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CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE AGRICULTURA NO VALE DE VILA POUCA DE AGUIAR Trabalho executado na disciplina de Sistemas de Agricultura - Maio 1999 Elaborado Por: Daniela Sousa Curso: CESE em Agricultura Sustentada Escola Superior Agrária de Bragança Cese em Agricultura Sustentada

caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

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Page 1: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE AGRICULTURA NO

VALE DE VILA POUCA DE AGUIAR

Trabalho executado na disciplina de Sistemas de Agricultura - Maio 1999

Elaborado Por: Daniela Sousa Curso: CESE em Agricultura Sustentada

Escola Superior Agrária de Bragança

Cese em Agricultura Sustentada

Page 2: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

1

1 - O VALE DE VILA POUCA DE AGUIAR 3

1.1 - Localização 3

1.2 - Clima 4

1.3 - Solos 6

1.4 - Caracterização da região natural 8

1.5 - Utilização do solo 8

1.6 - Caracterização da população 10

1.6.1 - O concelho 10

1.6.2 - O vale de Vila Pouca de Aguiar 12

1.7 - Caracterização da exploração agrícola 14

1.7.1 - O concelho 14

1.7.2 - O vale de Vila Pouca de Aguiar 17

1.8 - As principais culturas no vale de vila pouca 20

2 - AS ACTIVIDADES ECONÓMICAS DO VALE 22

2.1 - Produção vegetal 22

2.1.1 - As forragens 22

2.1.2 - As pastagens 23

2.1.3 - Os cereais 24

2.1.3.1 - O milho 25

2.1.3.2 - O trigo 26

2.1.3.2 - O centeio 26

2.1.4 - A batata 27

2.1.5 - Outras culturas 30

2.1.5.1 - A oliveira 30

2.1.5.2 - A fruticultura 31

2.1.5.3 - A viticultura 32

2.2 - A produção pecuária 33

2.2.1 - A produção de carne 33

2.2.1.1 - Os bovinos 33

2.2.1.2 - Os ovinos e caprinos 34

2.2.2 - O leite 36

3 - CONCLUSÕES 37

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS

Page 3: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

2

INDICE DE QUADROS

1 - Temperatura média do ar- período de 1931/1960 42 - Precipitação em mm - período de 1931/1960 53 - Horas de insolação 54 - Ocupação do solo pelas explorações agrícolas do concelho 95 - Evolução da população residente no concelho 106 - Distribuição da população por grupos etários 107 - População do concelho segundo o nível de instrução 118 - Caracterização da população do vale de Vila Pouca de Aguiar 129 - População presente e nº de famílias nas aldeias do vale 1310 - Resultados do inquérito á idade da população do vale(%) 1411 - Inquérito ao nível de instrução no vale (%) 1412 - Total das explorações do concelho (%) 1513 - Repartição da SAU das explorações (%) 1514 - Repartição das explorações por classe de área (%) 1515 - Formas de exploração 1516 - Inquérito á forma de exploração no vale de vila pouca (%) 1717 - Inquérito á representatividade das alfaias nas explorações com tractor 1818 - Inquérito ao nível de equipamento das explorações 1819 - Rendimento das famílias 1920 - Numero de parcelas e área média/exploração das principais culturas 2021 - % da área utilizada nas diferentes culturas em relação à SAU 2022 - Área média ocupada pelas culturas 2123 - Utilização do solo no concelho de Vila Pouca de Aguiar 2124 - Área ocupada por cereais no concelho 2425 - Numero de explorações e áreas de cereal no vale 2526 - Área ocupada pela cultura da batata no concelho 2727 - Área ocupada pela cultura da batata no vale 2728 - Evolução das áreas de olival (ha) no concelho 3029 - numero de explorações e áreas de oliveira no vale 3030 - A produção de azeite no concelho 3031 - Nº de explorações e respectivas áreas para os frutos frescos no concelho 3132 - Área ocupada pela cultura da amendoeira e numero de explorações no concelho 3133 - Área de soutos e produção de castanha no concelho 3134 - Área e numero de explorações no concelho de Vila Pouca de Aguiar 3235 - Numero de explorações da cultura da vinha no vale 3236 - Principais espécies pecuárias no concelho 3337 - Evolução do efectivo bovino de carne no concelho 3338 - Distribuição do bovino maronês no concelho 3439 - O gado bovino no concelho de Vila Pouca de Aguiar 3440 - Evolução do numero de vacas leiteira no concelho 3441 - Numero de criadores por classe de animais 3542 - Numero de vacas leiteiras no vale de Vila Pouca de Aguiar 3543 - Numero de criadores por classes de vacas leiteiras para o vale 36

INDICE DE GRÁFICOS1 - Distribuição da população activa do concelho por sector de actividade 11

Page 4: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

1 - O VALE DE VILA POUCA DE AGUIAR

Reza uma lenda bem antiga que o actual Vale de Vila Pouca de Aguiar fora

outrora um lago atravessável de barco de Montenegrelo ao Castelo 1, e que, por obra humana, se

conseguiu escoar e transformar num bonito vale. Apesar dos seus fundos argiloso, cujo barro foi

durante muitos anos o ganha pão dos produtores de telha e dos oleiros existentes em algumas

aldeias, e da grande quantidade de seixos rolados existentes nos seus solos, não serem

suficientes para sustentarem a lenda, nela porém, existe uma grande verdade: foi o esforço

humano quem criou o que é hoje o Vale de Vila Pouca de Aguiar (Ferreira, 1995).

Uma paisagem única em trás-os-montes, com a superfície cortada e recortada em

parcelas de dimensões reduzidas, fruto de uma sociedade com um modo de ser, pensar e agir

muito próprio e de uma série de condicionalismos essencialmente geográficos e edafo-

climáticos. Nela se faz notar um sistema cultural, baseado numa policultura acentuada com o

cereal de Inverno (centeio) e o milho e a batata como culturas de Verão, misturando-se neles

lameiros, plantações arbóreas, a vinha em bordadura e algumas hortícolas (Moreira, 1984).

Outrora fortemente marcado por um isolamento geográfico, hoje em dia servido

por uma boa rede de estradas de acesso a Espanha (EN2) ou a Vila Real (EN2), pela fronteira de

Bragança (IP4) e ao Porto, também servido por esta rodovia.

Neste vale pratica-se fundamentalmente uma agricultura de subsistência, onde as

produções são basicamente para autoconsumo, sendo a venda efectuada somente quando há

excessos de produção ou quando os preços são aliciantes. Neste trabalho pretende-se

caracterizar os sistemas de agricultura praticados nesta região, tão profícua em produtos como

em qualidades humanas.

1.1 - Localização

O vale de Vila Pouca de Aguiar fica situado, na terra Fria Transmontana-Alto

Corgo, localizado entre as serras de Alvão e da Falperra, no sentido Norte-Sul, a uma altitude

correspondente à área do fundo do vale de 700/750 metros. Este vale, talhado em U, estende-se

desde Vila Pouca, a Norte, até Vila Chã, a sul, numa extensão de cerca 10 Km de comprimento

por 3 a 4 Km de largura.

O rio Corgo nasce no início deste Vale, em Vila Pouca de Aguiar e atravessa-o

em todo o seu comprimento, no sentido Norte-Sul, com contornos pouco sinuosos. Mais ao

menos paralela a este e dividindo o Vale ao meio, passa a Estrada Nacional Nº2. Ao longo do

vale encontram-se outros pequenos ribeiros a afluírem no rio Corgo e estradas transversais que

unem as diversas aldeias à estrada nacional (anexo I).

1 - Duas aldeias muitas antigas situadas no topo da serra da Falperra e do Alvão

3

Page 5: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

As aldeias são pequenos povoamentos, do tipo Concentrado, bem

individualizadas. Na encosta Este da Serra do Alvão, e no sentido Sul-Norte, ficam situadas as

aldeias de Soutelinho do mesio, Outeiro, Souto, Telões, Pontido, Castelo, Soutelo e Fontes; na

encosta Oeste da Serra da Falperra, e no mesmo sentido, ficam as aldeias de Tourencinho,

Gralheira, Zimão, Parada de Aguiar, Freiria e Montenegrelo. Mais ao menos ao centro do vale, e

também no mesmo sentido, ficam as aldeias de Vila Chã, Carrica e Ferreirinho. Vila Pouca de

Aguiar e Vila Chã, no início e no fim do vale, respectivamente.

O vale de vila pouca de aguiar engloba 3 freguesias, sendo elas: Vila Pouca de Aguiar (22,7

Km2), Soutelo de Aguiar (29,36 Km2) e Telões (45,35 Km2).

1.2 - Clima

O vale de Vila Pouca de Aguiar, possui um clima considerado de “extremo”

devido aos invernos longos e frios, onde durante 5 meses as temperaturas médias mensais não

ultrapassamos 10ºC, e se fazem sentir geadas em 9 meses do ano; sendo de bastante importância

as geadas ocorridas em Abril e Maio, assim como as de Setembro e Outubro. Um outro facto

que dá origem a grandes prejuízos na agricultura da região é a frequência de nevoeiros ao longo

das margens do rio Corgo, durante grande parte do ano, e que por vezes impõe limitações à

prática de muitas culturas.

Os dados climatéricos podem ser obtidos através da estação meteorológica de Pedras Salgadas

(localização geográfica: latitude N- 41º,33’; longitude W- 7º, 36’; altitude- 608 metros), em

virtude de ser esta a que se encontra mais próximo do vale que se pretende caracterizar (dista 6

km de Vila Pouca de Aguiar).

• Temperatura:

Pela observação do Quadro I constata-se que as temperaturas médias apresentam

uma grande amplitude; as máximas mostram um clima quente de verão (não sendo um factor

limitante, para o crescimento das culturas) as médias das mínimas também não são impeditivas

de um regular desenvolvimento das mesmas culturas.

J

6,0Temperaturas

médias Mensais

Temperatura média

das máximas

Temperatura média

das mínimas

F M A M J J A S O N D AnoMesesTemp.

7,0 9,9 11,8 14 18,2 20,4 20,2 18,0 12,8 9,7 6,4 12,9

Quadro 1: Temperatura média do ar - Período de 1931/1960

9,4 11,0 14,4 16,8 19,1 24,2 27,2 26,9 23,9 18,6 13,6 9,9 17,9

2,6 3,0 5,4 6,7 8,8 12,1 13,5 13,4 12,0 9,0 5,8 2,9 7,9

Fonte: Estação meteorológica de Pedras Salgadas

4

Page 6: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

• Precipitação:

A queda pluviométrica, como se pode constatar no quadro II, é muito irregular,

verificando-se que Dezembro é por norma o mês mais chuvoso; a ocorrência de trovoadas,

granizo, ventos ciclónicos e a queda de neve é menos frequente.

• Insolação:

As horas de insolação estão representadas no quadro III.

• Geadas:

As geadas e os nevoeiros são muito frequentes durante os meses de Inverno,

sendo o seu início em fins de Outubro, e o fim em meados de Abril e em situações de

acumulação de ar frio as geadas tardias podem ocorrer em princípios de Maio. A data média da

1ª ocorrência é a primeira geada de Outubro que é de extrema importância porque delimita o

período vegetativo das culturas., e a última geada ocorre no primeiro decénio de Maio.

Segundo dados constantes no PDAR (1992) o nº de dias de geadas por ano, em termos médios

são de 80.

5

J

176,1Pluviosidade média

Mensal

F M A M J J A S O N D TotalMesespluv.

149,2 168,2 108,6 99,1 58,6 22,1 26,4 61,4 113,4 161,3 235,2 1380

Quadro 2: Precipitação em mm - período de 1931-1960

Fonte: SMN, o clima de Portugal, fasc. XIII, Lisboa 1965 - Estação meteorológica de Pedras Salgadas.

J

112,6Horas de Sol

% Insolação

F M A M J J A S O N D AnoMesesTemp.

145,9 180,6 229,5 259,5 312,7 361,7 224,2 237,5 183,6 140,6 112,6 2601

Quadro 3: Horas de insolação

38 49 49 58 58 69 78 1,0 63 53 47 39 58

Fonte: SMN, O clima de Portugal, fasc. XIII, Lisboa 1965, Estação meteorológica de Pedras Salgadas.

Page 7: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

• Outros dados climatéricos:

Nebulosidade média anual (décimos) 5,5

Data média da 1ª geada (decénio) 2 de Out.

Data média da última geada (decénio) 1 de Mai.

Evapotranspiração Potencial (mm) 717

Evapotranspiração Real (mm) 507

Regime térmico do solo Me- mésico

Deficiência de água (mm) 208

Excesso de água (mm) 566

Índice de Aridez (mm) 29

Índice de Humidade (mm) 79

Índice Hídrico (mm) 71

Regime hídrico do solo Ud - údico

Concentração (eficácia térmica de verão) 46

Classificação climática B3 B’2 s a’

O Clima de índice hídrico compreendido entre 20-100 , como é o caso da zona de influência da

estação meteorológica de Pedras Salgadas, pode apresentar características que revelam aptidão

para as culturas das regiões temperadas, como é o caso dos cereais de Inverno, plantas tuberosas

(raízes e caules), vinha e certos pomares de pevide (E.F.P., 1978).

No anexo II apresenta-se o perfil do balanço hídrico da estação meteorológica de Pedras

salgadas, que permite visualizar de uma forma mais clara, aspectos de variabilidade climatérica.

1.3 - Solos

Agrológicamente, esta zona é relativamente heterogénea, correndo bons solos de

aluvião nos vales e solos litossólicos delgados nas encostas.

São fundamentalmente do tipo Cambissolos úmbricos (ver anexo III- carta de solos) e

fluvissolos de origem aluvial ou coluvial (fernandes, 1990). Nas partes mais elevadas do vale e

mais afastadas do rio podem observar-se terraços fluviais. Os sedimentos que formam estes

terraços são constituídos por materiais muito grosseiros, provenientes, sobretudo, de granitos.

Nas partes mais baixas e mais próximas do curso de água podem observa-se aluviões modernos

de textura média.

6

Fonte: Baseado no Estudo de Fomento Pecuário para a sub-região norte interior, 1978 e PDAR, 1992.

Page 8: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

Devido à proximidade do rio a toalha freática está próxima da superfície durante parte do ano,

apresentando alguns destes solos drenagem deficiente (Portela, 1989).

Segundo dados obtidos por Figueiredo (1988), os solos do Vale de Vila Pouca de Aguiar, podem

de uma forma geral, englobar-se no seguinte perfil:

4 - (50-80 cm): Pardo amarelado claro, com algumas manchas distintas médias e grandes pardo

forte; franco-arenoso com algum saibro, raro cascalho e rara pedra; agregação anisoforme sub-

angulosa média e grosseira moderada; moderadamente poroso com poros muito finos e finos;

muito friável, raras raízes finas; muito húmido.

5 - (80-95 cm): Mistura de material grosseiro, saibro e algum cascalho, de origem granítica sub-

angulosa e por vezes boleado de quartzo e feldspato com material mais fino que se supõe ter

vindo da camada anterior por lavagem, ou terá, em parte, sido resultado da alteração in situ da

rocha mãe.

Segundo o mesmo autor, a densidade aparente (Dap) situa-se entre valores de 0,95 e 1,49,

encontrando-se a densidade média nos 1,18. Os solos são normalmente ácidos (pH em H2O

<5,9).

Nas camadas superiores dos perfis encontram-se bons teores de matéria orgânica (3,78 a

6,16%), no entanto nas camadas inferiores (entre 30 e 80 cm de profundidade) encontram-se

também teores me matéria orgânica inferiores (0,11 a 1,34%).

Os níveis de P2O5 e H2O são geralmente muito baixos, baixos e médios (6 a 82 mg/Kg de terra

fina) e só raramente, nas camadas superiores dos perfis, aparecem níveis altos destes nutrientes.

Quanto à aptidão cultural (anexo IV- carta de aptidão de uso do solo), pode-se de uma forma

geral, caracterizar como solos com aptidão moderada a marginal para a agricultura (culturas

anuais e culturas arbóreas e arbustivas), em menor quantidade aparecem ainda solos sem aptidão

para a agricultura e com aptidão para pastagem melhorada marginal.

7

1

2

3

4

5

20

35

50

80

95

1 - (0-20 cm): Pardo muito escuro; Franco-arenoso, com bastante saibro, algum

cascalho e raras pedras de granito; agregação anisoforme, fina, média e

grosseira moderada e fraca e granulosa fina e média, fraca a moderada; friável;

compacidade média; pouco a moderadamente porosa com poros muito finos e

finos; bastantes raízes finas, húmido.

2 - (20-35 cm): Transição de 1 para 3.

3 - (35-50 cm): Pardo amarelado escuro, arenoso-franco com muito saibro,

bastante cascalho e rara pedra; agregação anisoforme sub-angulosa, fina, média

e grosseira, moderada e granulosa muito fina e fina, fraca; muito friável;

compacidade pequena; moderado a bastante poroso; algumas raízes finas;

húmido.

Page 9: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

1.4 - Caracterização da Região Natural

O vale de Vila pouca de Aguiar fica situado na Zona Agrária Alvão-Padrela, ou

seja de um lado sofre influências da serra do Marão e do outro lado, influência da serra da

Padrela. De forma a simplificar a interacção que possa existir entre estas duas regiões descreve-

se separadamente, segundo Agroconsultores e COBA (1991), as duas regiões naturais:

• Alvão-Marão: Região sub-atlântica ocidental, reunindo o maciço granítico do Alvão (e

respectiva plataforma planáltica a 950/ 1250m) e a serrania xisto-grauváquica do Marão, que

culmina nos 1300/ 1400m de altitude, distinguindo-se ainda, como elementos paisagísticos

notáveis, as veigas de Vila Pouca de Aguiar e Campeã; reparte-se pela Terra Fria de Planalto e

pela Terra Fria de Montanha (M1).

Domínio dos carvalhos (Q. pyrenaica) e matos de Erica (urzes), Calluna (torgas), Ulex (tojos) e

Chamaespartium (carqueijas); agricultura na base do centeio, prados naturais nos vales

(bovinicultura), caprinos e ovinos nas pastagens de montanha e regadios nas veigas e fundos de

vale.

• Padrela: Região sub-atlântica que enquadra o maciço montanhoso e a extensa plataforma

planáltica de Padrela (800/ 900m de altitude), distinguindo-se uma parte setentrional granítica

de formas aplanadas e suaves, uma parte central xistenta de ondulado expressivo (entalhamento

dos rios Tinhela e Curros) e uma parte meridional granítica de formas suaves em alternância

com formas eriçadas e penhascosas; reparte-se pela Terra Fria de Planalto (F1, F2, F3).

Vegetação climácica do domínio dos carvalhos (Q. pyrenaica) e matos (Erica, Ulex,

Chamaespartium), agricultura do centeio e batata, intensificação cultural nos vales, pecuária

bovina e caprina, produção de castanha e pinhal bravo.

1.5 - Utilização do solo

Quanto á utilização da terra, predomina a pecuária bovina nos lameiros húmidos

e também de caprinos e ovinos nas pastagens de altitude. A agricultura faz-se com base no

cereal de inverno, em geral centeio, alternando com pousio/ pastagem. Grande intensificação

cultural das veigas e orlas ribeirinhas, com base no cereal ou prado/ forragem de inverno e

milho, batata ou hortícolas no verão, frequentemente em regadio. Ocorrência de soutos num ou

noutro local e pinhal bravo a incidir nas encostas íngremes no maciço montanhoso (PDAR,

1992), (anexo V). De acordo com dados constantes no PDAR (1992) a ocupação do solo no

concelho de Vila Pouca de Aguiar é feita conforme com o quadro da página seguinte.

8

Page 10: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

9

Quadro 4: Ocupação do solo pelas explorações agrícolas do concelho

Fonte: PDAR, 1992.

Área

total

Área

agrícola

Área

florestal Incultos

36.446 8.869 22.446 5.055

freguesias

Área

territorial /ha

16 43.268

Área

social

77

Total de Explorações (há)

Page 11: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

1.6 - Caracterização da população

1.6.1 - O concelho:

O concelho de Vila Pouca de Aguiar possui uma área de 433 Km2, estando a ela

agregadas 16 freguesias com uma área média de 27 Km2. A densidade populacional das 16

freguesias varia entre 6 e os 140 habitantes/ Km2, sendo Vila Pouca de Aguiar a mais populosa.

Do Ponto de vista Histórico, a evolução da população residente no concelho pode-se resumir no

seguinte quadro:

Pode-se constatar que de 1960 a 1970 houve um decréscimo da população que se deve em

grande parte à emigração para a Europa Central. Contribuiu também para o fluxo de população

a saída para o litoral com particular destaque para as regiões da grande Lisboa e do Porto,

principalmente devido à diminuição de rendimento proveniente das actividades agrícolas da

região. A variação do ano 1981 para 1991 foi de -15,11% de habitantes no concelho.

A variação da população em função da faixa etária pode-se também resumir no seguinte quadro:

10

Quadro 4: Evolução da população residente no concelho

Fonte: Plano director municipal, 1992.

1960 1970 1981 1991

25.394 21.420 20.121 17.085

1940 1950

20.552 23.412

Quadro 5: Distribuição da população por grupos etários

Fonte: XI Recenseamento Geral da População e XII Recenseamento Geral da População

1960 1970 1981

< 14 >15<64 >64 < 14 >15<64 >64 < 14 >15<64 >64

9.649 14.192 1.305 8.485 11.310 1.625 6.232 11.708 2.181

1991

< 14 >15<64 >64

3.946 10.566 2.569

Page 12: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

Como se pode observar o número de pessoas com idade superior a 65 anos é bastante elevado e

com tendência crescente, quando comparado com a restante população, podendo-se concluir que

se trata de uma população bastante envelhecida. A classe etária 25-65 anos é a que representa o

maior numero de pessoas mas também é a classe que abrange a maior faixa etária. De salientar

que houve um certo alargamento do escalão da população idosa, isto em parte devido à

diminuição dos outros dois grupos etários ao longo de 3 décadas.

A estrutura da população quanto ao nível de instrução, pode ser resumida através do seguinte

quadro:

O nível de instrução é fraco, com elevada taxa de analfabetismo, chegando a rondar no concelho

os 16,4% (Censos 1991) e atingindo sobretudo a população adulta e idosa.

Como causa directa de uma estrutura etária desequilibrada e de um índice de dependência muito

elevado, a taxa de actividade do concelho de Vila Pouca de Aguiar era, em 1981, muito baixa,

pois apenas 28% dos habitantes desenvolvia uma actividade profissional.

A distribuição da população por sectores de actividade, revela o carácter eminentemente rural

do concelho (gráfico I). Em 1981, quase metade dos activos trabalhavam na agricultura e menos

de 9% na indústria transformadora. A indústria extractiva estava bem representada com mais de

7% dos activos, bem como a construção com mais de 15,5%.

11

Quadro 6: População do concelho segundo o nível de instrução

Fonte: Censos 1991

Analfabetos

> 10 anos

A

frequentar

o ensino

2 800

Nível atingido

Básico Secundário Médio/superior

3 247 13 304 2 129 517

Gráfico I : Distribuição da população activa do concelho por sectores de actividade

Page 13: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

Como se pode observar a estrutura sócio-profissional revela o seu carácter eminentemente rural:

cerca de metade da população activa dedica-se à agricultura. São ainda importantes, em termos

da ocupação da força de trabalho, os sectores da construção e da administração local. A

industrialização é débil: menos de 10% dos activos, quase tantos como os ocupados na

exploração mineira.

1.6.2 - O vale de Vila Pouca de Aguiar

O agricultor do vale de Vila Pouca de Aguiar enquadra-se bem na tipologia

genérica do agricultor de Trás-os-montes. Este encontrava-se isolado do mundo exterior devido

às barreiras naturais que se erguem entre ele, obrigando-o desta forma a viver em comunidades

fechadas, com poucos contactos, para além do circulo restrito das pessoas da aldeia ou das

aldeias mais próximas.

A agricultura era praticada sob o ponto de vista da auto-suficiência, apoiada em explorações do

tipo familiar e estabelecendo pequenas trocas com o exterior. O espirito de comunidade, ainda

se faz sentir com formas ancestrais como o “touro do povo”, a “eira e o forno do povo”, o baldio

da aldeia em regime de “vezeira”, bens comunitários e entre ajuda nas tarefas agrícolas.

Hoje em dia esta tipologia dissipa-se, facto que se deve, ao aumento das vias de comunicação

que acabaram por estreitar os laços entre as aldeias e as cidades, permitindo a entrada do

chamado “progresso”. No entanto o agricultor ainda vê a terra como uma fonte de poder e

prestígio. De uma forma geral a terra ainda é explorada no sentido de produzir para a família e

poucos a utilizam de uma forma intensiva.

O vale de vila pouca de aguiar é constituído por 3 freguesias, sendo elas: Soutelo de Aguiar,

Telões e Vila Pouca de Aguiar. Actualmente, e segundo os Censos de 1991, o vale de Vila Pouca

de Aguiar apresenta a seguinte população:

12

Quadro 7: Caracterização da população do vale de Vila Pouca de Aguiar

População presente

Vla. Pouca Soutelo Telões

3.169 1.7721.268

Fonte: Censos 1991

Page 14: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

O povoamento do vale dispersa-se ao longo da EN2, a principal via de comunicação, e é

acompanhado por uma outra característica: a estrutura relativamente concentrada, em

aglomerados de pequena dimensão, típica desta região do país. Do quadro que se segue pode-se

constatar esta afirmação pela observação do numero de aldeias que rodeiam o vale e o numero

de habitantes que nelas reside:

13

Quadro 8: População presente e nº de famílias nas aldeias do vale

Page 15: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

14

Quadro 9 : Resultados do inquérito à idade da população do vale (%)

Quadro 10 : Inquérito ao nível de instrução no vale (%)

35 - 44 45 - 54 55 - 65 > 65

7,1 30 16,7 18

< 18 18 - 34

10,2 18

Fonte: Baseado em Ferreira (1995)

7º ao 9º 10º ao 12º Médio Superior

6,5 5,2 4,1 2,1

Primário Preparat.

45 18,9

Fonte: Baseado em Ferreira (1995)

Nenhum

18,2

O nível de instrução como se pode constatar é bastante baixo. Os níveis de instrução não

superiores à primária representam 63,2% do total da população. A actual crise e as dificuldades

de emprego associadas a esta taxa de instrução conduziram a um forte fluxo migratório sobretudo

na classe etária (18-34 anos), para os países do norte da Europa.

1.8 - Caracterização da exploração agrícola

1.8.1 - O Concelho

Segundo dados do Estudo de Fomento Pecuário de Trás-os-montes (1978), a

região de Vila Pouca de Aguiar caracteriza-se por um xadrez de culturas constituído por: Vinha,

Oliveira, Arvores de fruto, Culturas hortícolas, Trigo, Centeio, Milho e Prados permanentes de

regadio.

De acordo com dados constantes no RGA (1989), o concelho de Vila Pouca de Aguiar possui

2.491 explorações sabendo que a área total ocupada por elas é de 14.561 hectares, abrangendo

34% da superfície territorial. A área total média por exploração é de 5,85 hectares, e a superfície

agrícola útil é de 9.461, havendo um SAU médio por exploração de 3,9. O numero médio de

blocos por exploração é de 8,3 e a área média de SAU por bloco é de 0,47.

Os quadros que se seguem permitem caracterizar de uma forma simples as explorações do

concelho de Vila Pouca de Aguiar.

Page 16: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

15

Quadro 9 : Total das explorações no Concelho (%)

Quadro 10 : Repartição da SAU das explorações (%)

Matas e florestas

s/ cult. sobcobertoSANU Outras

2,68 5,56

SAU

66,21 25,54

Fonte: RGA (1989)

Culturas

permanentes

Prados e Pastagens

Permanentes

10,7 35,7

Horta familiar

1,2

Terras aráveis

52,7

Fonte: RGA (1989)

Quadro 10 : Repartição das explorações por classe de área (%)

5 - 20 Ha 20 - 50 Ha

23,2 0,1

1 - 5 Ha

65,1

0 - 1 Ha

10,5

Fonte: RGA (1989)

> 50 Ha

1,1%

A maior parte das explorações agrícolas possui uma área < a 5 hectares (cerca de

75,6% do total das explorações). As explorações encontram-se bastante fragmentadas de

pequenas parcelas, na maioria dos casos muito afastadas, de formas irregulares e com fracos

acessos. Este factor é um dos grandes responsáveis pela baixa rentabilidade das explorações.

Pode-se concluir que a pulverização da propriedade é uma das maiores condicionantes para o

desenvolvimento da agricultura no concelho.

As formas predominantes de exploração encontram-se descritas no quadro abaixo:

Quadro 5: Formas de exploração

Fonte: INE - recenseamento agrícola, 1979.

Total de explorações

Exploração simples

C. própria

Nº Área

36.4463.543 1.837 30.863 54 8881 367

Exploração mistaArrendamento Outras

Nº Área Nº Área Nº ÁreaNº Área

5.1371.564

Page 17: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

16

Através da análise dos dados deste quadro constata-se que a forma de exploração

predominante é por conta própria, correspondendo a 51,8% das explorações do concelho. Este

valor hoje em dia será maior em virtude do aumento de estímulos financeiros dados aos jovens

agricultores por conta própria.

Segundo o PDAR (1992), verifica-se que predominam as explorações do tipo familiar (95%).

Neste tipo de exploração toda a actividade agrícola é feita pelo agregado familiar, no entanto,

em alguns casos recorre-se a um assalariado, não sendo o trabalho deste superior ao executado

pela família, aliás, tendência que é confirmada também no vale de Vila Pouca.

Page 18: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

17

1.8.2 - O vale de Vila Pouca de Aguiar

As explorações agrícolas do vale de Vila Pouca são fundamentalmente do tipo

familiar, sabendo que 57,8% do total da população do vale tem como ocupação principal a

agricultura, e somente 38,9% têm outra actividade profissional, os restantes 3,3% não têm

qualquer tipo de ocupação (Ferreira, 1995). O empresário é quase sempre o chefe de família,

muitas vezes numerosa. Os restantes membros da família também dão o seu contributo quer a

tempo inteiro quer parcial à exploração.

A forma como o empresário explora a terra pode ser representada através do seguinte quadro:

A exploração da terra, como já foi referido faz-se fundamentalmente com mão-de-obra familiar,

sabendo que 34,3% da mão-de-obra familiar se dedica à exploração a tempo inteiro e os restantes

65,7% dedicam-se à exploração a tempo parcial (Ferreira, 1995). No entanto, quando necessário

recorre-se à mão-de-obra assalariada temporária, esta mão-de-obra é contratada para qualquer

tipo de trabalho, sempre que o empresário sinta falta dela, mas é fundamentalmente em épocas de

ponta, como: roçar o mato, tirar estrumes das “cortes do animais”, arrumar os fenos, plantações e

arranque de batatas, sachas e ensilagens, etc... . Segundo Ferreira (1995) são pagas 23,8 jornas

por ano por exploração, das quais 23,1 são pagas a homens e apenas 0,7 a mulheres. Algumas

explorações do vale, possuem no entanto, mão-de-obra permanente, sabendo que 10% têm um

empregado permanente e 5% têm 2 assalariados permanentes.

Uma modalidade antiga, fortemente enraizada, é a troca de trabalho com os vizinhos, este tipo de

trabalho por vezes torna-se bastante importante, sobretudo em períodos de sementeira e colheita

como é o caso das batatas e fenação.

Em suma, as empresas do vale possuem um carácter tipicamente familiar (92,5% dos trabalhos

são efectuados pelo agregado e 7,5% com recurso à mão-de-obra exterior).

Quadro 5: Inquérito á forma de exploração no vale de Vila Pouca (%):

Fonte: Baseado em Ferreira, 1995.

Conta própria Arrendamento Parceria

Superfície total SAU SAU SAU

83 80,1 8,1 10,1 7,3 7,2

Empréstimo

SAU

1,6 2,8

Superfície total Superfície total Superfície total

Page 19: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

18

O trabalho feito por animais sofreu uma redução acentuada nos últimos 10 anos.

Todavia a pequena dimensão das parcelas continua a exigir o esforço animal em muitos

trabalhos. O tractor e as alfaias a ele associados são cada vez mais usados. Com o tractor estão

normalmente associados: o reboque, a charrua, o escarificador, a grade de discos, o sulcador e a

fresa. Com a tracção animal, está o arado de pau, arado de ferro, o carro de bois. Nas culturas

forrageiras, que têm uma importância bastante relevante na economia do vale, faz-se uso da

segadeira e enfardadeira. Para a cultura da batata e da vinha são utilizados os pulverizadores e/ou

atomizadores. Dentro das pequenas alfaias inclui-se a sachola, o ancinho, a gadanha, a foice e

outros. O centeio é colhido com ceifeira debulhadora e as culturas de regadio excepto quando a

rega se faz por gravidade, necessitam de motores de rega.

A grande parte (60%) das explorações do vale têm tractor próprio e as restantes alugam ou usam

emprestado. Todas as explorações que possuem tractor, têm também outras alfaias a ele

associadas, como se pode constatar no quadro abaixo:

As explorações do vale, quanto ao restante equipamento próprio podem-se resumir no quadro nº

Quadro 10: Inquérito à representatividade das alfaias nas explorações com tractor:

%

Fonte: Ferreira (1995)

Alfaias

Reboque 100

Charrua 100

Escarificador 100

Sulcador 45

Grade de discos 35

Fresa 20

Quadro 10: Inquérito ao nível de equipamento das explorações:

% de explorações

Fonte: Ferreira (1995)

Equipamento

Grade de bicos 95

Motor de rega 85

Atomizador 80

Pulverizador 70

Arado de pau 65

Page 20: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

19

Segundo Ferreira (1995), o rendimento familiar das explorações do vale é

fundamentalmente obtido à custa da produção animal, em 85% das explorações; em 10% das

explorações é a produção de batata e em 5% das explorações são as forragens. As famílias do

vale de Vila Pouca vão buscar os seus rendimentos às actividades constantes no quadro abaixo:

Segundo dados retirados do PDAR (1992), o índice de rendimento do concelho é de 1,1, e este é

dos mais baixos da zona de influência do PDAR- Alto Tâmega e Alvão-Padrela.

De acordo com o inquérito, elaborado em 1995, 45% dos agricultores eram sócios de

cooperativas.

Do mesmo inquérito, constatou-se que só 10% dos empresários agrícolas tinham formação

agrária, 5% tinham o curso de jovens agricultores e 5% cursos técnicos agrários. Os restante 90%

não possuíam qualquer formação agrícola.

Em relação aos projectos de melhoria, 10% das explorações implantaram projectos do tipo 797

para reconversão de bovinos em ovinos ou de bovinos de leite em bovinos de carne, os restantes

90% não apresentaram nenhum projecto. Hoje em dias algumas áreas agrícolas estão a ser

convertidas em áreas florestais ao abrigo de projectos do tipo 2080.

Quadro 4: Rendimentos das famílias:

Fonte: baseado em Ferreira, 1995.

ReformasRemessas do

estrangeiro

Juros

bancários

Abono de

familia

45% 30% 15% 5% 5% 0%

45% 30% 12,5% 0% 12,5% 0%

Produtos

obtidos da

exploração

Actividades

não agrícolas

Principal fonte de

rendimento

Segunda fonte de

rendimento

Page 21: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

20

1.9 - As principais culturas no vale de vila pouca

A área agrícola do vale é utilizada fundamentalmente para o cultivo de forragens,

no entanto são também representativas as culturas como a batata, milho e os prados, como se

pode constatar no quadro abaixo:

A área de vinha aqui considerada encontra-se apenas a rodear, totalmente ou parcialmente, as

parcelas cultiváveis (o mesmo se pode dizer sobre a área de fruteiras). Entre as principais

culturas, em especial a batata e o milho, é comum fazer-se culturas intercalares. As culturas

intercalares são: ferrã ( centeio cortado verde para dar aos animais), o nabal, o azevém ( vulgo

“erva joeira”) e a consociação aveia e ervilhaca (encontrada somente nas grandes explorações do

vale).

Quadro 11 : Numero de parcelas e área média/ exploração das principais culturas

Quadro 12 : % da área utilizada nas diferentes culturas em relação à superfície agrícola útil

Page 22: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

21

Quadro 14 : Utilização do solo no concelho de Vila Pouca de Aguiar

Área (Ha) UF

Prados permanentes de

regadio (lameiros)

Prados permanentes de

sequeiro (lameiros)

Área total de regadio de cultura

agrícola e cultura agrícola

condicionada

Total

285

573

4.610

1.624

1.368.000

1.719.000

18.440.000

1.624.000

23.151.000

Área total de sequeiro de cultura

agrícola e cultura agrícola

condicionada

Baldios, incultos e áreas

florestadas18.016 -------------

--------------

Fonte: E.F.P. para trás-os montes, 1978.

Segundo Ferreira (1995), as forragens no vale de Vila Pouca de Aguiar representam 45% da

superfície agrícola útil, os prados 22%, o milho 15%, a batata 6% e o centeio 3%.

Sabendo que a área média por elas ocupada pode ser representada através do seguinte gráfico:

Deste gráfico pode-se concluir que as forragens e os prados estão em parcelas de maiores

dimensões (0,9 há a 0,7 há ), quando comparadas com as parcelas usadas para o milho (0,4 há),

batata (0,2 há) e centeio (0,2 há). Como termo de comparação, para a área do concelho, mostra-se

o quadro abaixo :

Quadro 13 : Área média ocupada pelas culturas

Page 23: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

22

2 - AS ACTIVIDADES ECONÓMICAS DO VALE

2.1 - Produção vegetal

De acordo com o inquérito efectuado ao vale de vila pouca por Ferreira

(1995), as cultivares que caracterizam o sistema de agricultura nesta região são por ordem de

dominância: Forragens (como complemento da produção de bovinos e mais raramente de

ovinos e caprinos), Pastagens, Milho, Batata e Centeio.

2.1.1 - As Forragens:

São utilizadas fundamentalmente como fonte de alimento do gado bovino, nas

alturas em que o gado não pode sair para pastar, compensando a falta de pastos que ocorre

pelo inverno.

A ferrã (vulgarmente chamada nesta zona), é semeada em Outubro, no início das primeiras

chuvas que coincide normalmente com o corte do milho (cultura bem estrumada e com

carácter melhorador). Os trabalhos culturais inerentes a esta cultura compreendem uma

pequena lavoura e uma gradagem. É prática corrente nesta região fazer sementeira, sem que

para isso se proceda a trabalhos aratórios vulgares, à qual tradicionalmente se chama “atupir

erva”, que consiste numa sacha superficial após terem sido lançadas as sementes; esta

operação faz-se em dias de fraca intensidade pluviométrica.

As cultivares normalmente utilizadas para a produção da forragem são (questionário

efectuado a alguns agricultores da região): Azevém permanente, trevo ladino, erva molar, e

trevo violeta (para terrenos ácidos com disponibilidade de água), entre outras....

As estrumações, resumem-se aos dejectos dos animais em pastoreio e as adubações

usualmente não se fazem, no entanto alguns agricultores, depois do primeiro corte, aplicam a

lanço, Foskamónio ou o Nitrolusal como adubação de cobertura, mas sempre em baixas

dosagens por hectare. De salientar que as forragens são sempre colocadas em terrenos mais

férteis e mais irrigados de características aluvionares.

As forragens sofrem cortes sucessivos (mais ou menos 3 cortes, em função da condução) e

por volta do mês de Maio deixam de ser cortadas, retiram-se-lhes os gados (no caso de ter

sido pastoreada), para que do campo se possam colher os fenos, que ocorre vulgarmente no

mês de Julho.

As regas são fundamentais para que se possam colher boas forragens e posteriormente fenos

de boa qualidade, com este sentido, as áreas destinadas a forragens ou são regadas por

aspersão ou, mais usualmente, por gravidade, estando o seu cultivo condicionado a este

factor: a existência de água.

Page 24: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

23

2.1.2 - As Pastagens:

2.1.2.1 - As Pastagens Permanentes ou Naturais:

Encontram-se fundamentalmente em zonas mais pobres do tipo sequeiro o que corresponde a

locais mais declivosos com regadio imperfeito. No vale de Vila Pouca, este tipo de pastagens

têm pouca representatividade, já o mesmo não se pode dizer das encostas que o ladeiam. Este

tipo de pastagens destinam-se fundamentalmente ao aproveitamento directo pelo gado bovino

autóctone, principalmente no Inverno.

Segundo, Pires (1994) citando Teles, a vegetação deste tipo de lameiros pode ser incluída nas

seguintes associações:

Classe Molinio-Arrhenatheretea

Ordem Arrhenatheretalia

Aliança Cynosurion cristati

Associações Anthemido-Cynosuretum

Bromo-Cynosuretum

Aliança Arrhenatherion Elatioris

Associação Agrosto-Arrenatheretum bulbosi

Ordem Molinietalia

Aliança Juncion Acutiflori

Associações Peucedano-Juncetum Acutiflori

Hyperico-Juncetum Acutiflori

As associações de vegetação dominantes na Região de Vila Pouca de Aguiar são:

Anthemido-Cynosuretum, Agrosto-Arrhenatheretum Bulbosi e Peucedano-Juncetum

Acutiflori.

As espécies características e diferenciais das associações de vegetação são:

Anthemido-Cynosuretum:

- Anthemis nobilis L.

- Holcus mollis L.

- Galium broterianum Bss. E Reut

- Orchis sesquipedalis Willd.

- Centaurea nigra L. ssp rivularis (Brot.) P. Cout.

- Gladiolus illyricus Koch.

- Anthoxanthum amarum Brot.

Page 25: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

24

Agrosto-Arrhenatheretum bulbosi:

- Alopecus brachystachyus (L.) Hamfe

- Dactylis glomerata L. ssp. glomerata

- Anthemis nobilis L.

- Centaurea nigra L. ssp. rivularis (Brot.) P. Cout.

- Holcus mollis L.

Peucedano-Juncetum Acutiflori:

- Potentilha erecta (L.) Hamfe

- Peucedanum lancifolium Hoffgg. E Link.

- Paradísea lusitanica (P. cout.) Samp

- Carex panicea L.

- Carex camposii Bss. E Reut.

2.1.2.2 - Os Lameiros de Feno:

São os mais expressivos no Vale de Vila Pouca e os que contribuem mais para a alimentação

do efectivo bovino. São prados de regadio ou regadio imperfeito aproveitados em regime

misto de corte e pastoreio ao longo do ano. São representativos de declives pouco acentuados

e a sua forma de condução é igual à descrita no ponto 2.1.1.

2.1.3 - Os cereais:

Na região de Trás-os-Montes os cereais ocupam uma área de 110.900 hectares distribuídos

por 72.043 explorações (PDAR, 1992). A cultura do centeio no concelho assume primordial

importância (45,5%). Esta região constitui assim a maior produtora deste cereal no

continente.

Quadro 5: Área ocupada por cereais no concelho

Fonte: PDAR, 1992.

1979

1989

Milho

2.916

Total

1.137 14 1.389 2.540

Trigo Centeio

Page 26: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

25

Nesta região prevê-se uma quebra acentuada de rendimento dos produtos cerealíferos,

motivada por um lado, da maior parte dos solos onde são cultivados os cereais, terem fraca

aptidão para estas culturas e também pela retirada de incentivos por parte do governo

Português devido á entrada de Portugal na CE.

2.1.3.1 - O Milho:

É uma cultura que pode ser semeada em sequeiro ou em regadio, destinando-se para este

efeito os terrenos mais férteis, frescos e fundos, com abundância de água para o milho de

regadio e os solos mais esqueléticos do tipo leptossolos, para o milho de sequeiro. No entanto

as operações culturais que antecedem à sua sementeira são exactamente as mesmas, e

compreendem a incorporação de estrume, correcção calcária (em solos ácidos) e adição de

um adubo composto. Posteriormente procede-se a uma lavoura seguida de gradagem que visa

o enterramento de estrume e do material orgânico proveniente da cultura anterior, que

normalmente é uma forragem.

A sementeira do milho de sequeiro é vulgarmente feita a lanço (com a finalidade de ficar

mais denso), já a do milho de regadio é feita à linha, com o auxilio de um semeador mecânico

ou manualmente ao rego. A sementeira dos milhos ocorre durante os meses de Junho e Julho.

Por altura da fase de “joelheiro”, procede-se a uma sacha com amontoa, visando também o

enterramento das ervas daninhas (a aplicação de herbicida está restrita às grandes explorações

e somente às que produzem milho de regadio).

As primeiras regas no milho de regadio fazem-se somente quando este demonstra, através do

enrolar das folhas, que está com carência de água e estas vão-se sucedendo, quer por aspersão

quer por gravidade, consoante a disponibilidade de água que cada agricultor possui.

Quadro 5: Numero de explorações e áreas de cereal no vale de Vila Pouca de Aguiar

Fonte: PDAR,1992.

explorações

Áreas (hectare)

Milho

Vl. Pouca 152

Área total

(ha)Trigo Centeio

85 0,5 58 0,9143,5

Área /

exploração

Telões

Soutelo

Total

261

186

599

93

199

377 0,5

0

0

195

112

365

288

311

742,5

1,1

1,7

1,2

Page 27: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

26

O milho de sequeiro é destinado para o corte em verde, sendo cortado cedo, nunca chegando

a amadurecer o grão (as variedades utilizadas para este fim são do tipo regionais).

O milho de regadio é desbandeirado, destinando-se a influrescência à alimentação animal, no

entanto é quando o grão se encontra completamente maduro que se efectua o derradeiro corte.

É prática ainda corrente, nesta região, acelerar a maturação do grão através da exposição

deste, pela desfolhada parcial da espiga, ao sol.

O grão pode ser aproveitado para farinhas e farelos, ou para dar assim mesmo aos animais da

exploração. Neste tipo de aproveitamento o restante da planta é seco e fornecido neste estado

aos animais. É também usual, em efectivos pecuários leiteiros o recurso á silagem, ou seja à

transformação total da planta em silagem, tornando-se esta, devido ao seu alto valor nutritivo,

um recurso nos períodos de maior rigor ou em fases em que o efectivo necessita de um

complemento alimentar.

2.1.3.2 - O Trigo:

Em virtude da sua representatividade ser quase nula no vale de Vila Pouca de Aguiar (ver

quadro nº ), a sua abordagem foge ao âmbito deste trabalho.

2.1.3.3 - O Centeio:

É o cereal mais rústico, dos cereais de Inverno,estando limitado o seu cultivo no vale, aos

terrenos pobres do tipo Leptossolos e ácidos. Este cereal devido á sua rusticidade não

necessita de grandes operações culturais, sendo suficiente uma lavoura seguida de gradagem

com posterior sementeira. A incorporação de fertilizantes normalmente não existe, estando a

fertilização a cargo da cultura anterior, que pode ser o milho, o mesmo acontece com a

eliminação de ervas daninhas, através da aplicação de herbicidas que raramente é feita.

O centeio é destinado á alimentação animal, podendo ser pastoreado em verde, cortado em

verde e ainda cortado quando completo o seu estado de maturação.

Page 28: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

27

2.1.4 - A Batata:

É o tubérculo plantado por excelência no vale de Vila Pouca, principalmente nas suas áreas

mais férteis. A área disponibilizada para esta cultura pode-se resumir nos quadros abaixo:

A batata na região para além de constituir base da alimentação também é, dependendo dos

anos, fonte de rendimento dos agricultores.

O cultivo deste tubérculo, inicia-se em Abril-Maio com a preparação do terreno, que deve ser

bastante cuidada, procedendo-se a uma lavoura profunda a que se seguem lavouras

superficiais e gradagens em número suficiente, para criar um solo fofo e bem arejado. A

lavoura incorpora normalmente no solo o resto da cultura anterior e o estrume (mais ou

menos 30 Ton/hectare), previamente distribuído por todo o terreno. A preparação do solo é

completada com uma gradagem e uma escarificação.

Os tubérculos na altura da plantação deverão estar convenientemente abrolhados, de forma a

se obter uma emergência mais rápida. Este aspecto tem grandes vantagens pois pode permitir

plantar mais tarde, para fugir aos prejuízos causados pelas geadas tardias, sem que devido a

isso se atrasem as colheitas.

A plantação é feita quando as condições climatéricas e de solo sejam convenientes, ou seja, o

solo se encontre húmido e com arejamento satisfatório e a temperatura do solo e ar permitam

que os brolhos formados nos tubérculos continuem a desenvolver-se regularmente.

Quadro 5: Área ocupada pela cultura da batata no concelho

Fonte: RGA, 1989.

Cultura principal Cultura secundariaTotal

Nº explorações Área (Há)

1.859 1.034 61 11 1.045

Nº explorações Área (Há)

Freguesia Nº Explorações Área/ exploração

Vila Pouca de Aguiar

0,7

119 55,74 0,5

0,5

Quadro 5: Área ocupada pela cultura da batata no vale de Vila Pouca

Telões

Soutelo

233

169

Área (há)

123,81

117,77

Fonte: RGA, 1989.

Page 29: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

28

Plantam-se primeiramente os terrenos mais altos e delgados, aqueles que a cultura mais se

poderá ressentir dos calores de verão ficando para o fim os mais fundos, os quais sendo mais

húmidos e “geadeiros” só mais tarde oferecem condições favoráveis à cultura.

A plantação pode ser do tipo manual ou à máquina (plantador semi-automático). Segundo

Ferreira (1995) os métodos de plantação utilizados no vale têm as seguintes percentagens:

- 34,5%: Plantação manual;

- 24,1%: Fazem a abertura dos regos com tracção animal e plantação manual;

- 19%: Praticam ainda o rapão (plantação sem lavoura);

- 13,8%: Abertura dos regos com tracção mecânica e plantação manual;

- 5,2%: Abertura dos regos e cobertura dos tubérculos com tracção mecânica;

- 1,7%: Abertura dos regos e cobertura dos tubérculos com tracção animal.

Na plantação a abertura dos sulcos é efectuada, normalmente com o tractor utilizando o

sulcador (escarificador munido de aivequilhos, apenas com 4 dentes, com a distância entre

eles de mais ou menos 60 cm); existem ainda alguns agricultores que fazem a abertura dos

sulcos com animais, utilizando para isso o arado de pau. Após a abertura dos regos é

distribuído manualmente o adubo ( o mais usual na região é o 7:14:14, e a mistura de adubos

simples, como : Nitrolusal 20,5%, Superfosfato 18% e Cloreto de Potássio; a maioria dos

agricultores utiliza o composto dado que não é necessário efectuar a mistura dos adubos), ao

longo destes, ou seja o adubo é localizado no rego, próximo dos tubérculos plantados.

Empiricamente, há agricultores que utilizam como regra de fertilização quimica a aplicação

por cada 1 Kg de batata 1 Kg de adubo. A análise de terras é pouco frequente para avaliar o

índice de fertilidade do solo.

Para a plantação manual os compassos usados são o 60 x 30 cm e para a plantação mecânica

são de 60 x 25 cm, sendo esta última ainda uma prática pouco disseminada no vale.

As variedades utilizadas são por ordem decrescente de importância: Kennebec, Désirée e

Spunta.

Quinze dias após a plantação faz-se uma gradagem com o fim de esmiuçar a terra e desfazer a

crosta que se forma à superfície e que iria dificultar o desenvolvimento da planta. Após a

gradagem aplica-se o herbicida e cerca de 1 mês mais tarde faz-se uma amontoa. Os

agricultores que não utilizam herbicida são os que têm bastante disponibilidade de mão-de-

obra, nomeadamente familiar. Estes fazem 1 mês após a plantação (planta com mais ou

menos 10 cm de altura) a primeira sacha e 20 dias depois desta uma 2ª sacha com amontoa.

Dos tratamentos fitossanitários, o controlo do escaravelho da batateira e ao míldio são os

mais frequentes e praticamente efectuados por todos os agricultores.

Page 30: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

29

Segundo o inquérito efectuado por Ferreira (1995) à percentagem de agricultores que fazia

tratamentos fitossanitários na cultura da batateira, obtiveram-se os seguintes resultados:

- 86,2% das explorações fazem tratamento ao míldio e ao escaravelho;

- 8,6% não fazem qualquer tipo de tratamento;

- 3,5% das explorações fazem tratamento exclusivo ao míldio;

- 1,7% das explorações fazem tratamento exclusivo ao escaravelho.

O número de vezes que faziam o tratamento variava entre 0 e 4.

A cultura da batateira na região é normalmente regada e para isso os agricultores fazem-no no

mês de Julho, normalmente regas com intervalo de 1 semana e na maioria dos casos é feita

por alagamento que embora fáceis de executar não permitem dotações de rega homogéneas,

uma vez que o início do sulco recebe muito mais água do que o final do mesmo,

particularmente em sulcos extensos, no entanto alguns agricultores do vale já executam regas

por aspersão. Segundo o inquérito efectuado por Ferreira, quanto á utilização e

disponibilidade de água temos:

Numero de regas efectuadas na cultura da Batateira :

0 regas: 24,6% ;

1 rega: 12,3%;

2 regas: 26,3%;

3 regas: 21,2%;

4 regas: 7%;

> 4 regas: 8,8%.

Método de rega:

Por alagamento: 48,8%;

Por aspersão: 20,9%;

Por chuveiro: 20,9%;

Por sulcos: 9,3%.

Origem da água de rega:

Regadio colectivo: 37,2%;

Nascente próprio: 30,2%;

Rio: 25,5%;

Poços: 9,3%.

55,8% das parcelas regadas tinham disponibilidade ilimitada de água.

Page 31: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

30

2.1.5 - Outras Culturas:

2.1.5.1 - A Oliveira:

O concelho de Vila Pouca de Aguiar apresenta uma área de olival pouco significativa:

Verifica-se por análise do quadro que o aumento de área de olival, para esta situação contribui

fortemente o programa de restruturação do olival no âmbito do PEDAP.

O concelho de Vila Pouca de Aguiar abrangida pelo PDAR labora somente 3,.8% da

totalidade da produção de azeite, possuindo para tal somente 3 lagares, como se pode

constatar no quadro abaixo:

Quadro 5: Evolução das áreas de olival (ha) no concelho

Fonte: PDAR, 1992.

28 59

1979 1989

Quadro 5: Numero de explorações e áreas de oliveira no Vale de Vila Pouca de Aguiar

Vl. Pouca 0

Freguesias Nº Explorações Área (ha) Área/ Exploração

Telões

Soutelo0

4

0

0

1

0

0

0,3

Fonte: PDAR, 1992.

3 236

Nº lagares Azeitona laborada (Ton)

Quadro 5: A produção de azeite no concelho

Produção azeite (litros) Bagaço azeitona (Ton)

27.420 77,88

Fonte: PDAR, 1992.

Page 32: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

31

2.1.5.2 - A fruticultura:

Nesta zona, a maioria da área com fruteiras significa essencialmente paisagem, tradição, em

que as pessoas cultivam nos quintais, quase sempre para consumo da casa, sendo pouco

comercializada, já que esta área apresenta outras alternativas bem mais válidas, logo a esta

singularidade de árvores não se pode chamar de pomares.

Das quatro variedades de frutos, é a maçã que se encontra mais disseminada, aparecendo por

isso em maior quantidade. Vila Pouca é um concelho com poucas propensões para a

fruticultura.

No que diz respeito aos frutos secos a amendoeira e o castanheiro são os que encontram

maior representatividade no concelho. Quanto á área ocupada pela cultura da amendoeira,

pode se resumir a sua expressividade através do seguinte quadro:

Quanto à castanha, em 1990, a campanha em Trás-os-Montes teve um aumento significativo

nos quantitativos produzidos, no entanto tem havido alguns problemas fitossanitários,

essencialmente devido a pragas como a tinta e o cancro do castanheiro. Nesta zona

predominam as espécies Longal e Judia.

Quadro 5: Nº de explorações e respectivas áreas para os frutos frescos no concelho:

Fonte: RGA, 1989

Exp. Área (ha)

Macieira Pereira Pessegueiro Cerejeira

70

Exp. Área (ha) Exp. Área (ha) Exp. Área (ha)

25 37 7 10 6 6 6

Quadro 5: Área ocupada pela cultura da amendoeira e nº de explorações no concelho:

2 1

Nº explorações Área (ha)

Fonte: RGA, 1989

Quadro 5: Área de soutos e produção de castanha no concelho:

Fonte: RGA, 1989

408 405 (619 explorações)

1979 1989 Produção (Ton.)

3.256

Page 33: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

32

2.1.5.3 - A viticultura:

A área e o numero de explorações pode se resumir no seguinte quadro:

A viticultura no concelho de Vila Pouca de Aguiar tem pouca representatividade, sendo

fundamentalmente encontrada na bordadura dos terrenos, sobre a forma de latada. O Vinho é

do tipo verde e ainda se encontra o chamado “morangueiro”.

Quadro 5: Área e nº de explorações no concelho de Vila Pouca de Aguiar:

Fonte: PDAR, 1992

Exp. Área (ha)

VQPRD Outros vinhos

-

Exp. Área (ha)

-823 488

Quadro 5: Numero de explorações da cultura da vinha no Vale de Vila Pouca de Aguiar

Vl. Pouca 62

Freguesias Nº Explorações Área (ha) Área/ Exploração

Telões

Soutelo10

34

21,69

6,5

12,41

0,3

0,7

0,4

Fonte: PDAR, 1992.

Page 34: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

33

2.2 - A produção pecuária:

Segundo Ferreira (1995), no Vale de Vila Pouca encontra-se a raça frisia e maronesa. A

primeira representa 80,7% e a segunda 19,3% do efectivo total. A raça frisia é utilizada para a

produção de leite (70,6% do efectivo turino) ou para produção de carne (29,4% do gado

turino). Este tipo de animais não é usado para trabalho. A raça maronesa é usada

principalmente na tracção animal (64,1% do efectivo maronês) e também para a produção de

carne (35,9% do efectivo maronês). Estes animais não são usados na produção de leite.

Quanto aos ovinos, segundo o mesmo autor, a sua produção destina-se a fornecer lã e carne,

os caprinos somente a produção de carne.

2.2.1 - A produção de carne:

2.2.1.1 - Os bovinos:

Nos últimos 5 anos assistiu-se a um aumento do efectivo leiteiro de mais de 50% em prejuízo

das raças autóctones que tiveram um decréscimo na ordem dos 20%. No concelho de Vila

Pouca de Aguiar, o efectivo bovino da raça frisia mais que duplicou, enquanto que o efectivo

da raça maronesa baixou 30% (PDAR, 1992). Esta alteração está relacionada com a estratégia

das ajudas comunitárias que incentivaram as empresas no sentido de incrementar a produção

leiteira. A distribuição do bovino maronês é apresentada no anexo VI.

Quadro 5: Evolução do efectivo bovino de carne no concelho:

Fonte: RGA, 1989.

5.464 3.945

1989 1989

Quadro 5: Principais espécies pecuárias no concelho:

Fonte: RGA, 1989

Total Vacas leiteiras

Bovinos Ovinos Caprinos

6.905

Total Fêmeas reprodutoras Total Fêmeas reprodutoras

1.441 4.055 3.257 4.962 3.944

Page 35: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

34

Tipo 3.200 U.F. 2.300 U.F.

Cabeças normais- vaca leiteira de 550 Kg e 3200

Kg de leite

10.050

7.234 ------- -------

-------

Quadro 5: O gado bovino no concelho de Vila Pouca de Aguiar

-------

-------

2.600 U.F.

8.930

-------

Fonte: Baseado em Estudo de Fomento Pecuário, 1978.

Bovino mirandês- 600 Kg e 1000 litros de leite

Bovino barrosão ou maronês - 450 Kg e 1000

litros de leite

As raças de bovinos encontram-se actualmente muito diversificadas, quer, como foi

anteriormente referido pela introdução da raça frisia, quer pelos cruzamentos efectuados com

raças selectas, nomeadamente o charolês (PDAR, 1992).

2.2.1.2 - Os ovinos e caprinos:

Os efectivos regionais de pequenos ruminantes, conheceram um período de grande expansão,

entre 1979 e 1989, devido sobretudo á atribuição de prémios e indemnizações aos criadores

através da CE. No entanto em 1991 começava-se a denotar um certo desinteresse pelo sector.

O efectivo ovino existente na zona do PDAR é composto maioritariamente pelas raças churra-

badana e galega bragançana.

Quanto aos caprinos, a raça mais representativa é a serrana.

2.2.2 - O leite:

O concelho de Vila Pouca de Aguiar teve um forte incremento do sector leiteiro nos últimos

anos, quer devido à criação de salas de ordenha colectivas, quer devido à existência de um bom

sistema de recolha de leite, assim comparando temos:

Quadro 5: Distribuição do bovino maronês do concelho:

Fonte: Associação de criadores Maronês, 1991

602 1.558

Nº criadores Total animais

Quadro 5: Evolução do nº de vacas leiteiras no concelho:

Fonte: PDAR, 1992

251 2.902

1978/79 1991

Page 36: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

35

Este aumento também se deveu aos fortes incentivos, que nos últimos anos se fizeram a sentir,

assim houve um forte investimento por parte dos agricultores em detrimento de outras

actividades como a batata, milho grão e outros cereais.

Pode-se concluir, e com base no quadro, que a maior parte dos produtores de leite possuem

entre 1 e 3 vacas leiteiras, o que define bastante o tipo de exploração, em que assenta a

produção de leite no concelho.

Este animais são alimentados à base de erva proveniente dos lameiros e de algumas forragens.

E o leite destina-se fundamentalmente às cooperativas.

O numero de vacas leiteiras no vale de Vila Pouca de Aguiar é distribuído pelas suas seguintes

freguesias:

As freguesias do vale de Vila Pouca de Aguiar contribuem em 53,4% para o total do efectivo

do concelho.

No quadro da página seguinte pode-se observar o tipo de estrutura da exploração pecuária que

está vigente no vale de Vila Pouca:

Quadro 5: Nº de criadores por classe de animais:

Fonte: ADS, 1991

1-3 4-6

Classe de animais

661

7-10 11-15 16 ou + Total

128 59 20 24 892

Quadro 5: Nº de vacas leiteiras no vale de Vila Pouca de Aguiar:

Vl. Pouca 207

Freguesias Nº de vacas

Telões

Soutelo901

442

Total concelho

Total 1.550

2.902

Fonte: PDAR, 1992

Page 37: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

36

Quadro 5: Nº de criadores por classes de vacas leiteiras para o vale de Vila Pouca

Vl. Pouca 44

Freguesias 1-3

Telões

Soutelo85

107

Fonte: PDAR, 1992.

4-6

6

21

35

Total

7-10

5

8

19

11-15

2

3

9

11-15

2

3

10

236 62 32 14 15

Page 38: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

37

3 - CONCLUSÕES

Este trabalho tem como objectivo final, caracterizar uma região quanto ao sistema de

agricultura nela vigente e enquadrá-lo dentro da nomenclatura de caracterização dos sistemas

de agricultura. Assim sendo o vale de Vila Pouca de Aguiar, e segundo o Sr. Professor Doutor

Nuno Moreira (num seminário da ESAB), está enquadrado no sistema Batata-Centeio-

Pecuária.

A representação esquemática do sistema encontra-se em anexo.

Page 39: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

BIBLIOGRAFIA

Estação meteorológica das Pedras Salgadas - Dados climatológicos 1931/1960

Ferreira, F. - Técnicas culturais tradicionais na cultura da batata no vale de vila pouca

de aguiar-efeitos na produtividade da cultura e do meio ambiente, trabalho de fim de

curso, ESAB 1995.

Figueiredo - Contributo para a caracterização física e hídrica de unidades de solo de

Trás-os-Montes, UTAD, Vila Real, 1988

INE - Instituto Nacional de Estatística, sensos 1991 (resultados provisórios e pré-

definitivos)

INE - Recenseamento agrícola, continente, distrito de Vila Real, 1979.

ITPT - Guide Pratique du Plant Pomme de Terre. Institut Technique de la Pomme de

Terre, França 1982.

PDAR, do Alto Tãmega e Alvão-Padrela - 2º documento de trabalho, junho 1992

Pires, J.M. et al - Lameiros de Trás-os-Montes- perspectivas de futuro para estas

pastagens de montanha, série estudos, edição do Instituto Superior Politécnico de

Bragança, 1994.

Plano Director Municipal de Vila Pouca de Aguiar (ante-projecto) TomoI, Volume 2, -

Análise demográfica, Norvia consultores de engenharia, lda, 1992

RGA - Recenceamento geral Agrícola, 1989

SMN - O clima de Portugal, Fasc. XIII, Lisboa 1965

UTAD,PDRITM- Carta de solos, carta do uso actual daterra e carta de aptidão da terra

do Nordeste de Portugal- Agrocunsultores e Coba, 1988

Varios - Estudo de Fomento Pecuário para a Sub-região Norte Interior (Trás-os-Montes),

Despacho de 12/5/1972, Ministério de Agricultura e Pescas, Secretaria de Estado do

Fomento Agrário, Edição de 1978.

Page 40: caracterização do Sistema de agricultura no vale de Vila Pouca de Aguiar

ANEXOS

I - Carta de localização do vale de Vila Pouca de Aguiar

II - Perfil do balanço hídrico

III - Carta de solos

IV - Carta de aptidão dos solos

V - Carta de utilização actual do solo

VI - Efectivo maronês de fêmeas adultas

VII - Efectivo maronês de animais jovens

VIII - Outros mapas de interesse

IV - Representação esquemática do sistema Batata-Centeio-

Pecuário do vale de Vila Pouca de Aguiar