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Produção Vegetal - Culturas CANA-DE-AÇUCAR José Marcos Garrido Beraldo Eng. Agrônomo

Cana-de-A.ucar - 2006 - CPEA - Agrocursos · APOSTILA DE CANA-DE-AÇÚCAR 1. Histórico da Cana-de-Açúcar . 3 ... bovinos, da cana e de produtos florestais, ficando a de frutas,

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Produção Vegetal - Culturas

CANA-DE-AÇUCAR

José Marcos Garrido Beraldo Eng. Agrônomo

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São Carlos, 2007

DISCIPLINA: CULTURAS SEMI-PERENES

APOSTILA DE CANA-DE-AÇÚCAR

1. Histórico da Cana-de-Açúcar

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Origem da atividade

A provável origem da cana-de-açúcar é o Norte da Índia.

Em meados da década e 70, o Brasil tornou-se vulnerável no campo energético, devido a alta no preço do petróleo no mercado internacional. Surgiu então, o Proálcool, com a finalidade de produzir e etanol ou álcool etílico, um combustível alternativo, ecológico e renovável para a substituição da gasolina, com o objetivo de reequilibrar a balança comercial, reduzindo a evasão de divisas.

1.2. Importância da atividade

A cana é uma gramínea, cujo potencial, variado e complexo, ainda pode ser muito explorado.

A cana é, em si mesma, usina de enorme eficiência: cada tonelada tem um potencial energético equivalente ao de 1,2 barril de petróleo. O Brasil é o maior produtor do mundo, seguido por Índia e Austrália. Na média, 55% da cana brasileira vira álcool e 45%, açúcar. Planta-se cana, no Brasil, no Centro-Sul e no Norte-Nordeste, o que permite dois períodos de safra. Plantada, a cana demora de ano a ano e meio para ser colhida e processada pela primeira vez. A mesma cana pode ser colhida até cinco vezes, mas a cada ciclo devem ser feitos investimentos significativos para manter a produtividade.

Existem atualmente 320 usinas existentes no Brasil, o setor canavieiro gera 1 milhão de empregos diretos, utilizando cana que ocupa 5 milhões de hectares de terra, com cerca de 60.000 fornecedores. São usinas e destilarias que processam a biomassa proveniente da cana-de-açúcar e que alimentam um círculo virtuoso: produzem açúcar como alimento, energia elétrica vinda da queima do bagaço nas caldeiras, álcool hidratado para movimentar veículos e álcool anidro para melhorar o desempenho energético e ambiental da gasolina.

O atual cenário de expansão do mercado internacional de açúcar e álcool e as perspectivas de aumento da participação do Brasil podem ser considerados como fatores motivadores da expansão da exploração da cultura no Estado de São Paulo. Segundo o IEA (2006), na safra 2005/06 houve um recorde em produção, cegando a 436,8 milhões de hectares com a cultura. No estado de São Paulo a produção chegou a 266,5 milhões de toneladas. A área plantada cresceu 4,5% em relação a safra anterior.

No centro-sul do Brasil, concentra-se 85% da área cultivada com a cultura e a safra vai de abril a novembro. No Norte e Nordeste: 15% da área e a safra vai de setembro a março.

Os principais destaques nas exportações do agronegócio paulista foram as cadeias de produção de bovinos, da cana e de produtos florestais, ficando a de frutas, principalmente suco de laranja para o quarto lugar, invertendo a ordem com o terceiro colocado em relação a 2003, segundo o IEA - Instituto de Economia Agrícola.

1.3. Reprodução

A cana-de-açúcar pode reproduzir-se por sementes (sexuada) ou por brotação de gemas (assexuada). A via sexuada é fortemente influenciada por fatores como localização geográfica e variáveis climáticas. Essa possibilidade efetiva-se apenas em estações experimentais que operam programas de melhoramento genético para a obtenção de novas variedades.

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Em condições de produção industrial, o processo baseia-se na brotação de gemas de plantas sadias de variedades selecionadas, por apresentar características de interesse industrial. Nesse sistema, a cana-de-açúcar, uma vez colocada em contato com o solo, picadas em toletes no sulco de plantio ou não, em condições favoráveis de umidade e temperatura, brota através das gemas, as quais irão formar uma nova parte aérea e prosseguir o seu desenvolvimento vegetativo. O corte do colmo em toletes é realizado com o objetivo de facilitar a inserção do rizoma no sulco de plantio, visto que muitos se apresentam recurvados, e evitar possível interferência da gema apical, que poderia inibir a germinação de outras gemas (efeito hormonal). O início da brotação das gemas também é acompanhado pela formação inicial do sistema radicular, em que finas e numerosas radicelas vão evoluindo, formando um sistema radicular completo do tipo fasciculado, cujas dimensões são variadas, dependendo da variedade, preparo e tipo de solo e do número de cortes. Na maioria dos casos, 70% do sistema radicular encontra-se nos primeiros 45cm de profundidade, o que faz com que todas as preocupações recaiam sobre esta faixa de perfil do solo.

O colmo assume forma cilíndrica, de diâmetro e comprimento variado. É fibroso e com teor de açúcar variando principalmente em decorrência de fatores hídricos e térmicos. É constituído por nós entrenós, que podem ser de diversas formas, porém a mais comum é a cilíndrica. Sua parte mais mole (entrenós) é onde se acumula a maior parte da sacarose.

Os nós, geralmente são mais duros, com baixa concentração de sacarose, e possuem importantes características para a identificação de variedades, como: cicatriz foliar, gemas (podem ser apical ou subapical), região ponteada (formação do sistema radicular), região cerosa, abaixo da cicatriz foliar (glauca) anel de crescimento.

As folhas formam-se e apóiam-se na base dos nós. São alternadas, com tonalidades variadas de verde, conforme as características das variedades. Apresentam comprimento e largura variados e como funções principais destacam-se a realização da fotossíntese e a transpiração (a função é manter a temperatura no interior da planta em níveis suportáveis).

A cana-de-açúcar, de acordo com a variedade e estímulos climáticos, pode emitir inflorescência em forma de panícula, sendo que as espiguetas aparecem aos pares, com pêlos sedosos característicos. O ovário tem forma ovalada e contém um único óvulo.

1.4. Composição Química e Tecnológica

Dentre os fatores que influenciam a composição química da cana-de-açúcar, destacam-se o clima, solo, adubação, infestações de plantas daninhas, pragas, doenças, variedades, dentre outros. As variedades comerciais, de um modo geral, apresentam características de composição tecnológica que variam dentro de certos limites restritos, conforme apresentados a seguir:

A cana é composta, em média, de 65% a 75% de água, mas seu principal componente é a sacarose, correspondendo de 70% a 91% de seus sólidos solúveis. A planta também contém glicose (de 2% a 4%), frutose (de 2% a 4%), sais (3% a 5%), proteínas (0,5% a 0,6%), amido (0,001% a 0,05%), ceras e graxas (0,05% a 0,15%) e corantes (3% a 5%).

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Fibra Celulose

(8-18%) Lignina

Pentosanas

Caldo Água (75- 82%)

(86-92%)

Sólidos Solúveis Açúcares Sacarose (12-18%)

(18-25%) (15,5- 27%) Glicose (0,2 -1%)

Frutose (0 – 0,5%)

Não açúcares Orgânicos Aminoácidos

(8-18%) Ácidos

Ceras

Corantes Gorduras

Inorgânicos SiO, K2O, P2O5, CaO, MgO, N2O, Fe2O3, SO3.

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1.5. Escolha das Variedade de Cana-de-Açúcar

Um dos pontos que merece especial atenção do agricultor é a escolha do cultivar para plantio. Isso não só pela sua importância econômica, como geradora de massa verde e riqueza em açúcar, mas também pelo seu processo dinâmico, pois anualmente surgem novas variedades, sempre com melhorias tecnológicas quando comparadas com aquelas que estão sendo cultivadas. Dentre as várias maneiras para classificação dos cultivares de cana, a mais prática é quanto à época da colheita.

As variedades de cana-de-açúcar são híbridos complexos, desenvolvidos de forma a apresentar as seguintes propriedades:

Maior produção de açúcar /unidade de área; Resistência a pragas e doenças; Resistência a aplicação de herbicidas/inseticidas; Longevidade; persistência da produtividade ao longo dos sucessivos cortes; Adaptação a solos e climas diversos; Resistência ao tombamento; Porte ereto; Despalha(separação facilitada da palha do colmo) Resistência ao pisoteio; Não ocorrência de florescimento e isoporização; Fechamento rapido das entrelinhas (vel. Crescim); Resistência de microorganismos deteriadores; Maior eficiência de absorção de maturadores; Diferenciação na resposta com colheita manual/mecanica; Atendimento as exigências tecnológicas

A Tabela abaixo traz a área e proporção das variedades na intenção de plantio 2005/2006. (Amostragem de 14 usinas participantes do grupo fitotécnico).

CANA DE ANO CANA 18 MÊSESVariedade TOTAL (ha) % Variedade TOTAL (ha) %

1 RB855453 1962.2 21.66 1 RB867515 14527.7 21.492 SP77-5181 1348.0 14.88 2 SP83-2847 7046.1 10.423 RB867515 912.7 10.07 3 RB855156 6034.0 8.924 SP91-1049 837.6 9.25 4 RB855453 5206.2 7.705 SP80-1842 793.2 8.76 5 SP81-3250 4942.2 7.316 SP80-1816 447.2 4.94 6 SP91-1049 3588.7 5.317 RB72454 425.3 4.69 7 RB72454 3386.6 5.018 IAC87-3396 339.0 3.74 8 SP80-1842 2701.6 4.009 SP89-1115 338.0 3.73 9 SP80-3280 2586.1 3.8210 RB855536 334.3 3.69 10 SP87-365 2185.7 3.2311 SP80-3280 274.4 3.03 11 SP79-1011 2012.0 2.9812 RB925345 233.3 2.58 12 RB928064 1139.9 1.6913 SP81-3250 197.7 2.18 13 IAC87-3396 1116.3 1.6514 SP87-365 119.5 1.32 14 SP80-1816 835.2 1.2415 SP87-344 81.4 0.90 15 SP87-344 772.4 1.1416 IACSP94-2094 57.7 0.64 16 RB835486 771.8 1.1417 SP79-1011 55.7 0.62 17 RB855536 685.0 1.0118 SP90-3414 55.7 0.62 18 IACSP93-6006 641.0 0.9519 SP83-2847 47.3 0.52 19 SP77-5181 570.0 0.8420 RB855156 42.0 0.46 20 RB845210 503.7 0.7421 SP90-1638 31.3 0.35 21 IACSP94-2094 470.5 0.7022 IACSP94-4004 31.0 0.34 22 SP90-3414 443.6 0.6623 IAC91-3186 22.5 0.25 23 PO88-62 423.6 0.6324 CTC5 15.0 0.17 24 SP89-1115 416.4 0.6225 RB835486 14.1 0.16 25 RB855035 396.0 0.5926 IACSP93-3050 12.9 0.14 26 RB876030 369.5 0.5527 RB885643 10.5 0.12 27 RB835054 312.3 0.4628 IAC91-2195 8.6 0.10 28 SP86-155 298.1 0.4429 CTC1 7.8 0.09 29 RB925268 281.1 0.4230 SP86-155 3.0 0.03 30 IAC91-2195 246.3 0.36

TOTAL 9058.8 100.00 31 CTC2 240.6 0.36

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Ambiente de produção (*) Cultivar Destaque A B C D E

RB72454 produtividade RB835054 riqueza / PUI longo RB835486 riqueza RB845210 riqueza / rusticidade

RB855035 precocidade / rusticidade

RB855036 densidade carga RB855113 porte e fechamento RB855156 precocidade RB855453 riqueza / precocidade RB855536 brotação de soca RB867515 rusticidade RB928064 rusticidade RB925211 riqueza / produção RB925268 colheita mecanizada RB925345 riqueza / fibra RB935744 rusticidade

1.6. Ambiente de Produção

Entende-se por ambiente de produção a interação entre planta-solo e clima, associada ao manejo agrícola, cujos resultados são utilizados para as indicações mais favoráveis dos clones e/ou variedades.

O manejo pode ser aplicado a cada um dos três componentes, porém aquele com resposta mais rápida é o solo. Assim, ao submeter um solo a um dado nível de manejo, sua capacidade produtiva pode ser alterada para mais ou para menos, dependendo da intensidade de aplicação desses processos.

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Tabela 1. Classificação dos ambientes de produção na cultura da cana-de-açúcar.

Ambiente Potencial de produção Produtividade (t/ha) A Muito alto >95 B Alto 90-95 C Médio/Alto 85-89 D Médio 80-84 E Baixo 70-79 F Muito baixo <70

1.6. Exigências agroclimáticas e de solo da cana-de-açúcar

A cana-de-açúcar caracteriza-se por se adaptar plenamente a climas tropicais, quentes e úmidos, com temperaturas entre 19 a 32ºC e índices pluviométricos de aproximadamente 1.000 mm anuais bem distribuídos. No transcorrer do seu desenvolvimento, a cana de açúcar possui dois períodos distintos: o de crescimento vegetativo e o de maturação. O período caracterizado pelo desenvolvimento vegetativo é favorecido pelo clima úmido e quente. O período de maturação é estimulado pelas condições de clima frio e seco. Dessa forma existem períodos mais adequados para o plantio, tratos culturais e cana-planta, cana soca e colheita.

A luminosidade exerce influência no crescimento vegetativo e na maturação, pois estabelece correlação direta com a síntese, translocação e acúmulo de carboidratos das folhas para o colmo.

Nas áreas mais afetadas pelas geadas, torna-se necessário o cultivo de variedades mais resistentes ao frio, ou o emprego de medidas de defesa preventiva, evitando o plantio em terrenos de baixada ou fundo de bacias mal drenadas.

Em termos de fertilidade pode-se considerar como solo ideal aquele que apresente atributos assim definidos: solos arejados, profundo, não muito secos nem muito úmidos, de boa fertilidade, e pH em CaCl2 variando de 5,2 a 6,0. Quanto à textura, a cana adapta-se em quase todos os tipos de solo.

1.4.3- Preparo do solo

1.4.3.1- Preparo convencional do solo

Tendo a cana-de-açúcar um sistema radicular profundo, um ciclo vegetativo econômico de quatro anos e meio ou mais e uma intensa mecanização que se processa durante esse longo tempo de permanência da cultura no terreno, o preparo do solo deve ser profundo. Convém salientar que as

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unidades sucroalcooleiras não seguem uma linha uniforme de preparo do solo, tendo cada uma seu sistema próprio, variação essa que ocorre em função do tipo de solo predominante e da disponibilidade de máquinas e implementos. No preparo do solo, temos de considerar duas situações distintas: - se a cana for implantada pela primeira vez; - se no terreno já estiver ocupado com cana. No primeiro caso, faz-se uma aração profunda, com bastante antecedência do plantio, visando à destruição, incorporação e decomposição dos restos culturais existentes, seguida de gradagem, com o objetivo de completar a primeira operação. Em solos argilosos é normal a existência de uma camada impermeável, a qual pode ser detectada através de trincheiras abertas no perfil do solo, ou pelo penetrômetro. Constatada a compactação do solo, seu rompimento se faz através de subsolagem, que só é aconselhada quando a camada adensada se localizar a uma profundidade entre 20 e 50 cm da superfície e com solo seco. Sintomas do solo, visuais ou mais perceptíveis de compactação

formação de crostas; trincas nos sulcos de rodagem dos tratores; zonas endurecidas abaixo da superfície; água estagnada; erosão fluvial excessiva; aumento da energia gasta pelas máquinas de preparo do solo e cultivo; presença de resíduos de culturas não decompostos depois de meses de incorporação.

Sintomas na planta perceptíveis da compactação

queda no índice de emergência ; grande variação no tamanho das plantas (ondulações); folhas amarelecidas; sistema radicular raso; raízes deformadas; grande diferença de crescimento, quando se considera os períodos secos e úmidos

Nas vésperas do plantio, faz-se nova gradagem, visando ao acabamento do preparo do terreno e à eliminação de ervas daninhas. Na segunda situação, onde a cultura da cana já se encontra instalada, o primeiro passo é a destruição da soqueira, que deve ser realizada logo após a colheita. Essa operação pode ser feita por meio de aração rasa (15-20 cm) nas linhas de cana, seguidas de gradagem ou através de gradagem pesada, enxada rotativa ou uso de herbicida. Se confirmada a compactação do solo, a subsolagem torna-se necessária. Nas vésperas do plantio procede-se a uma aração profunda (25-30 cm), por meio de arado ou grade pesada. Seguem-se as gradagens necessárias, visando manter o terreno destorroado e apto ao plantio. Devido à facilidade de transporte, à menor regulagem e ao maior rendimento operacional, há uma tendência das grades pesadas substituírem o arado.

1.4.3.2-Cultivo mínimo ou plantio direto

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O plantio direto é uma técnica de cultivo conservacionista na qual procura-se manter o solo sempre coberto por plantas em desenvolvimento e por resíduos vegetais. Essa cobertura tem por finalidade protegê-lo do impacto das gotas de chuva, do escorrimento superficial e das erosões hídrica e eólica. Existem diversos sinônimos ou termos equivalentes para plantio direto: plantio direto na palha, cultivo zero, sem preparo, cultivo reduzido, entre outros. Efetivamente, poderia considerar-se o plantio direto como um cultivo mínimo, visto que o preparo do solo limita-se ao sulco de semeadura, procedendo-se à semeadura, à adubação e, eventualmente, à aplicação de herbicidas em uma única operação.

• Eliminação/redução das operações de preparo do solo; • Uso de herbicidas para o controle de plantas daninhas; • Formação e manutenção da cobertura morta; • Rotação de culturas.

1.3. Aspectos da cana-de-açúcar e do solo

1.4.1 – Análise química do solo

A análise química do solo é a principal ferramenta para se avaliar a fertilidade do mesmo e, conseqüentemente, a necessidade de correção e adubação para suprir as exigências nutricionais da cana-de-açúcar. As operações necessárias para essa avaliação podem ser divididas em 3 etapas: Amostragem de campo, análise laboratorial, interpretação dos resultados e recomendações.

1.4.2. Calagem do solo

A calagem do solo constitui-se em importante operação agrícola que se justifica por: corrigir a acidez do solo, aumentar os teores disponíveis de Ca e Mg no solo, reduzir teores elevados e tóxicos de Al e Mn.

Em relação à quantidade de calcário a ser aplicada, deve-se empregar a fórmula abaixo e elevar a saturação por bases para 60%.

N.C=(60-V)*T/PRNT

O calcário deve ser aplicado o mais uniforme possível sobre o solo e o mais profundo possível, até 40cm, principalmente em solos argilosos. Trabalhos têm indicado que o cálculo teórico na NC não corresponde ao aumento da saturação por bases desejada. Devido a esse fato tem-se aplicado 20% a mais do que é recomendado. O uso do gesso auxilia na recuperação química do solo em profundidade, além de fornecer cálcio e enxofre à cultura. No plantio e nas soqueiras. A Tabela mostra as quantidades recomendadas.

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Tabela. Quantidade aproximada de gesso a ser aplicada de acordo com a CTC e V% do subsolo.

CTC (mmolc/dm3) V% Gesso (t/ha) <10 2

Menor 30 10-20 1,5 20-35 1 <10 3

30-60 10-20 2 20-35 1,5 <10 3,5

60-100 10-20 3 20-35 2,5

Análise de 20-40cm. O gesso deve ser aplicado em seguida do calcário. Em plantio direto recomenda-se aplicar 2/3 em área total e 1/3 dentro do sulco. Trabalhos demonstram que há necessidade de aplicar novamente os corretivos no meio do ciclo da cultura. Quando a V% estiver maior que 45% na camada superficial, usa-se o calcário para elevar para 60%, quando esse valor estiver menor que 40% na subsuperfície utiliza-se o gesso. Os insumos devem ser aplicados em área total, na superfície do solo e, quando possível, incorporado ligeiramente, por ocasião do cultivo.

A época mais indicada para aplicação do calcário vai desde o último corte da cana, durante a reforma do canavial, até antes da última gradagem de preparo do terreno. Dentro desse período, quanto mais cedo executada maior será sua eficiência.

1.5.1. Recomendação de adubação mineral de plantio em cana-de-açúcar (cana planta):

Em princípio, as bases para a recuperação da fertilidade do solo seriam as seguintes:

Enriquecer o solo com Fósforo, assim como equilibrar a quantidade de micronutrientes, o que poderá ser feito com fertilizante mineral ou orgânico.

Para avaliar a quantidade de nutrientes: diagnose visual e foliar. Para a diagnose visual, utiliza o critério de sintomas de deficiência:

Nitrogênio: amarelecimento nas folhas, pouco perfilhamento e colmos finos;

Fósforo: redução e atraso no desenvolvimento do sistema radicular;

A diagnose foliar é realizada através de análise das folhas, os cuidados a serem tomados são os seguintes:

• Uniformidade da área em relação à idade da cultura, variedade, categoria de corte, coletar o terço médio em época de maior desenvolvimento da cultura, coletar na faixa de 20 a 30 folhas por talhão (10 a 12 ha).

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• A amostragem de solo: 3 a 5 meses antes do plantio, retirando-se 12 a 15 amostras simples, para uma área de 12 a 15 ha.

• Amostrar nas duas profundidades: 0-20 e 20-40cm. • Nas canas-soca é recomendado amostrar no corte anterior e na entrelinha.

Nutrientes extraídos pela cana

A cultura da cana é grande extratora de nutrientes do solo. Para formação de 1 t de colmo, a literatura tem indicado variações de 0,9 a 1,32 kg de nitrogênio; 0,20 0,69 kg de fósforo; 1,2 a 1,8 kg de magnésio e 0,30 a 0,36 de enxofre.

Nitrogênio: As respostas a adubação nitrogenada no plantio não são conclusivas, enquanto nas socas são mais consistentes. O N aplicado, uma vez em contato com o solo, entra no complexo matéria orgânica, sofrendo os processos de mineralização, cujas dimensões são poucos conhecidas em nossos solos. Em relação à cana-planta, experimentos mostram que há pouco acréscimo na produtividade, devido à adubação nitrogenada. A cultura da cana pode obter o N através de vários meios, as fontes são:

• N mineralizado dos restos de cultura da própria cana; • N mineralizado da matéria-orgânica do solo; • N armazenado no tolete de plantio; • Práticas agrícolas: calagem, mobilização do solo, período quente e úmido, acelera o

processo de mineralização, gesso favorece o desenvolvimento radicular em profundidade, que pode captar mais nitrogênio.

• Fixação biológica: Existem grande diversidade de bactérias fixadoras de N em cana, isso varia com as variedades, ex: valores 52,3% do N foi fixado na SP 70-1143 e 46% na SP 71-799 (Urquiaga et. Al., 1997).

Na Tabela abaixo, são indicadas as quantidades de nitrogênio, fósforo e potássio a aplicar com base na análise de solo e nas metas de produtividade.

Metas de prod/de

Nitrogênio P-resina (mg/dm3)

0-6 7-15 16-40 >40 t/ha N (kg/ha) P2O5 (kg/ha) <100 30* 180 100 60 40

100-150 30* 180 120 80 60 >150 30* 140 100 80

* Aplicação no fundo do sulco

Fonte: Marques et al. (2003).

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K+ trocável, mmolc/dm³ Metas de produtividade <0,7 0,8 - 1,5 1,6 - 3,0 3,1 - 6,0 >6,0

t/ha K2O, kg/ha <100

100 - 150 >150

100 150 200

80 120 160

40 80

120

40 60 80

0 0 0

* Não é provável obter a produtividade dessa classe, com teor muito baixo de P no solo

Fonte: Fonte: Marques et al.,(2003).

Aplicar mais 30 a 60 kg/ha de N, em cobertura, durante o mês de abril; em solo arenoso dividir a cobertura, aplicando metade do N em abril e a outra metade em setembro - outubro. Adubações pesadas de K2O devem ser parceladas, colocando no sulco de plantio até 100 kg/ha e o restante juntamente com o N em cobertura, durante o mês de abril.

1.5.2. Recomendação de adubação mineral em soqueira na cana-de-açúcar

As soqueiras respondem mais à adubação do que a cana-planta, principalmente em relação ao Nitrogênio. Isso porque o ciclo das soqueiras não é favorável à mineralização do N. Grande parte do ciclo das soqueiras coincide com épocas menos úmidas; durante o ciclo, o solo é menos ou nada mobilizado por cultivos; os corretivos não são incorporados: tais condições são adversas à mineralização da matéria orgânica e, com isso, o n do adubo passa ater resposta.

As respostas do N em soqueiras são também em função da textura do solo e, nesse caso, com maior ganho de produtividade para os arenosos. Isso ocorre porque este possui menor teor de matéria-orgânica e, sendo assim, menor imobilização do N adubo, e vice-versa.

Na Tabela abaixo, são indicadas as quantidades de nitrogênio, fósforo e potássio a aplicar com base na análise de solo e nas metas de produtividade.

Para soqueira, a adubação deve ser feita durante os primeiros tratos culturais, em ambos os lados da linha de cana; quando aplicada superficialmente, deve ser bem misturada com a terra ou alocada até a profundidade de 15 cm. Na adubação mineral da cana-soca aplicar as indicações do quadro a seguir, observando os resultados da análise de solo e de acordo com a produtividade esperada.

Metas de

produtividade Nitrogênio P-resina (mg/dm3) K+ trocável (mmol/dm3)

P2O5 (kg/ha) K2O (kg/ha) t/ha N (kg/ha) 0 - 15 >15 0-1,5 1,5-3,0 >3,0

<60 60 30 0 90 60 30 60-80 80 30 0 110 80 50

80-100 100 30 0 130 100 70 >100 120 30 0 150 120 90

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Fonte: Marques et al. (2003). Aplicar os adubos ao lado das linhas de cana, superficialmente e misturado ao solo, no máximo a 10 cm de profundidade. É recomendado a aplicação de 60kg/ha de enxofre.

Palha como Fertilização

Co mas normas e leis contra a queima da cana-de-açúcar, a palha sobre a superfície do solo tem gerado alterações no solo e no ambiente. Sendo assim, grande parte das atividades agrícolas relacionadas às adubações, cultivo e controle de pragas tem sido constantemente avaliadas. O corte de cana crua coloca na superfície do solo de 12 a 20 t/ha de palha seca por corte. A concentração média de nutrientes nessa palhada é substancial. Por exemplo, metade do N e 65% do potássio poderiam ser deduzidos da adubação mineral de soqueira do ano seguinte. A mineralização da palhada é dependente de aspectos ambientais e a mineralização do material não é uniforme. Com relação ao potássio, é fácil fazer o cálculo: 40 kg de K2O para cada 10 t de palha, em 15 t/ha de palha serão deduzidos 60 kg de K2O. Dentre as vantagens da palha tem-se: aumenta a infiltração de água, aumenta o teor de matéria orgânica, favorece a ploriferação de organismos no solo, recicla nutrientes, aumenta o aporte de N no solo, atenua a compactação, mantém o solo mais úmido, por mais tempo.

3. Micronutrientes

Principalmente nos solos de menor fertilidade, o cobre e o zinco são os micronutrientes mais limitantes para a cana-de-açúcar. A recomendação se justifica desde que os valores estejam abaixo dos níveis críticos.

Zinco no solo Zn Cobre no solo Cu mg/dm³ kg/ha mg/dm³ kg/ha

0-0,5 > 0,5

5 0

0-0,2 > 0,2

4 0

Fonte: Boletim Técnico 100 IAC, 1996

1.5.4. Subpprodutos da Industrialização da Cana-de-Açúcar

Em usinas de açúcar e álcool, através dos processos de fabricação, são gerados alguns resíduos usados como fertilizantes. Entre eles, os destaques ficam por conta da torta de filtro e da vinhaça.

A partir de uma tonelada de cana gera-se em média, no Estado de São Paulo, 35 kg de torta de filtro. Contudo, essa produção estabelece correlação inversa com a qualidade da matéria- prima. A torta de filtro pode ser usada em área total na dose de 80 a 100 toneladas/ha antes do preparo do solo. Alternativamente pode-se ainda aplicar de 40 a 50t/ha nas entrelinhas da cana soca ou de 15 a 30 t/ha nos sulcos de plantio. A torta de filtro atual principalmente como fonte de cálcio e fósforo além de apresentar elevados teores de matéria orgânica em sua composição, o que lhe confere também característica de atuar como condicionador do solo. Em contrapartida uma tonelada de cana pode gerar de 700 a 1.300 l de vinhaça, dependendo da porcentagem de moagem destinada à fabricação de álcool.

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Em relação a sua composição, a vinhaça apresenta em sua maior parte, água. Na fração sólida, predomina a matéria orgânica, ficando por último os elementos minerais. Entre os elementos minerais, o que ocorre em maiores teores é o potássio. Apesar do seu elevado poder poluente, a vinhaça promove grande benefício ao setor produtivo, à medida que é utilizada como fonte de potássio, matéria orgânica e água, através da fertirrigação. A sua distribuição nos canaviais é feita por irrigação – aspersão via canal ou veículos- tanque. Suas doses variam de acordo como os atributos do solo e custos de aplicação. Seu emprego pode resultar em aumento da produtividade agrícola e longevidade dos canaviais.

1.6. Plantio

1.6.1. A melhor época

O conhecimento da melhor época de plantio é de fundamental importância para o planejamento da atividade canavieira, pois permite otimizar o processo produtivo através da ampliação do Período Útil de Industrialização (PUI), o que vai possibilitar a colheita de matéria-prima de maior qualidade, por um período de tempo maior. Deve-se levar em conta o ciclo da variedade e o tipo de solo. Em áreas não irrigadas, é possível o estabelecimento de três épocas distintas de plantio, para a região Centro-Sul:

- cana de ano e meio: de janeiro a abril;

- cana de ano: de setembro a outubro;

- cana de dois verões: de novembro a dezembro.

Em área em que há possibilidade de se proceder à irrigação o ano todo, o plantio pode ser efetuado em qualquer época, de acordo com a necessidade.

Os colmos com idade de 10 a 12 meses são colocados no fundo do sulco, sempre cruzando a ponta do colmo anterior com o pé do seguinte e picados, com podão, em toletes de aproximadamente de três gemas. A densidade do plantio é em torno de 12 gemas por metro linear de sulco, que, dependendo da variedade e do seu desenvolvimento vegetativo, corresponde a um gasto de 7-10 toneladas por hectare. Os toletes são cobertos com uma camada de terra de 7 cm, devendo ser ligeiramente compactada. Dependendo do tipo de solo e das condições climáticas reinantes, pode haver uma variação na espessura dessa camada.

1.6.2. Espaçamento

De acordo com o solo, a variedade e o tipo de corte (manual e mecanizado), a bitola do trator e os implementos disponíveis, o espaçamento entrelinhas varia de 1 metro a 1,50m.

1.6.3. Plantio Convencional

A cana-de-açúcar pode multiplicar-se via sexuada e assexuada. Quando se trata de talhões industriais tem-se a necessidade de se obter a multiplicação de forma rápida e homogênea. Nessa situação, é mais interessante optar-se pela via assexuada, para tanto, a forma utilizada é multiplicação por brotamento de gemas. Assim, colmos adultos são dispostos no interior do sulco, e, em seguida, seccionados em

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toletes com o objetivo de se “quebrar” a dominância da gema apical, o que permite com que todas as gemas laterais do colmo tenham condições de brotar.

O corte das mudas é realizado manualmente, carregadas por guinchos em caminhões e distribuídas manualmente por sistemas denominados ‘banquetas”. O corte dos toletes dá-se manualmente, em sulcos previamente abertos, nessa fase, pode-se lançar mão de fungicidas e inseticidas, que são aplicados no solo. Esta fase caracteriza-se por empregar grande quantidade de mão-de-obra, o que é responsável por alto custo de implantação da lavoura.

1.6.4. Plantio Mecanizado

Todas as divisões do trabalho, desde o corte da “olhadura” (muda de cana) até a aplicação de herbicida são realizadas por máquinas de alta tecnologia, empregando-se mão-de-obra especializada, responsável pelo alto custo da operação.

1.7. Tratos Culturais

O período crítico da cultura, devido à concorrência de ervas daninhas, vai da emergência aos 90 dias de idade. O controle mais eficiente as ervas, nesse período, é o químico, através da aplicação de herbicidas em pré-emergência, logo após o plantio e em área total. Dependendo das condições de aplicação, infestação da gleba e eficiência do praguicida, há necessidade de uma ou mais carpas mecânicas e catação manual até o fechamento da lavoura. A partir dai a infestação de ervas é praticamente nula. As soqueiras exigem eliminação do "paliço", controle das ervas daninhas, adubação e vigilância sanitária. Após a colheita da cana, ficam no terreno restos de palha, folhas e pontas, cuja permanência prejudica a nova brotação e dificulta os tratos culturais. A maneira de eliminar esse material (paliço) seria a queima pelo fogo, porém essa prática não é indicada devido aos inconvenientes que ela acarreta, como falhas na brotação futura, perdas de umidade e matéria orgânica do solo e quebra do equilíbrio biológico. O enleiramento consiste no amontoamento em uma rua do "paliço" deixando duas, quatro ou seis ruas livres, dependendo da quantidade desse material. É realizado por enleiradeira tipo Lely, implemento leve com pouca exigência de potência. Após a retirada da cana, o solo fica superficialmente compactado e impermeável à penetração de água, ar e fertilizantes. Visando à permeabilização do solo e controle das ervas daninhas iniciais, diversos métodos e implementos podem ser usados. Existem no mercado implementos dotados de hastes semi-subsoladoras ou escarificadoras, adubadeiras e cultivadores que realizam simultaneamente, operações de escarificação, adubação, cultivo e preparo do terreno para receber a carpa química, exigindo, para tanto, tratores de aproximadamente 90 HPs. Normalmente, essa prática, conhecida como operação tríplice, seguida do cultivo químico, é suficiente para manter a soqueira no limpo.

1.8. Pragas de maior importância econômica para a cana-de-açúcar e seu controle

1.8.1. Pragas de parte aérea

• Broca da cana-deaçúcar – Diatraea saccharalis

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Sintomas de ataque:

Direto: morte da gema apical (coração morto), redução de peso (pela abertura de galerias no entrenó) quebra dos colmos e brotações laterais, encurtamento dos entrenós, quebra da cana e germinação das gemas laterais.

Indiretos: é causado por microorganismos que invadem o entrenó, através do orifício aberto na casca pela lagarta. Esses microorganismos, predominantemente fungos, invertem a sacarose armazenada na planta, causando perdas pelo consumo de energia no metabolismo de inversão, porque os açúcares resultante desse desdobramento não se cristalizam no processo industrial. Para produção de álcool também há problema, pois os microorganismos que penetram no entrenó aberto contaminam o caldo e concorrem com as leveduras na fermentação alcoólica, provocando a redução na eficiência de produção de álcool.

Controle: -

1) Biológico: Superior a 80%, através de larvas de cotesia flavipis, quando a lagarta está no interior do entrenó (protegida), sendo atacada por parasitas, predadores e patógenos.

Primeiramente deve ser feita a amostragem: a partir de novembro, fazer quinzenalmente, vistoria geral na lavoura, conforme a composição – variedades mais suscetíveis, primeiros cortes, áreas fertirrigadas e onde apareceram sintomas de ataques de pragas. Entrar na lavoura, coletando as lagartas. O momento ideal de liberação é quando as lagartas estão fazendo galerias no colmo e com tamanho de 1,5 a 2,0cm. Quando não há disponibilidade de cotesia, as liberações devem ocorrem em área onde há mais que 10 lagartas/hora – homem. As liberações devem ocorrer no final da tarde, em torno de 6.000 indivíduos/ha: entrar no talhão nos sentidos da linha de cana, caminhando com o copo aberto e, a cada 70 passos (50 metros), depositá-lo aberto na bainha da cana, em posição horizontal. Cobrir toda a área problema, talhão ou quadra. Canaviais em maturação ou há 30 dias ou menos da colheita não devem receber liberações.

2) Químico: não viável economicamente.

• Cigarrinha da raiz – Mahanarva fimbriolata

Sintomas de ataque: Ninfas adultas picam as folhas da cana, injetando toxina, causando necrose. Os prejuízos representam 17% do rendimento agrícola.

Controle:

1) Químico: pouco eficiene. 2) Biolófico: mais econômico através do fungo Metarhizium ansopliae.

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• Formiga Saúva – Atta Bisphaerica/ Atta capiguara

Sintomas: desfolha contínua das plantas, causando falhas e redução de “stand” e formação dos colmos do canavial. Estima-se que um sauveiro pode reduzir em até 5% a produção de 1 hectare.

Controle:

1) Mecânico: Restrito a sauveiros novos 2) Iscas: Prático, mas não pode ser aplicados em época de chuvas; 3) Termonebulização: Eficiente, mas de alto custo inicial; 4) Fumigação: alta toxicidade.

1.8.2. Pragas de hábito subterrâneo

• Cupins (Heterotermes, entre outras)

Sintomas: alimentam-se de tecidos vegetais vivos ou mortos, atacam toletes, danificam gemas provocando falhas no plantio. Na cana adulta, atacam os entrenós da base, provocando redução no crescimento e seca dos colmos. Pode reduzir a produtividade em até 10 toneladas/ha.

Controle:

1) Químico: Endossulfan 4,0 L/ha;

• Migdolus

Sintomas: O ataque em cana-de-açúcar dá-se em reboleiras danificando os toletes em cana-planta, levando à não brotação das gemas e, conseqüentemente, desuniformidade no “stand”. Em cana-soca alimenta-se dos entrenós basais, levando a planta à morte.

Controle:

1) Químico: mais eficiente 2) Mecânico: Preparo do solo profundo e bianual, destruindo-se a soqueira.

1.9. Doenças da cana-de-açúcar

No mundo, tem-se listado e classificado mais de 216 doenças em cana-de-açúcar (Marques at al., 2003). Destas, pelo menos 60 foram encontradas no Brasil, sendo que podemos classificar as dez espécies de maior importância para a economia canavieira.

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A maioria dos agricultores brasileiros desconhecem a importância dessas doenças, pois o controle das mesmas está embutido nas característica agronômicas das variedades industriais, mas basta expandir a multiplicação sem os devidos cuidados (fitossanitários) para que a variedade se torne suscetível. Assim, as doenças podem manifestar de forma mais enérgica, o que resulta em perdas expressivas.

As principais medidas de controle são: variedades resistentes, viveiros sadios, tratamento térmico de mudas, escolha do local e época de plantio, manejo da época de colheita.

A Tabela 2 relaciona as principais doenças de cana-de-açúcar do Brasil, como se transmite, os sintomas e o controle mais eficaz.

Tabela 2. Principais doenças, sintomas e formas de controle relacionadas com cana-de-açúcar no Brasil.

Doença Agente causal Formas de transmissão

Sintomas mais evidentes

Controle mais eficaz

Escaldadura das folhas

Bactéria Mudas, corte Estrias brancas, brotação lateral

Variedades resistentes, mudas sadias

Raquitismo das soqueiras

Bactéria Mudas, corte Entupimento dos vasos Variedades resistentes, tratamento térmico

Mosaico Vírus Mudas, pulgões Mosaico nas folhas Variedades resistentes

Carvão da cana Fungo Mudas, vento Chicote Variedades resistentes

Estria vermelha Bactéria Mudas, vento Estrias vermelhas nas folhas, podridão da cana

Variedades resistentes, adubação equilibrada

Mancha ocular Fungo Vento Mancha com estrias avermelhadas

Variedades resistentes, adubação equilibrada

Ferrugem da cana Fungo Vento Queima das folhas, esporos cor de ferrugem

Variedades resistentes, manejo da colheita

Mancha amarela Fungo Vento Manchas amareladas ou avermelhada nas folhas

Variedades resistentes

Podridão vermelha Fungo Chuva Podridão avermelhada internamente, riscas vermelhas transversais

Variedades resistentes

Podridão abacaxi Fungo Inseto, solo Podridão com odor de abacaxi e esporos pretos

Época de plantio, mudas novas, plantio rasos

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Fonte: Marques at al., (2003).

1.10. Colheita

A colheita inicia-se em maio e em algumas unidades sucroalcooleiras em abril, prolongando-se até novembro, período em que a planta atinge o ponto de maturação, devendo, sempre que possível, antecipar o fim da safra, por ser um período bastante chuvoso, que dificulta o transporte de matéria prima e faz cair o rendimento industrial.

1.11. Maturadores Químicos São produtos químicos que tem a propriedade de paralisar o desenvolvimento da cana induzindo a translocação e o armazenamento dos açúcares. Vêm sendo utilizados como um instrumento auxiliar no planejamento da colheita e no manejo varietal. Muitos compostos apresentam, ainda, ação dessecante, favorecendo a queima e diminuindo, portanto, as impurezas vegetais. Há uma ação inibidora do florescimento, em alguns casos, viabilizando a utilização de variedades com este comportamento. Dentre os produtos comerciais utilizados como maturadores, podemos citar: Ethepon, Polaris, Paraquat, Diquat, Glifosato e Moddus. Estudos sobre a época de aplicação e dosagens vêm sendo conduzidos com o objetivo de aperfeiçoar a metodologia de manejo desses produtos, que podem representar acréscimos superiores a 10% no teor de sacarose.

1.12. Determinação do Estágio de Maturação

O ponto de maturação pode ser determinado pelo refratômetro de campo e complementado pela análise de laboratório. Com a adoção do sistema de pagamento pelo teor de sacarose, há necessidade de o produtor conciliar alta produtividade agrícola com elevado teor de sacarose na época da colheita. O refratômetro fornece diretamente a porcentagem de sólidos solúveis do caldo (Brix). O Brix esta estreitamente correlacionado ao teor de sacarose da cana. A maturação ocorre da base para o ápice do colmo. A cana imatura apresenta valores bastante distintos nesses seguimentos, os quais vão se aproximando no processo de maturação. Assim, o critério mais racional de estimar a maturação pelo refratômetro de campo é pelo índice de maturação (IM), que fornece o quociente da relação. IM=Brix da ponta do colmo Brix da base do colmo Admitem-se para a cana-de-açúcar, os seguintes estágios de maturação:

IM Estágio de Maturação

< 0,60 0,60 - 0,85 0,85 - 1,00 > 1,00

cana verde cana em maturação cana madura cana em declínio de maturação

As determinações tecnológicas em laboratório (brix, pol, açúcares redutores e pureza) fornecem dados mais precisos da maturação, sendo, a rigor, uma confirmação do refratômetro de campo.

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1.13. Operação de Corte (manual e/ou mecanizada) O corte pode ser manual, com um rendimento médio de 5 a 6 toneladas/homem/dia, ou mecanicamente, através de colheitadeiras. Existem basicamente dois tipos: colheitadeira para cana inteira, com rendimento operacional médio em condições normais de 20 t/hora, e colheitadeiras para cana picada (automotrizes), com rendimento de 15 a 20 t/hora. Após o corte, a cana-de-açúcar deve ser transportada o mais rápido possível ao setor industrial, por meio de caminhão ou carreta tracionada por trator. 1.14. Produção de Mudas Após, em média, quatro ou cinco cortes consecutivos, a lavoura canavieira precisa ser renovada. A taxa de renovação está ao redor de 15 a 20% da área total cultivada, exigindo grandes quantidades de mudas. A boa qualidade das mudas é o fator de produção de mais baixo custo e que maior retorno econômico proporciona ao agricultor, principalmente quando produzida por ele próprio. Para a produção de mudas, há necessidade de que o material básico seja de boa procedência, com idade de 10 a 12 meses, sadio, proveniente de cana-planta ou primeira soca e que tenha sido submetido ao tratamento térmico. A tecnologia empregada na produção de mudas é praticamente a mesma dispensada à lavoura comercial, apenas com a introdução de algumas técnicas fitossanitárias, tais como: - Desinfecção do podão - o podão utilizado na colheita de mudas e no seu corte em toletes, quando contaminado, é um violento propagador da escaldadura e do raquitismo. Antes e durantes estas operações deve-se desinfetar o podão, através de álcool, formol, lisol, cresol ou fogo. Uma desinfecção prática, eficiente e econômica é feita pela imersão do instrumento numa solução com creolina a 10% (18 litros de água + 2 litros de creolina) durante meia hora, antes do início da colheita das mudas e do corte das mesmas em toletes. Durante essas duas operações, deve-se mergulhar, freqüente e rapidamente, o podão na solução. - Vigilância sanitária e "roguing" - formando o viveiro, torna-se imprescindível a realização de inspeções sanitárias freqüentes, no mínimo uma vez por mês. A finalidade dessas inspeções é a erradicação de toda touceira que exiba sintoma patológico ou características diferentes da variedade em cultivo. Além dessas duas medidas fitossanitárias, algumas recomendações agronômicas devem ser levadas em consideração, como a despalha manual das mudas, menor densidade das mudas dentro do sulco e maior parcelamento do fertilizante nitrogenado. - Rotação de culturas - durante a reforma do canavial, no período em que o terreno permanece ocioso, deve-se efetuar o plantio de culturas de ciclo curto, em rotação com a cana-de-açúcar. Amendoim e soja são as mais indicadas. Além dos conhecidos benefícios agronômicos proporcionados pela rotação de culturas, a cana-de-açúcar permite a consorciação com outra cultura, aproveitando o terreno numa época em que estaria ocioso, proporcionando melhor aproveitamento de máquinas e implementos. A implantação da cultura é feita sem gasto financeiro correspondente ao preparo do solo, havendo menor exposição do terreno à erosão e às ervas daninhas e diminuição da sazonalidade de empregos. Referências Bibliográficas Cooperativa Central dos Produtores de açúcar e Álcool do Estado de São Paulo Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" Fundação Instituto Agronômico do Paraná

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Junho, J. A. C. Normas técnicas para produção de mudas selecionadas de cana-de-açúcar. Landell, M. G. A. Cultura da cana-de-açúcar - tecnologia para o pequeno produtor. Raij, B. et al. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo