Capital de Risco Brasil

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS FACULDADE DE ADMINISTRAO E CINCIAS CONTBEIS PS-GRADUAO LATO SENSU MBA em CONTROLADORIA E FINANAS

ANDR CHAMUN CALAZANS

Escassez de Crdito no Brasil como Principal Obstculo ao Investimento em Inovao atravs de Capital de RiscoOrientador: Professor Guilherme de Azevedo Mendes Corra Guimares

NITERI 2005

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PR-REITORIA DE PS-GRADUAO CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS FACULDADE DE ADMINISTRAO E CINCIAS CONTBEIS CURSO DE PS-GRADUAO LATO SENSU MBA EM CONTROLADORIA E FINANAS

Escassez de Crdito no Brasil como Principal Obstculo ao Investimento em Inovao atravs de Capital de Risco

MONOGRAFIA APRESENTADA POR ANDR CHAMUN CALAZANS

APROVADA EM 30 DE ABRIL DE 2005 PELA COMISSO EXAMINADORA

______________________________________________ Prof.Guilherme de Azevedo Mendes Corra Guimares M.Sc. ______________________________________________ Prof. Orlando Celso Longo D.Sc. ______________________________________________ Prof.Ricardo Bezerra Cavalcanti Vieira D.Sc.

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS FACULDADE DE ADMINISTRAO E CINCIAS CONTBEIS CURSO DE PS-GRADUAO LATO SENSU MBA EM CONTROLADORIA E FINANAS

ANDR CHAMUN CALAZANS

Escassez de Crdito no Brasil como Principal Obstculo ao Investimento em Inovao atravs de Capital de Risco

MONOGRAFIA APRESENTADA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PARA OBTENO DO CERTIFICADO DE PS-GRADUAO LATO SENSU MBA EM CONTROLADORIA E FINANAS

ORIENTADOR: PROFESSOR GUILHERME DE AZEVEDO MENDES CORRA GUIMARES M.Sc.

C143 Calazans, Andr Chamun Escassez de Crdito no Brasil como Principal Obstculo ao Investimento em Inovao atravs de Capital de Risco / Andr Chamun Calazans Niteri, RJ: UFF, 2005 119f Monografia (Ps-graduao, MBA, em Controladoria e Finanas) Universidade Federal Fluminense, 2004. Orientador: Professor Guilherme de Azevedo Mendes Corra Guimares M. Sc. 1. Crdito no Brasil. 2. Inovao. 3. Capital de Risco. I. Ttulo CDD. 332.1

Agradeo ao Prof. Guilherme Guimares, pela orientao, a Eduardo S, Marcel Malczewski e Vittoria Cerbino, pela obteno de informaes, e a Ada Gonalves, pelo auxlio na reviso deste trabalho.

Aos companheiros (as) do Projeto Inovar, da FINEP.

RESUMO ______________________________________________________________________

Este trabalho busca analisar a relao entre crdito, inovao e capital de risco no Brasil, onde a poltica monetria tem se caracterizado por altas taxas de juros. Neste contexto, a maior parte dos recursos financeiros disponveis so canalizados para o financiamento da dvida pblica, provocando uma generalizada escassez de crdito. Modalidades de investimento de alto efeito multiplicador, como o capital de risco, so bastante afetadas, criando um ambiente onde pequenas e mdias empresas inovadoras tm poucas chances de se desenvolverem. Este fato particularmente grave quando se considera que a competitividade de empresas e naes est cada vez mais associada a sua capacidade inovadora. O trabalho sugere uma atuao mais consistente do governo para estimular empreendimentos com perfil inovador, incentivando o mercado de capital de risco em todas as suas fases.

Palavras-chave: Crdito, Inovao, Capital de Risco.

ABSTRACT ______________________________________________________________________

This paper aims to analyse the relation among credit, innovation and venture capital in Brazil, where the monetary policy has been characterized by the adoption of high interest rates. In this context, most of the available financial resources are addressed to attend public debt financing, instead of productive investments, generating a widespread credit shortage. Modalities of high multiplying effect investments, like venture capital, are strongly affected, creating an environment where small and medium innovative companies have few chances to develop. This fact is particularly serious when it is considered that the competitiveness of companies and nations is more and more intrinsically related to their innovative capacity. The paper suggests some more consistent government actions in order to stimulate innovative profile enterprises, motivating the venture capital market in all its phases.

Key-Words: Credit, Innovation, Venture Capital.

LISTA DE SIGLAS ______________________________________________________________________

ABCR - Associao Brasileira de Capital de Risco ABRAPP -Associao Brasileira das Entidades Fechadas de Previdncia Complementar ABVCAP Associao Brasileira de Private Equity & Venture Capital ADTEN Apoio ao Desenvolvimento Tecnolgico da Empresa Nacional ANDIMA Associao Nacional das Instituies do Mercado Aberto ANVAR - Agence Franaise de IInnovation ATMs Automatic Terminal Machines BC - Banco Central BI - Business Intelligence BID Banco Interamericano de Desenvolvimento BLS Bureau of Labor Statistics BM&F Bolsa de Mercadorias e Futuros BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social BNDESPar - Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social Participaes BOVESPA - Bolsa de Valores do Estado de So Paulo BSC - Balanced Scorecard BVCA - British Venture Capital Association CONTEC Programa de Capitalizao de Empresas de Base Tecnolgica CRM - Costumer Relationship Management CRP - Companhia Riograndense de Participaes CVM - Comisso de Valores Mobilirios DPMFi Dvida Pblica Mobiliria Federal Interna DtA - Deutsche Ausgleichsbank EFPC - Entidades Fechadas de Previdncia Complementar ERP - Enterprise Resourch Planning FGV - Fundao Getlio Vargas FGV-RJ - Fundao Getlio Vargas do Rio de Janeiro FGV-SP - Fundao Getlio Vargas de So Paulo FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos FIP - Fundos de Investimento em Participaes FITVM - Fundos de Investimento em Ttulos e Valores Mobilirios

FMIEE Fundos Mtuos de Investimento em Empresas Emergentes FUMIN Fundo Multilateral de Investimentos IGPs - ndices Gerais de Preos IPCA - ndice de Preos ao Consumidor Amplo IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada IPO Initial Public Offering MIM - Metal Injection Molding MNA - Metalrgica Nova Americana NSF - National Science Foundation NYMEX New York Mercantile Exchange P&D Pesquisa e Desenvolvimento PDVs - Pontos de Venda PETROS Fundao Petrobras de Seguridade Social PIB - Produto Interno Bruto PME - Pequenas e Mdias Empresas PMEI - Pequenas e Mdias Empresas Inovadoras PND - Plano Nacional de Desenvolvimento PREVI - Caixa de Previdncia dos Funcionrios do Banco do Brasil PROSOFT Programa para o Desenvolvimento da Indstria Nacional de Software e Servios Correlatos SBA - Small Business Administration SBIC Small Business Investment Companies SBIR - Small Business Investment Research SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas SMBA - Small and Medium Business Administration SOFARIS - Socit Franaise de Garantie des Financements des PME SPC Secretaria de Previdncia Complementar TEF - Transferncia Eletrnica de Fundos TI Tecnologia da Informao VCT - Venture Capital Trusts VDCIT - Venture and Development Capital Investiment Trusts

LISTA DE ILUSTRAES_____________________________________________________________________________________

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Estrutura Analtica da Poltica Monetria .............................................. pg. 10 Tabela 2 - Estrutura do Mercado de Capital de Risco ............................................. pg. 37 Tabela 3 - Alocao dos Investimentos da Caixa de Previdncia dos Funcionrios do Banco do Brasil ...................................................................................................... pg. 57 Tabela 4 - Informaes Financeiras da Empresa Lupatech (em milhes de reais) ............ ...................................................................................................................................pg. 71 Tabela 5 - Informaes Financeiras da Empresa Bematech (em milhes de reais) ........... ................................................................................................................................. pg. 74 Tabela 6 - Informaes Financeiras da Empresa Microsiga (em milhes de reais) ........... ................................................................................................................................. pg. 77

LISTA DE ILUSTRAES_____________________________________________________________________________________

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 Investimentos em Capital de Risco no Brasil (2000 a 2003) .............. pg. 51 Grfico 2 - Nmero de Empresas Investidas por Capital de Risco no Brasil (2000 a 2003) ........................................................................................................................ pg. 51 Grfico 3 - Investimentos em Capital de Risco no Brasil por Setor da Economia (2002 e 2003) ........................................................................................................... pg. 52 Grfico 4 - Investimentos em Capital de Risco no Brasil por Estgio de Desenvolvimento das Empresas (2003 - em %) ...................................................... pg. 53 Grfico 5 - Investimentos em Capital de Risco no Brasil por Estado (2003 - em %)......... ...................................................................................................................................pg. 53 Grfico 6 - Alocao dos Investimentos das Entidades Fechadas de Previdncia Complementar (maro de 2004 - em %) ................................................................ pg. 56 Grfico 7 Evoluo Percentual dos Investimentos das Entidades Fechadas de Previdncia Complementar entre os Segmentos de Aplicao (1994 a 2003) ........ pg. 56

Grfico 8 - Participao Percentual em Transaes dos Mecanismos de Sada para a Amostra de Fundos Analisada (tempo: at 5 anos) ................................................. pg. 61 Grfico 9 - Participao Percentual em Valor dos Mecanismos de Sada para a Amostra de Fundos Analisada (tempo: at 5 anos) ............................................................... pg. 61 Grfico 10 - Participao Percentual nas Transaes dos Mecanismos de Desinvestimento em Comportamento Recente de Sada para a Amostra de Fundos Analisada ................................................................................................................ pg. 62

SUMRIO ______________________________________________________________________

1

O PROBLEMA .................................................................................................... 1 1.1 Introduo ....................................................................................................... 1 1.2 Suposio ......................................................................................................... 2 1.3 Objetivos da Pesquisa ..................................................................................... 3 1.3.1 1.3.2 Objetivo Final ......................................................................................... 3 Objetivos Intermedirios ........................................................................ 3 4 4 4

1.4 Delimitao da Pesquisa ................................................................................. 3 1.5 Relevncia do Estudo ...................................................................................... 1.5.1 1.5.2 Pessoal e Profissional ............................................................................ Para a rea Acadmica ..........................................................................

1.5.3 Para a Sociedade ....................................................................................... 5

2

METODOLOGIA ............................................................................................... 2.1 Tipo de Pesquisa .............................................................................................. 2.2 Coleta de Dados ............................................................................................... 2.3 Limitaes do Mtodo .....................................................................................

6 6 6 6

3

OFERTA DE CRDITO NO BRASIL ............................................................ 8 3.1 Poltica Monetria ....................................................................................... 8

3.2 Dficit Pblico e Absoro de Recursos .................................................... 11 3.3 O Banco Central e a Taxa de Juros ............................................................ 15

4

INOVAO ........................................................................................................ 224.1 Inovao e Concorrncia ...........................................................................

22

4.2 Pequenas e Mdias Empresas Inovadoras ............................................... 25 4.3 Necessidades de Capital para a Inovao ............................................... 29

5 CAPITAL DE RISCO ....................................................................................... 36 5.1 Conceituao .............................................................................................. 36 5.2 Apoio Indstria em Outros Pases ........................................................ 395.3 O Capital de Risco no Brasil ..................................................................... 43

5.3.1 5.3.2

Histrico ............................................................................................ 43 Cenrio Atual .................................................................................... 48

5.4 Entraves ao Desenvolvimento do Mercado Brasileiro ............................ 54

6 ESTUDO DE CASOS .......................................................................................... 67 6.1 Introduo ................................................................................................. 67 6.2 Lupatech ................................................................................................... 68 6.3 Bematech .................................................................................................. 71 6.4 Microsiga .................................................................................................. 75

7 CONCLUSES E SUGESTES ...................................................................... 78 7.1 Concluses ................................................................................................. 78 7.2 Sugestes .................................................................................................... 82 BIBLIOGRAFIA ANEXOS ANEXO A: Relao dos 21 Fundos Mtuos de Investimento em Empresas Emergentes legalmente constitudos segundo a instruo CVM no 209, de 25 de maro de 1994. ANEXO B: Relao dos 15 Fundos de Investimento em Participaes legalmente constitudos segundo a instruo CVM no 391, de 16 de julho de 2003. ANEXO C: Guia Endeavor de Fundos de Capital de Risco e Private Equity 2004 ANEXO D: Tabela comparativa do retorno de diversas modalidades de investimento no Brasil de dezembro de 1979 a dezembro de 2003 - Valoriza - VCI Editora Ltda

1. O PROBLEMA ______________________________________________________________________

1.1 INTRODUO

A inovao um elemento estratgico na dinmica do desenvolvimento empresarial. Em um ambiente propcio ao seu desenvolvimento, empresas e pases articulam mecanismos que possam lhes assegurar vantagens competitivas em determinados mercados. Esta questo ainda mais premente para as naes em desenvolvimento, nas quais existe uma constante preocupao em alcanar as condies econmicas existentes nas naes mais desenvolvidas. Entretanto, a insero de inovaes no mercado caracterizada pelo risco. Sua explorao comercial contm um significativo grau de incerteza quanto aos resultados a serem alcanados, ainda que estes resultados possam ser altamente promissores. Romper paradigmas, adotar novos processos, viabilizar a aplicao comercial de novas tecnologias tudo isto envolve certo nus. Este o custo natural para o empreendimento que se lana na vanguarda, pois est de acordo com a dicotomia retorno x risco: quanto maior a possibilidade de retorno, maior o grau de risco. Pequenas e mdias empresas (PME) tendem a ser mais geis e criativas, a explorar novos nichos e oportunidades - o que as torna mais inovadoras. No se trata de lhes atribuir mais eficincia que a grandes empresas. que estas, geralmente, trilham caminhos mais seguros, atendendo a demandas j consolidadas. Por outro lado, PME, em regra, no possuem recursos prprios significativos, e tm pouco acesso ao mercado financeiro. So empreendimentos que ainda no dispem de fluxos de caixa e garantias reais expressivos, to necessrios para a obteno de emprstimos e financiamentos tradicionais. E como o capital de risco se insere neste contexto ? Embora a traduo no tenha sido uma unanimidade entre os agentes de mercado, esta a expresso em portugus equivalente a venture capital. Trata-se de uma modalidade de investimento particularmente desenvolvida nos Estados Unidos, com caractersticas inerentes que a posicionam como uma importante fonte de recursos para as pequenas e mdias

2 1. O PROBLEMA ______________________________________________________________________

empresas, especialmente as mais inovadoras. O desenvolvimento dessas empresas, chamadas neste trabalho de PMEI (Pequenas e Mdias Empresas Inovadoras), requer uma fonte de recursos sensvel a suas demandas. Este tipo de investimento possui algumas peculiariedades que o colocam como estratgico para a viabilizao mercadolgica das inovaes, integrando os objetivos das fontes de capital e do setor produtivo. Ao compartilhar os riscos do negcio, o capital de risco aposta no xito do empreendimento, que passa por um minucioso processo de anlise. Ao alimentar com recursos financeiros as PMEI, o capital de risco exerce forte efeito multiplicador na economia, ampliando a influncia de empresas com grandes vantagens competitivas e que podem tornar-se referncia em seus mercados. O investimento de risco, alm do capital, tambm concede significativa assistncia s empresas. Pode agregar expertise comercial, financeira e jurdica, entre outras, alm de ampliar sua rede de relacionamentos. habilidades e conhecimentos Isto de fundamental importncia, se considerarmos que grande parte das PMEI formada por profissionais com especficos, mas com limitada experincia gerencial. Entretanto, apesar das vantagens deste tipo de investimento para as partes envolvidas e de seus efeitos positivos para os mercados em geral, o capital de risco ainda no movimenta volumes de recursos condizentes com o tamanho da economia brasileira.

1.2 SUPOSIO Estaremos supondo que a insero contnua de inovaes no mercado, particularmente atravs das pequenas e mdias empresas, essencial para o desenvolvimento econmico. O mercado de capital de risco elemento estratgico neste processo, ao alimentar empresas inovadoras com recursos e ingerncia administrativa. Consideramos ainda que esta indstria no Brasil poderia ser robusta e diversificada em funo do porte, complexidade e potencial de nossa economia, apresentando-se restrita devido existncia de gargalos estruturais especficos.

3 1. O PROBLEMA ______________________________________________________________________

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

1.3.1

Objetivo Final

O objetivo final deste trabalho demonstrar que a escassez da oferta de crdito no Brasil restringe o desenvolvimento da indstria de capital de risco, diminuindo as possibilidades de investimento em empreendimentos inovadores. Procuramos demonstrar ainda que o prprio Estado o responsvel por esta externalidade negativa, devendo, por isso, intensificar o papel de articulador e fomentador de recursos para este mercado de importncia estratgica.

1.3.2 -

Objetivos Intermedirios Destacar a importncia da inovao no atual contexto econmico das empresas e naes, devido agregao de valor e aos diferenciais que ela pode propiciar no ambiente concorrencial;

-

Ressaltar

a

importncia

do

capital

de

risco

como

instrumento

de

desenvolvimento da economia, atravs do estmulo s PMEI; Expor os diversos obstculos para o desenvolvimento da indstria de capital de risco no pas, e sua relao com o mercado de oferta de crdito.

1.4 DELIMITAO DA PESQUISA O escopo deste trabalho analisar a relao crdito inovao - capital de risco, com nfase no estudo deste tipo de investimento. Foram discutidos diversos conceitos macroeconmicos apenas o mnimo possvel para a compreenso destes temas.

4 1. O PROBLEMA ______________________________________________________________________ Neste contexto, discorremos pontualmente sobre a questo da escassez de crdito no pas. Isto significa que as proposies foram efetuadas considerando-se um cenrio bastante especfico, que pode estar se modificando ou no. importante ainda citar que esta pesquisa aborda especificamente a atual indstria de capital de risco no Brasil, embora sejam feitas menes ao mercado externo e ao histrico desta atividade em nosso pas e no mundo.

1.5 RELEVNCIA DO ESTUDO

1.5.1 Pessoal e Profissional O autor exerce h aproximadamente trs anos a funo de analista de projetos na FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), atuando junto ao Projeto Inovar, que desenvolve instrumentos para estmulo a PMEI, principalmente atravs do fomento ao mercado de capital de risco. O presente estudo pode servir de colaborao para um melhor atravs de suas caractersticas e motivaes. A entendimento deste mercado

identificao dos principais obstculos para o seu desenvolvimento pode apontar para a operacionalizao de polticas pblicas que possuam maior amplitude e efetividade.

1.5.2

Para a rea Acadmica

A bibliografia existente sobre capital de risco no Brasil ainda bastante escassa, a despeito do potencial deste mercado para estimular o desenvolvimento econmico. A maior parte da literatura disponvel refere-se indstria em outros pases, principalmente os Estados Unidos, focando-se no estudo de casos. necessrio intensificarmos a discusso do tema no meio acadmico, a fim de desenvolvermos material crtico que possa colaborar em programas de expanso desta modalidade de investimento. Para tanto, necessrio traar um perfil do atual mercado e de nossa realidade econmica, assim como analisar nossos prprios casos de investimento.

5 1. O PROBLEMA ______________________________________________________________________

1.5.3

Para a Sociedade

Depois de mais de uma dcada de estabilizao monetria, as discusses econmicas no Brasil atual inevitavelmente passam pela discusso de polticas para o desenvolvimento econmico. Toda proposio neste sentido pode colaborar para a gerao de emprego e renda, com consequente aumento de bem-estar para a sociedade. As polticas sugeridas devem ser objeto de amplo debate, a fim de se demonstrar uma relao favorvel entre custo de implantao e impacto econmico. O estmulo ao mercado de capital de risco pode ser um dos meios para alcanarmos o dinamismo empresarial que nos coloque em uma trajetria de expanso econmica sustentada.

2. METODOLOGIA ______________________________________________________________________

2.1 TIPO DE PESQUISA A metodologia que adotamos a de Sylvia Vergara.1 Podemos definir esta pesquisa como sendo explicativa em relao a suas finalidades, na medida em que o objetivo central do trabalho estabelecer a relao crdito inovao capital de risco, assim como esclarecer acerca dos motivos do no-desenvolvimento pleno deste mercado no Brasil. Quanto aos meios de investigao, trata-se de uma pesquisa bibliogrfica, por nos apoiarmos basicamente em material impresso e eletrnico de acesso pblico. Utilizamos indistintamente fontes primrias e secundrias.

2.2 COLETA DE DADOS O mercado de capital de risco no Brasil bastante recente, e encontra-se em fase de posicionamento de seus principais atores. H pouco material disponvel em livros, o que nos levou a no nos limitarmos a este tipo de fonte para este trabalho. Sendo assim, pesquisamos tambm em teses e dissertaes, relatrios, artigos de jornais e revistas, arquivos eletrnicos, sites especializados e apresentaes realizadas para pblico direcionado a este tema. Aproveitamos ainda pesquisas de campo j realizadas com agentes do mercado de capital de risco e disponveis nestas publicaes.

2.3 LIMITAES DO MTODO Como j foi dito, a pesquisa bibliogrfica tem como principal limitao a escassez de publicaes especficas sobre capital de risco no pas, j que nossa indstria ainda est em formao. H poucos registros e estudos de empresas que tenham passado por todo o ciclo de investimentos, a fim de serem apresentadas como casos de sucesso. Em relao a dados globais sobre aportes de capital efetuados, consideramos como

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e Relatrios de Pesquisa em Administrao. 5a ed. So Paulo: Atlas, 2004.

1

2. METODOLOGIA

7

____________________________________________________________

plenamente confiveis apenas os obtidos nas pesquisas da Thomson Venture Economics2 para a ABCR (Associao Brasileira de Capital de Risco), atual ABVCAP (Associao Brasileira de Private Equity & Venture Capital) , ou seja, do ano 2000 em diante. Utilizamos neste trabalho uma srie de conceitos macroeconmicos a fim de possibilitar a abordagem do tema. Entretanto, eles no foram desenvolvidos exausto, visto no serem seu objeto especfico. Apesar de almejarmos a neutralidade, consideramos ainda a existncia de uma limitao no que diz respeito interpretao do material pesquisado. O fato de o autor estar envolvido em aes governamentais de fomento ao mercado de capital de risco pode contribuir para um relativo direcionamento em suas concluses e proposies.

ABCR, THOMSON VENTURE ECONOMICS. Pesquisa sobre o Mercado de Capital de Risco para o Segundo Semestre de 2003. Disponvel em < www.abcr-venture.com.br >. Acesso em 17 ago. 2004.

2

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL ______________________________________________________________________

3.1 POLTICA MONETRIA

A poltica monetria um importante instrumento para movimentar a demanda na direo desejada, atravs da alterao do nvel da taxa de juros e da disponibilidade monetria do sistema. Os instrumentos monetrios usuais so representados pelos recolhimentos (emprstimos) compulsrios, pelas operaes de redesconto e pelo mercado de ttulos pblicos. Atravs deles, as autoridades monetrias regulam a oferta de moeda e de crdito, segundo a convenincia do sistema, em sentido expansionista ou restritivo. Descrevemos a seguir, de forma resumida, cada um destes instrumentos. Recolhimentos compulsrios (emprstimos compulsrios): so depsitos que os bancos so obrigados a manter em reserva bancria no BC (Banco Central). Esses depsitos so percentuais dos depsitos que os bancos possuem, geralmente efetuados em espcie (reservas bancrias) ou ainda em ttulos indicados pela autoridade monetria. juros, ao estabilizarem a demanda por reservas bancrias. Operaes de redesconto (assistncia financeira de liquidez): so emprstimos na forma de crdito em reservas bancrias que o Banco Central disponibiliza aos bancos, a fim de atender a suas necessidades eventuais de reservas . O BC geralmente influencia a maior ou menor procura por esta linha de financiamento ao alterar a taxa de redesconto dos ttulos, ao estabelecer os tetos deste tipo de operao ou ainda ao criar restries quanto s espcies de ttulos que podem ser redescontados. Operaes de mercado aberto (open market): so leiles de compra e venda de ttulos pblicos por parte do BC, afetando diretamente o volume de reservas bancrias. Quando a venda de ttulos maior que o resgate, as reservas bancrias diminuem; se o resgate de ttulos pblicos maior que a venda, as reservas aumentam. sobre o nvel das reservas e evitam a volatilidade na taxa de juros de curto prazo. So o instrumento mais efetivo para o gerenciamento de liquidez, j que operam diretamente Os emprstimos compulsrios facilitam a ao do Banco Central na fixao da taxa de

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

9

____________________________________________________________

Frequentemente, o

Banco Central faz intervenes dirias no mercado atravs de

leiles informais (go-arounds) para amortecer as presses sobre a taxa de juros. As funes especficas destes instrumentos so descritas abaixo, e suas metas esto sintetizadas na Tabela 1.Atualmente, as principais funes do recolhimento compulsrio so: (a) fornecimento de liquidez ao sistema bancrio, diminuindo a probabilidade de ocorrncia de pnicos financeiros; (b) controle de crdito, atravs da influncia nas condies em que o mesmo concedido, uma vez que um aumento no recolhimento compulsrio equivale a uma taxao sobre a captao de recursos, aumentando o custo de oportunidade na manuteno de encaixes ociosos; (c) estabilizador da demanda por reservas bancrias, ao tornar mais fcil e estvel o gerenciamento de liquidez por parte de cada banco. 3 A assistncia financeira de liquidez tem funcionado em vrios pases como uma vlvula de segurana colocada disposio dos bancos para solucionar eventuais problemas individuais de caixa ao final do dia ou ao final do perodo de manuteno do recolhimento compulsrio, evitando a existncia de saques a descoberto na conta de reservas bancrias.4

Este instrumento (operaes de mercado aberto) recomendado tanto para a realizao da gerncia de liquidez como para a sinalizao da taxa de juros bsica. Nessas operaes, o sinal do rumo da poltica enviado por intermdio da divulgao da taxa de juros pela qual foram negociados os ttulos ou reservas entre o Banco Central e o mercado. (...) No Brasil, a gerncia de liquidez tradicionalmente tem sido feita principalmente atravs das operaes de mercado aberto, ainda que as operaes de redesconto de liquidez tenham tido um papel importante no perodo 1996/99.5

CARVALHO, Fernando J. Cardim de et al. Economia Monetria e Financeira. So Paulo: Campus, p. 128, 2000.4 5

3

Idem, p. 134. Idem, p. 140.

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

10

_____________________________________________________________Tabela 1 Estrutura Analtica da Poltica MonetriaInstrumentos de poltica Recolhimentos compulsrios Redesconto de liquidez Operaes de mercado aberto Outros instrumentos Outras metasFonte: CARVALHO, Fernando J. Cardim de et al. Economia Monetria e Financeira. So Paulo: Campus, p. 123, 2000.

Metas Metas Intermedirias Metas finais de Operacionais poltica Taxa de juros de curto Taxa de juros de longo Inflao prazo prazo Nvel de atividade Agregados monetrios econmica Reservas agregadas Taxa de desemprego Estabilidade do sistema financeiro

As restries ao crdito so tradicionalmente usadas para o controle da inflao, cujas inmeras causas no nos cabe aqui discutir com profundidade. Entretanto, sabe-se que quando o governo gasta mais do que arrecada, recorrendo emisso descontrolada de moeda para cobrir seus dficits, promove um desequilbrio entre a oferta e a procura pela insero desses adicionais de meios de pagamento, com consequente elevao de preos. Assim, ao restringir o crdito, o governo estaria reduzindo a quantidade de moeda disponvel, a fim de promover uma acomodao dos preos. Embora existam diversos instrumentos para o controle da inflao e da demanda, a taxa de juros o mais utilizado em todos os pases, de acordo com as citaes apresentadas a seguir.A poltica monetria conduzida, na prtica, com o propsito de influenciar o nvel da taxa de juros de curto prazo atravs de mudanas na oferta de reservas bancrias. Ainda que a poltica possa no ser conduzida com o propsito exclusivo de fixar a taxa de juros, este objetivo constitui-se em importante meta operacional, viabilizando a consecuo das metas finais, que podem ser estabilidade de preos e/ou sustentao de um nvel desejado de produto e emprego. 6 Deve-se ressaltar que, ainda que alguns bancos centrais voltem-se para o controle de agregados monetrios, eles conduzem a sua poltica monetria no dia-a-dia por meio da fixao da taxa de juros de curto prazo, que , portanto, na prtica, a meta operacional de poltica monetria. A definio dessa taxa feita pelo Banco Central, que, de acordo com seu desenho institucional, pode preanunciar a taxa com que vai operar em determinado perodo. 7CARVALHO, Fernando J. Cardim de et al. Economia Monetria e Financeira. So Paulo: Campus, p. 144, 2000.7 6

Idem, p. 123.

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

11

_____________________________________________________________As medidas monetrias no devem ser usadas isoladamente, pois podem afetar de forma mais incisiva determinados setores da economia, gerando uma srie de desequilbrios. comum o governo associar uma poltica fiscal poltica monetria. A poltica fiscal aumentaria impostos e reduziria as despesas do governo, a fim de frear o dficit pblico. Entretanto, ainda que sejam articuladas as polticas monetria e fiscal, a inflao pode no se acomodar no nvel desejado. Em uma economia moderna, ela se origina em parte do lado da oferta (inflao de custo), situao na qual os instrumentos de poltica monetria no apresentam um resultado to efetivo.

3.2 DFICIT PBLICO E ABSORO DE RECURSOS

Os sucessivos governos no Brasil tm uma dificuldade crnica no controle de seus dficits. A origem deste desequilbrio bastante antiga, e suas causas plenamente conhecidas: trata-se de gastar mais do que se arrecada. Entretanto, as solues para este problema so extremamente complexas, pois significam fazer escolhas poltica, econmica ou socialmente desgastantes. Cortar despesas pblicas implica diminuir investimentos em setores considerados prioritrios e/ou reduzir os gastos com a folha de pagamentos. H ainda a possibilidade, a longo prazo, de otimizar a mquina pblica, tentando-se fazer mais com menos. Mas o fato que os governantes geralmente optam pelas alternativas mais simples e menos traumticas. O dficit pblico no Brasil tem crescido nos ltimos anos, apesar do aumento da arrecadao. Em 2003, a carga tributria correspondeu a cerca de 35% do PIB (Produto Interno Bruto), provocando insatisfao generalizada junto ao setor produtivo. Provavelmente, a estatstica oficial de 2004 deve mostrar um incremento nesta proporo. O governo ento acaba recorrendo poupana privada para a rolagem de sua dvida, o que provoca o racionamento do crdito. Contudo, esta poltica inviabiliza inmeros projetos de investimento, retardando o crescimento e a modernizao da economia, e tendo efeitos bastante negativos sobre os nveis de emprego e renda.

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

12

_____________________________________________________________A despeito dos benefcios da estabilidade econmica, muitos crticos da poltica monetria implantada aps o Plano Real alegam que ocorreu uma troca de emisso descontrolada de moeda (inflao) por emisso contnua e adversa de ttulos pblicos. O governo transacionaria seus papis em condies extremamente desfavorveis, pagando taxas de juros muito acima da mdia de outros pases com perfil semelhante. Desta forma, estaramos incrementando a dvida pblica cada vez mais, reduzindo a taxa de investimento e freando o desenvolvimento econmico. A matria abaixo expe essa questo de forma bastante incisiva.Desde o lanamento do Plano Real, em 1994, a Dvida Pblica Mobiliria Federal Interna (DPMFi) vem sendo usada como prachoque para amortecer os efeitos de diversos desequilbrios da economia brasileira. Como resultado dessa estratgia, nos ltimos dez anos a DPMFi deu um vertiginoso salto, aps um longo histrico de absoro de choques internos e externos. O primeiro e maior contribuinte para o aumento da dvida pblica foi a manuteno de juros sempre elevados, para atrair o capital externo (mesmo que especulativo) e financiar os crescentes dficits no balano de pagamentos do pas (...) O Plano Real estabilizou os preos, mas promoveu uma espcie de troca de inflao por endividamento. As despesas do governo com pagamento de juros equivaleram a 19,29% do PIB acumulado de 1995 a 1998, e mais 39,51% do PIB de 1999 a 2003. Como a economia feita pelo governo com supervits fiscais que s comearam a existir aps 1998 foi sempre muito menor do que isso, o gasto com juros foi coberto com mais emisso de dvida. 8

A realidade que podemos afirmar que a origem de grande parte das discusses macroeconmicas no Brasil est na ausncia de um consenso de como administrar a dvida pblica. Segundo o BC9, a dvida lquida do setor pblico em dezembro de 2004 correspondia a R$ 957 bilhes (51,8% do PIB). Entretanto, parece ter ficado para trs o tempo em que se acreditava em solues heterodoxas. H um universo restrito de opes para gerao de caixa pelo governo a fim de financiar e/ou amortizar a dvida, todas elas com uma srie de implicaes, conforme exposto em seguida.8

KUTNEY, Pedro. Juro elevado pressiona a dvida pblica - o atual nvel de taxas e supervits primrios no suficiente para estabilizar o passivo do Estado. Valor Econmico, So Paulo, p. C8, 20 set. 2004.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Nota para a Imprensa - Poltica Fiscal - III - Dvida lquida do setor pblico. Disponvel em . Acesso em 28 jan. 2005.Cabe registrar a queda significativa na relao dvida/PIB em relao a 2003 (5,4 p.p. do PIB), interrompendo a trajetria de alta observada desde 1994. Este fato decorreu de aes de equilbrio fiscal, crescimento da economia, menor apropriao de juros e estabilidade cambial.

9

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

13

_____________________________________________________________- Aumento de impostos inibe o consumo em geral e a competitividade das empresas brasileiras. Cabe destacar que a carga tributria do pas j excessivamente elevada, no havendo condies econmicas nem polticas de increment-la ainda mais; - Gerao de supervits diminui os investimentos pblicos, tanto os mais diretamente demandados pela populao (sade, educao, segurana etc.) quanto aqueles essenciais para o desenvolvimento econmico (infraestrutura, cincia e tecnologia etc.); - Emisso de moeda recurso gerador de inflao utilizado amplamente durante dcadas. Acarreta graves consequncias, que vo da desordem econmica tributao indireta, principalmente das classes menos favorecidas; - Colocao de ttulos no mercado aumenta a prpria dvida, seus juros e os juros de todo o mercado, desviando recursos que naturalmente migrariam para o setor privado. Desestimula o consumo, a produo e a competitividade das empresas; - Emprstimos internacionais dependem da boa vontade de organismos pblicos internacionais e da liquidez de instituies financeiras. Tambm incrementam a dvida, que vai sendo refinanciada em condies cada vez menos favorveis; - Otimizao da mquina pblica alternativa mais sensata, e tambm a mais difcil de ser implementada, conforme dito anteriormente. Envolve enorme desgaste poltico na reestruturao do funcionalismo e na discusso de seus direitos e deveres, na implantao de parmetros mnimos de eficincia do Estado e no combate corrupo. A alternativa de restringir a oferta de crdito tem sido adotada intensamente h mais de uma dcada, retirando de circulao uma boa parte dos recursos que deveriam estar financiando projetos e/ou fornecendo capital de giro ao setor privado. importante considerarmos que, ainda que extremamente alta, a taxa de juros de referncia (taxa SELIC) sinalizada pelo governo um parmetro apenas para suas prprias operaes. Isto significa que os outros tomadores de recursos na sociedade, como as pessoas jurdicas, no conseguem uma taxa prxima quando necessitam de capital.

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

14

_____________________________________________________________

As instituies financeiras seguem a lgica do capital ao priorizarem o governo na concesso de emprstimos, canalizando a maior parte de seus recursos para refinanciar a dvida pblica. muito mais provvel que uma empresa deixe de pagar do que o governo o faa. Alm disso, emprstimos ao setor privado demandam mais trabalho e desgaste em sua operacionalizao. Da a distncia que separa as taxas de juros da dvida pblica e as taxas dos emprstimos ao setor produtivo o chamado spread bancrio. O mercado financeiro, tendo o Estado como principal tomador de recursos, obtm boa remunerao aliada a reduzidos risco e volatilidade. A operao servir de parmetro para todas as outras operaes de emprstimo, nas quais o nvel de exigncias ser em muito ampliado. Esta questo foi abordada por um gestor de recursos de forma bastante objetiva no artigo abaixo reproduzido.Os investidores brasileiros se acostumaram com uma aberrao financeira: uma oportunidade de investimento garantido pelos contribuintes (Governo Federal) com baixa volatilidade e retorno alto. O CDI teve um retorno de 18% nos ltimos 12 meses, com volatilidade de 0,15%. De fato, a teoria financeira concede que baixa volatilidade , ocasionalmente, sinnimo de baixo risco mas tambm de baixo retorno. Essa situao no necessariamente verdadeira quando se trata da taxa de juros brasileira, nem quanto volatilidade nem quanto ao retorno. 10

Podemos ter uma noo do efeito desta poltica no setor produtivo quando comparamos a oferta de crdito no Brasil com a oferta em outros pases. Segundo matria da Gazeta Mercantil, o crdito concedido pelas vias bancrias em nosso pas corresponde a aproximadamente 27% do PIB, enquanto em pases desenvolvidos essa relao chega a 100% ou a 120%, como no Japo.11 Considerando-se que as necessidades de capital em pases em desenvolvimento so mais prementes, a situao grave no que concerne a prover condies mnimas de expanso econmica.

10 11

BOURGEOIS, Alexandre. Palavra do Gestor. Valor Econmico, So Paulo, p. D2, 17 ago. 2004.

NUNES, Dimalice. Serasa descarta aumento da inadimplncia em 2005. Gazeta Mercantil, So Paulo, 10 nov. 2004. Disponvel em . Acesso em 14 mar. 2005.

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

15

_____________________________________________________________

3.3 O BANCO CENTRAL E A TAXA DE JUROS

Embora se configurem em um tema bastante atraente, no iremos nos aprofundar nos motivos da manuteno das taxas de juros em patamares to elevados por vrias administraes no Brasil. importante ressaltar apenas que acreditamos em um conjunto de causas relacionadas que no se limitam ao carter de controle dos nveis futuros de inflao, embasado por vasta literatura clssica e pelo senso comum. Uma discusso sobre o tema pode encontrar diversas incongruncias nos argumentos recorrentemente apresentados pelo BC para elevao da SELIC em funo do controle da inflao futura: a constatao da elevao de preos e a limitao da capacidade produtiva do pas em relao demanda. No primeiro caso, uma srie de estudos apontam que um dos maiores responsveis pela inflao no Brasil a correo das tarifas pblicas. Trata-se de preos administrados que esto indexados aos ndices Gerais de Preos (IGPs) atravs de contrato. O governo parece estar ciente do problema, pois decidiu mudar para o ndice de Preos ao Consumidor Amplo (IPCA) acompanhado pelo Banco Central e sujeito poltica monetria os indexadores da maioria dos futuros contratos de concesso. H que se acrescentar ainda a grande influncia dos preos de certos produtos, como ao e petrleo, que acompanham o mercado externo, independente da demanda interna. Quanto limitao da capacidade produtiva, existe uma complexa discusso sobre os reais limites de produo que acompanhariam a demanda sem causar inflao (produto potencial), tanto em funo dos indicadores quanto da metodologia utilizada. Alm disso, no se sabe ao certo como fazer o casamento entre incremento da demanda e aumento da produo, e nem se isso plenamente factvel, existindo diversas teorias a respeito. O fato que nas ltimas dcadas a economia brasileira nunca operou sobre sua capacidade mxima os perodos de recesso sempre interromperam o crescimento. As matrias e os artigos seguintes, retirados de sees e/ou veculos especializados em economia e finanas, abordam exatamente estes pontos.

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

16

_____________________________________________________________(...) em um primeiro momento a retomada (do crescimento econmico) se d sobre a capacidade ociosa e medida que se confirmem as expectativas sobre o nvel de atividade futuro, a capacidade da economia ampliada por novos investimentos. (...) A trajetria da inflao no Brasil est muito mais relacionada a impulsos gerados por choques negativos de oferta e indexao de contratos do que por assimetrias da economia real. 12 (...) a superao de certo limite de utilizao da capacidade , juntamente com a confiana no futuro e a disponibilidade de fundos, uma das principais pr-condies requeridas pelos empresrios para a tomada de deciso de investir na ampliao dos negcios. (...) A questo relevante, portanto, qual o hiato de produto hoje existente na economia brasileira. (...) As sondagens conjunturais, utilizadas para aproximar respostas ao problema, so pesquisas sabidamente falhas, pois os empresrios tendem a basear suas respostas no grau de utilizao da capacidade operacional, o que embute, inevitavelmente, um certo ajustamento s condies de demanda que esto enfrentando. Em lugar de medirem propriamente o grau de utilizao da capacidade produtiva realmente disponvel, essas pesquisas captam as avaliaes dos respondentes sobre cumprimento ou no do planejamento da produo realizado para o perodo. (...) O crescimento econmico de longo prazo , em si mesmo, um processo desequilibrado. A expanso mais rpida de certos setores cria gargalos que foram a realizao de investimento e a introduo de inovaes tecnolgicas que, por sua vez, geram novos gargalos e assim sucessivamente.13 A indexao continua sendo um problema srio na economia brasileira e vem prejudicando a poltica de combate inflao. (...) O coordenador da pesquisa de preos da Fipe/USP, Paulo Pichetti, lembra que na ponderao do IPCA, 30% cabem aos preos administrados e monitorados e com estes que o BC est preocupado. (...) A poltica de metas de inflao manchada por essa indexao. As tarifas pblicas afetam todas as classes de consumidores, e tambm as empresas. E esses preos fazem parte da formao de outros preos, diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor na Unicamp.14

12

GOMES, Carlos Thadeu de Freitas; FILHO, Thadeu. Capacidade instalada e receios inflacionrios BC superestima relao entre nvel de oferta e inflao. Valor Econmico, So Paulo, p. A8, 13 out. 2004 . KUPFER, David. Desequilbrio virtuoso. Valor Econmico, So Paulo, p. A9, 20 out. 2004

13 14

MALTA, Cynthia. Indexao ainda problema srio e prejudica combate inflao. Valor Econmico, So Paulo, p. A5, 15, 16 e 17 out. 2004 .

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

17

_____________________________________________________________ sabido que o sistema de metas inflacionrias do Banco Central do Brasil sofre uma distoro estrutural, porque baseado em um ndice que engloba, de um lado, preos livres e preos administrados e, de outro lado, preos de produtos comercializveis (tradables) e no comercializveis (nontradables). Os preos administrados esto indexados por uma correo monetria contratual e, portanto, fogem ao controle do Banco Central. O mesmo acontece com os preos dos bens comercializveis, ligados s exportaes que, geralmente, variam de acordo com as cotaes nos mercados externos. Quando o Banco Central fixa a taxa de juros bsica (Selic), seus efeitos se fazem sentir fundamentalmente sobre a parcela dos preos livres no comercializveis. 15

Os setores produtivos costumam argumentar que diante do mnimo sinal de aquecimento econmico ocorre uma insistente elevao dos juros no pas, paralisando o prprio processo de crescimento. Sem entrarmos no mrito da necessidade ou no desta medida para controle da inflao futura, consideramos que pouco se discute a funo da poltica monetria no Brasil de criao de condies para girar a dvida pblica. Neste contexto, importante notar a caracterstica de mercadoria dos papis pblicos, dentro de um portflio, a experimentar flutuaes de oferta e procura e tendo que incrementar sua prpria demanda a partir da elevao de seus atributos. Prosseguindo neste raciocnio, chegaremos concluso de que o BC no tem o poder de fixar as taxas de juros como quer. Ele define a taxa bsica (SELIC) que remunera a troca de reservas entre as instituies financeiras, mas as outras taxas so estabelecidas pelos investidores privados. Desta forma, se reduzir as taxas de curto prazo e isto for entendido como um movimento no embasado, possvel que as taxas de longo prazo subam. Se o mercado financeiro entender que existe uma estipulao inadequada da SELIC, pode no procurar papis pblicos ou exigir um prmio por sua aquisio, o que na prtica vai fazer com que o Governo volte a pagar as taxas anteriores. Caso os investidores migrem para outros ativos, negando-se a adquirir ttulos pblicos, alm do problema de no-rolagem da dvida poderia haver outras graves consequncias econmicas. O dlar, com certeza, seria uma opo a ser considerada, o que poderia15

GALVAS, Ernane. Poltica de contradies. Jornal do Brasil , 10 nov. 2004. Disponvel em < jbonline.terra.com.br>. Acesso em 10 nov. 2004.

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

18

_____________________________________________________________

gerar uma desvalorizao intensa e descontrolada da moeda nacional, com incremento das presses inflacionrias. Na prtica, no existe consenso quanto ao que seria uma velocidade razovel de queda (ou aumento) da taxa de juros e ao patamar mnimo que o mercado financeiro estaria disposto a pagar pela rolagem da dvida em dado cenrio econmico, nacional e internacional. Desconsiderando todos estes fatos, acabou por se desenvolver uma espcie de

mitificao no meio empresarial e na mdia a respeito do papel do Banco Central na utilizao dos instrumentos de poltica monetria, particularmente a taxa de juros. Desta forma, as administraes do BC so taxadas de mais ou menos conservadoras, liberais ou monetaristas. Todavia, alm da interao que o Banco Central possui em relao aos mercados financeiros, como exposto, existem outras importantes questes a serem consideradas na relao desta instituio com o poder executivo. A razovel independncia que as seguidas administraes do BC vm

apresentando no Brasil foram explicitamente concedidas pelos respectivos governos, a despeito da inexistncia de uma independncia formal, concedida atravs de lei. Alm disso, o Banco Central tem que cumprir o objetivo de inflao pr-determinado pelo governo. E para o cumprimento desta meta, como vimos anteriormente, no h muitas opes de instrumentos de poltica monetria, sendo a taxa de juros a principal delas, ainda que no seja to eficiente em determinados contextos. Na realidade, o posicionamento dos ltimos governos brasileiros a este respeito tem se alinhado com a Poltica Monetria Novo-Clssica. Esta escola de pensamento, fundada por Robert Lucas, Thomas Sargente e Neil Wallace, e que tem em Charles Goodhart e Alex Cukierman destacados representantes, considera essenciais a independncia do banco central e o regime de metas inflacionrias. Reproduzimos em seguida algumas referncias bastante esclarecedores a respeito destes temas.

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

19

_____________________________________________________________

(...) a independncia de um Banco Central no significa to-somente autonomia para realizar polticas monetrias sem a interferncia do governo central; significa acima de tudo independncia para perseguir o objetivo da estabilidade de preos, mesmo que esta busca represente sacrificar outros objetivos que podem ser mais importantes para as autoridades polticas. Os proponentes da tese da IBC tm argumentado que um Banco Central independente deve assumir a tarefa estatutria nica de guardio da estabilidade do poder de compra da moeda. Goodhart afirmou que se a poltica monetria possui mais de um objetivo e estes caracterizam um processo de escolha onde emerge um trade-off (inflao e desemprego, por exemplo), ento, a deciso sobre os rumos monetrios ser certamente uma deciso poltica tomada fora do Banco Central. (...) Em suma, independncia do Banco Central tem um claro significado para os seus proponentes: plena liberdade de ao para as autoridades monetrias com o objetivo nico de combater a inflao. 16

As metas inflacionrias no Brasil so anunciadas pelo Conselho Monetrio Nacional que presidido pelo Ministro da Fazenda. O ndice escolhido foi o IPCA, calculado pelo IBGE. (...) O governo delegou as decises de politica monetria e a responsabilidade pelo cumprimento das metas aos dirigentes do Banco Central (Bacen). (...) Em tese, o no-cumprimento da meta pode provocar, at mesmo, a demisso do presidente do Bacen e da sua diretoria. (...) O regime de metas inflacionrias prope uma meta de crescimento para algum ndice de inflao, que anunciada no incio de um determinado perodo. A meta estabelecida pelo governo e/ou parlamento e deve ser perseguida pelo Banco Central. A poltica monetria passa a ter um nico objetivo, alcanar a meta inflacionria determinada. Assim, os dirigentes do Banco Central no devem se preocupar com o desempenho de outras variveis macroeconmicas. 17

A Poltica Monetria Novo-Clssica, embora tenha alcanado uma razovel projeo internacional, est longe de representar um consenso. Economistas de diversas formaes, em especial keynesianos, vm fazendo oposio aos seus principais pressupostos, em particular a independncia do Banco Central, conforme depreendemos da transcrio seguinte.

16 CARVALHO, Fernando J. Cardim de et al. Economia Monetria e Financeira. So Paulo: Campus, p. 213, 2000. 17

Idem, p. 226.

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

20

_____________________________________________________________Os velhos economistas keynesianos, como James Tobin, e os pskeynesianos tambm so contrrios tese da IBC. Argumentam que a poltica monetria tem efeito no somente sobre as variveis nominais, mas tambm sobre as variveis reais da economia. Portanto, a poltica monetria deve ser acionada de forma coordenada e no independente das demais polticas econmicas. O seu objetivo deveria ser noexclusivo, isto , controlar to-somente a inflao mas tambm reduzir o desemprego.18

Entretanto, aqueles que so favorveis independncia do Banco Central costumam apontar estudos e estatsticas sobre sua influncia na reduo das taxas de juros em outros pases. Segundo seus defensores, h uma correlao negativa entre autonomia legal do Banco Central e inflao, e positiva quanto ao aumento do PIB. O Banco Central brasileiro seria um dos menos independentes da Amrica Latina, com uma das maiores taxas de rotatividade. De fato, possumos sete presidentes da instituio desde a implementao do Plano Real. O Mxico, por exemplo, que formalizou a independncia de seu BC em 1993, teve apenas dois presidentes desde ento. De todo modo, as metas de inflao perseguidas pelo governo brasileiro vm sendo criticadas at mesmo por aqueles que apiam o regime de metas de inflao. A esse respeito, reproduzimos parte de um interessante artigo no qual o autor aborda tambm a metodologia de mensurao das expectativas de inflao atravs de informaes colhidas exclusivamente no mercado financeiro, onde existe o bvio interesse em continuar tendo remuneraes atraentes com aplicaes em ttulos pblicos.Todas as semanas o Boletim Focus, elaborado pelo Banco Central com base em consulta a cerca de cem bancos e consultorias, busca refletir as expectativas do mercado no que se refere ao comportamento futuro da inflao, do cmbio, do nvel de atividades e, como no poderia deixar de ser, das taxas de juros. com base nesse processo que se cria a formao de falso consenso, na medida em que o mercado tenta expressar o que acha que o Copom vai fazer nos prximos meses. O mercado olha a meta de inflao e aposta que, diante do quadro, no haver reduo das taxas. (...) na verdade, o Copom fez o que o mercado, aqui entendido basicamente como a opinio dos agentes do mercado financeiro, achou que ele faria. (...) O problema que a meta (de inflao) fixada excessivamente pretensiosa para a realidade que vivenciamos. (...) Na verdade, preciso preservar o sistema de metas

CARVALHO, Fernando J. Cardim de et al. Economia Monetria e Financeira. So Paulo: Campus, p.225, 2000.18

3. OFERTA DE CRDITO NO BRASIL

21

_____________________________________________________________de inflao, mas flexibiliz-lo para melhor adapt-lo realidade brasileira. Isso envolveria criar um mecanismo negociado de transio para os preos indexados, sem gerar quebras contratuais. Da mesma forma, valeria alongar o horizonte das metas (...) 19

Por outro lado, como j foi dito, a anlise das limitaes da capacidade produtiva leva a uma intensa discusso acerca da prpria possibilidade de expanso econmica sem que haja necessariamente um incremento da inflao em um primeiro instante. Trata-se de questo complexa, pois os empresrios adotam certo conservadorismo quanto s decises de investimento, postura justificada pelos curtos ciclos de expanso anteriores. Naturalmente, eles esperam a confirmao das tendncias de crescimento para iniciarem a ampliao da capacidade, o que pode demorar um perodo maior ou menor, dependendo do setor. De qualquer forma, levando-se em conta o fato de no existir (ainda) independncia formal do BC no Brasil, qualquer questionamento quanto conduo da poltica monetria deveria ser dirigido exclusivamente ao governo e sua equipe econmica, que poderia discuti-la com os diversos setores demandantes da sociedade considerando estritamente os seguintes aspectos: - a rolagem da dvida, a remunerao dos ttulos pblicos e sua demanda, e a relao do governo com o mercado financeiro; - o regime de metas de inflao e/ou as metas de inflao estabelecidas; - a independncia, formal ou no, do Banco Central; - o peso e/ou a exclusividade das consideraes de agentes do mercado financeiro na formao das expectativas de inflao; - a possibilidade de mensurao da capacidade produtiva instalada, de seu incremento simultneo ao aumento do consumo e as alternativas de abastecimento em diversas cadeias produtivas.

19

LACERDA, Antnio Corra de. Um falso consenso na questo dos juros Sistema de metas de inflao precisa ser flexibilizado e adaptado realidade. Valor Econmico, So Paulo, p. A10, 8, 9 e 10 out 2004.

4. INOVAO ______________________________________________________________________

4.1 INOVAO E CONCORRNCIA

A concorrncia um importante elemento para a dinmica do capitalismo. atravs dela que os vencedores so selecionados pelo mercado, potencializando as chances de empreendimentos mais aptos prosperarem a fim de incrementarem a gerao de riqueza. Entretanto, no h um consenso terico sobre seu grau de importncia ou seu modo de atuao dentro do sistema. Na Economia Clssica, temos o conceito de concorrncia perfeita, desenhado por Smith e Ricardo. Esta linha de raciocnio apoia-se na noo de livre mobilidade do capital entre as diversas indstrias que compe a economia. Nesse sentido, a concorrncia vista como um processo temporal, onde os investimentos seguem para as indstrias com lucro em patamares maiores, e distanciamse das indstrias de menor remunerao. Esse fluxo incessante de capitais, que estabelece uma verdadeira concorrncia entre eles, seria o responsvel por uma tendncia igualao do lucro entre os diferentes setores econmicos. E como seria definido o lucro numa dada indstria ? A teoria clssica estabelece que, no equilbrio de mercado, o preo de determinado produto igual ao seu custo marginal. O custo marginal seria o custo de aquisio ou produo da empresa vendedora acrescido de seu custo de oportunidade. Desta forma, no encontro das curvas de oferta e de demanda encontraramos preo e quantidade adequados da a noo de equilbrio. Ou seja, haveria um ponto ideal onde ocorreria o encontro das duas curvas do vendedor e do comprador e neste ponto uma conciliao de interesses equilibrada que favorecesse toda a sociedade. A concorrncia seria um processo de correo de desequilbrios, com eliminao de lucros anormais e deficincias. A viso schumpeteriana, entretanto, vai de encontro s principais colocaes da teoria clssica. Para Schumpeter, a concorrncia um processo evolutivo, dinmico, caracterizado principalmente pelas inovaes, que surgem a fim de propiciar novas vantagens lucrativas para as empresas. uma viso econmica ao longo do tempo, que potencializa a importncia das mudanas nos produtos, processos produtivos, fontes de

4. INOVAO

23

_____________________________________________________________matrias-primas, organizaes e mercados. Desta forma, as inovaes seriam

impulsionadoras dos saltos qualitativos de empresas e naes. A inovao, neste contexto amplo, priorizada por propiciar s empresas lucros extraordinrios decorrentes de suas vantagens competitivas. As empresas se esforam para construir vantagens em relao s outras, e estas vantagens iro propiciar ganhos monopolistas, ainda que temporrios e restritos a determinados nichos. A concorrncia no supe um estado normal ou de equilbrio, e seu desfecho depender da interao de foras, em particular dos novos concorrentes e sua performance no mercado. Esta interao entre as estratgias competitivas das empresas e as estruturas de mercado existentes ir gerar a dinmica de determinada indstria, que vai se aperfeioando e se transformando com o tempo. Em contraste com a viso clssica, na concorrncia schumpeteriana destaca-se a diferenciao propiciada pelas inovaes inseridas no mercado. No existir qualquer tendncia a uma homogeneizao entre os atores de uma mesma ou de diferentes indstrias, mesmo que haja livre mobilidade do capital entre elas. A criao de novas oportunidades lucrativas a dimenso ativa da concorrncia, promovendo diferenciao e transformaes. A correta aplicao desses conceitos s possvel quando analisamos a concorrncia ao longo do tempo, como um processo dinmico, em oposio viso esttica e tradicional dos estados de equilbrio. As empresas iro lutar incessantemente pela gerao de novas vantagens competitivas e pela manuteno de seus ganhos monopolistas, que geraro fluxos de caixa fornecedores de recursos para o desenvolvimento de novas inovaes. Aumentar a competitividade atravs da inovao significa buscar incessantemente a diferenciao. Isto pode se dar de diversas maneiras, relacionadas ao mercado em que a empresa atua, ao seu porte e ao cenrio macroeconmico. Podemos citar o desenvolvimento ou a adoo de novas tecnologias, a incorporao de funes mais nobres e valorizadas e a agregao de valor a produtos, entre outros, como diferenciais que podem assegurar mercado e gerar resultados favorveis para as empresas.

4. INOVAO

24

_____________________________________________________________Diversos estudiosos do processo de inovao tm debatido o tema, e suas abordagens convergem para questes recorrentes, como constatamos nos textos abaixo.(...) inovao e conhecimento so os principais fatores que definem a competitividade e o desenvolvimento de naes, regies, setores, empresas e at indivduos. A crescente competio internacional e a necessidade de introduzir eficientemente, nos processos produtivos, os avanos das tecnologias de informao e comunicaes, tm levado as empresas a centrar suas estratgias no desenvolvimento de capacidade 20 inovativa. No se pode mais dissociar da anlise do desenvolvimento a considerao de temas relacionados inovao. A capacidade de gerar novos produtos e processos comercializveis e de promover efetivas melhorias organizacionais em diversos nveis viabiliza a expanso dos mercados e dita, de uma maneira geral, o sucesso relativo das empresas e indstrias (ou dos pases e regies) na luta concorrencial. A competitividade internacional constitui o parmetro mais refinado de aferio do sucesso atual e potencial de um empreendimento econmico. 21 Os pases desenvolvidos causam perplexidade aos demais. Demonstram ser capazes de oferecer produtos modernos, inovativos, eficientes e atrativos, ao mesmo tempo em que se estruturam para fabric-los de forma rpida e eficaz, conseguindo preos muito competitivos no cenrio da economia global. (...) O poder de gerao de novos produtos e servios resultado direto de um sistema econmico capaz de oferecer liberdade e processos eficientes de apoio, abrindo espao para permanentes impulsos inovao.22

Segundo reportagem realizada a partir de pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada), apenas 1,7% das empresas industriais no Brasil investem seriamente em tecnologia. Isto reflete em nossa pauta de exportaes, concentrada em poucos produtos de baixo valor agregado. Por outro lado, as empresas inovadoras correspondem a 26% da receita da indstria nacional, faturando 100 vezes mais do que as empresas que no inovam. Elas tambm pagam salrios trs vezes maiores.23

CASSIOLATO, Jos Eduardo; LASTRES, Helena M.M. (orgs.). Globalizao & Inovao Localizada: Experincias de Sistemas Locais no Mercosul. Braslia: IBICT/MCT, p. 13, 1999.21 22 23

20

Idem, p. 39. Idem, contracapa.

PAUL, Gustavo; GUIMARES, Camila. O Censo da Inovao. Revista Exame, So Paulo, edio 840, p. 32 e 33, 13 abr. 2005.

4. INOVAO

25

_____________________________________________________________No atual cenrio econmico, com uma concorrncia cada vez mais especializada, internacionalizada e, consequentemente, acirrada, inovar essencial, havendo praticamente um consenso sobre sua importncia estratgica entre os pensadores contemporneos. A grande questo agora como operacionalizar em nosso pas instrumentos efetivos para impulsionar este processo de forma gil e contnua.

4.2 PEQUENAS E MDIAS EMPRESAS INOVADORAS

Existem diversas definies que dizem respeito ao porte de empresas no Brasil. H aquelas meramente indicativas, emanadas de agentes privados, e as definidas em legislao, necessrias para enquadramento junto ao poder pblico. Consideramos que mais importante que nos atermos a delimitaes precisas situarmo-nos em relao ao universo de empreendimentos aos quais desejamos nos referir, expondo algumas colocaes somente para referncia. Passemos ento definio adotada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social):A classificao de porte de empresa adotada pelo BNDES e aplicvel indstria, comrcio e servios, conforme a Carta Circular n 64/02, de 14 de outubro de 2002, a seguinte: Microempresas: receita operacional bruta anual ou anualizada at R$ 1.200 mil (um milho e duzentos mil reais). Pequenas Empresas: receita operacional bruta anual ou anualizada superior a R$ 1.200 mil (um milho e duzentos mil reais) e inferior ou igual a R$ 10.500 mil (dez milhes e quinhentos mil reais). Mdias Empresas: receita operacional bruta anual ou anualizada superior a R$ 10.500 mil (dez milhes e quinhentos mil reais) e inferior ou igual a R$ 60 milhes (sessenta milhes de reais). Grandes Empresas: receita operacional bruta anual ou anualizada superior a R$ 60 milhes (sessenta milhes de reais).24

Vale a pena ainda citar o conceito de Empresa Emergente da CVM (Comisso de Valores Mobilirios), que, atravs de sua instruo 209, de 25 de maro de 1994, considera como tal todas aquelas com faturamento lquido anual inferior a 60 milhes

BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO E SOCIAL. Disponvel em . Acesso em 06 ago.2004.

24

4. INOVAO

26

_____________________________________________________________de reais, posteriormente atualizado para 100 milhes. Na realidade, tenta-se com isso classificar empreendimentos de acordo com seu porte, o que guarda uma relao com o tamanho dos mercados e da economia do pas. Mas haveria algo em comum a empresas que se enquadram at um determinado patamar de faturamento ? De fato, estamos falando de empreendimentos que possuem mais agilidade em relao s respostas que o ambiente competitivo demanda, com reaes quase simultneas s necessidades. O tamanho e o reduzido nvel hierrquico dessas corporaes colaboram para tanto. Alm disso, elas tm a obrigao de adotar uma postura mais criativa, na medida em que, no possuindo estruturas profissionalizadas e economias de escala, estariam condenadas a uma eterna falta de competitividade em relao s grandes empresas. Esta situao agravada pela nossa legislao tributria, que no lhes concede um tratamento fiscal to diferenciado que possa realmente impulsion-las. Tais empresas costumam explorar novos mercados que ainda no so financeiramente compensadores para as empresas maiores. Mais ainda, costumam se aventurar em busca de oportunidades de vanguarda que possuem um grau de risco no assimilvel por empresas j bem posicionadas em seus respectivos setores. uma questo puramente empresarial, de sobrevivncia no ambiente econmico: a disputa por mercados, que podem estar consolidados ou nascentes. As empresas maiores seguem trajetrias mais estveis, reproduzindo um comportamento histrico. Grande parte das inovaes so desenvolvidas e/ou introduzidas no mercado por pequenas e mdias empresas, embora no sejam exclusividade destas. O desenvolvimento tecnolgico impulsiona esta dinmica, pois novas tecnologias estimulam o surgimento de novos atores, ou seja, empresas que despontam e passam a ocupar lugar de destaque na economia. Trata-se de uma anlise contempornea que vem suscitando incansveis debates, como podemos deduzir da citao abaixo.

Na fase de transio do modelo fordista, marcada por intensas mudanas tecnolgicas e organizacionais, alguns autores observaram que, enquanto as grandes empresas atravessavam dificuldades, arranjos de pequenas e mdias empresas mostravam maior flexibilidade e dinamismo. Com estas referncias, tornou-se intenso o

4. INOVAO

27

_____________________________________________________________debate travado entre aqueles que viam o desenvolvimento e inovao como liderados por grandes empresas e, de outro lado, aqueles que observavam possibilidades alternativas de desenvolvimento por meio de pequenas empresas concentradas em um mesmo ambiente e com forte diviso de trabalho. 25

evidente que o debate sobre porte de empresas e sua importncia na gerao de inovaes comporta inmeras divergncias. Sem dvida, modelos ideais de arranjos produtivos seriam baseados em redes articulando grandes e pequenas companhias. Cada qual teria sua importncia, seu espao e seu efeito multiplicador na economia, seja pela qualidade de sua atuao ou pelo volume de recursos movimentado. Entretanto, quando falamos em inovao estamos falando em risco, empreendedorismo e novos entrantes palavras bastante ligadas a empreendimentos mais geis. James Utterback faz uma interessante anlise sobre este processo, conforme os textos abaixo.(...) a maioria das inovaes demolidoras de indstrias no nasce nos concorrentes estabelecidos em uma indstria, mas em novas empresas ou de empresas estabelecidas que entram em uma nova arena. (...) Uma razo para a letargia dos concorrentes mais conhecidos em um mercado de produto em face da inovao potencialmente destruidora que eles enfrentam restries cada vez mais fortes oriundas da rede de relacionamentos que amarram a mudana do produto com a do processo. 26 Os forasteiros da indstria geralmente tm pouco a perder na busca de inovaes radicais. Eles no tm nenhuma infraestrutura relacionada com a tecnologia existente (...) O pessoal que est em uma indstria, por outro lado, tem motivos de sobra para no ter pressa no desenvolvimento de inovaes radicais. Economicamente, eles tm enormes investimentos na tecnologia tradicional.27 O desafiante traz um produto novo e aperfeiovel, com um melhor desempenho (ou um desempenho potencial), flexibilidade organizacional, e esprito empreendedor (...) A empresa estabelecida, por outro lado, mais burocrtica, desfruta de economia de escala (mas no produto errado), tem investimentos enormes em sistemas inflexveis e administrada por no-empreendedores.28

CASSIOLATO, Jos Eduardo; LASTRES, Helena M.M. (orgs.). Globalizao & Inovao Localizada: Experincias de Sistemas Locais no Mercosul. Braslia: IBICT/MCT, p. 56, 1999. UTTERBACK, James. Dominando a Dinmica da Inovao. Rio de Janeiro: Qualitymark, Introduo, 1996.27 28 26

25

Idem, p. 177. Idem, p. 180.

4. INOVAO

28

_____________________________________________________________(...) o dinheiro gasto no desenvolvimento de tecnologias que poderiam potencialmente colocar em risco linhas de produtos rentveis existentes geralmente visto como algo contraproducente, como se dar um tiro no prprio p (...) Uma outra barreira importante a lgica matemtica da anlise do fluxo de caixa, um mtodo til para avaliar e classificar projetos concorrentes, mas um mtodo que favorece retornos modestos, de curto prazo e com alta probabilidade de ocorrncia 29

Como depreende-se das citaes, pequenas e mdias empresas podem desempenhar um papel fundamental para o desenvolvimento econmico. Esta contribuio pode ser avaliada sob diversos aspectos, da criao de novos postos de trabalho gerao contnua de inovaes. Pesquisa do SEBRAE (Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas) mostra que somente as micro e pequenas empresas empregam 44% da fora de trabalho formal.30 Para que elas possam se posicionar no mercado, essencial a oferta de diferentes modalidades de acesso ao capital, posto que em sua grande maioria no so capazes ainda de auto-financiarem o seu crescimento. Entretanto, o principal problema com o qual se defrontam as Pequenas e Mdias Empresas justamente a dificuldade de obteno de capital. Os emprstimos bancrios, alm de cobrarem altas taxas de juros, em geral so limitados e de curto prazo. H um consenso de que os emprstimos disponibilizados devem ser proporcionais capacidade de gerao de caixa dos empreendimentos e ao oferecimento de garantias reais, geralmente em valor superior ao capital pleiteado. Esta uma regra vlida tanto para o setor pblico quanto para o privado. Podemos afirmar que no Brasil criou-se uma verdadeira barreira entre as pequenas e mdias empresas e as linhas de crdito. Empreendimentos promissores so abortados em fases estratgicas pela impossibilidade de se autofinanciarem. Esta situao poderia ser amenizada se pelo menos os critrios para a obteno de capital levassem em conta a viabilidade empresarial do negcio e/ou a capacidade de seus dirigentes. Entretanto, o capital tem um rumo: deve seguir o caminho que lhe apresente a melhor relao risco x retorno.29

UTTERBACK, James. Dominando a Dinmica da Inovao. Rio de Janeiro: Qualitymark, p. 246, 1996. 30 SERVIO BRASILEIRO DE APOIO MICRO E PEQUENA EMPRESA. Disponvel em . Acesso em 06 ago.2004.

4. INOVAO

29

_____________________________________________________________

4.3 NECESSIDADES DE CAPITAL PARA A INOVAO Investir em inovao significa arriscar-se a trilhar um novo caminho, do qual no se tem um histrico razovel nem certezas absolutas. Por mais que se planeje e pesquise, bastante improvvel que a operacionalizao de uma inovao no mercado ocorra exatamente conforme as expectativas. Podemos conseguir inmeras informaes a respeito de um dado empreendimento e seu mercado, mas estas no iro abarcar todas as possibilidades, pois sustentam-se em experincias passadas e ambientes controlados. Isto ocorre por diversas razes, fornecedores e consumidores. Embora estudiosos e empresas se debrucem em modelos relativamente bem-sucedidos, o processo de inovao e de sua introduo nos mercados, em forma de produtos e servios, ir sempre possuir um certo grau de imprevisibilidade. A citao abaixo discorre especificamente sobre inovaes de ordem tecnolgica, mas o raciocnio, devidamente adaptado, poderia ser expandido para toda sorte de inovaes.(...) pesquisar novos princpios cientficos e transform-los em tcnicas produtivas significa enfrentar o desconhecido, demolir muralhas, criar novos limites e possibilidades. Ainda na linguagem dos economistas, implica investir sem as garantias da obteno de um produto e da existncia de um mercado economicamente vivel. 31

que vo de incertezas tecnolgicas

reao de

Vale a pena tambm recorrer novamente a James Utterback:A inovao numa indstria ou setor econmico um processo que envolve uma enorme quantidade de incertezas, criatividade humana e sorte. Ela ocorre de formas grandiosas ou humildes, e, em determinadas pocas e locais, com mais freqncia do que em outros. Ao longo dos anos, os pesquisadores tm observado certos padres de inovao industrial bem-sucedida, mas a identificao dos padres no sugere que a inovao bem-sucedida seja inteiramente previsvel. 3231

CASSIOLATO, Jos Eduardo; LASTRES, Helena M.M. (orgs.). Globalizao & Inovao Localizada: Experincias de Sistemas Locais no Mercosul. Braslia: IBICT/MCT, p. 56, 1999. UTTERBACK, James. Dominando a Dinmica da Inovao. Rio de Janeiro: Qualitymark, Prefcio, 1996.

32

4. INOVAO

30

_____________________________________________________________ claro que a expectativa do empreendimento que adota inovaes utiliz-las em sua plenitude como vantagem competitiva, auferindo altos retornos. A inovao poder lhe proporcionar diferenciais que o colocaro em posio privilegiada, pelo menos durante algum tempo. De acordo com o mesmo autor:Os economistas se sentem vontade com a noo de que a sntese criativa de um novo produto feita por uma ou um pequeno grupo de empresas resulta numa situao de monoplio temporrio, altas margens de lucro unitrio e preos, e vendas da inovao naqueles poucos nichos de mercado onde ela possui a maior vantagem de desempenho sobre as alternativas concorrentes. 33

Todavia, analisando-se a relao risco x retorno dos tipos de investimento existentes no Brasil, facilmente constatvel que h outras opes mais equilibradas que a aplicao em empresas. Dentro deste universo, o investimento em inovao ainda mais arriscado e incerto. O Estado brasileiro acaba por se tornar o maior tomador individual de recursos no mercado, absorvendo a quase totalidade dos capitais disponveis atravs da excelente remunerao oferecida a seus investidores. Afinal, ele tem de manter o poder de atrao de seus papis para que possa financiar-se sem dificuldade. Schumpeter j atribua grande importncia ao crdito na dinmica do capitalismo, enfatizando sua capacidade de propiciar recursos a empreendimentos inovadores. Em um pas como o nosso, onde a escassez de crdito crnica, trata-se de uma competio desigual por recursos expor as necessidades de capital para a inovao livre concorrncia no mercado junto s outras alternativas. Uma abordagem interessante sobre o tema pode ser encontrada no texto a seguir.(...) os investimentos em tecnologia constituem parte de um portflio mais amplo, sendo importante estudar suas relaes positivas e negativas com as demais alternativas de investimento. (...) em sociedades em que as empresas tm pouca tradio de investimento em tecnologia e estes investimentos esto prximos ao piso, as alternativas financeiras tm influncia maior. Se estas alternativas so muito atraentes, o nvel de investimento em tecnologia permanecer baixo, constituindo um exemplo cannico de afastamento entre a 34 racionalidade privada e a social.33 34

UTTERBACK, James. Dominando a Dinmica da Inovao. Rio de Janeiro: Qualitymark, p.31, 1996.

CASSIOLATO, Jos Eduardo; LASTRES, Helena M.M. (orgs.). Globalizao & Inovao Localizada: Experincias de Sistemas Locais no Mercosul. Braslia: IBICT/MCT, p. 173, 1999.

4. INOVAO

31

_____________________________________________________________Esta questo vem sendo bastante analisada por economistas, principalmente os mais alinhados com o pensamento de Keynes, conforme indica o texto abaixo.

Para os ps-keynesianos, as operaes de compra e venda de ttulos pblicos realizadas pelo Banco Central podem afetar as decises empresariais de investimento. Os potenciais investidores tm sempre variadas opes no momento em que decidem adquirir um ativo. Podem adquirir mquinas, ttulos pblicos etc. Sendo assim, fazem uma comparao levando em considerao principalmente dois quesitos dos ativos em questo: rentabilidade esperada e liquidez. A liquidez de uma mquina inferior liquidez de um ttulo pblico. Ento, quando a taxa de juros dos ttulos pblicos superior ao rendimento esperado dos ativos de capital, os detentores de recursos monetrios optam pela compra de ttulos e no realizam investimentos. 35

Assim, a absoro de capitais por papis da dvida pblica reduzir, em maior ou menor grau, os mercados de todas as outras modalidades de investimento. Os investimentos em empresas so particularmente afetados por exibirem pouca atratibilidade neste contexto, principalmente os de maior risco, ligados a projetos tecnolgicos e/ou inovadores. A empresa brasileira, no possuindo acesso rpido e barato ao crdito, acaba por no investir em inovaes, preocupando-se apenas com o curto prazo. Por outro lado, as polticas pblicas de fomento tambm revelam-se limitadas em sua abrangncia. O fomento ao processo de inovao, a fim de agregar valor a produtos e servios e aumentar nossa competitividade empresarial, depende de uma srie de medidas e instrumentos articulados pelo poder pblico para estimul-lo. Isto envolve um intenso debate entre Estado, instituies de ensino e pesquisa, e empresas, com a definio do papel de cada um destes agentes . Infelizmente, ainda no existe no Brasil um consenso mnimo a esse respeito, apesar dos exemplos bem-sucedidos de articulao que encontramos em diversos pases.

35

CARVALHO, Fernando J. Cardim de et al. Economia Monetria e Financeira. So Paulo: Campus, p. 165, 2000.

4. INOVAO

32

_____________________________________________________________

A aplicao dos recursos dos Fundos Setoriais discusses.

36

, por exemplo, levanta uma srie de

Os Fundos arrecadam anualmente cerca de R$ 1,5 bilho, mas

aproximadamente metade destes recursos costuma ser contingenciada pelo governo, sem grandes perspectivas de liberao. E a outra metade canalizada apenas para instituies de ensino e pesquisa , ou, na melhor das hipteses, a projetos em parceria compulsria com estas instituies. Estes recursos, sendo no-reembolsveis, so essenciais para o desenvolvimento de inovaes em empresas emergentes, pois no necessitam de retorno (pagamento) pelo beneficiado. Espera-se resolver esta questo com a regulamentao da nova Lei de Inovao. evidente que ainda existe uma anlise equivocada em diversas instncias no pas quando se analisa o processo de gerao de inovaes. Determinadas inovaes, pelo seu perfil, no dependem em absoluto da rea acadmica para serem concebidas e, principalmente, incorporadas em processos e produtos, pois utilizam conhecimentos pr-existentes. Poderamos mesmo dizer que so inovaes de menor risco e maior aplicabilidade imediata, porque j se investiu antes para se chegar quele estado de conhecimento. E o agente natural destas inovaes o setor privado. As chamadas inovaes tecnolgicas incrementais no apresentam transformaes radicais em produtos e processos. Grande parte das vezes consegue-se agregar valor atravs de mudanas relativamente simples, apesar de poderem gerar um bom retorno econmico-financeiro. Inovaes com estas caractersticas devem ser desenvolvidas de forma independente pelo setor privado. No suficiente investir em pesquisas nas instituies se os frutos destas pesquisas no podem ser aplicados em produtos e processos nas empresas, pois so estas que atuam na ponta gerando emprego e renda.

Os Fundos Setoriais de Cincia e Tecnologia, criados a partir de 1999, so instrumentos de financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovao no Pas, com recursos de contribuies incidentes sobre o faturamento de empresas e/ou sobre o resultado da explorao de recursos naturais pertencentes Unio. A FINEP a agncia responsvel pela gesto executiva dos Fundos Setoriais, sob orientao dos Comits Gestores, que definem diretrizes e planos anuais de investimentos para os Fundos. Os Comits envolvem representantes do setor produtivo, acadmico e de diversas instncias do Governo.

36

4. INOVAO

33

_____________________________________________________________A apropriao da inovao realidade mercadolgica essencial para o funcionamento do sistema. Restringi-las ao ambiente acadmico, alm de no apresentar resultados prticos, pode at mesmo gerar efeitos adversos. Os artigos abaixo, de Roberto Nicolsky, questionam exatamente estes pontos.(...) para incorporar inovaes competitivas, preciso cri-las e desenvolv-las no pas, atravs do binmio P&D (pesquisa e desenvolvimento). (...) Para o P h polticas de fomento com recursos dos fundos setoriais e dos programas de pesquisa. Para o D, porm, no h ainda fomento explicitado em lei ou regulamentos, em razo da nossa cultura, que no reconhece o elevado risco inerente ao scale up, aos projetos de engenharia, fabricao piloto e aos ensaios de eficcia e toxicidade, e s lhes oferece emprstimos, com garantias reais e juros. (...) Trata-se de investimento de risco e custo muito elevados, que leva o produtor nacional a desistir do desenvolvimento da inovao. Por essa razo, o produtor nacional tem optado por licenciar inovaes externas, que, com sorte, sero de segunda ou terceira linha, mas com baixo risco e muito menor investimento. Esse caminho, porm, no possibilita ser competitivo e exportar. Alm disso, elevou a conta das patentes, tecnologias, servios tcnicos e softwares de US$ 200 milhes, em 1992, para mais de US$ 3 bilhes, em 2001, mais de 15 vezes em 8 anos, enquanto o PIB cresceu somente 30%.37 (...) se no for criado um fomento dirigido diretamente s inovaes no setor produtivo, no formaremos uma cultura e uma rede de laboratrios industriais capazes de realizar o desenvolvimento tecnolgico das nossas prprias descobertas. Isso significa que essas descobertas, uma vez divulgadas por artigos, podero ser utilizadas por empresas de outros pases, sem qualquer valor agregado nossa produo. Isso j aconteceu com o captopril, identificado no veneno da jararaca, na USP-Ribeiro Preto, como um princpio ativo de um novo anti-hipertensivo. Publicado, virou o Capoten nos laboratrios da Squibb.38

Independente da concordncia integral com as questes levantadas, no h dvidas de que o atual modelo de incentivo inovao vem apresentando resultados bastante tmidos. Prova disto o baixo grau de participao dos recursos pblicos no fomento inovao em empresas, o que particularmente grave num pas onde o custo do crdito to alto. A matria apresentada a seguir ilustra bem o assunto.

NICOLSKY, Roberto. Inovao para exportao e competitividade. Revista da Abifina, Rio de Janeiro, v. 13, no. 166, p6, jan. 2002.38

37

________. Inovao e valor agregado. Revista da Abifina, Rio de Janeiro, v. 13, no. 170, p3, maio 2002.

4. INOVAO

34

_____________________________________________________________De todo o dinheiro que as empresas privadas brasileiras investem em inovao tecnolgica, os recursos pblicos (financiamento por agncias de fomento, bolsas de pesquisa, etc) representam apenas 8%. A grande maioria dos desembolsos (88%) sai do caixa das empresas e o restante captado em outras fontes, como companhias de capital de risco. Segundo a Associao Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), isso indica a estrutura inadequada de financiamento para projetos de inovao existente no Brasil. (...) Conforme estudo da Anpei, entregue em julho ao Ministrio da Cincia e Tecnologia, os entraves ao financiamento Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) do pas incluem taxas de juros, correo monetria, lentido no processo de aprovao dos projetos, burocracia, confiabilidade no recebimento dos recursos e exigncias excessivas, entre outros. (...) Nos ltimos trs anos, a burocracia fez com que apenas quatro PDTIs fossem apresentados ao governo, num universo de 72 mil empresas que investem sistematicamente em P&D, afirmou o diretor executivo da Anpei, Olvio vila. Segundo vila, devido ao detalhamento dos projetos, apenas as grandes empresas conseguem elabor-los. A ausncia de financiamento pblico efetivo para inovao tecnolgica gera tambm uma tendncia 39 concentrao da pesquisa nas grandes empresas.

O contexto macroeconmico brasileiro nas ltimas dcadas foi caracterizado por curtos ciclos de expanso e longos perodos de estagnao, entremeado por planos econmicos geradores de instabilidade. Acrescentando-se a isso o quadro de escassez de capital e de polticas pblicas abrangentes, constata-se a dificuldade de qualquer planejamento de longo prazo. A sobrevivncia no curto prazo a marca de nossa atividade empresarial, o que pode fazer com que tenhamos nossa competitividade cada vez mais reduzida em mercados de maior valor agregado. O artigo apresentado em seguida sintetiza este cenrio.

Segundo a Pintec (pesquisa sobre inovao tecnolgica no Brasil IBGE), entre 1998 e 2000, de um total de 70 mil empresas industriais, apenas um tero implementou alguma inovao e apenas 5% introduziu inovao indita para o mercado nacional. Tambm o esforo tecnolgico realizado pela indstria brasileira inferior ao realizado nos pases com grau similar de desenvolvimento industrial. Entre as empresas nacionais, 67% no realizam qualquer atividade interna de P&D; entre as empresas multinacionais, esse nmero cai para 44%. Como resultado, a intensidade do gasto em P&D do sistema empresarial brasileiro muito baixa: 0,8% do faturamento, para as39

JULIBONI, Mrcio. Inovao em empresas conta com apenas 8% de recursos pblicos - Burocracia dificulta