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Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
42
CAPÍTULO II
2.1. Elementos básicos de uma fotografia
Para a realização de qualquer medida por meio de técnica
fotogramétrica é necessário os sistemas de coordenadas referenciais sejam
devidamente definidos. Tal definição é seguida da correspondente
materialização do sistema.
2.1.1. Sistemas referenciais de coordenadas usados em fotogrametria
Como descrito anteriormente, o sistema de lentes é um dos principais
elementos que compõem uma câmera fotográfica. A Figura 2.1 ilustra o
sistema de lentes de uma câmera e os espaços envolvidos nas medidas
fotogramétricas.
Figura 2.1. (a) Espaço-imagem e espaço-objeto. (b) Sistema de lentes.
(a) (b)
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
43 De acordo com a Figura 2.1a, são dois os espaços envolvidos na
fotogrametria, isto é, o espaço imagem e o espaço objeto. O espaço objeto
compreende todos as feições contidas sobre a superfície física (terreno
topográfico), cujos referenciais mais utilizados nas Ciências Geodésicas são o
referencial geodésico, o referencial geodésico cartesiano e o referencial
cartesiano local.
2.1.1. Referenciais do espaço objeto usados na fotogrametria
2.1.1.1. Sistema de referência geodésico
No referencial geodésico (Figura 2.2) a latitude e a longitude são
definidas sobre um elipsóide escolhido arbitrariamente como Datum do
sistema geodésico (LUGNANI, 1987). Há ainda uma terceira coordenada
conhecida como altura geométrica h.
Figura 2.2. Referencial geodésico.
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
44 A latitude de um ponto P é o ângulo entre a normal ao elipsóide
passando por P e sua projeção no equador, variando de 0 a 90o graus ao
norte e de 0 a -90o graus ao sul. A longitude é o ângulo diedro entre o
meridiano origem (Greenwich) e o meridiano do ponto, variando de 0 a 180o
graus a leste e de 0 a -180o graus a oeste. A altura geométrica h é a
distância contada sobre a normal do ponto considerado, a partir deste ponto
até a superfície do elipsóide.
2.1.1.2. Sistema de referência geodésico cartesiano
O referencial geodésico cartesiano (Figura 2.3) é um sistema
tridimensional de coordenadas cartesianas, cuja origem é o centro do
elipsóide geodésico.
Figura 2.3. Referencial geodésico cartesiano.
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
45 Este sistema é definido como segue (LUGNANI, 1987):
Origem: centro do elipsóide geodésico;
Eixo OZ: coincidente com o eixo de rotação do elipsóide geodésico,
sentido positivo para o pólo norte geodésico (PN);
Eixo OX: coincidente com a intersecção do plano do meridiano de
Greenwich com o plano do Equador, sentido positivo para o
meridiano de Greenwich; e
Eixo OY: é tal que torna o sistema dextrógiro.
2.1.1.3. Sistema de referência cartesiano local
Figura 2.4. Referencial cartesiano local.
O referencial cartesiano local, ilustrado na Figura 3.4, é definido na
forma que segue (LUGNANI, 1987).
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
46 Origem: é estabelecida sobre a normal ao elipsóide passando pela
estação de observação, sendo geralmente tomada sobre o
elipsóide, geóide ou nas imediações da superfície física;
Eixo Oz: é coincidente com a normal ao elipsóide na origem O',
sentido positivo oposto ao centro do elipsóide geodésico (O');
Eixo Oy: mesmo sentido do norte geodésico; e
Eixo Ox: ortogonal ao eixo OY no sentido que torne o sistema
dextrógiro.
A seguir serão vistos os referenciais do espaço-imagem.
2.1.2. Referenciais do espaço imagem
Se as observações ou medidas forem feitas no negativo fotográfico, o
espaço imagem será a região compreendida entre o ponto nodal posterior até
o plano do negativo. Caso as observações sejam feitas no diapositivo (plano
positivo), o espaço imagem será delimitado entre o ponto nodal anterior e o
plano do diapositivo.
O centro perspectivo da câmera (CP) é uma abstração pontual do
sistema de lentes, cuja projeção ortogonal no plano da fotografia (negativo
ou positivo) define o ponto principal (pp), que será tratado mais adiante. A
distância entre o CP da câmera e o plano da fotografia é denominada de
distância focal da câmera (f). Para fins de medidas acuradas a distância
focal deve ser devidamente calibrada por meio de um processo
denominado de calibração de câmeras, cujas definições e técnicas
também serão estudadas futuramente.
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
47 De acordo com a Figura 2.1, quando utilizado o plano negativo a
distância focal é positiva (+f) e quando utilizado o plano positivo, a
distância focal é negativa (-f). Os sistemas de coordenadas referenciais do
espaço imagem mais usuais na fotogrametria são:
Sistema referencial fiducial;
Sistema referencial fotográfico; e
Sistema referencial digital.
2.1.2.1. Sistema referencial fiducial
O sistema referencial fiducial é um sistema cartesiano bidimensional
construído a partir da intersecção entre as marcas fiduciais (Fig. 2.5a)
opostas de uma fotografia tomada com câmera métrica convencional, que
define o centro fiducial (CF) da fotografia (Fig. 2.5b), ou seja, a origem do
sistema referencial fiducial. As marcas fiduciais são impressas pelo cone
interno da câmera métrica convencional (Fig. 2.5c) no instante da tomada
da fotografia. Geralmente, as câmeras métricas possuem de 4 a 8 marcas
fiduciais, a partir das quais se materializa o sistema fiducial. A Figura 2.5.
mostra os elementos supracitados.
Capítulo II
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48 Figura 2.5. (a) Marca fiducial. (b) Sistema de referência fiducial. (c) Cone
da câmera métrica convencional.
(a) (b)
(c)
Onde,
CF: origem do sistema referencial fiducial, denominado de centro
fiducial;
eixo CFx’: orientado positivamente para o sentido de voo, sendo
paralelo à linha fiducial que melhor se aproxima da linha de voo;
eixo CFy’: é orientado a partir do eixo CFx’ com uma rotação anti-
horária de 90o graus (sistema dextrógiro);
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49 p’: ponto imagem com coordenadas no sistema referencial fiducial
('' , pp yx ); e
: é o angulo de não ortogonalidade entre os eixos x’ e y’. O ângulo
pode ser determinado pela expressão da tangente, dado por
'
'
arctanp
p
x
y .
2.1.2.2. Sistema referencial fotogramétrico
O referencial fotogramétrico, ou fotográfico, é um sistema cartesiano
tridimensional. De acordo com a figura 2.6 a orientação dos eixos CPx e
CPy é paralela, respectivamente, aos eixos CFx’ e CFy’ do referencial
fiducial. O eixo CPz é coincidente com o eixo óptico da câmera, cujo sentido
é tal que torna o sistema dextrógiro. A origem do sistema fotogramétrico é o
centro de projeção do sistema de lentes, ou seja, o ponto nodal anterior,
caso se esteja trabalhando com o diapositivo ou o ponto nodal posterior se
for utilizado o negativo. Como a coordenada z é constante e igual à
distância focal da câmera, utiliza-se um referencial plano cuja origem é o
ponto principal (pp).
Capítulo II
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50 Figura 2.6. Sistema referencial fotogramétrico.
Onde,
CP: centro perspectivo da câmera, considerado para fins de
simplificação como uma abstração pontual do sistema de lentes;
f : distância focal calibrada da câmera;
pp: ponto principal definido pelo ponto de intersecção entre a
projeção ortogonal do CP da câmera e o plano fotográfico, com
coordenadas 0,, pppp yx ; e
v
: vetor posição no espaço-imagem definido por 'CPpv
, ou
seja, fyyxxv pppppp ,, ''.
2.1.2.3. Sistema referencial digital
Sendo uma imagem digital um conjunto de elementos espacialmente
ordenados em um arranjo matricial, cuja posição é dada por (C, L), o
sistema referencial digital é usualmente definido na forma que segue:
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51 Origem (O): a origem do sistema é o canto superior esquerdo;
eixo OC: direção horizontal e sentido positivo para a direita;
Eixo OL: rotacionado 90o graus em relação ao eixo OC, sentido
horário (sistema levógiro);
C, L: coluna e linha, respectivamente.
Figura 2.7. Sistema referencial digital.
Atualmente, de uma forma geral, a compilação de uma carta
topográfica ou mapa por meio de técnicas fotogramétricas se restringe em
transformar imagens digitais brutas em arquivos de saída, tais como,
ortofotos digitais, MDTs etc. Por isso, é necessário entender as diferenças
básicas entre os dados manipulados no processo fotogramétrico.
2.2. Diferença entre imagem e mapa
Para entender a geometria básica de uma imagem será retratada as
principais diferenças entre imagem e mapa (Figura 2.8).
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
52 Figura 2.8. (a) Diferença entre imagem e mapa. (b) Deslocamento radial.
(c) Escala variante ponto-a-ponto.
(a) (b)
(c)
Na Figura 2.8a se verifica que a imagem possui uma projeção
perspectiva, pois os pontos A, B, C, D, E convergem para o CP da câmera
e seu imageamento ocorre no sentido inverso de sua posição no terreno,
enquanto o mapa possui uma projeção ortogonal, pois todos os pontos são
alocados no mapa na mesma posição em que se encontram na superfície
física mantendo a mesma distância entre eles, caso que não ocorre para os
pontos imageados na imagem, pois como pode ser visto na Figura 2.8a, os
pontos a, b, c, d, e não possuem a mesma distância que seus
correspondentes na superfície física, ou seja, ab é diferente de AB . As
informações encontradas em mapas são implícitas e simbólicas, enquanto
que na imagem são explícitas e sem nenhum atributo que as definem a
Objeto imageado no centro da
imagem
Objeto imageado
afastado do centro da imagem
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
53 priori. A imagem possui uma riqueza de informações superior àquela
encontrada em mapas e cartas topográficas, que possibilita a interpretação
do usuário com maior facilidade e sem a necessidade de simbologia.
O mapa possui escala constante e a imagem possui uma variação de
escala ponto-a-ponto, pois quanto mais próximo o objeto na superfície física
do CP da câmera, maior será a escala do objeto imageado (ver Figura
2.8c), devido a característica perspectiva da imagem.
O deslocamento devido ao relevo e a altura das edificações e da
vegetação também são características importantes da imagem. Na Figura
2.8b verifica-se que, no momento da tomada de uma fotografia um edifício
se encontra próximo ao centro da imagem (na direção do eixo óptico da
câmera) e outro afastado do centro da imagem ou fotografia. Neste caso,
para o objeto mais próximo do centro da imagem é possível visualizar o
topo e uma pequena porção de sua fachada lateral da edificação, ou seja, a
distorção é mínima. Enquanto que para o objeto mais afastado pode ser
visualizado o topo e sua fachada lateral, mostrando o deslocamento radial
ocorrido devido à altura da edificação e também ao afastamento que se
encontra em relação ao centro da imagem. Qualquer medida em relação a
estes elementos presentes na imagem não propiciam dados acurados,
principalmente quando é utilizada uma única imagem. Um tratamento deve
ser realizado de forma apropriada. Tal estudo é baseado no deslocamento
devido ao relevo.
2.2.1. Deslocamento devido ao relevo
Nesta seção será realizado um estudo teórico sobre os aspectos
relativos ao deslocamento devido ao relevo, sombras e ângulo de abertura
da câmera, cujos fatores provocam oclusões e obstruções na imagem.
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
54 2.2.1.1 Deslocamento Devido ao Relevo
Oclusões são os maiores obstáculos para a automação dos
processos fotogramétricos. O deslocamento devido ao relevo nas
edificações causa um tipo de oclusão, de característica visual,
caracterizado pela própria geometria da perspectiva central, ocorrendo
radialmente em relação ao nadir. Com isto, o algoritmo de correlação
automática não encontra correspondência em alguns pontos nas imagens
sobrepostas, tendo então que realizar uma interpolação para todos os
pontos que não são correlacionados (pontos críticos), gerando pontos que
representam uma área maior que a edificação. A Figura 2.9 ilustra o
deslocamento devido ao relevo, enfatizando casos de edificações.
Figura 2.9. Deslocamento devido ao relevo.
(a) (b)
Onde,
ra, rb: distância radial na imagem (dada entre o nadir e o ponto);
Ra, Rb: distância radial no terreno
r: é o deslocamento do objeto na imagem;
R: é o deslocamento do objeto no terreno;
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55 H: é a altura da edificação; e
Hv: altura de voo.
Considerando a relação de triângulos apresentada na figura 3.11,
tem-se que o deslocamento devido ao relevo no espaço imagem é dado
pela equação abaixo:
b
v
rH
Hr
(2.1)
Sendo,
rb: 22
bb yx .
A correção deve ser feita, teoricamente, da base para o topo, pois a
informação de interesse é o topo da edificação. A partir da equação (2.1)
pode-se calcular o deslocamento radial da base (a) para que seja aplicada
a correção do Modelo gerado, através de:
a
v
rH
Hr
(2.2)
Onde,
ra: 22
aa yx .
Considerando a figura 2.9b, podemos escrever a relação de
triângulos, desenvolvendo o seguinte modelo matemático para o cálculo de
dx:
Capítulo II
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56
x
r
dx
r a
(2.3)
xr
rdx
a
(2.4)
Onde,
dx : relação entre deslocamento do objeto na imagem e a distância
radial do nadir à base da edificação na direção x. Uma formulação
análoga vale para dy . Assim, pode ser realizada a correção
através de:
dyyy
dxxx
at
at
(2.5)
O processo de geração de MDTs já se encontra com um grau
avançado de automação, porém não se preocupa com a correção do
deslocamento devido ao relevo que gera dados não confiáveis na
representação das edificações, pois são ferramentas desenvolvidas para
modelar, especificamente, pontos de terreno.
2.2.1.2 Sombras
A sombra é um tipo de elemento que também gera oclusões na
imagem, sendo considerada um obstáculo no processo automático de
medidas de pontos homólogos. As sombras podem ser provocadas por
nuvens, feições naturais (vegetação etc) e feições antrópicas (edificações,
veículos etc). A Figura 2.10 mostra uma edificação que projeta sombra no
terreno.
Capítulo II
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57
Figura 2.10. Presença de sombras na tomada de imagens aéreas. (a)
Sombra projetada por um veículo. (b) Sombra projetada pela edificação. (c)
Sombra projetada pela vegetação.
(a) (b)
(c)
Um caso bastante comum em imagens aéreas é a presença de
sombras projetadas por vegetação que cobrem parte das edificações, como
pode ser visto na Figura 2.11.
Capítulo II
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58 Figura 2.11. Oclusões provocadas pela presença de sombra projetada
sobre edificações. (a) Imagem. (b) Esquema gráfico.
(a) (b)
Atualmente, existem câmera digitais com sensores de 12 bits de
resolução radiométrica, capazes de discriminar objetos cobertos pelas
sombras (sensor ADS 40 da Leica Helava). A Figura 2.12 mostra imagens
com diferentes resoluções radiométricas.
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
59 Figura 2.12. (a) Imagem com resolução radiométrica de 1 bit. (b) Imagem
com resolução radiométrica de 5 bits. (c) Imagem com resolução
radiométrica de 8 bits. (d) Imagem com resolução radiométrica de 11 bits.
FONTE: MELO, 2002.
(a) (b) (c)
(d)
2.2.1.3 Ângulo de abertura da câmera
O ângulo de abertura da câmera () é função da distância focal e do
tamanho do quadro da câmera. No caso das câmeras métricas
convencionais, como o quadro possui dimensão quadrada (23x23 cm), o
ângulo de cobertura é função apenas da distância focal.
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
60 Figura 2.13. Ângulo de abertura da câmera.
Para o cálculo do ângulo de abertura da câmera (), deve-se
considerar a diagonal do quadro e a distância focal da câmera, a saber:
)2
arctan(2f
d (2.6)
Onde,
22 2323 d
As câmeras fotogramétricas são classificadas como de ângulo
pequeno (10º - 20º) que possuem distância focal entre 610 a 915 mm, cuja
aplicação é mais usual para espionagem, fotointerpretação e geração de
mosaicos. Ângulo normal (50º - 75º) com distância focal variando de 210 à
300 mm, cuja aplicação é mais usual para mapeamento de áreas com
grande movimentação do terreno e geração de mosaicos. A grande
angular (85º - 95º) é a câmera mais utilizada para mapeamento, com
distância focal de aproximadamente 153 mm e a super grande angular
(110º - 130º) com distância focal de aproximadamente 88 mm, utilizada
para mapeamento de áreas com pequena movimentação do terreno
(terrenos planos).
O ângulo de abertura da câmera estabelece uma relação muito
importante na detecção de oclusões em imagens aéreas, pois quanto maior
o ângulo de abertura maior será a oclusão. A Figura 2.14 mostra uma
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
61 oclusão formada com uso de uma câmera com distância focal de 153 mm e
300 mm.
Figura 2.14. Ângulo de abertura da câmera. (a) Oclusão formada com uso
de uma câmera com distância focal de 153 mm. (b) Oclusão formada com
uso de uma câmera com distância focal de 300 mm. (c) e (d) triângulos
formados com cobertura fotogramétrica de 60% de sobreposição.
(a) (b)
(c) (d)
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
62 Na Figura 2.14 verifica-se que, ambas as fotografias foram obtidas na
mesma altura de voo. Porém, na Figura 2.14a tem-se uma imagem
adquirida com uma câmera grande angular (distância focal de 153 mm) e
na Figura 2.14b uma câmera ângulo normal (distância focal de 300 mm).
Percebe-se visualmente que a oclusão apresentada na Figura 2.14a é
maior que a apresentada na Figura 2.14b, fato explicado devido ao ângulo
de abertura característico de cada uma das câmeras utilizadas para o
recobrimento aéreo.
Uma vantagem em utilizar câmeras grande angular em relação ao
uso de câmera de ângulo normal é o menor custo do projeto,
conseqüência do menor número de fotografias a serem adquiridas para
recobrir o terreno, bem como melhor determinação da coordenada
altimétrica dos pontos, devido principalmente à possibilidade de formar
geometricamente um triângulo eqüilátero em relação à duas fotografias
consecutivas (Figura 2.14c). Uma desvantagem do uso de câmeras grande
angular é que o tamanho da oclusão obtida é maior que aquelas
propiciadas com câmeras ângulo normal (comparar as Figs. 2.14a e 2.14b).
Uma desvantagem do uso da câmera ângulo normal está na
impossibilidade de formar triângulos eqüiláteros para a determinação de
coordenadas altimétricas com melhor precisão.
Outros fatores causadores de oclusões são a altura da edificação, ou
seja, como pode ser visualizado na figura 2.15a e 2.15b, quanto maior a
altura da edificação maior a área de oclusão na imagem, e a altura de voo
(Figs. 2.15c, 2.15d).
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
63
Figura 2.15. (a) e (b) Oclusões provocadas pela altura da edificação. (c) e
(d) Oclusões provocadas pela altura de voo.
(a) (b)
(c) (d)
O ângulo de abertura da câmera também define a resolução espacial
da imagem. A seguir será apresentada a definição de resolução espacial de
imagens.
2.2.1.4 Resolução espacial de imagens
A resolução espacial de imagem é função do ângulo de abertura e
distância focal do sensor (câmera) e refere-se à capacidade do sensor
distinguir os objetos contidos na superfície. Para isto, é necessário definir a
área do campo de visada do detector, em determinado instante e altitude de
voo. O ângulo definido pela projeção geométrica do detector é denominado
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
64 de campo de visada instantânea (Instantaneous Field of View, IFOV), ou
seja, o IFOV define a porção do terreno que é focalizada pelo sensor a uma
dada altitude de voo. A Figura 2.16 ilustra o IFOV.
Figura 2.16. IFOV.
Onde,
G: porção do terreno focalizada pelo sensor.
Em uma imagem com resolução espacial de 20 m apenas objetos
maiores que 20 m poderão ser distinguidos na imagem e quanto menor o
IFOV melhor será a resolução espacial da imagem. Uma resolução espacial
de 5 m é melhor que uma resolução espacial de 20 m, pois objetos com 5 m
poderão ser distinguidos na imagem e, consequentemente, produtos com
maior nível de detalhes poderão ser gerados. A Figura 2.17 mostra um
veículo detectado por sensores com diferentes resoluções espaciais.
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
65 Figura 2.17. (a) Imagem com 1,6 m de resolução espacial. (b) Imagem com
0,2 m de resolução espacial. (c) Imagem com 0,1 m de resolução espacial.
(a) (b) (c)
Na Figura 2.17 pode ser verificado que, quanto melhor a resolução
espacial maior o nível de detalhes distinguidos na imagem. Em termos
gerais, as imagens adquiridas por câmeras métricas convencionais e por
câmeras digitais (ADS 40, por exemplo), bem como as imagens de satélites
geradas com informações advindas dos sensores acoplados nos satélites
Ikonos II (1 m) e GeoEyes I e II (0,60 e 0,30 m respectivamente) são
consideradas imagens de alta resolução espacial. As imagens de satélites
geradas com informações oriundas dos sensores acoplados no satélite
SPOT (resolução espacial melhor que 10 m) e outros de mesmo nível são
imagens de média resolução espacial. E, finalmente, as imagens Landsat
(resolução espacial melhor que 30 m) são imagens caracterizadas como de
baixa resolução espacial. A Figura 2.18 mostra as imagens consideradas de
alta, média e baixa resolução espacial.
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
66
Figura 2.18. (a) Imagem de alta resolução espacial. (b) Imagem de média
resolução espacial. (c) Imagem de baixa resolução espacial.
(a) (b)
(c)
As principais aplicações para imagens de alta resolução são
mapeamentos urbanos e rurais (cadastro, redes, planejamento,
telecomunicações, saneamento e transportes), mapeamentos básicos e
aplicações gerais em sistemas de informação geográfica, uso da Terra
(com ênfase em áreas urbanas), estudo de áreas verdes urbanas,
estimativas de colheitas e demarcação de propriedades rurais, laudos
periciais em questões ambientais. As principais aplicações para imagens de
média resolução são impacto das atividades humanas sobre o meio
Capítulo II
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67 ambiente, monitoramento de fenômenos naturais, acompanhamento do uso
agrícola das terras, apoio ao monitoramento de áreas de preservação,
atividades energético-mineradoras, cartografia e atualização de mapas,
desmatamentos, dinâmica de urbanização, estimativas de fitomassa,
monitoramento da cobertura vegetal, secas e inundações, sedimentos em
suspensão nos rios e estuários. E as principais aplicações para imagens de
baixa resolução são acompanhamento do uso agrícola de terras, apoio ao
monitoramento de áreas de preservação, atividades energético-
mineradoras, cartografia e atualização de mapas, desmatamentos,
detecção de invasões em áreas indígenas, dinâmica de urbanização,
estimativas de fitomassa, monitoramento da cobertura vegetal, queimadas
secas e inundações, sedimentos em suspensão nos rios e estuários.
Na Figura 2.18 podem ser visualizadas imagens aéreas adquiridas
por sensores acoplados em plataformas aéreas e orbitais. Os tipos de
imagens adquiridas dependem da plataforma, cujo sensor se encontra
acoplado.
2.3. Tipos de imagens ou fotografias
As imagens são de três tipos basicamente, a saber:
Terrestre;
Aérea; e
Orbital.
As imagens do primeiro tipo são tomadas com câmera acopladas em
algum tipo de suporte, tal como um tripé, cuja posição (X, Y, Z) e orientação
(, , ) da câmera são usualmente conhecidos. O Fototeodolito (Fig. 2.19)
é uma combinação de câmera com teodolito montados sobre um tripé, com
a finalidade de obter fotografias terrestres. Esses tipos de fotografias
possuem aplicações na automação industrial, no reconhecimento de
objetos à curta-distância, para restituição arquitetônica, para reconstrução
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
68 tridimensional de máquinas, navios, barcos, estruturas de grandes
construções, entre outras.
Figura 2.19. (a) Fototeodolito desenvolvido por Hugershoff. (b) CRC-1. (c)
INCA.
(a) (b)
(c)
O teodolito facilita o alinhamento da câmera por meio de um azimute
conhecido. Os tipos de aplicações mais comuns são reconstrução
tridimensional de objetos industriais, mapeamento móvel terrestre,
monitoramento de deformações estruturais etc. A Figura 2.20 apresenta
Capítulo II
Fotogrametria I (1ª. Edição 2009) última atualização 2014 Prof. Daniel Rodrigues dos Santos – Departamento de Geomática UFPR
69 uma imagem terrestre tomada com uma câmera digital não métrica de
pequeno formato.
FIGURA 2.20. Imagem tomada com câmera digital não métrica de pequeno
formato acoplada em um teodolito.
Outro tipo de câmera terrestre é a chamada câmera balística
(exemplo da qual é mostrado na Figura 2.21). Estas são câmeras grandes
montadas em terreno selecionado, com a finalidade de adquirir fotografias
da órbita de satélites artificiais, de forma que se tenha como apoio de
campo, para a orientação da câmera, as estrelas que compõem a abóbada
celeste. Esse tipo de câmera é muito utilizado para monitoramento das
placas tectônicas, cálculo de trajetória dos satélites, cálculo da dimensão,
forma e gravidade da Terra e determinação do movimento dos oceanos.
Capítulo II
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70
FIGURA 2.21. (a) Câmera Balística. (b) Processo de uso.
(a) (b)
A Figura 2.21b ilustra um exemplo de processo de uso da câmera
Balística para o cálculo da trajetória de um satélite. Neste caso, a posição
das estrelas fixadas na abobada celeste é determinada com uso de um
teodolito para serem utilizadas como apoio de campo no processo de
orientação das imagens. Várias imagens são adquiridas com a câmera
supracitada e, após o processo de orientação e retificação das imagens, é
calculada a trajetória do satélite observado. Na década de 70 este tipo de
câmera foi utilizado com a finalidade de se estabelecer uma rede de
trabalho mundial de pontos de controle e para determinar com precisão a
posição relativa dos continentes, ilhas oceânicas remotas etc.
Já as fotografias aéreas são usualmente classificadas como vertical,
obliqua e convergentes. As fotografias aéreas são consideradas verticais
quando o eixo ótico da câmera coincide com o nadir ou zênite do ponto. A
Figura 2.22 mostra uma situação ideal.
Capítulo II
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71 FIGURA 2.22. Situação ideal na tomada de fotografias ou imagens.
Fotografias verticais não são factíveis na prática devido à
instabilidade da aeronave (inclinação da câmera, rajada de vento entre
outros fatores), impedindo que o eixo da câmera seja coincidente com o
nadir. Ou seja, o eixo da câmera não é perfeitamente vertical no momento
da tomada da fotografia, de forma que o plano da fotografia não seja
paralelo à superfície de referância (por exemplo, o nível médio dos mares).
Desta forma, quando o eixo da câmera é levemente inclinado da vertical, as
fotografias são denominadas inclinadas. Porém, para fins práticos,
fotografias com inclinações ( e ) inferiores à 3º são consideradas
verticais. Fotografias com inclinação superior à 3º podem ser denominadas
como:
Fotografia aérea baixo obliqua; e
Fotografia aérea alto obliqua.
A fotografia obliqua é tomada com o eixo da câmera inclinado com
inclinação angular acima de 3º, onde nos casos em que se encontra o
horizonte são denominadas de alto obliqua (Fig. 2.23a) e em casos que não
se encontra o horizonte, são denominadas baixo obliqua (Fig. 2.23b). A
Figura 2.23 ilustra as orientações do eixo de uma câmera alto obliqua e
Capítulo II
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72 baixo obliqua, bem como um perfil de linhas do terreno para cada situação
descrita.
FIGURA 2.23. (a) Baixa obliqua. (b) Alta obliqua.
(a)
(b)
As fotografias aéreas convergentes são obtidas por meio de sistemas
que integram duas ou mais câmeras, cuja configuração proposta baseia-se
na configuração das câmeras de forma convergente, de tal forma que estas
registrem áreas subseqüentes da superfície física. O grupo de pesquisa em
fotogrametria da UNESP (Universidade Estadual Paulista) implementou um
sistema denominado SAAPI (Sistema Aerotransportado de Aquisição e Pós-
processamento de Imagens digitais) com as características supracitadas. A
Figura 2.24 apresenta o sistema de aquisição do SAAPI.
Capítulo II
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FIGURA 2.24. Sistema de aquisição do SAAPI. (a) Plataforma de coleta. (b)
Disposição das câmeras digitais. (c) Instalação do sistema na aeronave. (d)
Geometria das câmeras na plataforma de coleta. (e) Imagem retificada a
partir dos dados da plataforma.
FONTE: RUY, 2008.
(a) (b)
(c) (d)
Na Figura 2.24a, a plataforma de coleta é formada por duas câmeras
digitais de grande formato (Fig. 2.24b, 22 Megapixels), sistema de
georreferenciamento direto e unidades físicas de fixação e estabilização
dos equipamentos. Na Figura 2.24c é mostrada a instalação do sistema na
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74 aeronave e na Figura 2.24d a geometria das câmeras na plataforma de
coleta, ou seja, a forma como as imagens serão adquiridas.
É possível considerar também as fotografias chamadas espaciais,
utilizadas para exploração espacial. Estas fotografias são tomadas por
câmeras acopladas em aeronaves espaciais e satélites artificiais. O planeta
Marte, por exemplo, tem sido grande alvo de pesquisa e mapeamento dos
órgãos de mapeamento espacial da Europa e dos Estados Unidos da
América. Instrumentos de precisão foram desenvolvidos e fabricados para o
tratamento adequado deste tipo de situação sem perda de precisão nas
medidas efetuadas.
Para a aquisição de imagens ou fotografias é necessário realizar um
planejamento de voo minucioso, do qual é necessário estudar diversos
fatores, a saber:
definir o tipo de aeronave e câmera a ser utilizadas;
definir os equipamentos para execução do processo
fotogramétrico;
definir a escala da fotografia, a sobreposição longitudinal e
sobreposição lateral;
estudar a movimentação do terreno, comprimento e largura
da área a ser recoberta fotogrametricamente.
2.4. Estereoscopia e paralaxe
Estereoscopia é o termo dado para o seguinte fenômeno natural:
quando um indivíduo observa simultaneamente duas fotografias que
possuem a mesma cena tomada de pontos de vistas diferentes, pode-se
visualizar a cena tridimensionalmente. A visão estereoscópica ou binocular
é que permite a estereoscopia, ou seja, a visão binocular é requerida para
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75 medidas de profundidade pela estereoscopia. Dois princípios básicos estão
envolvidos em visão estereoscópica, isto é:
Fusão de imagens;
Ângulo de paralaxe ou ângulo paralático.
Para o entendimento do princípio da fusão de imagens, pode ser
realizada uma simples demonstração, no qual segura-se um objeto
qualquer (lápis, por exemplo), à uma certa distância da visão humana e
fixa-se a visão em um ponto de referência distante. Quando a visão não
está concentrada no objeto observe que, ter-se-á duas imagens deste
objeto (Fig. 2.25). A imagem da esquerda é formada pelo olho da direita e
conseqüentemente, a imagem da direita será formada pelo olho da
esquerda. A medida que a visão é concentrada no objeto de interesse
ocorre uma fusão das duas imagens formadas pelos olhos da direita e
esquerda do observador e o cérebro realiza um processo de fusão das
imagens, sendo possível aferir a profundidade ao qual o objeto encontra-se
do ponto de referência adotado e dos demais pontos de observação ao
redor do mesmo.
Figura 2.25. Convergência dos objetos
(FONTE: http://www.tecgraf.puc-rio.br/~abraposo).
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76 No segundo caso, os ângulos relativos entre as linhas de
convergência do ponto na cena e a distância entre os dois olhos (distância
interpupilar) são os fatores envolvidos na estereoscopia. A Figura 2.26
apresenta um esquema da definição apresentada.
Figura 2.26. Ângulos de paralaxe e distância interpupilar.
De acordo com a Figura 2.26, o ângulo entre as linhas direcionadas
de um ponto do objeto a para os olhos é a e do objeto b é b. Os dois
pontos são imageados em posições diferentes na porção sensitiva da retina
do sistema ocular. O cérebro interpreta a profundidade dos objetos por meio
da diferença entre os dois ângulos (a - b), subentendida pela distância
interpupilar (e) e forma uma construção espacial da cena em questão. Isto
fornece a impressão de uma distância d entre os dois objetos
(profundidade). Os ângulos a e b são denominados de ângulos de
paralaxe para os dois objetos.
b
a
b
b
d
e
O1 O2
D
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77 Considerando D a distância entre O1 e o objeto b tem-se que, quanto
melhor a relação e / D melhor será a geometria angular e
conseqüentemente mais preciso será a determinação da profundidade em
que se encontra o objeto. Na prática pode-se dizer que, quanto menor a
distância D pior a percepção de profundidade, ou seja, os triângulos
formados pela relação e / D são menos eqüiláteros e geometricamente
apresentam pior regularidade do polígono formado pelos lados do triângulo.
Sendo assim, não se tem mais uma figura de um triângulo eqüilátero (Fig.
2.27b). A Figura 2.27 mostra um esquema da relação e / D.
Figura 4.3. (a) Relação e / D para formação de triângulos eqüiláteros.
(b) Relação e / D de geometria fraca
cfg ; c=f=g ; ==
(a) (b)
Além da percepção estereoscópica a profundidade pode ser aferida
monoscópicamente, ou seja, com o uso de apenas um olho, por meio de
vários métodos:
Tamanho relativo dos objetos;
O1 O2
b
c f
g
O1 O2
b
c f
g
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78 Ocultação parcial dos objetos;
Sombras;
Variação da acomodação visual (focalizar objetos a
distâncias diferentes);
Perspectivas de linhas paralelas ou perpendiculares.
A visão estereoscópica permite aferir a profundidade com melhor
precisão e de forma mais completa, enquanto a visão monoscópica permite
determinar a profundidade, porém com pior precisão e de forma incompleta.
De acordo com o descrito anteriormente verifica-se que, a visão
estereoscópica é fundamental para a Fotogrametria, uma vez que permite a
visualização estéreo de um modelo fotogramétrico.
2.4.1 Relação convergência-acomadação
Ao longo dos anos a criatura sofre um processo relacional de
acomodação dos músculos do olho e da convergência do eixo ótico de cada
um dos olhos. Este processo faz com que muitas pessoas tenham
dificuldade em observar estereogramas à olho nu. No caso apresentado na
Figura 2.28 tem-se que, os pontos CP1 e CP2 são os centros perspectivos
localizados em cada olho, e é a distância interpupilar entre os centros
perspectivos e D é a distância entre o plano visual e um ponto A qualquer.
Ao observar o ponto A verifica-se que os músculos dos olhos da direita e da
esquerda giram, convergindo seus eixos óticos para o ponto de interesse
(A) e é formado um ângulo denominado de ângulo paralático ou ângulo de
convergência. Já a uma dada distância D’ a curvatura do cristalino será
diferente. Porém, pode-se determinar em ambos os casos uma primeira
aproximação da profundidade por meio de um processo denominado
convergência-acomodação.
Capítulo II
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Figura 2.28. (a) Relação convergência-acomodação. (b) Objetos
distantes; (c) Objetos próximos.
(a)
(b) (c)
O observador em O percebe que o objeto em P1 está mais próximo
de seus olhos, pois suas imagens P1’ e P1’’ apresentam uma distância
b
a
D
e
D’
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80 menor entre si, enquanto que o objeto em P2 está mais distante por
apresentar suas imagens P2’ e P2’’ mais distantes uma em relação à outra.
A Figura 2.29 apresenta uma noção de profundidade
Figura 2.29. Noção de profundidade.
(FONTE: TOMMASELLI, 2001)
2.4.2 Persistência visual
Impressionada a retina, a sensação reproduzida persiste até algum
tempo após ter cessado a excitação, tempo esse que varia de 1/30 a 1/50
segundo. Conseqüentemente, se as excitações se seguem com intervalos
menores do que esses (1/8 a 1/20), cada impressão encontra ainda a
anterior, à qual se pode ligar, dando-nos uma idéia de continuidade onde
realmente ela não existe, como sucede no projetor de cinema.
Devido a esse fenômeno, foi possível a criação da televisão, cujo
princípio de funcionamento é a exibição de sucessivas imagens
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81 ligeiramente diferentes criando uma sensação de movimento. A Figura 2.30
apresenta alguns exemplos práticos de persistência visual.
Figura 2.30. Persistência visual.
De acordo com a Figura 2.30, tem-se um desenho de um passarinho
de um lado da cartolina e do outro lado o desenho de uma gaiola (1). Se a
cartolina for anexada à um lápis (2) e girarmos com as palmas das mãos a
cartolina (3), teremos a impressão que o passarinho está preso dentro da
gaiola, isto acontece devido ao fenômeno da persistência visual.
2.4.3 Visão binocular
Cada olho humano forma a sua própria imagem, sendo a tarefa do
cérebro é a fundir as duas imagens e formar uma única imagem
tridimensional. Para que o cérebro possa realizar essa tarefa, os olhos
devem estar alinhados, movimentar-se juntos e produzir imagens de
tamanho e forma semelhantes. Quando não estão alinhados, os olhos são
forçados a trabalhar arduamente para produzir uma visão nítida, causando
freqüentemente fadiga visual e dores de cabeça.
Os predadores possuem um campo de visão menor, pois necessita
calcular com precisão a distância em que se encontram de suas presas, por
isso possuem os olhos alinhados na parte frontal da cabeça. Os animais
não predadores possuem os olhos alinhados nas laterais da cabeça,
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82 permitindo uma visão angular maior (acima de 180
0), no qual possibilita a
habilidade de perceber a presença dos predadores.
Figura 2.31. Visão binocular dos seres humanos e dos animais.
(FONTE: http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/snef/xvi/cd/)
2.4.4. Visão binocular
Um processo de observação estereoscópica sem o uso de qualquer
tipo de meio ótico artificial é o chamado estereograma artificial. Um
estereograma é uma técnica de ilusão de ótica, onde a partir de duas
imagens bidimensionais complementares, é possivel visualizar uma imagem
tridimensional utilizando técnicas especiais para isso. Basicamente deve-se
ver cada uma das duas imagens bidimensionais com um dos olhos,
gerando-se a ilusão da tridimensionalidade. Há anos, os estereogramas têm
Capítulo II
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83 sido feitos sobrepondo-se fotografias tomadas de ângulos ligeiramente
distintos. Atualmente voltaram à fama, graças aos RDS (Random Dot
Stereogram), criados com softwares específicos.Para conseguir enxergar
um estereograma, o principal é conhecer o resultado esperado. A idéia é
desfocar a vista da imagem, de maneira que ambas as perspectivas sejam
captadas. Alguns recomendam olhar o infinito, ou seja, fitar a vista num
objeto distante e, sem desfocar, voltar a olhar a imagem. Outros preferem
fitar a visão em um dedo sobre a imagem e lentamente retirá-lo, ou
observar o reflexo da imagem num vidro, ou olhar a imagem bem de perto
e, mantendo o foco, ir afastando a cabeça, de forma que o foco saia do
papel até encontrar o ponto ideal. Depende de cada pessoa e sua condição
visual. A Figura 2.32 mostra um estereograma artificial.
Figura 2.32. Estereograma artificial.
Proporcionam uma visão confortável do estereopar, pois focaliza as
imagens como se estivesse no infinito, além permitir que o observador
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84 ajuste a distância interpupilar das lentes. A Figura 2.33 apresenta o
esquema básico de um estereoscópio de bolso.
Figura 2.33. (a) Estereoscópio de bolso. (b) Esquema básico
(FONTE: www.tecgraf.puc-rio.br/~abraposo/pubs/livro_pre_svr2004)
De acordo com TOMMASELLI (2001), o estereoscópio de espelhos é
um pouco mais complexo que o estereoscópio de bolso e procura eliminar
vários dos seus incovenientes. A Figura 2.34 mostra um estereoscópio de
espelhos.
Capítulo II
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85
Figura 2.34. Estereoscópio de espelhos.
O estereoscópio de espelhos é composto de espelhos e lentes que
direcionam os raios de luz das fotos até os olhos do observador. As lentes
tornam os raios luminosos provenientes das fotos paralelos. Existem dois
espelhos maiores que estão nas laterais externas do estereoscópio e dois
espelhos menores internos. Dois pares de lentes forçam a focalização no
infinito e duas oculares adicionais permitem a ampliação de até 8 vezes,
facilitando, ainda, a acomodação visual para cada observador, sem a
necessidade do uso de óculos. As oculares podem ser ligeiramente
aproximadas ou afastadas para acomodar diferentes distâncias
interpupilares. Sem as oculares é possível ter uma visão completa do
estereomodelo, o que não acontece com a observação com estereoscópio
de bolso. Com as oculares observam-se partes específicas do modelo,
graças à ampliação das lentes, devendo-se movimentar o estereoscópio em
x e y para “navegar” sobre ele. Esta ampliação é particularmente útil em
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86 Fotointerpretação e para a extração de medidas estereoscópicas com a
marca flutuante.
Na Figura 2.35 os raios refletidos pelas fotos são refletidos
novamente pelos espelhos até atingir os olhos, simulando a sensação de
observar os pontos A e B com ângulos paraláticos A e B, como se os
pontos estivessem bem abaixo do plano de observação.
Este tipo de estereoscópio permite que as fotos estejam
completamente separadas, o que elimina o problema de áreas escondidas
pela sobreposição de fotos.
Por outro lado, seu custo é bem maior que o de um estereoscópio de
bolso, não tão portátil (embora existam modelos de estereoscópio de
espelho portáteis) e sua manutenção é mais delicada. Os espelhos internos
não devem ser tocados, pois a sujeira e os ácidos graxos presentes no suor
oxidam o material que reveste o espelho. Outro problema com os
estereoscópios de espelhos é a perda de iluminação, devido ao número de
componentes óticos, requerendo uma iluminação auxiliar.
Figura 2.35. Esquema de um estereoscópio de espelhos.
Capítulo II
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87 Outros tipos de processos de visualização estereoscópica são:
Anaglifo;
Polarização da luz;
Óculos obturadores sincronizados;
Efeito pulfrich;
Estéreo por disparidade cromática;
Display autoestereoscópico;
Etc.
O termo paralaxe é aplicado ao movimento da imagem de um objeto
estacionário em relação à imagem de seu homólogo (correspondente),
quando o ponto de observação é distinto. Um exemplo muito comum de
paralaxe em Fotogrametria é o movimento relativo dos objetos na tomada
de fotografias com centros de perspectivas diferentes.
Em um dado intervalo de tempo, os objetos mais próximos do centro
perspectivo ou estação de exposição (objetos mais altos, tais como, topos
de edificações etc), aparecerão com um deslocamento maior de uma
imagem para outra, em relação aos objetos mais distantes (base das
edificações, por exemplo), ou seja, quanto maior a distância entre os
objetos em ambas as imagens, maior a paralaxe. A Figura 2.36 apresenta
um esquema gráfico da noção de paralaxe.
Capítulo II
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88
Figura 2.36. Esquema da noção de paralaxe.
(a) (b)
Na Figura 2.36, dois pontos E e G na superfície física da Terra foram
imageados em e e g na fotografia da esquerda e direita, respectivamente.
Seus pontos homólogos foram imageados em e’ e g’ também nas
fotografias da esquerda e direita. Pelo fato que, o ponto G ser de maior
altitude (Fig. 2.36a), conseqüentemente sua paralaxe será maior (Fig.
2.36b). Ou seja, quanto maior a altitude do ponto, maior sua paralaxe. No
caso de pontos de mesma altitude, a paralaxe de ambos os pontos serão as
mesmas.
Na Figura 2.36b, as fotografias são sobrepostas com a finalidade de
mostrar a situação dos pontos em fotos sucessivas. A paralaxe dos pontos
e e g são medidas paralelamente à linha de vôo e não em relação ao
sistema fiducial. Com a análise visual da Figura 2.36b pode-se concluir que:
E
e e’
G
g g
’
CP
1
CP
2
CP1 / CP2
g’ g e’ e
xg’ xg
Pg
xe
xe’
Pe
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89
'
'' )(
ggG
eeeeE
xxP
xxxxP
(2.7)
De acordo com o descrito anteriormente, deve-se ressaltar que cada
fotografia possui um sistema de coordenadas arbitrário próprio e devem ser
materializados em coincidência com a linha de voo para possibilitar a
medida das fotocoordenadas.