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Nº 10 Maio • Junho 2008 CANNABIS e VIH/SIDA

CANNABIS e VIH/SIDA - GAT Portugal · barata, permitindo a sua utilização em qualquer parte do mundo. Relativamente à hepatite C, a farmacêutica informou já ter dados relativos

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Nº 10Maio • Junho 2008

CANNABISe VIH/SIDA

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Acção & Tratamentos • Maio/Junho 200802

Precedido no dia 9 de Junho pelo Fórum Global de Líderes para oVIH/Tuberculose, iniciativa do enviado especial das Nações Unidaspara a luta contra a Tuberculose, Dr. Jorge Sampaio, realizou-se nosdias 10 e 11, em Nova Iorque, o Encontro de Alto Nível para Avaliaçãodo Progresso Alcançado na Implementação das Declarações deCompromisso e Política de VIH/SIDA 2001/2006.

Este encontro de alto nível foi considerado essencial para monitorizaros resultados, identificar obstáculos e propor soluções para que sejaalcançado o compromisso central das Declarações mencionadas, asaber: a garantia, até 2010, do acesso universal à prevenção,diagnóstico, tratamento e cuidados para o VIH/SIDA.

A Sociedade Civil, na Declaração que aprovou por ocasião desteencontro, lamentou que 40 dos Estados Membros da ONU não tenhamenviado os respectivos Country Progress Report (Relatórios com dadosdo progresso verificado) e as discrepâncias entre os dados dosrelatórios governamentais e os dos relatórios internacionais ou dos“relatórios sombra” preparados pelas organizações da Sociedade Civil.

Lamentou ainda que, na maioria dos países, continuem a existirbarreiras legais à implementação de políticas baseadas na evidênciae continuem a ser desrespeitados os Direitos Humanos nos gruposmais atingidos pela epidemia.

A Declaração da União Europeia, habitualmente tida como a maisprogressista, foi elaborada apenas por representantes dos governos,não tendo existido qualquer participação ou negociação com asociedade civil. Clamorosamente, não faz qualquer referência àspopulações migrante e reclusa.

A Delegação Portuguesa era constituída pela Ministra da Saúde, Dra.Ana Jorge, pelos Coordenadores para o VIH e para a Tuberculose,Prof. Henrique Barros e Prof. Fonseca Antunes, por duas Organizaçõesda Sociedade Civil, Liga Portuguesa contra a SIDA e GAT -representadas, respectivamente, por Eugénia Saraiva e RicardoFernandes - e ainda por Luís Mendão, como consultor na área daspessoas que vivem abertamente com o VIH/SIDA.

Apesar desta participação, a Sociedade Civil Portuguesa não esteveenvolvida no processo que precedeu o Encontro e, já em Nova Iorque,foi muito escasso o tempo para trabalhar as posições oficiais nacionais.

Na sua intervenção em plenário, a Dra. Ana Jorge reconheceu o papeldesempenhado pelas pessoas que vivem com VIH/SIDA e pelaSociedade Civil, reafirmou o apoio total de Portugal às Declaraçõessubscritas e comprometeu-se a atingir os objectivos e as metas nelaspropostas.

Reconheceu, também, a necessidade da existência de procedimentosestandardizados na recolha e partilha de informação para permitira criação de políticas de saúde pública baseadas na evidência.

A Ministra referiu ainda a atenção dada em Portugal ao direito à saúdedos migrantes e o alargamento do programa de troca de seringas aomeio prisional.

Consideramos muito importantes os compromissos e propostasgovernamentais assumidos pela Ministra da Saúde mas, porque temosexperiência de propostas e compromissos nunca concretizados, háque fazer uma monitorização rigorosa da sua implementação.

Conselho Editorial

EditorialÍndice

Ficha Técnica:

Director:Pedro Silvério MarquesConselho Editorial:Conceição Barraca, Guilherme Bandeira de Campos,João Paulo Casquilho, Luís Mendão, Marco Pina eSilva, Maria José Campos, Ricardo Fernandes e RuiEliasColaboraram neste número:Raquel Lucas, Joana AlmeidaDistribuição:Ana PiscoConcepção Gráfica:Modjo Design, LdaImpressão:DPI CromotipoRua Passos Manuel, 78 A - B, 1150-260 LisboaTiragem:20 000 exemplaresISSN:1646-6381Depósito Legal:252028/06EdiçãoGATApartado 8216 • 1803-001 LisboaTlm: 91 360 62 95E-mail: [email protected]:Fonte AVAC

Com o apoio para distribuição:Com o apoio:

JC Tibotec • Roche • Schering-Plough Farma, Lda •GILEAD

pág. 3• Reuniões de activistas com

farmacêuticas - o ECAB• Entrevistapág. 6

• NEAT• Relatório do EU HIV/AIDS Civil

Society Forumpág. 7

• Fórum Nacional da Sociedade para o HIV/SIDA (FNSC)pág. 8

• IHP + International Health Partnershippág. 9

• UNITAID• A Catalunha autoriza...

pág. 10• Comportamentos sexuais...pág. 11

• Marcha Global da Marijuanapág. 12

• Positivo•Periodo de Janela•Negativo• Preocupações com tratamentos

para crianças pág. 13

• Aumento significativo da tuber-culose...pág. 14

• Interacção medicamentosa inesperada...pág. 15

• Estudo Australiano sobre o cancroanal

pág. 16• Contaminação do nelfinarvir não

está associada a risco de cancropág. 17

• A resposta clínica... pág. 18

• Novo inibidor da protease...pág. 19

• Glossário • Calendário de eventos• Missão do Acção & Tratamentos

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A entrevista teve um parto difícil,foi sucessivamente adiada, a úl-tima vez porque lhe roubarama motorizada, com 2/3 das pres-tações ainda por pagar.

Chegar ao local da entrevista,um centro de apoio de uma as-sociação num bairro periféricode Lisboa, foi uma odisseia. Vol-

tar para Lisboa, apanhar o com-boio, enganar-me, 2º comboio,procurar um táxi durante umahora.

O Paulo, chamemos-lhe assim,contrasta com a história queconta. Uma vida dura, um ho-mem frágil, sensível, sem defe-sas.

L.M. - Como te chamas e queidade tens?

P. - Sou o Paulo e tenho 40anos, nasci em Lisboa só estivecom os meus pais até aos 4anos, aí fui colocado num colégiode freiras, um inferno, com aminha irmã que tinha mais 4anos que eu, estive lá até aos

Acção

Acção & Tratamentos • Maio/Junho 2008 03

Entrevista

Luís Mendão

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No fim-de-semana de 6 a 9 deMarço, o ECAB (EuropeanCommunity Advisory Board)reuniu com a Tibotec, a Virco,a Panacos e a Schering paraactual ização e troca deinformações acerca de fármacosem desenvolvimento e estudosa decorrer.

Tendo em conta que a Pfizer ea Schering estão a desenvolverinibidores de entrada (ou deCCR5) e que tem havido muitadiscussão sobre os testes quepermitem saber, em cadapessoa, quais os co-receptoresseleccionados pelo vírus(tropismo), o ECAB organizouuma sessão de formação comAnne-M ieke Vandamme,investigadora na área dePesquisa e Desenvolvimento deProduto sobre AlgoritmosGenotípicos /Fenotípicos paraPrevisão do Tropismo.

No âmbito desta formação, aVirco defendeu a utilização dasbases de dados de genotipageme fenotipagem existentes que,segundo a companhia, permitemobter informação fiável a baixocusto.

A Tibotec apresentou osresultados em relação àsegurança e eficácia (às 48

semanas) e às característicasfarmacocinéticas e farmaco-dinâmicas (às 24 semanas) dosestudos DUET1 e 2 com oTMC125 (INNTR).

Apresentou, também, uma novaformulação para o TMC278(INNTR) que permitirá aplicar ofármaco mensalmente atravésde injecção.

A Panacos - uma farmacêuticade pequenas dimensões que teminvestido na investigação defármacos inovadores na áreadas doenças infecciosas graves- veio apresentar dados do seuInibidor de Maturação, oBevirimat.

O mecanismo de acção destefármaco é diferente do dosfármacos habituais, já que o seualvo é o Gag, o gene que codificaas proteínas estruturais do VIH,e que não varia muito de pessoapara pessoa. Apesar de se tratarde um fármaco inovador quedespertou o interesse de todos,revelou alguma falta de eficácia.Para além disso, o tamanho damolécula tem dificultado a suatransformação num comprimidopelo que continua a seradministrado como soluçãolíquida. Por último, a falta dedados existentes não permite

perceber de forma conclusivapor que razão algumas pessoasnão respondem ao medicamento.

A Schering deu informaçãoactualizada sobre os ensaiosclínicos que decorrem com oVicriviroc, um inibidor de entradaainda em desenvolvimento,nomeadamente em relação àspessoas com resistências aosARVs. Adicionalmente, falaramda possibilidade de efectuar umestudo com este fármaco empessoas naives aos ARVs.

No que diz respeito aos testesde tropismo, a companhiaexpressou a necessidade de sedesenvolver testes maisespecíficos e com resultadosquantificáveis, bem como umabase de trabalho mais flexível ebarata, permitindo a suautilização em qualquer parte domundo.

Relativamente à hepatite C, afarmacêutica informou já terdados relativos ao Bocepravir(um inibidor da protease emestudo) em relação a pessoasrecidivas, mas que só osapresentará na reunião anualda EASL - European AssociationFor The Study Of The Liver(Associação Europeia para oEstudo do Fígado).

Reuniões de activistas com farmacêuticas - o ECAB

Ricardo Fernades

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Acção & Tratamentos • Maio/Junho 200804

13 anos... aos 13 anos fugi, vivina rua, fui apanhado quase 1ano depois e puseram-me numacasa de correcção em Caxias,outro inferno, depois conseguifugir aos 16 anos (1984) e fuidirectamente viver para o CasalVentoso com medo de ser apa-nhado no meio das ruas de Lis-boa e porque me sentia maisprotegido.

L.M. - Quando é que foi a 1.ªvez que consumiste drogas?

P. - Comecei a consumir drogaspara aí aos 10/11 anos (snifavacola de contacto), charros foipara aí aos 13 anos, depois co-mecei com o cavalo aos 16 anos(logo injectado).

L.M. - Começaste a consumirheroína/cavalo como?

P. - No Casal. Com gajos aí 10anos mais velhos que eu, na al-tura eles consumiam à minhafrente, partilhavam tudo (aindanão se sabia nada da SIDA), eum dia em que fiz uma lavagemdo algodão* deles - na altura opó era muito melhor que agora- experimentei e a partir dessedia não parei.

L.M. - Quanto tempo viveste noCasal?

P. - Vivi lá durante quase 9 anos,trabalhava lá a controlar quandoé que a polícia entrava (eravigia), quando vinha a políciaavisava-os para se escondereme depois ganhava ali o meu con-sumo (ganhava cerca de 80 pa-cotes por dia...eram 80 contospor dia que naquela altura eraum balúrdio), depois era assimdormia à porta de uma cozinha,pois não tinha barraca, dormiaem cartões, tapado com coberto-res e quando estava a chovermetia um plástico e ficavaali embrulhado toda a noite.

L.M. - Mas não ganhavas dinhei-ro?P. - Não, não havia dinheiro,eles só pagavam em pó.

L.M. - Mas tu podias vender es-sa droga a outras pessoas não?

P. - Podia, mas, naquela altura,não vendia, consumia tudo. Con-sumia mais cocaína que heroína.Comecei com a heroína e depoisforam as tais mistas chamadasspeed ball*, mas sempre muitomais coca que cavalo numa mé-dia de 20 pacotes de coca para1 de cavalo. Eu consumia heroí-na praticamente só para tirar aressaca de manhã e à noite paradormir e depois, durante o dia,era só para tirar as ânsias dacoca.

L.M. - Naquela altura havia mui-to tráfico no Casal Ventoso...existia alguma maneira de osdealers se entenderem ou ha-viam rivalidades?

P. - Não havia problemas entreos dealers, pois eles tinhamlocais específicos para vende-rem, eu por exemplo trabalhavapara o F. que era a meio das es-cadas e quando o F. fechava aloja trabalhava para o Chico doscontentores que vendia mesmoao lado dos contentores do lixo...eles tinham horas de venda, ca-da um tinha os seus horários devenda, os seus empregados, osseus vigias, os seus angariado-res de clientes... aquilo era tudomuito organizado.

L.M. - Tu nunca foste vendedor,eras só vigia, mas ainda assimtens alguma ideia de quantaspessoas compravam droga pordia?

P. - Tenho uma ideia que umdos patrões, o dos contentores,fazia cerca de 6.000 contos pordia naquela altura.

L.M. - E fisicamente como é quete aguentavas?

P. - Fisicamente aguentava-memal, passava dias e dias semtomar banho, andava dias e diasque a roupa nem enxugava nocorpo e depois tinha alturas emque me deixava ir mais abaixo

e telefonava para o 115 da alturae dizia que estava um homemno chão que não se conseguialevantar... que era eu. Fazia pa-recer que era mais que aquiloque era para eles me levarempara o hospital e ficar interna-do... foi aí que eu comecei osinternamentos, pois eu tive 4internamentos naquela altura.

L.M. - E as relações com a famí-lia?

P. - Com a minha irmã desapa-receram completamente mascom a minha mãe só desapare-ceram nessa altura do Casal,mas sempre que eu ia parar aohospital a minha mãe ia visitar--me ...

L.M. - E relações ou namoradas,tiveste?

P. - Tive algumas. Como já tinhadito fui para o Casal muito ce-do.... Antes disso tive aquelasnamoradas de escola, como todaa gente tem, e depois, relaçõessérias, vivi com uma raparigaquase 3 anos, na altura jáestávamos agarrados os dois.

L.M. - Quando é que foi quedecidiste sair do Casal?

P. - Decidi sair do Casal numdos internamentos. Estava umrapaz de Carcavelos internadocomigo, ele estava na cama aolado da minha e a Directora doCentro Comunitário de Carcave-los a Dr.ª Mª João Fernandes eo padre daquela altura iam visi-tar aquele rapaz lá ao hospitale, como eu nunca tinha visitasa não ser, às vezes, a minhamãe aos fins-de-semana, elesacabaram por falar comigo edisseram-me que quando eu de-cidisse mudar de vida que fosselá ter com eles a Carcavelos queeles me ajudavam.

L.M. - Como é que fazias aressaca nos internamentos?

P. - No hospital eles davam-memedicação para a ressaca.Quando tive alta dessa vez fuia Carcavelos pedir ajuda ao Cen-tro Comunitário e eles arranja-

Aos 16 anos, para não serapanhado nas ruas de Lis-boa, fui viver para o CasalVentoso*

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Acção & Tratamentos • Maio/Junho 2008 05

ram-me um sítio onde ficar, umaestalagem onde vivi cerca de 9anos.

L.M. - E, nessa altura, traba-lhaste?

P. - Nessa altura tirei um cursode hotelaria e ainda trabalheiem hotelaria cerca de 6 anos.Trabalhei na Cooperativa dosBancários, trabalhei no Algarve.

L.M. - Mas continuavas a consu-mir?

P. - Sim, continuava a consumir,sempre coca e cavalo. Eu sódeixei de consumir, salvo erro,foi 2 anos depois de ter entradopara o programa de metadonano Hospital de Santa Maria. En-quanto estava no Centro Comu-nitário continuava a consumir,trabalhava e quando chegavaao fim do mês estoirava o dinhei-ro todo em coca e depois estavao resto do mês sem consumir.Nos 2 primeiros anos em queestive no programa de metadonalarguei logo o cavalo mas aindaconsumia coca. Depois fui paraa lista de espera do CAT e entreinum programa de Subutex® edepois passei para o programade metadona. Fui a 4ª pessoalá a entrar para o programa demetadona.

L.M. - Quanto é que soubesteque eras seropositivo?

P. - Em 1987, descobri que eraseropositivo no Hospital deCoimbra, estava na Remar,estava a ressacar e fui parar aohospital e foi aí que descobri.

L.M. - Como é que foste pararà Remar?

P. - Foi daquelas desintoxica-ções.... Estávamos 4 ou 5 ami-gos e decidimos ir para cima efomos para a Remar, mas eu es-tava muito fraco e houve um diaà noite em que um dos meusamigos roubou uma carrinhapara me levar para o hospitalda Lousã, porque eles na Remarnão me queriam levar para o

hospital, pois eles lá são contraas medicações para a ressaca.Eles de lá transferiram-me logopara o hospital da Universidadede Coimbra e foi aí que descobri-ram. Fiquei lá internado cercade 3 meses. Saí do hospital, elesderam-me uma carrada de me-dicamentos e eu mal saí do hos-pital deitei tudo para o lixo.Naquela altura foi quando se co-meçou a falar da doença e poucose conhecia dela, a médica che-gou-se ao pé de mim e disse--me você é seropositivo e aquilopara mim era como se fosse ou-tra coisa qualquer e por isso nãodei importância... depois andeidesligado dos hospitais até 1993.

L.M. - E, durante esse tempo,por onde é que andaste?

P. - Andei por ai, andei pelo Al-garve, no Alentejo, no Porto...andava por aí a fazer-me à vida.Depois, já em 1993, já estavano Casal de novo, tive um inter-namento grave e foi quando fuipara o Egas Moniz e aí é quecomecei a fazer terapêutica, mastambém nem sempre a fazia...tomava uns dias e depois estavauma semana sem tomar... de-pois é que no Centro Comunitá-rio começaram a fazer-me unsenvelopezinhos com a medica-ção e aí eu comecei mesmo atomar a medicação para o VIHhá cerca de 12 anos como devede ser.

L.M. - E a carga viral como está?

P. - Tenho a carga viral indetectá-vel já há alguns anos e nestemomento estou com cerca de700 CD4, mas estive durantecerca de 10 anos com 2 CD4,na altura estive muito mal... tiveuma intoxicação aos medica-mentos e comecei a ficar todoroxo, estranhei e fui ao hospitale estive aí muito mal, depois ti-ve também a toxoplasmose, edepois fui operado à cabeça ejá tive tuberculose óssea. Tenhoproblemas de coração também,tenho uma válvula entupida.Mas hoje em dia faço a minhavida normal.

L.M. - Como é que é o teu dia-a-dia?

P. - De manhã venho para aquipara a Associação e almoço, es-tou aqui até mais ou menos às3 ou 4 horas da tarde e depoisvou para casa.

L.M. - Consumiste outras dro-gas?

P. - Não, nem por isso. Agorahá essas drogas novas o extasy,mas eu nunca usei. Já no meutempo existiam as trips, mas eununca experimentei... eram 2mundos separados.

Eu fumo ganzas*, e quando fu-mo ganzas aproveito para comer,pois as ganzas dão-me umasânsias enormes de comer.

L.M. - Planos para o futuro?

P. - Eu gostava de arranjar umemprego, só que não consigo,tenho uma reforma de 230€, senão fosse a ajuda que eles aquime dão morria à fome. É umavida muito limitada.

(*) Ver Glossário.

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Acção & Tratamentos • Maio/Junho 200806

NEAT (European Aids Treatment Network)

Luís Mendão; Ricardo Fernades

A NEAT - "Rede Europeia de Tra-tamentos da SIDA" é constituídapor 44 parceiros de 16 paíseseuropeus e agrega cerca de 450investigadores. Tem, ainda, 357centros de investigação afiliadosque reúnem cerca de 3 000 in-vestigadores.

As actividades desta rede cen-tram-se sobretudo em trêsáreas: integração da pesquisaeuropeia; ensaios clínicos e in-vestigação clínica; educação eformação.

O NEAT tem como objectivos:

- Desenvolver abordagens estra-tégicas na investigação clínicado VIH/SIDA, complementaresàs conduzidas pela indústria far-

macêutica;- Trabalhar com as autoridadesreguladoras nacionais e euro-peias (EMEA) e harmonizar aeficácia e segurança da recolhade dados a nível europeu;- Implementar as novas directi-vas da União Europeia sobre in-vestigação clínica, optimizandorecursos e infra-estruturas e dis-seminando tecnologias e normaséticas;- Divulgar conhecimentos e re-cursos, bem como promover otreino e mobilidade dos cientistasa todos os níveis, fomentandoassim a colaboração entre a Eu-ropa Central/Leste e a EuropaOcidental.- Preparar o terreno para a cria-ção da rede de pesquisa euro-peia que integre e coordene pro-

gramas de investigação comuns.- Atrair co-financiamento públicoe privado, em colaboração comoutras organizações da EU eagências de pesquisa.

Em Abril, juntamente com outrasorganizações nacionais e mem-bros do EATG, alguns elementosdo GAT reuniram com o NEATem Paris para debaterem aspe-ctos do primeiro ensaio clínicodesta rede (o NEAT001). Esteensaio ainda é confidencial, peloque não estamos autorizados apublicar mais informação sobreo estudo.

Relatório do EU HIV/AIDS Civil Society Forum

Ricardo Fernandes

Realizou-se, em Bruxelas, nosdias 8 e 9 de Abril, a reunião doFórum Europeu da SociedadeCivil para o VIH/SIDA (CSF). OFórum é um orgão de consultada Comissão Europeia, DGSANCO, para a implementaçãodo "Plano de Luta contra oVIH/SIDA e países vizinhos,2 0 0 6 / 2 0 0 7 " ( v e r s i t ewww.gatportugal.org). O Fórumé constituído por representantesda sociedade civil dos países eu-ropeus e de países vizinhos dabaía do Mediterrâneo. O GAT,através de Luís Mendão, é o re-presentante da Sociedade CivilPortuguesa no Fórum.

Da agenda para a reunião cons-tavam os seguintes pontos:

• Distribuição do relatório dareunião anterior (ver sitewww.gatportugal.org);

• ECDC;• Apresentação e discussão daslinhas orientadoras suíças sobreinfecciosidade e uso dopreservativo;• O financiamento dos progra-mas VIH e das ONGs no Lesteda Europa;• Follow-up do plano de acçãoda UE;• Prioridades para o Fórum;• Aprovação/apresentação dacarta sobre a violação dos direi-tos humanos dos homossexuaisno Egipto;• O problema da Tailândia.

Conclusões:

• O ECDC - European Centre forDiseases Control que seráresponsável pela monitorizaçãodos compromissos da Declaraçãode Dublin e pelo desenvolvimen-to dos indicadores específicos,

anteriormente feita pelaOrganização Mundial de Saúde- OMS em colaboração com aONUSIDA, fez uma apresentaçãoque foi muito contestada pelafalta de envolvimento da comu-nidade na transferência destamonitorização;• Em relação às novas guidelinessuíças e depois de apresentadose discutidos os dados em quese baseia a possibilidade de nãotransmissão do VIH mesmo semusar o preservativo, foram clara-mente reforçadas as condiçõesem que tal hipótese se poderáencarar - casais estáveis, mono-gâmicos, em que o parceiro infe-ctado apresenta consistente-mente carga viral indetectávelhá pelo menos seis meses e nãotem qualquer infecção sexual-mente transmissível;• O CSF concordou que com asaída dos países da Europa de

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Esta estrutura de audição, con-sulta e intervenção junto da Co-ordenação Nacional para a Infec-ção VIH/SIDA, criada em confor-midade com o previsto no Pro-grama Nacional de Prevenção eControlo da Infecção VIH/SIDA2007 - 2010, iniciou a sua activi-dade em 30 de Novembro de2007, contando com a presençade 17 organizações.

Na primeira reunião, foram elei-tos os membros do Secretariadoe criou-se o grupo de trabalhopara elaboração do seu regula-mento interno.

Pese embora este trabalho aindanão estar terminado, na pros-secução dos seus objectivos, oFórum já participou nas seguin-

tes actividades:

• High-Level Meeting of UnitedNations, em Nova Iorque, emJunho.

• 2º Congresso da CPLP no Riode Janeiro, em Abril do correnteano, durante o qual facilitou epromoveu a criação de uma redede organizações da sociedadecivil da CPLP - a Rede+PLP - eapoiou a elaboração da Cartade Princípios que foi apresentadano decurso do congresso.

Sem prejuízo da autonomia eindepêndencia de intervençãodirecta de cada uma das organi-zações e associações que a com-põem, o FNSC tem como objecti-vo garantir a participação efecti-

va da sociedade civil em todosos aspectos da resposta à epide-mia, e, deste modo:

• Assegurar o contributo para odesenvolvimento, implementa-ção, monitorização e avaliaçãodas políticas VIH/SIDA;

• Estimular o trabalho em rededas organizações da sociedadecivil.

Fórum Nacional da Sociedade para o VIH/SIDA (FNSC)

Acção

Acção & Tratamentos • Maio/Junho 2008 07

Leste da lista de países elegíveispara financiamentos do GlobalFund, era da responsabilidadeda União Europeia encontrar res-postas sustentáveis para estesprogramas e organizações;• Em relação ao plano de acçãoda UE, registou-se e lamentou--se que, por falta de atribuiçãode verbas por diversos governosnacionais, acções e metas doplano (network para a investiga-ção de vacinas e microbicidas,atrasos na implementação dosprogramas de redução de riscosprevistos para 2007 e na vigilân-cia epidemiológica global, etc...),não tivessem sido iniciadas ouimplementadas;• Prioridades do Fórum:

- Colocar toda a pressão possívelsobre a União Europeia e os go-vernos nacionais para se aproxi-marem dos compromissos daDeclaração de Dublin no que dizrespeito ao acesso universal àprevenção, teste e tratamentos.- Lutar pelo aumento do respeitodos direitos das pessoas quevivem com a infecção peloVIH/SIDA e dos grupos mais

afectados a fim de se superar aestigmatização, a discriminaçãoe a marginalização.- Centrar a participação do CSFna UNGASS 2008 na procura doconhecimento da situação realem relação ao acesso universal.- O CSF aprovou ainda uma pro-posta de Raminta Stuikyte e deLuís Mendão para colocar comoprioritária a monitorização e pro-moção do acesso aos tratamen-tos para a hepatite C e co-infec-ção entre as pessoas que usamdrogas, situação que é já dramá-tica na Europa do Sul e o será,a breve prazo, na Europa deLeste e Ásia Central.

• No Egipto, ocorreram diversasdetenções de homossexuais, queforam sujeitos ao teste do VIHsem consentimento. Aqueles quetiveram um resultado positivoforam internados compulsiva-mente e mantidos acorrentadosà cama durante meses. Segundoo tribunal, estes homens consti-tuíam um perigo para a saúdepública. Em carta enviada aoMinistro da Saúde do Egipto, oCSF, com o apoio de 117 grupos

de activistas, reafirmou ao se-nhor Ministro que prender arbi-trária e discriminadamente e fa-zer o teste do VIH sem o consen-timento livre e informado, consti-tuem graves violações dos direi-tos humanos. A lei egípcia tam-bém viola o direito à privacidade;• O CSF congratulou-se com aemissão de licenças compulsó-rias na Tailândia o que veio per-mitir a produção de genéricosde produtos patenteados. Dadoque este país tem sofrido a pres-sões da União Europeia e dosEUA para desistir destas licenças,o CSF aprovou, também, quefosse enviada uma carta aosmembros do PCB da ONUSIDAexpressando o repúdio pela rea-bertura das guerras à políticade licenciamento tailandesa epedindo a defesa e prossecuçãode uma política fundada no co-nhecimento e no respeito dosdireitos humanos.

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AcçãoAcção

Acção & Tratamentos • Maio/Junho 200808

Durante a última década, assisti-mos a um extraordinário cres-cimento no planeamento inter-nacional da assistência à saúde.Um grande número de novosorganismos multilaterais, iniciati-vas, fundações e organizaçõesda sociedade civil estão hojepresentes na ajuda bilateral aocombate a doenças prioritárias,como o VIH/SIDA, a malária, atuberculose e outras que po-dem ser prevenidas através devacinas.

O In te rnac iona l Hea l thPartnership iniciou as suasactividades em Setembro de2007, para responder aos desa-fios colocados pelos Objectivosde Desenvolvimento do Milénio.

Estes objectivos implicam oenvolvimento de todos os paí-ses signatários da MilleniumDeclaration (Declaração doMilénio) nas acções relacionadascom o alargamento e a utilizaçãodos serviços de saúde e na apre-sentação de soluções para osproblemas de saúde existentesa fim de garantir o acesso uni-versal.

Missão do IHP

• Resolver os problemas de saú-de levantados pelos objectivosdo milénio. Aumentar a eficáciado auxílio, melhorar as políticas,as estratégias e desempenhodos sistemas de saúde e mobili-zar todos os actores, incluindoos não-estatais, para atingir osfins comuns de forma mais efi-ciente.• Focar as acções nos diferen-tes países e nas suas caracterís-ticas. Todas as actividades a de-senvolver devem ter como baseas estruturas, os mecanismos eos planos de saúde já existentes.Se for necessário, poderão serapoiados por actividades desen-volvidas a nível regional e global.

• Adaptar as acções às contribui-ções recebidas pelo IHP (ex.Campanha Global para a Saúdefocada nas mulheres e crianças,objectivos nºs 4 e 5 dedesenvolvimento do milénio, aCatalytic Initiative, HealthMetrics Network, Global HealthWorkforce Alliance, entreoutros).

Da primeira fase, fazem partedo IHP + o Burundi, Camboja,Quénia, Moçambique, Nepal,Etiópia, Mali e Zâmbia. Estespaíses acordaram em beneficiarde uma relação mais estreitacom os doadores e de umacoordenação com os parceirosinternacionais, comprome-tendo-se a trabalhar para melho-rar a saúde dos seus habitantes.

Na segunda fase, entrarão paraesta parceria o Madagáscar, oBenim, o Burkina-Faso, o Gana,o Níger e a Nigéria.

Os países doadores e as agên-cias substcritoras do IHP+ são:Reino Unido, Noruega, Canadá,Alemanha, Itália, França, Holan-da, Portugal, Organização Mun-dial de Saúde, Comissão Euro-peia, Banco Mundial, ONUSIDA,UNFPA, GAVI Alliance, FundaçãoBill and Melinda Gates, BancoAfricano para o Desenvolvimen-to, Fundo Global de luta contraa SIDA, Tuberculose e Maláriae o Grupo de Desenvolvimentodas Nações Unidas.

O IHP+ e as Organizaçõesda Sociedade Civil(OSC)

Na primeira reunião de trabalhocom as OSC dos países que ade-riram na primeira fase, realizadano passado dia 23 de Maio, emGenebra, estiveram presentesmais de 70 representantes depaíses em desenvolvimento edesenvolvidos, europeus e

norte-americanos.

As OSC apresentaram as preo-cupações e críticas ao trabalhodesenvolvido até agora, troca-ram experiências, analisaram osprogressos obtidos em cada paíse definiram formas de conciliarestratégias para melhorar o seuenvolvimento, a nível global enacional, no IHP+ e contribuire influenciar o sector de saúdedo seu país.

As OSC aprovaram por unani-midade os três princípios básicosindispensáveis ao sucesso doIHP+:

1. A prestação universal dos cui-dados primários de saúde temde integrar, de forma comple-mentar, tanto o fortalecimentoe reforço dos Sistemas de Saúdecomo os programas de doençasprioritárias;

2. A necessidade de finan-ciamento adicional: se o IHP +pretende verdadeiramente atin-gir os seus objectivos, os paísesdo G8 , países doadores egovernos devem aceitarcontribuir com financiamentossuplementares - a coordenaçãomais eficaz e eficiente dos meiosexistentes, por si só, não serásuficiente;

3. A inclusão, de uma formaaberta e transparente, das OSCe organizações de base comuni-tária em todo o processo de im-plementação da parceria é fun-damental: o IHP+ acredita queos problemas no âmbito do siste-ma de saúde só poderão ser re-solvidos incluindo as pessoasque utilizam o sistema e queprestam os serviços e cuidadosde saúde.

Traduzido e adaptado por Rosa FreitasFonte:www.internationalhealthpartnership.

IHP + International Health Partnership (Parceria Internacional para a Saúde)

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UNITAID

Há vários anos que a comunida-de internacional procura novasfórmulas de assegurar o finan-ciamento sustentável do desen-volvimento e do combate à fomee à pobreza. Fontes de financia-mento inovadoras são neces-sárias para responder aos desa-fios globais que epidemias comoo VIH/SIDA, a Malária e a Tuber-culose colocam.

Em 2004, 44 países começarama trabalhar para a implementa-ção de mecanismos inovadoresde financiamento.

Em 2006, França, Brasil, Chile,Noruega e Inglaterra decidiramfacilitar a aquisição de medica-mentos através de uma metodo-logia financiada de forma susten-tada e segura - uma taxa aplica-da aos bilhetes de avião foi con-siderada a maneira mais apro-priada. A esta iniciativa, quefunciona como uma central de

compras financiada por aquelataxa, foi dado o nome deUNITAID.

A UNITAID foi inaugurada oficial-mente a 19 de Setembro de2006, em Nova Iorque, na aber-tura da sessão da Assembleia-geral das Nações Unidas, como beneplácito do ex-SecretárioGeral das Nações Unidas, KofiAnnan.

A taxa é aplicada a todas ascompanhias aéreas que partemdos países aderentes evitando--se, desta forma, distorcer aconcorrência entre as compa-nhias. O mecanismo é simples:a taxa do bilhete de avião é pagapelo passageiro quando esteadquire o bilhete. Muitas vezes,é uma taxa adicionada às jáexistentes. As companhias

aéreas são responsáveis por de-clarar e recolher o dinheiro obti-do. Os passageiros em trânsitoestão isentos, para que os aero-portos dos países participantesnão sejam colocados em desvan-tagem.

Actualmente já está em vigornos seguintes países: França,Chile, Costa do Marfim, Congo,República da Coreia, Madagás-car, Mauritânia, Níger e Noruega.Neste último, parte da taxa deCO2 reverte também para aUNITAID.

Benin, Brasil, Burkina-Faso,Camarões, Chipre, Gabão,Guiné, Libéria, Mali, Marrocos,Namíbia, República Centro--Africana, Senegal, S. Tomé ePríncipe e Togo estão actualmen-te em processo de implementa-ção da taxa.

Acção

Acção & Tratamentos • Maio/Junho 2008 09

A Catalunha autoriza o uso terapêutico de um derivado da cannabis

Luís Mendão; Rosa Freitas

O estudo foi um êxito.

A Catalunha, após a apresenta-ção de um estudo sobre o pro-grama piloto do uso terapêuticode um derivado da cannabis,com autorização de comerciali-zação no Canadá, sob a designa-ção de Sativex®, vai permitir o"uso compassivo" deste produto.

Na conferência de imprensa emque foi feito este anúncio, MarinaGeli, Conselheira da Saúde naCatalunha, afirmou "Este é umestudo que demonstra quepodemos ter esperança"."Por enquanto pode ser utilizado,não como primeira prescrição,pois não está suficientementedemonstrada a sua utilidade co-

mo tal, mas através do uso com-passivo, para as situações publi-cadas e que avalizam o estudo",explicou.

O Departamento de Saúde apre-sentou o programa piloto de usoterapêutico da cannabis, apósum estudo que demonstrou quequase metade dos doentes quereceberam o tratamento se mos-trou satisfeita e reconheceu umamelhoria do seu estado desaúde.

O programa tinha como objecti-vo principal avaliar a utilizaçãoterapêutica de um extractocientificamente controlado decannabis, respondendo à iniciati-va da Associação Ágata, de

doentes com cancro na mama.

Segundo o departamento Cata-lão, o derivado de cannabis dis-ponível é um extracto que seadministra através de um pulve-rizador aplicado na mucosa bu-cal.

O estudo contou com 207 doen-tes com patologias diversas: dorneuropática em doentes comesclerose múltipla, dores neuro-páticas de diversas etiologias,síndrome de anorexia-caquexiadevida a cancro ou SIDA e pes-soas com náuseas ou vómitosresultantes do tratamento comquimioterapia.

E em Portugal, para quandoa adesão a esta iniciativa?

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AcçãoAcção

Acção & Tratamentos • Maio/Junho 200810

Comportamentos sexuais e a infecção VIH/SIDA em Portugal

Raquel Lucas*

Foram apresentados no passadodia 6 de Maio, no Instituto deCiências Sociais da Universidadede Lisboa, os principais resulta-dos do inquérito às práticas eindicadores de risco na popula-ção portuguesa, concretamenteos que dizem respeito à utiliza-ção de preservativo e à realiza-ção do teste da infecção VIH.

Utilização de preserva-tivo

Na amostra estudada, declara-ram ter usado preservativo algu-ma vez na vida 66% das mulhe-res e 83% dos homens. Já naúltima relação sexual apenas20% das mulheres e 31% doshomens declaram tê-lo utilizado.

A utilização de preservativo aolongo da vida foi mais frequenteentre as mulheres de 30 a 34anos e entre os homens dos 20aos 24. O seu uso aumenta si-gnificativamente com o nível deescolaridade, sendo próxima de100% nos que têm o ensino su-perior completo.

Na primeira relação sexual, autilização de preservativo está,nos dois géneros, associada àidade em que ocorreu, sendomais frequente quando a primei-ra experiência ocorreu entre os17 e os 18 anos e menos fre-quente quando esta ocorreu en-tre os 26 e os 29 anos. Entre osinquiridos cuja primeira relaçãosexual teve lugar antes dos 15anos, as mulheres declararamter usado preservativo de formasignificativamente mais frequen-te do que os homens (44% e23%, respectivamente).Quando considerados apenas osinquiridos que referiram ter tidoum ou mais parceiros no anoanterior ao inquérito, a utilizaçãode preservativo foi mais frequen-te nos indivíduos que tinham ti-do 3 a 4 parceiros (90% nas

mulheres e 88% nos homens),quando comparada com a utili-zação pelos que tinham tido me-nor número de parceiros.

No entanto, entre as mulheresque declararam ter tido mais de4 parceiros no ano anterior, ape-nas 24% utilizaram preservativo,uma proporção substancialmen-te menor do que a encontradanos homens, 74%. A fracçãodos participantes que referiuuso consistente (com todosos parceiros no ano anterior)aumentou com o número deparceiros referidos, tanto nasmulheres como nos homens.

A utilização de preservativo naúltima relação sexual foi maisfrequente nos homens e, nosdois géneros, foi mais frequentenos inquiridos que referiram teruma relação na qual não se sen-tiam comprometidos (64% nasmulheres e 72% nos homens)e menos frequente nos que de-clararam viver em casal (9%nas mulheres e 16% nos ho-mens). Os inquiridos que referi-ram não ter prática religiosa de-clararam ter usado preservativomais frequentemente na últimarelação, o mesmo se passandocom aqueles que definiram asua orientação sexual como ho-mossexual.

A referência a problemas como uso de preservativo não esteveassociada à sua utilização. Osinquiridos que concordaram coma afirmação "O preservativo émuito caro" usaram-no na últimarelação de forma significativa-mente mais frequente.

Teste para a infecçãoVIH

Entre os inquiridos, 44% já ti-nham feito pelo menos uma vezo teste para a infecção VIH e42% indicaram a realização de

um exame médico geral, ou umahospitalização, como motivo darealização do último teste. Ape-nas 8% declararam tê-lo feitopor precaução em relação a ris-cos pessoais ou do parceiro.

Entre os inquiridos que nuncatinham feito o teste, 16% nãoadmitiam vir a fazê-lo numa ou-tra ocasião e, destes, 79% justi-ficaram-no por não se considera-rem em risco e 2% por não sa-berem onde fazê-lo.

Nos dois sexos, foi significativaa tendência para o aumento daproporção de indivíduos testadoscom o aumento da escolaridade.A realização regular do teste foimais frequente entre os inquiri-dos que:

• Referiram ter uma relação des-comprometida, comparativa-mente com os que declararamnão ter uma relação regular.• Tinham entre 30-40 anos (30-34, nas mulheres; 35-39 anos,nos homens.• Classificavam a sua orientaçãocomo bissexual, nas mulheres(66% tinham sido testadas), ehomossexual, nos homens (74%tinham feito o teste).• Já tinham ouvido falar da infec-ção VIH muitas vezes e referiramconhecer pessoalmente alguémou ter algum familiar/amigo queestivesse infectado pelo VIH ouque tivesse morrido com sida.

Dos inquiridos que referiram pe-dir a cada novo parceiro que fi-zesse um teste do VIH, 61%das mulheres e 48% dos ho-mens tinham-no feito eles pró-prios.Nos dois sexos, a probabilidadede ter feito o teste no ano ante-rior aumentou com o númerode parceiros sexuais referidosnesse ano.

Globalmente, 7% das mulherese 23% dos homens referiram

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Marcha Global da Marijuana

Luís Mendão; Rosa Freitas

No passado dia 3 de Maio, reali-zou-se em Lisboa e no Porto,em simultâneo com mais de 200cidades em todo o mundo, aMarcha Global da Marijuana,manifestação anual em prol dalegalização do cultivo, venda econsumo medicinal e recreativoda cannabis.

Em Lisboa, a Marcha, em queparticiparam pacificamente maisde 600 pessoas, saiu do Jardimdas Amoreiras e terminou noLargo de Camões com declara-ções favoráveis à utilização regu-lamentada da cannabis.

O médico Bruno Maia (da As-sociação Médicos pela Escolha)e Luís Mendão (do GAT) manifes-

taram-se a favor do uso terapêu-tico da cannabis. Para este mem-bro do GAT, é mesmo urgenteproceder à regulamentação detodas as substâncias psicotrópi-cas ilegais, dado que o sistemaactual viola as liberdades e direi-tos individuais e produz social-mente crime, prisão, doença emortes.

Na sua intervenção, Miguel Por-tas, deputado do ParlamentoEuropeu, chamou a atenção parao facto de não haver sociedadeslivres de drogas, pelo que a solu-ção é a sociedade aprender aviver com as drogas. Acrescen-tou ainda que "não há ninguémque possa dizer que um cigarrolegalizado faz menos mal à saú-

de do que um ilegal". AntónioElói, do gabinete dos vereadores"Cidadãos por Lisboa", fez umaabordagem ecológica da liberda-de, da ingestão de substânciasnão controlada pelo Estado,incluído comer, beber, fumar,etc..

Pedro Pombeiro, porta-voz daMarcha em Lisboa e membro da"Com.Maria", afirmou que "a or-ganização recusa a compra demarijuana a traficantes, peloque defende que a liberdade decultivar para auto-consumo per-mitirá às pessoas consumiremdroga de boa qualidade, certifi-cada e fiscalizada".

Acção

Acção & Tratamentos • Maio/Junho 2008 11

ter tido dois ou mais parceirossexuais no ano anterior ao in-quérito. Entre estes, não tinhamusado preservativo com nenhum

dos parceiros, 28% das mulhe-res e 21% dos homens, tendofeito pelo menos um teste paraa infecção VIH no ano anterior,

23% das mulheres e 19% doshomens.*Serviço de Higiene e Epidemiologia.Universidade de Medicina do Porto

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A realização, por iniciativa do Dr. Jorge Sampaio (Enviado Especial das Nações Unidas para aLuta contra a Tuberculose e Embaixador de Boa Vontade da CPLP para os Assuntos da Saúde),de um Fórum da Sociedade Civil da CPLP para questões de saúde, à margem da Cimeira deChefes de Estado e de Governo da CPLP.

Positivo

A retoma pela UNITAID da proposta de criação de um "reservatório" de patentes (Patent Pool)para produção de medicamentos mais baratos para países em desenvolvimento).

Período de janela

Não reconhecimento - no Draft da Directiva da EU sobre informação aos pacientes -das ONGs dirigidas por doentes como interlocutores privilegiados no acesso e divulgação deinformação sobre medicamentos.

Negativo

AcçãoAcção

Acção & Tratamentos • Maio/Junho 200812

Preocupações com tratamentos para crianças

Luís Mendão

A Merck, Sharp & Dohme (MSD),a farmacêutica que comercializaem Portugal o efavirenze um dosanti-retroviral mais vendidos coma marca Stocrin® e a Bristol-Myers Squibb (BMS), que ocomercializa sob a designação(Sustiva®) na maioria dos paíseseuropeus, anunciaram a retiradado mercado da cápsula de 100mg.

As companhias farmacêuticasdizem que, em alternativa, sepodem usar outras formulações,duas cápsulas de 50mg e asolução oral.

A notícia chegou à comunidadeatravés da Agência Europeia doMedicamento (EMEA) que pediu oparecer do Grupo Europeu deTratamentos VIH/sida (EATG),grupo que comunicou ser contrárioa esta medida. Várias outras

organizações europeias, como aTRT-5 de França, FEAT e CACSIDAde Espanha também se opõem aesta decisão.

A EMEA, no entanto, apesar de terpedido aos dois detentores da AIMpara reverem a sua decisão eesperar novas indicações emSetembro, relembra que não temqualquer poder legal para osobrigar a manter uma determinadaformulação.

O GAT associa-se ao pedido paraque a BMS e MSD voltem atrás nadecisão que prejudica os doentese complica a prescrição deefavirenze.

Para além de discordarmos de quetenha sido tomada esta decisãosem ter sido ouvida a opinião dosmédicos prescritores e dasorganizações de pessoas que vivemcom VIH, as nossas preocupaçõesfundamentais são:

• A solução oral tem um sabor quea grande maioria dos doentes nãosuporta

• O uso da formulação de 50mgaumenta o número de cápsulascom possíveis consequênciasnegativas na adesão

• Os maiores utilizadores são ascrianças e mulheres (quandousam doses inferiores aos600mg/dia) cujos interesses asfarmacêut icas geralmentedesvalorizam

• A maioria das crianças quenecessitam desta formulaçãoencontra-se nos países pobres,mais uma vez prejudicados porestratégias de mercado pensadassó para países ricos.

A pediatra Isabel Soares, doHospital Garcia de Orta e membrodo Conselho Consultivo do GATcontactada por nós declarou quea formulação 100 mg é muitoimportante nos ajustes de dosenas crianças e adolescentes e quea solução oral não é umaalternativa viável.

Vai ser retirada do mercadoa cápsula de 100mg doefavirenze utilizada paraajustes de dose e, sobretudo,em pediatria, para tratarcrianças com VIH.

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Acção & Tratamentos • Maio/Junho 2008 13

Tratamentos

Aumento significativo da tuberculose resistente à isoniazidano Reino Unido

A resistência aos fármacoscontra a Tuberculose (TB) estáa aumentar em todo o mundo.Desde 1987 que o número decasos de TB observados emInglaterra, País de Gales e Irlan-da do Norte tem aumentado si-gnificativamente, tendo-se regis-tado mais de 8.000 casos só em2006.

Na região de Londres, tem havi-do alguma evidência de trans-missão de estirpes resistentesentre a população reclusa e en-tre os utilizadores de drogas.

Tem-se, também, registado umligeiro aumento do número decasos de tuberculose multi-resis-tente (TB-MR), isto é, resistentea mais do que um fármaco, em-bora apenas se tenha verificadoum caso de tuberculose extensa-mente resistente (TB-XR), ouseja, resistente a quase todosos fármacos.

Os investigadores pensam quea maioria dos casos de TB-MRobservados no Reino Unido (RU)se deve à baixa adesão dosdoentes ao tratamento e não àtransmissão entre os indivíduos(*).

Por estas razões, os investigado-res da Agência de Protecção daSaúde do Reino Unido estuda-ram as tendências verificadasna resistência aos medicamentosanti-TB em Inglaterra, País deGales e Irlanda do Norte, entre1998 e 2005.

Foram analisados os resultadosde 28.620 casos de TB confirma-dos por cultura (um exame labo-ratorial). Os doentes tinhamuma idade média de 35 anos,57% eram do sexo masculino,

69% nascera fora do ReinoUnido, 24% tinha entrado noRU nos dois anos anteriores e42% dos casos foram detectadosem Londres.

Resultados

A percentagem de casos de TBresistente a uma qualquer dassubstâncias utilizadas no trata-mento de primeira linha aumen-tou de 5,6%, em 1998, para7,5%, em 2005.

Analisados os números relativosa cada um dos fármacos indivi-dualmente, verificou-se que aresistência à isoniazida aumen-tou de 5% para 7,2%, em 2003,mantendo-se estável desde en-tão.

Em Londres, o aumento da resis-tência à isoniazida foi particular-mente notado e estatisticamentesignificativo, constituindo causaspossíveis para este facto, quera migração, quer o "desadequa-do controlo da transmissão" veri-ficado na capital de Inglaterra.

A análise estatística detalhadamostrou que o aumento da re-sistência à isoniazida fora deLondres não tinha significado.Tendo-se efectuado um controlopara diagnóstico e tratamentoprévios de TB, verificou-se queo aumento da TB-MR tambémnão era estatisticamente signifi-cativo.

No que respeita à rifampicina,verificou-se um aumento ligeirona resistência a esta substância,de 1% para 1,2%. Finalmente,em relação aos casos de TB-MR,registou-se um aumento maisdiscreto, de 0,8% para 0,9%.

Registou-se pouca evidência de

resistência a fármacos anti-TBde segunda e terceiras linhas,tendo-se verificado apenas umúnico caso de TB-XR (em 2003)num doente sem história préviade TB.

Foram identificados seis gruposde doentes de TB-MR, envolven-do pouco menos de 20 de todosos casos de TB.

Um dos grupos, constituído porseis doentes, foi classificado co-mo um "surto". Cinco dos doen-tes viviam na mesma área, todospertenciam a uma minoria étni-ca, independentemente de te-rem nascido dentro ou fora doReino Unido.

Quatro casos de TB-MR faziamparte de um surto de resistênciaà isoniazida em Londres, tendo-se desenvolvido resistência àrifampicina como resultado dabaixa adesão aos tratamentos.

Já num outro grupo (de três ouquatro casos), era menos prová-vel que a resistência à isoniazidativesse tido origem no ReinoUnido, visto que dois dos doen-tes (provenientes da Ásia) ti-nham chegado nos cinco anosanteriores.

Os três grupos restantes envol-viam sempre apenas doisdoentes e transmissão emcontexto familiar.

(*) Nota da Redacção: Ao contrário do que parece indicar o artigo, e tal como em relação à terapêutica anti-retroviral, asresistências aos medicamentos não se devem exclusivamente à baixa adesão dos doentes ou à transmissão entre os indivíduosde vírus resistentes, mas também, e frequentemente, à má prescrição dos fármacos.

A resistência à isoniazida, umfármaco tuberculostático-chavena Inglaterra, País de Gales eI r l anda do Nor te , tema u m e n t a d o d e f o r m asignificativa nos últimos anos,de acordo com um estudopublicado no British MedicalJournal, de 2 de Maio passado.

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Acção & Tratamentos • Maio/Junho 200814

Tratamentos

Interacção medicamentosa inesperadaentre o Kaletra® e a rosuvastatina

De acordo com um estudofarmacocinético realizado emindivíduos VIH-negativos, umainteracção entre o lopina-vir/ritonavir (Kaletra®) e a rosu-vastatina (Crestor®) - um medi-camento utilizado para baixar ocolesterol) pode resultar no au-mento para valores cerca de 5vezes superiores ao normal, dospicos máximos de concentraçãoda rosuvastatina.

Apesar dos níveis altos alcança-dos, esta interacção pode preju-dicar a eficácia desta substânciana diminuição dos níveis de co-lesterol no sangue.

As substâncias da classe das es-tatinas são frequentemente utili-zadas para controlar os níveiselevados do colesterol-LDL. Noque respeita à rosuvastatina,uma das estatinas mais eficazese frequentemente utilizada, foijá demonstrada a sua eficácia esegurança no tratamento do au-mento dos lípidos nas pessoasseropositivas para o VIH a fazerHAART.

Além disso, a sua metabolizaçãoquase não utiliza o circuito meta-bólico dos inibidores da protease- tendo-se, por isso, admitidoque havia um baixo risco de in-teracção.

O estudo farmacocinético, abertoe de apenas um braço, decorreu

em homens e mulheres VIH-ne-gativos, saudáveis, com idadescompreendidas entre os 18 e os60 anos, com função metabólicanormal e com mais de 50 kg.Os resultados foram publicadosno número de 15 de Abril doJournal of Acquired ImmuneDeficiency Syndromes.

O estudo decorreu em 3 fases.Na primeira, foram administra-dos aos participantes 20 mg diá-rios de rosuvastatina durantesete dias. Na segunda (dias 8 a17), os participantes interrompe-ram a rosuvastatina e tomaramuma dose padrão de Kaletra®:dois comprimidos (400 mglopinavir / 100 mg ritonavir)duas vezes por dia. Na terceira(dias 18 a 24), tomaram as duassubstâncias. No final de cadafase, procedeu-se à realizaçãode várias análises.

Das 20 pessoas que participaramno estudo, 15 completaram to-das as fases, nove do sexo femi-nino.

Foi detectada uma subida de 4,7vezes no valor da Cmax da rosu-vastatina e de 2,1 vezes no valorda AUC da rosuvastatina quandoadministrada com o Kaletra®,mas não se identificou nenhumaumento na semi-vida da rosu-vastatina.

A comparação das curvas de

concentração da rosuvastatinamostrou um aumento considerá-vel nas primeiras sete horas,após as quais os níveis destefármaco, com e sem Kaletra®,se tornavam semelhantes. Ne-nhum dos parâmetros relativosao lopinavir e ao ritonavir foramsignificativamente afectados.

Dado que menos de 10% darosuvastatina é metabolizadapela via do citocromo P450, eque estudos anteriores mostra-ram uma interacção reduzida, arazão para estes resultados nãoé inteiramente compreendida.

Além disso, apesar do aumentonas concentrações de rosuvasta-tina, observou-se um decréscimoda sua eficácia na diminuiçãodos lípidos: a redução do LDL-colesterol foi de 31% quando arosuvastatina era utilizada deforma isolada, e de 26% quandoera utilizada em combinação. Ocolesterol total também diminuía27% com a rosuvastatina isola-da, versus apenas 21% com acombinação.

Não sendo ainda conhecido omecanismo responsável por estainteracção, os investigadores le-vantam a hipótese de, "muitoprovavelmente", se dever àacção do lopinavir e/ou ritonavirnoutra enzima envolvida no me-tabolismo das estatinas, o poli-péptido orgânico transportador

Causas e explicações

Os grupos etários mais jovensconstituíam um factor de riscopara o aparecimento de resistên-cia a qualquer fármaco anti-TB.Em Londres, o risco de resistên-cia à isoniazida era maior paraos doentes negros das Caraíbasdo que para os brancos.

Fora de Londres, os doentes afri-canos negros, os indianos,paquistaneses, chineses e do

Bangladesh encontravam-seassociados quer à multi-resistên-cia, quer à resistência isolada àrifampicina.

Os investigadores referem queo aumento da resistência à iso-niazida está provavelmente rela-cionado com o aumento do nú-mero de doentes com TB-MR,provenientes da África sub-Sahariana e do sub-continenteindiano. Contudo, os casos deresistência à isoniazida estão

principalmente associados ao"uso inadequado dos fármacos"e ao contexto prisional, não obs-tante reflectirem uma mudançana população do Reino Unido,resultante dos movimentos mi-gratórios em curso. Até à data,foram identificados mais de 300casos pertencendo a este surto,sobretudo no norte de Londres.A equipa de investigação acen-tua que o surto ainda continua,sugerindo que "as medidas decontrolo são insuficientes".

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Acção & Tratamentos • Maio/Junho 2008 15

Tratamentosde aniões 1B1, também conheci-do como OAPTC ou OATP2.

Tal interacção impediria a rosu-vastatina de alcançar o seu localde acção, o que conduziria aoaumento observado nas suasconcentrações e à diminuiçãodo seu efeito no decréscimo dosníveis de lípidos.

São, porém, necessários maisestudos sobre as interacções en-tre os IPs e a rosuvastatina, in-cluindo mais análises sobre asegurança e eficácia da rosuvas-tatina com o Kaletra. Até lá acombinação da rosuvastatinacom o lopinavir/ritonavir de-ve ser administrada com pre-caução (*).

Referências: Kiser JJ et al.Drug/drug interaction betweenl op i n av i r / r i t o nav i r a ndrosuvastat in in hea l thyvolunteers. J Acquir ImmuneDefic Syndr 47: 570-578, 2008

Tradução e adaptação de MarcoPina e Silva

(*) Nota da Redacção: De acordo com alguns testemunhos individuais, fenómeno semelhante pode verificar-se com o uso deoutras estatinas, nomeadamente a pravastatina, pelo que se devem tomar as mesmas precauções. O exercício aeróbico (cardio-fitness) e um regime alimentar adequado são ainda a melhor forma de controlar os lípidos.

Estudo Australiano sobre cancro anal

De acordo com um estudo,publicado na edição de Abril darevista Sexually TransmitedInfections, numa coorte austra-liana de seropositivos para oVIH, foram detectadas, em cercade dois terços das pessoas, célu-las anormais no ânus e, em84%, uma infecção anal causadapor estirpes do vírus papilomahumano (VPH) associadas a umalto risco de cancro anal.

Os investigadores descobriramque a infecção com VPH de altorisco estava relacionada com apresença de células pré-cancero-sas de grau indeterminado oualto, mas com um significadopotencial de alto grau de mali-gnidade.

A neoplasia do ânus é uma doen-ça grave associada a níveis ele-vados de morbilidade e de mor-talidade. A prevalência do cancroanal entre os homens homos-sexuais parece ser semelhanteà do cancro do colo do úteronas mulheres antes de ter sidointroduzido o rastreio sistemático(aproximadamente 35 casos por100.000). Têm sido observadaspercentagens mais elevadas emmulheres VIH+, mas esta situa-ção é, por enquanto, considera-da rara.

Tanto o cancro anal como o docolo do útero têm sido relaciona-dos com a infecção por determi-

nadas estirpes de VPH. O testede Papanicolau é usado, por roti-na, como rastreio de alteraçõespré-cancerosas do colo do útero.Mas não se sabe qual o papeldo rastreio do cancro anal e setal aumenta a taxa de sobrevida.

Está, no entanto, bem estabele-cido que o cancro anal localizado,detectado num estádio precoce,responde melhor ao tratamentodo que num estádio mais avan-çado e alguns médicos e activis-tas dos tratamentos têm vindoa defender que os homossexuaisdeveriam ser rastreados para aexistência de células anormaisno ânus com exames semelhan-tes ao teste de Papanicolau.

Estudos realizados nos EUA su-gerem que 93% dos homenshomossexuais seropositivos parao VIH e 14% das mulheres infe-ctadas por este vírus têm célulasanormais no ânus.

Os investigadores pretendiamverificar a percentagem de doen-tes seropositivos que apresenta-vam células anormais no ânuse que estavam infectados comestirpes de VPH de alto risco.

O estudo envolveu 126 doentescom idades compreendidas entreos 18 e 60 anos (média de idade,45 anos), sendo a maioria ho-mossexuais masculinos - 124doentes (98%). Os participantes

apresentavam contagens de cé-lulas CD4 acima das 300/mm3,sendo a média de 545 célu-las/mm3. Dois terços tinhamcarga viral indectável, um quar-to, diagnóstico de SIDA, 25%antecedentes de tratamento analmédico ou cirúrgico e, 18%, sidosubmetidos a remoção de condi-lomas anais.

Foi possível obter os resultadosda citologia anal de 113 doentese, desses, 85 (67%) apresenta-vam células consideradas anor-mais. A maioria dos doentes,106 (84%), tinha infecção analcom uma estirpe de VPH de altorisco e 79 destes doentes (74%)tinha células anais anormais.

Um total de 16 participantes(13%) apresentava células pré-cancerosas de alto grau (lesõesepiteliais escamosas de altograu) e em todos foi detectadainfecção por estirpes de VPHconsideradas de alto risco. Paraalém disto, em 13 doentes(10%) foram detectadas altera-ções celulares de significado in-determinado com possíveis alte-rações de alto grau de maligni-dade e 92% destes estavamigualmente infectados com asestirpes consideradas de altorisco.

Não se verificou qualquer as-sociação entre a presença decélulas anais anormais e a idade,

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Acção & Tratamentos • Maio/Junho 200816

Tratamentos

A contaminação do nelfinarvir nãoestá associada a risco de cancro

De acordo com a empresa far-macêutica Roche, a contaminaçãodo medicamento nelfinavir(Viracept®) com etilmetanosulfonato(EMS), verificada na Primavera de2007 e que motivou a retirada domercado deste medicamento, nãoparece atingir níveis que possamcausar aparecimento de neoplasias.

Entre os meses de Março e Maio de2007, a produção de comprimidosde nelfinavir foi acidentalmentecontaminada com EMS, tendo aAgência Europeia do Medicamento(EMEA) decidido ordenar a retiradade todas as embalagens de Viraceptdistribuídas mundialmente e a sus-pensão temporária da licença decomercialização.

A empresa farmacêutica deten-torado medicamento iniciou, então,estudos para tentar determinar o riscorelacionado com a exposição aoproduto contaminante. Uma vez queeste pode causar cancro nos humanos,os estudos realizados foram condu-zidos em animais. Um painel deespecialistas em toxicologia, consultadopela Roche, concordou que os estudosrealizados foram bem conduzidos epermitem avaliar o risco em humanos.Os estudos permitiram determinar

o nível de exposição ao EMS queseria necessário para causar oaparecimento de cancro.

Uma interpretação cautelosa dosresultados sugere que os doentesque estavam medicados comnelfinavir foram expostos a níveis deEMS muito abaixo dos quepotencialmente poderiam causarcancro, conclusão com a qual ostoxicologistas concordaram.

A Roche tem promovido, em todo omundo, diversas reuniões com acomunidade de pessoas infectadaspelo VIH e com médicos especialistase os últimos resultados foramapresentados em Londres, no dia 2de Junho, a um painel de represen-tantes de ONGs e activistas de trata-mentos e será analisado por umgrupo ad hoc de especialistas de VIHdia 10 de Junho no dia 10 do mesmomês.

Os resultados foram enviados àEMEA que os irá analisar.

Já em 24/07/2008 o INFARMEDatravés da Circular Informativa N.º123/CD informou que a AgênciaEuropeia de Medicamentos (EMEA)confirmou não haver aumento do

risco de desenvolvimento de cancroem doentes que tomaram Viracept ®

(nelfinavir) contaminado.

a contagem de células CD4, acarga viral ou um diagnósticoprévio de doença definidora deSIDA. No entanto, a história pré-via de tratamento de condilomasestava associada à presença decélulas anormais.

A análise estatística demonstrouque os doentes com estirpes deVPH de alto risco no ânus tinhammaior probabilidade de apresen-tar células anais anormais e alte-rações celulares de alto grau oupotencialmente de alto grau.

Demonstrou-se a existência deuma associação estatisticamentesignificativa entre aquelas estir-pes e as alterações celularesanais pré-cancerosas.

Os investigadores afirmam noseu artigo que "a presença deuma citologia anal anormal este-ve associada de forma significati-va à infecção anal por estirpesde VPH de alto risco". Mas acres-centam que "é de notar que asinfecções anais com estirpes deVPH de alto risco eram igual-mente comuns em pessoas ondenão se detectaram anormalida-des nos exames citológicos".

Os autores sugerem que progra-mas de rastreio semelhantesaos usados na prevenção docancro do colo do útero possamvir a beneficiar estes doentescom alterações anormais da cito-logia anal. Contudo, "é neces-sário perceber melhor a etiologia

e o papel deste tipo de interven-ção nesta situação, antes de in-troduzir este tipo de programasde prevenção".

Aos doentes incluídos neste es-tudo foi dada a oportunidade departiciparem num outro ensaiode investigação da potencial va-cina terapêutica para a estirpe16 do VPH.

Referência:Anderson J et al.Abnormal anal cytology in high-risk human papilloma virusinfection in HIV-infectedAustralians. Sex Trasm Infect ,online edition, April 1st, 2008.

Traduzido e adaptado por MarcoPina e Silva.

Os resultados foram finalmentetornados públicos na XVIIConferência IAS, na Cidade doMéxico, e demonstram que oEMS - que se encontra em, pelomenos, 40 medicamentos -provoca danos no ADN a partirde uma concentração de 25 (emratos mutantes) a 80 mg/kg/dia(em ratos normais), daí o seucarácter cancerígeno.

Estes estudos, cujas conclusõespodem ser aplicadas aos sereshumanos, vieram alterar, deforma substancial, as perspecti-vas que existiam entre cientistas,indústria e clínicos sobre osriscos de doses relativamentereduzidas deste produto e outrosque provocam alterações nosgenes e cromossomas.

Foi no entanto considerado queos níveis mais elevados a que secalcula que estiveram expostasas pessoas que tomaram oViracept(r) contaminado forammuito abaixo daqueles níveis -cerca 0,055 mg/kg/dia.

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A terapêutica anti-retroviral naspessoas infectadas com VIH sub-tipo não-B sem tratamento pré-vio (naive) suprime a carga viraltão rapidamente como nas pes-soas com VIH subtipo B, de acor-do com a base de dados de re-sistências do VIH, do Reino Uni-do. Estas conclusões foram apre-sentadas na Conferência da As-sociação Britânica de VIH(BHIVA) que teve lugar emBelfast, na última semana deAbril.

Surpreendentemente, este estu-do retrospectivo com mais de2.000 doentes demonstrou queas pessoas infectadas com ossubtipos A e C conseguiam obtercarga viral indetectável (definidacomo inferior a 50 cópias/ml),num tempo mais curto que osdoentes com subtipo B, num va-lor estatisticamente significativo,mesmo depois do ajuste paravalores de carga viral basal ede outras variáveis, embora osinvestigadores não consideremeste facto como clinicamente si-gnificativo.

Apenas alguns estudos anterio-res tinham analisado a respostaà terapêutica de acordo com osubtipo do VIH, agrupando ossubtipos não-B e comparando-os com o subtipo B. Dada a cres-cente diversidade de subtiposde VIH no Reino Unido - e mun-dialmente -, os investigadorespretenderam avaliar se a res-posta à terapêutica de primeiralinha diferia em função do subti-po e analisaram separadamenteos subtipos mais frequentes noReino Unido.

O estudo incluiu todos os doen-tes naive dos últimos 16 anoscom um teste de resistênciasprévio ao início da terapêutica,que iniciaram pela primeira vezuma combinação com pelo me-nos 3 medicamentos anti-retro-virais e que tinham mais de 12

meses de seguimento. Os doen-tes com níveis de resistênciaintermédios ou altos a um oumais dos medicamentos da com-binação de primeira linha foramexcluídos da análise.

Para além da resposta na conta-gem de células CD4, foram anali-sados o tempo até atingir valoresindetectáveis de carga viral e otempo que mediou até ao reapa-recimento de carga viral detectá-vel ou rebound, sendo este defi-nido como duas medições conse-cutivas superiores a 100 có-pias/ml ou um valor superior a1.000 cópias/ml após a alteraçãoda terapêutica.

Dos 2.116 doentes incluídos,1.550 (73%) estavam infectadoscom subtipo B, 272 (13%) comsubtipo C, 66 (3%) com subtipoA, 57 (3%) eram portadores deum vírus recombinante CRF_AG,41 (2%) tinham subtipo D e 130(6%) tinham vários outros sub-tipos.

Um total de 89% dos doentesinfectados com subtipo B atingiucarga viral indetectável aos 12meses, com um tempo médiode 3 meses.

Em contraste, 94% dos partici-pantes infectados com subtipoC e 97% dos que tinham subtipoA atingiram carga viral indetectá-vel aos 12 meses, com um tem-

po médio até à supressão viralde 2,3 e 2,1 meses, respectiva-mente.

Os outros subtipos analisadostinham respostas semelhantesao subtipo B: 89% no grupocom subtipo recombinante AG,90% no subtipo D e 91% nosoutros subtipos, tendo atingidocarga viral indetectável ao fimde 12 meses com um tempomédio até à supressão viral de,respectivamente, 2,8, 2,6 e 2,9meses.

Verificou-se, ainda, uma associa-ção significativa entre o subtipode VIH e o tempo que demoroua obter carga viral indetectável,tendo a supressão sido mais rá-pida no subtipo A e no subtipoC, quando comparados com osubtipo B.

Além disto, nos 20% de doentesque apresentaram rebound, istoocorreu com mais rapidez nosubtipo C do que no subtipo B.

Contudo, a Dr.ª Linda Harrison,do MRC Clinical Trials Unit, afir-mou que, embora as diferençasfossem estatisticamente signifi-cativas, estas eram de apenasalgumas semanas entre os maisrápidos e os mais lentos a atingirsupressão viral, e que pareciamter "pouco significado clínico"entre os diferentes subtipos deVIH.

Uma análise mais exaustiva, querealçou a possibilidade de dificul-dades de adesão à terapêutica,levou os investigadores a con-cluir que esta falência virológicaestaria "provavelmente, maisassociada à adesão do que aoutros factores".

Os autores não encontraram di-ferenças na contagem de célulasCD4 entre os diferentes subtiposapós 3 meses de início de tera-pêutica anti-retroviral ou subse-

Acção & Tratamentos • Maio/Junho 2008 17

Tratamentos

A resposta clínica ao tratamento de primeira linha é semelhante entre subtipos B e não-B do VIH

A terapêutica anti-retroviral naspessoas infectadas com VIH sub-tipo não-B sem tratamento pré-vio (naive) suprime a carga viraltão rapidamente como nas pes-soas com VIH subtipo B, de acor-do com a base de dados de re-sistências do VIH, do Reino Uni-do. Estas conclusões foram apre-sentadas na Conferência da As-sociação Britânica de VIH(BHIVA) que teve lugar emBelfast, na última semana deAbril.

Surpreendentemente, este estu-do retrospectivo com mais de2.000 doentes demonstrou queas pessoas infectadas com ossubtipos A e C conseguiam obtercarga viral indetectável (definidacomo inferior a 50 cópias/ml),num tempo mais curto que osdoentes com subtipo B, num va-lor estatisticamente significativo,mesmo depois do ajuste paravalores de carga viral basal ede outras variáveis, embora osinvestigadores não consideremeste facto como clinicamente si-gnificativo.

Apenas alguns estudos anterio-res tinham analisado a respostaà terapêutica de acordo com osubtipo do VIH, agrupando ossubtipos não-B e comparando-os com o subtipo B. Dada a cres-cente diversidade de subtiposde VIH no Reino Unido - e mun-dialmente -, os investigadorespretenderam avaliar se a res-posta à terapêutica de primeiralinha diferia em função do subti-po e analisaram separadamenteos subtipos mais frequentes noReino Unido.

O estudo incluiu todos os doen-tes naive dos últimos 16 anoscom um teste de resistênciasprévio ao início da terapêutica,que iniciaram pela primeira vezuma combinação com pelo me-nos 3 medicamentos anti-retro-virais e que tinham mais de 12

meses de seguimento. Os doen-tes com níveis de resistênciaintermédios ou altos a um oumais dos medicamentos da com-binação de primeira linha foramexcluídos da análise.

Para além da resposta na conta-gem de células CD4, foram anali-sados o tempo até atingir valoresindetectáveis de carga viral e otempo que mediou até ao reapa-recimento de carga viral detectá-vel ou rebound, sendo este defi-nido como duas medições conse-cutivas superiores a 100 có-pias/ml ou um valor superior a1.000 cópias/ml após a alteraçãoda terapêutica.

Dos 2.116 doentes incluídos,1.550 (73%) estavam infectadoscom subtipo B, 272 (13%) comsubtipo C, 66 (3%) com subtipoA, 57 (3%) eram portadores deum vírus recombinante CRF_AG,41 (2%) tinham subtipo D e 130(6%) tinham vários outros sub-tipos.

Um total de 89% dos doentesinfectados com subtipo B atingiucarga viral indetectável aos 12meses, com um tempo médiode 3 meses.

Em contraste, 94% dos partici-pantes infectados com subtipoC e 97% dos que tinham subtipoA atingiram carga viral indetectá-vel aos 12 meses, com um tem-

po médio até à supressão viralde 2,3 e 2,1 meses, respectiva-mente.

Os outros subtipos analisadostinham respostas semelhantesao subtipo B: 89% no grupocom subtipo recombinante AG,90% no subtipo D e 91% nosoutros subtipos, tendo atingidocarga viral indetectável ao fimde 12 meses com um tempomédio até à supressão viral de,respectivamente, 2,8, 2,6 e 2,9meses.

Verificou-se, ainda, uma associa-ção significativa entre o subtipode VIH e o tempo que demoroua obter carga viral indetectável,tendo a supressão sido mais rá-pida no subtipo A e no subtipoC, quando comparados com osubtipo B.

Além disto, nos 20% de doentesque apresentaram rebound, istoocorreu com mais rapidez nosubtipo C do que no subtipo B.

Contudo, a Dr.ª Linda Harrison,do MRC Clinical Trials Unit, afir-mou que, embora as diferençasfossem estatisticamente signifi-cativas, estas eram de apenasalgumas semanas entre os maisrápidos e os mais lentos a atingirsupressão viral, e que pareciamter "pouco significado clínico"entre os diferentes subtipos deVIH.

Uma análise mais exaustiva, querealçou a possibilidade de dificul-dades de adesão à terapêutica,levou os investigadores a con-cluir que esta falência virológicaestaria "provavelmente, maisassociada à adesão do que aoutros factores".

Os autores não encontraram di-ferenças na contagem de célulasCD4 entre os diferentes subtiposapós 3 meses de início de tera-pêutica anti-retroviral ou subse-

Este estudo não foi ajustadopara a etnia ou comporta-mento de risco, limitação im-portante dada a forte as-sociação entre estes factorese os subtipos. Das pessoasinfectadas com subtipo B,86% eram brancas e 90%eram homossexuais. A vastamaioria das pessoas infecta-das com subtipos não-B erade origem africana e/ou he-terossexuais.

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Acção & Tratamentos • Maio/Junho 200818

Tratamentos

A Hepatite C - genótipo 1 éa mais frequente emPortugal e a mais difícil detratar, sendo os resultadosdos tratamentos actuais osmais insatisfatórios, quer emtermos de eficácia quer deefeitos indesejáveis.

Novo inibidor da protease em estudo paradoentes com Hepatite C, genótipo 1

Luís Mendão; Maria José Campos

De acordo com resultados preli-minares de um estudo de faseII, o boceprevir, um inibidor daprotease para o VHC em desen-volvimento, em conjunto com ointerferão alfa-2b (Pegintron®)e ribavirina (Rebetol®), emdoentes naïve (sem tratamentoanterior), provocou uma alta ta-xa de resposta virológica precoce(RVP).

Dos doentes que foram tratadoscom boceprevir, 79% alcança-ram RVP, definida como cargaviral indetectável à 12ª semanade terapêutica, em comparaçãocom 34% dos que tomaram ape-nas Pegintron® e ribavirina.

Eis alguns excertos da informa-ção da Schering sobre estes es-tudos.

"Estes resultados iniciais, apesarde preliminares, são muito enco-rajadores e mostraram que oboceprevir é um agente antiviralpotente contra a Hepatite C",disse Paul Kwo, o investigadorprincipal.

"Neste estudo, o boceprevir me-lhorou as taxas de RVP à 12ªsemana na infecção VHC genóti-po 1, em relação ao grupo decontrolo.".

O boceprevir está a ser avaliado,numa comb inação com

Pegintron® e Rebetol® para otratamento de doentes cominfecção crónica com o Genótipo1, em dois grandes estudos clíni-cos, de fase II, com mais de800 doentes. Um dos estudosinclui doentes naïve e o outroenvolve doentes que não res-ponderam às terapêuticas decombinação prévias com pegin-terferão e ribavirina.

Nestes estudos com boceprevir,os sintomas adversos mais co-muns são fadiga, dores de cabe-ça, náuseas e anemia. Não háum aumento de rash para alémdo que foi observado no estudode controlo.

Os distúrbios gastrointestinaisforam os sintomas adversosmais comuns que levaram à des-continuação do tratamento comboceprevir.

Estudo em doentes semexperiência terapêuticaprévia

No estudo em doentes naïve,designado por HCV SPRINT-1,o Boceprevir (800 mg, três vezesao dia) está a ser avaliado emtrês regimes de tratamento:

• boceprevir em combinaçãocom pegintron® (1.5 mg/kguma vez por semana) eRebetol® (800-1400 mg diários)durante 28 ou 48 semanas;• 4 semanas de terapêutica decombinação com Pegintron® eRebetol® nas doses descritasacima, adicionando em seguidaboceprevir à combinação duran-te 24 ou 44 semanas;• boceprevir em combinaçãocom o Pegintron® e uma dose

baixa de Rebetol® (400-1000mg diariamente) durante 48 se-manas.

O endpoint primário deste estu-do é a obtenção de resposta vi-rológica sustentada [RVS, defini-da como carga viral indetectável,6 meses após o fim do tratamen-to]. Os doentes a receber estesregimes de boceprevir alcança-ram uma taxa de respostavirológica precoce superior a54% em todos os braços do es-tudo em comparação com ape-nas 34% no braço de controlo.

Entre 8 e 12,9% dos doentesnos braços que incluiam boce-previr tiveram de descontinuaro tratamento por reações adver-sas, contra apenas 5% de aban-donos no braço de controlo.

Foram incluídos nos diversoscentros - EUA, Canadá e Europa- em que o HVC SPRINT - 1 estáa ser realizado, 595 doentes dosquais 491 nos braços com boce-previr. Do total de pessoasincluídas 7% têm cirrose.

Para muitos doentes, as trêstomas d iár ias podemconstituir um problema sériode adesão.

quentemente, embora os doen-tes infectados com subtipo B ti-vessem contagens de célulasCD4 de base mais elevadas queos outros subtipos.

Referência:Harrison L et al. Effect of HIV-1 subtype on virological andimmunological responses to first-l ine HAART. 14th Annual

Conference of the British HIVAssociation (BHIVA), Belfast.Abstract 10, 2008.Traduzido e adaptado por MariaJosé Campos

quentemente, embora os doen-tes infectados com subtipo B ti-vessem contagens de célulasCD4 de base mais elevadas queos outros subtipos.

Referência:Harrison L et al. Effect of HIV-1 subtype on virological andimmunological responses to first-l ine HAART. 14th Annual

Conference of the British HIVAssociation (BHIVA), Belfast.Abstract 10, 2008.Traduzido e adaptado por MariaJosé Campos

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Acção & Tratamentos • Maio/Junho 2008 19

GLOSSÁRIO

MISSÃO DO ACÇÃO & TRATAMENTOS

O Acção & Tratamentos é uma publicação do Grupo Português de Activistas sobre tratamentos de VIH/SIDA -Pedro Santos (G.A.T.) que tem como princípio orientador:• O único modo de controlar a epidemia e diminuir o número de novas infecções é o acesso universal ao estadoda arte em prevenção, cuidados de saúde e tratamentos, no respeito integral dos direitos humanos e com aparticipação activa das pessoas que vivem com VIH e SIDA.

O Acção & Tratamentos é uma publicação independente dos poderes públicos, da indústria farmacêutica e dasassociações médicas e tem por objectivos:• Promover e defender o acesso à informação e à cidadania plena de todas as pessoas infectadas e afectadas edos grupos em situação de maior vulnerabilidade à epidemia (reclusos, trabalhadores sexuais, consumidores dedrogas, migrantes, jovens, mulheres e homens que têm sexo com homens).• Fornecer e divulgar informação actualizada referente à infecção, nos seus aspectos epidemiológicos e terapêuticos.• Promover a compreensão e adesão aos tratamentos e a melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivemcomo VIH/SIDA.• Promover o debate e a reflexão em torno dos problemas da SIDA, analisar as políticas ou acções governamentaise das instituições públicas e privadas.

Neoplasias:Também designadas por "tumores".Consistem num qualquer novocrescimento anormal de um qualquertecido do organismo. As neoplasiaspodem ser benignas ("não cancerosas",isto é, não invadem os tecidos vizinhose não lançam metástases) ou malignas(ou "cancerosas", ou seja, cresceminvadindo e destruindo os tecidosvizinhos e lançam metástases àdistância).

AUC - Area Under the Curve (áreasob a curva):Trata-se da medida da quantidade deuma substância administrada que atingea corrente sanguínea, num dado períodode tempo (o período de tempohabitualmente considerado é ou 24 horas,ou o intervalo entre as doses). A AUC écalculada colocando as várias medições,registadas ao longo do tempo estabelecido,num gráfico, de modo a formar umacurva. A área sob esta curva reflecte aexposição total à substância em causa,no período de tempo determinado.

Subtipos b e não-b e recombinantes:A identificação concreta das estirpes doVIH constitui um elemento importanteno diagnóstico, na terapêutica e naprevenção desta infecção. A pandemiado VIH é composta por múltiplos subtiposdos vírus VIH-1 e VIH-2 (com uma largapredominância do primeiro) e por umavariedade de formas recombinantesinter-subtipos.

Análise multivariável:Conjunto de procedimentos estatísticosque envolve a observação e análise demais do que uma variável estatísticasimultaneamente.

Cmax:Concentração máxima de umasubstância, por exemplo, de um fármaco,no sangue.

INNTR:Inibidores Não-Nucleósidos daTranscriptase Reversa. Trata-se de umadas principais classes de fármacosusadas no tratamento da infecção pelo

VIH. Os fármacos deste grupo, tal comonome indica, ligam-se e desactivam aenzima Transcriptase Reversa (TR) dovírus VIH-1. Esta enzima é uma proteínade que o vírus precisa para fazer maiscópias de si próprio. Sem uma TRfuncionante, a replicação viral éinterrompida.

Speed ball ou mista:termo utilizado com frequência para ouso intravenoso de heroína ou morfinae cocaína juntas na mesma seringa.Trata-se de uma combinação com riscoselevados. A cocaína actua como umestimulante, aumentando a frequênciacardíaca, mas os seus efeitosdesvanecem-se mais rapidamente doque os quer da heroína, quer da morfina,que, por seu lado, abrandam afrequência cardíaca e provocamdepressão respiratória, entre múltiplosoutros efeitos.

CalendárioMaio

Harm Reduction 2008: IHRA’s 19thInternational Conference, De 11 a 15, Barcelona, Espanha

25 Years of HIV PARISDia 19, Paris, França

Fourth VIRGIL Symposium on Antiviral Drug ResistenceDia 27, Lyon, França

Junho

UNGASS 2008Nova Iorque, EUADe 10 a 11 de Junho

3rd National Conference onPeer Education, HIV and AIDS, Dia 18,Nairobi, Kénia

4th International Workshop on HIVand HepatitisDia 19, Madrid, Espanha

Julho

Frontiers in Immunology Research2008 International ConferenceDia 22, Florença, Itália

Agosto

IAS XVII International AIDS Conference3 a 8 , Cidade do México

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