandes problemas que a Provncia

    enfrentava era suas precrias vias de comunicao entre o litoral

    e o Primeiro Planalto; diante disto, o primeiro presidente da

    Provncia, Zacarias de Goes, decide tentar resolver tal problema

    inicialmente com a construo de uma boa estrada de rodagem.

    assim que entro no processo de construo da Estrada da Graciosa,

    e da posterior construo da Estrada de Ferro Paranagu-Curitiba.

    Utilizei como fontes bibliogrficas livros que relatam sobre os

    antigos caminhos coloniais, e tambm livros comemorativos

    do centenrio da Estrada da Graciosa e da Estrada de Ferro

    Paranagu-Curitiba. Como fonte primria, utilizei o relatrio do

    presidente Zacarias de Goes, que assumiu a Provncia em 1853,

    para buscar entender os problemas que enfrentava a Provncia

    em decorrncia de suas precrias vias de comunicao. Ainda no

    relatrio busquei as perspectivas geradas pela oficializao do

    projeto que iniciaria a construo da Estrada da Graciosa.

    No segundo captulo, investiguei os reflexos econmicos

    gerados pela construo dos novos caminhos, no caso a Estrada

    da Graciosa e a Estrada de Ferro Paranagu-Curitiba, analisando

    tambm as perspectivas geradas diante destas edificaes. Para

    este captulo, utilizei como uma das principiais fontes bibliogrficas

    o livro de Pedro Calil Padis Formao de uma Economia Perifrica:

    O caso do Paran livro que me insere no contexto da economia

    paranaense do sculo XIX, fornecendo suporte para assim fazer

    uma reflexo econmica sobre a situao da economia do Paran

  • 30Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    Da impreciso das informaes de quando os caminhos

    foram abertos, tem-se o relato de Antnio Vieira Dos Santos que

    acreditava ser o Caminho do Arraial o mais antigo, aberto entre

    1586 e 1590, e desta primeira abertura, como picada, originou-se

    o Caminho do Arraial. Porm, a primeira expedio com objetivo

    de alcanar os campos de Curitiba e as nascentes do Rio Iguau,

    foi em 1531; no entanto, como nenhum participante da expedio

    retornou, ficou impossvel saber qual foi o caminho utilizado. O

    Caminho do Arraial foi aberto gradativamente pelos faiscadores de

    ouro que subiam a Serra atrs de novas fontes. O nome Arraial

    devido existncia do Grande Arraial de mineradores2 que, a partir

    de uma trilha, construiriam um caminho para facilitar o acesso do

    litoral aos meandros da Serra do Mar, que posteriormente chegou

    ao Planalto.

    No percurso do Caminho do Arraial existem edificaes que

    ressaltam que um dia, no passado, ali estiveram faiscadores de

    ouro, pois prximo ao caminho existe um grande buraco murado

    com pedras que atingem 10 metros de comprimento e dois metros

    de altura, construdos com uma espcie de argamassa que se

    encontra em perfeito estado. Esta construo era utilizada para

    a lavagem do ouro encontrado na regio. Dos trs caminhos

    histricos que faziam a travessia da Serra do Mar, o Arraial foi o

    menos utilizado pelos viajantes mercadores, por ser naturalmente

    muito difcil e por se encontrar em pssimas condies de

    conservao. Em 1827, no Brasil Imprio, foram feitas melhorias

    no Caminho do Arraial e juntamente a estas reformas foi instituda

    uma barreira que cobrava uma taxa de manuteno para o viajante

    que a utilizasse.

    1 CAMINHOS DO PARAN

    1.1 Caminhos histricos que faziam a ligao de Curitiba ao litoral

    Durante o perodo colonial brasileiro, a expanso territorial foi

    fundamentalmente estruturada pelo deslocamento humano territrio

    adentro. Estes homens eram conhecidos como viandantes1 que,

    acompanhados por sua tropa, munida de cavalos, mulas e escravos, saiam

    em busca de novas descobertas de metais preciosos ou simplesmente

    pela expanso territorial. Por onde estes viandantes passavam, deixavam

    rastros denominados como caminhos, que posteriormente tornavam-se

    rotas de novos viandantes, fazendo assim com que alguns, pela sua

    grande rotatividade, ficassem marcados por geraes.

    Alguns caminhos j existiam em nosso territrio, mesmo antes da

    colonizao portuguesa devido locomoo do povo indgena que aqui

    residia. Alguns deles, devido a sua grande utilizao, atravessaram

    sculos, e acabaram tornando-se percursores de grandes e modernas

    rodovias as quais ainda hoje utilizamos. E no Paran no foi diferente,

    como veremos mais frente. O mais antigo dos caminhos acredita-se

    que seja o pr-colombiano, chamado de Caminho do Peabiru que ligava

    o Paran com a Bolvia, Paraguai, Peru e possuindo derivaes para

    Argentina e Chile. Em Curitiba e regio metropolitana, encontramos

    trs caminhos histricos: o Caminho do Arraial, que ligava So Jos

    dos Pinhais a Morretes; o Caminho do Itupava que ligava Curitiba

    a Porto de Cima e o Caminho da Graciosa o qual ligava Curitiba a

    Antonina. Cada qual com sua histria e especificidade, porm com a

    mesma finalidade de transpor a Serra do Mar.

  • 31Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    abat-la em Porto de Cima, originando assim o Caminho do Itupava. O

    caminho foi o mais utilizado pelos viajantes por aproximadamente 200

    anos, pois apesar de ser um caminho de muitas dificuldades no trajeto,

    tinha a recompensa de ser o mais rpido entre os demais. A dificuldade

    do caminho evidenciada no dirio do viajante francs Auguste de

    Saint-Hilaire4:

    A estrada vai se tornando cada vez mais difcil; em certos lugares ela cavada na montanha a uma profundidade considervel, tem pequena largura e coberta pela folhagem das rvores, que se entrelaam no alto e privam o viajante da luz do dia. Em outros trechos so os atoleiros que surgem, e com grande dificuldade que os burros se livram deles; finalmente h bruscos desnveis no terreno, que obrigam os animais a dar grandes saltos. Em vrios lugares foram colocadas algumas achas de madeira sobre os atoleiros, mas os animais escorregam ao pisar sobre suas superfcies arredondadas e molhadas, correndo o risco de cair a todo momento.5

    O Caminho do Itupava levava apenas dois dias de caminhada para

    chegar ao litoral, enquanto o Caminho da Graciosa levava quatro e o

    Caminho do Arraial trs. Alguns conhecem o Caminho do Itupava como

    trilha dos jesutas, isto porque os jesutas tinham uma grande fazenda na

    Borda do Campo que fornecia boa alimentao e descanso aos viajantes

    e seus animais, que aps uma exaustiva subida da serra, necessitavam

    de descanso e abrigo para posteriormente retomar a viagem.

    Aps sua primeira abertura como trilha, o caminho veio

    gradativamente no decorrer do tempo a receber melhorias, sendo

    algumas de maior relevncia, como em 1772, cento e cinqenta

    anos aps sua abertura. Obra que ocorreu devido necessidade do

    Tenente Coronel Afonso Botelho de Sampaio e Souza transportar dois

    pesados canhes que estavam no Porto de Paranagu, que serviriam

    Logo no primeiro semestre, os resultados foram desanimadores,

    uma vez que as arrecadaes tarifrias foram baixssimas. Vieira

    dos Santos, em 1824, justifica os valores arrecadados:

    Passo agora a mostrar a V.S as cauzas primrias de ter havido to pouco rendimento nesta estrada quaes so-1 Por se no ter conertado nella muitos passos que esto intransitveis e impedem a livre passagem das tropas com perigo de morrerem os animais 2 No se achar ao menos descortinada a mesma de muitos mattos e arvoredos que cobrem deixando-a por isso muito humida com agoas estragadas e atoledos. 3Por se haverem encaminhado a maior parte dos tropeiros d aquela freguesia pela Estrada de Coritiba (caminho do Itupava) vindo desta maneira augmentar os rendimentos desta e deminuir o d aquella. 4Por no ter a freguezia de So Jos hua importao de generos commerciaes como como tem a Villa de Coritiba.3

    Como no Caminho do Itupava tambm havia um posto de pedgio

    prximo de Porto de Cima, possvel comparar a arrecadao dos

    dois caminhos. Pelo Arraial, no segundo semestre de 1827, foram

    arrecadados 269$800 referentes a passagem de 1.095 tropas com

    1.445 animais. J no Itupava as arrecadaes foram de 2.223$450

    correspondendo a passagem de 14.763 animais e 2.121 tropas. Apesar

    de ser o caminho mais antigo fica evidente que no era o preferido

    pelos viajantes. Atualmente, o Caminho do Arraial se encontra quase

    que totalmente coberto pela Mata Atlntica. Outro fator que o deturpou

    em algumas partes foi a construo de um oleoduto que convergiu com

    velho caminho. O Arraial por ser de difcil acesso o menos visitado

    pelos turistas que se aventuram na Serra do Mar.

    Outro caminho histrico foi o Caminho do Itupava que se acredita,

    tenha sido aberto por volta de 1625. Segundo o folclore popular, um

    caador da Borda do Campo iniciou uma implacvel perseguio a uma

    robusta anta, a qual perseguiu serra a dentro, conseguindo somente

  • 32Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    aproveitavam para reabastecer seus suprimentos para viagem de

    volta. Atualmente, o Caminho do Itupava o mais visitado e o mais

    conhecido dos antigos caminhos, por estar em melhores condies de

    preservao e ser considerado o mais belo.

    De igual importncia, foi tambm o Caminho da Graciosa, que

    segundo algumas vertentes seria o mais antigo, devido ao fato de no

    ter sido nem mesmo desbravado pelos homens oriundos da colonizao

    europia, e sim por indgenas que a utilizavam para chegar at o planalto

    para colher pinho e outros frutos derivados da mata araucria. Assim,

    como no caso do Caminho do Itupava, o Caminho da Graciosa foi ao

    longo do tempo recebendo inmeras melhorias, porm nunca teve o

    mesmo destaque que o Itupava,

    devido ao fato do percurso ser

    muito mais longo. O Caminho da

    Graciosa, no desenrolar da sua

    histria, sempre gerou conflitos

    pelo motivo de ser o nico que

    desembocava diretamente

    no Porto de Antonina e no

    em Porto de Cima, que via rio

    Nundiaquara desembocava no

    porto de Paranagu. A primeira

    melhoria veio no ano de 1721,

    ordenada pelo Ouvidor Pardinho,

    que desejava fazer deste

    caminho uma via permanente

    de passagem de tropas e

    animais. Mais tarde sofreu

    para fortalecer uma determinada diviso militar do imprio. As reformas

    no agradaram os comandantes da provncia de So Paulo que no

    queriam dispender recursos para as melhorias do caminho, pois tinham

    medo de que o povo litorneo e o planaltino trocassem informaes e

    se aculturassem, gerando assim maior possibilidade de articulaes para

    rebelies. No entanto, foi necessrio o melhoramento deste caminho

    para possibilitar o transporte. No percurso, havia uma enorme rocha que

    causava transtornos na travessia e aproveitando os canhes que estavam

    sendo transportados, estas rochas foram transformadas em fragmentos

    menores, isto pode ser facilmente visto por quem percorrer o caminho.

    At o ano de 1830, o Caminho do Itupava no tinha o revestimento

    em pedras que encontramos atualmente,

    pois foi em 6 de abril do mesmo ano que o

    Presidente da Provncia de So Paulo autorizou

    o incio de novas obras. De todas as melhorias

    feitas, at ento, nenhuma foi de tamanha

    importncia como esta, pois calou boa parte

    do trajeto, fazendo com que a travessia

    se tornasse menos difcil. Para a obra, foi

    necessrio vultuosa mo de obra, composta

    por cozinheiros, cabos, soldados e um grande

    nmero de escravos, oriundos da Borda do

    Campo e Porto de Cima. Em consequncia

    da grande utilizao do Caminho do Itupava,

    ocorreu o desenvolvimento do vilarejo de Porto

    de Cima, povoado que muito se beneficiou por

    ser o ponto final dos viajantes que optavam

    pelo Itupava, que entre outros negcios

    Figura 1: Caminho do Itupava

    KOCH,ZIG.[199-]. Caminho do Itupava. 1fotografia

    color. 7Cm x 10,8 cm Fonte: www.altamontanha.com.

    Acesso em: 21 abr.2009

  • 33Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    1.2 Emancipao poltica da provncia do Paran

    Em 1808, com vinda da Famlia real Portuguesa para o Brasil, o rei

    Dom Joo VI fundou aqui sua sede provisria at que a situao em seu

    pas voltasse ao normal. Dom Joo deparou-se com inmeras mazelas

    em sua colnia, e, diante de tantos problemas, mostrou-se interessado

    em resolv-los. Com a 5 Comarca de So Paulo no foi diferente, uma

    vez que demonstrou interesse sobre os problemas dos parnanguaras e

    juntamente a isto efetivou a mais significativa melhoria no Caminho do

    Itupava. Diante desta ateno, os parnanguaras comearam a almejar

    um sonho maior, no caso, sua emancipao.

    A cmara de Paranagu teve pela primeira vez, em 6 de julho

    de 1811, a iniciativa de mandar uma representao para o prncipie

    regente, solicitando a emancipao da comarca e a criao de uma

    nova capitania. O lder deste movimento foi Pedro Joaquim Correia de

    S, que com segundas intenes almejava tornar-se, posteriormente,

    capito da Capitania de Paranagu. A cmara local deu-lhe total

    apoio diante das tentativas, dando a Joaquim Correia at mesmo

    uma procurao, a qual o fazia representante de Paranagu diante do

    governo. Porm, aps algumas tentativas, Correia j encara de forma

    ntida seu fracasso.

    Posterior a tentativa de 1811, aconteceu uma nova tentativa em

    Paranagu, apesar da mesma j no ser a sede da comarca que agora

    era em Curitiba. Em 1822, o povo e as autoridades parnanguaras

    iriam jurar em praa pblica fidelidade as bases da constituio do

    reino unido de Portugal, na presena do Juiz de Fora Antnio Azevedo

    Melo e Carvalho, que no caso representava Portugal. Aproveitando a

    mais algumas melhorias, no entanto por conta de particulares, como no

    caso do tropeiro Tenente Manuel Teixeira de Carvalho, que fez pela

    primeira vez neste caminho a passagem de muares carregados com

    destino a Antonina. Porm, com a grande preferncia pelo Caminho

    do Itupava, caia vrias vezes em abandono, at que no ano de 1807,

    foi definitivamente aberto por obras subsidiadas atravs de taxas

    obrigatrias cobradas da populao das Vilas de Antonina e Morretes,

    fato este que gerou grande insatisfao, pois os morretenses pagariam

    uma obra que somente os iria prejudicar, uma vez que os viajantes

    iriam reabastecer-se de suprimentos em Antonina, deixando de lado

    Morretes e Porto de Cima, por ficarem fora de trajeto.

    Em decorrncia da reforma do Caminho da Graciosa, surgiu o

    conflito chamado de guerra dos portos6, conflito este que formou dois

    grupos de interesse distintos, um formado por Morretes, Porto de

    Cima e Paranagu que ficou excluda das exportaes diante do porto

    concorrente, e do outro lado ficou a populao de Antonina. Ocorreu

    que os tropeiros desciam pelo Caminho da Graciosa, mesmo sendo mais

    longo, pois se encontrava em melhor estado e era muito mais seguro e

    voltavam sem suas cargas levemente pelo Itupava por ser o mais rpido.

    No desenrolar da chamada guerra dos portos, a Vila de Antonina pedia

    e pressionava os governantes para efetuar o fechamento definitivo do

    Caminho do Itupava. As Vilas de Morretes e Porto de Cima, aliadas a

    Paranagu, pediam a restruturao do Caminho do Itupava e fechamento

    da Graciosa. Episdios como este, somente atrasaram a construo

    efetiva de uma boa estrada ligando o litoral ao planalto. Porm, a histria

    do Caminho da Graciosa no ficou apenas nas reformas de 1807 e o

    futuro ainda lhe reservava outra faanha.

  • 34Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    Gomes foi um tropeiro muito rico que detinha grande prestgio poltico

    perante os governos do Rio Grande do Sul e So Paulo e na prpria corte

    do Rio de Janeiro, era conhecido em geral por ser portador de grande

    carter e honestidade, dedicou parte de seu tempo e fortuna em prol da

    causa emancipacionista, uma vez que custeava panfletos que defendiam

    a causa da emancipao e os distribua pelas cidades. Correia Junior foi

    Coronel da Guarda Nacional e por ter grande prestgio buscava na corte

    adeptos para a causa paranaense.

    Mas o que fez realmente o percurso da histria emancipacionista

    tomar novos rumos foi que desde 1835 os liberais do Rio Grande do Sul

    se levantaram com armas contra o imprio, movimento esse chamado

    de Revoluo Farroupilha8. A situao complicou-se tambm no

    Rio de Janeiro, onde o governo imperial estabeleceu novas leis

    conservadoras, dentre as quais dissolveu a assembleia eleita, alegando

    que a mesma estaria envolvida em vrias fraudes. Inconformados, os

    liberais de So Paulo e Minas Gerais se rebelaram contra o imprio,

    acontecimento conhecido como Revoluo Liberal de 18429.

    O grande medo do imprio de Dom Pedro II era que ocorresse a

    unificao dos revoltosos do Sul, no caso os farroupilhas juntamente

    com os revoltosos de So Paulo e Minas Gerais, ocasionando assim

    um possvel grande levante de frente nica contra o imprio. No

    entanto, entre o caminho que iria unificar as frentes do Rio Grande

    Sul com So Paulo, estava o Paran, sendo ento de grande valia a

    adeso do liberais curitibanos para o sucesso do levante contra Dom

    Pedro. Prevendo esta possibilidade, o presidente da Provncia de So

    Paulo, o Baro de Monte Alegre, enviou para Curitiba um habilidoso

    poltico, Joo da Silva Machado, que conseguiu seduzir os liberais com

    a promessa da emancipao caso se portassem fieis ao imprio; quem

    ilustre presena do juiz, os defensores da emancipao se uniram e

    organizaram a chamada conjura separatista, formada por autoridades

    locais, que baseavam sua causa em 5 pilares7. O primeiro se refere

    a ignorncia e o despotismo dos comandantes militares da Comarca,

    que no preocupavam-se com o bem estar populao; em segundo, a

    falta de justia, devido a dificuldade que havia em impetrar recursos

    perante as autoridades de So Paulo; em terceiro, o fato da Comarca

    fornecer muitos praas de guerra para as milcias portuguesas, sobre

    tudo para as entradas que desbravam os nossos sertes do Iguau,

    Guarapuava e Tibagi ficando assim muitas famlias na misria; em

    quarto, a falta de moeda na comarca devido as grandes somas que

    eram enviadas a So Paulo como impostos; e o quinto, o estado de

    total abandono que se encontrava a comarca pela administrao de

    So Paulo, surda que era diante das queixas populares.

    Mas, para clamarem ao juiz sua emancipao, necessitavam de

    uma pessoa de forte cunho moral e influncia; convidaram assim o

    comandante das milcias o Capito Bento Viana. Sendo, assim, no

    dia 15 de julho de 1821 terminada a solenidade do juramento, Bento

    Viana se dirigiu ao Juiz de Fora e clamou a formao de um governo

    provisrio independente de So Paulo, e que tal fato fosse comunicado

    ao Rei Dom Joo. Porm, a resposta do juiz foi que ainda no era a

    hora, e que o momento iria chegar.

    Mesmo com o fracasso de 1822, a luta emancipacionista continuou

    atravs dos vereadores das cmaras de Paranagu, Morretes, Antonina

    e Vila da Lapa, que explicavam a causa e os motivos ao imprio, que

    agora j era o brasileiro. Houve duas figuras na histria paranaense que

    merecem destaque devido a grande luta pela causa emancipacionista:

    Francisco Paula e Silva Gomes e Manoel Francisco Correia Jnior. Paula

  • 35Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    1.3 A construo da estrada da Graciosa

    Assumindo a presidncia da provncia a 19 de dezembro de 1853,

    mal decorreram dois dias para que Zacarias de Goes convocasse

    seu Diretor de Obras, Tenente Coronel de Engenheiros Henrique

    de Beaurepaire Rohan, o qual foi delegado o reconhecimento dos

    caminhos que de Serra acima se dirigissem ao litoral. Beaurepaire,

    diante de trs caminhos, estudou-os exaustivamente para poder

    chegar a concluso de qual seria o mais adequado para suportar a

    transformao em via carrovel. E por motivos de menor inclinao,

    menos umidade e tambm menores obstculos naturais, a escolha

    recaiu sobre o Caminho da Graciosa. Esta escolha gerou conflitos e

    discusses, pois muitos alegavam que o Caminho do Itupava era mais

    curto e rpido que o da Graciosa. Esta era mais uma evidncia da velha

    rivalidade dos caminhos. Diante da anlise dos caminhos, o Tenente

    Beaurepaire justifica sua escolha:

    A extenso que apresenta a serra nos dous pontos parece dar preferencia a Ytupava, mas cumpre observar:1 que a quantidade de rocha viva he maior no Ytupava, e portanto mais difficeis ahi os trabalhos de mina:2 que o costo do morro de Me Catira por onde se deve lanar a Estrada da Graciosa tem sobre vantagem do Ytupava estar no lado norte fator que o faz receber sol o ano todo ao contraio do Ytupava que esta no quadrante sueste ficando a primeira exposta ao sol durante todo o dia e em todas as estaes, entretanto que a outra no se encontra no se achando nas mesmas circunstancias, he mais sujeita a humidade: 3 em fim, que o costo da Me Catira exige poucos ziguezagues, e esses mesmos de fcil construo, e que no do Ytupava sero os ziguezagues de mais difcil execuo10

    Para a nova Provncia do Paran, a construo da futura Estrada da

    Graciosa representava uma forma de redeno para suas mazelas, que

    deu crdito a oferta foi o prprio presidente de So Paulo e o chefe

    das foras legislativas.

    Conclusa a vitria das foras imperiais, Monte Alegre cumpriu a

    promessa feita aos curitibanos, pedindo ao primeiro ministro a elevao

    da comarca provncia. Porm, foi o prprio presidente de So Paulo

    que solicitou oficialmente a separao, alegando que nenhuma outra

    parte do territrio brasileiro era to merecedora da emancipao

    como o Paran. O projeto foi ento encaminhado ao legislativo onde

    grande parte dos deputados paulistas queriam barrar o projeto e at

    mesmo elimin-lo da discusso; o receio era perder a fonte lucrativa de

    impostos. O Paran, apesar de ser na poca uma economia perifrica,

    desde o incio do sculo XIX exportava vultuosas quantias de mate,

    fato que gerava grande lucro a So Paulo atravs de seus impostos.

    Posteriormente, a inmeros debates evidenciando os prs e os

    contras, a Coroa se manifestou favorvel emancipao. E em 1850,

    o assunto foi para o senado, quando Batista Oliveira, apoiado por

    Carneiro Leo, apresentou a ementa do projeto que criava a Provncia

    do Amazonas estendendo a mediada para Curitiba. A pedido do

    Visconde de Abranches, foi separado o projeto: um criando a Provncia

    do Amazonas e outro a do Paran. Embora aprovados os projetos,

    o referente ao Paran voltou a Cmara de deputados, afim de ser

    tambm discutido e posteriormente aprovado.

    Somente em 1853, foi aprovada a lei N 704 sancionada a 29 de

    agosto que determinou oficialmente a criao da Provncia, dando-lhe

    limites e estabelecendo Curitiba como capital provisria. As aspiraes

    paranaenses foram em fim concretizadas em 19 de dezembro com a

    chegada de Zacarias de Goes e Vasconcelos, enviado como primeiro

    presidente, e com a funo de instalar e organizar a nova Provncia.

  • 36Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    de Carvalho que assumiu a Provncia posteriormente ao conselheiro

    Zacarias. Vaz de Carvalho diante dos poucos resultados aprovou,

    juntamente com a assemblia, a lei que passava a construo da

    estrada para uma construtora de renome e privilgios, na expectativa

    de dar novo ritmo para as obras. Foi nessa poca que perceberam que

    houve um grande equvoco no oramento da obra, pois os gastos j

    eram exorbitantes e ainda faltava muito para a concluso.

    Neste perodo da construo, um viajante de origem alem,

    Robert Av Lallemant, em 1858, escreve em seu dirio de viagem

    minuciosamente sua passagem pela Estrada da Graciosa, ainda

    em construo, que na poca estava aos cuidados de Villalva.

    Acompanhemos sua narrativa:

    No momento da minha passagem estavam em atividade 170 trabalhadores, entre os quais 54 alemes; cada um recebendo um mil reis e a comida, e com tudo faltam trabalhadores. Falta contudo o pronto pagamento do dinheiro; se no me engano, h meses os trabalhadores tem salrios atrasados a receber.J desde anos esta o distinto e incansvel Villalva na floresta,longe de todas as comodidades da vida, em ranchos precrios e com a esposa doente. Villalva acompanhou-me por um algum tempo para mostrar-me a sua estrada, a menina dos seus olhos. Com admirveis curvas e insignificantes aclives de oito por cento. O leito da estrada, macadamizado com delgada camada de arreia, mede vinte palmos de largura. Tem bordadura de pedra em ambos os lados e no centro um canal de derivao que despeja a agua para fora.13

    A partir da narrativa de Av Lallemant, pode-se perceber

    vrias informaes, tais como o estado primrio que as obras se

    encontravam e seus inmeros problemas, como a falta de mo de obra

    e salrios atrasados. Todavia fica evidente a tecnologia empregada

    desde seu princpio, como exemplo, o sistema de escoamento da

    gua. Nesta poca, foi construdo o primeiro trapiche de Antonina

    impediam seu desenvolvimento econmico e social. Seus problemas e

    perspectivas ficam evidentes no primeiro relatrio de Zacarias de Goes:

    A primeira necessidade desta provncia he, decididamente, o melhoramento de suas vias de comunicao. A lavoura to atrasada, como descrevemos, no pode alar, o comercio no pode desenvolver-se, em quanto as estradas se conservarem como esto, e o anhelo de atrair, aos excelentes terrenos da provncia, colonos europeus em certa escala, encontra certa resistncia na estado deplorvel das actuaes comunicao, onde no se pode rodar um bom carro, e tudo se transporta, mal e mui dispendiosamente em costas de animaes. Sobre tudo, por em fcil comunicao o interior com a marinha, e os municpios de serra abaixo com os de serra a cima, he negocio de to vital interesse, que no sei que utilidade haveria em crear-se esta provncia, se os seos mandatrios no cuidassem em resolver, todo transe, essa questo que a mais de cem anos agita-se sem soluo satisfatria.11

    No dia 12 de agosto, de 1854, oito meses depois de instalada a

    Provncia, Dom Pedro II autorizou o governo do Paran a dar incio

    s obras para a construo da Estrada da Graciosa, entre Curitiba e

    Antonina. No dia 20 iniciaram as obras pelo comando do engenheiro

    civil Saturnino Francisco de Freitas Villalva. Teve como princpio

    o descampamento do trajeto e algumas pequenas execues nas

    proximidades da Borda do Campo; no entanto, as obras progrediam de

    forma muito vagarosa. Para melhor compreenso de sua construo,

    que levou dezenove anos, pode-se utilizar dois perodos: o primeiro, de

    1854 a 1864, perodo de poucas melhoras significativas; o segundo, de

    1864 a 1873, perodo produtivo, no qual resultou sua concluso.12

    O primeiro perodo como um todo, foi marcado por poucos resultados

    na construo e inmeros problemas, Contudo, a cada novo presidente

    que assumia a Provncia tentavam sucessivamente dar novo ritmo

    construo, mas pouco adiantava. Como exemplo, o presidente Vaz

  • 37Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    duas grandes tempestades arrancaram os pilares de algumas pontes,

    ocorreu tambm desabamento de terra em vrios pontos da estrada,

    juntamente a isto veio a diminuio das verbas enviadas pelo imprio,

    devido ao fato de o Brasil estar envolvido na Guerra do Paraguai15.

    No ano de 1870, quando a obra completou dezesseis anos,

    o presidente da provncia Afonso de Carvalho decidiu acabar

    efetivamente, a obra, porm ainda faltava-se muito, pois na regio

    em que se bifurcava o caminho, ao trmino da serra, ainda a estrada

    encontrava-se em estado inicial. Somente em 1873, sobre o comando

    de Monteiro Tourinho, que finalmente foi concluda a Estrada da

    Graciosa. Trmino comemorado por todos os paranaenses, que

    esperavam diante da nova estrada melhores perspectivas de vida, em

    nvel social e econmico. Foi feita uma grande caravana percorrendo

    trechos da estrada e houve grandes festas em Curitiba e no litoral.

    e estabeleceu-se a linha de navegao entre Antonina e o Porto de

    Paranagu.

    Quando assume a Provncia, o presidente Cardoso e Gomes em

    1860, ficou chocado com a vultuosa dvida gerada pela construo da

    estrada, e estarrecido com os poucos resultados diante de tantos gastos.

    Cardoso e Gomes afastou ento o Engenheiro Villalva do comando das

    obras, e suspendeu temporariamente a construo, mantendo apenas

    a manuteno para o que j havia sido construindo. No ano de 1863,

    foram retomadas as obras, agora com maior planejamento e objetivo

    de concluso. Para tanto, a estrada foi dividida em partes, onde vrios

    engenheiros assumiram empreitadas, ficando cada qual com um

    pedao de fundamental importncia para a concluso.

    Porm, o perodo de maior desenvolvimento ocorreu no governo

    de Andr Augusto de Padua Fleury, o qual nomeou como encarregado

    o renomado Engenheiro Antnio Rebouas .. Junto a isto, o Governo

    Imperial disponibilizou grande soma financeira que permitiu o

    calamento da Estrada da Graciosa, da localidade da Borda do Campo

    at o final da serra.Tornando-se possvel a abertura efetiva da estrada

    que foi a segunda calada no Brasil. Com o calamento j era possvel,

    a passagem de carroas carregadas com at 1500 Kg de carga, e a

    passagem de diligncias com malas postais.

    Antnio Rebouas enquanto no comando mudou um pouco o

    trajeto original da estrada, criando ao final da serra uma bifurcao,

    sendo que uma iria direto a Antnina e outra para Morretes, fato este

    que aumentou ainda mais as despesas e adiou a efetiva concluso.

    No ano de 1867, Antnio Rebouas se afastou das obras da estrada

    e da lugar ao engenheiro Monteiro Tourinho, para que a conclusse.

    No entanto, grandes empecilhos vieram a atrapalhar a concluso,

    Figura 2: Estrada da Graciosa

    SCHIMINSKI,Bruno.2009.Estrada da Graciosa.

    1 fotografia.color. 8cm x 12 cm

  • 38Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    com a futura construo da Estada de Ferro Dona Isabel. Esta pretenso de

    Paranagu em construir uma linha frrea antecipada demonstra o receio que

    tinham de ficar fora da rota comercial, pois nos moldes de Antnio Tourinho

    a estrada passaria somente em Antonina. Alguns historiadores acreditam

    que este pequeno percurso construdo em Paranagu foi o real incio da

    construo da Estada de Ferro, datado em 2 de dezembro de 1873.

    Em meio aos debates sobre a construo da Estrada de Ferro, um

    antigo problema voltou tona: a chamada guerra dos portos, na qual

    Paranagu e Antonina se digladiavam sobre onde seria o ponto de

    partida da construo frrea rumo a Curitiba. Diante do conflito, duas

    fortes personalidades destacaram-se: o deputado Correia de S de

    Paranagu e o Visconde de Nacar, que queria que o traado partisse

    de Antonina para a capital. Os defensores de Antonina utilizavam forte

    apelo a memria de Antnio Rebouas, que traou originalmente em

    seu projeto Antonina como ponto de partida.

    Porm, no dia 1 de maio de 1875, os debates tiveram fim, pois o

    governo imperial posicionou-se determinando que o ponto de partida

    seria o Porto Dom Pedro II, em Paranagu. No ano de 1879, foram

    transferidos todos os direitos da construo frrea para a companhia

    estrangeira Compagnie Gnrales de Chemins de Fer Brsiliens,

    associada a companhia Societ Anonyme de Travaux Dyle et Bacalan,

    empresa de construo de origem Belga. Toda a obra foi regida pela

    mesma, e o engenheiro encarregado foi Antonio Ferrucci vindo ao Brasil

    no ano de 1880. Ferrucci era de origem italiana, formado em cincias

    matemticas, e junto a ele veio toda sua equipe de engenheiros,

    arquitetos e desenhistas.

    As obras tiveram incio em meados de fevereiro, porm a pedra

    fundamental18 somente foi lanada em 5 de junho, pelo imperador

    1.4 A construo da estrada de ferro

    A construo da Estrada de ferro Paranagu-Curitiba foi um dos

    grandes marcos da histria da construo civil do Paran no sc XIX,

    juntamente a Estrada da Graciosa. Mas ao contrrio da Graciosa que se

    arrastou durante 19 anos, a Estrada de Ferro foi construda em pouco

    menos de cinco anos. Sua construo ainda hoje ponto de referncia

    como grande marco da engenharia nacional, pois superou obstculos

    que antes eram considerados inviveis. Despertou at nos poetas versos

    que a reverenciavam, como o de Carlos Klung no aniversario de 100 da

    construo: Hoje cem anos decorridos podemos afirmar que, em cada

    apito do trem a perder-se nos grotes da Serra do Mar, est um hino de

    glria, em louvor ao poder construtivo do homem.16

    Os primeiros esboos da idealizao da Estrada de Ferro surgiram

    quando Antnio Rebouas estava envolvido na construo da Estrada

    da Graciosa. Ele idealizou e projetou a Construo da Estrada entre

    1869 e 1870. Com ajuda do Francisco Tourinho e Maurcio Schawatz,

    encaminhou ento o projeto da obra para que governo imperial a

    estudasse. No ms de janeiro de 1871, o governo deu a concesso dos

    direitos para Antnio Rebouas efetuar a construo, que denominou

    de Estrada de Ferro Dona Isabel, que ligaria Curitiba ao Porto de

    Antonina. No entanto, este projeto nunca saiu do papel, e Rebouas

    viu fracassadas suas inmeras tentativas de obter financiamento junto

    ao Banco Mau. Antnio Rebouas faleceu, em 1874, vtima de febre

    tifide17 e ainda neste ano teve transferido o seu direito da concesso

    da ferrovia para o Baro de Mau.

    Nesta mesma poca, outra concesso foi concedida, agora para

    uma construo frrea de Paranagu a Morretes, que ao final se unificaria

  • 39Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    toda a competncia da engenharia nacional e tambm do engenheiro

    Joo Teixeira Soares. A terceira seco foi a mais tranqila, pois

    enfrentava apenas declives e curvas leves, algumas pontes e na maior

    parte do trajeto grandes retas.

    Enfim, com 110 quilmetros de trilhos assentados na largura de

    um metro, a ferrovia contaria ao seu final com 420 obras, incluindo

    13 tneis, 30 pontes e vrios viadutos, destacando-se o da ponte So

    Joo com altura de 55 metros. Para a construo da Estrada de Ferro,

    foram utilizados 3.253 metros cbicos de alvenaria e 442 toneladas de

    ao e o efetivo de nove mil homens, dentro dos quais, em mdia 3 mil,

    se encontravam impossibilitados ao trabalho, devido s pestes e s

    doenas. Existia uma grande mescla de operrios como se pode ver na

    passagem do livro comemorativo dos 100 anos da rede ferroviria:

    Dom Pedro II. A comitiva real desembarcou em Paranagu no dia 18

    de maio, e foi recebida pelo presidente da Provncia que apresentou

    formalmente a programao de como deveria desenrolar a cronologia

    dos festejos da inaugurao das obras, que no caso seria no dia

    seguinte. Segundo Ernesto Matoso, jornalista que acompanhava a

    comitiva real, o imperador sentiu-se irritado porque ningum o havia

    consultado. Diante disso, o Imperador falou que voltaria apenas diante

    de 18 dias corridos, pois iria aproveitar a viajem para visitar a capital

    da Provncia. Ernesto Matoso conta tambm que para a suposta

    inaugurao planejada para o dia 19 de maio haviam preparado um

    banquete de fino trato para 200 pessoas, que custou o montante de

    30 contos de ris, e que em consequncia do adiamento acabou sendo

    servido para os operrios da obra.

    Basicamente, a construo foi pautada em trs partes: sendo

    a primeira com extenso de 42 Km entre Paranagu e Morretes; a

    segunda com 38 Km, ligando Morretes a Roa Nova, e a terceira com

    30 Km ligando Roa Nova a Curitiba. As obras no primeiro trecho

    foram de grande dificuldade, devido ao fato de no litoral os terrenos

    serem em grande parte alagadios, insalubres e com manguezais.

    Consequentemente, foram necessrio muitos aterramentos para dar

    firmeza ao solo instvel. Foi logo aps a concluso do primeiro estgio

    que o encarregado da obra o Engenheiro Antnio Ferrucci deixou seu

    cargo e junto a ele o diretor geral Pereira Passos tambm abdicou de

    sua vaga. Na segunda parte da construo, considerada a mais difcil,

    assumiu Joo Teixeira Soares19.

    A segunda seco foi um arrojo a toda prova, pois as curvas

    somavam 23 Km e as retas apenas 22 Km, foram necessrios 13 tneis

    e a implantao de grandes pontes. Foi nesta seco que foi testada

    Figura 3: Estrada de ferro Paranagu-Curitiba

    KOCH, ZIG.[199-]. Estrada de Ferro Paranagu-Curitiba. 1Fotografia color.7,5 Cm x 12,6 cm Fonte: www.altamontanha.com. Acesso em: 21 abr.200

  • 40Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    sentidos: material, simblico e funcional. Mesmo um lugar puramente

    material como a Estrada da Graciosa e a Estrada de Ferro, so lugares

    de memria, pois esto envoltos em uma aura simblica, estreitamente

    relacionado ao desenvolvimento socioeconmico paranaense, e sobre

    esta relao econmica que irei dialogar a diante.

    2.1 Reflexos econmicos da estrada da Graciosa

    A segunda metade do sculo XIX foi para o Brasil um perodo de

    transformaes polticas, sociais e econmicas. Um dos principais

    motivos para tantas mudanas, foi quando em 1844 ficou extinto um

    antigo acordo que impossibilitava o livre comrcio do Brasil com os

    demais pases; junto a isto, a introduo do trabalho assalariado, e

    a gradativa abolio do trabalho escravo22. Para o Paran, o sculo

    XIX como um todo, foi um perodo de transformaes, uma vez que

    se iniciou com uma economia em estado de passividade, pois havia

    tido deixado para trs a economia do ouro que, por mais de um sculo,

    havia tanto contribudo para o desenvolvimento das vilas de Paranagu,

    Antonina e Curitiba

    Havia ainda a economia tropeira, no entanto, restringia-se apenas

    Vila de Curitiba, pois com seus grandes campos era parada obrigatria

    para que o gado oriundo do Rio Grande do Sul descansassem e

    engordassem para posteriormente chegarem s feiras de So Paulo e

    Minas Gerais em melhores condies de peso e aparncia23. Descanso

    este que era de alguns meses, fazendo com que os tropeiros se

    instalassem em Curitiba, ativando assim o comrcio local que muito

    se beneficiou e desenvolveu-se com a estada dos viajantes. No caso

    de Paranagu, esta localidade dedicava-se em grande parte apenas a

    Antonio Viale, ento com puco mais de 32 anos, um homem de estrutura alta e msculos rijos e salientes, foi destacado para o canteiro de obras instalado na encosta do Morro Marumbi. Junto com ele, centenas de trabalhadores, compostos de italianos, alemes, poloneses e um numero reduzido de africanos. Muitos mestres e feitores. A companhia ficou proibida de utilizar trabalho escravo.20

    Mesmo com todos os empecilhos de ordem natural e financeira, a

    construo foi conclusa e inaugurada em 2 de fevereiro de 1885. Nesta

    data, s dez horas de uma tera-feira foi feita a primeira travessia

    frrea Paranagu-Curitiba. Na comitiva, encontravam-se autoridades

    federais, estaduais, alm de ministros da Blgica, Frana e Rssia que

    vieram prestigiar a inaugurao da obra. E no trajeto clamavam vivas

    ao imperador, ao Paran, e tambm a quem a idealizou, o Engenheiro

    Antnio Rebouas. A chegada da comitiva foi recebida com festejos e

    gritos de prosperidade para o Paran.

    2 PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO DIANTE DAS NOVAS OBRAS

    O terico Pierre Nora em seu artigo Entre Memria e Histria.

    A problemtica dos lugares21 destaca a importncia dos lugares

    como forma de vivificar e cristalizar a memria, pois desde que haja

    rastro fsico, no estaremos mais apenas dentro da memria, e sim

    dentro da histria. Ainda, segundo o autor, a memria no uma

    fonte confivel, pois esta em constante evoluo e aberta dialtica

    da lembrana e do esquecimento, inconsciente de suas deformaes

    sucessivas, vulnervel a todos os usos de manipulaes. J a histria,

    a reconstruo sempre problematizada e incompleta de um presente

    que no existe mais. Os lugares de memria so compostos por trs

  • 41Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    muito contribuiu para o desenvolvimento econmico de Morretes e

    Porto de Cima.

    A extrao do mate empolgou os parnanguaras, pois era de fcil

    extrao e podia ser colhida o ano todo. A descoberta deste novo

    comrcio fez com que muitos ociosos entregues a agricultura de

    subsistncia subissem pelos caminhos at o primeiro planalto, local onde

    se encontrava farta quantia do vegetal silvestre. A erva-mate era colhida

    em Curitiba e arredores e transportada em forma bruta, em lombos de

    burros pelos caminhos, at chegar em Porto de Cima e Morretes, onde se

    encontrava quase a totalidade dos engenhos, que efetuavam o processo

    do beneficiamento para posteriormente ser exportado.

    J em 1844, os portos de Paranagu e Antonina exportavam

    vultuosas quantidades de mate para Argentina e Chile. Com a

    emancipao poltica da Provncia, algumas decises foram tomadas

    para que a mesma progredisse, e uma das formas para alcanar o

    progresso foi com a construo de uma estrada para tornar a economia

    mais dinmica. A partir de 1866, quando a estrada j se encontrava

    parcialmente construida, os primeiros reflexos econmicos comearam

    a despontar na economia paranaense.

    Com a nova estrada, criou-se na populao planaltina e parnanguara

    grandes perspectivas de um prspero desenvolvimento, pois as

    grandes dificuldades naturais de atravessar a Serra do Mar haviam

    sido transpostas, ocorrendo os principais reflexos no ramo madeireiro

    e principalmente no ervateiro. No entanto, exatamente nesta poca

    o mate paranaense vai sofrer um relativo inpacto, pela concorrncia

    do produto catarinense. que tambm no final da dcada de 1860,

    no Estado de Santa Catarina se construra uma estrada que deu fcil

    acesso regio ervateira.

    agricultura, e exportava pequenas quantidades de trigo, milho e arroz,

    no dispensando a agricultura de subsistncia para complemento

    familiar. A erva mate era encontrada em grande abundncia na maior

    parte do Paran, no entanto sua produo era voltada apenas para o

    consumo interno que era restrito para uma pequena demanda.

    Novo rumo para economia paranaense deveu-se ao fato de que o

    Paraguai at ento nico pas que exportava erva mate, passou por

    grande problemas polticos, entre eles o movimento de independncia

    das Provncias Unidas do Prata que, desde 1.800 em diante barrou

    a comunicao entre o Paraguai e o Sul pelos rios Paran e Prata,

    tornando assim incompossvel a escoao de seus excedentes agrcolas

    e extrativistas, no caso a erva mate. Junto a isto o presidente paraguaio

    Jos Gaspar Rodrigues que assumiu em 1811, instalou uma poltica

    isolacionista, proibindo toda e qualquer relao com pases vizinhos,

    independente de ser diplomtica ou comercial, pois alegava que os

    problemas internos que enfrentava, eram ocasionados por influncias

    de outras nacionalidades.24

    Importadores platinos da erva-mate encontraram-se sem seu

    antigo fornecedor, fazendo com que a buscassem em outros mercados

    j to difundida em seus costumes. Assim, vieram para o Paran

    comerciantes argentinos e chilenos em busca do mate na Vila de

    Paranagu. Segundo Vieira dos Santos Abriram os olhos aos nossos

    ignorantes paranaguaenses comarces, que bem alheios estavam de

    possurem no seu solo um dos mais preciosos vegetais que produz a

    natureza25. Nesta poca, incio do sculo XIX, a erva-mate paranaense

    era exportada apenas cancheada26, foi somente aps alguns anos, que

    leis protecionistas proibiram a exportao em forma bruta, permitido

    somente a exportao da erva-mate j beneficiada27, fato este que

  • 42Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    beneficiamento da erva mate e no comrcio. A decadncia do vilarejo

    de Porto de Cima constatada na carta do padre Joo Antnio

    Manoechio enviada ao presidente da Provncia em 1880:

    Acabada a dita estrada, o transito dos tropeiros d erva mate, que antigamente se fazia por esta villa, acabou dirijindo-se todos para Curitiba. E paralisando o commercio, muitas famlias retiraram-se para o interior, procurando meios de vida. J no h movimento algum, e tudo inercia e prostrao. E onde no esta a populao, o mais frtil paiz jaze na misria.28

    Porto de Cima teve seu perodo ureo por volta de 1832, data

    em que possua aproximadamente 50 engenhos, dentre os quais

    aproximadamente 30 eram de grande

    porte. Contava tambm com um forte

    comrcio local, pois sendo rota final do

    Caminho do Itupava havia se tornado ponto

    de reabastecimento de suprimentos para a

    viagem de volta. Chegou at mesmo a contar

    com um popular clube literrio denominado

    Clube Literrio Porto Cimense, que

    possua cerca 1.400 obras literrias. Neste

    centro de reunies, familiares realizavam-se

    constantes conferncias artsticas, bailes e

    soirs ltero musicais que atraia a ateno

    de outros moradores do litoral, os quais

    compareciam a alguns eventos.29 Contava

    tambm com uma igreja matriz situada na

    praa central, que foi construda em 1850,

    a qual existe at os dias de hoje, sendo

    uma das poucas edificaes que resistiram

    Em relao ao mate, diversos fatores mudaram diante da nova

    estrada, sendo que para alguns representou a redeno aos antigos

    problemas, e para outros, como no caso de Porto de Cima o incio de

    seu fim. A decadncia de Porto de Cima e a estagnao econmica

    de Morretes tiveram incio com a chegada da Estrada da Graciosa

    e a posterior construo da Estrada de Ferro, em 1885. O fator que

    mudou a histria destes vilarejos foi que at ento, como j comentado

    acima, a erva-mate era colhida em Curitiba e regio e levada

    cancheada at Porto de Cima e Morretes para passar pelo processo

    de beneficiamento

    No entanto, com o advento da nova

    estrada despertou-se no povo planaltino

    a possibilidade de beneficiar a erva-mate

    prximos aos ervais, e envi-la j pronta

    pela Estrada da Graciosa diretamente ao

    Porto de Antonina. Vale destacar que nesta

    poca, esse porto muito se beneficiou

    com as exportaes, pois era rota final da

    nova estrada. Economicamente, era muito

    era mais vantajoso beneficiar a erva-

    mate serra acima, devido a facilidade de

    transport-la pela Estrada da Graciosa que

    se encontrava prximo a grande parte dos

    ervais. Ocorreu que praticamente todos

    os engenhos situados principalmente em

    Porto de Cima e Morretes subiram para

    o planalto, deixando mngua as Vilas

    que se fundamentavam basicamente no

    Figura 4: Igreja matriz So Sebastio de Porto de Cima

    SCHIMINSKI, Bruno.2009.Igreja Matriz So Sebastio de Porto de Cima. 8 fotografia.color. 8cm x 12 cm

  • 43Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    os homens, assim como velhos como meninos so asados a trabalharem no seu primeiro facilimo processo.31

    Mas tanta dedicao ao mate, deixou outros ramos agrcolas

    mngua, como por exemplo, o trigo, que era produzido em larga escala,

    chegando at mesmo a ser exportado para outros estados. Tambm

    foram abandonadas as prticas do plantio de milho, arroz e cevada que

    anteriormente ao surto da erva mate constituam parte da produo

    agrcola do Paran. O motivo para o abandono da produo agrcola

    foi simples, visto outras atividades davam muito mais trabalho e menor

    retorno financeiro que o mate. No entanto, esta grande dedicao

    ao extrativismo fez do Paran, uma economia sensvel, ou seja, uma

    economia que se baseava apenas em um produto. A economia ervateira

    era muito instvel, pois se fundamentava de picos e declnios de demanda

    de mercado, deixando a Provncia vulnervel a crises repentinas.

    Porm, em meados da dcada de 1870, industrias madeireiras em

    moldes capitalistas, diante da nova estrada, comearam a se interessar

    pelo pinheiro paranaense que assim como o mate encontrava-se

    em abundncia em todo planalto. O Paran j exportava madeira

    desde o incio do sculo XIX, porm em pequena quantia. A madeira

    exportada era a existente nos arredores de Paranagu, pois no havia

    possibilidade de transporte para a madeira existente serra acima,

    devido precariedade dos caminhos. No entanto, era de conhecimento

    geral o grande potencial, para o desenvolvimento das indstrias

    madeireiras na regio planaltina. Potencial este que j fica evidente no

    relatrio de Zacarias e Goes:

    O comercio de madeira h sem duvida que prosperar consideravelmente, no futuro, atenta a imensa copia delas prprias no s para diversas obras, como para construo naval, que existe tanto no litoral como serra acima, onde os olhos dos viajantes

    ao tempo e ao declnio econmico que a vila sofreu. Posteriormente,

    Estrada da Graciosa, a Estrada de Ferro veio por fim as poucas

    esperanas que ainda restavam no vilarejo.

    Morretes teve seu auge por volta de 1820, quando o Rei Dom Joo

    VI enviou para as fronteiras do Sul uma diviso de 8.000 homens em

    decorrncia do cerco a Montevidu. Como faltava comrcio na regio

    montevideuense, eram comprados os suprimentos em Morretes e

    enviados pelo porto de Paranagu at as guarnies. A maior parte

    dos gneros comprados pelo Imprio vinham de serra acima e pelo

    fato de Morretes situar-se entre Curitiba e Paranagu foi o local

    escolhido para se fazerem as transaes comerciais. Em decorrncia

    disto, vrios comerciantes montaram casas de negcios no vilarejo e

    enriqueceram, pois vendiam os suprimentos a preos exorbitantes.

    Mesmo com o fim da guerra, Morretes ficou marcada como ponto

    comercial de suprimentos vindos de serra acima pelos caminhos30. No

    entanto, com a nova estrada Morretes ficou fora da rota econmica,

    pois j no se situava em local estratgico. E o mate, que era um dos

    principais produtos negociados, j tinha suas sacas arrematadas na

    sada dos engenhos em Curitiba.

    Em 1875, pela Estrada da Graciosa, passavam trs quintas partes

    partes do mate consumido em toda Amrica Latina, e foi nesta poca

    que a populao de forma macia comeou dedicar-se ao extrativismo

    do mate. Era uma produo espontnea e lucrativa que no requeria

    conhecimentos e no fazia distino de sexo e idade, como o prprio

    conselheiro Zacarias de Ges j havia mencionado em 1854:

    O mate pois he um produo espontnea dos immensos hervais silvestres, que cobrem huma dilatada exteno de territrio, esta com eu j disse ao alcance da maior parte da pupulao sem distino de sexo, nem idade, pois tanto as mulheres como

  • 44Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    Em consequncia deste elevado custo para o transporte, a madeira

    paranaense chegava mais cara que a importada dos Estados Unidos.

    O segundo motivo foi o fato do pinho paranaense ter cado em

    descrdito pela m qualidade, devido carncia, sobretudo de cuidados

    tcnicos para a extrao, pois no se escolhiam criteriosamente as

    rvores a serem abatidas, nem a poca para o corte, o que provocava a

    sua rpida deteriorao, ainda com o agravante de ficarem expostas s

    intempries do tempo. Tais condies de armazenamento e o fracasso

    da empresa ficam evidentes quando em 1880, Dom Pedro II veio ao

    Paran para o lanamento das obras da nova ferrovia. Estando em

    Paranagu, aproveitou para visitar Curitiba e fazer o reconhecimento da

    nova estrada. No percorrer da subida da serra, Dom Pedro II anotava em

    seu dirio de viagem tudo o que lhe chamava ateno, e quando cruzou

    com a antiga indstria madeireira fez as seguintes observaes:

    [...]grande abundancia de araucrias cujos ramos enfileiram-se em planos diferentes, sobretudo por causa da inclinao do terreno, formando degraus de imensa escala. Creio que pertencem a companhia florestal que possui uma rea de 600 braas sobre 150.Tinha visitado antes seu estabelecimento h 5 anos abandonado. Gastaram 300 contos em material. A primeira remessa de tabuas de pinho deu no rio 2$000 mais por duzia que o americano. A segunda por falta de cuidados apodreceu em metade nos lugares onde deixaram no transito. O deposito de 5.000 tabuas est metade podre. pena que no tenham olhado mais o estabelecimento33

    Posteriormente aos fracassos da indstria madeireira, o Estado at

    mesmo estabeleceu normas para estas atividades, porm a eficcia foi

    bastante discutvel; a indstria madeireira somente ressurgiu em 1886,

    com a inaugurao da ferrovia.

    A Estrada da Graciosa teve tambm relevncia no fator populacional

    da cidade de Curitiba, pois diante da nova estrada, como j citei

    descortinam matas sem fim de pinheiros, por ora s aproveitadas no limitadssimo consumo desta provncia e que somente esperam para descerem a prover maiores mercados, uma estrada que ao contrario das atuais, permitam conduzi-las a um bom porto de embarque.32

    Em 1871, Andr Rebouas, irmo de Antnio Rebouas Filho,

    levou o pinho paranaense para a exposio internacional de madeiras

    em Viena, onde foi demonstrado, testado e confirmada sua qualidade

    como madeira prpria para construo de mobilirio. Na exposio,

    Andr Rebouas ganhou diploma de honra por ter apresentado o pinho

    paranaense. Na realidade, esta foi uma estratgia da famlia Rebouas

    para confirmar a qualidade da madeira paranaense e ter credibilidade

    internacional.

    Aps a concluso da Estrada da Graciosa, em 1872, instalou-se a

    primeira madeireira de grande porte em Curitiba, com capital bastante

    elevado, correspondendo a toda receita estadual daquele ano, fundada

    por Antnio Pereira Rebouas Filho, com sede no Rio de Janeiro.

    Foi a primeira serraria mecnica da Provncia paranaense, instalada

    nas proximidades de Curitiba, em localizao privilegiada, prxima

    Estrada da Graciosa e dos abundantes pinheirais. Teoricamente,

    todas as condies de sucesso estavam asseguradas; no entanto,

    poucos anos depois, a empresa encontrava-se em estado de falncia,

    produzindo apenas para o comrcio local.

    Vrios foram os motivos para o malogro do comrcio madeireiro;

    primeiramente alegava-se a dificuldade para o transporte, pois apesar

    da nova estrada, estar conclusa, a sua manuteno era precria,

    pois vrias vezes ocorriam desabamentos de terra que impediam o

    trafego; junto a isto o elevado custo para transportar a madeira at

    o porto do Rio de Janeiro, que era o principal mercado comprador.

  • 45Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    necessria vultuosa mo de obra, que se disponibilizou em grande

    parte dos vilarejos de Morretes e principalmente de Porto de Cima,

    em consequncia da falta de trabalho naquela regio, agravando ainda

    mais o estado de absoluto abandono e declnio econmico dessas

    povoaes, uma vez que Porto de Cima ainda estava a amargar as

    consequncias da Estrada da Graciosa. Entre os principais reflexos

    gerados, pela concluso da estrada de ferro Paranagu-Curitiba, est

    o sucesso do mercado madeireiro, que somente conseguiu prosperar

    diante da construo da ferrovia, e tambm o desfecho de uma antiga

    rivalidade porturia entre as cidades de Paranagu e Antonina, alm

    de influncias sobre diversos campos extrativistas que necessitavam

    transpor a Serra do Mar para chegar aos portos.

    O sucesso do mercado madeireiro da dcada de 1880, nada lembrou

    os tempos difceis da dcada anterior, na qual vrias firmas decretaram

    falncia. No ano de 1886, foi montada uma grande empresa em molde

    capitalista, muito desenvolvida para a poca, formada pelo capital de

    vrios participantes. Detalhe que despertou ateno foram as benesses

    concedidas aos funcionrios, como por exemplo, descanso semanal,

    frias remuneradas e participaes em lucros. Vale destacar que

    ainda prosperava a escravido e no existiam leis que assegurassem o

    direito trabalhista35. A sociedade paranaense ficou estarrecida diante

    do sucesso conquistado pela nova empresa, e viu uma nova economia

    prosperar e dar lucros ao estado, que por muitos anos se beneficiou

    somente da erva-mate. Diante do sucesso das indstrias madeireiras,

    vrias outras empresas do ramo se instalaram no Paran, e montaram

    firma na busca da mesma prosperidade econmica.

    No entanto, para que esta economia madeireira viesse a

    prosperar, inmeros foram os fatores que possibilitaram seu sucesso;

    anteriormente, parte da populao abandonou seus antigos vilarejos

    e instalou-se na capital, na esperana de melhores perspectivas de

    vida. No censo demogrfico de 1872, ano em que a estrada teve

    sua concluso na ntegra, a populao de Curitiba era de 11.760

    habitantes e de Paranagu 11.299 habitantes. J em 1890, o novo

    senso apontava Curitiba com 24.553 habitantes enquanto Paranagu

    estagnou com 11.794 habitantes34 e desde ento s veio a aumentar a

    populao planaltina, principalmente com a posterior vinda de diversos

    emigrantes europeus ao Paran.

    2.2 Reflexos ecnomicos da estrada ferro Paranagu-Curitiba

    Quando recente ainda era a construo da Estrada da Graciosa,

    em 1872, muitos j almejavam a construo de uma ferrovia para

    transpor a Serra do Mar, pois acreditavam que somente assim

    desenvolveriam plenas condies econmicas para tornar-se uma

    Provncia de relevncia nacional, como So Paulo e Minas Gerais. Em

    1875, quando o Governo Imperial decretou oficialmente a construo

    da Estrada de Ferro Paranagu-Curitiba, manchetes ilustraram o Jornal

    19 de Dezembro, afirmando que uma nova era de prosperidade social e

    econmica chegaria ao Paran, pois com a estrada de ferro estaramos

    nos igualando s grandes provncias. A populao paranaense

    aguardou ansiosamente com grandes perspectivas econmicas,

    at sua concluso em 1885; em sua primeira travessia, chegando a

    Curitiba, foi recebida e prestigiada pela urbe com vivas e aclamaes

    de prosperidade.

    Os primeiros reflexos da ferrovia comearam a despontar mesmo

    antes de sua concluso, uma vez que para sua construo fora

  • 46Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    estrada de ferro no estava suportando atender a todas as requisies

    para vages, tendo at mesmo algumas industrias a inteno de

    recorrer a Estrada da Graciosa; no entanto, esta encontrava-se

    em pssimo estado. Desde a inaugurao da ferrovia, o governo

    provincial deixou de dar os reparos necessrios para a estrada,

    deixando-a abandonada. Na poca, at mesmo surgiram acusaes

    contra a concessionria francesa que administrava a estrada de ferro

    Paranagu-Curitiba, acusando-a de boicotar a Estrada da Graciosa,

    danificando a estrutura de algumas pontes. E junto a isto, alegava-

    se que a concessionria pressionava o governo para no efetuar as

    reformas necessrias, pois no queria concorrncia com a ferrovia,

    posteriormente foi aberto um processo para investigar tais denncias,

    no entanto nada foi comprovado.36

    Mesmo com o advento da estrada de ferro, grande parte da erva-

    mate, ainda era escoado pela Estrada da Graciosa, pois a tarifa cobrada

    pela estrada de ferro era mais elevada que o custo do transporte muar,

    fato este que fez Almeida Sobrinho ento Presidente da Provncia

    em 1888, contestar as tarifas abusivas e tentar baixar os custos,

    assim como havia sido feito no ramo madeireiro. Acompanhemos sua

    narrativa:

    Julgo tambm do meu dever aqui observar que excessivamente elevada a tarifa estabelecida pela estrada de ferro para o transporte da herva-mate.Pelas informaes que essa tarifa excede em mais de um tero ao frete da carga do mesmo artigo conduzido em carroas pela Estrada da Graciosa.Compreende-se perfeitamente que isto uma anomalia que no deve continuar, reclamando por providencias. Tal tarifa opprime o comercio da herva-mate, prejudicando ao estado que paga garantias de juros e prejudicando a prpria companhia francessa, visto que da logar a sustentar-se uma competio absurda e inconveniente, qual a Estrada da Graciosa37

    primeiramente a construo da Estrada de Ferro Paranagu-Curitiba,

    que tornou possvel a escoao da produo madeireira planaltina.

    Tamanha a importncia desta edificao que, segundo os cronistas da

    rea econmica, a indstria madeireira esperou at que a construo

    estivesse conclusa, para somente ento fazer novos investimentos.

    Junto a isto, e de tambm fundamental importncia foi que na

    administrao de Faria Sobrinho, no ano de 1886, foi concedida para

    as indstrias do ramo madeireiro a iseno dos impostos provinciais

    e municipais, alm de a Provncia conseguir tambm juntamente

    concessionria da ferrovia, tarifas especiais para o transporte da

    madeira pela estrada de ferro.

    Diminuiu-se o custo e a madeira paranaense conseguiu chegar

    aos mercados consumidores de forma mais atrativa para competir

    com as madeiras importadas. E o terceiro, tambm importante fator,

    foi que Rio de Janeiro e So Paulo sofreram surtos de urbanizao

    e desenvolvimento, devido prspera fase econmica em que se

    encontravam e tambm ao grande nmero de imigrantes que chegavam.

    Nesta poca, quase a totalidade da exportao madeireira do Paran

    era destinada a estes dois Estados, sendo o principal comprador o

    Estado do Rio de Janeiro. E o ltimo, e determinante fator foi a poltica

    protecionista implantada no pas, quando foram estabelecidas tarifas

    alfandegrias aos produtos estrangeiros, fazendo com que seus

    produtos ficassem mais caros que os brasileiros. Enfim, as aspiraes

    de Zacarias de Goes, que em 1854, vislumbrava a possibilidade de um

    dia torna-se possvel a explorao pinho do paranaense com sucesso,

    havia se concretizado.

    Tamanha era a demanda para a exportao, que as indstrias

    madeireiras encontraram dificuldades para o escoamento, pois a

  • 47Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    o mais desenvolvido e requisitado que dcadas depois teve grande

    importncia para a escolha da construo do primeiro porto organizado

    e estruturado em moldes modernos. Foi por este trapiche escoada a

    maior parte da produo madeireira paranaense que, no auge, formou

    filas espera de navios para serem embarcadas.

    Em 1893, aps muitos esforos da populao antoninense, foi

    construdo um ramal de 16 km, de Morretes ao porto de Antonina,

    edificao que representou um alento para o porto, pois somente

    assim encontrou-se ligado a via econmica mais importante do estado

    do Paran. A grande vantagem de Antonina foi que o seu trajeto era

    mais curto, pois tinha apenas 81km de distncia contra 110 km de

    Paranagu. Nos primeiros meses, houve uma paridade nos valores

    cobrados para a travessia da Serra do Mar, todavia aps alguns meses

    a concessionria baixou o custo da travessia ao porto de Antonina,

    justificando que seu trajeto era menor, e por isso tinha menor custo.

    Porm, a vantagem de Antonina durou pouco tempo, logo Paranagu

    que sempre teve muita influncia poltica, conseguiu atravs de medidas

    governamentais efetuar a equiparao das taxas de transporte e voltar

    a ser o porto predileto pelos exportadores.

    Aps o Paran ter efetuado melhorias em suas vias de transporte,

    encontrava ainda um outro grande empecilho que impedia um pleno

    desenvolvimento, no caso seus portos ultrapassados, pois suportavam

    poucas atracagens e somente de navios de pequeno e mdio porte. Foi

    nesta poca, em meados da dcada de 1910, que o caf timidamente

    comeou a chegar pelos trilhos at o porto de Paranagu. Produo

    cafeeira que foi estimulada pelo governo estadual, que at mesmo

    isentou as taxas porturias em Paranagu, com a inteno de incentivar

    o cultivo do caf que tanto enriquecia o estado de So Paulo. No

    A partir da narrativa de Almeida Sobrinho, percebemos a grande

    insatisfao diante da tarifa cobrada pela concessionria francesa.

    Vale observar o modo como Almeida Sobrinho renega o transporte

    a muares pela Estrada da Graciosa, demonstrando a grande vontade

    de incorporar a estrada de ferro aos diversos campos da economia

    paranaense. Tamanhos eram os problemas com as negociaes

    tarifrias, e com a insatisfao popular de Antonina que acusava a

    concessionria de sabotagem Estrada da Graciosa, que em 1912,

    no governo de Carlos Cavalcanti, foi cancelado o contrato com a

    concessionria francesa, e junto a isto, foi efetuada uma reforma na

    Estrada da Graciosa.

    A estrada de ferro Paranagu-Curitiba teve na sua construo e

    posterior funcionamento, o legado de definir a hegemonia do porto de

    Paranagu, e fazer definhar o seu porto rival e consequentemente a

    cidade de Antonina, uma vez que a urbe antoninense tinha toda sua

    economia fundamentada no porto. Anteriormente estrada de ferro,

    ambos os portos disputavam arduamente quem seria o porto com maior

    volume exportador e melhores condies para atracagem de navios.

    At 1880, Antonina tinha a vantagem de ser a rota final da Estrada da

    Graciosa, e possuir melhores trapiches que o porto de Paranagu.

    A situao comeou a complicar-se para Antonina quando o governo

    imperial determinou que o ponto de partida da nova ferrovia fosse

    Paranagu. E neste contexto para que a construo frrea pudesse

    desenvolver-se, foi necessria uma grande demanda de materiais;

    tais como toneladas de ao e alvenaria que somente poderiam chegar

    se houvesse um bom trapiche. Foi ento que construram o maior e

    melhor trapiche do Estado, denominado como Trapiche Paran, que

    mesmo posteriormente a construo da ferrovia continuou a ser

  • 48Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    O decreto federal n 12.477 de 23/051917 aprovou o projeto para

    a construo de um novo porto e tambm 3 galpes de grande porte

    para armazenagem de mercadorias38. No entanto, grandes empecilhos

    ainda existiam para o incio efetivo das obras, problemas estes que se

    convertiam em alegria para os populares de Antonina, que viam nesta

    construo o efetivo fracasso de seu porto. Os reflexos da primeira

    guerra mundial chegaram ao Brasil e uma poca de grande recesso

    pairava pelo mundo; somente aps alguns anos quando a economia

    mundial se fortaleceu novamente, a construo teve incio. As obras

    progrediam at quando prximo para concluso, sofre os reflexos

    de mais uma crise mundial, no caso a de 1929, na qual o Paran viu

    suas verbas federais para a construo do porto serem canceladas. No

    entanto, as obras continuaram vagarosamente com verbas estaduais.

    Somente em 1935, os parnanguaras puderam comemorar, pois enfim

    contavam com um sistema porturio moderno e desenvolvido, o qual

    era amparado por uma rodovia e principalmente pela ferrovia.

    Com a inaugurao do porto de Paranagu, a maioria dos

    exportadores optava por embarcar as mercadorias no novo porto,

    pois tinha indiscutivelmente uma melhor infra-estrutura. E o porto

    de Antonina, que j se encontrava em precria situao econmica,

    teve sua bancarrota, tendo at sua ligao frrea abandonada aps

    alguns anos. Com isso, um novo alento surge para o porto de Antonina,

    com a implantao dos Moinhos Matarazzo, o qual importava grandes

    quantias de trigo da Argentina e o industrializava nos arredores do

    porto, para posteriormente ser exportado para outros estados. Os

    moinhos Matarazzo tiveram grande importncia econmica para a

    cidade de Antonina, no entanto na dcada de 1940, o Paran retomou

    o plantio de trigo, e os moinhos Matarazzo que importavam trigo da

    entanto, o clima de Curitiba e regio, no era o adequado para a prtica

    cafeeira e logo teve o cultivo abandonado, que somente foi retomado

    na dcada de trinta com a colonizao do norte paranaense, local onde

    se encontrou terra e clima favorvel para a produo.

    Chegavam pelos trilhos grandes sacas de mate, ripas madeira

    e uma pequena quantia de caf, porm muitas dificuldades eram

    encontradas para armazenar tais produtos, at seu embarque.

    Nesta poca, o porto de Paranagu j contava com maior suporte de

    armazenamento e melhor trapiche, que no caso ainda era o antigo

    Trapiche Paran. Assim, em 1917, comeou-se a debater a idia da

    construo de um novo porto, que suportasse navios oriundos do

    mundo inteiro, independente de seu tamanho. Antonina at mesmo

    tentou pleitar ser

    a sede do novo

    porto, porm foi

    Paranagu o porto

    escolhido, devido

    ao fato de j

    possuir um trapiche

    de mdio, porte

    que permitiria

    a descarga dos

    materiais para as

    novas obras e por

    ser o porto mais

    utilizado e bem

    amparado pela

    ferrovia.

    Figura 5: Porto de Paranagu

    STRINBERG,Fernando.[200-].Porto de Paranagu. 1Fotografia color.8,5 Cm x 13,6 cm Fonte: www.trasportes.gov.br. Acesso em: 8 mai.2009

  • 49Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    da Idade Mdia e Edifcios Religiosos. Neste incio, somente eram

    considerados patrimnios histricos os que provinham em essncia, da

    arqueologia e da histria da arquitetura erudita. Posteriormente, todas

    as formas de construo foram inseridas no conceito de patrimnio,

    eruditas e populares, urbanas e rurais, todas as categorias de edifcios

    pblicos e privados, santurios e utilitrios, desde que apresentassem

    vnculos de relevncia com o passado.

    A questo patrimonial no Brasil um assunto de certa forma

    recente, pois as primeiras tentativas para se estabelecer normas que

    fornecessem condies para a proteo dos patrimnios aconteceu

    em 1923, quando foi enviado ao Congresso Nacional um projeto de

    lei pedindo que se criasse uma inspetoria de monumentos histricos,

    tendo como funo conservar os imveis pblicos ou particulares que

    tivessem algum interesse nacional, e tambm proteger as obras de

    arte que corressem risco de serem roubadas e sarem facilmente do

    Brasil. No entanto, o projeto era um assunto relativamente novo, e

    obteve pouca aceitao, e foi barrado. A segunda tentativa foi em

    1925, quando tambm foi enviado um projeto para o Congresso

    Nacional que visava a criao de um rgo nacional de proteo

    ao patrimnio, cuja funo seria de eleger os bens a serem salvos

    pelo projeto. Os bens a serem protegidos seriam eleitos atravs do

    interesse coletivo, e se tivesse representatividade do passado da

    nao brasileira, no entanto esta segunda tentativa tambm no

    obteve sucesso.39

    As discusses acerca do patrimnio comearam a ganhar maior

    relevncia na dcada de 1930, mais especificamente no governo

    de Getlio Vargas. Nesta poca, formaram-se diversos grupos que

    tinham interesses voltados para as questes sociais e culturais, que

    Argentina decretaram falncia, esta indstria era a nica de relevncia

    que mantinha o funcionamento do porto. A populao de Antonina

    teve que procurar novas formas de sobrevivncia, direcionando-se

    lentamente para a agroindstria e para a metalurgia e tambm para as

    diversas reas tursticas da Cidade.

    Todas estas transformaes, que resultaram da Estrada da Graciosa

    e da Estrada de Ferro, deixaram rastros no passado, no somente na

    memria da populao, mas tambm, como conceitua Pierre Norra,

    ficaram nos lugares de memria, como por exemplo, a Igreja de So

    Sebastio de Porto de Cima. Esta sendo um dos poucos remanescentes

    que nos remetem ao passado prspero que havia passado o vilarejo de

    Porto de Cima, como tambm neste mesmo contexto, as runas dos

    antigos galpes do porto Antonina, que pela edificao nos remete a

    memorar o passado daquele lugar, que um dia prosperou na condio

    de porto. Igualmente, a prpria Estrada da Graciosa, e a Estrada de

    Ferro, que quando percorrida pelos seus calcamentos e trilhos, nos

    remetem a um passado j adormecido em nossas mentes.

    3 OS CAMINHOS COMO PATRIMNIO DO PARAN

    3.1 Questes patrimoniais no Brasil, e o tombamento da serra do mar Parananese

    As primeiras aes para a preservao dos monumentos histricos

    tiveram incio na Frana, quando foi criada a primeira comisso dos

    monumentos histricos em 1837, ocasio em que foram criadas trs

    categorias de monumento para serem protegidos. Somente eram

    considerados de importncia os remanescentes da Antiguidade, castelos

  • 50Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    Estado desapropriar, indenizar, alm de punir quem no respeitasse

    as regras de proteo de um bem histrico tombado. O SPHAN era o

    rgo regulador responsvel por capacitar um objeto como patrimnio

    histrico, e tambm de coordenar as normas burocrticas para um

    tombamento. Que hoje so definidas da seguinte forma:

    Ato administrativo realizado pelo Poder Pblico com o objetivo de preservar, por intermdio da aplicao de legislao especifica, bens de valor histrico, cultural, arquitetnico, ambiental e tambm de valor efetivo para a populao, impedindo que venham a ser destrudos ou descaracterizados.40

    Foram criados quatro livros tombo para classificar os bens

    tombados, sendo eles: 1-Livro do Tombo Arqueolgico; 2-Livro do

    Tombo Histrico; 3-Livro do Tombo das Belas Artes ; 4-livro do

    Tombo das Artes Aplicadas. Comparado ao anteprojeto, o Decreto-

    lei era simples e direto, tratando somente de bens mveis e imveis

    que tivessem algum significado para a histria do Brasil, protegendo

    dessa forma apenas os bens materiais e de instituies basicamente

    ligadas ao mbito governamental tais como: igreja, exrcito e prdios

    pblicos. No aspecto jurdico, praticamente todas as Constituies

    Federais trazem amparo cultura e proteo aos bens naturais, no

    entanto a Constituio de 1934 foi a primeira a definir e possibilitar

    a interveno do Estado na ordem econmica e com isso ter poderes

    sobre os patrimnios que fossem de proprietrios privados.

    Os Estados de Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco

    foram os primeiros onde ocorreram tombamentos. Em seguida, e em

    menores propores Paran, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, So

    Paulo e Piau. Como a SPHAN dava maior relevncia a alguns Estados

    e menos a outros, ficou permitido que as administraes estaduais e

    vislumbravam a possibilidade de criar efetivamente uma legislao que

    protegesse o patrimnio nacional.

    Em meio a estas novas correntes sobre a conscientizao de se

    proteger o patrimnio, destaca-se o intelectual modernista Mario

    de Andrade, o qual foi responsvel por apresentar o anteprojeto

    que futuramente veio a se transformar no decreto-lei 25/1937. Este

    anteprojeto previa uma importncia maior para a histria artstica

    nacional, por isso definiu que seriam necessrios oito livros tombos para

    contemplar os registros, sendo: 1-arte arqueolgica; 2-arte amerndia;

    3-artes popular; 4-arte histrica; 5-arte erudita nacional; 6-arte poltica;

    7-artes aplicadas nacionais; 8- artes aplicadas estrangeiras.

    Em 1935, Mario de Andrade trabalhou no departamento de cultura

    do municpio de So Paulo, e um de seus objetivos neste trabalho era

    transformar seu anteprojeto em decreto-lei, que tratasse dos assuntos

    referentes proteo do patrimnio. Getlio Vargas havia simpatizado

    com o anteprojeto de Mario de Andrade em 1936, fato este que

    gerou grande expectativa para a oficializao do projeto. No entanto,

    este aspecto inovador do anteprojeto causou discusses internas e

    gerou conflitos dentro dos grupos polticos que detinham o poder, e

    o anteprojeto foi barrado. Todavia, as ideias de Mario de Andrade

    haviam gerado grandes perspectivavas em direo a uma legislao

    que protegesse os patrimnios nacionais.

    Em 1937, Gustavo Capanema, Ministro da Educao e Sade

    Pblica escolhido por Getlio Vargas, acompanhado por Rodrigo Melo

    Franco de Andrada coordenador do projeto, criaram o SPHAN- Servio

    do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, amparado pelo Decreto-Lei

    N. 25/1937 que ordenou uma srie de leis e normas que regularizaram

    os tombamentos dos patrimnios nacionais, dando legalidade para o

  • 51Monografias - Universidade Tuiuti do Paran | Histria | 2010

    da sociedade e reconhecimento de tal utilidade, faro do bem um

    signo para posteridade. Ainda a autora complementa que somente

    existe um patrimnio se houver uma identidade, um reconhecimento

    da sociedade com o objeto, seja ele material ou imaterial, pois sem

    este reconhecimento no h valores suficientes para a contemplao e

    proteo de um determinado objeto.

    A Serra do Mar paranaense foi tombada em 1986, pela

    Coordenadoria de Patrimnio Cultural da Secretria de Estado da

    Cultura do Paran, includa no livro tombo de patrimnio natural.43

    Diversos foram os ativistas que lutaram por anos consecutivos at

    conseguirem atravs do tombamento devida proteo amparada

    por leis, para proteg-la de eventuais danos e descasos do homem.

    A Serra do Mar foi tombada com os

    argumentos de ser a principal rea de mata

    atlntica conservada em todo o Continente

    Americano, sendo uma da poucas reas em

    que se encontra em estado de pleno gozo

    de conservao ambiental, alm de toda

    historicidade que a envolve.

    Apesar deste espao ter sido tombado

    como patrimnio natural, encontram-

    se diversos fatores que tambm a

    fazem um patrimnio cultural, devido

    grande importncia que desempenhou

    para o desenvolvimento e formao da

    nao brasileira, e principalmente para

    o desenvolvimento scio-econmico

    paranaense. Alm da materialidade da

    municipais