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CAPÍTULO 1: NORMALIZAÇÃO TÉCNICA 1.1 Introdução / Histórico da Normalização É comum associar-se o termo “Normalização” ao estabelecimento de padrões rígidos, limitadores da criatividade, constituindo barreiras às inovações tecnológicas e gerando produtos monótonamente repetitivos. Na verdade a Normalização é um ato inerente à própria natureza, é a aplicação à atividade humana de uma disciplina da qual a própria natureza dá o exemplo. Quando se observa os seres humanos, as substâncias e elementos químicos, as espécies animais e vegetais, sente-se a presença da padronização em suas formas, constituições e procedimentos. Históricamente, observa-se que a atividade normativa sempre esteve presente na produção. Desde os tempos primitivos encontra-se a seleção, a unificação de formas na confecção de utensílios, sendo possível identificar as diferentes épocas da cultura pré- histórica pelos padrões e desenhos utilizados em seus objetos e ferramentas. A Normalização só passou a ser tratada de forma sistemática a partir da revolução industrial, quando a necessidade de produzir intercambiáveis se fez presente de forma mais intensa. De uma forma geral, a Normalização acompanhou a revolução industrial como uma necessidade para racionalizar a produção na indústria, de maneira a assegurar a intercambialidade das peças, a redução de estoques, facilitar os trabalhos de manutenção, aumento da produtividade, redução nos custos, etc. Foi observado um incremento das atividades normativas em épocas de guerra ou de depressão econômica, o que pode ser facilmente explicado pelo próprio objetivo da Normalização de elevar ao máximo o rendimento da produção industrial. 1.2 Conceitos Básicos Definição: Normalização é uma disciplina com base técnica e científica que confere a capacidade de elaborar regras ou normas, e seu campo de atuação não só se limita ao estabelecimento de regras, como também compreende a sua aplicação, ou seja, a colocação em prática, e inclusive o seu aprimoramento, isto é, a sua adequação segundo os progressos da ciência, da técnica e da experiência. A definição internacionalmente aceita para o termo Normalização é: Normalização é o processo de estabelecer e aplicar regras para abordar ordenadamente uma atividade específica para o benefício e com a participação de todos os interessados e, em particular, para promover a otimização da economia, levando em consideração as condições funcionais e as exigências de segurança. O produto da Normalização é a Norma. Norma é o resultado de um processo de Normalização realizado em certo âmbito e aprovada por autoridade reconhecida, que pode tomar a forma de um documento normativo, o qual contém uma série de condições que devem ser cumpridas e persegue os fins de máxima economia global, segurança e fixação do conhecimento.

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CAPÍTULO 1: NORMALIZAÇÃO TÉCNICA 1.1 Introdução / Histórico da Normalização É comum associar-se o termo “Normalização” ao estabelecimento de padrões rígidos, limitadores da criatividade, constituindo barreiras às inovações tecnológicas e gerando produtos monótonamente repetitivos. Na verdade a Normalização é um ato inerente à própria natureza, é a aplicação à atividade humana de uma disciplina da qual a própria natureza dá o exemplo. Quando se observa os seres humanos, as substâncias e elementos químicos, as espécies animais e vegetais, sente-se a presença da padronização em suas formas, constituições e procedimentos. Históricamente, observa-se que a atividade normativa sempre esteve presente na produção. Desde os tempos primitivos encontra-se a seleção, a unificação de formas na confecção de utensílios, sendo possível identificar as diferentes épocas da cultura pré-histórica pelos padrões e desenhos utilizados em seus objetos e ferramentas. A Normalização só passou a ser tratada de forma sistemática a partir da revolução industrial, quando a necessidade de produzir intercambiáveis se fez presente de forma mais intensa. De uma forma geral, a Normalização acompanhou a revolução industrial como uma necessidade para racionalizar a produção na indústria, de maneira a assegurar a intercambialidade das peças, a redução de estoques, facilitar os trabalhos de manutenção, aumento da produtividade, redução nos custos, etc. Foi observado um incremento das atividades normativas em épocas de guerra ou de depressão econômica, o que pode ser facilmente explicado pelo próprio objetivo da Normalização de elevar ao máximo o rendimento da produção industrial. 1.2 Conceitos Básicos Definição: Normalização é uma disciplina com base técnica e científica que confere a capacidade de elaborar regras ou normas, e seu campo de atuação não só se limita ao estabelecimento de regras, como também compreende a sua aplicação, ou seja, a colocação em prática, e inclusive o seu aprimoramento, isto é, a sua adequação segundo os progressos da ciência, da técnica e da experiência. A definição internacionalmente aceita para o termo Normalização é: Normalização é o processo de estabelecer e aplicar regras para abordar ordenadamente uma atividade específica para o benefício e com a participação de todos os interessados e, em particular, para promover a otimização da economia, levando em consideração as condições funcionais e as exigências de segurança. O produto da Normalização é a Norma. Norma é o resultado de um processo de Normalização realizado em certo âmbito e aprovada por autoridade reconhecida, que pode tomar a forma de um documento normativo, o qual contém uma série de condições que devem ser cumpridas e persegue os fins de máxima economia global, segurança e fixação do conhecimento.

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1.3 Princípios da Normalização Princípio 1: Normalização é essencialmente um ato de simplificação como um resultado do esforço consciente da sociedade. Isto implica não só numa redução de variedades no momento presente, mas também objetiva a prevenção da complexidade desnecessária no futuro. Princípio 2: Normalização é uma atividade, tanto social quanto econômica e deve ser promovida pela cooperação mútua de todos os envolvidos. O estabelecimento de uma Norma deve ser baseado em um consenso geral. Princípio 3: A mera publicação de uma norma é de pouco valor, a menos que ela possa ser aplicada. A implantação de uma norma pode exigir sacrifício de poucos para o benefício de muitos. Princípio 4: A ação a ser tomada na elaboração de uma Norma é essencialmente a de seleção, seguida pela de estabelecimento. Princípio 5: As Normas Técnicas devem ser examinadas a intervalos regulares e revisadas quando necessário. O intervalo entre exames dependerá das circunstâncias particulares. Princípio 6: Quando for especificado o desempenho ou outras características de um produto, a especificação deve incluir uma descrição dos métodos e ensaios a serem aplicados a fim de determinar se um dado produto está ou não em conformidade com a especificação. Quando a amostragem for adotada, o método, e se necessário, o tamanho e frequência das amostras devem ser especificados. Princípio 7: A obrigatoriedade legal de normas nacionais deve ser considerada levando-se em conta a natureza da norma, o nível de industrialização, as leis e condições predominantes na sociedade para a qual a norma foi preparada. 1.4 Níveis de Normalização O universo das atividades normativas desenvolve-se em diferentes níveis para atender a propósitos específicos. Os níveis de normalização são: - Norma Individual: É a norma escrita, ou não, que é utilizada pelo usuário individual

como, por exemplo, a experiência em elaboração de produtos que passa de pai para filhos. Cada indivíduo tem suas próprias normas para aquisição ou produção de bens. Quando uma pessoa afirma que usa produtos de uma determinada marca, ela está formulando uma norma individual para aquisição de produtos.

- Norma de Empresa: É a norma publicada por uma companhia ou grupo de companhias, elaborada através do consenso entre os diversos departamentos da companhia, com o objetivo de traçar orientações para fábricas, vendas, compras ou outras atividades.

- Norma de Associação: Várias empresas de um mesmo ramo podem se associar e elaborar um documento que fixe parâmetros que devam ser atendidos por todas as

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associadas. Desta forma podem conseguir redução nos custos dos produtos adquiridos de fornecedores comuns, ou evitar a concorrência desleal de produtos com menor nível de qualidade.

- Norma Nacional: É a norma elaborada, depois de consultar a todos os interessados de um País, através de uma Organização Nacional de Normas, que é reconhecida como autoridade indicada para torná-la pública. Esta norma será muito mais abrangente que as anteriores uma vez que deverá atender a um grande número de interesses: regionais, econômicos, sociais, etc.

- Norma Regional: É a norma estabelecida por um grupo limitado de várias nações independentes ou por uma Organização Regional de Normas, para seu benefício mútuo. Como exemplo pode-se citar: - COPANT : Comissão Pan-Americana de Normas Técnicas;

- CEN: Comitê Europeu de Normalização - Norma Internacional: É a norma que resulta de cooperação e acordos entre um grande

número de nações soberanas e independentes, tendo interesses comuns. Esta norma tem caráter universal. Como exemplo de organizações internacionais pode-se citar: - ISO: International Organization for Standartization

- IEC: International Eletrotechnical Commission A figura 1 apresenta a representação gráfica de todo o espaço de Normalização.

Figura 1: Representação gráfica do espaço de Normalização

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1.5 Benefícios da Normalização Em uma empresa, a normalização apresenta vantagens desde a concepção de novos produtos, até o serviço de manutenção após a comercialização. No estágio de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, a Normalização funciona como fonte de informação para os engenheiros evitando que se despenda energias reinventando o que já foi inventado. Além disso, a utilização de componentes e ferramentas padronizadas desde o projeto torna mais fácil a obtenção de produtos a custos competitivos. Durante a elaboração do projeto, a Normalização fornece informações classificadas e codificadas sobre as características técnicas das matérias primas e insumos usados pela empresa e a referência à norma evita traçados minuciosos e completos de peças, proporcionando uma economia substancial de tempo. O controle de recebimento de matérias primas e componentes é facilitado pelo uso de regras uniformes como métodos de amostragem, características a serem verificadas, métodos de ensaio, tolerâncias, etc. No estágio de fabricação as principais vantagens da Normalização são: redução de variedades, simplificação de operações, utilização ótima de equipamentos e economia de tempo. Na comercialização, a Normalização atua como elemento importantíssimo uma vez que garante a qualidade do produto e sua confiabilidade. Permite, portanto, satisfazer as necessidades do consumidor e reduzir o índice de devolução de produtos; além do que os serviços de manutenção após a venda, passam a ser mais rápidos e eficientes pelo uso de componentes normalizados. Os benefícios da Normalização podem ser classificados como Qualitativos ou Quantitativos. Os Benefícios Qualitativos são aqueles que mesmo observados, não podem ser medidos ou são de difícil medição. Como exemplos podem ser citados: - De âmbito geral:

- Utilização adequada dos recursos (equipamentos, materiais e mão de obra); - Disciplina da produção; - Facilita o treinamento de pessoal; - Registra o conhecimento tecnológico; - Disciplina atividades; - Uniformiza o trabalho; - Melhora o nível técnico do pessoal; - Facilita a contratação ou a venda de tecnologia. - De operações e Processos:

- Participação em programas de garantia da qualidade (sociedades classificadoras); - Controle de Produtos; - Controle de processos;

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- Padronização de controle e testes de laboratório; - Segurança do pessoal e dos equipamentos. - De Manutenção e Engenharia:

- Evita desperdícios de tempo; - Padronização da manutenção; - Padrões de execução (quando fazer a inspeção e como fazer a inspeção); - As tabelas mestras de inspeção dão: . segurança ao inspetor; . os parâmetros de inspeção; e . as frequências de inspeção. Os Benefícios Quantitativos são aqueles mensuráveis e relacionados com índices tais como: - Consumo (gestão de materiais); - Desvios de produção; - Especificação de matérias primas; - Padronização de componentes e equipamentos; - Redução de variedades de componentes; - Padronização de procedimentos de cálculos e projetos; - Mão de obra (produtividade). Como o efeito da Normalização tem início antes da implantação da norma, torna-se difícil estabelecer o momento zero do efeito normativo sobre um determinado índice. 1.6 Normalização e Sistema de Garantia da Qualidade

A Normalização define os principais conceitos da Garantia da Qualidade:

- Política da Qualidade: intenções e diretrizes da qualidade total de uma organização em relação à qualidade, formalmente definida pela alta administração (ISO 9000);

- Administração da Qualidade: Aspectos da função de administração geral que determinam e implementam a política da qualidade (ISO 9000);

- Sistema da Qualidade: Estrutura organizacional, responsabilidades, procedimentos, processos e recursos para implantação da administração da qualidade (ISO 9000);

- Controle da Qualidade: Técnicas e atividades operacionais que são usadas para atender exigências da qualidade (ISO 9000);

- Garantia da Qualidade: Todas as ações planejadas e sistemáticas, necessárias para prover confiança adequada de que um produto ou serviço satisfaz os requisitos da qualidade (ISO 9000);

- Programa de Garantia da Qualidade: Plano da alta administração definindo a política da qualidade e o sistema de garantia da qualidade a ser adaptado pela empresa;

A importância da Normalização para um Sistema de Garantia da Qualidade está baseada no fato de que o Sistema requer a padronização das operações de fabricação e controle, através de um “Sistema de Normalização Técnica e suas Auditorias”. As normas de empresa correspondem a uma parte considerável da documentação básica necessária para

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um Sistema de Garantia da Qualidade e o seu cumprimento irá definir a existência da Qualidade. 1.7 A Normalização na Empresa O aumento e a manutenção da competitividade do parque industrial brasileiro têm como um dos fatores mais importantes o binômio qualidade – custo. A qualidade é caracterizada como a adequação de um produto às suas condições de uso ou às funções a ele inerentes e é definida através de determinados atributos, envolvendo toda uma atitude gerencial e administrativa do fabricante que se utiliza de mecanismos e instrumentos, particularmente a metrologia, a normalização e a certificação de conformidade, perfazendo um conjunto de ações interdependentes e complementares. A metrologia, do ponto de vista científico e industrial, constitui uma infra-estrutura de medição dos atributos da qualidade, fornecendo os padrões de medida que possibilitem a confiabilidade dos resultados, enquanto as normas constituem a referência do nível de qualidade desejado e a certificação da conformidade representa um atestado de conformidade do produto com as normas/especificações técnicas. 1.7.1 O Processo de Normalização na Empresa O processo de Normalização técnica em uma empresa consiste em ordenar e registrar os conhecimentos tecnológicos nela existentes, de forma a disciplinar as relações com os clientes, tendo por fim a racionalização do trabalho, a qualidade e os custos. Para que se alcance este objetivo é pois necessário que a atividade de normalização técnica flue dentro da empresa de maneira sistêmica, devendo para tal atender aos seguintes requisitos básicos: - Criação de uma Unidade Central (Núcleo de Normalização) responsável pelo

Gerenciamento do Sistema Normativo; - Elaboração das 4 (quatro) normas básicas que regulamentam a Apresentação, a

Elaboração/Revisão, a Implantação e a Auditoria das Normas Técnicas da Empresa; - Desenvolvimento de uma Mentalidade Normativa na Empresa; - Implantação de planejamento Sistêmico na Normalização. Núcleo de Normalização da Empresa: O Núcleo de Normalização é criado com os seguintes objetivos principais: - Centralizar e gerir a Normalização Técnica; - Supervisionar e coordenar as políticas de Normalização de a convergirem para os

objetivos da empresa; - Registrar e atualizar permanetemente o conhecimento tecnológico existente na empresa; - Uniformizar a aplicação do conhecimento tecnológico através das normas.

Suas principais tarefas são: - promover a conscientização da importância da Normalização para a empresa; - coordenar a elaboração das normas técnicas; - coordenar a implantação das normas técnicas; - gerenciar o Sistema Normativo; - coordenar as revisões de normas; - realizar auditorias para verificar a utilização das normas

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Desta forma a Unidade Central de Normalização deverá interagir com todos as áreas da empresa, identificando e fazendo fluir a normalização prioritária a cada parte específica e principalmente, conduzindo o concenso nas interfaces, compreendendo as fases de projeto, compra de material, produção, vendas, etc., como mostra a figura 2:

Figura 2: Interação da Unidade Central de Normalização na Empresa O Núcleo de Normalização tem funções que exigem a sua colocação ao nível mais alto da hierarquia da empresa (staff). Deve haver um responsável, em tempo integral, que deve responder pelas tarefas do Núcleo, e de um coordenador (elemento da alta direção da empresa) a quem cabe o papel primordial de estabelecer a ligação entre o Núcleo e a Direção da Empresa. As Quatro Normas Básicas: A formalização da implantação do Núcleo de Normalização se dá no momento em que o responsável e o coordenador estão indicados e que as quatro normas básicas tenham sido assinadas e colocadas em prática pela Alta Direção da

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Empresa. Estas normas básicas estabelecem os procedimentos que regulamentam a execução das tarefas fundamentais no Núcleo de Normalização, e são as seguintes: - NN-1: Diretrizes para o Preparo e Apresentação de Normas Técnicas (anexo 1); - NN-2: Elaboração e Revisão de Normas técnicas (anexo 2); - NN-3: Implantação de Normas Técnicas (anexo 3); - NN-4: Auditoria de Normas Técnicas (anexo 4) Um diagrama é apresentado na figura 3, permitindo uma visão global do sistema de Normalização, fundamentado nas quatro normas básicas:

Figura 3: Diagrama do Sistema de Normalização A Norma Básica 1 trata da estrutura da apresentação dos diversos tipos de normas técnicas. Considerando os tipos de normas existentes (especificação, procedimento, padronização, método de ensaio, classificação, terminologia e simbologia); as normas de empresa deverão ser classificadas segundo estes tipos, quer elas sejam de produto, matérias primas, recebimento de material, processo, manutenção, operação de equipamento, verificação da qualidade, redução de variedades, etc. A norma básica 1 irá caracterizar cada tipo de norma técnica quanto a estrutura de apresentação de cada uma delas, de forma que

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seja facilitada a elaboração e o entendimento dos textos, permitindo o treinamento dos técnicos da empresa. A Norma Básica 2 fixa as condições para a elaboração e revisão de normas técnicas de empresas, estabelecendo em que nível hierárquico encontram-se os elementos a serem treinados para a redação dos textos normativos, uma vez que não é o Núcleo de Normalização quem descreve os parâmetros técnicos da norma; ele apenas processa uma adequação de sua forma, conforme a norma básica 1, além de gerenciar o processo. Após a definição dos redatores, a norma básica 2 trata, então, de identificar as interfaces, amarrando as unidades/departamentos/seções necessárias ao consenso de cada tipo de norma. O consenso dentro da própria unidade onde a norma está sendo gerada é feito pelo próprio redator, enquanto que o consenso entre as interfaces fica a cargo do Núcleo de Normalização. Finalmente, esta norma básica 2, trata da aprovação e homologação das normas técnicas. A Norma Básica 3 estabelece as condições e o responsável para a implantação das normas técnicas da empresa. Como regral geral, o responsável pela implantação da norma é o gerente da unidade que gerou o texto normativo. Para isto são necessárias providências do tipo: adaptação de equipamento, aquisição de novos equipamentos, treinamento de pessoal, etc. Exercendo a gerência da normalização, o núcleo de normalização define, com o responsável pela implantação da norma, o prazo necessário para esta implantação. Após este prazo, fixado em formulário específico de implantação, procede-se uma pré-auditoria cujo objetivo é identificar quaisquer dificuldades na implantação e então buscar meios para solucioná-las. A pré-auditoria deve ser feita no primeiro dia útil após o encerramento do prazo de implantação. A Norma Básica 4 fixa as condições e equipes responsáveis pelas auditorias, bem como esclarece sobre o papel que esta tem na identificação e solução de dificuldades, distanciando-se do caráter policialesco que muitos imaginam, quando se fala em auditoria. As equipes mencionadas são geralmente formadas por três elementos, sendo um deles indicado pelo gerente da unidade que está sendo auditada, um outro vinculado à área da qualidade e o terceiro, chefe da equipe, pertencente ao próprio Núcleo de Normalização. O Desenvolvimento de uma Mentalidade Normativa: A metodologia apresentada para o desenvolvimento de Normalização Técnica na empresa é fundamentalmente participativa, onde o consenso é uma palavra chave. É necessário, então, a formação de uma mentalidade normativa na empresa, onde o objetivo final seja a satisfação do cliente com a qualidade do produto a preços acessíveis, fortalecendo assim a garantia de emprego e o progresso profissional de seus técnicos. As condições para se realizar este trabalho na empresa podem ser resumidas em duas: a primeira diz respeito à vontade política da empresa (Alta Direção) no desenvolvimento da Normalização; a segunda diz respeito ao perfil adequado do elemento que será o responsável/gerente de Normalização. Esta pessoa deve necessáriamente ter um conhecimento geral da empresa, principalmente quanto à produção e à qualidade, ser didático, possuir linguagem fluente e boa redação, e ser receptivo em todas as unidades da empresa. A tarefa de desenvolvimento da mentalidade normativa na empresa deve envolver Programas de Treinamento como os seguintes:

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- Programa 1: Filosofia, Princípios, Objetivos e Vantagens da Normalização Técnica. (Para todos os níveis/unidades da empresa)

- Programa 2: Preparo e Apresentação de Normas Técnicas. (Para técnicos redatores identificados)

- Programa 3: Implantação de Normas Técnicas. (Para técnicos e operadores)

Estes programas devem constituir-se de palestras, debates e trabalhos práticos, buscando a linguagem adequada a cada nível que esteja sendo treinado, bem como buscando identificar nas tarefas rotineiras de cada um, situações que poderiam ser beneficiadas com a das técnicas de normalização.

O Planejamento Sistêmico na Normalização: Ao se abordar o planejamento para a elaboração de normas, deve-se proceder a uma análise das condições existentes, antes de dar início ao trabalho de normalização técnica. Esta análise deve ser tão abrangente quanto possível e deve considerar tanto o aspecto técnico como o econômico. Não é suficiente um estudo restrito às condições internas da empresa. Deve-se levar em conta que, com relação às normas, a empresa é dependente de fatores externos, tais como: a garantia de fornecimento, os programas de ação dos competidores, os anseios dos comsumidores, as normas existentes, as exigências governamentais e assim por diante. Na análise preparatória a questão mais importante talvez seja saber se é chegado o momento propício para começar a normalização específica. Deve-se investigar se o assunto a ser normalizado se encontra ou não sedimentado tecnológicamente, evitando-se a elaboração de uma norma prematura. Por outro lado, é desejável assegurar-se de que procedimentos inadequados não venham a se enraizar, e, para isso, a normalização deve ser iniciada tão cedo quanto possível, de maneira a conduzir o desenvolvimento na trajetória adequada. A norma deve ser desenvolvida principalmente onde já se tenha uma tecnologia perfeitamente sedimentada, permitindo o seu registro e facilitando o seu aprimoramento. Cada norma deve atender a quatro requisitos básicos para que seja eficiente: - deve atender a uma necessidade real; - deve apresentar uma solução aceitável; - deve gerar benefícios para a empresa; - deve ser usada (implantada).

Ao definir as prioridades de desenvolvimento de normas deve-se determinar as áreas onde a normalização gerará melhores resultados em termos de: economia, qualidade, segurança ou assistência técnica, etc. Dentre outros fatores a serem considerados, pode-se citar: - Repetitividade: procurar ítens, atos e problemas que se repetem com frequência

elevada; procurar também descobrir onde estão muitas pessoas executando a mesma tarefa, no mesmo lugar ou em lugares diferentes;

- Volume: trabalhar nos ítens nos quais são maiores os gastos financeiros e procurar descobrir locais onde muitas formas são utilizadas para se atingir o mesmo objetivo;

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- Problema: procurar localizar áreas problemáticas, especialmente, entre órgãos/unidades da empresa;

- Reclamações: identificar as causas e os efeitos; - Segurança: determinar ítens para proteção de pessoal e dos equipamentos. Ao se considerar estes pontos pode-se, ao final, descobrir que são as seguintes as principais atividades necessárias: - Redução de variedades de materiais e produtos comprados de fontes externas; - Redução de variedades nos produtos fabricados; - Padronização de embalagens; - Coordenação das práticas de projeto e de produção; - Manutenção da qualidade nos produtos e semi-produtos, através de normas de

especificações, de operação de equipamentos e de processos; - Serviços de manutenção; - Segurança. Dentre estas considerações, as prioridades são então eleitas compondo Programas Anuais de Normalização, observando o fluxo de produção e atendendo aos critérios anteriormente mencionados, compreendendo entre outros a qualidade, os custos e a segurança. Elaborado o Programa de Normalização da Empresa, cumpre então proceder o atendimento às prioridades, seguindo as etapas de elaboração, implantação e auditoria de normas, conforme as quatro Normas Básicas da Empresa 1.7.2 Fases da Normalização O desenvolvimento da Normalização na empresa compreende um processo onde pode-se observar as seguintes etapas: a) Pré-normalização: que consiste das seguintes ações: - conscientização em todos os níveis: desenvolvimento de uma mentalidade normativa; - elaboração e aprovação das 4 normas básicas: regulamentam os procedimentos de

funcionamento do núcleo de normalização da empresa; - seleção de prioridades atendendo às políticas da empresa - planejamento sistêmico/

programa de normalização. b) Normalização: é a normalização propriamente dita e refere-se à elaboração e

implantação das normas, compreendendo as seguintes ações: - coleta e análise dos dados, envolvendo informações obtidas em normas nacionais ou

internacionais, informações dentro da própria empresa, informações obtidas em catálogos de fornecedores, informações do mercado, informações contidas em regulamentos governamentais,etc.

- elaboração do texto base normativo, que é uma tarefa do redator de normas, que irá usar sua experiência e a de outros especialistas, para elaborar o texto em conformidade com a norma que rege este tipo de atividade;

- adequação do texto-base, que será efetuada no Núcleo de normalização da empresa; - consenso da comunidade tecnológica para o texto elaborado; - aprovação/homologação, definida após consenso e sendo dependente deste; - impressão e distribuição, para as devidas implantações;

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- implantação da norma, que se dá com a atuação do núcleo de normalização junto à área onde se dará a implantação;

- pós-normalização, que tem por finalidade garantir a utilização da norma, realimentando o sistema com informações e constatações que permitem a atualização permanente dos documentos da empresa. Esta fase compreende a Auditoria do Acervo normativo; a Revisão das Normas e o próprio Gerenciamento do Sistema Normativo.

1.7.3 Considerações Finais sobre a Normalização na Empresa Princípios e Requisitos: para que a Normalização atinja as metas estabelecidas e promova uma racionalização das atividades da empresa, é necessário levar-se em conta os seguintes princípios e requisitos: a) A Normalização é um processo, isto é, a sua duração é ininterrupta, sendo portanto uma

função dinâmica e permanente; b) A Normalização deve sempre atender aos anseios e necessidades do consumidor. Não

se trata somente de cumprir uma série de normas, mas o importante é que o cliente esteja sempre satisfeito; não existem normas boas ou ruins, existem clientes satisfeitos ou insatisfeitos;

c) A Normalização não é um problema de escritório, é o resultado da aplicação tecnológica em uma realidade específica. Ao elaborar uma norma, deve-se buscar os antecedentes e situações parecidas; o apoio do conhecimento experimental é insubstituível;

d) A Normalização deve ser participativa e agrupar todos os interesses. Não somente o acordo é necessário, mas também é indispensável o consenso e o respeito ao pacto;

e) A Normalização deve facilitar as relações econômicas e o intercâmbio entre as partes, para que não se converta em obstáculo ou barreira técnica ao comércio;

f) A Normalização é uma forma de consolidar avanços científicos e tecnológicos. Em nenhum momento deve frear os avanços ou servir como uma forma de dependência econômica ou tecnológica;

g) A Normalização deve buscar sempre a simplificação e a redução de variedades; h) A Normalização é uma forma de unificar, sendo que a unificação se consegue mediante

a combinação, intercambialidade e a modulação de partes componentes; i) A Normalização deve buscar um equilíbrio entre as condições técnicas e as

possibilidades econômicas. Política, Objetivos e Estratégias: a Política de Normalização na empresa pode ser enunciada como “contar com a informação técnica necessária, que permita à empresa conhecer de forma ordenada e sistemática, os procedimentos que norteiam sua atuação, de tal modo que se tenha um melhor desempenho na administração, no mercado, na produção e na qualidade”. Os Objetivos podem referir-se, entre outros, aos seguintes pontos: a) assegurar e melhorar as comunicações; b) simplificar a gestão empresarial; c) desenvolver e transferir tecnologia; d) simplificar os sistemas de produção; e) facilitar a administração da qualidade; f) buscar um equilíbrio entre custo, qualidade e variedade; g) reduzir custos e aumentar os lucros; h) melhorar os sistemas de comercialização;

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i) respaldar a garantia da qualidade; j) participar nos níveis superiores da normalização; k) realimentar o sistema com o propósito de que seja dinâmico. Condições para o Êxito: a implantação de um processo de Normalização na empresa é um trabalho árduo e requer um grande esforço de toda a organização. Para que se tenha êxito, é necessário que se cumpra, no mínimo, as seguintes condições: a) apoio da Alta Direção e compromisso dos demais níveis de direção da empresa; b) participação, em todos os níveis, das pessoas da organização; c) ampla difusão e explicação dos objetivos e benefícios do processo de normalização; d) investigação e análise sobre o uso e aplicação da tecnologia; e) estabelecimento de um sistema dinâmico e permanente para a elaboração e revisão das

normas. 1.7.4 Estruturas de Normas Uma norma técnica pode ser de um dos seguintes tipos: - Norma Tipo Procedimento: que se destina a fixar condições para: a) execução de cálculos, projetos, obras, serviços, instalações e amostragem; b) emprego de materiais e produtos industriais; c) certos aspectos das transações comerciais (ex.: reajustamento de preços); d) elaboração de documentos em geral, inclusive desenhos; e) segurança na execução ou na utilização de uma obra, equipamento, instalação, de

acordo com o respectivo projeto. - Norma Tipo Especificação: que se destina a fixar condições exigíveis para encomenda,

fabricação e aceitação e/ou recebimento de matérias-primas, produtos semi-acabados ou acabados.

- Norma Tipo Padronização: que se destina a restringir a variedade pelo estabelecimento

de um conjunto metódico e preciso de condições a serem satisfeitas com o objetivo de uniformizar as características geométricas e/ou físicas de elementos de construção, produtos semi-acabados ou acabados, desenhos e projetos.

- Norma Tipo Método de Ensaio: que se destina a descrever a maneira de verificar ou

determinar características, condições ou requisitos exigidos: a) de um material ou produto de acordo com a respectiva especificação; b) de uma obra, instalação, de acordo com o respectivo projeto. - Norma Tipo Terminologia: que se destina a definir, relacionar e/ou dar a equivalência

em diversas linguas, de termos técnicos empregados em um determinado setor de atividade, visando o estabelecimento de uma linguagem uniforme.

- Norma Tipo Simbologia: que se destina a estabelecer convenções gráficas e/ou literais

para conceitos, grandezas, sistemas ou partes de sistemas.

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- Norma Tipo Classificação: que se destina a ordenar, designar, distribuir e/ou subdividir conceitos, materiais, produtos semi-acabados ou acabados, segundo uma determinada sistemática.

Na Tabela 1 são apresentados, como orientação, títulos sugeridos e sequência para os capítulos de uma norma. Tabela 1: Títulos sugeridos para capítulos de uma norma

Capítulos

(pela ordem) Tipo de Norma

N E P M T S C Objetivo * * * * * * * Documentos Complementares * * * * * * * Definições * * * * * Símbolos * Tipo, Série, Grau, Classe * Condições Gerais * * * Condições Específicas * * Inspeção * * Aceitação e Rejeição * Aparelhagem * Execução do Ensaio * Resultados * Estrutura de Normas: a seguir são apresentadas as estruturas das normas tècnicas do tipo procedimento ( NN1, NN2 , NN3 e NN4), nos anexos I, II, III e IV, respectivamente.

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