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Capítulo 10 A Fonoaudiologia e a Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva na Síndrome de Down Kariane Eliza Souza, Luciana Vieira Castilho-Weinert * , Cláudia Diehl Forti-Bellani Resumo: A Facilita¸c˜ao Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) ´ e um conjunto de t´ ecnicas que promove respostas dos mecanismos neuromusculares, realiza fortalecimento muscular e melhora a fun- cionalidade. A hipotonia da S´ ındrome de Down (SD) traz preju´ ızos nas fun¸c˜oes neurovegetativas e na fala, devido `a falta de for¸ ca mus- cular e a desorganiza¸c˜ ao do movimento. O objetivo deste cap´ ıtulo ´ e analisar a utiliza¸c˜ao da FNP com enfoque fonoaudiol´ ogico na SD. Verificou-se aumento do grau de for¸ca muscular e houve percep¸c˜ao da melhora na qualidade da fala. Conclui-se que a FNP ´ e eficiente na ´area da fonoaudiologia apesar de n˜ ao se encontrar registros na literatura. Palavras-chave: Facilita¸ c˜aoNeuromuscularProprioceptiva, Fono- audiologia, S´ ıdrome de Down. Abstract: The Proprioceptive Neuromuscular Facilitation (PNF) is a set of techniques that enhance the neuromuscular mechanisms, the muscular strength and the use of motor functions. In the Down Syndrome (DS) the hypotonia causes damages to neurovegetative functions and speech due to loss on muscular strength and move- ment disorganization. This chapter aims at analyzing the benefits of speech therapy and PNF in SD. Improvement on muscular strength and in the quality of speech were observed. We concluded that the PNF is efficient in the speech therapy area, even though there is no such a register in the literature. Keywords: Proprioceptive Neuromuscular Facilitation, Speech Therapy, Down Syndrome. * Autor para contato: [email protected] Castilho-Weinert & Forti-Bellani (Eds.), Fisioterapia em Neuropediatria (2011) ISBN 978-85-64619-01-2

Capítulo 10 A Fonoaudiologia e a Facilitação Neuromuscular

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Page 1: Capítulo 10 A Fonoaudiologia e a Facilitação Neuromuscular

Capítulo 10

A Fonoaudiologia e a Facilitação NeuromuscularProprioceptiva na Síndrome de Down

Kariane Eliza Souza, Luciana Vieira Castilho-Weinert∗,Cláudia Diehl Forti-Bellani

Resumo: A Facilitacao Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) eum conjunto de tecnicas que promove respostas dos mecanismosneuromusculares, realiza fortalecimento muscular e melhora a fun-cionalidade. A hipotonia da Sındrome de Down (SD) traz prejuızosnas funcoes neurovegetativas e na fala, devido a falta de forca mus-cular e a desorganizacao do movimento. O objetivo deste capıtuloe analisar a utilizacao da FNP com enfoque fonoaudiologico na SD.Verificou-se aumento do grau de forca muscular e houve percepcaoda melhora na qualidade da fala. Conclui-se que a FNP e eficientena area da fonoaudiologia apesar de nao se encontrar registros naliteratura.

Palavras-chave: Facilitacao Neuromuscular Proprioceptiva, Fono-audiologia, Sıdrome de Down.

Abstract: The Proprioceptive Neuromuscular Facilitation (PNF)is a set of techniques that enhance the neuromuscular mechanisms,the muscular strength and the use of motor functions. In the DownSyndrome (DS) the hypotonia causes damages to neurovegetativefunctions and speech due to loss on muscular strength and move-ment disorganization. This chapter aims at analyzing the benefits ofspeech therapy and PNF in SD. Improvement on muscular strengthand in the quality of speech were observed. We concluded that thePNF is efficient in the speech therapy area, even though there is nosuch a register in the literature.

Keywords: Proprioceptive Neuromuscular Facilitation, SpeechTherapy, Down Syndrome.

∗Autor para contato: [email protected]

Castilho-Weinert & Forti-Bellani (Eds.), Fisioterapia em Neuropediatria (2011) ISBN 978-85-64619-01-2

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1. Introdução

A fonoaudiologia e a ciencia que tem como objeto de estudo a comunicacaohumana. Para tal, o foco de atuacao esta no desenvolvimento da comu-nicacao, nos disturbios e diferencas em relacao aos aspectos envolvidos nafuncao auditiva periferica e central, nas funcoes vestibulares e cognitivas,na linguagem oral e escrita, assim como na fala, na fluencia, na voz, nasfuncoes orofaciais e na degluticao (Marchesan & Sanseverino, 2004).

O fonoaudiologo se aproxima da neurologia quando atua em casos depacientes com disturbios da linguagem oral ou escrita, dos orgaos fonoarti-culatorios e das funcoes neurovegetativas, decorrentes de comprometimentoneurologico. O objetivo da terapia fonoaudiologica nestes casos e adequaros aspectos alterados da melhor maneira possıvel para promover a funcio-nalidade do indivıduo.

A pessoa com Sındrome de Down (SD) frequentemente e acometida pordisturbios auditivos, de linguagem, do sistema estomatognatico (dentes,oclusao, labios, lıngua e bochechas), e das funcoes neurovegetativas (succao,mastigacao, degluticao, respiracao e fala).

A terapia fonoaudiologica na SD varia de acordo com o caso, com asfuncoes mais comprometidas e com a idade do indivıduo. Desta forma,baseia-se em exercıcios respiratorios, de fortalecimento muscular, aumentoda mobilidade e melhora do controle motor.

A Facilitacao Neuromuscular Proprioceptiva (FNP), tambem conhecidacomo Metodo Kabat, e uma forma de trabalho utilizada para tratamentode diversos diagnosticos. Trata-se de um conjunto de tecnicas que promo-vem e aceleram as respostas dos mecanismos neuromusculares, atraves daestimulacao de todos os receptores possıveis, visando atingir uma funcaomotora eficiente (Cruz-Machado et al., 2007).

A literatura indica que a FNP pode promover e acelerar os aspectosneuromusculares do indivıduo (Moreno et al., 2005; Favarao & Pieretti,2004; Adler et al., 2007). Assim, acredita-se que esta seja uma intervencaoadequada para pessoas com SD. A estimulacao neuromuscular pode serutilizada para recrutar unidades motoras e melhorar a hipotonia orofacialimportante que classicamente se observa em pacientes com SD. No en-tanto, a aplicacao da FNP com enfoque fonoaudiologico na SD, nao possuiregistros na literatura pesquisada, o que motivou a realizacao deste estudo.

Este capıtulo teve como objetivo analisar a aplicacao da FNP em pes-soas com SD, sob o enfoque terapeutico fonoaudiologico oromiofuncionalpara melhora do sistema estomatognatico e das funcoes neurovegetativasdestes indivıduos.

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2. Fonoaudiologia e Fonoaudiologia em Pediatria

A Fonoaudiologia e uma profissao da area da saude que estuda os aspectosrelacionados com a comunicacao humana e que atua comumente em quatrograndes areas: audiologia, linguagem, motricidade oral e voz. Desta forma,e responsavel pela promocao da saude, pela avaliacao e pelo diagnostico,pela orientacao, pela terapia (habilitacao e reabilitacao) e pelo monitora-mento e aperfeicoamento de aspectos fonoaudiologicos (Farias et al., 2009;Scherma, 2008).

A medicina e a pedagogia fornecem parte das bases teoricas para dirigiras condutas fonoaudiologicas nas suas diferentes especialidades. Comenta-se que a atividade fonoaudiologica esteve articulada a pedagogia desde suaorigem. Porem sempre foi marcada pelo discurso da medicina que tinha emseus objetivos o tratamento dos disturbios da comunicacao, mas seu modelode formacao academica nao incluıa a atuacao terapeutica nos moldes deuma clınica de reabilitacao. Desta forma, surgiram outros profissionais paracomplementar a atividade medica com o objetivo de suprimir os sintomasfonoaudiologicos (Steinberg et al., 2003).

Grande parte dos pacientes encaminhados para a clınica fonoaudio-logica apresenta diagnosticos de falhas cognitivas, motoras e perceptuais(Guarinello et al., 2008). Assim, salienta-se a importancia da atuacao di-agnostica e interventiva do fonoaudiologo em equipe multidisciplinar nosquadros de sındromes geneticas (Lima et al., 2007). Pesquisas realizadasreferem o reconhecimento da atuacao da fonoaudiologia em neurologia, poismuitas patologias neurologicas incluem alteracoes de linguagem, cognicaoe degluticao (Guarinello et al., 2008; Porto-Cunha & Limongi, 2008; Limaet al., 2007; Almeida & Rosa, 2003).

2.1 Síndrome de DownA SD e um conjunto de estigmas fısicos causados por uma alteracao gene-tica. Seu nome ocorre em homenagem ao primeiro medico que a descreveuentre uma populacao com deficiencia mental, em 1866, Dr. John Lang-don Down. Em 1959 o cientista frances Jerome Lejeune descobriu que umcromossomo extra no par 21 era a causa da SD.

A SD ou Trissomia par do 21 representa a anomalia cromossomica maiscomum da especie humana (Oliveira et al., 2008). Estima-se que afete umem cada seiscentos bebes nascidos vivos (Boff & Caregnato, 2008).

Os indivıduos com a SD apresentam caracterısticas fısicas tıpicas esuas funcoes cognitivas e motoras frequentemente estao alteradas. Na SDha atraso no desenvolvimento psicomotor e hipotonia muscular importante,que se manifesta de forma distinta entre cada indivıduo (Nahas, 2004).

A crianca com diagnostico de SD apresenta alteracoes do sistema es-tomatognatico, caracterizadas por diminuicao de tonus e por alteracao dedenticao. Estas alteracoes prejudicam as funcoes alimentares e a respiracao

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(Ideriha & Limongi, 2007). Assim, o fonoaudiologo, por meio de tecnicasespecıficas, e um dos principais profissionais que atua para amenizar asdificuldades causadas pelas alteracoes encontradas na SD com relacao aosistema estomatognatico (Ideriha, 2005).

2.2 A facilitação neuromuscular proprioceptivaO metodo de Facilitacao Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) foi desen-volvido nos Estados Unidos pelo Dr. Kabat e duas fisioterapeutas: Mar-garet Knott e Dorothy Voss (Adler et al., 2007).

Este metodo fez uso de padroes funcionais de movimento em conjuntocom uma variedade de estımulos sensoriais para facilita-los. Esta e umatecnica que exige manipulacao habilidosa para que seja efetiva. Os estımu-los envolvem toque e pressao com as maos do terapeuta sobre a superfıciecorporal na direcao do movimento, estiramento rapido no musculo a serfacilitado, tracao ou compressao conforme apropriado e uso da voz paraque o paciente seja incentivado ao movimento (Favarao & Pieretti, 2004).

A tecnica pode ser utilizada para: iniciar uma contracao muscular,fortalecer os musculos, aumentar a mobilidade e melhorar a coordenacaodos movimentos. Para os autores do metodo, a FNP promove e aceleraas respostas dos mecanismos neuromusculares atraves da estimulacao dosreceptores. Segundo Adler et al. (2007) explica-se o nome da tecnica como:

Facilitacao: por tornar mais facil a movimentacao;

Neuromuscular: pelo envolvimento de nervos e musculos;

Proprioceptiva: pela ativacao dos receptores sensitivos que fornecem in-formacoes a respeito do movimento e do posicionamento corporal, oque facilita a movimentacao do indivıduo.

3. Métodos

Este estudo caracterizou-se por ser do tipo experimental, e foi realizadocom uma amostra intencional. Selecionou-se quatro pacientes com SD, ematendimento regular de fonoaudiologia, em uma instituicao de educacaoespecial. Como criterios de inclusao da amostra estavam a capacidade decompreender os comandos verbais utilizados no trabalho com a FNP e adisponibilidade em realizar terapia fonoaudiologica apenas na instituicaoonde o trabalho foi realizado.

Nesta pesquisa, todos os sujeitos fizeram parte do mesmo grupo eso participaram da amostra aqueles cujos responsaveis legais assinaramo termo de consentimento livre e esclarecido. A Tabela 1 apresenta a faixaetaria e o genero dos sujeitos da pesquisa.

Os procedimentos considerados nesta pesquisa consistiram em avali-acao inicial (Tabela 2), atendimentos individuais aos sujeitos, e analisedos resultados obtidos atraves da comparacao da avaliacao inicial com a

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A fonoaudiologia e a facilitação neuromuscular proprioceptiva na síndrome de Down 183

Tabela 1. Dados da amostra.

Sujeito Idade em anos Sexo

1 57 feminino2 28 feminino3 19 masculino4 13 feminino

avaliacao final (Tabela 2). Estas avaliacoes foram parte das avaliacoes fo-noaudiologicas de cada paciente, onde dentre outros aspectos relacionadosa Fonoaudiologia, esta a investigacao da forca muscular facial de cada um.

Tabela 2. Avaliacao muscular facial Adaptada de Hoppenfeld (2007).

Musculo Grau de forca muscular observado

RisorioOrbicular dos labiosZigomatico maiorElevador do angulo da bocaElevador do labio superiorDepressor do angulo da bocaMentonianoBucinadorMasseterTemporal

Para analisar o grau de forca presente em cada musculo aplicou-se aescala de forca de Hoppenfeld (2007) nas avaliacoes inicial e final. Estaavaliacao considera diferentes graus de forca, onde se pontua:

Zero: quando nao ha evidencia de contratilidade;

Um: quando o movimento e difıcil, ha evidencia de pouca contratilidadee nao ha mobilidade articular;

Dois: quando o movimento e sofrıvel, mas ocorre movimentacao completaeliminada a gravidade;

Tres: quando o movimento e mediano, e ha movimentacao completa con-tra a gravidade;

Quatro: quando o movimento e bom, e ha movimentacao completa contraa gravidade e com alguma resistencia;

Cinco: quando o movimento e normal, e ocorre movimentacao completacontra a gravidade e com resistencia total.

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Outro aspecto importante constante nas avaliacoes, a fim de identifi-car a funcionalidade dos orgaos fonoarticulatorios, foi o questionamentodo professor sobre a qualidade de articulacao da fala ao sujeito da pes-quisa. Solicitou-se ao professor que observasse uma Escala Visual Analogica(EVA) (Figura 1) e assinalasse uma nota entre zero e dez para qualidadeda fala de seu aluno. Este procedimento ocorreu antes do inıcio e apos otermino da intervencao com a FNP. A elaboracao desta EVA embasou-seno trabalho de Gomez et al. (2007).

Figura 1. EVA para mensuracao da qualidade da articulacao da fala.

Realizou-se dez atendimentos fonoaudiologicos com a tecnica de FNP,com frequencia de uma vez por semana, em atendimentos de trinta minutos.Respeitou-se a disponibilidade de tempo dos alunos e a condicao de cansacoou fadiga de cada um.

Os musculos observados nesta pesquisa foram aqueles que tem maiorinfluencia na regiao oral: risorio, orbicular dos labios, zigomatico maior,elevador do angulo da boca, elevador do labio superior, depressor do anguloda boca, mentoniano, bucinador, masseter e temporal.

Durante os atendimentos os sujeitos permaneciam em decubito dorsal.Utilizou-se comandos verbais, resistencia e contato manual do terapeuta.A intervencao ocorreu da seguinte forma (Adler et al., 2007):

1. Nos musculos risorio e zigomatico maior: utilizou-se o comando ver-bal “sorria sem mostrar os dentes” e aplicou-se a resistencia nos can-tos da boca, medial e caudalmente (Figuras 2(a) e 2(b)).

2. No musculo orbicular dos labios utilizou-se o comando verbal “junteos labios e assovie”. Aplicou-se resistencia lateral e superiormente nolabio superior, e lateral e inferiormente no labio inferior (Figuras 3(a)e 3(b)).

3. Para o musculo elevador do labio superior utilizou-se o comandoverbal “levante seu labio superior e mostre seus dentes de cima” eaplicou-se resistencia no labio superior, para baixo e medialmente(Figuras 4(a) e 4(b)).

4. No musculo mento utilizou-se o comando verbal“enrugue seu queixo”e a resistencia no queixo, inferior e lateralmente (Figuras 5(a) e 5(b)).

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(a) (b)

Figura 2. Em (a) posicao inicial e em (b) posicao final.

(a) (b)

Figura 3. Em (a) posicao inicial e em (b) posicao final.

5. Para o musculo elevador do angulo da boca utilizou-se o comandoverbal “eleve os cantos da boca e de um sorriso de desprezo” e comoresistencia empurrou-se os cantos da boca para baixo e para dentro(Figuras 6(a) e 6(b)).

6. No musculo depressor do angulo da boca utilizou-se o comando ver-bal “leve os cantos da boca para baixo, como se estivesse triste” eefetuou-se resistencia nos cantos da boca, superior e medialmente(Figuras 7(a) e 7(b)).

7. No musculo bucinador houve o comando verbal “aperte suas boche-chas contra as espatulas” e a resistencia ocorreu na superfıcie in-terna das bochechas com afastadores de lıngua umidos. Aplicou-se

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(a) (b)

Figura 4. Em (a) posicao inicial e em (b) posicao final.

(a) (b)

Figura 5. Em (a) posicao inicial e em (b) posicao final.

a resistencia em diagonal para cima, ou para baixo, ou para fora(Figuras 8(a) e 8(b)).

8. Para os musculos masseter e temporal estabeleceu-se o comando ver-bal “feche a boca e morda” e a resistencia na mandıbula, em diagonalpara baixo, para a direita e para a esquerda (Figuras 9(a) e 9(b)).

Cada diagonal da FNP foi repetida por dez vezes, ou menos vezes, casoo paciente apresentasse limitacao por fadiga muscular.

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(a) (b)

Figura 6. Em (a) posicao inicial e em (b) posicao final.

(a) (b)

Figura 7. Em (a) posicao inicial e em (b) posicao final.

4. Resultados e Discussão

A Tabela 3 apresenta os resultados da analise da forca muscular facial dossujeitos, segundo a escala de Hoppenfeld (2007), antes e apos os atendi-mentos fonoaudiologicos.

Nesta tabela os resultados da avaliacao inicial estao dispostos na colunaAv1 e os resultados da avaliacao final na coluna Av2.

Os resultados apresentados nesta tabela evidenciam que o uso da FNPfoi satisfatorio para os sujeitos pesquisados. A qualidade da articulacao dafala aumentou em pelo menos 100% em todos os sujeitos pesquisados, ea forca muscular tambem se mostrou no mınimo com o dobro de melhoradurante a avaliacao final, apos o tratamento com a FNP.

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(a) (b)

Figura 8. Em (a) posicao inicial e em (b) posicao final.

(a) (b)

Figura 9. Em (a) posicao inicial e em (b) posicao final.

Tabela 3. Resultados da mensuracao da forca muscular.

Musculos Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Sujeito 4Av1 Av2 Av1 Av2 Av1 Av2 Av1 Av2

Risorio e zigomatico maior 1 2 1 4 2 4 2 4Orbicular dos labios 1 2 1 4 2 4 2 4Elevador do labio superior 1 2 1 4 2 4 2 4Mentoniano 1 2 1 4 2 4 2 4Elevador do angulo da boca 1 2 1 4 2 4 2 4Depressor do angulo da boca 1 2 1 4 2 4 2 4Bucinador 1 2 1 4 2 4 2 4Masseter e temporal 1 2 1 4 2 4 2 4

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A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos com o questionamento feitoao professor sobre a qualidade da articulacao da fala do aluno. Nestequestionamento a resposta era atribuıda com base na EVA.

Tabela 4. Resultados da qualidade da articulacao da fala.

Sujeitos Analise Inicial Analise Final

Sujeito 1 1 2Sujeito 2 1 4Sujeito 3 1 4Sujeito 4 1 4

Como se observa na Tabela 4, a pergunta realizada ao professor dosujeito pesquisado apos o tratamento demonstra que o mesmo qualificaa articulacao da fala do aluno como melhor. Este resultado se mostracondizente com os resultados da avaliacao fonoaudiologica (Tabela 3).

Em pesquisa realizada com pessoas sedentarias (Moreno et al., 2005),com enfoque na musculatura respiratoria, concluiu-se que a FNP melhoraa forca muscular e a funcionalidade dos pacientes. Desta forma, os re-sultados encontrados nesta pesquisa, apontam que a FNP pode ser umrecurso adicional no tratamento da motricidade oral do paciente com SD.Considera-se que a tecnica aumentou a forca dos musculos faciais em to-dos os indivıduos, e comprova-se a repercussao disto pela na melhora daoralidade referida pelos professores.

Os resultados obtidos no presente trabalho estao de acordo com ou-tros estudos (Serapompa & Maia, 2006; Moreno et al., 2005; Favarao &Pieretti, 2004; Adler et al., 2007) que relatam que a reabilitacao fonoaudi-ologica em neurologia e uma area bastante promissora e que merece grandeatencao nas pesquisas. Alem disto, o trabalho fonoaudiologico com pessoascom necessidades especiais enriquece a abordagem profissional e amplia aqualidade de vida destes indivıduos (Serapompa & Maia, 2006).

5. Considerações Finais

A FNP pode ser utilizada com sucesso em Fonoaudiologia para a melhoradas funcoes do sistema estomatognatico e das funcoes neurovegetativas deindivıduos com SD. A utilizacao deste metodo pode repercutir benefica-mente na funcao oral destes indivıduos.

Apesar de nao haver registros na literatura sobre a aplicacao do me-todo na fonoaudiologia, entende-se que os esforcos empreendidos pelo fo-noaudiologo nesta area podem ser bastante promissores. Assim, sugere-seque trabalhos futuros repliquem este estudo em uma amostra com maiornumero de sujeitos, bem como utilizem a FNP na terapia fonoaudiologicade outros disturbios neurologicos.

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Notas Biográficas

Kariane Eliza Souza e Fonoaudiologa (UNIVALI, 2006) e Especialista emNeurologia com enfase em Neuropediatria (IBRATE, 2011). Atualmente efonoaudiologa da APAE de Alfredo Wagner, SC.

Luciana Vieira Castilho-Weinert e Fisioterapeuta (PUC-PR, 2003), Espe-cialista em Fisiologia Humana e da Nutricao (PUC-PR, 2006), Mestre e Doutorem Ciencias – Engenharia Biomedica (UTFPR, 2004 e 2010, respectivamente)e tem formacao pelo Conceito Neuroevolutivo Bobath. Atualmente e ProfessorAdjunto da UFPR – Setor Litoral, no Curso de Fisioterapia.

Claudia Diehl Forti-Bellani e Fisioterapeuta (ULBRA-RS, 2001), Mestre emCiencias Biologicas – Neurociencias (UFRGS, 2005) e tem formacao pelo ConceitoNeuroevolutivo Bobath. Atualmente e coordenadora e docente do Curso de Pos-Graduacao Lato Sensu em Neurologia com enfase em Neuropediatria do IBRATE.