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do desenvolvimento Fevereiro de 2007 • Ano 4 • nº 31 desafios JUSTIÇA Arbitragem, mediação e conciliação. Sistemas alternativos ao Judiciário convencional ganham força DENTRO DA LEI Pesquisa do Ipea mostra que, fora das regiões metropolitanas, a informalidade está diminuindo ELETRIFICAÇÃO Engenheiro gaúcho cria sistema para aproveitamento de energia solar nos recantos mais isolados do país urbano Pedágio A quantidade de veículos circulando nas grandes cidades está cada vez maior. A taxação do uso do carro, apesar de impopular, é a solução mais indicada pelos especialistas para aliviar o problema desafios Fevereiro 2007 • Ano 4 • nº 31 www.desafios.org.br R$ 8,90 Capa_OK 01/02/07 10:55 Page 1

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do desenvolvimento

Fevereiro de 20

07

• Ano 4

• nº 3

1 desafios

JUSTIÇAArbitragem, mediação e conciliação.Sistemas alternativos ao Judiciário convencional ganham força

DENTRO DA LEIPesquisa do Ipea mostra que, fora das regiões metropolitanas, a informalidade está diminuindo

ELETRIFICAÇÃOEngenheiro gaúcho cria sistemapara aproveitamento de energia solarnos recantos mais isolados do país

urbanoPedágio

A quantidade de veículos circulando nas grandes cidades está cada vez maior.

A taxação do uso do carro, apesar de impopular, é a solução mais indicada

pelos especialistas para aliviar o problema

desafiosF e v e r e i r o 2007 • Ano 4 • nº 31 w w w . d e s a f i o s . o r g . b r

R$ 8,90

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4 Desafios • fevereiro de 2007

Luana PinheiroLei Maria da Penha: a caminho de um ponto final?

João Guilherme Sabino OmettoEm defesa do agronegócio

desafiosdo desenvolvimento

8

16

22

30

38

44

52

Entrevista Ciro de QuadrosSaúde é o que interessa

Transporte Pedágio urbanoPara aliviar os engarrafamentos, especialistas recomendam taxação do uso do carro

Sociedade Sem togaSistemas alternativos de acesso à Justiça crescem no país

Economia Pequenas, mas poderosasNova lei da microempresa cria melhor ambiente de negócios

Artigo Anjo ou demônio?Os impactos do comércio chinês na América Latina

Trabalho Como manda o figurinoPesquisa do Ipea mostra que a informalidade diminui fora das regiões metropolitanas

Melhores práticas Uma idéia luminosaTecnologia barata leva energia para quem mora no campo

29

51

Sumário

Artigos

22

Giro

Circuito

Estante

Indicadores

Cartas

6

60

62

66

64

Seções

Ilustr

ação

Orla

ndo

38

Raym

ond

Gehm

an/G

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Imag

es

44

Iara

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SUMARIO 31/01/07 20:09 Page 4

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Desaf ios • fevereiro de 2007 5

Esta edição de Desafios traz uma capa maravilhosa para tratar de umassunto nada maravilhoso: o enorme volume de veículos que lotam as ruasdas metrópoles, poluindo o ar, consumindo combustível, provocandoengarrafamentos e gerando acidentes. O problema salta aos olhosdiariamente e uma das soluções mais consideradas é a implantação dopedágio urbano. Claro que ninguém quer mais um imposto para pagar, mastodos precisam de mais espaço para circular, mais oxigênio para respirar emais tempo para dedicar às coisas boas da vida em vez de levar horas sedeslocando de casa para o trabalho e vice-versa.A idéia está lançada, jáfunciona em algumas capitais do mundo e ganha mais adeptos a cada dia.Aliás, os engarrafamentos são apenas um dos problemas específicos dasgrandes cidades.A reportagem “Como manda o figurino” apresenta umestudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrando quea informalidade vem caindo de forma sistemática fora das regiõesmetropolitanas. Espera-se que esse movimento continue e mesmo seacentue, especialmente com a entrada em vigor da Lei Geral das Micro ePequenas Empresas e com o anúncio do Plano de Aceleração doCrescimento.A matéria “Pequenas, mas poderosas” mostra quais são asnovas perspectivas para os empreendimentos de pequeno porte. Na seçãoMelhores Práticas, trazemos o exemplo de Fábio Rosa, um engenheiro quetransformou-se em pequeno empresário visando colocar em prática umsistema barato e inovador para levar eletricidade ao campo. No lugar dapoderosa rede trifásica, uma instalação monofásica e, onde não há comoconectar-se à rede, uma placa de geração solar. Seu modelo simplificado deeletrificação rural já beneficiou mais de 1 milhão de brasileiros, o que ocolocou entre os 25 finalistas da última edição do The Tech Museum Awards,prêmio concedido pelo The Tech Museum of Innovation, no Vale do Silício,Califórnia, EUA.A reportagem “Sem toga” também trata deempreendimentos, mas de outra natureza. Ela fala sobre a iniciativa dos queescolhem caminhos alternativos para resolver as discórdias, sem ter deapelar ao Judiciário. São pessoas e empresas que fazem uso das quaseduzentas Câmaras de Arbitragem existentes no Brasil. Elas se tornam cadavez mais populares e solucionam problemas de forma mais rápida e eficientedo que a Justiça convencional.Ainda temos uma entrevista com o doutorCiro de Quadros, um médico brasileiro que assumiu o comando doInstituto Sabin de Vacinas, com sede em Washington, e um artigo sobre osimpactos do comércio chinês na América Latina. Boa leitura!

Andréa Wolffenbüttel, Jornalista Responsável

Cartas ou mensagens eletrônicas devem ser enviadas para: cartas@desaf ios.org.brDiretoria de redação: SBS Quadra 01, Edifício BNDES, sala 801 - CEP 70076-900 - Brasília, DFVisite nosso endereço na internet: www.desaf ios.org.br

Carta ao leitor

Patrocínio

desafiosdo desenvolvimento

www.desafios.org.br

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)PRESIDENTE Luiz Henrique Proença Soares

Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento (Pnud)REPRESENTANTE INTERINO NO BRASIL Kim Bolduc

DIRETOR-GERAL Luiz Henrique Proença Soares

ASSISTENTE Mary Cheng

CONSELHO EDITORIAL Andréa Wolffenbüttel,Alexandre Marinho, Bruno Araújo, Divonzir Gusso,Francisco Gaetani, João Carlos Magalhães,Leonardo Rangel, Luiz Fernando L. Resende,Luiz Henrique P. Soares, Mary Cheng, Murilo Lobo,Pérsio Davison, Renato Villela,Yolanda Polo

RedaçãoSBS Quadra 01, Edifício BNDES, sala 801CEP 70076-900 - Brasília, DFTel.: (61) 3315-5188 Fax: (61) 3315-5031

JORNALISTA RESPONSÁVEL Andréa Wolffenbüttel

ColaboradoresTEXTO Ottoni Fernandes Jr., Lia Vasconcelos,Eliana Simonetti, Giedre Moura, Marcello Antunese Patrícia Marini

FOTOGRAFIA Eduardo Tavares, Ricardo Labastiere Tânia Meinerz

ILUSTRAÇÃO Orlando Pedroso

REVISÃO Ivana Gomes

ARTE E DIAGRAMAÇÃO Renata Buono DesignRenata Buono, Rafaela Ranzani e Luciana Sugino

FOTO DA CAPA Cary Wolinsky/Getty Images

Circulação e PublicidadeRua Urussuí, 93, 13° andarCEP 04542-050 - São Paulo, SPTel./Fax: (11) 3073-0722

Administração Instituto UniempAv. Paulista, 2198, conjunto 161CEP 01310-300 - São Paulo, SPTel.: (11) 2178-0466 Fax: (11) 3283-3386

Assinaturas TeletargetTel.: (11) 3038-1479 Fax: (11) [email protected]

Atendimento ao Jornaleiro LM&XTel.: (11) 3865-4949

Impressão Prol Editora Gráfica

Distribuição Fernando Chinaglia Distribuidora S/A

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Organização das Nações Unidas

OS ARTIGOS E REPORTAGENS ASSINADOS NÃO EXPRESSAM, NECESSARIAMENTE,A OPINIÃO DO IPEA E D OPNUD.É NECESSÁRIA A AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES PARA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL

DO CONTEÚDO DA REVISTA.

CARTA 31/01/07 20:10 Page 5

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6 Desafios • fevereiro de 2007

GIRO

O Brasil possui 775 espécies de plantas de potencialvalor econômico que não estão sendo exploradas,em-bora haja condições para seu aproveitamento indus-trial imediato.Um exemplo é a goiaba serrana,naturaldo Brasil,que é ingrediente de sucos,biscoitos,geléias,óleos e até champanhe na Nova Zelândia.A descober-ta surgiu de um levantamento feito pelo projeto Plantasdo Futuro com recursos do Projeto de Conservação e

Utilização Sustentável da Diversidade BiológicaBrasileira (Probio). Neste ano, serão lançadas cincopublicações – uma para cada região do país – com in-formações detalhadas sobre o potencial das 775 espé-cies,denominadas plantas do futuro.Entre elas 148 sãoornamentais, 99 medicinais, setenta alimentícias efrutíferas,31 oleaginosas e nove aromáticas.Objetivo:divulgá-las e incentivar seu uso sustentável.

Safras

Otimista, mas nem tanto

A alta dos preços domésticos deprodutos agrícolas importantes,em função das altas respectivasdos preços internacionais, estáanimando o setor. O caso maisdestacado é o do milho, cuja co-tação subiu devido ao aumentode sua utilização na produção deetanol nos Estados Unidos. Issobastou para aumentar tambémos preços da soja e do trigo.Outro fator positivo é a queda nacotação do petróleo,o que ajudaa diminuir os custos de trans-porte e os preços de insumosagrícolas. Entretanto, esse ventoa favor, após dois anos de con-dições climáticas adversas, au-mentos de custos,queda dos pre-ços internacionais e apreciaçãocambial, encontra o setor muitoendividado. Como o sistema fi-nanceiro costuma reduzir a con-cessão de empréstimos novos aum setor muito endividado,o re-sultado poderá ser que a retoma-da da atividade agrícola não váalém da mera recuperação dosníveis de produção de 2004/05.

Agricultura

Plantas do futuro

Em 2006 foram libertados 3.187trabalhadores mantidos em situa-ção de escravidão no Brasil, se-gundo levantamento preliminardo Ministério do Trabalho e Em-prego (MTE). É bastante gente,mas a queda em relação a 2005foi significativa: 26,7%. Na ava-liação dos técnicos do MTE, acriação de grupos móveis de fis-calização,que agem pontualmenteatendendo a denúncias, parece terprovocado mudanças no com-portamento dos empregadores.Houve também a adesão de cemempresas e associações ao Pacto

Nacional pela Erradicação doTrabalho Escravo, coordenadopela Organização Internacionaldo Trabalho (OIT) e pelo Institu-to Ethos. Para que a situação me-lhore, aguarda-se a votação, naCâmara dos Deputados, em Bra-sília, da Proposta de EmendaConstitucional 438, conhecidacomo PEC do Trabalho Escravo,que prevê o confisco de terras,sem indenização, onde foremencontrados trabalhadores man-tidos em regime de escravidão.O quadro ao lado ilustra a evolu-ção dessa luta.

Escravidão

Luta pela liberdade

Pesquisa Andréa Wolffenbüttel Texto Eliana Simonetti

Operações de Trabalhadores Ano f iscalização libertados

2006* 100* 3.187*

2005 85 4.348

2004 72 2.887

2003 67 5.223

2002 30 2.285

2001 26 1.305

2000 25 516

1999 19 725

1998 18 159

1997 20 394

1996 26 425

1995 11 84

Total 499 21.358

Roberto Faidutti/FAO

* Dados parciais/ Fonte: MTE

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Desaf ios • fevereiro de 2007 7

Ecoturismo amazônico

Aventura sim, mas com conforto

Campo de obras

Recorde de licenças

A Amazônia poderia receber 3milhões de visitantes ao ano – umpotencial de crescimento turísti-co da ordem de 650%. O cálculoé produto de entrevistas com 36mil especialistas no ramo e via-jantes de onze países. Mas, comonada cai do céu, todos demons-traram interesse pelo ecoturis-mo – desde que com conforto eorganização.Recomenda-se,por-tanto, investimento em infra-es-trutura,capacitação de pessoas eadoção de tecnologias ambien-talmente corretas para que o po-tencial turístico da região possaser aproveitado. Criado em 1999,o Programa de Desenvolvimentodo Ecoturismo na Amazônia Le-gal (Proecotur),do Ministério doMeio Ambiente (MMA),tem co-mo objetivo criar ambiente sus-tentável para investimentos e, aomesmo tempo, garantir a pro-teção dos atrativos da Amazônia.Foi ele, com o apoio do Progra-ma das Nações Unidas para oDesenvolvimento (Pnud), queencomendou o estudo. Assim,um movimento mais acentuadode promoção das belezas da re-gião no exterior só deverá serfeito quando houver estruturacapaz de receber visitantes semdanos ambientais. MMA e Mi-nistério do Turismo planejam aabertura de linhas de crédito queestimulem o empreendedorismoprivado na área.

O Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e dos Recursos Natu-rais Renováveis (Ibama) conce-deu 278 licenças para empreendi-mentos de infra-estrutura no anopassado – um recorde que, se-gundo o organismo, indica queos projetos começam a se con-cretizar. Foram 143 para rodo-vias,ferrovias,portos,hidrovias eaeroportos. Outras 85 envolve-ram planos de instalação e regu-larização de usinas hidrelétricas,termoelétricas e nucleares, alémde linhas de transmissão de gaso-dutos.O Instituto emite três tiposde licença: a prévia, baseada naanálise de Estudo e Relatório deImpacto Ambiental; a de insta-lação, quando o cronograma daobra é aprovado; e a de operação,para o funcionamento de obrasconcluídas. Em janeiro, 35 pedi-dos de licença prévia aguarda-vam análise.

Pobreza

Novas medidas de desigualdadesOs dados sobre as disparidadesno planeta são sempre espanto-sos. Os mais recentes foram di-vulgados no Relatório de Desen-volvimento Humano 2006, doPrograma das Nações Unidas pa-ra o Desenvolvimento (Pnud).Para fazer as comparações,o estu-do calcula o Produto Interno Bru-to per capita, considerando o po-der de compra da moeda em cadapaís, e uniformiza os parâmetrosem dólar (fórmula indicada pelasigla PPC US$).Traz informaçõessobre as desigualdades dentro dospaíses e entre eles. Assim, revelaque a receita média de um brasi-leiro de baixa renda é quinze vezesinferior à auferida pelos 10% maispobres habitantes de sete países:Noruega,Japão,Finlândia,Irlanda,Suécia, Áustria e Bélgica.As pes-soas mais abastadas vivem nosEstados Unidos, em Hong Kong eem Cingapura. A parcela maismiserável da população mundialestá na Bolívia (recordista em dis-

paridade, onde os ricos ganham157 vezes o que recebem os maispobres) e em três países africanos– Serra Leoa, Níger e RepúblicaCentro-Africana. Os indicadorespermitem estimar, por exemplo,que um pobre de Serra Leoa teriade trabalhar mais de 4 mil anospara alcançar a renda que um nor-te-americano rico embolsa em do-ze meses.

Em 2004, o Brasil solicitou am-pliação de seu espaço marinho àOrganização das Nações Unidas(ONU), como parte do Plano deLevantamentos da PlataformaContinental Brasileira (Leplac),de-senvolvido pela Comissão Intermi-nisterial para os Recursos do Mar

(Cirm).A área pleiteada inclui umafaixa que vai do Rio Grande do Sulao Espírito Santo e outra que se es-tende do Amapá ao Ceará.A regiãoainda é pouco conhecida,mas exis-te a possibilidade de encontrar, ali,material biotecnológico para pro-dução de medicamentos, petróleo

e metais de potencial comercial.Adecisão será tomada pela ONU nosprimeiros dias de abril. Se for po-sitiva, a Plataforma ContinentalBrasileira saltará de 3,5 milhões pa-ra 4,4 milhões de quilômetrosquadrados.Especialistas garantemque há razões para otimismo.

Plataforma ampliada

Tanto mar, tanto mar...

Noru

ega 89.785

37.534

14.847

12.849

14.964

656

2.518

82

Bras

ilUc

râni

aBo

lívia

Ricos Pobres

Fonte: RDH 2006

Flávio Costa/Fernando de Noronha

Wigold Schäffer/MMA

Renda dos 10% maisricos e dos 10% maispobres (em PPC US$)

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8 Desafios • fevereiro de 2007

Com as novas e mais caras tecnologias, ocorre uma ineqüidade: os que ENTREVISTA

Claudio Gatti/Prensa Três

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Desaf ios • fevereiro de 2007 9

não têm continuam não tendo e tendo menos, e os que têm continuam tendo e tendo mais

az dois anos que o prestigioso Instituto Sabin de Vacinas, fun-dado após a morte do célebre cientista,está sob o comando dobrasileiro Ciro de Quadros. A gestão do médico gaúcho tem

sido marcada por iniciativas que buscam levar às populações maispobres os benefícios da ciência. De seu escritório, em Washington,nos Estados Unidos,ele conversou por telefone com Desafios e con-tou quais são as dificuldades e as vitórias de sua missão.

Saúde é o que interessa

P o r A n d r é a W o l f f e n b ü t t e l , d e S ã o P a u l o

F

Ciro de Quadros

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10 Desafios • fevereiro de 2007

porque o vírus do papiloma humanoé transmitido sexualmente –, entãoevitará no futuro o maior problemaproduzido por esse vírus. Não todo,porque existem vários serotipos, masa vacina protege contra os serotiposmais relacionados com o câncer decolo uterino. Porém o vírus vai con-tinuar circulando na população mas-culina, então, se ocorrer qualquerbaixa de cobertura da população fe-minina, a doença voltará novamente.Portanto, o ideal é vacinar toda a po-pulação masculina e feminina. É co-mo a rubéola, que é uma doença erup-tiva do tipo do sarampo, mas menosgrave. Ela é perigosa apenas para amulher que está grávida, pois o feto éatingido e nasce com afecções congê-nitas. No homem, não causa nada alémde erupção e febre. Você pode adotaruma estratégia de vacinar só as mu-lheres em idade fértil. Porém, se vocênão conseguir manter uma alta cober-tura da população feminina, o vírus darubéola continuará circulando na po-pulação masculina e eventualmentecausará surto nas mulheres.

Desafios – Existem países que já erradicaram

esse tipo de doença?

Quadros – Há um programa que foilançado quando eu era diretor do Pro-grama de Vacinas da Opas (Organi-zação Pan-Americana da Saúde) paraerradicar a rubéola no hemisfério oci-dental. Esse programa está indo muitobem. A doença já foi erradicada emdiversos países e espera-se que antes doano 2010 ela seja erradicada nas Amé-ricas por meio da vacinação da mulherem idade fértil e do homem.

Desafios – E não se pode fazer isso g lobal-

mente?

Quadros – Nós iniciamos uma sériede atividades aqui nas Américas por-que há melhores condições de servi-ços de saúde em comparação com ospaíses mais pobres da África e da Ásia.Para a erradicação global de umadoença, é preciso uma série de pré-condições. É um esforço que tem de

Desafios – Quais os maiores desaf ios que o

mundo enfrenta em termos de vacina?

Quadros – A questão mais imediata élevar as vacinas até quem precisa. Acada ano morrem mais de 10 milhõesde crianças com menos de 5 anos deidade e a maioria dessas mortes poderiaser evitada com as vacinas. Meio mi-lhão morrem por sarampo, 1 milhãopor pneumonia, 600 mil por rotavírus,ou seja, são todas doenças podem serperfeitamente prevenidas. Portanto, odesafio fundamental, neste momento, écomo aplicar as vacinas o mais rápidopossível. Tanto as vacinas mais antigascomo as mais novas. Isso é muito im-portante, porque em geral levam-semuitos anos entre o desenvolvimentoda tecnologia e o benefício que ela po-de trazer para a humanidade. Com oadvento de novas e mais caras tecno-logias, está ocorrendo uma grande ine-qüidade: os que não têm continuamnão tendo e tendo menos, e os que têmcontinuam tendo e tendo mais.

Desafios – O senhor se referiu a novas vaci-

nas. Quais são elas?

Quadros – Uma é contra o rotavírus,que provoca uma diarréia grave. Prati-camente metade das diarréias gravesinfantis são produzidas por esse vírus,que causa muita mortalidade. Tam-bém há a vacina contra a pneumonia,isto é, contra o Streptococcus pneumo-niae, que, entre as doenças respi-ratórias agudas, é a bactéria que matamais crianças. Na América Latina, porexemplo, a cada hora duas criançasmorrem em decorrência do Strepto-coccus pneumoniae. E a terceira vacina,recém-licenciada aqui nos EstadosUnidos, é contra um vírus do papilo-ma humano que provoca câncer nocolo uterino da mulher. Também podeocorrer no homem, no pênis, mas émais comum na mulher.

Desafios – Essa vacina contra câncer também

precisa ser aplicada em toda a população?

Quadros – Idealmente, sim. Se vocêconseguir vacinar todas as mulheresantes do começo da atividade sexual –

Nascido no interior do Rio Grande do Sul, emRio Pardo, cidade que ele faz questão de lem-brar que já foi capital da província meridio-nal, o jovem Ciro de Quadros rapidamente dei-xou a terra natal. Recém-formado em Medici-na pela Faculdade Católica de Medicina doRio Grande do Sul, em 1966 fez um estágioem Pernambuco e aceitou o convite para serchefe do Centro de Saúde de Altamira, naAmazônia. Foi quando entrou em contato comas dificuldades vividas pelas populações maisnecessitadas e descobriu sua vocação. Mu-dou-se para o Rio de Janeiro para estudarSaúde Pública na Fundação Oswaldo Cruz.Voltou para a região Sul e cooperou com oprograma de erradicação da varíola no Pa-raná.Aproveitou o conhecimento adquirido aoir para a Etiópia,onde viveu durante sete anos,trabalhando para a Organização Mundial daSaúde (OMS).Após essa experiência, foi cha-mado para assumir a diretoria do Departa-mento de Vacinas da Organização Pan-Ameri-cana da Saúde (Opas), em Washington, DC.Desde então, o dr. Quadros mora na capitaldos Estados Unidos. Ele se orgulha de ter lan-çado os programas de erradicação da polio-mielite, do sarampo e da rubéola nas Améri-cas.Atualmente,viaja o mundo em busca de re-cursos para levar novas e antigas vacinas pa-ra os países mais pobres da África e da Ásia.Em outubro de 2004, foi eleito membro doInstituto de Medicina da Academia Nacionaldos Estados Unidos, honra concedida apenasàqueles que fizeram grandes contribuiçõespara o avanço da ciência médica e da saúdepública. Parabéns, dr. Ciro de Quadros!

Um gaúcho que foi longe

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Desaf ios • fevereiro de 2007 11

Claudio Gatti/Prensa Três

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12 Desafios • fevereiro de 2007

ou seja, verbas fornecidas por paísesdoadores, de 3 milhões a 5 bilhões dedólares. Se a gente considerar o que segasta em um dia na Guerra do Iraque,deve ser mais do que precisamos paraessas campanhas.Mas,do ponto de vis-ta dos políticos que decidem a alocaçãode verbas, o que pedimos é muito. Euestou totalmente em desacordo.

Desafios – As Metas de Desenvolvimento do

Milênio, da Organização das Nações Unidas, têm

colaborado para avanços na área de vacinação?

Quadros – A meta 4 (reduzir a morta-lidade infantil) refere-se a doenças in-fecciosas e materno-infantis, para asquais os programas de imunização

contribuem diretamente. E, nesse sen-tido, temos algo muito bom, pelomenos nos últimos cinco anos, que foia formação de um grupo chamadoGavi, The Global Alliance for Vaccinesand Immunization, uma aliança glo-bal para vacinas de imunização com-posta pela Organização Mundial deSaúde, pelo Unicef (Fundo das NaçõesUnidas para a Infância) pelo BancoMundial, por fundações, pelos paísesem desenvolvimento, os países ricos, epor vários organismos privados, co-mo a indústria de vacinas. Por sinal,neste momento o representante dosprodutores de vacinas dos países emer-gentes é brasileiro, o doutor Akira

Homma, presidente da Bio-Mangui-nhos.Essa aliança recebeu uma doaçãoinicial de 750 milhões de dólares daFundação Bill e Melinda Gates e outros750 milhões de países da OCDE (Or-ganização para a Cooperação e o Desen-volvimento Econômico).

Desafios – O que faz essa aliança?

Quadros – O dinheiro está sendo usa-do para ajudar os países a introduziralgumas vacinas, como a que combatea hepatite B e a contra o Haemophilusinfluenza tipo B, que produz um tipode meningite. Nos últimos cinco anos,foram essas as vacinas introduzidasem países pobres da África e da Ásia.Agora essa aliança está entrando nasegunda fase, na qual vai fazer investi-mentos maiores.Ao perceber que paraampliar a atuação seriam necessáriosmais de 50 bilhões de dólares, o mi-nistro das Finanças da Inglaterra,Gordon Brown, lançou a idéia de le-vantar fundos por meio da venda debônus do governo no mercado de ca-pitais. Pretende-se arrecadar cerca de5 bilhões de dólares nos próximoscinco anos. A proposta foi aceita e jáestá sendo colocada em prática, inclu-sive por outros países. Isso vai adiantara introdução de pelo menos duas no-vas vacinas: contra o rotavírus e con-tra a pneumonia.

Desafios – Que outros países aderiram à ini-

ciativa?

Quadros – França, Itália, Espanha,Suécia e Noruega já estão vendendoos bônus. E há também a idéia de quepaíses que não são doadores tradicio-nais participem. Três países já anun-ciaram a colaboração: Índia, África doSul e Brasil. Durante a visita à Ingla-terra, no ano passado, o presidenteLula anunciou que o Brasil vai parti-cipar com a doação de 20 milhões dedólares durante vinte anos. Seria 1 mi-lhão de dólares por ano. Esse é umexemplo muito importante para ospaíses emergentes, principalmenteporque o Brasil é um dos países quetêm um programa de imunização ex-

ser extremamente coordenado, alémde exigir uma quantia significativa derecursos. Não é algo que se faça deforma fácil. Neste momento e já há al-guns anos, o mundo está erradicandoa poliomielite, que já foi erradicada nasAméricas. Portanto, agora não se po-deria propor à Assembléia Mundial deSaúde a erradicação de outras doençasao mesmo tempo. Se a poliomielite forerradicada, e a gente espera que seja nospróximos dois ou três anos, aí pensare-mos em erradicar outras doenças. Qualseria a próxima? Na minha opinião,deveria ser o sarampo e depois a rubéo-la. Uma coisa deve vir depois da outra.

Desafios – Por que não é possível levar um kit

contendo as vacinas contra pólio, sarampo e ru-

béola para erradicar as três simultaneamente?

Quadros – Dá para fazer, eu não quiseliminar essa possibilidade. Inclusivefui defensor da proposta de aproveitaras campanhas contra a pólio na Áfricapara aplicar a vacina contra o saram-po. Como a vacina contra o sarampo écombinada com as vacinas contra ru-béola e caxumba, na mesma injeçãovocê protegeria contra as três doen-ças. O lógico seria agir assim, mas aspolíticas de saúde às vezes não são asideais. Tem muita gente que se opõepor achar que vai ser mais complicadoe poderá prejudicar o esforço na er-radicação da pólio. Existe uma sériede debates que, às vezes, atrasam o pro-gresso das coisas. Muita gente, porexemplo, acha que não se deve usar avacina contra a rubéola até que não sesaiba exatamente se a doença é umproblema na África. Muitos acham quena África a rubéola não é uma questãograve, e serão necessários dados e estu-dos epidemiológicos para demonstrarque ela realmente é um problema. In-felizmente, nós temos de lidar comessas variáveis.

Desafios – Quando o senhor fala dos custos de

uma campanha mundial, a que quantias se refere?

Quadros – Até o momento, o progra-ma de erradicação da pólio custou,em termos de dinheiro extranacional,

“Se a gente considerar

o que se gasta em um dia na

Guerra do Iraque, deve ser

mais do que precisamos para

essas campanhas de

vacinação. Mas, do ponto de

vista dos políticos que decidem

a alocação de verbas, o que

pedimos é muito”

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celente, com introdução de novas va-cinas rapidamente. E o Brasil temtambém um parque industrial de va-cinas importante, a Fiocruz-Bio-Man-guinhos, no Rio de Janeiro, e o Insti-tuto Butantan, em São Paulo.

Desafios – Existem novas vacinas que estão

para surgir?

Quadros – O desenvolvimento de va-cinas é um processo longo e caro. Equem investir na pesquisa dessas va-cinas não tem certeza de que conse-guirá recuperar o dinheiro. Para su-perar esse problema, a Gavi tomou ou-tra iniciativa, que se chama AdvancedMarket Commitment. Esse mecanis-mo tem o seguinte funcionamento. Opoder público de um país pobre in-forma que precisa de determinada va-cina, com certas características. Entãoo Advanced Market Commitment,bancado por países ricos, garante acompra de uma quantidade de doses,o suficiente para ressarcir o fabricantepelos custos da pesquisa. Assim que ofabricante recupera o dinheiro, o pre-ço unitário da dose cai. Por exemplo,inicialmente a dose pode ser vendida a50 dólares. O Advanced Market Com-mitment financia 49 dólares e o paíspobre paga 1 dólar. Depois de com-prar o número estabelecido para a re-cuperação dos custos de desenvolvi-mento, a dose da vacina passará a servendida por 1 dólar.

Desafios – E quais são as novas vacinas que

estão sendo desenvolvidas?

Quadros – Bem, há três vacinas quesão de alta importância, de alto inte-resse: a contra a malária, a nova vacinacontra a tuberculose e a vacina contraa Aids. Essas são as vacinas que estãorecebendo os maiores investimentos.Também temos pesquisas de vacinascontra a dengue, a encefalite japonesae algumas meningites, para as quaisainda não se tem vacina, como a me-ningite B. Estamos trabalhando tam-bém para criar combinações de vaci-nas, o que é muito importante, pois,quanto mais vacinas, mais injeções

precisam ser aplicadas nas crianças.Para evitar isso, temos de conseguircombinar as vacinas. Nós já temos al-gumas, como a vacina contra saram-po, caxumba e rubéola numa só in-jeção e a vacina contra difteria, tétanoe coqueluche, além de outras.

Desafios – Por que é preciso uma nova vacina

contra a tuberculose?

Quadros – A vacina que temos, aBCG, não funciona como se esperava.Ela é bastante eficaz para proteger dameningite tuberculosa, mas não temnenhum efeito na tuberculose biliardo adulto jovem e por isso precisamosde uma nova.

Desafios – Talvez por ser uma doença que atin-

ja todos em todos os países, haja uma grande

preocupação a respeito da vacina contra a Aids.

Quadros – Em primeiro lugar, não é sóa Aids que é democrática. Existe outradoença muito mais democrática, o ro-tavírus. É um vírus que causa umgrande problema em países indus-trializados porque a melhora do sa-neamento ambiental não resolve aquestão. Por isso é chamado popular-mente de “vírus democrático”. O sa-rampo também é democrático. A pó-lio é democrática. O HIV talvez sejamenos democrático porque tem gran-

des grupos que não são atingidos pelaAids, isto é, todas as pessoas que seprotegem quando têm relações se-xuais. A prevenção da Aids é muitomais fácil que a prevenção da diarréiae do sarampo nas populações pobres.

Desafios – Mas por alguma razão temos a

impressão de que a Aids é uma grande ameaça.

Quadros – Não quero diminuir aimportância da Aids, porque é umproblema mundial seriíssimo.A ques-tão é que a Aids tem tanta visibilidadeporque tem um grupo interessadonisso. E não há nenhum grupo inte-ressado em divulgar as ameaças dapneumonia, da meningite ou do sa-rampo. Eu não quero que não existaum grupo lutando contra a Aids. Euacho que deve existir. O problema éque as outras também deveriam terseus grupos defensores. Se tivessem,teriam a mesma magnitude, pois, doponto de vista da mortalidade, elasmatam muito mais do que a Aids.

Desafios – E o que o senhor tem a dizer sobre

a gripe aviária?

Quadros – Os países em que essadoença existe já tomaram as provi-dências necessárias e estão sendo fei-tos investimentos para obter a vacina.Mas é um problema muito complexo.Para que a gripe se transforme numapandemia, ou epidemia urbana, seránecessário uma mutação do vírus. Eaté agora não se sabe qual mutação se-ria essa. Portanto, não dá para produ-zir, neste momento, uma vacina. Masesse caso teve um lado positivo, quefoi as autoridades mundiais acorda-rem e perceberem que nos últimostrinta ou cinqüenta anos não houvenenhum grande investimento paramelhorar a tecnologia de produção davacina contra a influenza. A tecnolo-gia que temos hoje é um absurdo: paracada dose de vacina, é preciso um ovo.Imagina quantos milhões de ovos degalinha são necessários! Pelo menosas autoridades mundiais agora inves-tem no desenvolvimento de uma va-cina contra a influenza com outras

Desaf ios • fevereiro de 2007 13

“Não quero diminuir a

importância da Aids, porque

é um problema seriíssimo.

A questão é que a Aids tem

tanta visibilidade porque

tem um grupo interessado

nisso. E não há nenhum grupo

interessado em divulgar

as ameaças da pneumonia

ou da meningite”

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14 Desafios • fevereiro de 2007

25 anos. Foi algo sensacional. O Brasilerradicou a pólio, o sarampo, e intro-duziu novas vacinas. Precisamos man-ter isso, porque entra governo, sai go-verno, mudam as prioridades, e o pro-grama pode cair. Isso não deve acon-tecer. O segundo desafio no Brasil é aintrodução das novas vacinas. O Bra-sil trouxe a vacina contra o rotavírus

metodologias que não exijam um ovopara cada dose.

Desafios – E no Brasil, quais são os desaf ios

que enfrentamos atualmente em termos de vaci-

nação?

Quadros – Acho que no Brasil o de-safio maior é manter os progressos queforam alcançados nos últimos vinte,

“Acho que no Brasil

o desafio maior é manter

os progressos que foram

alcançados nos últimos

vinte, 25 anos.

Foi algo sensacional!”

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Desaf ios • fevereiro de 2007 15

em março ou abril do ano passado.Excelente! Foi o primeiro país daAmérica Latina a fazer isso. Agoraexiste a vacina contra o pneumococose contra o HPV (câncer de colo de úte-ro), que precisam ser aplicadas.

Desafios – Está sendo feito algo para trazer

essas vacinas para cá?

Quadros – Na última vez que estiveno Brasil, em dezembro passado, asautoridades mencionaram que estãofazendo estudos epidemiológicos pa-ra identificar a magnitude do proble-ma. A situação é a seguinte: essas va-cinas são caríssimas e é preciso fazeruma avaliação da incidência e docusto da doença nos países. Eu sei quesoa estranho falar assim. Quandouma criança adoece de pneumonia,ela pode morrer. Se for o minha filha,não tem preço essa morte, mas emgeral o ministro das Finanças pro-vavelmente não está pensando assim.Porém, se morre uma vaca, imedia-tamente todo o governo fica preocu-pado. Faz grandes investimentos pa-ra evitar a morte da vaca. Deviam daro mesmo valor para a vida humana.Aliás, não. A vida humana tem de virem primeiro lugar. Mas vamos deixarisso de lado. O que as autoridades ava-liam é se prevenir a doença não é maisbarato do que vacinar a população. Epara isso são feitos os estudos.

Desafios – Esses estudos demoram muito?

Quadros – Não. Nós fizemos um estu-do sobre o impacto da doença pneu-mocócica para a América Latina quelevou dez meses, que é um tempo bompara a região. O resultado demonstrouque realmente é recomendável intro-duzir a tal vacina. Agora, é claro quecada país tem de usar seus dados paraver a própria realidade.

Desafios – E em termos de pesquisa e desen-

volvimento de vacinas? Como estamos no Brasil?

Quadros – Bem, outro desafio brasi-leiro é continuar o esforço que vemsendo feito pelo Instituto Butantan epelo Bio-Manguinhos para se torna-rem auto-suficientes na produção devacinas. Além disso, seria muito bomque houvesse investimento na área dedesenvolvimento de vacinas, para queo Brasil não fique somente absorven-do tecnologia estrangeira, como, emgeral, é o caso.

Desafios – Em comparação com outros cen-

tros de pesquisa no mundo, como são conside-

rados o Butantan e o Bio-Manguinhos?

Quadros – São centros de excelência,mas é claro que não estão no mesmonível de instituições de países comoos Estados Unidos, que fazem investi-mentos de magnitude muito maior.Não que o Brasil não tenha cérebrospara isso, ao contrário, tem cérebrosiguais aos daqui, o problema é o in-vestimento que o governo faz. O go-verno brasileiro nunca fez os investi-mentos necessários para que o paíssaia da condição de somente absorveras tecnologias estrangeiras e passe adesenvolver tecnologias. É impor-tante que isso seja feito.

Desafios – O governo acha que é mais barato

esperar que a vacina seja desenvolvida lá fora e

depois absorver a tecnologia?

Quadros – Não posso responder aessa pergunta porque não estou a parda política do governo nessa área. Mi-nha opinião é pela observação que fiznos anos em que trabalhei na Organi-zação Pan-Americana da Saúde.Cons-tatei que os investimentos feitos nuncaforam suficientes para que realmenteo país deslanchasse no desenvolvi-mento de vacinas. Mas isso pode termudado nos últimos dois ou três anos.Acho que o Butantan e a Bio-Mangui-nhos têm feito investimentos muitoimportantes. Como eu disse, o parqueindustrial de vacinas é de qualidade,os cientistas são de primeira magni-tude, só falta o investimento. E isso éfactível. A Índia, por exemplo, trans-formou-se num dos principais forne-cedores de vacinas para o Unicef.

“Também seria bom

investimentos no

desenvolvimento de vacinas,

para que o Brasil não

fique somente absorvendo

tecnologia estrangeira”

Claudio Gatti/Prensa Três

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16 Desafios • fevereiro de 2007

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Os engarrafamentos nas grandes cidades brasileiras nãoparam de crescer, deixando atrás de si um rastro deprejuízos: tempo perdido, combustível desperdiçado, maisacidentes, aumento da poluição e do nível de estressedos moradores. Para conter essa onda que ameaçaparalisar as metrópoles, cada vez mais pesquisadores egestores recomendam a taxação do uso do carro particularem de te rm i n ados h o r á r i o s e l o c a i s . A med i d a éextremamente impopular, mas já foi implantada comsucesso em Londres, Oslo e Cingapura.

Pedágio urbano

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P o r P o r L i a V a s c o n c e l o s , d e B r a s í l i airculam pelas ruas e estradas brasi-leiras, de acordo com dados doDepartamento Nacional de Trân-sito (Denatran), cerca de 45 mi-

lhões de veículos, entre eles automóveis,caminhões,motocicletas,tratores e ônibus(veja gráfico na pág. 18). A região Sudesteconcentra 23 milhões desses veículos, dosquais aproximadamente 5 milhões transi-tam nos 17 mil quilômetros de vias dacidade de São Paulo, o que equivale a umcarro para cada dois habitantes (veja gráfi-

co na pág.19).A cada ponte, túnel, viadutoou nova via inaugurada, surgem mais car-ros e mais congestionamentos, e o queparecia solução rapidamente se transformaem mais dor de cabeça. A necessidade deencontrar alternativas para diminuir oscongestionamentos de trânsito nas cidadese aumentar a mobilidade das pessoas se

tornou, nas últimas décadas, uma priori-dade.O aumento do número de veículos,ainsuficiência do espaço viário disponível,abaixa qualidade dos serviços de transportepúblico oferecidos e o crescimento desor-denado das metrópoles contribuem parapiorar o funcionamento das cidades.Parececonsenso, portanto, que sejam criadas for-mas para desestimular o uso excessivo doautomóvel particular em benefício dos sis-temas de transporte público coletivo depassageiros.Nesse debate,a idéia de imple-mentar uma “taxa de congestionamento”ou um “pedágio urbano” nas cidades bra-sileiras, por mais impopular que seja à pri-meira vista, vem conquistando cada vezmais espaço e adeptos.

Essa alternativa – a tarifação das vias

saturadas nos horários mais críticos pormeio de controle eletrônico – é uma tesedebatida há muito tempo.Um dos obstácu-los para sua implementação era a falta detecnologia para identificar o veículo emmovimento, dificuldade hoje já superadano Brasil.“A proposta não é taxar a proprie-dade do veículo.A idéia é taxar o uso inade-quado do automóvel para desestimular suacirculação nos dias, horários e locais críti-cos das grandes cidades.Em várias cidadesbrasileiras, o uso do espaço viário paraestacionamento já é cobrado.Um exemploé a Zona Azul, em São Paulo, e em outrascidades brasileiras”,explica Alexandre Go-mide,diretor do Instituto de Pesquisa Eco-nômica Aplicada (Ipea).Se tecnicamente oproblema já está resolvido – a identificação

C

Alex Silva/AE

Marginal Tietê, em São Paulo,

no final da tarde: uma imagem

que se repete dia após dia

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18 Desafios • fevereiro de 2007

Pesqu i s a mos t ra que o pedág i o u rbano é ava l i ado de fo rma nega t i va po r 4 3%

no acréscimo do consumo de combustí-veis, do tempo gasto, das emissões de po-luentes, do custo operacional e da frota detransportes coletivos e de ocupação,manu-tenção e controle do espaço viário.“Apesarde ter dez anos, a pesquisa é muito atual”,acredita Lima.

O estudo mostra que, nos períodos depico da manhã e da tarde, o tempo perdi-do pelas pessoas no trânsito varia bastante:em Brasília,havia um aumento de 1,5% notempo do percurso,enquanto em São Pau-lo esse aumento chegava a 53%. E poderiaser pior se considerarmos que na capitalpaulista funciona um esquema de rodíziode acordo com a placa do carro que tira decirculação diariamente cerca de 20% dafrota nas horas de maior tráfego.Ainda deacordo com a pesquisa, foi verificado queeram gastos 105 mil litros a mais de gasoli-na pelos automóveis e 2,4 mil litros de óleodiesel pelos ônibus, a cada ano, devido aoscongestionamentos severos em horários depico na capital paulista.

Outro complicador estava no fato deque o engarrafamento tem a capacidade degerar mais engarrafamento. Como os tras-lados são mais demorados, é necessáriocolocar uma quantidade maior de ônibusem circulação para atender a populaçãoque não quer passar um longo tempo de es-pera no ponto. Nas dez cidades pesqui-sadas, o número de ônibus em atividadeaproximava-se de 5 mil, o que gerava im-pactos da ordem de 2% a 16% nos custosoperacionais, implicando tarifas mais altas.A conclusão é que os congestionamentosprovocados pelos autos particulares con-tribuem também para o aumento das pas-sagens do transporte coletivo. Sem falarque, de acordo com o Ministério do MeioAmbiente, 30% de todos os gases de efeito

versa: são o meio de deslocamento usadopor 68,7% dos passageiros,mas preenchem24,6% do asfalto das avenidas e ruas dascidades brasileiras. Proporcionalmente àquantidade de usuários que transportam,os carros ocupam 7,9 vezes mais espaço queos coletivos. Os dados fazem parte de umapesquisa da Confederação Nacional deTransporte (CNT),concluída em 2002,queavaliou a movimentação de veículos em 27corredores urbanos de onze municípios –Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife,Curitiba,Fortaleza,Porto Alegre,Salvador,Belém,Goiânia,Campinas e Juiz de Fora.Odesequilíbrio é tão grande que ocorre aténas vias com faixas exclusivas para os cole-tivos, embora a vantagem do carro na ocu-pação do espaço,nesse caso,seja menor (de8,7 vezes em relação ao ônibus). Já em cor-redores sem nenhum tipo de prioridade aotransporte público e com poucos semá-foros, a diferença chega a 10,5 vezes.

“Se o modelo de circulação de auto-móveis não for revisto,vai tornar as cidadesbrasileiras inviáveis. O caos urbano invia-biliza a economia da cidade. Isso acontece,por exemplo, com as indústrias em SãoPaulo, que estão migrando para as cidadesmenores do entorno”,afirma Ieda Maria deOliveira Lima, consultora na área de trans-portes e ex-pesquisadora do Ipea. O estu-do “Redução das deseconomias urbanascom a melhoria do transporte público”,feito em 1998 pelo Ipea em parceria com aAssociação Nacional de Transportes Urba-nos (ANTP), indica a importância do in-vestimento no transporte público. Foramanalisadas dez cidades – Belo Horizonte,Brasília, Campinas, Curitiba, João Pessoa,Juiz de Fora, Porto Alegre, Recife, Rio deJaneiro e São Paulo – com o objetivo deavaliar o impacto dos congestionamentos

eletrônica do veículo para a cobrança dopedágio já é realidade em diversas rodoviasbrasileiras –, a impopularidade da medidaparece ser o principal problema.“É umasolução difícil de ser implementada.A po-pulação vai pensar: vou ter de pagar maisuma taxa por um serviço mal prestado?”,acredita Marco Antonio Ramos de Almei-da, superintendente-geral da AssociaçãoViva o Centro, que existe desde 1991 e temcomo objetivo contribuir para o desen-volvimento da área central da cidade de SãoPaulo em seus aspectos urbanísticos, cul-turais, sociais e econômicos.

Opinião Levantamento feito em outubro de2006 pelo Instituto Synovate Brasil, en-comendado pela Associação Brasileira deMonitoramento e Controle Eletrônico deTrânsito (Abramcet),mostra que o pedágiourbano é avaliado de forma negativa por43% dos brasileiros e 48% dos paulistanosmais especificamente. A pesquisa, realiza-da em oito capitais e no interior de São Pau-lo, aponta também que há alto índice dedesconhecimento da população sobre otema. Apenas 37% dos paulistanos, entremotoristas e pedestres, já haviam ouvidofalar desse tipo de taxa ou pedágio. Os re-sultados constatam que 43% disseram nãover nenhum benefício nessa medida. Para28%, um fator positivo seria a redução dofluxo veicular. E, entre os prejuízos citados,a elevação das despesas dos motoristas foio escolhido por 58% dos entrevistados.

A opção preferencial pelo transporte in-dividual não é novidade no Brasil (veja grá-

ficos na pág. 21). Para ter uma idéia, nosprincipais corredores urbanos de trans-porte, os automóveis ocupam 58% do es-paço viário, mas carregam somente 20,5%das pessoas. Já a situação dos ônibus é in-

Composição da frota brasileira (dez/2006)

automóveis 61,4% motocicletas 17,6% outros 10,8% caminhões e caminhonetes 9,0% ônibus e microônibus 1,2%Fonte: Denatran

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dos b ras i l e i r o s e 4 8% dos pau l i s t anos ma i s e spec i f i c amen te

estufa emitidos pelo Brasil saem dos canosde escapamento dos carros.

Paralisada A impressão de que um diacidades como São Paulo vão literalmenteparar por causa dos congestionamentosnão existe à toa. Lá, são registrados qui-nhentos veículos novos a cada dia útil.Considerando que cada veículo meça, emmédia,2,5 metros de comprimento,seriamnecessários,diariamente,mais 1,25 mil me-tros de vias transitáveis só para abrigar osrecém-chegados. Claro que também há osque deixam de circular,mas a saída é muitoinferior à entrada.

Segundo a pesquisa Origem e Destinode 2002,implementada pelo Metrô paulis-tano, que investiga as viagens feitas pelosmoradores da região metropolitana em to-dos os meios de transporte, o total de via-gens realizadas diariamente entre 1997 e

2002 na região aumentou em 7,2 milhões,passando de 31,4 milhões para 38,7 mi-lhões.Os deslocamentos motorizados pas-saram de 20,6 milhões para 24,5 milhõesem cinco anos e as viagens a pé foram de10,8 milhões para 14,2 milhões no mesmoperíodo. Em 2002, foi confirmada umatendência observada desde 1997: houve au-mento de participação das viagens indivi-duais (automóvel) em detrimento da par-ticipação do modo coletivo (metrô, ôni-bus). Em 1997, o modo coletivo era res-ponsável por 51% das viagens e o modo in-dividual por 49%. Em 2002, essa relação seinverteu e a participação do modo indivi-dual passou para 53% das viagens,enquan-to o modo coletivo respondeu por 47%.

“Acredito que o pedágio urbano seja umótimo instrumento para minorar o pro-blema de tráfego nas grandes metrópoles.Em termos econômicos, é a maneira mais

eficiente de fazer com que os motoristassintam os custos que causam a terceiros,ajustando o fluxo dos veículos a um nívelmais perto do que seria o ‘ótimo’ do pontode vista social”, diz Claudio Haddad, estu-dioso do assunto e presidente do Ibmec SãoPaulo,instituição de ensino de pós-gradua-ção nas áreas de negócios e administração.“Sou favorável ao pedágio urbano desdeque os recursos arrecadados sejam investi-dos no transporte público.Essa medida se-ria bem-vinda para cidades como São Pau-lo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Entretan-to, simultaneamente ao pedágio urbanoteriam de ser elaboradas políticas públicasque dessem suporte ao pedágio como umplano de investimentos no transportepúblico,uma política de integração entre otransporte público e o carro, e a criação deciclovias e de linhas de ônibus executivos.São Paulo é uma bomba-relógio, já chegou

Distribuição regional da frota brasileira (dez/2006)

Sudeste 52% Sul 22% Nordeste 13% Centro-Oeste 9% Norte 4%Fonte: Denatran

Sistema automático de identificação de veículos em movimento é a tecnologia que viabiliza a implantação do pedágio urbano

Paulo Pinto/AE

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20 Desafios • fevereiro de 2007

N o s p r i n c i p a i s c o r r e d o r e s u r b a n o s d e t r a n s p o r t e , o s a u t o m ó v e i s o c u p a m

“Ainda temos de avançar muito antes depensar em implantar o pedágio urbano.Seria necessário realizar um profundo estu-do. Primeiro precisamos evoluir muito empolíticas públicas que articulem o uso dosolo ao transporte urbano”, afirma DianaMeirelles da Motta,ex-secretária de Desen-volvimento Urbano e Habitação do gover-no do Distrito Federal e pesquisadora doIpea. Há dois projetos do governo paulistaque indicam uma preocupação cada vezmaior com a mobilidade e o trânsito nacidade.O primeiro é a instalação de equipa-mentos que permitem a identificação e a lo-calização automática de veículos que circu-lam por uma área específica da cidade.Trata-se de um sistema de radiofreqüênciaque prevê a colocação de antenas em algu-mas vias e a instalação de etiquetas eletrôni-cas com chips em alguns automóveis e ôni-bus, cuja circulação nessa região passará aser monitorada, sendo possível saber ondeeles estão e seus tempos de percurso.A idéiaé usar as informações coletadas para estu-

a seu limite. O Rio de Janeiro está no mes-mo caminho”, afirma Nazareno SpositoNeto Stanislau Affonso, coordenador doMovimento Nacional pelo Direito aoTransporte Público de Qualidade e do es-critório em Brasília da ANTP.

“Uma boa saída é implantar o pedágiogradativamente,não sem antes oferecer umsistema público de qualidade para a popu-lação. E não é um projeto para qualquercidade. São Paulo e Rio de Janeiro são asmais fortes candidatas a implementar essamedida entre cinco e dez anos. Entretanto,ainda não é possível estimar o valor que opedágio poderia ter”,diz Ailton BrasiliensePires, especialista em transporte e trânsito,e ex-diretor do Denatran. Em sua opinião,para que possa cobrar pelo uso dos auto-móveis, o governo precisa oferecer a con-trapartida.“Hoje,se 20% a mais de pessoasdecidirem se locomover de ônibus e metrôem São Paulo,simplesmente não haverá es-paço.Antes de mais nada,é preciso criar es-se espaço”, explica Pires.

Experiência internacional

Pedágio em Londres, na Inglaterra

Início em 17 de fevereiro de 2003Horário das 7 às 18h30,de segunda a

sexta-feiraÁrea 22 quilômetros quadradosValor 5 libras (21 reais)Multa 80 libras (345 reais)

Resultados redução de 60 mil veículospor dia, incremento de 20%no número de táxis,20% no deônibus,30% no de bicicletas e30% no de motos, aumento de20% no número de passagei-ros, redução de 17% no tempodas viagens e de 8% no núme-ro de acidentes com feridos

Pedágio na Cidade de Cingapura,

em Cingapura

Início em 1975Horário das 7h30 às 19h30, de se-

gunda a sexta-feiraResultados redução do trânsito em 47%

no período da manhã e de34% no período da tarde, aprocura pelo transporte públi-co cresceu 63% e o uso doautomóvel diminuiu 22%

Pedágio na Noruega

Início em 1990 nas cidades de Ber-gen e Oslo;em 1991 em Trond-heim;e em 2001 em Stavanger

Resultados redução em 10% dos conges-tionamentos no horário de pi-co, e os recursos arrecadadoscom o pedágio são usados emprojetos ambientais

Outras restrições ao uso do automóvel

Rodízios de placas São Paulo, Cidade doMéxico, no México, Ate-nas, na Grécia, e Roma,na Itália

Fonte: ANTP

O uso do espaço urbano já tem algumas formas de cobrança, como a Zona Azul, em São Paulo

Mauricio de Souza/AE

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5 8 % d o e s p a ç o v i á r i o , m a s c a r r e g a m s o m e n t e 2 0 , 5% d a s p e s s o a s

dar ferramentas de gerenciamento do trân-sito e do transporte público.

O segundo projeto do governo do esta-do prevê a construção de pistas elevadas ecom cobrança de pedágio sobre a marginaldo rio Tietê,uma via expressa formada porum conjunto de avenidas que se transfor-mam fisicamente em apenas uma e quemargeiam o rio Tietê na cidade de São Pau-lo.As avenidas teriam novas vias expressascom pedágio,e as atuais pistas continuariamsem cobrança. Na prática, os 24,5 quilô-metros da marginal,por onde circulam cer-ca de 750 mil veículos por dia, passariam ater onze faixas em cada sentido – quatro se-cundárias,três semi-expressas e quatro ex-pressas.Hoje,são sete faixas na maior parteda via. Nesse caso, entretanto, seria umpedágio diferente, já que os recursos ar-recadados seriam revertidos para o investi-mento feito na construção das novas faixas,calculado em 1 bilhão de reais. Já o pedá-gio urbano teria outra finalidade: taxar tãosomente o uso do carro.

Para dar respaldo legal aos municípiosque queiram adotar propostas desse tipo,ogoverno federal preparou um projeto de leique deve, em breve, ser enviado ao Con-gresso Nacional para apreciação. O projetodo Ministério das Cidades estabelece dire-trizes da política nacional de mobilidade ur-bana e permite às prefeituras a adoção de di-versos instrumentos de racionalização doespaço viário, incluindo a taxação pelo so-breuso do automóvel.“O município tem au-toridade para construir pedágios e aplicaroutras medidas de racionalização do sis-tema viário, porém algumas ações das pre-feituras acabam sendo questionadas ju-ridicamente e até derrubadas.A lei é impor-tante justamente porque estabelece todo oamparo legal necessário para que isso nãoaconteça mais”, explica José Carlos Xavier,secretário Nacional de Transporte e da Mo-bilidade Urbana, do Ministério das Cida-des. Segundo ele, o projeto tem dois obje-tivos: articular a política de mobilidade aotransporte coletivo e ao uso do solo, e abri-gar e dar condições legais para qualquerquestionamento que possa vir a ocorrer em

relação a medidas de racionalização do es-paço viário.“A definição do destino dos re-cursos do pedágio urbano, que devem serrevertidos para o transporte público, vaiacontecer posteriormente por meio de umaregulamentação local ou de uma emendaparlamentar, pois é importante que essadefinição conste da lei”, acredita Xavier.

Lá fora A discussão não é polêmica só noBrasil. Na Cidade de Cingapura, em Cin-gapura,em Oslo,na Noruega,e em Londres,na Inglaterra, o pedágio urbano, apesar dejá ser uma realidade, enfrentou resistênciasiniciais da população.As principais críticasdiziam respeito ao caráter arrecadatório e àseventuais dificuldades logísticas para a im-plementação e o bom funcionamento damedida. Hoje, o cenário é outro. A popu-lação acabou convencida dos benefícios.NaCidade de Cingapura,onde a cobrança exis-te de 1975, o trânsito, embora ainda inten-so, diminuiu 17%. Já em Oslo a populaçãosó se convenceu do pedágio depois que o

governo decidiu destinar 25% do arrecada-do ao transporte público.

Na capital londrina, o pedágio urbanoexiste desde fevereiro de 2003. Lá, para en-trar numa área de 20 quilômetros quadra-dos no centro da cidade, entre 7 horas damanhã e 18h30, de segunda a sexta-feira,os veículos têm de pagar 5 libras (cerca de21 reais) por dia. O pagamento é antecipa-do e pode ser feito por telefone,Internet,nocorreio ou em lojas autorizadas.Mas quemesquecer pode pagar, sem multa, ainda nomesmo dia em que entrou na área pedagia-da.A multa para quem não pagar é 80 libras(por volta de 345 reais). Estão isentosônibus, táxis, motos, bicicletas, ambulân-cias, carros de polícia e veículos para defi-cientes físicos. O controle é feito por nove-centas câmeras, espalhadas por 230 pon-tos,que fotografam a placa do veículo.A fo-to é enviada a um centro de processamen-to de dados, onde o número é conferidocom o pagamento. Além disso, unidadesmóveis de fiscalização circulam pelo cen-tro no horário do pedágio, também con-ferindo as placas e os pagamentos.

Em média, 98 mil pessoas têm pago opedágio diariamente e 3 mil a multa. Porano, o sistema de cobrança tem gerado lu-cro líquido de 70 milhões de libras (cercade 300 milhões de reais). Esse dinheiro éusado para cobrir os custos da implantaçãodo sistema,que foram de cerca 200 milhõesde libras (aproximadamente 800 milhõesde reais).Parte da arrecadação também vaipara o melhoramento do transporte públi-co na cidade. O impacto do pedágio emLondres foi grande.Hoje,circulam cerca de60 mil veículos a menos por dia, o que re-presenta uma redução de 30%. Houve umincremento de 20% no número de táxis,20% no de ônibus, 30% no de bicicletas e30% no de motos. O tempo das viagensdiminuiu, em média, 17% e a velocidadedos veículos em geral aumentou de 14,3para 16,7 quilômetros por hora.Além dis-so, houve redução de 8% no total de aci-dentes com feridos.Será que seria essa a saí-da para melhorar o trânsito caótico de al-gumas de nossas cidades?

2003 2004 2005 2006

23,624,9

26,327,8

Evolução da frota brasileira de automóveis(em milhões de veículos)

2003 2004 2005 2006

0,40,4

0,50,5

Evolução da frota brasileira de ônibus(em milhões de veículos)

Fonte: Denatran

d

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SOCIEDADE

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Sem togaP o r G i e d r e M o u r a , d e S ã o P a u l o

S istemas a l ternat i vos

de acesso à

Just iça crescem

no pa ís com o

objet i vo de contornar

a moros idade do

s istema trad ic iona l .

Conc i l i ação, med iação

e arb i tragem são

os métodos cada vez

ma is ap l i cados,

inc lus i ve na tentat i va

de levar just iça

àque les que

não têm cond ições

de buscá- la .

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O sistema alternativo mais conhecido e bem-sucedido na esfera privada são as câmaras

um ou mais profissionais, sempre em nú-mero ímpar,para analisar a questão e,ao fi-nal do processo, dar uma resolução aoproblema.Qualquer pessoa pode se tornarum árbitro, tanto um advogado como umprofissional liberal, o que vale é o grau deconhecimento sobre o assunto que será jul-gado.“A diferença entre o árbitro e um juizé que o árbitro é um especialista. Se for umcaso envolvendo saúde, por exemplo, aspartes podem optar por ter um médico queconheça profundamente o assunto”, expli-ca Carlos Alberto Carmona, advogado eprofessor de direito da Universidade de SãoPaulo (USP), que fez parte da comissão deelaboração da Lei de Arbitragem.

Após a indicação dos profissionais, ini-ciam-se as audiências.A informalidade doprocesso é outra diferença em relação aoJudiciário tradicional, pois a participaçãodo advogado, embora presente na maioriados casos, é opcional. E os termos técni-cos e os jargões do direito são dispensa-dos. Alguns processos de arbitragem sãoresolvidos em apenas uma audiência; ou-tros, no entanto, podem exigir um núme-ro maior de encontros e a resolução sóchegar em dois anos. Em média, os pro-cessos arbitrais duram seis meses, e o quefor decidido tem valor legal, não podendoser questionado na Justiça comum. Quemfaz a opção pela arbitragem deve saber

apéis empilhados mesmo emtempos da mais alta tecnologia.É essa a imagem que surge nanossa mente quando pensamos

no que é a Justiça brasileira: lenta e com-plexa. Ainda que a Justiça seja um direitode todo cidadão, sua capacidade de re-solver problemas de forma abrangente es-tá cada vez mais limitada. Os órgãospúblicos recebem a todos que queremreclamar por algo, mas a confiança em queuma resolução virá dentro de um tempoaceitável é rara. Diante do contexto demorosidade, que não deve mudar no cur-to prazo, a sociedade vem criando formasalternativas, mas não menos justas, debrigar por seus direitos.

As opções ao Judiciário formal podemser encontradas tanto em projetos públi-cos como em totalmente privados. Exis-tem câmaras formais particulares – e am-paradas pela lei – autorizadas a solucionarimpasses. Na esfera pública, o objetivo dosprojetos alternativos é levar formas deacesso à Justiça para as camadas menos fa-vorecidas da população, que não possuemconhecimento nem mesmo recursos parapagar um advogado.

Arbitragem O sistema alternativo maisconhecido e bem-sucedido na esfera pri-vada são as câmaras de arbitragem. Pelomenos duzentas câmaras de negociaçãoestão funcionando no país amparadaspela Lei n.º 9.307, a Lei da Arbitragem, quecompletou dez anos em novembro de2006 (veja gráfico ao lado).“Não existe ain-da um censo preciso da arbitragem noBrasil. Mas as câmaras estão crescendo àmedida que aumenta o conhecimento daspessoas físicas e jurídicas a respeito dessaforma de solucionar conflitos fora do Ju-diciário tradicional”, explica Cássio TellesFerreira Netto, presidente do ConselhoNacional das Instituições de Mediação eArbitragem (Conima).

Uma câmara de arbitragem nada mais éque um corpo de júri, e os árbitros são es-colhidos e aprovados pelas duas partes.Ouseja, os envolvidos no conflito escolhem

Procedimentos arbitrais administrados18.000

16.000

14.000

12.000

10.000

8.000

6.000

4.000

2.000

01999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Fonte: Conima

P

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que, se não ficar contente ao final do pro-cesso, não terá direito a recursos.A Justiçacomum só trabalha no processo de arbi-tragem quando é necessário obrigar al-guém a executar a sentença – por exemplo,fazer o pagamento de uma indenização.

Exatamente pelo fato de funcionar coma mesma legalidade de uma decisão doJudiciário é que a Lei de Arbitragem de-morou alguns anos para entrar em fun-cionamento efetivo. Marcelo AntonioMuriel, presidente da Comissão de Arbi-tragem da Organização dos Advogados doBrasil Seção São Paulo (OAB-SP), lembra

que no início o fato de transferir para o se-tor privado decisões que tramitavam noJudiciário formal causou estranheza à clas-se jurídica. “Mas, após estudos e maiorconhecimento da lei, todos chegaram àmesma conclusão: o processo é lícito eprodutivo. Praticamente toda a classe ju-rídica é a favor da arbitragem. A OAB dátotal apoio ao sistema.”Muriel lembra tam-bém que a arbitragem não é uma novidadede dez anos, ela existe há séculos. Em cul-turas orientais, como a japonesa, o cidadãomais velho é chamado a arbitrar, pois éconsiderado capaz de analisar conflitos e

dar a eles uma solução que não é questio-nada pelos menos experientes.

O Conima informa que, atualmente, amaior parte das ações que chegam para aarbitragem – cerca de 70% – trata de ques-tões de direito do trabalho.O restante se di-vide em direito comercial e empresarial,en-volvendo,principalmente,discussões a res-peito dos contratos.“Ações societárias tam-bém aparecem nas câmaras,e uma das van-tagens que o sistema privado oferece é o si-gilo, algo que não é possível no Judiciáriopúblico. Já existem empresas que efetuamcontratos com outras pessoas jurídicas

de arbitragem. Pelo menos duzentas câmaras de negociação estão funcionando no país

Ilustração Orlando

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Levantamento aponta que existem mais de sessenta programas al ternat i vos no país

colocando uma cláusula arbitral, ou seja,se existir alguma controvérsia, ela terá co-mo local de discussão uma câmara arbi-tral, e não o Judiciário comum”, contaFerreira Netto.

É o caso da Associação Brasileira deFranchising (ABF). O escritório associa-do à ABF orienta, sempre que possível, osfranqueadores e franqueados a inserir acláusula arbitral como forma de garantirque, num futuro conflito, a medida alter-nativa possa ser utilizada.“O varejo é umnegócio muito veloz, e por isso a arbi-tragem é mais interessante. No caso dasfranquias, há uma lei específica e os árbi-tros especialistas têm uma visão mais clarae atualizada que a Justiça padrão”, opinaThais Mayumi Kurita, sócia do Novoa

Prado, escritório associado à ABF.Na rede de concessionárias Japauto, lo-

calizada na Grande São Paulo, a arbi-tragem é a solução recomendada para ca-sos complexos de conflitos com o consum-idor. “Tivemos um problema com umamoto que, segundo o proprietário, pegoufogo sozinha. Estamos estudando o casopara entender o que ocorreu e não bastariaapenas arrumar a moto, seria preciso terum instrumento legal para entrar emacordo com o proprietário num caso tãoincomum”, conta Elisângela Oliveira, ana-lista jurídica da empresa. O conflito foi re-solvido numa única sessão arbitral, quan-do os árbitros definiram que, além dosreparos, a concessionária deveria pagaruma taxa por danos ao consumidor. “O

cliente ficou satisfeito e em menos de qua-renta dias tudo estava resolvido. Enquantotemos casos na Justiça comum que se arras-tam há anos,”diz Elisângela Oliveira.

Limitações A arbitragem não pode, po-rém, resolver todos os problemas legais, esua lista de limitações não é pequena.Embora seja uma alternativa que já tenhasolucionado 56 mil casos ao longo da dé-cada somente entre os associados do Coni-ma, o sistema não pode enquadrar crimesou a definição da guarda de uma criança,por exemplo. O mecanismo alternativovale apenas para o que é chamado de bemdisponível, ou seja, dinheiro e patrimônioprivado. Discussões de particulares comestatais também não podem apelar para o

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juízo arbitral.“O problema é que o grandecliente do Judiciário é o poder público e,nesse caso,os sistemas alternativos não po-dem ajudar muito. Segundo um estudo doSuperior Tribunal de Justiça (STJ), 62%dos processos nesse tribunal têm a CaixaEconômica Federal (CEF), a União ou oInstituto Nacional de Seguridade Social(INSS) como parte. Os sistemas alterna-tivos têm vantagens na rapidez e são inte-ressantes, mas sozinhos não vão resolver oproblema da morosidade do Judiciáriobrasileiro”, pondera Armando Castelar Pi-nheiro, pesquisador do Instituto de Pes-quisa Econômica Aplicada (Ipea).

Custos também são diferentes quandocomparados a Justiça tradicional.A princí-pio, a arbitragem pode parecer mais cara,

pois, embora a presença de um advogadonão seja obrigatória, as partes preferem es-tar acompanhadas de profissionais queconhecem as leis. E, tratando-se de umserviço privado, existe o pagamento detaxas. A forma de cobrar geralmente estábaseada em um percentual da ação quepode chegar a até 10% do valor do proces-so. No Judiciário, a taxa é 1%.“Mas é pre-ciso ver que as empresas pensam diferente.Pagar uma taxa inferior e ficar muito tem-po na Justiça não é interessante. A rapidezcompensa o preço em muitos casos”,avaliaAparecido Scorsato, diretor do ConselhoArbitral do Estado de São Paulo (Caesp).

Hora de conversar Mediação e concilia-ção são outras metodologias alternativasna busca por uma solução de controvér-sia. A mediação, como o próprio nomediz, emprega no processo um mediadorque tenta chegar, junto com as partes, auma solução sem que seja expedido umdocumento oficial, como na arbitragem.O mediador também é escolhido em co-mum acordo entre os beligerantes, e paraque uma solução seja alcançada é precisoboa vontade de todos para conversar e ou-vir a opinião dos profissionais envolvidos.

Alguns especialistas chegam a classi-ficar a mediação como um passo anteriorà arbitragem, sendo muito utilizado emquestões de família e societárias.“Há umalei em discussão e a mediação está come-çando a conquistar seu espaço.A área am-biental, por exemplo, está descobrindo es-sa ferramenta, pois são questões que pre-cisam de agilidade para as duas partes”,afirma Adolfo Braga Neto, presidente doInstituto de Mediação e Arbitragem(Imab). Recentemente, a Federação dasIndústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)aderiu ao sistema de mediação com a inau-guração de sua Câmara de Mediação eConciliação (Camfiesp).

Já a conciliação tem mecanismos muitoparecidos com a mediação, mas ocorrequando o processo já está instalado. Umadas formas de conciliação,em operação nopaís, pode ser vista em projetos que têm

como objetivo levar a Justiça às populaçõesmais pobres. As iniciativas nesse sentidoquase sempre estão relacionadas ao poderpúblico,que cria em centros comunitários,como os Centros de Integração da Cidada-nia (CIC), em São Paulo, um corpo deprofissionais composto de juízes, defenso-ria pública,policiais civis,além de especia-listas e voluntários que atuam no sentido deconciliar pessoas envolvidas nas mais di-versas disputas. De uma briga de vizinhosao pagamento de pensão, por exemplo.

Um panorama desse universo foi ma-peado pela socióloga Jacqueline Sinho-retto, que atuou como consultora do estu-do “Acesso à Justiça por sistemas alterna-tivos de administração de conflitos”, en-comendado pelo Ministério da Justiça. Elamapeou mais de sessenta programas alter-nativos em todo o país.A pesquisadora es-tudou ainda o tema em seus trabalhos demestrado e doutorado e indaga:“Uma dis-cussão que existe é se as alternativas sãoformas reais de acesso ou mecanismosainda maior de exclusão por isolar as pes-soas da Justiça comum”. Uma questão ain-da sem resposta, segundo a socióloga.

Existe a hipótese de que a falta de aces-so à Justiça pode contribuir para o aumen-to da violência. Ao não ser atendida, apopulação se revolta e decide fazer justiçacom as próprias mãos. Ao longo de suaspesquisas, Sinhoretto também estudoucasos de linchamento que ocorreram jus-tamente pela falta de punição na periferiade São Paulo.“Só temos de fugir de umaanálise simplista, confiando que, ao daracesso aos sistemas legais, a violência vaiacabar. Esse é apenas um dos lados da vio-lência”, reflete a socióloga.

É importante lembrar que, mesmo ins-talando sistemas de conciliação para apopulação de baixa renda, há casos quenão podem ser mediados por sistemas al-ternativos.“Não dá para chegar a um acor-do entre o marido e a mulher que apanha.São crimes que precisam ir para a Justiçacomum”, informa Sinhoretto. Outro im-passe é que muitas vezes a conciliação nãoocorre mesmo que as partes cheguem a

que bu scam , po r me i o da conc i l i a ç ão, l e va r j u s t i ç a à s popu l a ções ma i s pob res

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Sistemas alternativos são bons, mas sozinhos não conseguem aliviar a carga do Judiciário

um acordo na frente do mediador. Um ca-so clássico é a briga por pensão alimentí-cia, quando o marido que não tem em-prego formal assume que vai pagar umaquantia, mas no mês seguinte não arcacom a dívida, e toda a conciliação anteriordeixa de existir.

Alguns dos problemas enfrentados pe-los projetos de conciliação, tanto os públi-cos como os mantidos por organizaçõesnão-governamentais (ONG), são a falta derecursos e a instabilidade. Os CICs, emSão Paulo, não são mais dedicados total-mente ao atendimento judicial, algumasde suas unidades atualmente estão maisvoltadas para ações como emissão de do-cumentos, informa Sinhoretto. No Rio deJaneiro, o projeto O Balcão de Direitos,mantido pela ONG Viva Rio, foi descon-tinuado no ano passado.

O Balcão prestava orientação jurídicae busca de soluções pacíficas para confli-tos por meio de ações de mediação em di-versas favelas cariocas.Até o ano de 2004,

período em que esteve mais ativo, o Balcãoregistrou 77 mil atendimentos. A falta derecursos e a reorientação do foco da enti-dade para outras áreas, como o controle dearmas, levaram ao fim dessas atividades.“O projeto cumpriu seu papel”, avaliaRodolfo Noronha, um dos coordenadoresdo Balcão de Direitos.“Foram anos muitoativos e diversas iniciativas nos mesmosmoldes foram efetivadas, inclusive dentroda própria esfera judicial”, lembra No-ronha, citando projetos como o JustiçaComunitária, do Tribunal de Justiça doDistrito Federal.A experiência de Brasíliaconta com agentes comunitários que vãoaté a população levar informações jurídi-cas e criar ambientes de mediação.

É bom lembrar que a conciliação éuma prática que sempre existiu no Judi-ciário. O juiz tenta, sempre que possível,estabelecer um acordo entre as partes. Maso que tem sido observado ultimamentedentro dos tribunais é um maior esforçoem promover acordos, criando ações iti-

nerantes e atendimentos focados na con-ciliação. No Tribunal de Justiça de SãoPaulo, o Setor de Conciliação, coordena-do pela juíza Maria Lúcia Pizzoti, tem co-mo meta conseguir reduzir o tempo deum recurso, que pode chegar a cinco anos,para trinta dias. O sistema tem funciona-do, já que o índice de acordos, em algunsmeses, ultrapassa a casa dos 70%.

A conclusão dos especialistas é que ossistemas alternativos são bem-vindos, massozinhos, por maior que seja a populariza-ção, nunca serão capazes de aliviar de fa-to a grande carga que existe no Judiciário.A reforma continua em pauta. Pinheiro,do Ipea, alerta ainda para o fato de que asituação de insegurança do Judiciáriobrasileiro é uma das grandes barreiras aodesenvolvimento econômico, pois deses-timula a aplicação de recursos. Os passosiniciais são:“Melhorar a qualidade das leis,aprimorar a gestão e, principalmente, mu-dar a cultura dos operadores do direito”,conclui o pesquisador. d

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L u a n a P i n h e i r o

violência doméstica contra as mulheresé, ainda hoje, uma realidade na socieda-de brasileira, vitimando parcela expres-siva da população feminina, que, em al-

guns estudos,atinge cerca de 40%.Cumprindo ospreceitos constitucionais de garantia à vida, à se-gurança e à proteção da família e com o intuito decombater esse tipo de violência e estimular a de-núncia dos agressores – predominantemente,atuais e ex-companheiros –, o governo federalsancionou, em 7 de agosto, a Lei nº 11.340/06.Após anos de luta do movimento feminista e demulheres, o Estado brasileiro cumpre os acordosinternacionais ratificados, alterando sua legisla-ção e tipificando a violência doméstica como cri-me e como violação dos direitos humanos.

A lei estabelece que qualquer agressão física,psicológica, sexual, patrimonial ou moral passa aser entendida como violência doméstica e todoregistro efetuado nas delegacias deve,obrigatoria-mente, gerar um inquérito policial. Se, até então,os atos de violência doméstica eram entendidoscomo de menor potencial ofensivo,com a nova leia autoridade policial pode prender o agressor emflagrante, e sua prisão preventiva pode ser decre-tada. Ademais, ficam proibidas penalidades decaráter pecuniário, sendo estas substituídas pormedidas como suspensão do porte de armas,afas-tamento do lar e encaminhamento do agressor aprogramas de recuperação e reeducação. A penade detenção passa a ser de três meses a três anos.

Às mulheres em situação de violência, fica ga-rantido o encaminhamento, se necessário, a pro-gramas e serviços de proteção sem perda dos di-reitos à guarda dos filhos; a suspensão de procura-ções conferidas ao agressor; e a restituição de benspor ele subtraídos, entre outras medidas.A lei de-termina,ainda,que durante todo o processo judi-cial a mulher esteja acompanhada de um advoga-do, sendo a ela assegurado o acesso à AssistênciaJudiciária Gratuita.

O julgamento dos crimes de violência domésti-ca torna-se de responsabilidade dos Juizados Espe-

cializados de Violência Doméstica e Familiar, cria-dos pela nova lei.O objetivo é dar maior celeridadeaos processos e garantir às mulheres um atendi-mento adequado,com profissionais mais capacita-dos e sensíveis às questões simbólicas que envolvemesse fenômeno. O Distrito Federal deu o passo ini-cial e inaugurou o primeiro desses juizados, tendosido seguido por várias outras unidades federativas.

Após a promulgação da lei,muitos são os rela-tos de aumento das denúncias, tendo algumasdelegacias noticiado que as ocorrências dobraramnos trinta dias posteriores à vigência da lei.As ex-pectativas são as melhores,mas muitas são as difi-culdades a serem vencidas.A falta de recursos físi-cos e humanos nas delegacias e nas Varas dificul-ta a persecução penal. Há ainda um grande des-conhecimento da lei por parte das vítimas, alémde motivos de natureza cultural e psicológica – taiscomo vergonha e sentimento de ligação afetiva aocompanheiro –, que contribuem para os baixosíndices de notificação.

A superação da violência doméstica requerabalos na ordem social,cujas raízes patriarcais con-tribuem para (re)produzir um sistema de relaçõessociais baseado numa hierarquia na qual o homemocupa o pólo dominante e a mulher o dominado.A promulgação de uma lei como essa – batizadade Lei Maria da Penha,em homenagem à cearenseque,em 1983,sofreu duas tentativas de homicídiocometidas pelo marido e ficou paraplégica – con-tribui para romper esses paradigmas, desnatura-lizando-os e retirando a violência doméstica da in-visibilidade do âmbito privado. É, sem dúvida,uma vitória de toda a sociedade,que valoriza a paz,os direitos humanos e a igualdade entre todos.

No lugar do bordão “Em briga de marido e mu-lher, não se mete a colher”, o combate à violênciadoméstica traz como lema uma frase da deputadaJandira Feghali, relatora do projeto:“Dois pontosno rosto. Quatro pontos na mão. Três pontos naperna.Vários pontos na alma. Um ponto final”.

Luana Pinheiro é pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

Lei Maria da Penha:a caminho de um ponto final?

“No lugar de bordões

como ‘Em briga de

marido e mulher, não

se mete a colher’, o

combate à violência

doméstica traz como

lema a frase proferida

pela deputada Jandira

Feghali, relatora do

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Vários pontos na alma.

Um ponto final’”

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ECONOMIA

P o r E l i a n a S i m o n e t t i , d e S ã o P a u l o

“E o movimento vai crescendo

Vai aumentando em amplidão

Sobem pregões vindos da praça

Começa o povo a aparecer

Quem quer comprar neste novo dia

A alegria de viver?”

Inserida em um rol de medidas adotadas para impulsionar o desenvolvimento econômico dopaís, a lei que cuida de micro e pequenas empresas permite que um enorme contingente deempreendedores deixe a informalidade, invista em inovação e prospere. Empresariar continuaa ser um desaf io, mas agora f icou um pouco mais fácil encará-lo. Batida a claquete, épreciso que todos entrem em ação

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Pequenas,mas poderosas

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32 Desafios • fevereiro de 2007

O f o r t a l e c im e n t o d a s m i c r o e p e q u e n a s emp r e s a s c o n t r i b u i p a r a o c omba t e

texto que serve de legenda à ima-gem de abertura desta reporta-gem é um trecho do poema “Umnovo dia”,de Vinicius de Moraes.

Aparece aqui para dar o tom do que se tra-ta nestas páginas: medidas tomadas pelogoverno federal,nas últimas semanas,paraanimar a economia e fazer o Brasil crescer.Como se verá adiante, muitas das provi-dências dizem respeito a impostos, buro-cracia, crédito. Há, entretanto, um sentidosubjacente nos pacotes anunciados. Elessurtirão efeito desde que a sociedade semobilize. De um lado, para garantir que asnormas saiam do papel para a realidade enão se esvaiam com o tempo.De outro,pa-ra buscar sucesso em associações e organi-zações robustas, independentemente deatos ou benesses do poder público.

Aos fatos. O setor produtivo recebeuuma injeção de dinheiro. Para que o Pro-duto Interno Bruto (PIB) cresça 4,5% em2007, e a média fique em 5% entre 2008 e2010,os governos abrirão mão de arrecadaralgo entre 6 bilhões e 8 bilhões de reais, se-gundo cálculos do Ministério da Fazenda.O Programa de Aceleração do Crescimento(PAC) envolve vários setores, inclui provi-dências concretas e traça linhas de ação parao futuro. É a novidade mais abrangente datemporada (leia quadro na pág. ao lado).Outra medida diz respeito às micro e pe-quenas empresas (MPE) – as que mais cres-cem e são responsáveis pelo maior volumede salários pagos entre as companhias bra-sileiras (leia quadro na pág.36).Poder e capi-laridade explicam o fato de que seu fortale-cimento contribua para o combate à po-breza,a redução da informalidade,a interio-rização do desenvolvimento e o incremen-to da atividade produtiva como um todo.Estima-se que, hoje, as MPEs sejam 15 mi-lhões e gerem 20% do PIB (leia quadro na

pág. 35). Precisam ganhar massa muscular.Nas economias desenvolvidas, elas pro-duzem, em média, 50% do PIB.

Daí a importância da Lei Geral das Mi-cro e Pequenas Empresas,apelidada de Su-persimples. Suas determinações afetamgrande número de atividades e tributos.

Facilitam o acesso ao crédito e as vendaspara governos. Também incentivam o as-sociativismo e induzem atividades infor-mais à regularização.“Cada empreendedordeve buscar informações antes de decidir omelhor formato a ser adotado em seu negó-cio, pois há inúmeras variáveis a conside-rar”, recomenda Paulo Lauro, tributaristado escritório Tess Advogados,de São Paulo.Mas, de maneira geral, como diz a advoga-da Lúcia Azevedo, do mesmo escritório,“alei beneficia um grande número de empre-sários e traz a esperança de um modelo fu-turo em que os negócios possam se con-cretizar e crescer sem que os governos te-mam perder arrecadação”.

Urgência A nova lei não atende a todas asexpectativas, mas é um passo importante.Foi debatida por três anos e aprovada numcenário de urgência. Os indicadores daSondagem Industrial da Confederação Na-

cional da Indústria (CNI) revelaram queno último trimestre do ano passado as pe-quenas empresas – ao contrário do que sedeu com empreendimentos de maior porte– registraram queda na produção, no fatu-ramento e no número de empregados. Erapreciso reverter o quadro rapidamente.Tanto que, como num filme, nem bem foibatida a claquete, o município capixaba deCariacica entrou em ação.A prefeitura isen-tou os empresários da taxa Habite-se, queincide sobre seus imóveis, e reduziu à me-tade a alíquota de Impostos sobre Serviços(ISS) cobrada a empresas dos setores mo-veleiro,têxtil e de confecção – os mais fortesna região.Para incentivar a formalidade e arealização de novos empreendimentos,diasdepois da sanção da Lei Geral já era permi-tido, na cidade, que estabelecimentos co-merciais e de prestação de serviços fun-cionassem em domicílios.Os trâmites paraabertura e regularização de empresas foram

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Entre as categorias beneficiadas pelo Supersimples estão academias de ginástica e até professores de capoeira

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Desaf ios • fevereiro de 2007 33

à p o b r e z a , a r e d u ç ão d a i n fo rma l i d ad e e a i n t e r i o r i z a ç ã o d o d e s e n vo l v imen to

reduzidos. A Secretaria Municipal de De-senvolvimento Econômico calcula, assim,ter beneficiado cerca de 12 mil negócios.

O povo que realiza anda ávido por es-paço e um ambiente de trabalho melhor.No final de janeiro, a empresária paulistaGelma Franco foi informada, por seu con-tador,de que seria uma boa opção a adesãoao Supersimples de sua empresa, o Il Ba-rista.“Pela nova lei,o pagamento de impos-tos e a escrituração da empresa são simpli-ficados. Mesmo que os custos não caiam,porque a contratação de empregados con-tinua muito onerosa, a administração dodia-a-dia poderá ser facilitada”, diz.“Alémdisso, o estímulo ao associativismo podefazer com que os empresários se mobilizeme divulguem a marca Brasil no exterior.”Gelma Franco é um exemplo de empreen-dedora bem-sucedida.Em 2003,depois deum ano de estudo, planejamento e pesqui-sa, decidiu montar a primeira butique de

cafés do país. Vendeu o apartamento emque morava, passou cinco meses discutin-do para conseguir alugar o ponto que julga-va ideal para seu negócio,criou logomarca,montou cardápio e decoração. Pôs mãos àobra,de fato.Cuidou da contratação de fun-cionários,da recepção dos clientes,da con-tabilidade. Passaram-se oito meses até queo rendimento cobrisse as despesas. Hoje aempresária tem quatro lojas, 22 funcioná-rios e muitos planos. Quer formar um cen-tro de treinamento para profissionais do ra-mo, exportar pó de cafés especiais e, quemsabe, expandir sua rede para o exterior.

Também existem os que se beneficiam indi-retamente.Há em São Paulo um estabelecimen-to que,no mesmo espaço,oferece serviços depadaria,butique de carnes,frios,sorveteria,mer-cado de frutas e verduras, restaurante e lan-chonete.É o Tortula,nome de um pão medievalrecheado com carne.A idéia tem sido um suces-so e a empresa cresce rapidamente.“A nova lei

não traz reflexos diretos para o Tortula,pois nos-so faturamento anual é superior ao teto estabe-lecido para micro e pequenas empresas, maspode baratear preços de alguns de nossos for-necedores”,diz Renato Mota,um dos sócios.Para ele,que emprega muita gente,mais impor-tante seria se o governo cuidasse de desonerar afolha de pagamentos.

E,claro,não faltam aqueles que ficaramde fora e não estão contentes. LeonardoPessanha tem uma microempresa de asses-soria de imprensa, a LP17 Comunicação.Sua área ficou excluída dos benefícios doSupersimples.“Há comerciantes com fatu-ramento muito maior do que o nosso pa-gando muito menos impostos”, diz.“A no-va lei significa um avanço, mas poderia sermais democrática e abrangente. Ainda énecessária uma combinação de sonho ecoragem com muita persistência para abrire manter uma microempresa.”

O volume de reformas de que o país ne-

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado em 22 dejaneiro, desonera e incentiva a iniciativa privada, aumenta investimentospúblicos e aperfeiçoa a política fiscal, entre outras providências. É com-posto de medidas provisórias (MP) e projetos de lei encaminhados aoCongresso.Os projetos a serem analisados pelos parlamentares tratam decontrole de aumento de despesas com pessoal e encargos sociais daUnião; cooperação de entes federativos na proteção ao meio ambiente;normas de licitação e contrato da administração pública; valor e políticade valorização do salário mínimo; e parâmetros para a elaboração da Leide Diretrizes Orçamentárias.Em resumo, as principais medidas já em vigor são as seguintes.• Impostos – As datas de recolhimento foram alteradas para facilitar a

administração do fluxo de caixa das empresas. Investimentos em insumose serviços para projetos de infra-estrutura nos setores de portos, trans-portes, energia e saneamento básico estão isentos da cobrança dePIS/Cofins. Perfis de aço usados na construção civil têm alíquota de IPIreduzida a zero. O crédito tributário conferido a empresas que comprammáquinas e equipamentos – e assim podem se tornar mais produtivas –foi prorrogado por dois anos.

• Inovação – As empresas que aderirem ao programa de incentivo apesquisa, desenvolvimento e produção de semicondutores estarão isen-tas do recolhimento de Imposto de Renda (IRPJ); além de se beneficia-

rem de alíquota zero de IPI, PIS, Cofins e Contribuição de Intervenção doDomínio Econômico (Cide).

• Infra-estrutura – Mais de cem portos, hidrovias, rodovias, aeroportos eestradas, além de 4,5 mil quilômetros de gasodutos, 46 usinas debiodiesel e 77 usinas de etanol serão financiados por fundos de inves-timento para captação de recursos destinados a novos projetos. Essesfundos serão formados com até 80% do patrimônio líquido do Fundo deGarantia do Tempo de Serviço (FGTS).Trabalhadores poderão comprarcotas até o limite de 10% do saldo de suas contas. O governo prevêaplicar 504 bilhões de reais no setor até 2010, e para isso aumentouas dotações orçamentárias do projeto-piloto de investimentos (PPI),cujos gastos são excluídos da meta de superávit primário.A Caixa Eco-nômica Federal disporá de 5,2 bilhões de reais em crédito para entespúblicos aplicarem em saneamento básico e habitação popular. Re-ferência para empréstimos do Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) ao setor produtivo, a Taxa de Juros deLongo Prazo (TJLP), de 6,5% ao ano, deve continuar em queda – paraque caia, também, o custo do crédito concedido a obras de infra-estru-tura.A ênfase ao investimento nesse setor tem explicação: a melhoria dalogística dos transportes e dos insumos utilizados pelas indústrias deveter impacto positivo no custo dos produtos e, portanto, na competitivi-dade do país.

Pé na tábuaPara acelerar o crescimento

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Para entender a Lei Geral

A evolução da legislação para as pequenas...• Em 1984, foi promulgada a Lei n° 7.256, que inseriu a microempresa na

sistemática jurídica brasileira. Em 7 de novembro, o Decreto n° 90.414dispôs sobre a criação e o funcionamento do conselho de desenvolvimen-to de micro, pequenas e médias empresas.

• Em 1988, ao tratar da Ordem Econômica Nacional, os artigos 170 e 179da Constituição Federal determinaram tratamento simplificado,diferencia-do e favorecido para os pequenos negócios.

• Em 1996, a Lei n° 9.317 criou o Simples, para a redução da burocraciatributária a que eram submetidas micro e pequenas empresas.

• Em 1999, foi promulgado o Estatuto da Microempresa e Empresa dePequeno Porte, regulamentado pelo Decreto n° 3.474, de 19 de maio de2000.

• Em 2003, a Emenda Constitucional 42 alterou o artigo 146 do SistemaTributário Nacional da Constituição Federal.Acrescentou um tema a seralvo de lei complementar:“(...) a definição de tratamento diferenciado,simplificado e favorecido para as microempresas e para as empresas depequeno porte (...)”. E previu em seu parágrafo único:“(...) o cadastroúnico de contribuintes e o regime unificado de arrecadação de tributos”.Foi esse o estopim para a elaboração da Lei Geral das Micro e PequenasEmpresas.

...e o Supersimples ponto a pontoA Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas estabelece regime tributáriodiferenciado para microempresas (que faturam até 240 mil reais por ano) epara pequenas empresas (com receita de até 2,4 milhões de reais anuais).Suas disposições têm aplicação nos âmbitos federal, estadual e municipal.Está em vigor desde 1º de janeiro, exceto o capítulo tributário, que passa avaler em 1º de julho. Em síntese, estabelece o seguinte:• Desburocratização – O registro passa a ser único e serve a todas as es-

feras de governo.Os documentos para a abertura de novas empresas sãoentregues a um só órgão, que repassa os dados aos demais. Empresascom Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) estão dispensadasde apresentar outros documentos e de solicitar inscrições estaduais,mu-nicipais e da Previdência Social.Também estão desobrigadas da realiza-ção de reuniões e assembléias e da publicação de atos. Os órgãos en-volvidos na abertura e no fechamento de empresas responsáveis pelaemissão de licenças, alvarás e autorizações de funcionamento só rea-lizarão vistorias após o início de operação do estabelecimento. Em casode encerramento, a baixa da empresa será automática, mesmo que hajadébitos tributários. O tempo de execução, para inscrição e baixa de umempreendimento, deverá ser inferior a 48 horas.

• Inovação – Devem ser destinados às micro e pequenas empresas 20%dos recursos para investimento em tecnologia dos órgãos e entidadesfederais, estaduais e municipais.

• Crédito – Cooperativas de crédito terão acesso direto a recursos do Fundode Amparo ao Trabalhador (FAT). Estão previstas a criação do SistemaNacional de Garantias de Crédito, para facilitar a liberação de recursospelos bancos, e de linhas de crédito especiais.As informações cadastraisserão automaticamente transferidas se a empresa mudar de banco.

• Acesso à Justiça – Micro e pequenas empresas passam a poder recorreraos Juizados Especiais e a institutos de conciliação prévia, mediação earbitragem para solução de conflitos.

• Tributação – Débitos com a Secretaria da Receita Federal poderão serparcelados em até 120 meses.Tributos federais estaduais e municipaispoderão ser pagos com um único documento.A lei unifica e simplifica aarrecadação de seis impostos e contribuições federais: Imposto de Rendade Pessoa Jurídica (IRPJ), Programa de Integração Social/ Contribuiçãopara o Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins), Imposto sobreProdutos Industrializados (IPI), Contribuição Social sobre Lucro Líquido(CSLL) e a contribuição para o Instituto Nacional de Seguridade Social(INSS), além do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestaçãode Serviços (ICMS estadual), do Imposto sobre Serviços (ISS municipal)e da contribuição a entidades privadas de serviço social e de formaçãoprofissional vinculadas ao sistema sindical.As normas referentes a essecapítulo entram em vigor a partir de 1° de julho.A redução média de reco-lhimento estimada para empresas que já aderiram ao Simples é da ordemde 20%.A queda, para as demais, pode chegar a 45%.

• Negócios – Receitas decorrentes de vendas ao exterior são desoneradas.Micro e pequenas têm prioridade em compras governamentais de valoraté 80 mil reais e preferência em caso de empate em licitações.Além dis-so, a administração pública deverá exigir das grandes empresas que par-ticipam de licitação a subcontratação de micro ou pequenas empresasaté 30% do total licitado. Poderão ser criados consórcios simples e as-sociações que dêem ganhos de escala, competitividade e acesso a novosmercados às MPEs.

• Autônomos – A alíquota de recolhimento ao INSS cai de 20% para 11%.Desaparece a aposentadoria por tempo de contribuição.O trabalhador sópode se aposentar por idade (mulheres aos 60 anos e homens aos 65).

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Há forte dinamismo na criação de empresas no país. Mas a perda resultante do encerramento Eu

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cessita,é sabido,é grande.Assessores de im-prensa, consultores e muitos outros profis-sionais ficaram fora dos benefícios propor-cionados pelo Supersimples. Outros tantosforam lembrados, entre eles escolas de mú-sica, academias de ginástica, subempreitei-ros da construção civil e até vigilantes e pro-fessores de capoeira – muita gente que pre-fere permanecer fora do mercado formal.“Há ainda um longo caminho a ser percor-rido. Mas o Supersimples inclui atividadesque tradicionalmente não se regularizam,epor isso ele é importante para a redução dainformalidade na economia brasileira”, dizMarcelo Ávila, pesquisador do Instituto dePesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Informalidade Em 2003,dados do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)revelaram que menos de 2% dos microem-preendimentos estavam regulares.A situa-ção é danosa em muitos sentidos.Empresasque não pagam impostos podem vender

seus produtos a preço inferior aos das regu-larizadas – o que torna a concorrência des-leal.Como não têm muitos compromissos,os empreendedores não se preparam paracrescer nem buscam inovar. Também nãocontratam trabalhadores com carteira assi-nada e não estimulam sua capacitação.“Omicroempreendimento informal absorvedesempregados sem alternativas no merca-do de trabalho, passa pelo exercício deatividades artesanais e chega a iniciativaspré-capitalistas com potencial de expan-são”, esclarece Marcio Pochmann, profes-sor da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp). Ou seja, um negócio informaltem sempre um toque de amadorismo.Resultado: taxa de mortalidade elevada,nacasa dos 60%.

Há um intenso dinamismo na criaçãode novas empresas todos os anos no país.Mas o movimento no sentido oposto não émenos importante. Estimativas do ServiçoBrasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

5 milhões de empresas formais

(99% do total das empresas brasileiras)

10 milhões de empreendimentos informais

56,1% da força de trabalho urbana empregada no setor privado

4,1 milhões de proprietários rurais familiares

26% da massa salarial

20% do Produto Interno Bruto (PIB)

2% das exportações

A força dos pequenos

negócios no Brasil

Fonte: Sebrae

de negócios com menos de quatro anos alcança 20 bilhões de reais ao ano

Em 2003, dados do IBGE revelaram que menos de 2% dos microempreedimentos estavam regulares

Embratur

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36 Desafios • fevereiro de 2007

Apesar de incentivar o desenvolvimento, muitos governantes temem queda na arrecadação

Empresas (Sebrae), considerando capitalinvestido em máquinas, equipamentos,mobiliário e capital de giro, indicam que aperda resultante do encerramento de negó-cios com até quatro anos de vida alcança 20bilhões de reais ao ano. “Os empresáriosquebram por não suportar os altos impos-tos e também por não estar preparadospara empresariar. A atividade requer vo-cação, dedicação, estudo e a busca de su-porte junto a organismos e profissionais es-pecializados”, diz José Mauro de Moraes,pesquisador do Ipea.“A luta contra a infor-malidade requer uma bem tramada teia depolíticas públicas.”

Exemplos de todo o país mostram acomplexidade da questão. Segundo dadosda Associação de Jovens Empresários deSalvador (AJE),na Bahia,cerca de 70% dosestabelecimentos com até quatro funcio-

Íntegra da Lei Complementar 123www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp123.htm

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exteriorwww.desenvolvimento.gov.br

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)www.sebrae.com.br

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)www.bndes.gov.br/pme/

Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)www.gov.br

Confederação Nacional da Indústria (CNI)www.cni.org.br

Universiawww.universia.com.br/empreendedorismo

Saiba mais:

Variação no número de empresas por porte (em %)Micro 55,8

Pequena 51,3

Média 15,2

Grande 12,1

Pessoas ocupadas, por porte de empresa (em % do total deempregados)

1996 2002

Micro 31,8 36,2

Pequena 18,8 21,0

Média 11,5 9,8

Grande 37,9 33,0

Variação na massa de salários erendimentos pagos por porte deempresa (em %)Micro 57,3

Pequena 37,9

Média 7,6

Grande 3,2

Cenário empresarialbrasileiro (dados referentes

ao período 1996-2002)

nários fecham nos primeiros cinco anos deatividade.Principais razões: alta carga trib-utária,dificuldade em obter crédito e exces-so de burocracia. No Mato Grosso, o cen-tro histórico de Cuiabá é um cenário deso-lado de lojas fechadas.Ali,chegaram a fun-cionar cerca de seiscentas empresas, com2,5 mil empregados.“Nos quatro últimosanos, o comércio da região registrou que-da de 30% no volume das vendas.A concor-rência com os informais é dificultada pelaalta carga tributária”, diz Roberto Perón,presidente do Sindicato Intermunicipal doComércio de Tecidos,Confecções e Arma-rinhos de Mato Grosso. Pois a Lei Geral,que agradou ao empresariado, provocoureação negativa do governo do município,que calculou perda anual de arrecadaçãoda ordem de 29 milhões de reais.

Interesses Não é de hoje que governos elegisladores tentam criar um ambiente be-néfico para os empreendimentos menores.Há dez anos, foi criado o Simples, sistemafacilitador do pagamento de tributos fede-rais para micro e pequenas empresas indus-triais e comerciais, que deveria fazer emer-gir um grande volume de negócios e foi re-plicado em diversos estados e municípios.A princípio funcionou,mas sua eficácia foise perdendo com o tempo.A principal ra-zão: falta de atualização das faixas de en-quadramento, o que causou a elevação dasalíquotas. Ou seja, muita gente que aderiuao Simples para gerenciar melhor suas con-tas e ter sobra de capital com o pagamentode impostos reduzidos,deixou o sistema oufechou as portas.

O Supersimples resolve questões comoessa e várias outras.Cria,por exemplo,o Fó-rum Permanente das Microempresas e Em-presas de Pequeno Porte, ligado ao Minis-tério do Desenvolvimento,que deverá zelarpela regulamentação dos dispositivos legaise, também, para que os benefícios não sepercam com o passar dos anos.“O conjun-to de medidas oxigena o cenário empreen-dedor.É,sem sombra de dúvida,o maior es-tímulo à iniciativa privada da história dopaís”, diz Luiz Fernando Garcia, consultor

em empreendedorismo e negócios.O estudo “How Brazil Can Grow”(Co-

mo o Brasil pode crescer), de autoria deHeinz-Peter Elstrodt,Jorge Fergie e MarthaLaboissière,da empresa de consultoria Mc-Kinsey, afirma que, entre as razões que ex-plicam o crescimento tímido da economiabrasileira, está a baixa produtividade dotrabalhador – correspondente a 21% daamericana em 2004. Para resolver o pro-blema, segundo os autores, é necessáriocombater a informalidade e a insegurançaentre os empresários,que não fazem planosde longo prazo. É preciso, também, cuidarda regulamentação: a legislação trabalhista,de mercado e tributária inibe o investi-mento, o emprego e o consumo. E há maisum obstáculo a ser superado, o das limi-tações na infra-estrutura, que elevam cus-tos e prejudicam a competitividade doproduto brasileiro. “Nossa experiênciasugere que, uma vez que um país tenhaidentificado quais são, pode enfrentar asbarreiras com reformas adequadas às ne-cessidades de cada setor da economia”,afirmam os autores. Os pacotes anuncia-dos recentemente contemplam os itensapontados. Os empreendedores estão con-vocados a agir. Fica aqui a questão levan-tada pelo poeta Vinicius de Moraes: quemquer comprar, nesse novo dia. d

Fonte: IBGE – Cempre; elaboração: Sebrae/UED

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a América Latina e o Caribe (Cepal) e a Corporação Andina de Fomento (CAF).Por um lado, o baixo custo da mão-de-obra e a conseqüente competitivi-

dade da China podem prejudicar outras economias.Por outro,seu enorme mer-cado interno significa uma oportunidade.A China é um anjo ou um demôniopara a América Latina?

A primeira constatação é que grande parte do aumento das importaçõesnorte-americanas da China não substituíram produtos vindos do México ouda América Central (beneficiados pela proximidade geográfica),senão do Japãoe de outros países emergentes. Um bom exemplo pode ser visto no mercadocalçadista. No ano de 1988, quase 60% das importações norte-americanas decalçados foram provenientes da Coréia do Sul e de Taiwan, e só modestos 2%vieram da China.Em 2005,a participação chinesa foi de mais do que 70%,en-quanto as importações da Coréia do Sul e de Taiwan foram insignificantes.

O surgimento comercial da China como protagonista mundial é,em muitossentidos,excepcional por sua rapidez e vigor.A economia chinesa é muito maisaberta do que a da maioria dos países emergentes.Em 2005,a soma das expor-tações e importações chinesas de bens e serviços superou 70% de seu PIB, en-quanto nos Estados Unidos,no Japão ou no Brasil foi de 30% ou menos do PIB(ainda que seja possível comparar a cifra da China com a de alguns países lati-no-americanos,como o Chile e o México,com 60% a 65% ,e também com al-guns desenvolvidos, como a Espanha).

as últimas décadas, a China tor-nou-se um protagonista econô-mico importante em termos mun-diais. Segundo dados oficiais, em

menos de vinte anos a taxa de crescimentodo Produto Interno Bruto (PIB) elevou-seao extraordinário patamar de quase 9,5%(3)

e sua participação no comércio mundialsaltou de mero 1% paramais de 6%. Se mantiver onível de crescimento co-mercial, ela será, em breve,a terceira economia mun-dial, depois dos EstadosUnidos e da Alemanha, ul-trapassando, pela primeiravez, o Japão. Em 2005, aeconomia chinesa ocupouo quarto lugar no rankingmundial, à frente do ReinoUnido. Segundo GoldmanSachs,em 2040 a China su-perará os Estados Unidoscomo principal economiamundial (4).

Mas é possível que gran-de parte dessa avaliação se-ja demasiadamente otimista. Alguns ana-listas se perguntam se o crescimento daChina não é impulsionado por uma bolhapassageira de investimentos, enquanto ou-tros advertem sobre a possibilidade de umaqueda brusca ou expressam preocupaçãopela fixação do valor da moeda(5) e pelo sis-tema bancário chinês (6). Para outros ana-listas, o novo capitalismo chinês não estásolidamente firmado no estado de direito,no respeito à propriedade privada e nolivre mercado.

Mesmo assim, os estudos confirmamque a participação crescente da China noPIB mundial, aliada à globalização da eco-nomia, já está gerando conseqüências sig-nificativas em todo o mundo. O impactocada vez maior da China sobre a AméricaLatina despertou o interesse de algumasinstituições importantes voltadas para a re-gião,entre elas a Comissão Econômica para

38 Desafios • fevereiro de 2007

ARTIGO por J o r g e B l á zq u e z - L i d o y, J a v i e r R o d r í g u e z e J a v i e r S a n t i s o(1)

N

ou demônio?Anjo Os impac to s d o c omé r c i o c h i n ê s n a Amé r i c a L a t i n a

Artigo publicado originalmente na Revista de la Cepal, edição de dezembro de 2006 / Edição e tradução: Andréa Wolffenbüttel(2)

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Setores 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Maquinaria e equipamentos de transporte 28,0 31,1 34,2 36,8 40,3 44,0 46,6

Manufaturas várias 37,3 36,2 33,7 31,9 30,2 28,1 25,6

Produtos manufaturados 16,0 15,3 15,4 14,8 14,5 14,0 15,2

Subtotal 81,3 82,6 83,3 83,5 85,0 86,1 87,4

40 Desafios • fevereiro de 2007

Tabela 1. Estrutura exportadora da China (% das exportações totais)

O surgimento da China como protagonista docomércio mundial

A participação da China nos mercadosmundiais aumentou rapidamente duranteseu processo de abertura comercial e estárestringindo a participação de outros paí-ses emergentes (veja gráfico 1).

Basta verificar como, nos últimos vin-te anos, a participação da China nas ex-portações mundiais aumentou de formaacelerada. Em 1980, partiram da China0,9% das exportações mundiais e, em2002, 5%. Em 2003, a participação chi-nesa nas exportações globais aproxi-mou-se de 6% e no final de 2004 o paíspassou a ocupar o terceiro lugar entre osexportadores mundiais, ficando atrás deEstados Unidos e Alemanha. Entre 1990e 2002, as exportações mundiais aumen-taram aproximadamente 90% e as daChina cerca de 425%.A evolução das ex-portações chinesas implica, por defini-ção, que outros países estão reduzindosua participação no mercado. Não hádúvida de que, no curto prazo, algunspaíses terão prejuízos, já que a Chinapode produzir bens de pouco valor agre-gado a um custo muito baixo em razãoda abundância de mão-de-obra. Porexemplo, na China os salários são, emmédia, quatro vezes inferiores aos pa-gos na América Latina.

Por outro lado, vemos que o comérciocom a China também apresenta aspectosfavoráveis. Antes de tudo porque tem umenorme mercado interno e o desenvolvi-mento do país contribuirá para sua evo-lução. No longo prazo, o surgimento daChina trará benefícios provenientes docomércio. Os países em desenvolvimentoque estabeleceram fortes laços comerciaise de investimentos com a China, como osdo Sudeste Asiático, poderão tirar benefí-cios desse processo.

A estrutura comercial da China

Para analisar os efeitos, no curto prazo,derivados da evolução do comércio chinês,é preciso começar por examinar a estrutu-ra exportadora e importadora do país.Para desenvolver essa parte do trabalho,usamos a base de dados da Conferênciadas Nações Unidas sobre Comércio e De-senvolvimento (Unctad) (7) ,que abarca 620produtos.

Pelo lado das exportações, em 2004identificamos três setores-chave: produtosmanufaturados; maquinaria e equipamen-tos de transporte; e, por último, manufa-turas várias. Em conjunto, esses setoresrepresentam quase 90% das exportaçõestotais chinesas (veja Tabela 1).

No que diz respeito às importações,comprovamos que os setores mais impor-tantes são os de produtos manufaturados,maquinaria e equipamentos de transportee produtos químicos, que em 2004 repre-sentaram, juntos, 69,2% do total importa-do (veja Tabela 2).

O fato de as exportações e as impor-tações terem estrutura similar mostra quehá um volume importante de comércio in-traindustrial. Isso indica que a China setransformou em um centro regional de pro-dução e fabricação para reexportação.Nessecaso,a participação das manufaturas de al-ta tecnologia está aumentando rapida-mente. Por outro lado, as manufaturas debaixa tecnologia estão perdendo terreno naestrutura comercial, tanto no caso das ex-portações como no das importações.

Gráf ico 1. Partipação da China nas importações totais dos principais mercados (%)

25

20

15

10

5

0

*de janeiro a junho. Fonte: FMI World Economic Outlook

Japão

EUA

UE

Japão

EUA

UE

Em 1980, partiram da China 0,9% das exportações mundiais, em 2002, 5%, e no f inal

1980 1990 2000 2002 2004 2005*

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Desaf ios • fevereiro de 2007 41

Os custos no curto prazo: a concorrência comercial da China

No caso dos países latino-americanos,ainformação disponível indica que o Méxicooferece um exemplo paradigmático doscustos no curto prazo.Para avaliar esses cus-tos,utilizamos dois índices de concorrênciacomercial. A idéia é comparar a estruturaexportadora da China com a de outros paí-ses em determinado período. Se as estru-turas se mostram muito similares, o maisprovável é que ambos concorram por ter-ceiros mercados, como o dos EstadosUnidos, principal destino das exportaçõeslatino-americanas.

Os dois índices foram elaborados uti-lizando a base de dados da Unctad e são ver-sões modificadas dos conhecidos coeficien-te de especialização (cs) e coeficiente de con-formidade (cc). Nesse caso, um dos paísesserá sempre a China e o outro uma econo-mia escolhida. Se os dois países têm exata-mente a mesma estrutura exportadora,am-bos os índices são igual a 1, o que indica al-to potencial de concorrência entre eles.Aocontrário, se os dois índices são iguais a 0,não há coincidência entre as estruturas e atendência é que não exista concorrênciacomercial. Construímos dois índices, emvez de um,para termos certeza de que os re-

sultados obtidos são consistentes(8).Calculamos os coeficientes cs e cc com-

parando a concorrência da China com 34economias,quinze das quais correspondema países da América Latina.O período ana-lisado foi de 1998 a 2004. Naturalmente,foram calculados os valores de cs e cc paracada ano.Porém,com o intuito de apresen-tar os resultados da forma mais simples pos-sível,agregamos os valores.A cifra final,quechamamos de ci, representa a média arit-mética dos dois índices (veja Gráficos 2).

Os resultados são bastante interessantes,já que os coeficientes são relativamente bai-xos para todas as economias latino-ameri-

canas, exceto o México. Em geral, as cifrasindicam que no mercado norte-americanonão existe concorrência direta entre aChina e a América Latina. Não é de estra-nhar que os países que exportam principal-mente produtos básicos enfrentem umrisco menor de concorrência, já que aChina é importadora de matérias-primas.Entre as 34 economias estudadas, os coefi-cientes mais baixos correspondem ao Pa-raguai, à Venezuela, à Bolívia e ao Panamá,ou seja, esses são os menos afetados pelaconcorrência comercial chinesa. Brasil eColômbia estão em posições intermediá-rias, enquanto México e Costa Rica estãomais expostos à concorrência.

Portanto, do ponto de vista do inter-câmbio comercial,pode-se concluir que oscustos de curto prazo para a AméricaLatina,se é que existem,são bastante redu-zidos.De fato,na maioria dos países latino-americanos, as exportações para a Chinatêm aumentado notavelmente.

O comércio entre Brasil e China quadru-plicou (com folga) no período entre 2001 e2004,porém se manteve muito concentran-do em um pequeno número de mercado-rias. Em 2005, 75% das exportações brasi-leiras para a China foram compostas de cin-co produtos básicos: soja,minério de ferro,

Setores 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Maquinaria e equipamentos de transporte 38,8 40,5 40,3 42,3 45,3 45,9 44,4

Produtos manufaturados 22,5 21,2 19 17,7 17,2 16,2 13,6

Produtos químicos 13,8 13,8 12,7 12,4 12,3 11,1 11,2

Total 75,1 75,5 72 72,4 74,8 73,2 69,2

Tabela 2. Estrutura importadora da China (% das importações totais)

Fonte: Base de dados Intracen, da Unctad/OMC

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0M

éxico

Cost

a Ri

ca

Bra

sil

El S

alva

dor

Colô

mbi

a

Urug

uai

Peru

Arge

ntin

a

Guat

emal

a

Hond

uras

Bolív

ia

Pana

Chile

Vene

zuela

Para

guai

Gráf ico 2. Grau de concorrência entre países latino-americanos e a China, pelo mercado norte-americano (coef iciente de concorrência-ci)

2000 a 2002 2002 a 2004

Fonte: elaboração dos autores

de 2004 o país passou a ocupar o terceiro lugar entre os exportadores mundiais

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qüente maior eficiência da infra-estruturacontribuiriam para melhorar os resultadosdos exportadores latino-americanos.

No caso do México, favorecido por suaproximidade com os Estados Unidos, umaumento da eficiência de seus portos naproporção do ocorrido na França e na Suíçapoderia diminuir em 10% os custos detransporte. Enquanto no Brasil e no Equa-dor,segundo avaliam estudiosos já citados,um aumento de eficiência do mesmo nívelprovocaria queda de mais de 15% noscustos de transporte.

Os portos latino-americanos estão en-tre os mais ineficientes, sem falar que aregião enfrenta sérios problemas no quediz respeito ao funcionamento do sistemaalfandegário, com demora, em média, desete dias para o desembaraço de mercado-rias (nos portos considerados piores, quesão os equatorianos e os venezuelanos,esse processo chega a demorar quinze eonze dias, respectivamente). Além disso,os custos de manuseio de contêineres den-tro dos portos são muito elevados e aindaexiste uma forte presença do crime orga-nizado na infra-estrutura portuária. Tudoo que foi mencionado indica que há amploespaço para melhorias.

42 Desafios • fevereiro de 2007

Outro aspecto que precisa ser enfrentado pelos países latino-americanos é a necessidade

aço,óleo de soja e madeira.Grandes empre-sas brasileiras,como a Aracruz,mais que do-braram suas vendas para a China nos últi-mos dois anos do período analisado,até che-gar a 12% do total de suas exportações. AChina também se transformou em um dosprincipais compradores de minério de ferroda Companhia Vale do Rio Doce.

Um desafio importante para o Brasil é odinamismo das exportações da China,paísque nas próximas décadas deve continuar aaumentar sua participação em terceirosmercados graças à introdução de novosprodutos.Nesse sentido,assim como desta-cam alguns economistas brasileiros (Mar-celo de Paiva Abreu,2005),no médio prazoa concorrência chinesa poderá afetar algunssetores da economia, como o de produçãode ferro e aço. Num prazo mais longo, a in-dústria automobilística também poderá vira ter problemas.

O caso do México é, sem dúvida, dife-rente. As cifras indicam que esse país en-frenta uma dura concorrência comercialcom a China, inferior unicamente àquelaencarada por Tailândia, Hungria e Coréiado Sul.

Outro aspecto que precisa ser enfrenta-do tanto pelo México como por outros

países latino-americanos é a necessidade dereduzir os custos de transporte e melhorara eficiência da infra-estrutura.Para a maio-ria dos países da América Latina, os custosde transporte são um obstáculo aindamaior do que as tarifas alfandegárias para oacesso ao mercado norte-americano.

Depois de fazer uma análise detalhadados custos de transporte marítimo até osmercados dos Estados Unidos, utilizandouma base de dados que congrega mais de300 mil registros anuais sobre produtosdespachados,Clark,Dollar e Micco (2004)concluíram que a eficiência portuária é umfator importante na composição dos custos.Isso é fundamental porque, tanto na Ásiacomo na América Latina, a queda das bar-reiras e tarifas alfandegárias fez aumentar opeso relativo do custo de transporte comofator determinante do comércio.

Desconsiderando o México, os custosmédios de transporte na América Latinasão similares, e às vezes até superiores, aosde seus concorrentes asiáticos. Para algunspaíses, como Chile e Equador, os custos detransporte são mais de vinte vezes supe-riores à tarifa alfandegária média que incidesobre seus produtos vendidos aos EstadosUnidos.A redução desses custos e a conse-

0,50

0,45

0,40

0,35

0,30

0,25

0,20

0,15

0,10

0,05

0

Méx

ico

Bra

sil

Colô

mbi

a

Arge

ntin

a

Cost

a Ri

ca

Vene

zuela

Guat

emal

a

El S

alva

dor

Chile

Peru

Bolív

ia

Urug

uai

Para

guai

Hond

uras

Pana

Petróleo Cobre Soja*

Gráf ico 3. Potencial exportador para a China (coef iciente de concorrência-ci)

Gráf ico 4.Crescimento das importaçõesentre 1997 e 2004 (%)

de 2000 a 2002 de 2002 a 2004 China Mundo

Fonte: elaboração dos autores *de 2001 a 2004. Fonte: dados do Departamento de Agriculturados Estados Unidos, World Metal Statistics e British Petroleum

24,4

2,9

18,4

4

20,5

6,9

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Desaf ios • fevereiro de 2007 43

Oportunidades nocurto prazo: a vigorosademanda da China

Como se comprovou, os efeitos docomércio chinês sobre a América Latina,salvo algumas exceções, são, em geral, po-sitivos. E até mesmo para países como oMéxico, que enfrenta crescente pressãocompetitiva no mercado norte-americano,a China poderia representar,pelo menos emteoria, uma oportunidade como um pos-sível mercado para exportação.Para avaliaros benefícios que poderiam advir da cres-cente demanda chinesa, construímos doisíndices. Assim como no caso anterior,utilizamos a base de dados da Unctad, queabarca 620 produtos diferentes.

Esse índices comparam a estrutura ex-portadora de quinze países latino-ameri-canos com a estrutura importadora daChina. Se as exportações de determinadopaís assemelham-se às importações daChina, quer dizer que existe potencial paraincremento das exportações do país lati-no-americano. Cabe reiterar que essesíndices são versões modificadas do coefi-ciente de especialização (csm) e do coefi-ciente de conformidade (ccm). Nesta par-te do trabalho, adotamos os mesmos pro-cedimentos da seção anterior. Ambos osíndices são iguais a 1 quando as impor-tações chinesas coincidem exatamentecom as exportações da economia latino-americana.Vale lembrar que, por mais queo índice se aproxime de 1, não implica ne-cessariamente que exista intercâmbio co-mercial entre os dois países. Isso quer dizerapenas que há um benefício potencial euma evidente oportunidade de comércio.

Os resultados não são muito alenta-dores, principalmente porque os países daAmérica Latina são exportadores de pro-dutos básicos e, portanto, seu comérciopotencial com a China está restrito a umapequena cesta de produtos (veja Gráfico 3).Em outras palavras, devido à estrutura ex-portadora da região, são poucas as proba-bilidades de comércio intraindustrial da

China com a América Latina, salvo com oMéxico e com o Brasil.

Além disso, devido à crescente deman-da chinesa por matérias-primas, o comér-cio com esse país poderá requerer maiorespecialização nesse tipo de bem, aumen-tando o risco de que alguns países se ve-jam presos na armadilha da exportação dematérias-primas e não consigam avançarna cadeia de valor agregado.

De fato, a China também está se con-vertendo em comprador importantíssimode matérias-primas em alguns mercados(veja Gráfico 4). Em 2003, ela foi o princi-pal importador mundial de algodão, co-bre e soja, e o quarto maior importador depetróleo. A demanda chinesa por produ-tos primários continua aumentando, es-pecialmente por cobre e soja, que cresceuanualmente à razão de 50%. No caso dopetróleo, a taxa de crescimento se aproxi-ma de 20% anuais.

Ao se converter no maior importadormundial de cobre,a China elevou as expor-tações do Chile e do Peru.A combinação deuma grande expansão industrial com umaeconomia florescente também contribuiupara gerar forte demanda por petróleo,queos fornecedores estão buscando atender, efez a China ultrapassar o Japão, transfor-mando-se no segundo maior consumidordesse produto, atrás apenas dos EstadosUnidos. Em 2003, um terço do incrementodiário do consumo mundial de petróleo sedeveu exclusivamente à China.

Mesmo que o intercâmbio comercialse concentre em um número reduzido deprodutos básicos, a vigorosa demandachinesa por matérias-primas é benéficapara a América Latina. Em termos eco-nômicos, pode-se dizer que se trata deum choque positivo de demanda. Dequalquer forma, ela gera efeitos positivosna região, mesmo que não haja um co-mércio direto com a China. Na AméricaLatina, os quatro principais produtosbásicos de exportação são: cobre, petró-leo, soja e café. Esses bens representam66% das exportações de matérias-primasdo bloco e a China absorve parte impor-

tante delas, exceto no caso do café.Outro fato interessante é que a América

Latina é um importante produtor mun-dial de commodities.A região responde por47% da produção mundial de soja, 40%da de cobre e 9,3% da de petróleo cru. Nocurto prazo,a forte demanda chinesa cons-titui uma oportunidade para a maioriados países latino-americanos. Se essa de-manda se mantiver, o mais provável é quea região seja favorecida.Ainda assim, seriabom investir um pouco em maior espe-cialização, pois, caso contrário, a AméricaLatina verá sua dependência dos produtosbásicos aumentar e os países da regiãocontinuarão expostos às oscilações da re-lação de intercâmbio.

de reduzir os custos de transporte e melhorar a ef iciência da infra-estrutura

(1) Jorge Bláquez-Lidoy, Javier Rodríguez y JavierSantiso (2006),“¿Ángel o demonio? Los efectosdel comercio chino en los países de América La-tina”, Revista de la Cepal, n.º 90 (LC/G.2323-P/E),Santiago de Chile, Comisión Económica para Amé-rica Latina y el Caribe (Cepal), diciembre.

(2) Desafios assume total responsabilidade pela tra-dução e edição deste artigo.

(3) As estatísticas chinesas dão margem a muitasdúvidas. Em 2003, o governo informou que a taxade crescimento havia sido de 9,1%, mas, de acor-do com o juízo de muitos economistas, essa taxasuperou os 11%.

(4) É bom destacar que, nos últimos anos, GoldmanSachs tem estabelecido uma estratégia agressivapara entrar no mercado chinês.

(5) A preocupação com a moeda chinesa intensificou-se nos anos 2003 e 2004 por causa das eleiçõesnos Estados Unidos (Eichengreen, 2004 e 2006).

(6) Para saber mais sobre o sistema bancário chinês,aconselhamos consultar um estudo do DeutscheBank (2004) e também um documento elaboradopelo Banco de España (2004).

(7) Essa base de dados pode ser encontrada noendereço www.intracen.org.

(8) A correlação entre os índices é de 0,94, o queindica que ambos fornecem a mesma informação

Este trabalho foi apresentado, pela primeira vez, em 2004,

no Centre for Latin American Studies da Universidade

Georgetown. Depois foi apresentado nos anos 2005 e 2006,

devidamente atualizado

Íntegra do artigo em espanhol e bibliograf ia disponíveis no

endereço www.eclac.org/revista/

d

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TRABALHO

Pesquisa do Ipea

constata que a

informal idade diminui

longe das grandes

reg iões metropol i tanas.

Ainda que esteja em

patamares elevados

e preocupantes, em

torno de 50%, a

at iv idade econômica

informal experimentou

um mov imento de queda

no plano nacional

no período de 1991 a

2005, em todos os

setores. As pr incipais

causas seriam

o aumento da

f iscal ização, o desejo

de exportar e o

crescimento econômico,

a inda que modesto.

economia informal não pára decrescer no Brasil, certo? Errado.Levantamento elaborado peloInstituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (Ipea) mostrou que o nível de in-formalidade, de fato, tem aumentado, po-rém esse processo está concentrado nasregiões metropolitanas (veja gráficos nas

págs. 46 e 47).Ao voltar o olhar para a ativi-dade econômica longe dos grandes cen-tros, constatou que a informalidade nãoapenas não cresceu como também apre-sentou declínio.Ainda que esteja em pata-mares elevados e preocupantes, em tornode 50%, a informalidade experimentouum movimento de queda no plano na-cional no período de 1991 a 2005, cujospercentuais merecem uma interpretaçãoséria dos formuladores de políticas antesde qualquer comemoração. O estudo, assi-nado pelos especialistas Lauro Ramos, daDiretoria de Estudos Macroeconômicosdo Ipea, e Valéria Ferreira, da Escola Na-cional de Ciências Estatísticas do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),conclui que para reduzir de modo significa-tivo o nível de informalidade só existe umcaminho: o crescimento econômico.

Tomando como matéria-prima as in-formações contidas na Pesquisa Nacionalpor Amostra de Domicílio (Pnad), doIBGE, e na Pesquisa Mensal do Emprego(PME), do Ministério do Trabalho e Em-prego, os pesquisadores notaram uma di-cotomia entre o que acontece nas regiõesmetropolitanas,onde a informalidade cres-

Como mandao figurino

A

Informalidade3 31/01/07 21:24 Page 44

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P o r M a r c e l l o A n t u n e s , d e B r a s í l i a

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Informalidade3 31/01/07 21:25 Page 45

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46 Desafios • fevereiro de 2007

O es tudo d i z que é impor tan te te r c l a ra a g rav i dade da s i t uação, a t é porque a

ceu e manteve-se estável, em comparaçãocom as regiões não metropolitanas, onde ainformalidade foi reduzida e contribuiupara que o índice nacional mostrasse ligeiratendência de queda.

O estudo “Padrões espacial e setorial daevolução da informalidade no período1991-2005”avaliou que o propalado cresci-mento do percentual de postos de trabalhodesprotegidos é,em boa parte,atribuído àsmudanças ocorridas na estrutura setorialdo emprego nesse período. Há de se lem-brar que o país sofreu mudanças no final dadécada de 1980 e início da década de 1990.A abertura econômica provocou umprocesso de enxugamento nas linhas pro-dutivas, principalmente na indústria detransformação, pela necessidade de au-mentar a competitividade dos produtosbrasileiros nos mercados internos e exter-nos. Esse revés foi somado ao crescimentodo setor de serviços,que se tornou da noitepara o dia o abrigo dos trabalhadores atéentão com vínculos empregatícios.

Plano Real Tal mudança no panorama eco-nômico, segundo Lauro Ramos, teve con-tribuição importante da estabilidade eco-nômica, a partir de 1994, que gerou umasupervalorização da moeda.Junto com essemovimento de alta vieram o aumento doscustos dos empréstimos com juros maio-res, a redução da oferta de crédito internoe externo para investimentos,a pesada car-ga tributária e a elevação dos custos traba-lhistas para os empregadores. Em seguida,por causa da estagnação da economia,muitos postos de trabalho de qualidade fo-ram substituídos por outros, invariavel-mente mais precários.Diante desse cenário,a informalidade encontrou espaço paraavançar,muitas vezes sob o rótulo de tercei-rização (leia quadro na pág. 48).

Nos seis primeiros anos da década ante-rior, de 1991 a 1996, o grau de informa-lidade saiu da casa dos 40% para alcançar47% no conjunto das regiões metropoli-tanas cobertas pelas pesquisas Pnad e PME.De 1996 até o final de 1997, o ritmo decrescimento diminuiu um pouco,elevando

a proporção para 48%. Mas em 1999, emdecorrência das crises internacionais queafetaram o desempenho do Brasil, a infor-malidade chegou a 50% e no final de 2000estava em 51%. Hoje, segundo Lauro Ra-mos,a informalidade no plano nacional es-tá em 50,4%, com algumas regiões metro-politanas e não-metropolitanas exibindograus de diminuição que são “bem-vindos”.

O texto aponta que os setores emble-máticos foram a indústria de transfor-mação e o setor de serviços.A ocupação naindústria caiu de 3,35 milhões de trabalha-dores em 1991 para 2,8 milhões em 2002,e nesse período o volume de postos infor-mais de trabalho cresceu. Já o setor deserviços teve uma expansão do número deempregos,porém muitos na informalidade.No mesmo intervalo de tempo, o númerode postos de trabalho com vínculo infor-mal na indústria e nos serviços subiu de0,53 milhão para 0,80 milhão. Ou seja, nocaso do setor de serviços, a informalidadecresceu porque o segmento evoluiu,ao pas-so que na indústria a informalidade foicrescente, sem uma evolução natural.

O estudo revela, também, que é impor-tante ter clara a gravidade da situação, atéporque a informalidade muitas vezes é de-fendida como uma solução, e não um pro-blema conjuntural da economia. O fato de

o grau de informalidade não ter aumenta-do no mercado de trabalho nacional pro-porciona uma sensação de alívio, emboraas boas notícias nesse campo devam ser ocomeço de uma profunda reavaliação dasrelações entre o capital e o emprego. LauroRamos é taxativo:“Sem crescimento eco-nômico, a informalidade não cai”. E é ne-cessária uma ampla discussão desprovidade paixão.

Terceirização O pesquisador acredita queparte da reversão da informalidade é de-vida ao interesse dos empresários em for-malizar os empreendimentos em busca denovas possibilidades de negócios, já que,cada vez mais, os compradores estão preo-cupados com o cumprimento dos deveressociais de seus fornecedores. A tercei-rização que andou de mãos dadas com ainformalidade tornou-se vilã para muitasempresas que acreditaram nesse novo sis-tema para enxugar custos, mas acabaramperdendo contratos.

O presidente da Força Sindical, PauloPereira da Silva (Paulinho), acredita que aligeira queda da informalidade no planonacional é resultado,entre outras coisas,damaior fiscalização do Ministério do Tra-balho e Emprego. Ele lembra que umagrande empresa que terceirizou uma linhade produção teve de voltar atrás porque osempregados não tinham proteção traba-

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Ind. Reg. Metropolitana

Ind. total

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Evolução da informalidadena indústria(% sobre o total de postos de trabalho)

O nível de informalidade, em termos nacionais, no

setor de serviços está na faixa dos 52%

Ricardo Labastier

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Desaf ios • fevereiro de 2007 47

i n fo rma l i d ad e mu i t a s ve ze s é v i s t a c omo so l u ç ão, e n ão c omo p r ob l ema

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Evolução da informalidadeno setor de serviços (% sobre o total de postos de trabalho)

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Evolução da informalidadeno comércio (% sobre o total de postos de trabalho)

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1992 1999 2001 2005

Brasil total Agricultura total

Evolução da informalidadena agricultura (% sobre o total de postos de trabalho)

O setor de comércio foi o que registrou maior redução da informalidade. De 1999 a 2005, a taxa caiu de 57,7% para 51,4%

Tuca Vieira/Folha Imagem

Fonte: elaboração de Lauro Ramos e Valéria Ferreira, com base nas Pnads de 1999 a 2005

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48 Desafios • fevereiro de 2007

Parte da reversão da informalidade é devida ao interesse dos empresários em atender

aspectos. Ele também atrela a queda da in-formalidade ao crescimento da economiae à maior fiscalização,mas agrega ao debateum novo componente:a exportação.“Quemquer exportar, e a ordem do dia é exportar,deve ter uma empresa formalizada e comempregados formais, com carteira assina-da.A flexibilização das leis trabalhistas vaiacelerar a queda da informalidade e dosempreendimentos informais”, afirma.

O desafio a ser superado é diminuir oscustos trabalhistas sem desamparar os tra-balhadores. Fonseca lembra que as empre-sas,nos últimos anos,realmente se concen-traram em suas atividades principais, ter-ceirizando outros serviços, como de segu-

lhista.“Eram empregos precários.”Paulinho diz que em março, quando já

terá assumido o cargo de parlamentar naCâmara dos Deputados, as Centrais Sin-dicais promoverão em Brasília uma amplamanifestação para conscientizar o Execu-tivo e o Legislativo sobre a importância deestabelecer regras para a terceirização de li-nhas produtivas. Na ocasião, será apresen-tado um Projeto de Lei que visa estenderaos informais os mesmos direitos previs-tos na convenção trabalhista daqueles quetêm carteira assinada no mesmo setor.“Perdeu-se o controle sobre quem seguiupara a informalidade,tanto do lado do em-pregado como do empregador”, diz Pauli-nho. Em suma, a idéia é que o empregadoterceirizado de determinado setor tenha asgarantias trabalhistas de sua categoria.

Enquanto a medida não sai do papel,um artigo da Lei Geral da Micro e PequenaEmpresa tende a levar para a formalidadeum contingente expressivo de trabalhado-res.Algo em torno de 18 milhões de autô-nomos, que não têm vínculo, poderão tercobertura previdenciária. Eles terão auto-rização para iniciar o recolhimento de 11%sobre o valor do salário mínimo.

Mudanças Esse trabalhador, explica JoãoDonadon, diretor do Regime Geral dePrevidência Social, do Ministério da Pre-vidência Social, terá direito à aposentado-ria somente ao atingir a idade exigida oupor invalidez. Se ele, como se espera, me-lhorar a própria renda, poderá se encaixarno modelo tradicional de contribuição, oque significará um rendimento maior novalor final da aposentadoria.

Donadon conta que as relações de tra-balho têm mudado bastante nos últimosanos e o Estatuto tende a reforçar a visão deque desonerar os custos, inclusive os previ-denciários, sem garantir os mínimos direi-tos trabalhistas pode sair mais caro do quea pretensa economia.Atualmente, as puni-ções não se restringem às empresas queatuam na informalidade, aquelas que pac-tuam com a informalidade – por exemplo,comprando sem exigir nota fiscal – tam-

bém terão de prestar contas.O governo es-tava perdendo a batalha contra a perversi-dade de empresas informais que contra-tavam um contingente expressivo de tra-balhadores sem qualquer proteção. Umavez fiscalizadas,as empresas mudavam parao outro lado da rua, sempre para fugir dofiscal, fosse ele da Previdência ou do Mi-nistério do Trabalho. Para fechar o cerco, acadeia produtiva passou a ser acompanha-da sempre para verificar se existiam traba-lhadores assalariados sem vínculos traba-lhistas e sem proteção previdenciária.

O economista da Confederação Nacio-nal da Indústria (CNI) Renato da Fonsecaafirma que o estudo do Ipea revela novos

Terceirização e informalidade

Terceirização. Essa palavra que representava o novo paradigma da economia no começo da dé-cada de 1990 e povoou o vocabulário dos consultores hoje pode produzir arrepios nos empre-gadores. O princípio da terceirização, para buscar a redução de custos, enfeitiçava pelo fato demostrar e comprovar para uma empresa que ela teria ganhos se todos os trabalhadores alheiosao produto principal fossem demitidos e, no lugar deles, uma empresa fosse contratada para exe-cutar determinadas tarefas.

Em algumas linhas de produção, como a automobilística, a terceirização deu certo e empre-sas criadas por ex-funcionários hoje empregam seus funcionários oferecendo todos os benefíciosque antes encontravam na grande indústria. Mas em algumas situações, como lembra PaulaMontagner, coordenadora do Observatório do Trabalho, e Renato da Fonseca, da ConfederaçãoNacional da Indústria (CNI), a terceirização, muitas vezes, significou um custo adicional para asgrandes empresas, pelo fato de que o estabelecimento que prestava serviço contratava mão-de-obra informal, ou seja, trabalhadores assalariados sem direitos. Esse funcionamento irregular dasempresas prestadoras de serviços acabava por macular a imagem da contratante.

Como a onda da terceirização coincidiu com uma época em que a qualidade dos empregosfoi reduzida e que ocorreu uma desestruturação do mercado de trabalho, muitos brasileiros tive-ram de apelar para os trabalhos precários, sem vínculos nem direitos, e, conseqüentemente, sema possibilidade de negociação salarial. Na ocasião, o mote era: o emprego precário ou o desem-prego. Quando a cadeia produtiva passou a ser co-responsabilizada, a terceirização aos poucoscaiu em desuso, mesmo quando foi tentado criar a “Era da Quarteirização”– terceirizar pura esimplesmente uma atividade econômica da indústria que já havia sido terceirizada. Fonseca, daCNI, explica que terceirizar, hoje, só se a empresa mostrar que é séria e emprega seus fun-cionários como manda o figurino.

Outra modalidade que alguns confundem com informalidade é o trabalho autônomo. Porém,os autônomos, como o próprio nome diz, têm autonomia para optar entre atuar na informalidadeou não porque eles podem contribuir para a Previdência, recolher seus impostos e, assim, inte-grar a rede oficial de proteção ao trabalhador. O mesmo vale para consultores e prestadores deserviços por produto.

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as exigências dos compradores, preocupados com o cumprimento dos deveres sociais

Márcio Pena/Folha Imagem

A agricultura é o setor que registra os mais altos níveis de atividade informal. Apesar dos esforços dos exportadores, 78,1% dos produtores operam na informalidade

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50 Desafios • fevereiro de 2007

A Le i da micro e pequena empresa pretende formal i zar 18 mi lhões de trabalhadores

conta própria, empregadores, empregadosnão remunerados e trabalhadores para pro-dução para o próprio consumo. PaulaMontagner, coordenadora do Observató-rio do Trabalho,do Ministério do Trabalhoe Emprego,afirma que as recentes pesquisasda PME têm mostrado uma recuperaçãodo trabalho formal também nas regiõesmetropolitanas, o que ela credita ao cresci-mento econômico.Essa retomada,que im-plica em queda da informalidade, tem umacompanhamento constante para verificarse o movimento é permanente ou não.“To-do esforço que se faz é para que a queda dainformalidade seja um movimento cres-cente. Nota-se que pequenos empreendi-mentos buscam a formalização para podercrescer”, diz ela.

Assim, como no formato de uma espi-ral, a própria evolução da economia levapara a formalidade os trabalhadores.Ela ci-ta como exemplo o processo de precariza-ção que existia na região de Franca, no in-terior de São Paulo, que é um pólo cal-çadista exportador.“Lá, muitos emprega-dos não tinham direitos. O trabalho nasoficinas era informal e então toda a cadeiaprodutiva passou a ter co-responsabilidadenos casos ilegais”,conta.Atualmente,nessepólo exportador pelo menos o problemada informalidade e do trabalho precárionão existe mais.

Até mesmo no comércio,que está ligadoao setor de serviços,Montagner nota que háa preocupação de formalizar os empregos,tendo maior respeito aos direitos trabalhis-tas. Em parte, a informalidade cai nesse se-tor, como verificou o estudo do Ipea.Segundo ela,pela iminente possibilidade defiscalização das Delegacias Regionais doTrabalho e também pela oferta de oportu-nidades melhores. Em São Paulo, Montag-ner conta que o setor já teve 75% dos traba-lhadores em situação informal, mas essenúmero vem caindo por causa da recupe-ração da economia. Parece simples, mas jáque os especialistas recomendam, se ocor-rer uma flexibilidade das leis trabalhistas e aeconomia continuar crescendo,uma coisa écerta: a informalidade cairá mais.

rança, copeira ou limpeza. Entretanto, acadeia produtiva passou a ser observadapelos compradores de produtos brasileirosno exterior.Se,em algum momento da pro-dução daquele equipamento que será ex-portado,um empregado trabalhar em con-dições precárias, o barato pode sair caro.Em outras palavras, o custo trabalhistapode ser menor do que o prejuízo de perderum grande contrato de exportação.“As em-presas e os departamentos jurídicos e fi-nanceiros começam a pôr na balança essesingredientes”, diz ele.A exposição das em-presas à vista de seus empregados e con-sumidores, considerando a responsabili-dade social,é um item que pode definir umrelacionamento duradouro.

É assim que pensa Maria Lina Couti-nho, uma senhora de 60 anos que há pelosvinte expõe e vende suas bijuterias de pe-dras semipreciosas na tradicional Feira dasArtes de Belo Horizonte. Maria Lina, que,em todos os domingos arma sua barraca denúmero 14 na Fila G-13 da avenida AfonsoPena,começou a exportar para um,depoispara outro cliente e, agora, se a freqüênciapermitir e as receitas crescerem um pou-quinho, tentará formalizar uma empresa.Ao contrário de Arnaldo Pires de Andrade,que vende artigos de couro na barraca aolado e somente agora,aos 51 anos de idade,pensa em contribuir para a Previdência,Maria Lina conta com os benefícios da Pre-vidência há treze anos porque paga reli-giosamente.“Ser um trabalhador informalé o mesmo que não existir”, afirma.

A preocupação de Maria Lina pode sera mesma de milhares de brasileiros que tra-balham no campo.A informalidade nas re-giões não metropolitanas,conforme desta-ca o estudo do Ipea, mostra que o agrone-gócio tem levado empregos formais para osrincões mais distantes do Brasil. O técnicoClóvis Veloso,da Comissão de Relações doTrabalho e Previdência Social da Confe-deração Nacional da Agricultura (CNA),revela que os empregos formais têm cresci-do de forma constante no interior do paísporque a expressão que mais se houve é re-sponsabilidade social.“Existe um selo de re-

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Evolução regional da informalidade (% sobre o total de postos de trabalho)

sponsabilidade social que o agronegócio le-va à sério. Se não gerar empregos de qua-lidade e formais, sabemos que não vamosconseguir exportar. Os pequenos e médiosprodutores têm consciência de que os com-pradores estão exigindo a certificação de re-sponsabilidade social de toda a cadeia pro-dutiva”, afirma.

Selo A certificação à qual Veloso se refere éo Selo de Responsabilidade Social, regidopelas normas AS8000 e ISO16001,garanti-ndo que em determinada produção não háemprego infantil, trabalho degradante ouindícios de trabalho escravo. “O agro-negócio tem se preocupado com isso. Nãoporque a fiscalização aumentou, mas por-que essa é a visão internacional.Os consum-idores querem comprar produtos de paísesonde não há incidência de nenhuma situ-ação aviltante para o trabalhador.”

Apesar de a informalidade ter caído nocampo, o índice ainda está na casa dos70%,como mostra o estudo do Ipea.Velosocita dados do IBGE de 2004, quando havia4,89 milhões de empregados no setor, dosquais 1,55 milhão com carteira assinada e3,34 milhões sem carteira. Além disso, onúmero de novos postos de trabalho nãovem crescendo.No Brasil inteiro,a mão-de-obra ocupada corresponde a 17,7 milhõesde trabalhadores,entre eles empregados por d

Fonte: elaboração de Lauro Ramos e Valéria Ferreira,a partir das Pnads de 1999 a 2005

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Desaf ios • fevereiro de 2007 51

J o ã o G u i l h e r m e S a b i n o O m e t t oARTIGO

Organização das Nações Unidas para aAlimentação e a Agricultura (FAO) estádefendendo de modo muito pertinenteum novo modelo de cooperação públi-

co-privada para a produção rural, bem como aadoção de políticas governamentais de apoio ao se-tor.Em 2006,“Investir na agricultura para garantira segurança alimentar”foi o tema do Dia Mundialda Alimentação,celebrado pela entidade em 16 deoutubro, data de sua fundação, em 1945. Reflexãosobre o assunto e estímulo às medidas sugeridaspor esse importante organismo multilateral se-riam passos importantes na luta contra a fome.

A FAO alerta que continua sendo reduzida aajuda internacional à agricultura. Isso é muitopreocupante! O valor recuou de 9 bilhões de dó-lares,no início dos anos 1980,para menos de 5 bi-lhões, na virada do século. Contraponto: 854 mi-lhões de pessoas em todo o mundo continuamsubnutridas.Assim, o investimento na produçãorural é imprescindível para reverter o quadro! Oconteúdo dessa afirmação,embora seja o mais cla-ro exemplo do óbvio ululante, infelizmente não setem traduzido em ações concretas e políticas pú-blicas capazes de fazer frente à dimensão do desafio.

Nesse sentido, a primeira e urgente lição decasa é identificar os gargalos a serem superadosnos países subdesenvolvidos e nos emergentes,en-tre eles o Brasil. No que diz respeito diretamente àprodução, os principais problemas, que fogem aocontrole dos produtores e exigem políticas públi-cas adequadas, são os seguintes: falta de crédito,posse insegura da terra, baixos preços e relaçõesde negócios pouco desenvolvidas. Essas dificul-dades, em maior ou menor escala, atingem pe-quenos, médios e grandes produtores. No entan-to, há um obstáculo igualmente grave para todos.Trata-se da debilidade da infra-estrutura, como afalta de boas estradas, ferrovias, armazenamentoe logística.A esses diagnósticos da FAO, creio serimportante acrescentar a carência de pesquisa einovação e/ou a dificuldade de acesso dos produ-tores aos avanços do conhecimento.

Entre as soluções apontadas pela FAO, está oadvento de um moderno modelo de cooperaçãoentre os setores público e privado para o desen-

volvimento rural.Tal processo inclui novas formasde ampliar a sinergia entre produtores e toda acadeia do agronegócio, estabelecimento e exe-cução de padrões e classificações,melhoria do cli-ma do investimento (olha os juros altos aí,gente...)em prol da agricultura e avanços da infra-estrutu-ra no campo, incluindo água, estradas, comuni-cações e energia.

Apesar da premência de produzir mais ali-mentos, o setor público, em expressiva parcela domundo em desenvolvimento, tem sido poucoágil em responder às mudanças e demandas dosetor rural suscitadas pela globalização. Prova in-conteste dessas distorções encontra-se em infor-mação do Bando Mundial (Bird), de que apenas4% de toda a riqueza produzida no planeta é ge-rada pelas atividades agropecuárias, embora es-tas empreguem 43% da população economica-mente ativa. O Bird também informa que os go-vernos dos países desenvolvidos destinam 330bilhões de dólares por ano em subsídios à agro-pecuária, atropelando, dessa forma, a competi-tividade do setor nas nações emergentes e sub-desenvolvidas. Essa questão, que tem pontuadoa Rodada de Doha, é outro item a ser superado naagenda do mundo contra a fome.

Dados de outro estudo da FAO, relativo aoperíodo compreendido entre 1990 e 2002,eviden-ciam que, em numerosos países, a dificuldade deacesso aos alimentos agravou-se, em especial naAmérica Central e, de maneira grave, na Áfricasubsahariana,onde há quase 50 milhões de desnu-tridos,ou cerca de 55% da população.A boa notí-cia é que, nos mesmos dez anos, o quadro melho-rou em nosso país, com a queda de ocorrência dadesnutrição de 12% para 9% dos habitantes. Emtermos nominais, contudo, estamos falando deum contingente de 17 milhões de brasileiros, oequivalente a toda a população do Chile. Ou seja,não há tempo a perder!

João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro, vice-presidente da Federação

da Indústrias de São Paulo (Fiesp), coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva do

Agronegócio da Fiesp e membro do Conselho Universitário da Universidade de São

Paulo (USP)

Em defesa do agronegócio

“Dados do Banco

Mundial informam

que apenas 4%

de toda a riqueza

produzida no planeta

é gerada pelas

atividades

agropecuárias, embora

estas empreguem

43% da população

economicamente ativa”

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MELHORES PRÁTICAS

Edua

rdo T

avar

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Veranilda Lusia da Silva

acende a lâmpada

que lhe permite ler e

fazer crochê à noite

melhores 31/01/07 21:33 Page 52

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luminosaUma idéia

Era uma vez um engenheiro agrônomo

que se tornou Secretário de Agricultura de uma cidade recém-emancipada.

Pretendia construir estradas para ajudar a população rural, mas descobriu

que o que faz ia mais fal ta era a energ ia. Apl icou um sistema barato de

eletri f icação e levou luz para os moradores do campo. Dessa forma, foi

possível melhorar a irrigação das culturas, aumentar a renda dos agricultores

e o êxodo rural foi sendo revertido aos poucos. Isso aconteceu em 1982. Hoje,

calcula-se que o modelo desenvolv ido pelo ex-secretário já tenha i luminado

a casa de mais de 1 milhão de brasileiros.

P o r P a t r í c i a M a r i n i , d e M a q u i n é , R S

melhores 01/02/07 09:40 Page 53

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tio, que quadruplicaram o aproveitamentoda terra.“Quando fui ao BNDES expor ocusto da estrutura,eles pularam na cadeira.Não podiam acreditar”, recorda-se Rosa.

Mas a carreira do agrônomo foi repen-tinamente interrompida com o fim domandato do primeiro prefeito.Foi quando,por iniciativa de um analista de projetos doBNDES, Rosa foi apresentado à FundaçãoAshoka, que identifica e apóia financeira-mente empreendedores sociais em todo omundo. Era evidente que Rosa estava ata-cando a raiz dos problemas que levavam aoêxodo do campo. O dinheiro da Ashoka,9,6 mil dólares por ano, permitiu que con-tinuasse o trabalho.Contrariado com a bu-rocracia oficial e pela descontinuidade dosprojetos a cada troca de governo, em 1991ele e o eletricista Mello criaram a empresaSTA Agroeletro e passaram a trabalhar comunidades autônomas geradoras de energiasolar fotovoltaica. Cinco anos depois, ti-nham instalado setecentos sistemas de ener-gia solar em dezesseis estados brasileiros.“Por mais genial que seja a rede,não resolvetodos os problemas. Há lugares em que éimpossível construir uma rede. Então pre-cisamos combinar outras tecnologias, co-mo a solar fotovoltaica, uma turbina eólicaou microcentrais hidrelétricas”, diz.

Mais do que novas tecnologias, ele per-cebeu que estava desenvolvendo modelosde gestão.Mas o negócio com a energia so-lar, que crescia por demanda de mercado,ainda não deslanchara. Em 1997, enquan-to instalava uma placa solar em Januária,no norte de Minas Gerais, em um projetocom uma cooperativa de assentados da re-forma agrária que decidira investir nospainéis solares, uma moradora comentouo quanto sua vida iria mudar dali para afrente porque não precisaria mais caminhar5 quilômetros, quase todos os dias, paracomprar querosene para o lampião, velas epilhas para o rádio.

“Eu percebi que eles tinham uma contade luz subterrânea.” Fez o cálculo e desco-briu que cada família gastava cerca de 13dólares por mês com energia não renovávele poluidora.Neste ano,criou a organização

54 Desafios • fevereiro de 2007

Primeiramente, quatrocentas famílias de Palmares foram ligadas à rede elétrica, ao custo

tas. Em vez de três fios para compor o po-tente sistema “trifásico”,Amaral usava umsistema de corrente de alta tensão “mono-fásico”: um só fio carregava a corrente deum transformador para a residência. Eraadequado a um consumo de energia mo-desto.Amaral reduzira ainda mais os cus-tos substituindo fios de cobre por fios deferro,condutores mais baratos,com menospostes, transformadores menores e gentecomum do lugar em vez de construtoresprofissionais.Amaral,que faleceu dois anosdepois, passara uma década desenvolven-do o sistema.

“O invento funcionava bem,mas era ile-gal, pois não obedecia à norma estadual”,conta Rosa,que então se lançou numa cam-panha para que um novo padrão fosseaceito pela companhia elétrica estatal, aCEEE. Mas só em 1988, durante o governode Pedro Simon no Rio Grande do Sul, acompanhia viria a acatar o novo padrão,hoje copiado Brasil afora no programa Luzpara Todos, do governo federal. Os dadosoficiais identificam 12 milhões de brasileirossem acesso à energia, mas Rosa estima queseja pelo menos o dobro.

Economia Quando a nova norma foi enfimadotada, quatrocentas famílias rurais dePalmares já estavam ligadas à rede elétrica,ao custo de 400 dólares por casa. Na redeconvencional, o custo de instalação era de7 mil dólares por família. Um terço dosbeneficiados era gente que voltara da cidadeatraída pelas novas condições.A renda dosagricultores pulou de 50 a 80 dólares para200 a 300 dólares por mês.

Antes disso, com a ajuda do prefeito,Rosa conseguira permissão para testar o sis-tema desenvolvido por Amaral,que lhe ap-resentou o eletricista Ricardo Mello. En-quanto um se ocupava dos aspectos técni-cos, o outro ia conversar com os agricul-tores. Com eletricidade barata, poços arte-sianos rasos e bombas também monofá-sicas, chegou-se à almejada irrigação debaixo custo. O jovem secretário criou umdepartamento de desenvolvimento agríco-la e introduziu melhores técnicas de plan-

rimeiro foi o verbo, depois a luz e,então,a água – nessa ordem.O en-genheiro agrônomo gaúcho FábioRosa nunca imaginou que ficaria

conhecido internacionalmente pela abran-gência dos projetos de eletrificação ruralem comunidades que em pleno século XXIainda vivem sem acesso à energia elétrica.Tudo começou em 1982,porque sem ener-gia não havia como bombear água do sub-solo para irrigar as lavouras de arroz no pe-queno e então recém-fundado municípiogaúcho de Palmares.Hoje,calcula-se que aimplantação de suas propostas já tenha ilu-minado a casa de mais de 1 milhão debrasileiros.

Levar energia a áreas isoladas não era oobjetivo final. Revelou-se o meio mais efi-ciente para cativar as populações, possibi-litar aumento da renda e gerar desenvolvi-mento. O laboratório, no início da décadade 1980, foi a Secretaria de Agricultura dePalmares do Sul, no extremo norte da La-goa dos Patos.Recém-formado,Rosa tinha22 anos, um carro velho à disposição e aconfiança do primeiro prefeito da cidade,Ney Azevedo. Tinha, sobretudo, a con-vicção que o acompanha até hoje, uma desuas mais marcantes características.

Em Palmares, um dos resultados ime-diatos foi a reversão do êxodo rural.“No-tamos que a vontade dos jovens de ir embo-ra ficou aplacada com a chegada da luz e,em seguida, gente que tinha deixado o lu-gar para inchar as periferias urbanas co-meçou a voltar para o campo”, lembra. Ofato chamou a atenção do Banco Mundiale do Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES).

Sua primeira descoberta foi que os pe-quenos plantadores de arroz gastavam qua-se um quarto de seus custos de produçãocomprando água. Isso era três vezes maisque a média mundial. A única maneirabarata de tirar água do subsolo era comeletricidade,e 70% da população local (cer-ca de 9 mil pessoas) não tinha acesso a ela.

Atrás de uma solução,Rosa descobriu osistema desenvolvido pelo professor EnnioAmaral,da Escola Técnica Federal de Pelo-

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de 400 dólares por casa. Na rede convencional, o custo de instalação era de 7 mil por casa

Menina mostra o velho lampião, que virou peça de decoração depois da chegada da placa solar

Eduardo Tavares

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“Perceb i que e les t inham uma conta de luz subterrânea. Descobr i que, mesmo sem

Fábio Rosa, precursor do sistema simplificado de eletrificação rural. Graças ao método que ele implantou, mais de 1 milhão de brasileiros teve acesso à energia

Tânia Meinerz

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não-governamental Ideaas,sigla do Institutopara o Desenvolvimento de Energias Alter-nativas e da Auto-Sustentabilidade.“Um anoe meio depois,a Ashoka lançou um concur-so para empreendedores sociais que consis-tia em criar planos de negócios para sua in-stituição ser sustentável.”Se o Fundo Ideaascomprasse as placas, poderia alugar os sis-temas de energia solar por um preço que asfamílias tinham condições de pagar, pois jágastavam com o que ele chama de “contasubterrânea”.“Provei que num prazo de cin-co anos poderia resgatar o investimento ini-cial se tivesse sede capitalista, mas poderiaguardar metade para as trocas de baterias,necessárias entre o terceiro e o quinto ano,ea outra metade manteria a estrutura admin-istrativa e faria uma pequena sobra para am-pliar o número de pessoas servidas. Cincoou dez anos para cobrir o custo de um in-vestimento em energia é muito pouco.Nos-sas grandes barragens são financiadas emtrinta, até cinqüenta anos. E estou falandoem energia renovável, então esse negócionão é uma loucura.” Desse modo surgiu oprojeto Luz Agora!, que segue um modelode negócio possível numa empresa social,mas inviável numa empresa convencional.Assim,a STA e o Ideaas se separaram no anopassado, seguindo rumos diferentes.

Aluguel A dona-de-casa Veranilda LusiaPires da Silva e o marido, Luís, caseiro deuma chácara próxima da casa onde vivem,na serra da Boa Vista,município de Maqui-né, no litoral gaúcho, alugam por 36 reaismensais um sistema básico: uma placa so-lar de 60 watts,quatro lâmpadas de 12 volts,uma bateria de 150 ampères e um contro-lador de energia de sete ampères. É o sufi-cente para manter uma lâmpada acesa poroito horas.“Agora posso ler à noite e fazercrochê”, festeja Veranilda, que mantém ageladeira a gás desligada.“Um botijão de 13quilos custa 35 reais e dura só 22 dias, émuito caro”, diz ela, que já tem o fogão e ochuveiro a gás. O preço de instalação é 350reais, pagáveis em três parcelas,“mas rara-mente eles chegam a bancar o custo total dainstalação,já fiz um por 100 reais,era o que

a família podia pagar”,afirma Higor Renckda Silva, responsável pela instalação emanutenção dos sistemas de energia solarna região. Baseado no município de Osó-rio, ele participa do desenvolvimento deuma geladeira adaptada para funcionarcom placa solar, a ser ofertada por umaluguel mensal que será bem menor do queo preço de um botijão de gás. Há outrasaventuras tecnológicas em projetos meno-res. Em Laguna (SC), Rio Grande e SãoJosé do Norte (RS), cada pescador de ca-marão gasta 3,5 mil reais,em dois meses dasafra, com gás para o lampião. O Ideaas es-tá desenvolvendo um lampião solar parasubstituir o antigo.

“É claro que não posso viver só dessetrabalho”, diz Renck, que também ajuda opai na fábrica de esquadrias da família.“OFábio Rosa me ganhou no dia em que fuiacompanhá-lo para aprender a fazer a ins-talação dos sistemas de energia solar. An-damos por uma trilha no mato até chegar auma clareira com um casebre de chão deterra batida, onde viviam uma anciã e umamenina.Quando a lâmpada acendeu,a mu-lher jogou-se de joelhos aos meus pés,agra-decendo, e disse que achava que ia morrersem conhecer luz elétrica.Depois disso,nãolargo mais esse trabalho”, lembra Renck.

A família de Veranilda da Silva vive emuma localidade perto do mar, mas a 700metros de altitude.São poucas as moradias.Criaram os três filhos à luz de lampião.“Demanhã, as narinas do bebê estavam pretasde ficar respirando a fumaça de querosenedurante a noite.”Seu vizinho Manuel Fisher,caseiro de uma fazenda improdutiva de 300hectares há vinte anos, mora com o filhoque trabalha como servente de pedreiro eacha que o ganho com os painéis solares“não é grande coisa, nem dá pra funcionaruma geladeira,e a TV pega mal”.Fisher so-nha em mudar-se para uma pequena chá-cara que adquiriu,20 quilômetros mais per-to da vila. Mesmo julgando que a energiaque tem não é tão farta quanto a das redesurbanas, ele paga sua conta de luz sempreadiantado.

Praticamente numa volta às origens, o

Ideaas agrega a disponibilidade de energiarenovável a estímulos para produção, ge-ração de renda e melhoria da qualidade devida no meio rural, dentro de outro proje-to, batizado de Quíron. Os primeiros mó-dulos estão na zona rural do município deEncruzilhada do Sul, numa vasta regiãopobre conhecida como Metade Sul do Es-tado. O Quíron consiste não apenas em le-var energia,mas em implantar um plano delongo prazo para geração de renda.A pro-priedade passa por três fases produtivas: noprimeiro ano, a renda mensal média podetriplicar com a colheita de feno de alfafa,por exemplo; a partir do terceiro ano,a ren-da média aumenta cinco vezes com a co-lheita de uvas para fornecimento às viníco-las; e,em vinte anos,aumenta 25 vezes,coma produção de madeiras nobres nativaspara a indústria moveleira,concentrada naregião da serra gaúcha. Seis meses depoisde ter acesso à energia,80% das famílias deEncruzilhada tinham adquirido telefonecelular. Para elas, o único meio de comuni-cação com a cidade.

Psicologia Hoje, ele visita as comunidadesacompanhado de uma psicóloga.“Estamosfalando de gente.Eu sei que tenho de traba-lhar com melhoria da renda familiar, mascomo explicar a uma pessoa que não temágua para beber que ela vai ter de capinar odia todo? Não funciona assim, primeirovocê tem de estabelecer relações.Das váriaspossibilidades que temos de chegar a isso,a que mais caminha hoje passa pelo acessoà energia. Para nós, esta é a oportunidadede iniciar um processo de mudança.A luz,ou o acesso a esse código da modernidade,tem um significado: o cidadão sente-se in-cluído na sociedade.”

A Metade Sul está sendo palco de gran-des plantios de eucalipto por indústrias pa-peleiras para fabricação de celulose. Os in-vestimentos têm gerado polêmica.O Ideaastambém desenvolve um modelo de mane-jo florestal. No município de Alegrete, nafronteira oeste do estado, usou espéciesmadeireiras nativas da mata atlântica. Co-meçou há quatro anos.“Agora estamos me-

ter e le tr i c idade, cada famí l i a gastava cerca de 13 dó lares por mês com energ ia”

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Elétrica, que aceita a figura do gerador in-dependente.“Esse negócio muda de língua,de país, mas é sempre igual: o modelo con-struído está todo voltado para as con-cessões e não admite os pequenos agentesde energia – os Ideaas da vida.Fizemos umestudo profundo do marco regulatório dageração centralizada no Brasil,das questõesde acesso à energia e concluímos que é pre-ciso introduzir outras figuras, indepen-dentes e sustentáveis, não no sentido dehostilizar as concessionárias,mas para a so-ciedade ter outras ferramentas.” Ele sabeque o processo provavelmente levará anos.Não importa, nunca viu nada nessa áreamudar de um dia para o outro.Apenas achaque as concessionárias podem colaborarpara o desenvolvimento dessa cultura degestão descentralizada.“Há cem anos, nãosabiam falar disso, só sabiam trocarlampião a gás, e se modificaram. É umateoria de contaminação do mundo oficial.O modelo atual é bom para as cidades,masnão é universal. Temos de reconhecer queessas populações rurais são desinteres-santes para esse tipo de companhia: con-somem pouco, dão trabalho e expõem aconcessionária aos rigores da regulamen-tação – ninguém vai querer levar uma mul-ta da Aneel por não fazer uma religação noprazo estipulado, por exemplo, por causade uma conta de luz de 10 reais por mês.”

Filosofia Mas não será mais essa dificuldadeque irá desanimar Rosa. Enquanto esperaque os processos se resolvam,ele filosofa:“Aúnica coisa que podemos fazer é inspirar osoutros a entender quem precisa muito daajuda de outras pessoas. Fazer é fazer bem-feitinho, ver o que funciona, ver as falhas aaperfeiçoar continuamente.Criar coisas no-vas e difundir.” No futuro, a idéia é formarum centro internacional de geração descen-tralizada.“Se somos referência no mundo,então é mais fácil as pessoas virem ver o queestá acontecendo aqui do que eu viver via-jando para Índia,África...A filantropia nãovai ter dinheiro para financiar tudo, vai terde chamar o capital privado,vai ter de virarnegócio”, conclui.

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Seis meses depois de ter acesso à energ ia, 80% das famíl ias de Encruzi lhada t inham

custo para assentar uma família numa vila,com casa popular e saneamento básico, gi-ra em torno de 4 mil dólares.“Isso é pararestabelecer alguém que saiu de um lugar efoi para outro. Deixar o homem lá talvezvalha muito mais a pena, até pela questãocultural”, argumenta Rosa.“Temos obser-vado que o acesso à energia elétrica catalisao interesse de todos. Os 15 mil dólares vãoem acesso à energia, na infra-estrutura dacasa e na implantação da área produtiva.Assim que podem,a primeira coisa que fa-zem é melhorar as coisas básicas: o fogão(as mulheres são muito vulneráveis a mo-léstias pulmonares), o acesso à água e fazerum banheiro.É impressionante isso.Passeia considerar que a melhor forma de intro-duzir um processo de mudança comporta-mental não é entrar pressionando pelaquestão econômica,mas sim com as coisasque movem a vida das pessoas: a melhoriadas condições da habitação, a perspectivade ter os filhos bem cuidados, de ter umbanheiro...”

Apoio A esta altura, Fábio Rosa atraiu ou-tros apoiadores, entre eles a FundaçãoSchwab,da Suíça, ligada ao Fórum Econô-mico Mundial, do qual Rosa já participouquatro vezes.Lá,ele foi colocado em conta-to com uma fundação familiar holandesaque, em 2004, doou anonimamente 103mil euros por meio da Schwab,aproveitan-do um mecanismo legal que autoriza abateresse tipo de doação do Imposto de Renda.“O que essa fundação holandesa está fazen-do é um investimento na utopia. Ela équase uma ação entre amigos. É pouqui-nha gente. Hoje é mais fácil, para mim,conseguir dinheiro no exterior do que nofundo do Luz para Todos, que foi um troçoque eu inspirei. Então, fico fazendo proje-tos e mandando para todos os lugares.”

O problema é que o Luz para Todos sóadmite negociações com as concessionáriasde energia. Rosa está em campanha, nova-mente, para alterar a lei. Conseguiu fazerchegar à Câmara dos Deputados, emBrasília, um Projeto de Lei instituindo oPrograma Brasileiro de Geração de Energia

dindo o desempenho dos vegetais. Temosmais doze ou treze anos para entrar em boaprodução”, prevê Rosa. São 25 espécies deárvores, de três tipos: as pioneiras (quecrescem mais rápido e farão sombra paraas demais),as de floresta intermediária e asde madura (madeiras nobres, como louroou cedro, só se desenvolvem bem na som-bra). Um metro cúbico de eucalipto vale200 reais para o produtor. Um metro cúbi-co de cedro vale 2 mil reais.“Podemos pro-duzir isso em quinze ou vinte anos, comoapontam nossos estudos, e encontro umaoportunidade de negócio muito interes-sante e uma aplicação prática do que sig-nifica entender e valorizar a biodiversidade.Não estou falando em cortar árvores nati-vas, mas em coletar nosso banco genéticoe passar a manipulá-lo de forma inteligente,inclusive para recuperar áreas degradadas”,explica.“Os franceses importam o fruto daaroeira,colocam em frascos e exportam co-mo pimenta,um rico condimento.Por quenão plantamos aroeira e fazemos um pro-jeto para comunidades? Não é difícil! Porque ninguém fez?”

Para Fábio Rosa, as espécies exóticastêm um papel a cumprir.“Até porque nãotemos alternativa, hoje somos prisioneirosdisso, precisamos desse processo, mas te-mos de criar uma situação mais inteligentee,além disso,boa para todo mundo: para anatureza e para a gente. E para prender ohomem no campo. Numa propriedade de5 hectares, se 1 hectare for reservado paraprodução de madeira nativa,em vinte anoso produtor passa a receber por mês 1,7 mildólares. Eles plantam cana, alguns têm ga-do. O conceito do projeto é criar um fluxode caixa estável para o produtor rural.”

Custos Em projetos assim,tirar uma famíliada miséria e levá-la a um nível de pobrezacom dignidade tem custo médio em tornode 15 mil dólares, em três anos de investi-mento.É um valor relativamente alto se nãofor contabilizado o impacto social e ambi-ental. O BNDES trabalha com a cifra de 5mil dólares em investimentos em infra-es-trutura para criar um emprego urbano. O d

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adqu i r ido te le fone ce lu lar. Para e las, o ún ico me io de comun icação com a c idade

Eduardo Tavares

Placa captadora para geração de energia solar no alto de uma casa na Serra da Boa Vista (RS)

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A HyTron é uma empresa pequeni-na, de pouco mais de um ano. Seunegócio é desenvolver e fabricarreformadores de etanol e de gásnatural para a extração de hidro-gênio. Pois bem, já montou trêsprotótipos, um de gás natural – emparceria com a Companhia Paulis-ta de Força e Luz (CPFL) – e doisde etanol – um encomendado peloInstituto Técnico Aeroespacial daEspanha e outro desenvolvido emparceria com o Centro de Pesqui-sas da Petrobras (Cenpes). Hágrande interesse na área. Célulasque usam hidrogênio como com-bustível são pouco poluentes e es-tão em teste em grandes compa-nhias dos Estados Unidos, Japão eAlemanha. Incubada na Companhiade Desenvolvimento do Pólo deAlta Tecnologia de Campinas (Cia-tec) e com apoio do Programa de

Inovação Tecnológica em Peque-nas Empresas (Pipe), da Fundaçãode Amparo à Pesquisa do Estadode São Paulo (Fapesp), a HyTronrecebe também suporte da Finan-ciadora de Estudos e Projetos (Fi-nep) e do Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tec-nológico (CNPq), além de recursosdas empresas associadas. Comoterá de deixar o ambiente prote-gido da incubadora no final de2007, a HyTron anda traçando seuplano de negócios. “Acreditamosque a tecnologia das células acombustível veio para ficar e po-demos utilizar os reformadores deetanol e gás natural para extrairoutros insumos, como ácido acéti-co e monóxido de carbono, comaplicações no setor químico”, dizo físico Antônio José Marin Neto,pesquisador e sócio da HyTron.

O Conselho de Gestão do Patrimô-nio Genético (CGEN) e o InstitutoNacional de Propriedade Intelec-tual (Inpe) estabeleceram um pro-cedimento para prevenir a biopi-rataria no Brasil.As patentes de in-venção de produtos derivados dabiodiversidade só serão concedi-das se o solicitante tiver a respec-tiva autorização de acesso ao pa-trimônio genético.A exigência en-trou em vigor no dia 2 de janeirodeste ano para evitar o que vemacontecendo com freqüência: cen-tenas de patentes são concedidasa inventos que envolvem espéciesbrasileiras sem que se saiba se ospesquisadores podem manusearaquelas espécies ou usar informa-ções do conhecimento tradicional.É claro que o maior problema dizrespeito às patentes concedidasno exterior, mas com essa iniciati-va o Brasil dá um exemplo de res-peito à sua biodiversidade e espe-ra que os demais países adotemprocedimentos semelhantes.

Ao lançar o Seventh Framework Pro-gramme,a União Européia anunciouque pretende investir o correspon-dente a cerca de 150 bilhões dereais, de 2007 a 2013, em pesqui-sas em áreas como saúde, agricul-tura,biotecnologia,nanotecnologia,energia,meio ambiente, transportes,espaço, segurança e ciências so-ciais. O valor é recorde.A intenção,segundo os organizadores, é “pro-mover sinergias em escala global”.Mas os interessados de países emdesenvolvimento só poderão partici-par em grupos com pelo menos trêsintegrantes europeus. http://cordis.europa. eu/fp7/home_en.html

CIRCUITOciência&inovação

Pesquisa Andréa Wolffenbüttel Texto Eliana Simonetti

Patentes

Você tem permissão parafazer isso?

Financiamento

Verba européia

Entre as centenas de pesquisas queestão em andamento na EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa), há um projeto que me-rece menção.Desenvolve uma meto-dologia que poderá permitir a pre-visão, com base em imagens de sa-télite, da safra de laranja nos diver-sos pólos produtores do Brasil – oque tornará mais ágil sua negocia-ção.A técnica está sendo elaboradaem parceria com a Universidade daFlórida – o que se explica, já queSão Paulo e Flórida respondem por40% da produção mundial de frutascítricas.Curiosidade:a contagem donúmero de laranjeiras é feita pelaestimativa do diâmetro da copa dasárvores. No cálculo da produtivida-de, há outras variáveis, como quali-dade do solo, tipo de planta e condi-ções climáticas.A experiência temsido tão positiva que estão sendorealizados testes com caju em For-taleza, no Ceará.

Previsão de safra

Quantas laranjas tem aí?Energia

Aposta no hidrogênio

Petrobras/Divulgação

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Álcool e direção não se misturam.Essa é a norma, mas raramente élevada a sério. Os europeus desen-volveram, anos atrás, automóveisdotados de tubos – o motorista tinhade soprar neles para garantir queestava sóbrio, e só assim o carrofuncionava. Mas, como malandro háem todo lugar, havia quem pedisseao passageiro ou a um transeunteque soprasse o tal tubo para poderir para casa. Resultado: a novidadecaiu em desuso. Agora quem apre-senta uma solução inovadora é aToyota. A montadora japonesa, se-gunda maior do mundo, anunciouque a partir de 2009 seus veículos

trarão um dispositivo que analisa osuor das mãos do motorista paracalcular a concentração de álcoolno sangue. Se o nível for superiorao permitido, o veículo não sai dolugar. Tudo muito bom, mas o dis-positivo conseguirá ultrapassar bar-reiras como a de luvas plásticas?Para contornar o problema, senso-res cuidarão de monitorar movimen-tos de olhos, manobras e outroscomportamentos. Quem sai da linhavai perdendo velocidade e fica narua. Detalhe: o equipamento seráopcional em modelos que hoje ain-da são apenas sonhos, como o YarisSport ou o Auris Space.

Indústria automobilística

Quem beber não dirige mesmo

A segurança dos portos brasileiros,cada vez mais movimentados, ga-nhou um aliado importante.Trata-sede um sofware que processa infor-mações reais (como dimensões,for-ma e peso do casco do navio, posi-ção do leme, direção e velocidadedo vento e da correnteza, potênciados motores e distâncias das mar-gens e do fundo do canal) e simulaoperações para evitar acidentes.Foidesenvolvido por pesquisadores doDepartamento de Engenharia Navale Oceânica da Escola Politécnicada Universidade de São Paulo (USP)e batizado de Simulador de Mano-bras de Navios em Águas Rasas eRestritas.Tem demonstrado eficiên-cia no porto de Tubarão, em Vitória,onde é utilizado pela Companhia Va-le do Rio Doce,cujos embarques deferro não param de crescer.

Navegação

Porto seguro

Os defensores de cavalos e cobrastêm bons motivos para comemorar.Norma Yamanouye, pesquisadora doInstituto Butantan,de São Paulo,de-senvolveu uma metodologia quepropicia o cultivo em laboratório dacélula secretora do veneno da jara-raca, a serpente mais comum noBrasil.Segundo dados do Ministérioda Saúde, em 2006 mais de 14 milpessoas foram vítimas de acidentescom jararacas no país.A intenção dapesquisa, publicada em janeiro narevista Nature Protocols, é padro-nizar uma cultura de células secre-toras para que elas se reproduzame sobrevivam fora do organismo.Isso evitaria a necessidade de criarserpentes em cativeiro.Também li-beraria os animais inoculados como veneno para a produção dos anti-corpos utilizados nas vacinas.

Saúde II

Veneno in vitro

Especialistas sabem há tempos queexercício físico pode reduzir o ris-co de câncer no seio, provavelmen-te por provocar mudanças hormo-nais e metabólicas. As mais preca-vidas, agora, devem deixar as aca-demias e pegar no batente em ca-sa. Um estudo publicado na revistaCancer Epidemiology Biomarkersand Prevention, realizado em novepaíses europeus, com mais de 200mil voluntárias, antes e depois damenopausa, revelou que esfregar ochão e passar o aspirador são mui-to mais eficientes na proteção con-tra o câncer. Foram 6,4 anos deavaliações. Os indicadores: o traba-

lho doméstico diminui o risco decâncer de mama em 30% das mu-lheres que não passaram pela me-nopausa. Em mulheres que já tive-ram a menopausa, o risco diminuiem 20%. Conclusão do médico Les-ley Walker, da Cancer Research doReino Unido, que participou da in-vestigação:“Algo tão simples e ba-rato como o trabalho domésticopode ajudar a manter um peso sau-dável e reduzir o risco do câncer”.Lavar louça ou varrer a casa sãoatividades de fato baratas e sim-ples. A questão é encontrar prazernessas obrigações rotineiras, mes-mo em nome de uma boa causa.

Saúde I

De volta para o fogão

A imagem é da Coréia do Sul, masa novidade já está disponível noBrasil: o pagamento de compras viacelular. O M-Cash, plataforma uni-versal de pagamentos móveis, ser-ve, por enquanto, para transaçõesvia Internet.O sistema funciona emtelefones pós-pagos e pré-pagos eo usuário não divulga o número docartão ou qualquer informaçãopessoal – o que é item de segu-rança. Se a moda pega, tem futuro.Existem hoje 100 milhões de tele-fones celulares no Brasil e o mer-cado é um dos mais promissoresdo planeta, segundo projeções daInforma Telecoms and Media. Paracomeçar, a M-Cash calcula que em2007 serão 20 milhões de transa-ções efetuadas. E que em 2008 ovolume chegará a 120 milhões.

BomBril eletrônico

Milésimasegunda utilidade docelular

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R$ 4,4 bilhões

Esse foi o montante movimentado pelo e-commerce no Brasilno ano passado. O valor representa um aumento de 76% em relação a 2006. Fonte: Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico

Qualcomm

Divu

lgaç

ão

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Futuro preterido? Zweig e um projeto para o Brasil

Fórum Nacional do ex-ministroJoão Paulo dos Reis Velloso sem-pre organiza,ademais dos encon-tros anuais, foros especiais dedi-

cados a temas específicos. Em 2006, foramorganizados dois,conectados pelo tema co-mum de se lograr um “projeto de Brasil”,suas opções de país e de desenvolvimento.Esses dois livros resultam desse esforço dediagnóstico e de proposição.

Stefan Zweig teria gostado de assistir aoseminário que lhe foi dedicado, em setem-bro de 2006, por ocasião do 125º aniver-sário de seu nascimento e dos 65 anos dapublicação de seu livro tão famoso quantodesconhecido (hoje), terminado poucosmeses antes do suicídio do autor, no Car-naval de 1942, em Petrópolis. Ele concor-daria com o artigo indefinido e talvez atécom o ponto de interrogação. A primeiraedição brasileira modificou o título origi-nal, agora restabelecido – Brasilien,ein landder Zukunft, não der land – e o colóquioagregou a condicionalidade,refletindo o ce-ticismo dos examinadores quanto à utopia

não realizada.No essencial,Zweig provavel-mente se alinharia aos argumentos de seusrevisores contemporâneos.

Alberto Dines, autor de uma biografiaque pode considerar-se completa do es-critor austríaco – Morte no Paraíso: a tragé-dia de Stefan Zweig (3ª ed.; Rocco, 2004) –,considera que Zweig,depois de assinar maisde quarenta biografias de personalidadesmundiais, fez a biografia de uma nação no“inferno do Estado Novo”.Como ele diz,es-sa obra “tornou-se a crônica mais conheci-da e a menos discutida, a mais celebrada e amais negligenciada” do Brasil. Ela foi umdos primeiros lançamentos simultâneos dahistória editorial mundial: oito edições emseis línguas diferentes. Em vista dos per-calços recentes no processo de crescimen-to, parece difícil concordar com Zweig que“quem conhece o Brasil de hoje lançou umolhar sobre o futuro”.

Bolívar Lamounier e Regis Bonelli exa-minam, respectivamente, os avanços po-líticos e econômicos obtidos pelo Brasildesde que Zweig traçou seu diagnóstico so-

bre o país do início dos anos 1940. ParaLamounier, o Brasil é um país de “muitosfuturos”, mas ele critica as utopias institu-cionais que freqüentemente pretendem re-volucionar a participação e as formas de sefazer política no país: a romântico-partici-pativa da democracia direta; a do parla-mentarismo clássico, que ressurge sempreem momentos de crise; e a utopia barrocado presidencialismo plebiscitário.Já Bonelliopera uma “volta para o futuro” ao exami-nar os elementos de continuidade e de mu-dança na esfera econômica: o Brasil certa-mente mudou muito nesse terreno, mas apropensão a esperar tudo do Estado per-manece,assim como certa desconfiança dosmercados externos. Algumas mudançasforam na direção errada, como o aumentona tributação; outras permanências são ir-ritantes, como a péssima distribuição derenda e as incertezas jurídicas. Finalmente,o “fantasma do estrangulamento externo”estaria, de fato, superado?

Boris e Sérgio Fausto acrescentam umponto de interrogação ao título de Zweig,

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ESTANTElivros e publicações

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temperando o otimismo do autor comcerta dose de pessimismo. Não se trata doniilismo da esquerda, que vê na “domi-nação imperialista”a razão de nosso atra-so. O duplo nó górdio da carga tributáriae do gasto público limita hoje as possibi-lidades de crescimento. João Luís Fragosoanalisa a “equação”de Zweig para o Brasil:concentração de poder + tolerância. Trêscomentários finais tratam das promessasnão cumpridas de um olhar estrangeiro,do futuro que já chegou sob a forma davotação eletrônica e das dificuldades paraa retomada de taxas razoáveis e susten-táveis de crescimento.No conjunto,o livrooferece uma boa visita ao que se poderiachamar de “futuro do pretérito”.

O segundo livro, Projeto de Brasil, é naverdade uma tripla obra.A segunda parteapresenta dois estudos de especialistasacadêmicos sobre emprego e inclusão di-gital.A terceira parte consiste,tão simples-mente, na transcrição (talvez dispensável,em retrospecto) da visão de Brasil defen-dida pelos quatro principais candidatosnas eleições presidenciais de 2006: Lula,Alckmin e Heloisa Helena, pelos respec-tivos coordenadores de campanha,e Cris-tovam Buarque, pelo próprio. Digo dis-pensável porque qualquer um deles, seeleito, dificilmente seguiria as pomposasrecomendações dos respectivos progra-mas, que a rigor não possuíam nenhumaimportância substantiva.A primeira e maisimportante parte constitui uma síntese,por João Paulo dos Reis Velloso, de pro-postas para uma agenda nacional combase em todas as idéias de modernizaçãodo Brasil formuladas desde o surgimentodo Fórum por ele presidido, em 1988. Eleconsegue resumir claramente os principaisobstáculos ao desenvolvimento do país,mostrando-o como um “Prometeu acor-rentado”, que vive hoje uma crise de “au-to-estima”numa “era de expectativas limi-tadas”(apud Paul Krugman).

As opções de país que ele propõe são,nominalmente: o desenvolvimento comovalor social, prioridade máxima à segu-rança, reforma política para construir umsistema político moderno,um Estado “in-teligente” (com Legislativo e Judiciáriomodernos),a revolução do império da lei,

da eqüidade, da tolerância e dos valoreshumanistas e a opção por uma sociedademoderna. Quanto às opções de desen-volvimento, elas consistem em três con-juntos de tarefas: a criação de bases paraum crescimento sem dogmatismos, umaestratégia de desenvolvimento baseada nainovação e na sociedade do conhecimen-to e o progresso com inclusão social e por-tas de saída para os pobres. Ele concluidizendo que subdesenvolvimento não édestino,é apenas o reflexo de opções equi-vocadas.Oxalá o Prometeu pudesse tomarconsciência de quais são elas exatamente.Aparentemente, além das correntes esta-tais,ele está com um pouco de cera nos ou-vidos e ainda usa viseiras conceituais.

Paulo Roberto de Almeida

([email protected]; www.pralmeida.org)

Brasil, um país do futuro?João Paulo dos Reis Velloso e RobertoCavalcanti de Albuquerque (coord.)Ed. José Olympio, 2006, 154 p., R$ 31,00

Projeto de Brasil:opções de país, opções de desenvolvimentoJoão Paulo dos Reis Velloso e RobertoCavalcanti de Albuquerque (coord.)Ed. José Olympio, 2006, 222 p., R$ 38,00

Desaf ios • fevereiro de 2007 63

Nações amigas

inco autores, incluindo o organi-zador, o embaixadorVasco Mariz,traçam um panorama abrangentedas relações franco-brasileiras,

desde os primórdios, com os primeiros ex-ploradores da então América portuguesa,até a independência, com as missões cultu-rais e científicas francesas que começam em1816 e se estendem à plena autonomia. Osinvasores foram menos bem-sucedidos doque os artistas e cientistas: se os primeirosnão conseguiram se apossar de territórios,os segundos deixaram riquezas até hojevisíveis, na arquitetura, nas artes e na me-mória coletiva. A herança da presençafrancesa é facilmente perceptível desde oMaranhão até o Rio de Janeiro, sobretudono outrora aprazível centro da cidade, ondea francesíssima Confeitaria Colombo reina-va absoluta. Os laços dessa relação dão fru-tos até hoje, como na realização do Ano doBrasil na França, em 2005. Entre outrascuriosidades,Vasco Mariz relata que, na re-volução pernambucana de 1817, exiladosfranceses tentaram resgatar Napoleão deSanta Helena. O livro é de leitura agradável,de estilo literário, contendo uma seleta bi-bliografia ao final de cada um dos dozecapítulos históricos. Um ensaio historiográ-fico final compila as mais importantes fon-tes históricas primárias para a pesquisa so-bre a presença francesa no Brasil. (PRA)

Brasil-França: relações históricas no período colonialVasco Mariz (org.)Biblioteca do Exército Editora, 2006, 196 p.,R$ 35,00

C

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Exportações x cotação do dólar

Comércio exterior

INDICADORES

p o r A n d r é a

W o l f f e n b ü t t e l

64 Desafios • fevereiro de 2007

Sempre que o real se valoriza frente ao dólar, ossetores exportadores protestam e avisam que asvendas para o exterior serão comprometidas. Po-rém, observando a evolução da cotação do dólare o volume de exportação, não parece que a que-da da primeira implica queda da segunda. Nos

últimos quatro anos, o dólar sofreu uma sistemáti-ca desvalorização e mesmo assim as exportaçõesnão param de crescer. Em novembro de 2006, acotação do dólar estava em 2/3 do valor de janei-ro de 2003.Em contrapartida,o volume mensal deexportação mais que dobrou no mesmo período.

Quando aparece algum escândalo delavagem de dinheiro, quase sempre ascontas CC5 surgem como sendo um instrumento para remessa ilegal de moedaao exterior. Mas o que essas contas têmde diferente? Elas foram criadas, em1969, por um documento do Banco Central chamado “Carta Circular 5”, porisso acabaram conhecidas como CC5. Sãocontas especiais, mantidas no Brasil porbrasileiros que moram no exterior. O objetivo inicial era que o titular, ao vir aoBrasil, depositasse o dinheiro em moedanacional (atualmente em reais) e, aovoltar ao exterior, pudesse sacar odinheiro em moeda estrangeira. Portanto,era possível, por meio da CC5, trocarreais por qualquer outra moeda. Poste-riormente, foi permitido que outraspessoas, desde que devidamente identificadas, depositassem nas CC5 paraque o dinheiro fosse sacado pelo titularno exterior. Isso facilitou o envio dedivisas para fora do país por um sistemaque ficou conhecido no mercado como“barriga de aluguel”. Diante da grandequantidade de valores que estava saindo,em 1996 o governo decidiu limitar a10mil reais os depósitos em dinheiro nasCC5. Mesmo assim, as CC5 continuaramsendo usadas para remessas ilegais, porisso, em 2005, depois do escândalo envolvendo o Banestado, o governo restringiu ainda mais a utilização das CC5.O brasileiro que quiser enviar dinheiro a outro país deve fazer um contrato decâmbio com uma instituição financeira,que será devidamente registrado e identificado no Banco Central.

O que é?

Contas CC5

Fonte: Banco Central

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

2003

3,44

4,81

3,59

5,00

3,45

5,24

3,12

5,71

2,95

6,37

3,00

5,87

2,882,88

6,106,40

2,92

7,28

2,96

7,57

2,92

6,75

2,91

5,98

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

2004

2,85

5,80

2,93

5,72

7,93

2,90 2,91

6,59

3,10

7,94

3

3,13

9,333,04

8,99 9,06

2,89

8,92

2,85

8,84

2,72

9,19

2,79

8,16

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

2005

2,69

7,44

2,60

7,76

2,70

9,25

2,58

9,20

2,45

9,82

2,36

10,21

2,41 2,37

11,0611,35

2,29

10,63

2,26

9,90

2,28

10,90

2,21

10,79

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov

20062,27

9,27

2,16

8,75

2,15

11,37

2,13

9,80

2,18

10,27

2,16

11,43

2,25

2,19

13,62 13,64

2,17

12,55

2,15

12,66

2,16

11,87

Cotação do dólar(R$/US$)

Volume de exportação(US$ bilhões)

Cotação do dólar(R$/US$)

Volume de exportação(US$ bilhões)

Cotação do dólar(R$/US$)

Volume de exportação(US$ bilhões)

Cotação do dólar(R$/US$)

Volume de exportação(US$ bilhões)

Indicadores#31 01/02/07 09:55 Page 64

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139,

2

113

,3

88

,4

51,2

25,3

Desaf ios • fevereiro de 2007 65

Fundo de Participação dos Municípios

Tributos

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou em dezembroum texto que estuda a evolução legal e financeira do Fundo de Participaçãodos Municípios (FPM) e discute a importância das transferências fiscais nocontexto federativo. Outro ponto explorado no trabalho é a caracterizaçãoregional da distribuição do FPM. Ele constata que as regiões Nordeste e Sulsão as que apresentam os maiores valores de recebimento per capita bruto.

Em termos líquidos, isto é, quando são descontadas as contribuições feitas,as regiões Nordeste, Norte e Sul são recebedoras líquidas do FPM, enquan-to o Sudeste e o Centro-Oeste são doadores líquidos. Maiores detalhespodem ser vistos nos gráficos abaixo. A íntergra do texto, assinado porCarlos Eduardo Gasparini e Rogério Boueri Miranda, está disponível noendereço http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/tds/td_1243.pdf.

Quem recebe mais

Para onde sãodestinados osmaiores volumesdo FPM (2005/R$ milhões)

Descontando a contribuição...

...quem recebe maisEstados aos quais são destinados

maiores volumes líquidos do FPM

(2005/R$ milhões)

...quem recebe menosEstados aos quais são destinados

os menores volumes líquidos de FPM

(2005/R$ milhões)

Quem recebe menos

Para onde sãodestinados osmenores volumesdo FPM (2005/R$ milhões)

Repare: Existe uma forte coincidência entre aqueles que recebem mais e contribuem mais, exceto pelo Rio de Janeiro, que aparece entre os que mais contribuem, mas não está entre os que mais recebem. E o Distrito Federal, que está entre os que maiscontribuem e entre os cinco que menos recebem. No lugar desses dois estados, aparecem Pará e Paraná entre os que recebemmais.

Repare: Quando se leva em consideração os valores líquidos da transferência do FPM (recebido menos o contribuído),ocorre uma inversão. São Paulo, que era o primeiro no ranking de recebimento de FPM, passa a ser o último em termos deFPM líquido. Porém, há um estado que está entre os que recebem mais FPM bruto e líquido: Minas Gerais.

SP MG PA PR RS

Quem contribui mais

Estados que mais contribuempara o FPM (2005/R$ milhões)

Quem contribui menos

Estados que menos contribuempara o FPM (2005/R$ milhões)

3.5

74,7

3.5

05,0

2.38

1

1.79

9,5

1.79

7,8

SP RJ DF MG RS

11.5

75,5

5,15

8,8

2,70

3,6

1.66

6,5

1.25

4,1

MG BA CE MA PE

1.8

38

,5

1.8

09,2

1.15

9

1.01

9,1

980,

9

79,5

70,5

-2.

644

,5

-4

.371

,6

-8

000,

8

RO TO AP AC RR

29,9

14,7

14,2

9,1

8,7

242,

6

149,

0

130,

1

93,8

59,1

RO AC RR AP DF

AP ES DF RJ SP

Quem recebe...

...mais por habitante Estados com maior volume

de FPM per capita (2005/R$)

...menos por habitante Estados com menor volume

de FPM per capita (2005/R$)

Repare: Era de esperar que os estados mais populosos recebessem menos FPM per capita, mas entre os que recebemmenos FPM per capita estão alguns com poucos habitantes, tais como o Distrito Federal (20º no ranking de população)e o Pará (15º).

RR TO PB AC PI

332,

5

313

,1

239,

6

222,

4

220,

6

PA AM SP RJ DF

Fonte: Ipea

Indicadores#31 01/02/07 09:58 Page 65

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Li a revista Desafios de setembroe quero comentar alguns temas. Oque li não comunga com os pro-pósitos do Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento(Pnud) ou com a expressão conti-da na Carta ao Leitor da mesmaedição:“(...) melhorar a educação(...)”. Na seção Giro, na página 9,com o título “Boa notícia vinda docéu”, está uma nota que consideromuito auspiciosa.Auspiciosa alémda conta, para ser mais realista, aoafirmar que o buraco na camadade ozônio parou de aumentar.Bas-ta visitar o site da Agência EspacialNorte-Americana (Nasa) para lero seguinte:“Do dia 21 ao dia 30 desetembro de 2006, a área média doburaco na camada de ozônio eraa maior já observada, ocupando10,6 milhões de milhas quadra-das”. Declaração feita por PaulNewmam, cientista atmosférico daNasa. Sugiro aos editores que pro-movam uma correção.

Na reportagem “Quanto custa orótulo”, pergunto por que consi-deram o cultivo de transgênicosuma “(...) realidade irreversível noplaneta”? Poderiam ter discorridosobre os diversos relatórios a res-peito do aumento do emprego deagrotóxicos em cultivos de organis-mos geneticamente modificados(OGMs) ou sobre uma pesquisafeita no Reino Unido a respeito do

interesse dos cidadãos no consumode OGMs. Mas noto que os efeitossobre a saúde humana são um te-ma sempre ignorado em reporta-gens sobre transgênicos,como o foinesse caso. Para melhorar nossaeducação,sugiro a leitura de um ar-tigo publicado recentemente porTerje Traavik e Jack Heinemann,disponível em www.biosafety-in-fo.net/file_dir/719762120455431f1a3942.pdf.Trata-se de uma re-visão bibliográfica que contém in-formações imprescindíveis para adecisão de comer ou não transgê-nicos. Entretanto, os temas acimaofuscam-se frente a duas notas pu-blicadas na seção Circuito,sob os tí-tulo “Armas I”e “Armas II”.Lamen-tável a visão distorcida da guerra.

Nelson Jacomel JuniorFlorianópolis - SC

Prezado Nelson,lamentamos muito sua decepçãocom o conteúdo da revista e, por is-so, gostaríamos de esclarecer algunspontos.A nota sobre o buraco na ca-mada de ozônio, de fato, contém umerro. A notícia veiculada pelo Pro-grama das Nações Unidas para oMeio Ambiente informava que “foradas regiões polares, a camada de o-zônio deixou de aumentar”. Por-tanto, faltou localizar o evento. Acorreção foi feita na edição passada.Quanto às suas reclamações emrelação à reportagem sobre os orga-nismos geneticamente modificados,gostaríamos de lembrá-lo que setrata de um texto que discute exclu-sivamente o processo de rotulagemdessa mercadoria, sem entrar nomérito dos riscos que ela pode ofere-cer à saúde ou ao meio ambiente.Aliás esses dois tópicos serão trata-dos em uma reportagem exclusiva-mente dedicada a eles. Por fim,ainda há duas notas da seção Cir-cuito, que falam sobre armas. Ne-nhuma delas traz qualquer visão a

respeito da guerra. A primeira tratacom ironia o fato de estarem sendodesenvolvidas armas que preservamo meio ambiente e matam as pes-soas. E a segunda,constata que,mais uma vez, a indústria bélica to-ma a frente nos avanços tecnológi-cos. Sem nenhum juízo de valor.

Foi divulgado, pela imprensa, queMaílson da Nóbrega, ex-ministroda Fazenda, teria assegurado que oBrasil não está tão mal assim,já queo Japão gasta 3,8% do PIB em edu-cação e nós gastamos 4,2% do nos-so PIB. Só que, transformando apercentagem em dólares, conclui-se que o investimento japonês emeducação supera em mais de cincovezes o brasileiro.Parece que existecerta dificuldade das pessoas ementender que percentagem nãoacompanhada do valor absolutotem pouco ou nenhum significado.

George Le Brun de VielmondProfessor universitário

São Paulo - SP

O artigo de Divonzir Gusso,publi-cado com o título “Um Brasil malinstruído”, na revista Desafios deoutubro de 2006, deveria ser lidopelos 180 milhões de brasileiros.Somos um dos melhores do mun-

do no futebol, os melhores em vô-lei, os melhores em muitas coisas...menos na educação e, conseqüen-temente, no trabalho e na pro-dução. Faz quatro anos que estouna docência universitária, depoisde trinta anos na indústria, achan-do que iria contribuir para umBrasil melhor ao passar minha ex-periência...mas o que o jovem per-cebe diante do que vem do Con-gresso Nacional desestimula-o,transformando os meus sonhosem castelos de areia na praia.

Elio FerratoProfessor universitário

Indaiatuba - SP

Foi uma grata surpresa ter re-cebido, no dia 17 de dezembro, oexemplar do mês de novembro de2006 da revista Desafios do De-senvolvimento, a qual não con-hecia.Parabéns pela qualidade grá-fica da revista e,especialmente,pe-lo seu conteúdo. Gostei muito damatéria sobre a Rocinha e tambémda que trata da questão do sanea-mento básico (“Hora da decisão”).Muito obrigado e mais uma vezparabéns!

Luiz Humberto Urzedo deQueiroz

Goiânia - GO

CARTAS A correspondênc i a para a redação deve se r env i ada para car tas@desaf i os .o rg .b r

ou para SBS Quadra 01 - Ed i f í c io BNDES - Sa la 801 - CEP: 70076-900 - Bras í l i a DF

Repr

oduç

ão

66 Desafios • fevereiro de 2007

Acesse o conteúdo da revista Desaf ios do Desenvolvimento no endereço:

www.desafios.org.br

ERRAMOS Na reportagem “A opção atômica”, publicada na edição passada deDesafios, na página 16, na terceira linha, onde está escrito “fusãonuclear”, deveria ser “energia nuclear”. E, na mesma reportagem, nalegenda da foto estampada na página 23, onde se lê “1,8 bilhão dereais”, deve-se ler “1,8 bilhão de dólares”.

Carta 01/02/07 09:59 Page 66