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«mas deixemos os poetas livres, deixemos viver, em cada época, até para exemplo, um punhado de
almas livres, inteiramente livres, de almas desviadas, mas que se castiguem e fiquem presas na sua
própria liberdade!...» - António Ferro
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Encontro com Luís Amaro
Só a luz! só a luz vale a vida! A luz interior ou a luz exterior.
Raul Brandão(Epígrafe que abre Diário íntimo, 3.ª ed., 2011)
Exposição na BNP - 2013 (clique aqui)
Assinalando o nonagésimo aniversário de Luís Amaro (n. 1923), a Biblioteca Nacional
de Portugal (BN) apresenta uma mostra documental da sua obra e atividade literária,
1. … na Biblioteca Nacional
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aberta ao público entre 7 de maio e 29 de junho de 2013.
Na sala de referência, o visitante encontra à direita uma área com três vitrinas
identificadas por um belo poster com o perfil recatado do Poeta: apresenta-se a
poesia publicada em livro (Dádiva, 1949, e Diário íntimo, 1975), posteriormente
reeditada e ampliada (Diário íntimo: Dádiva e outros poemas, 2.ª ed., Lisboa: &etc.,
2006 / 3ª ed., revista, Évora: Licorne, 2011), integrada em antologias poéticas
coletivas ( Antologia de poetas alentejanos, 1984, org. de Orlando Neves) ou ainda na
revista literária Árvore, que o Autor cofundou e dirigiu. Outra obra impressa, que
editou, reviu textualmente ou mesmo traduziu, está igualmente exposta.
O encontro realiza-se plenamente na descoberta de documentação manuscrita que
permite reconfigurar a existência convivial pública e privada – postais, cartas, poemas
que lhe foram enviados ou dedicados por poetas amigos, o manuscrito da recensão
crítica de Vergílio Ferreira a Dádiva (publicado em Vértice, n.º 76, Coimbra, dez.
1949), ou a reprodução de um texto jornalístico sobre o percurso de escrita de Luís
Amaro iniciado aos 12 anos de idade (Henrique Zarco, «Às portas de Mértola. A vida
do jornalista», O Distrito de Beja, 14.12.1935).
As vitrinas da exposição colocam assim em evidência o Espólio N5 da BNP, o de Luís
Amaro, composto por 54 caixas depositadas desde 1981, através do epistolário
recebido e colecionado pelo poeta – estão expostos originais de Vergílio Ferreira,
Irene Lisboa e Jorge de Sena, entre outros documentos biográficos.
No dia 13 de maio de 2013, na sala de referência da BN,
antes da Sessão evocativa do nonagésimo aniversário
de Luís Amaro, com intervenção de Eugénio Lisboa.
2. … na Vida e na Obra
Luís Amaro (n. Aljustrel / Alentejo, a 5 de maio de 1923), também conhecidocomo Francisco Luís Amaro, é um poeta e um investigador escrupuloso que dedicoutoda sua vida à literatura portuguesa.
A sua generosidade, de verdadeiro formador, para com investigadores, ensaístas eescritores é sobejamente conhecida por quem dele se abeira para falar de literaturaou solicitar algum apoio: agradecemos-lhe as «preciosas indicações, achegas ou atéa correção de erros e falhas».
Chegado à capital em setembro de 1971, aí desempenhará atividades nas Portugálias(livraria e editora) durante cerca de 28 anos, tendo contactado com as principaisfiguras da cultura portuguesa de então, “cuidando” da edição dos seus livros: desdepoetas, romancistas, ensaístas, tradutores e editores até ao Prémio Nobel daMedicina, Egas Moniz (1874-1955), que lhe confiou as suas Conferências médicas eliterárias (vols. IV e V, Lisboa: Portugália, 1950 e 52).
Neste extenso período da sua atividade na Portugália Editora, Luís Amaro devotougrande parte do seu tempo à revisão textual de obras literárias, geralmente com ospróprios autores: Dia longo (1944) de Ribeiro Couto; Mar de Cristo (1957) de MárioBeirão; Líricas portuguesas, 3.ª série (1958) organização de Jorge de Sena; ObrasCompletas de M. Teixeira-Gomes – revisão textual dos 11 primeiros vols., de Cartasa Columbano (nov. 1957) a Novelas Eróticas (março 1961); A letra e o leitor (1969)de Jacinto do Prado Coelho; Poesias completas: 1929-1969 (1969) de Adolfo CasaisMonteiro; e em parceria com Alberto de Serpa: Música ligeira (1970), obra póstumade José Régio. Entre as muitas dedicatórias que Luís Amaro recebeu pela assistênciaque prestou durante a edição da obra de um autor, destaco a lapidarmente escritapelo autor de Vidas são vidas: romance - Lisboa: Portugália, 1966:
Ao Luís Amaro, à sua sensibilidade de Poeta e à sua
inteligência de revisor-crítico e leitor esclarecido, este livro que
lhe deve tantos cuidados…, com um abraço grato do seu amigo
José Régio / Portalegre, Fevereiro 1966.
Em 1970, é convidado a fazer parte da redação da revista Colóquio/Letras, onde
Retrato de L. A., «a partir de uma fotografia de 1950»,
por Luís Manuel Gaspar (n. 1960, artista plástico e poeta).
Publicado na badana de Diário Íntimo, 2ª ed., Lisboa: & etc., 2006.
ocupa sucessivamente os cargos de secretário (1971-86), diretor-adjunto (1986-89) e
consultor editorial (1989-1996). Ao serviço desta revista literária prestigiada em
Portugal e além-fronteiras, Luís Amaro realizou «uma contínua dádiva de si mesmo,
através de um imenso rigor na supervisão dos textos, de uma erudição única no
campo da bibliografia e da crítica da literatura portuguesa», demonstrando «uma
excecional capacidade de trabalho, tão minucioso e apaixonado nas tarefas mais
humildes como na investigação mais especializada» (“Editorial” da
Colóquio/Letras, n.º 108, mar. 1989).
Luís Amaro elaborou bibliografias da revista presença e de autores presencistas, de poetas e
ensaístas, da produção literária de uma década (os anos 40) e de meio século de literatura
portuguesa (1936-86). Uma das atividades de inventariação bibliográfica que mais terá amado,
pese os cuidados do percurso, terá sido a compilação de excertos críticos sobre a obra de um
Autor: a considerada fortuna crítica de uma obra. Para além da sua atenção votada
regularmente à bibliografia regiana, é de destacar a magnífica «Marginália crítica e biográfica»
sobre Mário Beirão, em Poesias Completas, (Lisboa: IN-CM, 1996 – org. António Cândido
Franco e Luís Amaro; pref. José Carlos Seabra Pereira).
Como poeta, cedo publicou as suas primícias em jornais (A Ideia Livre, Anadia, 1939; Revista
Transtagana, Évora, 1941; Seara Nova, Lisboa, 1943, 1945, 1948; Almanaque de
Lembranças Alentejanas, Elvas, 1944; Diário de Lisboa, 1946; Viagem, 1947; O Primeiro
de Janeiro, Porto, 1948), publicando a primeira vez em volume Dádiva – poemas (Lisboa:
Portugália, julho de 1949), com capa de Manuel Ribeiro de Pavia.
Foi, juntamente com António Luís Moita, António Ramos Rosa, José Terra e Raul de
Carvalho, um dos fundadores e editores da revista Árvore – folhas de poesia, de que
saíram quatro fascículos, de Outono de 1951 a 1953, onde também publicou alguns
dos seus poemas.
Continuou a colaborar com poesia nas mais diversas publicações periódicas: Távola
Redonda, Lisboa, 1950; Horizonte, Évora, 1951; supl. “Cultura e Arte” de O Comércio
do Porto, 1952; “Artes e Letras” do Diário de Notícias, 1955, 1956, 1957, 1967, 1968,
1969, 1970, 1971, 1972, 1974; Diário Ilustrado, 1957; “Literatura & Arte” de A Capital,
Lisboa, 1968, 1969; Colóquio/Letras, Lisboa, 1989; Letras & Letras, Porto, 1991.
Publicou igualmente nas pastinhas de Poesia, publicadas na Queima das Fitas da
Universidade de Coimbra, organizadas por Fernando Pinto Ribeiro, Coimbra, 1968,
1969, 1971.
A sua poesia está reunida e acessível em
DIÁRIO ÍNTIMO: Dádiva e Outros Poemas,3ª edição, revista, com MargináliaCrítica e trecho epistolar inédito de Jorge de Sena, Évora: Licorne, 2011.
BIOGRAFIA
Extrair poesia duma alma
precária, qual a minha,
num corpo frágil,
eu sei… é quase heroico.
Porque cá dentro é escuro,
3. … na poesia
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Publicada por José Carlos Canoa à(s) 02:30
Etiquetas: Luís Amaro
como falar senão da noite louca,
da morte que nos ronda
e se interpõe
entre o meu olhar e a luz do dia?
E anda um fantasma a corroer a nossa,
nossa alegria…
Como cantar as paisagens belas
se a noite é sem estrelas?
Como falar dos tempos de criança
se nunca tive infância?
E tanto que eu quisera
vibrar à luz do sol
e enleado esquecer-me no mistério
duma flor que nasce
aberta para o mundo
na manhã em que tudo é primavera!
Luís Amaro
(Diário íntimo: dádiva e outros poemas, 3ª ed., 2011, p. 75)
JC CanoaMassamá, 21.05.2013
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