Cap12

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Cap12

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11.O primeiro feixeOs ltimos dias de maio trouxeram-nos sucessivamente presentes novos: novos espaos no ptio, novas portas e janelas, novos odores l fora e novos estados de esprito. As ltimas crises de preguia eram agora facilmente sobrepujadas.Cada vez mais comeava a brilhar na nossa frente a festa da nossa vitria. Do mago do morro do mosteiro, das profundezas das inmeras celas', emergiam e subiam superfcie as derradeiras emanaes do passado, e eram logo apanhadas pela solcita brisa estival, que as levava embora para longe, para algum monturo da Histria. .O trabalho do vento no era difcil agora: as obstinadas alavancas dos destacamentos mistos demoliram sem d o macio muro secular. Os nossos Falco e Mary, mais os rejuvenescidos cavalos de Kurij, que ganharam do conselho de comandantes nomes decentes como Centurea, Frade e guia, carregaram o entulho de tijolos para onde devido: o mais grado e inteiro, para a construo da pocilga, e o mais mido, para sendas, valetas e covas. Outros destacamentos, com ps, carrinhos de mo, padiolas, alargaram, limparam, nivelaram terraos marginais no nosso morro, cavaram descidas para o vale, fizeram degraus, enquanto a brigada de Borovi j preparava uma dezena de bancos a serem colocados em terraos e curvas especiais. O nosso ptio ficou amplo e claro, o firmamento aumentou, e uma decorao verde e as amplides livres do horizonte cercaram-nos como uma larga moldura.1J 1~I IPOEMA PEDAGGICO181No ptio e em volta do morro, h muito se consumiram os restos mortais dos milhes da Educao Social, e o nosso jardineiro Mizik, homem calado e sombrio, como freqentemente so os maridos feios de belas mulheres, j cavoucava com os rapazes os rebordos do ptio e das sendas, e arrumava em montculos ordeiros os tijolinhos gastos das caladas do mosteiro.No extremo norte do ptio preparavam as fundaes da pocilga. Construam uma pocilga de verdade, com bons cubculos. Shere j no parecia um homem salvo do incndio, agora tambm ele j sentia um entusiasmo arquimediano: todos os dias, saam para o trabalho trinta destacamentos mistos, sentamos nas nossas mos uma fora enorme. E eu vi que tremendas reservas de apetite de trabalho se concentravam em Shere. Ele emagrecera ainda mais, de tanta gana: o trabalho muito, a fora de trabalho grande, s dentro dele mesmo que tm limites as foras de organizador. Eduard Nikolievtch diminuiu as horas de sono, como que encompridou as pernas, riscou da ordem do dia os suprfluos, tipo desjejuns, almoos e jantares - e, mesmo assim, no dava tempo para fazer tudo.Na nossa centena de hectares, Shere queria percorrer num ms e meio o que fizemos em seis anos no lugar antigo.Ele mandava destacamentos maiores capinar os campos, para erradicar a mais nfima graminha, fazia relavrar sem d trechos de culturas malsucedidas e aplicava neles no sei que outras culturas especiais e tardias. Pelos campos passaram sulcos retos como raios, livres de ervas daninhas e enfeitadas, como dantes, pelos cartes de visita dos "reis andaluzes" e "princesas" de toda espcie. No trecho central, j bem perto da estrada do campo, Shere plantou meles, em ateno s minhas perspectivas pedaggicas. No conselho de comandantes essa iniciativa foi considerada muito til, e Lpot imediatamente se ps a arrolar toda sorte de veteranos merecedores, a fim de formar com esses elementos um destacamento espe, cial de "meloneiros". cP Em que pese o excesso de trabalho de Shere, tivemos ainda foras para formar um destacamento misto para a dragagem da lagoa. Karabnov foi nomeado comandante deste destacamento. Quarenta rapazes desnudos, os quadris cobertos pelos cales mais imprestveis que conseguiram arranjar-182POEMA PEDAGGICO183A. S. MAKARENKOcom Dens Kudlti, atacaram a sangria da gua. No fundo da lagoa foram encontradas muitas coisas interessantes: fuzis, pistolas de cano serrado, revlveres. Karabnov dizia:- Se procurarmos bem, vamos encontrar calas tambm. Eu acho que jogaram calas aqui, porque mais fcil fugir sem calas...Remover as armas do lodo no foi difcil, mas remover o prprio lodo revelou-se tarefa muito pesada. A lagoa era bastante ,grande, e tirar o lodo CO1n ps e padiolas - quando terminariam o trabalho? Somente quando aplicaram ao servio dois pares de cavalos atrelados a paletas de tbuas, especialmente inventadas, a espessura do lodaal comeou a diminuir visivelmente.O segundo misto especial de Karabnov, durante o trabalho, era de uma beleza mpar. Os rapazes, lambuzados at o cocoruto, assemelhavam-se fortemente a negrides, era difcil reconhec-Ios pelo rosto, seu grupo parecia recm-chegado de algum ignoto pas distante. J no terceiro dia tivemos a oportunidade de admirar um espetculo totalmente impossvel nas nossas latitudes: os rapazes saram para o trabalho, com os quadris enfeitados por saiotes estilosos feitos de folhas de accia, carvalho e plantas tropicais semelhantes. Nos seus pescoos, braos e pernas surgiram enfeites correspondentes, feitos de arame, tiras de metal folhado, folha de flandres.Muitos conseguiram prender aos narizes pauzinhos atravessados, e pendurar nas orelhas brincos de arandelas, porcas e preguinhos.Os negrides, naturalmente, no conheciam nem o idioma russo nem o ucraniano e se expressavam exclusivamente num dialeto extico, desconhecido dos colonistas, e que se distinguia pelos gritos e a predominncia de sons guturais estranhos ao ouvido europeu. Para nosso espanto, os membros do segundo misto especial no s se entendiam mutuamente, como se distinguiam por extrema loqacidade, de modo que uma zoeira insuportvel pairava o dia inteiro sobre o leito da lagoa. Metidos no lodo at a cintura, os negrides atrelam, aos gritos, Cigarra e Falco desajeitada estrutura de tbuas, bem no fundo do limo, e urram a plenos pulmes.Karabnov, negro e lustroso como os outros, fez da sua cabeleira uma espcie de coque de notvel feira, e rola os enormes olhos brancos, arreganhando os dentes assustadores:- Ca-ram-ba!Dezenas de pares de olhos igualmente brancos e selvagens dirigem-se para o mesmo ponto, indicado pelo brao extico, coberto de pulseiras, de Karabnov, sacodem as cabeas e esperam. Karabnov berra:- Fo-ora! Fo-ora!Os nativos precipitam-se num mpeto para a geringona e, numa aglomerao selvagem e embolada, com grande esforo e alarido, ajudam Cigarra a arrastar para a margem toda uma tonelada de limo espesso e pesado.Essa agitao etnogrfica fica especialmente animada ao anoitecer, quando na encosta do nosso morro acomoda-se toda a colnia, e os garotos de pernas nuas aguardam deliciados o saboroso momento quando Karabnov vai urrar: "Cortar as gargantas!" e, de carantonhas ferozes, se atiraro, sanguinrios, sobre os brancos. Os brancos apavorados correm a esconder-se no ptio da colnia, e seus rostos assustados espiam de portas e frestas. Mas os negros no perseguem os brancos, e de modo geral as coisas no chegam ao canibalismo, pois os selvagens, embora no entendam o idioma russo, no obstante entendem muito bem o que significa a priso domiciliar por levarem sujeira para as reas habitveis.Somente uma vez um feliz acaso permitiu aos selvagens bacanear-se realmente perante a populao branca, nos arredores da cidade de Khrkov.Numa das noites, aps um dia seco e quente, chegou do poente uma nuvem de tempestade. Rolando ameaadora crista cinzenta, a nuvem invadiu de travs o firmamento e precipitou-se sobre o nosso morro, urrando. O segundo misto recebeu a nuvem entusiasticamente, e o fundo da lagoa reboou com seus brados triunfantes. A nuvem disparou sobre Kurij todas as suas baterias em pesadas exploses de mil toneladas de potncia e, sbito, no se agentando mais na instvel gangorra celeste, desabou sobre ns, misturando num fumegante redemoinho torrentes de aguaceiro, troves, relmpagos e toda a sua fria selvagem. O segundo misto especial respondeu a isso com um uivo dilacerante e disparou numa dana frentica bem no centro do caos.Mas, nesse agradvel momento, na encosta do morro, numa rede de chuva, surgiu Snenki, srio e compenetrado, e-- --- -"11'; i 111:lil' I:II!I ~t184A. S. MAKARENKOPOEMA PEDAGGICO185comeou a tocar um sonoro e estridente sinal de alarma. Os selvagens cessaram as danas e se lembraram da lngua russa:; -- Por que estas soprando? Hem? E aqui? ... Onde?Snenki apontou com a corneta para Podvorki, para onde j voavam, rodeando a lagoa, colonistas a correr do ptio. A cem metros da margem, qual generosa fogueira, ardia em chamas um casebre, e em volta dele arrastavam-se solenemente os elementos de uma espcie de procisso. Todos os quarenta negrides, encabeados pelo seu chefe, precipitaram-Se par o casebre. Nesse momento, uns quinze assustados velhotes e velhotas assestaram contra os colonistas que chegaram antes uma barreira de cones, e um dos barbudos gritou:- Que que vs tendes com isso? O Senhor Deus incendiou, o Senhor Deus apagar.Mas, olhando em volta, tanto o barbudo como os outros fiis se convenceram de que o Senhor Deus no s no demonstra qualquer preocupao de bombeiro, mas que, graas negligia divina, a participao decisiva na catstrofe estava entregue s foras do mal, eis que investe sobre eles, aos brados selvagens, um bando de negrides, rebolando as cadeiras felpudas e tilintando com seus adornos metlicos. As caras pretejantes, desfiguradas por botoques e coroadas por coques disformes, no permitiam qualquer dvida: aquelas criaturas no podiam, evidentemente, ter quaisquer outras intenes a no ser as de aprisionar a procisso inteira e arrast-Ia para as profundas do inferno. Os ays e as avs prorromperam em gritos agudos e saram em corrida desabalada pela rua em todas as direes, apertando seus cones sob as axilas. Os rapazes se atiraram para a cavalaria e o estbulo, mas j era tarde: OS animais pereceram. Semin, irado, arrebentou uma janela com a primeira acha de lenha que encontrou e meteu-se dentro d cabana. Um minuto depois, surgiu de repente na janela uma cabea grisalha e barbuda, e Semin gritou de dentro do casebre:-- Peguem este velho, com os...Os rapazes pegaram o velho, enquanto Semin saltava para fora por outra janela, pulando pelo quintal verde e molhado, salvando-se das queimaduras. Um dos negrides saiu voando para a colnia, em busca da carroa.A nuvem j se dirigia para o oriente, espichando pelo cu uma larga cauda negra. Montado no Molodts, chegou galopando da colnia Antn Brtchenko:- A carroa j vai chegar... E os mujiques, onde esto?Por que s esto aqui os rapazes?Deitamos o velho na carroa e a seguimos para a colnia.Por detrs das porteiras e das cercas fitavam-nos caras imveis que, s com os olhares, nos condenavam ao antema.A aldeia nos tratou friamente, embora nos chegassem notcias de que a disciplina que nascera na colnia granjeava a 'aprovao dos habitantes.Aos sbados e domingos o nosso ptio se enchia de crentes. De modo geral, s os velhos entravam na igreja, os jovens preferiam passear em redor do templo. Nossos destacamentos mistos de patrulha logo puseram um fim tambm a estas formas de comunicao - conosco ou com os deuses? Pela durao do servio divino, destacava-se uma patrulha, que colocava braadeiras azuis e oferecia aos crentes a seguinte alternativa:- Aqui no nenhum bulevar de passeio. Ou vocs entram na igreja, ou se mandam do ptio. Nada de ficarem perambulando por aqui com os seus preconceitos.A maioria dos crentes preferia mandar-se. Por enquanto, ns ainda no inicivamos a nossa investida contra a religio.Pelo contrrio, percebia-se at um certo contato entre a cosmoviso idealista e a materialista. O conselho da igreja s vezes mervisitava para a soluo de pequenos problemas de fronteira. E certa vez eu no me contive e expressei alguns dos meus sentimentos aos membros do conselho da igreja:- Sabem duma coisa, avs! Por que vocs, quem sabe, no se mudam para aquela igreja que fica l... junto da fonte milagrosa, hem?.. Agora l est tudo limpo, ser bom para A voces. . .- Cidado diretor - disse o strosta* -, como que podemos nos mudar, se aquilo no uma igreja, mas uma simples capela? Nem altar ela tem ali... E ser que ns vos , incomodamos?(*) Strosta: "ancio". uma espcie de alcaide de aldeia. (N. T.)-,"~I.\186A. S. MAKARENKOPOEMA PEDAGGICO187- Eu preciso do ptio, no temos onde nos mexer. E reparem: ns pintamos tudo aqui, caiamos tudo, enquanto esta sua igreja permanece descascada, suja... Vocs se retirem daqui, e eu desmancho esta igreja em trs tempos, daqui a duas semanas terei um canteiro de flores nesse lugar.Os barbudo~ sorriem, o meu plano lhes agrada, parece...- Desmanchar no grande coisa - diz o strosta. Mas construir, como que ? He-he! Ficaram construindo trezentos anos, no foram poucos os copeques suados que aqui depusemos, e o senhor agora fala, "vou desmanchar". como se o senhor achasse que a f est morrendo. Mas o senhor vai ver, a f no est morrendo. .. o povo sabe.. .O strosta sentou-se solidamente na poltrona apostlica, e at a sua voz ressoou como nos primeiros sculos do cristianismo, quando outro av interrompeu-o.- Para que est falando essas coisas, Ivn Akmovitch?O cidado diretor est cuidando do que lhe compete, ele como se fosse o poder sovitico; para ele, pode-se dizer, um templo no necessrio. Mas l embaixo, o que o senhor disse est certo, aquilo uma capela. Capela, sim. E ainda por cima, o lugar est profanado, vamos falar com franqueza...- Mas vocs podem aspergi-Io com gua benta - aconselha Lpot. O velho encabulou, coou a barba:- gua benta, filhinho, no em qualquer lugar que adianta.- Ora!... Como assim, no em qualquer lugar?- Em qualquer um, no, filhinho. Se por exemplo a gente te aspergir, no vai adiantar, no verdade?- , talvez no adiante - duvida Lpot.- Pois , ests vendo, no vai adiantar. Isto exige cri-, .teno.- Os popes fazem com critrio?- Os nossos sacerdotes? Eles entendem, claro. Eles entendem, filhinho.- Eles entendem do que eles precisam e do que lhes serve, mas vocs no entendem. O incndio de ontem... Se no fossem os rapazes, o vov morreria queimado. Morreria queimadinho.- Quer dizer que o Senhor assim quis. Morrer queimado, um velho daqueles, talvez fosse a vontade do Senhor Deus.- Mas os rapazes se intrometeram e atrapalharam tudo.. .O velhote concordou com a cabea:- s muito novo, filhinho, pra pensar nessas coisas.- Eu sou?- Mas l, ao p do morro, aquilo uma capela. Uma capela, que nem altar tem. .Os velhos se foram, despedindo-se humildemente, mas no dia seguinte prenderam na igreja cordas e laos, e neles se penduraram pintores com seus baldes. Fosse porque se envergonharam das paredes descascadas do templo, ou porque queriam demonstrar a vitalidade da f, mas o conselho da igreja cedeu uma verba de quatrocentos rublos para a caiao do templo. Era um contato...Por enquanto, os colonistas no manifestavam hostilidade para com o templo, antes curiosidade. Os garotos me abordaram com um pedido: .- A gente pode espiar o que que eles fazem l dentro da igreja?- Podem olhar.Jorka advertiu os garotos:- Mas vejam l, nada de baguna. Ns lutamos contra a religio por meio de persuaso e reformulao da vida, no por meio de badema.- Mas o qu, ser que ns somos baderneiros? - melindraram-se os garotos.( )l . - E, de resto, no devemos ofender ningum ali, entendem... Temos de ser assim... delicados, entendem...Embora Jorka fizesse essas recomendaes mais por meio de mmica e de gestos, os garotos o entenderam.- Estamos sabendo, tudo vai estar bom.Mas, uma semana mais tarde, abordou-me um popezinhovelhinho e enrugado e sussurrou: .- Tenho um pedido para o senhor, cidado diretor. No se pode dizer nada, claro, os seus garotos no esto fazendo nada demais, s que, sabe... mesmo assim, uma tentao para os crentes, assim, meio sem jeito... Eles at se esforam, verdade, no podemos dizer nada, Deus me livre, mas mesmo assim, o senhor d uma ordem, eles que no entrem mais na igreja.- Quer dizer que eles fazem um pouco de baguna?rI II~J I ! , .'\~~III i~188A. S. MAKARENKOPOEMA PEDAGGICO189- No, Deus me livre, Deus me livre, baguna nenhuma, no. Mas que eles chegam de cales, com aqueles gorrinhos... daquele jeito... E alguns deles se persignam, s que, sabe, fazem o sinal da cruz com a mo esquerda, e em geral ~o sabem das coisas. E olham para todos os lados, no sabem para que lado olhar, se voltam, sabe, para o altar, ora de um lado, ora de costas. Acham interessante, claro, mas afinal ali uma casa de oraes, e os garotos, eles no sabem como isso, de reza, esplendor e o temor d Deus. Eles sobem no altar, muito modestos, 'claro, olham, andam, tocam nos cones, ficam observando tudo no trono, e um deles at se postou no arco real e ficou olhando para os devots em prece.- AE incomodo, sabe.Tranqilizei o popezinho, disse que no amos incomodlos mais, e declarei na reunio dos colonistas:- Vocs, garotos, no entrem mais na igreja, o pope est se queixando.Os garotos ficaram indignados:- O qu? No houve nada de especial. Quem entrou, no bagunou nada: dava uma volta por ali e ia pra casa. mentira daquele padreco!- E pra que vocs se persignavam ali? Pra que fizestes o pelo-sinal? O que que , acreditas em Deus, quem sabe?- Mas se nos disseram que no era para ofend-los. E quem que vai saber como se deve fazer? Parecem todos malucos, ali. Ficam l de p, parados, e de repente bumba! despencam de joelhos e se "cruzam". Ento, os nossos tambm...para no ofender, pensaram.- Pois ento, vocs no vo mais l, no h necessidade.- Tudo bem, que que tem? A gente no vai mais...Mas como gozado ali! Falam dum jeito esquisito. E todos de p, por que de p? E naquele cercadinho... como mesmo...ah, o altar, to limpinho ali, tapetinhos, um cheiro bom, mas o pope, , ele trabalha bea ali, estica as mos pro alto d .. S; d' umjelto... oven o.- Mas tu subiste no altar?- E fui entrando l, mas o padreco estava justamente esticando as mos para o alto, e murmurando no sei o qu.Eu fiquei l quietinho, sem atrapalhar ningum, mas ele fala:vai, vai, menino, no atrapalhe. Ento eu fui, que que'tem...A garotada estava muito interessada pelo relacionamento de Gustoivan com a igreja, e ele de fato entrou l uma vez, mas voltou muito desapontado. Lpot perguntou-lhe:- Vai demorar muito pra virares dicono?- N-o... - diz Gustoivan, sorrindo.- Por qu?- que... os rapazes dizem que isso contra-revolucionrio... E tambm l na igreja no tem nada... s uns quadros...Em meados de junho a colnia j estava em perfeita ordem. No dia 10 de junho, a estao eltrica deu a primeira fasca, e as lmpadas de querosene foram parar no despejo.Os encanamentos comearam a funcionar um pouco mais tarde.E no meio de junho mesmo, os colonistas se mudaram para os dormitrios. As camas foram quase totalmente refeitas na nossa ferraria, colocamos colches e travesseiros novos, mas faltou dinheiro para os cobertores, e no tnhamos vontade de cobri-Ias com toda sorte de velharia. Era preciso gastar at dez mil rublos com os cobertores. O conselho de co- ' mandantes voltou vrias vezes para este problema, mas a deciso resultava sempre a mesma, que Lpot formulava assim:- Comprar cobertores significa no terminar a pocilga.Eles que vo pros porcos, os tais cobertores!No vero, os cobertores s eram necessrios como decorao, todos tinham vontade, uma vontade enorme, de arrumar dormitrios festivos para a comemorao do Primeiro Feixe. Mas agora os dormitrios eram uma mancha branca na nossa luminosa existncia. .Porm tivemos sorte.~halabuda vinha visitar a colnia com freqncia, pe-' rambulava pelos dormitrios, pelas obras, conversava com a rapaziada, ficou muito lisonjeado ao saber que o seu trigo seria colhido solenemente. Khalabuda agradou-se dos colonistas, e dizia:- O nosso mulherio, l, fica de falatrio: ora isso no est assim, ora aquilo no est assado, e no consigo entender nada, se algum ao menos me explicasse o que que elas esto querendo? A rapaziada trabalha, se esfora, os rapazes so timos, komsomols e tudo. s tu que as provocas l, no? 190A. S. MAKARENKOMas, reagindo calorosamente a todos os problemas em andamento, Khalabuda, no entanto, esfriava assim que a conversa tocava na questo dos cobertores. Lpot tentou abordar Sidor Krpovitch por todos os flancos:- Sim - suspira Lpot -, toda a gente tem cobertores, s ns no temos. Ainda bem que Sidor Krpovitch est conosco. Vocs vo ver, ele vai nQs dar de presente...Khalabuda vira-se para outro lado e resmunga, aborrecido:- Muito espertinhos, os danados... "Sidor Krpovitch vai dar de presente...".No dia seguinte, Lpot acrescenta um bemol clave:- Resulta ento que Sidor Krpovitch no vai nos ajudar. Coitados dos gorkianos!Mas nem o bemol faz qualquer efeito, embora se perceba que ele deixa Sidor Krpovitch meio incomodado. Certa tarde, Khalabuda chegou bem-humorado, elogiou os campos, os horizontes, a pocilga, os porcos. Ficou contente, no dormitrio, com as camas bem arrumadas, com a transparncia das vidraas lavadas, o frescor dos assoalhos e o aconchego fofo dos travesseiros estufados. As camas, verdade, feriam os olhos com a alvura ofuscante da nudez dos seus lenis, mas eu j no queria aborrecer o velho com a histria dos cobertores. S que Khalabuda ficou deprimido de moto prprio, ao sair do dormitrio, e disse:- mesmo, com os diabos... Os cobertores, preciso...., .Isto e... arranjar.Quando eu sai para o ptio em companhia de Khalabuda, todos os quatrocentos colonistas estavam em formao:era a hora da ginstica. Piotr I vnovitch Gorvitch, de acordo com as regras de ordem-unida da colnia, deu a voz de comando:- Camaradas colonistas, sentido! Continncia!Quatrocentas mos ergueram-se num s movimento e se imobilizaram sobre as fileiras de rostos srios voltados p'ara ns. O peloto de tambores fez rolar para alm do horizonte os quatro tambores do rufo picado da saudao. Gorvitch aproximou-se com o seu informe e perfilou-se diante de Khalabuda:- Camarada presidente do Comit de Ajuda Infncia!Na formao dos colonistas da colnia Gorki, para os exerci-1-POEMA PEDAGGICO191cios de ginstica, encontram-se presentes trezentos e oitenta e nove, ausentes trs, de planto, seis no destacamento de guarda e dois doentes.O veterano de cavalaria Piotr Ivnovitch deu um passo para o lado e desvendou aos olhos de Sidor Krpovitch, distribuida em largos intervalos esportivos, e imvel no gesto de saudao, a encantadora formao dos gorkianos.Sidor Krpovitch deu um puxo emocionado no bigode, ficou srio umas dez vezes mais que de costume, bateu no cho com a sua bengala nodosa e disse alto, no seu baixo inconfundivel:- Salve, rapaziada!E Sidor Krpovitch teve de piscar os olhos com fora, quando um coro sonoro de quatrocentas gargantas jovens e alegres lhe respondeu:- Salve!...Khalabuda no agentou, sorriu, voltou-se e resmungou, um tanto embaraado:- Mas que danados! Bem amestrados que esto! Isto...eu vou dizer... vou dizer uma coisa para eles.- De-escansar!Os colonistas afastaram a perna direita, jogaram as mos para trs das costas, relaxaram os quadris e sorriram para Sdor Krpovitch.Sdor Krpovitch deu mais uma batida no cho com a sua bengala, mais uma puxada no bigode.- Vocs sabem, rapazes, que no gosto de fazer discursos, mas agora vou falar, ora essa. Vocs so timos, vou dizer-Ihes na cara mesmo, so bravos rapazes! E tudo lhes sai pra valer, nossa, moda dos trabalhadores, vai tudo como deve, vou lhes dizer com franqueza, se eu tivesse um filho, quisera que ele fosse igual a vocs, que fosse assim, que nem vocs. E aquilo tudo que o mulherio fica falando, no liguem para elas. Eu falo pra vocs direto: agentem a mo, a sua lin4a, porque eu, um velho bolchevique, e um velho trabalhador tambm, eu enxergo tudo. Vocs fazem as coisas maneira nossa. Se algum disser que no assim, vocs no liguem, vo em frente. Esto entendendo, em frente! isso a! E pra confirmar eu lhes digo com franqueza: dou-Ihes os cobertores de presente, cubram-se com eles! 192A. S. MAKARENKOPOEMA PEDAGGICO193Os rapazes estilhaaram os cristais da formao e precipitaram-se para ns. Lpot deu um salto para a frente, agitou os braos e deu um grito:- O qu?! Quer dizer que... Sdor Krpovitch, viva, hurra!Eu e Gorvitch mal tivemos tempo de pular para um lado. Khalabuda foi erguido nos braos, atirado para o ar algumas vezes e arrastado para o clube, s a sua bengala nodosa se projetava no ar por sobre a multido.Diante da porta do clube, depuseram Khalabuda no cho. Desgrenhado, vermelho e emocionado, ele arrumava desajeitadamente o casaco e j apalpava, preocupado, um bolso, quando foi abordado por Tarants, que lhe disse modestamente:Aqui est o seu relgio, a carteira, e tambm as cha-Na colnia, a notcia da: traio de Sdor Krpoyitch foi recebida com irritao. At Galtenku indignado: ' - Que espanto, esse homem! Agora ele nem vai poder mais chegar na colnia. Ele que dizia: "Virei para a colheita dos meles... e vou ficar de guarda..." .No dia seguinte, levei para a comisso de arbitragem uma queixa contra o presidente do Comit de Ajuda Infncia, na , qual eu enfatizava, no o lado jurdico da questo, mas o poltico: no podemos admitir que um bolchevique no mantenha palavra.Para nosso espanto, no terceiro dia fomos chamados arbitragem, eu e Lpot. Diante da mesa vermelha do juiz, postou-se Khalabuda,e comeou a tentar demonstrar alguma coisa. Atrs das suas costas encolheram-se os representantes do meio ambiente, com seus culos, suas nucas pregueadas, seus bigodinhos americana, a cochicharem entre si. O presidente, de camisa russa negra, testudo e de olhos castanhos, pousou a mo espalmada sobre um papel na sua frente e interrogou Khalabuda:- Espera, Sdor. Fala direto: prometeste os cobertores?Khalabuda enrubesceu e abriu os braos:- Ora... houve uma conversa assim... E da? So coi-ves...- Tudo isso caiu dos meus bolsos? - perguntou Khalabuda, admirado.- No caiu - disse Tarants -, fui eu que recolhi, seno podiam cair e se perder... acontece, sabe...Khalabuda recebeu seus valores das mos de Tarants, e Tarants se juntou multido:- Que cambada, vou te contar!... Palavra de honra!E de repente prorrompeu em gargalhadas:- Mas sim senhor, vocs, hem?.. Mas que isto, realmente!... Onde est aquele um... que "recolheu"?E Khalabuda voltou para a cidade, todo comovido.Por isso fiquei completamente abalado no dia seguinte, quando aquele mesmo Sdor Krpovitch me recebeu no seu prprio rico gabinete, de maneira incompreensivelmente distante e fria, e menos falou comigo do que ficou cavoucando nas gavetas da escrivaninha, folheando anotaes e se assoando.- Ns no temos cobertores - disse ele -, no temos!- D-nos o dinheiro, ns vamos compr-Ios.- E no temos dinheiro. No temos dinheiro... E depois, no temos tal previso no oramento.- Mas e ontem, ento?- Bem, e da? So coisas... conversas. E se no temos nada, fazer o qu...Imaginei o ambiente no qual vivia Khalabuda, lembreime de Charles Darwin, levei a mo ao visor do bon e sa.sas.. .- Diante da formao dos colonistas?- Isto verdade... os meninos estavam em formao...- Eles te balanaram, jogaram pra cima?- Sim, so garotos... Me jogaram... fazer o que comeles?Paga.- Como ?- Paga, estou dizendo. Tens que entregar os cobertores, assim foi tratado. Os juzes sorriram. Khalabuda voltou-se para o ambiente circundante e comeou a resmungar em tom ameaador.Ns aguardamos alguns dias, e Zadrov foi at Khalabuda, buscar os cobertores ou o dinheiro. Sdor Krpovitch no quis receber Zadrov no seu gabinete, e o seu assistente esclareceu:- No entendo como que lhes pde entrar na cabea levar-nos a julgamento! Que maneira de agir essa? Pois-194A. S. MAKARENKOmuito bem, aqui est a resoluo da Comisso de Arbitragem.Est vendo, aqui?- E ento?- Ento, s! E, por favor, no volte mais aqui. Pode ser que ns ainda resolvamos apelar. Em ltimo caso, incluiremos no oramento do ano que vem. Que que est pensando: s ir feira e comprar quatrocentos cobertores? Isto aqui uma instituio sria...Zadrov voltou da cidade muito aborrecido. No conselho de comandantes as coisas ferveram e borbulharam a noite toda, e ficou decidido dirigir-se com uma carta a Grigori Ivnovitch Pietrovski. Mas no dia seguinte encontrou-se uma sada, to simples e natural, e mesmo to divertida, que toda a colnia gargalhava de surpresa, e pulava, e sonhava com aquele minuto feliz quando Khalabuda chegar colnia e os colonistas conversaro com ele. A sada consistia no fato de que o executor judicirio embargou a conta-corrente do Comit de Ajuda Infncia. Transcorreram maIs dois dias: fui convoado para aquele mesmo alto gabinete, onde o mesmo camarada de cabea raspada, que noutra poca se interessara tanto pela razo por que me desagradavam os educadores de quarenta rublos, sentado numa ampla poltrona, ruborizavase com sangue prazeroso, ao observar Khalabuda a medir o gabinete s passadas, tambm ruborizado, mas com sangue de outro tipo. .Detive-me na porta, calado, e o raspado atraiu-me com um dedo, mal conseguindo conter o riso:- Vem c... O que foi isso? Como foi que te atreveste, hem, irmo? Isso no presta, preciso tirar o embargo, se no... ele fica andando aqui, e no o deixam meter a mo no prprio bolso. Ele veio queixar-se de ti. Ele diz: no quero trabalhar mais, o diretor gorkiano est me ofendendo.Eu continuava calado, porque no atinava que espcie de espiral o cidado raspado estava enrolando.- O embargado tem de ser levantado - disse o chefe, srio. - Que novidades so essas, embargos e coisas!E de repente ele no se conteve de novo, caiu na gargalhada na sua poltrona. Khalabuda afundou as mos nos bolsos e ficou olhando para a praa.- O senhor ordena levantar o embargo? - pergunteieu.POEMA PEDAGGICO195~- Mas olha s como so as coisas: eu no tenho o direito de ordenar isso. Ests ouvindo, Sdor Krpovitch, no tenho esse direito! Eu lhe direi, "levanta o embargo", e ele me responde, "no quero!". Estou vendo que tu tens um talo de cheques no bolso. Emite um cheque de, quanto mesmo? Dez mil rublos? isso...Khalabuda desprendeu-se da janela, tirou a mo do bolso, tocou o bigode ruivo e sorriu:- Mas que cambada de cafajestes, o que que me dizes?Ele aproximou-se de mim, deu-me um tapa no ombro:- Bravos, assim que preciso haver-se conosco! Quem que ns somos, afinal? Burocratas! Bem feito!O raspado teve outra crise de gargalhadas e at puxou o leno. Khalabuda, sorridente, puxou o talo e emitiu o cheque.O Primeiro Feixe foi comemorado em 5 de julho. Esta era uma antiga festa nossa, para a qual h muito j fora elaborado todo um ritual, e que h muito j se tornara um momento importantssimo no nosso calendrio anual. Mas agora predominava nela a idia da entrega da colnia aps uma operao blica. Essa idia engolfou at o ltimo dos colonistase por isso a preparao para a festa transcorria "sem sinais", numa profunda empolgao apaixonada e a firme resoluo de que tudo teria de sair perfeito. Quase j no havia pontos mal acabados: sobre as camas estendiam-se agora rubros co- .bertores novos, a lagoa faiscava qual espelho cristalino, pela encosta do morro estendiam-se sete terraos novos para o futuro pomar. Tudo estava feito. Silnti abatia cerdos, o destacamento misto de Butsi estendia grinaldas e faixas. Por cima do porto, no fundo branco do arco, Kstia Vietkvski pintou meticulosamente.E ERGUEREMOS SOBRE A TERRA O ESTANDARTE VERMELHO DO TRABALHO!e do lado de dentro do porto, um breve:ENTEND IDO!No dia 2, o dcimo terceiro misto, todo engalanado, sob o comando de Jevli, distribuiu convites pela cidade. 196A. S. MAKARENKOPOEMA PEDAGGICO19'No dia da festa, desde cedo, o meio hectare de trigo designado para a colheita foi cercado por fileiras de bandeiras vermelhas, e o caminho para esse lugar tambm foi decorado com bandeiras e grinaldas. Junto ao porto de entrada, a mesinha da comisso de recepo. No alto da escarpa sobre a lagoa foram colocadas mesas com seiscentos lugares, e um gentil ventinho festivo baloua as bordas das alvas toalhas, as ptalas dos ramos de flores e as batas' da comisso do refei-; .tono.Atrs dos portes, montados em Molodts e Mary, trajando cales e camisas vermelhos e brancos chapus caucasianos, esto Snenki e Zitchenko. Dos seus ombros flutuam capas brancas decoradas com estrelas vermelhas e barras de autntica pele de coelho. Vnia Zitchenko decorou numa semana todos os nossos dezenove sinais, e o comandante da brigada dos sinaleiros Grkovski considerou-o merecedor da honra de ser o corneteiro de planto das festividades. Suas cornetas pendem dos seus ombros em fitas de cetim.s dez horas apareceram os primeiros convidados - pedestres da estao de Rijov. So os representantes das organizaes do Komsomol de Khrkov. Os cavaleiros ergueram suas cornetas, soltando sobre os ombros as fitas de cetim, apoiaram-se com fora nos estribos e tocaram a saudao trs vezes.Comeou a festa. Nos portes, a comisso de recepo, de braadeiras azuis, recebe os convidados, prende ao peito de cada um trs pequenas espigas de trigo amarradas com uma fitinha vermelha, e entregam-lhe um cartozinho especial no qual consta, por exemplo:O lI? destacamento de colonistas convida-o para almoar,a sua mesa.Cmdte. do destacamento, D. Jevli.Os convidados so levados para conhecer a colnia, e l de baixo j soam novos toques de saudao dos nossos maravilhosos cavaleiros. , O ptio e os espaos da colnia enchem'-se de convidados.Chegam os representantes das fbricas de Khrkov, funcionrios do Comit Executivo Distrital e do Departamento da Edu----~fcao Pblica, os sovietes rurais das aldeias vizinhas, corres pondentes de jornais, e chegam, de automvel, Djurnskaia Iriev, Klimer, Brguel e a camarada Zia, membros de or ganizaes partidrias, e chega tambm o camarada de ca bea rapada, e Khalabuda chega no seu F ord. Khalabuda ~ recebido pelo conselho de comandantes, especialmente reu nido para essa ocasio, que o arranca do carro e incontinenti, atira para o ar. Em p do outro lado do crro, o raspado ri :gargalhada~. Quando depuseram Khalabuda no cho, oras pado perguntou:- O que foi que eles extraram de ti agora?Khalabuda enfezou-se:- E tu pensas que no extraram? Eles sempre descolam alguma coisa.- mesmo? O que foi?- Descolaram um trator! Dou-Ihes um trator de pre' sente, um Fordson... Muito bem, vo em frente, podem m jogar para o alto, s que agora acabou, s.Khalabuda teve de voar pelos ares mais um pouco, depo os rapazes arrastaram-no para alguma outra parte.O ptio da colnia est ficando populoso como a ru~ principal da cidade. Os colonistas, com flores nas botoeiras!perambulam pelos passeios da colnia, junto com os visitan.tes, em filas largas e festivas, sorriem para eles, iluminam-Ihe~ os rostos com o brilho franco dos seus olhos, mostrando-Ihe~ coisas, levando-os para lugares diversos.Ao meio-dia, adentraram o ptio Snenki e Zitchenko, cochicharam, inclinando-se nas selas, com a comandante d:planto Natacha Petrenko, e Snenki, espalhando risonhm colonistas e visitantes, partiu a galope para a rea de trabalho.Um minuto depois, ressoaram de l as clarinadas agudas da reunio geral, que eram sempre tocadas uma oitava acima de todos os outros sinais. V nia Zitchenko secundou-as. Os colonistas, abandonando os convidados, correram a se juntar na pracinha principal e, nem bem as ltimas notas do duo de cornetas voaram para Rijov, eles j se perfilaram numa. linha, e para o flanco esquerdo, jogando alto os calcanhares, e enternecendo os visitantes passou voando Mti.a Nissinov, com uma flmula verde na mo.Eu comeo a sentir em cada nervo este meu triunfo. Esta jubilosa formao de garotos, que se materializou de repente,')198A. S. MAKARENKOqual fita azul e branca, ao lado da linha dos canteiros de flores, j atingiu e tocou os olhos, os gostos e os hbitos das pessoas aqui reunidas, exigindo logo o respeito de todos. Os rostos dos convidados, at agora benevolentemente condescendentes, como si acontecer com adultos em atitude paternalista para com as crianas, de repente ficaram tensos e se aguaram em ateno. lriev, em p atrs de mim, disse alto:- Notvel, Antn Seminovitch! Assim que !...Os colonistas completavam atentamente o alinhamento, volta e meia lanando olhadelas para mim. Eu estou seguro de que tudo est pronto, e no atraso a ordem seguinte:- Sob a bandeira, sentido!Detrs da parede da igreja, submetendo severamente os seus movimentos aos tempos da saudao, saiu Natacha e conduziu a brigada do estandarte para o flanco direito. Dirigi algumas palavras aos colonistas, cumprimentei-os pela festa, congratulei-me com eles pela vitria.- E agora vamos homenagear os nossos melhores companheiros, o oitavo destacamento misto do primeiro feixe, de Burn.Novamente as cornetas tocaram a saudao. Do distante porto da rea de trabalho, aberto de par em par, surgiu o oitavo misto. Oh, caros convidados, eu compreendo a vossa emoo, compreendo os vossos olhares fascinados e atnitos, porque pela primeira vez na vida eu mesmo estou atnito e encantado com a nobre e solene beleza do oitavo destacamento misto! Eu tenho, quia, a possibilidade de ver e de sentir mais do que vs.Na frente do destacamento marcha Burn, o emrito veterano Burn,no pela primeira vez conduzindo para a frente os destacamentos de trabalho da colnia. Sobre os seus ombros hercleos, ele ergue alto um afiado e faiscante alfanje guarnecido com ancinhos, enfeitado de gradas margaridas do campo. Burn est majestosamente belo hoje, especialmente belo para mim, porque eu sei: ele no apenas uma figura decorativa na frente de um quadro vivo, no um mero colonista para quem vale a pena olhar, ele antes de tudo um autntico comandante, que sabe a quem conduz e para onde conduz. No rosto tranqilo e seyero de Burn eu vejo o reflexo do seu problema: hoje ele deve, no decorrer de trinta minutos, ceifar e enfeixar meio hectare de trigo. Os convidados noPOEMA PEDAGGICO199.,Ivem isto. Os convidados tambm no vem outra coisa: este comandante dos ceifadores de hoje um estudante da faculdade de Medicina, e nesta combinao fluem com especial convico as linhas do nosso estilo sovitico. Sim, quanta coisa os visitantes no podem ver, at porque no s para Burn que precisam olhar. Atrs de Burn caminham, em colunas de quatro, dezesseis ceifadores, envergando as mesmas camisas brancas, carregando os mesmos alfnjes floridos. Dezesseis ceifadores! to fcil cont-Ios! Mas entre esses dezesseis, quanto nomes gloriosos: Karabnov, Zadrov, Bielkhin, Schnaider, Guerguievski! Somente a ltima coluna composta de gorkianos novatos: V oskobinikov, Svatko, Prets e Korotkv.Atrs dos ceifadores vo dezesseis moas. Cada uma traz na cabea uma coroa de flores, e, na alma, uma coroa teci da dos nossos formosos dias soviticos. So as enfeixadoras.Quando o oitavo destacamentoj se aproximava de ns, entraram voando pelo porto duas mquinas segadoras, atreladas cada uma a duas parelhas de cavalos, em trote ligeiro. E cada cavalo traz flores na crina e nos arreios, e tambm as lminas-asas das ceifadeiras esto enfeitadas de flores. Um cavaleiro est na sela dos cavalos da direita, na bolia da primeira mquina est o prprio Antn Brtchenko, na segunda est Grkovski. rs das segadoras vm os ancinhos puxados por cavalos, atrs deles, a pipa d' gua e, sentado na pipa, Galtenko, o homem mais preguioso da colnia; mas o conselho de comandantes, sem piscar um olho, premiou Galtenko com a participao no oitavo destacamento misto. E agora se pode ver com que empenho, com quanta falta de preguia, Galtenko enfeitou com flores a sua pipa. Ela j no uma pipa, mas um oloroso canteiro florido, h flores at nos raios das rodas; e por fim, atrs de Galtenko, vem a carroa com a cruz vermelha, e na carroa, lelna Mikhilovna e Smna pois pode acontecer qualquer coisa no trabalho.O oitavo misto parou na frente da nossa formao. Lpot sai da formao e fala:- Oitavo misto! Porque vocs so bons komsomols, bons colonistas e bons companheiros, a colnia agraciou-os com um grande prmio: vocs vo ceifar o nosso primeiro feixe. Faam isso como se deve e mostrem mais uma vez a todos os garotos como se deve trabalhar e como se deve viver. O 200A. S. MAKARENKOconselho de comandantes sada-os e pede ao seu comandante, o camarada Burn, que aceite o comando sobre todos ns.Esse discurso, como todos os discursos seguintes, no se sabe por quem foi composto. Eles so pronunciados, ano aps ano, com as mesmas palavras, registradas no conselho de comandantes. E justamente por isso que eles so ouvidos com emoo especial, e com especial emoo silenciam todos os colonistas. Quando Burn se aproxima de mim, aperta-me a mo e tambm diz o que manda a tradio:. - Camarada diretor, permita conduzir o oitavo destacamento misto para o trabalho e conceda-nos a ajuda desses rapazes.Eu devo responder como de fato respondo:- Camarada Burn, conduza o oitavo misto para o trabalho e leve estes rapazes para ajud-Ios.Deste momento em diante, Burn fica sendo o comandante da colnia. Ele d uma srie de ordens, e um minuto depois a colnia j est em marcha. Atrs dos tambores e da bandeira seguem os ceifadores e suas mquinas, atrs deles toda a colnia, e depois, os convidados. Os convidados se submetem disciplina geral, colocam~se em fileiras e mantm o passo. Khalabuda caminha ao meu lado e diz ao raspado:- Com os diabos... com os tais cobertores!... No fosse por isso, eu tambm estaria na formao... assim, com um alfanje!Fao um sinal para Silnti, e Silnti voa para a rea de trabalho. Quando nos aproximamos do meio hectare marcado, Burn faz parar a coluna e, quebrando as tradies, pergunta aos colonistas:- Acabamos de receber a sugesto de designar para o oitavo destacamento misto da brigada de Zadrov, omo quinto ceifador, a Sdor Krpovitch Khalabuda. Alguma objeo?. Os colonistas riem e aplaudem. Burn toma das mos de Silnti um alfanje enfeitado e entrega-o a Khalabuda. Sdor Krpovitch, num movimento gil e juvenil, tira o casaco, joga-o na grama que delimita o campo e brande o alfanje:- Obrigado!Khalabuda coloca-se como o quinto na fila de ceifadores de Zadrov. Zadrov ameaa-o com o dedo:- Cuidado, no v espet-Io na terra! Seria uma vergonha para a nossa brigada.--POEMA PEDAGGICO201\- No amola - diz Khalabuda -, eu ainda posso ensin-Ios.. .A formao de colonistas se alinha de um lado do campo.O estandarte trazido para o trigal - aqui ser amarrado o primeiro feixe. Burn e Natachachegam perto do estandarte, e Zoren, como membro mais jovem da colnia, fica de prontido.- Sentido!Burn comea a ceifar. Com algu-ns lances do alfanje ele corta e depe aos ps de Natacha uma poro de compridas espigas de trigo. Das primeiras ceifadas, Natacha preparou uma amarra. Ela enfeixa a primeira gavela em dois-trs movimentos geis, dus garotas enfeitam o feixe com uma grinalda de flores, e Natacha, rosada pelo trabalho e pelo sucesso, passa o feixe a Burn. Burn ergue o feixe para o ombro e diz ao srio Zoren, de narizinho arrebitado para ouvir as palavras .de Burn:- Recebe este feixe das minhas mos, trabalha e estuda, para quando cresceres chegares a ser um komsomol, a fim de, merecer a honra que eu granjeei: ceifar o primeiro feixe.A sorte grande atingia Zoren. Sonoro-sonoro, como uma cotovia pairando sobre o trigal, responde Zoren a Burn:- Muito obrigado, Grtsko! Eu vou estudar e vou trabalhar. E quando eu crescer e me tornar um koInsomol, vou conseguir tambm para mim essa grande honra - ceifar o primeiro feixe e pass-Io ao garoto mais novo de todos.Zoren recebe o feixe e afoga-se inteiro nele. Mas j chegam correndo os garotos com a padiola, e sobre aquele leito de flores Zoren depe o seu rico presente. Sob o trovo da saudao, a estandarte e o primeiro feixe so transportados para a flanco direito.Burn d a voz de comando:- Ceifadores e enfeixadeiras, aos seus lugares!Os colonistas se dispersam correndo para os pontos marcados e ocupam os quatro lados do campo.Soerguendo-se nos estribos, Snenki corneteia o sinal para o incio do trabalho. A este sinal, todos os dezessete ceifadares comearam a caminhar pelo campo, abrindo uma larga picada para as mquinas segadoras. 202POEMA PEDAGGICOA. S. MAKARENKO203Consulto o meu relgio. Passados cinco minutos, os ceifadores levantam os alfanjes para o alto. As enfeixadeiras amarram os ltimos feixes e carregam-nos para um lado.Chega o momento de maior responsabilidade de todo o trabalho. Antn e Vitka, com os cavalos ndios e descansados, esto de prontido.- A trote... ma-a-arche!As segadoras arrancam do lugar e voam para as sendas recm-abertas. Mais dois-trs segundos, e elas saram matraqueando pelo trigal, rodando em escalo umas atrs das outras. Burn presta uma ateno preocupada ao seu trabalho. Nos ltimos dias eles pensaram muito, com Antn e com Shere, mexeram muito nas segadoras, saram para o campo por duas vezes. Seria um grande vexame se os cavalos recusassem o trote, se fosse preciso gritar com eles, ou se uma segadora encrencasse e parasse.Mas o rosto de Burn vai se desanuviando. As segadoras caminham com um rudo mecnico regular, os cavalos pegam o trote sem problemas, no se detm nem nos retornos, os rapazes mantm-se imveis nas selas. Uma, duas voltas. No comeo da terceira, as segadoras passam diante de ns com a mesma graa e, srio, Antn grita para Burn:- Tudo em ordem, camarada comandante!Burn voltou-se para a formao de colonistas e levantou o alfanje:- Preparar! Sentido!. Os colnistas baixaram as mos, mas tudo dentro deles os impele para a frente, seus msculos j no conseguem conter o impulso.- Para o campo... acelerado, marche!Burn baixou o alfanje. Trs centenas e meia de jovens precipitaram-se para o campo. Sobre as linhas de trigo derrubado agitam-se seus braos e pernas. Caindo s gargalhadas uns por cima dos outros, quicando para os lados como bolinhas, eles amarraram os feixes ceifados e correram ao encalo das segadoras, caindo de barriga, dois, trs, quatro duma vez, sobre cada poro de espigas:- Esta do destacamento quinze!...Os visitantes gargalham at s lgrimas, e Khalabuda que, de volta, j se juntou a ns, olha severo para Brguel:- E tu ainda falas... Olha s!Bregul sorriu:- Ora, e da?.. Estou olhando: eles trabalham bem e com alegria. Mas isto apenas trabalho, ora...Khalabuda emitiu um som estranho, algo entre "b" e "d", mas no disse mais nada a Brguel, s lanou um olhar para o raspado e resmungou, feroz:- Fala tu com ela. . .Excitado e feliz, lriev apertava minha mo e insistia com Djurnskaia:- Mas srio... pense s!... Isto me comove e eu nem sei por qu. Hoje, naturalmente, festa, claro, no um dia de trabalho... Mas sabe, isto... isto o mistrio do trabalho. A senhora entende?O raspado olha atento para lriev:- Mistrio do trabalho? Para que isto? Para mim, o bom aqui que eles esto felizes, so organizados e sabem trabalhar. Para os primeiros tempos, palavra de honra, suficiente. Qual a sua opinio, camarada Brguel?Brguel nem teve tempo de pensar, porque Snenki, freando o Molodts na nossa frente, pipilou:- Burn me mandou... estamos montando as medas!Para as medas, todo mundo!Junto s medas, sob o estandarte, cantamos a Internacional. Depois houve os discursos, uns bons, outros nem tanto, mas todos igualmente sinceros, e quem os pronunciava era gente, gente sensvel, gente boa, cidados do pas dos trabalhadores, comovidos com a festa, e com os garotos midos, e com o firmamento prximo, e com a algazarra dos grilos no campo.De volta do campo, almoaram todos misturados, esquecendo quem mais velho ou mais importante que quem. At a camarada Zia pilheriava e ria hoje.A festa durou muito tempo. Houve jogos e brincadeiras.Vendaram os olhos de Khalabuda, puseram -lhe nas mos uma corda e obrigaram-no a tentar apanhar, sem sucesso, um gil garoto com um guizo. E ainda levaram os visitantes para se banharem na lagoa, e os garotos apresentaram um espetculo variado na pracinha principal. O show comeava com um coral falado: .204A. S. MAKARENKOo que teremos ns daqui a cinco anos?Ento ns j teremos um soviete urbano, No ptio, uma nova fundio, E um novo pomar por todo o monto, E muito tambm queremos ganhar Um balano eltrico pra nos balouar.E o espetculo terminava com os votos de que. .. E o colonista ser igual ao e mola, no como um pneu de borracha mole.12.A vida continuaAps os fogos de artifcio margem da lagoa, fomos acompanhar nossos convidados at Rijov. Os que vieram de automvel partiram mais cedo e, despedindo-se de mim, o raspado - o "patro" - me disse:- Pois bem, isso mesmo: continue assim, camarada Makarenko!- Entendido, continuar assim - respondi.E novamente seguiram um aps outro os severos dias de trabalho, dias cheios de alegria e cheios de preocupaes, pe.quenas vitrias e pequenos fracassos, por detrs dos quais ne percebemos, muitas vezes, grandes degraus e descobertas imo portantes, que determinam a nossa vida futura. muito anteci.padamente. E, como dantes, nesses dias laboriosos, e mai~ ainda nas noites quietas e silenciosas, cristalizavam-se os pen' samentos, ordenavam-se as volteis idias diurnas, pressentiam-se os contornos delicados e fugidios do futuro.Mas o futuro chegava, e descobria-se que ele no era t< delicado assim, e que era possvel lidar com ele sem muit~ cerimnia. No perdamos muito tempo lamentando as possi bilidades perdidas, aprendamos alguma coisa e continuva mos a viver, j com experincia mais enriquecida, para come ter novos erros e viver de novo.Como dantes, observavam-nos olhos exigentes, critica vam-nos e insistiam em que no devamos cometer enganos que devamos viver segundo as regras, e que no entendemo de teoria, que devemos... em suma, para eles, ns estvamo sempre em dbito.N a colnia logo surgiu uma verdadeira indstria. Ao trancos e barrancos, conseguimos organizar uma oficina d marcenaria com boas mquinas: plaina, garlopa, serra el~ trica, e ns mesmos inventamos e construmos um aparelho d encaixar e ensamblar. Fechvamos contratos, recebame