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Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte Nós,doRN... Suplemento DO A República A República Editorial Ano I - Nº 06- Maio de 2005 Personagens e acontecimentos que fizeram história na aviação do Rio Grande do Norte Pioneirismo no ar Pioneirismo no ar

Capa n.s do RN - Maio · voadores, a começar o pioneiro Augusto Severo e o seu dirigível Pax, acidentado em 1902, três anos antes de Santos Dumont mostrar para o mundo a descoberta

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Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte

Nós,doRN...Suplemento

DOA RepúblicaA RepúblicaEditorial

Ano I - Nº 06- Maio de 2005

Personagens e

acontecimentos

que fizeram história

na aviação do

Rio Grande do Norte

Pioneirismono ar

Pioneirismono ar

2 Natal - Maio de 2005nós, do RN Suplemento

Apresentação

Rubens Lemos Filho

Coincidindo com aepopéia trágica deAugusto Severo,

alçando o dirigível Pax noscéus de Paris em maio de 1902para cair em seguida ceifando-lhe a vida, "nós, do RN" serádistribuído fazendo uma triplahomenagem: ao próprioAugusto, às águias norte-rio-grandenses que mantiveramvivo o seu sonho, e ao nossopovo, em festa pelospadroeiros do mês de junho.

Pela dedicação dospesquisadores e repórteresresponsáveis por este númerodo Suplemento Cultural do

Balões no céu e na história

Este mês de junho, quando o céu secobre de balões (embora proibidos)em homenagem a São João, o Rio

Grande do Norte homenageia seus filhosvoadores, a começar o pioneiro AugustoSevero e o seu dirigível Pax, acidentado em1902, três anos antes de Santos Dumontmostrar para o mundo a descoberta do avião.Nosso herói Augusto Severo faleceu, com oseu mecânico George Sachet na queda doPax na Avenue Du Maine, em Paris, e a elededicamos esta edição do Suplemento"nós, do RN".

Os balões juninos lembram o esforçodos pioneiros da aviação e também a liber-ação da maior festa joanina do Nordeste,sempre incentivada pela ExcelentíssimaSenhora Governadora Wilma Maria de

Estado do Rio Grande do NorteAssessoria de Comunicação Social

Wilma Maria de FariaGovernadora do Estado:

Carlos Alberto de FariaGabinete Civil do Governo do Estado

Rubens Manoel Lemos FilhoAssessoria de Comunicação Social

Rubens Manoel Lemos FilhoDiretor Geral em exercício

Henrique Miranda Sá NetoCoordenador de Administração

e Editoração

Juracir Batista de OliveiraSubcoordenador de Finanças

Eduardo de Souza Pinto FreireSubcoordenador de Informática

nós, do RNeditor-geralMiranda Sá

chefe de redaçãoMoura Neto

equipe redacionalPaulo Dumaresq - reportagem

Anchieta Fernandes - pesquisaJoão Maria Alves - fotografia

diagramação e arte finalEdenildo Simões

Alexandro Tavares de Melo

Programação VisualEmanoel Amaral

Alexandro Tavares de Melo

CapaEmanoel Amaral

colaboradoresCarlos Morais

Rubens Lemos FilhoEdson Benigno

Carlos de SouzaJoão Ricardo Correia

apoio gráficoWillams Laurentino

Valmir Araújo

D.E. I.

Faria desde que se iniciou na vida política.Como Prefeita de Natal, Wilma de Faria

colaborou para a formação de agremiaçõesde bairro, os tradicionais arraiais, manifes-tação folclórica riquíssima, transformadahoje em atração turística.

Assumindo o Governo Estadual, aGovernadora dedica-se, desde o início desua gestão, a estender por todo Estado ascomemorações dos santos juninos, incenti-vando e patrocinando bailes populares e osconjuntos folclóricos que executam commaestria o balé popular, expressão maiúscu-la das danças dramáticas registradas porMário de Andrade.

Estas manifestações musicais e corporaisdo nosso povo também estão presentes,com grande satisfação, no "nós, do RN".

EditorialVôo livre da cultura potiguar

Miranda Sá

DEPARTAMENTO ESTADUAL DE IMPRENSAAv. Câmara Cascudo, 355 - Ribeira - Natal/RN

Cep.: 59025-280 - Tel.: (084) 3232-6793Site: www.dei.rn.gov.br - e-mail: [email protected]

Diário Oficial, assinalando asaventuras aéreas de PintoMartins, co-piloto e mecânicode vôo nascido em Camocim(Ce) e registrado em Macau,para honra deste Estado.

Trazemos igualmente asaga de Pery Lamartine e seuscompanheiros fundadores ebrevetados do Aero Clube doRN, luz que atraiu osfamosos Jean Mermoz eSaint-Exupery, que aqui ater-rissaram quando Natal erarota e escala de vôo obri-gatória dos aviões quecruzavam o Atlântico.

E assim mostramos que

Natal entrou na História daAviação não apenas por tersido o Hangar do esforço deguerra contra o nazi-fascismo,baseando tropas aliadas erecebendo balões, zepelins eaviões de todos os tipos.

Ilustrando a saga dosheróis do ar, reportamos apassagem do saudoso papaJoão Paulo II pelo Rio Grandedo Norte, com fotografias ememórias dos profissionais deimprensa que cobriram o tri-unfo daquele que foi santo emvida, pela irrenunciável dedi-cação à paz mundial e à justiçasocial.

3Natal - Maio de 2005 nós, do RNSuplemento

Moura Neto“Não posso compreender como o urubu pode

ser superior ao homem. Só descansarei no diaem que conquistar o espaço!”. Era o que costu-mava dizer o ilustre norte rio-grandense, naturalde Macaíba e membro de uma oligarquia quedominou a política do Rio Grande do Norte nofinal do século 19 e início do 20, até morrer naFrança, tragicamente, ao tentar realizar a maiorproeza da sua vida: dar asas ao Pax, um dirigívelque ele chamava de "navio de alto-mar".

O balão ainda fez manobras durante 10 mi-nutos pelos céus de Paris, naquela fria manhã desegunda-feira do dia 12 de maio de 1902, antesde consumar o desastre que abalou toda comu-nidade científica da época. Primeiro, umaexplosão surpreendeu a pequena platéia queacompanhava a experiência. Depois, tomadopelo fogo, o aparelho despencou na avenida duMaine, de uma altura de 400 metros, matandoseus dois tripulantes: o aeronauta e inventorpotiguar Augusto Severo de AlbuquerqueMaranhão e o mecânico francês Georges Sachet.Eram 5h50.

Destemido e intrépido. Estas característicasna personalidade de Augusto Severo foramdeterminantes para que desse a vida na tentativade concretizar o ideal que o movia - a dirigibili-dade dos balões semi-rígidos -, con-sagrando-se como mártir daaeronáutica brasileira aos 38 anosde idade. Setes meses antes datragédia, Augusto Severo nãohesitou em se licenciar daCâmara Fe-deral, paraonde tinha sido eleito como apoio do irmão PedroVelho, quando esteassumiu a presidência doRio Grande do Norte,com o propósito de via-jar a França, sem auxíliodo governo, para sededicar integralmente aoseu invento.

Mesmo tendo vendidoas jóias da família para in-vestir no projeto do Pax, elenão amealhou recursos sufi-cientes para construir a aeronaveda forma como planejara. E, ao quetudo indica, este fator pode ter resultado noacidente fatal. A imprensa da época publicou queele pretendia usar motores elétricos, mas porfalta de tempo e recursos acabou utilizandomotores a petróleo.

Também por falta de dinheiro recorreu aobambu, ao invés do alumínio, para construir a

barquinha em que ficavam os tripulantes. Comoo material empregado no Pax era mais pesado emenos resistente, avaliaram os especialistas,Augusto Severo acabou sendo obrigado asuprimir os balonetes que assegurariam aforma permanente do dirigível e evitaria orisco de explosão.

Segundo Álvaro Reis, parceiro deAugusto Severo naquele experimen-to, o acidente teve como causa omau funcionamento dos carbu-radores, que explodiu e atingiu oaerostato. Reis escapou damorte por uma destas razõesque só o destino justifica.Pouco antes de o balão alçar vôo do hangar doParque de Vangirard, em direção ao campo demanobras Issy-les-Moulineaux, ele cedeu lugarao mecânico Sachet, que pesava 20 quilos amenos. Por ser mais gordo, foi substituído. Esalvo.

Sonho de voar - A obstinação de AugustoSevero em desbravar os céus, como os pássaros,vinha de longe. Na época em que era professorde matemática do Colégio Atheneu, em Natal,gostava de levar seus alunos para excursionarsobre as dunas, onde soltava pipa. Seu brinque-

do, batizado de Albatrós, tinha carac-terísticas semelhantes à de um

avião, com asas no lugar dacauda. Nessas ocasiões, falava

aos seus pupilos sobre suasteorias aéreas. Para deleitee espanto dos estudantes.

Em 1892, antes do vôofatal, Augusto Severoconseguiu auxílio domarechal Floriano Pei-xoto, então presidenteda República, paradesenvolver seu pri-meiro aparelho mais-leve-que-o-ar, batizado

como "Bartolomeu deGusmão", em homenagem

ao "padre voador" que fezexperiências com balão no iní-

cio do século 18. Em um hangarconstruído pelo Mi-nistério da

Guerra no Cam-po de Tiro doRealengo, Rio de Janeiro, foram realizadas

experiências com esse primeiro dirigí-vel, que nãochegou a decolar. A partir das imperfeições desseprojeto, começou a trabalhar no Pax - nome que,em latim, significa "paz", o que revela também aíndole pacifista do invetor. Era o início da suaconsagração, era o começo do seu fim.

Vôo fatal no céu de Paris

Acidente comove Brasil e FrançaUm cenário desolador. Todas aquelas pessoas

que tinham acordado cedo, naquela manhã, paraacompanhar o que poderia ter sido a glória deAugusto Severo, e consequentemente a do Brasil,em solo francês, considerado à época como a Mecada aeronáutica, ficaram chocadas com o que viramapós o acidente. Inclusive sua mulher, Natália. Ocorpo do mecânico, semi-carbonizado, jazia próxi-mo ao motor. O do aeronauta ficou todo deforma-do, com as pernas partidas e a coluna vertebralfraturada. O rosto, contudo, mantinha-se intacto.

O corpo de Augusto Severo foi transportado parao Brasil de navio, chegando ao Rio de Janeiro em 15de junho de 1902. Foi velado na Igreja da Candelária,onde ficou para visitação pública por três dias, antesda cerimônia fúnebre realizada no cemitério São JoãoBatista. Era grande o prestígio de Augusto Severoentre os franceses e cariocas, segundo o seu biógrafoAugusto Fernandes, autor do livro Um pioneiroesquecido, publicado em 1965.

Era um prestígio conquistado, conformeFernandes, "mais pela sua personalidade atraente,pelo dom inato de fazer amigos, do que por suacondição de deputado federal". Sua presença anima-va qualquer ambiente. Severo cantava, tocava,dançava e declamava. "Coração sensível, espíritosuperior, procurava sempre praticar o bem, sem exi-gir, por isso, o reino dos céus. E foi no ar, no céu,que encontrou seu destino", escreveu Fernandes.

A Marinha de Guerra não deixou de prestar suahomenagem àquele que foi seu grande defensor naCâmara dos Deputados. No túmulo de Severo, nocemitério São João Batista, há um baixo relevo embronze com o desenho do Pax e uma âncora. Naparte superior do túmulo pode ser visto outro medal-hão de bronze, com o retrato do aeronauta. Há tam-bém uma inscrição em latim, de autoria do senadornorte-rio-grandense Almino Afonso: "Sidera vincereconatus vincit mortem". Traduzindo: "Tendo seesforçado para vencer os astros venceu a morte".

Augusto Severo

4 Natal - Maio de 2005nós, do RN Suplemento

Não foi apenas o inventor que deuvaliosa contribuição para o desen-volvimento da aviação. Não foi

apenas o deputado federal que, no exercíciode suas atividades parlamentares, apresen-tou projeto de lei que concedia auxílio mo-netário para o mineiro Alberto SantosDumont, seu contemporâneo e concorrentena arte de conquistar o espaço. Foi tambémabolicionista e republicano, como o irmãoPedro Velho. E poeta.

Segundo Câmara Cascudo, o conterrâ-neo Augusto Severo tinha muitas outrasqualidades. Era emérito cozinheiro e exi-gente gourmet. Tribuno e declamador.Nadador. Remador. Costureiro. Alfaiate.Musicista. Dançarino. "Homem inacessívelao desânimo, à preguiça, ao ódio e àsinjúrias. Conquistava a quem o ouvia. Todasua cultura, adquirida num autodidatismoincessante, apenas elevava o que de próprio,congênito, medular, havia em Severo",

escreveu Cascudo.Augusto Severo "dava abraços de taman-

duá-bandeira", ainda de acordo com CâmaraCascudo, "rindo como se o riso fosse o maisalto elogio do bom-humor. Sem ódios, semlembranças de vingança, tudo nele eraimproviso, arrebatamento, afeto".

Era um homem capaz de interromperuma explicação política para ir ensinar afazer molho branco para peixe frito, umadelícia. "Severo resumiu lindamente oHomem brasileiro no fim do século XIX enos primeiros anos do século XX", declarouCascudo.

Grande inventor - Augusto Severo senotabilizou, no entanto, como um grandeinventor. Segundo Fernando Hippólyto daCosta, autor do livro Augusto Severo, umpioneiro na conquista do espaço (EdiçãoSebo Vermelho), o Pax era "um balãodirigível semi-rígido, ovóide, portantoassimétrico, mais bojudo na parte da proa ecom invólucro envernizado". O aparelho,que foi construído na Casa Lachambre, emParis, como o Bartolomeu de Gusmão, pos-suía 20 metros de altura. Apresentava vo-lume de 2.334 metros cúbicos, peso aproxi-mado de 2 mil quilos e comprimento de 30metros na dimensão maior. Podia chegar auma velocidade de 30 Km/hora.

"Este projeto de Severo era por demaisinovador; ao contrário de Santos-Dumont,ele decidiu compor a estrutura do dirigívelde bambu em forma de trapézio, sendo queuma haste de bambu atravessava o balão noeixo maior", escreveu Costa.

O último vôo

Invent

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O Pax não foi o primeiro invento deAugusto Severo. Nem seria o último. Elejá tinha em mente o projeto de construirum balão-dirigível gigantesco, o qualchamaria de Jesus. Era com este aparelhoque pretendia realizar travessiastransatlânticas com 100 passageiros abordo. Antes do Pax, idealizou outrosbalões, como Potiguarânia e o Barto-lomeu de Gusmão.

Mas foi com o Pax que realizouseu último vôo, em 12 de maio de1902. No dia 4, Severo esteve noParque de Vaugirard para, junto como mecânico e amigo Sachet, realizar aprimeira experiência com o dirigívelpreso ao solo por grossas cordas.Neste ensaio, os dois motores fun-cionaram normalmente. No dia 7, foirealizada a segunda experiência como Pax ainda preso ao solo.Novamente, os resultados forampositivos.

No dia 11, o ministro francês daGuerra concedeu autorização paraque Augusto Severo, no dia seguinte,fizesse evoluções com o Pax sobre ocampo de manobra de Issy-les-Moulineaux, onde se encontravam as

Preparativos para o último vôo do Pax no dia 12 de maio de 1902

tropas do Exército da França.No dia 12, Severo acordou às 4

horas da madrugada. Como moravapróximo ao hangar, meia horadepois já estava no campo de avi-ação. Passavam poucos minutos das5 horas, quando o balão foi retiradodo hangar. Ainda com o Pax fixadoao solo por cordas, foram checadosos motores. Tudo estava aparente-mente em ordem. Severo jamaisescondeu, porém, seu receio com osmotores. Já havia dito que se dis-pusesse ainda de dinheiro e detempo mandaria construir motoreselétricos, substituindo os motores apetróleo. "Vejo com pavor esse fogoem baixo do meu balão", disse em

entrevista.O balão fez manobras e parecia

tomar o rumo certo. Ao que tudo indi-ca, o fogo começou no motor dacausa, onde estava Sachet, propagan-do-se até culminar com a explosão ecom a queda. Como disse, MabelTavares, sobrinha e também biógrafade Augusto Severo, "um só pensamen-to o dominou na curta existência co-

lhidaem pleno vôo pelainexorável fatalidade: trabalhar pelaciência e pela pátria". (MN)

Álvaro Pereira, AugustoSevero e Georges Sachet

Destroços do Pax espalhados na Av. du Maine, Paris e placa em homenagem a Augusto Severo

Fotos: Cedidas

5Natal - Maio de 2005 nós, do RNSuplemento

Olocal onde está hoje a praça Augusto Severo,era uma campina alagada pelas marés doPotengi. Onde está o teatro, tomava-se banho

salgado em fins do século XIX, segundo revelou Luisda Câmara Cascudo, em "História da Cidade do Natal".O terreno "era quase todo ensopado, pantanoso, enlo-dado". Ainda de acordo com Cascudo, "o português jul-gava estar vendo uma ribeira". Por isso que, a partir dascaracterísticas do local que seria a praça, se denominoutodo o bairro da Ribeira.

Naquele final do século XIX, por deliberação doConselho de Intendência Municipal, tomada no dia 05de Março de 1892, aquela área da Ribeira recebeu,porém, a denominação de Praça da República. Era uma"homenagem ao novo regime político do Brasil",segundo Itamar de Souza, em "Nova História de Natal".

A 12 de maio de 1912, o inventor do balão semi-rígi-do, o macaibense Augusto Severo de AlbuquerqueMaranhão, que já voara nos céus do bairro do Realengo,no Rio de Janeiro, com o dirigível "Bartolomeu deGusmão", tentava subir e voar nos céus de Paris numnovo balão, o semi-rígido "Pax". Infelizmente não tevesucesso, morrendo quando realizava esta experiência.

Para imortalizar o cunhado, herói e pioneiro da avi-ação, o então governador Tavares de Lira inaugurou aPraça Augusto Severo a 15 de novembro de 1905. Erauma nova praça no lugar da antiga Praça da República.A obra de reforma trouxe outro benefício para a cidade:deu trabalho e renda aos flagelados da seca de 1904. Ogovernador deu pouco mais de 62 contos de réis paraque o arquiteto Herculano Ramos providenciasse oaterro de toda a área alagadiça.

Foram plantadas árvores nobres, construídas pon-tezinhas para se atravessar por cima dos braços do rioPotengi, erguidas estátuas decorando o novo espaço delazer. Era um Jardim do Éden. "Recreio para nós e maispara os pássaros que eram numerosos, quer os canorosvoando pelas árvores, quer as rolinhas simpáticas bican-do as sementes do chão", escreveu Lauro Pinto, em"Natal Que Eu Vi".

Teve um coreto, onde a banda de música da políciarealizava retretas. Teve um monumento com a efígie embronze de Nísia Floresta. Teve um gracioso chafariz,com uma escultura, uma "indiazinha apertando a cabeçada serpente, de cuja boca saía um jorro de água", lem-brou Augusto Severo Neto, em "Ontem Vestido deMenino". Teve a estátua dos estudantes, com livros aospés, e que hoje se encontra na entrada do Colégio

Churchil.Teve prédios funcionais como o do Cinema

Politeama, e hoje tem os do Teatro Alberto Maranhão,o da velha Estação Rodoviária e o da também velhaEstação da Rede Ferroviária. O da Datanorte. Na praça,existiram também os prédios do Grupo EscolarAugusto Severo (onde depois seria a Faculdade deDireito e, mais recentemente, a Secretaria deSegurança), da Escola Doméstica (no prédio que, ulti-mamente, abrigou o posto de assistência médica doINAMPS).

A 12 de maio de 1913, foi inaugurada na praça a está-tua do seu patrono, Augusto Severo. Sobre ela, foramjogadas coroas de flores transportadas pelos tripulantesdo dirigível alemão Zeppelin, por duas vezes: a 28 demaio de 1930 e a 20 de outubro de 1933. Era o recon-hecimento daqueles que vinham com a concretização, osucesso das idéias pioneiras do norte-rio-grandense nadirigibilidade do veículo aéreo - o balão semi-rígido.

A Praça Augusto Severo, pela importância históricado seu patrono, e pelo que representou quanto a abrigarserviços educativos e culturais em prédios que mar-caram a memória dos natalenses - deveria ter sido maisbem cuidada. Foi um espaço onde a população se sen-tia bem ao se sentar nos bancos, namorando romanti-camente, ouvindo o trinado dos pássaros, sentindo operfume que emanava das folhas das árvores nobres, ouse deliciando com o visual das meninas da Domésticaquando saíam a piqueniques permitidos pela direção.

Augusto Severo também emprestou seu nome parao aeroporto de Parnamirim, para uma escola estadual epara um município, que depois mudou sua denomi-nação para Campo Grande.

A estátua do patrono Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, na praça do mesmo nome, na Ribeira foi inaugurada em 12 de maio de 1913

Estátua do Churchill também esteve na praça

A p r a ç a d o i n v e n t o rAnchieta Fernandes

6 Natal - Maio de 2005nós, do RN Suplemento

Aqueles homens incrÌveis e suas m·quinas maravilhosas

Paulo Jorge Dumaresq

Maravilhado com a novidade surgida dos ares na Natal provinciana do iníciodo século XX, o poeta modernista Jorge Fernandes não se conteve e

registrou em versos o alumbramento que a máquina voadora provocou noshabitantes da cidade, sobretudo nele mesmo. Não foram poucos os natalenses que se

deslumbraram e se identificaram com a `marmota` dos céus.

Novecentos e cinqüenta cavalos suspensos nos ares...- Besouro roncando: zum... zum... umumum...Aonde irá aquele rola-titica parar?

E os olhos dos caboclos querem ver os marinheirosOs peitados vermelhos das Oropas...E a marmota vai: ron... ron... cevando o vento -Por cima dos coqueiros, varando as nuvens...

Depois desce no Rio Grande numa pirueta daniscaDesembestado, espalhando a água...E fica batendo o papo, cansado de voar.

Aviões nº um (Jorge Fernandes)

7Natal - Maio de 2005 nós, do RNSuplemento

Entre os pioneiros da aviação no Estado merecemregistro o ex-governador Juvenal Lamartine e oempresário Fernando Pedroza. A ousadia dos dois

foi tanta que no dia 29 de dezembro de 1928 fundaram oAero Clube do Rio Grande do Norte, numa época que sóexistia o Aero Clube do Brasil, localizado no Rio de Janeiro.Juvenal Lamartine não teve grandes dificuldades para fun-dar o clube aeronáutico, mas teve que pedir crédito especialpara comprar dois aviões, construir a pista e outras insta-lações, além de doar o terreno pertencente ao governo.

O ex-aviador e escritor Pery Lamartine conta no livro`Epopéia nos ares`, edição da FJA (1995), que o AeroClube tinha o objetivo de desenvolver o interesse pela aviação,mantendo uma escola de pilotagem, afora outras atividadesdesportivas, culturais e sociais. Essa iniciativa teve o apoio dogoverno federal que, por meio do Ministério da Marinha,cedeu o capitão Djalma Petit, o qual permaneceu emNatal durante dois anos dirigindo a Escola de Pilotageme ensinando os aprendizes a voar.

No dia 29 de dezembro de 1928, os anais do Estadoregistraram a inauguração do Aero Clube. À tarde, houvehasteamento da bandeira, com banda de música, discursos,fogos de artifício e revoada de aviões. Pilotado por DjalmaPetit, o avião Natal I pousou oficialmente, pela primeiravez, na pista ao lado da sede e foi batizado com garrafa dechampanhe, derramado na hélice, pela primeira-dama doEstado, Silvina Lamartine. Quando a noite chegou, houvebaile no salão do clube que já existia oficialmente.

Em verdade, a Escola de Pilotagem do Aero Clube sócomeçou a funcionar a plenos motores no segundosemestre de 1929, com uma turma de seis alunos. Todoseles passaram pelas diversas fases do curso: adaptação aovôo, instrução de duplo comando, instrução de decolagense pousos e, finalmente, o vôo `solo`. Ao término do curso,em fevereiro de 1930, quando a turma já havia sido exa-minada e aprovada, se reuniu para uma fotografia histó-rica na frente do biplano Blue Bird, avião de fabricação

inglesa, com dois lugares lado a lado, próprio parainstrução na formação de pilotos. A turma pioneira depilotagem no Aero Clube tinha os seguintes compo-nentes: Fernando Pedroza, Elói Caldas, Aldo Cariello,Plínio Saraiva, Octávio Lamartine e Edgar Dantas.

O primeiro mártir e os `raids`O risco de acidente é inerente à pilotagem de avião.

Numa manhã de céu claro, teto alto e ausência de tur-bulência, o recém-formado piloto Edgar Dantas, filho dojornalista Manuel Dantas, ocupou o seu lugar de coman-do, taxiou o biplano para a cabeceira da pista, alinhou norumo certo, atacou o motor a pleno e iniciou a corridapara a decolagem.

Pery Lamartine conta que o piloto, de 21 anos, arran-cou prematuramente o aeroplano do solo e comandouuma rápida saída ascendente para a esquerda, exigindomais do que devia do avião. "Foi uma manobra infeliz efatídica, levando o aeroplano a perder a sustentação, resul-tando numa queda brusca e choque violento contra osolo. Foi a primeira vítima fatal no Aero Clube do RioGrande do Norte".

Privilegiada pela sua localização geográfica, Natalentrou na década de 20 do século passado na rota dosgrandes `raids` aéreos. Em 1926, o jovem João Ribeiro deBarros, natural da cidade de Jaú, no Estado de São Paulo,partira para a Itália com mecânico a tiracolo para sóretornar pilotando o seu próprio avião. Depois de muitadificuldade conseguiu comprar, por 200 contos de réis, oavião Savoia-Marchetti, batizado de Jahu. Em 18 de junhode 1926, decolou de Gênova com quatro tripulantes, masdevido a problemas técnicos teve que fazer escala forçadaem Gibraltar e depois em Porto Praia, no arquipélago deCabo Verde.

Resolvidos os problemas, a aventura reiniciou no dia28 de abril de 1927. Quando já havia atingido os roche-dos de São Pedro e São Paulo, em águas brasileiras, omotor apresentou defeito e a trepidação da hélice com-prometia a segurança do vôo. Resultado: Ribeiro deBarros decidiu pousar no mar. Coincidentemente,navegava na área navio italiano que prestou socorro,recolhendo os tripulantes e rebocando o avião paraFernando de Noronha. Foram mais 15 dias de esperaaté que chegasse nova hélice do Recife. No dia 14 demaio, decolaram para Natal, onde chegaram às 13horas, depois de um vôo perturbado pelo maltempo. Ribeiro de Barros recebeu grandes home-nagens na cidade, onde permaneceu até o dia 5 dejunho, quando tomou o rumo sul.

Aqueles homens incríveis e suas máquinasmaravilhosas não conheciam limites. Provadisso foi a travessia do Oceano Atlântico rea-lizada pelos pilotos italianos Ferrarim e DelPrete. A dupla decolou de Roma às 19 horasdo dia 3 de julho de 1928, direto para Natal,num avião Savoia, de fabricação italiana.Voaram 59 horas, a uma velocidade de 175KPH. A chegada ocorreu no dia 5 de julho,precisamente às 16h10. Mas o Savoia foipousar na praia de Touros, próximo aocabo de São Roque, devido a informaçõesdesencontradas.

A importância deste `raid` para oprestígio da Itália fascista era imensurável;daí por que o governo daquele país deu tanta atenção

ao fato e, para marcá-lo, doou à cidade de Natal uma co-luna, provavelmente do Capitólio romano. Para tristezageral, o feito de Ferrarim e Del Prete terminou em tragé-dia no Rio de Janeiro. Quando a dupla de aviadoresexperimentava um novo avião Savoia sofreu um graveacidente, tendo falecido o piloto Del Prete. Ferrarimquebrou as pernas.

Outro às da aviação mundial que visitou Natal foi opiloto francês Jean Mermoz. Em 13 de maio de 1930,Mermoz pousou na cidade o Laté 28, encerrando vôosem escala que já durava mais de 22 horas. Partiu doSenegal, na véspera, inaugurando o correio aéreo sobre oAtlântico Sul. O aviador veio por diversas vezes a Natal.Na 23a travessia do Atlântico, partindo de Dacar paraNatal, pilotando o quadrimotor Croix du Sud (Cruzeirodo Sul), teve problemas no início do vôo, regressando àcapital do Senegal. Feitos os reparos, Mermoz fez asegunda decolagem, às 7 da manhã, com o mesmo desti-no; às 10h47, o rádio de Dacar captou uma mensagem doavião, interrompida abruptamente: "Coupons moteurarriére droit..." (Cortamos o motor traseiro direito...) Foia última notícia que se teve do avião, que mergulhou nasprofundezas do oceano com toda a tripulação.

Celebridades do cinema americano também visitaramNatal no pós-guerra. Em 6 de setembro de 1947, por voltade 10 horas da manhã, o ator Tyrone Power fez pousar nabase aérea de Parnamirim Field um Douglas DC-3, apeli-dado pelos americanos de Dakota. Estava indo no rumo daÁfrica, com a mulher, em viagem de turismo. Na "esquinada América", foram hóspedes do Comando da Base Aéreade Natal, onde ficaram alojados. No dia seguinte, assistiramao desfile de 7 de setembro e visitaram alguns pontos turís-ticos da cidade. Comenta-se que o astro de Hollywoodrecebeu a imprensa com cordialidade e só decolou no dia 8

de setembro para uma etapa de 10 horas de vôo.

Gov. Juvenal Lamartine: construiu o Aero Clube

Mermoz: piloto francês que pousou em Natal em 1930

Ilustração de Emanoel Amaral

Foto: Cedida

8 Natal - Maio de 2005nós, do RN Suplemento

Ohomem por trás da história da aviaçãono Rio Grande do Norte é alto, magroe gentil. Nascido na cidade de Caicó,

"por acaso", Hipérides Lamartine, Pery para osdesavisados, 79 anos, filho de Clóvis Lamartinede Faria e dona Maria de Lourdes Nóbrega eneto do ex-governador Juvenal Lamartine,começou cedo a demonstrar interesse pela avi-ação. Especialmente, por culpa do avô, oprimeiro governador de Estado, no Brasil, a seutilizar do avião nos seus deslocamentos. ASegunda Guerra Mundial serve de plataformapara alavancar a carreira de piloto; do contrário,teria sido fazendeiro como o pai.

Os primeiros passos na condição de aprendizde aviador são dados no Aero Clube, no cursoprimário de piloto privado para atividadesdesportivas, lá pelos idos de 1943. Diplomado em1944, vai para o Recife, com brevê na mão, par-ticipar do curso de instrutor de aviação primária,financiado pelo governo federal.

"O governo queria formar instrutores civis paradar curso nos aero clubes", informa. Observa aindaque, com o advento da guerra, é criado o Ministério daAeronáutica e realizada a Campanha Nacionalde Aviação, organizada pelosDiários Associados,visando à

MemÛria viva da aviaÁ„o potiguar

formação de reserva para a Força Aérea Brasileira.Diplomado instrutor em fins de 1945, com 150

horas de vôo e excelente formação técnica, PeryLamartine é convidado pela Divisão Aero-desportiva do Ministério da Aeronáutica para tra-balhar em aero clube. A escolha recai no deJoinville, no Estado de Santa Catarina, onde setorna profissional em aviação.

Sonho pelos aresApós doze meses de trabalho e muita saudade

no peito, deixa Joinville para visitar a família emCaicó. No meio do caminho faz escala no Riode Janeiro para fazer a renovação da inspeçãode saúde e tirar a carteira de piloto comercial.É quando o exame de vista constata daltonis-mo. Reprovado no exame, Lamartine encer-ra uma carreira meteórica de cinco anoscomo aviador.

"Eu tenho certeza de que era um bompiloto", afirma categoricamente. A últi-ma viagem é do Rio de Janeiro paraNatal, em 1948, com Joaquim Felíciode Morais, trazendo um Fairchild PT-19,avião para treinamento avançado,

"debaixo de temporal". A viagem demo-ra três dias. Nos cinco anos de carreira, contabiliza

1.500 horas de vôo, a maioria em avião monomo-tor, de asa alta. Além disso, empresta o talento nacondição de co-piloto no bimotor Catalina, con-tratado da empresa Aerogeral, fazendo a rotaNatal-Santos.

Impedido de pilotar, ingressa na empresa Varig,em 1955, trabalhando no setor de agência dagigante da aviação comercial brasileira até 1962.Deste ano até os dias de hoje atua como agente deviagem. "Eu nunca me desliguei totalmente da avi-ação", comenta. Concomitantemente com as ativi-dades comerciais, Pery Lamartine exercita o seuofício de escritor publicando artigos e livros sobreo assunto, quais sejam 'Epopéia nos ares' e 'Escape- Estórias de aviador', onde relata dez casos dostempos de piloto. Afora a aviação, o outro temacaro ao escritor é a região do Seridó. No total, sãodez livros que lhe garantiram o passaporte para aAcademia Norte-Rio-Grandense de Letras,empossado que foi em 27 de abril do ano 2000.

Dos tempos idos relembra a amizade leal de AugustoSevero Neto. Quando Pery Lamartine inicia o curso depiloto privado no Aero Clube do RN, Augusto Severojá era aviador brevetado. A amizade perdura para o restoda vida. "Nós nos freqüentávamos bastante, até porqueas nossas famílias também eram amigas", conta. (PJD)

Da esqueda para direita: Ernani da Silveira, Augusto Severo Neto, Pery Lamartine e Aldo Martins Paiva

Pery Lamartine: autor de dez livros

Arquivo: Pery Lamartine

9Natal - Maio de 2005 nós, do RNSuplemento

Saint-Exupéry esteve mesmo em Natal? PeryLamartine depõe que o autor do O PequenoPríncipe só esteve na América do Sul no perío-

do de outubro de 1929 a janeiro de 1931, quandonomeado diretor da Aeroposta Argentina, subsidiáriada empresa francesa Latécoère. Como diretor e tam-bém aviador profissional, Saint-Ex tinha um avião àsua disposição para fazer visitas a todas as bases delinha. Natal era uma das principais, pois aqui se faziaa baldeação das malas postais entre os navios e osaviões ou vice-versa. Assim sendo, Natal hospedavaconstantemente tripulações completas para substituiros pilotos na escala de vôo.

Dos depoimentos colhidos de pessoas que,supostamente, estiveram com o aviador e escritor,Pery considera o do jornalista Nilo Pereira o maisconsistente, pois, conforme o repórter, ao chegarpara entrevistar Jean Mermoz, foi apresentado aSaint-Exupéry. Os outros depoentes são o encarrega-do do setor de rádiodifusão da Aeroposta Argentinaem Natal, Rocco Rosso; dona Amelinha Machado(Viúva Machado); escritora Nati Cortez; SeverinaAlves Barbosa (Siva) e o escritor Lair Tinoco.

"Saint-Ex era muito inteligente, mas não era umbom piloto. Por força de sua posição na empresa, elepoderá ter vindo, naqueles 15 meses que esteve naArgentina, no máximo duas vezes. Acho provável, masnão acho fácil", ressalva o pesquisador, informando queprovavelmente existem fotos da possível presença deSaint-Ex em Natal na antiga residência da ViúvaMachado.

Atualizado sobre os rumos da aviação, constataque o Brasil é um dos países onde ela mais tem sedesenvolvido, citando, como exemplo, a Embraer, aterceira empresa do mundo na arte de construiraviões. Verifica ainda que a aviação avançou bastantecom o jato puro, "absolutamente seguro". E encerra:"Hoje, um dos grandes dilemas da aviação é a infra-estrutura dos aeroportos que não acompanharam aevolução das máquinas". (PJD) Saint-Ex tinha um avião à sua disposição para fazer visitas a todas as bases da Aeroposta Argentina

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Foto: Cedida

10 Natal - Maio de 2005nós, do RN Suplemento

Natal insinuava-se, aeroplanicamente, no século dasgrandes conquistas aéreas que arrebatavam o pla-neta Terra. E uma onda de contentamento e eufo-

ria varreu a cidade, presenteada, naquele calorento pós-meio-dia daquela quinta feira de verão, a 21 de dezembrode 1992, com um mimo, despachado do céu: o chacoa-lhante Sampaio Corrêa II, o primeiro hidroa-vião asobrevoar e pousar sobre o multicentenário rio Potengi,após uma espumante aquaplanagem, pelas 13 horas, apoucos metros do cais Tavares de Lira, na Ribeira, desas-sossegando a dorminhoquenta e agora febricitante capitaldo Rio Grande do Norte.

Os natalenses estavam boquiabertos e alumbrados,diante daquela visão pioneira, um pioneirismo que serevestia de outra preeminência histórica, aliás, de umaabrangência internacional, por materializar-se na primeiraaeronave a cruzar os céus do Brasil, procedente dosEstados Unidos. A aventura Nova York-Natal, um vôode mais de 4.500 milhas, a ser terminado no Rio, no anoseguinte, quando o temerário avião completou 5.587 mi-lhas de aventura aérea. E a "colossal massa popular,eufórica e pasma, se enxameava num desenfreado frenesicoletivo.

O magro e espigado governador Antônio deSouza, em seu segundo mandato, bem alojado no altodo terraço do Palácio Hotel, nas imediações daembandeirada e fervilhante avenida Tavares de Lira, apoucos metros do Potengi, epicentro das homena-gens aos 'heróis" da Libélula de Aço, assim descritopelos jornais, esfregava seus óculos de míope, e ensa-iava uma posição mais adequada, ao empalmar umadas mãos, em concha, para se proteger do sol fusti-gante, ao mesmo tempo que espichava cabeça, acom-panhando a sinuosa ginástica aérea do aparelho emredor da cidade e do espelhante rio.

Trajando um paletó de linho branco, com uma rosavermelha acomodada na lapela, um sorridente e simpáticosenhor, cofiava o seu espichado bigode branco, sempre aolado do governador. E sempre acenando para multidão.Era Ferreira Chaves, ex-governador do Estado, cumpridorde dois mandatos e recém-saído de dois ministérios doPresidente Epitácio Pessoa. E, nas rodas políticas, chama-do, reverencialmente, de "O Chefe", pela sua condição deprincipal "herdeiro" do espólio político-administrativo, navacância do poder, pela morte prematura, em 1907, dePedro Velho, manda-chuva do arraial papa-jerimum.

Atravessando o rio, numa lancha, uma parte dacomissão executiva dos festejos, criada para recepcionaros "heróis alados" durante os dois dias em que pretendiatê-los hospedados, aproximava-se do Sampaio Corrêa. .O capitão da polícia militar, Apolônio Seabra, ajudante deordens do governador, foi destacado, à frente da comiti-va, para recepcioná-los. Uma imponente flotilha de iolesdo Centro Náutico Potengi e do Sport Clube Natalguarnecia o aparelho, de onde desceram três ame-ricanose um brasileiro: o piloto Walter Hinton, o co-piloto PintoMartins, o repórter George Thomas Bye, do New YorkWord (jornal responsável pela compra do Avião) e ocinegrafista John Thomas Baltzel, da Pathé News, quedesceu de filmadora em punho, documentando mais umaapoteótica recepção e a primeira filmagem em territóriodo Rio Grande do Norte.

"Besta fera" voadora - Ao descer no cais daTavares de Lira, os visitantes instalaram-se numpalanque armado nas imediações, recebendo as

primeiras homenagens oratórias. O "talentoso" padreManoel Barreto, com uma "tocante oração", iniciou aperegrinação de saudações, seguido pelo orador-mor dacidade, o futuro senador Kerginaldo Cavalcanti, que dis-cursou, a pedidos, com "emoção e entusiasmo". A mul-tidão ululava de euforia e felicidade, inebriada pelachegada da alumbradora visão pioneira. Numa cidadede atávica herança místico-religiosa, a legião de supersti-ciosos mais fanáticos também dava o ar de sua graça. Ealguns deles, benzendo-se, associava nessa geringonçavoadora uma espécie de encarnação daquela "bestafera" celeste trombeteada nas cochichadas re-velaçõesdo Apocalipse de São João.

Depois do empurra-empurra do desembarque, os ilus-tres desbravadores se aproximavam para entrar e almoçarno Palácio Hotel, local do pernoite, custeado pelo gover-nador, com fama de sovina, o já consagrado poetaOtoniel Menezes declamou, da sacada do alto de uma dasjanelas, um belo soneto, de "sua lavra", vertido, providen-cialmente para o momento. Os visitante foram recebidos,mais tarde, em audiência exclusiva, no Palácio doGoverno, na praça 7 de setembro, na Cidade Alta, pelogovernador Antônio de Souza, que despachou elogios sin-ceros, vibrante pela ousadia da temerária aventura. A lojamaçônica 21 de Março homenageou, destacadamente,Pinto Martins, pela sua condição de sócio nata-lense eofereceu ao grupo um jantar íntimo.

A brilhante e pioneira aparição do Sampaio CorrêaII, porém, ficou um pouco ofuscada, na populaçãonatalense, por um pequeno deslize, suficiente para aimprensa registrar um profundo sentimento de frus-tração: a inesperada decolagem, na manhã seguinte, bemcedinho, quando os tripulantes do hidroavião sequerdespediram-se da população e rumou em direção àParaíba. Havia a promessa de que, não podendo ficarnos dois dias em que seriam homenageados, per-maneceriam, pelo menos, até à tarde. Natal, poucodepois, tomaria conhecimento de mais um pouso força-do do destrambelhado aparelho, na praia de BaíaFormosa, ao sul da capital, com o motor esquerdo fun-dido. Foi a última e polêmica passagem de PintoMartins, que jamais voltaria a ver Natal, cidade de suamovimentada infância e adolescência de sonhos ousa-dos e visionários.

Pinto Martins,o cearense,quase norte-rio-grandense

Carlos Morais

Alguns natalenses já conheciam e lembravam-se de Euclides Pinto Martins,o arrojado co-piloto e mecânico, de pouco mais de 30 anos, considerado,aliás, até mais norte-rio-grandense do que cearense. Pelo fato de apenas,praticamente, ter nascido em Camocim (CE), a 15 de abril de 1892. O

mossoroense Antônio Pinto Martins, três meses depois, transferido de seuemprego, para Macau, cidade portuária da região salineira do Rio grandedo Norte, onde batizou o filho, pouco depois, a 28 de julho, na paróquia deN.S da Conceição e registrou-o no cartório macauense. Sua primeira infân-

cia transcorreu, portanto, na movimentada e tradicional cidadezinhalitorânea, enquanto sua adolescência foi passada em Natal,

para onde seu pai, quase na virada do século XX, providenciou nova mudança. A cidade conheceu, então, o precoce Pinto, chegado

aos 5 anos de idade que estudou no Colégio Americano, que o preconceito anti-evangélico da época batizou de Colégio das Capas Verdes,

dirigido pelo pastor William Porter, e no velho e tradicional Ateneu, deonde saiu para Recife e para ganhar o mundo e a glória.

Pinto Martins: co-piloto do Sampaio Corrêa II

Foto: Cedida

11Natal - Maio de 2005 nós, do RNSuplemento

Flagrante do Sampaio Corrêa II sobrevoando o Rio Potengi em 21 de dezembro de 1922

A gloriosa e tr·gica epopÈiado Sampaio CorrÍa IIEuclides Pinto Martins, em pouco mais de 15

anos, atravessou sua atribulada existência àsemelhança de um cometa, espalhando um ful-

gurante rastro de sua luminosa passagem - rasgando oscéus dos Estados Unidos, da América e do Brasil.Vestiu-se de glória ao protagonizar uma gloriosa, aci-dentada e quase trágica epopéia aérea, iniciada a 16 deagosto de 1922, em Nova York, quando o presidenteEpitácio Pessoa administrava o Brasil, num períodotumultuoso, pelo início de um ciclo revolucionário derevoltas e rebeliões desfechado por jovens tenentesmilitares e que desencadearia, oito anos depois, naRevolução de 1930. Conseguiu sobrevier, ao lado dostrês companheiros, quando seu primeiro avião, oSampaio Corrêa, mergulhou nas proximidades do marde Cuba.

Desassossegado e desassombrado, batalhou e con-seguiu reiniciar a penosa travessia, com um novo apar-elho, o Sampaio Corrêa II, debaixo de uma apoteóticadespedida, nos Estados Unidos. Sempre aos trancos ebarrancos, enfrentando permanentes riscos de vida, emfunção da insustentável fragilidade do seu quebradiçocalhambeque voador.

Até desembarcar, finalmente, quase meio anodepois, numa Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro,fuzarcante de instabilidade, a 8 de fevereiro de 1923,época em que o país, encarcerado, constitucionalmente,em estado de sítio, e já com o novo presidente, o irre-dutível mineiro Artur Bernardes, que os recebeu noCatete, o popular "Palácio das Águias", de uma march-inha carnavalesca do ano anterior, criado no ritmo daacirrada disputa sucessória. Acolhidos com todos osméritos. Haviam, afinal, devorado 5.587 milhas, emmais de 100 horas de vôo, entre os Estados Unidos e oBrasil. Ninguém ousara, ainda, desafiar essa imemoráv-el ícara façanha.

Suicídio, o espinho da glória - Esfriado um poucoo período de euforia pela sufocante travessia, os atrope-los dos participantes ainda não haviam terminado. Opiloto Walter Hinton terminou vítima de uma despedidaconstrangedora do Brasil. A Câmara dos Deputados, noRio, aprovara um projeto, concedendo 200 mil réis aosaudazes pilotos. Depois de amargar um desagradávelchá de espera, Hinton, desesperançado com o caloteparlamentar, submeteu-se ao vexame de empenharobjetos pessoais e do Sampaio Corrêa, recolhendo osuficiente para conseguir sua passagem para retornar aoseu país, os Estados Unidos.

Provação bem mais desventurosa sofreria seu com-panheiro brasileiro. Após as flores e a glorificação emvida, Pinto Martins terminou espetado pelos espinhosde sua desventura. Um ano e meio depois, o ousado

sonhador está atolado em dívidas - 19 000 dólares, gas-tos acumulados no rebuliço da empreitada - e envolvidonum nebuloso suicídio. 12 de abril de 1924, a três diasde completar seu 32.º aniversário de vida, o façanhudoaventureiro é encontrado morto, no seu quarto, abatido

com um tiro na cabeça."Está provado que ele chegou a este estado de

desespero, levado por privações muito cruéis... Suamorte foi consequência da dignidade e altivez de seucaráter”, desabafou, desconsoladamente , seu pai. (CM)

192216 de agosto: uma pequena avaria na asa esquerda, cancela a

partida do Sampaio Corrêa para a travessia das Américas17 de agosto: o Sampaio decola, do estuário do rio Hudson, em

Nova York21 de agosto: o Sampaio Corrêa choca-se com as ondas, durante

um temporal, caindo no Atlântico, a leste de Cuba. A canhoneiraDenver, da Marinha dos EUA, socorre os cinco aventureiros e ostransporta para a Base de Guantânamo, em Cuba.

4 de setembro: com o avião afundado e descartado, retomam adecisão de prosseguir a aventura. O jornal The New York Word com-pra um velho e encostado avião da Escola Naval de Pensacola, naFlórida, rebatizado por Pinto Martins de Sampaio Corrêa II.

7 de setembro: decolam da Flórida e pousam em Porto Príncipe,onde passam 30 dias consertando uma avaria e esperando, pornavio, peças trazidas dos Estados Unidos.

7 de outubro: prosseguem a viagem, finalmente, e chegam a SãoDomingos, na República Dominicana.

15 de outubro: depois de enfrentar sérios temporais, chegam aPort Spain, em Trinidad e Tobago, demorando-se ali por mais 30dias, com troca de hélices e outros concertos.

21 de novembro: decolam para Georgetown, na Guiana Inglesa, e dalipara Paramaribo, na Guiana Holandesa, e Caiena, na Guiana Francesa.

1º de dezembro: entram e pousam, enfim, em territóriobrasileiro, no rio Cunani, ao norte da foz do Amazonas, no Estado doPará. Depois, rumam para Belém e Bragança, pousando, emergen-cialmente, assustado com um temporal tropical.

14 de dezembro: mergulham, ao meio-dia, na Baía de São Marcos,na ilha de São Luís(MA), permanecendo por cinco dias.

19 de dezembro: após 4h30 de viagem de São Luís, o SampaioCorrêa II pousa em Camocim, terra-berço de Pinto Martins, recebido

com inesquecíveis homenagens - virando logo nome de praça nocentro da cidade.

20 de dezembro: temendo amerissar nas agitada água da ensea-da do Mucuripe, o Sampaio II evita Fortaleza e pousa em Aracati.

21 de dezembro: são festivamente recepcionados em Natal.22 de dezembro: Logo cedo partem para a Paraíba, mas uma

pane no motor obriga o Sampaio II a um pouso forçado na praia deBaía Formosa, praia do litoral norte-rio-grandense, já perto da fron-teira da Paraíba, de onde Pinto vai tentar buscar peças em Recife.

25 de dezembro: depois de dois dias em Recife, Pinto Martins,volta e encontra o avião em estado precário, mal conseguindoalcança Cabedelo, na Paraíba, com um dos motores estourado.

1923A viagem só prosseguiu graças ao comandante da Aviação Naval,capitão Protógenes Guimarães, que garante um motor novo aoSampaio Corrêa. No prosseguimento da travessia, desembarcamem Recife, palco de outra apoteótica recepção, durante três dias.Pinto Martins recebe um carinho especial da família, confortadopelo pai, seu grande incentivador, e pelas irmãs, Abigail e Carmen.Na reta final para a longa epopéia, atingem Maceió, Salvador, PortoSeguro, Vitória e Cabo Frio.

8 de fevereiro: o Sampaio Corrêa sobrevoa a Baia de Guanabara,às 11h32, sendo recebido na amerissagem pela lanchaIndependência, do Ministério da Marinha, quando Sampaio Corrêa,ex-chefe de Pinto Martins em Natal, e presidente do Aero Clube doRio de Janeiro, dá seu primeiro abraço no amigo, confraternizando-se, em seguida, com Hinton e com os jornalistas George Bye e JohnBaltzel. O presidente Artur Bernardes depois receberia o grupo.

Crônica dos calhambeques voadores

Foto: Cedida

Se existe uma cidade que pode ser consideradacomo uma das mais importantes para a históriada aviação, este lugar só pode se chamar

Parnamirim. Aquela imensa planície que foi chama-da inicialmente de Campo dos Franceses e hoje abri-ga uma das maiores pistas de pouso da AméricaLatina, guarda momentos grandiosos da aviação noBrasil. Para se compreender melhor esta saga, umaleitura interessante, entre outras, é o livro A Históriade Parnamirim, do jornalista Carlos Peixoto.

Depois de familiarizar o leitor com a geografia domunicípio de Parnamirim, que começou com achegada dos trilhos da linha férrea entre Natal eNova Cruz, Peixoto vai narrando o início desta aven-tura nos céus potiguares. Um casal de fidalgos com-prou uma extensa área de tabuleiro conhecida como"a planície de Parnamirim". Esta área iria determinaro futuro da aviação no Rio Grande do Norte.

"O Pitimbu era um latifúndio na sua maior partedeserta, sem proveito e sem benfeitorias, como havi-am estado há séculos aquelas terras. As vizinhançaspovoadas mais próximas eram os sítios do Alecrim,limites da cidade do Natal e o arruado de Taborda,em São José do Mipibu. Mas, dos céus, literalmente,chegariam os homens que veriam na planície deParnamirim um pedaço de terra da maior importân-cia", escreveu Peixoto.

Os primeiros a chegar foram os franceses. Haviauma necessidade de se ampliar os serviços comerciaispor via aérea entre a Europa e a América. Em janeirode 1925, uma missão liderada pelo príncipe CharlesMurat e formada pelos pilotos Victor Hamm,Joseph Roig e Paul Vachet, mais três mecânicos, ecom três aviões Bréguets 14, chegou ao Brasil paraabrir novas rotas e escolher áreas ao longo delasonde pudesse ser instalada uma rede de aeroportos.A primeira destas rotas seria entre o Rio de Janeiro eBuenos Aires. Depois entre o Rio e Natal, criando-

se condições para o enlace com a rota já estabeleci-da entre a Europa e a África.

As observações do piloto francês Paul Vachet sobreas condições do campo de pouso de Parnamirim foramfundamentais para o desenvolvimento da aviação emterras potiguares. Carlos Peixoto retira um trecho emo-cionante (pelo menos para “nós do RN”) dasmemórias de Vachet em que o piloto conta em detalh-es como conseguiu a doação do terreno para a criaçãodo aeródromo. As terras pertenciam ao lendário com-erciante português Manuel Machado, que era dono deum rico comércio na Ribeira, em Natal. Dotado de umagrande visão de futuro, o comerciante viu ali a oportu-nidade de valorização de suas terras e fez a doação de milmetros quadrados a Paul Vachet, que posteriormentetransferiu a escritura para a Compagnie GeneraleAéropostale.

"Em troca a M. Machado & Cia foi contratada paradesmatar, limpar, nivelar e cercar o terreno onde seriaconstruído o aeródromo", disse o jornalista.Posteriormente, o comerciante ainda vendeu novospedaços de terra para a ampliação do que viria a serchamado de Aeroporto de Parnamirim. A partir daícomeçaram os grandes feitos da aviação no RioGrande do Norte.

Em 14 de outubro de 1927, os pilotos Joseph LêBrix e Dieudonné Costes, concluíram em poucomais que 19 horas o vôo de 3.200 quilômetros doSenegal a Natal. O primeiro aeroplano a fazer issosem escalas. E um dado curioso: a aterrissagem foifeita à luz de fogueiras. A partir de novembro domesmo ano foram instalados os vôos regulares parao sul do Brasil, "com um avião Late-25, pilotado porPivot, auxiliado pelos mecânicos Pichard e Gaffe".Em setembro de 1928, mais um feito notável: oLaté-25 fez um vôo direto de São Paulo a Natal em18 horas.

Construindo pontes no céu 12 Natal - Maio de 2005nós, do RN Suplemento

Carlos Souza

Ilustração Emanoel Amaral

Parnamirim ganha famaEm apenas dois anos após o início das operações,

Parnamirim já era um dos melhores e mais bem equipa-dos campos de pouso da Aéropostale, contando comtorres de rádio, sinalização, hangares, oficinas,armazéns, poços artesanais e alguns chalés parahospedar os pilotos e as famílias dos funcionários daadministração. A partir de 1933, a Air France entrou nolugar das empresas particulares. Começaram a chegarem Natal aviões mais possantes, como o trimotor Arcen-Ciel, de Jean Mermoz, e um quadrimotor que faria atravessia regular entre Natal e Dakar, na África.

A partir daí o campo de pouso de Parnamirim ganhoufama no mundo inteiro. Em abril de 1934, esteve poraqui a aviadora norte-americana Laura Ingalls, queafirmou estar passando por Parnamirim apenas pelacuriosidade de conhecer um campo de pouso muitocomentado entre os colegas aviadores. Depois foi avez de Marise Bastié, em dezembro de 1936, "quecompletava o raid Paris-Dakar-Natal em 12 horas e 7minutos, e Amélia Earhart (7 de junho de 1937), quetentava completar um vôo ao redor do mundo (eladesapareceu com seu avião, um Lockhead-Electra, nomês seguinte, sobre o oceano Pacífico)".

Para os apaixonados pela aviação, ou mesmo para osleigos, o livro A História de Parnamirim dá ao leitor amesma sensação de aventura que fez desses pilotos osgrandes heróis da era dos aviões. Ao ler sobre as façanhasdesses pilotos, parece que embarcamos juntos com elesem suas viagens. Ficamos até mesmo sabendo quequem fez a primeira travessia Natal-Dakar não foi olendário Jean Mermoz, mas um quase anônimo BertHinkler, um australiano que chegou em Natal, no dia 23de novembro de 1931, pilotando seu monoplano desdeo Canadá, e partiu no dia 25 rumo à África, com apenasuma bússola e um sagüim comprado em Fortaleza. Feza viagem em 22 horas de vôo. Jean Mermoz só repetiriao feito em junho de 1933.

"A importância de Parnamirimpara o desenvolvimento da aviaçãointernacional foi reconhecida desdeo início das operações no campoconstruído pelos franceses.O conceitoe a fama de ser um campo bem estru-turado e estrategicamente posi-cionado como ponto de parti-da ou chegada na ponte aéreasobre o Atlântico Sul atraírampara Parnamirim ases daaviação de todas as naciona-lidades", conta Peixoto.Depois disso, só a grandeexplosão de desenvolvimen-to provocada pela chegada dosnorte-americanos no campo depouso de Parnamirim,durante aSegunda Grande Guerra. Masisso é outra história. Só lendoo livro de Carlos Peixotopara saber. Jornalista Carlos Peixoto

13Natal - Maio de 2005 nós, do RNSuplemento

Foto: Emerson Amaral

JOÃO

DEDEU

S EM NATALVisto pelos

Fotógrafos

João Paulo II foi o primeiro Papa a visitar Natal, na segunda viagem que fez ao Brasil. Nos dias 12 e 13 deoutubro de 1991, o Sumo Sacerdote da Igreja Católica arrebatou uma multidão de fiéis por onde passou.

Ficou hospedado na Casa de Hóspedes, no Centro de Treinamento em Ponta Negra. No dia 13 de outubro,participou do solene encerramento do XII Congresso Eucarístico Nacional, que se realizava desde o dia 06no Papódromo, onde celebrou uma missa. Visitou e benzeu a Capela do Santíssimo, na cripta da Catedral e

almoçou com bispos no Centro de Convenções. Partiu ainda no dia 13, em direção a Maceió.Quatorze anos depois, em abril de 2005, o mundo acompanhou sua agonia, despedindo-se daquele que,

entre nós, ficou conhecido como João de Deus. Sua passagem por Natal, no entanto, ficou imortalizada namemória de todos aqueles que presenciaram o grande acontecimento. Ficou imortalizada também pelaslentes dos fotógrafos que fizeram a cobertura da peregrinação do Santo Papa na cidade dos Reis Magos.

Nesta e nas próximas páginas, publicamos fotos e depoimentos destes profissionais que estiveram tão pertodele, colhidas pelo repórter Edson Benigno.

"Fiquei emocionado com o gesto do Papa, na missa realizada no Papódromo, quando ele beijou o altar e aBíblia. Consegui tirar essa foto, que foi considerada a melhor pelos colegas jornalistas: Orlando Brito

(Revista Caras), Evandro Teixeira (Jornal do Brasil), Jorge Araújo (Folha de São Paulo) e Fernando Silva(Jornal do Comércio). Eu não tinha acesso a ficar próximo ao Papa, era impedido pela segurança, tive que

usar uma máquina fotográfica de alcance mais distante". Emerson Amaral (Tribuna do Norte)

14 Natal - Maio de 2005nós, do RN Suplemento

"Ahumildade e a simplicidade, diante

da multidão de gente, em sua passagem noPapamóvel na avenida Engenheiro Roberto Freire.

Foi uma das fotos que tive a oportunidade de registrardo Santo Papa. Apesar de ser orientado para não avançar,

cheguei a presenciar várias pessoas chorando, e outraschamando por João de Deus".

Carlos Santos (Diário de Natal)

"Fuiconvocado a trabalhar mais próxi-

mo ao povo. Fotografei pessoas chorando,tentando furar as barreiras dos seguranças, de joe-

lhos, de lenços brancos, etc. Também tive a oportu-nidade de fotografar o Papa, no momento em que o

carro Papamóvel se aproximava da Catedral. Eleestava acenando para a multidão de fiéis".

Carlos Silva (Diário de Natal)

"Na descida dos degraus daCatedral (sacristia) tive a felicidade de falar

com o Papa, e o fotografei. A simplicidade delefoi tudo para mim. Chamei-o de sua Santidade, ele

olhou, saudou com o olhar carinhoso. Outra passagemque me recordo bem, foi no Papamóvel, próximo ao

Papódromo, em que fieis gritavam pelo seu nomee ele respondia com um aceno de mão".

Eduardo Maia (Diário de Natal)

Foto: Carlos Santos

Foto: Carlos Silva

Foto: Eduardo Maia

15Natal - Maio de 2005 nós, do RNSuplemento

"Euestava trabalhando, mas na

entrada do Papa no Papódromo, sentimuita energia e muita paz. A foto que me

chamou mais a atenção foi na chegada dele no aero-porto, quando ele beijou o chão. Por ser credenciado,fiquei a três metros de distância do Papa e tive a felici-

dade de presenciar grupos de pessoas chorando deemoção, outras com o semblante sorridente, tambémdemonstrando sua emoção e alegria por estarem na

presença do Papa tão comunicativo".Moraes Neto

(Diário de Natal)

"Acheio Papa muito humano, carismático, umanjo, passando no meio da multidão, no

Papódromo. Curiosamente, por coincidência, uma dasfotos que eu registrei, pegou a imagem do Papa envolvidapor um reflexo da luz, dando a idéia nítida de uma cruz".

Ana Silva (Tribuna do Norte)

"Nãofoi preciso ir ao Vaticano, o Papa

veio a mim. Fotografei o Papa a um metrode distância. Esse foi o momento mais importante

da minha carreira. Também no Papódromo, tive a feli-cidade de fotografar, no final da missa, o Papa caminhan-do em direção ao povo e, com sua mão direita, tocando

no ombro de uma senhora".João Maria Alves (Tribuna do Norte)

Foto: João Maria Alves

Foto: Moraes Neto

Foto: Ana Silva

..................................................................................................................................................................................Natal - Maio de 200516 Suplemento

JOÃO DE DEUS

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Reprodução da capa da história em quadrinhos sobre a visita do Papa à Cidade do Natal, de autoria de Adrovando Claro e Emanoel Amaral.