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I UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Fundada em 18 de fevereiro de 1808 Monografia Med B51 Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose cística em um centro pediátrico de referência do Nordeste brasileiro Milena Silva Reis Salvador (Bahia) Abril, 2016

Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose cística ... Silva... · Palavras chaves: 1.Fibrose Cística. 2.Crianças e adolescentes. 3. Perfil ... HUPES Hospital Universitário

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I

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de fevereiro de 1808

Monografia

Med B51

Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose cística

em um centro pediátrico de referência do Nordeste

brasileiro

Milena Silva Reis

Salvador (Bahia)

Abril, 2016

II

FICHA CATALOGRÁFICA (elaborada pela Bibl. Tatiana Bonfim Souza, da Bibliotheca Gonçalo Moniz : Memória da Saúde

Brasileira/SIBI-UFBA/FMB-UFBA)

R375

Reis, Milena Silva

Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose cística em um centro pediátrico de referência do Nordeste brasileiro / Milena Silva Reis. (Salvador, Bahia): MSR, Reis , 2016

Viii, 47 p.: il.

Monografia, como exigência parcial e obrigatória para conclusão do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), da Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Professor orientador: Edna Lúcia Santos de Souza

Palavras chaves: 1.Fibrose Cística. 2.Crianças e adolescentes. 3. Perfil clínico-

epidemiológico. I. Souza, Edna Lúcia Santos. II. Universidade Federal da Bahia.

Faculdade de Medicina da Bahia. III. Título.

CDU: 616-036.22

III

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de fevereiro de 1808

Monografia

MED B51

Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose

cística em um centro pediátrico de referência do

Nordeste brasileiro

Milena Silva Reis

Professor orientador: Edna Lúcia Souza

Monografia de Conclusão do

Componente Curricular MED-

B60/2015.1, como pré-requisito

obrigatório e parcial para conclusão

do curso médico da Faculdade de

Medicina da Bahia da Universidade

Federal da Bahia, apresentada ao

Colegiado do Curso de Graduação

em Medicina.

Salvador (Bahia)

Abril, 2016

IV

Monografia: Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose cística em

um centro pediátrico de referência do Nordeste brasileiro, de Milena Reis.

Professor orientador: Edna Lucia Souza

COMISSÃO REVISORA Edna Lucia Santos de Souza, Professora do Departamento de Pediatria da

Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia

Margarida Célia Costa Neves, Professora do Departamento de Medicina Interna

e Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal

da Bahia

Lauro Antonio Porto, Professor do Departamento de Medicina Preventiva e

Social da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia

Membro suplente Regina Terse Trindade Ramos, Professor do Departamento Pediatria da Faculdade de

Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia

V

“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos,

ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte

corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais

alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para

que eu não deixe de caminhar.” (Eduardo Galeano).

VI

Aos Meus Pais, Edna e José Reis, e a

todos aqueles que estiveram ao meu

lado nesta longa caminhada.

VII

EQUIPE Milena Silva Reis, Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA. Correio-e:

[email protected];

Professor orientador: Edna Lucia Santos de Souza. Correio-e:

[email protected];

Paloma Horejs, discente da Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA;

Bianca Sampaio, discente da Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA;

Carolina Godoy Almeida, nutróloga do Complexo Hospitalar Universitário

Professor Edgar Santos;

Ana Paula de Brito Aguiar, nutricionista do Complexo Hospitalar Universitário

Professor Edgar Santos;

Renata Lúcia Ferreia Lima, professora adjunto do Instituto de Biologia

Universidade Federal da Bahia;

Laís Ribeiro Mota, biomédica e mestre em Genética e Biodiversidade do

Laboratório de Gnética Humana e Mutagênese (LGHM) – IBIO/UFBA;

Tatiane da Anunciação Ferreira, pneumopediatra do Complexo Hospitalar

Universitário Professor Edgar Santos.

Marlene Amália da Silva, técnica de laboratório do Complexo Hospitalar

Universitário Professor Edgar Santos;

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) Complexo Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES) Ambulatório Multidisciplinar de Fibrose Cística - AMFC

FONTES DE FINANCIAMENTO

1. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB);

2. Recursos próprios.

VIII

AGRADECIMENTOS

À Professora orientadora, Doutora Edna Lucia Santos de Souza, pela

presença constante e todo apoio acadêmico e pessoal, além da disponibilidade

e boa vontade.

À minha Colega Paloma Horejs, pela colaboração no levantamento e análise

estatística dos dados;.

À minha Colega Bianca Sampaio, pela colaboração no levantamento dos dados

do estudo;

À minha mãe, Edna Reis, que me auxíliou na construção dos gráficos e tabelas,

além de todo apoio durante essa caminhada.

Ao meu pai, José Reis, por todo amor e carinho, além de apoio acadêmico na

minha vida.

Ao meu namorado, Petrônio Cangussu, pelo seu companheirismo, compreensão

e ajuda na formatação do trabalho.

Aos meus amigos, que me apoiaram incondicionalmente e sempre estiveram ao

meu lado neste processo.

Aos Doutores Margarida Célia Costa Neves e Lauro Antônio Porto, membros

da Comissão Revisora desta Monografia, os quais se dispuseram a fazer parte

da minha banca revisora, com toda boa vontade, e corrigiram prontamente a

minha Monografia.

À equipe multiplicinar do AMFC, pelo trabalho e pela dedicação de anos, sem

os quais eu não poderia desenvolver esse projeto.

Aos pacientes estudados, os quais foram e continuam sendo a motivação para

tantas pesquisas, a fim de melhorar a qualidade de vida deles.

1

SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS

2 ÍNDICE DE FIGURAS, GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS 3 I. RESUMO 4 II. OBJETIVO 5 III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 6 IV. METODOLOGIA 15 V. RESULTADOS 19

VI. DISCUSSÃO

26

VII. CONCLUSÕES

VIII. SUMMARY

IX. REFERÊNCIAS

X. APÊNDICES

31

32

33

APÊNDICE I: Formulário de Coleta de Dados 40

APÊNDICE II: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

XI. ANEXOS

44

ANEXO I: Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do HUPES 46

2

LISTA DE SIGLAS

AMFC Ambulatório Multidisciplinar de Fibrose Cística

AMN Ambulatório Magalhães Neto

CFF Cystic Fibrosis Foundation

CFTR Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator

DP Desvio Padrão

EUA Estados Unidos da América

HUPES Hospital Universitário Professor Edgar Santos

FC Fibrose Cística

IMC/I Índice de massa corpórea por idade

MSSA Staphylococcus aureus meticilino sensível

MRSA Staphylococcus aureus meticilino resistente

PA Pseudomonas aeruginosa

RNAm Ácido ribonucleico mensageiro

OMS Organização Mundial de Saúde

PCR Reação em Cadeia da Polimerase

P/I Peso por idade

REBRAFC Registro Brasileiro de Fibrose Cística

VEF1 Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo

TCLE Termo de Consetimento Livre e Esclarecido

3

ÍNDICE DE FIGURAS, GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS

GRÁFICOS GRÁFICO 1. Procedência dos Pacientes com Fibrose Cística do Ambulatório

Multidisciplinar de Fibrose Cística. Salvador, 2016.

GRÁFICO 2. Faixas etárias dos pacientes admitidos no estudo. Salvador, 2016.

GRÁFICO 3. Idade de manifestação dos primeiros sintomas. Salvador, 2016.

GRÁFICO 4. Idade dos pacientes no momento do diagnóstico. Salvador, 2016.

GRÁFICO 5. Frequência das médias de valores de cloro do suor dos pacientes no

diagnóstico. Salvador, Bahia.

GRÁFICO 6. Presença da mutação p.Phe508del na população estudada. Salvador,

2016.

19

20

20

21

23

24

TABELAS TABELA 1. Frequências relativas e absolutas dos sinais e sintomas sugestivos para

o diagnóstico de Fibrose Cística de pacientes do Ambulatório Multidisciplinar de

Fibrose Cística.

TABELA 2. Classificações dos pacientes quanto ao estado nutricional, utilizando

o z escore -2 como ponto de corte (OMS, 2011), no diagnóstico. Salvador, 2016.

TABELA 3. Micro-organismos isolados em espécimes respiratórios de pacientes

com Fibrose Cística do Ambulatório Multidisciplinar de Fibrose Cística entre

2008 e 2015. Salvador, 2016.

22

22

25

4

I. RESUMO

CARACTERIZAÇÃO CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICA DA FIBROSE CÍSTICA

EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA DO NORDESTE BRASILEIRO. A fibrose

cística (FC) é uma doença genética que apresenta diversas mutações no gene que codifica

uma proteína transmembrana, a Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator

(CFTR), essencial no transporte de íons através da célula. As alterações na proteína levam

ao comprometimento multissistêmico, principalmente nos tratos respiratório e digestivo.

São escassos os trabalhos sobre a FC no Nordeste do Brasil. Objetivo: Descrever as

características clínico-epidemiológicas de crianças e adolescentes com fibrose cística

acompanhados em um centro de referência de Salvador-BA. Métodos: Foi realizado um

estudo seccional. Após a inclusão, foi preenchido um formulário para os dados clínico-

epidemiológicos, seguido de coleta de sangue para investigação da mutação p.Phe508del

e obtidas amostras de escarro para determinar colonização bacteriana do trato respiratório.

Resultados: Foram incluídos 59 pacientes, 52,5% do sexo masculino, todos não brancos.

As medianas de idade dos pacientes na admissão do estudo, início dos sintomas e no

diagnóstico foram: 123, 5 e 61 meses, respectivamente. O tempo mediano entre início

dos sintomas e o diagnóstico foi 36 meses. Os dados clínicos que sugeriram o diagnóstico

mais frequentes foram: manifestações respiratórias, os relacionados à insuficiência

pancreática e ao retardo do crescimento. Havia desnutrição em 36,4% dos pacientes no

momento do diagnóstico. p.Phe508del foi identificada em 37,2% dos pacientes,

frequência alélica 25,4% (27/106). De 2008 a 2015, os principais microorganismos

isolados foram: Staphylococcus aureus meticilino sensível (MSSA) – 25 a 80%;

Pseudomonas aeruginosa (PA) – 11,5 a 36,4%; Haemophilus sp. – 6,7 a 28,6%. A idade

mediana da primeira colonização por PA foi 60 meses. Conclusão: A população estudada

foi composta apenas por não brancos, o diagnóstico da doença foi tardio e houve baixa

frequência da mutação p.Phe508del.

Palavras-chave: 1. Fíbrose Cística; 2. Crianças e adolescentes; 3. Perfil clínico-

epidemiológico

5

II. OBJETIVOS

PRINCIPAL

Descrever as características clínico-epidemiológicas de crianças e adolescentes

com fibrose cística acompanhadas em um centro de referência de Salvador-BA.

SECUNDÁRIOS

Em pacientes com fibrose cística acompanhados no Ambulatório Multidisciplinar de

Fibrose Cística do Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos:

1. Descrever as características demográficas;

2. Identificar a idade do diagnóstico da doença;

3. Determinar a idade do início dos primeiros sintomas, calculando o tempo entre os

primeiros sintomas e o diagnóstico;

4. Descrever as principais manifestações clínicas que motivaram o diagnóstico;

5. Classificar o estado nutricional no momento do diagnóstico;

6. Determinar a frequência da mutação p.Phe508del na população estudada;

7. Registrar o histórico de colonizações bacterianas do trato respiratório.

8. Identificar a idade dos pacientes no primeiro isolamento de Pseudomonas

aeruginosa.

6

III FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fibrose cística (FC) é uma doença genética, autossômica recessiva, cuja

disfunção ocorre por mutações no gene localizado no braço longo do cromossomo 7, o

qual tem a propriedade de codificar um RNAm que transcreve uma proteína

transmembrana reguladora de transporte iônico, chamada de CFTR ( Cystic Fibrosis

Transmembrane Conductance Regulator). Esta proteína é encontrada na membrana

apical de células epiteliais do trato respiratório, de glândulas submucosas, do pâncreas

exócrino, do fígado, dos ductos sudoríparos e do trato reprodutivo, entre outros sítios,

(Reis et al., 1998) e é essencial para o transporte de íons através da membrana celular,

estando envolvida na regulação do fluxo de cloro, sódio e água.

Os estudos sobre a FC têm se ampliado, principalmente por essa ser a mais

importante doença hereditária, potencialmente fatal e incidente na raça branca (Ribeiro et

al., 2002). O conhecimento da sua fisiopatogenia, bem como a identificação e

sequenciamento do gene dessa doença permitiram novas formas de aconselhamento

genético e o tratamento de suas complicações. Contudo, existem poucos trabalhos

analisando a população de fibrocísticos no Brasil e em outros países em desenvolvimento.

Uma vez que o tratamento e as intervenções de saúde pública são, em sua maioria,

baseados em dados internacionais, as peculiaridades da população brasileira geralmente

não são levadas em conta, o que pode interferir, por exemplo, na escolha de medicamentos

fornecidos à população pela Rede Pública de Saúde (Alvarez et al., 2004).

A incidência observada entre os europeus e seus descendentes varia entre 1:2.000

e 1:5.000, nascidos vivos. Já entre os africanos é de 1:40.000 (Hamosh et al., 1998). No

Brasil, a incidência estimada é de 1:10.000 nascidos vivos (Bernadino et al., 2000).

Estudos já foram realizados em alguns estados brasileiros: estimativa da incidência de FC

no Estado do Rio Grande do Sul é de 1:2.000 nascidos vivos (Lemos et al., 2004), em São

Paulo 1:32.258, Santa Catarina 1:12.195, Paraná 1:6.803, Minas Gerais 1:21.277 nascidos

vivos (Raskin et al., 1999). No Rio de Janeiro, em estudo de Cabello et al. (1999) a

incidência foi estimada em 1: 6.902 nascidos vivos. A incidência na Bahia é

desconhecida. A inclusão da FC na triagem neonatal do Estado da Bahia, a partir de 2013,

permitirá conhecer esta frequência. Deste modo, estudos são necessários para avaliar as

7

características clínicas e epidemiológicas da população da região Nordeste do Brasil e

com isso determinar condutas terapêuticas mais adequadas à população nordestina.

Histórico e genética:

Em 1905, Landsteiner fez a primeira descrição anatomopatológica da FC em

recém-nascido falecido no quinto dia de vida devido a íleo meconial (Ribeiro et al., 2002).

Essa doença tornou-se conhecida cientificamente em 1938 através de um estudo

publicado por Dorothy H. Andersen, da Universidade de Columbia. A cientista realizou

a primeira descrição detalhada da FC, bem como das alterações produzidas nos órgãos.

Di’Santagnese e colaboradores documentaram, em 1953, o excesso de sódio e cloro no

suor, o que constituiu a chave para o desenvolvimento do teste do suor, ainda hoje o

principal exame utilizado para o diagnóstico da FC (Firmida et al., 2011). Até o momento,

o método de Gibson & Cooke (Gibson, 1959), em que se emprega o estimulo cutâneo da

face palmar do antebraço através da iontoforese com pilocarpina, continua sendo o

método mais usado em todo o mundo (Firmida et al., 2011).

Concomitante ao surgimento do teste diagnóstico, houve grande empenho de

cientistas em identificar o possível gene responsável pela FC. Os esforços culminaram

com a determinação do componente genético e de seu produto, a proteína CFTR (Cystic

Fibrosis Condutance Regulator). Nos últimos 15 anos, estudos com biologia molecular

permitiram melhor entendimento dessa entidade, já tendo sido descritas 2007 mutações

segundo o Cystic Fibrosis Mutation Database (2011), evidenciando a grande

heterogeneidade clínica da doença. As mutações podem ser divididas em 6 classes, de

acordo com suas alterações funcionais (O’Sullivan et al., 2009). A categorização está

representada no Quadro 1. As mutações classes I, II e III associam-se às formas mais

graves da FC, enquanto as classes IV, V, VI estão relacionadas a espectros mais brandos

da doença.

8

Quadro 1- Classes funcionais das mutações genéticas da fibrose cística. Adaptado de

Olveira G, Olveira C. Nutrición, fibrosis quística y aparato digestivo.Nutr Hosp.

2008;23(Supl. 2):71-86.

Classe

Funcional

Disfunção molecular em nível de CFTR Exemplos de mutações

I Ausência de produção G542X

II Defeito no processamento P.Phe508del

III Defeito na regulação do transporte iônico G551D

IV Defeito na condutância R334W

V Produção e transformação inadequada 3849+10kb C > T

VI Porção C-terminal ausente C1412X

A mutação mais frequentemente observada e estudada pertence à classe funcional

II e ocorre por uma deleção de três pares de bases, acarretando a perda de um aminoácido

(fenilalanina) na posição 508 (p.Phe508del) da proteína CFTR, o que impede seu

funcionamento adequado (Morral et al., 1994). Apesar do elevado número de mutações,

muitas são raras. Estima-se que a prevalência da mutação P.Phe508del em pacientes FC

em pacientes caucasianos seja de aproximadamente 70% (Bobadilla et al., 2002).

Contudo, sua frequência varia bastante de acordo com o grupo étnico (De Boeck et al.,

2014). No Brasil, esta mutação tem uma frequência que varia de 7,1% (Viana e Mesquita,

2003) a 52,6% (Firedrich et al., 2007) dos pacientes com FC, a depender do estado

estudado. As outras mutações para FC são menos frequentes e de prevalência variada

entre populações de diferentes origens étnicas e localizações geográficas. Menos de 20

mutações têm frequência mundial maior que 0,1%, cada.

Fisiopatogenia e Manifestações clínicas:

Como a CFTR está expressa em diversos órgãos, a FC pode ter manifestações

clínicas diversas. As diferentes classes das mutações causam alterações funcionais

distintas. Cada órgão que depende da proteína CFTR – pulmões, pâncreas, intestino,

glândulas sudoríparas e vasos deferentes – expressa esta disfunção de forma variada, de

acordo com a sensibilidade de cada um deles ao déficit funcional. Os tecidos dos canais

deferentes são os que mais exigem o funcionamento adequado da CFTR, seguidos das

9

glândulas sudoríparas e do pâncreas (Davis et al., 2006). As manifestações clínicas podem

ocorrer tanto precocemente (na infância), quanto na vida adulta.

O acometimento do trato respiratório associa-se com a maior morbidade e é causa

de morte em mais de 90% dos pacientes. Embora já tenham sido evidenciadas algumas

alterações pulmonares pré-natais, os pulmões são considerados praticamente normais ao

nascimento. Posteriormente, ocorre um ciclo de obstrução, infecção e inflamação que

acarreta danos progressivos a este órgão (Firmida et al., 2011). Na FC, devido à disfunção

da CFTR, a membrana apical do epitélio pulmonar torna-se impermeável ao cloro,

dificultando a sua saída. Como este eletrólito se acompanha normalmente de

movimentação de água, a hidratação da superfície celular fica comprometida. Para manter

a neutralidade elétrica, ocorre um influxo compensatório de sódio para as células, seguido

da água, o que acentua ainda mais a desidratação da superfície celular. O resultado deste

processo é o espessamento do muco, característica marcante desta doença, por este

motivo, denominada mucoviscidose (Farber et al., 1944). O espessamento da secreção

leva à obstrução das vias aéreas, comprometendo os mecanismos locais de defesa,

facilitando a ocorrência de infecções. Por isso, é comum que os pacientes fibrocísticos

apresentem infecção/colonização por diversas bactérias, as quais podem ser mais ou

menos predominantes a cada faixa etária (Gibson et al., 2003). De acordo com uma

publicação oficial da American College of Chest Physicians, de 2014, nos primeiros 5

anos de vida, os microorganismos predominantes são Staphylococcus aureus e

Haemophilus influenzae, embora algumas crianças possam ser infectadas por

Pseudomonas aeruginosa com semanas de nascimento. Na infância mais tardia, a

Pseudomonas aeruginosa torna-se a bactéria predominante (importante

morbimortalidade) (Ciofu et al., 2013). Em adultos, complexo de Burkholderia cepacia

Achromobacter xylosoxidans, Stenotrophomonas maltophilia também são encontradas

(Salsgiver et al., 2014). De todos esses microorganismos já citados, apenas a bactéria S.

aureus costuma ser patogênica em indivíduos imunocompetentes, sendo todos outros

considerados patógenos oportunistas (Gibson et al., 2003).

O comprometimento funcional pulmonar decorre da obstrução das vias aéreas e o

aprisionamento de ar, resultando em aumento na relação do volume residual com a

capacidade pulmonar total (Zemanick et al., 2011). Em estágios mais avançados da

doença, pode ocorrer fibrose intersticial, somando-se um componente restritivo à doença

10

pulmonar ocasionando a redução da capacidade pulmonar total (Firmida et al., 2011). O

envolvimento pulmonar e de seios da face são crônicos, com períodos de reagudizações

ou exacerbações: sinusites (muitas vezes associadas a polipose nasal), bronquites,

pneumonias e bronquectasias. A sintomatologia respiratória é geralmente constituída de

tosse crônica persistente, excesso de produção de escarro mucoso, muito espesso e, muitas

vezes, francamente purulento (Reis et al., 1998).

O comprometimento do pâncreas resulta na redução do conteúdo hídrico da

secreção pancreática e em maior acidez da mesma. Estas alterações contribuem para

obstrução dos ductos pancreáticos e autólise e fibrose do pâncreas. A intensidade deste

processo determina a progressão da doença pancreática. A lesão pancreática pode

começar intrauterinamente e continuar após o nascimento, na infância ou mais tarde, ate

que todo o tecido pancreático acinar seja destruído (Augarten et al., 2008). Os sinais de

insuficiência pancreática ocorrem, na maioria das vezes, bem cedo, sendo vista em,

aproximadamente, 90% dos pacientes com fibrose cística até o final do primeiro ano de

vida (Park et al., 1981). Alguns sintomas da insuficiência pancreática são: diarreia

crônica, má-absorção, esteatorreia, perda de apetite, baixo ganho de peso, com níveis

variáveis de má nutrição (Weintraub et al., 2009). A manifestação mais sugestiva de

disabsorção é a esteatorreia, a qual se caracteriza por fezes volumosas, oleosas e de odor

forte. Às vezes, os sinais clínicos de esteatorreia não são evidentes e a única manifestação

de disabsorção é a dificuldade de ganho ponderal.

O comprometimento nutricional é uma das manifestações iniciais mais comuns

da FC. Quando o paciente apresenta apenas sintomas inespecíficos, como a desnutrição,

poucas vezes inclui-se essa doença nas suspeitas diagnósticas. Supõe-se que o ganho

inadequado de peso seja causado por balanço energético negativo, resultante não só da

má absorção de nutrientes causada pela insuficiência pancreática exócrina, mas também

da doença respiratória crônica e do aumento da taxa de metabolismo basal, além da

ingesta calórica insuficiente. A insuficiência do pâncreas exócrina também pode se

manifestar por sinais e sintomas relacionados à perda proteica e à deficiência de vitaminas

lipossolúveis (Firmida et al., 2011). Uma vez iniciada a perda de função pancreática, não

há remissão.

11

Outras manifestações clínicas são: íleo meconial, manifestação mais precoce da

FC que ocorre em recém-nascidos; doença hepatobiliar; distúrbios hidroeletrolícos;

prolapso retal; infertilidade; hipertensão pulmonar com cor pulmonale; hipovitaminoses

A, D ou E; diabetes dellitus; osteoartropatia hipertrófica; dentre outras, de acordo com a

faixa etária do paciente (Firmida et al., 2011). Com o início da triagem neonatal, espera-

se que os sintomas mais graves sejam cada vez mais retardados e mais facilmente

controlados.

Diagnóstico:

Em mais de 90% dos casos, o diagnóstico da FC é baseado na suspeita clínica,

sendo confirmada por dois testes do suor positivos e/ou a identificação de duas mutações

no gene do cromossoma 7 (Wallis et al., 2006). A Cystic Fibrosis Foundation (CFF),

organização americana sem fins lucrativos com o objetivo de assegurar meios para cura

e controle da doença, além de melhorar a qualidade de vida destes pacientes, sintetizou

os critérios para o diagnóstico da doença, os quais estão sumarizados no Quadro II. A

confirmação do diagnóstico de FC deve ser baseada na presença de uma ou mais

características clínicas fenotípicas, história familiar de FC ou teste de triagem neonatal

(tripsina imunorreativa [IRT]) positivo (critérios A no quadro II) associados à evidência

laboratorial de disfunção da CFTR, documentada por níveis elevados de cloro no suor ou

identificação de mutações causadoras de FC em cada gene da CFTR, ou, ainda,

demonstração in vivo de anormalidades no transporte iônico no epitélio nasal, no teste da

diferença de potencial nasal (critérios B do quadro II) (Rosenstein et al., 1998).

Quadro II: Critérios para o diagnóstico de FC segundo a CFF. A presença de um dos

critérios A associado a um dos critérios B determina a doença. Adaptado de Rosenstein

et al., 1998.

Critérios A Critérios B

Uma ou mais manifestações fenotípicas

consistentes com FC

Duas dosagens de cloro no suor positivas

pelo método de Gibson e Cooke

História famíliar de FC Identificação de 2 mutações do gene FC

Teste de triagem neonatal positivo Demonstração de alteração no transporte

iônico no epitélio nasal

12

Os valores de referência para a dosagem do teste do suor para crianças abaixo e

acima de 6 meses estão discriminados no quadros III (Philip et al., 2008).

Quadro III: Valores de referência para esta dosagem do teste do suor em crianças abaixo

e acima de 6 meses são (Farrell et al., 2008)

Crianças abaixo de 6

meses

Crianças acima de 6

meses

Negativo < 29 nmol/l < 40 nmol/l

“Borderline” 30 – 59 nmol/l 40 – 59 nmol/l

Positivo > 60nmol/l > 60nmol/l

Cabe salientar que pacientes com as formas atípicas da doença podem apresentar

teste do suor negativo ou duvidoso. Por outro lado, algumas condições clínicas podem

levar a testes do suor com resultados falso-positivos: desnutrição, dermatite atópica

(eczema), insuficiência adrenal não tratada, anorexia nervosa, displasia ectodérmica,

hipoparatireoidismo, hipotireoidismo, diabetes insípido nefrogênico, deficiência de

glicose 6-fosfatase, infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, fucosidose, pseudo-

hipoaldosteronismo, mucopolissacaridose e panhipoaldesteronismo. Algumas condições

podem também levar a resultados falso-negativos, como hipoproteinemia, desidratação e

desnutrição (Reis et al., 1998). Cabe ao médico estar sempre atento às diversas

manifestações clínicas, para realizar o diagnóstico correto.

Segundo o Registro Brasileiro de Fibrose Cística, 69,4% dos pacientes brasileiros

com diagnóstico de FC eram brancos, e a mediana de idade dos pacientes no momento

do diagnóstico foi de 1,47 anos (0-82,9 anos), em 2013.

Tratamento:

Os objetivos do tratamento basicamente incluem melhora do estado nutricional e

da função pulmonar, além de prevenção e tratamento de complicações. A assistência aos

pacientes com FC requer uma equipe multidisciplicar, composta de médicos especialistas,

nutricionistas, fisioterapeutas, farmacêuticos, psicólogos, assistentes sociais,

enfermeiros, dentre outros, capacitados para adequar cada conduta de forma específica

para cada paciente (Martiniano et al., 2014). As orientações de assistência aos pacientes

13

são baseados em evidências científicas de ensaios clínicos randomizados, consensos de

especialistas e "benchmarking", uma ferramenta usada pela Cystic Fibrosis Foundation

para identificar práticas de cuidado na saúde associadas aos melhores resultados, para que

essas técnicas sejam disseminadas com o objetivo de melhorar cuidado dos fibrocísticos

em todos os lugares (Schechter et al., 2012).

O tratamento para a doença pulmonar na FC tem como objetivo principal oferecer

a melhor conduta para os seguintes aspectos: o ciclo progressivo de obstrução por muco,

infecções pulmonares crônicas, resposta inflamatória excessiva (para manter a função

pulmonar), reduzir exacerbações respiratórias e diminuir a progressão da bronquiectasia

e do dano da estrutura pulmonar. O uso de drogas que diminuem a obstrução das vias

aéreas, os antibióticos e as medicações inaladas na nebulização para aumentar a liberação

de muco têm levado a significantes melhoras na sobrevida dos pacientes (Martiniano et

al., 2014). Os antibióticos podem ser administrados por via oral, intravenosa ou inalatória.

Para a infecção/colonização por pseudomonas, muito prevalente nos pacientes, o uso é

direcionado sob a forma de demanda (quando houver sinais de exacerbação), profilaxia

(antes que a bactéria seja detectada, para se evitar infecção/colonização) ou de

manutenção (por tempo prolongado, contínuo ou intermitente), além da erradicação da

colonização. Baseia-se nas definições de colonização (sem sinais e sintomas diretos de

infecção e dano pulmonar, podendo ser aguda ou crônica) e infecção (com as

manifestações, também classificada de acordo com o tempo) ou quando existirem

exacerbações das manifestações pulmonares (sinais e sintomas: aumento da tosse e da

produção de escarro, febre, anorexia e perda de peso, absenteísmo na escola ou trabalho,

diminuição da tolerância aos exercícios, diminuição na saturação de oxigênio, novos

achados à ausculta pulmonar, ao raio X de tórax e redução de mais de 10% no Volume

Expiratório Forçado no primeiro segundo – VEF1). As quinolonas orais e

aminoglicosídeos inalatórios têm sido utilizados. Para S. aureus e pseudomonas

resistentes, utiliza-se vancomicina e imipenen, respectivamente. Para Burkholderias

cepacia, podem ser administrados tobracina e amiloride, ambos por via inalatória. Outras

classes de drogas são os moduladores inflamatórios (corticoesteroides e os anti-

inflamatórios não hormonais), os broncodilatadores e os mucolíticos (dornase-alfa, salina

hipertônica e manitol). Além disso, a fisioterapia respiratória regular é recomendada

(Ribeiro et al., 2002).

14

A CFF, em colaboração com companhias biofarmacêuticas, vem desenvolvendo

e testando uma nova classe de drogas chamadas moduladores de CFTR, as quais têm

como alvo mutações de CFTR específicas. Essas drogas têm o potencial de modificação

do curso da doença, estendendo a expectativa de vida dos fibrocísticos em anos e,

possivelmente, décadas (Martiniano et al., 2014). Embora pouco frequente, o transplante

pulmonar bilateral é uma opção a ser considerada em pacientes com FC que desenvolvem

bronquiectasias e doença pulmonar terminal (Braun et al., 2011). Na terapia nutricional

da FC, o objetivo é manter a velocidade de crescimento normal durante a infância e o

peso adequado na vida adulta. Baseando-se em estudos que mostram que o crescimento

proporcional à idade está associado à melhora da função pulmonar, o objetivo

estabelecido para crianças menores de 2 anos é manter o índice Peso/Idade (P/I) maior

que o percentil 50 e para os maiores de 2 anos, o índice IMC/idade (IMC/I) maior que o

percentil 50. Para alcançar os objetivos do crescimento, as crianças com FC devem ter

uma dieta hipercalórica e rica em gordura. Suplementos orais ou por tubos gastrostomia

são frequentemente usados para atingir essas metas calóricas. Para pacientes insuficientes

pancréaticos, a terapia de reposição enzimática é utilizada, com o objetivo de manter a

absorção intestinal adequada de carboidratos, gorduras e proteínas. As enzimas são

tomadas antes de todas as refeições e calculadas de acordo com o peso do paciente ou

pela quantidade de gordura da dieta (Martiniano et al., 2014). É importante também

adicionar polivitamínicos, ricos em vitamina A, D e E, na dieta de fibrocísticos que não

estão ganhando peso. A FC, ainda que não tenha cura, apresenta melhora significativa

do prognóstico com o tratamento sintomático adequado (Tauber et al., 2002). Wang et al.

(2002) demonstraram que o diagnótico precoce pode diminuir a morbidade e Wagener et

al. (2003) destacaram a importância do tratamento precoce e adequado da insuficiência

pancreática e da desnutrição, assim como a fisioterapia e respiratória, com o objetivo de

manter a via aérea desobstruída.

Assim, o presente estudo tem o objetivo de descrever clínica e

epidemiologicamente os pacientes pediátricos de um centro de referência do Nordeste

brasileiro, a fim de conhecer melhor as características peculiares desta população. Uma

vez traçado o perfil populacional, melhores estratégias governamentais acerca do

tratamento e da qualidade de vida dos fibrocísticos podem ser criadas ou modificadas,

atendendo às demandas específicas dessa população tão miscigenada do nordeste

brasileiro.

15

IV METODOLOGIA

IV.1. CAMPO DE ESTUDO

O estudo foi realizado no Ambulatório Multidisciplinar de Fibrose Cística do

Serviço de Pneumologia Pediátrica do Ambulatório Magalhães Neto (AMN), o qual faz

parte do Complexo-HUPES da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador,

Bahia. Trata-se de um serviço exclusivamente pediátrico, que presta assistência a

pacientes na faixa etária de 0 a 20 anos de idade, os quais são, primordialmente, de baixa

renda. O Complexo-HUPES funciona na condição de hospital escola, contribuindo para

a formação de estudantes de diversas áreas e estágios de especialização, incluindo alunos

de graduação advindos dos cursos de Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia e Medicina,

bem como residentes de diversas áreas de saúde. A população fibrocística é atendida

semanalmente por equipe composta por médicos e profissionais das áreas de fisioterapia,

nutrição, farmácia, assistência social e psicologia, que atendem os pacientes desde os

primeiros meses de vida, buscando oferecer-lhes atenção integral e multidisciplinar à

saúde.

IV.2. POPULAÇÃO ESTUDADA

A população em estudo foi composta por todos os pacientes portadores de Fibrose

cística, de 0 a 20 anos, acompanhadas no Ambulatório Multidisciplinar de Fibrose Cística

do Serviço de Pneumologia Pediátrica do Ambulatório Magalhães Neto (Complexo –

HUPES) da Universidade Federal da Bahia, Salvador-BA, entre dezembro de 2008 e

setembro de 2015, perfazendo um total de 59 pacientes.

IV.3. DESENHO DO ESTUDO

O presente estudo trata-se de um estudo seccional, sem grupo de comparação.

IV.4. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Foram incluídos no estudo: todos os pacientes acompanhandos no AMFC que

apresentaram pelo menos 2 testes do suor positivos ou que tiveram o diagnóstico

confirmado pelo estudo genético ou pacientes com teste do suor normal e com doença

pulmonar supurativa crônica e colonização respiratória crônica por Pseudomonas

aeruginosa cepa mucoide e cujo responsável tenha aceitado assinar o termo de

16

consentimento livre e esclarecido (TCLE) para participação do estudo (em caso de

pacientes com idade inferior a 18 anos). Para maiores de 18 anos, foi considerada a

assinatura do próprio paciente.

IV.5. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Foram excluídos do estudo os pacientes enquadrados em ao menos uma das

situações abaixo:

a) Desistiram da participação no estudo;

b) Apresentaram teste do suor normal ou duvidoso e sem colonização respiratória crônica

por Pseudomonas aeruginosa cepa mucoide;

c) Tiveram acompanhamento inferior a 3 meses.

IV.6. DEFINIÇÃO DE TAMANHO AMOSTRAL

Como toda a população-alvo foi estudada, não houve técnica de amostragem nem

cálculo de tamanho amostral, trata-se de uma amostra por conveniência. Todas as crianças

de 0-20 anos de idade acompanhadas no ambulatório de FC no período de Janeiro de 2008

a Setembro de 2015 foram convidadas a participar da pesquisa.

IV.7 VARIÁVEIS:

As variáveis estudadas foram as de caráter demográfico (como sexo, etnia,

procedência, idades na admissão do estudo, consaguinidade e grau de parentesco) e

clínico: idade de aparecimento dos primeiros sintomas, e no momento do diagnóstico;

sintomas que contribuíram com o diagnóstico: desconforto respiratório, história familiar,

ritmo instetinal alterado, retardo de ganho de peso, desidratação, doença hepato-biliar,

distensão abdominal, distúrbio metabólico, doença sinusal, edema ou anemia e

esteatorreia; estado nutricional no diagnóstico (medido através de z escores de

IMC/idade); frequência alélica para a mutação P.Phe508del; e registro de culturas

positivas para Pseudomonas aeruginosa, P. cepa mucoide, S. aureus, MSSA, MRSA, H.

influenza. A etnia foi definida pelo pesquisador principal, de acordo com as carcterísticas

fenotípicas dos pacientes e dos pais.

17

IV.8 COLETA DOS DADOS:

Após a inclusão no estudo, a coleta dos dados clínicos foi realizada pela avaliação

do prontuário médico, no período de Junho de 2012 a Setembro de 2015, de forma

restrospectiva. As informações foram colhidas por mais de um investigador, após

treinamento pelo orientador do projeto, e, se necessário, os responsáveis pelos pacientes

foram entrevistados. Os dados clínicos foram colhidos de forma concomitante aos dados

laboratoriais. Um profissional capacitado realizou as coletas das amostras, através da

técnica do Swab ou da coleta do escarro para cultura das bactérias estudadas, realizadas

a cada consulta. A cada consulta, que é realizada em média a cada 3 meses, são coletadas

espécimes respiratórias, preferencialmente As amostras foram semeadas em ágar

chocolate, ágar sangue, ágar suplementado, meio de cultura MacConkey (específico para

Pseudomonas) e tioglicolato. As cepas mucosas de Pseudomonas aeruginosa foram

identificadas visualmente pela morfologia característica (presença de muco líquido). Foi

coletado 1-2 ml de sangue pela técnica de laboratório, sendo a amostra armazenada sob

refrigeração e encaminhada para o laboratório de gnética do Instituto de Biologia da

Universidade Federal da Bahia, para pesquisa da mutação p.Phe508del. A análise foi feita

através de reação em cadeia da polimerase (PCR) e análise em gel de poliacrilamida 8%,

segundo a técnica de Sanguinetti et al.. (1994). A avaliação do estado nutricional seguiu

os critérios da OMS, que determina pontos de corte segundo z escores, para cada faixa

etária. O índice utilizado foi o de IMC/idade, de acordo com o sexo, classificando os

pacientes estudados em desnutridos e nutridos. Para a avaliação desse indicador, foi

utilizado o programa WHO Anthro 2005 (OMS, Genebra, Suíça). Os dados obtidos foram

registrados em um formulário padrão (ANEXO I).

IV.9. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados obtidos foram armazenados em um banco de dados no programa Epidata

e analisados através do programa Epitada Analysis. A análise descritiva foi realizada

através do cálculo da média, mediana, frequência simples e relativa e amplitude de

variação/amplitude interquartílica das variáveis estudadas. A frequência alélica para a

mutação p.Phe508del foi estimatida dividindo-se o número de alelos mutantes pelo

número total de alelos da amostra. Os pacientes com parentesco foram excluídos deste

cálculo.

18

IV.10. ASPECTOS ÉTICOS

O protocolo da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética Médica do Hospital

Universitário Professor Edgar Santos (CEP-HUPES), cadastro nº 121, com aprovação em

05 de Junho de 2012. (ANEXO III) O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE) foi assinado pelos pais do paciente ou responsáveis legais. (ANEXO III).

19

V RESULTADOS

Foram incluído 59 pacientes no estudo, 31 (52,5%) do sexo masculino. Sete

crianças foram excluídas por apresentarem teste do suor normal ou duvidoso e sem

colonização respiratória crônica por P. aeruginosa cepa mucoide. Todos os pacientes

estudados foram considerados não-brancos.

Oito (13,6%) pacientes tinham pais consanguíneos (os quais eram primos de até

terceiro grau). Havia história familiar para FC em 21,1% (12/57) dos pacientes, sendo

esta informação perdida em um paciente. O gráfico 1 representa a procedência dos

pacientes.

Gráfico 1 – Procedência dos Pacientes com Fibrose Cística do Ambulatório

Multidisciplinar de Fibrose Cística. Salvador, 2016.

Fonte: Reis, MR. Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose cística em um centro pediátrico

de referência do Nordeste brasileiro. Monografia [Graduação em Medicina] – Universidade Federal

da Bahia; 2016.

As medianas de idade dos pacientes na admissão do estudo, no início dos sintomas

e no momento do diagnóstico foram, respectivamente, 122 meses (8- 257), 5 meses (0-

125) e 61 meses (1-190). Esses valores estão representados pelos gráficos 2, 3 e 4. A

mediana de tempo entre o início dos sintomas e do diagnóstico foi 36 meses (2-167).

39,0%

57,6%

3,4%

Procedência

Salvador

Outras cidades da Bahia

Outros Estados doNordeste

20

Gráfico 2: Faixas etárias dos pacientes admitidos no estudo. Salvador, 2016.

Count significa contagem. Fonte: Reis, MR. Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose cística

em um centro pediátrico de referência do Nordeste brasileiro. Monografia [Graduação em Medicina]

– Universidade Federal da Bahia; 2016.

Gráfico 3: Idade de manifestação dos primeiros sintomas. Salvador, 2016.

Fonte: Reis, MR. Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose cística em um centro pediátrico

de referência do Nordeste brasileiro. Monografia [Graduação em Medicina] – Universidade Federal

da Bahia; 2016.

21

Gráfico 4: Idade dos pacientes no momento do diagnóstico. Salvador, 2016.

Fonte: Reis, MR. Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose cística em um centro pediátrico

de referência do Nordeste brasileiro. Monografia [Graduação em Medicina] – Universidade Federal

da Bahia; 2016.

As principais manifestações clínicas que motivaram o diagnóstico foram: queixas

respiratórias (81,4%); dificuldade ganho de peso (72,9%); esteatorreia (54,2%); ritmo

intestinal alterado (49,2%) e retardo do crescimento (23,7%). Nenhum paciente

apresentou íleo meconial (Tabela 1).

22

Tabela 1: Frequências relativas e absolutas dos sinais e sintomas sugestivos para o

diagnóstico de Fibrose Cística de pacientes do Ambulatório Multidisciplinar de

Fibrose Cística. Salvador, 2016.

SINTOMAS PRESENTE

QTD %

Sintomas respiratorios 47 88,7%

Dificuldade de ganho de Peso 43 81,1%

Ritmo intestinal alterado 27 50,9%

Esteatorreia 26 49,1%

Retardo do crescimento 13 24,5%

Disturbio metabolico 8 15,1%

Edema ou anemia 8 15,1%

Historia familiar 7 13,2%

Desidratacao 7 13,2%

Distensao abdominal 7 13,2%

Doenca hepato-biliar 5 9,4%

Doenca sinusal 3 5,7%

Outros(*) 5 9,4% Outros (*): DRGE, regurgitação, vômitos, dores abdominais, obstipação, inapetência. Nenhum

paciente apresentou íleo meconial. Fonte: Reis, MR. Caracterização clínico-epidemiológica da

fibrose cística em um centro pediátrico de referência do Nordeste brasileiro. Monografia [Graduação

em Medicina] – Universidade Federal da Bahia; 2016.

No momento do diagnóstico, 55 pacientes tiveram avaliação do estado nutricional,

destes, 20 (36,4%) foram classificados como desnutridos, dos quais 55¨% tinham idade

inferior a 24 meses. A informação nutricional de 4 pacientes foi perdida. A tabela 2

representa esses dados.

Tabela 2: Classificações dos pacientes quanto ao estado nutricional, utilizando o z

escore -2 como ponto de corte (OMS, 2011). Salvador, 2016.

Qtd %

NUTRIDO (IMC/I > -2) 35 63,6%

DESNUTRIDO (IMC/I < -2) 20 36,4%

A informação quanto ao estado nutricional de 4 pacientes no momento do diagnóstico foi perdida.

Fonte: Reis, MR. Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose cística em um centro pediátrico

de referência do Nordeste brasileiro. Monografia [Graduação em Medicina] – Universidade Federal

da Bahia; 2016.

23

O gráfico 5 representa as médias de valores de cloro do suor dos pacientes, no

momento do diagnóstico.

Grafico 5: Frequência das médias de valores de cloro do suor dos pacientes no

diagnóstico. Salvador, Bahia.

A informação de dois pacientes não foi registrada. Fonte: Reis, MR. Caracterização clínico-

epidemiológica da fibrose cística em um centro pediátrico de referência do Nordeste brasileiro.

Monografia [Graduação em Medicina] – Universidade Federal da Bahia; 2016.

A mutação P.Phe508del foi encontrada em 22 (37,2%) pacientes. O gráfico 6

representa a presença desta mutação na amostra estudada. Para a análise da frequência

alélica para esta mutação, foram estudados apenas 53 pacientes, sendo excluídos aqueles

com grau de parentesco entre si (6 pacientes, sendo 3 – 50% – homozigotos). A frequência

alélica para a mutação p.Phe508del foi de 27/110 (25,4%).

24

Gráfico 6: Presença da mutação p.Phe508del na população estudada. Salvador,

2016.

Fonte: Reis, MR. Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose cística em um centro pediátrico

de referência do Nordeste brasileiro. Monografia [Graduação em Medicina] – Universidade Federal

da Bahia; 2016.

A tabela 3 apresenta os micro-organismos isolados em espécimes respiratórios de

pacientes com FC entre 2008 e 2015. A mediana da idade da primeira colonização por

PA foi de 60 meses (1-216).

16,9%

18,6%

64,4%

p.Phe508del homozigoto

p.Phe508del heterozigoto

p.Phe508del ausente

25

Tabela 3: Micro-organismos isolados em espécimes respiratórios de pacientes com

Fibrose Cística do Ambulatório Multidisciplinar de Fibrose Cística entre 2008 e

2015. Salvador, 2016.

MSSA(N/%) MRSA(N/%)

Haemophillus

sp.(N/%) PA(N/%)

PA

mucóide(N/%)

Total de

pacientes

examinad

os

2008 4 57,1% 0 0,0% 2 28,6% 2 28,6% 0 0,0% 7

2009 2 25,0% 0 0,0% 2 25,0% 4 50,0% 0 0,0% 8

2010 8 53,3% 0 0,0% 1 6,7% 2 13,3% 0 0,0% 15

2011 21 95,5% 2 9,1% 4 18,2% 8 36,4% 0 0,0% 22

2012 20 80,0% 1 4,0% 6 24,0% 9 36,0% 0 0,0% 25

2013 21 61,8% 5 14,7% 5 14,7% 11 32,4% 2 5,9% 34

2014 22 56,4% 2 5,1% 8 20,5% 8 20,5% 1 2,6% 39

2015 31 59,6% 2 3,8% 0 0,0% 6 11,5% 2 3,8% 52

Em 2015, as informações quanto à colonização de 7 pacientes não foi registrada. Legenda: MSSA:

Staphylococcus aureus meticilino sensível, MRSA: Staphylococcus aureus meticilino resistente, PA:

Pseudomonas aeruginosa (PA). Fonte: Reis, MR. Caracterização clínico-epidemiológica da fibrose

cística em um centro pediátrico de referência do Nordeste brasileiro. Monografia [Graduação em

Medicina] – Universidade Federal da Bahia; 2016.

26

VI. DISCUSSÃO

O presente estudo descreveu características clínico-epidemiológicas de 59

pacientes com fibrose cística acompanhados em um centro de referência de Salvador-BA.

Embora a FC seja mais comum entre os brancos, chamou a atenção que a

população estudada foi composta, exclusivamente, por pacientes não brancos, pois, ainda

que um número pequeno de pacientes apresentassem traços caucasoides, estes ou seus

pais também apresentavam características tipicamente de outros grupos étnicos, como os

negros e os ameríndios. Estes resultados contrastam com os dados do Registro Brasileiro

de Fibrose Cística (REBRAFC), de 2013, segundo o qual cerca de 70% dos pacientes

eram brancos. Reis et al. (2000) e Alvarez et al. (2004) encontraram dados semelhantes

aos nacionais, em estudos realizados no Sudeste e Sul respectivamente. A miscigenação

que ocorre na população brasileira é resultado principalmente da mistura de três grupos

étnicos: o europeu, o africano e o ameríndio. Por sua distribuição heterogênea ao longo

do território brasileiro, encontramos contribuições quantitativamente diferentes dos

colonizadores nos diferentes estados. (Viana e Mesquita, 2003). A contribuição africana

foi importante na Bahia (Moura et al., 2008), uma vez que no estado encontram-se sete

das dez cidades com maior concentração de negros do país, em termos relativos (IBGE,

2013). Desta forma, é possível sugerir que a forte influência afrodescente na composição

da população baiana possa explicar os achados do presente estudo. É importante destacar,

ainda, que a classificação étnica apenas pelos traços fenotípicos é falha, pois não

considera origens, apenas características visuais. (IBGE, 2013).

Ainda que os pacientes tenham sido considerados não brancos, houve frequência

alélica de 25,4% para a mutação p.Phe508del, a mais frequente em caucasianos, estando

presente em torno de 70% dos cromossomos dos pacientes dos países europeus e dos

Estados Unidos da América (EUA) (European Working Group on CF Genetics, 1990;

Okay et al., 2005). A presença dessa mutação, essencialmente de caucasoides, corrobora

com a ideia de miscigenação da população baiana, que, embora fenotipicamente

classifique-se afrodescente, revela ocorrência de mutação de origem caucasiana. No

Brasil, a frequência alélica média da mutação p.Phe508del é de 47%, variando de menos

de 9% a 55,2%, em diferentes estados e regiões geográficas, assim como dos diferentes

ancestrais dessas populações (Raskin et al., 1999; Raskin and Fauez, 2001; Cabello et al.,

1999, 2001; Streit et al., 2003; Viana e Mesquita, 2003; Araújo et al. 2005). Costa et al.

27

(2007) encontraram uma frequência alélica para esta mutação na população do estado da

Bahia de cerca de 9%, e supôs que esse baixo percentual pode ser devido à grande

miscigenação populacional, a qual é composta por muitos afrodescendentes. Nesta

casuística, a frequência encontrada foi de 25,4%, bem superior ao encontrado por Costa

et al. (2007), o que pode refletir formas mais graves em pacientes bem jovens, uma vez

que a mediana de idade deste estudo foi de 122 meses, ou seja, cerca de metade dos

pacientes tinham menos de 10 anos. Como há uma baixa frequência alélica, cabe salientar

a importância de pesquisas mais amplas das mutações genéticas, uma vez que a população

estudada deve apresentar outras mutações menos frequentes em brancos. Assim, deve-se

considerar todas as mutações para o diagnóstico genético da FC (Costa et al., 2007).

A maioria dos indivíduos estudados (57,6%) eram procedentes de outras cidades

do estado da Bahia. Os percentuais de pacientes não residentes na capital são ligeiramente

superiores ao observado por Pinto et al. (2009) que demonstraram que cerca de 40%

dos pacientes atendidos num centro de referência de Recife-PE eram de outros

municipios. A FC é uma doença complexa, que exige acompanhamento multidisciplinar,

o qual muitas vezes não é oferecido em cidades menores e com poucos recursos, de forma

que muitos brasileiros com FC deslocam-se para as regiões metropolitanas em busca de

assistência adequada. Os centros de referência para a FC concentram-se nas metrópoles

regionais e na capital. Estes locais oferecem melhores condições de assistência e

tratamento, fornecendo medicamentos e insumos aos fibrocísticos, entretanto, é

importante considerar o ônus socioeconômico deste deslocamento.

Mais de 75% da população estudada tinha menos de 14 anos, ou seja, os pacientes

eram muito jovens. Os dados do REBRAFC 2013 revelaram que 75,2% dos pacientes

com FC tinham menos de 18 anos de idade, destacando a importância do

acompanhamento pediátrico no curso da doença e, possivelmente, a baixa sobrevida

destes pacientes no Brasil .

É importante ressaltar que os sintomas relacionados à doença surgiram

precocemente, com mediana de 5 meses, dado que enfatiza as conclusões de estudos

prévios (Vidigal et al., 2008, Alvarez et al., 2004 e Reis et al., 2000). Pacientes que

manifestam a FC muito cedo tendem a ter piores prognósticos (Fernández et al., 2014).

O diagnóstico e a intervenção precoce alteram significativamente a expectativa de vida

28

dos pacientes (Robinson P, 2001). Nos EUA, Canadá e países da Europa, o diagnóstico

da FC é feito precocemente, antes do primeiro ano de vida, o que proporciona às crianças

fibrocísticas serem tratadas e monitoradas quanto às variáveis que influenciam

diretamente no prognóstico da doença, como, por exemplo, o acompanhamento da curva

de peso/altura e a presença de colonização de vias aéreas superiores por patógenos, que

têm relação íntima com pior prognóstico da doença. (Robinson P, 2001) Em nosso país,

a média de idade ao diagnóstico varia de 1,6 a 9,6 anos, o que leva a prejuízos no

acompanhamento desses pacientes ( Farias et al., 1997; Rabbi-Bortolini et al.; 1998). Essa

variação pode ser explicada pelas diferenças na implementação da Triagem Neonatal no

país, a qual se iniciou nos estados do Sul e Sudeste, sendo muito recente em outro estados,

como os do Nordeste (Mota LR., 2015). Nesta casuística, o tempo mediano dos sintomas

ao diagnóstico foi de 36 meses, semelhante a estudo brasileiro prévio (Alvarez et al.,

2004). Algumas hipóteses podem ser levantadas para a explicar o retardo do diagnóstico:

a não realização de triagem neonatal, que só foi iniciada na Bahia em 2013 e que, portanto,

ainda não pode ser refletida neste trabalho e o baixo grau de suspeição clínica por

pediatras (Kabra et al., 2006).

O diagnóstico precoce da FC pode melhorar a sobrevida dos pacientes. Para

avaliar o impacto do diagnóstico precoce, realizado por rastreamento neonatal antes do

aparecimento de sintomas clínicos, estudo de coorte retrospectiva realizado em New

South Wales, estado mais populoso da Austrália, comparou as evoluções clínicas de

pacientes com diagnóstico realizado antes e depois da introdução do screening neonatal

de rotina. Não foram encontradas diferenças significantes no estado nutricional entre os

dois grupos. Entretanto, o escore de Shwachman-Kulczycki, que avalia a gravidade da

doença como um todo, foi melhor no grupo com diagnóstico precoce. Também foram

significantemente melhores a avaliação radiológica e a função pulmonar (Mckay et al.,

2005). Collins et al. (2008) acompanharam pacientes nascidos em Connecticut, EUA,

entre 1983 e 1997 até a adolescência e mostraram vantagens do diagnóstico precoce por

meio de screening neonatal. Os autores compararam a evolução clínica e da função

pulmonar até os 15 anos de idade, entre crianças cujo diagnóstico de FC foi realizado por

screening neonatal ou por teste do suor. Após o início dos sintomas, os índices de peso e

estatura foram mais adequados tanto na idade do diagnóstico quanto aos 15 anos nas

crianças diagnosticadas por triagem neonatal, enfatizando a importância do diagnóstico

precoce no estado nutricional e no crescimento. Este mesmo grupo também apresentou

melhores parâmetros de função pulmonar aos 15 anos e evolutivamente. Dos 6 aos 15

29

anos, as crianças do grupo screening neonatal apresentaram aumento do VEF1 e da CVF

de 4% e 13%, respectivamente, enquanto o grupo com diagnóstico tardio apresentou

redução destes parâmetros de 14% e 5%, respectivamente. A colonização por

Pseudomonas aeruginosa foi semelhante nos dois grupos (Collins et al., 2008). A triagem

neonatal configura uma ferramenta importante a na detecção precoce da FC (Santos et

al., 2005), bem como capacitação adequada dos pediatras e médicos em geral, afim de

reduzir esse intervalo de tempo entre o início dos sintomas e do diagnóstico. Espera-se

que após o completo estabelecimento da triagem neonatal da FC na Bahia, o curso clínico

da FC nesse estado melhore.

As manifestações clínicas da FC podem ser muito variáveis e ocorrerem

precocemente ou se manifestarem mais tardiamente. Segundo a literatura, as principais

queixas descritas no diagnóstico na FC são: tosse persistente, diarreia crônica e déficit

nutricional (Alvarez et al., 2004, Reis et al., 2000, e Farias et al., 1997). Até 90% dos

pacientes apresentam insuficiência pancreática no primeiro ano de vida (Bronstein et al.,

1992). Dentre os dados da história clínica, os mais frequentes encontrados neste estudo

foram as manifestações respiratórias, os relacionadas à insuficiência pancreática e aos

índices antropométricos (dificuldade de ganho de peso e retardo de crescimento), o que

corrobora os achados prévios da literatura (Pinto et al., 2009; REBRAFC, 2013), embora

não tenha ocorrido íleo meconial nos indivíduos estudados.

A desnutrição é um sinal clínico muito importante na FC, o qual pode piorar a

sobrevida dos pacientes. Ela está diretamente relacionada à presença de insuficiência

pancreática (Burowitz et al., 2009). Nesta pesquisa, a maioria dos pacientes desnutridos

tinham idade inferior aos 24 meses no momento do diagnóstico, o que sugere maior

gravidade da FC neste subgrupo. Estudos prévios determinaram frequência maior de

desnutrição no diagnóstico da doença (Reis et al., 2000; Pinto et al., 2009; Fernández et

al., 2014). Dados do REBRAFC (2013) mostram que os valores de z escore, segundo os

critérios da OMS (2011), caem à medida que o paciente envelhece, mostrando uma

tendência ao aumento de desnutrição nas populações mais velhas. Uma vez que a

população do estudo foi composta por pacientes muito jovens, a desnutrição poderia não

ter se estabelecido ainda no momento do diagnóstico, pois apenas 36,4% dos pacientes

estudados estavam desnutridos neste período.

30

Habitualmente, crianças com fibrose cística são precocemente colonizadas por

Haemophilus influenzae e Staphilococus aureus, ou pelos dois microorganismos. Em

poucos anos, PA torna-se o organismo mais identificado nas vias aéreas. (Rosenfeld et

al., 2003) A infecção por PA contribui consideravelmente para morbidade e mortalidade

dos fibrocísticos, devido à intensa resposta inflamatória, que leva a uma perda de função

pulmonar irreversível (Ratjen FA, 2009). Bush (2002) demonstrou a importância de tratar

agressivamente a primeira colonização por PA, pois os pacientes que não tratados

precocemente, em seu estudo, tinham pior sobrevida. Burns et al., (2001) demonstraram

em uma coorte realizada com 40 pacientes com FC que 98% apresentavam evidência

sorológica ou de cultura de infecção por PA aos 3 anos de idade. O presente estudo

determinou uma mediana de idade da primeira colonização por Pseudomonas aeruginosa

de 60 meses (1-216). Quanto às colonizações, as mais frequentes nos período de 2008 a

2015 foram as por MSSA, Haemophillus sp. e PA, em ordem decrescente. Porém, as

frequências encontradas ficaram abaixo das encontradas em um estudo no estado de São

Paulo, no qual mais de 80% dos pacientes estavam colonizados por MSSA, 76% por PA

mucoide e não mucoide e 5,2% por Bulkhoderia cepacia (Alvarez et al., 2004). O

REBRAFC, 2013, demonstrou que as colonizações mais frequentes na população

brasileira com FC, naquele ano, foram: MSSA, PA, PA mucoide, Haemophillus sp e

MRSA, estando de acordo com os resultados encontrados no presente estudo. O Registro

Brasileiro de FC apresentou, ainda, porcentagens mais altas de colonização por MSSA

até os 20 anos, idade a partir da qual se aumentou a frequência de colonização por PA

(tornando-se a colonização mais frequente). Algumas limitações do estudo das

colonizações nesta pesquisa foram a falta de meios de cultura adequados para a

Bulkhoderia cepacia; os recursos muitas vezes escassos, o que poderia prejudicar a

realização constante de culturas do escarro e da orofaringe; além da dificuldade de acesso

a alguns prontuários, no hospital onde foi realizada a pesquisa. Além disso, a população

estudada correspondeu, principalmente, a crianças pequenas e não supurativas, limitando

a utilização do exame do escarro para isolamento de micro-organismos, que apresenta

maior sensibilidade quando comparado ao swab da orofaringe que foi realizado para a

amioria dos pacientes.

31

VII. CONCLUSÕES

1. A população estudada foi composta apenas por pacientes não brancos.

2. O diagnóstico da FC foi tardio.

3. Houve um retardo no tempo entre a idade de início dos sintomas e o diagnóstico.

4. Os sintomas respiratórios e os gastrointestinais foram os mais frequentes no

momento do diagnóstico.

5. Cerca de 40% dos pacientes desta casuística tinham desnutrição.

6. A frequência da mutação p.Phe508del encontrada foi inferior ao descrito no Sul

e Sudeste brasileiros.

7. As colonizações por Staphylococcus aureus, Haemophillus sp. e Pseudomonas

aeruginosa foram as mais frequentes na população estudada.

8. A idade para a primeira colonização por Pseudomonas aeruginosa variou de 1 a

216 meses.

32

VIII. SUMMARY

Clinical and epedimiological caracterization of cystic fibrosis at a reference center

in northeastern Brazil. Cystic fibrosis (CF) is a genetic disease caused by several

mutations at the Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator (CFTR)’s gene

that encodes this transmembrane protein, essential for the ionic transportation through

cell. Defects in the protein lead to multissistemic manifestations, mainly at respiratory

and intestinal tracts. Studies about CF in northeastern Brazil are scarce.

Objective: To describe clinical and epidemiological profile of children with CF under the

care of a reference center from Salvador, Bahia.

Methods: A cross-sectional study was performed. After inclusion, a form has been

completed with the clinical and epidemiological data, followed by blood samples

collection for p.Phe508del mutation research and obtained sputum samples to determine

bacterial colonization of the respiratory tract. Results: 59 patients were included, 52,5%

male, all non-white. The median age of the patients at the admission, onset of symptoms

and diagnosis was: 12,5 e 61 months, respectively. The median time between the onset of

symptoms and diagnosis was 36 months. The most common clinical data that suggested

the diagnosis were: respiratory manifestations, the ones related to pancreatic insufficiency

and growth retardation. There was malnutrition in 36,4% of patients by the time of

diagnosis. p.Phe508del was identified in 37,2%, allelic frequency of 27/106 (25,4%).

From 2008 to 2015, the main microorganisms isolated were methicillin-sensitive

Staphylococcus aureus (MSSA) - 25-80%; Pseudomonas aeruginosa (PA) - 11.5 to

36.4%; Haemophilus sp. - 6.7 to 28.6%. The median age of first colonization by PA was

60 months. Conclusion: The study population was composed by only non-white patients,

with late diagnosis and low frequency of p.Phe508del.

Key-words: 1. Cystic fibrosis; 2. Children and adolescents; 3. Clinical and

epidemiological profile

33

IX REFERÊNCIAS

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40

X APÊNCIDES

APÊNDICE I: Formulário para Coleta de Dados

COMPLEXO HOSPITALAR PROFESSOR EDGARD SANTOS

PESQUISA FIBROSE CÍSTICA - ADMISSÃO DO ESTUDO (ADAPTADO)

Q.1 Número do protocolo: ____________ Q.2 Número do prontuário:

_____________

Q.3 Nome do responsável:_________________________________________________

Q.4 Nome do paciente:___________________________________________________

Q.5 Idade (ano e meses):_________________ Q.6 Data de Nascimento: ____________

Q.7 Procedência:_____________________ Q.8 Naturalidade: ____________________

Q.9 Nome da genitora:____________________________________________________

Q.10 Data de aplicação do questionário:___/___/___

Q.11 Telefone para contato: __________________

Q.13 Peso ao nascimento:___________________

Q.14 Etnia do paciente: 1- [ ] Branca 2-[ ] Negra 3- [ ] Amarela 4- [ ] Parda 5- [ ]

Indígena

Q.17 Consanguinidade: 1- [ ] Sim 2- [ ] Não 9- [ ]Sem informação

Q.18 Parentes com fibrose cística:

1- [ ] Ausente 2- [ ]pai 3- [ ]mãe 4 - [ ]irmão

5- [ ]primos 6- [ ]tios 7- [ ] Outros_____________

9-[ ] Sem Informação

Dados relativos à Fibrose Cística

Q.19 Idade dos primeiros sintomas: ______anos e _______ meses.

Q.20 Idade do diagnóstico: ____ anos e _____ meses.

Q.21 Diagnóstico sugerido por:

1-[ ] Sintomas respiratórios 2-[ ] História Familiar

3-[ ] Ritmo intestinal alterado (esteatorréia) 4-[ ] Retardo do crescimento

41

5-[ ] Dificuldade de ganho de peso 6-[ ] Desidratação

7-[ ] IRT elevado____________________ 8-[ ] Doença Hepato-biliar

9-[ ] Distensão abdominal 10-[ ] Distúrbio metabólico

11-[ ] Doença sinusal 12-[ ] Edema ou anemia

13-[ ] Outros_____________________ 99-[ ] Sem Informação

Q.26 Apresentou íleo meconial: 1- [ ] Sim 2- [ ] Não 9- [ ]Sem informação

Q.27 Presença de comorbidades:

(0) Ausente; (1) Doença celíaca; (2) Neuropatia; (3) Asma ; (4) Tuberculose; (5) Cílio

imóvel ; (6) Deficiência de IGA (7) Outros____________________

(9) Sem Informação

Questões referentes a sinais, sintomas e outras patologias do paciente no período

anterior ao diagnóstico de fibrose cística:

Q.28 Apresentava desconforto respiratório: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.29 Apresentava dispnéia: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.30 Apresentava chiado: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.31 Apresentava tosse: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.32 Se sim, tosse: (1)Seca (0)Produtiva (99) Sem informação

Q.33. Apresentava infecções pulmonares recorrentes: (1)Sim (0)Não (99) Sem

informação

Q.34 Apresentava sinusite: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.35 Apresentava obstrução intestinal crônica: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.36 Apresentava edema: (1)Sim (0) Não (99) Sem informação

Q.37 Apresentava pólipos nasais: (1) Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.38 Apresentava esteatorreia: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.39 Apresentava diarréia crônica: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.40 Apresentava prolapso retal: (1)Sim (0) (99) Sem informação

Q.41 Apresentava pancreatite: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.42 Apresentava litíase biliar: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.43 Apresentava cianose: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.44 Apresentava hipocratismo digital: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.45 Apresentava dermatites: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

42

Q.46 Apresentava outros sinais (listar):_______________________________________

Q.47 Apresentava intolerância a glicose: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.48 Apresentava alterações no exame da glicemia jejum: (1)Sim (0)Não (99) Sem

informação

Q.49 Escore de Shwachman (a época do diagnóstico):____________

Q.50 Escore de Shwachman atual: _______________

Estudo Genético

Q.51 Foi realizado o estudo genético?

1. [ ] Sim 2. [ ] Não 3. [ ] Não realizado 9. [ ] Sem informação

Q.52 Caso sim, mutação(ões) encontrada (s): _______________________________

Teste do Suor

Cloretos no suor, teste 1:

Q.53 1ª amostra: _______ MEq/l

Q.54 2ª amostra: _______ MEq/l

Avaliação Nutricional

Período referente ao diagnóstico:

Q.77 Peso:________________ Q.78 Altura:__________________

Q.79 IMC/I:_________________ Q.80 Peso/Altura: ___________

Q.81 Peso/Idade _____________ Q.82 Altura/Idade: ___________

Colonização Bacteriana

Q.124 Escarro 1

(Momento do

diagnóstico)

Data:__/__/__

Isolado:

0.[ ] Ausente 1.[ ] P. aeruginosa 2. [ ] Pseudomonas cepa

mucoide

3. [ ] Pseudomonas multiresistente 4.[ ]S. aureus 5. [ ] MSSA

6.[ ] MRSA 7.[ ]Klebsiella 8.[ ]H. influenza 9.[ ]Flora

saprófita

10.[ ]S. maltophilia 11.[ ] B. cepacea 12.[ ]Aspergillus

43

13.[ ]Micobactéria 14.[ ]Sem informação

15.[ ]Outros_________________________________________

Q.125 Escarro 2

(Momento da

introdução no

estudo)

Data:__/__/__

Isolado:

0.[ ] Ausente 1.[ ] P. aeruginosa 2. [ ] Pseudomonas cepa

mucoide

3. [ ] Pseudomonas multiresistente 4.[ ]S. aureus 5. [ ] MSSA

6.[ ] MRSA 7.[ ]Klebsiella 8.[ ]H. influenza 9.[ ]Flora

saprófita

10.[ ]S. maltophilia 11.[ ] B. cepacea 12.[ ]Aspergillus

13.[ ]Micobactéria 14.[ ]Sem informação

15.[ ]Outros_________________________________________

Q.126 Já foi colonizado por Pseudomonas: (1)Sim (0)Não (99) Sem informação

Q.127 Qual a idade do primeiro isolamento: ___ anos e _____ meses (99) não se aplica

Q. 128 Qual a idade do segundo isolamento: ___ anos e _____ meses (99) não se aplica

Q. 129 É colonizado crônico por pseudomonas: (1) Sim (0)Não (99) Sem informação

Data Resultado da cultura – microrganismo isolado (usar código)

44

APÊNDICE II: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

45

46

XI. ANEXOS

ANEXO I: Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do HUPES

47