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01 COLEÇÃO METODOLOGIAS DE GESTÃO PÚBLICA Capacidades Estatais para o Desenvolvimento Uma proposta metodológica para o planejamento e a gestão de governos municipais Sergio Andrade Eduardo José Grin

Capacidades Estatais para o Desenvolvimento

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Uma proposta metodológica para o planejamento e a gestão de governos municipais

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01COLEÇÃOMETODOLOGIAS DE GESTÃOPÚBLICA

Capacidades Estatais para o DesenvolvimentoUma proposta metodológica para o planejamento e a gestão de governos municipais

Sergio AndradeEduardo José Grin

Agenda Pública - 2015

Direção Executiva: Sergio Andrade

Direção de Projetos: Bruno Gomes

Coordenação de Projetos: Wenderson Gasparotto, Cassiele Moraes Chagas, Francisco Mendes e Rubens Souza

Ações Educativas: Lisian Migliorin Lasmar e Walkíria Tercia

Sobre esta publicação

Supervisão editorial: Sergio Andrade e Bruno Gomes

Coordenação editorial: Cícero Nogueira Marra

Edição: Eduardo José Grin

Texto: Eduardo José Grin e Sergio Andrade

Participação: Cícero Nogueira Marra e Cassiele Moraes Chagas

Revisão: Serg Smigg

Projeto gráfico e diagramação: Ricardo Hurmus

Capacidades Estatais para o DesenvolvimentoUma proposta metodológica para o planejamento e a gestão de governos municipais

SOBRE A AGENDA PÚBLICAA Agenda Pública é uma Organização da Sociedade Civil de

Interesse Público (Oscip), sem fins lucrativos, criada por um

grupo de profissionais ligados à universidade e ao setor público,

com o intuito de aprimorar a gestão pública, a governança

democrática e incentivar a participação social.

Defendemos um ideal de governo mais responsivo,

inovador, democrático e eficiente politicamente. Para isso,

trabalhamos pela construção de uma agenda coletiva, pautada

no estabelecimento de parcerias para a formulação e a

implementação de políticas públicas e pelo aperfeiçoamento

das capacidades e do desempenho dos governos locais.

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MissãoContribuir para o aprimoramento da gestão pública e a

ampliação da participação social por meio da construção de

capacidades para que governos e sociedade civil desenvolvam

políticas públicas mais democráticas e eficazes.

PrincípiosOs fundamentos que norteiam nossa atuação baseiam-se

nos Princípios de Istambul, criados a partir do Open Forum for

CSO Development Effectiveness, o qual definiu parâmetros

mundiais de atuação para as Organizações da Sociedade Civil

que trabalham pelo desenvolvimento. São eles:

• Refletir sobre o interesse público e sobre inovações sociais e institucionais

• Respeitar e promover os direitos humanos e a justiça social

• Incorporar a equidade e a igualdade de gênero e ao mesmo tempo promover os direitos das mulheres e das meninas

• Ter foco no empoderamento, na apropriação democrática e na participação de todas as pessoas

• Promover sustentabilidade ambiental

• Praticar a transparência e a prestação de contas

• Estabelecer alianças equitativas e solidárias

• Criar e compartilhar conhecimentos e comprometer-se com a mútua aprendizagem

• Comprometer-se com a conquista de mudanças positivas e sustentáveis

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SUMÁRIOApresentação 7

Introdução 11

1. Situando os termos do debate sobre

os modelos de reforma do Estado 16

2. Governos municipais: empresariamento urbano

ou desenvolvimento local como foco? 28

3. Capacidades estatais como base da gestão governamental 37

4. Contexto das demandas da gestão municipal:

descentralização de políticas nos marcos

do federalismo brasileiro após 1988 46

5. Premissas e bases gerais do modelo de gestão:

política e gestão na ação governamental 55

6. Estrutura, funcionamento e metodologia

do modelo de gestão e planejamento 60

6.1. Sistema de diagnóstico estratégico 63

6.2. Sistema de planejamento governamental 73

6.2.1. Concepção central do sistema de planejamento 73

6.2.2. Sistema de planejamento e mudança

da cultura organizacional 84

6.2.3. A operacionalização do planejamento estratégico 86

SUMÁRIO 6.2.4. Premissas da concepção de

planejamento governamental 95

6.2.5. Sistema de Gestão: sua estrutura

e funcionamento 100

7. Sistema de avaliação do desempenho

governamental e de gestão à vista 120

7.1. Sistema de Indicadores de desempenho 133

7.1.1. Base metodológica do sistema de indicadores 137

7.2. Observatório da gestão para resultados 159

8. Sistemas de informação gerencial (portal de gestão) 166

9. Uma síntese preliminar da metodologia de gestão

e planejamento governamental 174

10. Conclusão 184

Referências bibliográficas 193

APRESENTAÇÃOHá certos lugares comuns que, quando falados, não se tornam

cansativos se a realidade dá razão na sua insistência. A

questão da fragilidade gerencial e administrativa da grande

maioria dos municípios brasileiros é um fato que pode ser visto

dessa forma. Mesmo que as cidades tenham assumido um

novo status político, jurídico e administrativo após 1988, isso

não exime o federalismo brasileiro de continuamente colocar

em foco a forma como foi definida a inserção dos municípios.

A autonomia municipal, nos termos que a Constituição Federal

afirma, não pode ser compreendida como a senha para um

autarquismo que imagina ser cada cidade capaz de responder

a todos os complexos desafios da gestão pública. Tampouco

a descentralização de políticas poderia ser tomada como a

solução para os dilemas da cooperação intergovernamental

entre os três níveis de governo. Entre esses dois extremos,

que enfatizam aspectos essenciais das democracias

federalistas, como são a liberdade de ação de todos os níveis

de governo e a interdependência nas ações de interesse

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comum à nação, ainda há tarefas essenciais que o pais

precisa enfrentar.

Os incentivos da União para ampliar a descentralização

de políticas, associado a ação do Estado para reduzir

desigualdades regionais são inegáveis conquistas do Brasil

depois do final do regime militar. Mas esse processo, da forma

como ocorreu, não foi capaz de enfrentar as demandas de

ampliação de mais capacidade estatal das cidades brasileiras.

Como por aqui descentralização quase se confunde com

municipalização, mais incumbências advindas da União,

apesar dos recursos financeiros que são repassados, pouco

foi acompanhada de avanços na gestão municipal. E esse

é um tema diretamente relacionado ao federalismo, pois

descentralização de politicas requer mais capacidade de

implementação no nível local. Também é esse um desafio para

a constituição de relações intergovernamentais em que a

cooperação busque compreender as dificuldades da maioria

das cidades brasileiras para dar conta de atribuições que foram

e continuam sendo descentralizadas pelo governo federal.

Nesse sentido, a presente publicação se insere nesse contexto

no qual o senso comum acerca das dificuldades gerenciais,

administrativas e técnicas dos municípios brasileiros é cada

dia mais atual. Esse manual apresenta uma abordagem teórica

e metodológica que insere a questão da gestão municipal

como um tema que vai além das visões frágeis da defesa

do autarquismo das cidades, mas também entende que a

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descentralização de políticas resolveu vários problemas,

mas trouxe outros. A modernização na gestão das cidades

e suas capacidades para gerar desenvolvimento local é um

tema de interesse federativo. Assim é, pois se os municípios

conseguem inserir na sua agenda a ênfase continuada em

ampliar suas capacidades estatais, os impactos gerados em

todas as politicas públicas parecem evidentes.

Todavia, as carências gerenciais de grande parte das cidades

é tão grande que há notórias dificuldades de inserir esse tema

no horizonte das ações governamentais. A isso se associa a

baixa eficácia e efetividade dos programas federais voltados

a apoiar a gestão local, de modo que o resultado acaba sendo

a colocação dessa questão como um campo de ação pouco

priorizado, quando não relegado pelos municípios. O documento

ora apresentado busca colaborar para esse debate de duas

formas: apresentando uma discussão, apoiada na literatura,

sobre descentralização, federalismo e capacidades estatais,

e sugerido um roteiro metodológico que possa servir de

referência para as cidades que desejarem inserir na sua pauta

de ações a busca por mais qualidade e eficácia na sua gestão.

Há outro senso comum que diz que as coisas fáceis são

pouco desafiadoras e geram pouca satisfação, mas esse

não se aplica ao caso em questão, pois a gestão das cidades

implica em ambos. Colaborar para o avanço nas capacidades

estatais em promover o desenvolvimento municipal é e

continuará sendo essencial para aprimorar o federalismo

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cooperativo no Brasil e suas relações intergovernamentais

apoiada na descentralização de políticas públicas. Esse é o

debate e contribuir para ele é tanto desafiador quanto fonte de

satisfação para todos, como nós interessados, na melhoria da

gestão municipal no Brasil.

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INTRODUÇÃOParece haver poucas dúvidas de que aumento de capacidade

seja componente essencial para ampliar a capacidade de os

governos atenderem sua missão legal, política, institucional

e democrática junto à sociedade. Essa questão está assim

colocada “dado que reformar a organização estatal somente

tem sentido se contribui para aumentar a capacidade do

Estado” (BRESSER PEREIRA, 2006: 10). Mas as escolhas

por um modelo de gestão pública requer definição inicial de

ordem política e não gerencial: de que Estado se fala? Se essa

pergunta não for preliminarmente respondida, há sempre o

risco de se ver na gestão pública um receituário de caráter

instrumental, desprovido de natureza estratégica e orientado

a melhorias incrementais no interior de padrão político-

administrativo tradicional.

As escolhas de modelos e formas de gestão pública, portanto,

estão diretamente relacionadas à percepção, sobretudo, da

busca por combinar suas capacidades técnicas, políticas,

11

institucionais e administrativas diante das demandas da

sociedade. As escolhas a serem realizadas, desta forma,

possuem componentes técnicos e valorativos, pois inexistem

metodologias universais de respostas para modernizar a

administração pública. Há, em regra, um acordo comum para

adotar como ponto de partida a crítica aos limites do chamado

modelo burocrático - por sua inflexibilidade, centralização

decisória e foco nos procedimentos e não nos resultados da

ação governamental.

Mas se a ampliação da capacidade de gestão pode ser marco

comum nesse debate sobre modernização da administração

pública, não se pode esquecer que a definição de um modelo

de gestão pública parte de visão sobre qual é o papel dos

governos na sociedade. Por exemplo, mecanismos de rendición

de cuentas serão menos prováveis de implantar em modelos

de gestão centralizados que secundarizam processos

participativos. Portanto, não há como pré-definir uma

abordagem universal sobre gestão pública, mas sim um acordo

inicial sobre necessidade de instituir novo formato organizativo

e gerencial que avance para além do chamado modelo

tradicional. Assim, este texto desenvolve concepção de gestão

pública que toma esse pressuposto geral para apresentar

uma metodologia que visa a contribuir especificamente para

qualificar a performance da administração pública municipal.

Nesses termos, a concepção e a metodologia que se

apresentam neste texto afastam-se das concepções

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alinhadas com visões de empresariamento urbano que viam

a necessidade de os municípios alterarem sua organização

considerada ineficiente pelo apego ao modelo burocrático e

centralizado. Descentralização local e autonomia municipal são

vistas, nessa ótica, como estímulos para adoção de políticas

de apoio ao mercado que vê consumidores, mas não cidadãos.

Não à toa, reformas administrativas devem ser apolíticas, pois

os governos são atores que obstruem busca por eficiência

econômica (GRIN, 2008). “A principal hipótese das reformas

da Nova Gestão Pública é que mais mercado, mais gestão e

mais autonomia produzirão mais eficiência, sem ter efeitos

secundários negativos sobre outros valores do setor público,

como o controle político.” (CHRISTENSEN e LAEGREID, 2005: 12)

O que se apresenta neste documento vai na direção oposta à

visão acima, pois o argumento central é que o papel do governo

municipal como indutor do desenvolvimento local e como

produtor de políticas públicas é estratégico para as localidades.

Essa prerrogativa não pode ser substituída pelo mercado.

Governar requer mais que fazer coisas com eficiência, pois

demanda capacidade de governo para incidir na economia e

sociedade buscando dar-lhes direção.

No entanto, as reformas encetadas no setor público sob a

ótica da Nova Gestão Pública geraram enfraquecimento dos

mecanismos gerenciais e de planejamento (PETERS, 2003).

As formas de governança democrática precisam repor a

capacidade de governo,

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[...] pois o envolvimento da sociedade deve vir acompanhado da capacidade para fazer com que o sistema funcione efe-tivamente no que respeita à implementação das decisões para que não se torne em uma forma aberta de alienação, que pode ser um dos problemas emergentes do sistema de-mocrático contemporâneo. (PETERS, 2003: 11)

Daí a importância de desenvolver capacidades de governo

e seus sistemas de gestão. É a partir dessa visão que se

desenvolve sua argumentação e proposta de metodologia de

planejamento e gestão governamental.

Além dessa introdução, este texto está organizado em mais

oito seções. Inicialmente, se apresentam as duas visões

centrais acerca da reforma do Estado que protagonizaram

este debate, sobretudo desde os anos 80 do século passado.

Em seguida, traduz-se este debate para nível municipal e as

duas visões o papel do Poder Público e suas interfaces com o

desenvolvimento local: o empresariamento urbano e o governo

das cidades como indutores e promotores do desenvolvimento

econômico. A terceira parte discute o conceito de capacidade

estatal e sua relevância na gestão governamental, sobretudo

enfatizando as dimensões de natureza técnica e administrativa.

Em função do foco deste texto, as capacidades políticas

(exemplo: articulação com a sociedade) não serão trabalhadas,

mas se assume que estas também são essenciais para

legitimar o planejamento e a gestão governamental.

Em seguida, discute-se o contexto da descentralização

de políticas, eixo básico do federalismo e das relações

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intergovernamentais no Brasil após 1988, buscando indicar a

influência desse processo na gestão de governos municipais.

A quinta parte apresenta algumas premissas consideradas

centrais do modelo de planejamento e gestão governamental.

A seção cinco está voltada para apresentar o desenho

metodológico do modelo de gestão e planejamento. O

primeiro tópico trata da construção do diagnóstico da gestão

municipal, seguido do desenho e forma de implantação do

sistema de planejamento e gerenciamento. A sétima seção

discute implantação da gestão à vista e seu apoio necessário

na construção de indicadores para avaliar desempenho

governamental. A oitava parte trata da implantação de

sistemas de informação gerencial como instrumentos

necessários para ampliar a uniformidade na aplicação do

modelo e qualificar a prestação de contas externa e interna. A

nona seção realiza síntese da discussão prévia para, de forma

integrada, apresentar como a metodologia proposta se organiza

em suas etapas e fases.

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Situando os termos do debate sobre os modelos

de reforma do Estado

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SITUANDO OS TERMOS DO DEBATE SOBRE OS MODELOS DE REFORMA DO ESTADOO debate sobre modernização da gestão pública e reforma do

Estado teve seu turning point mais relevante com a ascensão

do gerencialismo no fim dos anos 70 do século passado. Após

período como referência internacional, esse modelo começou a

perder força já em meados dos anos 80. Esses dois movimentos

principais ficaram conhecidos como reformas de primeira e de

segunda geração, que terão suas premissas centrais apresenta-

das nessa seção, já que influenciaram as distintas visões acerca

da gestão pública em nível municipal.

O gerencialismo tinha por argumento central a busca por

maior eficiência na administração pública, baseada no argumento

da incapacidade de o Estado e suas burocracias atuarem com pa-

drões de produtividade e competividades pertinentes na iniciativa

privada. O mercado passou a ser considerado a forma ideal de alo-

cação de recursos de forma mais eficiente, pois permitiria fazer

mais com menos e gerar economias de escala. Uma consequên-

cia dessa concepção foi comparar o chamado alto custo do Poder

17

Público diante de seus parcos resultados com as vantagens gera-

das na transação privada de bens e serviços. O argumento era que

os contribuintes (não cidadãos portadores de direitos) poderiam

auferir ganhos com a redução do papel do Estado, pagar menos

impostos e ter mais qualidade na oferta de serviços.

A ênfase na eficiência alocativa de recursos para combater

o desperdício gerado pelas instituições públicas transformou-

-se em eixo essencial dessa concepção de reforma do Estado; e

as empresas privadas, o modelo de gestão a servir de referência.

Uma forma de atingir-se esse objetivo seria redução do tamanho

e do poder decisório da burocracia, pois seus interesses corpo-

rativos operariam em detrimento da racionalidade administrativa

e da busca por fazer mais com menos. Outra ação seria privatizar

empresas e órgãos públicos em linha com a visão quanto menor,

melhor. Ambos os processos seriam importantes para reduzir a

ação de atores públicos autointeressados e alheios às deman-

das da sociedade. Em síntese: a redução do papel do Estado

em favor da iniciativa privada seria pautada por ações de cunho

fiscalista, pois, com menos gastos públicos, os consumidores

receberiam mais.

A busca por maior eficiência gerencial e por solução para a cri-

se fiscal, segundo o mainstream dos anos 80, tinha como meta

modificar o que se compreendia ser modelo gerencial dominado

pela burocracia e seu funcionamento, marcado pela centralização

decisória e orientação para manter os meios e não para fins da

administração pública. Esse modelo organizacional se encontraria

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em descompasso com as demandas sociais que exigiriam mais

competência, eficiência, qualidade, serviço e preços adequados,

tal como as empresas já haviam realizado em relação a seus clien-

tes. Mas, no setor público, a rigidez do modelo tradicional seria in-

capaz de reduzir custos sem uma reforma de sua estrutura admi-

nistrativa. De forma geral, o resultado alcançado foi redução das

capacidades técnicas em sentido clássico weberiano e enfraque-

cimento das capacidades regulatórias do Estado.

Para tanto, medidas, como privatização de empresas, redu-

ção do quadro de pessoal, diminuição dos níveis de intervenção na

economia, foco nas atividades centrais e terceirização de atribui-

ções visando reduzir custos e reorganizar a forma de prestação

de serviços, compunham agenda dedicada a garantir incremento

nos níveis de eficiência. A redução do tamanho e dos papéis do

Estado seria o “preço justo” que a sociedade pagaria pela obten-

ção das economias e demais qualidade na oferta de serviços.

Nos termos de Osborne e Gaebler (1998), essa externali-

dade para o setor privado reforçaria a ação do Estado para “en-

sinar a navegar em vez de remar”. Antes de ser executor direto

de atividades, o governo deveria propiciar ambiente institucional

e econômico para facilitar a ação das empresas e assumir seu

papel complementar para atender a demanda pela oferta de ser-

viços públicos. Com efeito, o setor público precisaria modernizar

seu modelo de gestão e incorporar métodos de administração

para torná-lo mais empreendedor e eficiente.

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Sinteticamente, o gerencialismo consistiria em um núcleo

de ideias que enfoca qualidade de gestão, avaliação de desem-

penho, desagregação de burocracias em agências que se rela-

cionam em bases contratuais e/ou monetárias, uso de quasi-

-mercados e terceirização para estimular competição, redução

de custos e estilo de gestão que enfatiza metas, contratos peri-

ódicos e autonomia gerencial (COSTA, 2002). Essas eram as pre-

missas centrais do gerencialismo e sua tradução nas reformas

de primeira geração.

Na década de 80 do século passado, essa vaga mercadoló-

gica na iniciativa privada chegou ao setor público, dando origem

às primeiras experiências de modernização na Inglaterra, Esta-

dos Unidos, Austrália e Nova Zelândia. Essas, por sua vez, se

constituíram em benchmarkings, sobretudo para instituições,

como o Banco Mundial, como padrão para modernizar o Estado

em qualquer contexto nacional. O problema é que a versão glo-

balizada de gerencialismo tende a obscurecer o fato de que as

diferenças são muito maiores do que as semelhanças entre as

reformas implementadas em diferentes países (COSTA, 2002).

Conforme Schick (1998), existem importantes pré-condi-

ções para uma bem-sucedida implementação dessa abordagem

gerencial, difundida sobretudo a partir da experiência neozelan-

desa, que não deveriam ser ignoradas por países que buscam

modernizar sua gestão. Em contraste para a visão alardeada -

que propaga que as deficiências gerenciais deveriam ser forças

motrizes para determinar adequação desse tipo de reforma -, o

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autor argumenta que esses deveriam ser fatores de dissuasão

para avaliar especificidades de cada realidade. Mas, o fato é que

gerencialismo e fiscalismo passaram a ser concebidos em uma

relação de causa e efeito: a adoção das medidas preconizadas

por uma “nova gestão pública” ampliaria a eficiência do Estado

com menos custos fiscais. No entanto, a Nova Gestão Pública

teria um principal problema a resolver para alcançar esse obje-

tivo: a tensão entre seus dois princípios básicos - de um lado,

o fortalecimento dos mecanismos de controle hierárquicos, vol-

tados para a redução de custos e equilíbrio fiscal, e, de outro,

a redução de níveis hierárquicos e fortalecimento da autonomia

gerencial da burocracia (COSTA, 2002).

Portanto, a forma como foi concebida a necessidade

gerar choques de gestão no Estado já vislumbrava sua saída: a

empresa privada como modelo de eficiência na utilização de re-

cursos e qualidade de serviços que entrega mais valor a seus

clientes. Assim, um efeito dessa visão era reduzir os custos do

Poder Público, notadamente impostos e taxas, visando diminuir

o ônus dos produtos que as empresas ofertam a consumidores.

Por outro lado, a maior parte das propostas constantes nos pla-

nos de NGP não representaria, separadamente, inovações em

relação a processos de reforma anteriores. Afinal, avaliação de

desempenho, subcontratação, privatização, utilização de técni-

cas gerenciais privadas na administração pública são práticas

recorrentemente tentadas em todas as ondas reformistas des-

de o início do século passado. A novidade residiria na articula-

ção dessas práticas em torno de um discurso forte, que atinge o

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núcleo dos problemas fiscais e administrativos das burocracias

(COSTA, 2002).

O argumento era que a pressão da competição global re-

queria que empresas pagassem menos impostos, de modo que

governos deveriam fazer a lição de casa reduzindo gastos que

diminuíram encargos para a sociedade. Conforme Osborne e

Gaebler (1998), as taxas e impostos tinham alcançado níveis

que a sociedade achava inaceitáveis e os contribuintes começa-

ram a resistir à cobrança em função do alto custo gerado pelas

instituições públicas se comparado à baixa qualidade e redução

dos serviços oferecidos. Então, por processo de eliminação, a

opção que restava era aumentar qualidade dos serviços com

custo menor e com mais eficiência e produtividade no setor

público (RESENCHTALER e THOMPSON, 1997).

Em resposta aos fracassos dessas políticas, a partir da

segunda metade da década de 90 do século passado, surgiram

as reformas de segunda geração e o setor público passou a ter

seu papel reconsiderado na relação com a sociedade. Não se de-

fendia mais o estado provedor criticado pela visão eficientista,

gerencialista e fiscalista nem tampouco o estado mínimo de-

fendido por essa mesma concepção. O foco era a transição de

Estado apenas prestador de serviços para Estado que faculta,

embora retendo capacidade de exercer poderes substanciais

sobre aspectos da sociedade (PETERS, 2007); governos com

capacidades de planejamento, regulação, gestão, adaptação e

implementação demandadas em grau de qualidade, eficiência

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e eficácia novas para os padrões organizativos anteriormente

praticados.

É nesse contexto de revalorização da esfera estatal que os

temas de qualidade e excelência na gestão pública adquirem

relevância. Para responder às demandas da sociedade sem re-

cair em críticas sobre ineficiência, morosidade, custos eleva-

dos, foco em rotinas administrativas e ausência de medição dos

resultados de suas ações, tal como já ocorreu no período das

reformas de primeira geração, fortaleceu-se o tema da moderni-

zação da gestão pública. As primeiras reformas defendiam enco-

lhimento do Estado sem necessariamente melhorá-lo. A busca

por nova racionalidade organizativa do Estado ficou postergada

para as reformas de segunda geração que passaram a defender

aparato governamental mais eficaz e efetivo em seus resulta-

dos (OZLAK, 1999).

Uma das questões centrais para a nova gestão pública pas-

sou a ser o item desempenho, capacidade de definir metas com

acompanhamento e avaliação (BEHN, 1998), o que era conside-

rado um avanço frente à chamada administração burocrática.

Partindo desse aspecto, um conjunto de outras mudanças para

“reinvenção do governo” apresentou-se como desdobramentos

significativos, buscando maior efetividade do Poder Público,

sobretudo em seu direcionamento estratégico como guia para

planejamento organizacional e descentralização gerencial e ad-

ministrativa. Assim, contra a mão invisível do mercado como pro-

vedor mais equitativo de bens e serviços e padrão de eficiência

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alocativa, a revitalização da esfera estatal e efetividade da ação

pública passaram a ser consideradas por meio da mão visível

dos governos.

A revalorização do Estado demandou, pois, revisão de mo-

delo de gestão e de desafios para modernizar a administração

pública. Menos que reforçar padrões “estadocêntricos”, as re-

formas de segunda geração pautaram-se pelo mote da gestão

por resultados como meio mais eficaz que o viés fiscalista e ge-

rencialista anterior. Nesse contexto organizacional, a estrutura

administrativa deve orientar-se pela redução das linhas de coman-

do para flexibilizar direção, separação entre áreas formuladoras

de políticas centralizadas e unidades executoras descentraliza-

das, flexibilidade organizacional em vez de concepção monolítica

e controle de resultados da implementação em substituição ao

controle rígido de normas (BRESSER PEREIRA, 1998a).

Por certo que essa concepção estava baseada no reforço

da capacidade de gestão e na reiteração da importância das ins-

tituições no processo de desenvolvimento econômico e social.

Portanto, qualidade gerencial passou a ser concebida como va-

riável dependente de atributos de capacidade institucional, so-

bretudo de caráter técnico e administrativo. É nesse contexto

que assume relevância o debate sobre “trazer o Estado de volta”

para que o Poder Público não seja refém do mercado e sua busca

por eficiência alocativa, pois o papel da gestão pública deixou

de ser visto como secundário no processo de desenvolvimento

econômico e social.

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Nesse sentido, a revalorização da esfera estatal repôs a im-

portância da melhoria do desempenho da administração pública

e de seus resultados, dialogando com a necessidade de moder-

nizar a gestão. O objetivo de fortalecer a gestão pública repre-

sentou ruptura com a visão gerencialista e fiscalista que defen-

dia o quanto menor, melhor para os governos em favor de outro

paradigma que argumenta quanto mais efetivo, melhor para as

instituições públicas.

Resultados da gestão pública, portanto, deixaram de ser

considerados apenas pelo viés das economias geradas e da re-

dução de custos e deram lugar à seguinte pergunta chave: “para

quê o Estado?” Antes da busca de eficiência alocativa como

meta de choques de gestão, a efetividade da ação estatal pas-

sou ser referência básica para avaliar o papel dos governos. As-

sim, política, aqui entendida em sentido amplo como definição

das ofertas do Estado para a sociedade, passou a incorporar a

gestão não como obstáculo, mas como aliada central.

Capacidades estatais assumiram espaço teórico e aplica-

do mais propício para ancorarem a modernização da gestão pú-

blica. O debate sobre modernização gerencial do Estado e sua

tradução para o nível dos governos municipais será o tema da

próxima seção. Mas, como lembra Rezende (2005), as reformas

de segunda geração, como seu modelo institucional focado

em delegação e controle como base para reorganizar o Estado,

demandava rever padrões organizacionais da burocracia públi-

ca. As instituições e sua capacidade técnica e administrativa

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passam a ser consideradas essenciais para o êxito da moderni-

zação gerencial e essenciais para lidar com as variáveis comple-

xas de ambientes macroeconômicos incertos.

A reforma do Estado, para o caso brasileiro, sofreu ajustes

que a distinguiram das reformas levadas a efeito por governos

conservadores que tiveram a Inglaterra e os Estados Unidos

como dois dos exemplos mais proeminentes (o melhor Estado

seria o menor Estado).

No Brasil, a reconstrução do Estado buscou redefinir formas

de intervenção no econômico e no social e implantar adminis-

tração pública gerencial, aumentando capacidades financeira

e administrativa do Estado e garantindo melhor intermediação

de interesses e atendimento às demandas sociais (CARVALHO,

1999). As reformas gerenciais foram acompanhadas de novo

paradigma de gestão pública visando bases de ação com mais

efetividade e eficiência para avaliar o desempenho do Estado.

Segundo Rezende (2005), no Brasil, a reforma desencade-

ada em 1995 pelo Ministério da Administração e Reforma do

Estado foi um caso típico de reforma gerencial na qual a admi-

nistração pública foi concebida em novas bases, sob novos mo-

delos de delegação e controle de resultados. Na sua concepção,

o objetivo central seria obter transição da administração pública

burocrática para administração pública gerencial, de modo que

se modificasse o modo em direção da avaliação de resultados.

Para tanto, seria necessário modificar padrões organizacionais

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da administração caracterizados por rigidez burocrática em di-

reção a ampliar autonomia e descentralização de atividades,

seja internamente aos órgãos públicos como também para a so-

ciedade e o mercado. Nesse sentido, aos órgãos de comando,

como Ministérios, caberia menos a tarefa de execução, mas sim

o controle finalístico de resultados a serem avaliados me-diante

instrumentos conhecidos como contratos de gestão. Conceber

novo formato organizacional como menos centralização de-

cisória (delegação e autonomia aos órgãos) e forma de avaliar

resultados (e não controlar meios) eram vistos como centrais.

Em síntese: um novo modelo de gestão pública onde modelos

de responsabilização baseados em normas fossem substituídos

pela avaliação de performance (BRESSER PEREIRA, 1998b).

Segundo Carvalho (1999), supunha-se que a administração

gerencial permitiria prestação de serviços públicos com mais

qualidade e com menores custos, o que seria razão suficiente

para atestar sua superioridade em relação à administração bu-

rocrática tradicional. Ao gerar essa inflexão, o Estado poderia

aproximar-se da sociedade e gerar padrões de ação com mais

accountablility, pois os resultados da avaliação de desempenho

dos órgãos públicos seriam mais transparentes e acessíveis

para população fiscalizar o Poder Público. A seguir, discute-se

como essas duas visões acerca da reforma gerencial do Estado

foram traduzidas para o âmbito das administrações municipais a

partir da segunda metade dos anos 90.

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Governos municipais: empresariamento urbano

ou desenvolvimento local como foco?

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GOVERNOS MUNICIPAIS: EMPRESARIAMENTO URBANO OU DESENVOLVIMENTO LOCAL COMO FOCO?Para a visão do empresariamento urbano, uma questão central

consiste em ampliar eficiência econômica e fortalecer o pa-

pel do Poder Público como estimulador de ambiente propício à

competitividade e planejamento urbano, concebendo a cidade

como espaço que deve ser atrativo para empreendedores pri-

vados. A cidade deveria ser organizada para responder a limites

provenientes de políticas fiscais e macroeconômicas do Estado

Nacional para potencializar sua vocação empreendedora.

Assim, seriam incrementadas as condições de competitivida-

de para atrair investimentos para as localidades. Daí decorre o

que Melo (1996) chamou de hobbesianismo municipal: municí-

pios concorrendo numa guerra de todos contra todos para atrair

investimentos.

Nesses termos, o governo local deveria ser avaliado por sua

capacidade de competição com eficácia econômica e apoiar-se

em empreendimentos privados para alavancar o desenvolvi-

mento municipal. Para tanto, a prioridade deve ser ampliação de

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competitividade e produtividade urbana. Todavia, esse modelo

gera deslocamento da agenda que vê o Estado como provedor

de bens e serviços urbanos construída sobre uma “concepção

universalista em relação aos direitos sociais, redistributiva em

relação à renda e à riqueza produzidas na cidade e democrática

em relação à gestão pública” (SANTOS JÚNIOR, 2001: 34). Tais

modelos produzem práticas de gestão urbana voltadas para tor-

nar as cidades “market-friendly” (CARNEIRO e BRASIL, 2007).

Dessa forma, para Santos Júnior (2001: 35):

[…] o eixo de análise se desloca para a produtividade urbana, e a identificação dos obstáculos, para a inserção competi-tiva das cidades nos circuitos globais. As funções do Poder Público também se deslocam: as da gestão e do planejamen-to da cidade, para a garantia de um meio ambiente favorável aos negócios e ao desenvolvimento econômico; as da provi-são universal de bens e serviços urbanos, para o desenvol-vimento de políticas focalizadas que visem reduzir os níveis crescentes de pobreza, percebida como um dos principais obstáculos a serem enfrentados pelas cidades.

A gestão urbana de cunho empresarial e competitivo apro-

xima-se da formulação de Osborne e Gaebler (1998) do Estado

empresário. O Estado deveria ser gerenciado como empresa que

promove concorrência entre os serviços públicos, compreende

os cidadãos como consumidores e descentraliza o poder segun-

do mecanismos de mercado. “Vender as cidades como mercado-

ria, ou, mais propriamente, a sua imagem, suas características

peculiares e seus atributos como atrativos locacionais constitui

uma das bases da atuação empreendedora dos governos locais,

conformada nos moldes empresariais.” (CARNEIRO e BRASIL,

2007:14).

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Portanto, o planejamento estratégico das cidades orienta-

-se para e pelo mercado, pois as localidades precisam ser orga-

nizadas como empresas e adotar padrões similares de competi-

tividade.

É nessa medida que se fortalece a visão de governo empre-

endedor como resposta aos limites do Poder Público a oferecer

serviços de qualidade à sociedade, descentralizando a provisão

de atividades antes diretamente produzidas para a iniciativa pri-

vada. Por outro lado, o empreendedorismo urbano alia-se à visão

fiscalista e eficientista na oferta de serviços públicos para se

adequar às demandas dos consumidores e contribuintes (não

são cidadãos!) para os governos locais atenderem a sociedade

com menos custos. Por tal razão, nas ações de modernização

institucional e fomento à capacidade administrativa ganha des-

taque a dimensão da eficiência econômica e os processos de

administração financeira com foco para a modernização tributá-

ria, orçamentária e financeira. Essa passa a ser a prioridade para

a organização institucional e administrativa dos municípios.

A descentralização de políticas, concebida como “devolu-

ção estrutural de atribuições de esferas superiores de governo

para os municípios”, deveria vir acompanhada de medidas de efi-

ciência alocativa. Essas medidas, de um lado, serviriam para re-

duzir o escopo da ação das localidades e, de outro lado, amplia-

ria a intervenção privada e abriria espaço para maior eficiência

alocativa de recursos. Ademais, a descentralização seria mais

bem organizada se fosse acompanhada de postura fiscalista

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dos governos locais, alinhada com a equação: novas atribuições

delegadas dos governos nacionais, menos recursos financeiros

recebidos das esferas superiores de governo e mais qualidade

em orientar o gasto para as necessidades da população. Todavia,

essa orientação contribui para despolitizar o Estado e afastá-lo

da sua responsabilidade público-Estatal (IVO, 2002).

A eficiência adquire status de supervalor e parâmetro ge-

ral para orientar as opções das políticas dos governos locais.

A eficiência torna-se valor em si, neutro e imparcial, tal como a

concepção weberiana defendia a técnica e a racionalidade ad-

ministrativa como modelos organizativos avessos à política. So-

bra pouco espaço para política, pois as demandas da população

por serviços públicos de qualidade e de baixo custo impõem-me

como prioridade técnica e administrativa para ações dos gover-

nos (GRIN, 2008).

Ademais, o debate sobre eficiência e eficácia na gestão pú-

blica não pode se restringir à administração da penúria como ob-

jetivo central. Mais do que controle financeiro e econômico, ges-

tão governamental requer análise de aspectos como inovação e

qualidade institucional. Assim, o viés gerado a partir dos progra-

mas de modernização - iniciados na Inglaterra no final da década

de 70 do século passado e popularizados como os 03 Es (Eco-

nomia, Eficiência e Eficácia) – é limitado como perspectiva de

gestão pública. Conforme essa visão, a prioridade dos governos

seria gerar mais economia antes de voltar-se às necessidades

da sociedade (BRUGÉ, 2004). Segundo essa visão gerencialista

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e fiscalista, a eficiência alocativa e a redução de despesas são o

fator de qualidade e excelência administrativa per se.

O interesse público passou a ter critérios financeiros como

dominantes e voltados para ações economicamente eficientes

na redução de custos, ainda que esses critérios sejam pouco

aplicáveis para orientar análise e desenho de ações governa-

mentais. Mas, com vistas a ampliar qualidade e excelência na

gestão pública, é preciso ir além dessa visão fiscalista. Se a

gestão pública ficar subordinada apenas à redução de custos e

eficiência no uso racional dos recursos, deixará pouco espaço

para gerar políticas públicas. Todavia, as instituições públicas

precisam não de menos, mas de mais políticas para atender de-

mandas da sociedade.

Contudo, a visão econômica central pode ter outro enfoque

e estar voltada a melhor uso dos ingressos provenientes dos im-

postos para gerar melhores serviços a custos mais baixos. Esse

deve ser um dos motivos da reforma da gestão pública que res-

ponde de forma mais adequada à questão da eficiência e torna

a ação governamental mais legítima (BRESSER PEREIRA, 2006).

Assim, a resposta ao binômio eficiência-eficácia dialoga com os

vínculos entre definições políticas e capacidades técnico-admi-

nistrativas, pois a formulação de políticas públicas deve consi-

derar duas escolhas valorativas a orientá-las: a) qual a marca de

governo se deseja (p.ex., ênfase em políticas sociais gera mais

demanda e mais recursos); b) quais as prioridades a orientar a

alocação de recursos que combina decisão política e análise

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técnica. Em outras palavras: definir agendas estruturantes além

da questão fiscal em favor de resultados que agreguem oferta

de bens públicos no território.

São essas orientações políticas que materializam o marco

estratégico de governo e, nesse sentido, a gestão e o planeja-

mento governamental são guias centrais para orientar ações em

busca de eficiência alocativa. A concepção sistêmica de gestão,

como será apresentado, permite melhor resposta a esses de-

safios, pois compreensão integrada das instituições públicas

qualifica as condições de análise, formulação, execução e ava-

liação dos objetivos das políticas públicas conforme os limites

e o contexto de recursos disponíveis e restrições existentes.

Esse processo demanda mudanças gerenciais, organizativas e

comportamentais, pois o tecnológico-administrativo afeta ca-

pacidades gerenciais (THIRY-CHERQUES, 1996).

As escolhas para implementar o modelo de gestão e de

planejamento governamental são de natureza político-técnica

(p.ex.: implementar ou não processos de administração partici-

pativa?) e possuem interface com produtividade organizacional.

Assim, a obtenção de níveis superiores de eficiência e eficácia

não são produtos exclusivos de decisões sobre alocação de re-

cursos versus metas/resultados. O modelo de gestão com suas

opções organizativas influi, de um lado, no padrão de relação

entre política e técnica e, de outro lado, no comportamento da

eficiência e eficácia organizacional e na obtenção da produti-

vidade administrativa. Em outras palavras, o debate acerca da

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eficiência, eficácia e produtividade administrativa relacionam-

-se ao tema do gerenciamento e do controle, visando criar sis-

tema organizacional distinto daqueles avessos às formas de

participação coletiva e responsabilização por resultados. Por

isso, as definições sobre alocação de recursos e resultados es-

perados, quando implementadas por meio de fóruns coletivos,

são mais pedagógicas e capazes de convencimento, como será

visto adiante.

A visão exposta neste documento, portanto, não reduz o

desenvolvimento da gestão a questões de eficiência (exemplo:

foco na questões fiscais e alocação “produtiva” de recursos fi-

nanceiros) ou de capacidade instrumental (exemplo: autonomia

local como sinônimo de incremento de receita via arrecadação

de tributos). A concepção de capacidade estatal e autonomia

associada a ela não será vista aqui pela ótica estreita do apri-

moramento técnico e operacional do aparato responsável pelo

gerenciamento fiscal do poder local. Não há como prescindir de

modelo de gestão e de planejamento como requisito essencial

para eficiência e desempenho do setor público.

É nessa linha que se pode compreender o papel indutor e

promotor do desenvolvimento local pautado por cinco grandes

objetivos, segundo Neto e Araújo (2002: 55): “organizar nova

base econômica, ampliar e melhorar a infraestrutura urbana,

melhorar a qualidade de vida na cidade, promover a integração

social e assegurar governabilidade”. Conforme Soares e Gondim

(2002), essas novas atribuições dos municípios incorporam-se

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com mais um papel estratégico que se soma às experiências de

participação popular. A ideia chave é que administrações munici-

pais bem-sucedidas são aquelas que conseguem gerar agenda

de desenvolvimento econômico local, sobretudo com parcerias

com a sociedade (iniciativa privadas, ONGs e associações co-

munitárias, por exemplo). Por certo que essa demanda requer

sentido estratégico de governo e capacidades diretivas do

Estado para com a sociedade (LES GALÈS, 2011); ou, o que quer

dizer mesmo, capacidades estatais de planejamento e gestão

para alinhar o Poder Público a atores sociais.

A questão da gestão urbana decerto precisa ir além da fun-

ção de zeladoria para avançar estrategicamente para temas de

produção e oferta de serviços. A diferença central com a visão

do empresariamento urbano, contudo, reside no controle e dire-

cionamento estratégico que cabe ao Poder Público municipal e

não ao mercado. Conforme Singer (2002), o desafio político com

que se defrontam os governos municipais, no Brasil, é mobilizar

as forças vivas da sociedade para fortalecer a economia urbana.

Essa intenção estratégica pode ser viabilizada pela sinergia en-

tre administrações públicas municipais e cidades vizinhas e en-

tidades de trabalhadores, de empresas, de movimentos sociais,

de universidades etc. Uma concepção de desenvolvimento

com essa intencionalidade ainda mais reforça a importância de

ampliar capacidades estatais dos governos municipais. Tratar

desse tema é o objetivo da próxima seção.

Capacidades estatais como base da gestão

governamental

3

Como conceito polissêmico e sujeito a várias dimensões analíti-

cas, capacidades estatais requerem delimitações mais precisas

e alinhadas ao contexto e às finalidades de suas aplicações teó-

ricas e empíricas. No livro “Capacidades Estatais e Democracia”,

Gomide e Pires (2014: 20) argumentam que tais capacidades

devem ser compreendidas a partir de dois componentes: o téc-

nico-administrativo e o político:

O primeiro deriva do conceito weberiano de burocracia, con-templando as competências dos agentes do Estado para levar a efeito suas políticas, produzindo ações coordenadas e orientadas para a produção de resultados. O segundo, as-sociado à dimensão política, refere-se às habilidades da bu-rocracia do Executivo em expandir os canais de interlocução, negociação com os diversos atores sociais, processando conflitos e prevenindo a captura por interesses específicos.

Essa concepção adquire mais relevância em sociedades de-

mocráticas em que práticas de responsividade e responsabiliza-

ção dos governos são forma de estreitar os vínculos entre Estado

e Sociedade; ademais, de orientar formas de controlar resultados

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CAPACIDADES ESTATAIS COMO BASE DA GESTÃO GOVERNAMENTAL

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da ação governamental. Em países como o Brasil, que após 1988

vem intensificando uma arquitetura política e institucional que

fortalece inserção da sociedade na gestão pública por meio da ex-

pansão e consolidação de conselhos de políticas, conferências,

audiências públicas, por exemplo, mais ainda a ideia e a prática da

accountability materializam-se para os governos.

Como argumentam os autores acima, decerto que, nesse

ambiente, capacidades estatais vão além da condição neces-

sária, mas insuficiente, de uma burocracia profissional e tecni-

camente qualificada. Requer-se também capacidades políticas

de negociação, mediação de conflito, diálogo com a sociedade

e alinhamento aos instrumentos de controle interno. O modelo

analítico proposto por Gomide e Pires (2014) sugere que, tendo

como ponto de partida as orientações governamentais, a buro-

cracia pública (eixo da capacidade técnico-administrativa) deve

ser capaz de lidar com demandas das dimensões políticas ex-

ternas (participação social e representação eleitoral) e internas

(controle). A síntese das duas dimensões indica capacidades

estatais como componente dinâmico para o Poder Público gerar

resultados.

Nessa mesma linha, para Grindle (1996), o conceito de ca-

pacidades estatais possui quatro dimensões: a) capacidade

institucional: o Estado é a autoridade que efetiva as “regras do

jogo” que condicionam a regulação econômica e o comporta-

mento político dos atores; b) capacidade técnica: habilidades

para formular e gerenciar políticas; c) capacidade administrativa:

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administração eficiente e eficaz para executar funções organi-

zacionais para implantar políticas e entregar bens e serviços;

d) capacidade política: canais legítimos para resolver conflitos

e tratar das demandas sociais, que dependem de responsivos

líderes políticos e administradores.

Mas, segundo Kjaer, Hansen e Thomsen (2002: 21), deve-se

reconhecer que há um “conjunto de capacidades que repousam

no núcleo em que qualquer aparato de estado pode ser identifi-

cado”. Para March, Olson e Olsen (1983), deve-se atentar para os

atributos das estruturas, instituições e procedimentos do Esta-

do que gravitam em torno de políticas, visando dotá-lo de recur-

sos para implementar seus objetivos, sobretudo reforçar suas

capacidades burocráticas. Quando Weber (1984) teorizou sobre

a burocracia estatal, enfatizou sua importância em gerar capaci-

dade técnica para o Estado intervir como indutor da vida social,

sobretudo, porque a burocracia funciona com uma racionalidade

administrativa baseada na estabilidade das normas, o que me-

lhora suas condições de incidir no contexto social. Portanto, a

burocracia, por sua estrutura institucional, contribui para refor-

çar as capacidades estatais de intervenção, o que torna seu

desenvolvimento técnico condição necessária à racionalidade

política e organizacional. Por isso, construir e qualificar o apara-

to burocrático são as primeiras tarefas para não limitar a capa-

cidade de ação, além de gerarem um mútuo reforço: fortalecem

as habilidades do Estado como ator corporativo e as condições

para implementar políticas (OLSEN 2005; EVANS, 1995; EVANS

& RUESHMEYER, 2002; GEDDES, 1990; SELZNICK, 1984). Em

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síntese: essas são capacidades estruturantes e estratégicas

para gestão governamental e para que o setor público tenha

condições de agir de forma indutora para desenvolvimento local.

Considerando as questões acima, a prioridade será, nesse

texto, discutir e apresentar metodologia voltada para o eixo das

capacidades técnico-administrativas. Mas essas serão expan-

didas para englobar dirigentes públicos e lideranças políticas

governamentais. Esse é o escopo teórico e conceitual mais am-

plo sobre o qual se desenvolve a metodologia que será proposta

nesse documento.

A segunda questão a justificar essa ênfase e a inclusão de

esses outros atores é orientar o debate para tema relevante na

literatura sobre capacidades estatais, a saber: o quanto ela ser-

ve de suporte para governos ampliarem seu poder de agência ou

autonomia de ação. Essa é consideração importante, sobretudo

em países como o Brasil, em que a descentralização de políticas

públicas, iniciada após 1988, ao mesmo que amplia atribuições

desse ente federativo, também complexificam gestão local que

assume mais atribuições sem a correspondente contrapartida

financeira.

Em termos mais específicos, a literatura sobre capacida-

des estatais aborda como governos fortalecem infraestrutu-

ra institucional para implantar políticas (SCHIMITTER, WAGE-

MAN e OBYDENKOYA, 2005; SIKKINK, 1993; METCALFE, 1996;

DROR, 1999). Isso se chama poder de agência, que decorre do

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fortalecimento dessas capacidades, com consequente amplia-

ção de autonomia dos governos. Claro que essa definição geral

necessita de suporte empírico, pois se relaciona à análise insti-

tucional e à trajetória de configuração política e organizativa em

cada governo municipal.

Para Evans (1995), os aparatos estatais são locais po-

tenciais para agência, pois estruturas mais robustas facilitam

iniciativas dos atores políticos. Na mesma direção, segundo

Skocpol (2002), o Estado pode ser visto como organização por

meio da qual seus dirigentes perseguem metas, conforme dis-

ponibilidade de recursos em relação ao contexto social. Para es-

ses autores, a construção de capacidades institucionais reforça

a possibilidade de ação autônoma do Estado. Mas ampliar poder

de agência requer qualificar aparato burocrático para formular

e implantar objetivos políticos (EVANS & RUESHMEYER, 2002;

SKOCPOL & FINNEGOLD 1982). Isso porque é definição de priori-

dades políticas (planejamento de governo) que determina o foco

das capacidades estatais consideradas relevantes em um con-

texto histórico, social e econômico (WEIR & SKOCPOL, 2002).

A existência de capacidade institucional, entendida como

estruturas organizacionais e burocráticas, amplia a possibilida-

de de agência dos líderes políticos. Também enfatiza necessi-

dade de a análise articular a ação dos atores políticos e estru-

turas organizacionais, política e gestão (MIGDAL, 1998), como

veremos adiante na apresentação do modelo. Em linha com esse

argumento, para Bowman & Kearney (1988), construir essas

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capacidades também refere-se à seleção e ao desenvolvimento

de arranjos institucionais políticos e administrativos. Portanto,

a inexistência de certas capacidades estatais pode constranger

o desenvolvimento de políticas ao reduzir poder de agência dos

governos. Por outro lado, ampliar esse poder pode alterar a ação

do Estado como agente de transformação no contexto social

em que se insere.

Para esses autores, mesmo existindo relações dinâmicas

com a sociedade, o Estado, para implementar suas decisões po-

líticas, deve fundamentar-se em capacidades administrativas

e organizacionais como um staff especializado. Essas capaci-

dades são cruciais no feedback entre Estado e sociedade, pois

um governo que comanda poucos recursos pode ser incapaz de

promulgar políticas (KJAER, HANSEN & THOMSEN 2002). As pre-

ferências dos atores governamentais podem ser constrangidas

pelo jogo político na sociedade, mas construir capacidades es-

tatais é uma condição necessária para viabilizar suas escolhas

(SKOCPOL & FINNEGOLD, 1982). Assim, não só certas capacida-

des administrativas são essenciais para produzir políticas como

as preferências dos atores governamentais podem ser cons-

trangidas se essas forem fracas ou inexistem.

Segundo Bowman & Kearney (1988), o incremento dessas

capacidades está a serviço de melhorar as condições de os go-

vernos responderem às mudanças socioeconômicas ou rearran-

jos de cunho político e institucional, como descentralização de

políticas como base do federalismo brasileiro depois de 1988.

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Nesse sentido, nos municípios, uma das condições causais que

demanda reforçar capacidades de gestão e tomada de decisão

em políticas é como tratar com programas e responsabilidades

políticas resultantes das divisões de competências existentes

nos marcos desse novo formato do federalismo. A combina-

ção entre a crescente descentralização de políticas públicas e

incapacidades administrativas, técnicas e gerenciais dos gover-

nos locais requer construção e melhoramento de capacidades

de gestão.

Contudo, esse processo de reforço institucional precisa

tratar dos porquês de construir e ampliar poder de agência dos

governos. Para Aguillar (2007) e (Evans 1995), o desenvolvi-

mento das capacidades governamentais é condição necessária,

mas insuficiente, para se estabelecer novo processo diretivo da

sociedade e como esta pode cooperar com o Estado. E, se en-

foques de governança buscam ser alternativas de relação com

a sociedade, ainda mais se requer que governos sejam dotados

de capacidades institucionais. Como os efeitos do poder de

agência refletem-se na forma de o Estado relacionar-se com a

sociedade, por isso mesmo demanda fortalecer condições para

implantar políticas. Nos termos de Le Galès (2010), a questão

do poder de agência governamental deve responder não só a

questão quem governa?, mas também às o que se governa? e

como se governa?. Portanto, a reestruturação do Estado e o for-

talecimento de suas capacidades organizacionais e institucio-

nais são suporte necessário a esse poder de agência e amplia-

ção de ações com níveis maiores de autonomia.

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Esse é o tema da próxima seção ao abordar em que contex-

to político e institucional se insere o tema da ampliação das ca-

pacidades estatais municipais.

Contexto das demandas da gestão municipal: descentralização de políticas nos marcos

do federalismo brasileiro após 1988

4

Por certo que desenvolver capacidades estatais e gerenciais

não se apresenta desprovido de intencionalidades e influenciado

por variáveis de ordem política e institucional. Descentralização

de políticas públicas, ampliação dos mecanismos de controle

social em nível e critérios de repasse de recursos financeiros da

esfera federal são três dimensões centrais do rearranjo do fede-

ralismo brasileiro, após 1988, que influíram na gestão municipal.

Conforme Lofrano (2010: 5), o tema políticas de gestão pública

é particularmente relevante, em especial quando se observa a

complexidade dos arranjos institucionais que se sucederam ao

processo de descentralização.

Sob o mote da descentralização encetada no Brasil, con-

feriram-se visibilidade e primazia a governos locais no âmbito

institucional, destacando-se novos papéis que devem neces-

sariamente assumir (CARNEIRO e BRASIL, 2007). Essa situação

deve ser considerada num ambiente onde a esfera local foi for-

talecida pela redemocratização do país com sua reconquista de

47

CONTEXTO DAS DEMANDAS DA GESTÃO MUNICIPAL: DESCENTRALIZAÇÃO DE POLÍTICAS NOS MARCOS DO FEDERALISMO BRASILEIRO APÓS 1988

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autonomia política, mas em contrapartida assumindo encargos

maiores no atendimento das demandas sociais. Mas a contra-

dição da revalorização e retomada de relevância política é que a

visão da maior autonomia municipal e ampliação de atribuições

que se fizeram acompanhar com a descentralização não foi

acompanhada da modernização e ampliação das capacidades

estatais em nível local.

Para Abrucio (2005), Souza (2005) e Kugelmas e Sola

(1999), no Brasil, a descentralização convive com a existên-

cia de municípios com precária estrutura administrativa. O

êxito da descentralização, peça chave para rever o papel das

cidades no interior do federalismo em nosso país, pode ficar

comprometido diante de limitações institucionais e financei-

ras tidas como insuficientes para responder aos encargos as-

sumidos pelo nível local. Esses autores veem na qualidade da

gestão um meio de melhorar a capacidade de os municípios

responderem às atribuições decorrentes da descentralização.

Segundo Abrucio (2005:7), “a coordenação federativa pode

realizar-se, em primeiro lugar, por meio de regras legais que

obriguem os atores a compartilhar decisões e tarefas – defi-

nição de competências no terreno das políticas públicas, por

exemplo”. Mas para implantar esse sistema de atuação co-

ordenada em nível intergovernamental, os municípios reque-

rem capacidade técnica instalada, seja para qualificar relação

com nível federal, seja para formular, executar e avaliar os re-

sultados de programas pactuados ou mesmo de origem local.

Assim, a descentralização implantada no Brasil é um dos fato-

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res que demandam que a agenda dos governos locais insira a

modernização da sua gestão.

Coordenação de atividades descentralizadas e resolução

de problemas comuns entre as esferas de governo deman-

dam novos arranjos institucionais que incidem sobre o pacto

federativo (AFFONSO, 2000; SOUZA, 2002). Em países como o

Brasil, em que a descentralização se baseia em competências

comuns entre as três esferas de governo, relações intergover-

namentais não podem ser compreendidas apenas no âmbito

administrativo, pois dizem respeito a vínculos federativos de or-

dem política. Assim, as capacidades institucionais dos governos

locais incidem e são influenciadas pela dinâmica das relações

intergovernamentais.

Aspectos de natureza técnica e gerencial para implantar po-

líticas públicas, tal como introdução de planejamento, são con-

dições necessárias para qualificar resultados da descentraliza-

ção. Segundo Souza (2005) e Almeida (s/d), a Constituição de

1988, no Brasil, concedeu aos municípios autonomia administra-

tiva considerável para gerir e implementar políticas aprovadas na

esfera federal. Sendo os municípios provedores de serviços so-

ciais, modernização gerencial insere-se na agenda dos governos

locais com peso cada vez maior. Como Farah (2001) argumenta,

pós-1988, a democratização e a descentralização das políticas

públicas criaram, no Brasil, nova relação entre Estado e Socieda-

de que demanda dos governos locais esforços para ampliar legi-

timidade política frente à população. A modernização gerencial

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pode, nesse sentido, cumprir um importante papel para a eficá-

cia das iniciativas adotadas. Por isso, “a redefinição do papel dos

governos locais tem sido acompanhada também por inovações

na gestão administrativa stricto sensu” (FARAH, 2006: 70).

Para Arretche (1999) e Souza (2004), o desenho institucio-

nal das políticas sociais é outra variável decisiva para incentivar

ou constranger a descentralização. Estratégias indutivas do go-

verno federal que visam delegar implementação para outro nível

de governo são exemplo desse processo. Mas, limitações ad-

ministrativas, gerenciais e financeiras dos municípios também

influenciam a decisão de assumir novas responsabilidades. As

estratégias de indução do governo federal para delegar ao nível

local a responsabilidade pela gestão podem compensar obstá-

culos estruturais e institucionais existentes nos municípios.

Porém, capacidade administrativa tem peso determinante para

descentralização, pois define recursos que municípios dispõem

para desempenhar a gestão de políticas públicas (ARRETCHE,

1999). Nesse contexto, a inovação e a modernização da gestão

local podem ajudar governos locais a definirem forma, ritmo e

escopo desejado de responsabilização em relação às políticas

federais descentralizadas.

Melhorar a gestão local depende de decisões políticas e téc-

nicas dos governos municipais, pois estes são, por Constituição,

autônomos política e administrativamente. Claro que iniciativas

federais de apoio à modernização dos governos locais podem

criar ambiente institucional mais favorável ao repasse de novas

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atribuições em condições administrativas mais adequadas. Para

Abrucio (2005), visando a melhorar a coordenação federativa,

o governo federal deveria auxiliar a criação de capacidades ad-

ministrativas nos municípios. A modernização da gestão local,

no contexto da descentralização, demanda que sejam desen-

volvidas capacidades técnicas para que burocracias municipais

também possam interagir com qualidade e eficiência com seus

pares nos governos estadual e federal. A capacidade dos muni-

cípios de formular e implementar políticas, bem com seu nível

de desenvolvimento institucional, tem sido questão central para

avaliar a efetividade da descentralização (WILSON et al, 2008).

Segundo Melo (1996), um dos efeitos perversos da descen-

tralização seria a existência de burocracias locais sem capaci-

dade institucional para prover adequadamente bens e serviços

sociais. Mas, fortalecer capacidade institucional não significa

apenas melhorar performance da burocracia, mas, sobretudo, di-

nâmica interna de gestão governamental para criar nova cultura

gerencial assentada na qualidade técnica e na democratização

dos processos decisórios internos. “A teoria organizacional con-

temporânea também aponta para a emergência de um paradig-

ma pós-burocrático, que enfatiza estruturas horizontalizadas e

cooperativas de governance em lugar de estruturas hierarquiza-

das.” (MELO, 1996: 11)

Assim, para governos subnacionais, sua “capacidade está

sendo significativamente melhorada com os avanços na mo-

dernização da performance da burocracia, incluindo a adoção de

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novas técnicas” (WILSON et al, 2008: 264). Mas essas inova-

ções gerenciais não podem se basear em comandos hierárquicos

e controle tradicional - Souza (2002) -, pois recursos de ordem

política como negociação devem substituir regras da submissão

na relação entre atores governamentais.

Para Farah (2001), com maior proximidade do governo lo-

cal frente às demandas da população ampliam-se as exigên-

cias para responder às necessidades da população em relação

à prestação de serviços sociais. Com a crescente descentrali-

zação de políticas, e por extensão de reponsabilidade em nível

municipal, torna-se condição necessária introduzir práticas de

administração pública que ampliem a eficiência da ação estatal.

Por exemplo, promoção de políticas públicas que superem a se-

torização e a fragmentação institucional por meio de ações co-

ordenadas entres diversos órgãos, cuja ação é segmentada ou

justaposta, o que gera perda de eficiência e de efetividade das

políticas (FARAH, 2001). Mais adiante, ao apresentar o modelo

de planejamento e gestão, voltaremos a este ponto.

Ainda sobre o tema da qualificação da gestão local, Arret-

che (1996) registra que, durante o regime militar, ocorreu forta-

lecimento das capacidades administrativas dos municípios que

foram úteis para a descentralização iniciada após 1988. Porém,

a complexidade do novo cenário de políticas públicas repassa-

das para o nível local requereu salto qualitativo na organização

da gestão municipal. Portanto, inovações em nível local devem

considerar a introdução de novas capacidades institucionais

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e gerenciais como componente necessário para o sucesso da

descentralização das políticas públicas nos marcos do federa-

lismo brasileiro.

Para tanto, “falta de capacitação das unidades subnacionais

para assumir novos encargos...” (AFFONSO, 2000:129) deve es-

tar na ordem do dia dos governos locais. Essa visão é reiterada

por governos locais, pois

[...] dada a inexistência de uma estratégia geral de descen-tralização [...] não existiu uma correspondência necessária entre distribuição de encargos e receitas, fazendo com que alguns estados e municípios não consigam arcar com as no-vas atribuições. (AFFONSO, 2000: 137)

Claro que não se resolve o desequilíbrio entre responsabilida-

des e nível de receita financeira apenas modernizando a gestão

local. Mas, essa situação evidencia os problemas dos municípios

brasileiros, sobretudo pela baixa capacidade técnica e gerencial.

Fica novamente ressaltada a importância que a modernização

institucional tem para se buscar soluções, no nível local, que res-

pondam à inadequação entre encargos assumidos e seus limites

gerenciais e fiscais. Por isso, conforme Afonso & Araújo (2001), a

modernização da gestão local deve inovar e contribuir para apri-

morar o federalismo fiscal brasileiro.

O desenvolvimento gerencial e sua interface com a descen-

tralização também é abordado por Nogueira (1997) enfatizando

que técnicos e gestores de políticas públicas devem adquirir

outra cultura gerencial que promova a gestão cooperativa e a

colaboração institucional. “As prefeituras terão de dominar um

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arsenal técnico-gerencial que não possuem” (NOGUEIRA, 1997:

18). Para o autor, são necessárias novas capacidades gerenciais

e de entendimento da política. Política e gestão devem integrar

novo processo de desenvolvimento institucional dos governos

locais num contexto em que a descentralização das políticas pú-

blicas demanda inovação administrativa diante dos encargos as-

sumidos. O novo paradigma gerencial deve “encarar seriamente o

desafio da qualificação, aprimorar sua capacidade técnico-políti-

ca de conhecer criticamente o mundo, governá-lo e transformá-lo.

[...]” (NOGUEIRA, 1997: 19).

É nesse contexto de descentralização de políticas públicas

que a modernização da gestão local se torna eixo estratégico para

desenvolvimento municipal. Da forma como ocorreu, a descentra-

lização não incorporou a gestão local, mas deixou espaço aberto

para inovações institucionais: um modelo de gestão e de capaci-

dades estatais com bases organizativas mais adequadas ao ce-

nário da descentralização com todas as suas exigências para as

cidades. E, mais importante, inovando localmente a cultura polí-

tico-gerencial ao democratizar os processos decisórios internos,

como se inicia a discutir a seguir com a concepção do modelo de

gestão.

Premissas e bases gerais do modelo de gestão:

política e gestão na ação governamental

5

PREMISSAS E BASES GERAIS DO MODELO DE GESTÃO: POLÍTICA E GESTÃO NA AÇÃO GOVERNAMENTALComo discutido acima, a gestão governamental adquire, além de

importância técnica, status político. Nesse sentido, o modelo de

gestão com suas opções organizativas geram tanto um padrão

de relação entre política e técnica como também para as metas

requeridas de eficiência e eficácia organizacional. A busca da

eficácia gerencial antes de ser valor per se é recurso para finali-

dades políticas da ação governamental que, nessa medida, con-

tribui para sua legitimidade. Para Crozier (1989), a administração

pública pode aproximar a política e a gestão e desenvolver novo

aprendizado institucional desde que enfrente centralmente:

a) a separação entre planejamento (política) e execução

(administração); b) a comunicação entre unidades administrati-

vas com base em método que rompa a tensão entre os “feudos”

internos; e c) a criação de nova fonte de renovação intelectual

nos governos.

Requer-se alterar o padrão organizacional em que as lide-

ranças definam políticas e a burocracia condene processos

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participativos, isola a dimensão política e esteriliza mudança

das práticas gerenciais. Como “a administração é uma máquina

de tomada de decisões” governamental, pede-se modelo de pre-

paração e avaliação de decisões distinto do tipo comando e con-

trole. Deve-se construir ambiente interno de aprendizagem com

relacionamento mais horizontal entre unidades organizacionais

e menos hierarquizado entre política e administração. O siste-

ma de comando deve reduzir a imposição de regras e controles e

fortalecer o desenvolvimento intelectual na solução de proble-

mas (CROZIER, 1983).

A coordenação das políticas e atores no processo decisório

visa substituir cadeias de comando centralizadas em que diri-

gentes tudo preveem e regulamentam. O processo de gestão

demanda afastamento do modelo impessoal, estável, previsível

e normatizado por outro sistema mais personalizado, instável,

imprevisível e aberto às possibilidades das interações político-

-administrativas (CROZIER, 1989). Voltaremos a essa questão

na apresentação do sistema decisório baseado nos fóruns cole-

tivos de gestão participativa.

Nesse sistema decisório, um novo profissional da política

deve integrar-se a núcleos centrais de pensamento do gover-

no para qualificar sua gestão estratégica (DROR, 1999). “Quan-

to mais complexa uma organização, menos pode se contentar

apenas com a aplicação de seu regulamento, mais ela precisa

contar com a cooperação de seu pessoal e mais deve obter

a participação consciente em busca de objetivos comuns”.

(CROZIER, 1983: 86)

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E isso deve estimular sistema de aprendizado que se aproxi-

me a realidade política e gerencial, como são os fóruns coletivos

formados por esses dois níveis de decisão governamental.

Desse modo, a participação contribui para gerar democra-

cia em nível governamental, cooperação na busca de objetivos

comuns e na construção coletiva de decisões. Um aprendizado

cooperativo, estimulador da participação efetiva das pessoas

na formulação política e nas análises técnicas (CROZIET, 1983).

Organizar “células de preparação de decisões” junto às lideran-

ças qualifica a gestão da política e seu embasamento técnico

(CROZIER, 1989). Novas formas de relação entre política e ges-

tão devem aproximar o processo de planejamento, gestão e de-

cisão apoiados em rede de unidades internas que reforce a coo-

peração em vez de vínculos de subordinação (AGUILLAR, 2007).

Sistemas coletivos de participação baseados em diálogo e em

negociação contribuem para democratizar o debate interno, as-

sim como processos de trabalho intersetoriais, e, distintos das

estruturas internas de poder departamentalizado, podem demo-

cratizar decisões sobre políticas públicas (BRUGÉ, 2004).

A instalação e o funcionamento de comitês gestores e te-

máticos, que será apresentado mais adiante, é exemplo des-

sa concepção que contribuiu para legitimar esses espaços

internos de poder decisório no planejamento governamental.

Tais mudanças institucionais servem para democratizar e des-

centralizar a gestão buscando horizontalizar processos deci-

sórios. Com isso, pode-se caminhar para substituir um modelo

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organizacional com normas centralizadas por outro sustentado

em mais accountability administrativa (GARNIER, 2004).

Cabe aos governos, além de dirigir e executar, também pla-

nejar e avaliar para recuperar as dimensões temporais de futuro

e passado quase inexistentes na prática burocrática (OZSLAK,

1999). Dessa forma, um modelo de gestão e planejamento es-

tratégico deve: a) ser marco conceitual de gestão organizacional

em que o fator resultado aplicado a todo o processo de gestão

seja referência chave; b) ser marco de aquisição de responsabili-

dade gerencial através da vinculação dos dirigentes aos resulta-

dos obtidos; c) ser marco de referência que integre os distintos

componentes do processo de gestão para otimizar seu funcio-

namento; e d) ser marco para nova cultura organizativa, diretiva e

de gestão por meio da qual enfatizem resultados e as atividades

meios e procedimentos (CLAD, 2007: 13). Em síntese: o sonho

do bom governo requer planejamento como uma carta de nave-

gação e com políticas explícitas avaliadas pelo modelo de ges-

tão e transparência nos resultados obtidos.

No próximo capítulo, será apresentada a estrutura e o fun-

cionamento do modelo de gestão e planejamento, tomando por

referência a discussão até aqui realizada.

Estrutura, funcionamento e metodologia do modelo de gestão e planejamento

6

ESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E METODOLOGIA DO MODELO DE GESTÃO E PLANEJAMENTOEsta parte do texto desenvolve duas atividades correlatas e

sequencialmente alinhadas, além de coerentes em suas premis-

sas: diagnóstico estratégico (leitura da realidade) e sistema de

planejamento e gestão estratégica municipal (mudança da rea-

lidade). Frente a um cenário que cobra modernização da gestão

pública municipal, existem diversos desafios a serem respondi-

dos. Para facilitar organização de variáveis, elas serão divididas

em cinco grupos que servem de referência teórica para o mode-

lo de gestão e de planejamento que será apresentado. Ademais,

tanto para apoiar diagnóstico como implantação do modelo de

planejamento e gestão, há outras fontes, como pesquisas de

opinião sobre o governo municipal e relatórios e estudos que

auxiliam a compreender a realidade local. Dentre esses, pode-

-se citar: a pesquisa Munic-IBGE, Pesquisa Nacional de Amostra

Domiciliar (PNAD-IBGE), IBGE Cidades (www.cidades.ibge.br),

Censo Demográfico, IPEA Data (www.ipeadata.gov.br), Secre-

taria do Tesouro Nacional pesquisando a base de dados Fibra

(http://www.tesouro.fazenda.gov.br/contas-anuais) e Índice de

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Desenvolvimento Municipal (IDH-M) desenvolvido pelo PNUD,

IPEA, Fundação João Pinheiro e Índice Firjan de Desenvolvimento

Municipal (IFDM). Afora esses, há outras fontes de informação

mais gerais, como os indicadores propostos pelos Objetivos do

Milênio (ODM)1, referência que ajuda a contextualizar desafios re-

lativos ao desenvolvimento em sentido mais amplo, socioambien-

tal e econômico. Pode-se consultar também o MunicípioOnLine, o

portal do município brasileiro (www.municipionline.com.br).

Importante lembrar que os Ministérios possuem informações

e publicações setoriais que podem ser úteis para o diagnóstico

municipal. Nessa linha, as informações disponíveis no site Agenda

de Compromissos dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio

(www.agendacompromissosodm.planejamento.gov.br), organiza-

do pelo Governo Federal, são outra referência essencial para au-

xiliar na análise da realidade municipal. Fonte relevante também

são as associações municipalistas, as quais possuem estudos

em várias áreas relativas à gestão municipal: Associação Bra-

sileira de Municípios (www.abm.org.br); Confederação Nacional

de Municípios (www.cnm.org.br) e Frente Nacional de Prefeitos

(www.fnp.org.br). No caso dessa última, a publicação anual Multi

Cidades – Finanças dos Municípios do Brasil é outra referência.

Ainda existem outras bases de dados que auxiliam nessa con-

textualização, como são os sites da Fundação Brava e o portal

Meu Município (www.meumunicipio.org.br) ou o Instituto Pólis

(www.polis.org.br). Ainda pode ser pesquisado o Banco de

1.A partir de setembro de 2015, a Assembleia Geral da ONU, definem os Objetivos de Desenvolvi-

mento Sustentável (ODS), os quais traduzem a nova agenda de desenvolvimento global até 2030.

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Experiências Inovadoras do Gestão Pública e Cidadania

(http://ceapg.fgv.br/node/11344) da Fundação Getulio Vargas de

São Paulo.

6.1. Sistema de diagnóstico estratégicoO diagnóstico organizacional visa conhecer variáveis que carac-

terizam instituições públicas e seu estágio de desenvolvimento.

Nesse sentido, a prioridade reside em identificar, sobretudo, as

forças e fraquezas organizacionais, pois conhecer o grau de go-

vernabilidade sobre causas controláveis é mais importante que

a análise das oportunidades e ameaças em que a possibilidade

de incidência é menor ou mediada por fatores não controláveis.

A complexidade das organizações públicas requer instru-

mentos de leitura e compreensão de realidade que qualifique

o processo de modernização da gestão de forma sistêmica. A

abordagem dos “7S” proposta por Peters e Waterman (1984)

apresenta modelo que permite análise integrada dos fatores

centrais para analisar a realidade organizacional. O diagnóstico

da situação e da análise estratégica considera sete parâmetros

e sua interação, conforme descrição em inglês (shared vision,

strategy, style, systems, structure, staff e skills), que podem

ser compreendidos como segue:

1. Visão compartailhada (shared vision): busca conhecer

valores, marcas e objetivos estratégicos que funcionem como

catalizadores organizacionais que criam grandes referências de

ação coletiva baseadas no interesse público

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2. Estratégia (strategy): busca conhecer como se constrói

a metodologia de planejamento em todos os níveis organizacio-

nais, buscando materializar a visão estratégica, fazendo refe-

rência ao ponto de partida identificado no diagnóstico e a forma

como se pretende alterar a situação para o futuro, fins objetiva-

mente estruturados em metas

3. Estilo (style): busca analisar a forma como a cultura orga-

nizacional se constitui para torná-la coerente com a visão com-

partilhada, bem como as dimensões técnico-políticas do modelo

de gestão governamental, além de sua coerência com visão e

estratégia

4. Sistema (system): busca conhecer os sistemas adminis-

trativos e organizacionais transversais, como pessoal, orçamen-

tário, gestão, avaliação de desempenho e compras, cujas carac-

terísticas incidem sobre o funcionamento dos órgãos

5. Estrutura (structure): refere-se a organograma, hierarquia

organizacional e avanços na integração horizontal, a estrutura

de cargos, mecanismos de coordenação e graus de autonomia

das unidades internas

6. Pessoal (staff e skills): busca conhecer como se organiza

a estrutura de pessoal com seus planos de carreira e organiza-

ção do serviço civil, bem como as habilidades organizacionais e

as técnicas existentes para identificar os gaps de qualificação

necessárias para dar consequência ao planejamento e apoiar a

implantação do modelo de gestão

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A figura abaixo apresenta, de forma esquemática, as sete di-

mensões centrais do diagnóstico estratégico da administração

municipal.

Fonte: baseado em Peters e Waterman (1984)

FIGURA 1: MODELO DE ANÁLISE ORGANIZACIONAL SISTÊMICA

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Cada um desses “S” serve de guia para direcionar diagnósti-

co situacional e, portanto, não se trata de construir formulários

pré-definidos como instrumento universal. A finalidade central

da análise organizacional reside em orientar o sistema de pla-

nejamento governamental com base em dados e fatos e na ve-

rificação da realidade para que a implementação do modelo de

gestão e planejamento não desconsidere particularidades que

permitam adequar melhor o plano de trabalho. A gestão governa-

mental deve ser síntese entre as vontades políticas manifestas

nos programas de governo. Assim, a equação entre capacidades

institucionais instaladas e as demandadas pelo planejamento

estratégico deve ser identificada para modelagem da moderni-

zação da administração municipal.

Para os fins desse texto, serão desenvolvidas em maior

profundidade os “S” estratégia, visão e estilo, pois dizem respei-

to ao planejamento estratégico e à gestão governamental. Os

demais são relevantes para compreender de forma sistêmica o

desenvolvimento das capacidades técnico-administrativas nos

municípios, mas estão fora do foco desse documento. Ademais,

os “S” de estrutura, habilidades, sistemas e pessoal precisam

ser compreendidos não em si mesmo, mas como decorrências

das definições estratégicas derivadas do planejamento e do

modelo de gestão.

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Fonte: Elaborado pelo autor.

FIGURA 2: DESAFIOS SISTÊMICOS PARA MODELO DE GESTÃO E PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL

MODELO DE GESTÃO NÃO ATENDE ÀS NECESSIDADES ESTRATÉGICAS DO GOVERNO

NECESSIDADE DE REDESENHO ESTRUTURAL E ADMINISTRATIVO

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E SETORIAL INSUFICIENTE OU INEXISTENTE

ESTRUTURA DE DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL E DE RECURSOS HUMANO DEFICIENTES

SISTEMAS DE GESTÃO POUCO AMIGÁVEIS E COM BAIXA UTILIZAÇÃO

PROCESSOS DE TRABALHO FOCADOS NAS ROTINAS E POUCO ORIENTADOS PELAS DEFINIÇÕES ESTRATÉGICAS DO GOVERNO

CONSEQUÊNCIA CENTRAL:

MODELO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO INSUFICIENTE

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A realização de análises situacionais possui importância

significativa na alteração de práticas administrativas e geren-

ciais nas organizações públicas, pois produz leitura sistêmica

e global das instituições, distintamente das abordagens tradi-

cionais segmentadas por enfoque (análise específica de um as-

pecto como estrutura ou pessoal, por exemplo) ou por unidade

organizacional (análise departamentalizada). O plano de trabalho

decorrente dessa compreensão da complexidade organizacio-

nal, multidisciplinar e intersetorial é superior aos modelos de

desenvolvimento institucional e unidisciplinares e qualifica a

implementação do modelo de gestão e planejamento. Ademais,

introduzir o interesse público contribui para ampliar análises

autocentradas apenas na gestão e de ponto de partida do diag-

nóstico para conhecer os stakeholders, suas necessidades e

demandas. De forma resumida, o objetivo do diagnóstico é ana-

lisar o governo municipal para indicar ações que possam superar

dilemas gerencias e organizacionais, bem como suas conexões,

apresentadas no quadro acima. Assim, detalhar cada “S” situa

sua relevância para a análise sistêmica da realidade organiza-

cional e para o desenvolvimento de capacidades gerenciais e de

planejamento.

1. Visão compartilhada e estratégia de ação

a) Reduzir problemas de implantação do planejamento es-

tratégico para que não se transforme em documento formal que

acaba se incorporando na rotina administrativa

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b) Transformar planos estratégicos em estruturas flexíveis,

mas direcionadas por objetivos governamentais, qualifica o pro-

cesso de adaptação e implementação em cenários externos e

internos de contínua mudança econômica e política

c) Construir estratégias calcadas em duas premissas: (1)

identificação de objetivos centrais baseados em competências

atuais e potenciais (2) serve para as organizações públicas se

manterem competindo consigo mesmas para melhoria contínua

(RESCHENTALER e THOMPSON, 1996)

d) Definir visão comum de objetivos governamentais e

construída coletivamente com a alta direção política e geren-

cial como meio de motivar no geral sua implementação, gerando

compromissos pactuados no âmbito total da administração

e) Desenvolver a direção estratégica amparada em uma

reflexão que conecte o âmbito organizativo, e as técnicas que

este utiliza, com a missão e os objetivos da administração (RA-

MIÓ MATAS, 2001: 113)

2. Estrutura organizacional

a) Desenvolver esforços para abordar problemas de forma

interdepartamental, com grupos de trabalho que possam ana-

lisar a realidade de forma sistêmica e integrada, considerando

que complexidade do diagnóstico é maior do que estrutura de-

partamentalizada das organizações

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b) Integrar a organização de modo a combinar descentrali-

zação de competências com alinhamento estratégico; em sín-

tese: diferenciação e integração. A complexidade organizacional

demanda diferenciação temática e o risco de departamenta-

lização (segmentação), sistemas de integração, visando obter

coerência da ação governamental. A descentralização de atribui-

ções e o risco de segmentação respondem-se com alinhamen-

to organizacional e dos quadros diretivos ao plano de governo

(CLAD, 2007)

c) Combinar, como decorrência do anterior, necessidade da

manter um modelo organizacional baseado na importância do

conhecimento especializado com criação de estruturas de ge-

renciamento horizontalizado e interprocessual

d) Garantir gradualmente que todas as unidades organizati-

vas se envolvam na implementação do modelo de gestão para

evitar que este chegue ao menor nível hierárquico deslegitimado

e seja visto como mais uma prática burocrática “a tomar tempo à

toa” (ALBAVERA, 2003)

3. Estilo gerencial

a) Organizar um modelo decisório de bases coletivas em

oposição à lógica de comando e controle centralizado, e que fa-

voreça descentralização organizativa para retroalimentar plane-

jamento e gestão municipal

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d) Instituir cultura de delegação de responsabilidade focada

na avaliação de resultados do planejamento estratégico

d) Gerar compromisso da alta direção política com desenho

de um modelo de gestão organizado por meio de fóruns coleti-

vos que aproximem política e administração

e) Criar ambiente em que a ênfase na transparência e na

prestação de contas não seja vista com receio e sim como es-

tímulo pedagógico para processos de melhoria de desempenho

com suporte de indicadores

4. Sistemas de gestão

a) Equacionar a dicotomia estrutura departamentalizada vs.

visão organizacional sistêmica, pois, enquanto questões polí-

ticas tendem a ser problemas “sistêmicos”, políticas públicas

costumam ser tratadas por abordagens departamentalizadas e

setoriais (RESCHENTALER e THOMPSON, 1996)

b) Desestimular o jogo Soma Zero entre órgãos, que desen-

coraja cooperação e que, ao estimular competição interna, isola

unidades de seu próprio sistema de gestão. Romper com a visão

fragmentada de que cada departamento acredita ter seus pró-

prios stakeholders externos que acentua essa compartimentali-

zação gerencial (RESCHENTALER e THOMPSON, 1996)

c) Implementar um sistema de trabalho que conviva

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dialeticamente com estabilidade das normas internas e das

rotinas administrativas e ambiente externo cambiante face às

demandas de serviços como eixo regulador da relação entre ci-

dadãos e governos

d) Organizar procedimentos de gestão que instituam re-

visões e avaliações sobre o desempenho organizacional como

forma de reduzir níveis de ineficácia e ineficiência

e) Desenvolver sistemas de informação com função de mo-

nitorar o ambiente organizacional, qualificar a avaliação de de-

sempenho para subsidiar tomada de decisão da direção política

e gerencial e demais níveis de governo (OZSLAK, 1999)

5. Habilidades organizacionais e desenvolvimento de

pessoas

a) Estimular capacidade de criatividade para superar a rotina

burocrática e implantar processos educacionais orientados pelo

planejamento estratégico e pelo modelo de gestão

b) Assessorar desenvolvimento de cultura de gestão públi-

ca orientada a promover qualificação profissional como suporte

das capacidades técnico-administrativas

c) Estruturar modelo de aprendizagem contínua que desen-

volva qualificações gerais e específicas, gere conhecimentos e

amplie condições de aplicação em todos os órgãos - no sentido

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das “organizações que aprendem” proposto por Senge (1998)

d) Fixar referências éticas, normativas e conteúdos teóricos

para repensar o papel do Estado e as exigências de capacitação

da direção política e gerencial, além dos servidores públicos

6.2. Sistema de planejamento governamental O sistema de planejamento governamental deve ser a mediação

da vontade política com a realidade diagnosticada por meio da

análise das variáveis organizacionais conforme o modelo dos 7S

e a análise dos indicadores locais analisados com base nas fon-

tes secundárias da pesquisa. A premissa política central é que

governo decida onde deseja chegar ao fim do período de gestão,

pois isso confere sentido e direção estratégica para a ação. A

seguir, apresenta-se estrutura de planejamento estratégico e

de modelo de gestão baseado em PMV (2005) e Grin (2008), ini-

ciando com sua visão esquemática na figura abaixo.

6.2.1. Concepção central do sistema de planejamento

1. Marca de governo é referência estratégica que orienta

a construção de posicionamento visando concretizar uma ima-

gem (visão de futuro) perante a sociedade como decorrência

da implementação do programa de governo (ou planejamento

estratégico). Uma marca materializa símbolos que permitem à

população reconhecer resultado governamental durante e após

o término da gestão. Forma-se por convencimento ou das ações

de comunicação institucional e da formação de opinião pública

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favorável ao posicionamento escolhido pela administração. A

definição de marcas exige priorização de eixos gerais de atua-

ção que servem para orientar planejamento e gestão governa-

mental.

A construção de marcas de governo ocupa lugar de desta-

que na matriz metodológica, pois: a) em relação à sociedade,

visa tornar reconhecida a imagem do governo através de em-

preendimentos políticos e técnicos que buscarão viabilizá-la

como prioridade; b) em relação ao governo, cumprem função

de orientar seleção e hierarquização das prioridades, gerando

foco, coerência e consistência na estruturação do planejamento

estratégico

Fonte: elaborada pelo autor com base em PMV (2005) e Grin (2008).

FIGURA 3: DIMENSÕES CENTRAIS DO MODELO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO GOVERNAMENTAL

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Valores

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Estrutura do Planejamento Estratégico

Indicadores

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EixoEstratégico

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Atividade

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2. Valores são princípios éticos e orientadores da conduta

da alta direção política e do conjunto da administração pública.

Servem de referência a toda tomada de decisão e orientam pos-

turas e atitudes dos gestores e profissionais ao criar linha de

conduta unificada de atuação coerente com visão política e pro-

gramática do governo. Por exemplo: transparência, valorização

da democracia, defesa dos direitos e promoção da justiça social

3. Eixos estratégicos são guias de ações governamentais e

de seus objetivos político-programáticos. São opções estratégi-

cas definidas para gerar foco na atuação, identificar e/ou priori-

zar stakeholders e orientar análise e elaboração dos programas

prioritários de governo. Esses guias estratégicos são definidos

pela alta direção política do governo e validados coletivamente

com o nível gerencial. Servem para gerar compromisso técnico e

político pactuado em torno das marcas e principais objetivos e

para direcionar avaliação de performance focada nas prioridades

de ação. Esse mesmo processo implementa-se em cada órgão

para construção do planejamento setorial. Segue abaixo exem-

plo de eixo estratégico. A ênfase em vincular desenvolvimento

com inclusão social é forma de ir além da visão gerencialista e

fiscalista ao buscar alinhar benefícios da economia local para

parcelas mais amplas de cidadãos.

Quadro 1: Exemplo de eixo estratégico de governo

Desenvolvimento sustentável com inclusão social

Esse é governo comprometido com construção de uma sociedade sem excluídos, justa e democrática para que a maioria da população possa se beneficiar das melhorias advindas do desenvolvimento econômico e social. Nosso governo coloca em primeiro lugar as pessoas como prioridade de sua ação política e social, ampliando e qualificando atendimentos de saúde, educação e trabalhando para melhorar indicadores sociais e de qualidade de vida. Nosso governo constituirá um projeto de cidade em que a prioridade do desenvolvimento econômico também será sustentada na preocupação com preservação ambiental. Olhar para o futuro, compreendendo que cuidar da cidade e pensar seu desenvolvimento econômico devem estar subordinados ao cuidado com as pessoas e o espaço urbano onde organizam suas vidas.

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Dessa forma, é constituída árvore de planejamento em toda

a hierarquia governamental orientada por três questões: a) os ob-

jetivos estratégicos são os mesmos para todas as instituições;

b) o planejamento dos órgãos deve responder com prioridade às

demandas de governo e preserva espaço para a especificidade

Fonte: elaborado pelo autor com base em PMV (2005).

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de sua área de atuação; c) a metodologia de planejamento é a

mesma para todas as estruturas visando uniformizar o processo

de construção da estratégia de governo e das áreas. Em resu-

mo, os fins (eixos e prioridades) são os mesmos e organizados

com um só meio (método), de modo que a visão de governo se

coloca como guia orientadora do planejamento das instituições

públicas

O sonho do “bom governo” tem na valorização do planeja-

mento estratégico (governamental e setorial), com a fixação

de objetivos e metas factíveis voltadas para objetivos e resul-

tados, um dos eixos centrais que, juntamente com organização

gerencial e controle, constituem as medulas da capacidade téc-

nico-administrativa (ALBAVERA, 2003)

4. Programas são ações com metas definidas coordenadas

por unidades executoras que buscam propor solução a um pro-

blema ou atender a uma necessidade da sociedade. Para tanto,

compreendem um conjunto de ações capazes de concretizar

um objetivo comum voltado para um público-alvo. Seus objeti-

vos são expressos em resultados mensurados por indicadores

que avaliam sua performance. Os eixos estratégicos de gover-

no, seu desdobramento no planejamento setorial dos órgãos

e nos programas prioritários constituem marco estratégico da

ação governamental. Definição clara dos problemas a solucio-

nar, objetivos e metas quantificadas, metodologia de implanta-

ção, cronograma, responsabilidade definidas e orçamento dis-

ponível indicam que o fundamental não radica no planejamento

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estratégico e sim no nível da gestão estratégica orientada pe-

los eixos prioritários de governo. A articulação entre plano es-

tratégico e setorial é chave para potencializar a eficiência das

unidades internas de gestão e constitui o centro nevrálgico da

gestão governamental (ALBAVERA, 2003). Mas não se deve per-

der de vista que política é elemento orientador de planejamento

de todos os órgãos e não apenas predomínio da técnica, pois go-

vernos são eleitos para pôr em prática sua plataforma aprovada

pela sociedade.

É nesse nível tático de elaboração de programas que a aná-

lise dos recursos é importante para formulação do orçamento

público e para direcionar a base objetiva de avaliação dos re-

sultados da ação governamental. Essa forma de organização

de orçamento público permite que se combine verificação da

alocação de recursos e análise de desempenho com base nas

marcas e eixos estratégicos do governo e seus desdobramen-

tos em cada órgão. Dito de outra forma, cada unidade recebe

uma delegação de responsabilidades como parte que lhe cabe

na estratégia de governo à qual se agrega seu planejamento e

orçamento específico.

Para implementar programas e ações, cada órgão recebe

dotação orçamentária que corresponde a uma equação técni-

co-política entre demanda por recursos e disponibilidade efetiva

para atingir as metas pactuadas. A avaliação comparada entre

metas e desempenho obtido será orientadora de análises para o

orçamento do exercício seguinte. A verificação da performance

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deve ser realizada com base no sistema de medição de desem-

penho que será apresentado mais adiante. Abaixo, apresenta-se

o quadro 2 que mostra como se elaboram relações entre marcas

de governo, programas integrados e ações setoriais vinculadas.

5. Indicadores de desempenho para avaliar performance de

planejamento estratégico e de hierarquia a ser estabelecida para

analisar níveis complementares: eixos (estratégico), programas

(tático) e ações (operativo). A avaliação e seus indicadores de-

vem ir além de considerá-las como modesto aporte adicional ao

melhoramento da produtividade para percebê-los como aspecto

integral do planejamento estratégico, pois podem ser utilizados

para cotejar metas e avaliar progressos em vista dos objetivos

planejados (CAIDEN e CAIDEN, 1998)

A modelagem para elaboração do planejamento e orientada

pelas cinco variáveis estratégicas (marca, valores, eixos, progra-

mas e indicadores) baseia-se no reforço do trabalho coletivo em

grupos setoriais e intersetoriais vinculados à estrutura formal

da hierarquia organizacional (no item seguinte, trata-se dessa

questão). A direção política e gerencial precisa ser capacitada a

utilizar metodologia e instrumentos do planejamento estratégi-

co que devem ser os mesmos para todo o governo visando for-

talecer bases de cultura de gestão com as mesmas premissas.

Dessa forma, evita-se a separação que geralmente ocorre entre

visão estratégica e seu desdobramento operacional nos órgãos

e programas de governo.

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A sinergia entre níveis estratégico e operativo reforça-se

também com: a) adoção de modelo padronizado de planejamen-

to que qualifica descentralização, delegação e autonomia para

gerenciar em cada órgão (FIGUEROA, 2008); b) repasse inicial de

metas para cada órgão desdobrar em seu plano setorial visando

pactuação e validação posterior; c) delimitação de responsabili-

dades no âmbito dos níveis hierárquicos e organizacionais; e d)

melhor comunicação com a definição de metas e metodologias

comuns a todos os órgãos para elaborar seus planos setoriais

alinhados aos objetivos estratégicos de governo.

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Fonte: elaborado pelo autor.

QUADRO 2: MATRIZ DE RELACIONAMENTO ENTRE MARCAS DO GOVERNO E PROGRAMAS ESTRATÉGICOS

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Tema: POLÍTICAS SOCIAIS

Enunciado Marca:

ESTE GOVERNO CUIDA DAS PESSOAS EXCLUÍDAS

Descrição:Este governo cuida das pessoas e promove a cidadania

com políticas públicas integradas nos territórios da cidade para ampliar oportunidades de inclusão social.

Eixo estratégico DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COM INCLUSÃO SOCIAL

PROGRAMAS E AÇÕES RELACIONADOS

Programa Ação Órgão Responsável

Escola Aberta 1Projeto Sócio-Cultural-Educativo

na Escola Aberta. Secretaria de Educação

Inclusão Digital

2 Abertura dos Laboratórios de Informática.

3 Implantação de Telecentros RegionaisSecretaria de

Trabalho

Juventude Ativa

4 Centros de Referência da Juventude.Secretaria de

Assistência Social5 Núcleos Afros da Juventude.

6 Projeto Trabalho AtivoSecretaria de

Educação7 Programa Nacional de Inclusão de Jovens.

Moradia 8Construção de Unidades Habitacionais

para famílias beneficiadas por Programas de Habitação.

Secretaria de Habitação

Direitos Humanos

9Ações de Promoção da Igualdade

Racial e de Gênero.Secretaria de

Educação

10Centro de Referência para Mulheres e Negros

Vítimas de Violência e de Discriminação.Secretaria de

Direitos Humanos

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O planejamento estratégico e setorial deve reforçar a inter-

setorialidade como premissa central para evitar departamen-

talização, fragmentação e evitar duplicação de esforços con-

correntes para a mesma finalidade. Essa forma de trabalho dá

origem ao que se pode chamar de programas integrados que são

caracterizados por sua transversalidade e cuja orientação estra-

tégica é busca de solução para problemas em que a abordagem

é multidisciplinar.

Para garantir que esse modelo sustentado na organização

do trabalho coletivo, na intersetorialidade e nos eixos estraté-

gicos seja implementado de forma coordenada, é importante

utilização de alguma ferramenta de gerenciamento (softwares,

portais de gestão ou até mesmo planilhas). O ideal são instru-

mentos como Portais de Gestão, pois o recurso da internet fa-

cilita comunicação interna, transparência de informações e livre

acesso a status do planejamento governamental, como vere-

mos mais adiante. Ademais, tais ferramentas auxiliam a unifor-

mizar compreensão dos objetivos e padroniza metodologia de

trabalho, pois todos os órgãos se valem do mesmo recurso para

a gestão de seus planos setoriais. A elaboração dos programas

pode ser monitorada e avaliada de forma rápida e integrada e as

correções relativas ao estabelecimento de metas, objetivos,

prazos, responsabilidades e recursos orçamentários podem ser

equacionadas antes da sua validação final. Garante-se dessa

forma planejamento estratégico de governo e setorial com qua-

lidade superior pela possibilidade de revisões contínuas.

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6.2.2. Sistema de planejamento e mudança da cultura organizacionalA adoção de sistema de planejamento com essas característi-

cas gera modificações na cultura organizacional, pois:

a) implementa um processo que, desde o início, está vincu-

lado de forma orgânica com a alta liderança política e gerencial

e que não concebe de forma separada planejamento e gestão e,

por essa razão, já se vale de fóruns coletivos que permanecem

atuando no processo de implementação dos planos setoriais e

na avaliação de seus resultados

b) fortalece o conceito de direção estratégica amparado,

pois não separa planejamento e gestão, mas se planeja para

gerenciar melhor e se faz grande esforço na gestão da mudan-

ça para revisar continuamente o planejamento (RAMIÓ MATAS,

2001)

c) descentraliza elaboração do planejamento em todo go-

verno, pois o desenho das estratégias não é competência que

está localizada em unidade especializada e com escassas cone-

xões com o conjunto dos órgãos. A direção estratégica se funda-

menta em descentralização participativa do planejamento que

envolve todos os âmbitos da gestão. Distancia-se, dessa forma,

da concepção tradicional que separa planejamento e execução

d) aproxima objetivos, estratégias e elementos organizati-

vos e gerenciais. Essa forma de vincular o que com o como das

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organizações proporciona direção estratégica a governos (RA-

MIÓ MATAS, 2001)

e) busca-se assim evitar o problema da departamentaliza-

ção do planejamento comum na administração pública ao conce-

ber a gestão governamental de forma sistêmica

f) estrutura uma visão de longo prazo que estimula a inter-

setorialidade entre todas as unidades de gestão e das pessoas

orientadas para a “captação de oportunidades” afastada da ad-

ministração inercial de rotinas (ALBAVERA, 2003). O pressupos-

to básico é que formas coletivas de gerenciamento são meios

para estimular a aprendizagem governamental

g) indica os caminhos a serem seguidos de forma conjunta

pela liderança política e gerencial que fortalecem consensos

com base num marco estratégico definido em substituição à

inércia organizacional da administração baseada em normas ou

modelo de gestão apenas focado nos temas da eficiência fisca-

lista)

h) vincula planejamento com suas medidas de desempenho

visando traduzir de forma objetiva marcas, eixos e objetivos de

governo de modo a reduzir o problema dos desacordos sobre as

metas e resultados a serem atingidos nos processos de avalia-

ção e monitoramento

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6.2.3. A operacionalização do planejamento estratégicoAlém das considerações anteriores, esse processo possui dois

objetivos fundamentais: a) político: legitimar definições e metas

de governo com base em discussão nas instâncias internas; b)

gerencial: lançar bases da gestão participativa e com interseto-

rialidade (FARAH, 2001). O planejamento estratégico pode ser

elaborado conforme o seguinte roteiro metodológico:

1. Elaboração das Definições Estratégicas (marcas de go-

verno, principais diretrizes políticas etc.) e dos progra-

mas prioritários pelos secretários e gestores

2. Realização de reuniões consultivas com diversos seg-

mentos da sociedade civil (movimento social e sindical,

partidos políticos, Câmara de Vereadores etc.)

3. Realização do seminário de planejamento estratégico

para definir, com base nas consultas externas e internas

e nas definições políticas de governo, os programas prio-

ritários que deveriam detalhar seus projetos (atividades,

metas, valores financeiros e o cronograma)

4. Organização de comitês setoriais nos órgãos, formado

por sua direção política (secretários e diretores), respon-

sáveis por planejar e gerir programas setoriais (cabe a

esses coletivos elaborarem seu planejamento com base

nas definições gerais do governo)

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5. Organização de programas integrados e intersetoriais

em comitês intersetoriais, que são fóruns formados por

secretários dos órgãos com afinidade em campo comum

de ação. Podem ser organizados quatro comitês respon-

sáveis pelas áreas de gestão administrativa, políticas

sociais, desenvolvimento urbano e desenvolvimento

econômico e social, por exemplo. Nesse momento, cons-

tituem-se ações de governo integradas e intersetoriais

6. Sistematização e detalhamento dos programas estraté-

gicos de governo

7. Validação do Planejamento Estratégico junto a todos os

Secretários Municipais (nesse momento, é importante

que se busque alinhar planejamento geral, integrado e

setorial com demandas do Plano Plurianual para vincular

esse processo em um só modelo de planejamento gover-

namental)

8. Apresentação do planejamento estratégico para a Câ-

mara de Vereadores, fóruns internos de gestão gover-

namental, entidades da sociedade civil, sindicatos e as-

sociações de servidores, entre outros atores sociais e

políticos que sejam considerados relevantes

9. Publicação e divulgação do planejamento estratégi-

co, intersetorial e setorial para que os atores sociais e

governamentais possam acompanhá-lo (por exemplo:

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cadernos impressos, por meio do portal da prefeitura ou

outros meios disponíveis em cada município)

Abaixo, segue esquema que apresenta de forma geral

o processo de formulação do planejamento estratégico governa-

mental.

Fonte: elaborado pelo autor com base em Braule Piinto (2001).

FIGURA 4: SISTEMÁTICA DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Organizaçãodos Comitês

Gestores

Definiçõesestratégicas

Consultas à sociedade

Levantamento das Ações

Integradas e Setoriais

Variáveis externas e internas do

Planejamento

Previsão de Recursos por

Órgão/Entidade

Organização dos Comitês

Temáticos

Organização e definição dos

programas integrados e intersetorias

Validação e Consolidação do

P. Estratégico

Documento Final a ser divulgado

Base Estratégica Programassetoriais

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Em termos mais operacionais, a modelagem de planejamen-

to materializa-se em programas e projetos, que podem ser assim

organizados:

1. Programas: conjunto de ações (projetos, atividades etc.),

entidades executoras e pessoas buscando alcançar um

objetivo comum. Esse objetivo é concretizado num re-

sultado avaliado por indicadores da ação governamental.

Articula conjunto coerente de ações (projetos ou ativi-

dades) que contribuem para objetivos preestabelecidos,

como segue:

Quadro 3: matriz básica de programas e seus nexos com o planejamento governamental

Denominação: traduz os propósitos do programa em uma palavra ou frase síntese, de fácil compreensão pela sociedade e demais públicos-alvo

Órgão responsável: órgão responsável pelo gerenciamento do programa, mesmo quando este for integrado por ações desenvolvidas por mais de um órgão (programa multissetorial)

Marca de governo e eixo relacionado: especifica o principal desafio e megaobjetivo para o qual o programa contribui

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Objetivo: após identificação adequada do problema e de suas causas, sua solução será traduzida no objetivo do novo programa, confirmação ou revisão do objetivo de um programa em andamento. Um objetivo expressa um resultado a alcançar, ou seja, a finalidade do programa e deve ser mensurável por um ou mais indicadores. Exemplo: manter status dos Estados já reconhecidos como áreas livres de febre aftosa e erradicar a doença nas demais regiões do País

Público-alvo: para correta identificação do problema, é preciso demarcar a parcela da sociedade que sofre com o problema e que será beneficiada com a execução do programa. A definição do público-alvo é importante para identificar ações que devem compor o programa. Exemplo: público-alvo são famílias com renda familiar per capita menor ou igual a meio salário mínimo, sem acesso digno e regular a alimentos em quantidade e qualidade necessárias

Justificativa: descrição do problema que o programa tem por objetivo enfrentar. A justificativa deve: a) abordar o diagnóstico e as causas da situação-problema para a qual o programa foi proposto; b) alertar quanto às consequências da não implementação do programa; c) informar existência de condicionantes favoráveis ou desfavoráveis ao programa

Horizonte temporal: identifica a natureza (contínua ou temporária) do Programa. Apenas no caso de programa de natureza temporária, identificar datas de início e

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término previstas (mês e ano). Como cada programa é composto por um conjunto de ações, seu prazo de início e término coincidirá com o da ação que começar primeiro e com a da que por último terminar respectivamente

Valor anual do programa: somatório do valor anual das ações (orçamentárias e não-orçamentárias) integrantes do programa

Multissetorial ou setorial: indicar as demais secretarias e órgãos que fazem parte desse programa, caso, para o cumprimento de suas finalidades, seja necessário estrutura integrada de gerenciamento. Ou se for setorial, indicar essa situação

Indicadores: os programas possuem indicadores utilizados para medir a evolução na solução do problema. Deve ser sempre associado a um objetivo, marca e eixo de governo, sendo concebido de forma a possibilitar sua utilização como unidade de medida para mensuração de resultados desejados com a realização do programa

Projetos: apresentar quantidade dos projetos que farão parte do programa e que serão detalhados em outro formulário para possibilitar melhor gerenciamento

Índice base: expressa a situação mais recente do problema e sua respectiva data de apuração. Consiste na aferição de indicador em um dado momento, mensurado com a unidade de medida escolhida, acompanhado da data

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Índice desejado ao fim do programa: é aquele que define o resultado, expresso pelo indicador, que se deseja atingir com a conclusão do programa

Fonte: elaborado pelo autor.

2. Projetos: os planos de ação constituem-se dos projetos

de melhoria que são o desdobramento e detalhamen-

to das soluções para resolver problemas apontados no

diagnóstico e indicados nos programas (estratégicos

de governo ou setoriais). Para definir os projetos de

melhoria, pode-se se utilizar o seguinte roteiro do quadro

abaixo:

Quadro 4: matriz básica de projetos e seus nexos com o planejamento governamental

Nome do projeto: selecionar um nome para facilitar compreensão e comunicação do projeto

Programa (código): se o projeto elaborado for de atividade que conste no Plano Plurianual, deve ser selecionado o nome do programa e seu respectivo código de identificação

Tipo de projeto: apontar se o projeto é estratégico de governo (prioritário para ser acompanhado pelo Prefeito e comitês temáticos) ou do órgãos (prioritário para o plano de ação da área)

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Data de início projetada: apresentar o período de início previsto

Data de término projetada: apresentar o período de término previsto

Data de início efetiva: apresentar a data de início real

Gerente responsável: sempre deve ser indicado o profissional responsável pelo projeto. Podem ser mencionados ou indicados outros profissionais e suas respectivas áreas de trabalho, mas sempre deixando claramente expresso o nome e o setor do profissional responsável

Grupo de trabalho e comitê setorial: indicar a equipe de trabalho (seja da área ou interdisciplinar) responsável pelas tarefas e atividades do projeto, bem como suas respectivas responsabilidades, e o fórum coletivo em que se insere

Áreas envolvidas: indicar outros órgãos envolvidos na gestão ou execução do projeto e suas respectivas atribuições como forma de organizar o planejamento de sua implementação

Metas físicas: todo projeto (seja anual ou com tempo maior de duração) deve ter apresentada metas físicas como forma de orientar gerenciamento de objetivos a serem atingidos durante ou ao fim do cronograma físico de execução. Um projeto desprovido de metas se apresenta sem parâmetros e torna seus resultados incompatíveis com verificação de êxito final ou intermediário

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Situação atual do projeto: caso o projeto já esteja em andamento, descrever seu status atual como forma de definir o marco zero das atividades. Especialmente, devem ser indicados os resultados atingidos para orientar definição de metas futuras

O que será realizado: apresentação sintética do projeto identificando seu objetivo central. Por exemplo, Implantação da Central de Atendimento, Qualificação dos servidores

Como será implantado: metodologia e caminho para realização do projeto. Explique como será implantado projeto, indicando as etapas necessárias para desenvolvimento

Recursos necessário: indicação dos recursos financeiros necessários para execução do projeto. Os recursos devem ser indicados em valores (reais ou estimados). Caso não seja possível, indicá-los por meio de alguma unidade de referência, como 01 computador, 01 veículo etc.

Datas importantes: nesse campo, deve ser detalhado o cronograma físico de execução, destacando as atividades que devem ser consideradas sob duas óticas: a) aquelas que são importantes para execução técnica do projeto; b) aquelas que são importantes de ser divulgadas face à relevância de comunicar aos públicos-alvo os resultados finais e/ou intermediários. Eventualmente, um projeto pode ter ações ou atividades que mereçam ser destacadas por sua importância

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técnica e de comunicação de forma simultânea

Indicadores: o que será medido e que números serão apresentados para justificar o sucesso dessa solução/projeto. Todos os projetos devem ter indicadores específicos para mensurar seu desempenho. Esses indicadores serão alimentados na planilha geral de indicadores. Nesse momento, devem ser selecionados indicadores de cada projeto

Problemas relacionados: indicar os problemas e selecionar, do conjunto de problemas apontados no diagnóstico, apenas aqueles relacionados com cada um dos projetos

Marcas relacionadas: indicar as marcas de governo que têm relação com o projeto em questão para orientar suas vinculações com a estratégia geral. Dessa forma, serão selecionados, do conjunto de marcas, apenas aqueles relacionados com cada um dos projetos

Fonte: elaborado pelo autor.

6.2.4. Premissas da concepção de planejamento governamentalEssa visão de desenvolvimento estratégico compreende que

é necessário explicitar a estratégia política que se apresenta

como guia da ação governamental. Por outro lado, essa constru-

ção coletiva permite definir prioridades que ajudem o governo a

obter consensos e acordos sobre programas e políticas para se

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alcançar as metas e objetivo propostos. Apenas dessa forma, os

governos podem gerar sentido estratégico com sentido de rea-

lidade e aderência ao conjunto de seus órgãos (desdobramento

do planejamento estratégico nos planos setoriais e temáticos).

A falta desse sentido de responsabilidades bem definidas e me-

tas para avaliar o desempenho governamental pode resultar no

seu oposto: alocação inercial e rotineira de recursos para ações

que olham o passado e não o futuro e em linha com as demandas

da sociedade (GARNIER, 2004).

Segundo Matus (1993), para reverter essa situação, um go-

verno precisa:

1. ter projeto claro sobre o que fazer e orientado por priori-

dades que manifeste a vontade política, o desejo e a direção da

mudança

2. ter ambiente de governabilidade que pondere as variáveis

controláveis e não controláveis, considerando que a ação de go-

verno opera com diversos atores (câmara de vereadores, organi-

zações da sociedade civil etc.) e

3. ter capacidade de governança ou capacidades instaladas

como conhecimento, liderança, experiência gerencial etc. ne-

cessárias para implementar o plano de governo

Esse triângulo de governo compreende que o planejamento

governamental qualifica seus resultados e processo de formula-

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ção se for apoiado nas seguintes premissas:

1. Planejamento é prática social permanente e processo de

gestão e não plano de trabalho que se defasa rapidamente em

contextos de rápida mudança

2. Planejamento não é tarefa de planejadores e sim prática

que envolve atores que participam da ação; logo, é construção

coletiva e descentralizada que combina gestão top down na eta-

pa de definição de diretrizes e bottom up na formulação e des-

dobramento operacional

3. Planejamento, embora exija desafios organizacionais e

intelectuais, não é declaração de intenções que, desprovida de

base real, afete credibilidade caso os objetivos colocados não

sejam factíveis

4. Planejamento deve promover nova cultura institucional

e organizações que aprendem a pensar estrategicamente seu

desenvolvimento através da gestão participativa que envolve

pessoas com formulação e responsabilização pelos resultados.

O planejamento exerce, portanto, função pedagógica em que as

pessoas aprendem a operar com um método em que a melhoria

contínua é característica de desenvolvimento organizacional

5. Planejamento é processo político que envolve atores so-

ciais e gerenciais que buscam coletivamente construir consen-

sos sobre prioridades e estratégias para alcançá-las

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6. O planejamento é ferramenta de gestão participativa que

contribui para aumentar o compromisso das pessoas, uma vez

que foi construído de forma democrática e participativa

7. Planejamento é forma de pactuar objetivos e resultados

de maneira coletiva e, com isso, estabelecer de modo claro e

transparente as metas e desafios organizacionais

8. Planejamento estratégico indica meios para alcançar es-

ses objetivos e define o sistema organizacional necessário para

operacionalizar o plano elaborado. Ou seja, o planejamento ope-

racional refere-se a desdobramento de ações (planos de traba-

lho) que permitam organizar a execução das estratégias planeja-

das em outro nível de planejamento

Planejamento precisa ser compreendido como momento ini-

cial para incentivar intersetorialidade e evitar departamentaliza-

ção e fragmentação das políticas públicas. Como enfatiza Melo

(1996), o esforço deve buscar nova forma de governance mais

horizontalizada em que algumas questões iniciais que necessi-

tam ser respondidas e/ou superadas, visando criar organização

dos fóruns coletivos de gestão, tais como:

1. existência de visão departamentalizada e do tipo coman-

do controle, pouco afinada com a democratização do de-

bate no processo decisório sobre políticas públicas

2. ausência de dinâmica de trabalho coletivo e solidária que

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se afasta de uma cultura de aprendizado institucional e

em oposição aos modelos hierarquizados (Souza, 2002)

3. ritmo e dinâmica de funcionamento desigual dos fóruns,

bem como da presença de órgãos e da alta direção políti-

ca em suas atividades

4. dificuldade de comunicação interna em face de visão

tradicional dos órgãos em atuar isoladamente, e não de

forma integrada, para não perderem poder e

5. modelo de gestão pouco estruturado com o planejamen-

to de governo não organizado em torno de prioridades in-

tegradas e intersetoriais

O desafio central consiste em transformar o momento do

planejamento estratégico de governo e o planejamento setorial

de cada órgão em processo de construção da agenda de governo

e sua dinâmica política e técnica de gestão. Há, nesse sentido,

dupla demanda: a) ampliar capacidades técnico-administrativas;

b) modificar a cultura técnico-política de administração pública

que não considera a necessidade de definições políticas como

orientadoras para a ação dos governos municipais. Apresentar

essa estrutura política e organizacional e a arquitetura do mode-

lo de gestão é o que segue.

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6.2.5. Sistema de Gestão: sua estrutura e funcionamento

Conforme essa visão gerencial, o modelo ampara-se em fó-

runs de gestão e decisão coletiva sustentado em três princípios:

1. todas as áreas se organizam coletivamente para evitar

divisões internas

2. todas os órgãos com afinidade temática devem operar

ações integradas

3. todas os órgãos acessam informações do planejamento

governamental

Com base nessas premissas, os desafios para implemen-

tação de organização gerencial baseada em coletivos de tra-

balho são: a) condições de as equipes atuarem como times de

trabalho; b) condições para enfrentar diferenças internas para

desenvolverem ações cooperadas; d) convencimento da di-

reção política que times de aprendizado e equipes de trabalho

possuem potencial mais significativo a longo prazo (Resenchta-

ler e Thompson, 1996). Para implantar esse modelo de gestão,

coerente com mudança da cultura organizacional e com sistema

de planejamento, a estruturação de fóruns coletivos é o meca-

nismo mais adequado. Esses coletivos de gestão, que devem

passar a fazer parte do sistema decisório formal e ser gerencial-

mente legitimados pela alta direção política, podem organizar-

-se em três níveis gerais, como sistematizado na figura a seguir:

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a) fóruns de alinhamento estratégico (secretariado, comitê de

gestão estratégica e comitê executivo da gestão governamen-

tal); b) estruturas executivas de gestão (comitês intersetoriais,

comitês setoriais e grupos de trabalho); c) fóruns de assessoria

estratégica (secretaria de gestão estratégica e assessorias te-

máticas).

Fonte: adaptado pelo autor com base em Fund. Desen. Cient. Tecnológico (2005).

FIGURA 5: CONCEPÇÃO GERAL DO MODELO DE GESTÃO GOVERNAMENTAL

Comitês setoriais nos órgãos governamentais

Comitê de atividades meio

Comitê de Políticas Sociais

Comitê de Políticas Urbanas

ComitêIntersetoriais

Secretariado

Prefeito

Comitê Executivo Comitê Estratégico

Outras assessoriasSecretaria de

Coordenação da GestãoGovernamental

Comitê de Desenv. Econômico

Grupos de trabalho de projetos

OPERAC

TÁTICO

ESTRATÉGICO

linha de assessoramento linha de subordinação

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A seguir, apresenta-se estrutura e atividades centrais de

cada um desses níveis, de acordo com Grin (2006; 2007; 2008;

2012), Intercorp (2003) e PMV (2005).

1. Fóruns de alinhamento estratégico: coletivos com respon-

sabilidade pelo gerenciamento geral do planejamento estraté-

gico de governo, tais como coordenação de governo e coletivo

formado por titulares de todos os órgãos diretivos (secretarias

municipais, geralmente). Sua função central reside em definir e

avaliar planejamento estratégico de governo e seus resultados,

apoiando-se executivamente e vinculando racionalidade política

e racionalidade técnica, por dois comitês de trabalho:

a) Secretariado: formado pelo Prefeito, Vice-prefeito, Se-

cretários municipais, presidentes de empresas munici-

pais, autarquias e fundações. Dentre suas atribuições

estão: a) apresentação de síntese de pesquisa de opi-

nião e respectiva análise (quando houver); b) avaliação da

conjuntura com definição de políticas gerais; c) avaliação

do planejamento estratégico; d) avaliação do desempe-

nho do governo através de apresentação e análise de

indicadores estratégicos (quando implantados) para fins

de definição de correção de rumo e qualificação da es-

tratégia de governo. De forma mais geral, é um fórum de

alinhamento político estratégico

b) Comitê de gestão estratégica do governo: composto

pela área responsável pela coordenação e avaliação da

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gestão governamental (secretaria de gestão estraté-

gica), coordenadores dos comitês intersetoriais e staff

de assessoria da alta direção política. Esse comitê deve

avaliar e monitorar implementação do planejamento go-

vernamental e do modelo de gestão para resultados, indi-

cando ações corretivas para todos os órgãos, metas dos

programas e ações, indicadores de desempenho e revi-

são das marcas e eixos estratégicos. Ferramentas como

o portal de gestão ou similares devem ser o sistema de

informações estratégicas para disponibilizar relatórios

gerenciais, acompanhamento gerencial e demais ele-

mentos necessários para acompanhamento do planeja-

mento de governo, seus órgãos e programas. De forma

mais geral, é fórum de alinhamento gerencial estratégico

c) Comitê executivo da gestão governamental: compos-

to pela área responsável pela coordenação da gestão

governamental (secretaria de gestão estratégica) e uni-

dade e/ou responsáveis (unidades internas com a tarefa

central de coordenar – e não como nível hierárquico deci-

sório centralizado que contrariaria a gestão participativa

e descentralizada - o modelo de gestão em cada órgão

setorial). Cabe a esse comitê o monitoramento e avalia-

ção da implementação do planejamento governamental

e do modelo de gestão em todos os órgãos, estimular

troca de experiências (benchmarkings internos), veri-

ficar dificuldades e problemas existentes em relação a

planejamento, metodologia de trabalho, funcionamento

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do portal de gestão, dentre outros temas relevantes. De

forma mais geral, é fórum de monitoramento e avaliação

do planejamento estratégico

2. Estruturas executivas de gestão estratégica

a) Organização integrada de áreas com afinidade temá-

tica (comitês intersetoriais) (nível tático): esses re-

únem órgãos que podem atuar conjuntamente pela sua

afinidade temática e alinhadas a eixos estratégicos de

governo em pelo menos quatro grandes áreas (gestão

administrativa, políticas sociais, desenvolvimento eco-

nômico/ciência e tecnologia e desenvolvimento urbano)

e pautam-se pela identificação de problemas cuja solu-

ção apenas seja possível pelo planejamento integrado

das iniciativas. Cabe a esse fórum a tarefa de integrar

programas e ações que, por sua natureza, são formata-

dos em sua concepção e operação por mais de uma área.

A complexidade e as características dos programas inte-

grados (como costuma ocorrer nos Planos Plurianuais)

exige interfaces com outras áreas e seu processo de

gestão deve envolver órgãos com afinidade temática. Por

isso que a arquitetura do planejamento de governo deve

ser alinhada com essa matriz temática de organização

gerencial para dar conta da abrangência e do escopo dos

projetos e ações

A gestão integrada de programas, distintamente do modelo

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tradicional, compreende que, segundo Blanco e Goma (2003), a

transversalidade gera inter-relação de diferentes áreas temá-

ticas e órgãos nos marcos de projetos compartilhados. Essa

dinâmica intersetorial afeta os princípios da fragmentação de

responsabilidades típica da administração pública burocrática,

o que implica reconhecer a fragmentação institucional e a pre-

tensão de criar contexto gerencial com novos marcos de inte-

gração.

A estruturação desses fóruns é importante para romper com

a cultura da fragmentação administrativa, da departamentaliza-

ção e de baixa integração entre as áreas. Esses fóruns qualifi-

cam programas integrados e suas ações que podem apresentar

maior abrangência e escala (um número mais amplo de experiên-

cias atuando conjuntamente), definir objetivo e metas mais ou-

sadas (maior volume de recursos disponíveis), evitar duplicidade

de ações (definição combinada de iniciativas) e reduzir custos

(otimização e compartilhamento de recursos financeiros, mate-

riais, tecnológicos e humanos). Os comitês intersetoriais podem

desenvolver pedagogia coletiva para educar a alta direção políti-

ca e gerencial a compreender os limites da ação governamental

departamentalizada e carente de mecanismos de gestão coleti-

va e integrada. Aos comitês intersetoriais cabe:

a. Realizar diagnóstico dos problemas que exigem atuação

integrada com foco nos programas estratégicos do go-

verno

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b. Formular e implementar programas integrados de gover-

no e estabelecer interfaces necessárias entre os órgãos

que o compõe

c. Acompanhar implantação dos projetos que constituem

marcas e eixos de governo e que fazem interface com ór-

gãos envolvidos

d. Otimizar recursos humanos, financeiros e organizativos

por gestão intersetorial de projetos que fortaleçam atu-

ação integrada, com ênfase nas marcas e programas e

projetos estratégicos do governo

Os comitês intersetoriais possuem agenda anual de reuni-

ões sempre coordenadas pela liderança política de um dos ór-

gãos e com rodízio periódico visando aprendizado de todos os in-

tegrantes. A secretaria executiva desse fórum cabe à secretaria

de gestão estratégica, que assume tarefas organizativas, como

atas de reunião, distribuição de documentos e planejamento da

pauta dos encontros sempre orientada pelo planejamento estra-

tégico de governo e suas prioridades. Cada comitê intersetorial

possui assessoria especifica fornecida pela equipe da secre-

taria de gestão estratégica, que será apresentada abaixo, que

assim conecta em poucas estruturas (quatro ou cinco fóruns

integrados) visão sistêmica do planejamento de governo. Essa

secretaria ainda deve organizar encontros periódicos com o Pre-

feito e seu staff de assessores e agendados como parte de um

calendário anual para realizar avaliações e monitoramento da

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implementação do planejamento estratégico e seus resultados.

Além disso, torna-se possível identificar os órgãos com melhor

e pior desempenho e que tipo de ação pode ser realizada para

atender cada caso.

b) Organização por área de atuação (comitês setoriais)

(nível operacional ou funcional): sistema coletivo de

gestão setorial baseado em uma mesma metodologia

para todos os órgãos e formado pela liderança política

e gerencial dos mesmos. Esse fórum tem o objetivo de

organizar as unidades de gestão em torno de uma estru-

tura geral e de funcionamento padronizado visando facili-

tar cooperação e integração com base nas mesmas con-

cepções, metodologia e instrumentos de gerenciamento

e organização. O comitê setorial é estrutura coletiva de

consulta, decisão e apoio com agenda e periodicidade

de reuniões de trabalho organizadas e com as seguintes

atribuições centrais:

a. Estabelecer modelo de gestão orientado pela des-

centralização, delegação, ampliação da responsabili-

dade gerencial e organização coletiva do trabalho

b. Gerenciar planejamento estratégico (programas e

ações): a) específicos de sua área de atuação; b)

ações que fazem parte de um programa integrado,

cuja responsabilidade é de outro órgão, visando exe-

cutar o plano de governo, de forma compartilhada e

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intersetorial, para problemas e situações em que a

complexidade assim exigir. O planejamento estraté-

gico pode indicar prioridades somente viabilizadas

de maneira intersetorial e através de mecanismos

horizontais de gestão que integram as ações de mais

de uma área. Nesse caso, o comitê setorial assume a

responsabilidade de gerenciar tanto seus programas

específicos como tarefas que lhe cabem em progra-

mas gerenciados por outra área, com o suporte do

comitê intersetorial e da assessoria que lhe cabe da

secretaria de gestão estratégica

c. Gerenciamento dos indicadores de desempenho

que materializam resultados da gestão e do planeja-

mento tanto de seus programas e projetos setoriais

como daquelas ações em que o órgão participa das

iniciativas integradas de governo

Desse modo, a descentralização da gestão pode ser ampa-

rada em metodologia de trabalho padronizada para todas as áre-

as. Essa concepção serve para aumentar o grau de autonomia

dos gestores, desde que respeitada uma condição básica: os

órgãos precisam ser orientados pelo planejamento estratégico

elaborado em que constam suas prioridades de ação e metas.

Em síntese: um modelo de gestão que combina descentraliza-

ção e autonomia gerencial com responsabilidades atribuídas pe-

las metas definidas no planejamento.

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A integração dos comitês intersetoriais com os comitês se-

toriais é fundamental para o desempenho do modelo de gestão

e da capacidade em atingir metas do planejamento. Esse fluxo

de comunicação entre órgãos e demais áreas com afinidade te-

mática é importante, pois permite realizar integração funcional

(em cada área) com integração temática (atuação em campo

comum de assuntos). O modelo de gestão, dessa forma, lança

bases para romper limitações do modelo tradicional com sua

característica fragmentação e isolamento administrativo entre

as áreas. Esse fluxo de comunicação entre secretarias e demais

áreas com afinidade temática é importante, pois permite realizar

integração funcional (em cada área) com integração horizontal

(atuação em campo comum de assuntos). O relacionamento en-

tre comitês setoriais e comitês intersetoriais ocorre da seguin-

te forma:

1. As reuniões dos comitês setoriais pautam o debate de

programas e as ações de governo sob sua responsabili-

dade. A análise resultante gera relatório on line no portal

de gestão ou de outras formas se a ferramenta for distin-

ta, o que serve para indicar o plano de ações corretivas

2. O diagnóstico realizado pelos comitês setoriais subsidia

os comitês intersetoriais, pois as ações de cada progra-

ma cuja responsabilidade é dos órgãos são levadas para

as reuniões desse fórum integrado. O debate nesse fó-

rum integrado confirma ou não essa análise e as defini-

ções adotadas retornam para o órgão específico com o

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plano de ação indicado

3. Esse fluxo geral e a inter-relação entre órgãos fortalece

integração necessária entre todas as áreas, mediadas

pelos comitês setoriais e comitês intersetoriais com as

devidas responsabilidades pactuadas em cada programa

e ação. Dessa forma, o modelo de gestão qualifica sua

execução de forma específica nos órgãos e de forma te-

mática e integrada em todo o governo

Em resumo: a base gerencial descentralizada desse modelo

de gestão são dois níveis de fóruns coletivos: comitês setoriais

em todas as áreas e comitês intersetoriais compostos por áreas

com afinidade de atuação. Em outras palavras, sistema geren-

cial que qualifique tomada de decisão, reforce delegação de res-

ponsabilidades e descentralização gerencial, mas se apoie em

adequado monitoramento e avaliação centralizada, como se vê

abaixo.

c) Organização de grupos de trabalho e fóruns específi-

cos: esses grupos são definidas ad hoc conforme neces-

sidades de cada secretaria, sendo ou não formalizadas

por portaria ou ato legal do prefeito e/ou secretário (por

exemplo, um grupo de trabalho responsável pela Escola

de Governo ou pela Central de Atendimento ao Cidadão)

Alinhamento entre processo de planejamento governamen-

tal, gestão estratégica e capacidades técnico-administrativas

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pode ser sistematizado conforme a figura abaixo:

Fonte: elaborado pelo autor.

FIGURA 6: VISÃO INTEGRADA DO PLANEJAMENTO E DA GESTÃO GOVERNAMENTAL

Programa de governo

Ambiente externo/interno

Sistema de diagnóstico estratégico

Marcas e eixos estratégicos de governo

Programas intersetoriais e setoriais

Modelo de gestão estratégica

Avaliação e monitoramento (indicadores)

Capacidades técnico-admistrativas

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3. Estruturas de assessoramento estratégico

Para realizar o trabalho de coordenação do modelo de ges-

tão e planejamento governamental, a arquitetura organizacional

estrutura-se conforme esquema abaixo. O monitoramento deta-

lhado opera como segue:

a) Secretaria de Coordenação da Gestão Governamen-

tal: órgão vinculado à alta direção política do governo e

voltado a monitorar, avaliar e acompanhar a gestão do

Fonte: elaborado pelo autor.

COMITÊS NOS ORGÃOS

COMITÊSINTERSETORIAIS

ACOMPANHAMENTO ESTRATÉGICO

ACOMPANHAMENTO ESTRATÉGICO

CONEXÃO SISTÊMICA DO PLANEJAMENTO E GESTÃO

GOVERNAMENTAL

GESTÃO SENSORIAL

GESTÃO MATRICIAL

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planejamento governamental, com ênfase em programas

e ações prioritárias e resultados verificáveis em indicado-

res de desempenho. O papel dessa área para mudança da

cultura organizacional reside em quatro pontos centrais:

a) com estruturação dos fóruns coletivos de gestão, seu

funcionamento é central para reduzir e/ou evitar tendên-

cia de cada unidade interna a mostrar-se segmentada; b)

com modelo de gestão sistêmico e integrado, faz-se ne-

cessário trabalho de sistematização e acompanhamento

do conjunto das áreas para garantir continuidade e uni-

formidade na metodologia adotada; c) a avaliação do mo-

delo de gestão e do planejamento estratégico não confi-

gura a função dessa área como estrutura executiva ou de

controle, mas de apoio e assessoria, já que a execução

descentralizada ocorre setorialmente nos órgãos (via co-

mitês setoriais); d) com o portal de gestão (ou outra fer-

ramenta utilizada para monitorar e avaliar o planejamento

e a gestão dos programas e indicadores), cabe a essa

Secretaria criar cultura de uso das informações oriundas

desse tipo de instrumento para obter-se transparência

de informações e accountability gerencial.

Cabe a essa Secretaria ser organizada e operar como

centro de excelência em gestão e qualidade voltada para

criar condições de implementar modelo de gestão para

resultados e seus recursos mais importantes (metodo-

logia de planejamento, fóruns gerenciais, indicadores

de desempenho e utilização do portal de gestão como

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ferramenta de gerenciamento, visando uniformizar e pa-

dronizar o sistema gerencial do governo).

Ademais, cabe a essa área apoiar tecnicamente os ór-

gãos de governo na elaboração de seus projetos volta-

dos a estabelecer convênios junto a outras esferas da

administração pública (governo federal e governos esta-

duais). Desse modo, essa área apoia a elaboração dessas

propostas em todas as suas etapas (formulação, submis-

são, contratação, implementação, avaliação e prestação

de contas).

De forma mais específica e operacional para garantir con-

tinuidade das ações direcionadas à mudança da cultura

organizacional, é importante:

1. Organizar-se em assessorias por área temática (de-

senvolvimento urbano, desenvolvimento econômico,

gestão administrativa e políticas sociais, por exem-

plo), visando acompanhamento desses fóruns acima

apresentados

2. Realizar monitoramento e avaliação do sistema de

gestão (planejamento com seus programas e ações

prioritárias, indicadores de desempenho, utilização

do portal de gestão e funcionamento das estruturas

coletivas e suas reuniões)

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3. Elaborar relatórios gerenciais que apontem ações

corretivas para programas, ações e indicadores de

desempenho e para funcionamento do sistema de

gestão

4. Assessorar o funcionamento dos fóruns coletivos de

governo, com ênfase em fóruns gerais e comitês in-

tersetoriais, orientada pelas informações, que acom-

panham e monitoram, do planejamento estratégico e

do modelo de gestão via portal de gestão

5. Exercer o papel de facilitadora e de apoio aos fóruns

gerenciais do governo (comitês setoriais, comitês

intersetoriais e secretariado) na implementação do

modelo de gestão através da assessoria e participa-

ção nas suas atividades e encontros

b) Assessorias Temáticas: organizadas conforme a divi-

são realizada pelo governo para aproximar as áreas com

base em campos comuns de ação, desde que fique defi-

nida uma para cada comitê intersetorial. Às assessorias

temáticas cabe: a) acompanhar reuniões dos comitês in-

tersetoriais, redigir atas preparando - juntamente com o

coordenador daquelas - reuniões com o recurso do portal

de gestão (relatórios, atas etc.) e amparando implemen-

tação de deliberações perante os responsáveis pelas

ações de todos os programas; b) acompanhar as reuni-

ões dos subcomitês setoriais de todas as áreas afins

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com o comitê intersetorial (por exemplo, todos os órgãos

que compõem o comitê de desenvolvimento econômico)

garantindo utilização da metodologia de gestão (atas

de reunião, indicadores de desempenho, gestão de pro-

gramas e ações, alimentação do portal de gestão etc.),

unificação do debate dos assuntos de uma mesma área

temática e facilitando integração dos assuntos entre

vários comitês setoriais; c) monitorar implementação do

modelo de gestão por meio do portal de gestão em todas

as áreas do governo.

Cada assessoria temática deve monitorar o planejamen-

to governamental e o modelo de gestão nas áreas afetas

a um comitê. Esse monitoramento deve assessorar cada

área nas seguintes atividades: a) verificação com o res-

ponsável e o coordenador da gestão nos órgãos setoriais

sobre o status dos programas, ações e indicadores; b)

análise dos relatórios gerenciais oriundos do portal de

gestão (ou ferramenta similar); c) realização de reuniões

com os responsáveis de programas/ações para analisar

problemas e ações de melhoria necessárias; d) asses-

sorar a utilização do portal de gestão (ou similar) pelos

técnicos e gestores dos órgãos. Em síntese, esses as-

sessores são a ponta avançada da Secretaria de gestão

estratégica em todos os fóruns temáticos e comitês se-

toriais.

c) Comitê setorial da secretaria de gestão estratégica:

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fórum gerencial dessa Secretaria em que participam as-

sessores temáticos para realizar avaliações da execução

do planejamento governamental e da implementação do

modelo de gestão para resultados. Esse processo cole-

tivo de avaliação coordenado por essa Secretaria tem a

função central de indicar medidas corretivas e/ou de re-

forço à metodologia de planejamento e gestão, tais como

capacitações, seminários de revisão, análise de desem-

penho com base nos indicadores de programas e ações,

dentre outras iniciativas gerais ou específicas para algum

órgão que apresente problemas e dificuldades.

Na próxima página, segue tabela com visão geral de to-

dos os fóruns de gestão (alinhamento, gestão estratégica e

assessoramento).

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Fonte: elaborado pelo autor.

FIGURA 7: DINÂMICA DO MONITORAMENTO ESTRATÉGICO DA GESTÃO GOVERNAMENTAL

Alimentação primária

1. Plannejamento Estratégico

2. Reuniões dos Comitês

Intersetoriais

Gestão

1. Gestão nas Secretarias

2. Reuniões Comitês Setoriais

Monitoramento da Gestão

1. Auditoria

2. Relatórios

3. Processamento ténico-político

4. Reunião Comitê Setorial

da área de coordenação estratégica

Agenda da Gestão

Menu de decisões para orientar das Assessorias

Temáticas no planejamento

dos fóruns coletivos

Avaliação

Balanço da Gestão

É esse conjunto de instâncias e fóruns gerenciais que é res-

ponsável pela conexão entre planejamento estratégico governa-

mental e seu desdobramento operacional no interior do governo.

Ambas as etapas são essenciais, mas, embora a construção

das definições estratégicas governamentais seja condição

necessária, ela é insuficiente para responder aos desafios de

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implementação e avaliação sistemática. Por essa razão, o mo-

delo de gestão é de importância vital para materializar marcas,

programas e projetos de governo. Nesse sentido, a figura 7 bus-

ca mostrar, de forma sistêmica, como o modelo de avaliação e

monitoramento encabeçado por uma área de coordenação pode

conectar o planejamento e a gestão governamental.

Sistema de avaliação do desempenho

governamental e de gestão à vista

7

SISTEMA DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO GOVERNAMENTAL E DE GESTÃO À VISTACoerente com a concepção sistêmica de planejamento e ges-

tão governamental acima apresentada, faz-se necessário insti-

tucionalização de processo de avaliação, monitoramento e ve-

rificação do desempenho governamental. Esse processo pode

ser organizado com base nos pressupostos da gestão à vista,

que infere accountablility (prestação de contas) externa e in-

terna, de acessibilidade às informações tanto pela sociedade e

partes interessadas como também por todos os níveis gover-

namentais. Nesse sentido, a accountablility democrática tem

quatro componentes interrelacionados: a) Quem decidirá quais

resultados devem ser produzidos? b) Quem deve responder pela

produção desses resultados? c) Quem é responsável pela imple-

mentação do processo de accountablility? d) Como funcionará

esse processo de accountablility? A gestão pública precisa de

um paradigma de accountablility que responda a essas quatro

perguntas (BEHN, 1998).

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Para responder a essas quatro perguntas, deve ser conside-

rado o problema da assimetria de informação entre administra-

ção pública e sociedade como um desafio a ser superado. Para

tanto, do ponto de vista político e gerencial, é importante pres-

tar atenção a três perguntas, visando institucionalizar a trans-

parência e accountability como características da administra-

ção para objetivos: O que informar? Por que informar? Para quem

informar?

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QUADRO 5: ARQUITETURA ESTRATÉGICA DO MODELO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO MUNICIPAL

Reunião Objetivo Pauta Participantes Periodicidade

Alinhamento estratégico

Reunião de Secretariado

1. Avaliar o desempenho do governo

2. Alinhar estrategicamente a equipe de governo

1. Apresentação de síntese de pesquisa de opinião e respectiva análise

2. Avaliação da conjuntura com definição de políticas gerais

3. Avaliação do planejamento estratégico

4. Avaliação do desempenho do governo através da apresentação e análise de indicadores estratégicos

Secretários e Dirigentes de Órgãos Municipais

Bimestral

Comitê de gestão estratégica

1. Definir as grandes linhas de atuação, explicitando as opções estratégicas da gestão e garantindo eficiência coletiva das ações

2. Acompanhar e mensurar a execução por meio da medição periódica dos resultados, do planejamento de novas ações e da revisão das metas

1. Avaliar e monitorar a implementação do planejamento governamental e do modelo de gestão para resultados

2. Indicar ações corretivas para todos os órgãos, metas dos programas e ações, indicadores de desempenho e revisão das marcas e eixos estratégicos

Prefeito, Vice-Prefeito, Secretaria de gestão estratégica, Secretaria do Planejamento, Secretaria da Fazenda e de Comunicação

Mensal

Comitê executivo da gestão governa-mental

1. Avaliar o desempenho das áreas temáticas

2. Avaliar e monitorar planejamento estratégico

1. Monitorar e avaliar a implementação do planejamento governamental e modelo de gestão

2. Estimular troca de experiências (benchmarkings internos)

3. Verificar dificuldades e problemas no planejamento, metodologia de trabalho, funcionamento do portal de gestão, dentre outros temas

Secretário de Gestão Estratégica, Coordena-dores dos comitês intersetoriais e o staff de assessoria de alta direção política

Quinzenal

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QUADRO 5: ARQUITETURA ESTRATÉGICA DO MODELO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO MUNICIPAL

Reunião Objetivo Pauta Participantes Periodicidade

Estruturas executivas de gestão estratégica

Comitês interseto-riais

1. Avaliar o desempenho das áreas temáticas

2. Avaliar e monitorar planejamento estratégico com base nos programas integrados

1. Realizar diagnóstico dos problemas que exigem atuação integrada com foco nos programas estratégicos do governo

2. Formular e implementar programas integrados de governo e estabelecer interfaces necessárias entre os órgãos que o compõe

3. Acompanhar a implantação dos projetos que constituem marcas e eixos de governo e que fazem interface com os órgãos envolvidos

Secretários que das áreas temáticas de gestão admi-nistrativa, po-líticas sociais, desenvolvi-mento econô-mico/ciência e tecnologia e desenvolvi-mento urbano e assessoriais temáticas da Secretaria de gestão estratégica

Quinzenal

Comitês setoriais

1. Avaliar o desempenho das áreas setoriais

2. Avaliar e monitorar planejamento estratégico em nível setorial

1. Estabelecer o modelo de gestão setorial

2. Gerenciar planejamento estratégico (programas e ações): a) específicos de sua área de atuação; b) ações que fazem parte de um programa integrado

3. Gerenciar indicadores de desempenho setoriais e das ações integradas de governo em que o órgão participa

Secretário da área e seus principais cargos de direção política e técnica

Semanal

Grupos de Trabalho

1. Executar ou apoiar ações específicas e com prazos definidos

1. Estruturas coletivas são definidas ad hoc e implantadas conforme as necessidades de cada secretaria

Integrantes designados

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QUADRO 5: ARQUITETURA ESTRATÉGICA DO MODELO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO MUNICIPAL

Reunião Objetivo Pauta Participantes Periodicidade

Estruturas de assessoramento estratégico

Secretaria de gestão estratégica

1. Avaliar a evolução do método de gestão

2. Avaliar o desempenho individual dos Programas e das Secretarias/Órgãos

3. Avaliar o desempenho dos comitês setoriais e temáticos

1. Realizar monitoramento e avaliação do sistema de planejamento e gestão

2. Elaborar relatórios gerenciais que apontem ações corretivas para programas, indicadores e funcionamento do sistema de gestão

3. Assessorar os fóruns coletivos de governo (fóruns Gerais e comitês intersetoriais)

4. Apoiar (comitês setoriais, comitês intersetoriais e secretariado) na implementação do modelo de gestão.

Secretário de Gestão e Acompa-nhamento Estratégico e assessores temáticos

Semanal

Assessorias Temáticas da Secretaria de gestão estratégica

1. Assessorar os comitês intersetoriais e setoriais na implantação do modelo de gestão

2. Avaliar o desempenho dos comitês setoriais e temáticos

1. Acompanhar as reuniões dos comitês intersetoriais.

2. Acompanhar as reuniões dos Comitês setoriais de todas as áreas afins com o Comitê Intersetorial

3. Monitorar a implementação do modelo de gestão todas as áreas

Assessores temáticos

Quinzenal (comitês intersetoriais) e semanal (comitês setoriais)

Comitê setorial da Secretaria de gestão estratégica

1. Avaliar a implementação do planejamento e do modelo de gestão governamental

1. Indicar medidas corretivas e/ou de reforço à metodologia de planejamento e gestão

2. Avaliar a performance do modelo de gestão e dos órgãos e comitês para implantar ações de melhoria

3. Organizar capacitações para os órgãos

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Comunicação e política andam muito próximas. Para um go-

verno, o que informar deve estar orientado de forma prioritária

pela sua estratégia materializada em metas e resultados a se-

rem atingidos. Essa opção permite estabelecimento de núcleo

comum de informações entre governo e sociedade que orienta

a gestão à vista e a hierarquia de conteúdo a serem trabalhadas

pelos órgãos com vistas à transparência da comunicação para a

sociedade e os públicos internos.

Assim, o processo de gestão à vista adquire caráter de

accountability política. Os meios de implementação podem ser

mecanismos de comunicação (boletins setoriais, páginas na in-

ternet, atividades de prestação de contas, relatórios de gestão

etc.), o que também serve para gerar evidências que qualificam

e retroalimentam o modelo de gestão. Os governos são instru-

mentos para formular, executar e avaliar políticas públicas para a

sociedade. Quanto mais organizados, mais eficazes na produção

de ações e oferta de bens e serviços, maior a legitimidade de

suas iniciativas e, por extensão, maior a qualidade e a excelência

dos mecanismos de prestação de contas.

A gestão à vista permite que os cidadãos controlem melhor

os governantes e tenham maiores e melhores elementos para

julgá-los. Com a explicitação de suas marcas, eixos, estratégias

e resultados esperados mediante planejamento estratégico, tá-

tico e operacional, amplia-se a transparência da gestão pública

e, sobretudo, criam-se condições para que ações de governo

tenham maior eficiência (ALBAVERA, 2003). Essa característica

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é relevante no modelo de gestão para resultados, pois inclui as-

pecto organizacional e aspecto de gestão ou responsabilização

(accountability). Por um lado, há demanda sobre como estruturar

serviços públicos; por outro lado, está o problema de como orga-

nizar o conjunto da gestão pública nessa direção como um tema

de processo gerencial mais que de estrutura (AGUILLAR, 2007).

A figura 8 abaixo ilustra de forma esquemática essa concepção

integrada de gestão à vista.

De forma esquemática, a informação organizada para a so-

ciedade deve dar-se em três níveis: a) de ordem estratégica é

aquela relacionada ao planejamento de governo (marcas, eixos,

programas e indicadores estratégicos); b) de ordem operacional

é aquela relacionada ao planejamento setorial e suas priorida-

des; c) de ordem administrativa é aquela oriunda da prestação

de serviços públicos e do atendimento cotidiano das demandas

dos cidadãos e que se materializa nos contatos entre serviço

prestado e sua utilização efetiva.

Assim, os meios de organizar a informação alinham-se a

cada um dos três níveis acima: a) de ordem estratégica através

de meios de divulgação e controle social gerais como sites, jor-

nais dos governos e fóruns amplos para debater e referendar po-

líticas de governo, bem como para debater a prestação de con-

tas com ampla representação social); b) de ordem operacional

organizando a comunicação setorial e seus fóruns específicos

– temático e/ou territorial - com base no mesmo raciocínio aci-

ma; c) de ordem administrativa através de painéis de controle

com indicadores da qualidade dos serviços e cartas ao cidadão

(ou cartas de serviços) com base em standards de desempenho

previamente definidos, dentre outros recursos.

A gestão pública para resultados deve ser organizada com

qualidade necessária para processar e disponibilizar de forma

sistêmica, integrada e transversal informações para aqueles

três níveis de públicos. Face às demandas contemporâneas,

complexidade da dinâmica social e qualidade do controle ins-

titucional requerido, esses são desafios para que os governos

possam cumprir a real função de aprimorar sua performance

e não se percam em mais uma formalidade administrativa e

burocrática.

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Fonte: elaborado pelo autor.

FIGURA 8: QUADRO GERAL DO MODELO DE GESTÃO À VISTA

Governo

Sociedade Civil

Secretarias (Adm. Direta) e Autarquias, etc (Adm. Indireta)

Eficácia da Gestão Visão Interna

Eficácia da Gestão Visão Externa

Em relação ao público interno, a ênfase é de accountablility

administrativa e gerencial. Coerente com a premissa da descen-

tralização gerencial organizada nos comitês setoriais temáticos

e setoriais, a informação deve ser acessível ao gestor, visando

qualificar sua decisão. A implementação de sistemas de infor-

mação gerencial não deve, nessa medida, servir para controle

centralizado sob pena de criar desresponsabilização gerencial e

reduzir agilidade das decisões gerenciais, face à pouca autono-

mia dos órgãos.

O resultante dessa arquitetura deve ser um sistema de infor-

mações gerenciais que permita análise e avaliação de projetos

e atividades e, no âmbito de competência de cada organização,

qualifique alocação de recursos para atender principalmente

demandas e necessidades mais significativas apontadas pelos

diversos públicos-alvo, em especial os cidadãos. Os indicado-

res, ao medir níveis de eficiência, eficácia e efetividade, repre-

sentam possibilidade de gerenciamento da organização, uma

vez que permitem visualização do desempenho. É fundamental

que seja estruturado o sistema de indicadores de desempenho

como forma de evidenciar, com base em dados e fatos, a situa-

ção das ações e projetos, possibilitando que o sistema de ges-

tão e o planejamento estratégico estejam em contínua evolução

e melhoria.

Por isso, o sistema de informações e descentralização de

responsabilidades reforçam mutuamente o modelo de gestão e

planejamento governamental. O sistema de informações geren-

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ciais qualifica a ação dos gestores nos órgãos em oposição a mo-

delos organizacionais centralizados que inibem essa autonomia.

O controle centralizado sem contrapartida de desenvolvimento

gerencial das áreas desestimula o aprendizado organizacional e

profissional. Cabe, portanto, ao modelo de gestão disponibilizar

informações para os órgãos qualificarem competências decisó-

rias e fortalecerem capacidades de avaliação de desempenho,

pois: a) a informação deve ser acessível para quem está próximo

da situação para gerar ações corretivas de forma descentraliza-

da; b) qualifica decisão dos gestores, já que a análise da situação

com dados e fatos disponibilizados pode ser mais eficaz e rápida

e; c) adoção de gestão descentralizada demanda informações

confiáveis para análise, planejamento e execução.

Esses princípios gerenciais reforçam e combinam-se com

o modelo de gestão para amparado no funcionamento dos co-

letivos de trabalho apresentados no item anterior. A composi-

ção daqueles fóruns pela alta direção política e o nível gerencial,

como já destacado, faz do modelo de gestão para resultados

uma síntese entre racionalidade política e racionalidade técnica,

visando dotar de maior qualidade, excelência e efetividade o pla-

nejamento governamental.

Se válido como etapa e metodologia de verificação, os indi-

cadores, ao serem orientadores dos resultados das metas de-

finidas, funcionam como bússola que ensina o melhor caminho

organizacional. Assim, implantação e utilização dos indicadores

na rotina gerencial funcionam como grande impulsionador do

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processo de aprendizagem organizacional. Na medida em que

haja disponibilidade sistemática e contínua de informações e

que estas estejam relacionadas aos serviços e projetos que

configuram prioridades organizacionais, necessariamente se

instala dinâmica de provocação e desafio intelectual na busca

por soluções para responder às evidências objetivas geradas

pelos indicadores.

Há, pois, de forma inequívoca, relação direta entre qualifica-

ção da pedagogia que deve se instalar como variável estratégi-

ca de desenvolvimento institucional e existência e utilização de

indicadores como ferramenta que, periodicamente, emite ates-

tados que sinalizam o que deve ser feito para alterar o curso de

uma ação para o futuro. A relação estimativa para o que fazer

daqui para frente dialoga de forma mais consistente, objetiva e

pragmática se a análise do presente estiver assentada em da-

dos de realidade. O indicador sinaliza e viabiliza construção de

análise que, por essência, deve ser mais qualificada, visto estar

orientada por dados objetivos da realidade organizacional. Eis

aqui uma missão vital a ser considerada quando da estruturação

do sistema de indicadores de performance.

Além de qualificar aprendizagem organizacional, o sistema

de indicadores deve, como já vimos, ser expressão objetiva das

iniciativas organizacionais. Servem para publicizar externa e in-

ternamente resultados gerenciáveis e controláveis, contribuin-

do para que a aprendizagem organizacional também seja estimu-

lada por outro fator: divulgação sistemática dos indicadores e

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seus índices para a cidadania. Com isso, o ciclo administrativo

incorpora variável que sempre exigirá esforço de superação con-

tínua para que, em período seguinte, a performance tenha sido

melhorada. Complexificando: accountability, aprendizagem or-

ganizacional, busca por resultados e transparência administra-

tiva são componentes organicamente vinculados à implantação

de novo modelo de gestão pública e que têm na utilização de in-

dicadores de desempenho o elemento de motivação essencial.

Em linha com essas considerações, a metodologia para im-

plantar gestão à vista, seja para a sociedade ou para os públicos

internos do governo, implementa-se através de dois instrumen-

tos: a) estruturação do sistema de indicadores de desempenho

e de resultados; b) a organização do observatório da gestão para

resultados, cuja apresentação segue abaixo. Antes disso, a fi-

gura 9 mostra visão esquemática do sistema de gestão à vista,

considerando públicos externo e interno como destinatários.

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Fonte: elaborado pelo autor.

FIGURA 9: RELAÇÕES SISTÊMICAS DETERMINANTES DO SISTEMA DE INDICADORES

SOCIEDADE(VISÃO DE

TOTALIDADE)

POLÍTICASPÚBLICAS

CIDADÃOSINSTITUIÇÕES

7.1. Sistema de Indicadores de desempenhoNo setor público, faz-se necessário aprimorar a metodologia de

gestão e os instrumentos de controle e avaliação de resultados.

Há demanda para disponibilização de informações no proces-

so gerencial, pois, em cada estrutura organizacional, há níveis

definidos de responsabilidade que caracterizam delegação e

descentralização para busca de resultados. Esse processo de

accountability (ou gestão à vista interno) requer que os órgãos

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disponham de sistemas de informações. O gerenciamento será

mais eficaz quanto mais efetivos forem os sistemas de indica-

dores como ferramenta de monitoramento e avaliação de resul-

tados.

Em síntese, modelo de avaliação e de gestão à vista com

base em indicadores deve responder a esses dois objetivos aci-

ma citados para:

a) politicamente contribuir na avaliação da gestão estraté-

gica e no desempenho de seus objetivos, metas e programas,

o que implica em mais qualidade da accountability e democra-

tização da gestão pública com mais transparência e acessibili-

dade externa e interna aos indicadores de resultado das ações

(CUNILL GRAU & OSPINA, 2003)

b) administrativamente contribuir na melhora da gestão or-

ganizacional ao gerar informações que qualifiquem análise do

desempenho e execução das ações

Esse mútuo condicionamento é que faz dos sistemas de

gestão e de avaliação um mecanismo de síntese entre políti-

ca (planejamento e projeto de governo) e técnica (o modelo de

gerenciamento). Gerar ambiente de modernização que qualifi-

ca condições de execução e gestão dos programas e serviços

para garantir mais eficácia e efetividade da atividade governa-

mental é insuficiente para avaliar o alcance político da análise

de desempenho. Por outro lado, essa visão tecnopolítica só

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constitui-se plenamente se for considerada a conexão com

ambiente externo e suas oportunidades e ameaças e com am-

biente interno com suas forças e fraquezas organizacionais e

gerenciais, pois ambos influem no planejamento governamental.

A figura 8 sintetiza o modelo de gestão e sua inserção nos am-

bientes externo e interno que envolvem gestão e planejamento

governamental.

A construção do sistema de indicadores de desempenho

deve ser compreendida no ambiente organizacional externo e in-

terno em que se situa. Não há processo de mensuração descon-

textualizado das condições objetivas em que se gerem políticas

públicas e na qual se obtém informações para sua avaliação. Por

outro lado, política pública deve ser avaliada através de sistema

de medições que apreenda a complexidade dos processos de

gestão. O sistema de informações gerenciais deve compreender

essa realidade ambiental complexa ao priorizar informações a

serem coletadas e utilizadas na avaliação de programas e ações.

Se desenvolvimento da accountability perante profissionais

deve ser buscado, o processo de comunicação interna pode sem

forte aliado. Isso porque todos os indicadores selecionados es-

tão endereçados para profissionais específicos que devem re-

conhecer-se como responsáveis por todas as suas etapas (de-

finição, coleta, mensuração, análise e definição de alguma ação

de melhoria ou de manutenção dos índices).

É por isso que o desenvolvimento de cultura de maior

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responsabilização sobre efetividade dos indicadores deve vir,

sempre que possível, acompanhado de modelos de gestão à vis-

ta. Ou seja, todos os indicadores e seus índices devem ser, após

realizadas as avaliações de ordem técnica e política, disponibili-

zados e transparentes para a população. Se o ambiente organi-

zacional apresenta essas condições favoráveis, os indicadores

são um vetor importante para gestão, pois servem para eviden-

ciar em que áreas ou processos as forças e fraquezas organi-

zacionais manifestam-se com mais contundência. Ao mesmo

tempo, servem para avaliar oportunidades e ameaças externas.

Portanto, as informações no processo decisório devem consi-

derar essas duas dimensões como fonte de auxílio e análise no

planejamento e gestão governamental, conforme a figura 10

apresenta.

Fonte: elaborado pelo autor com base em Trosa (2001) e Grin (2005).

FIGURA 10: INFORMAÇÃO NOPROCESSO DECISÓRIO

IDENTFICAR A AÇÃO

CORRETIVA

ANÁLISE COMPARATIVA COM PADRÕES

FONTES DE INFORMAÇÃO

EXTERNA

EFEITOS SOBRE O AMBIENTE

EFEITOS SOBRE A ORGANIZAÇÃO

FONTES DE INFORMAÇÃO

INTERNA

PROCESSO DE TOMADA DE

DECISÃO

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7.1.1. Base metodológica do sistema de indicadoresUm sistema eficaz de informações gerenciais deve expressar,

em primeiro plano, demandas da cidadania como razão de ser da

ação pública. Para tornar esse conceito instrumento prático de

gestão, indicadores de performance (informação orientada para

a gestão) são compreendidos como representação quantificá-

vel da qualidade, eficiência, eficácia e efetividade de qualquer

ação. O processamento da informação cumpre função de qua-

lificar análise de desempenho de ação ou órgão no planejamen-

to, execução, checagem, atuação corretiva e melhoria visando

à retroalimentação. Os outputs desse processo configuram em

si mesmo gestão à vista que, por sua vez, tem nessas mesmas

informações inputs para realimentar o modelo de gestão em seu

processo de melhoria contínua.

Na modelagem do sistema de indicadores, que são insumos

essenciais do modelo de gestão à vista, há três considerações

sobre o tipo de informação desejada na avaliação:

1. Eficiência: relação a ser obtida entre menor custo, menor

prazo, melhor qualidade, menor esforço para gerar melhores re-

sultados que evidenciem boa utilização de recursos financeiros,

materiais e humanos. Os atributos passíveis de mensuração

nessa dimensão são: rendimento técnico e administrativo, ca-

pacidade de atender à demanda, adequação e otimização do uso

do espaço e equipamentos

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2. Eficácia: adequação da ação aos objetivos e metas para

alcançar os resultados previstos objetivando uma congruência

entre a intenção e a ação realizada. A principal dimensão avalia-

tiva é a verificação entre os objetivos e metas e os resultados

atingidos

3. Efetividade: compreendida como impactos e resultados

permanentes de longo prazo da ação pública sobre realidade e

geradores de benefícios ou mudanças. Os principais atributos

passíveis de mensuração nessa dimensão são, dentre outros,

cobertura, relevância, abrangência e capacidade de influenciar

políticas públicas com melhora da qualidade de vida dos públi-

cos-alvo impactados com a ação governamental

Com base nessa concepção, o primeiro cuidado a ser

adotado durante análise e seleção das informações disponíveis

consiste em separar os bons indicadores do conjunto de dados

existentes. Não é aconselhável gerar acúmulo e excesso de

informações que secundarizem a análise prioritária dos resul-

tados alinhados com marcas e eixos estratégicos (ALECIEN e

FOUCHER, 2001). Muitos painéis de controle demasiadamente

carregados podem gerar perda de foco em relação ao objetivo

central da gestão estratégica de resultados.

Então, “se os indicadores não puderem ser construídos logo,

deixe-os em espera. Valem melhor alguns indicadores confiá-

veis do que muitos indicadores incertos” (ALECIEN e FOUCHER,

2001: 308). Devem ser selecionadas informações relativas às

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metas e objetivos do planejamento estratégico de governo, com

ênfase para os programas como materialização das marcas e ei-

xos. Essa vinculação entre gestão e indicadores contribui para

gerar processo pedagógico suscitado pelos números medidos,

pela análise realizada e pelas iniciativas a serem implantadas.

Outra importante consideração é que sempre o sistema de

indicadores precisa estabelecer padrões iniciais para realizar

comparações futuras com metas definidas para programas e

ações. Sem definição do marco zero, as medições ficam des-

providas de referências que apontem progresso em relação aos

objetivos traçados, o que torna a gestão à vista pouco transpa-

rente e confiável em termos dos indicadores apresentados.

Além das observações gerais acima, a metodologia para im-

plantar o sistema de indicadores deve considerar que:

1. A construção e utilização dos resultados deve ser inte-

grada, envolvendo todos os órgãos governamentais

2. Haja envolvimento da alta direção política do governo ao

menos na apresentação dos resultados nos fóruns cole-

tivos de gestão governamental. Os órgãos que coletam,

medem e analisam os indicadores devem ter seu traba-

lho reconhecido e valorizado, especialmente pela impor-

tância e utilização que as informações precisam ter para

quem gerencia uma área ou as instâncias coletivas de

governo

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3. A criação de um sistema de indicadores adaptado ao di-

versos perfis de usuários. Em uma organização composta

por vários níveis hierárquicos, a direção deverá ter indica-

dores de natureza geral e as áreas, indicadores específi-

cos de desempenho geral ou de projetos. Esses indica-

dores integram o sistema global e são destacados para

servirem a uma análise mais ampla e genérica. É impor-

tante destacar esse aspecto prático para não cairmos na

tentação de concluir que indicadores gerais são índices

compostos ou ponderados por fatores com pesos distin-

tos, por exemplo.

4. As metas a serem atingidas e medidas pelos indicadores

devem ser um desafio e os indicadores devem ser exi-

gentes, mas realistas, para apresentarem desafios mobi-

lizadores

5. A ética da mensuração deve ser clara: quem utiliza os

Indicadores? Como? Com que finalidade? Sem isso, po-

de-se exigir um esforço coletivo cuja utilização é pouco

definida ou não claramente estabelecida

6. A principal qualidade de um indicador é sua continuida-

de de mensuração. Medições descontínuas são poucos

úteis, pois não são confiáveis. Indicadores são mais úteis

quando se mantêm durante períodos longos, permitindo

efetuar comparações úteis

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7. Se indicadores subsidiarem debates e análise, a compa-

ração de mensurações num período de tempo ou entre

unidades pode estimular o desenvolvimento organiza-

cional. Isso ajuda a diminuir o receio de que os gestores

têm de ser responsabilizados pelo desempenho de seus

indicadores. A comparação não deveria ser utilizada de

maneira punitiva, mas para melhor compreender porque

dois prestadores de serviços, com os mesmos efetivos,

produzem serviços com, por exemplo, cinquenta por cen-

to de variação. Pode ser que existam razões explicáveis

(o público é diferente, mais difícil, o serviço situa-se em

zona de desemprego etc.), mas também pode ser que

haja razões como desempenho abaixo do possível

8. Na definição dos indicadores, é fundamental que se con-

sidere que “os serviços têm objetivos gerais: trata-se de

fazer com que expressem por quais etapas se passam

esses objetivos gerais para as atividades concretas”

(TROSA, 2001: 196). Sem adotar esse procedimento,

permanece o risco de definir-se e estruturar-se indicado-

res genéricos e com baixa adesão à realidade operacional

9. Na definição dos indicadores, especialmente na etapa

conceitual que determina o que será coletado de infor-

mação, ter o cuidado de não misturar elementos e ques-

tões heterogêneas. Ao incidir nesse erro, o indicador co-

letado será, provavelmente, confuso e de baixa aplicação

prática. Segundo Trosa (2001: 196):

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Não se trata de criar listas longas e ingerenciáveis, mas de ter indicadores que permitam cruzamentos e assegurem a confiabilidade do julgamento. Por exemplo, em um guichê da Seguridade Social a rapidez de regularização de processos é um indicador quantitativo legítimo para os usuários, mas ele deve ser associado a um indicador qualitativo quase opos-to, o da precisão nos pagamentos, que é uma exigência de boa gestão do dinheiro público para o governo. Deve-se po-der cruzar os indicadores, contrabalançá-los, conferi-los uns com os outros, para dar uma imagem satisfatória dos objeti-vos perseguidos.

10. Os indicadores devem ser transparentes e sem restri-

ções de circulação no interior do governo. Após estru-

turação do sistema de indicadores, deve ser definida a

forma de acesso e utilização das informações, conside-

rando sua complexidade, importância e prioridade para

todos os níveis da hierarquia organizacional. Com isso,

fica concluída a modelagem do sistema de indicadores.

Em termos mais operacionais, a organização de um in-

dicador, considerando essas observações, pode ser assim

estruturada2:

2.A construção dos indicadores pode ser realizada com apoio de ferramentas informatizadas, como

portais de gestão. Com o recurso dessa ferramenta on line, todos os órgãos podem elaborar seus in-

dicadores de forma simultânea, padronizada e integrada em função da transparência e comunicação

interna viabilizadas dessa forma.

Quadro 6: Matriz básica de indicadores

1. Tipo (programa, ação, desempenho geral)

2. Padrão anterior de desempenho (marco zero de comparação)

Fonte: Elaborado pelo autor com base em seu trabalho de 2005.

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3. Tendência esperada (ampliação, diminuição ou manutenção)

4. Meta da gestão (definição de uma meta – objetivo quantitativo – e prazo)

5. Fórmula do indicador (definição de como será obtido ou calculado)

6. Legenda (explicação da fórmula)

7. Valor meta do período (desafio proposto para o período)

8. Valor medido (medição do período como resultado atingido)

9. Referência externa de comparação (para avaliar como está o indicador em relação aos benchmarkings selecionados como referência)

10. Interpretação (intenção esperada para o desempenho do indicador [elevação, manutenção e redução])

11. Análise (parecer técnico)

12. Indicação de ação corretiva (proposição do que fazer)

Considerando essas questões iniciais, a modelagem do

sistema de indicadores, como insumo básico da gestão à vista,

pode orientar-se pelo seguinte raciocínio:

a) Indicadores devem ter medidas estabelecidas para orien-

tar coleta de dados. Medidas são atributos selecionados por

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serem julgados importantes, com base em critérios técnicos e

políticos (a decisão sobre o que medir não é neutra e imparcial)

que orientam avaliações das prioridades. É a determinação dos

atributos que serão coletados e seu confronto com a realidade

medida que produzirá informação válida para ação de melhoria

b) Dessa comparação e análise qualitativa dos atributos

será possível determinar qual é o valor da informação obtida para

qualificar o desempenho de uma área, ação ou projeto. Saber o

valor agregado da informação voltada à gestão por objetivos é

consequência de escolhas realizadas sobre o que medir ou o que

excluir da coleta e mensuração. Essas questões seguem suma-

rizadas no quadro abaixo.

Quadro 7: Categorias relacionadas aos indicadores de resultado

Dado = realidade medida

Realidade medida = conforme atributos selecionados

Atributos selecionados = geram análise qualitativa

Análise qualitativa = geração do valor da informação

Fonte: Grin (2008).

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Coerente com a visão acima, a arquitetura do sistema de in-

dicadores compreende:

Essa matriz metodológica estrutura uma árvore de indica-

dores com coerência interna e encadeamento lógico entre ní-

veis estratégico, tático e operacional com programas, projetos

e respectivas ações. Como os indicadores organizam-se de ma-

neira sistêmica e integrada e cada nível hierárquico, ao mesmo

tempo, se aproveita dos resultados das outras esferas e con-

tribui para melhor entendimento de forma global, o processo de

retroalimentação qualifica-se de forma substancial. A gestão

para resultados pode, dessa forma, ampliar acessibilidade dos

Quadro 8: Hierarquia do sistema de indicadores

INDICADORES ESTRATÉGICOS (marcas e eixos de governo)

INDICADORES TÁTICOS (programas temáticos prioritários de governo)

INDICADORES OPERACIONAIS (desempenho geral dos órgãos e seus programas e ações setoriais)

Fonte: Grin (2008).

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indicadores de forma descentralizada aos gestores de todos os

órgãos e coletivos de trabalho e qualificar suas decisões, como

já frisado. Essa descentralização é coerente com o modelo de

gestão que busca construir nova cultura organizacional baseada

em maior accountability política e gerencial.

Cria-se, dessa forma, um ciclo de gestão que combina fa-

ses execução-avaliação ao fazer dos resultados medidos e ana-

lisados um mecanismo que ora avalia atingimento de metas, ora

fundamenta plano de ação corretiva com vistas a melhorar a per-

formance. Executar ação sem avaliação posterior e avaliar sem

implementar ação corretiva, a rigor, são práticas anacrônicas

ante as evidências de dados e fatos gerados pelos indicadores

e estímulo para ações inovadoras.

Em termos dos nexos com o modelo de gestão acima apre-

sentado, a construção do sistema de indicadores precisa ser

realizada por meio dos comitês intersetoriais e comitês seto-

riais com foco central em análise, formulação e estruturação

dos indicadores de desempenho dos programas prioritários do

governo. Essa é consideração central no governo: se o processo

de mensuração não contribui para retroalimentar a avaliação e a

execução das ações, os indicadores podem não cumprir sua fun-

ção de base de informação gerencial para o processo decisório.

Para exemplificar essa construção do sistema de indicadores,

pode-se verificar o exemplo abaixo.

Na secretaria de saúde, um dos programas prioritários de

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governo pode ser “Atenção Integral à Saúde do Cidadão” com o

objetivo central de “redução da morbimortalidade e melhoria da

qualidade de vida dos munícipes”. Para avaliar os resultados des-

se programa, os indicadores definidos podem ser (observe-se o

caráter sistêmico das múltiplas medições):

1. Acesso a consultas com médicos especialistas

2. Detecção de casos DST AIDS

3. Efetividade do Projeto Prevenção em Ação

4. Gestantes atendidas na rede municipal de saúde com

seis consultas de pré-natal

5. População assistida pela atenção básica resolutiva

6. Taxa Efetivação das Ações de Referência em DST – AIDS

Vinculado a esse programa, existem cinco ações com seus

respectivos indicadores, conforme segue abaixo (mais uma vez,

o caráter sistêmico das múltiplas medições requeridas face à

complexidade das ações):

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QUADRO 9: MATRIZ DE PROGRAMAS E INDICADORES

Ações Objetivos Indicadores

Construção da Unidade de Saúde Cruzamento

Concluir a construção da Unidade de Saúde

Conclusão da obra

DST AIDS Ações de referência Reduzir transmissão vertical do HIV. Reduzir transmissão vertical da sífilis. Aumentar cobertura do tratamento das DST. Aumentar cobertura da prevenção para populações vivendo com HIV/Aids

1. Redução da transmissão do HIV

2. Redução da transmissão da sífilis

3. Aumento da cobertura das ações de prevenção

4. Redução do número de pessoas vivendo com HIV/AIDS

Organização, regulação e manutenção do sistema de atenção hospitalar, urgência e emergência

Organizar e regular a rede de assistência às urgências de acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde e ampliar acesso dos munícipes à rede hospitalar

1. Elaboração do protocolo de atendimento às urgências

2. Capacitação dos enfermeiros e médicos das UBS

3. Central de Regulação Médica e SAMU estruturados

Reorganização, ampliação, regulação e manutenção da atenção básica

Reorganizar atenção básica à saúde do município em três funções: atendimento à demanda do usuário, apoio a grupos/indivíduos em situação de vulnerabilidade/risco com busca ativa e promoção à saúde

1. Ampliação do PSF para todo o município

2. Ampliação do horário de atendimento nas UBS

3. Ampliação do acesso à odontologia básica

4. Implementação da rede de assistência de saúde mental

Reorganização, ampliação, regulação e manutenção da atenção especializada

Ampliar acesso da população à atenção especializada de forma integrada com atenção básica para aumentar resolutividade da assistência à saúde

1. Ampliação de consultas especializadas

2. Criação de Centros Odontológicos

3. Implementação da rede de saúde mental

4. Implementação do Centro de Reabilitação Física

Fonte: Grin (2008).

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Observando-se o exemplo, vê-se que a complexidade dos

cinco indicadores do programa é superior àqueles definidos para

as ações que o compõem. Os primeiros são também mais gené-

ricos e os segundos mais específicos das atividades realizadas

em cada ação. Essa matriz metodológica gera árvore de indica-

dores com coerência interna e encadeamento lógico dos progra-

mas e suas respectivas ações definidas inicialmente na etapa

do planejamento estratégico.

Outro importante aspecto que resulta da aplicação dessa

metodologia é a constituição de indicadores acessíveis de for-

ma descentralizada aos gestores, o que configura característica

essencial do modelo de gestão à vista. Todos os programas e

ações possuem gestores responsáveis para coordenar ações e

responder por metas. Assim, a acessibilidade aos indicadores é

coerente com o modelo de gestão caracterizado por descentra-

lização e autonomia dos gestores, considerando liberdade con-

trolada para agir tendo um planejamento governamental como

referência de atuação. Mas quando se trata de implementar in-

dicadores de desempenho, há outra face do modelo de gestão:

a cobrança controlada com base nas metas estabelecidas para

programas e ações, conforme as figuras 10 e 11 que seguem

abaixo. Dessa forma, fecha-se o ciclo da execução-avaliação de

forma coerente ao se verificar resultados das prioridades defi-

nidas.

Tanto o planejamento governamental tem foco de ação cla-

ro como também o esforço coletivo de mensuração e avaliação.

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Executar uma ação sem avaliação posterior e avaliar sem im-

plementar uma ação corretiva e/ou de melhoria se tornam, pois,

práticas cada vez mais secundárias. Em outras palavras: síntese

entre planejamento-execução-avaliação e retroalimentação dos

programas e ações, instituída como cultura gerencial implemen-

tada por todas as áreas e gestores. O exemplo do quadro seis

abaixo serve como modelo para avaliar o nível de execução dos

programas e suas ações, conforme seus indicadores.

Conforme essa compreensão, o processo de avaliação é

concebido não apenas de forma cronológica (agir → avaliar) e

sim lógica (agir avaliar). Ação e informação são aspectos in-

tegrados da atividade humana e a precedência de qualquer um

dos dois aspectos depende do estágio de implementação em

que esta se encontra. Ainda assim se pode ordenar o raciocínio

analítico para realizar quatro momentos de avaliação:

1. Avaliação inicial (input ex-ante): verificação a partir de

marco referencial (ponto zero) e válida para diagnóstico

organizacional e estruturado através de: a) conhecer o

problema ou necessidade, contexto da ação e o perfil do

público-alvo; b) estabelecer quadro referencial da situa-

ção para comparação na avaliação de impacto (ex-post);

c) conferir viabilidade técnica, política e econômica de

um programa ou projeto

2. Avaliação da eficiência e eficácia (monitoramento e

acompanhamento da eficiência) das ações através de:

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a) aperfeiçoar conhecimento do problema, seu contex-

to e público-alvo; b) adequar planejamento definido com

programas e ações; c) acompanhamento de processos e

atividades previstas; d) identificar pontos críticos na im-

plementação; e) corrigir fatores “dificultadores” da ação

3. Avaliação de resultados realizada ao fim da etapa de exe-

cução do programa ou projeto através (ouput ou eficácia)

de: a) verificar se foram alcançadas as metas previstas

em seus objetivos; b) aferir alterações provocadas na si-

tuação, contexto e público-alvo; c) identificar ganhos de

aprendizagem; d) oferecer elementos importantes para

conhecer a efetividade do programa

4. Avaliação de impacto (ex-post ou impacto): realizada

após conclusão do projeto: a) verificando os efeitos es-

tritamente imputáveis ao projeto ou programa; b) com-

parando alterações provocadas na situação, contexto,

público-alvo ex-ante; d) identificando ganhos de aprendi-

zagem; e) comparando objetivos e investimentos realiza-

dos com os resultados e impactos obtidos

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QUADRO 10: AVALIAÇÃO DOS PROGRAMAS SETORIAIS CONFORME A VISUALIZAÇÃO DE SEU STATUS

PROGRAMA Atenção Integral à Saúde do Cidadão

ÓRGÃOMETA PARA

2014NÍVEL DE

EXECUÇÃO

SEMUSaúde Ampliar em 30% a oferta de consultas especializadas

SEMUSaúde Ampliar horário de atendimento em três unidades de saúde

SEMUSaúdeColocar em funcionamento dois centros de especialidades Odontológicas

SEMUSaúdeConcluir a capacitação dos enfermeiros e médicos das unidades básicas e o protocolo de atendimento ás urgências

SEMUSaúde Concluir o pronto-atendimento (PA) municipal 24 horas

SEMUSaúdeDisponibilizar exames especializados necessários para atender a demanda da rede municipal de saúde

SEMUSaúde Estruturar o Projeto do Centro de Formação em Saúde

SEMUSaúde Integrar a Central de Regulação Médica de Urgências e o SAMU

SEMUSaúde Lançar a política nacional de humanização no município

33,3% 33,3% 33,3%

Fonte: elaborado pelo autor com base em PMV (2006).

Como se pode ver, dependendo do status de realização

de uma ação ou do nível de atingimento de um indicador, para

fins de monitoramento e avaliação, ele recebe sinalização com

cores diferentes. Isso é uma forma didática e de fácil compre-

ensão que sinaliza o status das ações e indicadores. O mesmo

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procedimento pode servir para avaliar programas, embora seja

um pouco diferente, pois estes são formados por vários proje-

tos. Assim, é importante que o comitê intersetorial defina quais

serão os critérios a utilizar para avaliar o status de um programa

por meio de seus indicadores.

Em termos de pré-requisitos ou demandas para cada um dos

momentos acima:

1. Para a fase ex-ante, é importante: a) conhecer o problema

ou necessidade, contexto da ação e o perfil do público-

-alvo; b) estabelecer quadro referencial da situação para

comparação na avaliação de impacto (ex-post); c) confe-

rir nível de articulação dos setores envolvidos e; d) con-

ferir viabilidade técnica, política e econômica do projeto

2. Para a fase de monitoramento (controle da eficiência e

da eficácia), os objetivos a serem atingidos estavam vol-

tados para: a) aperfeiçoar conhecimento do problema/

contexto/público- alvo; b) adequar planejamento definido

com programas e ações; c) acompanhamento de proces-

sos e atividades previstas; d) identificar pontos críticos

na gestão; e) corrigir fatores dificultadores da ação

3. Para a fase de avaliação de resultados (controle da efi-

cácia), os objetivos a serem atingidos estavam voltados

para: a) avaliar se o projeto alcançou metas previstas

em seus objetivos; b) aferir alterações provocadas na

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situação/contexto/público-alvo; c) identificar ganhos de

aprendizagem; d) oferecer elementos importantes para

conhecer a efetividade (eficácia + eficiência) do projeto

ou programa.

4. Para a fase de avaliação de impacto, os objetivos a serem

atingidos devem: a) verificar efeitos estritamente impu-

táveis ao projeto ou programa para não envolver fatores

geradores de resultados externos ao programa ou proje-

to em avaliação; b) comparar alterações provocadas na

situação/contexto/público-alvo entre o “antes” e do “de-

pois”; c) identificar ganhos de aprendizagem e; d) compa-

rar objetivos e investimentos com resultados e impactos

obtidos.

Um exemplo dessa modelagem pode ser visto na constru-

ção do sistema de indicadores focados na efetividade das po-

líticas públicas para agir sobre a vulnerabilidade infanto-juvenil.

Alguns indicadores ideais deveriam operar com outra dimensão,

como garantia de integridade física, psíquica e moral (taxa de

violações, p. ex.) ou segurança de sobrevivência (condições so-

ciais que, conjugadas, configuram situação de risco de vida à po-

pulação infanto-juvenil). Mas a análise ex-ante mostra situação

em que todas as variáveis que influem na efetividade da política

pública não são controláveis pelas ações de governo.

Aceitando que as avaliações possam ser parciais ou incom-

pletas, a opção metodológica pode ser definir indicadores de

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resultado ou de efetividade mesmo não dominando todas as

variáveis explicativas (por exemplo, a taxa de mortalidade de

jovens ou crianças por causas violentas não pode ser comple-

tamente solucionada apenas pela ação governamental, pois

não há como intervir em questões do ponto de vista sociológico

[crise familiar], econômico (desemprego derivado de problemas

de mercado de trabalho) ou culturais (apologia da violência vei-

culada pelos meios de comunicação). Os indicadores possíveis

de ser utilizados para avaliar esse índice de vulnerabilidade são

aqueles em que há grande governabilidade como resultante de

ações da administração, como segue no exemplo.

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QUADRO 11: AVALIAÇÃO DOS PROGRAMAS TEMÁTICOS CONFORME A VISUALIZAÇÃO DE SEU STATUS.

ÓRGÃO ÓRGÃOMETA PARA

2015

NÍVEL DE EXECUÇÃO

TOTAL PARCIALNÃO

REALIZADO

SecADministraçãoModernização Administrativa

Implementar política de redução de gasto e aumentar eficiência e qualidade do serviço oferecido de consultas especializadas

SecGoverno

Apoio à Implementação da Região Metropolitana

Elaborar estudo básico de análise técnico-econômica da RMetropolitana

SecServiçosUrbanos Cidade LimpaElaborar o Plano de Gestão de Resíduos Sólidos

SecDesenvEconômicoDesenvolvimento do Distrito Industrial

Concluir estudo de potencial da atividade econômica

SecMeioAmbienteDespoluição dos rios da cidade

Ampliar a rede de coleta de esgoto sanitário do sistema de tratamento.

SecInfrEstruturaAmpliação do saneamento básico

Ampliar número de ligações domiciliares à rede pública de coleta de esgoto

SecHabitação Acesso à moradia

Concluir estudo de viabilidade econômica e projeto arquitetônico das habitações populares

SecAdministraçãoQualificação dos Servidores

Concluir estudos para implantar a Escola de Governo

SecDesenEconômico

Sustentabilidade do Desenvolvimento Econômico Municipal

Concluir projeto sobre potencialidades econômicas locais

Fonte: elaborado pelo autor com base em PMV (2006).

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QUADRO 13: DIMENSÕES E VARIÁVEIS PARA AVALIAR A VULNERABILIDADE INFANTO-JUVENIL

DIMENSÕES VARIÁVEIS

Dimensão Ambiental1. Acesso à moradia

2. Acesso à infraestrutura básica

Dimensão Cultural 1. Acesso à escolaridade

Dimensão Econômica1. Acesso ao trabalho

2. Acesso à renda

Segurança de Sobrevivência

1. Acesso à saúde

2. Acesso à Segurança Nutricional

3. Segurança contra violência urbana

Fonte: Grin (2008).

Para ilustrar a definição dos indicadores, segue tabela com

vinculação destes via conceitos de eficiência, eficácia e efetivi-

dade, sua relação com cada uma das quatro fases de avaliação e

com as variáveis em que há governabilidade de ação, conforme

apresentado acima, tomando como exemplo o tema da media-

ção de conflitos familiares.

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QUADRO 14: PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE INDICADORES DE DESEMPENHO

Avaliação ex-ante MonitoramentoAvaliação de

ResultadoAvaliação de

Impacto

Eficiência

Percentual da Demanda Atendida em relação ao total enfrentado

Percentual das atividades previstas e realizadas

Percentual da Demanda Atendida em relação ao total enfrentado

Diminuição do tempo de obtenção de resoluções e conclusões de forma satisfatória

Eficácia

Percentual de Atendimentos que segue Protocolo preconizado.

Percentual das atividades “muito críticas” e “criticas” previstas e realizadas

Percentual de Atendimentos que segue Protocolo preconizado.

Percentual de Casos não concluídos de forma satisfatória por falha no atendimento

Efetividade

Percentual de Atendimentos sob Protocolo Preconizado que são concluídos de forma satisfatória

Índice de realização do cronograma e metodologia previstos

Percentual de Atendimentos sob Protocolo Preconizado que são concluídos de forma satisfatória

Percentual da demanda com origem externa aos canais de comunicação” da Secretaria Municipal da Assistência Social.

Fonte: elaborado pelo autor com base em PMV (2006).

Fase

Parâmetro

Como veremos a seguir, cabe ao observatório de gestão a

constituição de arquitetura organizativa voltada a sistematizar

essas avaliações, visando qualificar sua utilização descentrali-

zada em todos os órgãos e os fóruns coletivos de gestão e a

delegação de responsabilidades pactuadas à base de objetivos

e resultados. É essa estrutura governamental que tem a respon-

sabilidade de organizar a gestão à vista para os públicos exter-

nos e internos.

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7.2. Observatório da gestão para resultadosO Observatório consiste na formalização de um sistema de ava-

liação da gestão governamental com foco em resultados e em

metodologia de implementação. A criação dessa unidade e/ou

forma de trabalho é essencial para viabilizar o modelo de ges-

tão à vista. Não se trata apenas de estrutura voltada a compilar

e analisar relatórios. Sua função central reside em ser área de

apoio técnico em que pesquisa e produção de conhecimento

têm sentido prático e aplicado, voltado a modernização geren-

cial.

A conexão estabelecida entre execução avaliação tem na

mediação dos indicadores o ponto central de suporte que en-

fatiza o aspecto pedagógico (aprender a medir e definir ações

orientadas por juízos de fato – os dados coletados + juízo de va-

lor – e sua análise qualitativa) e gerencial (necessidade de tomar

decisões sempre sustentadas em informações coletadas e ana-

lisadas). Assim, para cumprir essa finalidade,

uma série de indicadores só tem sentido se os gerentes analisarem os resultados com seu pessoal para saber se é preciso fazer menos, mais, ou melhor. Os indicadores devem estar na ordem do dia de reuniões de equipe, não como uma tarefa que precisa ser feita, mas como um instrumento de análise preciso. A obrigação quer dizer uma cultura dividida por todos e em todos os níveis da hierarquia. Quantas vezes cumprimos obrigações de contas prestadas sem utilizar os dados no cotidiano ou em uma análise coletiva? (TROSA, 2001:211).

Coerente com essa visão, o observatório funciona como

sala de situação da gestão e as informações processadas e

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analisadas são insumos para retroalimentar o conjunto da gestão

governamental, com ênfase para suas prioridades estratégicas.

Objetivamente, deve ser concebido como espaço que desenvol-

ve estudos técnicos sobre a gestão, seja interna com base nas

informações disponíveis no portal de gestão (ou instrumento

similar) e outras bases de dados, seja como radar captando ex-

periências e inovações na área da gestão pública (benchmarkin-

gs que orientam processos de aprendizagem organizacional). Em

termos práticos, não se trata de unidade à parte, mas de função

e atividade centrais a serem organizadas como parte das res-

ponsabilidades da secretaria de gestão estratégica.

Os principais objetivos do observatório de gestão estão vol-

tados para: a) organizar sistema de acompanhamento, avaliação

e monitoramento do processo de planejamento e gestão gover-

namental com base nos programas estratégicos e indicadores

de desempenho; b) organizar estrutura de suporte técnico para

assessorar todas as unidades internas de governo no seu pro-

cesso de gestão; c) funcionar como escritório de projetos para

qualificar o diagnóstico da realidade e adequação metodológica

e de objetivos para iniciativas a serem planejadas e executadas;

d) organizar sistema de relatórios gerenciais através do portal

de gestão (ou instrumento similar) que qualifique a disponibili-

dade de informação para tomada de decisão em todos os níveis

hierárquicos; e) desenvolver e aprimorar rotinas operacionais de

acompanhamento do modelo de gestão para resultados.

Por coerência, a vinculação é com a secretaria de gestão es-

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tratégica face à atuação global em todos os coletivos de gestão

e órgãos do governo. Deve realizar assessoramento técnico para

elaboração, gestão e avaliação (diagnósticos, monitoramento,

resultados e impactos) dos projetos e a atividades de apoio à

execução efetiva do planejamento de governo e em todos os ór-

gãos e coletivos de gerenciamento. Esse assessoramento deve

priorizar concretização do Projeto Político de Governo com cons-

trução das marcas, eixos estratégicos e programas.

A estrutura básica do Observatório da Gestão é formada por

técnicos da secretaria de gestão estratégica e assessores es-

pecialmente escolhidos junto a todos os órgãos de governo para

consolidar caráter sistêmico. É equipe de caráter multidiscipli-

nar que apoia rotinas de gestão para desenvolver nova cultura

organizacional que enfatize integração de políticas públicas, sis-

temas de auditoria que façam dos indicadores. Dessa forma, o

desenvolvimento dos planos executivos das ações prioritárias

de Governo qualifica sua implementação para atingir objetivos

definidos. Essa equipe cumpre o papel de ser a principal instân-

cia a demandar qualidade e capacidade de governar dos grupos

gestores dos órgãos de governo e deve atuar com a seguinte

rotina de trabalho:

1. Identificar e reunir técnicos necessários à produção

dos planos executivos que orientem a realização das

atividades e que garantam alcance dos resultados fixa-

dos para cada das ações de governo consideradas prio-

ritárias

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2. Realizar reuniões técnicas para qualificar a elaboração

de projetos e programas

3. Produzir documentos técnicos, tendo como ferramenta

o portal de gestão, voltados para o escopo do projeto,

descrição da metodologia, cronograma, estimativa de

custos e programação orçamentária, plano de comuni-

cação, matriz de responsabilidades, plano de avaliação

(diagnóstico, monitoramento/indicadores e metas)

e plano de aquisições (cronograma das licitações e

contratos)

4. Validar planos junto aos comitês intersetoriais e comi-

tês setoriais dos órgãos envolvidos

5. Capacitar, orientar e supervisionar gerentes e/ou res-

ponsáveis em metodologia de elaboração, gerencia-

mento e avaliação de projetos (elaboração de diagnós-

ticos, indicadores, relatório de execução, análise de

resultados, avaliação de impacto)

6. Desenvolver auditoria de gestão que produza análises

críticas que comporão relatórios técnicos

7. Estudar e consolidar informações sobre práticas de

referência, temas relevantes para aprimoramento do

planejamento e gestão governamental por meio de pes-

quisas para cada tema que contribua para melhoria de

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desempenho dos órgãos e seus programas e ações

8. Atender demandas específicas surgidas nos diversos

fóruns coletivos de gestão, seja a partir de auditorias

realizadas cujas evidências reforcem a importância de

intervenções de correção de rumo, seja por solicitação

dos órgãos

O foco de atuação do observatório de gestão, portanto,

pauta-se por planejamento estratégico e marcas, eixos de go-

verno, programas e indicadores de resultado que constituem a

agenda prioritária. A ação é proativa e, com base na análise dos

programas, projetos e indicadores, propõe iniciativas de quali-

ficação da atividade de governo e de seu planejamento. Ainda

que a alta liderança política e gerencial deva ser capacitada para

atividades de autocontrole e avaliação, seu cotidiano ocupa-se

de forma prioritária para executar programas e seu orçamento.

O suporte oferecido pelo observatório é assessoria técnica que

oferece subsídios para implementação de planejamento gover-

namental e de busca por resultados.

A atuação do observatório de gestão e da equipe técni-

ca repõe em níveis de qualidade superior as capacidades e as

possibilidades de execução dos programas e da avaliação de

desempenho pelos órgãos e coletivos de trabalho. Cabe ainda a

este órgão acompanhamento da agenda e trabalho de todos os

fóruns coletivos do modelo de gestão. O processo de planeja-

mento estratégico consolidado e validado com seus programas

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e indicadores de resultado tem no observatório um “avalista”

que conecta o âmbito estratégico e seu desdobramento opera-

cional aos comitês setoriais e comitês intersetoriais.

O observatório de gestão, dessa forma, deve ser responsá-

vel pela implementação de rotina de auditoria do planejamento

estratégico e seus respectivos indicadores. Essa unidade/fun-

ção produz relatórios circunstanciados contendo processamen-

to técnico-político das informações e da situação atual de ges-

tão e provê subsídios para realização de avaliações estratégicas

por parte dos fóruns coletivos da gestão de governo. Como re-

sultado desse processo de constante auditoria e avaliações, o

observatório, com participação do nível gerencial dos órgãos,

busca identificar pontos críticos a terem algum nível de inter-

venção, visando atingir os resultados desejados. O plano de me-

lhorias decorrente das auditorias também visa qualificar níveis

de coerência e consistência entre planejamento estratégico de

governo e planejamento tático (temático) e operacional (seto-

rial) devido a sua leitura sistêmica e integrada.

As auditorias operam com base em evidências diagnosti-

cadas na realidade organizacional e facilitam comprometimen-

to dos gestores com mudança de forma pedagógica, além de

buscar convencimento dos órgãos para adotar planos de ação

corretiva em seu planejamento e metas projetadas de desem-

penho. Busca-se, dessa forma, auditorias que se afastem da

cultura tradicional de controle centralizado para ser momento

de cunho educativo. Evidências geradas com tais auditorias por

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meio de comparação entre metas projetadas e resultados atin-

gidos, por exemplo, devem servir para que se instale um proces-

so de aprendizagem em relação ao processo de planejamento,

gestão e seus objetivos estratégicos.

Por outro lado, o funcionamento do observatório é aspecto

essencial do modelo de gestão à vista, pois auxilia o governo a

organizar informações e indicadores a serem disponibilizados

para a sociedade com níveis superiores de qualidade. Assim, o

processo de accountablility tem nesse suporte interno um alia-

do central. Como recordam Cunill Grau e Ospina (2003: 28), “a

gestão pública é a instância mediadora entre as políticas públi-

cas no campo da política e os resultados que se obtenham de

sua implantação no campo da administração”. Em outras pala-

vras, o observatório é instância governamental que cumpre essa

função de mediação entre política e gestão com vistas a melhor

organizar a relação entre o governo municipal e a sociedade. Em

termos operacionais, o órgão requer implementação de instru-

mentos que auxiliem organização, disponibilização e consulta de

informações internamente pelo governo e pela sociedade, como

se apresenta a seguir.

Sistemas de informação gerencial

(portal de gestão)

8

SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GERENCIAL (PORTAL DE GESTÃO)Implementação de sistema de controle e monitoramento do pla-

nejamento governamental e de suporte à gestão de resultados

a partir da internet é eixo central do portal de gestão (ou de ins-

trumentos similares). Com a definição de marcas e de eixos de

governo, seus programas e indicadores de resultado, a comple-

xidade do processo gerencial demanda uma ferramenta com ca-

pacidade de gerenciamento estratégico de forma transparente,

ágil e facilitadora da tomada de decisão.

Um dos grandes desafios do planejamento estratégico re-

side em trazê-los à rotina organizacional e gerar elementos que

qualifiquem sua análise, gerenciamento e avaliação. A necessi-

dade de manter-se contínua comunicação governamental (in-

terna e externa) integrada e focada no planejamento demanda

meios de informação e qualificação adequados. O uso da tecno-

logia da informação atua como facilitadora para que o planeja-

mento estratégico seja incorporado à rotina das áreas através

de sistemas on line que possibilitam registro de informações de

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forma estruturada e padronizada, além de viabilizar compartilha-

mento em tempo real, seja para gestores ou para a sociedade.

Afora essa tarefa central, o portal de gestão incorpora ao

acompanhamento e monitoramento do planejamento duas ou-

tras metodologias de gerenciamento: gestão do conhecimento

e gestão da informação. Ambas cumprem a função de estimular

troca de ideias e de aproximar órgãos objetivando gerar o que é

fundamental para uso de um sistema de informações: atrativi-

dade para consultá-lo e utilizá-lo face às suas funcionalidades e

recursos disponíveis.

O portal de gestão, portanto, busca enfrentar limites usuais

de um sistema de informações que não enfoca compartilhamen-

to para criar e transferir conhecimento. Uma dessas limitações,

a síndrome do “conhecimento é poder”, requer formas de con-

vencer as pessoas a compartilharem seu conhecimento, enfati-

zando que o saber isolado também não tem valor organizacional

e, portanto, não é útil sob o enfoque da gestão do planejamento

governamental. O portal de gestão reforça a importância da

integração entre as áreas com foco nas prioridades de governo

e facilita a utilização de tecnologias de informação e comunica-

ção.

O portal de gestão é resposta operacional à concepção sis-

têmica do modelo de gestão e planejamento governamental,

pois articula todos os níveis gerenciais. Assim, essa ferramen-

ta auxilia os níveis gerenciais em funções e responsabilidades

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a vincularem seu saber produtivo aos marcos de um modelo de

gestão que concentra ação de instituições públicas na obten-

ção de resultados que respondam às demandas da sociedade

(PATIÑO, 2006). O portal de gestão, nesse sentido, opera de for-

ma integrada com a seguinte concepção:

a) Gestão Estratégica: A gestão estratégica é processo

informacional sistemático, voltado à tomada de deci-

são, com capacidade de antecipar movimentos do am-

biente organizacional que impactem ações de governo

e indicadores de gestão, buscando reduzir incertezas

da tomada de decisão ao permitir adequado “enlace bi-

direcional” entre a gestão estratégica e a gestão ope-

rativa, indicadores e informações, metas e resultados.

Essa é parte mais relevante, pois incorpora gestão de

planejamento governamental e seus indicadores e ser-

ve como instrumento de trabalho para fóruns coletivos

de gestão, ademais de subsidiar a gestão à vista

b) Gestão do Conhecimento: é estratégia de transferên-

cia de bens intelectuais produzidos pela experiência

aplicada da gestão para resultados, de informações re-

gistradas e de talento dos seus membros, tendo como

função apoiar e orientar, a partir de planejamento estra-

tégico, a melhor forma de otimizar desenvolvimento de

competências organizacionais

c) Gestão da Informação: base de todo o conhecimento

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que controla e qualifica a transformação dos dados do

governo em informação e como condição fundamental

para medição de resultados do planejamento estratégi-

co via indicadores de resultado

A aplicação do portal de gestão estrutura-se da seguinte

forma: a) elabora controle e monitoramento gerencial desenvol-

vendo pessoas; b) cria instrumentos de comunicação interna e

integração governamental; c) implementa solução tecnológica

em plataforma web; d) executa, de forma padronizada, o plane-

jamento governamental, pois todas as áreas passam a utilizar a

mesma ferramenta gerencial; e) organiza indicadores de desem-

penho e relatórios gerenciais que qualifiquem a retroalimenta-

ção da gestão governamental.

É, portanto, ferramenta para auxiliar na avaliação do desem-

penho governamental. Mais do que sistema de informações, sua

utilidade não se restringe à disponibilidade e leitura dos resulta-

dos da gestão. Seu objetivo central reside em verificar eficiência,

eficácia e efetividade da ação governamental e apoiar a melhora

da gestão por meio de: a) fomento à cultura da transparência e

do acesso às informações; b) incentivo a melhoramento contí-

nuo da gestão governamental ao oferecer ferramenta gerencial

que permite detectar oportunidades para melhorar; c) fomento

da cultura de autoavaliação e rendición de cuentas; d) apoio à

liderança de cada setor, criando espaços para coordenação, re-

troalimentação e intercâmbio de experiências e ideias entre ge-

rentes públicos (PATIÑO, 2006); e) apoio às bases tecnológicas

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e operacionais de implantação da gestão à vista.

O desenvolvimento e implementação do portal de gestão,

coerente com descentralização gerencial, permite que o plane-

jamento estratégico seja monitorado de forma centralizada pela

secretaria de gestão estratégica, alimentado e utilizado de for-

ma descentralizada por todos os fóruns e níveis gerenciais do

governo. Ao mesmo tempo, o portal de gestão cria ambiente de

envolvimento, participação, integração governamental e qualifi-

cação da comunicação interna e externa em que todo o gover-

no se vê através dessa ferramenta. Operacionalmente, o portal

vincula metodologia com instrumentos práticos de implemen-

tação, pois suas funcionalidades e recursos traduzem o modelo

de forma aplicada e pedagógica. A contribuição desse sistema

para fortalecimento de cultura de maior transparência interna

de informações relacionadas à gestão fortalece a avaliação de

metas e de resultados de maneira efetiva e não apenas formal.

A seguir, apresentamos outros aspectos de inovação da cultura

organizacional derivada da implementação do portal de gestão.

O portal de gestão é ferramenta com foco central na gestão

do planejamento estratégico governamental que influi para alte-

rar a cultura organizacional, pois:

a) cria uniformidade e padronização da metodologia de

gestão que racionaliza e simplifica a execução e o mo-

nitoramento do planejamento governamental em todos

os órgãos

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b) estrutura um sistema on line de gestão com informa-

ções disponíveis e armazenadas em um único local que

rompe com a departamentalização do conhecimento e

amplia acessibilidade

c) estimula a pesquisa, a consulta e o contínuo monitora-

mento dos programas e indicadores

d) amplia a democratização e transparência da informação

também como forma de enfrentar a departamentaliza-

ção e a fragmentação típicas existentes na administra-

ção pública

e) apoia mecanismos de aprendizagem dos profissionais,

pois as informações disponibilizadas induzem a refle-

xões sobre planejamento estratégico e seus resultados

f) fortalece a descentralização, pois sua utilização em to-

dos os órgãos e níveis gerenciais amplia a eficácia deci-

sória com mais conhecimento da realidade

g) contribui para a capacitação de lideranças gerenciais,

evitando centralização decisória em favor de cultura

gerencial mais descentralizada e participativa

h) amplia a agilidade na tomada de decisão ao possibilitar

que a informação esteja disponível de forma organizada

e acessível para os fóruns coletivos de gestão

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i) estimula seu uso por ser sistema amigável para ser ali-

mentado e utilizado de forma descentralizada por todos

os gestores

j) qualifica a organização dos fóruns gerenciais e reforça a

construção de cultura de trabalho integrada e Interpro-

cessual ao ser uniforme para todas as áreas

Uma síntese preliminar da metodologia de

gestão e planejamento governamental

9

UMA SÍNTESE PRELIMINAR DA METODOLOGIA DE GESTÃO E PLANEJAMENTO GOVERNAMENTALO percurso realizado até aqui permite que seja realizada uma sín-

tese dos tipos de gestão e as principais questões de natureza

política e gerencial. De maneira geral, na gestão pública orienta-

da estrategicamente por metas de governo desdobradas em um

planejamento com eixos e metas a serem atingidas, o processo

de avaliação de desempenho segue em linha com esse modelo.

A organização coerente de objetivos coordenados em políticas

públicas e a articulação de prioridades comuns à sociedade em

programas com seus indicadores são pilares básicos da gestão

municipal. E os indicadores contribuem para melhorar a capa-

cidade de governo e qualificam a aprendizagem organizacional

com base no desempenho passado, possibilitando ajuste entre

metas iniciais, resultados atingidos e comportamentos futuros

(PETERS, 2003). Daí a importância fundamental de saber se é

possível e como estabelecer relações entre as atividades go-

vernamentais e os resultados (CAIDEN e CAIDEN, 1998).

Estabelecer prioridades e metas e meios para alcançá-las e

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avaliá-las é elemento central da arte de governar. Essa capacida-

de institucional de atingir objetivos definidos requer suporte em

dois aspectos: um projeto de governo organizado (politicamente

definido) e um modelo de gestão (tecnicamente organizado e

competente) (DROR, 1994). A aproximação entre racionalidade

política e racionalidade administrativa pode ser obtida por meca-

nismos de modernização que definem os ciclos de planejamento

estratégico, sistemas de gestão e avaliação de resultados e, de

forma objetiva, materializados na estrutura e funcionamento do

sistema de gestão apresentado anteriormente.

A definição de um modelo de avaliação com base em indi-

cadores deve responder aos dois objetivos acima citados para:

a) politicamente contribuir na avaliação da gestão estratégica e

no desempenho de seus objetivos, metas e programas; b) admi-

nistrativamente contribuir na melhora da gestão organizacional

ao gerar informações que qualificam a análise do desempenho e

execução das ações. Dessa forma, faz-se aproximar avaliação

da política e esta de um processo de aprendizagem organizacio-

nal realimentado de forma contínua.

Esse mútuo condicionamento é que faz dos sistemas de

gestão e de avaliação um mecanismo de síntese entre políti-

ca (planejamento e projeto de governo) e técnica (o modelo de

gerenciamento). Gerar ambiente de modernização que qualifica

condições de execução e gestão dos programas e serviços para

garantir mais eficácia e efetividade é insuficiente para avaliar o

alcance político da análise de desempenho. Fins políticos (efe-

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tividade do planejamento governamental) e meios gerenciais

(sistema de gestão e os avaliação dos indicadores de resultado)

necessitam estar alinhados na administração pública. Portanto,

a estrutura e funcionamento dos fóruns coletivos de gerencia-

mento contribuem para gerar significativa mudança de cultura

organizativa que:

a) mantém órgãos orientados na busca de metas e indi-

cadores de desempenho, já que sua função consiste

em ser “guardiães” da gestão governamental e de suas

prioridades a serem implementadas de forma coletiva

b) mantém instituições governamentais com foco de ação

definido tendo planejamento de governo como referên-

cia estratégica

c) fortalece cultura gerencial distinta da rotina burocrática

ao enfatizar a importância do planejamento estratégico

e da busca de resultados

d) constitui visão sistêmica e integrada da estrutura e pla-

nejamento de governo face à implementação em todos

os órgãos

e) qualifica diagnóstico de problemas organizacionais e

gerenciais identificados na implementação do planeja-

mento e suas metas a serem direcionadas para proces-

sos de aprendizagem organizacional

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f) modifica cultura de comando e controle ao fazer do as-

sessoramento uma atividade de acompanhamento hori-

zontalizado, de natureza técnica e com viés pedagógico

g) estrutura painel de controle sobre o planejamento go-

vernamental e seus resultados que permite avaliação

integrada dos problemas, suas causas e proposição de

planos de ação

h) estimula e cobra utilização de sistemas de informação,

como portal de gestão, como mecanismo chave da

gestão para resultados em todo o governo

i) apoia a descentralização gerencial e a delegação de

atribuições através de assessoramento técnico que

visa fortalecer práticas

j) opera como meio de gerar circulação e disponibilização

de conhecimento e experiências realizadas no âmbito

do governo e em outras instituições públicas

k) motiva existência de ambiente de gestão participativa

ao estimular fóruns coletivos a aproximarem democra-

cia e eficiência (racionalidade política e racionalidade

técnica) orientadas pelas prioridades de governo

Como síntese geral, o estilo de gestão amparado em fóruns

coletivos ajuda as autoridades a melhorar eficiência ao gerar

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ambiente estimulante e conjunto de técnicas compreensíveis

e práticas que facilitam alcançar objetivos. Constitui forma de

gestão que elabora, avalia e se aperfeiçoa de forma participa-

tiva, mas com suporte técnico e gerencial. São os gestores e a

alta direção política que, em função das diretrizes governamen-

tais, interagem para definir as características que terão plane-

jamento estratégico, tático e operativo. É dessa forma que se

define metas e seus indicadores de desempenho em ambiente

de aprendizagem organizacional continuada (ALBAVERA, 2003).

O bom governo, e com direção estratégica, deve, portanto,

constituir um modus operandi em que o modelo de gestão com

visão compartilhada, estratégia, sistema de indicadores, habi-

lidades organizacionais e estilo de administração, com ênfase

para processos participativos e coletivos, opere em todas as

instâncias e procedimentos estratégicos, táticos e operacionais

aproximando técnica e política. Desse ponto de vista, o modelo

de gestão apoiado nos fóruns gerenciais coletivos, orientados

pelas definições político-estratégicas e com metodologia utili-

zada pelo sistema de avaliação de desempenho, contribui para

institucionalizar uma cultura organizacional orientada para ob-

tenção de resultados através da qualificação das capacidades

técnico-administrativas.

A dinâmica operacional da metodologia de gestão oferece

solução sistêmica para funcionamento do governo, desde que

formalizada e legitimada por capacidade política e técnica de

análise da realidade, formulação, execução e retroalimentação

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com base na avaliação de resultados. Os objetivos são a tradu-

ção da vontade política mediada por análise técnica para produ-

zir elementos concretos de materialização em metas finalísti-

cas que são operacionalmente traduzidos nos seus programas e

projetos. Essa visão cria bases mais organizadas e qualificadas

para características importantes da nova gerência pública, tais

como descentralização e autonomia.

Definição do planejamento de governo nos níveis estratégi-

cos, tático (temático) e operacional (setorial) divide melhor as

competências entre os órgãos e os fóruns coletivos, como já

apresentamos. As atribuições assumidas para cada nível hierár-

quico já são produto da decisão política e técnica e, sobre elas,

cada órgão e fórum coletivo recebe delegação para atuar com

maior autonomia.

O binômio comando e controle coloca-se em outros termos,

pois a decisão centralizada pode ser substituída por mecanismos

coletivos e democráticos de construção das definições mais

significativas de governo, de cada órgão e dos demais fóruns co-

letivos. É com base nessa visão gerencial que o controle de input

(insumos) pode ser substituído pela verificação dos outputs

(produtos) e outcomes (resultados). O mecanismo chave desse

processo é a avaliação por meio do sistema de indicadores em

três níveis: estratégico, tático e operacional. A implementação

dessa sistemática pode ocorrer de duas formas complementa-

res: a) autoavaliação em cada órgão e fórum coletivo com base

no planejamento (ações prioritárias de governo+ações temáti-

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cas com contribuição+ações setoriais) e indicadores definidos

para essa verificação; b) avaliação realizada pela secretaria de

gestão estratégica e pelo observatório da gestão de forma par-

ticipativa com cada fórum coletivo que faz que essa área, como

staff da alta liderança de governo, contribua para que política e

técnica estejam presentes, de forma combinada, na análise de

resultados do planejamento governamental.

A accountability administrativa e gerencial pode, conforme

essa concepção, ser implementada com maior legitimidade, seja

por acordos técnicos e políticos realizados, seja por apresentar

vários pontos de controle em todo o processo de gestão, tais

como: a) realização de encontros dos fóruns coletivos que reú-

nem as lideranças política, gerencial e técnica em nível estraté-

gico, tático e operacional para debate, avaliação de resultados

e prestação de contas por meio de indicadores de desempenho;

b) monitoramento realizado em cada nível organizacional de for-

ma descentralizado (autoavaliação) com base em plano de ação

pactuado entre liderança política e técnica; c) acompanhamento

da gestão governamental pela secretaria de gestão estratégica

e observatório da gestão, que é a “guardiã” do planejamento es-

tratégico de governo e apoiadora do planejamento tático e ope-

racional; d) o portal de gestão, com suas informações acessíveis

e transparentes (programas, projetos, atas de reunião, relatórios

gerenciais e de indicadores, avaliação de marcas e eixos estraté-

gicos, por exemplo) cria um sistema de gestão à vista que demo-

cratiza a avaliação política e técnica da execução do planejamento

de governo em todos os níveis (estratégico, tático e operacional).

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É claro que não se pode esquecer a serviço de que finalidade

está a organização do modelo de planejamento e gestão gover-

namental. É importante considerar como ponto de partida o con-

trole social e institucional inerentes da vida democrática como

interação política e regras do jogo característicos das poliar-

quias (liberdade de associação, liberdade de imprensa, eleições

livres, liberdade de opinião e preferências, fontes de informação

disponíveis para a sociedade, dentre outros aspectos) (DAHL,

2005); daí as mútuas influências que existem entre controle so-

cial, legitimidade política e técnica do modelo de gestão para re-

sultados, pois esse deve traduzir um compromisso substantivo

do governo com a sociedade e os cidadãos.

Esse contrato com a sociedade requer, portanto, institui-

ções fortalecidas e organizadas para responder às demandas.

Em modelo de gestão focado em resultados, com o perdão da

tautologia, a relação dos governos com a sociedade pauta-se

por resultados. Aqui não é foco discutir como a sociedade incide

na definição do programa de governo, pois já há literatura abun-

dante sobre processos participativos, especialmente em âmbi-

to municipal. Para fins desse texto, interessa analisar a relação

entre produto de planejamento estratégico (eixos, programas

e metas) com mecanismos que qualificam a rendición de cuen-

tas para a sociedade e a retroalimentação do modelo de gestão

governamental.

Gestão por objetivos permite que cidadãos, com base da

qualidade política e gerencial dos governos, controlem melhor

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os governantes e tenham maiores e melhores elementos para

julgá-los. Com explicitação de suas marcas, eixos, estratégias e

resultados esperados mediante planejamento estratégico, táti-

co e operacional amplia-se a transparência da gestão pública em

linha com modelos de gestão à vista (ALBAVERA, 2003). Essa

característica é relevante no modelo de gestão, pois inclui as-

pecto organizacional e aspecto de gestão ou responsabilização

(accountability). Por um lado, há a demanda sobre como estrutu-

rar os serviços públicos; por outro, está o problema de como or-

ganizar o conjunto da gestão pública nessa direção como tema

de processo gerencial e de prioridade política (AGUILLAR, 2007).

A adequação ao novo paradigma de accountability requer

combinação distinta entre política e comunicação institucional.

A comunicação de governo não é apenas meio de informação,

mas centralmente de reforço da imagem de governo com mar-

cas, eixos e programas estratégicos. Dessa forma, a relação en-

tre o controle social e o planejamento e gestão governamental

pode ser aprimorada por meio da gestão à vista e seus indica-

dores e resultados de programas e projetos. A política de comu-

nicação pode funcionar ex-ante, durante a execução do progra-

mas e ex-post e ser integrada à gestão governamental na sua

relação com a sociedade. Para concretizar essa visão política e

gerencial, é importante que a formulação de objetivos e resul-

tados se apoie em informações a mais precisas possível sobre

o que demandam e pensam os diversos grupos sociais que, ao

mesmo tempo, se valem desses insumos para ter mais controle

social sobre a gestão pública.

Conclusão

10

O que foi visto sobre metodologia de implantação da gestão e

planejamento governamental fundamenta-se, como vimos, en-

fatizando quatro aspectos centrais:

a) Qualificação das lideranças políticas e gerenciais, pois

o modelo gerencial deve sustentar-se no desenvolvi-

mento e formalização dos fóruns coletivos de gestão

para, ao mesmo tempo, ampliar eficácia organizacional

e delegação da capacidade decisória

b) Capacidade de implementar a direção estratégica (pla-

nejamento e modelo de gestão) com recurso de um mé-

todo e processo de gestão padronizado para ser replica-

do em todas as estruturas organizacionais, eficaz para

gerar controle democrático e participativo ao envolver

gestores e direção política forma integrada

c) Avaliação do desempenho organizacional por meio de

185 CONCLUSÃO

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metodologia que verifica resultados e ajuda a manter o

sistema gerencial em funcionamento e centrado na es-

tratégia de governo. Conforme Kettl (2001: 113):

O planejamento estratégico, a construção de indicadores, os processos de aferição e as exigências do dia-a-dia da buro-cracia facilmente podem se transformar em fins em si mes-mos. Mas, como o objetivo básico do processo não é produzir números, e sim melhorar os resultados, é muitíssimo mais útil pensar em termos de “administração por desempenho” do que em aferição de desempenho.

d) Comunicação interna e accountability política e geren-

cial por meio do portal de gestão que organiza informa-

ções e as disponibiliza em forma de indicadores, rela-

tórios, documentos técnicos e status de programas e

ações. Com apoio do observatório de gestão e do portal,

a liderança política e gerencial dispõe de informações

para auxiliar suas decisões. Dispondo sobre o desem-

penho da gestão, também qualifica as condições para

comunicação e interação com a sociedade sobre re-

sultados e impactos das ações do governo. Ou seja, “a

administração baseada no desempenho tem a ver com

comunicação política...” (KETTL, 2001: 114). A comuni-

cação (interna e externa) e a transparência da informa-

ção assumem relevância para apresentar resultados e

interagir com as instituições públicas e a sociedade.

A concepção aqui apresentada visa facilitar busca de con-

senso em torno de metas e objetivos pactuados coletivamente,

como a figura abaixo busca representar. Não se trata apenas de

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187

constatar carências e aplicar sanções, pois o essencial reside

na melhora da gestão pública. Contrariamente às visões mais

tradicionais que, em vez de promover integração, solidariedade

interna e estímulo às ações inovadoras, fortalecem anonimato

burocrático e suspeita em detrimento da confiança como valor

e prática organizacional. O modelo de planejamento e gestão

governamental sugerido opõe-se a essa visão em favor de ad-

ministração em que responsabilidade e objetivos sejam trans-

parentes (BEHN, 1998). A busca de resultados organizacionais

amparada em modelo de gestão coletivamente formado por fó-

runs gerenciais não pode conviver com uma cultura que estimule

competição interna e que, ao mesmo tempo, peça às pessoas

que colaborem entre si, que escutem os que têm outras pers-

pectivas e que busquem se entender com os demais (BRUGÉ,

2004).

Fonte: elaborado pelo autor.

COMITÊS INTERSETORIAIS

COMITÊS SETORIAIS

MODELO DE GESTÃO GOVERNAMENTAL

GESTÃO À VISTA

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO GOVERNAMENTAL

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL

Con

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Um modelo de planejamento e gestão governamental de-

pende de método eficaz e eficiente, mas ele só se implementa

por meio da pessoas. Por isso, confiança mútua e cooperação in-

tragovernamental entre os órgãos, direção política e nível geren-

cial não podem prescindir de compreensão de que todos fazem

parte do mesmo projeto com seus objetivos comuns e compar-

tilham de um mesmo modelo de gerenciamento como método e

estilo de atuação (BRUGÉ, 2004). É por essa razão que a mudan-

ça da cultura organizacional, os processos de desenvolvimento

de competências e a aprendizagem institucional são centrais

para o progresso e retroalimentação da gestão pública para re-

sultados.

Responder com eficácia a esse desafio significa ampliar

condições de sustentabilidade do modelo de gestão para re-

sultados: uma efetiva mudança institucional em que qualidade

organizacional e conhecimento técnico e gerencial são aspec-

tos centrais para introduzir um padrão de melhorias contínuas

na agenda de modernização gerencial. Ao organizar-se apoiado

em processos coletivos de participação, esse modelo incorpora

elementos de natureza política como diálogo e negociação, que

contribuem para democratizar a burocracia (BRUGÉ, 2004). Os

fóruns coletivos de gestão operam contra a departamentaliza-

ção burocrática, estimulam a democratizar decisões e operar

como instâncias mediadoras para buscar resultados na estra-

tégia governamental. Esses processos incrementam produtivi-

dade decisória ao reduzir custos de processamento de informa-

ções e de processos entre órgãos. Eis aí um desafio viral a esse

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189

modelo: ampliar a coordenação entre a alta direção política e o

nível gerencial para definir responsabilidades e compromissos

mutuamente assumidos (MAKÓN, 2002: 3).

Claro que a constituição desse modelo precisa considerar

alguns desafios políticos e técnicos que são relevantes para go-

vernos municipais os terem presentes, pois podem ser dificulda-

des ou obstáculos a serem enfrentados:

1. Gestão integrada de programas: criação de um novo

aprendizado institucional, baseado na gestão coletiva

e transversal, é variável dependente dos distintos in-

teresses políticos e burocráticos. Essa situação pode

gerar desigualdade no ritmo e intensidade de implemen-

tação entre órgãos e comitês intersetoriais, afetando

possibilidades de qualificar a gestão intersetorial das

políticas. Assim, a questão da falta de uniformidade e/

ou diferença nas informações disponíveis para funda-

mentar decisões coletivas e de base intersetorial pode

influir na qualidade da gestão governamental

2. Construção de interesses convergentes: políticas

públicas e programas intersetoriais podem encontrar di-

ficuldade de definir interesses integrados, sujeito a ge-

rar metas justapostas e não construção de interesses

comuns. Essa situação pode ser reflexo de situações

contraditórias em que alguns órgãos deparam-se com o

dilema da colaboração ou do isolamento e/ou oposição

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na constituição do modelo de gestão

3. Envolvimento da direção política: o modelo gerencial

cobra participação efetiva da alta direção política na

formulação, execução e avaliação das políticas públi-

cas. Como a administração tradicional opera com lógica,

segundo a qual para cada área especialista correspon-

de um nível decisório, garantir presença de lideranças à

frente de um processo integrado de gestão geralmente

é um grande desafio

4. Manutenção dos fóruns coletivos: departamentali-

zação como estrutura interna de poder decisório pos-

sui fortes raízes na gestão pública, sendo difícil alterar

esse habitus administrativo e cultural. Assim, criar fó-

runs coletivos em que a direção política debata e deci-

da sobre políticas públicas é processo de construção

e convencimento interno. Porém, garantir agenda de

encontros na periodicidade definida requer atenção e

cobrança para que a presença da alta direção política

confira legitimidade ao modelo de gestão e suas delibe-

rações adotadas

5. Política no planejamento governamental: distinto

da visão que despolitiza a política e compreende o pla-

nejamento pelo viés técnico, o desafio é manter foco

nas prioridades políticas do governo e evitar a tentação

tecnicista do modelo de gestão como fim em si mesmo

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6. Avaliação política e técnica do planejamento de go-

verno: na gestão pública tradicional, mensurar resulta-

dos é secundário e constituir uma gestão para avaliar

política e tecnicamente resultados é desafio necessá-

rio de ser enfrentado

7. Democratização de informações: departamentaliza-

ção da gestão pública torna o fluxo de informações seg-

mentado e moroso. Por essa razão, a ênfase na consti-

tuição dos fóruns coletivos integrados opera no sentido

de ampliar disponibilização de informações. O esforço

aqui reside em evidenciar que democratizar e dar mais

transparência às informações não seja confundido com

sinônimo de perda de poder no jogo político interno ao

governo

Portanto, a adoção desse modelo de planejamento de ges-

tão busca criar condições políticas e organizacionais para que,

em todos os níveis hierárquicos, se gerem pactos com metas

e responsabilidades focadas nas prioridades de governo. Nes-

sa medida, a orientação para objetivos efetivamente pode ser

gradativamente assumida como valor organizacional que parte

de um marco estratégico comum a todo governo e estrutura a

cadeia de atribuições em todos os níveis hierárquicos.

Mas para essa concepção criar bases mais susten-

táveis, a administração pública deve instituir um processo

sistemático de gestão baseado em marcos estratégicos de

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192

governo (valores, eixos, programas e indicadores de resultado)

e os desafios a sua tradução gerencial de modo a gerar um meio

de retroalimentação contínua. Manter um processo de desen-

volvimento organizacional continuado, baseado em resultados

da gestão de governo e no aprendizado coletivo, é o desafio

central a ser respondido para que esse modelo de planejamento

e gestão governamental possa contribuir para gerar mais quali-

dade, eficiência, eficácia e efetividadade nas políticas públicas,

visando desenvolvimento econômico municipal com inclusão

social e mais equidade.

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COLEÇÃOMETODOLOGIAS DE GESTÃOPÚBLICA