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1 CANTANDO E PENSANDO EM SALA DE AULA – UMA PROPOSTA DE ENSINO DE LITERATURA Joana D'Arc Vargas Batista 1 Mariana Sbaraini Cordeiro 2 Resumo: Discute-se muito sobre a necessidade de se formar um leitor crítico e maduro para atuar na sociedade. Para tanto, a escolha do texto é muito importante. A construção deste deve conter espaços para que a criatividade do leitor possa agir e, assim, proporcionar-lhe um acúmulo de conhecimentos que o torne apto a ter voz em uma sociedade tão desigual. Dentro dessa perspectiva, percebeu-se que a música é uma grande aliada na formação do leitor, pelo poder que possui na transmissão de sua mensagem. Diante disso, elaborou-se uma proposta pedagógica para o ensino de literatura no Ensino Fundamental, seguindo-se os passos do Método Recepcional, elaborado por Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar, alicerçado na teoria da Estética da Recepção de Hans Robert Jauss. Este artigo tem o objetivo de mostrar os resultados da implementação dessa proposta, organizada no Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE). A implementação deu-se no Colégio Estadual César Stange, no município de Guarapuava. Palavras-chave: Música; Ensino de Literatura; Método Recepcional. Abstract: The necessity of forming a critical and mature reader to act in the society is the focus of discussion about teaching literature. For in such a way, the choice of the text is very important. The construction of this text must contain spaces for that the creativity of the reader can act, and thus, provide a knowledge background that becomes that reader qualified to have voice in a very irregular society. In this perspective, it was perceived that music is a great allied in the formation of the reader, because it has a great power to transmit its message. As consequence, it was elaborated a pedagogical proposal for teaching literature in Elementary Education, following the steps of the Receptional Method, elaborated by Maria da Glória Bordini and Vera Teixeira de Aguiar, based on the theory Reception of Hans Robert Jauss. This article has the objective to show the results of the implementation of this proposal, organized in the Program of Educational Development of the State of the Paraná (PDE). The implementation happened at the Cesar Stange School, in Guarapuava. Keywords: Music; Literature Teaching; Receptional Method 1 Professora PDE/2008, formada em Letras-Anglo, Especialista em Poesia de Expressão Portuguesa: A modernidade em questão. 2 Orientadora, formada em Letras-Anglo, mestre em Letras e doutoranda em Letras pela Universidade Estadual de Londrina.

CANTANDO E PENSANDO EM SALA DE AULA – UMA … · e, assim, proporcionar-lhe um acúmulo de conhecimentos que o torne apto a ter voz em uma sociedade tão desigual. Dentro dessa

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CANTANDO E PENSANDO EM SALA DE AULA – UMA PROPOSTA DE ENSINO DE LITERATURA

Joana D'Arc Vargas Batista1 Mariana Sbaraini Cordeiro2

Resumo: Discute-se muito sobre a necessidade de se formar um leitor crítico e maduro para atuar na sociedade. Para tanto, a escolha do texto é muito importante. A construção deste deve conter espaços para que a criatividade do leitor possa agir e, assim, proporcionar-lhe um acúmulo de conhecimentos que o torne apto a ter voz em uma sociedade tão desigual. Dentro dessa perspectiva, percebeu-se que a música é uma grande aliada na formação do leitor, pelo poder que possui na transmissão de sua mensagem. Diante disso, elaborou-se uma proposta pedagógica para o ensino de literatura no Ensino Fundamental, seguindo-se os passos do Método Recepcional, elaborado por Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar, alicerçado na teoria da Estética da Recepção de Hans Robert Jauss. Este artigo tem o objetivo de mostrar os resultados da implementação dessa proposta, organizada no Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE). A implementação deu-se no Colégio Estadual César Stange, no município de Guarapuava. Palavras-chave: Música; Ensino de Literatura; Método Recepcional.

Abstract: The necessity of forming a critical and mature reader to act in the society is the focus of discussion about teaching literature. For in such a way, the choice of the text is very important. The construction of this text must contain spaces for that the creativity of the reader can act, and thus, provide a knowledge background that becomes that reader qualified to have voice in a very irregular society. In this perspective, it was perceived that music is a great allied in the formation of the reader, because it has a great power to transmit its message. As consequence, it was elaborated a pedagogical proposal for teaching literature in Elementary Education, following the steps of the Receptional Method, elaborated by Maria da Glória Bordini and Vera Teixeira de Aguiar, based on the theory Reception of Hans Robert Jauss. This article has the objective to show the results of the implementation of this proposal, organized in the Program of Educational Development of the State of the Paraná (PDE). The implementation happened at the Cesar Stange School, in Guarapuava.

Keywords: Music; Literature Teaching; Receptional Method

1 Professora PDE/2008, formada em Letras-Anglo, Especialista em Poesia de Expressão Portuguesa: A modernidade em questão. 2 Orientadora, formada em Letras-Anglo, mestre em Letras e doutoranda em Letras pela Universidade Estadual de Londrina.

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INTRODUÇÃO

No ensino de Literatura, principalmente nas últimas séries do Ensino

Fundamental, percebe-se que há um crescente desinteresse por essa disciplina

entre os alunos. Também entre os professores nota-se um considerável despreparo

em relação à abordagem de obras literárias. Para mudar este quadro, é

imprescindível que o professor saiba com clareza, o que pretende com o ensino de

literatura, qual a sua concepção de literatura e que tipo de leitor deseja (DCE, 2007,

p. 23). “A educação do leitor de literatura não pode ser, em vista da polissemia que é

própria do discurso literário, impositiva e meramente formal” (BORDINI e AGUIAR,

1993, p.17).

O leitor de literatura não deve ter formação pragmática ou genérica. O

professor que pretende uma educação transformadora, certamente encontra no

material literário uma ferramenta apropriada para a obtenção de seus objetivos.

Se refletirmos bem, veremos que o professor é o intelectual que delimita todos os quadrantes do terreno da leitura escolar. Sem a sua presença atuante, sem o seu trabalho competente, o terreno dificilmente chegará a produzir o benefício que a sociedade espera e deseja, ou seja, leitura e leitores assíduos e maduros (SILVA, 2005, p. 19).

É por meio da linguagem que o ser humano se diferencia e se reconhece,

pode se comunicar e trocar experiências com outros homens. Não há dúvida de que

a forma de comunicação mais utilizada pelo homem é a linguagem verbal e a

palavra escrita tem proporcionado, ao longo dos tempos, o acúmulo de

conhecimento pelas classes detentoras do poder dentro de uma sociedade desigual.

Então, discute-se muito sobre a necessidade de formação de um leitor crítico para

atuar nessa sociedade. No ato da leitura, o indivíduo interage com manifestações

sócio-culturais distantes de si no tempo e no espaço. Ao ampliar o conhecimento,

decorrente dessa leitura, passa a compreender melhor o seu presente e sua atuação

como sujeito-histórico.

Ao promover a emancipação de seus alunos por meio da leitura, o

professor deve estar ciente de que a escolha do texto é muito importante no

processo receptivo. Esse deve conter espaços para que a criatividade do leitor

possa agir. Dessa forma, o texto musical é um grande aliado na formação do leitor,

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pelo poder de penetração que possui na transmissão de sua mensagem.

Composições musicais podem refletir as diversas vozes de uma determinada

comunidade. Por meio das letras de músicas, podem se identificar tradições e

aspirações de um povo em determinado tempo e espaço. As canções retratam, em

suas letras e gêneros, o estado de satisfação ou insatisfação de uma sociedade. As

pesquisas realizadas por Bordini e Aguiar (1993, p. 22), revelam que a música é a

forma de lazer preferida entre alunos de todas as séries do Ensino Fundamental.

Portanto, o gênero musical, além de ser um meio atraente, com certeza, é eficiente

para a introdução do ensino de literatura neste período escolar.

Porém, para utilizar canções em sala de aula, é preciso que o professor

seja um bom ouvinte de música. É necessário que ele conheça os mais variados

estilos musicais e que não tenha preconceitos. Deve, também, procurar unir sua

prática a uma teoria, para que o processo ensino/aprendizagem realmente se

efetive.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Ao pensar o ensino de literatura na Educação Básica, é relevante que o

professor tenha consciência de que sua participação é fundamental nesse processo,

e que não transforme suas aulas em um espaço no qual o texto literário seja

utilizado apenas como pretexto para outras atividades que não a literatura. Portanto,

há a necessidade de que o professor utilize-se de teorias e métodos que o orientem

na realização desse trabalho. Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais (2007, p.

14), um dos objetivos que fundamentam o ensino de Língua Portuguesa é

Aprimorar, pelo contato com textos literários, a capacidade de pensamento crítico e a sensibilidade estética, bem como propiciar pela Literatura a constituição de um espaço dialógico que permita a expansão lúdica da oralidade, da leitura e da escrita.

Para não inibir a criticidade própria do adolescente, espera-se que o

professor, sendo um leitor maduro, atue como mediador entre o texto e o jovem

leitor. Entretanto, para a formação desse leitor crítico, a escola não deve ignorar a

leitura que ele carrega consigo. Essa leitura de iniciação poderá ser a base que o

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transformará mais tarde em um leitor mais consciente. Nas DCEs do Paraná consta

que

Há muitas teorias que discutem sobre a necessidade de formar um leitor crítico e os currículos de ensino confirmam esse objetivo. Mais que isso, porém, espera-se formar um leitor capaz de sentir e de expressar o que sentiu, com condições de reconhecer nas aulas de literatura um envolvimento de subjetividades que se expressam pela tríade obra/autor/leitor, por meio de uma interação que está presente no ato de ler. (2007, p. 33)

As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa propõem que se pense o

ensino de Literatura a partir dos pressupostos teóricos da Estética da Recepção.

Segundo as DCEs (2007, p. 33), esses pressupostos buscam resgatar o leitor de

sua “passividade” e do papel marginal que lhe era conferido no bojo dos estudos

literários.

A Estética da Recepção desenvolve seus estudos em torno da reflexão sobre as relações entre narrador/texto/leitor. Vê a obra como um objeto verbal esquemático a ser preenchido pela atividade de leitura, que se realiza sempre a partir de um horizonte de expectativas (BORDINI e AGUIAR, 1993, p. 31).

A teoria da Estética da Recepção tornou-se conhecida em 13 de abril de

1967, durante uma conferência ministrada por Hans Robert Jauss, seu criador, na

Universidade de Constança, Alemanha. Nesta conferência, Jauss ataca os métodos

de ensino da história da literatura vigentes, considerados tradicionais e

desinteressantes, propondo outros meios para se ensinar literatura. O pressuposto

da Estética da Recepção é o de que “a vida histórica da obra literária não pode ser

concebida sem a participação ativa de seu destinatário” (JAUSS, 1974 apud

ZILBERMAN, 1989, p. 33).

Com isto, recupera a historicidade da literatura, nascida de seus intercâmbios com o público; e chega a esse resultado por restabelecer a relação, rompida pelo historicismo, entre o passado e o presente, condição imprescindível para a reconciliação entre os aspectos estético e histórico de um texto (ZILBERMAN, 1989, p. 33).

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Ao caracterizar a experiência estética, Jauss explica por que devemos

pensá-la como emancipadora do sujeito:

[...] em primeiro lugar, liberta o ser humano dos constrangimentos e da rotina cotidiana; estabelece uma distância entre ele e a realidade convertida em espetáculo; pode preceder a experiência, implicando então a incorporação de novas normas, fundamentais para a atuação na e compreensão da vida prática; e, enfim e concomitantemente antecipação utópica, quando projeta vivências futuras, e reconhecimento retrospectivo, ao preservar o passado e permitir a redescoberta de acontecimentos enterrados (ZILBERMAN, 1989, p. 54).

A experiência estética explicita a natureza libertadora da arte. É composta

por três atividades que ocorrem ao mesmo tempo e se complementam – a poíesis, a

aisthesis e a katharsis.

O primeiro plano é o da poíesis e corresponde ao prazer de se sentir co-

autor da obra. O segundo parece mais relacionado à experiência estética enquanto

tal, dizendo respeito ao efeito, provocado pela obra de arte, de renovação da

percepção do mundo circundante. A katharsis é a concretização de um processo de

identificação que leva o espectador a assumir novas normas de comportamento

social numa retomada de idéias expostas anteriormente (ZILBERMAN, 1989, p. 54-

7).

Para levar o aluno a fruir a obra literária e vivenciar a experiência estética,

o professor de Língua Portuguesa deve conduzi-lo nesta caminhada, utilizando-se

de uma metodologia adequada.

O ensino de literatura atual possui muitas deficiências. Discute-se muito

sobre o assunto e a conclusão a que se chega é de que o problema está na falta do

domínio da leitura. O pouco conhecimento literário de alguns professores, muitas

vezes, também é um ponto relevante nesse processo. Além desses obstáculos, há

ainda a falta de um método que direcione os trabalhos com a Literatura.

Para tentar superar esses problemas, seria interessante a utilização de

uma metodologia voltada para o ensino de literatura que, a partir dessa realidade

exposta, pense a tríade autor/obra/leitor, propondo meios interativos, sem esquecer

o aluno e suas necessidades, pois ele é o sujeito em formação nesse processo.

Segundo Bordini e Aguiar (1993, p. 42) “Se o modelo almejado é o do leitor crítico,

capaz de discriminar intenções e assumir atitudes ante o texto com independência, a

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primeira providência é sondar as necessidades dos estudantes”.

O Método Recepcional, baseado na Estética da Recepção, pode ser a

proposta metodológica mais indicada para ajudar a superar tais problemas.

O Método Recepcional de ensino de literatura enfatiza a comparação entre o familiar e o novo, entre o próximo e o distante no tempo e no espaço. Por conseguinte, são sempre cotejados textos que pertencem ao arsenal de literatura do grupo com outros textos, documentos de outras épocas, regiões e classes sociais, em diferentes níveis de estilo e abordando temáticas variadas. [...] Desenvolvem-se assim as noções de herança e participação histórico-cultural. O método é, portanto, eminentemente social ao pensar o sujeito em constante interação com os demais, através do debate, e ao atentar para a atuação do aluno como sujeito da história (BORDINI e AGUIAR, 1993, p. 86).

O Método Recepcional é composto por cinco etapas:

1. Determinação do horizonte de expectativas – É o momento em que o

professor observa os valores prezados pelos alunos em relação a crenças,

modismos, estilo de vida, preferências quanto a trabalho e lazer, preconceitos e

interesses específicos da área de leitura.

2. Atendimento do horizonte de expectativas – Determinado o horizonte

dos alunos, seus valores e familiaridades em relação à literatura, atende-se a esse

horizonte, proporcionando-lhes leituras que os satisfaçam.

3. Ruptura do horizonte de expectativas – Este é o momento de introduzir

textos e atividades de leitura que causem certo estranhamento aos estudantes,

leituras mais complexas, que exijam mais atenção.

Essa introdução deve dar continuidade à etapa anterior através do oferecimento de textos que se assemelhem aos anteriores em um aspecto apenas: o tema, o tratamento, a estrutura ou a linguagem. Entretanto. Os demais recursos compositivos devem ser radicalmente diferentes, de modo a que o aluno ao mesmo tempo perceba estar ingressando num campo desconhecido, mas também não se sinta inseguro demais e rejeite a experiência (BORDINI e AGUIAR, 1993, p. 89).

4. Questionamento do horizonte de expectativas – Resulta da

comparação entre as duas etapas anteriores. É a hora de analisar o material literário

estudado, questionando quais textos exigiram mais reflexão e quais produziram

maior satisfação após descobrirem seus sentidos possíveis.

Depois de confrontadas as experiências de leituras, a classe debate sobre

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os desafios enfrentados e sobre como venceram esses obstáculos.

Este é o momento de os alunos verificarem que conhecimentos escolares ou vivências pessoais, em qualquer nível, do religioso ao político, proporcionaram a eles facilidade de entendimento do texto e/ou abriram-lhes caminhos para atacar os problemas encontrados (BORDINI e AGUIAR, 1993, p. 90).

5. Ampliação do horizonte de expectativas – Nesta etapa, o aluno toma

consciência das modificações em seu modo de ver o mundo e dos conhecimentos

adquiridos por meio da experiência com a literatura. Ao estabelecer um paralelo

entre seu horizonte inicial com os interesses atuais, o estudante percebe que suas

exigências e sua capacidade de entender o chamado “texto difícil” aumentaram.

Neste momento os próprios alunos verbalizam essa tomada de

consciência, sem a participação direta do professor. Agora, o papel deste é o de

manter seus alunos motivados e criar condições para que eles avaliem o que

alcançaram e o que ainda precisam depreender.

Conscientes de sua nova possibilidade de manejo da literatura partem para a busca de novos textos, que atendam a suas expectativas ampliadas em termos de temas e composições mais complexos. Desse estágio em diante, reinicia-se todo o processo do método, com a ressalva de que a etapa inicial, já conta com a participação dos estudantes e, portanto, proporciona uma carga de motivação bem mais elevada (BORDINI e AGUIAR, 1993, p. 90).

Portanto, no final dessa fase reinicia-se a aplicação do método

novamente e o seu desenvolvimento em forma de espiral leva os estudantes a uma

postura mais madura e consciente em relação aos textos literários e a sua maneira

de viver.

Dessa forma, com o aprimoramento da leitura numa percepção estética e ideológica mais aguda e com a visão crítica sobre sua atuação e a de seu grupo, o aluno torna-se agente de aprendizagem, determinando ele mesmo a continuidade do processo, num constante enriquecimento cultural e social (BORDINI e AGUIAR, 1993, p. 91).

Então, segundo o Método Recepcional, o professor que está atento aos

interesses dos estudantes procura trabalhar em suas aulas de literatura a partir das

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expectativas destes, para em seguida ampliá-las. Para essa ampliação, deve

selecionar textos que exijam uma maior reflexão de seus alunos, transformando-os,

dessa forma, em leitores mais competentes.

Conforme Bordini e Aguiar (1993, p. 18), o primeiro passo para a

formação do leitor é a oferta de textos próximos à sua realidade, textos que sejam

significativos para ele. “A familiaridade do leitor com a obra gera predisposição para

a leitura e o conseqüente desencadeamento do ato de ler.”

Nesse caso, o professor deve levar à sala de aula, primeiramente, textos

literários que satisfaçam os desejos de seus alunos. Sabe-se que o interesse por

determinados gêneros textuais modifica-se conforme a escolaridade do aluno. Os

jovens das séries finais do Ensino fundamental, especialmente os da 8ª série, já se

encontram preparados para uma leitura mais crítica. Pesquisas revelam que nesta

faixa etária, a música é o texto mais próximo a eles.

Segundo Martins Ferreira, é evidente que a comunicação verbal é por

excelência a primeira na escala comunicativa humana, quando tem a música como

aliada, ganha força, entre outros motivos, pelo suporte e penetração mais intensa

que adquire a transmissão de sua mensagem original. Ferreira também diz que, com

a música, é possível ainda despertar e desenvolver nos alunos sensibilidades mais

aguçadas na observação de questões próprias à disciplina alvo. Conclui que nunca

devemos esquecer que a música é, além da arte de combinar sons, uma maneira de

exprimir-se e interagir com o outro, e assim devemos compreendê-la (2002, p. 9-17).

Desta forma, justifica-se a escolha do texto musical para a elaboração do

material didático que uniu teoria e prática ao introduzir o ensino de literatura na 8ª

série.

Implementação da proposta pedagógica na escola

A implementação da proposta pedagógica realizou-se no Colégio

Estadual César Stange, no município de Guarapuava, no primeiro semestre de

2009. Participaram do projeto cento e quatro alunos, divididos em três oitavas séries.

Implementou-se a proposta por meio de um Projeto Folhas3. Este projeto foi

organizado seguindo as etapas do Método Recepcional conforme o relato a seguir:

3 O Folhas mencionado aqui tem o mesmo título deste artigo.

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Determinação do horizonte de expectativas

A determinação do horizonte dos alunos deu-se, primeiro, por meio da

observação, pois nesta faixa etária, entre treze e quatorze anos, percebe-se

claramente que o texto mais próximo a eles é o musical. Isso foi confirmado pelas

leituras realizadas para o embasamento teórico da pesquisa.

Para determinar qual seria o estilo musical preferido pelos alunos,

realizou-se, ainda no 2º semestre de 2008, antes da elaboração do material didático,

uma pesquisa aplicando o seguinte questionário:

INVESTIGAÇÃO SOBRE O GOSTO MUSICAL DOS ALUNOS

Professor PDE: Joana D’Arc Vargas

Colégio Estadual César Stange – Guarapuava-PR Série: ____________

Núcleo Regional de Guarapuava-PR 1) Você gosta de música?

________________________________________________________________ 2) Quais os tipos de música que você gosta de ouvir?

________________________________________________________________ ________________________________________________________________

3) Como é a sua relação com a música? Você gosta de cantar, dançar? Toca algum

instrumento? Já cantou em algum coral? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________

4) Existem gêneros musicais que você não aprecia? Quais?

________________________________________________________________ ________________________________________________________________

5) No momento qual é a sua música preferida? Quem a canta?

__________________________________________________________________________________________________________________________________ 6) O que você pensa sobre o RAP? É interessante? Por quê?

________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _________________________________________________________________

7) Você conhece algum cantor de RAP? Quem? ________________________________________________________________

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8) Você tem preferência por algum RAP? Qual? ________________________________________________________________

9) E sobre a poesia, você gosta de poesia? Por quê?

________________________________________________________________ ________________________________________________________________

10) Você acha que música e poesia se relacionam? Faça um breve comentário. ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________

Analisando os dados do item dois, percebeu-se que o estilo mais citado

foi o RAP, o que já era esperado também, devido às observações, o questionário

veio apenas confirmar isso.

Atendimento do horizonte de expectativas

Diante dos dados obtidos com o questionário, escolheu-se o RAP “Até

quando?” do cantor e compositor Gabriel, o Pensador para atender às expectativas

dos alunos. Antes da leitura e interpretação do RAP, apresentou-se para os

estudantes o poema “Morre Lentamente [...]” de Pablo Neruda, como um convite à

leitura de poesia e especialmente da poesia que há em muitas letras de música.

Também, fez-se uma reflexão sobre “Por que ler poesia?” a partir de um depoimento

do poeta português Eugênio de Andrade. Os alunos mostraram-se muito receptivos

ao assunto.

Ao apresentar o cantor e compositor Gabriel, o Pensador, percebeu-se

que pouquíssimos jovens o conheciam, porque, de maneira geral, infelizmente, o

RAP que eles apreciam é aquele que faz apologia aos crimes, às drogas e à

violência. Mas, mesmo assim, foi um momento interessante, pois houve uma troca

de informações entre professor e alunos. Estes conheceram e aceitaram o RAP de

qualidade e o professor ouviu o outro lado do RAP e pode fazer uma reflexão sobre

o conteúdo do que eles estão acostumados a ouvir.

Ainda durante o atendimento ao horizonte dos alunos, realizou-se uma

ampla pesquisa sobre o movimento HIP HOP que terminou com a montagem de um

mural muito atraente, no saguão do colégio, para leitura de toda comunidade

escolar.

Há que se ressaltar nesta etapa do método, a importância de se ouvir o

aluno, de dar voz a eles naquilo que conhecem bem, valorizar o seu saber.

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Ao negar ou ignorar monarquicamente a possibilidade de leitura que o jovem traz para a escola, a escola não contribui para solidificar este processo. O corte na base destas leituras de iniciação, que poderiam estar delineando mais tarde um leitor mais crítico, mais articulado com outras formas de leitura, tem sido, no nosso entender, um dos grandes fatores a gerar este desinteresse (MAFRA, 2003, p. 19).

Enquanto realizava-se, como atividade extra classe, a pesquisa e

exposição do mural sobre o movimento HIP HOP, em sala de aula, iniciou-se a

análise linguística da letra do rap. Estudou-se o sentido denotativo e conotativo,

procurando levar os estudantes a um melhor entendimento da leitura do texto

poético.

Como introdução a esse estudo, levou-se para a classe um excerto do

texto “A complicada arte de ver” de Rubem Alves, para interpretação. Nesta

atividade, notou-se que os alunos já estavam bem mais receptivos à leitura de

poesia e compreenderam que a leitura poética tem uma maneira especial de ser

praticada.

Após as atividades sobre conotação e denotação, falou-se da diferença

entre a linguagem literária e a comum. Então, esse foi o momento de falar sobre as

figuras de linguagem e sua importância na construção do texto literário. Fez-se um

estudo sobre a metáfora, e os alunos foram incentivados a fazer uma pesquisa para

conhecer outras figuras de linguagem.

Ruptura do horizonte de expectativas

O rompimento de expectativas aconteceu com a canção “Todos juntos”

que faz parte do musical “ Os Saltimbancos” de Chico Buarque de Holanda.

Neste momento, o trabalho interdisciplinar, realizado com a disciplina de

História, foi fundamental para o projeto, pois, ao analisar-se a canção, alguns alunos

relacionaram imediatamente o texto ao período da Ditadura Militar, conteúdo

ministrado pela professora de História. Esta fez um ótimo trabalho com os alunos, os

quais dramatizaram e realizaram filmagens sobre o tema em questão. Também

apresentaram alguns clássicos da MPB que representam a angústia vivida naquela

época.

A participação geral dos alunos foi muito boa, porém, houve algumas

resistências em relação ao estilo musical. Surgiram comentários tais como: “Que

chatice!” “Vamos ter que ouvir isso, professora? “Isso é para criança!” “É música de

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igreja?!” “Tem gente que gosta disso?”.

Portanto, o professor, ao utilizar-se desse método, deve estar preparado

para ouvir comentários como esses, pois essa reação faz parte do processo de

rompimento dos horizontes dos estudantes. Segundo Bordini e Aguiar (1993, p. 90),

essa etapa é marcada pela introdução de textos que abalem as certezas e costumes

dos alunos, seja em termos de literatura ou de vivência cultural.

Enquanto desenvolviam-se as atividades em sala, os estudantes foram

convidados a organizar, no contraturno, a encenação da peça musical de Chico

Buarque. Um total de trinta alunos das três oitavas séries engajou-se na

apresentação da peça.

Ainda no momento de rompimento dos horizontes, outra canção foi

apresentada aos estudantes: “A cidade ideal”. Após a contextualização e

interpretação da música, fez-se um estudo das rimas utilizadas nessa composição.

Em seguida, os alunos realizaram a produção de textos, procurando utilizar os

recursos poéticos estudados, como as figuras de linguagem e as rimas.

Primeiramente, em duplas, compuseram um poema mostrando como seria a cidade

ideal de algumas pessoas famosas como o ex-presidente norte-americano George

W. Bush, o presidente brasileiro Lula, a apresentadora Xuxa Meneghel, o jogador de

futebol Ronaldo, entre outros. Depois, individualmente, produziram um texto poético,

descrevendo como seria a sua cidade ideal. Foi marcada uma data para a

apresentação oral do poema.

É importante destacar aqui, a motivação com que os alunos

desenvolveram esta atividade, quase todos apresentaram o poema produzido

oralmente, inclusive alguns alunos que nunca haviam realizado a leitura de suas

produções para a classe.

Outra atividade que auxiliou a contextualizar o momento em que Chico

Buarque compôs o musical “Os Saltimbancos” foi a elaboração de um Fanzine sobre

os acontecimentos ocorridos na época da Ditadura Militar no Brasil. Isso exigiu uma

ampla pesquisa sobre esse período.

Questionamento do horizonte de expectativas Após a ruptura, partiu-se para o questionamento dos horizontes dos

alunos. Foi lançada a seguinte questão para os alunos: Depois da pesquisa sobre o

Período Militar, você consegue estabelecer relação entre esse fato histórico e o

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musical “Os Saltimbancos”?

Ressalta-se aqui, a grande facilidade com que a maioria dos estudantes

responderam a esta pergunta, pois sabiam o que escrever, tinham assimilado o

conteúdo. Entretanto, alguns ainda ficaram alheios ao assunto nesse momento.

Porém, percebeu-se também que, praticamente todos, procuraram inteirar-se do

assunto, ouvindo as respostas dos colegas. A seguir, relacionam-se algumas

respostas dos alunos a este questionamento:

Eu acho que sim, porque se as letras das músicas do teatro forem

analisadas com atenção, podemos perceber que a música está falando da Ditadura Militar, porém não está se referindo claramente por causa das censuras impostas pelo governo.

Podemos ver a música “Acidade Ideal”, por exemplo, essa música fala da cidade ideal dos animais, será que de certa forma não está se referindo à cidade ideal das pessoas? Acho que sim. Estudantes e pessoas que eram contra a Ditadura formavam manifestações, protestos. Tudo isso pra quê? Para conseguir uma cidade, um país, sem a Ditadura. Para conseguir a Cidade Ideal. (L.K.R. – 8ª A)

Eu acho que o musical tem tudo a ver com a ditadura militar, pois eles

interpretam a ditadura em forma de pessoas vestidas de animais e as músicas que falam sobre a vida dos animais, de “torturas” que aconteciam com eles, por exemplo, na música do jumento diz:

O pão, a farinha, feijão, carne seca quem é que carrega? Vamos dizer que isso seja um jeito de exploração e na ditadura uma

tortura. Mas a ditadura acabou com todos os protestos feitos. Todos juntos somos fortes, somos flecha e somos arco/todos nós no

mesmo barco, não há nada pra temer. Esse trecho da música Todos Juntos diz que pra combater a ditadura eles precisavam estar todos juntos, porque a união faz a força, eles todos com o mesmo objetivo, não tinham nada a temer e com isso acabou a ditadura. (M.O.M. – 8ª A)

Sim, porque no musical também retrata as maldades contra o povo, talvez

o musical não retrate com todas as palavras os acontecimentos, mas com poucas palavras nós já entendemos que o povo sofria muito nas mãos dos militares. O povo sofria porque não podia retratar os sentimentos contra o governo que era muito mau com a população. O povo no musical é retratado como animais procurando a liberdade. (J.W.F. – 8ª A)

As músicas dos “Saltimbancos” falam bastante sobre a Ditadura, só que a

gente tem que saber interpretar a música, relacionado-a com os acontecimentos daquela época.

Bom, a ditadura militar ocorreu em 1964 com vários acontecimentos, como: presidentes que renunciaram, o governo prendendo e matando inocentes, torturas, o país sofreu com censuras, repressão policial, assassinatos de líderes opositores e outros. Isso durou 20 anos. E ela acabou mais ou menos em 1985, não tem uma data especificada.

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A relação que tem entre a Ditadura e os Saltimbancos é que se as “pessoas” na Ditadura e os “animais” no musical ficassem todos juntos seria mais fácil de lutar pelos seus direitos.

E as músicas dos Saltimbancos é um protesto disfarçado por causa das censuras existentes naquela época. (J.L.J. – 8ª A)

Sim, porque entre os anos do regime militar, as pessoas não podiam

expressar suas opiniões contra a dos militares, falar mal deles, era tudo censurado. E algumas pessoas usavam músicas para alertar a população. E o musical “Os Saltimbancos” foi um desses. Chico Buarque, o seu criador, usou isso em forma de linguagem figurada, utilizou a metáfora, para que as pessoas soubessem o que estava acontecendo no Brasil naquela época. (C. N. – 8ª A)

Sim, porque o musical foi feito na época da ditadura, o musical foi feito

como uma peça infantil, para despistar os políticos e militares. Por isso, todo o musical foi feito de metáforas, para o compositor poder falar o que achava de tudo o que estava acontecendo na época, como a música “Todos juntos” que fala que “todos juntos somos fortes” e que até o “valente dos valentes vai te respeitar”, e na época era o que eles queriam RESPEITO. (A.C. – 8ª B)

A música por inteiro é uma metáfora, e os acontecimentos relatados são

do período militar. Na letra da música cada animal representa uma classe social. Esse foi um modo encontrado para driblar a censura da época. (T.B. – 8ª B)

Está relacionada à Ditadura, fala do sofrimento das pessoas, mostra a

realidade entre nós. Por exemplo, no texto “A Cidade Ideal”, uma parte fala sobre o sonho, o sonho é meu. Na ditadura, nem se quer podia sonhar, pois lá tudo era obrigado, explorado, nada era sonhado, pois nem sonhar podia mais. (E. A. A. S. – 8ª C)

Ampliação do horizonte de expectativas

Neste momento, os preparativos para a apresentação do musical “Os

Saltimbancos” realizavam-se extraclasse. Enquanto isso, em sala de aula, solicitou-

se aos alunos uma pesquisa sobre compositores poetas. Sugeriram-se os seguintes

autores: Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Arnaldo Antunes. Os estudantes

deveriam pesquisar um poema de cada autor e escolher apenas um para ler para a

classe em uma data determinada pelo professor.

A partir desta atividade pode-se perceber o quanto o horizonte dos alunos

já havia sido ampliado, notou-se isso, durante a pesquisa, nos momentos em que foi

realizada via internet, e, também, durante a apresentação do poema escolhido. O

encontro com a obra de Chico, já conhecido pelas canções estudadas, e com os

outros poetas, já não causou tanto estranhamento e, durante as apresentações dos

poemas escolhidos, quando um ou outro aluno apresentou um poema que não

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exigisse muito para sua interpretação, os colegas reagiram como se estivessem

esperando algo mais.

Nesta etapa, percebeu-se claramente que muitos alunos já estavam

prontos para novos desafios literários. Portanto, ao finalizar esta etapa do método,

inicia-se o processo novamente, pois o método continua em constante movimento,

alargando cada vez mais os horizontes do leitor.

A implementação ocorreu durante os dois primeiros bimestres, e ao

encerrar-se o semestre, os alunos estavam prontos para apresentar o musical.

Então, convidou-se para assistir ao espetáculo, os pais dos alunos participantes do

projeto, bem como todos os professores, diretores, equipe pedagógica, professora

orientadora da Unicentro e representante do Núcleo Regional de Educação. A

encenação do musical foi realizada com muito êxito e encantou a todos os presentes

(Fig. 1, 2, 3, 4 e 5 ).

Figura 1 - Os Saltimbancos

Fonte: Acervo particular

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Figura 2 - Os Saltimbancos

Fonte: Acervo particular

Figura 3 - Os Saltimbancos

Fonte: Acervo particular

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Figura 4 - Os Saltimbancos

Fonte: Acervo particular

Figura 5 - Os Saltimbancos

Fonte: Acervo particular

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CONCLUSÃO

Após a análise dos resultados da implementação desta proposta

pedagógica, pode-se considerar que esta foi bem sucedida, apesar de algumas

dificuldades encontradas no decorrer de sua realização.

Primeiramente, comprovou-se que o Método Recepcional é um grande

aliado no ensino de literatura, quando o professor conhece a sua base teórica

(Estética da Recepção) e conhece bem suas etapas para melhor aplicá-lo.

Ressaltando que é imprescindível ter em mãos um material didático de qualidade.

Observou-se que o trabalho com textos curtos, neste caso, letras de

músicas e poemas, favoreceu o uso de textos integrais junto aos alunos, evitando-

se, dessa forma, a criticada fragmentação da obra literária.

Outro ponto positivo foi o número de questões para a interpretação dos

textos, que ficou entre três ou quatro perguntas. Isso facilitou muito o atendimento

individual aos alunos pelo professor, que pôde avaliar toda a atividade no momento

de sua realização.

Merece também destaque no bom êxito desta proposta pedagógica, o

trabalho interdisciplinar realizado junto à disciplina de História. Há que se louvar a

atitude da professora que se dispôs a mudar a programação de seu conteúdo para

colaborar com o projeto e, consequentemente, o grande beneficiado foi o aluno que

obteve aulas de qualidade e o processo ensino/aprendizagem, deste conteúdo,

realmente efetivou-se.

Por outro lado, o mesmo não ocorreu em relação a outras disciplinas, em

que os professores talvez ainda não tenham percebido o valor de tornar-se

interdisciplinar e não se envolveram no projeto quando solicitados.

[...] a aventura maior de perceber-se interdisciplinar revela-se também no cuidado e no critério da escolha dos caminhos a serem percorridos na execução de um projeto de trabalho. Entretanto, perceber-se interdisciplinar é sobretudo acreditar que o outro também pode ser ou tornar-se interdisciplinar (FAZENDA, 2002, p. 78).

Em relação à prática da leitura pelos alunos, torná-los autônomos, fazer

com que eles procurem a biblioteca por conta própria, notou-se que ainda há um

longo caminho a ser percorrido. Aqui vale destacar o quanto o projeto foi importante

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para mostrar algumas falhas, ocorridas no dia-a-dia escolar, que contribuem para a

pouca frequência dos alunos à biblioteca, no colégio em questão. Notou-se o quanto

a própria comunidade escolar, talvez inconscientemente, coloca entraves, fazendo

com que os estudantes afastem-se deste local, como a falta de planejamento do

professor para acompanhá-los e orientá-los na visita à biblioteca, a falta de pessoas

preparadas para a função de bibliotecário e também a falta de conscientização de

pais e alunos sobre a importância de se ter a carteirinha da biblioteca para realizar

empréstimos de livros autonomamente. Portanto, se o que realmente se quer é

transformar os alunos em leitores críticos e maduros, ainda há muito para ser feito a

esse respeito.

Outra dificuldade encontrada foi em relação à continuidade da aplicação

do Método Recepcional com a mesma qualidade, pois se trata de um método

bastante dinâmico, o que exige muito tempo para pesquisa e coleta do material

necessário para sua execução, e, muitas vezes, o professor não dispõe desse

tempo.

Diante do exposto, conclui-se que essa união da prática e da teoria por

meio do Método Recepcional traz excelentes resultados aos projetos de literatura.

Entretanto, a comunidade escolar deve agir e procurar sanar os problemas

detectados para poder realizar um trabalho de qualidade. E, assim, desenvolver,

efetivamente, nos estudantes a sua capacidade leitora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, Vera T. de; BORDINI, Maria da Glória. Literatura: a formação do leitor – Alternativas Metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. DIRETRIZES Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa para a Educação Básica. 2007. FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 10. ed. Campinas: Papirus, 2002.

FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2002. MAFRA, Núbio Delanne Ferraz. Leituras à revelia da escola. Londrina: Eduel, 2003.

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SILVA, Ezequiel Theodoro da. A produção da leitura na escola – Pesquisas e propostas. 2. ed. São Paulo: Ática, 2005. ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.

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ANEXOS

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