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 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ TÂNIA MARIA LOURENÇO CAPACIDADE FUNCIONAL DO IDOSO LONGEVO ADMITIDO EM UNIDADES DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR NA CIDADE DE CURITIBA   PR CURITIBA 2011

Capacidade Funcional Do Idoso Longevo Admitido Em Unidades Dedissertacaotanialourenço

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Capacidade Funcional Do Idoso Longevo

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN

    TNIA MARIA LOURENO

    CAPACIDADE FUNCIONAL DO IDOSO LONGEVO ADMITIDO EM UNIDADES DE

    INTERNAO HOSPITALAR NA CIDADE DE CURITIBA PR

    CURITIBA

    2011

  • TNIA MARIA LOURENO

    CAPACIDADE FUNCIONAL DO IDOSO LONGEVO ADMITIDO EM UNIDADES DE

    INTERNAO HOSPITALAR NA CIDADE DE CURITIBA PR

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao Enfermagem, rea de concentrao,

    Prtica profissional em Enfermagem, Setor de

    Cincias da Sade, Universidade Federal do

    Paran, como requisito parcial obteno do

    ttulo de Mestre em Enfermagem.

    Orientadora: Prof Dr Maria Helena Lenardt

    CURITIBA

    2011

  • Loureno, Tnia Maria Capacidade funcional do idoso longevo em unidades de internao hospitalar na cidade de Curitiba -PR / Tnia Maria Loureno Curitiba, 2011. 133 f.: il. ; 30 cm. Orientadora: Professora Dra. Maria Helena Lenardt Dissertao (mestrado) Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, Setor de Cincias da Sade, Universidade Federal do Paran. rea de Concentrao: Prtica Profissional em Enfermagem Inclui bibliografia

    1.Idoso de 80 anos ou mais. 2. Longevidade. 3. Funcionalidade. 4. Hospitalizao. 5. Enfermagem. I. Lenardt, Maria Helena. II. Universidade Federal do Paran. III. Ttulo.

    CDD 618.970231

  • s minhas filhas Luiza e Beatriz com muito amor e carinho.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a todos que compartilharam para o meu crescimento, em especial Deus , a minha vida e todas as minhas conquistas; Aos meus pais Liones e Sueli (in memorian), em especial a minha me por sempre nos incentivar na busca de algo melhor, pelo carinho e ensinamentos.

    s minhas filhas Luiza e Beatriz, pelo incentivo, apoio nas horas difceis e ajuda com os problemas de computadores, na construo de tabelas e grficos...; Ao Alceu, pai das minhas filhas pelo carinho, amizade e apoio durante a construo deste trabalho; s minhas irms, Marinez, Luciana e Solange e meus sobrinhos Leonardo e Marcos por compreender minhas ausncias e pelas palavras de apoio; Prof. Dr. Maria Helena Lenardt, pela pacincia, apoio, incentivo, amizade, conselhos e a disponibilidade em me conduzir neste caminho. Minha admirao e respeito por toda sua sabedoria compartilhada nesta etapa; Prof Dr Denise Faucz Kletemberg, que durante um tempo atuou como minha co-orientadora, pelo carinho, apoio e orientaes; Aos membros da banca de qualificao e sustentao da dissertao, Prof Dr Karina S. de A. Hammerschmidt, Prof Dr Luciana P. Kalinke, Prof Dr Angela Maria Alvarez e Prof Dr Leila Mansano Sarquis; pela disponibilidade e por todas as contribuies valiosas para o desenvolvimento e finalizao do trabalho; Mrcia Daniele Seima, pela pacincia e todo seu carinho e disposio para compartilhar os ensinamentos; minha colega do mestrado, Ana Elisa Casara Tallmam por todo seu carinho, e por dividir comigo angstias, medos, e por fim comemorar a vitria;

  • s colegas do mestrado, pela convivncia alegre, o compartilhar de momentos difceis, momentos de aprendizagem, momentos de confraternizao que estaro sempre na memria e no corao; coordenao e as Docentes do curso de Mestrado em Enfermagem do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Universidade Federal do Paran, pelos ensinamentos; Direo dos hospitais que proporcionaram a coleta de dados; Aos colegas do Grupo Multiprofissional de Pesquisa sobre Idosos (GMPI) em especial Mariluci, Damarys, Susanne, Tatiane, Nathalia, Letice e Larissa pela amizade, carinho, incentivo e auxlio; Direo da Unidade de Urgncia e Emergncia Adulto (UUEA) do Hospital de Clnicas/ UFPR, pelo apoio e incentivo nesta etapa de aprendizado; s Enf Rejane M. Nobre e EnfJuliana Mendes pelo incentivo, por terem dividido comigo as angstias e apoio durante toda esta caminhada; Equipe Multiprofissional da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Clnicas, em especial ao Dr Hiplito Carraro Junior e as enfermeiras Alessandra, Ligia, Luciane, Nadja ,Estela e Cristiane e toda equipe de enfermagem pelo apoio e manifestaes de carinho e apoio durante o desenvolvimento deste trabalho;

  • RESUMO

    LOURENO, T. M. Capacidade funcional do idoso longevo admitido em unidades de internao hospitalar na cidade de Curitiba- PR. 2011. 133f. Dissertao [Mestrado em Enfermagem] Universidade Federal do Paran, Curitiba. Orientadora: Prof. Dr. Maria Helena Lenardt

    Trata-se de estudo quantitativo de corte transversal, que teve como objetivo investigar a capacidade funcional de idosos longevos ao ser admitido em unidades de internao hospitalar na cidade de Curitiba-PR. O estudo foi realizado em dois hospitais de ensino universitrio, no perodo amostral entre janeiro a junho de 2011, com 116 idosos longevos. Os dados foram coletados nas prprias unidades de internao e por meio de trs instrumentos: questionrio socioeconmico e demogrfico e do perfil clnico, Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e Medida de Independncia Funcional (MIF). Para o tratamento dos dados socioeconmicos e demogrficos (variveis quantitativas), foram realizadas anlises descritivas com medidas de posio (mdia, mediana, mnima e mxima) e disperso (desvio-padro) e para as variveis qualitativas foram efetivadas distribuio de frequncia absoluta e percentual. Para comparao das variveis socioeconmicas e demogrficas e o perfil clnico em relao aos resultados da MIF, foi considerado o teste no-paramtrico de Kruskal- Wallis ou o teste no-paramtrico de Mann-Whitney. Os valores de p

  • ABSTRACT LOURENO, T.M. Functional capacity oldest old admitted to hospital units in the city of Curitiba- PR. 2011. 133f. Dissertao [Mestrado em Enfermagem] Universidade Federal do Paran, Curitiba. Orientadora: Prof Dr Maria Helena Lenardt Its related to quantity of studying of transversal cut, that had the objective to investigate the functional capacity of elderly in being admitted in hospital units in Curitiba city Pr. The studying was taken place in two hospitals of teaching university, in the period of January to June of 2011, with 116 elderly people. The data were collected in the units of internation and through three instruments: socioeconomic and demographic questionary and clinical profile; Mini Exam of Mental State (MEMS) and Functional Independence Measurement (FIM). To the treatment of the socioeconomic and demographic data (quantity variations), were made descritive analizes with positional measurement of position (medium, median, minimum, maximum) and dispersation (partten-diversion) and to quantity variations were made distribution of absolute and percentual frequency. To comparation of socioeconomic and demographic variaton and clinical profile in relation to the results of (FIM), was considerated the test non-parametrical of Kruskal-Walls or the non-parametrical Mann- Whiteney. The values of p
  • LISTA DE GRFICOS

    GRFICO 1 - DISTRIBUIO DAS PROFISSES EXERCIDAS PELOS IDOSOS

    LONGEVOS, CURITIBA PR, BRASIL, 2011.................................55

    GRFICO 2 - DISTRIBUIO E PERCENTAGENS DOS PROBLEMAS DE

    SADE NO MOMENTO DA INTERNAO DOS IDOSOS

    LONGEVOS, CURITIBA PR, BRASIL, 2011.................................57

    GRFICO 3 - ATIVIDADES DE LAZER REALIZADAS PELOS IDOSOS

    LONGEVOS, CURITIBA PR, BRASIL, 2011.................................68

    LISTA DE QUADROS

    QUADRO 1 - ORGANIZAO ESQUEMTICA DA COMPOSIO DA MEDIDA DE

    INDEPENDNCIA FUNCIONAL (MIF) E SUAS RESPECTIVAS

    PONTUAES.....................................................................................43

    QUADRO 2 - NVEIS DE INDEPENDNCIA FUCIONAL, COM SUAS

    RESPECTIVAS PONTUAES, CURITIBA PR, BRASIL, 2011......44

    QUADRO 3 - MEDIDA DE INDEPENDNCIA FUNCIONAL- DESCRIO DOS

    NVEIS DE DEPENDNCIA.................................................................45

    QUADRO 4 - VARIVEIS: VISO, AUDIO, DEAMBULAO, CONDIES

    DENTRIAS E QUEDAS DOS IDOSOS LONGEVOS, CURITIBA PR,

    BRASIL, 2011.......................................................................................63

    QUADRO 5 - HBITOS DE VIDA REFERENTES AO CONSUMO DE DEBIDA

    ALCOOLICA, FUMO, ATIVIDADE FSICA ENTRE OS IDOSOS

    LONGEVOS, CURITIBA PR, BRASIL, 2011.....................................67

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 - CARACTERSTICAS SOCIOECONMICAS E DEMOGRAFICAS DOS

    IDOSOS LONGEVOS, CURITIBA PR, BRASIL, 2011..............................50

    TABELA 2 - DISTRIBUIO DAS COMORBIDADES E PROBLEMAS DE SADE

    REFERIDOS PELOS IDOSOS LONGEVOSE MEDICAMENTOS

    UTILIZADOS NO MOMENTO DA INTERNAO,CURITIBA PR,

    BRASIL, 2011...............................................................................................60

    TABELA 3 - VALORES E VARIVEIS DA MIF TOTAL E SEUS DOMNIOS NOS

    IDOSOS LONGEVOS ADMITIDOS NAS UNIDADES HOSPITALARES,

    CURITIBA PR, BRASIL, 2011...................................................................69

    TABELA 4 - VALORES E VARAVEIS DAS DIMENSES DA MIF DOS IDOSOS

    LONGEVOS ADMITIDOS NAS UNIDADES HOSPITALARES,

    CURITIBA PR, BRASIL, 2011....................................................................70

    TABELA 5 - DISTRIBUIO DE INDEPENDNCIA FUNCIONAL DOS IDOSOS

    LONGEVOS POR DIMENSES E CATEGORIAS DA MIF TOTAL E

    COGNITIVA, CURITIBA PR, BRASIL, 2011..............................................72

    TABELA 6 - AVALIAO DA ASSOCIAO ENTRE OS RESULTADOS DA MIF

    E AS CARACTERSTICAS SOCIOECONMICAS E DEMOGRFICAS

    DOS IDOSOS LONGEVOS ADMITIDOS NOS HOSPITAIS,

    CURITIBA PR, BRASIL, 2011......................................................................78

    TABELA 7 - AVALIAO DA ASSOCIAO ENRTE OS RESULTADOS DA

    MIF E AS VARIVEIS DE DOENAS PR-EXISTENTES DOS IDOSOS

    LONGEVOS ADMITIDOS NOS HOSPITAIS, CURITIBA - PR,

    BRASIL, 2011................................................................................................81

    TABELA 8 - AVALIAO DA ASSOCIAO ENTRE OS RESULTADOS DA MIF

    COM AS CARACTERSTICAS DE SADE DOS IDOSOS

    LONGEVOS ADMITIDOS NOS HOSPITAIS, CURITIBA PR,

    BRASIL, 2011................................................................................................91

    TABELA 9 - AVALIAO DA ASSOCIAO ENTRE OS RESULTADOS DA MIF

    COM AS CARACTERSTICAS HBITOS DE VIDA DOS IDOSOS

    LONGEVOS ADMITIDOS NOS HOSPITAIS, CURITIBA PR,

    BRASIL, 2011.................................................................................................95

  • LISTA DE SIGLAS

    CMUMS - Centros Municipais de Urgncias Mdicas

    CS - Caxias do Sul

    GMPI - Grupo Multiprofissional de Pesquisa sobre Idosos

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    MS - Ministrio da Sade

    OMS - Organizao Mundial de Sade

    OARS - Older Americans Recourses and Services

    ONU - Organizao das Naes Unidas

    PNAD - Plano Nacional de Amostra por Domiclio

    PNSI - Poltica Nacional de Sade do Idoso

    PNSPI - Poltica nacional de Sade da Pessoa Idosa

    POMA - Performance Oriented Mobility Assessment

    RP - Ribeiro Preto

    SABE - Sade, Bem-estar e Envelhecimento

    SIS/SUS - Sistema de Informaes Hospitalares/ Sistema de nico de Sade

    SUS - Sistema nico de Sade

    UFPR - Universidade Federal do Paran

    WHO - World Health Organization

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    AIVD - Atividade Instrumental de Vida Diria

    AVD - Atividade de Vida Diria

    AVE - Acidente Vascular Enceflico

    CIF - Classificao internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade

    DAP - Doena Arterial Perifrica

    DCNT - Doena crnica no-transmissvel

    DM - Diabetes Mellitus

    DPOC - Doena Pulmonar Obstrutiva Crnica

    DRGE - Doena do Refluxo Gastroesofgico

    HAS - Hipertenso Arterial Sistmica

    IMC - ndice da Massa Corporal

    MEEM - Mini Exame do Estado Mental

    MIF - Medida de Independncia Funcional

    MIFm - Medida de Independncia Funcional Motora

    MIFc - Medida de Independncia Funcional Cognitiva

    MIFt - Medida de Independncia Funcional Total

    MMII - Membros Inferiores

    MMSS - Membros Superiores

    PSA - Antgeno Prosttico Especfico

    SM - Salrio Mnimo

    TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

  • SUMRIO

    1 INTRODUO........................................................................................................15

    1.1 OBJETIVOS.........................................................................................................22

    1.1.1 Objetivo Geral...................................................................................................22

    1.1.2 Objetivos Especficos........................................................................................22

    2 REVISO LITERATURA........................................................................................23

    2.1 ENVELHECIMENTO HUMANO...........................................................................23

    2.2 IDOSOS LONGEVOS..........................................................................................28

    2.3 CAPACIDADE FUNCIONAL................................................................................34

    3 METODOLOGIA.....................................................................................................39

    3.1 TIPO DE ESTUDO...............................................................................................39

    3.2 LOCAL DO ESTUDO...........................................................................................39

    3.3 POPULAO e AMOSTRA.................................................................................40

    3.4 COLETA DE DADOS...........................................................................................41

    3.5 ANLISE E INTERPRETAO DOS DADOS....................................................46

    3.6 ASPECTOS TICOS............................................................................................47

    4 APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS......................................48

    4.1 CARACTERSTICAS SOCIOECONOMICAS-DEMOGRFICAS E CLNICAS

    DOS IDOSOS LONGEVOS.......................................................................................48

    4.2 PERFIL CLNICO DOS IDOSOS LONGEVOS....................................................56

    4.3 AVALIAODA CAPACIDADE FUNCIONAL SEGUNDO A MEDIDA DE

    INDEPENDNCIA FUNCIONAL ..............................................................................69

    4.4 RELAO DAS VARIVEIS SOCIOECONOMICAS DEMOGRAFICAS E

    PERFIL CLNICO E MEDIDA DE INDEPENDNCIA FUNCIONAL..........................76

    5 CONCLUSO.........................................................................................................99

    REFERNCIAS.......................................................................................................103

    APNDICES............................................................................................................121

    ANEXOS..................................................................................................................127

  • 15

    1 INTRODUO

    O envelhecimento humano tema de interesse de pesquisas cientficas em

    razo da necessidade de maior desenvolvimento e aperfeioamento de recursos

    humanos, tecnolgicos e cientficos, determinado pelas particularidades fsicas,

    cognitivas, sociais e principalmente clnicas da populao idosa. Esse um desafio

    que exige estudos dos profissionais ligados gerontologia e a geriatria com o intuito

    de elucidar as alteraes do organismo no processo de envelhecimento,

    principalmente aquelas que culminam, muitas vezes, com perda da capacidade

    funcional destes indivduos.

    O fomento construo do conhecimento coincide com o crescimento

    populacional brasileiro dessa faixa etria. Esse aumento da taxa de envelhecimento

    est associado queda da taxa de fecundidade e mortalidade e relacionado s

    melhores condies de sade, como a implantao de campanhas de vacinao,

    planejamento familiar, programas de sade e incorporao de arsenal tecnolgico

    nos grandes hospitais. Houve tambm melhoria nas condies de vida das pessoas

    por meio da urbanizao das cidades com reflexo nas condies sanitrias, nas

    condies nutricionais, melhoria nos nveis educacionais, estmulo s normas de

    segurana nos ambientes de trabalho e avano no conhecimento da engenharia

    gentica e da biotecnologia (VERAS, 2003; TEIXEIRA, 2004; BIAZIN, 2006).

    Este conjunto de melhorias acarretou aumento na expectativa de vida da

    populao brasileira, que passou de 70 anos em 1999 para 73,1 anos em 2010, um

    aumento de 3,1 anos em uma dcada. Segundo dados do Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatstica (IBGE, 2008), a populao de idosos acima de 60 anos

    correspondia a 6,07% da populao total brasileira em 1980 saltando em 2008 para

    9,49%. As estimativas apontam para 14% de idosos em 2020 e 30% em 2050. A

    faixa etria de idosos com 80 anos ou mais em 1980 correspondia a apenas 600 mil

    pessoas, subindo para 1,6 milhes em 2000, estimando-se para o ano de 2040 um

    nmero em torno de 14 milhes de pessoas.

    Atualmente existem cerca de 17 milhes de idosos no Brasil, 12,8% deles

    com mais de 80 anos de idade. No estado do Paran, estima-se que existam

    148.155 idosos com 80 anos ou mais, sendo 36.621 somente na cidade de Curitiba

    (IBGE, 2010). Verifica-se deste modo, que o envelhecimento populacional apresenta

  • 16

    um crescimento elevado e ascendente, com aumento significativo na populao com

    idade de 80 anos ou mais, alterando a composio etria dentro do prprio grupo

    (CAMARANO; KANSO; MELLO, 2004; MENEZES, 2009).

    Segundo Camarano (2002), a populao idosa corresponde a uma ampla

    faixa etria de aproximadamente 30 anos e tornou-se necessrio realizar subdiviso

    entre idosos jovens (60 a 79 anos) e os mais idosos (> 80 anos). Estes ltimos

    tambm so conhecidos como idosos longevos, idosos velhos ou conforme a

    dcada em que eles esto como idosos octogenrios, nonagenrios e centenrios.

    Os idosos longevos apresentam caractersticas e necessidades diferentes,

    tais como maior frequncia de doenas crnicas, vulnerabilidade a efeitos adversos

    de tratamentos e a doenas, maior risco para quedas, incontinncia, dificuldades

    para locomoo, sedentarismo, solido, diminuio do convvio com familiares e

    amigos e tendncia ao isolamento (FERRARI, 2002; CALDAS, 2004).

    Na composio deste grupo de pessoas existe uma heterogeneidade no

    processo de envelhecimento com caractersticas e necessidades diferentes, pois

    nem todos apresentam limitao na sua sade por conta destes agravos. Para

    Ramos et al. (1993), o idoso portador de uma ou de pluripatogenias pode ser

    considerado saudvel, se comparado a outro com as mesmas enfermidades, que

    no consegue manter adequado controle delas e apresente desenvolvimento de

    sequelas e incapacidades (RAMOS, 2003).

    A cronicidade das doenas em idosos longevos e suas complicaes podem

    causar o comprometimento da sua capacidade funcional, levando dependncia e

    isolamento social. No Brasil, a cada ano, 650 mil idosos so incorporados a esta

    populao, aumentando a possibilidade de desenvolver incapacidades associadas

    ao envelhecimento. As incapacidades comprometem a independncia do idoso,

    impedindo o seu prprio cuidado e, como consequncia, aumento da carga de

    cuidados para a famlia e tambm para o sistema de ateno sade (VERAS,

    2009).

    Para a Organizao Mundial de Sade - OMS (2005, p.11), reconhecer

    como os indivduos esto envelhecendo tornou-se meta imprescindvel para o

    envelhecimento ativo, cuja temtica central est em permitir que as pessoas

    continuem a trabalhar com suas capacidades e preferncias, com oportunidades

    contnuas de sade, participao e segurana; prevenindo e retardando as

    incapacidades e doenas crnicas.

  • 17

    Esta proposta foi desenvolvida pela OMS, no documento Envelhecimento

    Ativo: uma poltica de sade, pautado nas recomendaes da 2 Assemblia

    Mundial do Envelhecimento, definindo Envelhecimento Ativo como o processo de

    otimizao das oportunidades de sade, participao e segurana, com o objetivo

    de melhorar a qualidade de vida medida que as pessoas ficam mais velhas (OMS,

    2005, p.13).

    Neste documento a OMS recomenda que polticas de sade na rea de

    envelhecimento devem levar em considerao os determinantes de sade ao longo

    de todo o curso de vida incluindo aspectos sociais, econmicos, comportamentais,

    pessoais, culturais, alm de acesso a servios de sade e ambiente fsico. A

    recomendao incide tambm nas questes de gnero e desigualdades sociais

    (NESPE, 2002, p. 1).

    Para promover um envelhecimento ativo e saudvel, as pessoas devem

    perceber o seu potencial para atividades de trabalho e lazer, bem como o potencial

    mental e social necessrios para permanecerem ativas, contribuindo para a

    sociedade. Neste contexto, a manuteno da capacidade funcional passa a ser um

    parmetro importante na vida dos indivduos, pois determina a independncia e a

    autonomia das pessoas de forma a permitir sua qualidade de vida (OMS, 2005).

    A capacidade de realizar as atividades cotidianas, sem a necessidade de

    terceiros, passa a ser um dos principais indicadores de sade da populao idosa.

    As Atividades de Vida Diria (AVDs) so aspectos importantes observados na

    avaliao da capacidade funcional desta populao.

    No conjunto destas atividades, o longevo demonstra a sua independncia e

    autonomia. Para a Organizao Mundial de Sade, a autonomia e a independncia

    so definidas:

    autonomia como habilidade de controlar, lidar e tomar decises de como se deve viver diariamente, de acordo com suas prprias regras e preferncias. E independncia como habilidade de executar funes relacionadas vida diria, ou seja, capacidade de viver independentemente na comunidade com alguma ou nenhuma ajuda de outros (OMS, 2005, pg.14).

    Esta perspectiva de manuteno da autonomia e independncia do idoso no

    Brasil est expressa pela Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa, Portaria n

    2.528, de 12 de outubro de 2006, que visa promoo do envelhecimento saudvel,

  • 18

    com nfase na capacidade funcional dos idosos, assegurando a independncia para

    as atividades cotidianas (BRASIL, 2006a).

    A manuteno da capacidade funcional dos idosos uma importante medida

    de avaliao na prtica gerontolgica, alm de ser um cuidado essencial para evitar

    o declnio funcional que , comumente, influenciado por alguns fatores de risco

    como: a prpria idade avanada, gnero, baixa escolaridade, estado civil e baixa

    renda. Outros fatores como comorbidades, hbitos alimentares e de sade, atividade

    fsica, atividades de lazer tambm exercem influncia nos dficits de funcionalidade

    destes indivduos (ROSA et al. 2003).

    A avaliao da capacidade funcional tema recorrente em estudos com

    idosos, nos quais se evidencia o declnio da capacidade funcional dos idosos mais

    velhos. Fiedler e Peres (2008) realizaram um estudo transversal na cidade de

    Joaaba SC com 345 idosos acima de 60 anos constataram que 37,1% idosos

    apresentaram comprometimento da capacidade funcional, entre eles, 70,7%

    estavam com 80 ou mais.

    Rosa et al. (2003) detectaram que em idosos acima de 80 anos, a chance

    para dependncia funcional era 36 vezes maior quando comparado com idosos mais

    jovens. Constataram tambm, que idosos com baixa escolaridade apresentavam

    chance de cinco vezes maior de desenvolver dependncia moderada/grave e idosos

    vivos apresentam mais chances para dependncia. Nesse mesmo estudo, os

    autores citam outros aspectos que contribuem para perda da capacidade funcional

    como os referentes sade, relaes sociais e autopercepo de sade.

    Para avaliao da capacidade funcional muitos so os instrumentos que

    avaliam atividades de vida diria, entre estes, a Medida de Independncia Funcional

    (MIF), considerada uma escala que amplia a avaliao para a dimenso motora,

    cognitiva e social, parmetros considerados importantes na avaliao de pacientes

    idosos. (RIBERTO et al.,2001)

    Este instrumento apresenta boa reprodutibilidade para a verso brasileira,

    propriedades psicomtricas comprovadas, sensibilidade para detectar alteraes

    funcionais e mensurar a necessidade de ajuda de uma terceira pessoa para a

    realizao destas tarefas (PAIXO Jr; REICHENHEIM, 2005).

    A avaliao funcional relevante na admisso hospitalar, pois a

    hospitalizao pode levar dependncia funcional por se tratar de um evento

    complexo e peculiar, que ocorre no momento de fragilidade e desequilbrio, quando

  • 19

    o idoso retirado do seu ambiente familiar e transferido para outro totalmente

    diferente (KAWASAKI e DIOGO, 2007; VOLPATO et al., 2011).

    Alguns autores percebem que este declnio funcional pode ocorrer antes da

    admisso hospitalar, impondo a necessidade da investigao das condies da

    funcionalidade do idoso neste momento. A avaliao precoce tem um valor

    prognstico importante, especialmente para aqueles que chegam s unidades de

    internao com alguma limitao para a realizao das atividades de vida diria.

    (COVINSKY et al., 2003; BROWN; FRIEDKKIN; INOUYE, 2004; GUIMARES;

    ALMADA FILHO, 2011).

    Estudo realizado por Cunha et al. (2009) aponta que a identificao precoce

    dos fatores de risco traz informaes para a equipe multiprofissional responsvel

    pela assistncia, relacionados adequao de protocolos, direcionamento das

    intervenes, bem como na identificao dos idosos que sero beneficiados com as

    medidas geritricas no perodo de hospitalizao.

    Segundo Garrido e Menezes (2002), a procura dos idosos acima de 80 anos

    pelos servios de sade nos setores primrio, secundrio e tercirio, um dos

    grandes desafios atuais. Nesta faixa etria, eles necessitam de consultas

    frequentes, cuidados permanentes, medicaes de uso contnuo e exames

    peridicos. Para os gestores de sade, a falta de profissionais, de estrutura fsica e

    de recursos na prestao de atendimento a esta populao geram transtornos e

    repercusses para toda a sociedade (VERAS, 2009).

    O crescente aumento de idosos jovens e longevos presentes nos espaos

    de ateno sade, principalmente, em unidades de internao um fato

    observado pelos profissionais da rea de enfermagem. Observa-se, empiricamente,

    que alguns idosos no momento da internao mostram-se independentes para

    realizao de atividades bsicas de vida diria (ABVDs) e, durante a hospitalizao,

    parte deles evoluem para o declnio de execuo de atividades. Nessa situao, a

    alterao da capacidade funcional gera muitas incertezas sobre a real causa desse

    evento.

    Quando a avaliao da capacidade funcional no realizada no momento da

    internao do idoso pode-se ter como conseqncia a constatao tardia da

    dependncia e por sua vez a recuperao mais custosa e at mesmo intratvel. A

    dificuldade para avaliar o idoso e reconhecer a real necessidade de auxlio nas

    atividades motoras e cognitivas, no momento da sua admisso hospitalar, acontece

  • 20

    em razo do desconhecimento, por parte dos profissionais de enfermagem, dos

    instrumentos gerontolgicos de avaliao e pelas lacunas existentes na

    sistematizao da assistncia de enfermagem.

    Existem alguns esforos para avaliar a habilidade dos idosos longevos em

    desenvolver suas atividades cotidianas, e esses devem ser fomentados entre os

    profissionais da rea de sade. Torna-se imprescindvel o desenvolvimento de

    metodologia segundo Fonseca; Rizotto (2008), que permita a avaliao e

    diagnsticos, para proporcionar um planejamento adequado de aes individuais

    com respeito s particularidades do idoso.

    Deste modo, a enfermagem assume importante papel na identificao e

    compreenso das caractersticas socioeconmicas, perfil clnico, doenas prvias,

    comorbidades, medicamentos utilizados, hbitos de vida, atividades de lazer, fatores

    que podem ou no interferir na capacidade funcional. Este conhecimento colabora

    na realizao da assistncia e contribui para o cuidado da pessoa idosa em todos os

    nveis de preveno.

    Para a prtica de enfermagem, o conhecimento da capacidade funcional dos

    idosos longevos no processo de hospitalizao facilitaria o relacionamento entre

    idoso e equipe de sade, alm de prevenir a ocorrncia de agravos e iatrogenias. A

    deteco de fatores de risco para o declnio funcional identificados no momento da

    internao hospitalar auxiliar nas intervenes necessrias para a preveno,

    manuteno e recuperao das funes comprometidas para o desempenho

    adequado das atividades dirias.

    A avaliao da capacidade funcional do idoso tornou-se uma ferramenta

    essencial para estabelecer diagnstico, determinar o prognstico e apresentar um

    julgamento clnico do estado geral de sade de cada indivduo, como tambm

    facilitar estudos epidemiolgicos (GOMES; DIOGO, 2004; KAWASAKI; DIOGO,

    2007).

    Estabelecer no plano de cuidado do idoso longevo a prioridade para a

    manuteno e recuperao da capacidade funcional, ressalta a importncia que a

    enfermagem tem com o envelhecimento ativo desta populao. O foco principal da

    enfermagem gerontogeritrica estabelecer medidas que contribuam com o

    desempenho das suas atividades cotidianas e por sua vez acarretar melhor

    qualidade de vida para o idoso.

  • 21

    Para Gonalves e Alvarez (2006), a enfermagem gerontogeritrica tem em

    sua ao dinmica a prtica centrada no processo de cuidar da pessoa idosa.

    Incorpora-se a importante tarefa de desenvolver aes de cuidado que permitam ao

    idoso manter ou recuperar todas as suas capacidades biopsicossociais e espirituais

    em qualquer contexto ambiental. Planejar a busca precoce da recuperao e

    reabilitao no melhor nvel possvel da condio particular do idoso possibilita a

    manuteno de suas capacidades e habilidades de autocuidado, permitindo a sua

    integrao social com a famlia e amigos, e participao na vida comunitria.

    Considera-se relevante este estudo pelo expressivo quantitativo de idosos

    longevos com necessidades de atendimento em unidades hospitalares e a

    importncia da manuteno da capacidade funcional para a sua recuperao

    durante a hospitalizao e processo de envelhecimento ativo e saudvel. Este

    estudo trar subsdios para a realizao da sistematizao da assistncia de

    enfermagem para os idosos longevos, bem como a identificao das limitaes e

    dificuldades deles no ambiente hospitalar, com o intuito de direcionar os cuidados

    realizados pela equipe multiprofissional que o assiste.

    Diante destas consideraes o presente estudo tem como questo

    norteadora: Qual a capacidade funcional do idoso longevo ao ser admitido em

    unidades de internao hospitalar na cidade de Curitiba PR?

    Esta pesquisa est inserida no projeto de pesquisa intitulado: Idosos

    Longevos Usurios da Ateno Bsica e Hospitalar: da Histria aos Cuidados

    prprios, do Grupo Multiprofissional de Pesquisa com Idosos (GMPI), na rea de

    concentrao Prtica Profissional de Enfermagem, na linha de pesquisa Processo

    de Cuidar em Sade e Enfermagem, cujo objetivo dessa linha desenvolver

    processos de cuidado gerontolgico junto pessoa idosa, dependente ou

    independente, com doena crnica ou aguda, na dimenso individual ou coletiva e

    com olhar subjetivo e objetivo (PROGRAMA DE PS - GRADUAO EM

    ENFERMAGEM - UFPR, 2010).

  • 22

    1.1 OBJETIVO

    1.1.1 OBJETIVO GERAL

    Investigar a capacidade funcional de idosos longevos ao ser admitido em

    unidades de internao hospitalar na cidade de Curitiba/PR.

    1.1.2 OBJETIVOS ESFECFICOS

    1- Identificar o perfil socioeconmico, demogrfico e clnico do idoso longevo no

    momento da internao hospitalar;

    2- Avaliar a capacidade funcional do idoso longevo segundo a pontuao dos

    domnios da verso brasileira de Medida de Independncia Funcional (MIF);

    3- Relacionar as variveis do perfil socioeconmico, demogrfico e clnico

    capacidade funcional do idoso longevo.

  • 23

    2. REVISO DA LITERATURA

    Tenho pesquisado e estudado os dados/informaes contidos na literatura

    nacional e internacional, que vm me auxiliando no processo e servindo como

    fundamentos no decorrer do estudo. Estes dados/informaes se referem ao

    envelhecimento humano, idosos longevos e capacidade funcional. De modo sucinto,

    exponho a seguir essas literaturas.

    2.1 ENVELHECIMENTO HUMANO

    Segundo o Departamento de Assuntos Econmicos e Sociais da

    Organizao das Naes Unidas (ONU, 2010) o envelhecimento populacional um

    fenmeno sem precedentes na histria da humanidade. Este fenmeno observado

    com maior rapidez nos pases em desenvolvimento, que, em meados do sculo XXI,

    atingiro o mesmo estgio do processo de envelhecimento da populao dos pases

    desenvolvidos.

    O relatrio da Comisso das Naes Unidas sobre o Desenvolvimento

    Social, realizado com base nas informaes obtidas do Plano de Ao de Madri

    sobre o Envelhecimento em 2007 e 2008, estima que a nvel mundial o nmero de

    pessoas idosas com mais de 60 anos dever ultrapassar o nmero de crianas pela

    primeira vez em 2045. Desde o ano de 1950, a proporo de idosos vem

    aumentando, passando de 8% da populao para 11% em 2009. A projeo para

    2050 de 22% de idosos acima de 60 anos (ONU, 2010).

    Segundo Wong e Carvalho (2006), o crescimento elevado do contingente de

    idosos resultado de grandes taxas de crescimento decorrentes da alta fecundidade

    que prevaleceu no passado, menor ndice de nascimento na atualidade e reduo

    da mortalidade. Para Carvalho e Garcia (2003), o envelhecimento populacional

    refere-se mudana na estrutura etria da populao, pelo aumento da proporo

    de pessoas em idade mais avanadas.

  • 24

    A populao de idosos no mundo tambm est sofrendo alterao dentro da

    sua prpria faixa etria, isto , idosos esto se tornando cada vez mais idosos,

    abrangendo faixas etrias acima dos 80 anos. As projees da ONU indicam que

    este nmero est aumentando em 4% ao ano. Hoje, a cada sete pessoas idosas,

    uma tem 80 anos ou mais. Em 2050, essa proporo dever aumentar, chegando a

    uma para cada cinco pessoas (ONU, 2010).

    Esta transio demogrfica conduz a uma nova configurao etria e se

    configura como um dos problemas mundiais atuais, exigindo polticas relacionadas

    com a sade dos idosos, tanto em pases desenvolvidos como nos pases em

    desenvolvimento. Nestes ltimos, os desafios esto intensificados devido ao

    acelerado aumento de idosos, que continuar ainda por muitos anos (KALACHE,

    2008).

    Isto porque o processo de envelhecimento pode causar modificaes fsicas,

    morfolgicas, funcionais, bioqumicas e psicolgicas, que determinam a perda da

    capacidade de adaptao do indivduo ao meio ambiente, ocasionando maior

    vulnerabilidade e maior incidncia de processos patolgicos que terminam com a

    morte (PAPALO NETTO; PONTES, 1996).

    Envelhecer considerado um evento progressivo e multifatorial e a velhice

    como experincia potencialmente bem-sucedida, porm diferenciada, vivenciada

    de formas diferentes, com mais ou menos qualidade de vida. O envelhecimento

    um processo heterogneo, em que cada idoso apresenta uma experincia individual,

    com consequncias de suas experincias passadas, da forma como vive no

    momento presente e que expectativas tm para o seu futuro (LIMA; SILVA;

    GALLARDONI, 2008; SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008).

    Segundo Caldas (2006), o envelhecimento bem-sucedido envolve o baixo

    risco de doenas e de incapacidades e funcionamento fsico e mental excelente. O

    envelhecimento saudvel a condio que todos almejam e est relacionado

    maneira como o idoso consegue se adaptar s inmeras situaes de ganhos e

    perdas com as quais se depara. Para o idoso longevo, este envelhecimento bem-

    sucedido representa ter menos riscos para o desenvolvimento de doenas crnico-

    degenerativas e como consequncia, no desencadear o comprometimento da sua

    capacidade funcional (BALTES; SMITH, 2003).

    O envelhecimento pode ser compreendido como um processo natural, de

    diminuio progressiva da reserva funcional dos indivduos e que, em condies

  • 25

    normais, no costuma provocar qualquer problema, processo este chamado de

    senescncia. Um idoso em condies de sobrecarga como doenas, acidentes ou

    estresse emocional, pode ocasionar uma condio patolgica que requer

    assistncia. Tem-se assim a senilidade (BRASIL, 2006b).

    Para Souza, Skubs; Brtas (2007), o envelhecimento um processo

    dinmico e progressivo, no qual tanto modificaes morfolgicas como funcionais

    podem interferir na capacidade de adaptao dos indivduos ao meio social em que

    vivem, com predisposio para agravos e doenas que possam comprometer sua

    sade e sua a qualidade de vida.

    O comprometimento da sade tem como consequncia a diminuio nas

    atividades cotidianas e, para alguns, a dependncia de outras pessoas. Estes

    resultados podem ser causados por algumas alteraes biolgicas como:

    enfraquecimento do tnus muscular e da constituio ssea, o que pode levar

    mudana na postura do tronco e das pernas, acentuando ainda mais as curvaturas

    da coluna torcica e lombar. Alm disso, as articulaes ficam mais enrijecidas,

    reduzindo os movimentos e produzindo alteraes no equilbrio e na marcha.

    Ocorrem alteraes nos reflexos de proteo e no controle do equilbrio,

    prejudicando assim a mobilidade corporal e, com isso, predispondo a ocorrncia de

    quedas e riscos de fraturas e ocasionando graves consequncias sobre o

    desempenho funcional. Esse fato altera completamente a qualidade de vida do idoso

    (PELEGRIN et al., 2008).

    Segundo Martins et al. (2007), no Brasil, o desafio para o sculo XXI est em

    oferecer suporte de qualidade de vida para uma populao de mais de 32 milhes

    de idosos, em sua maioria com nvel socioeconmico e educacional baixo, com

    prevalncia de doenas crnicas e, para muitos, j com diminuio da capacidade

    funcional. Para esta populao que apresenta problemas de sade reais e cujas

    necessidades aumentam a cada ano, imprescindvel que esforos para a

    efetivao destas diretrizes sejam realizados na prtica o mais rpido possvel para

    assim amenizar o sofrimento destes cidados.

    O Brasil, dentro deste contingente de pases classificados como em

    desenvolvimento, apresenta um territrio expressivo em tamanho geogrfico e

    diferenas socioculturais que dificultam o processo de tomada de decises para

    melhoria na qualidade de vida destas populaes (NOGUEIRA, 2008).

  • 26

    Atenta s especificidades do processo de envelhecimento bem como

    transio demogrfica em curso, a ONU promoveu, na cidade de Viena - ustria, a I

    Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento no ano de 1982, a qual recebeu

    representantes de 124 pases, incluindo o Brasil. Neste encontro foi estabelecido o

    Plano da Ao para o Envelhecimento, posteriormente publicado em Nova York em

    1983 (ONU, 1982).

    No Brasil, em 1994, foi aprovada a Lei N 8.842/1994, que estabelece a

    Poltica Nacional do Idoso, regulamentada pelo Decreto n 1.948/96. Esta lei tem

    por finalidade assegurar direitos sociais que garantiam a promoo da autonomia,

    integrao e participao efetiva do idoso na sociedade, de modo a exercer sua

    cidadania. Um de seus princpios afirma que o idoso no deve sofrer discriminao

    de nenhuma natureza, bem como ser o principal agente e o destinatrio das

    transformaes indicadas por essa poltica.

    Em 1999, anunciada pela Portaria Ministerial n1395, a Poltica Nacional

    de Sade do Idoso (PNSI), cuja determinao principal que todos os rgos e

    entidades do Ministrio da Sade relacionados ao tema promovam a elaborao

    e/ou readequao de projetos em conformidade com as diretrizes e

    responsabilidades nela estabelecidas. O principal enfoque que esta poltica assume

    que o idoso pode ser afetado pela perda da sua capacidade funcional, ou seja,

    perda das habilidades fsicas e mentais necessrias para a realizao das atividades

    do cotidiano (BRASIL, 1999).

    A PNSI visa promoo do envelhecimento saudvel, preveno de

    doenas, recuperao da sade, preservao, melhoria e reabilitao da

    capacidade funcional dos idosos com a finalidade de assegurar sua permanncia

    dentro da sociedade com independncia e autonomia (BRASIL, 1999). Esta poltica

    apresenta dois eixos norteadores, o primeiro com destaque para as medidas de

    preveno com a promoo do envelhecimento saudvel. O segundo eixo a

    manuteno da capacidade funcional do idoso e pelo maior tempo possvel, com

    valorizao e preservao da sua autonomia e independncia.

    A partir das orientaes do Plano de Madri, documento resultante da

    II Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento em 2002, a legislao brasileira

    aprova o Estatuto do Idoso sob a Lei n 10.741, de 1 de outubro de 2003. Este

    documento elenca todos os direitos do idoso e tem na sua proposta garantir por

    meio do Sistema nico de Sade (SUS), a ateno sade da pessoa idosa de

  • 27

    forma integral, em todos os seus nveis. O Estado torna-se responsvel pelas suas

    prprias polticas pblicas de sade e deve priorizar atendimento digno a este

    segmento populacional (BRASIL, 2003).

    Este documento foi considerado importante pelas estratgias e

    recomendaes prioritrias nos aspectos econmicos, sociais e culturais do

    processo de envelhecimento da populao, baseada na Declarao Universal dos

    Direitos Humanos. Entre as recomendaes foram estabelecidos os princpios para

    a implantao de polticas para o envelhecimento sob a responsabilidade de cada

    pas (RODRIGUES et al., 2007).

    A Organizao Mundial de Sade adotou o termo Envelhecimento Ativo

    com a inteno de aperfeioar as oportunidades de sade, e tem como objetivo

    aumentar a expectativa de uma vida saudvel e com qualidade a todas as pessoas

    que esto envelhecendo, inclusive as que so frgeis, fisicamente incapacitadas e

    que necessitam de qualquer cuidado (OMS, 2005).

    Com a incluso deste novo paradigma do envelhecimento saudvel com a

    preservao da capacidade funcional preconizada pela Organizao Mundial de

    Sade, o Ministrio da Sade passa a construir diretrizes de ateno sade dos

    idosos de maneira multidimensional. As diretrizes so voltadas para ser um

    instrumento de orientao tanto para governos em todas as esferas como tambm

    para toda a sociedade.

    Apesar de legislao brasileira relacionada populao idosa estar

    avanada, sua prtica propriamente dita insatisfatrio. A vulnerabilidade social em

    que as famlias e os idosos esto sujeitos intensificou a necessidade de uma

    readequao da poltica nacional para as pessoas idosas, o que culminou com a

    criao de nova portaria.

    Em fevereiro de 2006, por meio da Portaria n399/GM, foi publicado o

    documento das Diretrizes do Pacto pela Sade, que contempla o Pacto pela Vida.

    Este documento confirma a sade do idoso como uma das seis prioridades entre as

    trs esferas do governo (BRASIL, 2006c).

    Atravs de readequao da PNSI, a Poltica Nacional de Sade da Pessoa

    Idosa (PNSPI), Portaria N 2528 aprovada em 19 de outubro de 2006, apresenta

    como meta final a adequao digna de ateno sade da populao idosa,

    principalmente daqueles com dependncia funcional, frgeis, e que esto acima de

    75 anos e que ao longo dos anos desenvolveram doenas e agravos que levaram

  • 28

    perda de qualidade de vida. Esta poltica afirma que o problema que pode afetar ou

    comprometer o idoso a perda da capacidade funcional, ou seja, perda das

    habilidades fsicas e mentais necessrias para a realizao das atividades bsicas e

    instrumentais da vida diria, importantes para manter a independncia e autonomia

    desta faixa etria (BRASIL, 2006a).

    A finalidade primordial da PNSPI recuperar, manter e promover a

    autonomia e a independncia dos idosos embutida dentro da meta final, que toda

    pessoa idosa deve receber uma ateno sade adequada e digna, principalmente

    para aquela parcela de populao idosa, que teve um processo de envelhecimento

    com doenas e agravos e que evoluram com limitaes no seu bem-estar (BRASIL,

    2006a, p.3).

    Para promover um envelhecimento saudvel, os sistemas de sade

    necessitam que a promoo de sade, a preveno de doenas e o acesso

    equitativo a cuidados integrais e continuados realizados pela ateno primria,

    sejam oferecidos a toda a populao idosa durante o curso de suas vidas.

    Atualmente, os modelos de sade esto baseados em quadros agudos e so

    inadequados ou ineficientes no atendimento da populao que est envelhecendo

    rapidamente (WHO, 2002).

    Segundo Menezes (2009), para a promoo do envelhecimento saudvel

    deve-se considerar o envolvimento de vrios aspectos: sade fsica e mental, a

    independncia para as atividades de vida diria, independncia econmica,

    integrao social e suporte familiar. Estes aspectos produzem importantes

    diferenas para iniciar o comprometimento da capacidade funcional no idoso.

    Iniciativas ligadas promoo de sade para toda a populao idosa so

    fundamentais para a preservao da capacidade funcional, mantendo esta

    populao com independncia e autonomia nas suas decises.

    2.2 IDOSO LONGEVO

    Segundo Camarano; Kanso; Mello (2004), no somente o grupo de idosos

    vem crescendo em relao aos demais grupos da populao, mas tambm os

    idosos muito idosos. Este aumento na proporo dos muito idosos consequncia

  • 29

    da queda de mortalidade. Pela OMS, este grupo pode ser subdividido em idoso

    jovem (young-old), quando se refere s pessoas com idade entre 60 a 69 anos;

    idoso velho (old-old), para os idosos entre 70-79 anos; e idoso mais velho (oldest-

    old), para os idosos com 80 anos ou mais (WHO, 2004).

    De acordo com as informaes da Organizao Mundial da Sade este

    momento de uma revoluo demogrfica, em que os adultos com mais de 80 anos

    formam um grupo que cresce em percentual em todo o mundo. Atualmente, este

    grupo de indivduos representa 69 milhes de pessoas, correspondendo a 1% da

    populao mundial (OMS, 2005).

    Enquanto a populao brasileira apresentou no perodo de 1997 a 2007, um

    crescimento relativo da ordem de 21,6%, para a faixa etria de 60 anos, este

    crescimento foi de 47,8%, chegando a 65% no grupo de idosos de 80 anos ou mais

    (IBGE, 2008). Segundo as estimativas do IBGE (2010), no Brasil, a populao de

    idosos acima ou igual a 60 anos est em torno de 17 milhes de pessoas e para o

    ano 2020 este segmento ser de 15% a mais de indivduos. Dentro deste nmero,

    12,8% possuem idade igual ou superior a 80 anos.

    Na projeo do IBGE, a populao de idosos acima de 80 anos crescer

    8,8% ao ano, por duas dcadas. A proporo destes idosos correspondia a

    1.586.958 no ano de 2000, em 2008 este nmero representava 2.410.106 e para

    2050 a projeo ser de 13.748.708. Estima-se que em 2020 haver 1,93% e em

    2050 atingir 6,39% de idosos longevos, e os idosos em geral, representaro um

    quinto da populao, ou seja, 19% (IBGE, 2008)

    Para Ferrari (2002) as pessoas com mais de 80 anos apresentam

    caractersticas fisiolgicas, psicolgicas, sociais e econmicas particulares e com

    diferenas importantes dentro do prprio grupo. Vale lembrar que as diferenas so

    particulares de cada pessoa e deve-se levar em conta o contexto social e cultural em

    que cada idoso est inserido.

    Segundo Baltes; Smith (2003) os idosos longevos demonstram que a quarta

    idade condiz com a incompletude biocultural, vulnerabilidade e imprevisibilidade, que

    diferente da Terceira Idade (velhice inicial) marcada por pontos positivos. Os

    autores op cit salientam que os idosos mais velhos esto no limite da sua

    capacidade funcional, o que representa restries s intervenes da pesquisa e da

    poltica social.

  • 30

    Karlamangla et al. (2009) descrevem o envelhecimento longevo como a

    continuidade do processo fisiolgico aps os 80 anos, quando a velocidade de perda

    da capacidade funcional e cognitiva se acelera. Fried (1994) afirma que idosos

    acima de 85 anos, esto mais sujeitos a comorbidades e perda de autonomia e

    independncia, e que apesar de no apresentarem anormalidades, deterioram com

    mais facilidade pelo estresse. Dentro desta faixa etria, os idosos longevos

    apresentam maior vulnerabilidade para adoecer, com o desenvolvimento de doenas

    crnico no-transmissveis, entre outras patologias e a Sndrome da Fragilidade.

    A Sndrome da Fragilidade vem sendo estudada pela sua condio

    multifatorial (BLE et al., 2006), no apresentando uma definio consensual.

    Segundo Bandeen-Roche; Xue; Ferruci; Walston (2006), Fried et al. (2004) e Fried

    et al. (2001), ela uma sndrome multidimensional que envolve uma interao

    complexa de fatores biolgicos, psicolgicos e sociais no curso de vida de um

    indivduo, e atinge seu cume com um estado de vulnerabilidade, associado ao maior

    risco de desfechos clnicos adversos como declnio funcional, quedas,

    hospitalizao, institucionalizao e morte.

    O Ministrio da Sade (2006b) estima que 46% das pessoas que esto

    acima de 85 anos, apresentam sinais de fragilidade, sendo os idosos com idade

    mais avanada, os que mais sofrem interferncia na sua funcionalidade, com maior

    risco para dependncia. Fried et al (2001) sugerem que a fragilidade um preditor

    da perda da capacidade funcional e de morbidade, presente em 6,9% de idosos da

    comunidade e com uma predisposio maior para acometimento nas mulheres.

    Entre as principais causas de incapacidades e mortalidade em todas as

    regies do mundo, figuram as doenas crnicas como as doenas cardiovasculares,

    diabetes, hipertenso arterial, cncer, as enfermidades msculo-esquelticas,

    doenas pulmonares obstrutivas crnicas, doenas mentais e suas complicaes,

    Muitas destas doenas apresentam incio silencioso, etiologias ainda no

    esclarecidas, vrios fatores de risco, exigindo tratamento e cuidado para toda a vida

    (OMS, 2005).

    De acordo com a OMS, um pequeno conjunto de fatores de risco responde

    pela grande maioria das mortes por doenas crnicas. Estas doenas apresentam

    comportamentos de riscos modificveis e no modificveis. Entre os fatores de

    riscos comportamentais modificveis passveis de mudana esto o tabagismo, uso

  • 31

    indiscriminado do lcool e outras drogas, obesidade, as dislipidemias, pouca

    ingesto de frutas e verduras e o sedentarismo (OMS, 2005).

    Os idosos com mltiplas comorbidades e, em especial, doenas crnicas

    podem apresentar dificuldades para a realizao de atividades da vida diria. Estudo

    realizado na Sucia afirma que a prevalncia de agravos sade aumenta

    consideravelmente com a idade e, consequentemente, eleva os custos relacionados

    assistncia mdica e social (PARKER; THORSLUND, 2007).

    Segundo Balts; Smith (2003), nos pases europeus, os idosos longevos

    apresentam maior risco de envelhecer, acompanhados de doenas crnico-

    degenerativas e outras patologias. Para esses autores, os idosos apresentaram um

    elevado ndice de comprometimento funcional, dependncia e solido.

    Um idoso pode ser considerado saudvel, mesmo que apresente uma ou

    mais doenas crnicas, desde que mantenha a habilidade de desempenhar as

    atividades do cotidiano. Para Ramos (2003), poucos so os idosos que ficam

    limitados por uma doena crnica. Muitos deles conseguem manter uma vida normal

    com as doenas controladas e com adequada qualidade de vida. Segundo este

    autor, idosos com uma ou mais doena crnica e que tm o controle delas, mesmo

    que apresentem sequelas ou incapacidades, podem ser considerados idosos

    saudveis. Em contrapartida estas doenas esto associadas com a presena de

    comorbidades e a dependncia funcional dos idosos (ROSA et al., 2003).

    As pesquisas conduzidas por Camarano (2002) e Lima-Costa; Camarano

    (2008) apontam a predominncia da populao feminina entre os idosos longevos,

    fato que traz preocupaes para os servios pblicos de sade. A explicao est

    no fato de que as mulheres vivem mais que os homens e esto sujeitas a doenas

    crnicas e deficincias fsicas e mentais. O segundo fato a proporo de idosas

    que estaro vivas ou morando sozinhas e em situao socioeconmica deficiente.

    A feminizao da velhice est estimada para o ano de 2050, em aproximadamente 6

    milhes de mulheres (IBGE, 2008).

    Em estudo transversal desenvolvido por Nogueira et al. (2010), de uma

    amostra de 129 idosos longevos de ambos os sexos, 53% eram do gnero feminino,

    46,5% vivos com idades entre 80 a 96 anos e mediana de 83 anos. Neste estudo

    constatou-se que o gnero feminino, faixa etria elevada e ausncia do cnjuge

    esto associadas significativamente para pior capacidade funcional.

  • 32

    De acordo com as afirmaes de Ramos (2002), esta populao de idosos,

    na sua maioria, apresenta baixo nvel socioeconmico e educacional e uma alta

    prevalncia de doenas crnicas incapacitantes, o que pode desencadear perda da

    autonomia e independncia e aumentar suas dificuldades nas atividades cotidianas.

    O aumento de idosos longevos est frequentemente associado maior

    incidncia de doenas crnicas como consequncia ao processo de envelhecimento

    biolgico. Porm, fatores externos como dificuldades financeiras, desnutrio,

    dificuldades na aquisio de medicamentos, impossibilidade de frequentar

    programas de sade, arranjos familiares desgastados contribuem para o aumento

    destes agravos (LENARDT et al., 2009).

    Pesquisa desenvolvida por Soares et al. ( 2009) analisou as condies de

    sade dos idosos residentes na zona urbana de um municpio de Minas Gerais, com

    amostra de 271 idosas octogenrias. Apenas 2,2% destas idosas no apresentavam

    doenas crnicas, as demais apresentavam entre trs a dez doenas. Segundo os

    autores, os dados refletem o fato de que as mulheres buscam mais o atendimento

    sade e assim tm maior probabilidade receber o diagnstico mdico. As doenas

    mais frequentes foram: problemas de coluna, hipertenso arterial, problemas de

    viso, de circulao e para dormir.

    Estudo epidemiolgico comparativo transversal entre duas populaes de

    idosos com mais de 80 anos, realizado por Cruz (2009), com uma amostra total de

    272 idosos com mais de 80 anos, revelou que as doenas crnicas mais

    encontradas foram hipertenso arterial (70.5%), viso prejudicada (67.2%), dficit de

    audio (45.5%), problemas na coluna (42.6%) e incontinncia urinria (41.1%).

    A necessidade de internao por evento agudo, desencadeado por

    qualquer uma doena crnica produz dois efeitos nos idosos longevos: o primeiro

    o prprio efeito desconcertante da doena e o segundo so os efeitos causados pela

    hospitalizao, representada pelo meio ambiente desconhecido, ingesto calrica

    reduzida, diminuio da atividade fsica ou repouso no leito prolongado, depresso e

    isolamento social (BOYD et al., 2005; VOLPATO et al., 2007).

    Segundo Volpato et al. (2011), a hospitalizao por uma doena aguda

    representa um evento estressante e potencialmente perigoso para os idosos

    longevos. Pacientes frgeis e aqueles em que a limitao funcional j evidenciada

    na pr-admisso esto entre os que apresentam maior risco de complicaes ps-

    hospitalares relacionadas sua capacidade funcional. Estudos realizados

  • 33

    identificaram diversos fatores de risco para o agravamento da capacidade funcional,

    como a idade avanada, caractersticas sociodemogrficas desfavorveis, invalidez

    preexistente, declnio cognitivo e comorbidades.

    Motta (2001) assevera que os idosos apresentam peculiaridades distintas

    das demais faixas etrias, e sua avaliao de sade deve ser feita com o objetivo de

    identificar os problemas que so subjacentes a sua queixa principal. Deveriam ser

    includos nesta avaliao os aspectos funcionais, cognitivos, psiquitricos,

    nutricionais e sociais. O autor ressalta tambm que uma equipe multidisciplinar deve

    ressaltar os idosos que apresentam fatores de risco para uma evoluo desfavorvel

    durante a internao.

    Os autores Lindenberger et al. (2003) e Mudge; O`Rourke; Denaro (2010) e

    compartilham a possibilidade do declnio funcional do idoso anteceder ao momento

    da internao que pode acontecer at duas semanas antes da necessidade de

    hospitalizao. Segundo Mudge; O`Rourke; Denaro (2010) conhecer a capacidade

    funcional do idoso no momento da sua internao imprescindvel para o

    acompanhamento deste durante o processo de internao.

    Lindenberger et al. (2003) avaliaram 1557 idosos com 70 anos ou mais em

    um hospital escola e um hospital universitrio, encontraram 25% deles com declnio

    funcional acentuado no momento da internao e destes 44% no conseguiram

    recuperar sua capacidade funcional.

    Em outro estudo desenvolvido por Mudge; O`Rourke; Denaro (2010) com

    615 idosos acima de 65 anos admitidos em uma unidade de clnica mdica, no

    momento da internao verificaram que 442 (64,7%) dos idosos no apresentavam

    dependncia para as atividades de vida diria, 86 (82,6%) referiram dificuldade para

    uma a duas atividades e 87 (44,8%) referiram entre trs a cinco dificuldades para

    atividades de vida diria. Entre os idosos, 200 (76,0%) deles referiram histria de

    queda, 64 (81,3%) historia de demncia e 64 (51,6%) m nutrio.

    Neste mesmo estudo, fatores como idade avanada, dependncia nas

    atividades de vida diria, demncia, histrico de quedas, admisso hospitalar

    recente, foram significativamente associados ao declnio funcional pr-hospitalar.

    Fatores como distrbios neurolgicos, sepse urinria, diagnsticos relacionados

    queda e fraturas, tambm estavam fortemente associados a uma maior

    probabilidade de desenvolver declnio funcional.

  • 34

    Pesquisas desenvolvidas por Sager et al. (1996), Mateev et al. (1998) do

    mesmo modo, apontam para a necessidade de conhecer o estado funcional do idoso

    no momento da internao, pois outros fatores podem contribuir para que o declnio

    acontea antes da hospitalizao como aspectos socioeconmicos, estado

    nutricional deficiente e gravidade da doena que motivou a internao.

    Winograd et al. (1991); Covinsky et al. (2000), Wu et al. (2000) e Covinsky et

    al., (2003), realizaram investigaes com idosos na admisso e alta, que mostravam

    a capacidade funcional e o estado cognitivo anterior a internao hospitalar, estes

    dois fatores so os melhores preditores de mortalidade aps a internao assim

    como o declnio funcional decorrente do processo de internao.

    2.3. CAPACIDADE FUNCIONAL

    A alterao demogrfica mais importante, com influncia na utilizao dos

    servios pblicos de sade, o aumento de pessoas longevas, pela carga de

    doenas crnicas e as limitaes na capacidade funcional (CALDAS, 2003).

    Na Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006a), a perda

    da capacidade funcional apontada como o principal problema que pode afetar o

    idoso, devido s consequncias da evoluo das enfermidades e do seu estilo de

    vida. As perdas de habilidades fsicas e mentais nas atividades bsicas e

    instrumentais de vida diria representam menos qualidade de vida para um nmero

    significativo de pessoas com idade avanada.

    A WHO (2003, p.14), atravs da Classificao Internacional de

    Funcionalidade, Incapacidade e Sade (CIF), define a capacidade funcional como

    um construto que indica o mximo possvel de funcionalidade que uma pessoa

    pode atingir em um dado momento. Para os idosos, esta avaliao relacionada

    aos aspectos prticos das atividades de cuidado pessoal e ao grau de manuteno

    da capacidade, para o desempenho das atividades bsicas e mais complexas do

    cotidiano.

    Na medida em que o ser humano envelhece, as tarefas do seu cotidiano

    consideradas corriqueiras passam paulatinamente a ser de mais difcil execuo. A

  • 35

    independncia significa que a funo realizada sem superviso, direo ou ajuda

    sendo esta avaliao baseada na situao real e no na capacidade do sujeito.

    A capacidade funcional pode ser definida como um conjunto de

    competncias comportamentais, relacionadas ao manejo da vida diria sem ajuda

    de outra pessoa e est dimensionada nos termos da habilidade e independncia

    para realizar determinadas atividades. Ela pode ser expressa como o funcionamento

    do indivduo fsica e cognitivamente independente (NERI, 2006; MELO, 2009).

    A capacidade funcional surge como um novo indicativo da sade,

    principalmente para avaliao do idoso (FILLENBAUN, 1984). No envelhecimento

    saudvel, para Ramos (2003), esta habilidade vista como uma interao

    multidimensional entre sade fsica e mental, independncia na vida diria,

    integrao social, suporte familiar e independncia econmica.

    Para Cardoso e Costa (2010), o conceito de sade do idoso est

    relacionado com sua capacidade funcional. A capacidade de cuidar de si mesmo, de

    determinar e executar atividades da vida cotidiana, com autonomia e independncia,

    mesmo apresentando morbidade.

    Segundo a OMS (2005), autonomia definida como a habilidade de

    controlar, lidar e tomar decises pessoais sobre como deve viver de acordo com

    suas prprias regras; e independncia definida como a habilidade de executar

    funes relacionadas vida diria, ou como a capacidade de viver

    independentemente na comunidade com alguma ou nenhuma ajuda de outros. Ao

    perder a autonomia o idoso pode apresentar isolamento da famlia, da sociedade, e

    muitas vezes, alteraes emocionais.

    Para as Doenas Crnicas No Transmissveis (DCNT) presentes nos

    idosos, como cardiopatias, Diabetes Mellitus (DM), Hipertenso Arterial Sistmica

    (HAS), artrites e artroses, problemas de coluna, dificuldades visuais e auditivas,

    independentemente da faixa etria, eles necessitam de adeso ao tratamento. Cabe

    aos profissionais de sade proporcionar a interao entre as orientaes e o

    direcionamento do tratamento com a participao deste idoso, que necessita

    adequar suas crenas s informaes atualizadas fornecidas por toda a equipe que

    presta assistncia.

    importante que o idoso reconhea que a manuteno de sua capacidade

    de gerir e determinar seus desejos impedir o desenvolvimento de possveis

    sequelas que ento trazem dependncia e perda da autonomia.

  • 36

    Para tanto, a avaliao da capacidade funcional um importante preditivo

    de sade para os idosos, quando eles apresentam indcios de declnio, com o risco

    para a morbidade e mortalidade (MILLN-CALENTI, 2010). Dificuldades na

    funcionalidade do idoso representam risco elevado para as perdas da independncia

    funcional e este declnio pode estar relacionado com a sndrome da fragilidade

    (NERI, 2005; TEIXEIRA, 2010).

    Segundo Arajo; Ceolim (2007) o declnio da capacidade funcional aumenta

    com a idade, portanto, todos os esforos devem ser despendidos no sentido de

    prevenir a dependncia fsica e retard-la ao mximo possvel para que o idoso

    possa viver o maior tempo possvel em seu ambiente familiar.

    Estudo transversal desenvolvido por Nunes et al. (2009) com 397 idosos,

    constatou que idosos na faixa etria de 70 a 79 anos tm 7,3 vezes mais chances

    de apresentar comprometimento da capacidade funcional em relao faixa entre

    60 e 69 anos. Os idosos com 80 anos ou mais apresentaram 3,5 vezes mais

    chances de apresentar dificuldade na sua funcionalidade quando comparados aos

    idosos com 70 a 79 anos, comprovando a premissa de que o aumento da idade

    implica maior comprometimento da capacidade funcional.

    A avaliao da capacidade funcional deve ser utilizada para ajud-los a

    melhorar seu estado funcional e seu bem-estar, com independncia e a manter a

    autonomia e a dignidade, mesmo que apresentem perdas fsicas, sendo til tambm

    para preservar a capacidades sociais, cognitivas e psicolgicas (BIAZIN, 2006).

    Segundo Paixo Jr; Reihencheim (2005), uma avaliao geritrica eficiente

    e completa torna-se cada vez mais urgente. O estado funcional a dimenso base

    para a avaliao geritrica. Para os autores o mtodo mais usado a: observao

    direta atravs de teste de desempenho e por questionrios que podem ser auto-

    aplicados ou preenchidos em entrevistas face a face, sistematizados por escalas

    (instrumentos de avaliao funcional) que aferem os principais componentes do

    estado funcional.

    A perda funcional dos idosos para as atividades cotidianas avaliada

    atravs de escalas que foram construdas para medir o desempenho na realizao

    de tarefas indispensveis para a manuteno de uma vida normal de cada individuo.

    Segundo Ramos (2003), as escalas ou instrumentos elaborados permitem avaliar as

    vrias dimenses da capacidade funcional de um idoso relacionado ao seu conceito

    de sade.

  • 37

    Em muitos estudos, necessria a utilizao de dois ou mais instrumentos,

    para obter os resultados que se deseja conhecer durante uma pesquisa ou

    avaliao. Segundo Gomes e Diogo (2004), a escolha de um instrumento de

    avaliao de capacidade funcional deve ser criteriosa pelo nmero de opes

    disposio. Alguns instrumentos foram testados para realidade brasileira em sua

    sensibilidade, especificidade e confiabilidade.

    Os instrumentos para a avaliao funcional podem utilizar diferentes

    dimenses: fsica, psicolgica, funcional, social, entre outras. As avaliaes podem

    ser unidimensionais, mistas ou globais. Na literatura, as escalas de capacidade

    funcional mais utilizada so descritas a seguir: a Escala de Katz (KATZ et al,1963),

    avalia a independncia funcional dos pacientes em seis funes bsicas ( banhar-

    se, vestir-se, ir ao banheiro, transferir-se da cama para a cadeira e vice-versa, ser

    continente e alimentar-se). um dos instrumentos mais utilizados em estudos

    gerontolgicos nacionais e internacionais (DUARTE; ANDRADE; LEBRO 2007).

    A escala idealizada por Lawton e Brody (LAWTON; BRODY, 1969),

    denominada de Escala de Lawton, avalia as atividades instrumentais de vida diria,

    ou seja, considera as aes mais complexas como usar o telefone, fazer viagens,

    preparar a sua alimentao, fazer compras, desenvolver trabalhos domsticos,

    tomar corretamente os medicamentos e controlar o oramento domstico. A escala

    de Andreotti; Okuma (1999) consiste em 40 questes envolvendo AVDs e AIVDs, e

    de acordo com total de pontos, o idoso classificado quanto sua capacidade

    funcional em muito ruim, ruim, mdia, boa ou muito boa.

    Outra escala utilizada o ndice de Barthel (MAHONEY; BARTHEL, 1965)

    que compreende dez itens de mobilidade, que constituem as ABVD. O ndice de

    Barthel tem como finalidade avaliar a independncia funcional no cuidado pessoal e

    a mobilidade (MINOSSO et al., 2010). Ao final, ocorrem duas categorias: ausncia

    de incapacidade (independncia) e presena de incapacidade (representada pelos

    indivduos com dependncia leve at total). A escala chamada de Older Americans

    Resourses and Services OARS (FILLEMBAUM; SMYER, 1981), tem como

    finalidade estabelecer um perfil de sade multidimensional. Identifica quais as

    dimenses que diretamente comprometem a capacidade funcional e indica solues

    para a teraputica do idoso (RAMOS, 2003).

    J a escala Performance Oriented Mobility Assessment - POMA (TINETTI,

    1996), tem a finalidade de avaliar a condio de equilbrio e alterao da marcha,

  • 38

    pela probabilidade do risco de quedas dos idosos. Outra escala tambm muito

    utilizada a Medida de Independncia Funcional - MIF (GRANGER; HAMINTON;

    SHERWIN,1986).

    A Medida de Independncia Funcional (MIF) um instrumento de avaliao

    da capacidade funcional utilizada em pacientes com os mais diversos problemas de

    sade e que atualmente vem sendo aplicada nos hospitais e centros de reabilitao

    para avaliar o desempenho de uma pessoa quanto s funes motoras e cognitivas

    e interao social (RIBERTO et al., 2001).

    A MIF foi desenvolvida em 1983, por Granger e colaboradores, atravs de

    uma fora tarefa norte-americana organizada pelo Congresso e pela Academia

    Americana de Medicina Fsica e Reabilitao. Este grupo reuniu um conjunto de

    dados para mensurao da incapacidade e para avaliao dos resultados de

    programas de reabilitao. O intuito desta equipe foi criar instrumento capaz de

    medir o grau de solicitao de cuidados de terceiros, que o paciente portador de

    deficincia exige para a realizao de tarefas do cotidiano (RIBERTO et al., 2001).

    Kawasaki; Cruz e Diogo (2004) organizaram uma reviso bibliogrfica da

    utilizao da MIF em idosos e encontraram 35 trabalhos publicados em bases de

    dados internacionais no perodo de 1993 a 2003. As autoras comprovaram que a

    MIF apresenta propriedades psicomtricas comprovadas, sensibilidade para detectar

    pequenas alteraes funcionais e mensurar no apenas o que o idoso capaz de

    fazer, mas o quanto necessita de ajuda de terceiros para executar suas atividades

    (RIBERTO et al., 2001; KAWASAKI; CRUZ; DIOGO, 2004).

    Paixo Jr. e Reichenheim (2005) realizaram uma reviso sistemtica a

    respeito o histrico da utilizao e a adaptao dos instrumentos de avaliao

    funcional. Foram analisados 30 instrumentos, entre eles a MIF que vrios estudos de

    validao e confiabilidade com bom poder estatstico no quesito propriedades

    psicomtricas, completeza e qualificaes de boa a excelente.

    Deste modo, verifica-se que o emprego do instrumento MIF tem sido muito

    utilizado em estudos com esta populao. Segundo Pollak; Rheault; Stoecker

    (1996), tambm foi validada para idosos com mais de 80 anos.

    A avaliao da capacidade funcional no idoso permite aos profissionais de

    sade conhecer as condies de sade do paciente, como a presena de

    comorbidades e incapacidades e relacionar como estas dificuldades exercem

    influncia na sua qualidade de vida.

  • 39

    3. MTODO

    3.1 TIPO DE ESTUDO

    Trata-se de estudo quantitativo descritivo transversal. Segundo Klein; Block

    (2005), estudo transversal caracterizado pela observao direta de determinada

    quantidade planejada de indivduos, em uma nica oportunidade. Estes estudos

    seccionais so apropriados para descrever a situao, o status do fenmeno ou as

    relaes entre os fenmenos em um ponto fixo. apontado como um recorte da

    realidade.

    O estudo transversal aquele que mostra um instantneo da situao de

    sade de um grupo ou da comunidade, com base na avaliao individual do estado

    de sade de cada um dos membros do grupo produzindo indicadores globais de

    sade para o grupo investigado (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003).

    3. 2 LOCAL DO ESTUDO

    O estudo teve como campo de pesquisa dois Hospitais de Ensino, de grande

    porte, da cidade de Curitiba-Paran. Os Hospitais de Ensino so instituies

    pblicas ou privadas que se integram com rede prpria, contratada ou conveniada

    ao SUS, certificados pelo Ministrio da Sade e da Educao. Participam na

    formao de estudantes de cursos tcnicos, graduao e ps-graduao e

    contribuem com o desenvolvimento cientfico, avaliao tecnolgica e pesquisa

    (BRASIL, 2004).

    O primeiro hospital de ensino apresenta gesto pblica federal e atualmente

    possui 540 leitos ativos, distribudos em 45 especialidades, com aproximadamente

    745.200 internaes anuais para tratamento clnico e cirrgico, em mdia 61 mil

    internamentos/ms, 1.464 internaes/ms e 837cirurgias/ms.

    O segundo hospital de ensino tem como caractersticas ser particular, de

    carter filantrpico, sendo 70% do atendimento destinado aos pacientes advindos do

  • 40

    Sistema nico de Sade (SUS), com 750 leitos e atende a 41 especialidades

    perfazendo 1.445.763 atendimentos por ano com os mesmos tratamentos.

    Ambos os hospitais, constituem importantes espaos com o propsito da

    ateno sade de alta complexidade, e por intermdio de contrato com a

    Secretaria Municipal de Sade de Curitiba, realizam atendimento de referncia e

    contra-referncia com as unidades de sade (UBS), e os Centros Municipais de

    Urgncias Mdicas (CMUMS).

    As unidades de internao escolhidas para a pesquisa foram as que

    admitiam pacientes adultos em tratamento clnico ou cirrgico e que concentravam

    maior nmero de idosos internados como: Clnica do Aparelho Digestivo,

    Cardiologia, Cirurgia Vascular, Clnica de Cirurgia Geral, Ginecologia, Clnica

    Mdica, Neurologia, Ortopedia, Oftalmologia e Otorrinolaringologia, Pronto

    Atendimento e Urologia.

    3.3 POPULAO E AMOSTRA

    A populao deste estudo foi composta por idosos de 80 anos ou mais, de

    ambos os sexos, admitidos para tratamento clnico ou cirrgico em dois Hospitais de

    Ensino da cidade de Curitiba-Paran.

    A amostra foi constituda por meio de critrios elaborados de incluso e

    excluso e perodo amostral de janeiro a junho de 2011. Em ambos os hospitais

    foram abordados 310 idosos longevos e destes 179 no preencheram os critrios de

    incluso, sendo que 23 no atingiram os pontos de corte do MEEM, 12 foram re-

    internaes e trs no aceitaram participar da pesquisa. A amostra final foi

    constituda por 116 idosos de 80 anos ou mais.

    Os idosos longevos foram identificados por meio de consulta no sistema de

    informtica de internao dos hospitais, medida que internavam nos hospitais.

    Eles foram relacionados em uma lista-controle com nome, registro, idade e local de

    internao e em seguida abordados, aleatoriamente, e convidados a participar da

    entrevista. Aps a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e

    Esclarecido (APNDICE 1) dava-se o incio entrevista com aplicao do MEEM.

  • 41

    Para aqueles que no atingiam os pontos de corte do MEEM, a pesquisa foi

    encerrada. .

    A amostra deste estudo foi constituda pelos idosos que atenderam os

    seguintes critrios de incluso:

    - ser idoso maior ou igual a 80 anos;

    - idosos com pontuao superior ao ponto de corte no Mini-Exame do Estado Mental

    (MEEM) (ANEXO 1).

    Os critrios de excluso dos idosos do estudo foram:

    - ser portador de Doena de Parkinson, Mal de Alzheimer, portador de AVE ou outra

    doena fsica ou mental que impea a aplicao dos questionrios;

    - apresentar quadro de sade crtico que impossibilite responder s perguntas.

    3.4 COLETA DE DADOS

    A coleta de dados aconteceu nas primeiras 48 horas de internao e foram

    utilizados trs instrumentos: Mini Exame do Estado Mental (MEEM), esse apenas

    para screening cognitivo (ANEXO 1); questionrio socioeconmico, demogrfico e

    do perfil clnico (APNDICE 2); e Medida de Independncia Funcional (MIF)

    (ANEXO 2).

    Para o MEEM foi utilizado os pontos de corte segundo a escolaridade

    proposta por Bertolucci et al. (1994): 13 pontos para analfabetos, 18 pontos para

    escolaridade baixa e mdia e 26 pontos para aqueles com escolaridade alta.

    O MEEM foi desenvolvido por Folstein et al. (1975) e compreende 11 itens,

    agrupados em 7 domnios: orientao temporal, orientao espacial, memria

    imediata e de evocao, clculo, linguagem-nomeao, repetio, compreenso,

    escrita e cpia de desenho. A pontuao varia de zero (maior grau de

    comprometimento cognitivo) at 30 (melhor capacidade cognitiva).

    Os dados da condio socioeconmica e do perfil clnico (APNDICE 2)

    foram coletados por meio de questionrio semi-estruturado com perguntas fechadas.

    Foram investigadas as seguintes variveis socioeconmicas: idade, gnero, local de

    nascimento, estado civil, escolaridade, religio, renda mensal. Quanto ao perfil

    clnico, foram pesquisadas as condies de sade, diagnstico prvio, doenas pr-

  • 42

    existentes, uso de lcool e cigarro, atividade fsica, uso de medicamentos, condio

    visual, auditiva e dentria, atividade fsica e hbitos de lazer.

    Foi realizado estudo piloto, com cinco idosos, para verificar a adequao do

    contedo do questionrio socioeconmico e clnico e a sequncia proposta para a

    coleta de dados. Pequenas alteraes foram realizadas correspondentes aos

    aspectos socioeconmicos e s comorbidades.

    A capacidade do idoso e o tipo de ajuda necessria para as atividades de

    vida diria na realizao de tarefas motoras e cognitivas foram avaliados por meio

    da MIF (ANEXO 2). O principal foco da MIF mensurar o grau de solicitao de

    cuidados de terceiros de que o paciente necessita para realizao das atividades

    cotidianas. possvel tambm avaliar as dificuldades prprias do indivduo e

    aquelas relacionadas ao ambiente (RIBERTO et al, 2001).

    A MIF um instrumento que compreende o domnio motor e cognitivo/social

    sendo composto por 18 itens que avaliam o desempenho do indivduo, distribudos

    por domnio motor em subescalas que envolvem 13 atividades: autocuidado-

    alimentao, higiene pessoal, banho, vestir-se acima da cintura, vestir-se abaixo da

    cintura e uso de vaso sanitrio; controle esfincteriano - controle de urina e controle

    de fezes; transferncias - leito, cadeira, cadeira de rodas, vaso sanitrio, chuveiro /

    banheira; locomoo locomoo e escadas. O domnio cognitivo e social contm

    5 atividades: comunicao- compreenso e expresso e cognitivo social-

    interao social, resoluo de problemas e memria (Quadro 1).

  • 43

    MIF TOTAL

    (18 - 126 pontos)

    DOMNIOS DIMENSES CATEGORIAS

    MIF MOTOR

    (13 - 91 pontos)

    Autocuidados

    (6 - 42 pontos)

    Alimentao

    Higiene pessoal

    Banho

    Vestir-se acima da cintura

    Vestir-se abaixo da cintura

    Uso do vaso sanitrio

    Controle de Esfncteres

    (2 - 14 pontos)

    Controle de urina

    Controle de fezes

    Mobilidade

    (3 - 21 pontos)

    Transferncias leito, cadeira,

    cadeira de rodas

    Transferncia vaso sanitrio

    Transferncia chuveiro/ banheira

    Locomoo

    (2 - 14 pontos)

    Marcha / cadeira de rodas

    Escadas

    MIF COGNITIVO

    (5 - 35 pontos)

    Comunicao

    (2 - 14 pontos)

    Compreenso

    Expresso

    Cognio Social

    (3 - 21 pontos)

    Interao social

    Resoluo de problemas

    Memria

    QUADRO 1 - Organizao esquemtica da composio da Medida de Independncia Funcional (MIF)

    e suas respectivas pontuaes.

    Fonte: Riberto et al. (2001).

    Para cada item, a pontuao varia de 1 a 7, sendo dependncia total (1) e

    independncia (7). A pontuao mxima de 126 pontos, para independncia

    completa e 18 pontos para a pontuao mnima que revela alto grau para

    dependncia (RIBERTO et al., 2004). Os nveis de dependncia podem ser assim

    classificados como demonstrado no Quadro 2 .

  • 44

    NIVEL

    DEPENDNCIA FUNCIONAL

    PONTUAO

    7

    6

    Independncia Completa

    Independncia Modificada

    104 - 126 pontos

    5

    4

    Superviso, estmulo ou preparo

    Dependncia Mnima (assistncia de at

    25%na tarefa)

    61 - 103 pontos

    3

    2

    Dependncia Moderada (assistncia de at

    50%na tarefa)

    Dependncia Mxima (assistncia de at

    75%na tarefa)

    19 - 60 pontos

    1 Dependncia Total (assistncia total) 18 pontos

    QUADRO2 - NVEIS DE INDEPENDNCIA FUNCIONAL, COM SUAS RESPECTIVAS

    PONTUAES.

    FONTE: RIBERTO et al, (2001).

    Segundo Riberto et al. (2001), a MIF classifica os pacientes segundo o grau

    de dependncia para cada atividade a ser realizada demonstrada no Quadro 2.

  • 45

    NIVEL DE

    DEPENDNCIA

    DESCRIO dos NIVEIS DE DEPENDCIA

    INDEPENDNCIA

    (SEM AJUDA)

    No necessria a ajuda de outra pessoa para realizar as

    atividades.

    7 INDEPENDNCIA

    COMPLETA

    Todas as tarefas descritas que constituem a atividade em questo

    so realizadas em segurana, sem modificao, sem ajuda tcnica e

    em tempo razovel.

    6 INDEPENDNCIA

    MODIFICADA

    A atividade requer uma ajuda tcnica, adaptao, prtese ou rtese,

    um tempo de realizao demasiado elevado, ou no pode ser

    realizada em condies de segurana suficientes.

    DEPENDENTE

    (COM AJUDA)

    necessria outra pessoa para superviso ou ajuda fsica, sem a

    qual, a atividade no pode ser realizada.

    5 SUPERVISO ou

    PREPARAO

    A pessoa s necessita de um controle, ou uma presena, uma

    sugesto, ou um encorajamento, sem contato fsico. Ou ainda o

    ajudante (a ajuda) arranja ou prepara os objetos necessrios ou

    coloca a rtese ou prtese (ajuda tcnica).

    4 ASSISTNCIA

    MNIMA

    O contato puramente ttil, com uma ajuda leve, a pessoa realiza a

    maior parte do esforo.

    3 ASSISTNCIA

    MODERADA

    A pessoa requer mais que um contato leve, uma ajuda mais

    moderada, realiza um pouco mais da metade do esforo requerido

    para a atividade.

    DEPENDNCIA

    COMPLETA

    A pessoa efetua menos da metade do esforo requerido para a

    atividade. Uma ajuda mxima ou total requerida, sem a qual a

    atividade no pode ser realizada.

    2 ASSISTNCIA

    MXIMA

    A pessoa desenvolve menos da metade do esforo requerido,

    necessitando de ajuda ampla ou mxima, mas ainda realiza algum

    esforo que ajuda no desempenho da atividade.

    1 ASSISTNCIA

    TOTAL

    A pessoa efetua esforo mnimo, necessitando de ajuda total para

    desempenhar as atividades.

    QUADRO 2- Medida de Independncia Funcional Descrio dos Nveis de Dependncia

    FONTE: BRASIL (2006).

    Para aplicao do instrumento da MIF, foram utilizadas as sugestes

    propostas pelo manual elaborado por Riberto et al. (2001) e Amaral (2010)

    (APNDICE 3).

  • 46

    A MIF foi escolhida para ser utilizada neste estudo pela abrangncia dos

    aspectos motor, cognitivo e social necessrios para o conhecimento dos idosos, por

    sua ampla utilizao em estudos em outros pases e por estar validada no Brasil.

    Para a utilizao correta deste instrumento, a mestranda participou do Curso

    de Capacitao para o uso da MIF, de 8 horas aula, ministrado pelo Dr. Marcelo

    Riberto, realizado nas dependncias do Instituto de Medicina Fsica e Reabilitao

    do Hospital das Clnicas da Universidade de So Paulo (ANEXO 3).

    3. 5 ANLISE E APRESENTAO DOS DADOS

    O banco de dados foi organizado no programa Excel e para as anlises

    estatsticas utilizou-se o software Epilnfo (verso 6.01). Os dados digitados foram

    submetidos dupla conferncia para garantir a confiabilidade dos resultados.

    As variveis independentes do estudo foram: idade, sexo, raa,

    escolaridade, estado civil, religio, renda do idoso, arranjo familiar e nmero de

    filhos. Dentro do perfil clnico: diagnstico do idoso no momento da internao,

    comorbidades, medicamentos utilizados, preventivo para o cncer, quedas,

    edentulismo, atividade fsica, atividades sociais e hbitos de vida (tabagismo,

    etilismo). A capacidade funcional foi considerada varivel dependente.

    Para o tratamento dos dados socioeconmicos e demogrficos (variveis

    quantitativas), realizaram-