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ANTONIO CESAR DE SOUZA SANTOS A VISÃO DA IMPRENSA DA CIDADE DE CURITIBA SOBRE A REPRESSÃO AS DROGAS, NO PRIMEIRO ANO DA NOVA REPÚBLICA. Monografia de graduação no Curso de História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Orientador: José Roberto Braga Portella. C U R I T I B A 2 0 0 0

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ANTONIO CESAR DE SOUZA SANTOS

A VISÃO DA IMPRENSA DA CIDADE DE CURITIBA SOBRE

A REPRESSÃO AS DROGAS, NO PRIMEIRO ANO DA

NOVA REPÚBLICA.

Monografia de graduação no Curso de História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Orientador: José Roberto Braga Portella.

C U R I T I B A

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ANTONIO CESAR DE SOUZA SANTOS

A VISÃO DA IMPRENSA DA CIDADE DE CURITIBA SOBRE

A REPRESSÃO AS DROGAS, NO PRIMEIRO ANO DA

NOVA REPÚBLICA.

Monografia de graduação no Curso de História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Orientador: José Roberto Braga Portella.

C U R I T I B A

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

2 A CONJUNTURA HISTÓRICA .................................................................................... 5

3 A IMPRENSA E A VIOLÊNCIA................................................................................. 16

4 OS PRESSUPOSTOS DA IMPRENSA ...................................................................... 20

5 A PESQUISA .................................................................................................................. 32

6 CONCLUSÕES .............................................................................................................. 41

FONTES PRIMÁRIAS ......................................................................................................43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................44

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1 INTRODUÇÃO

O primeiro passo visando a realização de uma monografia para a conclusão do curso

de história, era descobrir um período histórico que me despertasse interesse. Nas

disciplinas que tratavam dos períodos mais recentes da história, chamou a minha atenção o

dinamismo desta época, sobretudo as últimas décadas no Brasil, décadas permeadas de

mudanças na economia e na política do país. A economia é marcada pelo crescimento da

inflação e por inúmeras tentativas de estabilização econômica, ao passo que na esfera

política tivemos o processo de abertura política que levou a redemocratização do país, bem

como mudanças no plano das relações exteriores, com a articulação do Brasil a acordos

internacionais. Lembrando que, nesta mesma época a política dos Estados Unidos com

relação ao combate as drogas apontava em direção a um recrudecimento, o qual,

encontrava sua maior expressão em uma grande investida contra os centros produtores e

distribuidores na América latina. Neste período segundo a Grande Imprensa, definindo

como tal: o conjunto formado pelas empresas jornalísticas do país que não privilegiam o

binômio noticiário policial e esportivo, a violência alcança patamares até antes não

observados. Este crescimento, observado na violência pela Grande Imprensa, encontra

reflexo no problema das drogas, que também se apresenta em expansão no país na mesma

época. Tal conjuntura acabou conduzindo-me à conclusão de que, esta seria a época

histórica mais interessante para se realizar uma pesquisa desta natureza e acabou

direcionando o tema para a questão das drogas, um tema presente, dinâmico e cujo debate

pode representar uma contribuição para o momento atual.

Por outro lado se fez necessário eleger uma fonte que propiciasse uma adequada

articulação com o tema e período escolhidos. Seguindo essa premissa, os jornais se

configuravam como fontes muito interessantes para se trabalhar. Prossegui nesta linha e

investiguei a Biblioteca Pública do Paraná, pesquisando quais jornais da cidade de Curitiba

estariam disponíveis, chegando a conclusão de que os que apresentavam condições mais

favoráveis a pesquisa, devido a recorrência que o tema alcança nestes veículos de

informação, eram os chamados Jornais Populares ou Imprensa Sensacionalista ,

definindo como tal, os jornais que privilegiavam o binômio: noticiário policial e noticiário

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esportivo. O que acabou elegendo como fontes para o trabalho, dois jornais da cidade de

Curitiba, os jornais: Diário Popular e Tribuna do Paraná, ambos identificados com a

Imprensa Sensacionalista e articulados com a visão local do tema.

Com relação ao objetivo pretendido pelo presente trabalho, este irá se pautar em

identificar a visão da Imprensa Sensacionalista da cidade de Curitiba, em relação a

repressão às drogas, no contexto de agravamento acentuado que o citado problema passa a

apresentar em todo o Brasil, a partir da primeira metade da década de 80. Sendo

privilegiando nesta pesquisa o período de transição do regime militar para o democrático,

mais especificamente o ano de 1985, por ser o primeiro ano de um governo civil, depois de

20 anos de Ditadura Militar e desta maneira representar mudanças na orientação política do

país.

Para trabalhar com a imprensa, é necessário ter em mente alguns dos pressupostos

inerentes as empresas jornalísticas de modo geral, lembrando que se tratando da Imprensa

Sensacionalista ou Popular estes podem aparecer bastante acentuados. As empresas

jornalísticas fazem amplo uso de técnicas originárias dos conceitos de Indústria Cultural 1,

sendo que estes passarão a ser empregados de forma mais ampla com a transformação das

empresas jornalísticas em instituições comerciais, onde o que é produzido receberá

tratamento similar ao que se dá as mercadorias em outros tipos de empresas comerciais.

Esta forma de jornalismo no Brasil, terá sua origem em um motivo político, ou seja, a

defesa e manutenção do apoio popular ao governo de Getúlio Vargas na década de 50,

sendo que o citado governo buscava este apoio devido ao seu caráter Populista. O motivo

político, gradualmente, vai promovendo mudanças, na forma de apresentação e no

conteúdo trabalhado pelas empresas jornalísticas, as quais, utilizarão de maneira cada vez

mais acentuada as técnicas da Indústria Cultural, visando maximizar seu apelo a um

público alvo específico. Inicialmente, em virtude de seu caráter político, as novidades

apareceram primeiro, década de 50, no jornal Última Hora, o qual era direcionado as

camadas de baixa renda, que junto com as notícias (marcadas pelo binômio noticiário

policial e esportivo), absorvia a mensagem política defendida, mensagem esta articulada

com o governo de Getúlio Vargas. Em conseqüência, encontrará resposta em correntes

políticas opositoras, como a União Democrática Nacional (UDN), que procurarão oferecer

1 Termo utilizado por Theodor W. Adorno.

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um produto similar, jornal Notícias Populares, no entanto, esvaziado do aspecto político,

como forma de desmobilizar a iniciativa dos Populistas2. Tendo como resultado as atuais

formas de imprensa praticadas no país, seja nos jornais direcionados aos setores mais

privilegiados da sociedade ou naqueles direcionados as camadas de menor renda, pois,

ambas irão fazer uso das já mencionadas técnicas. No entanto apesar de terem perdido sua

intensidade, no que se refere a transmissão de uma mensagem política, a transmissão desta

jamais irá deixar de existir, sendo possível identificá-la em um veículo de informação.

Como na campanha eleitoral para a prefeitura da cidade de Curitiba no ano de 1985, onde o

jornal Tribuna do Paraná promove o candidato Paulo Pimentel e procura denegrir os

demais candidatos, em especial o candidato Jaime Lerner, o que pode ser comprovado em

diversas matérias publicadas no mesmo ano. Na edição referente ao dia 05 de outubro de

1985, com destaque (chamada de primeira página e no alto da folha), temos a seguinte

publicação: “Paulo: mais empregos, já!”3. Na edição referente ao dia 26 de setembro, com

destaque (chamada de primeira página, no alto da página, letra grande e fundo preto sob

letra branca), a publicação: “Lerner não inspira confiança!”4. A edição referente ao dia 28

de setembro, foi publicada, com destaque (chamada de primeira página, letra grande e

sublinhado), a seguinte manchete: “Colônia Polonesa humilhada por Lerner”5. Na edição

referente ao dia primeiro de outubro, com destaque (chamada na primeira página, letra

grande, área principal da folha, letra vermelha e sublinhado), temos a seguinte publicação:

“Lerner vetou o nome de Jesus Cristo”6. Desta maneira podemos comprovar a divulgação

de notícias de interesse de grupos políticos específicos. Assim, configurando o Governo do

país como um grupo político, informações de seu interesse deverão encontrar espaço nestes

meios de comunicação, incluindo-se aí sua atitude em relação aos diversos problemas

vividos pelo país, como no caso da repressão as drogas. A política do governo se

encontrará registrada, seja de forma direta, através da divulgação de informações

abertamente e as mesmas sendo registradas, ou de forma indireta, através do registro das

atividades dos diversos setores do governo envolvidos no assunto, setores estes que

também deixarão sua marca no registro, habilmente dissimulando informações. O conjunto

2 GOLDENSTEIN, Gisela T. Do Jornalismo Político à Indústria Cultural. São Paulo: Summus, 1987. 3 TRIBUNA DO PARANÁ. Curitiba: ano XXIX, N.º 8.344, 1985. 4 TRIBUNA DO PARANÁ. Curitiba: ano XXIX, N.º 8.335, 1985. 5 TRIBUNA DO PARANÁ. Curitiba: ano XXIX, N.º 8.337, 1985.

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destes registros deve ser observado não só em relação a seu conteúdo escrito como também

na forma que é apresentado, lembrando o uso das técnicas jornalísticas.

Tendo em mente o uso de técnicas jornalísticas originárias dos conceitos de

Indústria Cultural nas instituições jornalísticas brasileiras, se faz necessário o conhecimento

das referidas técnicas, como maneira de melhor utilizar estas fontes. Isto se faz crucial

devido ao fato de nem sempre as informações se apresentarem claramente, cabendo uma

análise pautada neste conhecimento, bem como os seus efeitos sobre as notícias que são

publicadas. Somente desta maneira, ou seja, não somente através da análise das matérias

publicadas, mas também levando em consideração a forma como é publicada, se faz

possível uma análise mais precisa das informações ali presentes. Derivando deste processo

a visão que determinada empresa jornalística, possui a respeito de determinado assunto em

um determinado momento.

6 TRIBUNA DO PARANÁ. Curitiba: ano XXIX, N.º 8.340, 1985.

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2 A CONJUNTURA HISTÓRICA

Inicialmente se fazem importantes algumas considerações a respeito do período

histórico pesquisado, como forma de situar o contexto brasileiro daquele momento, a saber

o ano de 1985, bem como sua articulação com aquele contexto internacional.

O novo Governo brasileiro civil, presidência de José Sarney em 1985, primeiro

depois da Ditadura Militar, acenava para a articulação com as propostas internacionais,

como indica a política de Integração do Brasil ao contexto dos acordos internacionais.

Embora o último governo militar, já iniciasse estudos e discussões a respeito de questões

como violência, bem como de temas a ela relacionados, incluindo-se aí a questão das

drogas, nenhuma iniciativa específica ao tema pôde ser observada por parte deste governo.

Ao tomar contato com um estudo sobre violência urbana, realizado em 1994 7, ficou claro

que o período de intensificação dos debates da política repressiva no Brasil, não somente

com relação a drogas, mas também com relação a violência urbana em geral, tem seu início

no final do regime militar, no governo do general João Batista Figueiredo. Isto pode ser

comprovado, por exemplo, no Relatório sobre Crime e Violência 8, lançado em 1980, que

irá contar com inúmeras referências com relação ao problema das drogas e da violência. A

insistência com que os representantes do governo aludiram ao fator segurança, no ano de

1981, se relaciona diretamente com os picos na divulgação de ocorrências violentas na

Grande Imprensa, bem como os debates preconizando o aumento no policiamento

ostensivo, chegando-se a sugerir o emprego das Forças Armadas. Tal proposta que foi

combatida pelo alto comando do Exército, no entanto encontrou defensores entre os

jornalistas, como Carlos Chagas, para quem, o Exército seria o único capaz de debelar a

violência, dado o seu grau no caso do Rio de Janeiro. Repressivo ou preventivo o papel da

polícia, assume maior relevância nos debates, tanto a nível de Governo , como a de

Sociedade Civil. O discurso a respeito das falhas na instituição, identifica os fatores

7 VELLOSO, João P. R. (Coord.) Governabilidade, Sistema Político e violência Urbana. Palestras

realizadas no Fórum Nacional: A construção da modernidade econômica-social. São Paulo: José Olympio, 1994.

8 CRIMINALIDADE e violência. Brasília: Ministério da Justiça, 1980.

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negativos em termos materiais: falta de policiamento ostensivo, péssimas condições de

trabalho e pouca instrução para enfrentar situações de perigo e complexidade. Um outro

discurso aponta no sentido de transferir a responsabilidade da segurança para a população,

que segundo o Governo é displicente e não colabora. Neste sentido a responsabilidade pelo

quadro de violência é atribuída a polícia (Estado) e a população (Sociedade)

simultaneamente.

Paralelamente e articulada com a iniciativa do governo brasileiro encontra-se em

andamento uma política de repressão intensa ao tráfico e uso de drogas pôr parte do

governo dos Estados Unidos. Embora a iniciativa já venha da época do governo de Nixon

(1969), com Ronald Reagan (1980) experimentou uma intensificação, uma vez que sua

plataforma apontava para um resgate dos valores tradicionais americanos, profundamente

contestados pela Revolução Cultural da década de 60. O período mais importante, neste

caso, se refere a década de 80, e, consequentemente, ao período da história americana

conhecido como: Era Reagan. O governo de Ronald Reagan, se caracteriza pôr um retorno

dos setores conservadores ao poder nos Estados Unidos, os quais, implementaram

mudanças profundas na administração do país, em parte derivadas de uma imagem

desfavorável da administração anterior, liberal, que segundo a crítica do governo então

vigente, se demonstrou ineficiente para resolver os problemas do país. O amparo social do

Estado para as camadas menos privilegiadas da sociedade, característica dos governos

liberais, implicava em impostos elevados, que logicamente desagradavam os setores mais

privilegiados. Por outro lado a retração do governo no caso da invasão soviética ao

Afeganistão, passava uma imagem de fraqueza no plano das relações exteriores. A inflação

provocada pela crise do petróleo, acabou levando a recessão, que agravava a visão que a

sociedade tinha do governo liberal. A tudo isto pode se somar o trauma provocado, pela

questão dos Direitos Civis dos Negros e pela Revolução Cultural, dos anos 60, articuladas

ao governo liberal. Este período ficou conhecido como aquele em que o Liberalismo

alcançou o seu clímax, compreendendo o período de 1960 até 1968, abrangendo aos

governos de John F. Kennedy e Lyndon B. Johnson. Foi uma época turbulenta, marcada

pôr diversas manifestações, como as estudantis e pelos direitos das minorias, estando a

Revolução Cultural inserida neste contexto e sendo marcada pôr uma ruptura com os

valores tradicionais americanos e um forte apelo ao Sexo e as Drogas, sendo fácil a partir

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daí enxergar o porquê do trauma relativo a este período. Todos estes elementos foram

decisivos para um retorno dos conservadores ao poder, isto aconteceu em 1969 com a

eleição de Richard Nixon, que já apontava o retorno aos valores tradicionais americanos,

mas foi desmobilizado com o escândalo de Watergate , sendo que esta iniciativa só veio a

ser retomada no governo de Ronald W. Reagan, não implicando que o governo anterior e

liberal de Jimmy Carter, não se preocupasse com a questão das drogas, porém o fez de

forma tímida. O Retorno dos conservadores ao poder, através de Reagan implicava em

medidas rígidas visando corrigir estes problemas, e buscar a antiga prosperidade e valores

tradicionais americanos. Sendo assim, o governo de Ronald Reagan se caracteriza pôr um

acentuamento da política de repressão as drogas, que vai encontrar sua maior expressão

através da War of Drugs, a qual, se caracterizou por uma forte iniciativa visando combater

o tráfico de drogas no e para os Estados Unidos. Desta maneira era caracterizada

internacionalmente por incentivos diversos, concedidos a vários governos da América

latina, cujos países se encontravam envolvidos na produção e distribuição de drogas, para o

combate a esta atividade nestas regiões. Tal iniciativa pode ser comprovada por reportagens

presentes nos dois jornais pesquisados. A matéria publicada no jornal Tribuna do Paraná ,

edição número 8.129, relativa ao dia 28 de fevereiro de 1985, afirma o apoio de agentes da

Drug Enforcement Administration (DEA), agência dos Estados Unidos especializada no

combate ao tráfico internacional de drogas, a uma grande operação da Polícia Federal do

Brasil, auxiliada pelas Forças Armadas brasileiras, denominada Eccentric, a qual, visava

desbaratar a conexão colombiana, uma facção da máfia internacional que vinha se

instalando no país desde a morte do ministro da justiça colombiano Rodrigo Lara Bonilla.

Este mesmo apoio de Agentes do DEA a operação Eccentric do governo brasileiro é

também afirmado no jornal Diário Popular, edição número 6.467, referente ao dia 28 de

fevereiro de 1985, a mesma data da publicação anteriormente citada, no entanto neste

segundo jornal podemos contar com informações adicionais. Esta mesma edição nos fala

também do seqüestro de agentes do DEA no México e da tentativa de seqüestro de um

agente do DEA na cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Este conjunto de fatos

comprova a atuação de agentes do DEA no Brasil, México e Paraguai, mas a atuação do

governo dos Estados Unidos englobava outros países, em especial a Colômbia, que parecia

estar no centro da questão. A Colômbia por ser o principal produtor e exportador de

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drogas na América latina, possuindo inúmeros e poderosos cartéis de drogas que

dificultavam ao máximo qualquer ação do governo colombiano no sentido de coibi-los ,

mereceu iniciativa maior e mais intensa por parte do governo dos Estados Unidos, onde

aconteceram até mesmo intervenções militares. A edição número 8.426, do jornal A

Tribuna do Paraná , referente ao dia 29 de dezembro de 1985, nos dá uma idéia da atuação

do Governo dos Estados Unidos na Colômbia. Nesta reportagem temos notícia de um plano

para efetuar a fumigação com agrotóxicos, utilizando aviões e helicópteros doados pelos

Estados Unidos, visando a destruição de um mil hectares de plantação de coca , fato que

representaria o início de um esforço para acabar com os trinta mil hectares, que se

estimavam serem o total. O esforço contou com o apoio de agentes norte-americanos da

polícia anti-drogas. A mesma reportagem anuncia a proteção a autoridades colombianas

empenhadas no combate ao crime. Também fala da prisão e condenação de traficantes

colombianos em Los Angeles nos Estados Unidos. Esta ação no interior de seu próprio

país, Estados Unidos, é citada na edição número 8.392, da Tribuna do Paraná referente ao

dia 24 de dezembro de 1985, a qual, anuncia um dos maiores ataques surpresa da história

daquele país ao tráfico de drogas. A operação foi realizada no condado de Hudson, Nova

Jersey, contando com a participação da Brigada Policial Antientorpecentes, conseguindo

apreender 670 quilos de cocaína e efetuar a prisão de quatro colombianos envolvidos,

anuncia ainda que um dia antes haviam sido apreendidos 99 quilos de cocaína.

Com relação as conseqüências desta política do governo norte-americano para o

Brasil, se faz possível observar que estas foram trágicas, uma vez que, ao dificultar a

produção em certos países da América Latina e o tráfico das drogas para os Estados

Unidos, através de inúmeras ações, tornou o Brasil bastante atraente, tanto para a

produção, quanto para a comercialização das drogas. O que irá ocasionar, gradualmente, ao

longo da década de 80, um aumento catastrófico na dimensão do problema e pode ser

comprovado, se considerarmos o aumento do espaço dado pela Grande Imprensa a questão

da violência, a qual se encontra em muitos casos relacionada com as drogas e o processo de

repressão as mesmas. Bem como através de fatos relatados em inúmeras reportagens dos

jornais pesquisados, que sugerem o deslocamento de etapas da produção e tráfico de

drogas para vários estados brasileiros.

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Para se ter uma idéia do que estava acontecendo podem ser citadas algumas notícias

dos jornais pesquisados. No jornal Tribuna do Paraná, durante os meses de fevereiro e

março temos uma série de reportagens sobre a morte e o envolvimento do empresário

Gilberto Yanes, radicado em Londrina, com o tráfico internacional de drogas. Na edição

número 8.130, referente ao dia primeiro de março de 1985, temos uma notícia referente a

outra operação da Polícia Federal brasileira, denominada Máfia II, que apreendeu éter e

acetona (matérias primas utilizadas no fabrico de cocaína) em Ponta Porã, no Mato Grosso,

também apreendeu 100.000 dólares na cidade de Porto Velho em Rondônia e prendeu 20

pessoas envolvidas com o tráfico na cidade de Manaus no Amazonas. A mesma edição

aponta a suspeita de estar a cidade de Maringá, no Paraná, envolvida na rota da cocaína. Na

edição número 8.142, referente ao dia 13 de março, temos a notícia da prisão do empresário

peruano Wilfredo Gonzalez Ruiz com dois quilos de cocaína em sua mansão, situada no

bairro do Morumbi em São Paulo. A mesma reportagem divulga a atuação deste empresário

como fornecedor de produtos químicos, éter e acetona, para o tráfico. Na edição número

8.149, referente ao dia 20 de março, temos a notícia sobre o interrogatório, em São Paulo,

dos filhos de Nelson Secaf, apontado pela Polícia Federal como um dos chefes da máfia

colombiana, sobre a existência de 20 tambores de éter em um andar de sua residência que

foi alugado para Wilfredo Gonzalez Ruiz. Na edição número 8.185, referente ao dia 26 de

abril, temos a notícia da prisão de cinco chilenos e um italiano no aeroporto de

internacional Cumbica, com doze quilos de cocaína, a qual seria levada para a Europa. Na

edição número 8.189, referente ao dia 30 de abril, temos a notícia sobre a condenação de

Nelson Secaf e Wilfredo Gonzalez Ruiz, bem como de outros envolvidos. Também

descreve como funcionava o esquema desta quadrilha: Nelson Secaf pesquisava, comprava

e guardava, provisoriamente, os produtos químicos utilizados na produção de cocaína;

Wilfredo Gonzalez Ruiz providenciava o dinheiro e os documentos necessários; os demais

integrantes transportavam o material para uma fazenda pertencente ao grupo. No jornal

Diário Popular temos outras referências sobre os episódios acima descritos. A edição

número 6.478, referente ao dia 14 de março de 1985, fala da descoberta de um depósito de

acetona em uma chácara situada em Londrina no Paraná, a mesma foi alugada pela empresa

Plastinorte, pertencente ao empresário Gilberto Yanes. A edição número 6.520, referente

ao dia 08 de maio, anuncia que se o empresário Gilberto Yanes não tivesse morrido em um

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acidente de avião no início do ano, teria montado uma destilaria para o refino de cocaína

em Londrina. Fala que o mesmo contava com o auxílio de Roberto Suarez, citado como o

maior traficante de drogas do mundo, e que agia como autônomo no fornecimento de éter e

acetona para o tráfico. As reportagens acima citadas nos fornecem evidências de que, certas

etapas ligadas a produção e comercialização de drogas se encontram deslocadas para o

nosso país. Os dois jornais falam de inúmeras grandes apreensões de drogas no país, neste

período. Na edição número 6.544 do Diário Popular, referente ao dia 08 de junho, é

anunciada a apreensão de mais de uma tonelada de maconha em Guaíra no Paraná, segundo

a reportagem a maior já efetuada neste estado. A droga provinha da cidade de Coronel

Sapucaia no Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai. A mesma notícia aparece na

edição número 8.225, referente ao dia 07 de junho, da Tribuna do Paraná. Neste mesmo

jornal, na edição número 8.322, referente ao dia 12 de setembro, é anunciada a maior

apreensão de cocaína no Brasil. A reportagem fala da apreensão de 150 quilos de cocaína

no aeroporto da cidade de Fernandópolis em São Paulo. A cidade era utilizada, devido a

sua proximidade com o Mato Grosso e ao pouco movimento e fiscalização em seu

aeroporto, como escala para a droga que seria distribuída para outras cidades no país e para

os Estados Unidos e Alemanha. Esta mesma reportagem aparece na edição número 6.628,

referente ao mesmo dia, do Diário Popular. As reportagens citadas sobre grandes

apreensões, nos dão um panorama de como o Brasil se encontrava identificado como

mercado consumidor e corredor de exportação para as drogas.

No governo de José Sarney, em 1985 sobretudo, pode-se notar uma intensificação

neste debate. Ao fazermos uma análise das medidas apontadas como prioritárias para o

Governo, da chamada Nova República9, a qual, deveria representar novos rumos ou

tendências para o país, uma vez que se tratava do primeiro governo civil, depois de anos de

Ditadura Militar, se tornar fácil constatar um aparente esforço visando corrigir os

problemas então existentes. Isso pode ser comprovado através da instituição da Comissão

Teotônio Vilela, que tinha como lema: Muda Brasil, e visava apontar ao novo Governo,

soluções para os problemas relacionados a violência. Tal comissão propunha que se

efetuassem as seguintes mudanças: reformulação dos métodos policiais; reforma do

9 Termo utilizado para identificar a mudança de regime político no Brasil. O termo aparece em uma

chamada humorística (a foto colorida de uma mulher nua e escrito embaixo da foto: “Mergulhamos na Nova República.”) do jornal Tribuna do Paraná, edição número 8.147, referente ao dia 18 de março de 1985.

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Sistema Carcerário; controle sobre a produção e comercialização de armas; reforma de

instituições fechadas para menores, idosos e deficientes mentais. Ao se observar a ênfase

que se dá à polícia nas discussões, fica claro que a política do governo pendia mais para o

binômio: mais segurança com maior repressão, que era a posição do discurso oficial,

ignorando as propostas alternativas, que implicariam em mudanças no setor econômico e

maior controle da população sobre os aparelhos repressivos do Estado. Um dado relevante a

este respeito pode ser observado no início do governo de José Sarney, em 1985, quando o

Estado investiu no reaparelhamento da polícia, exigindo em contra partida uma atuação

mais intensa pôr parte desta. Este esforço do governo, visando resolver os problemas

relacionados com a violência, encontra espaço em inúmeras reportagens dos jornais

pesquisados. Na edição número 8.195 da Tribuna do Paraná, referente ao dia 07 de maio,

apresenta, com pouco destaque (em uma página secundária, em uma região secundária

desta página e em um espaço pequeno), uma reportagem a respeito da reunião de

secretários de segurança de todo país e membros da Comissão Teotônio Vilela. O tema da

reunião era o Mutirão contra a violência e o seu objetivo era a elaboração de um

documento de combate a criminalidade. O artigo também identifica a política

centralizadora da Nova República em relação ao assunto. A edição número 6.595 do jornal

Diário Popular, referente ao dia 04 de agosto, anuncia, com pouco destaque (letra pequena

e página secundária), o início do Mutirão contra a violência. Segundo a reportagem o

secretário de segurança pública, Felipe Mussi, atendendo a um convite do ministro da

justiça, Carlos Lyra, estará em Brasília para o lançamento do Mutirão nacional contra a

violência. A reportagem fala também de reuniões anteriores com os secretários de

segurança estaduais, nas quais foram consideradas importantes as propostas do Paraná

visando a institucionalização de um conselho interestadual de segurança pública, que seria

composto por estes mesmos secretários. Anuncia também outras propostas, como a criação

do Fundo Nacional de Segurança Pública para a sustentação de projetos especiais e a

isenção de tributos incidentes na aquisição de equipamentos operacionais, para os estados.

Na edição número 8.287 da Tribuna do Paraná, referente ao dia 08 de agosto, temos a

publicação de uma nota do superintendente da delegacia de polícia federal do Paraná

afirmando que, nos próximos 30 dias seriam enviados 80 agentes de Brasília para reforçar o

efetivo da polícia federal em nosso estado e fazer frente ao crescente tráfico de

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entorpecentes. O que se articularia as diretrizes do governo federal no sentido de diminuir a

violência, a criminalidade e, notadamente, o tráfico e consumo de maconha e cocaína.

Convém mencionar que esta nota encontra um destaque maior (maior espaço e melhor

localização) na referida edição, por se encontrar ligada a um tiroteio no Shopping Müeller,

onde um agente da polícia federal foi baleado. A edição número 6.631 do Diário Popular,

referente aos dias 15 e 16 de setembro, com certo destaque (chamada de primeira página e

letra grande), relata a participação do Paraná no mutirão contra a violência. O texto fala da

discussão da polícia civil do estado, no sentido de auxiliar o plano implantado pelo

presidente José Sarney. Como medidas prioritárias teríamos: a reforma na formação de

policiais, a valorização e rediginificação do policial através de salário dignos e um plano de

carreira, fazendo do policial elemento da paz social. A edição número 8.222, referente ao

dia 03 de junho, com pouco destaque (página secundária e pequeno espaço), divulga a

reestruturação e reaparelhamento da Polinter do Paraná, a qual deixa de ser uma seção da

corregedoria da polícia e passa a funcionar como uma delegacia que deve agilizar o

combate a criminalidade. Tal agilidade deveria ser fornecida por novos recursos

implantados nesta delegacia, recursos tais como: inúmeras seções de investigação e captura,

fichário, telex e terminal de computação de dados criminais. A mesma notícia aparece na

edição número 6.541 do jornal Diário Popular, referente aos dias 02 e 03 de junho,

recebendo idêntico destaque ao outro jornal.

No entanto, tal política, longe de se mostrar eficiente, não só, não diminuiu a

criminalidade, como também tornou os crimes mais violentos, pôr exemplo: declinaram os

furtos e aumentaram os roubos, diminuíram as baixas da polícia, no entanto aumentaram as

baixas de suas vítimas. Neste caso ao observarmos as explicações para este aumento nas

mortes entre as vítimas da polícia, existe um predomínio da expressão resistência a prisão,

o que pode denotar uma verdadeira prática da pena de morte, pôr parte desta instituição.

Uma pista pode ser dada ao observarmos os relatórios policiais, onde se encontra com

freqüência termos segregadores, como desempregado, pardo e amasiado. Pode-se em certa

medida enxergar que a sociedade, pela via dos fatos, está entregando a polícia, poder de

vida e de morte sobre os setores marginalizados desta própria sociedade. O abuso da polícia

encontra referência clara em artigos dos jornais pesquisados. A primeira se refere a

publicação de uma nota do comerciante Libório Doris, na edição número 6.641 do Diário

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13

Popular, referente ao dia 03 de julho. Na nota o comerciante denuncia a violência,

arbitrariedade e distorção dos fatos, realizados pela polícia contra sua esposa e filhas. O

significativo nesta nota é que ela foi redigida e custeada pelo próprio comerciante. A

segunda aparece na edição número 6.597, referente ao dia 07 de agosto, que relata a

agressão de repórteres por policiais, na cobertura de um tiroteio no Shopping Müeller. Esta

mesma reportagem aponta a truculência dos policiais agredindo e arrastando um elemento

já dominado e algemado, a violência também se estendeu aos repórteres que também foram

agredidos e tiveram o seu equipamento destruído. O mesmo fato encontra referência na

edição número 8.286 da Tribuna do Paraná, referente a mesma data.

Segundo a afirmação do Fórum Nacional: A construção da modernidade econômica

e social, publicado em 1994, a política de forte repressão, não só não resolveu o problema

das drogas, como também gerou outros. A partir do início dos anos 80, principalmente

depois de 1983, houve uma estratégia que visava mudar os hábitos de consumo de drogas

ilícitas. Inicialmente exclusivo da maconha, que se achava mais ligada a movimentos

artísticos subterrâneos e a marginalidade dos que não queriam participar do sistema, e

nunca teve importância econômica, passou para a cocaína, pois como a repressão incidia

sobre ambas, o comércio da segunda, seria preferível para os que se dispusessem a

comercializá-la, por gerar lucros maiores. Por outro lado a forte repressão imposta as

drogas, tanto para traficantes, quanto para os usuários, delegou imensos poderes a polícia,

que poderia arbitrar os que eram um caso ou outro, obtendo desta maneira imensos lucros

advindos da corrupção neste setor. Aliás a corrupção, se instalou, nos mais diversos setores

do governo e da sociedade, uma vez que o tráfico debaixo de uma política de forte

repressão, gerava lucros fabulosos. Alguns exemplos são retratados nos jornais

pesquisados. Nas reportagens sobre as operações Eccentric e Máfia II, da polícia federal

brasileira, são apontadas ligações de importantes empresários com o trafico, como Gilberto

Yanes e Nelson Secaf. A edição número 8.348 da Tribuna do Paraná, referente ao dia 09

de outubro, relata, com destaque (chamada de primeira página, letra grande e local

privilegiado da página), que um segurança interno da Penitenciária Central do Estado do

Paraná (PCE), introduzia drogas naquele estabelecimento penal, as quais seriam traficadas

por detentos, possivelmente uma espécie de máfia interna do presídio, para suprir a

demanda interna do local. A mesma notícia encontra referência, com menos destaque (sem

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14

chamada de primeira página, letra pequena e pouco espaço) na edição número 6.651 do

Diário Popular, referente a mesma data.

Se torna fácil observar que, depois de aproximadamente um ano de atuação do novo

governo, a defesa do patrimônio dos setores proprietários se sobrepôs a luta pôr uma

política democrática de segurança pública, demonstrando que a democracia neste sentido,

não saiu dos textos constitucionais e editais da imprensa para a vida real. Como propostas

para aplicação imediatas, constavam: criminalização da tortura e integração do Brasil no

contexto dos acordos internacionais, regionais e globais, que tratam de problemas

referentes aos direitos humanos e à cidadania. No entanto ao final do primeiro ano deste

novo Governo, 1985, ficou claro que poucas mudanças ocorreram, mais claramente, devido

a falta de continuidade e ausência do tema da propaganda do governo. Para confirmar isto

bastar observar as mudanças que ocorreram, a saber: a situação dos presídios piorou devido

a superlotação, que veio com a violência policial e marginal. Sendo que as leis visando

aliviar o problema, como a lei de execuções penais (que poderia libertar inúmeros

detentos), depois de um ano não beneficiou ninguém; na questão dos menores, primaram

iniciativas de direita para endurecer o já bastante rígido Código; um avanço se deu com

relação aos direitos da mulher, com a criação da Delegacia de Proteção a Mulher10; no caso

da tortura, sofreu modificações no seu aspecto político, sendo que aspecto relacionado as

delegacias policiais, nada mudou. Com relação ao caso específico do combate aos

entorpecentes, pode-se notar uma iniciativa no início do governo, quando o Ministério da

Justiça põe em exame, no Conselho Federal de Entorpecentes, o I Plano Nacional de

Combate a Entorpecentes11, para ser discutido na Primeira Semana Nacional de Controle

de entorpecentes, se constituindo desta maneira o marco inicial do debate a respeito da

intensificação da repressão as drogas, uma vez que repressão sempre existiu. Intensificação

que pode ser comprovada através de um balanço realizado pelo Departamento de Polícia

Federal do Paraná, segundo o qual, a apreensão de maconha no Paraná passou de menos de

100 quilos, em 1984, para mais de 04 toneladas em 1985. O que foi fruto do empenho dos

policiais da especializada, que se empenharam com afinco ao trabalho, segundo o delegado

10 O fato recebe referência na edição número 6.706 do jornal Diário Popular, referente ao dia 13 de

dezembro de 1985 e na edição número 8.412 do jornal Tribuna do Paraná, referente ao dia 14 de dezembro do mesmo ano.

11 NOVA república, 120 dias. Brasil. Presidência da República. Brasília: Secretaria de Imprensa e Divulgação, 1985.

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do referido departamento. Este balanço aparece nas seguintes edições: edição número 6.715

do Diário Popular de 24 de dezembro, atrelada a apreensão de um caminhão com maconha

originária do Paraguai; edição número 8.416 da Tribuna do Paraná, referente ao dia 18 de

dezembro, atrelada a notícia da queima de drogas efetuada pela polícia; e a edição número

8.422 do mesmo jornal, referente ao dia 24 de dezembro, atrelada a mesma notícia da

apreensão de um caminhão com maconha originária do Paraguai, publicado pelo Diário

Popular da mesma data. As, já citadas, operações Eccentric e Máfia II, empreendidas pela

polícia federal brasileira contra o tráfico e a produção de cocaína, também atestam a

intensificação na política de repressão.

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3 A IMPRENSA E A VIOLÊNCIA

Outra questão a ser levantada é, por que se intensificou o debate sobre a violência,

incluída aí a questão das drogas, no início da década de 80, no Brasil? Além do motivo

político internacional, podemos identificar outras razões para tanto. Ao analisar a pesquisa

promovida pôr Maria Victoria Benevides em seu livro12, poderemos constatar um aumento

no espaço que a Grande Imprensa, ou seja, aquela direcionada para setores mais abastados

da população, reservará a violência. Esta imprensa que antes se dedicava a discutir temas

ligados a política e reservava um espaço secundário para a violência, passa, a partir do

início da década de 80, a destacar manchetes em primeira página e a dedicar um amplo

espaço aos temas violentos. O exemplo pode ser dado pelo Jornal do Brasil que em janeiro

de 1981, passa a publicar um rubrica especial intitulada Violência, com o mesmo destaque

das rubricas tradicionais como Política e Governo, exemplo que foi seguido pôr outros

jornais, em maior ou menor escala, como A folha de São Paulo e O Estado de São Paulo e

até mesmo por revistas como a Veja. A pergunta é: por que a imprensa que

tradicionalmente não costumava divulgar a violência em suas manchetes, passa a fazê-lo

tão intensamente? A criminalidade cresceu tão intensamente como aponta o noticiário da

imprensa? A autora neste sentido aponta para uma conclusão negativa, sendo que o que

realmente ocorreu foi uma propaganda intensa do crescimento da criminalidade. Tal

propaganda, se relaciona com o aumento da incidência de crimes nos bairros de classe

média e alta, sendo que o principal objetivo seria, caracterizar as classes que deveriam ser

consideradas perigosas, e também, buscar medidas mais duras na repressão a estes crimes,

como por exemplo: a redução da idade passível de punição, para 16 ou até mesmo 14 anos,

e em alguns casos a aplicação da pena de morte. Por outro lado a imprensa costuma

veicular notícias sobre a violência e o arbítrio da polícia, bem como sobre sua corrupção,

sendo assim responsabilizada pelo descrédito destas instituições. Tal abordagem talvez se

12 BENEVIDES, Maria V. Violência, povo e polícia: a violência urbana no noticiário da imprensa.

São Paulo: Brasiliense, 1983.

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justifique, quando a corrupção e a violência destas instituições, se volta contra as classes

mais privilegiadas, por exemplo, através dos seqüestros.

Esta visão que a imprensa possui a respeito da violência, deve ser relativizada, tendo

em vista o seu público alvo, uma vez que, certos segmentos da mídia tem vinculação com

certos segmentos da população. Ao observarmos os chamados Jornais Sensacionsalistas

iremos notar que seu apelo a violência é muito mais antigo e resulta muito mais em um

atrativo, que em uma preocupação com a escalada da violência. A violência é uma

realidade bastante presente, no dia a dia do público alvo destes jornais, sendo este um dos

motivos do interesse neste tipo de noticiário. No entanto esta correspondência com o

cotidiano é potencializada ao fazer se uso de técnicas desenvolvidas com a Indústria

Cultural.

Um outro estudo, realizado pôr Clóvis de Barros Filho, que aparece no livro Violência

em debate13, no capítulo dedicado a violência nos meios de comunicação, reforça a

afirmação quanto ao relativismo do jornalismo informativo. Este autor nos oferece uma

análise detalhada da violência na mídia. Em primeiro lugar, ele chama atenção de que a

violência como espetáculo não é uma exclusividade dos meios de comunicação:

A violência como espetáculo e forma de divertimento não é uma especialidade dos meios de comunicação. A antropologia nos ensina que, nas sociedades ditas primitivas, os combates físicos entre homens e animais, e entre homens de grupos distintos, constituíam-se em rituais em que o aspecto religioso e sagrado (instituição do poder, exorcização de todos os males, etc.) se confundia com a dimensão da diversão propriamente profana. Hoje os meios de comunicação eletrônicos constituem a principal instância de divertimento de nossa sociedade. A televisão comercial, as televisões a cabo, os vídeos, o cinema, os vídeo games, os sistemas de multimídia, que envolvem o uso de computadores, ocupam posição central entre as atividades de “descontração”. Os distintos universos sociais caminham para uma padronização crescente das formas de divertimento e dos conteúdos de entretenimento propostos. Nesse sentido, a violência permanece um conteúdo temático ultrapresente no mercado de ficção laser14.

A partir daí já se pode observar, alguns efeitos que podem adquirir conotação negativa.

Afirma que a exposição excessiva a temas violentos, mesmo que ficcionais, como seriados

policiais norte-americanos por exemplo, pode levar certos indivíduos a acreditarem estar

vivendo em uma sociedade mais violenta do realmente é. O que esta acontecendo é um

13 KUPSTAS, Márcia (Org.) Violência em debate. São Paulo: Moderna, 1983.

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processo de inculcação15, onde a recepção contínua e ritualizada, faz crer em um mundo

que não existe. O efeito será maior quanto menos crítico for o receptor. Por outro lado o

tema da violência não irá se limitar a mídia ficcional, sendo que a informação presente nos

jornais, contém também forte carga de conteúdo violento, só que neste caso, os

componentes de ficção, se encontram mascarados em uma pretensa objetividade de

informação. A argumentação de que os meios de comunicação se limitam a retratar uma

realidade violenta, sendo que desta maneira atendem a uma demanda social que busca o

conhecimento da realidade, faz parte de uma legitimação de certo produto jornalístico e da

conseqüente desligitimação de outros, os quais, estariam apresentando uma visão artificial

dos fatos, devido a sua falta de coincidência com o que realmente acontece. Em

contrapartida os setores mais tradicionais costumam rotular estes segmentos como

sensacionalistas. A verdade é que nem o sensacionalismo, apontado pelos críticos, nem o

realismo sustentado pelos seus produtores, correspondem a realidade da reportagem

policial. Os defensores de jornais de cunho policial, defendem que somente estes

reproduzem a realidade, sendo que os produtos da imprensa tradicional, resultam de uma

seleção arbitrária de temas que deformariam a realidade, apresentando, de forma mais ou

menos intencional, um mundo mais ameno e menos violento. Argumento este que a priori

não se sustenta, uma vez que, não há coincidência entre o fato e a reportagem nem mesmo

no jornalismo policial. Pode-se dizer que o jornalismo policial se aproxima, mais do que

imagina o senso comum, das obras de ficção , como novelas e seriados, pois, a notícia

apresentada, de conteúdo violento ou não, representará um mundo possível, entre muito

outros mundos possíveis, que foram preteridos. Sendo que neste sentido é eticamente mais

condenável que a violência na ficção, que é produzida e consumida tendo em mente o seu

caráter ficcional, ao contrário a mídia informativa parte de uma premissa tática de respeito

ao real, presunção de veracidade e objetividade, levando o receptor ao erro. O autor nos

aponta inúmeros detalhes16, que podem favorecer a escolha dos assuntos a serem

14 KUPSTAS, Márcia (Org.) Violência em debate. São Paulo: Moderna, 1983. p. 98. 15 Este processo de inculcação através do consumo de produtos ficcionais estrangeiros com forte

conteúdo de violência, já aparece nas preocupações da UNESCO , desde 1970, quando foi abordado em um Colóquio sobre a violência nos meios de comunicação.

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apresentados na mídia policial. O produto informativo que é aparentemente objetivo,

produz a sensação no receptor de que o trabalho jornalístico de produção de notícias é

neutro, ou seja simplesmente descreve um acontecimento. Visão esta que é reforçada pôr

um conjunto de técnicas jornalísticas. A objetividade aparente se constitui a base da

legitimidade e da credibilidade que os segmentos informativos têm para continuar

informando.

A ação do meios de comunicação sobre a sociedade se processa em duas etapas,

primeiro agendando o tema violência como assunto de discussão imediata e segundo,

construindo, através da recepção ritualizada , um universo simbólico, que a longo prazo,

promoverá a aculturação do receptor. Ao priorizar conteúdos violentos, muitas vezes

visando uma maior audiência, os meio de comunicação fazem com que se creia estar

vivendo em uma sociedade mais violenta, ou diferentemente violenta, do que é na

realidade. Desta maneira se torna possível afirmar que o próprio fenômeno da

criminalidade é fruto de uma reconstrução social, implementada pelos meios de

comunicação. Derivando daí o interesse em observar que tipo de reconstrução foi efetuada

com relação ao tema das drogas e a intensificação na repressão as mesmas.

16 Um exemplo é dado pelo autor a respeito de um estudo feito pôr Johnstone, Hawkins & Michener

sobre a cobertura policial de dois jornais de Chicago, foi estudada a cobertura jornalística de todos os homicídios cometidos no ano de 1987. Dois terços dos 684 homicídios não foram noticiados pôr nenhum dos jornais, sendo que as chances de serem noticiados, melhorava de acordo com os fatores de mediatização, como nos casos em que o crime envolvia mais de uma vítima ou quando o agressor era homem e a vítima mulher. Um outro estudo citado no texto do autor, aponta para o fato de que apesar dos homicídios representarem 2 por cento dos crimes registrados na polícia de Chicago, mais de 25 por cento dos artigos sobre a polícia nos jornais relatassem mortes violentas não acidentais. KUPSTAS op. cit., p. 103.

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4 OS PRESSUPOSTOS DA IMPRENSA

Com relação ao Jornalismo, me pareceu importante discutir alguns de seus

pressupostos, como forma de complementar o entendimento da Imprensa de uma forma

geral. No livro a respeito de jornalismo de José Marques de Melo17, nos deparamos com

uma análise detalhada sobre o assunto. Inicialmente o autor divide o jornalismo em duas

categorias predominantes e distintas: Jornalismo Informativo, que começa a assumir a

hegemonia a partir do final do século XIX, e Jornalismo Opinativo, que tem seu espaço

consequentemente reduzido, ficando circunscrito aos espaços Editoriais. Com relação aos

gêneros de informação e seus núcleos emissores se fazem necessárias algumas observações.

Desde o momento em que a imprensa deixou de ser um empreendimento individual, para se

tornar uma instituição, uma instituição complexa, a qual, irá contar com equipes de

assalariados e colaboradores, a expressão da opinião fragmentou-se seguindo tendências

diversas e em alguns casos conflitantes. O que decorre do processo de produção industrial,

uma vez que a realidade captada e relatada condiciona-se a perspectiva de observação dos

diferentes núcleos emissores. As empresas jornalísticas buscam, se não o controle, ao

menos a supervisão e o acompanhamento das etapas que transformam em notícia os

acontecimentos que surgem e refletem o dinamismo da sociedade. Em virtude de razões de

mercado, o jornalismo industrial irá comportar diferenças de perspectiva na apreensão e

valoração da realidade. Não chega a significar uma pluralidade, já que toda instituição

conta com uma linha editorial que, através da seleção de informações (pauta, cobertura,

copidesque) entrelaça e dá sentido ao fluxo noticioso. A valoração dos acontecimentos

concretiza-se através dos gêneros opinativos e emerge de quatro núcleos: a) empresa, b) o

jornalista, c) o colaborador e d) o leitor.

17 MARQUES DE MELO, José. A opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1985.

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A opinião da empresa, além de se manifestar através do conjunto de orientação

editorial (seleção, destaque, titulação) aparece oficialmente no editorial. Normalmente os

jornais dedicam apenas 2% de seu espaço as suas opiniões oficiais, mesmo assim o fazendo

com cautela. A opinião do jornalista, entendido como profissional da empresa, aparece sob

a forma de comentário, resenha, coluna, crônica, caricatura e ocasionalmente artigo. Os

repórteres podem ser de dois tipos: a) de setor, inseridos no meio da informação, como por

exemplo: aqueles dos distritos policiais e os b) de rua, que cobrem assuntos variados. A

opinião do colaborador, geralmente uma personalidade representativa da sociedade, aparece

sob a forma de artigos. E o leitor, através das cartas. O editorial expressa a opinião das

forças que mantém a instituição jornalística e convém indagar a quem se dirige a sua

mensagem. Como pretende orientar a opinião pública é claramente direcionado a

coletividade. Sendo que isso só funcionará em sociedades com opinião pública autônoma, o

que não é o caso da sociedade brasileira, onde na realidade o que vigora é uma relação de

diálogo com o Estado, tendo em vista que este se encontra inserido em todos os níveis da

vida social, direta ou indiretamente.

Com relação a opinião dos jornalistas, algumas considerações a este respeito se

fazem necessárias. O comentário é conduzido geralmente por um especialista, com vasta

bagagem cultural. Atua como formador de opinião, realizando uma apreciação valorativa

de determinados fatos. Ao passo que o editorial se adstringe a emissão de opiniões sobre os

fatos de maior importância, o comentário examina fatos também importantes, no entanto,

de menor abrangência e com independência em relação à linha editorial. Com relação ao

artigo o conceito que mais se aproxima da realidade , no caso do Brasil, é o de que seja este

um escrito de forma variada, que interpreta, julga ou explica um fato ou idéia, de acordo

com a conveniência do articulista. Se diferenciando do comentário por não abranger

exclusivamente o cotidiano, mas sim o momento histórico vivido. A resenha ou crítica

corresponde a uma apreciação das obras-de-arte ou produtos culturais, orientando os

fruidores ou consumidores. A coluna corresponde a um jornalismo pessoal, vinculado

intimamente ao seu redator, apesar de seu aparente caráter informativo, se configura na

prática uma seção que emite juízos de valor, ora com sutileza, ora ostensivamente. A

própria seleção de fatos e personagens já revela o seu caráter opinativo. A crônica pode ser

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descrita como uma narração direta de um fato, mesclado de elementos considerados

secundários a narrativa em si e que no entanto, são valorizados a partir da percepção

pessoal do redator. Quanto a caricatura, visa atingir o leitor de forma diversa, utilizando

para tanto, a imagem e o humor.

Quanto as classificações no caso brasileiro, o único pesquisador a se preocupar

sistematicamente com o assunto foi Luiz Beltrão, distribui-o em três categorias:

Jornalismo Opinativo, Jornalismo Interpretativo e Jornalismo Informativo. Esta

classificação atende a um critério funcional, segundo o qual, é a função que desempenham

junto ao publico leitor, ou seja: informar, explicar e orientar. Definiu a sua classificação e

estabeleceu os seus limites e distinções entre as matérias, vinculadas pôr estes jornais.

Quanto a crônica que é um elemento constante nos Jornais Sensacionalistas, Luiz Beltrão18,

nos oferece uma classificação interessante, ligada ao tema, levando em consideração a sua

natureza e ao tratamento dado. Classifica com relação a natureza do tema, três formas de

crônicas: crônica geral, representadas pelas colunas ou seções especiais, onde o autor

aborda assuntos variados; crônica especializada, também chamada de comentário, focaliza

assuntos referentes a um campo específico de atividade, como os esportes pôr exemplo; e

crônica local, conhecida também como urbana ou da cidade. O autor glosa a vida cotidiana,

como receptor e orientador da opinião pública, residindo neste último tipo de crônica, a

área de maior interesse. Quanto a forma de tratar o tema, na crônica, o autor nos apresenta

também três classificações possíveis: Analítica, onde os fatos são apresentados com

brevidade e logo dissecados com objetividade; Sentimental, onde predomina o apelo a

sensibilidade do leitor, são marcados pôr aspectos: líricos, épicos, pitorescos, capazes de

comover e influenciar a ação do leitor, num impulso quase inconsciente; Satírico-

humorísitica, onde o objetivo é criticar, ridicularizando e tem como finalidade advertir ou

entreter o leitor. Por outro lado, alguns elementos devem ser observados com relação aos

mecanismos da expressão opinativa, como: a direção ideológica, a linha editorial, os filtros

e a conotação jornalística, através dos títulos e manchetes, sendo que este último aspecto

também se encontra permeado por características similares as atribuídas as crônicas.

Os mecanismos intervenientes no processo de seleção das unidades informativas

são: pauta, cobertura, fontes e o copidesque.

18 BELTRÃO, Luiz. Jornalismo Opinativo. Porto Alegre: Sulina, 1980.

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Pauta é uma das contribuições do jornalismo norte-americano ao jornalismo brasileiro

e se caracteriza por um roteiro destinado a pré-seleção das informações a serem publicadas.

Funciona como uma previsão dos acontecimentos do dia seguinte, é através dela que se

distribui as tarefas aos profissionais da redação, sejam eles repórteres, redatores e editores.

Isto possibilitou um maior rigor nas informações que fluíam para o jornal, por outro lado,

limitou a ação criativa dos repórteres, uma vez que seu trabalho se orienta pelas prescrições

do pauteiro. A pauta não é apenas um conjunto de temas ou assuntos a serem observados

pelos jornalistas, mas uma indicação dos ângulos através dos quais os acontecimentos

devem ser revelados ou relatados. Este comportamento decorre do fato dos jornalistas

brasileiros, contarem com uma remuneração inferior a dos jornalistas norte-americanos, que

com isto tem a possibilidade de uma formação melhor, sendo que naquele país a ação do

pauteiro é mais limitada, de forma diferente do nosso, aonde muitos aspectos são confiados

a repórteres iniciantes e sem experiência, sendo que até certo ponto esta intervenção se

justifica. Clóvis Rossi19 identifica a função da pauta como filtro ideológico no processo de

produção jornalística, apontando algumas distorções:

1. A pauta é elaborada a partir do que publicam os jornais, sendo feito um

acompanhamento de suas notícias publicadas, sendo extraídas deste fluxo as novas

ocorrências ou seus desdobramentos. Criando-se desta maneira uma auto alimentação.

O que fugir a esta percepção deixará de ser objeto de informação jornalística. O que

escapa deste quadro, chega através dos serviços de press release, ou seja, informações

orientadas por aqueles que se interessam em sua divulgação.

2. A pauta refletirá a idealização dos que permanecem na redação e portanto sem contato

direto com os fatos ou protagonistas das notícias, o que ocasiona uma deformação

perceptiva. Algumas instituições tentam neutralizar esta distorção, admitindo, ainda que

eventualmente, recomendações dos repórteres.

3. A pauta é decidida e discutida pelos setores de chefia e dirigência da empresa, os quais

se encarregam de orientar a opinião do veículo.

4. A pauta condiciona o repórter, limitando sua criatividade, sendo que o repórter se vê

obrigado a seguir as orientações da chefia, quase sempre prevalecendo a opinião desta.

19 ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo. São Paulo: Brasiliense, 1980.

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O papel do filtro informativo /ideológico desempenhado pela pauta, é complementado com

o acionamento do sistema de cobertura.

A cobertura se trata de uma estrutura organizada, visando acompanhar o que está

acontecendo na sociedade, não implicando necessariamente na produção de matérias, mas

promovendo uma familiarização com os fatos e personagens, obtendo desta maneira

elementos que irão orientar as decisões jornalísticas da própria empresa. O sistema de

cobertura corresponde a fator decisivo na seleção de informações, pois privilegiando certas

organizações ou núcleos da sociedade e omitindo outros, a empresa promove a exclusão de

vastos setores da vida social do fluxo noticioso. Isto pode conduzir a legitimação dos

núcleos de poder, passando a cobrir a parcela marginalizada, geralmente os setores

populares, somente em casos de grande repercussão (greves, acidentes, catástrofes, etc.),

assumindo um caráter elitista, o que explica, ao menos em parte, a baixa tiragem dos

jornais brasileiros. Outro aspecto a ser considerado na cobertura é a passividade de certos

repórteres, encarregados de cobrir determinados setores, aceitando, sem a devida

confrontação, a versão dos informantes principais. Sendo que esta brecha tem sido usada

habilmente por assessorias de imprensa para plantar notícias, as quais, somente irão

adquirir significado porque os fatos são precipitados pelas informações divulgadas.

Passando, a partir daí, a tratar de um outro fator que influencia no processo de seleção

informativa, a fonte.

As fontes podem ser de três tipos: próprias, contratadas e voluntárias. As fontes

próprias correspondem ao serviço noticioso mantido pela empresa: correspondentes,

sucursais e reportagem local. Quanto maior for, melhor será o controle que terá a

organização jornalística no processo de seleção das notícias, uma vez que seu pessoal irá

seguir as orientações da pauta. Por outro lado, quanto menor for a estrutura destas fontes

próprias, maior será a dependência de fontes externas, aumentando o risco de ter a sua linha

editorial manipulada por núcleos de interesse que atuam como grupos de pressão social. As

fontes contratadas são as agências informativas, especializadas na cobertura de fatos

nacionais ou internacionais, sendo que estas organizações acabam se configurando em

focos de poder político , uma vez que controlam o que se publica ou deixa de ser publicado.

Uma maneira de restringir a dependência das fontes contratadas é contar com mais de uma

fonte, permitindo uma confrontação de dados. No caso brasileiro, somente as grandes

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empresas jornalísticas contam com o serviço de várias agências noticiosas, sendo que a

grande maioria, por questões financeiras, conta com apenas uma agência nacional, no

entanto isto está mudando com a expansão da Internet, que está facilitando e barateando o

acesso a várias agências informativas. O que ainda permanece é um fluxo noticioso dos

grandes centros metropolitanos (Nova Iorque, Paris, Londres) para os pólos nacionais de

concentração jornalística (Rio e São Paulo) e a partir daí para o resto do país, desta maneira

sofrendo uma influência que, muitas vezes, a diferenciará da política editorial da empresa

jornalística local. Quanto as fontes voluntárias, estas funcionam a partir dos serviços de

relações públicas ou assessorias de imprensa, montadas por empresas estatais, corporações

privadas, órgãos governamentais e até mesmo pelos movimentos sociais. sua atuação visa

lograr a divulgação de assuntos de seu interesse, se apoiando no princípio que a divulgação

de notícias relacionadas com um personagem ou instituição contribuem para forjar a sua

imagem pública, a qual se solidificará a medida que esta divulgação for contínua. Mais do

que projetar um nome, sigla ou marca, tais fontes tem a intenção de direcionar a ótica das

instituições jornalísticas. Tais fontes são utilizadas pelas grandes empresas como

referencial na confecção de sua pauta, sendo que, por outro lado nas pequenas empresas o

aproveitamento deste material se faz de forma integral. O aproveitamento destas brechas

editoriais se constitui uma política deliberada das instituições vinculadas aos centros de

poder, com o atenuante de que, em tempos mais recentes os movimentos sociais brasileiros

tem recorrido ao mesmo mecanismo, o que pode ser comprovado pelas greves operárias no

ABC.

Decidir a que fontes externas recorrer, se constitui uma das dimensões da política

editorial, que está atrelada as operações comerciais da empresa.

De forma complementar à filtragem que ocorre no processo de previsão e seleção

das informações, ainda existe um dispositivo eficiente que cumpre o papel de microfiltro, é

o copidesque. Este se constitui tecnicamente como um recurso editorial para a unificação da

linguagem utilizada, e no caso específico da imprensa, para a correção de eventuais deslizes

na gramática. Cabendo a um jornalista experiente, envolvido neste trabalho, a função de

reescrever as matérias escritas por outros profissionais da empresa. Na prática se constitui

em um mecanismo final de vigilância que dispõe a instituição jornalística sobre o que

publica. Além disto o reescrevedor escreve a partir de relatos, muitas vezes à distância,

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confere os dados, indaga sobre os detalhes interessantes e por fim acrescenta a sua

experiência. Também investiga fatos interessantes em meio a volumosos inquéritos.

Atualmente este serviço se encontra fracionado entre o redator que verifica e corrige

deslizes com relação a linha editorial e o revisor que verifica e corrige deslizes gramaticais.

O jornalista Fraser Bond em seu livro introdução ao jornalismo20, nos oferece

algumas informações adicionais interessantes com relação aos leitores e ao jornalismo em

si. Primeiramente, identifica nos leitores a busca pela satisfação, ao menos em parte, de

suas frustrações, sendo que maioria destas são de natureza afetiva e sexual. Em segundo

lugar aponta alguns elementos que se fazem necessários com vistas a atrair o interesse do

leitor.

Segundo dados publicados pelo autor, a proximidade com o seu mundo, é um dos

fatores preponderantes. O gênero humano se constitui a área de maior interesse para o leitor

comum. Quanto mais próximo, maior será o interesse, mesmo que de menor importância

global. Grandes notícias, exceto os grandes acontecimentos, interessam a apenas 10% dos

leitores.

A manutenção das novidades é outro fator importante, seja através de notícias novas

ou escritas de forma diferente, onde a principal virtude é fazer uso de palavras novas e

contundentes.

A objetividade, visa identificação com o leitor, fazê-lo participar, através de

perguntas.

O ritmo, que irá impor uma série de regras, tais como: palavras curtas, prevalecem

sobre as longas; repetição dos nomes ao invés do uso de pronomes e o uso de verbos

atrativos, evitando construções passivas, que são eliminadas na revisão.

Por último a variedade deve ser observada, como por exemplo: evitar a repetição de

palavras; tomar cuidado com o ritmo das frases e a disposição da página; os elementos

componentes da matéria também devem ser observados, como as frases usadas e o tamanho

das letras; o estilo será composto de metade de criação e a outra metade, imitação de

modelos de sucesso comprovado.

20BOND, F. Fraser. Introdução ao Jornalismo. Rio de Janeiro: Agir, 1962.

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Outros elementos a considerar. Com relação ao tamanho, interesse pelo muito pequeno

e , principalmente, pelo gigantesco. A importância tende a ser reduzida, não basta ser

importante, tem que ser interessante também. Elementos de interesse na notícia:

1. Interesse próprio - similaridades com o leitor.

2. Dinheiro - ricos e pobres.

3. Sexo – crime e romantismo.

4. Conflitos.

5. O incomum.

6. Culto a fama e aos heróis.

7. Expectativa – esperar o desfecho.

8. Interesse humano – histórias que despertam emoções.

9. Acontecimentos ligados a grandes grupos – igrejas, comunidades, etc.

10. Disputa – sobrevivência.

11. Descobertas.

12. Crime.

O conflito está presente em média em 80% das maiores reportagens anuais, se

configurando em um elemento–chave.

O lead, que via de regra é localizado no primeiro parágrafo, sendo de vital importância

na matéria, serve para se ter uma visão geral da matéria publicada e constitui em outra

forma de chamariz. O mesmo se apresenta de inúmeras formas (descritivo, apelativo, etc.),

cada uma delas fazendo uso de artifícios específicos para atrair o leitor. No seu formato

clássico, a reportagem será composta inicialmente por um lead climático e em seguida pela

história propriamente dita. Na prática, a reportagem pode ser representada por um triângulo

invertido, onde os elementos mais importantes, aparecem no início, consequentemente

recebendo maior espaço, sendo seguidos pelos elementos secundários, ternários, etc. É

claro que podem ocorrer variações, alguns modelos podem ser organizados de forma

cronológica, com o clímax ao final ou com o lead destacado no início.

O formato da página também é importante, sendo que no nosso caso é utilizada para

facilitar a leitura, a tradição ocidental de movimento ótico. A pagina é composta por várias

zonas de visualização, as quais, devem ter suas características conhecidas, como forma de

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otimizar o espaço desta. As duas zonas principais (primária e secundária) são constituídas

pelo canto superior esquerdo e canto inferior direito, bem como a linha transversal que liga

ambos, incluído aí o centro geográfico, por se tratarem do eixo normal seguido pelo leitor

ao observar o jornal. Os outros cantos, bem como o centro ótico (um pouco acima do

geográfico), são consideradas zonas mortas, sendo imprescindível para o sucesso da

publicação, que sejam preenchidos com elementos atrativos. A legibilidade se constitui

outro fator, onde o formato (tamanho, cor, etc.) são elementos a serem considerados, como

exemplos podemos citar: o branco como suporte, com o preto sobreposto impresso, que

causa um efeito positivo e serve a reprodução de mensagens; ou o inverso, que fornecerá

um efeito negativo, servindo de adorno em arranjos gráficos, como forma de atrair atenção,

devendo no entanto ser usado de forma moderada e em locais apropriados. Paralelamente

deve-se ter cuidado com os termos utilizados, leiturabilidade, como forma de provocar

certo impacto. Os espaços (margens, divisões, destaques) são igualmente importantes na

composição de uma página agradável, via de regra somente 50 % do espaço disponível

deve ser ocupado, o que aparentemente parecerá mais, cerca de 60 %.

Um outro aspecto a ser levado em conta é questão dos títulos e manchetes. A

expressão opinativa ocorre também através do mecanismo de projeção ou redução das

unidades redacionais. Uma matéria que aparece na primeira página ou recebe algum

destaque, exercerá maior influência. Estas informações destacadas irão desempenhar um

papel importante na visão de mundo dos seus leitores.

Com relação aos jornais diários, a organização da primeira página tem caráter

determinante. A primeira página, muitas vezes segue um padrão definido, se configurando

em uma espécie de espelho da publicação. Como exemplo podemos utilizar os jornais: O

Estado de São Paulo, caracterizado por poucas fotos e a separação dos diversos itens por

fios, muito pouco utilizada; no Jornal do Brasil temos uma seção de classificados em L na

primeira página; em O Globo encontraremos a variedade como identidade visual. A

maioria das publicações deste gênero recorrem a um recurso narrativo denominado

anúncio da notícia, o qual, se constitui em um texto resumido na primeira página e se

constitui uma chamada para a notícia em outras páginas do jornal. Articulado a este

contexto de anúncio da notícia encontra-se o recurso da titulação.

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O título não é tarefa do repórter, mais sim do reescrever e funciona como um

chamariz. O título além de suas funções técnicas (anunciar a notícia e resumir o conteúdo) e

estéticas (propiciar um visual agradável à página), possui, por si próprio, um potencial

orientador, uma vez que pode indicar a importância relativa da notícia. Muitos jornalistas

condenam esta editorização do título, pregando a objetividade deste, o que é muito difícil,

pois implica em diferenciar o limite entre a informação e opinião. Por mais objetiva que

seja uma informação, no sentido de registrar fatos verdadeiros, reais, a sua percepção

dependerá do prisma da observação. Sendo que uma mesma notícia, aparecerá de forma

diferente, em diferentes jornais. A notícia dá sentido ao fato; o título, ao refleti-lo, também

sugere esse sentido. Os títulos e machetes, assim sendo, irão se apresentar de dois tipos: a)

os que emitem claramente uma opinião; b) os que dissimulam o conteúdo ideológico.

Sendo que, enquanto os primeiros são peculiares a jornais de combate, os segundos se

encontram articulados a empresas com caráter comercial. Segundo o pesquisador Luiz

Beltrão21 se examinarmos a manchetes de primeira página de um jornal, será possível

discernir a sua personalidade política e a sua comparação entre si, torna possível identificar

as matizes existentes na sociedade, bem como ao analisarmos sua trajetória no tempo, torna

possível avaliar a sua coerência. Na imprensa que transforma a notícia em mercadoria,

procuram impostar uma certa imparcialidade, sendo que esta se dissolve nos momentos de

polarização da opinião, quando o jornal se vê obrigado a tomar um posição. Mas

normalmente impera a ambigüidade, ou seja, imprime-se sentido aos fatos através dos

títulos, no entanto, com cautela. Um dos artifícios utilizados pelo jornal para encobrir, nos

títulos, uma posição revelada no texto, é a ênfase. Os recursos mais utilizados neste sentido

são: a) interrogação, que funciona como chamada, tendo pouca carga semântica; significa

um ponto de vista subjetivo; nunca é repetido no texto. b) exclamação, que indicará um

estado de espírito em relação ao tema, sugerindo aprovação ou revelando espanto. c)

negação, trata-se de uma afirmação negada; funciona como uma chamada carregada de

subjetividade; apresenta um evento que não ocorreu, por isto espanta. d) aspas, põe em

relevo as declarações de alguém, com quem o jornal concorda ou quer polarizar, justamente

destacando. e) sublinhamento, colocação de fios embaixo das palavras-chaves ou a

utilização de caracteres diferentes para destacar. f) transbordamento, disposição do título

21 BELTRÃO, Luiz. Técnica de Jornalismo. Recife: ICINFORM, 1963.

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em número de colunas superior ao espaço usado pelo texto no conjunto da superfície

impressa. A ênfase consiste portanto no uso de intensivos, de processos de reforço

destinados a colocar em destaque um ou vários elementos de um enunciado, exagerando-o,

acentuando-o, portanto visado aumentar o valor ou

impacto afetivo de um enunciado.

No caso dos Jornais Sensacionalistas, Os títulos e manchetes me parecem o aspecto

mais interessante, uma vez que o contato com certas informações destacadas desempenha

um papel decisivo na formação da visão de mundo que quotidianamente o cidadão obtém.

Um outro fator discutido pelo autor, que para mim encerra vital importância, haja visto, a

linha do meu projeto, que é enxergar na Imprensa Sensacionalista o reflexo de determinada

política, no caso a repressão as drogas, governamental ou até mesmo social, reside na fonte

utilizada no caso da informação criminal. A fonte neste caso incidirá decisivamente no

produto final da reportagem, neste caso a principal fonte é a polícia. O fato é que a fonte,

sempre exerceu papel importante no sistema informativo, podendo se comparar, sem medo

de exageros, o poder de manipulação da fontes, com o do jornalista e da opinião pública.

Em inúmeros casos as fontes fornecem ao jornalista o produto mediático quase pronto,

cabendo a este apenas lhe dar forma.

Segundo o estudo do jornalista Clóvis de Barros Filho, a Imprensa Sensacionalista,

com relação ao noticiário policial, tem como principal fonte de informações a própria

polícia, a qual reproduzirá, em certa medida, o discurso dos órgãos oficiais do Governo,

influenciando desta maneira, este tipo de Imprensa. Sendo possível a partir daí fazer uma

leitura da repressão, que aconteceu no período considerado.

Esta relação se constitui em uma dependência mútua. Por um lado o jornalista

necessita da informação e da legitimidade conferida pela competência específica da fonte,

sendo que no caso da reportagem criminal, a fonte policial possui uma especificidade

indiscutível, a qual é reforçada pela participação do policial na trama. Em contrapartida o

policial tem seu trabalho valorizado e reconhecido, através da divulgação da mídia,

contando em certa medida com momentos de fama. A influência da fonte sobre a

reportagem do crime, torna o jornalista divulgador autorizado da cultura policial, podendo

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aí se encontrar o reflexo da política de repressão do Governo, uma vez que, quase sempre, o

discurso da policial se encontra atrelado a diretrizes impostas pelo governo22.

22 Ao observarmos um levantamento, com relação as opiniões a respeito das causas e soluções para o

fenômeno da violência, Maria Victória Benevides aponta duas linhas de pensamento: os de cunho oficial e os

de cunho alternativo. Teremos como representantes do pensamento alternativos ( associações da sociedade

civil, juristas, advogados, profissionais do Direito, representantes de partidos políticos e movimentos sociais,

analistas políticos ou especialistas das áreas de Ciências Sociais), e suas opiniões identificam as causas da

violência no conjugação de três fatores: o modelo econômico responsável pelos desequilíbrios e injustiças

sociais; a violência e o arbítrio da própria polícia; as deficiências e erros do sistema carcerário e também as

falhas da Justiça e do Direito Penal, marcados pela discriminação contra os pobres e marginalizados. No caso

do discurso oficial ( autoridades do Executivo e Legislativo comprometidas com o sistema político vigente e

autoridades civis e militares vinculadas a área de Segurança e Justiça) as causas discutidas são: sócio-

econômicas, como a migração caótica e o inchaço urbano, mas sem crítica ao modelo econômico vigente; a

responsabilidade da polícia, pôr omissão ou despreparo, mas principalmente, falta de recursos; as disposições

inatas do criminoso e própria responsabilidade da sociedade, passiva e negligente.

Quando as soluções podem ser diferenciadas e dois grupos: primeiro as vinculadas ao discurso

alternativo, preocupadas com segurança e justiça, para quem as soluções apontadas passariam pela

reformulação do modelo econômico e autonomia do Judiciário associada á reestruturação da polícia. Em

segundo lugar as vinculadas ao discurso oficial, mais preocupadas com segurança e repressão, onde o

aumento de uma esta vinculado ao aumento da outra, e cujas soluções se referem ao desempenho da polícia,

propondo-se aumentar o policiamento fardado; maior rigor nas penalidades e ampliação dos recursos

materiais. BENEVIDES op. cit., p. 30.

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5 A PESQUISA

A pesquisa privilegia a análise, levando em conta as técnicas jornalísticas

discutidas, do material referente as drogas publicado nos citados jornais, no período

abordado. Será dada ênfase não só ao texto publicado, bem como a sua forma e ao local

onde se encontra no jornal, uma vez que, procedendo desta maneira será possível obter

informações suplementares e de vital importância no entendimento da visão deste tipo de

veículo de informação. Neste sentido a maior importância recai sobre a primeira página,

sem esquecer as demais, por esta se encontrar mais permeada por este tipo de informação.

O período pesquisado corresponde ao primeiro ano do governo de José Sarney, ou

seja, de março até dezembro de 1985, por se identificar nele, com um regime democrático

novamente no poder, uma iniciativa com relação ao agravamento do problema das drogas.

Agravamento este que, apesar de gerar preocupação, não sucinta nenhuma iniciativa nova e

específica no governo militar de João Batista Figueiredo, no final da Ditadura Militar.

Período este cujo contexto já foi abordado no capítulo inicial.

Os jornais que foram utilizados na pesquisa, Diário Popular e Tribuna do Paraná,

privilegiarão o binômio noticiário policial e esportivo, podendo desta maneira serem

enquadrados como sensacionalistas segundo os critérios adotados. Ambos são matutinos

diários publicados na cidade de Curitiba, estado do Paraná, estando, devido ao local onde

são publicados, melhor identificados com a dimensão local do tema abordado e se

articulando com a análise pretendida. Podendo contribuir de forma significativa para

identificar a visão da Imprensa da cidade de Curitiba sobre a repressão as drogas no período

considerado, que é o objetivo deste trabalho.

Os jornais pesquisados apresentam, no período pesquisado, as seguintes

características físicas:

O jornal Tribuna do Paraná apresenta, no período pesquisado, o formato descrito a

seguir. O tamanho da folha é o tradicional, o mesmo das demais publicações do gênero. O

jornal é todo editado em preto e branco, utilizando para destaques o vermelho, na maioria

absoluta dos casos, e o cinza. Apresentando também, salvo raras exceções, todas as fotos

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em preto e branco. Esta combinação de cores pode ser identificada como a sua identidade

visual. É composto de doze páginas onde as publicações se distribuem da seguinte

maneira: Primeira página, dedicada as matérias mais importantes publicadas pelo jornal,

nela se encontram as chamadas de notícia para as outras páginas, o que prevalece é o

noticiário policial e esportivo. A Segunda página é composta pelo noticiário de economia e

política, contendo a coluna O bolso e a vida do jornalista Ilson Almeida, apresentando

também as Tribuninhas e o setor de obituário. A terceira página apresenta o noticiário

político e econômico, recebendo algumas notícias que foram destaque de capa, como no

caso da doença de Trancredo Neves. A Quarta página é composta por variedades, como

informes sociais, horóscopo e a programação de cinema e teatro. A Quinta página apresenta

variedades como a programação da televisão, entretenimento através de palavras cruzadas,

algumas notícias curtas e duas colunas Juiz de plantão e cronologia histórica. A sexta

página é composta pelo noticiário policial, sendo aí que encontram recorrência as chamadas

de notícia presentes na primeira página e referentes ao setor policial. A sétima, oitava e

nona páginas são compostas pelo noticiário esportivo. A décima página é composta pelos

classificados populares e notícias gerais. A décima primeira página é composta de

classificados populares e noticiário esportivo. A última página é composta pelo noticiário

esportivo e uma coluna de humor As triboladas. No período pesquisado o jornal não

apresentava variação entre o seu formato para dias da semana e para o fim de semana. Fica

claro pela descrição que as páginas de maior interesse para a pesquisa, neste jornal, são a

primeira e a Sexta, e ainda a terceira e quinta (devido a alguns destaques de capa).

O segundo jornal pesquisado, Diário Popular, apresenta no período pesquisado, o

formato descrito a seguir. O tamanho da folha segue o padrão clássico para publicações do

gênero. O jornal é publicado todo em preto e branco, sendo utilizado o azul para os

destaques, compondo a sua identidade visual, apresenta, igualmente a Tribuna do Paraná,

quase todas as fotos publicadas em preto e branco. Uma diferença notável pode ser

observada com relação as fotos utilizadas pode ser observada, neste veículo além de serem

utilizadas fotos mais impactantes, é feito o uso de fotos maiores, assim como títulos

maiores, o que provoca a impressão de que a área escrita é menor, podendo isto ser

classificado como um recurso atrativo diferente. Algumas vezes as áreas mortas da

primeira página são preenchidas com mulheres semi nuas, como técnica de valorizar estes

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espaços, o que também pode ser observado no outro jornal pesquisado. O jornal é composto

de oito páginas, que apresentam as seguintes características: A Primeira página é dominada

por chamadas referentes ao noticiário policial e esportivo, com pequenos destaques para a

política e a economia. A segunda é composta pelo noticiário geral. A terceira e quarta

páginas pelo noticiário político. A quinta pelo noticiário esportivo. A sexta pelo noticiário

econômico e esportivo. A sétima por variedades como horóscopo, noticiário social e a

programação de cinema e televisão. A última página se refere ao noticiário policial,

sobretudo os destaques de capa. O jornal apresentará uma edição dupla de Domingo e

Segunda-feira, no qual apresentará duas partes distintas, a primeira parte, composta pelas

quatro primeiras páginas, que tratará do noticiário policial, economia, política e geral; e a

segunda parte que se constituirá em um caderno dedicado ao esporte. No caso deste

veículo de informação a importância maior recai sobre a primeira e última páginas, exceto

no caso do fim de semana, onde o eixo se transfere para a primeira e quarta páginas.

Os dois jornais pesquisados apresentam-se, segundo os critérios descritos

anteriormente, caracterizados com o jornalismo informativo, com poucas apreciações

valorativas claras. Na sua maior parte a opinião destes jornais encontra-se dissimulada, no

formato e conteúdo de suas reportagens, não sendo encontrado um espaço exclusivo e

contínuo destinado ao editorial. Neste sentido a maior parte da editorização , nesses

veículos de informação, recai sobre os títulos utilizados. A coluna é muito pouco utilizada,

sobretudo no que se refere ao tema pretendido, referindo-se preferencialmente a temas

voltados para economia, política ou o esporte. O comentário não irá encontrar expressão

clara, parecendo que o traço do especialista encontra-se inserido no interior das diversas

reportagens publicadas. No caso do jornal Diário Popular a parte policial encontra-se

supervisionada pelo jornalista especializado José Domingos, o que comprova o

envolvimento do profissional especializado na elaboração destas reportagens. A política do

governo encontra sua maior expressão sob a forma de artigos, geralmente ocupando espaço

secundário dentro da publicação. A caricatura é utilizada para temas voltados para o esporte

e a política. A maior parte do material presente nas publicações observadas durante a

pesquisa, apresenta características mais próximas ao que pode ser classificado como

crônica, ou seja a narração direta de um fato mesclada de elementos considerados

secundários a narrativa, mas interessantes para maximizar o apelo a curiosidade dos

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leitores. As crônicas apresentam as três classificações citadas (analítica, sentimental e

satírico-humorista), sendo que as mesmas podem se encontrar sobrepostas com certa

freqüência. Com relação ao lead, o que parece mais se aproximar ao conceito dos

especialistas em jornalismo são os subtítulos e notas que aparecem vinculados ao título na

chamada de capa (principalmente) e página onde a reportagem é publicada, estes elementos

geralmente nos dão uma visão geral do conteúdo presente na reportagem, enfatizando-se os

elementos considerados mais interessantes da narrativa. Nestes subtítulos e notas são

utilizadas palavras diferentes e capazes de causar impacto, como forma de maximizar o

apelo, assim como ênfases, o sublinhado é elemento comum, de maneira semelhante aos

títulos. Como exemplo pode ser citada a reportagem referente a uma grande apreensão de

maconha, onde aparece, na página de sua publicação (página policial) vinculado ao título,

o seguinte subtítulo: “A ‘erva’ maldita estava no meio da madeira!”23, que ilustra bem a

configuração de lead que apresentam estes subtítulos. Os textos em si, apesar de fazerem

uso de palavras diferentes e impactantes, apresentam uma estrutura geral bastante

semelhante no período, tem-se a impressão de que mudaram apenas os personagens e a

data, mesmo as fotos, que de fato mudam, são muito parecidas, sobretudo ao retratarem a

droga apreendida.

Observando sob o ponto de vista das concepções dos teóricos sobre jornalismo,

pode-se chegar a conclusão de que os jornais pesquisados, sensacionalistas, possuem um

conjunto de elementos muito mais simples e menos variado que os jornais identificados

com a grande imprensa.

Com relação as publicações envolvendo drogas, foram feitas as seguintes

observações:

Muitas vezes as reportagens tem a montagem bastante parecida nos dois jornais,

demonstrando certa imitação de um padrão clássico de sucesso comprovado. O valor das

drogas apreendidas é normalmente citado, sendo comum enfatizar-se os títulos e subtítulos

com palavras como milhões, milionário e fortuna, por exemplo. As drogas são citadas, até

com ênfase no título, em alguns casos meramente como forma de maximizar o apelo ao

leitor. Neste sentido o exemplo pode ser dado pela reportagem do Diário Popular, edição

número 6.527, referente ao dia 16 de maio de 1985, que fala da suspeita da participação de

23 DIÁRIO POPULAR. Curitiba: ano XXII, N.º 6.583, 1985.

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maconheiros no assassinato de uma milionária, baseando-se em depoimentos que apontam

o envolvimento da vítima com “elementos sujos e mal trajados parecendo maconheiros”24.

Foram identificados seis tipos diferentes de assuntos relacionados as drogas, a saber:

operações policiais, política do governo em relação a violência, prisão sem apreensão de

drogas, pequena apreensão de drogas, grande apreensão de drogas e fatos que podem ser

classificados como interessantes, devido a alguns de seus aspectos (tiroteio, suicídio,

perseguição policial, situações incomuns, etc.). Estes assuntos encontram a distribuição

abaixo descrita, nos jornais pesquisados.

No jornal Tribuna do Paraná foram localizadas 75 reportagens inerentes ao tema

pesquisado, distribuídas em 65 publicações, o que perfaz uma média de 6,5 dias por mês e

ocupa desta maneira 21,66% do total das publicações. Dentro deste total de 75 reportagens

envolvendo o tema, encontramos a seguinte divisão: 02 operações da polícia (02,67%), 02

prisões sem apreensão de drogas (02,67%), 03 envolvendo política do governo em relação a

violência (04%), 09 pequenas apreensões de drogas (12%), 21 grandes apreensões de

drogas (28%) e 38 interessantes (50,66%). Com relação ao tipo de droga citada, a maconha

e seus derivados (haxixe) aparece na maioria absoluta dos casos, 42 reportagens (56% do

total), a cocaína aparece em 26 reportagens (34,67%) e ainda temos 07 reportagens

(09,33%) sem definição de uma droga específica. Os assuntos publicados recebem o

tratamento a seguir descrito. As 02 reportagens relativas a operações da polícia envolvem

cocaína, apresentam letra de título pequena, aparecem em zona secundária da página e

ocupam pequeno espaço de publicação. As 02 reportagens relativas a prisões sem

apreensão de drogas envolvem cocaína, ambas se encontram em zona secundária da página

e ocupam pequeno espaço na publicação, metade se apresenta com letra de título pequena e

metade letra mediana, e metade não tem chamada de primeira página. As 03 reportagens

relativas a política do governo contra a violência são indefinidas no que concerne a um tipo

específico de droga, todas apresentam letra de título pequena, todas apresentam pequeno

espaço de publicação e 02 (66,67% do total deste assunto) são publicadas em páginas

secundárias (parte interna do jornal) e sem chamada de capa. As 09 reportagens referentes a

pequenas apreensões apresentam as seguintes características: 03 envolvem cocaína

(33,33%) e 06 envolvem maconha (66,67%); 06 aparecem na zona principal da página

24 DIÁRIO POPULAR. Curitiba: ano XXII, N.º 6.527, 1985.

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(66,67%) e 03 aparecem zona secundária; 02 apresentam o título em letra pequena

(22,22%), 04 letra mediana (44,45%) e 03 letra grande (33,33%); 03 ocupam um pequeno

espaço na página em que aparecem (33,33%), 05 ocupam um espaço mediano (55,56%) e

um ocupa um espaço grande (11,11%); 02 não apresentam chamada de primeira página

(22,22%). As 21 reportagens referentes a grandes apreensões de drogas apresentam as

seguintes características: 16 envolvem maconha (76,19% do total do assunto) e 05 cocaína

(23,81%); 16 aparecem em zona principal da página (76,19%) e 05 em zona secundária

(23,81%); 06 apresentam letra pequena no título (28,57%), 07 letra mediana (33,33%) e 08

letra grande (38,10%); 11 ocupam um pequeno espaço na página (52,38%), 06 ocupam um

espaço mediano (28,57%) e 04 ocupam um grande espaço (19,05%); 04 não tem chamada

de primeira página (19,05%), sendo que 02 são publicadas em página secundária (09,52%).

As 38 reportagens referentes a fatos interessantes apresentam as seguintes características:

20 envolvem maconha (52,63%), 14 cocaína (36,84%) e 04 sem droga definida (10,53%);

22 aparecem em zona principal da página (57,89%) e 16 em zona secundária (42,11%); 14

títulos apresentam letra grande (36,84%), 10 letra mediana (26,32%) e 14 letra pequena

(36,84%); 13 ocupam um espaço pequeno na página (34,21%), 18 ocupam um espaço

mediano (47,37%) e 07 ocupam um espaço grande (18,42%); 12 não tem chamada de

primeira página (31,58%); e 06 são publicadas em página secundária (15,79%). Com

relação ao destaque do título, este pode ser dado não somente pelo tamanho da letra e a

posição que ocupa na página, como também por outros recursos (sublinhamento, aspas,

etc.) podem ser utilizados para enfatizar a importância de uma reportagem. Neste sentido,

do total de 74 reportagens, 18 títulos (24%) apresentam algum tipo de ênfase25, sendo que o

assunto ao qual estão se referindo se divide da seguinte maneira: 12 se referem a

reportagens interessantes (66,67% do total de 18 títulos enfatizados), 05 a grandes

apreensões de drogas (27,78%) e um a uma operação da polícia (24,32%). Também merece

menção o fato de que nenhum dos títulos observados, utiliza o maior tamanho de letra

25 Foram observadas na pesquisa neste jornal, Tribuna do Paraná, 23 ênfases em 18 títulos, 05 títulos com mais de uma ênfase. As ênfases se dividiam da seguinte maneira: 03 efeitos com letra de uma cor sobreposta a uma faixa de cor diferente da letra e do jornal (13,04% do total de 23 ênfases), 09 sublinhados (39,13%), 08 exclamações (34,78%), 02 interrogações (08,70%) e um caso onde foram utilizadas aspas (04,35%). Com relação ao transbordamento do título, se torna difícil definir se trata-se de ênfase ou um condicionamento ao espaço disponível, uma vez que o jornal pesquisado não apresenta um formato rígido na disposição das notícias.

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utilizado por este jornal no período (2,5 centímetros), que se reserva aos eventos mais

catastróficos, como acidentes de trânsito sangrentos ou assassinatos com igual

característica. A maior letra utilizada para o tema pesquisado tinha no máximo 2

centímetros.

No jornal Diário Popular foram encontradas 54 reportagens inerentes ao tema

pesquisado, distribuídas em 52 publicações, o que perfaz uma média de 5,2 dias por mês e

ocupa desta maneira 17,33% do total das publicações. Dentro deste total de 54 reportagens

envolvendo o tema, encontramos a seguinte divisão: 01 operação da polícia (01,85%), 02

prisões sem apreensão de drogas (03,70%), 04 envolvendo política do governo em relação a

violência (07,41%), 07 pequenas apreensões de drogas (12,96%), 09 grandes apreensões de

drogas (16,67%) e 31 interessantes (57,41%). Com relação ao tipo de droga citada, a

maconha e seus derivados (haxixe) aparece na maioria absoluta dos casos, 28 reportagens

(51,85% do total de 54 reportagens), a cocaína aparece em 16 reportagens (29,63%), uma

envolve uma droga afrodisíaca asiática denominada nam (01,85%), que de forma estranha,

devido ao interesse que pode provocar, não aparece na mesma data no outro jornal

pesquisado, e ainda temos 09 reportagens (16,67%) sem definição de uma droga

específica. Os assuntos publicados recebem o tratamento a seguir descrito. A reportagem

relativa a operação da polícia envolve cocaína, apresenta letra de título grande, aparece em

zona principal da página e ocupa grande espaço na publicação, tratamento totalmente

oposto ao dado pelo outro jornal ao mesmo assunto. As 02 reportagens relativas a prisões

sem apreensão de drogas são indefinidas quanto ao tipo de droga envolvida, ambas se

encontram em zona principal da página e ocupam pequeno espaço na publicação, ambas se

apresentam com letra de título pequena, e metade é publicada em página secundária. As 04

reportagens relativas a política do governo contra a violência são indefinidas no que

concerne a um tipo específico de droga; 02 apresentam letra de título pequena (50% do

total deste assunto), 01 letra mediana (25%) e 01 letra grande (25%); 03 ocupam espaço

mediano na publicação (75%) e 01 ocupa espaço pequeno (25%); 03 se situam em zona

principal da página (75%) e 01 zona secundária (25%); metade é publicada em páginas

secundárias (parte interna do jornal) e sem chamada de capa. As 07 reportagens referentes a

pequenas apreensões apresentam as seguintes características: 03 envolvem cocaína

(42,86% do total deste assunto) e 04 envolvem maconha (57,14%); 06 aparecem na zona

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principal da página (85,71%) e 01 aparecem em zona secundária (14,29%); 02 apresentam

o título em letra pequena (28,57%), 02 letra mediana (28,57%) e 03 letra grande (42,86%);

03 ocupam um pequeno espaço na página (42,86%), 01 ocupa um espaço mediano

(14,28%) e 03 ocupam um espaço grande (42,86%); 03 não apresentam chamada de

primeira página (42,86%). As 09 reportagens referentes a grandes apreensões de drogas

apresentam as seguintes características: 08 envolvem maconha (88,89% do total do

assunto) e 01 cocaína (11,11%); 07 aparecem em zona principal da página (77,78%) e 02

em zona secundária (22,22%); 02 apresentam letra pequena no título (22,22%), 03 letra

mediana (33,33%) e 04 letra grande (44,45%); 04 ocupam um pequeno espaço na página

(44,45%), 02 ocupam um espaço mediano (22,22%) e 03 ocupam um grande espaço

(33,33%); 01 não tem chamada de primeira página (11,11%). As 31 reportagens referentes

a fatos interessantes apresentam as seguintes características: 16 envolvem maconha

(51,61% do total do assunto), 09 cocaína (29,03%) e 06 sem droga definida (19,36%); 25

aparecem em zona principal da página (80,65%) e 06 em zona secundária (19,35%); 19

títulos apresentam letra grande (61,29%), 09 letra mediana (29,03%) e 03 letra pequena

(09,68%); 07 ocupam um espaço pequeno na página (22,58%), 11 ocupam um espaço

mediano (35,48%) e 13 ocupam um espaço grande (41,94%); e 07 não tem chamada de

primeira página (22,58%). Com relação ao destaque do título, os recursos utilizados para

enfatizar a importância de uma reportagem, neste jornal, se apresentam da seguinte

maneira: do total de 54 reportagens, 15 títulos (27,78%) apresentam algum tipo de ênfase26,

sendo que o assunto ao qual estão se referindo se divide da seguinte maneira: 10 se referem

a reportagens interessantes (66,67% do total de 15 títulos enfatizados), 04 a grandes

apreensões de drogas (26,67%) e 01 a política do governo contra a violência (06,66%).

Nenhum dos títulos observados utiliza o maior tamanho de letra usado por este jornal no

período (6 centímetros), que é utilizado para uma reportagem envolvendo tráfico de bebês e

se constitui um caso a parte, uma vez que o tamanho máximo usual reservado aos eventos

26 Foram observadas na pesquisa deste jornal, Diário Popular, 19 ênfases em 15 títulos, 04 títulos

com mais de uma ênfase. As ênfases se dividiam da seguinte maneira: 04 efeitos com letra de uma cor sobreposta a uma faixa de cor diferente da letra e do jornal (21,05% do total de 19 ênfases), 07 sublinhados (36,84%), 07 exclamações (36,84%) e um caso onde foram utilizadas aspas (05,27%). Com relação ao transbordamento do título, se torna difícil definir se trata-se de ênfase ou um condicionamento ao espaço disponível, devido ao fato deste jornal apresentar as mesmas características do outro jornal pesquisado.

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mais catastróficos e sangrentos é de 4 centímetros. A maior letra utilizada para o tema

pesquisado tinha no máximo 2,5 centímetros, que é maior que a utilizada pelo outro jornal.

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6 CONCLUSÕES

A auto alimentação do fluxo noticioso é utilizada nos dois jornais pesquisados,

sobretudo para notícias de grande importância, para os jornais, importância que pode ser

conferida por se tratar de um fato importante no cenário nacional, como o caso do

empresário Gilberto Yanes por exemplo, ou simplesmente um fato interessante, como o

tiroteio do Shopping Müeller por exemplo, devido as suas características. Aliás a maior

parte das reportagens analisadas, nos dois jornais, podem ser classificadas como

interessantes, recebendo também a maior parcela dos destaques, fato comprovado pelos

percentuais apresentados. O que confirma a máxima de que não basta ser importante, tem

que ser interessante.

A imprensa analisada parece muito mais interessada em expor a gravidade do problema

através do relato, normalmente com grande destaque, dos eventos trágicos relacionados a

droga (assassinatos, suicídios, tiroteios, perseguições, roubos e assaltos), do dinheiro

envolvido e da corrupção existente. Outro fato a ser considerado na divulgação da

gravidade do problema, é sugerido pela forma como as reportagens são montadas. O

formato das reportagens extremamente parecido, com as fotos (quase sempre de: drogas,

traficantes e armas) igualmente parecidas, parecem sugerir que nada muda, tudo permanece

do mesmo modo. O que implica, consequentemente, na visão, destes veículos de

informação, de que a ação do governo surte pouco ou nenhum efeito.

As notícias referentes a política do governo em relação ao combate da violência,

violência muitas vezes relacionada as drogas, indicam o despreparo das autoridades, em

especial as policiais (a linha de frente de qualquer iniciativa neste sentido), e preconizam

que a solução para este problema passa pelo reaparelhamento e reestruturação da mesma.

Em contra partida a este reaparelhamento e reestruturação, que ao menos em parte ocorreu,

exigiu-se maior eficácia, que de acordo com as estatísticas publicadas realmente ocorreu.

Para se ter uma idéia desta eficácia a apreensão de maconha passou de pouco mais de cem

quilos em 1984, para mais de quatro toneladas em 1985, segundo estatísticas publicadas

nos dois jornais. A classificação dos elementos envolvidos com drogas, nas reportagens

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publicadas, é feita com base na ficha policial dos mesmos. Caso não possua antecedentes

criminais e tenha um trabalho que lhe confira um certo status, será classificado

preferencialmente como: usuário, portador ou viciado. Em caso contrário será

taxativamente classificado como traficante. Como a polícia é principal fonte de para este

tipo de reportagem, possivelmente estas classificações emanam desta instituição,

configurando desta maneira uma forma de arbitrariedade. Arbitrariedade que encontra

referência mais clara na prisão de um elemento considerado suspeito por vários dias sem

qualquer acusação formal (Diário Popular, edição número 6.670, referente ao dia 31 de

outubro de 1985). No entanto o espaço dedicado a política do governo em relação a

violência é claramente secundário, o que pode indicar falta de empenho do governo no

sentido de conseguir uma melhor divulgação.

O principal aspecto que pode ser identificado, através da análise dos dois jornais

pesquisados, se refere a pouca ou quase nenhuma penetração da ideologia de combate as

drogas pretendida pelo governo, em parte devido a falta de propaganda e continuidade de

ações neste sentido. O que faz transparecer, ao menos aparentemente, que a real pretensão

do governo pendia mais para dar uma satisfação, à sociedade e mais especificamente aos

governos estrangeiros, a respeito do problema das drogas, sobretudo os Estados Unidos,

que se encontravam empenhados de fato em resolver este problema, ao menos no que se

refere ao aspecto de sua política externa.

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FONTES PRIMÁRIAS DIÁRIO POPULAR. Curitiba: ano XXII, do N.º 6.462 ao N.º 6.720, período de 28 de Fevereiro de 1985 à 31 de Dezembro de 1985. TRIBUNA DO PARANÁ. Curitiba: ano XXIX, do N.º 8.126 ao N.º 8.428, período de 28 de Fevereiro à 31 de Dezembro de 1985.

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