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ARQUEOLOGÍA ARGENTINA EN LOS INICIOS DE UN NUEVO SIGLO 371 Capítulo XXVI DESCUBRIENDO EL PATRIMONIO SUBACUÁTICO EN AMÉRICA DEL SUR

Capítulo XXVI - UFS

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ARQUEOLOGÍA ARGENTINA EN LOS INICIOS DE UN NUEVO SIGLO 371

CapítuloXXVI

DESCUBRIENDO EL PATRIMONIOSUBACUÁTICO EN AMÉRICA DEL SUR

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A APLICAÇÃO DE MÉTODOS GEOFÍSICOS NA ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA: O EXEMPLO DA

FORTIFICAÇÃO DA PONTA DA TRINCHEIRA,ILHA COMPRIDA, SP, BRASIL.

Paulo Fernando Bava de Camargo*; ProF. dr. FranCisCo Yukio Hiodo**y FaBio Hideaki sHiBata***

Introdução

o presente trabalho enquadra-se na pesquisa de mestrado de Paulo F. B. de Camargo intitulada Arqueologia das fortificações oitocentistas da planície costeira Cananéia/ Iguape, SP1 e no trabalho de graduação individual de Fábio H. Shibata, Desenvolvimento de um magnetômetro fluxgate de núcleo toroidal do tipo gradiométrico para a detecção de alvos rasos2.

Os objetivos da pesquisa de mestrado são os de definir as características do subsistema defensivo da planície costeira Cananéia Iguape, no litoral sul do Estado de São Paulo e comparar com as características dos outros subsistemas do litoral paulista, gerando uma interpretação sobre o contexto sócio-político do Estado durante século 19.

O desenvolvimento dessa pesquisa deu-se primeiramente através do levantamento de vasta do-cumentação escrita primária, espalhada por diversos arquivos do país3, gerando um corpo documental que contraposto à documentação escrita secundária proporcionou a formulação de um contexto sócio-histórico mais adequado para o entendimento da evolução do sistema defensivo paulista, bem como de seus diversos subsistemas.

Num segundo momento foram localizados e mapeados vestígios de fortificações e peças de artilharia espalhadas ao longo do litoral do Estado de São Paulo, compondo assim o nosso referencial material por excelência.

A sistematização dos dados dessas duas etapas revelou que a peça chave para a formulação de uma história do subsistema defensivo do litoral sul paulista imbricada com a arqueologia é a fortificação da ponta da Trincheira, barra de Cananéia, no município de Ilha Comprida, justamente a fortificação que hoje se encontra submersa. Tal fato nos levou a dar grande ênfase nas prospecções subaquáticas e ao desenvolvimento de meios geofísicos apropriados ao ambiente aquático, fato inédito no país.

Dados históricos da fortificação da ponta da Trincheira

A fortificação da ponta da Trincheira já foi conhecida como Bateria da Barra, Trincheira da Barra, ou Forte do Bicho, só para citar os nomes mais conhecidos. Apesar dos primeiros planos para a construção de um baluarte no local serem de 18204, os canhões5 foram levados para Cananéia em 1822 (Almeida, 1962:

* Bolsista FAPESP. Mestrando em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) - Universidade de São Paulo (USP).

** Pesquisador do Laboratório de Instrumentação Geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) – USP.

*** Aluno de graduação do Curso do IAG-USP.

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212-213) e a construção da fortificação deu-se somente entre 1824 e 18256. Em 1828, com o recrudescimento das lutas no Uruguai e na Argentina, os edifícios da fortificação sofrem algumas efêmeras intervenções7.

Entre 1834-1835 ela sofreu algumas reformas e a reedificação de parte de sua estrutura, destruída pelo clima e pela erosão causada pelo mar8.

Entre 1839-1840, por ocasião da tomada de Laguna, SC (1839), episódio decisivo da guerra dos Farrapos (1835-1845), a fortificação foi inteiramente reconstruída9, o que consideramos uma segunda fase da mesma.

Nos anos de 1855-1856 ela serviu para o isolamento dos possíveis doentes de cólera que chegassem do Rio de Janeiro, demandando mais algumas reformas nos edifícios da fortificação10.

Em 1867, temos notícias de que as edificações estavam arruinadas, restando somente as peças de artilharia (Almeida, 1962: 212-213).

Finalmente, em 1897, apenas um dos canhões estava fora da água (dois já haviam submergido e três foram transportados para Cananéia).

As prospecções arqueológicas subaquáticas

Com a evolução do levantamento bibliográfico e dos trabalhos de campo, várias informações foram colhidas, influenciando, de diferentes maneiras, as estratégias de intervenção. Outro fator que pesa sobremaneira no desenvolvimento da pesquisa é a melhor compreensão da dinâmica do mar e do clima da região que, por várias vezes, impossibilitaram a realização das pesquisas.

O que pretendemos apresentar aqui é um quadro mais bem definido do desenrolar da pesquisa até agora, além de esboçarmos as formas de intervenção futuras, as quais estão alicerçadas no conhecimento adquirido e nas bem sucedidas leituras geofísicas do sítio, realizadas nas últimas etapas de campo.

Quando o projeto de mestrado desta pesquisa foi elaborado, tínhamos a idéia de que a fortificação da ponta da Trincheira, na barra de Cananéia, estivesse submersa e localizada em qualquer parte da referida localidade.

“Em janeiro/ fevereiro de 2000, optou-se pela técnica [de pesquisa] que até então havia sido utilizada nos sítios abordados pela dissertação de Gilson Rambelli (1998): a partir de um local seco, próximo ao sítio submerso, estendia-se uma linha até um ponto qualquer, já dentro do sítio ou na área de maior concentração de vestígios. Dessa linha base, construíam-se triângulos eqüilaterais (...), os quais permitiam posicionar os artefatos arqueológicos com precisão, além de possibilitarem uma expansão infinita da extensão da marcação do sítio, se este assim a demandasse.

Entretanto, após algumas tentativas malsucedidas, devidas (1) às correntes, (2) à profundidade, (3) ao tráfego marítimo, (4) à atividade pesqueira, a qual envolve o arrasto de redes que podem enganchar-se em eventuais marcações (estacas) no fundo do mar e (5) à suposta distância do local da fortificação da praia - segundo fontes locais, ela estaria a mais de 300 metros de distância da praia -, resolveu-se optar por outra forma de investigação” (Primeiro Relatório, 2000).

Deparamo-nos, então, pela primeira vez, com as inóspitas características físicas da barra: pouca visibilidade, fortes correntes e grandes profundidades. Tais fatores forçaram-nos a procurar fontes de informações que pudessem precisar a localização dos vestígios.

Tomamos contato, então, com o relato popular, narrado por jovens, adultos e anciãos que dizia que os moradores da ilha Comprida e da ilha do Cardoso, naquele ponto, conseguiam comunicar-se “de boca”.

Outra informação intrigante, obtida através de conversas com o sr. Hélio pintor de barcos e mergulhador, vinha também na forma de relato, só que pessoal.

Por algumas vezes havia mergulhado o senhor Hélio no canal da barra, contratado por pescadores para desenroscar redes de pesca de “alguma coisa”, segundo suas próprias palavras, que obstruía o fundo do canal. O mergulhador não soube nos explicar o que tal “coisa” era, mas disse que ela está situada da metade do canal para a ilha do Cardoso. Quanto à possibilidade desse enrosco ser uma embarcação moderna, ou mesmo antiga, é bem pouco provável, uma vez que o referido mergulhador trabalha no ramo náutico e conhece bastante a anatomia de embarcações recentes e antigas, tendo, anteriormente, identificado os restos de uma embarcação naufragada, situada próxima ao sítio Cananéia 1.

De posse dessas informações orais e de documentação primária escrita conseguida em arquivos

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de S. Paulo, Santos e Rio de Janeiro, planejamos os mergulhos da campanha de julho de 2000.Com uma embarcação munida de um eco-batímetro comum (utilizado por embarcações pesqueiras),

começamos a detectar os pontos de maior profundidade do canal da barra que apresentassem anomalias de relevo no visor da sonda, indicando possíveis vestígios afundados.

“Colocamos, então, bóias de marcação para realizar prospecções subaquáticas que descrevem movimentos pendulares e circulares, as quais obrigam o mergulhador a girar em torno de um mesmo eixo, a partir de distâncias que vão sendo gradativamente amplia-das. No caso dos três canhões que, segundo relatos da época, foram engolidos pelo mar (Almeida, 1962) estarem cobertos pela areia do fundo do canal, utilizou-se um detector de metais próprio para prospecções subaquáticas” (Primeiro Relatório, 2000).

Uma vez mais encontramos dificuldades ambientais.Quanto à sinalização dos pontos nos quais foram detectadas anomalias no solo marinho, ela

tornou-se precária uma vez que as bóias lançadas da embarcação não resistiram às fortes correntes ou aos propulsores dos barcos que trafegam pelo canal, sendo levadas para longe.

Os mergulhos, então, foram baseados nas leituras feitas por GPS, aparelho que registra as coor-denadas de posicionamento de um determinado local com alguma margem de erro, o que, no caso dessa pesquisa, é intolerável, uma vez que não temos visibilidade embaixo d’água para buscarmos vestígios dispersos ou eventuais pontos de referência.

Tendo chegado ao fundo do canal, percebemos outro aspecto da dinâmica marinha do local: na mudança da maré ocorre um descompasso entre as correntes do fundo e de superfície; enquanto as águas de superfície podem estar paradas, as do fundo ainda correm, e vice-versa, forçando o mergulhador a um maior desgaste, e diminuindo o tempo de fundo. Outro contratempo causado pelo constante fluxo de água é a impossibilidade fazer uso de bússola, lanterna, detector de metais e manusear a carretilha ao mesmo tempo.

Por fim, outro limitador de tempo de fundo é a temperatura da água no outono e no inverno. Se, na superfície da água temos a temperatura de 20ºC, é certo que, aos 20m teremos por volta de 15ºC, o que não chega a ser, para arqueólogos-mergulhadores que especializaram-se na Europa e que têm equi-pamentos próprios para águas de temperatura normal11, empecilho para a realização do trabalho, mas demanda um maior consumo de ar.

Levando em consideração todos esses fatores, temos de 20 a 25 minutos de fundo, tempo insignificante para uma prospecção detalhada do fundo marinho, dadas as condições já expostas.

Optamos, então, por investir nas leituras geofísicas, as quais diminuiriam nossa área de pesquisa.

Os resultados das prospecções geofísicas subaquáticas

O detector de metais por batimento

A fortificação da ponta da Trincheira, a obra defensiva de maior peso na planície costeira Cana-néia/ Iguape, segundo a documentação escrita primária não passava de uma trincheira, uma fortificação muito simples, sem grandes edificações erguidas para sua operação. Nem sequer podemos dizer que ela tenha possuído uma muralha, por mais efêmera que fosse.

Os únicos vestígios seguros dessa fortificação eram seus canhões, no total de 6. Apesar de, em fins do século 19, três deles terem sido transportados para a cidade de Cananéia, três deles permaneceram na ponta da Trincheira, e acabaram submersos, ainda em fins do 19.

Dessa maneira dispúnhamos de três artefatos de ferro de pouco mais de 2m, com massa girando em torno de 1,5 toneladas, que indicariam a localização da fortificação.

Para a etapa de dezembro de 2000 dispúnhamos apenas do detector de metais por batimento de fre-qüência com pouca penetração, mas contávamos com a experiência adquirida nas outras fases do trabalho de campo além de um grande acúmulo de documentação escrita primária que começava a ser processada.

Através da organização do corpo documental percebemos que a fortificação da ponta da Trincheira teve várias edificações, seja pela melhoria gradual dos equipamentos, seja para escapar da erosão das margens do canal, que já era bastante conhecida na época. Sendo assim, a fortificação teria sido construída e reconstruída numa área bastante ampla, o que obrigar-nos-ia a prospectar boa porção do fundo marinho, algo em torno de 2 km².

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Voltamo-nos, então, para uma técnica que já havia sido utilizada, sem sucesso, em julho de 2000: a prospecção em círculos concêntricos (Rambelli, 1998: 55). Só que dessa vez o pêndulo seria efetuado em uma única direção, com o auxílio das correntes marinhas.

Com um cabo de 200m fixado em uma estaca na ponta da Trincheira, dois mergulhadores entrariam na água 200m a leste da estaca, nadariam contra a corrente em direção ao meio do canal e retornariam à praia 200m a oeste da estaca, mantendo o cabo firmemente estendido, aproveitando a força da correnteza, descrevendo, assim, um semi-círculo. No trajeto eles teriam a oportunidade de prospectar o solo marinho com o detector de metais.

Tal iniciativa não deu certo pois os mergulhadores não conseguiram vencer a força da correnteza, no trajeto em direção ao meio do canal.

Tentamos outra vez, só que agora um barco levaria os mergulhadores, pela superfície, os duzentos metros demarcados pelo cabo até o meio do canal. Quando o último estivesse totalmente esticado, os mergulhadores lançar-se-iam e seriam levados novamente à praia num ponto mais distante que o inicial, a oeste da estaca, descrevendo um quarto de círculo.

Esse procedimento revelou-se mais adequado, mas, ainda assim, não surtiu os efeitos desejados, pois a volta dos mergulhadores não obedeceu o trajeto definido pelo cabo.

A etapa de dezembro, apesar de interrompida pela entrada de uma forte frente fria e pela quebra do detector de metais, estimulou-nos a procurar, ainda mais fortemente, os meios geofísicos de prospecção, além de buscar o apoio da oceanografia para a compreensão da dinâmica marinha.

“Em artigo de 1983, Suguio e Tessler (apud Callipo, 2001) colocam que, durante a transgressão holocênica poderia ter-se formado um paleovale, hoje submerso, na área do canal da barra de Cananéia o que garantiria que, até hoje, o referido canal mantivesse pro-fundidades em torno de 20 metros. Tal consideração leva a crer que a fortificação não estaria submersa no canal, uma vez que ele demonstrou ser bastante estável. Partes dela lá estariam se, de alguma forma, elas tivessem rolado para lá. Se isso ocorresse, esses elementos não estariam recobertos por sedimentos, pois o canal só transporta matéria em suspensão, não possibilitando a sedimentação no fundo do mesmo (Tessler, 2001, com. pes.).

‘Apesar desta estabilidade do canal, a ação das correntes de maré vazante e en-chente, e a ação local das correntes geradas pela incidência de ondas provenientes de S-SE e E, tendem a erodir as margens do canal. Além de uma reorientação para NW, a interação entre estes agentes gera um retrabalhamento das feições arenosas adjacentes ao canal.

Nesta região, como resultado da interação entre as correntes de maré, as correntes de deriva litorânea e as ondas, desenvolvem-se bancos submersos, paralelos à linha de costa, formados pelos sedimentos arenosos carreados pela maré vazante. Estes bancos expandem-se mantendo seu perfil de equilíbrio instável, até o nível de agregação máximo, quando então passam a ser erodidos pelos mesmos processos hidrodinâmicos costeiros que haviam gerado sua agregação.’ (Suguio e Tessler, 1983; Tessler et al., 1990 apud Callipo, 2001).

Essa é uma das explicações para o fato da trincheira ainda não ter sido descoberta. Os restos da mesma estariam sob os bancos arenosos formados entre a linha de costa e o canal. Entretanto, devido ao equilíbrio instável dos mesmos e a falta de evidências que indiquem o preciso local de instalação da trincheira, é difícil dizer onde esses restos encontrar-se-iam. Então, para a sua localização, são indispensáveis os meios geofísicos de prospecção” (Segundo Relatório, 2001).

A nova hipótese de trabalho, além de contradizer as informações outrora obtidas, trazia a possibilidade de que os restos da fortificação pudessem estar enterrados numa interface entre terras emersas e submersas, o que vale dizer que teríamos que ampliar nossas pesquisas para a praia da ponta da Trincheira.

O convênio com o IAG-USP

Para lidar com o ambiente imerso, pretendíamos trabalhar em conjunto com o IAG-USP que,

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através do prof. Dr. Francisco Y. Hiodo estava desenvolvendo um magnetômetro gradiométrico12 que pudesse ser utilizado em ambiente subaquático.

Quanto ao levantamento da parte emersa, este seria realizado pela equipe do prof. Dr. Carlos Mendonça, através da medição da eletroresistividade13 do solo da praia, para a identificação dos alicerces, baldrames e fundações dos edifícios da fortificação, pois o magnetômetro não serviria para identificar essas estruturas.

Em um segundo momento, seriam realizadas leituras da eletroresistividade do solo marinho através de uma sonda, normalmente utilizada para poços, visando identificar os restos construídos não ferrosos que estivessem submersos. Mas essa etapa talvez nem mesmo ocorresse uma vez que a sonda, um tubo de 1 m de comprimento, teria que ser puxada por um cabo do fundo do canal para a praia, sem o auxílio de mergulhadores14, uma tarefa que dificilmente seria realizada na turbulenta ponta da Trincheira. A realização desse tipo de medição dependeria de um sistema de arrasto da sonda desenvolvido para aquele ambiente.

Infelizmente, por razões alheias à arqueologia, não foi possível, até presente momento, realizar o levantamento na praia da ponta da Trincheira. Entretanto, grandes progressos foram feitos nas leituras geofísicas subaquáticas, o que levou à reformulação das hipóteses de pesquisa que, por sua vez, hoje determinam as intervenções subaquáticas na ponta da Trincheira.

O magnetômetro gradiômetro subaquático

O magnetômetro tem sido usado, na arqueologia anglo-saxônica, desde a década de 1950, de forma que, hoje, ele faz parte da “caixa de ferramentas” do arqueólogo contemporâneo, poupando tempo e dinheiro (Silliman et al., 2000: 89). Seu uso na arqueologia subaquática remonta a meados da década de 1960 (Arnold III & Clausen, 1975: 26).

Na arqueologia brasileira de contextos emersos o uso sistemático é algo bem mais recente, começando nos últimos anos do século passado15. Na arqueologia subaquática brasileira, este é o primeiro trabalho sistemático e científico que envolve a magnetometria.

O prof. Hiodo vem desenvolvendo, desde o final de 2000, um magnetômetro de precessão tipo Overhauser, gradiométrico, de altíssima sensibilidade e reprodutibilidade (da ordem de 0,1 nano Tesla [nT]), adaptado em um “torpedo” estanque, próprio para a utilização em ambientes subaquáticos, que pode fazer leituras contínuas se arrastado próximo ao solo marinho e rebocado por um barco de pequenas proporções.

O detector de metais por batimento - que é um tipo manual de magnetômetro, já utilizado pela equipe de arqueologia subaquática - precisa ser arrastado por mergulhadores logo acima da superfície

s Figura 1. Gradiómetro desenvolvido pela equipe do prof. Hiodo. oto: Paulo F. Bava de Camargo (P.F.B.C.)

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do solo marinho e pode detectar alvos ferrosos enterrados a pouco mais de 1 metro de profundidade. O magnetômetro gradiométrico, além da vantagem de poder realizar medições contínuas sem o auxílio de mergulhadores, possui grande poder de penetração, detectando o campo magnético de alvos ferrosos enterrados a até 5 metros de profundidade (fig. 1).

As primeiras leituras com o gradiômetro foram realizadas entre os dias 23 e 25 de maio deste ano. Nos primeiros dois dias foram efetuados testes e ajustes no aparelho, primeiramente no local da pesquisa (fig. 2); num segundo momento o aparelho foi descido sobre o sítio de naufrágio Cananéia 1, constituído por diversos vestígios de ferro de uma embarcação a vapor do século 19. O medidor acusou a presença do campo magnético da massa ferrosa. Tínhamos, então, certeza que o aparelho estava funcionando.

Apenas no terceiro dia fizemos leituras sistemáticas da área imersa da ponta da Trincheira, obtendo

leituras significativas, resultantes da detecção de campos magnéticos ao longo da parte mais profunda do canal da barra de Cananéia.

Inúmeros problemas logísticos apresentavam-se para a utilização do aparelho.O primeiro deles relaciona-se ao tempo de trabalho disponível.Uma vez que a correnteza é muito forte no canal da barra de Cananéia, geralmente dispomos de,

no máximo, 2 horas de trabalho no mar, seja para o mergulho, seja para a navegação de prospecção. Essas 2 horas correspondem ao estofo da maré, momento de inflexão entre a preamar e a vazante. Fora desse curto período, é praticamente impossível estabilizar o barco em uma posição, salvo em alguns dias durante as marés das fases lunares quarto crescente ou quarto minguante, ocasiões em que a diferença entre a maré alta e a maré baixa não passa de alguns poucos centímetros (Harari & Mesquita: 1999).

O posicionamento da embarcação e, por conseqüência, do “torpedo”, também constituíam grave problema.

Figura 2. Testes preliminaresfeitos a partir do barco Tritão do Parque Estadualda Ilha do Cardoso.Foto: G. Rambelli.

s

Figura 3. Teodolito condistanciômetro, balisae embarcaçao alinhados.Foto: PFBC.

s

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Duas soluções foram aventadas. A primeira delas consistia na utilização de dois DGPSs (GPS diferencial), aparelhos que, combinados, proporcionam precisão milimétrica no posicionamento de um objeto. Entretanto, a indisponibilidade desses equipamentos fez com que adotássemos um teodolito com distanciômetro Wild/ Zeiss (alcance de 7 km com precisão de 10 mm) para posicionarmos a embarcação em relação à praia (fig. 3). Mais tarde o prof. Hiodo constatou que o uso DGPS não teria sido a melhor opção, uma vez que, para o aparelho adquirir os sinais necessários, devemos permanecer surtos no mesmo ponto por alguns minutos, ação impossível em mar normalmente turbulento (com. pes., 2001). Em recente trabalho realizado pelo INA, o DGPS forneceu coordenadas com margem de erro de 3m (Arnold III, 1999: 138).

Uma outra opção de posicionamento é o uso de sinais de rádio. Dois emissores são posicionados em local emerso próximo à área de prospecção, um de cada lado da linha que será seguida pela embarcação de pesquisa. Na dita embarcação é instalado um receptor com duas luzes: uma para a correção do rumo

à direita, outra à esquerda. Se a embarcação desviar-se de sua trilha, situada na zona de sombra entre os dois sinais, a interferência fará com que uma das luzes se acenda, obrigando o piloto a corrigir o rumo. Esse tipo de posicionamento, simples e eficiente, foi utilizado nas prospecções do golfo de Galveston, Texas, EUA, no início dos anos 1980. Apesar de simples, não houve tempo hábil para o desenvolvimento desses aparelhos pelo Laboratório de Geofísica Aplicada (Arnold III, 1987).

Uma vez solucionado o problema do posicionamento do barco e do “torpedo” na área de prospecção, deparamo-nos com a impossibilidade de arrastar o torpedo ligeiramente acima do solo marinho. Como a força desenvolvida pelas embarcações disponíveis era muito grande, o “torpedo”, ao ser puxado, tendia a flutuar, comportando-se como um esqui.

Para sanar esse problema optamos por fazer as medidas pontualmente: o topógrafo estabelecido na

s Figura 4

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Tabela 1 - Ponta da Trincheira, I. Comprida, SP - Prospecção geofísica Magnetômetro - 25/05/2001

Distância da praia (m) Profundidade (m)

Valor daanomalia*

Coordenadas Observações

70m114,110 5,0 0162,064 5,0 0182,396 6,2 10232,205 6,2 10243,985 9,4 -5305,913 15,0 15354,190 17,2 10404,122 18,8 20451,886 20,0 20493,135 21,2 15509,272 21,2 -40 Medição obtida 2

vezes564,417 20,0 20591,174 18,8 5637,478 18,8 0680,690 17,0 10726,198 13,8 -5760,378 12,6 -5808,347 12,0 0861,949 10,0 -5921,463 10,0 -5

80m86,400 5,00 5

126,277 5,00 10163,607 5,00 10201,872 5,60 -10232,125 6,00 -10265,504 8,00 -10297,404 10,60 -5331,902 14,80 0365,864 16,20 20385,635 17,60 30411,943 18,20 10429,449 20,00 20462,267 18,20 -5485,353 20,00 -5

513,675entre

528,93120,60

S25o03’34.1’’W047o54’53.8’’ Estourou escala

90m332,210353,867 17,60 10

269,756 18,20 30/40 S25o03’30.1’’W047o54’51.6’’

*Valores ainda não convertidos para nano Tesla.

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praia determinaria linhas virtuais, perpendiculares a linhas materializadas na praia (que acompanhavam o comprimento da última), em pontos materializados a cada 10 m na linha da praia. A embarcação, então, seguiria no rumo determinado, parando de 10 em 10 m no eixo das linhas virtuais para que o torpedo fosse descido até o fundo do mar. Tal estratégia funcionou, exceto pelo intervalo espacial de uma medição à outra: é praticamente impossível fazer com que o barco pare a distâncias tão regulares como 10, 20, 30...490, 500, 510 m. Sendo assim, contando com a habilidade do barqueiro, foi apenas possível manter o barco nas linhas perpendiculares à praia – as medições foram efetuadas em distâncias aleatórias.

Os resultados foram excelentes, como pode ser visto na tabela 1 e na figura 4. Nas 3 linhas que foram percorridas, percebemos anomalias nas partes mais profundas do canal, a mais ou menos 500 m da praia, nas linhas de 70 m e de 80 m, e a mais ou menos 300 m na linha de 90 m.

No entanto, tais resultados colocaram novos parâmetros para as buscas.Em uma das saídas para teste, efetuadas também na ponta da Trincheira, jogamos o “torpedo”

em um ponto situado no meio do canal, com mais de 15 m de profundidade. O aparelho acusou uma anomalia derivada da detecção de um campo magnético. As coordenadas do ponto foram então tomadas provisoriamente com o GPS. Ao retornarmos à praia, a equipe que lá ficara informou-nos que um antigo morador da região havia aparecido por lá e comentado sobre o processo de erosão da ponta, que sempre foi muito forte. Ao ser interpelado sobre onde era, antigamente, a praia, respondeu que ela situava-se exatamente onde estávamos com o barco. Juntando este relato com a anomalia detectada, todas as outras informações derivadas do relato do sr. Hélio e da história popular vieram à tona, e finalmente nos convencemos de que os vestígios principais da antiga fortificação - a saber, os canhões - só poderiam estar bastante afastados da praia atual. Além disso, demo-nos conta de que dados obtidos através da oceanografia deveriam ser mais bem trabalhados, pois seria justamente na contraposição dos dados científicos com os relatos e com a documentação escrita e gráfica que seriam extraídas as informações sobre a localização dos restos da fortificação e a respeito dos fenômenos físicos que ocasionaram a destruição da mesma.

O uso do sonar de varredura lateral

Para consolidar os resultados obtidos com o gradiômetro necessitávamos de outro método de prospecção do ambiente aquático. Foram iniciadas, então, a partir de janeiro de 2001, conversações com o prof. Dr. Moysés Tessler.

O prof. Tessler, muito interessado na problemática levantada, indicou-nos o doutorando Luiz Antonio Pereira de Souza, seu orientando e funcionário do IPT, para que pudéssemos combinar com ele leituras do solo marinho através de sonar de varredura lateral16 (fig. 5).

A emissão de pulsos sonoros para a detecção de alvos submersos ou determinação do relevo

Figura 5. Esquema defuncionamiento do side scan(adaptado de Rambell, 1998:60)

s

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marinho vem sendo usada desde a Segunda Guerra Mundial. Na arqueologia o uso dessa tecnologia remonta meados da década de 70 do século passado.

O sonar de varredura lateral é um aparelho que, através da emissão de pulsos sonoros por um “torpedo” usualmente denominado “peixe”, pode produzir imagens pictóricas do fundo oceânico (uma

Figura 6. Mapa do Estado deSão Paulo mostrando a localiçao da planície costeira Cananéia/Iguape.

s

s Figura 7

s Figura 8

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ARQUEOLOGÍA ARGENTINA EN LOS INICIOS DE UN NUEVO SIGLO 383

s Figura 7, 8 y 9. Mapas mostrando a área de pesquisa e o registro gráfico dos pontos obtidos como DGPS durante os prospesoes realizadas no dia 07/08/2001 com as anomalias. A seta amarela corres-ponde ao cambião mostrando nes figuras abaixo. Mapa: Luis Antonio Pereira de Sousa (IPT).

s Figura 10

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“foto aérea” da superfície do solo marinho). Com adequadas condições ambientais essas imagens podem ter definição fotográfica, independentemente da visibilidade das águas.

Do torpedo saem os pulsos sonoros, os quais abrangem um comprimento muito pequeno e uma razoável largura. Com a movimentação da embarcação, temos imagens de faixas do fundo marinho. Se houver algum vestígio arqueológico que não esteja enterrado por sedimento, este será detectado pelo aparelho (Edgerton, 1976: 46-47).

Apesar dessas leituras já terem sido feitas para alguns trechos da região da planície costeira Cananéia/ Iguape, elas objetivavam a análise de formações geológicas do fundo marinho, e que, possivelmente não teriam registrado quaisquer sítios arqueológicos submersos.

Entre os dias 07 e 08 de agosto de 2001 realizamos leituras com o sonar de varredura lateral na baía de Trapandé, no mar Pequeno e no canal da barra de Cananéia e obtivemos resultados excepcionais, localizando diversos vestígios submersos, dentre os quais destacamos um dos canhões afundados, encontrado em área distante do local das leituras com magnetômetro. É importante ressaltar que a

s Figura 10 y 11. Registro de Leitura optida na ponta da Trincheira nodia 07/08/2001 e ampliação do mesmo (dereita) que, pe la forma e dimensão pode ser atribuída a una das pesas de artilharia submer-sas. No topo, a localização exata de una dessa anomalía. Mapa: Luis Antonio Pereira de Sousa (IPT).

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localização das coordenadas foi feita com o DGPS, que apresentou precisão de, por vezes, 15 cm, isso graças a uma estação calibradora existente na sede do IPT, o que vem a provar que, ao contrário do que foi pensado nas pesquisas com o magnetômetro, é possível utilizar o DGPS em ambiente tão hostil.

Em 2002, entre fevereiro e maio, vamos realizar novas leituras geofísicas (levar o magnetômetro até as anomalias detectadas com o sonar de varredura lateral), sistematizar todos os pontos obtidos em uma carta base comum, obter imagens fotográficas desse e dos outros vestígios submersos e adquirir informações que só a pesquisa intra-sítio com escavação pode fornecer.

Notas

1 Pesquisa de Mestrado desenvolvida no MAE-USP com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) dentro do PROGRAMA ARQUEOLÓGICO DO BAIXO VALE DO RIBEIRA, coordenado pela Prof ª. Dr ª. M. C. M. Scatamacchia, pesquisadora do MAE-USP e orientadora da referida pesquisa de Mestrado.

2 Trabalho de Graduação Individual desenvolvido para o curso de Geofísica do IAG-USP dentro do programa de atividades do Laboratório de Instrumentação Geofísica do IAG-USP, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Y. Hiodo, o qual também orienta o referido Trabalho de Graduação

3 Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional, Arquivo do Itamaraty, Arquivo Histórico do Exército, Biblioteca da Marinha, todos na cidade do Rio de Janeiro; Arquivo do Estado de São Paulo, na cidade de São Paulo e Fundação Arquivo Municipal de Santos, em Santos, SP. A documentação existente em Cananéia e Iguape não está organizada, de forma que não pôde ser consultada.

4 Biblioteca Nacional, Manuscritos: 05/12/1819 (II-35,36,70); 10/01/1820 (II-34,24,30). 5 Peças de artilharia de sítio, calibre 12, confeccionadas em ferro, no reinado de George III da Inglaterra, dentro do padrão

Armstrong do Board of Ordnance, o que situa sua fundição entre os anos de 1760 e 1792 (Primeiro Relatório, 2000). 6 Arquivo do Estado de S. Paulo (AESP), Avulsos, C00860, 06/01/1825. 7 AESP, Avulsos, C00860: 12/04/1828, 27/07/1828. 8 AESP, Avulsos, C00860: 05/01, 10/01/1834, 22/03/1835, 05/04, 09/04/1836, 20/12/1837; C00861, 31/08/1838. 9 Young, 1904: 346-347; AESP, Avulsos, C00861, 11/12/1839.10 AESP, Avulsos, C00862a: 05/09, 07/10, 05/12, 25/12/1855, 26/01, 25/03/1856.11 Segundo o registro de mergulho profissional, elaborado pela Marinha do Brasil, as águas com temperaturas normais vão de

13º a 24º C.12 Equipamento que, segundo o prof. Hiodo, mede o campo gravimétrico de objetos metálicos ferrosos.13 A leitura da eletroresistividade funciona através da emissão de impulsos elétricos de um sensor a outro, utilizando o solo

como condutor. As propriedades físicas e químicas do solo geraram um padrão de condução dos impulsos elétricos que se altera na medida em que encontra alguma característica diferente no solo, que pode ser um vestígio arqueológico enterrado.

14 Os mergulhadores estariam sujeitos a choques causados pela energia elétrica que circula de um pólo ao outro da sonda (Paula Britto, com. pes., 2000).

15 Trabalhos desenvolvidos pelo prof. Dr. Carlos Mendonça e pela profª. Paula M. A. Britto, do IAG-USP no: sambaquis fluviais de Cajati, SP, 1999; centro de S. Caetano do Sul, SP, 1999; porto do Ribeira, Iguape, SP, 2000; sambaquis fluviais de Miraca-tu, SP, 2001.

16 Em inglês, side scan sonar.

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386 ARQUEOLOGÍA ARGENTINA EN LOS INICIOS DE UN NUEVO SIGLO

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OS SAMBAQUIS DA ILHA DO CARDOSO, CANANÉIA, SP: UM ESTUDO DE CASO DE ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA

Flávio riCCi CaliPPo*

Introdução

O Projeto Os Sambaquis da Ilha do Cardoso, Cananéia, SP: um estudo de caso de Arqueologia Subaquática é relativo a dissertação de mestrado do autor, a qual se encontra em andamento no âmbito do Programa Arqueológico do baixo vale do Ribeira2. Este estudo, busca, principalmente, confirmar e contextualizar a ocorrência de evidências arqueológicas submersas associadas aos sambaquis da Ilha do Cardoso, que se encontram no município de Cananéia, litoral sul do estado de São Paulo, Brasil (Figura 01).

Além de pretender contribuir para uma melhor compreensão do padrão de assentamento e dos processos de formação dos sambaquis, ao longo dos períodos iniciais da ocupação humana na região do baixo vale do Ribeira, e de questões relativas ao conhecimento sobre as Variações do Nível do Mar, este estudo busca também chamar a atenção para a possibilidade de se desenvolver estudos arqueológicos em sítios submersos que não se tratem especificamente de naufrágios.

Os sambaquis que ocorrem na Ilha do Cardoso foram inicialmente levantados e cadastrados por Uchôa e Garcia (1983) entre as décadas de 70 e 80. Porém, foi só em 1998, através de mergulhos rea-lizados por Rambelli e Bava de Camargo (com. pess.), que estes depósitos arqueológicos subaquáticos vieram a ser identificados. Atualmente, a pesquisa destes sambaquis está sendo realizada no âmbito do Programa Arqueológico do baixo vale do Ribeira, em cooperação com o Comitê do Plano de Manejo do Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC), sob a responsabilidade do Instituto Florestal (IF), órgão da secretaria do Meio Ambiente do estado de São Paulo.

Metodología

Para nortear a realização desta pesquisa foi adotado o enfoque da Arqueologia da Paisagem pro-posta por Morais (2000), o qual sugere que o resgate e a revitalização da base de dados arqueológicos seja realizado através de três níveis de abordagens: 1) Localizar e promover um levantamento básico estimativo de interesse arqueológico e paisagístico. Nesta fase, tanto os registros arqueológicos, desco-bertos ou revisitados, como as paisagens de algum interesse arqueológico devem ser georreferenciados; 2) Identificar e avaliar os geoindicadores arqueológicos selecionados. Além da extensão e da forma de cada registro arqueológico, devem ser avaliados também os segmentos paisagísticos correlacionáveis, contextualizando-os na topografia. Este levantamento mais detalhado permite uma maior compreensão da evolução da paisagem, e conseqüentemente, um maior entendimento das modificações do contexto em que o registro arqueológico esteve envolvido; 3) Manejo e gestão dos registros arqueológicos e das paisagens de interesse para a arqueologia.

* Oceanógrafo e mestrando do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP).

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Até o presente momento, pode-se dizer que o Nível 1 já foi praticamente executado. Com base nos levantamentos de campo (realizados no âmbito do Programa Arqueológico do Baixo Vale do Ri-beira) e no mapa topográfico (elaborado pelo Comitê do Plano de Manejo do Parque Estadual da Ilha do Cardoso, em convênio com a UNESP), está sendo possível elaborar um mapa georreferenciado dos sambaquis e dos diferentes compartimentos topográficos da ilha (Figura 02).

Com base nestes mapas, as próximas atividades a serem realizadas – categorizadas por Morais (op. cit.) como Nível II – objetivam uma maior compreensão da evolução do contexto em que os sambaquis estavam inseridos. Portanto, além de atividades de prospecção subaquática, que já foram iniciadas com o objetivo de promover a elaboração de levantamentos planialtimétricos detalhados de cada sambaqui e de seus vestígios submersos, é também de fundamental importância incrementar o mapa elaborado pelo autor com a execução de um maior detalhamento das feições topográficas adjacentes aos sambaquis.

Este detalhamento também já se encontra em andamento e vem sendo realizado com base na interpretação de imagens sub-orbitais (fotos áreas), o que está permitindo que os dados provenientes de cada sambaqui possam ser analisados também sob enfoques geoarqueológicos e/ou à luz da arqueologia ambiental, fomentando ainda mais a elaboração de novos argumentos que venham a contribuir prin-cipalmente em discussões sobre as origens, os padrões de assentamento, os processos de formação de sambaquis e as flutuações do nível do mar.

Quanto ao levantamento subaquático, estão sendo utilizados dois métodos principais: o do le-vantamento em pêndulos e do levantamento em triângulos eqüilaterais. A adoção destes métodos se faz necessária em função da pouca visibilidade das águas do complexo estuarino de Cananéia-Iguape. Em cada sítio, dependendo das condições locais (correnteza, profundidade, visibilidade, tipo de fundo, etc) está sendo utilizado um ou outro método. Para o planejamento e execução destas atividades subaquáti-cas, este estudo conta com a coordenação técnica de Rambelli3.

Para a realização do método do levantamento em pêndulos, fixa-se no fundo4 uma estaca, e atra-vés de um cabo com marcações métricas preso a seu corpo, o mergulhador nada de metro em metro, fazendo um movimento em pêndulos (Figura 03). A cada metro, ou dois, dependendo das condições locais (tipo de fundo, visibilidade, corrente, etc) ele fixa duas estacas para materializar a área levantada (que acaba adquirindo o formato de um pêndulo) (Ciabatti, 1984). À medida que forem identificadas estruturas e/ou vestígios arqueológicos, estes serão localizados a partir da colocação de pequenas bóias, ligadas a pesos que permanecerão sobre o fundo. Uma vez esgotada a área a ser levantada, estas bóias servirão de apoio ao registro e à documentação dos vestígios arqueológicos.

Já no método do levantamento em triângulos eqüilaterais5, são materializados através de cabos sustentados por duas estacas fincadas no fundo, um ou dois eixos que se cruzam. A partir destes eixos, os triângulos são construídos a partir da união de três cabos de mesmo tamanho (cabos gabaritos - com a me-tragem mais conveniente à delimitação da área a ser levantada) e estacas (Figura 04). Com esse sistema é possível construir quantos triângulos forem necessários para cobrir a área, permitindo que se realize um levantamento com bastante precisão em locais com pouca ou nenhuma visibilidade (Rambelli, 1998).

O registro destes vestígios arqueológicos se dará principalmente através da elaboração de cro-quis e fotografias, os quais serão referenciados, no caso do levantamento por pêndulos, tanto a partir das distâncias entre as bóias e o ponto fixo em terra, como as obtidas através de trena junto ao cabo com marcações métricas que foi utilizado para a delimitação dos pêndulos; Quanto ao levantamento por triângulos, o próprio sistema de cabos e estacas servirá como uma unidade de referência para posicio-namento das estruturas e dos vestígios arqueológicos.

Para complementar as informações obtidas a partir das prospecções subaquáticas este estudo pretende também adotar métodos geofísicos de levantamento. O equipamento utilizado para este fim será o Sonhar de Varredura Lateral (Side Scan Sonar), tecnologia que já vem sendo utilizada por Ram-belli (Scatamacchia, 2002) e Bava de Camargo (2001) em prospecções realizadas, respectivamente, em suas Tese de Doutorado e Dissertação de Mestrado6.

Além da contribuição acadêmica deste projeto, é interesse do autor utilizar as informações obti-das com esta pesquisa para fomentar as atividades de manejo e gestão do patrimônio arqueológico (Ní-vel III, segundo Morais op. cit.) dentro de uma unidade de conservação ambiental (Parque Estadual da Ilha do Cardoso - PEIC), principalmente no que se refere ao potencial de desenvolvimento do turismo cultural subaquático e/ou turismo patrimonial, e de propostas de educação patrimonial. Estas propostas também já vem sendo colocadas em prática no âmbito do Programa Arqueológico do Baixo Vale do Ri-beira, principalmente através de atividades decorrentes de duas teses de doutoramento: a de Demartini e a de Rambelli, que tratam, respectivamente, da conservação e divulgação do patrimônio do PEIC, e da gestão do patrimônio arqueológico subaquático da região de Cananéia.

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Resultados preliminares

Para dar início a esta pesquisa foi realizado inicialmente um levantamento arqueológico sistemá-tico em toda a área do Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC), que conseguiu mapear (com auxílio de sistema GPS) vinte e cinco sambaquis (Figura 01), dos quais três ainda não haviam sido cadastrados pelo primeiro levantamento realizado por Uchôa e Garcia (op. cit.).

Com base nos dados gerados por este segundo levantamento e pelas informações provenientes das visitas realizadas na região por Rambelli e Bava de Camargo (com. pess.) em 1998, foi possível identificar os sambaquis que se encontravam em áreas imediatamente adjacentes aos corpos d’água estuarinos, e a partir deles, iniciar a análise da ocorrência dos vestígios arqueológicos pré-históricos que se encontram submersos.

Dos vinte e cinco sambaquis localizados na ilha, sete encontram-se junto à interface superfície/água. São eles, os sambaquis Tapera I (Figura 05), Cachoeira Mirim (Figura 06), Barreiro II, Barreiro I, Morrete, Rio das Almas e Cachoeira Grande (Figura 07). Com a identificação destes sete pontos de investigação, foi possível iniciar a etapa do levantamento subaquático, a qual objetivava inicialmente identificar vestígios arqueológicos submersos nas imediações dos sambaquis.

Até o presente momento, já foram realizados mergulhos em três dos sete sambaquis (Tapera I, Cachoeira mirim e Cachoeira grande) e em um outro, denominado sambaqui Branco (Figura 08), que apesar de não se encontrar na Ilha do Cardoso, faz parte do mesmo contexto paleoambiental em que todos os outros sete sambaquis estão inseridos, apresentando, além disso, dados que podem contribuir significativamente para a compreensão deste contexto.

Em todos estes quatro sítios foram encontrados vestígios arqueológicos submersos: no sambaqui Tapera I os vestígios ocorrem até uma profundidade 4 metros de; no Cachoeira Mirim, até 7 metros; no Cachoeira Grande até 2,5; e no sambaqui Branco (Figuras 09 a 12) até 8,9 metros de profundidade.

Apesar de ainda não haverem sido realizadas prospecções subaquáticas em todos os sete sítios, já foi possível iniciar um levantamento mais detalhado em pelo menos um deles (o sambaqui Branco).

Além do levantamento planialmétrico e de análises sobre as feições estratigráficas subaquáticas já expostas por processos naturais, estão sendo realizados também estudos geomorfológicos que cola-boram para a contextualização destes sítios em relação aos paleoambientes que se desenvolveram na região ao longo das últimas flutuações holocênicas do nível do mar.

Neste sentido, se deu início a um mapeamento de precisão (em escala regional) e à execução de mapas temáticos, que além de contribuírem para a elaboração de uma hipótese que contextualize, espa-cialmente e temporalmente, os sambaquis da Ilha do Cardoso em meio aos últimos eventos holocênicos de flutuação do nível do mar, está possibilitando que se comece a estabelecer uma proposta cronológica para a formação dos sambaquis que ocorrem na ilha, com base na evolução geológica e geomorfológica da região.

Através destas análises já é possível trabalhar com hipótese de que os sambaquis que ocorrem na ilha do Cardoso foram formados posteriormente ao último máximo transgressivo holocênico, isto porque, estes sítios localizam-se em meio a solos de origem holocênica tardia (cordões litorâneos re-gressivos, dunas e áreas de mangue), os quais só se tornaram emersos ao longo do processo de regressão do nível do mar, que se iniciou, segundo Suguiu (1999), após 5100 anos AP.

Para possibilitar tal compreensão, foi utilizada inicialmente a base cartográfica elaborada ao longo da execução do plano de manejo do Parque Estadual da Ilha do Cardoso. Porém, devido à pre-cisão deste levantamento, à qual não se mostrou suficientemente detalhada para a análise de evidências arqueológicas, tornou-se necessário complementar esta base cartográfica.

A ampliação do detalhamento da base cartográfica da ilha está sendo realizada através de pro-cessos fotointerpretativos (Figura 02), que, através do geoprocessamento de imagens suborbitais (fotos aéreas) e da adoção de preceitos da arqueologia espacial como fatores diagnósticos para a interpretação das feições geomorfológicas, estão possibilitando a elaboração de mapas temáticos (Figura 13), os quais não estão somente permitindo referenciar os sambaquis em relação a um sistema de posicionamento global, mas também contextualizá-los em meio às feições geomorfológicas e às evidências paleoam-bientais, indicadoras dos últimos eventos holocênicos de Variação do Nível do Mar. Esta, segundo vários autores, é a única maneira (realmente precisa) dos sambaquis poderem dar contribuições signifi-cativas às curvas de variação do nível do mar e à reconstrução de antigas linhas de costa.

Para dar continuidade à elaboração destes mapas temáticos está sendo realizada uma maior in-vestigação sobre a posição dos sambaquis em relação à seqüência estratigráfica dos depósitos geológi-cos da região de Cananéia. Ou seja, procurar estabelecer a quais camadas estratigráficas o período de

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formação do sambaqui é contemporâneo. Neste caso, sem a execução de escavações arqueológicas, a maneira mais simples de tornar isto possível é através da realização de testemunhos estratigráficos do tipo “carrots”, os quais permitirão associar as camadas mais basais dos sambaquis às camadas sedimen-tares (geológicas) sobre as quais eles estão diretamente assentados.

Este tipo de testemunho possibilitará uma maior confiabilidade às datações que venham a ser obtidas nestes sambaquis, pois permitirá que se determine, com baixa incerteza, de que parte das cama-das estratigráficas do sambaqui a amostra é relativa. A grande crítica feita às datações obtidas à partir dos sambaquis é que a maioria delas são referentes a amostras coletadas sem precisão estratigráfica, referenciada com base em feições morfológicas do sítio (base, meio ou topo). Porém, nem sempre, em uma estrutura complexa como a dos sambaquis, os sedimentos que ocorrem perifericamente à base são os mais antigos. O mesmo tipo de erro pode ser inferido para as feições de meio e topo.

Estas testemunhagens serão realizadas através da introdução vertical de um tubo de alumínio de 3 polegadas de diâmetro, com 6 metros de comprimento, em meio ao sedimento. Para efetuar a pene-tração do testemunho será utilizado um vibrador do tipo Vibracorp, o qual possui uma estrutura associa-da que possibilita a retirada do tubo. Para a obtenção de testemunhos em solos submersos, o Vibracorp pode ser facilmente acoplado a uma pequena balsa.

Apesar das testemunhagens não terem sido ainda realizadas e dos depósitos arqueológicos suba-quáticos destes sítios ainda não estarem bem compreendidos, como hipótese de trabalho, admite-se que possam ser relativos a duas situações: ou são o resultado da ação de processos pós-deposicionais que atuaram sobre os sambaquis, ou devem ser compreendidos como evidências de que estes sambaquis realmente apresentem suas cotas mais inferiores abaixo do atual nível d’água, sendo, portanto, contem-porâneos a períodos em que o nível relativo do mar esteve abaixo do atual.

As prospecçòes realizadas em um destes sambaquis estão indicando, cada vez mais, que a análise das camadas estratigráficas pode apontar evidências da influência dos eventos de Variação do Nível do Mar (e de suas conseqüências ambientais) sobre os sambaquis. O sítio em questão é o sambaqui Branco e se localiza em uma das curvas do Canal do Ararapira (que separa a Ilha do Cardoso da parte conti-nental de Cananéia). Em função de sua posição (à margem oeste do canal), acabou sofrendo a ação dos mesmos processos erosivos que, neste ponto, vêm deslocando a curvatura do canal cada vez mais para oeste. A ação destes processos acabou por erodir uma das vertentes do sambaqui, gerando assim um grande desbarrancamento de material arqueológico em direção ao fundo do canal (verificado através do levantamento subaquático).

Apesar de haverem evidências arqueológicas que indiquem o desbarrancamento de vestígios arqueológicos, a ação desses processos erosivos não pode ser unicamente a responsável por toda a com-plexidade da distribuição do material arqueológico que se encontra embaixo d’água. Ou seja, não é por haver material arqueológico submerso em decorrência de desbarrancamentos, que não possam existir, neste sítio, vestígios realmente submersos por um processo de afogamento resultante de uma flutuação positiva do nível do mar.

Ao longo dos mergulhos foram encontrados, além dos vestígios, outros tipos de evidências (como por exemplo, afloramento de camadas estratigráficas em sub-superfície) que não podem ser diretamente associadas ao mesmo tipo de erosão acima descrito.

Além disso, ao se analisar o contexto ambiental no qual o sambaqui está inserido, pode-se notar que as camadas emersas mais inferiores do sambaqui ocorrem em cota inferior ao dos sedimentos do mangue que o circundam. É bastante provável que esta inversão estratigráfica seja uma evidência de que a época de formação deste mangue ocorreu posteriormente ao início da formação do sambaqui. Levando–se em consideração os processos de formação dos manguezais e as modificações decorrentes de eventos de flutuação do nível do mar que podem ter atuado sobre este bioma, existem grandes chan-ces de que, no mínimo, parte do período de construção do sambaqui possa ser relativo a momentos onde o nível do mar fosse diferente do atual (Figura 14).

Para que realmente se possa confirmar esta hipótese, e se verdadeira, saber a que datas a cons-trução do sambaqui é relativa, é preciso que realizar uma análise estratigráfica que englobe tanto as camadas mais inferiores do sambaqui, como as camadas superiores do solo sobre as quais o mesmo está assentado, ou seja, é preciso realizar as testemunhagens (Figura 15).

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ARQUEOLOGÍA ARGENTINA EN LOS INICIOS DE UN NUEVO SIGLO 391

Figura 01 – Mapa da Ilha do Cardoso com a posição dos sambaquis.

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392 ARQUEOLOGÍA ARGENTINA EN LOS INICIOS DE UN NUEVO SIGLO

Figura 02 – Base cartográfica da ilha do Cardoso com as áreasque estão sendo fotointerpretadas.

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ARQUEOLOGÍA ARGENTINA EN LOS INICIOS DE UN NUEVO SIGLO 393

Figura 03 – Levantamento em pêndulo (Ciabatti (1984)in Rambelli (1998).

Figura 04 – Sistema de triângulos equilaterais(Bocquet et al (1976) in Rambelli( 1998).

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394 ARQUEOLOGÍA ARGENTINA EN LOS INICIOS DE UN NUEVO SIGLO

Figura 05 – Sambaqui Tapera I.

Figura 06 – Sambaqui Cachoeira Mirim.

Figura 07 – Sambaqui Cachoeira Grande.

Figura 08 – Sambaqui Branco.

Figura 09 – Vestígios arqueológicos submersos do sambaqui Branco.

Figura 10 - Vestígios arqueológicossubmersos do sambaqui Branco.

Figura 11- Profundidade dos vestígios submersos do sambaqui Branco.

Figura 12 – Vestígiosarqueológicos submersos

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ARQUEOLOGÍA ARGENTINA EN LOS INICIOS DE UN NUEVO SIGLO 395

Figura 13 – Mapa temático das principais feições geomorfológicas da áreade estudo A: N Embasamento cristalino; N Trangressão Cananéia;

NMTransgressão Santos; N Águas rasas; N Águas profundas.

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396 ARQUEOLOGÍA ARGENTINA EN LOS INICIOS DE UN NUEVO SIGLO

Figura 14 – Modelo de evolução do mangue e a distribuiçãodos vestígios arqueológicos do sambaqui branco.

Figura 15 – Obtenção de testemunhos estratigráficos.s

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ARQUEOLOGÍA ARGENTINA EN LOS INICIOS DE UN NUEVO SIGLO 397

PUERTOS Y CIUDADES DESDE LA ARQUEOLOGÍASUBACUÁTICA.

JAVIER GARCíA CANO*; MÓNICA P. VALENTINI**; senda sFerCo**; viCente Bondi**;natalia BleJer***; JULIETA DUBITZKY***; m.virginia marull***

Como una vieja costumbre, la ciudad transcurre, a veces, inadvertida.1

El patrimonio cultural lo conforma la totalidad de las acciones y bienes producidos por el hombre. Por distintas razones y en el transcurso del tiempo, parte del patrimonio material ha quedado sumergido. Esta particular localización determina condiciones muy favorables de conservación, comparándolo con el patrimonio que permanece fuera del agua .

Por la dificultad que significa aun hoy acceder a este patrimonio, en muchos casos se ha perdido el conocimiento de su existencia, o solo ha quedado registrado en algunas fuentes históricas. Es claro que al no estar a simple vista, no es posible contar con una idea precisa de su existencia y características. Estudiar el material sumergido significa determinar un listado de datos imprescindibles para la toma de decisiones posteriores para su uso. La búsqueda arrojará información sobre los tipos de restos materiales producidos para distintos fines, pensados para el habitat costero, el transporte, la guerra, el comercio, el apoyo a la navegación o que simplemente fueron arrojados o perdidos.

Desde la década de los años ’50, los trabajos de arqueología subacuática se han generalizado en diversos lugares del planeta en los que se planteaban diferentes problemáticas. Estos nuevos proyectos permitieron acceder a una información en muchos casos perdida y en otros complementaria de fuentes históricas. A partir de ellos la relación del hombre con el medio acuático comenzó a ser comprendida en términos más precisos que los estudiados y conocidos hasta aquel momento.

La posibilidad de acceso a temas específicos como la construcción naval, la construcción náuti-ca, las rutas comerciales por transporte fluvial, lacustre o marítimo; las formas de captura de especies para el alimento o los patrones de asentamiento de poblados en relación con las cuencas, un panorama temático no siempre abordado con anterioridad, o estudiado desde aspectos que sólo se pudieron definir una vez que se accedió a la cultura material que permaneció bajo el agua.

Desde la Arqueología Subacuática se ha podido obtener una comprensión más precisa de los sucesos que determinaron la existencia de esos sitios arqueológicos. No cabe duda que a raíz de estos problemas, a su vez se ha contribuido a estudiar temas relacionados y que han conformado o comple-mentado otros proyectos.

El puerto como receptor o factor de cambio y modernización desempeñó un papel activo en el proceso de urbanización y desarrollo de la ciudad. Un gran puerto comercial es un nodo de transporte, un centro de comercio exterior, un área de localización industrial, un polo de desarrollo regional, un asentamiento urbano y un foco de generación de actividades.

A nivel internacional los trabajos realizados en puertos o instalaciones portuarias representan también uno de los problemas abordados por los arqueólogos subacuáticos. En la Argentina los trabajos específicamente en puertos son los que se realizan bajo el marco de dos Programas de Investigación,

* Instituto de Arte Americano FADU.UBA.** Área de Arqueología Subacuática. Escuela de Antropología U.N.R.*** Fac. Arqueología, Planeamiento y Diseño. U.N.R.

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uno comenzado en el año 1998 que dirige el Dr. Schavelzon sobre el Plano del Potencial Arqueológico de Buenos Aires, y otro , Potencial Arqueológico y Sociocultural de la Ciudad de Rosario, dirigido por la Lic. Rocchietti2.

Buenos Aires

La ciudad como resultado de la articulación entre el hombre y el medio ambiente tiene una de-finición muy condicionada por las decisiones que se tomen de forma anticipada e independiente a su existencia. En muchos casos las decisiones se ven modificadas frente a la oferta que el medio ambiente tiene. En otros, las anticipaciones se transforman a partir de un conocimiento preciso del contexto natural, y llegan a tal punto de cambiar desde la localización hasta su distribución y su lógica vital a lo largo de su desarrollo.

El caso de Buenos Aires plantea un condicionante mutuo extremo entre las ideas y normas de urbanización hacia el siglo XVI y las condiciones del norte de lo que hoy llamamos la pampa húmeda.

Las variables fundamentales del medio que definieron su configuración son dos. La topografía del lecho del Río de La Plata, una. La topografía del terreno seco y su relación con la forma del lecho, la otra. Esta relación de asociación y contigüidad, fue lo que permitió encontrar cualidades muy particula-res para la fundación de un asentamiento que requería especialmente tener un puerto. Evidentemente, en una costa sin accidentes geográficos típicos para asignarles el uso portuario (caletas, bahías, ensenadas, etc.), y con un “río” con ciertas variables de su dinámica similares a las del mar, la definición de un puerto que asegurara la supervivencia del asentamiento se convirtió en el elemento más vinculante para su localización. Si a este razonamiento se le agregan ciertos factores de peso para el desarrollo posterior de la ciudad, tales como su capacidad natural de defensa, y su localización relativa a una ruta de impor-tancia, se habrá de comprender que Buenos Aires (como el resultado de la articulación ya citada) surgió gracias a las únicas condiciones que el Río de La Plata ofreció en cierto punto de la costa Sur del mismo y de la destreza de los navegantes que supieron encontrar en esa geografía las cualidades necesarias.

Desde esta idea debería comprenderse a la ciudadcomo surgidadesde la existencia del Río:

El Río de la Plata es la causa y el efecto en la historia de Buenos Aires, la ciudad se fundó por el río y para el río y vivió y sufrió desde sus orígenes a causa del río y por su posición en él. El 3 de febrero de 1536 el Adelantado Don Pedro de Mendoza, funda el “Puerto y Real de Nuestra Señora Santa María de los Buenos Aires” y allí comienza nuestra historia, ya que en los años subsiguientes a esta fundación se registraron allí, las arribadas de los navíos y aún los hundimientos de ellos en la zona que por sus bajíos naturales hacía de puerto y que corresponde en gran parte a la que hoy ocupan la Dársena Norte y el Puerto Madero. Las primeras descripciones escritas que nos han llegado corresponden a fines del Siglo XVI y mediados del XVII. La del gobernador Don Pedro Esteban Dávila, que informaba al Rey de España en 1635 de las características del Puerto y el Río señalaba que : “... de la dicha isla de San Gabriel se viene a dar fe de este puerto, el cual tiene por frente de la ciudad un banco o bajo de arena que se prolonga desde el riachuelo de los navíos, que es debajo de la ciudad un cuarto de legua hasta lo que llaman de Palermo, que para entrar en este puerto es menester descabezar este bajo y luego se viene prolongando la tierra firme donde esta situada la ciudad entre ella y el dicho bajo; que habrá de canal del banco a la tierra firme media legua, poco más o menos, donde hay tres pozos que sirven de surgidero , el uno enfrente del convento de nuestra señora de la Merced y más adelante hacia el Sud , otro pozo que esta enfrente del fuerte y casas reales, que es en medio de la ciudad, la parte mas eminente y donde esta mejor para ser señor de mar y tierra , y otro mas adelante casi en la boca del riachuelo donde invernan los navíos, que es un estero que tendrá de largo de su principio díez leguas y ancho muy poca cosa, capaz para muchos navíos de hasta 200 toneladas.”3

Tal era el aspecto del río con sus fondeaderos, conocidos desde el siglo XVII, y en especial en el XVIII, como de “Balizas Interiores”, esto es el fondeadero interior del puerto, el más cercano a la playa, llamada “el Bajo”, anegadizo y difícil de transitar, y a la ciudad que se alzaba sobre la barranca.

Como se ve por las descripciones el río frente a la ciudad, por la forma y características de sus fondos, hacía sumamente difícil el acceso por agua hasta cerca de la playa, ya que el frente de la pobla-

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ción hacia el río estaba “protegido” por un gran banco de arena, llamado “Banco de la Ciudad”, de unas tres millas de ancho, que impedía el acceso directo, el cual debía hacerse por canales y canaletas que lo rodeaban y/o atravesaban hasta comunicar las “Balizas Exteriores”, detrás del “Banco de la Ciudad”, con las “balizas interiores” entre el banco y la ciudad, que eran un ancho canal abierto por el Norte pero cerrado al Sur (que es hoy la zona de la Dársena Norte, del viejo Apostadero Naval Buenos Aires y del Puerto Madero), donde finalmente fondeaban las embarcaciones.

En la zona aledaña al actual apostadero había otros fondeaderos que hoy en día son de impor-tancia tanto histórica como arqueológica. El más conocido de ellos era el de “Los Pozos”, que se hizo famoso por ser el fondeadero de las escuadras del Almirante Brown, y cuyo nombre se debía a que estaba formado por grandes pozos entre bancos de arena, estaba enfilado al Nordeste de la Iglesia y Convento de la Recoleta y su centro (el pozo más profundo) se hallaba en el área aproximada donde hoy se encuentra el viejo edificio de SEGBA en la zona del Puerto Nuevo.

Los Pozos se comunicaba con las Balizas Interiores y a través de ellas con el Riachuelo. Tenía una profundidad promedio de 17 pies de Burgos y 15 pies en torno a él, con el río alto había la suficiente agua para maniobrar con seguridad y con una bajante poseían el agua suficiente para flotar. En dicho lugar durante el 11 de junio de 1826, se colocó la escuadra argentina para librar el combate naval que luego se llamó de “Los Pozos”, aprovechando los fondos del río que impidieron avanzar a la escuadra imperial brasileña.

Balizas Interiores siguió siendo durante casi todo el siglo XIX, el fondeadero natural de los bu-ques mercantes y de pasajeros que arribaban a Buenos Aires, en especial cuando en el último tercio del siglo pasado (1872) se construyó desde la costa de la barranca hacia el río donde hoy se halla el espejo de agua del apostadero, el muelle de “Las Catalinas”, llamado así porque nacía desde detrás ( o al frente vistio desde el Río) de la Iglesia y Convento de Santa Catalina de Siena. Este muelle se internaba unos 500 metros en el río y una pequeña línea ferroviaria circulaba por él, para la carga y descarga directas, rumbo a los depósitos que se hallaban en la costa.

El 24 de junio de 1897 se inauguró el que sería conocido como el “Puerto Madero”, en honor a su diseñador y constructor, una de cuyas entradas era la Dársena Norte construida, como casi todo el puerto sobre el antiguo fondeadero de “Balizas Interiores”. La Dársena Norte poseía dos diques de carena, uno de los cuales fue inaugurado por el crucero acorazado “25 de Mayo” el mismo día de la inauguración del puerto. Al año siguiente en octubre de 1898 estos diques de carena fueron puestos bajo la dependencia del nuevo Ministerio de Marina y allí se trasladaron los “Talleres Nacionales de Marina” y nació el A.N.B.A. (Arsenal Naval Buenos Aires). Según las descripciones técnicas de este puerto en la época de su construcción, el puerto ocupa el lado Este de la ciudad y su dirección es de Norte a Sur. Se compone de dos Dársenas, una en el extremo Norte y otra en el extremo Sur; entre las dársenas están los diques que llevan los números del 1 al 4. El 1 es el inmediato a la Dársena Sur, el 2 el que sigue y así sucesivamente hasta el 4, que es el inmediato a la Dársena Norte.

La construcción del puerto comenzó en el año 1886 y en 1897 quedó inaugurado, faltando para su conclusión los depósitos del dique 3 y 4 y las vías férreas en parte de esos mismos diques. El puerto quedó defendido por un malecón de un largo de 4.740 metros construido en piedra y pino de tea.

El Puerto Madero es un área de gran valor histórico no solo porque sus instalaciones portuarias han cumplido ya el centenario, sino porque por ella pasó buena parte de la historia argentina, desde la fundación de la ciudad y hasta la construcción del puerto. Desde entonces ha pasado un siglo en que el Puerto Madero fue la puerta de entrada de miles, casi millones de hombres y mujeres que buscaron a este país como tierra de esperanza. Las aguas y los fondos del Río de la Plata y el Puerto Madero, guar-dan, accidentalmente, patrimonio cultural de la nación que es necesario preservar y/o rescatar.

Rosario

El villorio de la Capilla del Rosario se vio particularmente favorecida por su ubicación geográfi-ca en el Pago de los Arroyos a la vera del caudaloso río Paraná en un punto coyuntural favorable. Entre los arroyos Salinas ( hoy Ludueña) y Saladillo, la sinuosidad del río presenta una curva pronunciada. Bordeada de escarpadas barrancas la Villa se ubica en el epicentro mas saliente de la curva y frente a una extensa playa natural (Bajada Sargento Cabral ).

Aunque su ubicación privilegiada frente al río no la favoreció inicialmente, el puerto fue en la ciudad de Rosario, el desencadenante de un vertiginoso crecimiento urbano y económico. Puerto natu-

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ral de todo el interior, como lo describiera el viajero inglés Mac Cann en 1847, pero con instalaciones precarias todavía para esa época, no estaba de acuerdo con las crecientes exigencias de los sistemas de navegación y de la expansión de la actividad comercial y portuaria.

Debido a la restricción en la navegación de las vías interiores no había una sola construcción porturaria en todo el curso del Paraná, solo la condición de puerto natural que ostentaba la pequeña po-blación del Rosario. El tráfico ilegal era una actividad que se realizaba con ritmo intenso para suplir la falta de entrada de mercaderías. Durante la época hispánica, el Pago de los Arroyos primero y la Capilla del Rosario después, creció muy lentamente, cerradas las puertas de su expansión por las leyes del Mo-nopolio de la Metrópolis, ya que solo Buenos Aires podía comerciar, y esto en forma muy restringida, con España.

En el período de las luchas por la independencia la Capilla se ve amenazada por el constante peligro de ser atacada por las naves realistas. Es por esa razón que el gobierno nacional manda emplazar las baterías Libertad, sobre el filo de la barranca, e Independencia sobre la isla frente a la Villa, como defensa ante el paso de los navíos río arriba. . Entre 1811 y 1814 la costa rosarina fue uno de los campos de batalla de la Independencia Argentina ,donde fueron reiterados los ataques de las fuerzas de Monte-video a las poblaciones fluviales del Paraná, siendo Rosario de las más castigadas.

Desde fines de 1818 e inicios de 1819 se produjeron combates navales en las aguas del Paraná frente a Rosario entre la escuadrilla porteña al mando de Hubac y la de Artigas al mando de Campbell, que sitió Rosario siendo interceptada por la escuadrilla porteña. De las luchas entre ambos resultó el incendio de la Villa el 29 de enero de 1819.

En 1824, sobre la bajada de la actual calle Buenos Aires, se emplaza un precario muelle que con una chata de pontón comunica con la orilla. Pero recién durante la época de Rosas el puerto de Rosario comienza a cobrar importancia con el tratado de libre navegación de los ríos interiores de 1825, transformándose en puerto exportador, no solo de los productos de la región sino también de todos los productos de Cuyo ( libres de gravámenes si se embarcan por Rosario ). La Villa se consolida a raíz del movimiento comercial que se genera.

Luego de la Guerra de Independencia, si bien el monopolio portuario siguió en manos de Buenos Aires, Rosario y su puerto se convertirían, de a poco, en el puerto comercial del interior, de las merca-derías que llegaban por tierra y por el río tomaban rumbo a Buenos Aires para de allí salir a ultramar. Después de la batalla de Caseros y con la apertura de los ríos interiores y las garantías dadas por la Constitución comenzó a ser puerto de Ultramar, con su extraordinario desarrollo.

Con la apertura del río Paraná a la navegación extranjera (1852) el puerto de Rosario se convierte en el puerto de la Confederación Argentina, inquietando gravemente al comercio porteño y transfor-mándose en su principal competidor. Por el mismo entraba mercadería que luego se distribuía a toda la Confederación, desde Córdoba a Salta, salieron toneladas de frutos del país que provenientes de todo el interior se remitían a Buenos Aires, Montevideo, ultramar y puertos de los ríos Paraná y Uruguay.

Las características de ciudad – puerto se definen a partir de entonces.• En 1854 es promulgado el Reglamento para la Aduana, que se instalará desde un principio en el

mismo sitio que ocupa el edificio actual.• Una disposición fundamental de 1856 (dictada por Urquiza) establece derechos de aduana diferen-

ciales, privilegiando al puerto de Rosario sobre el de Buenos Aires.• El gobierno de Urquiza en 1855 acepta la propuesta para la construcción de un muelle ( conocido

como el muelle de Hopkins), lo que luego se constituiría en la “Sociedad de Muelles de Rosario”. El embarcadero, ubicado entre la continuación de las hoy calles Laprida y Buenos Aires, comenzó a prestar servicios el 26 de febrero de 1857.

• El gobierno nacional, en los terrenos situados entre la Aduana y el río Paraná, concreta la construc-ción de almacenes.

• Mientras Castellanos adquiere y reconstruye el muelle de Hopkins (1859) , I.Comas inicia nuevas obras en el puerto de Rosario. Construye otro muelle y diversos edificios e instalaciones portuarias.

La guerra entre el Estado de Buenos Aires y la Confederación estaba en su máximo apogeo cuan-do en 1859 una escuadrilla de Buenos Aires al mando del coronel Murature atacó el puerto de Rosario y se cañoneó con las baterías portuarias, forzando el paso el 2 de junio de 1859. Ese mismo año Rosario sufrió otros dos ataques de las fuerzas sutiles porteñas por ser Rosario el apostadero de la Escuadra de la Confederación Argentina mandada por el marino genovés coronel Luis Cabassa, y formada por cinco vapores y cuatro veleros.

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Luego de la unificación del país desde Pavón , llegó a Rosario el ferrocarril y con ello crecería su importancia como puerto de embarque que obligó a la construcción de nuevos muelles. Durante la guerra del Paraguay fue el puerto de embarque capital tanto para las fuerzas argentinas, como para las aliadas brasileñas y sus respectivas escuadras, siendo depósito de carbón para los vapores aliados, arse-nal de armas y pertrechos, almacén de provisión y concentración de ganado, finalmente fue centro de re-cepción de heridos, donde llegaban las embarcaciones hospital a dejar en Rosario a los convalecientes.

Pese a que Rosario no podía competir con Buenos Aires en el tráfico mercantil del Puerto fue, a partir de 1861 el segundo puerto de la República en su movimiento comercial, no obstante no contaba más que con un modesto muelle.

El precario muelle no bastó para cubrir las exigencias del intenso tráfico. Es una época en la que fructifican en Rosario todas las iniciativas. En 1869 se renueva el problema de la insuficiencia de las instalaciones. En aquel año el volumen de importaciones y exportaciones había alcanzado a 478.415 toneladas conducidas en 1877 embarcaciones de todo tipo: de vapor, vela, de ultramar y de cabotaje. El servicio de carga y descarga se efectuaba en gran parte sobre la playa y a través de muelles particulares construídos con pilotes y terraplenes. Para 1885 era uno de los puertos cerealeros más importantes del mundo y comenzaron a elaborarse los proyectos de un nuevo puerto.

Las obras de construcción de la infraestructura del puerto fueron comenzadas a fin del Siglo XIX. Al respecto de la situación del puerto, el informe elevado a la “Société d’encouragement pour l’industrie nationale”, encargada de la construcción del nuevo puerto, señalaba que para 1903:

“El Puerto actual esta principalmente situado y montado en la villa misma. Es un surgidero natural donde los navíos vienen a alinearse a lo largo de una falla a pico o “barranca” bordeada de una inmensa muralla de tosca (piedra calcárea) que se eleva casi verticalmente a 25 metros desde el nivel del agua. En lo alto están las grúas, los silos de granos y las vías férreas.

Los cargamentos de sacos se operan muy simplemente por la acción de la gravedad, a través de canaletas de madera sostenidas por cables de acero desde lo alto de la barranca al navío. Existe además delante de la villa, los muelles de madera, llamados muelles nacionales de 650 metros de largo y algunas instalaciones particulares.

Es con estas instalaciones rudimentarias, hechas a medida de las necesidades sin plan de en-samble y perteneciendo en su mayoría a particulares o a las compañías de ferrocarriles, que el tráfico de Rosario se desarrolla y ha prosperado hasta el día de hoy.”

Habiéndose adjudicado por concurso internacional los trabajos y explotación a la firma “Hersent et Fils Scheneider et Cie”, el 26 de octubre de 1902, después de tantos años de frustradas expectativas, se inician las obras del puerto con la colocación de la piedra fundamental. Las obras eran de una ex-traordinaria magnitud en relación con lo que hasta entonces se venía ejecutando. El desordenado frente portuario del bajo de 1400 metros de desarrollo , se cuadruplica alcanzando 3870 metros de muelles, de los cuales 1000 metros se construyen con pilotaje y estructura de madera y 2500 con murallón de mampostería. El muelle se extendió desde la punta de la barranca norte hasta la altura del actual Bv.27 de febrero. La construcción del nuevo puerto significó también el dragado de un canal paralelo a los muelles y la corrección del cauce del río que modificó la morfología originaria del Paraná en la zona.

La colosal obra del puerto y su extraordinario crecimiento operativo, incidió sin duda favorable-mente en la relación puerto – ciudad, hecho que se hace notorio cuando vemos la cuadruplicación de la población entre 1902 y 1942.

La concesión terminó en 1942, haciéndose ese año el traspaso del puerto de Rosario al Gobierno Nacional. La ciudad, que tuvo en el puerto su principal factor de promoción, debilitado desde que pasó a poder de la Nación , siendo administrado con mentalidad centralista en beneficio de los intereses me-tropolitanos, fue testigo del desplazamiento y el movimiento decreciente que se manifestó durante los siguientes 40 años.

Recién en 1970 es aprobado por el Poder Ejecutivo Nacional el Proyecto de la Planificación Integral del Puerto de Rosario, concentrando las obras en la zona sur, desde la Estación Fluvial hasta la desembocadura del arroyo Saladillo. Hacia fines de 1976 quedan inaugurados los trabajos de dragado que facilitarán el acceso de buques de gran calado.

En los últimos años la zona ribereña de la ciudad se ha convertido en uno de los sectores urbanos que registran una intensa y radical transformación a través de múltiples proyectos de renovación urba-

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na, entre ellos el de la concreción del puente Rosario-Victoria, así como obras de inversión comercial, residencial y paisajísticas. Actualmente las instalaciones y funcionamiento del Puerto de Rosario se encuentran en un proceso de concesionamiento, lo que generará (por lo menos eso se espera de acuerdo al Plan Estratégico implementado por la Municipalidad), no solo un proceso de recuperación produc-tiva, económica y social de la ciudad, sino también profundos cambios en el “paisaje construido” de la ribera.

Ante semejante conversión es necesario emprender algún tipo de intervención, que, sin frenar el irremediable progreso de una de las ciudades-puertos mas importantes del país, nos permita rescatar parte del Patrimonio Cultural de la ciudad de Rosario4.

Objetivos

El puerto como receptor o factor de cambio y modernización desempeñó un papel activo en el proceso de urbanización y desarrollo , en este caso, en ambas ciudades y de manera diferente. Es indu-dable que existen materiales arrojados a las aguas producto de la actividad portuaria y las modificacio-nes de la configuración del puerto a lo largo de los últimos siglos, producto de acciones navales y de las acciones fortuitas en la relación del hombre y la ciudad con el río.

La recopilación de antecedentes suficientes como para reseñar esas modificaciones portuarias , los cambios de morfología del puerto y el río que lo contiene y la tarea de relevamiento del potencial arqueológico de las zonas de estudio son los objetivos principales de este proyecto. - ¿qué tipo de patrimonio subacuático y costero existe ?- ¿ dónde esta ubicado ?- ¿ cuál es su origen ?- ¿ qué volumen o cantidad de material comprende ?- ¿Cuáles fueron las razones ambientales y las consecuencias antrópicas por las que los bienes se

encuentran en las distintas áreas ?Responder a éstas preguntas nos permitirá precisar el conocimiento de los documentos y la información indicativa del potencial patrimonial subacuático y costero de ambas ciudades, así como definir las áreas de mayor potencial a través de los siguientes objetivos específicos:- Registrar sitios, relictos, construcciones y vestigios arqueológicos de los distritos costeros de la ciudad.- Definir áreas de visibilidad arqueológica actual.- Ingresar al sistema GIS la información arqueológica.- Efectuar un diagnóstico sobre el Patrimonio Arqueológico Subacuático.- Inventariar los bienes arqueológicos en peligro de desaparición.

El relevamiento incorporará al Plano del Potencial Arqueológico de la ciudad los sitios y lugares que a lo largo del Puerto, se localicen, tanto en su sector de costa (terrestre) como en su sector subacuático. Esto permitirá a las autoridades pertinentes tomar decisiones sobre las obras a realizar teniendo en cuenta la posibilidad de destrucción del Patrimonio Cultural Sumergido y poder determinar con exac-titud cuales son los sitios que deban ser intervenidos ante su irremediable desaparición producto de la transformación urbana.

Notas

1 Rodolfo Vinacua. 1970. Pág. 8. 2 Plano del Potencial Arqueológico de Buenos Aires. 1998. Dr. Daniel Schavelzón. CONICET. Potencial Arqueológico y

Sociocultural de la Ciudad de Rosario. 2001. Lic. Ana María Rocchietti. U.N.R. 3 Informe del Gobernador Pedro Esteban Dávila al Rey, año 1635. Cfr. Pinasco, Eduardo: “El Puerto de Buenos Aires en los

relatos de veinte viajeros”, Buenos Aires, 1947, pág. 19.7 4 En 1893 se produjo en el puerto de Rosario un combate naval, el primero y único entre acorazados en la historia argentina.

El combate, llamado del “Espinillo”, se libró el 29 de septiembre entre el monitor “Los Andes”, que apoyaba a los rebeldes radicales, y el acorazado “Independencia” y el cazatorpedero “Espora”, leales al gobierno. Desde la isla del Espinillo el “Los Andes” atacó a los buques gubernamentales, mientras desde el puerto y las barrancas las milicias rosarinas radicales respondían con fusilería y cañones livianos. En el combate el “Los Andes” quedó seriamente averiado y luego de haber diseminado sus restos por el río se retiró hacia el puerto y se refugió entre los mercantes civiles. Abandonado por su tripu-lación debió ser varado ya que hacía agua.

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Bibliografía

ALVAREZ, J.; 1981.Historia de Rosario, Santa Fe, ed. Universidad Nacional del Litoral. HUERGO, E.; 1911.Memoria sobre el puerto de Rosario, Buenos Aires. Argentina.MADERO, E. 1892. Historia del Puerto de Buenos Aires. Tomo I y II. Imprenta de La Nación. Buenos Aires. Argentina.AA.VV. 1970. Rosario, esa ciudad. Colección Imagen. Editorial Biblioteca. Departamento de publicaciones de la Biblioteca

Constancio C. Vigil. Rosario.

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ANTECEDENTES HISTÓRICOS DE LA MISIÓNDE LOS JESUITAS EN EL LAGO NAHUEL HUAPI.

PROSPECCIONES ARQUEOLÓGICAS PRELIMINARESEN PUERTO VENADO.

adán HaJduk* y romina BraiCoviCH**

Introducción

En relación al proyecto “Tras los Puelches y Jesuitas que navegaron el lago Nahuel Huapi”, en marzo del año 2001, se realizaron las primeras prospecciones arqueológicas tanto subacuáticas como terrestres, en el área de Puerto Venado del lago Nahuel Huapi.

La elección del área de trabajo se realizó a partir de una estrategia de búsqueda basada en el aná-lisis de las fuentes etnohistóricas debidas a los misioneros jesuitas que actuaron en el ámbito del lago y del monje franciscano Francisco Menéndez. Se destaca particularmente el caso del diario de viajes de este último -escrito entre los años 1791 y 1794-, a partir del cual se presume que la localización de la Misión establecida por los jesuitas a principios del siglo XVIII habría tenido lugar en inmediaciones del Puerto venado.

Ubicación y características ambientales La bahía de Puerto Venado se localiza en la margen norte del lago, en la Península Huemul. Co-

rresponde al Departamento Los Lagos de la Provincia del Neuquén, comprendida en el área de Reserva del Parque Nacional Nahuel Huapi. Sus coordenadas geográficas aproximadas son: paralelo 41° 03´ Latitud Sur y meridiano de 71° 22´ al Oeste de Greenwich.

Dicha bahía se orienta hacia el sureste, por lo cual resulta muy protegida de los vientos dominan-tes, que soplan desde el oeste y el noroeste.

La presencia de un promontorio rocoso que se proyecta hacia el lago, la subdivide en dos bahías menores. La más próxima al lago abierto se caracteriza por presentar una costa rocosa abrupta, sin desarrollo de playa. En tanto la otra bahía más entrante sí presenta una playa de considerable longitud, aunque en sentido transverso no es muy extendida. Se encuentra conformada por pequeños guijarros; y el primer tramo bajo el espejo de agua presenta una pendiente relativamente suave. Por el extremo sur de esta playa, le entra un pequeño arroyo de bajo caudal. Desde la playa mencionada, subiendo un breve talud boscoso, se salva una diferencia de altura cercana a los 17 mts, luego de lo cual se accede a una planicie abierta. Esta amplia planicie se encuentra en parte dividida por el arroyo antes mencionado, el cual conforma en toda su extensión un zanjón limitado por sauces que crecen en galería.

* Museo de la Patagonia “F. P. Moreno”, CONICET e-mail: [email protected]** e-mail: [email protected]

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Desde el punto de vista fitogeográfico, su ámbito corresponde a la Provincia Subantártica y al Distrito del Bosque Caducifolio (Cabrera1976). En la formación arbórea se destaca el bosque de coihue, particularmente en las inmediaciones de la costa. Hacia el interior se observa el predominio del ciprés, seguido por el radal y en menor proporción por el maitén. En el estrato arbustivo se reconocen entre otros, el maqui y los Berberis. Entre la vegetación exótica se destaca una alameda. Los claros presentes en el bosque son de origen antrópico (Fig. 4).

Antecedentes documentales históricosLos jesuitas en el lago Nahuel Huapi

Considerando la orden fundada por Ignacio de Loyola, el primer jesuita del que tenemos cono-cimiento que visitó la zona del Nahuel Huapi fue Diego Rosales. Su breve paso por el lugar lo realizó en el año 1653 tras entrar por Villarrica al actual territorio neuquino. En su memoria escrita menciona entre otros el uso de embarcaciones de tres tablas cosidas por parte de los indígenas del Nahuel Huapi; en Chiloé a estas embarcaciones indígenas se las conocía con el nombre de “dalcas” en tanto el nombre dado por los españoles era el de “piragua”. Este tipo de embarcación fue adoptado por los españoles, quienes con el paso del tiempo fueron introduciendo serie de modificaciones en su construcción (Rosa-les 1877-1878).

Hacia 1670 se hace presente en el ámbito del gran lago, el padre Nicolás Mascardi procedente de Castro, Isla de Chiloé. Con él se inició la acción misionera en dicho ámbito.

La vía de ingreso seguida por este padre y demás jesuitas que lo sucedieron en la misión, se rea-lizaba en general partiendo desde la ciudad de Castro -donde la orden tenía su Colegio-. Desde allí na-vegaban hacia el norte, remontando el estero Reloncavi, hasta su fondo en Ralún. De allí por tierra, tras pasar cerca del lago Galletué, accedían al lago Todos Los Santos al cual navegaban hacia el este hasta llegar a la desembocadura del río Peulla. Por el valle de este río remontaban la cordillera, así alcanzada su parte más alta se descendía al fondo del actualmente denominado Brazo Blest del lago Nahuel Huapi. Desde este lugar proseguía la navegación hasta arribar al lugar de la misión (Fig.2).

Es de presumir que este paso previo al arribo de los españoles, habría sido abierto y utilizado por los indígenas que trascendían en sus desplazamientos periódicos ambas márgenes de la cordillera.

En tiempos hispanos se conoció a esta ruta como “Paso de las Lagunas”. Para la navegación marina como la de los lagos Todos los Santos y el Nahuel Huapi los indígenas y los jesuitas empleaban las embarcaciones arriba mencionadas. Volviendo ahora a Mascardi, su entrada al gran lago perseguía tres objetivos: en primer lugar devolver al lugar de origen a indígenas que cuatro años antes habían sido capturados por los españoles que perseguían fines esclavistas; iniciar la conversión a la fe cristiana de los demás indígenas asentados en vecindad del lago y por último localizar a los habitantes de la mítica “Ciudad de los Césares”.

Respecto a los indígenas que se asentaban en el ámbito del Nahuel Huapi cabe destacar que en su “Carta-Relación” escrita en 1670, nos da cuenta de la existencia de tres parcialidades diferenciadas al menos territorialmente y lingüísticamente:

“En esta junta fueron haciendo su parlamento aparte los caciques de cada parcialidad cada uno en su lengua: los Puelches de Nahuelguapi en lengua puelche, los Poyas en lengua poya, y los Puelches de la otra parte del norte, que viven a la otra banda del Desaguadero, en lengua veliche, que es la lengua general de los que viven a la parte del norte hacia Unolbil, y la lengua puelche la hablan sólo los que viven en la isla, o a orillas de la laguna. Y la lengua poya la hablan casi generalmente todos los que viven de la parte del sur de la laguna y del río Desaguadero de esta laguna de Nahuelguapi.” (Mascardi en Furlong,1995:120).

Los “Puelches de Nahuelguapi” y de la “isla” –se entiende a la actualmente denominada Victo-ria- eran los indígenas que vivían en el ámbito boscoso lacustre, los que se caracterizaban por ser indí-genas navegantes de “piragua” que en sus desplazamientos solían alcanzar las costas lacustres y marinas de la vertiente pacífica de los Andes. Eran estos los que hacían viable el traslado de Mascardi y de los demás jesuitas que lo sucedieron, desde la vertiente pacífica al Nahuel Huapi y viceversa.

Por “Puelches” de lengua “veliche” se entendería a indígenas cuyo dominio se extendería desde el río Limay -“Desaguadero”- hacia el norte, hasta proximidades del volcán Lanín (Diego Rosales en su escrito menciona a un cacique llamado Guinulbilu, que según nuestra interpretación se habría asentado en vecindad del mencionado volcán). Podría tratarse de una nueva identidad de indígenas que se estaba conformando por contacto intercultural entre grupos cazadores recolectores con aborígenes proceden-

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tes del sur de la “Araucanía Chilena” los cuales habrían aportado entre otros la lengua “veliche” como forma dialectal de la lengua araucana (mapu dungún).

Por último por “Poyas”, según éste y otros documentos (Fernández, J, 1898; Pietas, G, 1846; Oli-vares, M, 1874) se entiende a los indígenas cazadores recolectores de la estepa, por entonces ecuestres, los cuales en el ámbito del lago ocupaban la costa este, extendiéndose desde allí al interior de la estepa patagónica. Serían aquellos a los que más tarde se los identifica con los tehuelches septentrionales.

Respecto al lugar donde se había realizado la junta y recibimiento del padre Mascardi en esta su primer entrada, de la lectura de su “Carta–Relación” escrita el 15 de octubre de 1670 se desprende que el mismo se encontraba, por entonces, en tierras ocupadas por los llamados “Puelches” o “Puelches de Nahuelguapi” en la costa sur del lago, ya que dice:

“...Para esta huelga y recibimiento de parte de los Puelches de Nahuelguapi dijeron los ca-ciques Poyas, que allí se encontraban, que también en sus tierras me querían festejar.” (…) “Vol-ví a embarcarme y pasé de la parte del sur de la laguna, a la parte de los Poyas...” (Mascardi en Furlong,1995:121.)

Así Mascardi, a fin de encontrarse, con los Poyas se dirigía necesariamente al sector de estepa al este del lago donde aquellos se asentaban. Es de suponer a un lugar que debió estar comprendido entre las nacientes del río Limay –río que sirve de desagüe al lago Nahuel Huapi- y el arroyo Ñirihuau que vierte sus aguas en el lago (dentro de la provincia de Río Negro); en vecindad del faldeo noroeste del actual cerro Leones. Allí habrían acudido los poyas facilitándole cabalgadura al padre para su traslado hacia el lugar de las tolderías. Estas tolderías se habrían emplazado en los campos pastosos que se si-tuaban hacia el este del pequeño cordón montañoso que corre aproximadamente de sur a norte desde el C° Leones hacia el río Limay y faldeo sur del C° Villegas.

La “Carta-Relación” de 1670, más varias otras firmadas por Mascardi (Furlong 1995: 109-110-114) llevan por remitente “desde los Poyas” lo que plantea que buena parte de su tiempo transcurría entre los indígenas de esta parcialidad. Mientras se encontraba entre los Poyas comenta que los indí-genas venían a su toldo donde tenía su altar -portátil-. Con toda probabilidad, en sus desplazamientos misionales y exploratorios en torno del lago Nahuel Huapi y al interior de la Patagonia, habría usado este sistema de vivienda portátil. En la carta del 1670 menciona que la actividad misionera la desarrolla bajo el “patrocinio y asistencia” de “Nuestra Señora de los Poyas”. Esta aparente predilección por ésta parcialidad indígena pudo estar fundada entre otros, por la esperanza de obtener de los comarcanos y en especial de aquellos Poyas más lejanos, que ocasionalmente se hacían presentes en el Nahuel Huapi provenientes de lugares distantes de la Patagonia, información cierta sobre el lugar de emplazamiento de la “Ciudad de Arguello” -equivalente a la Ciudad de los Césares- que tanto lo desveló. En procura de esta mítica ciudad realizó entre los años 1669-1670 y 1673-1674 cuatro expediciones a distintos lugares de la Patagonia, muriendo a manos de los indígenas en el transcurso de la última expedición.

Sucedida la muerte de Mascardi, y la consecuente interrupción de la actividad misionera en el Nahuel Huapi, recién a fines de 1703 el padre Felipe Vander Meeren (también llamado Felipe de la La-guna) la vuelve a reiniciar; secundándolo en breve en dicha empresa, el padre José Guillelmo.

En esta oportunidad sí se dispone de referencias bibliográficas que nos indican que en esta nueva etapa, los jesuitas volcaron inicialmente sus esfuerzos en erigir las estructuras edilicias básicas de la Misión en lugar determinado.

El jesuita Miguel de Olivares en su obra “Historia de los Jesuitas en Chile (1593 – 1736)” escrita en 1736 dice:

“Pues ya el padre Felipe en este paraje de Nahuelhuapi”.......”escojió un sitio que le parecía acomodado para levantar casa, e iglesia, junto a la laguna, para tener cerca el puerto, que le tenía bueno, para las piraguas del transporte cuando había de ir a Chiloé.” (Olivares 1874:512)

Más adelante Olivares refiriéndose al padre Laguna comenta que: “Un mes estuvo aguardando a su compañero, que gastó en ejercicios espirituales i en catequi-

zar a unas cuarenta almas que halló. Cumplidos los treinta días, llegó el padre Juan José Guillelmo, a 20 de enero de 1704. Inmediatamente se determinó pasar a Chiloé para traer jente que le ayudase a formar casa e iglesia. Púsose en camino acompañado de algunos puelches con una pequeña piragüi-lla,..” (Olivares 1874:512).

El propio padre Laguna en una carta escrita por él, y transcripta por Olivares dice: “Llegué sano y bueno a Nahuelhuapi, a 20 de febrero, con algunos carpinteros; i luego dimos

principio a una pequeña casa que en tres semanas estuvo acabada.”(Olivares 1874:514) En otra carta transcripta por Mühn (1930: 231-235) el padre Felipe de la Laguna comenta que:

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“Cuando volví de Valdivia y llegué a Nahuel-Huapi, encontré no sólo completamente terminada la iglesia, sino”.....”se erigió una casita para nosotros y se echó el fundamento para una grande iglesia, después de habernos juntado mucha gente.” (Mühn 1930:234)

Sucedida la muerte del padre Laguna en 1707, presuntamente por envenenamiento, en uno de sus viajes hacia el norte en la zona de Rucachoroy -provincia de Neuquén-, el padre Guillelmo pasó a ser superior de la Misión de Nahuel Huapi. Este sacerdote habría realizado nuevas mejoras edilicias en la Misión, y al enterarse en Chiloé de la existencia de un antiguo paso terrestre hacia Chile, por el cual se evitaba la navegación de las lagunas, puso su empeño en redescubrirlo. Para ello procuró la asistencia de algún indígena que lo orientara respecto de este paso, en relación a ello nos dice Olivares:

“Buscose un indio práctico; no puelche, porque los puelches de Nahuelhuapi se repugnaban el descubrimiento de tal camino, recelándose que por aquella senda viniesen los españoles de Chiloé como antiguamente a sus malocas o a infestar sus tierras.” (Olivares 1874: 524)

Continuando con las citas de Olivares:“Por ese tiempo fue señalado por superior de aquella misión el padre Manuel de

Hoyo,”.....”Estando el padre Hoyo en Chiloé, acaeció la mayor ruina i desgracia que podia suceder, i fue que todo lo edificado sin reservar nada; se ardió abrasándose la iglesia, vivienda de los padres i ranchos de los criados, i todo a un tiempo que fue lo singular.”.....”Siendo la materia de las casas, paja i madera ardió sin resistencia.”......”A esta catástrofe se vió reducida la misión de Nahuelhuapi, que fue necesario volver a fundar de nuevo, como lo hizo el padre Manuel de Hoyo. Por cuya causa no se volvió a tratar por entonces de insistir, ni buscar nuevos caminos,...” (Olivares 1874:524-525)

Se refiere a insistir en la apertura del camino terrestre conocido como el de Vuriloche. Miguel de Olivares manifiesta su sospecha de que los indígenas puelches temerosos de que se reabra este paso habrían decidido destruir la Misión prendiéndole fuego.

Luego de estar el padre Hoyo dos años a cargo de la “misión de los puelches y poyas” o “misión de Nahuelhuapi” (Olivares 1874: 507 y 525) el padre José Guillelmo vuelve a ser superior de la misma, con lo cual reinicia los trabajos de apertura del camino terrestre. Logrado el cometido, en breve muere al tomar bebida envenenada que le dieran los indígenas. Por sucesor del padre Guillelmo es designado el padre José Portel, más al enfermarse no pudo arribar al Nahuel Huapi por lo cual el padre Francisco Elguea que lo acompañaba, se ocupó transitoriamente de la misión. Por desinteligencias surgidas entre este padre y los indígenas comarcanos, estos últimos matan al padre Elguea y a algunos asistentes, prendiendo fuego a la Misión.

En relación Olivares dice:“A la iglesia la despojaron de todos sus ornatos i alajas” (...) ”i luego pegaron fuego a la casa

e iglesia i a todo lo edificado.”(...) ”a los criados que no mataron, los cojieron por esclavos.” (...) ”Viendo los superiores la dificultad que había en mantener aquella misión,”...”determinaron el que no se prosiguiese en ella,” (...) ”con las dos quemas que padeció la misión i la muerte de los padres, todo se perdio.” (Olivares 1874: 531-532 y 523)

Según Guillermo Furlong, la muerte de Elguea e incendio de la Misión tuvo lugar el 14 de no-viembre de 1717 (Furlong 1995:96).

Respecto a la localización que tuvo esta Misión, de la lectura de la carta relación de Mascardi, de las dos cartas escritas en 1704 por el padre Vander Meeren (en Olivares 1874 y en Mühn 1939); como del escrito del padre Antonio Machoni (“Las Siete Estrellas de la Mano de Jesús” obra escrita en 1732), no se logran referencias que nos orienten a cual fue el lugar de emplazamiento de la misión establecida a fines del siglo XVII y a principios del siglo XVIII. Es el testimonio de Miguel de Olivares que arroja un poco de luz al respecto, ya que en su escrito dice:

“En las dilatadas campañas que miran a la cordillera de la otra banda de la laguna están los poyas, cuya conversión pretendió el esfuerzo del venerable padre Mascardi i del padre Felipe; i juz-garon ámbos que para plantar la misión, este paraje de Nahuelhuapi era el más cómodo”......”Para uno i otro viaje era aquel sitio el mas apropósito, i para la reducción de unos i otros indios era el mas acomodado; porque estando los poyas confinantes, presto se entraba en sus tierras, o por tierra o atra-vesando tres leguas de laguna.” (Olivares 1874:509-510)

Según esta cita el lugar de la misión pudo estar tanto en la costa sur o bien en la costa norte. Esta situación se define si se toma en cuenta la información que nos brindan dos jesuitas a través de su cartografía, por un lado el mapa debido al padre José Cardiel -confeccionado en 1747- y el mapa del padre Tomás Falkner –confeccionado en 1774- (Vignatti 1944:71 y Falkner 1974). Sabemos por ellos que la Misión del Nahuel Huapi se emplazaba en un lugar impreciso en la margen norte del gran lago (ver parte del mapa de Falkner (Fig. 1).

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El padre franciscano Francisco Menéndez en el Nahuel HuapiPara aproximarnos a la mejor localización de la Misión de Nahuel Huapi, es relevante conside-

rar lo escrito por Fray Francisco Menéndez en su expedición al Nahuel Huapi en 1793. Este sacerdote de la orden de los franciscanos, por orden del virrey Francisco Gil y Lemus hizo tres entradas en el Nahuel Huapi. Las realizó partiendo desde Chiloé, pasando por Peulla-Blest, en los años 1792-93 y 1794, acaso como último intento de ubicar la “Ciudad de los Césares” y a los “Osornenses” (Menéndez 1925).

Así para el mes de marzo de 1793 dice:“Día 15 del mismo. Pasé con treinta y siete hombres a la parte del Este de la laguna, y antes de

las nueve de la mañana llegó Mancúuvunay con un capitán Cona y un hijo suyo”.....“Nos despedimos, y nos acompañaron hasta que nos embarcamos.”..... “y nos pasamos a la otra banda de la laguna.” (Menéndez 1925:221)

Debe entenderse, que Menéndez encontrándose en el extremo noreste del lago Nahuel Huapi, próximo a las nacientes del río Limay, visita al cacique Mancúuvunay en la margen rionegrina; luego de lo cual se vuelve a su lugar de acampe el cual se localizaba en la margen neuquina, en el lugar que hoy se conoce como Puerto Americano. Prosiguiendo su relato:

“Día 17 del mismo. Después que estamos en la laguna solo un día hubo de calma, tal cual día sosegaba un poco, pero luego volvía a su primera fuerza la travesía. Hoy amaneció en calma y luego nos embarcamos, fuimos costeando por la costa del Norte hasta frente a dos Islas, que hay en el seno del Sur en donde salió el viento con bastante fuerza. Quiso Dios que hubiese allí una ensenada, en la que tomamos puerto, que está abrigado de los vientos, menos desde el Sur hasta el este.” (La negrita es nuestra) (Menéndez 1925:222)

Las dos islas que menciona, al sur de donde ellos se encontraban en ese momento, interpretamos son las hoy denominadas Huenul (o también conocida como Huemul) y Gallinas (ver Fig. 3). La ensena-da que se encuentra a esa altura en la costa norte del lago, es la que hoy se conoce como Puerto Venado. Efectivamente este puerto resulta muy protegido en relación a los vientos dominantes que soplan del cuadrante oeste y noroeste, aunque no tanto cuando sopla del este o de “abajo” como actualmente se los suele identificar.

A continuación de la última cita, Menéndez dice en su diario:“Salimos a registrar la tierra, y en medio de la ensenada en un alto cerca de un riachuelo se en-

contró el sitio donde antiguamente estuvo la Misión.Se ve claramente el lugar de la capilla en donde se hallaron dos mecheros de latón amarillo y una

plancha del mismo metal con algunos círculos de compás los que yo he guardado.Cavó la gente, y se encontró una bóveda de madera en donde había seis calaveras, varias plan-

chas, y chaquiras, argollas de fierro ya gastadas y un fierro.Señala las madrinas que estaban recién quemadas por el fuego, que el Sargento Pablo Téllez

pegó en el mes de diciembre próximo pasado. Se conservan cuatro madrinas o postes a quien no tocó el fuego.

El sitio de la casa está un poco más hacia la laguna con todo el suelo enrejado, aunque casi hecho polvo, y la calle que rodea la plaza.

Por lo que se vé no llegan aquí los Indios pues no es señal de camino sino uno que vá desde la playa, pero muy antiguo y nada usado.

El sitio es muy bueno, tiene bella vista y abrigado de los vientos de la cordillera. Buena tierra para sembrar toda semilla.” (...) ”Al mismo tiempo hay bastantes cipreses para formar casas y el monte no está lejos.” (La negrita es nuestra)(Menéndez 1925:222-223)

Sin duda según nuestra apreciación, Menéndez y la gente que lo acompañaba habrían dado aquí con los restos de la misión que los jesuitas habían establecido a principios del siglo XVIII. Lamenta-blemente en su escrito, Menéndez no brinda referencias a las circunstancias en que el sargento Téllez le había prendido fuego a parte de las ruinas; es probable que en ciertas ocasiones Menéndez y Téllez solían separarse para realizar recorridas exploratorias distintas en forma independiente.

Luego de permanecer cerca de dos días en el lugar de la antigua misión, Menéndez dice que: “Día 19 del mismo. Muy temprano nos embarcamos para aprovechar un recalmón que hubo,

pero apenas salimos de la ensenada encontramos con el mismo viento. Después de pasar una punta de piedras, descubrimos otra ensenada pequeña que tenía una playa de arena algo abrigada y fuimos a ella para no volver atrás.

Ya estábamos casi aburridos con tanto temporal, y todos convinieron en que nos embarcásemos, lo que se ejecutó al punto, y a fuerza de remo fuimos a amanecer al puerto de la Esperanza, en donde

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se aseguraron las dos piraguas, y después nos pasamos a la otra parte de la cordillera.” (Menéndez, op.cit:223-224)

Efectivamente al salir de Puerto Venado, se tiene allí una punta rocosa, la cual es próxima a la Isla de los Víveres. La pequeña ensenada que menciona Menéndez, muy probablemente sea la que hoy se identifica como Puerto Cisnes. A la entrante de Puerto Huemul por su profundidad y amplitud con-siderables, no la habría de describir como “ensenada pequeña”; respecto al “puerto de la Esperanza”, Menéndez se está refiriendo al extremo oeste del Brazo Blest.

Antes de dejar el escrito de Menéndez estimamos válido incluir unos comentarios adicionales, por cuanto cita el padre franciscano otros dos sitios como probables lugares de Misión.

Así en su primer entrada exitosa en el lago Nahuel Huapi en el año 1792, el día 21 de enero luego de haber navegado a lo largo de la costa sur del lago a la altura de la actual Península San Pedro y haber alcanzado las islas hoy conocidas como Huemul y Gallina, desembarca según nuestra interpretación en la playa actualmente identificada como Playa Bonita. Se refiere a la misma como “playa desamparada” donde luego al bajar a ella no sin cierta dificultad debido al oleaje entonces presente dice:

“Registramos la costa, y presumimos que fuese el lugar donde había estado la Misión, porque havía papas, navos, romaza y otras señas de haver estado allí alguna residencia de gente.” (Menéndez 1925:166-167)

Interpretamos dichas señas no conformarían argumento suficiente para asegurar que allí pudo haberse construido una Misión, más si se considera que por entonces y ya antes, en tiempo de los jesui-tas, los indígenas solían practicar el cultivo en pequeña escala. De cualquier modo no debe desestimarse totalmente dicha posibilidad.

Desde esta playa Menéndez y su gente prosiguió a pie hasta alcanzar las cercanías del actual Cerro Leones, allí tuvo el primer encuentro con los indígenas cazadores recolectores, entre ellos con el cacique “Macúuvunay”. Luego de permanecer un tiempo entre ellos y de ofrecerles regalos, con su gente inicia el retorno hacia la “playa desamparada” -Bonita- en donde habían dejado su piragua. En su diario comenta que en dicha circunstancia:

“Cuando veníamos pasamos al lugar en donde estuvo la Misión. Hay algunos manzanos y nada más. Está a la parte del este de la Laguna, como a unas cinco cuadras apartadas del desagüe a orilla de un riachuelo.” (Menéndez 1925:172)

Por si caben dudas respecto de esta cita, en oportunidad de su segunda entrada efectiva en el Nahuel Huapi hecha en 1793, encontrándose en el actual Puerto Americano –costa neuquina frente al nacimiento del río Limay- cruza hacia la actual orilla rionegrina, en su diario dice:

“Día 1° de Marzo. Amaneció en calma la Laguna y pasé con cincuenta hombres a la parte del este. Formamos unos ranchos para defendernos del viento junto a un río pequeño, que viene del lugar, en donde había estado la última Misión, según nos dijeron el año pasado.” (Menéndez 1925:208)

Por “según nos dijeron el año pasado” se refiere a los indígenas de Mancúuvunay. En cuanto al arroyo que se menciona, éste sería uno pequeño -sin nombre conocido- de escaso caudal que pasa in-mediato al faldeo norte del cerro Leones, lugar en donde se cruza con la Ruta Provincial N° 23. A corta distancia desagua en el lago Nahuel Huapi entre la actual estación de servicio YPF y el empalme de la Ruta Provincial N° 23 con la Ruta Nacional N° 237.

Sin duda, los indígenas por entonces aún recordaban al lugar como ámbito vinculado a la Mi-sión, acaso el lugar frecuentado por el padre Mascardi y o también por los otros jesuitas que lo sucedie-ron, cuando iban al encuentro de los “Poyas”.

Trabajos de campo realizados

Como primer acercamiento al ámbito de Puerto Venado, se realizó un trabajo de prospección simultanea tanto en tierra como en la bahía bajo el espejo del agua, con el objetivo de obtener la más completa información posible, al intentar abarcar ambos ambientes.

En tierra: se realizó una serie de recorridos a fin de identificar las variables de relieve, incluida la presencia o ausencia de cursos de agua, y las variantes de cubierta vegetal según los sectores identifica-dos. Se trató de localizar posibles restos en superficie de factura indígena y aquellos de factura hispana. Para ello se recorrió todo el sector de costa tanto de playa como de costa rocosa más abrupta en el sector de la bahía y partes inmediatas por fuera de la misma. Dada la presencia de bosque y sotobosque, más la cubierta originada por depositación de sus restos orgánicos inertes, la búsqueda de posibles restos

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arqueológicos se concentró en las superficies de erosión tales como cárcavas producidas por escurri-miento de aguas; huella moderna de bajada de vehículo desde la planicie adyacente a la playa; sendas de animales, etc. En tanto en los claros rodeados por bosque se revisaron las ocasionales depresiones en senderos de herradura y en huellas debidas al paso de vehículos.

Bajo la superficie de agua: se procuró identificar las variables de relieve, pendientes; presencia de sectores con roca desnuda; sectores de acumulación sedimentaria; composición de cubierta superfi-cial; posibles restos de origen antrópico antiguos y modernos, su particular emplazamiento; etc.

Tanto en tierra como bajo el agua, en la presente campaña no se realizaron trabajos de intrusión -excavación-.

Resultados obtenidos

En las prospecciones en tierra pudimos detectar en superficie escasos restos indígenas en dos lugares separados. Dichos restos se componían particularmente de desechos líticos de talla, más serie de fragmentos de cerámica. En la Figura 4 se indica bajo el N° 1 un sector con presencia de este material indígena, allí la profundización de la huella de vehículos permitió la visualización de este material. En tanto en el sector N° 2 se registraron restos indígenas similares, en el inicio del talud de bajada hacia el lago.

En la playa -a la altura del sector 2- sólo se observaron algunos desechos líticos de factura indí-gena que aparecían en forma dispersa sin constituir sitio.

En el recorrido que hemos realizado a lo largo de la costa del lago por afuera de la bahía de Puerto Venado, en un sector que indicamos en la foto aérea bajo el N° 4, se registró una canoa de tronco ahuecado. La misma es de reducidas dimensiones, se la halló próxima a algunos rollizos de madera; a unos y otros la fuerza del oleaje los depositó en este sector de playa rocosa.

Esta canoa es de factura sin duda moderna, de irregular acabado. Entre otros rasgos se obser-varon claramente los rastros del empleo de un formón de filo curvo para lograr el ahuecado. En una de las bordas externas se observaron restos claveteados de nylon grueso. En la superficie externa, las irregularidades naturales del tronco no presentan mayor trabajo de desbaste. Dicha pieza no fue movida de su lugar original de hallazgo.

En el sector bajo agua, indicado con el N° 3, en las tareas prospectivas de buceo se hallaron po-cos restos antrópicos. Entre los escasos hallazgos se tiene el de un fragmento de cerámica realizada con torno de alfarero, que no se descarta pueda corresponder a una pieza antigua (deberán hacerse estudios más detallados de dicho fragmento). Entre los restos modernos se registraron: un destornillador; una pieza de fundición de hierro que lleva la siguiente inscripción en sobre relieve: BRIDGEPORT BRASS 00 y fragmentos de vidrios de botella.

Salvo el tiesto -algo dudoso en cuanto a su posible antigüedad- hallado en las tareas de buceo, no se registraron en tierra como bajo el agua, restos de origen hispano, tales como: fragmentos de mayó-lica y o de botijos vidriados y sin vidriar; como sí nos fue posible hallar en el sitio de contacto hispano indígena situado en cercanías del kilómetro 23,200 del camino a Llao Llao (Hajduk 1991; Hajduk y Valentini 2002).

Resumen y conclusiones

Si bien la documentación histórica de que hemos dispuesto para su análisis, en relación a la actividad desarrollada por los jesuitas en el ámbito del Nahuel Huapi dista de ser suficiente en número y en cantidad de información que encierra, nos permite al menos plantear algunas hipótesis. Así en re-lación al padre Nicolás Mascardi que actuó entre 1670 y principios de 1674, se plantea que su actividad misionera la habría desplegado mayormente entre los indígenas Poyas identificados con los cazadores recolectores ecuestres asentados en el ámbito de estepa al este del lago.

En su acción se esforzó por convertir al indígena a la fe cristiana y a la localización de la mítica “Ciudad del los Césares” para lo cual realizó hasta cuatro expediciones al interior de la Patagonia. No parece que Mascardi se haya preocupado en levantar estructura edilicia especial en relación a su activi-dad misionera; más parece haberse valido del toldo como vivienda, y a lo sumo podría plantearse alguna vivienda fija de carácter precario. No se descarta pudo haber dispuesto de un residencia fija en vecindad de la península Huemul.

En cambio con la reanudación de la actividad misionera a principios del 1704 llevada a cabo por

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el padre Laguna y Guillelmo -y continuada por sus sucesores hasta el año 1717-, si hay una preocupa-ción cierta por establecer una misión provista de infraestructuras edilicias sólidas. La misma según te-nían previsto los padres, debía servir de núcleo de referencia en torno a la cual los indígenas convertidos irían formando pueblo, idea que no prosperó debido a la modalidad de vida nómada de los indígenas del nahuel Huapi.

Respecto al lugar de emplazamiento de esta misión los mapas debidos a los jesuitas Falkner y Cardiel la sitúan sobre la margen norte del lago.

Según nuestra interpretación de los escritos de Fray Francisco Menéndez, en los cuales describe los viajes que realizó al Nahuel Huapi hacia fines del siglo XVIII, se desprende que los restos de la Mi-sión que él pudo observar entonces, se hallarían en inmediaciones del actual Puerto Venado (ver Figura. 3, localización N° 1).

Cabe mencionar aquí que en el actual Puerto Huemul (ver Figura 3, localización N°2) en 1931, don Carlos Ortiz Basualdo localizó y excavó un cementerio indígena de características particulares. Milcíades Alejo Vignatti publicó un trabajo en relación, indicando que varios de los inhumados seguían en su disposición un patrón cristiano; estas características más el análisis de restos arqueológicos recu-perados y de las fuentes históricas referidas a los jesuitas, le hace plantear a Puerto Huemul como lugar donde se habría emplazado la Misión (Vignatti 1944).

La disyuntiva que se plantea si la Misión se emplazó en Puerto Huemul o bien en Puerto Venado no está aún resuelta. El hecho de que en Pto. Huemul haya aparecido un cementerio indígena que denota influencias cristiana, no indica que necesariamente allí habríase localizado la Misión. No se descarta que ambos puertos pudieron ser ocupados por los padres jesuitas en forma complementaria.

Respecto a Puerto Venado, en futuros estudios de campo será necesario realizar allí una serie de sondeos, a fin de detectar eventuales indicios arqueológicos que confirmen o desestimen dicho ámbito como lugar de emplazamiento de la Misión. El hecho de haber sufrido dos incendios más uno posterior provocado por el sargento Téllez, potencia el registro en capa de niveles carbonosos extendidos.

Por otra parte la mención por parte de Fray Menéndez de la existencia de un lugar en donde an-tiguamente hubo Misión en la costa este del lago, cerca del Cerro Leones, plantea la posibilidad cierta que en el ámbito del lago pudo haber una serie de sitios satélites secundarios relacionados a la actividad misionera. Tal sería el caso del sitio “Cancha de Pelota” que uno de nosotros a identificado no lejos de Llao Llao (ver Figura 3) (Hajduk, 1991:1-24). Se trata de un sitio arqueológico de contacto hispano in-dígena, al cual se interpreta como correspondiente a una posta intermedia de los jesuitas en sus travesías lacustres entre el fondo del Brazo Blest y la Misión situada en la margen norte del lago. Es de suponer que condiciones climáticas adversas, habrían obligado frecuentemente a realizar esperas en procura de mejores condiciones para realizar el cruce del lago.

Agradecimientos

No podríamos finalizar este trabajo, sin mencionar y agradecer la ayuda y el apoyo que nos brin-daron en el trabajo subacuático nuestros compañeros, amigos y colegas Matías Warr, Renato de Losa, Mónica Valentini y Javier García Cano. Asimismo queremos expresar nuestro agradecimiento a la Sra. Dolores Ortiz Basualdo de Seré por habernos facilitado el acceso al área de nuestro particular interés.

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Figura 1: Itinerario seguido por los jesuitas entre la isla de Chiloéy la Misión de Nahuel Huapi, hacia fines del siglo XVII

y principios del siglo XVIII.

Figura 2: Fragmento del mapa de Falkner, con localización de la Misión de Nahuel Huapi en la ribera norte del lago (tomado de Falkner 1974).

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Figura 3: Posición del Puerto Venado en relación a los sitiosque se vincularían con la actividad jesuítica en los siglos XVII y XVIII.

1: localización de Puerto Venado; 2: Puerto Huemul; 3) sitio“Cancha de Pelota”, probable posta de avanzada de los jesuitas.

Figura 4: Foto aérea con detalle de Puerto Venado(Depto. Los Lagos, Provincia de Neuquén).

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EL PECIO DE BAGLIARDI. UNA BATALLA NAVAL

MÓNICA P. VALENTINI*Javier garCía Cano**

En este trabajo se da cuenta del hallazgo de los restos de una embarcación naufragada (pecio) en la zona de Berisso - Ensenada de Barragán (Provincia de Buenos Aires), con la utilización de una metodología “no intrusiva” , que permitió la ubicación de los mismos a partir de la historia oral de los pescadores y habitantes del lugar.

Antecedentes históricos navales de la Zona de Ensenada de Barragán.

De acuerdo a la historiografía argentina , la zona de Ensenada de Barragán es una de las que ma-yor contenido de historia naval posee en las zonas aledañas a la Capital Federal. Fue apostadero y fuerte de la Real Armada Española en la época colonial. En la zona desembarcaron los ingleses en las invasio-nes; tras la independencia fue un enclave de la naciente Armada Argentina durante un siglo. Además por su cercanía a Buenos Aires era una de las defensas de la ciudad ante incursiones acuáticas enemigas.

Durante el conflicto mantenido con el Imperio del Brasil por la ocupación de la Banda Oriental (hoy R.O. del Uruguay), entre los años 1826 y 1828, la zona de Ensenada fue un enclave defensivo terrestre argentino, ante los ataques de la flota bloqueadora imperial, que ponía sitio por agua a la capi-tal de la República. En las aguas se batía contra ella la escuadra al mando del almirante D. Guillermo Brown.

En la zona del río frente a la Ensenada se produjeron varias acciones navales de importancia entre las flotas contendientes, por lo que la zona representa un lugar de interés histórico para ambas naciones, la Argentina y el Brasil.

Entre estas acciones la más importante, por la cantidad de buques que se hallaron implicados por ambas partes, es el denominado combate naval de Monte Santiago. Este tuvo lugar entre el 7 y el 8 de Abril de 1827, entre la escuadra del Almirante Brown y la Imperial Brasileña. En ella se perdieron varios buques de la Armada Argentina, entre ellos los bergantines “República” e “Independencia” que embicaron cerca de la costa en el banco de Santiago o de Ensenada y fueron luego incendiados por el fuego de la artillería brasileña y por propia decisión de sus comandantes.

Luego de la citada acción debieron quedar, además de cinco buques argentinos, restos de ma-terial y buques brasileños en el fondo del río, debido no sólo a la acción de la artillería argentina, sino al hecho que un par de buques imperiales, para poder zafar de las varaduras y salir de la zona baja del río, arrojaron al lecho del mismo piezas de su artillería, consistentes en cañones, cureñas, balas y demás elementos pesados para aligerar su peso y ganar flotabilidad.

Al año siguiente de esta acción se produjo otra con el bergantín corsario denominado “General

* Area Arqueología Subacuática. Escuela Antropología. Universidad Nacional de Rosario.** Instituto de Arte Americano. FADU. Universidad de Buenos Aires.

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Brandsen”, que al ser perseguido por naves brasileñas se refugió en las aguas de la Ensenada y se hundió luego de un estallido a bordo, según las crónicas de la batalla.

Historia del Pecio

Los restos del buque, o pecio se conocían desde mucho tiempo atrás y fueron localizados hace varios años por pescadores de la zona que al tirar las redes las enredaban en el maderamen. Tal inconve-niente fue informado a las autoridades navales por los pescadores y se sabía además por los buques de la Armada que hacían uso de una estación de desmagnetización “Degausing” que la Armada tenía en la zona. Así personal de la Armada, en los años 70, procedió al retiro de partes de madera y hierro de la embarcación, que causaban inconvenientes a la navegación y las mismas. Al confirmarse su antigüedad, fueron depositadas en el Museo del Fuerte Barragán.

Según los informes del personal de la Armada de entonces y de otras personas interesadas en el tema y que tuvieron contacto con los restos, las características eran las de un buque construido en madera y forrado con planchas de plomo y una cubierta exterior de cobre, lo que coincide con la forma de construcción de la época, al igual que las partes metálicas ya rescatadas que son clavos de hierro o cobre, cadenotes, balas, cerraduras y herrajes tensores de los obenques.

Registro

Se relevaron los restos de la embarcación y se recogieron muestras de material suelto para su estudio. Se decidió que las muestras fueran de los distintos materiales detectados, tales como: plomo en lámina, cobre en lámina y en piezas de cuerpo (clavos y tachuelas), hierro forjado, hierro de fundición (municiones, cadenas), madera (tablas), vidrio, madera asociada a hierro y carbón. El levantamiento de las muestras tiene el objetivo de poder definir el estado de conservación de los materiales de forma precisa, lo cual permitirá tomar decisiones respecto de las futuras operaciones a concretar.

La prospección y localización de lo que hemos dado en llamar “el pecio de Bagliardi”, ha sido claramente un trabajo tipificado como “no intrusivo”, en el cual sólo se ha definido su posición por GPS y se ha hecho un primer estudio de estado del sitio.

Excepto por el uso del equipo llamado “rastra”, todo el trabajo realizado por los buzos de ambas instituciones fue a mano (utilizando la técnica denominada “relevamiento por tacto”) no modificando el estado del pecio en el momento del hallazgo.

Los restos localizados y descriptos en una primera instancia cuentan con una extensión de aproximadamente 30 metros de largo y unos 15 de ancho, no pudiéndose asociar, por ahora, estos datos a características de la anatomía naval del casco. Es muy notoria la presencia de sectores del casco que se encuentran ensamblados con la lógica del caso y son evidentes los indicios de un hundimiento altamente traumático, posiblemente producto de las diferentes versiones sobre el combate y el final de los buques estallados por explosión de las santabárbaras.

Las medidas tomadas en piezas de madera dan cuenta de un casco de posiblemente 25 a 30 metros de eslora y de la robustez y proporciones en las secciones de las piezas correspondientes a un casco originalmente mercante. Aún sin los análisis de laboratorio, los materiales presentan un estado de conservación aparente in situ de gran estabilidad.

Se estima que los restos hallados son los de uno de los tres pecios que se sabe hay en la zona y corresponderían en principio y con la información hoy disponible a los de un buque artillado ,esto de acuerdo a los restos materiales hallados.

Los pasos a seguir en la zona de Bagliardi se hallan en estudio por parte de las instituciones par-ticipantes, pero se ha decidido, como protección, dar un aviso a los navegantes, para la prohibición de anclado y buceo en la zona alrededor del pecio, para evitar así su deterioro.

Notas

1 El trabajo fue llevado a cabo con material y personal de buzos del Servicio de Salvamento y Protección del Medio Ambiente de la Armada Argentina y material y personal especializado de la FUNDACIÓN ALBENGA, en el marco de un convenio de co-operación mutua firmado entre ambas instituciones para la preservación del patrimonio cultural e histórico subacuático. Se contó también con la participación de miembros del Area de Arqueología Subacuática de la Escuela de Antropología de la UNR.

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Bibliografía

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aires. argentina.

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