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1 Associar conceitos Vegetação luxuriante Hotel Férias Cultura diferente Viagem Casas típicas Pássaro estranho Quebra de rotina Eliminar intrusos Exemplo: “Ser ecológico significa ter a noção de como contribuir, individual e colectivamente, para o equilíbrio ambiental.Palavras do campo lexical de praia: praia, guarda-sol, toalha, areia, mar, sol, onda, prancha de surf, concha, nadar... (apenas alguns exemplos) Polissemia 1.1 A que mais se aproxima é a acepção 1. 1.2 Neste contexto uma explicação mais adequada seria “aquele que tem o poder de contro- lar fenómenos da natureza como tempestades,trovões...” 1.3 Exemplo: Durante as horas em que os pais estão nos seus empregos, o bebé fica aos cuidados de uma ama. 1.4 O siginificado mais usual, actualmente, é o do exemplo anterior (acepção 4.) e está de acordo com o sentido etimológico da palavra (lat. amma, “mamã”) pois a ama substitui a mãe na ausência desta. 1.5 Há alguma relação entre os diferentes sentidos que a palavra foi adquirindo.Todos os signi- ficados têm em comum a noção ou de poder, ou de autoridade, ou de controlo. Exemplo: A metáfora é uma figura de estilo muito utilizada. A frase que mais se aproxima da noção transmitida pela do texto é: Odin era um deus cuja principal característica era a impetuosidade. 3 2 1 Polissemia. Denotação / Conotação pág. 7 4 3 “Reutilização”, “equilíbrio ambiental”, “reserva da biosfera”, “reciclagem”, “preservação de espécies”,“embalagem biodegradável”,“aquecimento geotermal”,“restrição urbanística” 2 2 1 1 2 Turismo 2 1 Exótico 1 2 2 1 1 Campo semântico / Campo lexical pág. 6

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1

Associar conceitos

Vegetação luxuriante

Hotel

Férias

Cultura diferente

Viagem

Casas típicas

Pássaro estranho

Quebra de rotina

Eliminar intrusos

Exemplo: “Ser ecológico significa ter a noção de como contribuir, individual e colectivamente, para oequilíbrio ambiental.”

Palavras do campo lexical de praia:praia, guarda-sol, toalha, areia, mar, sol, onda, prancha de surf, concha, nadar...(apenas alguns exemplos)

Polissemia1.1 A que mais se aproxima é a acepção 1.1.2 Neste contexto uma explicação mais adequada seria “aquele que tem o poder de contro-

lar fenómenos da natureza como tempestades, trovões...”1.3 Exemplo: Durante as horas em que os pais estão nos seus empregos, o bebé fica aos cuidados de

uma ama.1.4 O siginificado mais usual, actualmente, é o do exemplo anterior (acepção 4.) e está de

acordo com o sentido etimológico da palavra (lat. amma, “mamã”) pois a ama substitui amãe na ausência desta.

1.5 Há alguma relação entre os diferentes sentidos que a palavra foi adquirindo.Todos os signi-ficados têm em comum a noção ou de poder, ou de autoridade, ou de controlo.

Exemplo: A metáfora é uma figura de estilo muito utilizada.

A frase que mais se aproxima da noção transmitida pela do texto é:Odin era um deus cuja principal característica era a impetuosidade.

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1

Polissemia. Denotação / Conotação pág. 7

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3

“Reutilização”, “equilíbrio ambiental”, “reserva da biosfera”, “reciclagem”, “preservação deespécies”,“embalagem biodegradável”,“aquecimento geotermal”,“restrição urbanística”

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2

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2Turismo2

1Exótico1

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Campo semântico / Campo lexical pág. 6

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4.1 “A notória semelhança entre os deuses escandinavos e gregos (duas culturas muito diferentes)constitui mais um argumento a favor da existência da mesma origem indo-europeia.”

O crucifixo de ouro é um adereço habitual entre os cristãos.

As culturas grega e escandinava têm poucas semelhanças.

Os deuses interferem na vida de qualquer mortal.

Denotação / conotaçãoVejo-me grego para distinguir tantos deuses.

A palavra “felicidade”, comum às duas frases, tem na segunda um valor conotativo. Pretende-sedar a noção de que o “mar tranquilo” transmite um estado contínuo de bem-estar, de satisfação.

A poesia usa frequentemente a conotação.Há poesia no teu rosto.Há vários séculos que a mitologia pagã desperta curiosidade.Há séculos que não te via...As palavras são unidades lexicais.Há palavras que nos beijam...

8.1 Na primeira frase a palavra “retrato” tem um valor conotativo.8.2 Integrado no contexto da primeira frase o “retrato” tem o significado de uma imagem

subjectiva e ilusória. Na segunda frase “retrato” é a representação de alguém, pinta-da ou fotografada. Na terceira, “retrato” corresponde à descrição ou representaçãoverbal de alguém.

1.1 Na primeira frase “partido” refere-se a uma organização social que defende uma determi-nada ideologia política. Na segunda é sinónimo de “quebrado”.

1.2 Entre estas duas palavras existe uma relação de homonímia.

2.1 “A caricatura, ao que parece, é um produto do Renascimento...”2.2 Exemplos: Consegui um segundo lugar na classificação.

Falta exactamente um segundo para começar a contagem.

O cartoon crítica, frequentemente, situações, opiniões etc...A caricatura nem sempre é uma critica.3.1 Não há erro nenhum. (Por lapso, no caderno do aluno não ocorrem os erros assinalados

em 3.)3.2 O cartoon critica, frequentemente, situações, opiniões etc.

A caricatura nem sempre é uma crítica.A relação que existe entre as duas palavras é de homografia. A diferença na grafia das duaspalavras está na acentuação.

Exemplo: Tenho um selo valiosíssimo.4

3

2

1

Relações entre palavras pág. 9

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5

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Relação de paronímia.5.1 a. descrição

b. discrição

c. comprimentod. cumprimento

e. despensa f. dispensa

g. evasão h. invasão

i. expiarj. espiar

Glossário é um dicionário de vocábulos menos usuais, desactualizados ou específicos de uma área cientí-fica, artística ou outras...

“A complicada estrutura social de algumas espécies de corvídeos obriga a uma pormenorizada com-preensão do meio...”

A palavra “diferente” é antónima dos adjectivos apresentados.

4.1 É a última das quatro frases transcritas.4.2 Os arrumadores distribuem as pessoas no estádio de acordo com o respectivo ingresso.

• Ave é um hiperónimo de corvo, águia, canário.

•Vertebrado é um hiperónimo de réptil e peixe.

• Cérebro é um merónimo de cabeça.

• Corpo é um holónimo de asa.

Estes grupos de palavras são holónimas de “corpo”

ÁRVORE QUARTO LIVRO COMPUTADOR

rato tecladovisor

capapapel lombada

cama colchaarmário

galhoramo tronco

7

unha pata garra

bicobocabraço

6

5

4

3

2

1

Relações entre palavras pág. 10

5

Pagar

Espreitar

Saudação

Fuga

Isenção

Sobriedadea.

f.

g.

d.

j.

i.

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4

É um lugarejo quase desconhecido, situado num espaço paradisíaco.

“pedregulhos”.

“Salário” provém da palavra latina salarium que correspondia, entre os romanos, à quantia em salque era entregue para pagamentos de serviços prestados. O significado da palavra alargou o seuâmbito ao designar outras formas de pagamento, mas o sentido etimológico, no essencial, mante-ve-se. O salário refere hoje a quantia, em dinheiro, que se recebe em troca de trabalho efectua-do.

A partir do nome próprio “El Dorado” formou-se o nome comum “eldorado” que significa,neste contexto, o sonho de riqueza.

Sufixo nominal – climático, proximidades, produtivo;

Sufixo verbal – motivar, valorizar;

Sufixo adverbial – rapidamente.

“a.C.” é uma abreviatura.

humanizar (verbo); humanamente (advérbio); humanidade, humanismo, humanização (nomes).

Exemplo: A desumanidade não é uma característica exclusiva do mundo actual.

Os sufixos “-ista” e “-dor”. Exemplos: dentista, trapezista, oculista; caçador, encadernador, canalizador.

4.1 Estas palavras têm em comum o facto de serem derivadas por sufixação e utilizarem omesmo sufixo,“-idade”.

4.2 O sufixo tem o valor semântico de qualidade ou característica.

Exemplos: televisão, telegrama, telepatia; microfone, saxofone, xilofone.

Computador, software, IBM.

A expressão que lhe corresponde, em português, é “correio electrónico”.

A qualidade de estar atento ao seu utilizador de forma a não ser incomodativo ou inoportuno.Ao ser “atencioso” para com o seu “dono”, deverá ter a noção de quando pode ou não inter-rompê-lo, deverá mesmo saber avaliar se a interrupção se justifica.

8

7

6

5

4

3

2

1

Neologia pág. 14

6

5

4

3

2

1

Neologia pág. 13

Desconhecia que as gralhas também fizessem parte da espécie dos corvídeos. Estas aves foramobjecto de uma investigação, que estudou os seus comportamentos e os comparou com o deoutros animais. Os corvídeos revelam uma imaginação e uma capacidade de prever “causas--efeitos” idênticas à dos primatas, a espécie mais desenvolvida dos mamíferos. Este e outrosestudos permitem concluir que há uma relação entre a dimensão do cérebro e o desenvolvi-mento mental.

8

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5

Sujeito e predicado

1.1

1.2 No texto não se encontram sujeitos compostos. Substitui os quatro primeiros sujeitossimples por sujeitos compostos, introduzindo as alterações necessárias nas orações aque pertencem.a. Amizade e alegria fazem bem.b. Um estudo recente da Universidade de Harvard e outro de Oxford avaliaram 28 mil

pessoas.c. A equipa de Ian Brissette e a sua congénere inglesa vieram provar que os vínculos afec-

tivos são excelentes motivadores.d. Os vínculos afectivos e a curiosidade intelectual são excelentes motivadores.

2

1

A frase e os seus elementos pág. 15

ClassificaçãoConstituição

Predicado

verbo locuçãoverbal verbal nominal

a ab bc c

d de ef fg gh h

i ij jl lm m

S

S

SB

S

S

SB

SB

I

S

S

S

S

a. amizade

b. um estudo recente da Un. de Harvard

c. (um estudo recente...)

d. a equipa de Ian Brissette

e. os vínculos afectivos

f. (os vínculos afectivos)

g. (os vínculos afectivos)

h. (os vínculos afectivos)

i. (estar) só

j. essa teoria

l. provas

m. os amigos

tiposujeito

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2.1a. Também um bom livro ou uma boa música nos fazem companhia.b. Os livros e a música são uma excelente companhia.c. Tu e eu fazemos uma bela equipa.d. Programar as férias em conjunto é sempre divertido.e. A maioria das pessoas gosta_/ gostam de estar com os amigos, o que não impede

que aprecie / apreciem os seus momentos de solidão.*f. As ditas teorias parecem afastadas.g. As ditas teorias parece estarem afastadas.h. Nem eles nem eu esperávamos essa surpresa.i. Antes da publicação do estudo, havia notícias dispersas sobre o assunto.j. Nove décimos dos casos avaliados conduziram à conclusão esperada, apenas um

décimo deixou alguma margem de dúvida.k. Não há ninguém que não saiba fazer este exercício.* A concordância pode aqui estabelecer-se com “a maioria” (concordância gramatical), ou com “... pessoas”

(concordância de sentido).

Outros elementos da frase

E o texto contém 8 complementos directos – FE o texto não inclui nenhum agente da passiva – VE todos os complementos directos são orações completivas – FE o texto não contém nenhum nome predicativo do sujeito – FE dois dos sujeitos são qualificados por atributos – VE o texto não contém nenhum complemento indirecto – V

• Um estudo avaliou-as.• Estabeleceu-a.• Veio prová-lo.• Há-as.• Os amigos poupam-no-las.

• sujeito• complemento directo (na oração infinitiva que desempenha a função de sujeito da frase –

Reencontrar um amigo é bom.)• complemento indirecto• aposto• nome predicativo do sujeito

Complementos circunstanciais

• na sua sede, em Paris _B_• na semana passada _D_• com o objectivo de cativar _A_• condignamente _G_• sobre a Teoria da Relatividade _E_• por terem mudado a forma _F_• no nosso país _B_• a fim de galardoar _A_• actualmente _D_• (licenciados) em Física _E_• menos 15% _C_• entre 1998 e 2002 _D_

1

3

2

1

A – finalidadeB – lugarC – quantidadeD – tempoE – matériaF – causaG – modo

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A ordem dos elementos na frase1.1

a. predicadob. complemento directoc. complemento indirectod. complemento circunstancial de tempo

1.2a. A inversão da ordem sujeito / predicado (núcleo verbal do predicado) acentua a

importância do pedido, sugerindo, neste caso, a sua inutilidade.b. Ao colocar-se o complemento directo em primeiro lugar, exprime-se a sua singularida-

de.c. Tal como no exemplo anterior, a alteração da ordem dos elementos nesta frase restrin-

ge a verdade da afirmação ao elemento assim destacado.d. Em todas as situações, as diferenças registam-se na ênfase que se pretende dar a cada

elemento. (A primeira alteração sublinha que foi hoje que o Luís dormiu toda a manhã,não sendo habitual isso acontecer, a segunda acentua que ele dormiu toda a manhã, nãoapenas até tarde, a terceira destaca as duas circunstâncias de tempo.)

1.3a. Pedi eu as chaves ao meu irmão, e ele esqueceu-se delas.b. A voz dele eu oiço, nenhuma outra.c. Para ti, este filme é bom, não para mim.

• Foi a UNESCO que procedeu, na passada semana, na sua sede, em Paris, à abertura oficial... – odestaque é colocado na entidade responsável pela iniciativa;

• Foi em Paris, na sua sede, que a UNESCO procedeu à abertura... – sublinha-se a importância dacidade;

• Foi na semana passada, na sua sede, em Paris, que a UNESCO procedeu à abertura... – destaca-sea localização temporal;

• Foi à abertura oficial do Ano Mundial da Física que a UNESCO procedeu, na sua sede, em Paris... –o acontecimento é destacado;

• Foi com o objectivo de cativar os jovens para a investigação nesta área que a UNESCO procedeu, nasua sede, em Paris... – realça-se a importância da finalidade;

• Foi (n)uma iniciativa da organização das Nações Unidas para a Ciência e a Cultura que a UNESCOprocedeu, na sua sede, em Paris... – a ênfase é posta na entidade responsável pela iniciativa.

Atrás não torna, nem, como Orfeu, volveSua face, Saturno.Sua severa fronte reconheceSó o lugar do futuro.(...)

Ricardo Reis

• Se colocarmos os elementos de acordo com a ordem natural, teremosSaturno não torna atrás, nem volve sua face, como Orfeu.Sua severa fronte só reconhece o lugar do futuro.

3

Foi na sua sede, em Paris, que a UNESCO procedeu, na passada semana, à abertura oficial doAno Mundial da Física, uma iniciativa da organização das Nações Unidas para a Ciência e a Cul-tura, com o objectivo de cativar os jovens para a investigação nesta área. (...)

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• Assim, uma sucessão de hipérbatos se verifica:atrás não torna atrás não torna ... Saturnonem, como Orfeu, volve / sua facesua severa frontereconhece / só.

• Além de contribuírem para a atmosfera fortemente classicizante dos poemas de RicardoReis, os hipérbatos têm nesta estrofe um valor expressivo mais vasto, acentuando a ideia donão retorno, da absoluta impossibilidade de recuperar o passado.

Atrás não torna, nem, como Orfeu, volveSua face, Saturno.Sua severa fronte reconheceSó o lugar do futuro.(...)

Ricardo Reis

• Se colocarmos os elementos de acordo com a sua ordem natural, teremosAmo as rosas do jardim de Adónis, amo essas rosas vólucres, Lídia,Que o dia em que nascem, em esse dia morrem.

• Assinalaremos, então:– as rosas amo– essas vólucres amo– essas vólucres amo, Lídia, rosas.

• São especialmente violentos os hipérbatos presentes nos dois primeiros versos, a carregarainda mais a nota classicizante que em todos se encontra. Quanto aos elementos realçados,são obviamente as rosas, que surgem (devido ao hipérbato) a iniciar o poema, bem como nofinal do segundo verso, numa posição absolutamente inesperada; neste mesmo verso, é igual-mente significativa a ênfase dada à qualidade que faz que as rosas sejam amadas – a sua efe-meridade.

Os antecedentes dos pronomes relativos assinalados são, respectivamente:– romance – romance – acção – escritor – escritor – dia de Setembro – papelaria– tudo

A Noite do Oráculo, último título do norte-americano Paul Auster, é um romance que sur-preende e cuja acção, a qual inclui várias histórias encaixadas, nos conduz a uma reflexãosobre o tempo.O protagonista é um escritor que acaba de recuperar de uma grave doença e a quem impre-vistos diversos acontecem, desde aquele dia de Setembro em que entrou numa papelariaonde um simpático oriental lhe vendeu o caderno de capa azul, de fabrico português.A partir daí, tudo quanto lhe acontece é extraordinário e desconcertante.

1

Orações relativas pág. 20

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a. explicativab. restritivac. explicativad. explicativae. explicativaf. ambas restritivasg. restritivah. restritiva

Exemplos de frases com orações relativas restritivas:• O cinema onde fomos vai repor o filme “Morte no Nilo”.• O livro que estou a ler é um policial.• Poirot é um detective a quem nenhum criminoso consegue escapar.

Exemplos de frases com orações relativas explicativas:• O filme “Morte no Nilo”, que vimos ontem, foi adaptado de um romance de Agatha Christie.• Poirot, a quem nenhum criminoso consegue escapar, é famoso pelas suas células cinzentas.• O Egipto, onde decorre a acção de “Morte no Nilo”, deve ser um país fascinante.

Quando Peter Fortune tinha 10 anos, os adultos diziam muitas vezes que era uma criança«difícil». Peter nunca percebeu o que isso significava. Não se sentia nada difícil. Não eramais barulhento, mais porco ou mais estúpido do que a maior parte das pessoasque conhecia. Tinha um nome fácil de dizer e de soletrar. O seu rosto, pálido esardento, era facílimo de fixar. Limitava-se a ser tão monstruoso para a irmã comoela era para ele. Segundo lhe parecia, era uma pessoa até bastante fácil.

Ian McEwan, O Sonhador

• difícil – grau normal • criança ; se• mais barulhento, mais porco, mais estúpido do que ... – grau comparativo de supe-

rioridade • Peter (subentendido)• fácil – grau normal • nome• pálido, sardento – grau normal • rosto• facílimo – grau superlativo absoluto sintético • rosto• tão monstruoso... como – grau comparativo de igualdade • Peter (subentendido)• bastante fácil – grau superlativo absoluto analítico • pessoa

– difícil (em... era uma criança «difícil»)

– fácil

– pálido, sardento

– bastante fácil

Quando Peter Fortune e o seu irmão gémeo tinham 10 anos, os adultos diziam muitas vezes queeram crianças «difíceis». Peter e o seu irmão nunca perceberam o que isso significava. Não sesentiam nada difíceis. Não eram mais barulhentos, mais porcos ou mais estúpidos do que a maiorparte das pessoas que conheciam.Tinham uns nomes fáceis de dizer e de soletrar. Os seus ros-tos, pálidos e sardentos, eram facílimos de fixar. Limitavam-se a ser tão monstruosos para a irmãcomo ela era para eles. Segundo lhes parecia, eram pessoas até bastante fáceis.

2

1

O uso do adjectivo pág. 21

3

2

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a. fácil – grau normal • leiturab. fácil – grau normal • livroc. radiante – grau normal • actrizd. preocupante – grau normal • situação gerale. visível – grau normal • felicidadef. proibida – grau normal • entradag. obrigatório – grau normal • uso do cintoh. infalível – grau normal • boletim meteorológico

a. Os livros sugeridos pela Inês eram de fácil leitura.b. Os livros sugeridos pela Inês eram fáceis.

4.1 O adjectivo concorda em número com a expressão nominal a que se associa (respectiva-mente, leitura e livros).

4.2 O adjectivo concorda em género com a expressão nominal a que se associa (a entrada, ouso).

• Ela canta, pobre ceifeira (Fernando Pessoa) B• O sonho é ver as formas invisíveis/da distância imprecisa (Fernando Pessoa) B• Da mais alta janela da minha casa/Com um lenço branco digo adeus/

/ aos meus versos... (Alberto Caeiro) A• Floriram por engano as rosas bravas (Camilo Pessanha) C• os transparentes /matizam uma casa apalaçada (Cesário Verde) C• Eu julgo-me no Norte, ao frio – o grande agente! (Cesário Verde) B• À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica (Campos) A A C• O prazer do momento anteponhamos / à absurda cura do futuro (Reis) A

6.1 Os adjectivos mantêm valor restritivo nas frases b, d e f.

7.1c. Vieram os visitantes, que são curiosos e informados.d. Vieram os visitantes que são curiosos e informados.e. Passeámos nos dias de Outono, que são amenos e tranquilos.f. Passeámos nos dias de Outono que são amenos e tranquilos.

7.2 Nos exemplos c e e, as orações relativas têm valor explicativo, acrescentam uma informa-ção sobre o antecedente, não limitando (restringindo) a veracidade da afirmação; assim, emc afirma-se que “todos os visitantes que vieram são curiosos e informados”, tal como em ese pretende dizer que “os dias de Outono são todos amenos e tranquilos”.Nas frases d e f, as orações relativas têm um valor restritivo, indicando, respectivamente,que “só vieram os visitantes curiosos e informados” e que “apenas passeámos nos dias deOutono amenos e tranquilos”.

a. Só tenho o exemplar manuscrito.b. É difícil, o trabalho manual.c. Comprei os jornais vespertinos.d. Comprei os jornais matutinos.e. Visitámos lindas cidades seculares.f. Valorizo a atitude corajosa.g. Gostei da intervenção entusiástica.h. Rejeitei a hipótese imprevisível.i. Rejeitei a hipótese inadmissível.

8

5

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3

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Exemplos de frases nas quais o adjectivo é usado com valor restritivo:• Encontrei a tua colega insuportável!• Lembras-te daquela situação hilariante?• Fomos à praia nos dias de calor tropical.• Gostas de encontrar soluções imaginativas.• Saímos todos os dias primaveris.• Tens que ver aquela edição ilustrada.

9.1 • Encontrei a tua colega que é insuportável!• Lembras-te daquela situação que foi hilariante?• Fomos à praia nos dias de calor que parecia tropical.• Gostas de encontrar soluções que sejam imaginativas.• Saímos todos os dias que foram primaveris.• Tens que ver aquela edição que é ilustrada.

Já esqueceram e perdoaram? Não. Eles não esquecem e dificilmente conseguirão perdoar.

3.1 “Tem participado na recolha de testemunhos iniciada por Steven Spielberg em 1997.”3.2 A mudança de tempo verbal transmite a noção de que a acção enunciada pelo verbo (par-

ticipar) ainda continua.

Participou na recolha de testemunhos que Steven Spielberg iniciou em 1997.

Faço há seis décadas esta peregrinação maldita.5

4

3

2

1

Verbo – tempo pág. 23

9

TEMPO MODOIndicativo Conjuntivo Condicional Imperativo Infinitivo

Presente

Pretérito Perfeitosimples

Pretérito Perfeitocomposto

Pretérito Imperfeito

Pretérito Mais-que--Perfeito simples

Pretérito Mais-que--Perfeito composto

Futuro Imperfeito

Futuro Perfeito

Particípio passado – esquecido e perdoado

Gerúndio simples – esquecendo e perdoando / composto – tendo esquecido e (tendo) perdoado

esqueço e perdoo

esqueçae perdoe

esqueceriae perdoaria

esquecee perdoa

esquecer

tenho esquecidoe(tenho) perdoado

esqueciae perdoava

esquecerae perdoaratinha esquecidoe(tinha) perdoado

esquecie perdoei

tenha esquecidoe(tenha) perdoado

esquecessee perdoasse

tivesse esquecidoe(tivesse) perdoado

esquecereie perdoarei

esquecere perdoar

terei esquecidoe(terei) perdoado

tiver esquecidoe(tiver) perdoado

teria esquecidoe(teria) perdoado

ter esquecidoe(ter) perdoado

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12

Não é possível ele esquecer o horror. Nesta frase valoriza-se o sujeito (ele), aquele que não conse-gue esquecer o horror.Não é possível esquecer o horror. Nesta frase valoriza-se o acto (esquecer o horror). Ao excluir osujeito, generaliza-se essa incapacidade de esquecer.

Durante muitos anos sonhei com Auschwitz.Quando fui libertado, sonhava, frequentemente, com Auschwitz.Desconfio que sonharei sempre com Auschwitz.Ser feliz é uma impossibilidade para quem sonha com Auschwitz.A minha vida não é um pesadelo, embora sonhe por vezes com Auschwitz.O meu sonho é deixar de sonhar com Auschwitz.

“...se um dia eu não acordasse, era porque tinha morrido em Auschwitz durante a noite.”

“Nunca lá quis voltar...”9.1 O facto de “nunca”, até ao momento presente, lá ter querido voltar não implica que não

venha a querer fazê-lo um dia.9.2 Exemplos: Nunca lá voltarei;

nunca lá hei-de voltar.

“...os meus sonhos têm-me levado para lá, queira ou não queira”.“...os meus sonhos levar-me-ão para lá, queira ou não queira”.“...os meus sonhos levar-me-iam para lá, quisesse ou não quisesse”.

O perfume de S. SalvadorJorge Amado, João Ubaldo Ribeiro e Gregório de Matos amaram a Baía como quem se entrega à

mulher de uma vida. Com as palavras, surpreenderam-na e roubaram-lhe beijos inspirados, retratandoas ruelas, os costumes, a música ou os milagres gastronómicos de uma terra que esconde segredos edeve continuar a preservá-los.

Uma visita a Salvador é também uma viagem pela herança de Portugal e de África e pelo patrimó-nio inato do Brasil.

Quem não quer sair da Baía sem experimentar a água do mar poderá fazê-lo cruzando pontos obri-gatórios como a Praia do Forte, de Arembepe ou Guarajuba. E depois, no sobe e desce da cidade, há oElevador Lacerda, o centro histórico, o Senhor do Bonfim, as ruas empedradas e a Baía de Todos osSantos. São alguns motivos de orgulho para qualquer soteropolitano, a densa e complicada denomina-ção dos simples habitantes de São Salvador. Que também preservam os seus ritos ancestrais recheadosde misticismo, através de mais de 500 terreiros de candomblé, embora os associem às raízes católicaspresentes, por exemplo, na Catedral Basílica, uma das incontáveis igrejas de Salvador com visita obri-gatória.

Imprensa semanal, Janeiro 2005

1.1 Neste contexto, as duas situações em que o pronome antecede o verbo deve-se ao factode as orações em que surgem serem subordinadas.

Jorge Amado amou a Baía. Com as palavras, surpreendeu-a e roubou-lhe beijos inspirados.

Nunca fui ao Brasil embora gostasse de o conhecer.A cidade de S. Salvador é uma das mais emblemáti-cas e não poderia deixar de a visitar. Já ouvi falar dos rituais que se desenrolam nos terreiros de can-domblé mas uma coisa é imaginá-los outra é vê-los. É uma viagem cara, contudo acho que um dia arealizarei. Não me agrada fazer um percurso tão longo de avião, aliás tenho medo, mas vencê-lo-ei, oumelhor, terei de o esquecer se a oportunidade surgir.

3

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Verbo – conjugação pronominal pág. 25

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Jorge Amado não criou uma «Bahia» específica, ela já existia, pairava à deriva, e ele resgatou-a,emoldurou-a.Tal como a enfeitou com muitos «balangandãs» e perfumes sensuais, a vestiu comcores garridas e a exportou como um cartão postal vivo. Povoou isto tudo com figuras comoTeresa Batista, Gabriela, Pedro Arcanjo, o bêbado Quincas, Vadinho e tantos outros que nospreencheriam parágrafos inteiros. Jorge Amado inventou a estampa de um Brasil nordestino,sofrido, lírico, épico, prepotente, desigual. Hoje, o país revê-se na sua obra.

Jorge Henrique Bastos in “Expresso” (texto alterado)

A menina e o jardimEm seus 14 meses de permanência neste mundo, a garotinha não tinha tomado conhecimento das

leis que governam a nação; isso deu-se agora na praça, logo na chamada República Livre de Ipanema.Por um momento seus olhos buscaram o jardim à procura de qualquer novidade. E aí ela descobriu

o verde extraordinário: a grama.Não durou mais que três minutos seu deslumbramento. Da esquina, um crioulão de bigodes, repre-

sentante dos Poderes da República, marchou até ela, buscando convencê-la de que estava desrespeitan-do uma lei nacional, um regulamento estadual, uma postura municipal, ela ia lá saber o quê.

– Desce da grama, garotinha – disse a Lei.– Blá blé bli bá – protestou a garotinha.– É proibido pisar na grama – explicou o guarda.– Bá bá bá – retrucou a garotinha com veemência.A insubmissão da garotinha atingiu o clímax quando o guarda lhe estendeu a mão com a intenção

de a ajudar a abandonar o gramado. A gentileza foi revidada com um safanão.A essa altura levantou-se do banco, de onde assistia à cena, o pai da garota.– A grama só podia ter sido feita, por Deus ou pelo Estado, para ser pisada. Não há sentido em

uma relva na qual não se pode pisar.– Mas isso estraga a grama, cavalheiro!– E daí? Que tem isso?– Se a grama morrer, ninguém a pode mais ver – raciocinou a Lei.– E o senhor deixa de matar sua galinha só porque não a pode mais ver?

Paulo Mendes Campos, “Menina no Jardim” in, Para Gostar de Ler (texto com cortes)

Subclasses do verbo• Os animais jovens são (5) inexperientes• “A degradação do meio natural afecta (3) sobre-

tudo a sobrevivência dos animais jovens”• “Morrerão (2) nas próximas duas décadas.”• Factores ainda desconhecidos têm (6) contribuí-

do para o desaparecimento de golfinhos jovens.• A autora deste artigo dedica (4) o seu tempo ao estudo dos golfinhos do estuário do Sado.• A vida dos pequenos golfinhos é, (7) constantemente, perturbada pelos barcos de recreio.• Os golfinhos jovens têm desaparecido (1) do estuário.

Conjugação perifrásticaO número de golfinhos do estuário do Sado tem vindo a diminuir.

Aspecto3.1 “Encontrei a resposta.” (acção pontual)

Tenho procurado soluções para o problema. (acção durativa)• O que confere à segunda frase essa noção de tempo que se prolonga é a utilização do

tempo composto.

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Verbo – aspecto pág. 27

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1. verbo principal 2. verbo (principal) intransitivo3. verbo (principal) transitivo directo4. verbo (principal) transitivo directo e indirecto5. verbo copulativo 6. verbo auxiliar dos tempos compostos 7. verbo auxiliar da voz passiva

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3.2 Das frases propostas a que dá a noção de um processo concluído é a primeira:A população de golfinhos do estuário do Sado decresceu.• O que lhe confere essa noção é a utilização da perifrástica “tem vindo a...”.

3.3 – O assunto está a ser estudado (acção que ainda decorre);– A maioria dos golfinhos adultos do estuário do Sado começa a estar velha.

(início do processo enunciado pelo grupo verbal);– Temos vindo a tentar evitar o desaparecimento das crias (acção que avança gradualmente);– O salvamento das populações em risco está a concretizar-se (acção em curso).

3.4 • Todos os meses se regista o desaparecimento de jovens golfinhos. A ideia de acção que serepete em vários momentos (frequentativa) é dada pela expressão “Todos os meses”(complemento circunstancial de tempo).

• As fêmeas vão perdendo, ano após ano, a capacidade de reprodução.A noção de acção queavança gradualmente (progressiva) é dada quer pela perifrástica (“vão perdendo”), querpela expressão “ano após ano” (complemento circunstancial de tempo).

• O salvamento desta população passa por ir limpando as águas e desencorajando ameaças. Osentido de acção que se prolonga (durativa) é dado pela conjugação perifrástica dosverbos limpar e desencorajar.

• Actualmente, o estuário do Sado conta com menos de três dezenas de animais. A ideia deacção situada num determinado momento (pontual) é dada pelo tempo verbal utiliza-do (presente do Indicativo) e reforçada pelo advérbio “actualmente” (complemento cir-cunstancial de tempo).

• O decréscimo da população produz-se lentamente. O advérbio “lentamente” (complementocircunstancial de modo) contribui para dar a noção de que o processo enunciado peloverbo é durativo.

"Aquele golfinho está a bater com a cauda na água!"1.1 O facto enunciado nesta frase é apresentado como uma certeza.1.2 Se calhar aquele golfinho está a bater com a cauda na água!

Aquele golfinho parece estar a bater com a cauda na água!

• "Então vamos sair daqui!" é a frase que transmite exclusivamente uma ordem.• Então temos de sair daqui!

Então devíamos sair daqui!A mudança de auxiliar modal nestas duas frases leva a que a primeira indique necessidade e asegunda sugira obrigação.

Talvez seja um sinal de desagrado.• A frase original transmite uma ideia de certeza e a segunda a noção de possibilidade.

Todas exprimem um juízo apreciativo.

Temos de saber recuar nos erros ambientais que têm sido cometidos.Acho que iremos saber recuar nos erros ambientais que têm sido cometidos.Duvido que saibamos recuar nos erros ambientais que têm sido cometidos.É inacreditável que não saibamos recuar nos erros ambientais que têm sido cometidos.

Exemplo: Ouçamos os golfinhos6

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Verbo – modalidade pág. 29

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1.1

Lembro essas manhãs e o brilho fresco da água pelas noites sufocantes de Julho, e o frémito daterra na hora do recomeço. Meu pai, quando parti, disse-me:

–Volta.Minha mãe olhava-me em silêncio, dorida, e todavia serena como se detivesse o fio do meu des-

tino, ou soubesse, da sua carne, que tudo estava certo como a vida: o nascer, o partir, o morrer.–Volta – repetiu ainda o meu pai.Eis que volto, enfim, nesta tarde de Inverno, e o ciclo se fechou. Abro as portas da casa deserta,

abro as janelas e a varanda. (...)Pensei, sofri, lutei. Mas de tudo o que aconteceu é como se nada me tivesse acontecido.Alguém

me incumbiu do que fiz, muito antes de eu nascer, quando outros homens, outra gente, acabavam atarefa que eu havia de começar. Essa tarefa deixo-a aos que vierem depois.

Vergílio Ferreira,“A Carta”, in Contos

1.2 As formas verbais na primeira pessoa exprimem simultaneamente referências pessoais etemporais, ou seja, constituem marcas do eu que fala, e do tempo representado, entendi-do em função do agora em que o texto se produz.

2.1

2.2 As expressões sublinhadas no excerto de Memorial do Convento constituem uma das for-mas de exprimir a proximidade do narrador relativamente às personagens Baltasar e Bli-munda, através das marcas da presença no mesmo espaço e no mesmo tempo.

2.3

Tu vieste a esta casa não porque te dissessem que viesses, mas Blimunda perguntara-te quenome tinhas e tu respondeste, (...) ouviam-se gritar soldados nas muralhas do castelo, fosse(tivesse sido) a ocasião outra, havias de lembrar-te (de ter-te lembrado) da guerra, mas entãosó tinhas olhos para os olhos de Blimunda.

Vim a esta casa não porque me dissessem que viesse, mas Blimunda perguntou-me quenome tinha e eu respondi, (...) ouvem-se gritar soldados nas muralhas do castelo, fosse a oca-sião outra, havia eu de lembrar-me da guerra, mas agora só tenho olhos para os olhos de Bli-munda.

Baltasar foi àquela casa não porque lhe dissessem que fosse, mas Blimunda perguntara-lheque nome tinha e ele respondera, (...) ouviam-se gritar soldados nas muralhas do castelo,fosse a ocasião outra, havia Sete-Sóis de lembrar-se da guerra, mas então só tinha olhos paraos olhos de Blimunda.

(Baltasar) veio a esta casa não porque lhe dissessem que viesse, mas Blimunda perguntara-lhe quenome tinha e ele respondera, (...) ouvem-se gritar soldados nas muralhas do castelo, fosse a ocasiãooutra, havia Sete-Sóis de lembrar-se da guerra, mas agora só tem olhos para os olhos de Blimunda.

José Saramago, Memorial do Convento

Referência deíctica pág. 30

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Ordem crescente do grau de certeza:5 Tenho a certeza de que ela nasceu em 1990.3 Creio que ela nasceu em 1990.2 Talvez ela tenha nascido em 1990.4 É muito provável que ela tenha nascido em 1990.6 Tenho a certeza absoluta de que ela nasceu em 1990.1 É pouco provável que ela tenha nascido em 1990.

Aumentar o grau de certeza:– Penso que vou ficar uma semana em Paris. / É claro que vou ficar uma semana em Paris.– Provavelmente vou encontrar os meus amigos franceses. / Sei que vou encontrar os meus amigos

franceses.– Acho possível que o Miguel venha ainda hoje de Bragança. / O Miguel virá ainda hoje de Bragança.– Tenho algumas dúvidas sobre a eficácia deste trabalho. / Não acredito na eficácia deste trabalho.

Exemplos de afirmações assertivas que traduzem profundas crenças:• Acredito que os valores da paz e da solidariedade acabarão por unir a toda a Humanidade.• Tenho a certeza de que a mentira é uma arma odiosa.• Eu defendo os Direitos Humanos.

4.1 • um convite – David, convido-te a realizares uma exposição oral sobre os Direitos Humanos.• uma sugestão – David, podias preparar uma exposição oral sobre os Direitos Humanos.• um pedido de informação – David, já preparaste a exposição oral sobre os Direitos

Humanos?

Calvin5.1 1.ª vinheta: Professora – directivo; Calvin – assertivo

2.ª vinheta: Calvin – assertivo4.ª vinheta: Professora – directivo; Calvin – expressivo

5.2 Enunciado declarativo para a 3.ª vinheta: Calvin, nomeio-te porta-voz dos alunos pregui-çosos e espertos.

5.3 Enunciado expressivo para a 3.ª vinheta: Calvin, detesto que te armes em engraçadinho!5.4 Na última vinheta há, de facto, um desajuste entre os actos de fala, pois enquanto a profes-

sora interpela os alunos sobre os trabalhos de casa, o aluno responde, com um assuntocompletamente diferente, as reivindicações dos professores. Ele persiste com este assunto,exactamente com a intenção de não responder, de desviar a atenção do problema que nãolhe interessa, pois ele não fez os trabalhos de casa.

Calvin1.ª vinheta: Professora – acto de fala directivo: Mostra-me o teu trabalho.

Calvin – acto de fala compromissivo: Não fiz, mas prometo que amanhã farei.2.ª vinheta: Calvin – acto de fala assertivo: Professora, eu sei que os trabalhos de casa são úteis.3.ª vinheta: Professora – acto de fala expressivo; acto de fala directivo: Lindo menino! E não tens

mais nada a dizer?4.ª vinheta: Calvin – acto de fala expressivo: Desculpe!

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Actos de fala e intenção comunicativa pág. 32

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Excerto de Felizmente Há Luar!7.1 1.º momento: até “como um homem” – Matilde dirige-se ao Marechal.

2.º momento: a partir de “Senhor” – Matilde dirige-se a Deus.7.2 No 1.º momento, Matilde começa por interrogar o Marechal sobre o destino do seu

homem (Gomes Freire). Esta pergunta intensifica-se logo a seguir, através da utilização doimperativo “Diga-me”, repetida e ansiosamente utilizado, a anteceder a pergunta, colocadade forma mais directa e dramática. No 2.º momento, dirigindo-se a Deus, intercede peloseu homem, pedindo a transferência do sofrimento para ela mesma. O pedido é feito gra-dativamente, utilizando as expressões com imperativo – “permite”, “Fazei-me sofrer”, “matai--me” – de sentido cada vez mais forte.

Texto “Sintaxe”8.1 Declaro que são culpados e condenados à morte os réus Joanantão, Filodemo, Marcolino. Agora

podemos viver em paz. Como rei, assino. El-rei D. Bonifácio

Mafalda9.1 O aluno reagiu com manifesta atrapalhação à pergunta da professora sobre as conjugações

verbais.9.2 A atrapalhação é visível ao nível do conteúdo da resposta, pois o aluno foge, evidentemen-

te à resposta que ignora. Além disso, utiliza um discurso algo caótico e torrencial, commuitas frases, algumas suspensas, através das quais se sucedem as afirmações, os pedidos, ashesitações.

9.3 O registo usado pelo aluno não é adequado ao contexto de uma sala de aula em que umaprofessora interroga o seu aluno, pois ele foge à pergunta e, como se estivesse numa outraqualquer situação propõe uma hipotética resposta para mais tarde, através de um telefone-ma que a professora teria que lhe fazer.

Actos de fala assertivos indirectos.– E quanto à ida à praia, concordas com a Inês?– Claro!– Então fica combinado?– Naturalmente!– E achas que ela leva o carro?– Absolutamente!

Actos de fala directivos indirectos.– Não acham que estão a portar-se mal? – Por detrás da pergunta esconde-se uma afirmação de

censura.– Quantas vezes pedi que fizessem os trabalhos de casa? – Por detrás da pergunta esconde-se uma

afirmação de censura– Pode dizer-me as horas, por favor? – A pergunta significa um pedido.

Grau de delicadeza expresso (do menor para o maior).– Dê-me dois pacotes de leite.– Pode dar-me dois pacotes de leite?– Dê-me dois pacotes de leite, se faz favor.– Poderia dar-me dois pacotes de leite, por favor?

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Texto “Namoro”Jacinto, o rapaz, é quem claramente assume o papel mais activo, na relação com Clara. Esse papelde domínio é visível na forma como é ele quem dirige todo o relacionamento e expressa-seatravés do uso sistemático de actos de fala directivos, com verbos no imperativo (assinalados avermelho), bem como na utilização de expressões assertivas (sublinhadas). Umas e outras reve-lam uma posição de domínio e segurança na relação, diferentemente de Clara que se mostramenos segura, receosa, hesitante.

NamoroAproximou-se do palheiro, sentou-se na areia molhada do alvorecer e pôs-se à escuta.– Ouviste, Jacinto? Anda alguém por aí.– Não ouvi nada. Sossega.– Pois eu ia jurar que sim.– Sossega, já te disse. Não foi nada, não ouvi ninguém.Uma vaca mugiu no palheiro e a rapariga soltou outra risada.– Lá torna o diabo da vaca.– Deixa-a mugir. Está a sonhar com algum toiro.– E se o meu pai acorda?– Não acorda tão cedo.Ainda mal se vê.A palha estalou. Presumiu que se tivessem voltado um para o outro.– Temos de casar, Clara.Na voz dela houve uma ponta de ironia e ternura:– O meu pai pensa num lavrador com terras, com dinheiro...– E tu?– Uma boa casa, uma boa lavoura...O rapaz amuou:– Passa por lá muito bem.Devia ter feito menção de se levantar. Um breve tumulto na palha. Depois as palavras repreensi-vas dela:– Tolo. Como se eu te não quisesse mais que a todo o oiro deste mundo.– Vê-se.– E olha que se vê. À espera dum filho teu, estendida nas mesmas palhas do que tu, só nãoverias se fosses cego.

Carlos de Oliveira, Uma Abelha na Chuva

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13Acto de

FalaTipo Directo/indirecto

Intenção comunicativa(objectivo)

Modo verbal

A assertivo directo exprime uma certeza indicativoB assertivo directo exprime uma probabilidade conjuntivoC compromissivo indirecto exprime um compromisso indicativo (futuro)D compromissivo directo exprime uma promessa indicativo (futuro)E directivo directo exprime uma ordem imperativoF directivo indirecto exprime um apelo ou um pedido indicativoG directivo indirecto exprime um pedido indicativoH expressivo indirecto exprime um estado de espíritoI expressivo directo exprime um estado psicológico indicativo

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Coesão textual

As frases transcritas à esquerda apresentam incorreções, não são coesas.1.1 Lê-as, com atenção, e estabelece, com as afirmações à direita, as correspondências que

explicam o erro gramatical que lhes retira a coesão.

Frases coesas

A. Os jovens gostam de ler livros de aventuras nas férias.

B. Os Lusíadas é o nome da epopeia que Camões escreveu.

C. Se ele escrevesse outras epopeias também as leríamos.

D. Quem escreveu Os Lusíadas foi Luís de Camões.

E. A obra de Luís de Camões e a de Fernando Pessoa existem na biblioteca.

F. A Mensagem de Fernando Pessoa é um livro de que eu gosto.

G. Fernando Pessoa respondeu a Mário de Sá-Carneiro numa breve carta.

H. A Mensagem é uma obra-prima, pois é um grande livro.

I. Ele sempre utilizou (por exemplo, a rima).

J. Devido aos seus problemas, a Ana esteve sempre sob observação.

2

1

Coesão textual pág. 38

A. Os jovens gostam de ler livros nas fériasde aventuras.

B. Os Lusíadas é o nome da epopeia queescreveu Camões.

C. Se ele escrevesse outras epopeias tambéma leríamos.

D. Quem escreveu Os Lusíadas é Luís deCamões.

E. A obra de Luís de Camões e a de Fernan-do Pessoa existe na biblioteca.

F. A Mensagem de Fernando Pessoa é umlivro que eu gosto.

G. Fernando Pessoa respondeu para Mário deSá-Carneiro numa breve carta.

H. A Mensagem é uma obra-prima, mas é umgrande livro.

I. Ele sempre utilizou.

J. Devido aos seus problemas, a Ana estevesempre sobre observação.

A conjunção adversativa utilizada estabe-lece uma relação não adequada entre asduas frases.

O sujeito deve preceder o verbo.

O verbo gostar rege a preposição de.

O verbo da frase não rege a preposiçãoutilizada.

Os elementos da frase não estão correcta-mente ordenados.

O tempo verbal utilizado não deve ser opresente.

Uso incorrecto da preposição.

Falta o complemento directo, uma vez queo verbo é transitivo.

Não há concordância entre o pronome e onome.

Não há concordância entre o sujeito e opredicado

E

C

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J

D

A

G

F

B

H

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Coesão interfrásica

Conjunções subordinadas usadas nos quatro depoimentos transcritos:como – relação de comparação;Se – relação de condição;que – relação completiva;que – relação completiva;como – relação de comparação.1.1 Podiam construir lá um museu do fascismo, mas se está abandonado e não fazem nada,

acho melhor construírem o condomínio.1.2 Acho que um local histórico como aquele devia ser preservado para que as pessoas sou-

bessem o que lá se passou.O uso da locução final para que implica a utilização do modo conjuntivo.

D. Quixote de La Mancha é um livro muito conhecido em todo o mundo, mas eu nunca o li etambém não vi o filme, no entanto gostaria de o ver e vou comprá-lo, quer seja caro, querseja barato.

“Escrevo para não viver sem espaço, para que o corpo não morra na sombra fria.” – A. Ramos Rosa

• “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” – Fernando Pessoa

• “Perdi-me dentro de mim porque eu era labirinto.” – Mário de Sá-Carneiro

• “Para que percorres inutilmente o céu inteiro à procura da tua estrela? Põe-na lá. – V. Ferreira

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in Público, 7 Fevereiro, 2005

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para – preposição; estabelece a articulação entre a acção e o objectivo;se – conjunção subordinada condicional; estabelece uma relação de condição;porque – conjunção subordinada causal; estabelece uma relação de causa;Para que – locução conjuncional subordinativa final; estabelece uma relação de fim.3.1 Enquanto a preposição para rege o verbo no infinitivo (viver), a locução conjuncional para

que obriga à utilização do conjuntivo (“morra”).3.2 Para que percorres inutilmente o céu inteiro à procura da tua estrela, se a podes pôr lá?

Transforma os pares de frases simples em frases complexas, estabelecendo, entre elas, e porordem, as seguintes relações: de causa, de consequência, de tempo, de comparação, deconcessão, de condição.Atenção: em alguns casos terás que modificar o verbo.• Gosto de ler, porque a leitura é uma forma de sair dos limites.• Gosto de cinema, por conseguinte, vejo um filme todos os dias.• Gosto de ir à praia quando o sol é intenso.• Gosto de me vestir bem tal como gosto de me sentir à vontade na roupa.• Gosto de viajar, embora não goste de andar de avião.• Gosto de ouvir música se a música for boa.

Texto “Gramática ou Leitura?”5.1 Conjunções e locuções conjuncionais (a negro).5.2 Conectores que estabelecem a coesão entre os diversos parágrafos (sublinha-

dos).

Gramática ou Leitura?Um grupo de investigadores britânicos da Universidade de York acaba de pôr em causa os métodos doensino da Língua Materna no seu país e propõe uma mudança. Segundo estes académicos, o ensino da gramática na primária pode não ser o melhor método para ensi-nar as crianças a escrever, pois consideram não ser um dado adquirido que ensinar a ordem das pala-vras ou a sintaxe contribua para que o aluno desenvolva uma escrita mais fluente e correcta. Propõem,por isso, uma revisão total do sistema de ensino nesta disciplina, a fim de encontrar soluções, quer paraa questão dos programas extensos, que não são cumpridos, quer para o elevado nível de iliteracia dosbritânicos. Os investigadores não só sugerem o método de combinação de frases, das mais simples àsmais complexas mas também insistem na importância da leitura e da escrita. Com este estudo, quem pensava ser o problema da iliteracia exclusivamente português, fica agora asaber que as estatísticas feitas em Inglaterra atestam uma preocupação nacional: 37% das empresas nãoestão satisfeitas com as competências dos seus funcionários, visto que eles revelam um fraco domínioda língua materna.E se em Portugal fosse realizado um estudo semelhante, que conclusões retiraríamos? Todos temosconsciência da enorme iliteracia existente no nosso país, embora faltem os estudos para o atestar eapontar caminhos.

Imprensa semanal, 29 de Janeiro, 2005

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Coesão temporal

Comemoração da libertação de Auschwitz

No dia 27 de Janeiro de 1945, as tropas soviéticas libertaram o campo de extermínio nazi de Aus-chwitz, na Polónia. O macabro genocídio começava então a ser revelado e registado para sempre nosanais da História – um milhão e meio de pessoas, vindas de várias nações, 90% delas judeus, forammortas em Auschwitz. Hoje, o mundo comemora essa data.

Foi em 1940 que o campo começou a ser construído pelos primeiros prisioneiros que ali chegaram, como objectivo traçado pelo comandante das SS, Himmler, de extermínio em massa de judeus. De facto, ummilhão e meio de pessoas foram ali barbaramente assassinadas nas câmaras de gás. Em 1944, no final da guerra, antes da chegada do exército russo, os nazis implodiram as câmaras degás e evacuaram a maioria dos prisioneiros, para apagar os vestígios do Holocausto. Muitos foramtransferidos para o campo de Bergen-Belsen, libertado pelos ingleses em Abril de 1945. Os 65 mil queficaram em Auschwitz já ouviam os tiros dos libertadores quando, a 18 de Janeiro, receberam a ordemdas SS para a retirada, uma longa marcha em que muitos pereceram de exaustão ou mortos a tiro pornão conseguirem andar. Milhares de corpos ficaram espalhados ao longo da rota da morte. Para eles, alibertação chegou muito tarde.Quando os soviéticos libertaram Auschwitz, encontraram ali 5 mil prisioneiros deixados pelos nazis, nasua fuga apressada. Todos eles estavam incapazes de se mover, por estarem fracos, magros, moribun-dos.Hoje, dia 27 de Janeiro de 2005, vários líderes mundiais estão em Auschwitz, para celebrar os 60 anosda libertação do campo. Nascido numa guerra em que muitos milhões de pessoas foram mortas, Aus-chwitz é o símbolo da crueldade humana. Hoje, pela manhã, Simon Wiesenthal, activista dos direitos humanos, lembrou os milhões de vidas queforam destruídas nas câmaras de gás e as suas cinzas espalhadas pelas redondezas e afirmou que aspalavras se tornam pobres para descrever todas as crueldades que ocorreram nesse período, comhomens, mulheres e crianças. Também Elie Wiesel, escritor, vencedor do Nobel da Paz e sobreviventedo Holocausto, se juntou aos líderes mundiais, numa cerimónia evocativa na Assembleia Geral dasNações Unidas, apontando esta tragédia como uma advertência para se prevenirem outras tragédias nopresente e no futuro. Relembrando a libertação de Auschwitz, Elie Wiesel afirmou que se, ao longo des-tes anos, todos tivessem escutado melhor as histórias daquela guerra, as novas tragédias, que ele deno-minou de “outros momentos de escuridão da Humanidade”, poderiam ter sido evitadas. “Nunca mais” é o grito unânime que ainda ecoa daquela Assembleia Geral da ONU.

Imprensa diária, 27 de Janeiro de 2005

Expressões temporais que conferem coesão (sublinhadas).

Conectores temporaisO texto apresenta uma sequencialização muito lógica e cronológica, dada por um conjuntode conectores temporais (preposições, advérbios, outras expressões). Assim, logo no lead danotícia, surge a articulação de dois referentes temporais, um do passado, outro do presente – “Nodia 27 de Janeiro de 1945” e “Hoje”. Essa articulação passado/presente desenvolve-se no corpo danotícia no qual, os três primeiros parágrafos referem o passado, enquanto os três últimos dizem res-peito ao presente.Todos os parágrafos são iniciados por expressões temporais, sendo o advérbio“Hoje” que inicia os parágrafos quarto e quinto, relativos ao presente.Além disso, no conjunto dostrês parágrafos que remetem para o passado podemos observar uma progressão cronológica:1940 Æ 1944 Æ 1945. Outras expressões de tempo organizam o texto do passado para o presentee, finalmente, referenciando o futuro – “apontando esta tragédia como uma advertência para se pre-venirem outras tragédias no presente e no futuro; “Nunca mais”.

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Flexão verbalA par das expressões temporais, uma coerente e adequada flexão verbal articula o passado e opresente. Assim, no lead, como no corpo da notícia, predomina o pretérito perfeito (liberta-ram, foi, começou, chegaram, implodiram, evacuaram, encontraram...) para expressar o passado e opresente do indicativo (comemora, estão, é, tornam, ecoa) para expressar o presente. É claroque, nos parágrafos quatro e cinco, relativos ao presente, é também abundantemente utilizado opretérito perfeito para referir os eventos das comemorações ocorridos no presente, no “Hoje”,mas já realizados e por isso relatados na notícia.

Coesão referencial e lexical

Repetições assinaladas com sublinhado.

Mértola, princesa do GuadianaQuando se iniciaram as escavações arqueológicas na vila de Mértola, não se calculava a riquezaarqueológica e o valor do espólio arqueológico que ao longo de três décadas foi descoberto, estudado eexposto em Mértola. Mértola ganhou mais notoriedade, mais visitantes e mais investimentos que lhepermitiram criar e requalificar estruturas e espaços onde se expõe grande parte do património arqueo-lógico descoberto nas muitas campanhas de escavações realizadas em Mértola.Por isso, visitar hoje Mértola é percorrer as ruas estreitas e sinuosas de Mértola, voltadas para o rioGuadiana, apreciar diferentes paisagens e conhecer a gente e tradições de Mértola, mas também entrarnos museus e conhecer um passado em que a presença árabe teve um papel determinante. A presençaárabe é testemunhada pelo castelo de Mértola, construído sobre antigas estruturas da época árabe. Aedificação de Mértola data de finais do século XIII.

1.1 Em baixo – texto corrigido: repetições, eliminadas e substituídas por pronomes, sinóni-mos ou hiperónimos, de forma a garantir a coesão textual.

Mértola, princesa do GuadianaQuando se iniciaram as escavações em Mértola, não se calculava a riqueza e o valor do espólio arqueo-lógico que ao longo de três décadas aí foi descoberto, estudado e exposto. A vila ganhou mais notorie-dade, mais visitantes e mais investimentos que lhe permitiram criar e requalificar estruturas e espaçosonde se expõe grande parte desse património arqueológico descoberto nas muitas campanhas de esca-vações realizadas na zona.Por isso, visitar hoje Mértola é percorrer as suas ruas estreitas e sinuosas, voltadas para o rio Guadiana,apreciar diferentes paisagens e conhecer a sua gente e as suas tradições, mas também entrar nos museuse conhecer um passado em que a presença árabe teve um papel determinante. Essa presença é testemu-nhada pelo castelo da vila, construído sobre antigas estruturas da época muçulmana. A edificação deMértola data de finais do século XIII.

Texto “Hormonas vão ao cinema”2.2 Hipónimos de filme: comédia, épico, drama, documentário (assinalados a negro).

Hipónimos de hormonas: níveis hormonais, testosterona, progesterona (sublinhados).2.3 Sinónimo de filme: película (vermelho)

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Hormonas vão ao cinemaJá sabíamos que o nosso estado de espírito, depois de vermos um filme, não era o mesmo se tivéssemosvisto uma comédia de Woody Allen ou um épico tão violento como Apocalypse Now. Pois um estudoagora efectuado por uma equipa de psicólogos da Universidade de Michigan, nos EUA, mostra bemcomo o conteúdo da película altera os níveis das hormonas dos espectadores.Para esta conclusão contribuiu um grupo de 60 pessoas, a quem começou por ser mostrado O Padri-nho II, com todo o desfilar de crimes de Don Corleone. Com este filme, o nível de testosterona na sali-va dos homens subiu 30%, enquanto, na das mulheres, até desceu. Depois, foram convidados a ver odrama Pontes de Madison County e, aí, o principal efeito do romance entre Meryl Streep e Clint Eas-twood foi a subida de 10% na progesterona, hormona fundamentalmente feminina. Já um documentá-rio da National Geographic sobre a selva amazónica deixou-lhes os níveis hormonais inalterados.

In “Visão”, Setembro, 2004

A casa de GarrettSoube-se recentemente que a Câmara Municipal de Lisboa aprovou a demolição da casa onde, emDezembro de 1854, morreu Almeida Garrett. É sina nossa, já que, em Lisboa, ou se abandona o que éantigo ou só timidamente se intervém, em trabalhos de reabilitação. Dizem as estatísticas que, aqui,apenas 5% do investimento são canalizados para a recuperação de edifícios, contra os 35% que sãocorrentes nas grandes capitais europeias. Mas isso é outra históriaPor agora, interessa-me notar que a decisão camarária está solidamente escorada na ausência de classi-ficação ou mero instrumento de protecção do edifício. A casa para ali está, ao que parece muito degra-dada e sujeita a depredações e invasões várias, pelo menos desde 1985, quando, por razões comerciais,entrou na esfera patrimonial de uma instituição bancária. Agora, vai dar lugar a um projecto imobiliá-rio […] O que importa é que, durante estes 20 anos, ninguém, com responsabilidades institucionais nomunicípio ou na administração central, achou importante olhar para aquela casa com olhos de ver, ape-sar da lápide que evoca a triste efeméride da morte do poeta, apesar do evidente abandono a que ahabitação esteve sujeita. Quando se deu por isso, já era tarde. Para quê? Por exemplo, para ali ergueruma Casa de Garrett em Lisboa – até porque aquela que, eufemisticamente, é assim conhecida continuaa levar por nome o de D. Maria II, quando já há muito se devia chamar Teatro Nacional de AlmeidaGarrett.A casa onde Garrett morreu não é, na vida do escritor, muito significativa. Não habitou ali muitotempo; não escreveu nela nenhuma das suas obras maiores; não viveu lá momentos relevantes da suaexistência. Foi apenas a última de uma série quase interminável de residências […] Mas, das notíciasque nos chegam, aí terá investido grande parte do seu tempo e cabedais significativos. Tê-la-á antevistocomo a sua última morada? Não se sabe. Mas preocupou-se com o decoração (dos móveis aos repostei-ros, dos tapetes à livraria), embora a tenha gozado pouco: foi lá que morreu, a 9 de Dezembro de 1854.

António Mega Ferreirain “Visão”, Setembro de 2004

3.1 Cadeia referencial de casa:Casa Æ edifício Æ aquela casa Æ habitação Æ ali Æ Casa de Garrett Æ ali Æ nela Æ lá Æúltima de uma série quase interminável de residências Æ aí Æ la Æ morada Æ aÆ lá

3.2 Deícticos espaciais: ali, lá, aí.3.3 Pronomes: nela, la, a.3.4 Almeida Garrett: poeta, escritor.3.5 hiperónimo: decoração; hipónimo: móveis, reposteiros, tapetes, livraria.3.6 Sinónimos: ali, lá.

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Coerência semântica

As frases abaixo transcritas são incoerentes e contêm desajustes que não é raro ouvir.Assinala apalavra responsável pela incoerência e substitui-a pela palavra correcta.• A adolescência é uma fase da vida muito estimulante.• Houve uma enorme adesão à campanha de angariação de fundos.• Com uma aprovação por unanimidade, a Assembleia da República ratificou a proposta apre-

sentada.• Apesar de famosa, a escritora passou desapercebida.• O arquitecto construiu duas moradias geminadas.• Hoje atrasei-me porque há imenso tráfego na auto-estrada.

Incoerências semânticas com objectivos estéticos:• Prossegue a música, e eis na minha infância de repente entre mim e o maestro.

– a infância é materializada, como se de um objecto se tratasse, e essa materialização torna-amais presente, sublinha a sua existência e a sua importância.

• Todo o teatro é o meu quintal.– duas realidades semanticamente diferentes tornam-se equivalentes através da metáfora.

• Por onde um cão verde corre atrás da minha saudade.– a expressão “minha saudade” é usada como se de um brinquedo se tratasse e por isso o

cão (que tem a impossível cor verde) corre atrás dela.• A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos.

– os sonhos são associados a despenhadeiros nos quais a bola se precipita.• No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,/ Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa

nenhuma.– o não conhecimento é equivalente à saúde, como se o pensamento fosse uma doença (da

alma).• Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!…

– o passado materializado, concretizado, de forma a poder ser metido na algibeira como umobjecto querido ou roubado.

Incoerência:• Como ele detesta andar a pé, caminhou, deliciado, ao longo do areal.

– Há uma evidente contradição entre a primeira e a segunda oração, pois a conjunção causalcomo implica uma relação de causa-efeito sem sentido na afirmação transcrita que contémuma contradição.

• Estou cheia de frio porque é Verão.– A contradição semântica é evidente pois frio e Verão opõem-se e por isso a relação causal

aqui é inadequada.

Coerência sintáctica

Incoerências sintácticas• Tratam-se, de uma maneira geral, de apartamentos lindíssimos.

– O verbo tratar-se é aqui um verbo impessoal e, por isso, deve utilizar-se na 3.ª pessoa dosingular.

• Ainda existe muitas pessoas que precisam de casa.– O verbo existir (predicado) deve concordar com o sujeito (muitas pessoas)

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Coerência textual pág. 45

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• No futuro haverão muitas casas tão boas como essas.– O verbo haver é aqui um verbo impessoal e, por isso, deve utilizar-se na 3.ª pessoa do sin-

gular.• Fazem dez anos que mudei para a casa onde vivo.

– O verbo fazer é aqui um verbo impessoal e, por isso, deve utilizar-se na 3.ª pessoa do sin-gular.

• Em Portugal precisam-se muito de casas novas.– O verbo precisar-se é aqui um verbo impessoal e, por isso, deve utilizar-se na 3.ª pessoa do

singular.• A casa é muito boa, porém gostei bastante dela.

– Há uma evidente incoerência sintáctica entre a primeira e a segunda oração, pois a conjun-ção adversativa porém estabelece uma relação de oposição e não de causa-efeito comoseria coerente nesta frase.

• Em todas as casas há excelentes roupeiros, por conseguinte o Filipe não comprou nenhuma.– Há uma evidente incoerência entre a primeira e a segunda oração, pois a conjunção con-

clusiva por conseguinte estabelece uma relação de conclusão ou de consequência e não decausa, como seria coerente nesta frase.

• Eu perguntei a ele se queria ser meu namorado.– Deve ser usado o pronome pessoal complemento indirecto – lhe.

Frases coerentes.• Trata-se, de uma maneira geral, de apartamentos lindíssimos.• Ainda existem muitas pessoas que precisam de casa.• No futuro haverá muitas casas tão boas como essas.• Faz dez anos que mudei para a casa onde vivo.• Em Portugal precisa-se muito de casas novas.• A casa é muito boa, por isso gostei bastante dela.• Em todas as casas há excelentes roupeiros, no entanto o Filipe não comprou nenhuma.• Eu perguntei-lhe se queria ser meu namorado.

Coerência estilística e adequação comunicativa

Texto de Vergílio FerreiraO texto de Vergílio Ferreira é coerente, apesar da utilização de dois registos de língua, dife-rentes, pois cada um deles está adequado ao estatuto sócio-cultural de quem o utiliza. Assim, osemeador usa um registo corrente, com uma ou outra expressão popular, enquanto o narradorusa um registo literário.

Texto de José Saramago2.1 Ambas as personagens utilizam um discurso inadequado à situação. Tal inadequação está

presente sobretudo no discurso do homem, porque utiliza um registo de língua familiar,tratando o rei por tu e, além disso, não utiliza qualquer fórmula de delicadeza, mais pare-cendo que está a dar ordens ao rei. O rei, porque usa também um registo nada formal,colocando-se ao mesmo nível do homem. Esta intencional inadequação visa colocar as per-sonagens ao mesmo nível, independentemente da sua posição social, pois rei e homem sãoiguais, ambos humanos na sua condição incontornável.

2.2 Diálogo adequadoUm homem foi bater à porta do rei e disse-lhe Majestade, imploro-vos que me deis um barco.Sim, vim aqui para pedir-vos um barco E tu quem és, para me fazeres tal pedido, E vós, Majestade,quem sois, para que não mo deis, Eu sou o rei deste reino, e os barcos do reino pertencem-metodos, Mais lhes pertencereis vós a eles do que eles a vós, Que queres dizer, perguntou o rei, inquie-to, Que vós, Majestade, sem eles, não sois nada, e que eles, sem vós, poderão sempre navegar.

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Texto AO texto parte do tema “Ser assertivo é ser afirmativo” que é apresentado logo no início. Depois otema é desenvolvido, progride, apresentando sempre nova e articulada informação ao nível da carac-terização da assertividade.Assim:

Ser assertivo é ser afirmativo3Ser assertivo é essencial na relação connosco e com os outros3

Assertividade é afirmação dos direitos e deveres3Ser assertivo é ser capaz de reconhecer o essencial sem autoritarismo3

Ser assertivo reforça a confiança em nós e nos outros3Assertividade é verdade e aceitação dos outros.

Texto BO texto corresponde a uma narrativa organizada cronologicamente. Assim, no primeiro parágrafo,utilizando o pretérito imperfeito (guinchava, aproveitava, eram) corresponde a um tempo durativode caracterização do comportamento da personagem gato. Já o segundo parágrafo, utilizando o pre-térito perfeito (comeu, demorou), corresponde a um tempo posterior, a um momento concreto, ini-ciado pela expressão “um dia”.A última frase funciona como uma espécie de conclusão – a memóriaque no gato ficou daquele dia.

Texto CRepare-se na progressão:primeiro em cadeia (rebanhos Æ rebanho Æ pensamentos Æ pensamentos Æ sensações);depois, partindo do todo para as partes (sensações Æ olhos, ouvidos, mãos, nariz, boca).Assim:

Sou um guardador de rebanhos.O rebanho é os meus pensamentosE os meus pensamentos são todos sensações.

3Olhos, ouvidos, mãos/pés, nariz, boca

Discurso indirecto de “História Exemplar” de Mário-Henrique LeiriaEntrei e o Senhor Director disse-me que tirasse o chapéu.Tirei o chapéu e o Senhor Directorordenou que me sentasse. Sentei-me e o Senhor Director, investigador, perguntou-me o quedesejava. Levantei-me, pus o chapéu e dei duas latadas no Senhor Director.

Discurso indirecto livre (sublinhado)No excerto, Eça utiliza o discurso indirecto livre para, sempre com ironia, nos fazer ouvir Dâma-so, e a sua maneira ridícula de falar, ao mesmo tempo que aproxima o discurso no narrador dalinguagem falada, o que lhe confere vivacidade.

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Discurso directo, indirecto e indirecto livre pág. 49

Progressão temática pág. 47

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– Ora está Sua Excelência restabelecida! – exclamou Dâmaso, atirando para o lado o jornal. –Pois deixa estar que, agora, é a ocasião de lhe dizer na cara o que penso... Aquele pulha!

– Tu exageras – murmurou Carlos, que se apoderara vivamente do jornal, e relia a notícia.– Ora essa! – exclamou Dâmaso, erguendo-se. – Ora essa! Queria ver, se fosse contigo... É uma

besta! É um selvagem!E repetiu mais uma vez a Carlos essa história que o magoava. Desde a sua chegada de Bordéus,

logo que o Castro Gomes se instalara no Hotel Central, ele fora deixar-lhe bilhetes duas vezes – aúltima na manhã seguinte ao jantar do Ega. Pois bem, Sua Excelência não se dignara agradecer a visi-ta! Depois eles tinham partido para o Porto; fora aí que, passeando só na Praça Nova, vendo a pare-lha de uma caleche desbocada, duas senhoras em gritos, Castro Gomes se lançara ao freio dos cava-los – e, cuspido contra as grades, tinha deslocado um braço.Teve de ficar no Porto, no hotel, cincosemanas. E ele imediatamente (sempre com o olho na mulher) mandara-lhe dois telegramas: um desentimento, lamentando; outro de interesse, pedindo notícias. Nem a um, nem a outro, o animal res-pondeu!

Eça de Queirós, Os Maias

Excerto de Memorial do Convento3.2 Reescrita com sinais gráficos

Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar.Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôralguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia queestava comendo a luz, e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis dizer:– Por que foi que perguntaste o meu nome? – E Blimunda respondeu:– Porque minha mãe o quis saber e queria que eu o soubesse.– Como sabes, se com ela não pudeste falar? – Sei que sei, não sei como sei, não faças perguntas a que não posso responder, faze como fizes-

te, vieste e não perguntaste porquê.– E agora?– Se não tens onde viver melhor, fica aqui.– Hei-de ir para Mafra, tenho lá família, Mulher, Pais e uma irmã.– Fica, enquanto não fores, será sempre tempo de partires.– Por que queres tu que eu fique?– Porque é preciso.– Não é razão que me convença.– Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar.– Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto.– Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei.– Olhaste-me por dentro.– Juro que nunca te olharei por dentro.– Juras que não o farás e já o fizeste.– Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro.– Se eu ficar, onde durmo?– Comigo.

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3.3 Discurso indirecto.

Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar.Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôralguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia queestava comendo a luz, e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis perguntar a Blimunda porque razão tinha perguntado o seu nome, e Blimunda respondeu que tinha sido a sua mãe que oquisera saber e que ela mesma o soubesse. Ele perguntou como sabia aquilo se não pudera falarcom a mãe e Blimunda respondeu que não sabia nem como sabia e que não lhe fizesse pergun-tas a que não podia responder, que fizesse como fizera, que tinha vindo e não perguntara por-quê. Baltasar perguntou o que aconteceria então e ela respondeu que se não tinha onde vivermelhor, ficasse ali. Ele disse que havia de ir para Mafra, que tinha lá família, Mulher, Pais e umairmã. Ela insistiu que ficasse, enquanto não fosse, que seria sempre tempo de partir. Ele quisentão saber por que queria ela que ele ficasse, respondendo ela que era preciso. Baltasar afirmouque não era razão que o convencesse e ela respondeu que se ele não quisesse ficar, se fosseembora, não o podia obrigar, mas ele respondeu que não tinha forças que o levassem dali, queela lhe havia deitado um encanto. Blimunda protestou que não, que não dissera uma palavra, quenão lhe tocara e Baltasar respondeu que ela o tinha olhado por dentro. Então Blimunda jurouque nunca o olharia por dentro e ele desmentiu, afirmando que ela jurava mas já o tinha feito.Blimunda respondeu que ele não sabia de que estava a falar, que não o olhara por dentro. Eleentão perguntou onde dormiria se ficasse e ela respondeu que dormiria com ela.