1
CAMINHOS E ESTRADAS: processos de territorialização e conflitos socioambientais em Santa Rosa dos Pretos/ MA. Autora: Dayanne da Silva Santos Co autora: Anne Caroline Cunha Rodrigues Orientadora: Madian de Jesus Frazão Pereira UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO/UFMA CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO/CNPq CONSIDERAÇÕES FINAIS Os processos de instalação de grandes empreendimentos em Santa Rosa dos Pretos não foram antecedidos de processos formais (como estudos, reuniões com moradores, indenizações) e geram uma séries de impactos, tensões e perdas. A possibilidade de abertura de diálogo com a nação tem se constituído especialmente a partir de enfrentamentos e denúncias abrangentes. A execução dos direitos requer desses moradores muito mais do que "peças técnicas" que dêem conta de dar visibilidade e mediar os conflitos derivados da instalação de grandes empreendimentos. Requer que se "faça ouvir", que seja possível acionar normas existentes e “fazer valer” as peças, a partir da inserção e do apoio de atores sociais que dominam os códigos estatais, mas principalmente, no caso analisado no Maranhão, a partir de atos políticos e protestos sociais. As ocupações do INCRA, o fechamento de estradas, a permanência sobre os trilhos do trem "da Vale", a greve de fome constituem etapas mais que necessárias aos ritos estatais no reconhecimento fundiário das terras de quilombos e na denúncias das violações de seus direitos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS WOLF, E. Guerras Camponesas no Século XX. Global, 1984. LEITE, I. B. Quilombolas: cidadania ou folclorização? In: Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 5, nº 10, 1999, p. 123-150. Relatório sobre situação dos Territórios quilombolas Santa Rosa dos Pretos e Monge Belo - Justiça nos Trilhos, 2012. ALMEIDA, Alfredo Wagner. Terras tradicionalmente ocupadas. R. B. E STUDOS URBANOS E REGIONAI S V. 6 , N. 1 / MAIO 2 0 0 4. Figura 01: Dona Severina Mãe de Santo de Santa Rosa e suas “filhas” no I Encontro das comunidades Quilombolas de 2015 em Santa Rosa dos Pretos. Fonte: Acervo Santa Rosa dos Pretos. Figura 02: Festejo do Divino Espírito Santo. Fonte: Acervo Santa Rosa dos Pretos Figura 04: Ocupação da Estrada de Ferro Carajás. Fonte: Acervo Santa Rosa dos Pretos OBJETO As roças, os igarapés, as casas e seus caminhos em Santa Rosa dos Pretos disputam espaço com as estradas ferroviárias e rodoviárias que conduzem produtos para o porto em São Luís produzindo conflitos locais e institucionais. O território reivindicado para a titulação junto ao INCRA pela comunidade quilombola encontra sobre suas fronteiras uma estrada de ferro, construída na década de 80, para o escoamento da produção de ferro das minas de Carajás, no PA, e também a projeção de sua duplicação; a rodovia federal BR 135, da década de 1970, e o início das atividades para sua duplicação; os linhões da Eletronorte; uma fazenda; e um assentamento instalado pelo INCRA, em 1980. Uma série de conflitos emergem da configuração que envolve às dinâmicas de instalação da estrutura logística de empreendimentos minerários e de infraestruturas para a produção e exportação de commodities e das estratégias de resistência e luta das lideranças de Santa Rosa dos Pretos pela garantia de seu território. a) Ações dos moradores de Santa Rosa dos Pretos na guarda das terras: conhecer os limites do território (memória dos marcos-testamento e ocupação); reunião dos mais velhos na tomada de decisões sobre o uso das terras; os tambores, as promessas e a fortaleza (na tristeza, na alegria, na fome); a inspiração (chegada à institucionalização do pleito quilombola via DENIT); b) As possibilidades de institucionalização dos conflitos são extremamente assimétricas. As disputas que se travam no espaço de mediação constituído entre as tensões derivadas da instalação da estrada de ferro, a secagem dos igarapés, a dificuldade com as roças, os atropelamentos e os processos de institucionalização, revelam dinâmicas extremamente violentas. Como revela Anacleta, uma das lideranças da comunidade: “a gente já tentava conversar com a VALE, [...] Vamos dizer, assim, em 2012 ou 2011 tivemos o primeiro contato, um dos primeiros contatos pra tá intermediando desde 2005 foi a presença do Ministério Público Federal, só agora em 2011 que a VALE se abriu mais um pouco, passou de 2005 até 2011 ... o pior dragão da vida, então foi muito tempo ... somando dá 6 anos pra se ter alguma coisa. Agora com a presença do Ministério Público Federal foi difícil, imagina 30 anos atrás [quando o empreendimento chegou] como não era, eles não ouviam, se instalaram dentro da comunidade, fizeram mesmo foi invadir, colocaram esses trilhos aí, só prejuízo, porque é morte, a gente fica até triste quando vai pra esse lado, porque já perdemos vários companheiros. Sem nenhum respeito, tudo o que morre na ferrovia é bêbado para VALE” (Entrevista dia 29 de fevereiro de 2015). A abertura de espaços institucionais para os pleitos da comunidade tem ocorrido principalmente: -a partir de protestos sociais, como: fechamento de estradas, ocupação dos trilhos e impedimento da circulação do trem, ocupação do prédio do INCRA; Nesses espaços, faixas, toadas, tambores, greves de fome, pautas de reivindicação compõem o cenário de chamada dos órgãos públicos para processos de institucionalização de narrativas outras; -pelas redes sociais acionadas: na formação de lideranças a partir das CEB, do STR, da ACONERUQ; pelas relações com da Defensoria Pública, MPF, ONGs (Justiça nos Trilhos); OBJETIVOS Analisar as configurações locais e institucionais dos conflitos envolvendo processos de instalação da estrutura logística de empreendimentos minerários e de infraestruturas para a produção e exportação de commodities e estratégias de resistência e luta das lideranças de Santa Rosa dos Pretos pela garantia de seu território. METODOLOGIA Nos dois anos de trabalhos foram realizadas: entrevistas semiestruturadas com lideranças sindicais, comunitárias e religiosas; com procuradores e lideranças de movimentos sociais; registros etnográficos de visitas à órgãos públicos, momentos de ocupação de instituições e festejos; análises documentais; Figura 03: Srº Libânio liderança comunitária e presidente da associação de trabalhadores rurais da comunidade quilombola Santa Rosa dos Pretos. Fonte: Acervo Santa Rosa dos Pretos

CAMINHOS E ESTRADAS: processos de territorialização e ... · WOLF, E. Guerras Camponesas no Século XX. Global, 1984. LEITE, ... sobre suas fronteiras uma estrada de ferro, construída

  • Upload
    ngodat

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CAMINHOS E ESTRADAS: processos de territorialização e ... · WOLF, E. Guerras Camponesas no Século XX. Global, 1984. LEITE, ... sobre suas fronteiras uma estrada de ferro, construída

CAMINHOS E ESTRADAS: processos de territorialização e

conflitos socioambientais em Santa Rosa dos Pretos/ MA.

Autora: Dayanne da Silva Santos

Co autora: Anne Caroline Cunha Rodrigues

Orientadora: Madian de Jesus Frazão Pereira

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO/UFMA

CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO/CNPq

CONSIDERAÇÕES FINAIS Os processos de instalação de grandes empreendimentos em Santa Rosa dos Pretos

não foram antecedidos de processos formais (como estudos, reuniões com

moradores, indenizações) e geram uma séries de impactos, tensões e perdas. A

possibilidade de abertura de diálogo com a nação tem se constituído especialmente a

partir de enfrentamentos e denúncias abrangentes. A execução dos direitos requer

desses moradores muito mais do que "peças técnicas" que dêem conta de dar

visibilidade e mediar os conflitos derivados da instalação de grandes

empreendimentos. Requer que se "faça ouvir", que seja possível acionar normas

existentes e “fazer valer” as peças, a partir da inserção e do apoio de atores sociais

que dominam os códigos estatais, mas principalmente, no caso analisado no

Maranhão, a partir de atos políticos e protestos sociais. As ocupações do INCRA, o

fechamento de estradas, a permanência sobre os trilhos do trem "da Vale", a greve de

fome constituem etapas mais que necessárias aos ritos estatais no reconhecimento

fundiário das terras de quilombos e na denúncias das violações de seus direitos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

WOLF, E. Guerras Camponesas no Século XX. Global, 1984.

LEITE, I. B. Quilombolas: cidadania ou folclorização? In: Horizontes

Antropológicos, Porto Alegre, ano 5, nº 10, 1999, p. 123-150.

Relatório sobre situação dos Territórios quilombolas Santa Rosa dos Pretos e

Monge Belo - Justiça nos Trilhos, 2012.

ALMEIDA, Alfredo Wagner. Terras tradicionalmente ocupadas. R. B. E

STUDOS URBANOS E REGIONAI S V. 6 , N. 1 / MAIO 2 0 0 4.

Figura 01: Dona Severina Mãe de Santo de

Santa Rosa e suas “filhas” no I Encontro das

comunidades Quilombolas de 2015 em Santa

Rosa dos Pretos.

Fonte: Acervo Santa Rosa dos Pretos.

Figura 02: Festejo do Divino Espírito Santo.

Fonte: Acervo Santa Rosa dos Pretos

Figura 04: Ocupação da Estrada de Ferro

Carajás.

Fonte: Acervo Santa Rosa dos Pretos

OBJETO As roças, os igarapés, as casas e seus caminhos em Santa Rosa dos Pretos disputam

espaço com as estradas ferroviárias e rodoviárias que conduzem produtos para o

porto em São Luís produzindo conflitos locais e institucionais. O território

reivindicado para a titulação junto ao INCRA pela comunidade quilombola encontra

sobre suas fronteiras uma estrada de ferro, construída na década de 80, para o

escoamento da produção de ferro das minas de Carajás, no PA, e também a projeção

de sua duplicação; a rodovia federal BR 135, da década de 1970, e o início das

atividades para sua duplicação; os linhões da Eletronorte; uma fazenda; e um

assentamento instalado pelo INCRA, em 1980.

Uma série de conflitos emergem da configuração que envolve às dinâmicas de

instalação da estrutura logística de empreendimentos minerários e de infraestruturas

para a produção e exportação de commodities e das estratégias de resistência e luta

das lideranças de Santa Rosa dos Pretos pela garantia de seu território.

a) Ações dos moradores de Santa Rosa dos Pretos na guarda das terras: conhecer os

limites do território (memória dos marcos-testamento e ocupação); reunião dos mais

velhos na tomada de decisões sobre o uso das terras; os tambores, as promessas e a

fortaleza (na tristeza, na alegria, na fome); a inspiração (chegada à

institucionalização do pleito quilombola via DENIT);

b) As possibilidades de institucionalização dos conflitos são extremamente

assimétricas. As disputas que se travam no espaço de mediação constituído entre as

tensões derivadas da instalação da estrada de ferro, a secagem dos igarapés, a

dificuldade com as roças, os atropelamentos e os processos de institucionalização,

revelam dinâmicas extremamente violentas.

Como revela Anacleta, uma das lideranças da comunidade:

“a gente já tentava conversar com a VALE, [...] Vamos dizer, assim, em

2012 ou 2011 tivemos o primeiro contato, um dos primeiros contatos pra tá

intermediando desde 2005 foi a presença do Ministério Público Federal, só

agora em 2011 que a VALE se abriu mais um pouco, passou de 2005 até

2011 ... o pior dragão da vida, então foi muito tempo ... somando dá 6 anos

pra se ter alguma coisa. Agora com a presença do Ministério Público

Federal foi difícil, imagina 30 anos atrás [quando o empreendimento

chegou] como não era, eles não ouviam, se instalaram dentro da

comunidade, fizeram mesmo foi invadir, colocaram esses trilhos aí, só

prejuízo, porque é morte, a gente fica até triste quando vai pra esse lado,

porque já perdemos vários companheiros. Sem nenhum respeito, tudo o

que morre na ferrovia é bêbado para VALE” (Entrevista dia 29 de fevereiro

de 2015).

A abertura de espaços institucionais para os pleitos da comunidade tem ocorrido

principalmente:

-a partir de protestos sociais, como: fechamento de estradas, ocupação dos trilhos e

impedimento da circulação do trem, ocupação do prédio do INCRA; Nesses espaços,

faixas, toadas, tambores, greves de fome, pautas de reivindicação compõem o cenário

de chamada dos órgãos públicos para processos de institucionalização de narrativas

outras;

-pelas redes sociais acionadas: na formação de lideranças a partir das CEB, do STR,

da ACONERUQ; pelas relações com da Defensoria Pública, MPF, ONGs (Justiça

nos Trilhos);

OBJETIVOS Analisar as configurações locais e institucionais dos conflitos envolvendo processos

de instalação da estrutura logística de empreendimentos minerários e de

infraestruturas para a produção e exportação de commodities e estratégias de

resistência e luta das lideranças de Santa Rosa dos Pretos pela garantia de seu

território.

METODOLOGIA Nos dois anos de trabalhos foram realizadas: entrevistas semiestruturadas com

lideranças sindicais, comunitárias e religiosas; com procuradores e lideranças de

movimentos sociais; registros etnográficos de visitas à órgãos públicos, momentos de

ocupação de instituições e festejos; análises documentais;

Figura 03: Srº Libânio liderança comunitária e

presidente da associação de trabalhadores rurais

da comunidade quilombola Santa Rosa dos

Pretos.

Fonte: Acervo Santa Rosa dos Pretos