Cap1livro Energia

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     Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 1

    Capitulo 1.Revisão didática : a eletr icidade, os combustíveis e as usinas elétricas [* ] .

    1.1. Até chegar no interruptor da sua casa, ou do seu local de trabalho...

    1.2 O “país elétrico” não é um só , nem é o mesmo. E é de primeiro mundo !

    1.3 As malhas da rede e seus “pepinos”.

    1.4. Podem as centrais instaladas não dar conta do consumo? E os black - outs ?

    1.5. Muito trabalho e sempre um alto custo para termos a eletricidade.

    1.6. O quê é queimado nos bicos de cada fogão,

    ou na caldeira de cada indústria ou navio, ou, no motor de cada veículo e de cada aeronave ?

    1.7. Como são obtidos os derivados de petróleo no Brasil ?

    1.8. O gás metano resultando de processos industriais, da bio-massa e dos resíduos

    1.9 . A recente indústria do gás associado ao petróleo ou GN

    1.10. As várias utilizações possíveis do GN e os produtos da sua combustão

    1.11. Quatro tipos de instalações básicas para produzir eletricidade a partir dos rios e dos combustíveis

    1.12. Usinas Termelétricas, um resumo histórico

    1.13. Termelétricas. Dimensão básica, alguns riscos e certezas.

    [*] extraído de livro em fase de elaboração A Guerra das Turbinas, de A . Oswaldo Seva Fo. Parautilização na disciplina EM 048 Gerencia energética em processos industriais, FEM, 2o. sem 2002

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    1.1. Até chegar no interruptor da sua casa, ou do seu local de trabalho ...[ * * ]

    Utilizamos a eletricidade como se fosse a coisa mais simples do mundo, um toque num interruptor e

    a mágica se faz . As mágicas : a luz artificial, amarela, quente, ou a luz branquela, quase azulada, fria, e o

    motor , para o liquidificador, a furadeira, o cortador de grama, para o elevador do prédio, para a bomba de

    água do poço, para a moenda da mandioca ou do milho, o compressor para o refrigerador e o freezer, e

    mais : ...o aquecimento em uma resistência do chuveiro e do secador de cabelo, a recepção do sinal de

    rádio, a amplificação do som, a retransmissão de imagem de televisão.

    Também o autor deste livro usou muita eletricidade, para iluminar suas “viradas” noturnas, e, para a

    redação, as revisões e primeiras impressões, feitas em micro - computadores, que consomem, dependendodo tipo e do tamanho, o equivalente a seis, oito, dez lâmpadas de 100 Watts, ligadas por horas seguidas,

    como é o costume atual nas casas e nos locais de trabalho.

    Parece um bem universal – não se concebe alguém vivendo sem eletricidade, e, eterno - é fácil

    esquecermos o tempo em que não havia, embora sempre achamos bonito quando o cinema ou o teatro re-

    constroem o ambiente sem a lâmpada e sem o motor elétrico... e nem nos damos conta de que assistimos

    aos filmes e às peças em salas que gastam bastante eletricidade.

    Volta e meia, quando falta eletricidade, é porque houve algum curto-circuito, uma sobrecarga e um

    fusível queimou, um disjuntor desarmou, algum transformador pifou no poste da rua, um vendaval fez a

    árvore cair sobre a fiação, ou até mesmo derrubou a a tôrre de transmissão.

    Aí , ficamos atrapalhados e procuramos um fósforo, uma vela, uma lanterna a pilha; os mais

     precavidos têm baterias com foto - células que acendem lâmpadas assim que falta eletricidade, ou até

    geradores portáteis a gasolina, ou a diesel, que , havendo combustível, podem resolver o problema até que

    seja feito o conserto, até que “a energia volte”.

    -----------------------------------------------------------[ * * : obs: uma versão resumida deste texto foi apresentada, pela primeira vez, como uma contribuição para o

    Seminário sobre o projeto de termelétrica em Santa Branca, SP, 03set. 1999, organizado pela Sociedade Ecológica de SantaBranca, e pelo Forum formado por entidades ambientalistas do Vale do Paraíba do Sul ; nos meses seguintes, o texto foienviado para publicação no jornal “ EcoNews ”, de Jacareí, S.P; e foi distribuído durante palestras, p.ex. na EESG NúcleoHabitacional J.P.Nogueira, em Paulínia, S.P., na FATEC, de Americana; e, da mesma maneira que outras partes deste livro,tem sido usado como apostila em meus cursos de graduação e de pós-graduação na Unicamp ]

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    Ainda há lugares , muitos, pelo Centro e pelo Norte do Brasil, nos Estados do Mato Grosso, Pará,

    Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, onde a eletricidade até existe, mas não funciona o tempo

    todo, falta combustível para o “motor” ( grupo gerador Diesel elétrico ) , ou para a “caldeira ” da usina da

    localidade. Os equipamentos se desgastam, quebram muito, as redes de distribuição sempre dão

     problemas, o material é velho, ou se desgasta rapidamente, as peças de reposição são difíceis; e, muitas

    vezes, as usinas e os motores tem donos que fazem e desfazem, mandam e desmandam na própria vida

    das cidades, dos vilarejos .

     Nas ilhas, nos faróis, nos pontos culminantes das serras, onde pode haver torres de

    telecomunicações, a eletricidade é difícil , mas , ainda mais vital. As poucas soluções são os moto-

    geradores portáteis a gasolina, gás de botijão ou querosene, e, para potências maiores, os motores dieselcom geradores, e as baterias de grande porte e de longa duração; em alguns casos, o suprimento de

    eletricidade pode ser resolvido ou complementado com placas foto - voltaicas para transformar a luz do

    sol diretamente em corrente elétrica, ou, como já se faz em Fernando de Noronha e no litoral cearense,

    com a instalação adequada de turbinas a vento com geradores elétricos.

    Mesmo assim, sempre será preciso um “back - up”, uma máquina alternativa de emergência , para o

    caso dos dias chuvosos ou muito cobertos – as placas voltaicas produzem pouca ou nenhuma corrente , e

     para o caso dos dias com pouco vento e com calmaria – as pás da turbina não rodam com a força

    necessária , ou simplesmente não mexem...Ainda há lugares sem eletricidade no Brasil de hoje ?

    Sim, muitos recantos, alguns até próximos de regiões mais eletrificadas, e outros, embaixo dos

    linhões de transmissão de longo percurso, onde simplesmente não há eletricidade, ou melhor, não existe

    uma rêde elétrica ligada a alguma central próxima, nem mesmo um equipamento que forneça sempre

    eletricidade. Em 1976, passei um dia e uma noite em São Romão, lugarejo antigo, na época esquecido na

    margem esquerda do São Francisco, no norte de M.G., por onde passava um linhão da CEMIG, com uma

    torre alta plantada numa ilha do rio, defronte à pequena cidade . Na praça da igreja e do cais do porto, um

     jardim bem cuidado com um monumento e placa de bronze : uma miniatura da própria torre detransmissão. Quando escureceu, acenderam luzes bem fracas, no máximo uns 80 volts; às 9 e meia da

    noite, faltou luz, e só voltou no manhã seguinte. Em 1990, constatei que pequenos proprietários nas

    margens de um dos numerosos braços da represa de Furnas, em M.G., entre as cidades de Carmo do Rio

    Claro e Passos não tinham ainda os benefícios da eletrificação rural. Isto, trinta anos depois de pronta a

    obra iniciada pelo presidente Juscelino, uma central de 1.200 MW instalados e um reservatório com quase

    150.000 hectares, uma das maiores obras do país.

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    1.2 O “país elétrico” não é um só , nem é o mesmo. E é de primeiro mundo !

    Devemos então deixar claras as várias situações , pois são muito distintas :

    * em uma terça parte do território, quase todos os locais estão conectados a um sistema interligado (

    Centro-Sul );

    * em outra terça parte, conectados a outro sistema interligado ( Nordeste – Pará - Tocantins )

    * e , na terceira parte, em extensão a maior de todas, há apenas redes regionais modestas a partir das

    centrais termelétricas e de poucas hidrelétricas que atendem as capitais estaduais (RO, AC., AM., AP.,

    RR ) e Santarém; e, fora isto, as demais cidades, e todo e qualquer aglomerado humano, serraria, canteiro

    de obras, porto fluvial, agro-vila, garimpo, sede de fazenda, exceto , ainda, algumas poucas aldeias

    indígenas, tem o seu “motor”, as vezes muitos motores, ou a sua usina. Vejamos com mais detalhe osdois “grandes sistemas elétricos”:

    1 ª   SISTEMA INTERLIGADO CENTRO-SUL - considere um polígono imaginário, em toda a

    “metade inferior “do território brasileiro , começando no litoral Leste , na altura de Vitória,ES , descendo

     para o litoral Sul até Pelotas, daí para o interior até Bagé e Uruguaiana , RS, daí a Foz do Iguaçu, PR,

    depois a Ponta Porã , MS e a Cuiabá, MT, com um ramo Norte até Sinop e Alta Floresta, e de Cuiabá ,

    fechando o polígono no rumo de Brasília, DF e de Belo Horizonte, MG.

    Este é o “Centro – Sul elétrico” , um imenso sistema de engenharia elétrica, de dimensão quase

    continental, constituído a partir de sistemas regionais de eletricidade, e que assumiu há quase trinta anos ,

    com a concretização da central bi-nacional de Itaipu, esta forma interligada atual : uma “malha”de linhas

    de transmissão cobrindo todo este bom pedaço do nosso terreno, além de quase todo o vizinho Paraguai .

    O total de potência instalada, no início de 2000, nominalmente, era da ordem de 45 mil Megawatts,

    mas , em algumas usinas com os prédios prontos e os reservatórios formados, faltava e ainda falta instalar

    alguns dos grupos geradores projetados ( Porto Primavera, rio Paraná é um caso importante, há“espaços”e vazão de água suficiente para mais quatorze turbinas de 100 megawatts cada ), havia obras

    quase prontas ( uma delas é a hidrelétrica de Itá, no rio Uruguai RS-SC, com previsão de 1450

    Megawatts, outra é a de Canoas, no rio Paranapanema, SP, com 200 Megawatts ), obras inacabadas se

    arrastando ( p.ex. a hidrelétrica de Manso, rio Cuiabá, a térmica a carvão Jacuí-I, Charqueadas, RS , com

    350 MW previstos ), a central nuclear Angra-II estava pronta em fase de licenciamento e começou a

    operar somente em 2001, com potência de até 1.300 Megawatts.

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    2º. SISTEMA INTERLIGADO NORDESTE- PARÁ – TOCANTINS

    Considere, neste caso, uma espécie de espinha de peixe, cuja cabeça estaria quase na foz do Rio São

    Francisco, na central hidrelétrica de Xingó ( AL, SE ), e cujo rabo estaria no Leste do Pará, na central

    hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins , com “costelas”, derivações de grande capacidade elétrica

    abastecendo Salvador , BA, e Aracaju, SE, outro ramo para Maceió, AL, Recife, PE, João Pessoa , PB e

     Natal, RN, outro para Fortaleza, CE, outro para Teresina, PI, outro para São Luiz, MA, em seguida, uma

    “perna” importante do sistema N-NE, partindo de Imperatriz , MA para o Sul, entrando no estado do

    Tocantins, ao longo da rodovia Belém- Brasilia, até na altura de Gurupi (TO) - onde foi completada no

    ano de 2000, a primeira ligação elétrica entre os dois Sistemas interligados. Voltando ao eixo principal dolinhão Nordeste- Norte, sai do Leste do Pará, um outro ramo para Marabá e Carajás, e , de Tucuruí

    mesmo um ramo para Belém e outro até Altamira, com previsão de ligar também as cidades de Itaituba e

    Santarém, no oeste paraense.

    Também neste sistema , há usinas prontas faltando instalar grupos turbo-geradores ( no início de

    2000 faltava instalar 4 máquinas de 250 Megawatts em Itaparica, rio São Francisco, PE, BA, mais 4

    máquinas de 500 megawatts em Xingó, AL, SE ) ; e há uma hidrelétrica já inaugurada, embora ainda não

    tenha instalada a potência total de 1.200 MW, a de Lajeado, no rio Tocantins, em cuja margem direita fica

    a capital do estado, Palmas, TO.

     Nestes dois casos, o sistema “bombeia” a eletricidade de forma comparável às nossas artérias,

    começando a partir dos seus “corações”, as centrais elétricas, que injetam nas redes os fluxos ou cargas

    maiores, por meio de “canalizações” inicialmente mais grossas, que vão se bifurcando ou lançando

    ramificações; daí, diminuindo-se a bitola de cada “cano”, ou de cada cabo elétrico , até chegar nas

    indústrias que usam corrente elétrica mais intensa e voltagens mais altas, e, por meio das sub-estações,

    vão rebaixando ainda mais a voltagem e diminuindo ainda mais o calibre dos fios, até chegar aos

    consumidores comerciais, residenciais, rurais e à iluminação pública.Esta malha extensa e complicada veio sendo montada, desde um século atrás, com o intuito

    comercial de procurar atender a uma determinada atividade industrial específica – várias centrais foram

    construídas pelos mesmos empresários que montaram usinas de açúcar, fábricas de celulose, fiações e

    tecelagens, curtumes, fundições metálicas. Também havia, desde o início, a meta de estender a venda de

    eletricidade ao maior número possível de pontos deste “organismo” cada vez mais devorador de energia

    elétrica, que é a vida cotidiana de cada região do país.

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    E esta trajetória foi similar por aqui, e alhures, onde quer que a “eletrificação da sociedade” tenha

    alcançado desde 1880-90, quando teve um nascimento em berço de ouro nos EUA e nos principais países

    da Europa, e rapidamente se implantou nos cinco continentes, onde quer que o imperialismo alcançasse,

    inclusive, por aqui, e desde o início ( ver caps. 3 e 4 a seguir ).

    Institucionalmente, a eletricidade veio sendo tratada como um serviço público essencial, e em

    muitos países, até hoje, todo o sistema ou partes estratégicas do sistema são controladas majoritáriamente

     pelo Estado nacional e pelos Estados-membros ou pelas provínciais.

    Porém, econômicamente, a mercadoria eletricidade veio sendo um dos vetores de acumulação de

    capital privado, em contínua e impressionante expansão, - justamente por haver se tornado um “consumo

    de massas”, e um insumo industrial insubstituível em muitos casos. Na história internacional da eletricidade, o Brasil é um personagem de primeira importância – não

    “apenas” pelos mais de 20 bilhões de dólares faturados a cada ano, vendendo-se mais de 300 bilhões de

    kilowatts-hora, mas também, pelos alguns bilhões de juros da dívida internacional e interna, pagos agora

    a cada ano por conta dos financiamentos feitos nas últimas décadas e não –quitados.

    Esta história geralmente é contada, pelos seus vencedores, com uma dose extraordinária de

    inovação técnica e de adaptação financeira e tarifária, resultante da ação de grupos de homens

    considerados um tanto especiais, e das mega – empresas por eles criadas ou com a sua participação

    fundamental. Foram os inventores – empresários – políticos - financistas, símbolos da “belle époque”

    tanto quanto os primeiros carros e aviões, gente do naipe do Benjamim Franklin, Thomas Edison, o Barão

    Siemens, e os engenheiros Billings e Borden, que implantaram na virada dos séculos XIX a XX, os

    sistemas do Rio e de São Paulo, por conta do capital canadense - americano . ( ver cap. 3 e 4 deste livro }

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    Figura 1. Sistema Elétrico Brasileiro, principais linhas de transmissãoFonte: folder com mapa, Eletrobrás, 2000. 

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    1.3 As malhas da rede e seus “pepinos”.

    Voltemos ao caso brasileiro de hoje: nestas duas teias de aranha, inter - estaduais, uma na metade

     Norte + Leste , e outra na metade Sul + Centro Oeste do país de dimensões continentais, funcionam dois

    tipos de “nós”, ou pontos de inter - conexão e de convergência das linhas , e que são estratégicos para o

    funcionamento e o controle dos sistemas interligados, - as centrais elétricas - e os centros de consumo ou

    de carga. Todos dependemos do bom funcionamento e da boa manutenção destas instalações; só que, nas

    etapas de projeto, na concepção e na própria decisão de construir tais obras não fomos em geral

    consultados.

    São estes os pontos de “origem” e de “utilização” mais intensos de eletricidade :

    I - Os “corações”, centros produtores, ou simplesmente, Centrais Elétricas, são:

    # centenas de usinas hidroelétricas ( UHE s ), no sistema Centro-Sul , e dezenas no sistema

     Nordeste Pará-Tocantins , cada uma delas com barragem no rio, reservatório de água , e uma casa de

    força [ em inglês, “hydropower plants” ] constituída por geradores acoplados às turbinas “frias” acionadas

     pela força hidráulica e, mais

    # uma dezena de usinas termoelétricas no Centro Sul ( além das duas centrais nucleares de Angra

    dos Reis, RJ ) e algumas usinas térmicas no outro sistema, equipadas com caldeiras queimando derivados

    de petróleo e carvão mineral, produzindo vapor d’agua que aciona turbinas “quentes”, acopladas a

    geradores elétricos ; em inglês seriam “fossil fueled power plants”.

    Cada central contem um, ou alguns destes TG- Turbo-Geradores elétricos, e até algumas centrais

    contem dez, doze, dezoito, até vinte destes, e cada um deles gera eletricidade em corrente alternada, cuja

     pulsação deve ser modulada em 60 ciclos por segundo, deve ser depois “sincronizada”com a pulsação do

    restante da rede elétrica onde a carga desta central vai ser conectada; uma pequena parte desta energia é

    utilizada para acionar os componentes do próprio TG e as instalações elétricas, instrumentos e motores

    das próprias centrais.Ao lado de cada central, pelo menos uma SE- Sub-estação elevatória, e que funciona como a “porta

    de saída” da energia que irá abastecer a rede; considerando que a eletricidade é produzida nos bornes do

    gerador e nos seus barramentos ( que servem para “escoar ” a energia ) sob uma tensão de 13.800 volts, e

    que as tensões mais altas são mais favoráveis para a transmissão, a SE cumpre esta função, pois em seus

    transformadores a tensão será elevada para uma faixa bem maior , de 138.000 até 700.00 volts, para,

    então, a carga elétrica ser adequadamente “injetada” nas Linhas de Transmissão.

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    II – Dentre os diversos “cruzamentos” de linhas em cada trecho territorial desta rede, os mais

    importantes de todo o sistema interligado são as Sub-Estações que abastecem os grandes Centros de

    Carga, e que recebem grandes “pacotes” de eletricidade por meio dos linhões – as LT , ou Linhas de

    Transmissão em alta voltagem, que ali chegam, e terão a função de “descarregar” e direcionar outros

    “pacotes” para distintas áreas geográficas, para diversos grupos de consumidores.

    Esta etapa final é a da distribuição, a partir das subestações regionais e locais, em geral feita em

    voltagens menores, até chegar nos postes das ruas com 11 mil, ou com 13.000 volts, - o quê, nos últimos

    transformadores “de rua”, são rebaixados para as tensões convencionais, de 110 e 220 volts, ou, de 380 V

    nos sistemas mais potentes, oficinas, indústrias.

    O arranjo é tal que – apesar de uma extensa malha se estender por vários Estados e, dentro deles, por quase todos os municípios – os “troncos”mais importantes, ou os “corredores” de tráfego mais intenso

    de energia estão dirigidos, vindos de várias direções, para os os grandes “centros de consumo”ou “centros

    de carga elétrica”.

    Por exemplo, o maior “centro de carga” do país é representado pela aglomeração da Região

    Metropolitana de São Paulo, formada pela capital, pelos municípios do ABC, mais Guarulhos, Osasco e

    muitos outros. A região é atualmente suprida pelo sistema interligado Sul- Sudeste, cuja eletricidade

     provem quase toda das grandes hidrelétricas na bacia do Paraná, principalmente de Itaipu e de Jupiá - Ilha

    Solteira, ambas no rio Paraná, incluindo uma parte proveniente das centrais do Rio Grande, deste o

    Triângulo Mineiro, de Água Vermelha, até Furnas, no sul de Minas.

    Mas, por estar também ligada ao antigo sistema Light- Eletropaulo, a RMSP e alguns trechos do

    interior proximo à Capital, do vale do Paraíba e do litoral recebem ou podem receber eletricidade da

    hidrelétrica de Cubatão ( 880 Megawatts ) e da usina termelétrica de Piratininga, zona Sul da capital

     paulista, ( entre as represas Billings e a Guarapiranga ) com 450 Megawatts; esta usina está aumentando

    sua capacidade, com novas turbinas queimando gás metano fóssil ( G.N. ) e acabou de trocar o

    combustível de suas caldeiras, de óleo combustível viscoso para gás metano. No caso de um sistema tão extenso como o Centro – Sul

     – no qual os maiores centros produtores ( Furnas, Agua Vermelha, Itumbiara, São Simão, Jupiá -

    Ilha Solteira, as centrais do rio Iguaçu, e , principalmente a de Itaipu ) estão em geral a centenas de km. e,

    em alguns casos a mais de mil km. dos maiores centros de carga ( as maiores concentrações urbanas e

    industriais do Centro Sul ) ,

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    - desta configuração podem resultar custos mais altos, para uma parte da eletricidade vendida, por

    causa justamente da sua transmissão a longa distância, cujas obras e materiais custam caro, e onde há

     perdas físicas de energia, chegando na faixa de 15 a 20% nos piores casos.

    As cargas elétricas são transmitidas em voltagens muito altas, a partir de 138 mil volts até 500, 600

    ou 700 mil volts em corrente alternada ( apenas uma LT é corrente contínua, uma das que ligam Itaipu a

    SP ), e também estão limitadas pela capacidade de transmissão da LT, que, para cada par de cabos é da

    ordem de dezenas de Megawatts ou, nos cabos de maior calibre, centenas de Megawatts.

    Ao transmitir uma energia poderosa, os cabos emitem um forte campo eletro-magnético, se

    esquentam ( e os seus limites suportáveis de temperatura ficam pouco acima de 100 graus ), vibram, além

    de ficarem sujeitos à umidade, corrosão de chuvas e em vários casos, sujeitos à acidez atmosférica, aí vãooxidando, descascando, e aí passam a emitir mais faíscas, formando gases nitrogenados ao seu redor, etc,.

    e, obviamente, sofrerão mais acidentes, e terão que ser trocados um dia ...

    Para facilitar, é bom lembrar das torres que avistamos: em geral quanto mais altas, mais pesados os

    cabos e maior a tensão e a carga transmitida por cabo. Algumas LT poderiam ser chamadas de “eletro-

    vias” pois agrupam vários cabos na mesma torre, e várias linhas na mesma faixa de terreno.

    É certo que – com as centrais hidrelétricas distantes do consumo, aumentam os custos, mas,

    avaliadas por um outro ponto de vista, as usinas hidrelétricas já funcionando deveriam ser prestigiadas e

    mantidas em condições ótimas. Pois, em boa parte já estão pagas, amortizadas, funcionando bem,

    algumas com custos bem baixos de operação, e isto apesar do investimento na construção e na montagem

    ser bem alto. O fato é que, uma vez pronta cada hidrelétrica e posta a funcionar, a sua “fonte” de energia

    é, de certa forma, gratuita. O problema, ainda, é que estamos endividados pelos empréstimos feitos na

    época das obras e montagens, e pelos juros crescentes...

    Entretanto, a dimensão real dos problemas está apenas começando a ficar clara: com tantas centrais

     prontas, agora temos que tentar “gerenciar”uma das maiores intervenções humanas na dinâmica natural

     pré-existente. Vejamos um resumo do “pepino” : as hidrelétricas que abastecem o sistema Centro-Sul sãosupridas por chuvas que caem em regiões quase todas classificadas como pluviosas, ( algumas bastante

     pluviosas, como as Serras Geral, de Paranapiacaba e do Mar).

    As águas de toda esta chuva escorrem para a mesma grande bacia dos rios Grande – Paranaíba -

    Paraná, além de alimentar também algumas usinas pequenas e médias em outras bacias do Centro Sul ( no

    caso do rio Paraíba do Sul, SP, RJ e MG, do rio São Francisco no trecho mineiro, e do rio Jacuí, RS ).

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    Os rios mais importantes destas bacias estão bastante barrados, alguns quase inteiramente, e a sua

    vazão média está bastante regularizada pela intervenção humana no manejo das comportas dos

    reservatórios e das centrais. Em vários casos, vem aumentando a perda de água de algumas bacias

    fluviais, seja pela sua derivação ou transposição para uso em outra bacia, seja pelas perdas evaporativas

    na superfície dos próprios reservatórios ( as estimativas para a represa de Sobradinho são da ordem de

    300 mil litros de água por segundo, perdidas por evaporação; esta vazão pode corresponder a uns 15 % da

    vazão do rio São Francisco na época baixa, ou então, compara-se à vazão máxima do rio Piracicaba, SP,

    na cheia ); deve-se ainda computar as perdas tipo evaporativas, observadas nas torres de resfriamento e

    nas bacias das indústrias, e das ETAs e ETEs.

    De toda forma, a engenharia pesada se preparou para a “dependência das chuvas sazonais” e foiaumentando o porte das barragens e os volumes d’água represados; existem centrais com pequenos

    reservatórios e outras “a fio d’água”, que seriam menos adequadas ao principal objetivo do capitalismo

    elétrico, seja estatal ou privado : assegurar o fornecimento de eletricidade firme e em grandes “pacotes”,

    durante o ano, e atender às variações diárias, semanais e sasonais do consumo .

    As centrais com reservatórios são a grande maioria no Brasil , e, em vários casos, as alturas de

     barramento e os volumes de reservatórios foram decididos com os valores mais altos possíveis,

    independentemente de consequências, por exemplo, o encobrimento das Sete Quedas de Guaíra no rio

    Paraná , do Canal de São Simão, no rio Paranaíba, ou da Cachoeira de Itaparica e do “canyon” do rio São

    Francisco. Dentre as centrais de grande reservatório e de grande potência estão aquelas cruciais para a

    sustentação da geração : no sistema Sul-Sudeste-Centro-Oeste, as de Itaipu, de Jupiá - Ilha Solteira, Agua

    Vermelha, Itumbiara e Furnas são os “pivots” essenciais.

    Mas, também pesam na sustentação dos principais “corredores” de transmissão, e na geração

    somada do sistema interligado, estes “rosários de hidrelétricas” em que se transformaram alguns trechos

    dos grandes rios, pois se tornaram “escadas de lagos”, seccionadas por paredões : quase todo o trecho

    médio do rio Iguaçu ( 05 grandes hidrelétricas ), quase toda a extensão dos rios Paranapanema, Tietê,Grande e Paranaíba, o alto e o médio Paraíba do Sul , em SP e no RJ, respectivamente; o trecho final do

    São Francisco ( BA, PE, AL, SE ). E, vão no mesmo rumo o trecho médio do rio Tocantins ( GO e TO ) e

    o trecho alto da bacia do Uruguai ( RS-SC ).No período Verão - Outono, em geral os reservatórios estão

    todos cheios e muitos precisam soltar água pelos vertedouros, - de certa forma, uma energia não -

    convertida em eletricidade - , e nesta época, todas as máquinas que estiverem em condições operacionais

     podem turbinar, se houver demanda.

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     Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 12

     Nas outras estações, Inverno e Primavera, alguns reservatórios poderão descer muito, ou demorar a

    subir novamente, e algumas turbinas não poderão funcionar, nem a meia carga...

    1.4. Podem as centrais instaladas não dar conta do consumo? E os black - outs ?

    Pois bem, será exatamente nestas ocasiões, que são cíclicas, periódicas, ou sazonais - que o sistema

    será posto à prova, para saber se a sua capacidade efetiva de gerar e transmitir será suficiente para atender

    o montante e a variação real da carga elétrica consumida :

    # se aqueles reservatórios menos comprometidos puderem completar a carga elétrica demandada,

    tudo bem;

    # senão, serão as centrais térmicas que deverão aumentar a sua geração, acendendo mais caldeiras emais turbinas, para segurar a demanda adicional nas horas de pico, ou para complementar a geração

    hidrelétrica que se reduziu nos períodos de reservatórios baixos.

    # e, se as térmicas não derem conta desta missão, e toda a geração possível já esta sendo

    despachada, os cabos poderão esquentar além dos limites, ou – as turbinas serão solicitadas acima da

    rotação permitida, e- conqüentemente, em algum setor o Sistema deixará de responder à demanda, algum

    grupo turbo - gerador vai se desligar, ou algum trecho da LT ou em alguma sub-estação , vai “desarmar”.

    De toda forma, em uma parte da rede, em um corredor de eletro-vias, o suprimento de eletricidade

    será cortado. E sempre tomará um bom tempo, muitos minutos, algumas horas em média, e muitas horas,

    nos casos mais complicados.

    Como é tudo inter - ligado e muitos procedimentos técnicos são automatizados, quando cai um

    trecho importante da rede ou uma subestação estratégica, todo o Sistema pode ser desarmado, desligando

    “em cascata”. e levará um tempo precioso, horas, as vezes dias para ser inteiramente reativado.

    Consta que a última vez que isto ocorreu em SP foi nos anos 50, ... “culpa da Light”, como se dizia

    na época. É difícil interpretá-lo, sem ter vivido o problema. Todavia, posso mostrar alguma experiência ,

     pois estava na área central da capital paulista no maior “black-out” nacional de todos, o de abril de 1984,e depois me interessei em entender o ocorrido. Também, pude ver há poucos meses uma situação

    equivalente, em Manaus, por exemplo, - onde a eletrificação residencial e a demanda industrial avançam

    mais rápido do que a oferta de eletricidade pela rede, principalmente em épocas mais quentes com maior

    demanda de refrigeração e ventilação, e principalmente, pelas sobrecargas introduzidas na rede sem

    qualquer planejamento prévio. ( ver cap. 2 , mais detalhes )

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    Ocorreram sim, depois disto, e continuam ocorrendo em todas as regiões do Brasil, vários black-

    outs, ou apagões, alguns deles por atos de sabotagem supostos, mas nunca esclarecidos devidamente,

    outros por decorrência de falhas operacionais nas usinas de geração ( inclusive na nuclear Angra-II,

     poucos dias após iniciar seus testes de fornecimento à rede fluminense , em Dezembro de 2000 ).

    Também podem ter atuado os inter-travamentos do sistema na sequencia dos próprios testes e simulações

    de operação do sistema interligado, feitos frequentemente pelos operadores do antigo Grupo Coordenador

    das operações Interligadas. Não por acaso, alguns dos black - outs recentes ocorreram pouco tempo após

    a “desativação” das células e do cérebro do GCOI e a entrada em atividade do “novo” ONS – o Operador

     Nacional do Sistema Elétrico .

    Claro que muitos apagões, inclusive a maioria dos pequenos, nos bairros das cidades e nas áreasrurais, são explicados pela ação de algum fenômeno atmosférico, tempestade, vendaval, raio, cujos efeitos

    são incontroláveis, e, que atingem partes locais da rede ( postes, transformadores, fiação, árvores, etc )

    mas, às vezes, atingem também as grandes sub-estações e as tôrres de transmissão.

     No entanto, pelo que andei estudando e conversando com o pessoal do setor, parece que a grande

    maioria dos apagões foi, e é por causa de panes técnicas, que são estatísticas, claro, porém são intrínsecas

    a estes sistemas, e que se agravam com o envelhecimento progressivo das instalações. Se isto não fôr

    devidamente compensado pelas atividades de manutenção técnica, pode se acelerar a deterioração de

    equipamentos, de máquinas, dos cabos, torres, disjuntores, chaves, etc.

    Ainda mais, as incongruências foram agravadas como conseqüência da recente onda de

    terceirização de serviços, e também pela “implosão” dos corpos técnicos das principais empresas, que

    vêm sendo retalhadas pela União e pelos Estados, seus antigos acionistas majoritários.

    Tal combinação de fatores resulta numa freqüência maior, e notável nos últimos anos, de acidentes

    nas linhas, nas salas de comando das centrais, e ainda explosões e incêndios em transformadores e em

    sub-estações. Além disto, muitas interrupções de energia são originadas na passagem dos linhões e torres

     pelas regiões de queimadas de canaviais, de pastos ou de matas, porque o calor e as chamas tambémfazem “cortar” a transmissão, e danificam cabos e torres..

    A denominada crise de eletricidade ocorrida no ano de 2001 não está, até hoje totalmente explicada.

    Por exemplo, dois anos antes, a situação era vista com uma certa folga : conforme o secretário de Energia

    do MME, em declaração ao jornal Gazeta Mercantil, de 08 de junho de 99, o recorde histórico do

    consumo de eletricidade ocorreu no horário de ponta do dia 27 de maio, quando a demanda no sistema

    Centro Sul exigiu uma potência equivalente a 43.260 MW, ...

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    e...“o sistema funcionou muito bem, numa quinta feira, o dia mais carregado da semana; isto

    mostra que temos uma certa folga”,  e, comentando que os reservatórios , no final do outono estavam 70

    % cheios, e que em Outubro voltaria a chover, disse que “apagão é um problema de funcionamento do

     sisitema, não pode ser visto como sinônimo de falta de energia...”

    De fato, ao final do ano 2000, contava-se com 61 mil megawatts instalados no país, e mais de 45

    mil MW no Centro Sul, e ainda algumas centrais de grande porte estavam ficando prontas, começando a

    operar as primeiras máquinas, inclusive a nuclear de Angra II, as hidrelétricas de Itá , RS-SC, de Salto

    Caxias , PR, - e - outras já prontas e ainda sendo “motorizadas” ( ou seja, estavam sendo instalados os

    grupos turbo-geradores , nos casos de Porto Primavera, MS – SP , de Serra da Mesa, GO, ambas com

     potências previstas na faixa de 1000 a 1.800 MW cada ) . Neste panorama, não fazia muito sentido agitara bandeira vermelha do “déficit” de energia elétrica, do “black-out” por causa de deficiência de oferta;

    mas, de fato, algo estava bastante errado pois os reservatórios estavam se esvaziando, e alguns deles

    chegaram no início de 2001 com 40% ou menos, do volume total de água.

    Foi quando se intensificou o “ lobby” pela instalação de termelétricas, dizia-se que elas seriam “

    independentes de São Pedro”. Voltando ao exemplo da RMSP e do ABC : a alegação era de que uma

    usina térmica queimando gás metano canalizado seria uma “ garantia de confiabilidade total de

     suprimento elétrico para a região próxima” (conforme prometeu um executivo da General Electric em

    reunião política e empresarial no ABC, 28.06.1999 ). Creio que isto não procede, porque:

    1. o combustível principal da usina pode falhar, e ela pode ser obrigada a queimar óleo

    diesel ou querosene tipo aviação, se tiver o suficiente em seu estoque, ou se estiver ligada por oleoduto a

    alguma refinaria ; senão, para de uma vez o despacho de eletricidade.

    2. como qualquer indústria, os equipamentos do gasoduto, inclusindo-se as estações de

    compressão, as válvulas motorizadas tele-comandadas, as partes do “city-gate”( estação de redução de

     pressão, medição e distribuição final de G.N.) e os equipamentos da própria central elétrica , podem

    sofrer panes, quebrar, pode haver emergências e avarias; neste caso, pararia de uma vez o despacho degás metano canalizado, e, se não houver qualquer estoque, - seja um vaso - pulmão refrigerado (

    temperaturas entre 40 e 140 graus negativos ), ou coisa do gênero, - tem que parar as turbinas a gás, e cai

    no caso anterior.

    3. além disto, uma queda de transmissão de eletricidade em qualquer um dos quatro

    sistemas que abastecem a RMSP ( antigas Eletropaulo e Cesp, mais Furnas, MG e mais Itaipu ) pode - e

    estatisticamente tem acontecido – desligar outros trechos do sistema interligado SE-CO;

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    4. por consequência, este desligamento das malhas pode desacoplar grupos turbo-

    geradores das UTEs projetadas;

    5. e, além disto, se houver compressores, válvulas ou instrumentos dos gasodutos ligados

    na rede elétrica regional, pode ser que algum trecho dos gasodutos seja “derrubado ”( param os

    compressores ), e de novo, por um outro percurso, a propagação de uma pane local pode repercutir numa

    central termelétrica aparentemente “autônoma, segura, confiável ” ; bastaria que esta central estivesse, no

    momento, funcionando em qualquer ponto no ABC , ou perto de Campinas, ou de Sorocaba, e que

    estivesse despachando carga para este trecho que “abriu a linha”...

    Aí estariam, para os leitores que ainda crêem na confiabilidade total de sistemas complexos, as

    várias maneiras de um sistema elétrico portentoso continuar a sofrer panes e colapsos, ou seja, continuar ater de enfrentar “pepinos” sérios, os quais podem afetar também as tão faladas termelétricas a gás.

    Passado um ano da crise de 2001, a única coisa que se tem certeza, é que a oportunidade foi

    aproveitada pelas empresas distribuidoras para aumentar ainda mais suas tarifas, e ainda, de quebra,

    obtiveram do próprio governo, recursos que compensaram a sua perda de faturamento. Um paradoxo

     justamente para um setor que estava sendo privatizado, ou seja, trazido de volta para as regras do

    capitalismo não estatal : os consumidores tiveram cotas pré – estabelecidas de eletricidade, baseadas em

    seus históricos de consumo, com bônus para quem economizasse, e penalidades para quem não

    conseguisse economizar; mas, quase todos modificaram seus hábitos, reduziram seus índices, aprenderam

    a usar melhor equipamentos elétricos, e ... as empresas mantiveram o seu fluxo de caixa, por meio deste

    subterfúgio, negociado, como sempre, nos corredores dos palácios.

    1.5. Muito trabalho e sempre um alto custo para termos a eletricidade, inclusive a renovável !

    Por aí, se vê que o milagre da eletricidade é , essencialmente, o milagre do trabalho humano, de

    muita gente, assalariados, empreitados e “peões” avulsos, todos peregrinando pelos canteiros de obras do

     páis, os “barrageiros”, gente de várias gerações e de muitas profissões. O suprimento de eletricidade não é portanto um fluxo mágico que circula sem o suor de milhares de homens, nem a sua organização é algo

    “natural”; tem que ser visto sempre como uma atividade produtiva feita por grandes coletivos, em uma

    estrutura empresarial , incorporando conhecimento científico e técnico acumulado durante séculos, até

    desabrochar e se consolidar nas formas hoje existentes.

    Dois problemas decorrentes são graves, de solução dificílima ou até sem solução, e perduram.

    Logo, nunca podem ser esquecidos nem subestimados :

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    1) no Brasil, onde mais de 85 % da eletricidade é hoje obtida dos rios, o fato é que barramos muitos

    de nossos rios, alagamos muitas terras, e, o conjunto das intervenções feitas é assombroso.

    2 ) desde o início, fomos dependentes da importação de máquinas e equipamentos, e em certas fases

    históricas do país, estivemos sob o comando de empresários e engenheiros estrangeiros.

    Sobre o primeiro problema, transcrevo a seguir um texto síntese que elaborei especialmente para ser

    distribuído , como documento de apoio aos participantes do Encontro nacional de Trabalhadores

    Atingidos por Barragens, organizado pela CRAB – Comissão regional de atingidos, RS-SC, e pelo

    Departamento de Trabalhadores Rurais da CUT, em Goiânia, 19 a 21 abril 1989.

    ( reproduzido também como anexo, após pg.27 do texto SEVA, A .O . “Ecologia ou Política no Xingu?”,  Coleção Documentos,série Ciências Ambientais, num.04, Junho de 1990, IEA / USP, S. Paulo )

    ALTERAÇÕES EM CONSEQÜÊNCIA DE H IDRELÉTRICAS

    Riscos para a Condição Humana, Reações do Planeta

     A impressão que os visitantes guardam de uma grande barragem e de um grande “lago” é marcante,

    inesquecível até, por causa das dimensões desproporcionais, realçadas pela luminosidade especial, pelos reflexos

    de um espelho. E fica também o fascínio pelo maquinário, pelo mistério de toda aquela água ser transformada em

    eletricidade. Não é surpresa, assim, que os engenheiros e os políticos costumam repetir, insistentes, seus elogios à

    tecnologia, ao retumbante “domínio do homem sobre a natureza”...Entretanto, convem sermos mais realistas,

    avaliar quanto de fato a natureza perdeu, e quanto nós e os nossos descendentes perdemos e perderemos.

    Será um exagero dizer que já perdemos vários de nossos rios mais importantes ?

    Será pessimismo achar que vamos provavelmente perder todos ou quase todos os rios restantes?

    Talvez sim, mas não há exagero nem pessimismo, em afirmar que estes vários rios já barrados, com suas

    barrancas, várzeas, ilhas, e com suas vertentes, estão bastante alterados em seu funcionamento. Vejamos como.

     Alguns destes antigos rios se tornaram uma “escada” de lagos artificiais, imponentes, fotogênicos, porém

    enfraquecidos enquanto sistemas fluviais. Todos os reservatórios se degradam, alguns em ritmo acelerado: águas

    escuras, proliferação de água-pés e outras plantas, de algas; contaminação por causa dos escombros e resíduos

    não retirados na ocasião da formação do “lago”; gases de putrefação da folhagem e do húmus submersos.

    Todos os reservatórios se entopem, e alguns, bem depressa: desbarrancamentos, retenção de sedimentos

    enxurradas de entulhos, assoreamento agravado por desmatamento e por mecanização agrícola.

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     As águas já subiram centenas de vezes nos grandes açudes e lagos artificiais brasileiros. A cada vez foram

    riscadas do mapa e apagadas da história paisagens únicas, algumas esplêndidas. E, no total, mais de 50.000 km.

    quadrados de terras, ilhas, planícies, e “costas” de grandes rios estão hoje em baixo d’água, muita terra boa. E, ainda se deve debitar na mesma conta outros milhares de km quadrados de terras perdidas para os

    canteiros de obras, para os linhões, e mais as terras que vão ficando nas mãos das empresas de eletricidade e das

    empreiteiras.

    Quem acompanha com detalhes a dinâmica da natureza e as atividades humanas, já constatou que a

    alteração em consequência de uma grande barragem só pode ser violenta e duradoura. A experiência das

     populações humanas nas regiões barrageiras no Brasil e em muitos outros países mostra que alguns riscos são

     prováveis:* riscos de infiltração de umidade e de água nas fundações e nos revestimentos dos paredões ( que hoje têm

    de 50 a 150 metros de altura, por alguns km de comprimento ) e também nas fissuras, cavidades e lençois d’água

     subterrâneos, no fundo e nas vertentes submersas do “ lago”;

    * riscos de inundações das margens do “lago” e de trechos a montante; riscos de “ondas”e de cataclismas

    nos trechos a jusante das barragens; “cheias” anormais cada vez mais freqüentes, mais desastrosas; - e, com

     grande responsabilidade da operação das barragens e centrais nestes eventos;

    * riscos de acomodação do terreno, do deslocamento de rochas e de camadas d e solo, e, riscos de tremores

    de terra nas imediações do “lago”e mesmo em pontos distantes;* riscos de poluição acumulada, por ausência de tratamento de esgotos urbanos e industriais, e por efeito

    de resíduos ou derramamento de agro-tóxicos e não bio-degradváveis na área do “lago”e rio acima;

    * e riscos de doenças transmissíveis, chegando até os casos de epidemias, favorecidas pela concentração de

     populações migrantes e pela multiplicação de insetos ( p.ex. febre amarela, malária, filariose ) e de caramujos (

     p.ex. esquistossomose )

     Enfim, para quem viveu muitos anos nas regiões atingidas , e pode testemunhar as transformações, e,

    também para alguns pesquisadores que se empenharam em compreender os sinais vitais do planeta, fica a certezade que : * a cada “lago”, é como se o continente, e se até todo o planeta, se incomodassem, fossem derrotados ,

    e... reagissem !

     Muda a umidade, mudam os ventos e as chuvas; as tempestades são mais fortes, como no mar. Muitas

    espécies de animais são dizimadas ou quase: peixes, tartarugas e outros répteis, botos, e também algumas espécies

    de aves; outras espécies terão menos alimento, é o caso dos homens...Outras, ainda, poderão proliferar à vontade,

    como os mosquitos, as libélulas, as piranhas. Muitos habitats destruídos, alguns recriados, de futuro incerto.

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    Toda a energia do sol e da água, naquele trecho do planeta, servirá a uma função exclusiva:

    * ser um reservatóri o de Megawatts, uma j azida energética, de exploração intensiva, pr oduzindo

    mercador ia valori zada: a eletr icidade . A região atingida tem um destino preocupante, e mais, revoltante: a degradação, os riscos, a reação do

     planeta contra a mutilação de seus ciclos... o estreitamento das possibilidades futuras, o empobrecimento dos

    recursos vitais !”

    fig 2 Esquema dos pontos críticos de alterações ambientais nos lagos de barragemoriginal Oswaldo Sevá ; redesenhado por Cláudio Fernandez

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    Enfim, ao encerrar esta parte da nossa revisão didática sobre a eletricidade, deve-se lembrar da

     primeira questão do capítulo : e o que acontece até chegar no interruptor de sua casa, de seu local de

    trabalho ? e, já sabendo de uma parte de toda a complicação, deve-se refletir a respeito, pois,

    # cada vez que tocamos o botão mágico, - isto se estivermos ligados neste sistema Centro - Sul, ou

    no outro, Norte-Nordeste - estaremos ao mesmo tempo:

    # pagando caro “ligar a luz”, alimentando os juros da divida externa brasileira, alimentando as

    remessas de lucros de empresas multinacionais, e-

    # usufruindo de nossos kilowatts-hora que somente se tornaram disponíveis porque dezenas de

    milhares de km. quadrados de terras foram inundadas pelos reservatórios, em alguns casos desalojandocompulsoriamente milhares de cidadãos , porque todos os principais rios e muitos dos secundários na

    Bacia do Paraná, mais o rio São Francisco, o Paraíba do Sul, foram totalmente ou quase totalmente

     barrados, e portanto estão adulterados, e continuam se adulterando.

    Mas, pode acontecer do leitor estar num ponto da rede que é suprido também por centrais

    termelétricas, ( seja nas capitais RJ e SP, seja nos Estados de SC e RS ) , e , agora outra reflexão valeria

    também para todas as cidades do Norte e Amazônia que queimam combustível em seus motores e usinas.

    Se o nosso kilowatt - hora veio também de uma usina térmica, é bom saber que:

    # quase todas queimaram bastante combustível fóssil ( carvão mineral , petróleo ou gás associado ,

    GN) , com uma perda do calor na faixa de 50 a 70 por cento até se obter a eletricidade;

    # as que não queimam são as duas nucleares em Angra dos Reis – era melhor que não existissem,

    mas já que aí estão, é vital não esquecê-las! e é bom torcer e ou rezar muito - para que nunca ocorra nada

    de mais grave!

    # as centrais térmicas estão sempre na lista dos principais focos de poluentes atmosféricos e dos principais captadores de água em suas regiões e, que,

    # quanto maior sua potência elétrica, maiores as tonelagens de poluentes emitidos e em geral

    maiores são as vazões de água retiradas dos rios, - as quais na maior parte, são perdidas por evaporação

    nas torres de resfriamento e condensação destas usinas térmicas.

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    Obtido em forma industrial nas coquerias, Coke Oven Gas  , quando o minério de carvão é

    cozinhado lentamente, coqueificando e evaporando suas frações gasosas e viscosas que estavam

    entranhadas na pedra ; os gases de coqueria , bem como os gases obtidos da gaseificação do próprio

    carvão contém metano, HCs leves, aromáticos, alcatrão, fenóis, - a partir dos quais se estabeleceu no sec.

    XVIII, a industria carboquímica, e mais recentemente, até a possibilidade de obter combustíveis líquidos

    sintéticos a partir do carvão, - syngas - ; e, também daí vieram os primeiros gasômetros e a distribuição

    de gás canalizado a partir das coquerias para outras indústrias e para areas urbanas próximas.

     Nos séculos XIX e XX, o gás industrial e o gás canalizado ( com metano e etano, de um e dois

    carbonos ) passaram a ser obtidos pelo craqueamento de naftas ( Hidrocarbonetos de cinco a nove

    carbonos ) , por sua vez obtidas da carboquimica do COG. Depois, foram obtidos da nafta de fraçõesdestiladas do petróleo , por meio de processos químicos usando Hidrogênio, catalisadores, condições

    severas de pressão e temperatura.

    O metano também se formou na fossilização da vida vegetal e animal, que gerou o “chorume” do

     petróleo, exatamente através da reprodução das bactérias metanogênicas e desta fermentação orgânica,

    “sem ar”, abafada; por isto, o metano é o componente majoritário do gás associado ao petróleo e do gás

    não associado, também encontrado em subsolos petrolíferos. ( v. adiante )

    1.6. 2. GNV – Gás Natural Veicular.

    Os motores a gasolina e a álcool podem também funcionar alternadamente com uma mistura gasosa

    cujo componente mais importante é o gás metano – neste caso, a marca comercial no Brasil é o G.N.V. 

    Isto se consegue através da instalação de um “kit” mecânico e eletrônico, além de reservatório apropriado,

    um cilindro com capacidade de armazenamento entre 9 e 20 m3 aproximadamente; e, o veículo passa a

    ser bi-combustível. É o que já ocorria, em 1999, com mais de dez mil taxis nas capitais de SP e do RJ e

    com alguns milhares de outros veículos, em geral, das frotas de algumas empresas. No caso de motores

    originalmente a óleo diesel, sem centelha elétrica, a adaptação é quase uma reforma, e o motor fica mono- combustível, só a gás; mas, já há motores de linha, das grandes montadoras, para ônibus a gás e alguns

    tipos de caminhões. Carros de frotas de empresas, camionetes, micro-ônibus, Kombis, além de táxis, já

    circulam há vários anos em Fortaleza, Natal, Salvador; as adaptações de táxis em SP e RJ estavam na casa

    de mais de vinte mil , no ano de 2000, e já há postos de GNV em Belo Horizonte e no interior do RJ. Em

    2002 é provável que se chegue à marca de um milhão de veículos adaptados no país.

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    1.6. 3. Gas de Botijão .

    A mistura de propano-butano ( C3+C4 ), os hidrocarbonetos com tres e quatro carbonos, forma um

    combustível que é gasoso no momento da queima, mas, que é produzido e pode ser armazenado de forma

    líquida, sob pressão, e que, justamente, se gaseifica quando em contato com o ar, com a pressão

    atmosférica, menor do que a do interior do recipiente.

    O gás de botijão pode ser obtido por duas vias distintas : a mais conhecida é quando a refinaria de

     petróleo produz, a partir das frações mais leves de vários tipos de óleo cru, o chamado G.L.P. ou Gás

     Liquefeito de Petróleo; a outra via, conhecida apenas em poucos locais no Brasil, é quando a mistura

     propano – butano é obtida pela liquefação das frações condensáveis do gás associado ao petróleo, - só

    que, neste caso , deveria ser chamado de GLGN – Gás Liquefeito de Gás Natural;  de toda forma, acomposição e as características devem ser padronizadas ( com a mesma especificação técnica ) e o GLGN

    é engarrafado no mesmo botijão e utilizado do mesmo jeito.

    Tanto o GNV como o gás de botijão têm um cheiro forte justamente como alerta para os seus

     possíveis e freqüentes vazamentos durante o enchimento de cilindros e butijões, em canalizações, e nas

    válvulas – trata-se de um odorífero muito forte colocado em pequenas quantidade, um tipo de composto

    orgânico, com enxofre, chamado de “mercaptana”.

    1.6. 4. Gasolinas.

    Se abastecemos um carro, uma moto, um motor de pôpa, uma moto-serra, um moto-gerador portátil,

    ou uma pequena moto-bomba ou moenda, com gasolina, é porque o motor é a explosão, com centelha

    elétrica, e o combustível é um líquido leve, uma mistura de naftas, que são hidrocarbonetos com 4 a 10

    carbonos. O “pool” de gasolinas também é obtido do petróleo cru e do LGN – o Liquido de Gás Natural.

     No caso brasileiro e de alguns outros países ou regiões de outros países, - a mistura de gasolina tem

    também uma proporção importante de um combustível derivado da bio-massa, - o álcool etílico, ou

    etanol anidro ( na faixa de 25% por cento em volume, do total de mistura gasolina-álcool ); o álcool

    anidro obtido da cana-de ácucar, por meio de fermentação da sacarose do caldo da cana cumpre também o papel essencial de ser um anti-detonante da mistura ( função feita durante décadas, por um composto de

    chumbo, e que também pode ser feita por outros álcoois e alguns éteres ).

     No caso das aeronaves desde o seu início até os anos 40, eram todas com motores a pistão

    queimando uma gasolina especial de alta octanagem, - a GAV – Gasolina tipo Aviação   – incluindo-se

    no “pool” os iso - butanos e iso - pentanos obtidos inicialmente sob pressão ( semelhantes ao GLP) e

    depois, misturados com frações líquidas da família do benzeno e dos heptanos e octanos.

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    1.6. 5. Álcool e Metanol.

    Se o veiculo for “a álcool”,  mesmo assim, será abastecido com uma mistura de álcool de origem

    vegetal ( etanol, obtido da sacarose da cana de açucar ) com alcool de origem fóssil ( metanol, obtido de

    gás natural ou de carvão mineral ) e também, de gasolina. Em SP, esta mistura chegou, no início dos anos

    1990, a ter uma proporção de 60% etanol, 33% metanol e 7 % gasolina. Portanto não há própriamente

    motores exclusivamente a álcool, nem totalmente abastecidos apenas com combustíveis líquidos

    renováveis. Isto sem falar que a produção da cana e seu transporte consomem uma enorme quantidade

    óleo diesel, derivado de petróleo, nos motores dos tratores, colheitadeiras e caminhões.

    Em compensação, o álcool não é a única substância energética extraída da cana neste processo, pois

    o bagaço  também é queimado em caldeiras, diretamente, ou primeiro sendo gaseificado; e a parte docaldo não convertida pelas bactérias ( levedura) em álcool, que fica entre 80 e 90 % do total, - conhecida

    como vinhoto ou vinhaça  – pode também ser concentrada para ser depois gaseificada ( uma mistura com

    mais de 50% de metano ) ou ainda incinerada com a recuperação dos compostos inorgânicos ( cálcio e

     potássio, principalmente ).

    1.6.6. Os querosenes

    Os querosenes, assim como os solventes, as águarrás, são também misturas líquidas de

    hidrocarbonetos leves, de quatro a dez carbonos, e, juntamente com a gasolina e o propano - butano, são

    considerados as frações mais “nobres” obtidas do petróleo. O uso do querosene para iluminação é bem

    antigo e ainda subsiste, bem como a sua queima similar à da gasolina, nos motores de geladeiras e outros

     pequenos moto – compressores ou moto - bombas.

    O principal uso atual do “pool”de querosenes, fora o QI - Querosene Iluminante  e fora as

    “misturas” irregulares e não convencionais com gasolina e óleo diesel, é a fração vendida como QAV –

    Querosene tipo Aviação , líquido, e que será queimado pulverizado, em maçaricos, nas turbinas dos aviõese dos helicópteros, e de alguns tipos de embarcações e de locomotivas de trens de grande velocidade.

    Pode ser queimado também na maioria das turbinas fixas, que movem geradores elétricos ou

    grandes compressores nas modernas usinas termelétricas e na própria atividade petrolífera; estas turbinas

    queimam em geral gás metano, mas, na sua falta, o QAV pode ser o combustível de emergência, para que

    a geração de eletricidade ou o bombeamento não sejam interrompidos.

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    1.6.7. Óleo tipo Diesel 

    Se o caso for abastecer os tanques que alimentam os motores tipo diesel –  

    - que são o equipamento motriz da totalidade dos caminhões pesados, e de quase todos os outros

    caminhões e ônibus , as camionetes, as vans , os tratores , as máquinas rodoviárias, as dragas, as balsas,

    os guindastes, uma boa parte das embarcações pequenas e médias, os grupos geradores diesel-elétricos,

    uma boa parte das locomotivas –

    - aí tudo isto depende de como as refinarias extrairão , por meio de destilação, de craqueamento, e

    de coqueamento, as varias frações de naftas pesadas e de óleos leves, que são hidrocarbonetos de nove,

    dez a dezesseis, ou dezoito carbonos, que podem compor o “pool” de óleo diesel. Não por acaso, dentre todos os derivados de petróleo, o óleo diesel é o que tem a maior demanda ( o

    volume de diesel consumido está na faixa de 40 % ou mais, do volume total de petróleo processado ) .

    Entretanto, nem sempre a proporção natural de óleo diesel nos petróleos crus atinge tais valores, ficando,

    em geral, na faixa de 30 a 40 % ; o quê deve ser compensado de alguma forma.

     No caso brasileiro, em cada refinaria vai se tentar extrair mais óleo diesel através de métodos

    químicos especiais ( por exemplo, craqueando, ou seja, quebrando-se com ajuda de catalizadores, as

    moléculas maiores das frações mais viscosas, como o gasóleo e o resíduo ultra-viscoso ), obtendo-se uma

    fração a mais de naftas pesadas que podem aumentar o “pool” de diesel. Mesmo assim, a oferta de diesel

    não é suficiente; pior, como há quase vinte anos, não há criação de novas refinarias, apenas ampliações

    nas existentes – o fato é que estamos importando óleo diesel fabricado em refinarias estrangeiras, e esta

     proporção chega atualmente a quase um terço do nosso consumo total.

    Embora o melhor uso do diesel seja em motores de médio e grande porte, muitas caldeiras queimam

    o mesmo óleo diesel, nas indústrias e outros estabelecimentos, e em algumas centrais termo-elétricas com

    turbinas a vapor. Além disto, nas maiores cidades da Amazônia, há centrais elétricas com turbinas  tipo

    aero-derivadas ( projeto semelhante às turbinas de avião ), que trabalham com a compressão do aradmitido e com a expansão dos gases queimados nos maçaricos ( ciclo Brayton, v. adiante ) e que

    queimam óleo diesel.

    Foi o quê ocorreu também nos primeiros meses de funcionamento das usinas te´rmicas em Cuiabá,

    MT e em Uruguaiana, RS, que começaram a funcionar antes que fosse completado o gasoduto. Mas, se

    for concretizada a ligação de gasodutos com áreas produtoras de gás, estas mesmas turbinas hoje

    instaladas em Manaus, Boa Vista, Rio Branco, Porto Velho, Macapá, poderiam queimar gás metano,

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    como já fazem as turbinas das plataformas de produção, em terra e no mar, e das unidades de

     processamento de gás da Petrobrás e como fazem algumas outras, recém- instaladas em locais já

    atendidos por gasodutos. ( v. capitulos seguintes )

    1.6.8. Óleos grossos e Resíduos de “fundo de barril”

    A parte mais viscosa do petróleo, a sua borra mais grossa, chamada de “fundo do barril”, de “ fundo

    de torre”, tem uma proporção em geral entre 10% e 20% , mas pode chegar a 30% ou até 40% em pêso,

    do total de cada barril de óleo cru. Esta fração ultra-viscosa contém grandes moléculas de hidro -

    carbonetos e uma alta proporção de Carbono, e ainda será trabalhada nas refinarias para separar os vários

    tipos de O. C. - Óleos Combustíveis, que vão alimentar os fornos de indústrias e as grandes caldeiras dosnavios e das usinas termelétricas, e, para separar os asfaltos, o piche, os betumes.  

    Os materiais muito viscosos ou ultra-viscosos, como estes, devem ser mantidos aquecidos, em

    temperaturas até perto de 270 graus – pois caso contrário vão “empedrar”, endurecer indevidamente. Por

    outro lado, se diluídos com solventes e óleos mais leves, podem ser manobrados em forma quase líquida e

    uma vez “secos”, funcionam com impermeabilziantes. Em algumas refinarias, p.ex. em Cubatão e

    Paulínia, SP, em Betim, MG, pode-se obter a partir dos óleos de “fundo”, um combustível sólido,

     pulverizado, o coque de petróleo, e também os carbonos coloidais e o pó tipo “negro de fumo”. 

    1.6. 9. Os outros combustíveis fósseis: carvão, xisto, turfa,e os resíduos industriais combustíveis.

    O sobrenome desta família de combustíveis – fósseis - é bem apropriado, pois todos são, além do

     petróleo e do gás associado, resultantes de um processo histórico, muito longo, de fossilização. Em

    termos simples, tais materiais se formaram quando, pela ação de vários mecanismos que só existiram

    naquela época, há milhões centenas de milhões de anos atrás - ficou sepultado sob “novas” camadas de

    sedimentos, rochas e terras, o material orgânico do passado remoto, quase toda a vida daquelas eras:- os microorganismos como algas e plânctons, as plantas menores e as grandes árvores, os pequenos

    animais como crustáceos e moluscos, os peixes dos mares e lagos que também foram sepultados, e até os

    imensos mastodontes, mamutes e dinossauros, recriados hoje pela engenharia dos efeitos especiais do

    cinema e dos vídeo-games.

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     No caso do carvão mineral ,  conhecido milenarmente e, nos ultimos três seculos o mais importante

    combustível extraído e usado em todos os continentes, a matéria fóssil ficou espremida em camadas,

    entranhada e entremeada com areia, sílica, quartzo, outras rochas, e com os compostos de enxofre, de

    flúor, de nitrogênio, e às vezes, misturados com traços e compostos dos metais chamados “ pesados”,

    incluindo-se ferro, manganês, cobre, chumbo, níquel, cádmio, molibdênio, vanádio, arsênico, mercúrio e

    outros ). Petrificou, mas está empapada de liquidos viscosos e contem emulsões ou até bolsões de

    matérias voláteis e gases.

    O carvão já foi usado para tudo que se imagine, inclusive aquecimento de cavernas e de casas, aliás,

    até hoje, em vários países como a China e a Índia e mesmo alguns da Europa. A sua forma mais

    valorizada é o “coque”, ou seja, um carvão mineral que, além de beneficiado, “lavado” e concentrado nas bôcas das minas, foi também “carvoejado”, ou coqueificado, através de um cozinhamento lento e

    abafado, de muitas horas, dois a três dias nas coquerias mais rudimentares, forçando-se a evporação das

    frações voláteis e a saída dos gases e da umidade, e concentrando-se no coque o Carbono fixo e as

    moléculas maiores, sólidas ou bem soldadas pelas frações ultra-viscosas.

    Com isto, gasta-se bastante combustível e gera-se bastante subprodutos ( complicados, porém em

     parte, re- aproveitáveis ) e passa-se de um material com poder calorífico na faixa de 3500 a 6000

    kilocalorias por kg, para um outro material, mais leve, com menos contaminantes, especialmente o

    enxôfre e seus compostos, e produzindo de 7000 a quase 9000 kcal por kg de coque queimado.

    O principal uso do coque é na siderurgia , nas etapas da sinterização e dos altos-fornos de ferro –

    gusa, em várias aciarias e também em metalurgias de outros metais, inclusive do alumínio, como material

    de revestimento das cubas e dos bastões elétricos.

    Além disto, ainda restam locomotivas e embarcações a carvão, e, sobretudo, uma boa parte da

    eletricidade em muitas regiões de muitos países, inclusive dentre os mais ricos e avançados, é obtida em

    termelétricas a carvão, ou a derivado de carvão, - através da queima de carvão mineral e de coque em

    suas caldeiras para produzir vapor ( ciclo Rankine, v. adiante ), e , às vezes, com uso do gás de coqueriaou da gaseificação do carvão para queima em caldeiras ou em turbinas.

    O  xisto betuminoso  seria um estágio intermediário entre o carvão e o petróleo, pois, a partir da

    moagem da rocha e de seu cozinhamento pode-se obter algo similar a um petróleo cru. A turfa seria um

    tipo de carvão superficial ainda em formação, e pode-se compor de restos de arvores, e de arbustos,

    camadas de folhas e de raizes em putrefação, ainda úmidos, e já ligados pela argila.

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    É um terreno de regiões sedimentares recentes, baixadas de rios maiores e de estuários, e onde a

    matéria vegetal milenar ficou exposta ao ar livre, nas turfeiras.   Parece algo como a terra vegetal que se

     produz para os jardins e hortas, mas com sua caracteristica própria, fibrosa, de terra preta ou cinza escura.

    Em alguns países vem sendo usada há séculos como combustível, - isto após a terra ter sido drenada, e

    solidificada sob pressão, em toletes, para poder ser transportada e alimentar as caldeiras ou fornos.

    Além dos combustíveis fósseis obtidos da natureza e em seguida fabricados para serem

    especialmente combustiveis , também são queimados em conversores comuns , - além de suas pilhas

    queimadas ao ar livre... –

    - vários tipos de resíduos industriais  - como as borras dos separadores de águas oleosas, as lamas

    das estações de tratamento de efluentes; as poeiras dos filtros-manga e dos balões de retenção, asemulsões com óleos lubrificantes, decapantes e outros, as borras de dragagem de bacias de decantação e

    de tanques, as resinas e materiais plásticos fora de especificação, ou as aparas de seus cortes e outras

     perdas de processo,

    - e mais, os produtos usados como os pneus gastos, embalagens plásticas e alguns tipos de lixo.

    Particularmente, os fornos rotativos das fabricas de cimento e de cal ( mas não somente estes ) vêm

    sendo utilizados, na prática, como incineradores destes tipos de resíduos, cuja queima é paga, por

    tonelada, pelas indústrias geradoras do resíduo , - às fábricas que têm os fornos e que misturam tais

    resíduos às suas cargas usuais de combustível, que são de OC, Resíduo Viscoso, Carvão Mineral ou

    Coque, ou, ainda, Carvão Vegetal. ( ref. tese mestrado SANTI, 1996 e comunicação VIII CBE, 1999 )

    1.6.10. Os combustíveis lenhosos e fibrosos, e o aproveitamento dos seus resíduose os óleos vegetais combustíveis.

    A madeira, especialmente galhos e troncos cortados e secos como lenha, é também de uso milenar e

    generalizado, e continua até hoje em muitas regiões do mundo, e também nas áreas urbanas e nas

    residências – pelo menos no caso das lareiras e calefações prediais, e no caso de alguns fornos de cozinha, por exemplo, pizzarias, e, em muitos locais, as padarias. Também ainda se usa regularmente em fornos de

    olarias e de alguns tipos de cerâmicas, e várias fábricas de alimentos, em fornos ou em caldeiras para

     produzir vapor e água quente.

    Permanecem raros exemplares de locomotivas e de embarcações a lenha, mas caberia lembrar o

    exemplo do “gasogênio”,   ( um gás “pobre”, resultante da combustão abafada de carvão vegetal, com

    alguma proporção de CO, de H2, de metano ou outros hidrocarbonetos ) e que foi uma solução

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    encontrada em períodos de falta de gasolina ( na 2 ª  guerra, no Brasil, p.ex. ) e em regiões sem eletricidade

    e com dificil suprimento de diesel ( os grupos geradores a gasogênio em serrarias, p.ex. ).

    O principal uso da madeira, e do material lenhoso em geral como combustível, na realidade, é, após

    o carvoejamento, como carvão vegetal.  Continua o seu uso urbano e em eventos de lazer e de alimentação

    coletiva ( p.ex., os churrascos ) mas, em vários regiões, o carvão vegetal é a base energética geral, e, em

    alguns casos, alimenta a poderosa indústria siderúrgica e alguns ramos especificos da metalurgia. No

    Brasil, uma terça parte do ferro-gusa ( precursos do aço e das ligas de ferro com outros metais ) é obtida

    em altos-fornos queimando carvão vegetal, em geral, menores do que os das usinas integradas a coque.

    Três das grandes siderúrgicas de MG, a Belgo-Mineira de João Monlevade, a Acesita, de Timóteo,

    e a Mannesmann, do Barreiro, BH, foram construídas para reduzir o ferro com carvão vegetal, e estasempresas industriais organizaram seus “braços” específicos para o suprimento, outras empresas de

    reflorestamento e de carvoejamento que estão dentre as maiores proprietárias de terras em Minas. Na

    década de 1990, estas siderúrgicas, outras menores e alguns guseiros começaram a misturar coque com

    carvão vegetal e converter alguns fornos, mas a estrutura básica do combustível lenhoso permanece, e os

    milhões de hectares de eucaliptais continuam a ser uma reserva de combustível, e ou de matéria - prima

     para a fabricação de celulose, papel e papelão.

    Várias metalúrgicas importantes, e que fabricam ligas de uso sofisticado, como as de Zinco e

    Chumbo, as de Níquel; as de Manganês, as de Estanho, e, especialmente, as cadeias produtivas do silício

    metálico, do cromo, das suas ligas nobres e dos seus concentrados caríssimos, - também são movidas a

    carvão vegetal, além da enorme eletricidade que consomem.

     Na indústria madeireira – que desdobra as toras, tira as pranchas, produz a madeira estrutural , de

    revestimentos, portas, esquadrias, carrocerias, embarcações, móveis, etc - os resíduos em principio são

    todos aproveitáveis, seja na própria produção de artefatos, compensados, aglomerados, etc, mas , também

    como combustíveis, seja na forma bruta de cascas, cavacos, aparas, serragens, ou também, carvoejando as

    sobras do eucaliptal, do pinheiral e da mata, galharias, lascas e até folhas, ou fabricando briquetes, ou pellets de fibras, os quais por sua vez podem ser torrados ou queimados diretamente, ou, ainda,

    gaseificando tais materiais. De forma similar, a indústria da celulose/ papelão / papel, que produz alguns

    resíduos iguais a estes, pode queima - los em suas caldeiras; ainda, estas fábricas têm como sub-produto

    uma quantidade impressionante de “licor” da madeira ( após cozinhada em banho químico, para separar

    as fibras ), e este licor, ou lixívia , também pode ser queimado diretamente ou gaseificado.

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    Ainda neste tópico de combustíveis renováveis, obtidos diretamente da vegetação, temos que

    destacar, pelo seu futuro certamente promissor, os óleos combustíveis vegetais, que são extraídos de

    sementes de árvores, ou de leguminosas, portanto, são, em princípio, completamente renováveis e,

    relativamente dependentes de safra e de condições de coleta, principalmente aqueles que têm composição

    orgânica similar ao “pool” de naftas do óleo diesel, e que podem ser usados em motores bi-combustível,

    ou, se devidamente tratados, podem ser misturados ao diesel. Estão neste caso, com pesquisas e

    utilizações já bastante avançadas, em alguns países e também por aqui, os aproveitamentos dos óleos dos

    cocos das palmeiras ( como o dendê, mas também pode se aplicar aos cocos do babaçu, do buriti, do acaí

    ), das sementes bastante oleosas das castanheiras, ( e suas parentes amendoeiras, nogueiras e outras ), mas

    também das brasileiras sementes de andirobas, de copaíba, de mamona, e tantas outras. Além é claro, damaioria dos óleos comestíveis convencionais, obtidos de soja, de arroz, de milho, de sementes de girassol,

    de uva, de oliveiras, e que, em diferentes graus, podem ser ainda beneficiados para usá-los como

    combustíveis, sozinhos ou misturados a outros.

     Não custa registrar também, que durante muito tempo, queimou-se óleo de baleia e resinas de

    arvores para iluminar, extrairam-se solventes, essências e princípios ativos da vegetação e dos animais,

    obteve-se álcool de várias frutas, raizes, e grãos. Tais tecnologias estiveram um tanto ofuscadas pelo

    surto do combustível líquido obtido do petróleo - que já dura um século e meio quase, mas que

     provavelmente está mais próximo do fim – mas os combustíveis da bio – massa têm obviamente muito

    mais futuro do que os estoques de material fóssil, finito, e de difícil acesso.

    1.7. Como são obtidos os derivados de petróleo no Brasil ?

    Mas... para que este “surto” do petróleo possa continuar em vigor, dia após dia, é preciso encontrar

    e conseguir extrair o petróleo, lá onde ele se formou, no antigo leito de um mar ou de um lago, com muita

    matéria orgânica, planctons, algas, peixes, crustáceos, moluscos, conchas, plantas. Estas foram as

    matérias-primas do petróleo, tudo o que ficou sepultado dentro das camadas sedimentares, e que foilentamente fermentando, concentrando e apurando, sob pressão, sem ar, produzindo este “chorume” da

    vida nas eras geológicas anteriores, esta mistura de óleos, gases, resinas, sais e água cujos derivados se

    tornaram as principais mercadorias do mundo neste século.

    Embora o Brasil não seja um dos principais produtores de petróleo do mundo, ele já é extraído do

    nosso subsolo desde a década de 1940, e a sua produção é crescente em várias regiões.

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     Nos últimos anos, tem sido de origem nacional algo como 2 /3 , ou um pouco mais, de todo o

     petróleo processado nas refinarias do país ( cuja capacidade somada esteve na faixa entre 1,5 e 1, 7

    milhões de barris / dia, ou , aproximadamente 80 milhões de toneladas anuais ) . A terça parte restante,

    um pouco menos, chega importado, em navios-tanque, nos terminais marítimos que abastecem as

    refinarias ( como óleo cru de determinados poços ou como “blends” de determinadas regiões, como

    resíduos de beneficiamento e destilações feitas em outras refinarias; e como LGN, para poder compensar

    as diminutas frações de GLP e naftas nas demais matérias-primas ), e as proveniências mais comuns são o

    Golfo Pérsico, Norte da Africa, Nigéria, Argentina, Venezuela, Indonésia.

    Retomando nossa pergunta anterior, tudo isto só é possível às custas de enormes investimentos, de

    muito trabalho humano e às custas de muitas alterações ambientais em toda a sua cadeia produtiva , dedistribuição e de consumo.

    Resumidamente, eis as principais etapas, em se tratando de petróleo aqui extraído :

    # Trata-se de perfurar o solo terrestre, no Espirito Santo, na Bahia, em Sergipe, no Rio Grande do

     Norte e no Amazonas, e o solo marinho, sob lâminas d’água, - pequenas, com poucos metros, no

    Recôncavo Baiano, - médias, com dezenas de metros até duzentos metros, em Sergipe , no Ceará e Rio

    Grande do Norte , - e grandes, até profundidades de mil metros, como no restante do litoral fluminense, e

    ao Sul, na bacia de Santos e Paranaguá. Perfurar para atingir camadas profundas do subsolo. No Brasil,

    os “reservatórios” de óleo cru e gás estão nas camadas de arenitos a dois, três mil metros abaixo do piso.

    Perfurar para comprovar ou não a existência dos hidrocarbonetos, prevista nos estudos geofísicos e nas

    modelagens de reservatórios.

    Depois: tampar , abandonando os poços, -, ou deixando em “stand-by”, - ou- completar tais poços,

    neste caso imobilizando na rocha, com cimento, as tubulações de aço concêntricas por onde o poço será

    manobrado, com cabos elétricos, tubos para água, vapor, para re- injeção de gás, e por onde escoarão , até

     jorrar na superfície, os hidrocarbonetos líquidos e gasosos, a água com sais e o cascalho; - para o quê, é

    necessário ainda , empregar explosivos, para canhonear a rocha-mãe no entorno da seção final do poço, para forçar o escoamento dos primeiros fluxos de óleo e gás.

    # E depois, montar as conexões de cada poço com suas instalações terrestres ou subaquáticas :

    árvores de natal, conjuntos de válvulas de cabeça de poço, “manifolds”( conjuntos de válvulas

    controlando vários poços), assentar e montar tubulações, com trechos flexíveis (sob o mar) e trechos

    rigidos, com bitolas de até 24 polegadas, no mar, e de até 40 polegadas, em terra.

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     No caso da produção “off-shore”, deve-se construir, rebocar até o local definitivo e instalar as

    unidades marítimas industriais de produção e processamento de óleo cru e de gás natural - apoiadas no

     piso do mar (as plataformas fixas ) - ou - ancoradas ( os navios-sonda e os navios adaptados para

     produção ) , ou - ancoradas e estabilizadas por submarinos ( as plataformas semi-submersíveis). E fazer as

    conexões de cada plataforma , fluxo acima, com um ou mais poços produtores , e fluxo abaixo, com o

    continente; ou, nos casos do Norte Fluminense e da bacia de Santos, fazer as conexões com algumas

    mono-bóias ( mono-bóia é o jargão técnico para instalação mixta de tancagem, bombeio e atracamento,

    um tipo de plataforma ou um navio-tanque reformado, que também é ancorado no fundo do mar ) para

    transferir a carga para os navios-tanque em alto-mar.

    Regra geral, o trabalho nas etapas de perfuração e produção de óleo e gás, é árduo, pesado, e aomesmo tempo, bastante automatizado e de tecnologia densa; se as embarcações e plataformas estão no

    “alto-mar”, as pessoas vivem em regime de confinamento e com um esquema único de turnos diários e

    anuais das equipes, com “embarques” e “desembarques” ( volta para cas, para a terra ) alternados.

    Isto define, do ponto de vista humano, e logístico, o quê se passa no “off-shore”, e em certa medida,

    é comparável ao quê se passa em áreas produtoras isoladas na selva, - caso do Polo Arara em Urucu, AM

    . Todo o acesso às áreas é estritamente programado e controlado pela Petrobrás ( e pelas operadoras

    “avulsas” no “off-shore”) em vôos de helicópteros, ( e aviões pequenos, em Urucu) , por linhas exclusivas

    ou fretadas, pela Petrobrás, ou, em viagens marítimas e fluviais idem, já que helipontos no mar, aeroporto

    e porto em Urucu são territórios da empresa em perímetro fechado.

     No caso do “off-shore” , o trabalho e a presença humana são estatísticamente mais arriscadas, por

    causa do mar, e do trajeto áereo e aquático, e também porque intervêm várias outras profissões além dos

     petroleiros especificos da perfuração e da produção, e dentre estas, os mergulhadores-mecânicos, que

    instalam linhas, conexões e válvulas o piso do mar, e que fazem reparos, trocas e medições em

    equipamentos subaquáticos em profundidades de até 300 metros, com o auxilio de robôs e equipamentos

    especialíssimos, e uma infra-estrutura de um navio inteiro com dezenas de tripulantes para assegurar taismanobras ( navios de mergulho , pipe-layers e similares ).

    Ver a seguir, figuras 3 e 4, ilustrações cartográficas sobre os circuitos do petróleo e do gás no

    Estado do RJ e no Estado de SP.

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     Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 32

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    Prosseguindo nossa descrição da cadeia produtiva do petróleo:

    # Trata-se portanto, até aqui, de colocar as instalações produtoras em condições de partir e de

    operar; o quê, tratando-se de um processamento de fluxos e estoques em regime contínuo, somente se

    concretiza com o acionamento de toda a infra-estrutura de transferência e de estocagem, - exigindo a

    montagem e operação de bases terrestres e/ou terminais marítimos de recepção, beneficiamento e

    despacho de óleo cru e de gás natural.

    Isto é o que se passa em Porto Tefé e no terminal do Solimões em Coari (AM), em Fortaleza ( CE )

    , em Guamaré(RN), em Carmópolis, (SE), Madre de Deus e Candeias, (BA) em São Mateus( ES); em

    vários pontos no RJ : em Cabiúnas , distrito de Macaé, em Duque de Caxias e em duas ilhas na Baía de

    Guanabara, e no Tebig, na Baía da Ilha Grande; nas várias bases da Petrobrás em São Paulo : o Tebar emSão Sebastião, em Santos , Cubatão, Utinga, Barueri, Guarulhos, Suzano, Guararema , e mais, em São

    Francisco do Sul (PR) e em Tramandaí(SC).

    Todas estas bases e/ ou terminais estão conectados diretamente , muitas vezes, em instalações

    vizinhas, às bases de estocagem e distribuição das distribuidoras de derivados de petróleo, e recebem e

    despacham por meio de dutos, por via marítima (cabotagem) e fluvial, por via férrea e por rodovia.

    # Algumas destas bases também incluem unidades de processamento de gás natural - as UPGNs, em

    Urucu (AM), com um gasoduto em direção a Manaus metade já construído em meados de 1999, em

    Fortaleza (CE ) , em Guamaré (RN), algumas em Sergipe e na Bahia , todas interligadas pelo gasoduto

    “Nordestão”; no norte do ES, com gasoduto até Vitória e em obras até o RJ; ali em Macaé , cujas UPGNs

    recebem por meio de gasodutos vindo das plataformas de Enchova e de Garoupa, e com gasoduto ligando

    com Duque de Caxias , RJ, com duas UPGNs funcionando e ligada por gasodutos a Belo Horizonte, MG

    e a SP, através do vale do Paraíba do Sul; e em Cubatão, SP, recebendo por meio de gasoduto ligando a

     plataforma de Merluza no mar, e despachando por gasoduto para a região do ABC e a capital paulista. [ v.

    detalhes a seguir, neste capítulo ]

    # O “miolo”da indústria do petról