9
Capítulo 6 Agulha TIPOS A agulha pennite que a solução de anestésico local seja transportada do tubete anestésico para os tecidos adjacen- tes à extremidade da agulha. A maioria das agulhas usadas em odontologia é de aço inoxidável e descartável. Outras agulhas são de platina ou de uma liga irídio-platina ou rutênio-platina. A agulha de aço inoxidável é altamente recomendada. As agulhas atualmente disponíveis na prá- tica odontológica são pré-esterilizadas e descartáveis. Agulhas reutilizáveis não devem ser usadas para injeções. Como a agulha representa o componente mais peri- goso do equipamento, podendo produzir lesões ao pa- ciente e ao profissional, "agulhas seguras" têm sido desen- ~~. .'. ~. " '"" : ,~ Figura 6-1. Agulha descartável de metal, desmontada. volvidas.' Apesar de essas agulhas ainda não serem ampla- mente utilizadas em odontologia, é provável que dentro da próxima década seu uso se torne comum. PARTES A agulha é composta de uma peça única tubular metálica, ao redor da qual existe um adaptador da seringa de plástico ou metal e a calota da agulha (Fig. 6-1). Todas as agulhas apresentam os seguintes componentes em comum: o bisel, a haste, a calota e a extremidade que penetra no tubete anestésico (Fig. 6-2). O bisei define a ponta ou extremidade da agulha. Os biséis são descritos pelos fabricantes como longos, médios e curtos. Muitos autores confirmaram que quanto maior o ângulo do bisel com o'longo eixo da agulha, maior será o grau de detlexão quando a agulha passar através do hidro- colóide (tecidos moles da boca) (Fig. 6-3).2-4Uma agulha cuja ponta é centralizada no longo eixo (p. ~x., a ponta de Huber e a agulha Truject; Fig. 6-4) detletirá menos que \'11 Calota Adaptador Extremidade da quepenetra L . . J seringa l no tu~e~e i anesteslCo ... - ~ \ \ Bisei Haste L Figura 6-2. Componentes da agulha odontológica de anes- tesia local. Agulha longa (acima); agulha curta (abaixo). QQ

Capítulo 6 - Agulha

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Anestesiologia

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Page 1: Capítulo 6 - Agulha

Capítulo 6 Agulha

TIPOS

A agulha pennite que a solução de anestésico local sejatransportada do tubete anestésico para os tecidos adjacen-tes à extremidade da agulha. A maioria das agulhas usadasem odontologia é de aço inoxidável e descartável. Outrasagulhas são de platina ou de uma liga irídio-platina ourutênio-platina. A agulha de aço inoxidável é altamenterecomendada. As agulhas atualmente disponíveis na prá-tica odontológica são pré-esterilizadas e descartáveis.

Agulhas reutilizáveis não devem ser usadas para injeções.Como a agulha representa o componente mais peri-

goso do equipamento, podendo produzir lesões ao pa-ciente e ao profissional, "agulhas seguras" têm sido desen-

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Figura 6-1. Agulha descartável de metal, desmontada.

volvidas.' Apesar de essas agulhas ainda não serem ampla-mente utilizadas em odontologia, é provável que dentro dapróxima década seu uso se torne comum.

PARTES

A agulha é composta de uma peça única tubular metálica,ao redor da qual existe um adaptador da seringa de plásticoou metal e a calota da agulha (Fig. 6-1).

Todas as agulhas apresentam os seguintes componentesem comum: o bisel, a haste, a calota e a extremidade quepenetra no tubete anestésico (Fig. 6-2).

O bisei define a ponta ou extremidade da agulha. Osbiséis são descritos pelos fabricantes como longos, médiose curtos. Muitos autores confirmaram que quanto maioro ângulo do bisel com o'longo eixo da agulha, maior será ograu de detlexão quando a agulha passar através do hidro-colóide (tecidos moles da boca) (Fig. 6-3).2-4Uma agulhacuja ponta é centralizada no longo eixo (p. ~x., a ponta deHuber e a agulha Truject; Fig. 6-4) detletirá menos que

\'11Calota Adaptador Extremidade

da quepenetra

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seringal

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LFigura 6-2. Componentes da agulha odontológica de anes-tesia local. Agulha longa (acima);agulha curta (abaixo).

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Page 2: Capítulo 6 - Agulha

100 Armamentário P A R T E D O IS

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Figura 6-3.Radiografiademonsttando os vários graus dedeflexão das agulhas de diferentes calibres (da esquerdapara a direita: calibres 30, 27 e 25). (Retirado de: RobisonSE, et aI: Comparative study of deflection ch:u:acteristicsand fragility of2 5-, 27- and 30-gauge short dental needles,J Am Dent Assoc 109:920-924, 1984.)

uma agulha de biseI cuja ponta é excêntrica (Fig. 6-5;Tabela 6-1).

Muitos fabricantes de agulhas odontológicas colocaramindicadores na calota de plástico ou de metal para ajudar aorientar o profissional quanto à posição do biseI.

A hasteda agulha é uma peça tubular metálica longa quese estende da extremidade da agulha até a porção quepenetra no tubete anestésico, atravessando a calota (Fig. 6-1). Dois fatores a serem considerados a respeito dessecomponente da agulha são o diâmetro do seu lúmen (cali-bre da agulha) e o comprimento da haste desde a extremi-dade até a calota.

A calotaé uma estrutura plástica ou metálica através daqual a agulha é fixada à seringa. A superncie interior doadoptatlor.de plástico do seringa da agulha não é pré-ros-

queada; portanto, para fixar uma agulha com calota deplástico a uma seringa, a agulha deve ser pressionada con-tra a seringa enquanto é rosqueada. As agulhas de calotametálica são pré-rosqueadas.

A extremidade que penetra no tuhete anestésicose estendeatravés do adaptador e perfura o diafragma do tubete anes-tésico. Sua ponta repousa dentro do tubete.

Quando as agulhas são selecionadas para utilização emvárias técnicas de injeção, os dois principais fatores a seremconsiderados são o calibree o comprimento.

CALIBRE

Calibre refere-se ao diâmetro da luz da agulha: quantomenor o número, maior o diâmetro da luz. Uma agulha decalibre 30 apresenta o diâmetro interno menor do queuma de calibre 25. Nos Estados Unidos, as agulhas sãocoloridas para identificação do calibre (Fig. 6-6).

Há uma tendência crescente ao uso de agulhas demenor diâmetro (maior número de calibre), com base nasuposição de que são menos traumáticas para o paciente doque as agulhas com diâmetros maiores (Tabela 6-2). Essasuposição não é comprovada.5 Hamburg6 demonstrou, em1972, que os pacientes não conseguem diferenciar entreagulhas de calibre 23, 25, 27 e 30. Uma experiência clínicademonstrará esse ponto:1. Deve ser selecionadas várias agulhas - calibre 25, 27 e

30.

2. Seque a mucosa oral sobre os dentes superiores anterio-res.

3. Não utilize anestésico tópico.4. A mucosa deve estar tracionada.

5. Gentilmente, perfure a mucosa (aproximadamente 2 a3 mm) com cada agulha sem revelar ao paciente qualagulha está sendo utilizada. Cada perfuração deve serrealizada em um local diferente.

6. Pergunte ao paciente sobre as agulhas: Qual a que vocêsentiu mais? Qual a que sentiu menos?Em centenas de demonstrações clínicas, nenhum

paciente conseguiu determinar corretamente o calibre decada agulha. A resposta habitual foi que não era possívelobservar qualquer diferença.

Agulhas de calibre maior (p. ex., calibre 25) possuemvantagens distintas sobre as menores (Quadro 6-1): ocorremenor defkxão durante a passagem da agulha através dostecidos (Tabela 6-1 e Fig. 6-3). Isso leva a uma maior preci-sãona inserção da agulha, e espera-se, assim, um aumentonos índices de sucesso, especialmente nas técnicas cujaprofundidade de penetração nos tecidos moles é significa-tiva (p. ex., a técnica alveolar inferior, a mandibular de

Área protegida pela extremidade

I-- -- rda agulha I

OJ .~. .~I ~l Sem deflexãodurante a penetração I

Diâmetro interno de 0,2 mm; o mesmo que o calibre 27Diâmetro externo de 0,35 mm

Figura64. A extremidade de uma agulha quenão deflete é localizada no centro da haste,minimizando, assim, a deflexão à medida quea agulha penetra nos tecidos moles.

Page 3: Capítulo 6 - Agulha

CAPÍTULO 6 Ag-glha. 101

/-" Figura 6-5. Agulha odontológicaconvencional. A extremidade da

agulhaencontra-se na margem infe-rior da haste, produzindo, assim,deflexão quando da passagem daagulha atravésdos tecidosmoles.

I

Diâmetro interno de 0,2 mmDiâmetro externo de 0,4 rnm

Agulha de calibre 27 com extremidade-padrão

guio de deflexão durante a penetraçâo I

Gow-Gates, a de Akinosi-Vazirani e o bloqueio do nervoASA [infra-orbital]). A fratura da agulha, apesar de inco-mum quando se utilizam agulhas descartáveis, é muitomenos provável com uma agulha mais espessa. Váriosautores7-1Oafinnam que a aspiração é muito mais fácil esegura através de um lúmen maior. Foldes, e McNalF rela-taram as seguintes observações baseadas em um estudo deMonheim não publicado:1. Utilizando-se agulhas de calibre 25, as aspirações de

vasos sangüíneos foram 100% positivas.2. Utilizando-se agulhas de calibre 27, as aspirações foram

87% positivas.3. Utilizando-se agulhas de calibre 30, as aspirações de

vasos sangüíneos foram 2% positivas.Entretanto, Trapp e Daviesll relataram que o sangue

humano in vivo pode ser aspirado através de agulhas decalibres 23, 25, 27 e 30 sem uma diferença clinicamentesignificativa na resistência ao fluxo.

Apesar dessa ambigüidade quanto à capacidade de seaspirar sangue através de agulhas de vários calibres, é reco-mendada a utilização de agulhas maiores (calibre 25) paraqualquer técnica de injeção em uma área altamente vas-cularizada ou quando a deflexão da agulha através dos teci-dos moles é um fator a ser considerado. Embora o sanguepossa ser aspirado através de todas as agulhas do calibre 23

TABELA6-1Deflexãodas Agulhas Inseridasem Hidrocolóideaté aCalota

Tipo de Agulha

Comprimento(mm, da

extremidade

até a calota)

DeflexãoMáxima da

Extremidade(mm, :t SD)

Longa calibre25 (convencional)Longa calibre 27 (convencional)Curta calibre 27 (convencional)

Longa calibre 28 (que não deflete)Curta calibre 28 (que não deflete)

3536263122

7,1 :!: 0,81*

8,4:!: 1,2*4,6 :!: 0,97t

1,1 :!:0,820,8 :!:0,91

Dados modificados de ]eske AR, Boshan BF: Deflection of conventional versus

non-deflecting dental needles in vicro, Anesth Prog 32 :62 -64, 1985.

. Diferença estatisticamente significante da agulha longa qne não deflete (p <

3,01); n = 10 agulhas em cada grupo.-Diferença estatisticamente significante da agulha curta qne não deflete (p <

,101); n = 10 agulhas em cada grupo.

...- " ,l} .P

ao 30, é necessária uma maior pressão para a aspiraçãoquando se utilizam agulhas de calibre maior, aumentandoa probabilidade de se deslocar o arpão da tampa de borra-cha durante a aspiração.

Os padrões industriais para calibre da agulha são usadoshá anos (Tabela 6-3), porém Wittrock e Fischer12 mostra-ram em 1968 que há variações no diâmetro interno, e 35anos depois essas diferenças ainda são encontradas.Agulhas mais espessas (calibre 25) devem ser usadasquando há grande risco de aspiração positiva, comodurante o bloqueio dos nervos alveolar inferior, alveolarsuperior posterior ou mentoniano/incisivo.

As agulhas mais comumente utilizadas (compradas) emodontologia são as longas de calibre 27 e curtas de calibre3013.A agulha de calibre 25, contudo, deve ser usada paratodas as injeções com elevado risco de aspiração positiva; Ade calibre 27 pode ser usada em todas as outras técnicas deinjeção, desde que o percentual de aspiração seja baixo e aprofundidade de penetração tecidual não seja grande(deflexão aumentada). A agulha de calibre 30 não é especi-ficamente recomendada para qualquer injeção, emborapossa ser usada nos casos de infiltração local, como, porexemplo, para obter hemostasia durante tratamento perio-dontal.

A deflexão toma-se importante quando a agulha precisapenetrar uma grande espessura de tecido mole. Na agulhaodontológica padrão (Fig. 6-5), a ponta é localizada de

~.

- "-~""""~'-r,'

..

Figura 6-6. Identificação por cores dos calibres das agulhas:calibre 25, vermelho; calibre 27, amarelo; calibre 30, azul.

Page 4: Capítulo 6 - Agulha

I

I 102 Annamentário PA R TE D O I S

TABElA 6-2

Calibres de Agulhas Utilizados na Prática

CalibreBloqueio do Nervo

Alveolar Inferior (%)

InfiltraçãoMaxilar (%)

23252730

1,166,932,00,0

0,019,160,120,8

fonna excêntrica. À medida que a agulha penetra no tecidomole, sua ponta sofre deflexão pelo tecido atravessado.Quanto maior o ângulo do biseI, maior será o grau dedeflexão da agulha. A cada década é lançada uma agulhacuja ponta é localizada no centro do lúmen, minimizando,assim, a defll';Xãodurante a passagem da agulha através dostecidos moles (Fig. 6-4). Jeske e Bosharr2 demonstraram aeficácia dessa agulha "que não sofre deflexão" (Tabela 6-1).Entretanto, ainda precisa ser demonstrado clinicamenteque um menor grau de deflexão da agulha durante suapenetração nos tecidos moles resulta em uma maior taxade sucesso na anestesia comparada àquela observada comas agulhas-padrão. Com o tempo, os dentistas acostumam-se com a deflexão das agulhas, assim como são modificadasas técnicas de injeção para adaptar essa deflexão. A mu-dança para uma agulha que não deflete pode levar inicial-mente a menores taxas de sucesso.

Minimizando a Deflexão da Agulha: Técricade Inserção Rotacional

. Foi descrita uma nova abordagem para reduzir a deflexãoda agulha. A técnica de inserção rotacional (descrita comotécnica de inserção birrotacional [TIBR]), uma técnica naqual o profissional gira a seringa ou a agulha em movimen-tos rotacionais de vaivém à medida que a agulha penetranos tecidos, é semelhante às técnicas utilizadas na acupun-tura ou instrumentação endodôntica. Hochman e Fried-man demonstraram que a deflexão da agulha pode ser pra-ticamente eliminada utilizando-se a técnica de inserçãorotacional durante o movimento da agulha.14Foi realizadoum estudo in vitro com a inserção de 60 agulhas em ummeio que simula o tecido mole com três calibres diferen-tes de agulhas comparando a inserção rotacional com atécnica tradicional de inserção linear não-rotacional. Oestudo demonstrou que a deflexão da agulha poderia serminimizada ou eliminada, desde que a inserção fosse reali-zada ?tilizando a técnica de inserção rotacional.

QUADRO 6-1

Vantagens das Agulhas Mais Grossas sobre as Mais finas

1. Menor deflexão quando a agulba atravessa os tecidos moles.2. Maior precisão na injeção.

3. Menor chance de fratura da agulha.4. Aspiração mais fácil.

5. Sem diferença percentual no desconforto do paciente.

Os calibres das agulhas odontológi= encontram-se em desmque

A deflexão de uma agulha é conseqüência das forçasresultantes que atuam sobre o bisei da agulha durante apenetração nos tecidos. Uma agulha com bisei excêntricogera várias forças diferentes que atuam sobre ela durante ainserção quando se utiliza a técnica de inserção linear não-rotacional. Essa é a técnica convencional usada com a

seringa odontológica tradicional que é tipicamente empu-nhada com os dedos polegar, indicador e médio (Fig. 6-7).Durante esse tipo de inserção, a força perpendicular aomovimento anterior (vetor) atua na superfície da agulhabiselada, causando uma dobra ou deflexão na direçãooposta à do bisei da agulha (p. ex., se o bisei está direcio-

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.

/~-i~/ .-1

- ~

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Figura 6-7. Seringa tradicional empunhada com os dedospolegar, indicador e médio.

TABElA6-3

Especificações dos Calibres das Agulhas

Diâmetro DiâmetroCalibre Externo (mm) Interno (mm)

7 4,57 3,818 4,19 3,4310 3,40 2,6911 3,05 2,3912 2,77 2,1613 2,41 1,8014 2,11 1,6015 1,83 1,3216 1,65 1,1917 1,50 1,0418 1,27 0,8419 1,07 0,6920 0,91 0,5821 0,81 0,5122 0,71 0,4123 0,64 0,3325 0,51 0,2526 0,46 0,2527 0,41 0,2030 0,31 0,15

Page 5: Capítulo 6 - Agulha

Efeito da Deflexão da Agulha peloTipo de "Técnica de Inserção"

\tLinear

Figura6-8. TIBR (técnica de inserção birrotacional).

nado "para cima", o movimento anterior causa uma defle-xão "para baixo" da agulha biselada). Quanto maior o com-primento da agulha, mais acentuada será a deflexão.Quanto menor o diâmetro da agulha, mais acentuada seráa deflexão porque uma agulha mais fina é menos capaz deresistir à força de deflexão sobre sua superfície.

Quando é utilizada a TIBR durante a inserção daagulha, a força perpendicular que causa a deflexão é elimi-nada ou "neutralizada" pela constante alteração no dire-cionamento do bisel à medida que a agulha é girada (Fig.6-8).14 Isso permite que as agulhas com biséis excêntricospercorram um caminho reto. A seringa tradicional requeruma empunhadura que não permite a realização dessa téc-

CAPÍTULO 6 Agulha 103

nica (Fig. 6-7). O aparelho The Wand/CompuDent (dis-cutido no Capo 5) emprega uma seringa leve que é empu-nhada como uma "caneta" ou "dardo", sendo facilmentegirada.

Um estudo posterior dos mesmos autores demonstrouque a TIBR tinha o benefício adicional de redução da forçanecessária para penetração da agulha e avanço através dostecidos moles.15 Isso é explicado a seguir. Com a ~serçãorotacional, todas as forças resultantes são direcionadas parao sentido anterior de inserção, já que as forças de deflexãoforam eliminadas. Isso, então, permite o movimento ante-rior da agulha de maneira mais eficiente e com menoresforço (p. ex., menos força). Além disso, a rotação daagulha biselada permite que sua borda cortante entre emcontato com toda a circunferência da superfície do tecido,contribuindo para a redução da força necessária durantepenetração e avanço. Isso é semelhante ao efeito rotacio-nal de uma broca cirúrgica perfurando osso ou tecido.

A TIBR, técnica de inserção birrotacional, é simples,fácil e tem melhorado as técnicas de injeção devido à mini-mização da deflexão da agulha padrão durante a inserção.16

COMPRIMENTO

As agulhas odontológicas são disponíveis em dois compri-mentos: longa e curta. Agulhas ultracurtas também sãodisponíveis em calibre 30. Apesar das exigências para uni-formização de comprimento pelos fabricantes, são encon-tradas diferenças significativas (Tabela 6-4).

O comprimento médio de uma agulha curta é 20 mm(da calota à extremidade) e de uma agulha longa é 32 mm(Fig. 6-9).

As agulhas não devem ser introduzidas nos tecidosaté acalota, a menos que issoseja absolutamente necessáriopara osucessoda injeção.

Uma das razões para essa precaução é a fratura daagulha, que, apesar de' rara, pode ocorrer. A parte maisfrágil da agulha (a mais rígida, que recebe a maior tensão)é a calota, que é o local onde ocorre a fratura. Quandoocorre fratura de uma agulha que foi inserÍda nos tecidosmoles até a calota, as propriedades elásticas dos tecidospermitem que eles retomem à posição original e cubramcompletamente a agulha. A recuperação da agulha é geral-

TxIas as medidas foram obtidas diretamente dos fabricantes das agulhas.

TABELA64Comprimentos das Agulhas

Longa Curta Longa CurtaFabricante Calibre25 Calibre25 Calibre27 Calibre27

Padrão 32 20 32 20industrial

Fabricante A 30 30 21Fabricante B 32 :t 1,5 22 :t 1,5 32 :t 1,5 22 :t 1,5Fabricante C 32 21Fabricante D 35 35 25Fabricante E 32 21

Longa Curta UltracurtaCalibre30 Calibre30 Calibre30

25 2121 :t 1,5 12:t 1,0

25 2125 1019

Page 6: Capítulo 6 - Agulha

104 Annamentário PA RTE D O I S

--- - - ----- --

A~~':'::'- 'L,:- ,;, ~

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B

.~~ -=..

-- - . -Figura 6-9. A, A agulha odontológica longa mede aproxima-damente 32 mm. B, A agulha curta mede aproximadamente20mm.

mente difícil (como discutido no Capo 17). Se mesmo umapequena parte (5 mm ou mais) da haste da agulha fraturadapennanecer visível na cavidade oral, ela pode ser removidacom uma pinça hemostática ou de apreensão.

Prefere-se uma agulha longa em todas as térnicas anes-tésicas nas quais é necessária a penetração de espessura sig-nificativa de tecido mole (p. ex., alveolar inferior, técnicamandibular de Gow-Gates, técnica de Akinosi, infra-orbitale bloqueios nervosos maxilares). As agulhas curtas podemser usadas para qualquer injeção em qualquer paciente quenão requeira penetração de profundidades significativas detecido mole (profundidade de 20 mm ou mais).

, CUIDADOS E MANUSEIO

As agulhas atualmente disponíveis para o dentista são pré-esterilizadas e descartáveis. Não devem ser causa de pro-blemas significativos se cuidadas e manuseadas correta-mente.

1. As agulhas numa devem ser usadas em mais de umpaciente.

2. As agulhas devem ser trocadas após várias penetraçõesnos tecidos (três ou quatro) no mesmo paciente.a. Após três ou quatro inserções, as agulhas descartá-

veis de aço inoxidável tomam-se rombas. A penetra-ção no tecido toma-se mais traumática a cada inser-ção, produzindo dor no momento da inserção e apóscessar o efeito anestésico.

3. As agulhas devem ser cobertas com um protetorquando não estiverem sendo utilizadas, para preveniracidentes perfurocortantes com a agulha contaminada.(ver a discussão no Capo 9.)

4. Deve-se sempre prestar atenção à posição da extremi-dade da agulha sem cobertura, dentro ou fora da bocado paciente. Isso minimiza o risco potencial de lesõesao paciente e ao profissional.

5. As agulhas devem ser corretamente descartadas após ouso para prevenir possíveis lesões ou reutilização porpessoas não autorizadas. As agulhas podem ser destruí-das das seguintes maneiras:

-

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Figura 6-10. A, Coletor de tubetes anestésicos. B, Coletor de"pérfuro-cortantes" para descarte das agulhas contaminadas.

a. Agulhas contaminadas (assim como todos os outrositens contaminados com sangue ou saliva, como ostubetes) devem ser descartadas em coletores espe-ciais de materiais "contaminados" ou "perfurocor-tantes" (Fig. 6-10).

b. O uso apropriado da unidade agulha/seringa auto-protegida (agulha "segura") (confonne discutido noCapo 5) minimiza o risco de acidentes perfurocor-tantes.

C. Reencapá-Ias usando a técnica da "pescagem" ouporta-agulhas quando forem reutilizadas em inje-ções subseqüentes (característica única na odontolo-gia Vf:TSUSmedicina, onde raramente se administramais de uma injeção).

d. As agulhas contaminadas nunca devem ser descarta-das em coletores de lixo abertos.

Em resumo, é necessário apenas um tipo de agulhapara anestesia local no consultório odontológico, a tangade calibre 25, que pode ser utilizada em todas as técnicasanestésicas discutidas neste livro. Ela fÇ>meceuma rigi-dez, necessária nas injeções intra-septais e no ligamentoperiodontal (LPD), que não se observa nas agulhas demaior calibre (menor diâmetro); ela apresenta menorgrau de deflexão que agulhas mais finas e parece forneceraspiração mais fácil e mais confiável. Como a agulhalonga calibre 25 não aumenta o desconforto do paciente,seu valor é ainda maior. Contudo, na realidade, é práticoter outro tipo de agulha disponível: a agulha curta calibre25 ou 27 é utilizada nas técnicas em que a espessura de

Page 7: Capítulo 6 - Agulha

CAPÍTULO 6 Agulha 105

A ~F-'I" =-~~1l!l" ~- r "'-/1-'

B.

~

Figura6-11. A, Técnica de pescagem para reencapar a agulha contaminada. B, Suporte plástico para as tampas das agulhas.

tecido a ser penetrado é menor que 20 mm e o risco deaspiração positiva é núnimo, assim como em áreas dacavidade oral cuja estabilização de uma longa agulhapoderia ser difícil (p. ex., nos dentes superiores anterio-res e no palato).

PROBLEMAS

Dor durante a Introdução

Ousodeumaagulharomba pode levarà dor na penetraçãoinicial da mucosa. Isso pode ser prevenido com a utilizaçãode agulhas cortantes, novas e descartáveis, e com a aplicaçãode um anestésico tópico no local da introdução da agulha.Se for necessária nova inserção, a agulha deve ser trocadaapós três ou quatro penetrações na mucosa.

-

FIgUra6-12. Agulha fraturada retida após bloqueio do nervoalveolar inferior (seta).

Fratura

Curvar as agulhas causa seu enfraquecimento, tomando-asmais suscetíveis à fratura em um contato subseqüente comtecidos duros, tais como o osso. As agulhas não devem ser'dobradas se forem inseridas nos tecidos moles em uma

profundidadç maior que 5 mm. Não há técnicaanestésicanaodontologia (em que a agulhapenetrenos tecidos1lWles)quenecessiteda curvatura da agulhapara osucessoda injeção.Comfreqüência, as agulhas são curvadas pelos profissionaisdurante a administração do bloqueio do nervo alveolarinferior (BNAI), bloqueio do nervo alveolar superior pos-terior (ASP) e nas injeções intrapulpar, LPD e intra-óssea.Os dois bloqueios nervosos mencionados podem ser facil-mente administrados com sucesso com uma agulha reta(não-curvada) (ver Caps. 13 e 14). As injeções intrapulpare LPD geralmente pod~m ser administradas sem curvar asagulhas, entretanto, existem ocasiões, tais como a injeção

FIg)aa 6-13. Remanescente da agulha mostrada na Figura 6-12.

Page 8: Capítulo 6 - Agulha

106 Armamentário P A RTE D O I S

LPD na raiz dista! de um segundo molar inferior, injeçãointrapulpar nos canais radiculares de dentes posteriores ouinjeção no osso dista! ao segundo molar (intra-óssea), nasquais o local de injeção não é acessível com a agulha reta.Nesses casos, é essencial curvar a agulha para se obtersucesso. Como a agulha não penetra em tecidos moles(intrapulpar) ou não ultrapassa a profundidade de 2 a 4mm (LPD), há pouco perigo de a agulha tomar-se m-e-cuperável caso venha a fraturar, o que é improvável (Figs.6-12 e 6-13). Não se deve tentar mudor a direçãode umaagulhajá inseridono tecido.Se houver necessidade de alterara direção da agulha, ela deve ser quase completamenteretirada do tecido para, então, ter sua direção alterada.Não se deve forçar a agulha contra uma resistência (as agu-lhas não são feitas para penetrar no osso). As agulhas maisfinas (calibres 27 e 30) são mais suscetíveis à fratura que asmais grossas (calibre 25).

O autor já se envolveu em 33 casos de agulhas fraturadasque foram levaqos a litígio (em um período de 30 anos), etem conhecimento de outros 27 casos de fratura de agulharelatados aos fabricantes. Dos 60 casos de fratura de agulha,59 envolveram uma agulha curta ou ultracurta de calibre 30.Um caso ocorreu com uma agulha curta de calibre 27.

As agulhas recomendadas para cada técnica específicasão apresentadas na seção a seguir.

Dor à Retirada

A dor à retirada da agulha do tecido pode ser produzidapor rebarbas tipo "anzol"na extremidadeda agulha.Essasrebarbas podem ser produzidas durante o processo de

TABELA6-5

Agulhas Recomendadas para as Técnicas Anestésicas

fabricação, mas é muito mais provável que elas se desen-volvam quando a extremidade da agulha é forçada contrauma superfície dura, como o osso. A agulha nunca deve serforçada contra uma resistência. Se houver dúvida quanto àpresença de rebarbas, troque a agulha entre as inserções.

Lesão ao Paciente ou ao Profissional

A penetração da agulha, e conseqüente lesão, em áreas docorpo pode ocorrer de maneira não-intencional. A princi-pal causa é a falta de cuidado e de atenção do profissional,embora um movimento súbito do paciente seja tambémuma causa freqüente. A agulha deve permanecer encapadaaté o momento de ser utilizada e deve ser reencapada ime-diatamente após sua remoção da boca.

RECOMENDA~ÕES

1. Devem ser usadas agulhas estéreis descartáveis.2. Se são necessárias injeções múltiplas, as agulhas devem

ser trocadas após três ou quatro inserções em ummesmo paciente.

3. As agulhas nunca devem ser usadas em mais de umpaciente.

4. As agulhas não devem ser inseridas nos tecidos até acalota, a não ser que isso seja absolutamente necessáriopara o sucesso da injeção.

5. A direção da agulha não deve ser mudada enquanto elaainda estiver no tecido.

6. A agulha nunca deve ser forçada contra uma resistência.

Técnica

Supraperiosteal (infiltração)Bloqueio do nervo alveolar superior posteriorBloqueio do nervo alveolar superior médioBloqueio do nervo alveolar superior anterior-médio (ASAM)Abordagem palatinaBloqueio do nervo bucal (longo)Infiltração para hemostasiaInjeção no ligamento periodontal (LPD)Injeção intra-septalInjeção intra-ósseaInjeção intrapulparBloqueio do nervo alveolar superior anterior ("infra-orbital")Bloqueio do nervo maxilar (V2)Bloqueio do nervo alveolar inferior ("mandibular")Bloqueio do nervo mandibular pela técnica de Gow-GatesBloqueio do nervo mandibular pela técnica de Vazirani-Akinosi

Comprimento da Agulha

CurtaCurta*CurtaCurtaUltracurta tCurta*CurtaCurtaCurtaCurtaCurta

LongaLongaLongaLongaLonga

'Nas primeiras edições desse livro, era recomendada a agulha longa de calibre 25. Atualmente, recomenda-se o uso da agulha curta como meio de minimizar o riscode hematoma após a injeção alveoIar superior posterior. Se disponível, a agulha curta de calibre 25 deve ser Utilizada;caso contrário, recomenda-se a agulha curta decalibre 27. (Ver Capo 13 para discussão adicional.)t Os autores do P-ASA recomendam o uso da agulha ultracurta calibre 30.17.18*Na maioria das situações clínicas, a agulha calibre 25, usada para o BNAI, é usada para o bloqueio do nervo bucal, que é realizado logo após o BNAI.

Calibre da Agulha

2727*2727

30t"

27*-_o

27272727272525252525

Page 9: Capítulo 6 - Agulha

7. As agulhas devem permanecer encapadas até omomento de serem utilizadas e novamente cobertas

após o uso.8. As agulhas devem ser descartadas e destruídas após o

uso para prevenir lesões ou sua reutilização por pessoasnão autorizadas.

9. As técnicas de injeção na Tabela 6-5 são apresentadascom as agulhas recomendadas (para o adulto de tama-nho médio).

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CAPÍTULO 6 Agulha 107

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