Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    1/31

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    2/31

    Gui Bonsiepe | Design, Cultura e Sociedade

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    3/31

    Publisher

    Edgard Blucher

    Editor

    Eduardo Blucher

    Editor de desenvolvimento

    Fernando Alves

    Tradues do alemo para o portugus

    Gui Bonsiepe em colaborao com Anamara Bacci

    Reviso tcnica da traduo

    Itiro Iida

    Preparao de textos

    Rosemeire Carlos Pinto

    Eugnia Pessotti

    Reviso de textos

    Vnia Cavalcanti

    Anteprojeto grfico e da capa

    Silvia Fernndez

    Projeto grfico

    Carlos Venancio | Fabin Goya

    [marca]

    Diagramao e montagem

    Mara Carla Mazzitelli

    [marca]

    Copyright 2011 Gui Bonsiepe

    Editora Edgard Blucher Ltda.

    1 reimpresso 2013

    Todos os direitos reservados. Nem a totalidade

    nem parte deste livro podem ser reproduzidas

    ou ser transmitidas por nenhum procedimento

    eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpias,

    gravao magntica ou qualquer armazenamento

    de informao e sistemas de recuperao, sem

    permisso escrita dos titulares do Copyright.

    As idias expressas nos captulos so de exclusiva

    responsabilidade dos autores. A descrio das

    imagens e a informao sobre a fonte dasmesmas responsabilidade dos autores.

    Editora Blucher

    Rua Pedroso Alvarenga, 1245 4andar

    04531-012 So Paulo, SP Brasil

    Tel.: (011) 3078-5366

    Fax: (011) 3079-2707

    e-mail: [email protected]

    site: www.blucher.com.br

    Bonsiepe, Gui

    Design, cultura e sociedade / Gui Bonsiepe. So Paulo: Blucher,

    2011.

    ISBN 978-85-212-0532-6

    1. Comunicao 2. Cultura 3. Design 4. Design Aspectos sociais

    5. Design industrial 6. Discurso projetual 7. Esttica 8. Semitica

    9. Sociedade 10. Tecnologia I. Ttulo.

    10-12482 CDD-745.2

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Design industrial 745.2

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    4/31

    Gui Bonsiepe Design,Cultura e Sociedade

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    5/31

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    6/31

    Apresentao.Itiro Iida 9

    Prefcio.Gui Bonsiepe 15

    01. Design e Democracia 21

    02. Algumas Virtudes do Design 37

    03. Identidade Contraidentidade do Design 49

    04. Cognio e Design o Papel da Visualizao paraa Socializao dos Conhecimentos 87

    05. Retrica visual-verbal 119

    06. PatternsAudiovisualsticos uma Contribuio Semitica Emprica 147

    07. Um Olhar sobre as Falhas (breakdowns) e Juntas 169

    08. Entre Ocularismo e Verbocentrismo 183

    09. Pensamento Operacional e Pensamento Contracorrente 193

    10. Racionalismo Militante em um Laboratrio de Inovao Cultural 205

    11. Design e Pesquisa do Design Diferena e Afinidade 227

    12. Inovao, Design e Globalizao 249

    Notas de referncia 273

    Imagens 277

    Contedo

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    7/31

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    8/31

    7Este livro de Gui Bonsiepe apresenta uma inquietante anlise sobre a evo-

    luo do design ao longo do sculo xx, registrando seus principais sucessos e

    descaminhos. De um lado, relata o desenvolvimento do design, delineado pelas

    vrias polticas econmicas e sociais. De outro, mostra a vacilante trajetria dian-

    te do despreparo, acomodao e oportunismo dos seus principais protagonistas.

    Mas no se limita a analisar e criticar, pois apresenta sugestes sobre os caminhos

    possveis no futuro.

    Bonsiepe graduou-se na Escola de Ulm (hfg-Hochschule fr Gestaltung), ondefoi professor at a sua extino, em 1968. A partir disso, fez a opo de viver na

    Amrica Latina, tendo trabalhado no Chile, Argentina e Brasil. Nesses 40anos

    foi um observador privilegiado, com olhar arguto das transformaes polticas e

    econmicas desses pases. Contudo, no perdeu referncia do design dos outros

    pases, onde continuou lecionando e realizando inmeras conferncias. Muitas

    delas serviram de base para a elaborao deste livro.

    O autor manteve-se sempre atualizado, acompanhando as transformaes de-

    correntes da evoluo tecnolgica. Na dcada de 1980, no incio da era da infor-

    mtica, trabalhou em umsoftware houseda Califrnia, abrindo novas perspectivas

    sobre as contribuies do design na configurao e estruturao da interface de

    artefatos, tanto materiais (produtos), como aqueles visuais-semiticos e digitais.Assim, tornou-se referncia mundial na anlise das diferenas polticas e

    econmicas entre o Centro e a Periferia, com seus inevitveis reflexos na rea de

    design. Transformou-se em figura quase obrigatria nos pases europeus quando

    se discute a questo do design nos pases emergentes e o hiato existente entre o

    Apresentao

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    9/31

    8

    Centro e a Periferia. Lendo-o, consegue-se entender claramente por que certas

    polticas e programas nacionais de incentivo ao desenvolvimento do design no

    foram bem-sucedidos.

    Segundo o autor, o design perdeu a sua substncia quando passou a cuidar das

    superficialidades, colocando-se a servio da beleza cosmtica e lucros fceis do

    mercado. O design moderno descuidou-se de investir nas atividades de projeto,

    onde deveria estar o trabalho central do designer. Privilegiaram-se apenas os dis-cursos sobre o design, enfatizando os assuntos perifricos ligados ao estilo e sim-

    bolismos. Aliou-se produo de objetos sofisticados, caros, rebuscados, e nem

    sempre funcionais. Seguiu certos modismos como o emotion designoufun design,

    dando nfase aparncia e deixando de lado o aspecto funcional e a qualidade

    intrnseca dos produtos e servios.

    Fazendo uma analogia botnica, o design atual assemelha-se a um coco, com

    casca dura e o interior oco, como se fosse um produto com embalagem vistosa,

    mas com contedo precrio. Ele prope um redirecionamento dos esforos da

    pesquisa e do ensino para que esse vazio interior seja preenchido, ou seja, que

    passe a assemelhar-se a um abacate, com um caroo duro no centro, criando-se

    um slido cabedal de conhecimentos para subsidiar a prtica projetual.

    Nas relaes internacionais, design transformou-se em instrumento de

    dominao do Centro sobre a Periferia. Para isso, o design tem-se prestado a

    instrumentalizar certos modismos como o brandingpara impor o consumo do

    suprfluo, dando-se primazia aos enfeites, que se sobrepe s outras caractersti-

    cas essenciais, como utilidade, praticidade, durabilidade e sustentabilidade dos

    objetos e sistemas.

    Na rea de ensino, devido rpida criao de muitos cursos, no houve tempo

    suficiente para a preparao adequada dos docentes. A maioria deles, com forma-

    o em reas correlatas e sem atuao prtica em design, acabou criando a casca

    do coco. Por outro lado, em instituies oficiais de ensino tambm houve desca-minhos, quando se privilegiaram os ttulos acadmicos de mestrado e doutorado,

    praticamente em quaisquer reas do conhecimento, em detrimento das experin-

    cias efetivas na elaborao de projetos. Ou seja, mais contribuies para endure-

    cer a casca do coco.

    Bonsiepe previu esse problema na dcada de 1980, quando criou o Laborat-

    rio Brasileiro de Desenho Industrial lbdi, em Florianpolis, visando oferecer

    cursos de reciclagem para docentes e profissionais em design e trein-los na

    prtica projetual. Ressalte-se que, naquela poca, ainda no existiam cursos de

    mestrado ou doutorado em design no pas.

    Muitos designers perderam a essncia ao desprezar a funcionalidade a favor

    dos modismos, superficialidades e do suprfluo. H necessidade de mudar astemticas das pesquisas, direcionando-as para solucionar os problemas pungen-

    tes que afligem a maioria da populao, principalmente na Periferia, onde ainda

    registram-se enormes carncias. No possvel imitar, simplesmente, os pases

    do Centro, onde a maioria dessas carncias j foi suprida.

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    10/31

    9

    Examina-se a dicotomia existente entre as linguagens verbal e visual, com

    amplo domnio secular da primeira. Um dos grandes problemas do design tem

    sido o uso da linguagem verbal para expressar contedos visuais. Entretanto, o

    autor manifesta esperana no poder das novas tecnologias da informtica como

    meio para unir a linguagem verbal com a imagem.

    Bonsiepe sugere criar uma cincia do design. Para isso, necessrio investir

    na pesquisa em design para gerar conhecimentos e formar um slido arcabouo,como acontece com outras disciplinas consolidadas das cincias. Essa cincia do

    design permitiria criar as bases tericas e, a partir da, melhorar a prtica proje-

    tual, considerando a imprescindvel relao entre a teoria e a prtica do design.

    Com isso, o design estaria mais preparado e pronto para oferecer solues efetivas

    aos grandes problemas que afligem os povos da Amrica Latina desde a poca

    colonial.

    Itiro Iida

    Braslia, junho de 2010

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    11/31

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    12/31

    11As reflexes sobre o discurso projetual apresentadas aqui foram organizadas deacordo com quatro vertentes temticas que tocam alguns, em parte polmicos,pontos no discurso do design. Primeiro, a relao entre visualidade e discur-sividade. Segundo, os enfoques projetuais na Periferia(1), sobretudo o papel dodesign para uma poltica autnoma de desenvolvimento. Terceiro, o papel con-trovertido da teoria projetual e da pesquisa do design (design research). E, quarto,o contexto sociopoltico do trabalho projetual.

    Um denominador comum caracteriza essas quatro trajetrias, vale dizer,o denominador da latncia, do no terminado, do potencial no utilizado, daabertura histrica. Esse denominador comum se rebela contra o lema da impos-sibilidade de alternativas que quer congelar umstatus quosocial afirmativo e,portanto, colocar a atividade projetual em quarentena.

    Depois de o tema do design durante dcadas ter levado uma existncia margi-nal, hoje podemos observar uma abundncia transbordante de publicaes sobreo tema do design com suas manifestaes caleidoscpicas desde a moda, a mdiae eventos at as disciplinas centrais, design industrial (ou projeto de produto) edesign grfico. No mbito das opes de escrever sobre o design, as reflexes aquiapresentadas se caracterizam pela materialidade do projeto, com suas contradi-

    es inerentes, seus paradoxos, suas derrotas e seus ocasionalmente pequenossucessos. Isso oferece a vantagem de frear especulaes parafilosficas e parasse-miticas sem base concreta, sobretudo aquelas com intenes normativas.

    Os textos levam as marcas de sua origem: formularam-se no contexto dasrelaes tensas entre Centro e Periferia, na prtica profissional, no ensino e na

    Prefcio

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    13/31

    pesquisa dentro e fora de instituies acadmicas. Com particular nitidez, adimenso poltica do design surge no mbito daqueles pases que uma vez foramdenominados com o termo hoje historicamente superado Terceiro Mundo.Eu suponho que a causa para esse fenmeno possa ser encontrada nas relaes dedominao (ps) colonial ou relaes assimtricas comerciais que continuam exis-tindo de forma constante hoje em dia relaes que mais se ocultam do que se

    explicam com o termo multiuso globalizao.Na primeira parte, trato de uma interpretao enftica do termo democracia

    e tambm de alguns atributos do design no futuro que podem ser consideradoscomo desejveis sem correr o risco de ser repreendido pela ingenuidade e supostafalta de realismo.

    Na segunda parte, analiso a questo da identidade do design perifrico, dei-xando em aberto a pergunta se no se trata de um problema secundrio em com-parao com as prioridades das atividades projetuais na Periferia. Nesse contextosurge tambm o tpico da dependncia, vale dizer da conscincia, cuja participa-o, devido a estruturas dominantes frreas criadas em tempos coloniais emquestes importantes sobre o futuro da sociedade fica bloqueada. Essa condition

    priphrique existencial condiciona tambm a atividade projetual.Na terceira parte, discuto o papel da visualidade para a distribuio e assimi-

    lao de saberes e tambm para a compreenso de assuntos complexos. O mesmotema da visualidade se dedica anlise depattemsaudiovisualsticos, que apare-cem no cinema, na televiso e nos meios digitais, porm cuja microestrutura ato momento foi pouco pesquisada.

    A quarta seo trata da temtica em grande parte no esclarecida da teoria e dapesquisa do design e do fenmeno ligado a este tema: academizao. Entre outros,aprofundo sobre o papel de vanguarda da hfg-ulm(Hochschule fr Gestaltung, Ulm)(2)para a consolidao do ensino do design. Pois essa instituio teve uma forte

    influncia nos primeiros programas de ensino do design tambm no Brasil, sobre-tudo na esdi(Escola Superior de Desenho Industrial) no Rio de Janeiro. Mas nemtudo o que se atribui s vezes hfgpode ser legitimamente colocado no balanocontbil com os ativos e passivos.

    (1)O conceito Periferia no deve ser entendido no sen-tido urbanstico e tampouco no sentido geogrfico, e simcomo um conceito poltico, tal como usado nas cinciassociais crticas na Amrica Latina. Alude a relaesde dependncia perpetuadas, s quais a Periferia estsubmetida. Como oposto dialtico para a Periferia, figurao Centro como soma das encarnaes de estruturas dedominao. Defensores de interesses afirmativos consi-deram limitado o valor cognitivo desses dois conceitos;

    porm os argumentos apresentados, se que possuemargumentos, no me parecem convincentes.(2) Usam-se as siglas iniciais do nome Hochschule frGestaltung Ulm(traduo literal Universidade de Designna cidade de Ulm) em minsculas hfg, pois durante umafase da existncia dessa instituio voltou-se para umaortografia dos nomes e substantivos em minsculas,similar ao ingls. A sigla hfgouhfg-ulm, assim, se trans-formou em uma marca de identificao inequvoca.

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    14/31

    13

    Com respeito terminologia, uso tanto o conceito projeto como o termodesign que, como se sabe, no so coextensivos. Projeto se refere dimensoantropolgica da criao e formao de artefatos materiais e simblicos, enquan-to design significa um modo da atividade projetual do capitalismo tardio, talcomo a partir dos anos 1970, difundiu-se globalmente. O debate das questesterminolgicas sobre o desenho industrialno Brasil se intensificou a partir da

    dcada de 1960, quando comearam a surgir os cursos superiores nessa rea. Oadjetivo industrialfoi utilizado para aproveitar as conotaes positivas do termo,abrangendo projetos de produtos e projetos grficos. Anteriormente, essa designa-o abrangia apenas os produtos fabricados pelos processos industriais. A traduode designpor desenhotambm foi infeliz porque o design(no sentido de projeto)pode ser realizado sem a colocao de esboos (drawings, dibujos) no papel.

    No Brasil, o uso do termo design causou e causa at hoje certa resis-tncia, que no se pode atribuir a um purismo lingustico. Inicialmente, designassociava-se s atividades projetuais. Contudo, a partir da dcada de 1990,foi perdendo o seu significado original e adquirindo outras conotaes, comoo divertido (fun design), caro, superficial, extravagante, efmero, caprichoso eemotivo. Associou-se a moda, festas e eventos miditicos. Perdeu rigor e trans-formou-se em termo curinga, no contribuindo para consolidar a profisso dosprojetistas de produtos e dos programadores visuais.

    Por outro lado, a apropriao do termo design indbita, pois outros profissio-nais, sobretudo na rea das engenharias, tambm praticam o design. Por exemplo,os engenheiros qumicos que desenvolvem um novo material plstico, programa-dores que desenvolvem um novosoftware, bioqumicos que modificam a estrutu-ra gentica de um vegetal para aumentar a sua resistncia s pragas. Todos elesrealizam atividades de projetos que podem ser considerados tambm como design.

    Contudo, no senso comum, o termo designest fortemente associado s ati-

    vidades esttico-formais. Isso ocorreu em diversos pases, mas assumiu conota-es peculiares no Brasil. Por bem ou por mal, o termo acabou infiltrando-se noensino, pesquisa e atividades de coordenao e fomento das agncias de governo.Assim, por razes pragmticas, rendo-me ao uso do termo neste livro.

    Com relao edio original alem, h trs mudanas. Por um lado, excluum captulo sobre o projeto da sala ciberntica (cybernetic management), desenvol-vido entre 1971e 1973no Chile, dirigido por Stafford Beer. Por outro, acrescen-tei um captulo sobre retrica visual/verbal (retrica esttica) que complementao captulo sobre audiovisualstica (retrica dinmica). O captulo sobre a sala ci-berntica ser includo em nova edio do livroDesign: do material ao digitalqueest em fase de preparao. Agreguei ao captuloDesign e Democracia as respostas

    formuladas para uma entrevista em 2010.Verses anteriores de algumas dessas reflexes e materiais foram apresentadas

    em conferncias na Europa, sia e Amrica Latina e parcialmente publicadas;porm, nem sempre em publicaes de fcil acesso. Esses trabalhos preparatriosforam, no transcurso dos anos 2008e 2009, revisados, modificados, atualizados,

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    15/31

    14

    abreviados, complementados e ampliados. Limitei os dados bibliogrficos, emgrande parte, s fontes citadas no texto e prescindi de preparar listas mais amplasde literatura especializada, j que hoje essas informaes podem ser obtidas facil-mente pela internet.

    A edio original alem foi patrocinada pela Universidade das Artes de Zuri-que (zhdk) e includa na coleo Textos Sobre Design(Schriften zur Gestaltung). Sil-

    via Fernndez acompanhou desde o comeo a elaborao do livro, sobretudo noque se refere transformao visual do material. Ela tambm elaborou o primei-ro esboo do conceito bsico da diagramao. Suas pesquisas sobre o design noespao pblico serviram como ponto de partida para as reflexes sobre breakdownsno Captulo 7. Por isso me sinto muito grato a ela. Alm disso, agradeo aosintegrantes do estdio marca em Buenos Aires que conseguiram desenvolver umdesign grfico livre das acrobacias autorreferenciais de design. Agradeo tambma Itiro Iida pela reviso do texto e pela apresentao do livro.

    Gui Bonsiepe

    Florianpolis, outubro de 2010http://www.guibonsiepe.com

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    16/31

    Design e Democracia

    DESIGN UM TERMO DESVIRTUADOINDIFERENA FRENTE ATIVIDADE PROJETUALAUTONOMIA E HETERONOMIAHUMANISMO E HUMANISMO PROJETUALMERCADO E PRIVATIZAO AT O LIMITE DO TOLERVELESTRATGIA DAS APARNCIASPOLTICA TECNOLGICA AUTNOMA NA AMRICA LATINA

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    17/31

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    18/31

    17Se dermos uma olhada panormica no discurso atual do design ou no discursoprojetual conceito que prefiro utilizar , constatamos uma surpreendente au-sncia de questionamentos sobre a atividade projetual. As palavras da moda sobranding, liderana, competitividade, globalizao, vantagens competitivas, life-

    style-design, diferenciao, design estratgico, design emocional, design divertido(fun design), design de experincias (experience design), design inteligente (smartdesign) para nomear somente alguns dos termos que aparecem nas revistas espe-

    cializadas e livros sobre design.s vezes, tenho a impresso de que um designer que aspire a dois minutos defama se sente obrigado a inventar um rtulo que sirva como marca para se dife-renciar dos demais profissionais. Obviamente, deixo de lado os livrosde designfartamente ilustrados (os coffee table books) e que pecam pela falta de desafios inte-lectuais ao leitor. Nesse panorama, o tema democracia e design goza de menorpreferncia e ateno. Salvo raras e valiosas excees,as questes que enfocareinesta oportunidade so eventualmente analisadas.

    Observando a histria social do significado do conceito design, notamos,por um lado sua popularizao, ou seja, uma expanso semntica horizontal e, aomesmo tempo, um estreitamento, isto , uma reduo semntica vertical. O cr-

    tico de arquitetura, Witold Rybczynski, comentou recentemente esse fenmeno:No faz muito tempo, o termo designer descrevia algum como Eliot Noyes,responsvel pelo design da mquina de escrever Selectric da ibm, nos anos 1960;ou Henry Dreyfuss, que tinha clientes como a Lockheed Aircraft e a Bell Tele-phone Company [...] ou Dieter Rams, que projetou uma gama de produtos com

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    19/31

    18

    formas austeras, mas muito prticas para a empresa alem Braun. Hoje, o termodesigner evoca provavelmente nomes como Ralph Lauren ou Giorgio Armani,ou seja, designers de moda. Os estilistas geralmente comeam como costureiros(couturiers); mas, quando ficam famosos, so associados a uma grande variedade deprodutos de consumo, incluindo cosmticos, perfumes, malas e objetos para o lare at tintas para pintar casas. Como resultado, design, na opinio pblica, se

    identifica com envoltrios: a carcaa de um computador; o corpo de uma lapisei-ra; a armao de um par de culos.(1)

    O design se distanciou cada vez mais da ideia de soluo inteligente de pro-blemas e se aproximou do efmero, da moda, do obsoletismo rpido a essnciada moda a obsolescncia rpida , do jogo esttico-formal, da glamourizao domundo dos objetos. Frequentemente, hoje em dia, design associado a objetoscaros, pouco prticos, divertidos, com formas rebuscadas e gamas cromticas cha-mativas.(2)A hipertrofia dos aspectos de moda, por sua vez, reflete-se nos meiosde comunicao de massa, em sua incessante busca pelo novo.

    O design se transformou em evento miditico, em espetculo acompanhadopor um nmero respeitvel de revistas que funcionam como caixas de ressonnciapara esse fim. At os centros de promoo do design se encontram expostos a essacumplicidade dos veculos de comunicao, correndo o risco de desvirtuar seuobjetivo de difundir design como resoluo inteligente de problemas, e no ape-nas ostyling. Trata-se, no fundo, de um renascimento da velha tradio da BoaForma, mas com um objetivo diferente: os protagonistas do movimento da BoaForma perseguiam fins sociopedaggicos, enquanto os modernosLife Style Centersperseguem exclusivamente fins comerciais e de marketing.

    Raimonda Riccini constatou o desprezo pelo estudo dos artefatos materiais esemiticos desde a cultura clssica greco-romana at o perodo medieval, quandoforam criadas as primeiras universidades ocidentais. Essa tradio no favoreceu o

    domnio do projeto em nenhuma carreira profissional ou em disciplinas acadmicas. claro que, com a expanso das cincias e, sobretudo, com a industrializao,j no era possvel fechar os olhos para o mundo da tecnologia e dos artefatostcnicos, cuja presena se fez sentir cada vez mais na vida cotidiana. Contudo, o

    (1) Rybczynski, Witold, How Things Work, em: NewYork Review of Books, LII, n. 10, junho 9, 2005, pp. 49-51.(2) Esses produtos oferecidos no mercado como produtoscriativos ou com design (designed) provavelmenteencontram aceitao nos membros da classe mdiae na classe mdia superior que dispem de um poderaquisitivo maior e que apreciam o ethosda criatividade.Essa hiptese somente pode ser confirmada ou negada

    mediante pesquisas sociolgicas, como foi feito, paraoutra temtica, pela sociloga Eva Illouz (Der Konsum derRomantik,Suhrkamp, Frankfurt 2007). (Illouz, Eva, Inti-midades congeladas Las emociones en el capitalismo,Katz Editores, Buenos Aires 2007). Em nosso contexto,tambm parece plausvel supor que as prticas de con-sumo se desenvolvam em concordncia com os interessesde classe.

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    20/31

    19

    ensino do projeto nunca atingiu padres igualveis aos do ensino de cincias. Essefato explica a dificuldade de incorporar a formao da competncia projetual nasestruturas acadmicas, onde as tradies e critrios de excelncia cientfica diferemfundamentalmente das tradies e critrios de excelncia das disciplinas projetuais.

    Enquanto as cincias enxergam o mundo sob a perspectiva da cognio, asdisciplinas de design o enxergam sob a perspectiva do projeto. Essas so duas

    perspectivas diferentes que, oxal, no futuro, acabem se fundindo. Estou conven-cido de que, no futuro, haver uma interao frutfera entre o mundo das cinciase o mundo do projeto que, hoje, se d, no mximo, esporadicamente.

    At o momento, o design procurou se aproximar do mundo das cincias, masno ocorreu o inverso. Como possibilidade especulativa arriscada, podemos ima-ginar que, no futuro, o ensino do projeto ser uma disciplina bsica para todas asdisciplinas cientficas. Mas essa reviravolta no sistema de ensino superior prova-velmente levar geraes, a no ser que sejam criadas instituies de ensino supe-rior radicalmente novas. O espao de ao dos ministrios de educao e cultura muito limitado pelo peso das tradies acadmicas e da burocracia, com seuinevitvel corolrio do credencialismo. Assim, as instituies inovadoras serocriadas, provavelmente, fora do sistema educacional formalmente estabelecido.

    A atitude de colocar o projeto relacionado com as cincias no deve ser inter-pretada como um postulado por um design cientfico ou para transformar designem cincia. Seria grotesco querer projetar um cinzeiro baseando-se em conheci-mentos cientficos. Deveria ser criada uma correspondncia entre complexidadetemtica e metodologia. O design deve recorrer a conhecimentos cientficosquando a temtica o exige. Por exemplo, quando se quer projetar uma nova em-balagem para leite que minimize os impactos ecolgicos (ecological footprints).

    No se pode mais restringir o conceito de projeto s disciplinas projetuaiscomo ocorre na arquitetura, no design industrial e no design de comunicao

    visual, pois nas disciplinas cientficas tambm h projeto. Quando um grupo deengenheiros agrnomos desenvolveu uma nova merenda, com base na sementeda algaroba acrescida de sais minerais e vitaminas bsicas para escolares, realizouum claro exemplo de projeto.(3)

    Portanto, j registramos uma zona de contato entre cincias e projeto, emboraainda no tenhamos, at o momento, uma teoria projetual que abarque todas asmanifestaes projetuais, como na engenharia gentica que, sem dvida alguma,deve ser considerada uma disciplina projetual cientfica.

    (3) Crean un nuevo alimento para escolares en base aalgarroba, 2005, em: Clarin, http://www.clarin.com/diario/2005/05/09/sociedad/s-03101.htm (ltimo acesso:09.05.2005).

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    21/31

    20

    Depois dessa breve digresso sobre o ensino do projeto em cursos superiores,chego ao tema central de minha conferncia: democracia e design. O conceito dedemocracia sofreu lamentvel desgaste nos ltimos anos, o que aconselha a us-locom cautela. Se olharmos o atual cenrio internacional, constatamos que, emnome da democracia se cometem invases colonialistas, matanas, bombardeios,genocdios, limpezas tnicas, torturas e quebras das leis de convivncia interna-

    cional, quase impunemente. O preo desse anti-humanismo uma ignomniaque no pode ser classificada como mero dano colateral. Essas operaes nadatm a ver com a democracia ou a defesa da democracia, j que elas corroem o con-tedo substancial da democracia, podendo ser onerosas para as futuras geraes.

    Na concepo neoliberal, a democracia sinnimo da predominncia do mer-cado como instncia suprema para regular as relaes sociais e econmicas. Noentanto, surgem as perguntas: como recuperar um conceito de democracia nodominada pela economia e dar-lhe credibilidade? Como evitar o risco de expor-se atitude arrogante e condescendente dos grandes centros de poder que usama democracia como um sedativo para a opinio pblica a fim de continuar seusnegcios sem escrpulos (business as usual)?

    Utilizo uma interpretao simples de democracia, no sentido de possibilitara participao dos dominados, para criar um espao de autodeterminao. Issosignifica criao do espao para um projeto prprio, para um design prprio. Emoutras palavras: a democracia vai muito alm do direito formal de votar, assimcomo o conceito de liberdade vai muito alm da possibilidade de escolher entrecentenas de modelos de telefones celulares ou uma viagem a Orlando para visitara Disneylndia, ou a Paris para visitar o Museu do Louvre.

    Fao minha adeso a um conceito substancial e menos formal de democraciano sentido de reduo de heteronomia, entendida como subordinao a uma or-dem imposta por agentes externos. No segredo que essa interpretao se insere

    na tradio da filosofia iluminista, to criticada por autores como Jean-FranoisLyotard, que pregam no se sabe exatamente se com satisfao ou resignao o fim das Grandes Narrativas.(4)

    No concordo com essa corrente de pensamento, como tampouco concordocom a corrente ps-modernista em todas as suas variantes. Sem um elementoutpico, no ser possvel construir um mundo diferente e restaria apenas umdesejo piedoso e etreo sem maiores consequncias. Sem esse elemento utpico,ainda que residual, no ser possvel qualquer reduo da heteronomia. Por isso,

    (4) Lyotard, Jean-Franois, The Postmodern Condition:Report on Knowledge, The University of Minnesota Press,Minneapolis 1984. p. xxiii (edio original 1979). No pre-fcio, Fredric Jameson escreve: As Grandes Narrativas

    so aquelas que querem sugerir, ou fazer acreditar, que possvel uma alternativa, algo radicalmente diferentealm do capitalismo.

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    22/31

    21

    (5) Said, Edward W., Humanism and Democratic Criticism,Columbia University Press, New York 2003, p. 28.

    a renncia ao projeto da filosofia iluminista me parece uma atitude conformista,para no dizer conservadora. uma atitude de capitulao qual nenhum desig-ner deveria resignar-se.

    Para ilustrar a necessidade de reduzir a heteronomia, quero usar as contribui-es de um fillogo especialista em literatura comparada, Edward Said, falecidoem 2004. Ele caracteriza, de modo exemplar, o que o humanismo e o que

    uma atitude humanista. Como fillogo, limita a postura humanista ao campo dalinguagem e da histria: Humanismo o exerccio de nossas competncias dalinguagem para compreender, reinterpretar e lidar com os produtos da lingua-gem na histria, em outras lnguas e em outras tradies histricas.(5)

    Essa interpretao pode ser estendida a outras reas, expandindo as intenesdo autor e sua caracterizao do humanismo com as devidas modificaes tambm ao design. O humanismo projetual seria o exerccio das capacidadesprojetuais para interpretar as necessidades de grupos sociais e elaborar propostasviveis, emancipatrias, em forma de artefatos instrumentais e artefatos semi-ticos. Por que emancipatrias? Porque humanismo implica a reduo da domi-nao e, no caso do design, ateno tambm aos excludos, aos discriminados,como se diz eufemisticamente no jargo economista, os economicamente menosfavorecidos, ou seja, a maioria da populao deste planeta.

    Essa afirmao no deve ser interpretada como expresso de um idealismo in-gnuo e fora da realidade. Ao contrrio, uma possvel e incmoda questo fun-damental que qualquer profissional, no somente os designers, deveria enfrentar.Tambm seria errado interpret-la como uma exigncia normativa ao trabalhodo designer, que est sempre exposto s presses do mercado e s antinomiasentre o que e o que poderia ser a realidade. A inteno aqui mais modesta:formar uma conscincia crtica frente ao enorme desequilbrio entre os centros depoder e os que so submetidos a eles. A partir dessa conscincia crtica, podem-se

    explorar espaos alternativos, no se contentando com a petrificao das relaessociais. Esse desequilbrio profundamente antidemocrtico, uma vez que negaa participao em um espao autnomo de deciso. Trata os seres humanos comomeros consumidores no processo de coisificao (Verdinglichung).

    Menciono aqui o papel do mercado e o papel do design dentro desse merca-do. Em seu ltimo livro, The Economics of Innocent Fraud, o economista KennethGalbraith apresenta uma anlise crtica do discurso das cincias econmicas.Entre outras, faz uma radiografia do conceito de mercado que, segundo o autor,

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    23/31

    22

    (6) Galbraith, John Kenneth, The Economics of InnocentFraud, Houghton Mifflin Company, Boston 2004, p. 7.

    nada mais que uma cortina de fumaa para no falar pura e simplesmente decapitalismo termo que no goza de conotaes positivas em todos os lugares eestratos sociais. Galbraith coloca o design industrial no conjunto de tcnicas dasgrandes corporaes para expandir e manter o poder: A inovao do produtoe o redesign cumprem uma funo econmica importante, e nenhuma empresade peso introduz um novo produto sem cuidar da demanda por parte dos consu-

    midores. Tambm no poupa esforos para manter a demanda por um produtoexistente. Aqui entra o mundo da publicidade e das tcnicas de vendas, da tele-viso e da manipulao do consumidor e, portanto, da soberania do consumidore do mercado. No mundo real, as empresas produtoras e as indstrias se esforampara manipular os preos e estimular a demanda. Para esse fim, organizam-seem monoplios e oligoplios, investem no design e diferenciao de produtos,publicidade e outras tcnicas de promoo de vendas.(6)

    Galbraith critica o uso do termo mercado como uma instncia annimaimpessoal e insiste que, em vez disso, deveria se falar do papel das grandes cor-poraes. A esse uso do design em ltima instncia, como ferramenta de poder se contrape uma prtica que no est disposta a se concentrar em aspectosmeramente de poder e da fora annima chamada mercado. Essa a contradi-o na qual a prtica profissional do design se desenvolve, resistindo ao discursoharmonizador de que tudo est bem. Pode-se negar essa contradio, mas no sepode escapar dela.

    O tpico da manipulao tem longa tradio no discurso projetual e, sobre-tudo, na publicidade. Lembro-me do livro Hidden Persuaders (1957), de VancePackard, que teve bastante ressonncia nas dcadas de 1950e 1960. Sem dvida, preciso tomar cuidado com a crtica maximalista meramente denunciatria edeclamatria. preciso ter discernimento e no contentar-se com juzos totali-zadores. Manipulao e design encontram um ponto de contato na produo de

    aparncia. Ao projetarmos, estamos entre outras e certamente no exclusiva-mente construindo aparncias.O trabalho de design , em boa parte, visvel. Por isso caracterizei, no captu-

    lo 6,Patternsaudiovisualsticos, o designer como estrategista das aparncias, querdizer, dos fenmenos que experimentamos mediante nossos sentidos, sobretudopor meio do sentido da viso, mas tambm mediante os sentidos do tato e daaudio. Aparncias, por sua vez, conduzem ao tema da esttica conceito ambi-valente quando aplicado ao contexto do design. De um lado, a esttica representa

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    24/31

    23

    o mundo da liberdade e do jogo (alguns autores afirmam que somente estamoslivres quando brincamos); por outro lado, abre o caminho do engodo, da mani-pulao (ou seja, da expanso da heteronomia).

    Para projetarmos aparncias dos produtos e dos artefatos semiticos, inevita-velmente entramos no jogo da seduo, quer dizer, provocar uma predisposiopositiva; ou tambm, segundo o contexto, provocar predisposies negativas

    frente ao produto ou a mensagem e seu contedo. Ou seja, dependendo das in-tenes, o design se inclina a um polo ou a outro, tendendo para a autonomia oupara a heteronomia.

    Neste ponto desta reflexo, gostaria de abordar o tpico da tecnologia. A tecno-logia abrange o arsenal de artefatos e processos para produzir mercadorias materiaise/ou semiticas, com as quais as empresas esto inundando a vida cotidiana. Isto ,a tecnologia composta por hardware e software e esse aspectosoftinclui o designcomo faceta imprescindvel da tecnologia.

    Vou focalizar o tema das polticas tecnolgicas e as polticas de industria-lizao na Amrica Latina. As pesquisas sobre esse tema revelam dados muitoesclarecedores sobre certos avanos e retrocessos, contudo, parecem favorecer umainterpretao reducionista da tecnologia. Somente em alguns casos excepcionaisos textos mencionam o que se faz com a tecnologia. A sua ligao com o projetodos artefatos no levada em conta. Isso me parece uma falha, sem menosprezaros esforos dos historiadores da tecnologia e da industrializao. Mas no se podeeximi-los da indiferena ou at cegueira com respeito dimenso do projeto.

    Entre os motivos da industrializao, encontra-se o desejo de incrementar asexportaes e gerar economias com produtos de valor agregado, em vez de merascommodities. Esses motivos ocultam outra ideia, nem sempre formulada explicita-mente. Refiro-me ideia de que a industrializao alm de aumentar o pib um meio indispensvel para democratizar o consumo e permitir, a um amplo

    setor da populao, o acesso a um universo de produtos tcnicos para melhorar avida cotidiana em seus diferentes domnios: tarefas domsticas, sade, educao,lazer, esportes, transportes, para mencionar apenas alguns.

    Mencionar o papel do Estado para promover a industrializao foi conside-rado quase um sacrilgio at o comeo da crise financeira global em 2008. Atento, o papel do Estado foi demonizado com uma exceo: quando se tratava depagar as contas de um servio (ou um banco) privatizado e falido, obrigando oscontribuintes a arcar com os prejuzos.(7)Porm, quando se escrever a histria da

    (7) Esta frase foi escrita trs anos antes da crise finan-ceira global de 2008. Parece justificado supor que existeuma defasagem de acordo com a qual a Periferia antecipaexperincias negativas que posteriormente ocorram

    tambm no Centro. S agora se comea falar no Centrodo precariato - uma experincia endmica nos pasesda Periferia. Veja: Raunig, Gerald, Tausend Maschinen,editora Turia + Kant., Wien 2008. [Mil mquinas].

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    25/31

    24

    tecnologia e da industrializao desse subcontinente, ver-se- claramente que opapel do Estado foi e continua sendo fundamental para o processo de indus-trializao, por mais que os detratores do setor pblico, com suas vozes belige-rantes, pretendam ridicularizar, desprestigiar e desconhecer essas contribuies.

    Se olharmos rapidamente o que aconteceu na Argentina que at h poucosanos era submissa seguidora das recomendaes do Fundo Monetrio Interna-

    cional e que, em um momento de delrio, exaltou as relaes carnais com amaior potncia econmica e militar do mundo , constatamos que o pas nofoi bem-sucedido com a privatizao desenfreada. Esse processo levou, por umlado, grande parte da populao a um empobrecimento indito naquele pas e,por outro, a uma concentrao de renda que produziu uma bipolarizao entreincludos e excludos.

    A privatizao, nesse caso, sinnimo de desdemocratizao, pois as vtimasdo processo nunca foram consultadas para aprovar as decises que levaram o pas bancarrota. Com a privatizao, a retrao do papel do Estado e a abertura domercado sem restries s importaes, o pas se desindustrializou, reduzindoos postos de trabalho na indstria e, como consequncia, a fonte de trabalho dodesigner industrial tambm erodiu. Desencadeou-se um retrocesso, afetandogrande parte dos setores econmicos.

    Examinando a poltica de industrializao, constato que, em todos os pro-gramas dos quais pude participar, principalmente no Chile, na Argentina e noBrasil, nenhum abarcou o setor da informao e da comunicao. Todos estavamdirecionados ao desenvolvimento dos aspectos hard, no aos aspectos soft.Hoje, essa orientao mudou radicalmente. Uma poltica atualizada de industria-lizao deveria incluir a indstria da informao, para a qual o design grfico, oumelhor, o design da informao, pode prestar servios essenciais. Aqui surgemtemticas novas relacionadas ao design da comunicao com exigncias cognitivas

    que nunca receberam a devida ateno na tradio do ensino do design grfico.Com a difuso da tecnologia digital, comeou a surgir uma corrente dentrodo discurso projetual afirmando que, hoje em dia, as principais questes colo-cadas a um designer so os aspectos simblicos, pois as questes relacionadass funes dos produtos perderam importncia. Como segundo argumento,menciona-se a miniaturizao obtida por meio dos circuitos integrados que nopermitem visualizar o funcionamento dos componentes. Portanto, o design teriade tornar visveis essas funes ocultas. Ainda que os aspectos comunicativos esimblicos dos produtos sejam inegveis, preciso no conferir-lhes papel todominante, como propunham alguns autores.

    O substrato material complementado com sua expresso visual/ttil/auditiva

    forma a base slida do trabalho do designer. Percebo com preocupao o cresci-mento de uma nova gerao de designers que se fixa obsessivamente nos aspectossimblicos e seus equivalentes no mercado o branding e oself-branding e nosabe mais como se classificam os elementos de junes. A busca do equilbrio en-tre os aspectos tcnicos dos objetos e seus aspectos semnticos o ncleo central

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    26/31

    25

    do trabalho do designer, sem privilegiar um lado ou outro. A polaridade entreo material e o simblico, entre estrutura externa e interna, uma caractersticatpica dos artefatos, enquanto eles so instrumentos e simultaneamente portado-res de valores e significados. Os designers tm a tarefa de reconciliar essas duaspolaridades, projetando a forma dos produtos como resultado da interao com oprocesso sociotcnico. (Raimonda Riccini, 2005.)(8)

    interessante notar que a autora no fala da forma dos produtos e sua intera-o com a funo, isto , dos servios que um produto oferece, mas menciona odesenvolvimento sociotcnico. Com essa abertura evita-se a velha polmica sobreo binmio forma/funo, que tantas controvrsias provocou na histria do discur-so projetual. Os fundamentos considerados estveis para orientar a concepodas formas dos produtos se dissolveram se que chegaram a existir. Hoje, seriaingnuo pressupor a existncia de um padro de regras determinsticas. Quemdefende tal padro comete o erro do essencialismo das configuraes platnicas.Ao mesmo tempo, seria ingnuo postular uma irrestrita veleidade das formassurgindo de atos demirgicos de um punhado de designers inspirados criativa-mente.

    Encontramo-nos diante de um paradoxo. Projetar significa expor-se e vivercom paradoxos e contradies, mas nunca camufl-los sob um manto harmoni-zador. O ato de projetar deve assumir e desvendar essas contradies. Em umasociedade torturada por contradies, o design tambm est marcado por essasantinomias. Vale a pena lembrar o duro e melanclico dictum de Walter Benja-min: No h documento da civilizao que no seja, ao mesmo tempo, docu-mento da barbrie.(9)

    (8) Riccini, Raimonda, Design e teorie degli oggetti, em:i verri, n. 27, 2005, pp. 4857.

    (9) Benjamin, Walter, ber den Begriff der Geschichte,em: Walter Benjamin Gesammelte Schriften, coorde-nado por Rolf Tiedemann e Hermann Schweppenhuser,editora Suhrkamp, Frankfurt 1991, p. 696. [Sobre oconceito da histria].

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    27/31

    26

    Entrevista (2010)

    com Jesko Fezer

    1.Sua reivindicao de um papel renovado do design em uma perspectiva democrtica desafiante. Em muitos

    aspectos poderia ser relacionada com a ideia de uma cidade social. Mencionando os excessos da privatizao e o

    ataque a processos democrticos (sintomas ou at princpios da cidade neoliberal), o senhor advoga um redescobri-

    mento do conceito de democracia. Incluiria essa demanda ou redescobrimento da cidade como um espao democr-

    tico, como uma preocupao comum alm de sua perspectiva econmica e exploradora?

    Minhas reflexes sobre democracia e design foram formuladas no contexto daPeriferia. Certo, o peso pesado da poltica econmica neoliberal cai recentementetambm sobre alguns pases do Centro ou dos Centros , mas nem de longese compara com to desastrosas consequncias como sobre aqueles pases cujasestruturas democrticas so muito vulnerveis e que so desestabilizados quandose atreverem a resistir a interesses hegemnicos. Nas ltimas dcadas, o con-ceito de democracia foi submetido a um processo de eroso que se manifesta demaneira exemplar na privatizao de assuntos pblicos, durante a qual recursossociais foram transferidos em grande escala esfera de interesses particularesfinanceiros e foram absorvidos por eles. No que se refere a interesses pblicos dacidade, pode-se observar bem esse processo de transferncia de recursos e por isso possvel mobilizar um potencial de resistncia. Em compensao, quando emuma provncia da Cordilheira, todo ano milhares de toneladas de cianureto alta-mente txico so misturadas com gua de manancial para a explorao de ouroa cu aberto que por boas razes foi proibida na Unio Europeia , somente apopulao local diretamente afetada se defende contra a destruio de sua sub-sistncia. Eu concordo que o espao pblico, encolhido durante o processo deprivatizao, requer uma redemocratizao.

    2.O senhor interpreta a democracia no simplesmente como o direito de escolher os representantes da dominao,

    mas como reduo da dominao em si. Nesse contexto, o senhor rejeita a ideia que isso deveria ser uma demanda

    normativa para o design. Por qu? Seria realmente suficiente fomentar uma conscincia crtica como o senhor

    formula no contexto de um regime obviamente poderoso de injustia social em tantas reas? Em um contexto

    fortemente normativo uma proposta contranormativa poderia ser provavelmente bastante til.

    Considero a criao de uma conscincia crtica um passo indispensvel parauma prtica projetual crtica. Mas deve-se levar em considerao que a transiode uma crtica que se detm no discurso a uma prtica projetual determinadapor contingncias que arrebata os puristas. Certo, para mudar situaes sociais

    injustas podem-se apresentar exigncias radicais que so to radicais que deixamtudo igual. Tenho pouca estima pelo radicalismo verbal e da gesticulao maxi-malista, assim como pela instalao conformista nojuste milieu. O senhor men-ciona minha desconformidade com uma exigncia normativa geral de como osdesigners deveriam se comportar em uma sociedade infestada por contradies.

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    28/31

    27

    Esta formulao pode ser mal-entendida. Quero advertir sobre um risco: quem seatribui o direito de se apresentar com exigncias normativas corre o risco de cairno papel do Gro-Inquisidor e dessa figura definitivamente no necessitamos.Normatividade deve ser, antes de tudo, desenvolvida na confrontao entre con-ceito e realidade. Ernst Bloch usa o conceito latncia, do possvel, do ainda en-capsulado que deveria ser aberto e estendido e que pode servir como antecedente

    para a normatividade. Por isso fao uso do conceito enftico de democracia comoreduo de heteronomia em qualquer rea: economia, poltica, ensino, pesquisa,meios, prtica da vida cotidiana, cultura

    3.Acho especialmente interessante seu argumento de que a democracia deveria possibilitar s pessoas abrir um

    espao para um projeto prprio. Usando o termo espao, o senhor toca talvez inconscientemente a dimenso

    urbana e dos espaos. Tais espaos autodeterminados poderiam ser os fundamentos para uma cidade mais social.

    Como capacitar as pessoas para criarem esses espaos? Por outro lado, sua definio de democracia est vinculada

    a um projeto. Essa perspectiva da projetualidade constitui o centro das disciplinas de design. Implica isso no

    design ter uma responsabilidade especial e possuir o potencial para fortalecer a democracia, uma cidade democr-

    tica? Ou mais ainda, que a democracia algo que deve ser projetado?

    Uso o termo espao sem limit-lo a seu significado em arquitetura e urba-nismo. Mas estou de acordo que uma cidade social aqui o termo convivialcunhado por Illich apropriado , ento, uma cidade convivial se caracteriza porespaos autodeterminados onde so mediados interesses legtimos diferentes e atcontrrios. O senhor pergunta o que os cidados deveriam fazer para criar espaosautodeterminados. A reposta simples: mediante empenho poltico, longe doisolamento individual, afastar-se da crena de que se pode obter individualmente,atravs da instncia do mercado to euforicamente festejado, uma forma de con-vivncia urbana, suportvel e at livre de violncia. Deveria ser claro que isso no

    significa gentrificao (gentrification) da cidade. Alm disso: desconfiana contrauma managed democracy, e contra o marketing poltico que ocupa o lugar da polticae com isso a decompe. Est longe de mim a tentao de superestimar o potencialdemocrtico das disciplinas projetuais, sobretudo no contexto que foi denomina-do com o termo paradoxal totalitarismo invertido.(1)Mas opino que democraciacontm essencialmente um componente projetual. Infelizmente, no vale a mes-ma coisa para o inverso. No cada projeto alberga um componente democrtico.Instrumentos de tortura assim como torturas so inumanos e antidemocrticosenquanto apontam para uma incondicional submisso o oposto do design.

    (1) Wolin, Sheldon S., Democracia S. A. La democraciadirigida y el fantasma del totalitarismo dirigido, KatzEditores, Buenos Aires 2008.

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    29/31

    28

    4.Na caracterizao dos traos dominantes do design, sua descrio do aspecto simblico-semntico e do aspecto

    operacional-instrumental parece dar preferncia aos aspectos operacionais. O senhor menciona um martelo para

    pregar um prego em uma parede como algo que no pode ser captado por sua dimenso simblica. O que quer dizer

    com isso? Precisaramos de um novo balano? Pergunto se necessrio reforar radicalmente o valor de uso do

    design? Eu defenderia esse enfoque para o design de espaos urbanos e infraestrutura urbana.

    Depende do peso atribudo dimenso semntica dos produtos e construes.A mesma coisa vale tambm para o tema das emoes evocadas por produtos eedifcios. Os defensores do emocionalismo parecem ser alrgicos a tudo que sedenomina com o termo da poltica econmica valor de uso. Certo, na rea deprodutos com interfaces digitais se abre um novo campo de ao para designer;mas tambm interfaces devem ser submetidos ao critrio do valor de uso e dafuncionalidade igual a um martelo. Esse novo tipo de produto e os modos deuso correspondentes no devem servir como pretexto para desvalorizar a dimen-so material com desprezo e trat-la como assunto secundrio. No discurso dedesign, uma das fontes de atrao para emoes jaz no fato de que sobre emoes possvel farfalhar to facilmente. Frente devoo s emoes e ao correspon-dente experience design,pode ser oportuno lembrar como o senhor faz o in-dispensvel substrato da infraestrutura urbana. Inflar a dimenso simblica daarquitetura conduz a esculturas arquitetnicas que, com gesto arrogante, passampor cima das exigncias de uso, por exemplo, de um museu. Nesse tipo de arqui-tetura, o capital simblico festeja sua conquista mxima.

    5.Com o conceito de humanismo projetual o senhor vincula o design s necessidades de grupos sociais, sobretudo

    aqueles que so excludos e discriminados dentro do regime neoliberal, com o fim de interpretar suas necessidades

    e de desenvolver propostas emancipadoras. Isso implica uma mudana radical com relao aos clientes do design

    que em geral so aqueles que podem pagar esses servios. Como possvel detectar essas necessidades? Como

    os designers poderiam se conectar com grupos sociais que vivem e trabalham em sua maioria fora do milieudosestdios de design?

    Fica em aberto se na atual fase do ps-liberalismo no tenho certeza se esseconceito j aplicvel pode-se j falar de um novo cliente de trabalhos pro-jetuais emancipadores. Seria j um passo frente se encontrarmos clientes queencomendam designs que no gerem novas dependncias. Um design controladopelo marketing dificilmente poder contribuir para produtos emancipadores.Tambm o enfoque do design de autor, que pe o acento no indivduo criador eno no grupo annimo de usurios, dificilmente servir para satisfazer as neces-sidades de grupos sociais fora do milieudos estdios de design. Se no me falha a

    memria, o conceito de design participativo surgiu nos anos 1970e foi prati-cado, sobretudo, na arquitetura e urbanismo. Tratou-se de incorporar grupos depessoas diretamente expostas a projetos arquitetnicos e urbansticos. Fica emaberto a pergunta se com isso a atividade projetual foi socializada.

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    30/31

    29

    6.Concordo com sua rejeio a um discurso harmonizador e que o senhor insista nas contradies como algo fun-

    damental para o design. Como tratar essas contradies quando o design, de alguma maneira, sempre uma ferra-

    menta de dominao e por isso produz essas contradies? Deveramos torn-las explcitas em vez de resolv-las?

    Deveramos abri-las negociao social ou deveramos tom-las como ponto de partida para uma reformulao,

    uma modificao de uma situao dada? A que se assemelharia um design orientado a conflito?

    A prtica projetual est inevitavelmente exposta a contradies por exem-plo, entre carga ambiental e satisfao de necessidades. Por mais bem intenciona-do que fosse o design sustentvel, parece ter pouco alcance se se limita somente natura e ao consumo de recursos e exclui-se a pergunta pela sustentabilidadesocial. Eu no digo que o design sempreum instrumento de dominao. Se usado como instrumento de dominao depende de interesses poltico-econ-micos. Design assim como a cincia podeser uma ferramenta de interesseshegemnicos, mas no necessariamente. A atividade projetual seria superestimadase supusermos que mediante a atividade de arquitetos, designers industriais edesigners grficos o potencial social conflituoso pode ser reduzido diretamente.Mostrar contradies e explicit-las ocorre em primeira instncia no discurso cr-tico, isto , mediante a linguagem. Partindo da, pode-se ver como traduzir essacrtica discursiva projetualmente. Isso acontece mediante nveis de mediao. Sequeremos projetar objetos de luxo e manses bunkerizadas de luxo depende deuma deciso pessoal. Eu me oponho a um discurso harmonizador que se com-porta como se ns vivssemos no melhor dos mundos (divertidos). Alm disso,oponho-me subsuno do design ao marketing.

    A contradio mais forte qual a atividade projetual est exposta jaz nadistncia entre o que socialmente desejvel, tecnicamente factvel, ambien-talmente recomendvel, economicamente vivel e culturalmente defensvel. Se

    olharmos, por exemplo, os festivais de design, surge a impresso que para os de-signers participantes aparentemente existem s duas classes de produtos: cadeirase luminrias, complementadas com alguns acessrios de moda. Nos eventos pro-movidos na mdia, o critrio dofunparece ocupar a posio dominante e limitar-se inovao do efmero. Perguntas pelo sentido no parecem ser formuladas;incomodariam o mbito de festa do mundo belo do design.

  • 8/12/2019 Capitulo 1 - Design, cultura e sociedade

    31/31

    30

    Bibliografia

    Benjamin, Walter, ber den Begriff der Geschichte, em: Walter Benjamin Gesammelte Schriften,editado por Rolf

    Tiedemann e Hermann Schweppenhuser, editora Suhrkamp, Frankfurt 1991. [Walter Benjamin textos coletados]

    Borges, Jos Luis e Osvaldo Ferrari, En dilogo, II, Siglo xxi Editores, Mxico 2005.

    Acessvel em: http;//books.google.com.books

    Galbraith, John Kenneth, The Economics of Innocent Fraud, Houghton Mifflin Company, Boston 2004. [Economia das

    Fraudes Inocentes, Cia. Das Letras, So Paulo 2004]

    Illich, Ivan, Tools for Conviviality, Harper and Row, New York 1973.

    Illouz, Eva, Der Konsum der Romantik, editora Suhrkamp, Frankfurt 2007. [O consumo do romanticismo]. Veja: Costa,

    Srgio, Amores fceis: romanticismo e consumo na modernidade tardia, em: Novos estudos CEBRAP[online],

    n. 73, 2005, pp. 111124. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002005000300008.

    (ltimo acesso: 24.06.2010)

    Lyotard, Jean-Franois, The Postmodern Condition: Report on Knowledge, The University of Minnesota Press, Minneapo-

    lis 1984.

    Riccini, Raimonda, Design e teorie degli oggetti, em: i verri, n. 27, 2005, pp. 4857.

    Rybczynski, Witold, How Things Work, em: New York Review of Books, LII, n. 10, 2005.

    Said, Edward W., Humanism and Democratic Criticism,Columbia University Press, New York 2004. [Humanismo e Crtica

    Democrtica, Cia. Das Letras, So Paulo 2007]

    Wolin, Sheldon S., Democracia S. A. La democracia dirigida y el fantasma del totalitarismo dirigido, Katz Editores,

    Buenos Aires 2008.