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UNESP Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” INSTITUTO DE ARTES Luciano Freitas Canto coral: propostas para dicção da língua inglesa americana São Paulo 2012

Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

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Este trabalho tem como objetivo elucidar problemas de dicção enfrentados por coralistas falantes da língua portuguesa brasileira e propor soluções de pronúncia para a língua inglesa americana para que esta seja cantada sem muito sotaque e soando corretamente.

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Page 1: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita

Filho”

INSTITUTO DE ARTES

Luciano Freitas

Canto coral: propostas para dicção da língua inglesa americana

São Paulo

2012

Page 2: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

Luciano Freitas

Canto coral: propostas para dicção da língua inglesa americana

Trabalho de conclusão de curso apresentado

ao Curso de Bacharel em Música com

Habilitação em Regência do Instituto de Artes

da Universidade Estadual Paulista “Júlio de

Mesquita Filho” como requisito para obtenção

do título de Bacharel em Música.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Miguel

São Paulo

2012

Page 3: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo principal analisar e sugerir técnicas de

pronúncia da língua inglesa americana para coros formados por falantes da língua

portuguesa do Brasil, bem como pontuar possíveis erros comuns de pronúncia e como

esta pode influenciar e dificultar a perfoamance da peça que está sendo ensaiada. Para

isso foram utilizadas como amostras trechos de duas peças do compositor norte-

americano Norman Dello Joio, se executados por coros brasileiros, provavelmente

ocorreriam problemas de dicção e pronúncia. Estes problemas foram enumerados e

categorizados da seguinte maneira: associação com a fala em português, ditongos, o

som do “th” e do “t”, fonemas que soam diferentes da forma que estão escritos,

terminações de palavras e elisões. Para esses casos foram indicadas soluções que

possam viabilizar uma dicção no canto de melhor qualidade. Conclui-se que esses

problemas são gerados, na maioria das vezes, pela associação do indivíduo em questão

com a língua portuguesa e estes pode ser amenizados se isto for levado em conta,

transcrevendo estas palavras problemas como se estas fossem faladas em português do

Brasil.

ABSTRACT

The current work aims to analyze and suggest American English pronunciation

techniques for choirs having Brazilian Portuguese speaking choristers, as well as

punctuate possible mispronouncing and how this affects and harms the performance of

the song that is being rehearsed. In order to achieve this, it was used as samples,

excerpts from two songs by the American composer Norman Dello Joio; if performed

by Brazilian choirs, probably there would be diction and pronunciation problems. Those

problems were numbered and categorized as follows: association with speech in

Portuguese, diphthongs, the sound of "th" and "t", phonemes that sound different from

the way they are written, word endings and elisions. For these cases were given

solutions that can enable a diction in singing of better quality. We conclude that those

issues are raised, mostly, by the association of the individual concerned with the

Portuguese language and these can be mitigated if it is taken into account, problems

transcribing these words as if they were spoken in Brazilian Portuguese.

Page 4: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

SUMÁRIO

Projeto de pesquisa..........................................................................................................1

Introdução.......................................................................................................................4

1. Diferenças entre o inglês falado e o inglês cantado....................................................6

2. Trechos selecionados para análise em relação às dificuldades de pronúncia.............9

3. Análise e sugestão para os problemas encontrados nos trechos selecionados...........18

3.1 Associação com os sons da Língua Portuguesa do Brasil............................18

3.2 Ditongos.......................................................................................................23

3.3 O som do “th”..............................................................................................23

3.4 O som do “t”................................................................................................24

3.5 Fonemas que soam diferentes......................................................................25

3.6 Terminações.................................................................................................25

3.7 Elisões .........................................................................................................27

4. Considerações Finais......................................................................................30

Referências bibliográficas..................................................................................33

Anexos...........................................................................................................................34

Page 5: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

1

PROJETO DE PESQUISA

INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

Residi nos Estados Unidos da América por um período de quase quatro anos

onde tive a oportunidade de aprender inglês, estudar música e cantar em diversos corais.

Ao regressar ao Brasil, pude notar que os integrantes dos coros formados por cantores

falantes da língua portuguesa brasileira, ao cantarem peças em inglês escritas por

compositores americanos, apresentavam certas dificuldades para interpretar o texto, não

só pelo seu entendimento linguístico, mas, também, pela pronúncia e dicção.

Os ensaios desses coros nem sempre eram suficientes para que a dicção do texto

em inglês fosse cantado com clareza. A qualidade da pronúncia e da dicção pode

interferir na inteligibilidade do texto pelo público em que “A maior parte do público

deseja e espera entender o texto do cantor quando ele canta, e em seu canto elevar o

texto de uma maneira ardilosa para que a palavra não seja subordinada ao lindo som.”

(APPELMAN,1986, p. 172, tradução nossa)1

Esse problema se acentua uma vez que não vivemos em um país onde a língua-

mãe é a inglesa e esta língua apresenta fonemas e ditongos que não existem na língua

portuguesa como por exemplo “th”, “ous”, “ey”, entre outros. Desta maneira pode-se ter

comprometida a clareza da pronúncia do texto ao se cantar uma vez que “Por via de

regra, quando um fonema é pronunciado dentro de um ambiente lingüístico propício,

maior poderá ser sua inteligibilidade” (APPELMAN,1986, p. 239, tradução nossa) 2

De maneira geral, desde que cheguei dos Estados Unidos, tenho adquirido muita

experiência como professor de inglês em diversas escolas da cidade de São Paulo.

Tenho notado as diversas dificuldades de pronúncia e dicção de certos vocábulos em

inglês de cada aluno em sala de aula e vejo essas mesmas dificuldades se repetirem em

um ensaio de coro quando este prepara uma obra onde o texto é em inglês.

Tendo em vista a minha experiência como coralista nestes dois países e minha

experiência como professor, penso em desenvolver uma ferramenta para auxiliar os

1 Most audiences desire and hope to understand the text of the singer as he sings, and that in singing he

will elevate the text in an artful manner so that the word will not be subservient to the beautiful sound. 2 As a rule, the more consistently a phoneme is pronounced within a particular linguistic environment

the greater the intelligibility.

Page 6: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

2

regentes no trabalho de dicção da língua inglesa americana com coros para falantes da

língua portuguesa brasileira.

OBJETIVOS

1. Selecionar trechos de partituras corais escritas por compositores americanos.

2. Identificar as dificuldades de dicção e pronúncia nos trechos selecionados.

3. Fazer um levantamento das dificuldades dos coralistas para com a língua inglesa

americana ao ser cantada.

4. Propor soluções para o regente ao ensaiar tais peças.

METODOLOGIA

O trabalho consistirá na leitura e revisão da bibliografia geral e específica que

aborda o canto coral e a dicção da língua inglesa americana, bem como a seleção de

trechos de partituras para coral escritas por compositores americanos que contenham

palavras, que independente da altura e duração, apresentam maior dificuldade de

pronunciação. Em seguida, será feita uma análise destes trechos e um levantamento das

dificuldades de pronúncia e dicção por parte dos coralistas.

CRONOGRAMA

ATIVIDADE Início Término

Revisão da Literatura Coleta e leitura das principais

obras relacionadas ao assunto Mar/2012 Set/2012

Organização de Dados Organizar e selecionar os pontos

mais importantes para a pesquisa Jul/2012 Set/2012

Análise e interpretação dos

Dados

Contextualizar os pontos

importantes da pesquisa Set/2012 Out/2012

Apresentação dos

resultados

Elaboração do texto final e

entrega do trabalho Nov/2012 Dez/2012

Page 7: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

3

BIBLIOGRAFIA

APPELMAN, D. Ralph. The science of vocal pedagogy. Indiana University Press.1986

MARSHALL, Madelaine. The singer‟s manual of English diction. G. Schirmer. 1953

NEWTON, George. Sonority in singing: a historical essay. New York: Vantage Press.

1984.

FISHER, Robert E. The Design, Development, and Evaluation of a Systematic Method

for English Diction in Choral Performance. Journal of Research in Music Education, v.

39, n. 4, p. 270-81, 1991.

FERNANDES, Angelo José. O Regente e a construção da sonoridade coral: uma

metodolo- gia de preparo vocal para coros. 2009. Tese (Doutorado). Unicamp.

Page 8: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

4

INTRODUÇÃO

Residi nos Estados Unidos da América por um período de quase quatro anos

onde tive a oportunidade de aprender inglês, estudar música e cantar em diversos corais.

Ao regressar ao Brasil, pude notar que os integrantes dos coros formados por cantores

falantes da língua portuguesa brasileira, ao cantarem peças em inglês escritas por

compositores americanos, apresentavam certas dificuldades não só pelo seu

entendimento linguístico, mas, também, pela pronúncia e dicção.

A duração dos ensaios desses coros nem sempre eram suficientes para que o

texto em inglês fosse cantado com clareza. A qualidade da pronúncia e da dicção pode

interferir na inteligibilidade do texto pelo público em que “A maior parte do público

deseja e espera entender o texto do cantor quando ele canta, e em seu canto elevar o

texto de uma maneira ardilosa para que a palavra não seja subordinada ao lindo som.”

(APPELMAN,1986, p. 172, tradução nossa)3

Esse problema se acentua uma vez que não vivemos em um país onde a língua-

mãe é a inglesa e esta apresenta fonemas e ditongos que não existem na língua

portuguesa como por exemplo “th”, “ous”, “ey”, entre outros. Desta maneira pode-se ter

comprometida a clareza da pronúncia do texto ao se cantar uma vez que “Por via de

regra, quando um fonema é pronunciado dentro de um ambiente lingüístico propício,

maior poderá ser sua inteligibilidade” (APPELMAN,1986, p. 239, tradução nossa) 4

De maneira geral, desde que cheguei dos Estados Unidos, tenho adquirido muita

experiência como professor de inglês em diversas escolas da cidade de São Paulo.

Tenho notado as variadas dificuldades de pronúncia e dicção de certos vocábulos em

inglês de cada aluno em sala de aula e vejo essas mesmas dificuldades se repetirem em

um ensaio de coro quando este prepara uma obra com o texto em inglês. Há uma

tendência em pronunciar as palavras da forma como lemos em português, e na maioria

das vezes a palavra cantada em inglês tem até mesmo seu significado comprometido.

3 Most audiences desire and hope to understand the text of the singer as he sings, and that in

singing he will elevate the text in an artful manner so that the word will not be subservient to the beautiful

sound. 4 As a rule, the more consistently a phoneme is pronounced within a particular linguistic

environment the greater the intelligibility.

Page 9: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

5

Por essa razão, um regente de coro deve dar atenção especial à pronúncia da

obra que será trabalhada para que, não só o texto cantado seja compreendido, mas para

que o sentido musical da peça possa ser aprimorado também.

A fim de que o público entenda bem a sonoridade característica e o

significado do texto – seja em que idioma for – é necessário, primeiramente,

que se trabalhe a pureza dos sons vocálicos e a clareza das consoantes.

Entretanto, um simples trabalho de enunciação não é o suficiente, sendo

necessário combiná-la com a prática insistente de se cantar as palavras com a

acentuação adequada e dar sentido ao conteúdo poético de cada verso,

ajustando-o ao conteúdo musical da obra. Assim, os textos ganham em

expressividade e seu significado é melhor comunicado. (FERNANDES, A.

J.; KAYAMA, A. G.; ÖSTERGREN, E. A., p. 51-74)

Por isso, tendo em vista a minha experiência como coralista nestes dois países e

minha experiência como professor, penso em desenvolver uma ferramenta para auxiliar

os regentes no trabalho de dicção da língua inglesa americana com coros para falantes

da língua portuguesa brasileira.

Para o desenvolvimento da proposta acima referida, foram selecionados trechos

de duas peças do compositor norte-americano Norman Dello Joio onde possivelmente

ocorreriam erros de dicção e pronúncia. Por meio dos problemas abordados, pretendo

sugerir certas soluções que poderão servir como ferramenta para um regente de coro, de

forma a melhorar a pronúncia no canto de obras em inglês de compositores norte-

americanos.

Reitero que o inglês que será considerado nesse trabalho é o de origem

americana.

O trabalho está divido da seguinte forma. No capítulo 1, intitulado Diferenças

entre o inglês falado e o inglês cantado, abordarei diferenças do idioma inglês quando

este é cantado e falado.

Em seguida no capítulo 2, selecionei trechos das peças “To Saint Cecilia” e “The

Blue Bird” e aponto possíveis problemas de pronúncia enfrentados por falantes da

língua porguesa do Brasil.

Para finalizar, no capítulo 3, agrupei e categorizei os fragmentos selecionados

onde fiz uma análise qualitativa de cada possível problema que seria encontrado, e a

partir dessa análise, apresentei uma solução para cada caso.

Page 10: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

6

1. DIFERENÇAS ENTRE O INGLÊS FALADO E O INGLÊS CANTADO

Neste capítulo abordarei as diferenças entre o inglês falado e o inglês cantado,

pois, por se tratar de um trabalho onde a pronúncia e dicção tem como foco principal, é

importante salientar que

Os sons que a boca humana produz incluem diversos eventos acústicos como

falar, cantar, gargalhar, tossir, assoviar, e sons de lábio. A discriminação

desses sons contribuem para evitar o sistema de erros do diálogo falado a

compreensão da comunicação da fala humana. (OHISHI, Y; GOTO, M;

ITOU, K; TAKEDA, K, p. 1, tradução nossa)5

Dentre desses variados eventos acústicos, será abordado por este trabalho apenas

a diferença entre a fala e o canto na língua inglesa.

Os autores Emmons e Chase ressaltam em seu livro que

(...) não se pode cantar como se fala. Não é o suficiente para atender as

advertências freqüentes para "cuspir as consoantes para fora", ou "relaxar, é

só como falar no tom", ou "cantar sobre as consoantes" (EMMONS, Shirlee;

CHASE, Constance, 2006, p. 62, tradução nossa)6

Essa citação traz uma ideia contrária a um pensamento comum de que o canto e

a fala são similares. Eles ainda complementam que:

1. O controle da respiração é muito mais rigoroso para o canto

do que para a fala.

2. Uma vogal deve ser sustentada por períodos maiores no canto

do que na fala.

3. A altura coberta pela voz cantada é muito superior que a

utilizada para falar.

4. Os sons do canto demandam maior variação de dinâmica.

5. Cantar requer um nível maior de ressonância, não necessária

para falar. (loc cit)7

Um outro ponto que diferencia o inglês falado e o cantado é a separação silábica

das palavras, que nem sempre coincidem com a divisão silábica de uma canção. “Uma

5 Sounds from the human mouth include various acoustic events

such as speaking, singing, laughing, coughing, whistling, and

lip noises. The discrimination of these sounds contributes to

avoiding spoken dialogue system errors and to understanding

human speech communication. 6 (…) one cannot sing as one speaks. It is not enough to heed the frequent admonitions to "just spit those

consonants out," or to "relax; it's just like speaking on pitch," or to "sing on the consonants". 7 1. Breath management responsibilities are far more stringent for singing than for speaking.

2. A vowel must be sustained for greater durations in singing than in speaking.

3. The range covered by the singing voice far exceeds that used for speaking.

4. The sounds of singing demand greater fluctuations of dynamics.

5. Singing requires a constant level of resonance not necessary for speaking.

Page 11: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

7

palavra em inglês de duas ou mais sílabas é separada silabicamente pela sua estrutura e

esta mesma quando cantada, pode ser separada silabicamente para soar mais clara.”

(MARSHAL,1953, p. 7, tradução nossa.) 8 Exemplos:

spir-it-u-al spi-ri-tu-al

di-fer-ence di-ffe-rence

re-mind-er rem-in-der

Também é importante ressaltar que as vogais e as consoantes são emitidas de

formas diferentes quando cantadas. A cantora Miriam Tikotin, em seu website sobre

canto lírico, reporta que

Uma das diferenças entre falar e cantar é o tempo: nos cantamos muito mais

devagar. E na maioria das vezes nós cantamos vogais. Por causa disso – nós

temos que definir as vogais muito claramente. (...) Os cantores devem exager

a pronúncia das consoantes usando tempo e apoio extra com elas.9

(studio.miriamtikotin.com/voice_diction.html)

Como o presente trabalho pretende propor soluções de dicção de uma língua

estrangeira para que o coralista obtenha uma pronúncia aproximada daquela de um

nativo, é relevante ter consciência dessas diferenças entre canto e a fala, uma vez que os

possíveis problemas de pronúncia tratados aqui envolvem ditongos, sons característicos

da língua inglesa, fonemas que soam diferentes nesta mesma língua e sons de

consoantes, ou seja, para produzir estes sons, o coralista deve fazê-lo pensando na voz

cantada, levando em consideração fatores que vão desde o controle da respiração até a

separação silábica do trecho a ser cantado.

Para evidenciar a possibilidade de ter a pronúncia mais adequada de acordo com

a língua estrangeira quando se canta, observe a citação abaixo:

Por mais que os valores das vogais quando faladas variam de acordo com o

idioma ou dialeto, no canto eles não podem partir da coincidência de uma

altura de uma vogal e de um harmônico de uma fala. Isso é um absoluto no

canto. Essa é uma das razões pela qual uma pessoa pode cantar em uma

8 A word of two or more syllables is divided, in print, on the basis of its structure; the same word,

when sung, may be divided in an entirely different manner for the sake of clearer and more effective

singing. 9 One of the difference between singing and speaking is time: we sing much slower. And most of that

time we sing on vowels. Because of that - we have to define the vowels very clearly:

Singers should exaggerate pronouncing the consonants using extra time and extra support on them. If we

do not pay that extra attention - it will probably not be understood;

Page 12: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

8

língua estrangeira sem sotaque, mas não pode falá-la sem sotaque.

(EMMONS, Shirlee; CHASE, Constance, 2006, p. 62, tradução nossa)10

A citação acima mostra que é possível cantar sem sotaque, o que evidencia ainda

mais a importância do trabalho da dicção com um coro.

10 Whereas spoken vowel values vary according to languages and dialects, in singing they cannot depart

from the coincidence of a vowel pitch and an harmonic of the sung pitch. This is an absolute in singing.

This is one of the reasons that a persons can sing in a foreign language without an accent but cannot speak

it without an accent.

Page 13: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

9

2. TRECHOS SELECIONADOS PARA ANÁLISE EM RELAÇÃO ÀS

DIFICULDADE DE PRONÚNCIA

Esta análise possue trechos que foram retirados de duas peças, To Saint Cecilia e

The Blue Bird, do compositor americano Norman Dello Joio (1913 – 2008). Essas obras

foram escolhidas porque nesta pesquisa a proposta é trabalhar com problemas de

pronúncia no inglês norte americano e, além disso, tais obras tem sido bastante

executadas por vários coros11

, inclusive, brasileiros como foi o caso do Coro de Câmara

da Unesp que no ano passado realizou a primeira citada juntamente com a Banda

Sinfônica Jovem e neste ano tem trabalhado a segunda obra mencionada.

Os trechos serão apresentados, enumerados em separado apontando-se os

problemas quanto à pronúncia que neles podem ocorrer para em seguida agrupá-los por

categorias de problemas comuns e apresentar as sugestões para as dificuldades de

dicção observadas.

A escolha dos trechos foi baseada nas possíveis dificuldades de pronúncia das

palavras, sejam estas relacionadas à associação equivocada com a Língua Portuguesa do

Brasil, elisões, terminações, entre outros casos, que se verá mais adiante.

Trechos das obras selecionadas e possíveis problemas de pronúncia:

Seleção dos trechos de “To Saint Cecilia”

Trecho 1

11 Ver exemplos no Youtube: http://goo.gl/2lXqn / http://goo.gl/oJolp / http://goo.gl/3ofht

Page 14: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

10

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 5).

Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.

Problema: palavra universal [jʊnɪvərsəl]

Trecho 2

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 5).

Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.

Problema: palavra began [bɪgæn]

Page 15: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

11

Trecho 3

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 6).

Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.

Problema: frase When Nature underneath a heap of jarring atoms lay [wɛn netʃər

əndərniθ ə hip əv dʒɑrɪŋ ætəmz leI]

Trecho 4

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 8-

9). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.

Problema: a frase ye more than dead [ji mɔr ðæn dɛd]

Trecho 5

Page 16: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

12

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.

10). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.

Problema: a palavra obey [obeI]

Trecho 6

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.

11). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.

Problema: a frase Through all the compass of notes [θru ɒl ðə kəmpəs əv nots]

Trecho 7

Page 17: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

13

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.

12). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.

Problema: a palavra full [fʊl]

Trecho 8

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.

14). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.

Problema: a palavra brethren [brɛðrən]

Trecho 9

Page 18: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

14

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.

14). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.

Problema: a palavra faces [fesəz]

Trecho 10

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.

19). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.

Problema: a palavra Music [mjuzɪk]

Trecho 11

Page 19: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

15

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.

25). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.

Problema: a palavra jealous [dʒɛləs]

Trechos de “The Blue Bird”

Trecho 12

JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 4).

Vozes mistas com piano.

Problema: a frase How shall I tell my love? [haw ʃæl aI tɛl maI ləv]

Trecho 13

Page 20: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

16

JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 6).

Vozes mistas com piano.

Problema: a frase Hear while I tell [hɪr waIl aI tɛl]

Trecho 14

JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 9).

Vozes mistas com piano.

Problema: a frase I will not give you [aI wɪl nɑt gɪv]

Trecho 15

Page 21: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

17

JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 9).

Vozes mistas com piano.

Problema: a palavra Bring [brɪŋ]

Trecho 16

JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 13).

Vozes mistas com piano.

Problema: a frase full well she knew [fʊl wɛl ʃi nu]

Page 22: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

18

3. ANÁLISE E SUGESTÃO PARA OS PROBLEMAS ENCONTRADOS NOS

TRECHOS SELECIONADOS

Os trechos selecionados foram agrupados por problemas comuns e categorizados

da seguinte maneira: associação com a fala em português, ditongos, o som do “th” e do

“t”, fonemas que soam diferentes da forma que estão escritos, terminações de palavras e

elisões. Essas categorizações são apenas ilustrações das ocorrências que podem ser

encontradas quando um coro brasileiro canta em inglês. Pretende-se nesta parte do

trabalho, em cada agrupamento, abordar a palavra do trecho específico, como

provavelmente um brasileiro a cantaria e, apresentar uma solução para cada caso com

vistas a contribuir com uma pronúncia de melhor qualidade que poderá facilitar a

inteligibilidade do texto, bem como colaborar com aspectos tais como: a sonoridade do

coro, afinação, precisão rítmica, entre outros.

3.1 Associação com os sons da Língua Portuguesa do Brasil

Trechos: 2, 7, 11, 14, 15 e 16

É comum para um falante da Língua Portuguesa do Brasil ler uma palavra em

alguma outra língua e pronunciá-la como se fosse em português pois

por inconsciência da mudança necessária, coordenamos os movimentos dos

órgãos da fala (abertura da boca, língua, lábios, vibração das pregas vocais)

como se estivéssemos falando português; também guardamos tendências de

pronunciar (padrões de pronúncia) típicas do português. (SCHUMACHER;

WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 36)

Nos trechos selecionados temos os seguintes casos

Palavra Problema/ Provável

pronúncia

Sugestão

a. began [bɪgæɲ] “Bigãn” – em inglês soará

como begun, particípio do

mesmo verbo.

“Bi-guén”

b. full [fʊl] “fúl” – em inglês soará

como fool, ou seja, tolo.

“fôul”

c. jealous [dʒɛləs] “Djélous” – a palavra pode “Djé-lãs” – onde ous

Page 23: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

19

ficar incompreensível sempre tem o som de ãs

d. I will not give you [aj wɪl

nɑt gɪv]

O will e o give tendem a

soar como wheel e geev.

Wil e guiv - sendo o “i”

falado como o segundo “e”

da palavra “mexe

e. Bring [brɪŋ] O bring soa com [i], onde

na verdade é [I].

Bring – sendo o “i” falado

como o segundo “e” da

palavra “mexe”

f. full well she knew [fʊl

wɛl ʃi njʊ]

Novamente “fúl” – em

inglês soará como fool, ou

seja, tolo; e “níu” – em

inglês soará como knee, ou

seja, joelho.

Niú

No caso a, para a palavra began [bɪgæɲ] sugeri a pronúncia “Bi-guén” onde o

[æ], está em posição tônica e pode ser pensado, para aproximar com um som da língua

portuguesa, com o “é”, como por exemplo, na palavra “égua”. Desta forma evitaria-se a

dicção equivocada “Bigãn” que resultaria em outro tempo verbal em inglês. Deve-se

salientar, entretanto, que a terminação do “n”, deve ser de acordo com n [ɲ]. Ou seja,

não se deve falar o “n” final como um ditongo nasal, “êin” em português.

Outro erro muito comum para os falantes do português do Brasil acontece no

trecho b, ao pronunciar a palavra full [fʊl], em inglês “cheio”, é fazê-la soar como fool,

ou seja, “fúl” como seria escrito em português, que quer dizer tolo. Isso acontece pela

associação com a fala do português, uma vez que a vogal “u”, em posição tônica, nessa

mesma língua tem o som prolongado como em “urso” ou “uva. De acordo com o AFI

(Alfabeto Fonético Internacional) a vogal “u” nas duas palavras, tem transcrições

diferentes:

Full [fʊl] Fool [ful]

Para pronunciar corretamente a palavra full, basta dizer “fôul”, lido como se

estivesse falando português, uma vez que esta palavra “não tem equivalência em

Page 24: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

20

português que sirva de exemplo”. (SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p.

44). Isso evita que o falante da língua portuguesa mude o significado das palavras,

como nas palavras pool (piscina) e pull (puxar).

Já no caso c, jealous [dʒɛləs], o “j” inicial tem o som semelhante ao “d” presente

na palavra “dia” [dʒiə] do português. Na mesma palavra, outro erro comum também por

causa da associação com a língua portuguesa, é o de pronunciar erronamente a sufixo

ous (əs), que em português se aproxima ao “as” da palavra casas [kazəs] ou até mesmo,

como o fonema “ãs”, de maçãs. Sendo assim a pronuncia mais ideal para a palavra

“jealous” é “djélãs”, como seria escrito em português.

Nos casos d e e, a vogal “i” das palavras Will e bring pode ser pensado a partir

do “i” reduzido, o [I] do AFI, como nos caso da palavra em português mexe [mæʃI], em

que o segundo “e” soa como um “i” curto. Essa sugestão é para evitar que o falante da

língua portuguesa pronuncie e cante o “i” [i] longo como, por exemplo, na palavra feet,

o que estaria errado e em alguns casos esse erro pode mudar o significado das palavras

como em leave (deixar, sair, partir) e live (morar), feet (pés) e fit (caber).

Na frase full well she knew [fʊl wɛl ʃi nu] do caso f, os problemas estão nas

palavras ful [fʊl], (explicado anteriormente no caso b) e knew [niú].

Na palvra knew, o “k” não é pronunciado e na minha experiência como professor

de inglês, este não é um erro tão frequente, mas ainda assim vale ressaltar que “os sons

das letras “k” e “g” não são pronunciados quando aparecem antes da letra “n”.”

(SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 69). Entretanto, o que geralmente

acontece com os falantes do português brasileiro ao pronunciar a palavra knew, é um

nítido som de ní ou níu. Isso acontece também pela presenta do “e” na palavra e a

associação com outras palavras em inglês que também contém a vogal “e” como, por

exemplo, nas palavras knee, free e creed.

Sendo assim, de acordo com o AFI, sugiro que a pronúncia seja “niú”

acentuando, mas não prolongando, o “u” e não o “í” como seria de costume, e de acordo

com a AFI, a transcrição fonética da palavra knew é [njʊ], ou seja, com uma semivogal

e um “u” curto, reduzido.

3.2 Ditongos

Page 25: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

21

Trechos: 1, 5 e 10

As vogais da língua inglesa possuem quatorze sons de acordo com o padrão de

Received Pronunciation12

, destes, abordarei dois, contidos na obra de Dello Joio, que

são problemáticos por causa da associação com os sons do próprio português falado no

Brasil, que foi tratado no subtópico 2.1.

Palavra Problema/ Provável

pronúncia

Sugestão

a. universal [junɪvərsəl] “universal” – u como em

urso.

“iúnivãrsol”

b. obey [obeI] “obeí” – as vogais “o” e

“e” não soariam.

“ôu-bêi”

c. Music [mjuzɪk] “Míuziqui” – além de

acrescentar uma sílaba a

mais a vogal “u” soaria

com um ditongo

decrescente.

“miúzic”

Sabe-se que em português existem cinco letras para os sons das vogais: “a”, “e”,

“i”, “o” e “u”. Também, pode-se combinar esses sons para formar sequências de vogais

(ditongos e tritongos), por exemplo: ai, pau, outro.

Na língua inglesa, as vogais possuem outros sons, que eu português soariam da

seguinte forma:

Vogal em português Som da mesma vogal em inglês

A “êi” [eI]

E “í” [i]

12 Received Pronunciation (pronúncia recebida), conhecida como RP, é a pronúncia do inglês padrão teoricamente transmitida através do inglês literário.

Page 26: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

22

I “ái” [aj]

O “ôu”[oʊ]

U “iú” [ju]

Nos ítens a e c, som da vogal “u” das palavras universal e music, ao ser

pronunciada, soa como um ditongo, “iú”, ou seja, junto com a vogal “i”. Entretanto,

vale lembrar que o som da vogal “u” do inglês, forma um ditongo crescente. Desta

forma o acento fica na vogal “u”, resultando no som “iú” e não “íu.

Na letra b, trata-se de dois ditongos: um sonoro e um escrito, respectivamente o

“ou”-bey “bei”13

sendo que a vogal “o” apresenta um ditongo decrescente, ou seja,

resulta-se no som “ôu” e não “oú”.

A sílaba tônica da palavra obey é a segunda, portanto trata-se de uma palavra

oxítona, e tendo em mente o ditongo decrescente com a sílaba tônica da mesma palavra,

se tem a exata proúncia “ôu-bêi”

Em canto, seja coral ou não, o regente deve ficar atento a esses problemas

relacionados ao ditongo, pois no próprio ditongo, a passagem de um som de vogal para

outro, pode implicar na afinação da cantada, uma vez que a abertura da boca, dentre

outros fatores, pode alterar a ressonância do som produzido.

Alterando a abertura da boca, bem como a vogal é também uma das

principais formas de alterar a ressonância do canto. (...) Mudar a posição de

tom, o arredondamento ou disposição dos lábios, ou o tamanho da abertura da

mandíbula de seus cantores, você deve ter notado mudanças significativas

para o tom.14

(EMMONS, Shirlee; CHASE, Constance, 2006, p. 117-118)

13 A letra Y pode ser considerada ambas vogal e consoante. The letter Y can be regarded as both a

vowel and a consonant. In terms of sound. http://oxforddictionaries.com/words/is-the-letter-y-a-vowel-or-

a-consonant 14

Changing the mouth opening as well as the vowel is also a major way to change the resonance

of the singing. (…) Changing the tone position, the rounding or spreading of the lips, or the size of the

jaw opening of your singers, you will have noticed significant changes to the tone.

Page 27: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

23

3.3 O som do “th”

Trechos: 3, 6 e 8

Palavra Problema / Provável

pronúncia do th

Sugestão

a. Underneath [əndərniθ]

“s”, “t” ou “f”

Para pronunciar o “th” é

preciso morder a língua e

assoprar. b. Through [θru]

c. Brethren [brɛðrən]

Existem dois tipos de sons que produzimos:

aqueles formados somente pelos diferentes movimentos das estruturas da

cavidade oral associados „a passagem do ar pela boca, como o som do “f” ou

“t”, por exemplo; aqueles em que, além dos diferentes movimentos e da

passagem do ar pela boca, tmabém ocorre a vibração das pregas vocais, ou

seja, a produção de voz. Exemplos são o som do “v” ou “d”.

(SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 25)

No caso do “th” da língua inglesa, é possível pronunciá-lo destas duas formas

embora ele seja um som extremamente, e naturalmente, difícil para brasileiros, pois esse

som não existe na língua portuguesa. A técnica para produzir esse som é a seguinte:

morder a língua e assoprar como se estivesse emitindo o som do “s”. Dessa maneira

emitir-se-á o som do th sem voz. No entanto, para emitir o som do th com voz, repita o

procedimento acima, só que ao invés de assoprar como se estivesse emitindo o som do

“s”, emita o som do “z”. Note que o som do “th” com som é emitido sempre quando há

uma vogal na frente dele, como nas palavras the, though, author.

Nos casos a, b e c, o “th” é pronunciado sem voz, ou seja, sem a vibração das

pregas vogais, uma vez que em todos os casos o “th” é seguido de uma consoante ou

está no final da palavra. Desta maneira forma, evitar-se-á confundir o “th” com o som

de “f” ou “t”, o que implicaria no entendimento da palavra.

Page 28: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

24

3.4 O som do “t”

Trecho: 13

Palavra Problema/ Provável

pronúncia

Sugestão

a. tell [tɛl] “tél” com o mesmo “t” de

“telefone”

“tsél” onde o “t” soa quase

como um “ts"

Do trecho Hear while I tell [hɪr waIl aI tɛl], tratarei nesse ítem apenas da palavra

tell [tɛl] onde a consoante “t” parece ser problemática quanto sua pronúncia na língua

inglesa.

O “t” em português possue dois sons diferentes: o “t” de “quantia” [ku ntʃi ] e o

“t” de “tatu” [t tu].

Nenhum dos casos citados acima possue o som do “t” da língua inglesa.

Como dito no subtópico 2.3, existem dois tipos de sons que produzimos a partir

de uma consoante, com som e sem som. No caso do “t” em questão, este é produzido

sem som, ou seja, requer apenas um som da passagem de ar que seja audível.

Na língua inglesa

Devemos usar som similar ao sotaque de algumas regiões de SC (como em

Blumenau, por exemplo) ao pronunciar “Bom dia!”, “Boa tarde” ou “Hoje eu

irei ao dentista”. Nestas expressões os sons ficam sem o “chiado”

característico de alguns sotaques, que não existe nesses casos em inglês.

(SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 25)

Para ilustrar a citação acima, sugiro tentar pronunciar o “t” posicionando a

língua na crista alveolar superior, ou seja, na cavidade bucal localizada bem atrás dos

dentes superiores. Desta forma o “t” soará quase como um “ts”.

É extremamente importante ser preciso na pronúncia “t” da língua inglesa para

não resultar na mudança de significado das palavras. Ex.: “Dime” [dajm] (dez centavos)

e “time” [tajm] (tempo).

Page 29: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

25

3.5 Fonemas que soam diferentes

Trechos: 3 e 6

Palavra Problema/ Provável

pronúncia

Sugestão

Of [əv] Óf – O que em inglês

soaria como “off” e não

“of”

“óv” – com “v” ao invés de

“f”

De acordo com o AFI, a pronúncia correta para a preposição “of” [əv] é “óv”.

Neste caso a consoante “f” tem som de “v” para não ser confundida com o advérbio

“off” [əf].

Pelas razões expressadas no subtópico 2.2, o falante da língua portuguesa do

Brasil facilmente confundiria essas duas palavras.

3.6 Terminações

Trechos: 4 e 9

Palavra Problema/ Provável

pronúncia

Sugestão

a. dead [dɛdt].]

“dédji” “déd” com o ultimo “d”

soando como um “t”

b. faces [feIsəz]

“fêiss” “fêicês”

No caso a, o problema encontra-se no “d” final da palavra dead [dɛd].

Em português, os casos em que o “d” mudo aparecem em palavras como

“advogado” [adʒvogadʊ] e “Edna” [ɛdʒnə], o “d” acaba soando como um “dj”. Sendo

Page 30: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

26

assim a tendência do falante do português ao pronunciar a palavra dead, é a de soar algo

como “dédji”.

Uma possível solução para isso é pensar na consoante “d” como se fosse o “t”

no sotaque da região sul do Brasil, nas palavras “dia”, “tarde”, como afirma

(SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 25). Somente assim o último “d” soaria

puramente mudo.

No fragmento em questão, há uma outra peculiaridade que pode dificultar ainda

mais a pronúncia da palavra dead, especialmente com relação ao último “d”. Note no

trecho 5, que a palavra dead deve ser cantanda na duração de duas mínimas e uma

colcheia ligadas e logo em seguida há uma pausa cortando o som. Sendo assim a

sugestão final para a melhor execução e clareza deste excerto é a de cantar a letra “d”

como explicado acima, exatamente na entrada da pausa, cortando o som.

No caso b, a palavra faces [fesəz] está no plural. É comum aos falantes do

português confundirem a pronúncia das palavras, quando no plural, que possuem

terminações em “es” como em services, offices, buses, pronunciando o “es” como “Is”,

ou seja com “i” curto como em palavras no português tais como: Mente [MeɲtʃI],

Cabide [kabidʒI]. Por isso, deve-se lembrar que de acordo com o AFI é necessário se

acrescentar uma sílaba extra [əz] para fazer a diferenciação da mesma palavra no

singular.

Para que não seja cometido o erro de pronúncia, anteriormente comentado e, a

sílaba extra [əz] seja devidamente pronunciada, sugiro que a vogal “e”, da palavra faces

seja pensada com acento circunflexo, como na palavra “você”, resultando numa vogal

mais fechada e neutra. Na tabela abaixo coloco alguns exemplos de como as palavras no

plural devem ser pronunciadas, com esta sugestão mencionada.

Singular Plural Sugestão em

português

Face [feIs] Faces [feIsəz] “fêicês”

Service [sərvəs] Services [sərvəsəz] “sãrvãcês”

Bus [bəs] Buses [bəsəz] “bãcês”

Page 31: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

27

Office [ɒfəs] Offices [ɒfəsəz] “ófecês”

Language [læŋgwədʒ] Languages [læŋgwədʒəz] “lénguãdjês”

3.7 Elisões

Trechos: 3, 6 e 12

Palavra Problema/ Provável

pronúncia

Sugestão

a. When Nature underneath

a heap of jarring atoms lay

[wɛn netʃər əndərniθ ə hip

əv dʒɑrɪŋ ætəmz leI]

“Uêin Neitchãr ãnderníθ a

rípi ófi jarring átoms lêi”

“UêNêitchãr ãnderníθahíp

óv jórrinétamz lêi”

b. Through all the compass

of notes [θru ɒl ðə kəmpəs

əv nots]

“s‟ru au de compéss ófi

nôutis”

“θru ólθã compéssóv

nôuts”

c. How shall I tell my love?

[haw ʃæl aI tɛl maI ləv]

“Hóu shau ai téu mai lóvi” “hau sháulái téll mai lãv”

Ao ensaiar uma peça em inglês, o regente de coro deve dar atenção especial à

dicção dos coralistas para que as frases musicais e o texto fiquem o mais claro possível.

Isto porque a dicção permite: uma enunciação clara, capaz de proporcionar

um melhor entendimento do texto; uniformidade sonora das vogais, essencial

para uma afinação refinada e para a maior homogeneidade sonora;

uniformidade de articulação consonantal, essencial para o equilíbrio rítmico;

e flexibilidade dos lábios, da língua e da garganta, permitindo uma produção

vocal eficiente e saudável. (FERNANDES, A. J.; KAYAMA, A. G.;

ÖSTERGREN, E. A.,p. 51-74)

Um dos pontos da dicção a ser trabalhado para que a inteligibilidade do texto

fique mais fluente quando se tratar de um outro idioma, é a elisão.

Page 32: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

28

Por definição, “elisão é a omissão de sons, sílabas ou palavras na fala. Isto é

feito para tornar a linguagem mais fácil de dizer, e mais rápido.”15

Na língua portuguesa

existem elisões já escritas em algumas palavras, como por exemplo, “daquele”,

“naquele” e “disto”; ou então separadas por apóstrofos como em “d‟água” e “Santa

Bárbara D‟Oeste”.

Musicalmente, essa supressão de fonemas, além de facilitar a articulação do

texto, colabora para o melhor entendimento e fluência das frases musicais propostas

pelo compositor. Nos trechos selecionados, realço alguns dos erros cometidos pelos

coralistas falantes da língua portuguesa.

Esses problemas geralmente ocorrem, pois os sons das vogais e consoantes da

língua inglesa são produzidos em locais diferentes da boca comparado aos locais onde

as vogais e consoantes da língua portuguesa são produzidos, e além disso, a língua

portuguesa ainda possui alguns fonemas nasais que são emitidos quando “a corrente de

ar vibrante passa pelas cavidades bucal e nasal, formando cinco fonemas vocálicos

nasais: linda, tenta, banda, onda, fundo.”16

Como mostra a tabela acima, três trechos problemáticos da obra de Dello Joio

foram selecionados e em seguida proponho possíveis soluções:

Na frase a há um caso típico de elisão logo no começo onde aparece uma

palavra terminada em “n” e outro em seguida começada em “n”: When Nature [wɛn

netʃər].

Nesse caso, sugiro que faça a redução dos dois “n” em questão para um, que

soaria “uêNêitchãr” [wɛnetʃər], como seria escrito em português. Deste modo, será

evitado o erro grave de pronúncia da palavra when que seria um “uêin” anasalado.

Novamente ressalto que o som do “n”, deve ser emitido de acordo com o n [ɲ], ou seja,

não se deve falar o “n” final como um ditongo nasal.

Na mesma frase a, ocorre-se outra elisão em heap of jarring [hip əv dʒɑrɪŋ].

Segundo as Dicas de Pronúncia da Língua Inglesa da BBC, esse tipo de elisão deve ser

feito “quando uma palavra termina em consoante e a próxima palavra começa com um

15 Elision is the omission of sounds, syllables or words in speech. This is done to make the language easier to say, and faster. http://www.teachingenglish.org.uk/knowledge-database/elision 16

http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/tipos-de-fonemas

Page 33: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

29

som de vogal, há então uma ligação suave entre essas duas”.17

Embora essa dica de

pronúncia foi proveniente dos consultores linguísticos da BBC de Londres onde o inglês

britânico é falado, esta também se aplica ao inglês americano. Sendo assim, sugestão

para a pronúncia para o trecho heap of seria “rípóv” [hipəv].

Esta regra também se aplica aos casos selecionados b e c. Os mesmo problemas

se repetem e as soluções são similares.

Trecho em questão Sugestão de pronúncia com a elisão e

como seria falado em português do

Brasil

compass of [kəmpəs əv] Compass_of [kəmpəsəv], ou seja

“compéssóv”.

shall I [ʃæl aI] Shall_I [ʃælaI], ou seja “sháulái”.

Note que em alguns casos, as elisões devem ser evitadas quando o texto não

ficar claro ou “quando uma palavra de importância pode ser confundida por uma outra

palavra, então as palavras devem ser separadas.” (MARSHALL, Madelaine, p. 82).

Exemplos:

Steps in Sin

If aught Faught

Nesse caso, a opção da elisão dependerá também da tradução do texto, desta

forma o regente ou o ensaiador saberá quando fazer elisões.

17 “When one word ends with a consonant sound and the next word begins with a vowel sound

there is a smooth link between the two.

http://www.bbc.co.uk/worldservice/learningenglish/grammar/pron/progs/prog1.shtml#linking1

Page 34: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

30

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Busquei com o presente trabalho, possíveis problemas de pronúncia, no canto,

que os falantes da língua portuguesa do Brasil podem encontrar na língua inglesa

americana, exemplificados e analisados em determinados trechos de duas obras de

Norman Dello Joio para coral.

No capítulo 1, onde abordei algumas diferenças entre o inglês falado e o inglês

cantado, pudi também inferir que é possível cantar em um idioma estrangeiro com

sotaque reduzido utilizando-se apenas das técnicas vocais básicas.

Em seguida selecionei pequenos excertos das peças “To Saint Cecilia” e “The

Blue Bird” onde apontei possíveis problemas de pronúncia enfrentados por falantes da

língua porguesa do Brasil.

Uma vez que a explicação básica das diferenças entre o canto e a fala na língua

inglesa e as amostras da análise foram apurados, fiz uma análise qualitativa destes

problemas e propus soluções de pronúncia para eles levando em consideração um coro

de falantes da língua portuguesa do Brasil.

Embora pode-se haver muitos problemas de dicção envolvendo associação com

a fala em português, ditongos, o som do “th” e do “t”, fonemas que soam diferentes da

forma que estão escritos, terminações de palavras e elisões, pude verificar que, na

maioria dos casos analisados, o fator que mais dificulta a pronúncia da língua inglesa é a

associação incorreta que o indivíduo em questão faz com a língua portuguesa. Por um

fator inconsciente, os movimentos dos órgãos da fala seguem uma tendência já

adquirida pela língua-mãe, o que gera padrões de pronúncia.

Ao longo da análise, utilizei-me dessa associação para criar transcrições desses

trechos problemáticos como se estes fossem falados em português, partindo do AFI,

busquei sempre um fonema na língua portuguesa que mais se aproximasse do fonema

em inglês, de forma de não comprometer a sonoridade e inteligibilidade da palavra no

texto cantado, como por exemplo:

Palavra em inglês Possível erro de pronúncia Como se falaria em

português

began [bɪgæɲ] “Bigãn” – em inglês soará

como begun, particípio do

mesmo verbo.

“Bi-guén” – soando como se

deve ser pronuciado.

Page 35: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

31

Esse tipo de transcrição (escrever como se fala na própria língua) pode ser feito

com outras palavras ou frases de outras peças de outros compositores americanos, como

mostra o exemplo abaixo, tendo como exemplo “The Battle Hymn of the Republic” da

compositora norte-americana Julia Ward Howe:

Frase em inglês Possível erro de pronúncia Como se falaria em

português

coming of the Lord

[kəmɪŋ əv ðə lɔrd]

“comin ófi de Lórdji” –

quase inteiramente associado

à língua portuguesa do Brasil

“Câmin óv dãlôrd”

Por último tratei das elisões, que não deixa de ser algo que fazemos com certa

frequência quando falamos português, porém quando encontramos um idioma que não

dominamos, ao ler uma frase, tentamos pronunciar palavra por palavra, e isso prejudica

a fluência do texto. Musicalmente falando, a fluência do texto é fundamental para que a

obra que está sendo trabalhada possa ter sentido musical.

Assim como previsto, a pesquisa servirá como um caminho para regentes de

coros que possuam coralistas que não dominam a língua inglesa americana e/ou o

Alfabeto Fonético Internacional. Sendo assim transcrevi alguns fonemas do AFI como

este seria falado em português do Brasil. Isto, de certa forma, facilitaria o trabalho do

regente para com o coro que está sendo ensaiado, não só para melhorar a inteligibilidade

do texto em si, mas também para haver uma compreensão do texto musical para todos

os ouvintes.

Page 36: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MARSHALL, Madelaine. The singer‟s manual of English diction. G. Schirmer. 1953

FISHER, Robert E. The Design, Development, and Evaluation of a Systematic Method

for English Diction in Choral Performance. Journal of Research in Music Education, v.

39, n. 4, p. 270-81, 1991.

EMMONS, Shirlee; CHASE, Constance. Prescription for Choral Excellence. Oxford

Press: 2006.

JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura. Vozes

mistas com piano.

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura.

Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.

FERNANDES, A. J.; KAYAMA, A. G.; ÖSTERGREN, E. A., A prática coral na

atualidade: sonoridade, interpretação e técnica vocal. 2006.

http://www.revistas.ufg.br/index.php/musica/article/download/1865/1770. Acesso em: 9

de setembro de 2012.

OHISHI, Yasunori; GOTO, Masataka; ITOU, Katunobu; TAKEDA, Kazuya.

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ftp://ftp.cs.pitt.edu/web/projects/nlp/conf/interspeech2005/IS2005/PDF/AUTHOR/IS05

1733.PDF, acesso em: 12 de outubro de 2012.

Diction and Languages. http://studio.miriamtikotin.com/voice_diction.html. Acesso em:

8 de outubro de 2012

Is the letter Y a vowel or a consonant? http://oxforddictionaries.com/words/is-the-letter-

y-a-vowel-or-a-consonant Acesso em: 5 de outubro de 2012

BBC – elision. http://www.teachingenglish.org.uk/knowledge-database/elision Acesso

em: 8 de outubro de 2012

Page 37: Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana

33

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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1984.

Choral Forum. http://www.choralnet.org/view/221707 Acesso em: 4 de outubro de 2012

FERNANDES, Angelo José. O Regente e a construção da sonoridade coral: uma

metodolo- gia de preparo vocal para coros. 2009. Tese (Doutorado). Unicamp.

http://dictionary.reference.com/browse/of?s=t Acesso em: 4 de outubro de 2012