Campeões nos negócios e na vida pessoal

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O que há em comum entre uma oficial do exército, um piloto de kart, profissionais de rali e um piloto de avião? Todos eles são donos ou representam marcas de franquias. E consideram a segunda atividade ponto fundamental para crescer como empreendedores. Dividir o tempo entre o ne-gócio principal e outra atividade ajuda os empresários a desenvolver características que os auxiliam a lidar melhor com impasses de gestão e a seguir as regras de um sistema tão específico quanto o do franchising.

Para o presidente e diretor geral da consultoria NetplaN, Daniel Bernard, desempenhar funções diferentes exige outro tipo de esforço, mental e físico, que é essencial para qualquer planejamento de negócios.

Executivos aprendem a lidar melhor com os impasses de seus negócios exercendo atividades fora do ambiente corporativo Por Camila mEndonça

EMPRESáRIOS em dois tempos

capacidade de se adaptar a situações di-ferentes, dentro de determinadas regras.

Foram essas as características que Manuel Carlos Mazza Liebana Torres, de 47 anos, franqueado da água de Chei-ro, aprendeu com o rali. Dono de cinco unidades da marca, o empresário come-çou a pilotar antes mesmo de entrar no segmento de franquias. À frente de uma consultoria contábil e jurídica desde 1985, ele encarava competições de rali de moto. Com o tempo, passou a treinar com carros.

Manuel carlos Mazza Liebana Torres, franqueado da Água de Cheiro

“É outro tipo de con-centração e, qualquer que seja a atividade, trabalha--se agilidade, criatividade e, principalmente, plane-jamento e estratégia”, afir-ma. Ter outra atividade também permite que os empresários exercitem a

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A experiência em competições fez Torres aprender a encarar os desafios, sem grandes receios. “No rali, se você distrai 10 segundos, já está fora da prova”, afirma. O foco adquirido com a atividade foi posto à prova em 2006, quando adquiriu sua primeira loja da água de Cheiro, de maneira pouco usu-al. A unidade, diz, estava para fe-char por problemas de gestão.

“Resolvi comprá-la para tes-tar se a consultoria que eu dava para os meus clientes funciona-va na prática”, conta. Segundo Torres, ele conseguiu reerguer a unidade em pouco mais de um mês e tomou gosto pelo modelo de franquia. “Com o rali, apren-di a insistir em regras e metodo-logias, mesmo em situações ad-versas”, avalia.

O modo como empresários exercem uma função diferente do negócio diz muito sobre o estilo de gestão de cada um. Bernard, da NetplaN, conta que atendeu um empresário que tinha forma-ção militar e que encarou como uma guerra os meses iniciais de montagem da loja.

“Ao montar a operação, ele fez provisões para dois anos de vacas magras, prevendo que demoraria a faturar”, afirma.

Com Gracielle Netto, de 35 anos, franqueadora da Depillah, rede de depilação, a disciplina não chegou a esse ponto. Contudo, ela

considera ter um grau de disciplina e comprometimen-to acima da média; ambas qualidades aprimoradas no Exército brasileiro, onde é primeira tenente.

“Quando eu falo de comprometimento, falo em respeitar os horários das clientes, em não atrasar, em apresentar o negócio de maneira impecável. Tenho certeza de que hoje eu sou uma empresária melhor por causa do Exército”, avalia.

Gracielle netto, franqueadora da Depillah e 1a Tenente do Exército

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Pedagoga por formação, Gra-cielle entrou no Exército para dar aulas no colégio militar em 2006. A área da beleza, diz, sempre a acompanhou como consumidora. Em 2011, ela entrou como sócia na Depillah, que já estava no mer-cado desde 2010. As duas ativi-dades ela concilia concomitante-mente. E, para ela, o negócio tem ajudado na carreira militar.

“No Exército, você tende a ser menos flexível. E no negócio eu convivo com pessoas de diferen-tes formações, o que me ajuda a ter mais flexibilidade em sala de aula”, conta.

Planejamento, foco e liderança

Aproveitar o know how como empresário para lidar melhor com a segunda função pode render bons frutos para os dois lados. Marcel Magalhães, de 37 anos, fundador e presidente da UNS Idiomas, foi além e viu no kart a oportunidade para elaborar uma estratégia de marketing diferente para a rede de franquia.

“Percebi que no segmento de automobilismo nenhuma escola de idiomas participava e encon-tramos aí um mote para uma nova campanha publicitária”, conta o empresário, que contratou o piloto Tony Kanaan para estre-lar uma campanha no início deste ano. “Aliei o útil ao agradável”, conta Magalhães.

O kart entrou na vida do em-presário em 2010. Aos poucos, diz, foi se aprimorando até que começou a correr profissional-mente em 2011. “Participei de

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cerca de 60 corridas amadoras antes de ser profissional”, con-ta. Tantas competições, avalia Magalhães, o fizeram melhorar a gestão de tempo, para conse-guir treinar, sem deixar de tocar o negócio e nem comprometer os resultados da rede e nem da equipe de kart da qual faz parte.

“No kart, o planejamento e a estratégia são fundamentais. Você lida com uma equipe que está ali trabalhando para atingir os mesmos resultados que você, assim como na empresa”, avalia.

Capacidade de liderança e de gerir pessoas são os principais atributos que esportes como o de Magalhães desenvolvem ou aprimoram, segundo Bernard, da NetplaN. “Esse tipo de atividade cria no empresário uma sensi-bilidade e um engajamento

“Percebi que no segmento de automobilismo nenhuma escola de idiomas participava e encontramos aí um mote para uma nova campanha publicitária”Marcel Magalhães, fundador e presidente da UNS Idiomas

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maior com as equipes. Eles passam a perceber o valor da colaboração, tão necessário para atingir resultados”, ava-lia o consultor.

Quando Delfino Golfeto, de 60 anos, dono da água Doce Cachaçaria, começou a pilotar avião, ele percebeu que a ati-vidade tinha semelhanças com a gestão do negócio e que cada parte do bimotor poderia ser comparada a um funcioná-rio da empresa, segundo ele. “Se cada um não souber a fun-ção que precisa exercer, o avião não decola”, diz. Para não enfrentar turbulências no mundo dos negócios, ele aprendeu como piloto a fazer as checagens necessárias de todas as pe-ças da empresa para alçar voo. “Você não pode ter preguiça de checar e verificar o seu negócio sempre. Se você decolar sem fazer esse planejamento, o avião pode cair”, compara.

Para o empresário, a aviação mu-dou a forma como ele lida com a gestão. Quando começou a pilotar, a água Doce já era uma rede com cerca de 40 unidades.

“Eu já gostava de avião e quando comecei a pilotar começamos a sentir a necessidade de comprar um avião, porque não dávamos mais conta de atender a todos os franqueados”, con-ta. Agora, com a aviação, Golfeto diz avaliar o negócio de ponta a ponta.

O mesmo que Reinaldo Varela, de 53 anos, franqueador do Divino Fo-gão faz, mas a distância. “Não existe negócio que você tenha de estar pre-sente fisicamente a todo o momento. Reunião, por exemplo, é perda de tempo”, acredita.

O empresário criou seu estilo de gestão por necessidade: não queria deixar de participar das competições internacionais de rali, esporte do qual faz parte desde 1984. A rede de restau-rantes nasceu no mesmo ano. Como piloto, Varela tem mais de 300 corri-das no currículo, sendo 100 vitoriosas. Como empresário, administra a rede de restaurantes, que totaliza 120 uni-dades em 20 estados brasileiros.

Para aliar tantos sucessos, Varela conta com uma equipe de confiança. “Tenho uma boa retaguarda e consigo saber de tudo da empresa mesmo a dis-tância e em qualquer lugar”, afirma.

Com o rali, o empresário aprendeu a confiar na equipe que tem e a tomar decisões rápidas. “Nessa competição a vitória e a derrota se distanciam por questões de segundos e também é as-sim quando se lida com um negócio.” As viagens que precisa fazer para competir também ajudam o empresá-rio a ter novas ideias. “Estou o tempo inteiro visitando casas de alimenta-ção e levo essas experiências para o meu negócio”, conta.

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“Nessa competição a vitória e a derrota se distanciam por questões de segundos e também é assim quando se lida com um negócio”Reinaldo Varela, franqueador do Divino Fogão


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