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Capacidade Funcional Do Idoso Longevo
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
TNIA MARIA LOURENO
CAPACIDADE FUNCIONAL DO IDOSO LONGEVO ADMITIDO EM UNIDADES DE
INTERNAO HOSPITALAR NA CIDADE DE CURITIBA PR
CURITIBA
2011
TNIA MARIA LOURENO
CAPACIDADE FUNCIONAL DO IDOSO LONGEVO ADMITIDO EM UNIDADES DE
INTERNAO HOSPITALAR NA CIDADE DE CURITIBA PR
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao Enfermagem, rea de concentrao,
Prtica profissional em Enfermagem, Setor de
Cincias da Sade, Universidade Federal do
Paran, como requisito parcial obteno do
ttulo de Mestre em Enfermagem.
Orientadora: Prof Dr Maria Helena Lenardt
CURITIBA
2011
Loureno, Tnia Maria Capacidade funcional do idoso longevo em unidades de internao hospitalar na cidade de Curitiba -PR / Tnia Maria Loureno Curitiba, 2011. 133 f.: il. ; 30 cm. Orientadora: Professora Dra. Maria Helena Lenardt Dissertao (mestrado) Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, Setor de Cincias da Sade, Universidade Federal do Paran. rea de Concentrao: Prtica Profissional em Enfermagem Inclui bibliografia
1.Idoso de 80 anos ou mais. 2. Longevidade. 3. Funcionalidade. 4. Hospitalizao. 5. Enfermagem. I. Lenardt, Maria Helena. II. Universidade Federal do Paran. III. Ttulo.
CDD 618.970231
s minhas filhas Luiza e Beatriz com muito amor e carinho.
AGRADECIMENTOS
Agradeo a todos que compartilharam para o meu crescimento, em especial Deus , a minha vida e todas as minhas conquistas; Aos meus pais Liones e Sueli (in memorian), em especial a minha me por sempre nos incentivar na busca de algo melhor, pelo carinho e ensinamentos.
s minhas filhas Luiza e Beatriz, pelo incentivo, apoio nas horas difceis e ajuda com os problemas de computadores, na construo de tabelas e grficos...; Ao Alceu, pai das minhas filhas pelo carinho, amizade e apoio durante a construo deste trabalho; s minhas irms, Marinez, Luciana e Solange e meus sobrinhos Leonardo e Marcos por compreender minhas ausncias e pelas palavras de apoio; Prof. Dr. Maria Helena Lenardt, pela pacincia, apoio, incentivo, amizade, conselhos e a disponibilidade em me conduzir neste caminho. Minha admirao e respeito por toda sua sabedoria compartilhada nesta etapa; Prof Dr Denise Faucz Kletemberg, que durante um tempo atuou como minha co-orientadora, pelo carinho, apoio e orientaes; Aos membros da banca de qualificao e sustentao da dissertao, Prof Dr Karina S. de A. Hammerschmidt, Prof Dr Luciana P. Kalinke, Prof Dr Angela Maria Alvarez e Prof Dr Leila Mansano Sarquis; pela disponibilidade e por todas as contribuies valiosas para o desenvolvimento e finalizao do trabalho; Mrcia Daniele Seima, pela pacincia e todo seu carinho e disposio para compartilhar os ensinamentos; minha colega do mestrado, Ana Elisa Casara Tallmam por todo seu carinho, e por dividir comigo angstias, medos, e por fim comemorar a vitria;
s colegas do mestrado, pela convivncia alegre, o compartilhar de momentos difceis, momentos de aprendizagem, momentos de confraternizao que estaro sempre na memria e no corao; coordenao e as Docentes do curso de Mestrado em Enfermagem do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Universidade Federal do Paran, pelos ensinamentos; Direo dos hospitais que proporcionaram a coleta de dados; Aos colegas do Grupo Multiprofissional de Pesquisa sobre Idosos (GMPI) em especial Mariluci, Damarys, Susanne, Tatiane, Nathalia, Letice e Larissa pela amizade, carinho, incentivo e auxlio; Direo da Unidade de Urgncia e Emergncia Adulto (UUEA) do Hospital de Clnicas/ UFPR, pelo apoio e incentivo nesta etapa de aprendizado; s Enf Rejane M. Nobre e EnfJuliana Mendes pelo incentivo, por terem dividido comigo as angstias e apoio durante toda esta caminhada; Equipe Multiprofissional da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Clnicas, em especial ao Dr Hiplito Carraro Junior e as enfermeiras Alessandra, Ligia, Luciane, Nadja ,Estela e Cristiane e toda equipe de enfermagem pelo apoio e manifestaes de carinho e apoio durante o desenvolvimento deste trabalho;
RESUMO
LOURENO, T. M. Capacidade funcional do idoso longevo admitido em unidades de internao hospitalar na cidade de Curitiba- PR. 2011. 133f. Dissertao [Mestrado em Enfermagem] Universidade Federal do Paran, Curitiba. Orientadora: Prof. Dr. Maria Helena Lenardt
Trata-se de estudo quantitativo de corte transversal, que teve como objetivo investigar a capacidade funcional de idosos longevos ao ser admitido em unidades de internao hospitalar na cidade de Curitiba-PR. O estudo foi realizado em dois hospitais de ensino universitrio, no perodo amostral entre janeiro a junho de 2011, com 116 idosos longevos. Os dados foram coletados nas prprias unidades de internao e por meio de trs instrumentos: questionrio socioeconmico e demogrfico e do perfil clnico, Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e Medida de Independncia Funcional (MIF). Para o tratamento dos dados socioeconmicos e demogrficos (variveis quantitativas), foram realizadas anlises descritivas com medidas de posio (mdia, mediana, mnima e mxima) e disperso (desvio-padro) e para as variveis qualitativas foram efetivadas distribuio de frequncia absoluta e percentual. Para comparao das variveis socioeconmicas e demogrficas e o perfil clnico em relao aos resultados da MIF, foi considerado o teste no-paramtrico de Kruskal- Wallis ou o teste no-paramtrico de Mann-Whitney. Os valores de p
LISTA DE GRFICOS
GRFICO 1 - DISTRIBUIO DAS PROFISSES EXERCIDAS PELOS IDOSOS
LONGEVOS, CURITIBA PR, BRASIL, 2011.................................55
GRFICO 2 - DISTRIBUIO E PERCENTAGENS DOS PROBLEMAS DE
SADE NO MOMENTO DA INTERNAO DOS IDOSOS
LONGEVOS, CURITIBA PR, BRASIL, 2011.................................57
GRFICO 3 - ATIVIDADES DE LAZER REALIZADAS PELOS IDOSOS
LONGEVOS, CURITIBA PR, BRASIL, 2011.................................68
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - ORGANIZAO ESQUEMTICA DA COMPOSIO DA MEDIDA DE
INDEPENDNCIA FUNCIONAL (MIF) E SUAS RESPECTIVAS
PONTUAES.....................................................................................43
QUADRO 2 - NVEIS DE INDEPENDNCIA FUCIONAL, COM SUAS
RESPECTIVAS PONTUAES, CURITIBA PR, BRASIL, 2011......44
QUADRO 3 - MEDIDA DE INDEPENDNCIA FUNCIONAL- DESCRIO DOS
NVEIS DE DEPENDNCIA.................................................................45
QUADRO 4 - VARIVEIS: VISO, AUDIO, DEAMBULAO, CONDIES
DENTRIAS E QUEDAS DOS IDOSOS LONGEVOS, CURITIBA PR,
BRASIL, 2011.......................................................................................63
QUADRO 5 - HBITOS DE VIDA REFERENTES AO CONSUMO DE DEBIDA
ALCOOLICA, FUMO, ATIVIDADE FSICA ENTRE OS IDOSOS
LONGEVOS, CURITIBA PR, BRASIL, 2011.....................................67
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - CARACTERSTICAS SOCIOECONMICAS E DEMOGRAFICAS DOS
IDOSOS LONGEVOS, CURITIBA PR, BRASIL, 2011..............................50
TABELA 2 - DISTRIBUIO DAS COMORBIDADES E PROBLEMAS DE SADE
REFERIDOS PELOS IDOSOS LONGEVOSE MEDICAMENTOS
UTILIZADOS NO MOMENTO DA INTERNAO,CURITIBA PR,
BRASIL, 2011...............................................................................................60
TABELA 3 - VALORES E VARIVEIS DA MIF TOTAL E SEUS DOMNIOS NOS
IDOSOS LONGEVOS ADMITIDOS NAS UNIDADES HOSPITALARES,
CURITIBA PR, BRASIL, 2011...................................................................69
TABELA 4 - VALORES E VARAVEIS DAS DIMENSES DA MIF DOS IDOSOS
LONGEVOS ADMITIDOS NAS UNIDADES HOSPITALARES,
CURITIBA PR, BRASIL, 2011....................................................................70
TABELA 5 - DISTRIBUIO DE INDEPENDNCIA FUNCIONAL DOS IDOSOS
LONGEVOS POR DIMENSES E CATEGORIAS DA MIF TOTAL E
COGNITIVA, CURITIBA PR, BRASIL, 2011..............................................72
TABELA 6 - AVALIAO DA ASSOCIAO ENTRE OS RESULTADOS DA MIF
E AS CARACTERSTICAS SOCIOECONMICAS E DEMOGRFICAS
DOS IDOSOS LONGEVOS ADMITIDOS NOS HOSPITAIS,
CURITIBA PR, BRASIL, 2011......................................................................78
TABELA 7 - AVALIAO DA ASSOCIAO ENRTE OS RESULTADOS DA
MIF E AS VARIVEIS DE DOENAS PR-EXISTENTES DOS IDOSOS
LONGEVOS ADMITIDOS NOS HOSPITAIS, CURITIBA - PR,
BRASIL, 2011................................................................................................81
TABELA 8 - AVALIAO DA ASSOCIAO ENTRE OS RESULTADOS DA MIF
COM AS CARACTERSTICAS DE SADE DOS IDOSOS
LONGEVOS ADMITIDOS NOS HOSPITAIS, CURITIBA PR,
BRASIL, 2011................................................................................................91
TABELA 9 - AVALIAO DA ASSOCIAO ENTRE OS RESULTADOS DA MIF
COM AS CARACTERSTICAS HBITOS DE VIDA DOS IDOSOS
LONGEVOS ADMITIDOS NOS HOSPITAIS, CURITIBA PR,
BRASIL, 2011.................................................................................................95
LISTA DE SIGLAS
CMUMS - Centros Municipais de Urgncias Mdicas
CS - Caxias do Sul
GMPI - Grupo Multiprofissional de Pesquisa sobre Idosos
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
MS - Ministrio da Sade
OMS - Organizao Mundial de Sade
OARS - Older Americans Recourses and Services
ONU - Organizao das Naes Unidas
PNAD - Plano Nacional de Amostra por Domiclio
PNSI - Poltica Nacional de Sade do Idoso
PNSPI - Poltica nacional de Sade da Pessoa Idosa
POMA - Performance Oriented Mobility Assessment
RP - Ribeiro Preto
SABE - Sade, Bem-estar e Envelhecimento
SIS/SUS - Sistema de Informaes Hospitalares/ Sistema de nico de Sade
SUS - Sistema nico de Sade
UFPR - Universidade Federal do Paran
WHO - World Health Organization
LISTA DE ABREVIATURAS
AIVD - Atividade Instrumental de Vida Diria
AVD - Atividade de Vida Diria
AVE - Acidente Vascular Enceflico
CIF - Classificao internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade
DAP - Doena Arterial Perifrica
DCNT - Doena crnica no-transmissvel
DM - Diabetes Mellitus
DPOC - Doena Pulmonar Obstrutiva Crnica
DRGE - Doena do Refluxo Gastroesofgico
HAS - Hipertenso Arterial Sistmica
IMC - ndice da Massa Corporal
MEEM - Mini Exame do Estado Mental
MIF - Medida de Independncia Funcional
MIFm - Medida de Independncia Funcional Motora
MIFc - Medida de Independncia Funcional Cognitiva
MIFt - Medida de Independncia Funcional Total
MMII - Membros Inferiores
MMSS - Membros Superiores
PSA - Antgeno Prosttico Especfico
SM - Salrio Mnimo
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
SUMRIO
1 INTRODUO........................................................................................................15
1.1 OBJETIVOS.........................................................................................................22
1.1.1 Objetivo Geral...................................................................................................22
1.1.2 Objetivos Especficos........................................................................................22
2 REVISO LITERATURA........................................................................................23
2.1 ENVELHECIMENTO HUMANO...........................................................................23
2.2 IDOSOS LONGEVOS..........................................................................................28
2.3 CAPACIDADE FUNCIONAL................................................................................34
3 METODOLOGIA.....................................................................................................39
3.1 TIPO DE ESTUDO...............................................................................................39
3.2 LOCAL DO ESTUDO...........................................................................................39
3.3 POPULAO e AMOSTRA.................................................................................40
3.4 COLETA DE DADOS...........................................................................................41
3.5 ANLISE E INTERPRETAO DOS DADOS....................................................46
3.6 ASPECTOS TICOS............................................................................................47
4 APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS......................................48
4.1 CARACTERSTICAS SOCIOECONOMICAS-DEMOGRFICAS E CLNICAS
DOS IDOSOS LONGEVOS.......................................................................................48
4.2 PERFIL CLNICO DOS IDOSOS LONGEVOS....................................................56
4.3 AVALIAODA CAPACIDADE FUNCIONAL SEGUNDO A MEDIDA DE
INDEPENDNCIA FUNCIONAL ..............................................................................69
4.4 RELAO DAS VARIVEIS SOCIOECONOMICAS DEMOGRAFICAS E
PERFIL CLNICO E MEDIDA DE INDEPENDNCIA FUNCIONAL..........................76
5 CONCLUSO.........................................................................................................99
REFERNCIAS.......................................................................................................103
APNDICES............................................................................................................121
ANEXOS..................................................................................................................127
15
1 INTRODUO
O envelhecimento humano tema de interesse de pesquisas cientficas em
razo da necessidade de maior desenvolvimento e aperfeioamento de recursos
humanos, tecnolgicos e cientficos, determinado pelas particularidades fsicas,
cognitivas, sociais e principalmente clnicas da populao idosa. Esse um desafio
que exige estudos dos profissionais ligados gerontologia e a geriatria com o intuito
de elucidar as alteraes do organismo no processo de envelhecimento,
principalmente aquelas que culminam, muitas vezes, com perda da capacidade
funcional destes indivduos.
O fomento construo do conhecimento coincide com o crescimento
populacional brasileiro dessa faixa etria. Esse aumento da taxa de envelhecimento
est associado queda da taxa de fecundidade e mortalidade e relacionado s
melhores condies de sade, como a implantao de campanhas de vacinao,
planejamento familiar, programas de sade e incorporao de arsenal tecnolgico
nos grandes hospitais. Houve tambm melhoria nas condies de vida das pessoas
por meio da urbanizao das cidades com reflexo nas condies sanitrias, nas
condies nutricionais, melhoria nos nveis educacionais, estmulo s normas de
segurana nos ambientes de trabalho e avano no conhecimento da engenharia
gentica e da biotecnologia (VERAS, 2003; TEIXEIRA, 2004; BIAZIN, 2006).
Este conjunto de melhorias acarretou aumento na expectativa de vida da
populao brasileira, que passou de 70 anos em 1999 para 73,1 anos em 2010, um
aumento de 3,1 anos em uma dcada. Segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatstica (IBGE, 2008), a populao de idosos acima de 60 anos
correspondia a 6,07% da populao total brasileira em 1980 saltando em 2008 para
9,49%. As estimativas apontam para 14% de idosos em 2020 e 30% em 2050. A
faixa etria de idosos com 80 anos ou mais em 1980 correspondia a apenas 600 mil
pessoas, subindo para 1,6 milhes em 2000, estimando-se para o ano de 2040 um
nmero em torno de 14 milhes de pessoas.
Atualmente existem cerca de 17 milhes de idosos no Brasil, 12,8% deles
com mais de 80 anos de idade. No estado do Paran, estima-se que existam
148.155 idosos com 80 anos ou mais, sendo 36.621 somente na cidade de Curitiba
(IBGE, 2010). Verifica-se deste modo, que o envelhecimento populacional apresenta
16
um crescimento elevado e ascendente, com aumento significativo na populao com
idade de 80 anos ou mais, alterando a composio etria dentro do prprio grupo
(CAMARANO; KANSO; MELLO, 2004; MENEZES, 2009).
Segundo Camarano (2002), a populao idosa corresponde a uma ampla
faixa etria de aproximadamente 30 anos e tornou-se necessrio realizar subdiviso
entre idosos jovens (60 a 79 anos) e os mais idosos (> 80 anos). Estes ltimos
tambm so conhecidos como idosos longevos, idosos velhos ou conforme a
dcada em que eles esto como idosos octogenrios, nonagenrios e centenrios.
Os idosos longevos apresentam caractersticas e necessidades diferentes,
tais como maior frequncia de doenas crnicas, vulnerabilidade a efeitos adversos
de tratamentos e a doenas, maior risco para quedas, incontinncia, dificuldades
para locomoo, sedentarismo, solido, diminuio do convvio com familiares e
amigos e tendncia ao isolamento (FERRARI, 2002; CALDAS, 2004).
Na composio deste grupo de pessoas existe uma heterogeneidade no
processo de envelhecimento com caractersticas e necessidades diferentes, pois
nem todos apresentam limitao na sua sade por conta destes agravos. Para
Ramos et al. (1993), o idoso portador de uma ou de pluripatogenias pode ser
considerado saudvel, se comparado a outro com as mesmas enfermidades, que
no consegue manter adequado controle delas e apresente desenvolvimento de
sequelas e incapacidades (RAMOS, 2003).
A cronicidade das doenas em idosos longevos e suas complicaes podem
causar o comprometimento da sua capacidade funcional, levando dependncia e
isolamento social. No Brasil, a cada ano, 650 mil idosos so incorporados a esta
populao, aumentando a possibilidade de desenvolver incapacidades associadas
ao envelhecimento. As incapacidades comprometem a independncia do idoso,
impedindo o seu prprio cuidado e, como consequncia, aumento da carga de
cuidados para a famlia e tambm para o sistema de ateno sade (VERAS,
2009).
Para a Organizao Mundial de Sade - OMS (2005, p.11), reconhecer
como os indivduos esto envelhecendo tornou-se meta imprescindvel para o
envelhecimento ativo, cuja temtica central est em permitir que as pessoas
continuem a trabalhar com suas capacidades e preferncias, com oportunidades
contnuas de sade, participao e segurana; prevenindo e retardando as
incapacidades e doenas crnicas.
17
Esta proposta foi desenvolvida pela OMS, no documento Envelhecimento
Ativo: uma poltica de sade, pautado nas recomendaes da 2 Assemblia
Mundial do Envelhecimento, definindo Envelhecimento Ativo como o processo de
otimizao das oportunidades de sade, participao e segurana, com o objetivo
de melhorar a qualidade de vida medida que as pessoas ficam mais velhas (OMS,
2005, p.13).
Neste documento a OMS recomenda que polticas de sade na rea de
envelhecimento devem levar em considerao os determinantes de sade ao longo
de todo o curso de vida incluindo aspectos sociais, econmicos, comportamentais,
pessoais, culturais, alm de acesso a servios de sade e ambiente fsico. A
recomendao incide tambm nas questes de gnero e desigualdades sociais
(NESPE, 2002, p. 1).
Para promover um envelhecimento ativo e saudvel, as pessoas devem
perceber o seu potencial para atividades de trabalho e lazer, bem como o potencial
mental e social necessrios para permanecerem ativas, contribuindo para a
sociedade. Neste contexto, a manuteno da capacidade funcional passa a ser um
parmetro importante na vida dos indivduos, pois determina a independncia e a
autonomia das pessoas de forma a permitir sua qualidade de vida (OMS, 2005).
A capacidade de realizar as atividades cotidianas, sem a necessidade de
terceiros, passa a ser um dos principais indicadores de sade da populao idosa.
As Atividades de Vida Diria (AVDs) so aspectos importantes observados na
avaliao da capacidade funcional desta populao.
No conjunto destas atividades, o longevo demonstra a sua independncia e
autonomia. Para a Organizao Mundial de Sade, a autonomia e a independncia
so definidas:
autonomia como habilidade de controlar, lidar e tomar decises de como se deve viver diariamente, de acordo com suas prprias regras e preferncias. E independncia como habilidade de executar funes relacionadas vida diria, ou seja, capacidade de viver independentemente na comunidade com alguma ou nenhuma ajuda de outros (OMS, 2005, pg.14).
Esta perspectiva de manuteno da autonomia e independncia do idoso no
Brasil est expressa pela Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa, Portaria n
2.528, de 12 de outubro de 2006, que visa promoo do envelhecimento saudvel,
18
com nfase na capacidade funcional dos idosos, assegurando a independncia para
as atividades cotidianas (BRASIL, 2006a).
A manuteno da capacidade funcional dos idosos uma importante medida
de avaliao na prtica gerontolgica, alm de ser um cuidado essencial para evitar
o declnio funcional que , comumente, influenciado por alguns fatores de risco
como: a prpria idade avanada, gnero, baixa escolaridade, estado civil e baixa
renda. Outros fatores como comorbidades, hbitos alimentares e de sade, atividade
fsica, atividades de lazer tambm exercem influncia nos dficits de funcionalidade
destes indivduos (ROSA et al. 2003).
A avaliao da capacidade funcional tema recorrente em estudos com
idosos, nos quais se evidencia o declnio da capacidade funcional dos idosos mais
velhos. Fiedler e Peres (2008) realizaram um estudo transversal na cidade de
Joaaba SC com 345 idosos acima de 60 anos constataram que 37,1% idosos
apresentaram comprometimento da capacidade funcional, entre eles, 70,7%
estavam com 80 ou mais.
Rosa et al. (2003) detectaram que em idosos acima de 80 anos, a chance
para dependncia funcional era 36 vezes maior quando comparado com idosos mais
jovens. Constataram tambm, que idosos com baixa escolaridade apresentavam
chance de cinco vezes maior de desenvolver dependncia moderada/grave e idosos
vivos apresentam mais chances para dependncia. Nesse mesmo estudo, os
autores citam outros aspectos que contribuem para perda da capacidade funcional
como os referentes sade, relaes sociais e autopercepo de sade.
Para avaliao da capacidade funcional muitos so os instrumentos que
avaliam atividades de vida diria, entre estes, a Medida de Independncia Funcional
(MIF), considerada uma escala que amplia a avaliao para a dimenso motora,
cognitiva e social, parmetros considerados importantes na avaliao de pacientes
idosos. (RIBERTO et al.,2001)
Este instrumento apresenta boa reprodutibilidade para a verso brasileira,
propriedades psicomtricas comprovadas, sensibilidade para detectar alteraes
funcionais e mensurar a necessidade de ajuda de uma terceira pessoa para a
realizao destas tarefas (PAIXO Jr; REICHENHEIM, 2005).
A avaliao funcional relevante na admisso hospitalar, pois a
hospitalizao pode levar dependncia funcional por se tratar de um evento
complexo e peculiar, que ocorre no momento de fragilidade e desequilbrio, quando
19
o idoso retirado do seu ambiente familiar e transferido para outro totalmente
diferente (KAWASAKI e DIOGO, 2007; VOLPATO et al., 2011).
Alguns autores percebem que este declnio funcional pode ocorrer antes da
admisso hospitalar, impondo a necessidade da investigao das condies da
funcionalidade do idoso neste momento. A avaliao precoce tem um valor
prognstico importante, especialmente para aqueles que chegam s unidades de
internao com alguma limitao para a realizao das atividades de vida diria.
(COVINSKY et al., 2003; BROWN; FRIEDKKIN; INOUYE, 2004; GUIMARES;
ALMADA FILHO, 2011).
Estudo realizado por Cunha et al. (2009) aponta que a identificao precoce
dos fatores de risco traz informaes para a equipe multiprofissional responsvel
pela assistncia, relacionados adequao de protocolos, direcionamento das
intervenes, bem como na identificao dos idosos que sero beneficiados com as
medidas geritricas no perodo de hospitalizao.
Segundo Garrido e Menezes (2002), a procura dos idosos acima de 80 anos
pelos servios de sade nos setores primrio, secundrio e tercirio, um dos
grandes desafios atuais. Nesta faixa etria, eles necessitam de consultas
frequentes, cuidados permanentes, medicaes de uso contnuo e exames
peridicos. Para os gestores de sade, a falta de profissionais, de estrutura fsica e
de recursos na prestao de atendimento a esta populao geram transtornos e
repercusses para toda a sociedade (VERAS, 2009).
O crescente aumento de idosos jovens e longevos presentes nos espaos
de ateno sade, principalmente, em unidades de internao um fato
observado pelos profissionais da rea de enfermagem. Observa-se, empiricamente,
que alguns idosos no momento da internao mostram-se independentes para
realizao de atividades bsicas de vida diria (ABVDs) e, durante a hospitalizao,
parte deles evoluem para o declnio de execuo de atividades. Nessa situao, a
alterao da capacidade funcional gera muitas incertezas sobre a real causa desse
evento.
Quando a avaliao da capacidade funcional no realizada no momento da
internao do idoso pode-se ter como conseqncia a constatao tardia da
dependncia e por sua vez a recuperao mais custosa e at mesmo intratvel. A
dificuldade para avaliar o idoso e reconhecer a real necessidade de auxlio nas
atividades motoras e cognitivas, no momento da sua admisso hospitalar, acontece
20
em razo do desconhecimento, por parte dos profissionais de enfermagem, dos
instrumentos gerontolgicos de avaliao e pelas lacunas existentes na
sistematizao da assistncia de enfermagem.
Existem alguns esforos para avaliar a habilidade dos idosos longevos em
desenvolver suas atividades cotidianas, e esses devem ser fomentados entre os
profissionais da rea de sade. Torna-se imprescindvel o desenvolvimento de
metodologia segundo Fonseca; Rizotto (2008), que permita a avaliao e
diagnsticos, para proporcionar um planejamento adequado de aes individuais
com respeito s particularidades do idoso.
Deste modo, a enfermagem assume importante papel na identificao e
compreenso das caractersticas socioeconmicas, perfil clnico, doenas prvias,
comorbidades, medicamentos utilizados, hbitos de vida, atividades de lazer, fatores
que podem ou no interferir na capacidade funcional. Este conhecimento colabora
na realizao da assistncia e contribui para o cuidado da pessoa idosa em todos os
nveis de preveno.
Para a prtica de enfermagem, o conhecimento da capacidade funcional dos
idosos longevos no processo de hospitalizao facilitaria o relacionamento entre
idoso e equipe de sade, alm de prevenir a ocorrncia de agravos e iatrogenias. A
deteco de fatores de risco para o declnio funcional identificados no momento da
internao hospitalar auxiliar nas intervenes necessrias para a preveno,
manuteno e recuperao das funes comprometidas para o desempenho
adequado das atividades dirias.
A avaliao da capacidade funcional do idoso tornou-se uma ferramenta
essencial para estabelecer diagnstico, determinar o prognstico e apresentar um
julgamento clnico do estado geral de sade de cada indivduo, como tambm
facilitar estudos epidemiolgicos (GOMES; DIOGO, 2004; KAWASAKI; DIOGO,
2007).
Estabelecer no plano de cuidado do idoso longevo a prioridade para a
manuteno e recuperao da capacidade funcional, ressalta a importncia que a
enfermagem tem com o envelhecimento ativo desta populao. O foco principal da
enfermagem gerontogeritrica estabelecer medidas que contribuam com o
desempenho das suas atividades cotidianas e por sua vez acarretar melhor
qualidade de vida para o idoso.
21
Para Gonalves e Alvarez (2006), a enfermagem gerontogeritrica tem em
sua ao dinmica a prtica centrada no processo de cuidar da pessoa idosa.
Incorpora-se a importante tarefa de desenvolver aes de cuidado que permitam ao
idoso manter ou recuperar todas as suas capacidades biopsicossociais e espirituais
em qualquer contexto ambiental. Planejar a busca precoce da recuperao e
reabilitao no melhor nvel possvel da condio particular do idoso possibilita a
manuteno de suas capacidades e habilidades de autocuidado, permitindo a sua
integrao social com a famlia e amigos, e participao na vida comunitria.
Considera-se relevante este estudo pelo expressivo quantitativo de idosos
longevos com necessidades de atendimento em unidades hospitalares e a
importncia da manuteno da capacidade funcional para a sua recuperao
durante a hospitalizao e processo de envelhecimento ativo e saudvel. Este
estudo trar subsdios para a realizao da sistematizao da assistncia de
enfermagem para os idosos longevos, bem como a identificao das limitaes e
dificuldades deles no ambiente hospitalar, com o intuito de direcionar os cuidados
realizados pela equipe multiprofissional que o assiste.
Diante destas consideraes o presente estudo tem como questo
norteadora: Qual a capacidade funcional do idoso longevo ao ser admitido em
unidades de internao hospitalar na cidade de Curitiba PR?
Esta pesquisa est inserida no projeto de pesquisa intitulado: Idosos
Longevos Usurios da Ateno Bsica e Hospitalar: da Histria aos Cuidados
prprios, do Grupo Multiprofissional de Pesquisa com Idosos (GMPI), na rea de
concentrao Prtica Profissional de Enfermagem, na linha de pesquisa Processo
de Cuidar em Sade e Enfermagem, cujo objetivo dessa linha desenvolver
processos de cuidado gerontolgico junto pessoa idosa, dependente ou
independente, com doena crnica ou aguda, na dimenso individual ou coletiva e
com olhar subjetivo e objetivo (PROGRAMA DE PS - GRADUAO EM
ENFERMAGEM - UFPR, 2010).
22
1.1 OBJETIVO
1.1.1 OBJETIVO GERAL
Investigar a capacidade funcional de idosos longevos ao ser admitido em
unidades de internao hospitalar na cidade de Curitiba/PR.
1.1.2 OBJETIVOS ESFECFICOS
1- Identificar o perfil socioeconmico, demogrfico e clnico do idoso longevo no
momento da internao hospitalar;
2- Avaliar a capacidade funcional do idoso longevo segundo a pontuao dos
domnios da verso brasileira de Medida de Independncia Funcional (MIF);
3- Relacionar as variveis do perfil socioeconmico, demogrfico e clnico
capacidade funcional do idoso longevo.
23
2. REVISO DA LITERATURA
Tenho pesquisado e estudado os dados/informaes contidos na literatura
nacional e internacional, que vm me auxiliando no processo e servindo como
fundamentos no decorrer do estudo. Estes dados/informaes se referem ao
envelhecimento humano, idosos longevos e capacidade funcional. De modo sucinto,
exponho a seguir essas literaturas.
2.1 ENVELHECIMENTO HUMANO
Segundo o Departamento de Assuntos Econmicos e Sociais da
Organizao das Naes Unidas (ONU, 2010) o envelhecimento populacional um
fenmeno sem precedentes na histria da humanidade. Este fenmeno observado
com maior rapidez nos pases em desenvolvimento, que, em meados do sculo XXI,
atingiro o mesmo estgio do processo de envelhecimento da populao dos pases
desenvolvidos.
O relatrio da Comisso das Naes Unidas sobre o Desenvolvimento
Social, realizado com base nas informaes obtidas do Plano de Ao de Madri
sobre o Envelhecimento em 2007 e 2008, estima que a nvel mundial o nmero de
pessoas idosas com mais de 60 anos dever ultrapassar o nmero de crianas pela
primeira vez em 2045. Desde o ano de 1950, a proporo de idosos vem
aumentando, passando de 8% da populao para 11% em 2009. A projeo para
2050 de 22% de idosos acima de 60 anos (ONU, 2010).
Segundo Wong e Carvalho (2006), o crescimento elevado do contingente de
idosos resultado de grandes taxas de crescimento decorrentes da alta fecundidade
que prevaleceu no passado, menor ndice de nascimento na atualidade e reduo
da mortalidade. Para Carvalho e Garcia (2003), o envelhecimento populacional
refere-se mudana na estrutura etria da populao, pelo aumento da proporo
de pessoas em idade mais avanadas.
24
A populao de idosos no mundo tambm est sofrendo alterao dentro da
sua prpria faixa etria, isto , idosos esto se tornando cada vez mais idosos,
abrangendo faixas etrias acima dos 80 anos. As projees da ONU indicam que
este nmero est aumentando em 4% ao ano. Hoje, a cada sete pessoas idosas,
uma tem 80 anos ou mais. Em 2050, essa proporo dever aumentar, chegando a
uma para cada cinco pessoas (ONU, 2010).
Esta transio demogrfica conduz a uma nova configurao etria e se
configura como um dos problemas mundiais atuais, exigindo polticas relacionadas
com a sade dos idosos, tanto em pases desenvolvidos como nos pases em
desenvolvimento. Nestes ltimos, os desafios esto intensificados devido ao
acelerado aumento de idosos, que continuar ainda por muitos anos (KALACHE,
2008).
Isto porque o processo de envelhecimento pode causar modificaes fsicas,
morfolgicas, funcionais, bioqumicas e psicolgicas, que determinam a perda da
capacidade de adaptao do indivduo ao meio ambiente, ocasionando maior
vulnerabilidade e maior incidncia de processos patolgicos que terminam com a
morte (PAPALO NETTO; PONTES, 1996).
Envelhecer considerado um evento progressivo e multifatorial e a velhice
como experincia potencialmente bem-sucedida, porm diferenciada, vivenciada
de formas diferentes, com mais ou menos qualidade de vida. O envelhecimento
um processo heterogneo, em que cada idoso apresenta uma experincia individual,
com consequncias de suas experincias passadas, da forma como vive no
momento presente e que expectativas tm para o seu futuro (LIMA; SILVA;
GALLARDONI, 2008; SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008).
Segundo Caldas (2006), o envelhecimento bem-sucedido envolve o baixo
risco de doenas e de incapacidades e funcionamento fsico e mental excelente. O
envelhecimento saudvel a condio que todos almejam e est relacionado
maneira como o idoso consegue se adaptar s inmeras situaes de ganhos e
perdas com as quais se depara. Para o idoso longevo, este envelhecimento bem-
sucedido representa ter menos riscos para o desenvolvimento de doenas crnico-
degenerativas e como consequncia, no desencadear o comprometimento da sua
capacidade funcional (BALTES; SMITH, 2003).
O envelhecimento pode ser compreendido como um processo natural, de
diminuio progressiva da reserva funcional dos indivduos e que, em condies
25
normais, no costuma provocar qualquer problema, processo este chamado de
senescncia. Um idoso em condies de sobrecarga como doenas, acidentes ou
estresse emocional, pode ocasionar uma condio patolgica que requer
assistncia. Tem-se assim a senilidade (BRASIL, 2006b).
Para Souza, Skubs; Brtas (2007), o envelhecimento um processo
dinmico e progressivo, no qual tanto modificaes morfolgicas como funcionais
podem interferir na capacidade de adaptao dos indivduos ao meio social em que
vivem, com predisposio para agravos e doenas que possam comprometer sua
sade e sua a qualidade de vida.
O comprometimento da sade tem como consequncia a diminuio nas
atividades cotidianas e, para alguns, a dependncia de outras pessoas. Estes
resultados podem ser causados por algumas alteraes biolgicas como:
enfraquecimento do tnus muscular e da constituio ssea, o que pode levar
mudana na postura do tronco e das pernas, acentuando ainda mais as curvaturas
da coluna torcica e lombar. Alm disso, as articulaes ficam mais enrijecidas,
reduzindo os movimentos e produzindo alteraes no equilbrio e na marcha.
Ocorrem alteraes nos reflexos de proteo e no controle do equilbrio,
prejudicando assim a mobilidade corporal e, com isso, predispondo a ocorrncia de
quedas e riscos de fraturas e ocasionando graves consequncias sobre o
desempenho funcional. Esse fato altera completamente a qualidade de vida do idoso
(PELEGRIN et al., 2008).
Segundo Martins et al. (2007), no Brasil, o desafio para o sculo XXI est em
oferecer suporte de qualidade de vida para uma populao de mais de 32 milhes
de idosos, em sua maioria com nvel socioeconmico e educacional baixo, com
prevalncia de doenas crnicas e, para muitos, j com diminuio da capacidade
funcional. Para esta populao que apresenta problemas de sade reais e cujas
necessidades aumentam a cada ano, imprescindvel que esforos para a
efetivao destas diretrizes sejam realizados na prtica o mais rpido possvel para
assim amenizar o sofrimento destes cidados.
O Brasil, dentro deste contingente de pases classificados como em
desenvolvimento, apresenta um territrio expressivo em tamanho geogrfico e
diferenas socioculturais que dificultam o processo de tomada de decises para
melhoria na qualidade de vida destas populaes (NOGUEIRA, 2008).
26
Atenta s especificidades do processo de envelhecimento bem como
transio demogrfica em curso, a ONU promoveu, na cidade de Viena - ustria, a I
Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento no ano de 1982, a qual recebeu
representantes de 124 pases, incluindo o Brasil. Neste encontro foi estabelecido o
Plano da Ao para o Envelhecimento, posteriormente publicado em Nova York em
1983 (ONU, 1982).
No Brasil, em 1994, foi aprovada a Lei N 8.842/1994, que estabelece a
Poltica Nacional do Idoso, regulamentada pelo Decreto n 1.948/96. Esta lei tem
por finalidade assegurar direitos sociais que garantiam a promoo da autonomia,
integrao e participao efetiva do idoso na sociedade, de modo a exercer sua
cidadania. Um de seus princpios afirma que o idoso no deve sofrer discriminao
de nenhuma natureza, bem como ser o principal agente e o destinatrio das
transformaes indicadas por essa poltica.
Em 1999, anunciada pela Portaria Ministerial n1395, a Poltica Nacional
de Sade do Idoso (PNSI), cuja determinao principal que todos os rgos e
entidades do Ministrio da Sade relacionados ao tema promovam a elaborao
e/ou readequao de projetos em conformidade com as diretrizes e
responsabilidades nela estabelecidas. O principal enfoque que esta poltica assume
que o idoso pode ser afetado pela perda da sua capacidade funcional, ou seja,
perda das habilidades fsicas e mentais necessrias para a realizao das atividades
do cotidiano (BRASIL, 1999).
A PNSI visa promoo do envelhecimento saudvel, preveno de
doenas, recuperao da sade, preservao, melhoria e reabilitao da
capacidade funcional dos idosos com a finalidade de assegurar sua permanncia
dentro da sociedade com independncia e autonomia (BRASIL, 1999). Esta poltica
apresenta dois eixos norteadores, o primeiro com destaque para as medidas de
preveno com a promoo do envelhecimento saudvel. O segundo eixo a
manuteno da capacidade funcional do idoso e pelo maior tempo possvel, com
valorizao e preservao da sua autonomia e independncia.
A partir das orientaes do Plano de Madri, documento resultante da
II Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento em 2002, a legislao brasileira
aprova o Estatuto do Idoso sob a Lei n 10.741, de 1 de outubro de 2003. Este
documento elenca todos os direitos do idoso e tem na sua proposta garantir por
meio do Sistema nico de Sade (SUS), a ateno sade da pessoa idosa de
27
forma integral, em todos os seus nveis. O Estado torna-se responsvel pelas suas
prprias polticas pblicas de sade e deve priorizar atendimento digno a este
segmento populacional (BRASIL, 2003).
Este documento foi considerado importante pelas estratgias e
recomendaes prioritrias nos aspectos econmicos, sociais e culturais do
processo de envelhecimento da populao, baseada na Declarao Universal dos
Direitos Humanos. Entre as recomendaes foram estabelecidos os princpios para
a implantao de polticas para o envelhecimento sob a responsabilidade de cada
pas (RODRIGUES et al., 2007).
A Organizao Mundial de Sade adotou o termo Envelhecimento Ativo
com a inteno de aperfeioar as oportunidades de sade, e tem como objetivo
aumentar a expectativa de uma vida saudvel e com qualidade a todas as pessoas
que esto envelhecendo, inclusive as que so frgeis, fisicamente incapacitadas e
que necessitam de qualquer cuidado (OMS, 2005).
Com a incluso deste novo paradigma do envelhecimento saudvel com a
preservao da capacidade funcional preconizada pela Organizao Mundial de
Sade, o Ministrio da Sade passa a construir diretrizes de ateno sade dos
idosos de maneira multidimensional. As diretrizes so voltadas para ser um
instrumento de orientao tanto para governos em todas as esferas como tambm
para toda a sociedade.
Apesar de legislao brasileira relacionada populao idosa estar
avanada, sua prtica propriamente dita insatisfatrio. A vulnerabilidade social em
que as famlias e os idosos esto sujeitos intensificou a necessidade de uma
readequao da poltica nacional para as pessoas idosas, o que culminou com a
criao de nova portaria.
Em fevereiro de 2006, por meio da Portaria n399/GM, foi publicado o
documento das Diretrizes do Pacto pela Sade, que contempla o Pacto pela Vida.
Este documento confirma a sade do idoso como uma das seis prioridades entre as
trs esferas do governo (BRASIL, 2006c).
Atravs de readequao da PNSI, a Poltica Nacional de Sade da Pessoa
Idosa (PNSPI), Portaria N 2528 aprovada em 19 de outubro de 2006, apresenta
como meta final a adequao digna de ateno sade da populao idosa,
principalmente daqueles com dependncia funcional, frgeis, e que esto acima de
75 anos e que ao longo dos anos desenvolveram doenas e agravos que levaram
28
perda de qualidade de vida. Esta poltica afirma que o problema que pode afetar ou
comprometer o idoso a perda da capacidade funcional, ou seja, perda das
habilidades fsicas e mentais necessrias para a realizao das atividades bsicas e
instrumentais da vida diria, importantes para manter a independncia e autonomia
desta faixa etria (BRASIL, 2006a).
A finalidade primordial da PNSPI recuperar, manter e promover a
autonomia e a independncia dos idosos embutida dentro da meta final, que toda
pessoa idosa deve receber uma ateno sade adequada e digna, principalmente
para aquela parcela de populao idosa, que teve um processo de envelhecimento
com doenas e agravos e que evoluram com limitaes no seu bem-estar (BRASIL,
2006a, p.3).
Para promover um envelhecimento saudvel, os sistemas de sade
necessitam que a promoo de sade, a preveno de doenas e o acesso
equitativo a cuidados integrais e continuados realizados pela ateno primria,
sejam oferecidos a toda a populao idosa durante o curso de suas vidas.
Atualmente, os modelos de sade esto baseados em quadros agudos e so
inadequados ou ineficientes no atendimento da populao que est envelhecendo
rapidamente (WHO, 2002).
Segundo Menezes (2009), para a promoo do envelhecimento saudvel
deve-se considerar o envolvimento de vrios aspectos: sade fsica e mental, a
independncia para as atividades de vida diria, independncia econmica,
integrao social e suporte familiar. Estes aspectos produzem importantes
diferenas para iniciar o comprometimento da capacidade funcional no idoso.
Iniciativas ligadas promoo de sade para toda a populao idosa so
fundamentais para a preservao da capacidade funcional, mantendo esta
populao com independncia e autonomia nas suas decises.
2.2 IDOSO LONGEVO
Segundo Camarano; Kanso; Mello (2004), no somente o grupo de idosos
vem crescendo em relao aos demais grupos da populao, mas tambm os
idosos muito idosos. Este aumento na proporo dos muito idosos consequncia
29
da queda de mortalidade. Pela OMS, este grupo pode ser subdividido em idoso
jovem (young-old), quando se refere s pessoas com idade entre 60 a 69 anos;
idoso velho (old-old), para os idosos entre 70-79 anos; e idoso mais velho (oldest-
old), para os idosos com 80 anos ou mais (WHO, 2004).
De acordo com as informaes da Organizao Mundial da Sade este
momento de uma revoluo demogrfica, em que os adultos com mais de 80 anos
formam um grupo que cresce em percentual em todo o mundo. Atualmente, este
grupo de indivduos representa 69 milhes de pessoas, correspondendo a 1% da
populao mundial (OMS, 2005).
Enquanto a populao brasileira apresentou no perodo de 1997 a 2007, um
crescimento relativo da ordem de 21,6%, para a faixa etria de 60 anos, este
crescimento foi de 47,8%, chegando a 65% no grupo de idosos de 80 anos ou mais
(IBGE, 2008). Segundo as estimativas do IBGE (2010), no Brasil, a populao de
idosos acima ou igual a 60 anos est em torno de 17 milhes de pessoas e para o
ano 2020 este segmento ser de 15% a mais de indivduos. Dentro deste nmero,
12,8% possuem idade igual ou superior a 80 anos.
Na projeo do IBGE, a populao de idosos acima de 80 anos crescer
8,8% ao ano, por duas dcadas. A proporo destes idosos correspondia a
1.586.958 no ano de 2000, em 2008 este nmero representava 2.410.106 e para
2050 a projeo ser de 13.748.708. Estima-se que em 2020 haver 1,93% e em
2050 atingir 6,39% de idosos longevos, e os idosos em geral, representaro um
quinto da populao, ou seja, 19% (IBGE, 2008)
Para Ferrari (2002) as pessoas com mais de 80 anos apresentam
caractersticas fisiolgicas, psicolgicas, sociais e econmicas particulares e com
diferenas importantes dentro do prprio grupo. Vale lembrar que as diferenas so
particulares de cada pessoa e deve-se levar em conta o contexto social e cultural em
que cada idoso est inserido.
Segundo Baltes; Smith (2003) os idosos longevos demonstram que a quarta
idade condiz com a incompletude biocultural, vulnerabilidade e imprevisibilidade, que
diferente da Terceira Idade (velhice inicial) marcada por pontos positivos. Os
autores op cit salientam que os idosos mais velhos esto no limite da sua
capacidade funcional, o que representa restries s intervenes da pesquisa e da
poltica social.
30
Karlamangla et al. (2009) descrevem o envelhecimento longevo como a
continuidade do processo fisiolgico aps os 80 anos, quando a velocidade de perda
da capacidade funcional e cognitiva se acelera. Fried (1994) afirma que idosos
acima de 85 anos, esto mais sujeitos a comorbidades e perda de autonomia e
independncia, e que apesar de no apresentarem anormalidades, deterioram com
mais facilidade pelo estresse. Dentro desta faixa etria, os idosos longevos
apresentam maior vulnerabilidade para adoecer, com o desenvolvimento de doenas
crnico no-transmissveis, entre outras patologias e a Sndrome da Fragilidade.
A Sndrome da Fragilidade vem sendo estudada pela sua condio
multifatorial (BLE et al., 2006), no apresentando uma definio consensual.
Segundo Bandeen-Roche; Xue; Ferruci; Walston (2006), Fried et al. (2004) e Fried
et al. (2001), ela uma sndrome multidimensional que envolve uma interao
complexa de fatores biolgicos, psicolgicos e sociais no curso de vida de um
indivduo, e atinge seu cume com um estado de vulnerabilidade, associado ao maior
risco de desfechos clnicos adversos como declnio funcional, quedas,
hospitalizao, institucionalizao e morte.
O Ministrio da Sade (2006b) estima que 46% das pessoas que esto
acima de 85 anos, apresentam sinais de fragilidade, sendo os idosos com idade
mais avanada, os que mais sofrem interferncia na sua funcionalidade, com maior
risco para dependncia. Fried et al (2001) sugerem que a fragilidade um preditor
da perda da capacidade funcional e de morbidade, presente em 6,9% de idosos da
comunidade e com uma predisposio maior para acometimento nas mulheres.
Entre as principais causas de incapacidades e mortalidade em todas as
regies do mundo, figuram as doenas crnicas como as doenas cardiovasculares,
diabetes, hipertenso arterial, cncer, as enfermidades msculo-esquelticas,
doenas pulmonares obstrutivas crnicas, doenas mentais e suas complicaes,
Muitas destas doenas apresentam incio silencioso, etiologias ainda no
esclarecidas, vrios fatores de risco, exigindo tratamento e cuidado para toda a vida
(OMS, 2005).
De acordo com a OMS, um pequeno conjunto de fatores de risco responde
pela grande maioria das mortes por doenas crnicas. Estas doenas apresentam
comportamentos de riscos modificveis e no modificveis. Entre os fatores de
riscos comportamentais modificveis passveis de mudana esto o tabagismo, uso
31
indiscriminado do lcool e outras drogas, obesidade, as dislipidemias, pouca
ingesto de frutas e verduras e o sedentarismo (OMS, 2005).
Os idosos com mltiplas comorbidades e, em especial, doenas crnicas
podem apresentar dificuldades para a realizao de atividades da vida diria. Estudo
realizado na Sucia afirma que a prevalncia de agravos sade aumenta
consideravelmente com a idade e, consequentemente, eleva os custos relacionados
assistncia mdica e social (PARKER; THORSLUND, 2007).
Segundo Balts; Smith (2003), nos pases europeus, os idosos longevos
apresentam maior risco de envelhecer, acompanhados de doenas crnico-
degenerativas e outras patologias. Para esses autores, os idosos apresentaram um
elevado ndice de comprometimento funcional, dependncia e solido.
Um idoso pode ser considerado saudvel, mesmo que apresente uma ou
mais doenas crnicas, desde que mantenha a habilidade de desempenhar as
atividades do cotidiano. Para Ramos (2003), poucos so os idosos que ficam
limitados por uma doena crnica. Muitos deles conseguem manter uma vida normal
com as doenas controladas e com adequada qualidade de vida. Segundo este
autor, idosos com uma ou mais doena crnica e que tm o controle delas, mesmo
que apresentem sequelas ou incapacidades, podem ser considerados idosos
saudveis. Em contrapartida estas doenas esto associadas com a presena de
comorbidades e a dependncia funcional dos idosos (ROSA et al., 2003).
As pesquisas conduzidas por Camarano (2002) e Lima-Costa; Camarano
(2008) apontam a predominncia da populao feminina entre os idosos longevos,
fato que traz preocupaes para os servios pblicos de sade. A explicao est
no fato de que as mulheres vivem mais que os homens e esto sujeitas a doenas
crnicas e deficincias fsicas e mentais. O segundo fato a proporo de idosas
que estaro vivas ou morando sozinhas e em situao socioeconmica deficiente.
A feminizao da velhice est estimada para o ano de 2050, em aproximadamente 6
milhes de mulheres (IBGE, 2008).
Em estudo transversal desenvolvido por Nogueira et al. (2010), de uma
amostra de 129 idosos longevos de ambos os sexos, 53% eram do gnero feminino,
46,5% vivos com idades entre 80 a 96 anos e mediana de 83 anos. Neste estudo
constatou-se que o gnero feminino, faixa etria elevada e ausncia do cnjuge
esto associadas significativamente para pior capacidade funcional.
32
De acordo com as afirmaes de Ramos (2002), esta populao de idosos,
na sua maioria, apresenta baixo nvel socioeconmico e educacional e uma alta
prevalncia de doenas crnicas incapacitantes, o que pode desencadear perda da
autonomia e independncia e aumentar suas dificuldades nas atividades cotidianas.
O aumento de idosos longevos est frequentemente associado maior
incidncia de doenas crnicas como consequncia ao processo de envelhecimento
biolgico. Porm, fatores externos como dificuldades financeiras, desnutrio,
dificuldades na aquisio de medicamentos, impossibilidade de frequentar
programas de sade, arranjos familiares desgastados contribuem para o aumento
destes agravos (LENARDT et al., 2009).
Pesquisa desenvolvida por Soares et al. ( 2009) analisou as condies de
sade dos idosos residentes na zona urbana de um municpio de Minas Gerais, com
amostra de 271 idosas octogenrias. Apenas 2,2% destas idosas no apresentavam
doenas crnicas, as demais apresentavam entre trs a dez doenas. Segundo os
autores, os dados refletem o fato de que as mulheres buscam mais o atendimento
sade e assim tm maior probabilidade receber o diagnstico mdico. As doenas
mais frequentes foram: problemas de coluna, hipertenso arterial, problemas de
viso, de circulao e para dormir.
Estudo epidemiolgico comparativo transversal entre duas populaes de
idosos com mais de 80 anos, realizado por Cruz (2009), com uma amostra total de
272 idosos com mais de 80 anos, revelou que as doenas crnicas mais
encontradas foram hipertenso arterial (70.5%), viso prejudicada (67.2%), dficit de
audio (45.5%), problemas na coluna (42.6%) e incontinncia urinria (41.1%).
A necessidade de internao por evento agudo, desencadeado por
qualquer uma doena crnica produz dois efeitos nos idosos longevos: o primeiro
o prprio efeito desconcertante da doena e o segundo so os efeitos causados pela
hospitalizao, representada pelo meio ambiente desconhecido, ingesto calrica
reduzida, diminuio da atividade fsica ou repouso no leito prolongado, depresso e
isolamento social (BOYD et al., 2005; VOLPATO et al., 2007).
Segundo Volpato et al. (2011), a hospitalizao por uma doena aguda
representa um evento estressante e potencialmente perigoso para os idosos
longevos. Pacientes frgeis e aqueles em que a limitao funcional j evidenciada
na pr-admisso esto entre os que apresentam maior risco de complicaes ps-
hospitalares relacionadas sua capacidade funcional. Estudos realizados
33
identificaram diversos fatores de risco para o agravamento da capacidade funcional,
como a idade avanada, caractersticas sociodemogrficas desfavorveis, invalidez
preexistente, declnio cognitivo e comorbidades.
Motta (2001) assevera que os idosos apresentam peculiaridades distintas
das demais faixas etrias, e sua avaliao de sade deve ser feita com o objetivo de
identificar os problemas que so subjacentes a sua queixa principal. Deveriam ser
includos nesta avaliao os aspectos funcionais, cognitivos, psiquitricos,
nutricionais e sociais. O autor ressalta tambm que uma equipe multidisciplinar deve
ressaltar os idosos que apresentam fatores de risco para uma evoluo desfavorvel
durante a internao.
Os autores Lindenberger et al. (2003) e Mudge; O`Rourke; Denaro (2010) e
compartilham a possibilidade do declnio funcional do idoso anteceder ao momento
da internao que pode acontecer at duas semanas antes da necessidade de
hospitalizao. Segundo Mudge; O`Rourke; Denaro (2010) conhecer a capacidade
funcional do idoso no momento da sua internao imprescindvel para o
acompanhamento deste durante o processo de internao.
Lindenberger et al. (2003) avaliaram 1557 idosos com 70 anos ou mais em
um hospital escola e um hospital universitrio, encontraram 25% deles com declnio
funcional acentuado no momento da internao e destes 44% no conseguiram
recuperar sua capacidade funcional.
Em outro estudo desenvolvido por Mudge; O`Rourke; Denaro (2010) com
615 idosos acima de 65 anos admitidos em uma unidade de clnica mdica, no
momento da internao verificaram que 442 (64,7%) dos idosos no apresentavam
dependncia para as atividades de vida diria, 86 (82,6%) referiram dificuldade para
uma a duas atividades e 87 (44,8%) referiram entre trs a cinco dificuldades para
atividades de vida diria. Entre os idosos, 200 (76,0%) deles referiram histria de
queda, 64 (81,3%) historia de demncia e 64 (51,6%) m nutrio.
Neste mesmo estudo, fatores como idade avanada, dependncia nas
atividades de vida diria, demncia, histrico de quedas, admisso hospitalar
recente, foram significativamente associados ao declnio funcional pr-hospitalar.
Fatores como distrbios neurolgicos, sepse urinria, diagnsticos relacionados
queda e fraturas, tambm estavam fortemente associados a uma maior
probabilidade de desenvolver declnio funcional.
34
Pesquisas desenvolvidas por Sager et al. (1996), Mateev et al. (1998) do
mesmo modo, apontam para a necessidade de conhecer o estado funcional do idoso
no momento da internao, pois outros fatores podem contribuir para que o declnio
acontea antes da hospitalizao como aspectos socioeconmicos, estado
nutricional deficiente e gravidade da doena que motivou a internao.
Winograd et al. (1991); Covinsky et al. (2000), Wu et al. (2000) e Covinsky et
al., (2003), realizaram investigaes com idosos na admisso e alta, que mostravam
a capacidade funcional e o estado cognitivo anterior a internao hospitalar, estes
dois fatores so os melhores preditores de mortalidade aps a internao assim
como o declnio funcional decorrente do processo de internao.
2.3. CAPACIDADE FUNCIONAL
A alterao demogrfica mais importante, com influncia na utilizao dos
servios pblicos de sade, o aumento de pessoas longevas, pela carga de
doenas crnicas e as limitaes na capacidade funcional (CALDAS, 2003).
Na Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006a), a perda
da capacidade funcional apontada como o principal problema que pode afetar o
idoso, devido s consequncias da evoluo das enfermidades e do seu estilo de
vida. As perdas de habilidades fsicas e mentais nas atividades bsicas e
instrumentais de vida diria representam menos qualidade de vida para um nmero
significativo de pessoas com idade avanada.
A WHO (2003, p.14), atravs da Classificao Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Sade (CIF), define a capacidade funcional como
um construto que indica o mximo possvel de funcionalidade que uma pessoa
pode atingir em um dado momento. Para os idosos, esta avaliao relacionada
aos aspectos prticos das atividades de cuidado pessoal e ao grau de manuteno
da capacidade, para o desempenho das atividades bsicas e mais complexas do
cotidiano.
Na medida em que o ser humano envelhece, as tarefas do seu cotidiano
consideradas corriqueiras passam paulatinamente a ser de mais difcil execuo. A
35
independncia significa que a funo realizada sem superviso, direo ou ajuda
sendo esta avaliao baseada na situao real e no na capacidade do sujeito.
A capacidade funcional pode ser definida como um conjunto de
competncias comportamentais, relacionadas ao manejo da vida diria sem ajuda
de outra pessoa e est dimensionada nos termos da habilidade e independncia
para realizar determinadas atividades. Ela pode ser expressa como o funcionamento
do indivduo fsica e cognitivamente independente (NERI, 2006; MELO, 2009).
A capacidade funcional surge como um novo indicativo da sade,
principalmente para avaliao do idoso (FILLENBAUN, 1984). No envelhecimento
saudvel, para Ramos (2003), esta habilidade vista como uma interao
multidimensional entre sade fsica e mental, independncia na vida diria,
integrao social, suporte familiar e independncia econmica.
Para Cardoso e Costa (2010), o conceito de sade do idoso est
relacionado com sua capacidade funcional. A capacidade de cuidar de si mesmo, de
determinar e executar atividades da vida cotidiana, com autonomia e independncia,
mesmo apresentando morbidade.
Segundo a OMS (2005), autonomia definida como a habilidade de
controlar, lidar e tomar decises pessoais sobre como deve viver de acordo com
suas prprias regras; e independncia definida como a habilidade de executar
funes relacionadas vida diria, ou como a capacidade de viver
independentemente na comunidade com alguma ou nenhuma ajuda de outros. Ao
perder a autonomia o idoso pode apresentar isolamento da famlia, da sociedade, e
muitas vezes, alteraes emocionais.
Para as Doenas Crnicas No Transmissveis (DCNT) presentes nos
idosos, como cardiopatias, Diabetes Mellitus (DM), Hipertenso Arterial Sistmica
(HAS), artrites e artroses, problemas de coluna, dificuldades visuais e auditivas,
independentemente da faixa etria, eles necessitam de adeso ao tratamento. Cabe
aos profissionais de sade proporcionar a interao entre as orientaes e o
direcionamento do tratamento com a participao deste idoso, que necessita
adequar suas crenas s informaes atualizadas fornecidas por toda a equipe que
presta assistncia.
importante que o idoso reconhea que a manuteno de sua capacidade
de gerir e determinar seus desejos impedir o desenvolvimento de possveis
sequelas que ento trazem dependncia e perda da autonomia.
36
Para tanto, a avaliao da capacidade funcional um importante preditivo
de sade para os idosos, quando eles apresentam indcios de declnio, com o risco
para a morbidade e mortalidade (MILLN-CALENTI, 2010). Dificuldades na
funcionalidade do idoso representam risco elevado para as perdas da independncia
funcional e este declnio pode estar relacionado com a sndrome da fragilidade
(NERI, 2005; TEIXEIRA, 2010).
Segundo Arajo; Ceolim (2007) o declnio da capacidade funcional aumenta
com a idade, portanto, todos os esforos devem ser despendidos no sentido de
prevenir a dependncia fsica e retard-la ao mximo possvel para que o idoso
possa viver o maior tempo possvel em seu ambiente familiar.
Estudo transversal desenvolvido por Nunes et al. (2009) com 397 idosos,
constatou que idosos na faixa etria de 70 a 79 anos tm 7,3 vezes mais chances
de apresentar comprometimento da capacidade funcional em relao faixa entre
60 e 69 anos. Os idosos com 80 anos ou mais apresentaram 3,5 vezes mais
chances de apresentar dificuldade na sua funcionalidade quando comparados aos
idosos com 70 a 79 anos, comprovando a premissa de que o aumento da idade
implica maior comprometimento da capacidade funcional.
A avaliao da capacidade funcional deve ser utilizada para ajud-los a
melhorar seu estado funcional e seu bem-estar, com independncia e a manter a
autonomia e a dignidade, mesmo que apresentem perdas fsicas, sendo til tambm
para preservar a capacidades sociais, cognitivas e psicolgicas (BIAZIN, 2006).
Segundo Paixo Jr; Reihencheim (2005), uma avaliao geritrica eficiente
e completa torna-se cada vez mais urgente. O estado funcional a dimenso base
para a avaliao geritrica. Para os autores o mtodo mais usado a: observao
direta atravs de teste de desempenho e por questionrios que podem ser auto-
aplicados ou preenchidos em entrevistas face a face, sistematizados por escalas
(instrumentos de avaliao funcional) que aferem os principais componentes do
estado funcional.
A perda funcional dos idosos para as atividades cotidianas avaliada
atravs de escalas que foram construdas para medir o desempenho na realizao
de tarefas indispensveis para a manuteno de uma vida normal de cada individuo.
Segundo Ramos (2003), as escalas ou instrumentos elaborados permitem avaliar as
vrias dimenses da capacidade funcional de um idoso relacionado ao seu conceito
de sade.
37
Em muitos estudos, necessria a utilizao de dois ou mais instrumentos,
para obter os resultados que se deseja conhecer durante uma pesquisa ou
avaliao. Segundo Gomes e Diogo (2004), a escolha de um instrumento de
avaliao de capacidade funcional deve ser criteriosa pelo nmero de opes
disposio. Alguns instrumentos foram testados para realidade brasileira em sua
sensibilidade, especificidade e confiabilidade.
Os instrumentos para a avaliao funcional podem utilizar diferentes
dimenses: fsica, psicolgica, funcional, social, entre outras. As avaliaes podem
ser unidimensionais, mistas ou globais. Na literatura, as escalas de capacidade
funcional mais utilizada so descritas a seguir: a Escala de Katz (KATZ et al,1963),
avalia a independncia funcional dos pacientes em seis funes bsicas ( banhar-
se, vestir-se, ir ao banheiro, transferir-se da cama para a cadeira e vice-versa, ser
continente e alimentar-se). um dos instrumentos mais utilizados em estudos
gerontolgicos nacionais e internacionais (DUARTE; ANDRADE; LEBRO 2007).
A escala idealizada por Lawton e Brody (LAWTON; BRODY, 1969),
denominada de Escala de Lawton, avalia as atividades instrumentais de vida diria,
ou seja, considera as aes mais complexas como usar o telefone, fazer viagens,
preparar a sua alimentao, fazer compras, desenvolver trabalhos domsticos,
tomar corretamente os medicamentos e controlar o oramento domstico. A escala
de Andreotti; Okuma (1999) consiste em 40 questes envolvendo AVDs e AIVDs, e
de acordo com total de pontos, o idoso classificado quanto sua capacidade
funcional em muito ruim, ruim, mdia, boa ou muito boa.
Outra escala utilizada o ndice de Barthel (MAHONEY; BARTHEL, 1965)
que compreende dez itens de mobilidade, que constituem as ABVD. O ndice de
Barthel tem como finalidade avaliar a independncia funcional no cuidado pessoal e
a mobilidade (MINOSSO et al., 2010). Ao final, ocorrem duas categorias: ausncia
de incapacidade (independncia) e presena de incapacidade (representada pelos
indivduos com dependncia leve at total). A escala chamada de Older Americans
Resourses and Services OARS (FILLEMBAUM; SMYER, 1981), tem como
finalidade estabelecer um perfil de sade multidimensional. Identifica quais as
dimenses que diretamente comprometem a capacidade funcional e indica solues
para a teraputica do idoso (RAMOS, 2003).
J a escala Performance Oriented Mobility Assessment - POMA (TINETTI,
1996), tem a finalidade de avaliar a condio de equilbrio e alterao da marcha,
38
pela probabilidade do risco de quedas dos idosos. Outra escala tambm muito
utilizada a Medida de Independncia Funcional - MIF (GRANGER; HAMINTON;
SHERWIN,1986).
A Medida de Independncia Funcional (MIF) um instrumento de avaliao
da capacidade funcional utilizada em pacientes com os mais diversos problemas de
sade e que atualmente vem sendo aplicada nos hospitais e centros de reabilitao
para avaliar o desempenho de uma pessoa quanto s funes motoras e cognitivas
e interao social (RIBERTO et al., 2001).
A MIF foi desenvolvida em 1983, por Granger e colaboradores, atravs de
uma fora tarefa norte-americana organizada pelo Congresso e pela Academia
Americana de Medicina Fsica e Reabilitao. Este grupo reuniu um conjunto de
dados para mensurao da incapacidade e para avaliao dos resultados de
programas de reabilitao. O intuito desta equipe foi criar instrumento capaz de
medir o grau de solicitao de cuidados de terceiros, que o paciente portador de
deficincia exige para a realizao de tarefas do cotidiano (RIBERTO et al., 2001).
Kawasaki; Cruz e Diogo (2004) organizaram uma reviso bibliogrfica da
utilizao da MIF em idosos e encontraram 35 trabalhos publicados em bases de
dados internacionais no perodo de 1993 a 2003. As autoras comprovaram que a
MIF apresenta propriedades psicomtricas comprovadas, sensibilidade para detectar
pequenas alteraes funcionais e mensurar no apenas o que o idoso capaz de
fazer, mas o quanto necessita de ajuda de terceiros para executar suas atividades
(RIBERTO et al., 2001; KAWASAKI; CRUZ; DIOGO, 2004).
Paixo Jr. e Reichenheim (2005) realizaram uma reviso sistemtica a
respeito o histrico da utilizao e a adaptao dos instrumentos de avaliao
funcional. Foram analisados 30 instrumentos, entre eles a MIF que vrios estudos de
validao e confiabilidade com bom poder estatstico no quesito propriedades
psicomtricas, completeza e qualificaes de boa a excelente.
Deste modo, verifica-se que o emprego do instrumento MIF tem sido muito
utilizado em estudos com esta populao. Segundo Pollak; Rheault; Stoecker
(1996), tambm foi validada para idosos com mais de 80 anos.
A avaliao da capacidade funcional no idoso permite aos profissionais de
sade conhecer as condies de sade do paciente, como a presena de
comorbidades e incapacidades e relacionar como estas dificuldades exercem
influncia na sua qualidade de vida.
39
3. MTODO
3.1 TIPO DE ESTUDO
Trata-se de estudo quantitativo descritivo transversal. Segundo Klein; Block
(2005), estudo transversal caracterizado pela observao direta de determinada
quantidade planejada de indivduos, em uma nica oportunidade. Estes estudos
seccionais so apropriados para descrever a situao, o status do fenmeno ou as
relaes entre os fenmenos em um ponto fixo. apontado como um recorte da
realidade.
O estudo transversal aquele que mostra um instantneo da situao de
sade de um grupo ou da comunidade, com base na avaliao individual do estado
de sade de cada um dos membros do grupo produzindo indicadores globais de
sade para o grupo investigado (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003).
3. 2 LOCAL DO ESTUDO
O estudo teve como campo de pesquisa dois Hospitais de Ensino, de grande
porte, da cidade de Curitiba-Paran. Os Hospitais de Ensino so instituies
pblicas ou privadas que se integram com rede prpria, contratada ou conveniada
ao SUS, certificados pelo Ministrio da Sade e da Educao. Participam na
formao de estudantes de cursos tcnicos, graduao e ps-graduao e
contribuem com o desenvolvimento cientfico, avaliao tecnolgica e pesquisa
(BRASIL, 2004).
O primeiro hospital de ensino apresenta gesto pblica federal e atualmente
possui 540 leitos ativos, distribudos em 45 especialidades, com aproximadamente
745.200 internaes anuais para tratamento clnico e cirrgico, em mdia 61 mil
internamentos/ms, 1.464 internaes/ms e 837cirurgias/ms.
O segundo hospital de ensino tem como caractersticas ser particular, de
carter filantrpico, sendo 70% do atendimento destinado aos pacientes advindos do
40
Sistema nico de Sade (SUS), com 750 leitos e atende a 41 especialidades
perfazendo 1.445.763 atendimentos por ano com os mesmos tratamentos.
Ambos os hospitais, constituem importantes espaos com o propsito da
ateno sade de alta complexidade, e por intermdio de contrato com a
Secretaria Municipal de Sade de Curitiba, realizam atendimento de referncia e
contra-referncia com as unidades de sade (UBS), e os Centros Municipais de
Urgncias Mdicas (CMUMS).
As unidades de internao escolhidas para a pesquisa foram as que
admitiam pacientes adultos em tratamento clnico ou cirrgico e que concentravam
maior nmero de idosos internados como: Clnica do Aparelho Digestivo,
Cardiologia, Cirurgia Vascular, Clnica de Cirurgia Geral, Ginecologia, Clnica
Mdica, Neurologia, Ortopedia, Oftalmologia e Otorrinolaringologia, Pronto
Atendimento e Urologia.
3.3 POPULAO E AMOSTRA
A populao deste estudo foi composta por idosos de 80 anos ou mais, de
ambos os sexos, admitidos para tratamento clnico ou cirrgico em dois Hospitais de
Ensino da cidade de Curitiba-Paran.
A amostra foi constituda por meio de critrios elaborados de incluso e
excluso e perodo amostral de janeiro a junho de 2011. Em ambos os hospitais
foram abordados 310 idosos longevos e destes 179 no preencheram os critrios de
incluso, sendo que 23 no atingiram os pontos de corte do MEEM, 12 foram re-
internaes e trs no aceitaram participar da pesquisa. A amostra final foi
constituda por 116 idosos de 80 anos ou mais.
Os idosos longevos foram identificados por meio de consulta no sistema de
informtica de internao dos hospitais, medida que internavam nos hospitais.
Eles foram relacionados em uma lista-controle com nome, registro, idade e local de
internao e em seguida abordados, aleatoriamente, e convidados a participar da
entrevista. Aps a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (APNDICE 1) dava-se o incio entrevista com aplicao do MEEM.
41
Para aqueles que no atingiam os pontos de corte do MEEM, a pesquisa foi
encerrada. .
A amostra deste estudo foi constituda pelos idosos que atenderam os
seguintes critrios de incluso:
- ser idoso maior ou igual a 80 anos;
- idosos com pontuao superior ao ponto de corte no Mini-Exame do Estado Mental
(MEEM) (ANEXO 1).
Os critrios de excluso dos idosos do estudo foram:
- ser portador de Doena de Parkinson, Mal de Alzheimer, portador de AVE ou outra
doena fsica ou mental que impea a aplicao dos questionrios;
- apresentar quadro de sade crtico que impossibilite responder s perguntas.
3.4 COLETA DE DADOS
A coleta de dados aconteceu nas primeiras 48 horas de internao e foram
utilizados trs instrumentos: Mini Exame do Estado Mental (MEEM), esse apenas
para screening cognitivo (ANEXO 1); questionrio socioeconmico, demogrfico e
do perfil clnico (APNDICE 2); e Medida de Independncia Funcional (MIF)
(ANEXO 2).
Para o MEEM foi utilizado os pontos de corte segundo a escolaridade
proposta por Bertolucci et al. (1994): 13 pontos para analfabetos, 18 pontos para
escolaridade baixa e mdia e 26 pontos para aqueles com escolaridade alta.
O MEEM foi desenvolvido por Folstein et al. (1975) e compreende 11 itens,
agrupados em 7 domnios: orientao temporal, orientao espacial, memria
imediata e de evocao, clculo, linguagem-nomeao, repetio, compreenso,
escrita e cpia de desenho. A pontuao varia de zero (maior grau de
comprometimento cognitivo) at 30 (melhor capacidade cognitiva).
Os dados da condio socioeconmica e do perfil clnico (APNDICE 2)
foram coletados por meio de questionrio semi-estruturado com perguntas fechadas.
Foram investigadas as seguintes variveis socioeconmicas: idade, gnero, local de
nascimento, estado civil, escolaridade, religio, renda mensal. Quanto ao perfil
clnico, foram pesquisadas as condies de sade, diagnstico prvio, doenas pr-
42
existentes, uso de lcool e cigarro, atividade fsica, uso de medicamentos, condio
visual, auditiva e dentria, atividade fsica e hbitos de lazer.
Foi realizado estudo piloto, com cinco idosos, para verificar a adequao do
contedo do questionrio socioeconmico e clnico e a sequncia proposta para a
coleta de dados. Pequenas alteraes foram realizadas correspondentes aos
aspectos socioeconmicos e s comorbidades.
A capacidade do idoso e o tipo de ajuda necessria para as atividades de
vida diria na realizao de tarefas motoras e cognitivas foram avaliados por meio
da MIF (ANEXO 2). O principal foco da MIF mensurar o grau de solicitao de
cuidados de terceiros de que o paciente necessita para realizao das atividades
cotidianas. possvel tambm avaliar as dificuldades prprias do indivduo e
aquelas relacionadas ao ambiente (RIBERTO et al, 2001).
A MIF um instrumento que compreende o domnio motor e cognitivo/social
sendo composto por 18 itens que avaliam o desempenho do indivduo, distribudos
por domnio motor em subescalas que envolvem 13 atividades: autocuidado-
alimentao, higiene pessoal, banho, vestir-se acima da cintura, vestir-se abaixo da
cintura e uso de vaso sanitrio; controle esfincteriano - controle de urina e controle
de fezes; transferncias - leito, cadeira, cadeira de rodas, vaso sanitrio, chuveiro /
banheira; locomoo locomoo e escadas. O domnio cognitivo e social contm
5 atividades: comunicao- compreenso e expresso e cognitivo social-
interao social, resoluo de problemas e memria (Quadro 1).
43
MIF TOTAL
(18 - 126 pontos)
DOMNIOS DIMENSES CATEGORIAS
MIF MOTOR
(13 - 91 pontos)
Autocuidados
(6 - 42 pontos)
Alimentao
Higiene pessoal
Banho
Vestir-se acima da cintura
Vestir-se abaixo da cintura
Uso do vaso sanitrio
Controle de Esfncteres
(2 - 14 pontos)
Controle de urina
Controle de fezes
Mobilidade
(3 - 21 pontos)
Transferncias leito, cadeira,
cadeira de rodas
Transferncia vaso sanitrio
Transferncia chuveiro/ banheira
Locomoo
(2 - 14 pontos)
Marcha / cadeira de rodas
Escadas
MIF COGNITIVO
(5 - 35 pontos)
Comunicao
(2 - 14 pontos)
Compreenso
Expresso
Cognio Social
(3 - 21 pontos)
Interao social
Resoluo de problemas
Memria
QUADRO 1 - Organizao esquemtica da composio da Medida de Independncia Funcional (MIF)
e suas respectivas pontuaes.
Fonte: Riberto et al. (2001).
Para cada item, a pontuao varia de 1 a 7, sendo dependncia total (1) e
independncia (7). A pontuao mxima de 126 pontos, para independncia
completa e 18 pontos para a pontuao mnima que revela alto grau para
dependncia (RIBERTO et al., 2004). Os nveis de dependncia podem ser assim
classificados como demonstrado no Quadro 2 .
44
NIVEL
DEPENDNCIA FUNCIONAL
PONTUAO
7
6
Independncia Completa
Independncia Modificada
104 - 126 pontos
5
4
Superviso, estmulo ou preparo
Dependncia Mnima (assistncia de at
25%na tarefa)
61 - 103 pontos
3
2
Dependncia Moderada (assistncia de at
50%na tarefa)
Dependncia Mxima (assistncia de at
75%na tarefa)
19 - 60 pontos
1 Dependncia Total (assistncia total) 18 pontos
QUADRO2 - NVEIS DE INDEPENDNCIA FUNCIONAL, COM SUAS RESPECTIVAS
PONTUAES.
FONTE: RIBERTO et al, (2001).
Segundo Riberto et al. (2001), a MIF classifica os pacientes segundo o grau
de dependncia para cada atividade a ser realizada demonstrada no Quadro 2.
45
NIVEL DE
DEPENDNCIA
DESCRIO dos NIVEIS DE DEPENDCIA
INDEPENDNCIA
(SEM AJUDA)
No necessria a ajuda de outra pessoa para realizar as
atividades.
7 INDEPENDNCIA
COMPLETA
Todas as tarefas descritas que constituem a atividade em questo
so realizadas em segurana, sem modificao, sem ajuda tcnica e
em tempo razovel.
6 INDEPENDNCIA
MODIFICADA
A atividade requer uma ajuda tcnica, adaptao, prtese ou rtese,
um tempo de realizao demasiado elevado, ou no pode ser
realizada em condies de segurana suficientes.
DEPENDENTE
(COM AJUDA)
necessria outra pessoa para superviso ou ajuda fsica, sem a
qual, a atividade no pode ser realizada.
5 SUPERVISO ou
PREPARAO
A pessoa s necessita de um controle, ou uma presena, uma
sugesto, ou um encorajamento, sem contato fsico. Ou ainda o
ajudante (a ajuda) arranja ou prepara os objetos necessrios ou
coloca a rtese ou prtese (ajuda tcnica).
4 ASSISTNCIA
MNIMA
O contato puramente ttil, com uma ajuda leve, a pessoa realiza a
maior parte do esforo.
3 ASSISTNCIA
MODERADA
A pessoa requer mais que um contato leve, uma ajuda mais
moderada, realiza um pouco mais da metade do esforo requerido
para a atividade.
DEPENDNCIA
COMPLETA
A pessoa efetua menos da metade do esforo requerido para a
atividade. Uma ajuda mxima ou total requerida, sem a qual a
atividade no pode ser realizada.
2 ASSISTNCIA
MXIMA
A pessoa desenvolve menos da metade do esforo requerido,
necessitando de ajuda ampla ou mxima, mas ainda realiza algum
esforo que ajuda no desempenho da atividade.
1 ASSISTNCIA
TOTAL
A pessoa efetua esforo mnimo, necessitando de ajuda total para
desempenhar as atividades.
QUADRO 2- Medida de Independncia Funcional Descrio dos Nveis de Dependncia
FONTE: BRASIL (2006).
Para aplicao do instrumento da MIF, foram utilizadas as sugestes
propostas pelo manual elaborado por Riberto et al. (2001) e Amaral (2010)
(APNDICE 3).
46
A MIF foi escolhida para ser utilizada neste estudo pela abrangncia dos
aspectos motor, cognitivo e social necessrios para o conhecimento dos idosos, por
sua ampla utilizao em estudos em outros pases e por estar validada no Brasil.
Para a utilizao correta deste instrumento, a mestranda participou do Curso
de Capacitao para o uso da MIF, de 8 horas aula, ministrado pelo Dr. Marcelo
Riberto, realizado nas dependncias do Instituto de Medicina Fsica e Reabilitao
do Hospital das Clnicas da Universidade de So Paulo (ANEXO 3).
3. 5 ANLISE E APRESENTAO DOS DADOS
O banco de dados foi organizado no programa Excel e para as anlises
estatsticas utilizou-se o software Epilnfo (verso 6.01). Os dados digitados foram
submetidos dupla conferncia para garantir a confiabilidade dos resultados.
As variveis independentes do estudo foram: idade, sexo, raa,
escolaridade, estado civil, religio, renda do idoso, arranjo familiar e nmero de
filhos. Dentro do perfil clnico: diagnstico do idoso no momento da internao,
comorbidades, medicamentos utilizados, preventivo para o cncer, quedas,
edentulismo, atividade fsica, atividades sociais e hbitos de vida (tabagismo,
etilismo). A capacidade funcional foi considerada varivel dependente.
Para o tratamento dos dados socioeconmicos e demogrficos (variveis
quantitativas), realizaram-